Waldomiro de Deus na BM&FBOVESPA 50 Anos de Pintura De 5 de agosto a 17 de setembro de 2010
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“É
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realmente de Deus esse Waldomiro que reinventa a vida com a pureza de sua ingênua sabedoria. Um poeta do povo, um mágico”. Essas palavras do escritor Jorge Amado definem com precisão a trajetória de um dos mais importantes artistas plásticos de nossa época. Em homenagem e reconhecimento ao talento de Waldomiro de Deus, o Espaço Cultural BM&FBOVESPA abre suas portas para uma exposição comemorativa de seus 50 anos de pintura.
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Nas 22 obras que integram a mostra, os visitantes poderão acompanhar alguns dos momentos mais marcantes da produção desse pintor, que se destaca como um representante autêntico da arte popular, também conhecida como primitiva ou naïf. Autodidata, Waldomiro desenvolveu seu talento nato na escola da vida, observando e retratando situações do cotidiano de forma bastante singular e que refletem sua interpretação própria do mundo. É daqueles brasileiros que podemos dizer que têm a arte e a persistência no DNA. Não só a arte de pintar, como a arte de viver. Poderia ser mais um artista anônimo, como tantos outros pelo Brasil afora. Mas sua fama ganhou o mundo, talvez para que deixasse para seus contemporâneos e para as futuras gerações uma significante lição de vida. Waldomiro de Deus nasceu em Itagibá, no sertão da Bahia, em 1944. Aos 14 anos, chegou a São Paulo. Trabalhou como engraxate e jardineiro até que encontrou guache e cartolina e começou a pintar. Do Viaduto do Chá, onde conseguiu vender suas primeiras obras em cartolina, ele seguiu em frente, com persistência, até conquistar seu espaço na arte nacional e internacional. Desde 1964, realizou aproximadamente 70 exposições individuais em Brasil, França, Inglaterra, Estados Unidos, Itália, Israel, Bélgica e Alemanha. Temas religiosos, políticos, históricos, de lazer e sonhos são alguns dos motivos de suas pinturas, que transmitem para quem as observa um tom de firmeza e serenidade. Tam-
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A religiosidade se faz presente em Os três reis magos e em A assunção de Nossa Senhora. Com um olhar crítico sobre o mundo, Waldomiro também narra o ataque terrorista ao World Trade Center (Águia abatida), mostra os monstros que envolvem o homem, em Poder e ganância, e a morte de peixes, em Desastre ecológico. Waldomiro de Deus é um artista perene que, com certeza, terá seu trabalho admirado por muitas e muitas gerações. Quem visitar a mostra poderá perceber, por meio das obras, a maturidade e a experiência de vida do pintor. E, certamente, guardará na memória o encanto e a harmonia das composições, resultado da dedicação e do apreço de Waldomiro pela arte de viver.
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No Espaço Cultural BMF&BOVESPA, o público poderá conferir, nas obras de Waldomiro de Deus, o colorido de suas paisagens urbanas e do sertão, como Em Israel, Cidade do interior baiano e Cavaleiros do sertão. A alegria do povo na praça para ver o circo está em Hoje tem espetáculo e o prazer do namoro, em Banco do amor. A tela Panicum de flores é um brinde de cores e harmonia para os olhos.
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bém há um toque de senso de humor em suas obras, que ora se identificam com a realidade regional ora com o contexto global, revelando um artista que acompanha e relata, por meio de seus traços, os principais acontecimentos do seu tempo.
Com esta homenagem a Waldomiro de Deus, a Bolsa reafirma, mais uma vez, seu compromisso com a disseminação e a valorização da cultura no Brasil. Consideramos que é um marco histórico para o Espaço Cultural BM&FBOVESPA a oportunidade de sediar uma exposição em comemoração aos 50 anos de atividade de um artista tão relevante para a nossa cultura. Edemir Pinto | Diretor Presidente
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Ainda não somos hexacampeões mundiais de futebol. Deveremos esperar mais quatro anos pela nova oportunidade, desta vez em situação privilegiada: jogaremos em nossos próprios campos e com torcida numerosa. No ônibus que transportava a seleção brasileira na África do Sul estava escrito: “Lotado, o Brasil inteiro está aqui!” Essa sugestiva chamada nos vem à mente no momento em que começamos a redigir este texto de apresentação de Waldomiro de Deus para a exposição comemorativa de seus 50 anos de pintura no Espaço Cultural BM&FBOVESPA. Provavelmente, Waldomiro fará um trabalho sobre a derrota brasileira, ocorrida hoje, nas quartas de final, frente ao futebol dos holandeses. Pois Waldomiro costuma registrar, em sua pintura, tudo o que polariza a atenção das pessoas em geral e dos brasileiros em particular. Sua pintura está carregada de brasilidade; o Brasil inteiro está dentro dela.
