Revista Feira de Ciência & Cultura 2017 - V.4 nº 4

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Resumo. No Nordeste, utilizar utensílios de cerâmica é uma prática popular. Para analisar sua eficiência como reservatório de água de consumo e conservação dos alimentos, utilizando a técnica de Mohammed Bah Abba, foram realizados estudos bibliográficos, experimentos e testes de eficiência. Os materiais cerâmicos têm como características a resistência mecânica, dureza, bom isolante térmico e elétrico. As temperaturas obtidas nos testes indicaram que utensílios cerâmicos são eficientes como alternativa ao uso de refrigeradores utilizando energia elétrica, chegando a diferenças de 8,3 ºC, mantendo a água em temperaturas baixas e conservando satisfatoriamente as frutas armazenadas em seu interior, em comparação com o ambiente.

elaborados (ROSA et al., 2001; SILVEIRA, 2006; DIAS, 2008). Segundo Rosa et al. (2001), no Brasil, o uso da cerâmica é uma importante forma de intercâmbio cultural, de longa tradição, vindo da herança indígena e com técnicas influenciadas pela colonização e imigração. No Nordeste, a produção da cerâmica é uma atividade popular, muitas vezes rústica, destacando-se a fabricação da cerâmica tradicional utilitária e ornamental. Os primeiros objetos cerâmicos armazenavam alimentos e principalmente água, o que hoje ainda é a sua especialidade, sendo os potes, moringas e filtros de “barro” muito consumidos devido à sua tradição e eficiência (DIAS, 2001). Mas qual a mágica por trás dos utensílios de “barro”? Os materiais cerâmicos 1. Introdução têm como características a resistência mecânica, bom isolante térmico e porosidade, fatores que Os registros históricos deixados pelos permitem a propriedade de conservar a uma nossos antepassados evidenciam que a produção temperatura interna menor do que a do ambiente. da cerâmica era uma atividade em constante Diante da importância dos materiais desenvolvimento. A palavra cerâmica vem do cerâmicos para as famílias nordestinas, sua matéria grego “keramikos”, que significa matéria queimada, prima de baixo custo e fácil acesso, buscou-se ou seja, é a pedra feita pelo homem a partir da analisar a utilização da cerâmica como reservatório agregação de terras e endurecida pelo fogo. A para a água de consumo e o método inventado pelo capacidade da argila de ser moldada quando nigeriano Mohammed Bah Abba para conservação misturada em proporção correta de água, e de dos alimentos sem o uso de energia elétrica. endurecer após a queima, permitiu que ela fosse Através de estudos bibliográficos, experimentos destinada ao armazenamento de grãos ou líquidos, e testes de eficiência, foi possível compreender que evoluíram posteriormente para artigos mais as propriedades físicas que envolvem o potencial 6 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


de isolamento térmico dos utensílios cerâmicos 3.1. Temperaturas populares, sua capacidade de manter a água fresca Durante os testes foram medidas e anotadas e conservar alimentos. as temperaturas do interior do vaso e do ambiente; os dados encontram-se na Figura 1. 2. Materiais e Métodos Alunos do 8º Ano, do Colégio Estadual Cícero Bezerra, em Nossa Senhora da Glória – SE, desenvolveram a metodologia para avaliar a eficiência dos utensílios cerâmicos. Seguindo o método empregado na técnica Pot in pot (vaso dentro do vaso) de Mohammed Bah Abba, construiu-se um reservatório de água e alimento usando 02 vasos de cerâmica natural de tamanhos diferentes, areia para interpor ente os vasos e Figura 1. Temperaturas do interior do vaso e do ambiente medidas 01 toalha molhada para cobri-los. Para que ele durante 14 horas. De acordo com os dados apresentados na funcionasse adequadamente, a areia era molhada Figura 1, fica evidente a redução da temperatura periodicamente com água, até a saturação, e a toalha úmida era mantida sobre os vasos (RINKER, interna do vaso em relação a temperatura ambiente, chegando a diferença de 8,3 ºC no início 2014). Para análise de eficiência, foram realizados da tarde. A temperatura do vaso não se mantém três experimentos: a medição da temperatura constante, porém há uma queda à 1:30PM, devido ambiente e interna a cada duas horas, durante 14 à incidência do sol e aumento de evaporação (25,8 horas; a medição da temperatura de um copo de ºC), sendo as menores temperaturas registradas à água dentro e fora dos vasos a cada duas horas, noite (22,4 ºC), devido ao equilíbrio térmico com a durante 14 horas; e a observação da maturação de baixa temperatura ambiente. Segundo Hernandes (2014), o resfriamento uma banana e um tomate nos vasos, no ambiente que se produz nesses reservatórios depende de externo e na geladeira elétrica durante 06 dias. Todas as observações e dados foram anotados muitas condições. Por exemplo, quanto mais para confecção de tabelas e gráficos utilizando o quente é o ar, mais intensa será a evaporação do líquido que umedece os vasos e, portanto, mais se Microsoft Excel. resfriará o seu interior. A umidade relativa do ar também tem efeito sobre o resfriamento da água. 3. Resultados e discussão O armazenamento de água em recipientes Os testes realizados buscaram avaliar a de cerâmica é uma prática comum, principalmente eficiência e a praticidade do uso de utensílios pela agradável temperatura de consumo. cerâmicos no dia a dia das famílias, como Baseando-se nisso, buscou-se avaliar a influência alternativa ao uso de refrigeradores utilizando da temperatura no experimento na variação da energia elétrica, o que contribui para redução do temperatura da água armazenada em um recipiente, no seu interior (Figura 2). consumo e consciência ecológica. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  7


Figura 2. Temperaturas da água armazenada no interior e exterior do vaso.

De acordo com a Figura 2, a água armazenada no vaso se manteve a temperaturas mais baixas a maior parte do tempo medido, havendo aumento da temperatura a partir de 11:30PM e uma queda acentuada durante a noite (23 ºC), em ambos os testes, devido a variações na temperatura ambiente. De acordo com Cavalcante (2009), os utensílios cerâmicos possuem pequenos orifícios (poros) que permitem a passagem da água para a superfície externa, propiciando o fenômeno da evaporação. A passagem do estado líquido para o gasoso é um processo no qual ocorre absorção de energia, isto é, o calor é retirado do pote e da água. A retirada do calor diminui a temperatura interna gradualmente, tornando a água mais agradável para ser consumida. 3.2. Armazenamento de frutas

diferentes ambientes, incluindo o interior dos vasos. As observações baseavam-se na mudança de aparência e textura durante os seis dias de teste e a Tabela 1 ilustra os dias em que as modificações ocorreram e se intensificaram. Como apresentado na tabela, os vasos se mostraram eficientes para a conservação das frutas, principalmente os tomates que não apresentaram mudanças durante os dias observados. Em relação às bananas, apesar de haver modificação em todos os testes a partir do terceiro dia, a mudança na cor da casca foi mais acentuada no ambiente externo, bem como maior maturação, chegando à decomposição e a se tornar imprópria para consumo no último dia. Os tomates tornaramse murchos no ambiente externo e geladeira, chegando à decomposição e aparecimento de fungos, somente no ambiente. Bananas e tomates apresentaram-se mais conservados no vaso do que nos outros testes realizados, levando-se em consideração a aparência e textura. A geladeira, apesar de evitar a proliferação de microrganismos parece modificar a fruta, que fica com aspecto mais natural dentro do vaso (Figura 3).

A técnica Pot in pot é uma maneira simples e barata para manter os alimentos frescos (legumes e frutas). O funcionamento é baseado no princípio de resfriamento evaporativo, o que ocorre melhor em climas quentes e secos, condições comuns na África subsaariana, onde grande parte da população não tem acesso a frigoríficos convencionais elétricos, Figura 3. Aparência das frutas observadas durante o experimento. para manter seu alimento fresco (RINKER, 2014). Segundo Rinker (2014), em climas quentes Através de experimentos, buscou-se observar a maturação de bananas e tomates em e secos, com temperaturas de ar máximas diárias de 8 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


Tabela 1. Alterações na aparência e textura observadas em bananas e tomates. BANANAS TOMATES Dias Vaso Ambiente Geladeira Vaso Ambiente 01 02 03 04 05 06

Geladeira

HERNANDES, Carlos Antônio. O segredo da água fresca 30 a 45 °C, esse sistema de resfriamento evaporativo Variação da aparência Variação da textura Sem variação permite atingir temperaturas entre 13 e 22 °C dentro em filtros cerâmicos. 2014. Disponível em: <https://www. ifsc.usp.br/ccmc/index.php/en/publicacoes/divulgacaodos vasos, e este pode estender a vida de prateleira de cientifica/o-segre-do-agua-fresca-em-filtros-ceramicos>. alimentos por três a quatro vezes. Acesso em: 17 de agosto de 2016.

4. Conclusão As temperaturas obtidas durante os testes indicaram que utensílios cerâmicos são eficientes como alternativa para o armazenamento de água e alimentos, mantendo a água em temperaturas baixas a maior parte do tempo analisado. No último dia das experiências com as frutas, observou-se que o vaso de cerâmica possui maior conservação do que a geladeira e o próprio ambiente, sendo o ambiente o menos favorável, por isso os frutos já não podiam ser mais consumidos, estando em um estado avançado de decomposição. Portanto, os testes foram satisfatórios ao fornecerem informações sobre a utilização de vasos para armazenamento, bem como destacar problemas potenciais, como a influência da variação da tempertura externa no seu funcionamento. São necessárias outras presquisas que reforcem os dados obtidos.

RINKER, Peter. The clay pot cooler: an appropriate cooling technology. 2014. Disponível em: < https://movementverein.org/wp-content/uploads/2015/07/informationen_ projekte_clay_pot_cooler_2014 _en.pdf>. Acesso em: 17 de agosto de 2016. ROSA, Andreia Santos; SANTOS, Daniele Oliveira André dos; SOUZA, Fabiana dos Santos Pereira Rodrigues dos. Barro e fogo: a arte da cerâmica em cunha. 13p. Resumo expandido, XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação, Campo Grande, setembro 2001. SILVEIRA, Maria Betânia. Tecer o barro: uma construção de percursos e conexões da cerâmica em hipermídia. 87p. Dissertação de Mestrado – Pós-graduação em Artes, Universidade de São Paulo, 2006.

Referências CAVALCANTE, Antônio do Nascimento. Uma provável explicação do fato da água esfriar num pote. 2009. Disponível em: <www.ojs.ufpi.br/index.php/matagal/article/ download/235/295>. Acesso em: 17 de agosto de 2016. DIAS, Tiago. A tradição e o frescos da cerâmica. Meio Filtrante, v. 1, n. 30, fev. 2008. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  9


Resumo. No Ensino Médio a disciplina de química é enxergada pelo aluno como sendo difícil e desconectada da sua realidade. A maioria dos alunos não consegue realizar uma ligação entre a teoria ministrada e o seu cotidiano. Para minimizar este distanciamento, foi proposto a elaboração de um jogo didático intitulado “Tabuleiro da vida” no ensino da química, que relacione uma visão interdisciplinar com conteúdo químicos e biológicos presentes no ato de fumar, informando sobre os malefícios dos componentes químicos no corpo humano e a conscientização da problemática que é o tabagismo. Palavras Chaves: Ensino, aluno, jogo. 1. Introdução A prevalência do uso da droga derivada do tabaco, o cigarro, entre adolescentes é evidente nos dias de hoje e vários estudos realizados ao longo da história apontam para o fato de que o início do hábito de fumar está geralmente relacionado à adolescência. Em outras palavras, é fácil notar que a vida dos fumantes tem começado cada vez mais cedo e muitos deles, preferencialmente os mais jovens, não têm consciência dos altos riscos de enfermidades e de morte que o tabaco pode causar além de também, não possuírem o conhecimento da dependência gerada pelo fumo (IGLESIAS et al., 10 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


2007 apud JHA e CHALOUPKA, 1999). Assim, o presente trabalho propõe a elaboração de um jogo didático no ensino de química que relacione uma visão interdisciplinar com conteúdos químicos e biológicos presentes no ato de fumar. O jogo didático tem como objetivo proporcionar determinadas aprendizagens, diferenciando-se do material didático por conter o aspecto lúdico e por ser utilizado para atingir determinados objetivos pedagógicos, sendo uma alternativa para melhorar o desempenho dos alunos em alguns conteúdos de difícil aprendizagem (CUNHA, 1998). O jogo não é o fim, mas o eixo que conduz a um conteúdo didático específico, resultando em um empréstimo da ação lúdica para a aquisição de informações (KISHIMOTO, 1996). Portanto, este estudo tem como objetivo propor uma metodologia diferenciada para o ensino dos conteúdos da tabela periódica e dos estudos dos gases, através de uma atividade lúdica, e com isso poder avaliar a eficiência da aplicação do mesmo no processo de ensino/aprendizagem na disciplina de Química no 1º ano do ensino médio. O jogo desenvolvido foi o Tabuleiro da vida com adaptações, e os conteúdos aplicados foram os metais pesados e os gases nocivos à saúde liberados durante a baforada de fumaça do cigarro jogada no ambiente.

Em seguida começou a confecção do jogo “Tabuleiro da vida” que é composto de 20 cartas, sendo 10 cartas perguntas e 10 cartas respostas e um tabuleiro composto por vinte encaixes, onde contém perguntas e respostas relacionadas com o tabagismo. Para iniciar a partida, as 10 cartas perguntas e 10 cartas respostas que estão encaixadas no tabuleiro são expostas de forma que os jogadores identifiquem as posições. O jogador escolhe as cartas onde irá conectar com dois fios, 01 carta do conjunto cartas pergunta e 01 carta do conjunto cartas resposta, quando o conjunto não for correspondente o mesmo será automaticamente substituído por um outro jogador. Caso as cartas sejam correspondentes quando conectados pelos fios, será apitada uma sirene vermelha e a carta deverá ser recolhida. No final haverá apenas um vencedor Após a aplicação do jogo foi realizado um segundo Questionário de Concepções Adquiridas (QCA) para a verificação da aprendizagem.

3. Resultados e discussão Foi realizado um QCP para verificar o conhecimento dos alunos diante dos conteúdos químicos relacionando com o tabagismo. Foram aplicadas cinco questões, com 16 alunos do 1º ano 2. Materiais e Métodos do Ensino Médio. Verificou-se que a maioria dos alunos teve O projeto foi desenvolvido com a dificuldade para responder algumas das questões, participação de 16 alunos do 1º ano do Ensino principalmente quando se tratava de substâncias Médio do Colégio Estadual Professor João Costa, poucas conhecidas como arsênico, cádmio, no município de Aracaju – SE. plutônio, tolueno, benzeno entre outras. Inicialmente foi aplicado um Questionário Após a obtenção dos resultados apresentados Concepções Prévias (QCP) para avaliar o nível na Tabela 01, optou-se pela confecção de um jogo de aprendizagem dos alunos. O teste continha educativo intitulado Tabuleiro da Vida (Figura cinco questões envolvendo as substâncias tóxicas 01), com o objetivo de apresentar uma atividade presentes no cigarro abordando conteúdos que vão lúdica para facilitar o ensino-aprendizagem e desde gases nocivos à saúde e metais pesados. proporcionar ao indivíduo que estava jogando Revista Feira de Ciências e Cultura  |  11


conhecimento de maneira lúdica, fazendo com que houvesse um maior interesse e consequentemente maior aprendizagem a respeito dos malefícios das substâncias tóxicas presentes no cigarro. Durante a aplicação da atividade lúdica, Tabela 01. Questionário de Concepções Prévias (QCP). Questões Aplicadas

Erros

Acertos

Dentre as substâncias tóxicas presentes no cigarro, destacam-se os metais pesados, mesmo em baixa concentração esses elementos podem trazer sérios danos ao sistema nervoso. Que elementos são esses?

63%

37%

Muita gente considera apenas chato as pessoas que se recusam a respirar a fumaça dos cigarros alheios. O que fica cada vez mais claro é que os não fumantes tem motivos mais sérios do que incômodo para se queixar. Quais as substancias absorvidas durante a baforada de fumaça jogada no ambiente?

94%

6%

O Ministério da Saúde adverte: "fumar pode causar câncer de pulmão." Um dos responsáveis por esse mal causado pelo cigarro é o alcatrão, que corresponde a uma mistura de quais substâncias químicas?

81%

19%

Derivado do petróleo e altamente cancerígena, utilizada para que o papel do cigarro queime de maneira uniforme e a cinza não se fragmente.

88%

Qual composto é encontrado nas folhas do tabaco, produzido na queima do cigarro e é a principal causadora da dependência que o fumante apresenta?

31%

Tabela 02. Questionário de Concepções Adquiridas (QCA). 12%

69%

pôde-se perceber o aumento do interesse dos alunos pelos assuntos trabalhados. Os desafios do jogo levava-os a fazer indagações ao professor-bolsista e a outros colegas, promovendo a construção coletiva do conhecimento, além da aprendizagem sobre os conteúdos químicos de (i) tabela periódica e (ii) gases, envolvendo os metais pesados, e os gases nocivos à saúde liberados durante a queima do cigarro. Em função do comportamento e das

Figura 1: Aplicação do jogo “Tabuleiro da vida” 12 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

opiniões dos alunos, observou-se que eles se interessaram pelo jogo, através do qual se familiarizaram com o tema mais facilmente, de uma forma prazerosa e estimulante. Após a aplicação do jogo foi realizado o QCA (Tabela 02), composto de 5 questões diferentes do QCP e aplicado aos mesmos alunos. Ao comparar os resultados obtidos com o QCP (Tabela 01), pôde-se perceber uma evolução conceitual sobre (i) os metais pesados, (ii) os gases nocivos à saúde e (iii) componentes químicos presentes no cigarro. Através dos resultados obtidos pode-se Questões Aplicadas

Erros

Acertos

Qual a substância química presente no cigarro foi considerada pela Organização Mundial de Saúde uma droga psicoativa, responsável por causar dependência física, responsável pelo aumento do ritmo cardíaco, infarto agudo do miocárdio, derrame cerebral?

12%

88%

É um metal pesado presente na composição do cigarro, tóxico e cancerígeno que provoca lesões no fígado, rins, pulmões e cérebro. Pode permanecer no corpo por até 30 anos. Qual componente químico o texto refere-se?

44%

66%

Qual gás que sai dos escapamentos dos carros, liberado durante a queima do cigarro, Considerado tóxico, tem 250 vezes mais afinidade com a hemoglobina (componente do sangue) quando comparado ao oxigênio, ou seja, ao entrar na hemoglobina forma a carboxihemoglobina, que dificulta a oxigenação dos tecidos do corpo?

25%

75%

Pesquisa sobre a transferência de metais pesados do cigarro para o fumante, realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP comprovou a existência de uma maior taxa de metais no organismo de pessoas com o hábito de fumar. Cite alguns metais pesados presentes na composição do cigarro

6%

94%

Qual o nome que se dá ao conjunto de substâncias presente no tabaco e que são absorvidas pelo fumante quando ele acende o cigarro. Ele é responsável pelas manchas na pele, nos dentes e dedos do fumante?

