Mensal Nº 2 // outubro 2013 // Fundador: Filipe Pardal
MÓNICA FERRAZ EM ENTREVISTA EXCLUSIVA
Com novo disco para sair ainda este ano, a Ensaio Geral falou com uma das cantoras em maior destaque no cenário nacional. Formações/Emprego na Comunicação: Oportunidades para enriquecer currículo ou para começar a trabalhar | Novos álbuns: Dream Theater e Nine Inch Nails com novos trabalhos | Atualidade: Análise eleições autárquicas
GRANDE REPORTAGEM A ARTE OLEIRA
Editorial
Correio do leitor
O circo nacional autárquico Interesses locais transformados em jogos políticos que não dizem a respeito a ninguém.
Filipe Pardal Desde quando é que o poder local se define pela conjuntura nacional? Desde quando é que é mais importante mostrar arrogância nas redes sociais sobre supostas derrotas e vitórias nacionais de partidos – qualquer um deles – do que ir votar no que nos diz respeito?
As respostas a estas interrogações são, provavelmente, um resumo de tudo o que vai mal no poder político, na sociedade política e pseudointelectual. Faz-me confusão quando as soluções são constantemente confundidas com demagogia daquilo que podia ou devia ser, daquilo que está mal e podia estar melhor. Não me parece que Aristóteles tenha criado/estudado a retórica para isto… mas foi o que ficou… arte de bem falar sem conteúdo.
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Contribuíram para esta edição: Beatriz Santos; Fábio Gonçalves; Filipe Pardal; João Bugalho; Mónica Ferraz; Pedro Pardal; Rodrigo Barros
2 // Ensaio Geral
A sua opinião conta… Deixe a sua crítica…
Envie-nos sugestões… Basta enviar um e-mail para: ensaiogeralmensal@gmail.com
Joaquim Ribeiro, Seixal, 52 anos «Fico contente por existir uma revista que usa o meio tecnológico para divulgar entrevistas e artigos com interesse. Ainda mais feliz fico quando essa revista é composta por jovens que estão a lutar por um futuro melhor nas suas profissões. Um bem-haja a todos e continuação de um óptimo trabalho»
Leonor Fernandez, Viana do Castelo, 27 anos «É, sem dúvida, uma revista bem estruturada e conseguida. Fazia falta algo que pudéssemos ler sem ter aquela ideia de que os jornalistas estão a ser obrigados a escrever única e exclusivamente para vender papel. No entanto, penso que deviam fazer as próximas edições mais leves, tanto a nível de conteúdo como de design. Penso estar demasiado pesado e isso pode afugentar alguns leitores. Beijinhos para a equipa!»
Estatuto Editorial
Ensaio Geral (EG) é uma revista online de periodicidade mensal totalmente independente e não pertence a qualquer grupo económico.
EG é produzida por jornalistas e pessoas que se comprometem a respeitar os direitos e deveres previstos na Constituição da República Portuguesa, na Lei de Imprensa e, no Código Deontológico dos Jornalistas, apesar de ser equiparada a um blog.
A revista promove o rigor informativo e distingue claramente os artigos de opinião dos artigos informativos.
A EG recusa o sensacionalismo, orientando-se sempre com um critério de rigor.
A EG é concebida utilizando o novo acordo ortográfico.
Índice
P. 11 Grande reportagem sobre a arte oleira de São Pedro do Corval
Opinião e atualidade
P.4
Notícias
Gonzando com isto P.10
No topo da cereja
P. 10
Música
Os últimos álbuns de Dream Theater e Nine Inch Nails
P. 14
Entretenimento
Livros atuais que valem a pena
P. 17
Cartoon do mês
P. 18
P. 7 Os concertos, projetos e preferências de Mónica Ferraz
Ensaio Geral // 3
Notícias
O que aconteceu em setembro…
Rui Costa é campeão do mundo de ciclismo Feito histórico no desporto português! O ciclista – natural da Póvoa do Varzim – está a viver o melhor momento da sua carreira com um ano notável. Venceu a Volta à Suiça, alcançou dois triunfos em etapas da Volta à França e, agora, vence tudo e todos para o título mundial. O português mostrou-se radiante em declarações à Lusa; «Eu acho que ainda não assimilei. Como tenho dito, é um sonho. Sempre sonhei ser campeão do mundo e hoje poder realizá-lo... Acho que é algo que não acreditava e que agora estou a viver. Vou vivê-lo da melhor forma».
