Abelardo da Hora Amor e Solidariedade

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Amor e Solidariedade Abelardo da Hora 60 anos de arte Marรงo a junho de 2011 em Recife - PE Parque Dona Lindu - Praia de Boa Viagem 5


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Em 1948, a Prefeitura da Cidade do Recife, através da D.D.C. (Diretoria de Documentação e Cultura), dirigida por Dr. Sérgio Rigueira Costa e com a assessoria do pintor Hélio Feijó, promoveu com enorme sucesso a 1ª Exposição Individual do escultor Abelardo Germano da Hora. Diante do domínio técnico de esculpir e modelar e de um conhecimento profundo da anatomia humana, o jovem e promissor artista apresentava à cidade, espantada e embevecida, a primeira mostra de escultura expressionista na cidade. Atento aos movimentos artísticos nacionais e internacionais, acrescido de sua liderança natural, fundou com outros intelectuais a Sociedade de Arte Moderna do Recife. A partir daí, vê-se um Abelardo da Hora interessado em outras esferas que ultrapassam os limites de seu atelier, preocupado com a formação de artistas e público, com os movimentos populares e com uma política pública mais avançada para nossa cidade. Mestre, orientou jovens artistas no Ateliê Coletivo. Naquele laboratório de criação, grandes nomes despontaram nas artes plásticas nacionais. Manteve sua atuação como educador durante o tempo em que esteve à frente do Movimento de Cultura Popular – MCP, do qual foi um dos fundadores. Apaixonado pelo Recife, emprestou seu talento e sua força de trabalho, quando executou, por várias vezes, a decoração da cidade para os festejos natalinos e para as festas de carnaval. Preocupado com o embelezamento da cidade, sugeriu a aposição de obras de Arte nos imóveis que fossem construídos com 7


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mais de 1000 m2 de área, ideia que se tornou Lei municipal, fazendo da capital Pernambucana uma galeria a céu aberto. A lei de Obra de Arte, como ficou conhecida, é copiada e pesquisada, até os dias de hoje, por estudantes, pesquisadores e gestores públicos de várias capitais brasileiras, interessados nas questões urbanas. Dando continuidade ao projeto de aproximar, cada vez mais, a cultura da população, a Prefeitura do Recife tem o prazer de oferecer à cidade, na abertura da Galeria Janete Costa, dentro das comemorações de inauguração do Parque Dona Lindu, centro de lazer e cultura, a Exposição Amor e Solidariedade – Retrospectiva dos 60 anos de escultura do mestre Abelardo da Hora. Trata-se de uma justíssima homenagem a um dos nossos maiores artistas, cujas inspirações sempre foram nosso povo e nossa cultura e que, ao longo da vida, construiu uma obra de “Amor” a várias causas e de “Solidariedade” com os menos favorecidos. Recife, 26 de Marco de 2011 João da Costa Prefeito do Recife

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Sumário

Amor e Solidariedade – Uma mostra histórica

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“Quem for Abelardo da Hora dê um passo à frente.”

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60 anos de arte

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Cronologia

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Desenhos

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Desenhos – Séries

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Esculturas

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Cerâmicas Conjuntos escultóricos

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Amor e Solidariedade - uma mostra histórica

Love and Solidarity – a historical exhibition The second half of the 1940s was marked by the end of the great catastrophe of World War II and the creation of the United Nations (UN). In Brazil, there was a political opening. It was the end of the “Estado Novo” dictatorship, and elections were held with the participation of the people, represented by political parties of various trends. It was during these times of change that the Constitution of 1946 was approved. From then on, the political and social forces have created conditions for the creation of initiatives in the cultural area, like magazines and cultural supplements that have influenced various generations. In Recife alone there have been at least a dozen such publications. People have experienced a democratic coexistence never seen before. Meanwhile, the working classes have created their unions and associations to defend their rights. In Italy, the end of the 1940s brought a new language in cinema, Neo-Realism, in which psychological issues were handled in an innovative way. This new aesthetics changed not only the movies, but it had also a great impact in a diversity of artistic disciplines, such as literature and fine arts. São Paulo was excited about Assis Chateaubriand’s projects for the creation of the future Museum of Modern Art - MASP. It was also during these years, in April 1948, that the first solo exhibition of sculptures in Pernambuco was opened – Abelardo da Hora’s visual art. As curated by architect, poet and painter Helio Feijó, the exhibition was held at the Employees of Commerce Association of Recife, near Imperatriz Bookstore, where there was a constant flow of writers, journalists, teachers and intellectuals, as well as students who started to visit the library and the exhibition. For the visitor, it was impossible not to feel that expressive power of an art full of love and solidarity, sometimes causing deep silence, crying and the feeling of Earth and human beings, feeling that art can be greater than life. For the first time in North-Northeast Brazil, a solo exhibition of expressionist sculptures was opened to the public, which was, till then, used to academic or neoclassical exibitions. Abelardo was able to bring international artistic

A segunda metade dos anos de 1940 foi marcada pelo fim da grande catástrofe da IIª Guerra Mundial e a criação da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, houve a abertura política. Caiu a ditadura do Estado Novo e foram realizadas eleições livres, com a participação do povo, representado por partidos políticos de diversas tendências. Nesse ambiente de mudanças foi aprovada a Constituição de 1946. A partir daí, as forças políticas e sociais criaram condições para o surgimento de iniciativas no campo da cultura. São dessa época revistas e suplementos culturais que influenciaram gerações. Só no Recife havia pelo menos uma dezena desse tipo de publicação. A população experimentava uma convivência democrática nunca vista. Enquanto isso, as classes trabalhadoras criavam seus sindicatos e associações para defender seus direitos. Na Itália, o final da década de 1940 viu surgir uma nova linguagem cinematográfica, o Neorrealismo, no qual temas psicológicos eram tratados de forma inovadora. A nova linguagem renovou não só a maneira de se fazer cinema, mas teve impacto em diversas áreas da produção artística, como a literatura e as artes plásticas. São Paulo fervia com os projetos de Assis Chateaubriand para a criação do futuro Museu de Arte Moderna - o Masp. É nesse clima de efervescência que foi aberta, em abril de 1948, a primeira exposição individual de esculturas em Pernambuco – a do artista plástico Abelardo da Hora. Com

curadoria do arquiteto, poeta e pintor Hélio Feijó, a exposição foi realizada na Associação dos Empregados no Comércio do Recife, nas proximidades da Livraria Imperatriz, onde havia um fluxo permanente de escritores, jornalistas, professores e intelectuais, além de estudantes que passaram a circular entre a livraria e a exposição. Ao visitante, era impossível não sentir aquela força expressiva de uma arte cheia de amor e solidariedade, às vezes calando profundamente, na gente, aquele choro e aquele sentimento profundo da terra e do ser humano, sentindo que a arte pode ser maior que a vida. Pela primeira vez no Norte-Nordeste do Brasil, uma exposição individual de esculturas, com características marcantemente expressionistas, era aberta ao público, acostumado até então às mostras acadêmicas ou neoclássicas. Abelardo conseguira trazer as vanguardas artísticas internacionais de natureza figurativa, bem como os ecos da Semana de 1922, para dentro do Recife, com uma linguagem plástica inovadora e um requintado rigor formal dos detalhes anatômicos e nas proporções de cada figura. A partir dessa congregação do mundo cultural pernambucano, surgiram a Sociedade de Arte Moderna do Recife e a Associação Brasileira de Escritores - Secção PE, tornando-se mais tarde a UBE. E a partir desta exposição de abril de 1948, o Recife não foi mais o mesmo: uma das mais importantes capitais do País, metrópole regional, retomava seu posto de centro urbano multiplicador de tendências, polo de renovação no âmbito das artes plásticas. 13


vanguards of a figurative nature, as well as the echoes of the Week of 1922, to Recife, with an innovative vision and formal accuracy of anatomical details and in the proportions of each figure. The Society of Modern Art in Recife and the Brazilian Association of Writers - Section PE, which later became the UBE were a result of Pernambuco’s cultural effervesence. And after this exhibition in April 1948, Recife was no longer the same: it was now one of the most important cities in Brazil, a regional metropolis, retaking its place as an urban center trends, headquarters for renewal within the visual arts. To celebrate the six decades of this remarkable event, the Institute Abelardo da Hora (IAH), with the curatorship of marchand and art critic Renato Magalhães Gouvêa, has brought this important exhibition to commemorate of the first retrospective exhibition of the visual artist Abelardo da Hora. 130 works - equivalent to more than ten tons of art. They works are sculptures, prints, drawings and ceramics by an artist who at 84 years old, is one of the few large-scale expressionist sculptors active in Brazil. Reaffirming our role as spokesmen of the work of this master of entire generations and of artists of Pernambuco, the IAH is rescuing important works of various phases of the artist who has different techniques and themes, connected to his homeland, the people of northeast and the cultural and natural beauties of the region. Finally, the exhibition offers the public the opportunity to get to know various phases of the artist, his themes and concerns as a creator and as a citizen. Instituto Abelardo da Hora - I A H Abelardo da Hora Filho Diretor Executivo

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O Instituto Abelardo da Hora - iAH, para celebrar as seis décadas deste marcante acontecimento, e com a curadoria do marchand e crítico de arte Renato Magalhães Gouvêa, promove esta grande mostra retrospectiva em comemoração à primeira exposição do artista plástico Abelardo da Hora. São 130 obras – equivalente a cerca de 15 toneladas de material artístico. São esculturas, gravuras, desenhos e cerâmicas deste criador que, aos 84 anos, é um dos poucos escultores expressionistas de vulto em plena atividade no Brasil. Marcando seu papel de divulgador da obra do mestre de gerações inteiras de artistas pernambu-

canos, o IAH resgata importantes obras de diversas fases do artista que, múltiplo e inquieto, domina técnicas distintas e passa por temas variados, dentro de uma coerência que o liga às coisas de sua terra, do povo nordestino e das belezas culturais e naturais da região. Por fim, a mostra oferece ao público a oportunidade de conhecer de perto as várias faces do artista, suas temáticas e suas preocupações como criador e como cidadão.