50%

50%


evidenciar que o jogo intitulado Tabuleiro da Vida teve seu objetivo concretizado, visto que sua função educativa foi observada durante a aplicação, agregando-se ao jogo o aspecto lúdico, com o objetivo de desenvolver estratégias importantes para o processo de ensino-aprendizagem de Química, facilitando assim, a compreensão de conceitos complexos e abstratos, além de estimular a motivação, o raciocínio e a interação entre alunos e professor.

Educação. São Paulo: Cortez, 1996. SANTANA, E. M. A Influência de atividades lúdicas na aprendizagem de conceitos químicos. Universidade de São Paulo, Instituto de Física - Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, 2006.

4. Conclusão Diante dos resultados obtidos, foi possível entender a importância da utilização dos jogos no processo educativo, como instrumento facilitador da integração, da sociabilidade, do despertar lúdico, da brincadeira e principalmente do aprendizado, além de que houve uma evolução conceitual dos alunos diante dos conteúdos químicos trabalhados. Os objetivos do jogo utilizado, vão além da facilidade em se conhecer os metais pesados e os gases nocivos à saúde, uma vez que trabalha os aspectos cognitivos e colabora na construção dos conhecimentos dos alunos. Como perspectiva futura, o jogo poderá ser ampliado para outras áreas de conhecimento como, por exemplo, os compostos aromáticos presentes na composição do cigarro. 5. Referências IGLESIAS, R.; JHA, P.; PINTO, M.; SILVA, V.; GODINHO, J. Controle do Tabagismo no Brasil. Departamento de Desenvolvimento Humano Região da América Latina e do Caribe Banco Mundial e Departamento de Saúde, Nutrição e População Rede de Desenvolvimento Humano Banco Mundial, 2007. CUNHA, M. B. Jogos de Química: Desenvolvendo habilidades e socializando o grupo. Eneq 028- 2004. CUNHA, H.S. Brinquedo, desafio e descoberta. 1ª edição. AE/MEC/RJ, 1998. KISHIMOTO, T.M. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Revista Feira de Ciências e Cultura  |  13


Resumo. O presente trabalho analisa, no recorte temporal do primeiro semestre de 2016, as características dos condicionantes do tempo meteorológico e as consequências socioambientais no município de Lagarto. O estudo foi realizado por estudantes ensino Fundamental e médio do Colégio Estadual Mon. Juarez dos Santos Prata do Pov. Sobrado no município de Lagarto. Para tanto, a pesquisa se utilizou das leituras bibliográficas sobre o tema, análise de dados secundários e o trabalho de campo para reconhecimento dos impactos e registro fotográfico.Com o desenvolvimento da referida pesquisa o alunado envolvido aplicou conhecimento interdisciplinar, pois estes utilizam conhecimento da Matemática, Física, Português e Geografia. 1. Introdução A compreensão do clima é determinada pelas sucessivas características do tempo meteorológico. Nesse quesito, estudar os elementos do clima e tempo ajuda a compreender os fenômenos atmosféricos e as consequências socioambientais. As características dos condicionantes do tempo meteorológico (umidade relativa do ar, pluviosidade, temperatura e o índice de radiação) possibilita o entendimento da 14 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

dinâmica socioambientais, tais como: enchentes/ alagamentos, focos de erosões, movimentos de massa e possíveis interferências no contexto social e econômico em escala local. Esta temática, ao ser trabalhada no ensino básico, abre um leque de discussões sobre a relação homem e natureza. Dentro desse contexto, o presente estudo teve como objetivo desenvolver atividades de iniciação à pesquisa dos estudantes da Educação Básica, integradas aos conhecimentos interdisciplinares, sobre as características do tempo meteorológico e as consequências socioambientais no município de Lagarto, em um recorte temporal de janeiro a julho de 2016. Este foi desenvolvido com a participação dos estudantes do 9°anodo ensino Fundamental e 1º, 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Monsenhor Juarez dos Santos Prata, do Pov. Sobrado no município de Lagarto. Essa iniciação científica permitiu a formação integrada dos sujeitos e a autonomia dos estudantes no processo de pesquisa, fortalecendo o desenvolvimento e o sentido da aprendizagem, além de elevar a autoestima da Escola de ver uma construção coletiva e aplicação prática dos conhecimentos teóricos das disciplinas Geografia, Física e Matemática.


2. Materiais e Métodos

Centro Sul do Estado de Sergipe. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIBGE, este tem população estimada de 102.188 pessoas em 2016, sendo que a maior parte dela já se encontra na zona urbana. A produção agrícola é um ponto forte do setor econômico do município, o que depende fielmente a sua produtividade agrícola de acordo com os condicionantes climáticos. A interferência no sistema atmosférico deste município está relacionada à dinâmica dos ventos advindos da Zona de Convergência Intertropical-ZCIT. Segundo a classificação de Kopper (1948), o clima é do tipo tropical úmido, com predominâncias de chuvas no inverno entre os meses de maio a julho. No contexto das observações dos dados do tempo meteorológico dos meses de janeiro a julho de 2016, tivemos temperaturas com maiores registros no mês de janeiro, seguidos de fevereiro e março com média de temperatura máxima de 32,1°C e 31,8°C respectivamente. A explicação para tal condição é o período do El Niño, o fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, que causa na região Nordeste do Brasil a seca e elevadas temperaturas. A sua dinâmica e intensidade pode afetar na lavoura local, sobretudo a produção do milho e do feijão nas terras dos produtores.

Para o alcance dos objetivos propostos foram desenvolvidas etapas de pesquisa. A primeira foi a leitura bibliográfica sobre a relação entre o clima e os impactos socioambientais. Em seguida realizou-se levantamento de dados secundários: dos meses de janeiro a julho realizou-se em órgãos como a Companhia de Desenvolvimento dos Recursos e Irrigação de Sergipe-COHIDRO, Instituto de Pesquisa Espaciais-INPE e Centro de Pesquisa Meteorológica do Estado de SergipeCEMESE e sites informativos a nível local. A coleta de dados priorizou informações sobre os índices pluviométricos, temperaturas máxima e mínima, umidade relativa do ar, índice de incidência solar, velocidade do evento e índices de evaporação. O trabalho de campo teve como objetivo além de aquisição de dados, a leitura da paisagem e registros fotográficos dos efeitos climáticos. Além disso, visitas foram feitas à Prefeitura Municipal e à Secretaria do Meio Ambiente com o intuito de absorver informações sobre monitoramento e interferências do clima na agricultura local e no espaço urbano. As informações coletadas serviram de elementos básicos para enriquecer as aulas das disciplinas e professores envolvidos, garantindo assim, uma reflexão interdisciplinar, e teve seu desenvolvimento a partir dos conhecimentos das disciplinas: Matemática (porcentagem, proporção, média, volume e área), Física (Temperatura, força cinética, radiação, entre outros), Português (gramática, estrutura e produção de texto) e Geografia (interpretação dos dados como causa e Figura 01: Temperatura: média, mínima e máxima em Lagarto de Janeiro a consequência no espaço geográfico) para entender julho. Fonte: Companhia de Recursos Hídricos e Irrigação - COHIDRO, 2016. Dados da COHIDRO apresentam que as a dinâmica do fenômeno do tempo meteorológico. menores temperaturas tiveram registro médio do máximo de 27,8 e mínimo de 19,4 no mês de 3. Resultados e discussão julho. O mês de janeiro foi o mais quente com uma O município de Lagarto localiza-se no temperatura média de 32°C, com destaque para o

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dia 4 ter registrado a temperatura máxima de 39,5 °C e mínima de 24,5°C com uma alta amplitude térmica (Figura 01). Ainda neste dia, registrou um índice de evaporação de 7,9mm de água e ventos de 59 km/hora. As temperaturas foram altíssimas, o que gerou desconforto para a população. A dinâmica da estiagem tem destaque no mês de fevereiro que, por sua vez, contou com uma quantidade extremamente baixa de precipitação com 22 dias sem registro de chuva, o que prejudicou bastante a lavoura. Já em março não ficou para trás em relação a surpresa dos dados, a temperatura de 32°C permaneceu constante por 17 dias seguidos, causando uma sensação térmica muito alta. Abril contou com 19 dias de estiagem e uma grande coincidência nos dias mais chuvosos os dias 5,6 e 18 apresentaram índices pluviométricos razoáveis devido a uma frente fria provinda do Sul do Brasil e chocando-se com uma frente quente no Nordeste brasileiro

transbordar rios e tanques na zona rural.

Figura 03: distribuição das chuvas entre janeiro e julho de 2016. (Fonte: Companhia de Recursos Hídricos e Irrigação - COHIDRO, 2016).

No mês de maio foi registrado a menor temperatura 16°C. Devido aos 8 dias seguidos de chuva, as áreas urbanas em Lagarto ficaram alagadas. Nos dias 25 e 26, em regiões próximas à barragem Dionísio Machado, onde atuam as encanações da DESO, ocorreu aumento no volume hídrico em que transbordou as águas na ponte local. As chuvas convectivas de janeiro, em especial no dia 04, afetaram toda população apresentando

Figura 02: Distribuição das chuvas diárias no município de Lagarto, 2016. (Fonte: Companhia de Recursos Hídricos e Irrigação - COHIDRO, 2016).

Altas temperaturas estão entre os meses de janeiro e março, e a influência da frente fria entre março e julho foi o que permitiu a formação das chuvas convectivas concentradas e frontais respectivamente. Os maiores totais foram do mês de maio 158,2 mm, e em janeiro com as chuvas convectivas ou popularmente chamada de trovoadas, com 134,7 mm (Figura 02). A estiagem teve notoriedade, principalmente, com interferência da produção agrícola local e vizinha, o que pode ser observado no aumento do preço do feijão e do milho não só nessa região, mas em todo o Brasil. Já as chuvas concentradas conseguiram encher e fazer 16 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

Figura 04: a) relâmpagos registrados no dia 04 de janeiro de 2016. b) comparativo dos efeitos do aumento da vazão dos rios a partir das chuvas de maio de 2016 Temperatura: média mínima e máxima em Lagarto de Janeiro a julho. (Fonte: http://lagartocomoeuvejo.com.br/, 2016).


chuvas torrenciais seguido de trovões e raios, caindo inclusive nas proximidades da escola, o que provocou a queda de árvores. Já nos povoados vizinhos como na Cajazeirase Candeal da Cajazeira, o rio Piauí aumentou sua vazão e transbordou na ponte do Rio do Bonfim, deixando a população ilhada, inclusive os estudantes. Sobre a velocidade dos ventos, o primeiro mês deste ano foi registrado vento de 1 km/dia, a estação meteorológica predominante nesse período é o verão. A terra recebe um maior índice de incidência dos raios solares, os quais aquecem a atmosfera, deveria fazer com que estivesse presente os ventos ciclonais, ou ar quente que devido a distância das partículas atômicas, possuem menor densidade e tendem a uma facilidade gigantesca de movimentar-se resultando em ventos bastante velozes. A explicação para o enfraquecimento dos ventos é que como houve um grande volume de chuva, esta resfria bastante o ar, reduzindo sua velocidade. Esses dados referem-se ao dia 18 que, de acordo com imagens de satélite disponibilizada pelo INPE, estava ocorrendo uma zona de convecção do Atlântico Sul, uma massa de ar que se origina no oceano e segue em direção ao continente que, em seguida, esbarrou com as correntes quentes e úmidas das zonas de convergência intertropical.

trabalhados em sala de aula. Assim, os alunos obtiveram sentido e aplicabilidade no contexto para além da escola. Um dos frutos desse incentivo a iniciação a pesquisa pode ser verificado com a instalação de pluviômetros na escola e o despertar do interesse de outros educandos e professores que darão novas possibilidades pedagógicas e de pesquisas futuras. Referências

Kopper, w. Climatologia: con un studio de los climas dela tierra. México: Fondo de Cultura e Econômica, 1948. FRANÇA, V. L.A.;CRUZ, M.T.S. (Coordenadoras). Atlas escolar Sergipe: Espaço geo - histórico e cultural. João Pessoa, PB: Editora Grafset, 2007. BRASIL - IBGE Cidades –SE. [2016] Disponível em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil. php?lang=&codmun=280350&search=sergipe|lagarto. Acesso em 07 de agosto de 2016. Sites consultados: www.tempo.cptec.inpe.br www.tempoagora.com.br http://g1.globo.com/se/sergipe www.agron.com.br

4. Conclusão A dinâmica do tempo meteorológico entre os meses de janeiro a julho evidencia que as chuvas são melhores distribuídas nos meses de maio e junho. Sendo que as chuvas de janeiro, apesar de terem sido volumosas, ocorrem de modo concentrada trazendo efeitos extremos de estiagens e focos de alagamentos. O desenvolvimento da presente pesquisa trouxe resultados importantes pois a prática interdisciplinar favoreceu a aplicação de diversos conteúdos abrangendo várias áreas de conhecimento Revista Feira de Ciências e Cultura  |  17


Resumo. Corantes provenientes das indústrias são importantes fontes de contaminação do meio ambiente. O tratamento de efluentes contendo corantes é de interesse devido aos seus impactos nocivos sobre as águas receptoras. A adsorção é o método mais favorável para remoção de corantes por causa de seu planejamento simples, fácil operação e regeneração relativamente acessível. Para atingir tal objetivo, é desejável um adsorvente de baixo custo, porém com elevada eficiência. Uma alternativa neste processo é o bagaço de cana. Este trabalho tem o objetivo de avaliar a capacidade do bagaço de cana-de-açúcar como adsorvente para o corante azul de remazol. 1. Introdução Muitas indústrias como a têxtil utilizam corantes para colorir os seus produtos e, assim, produzir compostos orgânicos nas águas residuais contendo cor forte, onde no tingimento processa a percentagem de corante perdido de águas residuais é de 50% do corante por causa dos baixos níveis de fixação na fibra do corante. O descarte destes corantes em efluentes afetam as pessoas que podem usar a vida para fins de vida, tais como lavar, tomar banho e beber. Além disso, corantes podem afetar plantas aquáticas, pois reduzem a transmissão da luz solar através da água. Também corantes podem conferir toxicidade para a vida aquática e podem ser mutagênicos, carcinogênicos, e podem causar graves danos aos seres humanos, como a disfunção dos rins, o sistema reprodutivo, fígado, cérebro e sistema nervoso central (SALLEH et al, 2011; 18 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

SANTOS et al, 2013). A remoção de cor a partir de efluentes de resíduos torna-se importante ambientalmente porque mesmo uma pequena quantidade de corante na água pode ser tóxica e altamente visível. Uma vez que a remoção de corantes a partir de águas residuais é considerada um problema ambiental e que a legislação governamental exige que as águas residuais têxtil devam ser tratadas, por conseguinte, existe uma constante necessidade de dispor de um processo eficaz que pode eficientemente remover estes corantes. Atualmente, vários métodos para a remoção de corante no tratamento de efluentes são realizados, tais como adsorção, oxidação, ozonização, eletrocoagulação e separação por membrana. Entre eles, a adsorção está ganhando popularidade devido à sua fácil operação, baixo custo, reciclável e de alta eficiência em lidar com vários poluentes. Isso tem estimulado a exploração de adsorventes com disponibilidade abundante e boa economia. Hoje em dia, muitos tipos de materiais de adsorção são investigados, tais como carvão ativado, cinzas residuais, casca de arroz e bagaço de cana (GUPTA e SUHAS, 2009; LIN et al, 2016) . O bagaço de cana é um dos maiores resíduos na indústria de açúcar e álcool e um recurso de fibra natural abundante com alto teor de celulose. Milhares de toneladas de bagaço de podem ser produzidos diariamente pela indústria de processamento de cana de açúcar e, assim, tornar-se uma ameaça do ambiente. Uma potencial aplicação desta biomassa é usá-la como bioadsorvente para a remoção de poluentes ambientais,


tais como corante, Ă­ons de metais pesados (LUO et A porcentagem de remoção do corante foi al, 2016). O objetivo deste trabalho ĂŠ apresentar determinada com a seguinte equação (LIN et al, a adsorção do corante azul de remazol em bagaço 2016): de cana. Neste processo foram avaliados alguns đ??śđ??ś! − đ??śđ??ś! parâmetros que influenciam na adsorção, como: %đ?‘…đ?‘…đ?‘…đ?‘…đ?‘…đ?‘…đ?‘…đ?‘…çãđ?‘œđ?‘œ = . 100 pH da solução, concentração inicial do corante e đ??śđ??ś! tempo de contato. Em que C0 e Ct sĂŁo concentração inicial e 2. Materiais e MĂŠtodos em determinado tempo (mg.L-1), respectivamente. O bagaço de cana foi colhido na feira da cidade de Areia Branca-SE. Ele foi lavado com ĂĄgua destilada para remover açúcares e resĂ­duos, e seco ao ar, em seguida, triturado com auxĂ­lio de um liquidificador. O corante Azul de Remazol foi cedido pela IndĂşstria TĂŞxtil Santista (Sergipe). As soluçþes de hidrĂłxido de sĂłdio (0,1 mol.L-1) e ĂĄcido clorĂ­drico (0,1 mol.L-1) foram preparadas para ajuste de pH inicial da solução. Os ensaios de adsorção em batelada foram conduzidos em recipientes de 100 mL contendo 50 mL de solução aquosa com concentração de corante conhecido (ajustado para o pH desejado com NaOH / HCl a 0,1 mol.L-1) e a 0,2g do adsorvente. AlĂ­quotas (1 mL) foram retiradas a intervalos de tempo diferentes e filtradas para remoção de qualquer resĂ­duo do adsorvente. Os sobrenadantes foram utilizados para anĂĄlise de concentração de corante. Todas as experiĂŞncias de adsorção de corante foram realizadas em triplicada e os valores mĂŠdios foram registados. As concentraçþes do corante foram determinadas colorimetricamente medindo a absorbância mĂĄxima a 540 nm, usando um num espectrofotĂ´metro SP-22 da Bioespectro. A avaliação da influĂŞncia do pH inicial das soluçþes foi realizada na faixa de 2-10. As concentraçþes inicias do corante foram estudadas na faixa de 15-100mg.L-1, mantendo constante a massa do adsorvente. Para o estudo do tempo de contato, utilizou-se o pH que favorecia a adsorção e a concentração inicial de 50 mg.L-1.

