Ano 8 N 0 42 R$ 4,50
CAPE TOWN: UMA LINDA METRÓPOLE À BEIRA-MAR
GULA: ROTEIRO GASTRONÔMICO DA PRAIA DO ROSA
HOME OFFICES: TRABALHAR EM CASA PODE SER UM PRAZER
iogurte
UMA DELÍCIA SAUDÁVEL E VERSÁTIL, ELE MERECE ESTAR PRESENTE EM TODAS AS CASAS, TODOS OS DIAS!
Cotidiano m A r t h A
m e d e i r o s
Fiz o melhor que pude
Ainda dá tempo de definir o que dirá a nossa biografia Uma amiga muito querida me contou outro dia que, numa brincadeira, a desafiaram a escolher uma frase que resumisse sua vida, uma frase que pudesse servir como epígrafe da sua biografia. Ela pensou, pensou, e quando todos esperavam uma daquelas frases inspiradíssimas, que levam a platéia à comoção ou às gargalhadas, ela simplesmente elegeu: “Fiz o melhor que pude”. Pare e pense. “Fiz o que pude” é uma declaração de inocência e soa como evasiva, tipo “se não deu certo, a culpa não foi minha”. Mas minha amiga não disse “fiz o que pude”, ela disse “fiz o melhor que pude”, e neste caso há esforço e dedicação, há uma declaração de responsabilidade. Todos nós poderíamos ter feito mais. Poderíamos ter sido mais amorosos com nossos pais, ter tido mais paciência com nosso filhos, procurado mais nossos amigos, ter nos irritado menos no trânsito, ter saído mais a pé, ter deixado de gastar tanto dinheiro em bobagem, ter nos dedicado mais no trabalho, ter reservado mais tempo para nossos prazeres particulares, ter evitado tanto stress. Todos nós poderíamos ter sido mais cuidadosos com nossas palavras, ter provocado menos, ter sido mais compreensivos com nossos amores. Aliás, poderíamos ter encontrado o tal “amor para sempre”, não fôssemos
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Estilo Zaffari
tão seletivos e medrosos. Ou você ainda acredita em falta de sorte? Poderíamos ter aberto mais os olhos e o coração, e ter acreditado menos em idealizações românticas que só nos iludem. Poderíamos ter ajudado mais a quem precisa, poderíamos ter lido mais, ter feito mais atividades físicas, poderíamos ter encontrado tempo para escutar as queixas dos amigos, que muitas vezes nos pareceram tão improcedentes e aborrecidas. Poderíamos ter nos interessado mais por política e não ter votado em qualquer um, poderíamos ter economizado dinheiro para viajar e não para aguardar uma emergência que nunca apareceu, poderíamos ter elogiado mais, retornado os telefonemas, cumprido as nossas promessas, poderíamos ter mantido a nossa palavra. Poderíamos, caso já tivéssemos 100 anos. A verdade é que ainda podemos. Nossa biografia tem muitos capítulos a serem escritos. Um novo ano começa agora, pra valer, sem férias. O compromisso, seu e meu, é fazer o melhor que a gente pode. E espera-se que o nosso melhor seja suficiente não só para levarmos uma vida bacana, mas para facilitar também a vida dos outros. Está esperando o quê? Faça o melhor que você pode, e o seu melhor há de ser suficiente. mArthA medeiros é esCritorA
Bom conselho p o r
M a lu
C o e l h o
Chá verde
Lembra do Cha-Cha-Cha? Muito além do som deste ritmo gostoso, que a geração dos anos 50 dançava com glamour e graça, hoje podemos experimentar outro ritmo: o da busca pela qualidade de vida por meio dos chás. E existem inúmeros e gostosos chás: verdes, vermelhos e pretos, dos mais suaves aos mais intensos. Aromático e saudável, o chá é nosso aliado no cotidiano e seu uso vai além do medicinal, passando pela culinária e chegando aos tratamentos de beleza. Há um chá, muito especial, que parece ter virado moda: o CHÁ VERDE. Conta-se que ele foi criado por volta de 2.800 a.C. na China. Possuidor de muitos atributos, o chá verde é um produto absolutamente sensacional, uma bebida completa, extraída das folhas de uma planta chamada Camellia Sinensis. Onde encontrar Em casas de chás, lojas especializadas, farmácias e supermercados. Nas formas: a granel, em cápsulas ou em sachês. Dicas Na água fervente, coloque especiarias como cravo, canela, etc. Sirva com tirinhas de casca de laranja ou limão, fervidas anteriormente serve para atenuar o gostinho meio amargo atribuído às substâncias antioxidantes. Para o calor que se aproxima, use o chá gelado, na forma de ponche. Prepare-o normalmente, e para cada litro adicione 1 xícara (chá) de frutas frescas bem picadinhas e 2 colheres de hortelã picada. Adicione mel a gosto. Deixe