Tribunal Constitucional chumba alterações ao Código do Trabalho O TC declarou como inconstitucionais algumas das novas normas propostas para o Código do Trabalho, nomeadamente por extinção do posto de trabalho e por inadaptação. Os juízes consideram que as normas «não fornecem as necessárias indicações normativas quanto aos critérios que devem presidir à decisão do empregador de seleção do posto de trabalho a extinguir».
4 // Ensaio Geral
Resultados Eleições Autárquicas 2013 Em termos globais e comparativos, a CDU e os candidatos independentes obtiveram os melhores resultados da noite. PSD e Bloco de Esquerda merecem destaque pelos motivos inversos. O Partido Socialista – António Costa - venceu com clareza a cidade de Lisboa, no entanto os resultados partidários dos socialistas não se podem considerar uma vitória clara. Na verdade, o número de votos conquistados pelo PS foi inferior ao de 2009 e os autarcas “rosas” perderam cinco das mais importantes autarquias do país – Braga, Guarda, Évora, Beja e Loures. Na cidade do Porto reside a grande perda para o PSD. Menezes não só perdeu para o independente – apoiado pelo CDS – Rui Moreira, como não passou da terceira posição com Manuel Pizarro do PS a obter maior número de votos. A coligação de Jerónimo de Sousa acaba também por ficar satisfeita com os resultados destas autárquicas. A CDU consegue reconquistar as câmaras alentejanas de Évora e de Beja e, ainda, conquista Loures com a lista comandada por Bernardino Soares. O CDS conseguiu aumentar o número de autarquias – em comparação com 2009 – de uma para cinco. Paulo Portas acaba por ironizar nas declarações onde afirma: «Era uma partido pequeno, não era?» Para terminar, resta falar do Bloco de Esquerda que acabou por perder a única autarquia que detinha. Tudo o que o partido de esquerda acabou por conseguir foi oito mandatos espalhados por todo o país.
Notícias
FMI propõe à zona euro um subsídio de desemprego europeu
Merkel vence eleições alemãs com maioria absoluta
A instituição liderada por Christine Lagarde lançou um relatório denomiado “Toward a fiscal union for the euro área”, no qual constam várias propostas para evitar uma nova crise na zona Euro. Uma delas é a criação de um subsídio de desemprego europeu. O relatório refere que «A proteção social poderia ser candidata a maior partilha de riscos orçamentais».
A chanceler alemã obteve mais de 42% dos votos o que significa a maior votação desde a reunificação do país germânico. Angela Merkel classificou a vitória nas eleições como um “super-resultado” e prometeu fazer tudo para garantir “quatro bons anos” ao seu país.
Nascem cada vez menos bebés em Portugal [Estudo]
Depois da vitória – que por pouco não foi suficiente para uma maioria absoluta – restam as negociações de coligação que não são fáceis, principalmente na conjuntura alemã. Tanto o Partido Social-Democrata como o Partido Verde - os dois óbvios parceiros num governo de coligação que terá de manter o país à tona - (Merkel chegou surpreendentemente perto, mas não conseguiu a maioria parlamentar absoluta) hesitaram em começar as negociações com ela e essa mesma hesitação parece mais do que apenas estratégica. Os parceiros políticos de Merkel não a substimam, temem a força política da chanceler ao ponto de evitar a sua proximidade.