3. Resultados e discussĂŁo Este projeto foi desenvolvido por alunos do 1°, 2° e 3° Anos do Ano do Ensino MĂŠdio do ColĂŠgio Estadual Governador JoĂŁo Alves Filho, localizado em Areia Branca-SE. Neste, o bagaço de cana foi utilizado como adsorvente do corante azul de remazol. Neste processo foram avaliadas as seguintes condiçþes experimentais: pH da solução, concentração inicial do corante e tempo de contato. O pH ĂŠ uma medida de acidez (pH<7) ou basicidade (pH>7) de uma solução aquosa. O fator de pH ĂŠ muito importante na adsorção, especialmente com corante. O pH de um meio controlarĂĄ a magnitude de cargas eletrostĂĄticas, que sĂŁo transmitidos pela molĂŠculas do corante ionizado. Como resultado, a taxa de adsorção variarĂĄ com o pH de um meio aquoso . Geralmente, com a solução com pH baixo, a percentagem de remoção de corante vai diminuir para adsorção corante catiĂ´nico, enquanto que para os corantes aniĂ´nicos a percentagem de remoção de corante vai aumentar. Dentro do contraste, uma solução de pH elevado a percentagem de remoção de corante vai aumentar para adsorção corante catiĂ´nico e diminuir para corante aniĂ´nica (SALLEH et al, 2011). Neste trabalho o pH da solução foi variado de 2 a 10. De acordo com a Figura 1, em valores de pH menores, a porcentagem de remoção ĂŠ elevada atingindo valores acima de 90%. Revista Feira de CiĂŞncias e Cultura  |  19 


há locais ativos desocupados na superfície do adsorvente e com o aumento da concentração inicial do corante, os locais ativos necessários para a adsorção das moléculas faltarão (SALLEH et al, 2011). Analisando a Figura 3, percebe-se que a quantidade de corante adsorvida na superfície do bagaço de cana atinge valores próximos a 100% na menor concentração inicial do azul de remazol. O tempo de contato foi avaliado para o Figura 01: Efeito do pH na adsorção do corante azul de remazol.

Segundo Zhang et al (2013), o ponto de carga zero(pHPZC) do bagaço de cana é aproximadamente 5,0. Neste valor de pH, o bagaço de cana não terá carga. Acima de pH 5, o adsorvente fica carregado negativamente, enquanto abaixo de pH 5, será carregado positivamente. O corante vermelho de remazol é aniônico, à medida que o pH diminuiu a porcentagem de remoção do corante aumentou. Este resultado pode ser atribuído às atrações eletrostáticas entre o ânion do azul de remazol e a superfície protonada do bagaço de cana. A Figura 2 apresenta o bagaço de cana após a interação com corante nos diferentes valores de pH. A porcentagem de remoção de corante é altamente dependente da concentração inicial

Figura 03: Efeito da concentração inicial do corante azul de remazol no processo de adsorção.

processo de adsorção entre o bagaço de cana e o corante azul de remazol. De acordo com dados apresentados na Figura 4, com o aumento do tempo de contato a porcentagem de remoção aumenta até chegar a um patamar constante, sugerindo que o processo de adsorção atingiu o equilíbrio.

Figura 01: Adsorvente antes e após a interação com o azul de remazol em distintos valores de pH.

de corante. Este efeito depende da relação entre a concentração do corante e os locais de ligação disponíveis na superfície do adsorvente. Geralmente, a porcentagem de remoção diminui com o aumento da concentração inicial do corante, devido à saturação dos locais de adsorção na superfície do adsorvente. Em baixa concentração, 20 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

Figura 04: Efeito do tempo de contato na adsorção do corante azul de remazol em bagaço de cana.


4. Conclusão Neste trabalho foi estudada a adsorção do corante azul de remazol em bagaço de cana. No processo, a remoção do corante foi maior no pH 2, menor concentração e maior tempo de contato. Neste estudo, a porcentagem de remoção apresentou valores próximos aos 100%, demonstrando que o bagaço de cana pode ser um promissor adsorvente para efluentes oriundos das indústrias têxteis. No processo, são abordados os conteúdos científicos: métodos de separação de misturas, preparação de soluções, ácidos e bases e cinética química. A partir da discussão destes temas numa abordagem contextualizada com participação ativa dos discentes espera-se um processo de ensino-aprendizagem com maior entusiasmo e significância. Este é um tipo de estudo realizado apenas em centros de pesquisa ou universidades, porém a iniciação dos alunos neste ambiente de pesquisa pode incentivá-los a seguir a carreira acadêmica na área de Ciências Exatas e da Terra. Referências GUPTA, V.K., SUHAS. Application of low-cost adsorbents for dye removal – A review. Journal of Environmental Management, 90, 2009. LIN, Q. et al. Adsorption properties of crosslinking carboxymethyl cellulose grafting dimethyldiallylammonium chloride for cationic and anionic dyes. Carbohydrate Polymers, 151, 2016. LUO, S. et al. Preparation and characterization of aminefunctionalized sugarcane bagasse for CO2 capture. Journal of Environmental Management, 168, 2016. SALLEH, M. A. M., Cationic and anionic dye adsorption by agricultural solid wastes: A comprehensive review. Desalination, 280, 2011. SANTOS, D. O., et al. Investigating the potential of functionalized MCM-41 on adsorption of Remazol Red dye. Environmental Science and Pollution Research, 20, 2013.

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Resumo. A preocupação com o meio ambiente e os ecossistemas despertou em nós, alunos e professores, o interesse de saber como se processa o tratamento da água, consumida na cidade de Aracaju. Esse projeto envolveu os alunos do 2º ano, do ensino médio integral, do Colégio Estadual Vitória de Santa Maria, situado em Aracaju/SE. Na construção desse projeto, abordamos como a Empresa DESO realiza o tratamento da água. Demonstramos os processos físicos e químicos pelos quais passa a água. Visitamos a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Rio Poxim e por fim, fizemos a construção da mini estação de tratamento. 1. Introdução A água é um recurso natural de composição molecular, definida por uma ligação entre dois átomos de hidrogênio com um de oxigênio. A água é o elemento fundamental para a existência da vida na Terra. Todos os seres vivos dependem dela para sobreviver e para garantir a permanência da espécie, a água sustenta a vida. Entretanto, apesar de toda a sua importância, a água é um recurso que pode acabar e, por isso, exige cuidados em relação à quantidade de uso, à sua qualidade, às suas fontes, à sua distribuição desigual pelo planeta, além de planejamento e custeio de tratamento, de conservação e proteção. 22 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


A visita a uma estação de tratamento de água é uma forma de mostrar a interferência humana nos processos que tornam a água poluída de esgotos e de outros locais. Essa sujeira produzida pelo homem, em água com condições de consumo, impossibilita o uso de muita água, destinando à lavagem de ruas ou para aguar jardins. Enfatizamos o quanto é difícil torná-la novamente potável em termos de múltiplos processos de qualidade e em recursos econômicos, assim como alertar para o fato das diversas doenças que podem ser causadas pelo consumo de água poluída e inadequada ao consumo humano. Na construção desse projeto, abordamos como a Empresa DESO realiza o tratamento da água. Demonstrando os processos físicos e químicos Figura 03: (A) Alunos do 2º Ano do Colégio Vitória de Santa Maria assistinpelos quais passa a água até chegar às torneiras das do uma palestra durante a visita à estação de tratamento de água. (B) tanques nossas casas. E por fim, a montagem de uma mini de decantação da ETA Poxim. estação de tratamento de água. Visamos com esse da mini estação de tratamento, na qual foram trabalho estimular a reflexão no tocante ao uso utilizados os materiais listados na tabela 1: consciente dos recursos hídricos, e como resultado Primeiramente, começamos pelo corte da provocar no aluno um desejo de ser ator no seu processo de construção do conhecimento. 2. Materiais e Métodos Nosso projeto foi realizado no Colégio Estadual Vitória de Santa Maria, localizado na cidade de Aracaju, Sergipe, com 20 alunos do 2º Ano B do Ensino Médio Integral. Inicialmente, utilizamos o laboratório de informática, onde realizamos várias pesquisas sobre os recursos hídricos, funcionamento de uma estação de tratamento de água, e como criar uma mini estação de tratamento de água. Durante o mês de julho fizemos uma visita técnica (Figura 1A e 1B) à estação de tratamento de água (ETA) Poxim, onde pudemos verificar o processo de coleta, tratamento e distribuição de água na cidade de Aracaju. Logo após, começamos a construção

Tabela 1: Relação dos materiais utilizados para a construção da mini estação de tratamento de água. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  23


madeira no formato de uma escada para servir de base de apoio (Figura 2). Depois, com um auxílio de pregos e do martelo, pregamos as madeiras e começamos a montagem da base, e, em seguida, cobrimos com tecido de TNT.

aprendizagem, aplicamos um questionário antes e depois do projeto, ele foi estruturado com perguntas referentes ao grau de satisfação dos alunos e as fases do tratamento da água. Os dados obtidos foram armazenados em planilhas do Excel 2012 para posterior elaboração de gráficos. 3. Resultados e discussão O resultado final da construção da mini estação de tratamento é apresentado a seguir (Figura 4).

Figura 2: Aluno cortando o madeirite com uma serra tico tico.

Logo após, começamos a montar as etapas do tratamento. Na primeira caixa organizadora, colocamos uma tela e utilizamos o flangle, o registro e os joelhos interligando a primeira caixa à segunda, a segunda com a terceira e a terceira com a quarta caixa, onde ocorrerá a filtração. Na quarta caixa foram adicionados brita zero, algodão, areia fina, cascalho fino, carvão e brita zero novamente (figura 3), esta caixa foi interligada à quinta caixa onde colocamos uma torneira para a saída da água tratada.

Figura 4: Mini estação de tratamento de água.

Foi possível observar que a água suja (figura 5A) após a passagem pelas etapas da nossa mini estação de tratamento de água, apresentou um aspecto de turbidez bem menor que antes e uma coloração transparente evidenciada na (figura 5B).

Figura 3: Caixa de filtração.

A fim de avaliar se esta atividade foi positiva, do ponto de vista do processo de ensino 24 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

Figura 5: A- erlenmeyer contendo água antes da passagem pela mini estação. B – erlenmeyer contendo água depois da passagem pela mini estação.


Na primeira etapa, a água passou pelo gradeamento (figura 6A), já na segunda caixa foi adicionado sulfato de alumínio para dar início à floculação (figura 6B), na terceira caixa ela ficou de repouso sofrendo a decantação (figura 6C) e após a decantação, a água foi filtrada através de um filtro de camadas (figura 6D) e por fim, passou pelo último processo que é utilizado para cloração e fluoretação.

Figura 6: A- Caixa de Gradeamento, B- Caixa de Floculação, C- Caixa de Decantação, D- Caixa de Filtração.

Estes atributos demonstraram claramente que a mini estação de tratamento de água pode ser utilizada nas aulas de Química, como agente facilitador da compreensão dos conteúdos pertinentes aos métodos de separação de misturas. Isso ficou claro com as respostas do questionário que foi aplicado ao término das atividades. De acordo com as respostas dos alunos, foi possível observar que esta atividade foi significativa para a construção do conhecimento científico na educação básica, uma vez que grande parte dos alunos a avaliaram como bastante proveitosa (Figura 7) e a grande maioria conseguiu associar corretamente cada fase no método de tratamento da água com sua respectiva função (figura 8).

Segundo Oliveira (2015), boa parte disso deve-se, principalmente, à capacidade que a construção de recursos didáticos como maquetes ou simuladores tem de tornar o aluno um elemento ativo no processo de construção do conhecimento humano. Acreditamos que tais práticas podem incrementar o conteúdo abordado nos livros didáticos e tornar tanto alunos quanto professores menos dependentes de tal ferramenta educacional. Hodson (1994) considera como sendo atividade prática qualquer trabalho em que os alunos estejam ativos e não passivos: atividades interativas baseadas no uso do computador, análise e interpretação de dados apresentados, resolução de problemas, elaboração de modelos e maquetes são alguns exemplos nos quais os alunos se envolvem ativamente. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  25


Direcionando nossa atenção para o ensino de química, atividades práticas, incluindo a experimentação, desempenham um papel fundamental, pois possibilitam aos alunos uma aproximação do trabalho científico e melhor compreensão dos processos de ação das ciências da natureza. 4. Conclusão Diante do que foi exposto, foi possível perceber que esta prática pedagógica teve boa repercussão entre os alunos. A construção de uma mini estação de tratamento de água se mostrou muito eficiente para uso na demonstração de conceitos de separação de misturas, assim como as etapas do processo de tratamento de água. E como durante a prática os alunos tiveram uma participação muito efetiva, podemos concluir que práticas pedagógicas que visam o melhoramento da educação são bem gratificantes para os professores e para os alunos. Referências

AZEVEDO, Eduardo Bessa. Poluição vs. Tratamento de água: duas faces da mesma moeda. Química Nova na Escola, nº 10, Novembro, 1999. GRASSI, Marco Tadeu. As Águas do Planeta. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, nº 1, maio, 1995. HODSON, Derek. Investigación y experiencias didácticas: Hacia um enfoque más crítico del trabajo de laboratorio. Enseñanza de las ciencias, vol 12, n°.3, 1994. OLIVEIRA, Marcus Vinicius Noronha de. O uso de massa de modelar no ensino de ciências. Feira de Ciência e Cultura, vol. 3, nº 3, abril, 2016. 26 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


Resumo. A química envolvida no preparo e consumo de chá pode ser utilizada como estratégia didática para promover uma abordagem contextualizada da química orgânica. Assim, buscando uma aprendizagem significativa, utilizou-se a temática “UMA XÍCARA DE CHÁ” no trabalho de pesquisa realizado por estudantes da 3ª série do Ensino Médio do Colégio Estadual Dr. Antônio Garcia Filho, com o objetivo de identificar as funções orgânicas presentes nos chás vendidos na feira de Umbaúba através de um pequeno estudo etnobotânico. 1. Introdução Facilmente encontra-se algo no cotidiano que possa ser relacionado aos conteúdos curriculares da Educação Básica. Assim sendo, é considerável a quantidade de contextos possíveis de serem trabalhados a fim de auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. As políticas educacionais brasileiras (BRASIL, 2006) já acenam para a importância de unir os conhecimentos científicos com a realidade dos estudantes a fim de proporcionar um aprendizado significativo. A aprendizagem significativa é um processo por meio do qual uma nova informação relacionase, de maneira substantiva (não-literal) e nãoRevista Feira de Ciências e Cultura  |  27


arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo (MOREIRA, 1999). Em outras palavras, os novos conhecimentos que se adquirem relacionam-se com o conhecimento prévio que os alunos possuem. Tomar um bom chá é um hábito do cotidiano de muitas pessoas e está ligado ao prazer, conforto e ao convívio social. Na busca por uma aprendizagem significativa e considerando que o chá contempla assuntos de relevância social, e é rico em termos conceituais o que permite trabalhar praticamente todos os conteúdos de Química Orgânica abordados no Ensino Médio, foi eleita a temática “uma xícara de chá”, em que priorizou-se a identificação das funções orgânicas nos princípios ativos de cada planta usada para a preparação de chá e que são vendidas na feira de Umbaúba. O objetivo deste trabalho foi (re)construir o conhecimento de funções orgânicas a partir dos princípios ativos de plantas popularmente utilizadas na forma de infusão, decocção e maceração, e que são vendidas na feira do município de Umbaúba/ SE, bem como realizar um sucinto levantamento etnobotânico dessas espécies, ou seja, uma pequena pesquisa destinada à investigação das relações entre feirantes e plantas, destacando-se, dentre essas relações, o estudo das práticas medicinais, envolvendo ervas utilizadas na medicina popular.

semiestruturadas aos feirantes de Umbaúba que comercializam ervas fitoterápicas e que são consumidas na forma de chás. A partir dessas entrevistas foram obtidas informações sobre plantas medicinais, tais como: nomes populares, modo de preparo, indicações e posologia. O trabalho de campo foi realizado através de excursões à feira entre março e junho de 2016. Posteriormente os alunos fizeram uma pesquisa em sites e artigos acadêmicos para identificar o princípio ativo e as funções orgânicas presentes nas estruturas químicas de cada erva medicinal catalogada. Com essas informações os alunos puderam confeccionar cartazes e panfletos com a denominação popular e científica, estrutura química do princípio ativo e uso medicinal de cada planta utilizada para a preparação dos chás listados. Os cartazes explicativos foram destinados aos feirantes que comercializam as ervas para que esses tivessem conhecimento científico da utilização medicinal da erva vendida. A culminância da pesquisa foi uma tarde de degustação dos chás estudados, quando os alunos tiveram a oportunidade de expor e explicar tudo que aprenderam durante a execução deste trabalho. Neste momento foi possível fazer uma avaliação com os alunos de todo o processo de aprendizagem obtido com o projeto, através da observação, pois, acredita-se que esse é um instrumento avaliativo 2. Materiais e Métodos que permite o professor avaliar os alunos nos mais diversos aspectos. Ainda foi possível propor A metodologia abordada neste trabalho diferentes possibilidades de ampliação dessa foi a contextualização do conteúdo de Química temática no ensino médio, como por exemplo o Orgânica por meio do tema gerador “uma cultivo de um pequeno herbário no “Cantinho xícara de chá”, aplicado nos alunos da 3ª série do Verde” da escola. Ensino Médio do Colégio Estadual Dr. Antônio Garcia Filho, escola da rede pública de ensino, 3. Resultados e Discussão no município de Umbaúba, Estado de Sergipe, contribuindo para a construção do conhecimento. Este trabalho surgiu da dificuldade que A atividade inicial foi um levantamento os alunos têm de identificar os grupos funcionais etnobotânico realizado através entrevistas orgânicos e de não conseguirem traçar uma 28 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


relação do conteúdo de Química Orgânica com o cotidiano. Essa observação se deu com a análise das notas baixas obtidas pelos alunos na 1ª unidade, em que o único assunto abordado foi identificação das funções orgânicas. Foram analisadas as notas das três turmas da 3ª Série do Ensino Médio do C. E. Dr. Antônio Garcia Filho. A partir de uma conversa informal foi observado que a maioria dos alunos não tinham muito interesses pelo conteúdo, pois não conseguiam associá-lo ao cotidiano e, mesmo utilizando os exemplos citados no livro adotado pela escola, os mesmos não impetravam interesse pelo assunto. Queixaram-se, também, da grande quantidade de fórmulas que tinham que decorar, referindo-se as estruturas dos grupos funcionais orgânicos, tais como: álcoois, éteres, aldeídos, ácidos carboxílicos, etc. Ficou óbvio neste momento que os alunos estavam habituados com a pedagogia tradicional, aquela que se preocupa apenas com a universalização do conhecimento. O treino intensivo, a repetição e a memorização de fórmulas são as formas pelas quais os alunos estão acostumados. Sendo assim, os discentes são agentes passivos as quais não estão habituados a nenhuma forma de manifestação. Para os alunos os conteúdos são verdades absolutas, dissociadas da sua vivência e de sua realidade social. Tal reflexão apontou a contextualização do cotidiano como ponto de partida para o ensino de Química Orgânica e, de acordo com Da Silva (2007, p. 10), a contextualização se apresenta como um modo de ensinar conceitos das ciências ligados à vivência dos alunos, seja ela pensada como recurso pedagógico ou como princípio norteador do processo de ensino. Sendo assim, foi pensado na temática “uma xícara de chá” como eixo norteador para as aulas de funções orgânicas aproximando os alunos da sua realidade. A abordagem temática foi construída no intuito de facilitar o processo

de aprendizagem do conteúdo, tendo em vista a falta de entendimento e de interesse que os alunos apresentavam. Foi então, pedido pela professora que os alunos fizessem uma pesquisa na feira do seu município para que pudessem catalogar as ervas comercializadas e que são utilizadas na forma de chás com finalidade curativa, para que no próximo momento fosse feito uma análise sobre a utilização, eficácia, composição química, nomenclatura científica e preparação destes chás, com a finalidade de produzir nos alunos um senso crítico sobre o assunto e corrigir as considerações equivocadas. Essas visitas foram registradas pelos próprios