Abelardo da Hora Filho Diretor Executivo Instituto Abelardo da Hora - iAH


“Quem for Abelardo da Hora dê um passo à frente” *

*”Whoever Abelardo da Hora, please take one step forward” In this exhibition a small part of a remarkable production of Aberlardo da Hora will be shown It is not about Abelardo, whose life has been richly described and analysed by several specialists, recently by W. Barros Leal in his precious book – Essay On Abelardo da Hora -, and also great articles by São Paulo critics José Geraldo Vieira and Geraldo Ferraz. His work is what dazzles me and, for me, the true wWork of Art is always superior than the creator, as it is in this case. It is necessary to see him when showing his sculptures, having no necessity for modesty, pointing at a work saying “look at this masterpiece, what force, what movement! “. it’s bigger than him. There are three things in his daily routine that fascinate me: to teach, to teach continually, without the desire to be a teacher; showing the vile human poverty that lives next to us; to recognize the splendor and the beauty of the female body as the greatest expression of the power of nature. He´s constantly reminding us why we are here, not to give up fighting misery, never omitting the happiness of living. Everything exposed through his multiform work either from its content as in its appearance, or showing thru forms the miserable but at the same time colorful life of most Brazilian people. He has never stopped doing this, and does its as an educator and speaker, also because of his unique drawings, of the technical innovations, poetry and sculptures, and all of these show the softness of the skin of the females that give themselves. As for the material that he uses he is always the creator. If bronze is scarce, he uses concrete that turns from being brutal to delicate in his hands. No need for small amplified figurines or the mixture of various casual elements in the intention of transforming into something. No. Everything is naturally monumental, because it mirrors what is inside him, a gigantic talent, persistence, incorruptible work, coherence, absolute courage that doesn’t compromise in any circumstance.

Nesta exposição vai-se mostrar pequena parte da produção insuperável do homem Abelardo da Hora. Não é sobre ele que vou falar, cuja vida tem sido esplendidamente descrita e analisada por vários especialistas, ainda recentemente W. Barros Leal o fez num precioso livro – Ensaio com Abelardo da Hora –, mais os textos de grandes críticos paulistas como José Geraldo Vieira e Geraldo Ferraz. Sua obra é que me deslumbra e, para mim, a verdadeira obra de arte sempre supera seu autor, como no caso presente isso acontece. É preciso vê-lo mostrando suas esculturas, dispensando o clássico “modéstia à parte” ao apontar uma peça dizendo “veja que maravilha, que força, que traços!”. É a superação de si mesmo. São três ângulos no seu viver e no seu trabalho que me fascinam: ensinar, ensinar continuamente, sem querer ser professor; denunciar a torpe miséria humana que vive ao nosso lado; reconhecer o esplendor e a beleza do corpo feminino como expressão máxima de pujança da natureza.

desenhos irreparáveis, pelas inovações técnicas, pela poesia e pelas esculturas, traduzindo nestas, mesmo angulosas, a maciez da pele das mulheres que se oferecem. Quanto aos elementos materiais de que se utiliza, é sempre criador. Se o bronze lhe é escasso, resolve com o brutal concreto armado, que por suas mãos se torna delicado. Nada de pequenas figurinhas ampliadas ou aglomerações de variados elementos casuais no intuito de se transformar em alguma coisa. Não. É tudo naturalmente monumental, pois segue o que está dentro dele, um gigante de talento, persistência, trabalho incorruptível, coerência, coragem absoluta que não transige em nenhuma circunstância. Sua obra é ele, pois, sendo forte, tem a doçura e a delicadeza do bem querer a humanidade. Por isso recebeu sempre apoio e admiração de ricos e pobres, governantes e governados, respeito a sua obra e ao homem que ele sempre foi.

Renato Magalhães Gouvêa (2009) Está sempre a nos relembrar, dadivoso, a que viemos, a não desistir da luta para acabar com a desgraça, nunca omitindo a alegria de viver. Tudo expondo através de sua multiforme obra, seja no conteúdo como na aparência, registrando por traços a vida miserável e ao mesmo tempo colorida de grande parte do povo brasileiro. É ininterrupto no fazer, e o faz como educador e palestrante, também pelos

*Palavras de um coronel perante cem presos políticos no pátio do Hospital Geral do Exército, no Recife, 1964.

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His work is him, because, even though it’s strong, it has the sweetness and the delicacy that exists in the feeling to want the best for humanity. That is the reason why he’s always received support and admiration from the rich and poor, rulers and governed, and respect for his work and for the man that he has always been. Renato Magalhães Gouvêa (2009)

* Words of a colonel before a hundred political prisoners in the patio of the General Hospital of the Army, in Recife, year 1964.

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60 anos de arte

The home of the sculptor Abelardo da Hora in Sossego Street, Recife - is a curious environment for a newcomer to his life and work. Two rooms, separated by a corridor of about ten meters long, house two outstanding styles from the artist’s 70–year career. In the first, illustrations of squalid migrants. In the other, pieces of polished concrete or bronze portray female nudes. Opulent renaissance women, in erotic poses, are a few meters away from hunger and poverty. This contrast has always marked Abelardo’s career, but the most important thing, according to critics, is that he has never given in to fads. He has preferred to give in to portraying the subhuman conditions of Northeastern society as well as feminine bodies that transmit both sensuality and modesty. “When he models an arm of one of his goddesses we have an unique sensation of being honored with the privilege of attending the birth of Venus, of Ceres, of beauty and of fecundity, the exact time that God created the flesh”, observes the painter and pupil José Cláudio. “His art, sensitive to the physical and visual values of the modernism, is not trapped in a certain style nor does it make concessions”, adds Mário Barata, one of the most important experts of a body of work that includes more than a thousand pieces of art scattered around the globe. Sculptures and drawings of Abelardo were or are in places as distant as Ulan Bator, in Mongolia, in the Methodist Seminary of Tennessee (USA), in the European Museum in the Czech Republic and in the garden of the marchand Abelardo Rodrigues, in Cosme Velho, Rio. Recife became his open-air museum, with illustrations placed in parks, squares and in the entrance of buildings. “Abelardo da Hora does not define his art as hedonistic and experimental, but rather as language crying for help and a gesture from the trenches”*, states the critic José Geraldo Vieira in an article for Folha de São Paulo in June of 1967. Sculptor, designer, producer, printmaker and potter, Abelardo Germano da Hora is one of the rare Expressionists of the Brazilian visual arts. Born in 1924, in the Usina Tiuma, in São Lourenço da Mata, very close to Recife, the capital of Pernambuco state, he was a child when he arrived in Recife in 1932. During this initial period in the big city, he learned games from the poor children in the Caxangá neigh-

A casa do escultor Abelardo da Hora – Rua do Sossego, Recife – é um ambiente curioso para o recém-chegado à vida e obra de seu morador. Duas salas, separadas por um corredor de uns dez metros, abrigam dois estilos marcantes na carreira de 70 anos do artista. Na primeira, figuras esquálidas de retirantes. Na outra, peças de concreto polido ou bronze retratam nus femininos. Mulheres opulentas, renascentistas, em poses eróticas, estão a poucos metros da denúncia da fome e da miséria. Esse contraste sempre marcou a carreira de Abelardo, mas o essencial, segundo os críticos, é que ele nunca se curvou aos modismos. Preferiu comover-se tanto ao retratar as condições subumanas da sociedade nordestina quanto corpos femininos que transmitem ao mesmo tempo sensualidade e recato. “Quando ele modela um braço de uma de suas deusas temos a sensação única de ser distinguido com o privilégio de assistir ao nascimento de Vênus, de Ceres, da beleza e da fecundidade, na hora em que Deus criou a carne”, observa o pintor e discípulo José Cláudio. “Sua arte, sensível aos valores plásticos e visuais do modernismo, não é episódica nem faz concessões”, acrescenta Mário Barata, um dos maiores conhecedores do conjunto de uma obra que inclui mais de mil trabalhos espalhados pelo mundo. Esculturas e desenhos de Abelardo estiveram ou estão em locais tão distantes quanto Ulan Bator, na Mongólia, no Seminário Metodista do Tennessee (EUA), no Euro Museu da República Tcheca e no