Este ano é previsto que nasçam menos oito mil bebés em Portugal do que no ano passado. A investigadora Laura Vilarinho, do Instituto Nacional de Saúde, aponta a emigração dos jovens como a principal responsável por este resultado. «O grande problema é a quantidade de jovens que estão a sair do país. Quem está a emigrar são os casais mais jovens», refere a investigadora.
Ensaio Geral // 5
Notícias
O que vai acontecer em outubro…
Discussão do Orçamento do Estado 2014 começa este mês De acordo com o calenário oficial, o orçamento para o próximo ano começa a ser discutido no próximo dia 23 e irá a votação final no dia 26 de novembro. A ministra de Estado e das Finanças – Maria Luís Albuquerque – estará na comissão parlamentar para a realização da primeira apresentação da proposta de lei – que tem obrigatoriamente de ser entregue até ao dia 15 deste mês. No dia 25 será a vez de Pedro Mota Soares – Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social – para apresentar a proposta aos deputados na comissão de especialidade. A discussão formal do Orçamento do Estado, em termos globais, está marcada para os dias 31 de outubro e 1 de novembro, seguindo-se um período de cerca de duas semanas para o debate na especialidade com os ministros de cada setor organizacional de atividade. Apesar deste início em outubro, o processo só fica concluído no penúltimo mês do ano. Nos dias 21 e 22 de novembro serão discutidas as propostas em plenário com posterior votação na especialidade. O processo legislativo termina dia 26 com a votação final global da proposta de lei, após ter passado por todos os passos supracitados.
As ajudas diretas aos agricultores vão ser pagas no corrente mês. Quem o diz é o secretário de Estado da Agricultura – José Diogo Albuquerque. As ajudas têm um valor total de 320 milhões de euros. «Os pagamentos diretos aos agricultores decorrentes da PAC vão ser pagos em outubro. Nós conseguimos antecipar o pagamento único aos agricultores», afirmou o secretário de Estado à agência LUSA depois de uma visita a uma queijaria tradicional em Gouveia.
6 // Ensaio Geral
O Bloco de Esquerda anunciou a convocatória da Mesa Nacional para o dia 12 de outubro.
Os objetivos da reunião assentam no “combate ao Governo” e na “oposição” ao Orçamento do Estado para 2014.
Tema de Capa
Entrevista
Mónica Ferraz «Há um novo disco que sai ainda este ano. Podemos esperar alguma continuidade mas muitas sonoridades diferentes» Por: Filipe Pardal A Mónica já tem um vasto currículo no panorama musical de vários projetos e colaborações bem sucedidas mas, atualmente, aposta na carreira a solo… Como tem corrido esta nova experiência, qual o balanço que faz?
O balanço é extraordinário. Sempre dei a cara como cantora nos projetos que participei mas as responsabilidades eram menores. Numa carreira a solo tudo o que acontece é da minha responsabilidade. Mas quando corre bem, como tem corrido, a satisfação é redobrada. Tem estado com uma agenda muito preenchida, de norte a sul do país, com passagem em grandes palcos e também festivais de verão. Como têm corrido as performances ao vivo?
Correm cada vez melhor felizmente. Ao longo do ano a banda vai ganhando uma maturidade musical em palco que permite performances cada vez melhores. E com uma banda assim preocupo-me unicamente em cantar e interagir com o público. O que dá mais satisfação, um público mais intimista num palco por conta própria ou um festival de verão como o Sudoeste onde chega a mais pessoas?
Não consigo dar uma preferência. Se numa fase inicial do meu projeto a solo estava mais confortável em auditórios, a evolução natural de fazer tantos concertos de exterior levou-me a estar realmente confortável também nos grandes palcos de festivais. Mas satisfação dão ambos, e muita. Apenas são muito diferentes as abordagens que a banda tem em cada ambiente. Qual o concerto, deste ano, que lhe conferiu mais realização e gosto pessoal?