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popular e o conhecimento científico. Desta forma o discente foi capaz de argumentar, criticar, avaliar as diversas situações da pesquisa, passando a ser agente ativo do processo de ensino-aprendizagem. Os alunos ainda fizeram procuras em sites e artigos acadêmicos para identificar o princípio ativo e as funções orgânicas presentes nas estruturas químicas de cada erva medicinal catalogada. Já de posse das fórmulas estruturais dos princípios ativos, eles puderam fazer a identificação das funções orgânicas presentes em cada estrutura, Figura 1: Registro de uma das visitas a feira de Umbaúba para levantamento dos dados.

alunos através de fotos, como mostra a Figura 1. Foram listadas pelos alunos 22 (vinte e duas) espécies de ervas medicinais que são consumidas na forma de chás e que são vendidas na feira. Foram registradas as seguintes ervas: alcachofra, alecrim, arnica, aroeira, barbatimão, camomila, carqueja, chá verde, cipó mil homens, dente de leão, erva doce, cidreira, espinheira santa, gengibre, guaco, hibisco, nogueira, quebra-pedra, sene, sete sangrias, unha de gato e uxi amarelo. Já no contexto etnobotânico, os alunos conheceram os nomes populares, indicações e posologia. As ervas eram indicadas principalmente para tratar problemas das vias respiratórias, infecção, problemas gastrointestinais, além de utilização como vermífugo, calmante e analgésica. No que se refere às formas de preparo dos chás houve maior indicação pelos feirantes do chá em infusão, seguido do chá fervido e maceração. A parte mais citada para uso terapêutico foi a parte aérea da planta. Para que a pesquisa atingisse seus objetivos, ou seja, se tornasse produtiva na construção do conhecimento, foi necessário que os alunos analisem as produções científicas já disponíveis sobre o tema e depois elaborassem suas conclusões pessoais fazendo uma comparação do saber 30 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

Figura 2: Alunos durante a pesquisa da composição química dos princípios ativos das ervas catalogadas.


como mostra a Figura 2. A partir desse momento, foi observado o crescente interesse por parte dos alunos pelo conteúdo de Funções Orgânicas e a facilidade com que os mesmos passaram a ter em identificar cada grupo funcional nas estruturas dos princípios ativos das ervas. Por meio dessa investigação “on-line” os alunos ainda tiveram a possibilidade de descobrir novas informações, curiosidades sobre a história e origem dos chás, bem como o despertar para a leitura. Coube à professora a incumbência de gerenciar e orientar os seus alunos na busca de informações, disponibilizando referências bibliográficas, sites confiáveis, enfim, oferecendo melhores condições de desenvolvimento da pesquisa. Além de ter atuado na orientação da construção de textos a partir do material pesquisado, a professora também teve que ensinar como retirar as partes mais importantes do conteúdo pesquisado e também despertá-los para uma visão crítica, estabelecendo uma relação pesquisa-mundo. A cada encontro dos discentes para avançar nas pesquisas era notório o interesse que cada um passou a ter sobre o assunto, mostrando segurança ao argumentar os pontos em debate. Foi sugerido pelos próprios alunos que o projeto fosse encerrado com uma culminância no pátio da escola, onde eles iriam servir chás, colocar amostras das ervas com seus nomes populares e científicos, bem como as fórmulas dos princípios ativos identificando suas funções orgânicas. Essa ideia foi consentida, pois acredita-se que a cerimônia de fechamento desse projeto didático daria aos alunos visibilidade para o processo de aprendizagem pelo qual passaram, e apresentando o trabalho da turma para a comunidade escolar e para os pais acaba estimulando todos a perceber o avanço dos educandos. A culminância foi registrada em fotos, como mostra a Figura 3. No momento da culminância percebeu-se

Figura 3: Alunos no momento da culminância do projeto, realizada no dia 26/09/2016. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  31


que os alunos não mais estavam preocupados com a memorização das fórmulas, pois demonstravam total segurança no que estava sendo explanado. Pode-se, então, fazer uma avaliação oral da compreensão dos alunos no que diz respeito a identificação das funções orgânicas, tendo como resultado satisfatório também nesse aspecto. 4. Conclusão O desenvolvimento desse projeto permitiu desenvolver a relação entre os saberes tradicional/ popular e o conhecimento científico na escola em relação às ervas vendidas na feira de Umbaúba através dessa contextualização do ensino de Química, de modo que os alunos tiveram a oportunidade de exporem seus saberes cotidianos por meio de relatos durante as aulas e adquiriram novas informações com a mediação da docente. Foi explorado também a oralidade dos alunos, por meio de diálogos e conversas durante as aulas e culminância do projeto. Toda a trajetória de estudos e práticas vivenciadas pelos alunos possibilitou uma aprendizagem significativa em relação ao conteúdo de funções orgânicas. A partir da interdisciplinaridade efetiva entre os vários campos do saber, os estudantes tornaram-se conscientes e conhecedores das interrelações entre ciência, cultura, tecnologia, ambiente e sociedade, favorecendo o desenvolvimento de uma visão holística do mundo. Numa perspectiva atual, embora reconheça que ainda existem ações pedagógicas no ensino de Química calcada no tradicionalismo e em tendências mecanicistas, observou-se também novas maneiras de ensinar os alunos diante dos avanços democráticos na educação, formando cidadãos críticos, reflexivos e aptos a atuarem na sociedade.

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5. Referências Bibliográficas BORNHAUSEN, R. L. As ervas do sítio – História, magia, saúde, culinária e cosmética. 5ª ed. São Paulo: Editora MAS LTDA, 1995. BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de educação Básica. Orientações curriculares para o Ensino Médio. Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Vol. 2. Brasília: MEC/SEB, 2006. DA SILVA, Erivanildo L. Contextualização no Ensino de Química: idéias e proposições de um grupo de professores. 2007. 144f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências) – Universidade de São Paulo. São Paulo:USP, 2007. MOREIRA, Marco Antônio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1999. Sites Consultados: http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/ redacao/2010/08/23/saiba-qual-a-diferenca-entre-infusao-edecoccao.htm. Disponível em 22/09/2016. http://www.culturajaponesa.com.br/?page_id=534. Disponível em 20/09/2016.


Resumo. Os conteúdos de Ciências, em especial, aqueles referentes à Tabela Periódica, vistos no 9º Ano do Ensino Fundamental, precisam ser repensados através de uma ótica que transforme os alunos em agentes ativos no processo educacional. Pensando nisso, o presente trabalho, realizado como parte integrante da Feira de Ciências da escola, teve como objetivo demonstrar através de práticas construtivistas, como e qual a verdadeira razão de se estudar este conteúdo. Para tal, foram utilizados materiais de baixo custo e de fácil acesso. Os resultados mostraram-se bastante significativos, principalmente, no que diz respeito ao processo de ensino/aprendizagem. 1. Introdução Há muito tempo que diversos autores da área da educação discutem a melhor forma de abordar os conteúdos de Ciências em sala de aula (CHASSOT, 2003). Essas discussões englobam tanto aspectos materiais como, melhorias na infraestrutura das salas de aula e a disponibilidade de laboratórios, como também a construção de um currículo adequado a cada realidade e a formação docente de qualidade (MORIN, 2000).

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Entretanto, durante muito tempo, os conteúdos de Ciências têm sido transmitidos de uma forma mecânica, tecnicista e, muitas vezes, distantes da realidade do aluno (NETO; FRACALANZA, 2003). No caso do estudo da Tabela Periódica, isso fica bastante evidente. Nossa escola nos ensinou a memorizar os símbolos e os nomes dos diversos elementos químicos da natureza, sem refletir acerca do por quê dessa disposição espacial em uma tabela, tão pouco da sua verdadeira utilidade como instrumento de ciência. Nossa universidade fez o mesmo. Diante desse cenário, já há quase três anos vem sendo realizados trabalhos de cunho lúdico e construtivista nas escolas estaduais pertencentes aos municípios de Pinhão e Frei Paulo, Sergipe, para motivar os alunos para o processo de educação científica. Esse trabalho, em específico, além de se enquadrar para tal motivação, também buscou estimular a reflexão dos alunos no que diz respeito aos critérios utilizados na construção de uma Tabela Periódica. 2. Materiais e Métodos 2.1 Construção do recurso didático A realização desse trabalho se deu como parte integrante da Feira de Ciências que é realizada todos os anos, no Colégio Estadual Professor Gentil Tavares da Mota - CEPGTM, Frei Paulo-SE. Nela, os alunos são estimulados a apresentar trabalhos com temas importantes para a sociedade como: educação, saúde e meio ambiente. No referido caso, os alunos matriculados no 9º Ano do Ensino Fundamental ficaram incumbidos de construir um recurso didático, com materiais de baixo custo e de fácil acesso, que representasse, de forma clara, a importância e os principais critérios utilizados na construção da Tabela Periódica que temos hoje. 34 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

Para isso, os alunos recolheram diversos vasilhames modelo pet, descartados no lixo da escola durante o recreio, além de materiais de expediente contidos na própria escola para a construção de uma Tabela Periódica Gigante (Tabela 1). Tabela 1. Relação de materiais utilizados para a construção do recurso didático. Material Quantidade (unid.) Garrafas de plástico 118 (250 mL) 01 (rosa) Papel madeira 01 (verde) 01 (amarelo) 01 (vermelho) Cola de silicone 02 Caneta 01 retroprojetora Placas de isopor 02 espessas

Cada garrafa coletada foi devidamente lavada e teve o seu rótulo retirado. Após secagem, todas foram etiquetadas com placas de papel madeira coloridas, obedecendo a um padrão lógico de diferenciação dos elementos químicos (Figura 1), contendo o símbolo, o nome, o número atômico e o número de massa dos elementos químicos (Figura 2).

Figura 1: Ilustração das cores utilizadas para confecção das placas.

Figura 2: Representação hipotética de um elemento químico nas placas de papel madeira.


Ao final desse processo, as garrafas foram coladas 3. Resultados e discussão umas sob as outras, formando uma enorme tabela periódica, sustentada por placas de isopor espessas A turma do 9º Ano do Ensino Fundamental (Figura 3). é composta de 27 alunos, na sua maioria do sexo feminino (70%) e com uma média de idade de 15 anos. A análise das respostas referentes à atividade pedagógica revelou resultados bastante satisfatórios no que diz respeito tanto ao envolvimento da turma com a disciplina quanto na compreensão dos conteúdos abordados em sala de aula (Figura 4).

Figura 4: Grau de satisfação dos alunos com relação à construção do recurso didático.

Figura 3: Tabela Periódica Gigante. Foto: Marcus Noronha.

2.2 Avaliação Buscando avaliar a efetividade de práticas como essa, a equipe de professores do CEPGTM realizou observações em diário de campo durante a exposição na Feira de Ciências, levando em consideração, principalmente, aspectos como: qualidade na apresentação das maquetes e o domínio do conteúdo. Por último, durante as aulas de Ciências, foi aplicado um questionário investigativo, que buscou avaliar se tal prática pedagógica favoreceu o processo de ensino/aprendizagem.

Geralmente, turmas formadas por jovens dessa idade são bastante hiperativas e atividades como essa são capazes de colocar o aluno como protagonista na construção do conhecimento, quebrando, assim, com o velho paradigma de transmissão expositiva do conteúdo, por parte do professor. Além disso, essas atividades fortalecem as relações interpessoais, tão escassas nos dias de hoje, devido ao avanço das tecnologias sociais. De acordo com Silveira et al (2009), diversas mudanças devem ser realizadas no âmbito educacional, ente elas, a prática docente diária realizada em sala de aula. Estas, por sua vez, necessitam urgentemente de aproximar os conteúdos à realidade dos educandos, bem como apresentar-lhes a Ciência como um processo que está em constante construção e não como um produto acabado (GOUVÊA; LEAL, 2001). Revista Feira de Ciências e Cultura  |  35


Essa ideia se fortaleceu ainda mais, quando foram analisadas as falas pessoais dos alunos para os questionamentos a seguir, dos quais selecionamos algumas respostas: Do ponto de vista do aprendizado, você acredita que essa atividade foi eficiente? Ou seja, ela conseguiu demonstrar a importância da Ciência no seu dia-a-dia? Resposta do(a) aluno(a) X: “Sim, porque ajudou muito no assunto, e também aprendi uma coisa nova e interessante, reutilizamos coisas que estariam no lixo, sem valor algum, e quem tem criatividade faz várias coisas maravilhosas”. Com suas próprias palavras, escreva o que mais lhe marcou no conteúdo. Por exemplo, conceitos, fórmulas, estruturas, entre outros. Resposta do(a) aluno(a) Y: “As letras com cada símbolo e a organização crescente do número atômico dos elementos químicos e que cada um deles tem uma estrutura diferenciada”. 4. Conclusão A realização desse trabalho mostrou-se eficaz em dois aspectos importantes do processo educacional: a transmissão dos conteúdos referentes à Tabela Periódica e o incentivo ao trabalho coletivo. Em outras palavras, ficou claro que é possível transformar um conteúdo considerado por muitos docentes como difícil de ser transmitido, em uma oportunidade prazerosa de aprendizado e, além disso, com um pouco de criatividade, utilizando materiais disponíveis na própria escola, é possível realizar grandes feitos.

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Referências CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. 2003. Revista Brasileira de Educação, n.22, p. 89-100. GOUVÊA, G.; LEAL, M. C. Uma visão comparada do ensino em ciência, tecnologia e sociedade na escola e em um museu de ciência. 2001. Ciência e Educação, v. 7, n. 1, p. 67-84. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: Unesco, 2000. Título original: Les sept savoirs nécessaires à l’éducation du futur. NETO, J. M.; FRACALANZA, H. O livro didático de Ciências: problemas e soluções. 2003. Ciência e Educação, v.9, n.2, p. 147-157. SILVEIRA, A. F. da; ATAÍDE, A. R. P. de; FREIRE, M. L. de F. Atividades lúdicas no ensino de ciências: uma adaptação metodológica através do teatro para comunicar a ciência a todos. 2009. Educar, n. 34, p. 251-262.


Resumo. Este trabalho tem por objetivo relacionar elementos matemáticos identificados em produtos do artesanato sergipano com a matemática estudada em sala de aula. Para isso, foram analisadas algumas peças de artesanato expostas em Centros e Feiras de arte em Aracaju, procurando descrever os modelos geométricos praticados em cada peça. Foram selecionados quatro tipos de produtos: bordados redendê, patchwork, bolsas de algodão e mandalas. Podemos destacar a presença de conceitos matemáticos como simetria, polígonos, cálculo de áreas e funções de primeiro e segundo graus. A partir dessas análises, foram elaboradas e aplicadas atividades de ensino para alunos do ensino fundamental.

conhecimento. Essa falta de identificação tem como consequência um distanciamento entre o aluno e o conhecimento matemático, como se este fosse restrito a determinados indivíduos do passado e que simplesmente lhe é repassado com fim em si mesmo. Com o objetivo de aproximar o aluno do conhecimento matemático e incentivar o seu aprendizado, buscamos relacionar elementos encontrados em produtos do artesanato sergipano com os conceitos aprendidos na matemática formal. Para nortear a pesquisa e a análise dos resultados, utilizamos os princípios da Etnomatemática, definida por Ubiratan D’Ambrosio (1998, 2009) e Paulo Gerdes (1988) como uma área de pesquisa/ ensino que visa respeitar e valorizar a Matemática de diferentes grupos socioculturais (sejam 1. Introdução etnias - indígenas, africanos, europeus, etc. – ou Este projeto surgiu da intenção de trabalhar comunidades – artesãos, costureiras, feirantes, a Matemática em sala de aula de forma mais pedreiros, MST, etc.) e propõe uma maior contextualizada e próxima à realidade do aluno. É valorização dos conceitos informais construídos comum que o estudante não consiga relacionar a pelos alunos por meio de experiências fora do Matemática estudada na escola com o seu cotidiano contexto escolar, partindo do estudo da matemática ou mesmo entenda que ela surge para atender popular e utilizando-a como um caminho para se as diversas necessidades da própria sociedade, chegar à matemática acadêmica. não se reconhecendo também como produtor de Revista Feira de Ciências e Cultura  |  37


2. Materiais e métodos

3.1 Formas geométricas e simetria

Desenvolvemos esse projeto no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe com a participação de duas professoras de Matemática da instituição e de três alunos do 1º ano do Ensino Médio. Na primeira etapa do trabalho, discutimos com os alunos o conceito de Etnomatemática e os passos de uma pesquisa científica. Depois de pesquisar informações sobre o artesanato sergipano (seus principais produtos, cidades produtoras, etc.), passamos a fotografar peças que, a princípio, revelassem algum elemento matemático em sua composição, em Centros e Feiras de artesanato em Aracaju, como: Centro de Cultura e Arte de Sergipe J. Inácio, Feira do Turista, Mercado de Artesanato e Centro de Turismo. Prosseguimos, então, com a análise dessas imagens, buscando identificar e descrever os modelos numéricos e geométricos presentes nas peças. Os alunos pesquisaram sobre cada conceito matemático encontrado, para que se pudéssemos pensar em uma aplicação prática em sala de aula. A partir dessa análise, então, foi elaborada uma atividade de ensino para o 9º ano do Ensino Fundamental, utilizando principalmente imagens de bordados.

O primeiro aspecto que chama a atenção nas peças de artesanato é a diversidade de formas geométricas. Nas Figuras 1, 2 e 3 notamos formas como círculos, alguns tipos de triângulos, quadrados, retângulos e paralelogramos. É interessante notarmos não só a presença dessas formas, mas a maneira como estão dispostas na composição das peças. Um dos aspectos que confere beleza a um produto é a sua harmonia visual. Por essa razão, percebemos que os artesãos procuram muitas vezes trabalhar com simetrias em seus produtos. A simetria pode ser definida como um padrão que se repete por algum tipo de movimento. Na Figura 1, por exemplo, é possível traçar eixos de simetria axial. Nesse tipo de simetria podemos visualizar retas que dividem a figura em partes iguais quando dobradas uma sobre a outra. Na Figura 2, podemos destacar a simetria de rotação, em que ao girar a figura em determinados ângulos, as imagens se sobrepõe perfeitamente.

3. Resultados e discussão Nas visitas a Centros e Feiras de artesanato em Aracaju, pudemos encontrar diversos produtos que revelavam conceitos matemáticos em sua composição. Procuramos peças do artesanato tradicional de Sergipe (bordados, cestos de palha, cerâmicas, etc.) e também produtos mais contemporâneos (mandalas, vasos e móveis fabricados com materiais reciclados, patchwork, etc.). Nas subseções a seguir descrevemos a análise dessas peças, separadas por conceitos matemáticos. 38 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

Figura 1: Passadeira de mesa em bordado redendê estrela (Fonte: Acervo pessoal dos pesquisadores)


A Figura 3 apresenta outro tipo de simetria bem comum nos trabalhos de artesanato, a simetria de translação. Nesse caso há a repetição de uma figura em intervalos regulares. Assim, a figura desliza sobre uma reta mantendo-se inalterada.