jardim do marchand Abelardo Rodrigues, no Cosme Velho, Rio. O Recife tornou-se seu museu a céu aberto, com figuras expostas em parques, praças e na entrada de edifícios. “Abelardo da Hora define sua arte não como finalidade hedonística e experimental, mas como linguagem-brado e como gesto de trincheira”, afirmou o crítico José Geraldo Vieira em artigo para a Folha de S. Paulo em junho de 1967. Escultor, desenhista, gravador, gravurista e ceramista, Abelardo Germano da Hora é um dos raros expressionistas das artes plásticas brasileiras. Nascido em 1924, na Usina Tiúma, em São Lourenço da Mata, bem perto da capital pernambucana, chegou ainda criança ao Recife, em 1932. Desse período inicial na cidade grande, conheceu as brincadeiras de crianças pobres do bairro da Caxangá, que iriam influenciar parte de seu trabalho na vida adulta. Mais tarde, num ambiente em que já brilhavam artistas do porte de Vicente d o Rego Monteiro (1889-1970) e Cícero Dias (1907-2003), Abelardo cursou Artes Decorativas no Colégio Industrial Professor Agamenon Magalhães, estudou escultura na Escola de Belas Artes de Pernambuco e também concluiu o bacharelado na Faculdade de Direito de Olinda. Mas nunca exerceu a profissão de advogado. Mesmo porque a chance de virar artista bateu-lhe à porta em 1942 quando o industrial Ricardo Monteiro Brennand entusiasmou-se por seu trabalho. Resultado: entre 1943 e 1945, morou na casa dos 17


Brennand e, nos espaços do Engenho de São João da Várzea, realizou vários trabalhos em cerâmica, jarros florais e pratos com motivos regionais em relevo e terracota. Na casa, Abelardo ocupava o último quarto, ao lado de Francisco Brennand, filho do patriarca. Na ala esquerda ficavam as duas irmãs dele. Uma delas, adolescente, foi a causa da saída do artista da residência de seu mecenas. “Fiz uma escultura – a torre dos meus sonhos – inspirado na menina. Abraçado com as pernas dela, havia um sujeito com a minha cara”, conta Abelardo. “Quando eu levei a estátua pra lá, ficou aquele silêncio e seu Ricardo não gostou.” Foi embora no dia seguinte, mas não perdeu a amizade da família, que conserva até hoje. Saiu, mas deixou um artista na casa: influenciado por Abelardo, Francisco também resolveu trocar o Direito pela escultura. A partir daí o trabalho de Abelardo da Hora começou a marcar toda uma geração de artistas e intelectuais de Pernambuco. Tanto em estética quanto em política, teve forte influência nas carreiras de artistas plásticos que desenvolveram trajetórias brilhantes em todo o País. Nesse time estão o amigo de infância Francisco Brennand, além de Wellington Virgolino, Corbiniano, Ionaldo, Gilvan Samico, José Cláudio e João Câmara. Ao mesmo tempo em que estudava arte na Escola de Belas Artes – onde teve aulas de desenho figurado com a professora Fédora do Rego Monteiro, irmã do pintor Vicente do Rego Monteiro – Abelardo desenvolvia o gosto pela política. A opção pelo comunismo marcaria toda a vida do artista. Integrante do Comitê Estadual do Partido Comunista Brasileiro PCB, o escultor chegou a ser preso mais de 70 vezes e só escapou de ser morto, como todos os seus companheiros, porque desde 1948 é casado com Margarida, irmã do ex-prefeito Augusto Lucena (1916-1995), que mantinha boas relações 18

com os militares e pertencia ao partido do governo, a Arena. Em 1945, no entanto, Abelardo tinha a vida de escultor como prioridade, embora fosse leitor frequente do jornal comunista Classe Operária. Nesse ano, embarcou para o Rio de Janeiro para construir uma carreira na então capital federal. Instalado numa pensão do centro, conseguiu seu primeiro trabalho como modelador de esculturas para os túmulos do cemitério São João Batista. O segundo emprego foi na Fábrica de Manequins Santa Cruz. Conhecia pouca gente na cidade até ser apresentado aos irmãos Augusto e Abelardo Rodrigues, também pernambucanos, que ofereceram uma garagem no Cosme Velho para que ele pudesse trabalhar. Do lado político, um de seus contatos mais frequentes, quase sempre nas mesas do bar Vermelhinho, eram o poeta Rossini Camargo Guarnieri, militante do PC do B, e Carlos Alberto, irmão de Abelardo Rodrigues. A ideia de Abelardo, em 1946, era participar do Salão Nacional de Belas Artes e para isso esculpiu “A Família”, um de seus trabalhos mais marcantes. Mas o presidente Eurico Gaspar Dutra cancelou o evento. Desencantado, o escultor voltou ao Recife. “A Família” ficou no Jardim de Abelardo Rodrigues e hoje seu destino é ignorado. A volta a Pernambuco deu início a uma trajetória venturosa. Em abril de 1948, depois de um ano de trabalho duro, realizou a primeira exposição de esculturas do Recife na Associação dos Empregados do Comércio, sob o patrocínio da Prefeitura do Recife. Depois do sucesso da exposição, criou com o artista plástico Hélio Feijó (1913-1991) a Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR). Em 1952, fundou o Atelier Coletivo, grupo que iria influir profundamente na produção cultural de Pernambuco. A ideia era ousada. No livro Memória do Atelier Coletivo, o autor José Cláudio, um dos integrantes do movimento, descreve

borhood, something that would influence part of his work later in life. Later, in an atmosphere that already shone with artists as great as Vicente do Rego Monteiro (1889-1970) and Cícero Dias (1907-2003), Abelardo studied Decorative Arts in the Professor Agamenon Magalhães Industrial High School, sculpture in the Pernambuco School of Fine arts and also received his bachelor’s degree in law from the Law College in Olinda. However, he never practiced law. This was because he had the chance to become an artist in 1942 when industrial tycoon Ricardo Monteiro Brennand took interest in his work. Result: between 1943 and 1945, he lived in Brennand´s house and, in the spaces of the São João da Várzea Factory, completed several works in ceramic, flower vases and plates with regional raised motifs and terra-cotta. In the house, Abelardo occupied the last room, beside Francisco Brennand. Son of the patriarch. To the left slept his two sisters. One of them, a teenager, was the reason the artist eventually left his patron’s house. “I made a sculpture - the tower of my dreams - inspired by the girl. Hugging her legs was a man who looked like me”, recalls Abelardo. “When I took the statue to show him, there was a big silence and Mr.Ricardo didn’t like it”. He left the following day, but he did not lose his close relationship with the family, which continues to the present. He left, but he left an artist in the house: influenced by Abelardo, Francisco also decided to switch from Law to sculpture. Since then the work of Abelardo da Hora has influenced an entire generation of artists and intellectuals from Pernambuco. In art and in politics, he had strong influence on the careers of artists now well-known in Brazil. In this group are childhood friend Francisco Brennand,as well as Wellington Virgolino, Corbiniano, Ionaldo, Gilvan Samico and Cláudio. While studying art at the School of Fine Arts - where he took drawing classes with professor Fédora Rego Monteiro, sister of painter Vicente do Rego Monteiro - Abelardo developed a taste for politics. His belief in communism would change him for life. Member of the State Committee of the Brazilian Communist Party, known by the acronym PCB, the sculptor was arrested more than 70 times and only narrowly escaped being killed like his party companions due to his marriage in 1948 to Margarida, sister of former mayor Augusto Lucena (1916-1995), who maintained cordial relations with the military and belonged to the ruling party, known as Arena. In 1945, however, Abelardo focused on sculpture, although he was a frequent reader of the communist newspaper “Working Class”. That year, he went to Rio de Janeiro to build a career in the then-capital. Staying in a hostel downtown, he got his first job as a sculpture designer for the tombs in the São João Batista cemetery. His second job was at the Santa Cruz Mannequin Factory. He knew few people


in the city until he was introduced to the brothers Augusto and Abelardo Rodrigues, also from Pernambuco, who offered him a garage in nearby Cosme Velho so that he could continue his own work. On the political side, his more frequent contacts, almost always found at a table in the Vermelhinho bar, were the poet Rossini Camargo Guarnieri, a militant member of the PCB, and Carlos Alberto, Abelardo Rodrigues’ brother. It was Abelardo’s idea, in 1946, to participate in the National Salon of Fine Arts, for which he sculpted the “The Family”, one of his most outstanding works. However, Brazilian president Eurico Gaspar Dutra canceled the event. Disenchanted, the sculptor returned to Recife. “The Family” stayed in Abelardo Rodrigues’ garden and now its whereabouts are unknown. The return to Pernambuco marked the beginning of a prosperous period. In April of 1948, after a year of hard work, he organized the firstever sculpture exhibition in Recife at the Commerce Employees Association, sponsored by the City of Recife. After the success of the exhibition, he set up the Modern Art Society of Recife (SAMR) with the visual artist Hélio Feijó (1913-1991). In 1952, he founded the Collective Studio, a group that would profoundly influence the cultural production of Pernambuco. The idea was bold. In his book “Memory of the Collective Studio”, author José Cláudio, one of the group members, describes the breadth of the project: “Otavio Morais [journalist] was a friend of Barbosa Lima Sobrinho and influenced the governor to support the idea of a unified artistic movement, bringing together the Modern Art Society of Recife, the Student Theater, the Brazilian Society of Writers and the Brazilian Association of Writers (ABDE), the Symphony of Recife, all of the cultural entities of Pernambuco.” The Collective Studio, as you can see, would not just be about visual arts. Members included, for instance, writers Aderbal Jurema (19121986) and Hermilo Borba Filho (1917-1976) and playwright Luiz Mendonça. But it was with paintings and sculptures that the movement grew, with the promotion of art salons in Pernambuco and participation in other exhibitions throughout Brazil, such as the Printmaking Club of Porto Alegre, led by Carlos Scliar. From Porto Alegre, the exhibition won the world. It went to many European countries, the Soviet Union, China, Israel and Mongolia. For Abelardo, the studio had strong political significance. It was a project that was searching for a national identity based on the democratization of both the teaching of art and the research into popular culture. His ideal came from the point of view of gathering, with one purpose, artists, intellectuals, government and the people. Even with his socialist inclinations, the movement didn’t impose vetoes on the artists, as had happened in the Soviet Union.