É muito difícil de responder a essa questão. Mas talvez o concerto das Festas do Mar em Cascais. Fui cabeça de cartaz ao lado de nomes enormes, deu-me gozo perceber que há cada vez mais pessoas a conhecerem as minhas músicas e a associarem ao meu nome e que estar ali naquela posição começa a ser normal. Mas era um dos grandes desafios do ano. Destaco também claramente o concerto de Braga (no Theatro Circo e na Noite Branca) e o do festival MEO Sudoeste. Com colaborações com os Orelha Negra e com os Natiruts que têm invadido – no bom sentido – as rádios nacionais, como é que vê este vasto reconhecimento, tanto por parte destes grupos como depois por parte de quem a ouve em registos tão diferentes? 8 // Ensaio Geral
É do melhor que pode haver receber convites deste tipo. Significa antes de mais que as pessoas estão atentas e reconhecem, na minha voz, potencial para vários estilos. O que é de facto uma coisa que eu também sinto e gosto de fazer. E os Natiruts, como é sabido por todos, são gigantes no Brasil e em Portugal também, cada vez mais. Diferente também é o registo encontrado em «Start Stop» quando comparado com o da banda Mesa. Sente que os antigos fãs reagiram bem à mudança?
Sinceramente acho que não. As diferenças são tão grandes que é normal que muitos fãs dos Mesa tenham ficado pelo caminho. Sei que há muitos que acompanharam o gosto pelo meu projeto talvez porque o que os ligava aos Mesa era mais a minha voz. Outros nem tanto. Os que se ligavam mais ao todo dos Mesa, se calhar nem gostam muito do meu estilo musical a solo, algo que respeito perfeitamente.
«É do melhor que pode haver
Que opinião tem sobre os orçamentos avultados para receber convites destedisso, tipo. campanhas? Como são exemplo o orçamento de Menezes que Negra; atinge os Natiruts] 350 mil euros Significa e o de António [Orelha Costa que apresentou um orçamento de 376 mil euros... que as pessoas reconhecem, na São orçamentos gigantescos, mas nem são totalmente minha voz, potencial parada vários transparentes, porque ambos beneficiam sua função
estilos» Em que medida difere um projeto coletivo de um projeto a solo?
É um pouco como nos negócios, maior risco, maior retorno e vice-versa. Temos muito maiores riscos a solo. Quando corre mal a “dor” é essencialmente minha. Quando corre bem é natural que seja quem melhores recompensas tem.
Entrevista
Há novos lançamentos a chegar?... Podemos esperar a continuidade de Mónica Ferraz a solo?
O que falta à indústria musical nacional para dar o “passo seguinte”?
Há um novo disco que sai ainda este ano. Podemos esperar alguma continuidade mas muitas sonoridades diferentes. Caminho no sentido musical do qual maior partido e prazer tiro, mas há sempre uma certa coerência no que vem aí. Mas respondendo: claro que podem esperar Mónica Ferraz a solo com uma banda incrível.
Faltará muito pouco em breve. Numa crise tão grande, toda a indústria musical é sujeita a uma pressão tremenda. E só ficam para o futuro os melhores. Há uma seleção natural em que só vão ficar os melhores músicos, os melhores promotores de espetáculos, as melhores rádios, as melhores editoras, as melhores agências, os melhores managers, etc.
A pergunta inevitável sobre a língua portuguesa e inglesa. Qual é o idioma em que prefere cantar e porquê a escolha no inglês em certas ocasiões?
Gosto igualmente de cantar em português e em inglês. E sinto-me muito confortável em ambos os idiomas. A escolha do inglês inicialmente foi no sentido de distanciar o projeto dos Mesa. Mas, na realidade, chego à conclusão que talvez o inglês “case” melhor com a música que faço. A música portuguesa tem evoluído no que toca a projetos novos e inovadores em território nacional e com maior reconhecimento por parte do público… O que toca no seu rádio ou MP4 neste momento a nível de artistas portugueses?
Rádio não ouço até porque não gosto de me ouvir. Já a nível de artistas portugueses acho que posso destacar o António Zambujo como alguém que ouço, admiro muito e que conhece muito sucesso agora, merecido.