Figura 2: Mandala produzida com materiais rústicos e recicláveis (Fonte: Acervo pessoal dos pesquisadores)

Figura 4: Pano de bandeja em bordado redendê (Fonte: Acervo pessoal dos pesquisadores)

Figura 5: Bolsa de algodão (Fonte: Acervo pessoal dos pesquisadores)

3.2. Relações dentados

Figura 3: Passadeira feita com técnica patchwork (Fonte: Acervo pessoal dos pesquisadores)

matemáticas

em

quadrados

Ao analisarmos algumas peças de artesanato, principalmente os bordados redendê, percebemos a recorrência de uma forma geométrica chamada quadrado dentado, como destacado nas Figuras 4 e 5. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  39


Figura 6: Quadrado dentado (Fonte: Acervo pessoal dos pesquisadores)

Trata-se de uma figura geométrica de forma quadrada, cujo contorno tem a forma de uma escadinha, composta de vários dentes. Seu interior é composto de quadrinhos dispostos em linhas e colunas. Por exemplo, a Figura 6 mostra um quadrado dentado que possui 5 dentes. Dizemos que sua diagonal possui 9 quadrinhos. Uma análise extensa sobre quadrados dentados pode ser encontrada nos livros e artigos de Paulus Gerdes. O autor holandês estudou a cestaria Bora, da Amazônia Peruana, que denominava essas figuras como “mariposas”.

Procuramos investigar algumas relações matemáticas contidas na composição dos quadrados dentados. Para isso, selecionamos duas formas diferentes (Figura 7) de preenchimento desses quadrados, extraídas das Figuras 4 e 5. Da primeira forma, destacamos o fato de que as quantidades de quadrinhos de cada uma das duas cores que compõe o quadrado dentado resultam sempre em números quadrados perfeitos (Ex. 1ª FORMA da Figura 7: o quadrado dentado de 5 dentes é composto por 25 quadradinhos azuis e 16 quadradinhos vermelhos. Em um quadrado dentado de 9 dentes, seriam 81 quadradinhos de uma cor e 64 de outra cor). Esse fenômeno se repete para qualquer quadrado dentado, o que nos leva a uma conclusão, já explicitada por Gerdes, que é possível construir um único quadrado (dentado) cuja área seja igual à soma das áreas de dois quadrados lisos de lados consecutivos. Com a segunda forma de preenchimento de um quadrado dentado (somente uma cor), investigamos algumas relações entre três variáveis: n → número de dentes, d → quantidade de quadrinhos da diagonal e a → área total do quadrado dentado. Baseamo-nos em quadrados dentados desenhados em uma malha quadriculada de dimensões iguais à diagonal do quadrado, a exemplo da Figura 8. Número de dentes (n) Diagonal (d)

Quadrinhos pintados (a) Quadrinhos não pintados

3

4

5

6

7

5

7

9

11

13

13

25

41

61

85

12

24

40

60

84

Tabela 1. Informações numéricas sobre diferentes quadrados dentados

Figura 7: Formas de preenchimento de dois quadrados dentados (Fonte: Acervo pessoal dos pesquisadores) 40 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

A Tabela 1 traz informações sobre as três variáveis (n, d e a) de cinco quadrados dentados diferentes e ainda, na quarta linha, há a quantidade de quadrinhos não pintados da malha quadriculada (externos a cada quadrado dentado).


A primeira relação investigada foi entre n e d. Percebe-se que o valor da diagonal é sempre o dobro do número de dentes menos uma unidade, o que nos permite escrever uma função de 1º grau para essa relação: d = 2n – 1. Para investigarmos a relação entre a e d, verificamos também a quantidade de quadrinhos não pintados na malha quadriculada. Observa-se que esses valores são sempre uma unidade a menos que os valores correspondentes na terceira linha (a) da Tabela 1. Podemos então expressá-los como a – 1. Somando os valores de a e a – 1, obteremos o total de quadrinhos da malha, que corresponde à diagonal do quadrado dentado elevada a dois (d2). Sendo assim, 2a – 1 = d², ou ainda, caracterizando uma função do 2º grau. Essas investigações fizeram parte de uma atividade elaborada e aplicada a alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, que estão estudando conteúdo de funções. Além dessas, outras funções podem ser investigadas, relacionando essas três variáveis.

Referências D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação Matemática: Da teoria à prática. 17ª edição. Campinas. Papirus editora. 2009. D’AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: Arte ou técnica de explicar e conhecer. 5ª edição. São Paulo. Editora Ática. 1998. GERDES, Paulus. Sobre o conceito de Etnomatemática – Estudos em Etnomatemática. ISP/KMU. 1988.

4. Conclusão Entendemos que esse tipo de pesquisa com aplicação em sala de aula contribui para que os estudantes passem a valorizar mais a própria cultura e a enxergar membros da comunidade como produtores de conhecimento. Além disso, percebemos a ampliação do olhar matemático do aluno em relação aos elementos que o cercam, aproximando-o do conhecimento matemático. Portanto, podemos dizer que a relação da matemática com os produtos artesanais facilitou a compreensão dos conteúdos, à medida que os alunos visualizaram a sua aplicação prática.

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Resumo. O projeto Florescendo a Escola, executado no Colégio Estadual Prefeito Eduardo Marques de Oliveira (C.E.P.E.M.O.) propõe o desenvolvimento de um jardim e uma horta no ambiente escolar, incentivando os alunos, através do conhecimento de paisagismo e agricultura sustentável, a buscar uma relação harmoniosa com a escola e seu meio. Foram trabalhados com os alunos conteúdos das disciplinas Artes e Ciências, voltados para a aplicação prática conceitos como arquitetura sustentável, botânica, fertilização. Foram construídos dois espaços, uma horta nos fundos da escola e um jardim no espaço central no qual os alunos plantaram hortaliças e plantas da região. Foi realizado também um aproveitamento de áreas ociosas da estrutura física da escola com criação de murais e aproveitamento de materiais descartáveis. As ações desenvolvidas no projeto levaram os discentes a se relacionar com seu ambiente escolar de forma mais harmoniosa, amparados pela experiência pratica e direta de sustentabilidade e cidadania. 1. Introdução O ambiente escolar é um espaço que precisa ser projetado levando em consideração diversos 42 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


fatores estruturais para que as atividades que serão executadas naquele local sejam desenvolvidas de maneira funcional. Porém, mais do que outras instituições, uma escola deve colocar a interação social naquele ambiente como um dos focos principais, daí o design da construção deve ser pensado para facilitar essa interação, e, mais além, incentiva-la. Ambientes ornamentados são instrumentos que, dependendo do encaminhamento dado pelo educador, podem abordar diferentes conteúdos curriculares de forma significativa e contextualizada e promover vivências que resgatam valores. (PALMEIRA, 2014) É notório que a rede pública de ensino entrega prédios padronizados para otimizar os custos e isso leva, geralmente, a ambientes que visam uma funcionalidade pratica e direta que não considera primeiramente a interação entre o meio, a construção e as pessoas que utilizam aquele espaço. Isso resulta em construções estéreis, frias e pouco inspiradas, que não estimulam uma ligação social e, tampouco, afetiva entre os alunos e o ambiente escolar. Observando esse tipo de situação refletida no Colégio Estadual Prefeito Eduardo Marques de Oliveira, em Pinhão (SE), onde uma grande área verde ociosa compõe o ambiente escolar aliado a um design arquitetônico pouco inspirado, surgiu a necessidade de elaborar um projeto que visa otimizá-lo, remodelando-o visualmente, além de transformar a área natural ociosa em jardins e hortas que irão beneficiar o colégio em diversos níveis, entre eles, o entendimento dos fatores que regem o crescimento e desenvolvimento vegetal, a melhoria da qualidade da alimentação dos alunos, a ampliação da área de lazer, incentivando uma maior integração entre os discentes, professores e demais integrantes da comunidade escolar. É fundamental que se lance mão da educação ambiental na promoção de uma nova cultura alimentar nas escolas, fazendo-os conhecer

a importância dos alimentos, da higienização desses alimentos, do valor nutritivo, sobretudo despertando gestores escolares, pais e alunos para a análise crítica sobre propagandas de produtos alimentícios pouco nutritivos, levando-os a consumir aqueles mais nutritivos. (PIMENTA e RODRIGUES, 2011) O projeto propõe que a própria comunidade escolar tomasse conhecimento da importância do seu ambiente de atividades e que passasse a interagir ativamente com ele, para buscar melhorias e manter esse espaço funcional. Para isso utilizaram conhecimentos de paisagismo, arquitetura e ciências em conjunto com seus professores e demais voluntários. 2. Materiais e Métodos Inicialmente foi feito um trabalho de conscientização com os alunos em sala de aula sobre o estado físico em que se encontrava o colégio; se eles estavam utilizando apropriadamente esse espaço e ajudando na manutenção do mesmo (FIGURA 1). Em seguida eles foram estimulados a elaborar um esboço de projeto de paisagismo para a área central da escola com liberdade para implementar as mudanças que conseguissem imaginar. A área central foi medida e registrada para futura referência. Baseado nessas atividades o professor de artes desenvolveu um esboço com a planta do jardim que seria construído em conjunto com os alunos e voluntários. O próximo passo foi discutir a criação da horta na área verde dos fundos da escola com o professor de ciências. A área foi analisada com o auxílio de ex-alunos do C.E.PE.M.O. que hoje são graduandos em Engenharia Agronômica em conjunto com seus professores da Universidade AGES. Os alunos foram instruídos a coletar sementes, raízes, mudas de flores e garrafas PET para iniciar os trabalhos.

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do paisagismo do jardim criando as passarelas de brita, e cercados de garrafa pet e bambu, além da rega das flores. Foi definido o desenho que iria ilustrar o mural do jardim, trabalho conjunto dos alunos com os professores, e a pintura do espaço designado. Durante todo esse processo eram realizados debates e reuniões com entre os componentes do projeto. Figura 1. Aula inaugural do projeto com palestra sobre horta hidropônica. (Fonte: autoria própria)

A primeira atividade efetiva foi limpar a área verde, do centro e do fundo do colégio, e prepara-la para receber as culturas (FIGURA 2). Os alunos, orientados pelos professores e ex-alunos, deixaram os ambientes determinados preparados, com as marcações do jardim para as passarelas, os canteiros e as leiras para as hortas. Paralelo a essas atividades foi promovida uma palestra sobre a produção de hortas hidropônicas.

Figura 3. Alunos e professores limpando a área verde. (Fonte: autoria própria)

3. Resultados e discussão 3.1. Estimulo e Conscientização

Desde sua gênese, o projeto foi elaborado para ser executado a longo prazo, visando principalmente a questão da conscientização por parte dos alunos com um trabalho em equipe contínuo. A preocupação inicial seria a reação dos alunos e sua adesão à ideia inicial. A medida Figura 2. Área verde da escola antes da limpeza. (Fonte: autoria própria) que as informações iam sendo passadas a resposta positiva de boa parte deles, com destaque para as Os alunos iniciaram o plantio, com as turmas do fundamental maior, acabou delineando sementes de hortaliças, folhas e frutos, como as ações e o formato do projeto. coentro, salsa, coentro, tomate, alface, melancia, cebola, entre outros. E as mudas trazidas por 3.2. Vivência e Troca de Experiências eles foram plantadas na área central da escola. (FIGURA 3) Os alunos trouxeram bastante da sua Foram divididos grupos e horários vivência para as atividades uma vez que uma grande diferentes para cuidar da horta, regar e limpar as parcela vive em povoados próximos e estão ligados, pragas. Um grupo ficou encarregado de cuidar em maior ou menor grau, a cultura agropecuária.

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Na primeira limpeza de terreno, grande parte das ferramentas como pás, enxadas, picaretas e arados de mão, pertenciam aos alunos ou a familiares. No processo, já vinham familiarizados com o processo de limpeza de terreno e manejo hábil das ferramentas, debatendo ideias com os professores e voluntários. A troca de conhecimento estimulou o engajamento dos alunos nas atividades. 3.3. Graduandos de Engenharia Agronômica

imprevistos ocorrem. Os alunos tiveram que aprender a observar a terra, criar um cronograma de rega, limpeza, plantio e replantio. Algumas sementes e flores não tiveram o desenvolvimento esperado, enquanto outras nem germinaram, forçando a um replanejamento. As sementes foram replantadas e as flores, que anteriormente foram plantadas direto na terra, agora foram plantadas em mudas para criar raízes e posteriormente plantadas nos canteiros. (FIGURA 9)

A presença dos ex-alunos graduandos em engenharia agronômica é um dos pontos que merece destaque, principalmente no que tange a interação entre a escola e a comunidade (FIGURA 4 e FIGURA 5). Através de seu auxílio na orientação das atividades, os conhecimentos trabalhados em sala de aula sobre botânica ganharam um reforço prático e vivência de campo que os professores não possuíam, gerando assim uma complementação imprescindível para o bom andamento do projeto. A convivência entre alunos e ex-alunos resultou em curiosidade por parte dos mais novos sobre futuras possibilidades no campo acadêmico e no mercado de trabalho. (FIGURA 8)

Figura 5. Estudantes de engenharia agronômica orientando os alunos na irrigação das flores do jardim . (Fonte: autoria própria)

3.5. Jardim e Mural Sustentáveis

Figura 4. Estudantes de engenharia agronômica orientando os alunos no plantio das sementes. (Fonte: autoria própria)

3.4. Prática, Erros e Acertos Lidar com a terra não é um processo exato. Por mais elaborado que seja o planejamento os

A montagem do Jardim na área central da escola visou reaproveitar produtos descartáveis para compor o paisagismo do local. Foram reaproveitadas garrafas pet, pneus, tampas de garrafa, acentos sanitários fora de uso, bambus, e diversos outros materiais. Com a orientação dos professores os alunos confeccionaram cercas para canteiro, cata-ventos, réplicas de animais de jardim

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e luminárias. Foram também aproveitados para compor o design do local, trabalhos previamente realizados nas aulas práticas de Artes, como rochas pintadas e modelagens em cerâmica. Cada uma dessas atividades contou com ideias e concepção visual dos alunos que já possuíam noções básicas dos problemas estruturais da área remodelada, como esgoto e alagamentos pelo terreno desnivelado, e como os mesmos poderiam ser eliminados ou contornados. (FIGURA 7)

de remodelar visualmente e de aproveitar melhor esses espaços, os alunos passaram a ter uma visão mais cuidadosa e próxima com a escola e essa ação, aos poucos, alcançou a comunidade. Engajar alunos em uma atividade que demanda horários marcados e comprometimento direto é um desafio a longo prazo, principalmente para ampliar as áreas que serão futuramente remodeladas. Dificuldades como elementos naturais, tempo e clima foram uma constante, mas também um estímulo a produtividade. No final, as ações desenvolvidas nos últimos meses foram um ponto de partida para uma nova maneira dos discentes se relacionarem com seu ambiente escolar, amparados pela experiência pratica e direta de sustentabilidade e cidadania.

Figura 6. Sistema de irrigação montado com bambu e garrafas pet. (Fonte: autoria própria)

Figura 8. Alunos colhendo as primeiras hortaliças . (Fonte: autoria própria)

Figura 7. Passarela de pedra e bambus no jardim. (Fonte: autoria própria)

4. Conclusão O projeto surgiu de uma série de debates entre os professores sobre como o visual estéril e o desperdício de espaço físico da escola influenciava, mesmo que indiretamente, a apatia dos alunos em seu cotidiano escolar. Ao colocar em prática a ideia

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Figura 9. Alunos replantando as sementes que não semearam da primeira vez . (Fonte: autoria própria)


Referências PIMENTA, José Calixto. RODRIGUES, Keila da Silva Maciel. Projeto Horta Escola: Ações de Educação Ambiental na Escola Centro Promocional Todos os Santos de Goiânia (GO). Disponível em: < https://nupeat.iesa.ufg.br/up/52/o/29_ Horta_na_escola.pdf>. Acesso em: 07/07/2016. MORGADO, Fernanda da Silva. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência do Projeto Horta Viva nas escolas municipais de Florianópolis. Disponível em: < https:// periodicos.ufsc.br/index.php/extensio/article/view/9531>. Acesso em: 10/08/2016. PALMEIRA, Nilianeda Silva. Paisagismo:de bem com a escola de bem com a vida. Disponível em: < http://edukatu. org.br/uploads/group/doc/402/PAISAGISMO.pdf>. Acesso em: 12/08/2016. Autor desconhecido.

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Resumo. A descoberta dos vírus no final do século XIX abriu um precedente enorme para a compreensão dos mecanismos de transmissão de diversas viroses humanas. No ensino de biologia, apesar de toda essa dinâmica que o estudo dos vírus possui, muitas vezes, eles são abordados sem qualquer nexo com a realidade dos alunos. Nesse cenário, foi realizado um trabalho de construção de estruturas virais a partir de materiais de baixo custo, como recurso didático motivador para o ensino de biologia. Os resultados se mostram satisfatórios do ponto de vista do ensino/ aprendizagem e apontam para a possibilidade de novas práticas docentes. 1. Introdução Desde que as primeiras estruturas virais foram identificadas por Adolf Meyer em 1883, através do seu trabalho com plantas da espécie Nycotina tabacum (tabaco), um novo mundo 48 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


microscópio foi revelado para a humanidade. Exemplo disso é que ao longo dos últimos anos, o estudo dos vírus tem auxiliado a medicina na compreensão dos mecanismos de infecção e transmissão de diversas doenças humanas (ZAITLIN, 1998). Compreender uma estrutura viral não é algo tão simples. Além do mais, nos últimos anos tem se acentuado as discussões no meio científico acerca de os vírus serem ou não seres vivos, uma vez que, apesar de não possuírem estrutura celular, possuem material genético como qualquer outro ser vivo (MENEGUETTI; FACUNDO, 2014). Transmitir esses assuntos no Ensino de Biologia é um desafio muito grande, principalmente, quando a escola não dispõe de recursos audiovisuais ou de laboratórios de Ciências. Diante desse cenário, o presente trabalho teve como objetivo estimular a construção de recursos didáticos, por parte dos alunos, com materiais de baixo custo e fácil acesso, os quais pudessem ser utilizados em sala de aula para promover o conhecimento das principais estruturas virais.

seus modos de reprodução e mecanismos de ação infecciosa em humanos. Vale ressaltar que todo esse trabalho foi acompanhado por professores que sugeriram sites seguros e com informações concisas como: o portal do professor e o domínio público, ambos ligados ao Ministério da Educação – MEC. 2.2 Construção dos recursos didáticos Os alunos tiveram autonomia na utilização dos materiais para construção das estruturas virais, contanto que tais materiais pudessem ser facilmente encontrados na escola, na rua ou em casa. Além disso, foi pedido para que cada grupo elaborasse um pequeno roteiro do seu recurso, contendo informações relevantes, como: os modos de fazer, materiais utilizados e a identificação clara das estruturas. 2.3 Avaliação

A fim de avaliar essa prática pedagógica, cada uma das equipes teve que apresentar seu 2. Materiais e Métodos recurso didático para as outras. A qualidade do trabalho, o domínio do conteúdo, com clareza 2.1 Proposta de trabalho nas informações transmitidas e, a acessibilidade proposta pelo roteiro, foram fatores determinantes O presente trabalho foi realizado com uma para verificar se tal atividade foi produtiva ou turma de 30 alunos matriculados no 2º Ano do não do ponto de vista do processo de educação Ensino Médio, do Colégio Estadual Professor Gentil científica. Tavares da Mota – CEPGTM, Frei Paulo, Sergipe. Para isso, eles foram divididos em três equipes, as 3. Resultados e Discussão quais ficaram responsáveis em pesquisar e elaborar um recurso didático que fosse representativo o Os alunos conseguiram elaborar maquetes suficiente para identificar as principais estruturas de estruturas virais importantes para a construção virais. do conhecimento científico (Figura 1; Figura 2 e Como principais fontes de pesquisa foram Figura 3). Nelas, é possível observar os receptores disponibilizadas, além do livro didático, a sala de que se ligam às membranas das células parasitadas, informática da escola, na qual os alunos puderam a cápsula proteica e o material genético (DNA ou realizar pesquisas sobre os vírus mais conhecidos, RNA). Revista Feira de Ciências e Cultura  |  49


Durante as explicações de cada equipe, pode-se perceber que esta atividade favoreceu a assimilação dos conteúdos trabalhados em sala de aula, por parte dos alunos. Nos discursos dos educandos destacaram-se, principalmente, três aspectos básicos: o nome das estruturas virais, as diferenças de material genético em cada um dos tipos virais construídos e os ciclos reprodutivos que estão associados a processos infecciosos – lítico e lisogênico.

