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Mudança de rumo

O começo do doutorado foi um divisor de águas na carreira de Jaqueline Goes. “Tudo mudou para mim, porque mudei de projeto e passei a trabalhar com técnicas de sequenciamento”, relata a pesquisadora, que iniciou analisando o genoma do vírus da zika na Fiocruz, em associação à Universidade Federal da Bahia. “Foi em um projeto no Nordeste, através de um um laboratório móvel que era organizado dentro de um micro-ônibus”, afirma. “Nós viajamos com ele, começando por Natal, no Rio Grande do Norte, até retornar à Bahia”. Além do zika vírus, Jaqueline e sua equipe também trabalharam nas epidemias de chikungunya, febre amarela e dengue antes de chegar à pandemia de Covid-19.

Para aprofundar seus conhecimentos, Jaqueline passou seis meses estudando o tema na Inglaterra em 2017, através do programa Ciência sem Fronteiras. “Foi uma oportunidade de muito aprendizado, porque eu já sabia utilizar a técnica, mas lá eu dispunha de mais recursos, e a infraestrutura me permitiu avançar muito mais rápido do que se eu tivesse ficado no Brasil pelo mesmo período, pois teria levado dois ou três anos para chegar ao mesmo resultado”. Para ela, a viagem teve importância significativa para que, em 2020, fosse possível sequenciar o Sars-CoV-2 em menos de dois dias. “Foi essencial nesse aspecto porque lá consegui fazer pontes que perduram e que me ajudaram a dar continuidade às minhas pesquisas. Voltei com um saldo muito positivo de publicações e, durante o trabalho com o vírus da zika, consegui identificar algumas modificações que precisavam ser feitas nos protocolos de sequenciamento para que a técnica pudesse ser mais ágil”, avalia.

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Em 2019, Jaqueline mudou-se para São Paulo e realizou um pós-doutorado na Universidade de São Paulo com a doutora Ester Sabino. “Comecei a trabalhar com alguns projetos que estavam parados e precisando de algum gás para dar continuidade, então comecei a ter contato com alguns pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz para trabalhar em um projeto a respeito de dengue”, lembra. “E foi essa parceria que abriu espaço para que pudéssemos trabalhar na Covid-19”.

A cientista explica que o sequenciamento fez sua equipe entender quais modificações o vírus poderia alcançar ao longo do percurso desde as primeiras detecções. “Quando fazemos análise, normalmente comparamos com os genomas que já foram depositados de outros lugares, e nós já começamos a ver algumas diferenças do vírus da China com relação ao que circulava na Itália, Espanha e Suíça”, diz. “A gente começou a entender que teríamos milhões de variantes”. De acordo com a cientista, o que mais chamou a sua atenção foi a possibilidade de analisar rapidamente, a despeito dos recursos disponíveis na época. “Ter feito de forma ágil e trazer essa informação ao conhecimento público foi uma das coisas que mais me deixou surpresa e feliz”.

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