a abrangência do projeto: “Otavio Morais [jornalista] era amigo de Barbosa Lima Sobrinho e influiu para que o governador aderisse à velha ideia abelardiana de um movimento artístico unificado, juntando numa casa a Sociedade de Arte Moderna do Recife, o Teatro do Estudante, a Sociedade Brasileira de Escritores e a Associação Brasileira de Escritores (ABDE), a Orquestra Sinfônica do Recife, todas as entidades culturais de Pernambuco”.

Da fase do Atelier Coletivo, as praças do Recife mostram vários trabalhos de Abelardo. A maior parte surgiu durante a gestão do prefeito José do Rego Maciel – pai do senador Marco Maciel –, que patrocinou o projeto de erguer esculturas em locais públicos. São figuras de tipos populares, como “Os Cantadores”, “O Vendedor de Caldo de Cana” e o “Sertanejo”, exposta na Praça Euclides da Cunha, no bairro do Derby. “Todas foram feitas no atelier, com a turma vendo e aprendendo”, diz o escultor.

O Atelier Coletivo, como se vê, não trataria apenas de artes plásticas. De seus quadros faziam parte, por exemplo, os escritores Aderbal Jurema (1912-1986) e Hermilo Borba Filho (1917-1976) e o teatrólogo Luiz Mendonça. Mas foi com quadros e esculturas que o movimento cresceu, com a promoção de salões de arte em Pernambuco e participação em outros espaços do País, como o Clube da Gravura de Porto Alegre, dirigido por Carlos Scliar. Da capital gaúcha, a exposição ganhou o mundo. Percorreu todos os países da Europa, a União Soviética, China, Israel e Mongólia.

O atelier não foi o único movimento artístico que Abelardo criou ou ajudou a criar. É o caso do Movimento de Cultura Popular (MCP), quando ele era chefe da Divisão de Parques e Jardins da Prefeitura do Recife na administração de Miguel Arraes, entre 1960 e 1962. O MCP também refletia um sentido altamente engajado e seu objetivo era “ampliar a politização das massas, despertando-as para a luta social”, conforme preconizavam seus participantes. O movimento tinha vários pilares além das artes plásticas, com destaque para a literatura, por meio da participação de escritores, jornalistas e poetas como Ariano Suassuna, Carlos Pena Filho, Aloísio Falcão e Hermilo Borba Filho. Havia até mesmo um trabalho de alfabetização, comandado pelo jovem educador Paulo Freire (1921-1997), e entusiastas no Brasil inteiro – Darcy Ribeiro, o mais exaltado desses admiradores a distância, chegou a prescrever a ideia para todo o País. Mas aí veio o golpe de 1964 e a festa do MCP acabou.

Para Abelardo, o atelier tinha um significado político forte. Era um projeto em que se procurava uma identidade nacional a partir da democratização do ensino da arte e da pesquisa da cultura popular. Em seu ideário estava a perspectiva de reunir, num mesmo propósito, artistas, intelectuais, governo e povo. Em que pese sua inclinação socialista, o movimento não impôs vetos a seus artistas, como já ocorria na União Soviética. O saldo mais importante do Atelier Coletivo: ainda hoje a nata das artes plásticas de Pernambuco é formada por alguns ex-integrantes. “Tínhamos uma tendência não acadêmica, com tempero do modernismo, mas nossas maiores afinidades eram com a arte mexicana, especialmente o muralismo de Diego Rivera”, afirma Abelardo. Alguns de seus trabalhos, como o mural “Nabuco e a Abolição”, deixam clara essa influência.

No auge do Movimento de Cultura Popular, em 1962, Abelardo criaria um de seus trabalhos mais pungentes: a série de 22 desenhos de bico de pena “Meninos do Recife”, que foi lançada em álbum com nota de apresentação de Miguel Arraes. Um desses desenhos ilustra a edição francesa do livro Geografia da Fome, a pedido de seu autor, o médico e professor Josué de Castro (1908-1973). Os desenhos mostram a miséria das crianças de rua, com seus pés descalços na lama, pernas e braços finos, barrigas inchadas, rostos angulo19


sos e magros e vestimentas de molambo. Nos olhares, tristeza e desespero. Poeta bissexto, Abelardo assim definiu em versos sua coleção: São habitantes anônimos Dessa cidade alagada, De limo e pedra formada Sob marés Submersa Em lodo inconsistente, Consubstanciada Vasto poço de afogados, Habitação de mitos e fantasmas, Imenso pasto de pestes, Cidade desabrigada. Habitantes desse pântano Sem escrituras, sem títulos Submetidos ao ócio Que gera a fome e o vício e um calendário implacável de miséria e imprevistos. São apenas habitantes dessa cidade alagada. Atirados sobre a lama. Sobre as marés da desgraça.

Depois de 1964, quando seus “Meninos do Recife” foram apreendidos pelos militares – e parte da coleção queimada em frente ao jornal Diário de Pernambuco, junto com exemplares da cartilha de Alfabetização do MCP – Abelardo, que já fora do PCB, teve duas outras incursões fora de seu Estado natal: São Paulo e Paris. Nos dois casos, teve que deixar a família no Recife. Na capital paulista foi acolhido pela amiga arquiteta Lina Bo Bardi e seu marido, Pietro Maria Bardi, diretor do Museu de Arte de São Paulo (Masp). O escultor conhecera Lina no início dos anos 1960, quando ela dirigia o Museu Solar do Unhão, em Salvador. Com ajuda do casal, ele conseguiu emprego como cenógrafo na antiga TV Tupi. Ao mesmo tempo trabalhava na instalação do Museu Lasar Segall, que seria inaugurado em 1969, e na série de desenhos “Danças Brasileiras de Carnaval”. A pedido de Bardi, também participou com novos desenhos da mostra que abriu a Galeria Mirante das Artes, em 1967, e organizou uma exposição de artistas pernambucanos no Museu de Arte Contemporânea da USP, dirigido por Walter Zanini. A mostra era basicamente um reencontro de Abe-

The most important outcome of the Collective Studio: to this day the best artists in Pernambuco are some of the former members. “We had a non-academic tendency, with a touch of modernism, but we had more in common with Mexican art, especially Diego Rivera’s muralism”, says Abelardo. Some of their works, like the mural “Nabuco and the Abolition”, and some from João Câmara (“Scenes of Brazilian Life”) clearly show this influence. During the Collective Studio period, the squares of Recife show several of Abelardo’s works. Most appeared during the administration of Mayor José do Rego Maciel – father of senator Marco Maciel - who sponsored the project of mounting sculptures in public places. They are examples of popular characters, like “The Singers”, “The Sugarcane Juice Seller” and “Countryside”, held in Euclides da Cunha Square, in the neighborhood of Derby. “All were made at the studio, with the group watching and learning”, remembers the sculptor. The studio was not the only artistic movement that Abelardo created or helped to create. He also created the Popular Culture moviment (MCP), when he was in charge of the Division of Parks and Gardens for the City of Recife during Miguel Arraes’ administration, between 1960 and 1962. The MCP also had the goal of engaging people and its objective was to “expand the political awareness of the masses, awakening them to the social fight”, as they exhorted their participants. The movement had several pillars besides the visual arts, with great importance given to literature, through participation of writers, journalists and poets such as as Ariano Suassuna, Carlos Grieves Filho, Aloísio Falcão and Hermilo Borba Filho. There was even a literacy project, led by the young educator Paulo Freire (1921-1997), and enthusiasts throughout Brazil - Darcy Ribeiro, the most exalted of these long-distance admirers, even suggested the idea be used in the whole Country. However, with the military coup of 1964, the MCP party was over. At the height of the Popular Culture Movement, in 1962, Abelardo would create one of his most poignant works: a series of 22 quill-tip drawings entitled “Boys from Recife”, released as a presentation pamphlet of Miguel Arraes. One of the drawings illustrates the French edition of the book “Geography of Hunger”, at the request of its author, doctor and teacher Josué de Castro (1908-1973). The drawings show the misery of the street children, with their muddy bare feet skinny legs and arms, swollen bellies, angular, thin faces and dirty clothes. In their eyes sadness and despair. Also a poet, Abelardo defined his collection in verses as follows:

