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IENH: 190 anos

Para falar dos 190 Anos da Instituição Evangélica, eu queria, na verdade fazê-lo através das flores, metáfora que usei na abertura de um Simpósio de Educação Infantil, que sempre foi um evento marcante na história da Instituição, que hoje se dilui na metáfora das flores.

Eu queria falar de flores, aliás dos ipês há pouco floriram. Queria falar, inspirado no Rubem, que não há receitas para fazer o ipê florir. Queria lembrar Angelus Silésius, que disse que “a rosa não tem por quês: ela floresce porque floresce”.

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Queria falar-lhes que, para Martin Buber, as coisas, as árvores, os bichos, as pessoas não são coisas, bichos e pessoas, nelas mesmas. Elas são a partir da relação que estabelecemos com elas.

Queria dizer-lhes que, para mim, os ipês são um assombro, beleza, alegria, revelação dos mistérios do universo. Queria dizer-lhes que, quando, ao contrário meus olhos estão abertos para o assombro e o mistério, eu refreio minha mão. Não posso usá-los como se fossem ferramentas em meus propósitos. São meus companheiros, não importa se um ipê florido, um cãozinho, um poema, uma criança.

Buber deu o nome de eu-tu a essa relação. E ele disse certa vez: “Cada vez eu me sinto mais distante dos adultos e mais próximo das crianças...”

O sábio presta atenção nos prazeres e alegrias de cada momento.”

Eu queria falar-lhes de sabedoria que, segundo Roland Barthes, é “nada de poder, uma pitada de saber e o máximo possível de sabor...”

Eu queria lembrar-lhes que o Rubem nos ensina que “sábio não é quem sabe muito. Sábio é quem come a vida como se ela fosse um fruto saboroso. O sábio presta atenção nos prazeres e alegrias de cada momento. E o que dá prazer e alegria não são coisas grandes, festas com bolo, bexigas e presentes. O que dá alegria são coisas pequenas. Por exemplo: brincar com um cachorrinho. Balançar num balanço. Andar na água fria de um riachinho. Ver um ipê florido. Ler um livro. Armar um quebra-cabeças. Ver fotografias antigas.

Eu queria relembrar que o objetivo da educação não é tornar a criança adulto, mas o adulto nunca esquecer a criança que foi.

Eu queria recuperar com Pablo Neruda que “o menino que não brinca não é menino, mas o homem que não brinca perdeu para sempre o menino que nele morava e que lhe fará muita falta.” Mesmo assim, não pude deixar de falar de ipês floridos, porque, embora tenham conspirado contra nós e florido um pouco mais cedo, reservaram algumas poucas flores para alegrar nossos corações.

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