Com
açúcar , com
afeto
RECEITA DE DOCES IRRESISTÍVEIS: TRADIÇÃO + SABOR + QUALIDADE + AMOR
VIAGEM: AS BELEZAS DA ILHA DE PÁSCOA
PERFIL: EDUARDO “PENINHA” BUENO
Consumo t e t ê
pAC h e C O
O rOmAntismO rAdiCAl
Ainda tem gente que gosta de amor romântico. Ainda bem. Outro dia assisti na TV a um programa que mostrava homens pedindo mulheres em casamento dos jeitos mais malucos possíveis. O casal de namorados está em Paris. Ele a convida para um passeio de helicóptero. Pede ao piloto que sobrevoe a Torre Eiffel. O helicóptero faz duas manobras bem arriscadas só para que, entre beijos e frios na barriga, o casal de pombinhos diga sim um ao outro. O programa era realmente engraçado. Tinha o casal que pulou de pára-quedas para, durante o salto, trocar alianças. Tinha o que levou a mulher numa escalada de montanha só para mostrar que ele seria capaz de colocar o mundo aos pés dela. Fiquei pensando. Essa busca é mesmo pela emoção romântica ou seria a adrenalina que está na ordem do dia? Somos orientados a fazer coisas que nos emocionem o tempo todo. Queremos ser especiais. Temos horror ao cotidiano. Precisamos nos surpreender e causar igual efeito nos outros. Estamos vivendo um ciclo vicioso: sentimos cada vez menos e portanto precisamos doses cada vez maiores de sentimento. Saem de cena os príncipes molengas e seus beijos encantados e entram os Tom Cruises em Missões Impossíveis. O cenário para o amor moderno não é mais o castelo. É o jato pegando fogo em pleno ar, o carro despencando da ponte e o que mais a fantasia adrenalizada do cinema permitir. O romance,
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Estilo Zaffari
assim como tudo na nossa volta, ficou radical. Estamos insatisfeitos. Como crianças mimadas, queremos mais e mais emoções. O tédio precisa ser aniquilado com doses cavalares de dissimulação. Tolos, achamos que nossa incapacidade de amar o outro além de nós mesmos pode ser disfarçada com movimento e aventura. Que seja rápido enquanto dure mas não seja infinito posto que é chama. Perdão, Vinicius. Ontem o casal de artistas jurava amor eterno. Hoje, sem nenhuma vergonha pela exposição, eles estão, os dois, em novas cerimônias de casamento. Até amanhã, provavelmente. Não estamos preparados para um amor que dure. Na verdade, não o queremos mais assim. Estamos mais para este amor-varejo, shopping center, o amor está aí para ser consumido desenfreadamente, como mais um tênis. Apesar de fazer parte da geração adrenalina, eu amo o amor romântico. E uma idéia de cotidiano possível, que nos reserve emoções esperadas, um supermercado quentinho e aconchegante, um homem chegando para o jantar, cansado. Permitir-se sentir um amor, que se resigne ao amadurecimento, que envelheça com o tempo e com os vinhos. Talvez esta seja ainda uma das grandes aventuras humanas. tetê pACheCO é publiCitáriA