Figura 1: Vírus bacteriófago.

A relação dos materiais utilizados pelas equipes revela que, mesmo não dispondo de muitos recursos financeiros, com um pouco de criatividade, é possível criar ferramentas educacionais interessantes (Tabela 1). Figura 2: Vírus da gripe (H1N1).

Relatos semelhantes aos encontrados nesse trabalho são encontrados em grande número na literatura relacionada à pesquisa de ensino (DIAS, 1993; CAMPOS; BATISTELA, 2004; BARBOSA et al., 2009; GOMES; LEAL, 2009; ASSIS; TEIXEIRA, 2010). Em sua grande maioria, estes trabalhos destacam que, quando o aluno é envolvido diretamente no processo de construção do conhecimento, a transmissão dos conteúdos torna-se mais efetiva. Silveira et al. (2009) ressaltam, ainda, que atividades lúdicas são ferramentas importantes porque resguardam em si a capacidade de despertar 50 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


o interesse, de divulgar e popularizar a Ciência. Já para Fala et al. (2010), no Ensino de Biologia isso se faz mais do que necessário, uma vez que, atividades práticas ajudam o aluno a compreender os conceitos abordados no conteúdo e rompem com o vício das aulas expositivas, livros didáticos e apostilas.

Figura 3: Vírus bacteriófago.

Por fim, vale lembrar que mesmo diante de todas as adversidades que uma escola pública possa ter, os educadores do futuro precisam redefinir suas práticas pedagógicas em sala de aula, baseando-se, principalmente, no dia-a-dia dos alunos. Só assim, será possível construir um processo de alfabetização científica de qualidade (CHASSOT, 2003). 4. Conclusão A elaboração de recursos didáticos, com materiais de baixo custo, para a identificação de estruturas virais é uma ferramenta muito útil para a construção do conhecimento científico. Isso se deve porque atividades lúdicas tornam o aluno um agente ativo no processo de ensino/aprendizagem.

Referências ASSIS, A.; TEIXEIRA, O. P. B. Contribuições e dificuldades relativas à utilização de um texto paradidático em aulas de física. In: IX Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Física, 2004, Jaboticatubas. Anais eletrônicos. Jaboticatubas: SBF, 2004. Disponível em: http://www.sbf1.sbfisica.org.br/ eventos/epef/ix/atas/comunicacoes/co11-2.pdf. Acesso em: 10 de março de 2016. BARBOSA, P. M. M.; ALONSO, R. S.; VIANA, F. E. de C. Aprendendo ecologia através de cartilhas. In: 70 Encontro de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais, 2004, Belo Horizonte. Anais eletrônicos. Belo Horizonte: UFMG, 2004. Disponível em: http://www.ufmg.br/proex/ arquivos/7Encontro/Meio36.pdf. Acesso em: 20 de set de 2016. CAMPOS, L. M. L.; BATISTELA, M. R. Ensinar e aprender sobre o comportamento animal na educação infantil: a elaboração e produção de materiais didáticos. 2004. Disponível em: <http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2004/ artigos/eixo10/ensinareaprender.pdf>. Acesso em: 10 de abril de 2016. CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. 2003. Revista Brasileira de Educação, n.22, p. 89-100. DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 2ª Ed. São Paulo: GAIA Ltda, 1993. FALA, A. M.; CORREIA, E. M.; PEREIRA, H. D. Atividades práticas no ensino médio: uma abordagem experimental para as aulas de genética. 2010. Ciências & Cognição, v. 15, n. 1, p. 137-154. GOUVÊA, G.; LEAL, M. C. Uma visão comparada do ensino em ciência, tecnologia e sociedade e em um museu de ciência. Ciência e Educação, v. 7, n. 1, p. 67 – 84, 2001. MENEGUETTI, D. U. de O.; FACUNDO, V. A. Vírus ser vivo ou não? Eis a questão! 2014. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, v. 4, n. 1, p. 01. SILVEIRA, A. F. da; ATAÍDE, A. R. P. de; FREIRE, M. L. de F. Atividades lúdicas no ensino de ciências: uma adaptação metodológica através do teatro para comunicar a ciência a todos. 2009. Educar, n. 34, p. 251-262. ZAITLIN, M. The Discovery of the Causal Agent of the Tobacco Mosaic Disease. In: KUNG, S. D.; YANG, S. F. (Eds). Discoveries in Plant Biology. Hong Kong: World Publising Co. LTDA, 1998, p. 105-110.

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Resumo. Nas últimas décadas, os jogos didáticos vêm ganhando espaço nas salas de aula, onde professores utilizam essa ferramenta com a meta de complementar seus recursos educativos e tornar as aulas mais dinâmicas e interativas. O projeto foi desenvolvido com a participação de 16 alunos do 1º, 2º e 3º anos do ensino médio, do colégio Estadual Professor João Costa, no município de Aracaju- SE. Este trabalho teve como objetivo proporcionar o conhecimento da química orgânica destacando os álcoois, relacionando os perigos do consumo e das utilidades do álcool no cotidiano, através do jogo didático “Giro do álcool na cidade”. 1. Introdução A aplicação de jogos didáticos no ensino de química se apresenta como um recurso importante na aprendizagem de conceitos, auxiliando o professor a desenvolver uma aprendizagem prazerosa, lúdica e significativa para o aluno. Proporciona a aprendizagem e a revisão de conceitos, melhora o rendimento dos estudantes na disciplina, assim como, contribui para a sua formação social, pois promove o debate e a comunicação em sala de aula. De acordo com Sá et al. (2015), os alunos aprendem melhor quando as aulas de química não 52 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


se restringem apenas ao recurso dos livros didáticos, mas sim, quando os professores conseguem vincular as aulas teóricas com aulas dinâmicas, utilizando uma metodologia diferenciada, o que resulta em diversão e aprendizado. Dentro deste contexto, este trabalho objetivou mostrar que o jogo didático “Giro do álcool na cidade” apresenta um grande potencial de ensino e aprendizagem do conteúdo da química orgânica destacando os álcoois, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades, tais como o raciocínio, a percepção, a lógica e a motricidade do aluno.

cartas bônus para ajudar no percurso do jogo e as interrogativas, com dependência de acertos e erros para prosseguir. Por fim, o jogador que conseguir percorrer toda a trilha da cidade enfrentando todos os obstáculos do consumo do álcool será o vencedor. Foram aplicados questionários de concepção prévia (QCP), antes da aplicação do jogo didático “Giro do álcool na cidade” e questionários de concepções adquiridas (QCA), após a aplicação do mesmo, no intuito de comparar os resultados do ensino-aprendizagem. Por fim foi aplicado um questionário avaliativo do jogo proposto.

2. Materiais e Métodos

3. Resultados e discussão

O projeto foi desenvolvido com a participação de 16 alunos do 1º, 2º e 3º anos do ensino médio, do Colégio Estadual Professor João Costa, no município de Aracaju- SE. O jogo didático “Giro do álcool na cidade” é composto de 1 tabuleiro, 1 dado, 6 personagens e 142 cartas, sendo 20 cartas exagero, 20 cartas interrogativas, 30 cartas surpresa, 60 cartas de consumo e 12 cartas bônus. O jogo consiste de uma corrida em que os competidores se deslocam sobre o tabuleiro em função dos números sorteados nos dados. Abrange uma trilha pela cidade, com surpresas, exageros, interrogações e consumo dos álcoois. As cartas e os demais itens do jogo foram desenvolvidos e confeccionados no Software Word e impresso com papel cartão. Os personagens foram confeccionados com papelão e o tabuleiro foi desenvolvido no programa CorelDRAW e impresso em uma gráfica. Durante a aplicação do jogo didático “Giro do álcool na cidade” o participante escolhe seu personagem e aquele que tirar o maior número no dado será o iniciante da jogada. Fará o sorteio do exagero e sofrerá intercorrências; sorteará as

3.1. Questionário de Concepções Prévias (QCP). No QCP (Tabela 01) foram aplicadas cinco questões em uma turma com 16 alunos do 1º, 2º e 3º anos do ensino médio, para verificar o nível de conhecimento dos mesmos, sobre os malefícios causados pelo consumo excessivo do álcool. Através dos resultados apresentados na Tabela 01, constatou-se que o índice de erros foi bastante significativo. As perguntas 1 e 2 foram elaboradas no intuito de testar o conhecimento prévio dos alunos, a 3ª 4ª e 5ª questão foram aplicadas nas concepções prévias e adquiridas, por se tratar de questões do ENEM. Verificou-se que os alunos sentiram dificuldade para respondê-las.

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3.2. Jogo didático “Giro do álcool na cidade”.

do conhecimento adquirido (Tabela 02) apresentou um percentual de acertos significativos em relação A Figura 01 apresenta as cartas ao questionário de concepções prévias. confeccionadas especificamente para o jogo didático “Giro do álcool na cidade”.

Figura 01: Cartas do jogo “Giro do álcool na cidade”.

Durante a aplicação do jogo “Giro do álcool na cidade”, Figura 02, pôde-se perceber o aumento e interesse dos alunos pelo conteúdo químico trabalhado, funções oxigenadas álcoois. Os desafios do jogo levava-os a fazer indagações ao professor e à outros colegas, promovendo a construção coletiva do conhecimento. Surgiram dúvidas e perguntas do tipo “Por que isso acontece?”, mostrando que a atividade lúdica estava estimulando os alunos a pensar e aguçando sua curiosidade em relação aos conceitos envolvidos na química orgânica.

Figura 02: Alunos utilizando o jogo didático “Giro do álcool na cidade”.

3.3. Questionário de Concepções Adquiridas Na 1ª questão, mais da metade conseguiu (QCA). respondê-la consciente, porque os alunos tiveram aulas experimentais e teóricas anteriormente que Devido às aulas expositivas e a aplicação do os ajudou a compreender mais sobre a classificação jogo didático, os resultados obtidos no questionário dos álcoois. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  55


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Na 2ª questão, o percentual foi bem significativo, a maioria conseguiu responder corretamente sobre álcoois, devido ao jogo didático “Giro do álcool na cidade”. A 3ª, 4ª e 5ª questões foram aplicadas duas vezes, no conhecimento prévio e no conhecimento adquirido, por serem questões de múltipla escolha. O percentual de acertos foi bem significativo. 3.4. Questionário avaliativo do jogo

Referências SÁ, M. M. M. Á.; BONAPARTE NETA, H. R.; MELO, R. P. A.; LOPES, F. L. G. Jogo das “Calorias Alimentares”: Uma proposta metodológica para o estudo da termoquímica. In: Livro de Resumos da V Feira de Ciências e Artes de Sergipe (V CIENART), Aracaju- SE, 2015. FELTRE, Ricardo. Química orgânica. V.3. ed. 6ª. São Paulo. Moderna, 2004 SILVA, V. A. Ambiente e desenvolvimento: efeitos do álcool etílico e da desnutrição. Rev. Mundo e Vida, v.2, nº 1, 2000.

Ao término do jogo foi aplicado um questionário avaliativo aos discentes (Tabela 03), para que fossem expressas opiniões e sugestões para melhoria do jogo didático “Giro do álcool na cidade”. Verificou-se que houve um maior interesse dos alunos em estudar o conteúdo da disciplina. Todos afirmaram que sentiam-se motivados em aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto da química orgânica. Com o “Giro do álcool na cidade” os alunos tiveram mais aproveitamento, interesse e aprendizagem. 4. Conclusão A proposta de utilização e aplicação do jogo “Giro do álcool na cidade” como recurso complementar alternativo e facilitador na aquisição e socialização do conhecimento da química orgânica, foi de grande relevância tanto para os alunos como para o professor, pois a aplicação do jogo proporcionou uma melhor compreensão dos conhecimentos explorados. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  57


Resumo. O artigo E Campo do Brito tem cultura? explora o conceito de cultura a partir da pesquisa das manifestações culturais da cidade de Campo do Brito. Metodologicamente, dez alunos da 1ª A e B e da 2ª A do ensino médio fizeram entrevistas, registraram por escrito depoimentos dos moradores e usaram livros, internet como fonte de pesquisa da cultura local. Além do conhecimento da história e dos traços culturais, com esta pesquisa os alunos melhoraram suas habilidades orais e escritas da língua portuguesa e, sobretudo, se conscientizaram do seu papel de produtor cultural e pesquisador da história/cultura de sua cidade. Introdução O vocábulo cultura é um termo de complexa definição, visto que seu significado acompanha as mudanças dos tempos, dos contextos sociais. Contudo, sabe-se que a palavra cultura é de origem latina, deriva do verbo colere (cultivar ou instruir) e do substantivo cultus (cultivo, instrução). Etimologicamente aponta uma estreita relação com o ambiente agrário, com o costume de trabalhar a terra para que ela produza e dê frutos. No entanto, o termo cultura também pode ser definido como o desenvolvimento da pessoa humana por meio da educação e da instrução. 58 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


Dessa associação derivam os termos culto e inculto levar os alunos a reconhecerem as manifestações usados no jargão popular com uma carga de culturais de sua cidade, bem como tornarem-se preconceito e de discriminação, considerando uma produtores culturais é o anseio deste projeto. cultura (especialmente a letrada) superior à outra. Materiais e métodos

Figura 1: Banda de Pífano Povoado Terra Vermelha

Apesar do dualismo subjacente ao termo culto/inculto, ou seja, com cultura/sem cultura, não existem grupos humanos sem cultura e não existe um só indivíduo que não seja portador de cultura, pois, dentre as distintas definições, uma que se sobressai é a de que cultura “é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade” ( TYLOR apud MARCONI & PRESOTTO, 2006, p. 22). Constata-se, então, que cultura é a forma ou o jeito comum de viver a vida cotidiana na sua totalidade por parte dos grupos sociais. Diante de tais assertivas sobre o significado de cultura, este projeto pretende explorar tal conceito a partir da pesquisa de traços culturais da cidade de Campo do Brito, localizada no agreste de Sergipe, visto que, a comunidade parece viver um período inexpressivo nesta área, aspecto que se comprova através da passividade de parte de sua população na produção de tais bens, ou melhor, na baixa exposição de sua cultura seja no espaço escolar, no contexto social, seja no segmento estadual. Ensinar sobre o conceito de cultura e

Este projeto teve início com a apresentação da proposta e do tema: “E Campo do Brito tem cultura?” pelas professoras Joseana e Cristiane aos alunos de todas as turmas do ensino fundamental maior e nível médio do Colégio Estadual “Guilherme Campos”, nas aulas de língua inglesa e língua portuguesa, ministradas pelas docentes. Em seguida foi feita uma reunião com os alunos interessados em fazer parte como protagonistas desta pesquisa. Dois alunos foram selecionados para atuarem como líderes dos dois sub-grupos de pesquisa. O de cultura material e outro responsável pela pesquisa dos bens culturais imateriais. Os outros oito alunos participaram efetivamente do processo de registro de informações, coleta de dados, bem como divulgação dos traços culturais locais.

Figura 2: Alunos pesquisadores do tema

O primeiro passo foi buscar todo tipo de material que falasse sobre a cidade: livros, jornais, internet e o valioso registro da memória de seus moradores sobre a história e cultura do município de Campo do Brito. Logo, além da pesquisa Revista Feira de Ciências e Cultura  |  59


bibliográfica, a história oral foi o material de pesquisa mais utilizado. A cada quinze dias, todos os envolvidos no projeto se reuniam para pontuarem o desenvolvimento de cada linha do projeto, compartilhar êxitos, dificuldades, integrar a todos no processo de pesquisa. As informações encontradas sobre os bens culturais da cidade eram registradas através da produção de texto, gravação de vídeos e registro fotográfico, favorecendo assim, além da aquisição de conhecimentos, a produção de cultura dos discentes e o estímulo à criatividade do aprendiz.

sociais, que nos distinguem dos demais e nos dão uma identidade de povo, de nação” (PEDROSO, 1999, p. 32). Percebe-se, então, a importância de se conhecer as raízes da própria cultura para que haja a formação de identidade, no propósito de se definir enquanto cidadão, sabendo situar-se no meio onde vive.