Ser cantor em Portugal é difícil?
Acho que é muito difícil não ser. Eu acho que não conseguia. Que conselho deixa a quem sonha conseguir uma carreira no ramo?
Acho que é preciso talento antes de mais e o próprio acreditar nele. Depois vem a persistência seguida de paciência para esperar. Tudo demora. Por último, a pessoa tem que ter à sua volta quem acredite tanto ou mais que o próprio em si mesmo. Um muito obrigado pela sua disponibilidade. Para terminar gostava que deixasse apenas uma mensagem para os criadores e leitores da nossa revista…
Obrigado pelo convite para a entrevista e muitos parabéns pela iniciativa com desejos de boa sorte para o futuro!
Ensaio Geral // 9
Opinião/Crónica
GONZANDO COM ISTO… Por: Filipe Pardal Está instituído mais um duelo pela manutenção. De um lado os maus, do outro os péssimos num embate execrável e recordista em público: a vizinha, o velho, a criança confusa, o médico, o espetador do Splash e do Big Brother, o professor, o anarquista, o republicano, o absolutista, o que nunca está feliz e o conformado. Tudo isto com a esbelta vantagem de não ser necessário bilhete para galantear no espetáculo que entra agora numa fase peremtória, recreios onde a ignorância surge como a melhor amiga de todos sem grandes razões para isso. Não interessa quem é bom, interessa quem consegue provar que o outro é pior que o próprio umbigo imperfeito de uma sociedade tão linearmente distorcida. Uns sem medo! Outros com «falinhas mansas»! Que a fachada do poder local mal aproveitado seja o mote da primeira ronda… não entre os líderes e os competentes, mas entre quem luta pela elementar e reles manutenção, entre quem está no fundo do poço mas persiste com aspirações – em nome próprio -nacionais e europeias.
NO TOPO DA CEREJA… Por: Rodrigo Barros Enquanto eu puder tocar na tua face, tu sabes que eu não abandono este lugar. Este espaço em que tu me deixaste entrar, em que eu tentei pertencer um pouco com todas as forças que tinha no corpo e que tinha na alma. – O teu mundo – Sinto-me grato. O silêncio é tudo o que digo, tenho tendência para fugir, quero fugir contigo esta noite! És aquele anjo que me salva do meu pesadelo, a sombra que se esbate no meu desejo mais intenso de te ter comigo, estamos e ambicionamos que o momento nunca acabe e quando acaba já estou a desejar que voltes, sabes onde me encontrar. Não é preciso perderes tempo, tu já és a voz dentro da minha cabeça. Acalmas-me sem saberes nas noites em que não consigo dormir, em que não consigo sonhar, em que estou longe de ti quando queria estar tão perto. Faz três dias que não te vejo e já sinto a tua falta… Tu! Sinto a tua falta perto de mim, da tua voz que me aquece por dentro, das tuas mãos entrelaçadas nas minhas que me fazem sentir tão calmo, das tuas brincadeiras que me animam, dos teus lábios que me consomem num sentido tão bom, do teu pescoço que adoro explorar, das tuas pernas que me fazem começar a desejar-te tão intensamente, da tua cintura, do teu peito… de tudo o que faz parte de ti e te ajuda a ser tão única e tão especial.
10 // Ensaio Geral
Entrevista
Entrevista
Texto: Filipe Pardal Imagens captadas da filmagem de: Jo達o Bugalho
12 // Ensaio Geral
Ensaio Geral // 11
Reportagem
Arte Oleira… São Pedro do Corval, no concelho de Reguengos de Monsaraz, é um dos principais centros oleiros de todo o país. Por toda a aldeia é possível vislumbrar uma paisagem rica em olarias tradicionais mas que, com alguma inovação, conseguem estar abertas nos dias de hoje para continuar uma forma de arte utilitária.