na geladeira pelo menos 3 horas para ficar mais saboroso. Funções atribuídas ao Chá Verde Auxilia a evitar o aumento do colesterol; Estimula o sistema nervoso central; Evita o envelhecimento precoce, retardando-o por ser fonte de antioxidantes, que combatem os radicais livres; Pode manter a pressão em seus níveis normais; Tem grande poder digestivo, e tomado quentinho após as refeições equilibra a flora intestinal e combate o colesterol ruim; Contém manganês, potássio, ácido fólico e vitaminas C, K, B 1 e B 2. Outras formas... Existem, também, maravilhosos produtos de beleza feitos com chá verde, como shampoos, sabonetes e cremes faciais. Faça suas escolhas! Use um cheiroso shampoo de Chá Verde, aquele creminho básico, e talvez depois faça uma mousse deste mesmo chá poderoso.
e não esqueça: após as refeições, toMe uM tradiCional Chazinho verde. o organisMo agradeCe!
(con)vivências r u z A
A m o n
ElEtrodomésticos A sutil ditadura da linha branca
É bom não negligenciarmos a importância dos eletrodomésticos clássicos só por causa do sucesso dos tocadores de MP3, câmeras digitais, celulares e pen drives. A geladeira, por exemplo, em breve estará deixando de ser uma simples despensa climatizada. Já existem versões que administram as compras da casa via internet e comandam a casa inteira por meio de um painel inteligente instalado na porta. Pagamento da faxineira, fechamento de janelas, desligamento do motor da piscina, hora de dar comida para o gato, é tudo com elas. Já fico imaginando que o próximo passo da indústria eletrônica seja reproduzir nessas geladeiras (pelo menos uma vez por semana) a cara de mau humor típica de quem se dedica unicamente ao lar, com o objetivo de torná-las mais legítimas... E se elas desenvolverem instinto assassino e envenenarem a comida dos maridos? Vai ser preciso muito cuidado. Quem é chegado num assalto à geladeira durante a noite deve ir se preparando, porque a tendência do politicamente correto vai tomar conta desses novos modelos. Comprometidas com hábitos saudáveis, elas certamente virão com horários de abertura de porta programados de fábrica. Não vai adiantar insistir, e muito menos seduzir, pois mesmo que o design as torne magrinhas, chiques e falantes, elas continuarão sendo frias, com um cofre de gelo no lugar do coração, enfim, verdadeiras... geladeiras. Enquanto o futuro não vem, a única queixa que pesa contra os refrigeradores é de serem responsáveis por todos os excessos gastronômicos da família. Aliás, me comove ver esses paquidermes elétricos tapados de imãs publicitários, como se fossem condecorações burlescas por serviços prestados contra nossa forma física. Menos polêmicos e cada vez mais dominantes, os
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televisores estão de volta à sala de estar graças à elegância dos aparelhos de plasma. Na maior parte das vezes, a tevê é companheira e agregadora, mas acidentes acontecem. Vejam o caso de um amigo meu. Para acompanhar o último jogo do campeonato nacional de futebol, ele buscou desesperadamente por toda a casa um aparelho de tevê que estivesse livre. Na sala, a mulher via um filme imperdível. No quarto do casal, a filha assistia a um DVD da Cinderela, alugado justamente para que a mãe fosse deixada em paz vendo o filme imperdível. Ele correu ao quarto da empregada, onde encontrou um aparelho desligado. Apertando com ânsia todos os botões, sob o olhar fulminante da cozinheira, perguntou: – Não funciona? – Funcionava muito bem até o senhor mexer no bombril – respondeu a dona da tevê, cheia de rancor. – Não pega tevê a cabo? – O único cabo que ela pega é aquele ali – disse ela, mostrando a chave de fenda usada para trocar os canais. Meu amigo não se deixou intimidar. Mesmo sob forte pressão e hostilidade, pediu emprestado o radinho de pilha da empregada e, ali mesmo, entre uma pilha de roupas sujas e o aspirador de pó, entregou-se às emoções da partida final, que infelizmente acabou em derrota para o time e para o casamento. Pensando em todos esses fatos, eu fico meio assustada com a importância dos membros eletrodomésticos da família, pois se hoje já se revoltam, tomam partido, corrompem e jogam pesado, que dirá quando chegarem os propagados tempos da inteligência artificial. Haveremos de ter muito cuidado.