Essa presença manifesta-se, sobretudo, em algumas direções: religiosa, política, histórica, das vivências, dos momentos produtivos, de lazer, de sonho e de alucinação. Impossível revelar todo o universo waldomiriano numa mostra de 22 obras. Então, que esta exposição seja “infinita enquanto durar”, que possibilite a aproximação do público de um rico caldo de cultura, de uma arte brut, às vezes intensa como uma partida de futebol de copa do mundo, às vezes leve como um voo de pássaro. Esta mostra tem início com um guache sobre cartolina, técnica utilizada por Waldomiro de Deus no início de sua carreira. Oriundo do interior baiano, as primeiras coisas a impactar o artista foram a paisagem, a flora, a fauna, a natureza. Utilizou guache e cartolina, pois estes foram os materiais que encontrou na casa de um antiquário paulista para o qual trabalhou como jardineiro. Localizamos esse trabalho na coleção particular de Américo Pellegrini Filho, um dos responsáveis por sua primeira exposição individual, em 1962, em São Paulo. Nessa mostra, Waldomiro conheceu o marquês Terry Della Stuffa, arquiteto de interiores da alta sociedade de São Paulo, que passou a patrociná-lo. Waldomiro considera o decorador o “primeiro anjo” de sua vida. Ao lado desse guache sobre cartolina, está um óleo sobre tela do mesmo ano, pertencente ao Acervo da Fundação de Ensino para Osasco, que reúne mais sete trabalhos do artista. Essa obra de feitura ingênua, mostra três sertanejos montados em cavalos de tamanho reduzido em relação aos cavaleiros, numa paisagem povoada por borboletas aumentadas, o que evidencia que Waldomiro, desde o início, cria uma nova realidade com sua arte, recusando-se a reproduzir fielmente o mundo circundante.
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As participações em mostras internacionais despertaram em Waldomiro o desejo de viajar. Em 1969, iniciou uma série de viagens que se prolongaram até 1973. Permaneceu em Paris o suficiente para aprender a se defender em francês e a ter um de seus trabalhos adquiridos por Brigitte Bardot. Depois de visitar uma exposição sua na França, o escritor Henry Miller publica no jornal Planète, de Paris: “Este brasileiro de cor, Waldomiro de Deus, que mal sabe ler, cria seus personagens misturando catolicismo, macumba e reminiscências folclóricas. Cada uma de suas composições cromáticas revela um mundo dos mais significativos símbolos artísticos” (citado por Jos Luyten em Eis Waldomiro de Deus, o melhor naïf brasileiro, SESC, São Paulo, 1972). Este é um dos primeiros textos de uma fortuna crítica considerável que Waldomiro de Deus colecionou ao longo de sua carreira, que completa meio século em 2010.
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Três desenhos aqui expostos, datados de 1967, revelam o surgimento, em sua obra, de uma iconografia particular marcada pelo simbólico, pela dimensão religiosa e pelo exótico.
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Foi em 1966 que Waldomiro de Deus conseguiu, no Brasil, maior visibilidade para sua obra ao participar, entre outras, da I Bienal Nacional de Artes Plásticas, realizada em Salvador. Nessa mostra, Waldomiro expôs três pinturas referenciadas em viagens interplanetárias, reveladoras de seu interesse pelos fatos marcantes do momento. Datam daquele ano suas primeiras exposições coletivas no exterior, realizadas na Rússia, Polônia e França (Brésil Imprévu). Essas participações abriram-lhe as portas da IX Bienal Internacional de São Paulo. A partir de então, sua participação em mostras internacionais se intensificaram.