É logo depois da placa indicativa de São Pedro do Corval que estamos perante o maior centro oleiro do país. Esta aldeia alentejana não só respira o barro como vive da atividade. Atualmente estão em funcionamento três dezenas de lojas e fábricas oleiras que conseguem, através de encomendas nacionais e, de alguma exportação, subsistir à crise que se abate sobre Portugal. É indiscutível a arte que está inerente no fabrico destas peças e utensílios em barro mas, cada vez mais, as gentes ligadas ao oficio têm de pensar e apostar na inovação para continuar a ter clientes, para continuar a perdurar mesmo com falta de mãos novas que continuem a arte ancestral dos seus pais e avós. Consciente desse aspeto está a Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz que, através de feiras de promoção tem vindo a tentar incutir nos oleiros essa necessidade. «É sempre possível inovar na arte oleira e talvez essa seja uma das variáveis em que mais vale a pena apostar daqui para a frente. Houve já projetos em que tentámos desenvolver peças utilitárias mas com um design moderno e mais arrojadas do que o habitual», conta-nos José Calixton, presidente da autarquia alentejana. Existe mesmo uma Feira Ibéria da Olaria e do Barro, que junta São Pedro do Corval a Salvatierra de los Barros, na vizinha Espanha, que congrega toda esta diversidade oleira. De dois em dois anos este certame consegue atrair milhares de visitantes, oferecendo uma oportunidade única para os fabricantes.
12 // Ensaio Geral
Nesta freguesia de Reguengos de Monsaraz, a atividade oleira emprega centenas de pessoas distribuídas em todas as olarias em funcionamento. Muitas são negócios de família mas já permite que esta aldeia seja uma clara excepção ao desemprego elevado no interior do país. Uma coisa é certa, quando se visita São Pedro do Corval visitamos uma paixão no trabalho, visitamos pessoas e trabalhadores que realmente gostam do que fazem diariamente. «Gosto muito do que faço, dá muito trabalho fazer estas peças, estou um dia inteiro a trabalhar nelas e isso só é possível quando realmente se gosta. Quando chego ao fim do dia as costinhas já doem», confessa-nos Maria da Conceição uma artesã local. Também David Silva reforça o significado e a dedicação necessária para exercer a arte da olaria, «Todo o oleiro que gosta da própria profissão não olha a dificuldades. Trabalha o barro, porque gosta do barro. Existe realmente um contacto direto entre o homem e o barro e o amor à profissão é tanta que, possivelmente, só quando passar para o outro lado é que vou deixar de trabalhar o barro». Mexer e trabalhar o barro com as próprias mãos é e vai continuar a ser, indiscutivelmente, o principal oficio das gentes de São Pedro do Corval. Para quem ficou com curiosidade em visita a Festa Ibérica, fica a informação que ela volta a Portugal já em 2015, naquela que é uma excelente oportunidade para perceber e assimilar esta arte.