Resultados e discussões As discussões sobre o significado do vocábulo cultura, do relevante papel social do cidadão/produtor de cultura alcançaram um resultado além do proposto por todos os integrantes do projeto. Cada um dos componentes, alunos da 1ª e 2ª séries do ensino médio, se reconheceram enquanto partícipe da cultura local, regional, bem como nacional. Contudo, o resultado mais significativo foi o contato desses jovens com a pesquisa, com a busca, o registro e a produção de cultura. A partir da pesquisa em livro, das entrevistas com os grupos folclóricos, do registro fotográfico e da escrita das informações constatouse o imprescindível contato do jovem com a ciência. Levantar dados sobre a terra natal ainda contribuiu para aumentar a autoestima dos alunos enquanto cidadãos britenses, pois conhecer e preservar as memórias, as raízes culturais de um povo é preservar sua identidade, é integrar cada cidadão de determinado local a um grupo identitário maior e responsável, em parte, pelo modo que tal pessoa entende e participa do mundo. Para o pesquisador Sérgio Pedroso, um povo que não tem raízes se perde no meio da multidão. “São exatamente nossas raízes culturais, familiares, 60 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

Figura 3: Filarmônica N. Sra da Boa Hora

Todas as formas de coleta de dados favoreceram o conhecimento cultural e linguístico de cada discente. A leitura do livro História de Campo do Brito (1989), de Adalberto da Fonseca, possibilitou aos alunos conhecerem sobre a origem da cidade e fatos peculiares da cultura, modo de vida, a política e os políticos do início do século XX. O registro fotográfico da atraente arquitetura da cidade, que une construções do início do século passado e prédios do século XXI, bem como uma entrevista feita com o arquiteto Edinaldo Souza levaram os alunos a entenderem sobre a peculiaridade das ruas muito largas da cidade. Segundo o arquiteto citado esta é uma característica da “cidade moderna feita para as máquinas, não para o homem”. A visita aos povoados e as entrevistas com os poucos integrantes de alguns grupos culturais da cidade, a saber: Grupo de Reisado “Baile Estrela” (50 anos), o grupo de São Gonçalo (80 anos), o grupo de capoeira “ Filhos do Guará” (8 anos), a banda de pífano “São José” (100 anos) e os músicos


da Filarmônica Nossa Senhora da Boa Hora, (125 anos) foram de extrema relevância para aguçar o desejo dos jovens pesquisadores de não deixarem tais manifestações culturais morrerem.

de 1912. Esta pesquisa foi apresentada através de exposição (artesanato, comidas típicas, festas, arquitetura, modo de vida, lendas) e apresentações de grupos culturais da cidade no colégio “Guilherme Campos” para toda a comunidade britense que se fez presente. Conclusões

O projeto “E Campo do Brito tem cultura?” conduziu os alunos a conhecerem/viverem as manifestações culturais da cidade de Campo do Brito e ainda proporcionou o resgate e a afirmação das identidades pessoais e culturais de todos os envolvidos na pesquisa. Neste processo de tessitura de identidades, Figura 4: Casa de Farinha do povoado Cercado os traços da cultura material como, por exemplo, As entrevistas com professores, secretários a produção da farinha de mandioca, as casas que municipais e outros cidadãos da cidade como são construídas com barro e folhas de palmeira, os trabalhadores das casas de farinha também bem como os traços da cultura imaterial, ou seja, alertaram os alunos sobre a necessidade da o estilo de vida de um grupo social, as normas participação deles no enriquecimento cultural e sociais, as festas religiosas, as artes, o folclore, o humano da cidade. Os seja, só vivenciando a cultura sentimento de alegria, um forte traço identitário na prática, conhecendo sua origem, seu objetivo, é do povo brasileiro, são os constituintes primários que se planta o desejo de produzir cultura. das identidades pessoais e culturais. Logo, os discentes protagonistas, a comunidade escolar, a sociedade de um modo geral compreenderam que conhecer os bens culturais materiais e imateriais do lugar onde vive é imprescindível para a construção da cidadania e para o fomento da produção cultural. Referências

Figura 5: Grupo de Capoeira “Berimbau Me Leva”

A culminância do projeto foi feita no “Dia da Cultura Britense”, data inserida no calendário escolar, no mês de outubro, visto que é o mês que se comemora a Emancipação Política da cidade. Campo do Brito foi emancipado em 29 de outubro

FONSECA, Adalberto. História de Campo do Brito. Curitiba:Artes Gráficas e editora Unificado: 1989. MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia. Uma introdução. São Paulo: Atlas, 2006. PEDROSO, S. F. A carga cultural compartilhada: a passagem para a interculturalidade no ensino de português língua estrangeira. Campinas, 1999. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual de Campinas. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  61


1. Introdução A literatura de cordel é uma manifestação artística popular que nasceu nos versos dos romanceiros em Portugal (VASQUEZ 2008). Os folhetos de cordel apresentam em seus versos rimados, grande expressividade que representa o dialeto e a cultura popular, fato que desperta o interesse por parte tanto daqueles que produzem, como também daqueles que leem o cordel, podendo ser utilizado como uma importante ferramenta para a prática sócio-discursiva, informativa e de ensino-aprendizagem. Tendo em vista as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, e que estas podem ser evitadas através de medidas preventivas simples que impeçam a reprodução do transmissor dessas viroses (PORTAL BRASIL, 2016), levamos a discussão sobre essas doenças para sala de aula, associado ao estudo da literatura de cordel, com o objetivo de despertar o posicionamento critico dos nossos alunos e proporcionar aos mesmos, uma aprendizagem muito mais significativa, em que eles pudessem reproduzir o conhecimento obtido, dentro de uma produção artístico-literária, que valoriza o dialeto popular presente na nossa cultura. 62 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


2. Metodologia O projeto foi desenvolvido do mês de abril a agosto de 2016, nas três séries do Ensino médio do Colégio Estadual Arabela Ribeiro na cidade de Estância. As etapas do projeto foram as seguintes: Divulgação do projeto e discussão quanto aos seus objetivos entre docentes e discentes, realização de pesquisas sobre as doenças em estudo e seu agente transmissor, discussão e debate sobre os dados e informações obtidos, como mostra a figura 1, leitura e análise dirigida de diferentes produções cordelistas, produção de cordéis pelos alunos falando sobre a prevenção das doenças em estudo e por fim a apresentação oral e escrita dos cordéis produzidos para os demais alunos do próprio colégio e também em outras escolas do mesmo bairro, como mostram as figuras 2 e 3.

Figura 1: Aula expositiva e debate.

Figura 2: Apresentação dos cordéis para os demais alunos do C. E. Arabela Ribeiro.

Figura 3: Apresentação dos cordéis para as crianças do C. E. Constâncio Vieira.

3. Resultados e discussão A instrumentalização de informações preventivas através da literatura de cordel pelos alunos possibilitou que os mesmos refletissem e se posicionassem de forma crítica quanto ao comportamento da sociedade, sobretudo quanto as suas próprias atitudes diante das medidas preventivas contra as doenças em estudo. O projeto desenvolveu além do estudo das viroses vinculadas ao Aedes aegypti, a prática de leitura e da escrita, o uso do substantivo, o estudo quanto à estrutura do poema e do regionalismo presente na literatura de cordel, além do estímulo a oralidade e expressão. Conclusão As discussões e as produções realizadas dentro e fora da sala de aula contribuíram para que os alunos percebessem o seu papel diante do enfrentamento de problemas vivenciados pela sociedade. Além de conhecer melhor uma das mais importantes manifestações da cultura popular brasileira, os alunos puderam adentrar nesse universo de rimar as palavras numa linguagem popular, disseminando informações de prevenção, saúde e descarte consciente do lixo, não apenas na escola onde estudam, mas também na comunidade onde a mesma está inserida, incorporando na Revista Feira de Ciências e Cultura  |  63


apresentação de belíssimas produções cordelistas, teatro e paródias, contemplando o mesmo conteúdo, atraindo ainda mais a atenção dos ouvintes, como mostra a figura 2. Concluímos que a literatura de cordel ultrapassa a concepção de “poesia popular”, é um instrumento que possibilita aproximar o cordelista e o leitor, da sua própria realidade. Referências VASQUEZ, P. A. O universo do cordel. In: Instituto Cultural Banco Real. Recife, 2008. PORTAL BRASIL. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/ saude/2016/01/saiba-mais-sobre-dengue-chikungunya-ezika. Acesso em: 27/06/2016. MARCOWDES FILHO, C. Para entender comunicação: contatos antecipados com a nova teoria. São Paulo: Paulus, 2008.

PRODUÇÕES CORDELISTAS DOS ALUNOS: CORDEL DA PREVENÇÃO Diante de tanta gente Eu fico até com vergonha, De recitar um cordel, Com essa tal de chikungunya. Mas oxente Dona Mocinha, Que vergonha isso faz? Você tem mais é que falar Sobre o mal que isso nos traz. É dengue, zica e chikungunya, Tudo junto de uma vez. Ó meu Santo Augustinho, Mas que mal a gente te fez? É jovem, adulto, criança, É velho, moça e mocinha. Tá pegando todo mundo, Tá virando é modinha. Meus ossos estão doloridos, A cara cheia de manchinhas. Se me sento, não aguento a bunda, Parece até que não é minha. Você sabe o que é isso aí? É falta de educação. O povo acumula água, Não toma cuidado não. Deixa pneu cheio d’água, Não liga para prevenção. E depois vão gritar, Acaba não meu mundão! Joga lixo dentro de casa, Joga lixo na pracinha, Joga lixo no terreno baldio, Joga até na escolinha. Facilita para o mosquito, Agride o meio ambiente. O que será da ecologia? O que será meu Deus da gente? Vixe, vixe, meu paizinho,

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Eu fiquei até com medo. Lá em casa e na escola, vou fazer tudo direito. Armazenar a nossa água, Botar areia nas plantinhas. Vamos dar até menos trabalho Para moça das endemias.

Meu padrinho Padre Cícero, meu São Pedro e São Toinho. Venho a todos pedir, apenas um minutinho. Nos ajude com a praga desse Aedes por favor. Se assim fizeres, clamarei com bom fervor.

Desde antes de Cabral. Através da sua picada Ele transmite o mal. Não deixe água parada, Pois no período do dia Acontece sua caçada.

E você que está lendo, Faça agora a sua parte. Não dê moleza ao mosquito, Preserve a comunidade. Vamos fazer tumulto e guerra E vamos dar prisão perpétua, A esse mal para sociedade.

Ainda por cima tem a peste microcefalia. Tu que é gestante, Tenha o repelente bem amado. Porque tu sabes muito bem, Que o perigo mora ao lado.

Quem pica é a fêmea, Ela causa três doenças, Lhes direi agora. Dengue, chikungunya e zica O país todo assola.

Esse último aviso Vai para toda comunidade. É para criança, adulto e idoso, Gente de toda idade. É muito importante A sua conscientização. Ao jogar o lixo fora Não deixe em qualquer portão.

Fique atento para os sintomas Que a dengue pode causar Febre, moleza no corpo E também um mal estar.

Vixe que dor da gota! Eita mosquito desgramado. Me passou essa tal doença Que me deixou todo arrebentado! Autora: Simone Domingas dos S. Modesto PARA COMBATER O AEDES Minha gente venha aqui, Escute o que eu vou lhes dizer. O Aedes está é solto E não adianta se esconder. O cabrinha é sabido, Reproduz em água limpa. Nas garrafas e latinhas Que tu deixas aí a míngua. O primeiro passo É logo a prevenção. Ao jogar o lixo fora Tome cuidado meu irmão. O Aedes é um perigo Pode doenças passar. Tem dengue, chikungunya e zica, Vamos lá! Não preste atenção a quem, Pense apenas em ajudar. O segundo passo é... Mas é claro é o aviso. Avise a escola e a família Que todos correm perigo.

E agora eu agradeço toda a sua atenção. Vou saindo de fininho, Para não ser picado não! Autor: Digiorge de Jesus santos CORDEL COM INFORMAÇÃO Olá meu povo! Preste bastante atenção, Nesse cordel lindo e belo Que vem com muita informação. Através das rimas Um assunto especial. Estou falando do mosquito, Esse grande maldito De repercussão mundial. Desde cedo na escola, Temos que aprender. Para combatê-lo É necessário o saber. A informação está por aí Basta vê-la e agir.

Essa tal de chikungunya, Eita doença danada! Ataca a qualquer momento. Com o corpo avermelhado, Começa o sofrimento. Zica é outra doença Causada por esse imundo. É um dos grandes problemas Do Brasil e do mundo. O zica causa microcefalia Durante a gestação. Mulher grávida fique atenta! Crianças com essa doença Podem ter retardo mental, Paralisia e convulsão, Um problema sem igual. Dito essas doenças, Venho com a prevenção. Para acabar com o Aedes, Buscar apoio da comunidade E acabar de vez com essa calamidade. Autora: Lara Vitória de Jesus Santos

Faz tempo que o bicho existe, Revista Feira de Ciências e Cultura  |  65


Resumo. O Projeto “Qualifeiras: uma análise das feiras livres do bairro Rosa Elze” foi executado pelos professore e alunos do 2º Ano do Ensino Médio, do Colégio Hamilton Alves, em São Cristóvão-SE, teve como objetivo avaliar se é possível adquirir produtos de boa qualidade a preço acessível, oferecidos pelas feiras livres do bairro Rosa Elze. Para o desenvolvimento do trabalho foi realizado pesquisa bibliográfica sobre valores nutricionais, importância de consumir alimentos frescos e isentos de agrotóxicos, como também foram feitas visitas às três feiras livres do bairro, a fim de analisar a qualidade, a procedência e o custo dos alimentos. 1. Introdução A denominação da palavra feira deriva do latim feria, que significa dia de festa, sendo utilizada para designar o local escolhido para efetivação de transações de mercado em dias fixos e horários determinados. É um formato tradicional de varejo, que não possui lojas físicas e, por essa razão, ocorre em instalações provisórias montadas nas vias públicas, localizadas em pontos estratégicos da cidade (COÊLHO e PINHEIRO, 2009; WIKIPEDIA, 2016). Apesar de representar uma das formas mais 66 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


antigas de comercialização de produtos agrícolas, as feiras livres ainda são marcadas pela falta de conhecimento, de informação e de recursos dos feirantes que, por não possuírem condições de promover suas vendas e atrair clientes, perdem espaço para grandes canais de comercialização, pois os supermercados costumam representar uma tentação para os consumidores. O principal objetivo do trabalho foi avaliar se é possível adquirir produtos de boa qualidade a preço acessível nas feiras livres. A pesquisa foi realizada nas feiras do bairro da comunidade local do Colégio Hamilton Alves, localizado no bairro Rosa Elze. Além disso, buscou conscientizar a comunidade escolar sobre a importância de uma alimentação saudável e consciente, quebrando mitos e paradigmas de que alimento saudável é ruim e caro. 2. Materiais e métodos O presente projeto contou com a participação de professores das diversas disciplinas e alunos dos 2ºs anos do Ensino Médio, do turno vespertino, do Colégio Estadual Professor Hamilton Alves Rocha, localizado no Conjunto Eduardo Gomes, no bairro Rosa Elze, em São Cristóvão-SE. Para o desenvolvimento da pesquisa foram estabelecidas as seguintes ações: realização de pesquisas em sites de internet, artigos científicos e em livros acadêmicos, sobre as feiras livres, valores nutricionais dos alimentos, principalmente frutas e legumes, importância de se consumir alimentos frescos e isentos de agrotóxicos; registro fotográfico das feiras livres do bairro Rosa Elze e realização de entrevista com a aplicação de questionário junto aos vendedores, para levantar os seguintes temas: a padronização e a higienização das barracas, a procedência, a conservação e a higienização dos alimentos, assim como o destino dado aos

alimentos estragados, se há alimento transgênico; se há agrotóxico em algum alimento, e se tem noção dos impactos destes na saúde dos consumidores. 2. Resultados e discussão 2.1. Pesquisa bibliográfica Os alunos e professores levantaram informações em sites de internet, artigos científicos e em livros sobre as feiras livres, os alimentos transgênicos e orgânicos e uso de agrotóxicos. Os conteúdos pesquisados foram apresentados em sala de aula, através de seminário (Figura 1), a fim de transmitir para a comunidade escolar, as vantagens e desvantagens no consumo desses alimentos. Também foram discutidos o desperdício e o reaproveitamento de alimentos.

Figura 1: Apresentação de seminário. (Fonte: arquivo do Autor)

2.2. Análise socioespacial das feiras livres do bairro Rosa Elze As feiras livres do bairro Rosa Elze são realizadas nas quartas e quintas-feiras das 16h às 21h, e aos sábados das 05h às 13h. As feiras não seguem uma padronização (Figura 2), porém alguns feirantes mantém suas barracas limpas e organizadas (Figura 3), enquanto outros, não têm a mesma preocupação com a higiene e conservação dos alimentos (Figuras 4A, 4B, 4C, 4D). Revista Feira de Ciências e Cultura  |  67


Figura 2: Feira livre do bairro Rosa Elza. (Fonte: arquivo do autor)

Figura 3: Barraca de frutas na feira livre no bairro Rosa Elze. (Fonte: arquivo do autor)

Figura 4A, 4B, 4C, 4D. Barracas nas feiras livres no bairro Rosa Elze. (Fonte: arquivo do Autor)

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2.3. Aplicação do questionário

Outro questionamento feito aos feirantes foi se eles tinham conhecimento sobre de As entrevistas (Figura 5) foram realizadas alimentos transgênicos e se dos produtos que eles com vinte feirantes, provenientes de diversos comercializam há algum transgênico. A pesquisa municípios do Estado de Sergipe, dentre eles a revelou que alguns dos vendedores de milho maioria homens (60%). Cerca de 80% atuam há tinham a informação sobre transgênicos. mais de dois anos. No figura 6, encontra-se o percentual de barracas que comercializam alimentos orgânicos e com uso de agrotóxicos.

Figura 5: Alunos entrevistando os feirantes da feira do bairro Rosa Elze. (Fonte: arquivo do autor)

Figura 6: Percentual de barracas que comercializam alimentos orgânicos e com agrotóxicos nas feiras do Rosa Elze. (Fonte: arquivo do autor)

Constatou-se que a maior parte das frutas é oriunda do município Petrolina-PE e de Juazeiro- 3. Conclusão BA, enquanto que os legumes são adquiridos de atravessadores dos municípios do Estado de A feira livre é uma opção de baixo custo, Sergipe (Tabela 1). visto que os consumidores tem a liberdade de negociar diretamente com os feirantes, além disso, passa a ter um vínculo com os mesmos, o que facilita conhecer a procedência dos produtos. Por outro lado, os supermercados costumam representar uma tentação para os consumidores, como a comodidade do ambiente refrigerado, o estacionamento, prateleiras bem organizadas, uso de cartões de crédito, no entanto, isso tornar os preços mais elevados. A perspectiva do trabalho é de desenvolver uma cartilha pelos alunos e professores integrantes do projeto com dicas e orientações importantes ao consumidor na hora adquirir produtos na feira Foi observado que, baseado nos horários livre levando em consideração o custo beneficio. A e nos dias de visita, há uma variação significativa cartilha também deverá abordar temas inerentes à nos preços dos produtos. Segundo os feirantes, na reeducação alimentar. Pretende-se ainda ampliar o quarta-feira não há perda de produtos, pois esses projeto reaproveitando os alimentos desperdiçados são vendidos nas próximas feiras. Na última feira na feira para fazer compostagem direcionado a (feira do sábado) os produtos são mais baratos. horta escolar. Revista Feira de Ciências e Cultura  |  69


Referências ALMEIDE, Mirella Dias; PENA, Paulo Gilvane Lopes. FEIRA LIVRE E RISCO DE CONTAMINAÇÃO ALIMENTAR: ESTUDO DE ABORDAGEM ETNOGRÁFICA EM SANTO AMARO, BAHIA. Revista Baiana de Saúde Pública. V.35, n.1, p.110-127 jan. / mar. 2011 COÊLHO, J.D.; PINHEIRO, J.C.V. Grau de organização entre os feirantes e problemas por eles enfrentados nas feiras livres de Cascavel e de Ocara, no Ceará. In: CONGRESSO DE ECONOMIA E FEIRA LIVRE. Disponível: Wikipédia, a enciclopédia livre. Acesso em junho 2016. LEITE, Terezinha. FEIRAS LIVRES DA AGRICULTURA FAMILIAR. EMATER-MG, 2013. Disponível em: http:// www.emater.mg.gov.br/portal.cgi?flagweb=site_tpl_ paginas_internas&id=12390#.V-9luvkrLIU. Acesso realizado em junho de 2016. ROMANELLI, Tais. Feira (2014). Consiga os melhores alimentos e preços na época certa. Disponível: http:// www.dicasdemulher.com.br/feira-consiga-os-melhoresalimentos-e-precos-na-epoca-certa. Acesso realizado em junho de 2016. SALES, Aline Pereira; REZENDE, Liviane Tourino; SETTE, Ricardo de Souza. NEGÓCIO FEIRA LIVRE: UM ESTUDO EM UM MUNICÍPIO DE MINAS GERAIS. III encontro de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho. João Pessoa –PB, 20 a 22 de novembro de 2011. SOCIOLOGIA RURAL - SOBER, 47, 2009, Porto Alegre: Anais... Porto Alegre: SOBER, 2009.