Entre os críticos que demonstraram maior apreço a sua obra figuram Mário Schenberg, que o apoiou vigorosamente e que o artista considera “o segundo anjo” de sua vida; Theon Spanudis, que o julgava “um valioso o originalíssimo artista”; Olney Krüse, que o proclamava um “mestre”, “um exemplo da melhor e mais autêntica e sincera arte brasileira”; Walmyr Ayala, que se referiu a ele como “um verdadeiro fenômeno que a pintura brasileira tem que rever e assimilar”; Lélia Coelho Frota, para quem Waldomiro “é um dos grandes pintores vivos do Brasil”; Pierre Santos; Oscar D’Ambrósio; Paulo Klein; Jos Luyten; e Sol Biderman, dentre outros. Sobre ele, Jorge Amado escreveu: “É realmente de Deus esse Waldomiro que reinventa a vida com a pureza de sua ingênua sabedoria. Um poeta do povo, um mágico. Jogral a misturar as cores como quem faz versos ou inventa um passo de dança, recriando a vida com amor, Waldomiro de Deus nos oferece, com sua pintura, o que de melhor existe: o gosto de viver, a fraternidade, a ternura”.
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Em 1972, Waldomiro pinta Em Israel, obra rara pertencente à coleção de Ladi Biezus e que integra esta exposição. A presença de Waldomiro em Israel, parte do tempo num convento de freiras francesas, o marcou profundamente. Místico, afirma que foi lá que sentiu, “num raio de luz azul que veio do céu, a presença de Deus”. Retornando ao Brasil, casou-se com a jovem vizinha Lourdes da Hora, hoje Lourdes de Deus, pintora, com quem tem seis filhos, todos com nomes bíblicos: Rebeca, Amomm, Edomm, Edemm, Naara-Tov e Sara.
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As décadas de 1970 e 1980 assistiram à mitificação do artista Waldomiro de Deus, que ganhou grande notoriedade em função de seu comportamento performático, das roupas extravagantes que passou a usar, sobretudo depois da revolução de maio de 1968, em Paris, e de Woodstock (agosto de 1969). Em sua casa, tinha um caixão de defunto dentro do qual costumava descansar. Chegou-se a dizer que Waldomiro era o artista brasileiro mais conhecido no exterior. E que, numa exposição realizada na Europa, Salvador Dali o teria aclamado “gênio”. Descontados eventuais exageros, a verdade é que Waldomiro tornou-se um dos artistas mais conhecidos pelo povo brasileiro, em decorrência de forte presença na mídia. Centenas de escolas promovem releituras de suas obras entre seus alunos e a cidade de Matão, no interior de São Paulo, decorou a Rua José Bonifácio, nas comemorações do Corpus Christi deste ano, com reproduções de duas obras gigantes do artista num trabalho realizado com pós de vidros coloridos, à maneira de tapete, por 85 estudantes locais. Em Goiânia, não são poucos os relatos de que Waldomiro era capaz de atos extraordinários durante orações que promovia com dezenas ou mesmo centenas de pessoas, geralmente em fazendas. Estudando sua obra e sua religiosidade, Maria Filomena Gonçalves Gouvêa apresentou, em 2002, dissertação de mestrado no Departamento de Filosofia e Teologia da Universidade Católica de Goiás subordinada ao título O profeta da pintura entre Deus e o outro – Um estudo dos aspectos sociocultural e religioso na obra artística de Waldomiro de Deus. O pintor foi também tema de outra dissertação de mestrado, apresentada por Oscar D’Ambrósio na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, da qual resultou no livro Os pincéis de Deus, pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Editora Unesp. Waldomiro também foi tema do cordel Vida, amor e glória de Waldomiro de Deus, escrito por Brahama Boulitreau e editado pelo Colégio Anglo de Osasco. Nos anos 1970 e início dos 1980, Waldomiro de Deus, depois de viajar por Europa, Ásia e América Latina, dedicou boa parte de sua pintura à cultura popular brasileira, à paisagem interiorana e às cenas pastoris (A tropa, Hoje tem espetáculo, Cidade do interior baiano e
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A década atual é de grande riqueza temática. Dentro da tendência de problematizar fatos de grande repercussão, pinta o desmoronamento das torres gêmeas de Nova York, Águia abatida (2002); o atentado numa estação de trens de Madri; conflitos no Oriente Médio; o desabamento de uma estação do Metrô em construção no bairro de Pinheiros, em São Paulo; tragédias ambientais, entre elas Desastre ecológico, além de temas relacionados aos sentimentos humanos positivos ou negativos, alguns no limite, apocalípticos, surreais e expressivos, tais como Poder e ganância. A corrupção na política brasileira é escancarada na série Mensalão, em que seus personagens escondem dólares na cueca, e em outras obras tais como Ensina-me a corromper. Essas telas de impacto surgem em meio a outras de natureza histórica (Primeira missa), religiosa (Vem ceiar, o mestre chama) e outras impregnadas de lirismo e de alegria de viver, como Panicum de flores, Banco do amor e No canto da cigarra.