Página do álbum Meninos do Recife, que trazia impresso o poema de Abelardo que dava nome à série de desenhos 20

They are anonymous inhabitants Of that flooded city, Of slime and formed stone Under tides Submerged In inconsistent mud, Mixed


Vast well of drowned people, Habitation of myths and ghosts, Immense pasture of pests, Displaced city. Inhabitants of that swamp Without deeds, without titles Forced into the idleness That generates hunger and addiction and an implacable calendar of misery and unforeseen occurrences They are just inhabitants of that flooded city. Tossed on the mud. On the tides of misfortune. After 1964, when “Boys from Recife” was taken by the military - and part of the collection burned in front of the newspaper Diario de Pernambuco, with copies of the MCP reading primer Abelardo, already out of the PCB, traveled from his home state twice more: to São Paulo and Paris. In the two cases, he had to leave his family in Recife. In the capital of São Paulo he was welcomed by his friend, architect Lina Bo Bardi, and her husband Pietro Maria Bardi, director of the São Paulo Museum of Art (MASP). The sculptor had met Lina, when he was younger, when she managed the Solar Museum of Unhão, in Salvador. With the help of the couple, he got a job as a set director at the now-defunct TV Tupi. At the same time he worked on the establishment of the Lasar Segall Museum, which would be inaugurated in 1969, and also on a series of drawings called “Brazilian Dances of Carnival”. At Bardi’s request, he presented new drawings at an exhibition that opened the Mirante Art gallery, in 1967, and organized an exhibition of artists from Pernambuco in the Museum of Contemporary Art of the University of São Paulo, managed by Walter Zanini. The exhibition reunited Abelardo with some of his old disciples Samico, João Câmara, Maria Carmen, Anchises Azevedo and Wellington Virgolino. After returning to Recife in 1968, Abelardo radically changed his life and went to work in his brother Luciano’s fishing company. Due to persecution by the military regime, he could not make a living from art. This was because people were afraid to have a piece signed by Abelardo da Hora in their home. To improve his family’s quality of life, the sculptor began to adapt to his new work. After just a short time in the company he decided to buy his own boat and, later, another, forming a small fleet to act independently in the growing fish market. The marine experience lasted three years. When the repression toned down, Abelardo returned to artistic activity in his house/studio on Sossego Street and it was there that he produced a series of sculptures of reclining female bodies, that would counterbalance the “other side” of his work - the touch of sensuality in cement and bronze. “Woman, Object of Rest” was the first of this series. Next stop, Paris. The sculptor left Recife in 1977, to spend time at the house of his daughter Sara, who had married the Frenchman Jean Louis. He

lardo com alguns seus antigos discípulos – Samico, Maria Carmen, Anchises Azevedo e Wellington Virgolino. De volta ao Recife, em 1968, Abelardo mudou radicalmente de vida e foi trabalhar na empresa de pesca de seu irmão Luciano. Diante das perseguições promovidas pelo regime, não tinha condições de sobreviver de arte. Mesmo porque as pessoas receavam ter em casa uma obra assinada por Abelardo da Hora. Para tirar a família da penúria, o escultor começou a adaptar-se ao novo trabalho. Pouco tempo depois de entrar na empresa resolveu comprar seu próprio barco e, mais tarde, um segundo, formando uma pequena frota para atuar por conta própria no ascendente comércio de pescado. A experiência marítima durou três anos. Quando a repressão baixou um pouco de tom, Abelardo retomou a atividade artística em sua casa-atelier na Rua do Sossego e ali produziu uma sequência de esculturas de corpos femininos deitados, que balizaria o “outro lado” de sua obra – o toque da sensualidade em cimento e bronze. “Mulher, Objeto de Repouso” foi a primeira dessa série. Próxima parada, Paris. O escultor saiu do Recife em 1977, para uma temporada na casa da filha Sara, casada com o francês Jean Louis. Seu endereço era o 15e arrondissement, num espaço de um atelier cedido por amigo. Ali modelou algumas esculturas – uma delas retratando Sara e o genro – e tomou contato com a cena das artes plásticas parisiense, que tanto admirava desde os tempos da oficina dos Brennand, na Várzea. A temporada na capital francesa rendeu bons frutos. Em 1986, onze anos depois do regresso ao Recife, Abelardo recebeu convite para realizar uma exposição individual no Centro Internacional de Arte Contemporânea. Numa prova de que suas amizades não requeriam atestado ideológico de esquerda, ele teve especial ajuda do então ministro da Cultura, o amigo e admirador Marco Maciel. Com o País já democratizado, Abelardo levou a Paris a

parte da obra que tanto irritava o antigo regime. Entre as peças maiores estavam “Flagelo”, “A Fome e o Brado”, “Hiroshima”, “Mãe Doente”, “Estela para Crianças Abandonadas”, “Estela para Crianças e Mulheres Abandonadas”, “Menino de Mocambo” e “Desamparados”. 2009. Em sua casa na Rua do Sossego, o artista mantém um admirável ritmo de trabalho. O burburinho de ajudantes é grande. O escultor vai sempre ao terreno contíguo, de 1.500 m², que abrigará o Instituto Abelardo da Hora. Quer ver o andamento de novos trabalhos já modelados. Entre as novidades, a estátua do amigo Miguel Arraes, em bronze, e algumas das peças que fazem parte da Exposição “Amor e Solidariedade”. Vasculha a memória e abre um parêntese em 1962, viajou com Arraes ao sertão do Araripe, fronteira de Pernambuco com o Ceará. Ali fez uma descoberta ao olhar para algumas pedras no chão. “É gipsita, gesso”, disse a Arraes. Era, na verdade, uma enorme reserva do mineral. Atualmente, o Estado é responsável pela produção de cerca de 1,45 milhão de toneladas de gipsita – 89% da produção brasileira. Abelardo percorre novamente a casa e para diante de uma de suas musas. É a representação em bronze da artista plástica Mariane Peretti – nascida em Paris e radicada em Olinda. “Ela era linda”, diz, sobre a amiga, que está com 82 anos. Na mesma sala, está o contraste – uma gravura da série “Meninos do Recife”, que lhe rendeu prestígio e prisões. Nesse ponto, tenta resumir sua obra: “Minha arte é feita de amor e solidariedade. O amor eu dedico às mulheres e a solidariedade ao povo”.

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lived in the 15th arrondissement, in a studio lent by a friend. There he made some sculptures one of them portraying Sara and his son-in-law - and engaged with the Parisian arts scene, that he had admired since his days in Brennand’s factory, back in Varzea. The time spent in the French capital brought good results. In 1986, eleven years after returning to Recife, Abelardo received an invitation to hold a solo exhibition in the International Center of Contemporary Art. As proof that his friendships didn’t require a leftist ideology certificate, he received special help from the then-minister of Culture, friend and admirer Marco Maciel. With the Country already democratized, Abelardo took to Paris the part of his work that had so irritated the old regime. Among the larger pieces were “Scourge”, the Hunger and the Cry”, “Hiroshima”, “Sick Mother”, “Monument to Abandoned Children”, “Monument to Children and Abandoned Women”, “Boy of Mocambo” and “Abandoned.” 2009. At his house on Sossego Street, the artist maintains an admirable work pace. The assistants’ murmur is loud. The sculptor is continuously visited the 1500-square-meter lot next door, which will house the Abelardo da Hora institute. He wants to see the making of new works that have already been modeled. Among the novelties, a bronze statue of his friend Miguel Arraes, and some of the pieces that are part of the “Love and Solidarity” exposition. He recalls for a moment and pauses (in 1962, he traveled with Arraes to the interior of Araripe, on the border of Pernambuco and Ceará. There he made a discovery by looking at some stones on the ground. It is “gypsum, plaster”, Arraes said. It was, actually, an enormous deposit of the mineral. Currently, the State produces about 1.45 million tons of gypsum - 89% of the Brazilian production. Abelardo walks through the house again and stops before one of his muses. It’s a bronze statue of artist Mariane Peretti - born in Paris and raised in Olinda. “She was beautiful”, he says, speaking about his friend, now 82 years old. In the same room, the contrast – a print from the series “Boys from Recife”, that gave him prestige and problems. At that point, he tries to summarize his work: “My art is made of love and solidarity. The love I dedicate to the women and the solidarity to the people.”

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Cronologia

1950 – Assume a presidência da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR).

1924 – Abelardo Germano da Hora, filho de José Germano da Hora e Severina Maria Germano da Hora, nasce na Usina Tiúma, em São Lourenço da Mata (PE), hoje município da Região Metropolitana do Recife.

1952 - Funda o Atelier Coletivo da SAMR, do qual seria professor e diretor. Ganha o primeiro prêmio do Salão de Belas Artes de Pernambuco.

1928 – A família muda-se para a Usina São João da Várzea, no subúrbio do Recife.