ruzA Amon é jornAlistA
Assim, ó... Lu í S
Au g u S to
F i S c h e r
chico expLicA o mundo
Ser contemporâneo desse artista é um grande privilégio É um luxo ser contemporâneo de Chico Buarque. A gente talvez nem se dê conta, mas o fato é que ele, ao lado de um punhado de outros cancionistas, forma uma geração de artistas realmente superior, que foi e é capaz de manejar uma certa tradição artística (samba e poesia comunicativa) e com ela fornecer toda uma leitura, uma interpretação do mundo, este mesmo aqui onde respiramos, o leitor, eu e Chico Buarque. Um luxo. Tem que saber aproveitar, para realmente fazer jus a tal contemporaneidade. No caso de Chico, os instrumentos estão todos aí: seus discos, seus livros, seu ótimo site (chicobuarque.uol.com. br), estudos e comentários sobre ele, vários dvds recentemente lançados – tudo isso nos põe em contato com um verdadeiro artista. Artista: a antena de sua gente, a voz mais pura de sua aldeia, o termômetro mais justo de seu tempo. Artista também é o cara que nos ajuda e entender ou a suportar melhor a coisa toda. Permitida a intromissão pessoal, vai aqui um depoimento: tive um filho há poucos meses. O primeiro de uma série que pelo jeito vai terminar com ele mesmo (se chama Benjamim, e seu nome até poderia ser uma homenagem a um dos romances de Chico, mas não é). Ter filho, como sabem todos os pais e mães, é uma coisa única, e até aqui não entrou ainda o papel do Chico para explicar o meu mundo de pai recente. Mas eis que saiu uma nova edição de um livro imperdível para os chicófilos: uma publicação que reúne, sem exceção, todas as letras das canções do Chico, precedidas por uma reportagem biográfica alentada, coisa de 130 páginas, em que Humberto Werneck passa a limpo a vida do autor e ainda conta detalhes que aumentam ainda mais o valor do que já está feito. (O livro se chama Tantas palavras - Chico Buarque, Cia. das Letras.) Estou lá mergulhado na leitura quando a reportagem conta uma que me fez cair os cadernos. Ocorre que uma das
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mais lindas músicas da fase atual do Chico, chamada “Você, você”, letra dele para melodia do Guinga (do disco As cidades, de 1997), nasceu de uma cena familiar – e no cd ela tem o subtítulo de “uma canção edipiana”, explicitamente. Só que eu, que em 97 não tinha filho, não entendi logo, não realizei internamente a força dessa informação. A canção começa assim: Que roupa você veste, que anéis? Por quem você se troca? Que bicho feroz são seus cabelos Que à noite você solta? De que é que você brinca? Que horas você volta? Na reportagem se conta que a letra nasceu assim: Chico ficou sabendo que uma de suas filhas, saindo de casa uma noite para ir ao cinema ou algo assim, deixou o filho pequeno com a babá e, aqui o detalhe, na mão da babá deixou uma blusa sua, dela mesma, a mãe. Era para dar ao filho, para ele cheirar, caso ele ficasse saudoso demais, manhoso demais. Chico se deslumbrou com a sabedoria profundamente edipiana da coisa. Me sopre novamente as canções Com que você me engana. Que blusa você, com o seu cheiro Deixou na minha cama? Assim também meu pequeno filho já foi uma vez serenado, com uma blusa com o cheiro da mãe. Vá alguém contrariar essa determinação da experiência humana. Vá alguém encontrar um artista que nos tenha dado tão clara e nítida essa cena. LuíS AuguSto FiScher, proFeSSor de LiterAturA e eScritor