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A década de 1980 foi marcada pela ascensão dos temas religiosos (Os três reis magos, de 1984, e Assunção de Nossa Senhora, de 1985), alguns de viés polêmico como suas iconografias de Nossa Senhora, às vezes apresentada de minissaia, e de Jesus Cristo, figurado vestindo bermuda. Nos anos 1990, sua obra se diversifica, ganha novas dimensões, tais como em A travessia do milênio, hoje no acervo da Unesp e incluído nesta retrospectiva. O pintor discute, em suas telas, a violência urbana, as agressões à natureza, sequestros, chacinas, sem abandonar seus anjos, pássaros, flores, pastores e rebanhos.
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Um pastor amado, incluídas nesta exposição). Na segunda metade da década, o artista começou a criar trabalhos de dimensões maiores, alguns dos quais estão nos acervos da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu de Arte Brasileira da FAAP, do Museu de Arte Contemporânea da USP, do MuBE, da Pinacoteca de São Bernardo do Campo, da Pinacoteca de Rio Claro e de outras instituições.
Waldomiro de Deus é um valor emblemático no contexto da arte brasileira e sua obra faz jus a sua popularidade. Como afirmou Walmir Ayala, sem ela, qualquer panorama da arte brasileira será incompleto. Enock Sacramento | Curador
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A arte popular, ou arte primitiva ou naïf, como se queira denominar a arte pictórica, escultórica ou em cerâmica, feita pelo povo sem qualquer aprendizado em escolas especializadas, aparentementente vive um momento especial de reconhecimento.
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Assim, vemos várias galerias, inclusive especializadas nessa produção a pleno vapor em São Paulo, no caso de nossa cidade. Ao mesmo tempo, temos a oportunidade de apreciar um retrospecto da observação e do estudo da arte popular em todo o Brasil com a abertura do museu de arte popular, atualmente franqueado à visitação num dos pavilhões do Parque do Ibirapuera, sob a cuidadosa coordenação de Adélia Borges, após longa pesquisa. Esse dado reflete um esgotamento, simultaneamente, de um novo público diante das linguagens herméticas da arte contemporânea? Ou espelhará uma potencial alternativa de escolha para colecionadores emergentes, jovens, que buscam obras mais identificadas com a realidade regional ou local? Pode ser, quem sabe, um retorno ao olhar sobre a criatividade popular ou mesmo anônima que despertou, em fins dos anos 1940, quando a Galeria Domus, a primeira galeria de arte moderna entre nós, de Bonino/Fiocca, à rua Vieira de Carvalho, apresentou a exposição de Emigdio de Souza, o maravilhoso e modesto pintor de Itanhaém que tanto encantou Alfredo Volpi, a nosso ver influindo em seu trabalho dessa década? Logo depois, viria a admiração dos críticos locais por José Antonio da Silva e sua projeção na capital. Quase ao mesmo tempo, viria também o interesse pela criatividade da Seção de Artes do Juqueri, estimulada por Osório César, durante longos anos e que apresentaria aquela produção no Museu de Arte Moderna de São Paulo (1951), mostra precedida, no mesmo ano do início das atividades do MAM-SP pela exposição das criações do Engenho de Dentro do Rio de Janeiro de Nise da Silveira, em 1949. Mas não nos referimos à arte popular praticada por senhoras da classe média que surgiriam nas décadas seguintes, fascinadas pelo êxito de mercado dos verdadeiros naïfs.