1953 - Passa a dar aulas gratuitas a futuras artistas, entre os quais Gilvan Samico, Wilton de Souza, Ionaldo, Campelo Neto, Aloísio Magalhães e Wellington Virgolino. Participa da campanha “O Petróleo é Nosso” e é novamente preso. Exposição itinerante de Gravuras Brasileiras, patrocinada pelo Clube de Porto Alegre, apresenta alguns

1939 – Abelardo entra na Escola de Belas Artes do Recife. No mesmo ano, ingressa no curso de escultura, da mesma instituição. Também começa a ter aulas de desenho figurativo com Fédora Monteiro, irmão do pintor Vicente do Rego Monteiro.

1924

1930

1940

1950

1940 – Começa a participar do Di- e Abelardo Rodrigues e passa a acomretório Estudantil da Escola de Belas panhar a atuação do Partido Comunista na Câmara dos Deputados da Artes. É eleito presidente. então capital federal. Faz a escultura 1942 – Passa a morar e a trabalhar com “A Família” para participar do Salão cerâmica na casa-grande da usina do de Belas Artes, que é suspenso pelo industrial Ricardo Brennand. Sua função presidente Dutra. Nesse mesmo ano, era desenhar ornamentos para as peças Abelardo retorna ao Recife. da fábrica (jarros, potes e salvas). 1945 – Participa, em 3 de março, no Recife, do comício pela redemocratização do País e contra a ditadura Vargas. Um de seus acompanhantes foi um dos filhos do industrial, Francisco Brennand, que mais tarde se tornaria famoso pintor e ceramista. 1945 – Abelardo deixa a casa da família Brennand. 1946 – Viaja para o Rio de Janeiro e instala-se numa pensão do centro da cidade. Ali conhece os irmãos Augusto

1947 – É preso pela primeira vez, ao fazer propaganda de um comício do PCB. 1948 – Realiza sua primeira exposição na Associação dos Empregados do Comércio do Recife. As dez esculturas mostradas foram feitas em diversos materiais (pedra calcária, cimento, mármore). Os títulos (“A Fome e o Brado”, “Meninos do Mocambo”, “Desespero”, entre outras) já refletem as preocupações políticas do autor. Filiase ao PCB, que já se encontra na ilegalidade. Casa-se com a estudante de Direito Margarida Lucena.

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de seus trabalhos na Argentina, Europa, Ásia, África e no Canadá. 1956 – Começa a elaborar, a pedido da Prefeitura do Recife, esculturas de tipos nordestinos inspirados na cerâmica popular e que ainda hoje estão em praças da cidade: “Os Cantadores” e o “Vendedor de Caldo de Cana”, no Parque 13 de Maio, “O Sertanejo”, na Praça Euclides da Cunha, em frente ao Clube Internacional, e o “Vendedor de Pirulitos”, no horto florestal de Dois Irmãos. Lidera a delegação pernambucana no II Congresso Brasileiro de Escritores, onde é saudado, em discurso, por Graciliano Ramos. 1958 - É eleito delegado de Pernambuco na Seção Brasileira da Associação Internacional de Artes Plásticas, da UNESCO.

1960

1950

1960 – O prefeito do Recife Miguel Arraes cria o Movimento de Cultura Popular (MCP), no qual Abelardo passou a influenciar uma geração inteira de artistas. Também em 1960, o escultor é nomeado como diretor da Divisão de Parques e Jardins da Prefeitura do Recife. 1961 - Projeto sugerido por Abelardo, obrigando a colocação de esculturas em área construída de mais de mil metros quadrados, é aprovado pela Câmara Municipal do Recife, tornando-se lei. 1962 - Lança o álbum de desenhos Meninos do Recife. Numa viagem junto com Miguel Arraes, em campanha dele para governador, descobre que pedras típicas da chapada do Araripe indicavam a existência de uma gigantesca jazida de gesso na região. 1964 – Com o golpe militar de 1964, o prefeito Pelópidas Silveira e o então

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governador, Miguel Arraes, são afastados de seus cargos. Abelardo também é afastado e preso mais uma vez, junto com o líder comunista Gregório Bezerra. Nesse ano, ele, Gregório e outros militantes deixam o PCB, mas mantêm a militância comunista. Sem condições de trabalhar no Recife, Abelardo muda-se para São Paulo, onde é recebido pela amiga Lina Bo Bardi e seu marido Pietro Maria Bardi, diretor do Museu de Arte de São Paulo (Masp). 1966 – Passa a trabalhar na TV Tupi, onde assina o cenário da novela A Ré Misteriosa, que foi exposto na IV Feira Internacional da Indústria Têxtil (Fenit). 1967 – Lança a coleção de desenhos Danças Brasileiras de Carnaval, na Galeria Mirante das Artes, em São Paulo. Organiza exposição de artistas pernambucanos no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de

São Paulo (MAC), dirigido por Walter Zanini. 1968 – Retorna ao Recife, onde ficaram Margarida e os filhos. Começa a trabalhar na empresa de pesca em sociedade com seu irmão, Luciano. 1969 - Passa no vestibular de Direito


1992 - Em São Paulo, participa da mostra “Sedução dos Volumes: Os Tridimensionais do MAC da USP”.

da Faculdade de Olinda. 1970 - Volta a trabalhar no atelier de sua casa, na Rua do Sossego (no Recife), onde cria sua primeira escultura de mulher deitada.

1994 - Integra a exposição “Os Clubes de Gravura do Brasil”, na Pinacoteca do Estado, São Paulo.

1976 - Participa de grande mostra de desenhos na Galeria Gatsby, do Recife, que tem curadoria do marchand paulista Renato Magalhães Gouveia.

1998 - Recebe a Comenda da Ordem do Rio Branco, concedida pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso.

1977 - A convite da filha Sara, casada com o francês Jean Louis, Abelardo passa uma temporada de seis meses em Paris.

2003 - No Itaú Cultural, em São Paulo, tem obra na mostra “Arte e Sociedade: Uma Relação Polêmica“.

1978 - Participa das exposições Memória do Atelier Coletivo, no Recife, e Escultura Brasileira no Espaço Urbano, no Rio. 1980 - Algumas de suas obras são

2004 - Criação do Instituto Abelardo da Hora. Realiza a exposição de desenhos “É Hora de Brincar”. Recebe o Prêmio “Orgulho de Pernambuco” dos Diários Associados e inaugura o “Monumento a Luiz

1970

1980 adquiridas pelo consórcio do recém-construído Shopping Center Recife. Integra a exposição Escultura Brasileira no Século XX, no Masp, em São Paulo. 1981 - Participa do 13º Panorama da Arte Atual Brasileira, no MAM, em São Paulo. 1983 - É eleito presidente da Associação dos Artistas Plásticos de Pernambuco e nomeado membro do Conselho Municipal de Cultura. 1984 - Expõe no Museu Nacional de Belas Artes (Rio). Participa da Exposição “Tradição e Ruptura: Fundação Síntese de Arte e Cultura Brasileiras”, promovida pela Fundação Bienal de São Paulo. 1986 - Expõe no Centro Internacional de Arte Contemporânea, em Paris. 1988 – Realiza grande exposição individual no Recife para marcar os 40 anos de sua primeira mostra na cidade.

1990 / 2000

Gonzaga”, na BR-232, que liga a capital pernambucana ao interior do Estado. 2005 – Por iniciativa do Instituto Abelardo da Hora, são lançados o álbum Danças Brasileiras Populares de Carnaval, com desenhos realizados na década de 1960 e o livro Ensaio com Abelardo da Hora. Participa de evento comemorativo do ano Brasil/França, expondo a coleção original Meninos do Recife e a escultura expressionista Menino de Mocambo. 2006 – Inaugura o “Monumento ao Frevo”. 2008 – É um dos homenageados do Carnaval Multicultural do Recife no ano do centenário do frevo. Inaugura uma série de obras na capital pernambucana, onde se destacam o “Monumento aos Retirantes”, no Parque Dona Lindu e o “Monumento ao Maracatu”, no Forte das Cinco Pontas.

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Chronology

1924 – Abelardo Germano da Hora, son of José Germano da Hora and Severina Maria Germano da Hora, was born in Mill Tiúma in São Lourenço da Mata (PE), today part of the Metropolitan Region of Recife. 1928 – The family moves to the Usina São João da Várzea in the suburb of Recife. 1939 – Abelardo enters the School of Fine Arts of Recife. In the same year, he joins a sculpture course, in the same institution. Also begins to take classes in figurative drawing with Fedora Monteiro, sister of the painter Vicente do Rego Monteiro. 1940 – Begins to participate in the student organization of the School of Fine Arts and is elected president. 1942 – Moves to the house of industrial entrepreneur Ricardo Brennand to work with ceramics. His job is to design ornaments for the plant (jars, and pots). 1945 – On March 3rd, in Recife, participates in a rally for the redemocratization of the country against Vargas dictatorship. One of his companions was one of the sons of the industrial entrepreneur Francisco Brennand, who later became a famous painter and ceramist. 1945 – Abelardo leaves Brennand’s house. 1946 – Travels to Rio de Janeiro and stays in a boarding house downtown. where he meets brothers Augusto and Abelardo Rodrigues and starts monitoring the activities of the Communist Party in the House of Representatives of the then federal capital. Makes the sculpture “The Family” which would be part of Brazilian National Fine Arts Exhibition, which is postponed by President Dutra. That same year, Abelardo returns to Recife.