Reportagem
Pode ver esta reportagem em formato televisivo no seguinte link: http://videos.sapo.pt/UVYIBSJZQHIu SEWsZIPS
Ensaio Geral // 13
Música
Dream Theater [Dream Theater] & Hesitation Marks[Nine Inch Nails] em análise Por: Fábio Gonçalves
Os gigantes do metal progressivo estão de volta e apresentaram em setembro o décimo segundo álbum da banda, o homónimo “Dream Theater”. Este é o segundo disco de originais desde a saída do mítico baterista Mike Portnoy, em 2010, e procura provar aos fãs do conjunto norte-americano que apesar desta contrariedade a essência de Dream Theater está viva e de boa saúde. O tema introdutório do álbum, False Awakening Suite, é um pequeno instrumental dividido em três partes que define desde logo o tom que se vai seguir. Esta melodia épica e plena de intenção prepara o ouvinte da melhor maneira para a faixa que se segue, The Enemy Inside. O primeiro single, lançado logo em agosto, é um dos melhores exemplos das qualidades que tornaram Dream Theater numa das maiores bandas da música pesada progressiva, e também por isso uma excelente escolha para ser a cara do disco homónimo. O som técnico e frenético – e que ao mesmo tempo fica no ouvido - de The Enemy Inside é mesmo um dos pontos altos do álbum. Infelizmente, estes primeiros minutos ousados são interrompidos pela terceira faixa, The Looking Glass. Apesar dos seus relativos curtos 4 minutos e 53 segundos, este tema torna-se rapidamente aborrecido e definitivamente acrescenta pouco à experiência auditiva. Segue-se “o” instrumental de “Dream Theater”, Enigma Machine. Se a música soasse tão bem quanto o nome que lhe fora atribuído já teria sucesso garantido, e a boa notícia é que soa ainda melhor. Só resta elogiar a criatividade da banda neste patamar, pois John Petrucci (guitarra), Mike Mangini (bateria), Jordan Rudess (teclado) e John Myung (baixo) apresentam aqui o que de melhor são capazes. Solos, de guitarra, teclado e bateria, melodias espetaculares, mudanças de ritmo dinâmicas, tudo isto de pode ouvir durante os seus 6 minutos de duração, apetecendo até dizer que o seu único defeito é acabar tão depressa. Com a quinta faixa, The Bigger Picture, chega a hora de o restante membro da banda, o vocalista James LaBrie, dar um ar da sua graça. No entanto, um pouco à semelhança de The Looking Glass, este tema torna-se por vezes algo aborrecido, isto apesar daquela que é provavelmente a melhor performance de LaBrie em “Dream Theater”. Seguen-se Behind The Veil e Surrender To Reason, duas faixas equilibradas que contribuem para a construção da atmosfera do álbum mas que acabam por soar demasiado a tantas outras músicas de Dream Theater presentes em álbuns passados. Este é, de resto, um problema difícil de contornar quando se fala de uma banda com mais de 25 anos de existência.
14 // Ensaio Geral
Música A penúltima faixa e segundo single, Along For The Ride, é a habitual balada do álbum. Uma música que promete colocar os fãs a cantar com LaBrie durante as próximas tournées mas que tem poucos motivos de interesse, talvez apenas com a exceção do teclado de Rudess. “Dream Theater” encerra com o épico de 22 minutos Illumination Theory. Aquela que é para muitos a especialidade da banda americana deixa mais uma vez a sua marca, mas desta feita fica a sensação que o efeito não foi totalmente conseguido. Dividido em cinco partes, o tema possui uns primeiros minutos extremamente interessantes, no entanto a inclusão de uma vertente atmosférica mais forte teve pouco sucesso. A inevitável perda de ritmo tem como consequência a sensação de que as várias secções estão desligadas umas das outras, algo, neste caso, fatal. Em suma, o álbum que ostenta o nome da banda acaba por ser uma boa adição à discografia de Dream Theater. Fica apenas a sensação de que a banda está demasiado presa ao seu passado, sendo certo que na verdade poucos estariam à espera de algo diferente num disco que parece ter tido como principal objetivo traçar um retrato a um dos maiores ícones do seu género musical.