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Waldomiro de Deus, entre nós, é um desses artistas autenticamente populares. Mas tem características próprias, muito dele. Como todo criador de origem modesta, popular, autodidata, nunca abandonou a temática religiosa nem a observação do ambiente rural ou o urbano, no qual passa a viver desde adolescente. Andou por todo o Brasil, este baiano de Itagibá, que vive em São Paulo e Goiânia, expôs e viajou pelo mundo todo, mas não foi a visão urbana apenas que o motivou. Nem tampouco somente a religiosa. Eu o conheci como critico de um determinado ambiente, ou se divertindo com situações contemporâneas (e quem viveu, lembra de seu escândalo pela imprensa, de minissaia desfilando pela rua Augusta na década de 1960. Era atrevido mesmo.). Crítico de realidades como os escândalos políticos do País, ou guerra do Vietnã, sempre foi um primitivo, mas de olhos abertos para o seu contexto próximo ou mundial. Meio apocalíptico, a religiosidade à flor da pele, mas com um senso de humor que sempre o acompanhou ao longo da vida, sempre se impondo por sua personalidade em querer narrar, comunicar por imagens a sua visão de seu tempo.
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Referimo-nos aos artistas populares que fervilham por todo o nosso País, frequentemente por tradição artesanal familiar, conforme ocorre em todos os países da América Latina, continente rico de massas populacionais que respeitam e projetam suas culturas. E esse fenômeno é tradicional em particular no Haiti, terra dos clássicos populares Philomé Obin, Préfète Duffaut, além de Henri Calixte ou Jean Claude Sévère, colecionados por norte-americanos, e se constituindo nos verdadeiros artistas contemporâneos daquela nação.
Aracy Amaral | Crítica de arte
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Cavaleiros do sert茫o | 1965 贸leo sobre tela 60 x 73cm
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Sem tĂtulo | 1965 guache sobre cartolina 34,5 x 64cm
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Sem título | 1967 tinta mágica sobre papel 25 x 17,5cm
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Sem título | 1967 tinta mágica e acrílica sobre papel 25 x 17,5cm
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Em Israel | 1972 贸leo sobre tela 47 x 34cm
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A tropa | 1976 贸leo sobre tela 120 x 175cm
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A travessia do milênio | 1997 acrílica sobre tela 180 x 300cm
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Hoje tem espet谩culo | 1976 贸leo sobre tela 120 x 170cm
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Cidade do interior baiano | 1980 acrĂlica sobre tela 80 x 100cm
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Os três reis magos | 1984 acrílica sobre tela 100 x 130cm
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Assunção de Nossa Senhora | 1985 acrílica sobre tela 120 x 80cm
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Águia abatida | 2002 acrílica sobre tela 150 x 100cm
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Poder e ganância | 2002 acrílica sobre tela 150 x 100cm
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Ensina-me a subornar | 2004 acrĂlica sobre tela 100 x 70cm
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Panicum de flores | 2005 acrĂlica sobre tela 120 x 80cm
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Banco do amor | 2007 acrílica sobre tela 155 x 200cm
Primeira missa | 2008 acrílica sobre tela 140 x 140cm
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No canto da cigarra | 2009 acrĂlica sobre tela 155 x 200cm
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Vem ceiar, o mestre chama | 2009 acrĂlica sobre tela 155 x 200cm
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Desastre ecol贸gico | 2009 acr铆lica sobre tela 155 x 200cm
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Chegou à capital paulista viajando em um pau de arara. Nos primeiros dias, dormiu em bancos do Largo da Concórdia. Ali, conheceu um sargento da guarda civil que o convidou para morar com ele e a esposa em Osasco, na Grande São Paulo. O sargento lhe deu uma caixa de engraxate, com a qual começou a trabalhar no Largo de Osasco. Permaneceu nessa casa por três anos. Depois, foi para Presidente Venceslau e para Porto Alegre, retornando sempre para Osasco. Com 16 anos, foi contratado como jardineiro do antiquário Pierre Zacoppe, de São Paulo, passando a morar nos fundos de sua casa. Lá encontrou guaches, cartolinas e pincéis. Começou a pintar até altas horas e sentir sono durante o dia. Foi despedido. Levou as obras produzidas para o Viaduto do Chá, onde conseguiu vender dois desenhos a um turista americano. Com o dinheiro, alugou um pequeno quarto na Rua Conselheiro Furtado e comprou material para continuar a pintar.
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Waldomiro de Deus nasceu em 1944, em Itajibá, no sertão baiano, região anteriormente habitada por cangaceiros. Terceiro de nove filhos dos pequenos agricultores Deocleciano de Deus Souza e Venância Joaquina Costa, moraram numa casa de pau a pique. Mudaram-se para Gandu e depois para Maranduba e viveram em uma fazenda. Aos 12 anos, resolveu deixar a região à procura de melhores condições de vida. Levou uma vida errante pelo sertão baiano e pelo norte de Minas até 1958, quando resolveu tentar a vida em São Paulo.