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1947 – Arrested for the first time for distributing propaganda in a PCB rally. 1948 – Holds his first exhibition at the Co-mmercial Employees Association of Recife. The ten sculptures are exhibited in various materials (limestone, cement, marble). The titles “Hunger and Brad”, “Children of the Mocambo”, “Despair”, among others already reflect the political concerns of the author. Joins the PCB, which is already considered illegal. Marries Margaret Lucena, a Law student. 1950 – Accepts the Presidency of the Society of Modern Art in Recife (SAMR). 1952 – Founds the Collective Atelier of SAMR, of which he becomes teacher and director. Wins the first prize in the Salon of Fine Arts in Pernambuco. 1953 – Starts to give free lessons to future artists, including Gilvan Samico, Wilton de Souza, Ionaldo, Campelo Neto, Magalhães Aloísio and Virgolino Wellington. Joins the campaign “The Oil is Ours” and is again arrested. In a traveling exhibition of Brazilian engravings, sponsored by the Club of Porto Alegre, presents some of his work in Argentina, Europe, Asia, Africa and Canada. 1956 – Begins to develop, at the request of the mayor of Recife sculptures of northeastern figures, inspired by local pottery, which are still found throughout the city: “The Singers” and “Vendor of Sugarcane Juice” in the 13 de Maio Park, “The Sertanejo” in Euclides da Cunha Square, in front of the International Club, and “The Seller of Lollipops, at Dois Irmãos Forest Reserve. Leads the 2nd Pernambuco delegation to the Brazilian Congress of Writers, where he is welcomed in a speech by Graciliano Ramos.

1958 – Elected delegate of Pernambuco in the Brazilian Section of the International Association of Vvisual Arts, part of UNESCO. 1960 – The mayor of Recife Miguel Arraes sets up the Movement of Popular Culture (MCP), through which Abelardo starts to influence an entire generation of artists. Also in 1960, the sculptor is named as director of the Division of Parks and Gardens of Recife. 1961 – A project suggested by Abelardo, requiring the placing of sculptures in built-up areas of over one thousand square meters, is approved by the city of Recife, becoming law. 1962 – Launches the album of drawings “Boys of Recife”. On a trip with Miguel Arraes in his campaign for state governor, discovers that rocks typical of the plateau of Araripe indicate the existence of a huge deposit of gypsum in the region. 1964 – With the military coup of 1964, the Mayor Pelópidas Silveira and the then governor Miguel Arraes lose their positions. Abelardo is also removed and arrested again, along with the Communist leader Gregorio Bezerra. That year, he, Gregorio and other militants leave the PCB, but maintain their militant positions. Unable to work in Recife, Abelardo moves to São Paulo, where he is received by his friend Lina Bo Bardi and her husband Pietro Maria Bardi, director of São Paulo Art Museum (MASP). 1966 – Starts working at Tupi TV, where he creates the set of the soap opera “A Ré Misteriosa”, which was on display at the 4th International Exhibition of the Textile Industry (Fenit). 1967 – Launches the collection of drawings “Brazilian Carnival Dances” at the Mirante Gallery of Art in São Paulo. Organizes exhibition of artists from Pernambuco in the Mu-


seum of Contemporary Art, University of São Paulo (MAC), directed by Walter Zanini.

1986 – Exhibits at the International Center for Contemporary Art in Paris.

1968 – Returns to Recife, where he left Margaret and his children. Begins to work in the fishing business with his brother, Luciano.

1988 – Large individual exhibition in Recife to commemorate 40 years of his first exhibition in the city.

1969 – Starts Law School in Olinda.

1992 – In São Paulo participates in the exhibition “Seduction of the Volumes: the threedimensions of MAC - USP.

1970 – Goes back home to work in the studio, in Sossego Street, in Recife, where he creates his first sculpture of a woman lying down. 1976 – Participates in a large display of drawings at the Gatsby Gallery in Recife, of which the marchand Paulo Renato Magalhães Gouveia is the curator. 1977 – Invited by his daughter Sara, who married the Frenchman Jean Louis, Abelardo spends six months in Paris. 1978 – Participates in the exhibition “Memories of the Collective Memory”, in Recife, and in “Brazil Sculpture” at the Urban Space in Rio. 1980 – Some of his works are acquired by the recently constructed Shopping Center Recife. Participates of the exhibition “Brazilian Sculpture during the 20th Century”, at MASP, in São Paulo. 1981 – Participates in the “13th Current Brazilian Art Situation”, at MAM in São Paulo. 1983 – Elected President of the Association of Visual Artists of Pernambuco and appointed member of the Municipal Council for Culture. 1984 – Exhibits at the National Museum of Fine Arts in Rio de Janeiro. Participates in the exhibition “Tradition and Rupture: Foundation Overview of Brazilian Art and Culture”, organized by the Bienal of São Paulo Foundation.

Frevo celebration. Inaugurates a series of works in the capital of Pernambuco, including “Monument to Retirantes”, in Dona Lindu Park, and the “Monument to the Maracatu”, at Cinco Pontas Fort.

1994 – Participates in the exhibition “The Engraving Clubs of Brazil”, at the State Pinacoteca, in São Paulo. 1998 – Receives the Commander of the Order of Rio Branco, granted by the then President of the Republic Fernando Henrique Cardoso. 2003 – At Itaú Cultural Center, Sao Paulo, participates in the exhibition “Art and Society: A Controversial Relationship.” 2004 – The Abelardo da Hora Institute is created. Launches the exhibition of drawings “It’s Time to Play.” Receives the Award “Pride of Pernambuco” from Diários Associados and opens the “Monument to Luiz Gonzaga,” on BR-232, which connects the capital of Pernambuco to the interior. 2005 – With the initiative of the Abelardo da Hora Institute, the albums “Popular Brazilian Carnival Dances” with drawings made in the 1960s and the book “Test of Time With Abelardo” are released. Participates in the commemorative event “Year of France in Brazil”, displaying the original collection “Boys of Recife” and the expressionist sculpture “Boy of Mocambo”. 2006 – Inaugurates the “Monument to Frevo.” 2008 – He is honored at the Multicultural Carnival of Recife in the year of the centenary of

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Desenhos

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Incêndio no Pátio do Paraíso Xilogravura, 1955

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Enterro de CamponĂŞs Gravura em gesso, 1953

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Filha de Oxum Monotipia, 1954

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Mulher ao Telefone Bico de pena, 1982

Pรกgina anterior Gatos Bico de pena, 1965 Cavalos Bico de pena, 1965 35


Menina com Boneca Aguada de nanquim sobre papel, 1986

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Engraxates Aguada de nanquim sobre papel, 1986

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FamĂ­lia 1, 2, 3 e 4 Aguada de nanquim sobre papel, 1977

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Retrato de Margarida Aguada de naquim sobre papel , 1950 40


Autorretrato Aguada de nanquim sobre papel, 1950 41


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Desenhos

SĂŠries

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SĂŠrie Meninos do Recife Bico de Pena, 1962

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SĂŠrie Meninos do Recife Bico de Pena, 1962

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SĂŠrie Meninos do Recife Bico de Pena, 1962

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SĂŠrie Meninos do Recife Bico de Pena, 1962

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O carnaval e as mulheres são temas constantes na obra de Abelardo desde que o escultor morava e trabalhava na Usina São João da Várzea, na década de 1940. Tema de diversas de suas esculturas, desenhos e gravuras, a festa mais popular de Pernambuco ainda hoje inspira o artista. Na década de 1960, Abelardo também trouxe para as artes plásticas a riqueza visual do folclore nordestino com a série de gravuras “Danças populares brasileiras de carnaval” e, mais recentemente, em 2004, uma escultura de sua autoria, retratando um grupo de frevo, transformou-se em monumento em frente ao Aeroporto Internacional Recife-Guararapes Gilberto Freyre, no Recife. As formas carnavalescas presentes nas “Danças Brasileiras...” abrangem praticamente todo o universo do carnaval do Recife, Em 17 desenhos de bico de pena, a festa de Momo é mostrada por meio de nações de maracatu, grupos de caboclinhos e passistas de frevo.

Já as mulheres de Abelardo, em cimento ou bronze, estão espalhadas pelo Recife e pelo mundo como uma espécie de “outra face” de seu trabalho. Enquanto o escultor define sua produção mais politicamente engajada como algo “nada bonitinho” ou “um grito nos ouvidos dos moucos por conveniência”, as esculturas de corpos femininos são roliças, sensuais e gostosas. O total oposto, por exemplo, da coleção “Meninos do Recife”.

Carnival and women have been constant themes in the work of Abelardo ever since the sculptor lived and worked in Usina São João da Várzea during the 40s. Theme of several of his sculptures, drawings and engravings, the most popular festival of Pernambuco still inspires the artist. In the 1960s, Abelardo also brought to the visual arts the richness of the Northeastern folklore with the series of engravings “Popular Dances of Brazilian Carnival” and, more recently, in 2004, one of his sculptures, depicting a frevo group, became a monument in front of the International Airport Recife- Guararapes Gilberto Freyre, in Recife. The Ccarnival forms present in “Brazilian Dances...” cover practically the entire universe of the Carnival of Recife, in 17 feather tip drawings, the Momo party is shown in maracatu nations, groups of caboclinhos and frevo dancers. Abelardo´s women, on the other hand, in cement or bronze, are spread around Recife and the world as a kind of “other side” of his work. While the sculptor defines his more political work as “not cute” or “a convenient cry in the ears of the deaf”, the sculptures of female bodies are plump, sensual and hot. The exact opposite, for example, of the collection “Children of Recife.” For the sculptor Jobson Figueiredo there is no contradiction in these “two sides” of the artist. He says that “the themes and techniques go together, complete each other, being faithful to the expressionist figuration.”