Trent Reznor está diferente, mais maduro. Durante o hiato que separou “Hesitation Marks” do anterior álbum de Nine Inch Nails – The Slip (2008) – o músico norte-americano colecionou galardões com as suas colaborações noutros projetos e estabilizou a sua vida pessoal, dados que influenciaram sobremaneira a direção musical da banda neste último disco de originais. A sonoridade industrial desapareceu quase por completo, contam-se pelos dedos de uma só mão a quantidade de vezes em que o som de uma guitarra distorcida aparece em “Hesitation Marks” e a voz de Reznor cedeu quase toda a sua agressividade a um tom mais introspetivo e decadente. É no entanto neste desespero emocional que se encontram os mais fortes elos de ligações deste oitavo álbum de Nine Inch Nails relativamente à sua restante discografia. Exceção feita ao terceiro single, Everything – que roça o punk-pop -, todas as restantes 13 faixas que compõem “Hesitation Marks” distinguem-se pelas suas letras fatalistas e negativistas, mesmo as poucas que são pautadas por um ritmo acelerado na batida. Este disco marca ainda o regresso às faixas mais dançáveis, como são exemplos os primeiro e segundo singles, Came Back Haunted e Copy Of A. Estas são simultaneamente algumas das faixas que mais se destacam pela sua qualidade, juntamente com Satellite e All Time Low. Esta última, sobretudo, contempla uma fusão muito interessante entre o som sintético que domina quase todo o álbum e uma guitarra que vai buscar influências ao funk. Trent Reznor dá aqui um excelente exemplo de como tirar o melhor partido da música eletrónica e coloca-la ao serviço do rock. Talvez a maior crítica que se pode fazer a “Hesitation Marks” depara-se com um certa repetição tanto ao nível da sonoridade como da letra. Não que haja maus temas ao longo dos seus mais de 60 minutos duração, mas chega a dar a ideia de que alguns deles pouco acrescentam, pelo que os ouvintes viveriam bem sem eles. Quem esperava um regresso às origens de Nine Inch Nails com este oitavo disco de originais certamente ficará desapontado. Aquilo a que se pode assistir é à evolução de um músico que já ultrapassou a sua fase de “puto rebelde” e é agora um homem de família quase a completar meia centena de anos. A espontaneidade crua deu lugar à emoção controlada. Trent Reznor amadureceu, a sua música também.
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Formação&Emprego
Oportunidades na área da comunicação…
16 // Ensaio Geral
Livros&Leituras
Sugestões de leitura Este livro é um autêntico e rigoroso Manual de Instruções. Consegue indicar três dúzias de ideias, defeitos, hábitos e manias políticas que ajudaram a bloquear um país inteiro. Não é um manual para encontrar culpados nem para fazer contas, mas serve para perceber como alguns acasos e outras tantas teimosias nos levaram a um beco sem saída, do qual só podemos sair com um conjunto de alterações muito sérias, nos discursos e nas práticas de eleitores e eleitos. v
Semelhante ao livro “O meu programa de Governo” de José Gomes Ferreira, é agora a vez do prestigiado jornalista Ricardo Costa relatar a sua versão dos factos.
Um grito de revolta contra os tempos conturbados que vivemos. A escrita, o compromisso político, as amizades, o exílio e as viagens são elementos indissociáveis numa vida fascinante como a de Luis Sepúlveda. Nestas páginas, entrelaçam-se histórias pessoais, histórias dos trabalhadores e suas lutas, gritos de dor perante a exploração criminosa do meio ambiente, reflexões pungentes sobre a crise económica que atingiu a Europa e encenações de momentos partilhados com amigos, entre eles Pablo Neruda, José Saramago e Tonino Guerra. E emerge, acima de tudo, o Luis Sepúlveda homem: as lembranças do difícil passado no Chile, o destino dos seus companheiros dispersos no exílio e o seu reencontro numa pequena baía do Pacífico, uma viagem pelo deserto de Atacama. E, sobretudo, a certeza de ter vivido «uma vida de formidáveis paixões». O Império Otomano desmorona-se e a minoria arménia é perseguida. Apanhada na voragem dos acontecimentos, a família Sarkisian refugia-se em Constantinopla. Apesar da tragédia que o rodeia, o pequeno Kaloust deixa-se encantar pela grande capital imperial e é ao atravessar o Bósforo que pela primeira vez formula a pergunta que havia de o perseguir a vida inteira: “O que é a beleza?” Cruzou-se com a mesma interrogação no rosto níveo da tímida Nunuphar, nos traços coloridos e vigorosos das telas de Rembrandt e na arquitectura complexa do traiçoeiro mundo dos negócios, arrastando-o para uma busca que fez dele o maior coleccionador de arte do seu tempo.
Ensaio Geral // 17
Cartoon do mês
Quanto “Bale”? Por: Pedro Pardal
Nยบ 2 outubro, 2013