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As obras de Waldomiro chamaram a atenção do compositor Teodoro Nogueira, que o levou à redação de A Gazeta, onde conheceu o folclorista Rossini Tavares de Lima. Em 1963, tornou-se amigo do então jornalista Américo Pellegrini Filho, ligado à Associação Brasileira de Folclore, hoje professor e pesquisador da ECA/USP. Em 1962, Pellegrini e Rossini convidaram Waldomiro a expor suas obras na Feira de Artigos Típicos Brasileiros no Parque de Exposições de Água Branca. Foi lá que ele conheceu o decorador Terry Della Stuffa que comprou 10 dos 48 trabalhos expostos, ofereceu-lhe materiais de pintura e convidou-
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o a residir em um quarto de fundos de sua casa no Jardim Europa, em São Paulo. Em contrapartida, Waldomiro entregava ao decorador sua produção de óleos sobre tela, que acabaram forrando as paredes da mansão. Stuffa passou a convidar pessoas importantes para conhecer as obras do pintor. Uma dessas, foi Mário Schenberg, professor de Mecânica Celeste na USP e crítico de arte, que tornou-se grande amigo e conselheiro de Waldomiro.
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As obras mais agressivas não agradavam ao decorador, mas eram apreciadas por Schenberg. O crítico salvou o artista de uma produção adocicada e decorativa. Waldomiro passou a submeter seus trabalhos a Schenberg e isso irritou o decorador. Depois de uma briga, Waldomiro deixou a casa de Stuffa mudando-se para um apartamento na Rua Augusta que, naquela época, era um shopping a céu aberto, com muitas lojas de grife. Waldomiro passou a vestir roupas extravagantes e a usar uma cabeleira black power. Mário Schenberg levava personalidades nacionais e estrangeiras para visitar Waldomiro em seu apartamento-ateliê. Amparado intelectualmente por Schenberg, Waldomiro pintou obras polêmicas mesclando religião com moda. Pintou Nossa Senhora de minissaia, Jesus com bermuda, e fez uma santa-ceia em que os alimentos eram nordestinos. Em 1966, Waldomiro participou da I Bienal Nacional de Artes Plásticas, em Salvador, na Bahia, e, no ano seguinte, da IX Bienal Internacional de São Paulo. A partir de então, sua carreira deslanchou. As exposições coletivas se sucederam no Brasil e no exterior. Desde 1964, quando mostrou seus trabalhos numa exposição solo na Galeria Directa, em São Paulo, realizou aproximadamente 70 individuais em Brasil, França, Inglaterra, Estados Unidos, Itália, Israel, Bélgica e Alemanha. Waldomiro de Deus tem uma consistente fortuna crítica. Sua obra é analisada em importantes publicações especializadas surgidas nos anos 1970, época de ouro dessas edições, tais como Le proverbes vus par les peintres naïfs, de Anatole Jacovsky, Max Fourny Ed., Paris, 1973; Dictionnaire des peintres naïfs du monde entier, também de Anatole Jakovsky, Ed. Baselius, Basel, Suíça, 1976; L’arche de Noe et les naïfs, de Louis Pauwels, Max Forrny Ed., Paris, 1977; Genious in the backlands: popular artists of Brazil, de Selden Rodman, Old Greenwich, EUA, 1977; Album mondial de la peinture naïve, de Max Fourny, Hervas, Paris, 1977 e outros. Em 1999, a Editora Unesp e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo publicaram o livro Os pincéis de Deus - Vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus, de autoria de Oscar D’Ambrósio. Waldomiro de Deus está completando, em 2010, cinquenta anos de pintura.
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FOTOS
Eloiza Cristina Fontes Vieira – p. 18-19 Mariana Hungria – p. 20 Márcio Fischer – p. 13, 16, 23 e 25 Marilda Passos – p. 12, 14, 15, 17, 21, 22, 27, 30, 31, capa e contracapa Valdemy Teixeira – p. 24, 26, 28, 29, 32-33 e 35
Esta é uma publicação da BM&FBOVESPA S.A. - Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros, de cunho exclusivamente cultural, sem a intenção de comercializar qualquer peça ou imagem exposta.
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Um pastor amado | década de 1980 acrílica sobre tela 140 x 200cm
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