Série Danças Brasileiras de Carnaval Bico de Pena, 1962

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SÊrie Danças Brasileiras de Carnaval Bico de Pena, 1962

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SÊrie Danças Brasileiras de Carnaval Bico de Pena, 1962

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SÊrie Danças Brasileiras de Carnaval Bico de Pena, 1962

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Série É Hora de Brincar Aguada de naquim, 2004

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Série É Hora de Brincar Aguada de naquim, 2004

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Série É Hora de Brincar Aguada de naquim, 2004

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Esculturas

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Ao longo de sua carreira de seis décadas, Abelardo da Hora já revolveu toneladas de barro. Sua arte é delicada, mas o trabalho é pesado. Fazer uma escultura em tamanho natural – e muitas vezes bem maior – envolve um esforço físico que, a primeira vista, parece impossível para um artista franzino, de apenas 57 quilos. Mas ele se movimenta com seu jeito elétrico, sem pensar no peso das coisas. Interfere em todas as etapas da obra. Da escolha dos materiais aos últimos retoques. Normalmente Abelardo constrói uma maquete em gesso de uma peça antes de dar-lhe forma em cimento ou bronze. Feito o protótipo, ele vai ao barro para a modelagem da escultura em tamanho original. O próprio escultor cuida de tirar as impurezas daquela massa e em seguida obtém a plasticidade necessária com as próprias mãos, amassando e socando o barro repetidas vezes. O molde, em barro, é sustentado por madeira e arame. O esqueleto segura a figura em pé e mantém braços presos ao corpo. Nessas horas, Abelardo sempre recorre a seus conhecimentos de anatomia, especialmente aos ensinamentos que recebeu do irmão e médico Bianor da Hora, catedrático da Universidade de Pernambuco (UPE), já falecido.

Quando a escultura em barro está pronta é hora de cobri-la com uma massa refratária de gesso, que será cozido para que adquira resistência térmica. Nesse molde, será despejado o bronze ou cimento. O bronze fundido a uma temperatura de 1.200 graus ou o cimento úmido ocupará as cavidades do molde que, ao ser quebrado, revela a escultura. Até hoje Abelardo não deixa passar nada sem sua presença: faz a maquete, molda o barro, tira a forma, copia em gesso, acompanha a fundição e indica a pátina. Nesse processo todo ensina e continua a ensinar a novos discípulos. Para os amigos mais próximos, o envolvimento de Abelardo com um trabalho é total porque ele não gosta apenas de ser um artista. É também um operário.

Throughout his career lasting six decades, Abelardo da Hora has mixed tons of clay. His art is delicate, but the work is heavy. To make a sculpture in natural size - and often much bigger – involves a physical strength that, at first glance, seems impossible for such a puny artist, who weighs only 57 kilos. But he moves with such energy, without thinking about the weight of things. Involved in all stages of the work. From the choice of materials to the finishing touches. Abelardo usually constructs a model in plaster before giving the piece its form in cement or bronze. With the prototype made, he uses modeling clay to sculpt the piece in its original size. The sculptor himself removes the impurities from clay and then obtains the necessary plasticity using his hands, repeatedly squeezing and kneading the clay. The mold in clay is supported by wood and wire. The skeleton keeps the figure standing upright and keeps the arm and leg attached to the body. This is when Abelardo uses his knowledge of anatomy, especially the teachings of his brother, doctor Bianor da Hora, professor of the Federal University of Pernambuco (UFPE), now deceased. When the clay sculpture is ready, It’s time to cover it with a refractory mass of plaster, which will be cooked to obtain thermal resistance. The artist will pour bronze or cement into this cast. The molten bronze at a temperature of 1,200 degrees or the wet cement should fill the cavities of the mold so that, when broken, it shows the sculpture. Till this day Abelardo won´t let anything be done without his presence: he makes the model, shapes the clay, makes the model, copies in plaster follows the casting and suggests the patina. Throughout the whole process he continues to teach new disciples. To his close friends, Abelardo is completely devoted to his work because he is not only an artist. He´s also a worker.

Cabeça do Negro Sabino Terracota, 1944 68


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Menino de Mocambo Bronze, 1969

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Relevo para Crianรงas Abandonadas Cimento polido, 1979

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Flagelo Cimento com banho de รกcido, 1975 74


A Fome e o Brado Bronze, 1947

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Hiroshima Cimento com banho de รกcido, 1956

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MĂŁe com Filho Doente Cimento com banho de ĂĄcido, 1979 79


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Estela para Mulheres e Crianรงas Abandonada Cimento com banho de รกcido, 1979

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Desamparados Cimento com banho de รกcido, 1981

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Crianรงas Abandondas Cimento com banho de รกcido, 1980

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Agreste- Sem Terra e Sem Vez Cimento polido, 2005

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O Artilheiro Bronze, 1991

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Nega Ful么 Bronze, 1952

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Mulher de Bruรงos Bronze, 1973

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Aurora II Bronze, 1975

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C贸pula Bronze, 1949

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Beijo Bronze, 1958 93


Musa em Repouso Bronze, 2005

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Mariane Bronze, 1975

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Mulher Sentada Bronze, 2005

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Copacabana III Bronze, 1969

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Figura de Mulher Bronze, 1983

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Copacabana I Bronze, 1980

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Mulher das Frutas Bronze, 1983

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Mulher Sentada Pegando no Cabelo Bronze, 1981

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Casal Bronze, 1998

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Relevo para o Amor de Abelardo e Margarida Cimento polido, 1998

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Amor Cimento polido, 2005

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Mulher de pĂŠ II Cimento polido, 1987

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Mulher na Rede CImento Polido, 1981

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Mulher Banco CImento Polido, 1975

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Mulher de PĂŠ I Cimento polido, 1983 111


Mulher de PĂŠ III Cimento polido, 1984

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Mulher Sentada / Recostada Cimento polido, 1983

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Mulher Tocando Flauta Cimento polido, 1981

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Mulher Deitada com Pernas Dobradas Cimento polido, 1995

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Musa em Repouso CImento Polido, 2005

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Mulher Sentada CImento Polido, 1996

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Mulher com Mรฃos Entrelaรงadas CImento Polido, 2007

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Mulher Reclinada IV Bronze, 1997

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Mulher Reclinada V Bronze, 1998

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Mulher Segurando o Cabelo (Aurora) Bronze, 1994

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Mulher Reclinada III Bronze, 1993

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Flora Gesso grafitado, 1974

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Cer창micas

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Conjuntos escult贸ricos

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Memorial aos Retirantes Cimento polido e pintado, 2008

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Monumento ao Maracatu Cimento polido e pintado, 2008

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Monumento ao Frevo Cimento polido e pintado, 2006

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Copatrocínio

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Realização


FICHA TÉCNICA

Exposição Amor e Solidariedade 60 Anos da Primeira Exposição Individual de Abelardo da Hora OBRAS: 50 esculturas;

DIREÇÃO EXECUTIVA Abelardo da Hora Filho

FOTOGRAFIAS E IMAGENS Thomas Baccaro

3 séries de desenhos • Meninos do Recife - com 22 desenhos; • Danças Brasileiras de Carnaval - com 17 desenhos • É Hora de Brincar - com 10 desenhos;

DIREÇÃO ARTÍSTICA Daniel da Hora

ASSESSORIA DE IMPRENSA Capta Comunicação

COORDENAÇÃO EDUCACIONAL Antônio Alves Sobrinho

APOIO TÉCNICO: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães - MAMAM - Recife Instituto Ricardo Brennand - IRB Recife Recuperação/Restauração das Obras - Jurandir Maciel, Casa das Placas

1 série de desenhos diversos (total de 18); 3 conjuntos escultóricos • O Frevo - com quatro esculturas de 3,5 metros de altura; • O Maracatu - com cinco esculturas de 2,20 metros; • Memorial aos Retirantes - com 9 esculturas;

CURADORIA Renato Magalhães Gouvêa CENOGRAFIA Cyro Del Nero DESIGN GRÁFICO Luciana Oliveira TEXTOS DO CATÁLOGO Produção editorial Timbro Comunicação

2 salvas circulares em gesso grafitado;

Redação Lula Falcão

5 bacias cerâmicas;

Edição Camilo Cassoli

AGRADECIMENTOS Ricardo Brennand Nilzardo Carneiro Leão Armanda de Holanda Cavalcanti Andréa Lima - Sucursal NE do Minc

3 jarros cerâmicos. TOTAL: 130 obras

Revisão Hebe Ester Lucas / Henrique Oliveira Versão Inglês Marcelo Guedes Revisão Inglês Lucienne Scalzo

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