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Resumo. Este trabalho argumenta sobre as vantagens da utilização de recursos didáticos no ensino da matemática e apresenta os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo investigar se o uso do recurso didático: palito e massa de modelar, além do paradidático “A história do bosque das Figuras Geométricas” (PRODEP,2006), contribuem na construção de conceitos geométricos relacionados ao estudo dos polígonos. São relatadas diversas atividades realizadas com os recursos citados e aplicadas no 6º ano do ensino fundamental do Centro de Educação Básica Auxiliadora Paes Mendonça, localizada no povoado Serra do Machado na cidade de Ribeirópolis, Sergipe. Os resultados obtidos mostram que a utilização dos palitos, massa de modelar e do paradidático é eficaz e aumenta o interesse dos alunos, melhorando os índices de aproveitamento dos mesmos. A conclusão que se chega é que a utilização de recursos didáticos e do paradidático tornam as aulas mais atraentes para os alunos, obtendo-se assim melhores resultados. Palavras-chave: Figuras geométricas. Paradidático. Polígono. Recursos didáticos. 1. Introdução Neste trabalho apresenta-se uma reflexão sobre a importância do uso dos recursos didáticos matemáticos na aprendizagem dos conteúdos de geometria, conduzido em sala de aula e tornando o ensino satisfatório, ajudando na aprendizagem Revista Feira de Ciências e Cultura  |  71


e deixando os alunos mais envolvidos, fazendo com que os mesmos aprendam com facilidade e de forma lúdica. Partindo disso, são relatadas algumas técnicas e atividades pedagógicas com a finalidade de melhorar o ensino de matemática utilizando palitos, massa de modelar e o paradidático “A história do bosque das Figuras Geométricas”(PRODEP,2006), que despertam o interesse e a compreensão do aluno. Com o uso desses recursos os discentes podem ter oportunidades para expor suas ideias e participar ativamente da construção de cada conceito, além de fazer uma relação entre a matemática e o cotidiano.

vez que auxiliam no trabalho e fazem com que o aluno tenha oportunidade de expressar suas ideias, interagir com seus pares, aprender e reforçar conceitos matemáticos. Os materiais manipuláveis e os paradidáticos são de grande importância no trabalho dos conteúdos matemáticos e principalmente geométricos. Diante disso, esses recursos tiveram a função de mediar as relações didáticas que ocorrem na sala de aula, buscando abordar a geometria de maneira prazerosa. Tudo isso agregado a procedimentos de uma aula e atividades planejadas com adequação, proporcionou um trabalho bem significativo, consistindo desde a construção de polígonos, classificação até a realização do cálculo, de seus perímetros, passando pela discussão e verificação de algumas questões. 2. Metodologia

Na atualidade é difícil para o professor estimular os discentes a respeito do estudo de uma forma geral, e quando se trata de uma disciplina abstrata como matemática, torna-se ainda mais complicado. Devido a isso é notável a necessidade de mudanças no ensino da matemática. Em contraposição a esse fato, há a resistência em relação ao novo. Os métodos utilizados para o ensino da matemática já não estão surtindo o efeito desejado, ou seja, as práticas de ensino não estão apresentando resultados satisfatórios. Com estas observações, surgiu a preocupação de como ensinar aos alunos os conteúdos matemáticos geométricos de forma mais concreta e dinâmica. A proposta é adotar os recursos didáticos : massa de modelar, palitos e paradidático durante as aulas. Esses foram usados como estratégias para aprendizagem, uma 72 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

O desenvolvimento do trabalho teve início quando questionei os alunos para verificar o que já conheciam a respeito da Geometria. Assim foi possível notar que já tinham algumas noções básicas das séries anteriores. Posteriormente, continuei os questionamentos e usei diversos objetos da sala para construir os conceitos geométricos. Para D’ Ambrósio (1999, p.22), “Um trabalho como o nosso não pode dar respostas, porque elas não existem. O que se pode fazer é estimular, ajudar a pensar. Quem pensa geralmente faz boa educação”. Com o intuito de aprofundar o conteúdo a partir dos elementos básicos da geometria, nessa primeira etapa construir o conceito de ponto, reta e plano e foi realizada uma aula passeio pela comunidade para que assim os alunos pudessem ver no cotidiano o que foi construído em sala. Na segunda etapa, os discentes foram divididos em grupos e nesse momento construíram os polígonos com os palitos e massa de modelar. Assim puderam


classificar à medida que faziam a construção de cada forma. Na terceira etapa, retomei com os discentes o que foi visto e fiz uma contação da história presente no paradidático “A história do bosque das Figuras Geométricas” (PRODEP,2006). Nesse momento a concentração foi total, pois os alunos se sentiram envolvidos pela contação.

Na quarta etapa, os alunos foram organizados para produzir uma peça fundamentada no paradidático “A história do bosque das Figuras Geométricas” (PRODEP, 2006), além disso, também foram preparados para produzir uma oficina com massa de modelar e palitos. Tanto a peça quanto a oficina foram apresentadas aos alunos do 3º ano do ensino fundamental menor, na quinta etapa. Dessa forma, os alunos puderam contribuir para o aprendizado dos discentes menores. Por fim, apliquei uma mini prova com o conteúdo de geometria estudado com questões que abordavam os assuntos retratados nas atividades.

3. Resultados e discussões No decorrer de cada etapa os alunos ouviram explicações, construíram, realizaram leitura e interpretações sobre as atividades desenvolvidas. Ao longo de todo o processo as atividades práticas foram trabalhadas com massa de modelar, palitos e com o paradidático: “A história do bosque das Figuras Geométricas” (PRODEP,2006). Segundo Mantero e Lima (2001) apud Filho (2013, p.9) : “a utilização de recursos didáticos é uma opção que pode fazer com que haja (re) motivação dos alunos fazendo com que a aula torne-se muito mais criativa e concreta”. Pude observar também que durante as construções livres das figuras não houve dificuldades, o único empecilho inicial veio por parte de alguns alunos, quando determinei o número de palitos para construção. No quesito número de vértices, verifiquei que muitos não conheciam seu conceito, devido a isso construímos a definição. Na questão da nomenclatura das figuras geométricas iniciais não houve problemas, uma vez que estas se tratavam de triângulo, quadrado e retângulo, que são figuras mais conhecidas, já no losango, pentágono e hexágono, poucos sabiam nomeá-las, por terem pouco acesso a estas. Surgiram várias falas do tipo: -Professora, qual o nome dessa figura? Como conta os vértices? (Fala comum no trabalho com as três figuras citadas acima). Professora, essa eu sei é um quadrado. (Sendo que se tratava de um losango ou de um retângulo). As atividades foram realizadas em dupla, grupo e individualmente, onde os alunos usaram seus conhecimentos sobre polígonos, acertaram, erraram, expuseram dúvidas e compartilharam conhecimento com os colegas. Para Vygotsky (1994) apud Schön (2008) “A atividade compartilhada é fundamental para o desenvolvimento cognitivo do aluno, pois o aprendizado se dá, sobretudo pela Revista Feira de Ciências e Cultura  |  73


interação social.” a melhoria da aprendizagem. A tabela 1, abaixo, apresenta os É notável a importância do uso dos recursos desempenhos dos estudantes nas questões da no processo de ensino aprendizagem, mais última atividade escrita especificamente dos palitos, massa de modelar e do paradidático. Ficou claro que os alunos participaram das atividades com muita motivação e isso está presente em seus depoimentos: “Eu prefiro as aulas com algum recurso, quando a aula é diferente. A de hoje foi ótima.” e “Nós achamos essa aula legal e divertida, aprendemos muito sobre polígonos.” Foi bom poder ensinar aos menores”. Observando o desempenho dos alunos em “Com a história aprendemos muito”. relação às características dos polígonos, constatei De maneira geral, constatei que os que o melhor desempenho ocorreu no quesito palitos, a massa de modelar e o paradidático: número de vértices, e o menor aconteceu na “A história do bosque das Figuras Geométricas” nomenclatura. Esse era um resultado esperado, (PRODEP,2006) enquanto recursos didáticos pois no desenvolvimento das atividades notei podem dar efetivas contribuições ao processo de que essa foi a de maior dificuldade dos alunos. ensino-aprendizagem de conceitos geométricos Os resultados evidenciam que figuras de menor relacionados ao estudo de polígonos, auxiliando conhecimento para os alunos como: losango, assim o trabalho do professor. Além disso, ficou pentágono e hexágono, são de difícil nomeação evidente uma aprendizagem significativa, a para os mesmos. qual procurou estabelecer relações entre o novo conhecimento e os conceitos geométricos já 4. Conclusão conhecidos pela participação ativa dos alunos no manuseio dos materiais manipuláveis e na leitura e A presente pesquisa tinha como proposta produção da peça teatral baseada no paradidático analisar se o uso dos materiais manipuláveis: estudado, explorando assim as ideias existentes e palitos e massa de modelar, além do paradidático: comparando os resultados obtidos. “A história do bosque das Figuras Geométricas “(PRODEP,2006) serviram para modelar e facilitar Referências a construção de conceitos geométricos relacionados A história do bosque das Figuras Geométricas, Programa ao estudo dos polígonos. de Formação Contínua em Matemática para Professores Através da análise das questões aplicadas do 1º ciclo – 2006/07. Disponível em: http://www.ipg.pt/ aos alunos que participaram como sujeitos da user/~mateb1.eseg/doc/o%20bosque%20das%20figuras%20 investigação e também a partir dos registros de cada planas.pdf Acesso em 03 ago de 2016. atividade proposta foi possível notar indícios de D’AMBROSIO, U. Etnomatemática: Arte ou Técnica de Explicar ou Conhecer. São Paulo. Ática. 1990. que os recursos didáticos usados são eficazes para a FILHO, Artut D. Materiais Didáticos Despertam Interesse construção de conceitos geométricos relacionados dos Alunos na Aula de Matemática? São Paulo, 2003. ao estudo dos polígonos. Além disso, foi possível SCHONS, Liane. O Aeroplano Como Recurso Didático Para constatar a grande aceitação que os recursos têm A Aprendizagem De Conceitos e Aplicações DE Triângulos e junto aos alunos e que os mesmos contribuem para Quadriláteros. Santa Maria, RS, 2008. 74 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


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Resumo. Todas as cidades históricas possuem importantes exemplares da arquitetura religiosa, que remetem ao período em que teve início o desenvolvimento do lugar, já que a Igreja acompanhou o surgimento dos primeiros centros urbanos. Estas construções são importantes referenciais do estilo de arte da época, o que torna também um referencial para o estudo da arte religiosa. Sendo assim, a turma do 7° ano da Escola Estadual Cônego Filadelfo de Oliveira participam desse projeto, conhecendo um pouco sobre a arte religiosa e a história das Igrejas seculares que estão localizadas na cidade de Laranjeiras. A partir de pesquisas bibliográficas, de visitas e registro fotográfico, com o objetivo de levantar informações sobre a história das igrejas seculares que existem na cidade, os alunos conhecem a história de bens culturais importantes, que são tombados pelo Patrimônio Cultural e necessitam ser preservados. A partir do momento em que temas como estes são levados para a sala de aula, aproxima o aluno de debates sobre a salvaguarda do patrimônio e a sua importância para a história da cidade. Com isso, este projeto contribui significativamente para a formação de jovens conscientes da sua história e da importância da preservação do patrimônio cultural, a partir de seus monumentos históricos. 1. Introdução Compreender a importância dos elementos que compõe o patrimônio cultural do lugar é fundamental na formação dos jovens, e esta é a principal motivação para o desenvolvimento desta pesquisa. A cidade de Laranjeiras é uma cidade histórica e que durante o século XIX, referencial da cultura e da intelectualidade sergipana. Possui importantes construções que datam do final do século XVIII, e entre eles estão as igrejas, que ficam à vista desde o primeiro momento em que adentramos na cidade. Neste sentido, conhecer a história destes referenciais da arquitetura que 76 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

é parte do patrimônio histórico e cultural, é algo necessário, pois trata-se de um aspecto importante da história local. Para ressaltar a relevância deste trabalho de pesquisa, pode-se destacar a história de uma das igrejas de Laranjeiras, que remete à presença dos Jesuítas em Sergipe. É o caso da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Comandaroba, que, segundo ORAZEM(2008), Parece que a igreja foi construída e habitada pelos jesuítas, porém, têm-se registros de que após a expulsão desses religiosos, por volta de 1760, seus bens e terras foram leiloados às famílias da região. Conseqüentemente, a Igreja de Comandaroba ficou em posse de particulares, fato esse comprovado pela grande quantidade de túmulos no chão da igreja, contendo nomes de senhores de engenhos e suas famílias abastadas falecidas nos séculos XIX e XX. (2008, p.7). Outro trabalho importante sobre a história da cidade, e que muito contribui para o conhecimento sobre a história destas igrejas foi escrito pelo Cônego Filadelfo de Oliveira (2005), um religioso que se dedicou, entre outra ações da paróquia, a registrar a história da cidade e de seus monumentos. Em seu livro, ele traz referências sobre a construção destas igrejas, ressaltando sua antiguidade e importância para a cidade, como por exemplo, o fato de que uma das primeiras igrejas dedicada a devoção do Sagrado Coração de Jesus ter sido construída na cidade, e ser elevada à Igreja Matriz( Igreja do Sagrado Coração de Jesus). Desenvolver uma pesquisa com os alunos voltada para a valorização deste patrimônio cultural torna-se uma ação educativa necessária, uma vez que contribui significativamente para aproximar os jovens de sua identidade cultural, assim como, despertar o sentimento de pertencimento


e consequentemente a consciência de que eles são parte importante para a salvaguarda destes referenciais de cultura e história local. 2. Materiais e Métodos

Em seguida, após a visita técnica, foram selecionados 10 alunos que aprofundaram os trabalhos, desenvolvendo pesquisas na internet e na biblioteca da cidade, sobre as igrejas de Laranjeiras. Depois da pesquisa bibliográfica, foi realizada mais uma visita técnica, agora com Esta pesquisa foi desenvolvida nas turmas cada grupo de alunos responsáveis por pesquisar do 7º ano da Escola Estadual Cônego Filadelfo a história de cada igreja, para registrar a partir da de Oliveira, durante a disciplina de Arte, no ano fotografia. Com estas imagens, foram organizados de 2016. Ao longo de uma unidade (2 meses) foi os materiais para serem apresentados. discutido em sala de aula sobre a arte colonial no Brasil e seus estilos arquitetônicos. Os alunos 3. Resultados e discussão analisaram a história de algumas das principais igrejas coloniais no Brasil. A partir deste contexto, Desenvolver um trabalho de pesquisa foram estudadas as características arquitetônicas que aborde questões relacionadas à história das igrejas de Laranjeiras, destacando a sua local é muito importante, pois proporciona ao história e ressaltando a época da construção destas jovem o contato com a sua história e também instituições, onde, esta aula em particular, foi com os elementos da sua identidade cultural. desenvolvida juntamente com uma visita técnica a As igrejas de Laranjeiras estão localizadas em estas instituições. locais próximos ao cotidiano destes alunos, porém, eles não tinham conhecimento sobre as suas histórias e principalmente, a importância destes bens culturais. Todas são tombadas pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e necessitam ser preservadas. As ações de preservação dos bens culturais foram trabalhadas em sala de aula a partir de análise de textos e discussões, já que os alunos também devem contribuir para a preservação do patrimônio cultural da sua cidade. A partir do roteiro de análise respondido pelos alunos, foi possível perceber o total Figura 1: visita técnica à Igreja da Comandaroba- Laranjeiras(SE) (Foto: Ja- desconhecimento sobre a história das igrejas, naina Couvo) assim como também um encantamento para Para esta atividade de visitação, foi com as igrejas mais antigas, principalmente a desenvolvido um roteiro que direcionou o olhar do Igreja da Comandaroba. A visita técnica, assim aluno para os elementos importantes relacionados como também o contato com o lugar, despertou a igreja visitada , buscando proporcionar aos jovens o olhar atento dos alunos ao visualizar elementos o contato com elementos que foram discutidos em característicos da arquitetura do local, fazendo uma sala de aula, e que fazem parte das características ponte com o conteúdo trabalhado em sala de aula. arquitetônicas dos espaços visitados. Outro aspecto importante observado ao Revista Feira de Ciências e Cultura  |  77


longo do desenvolvimento desta ação educativa, está relacionado ao despertar da consciência para a preservação do patrimônio cultural. Isto é, nas discussões com os alunos, foi possível perceber que muitos não possuíam a consciência do que seria a preservação e de como eles, enquanto jovens em formação, podem contribuir para que o patrimônio cultural de sua cidade possa ser preservado.

Buscamos um mapa turístico da cidade que possui a identificação da localização de cada igreja, o que facilitou a explanação dos alunos que apresentaram a pesquisa. Associado ao mapa, foi realizado um registro fotográfico das igrejas e, aquelas em que não foi possível registrar, utilizamos imagens disponíveis na internet. Diante de todas as ações previstas e executadas,, foi possível perceber a importância desta pesquisa para levar aos alunos envolvidos o conhecimento sobre um pouco da história da sua cidade, contribuindo para despertar o sentimento de pertencimento, e também de valorização do seu patrimônio cultural. Outro aspecto relevante desta ação educativa foi a conscientização do papel de cada aluno no processo de proteção e salvaguarda deste patrimônio. 4. Conclusão

Figura 2: Visita técnica à Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Foto: Janaina Couvo)

Desta turma, os 10 alunos que foram selecionados para aprofundar a pesquisa, se dedicaram a ampliar as leituras sobre o que foi possível encontrar de referência a respeito das seguintes igrejas: ➢ Igreja de Santo Antônio do Engenho do Retiro ➢ Igreja do Sagrado Coração de Jesus ➢ Capela Sant’aninha ➢ Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Comandaroba ➢ Igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário ➢ Igreja de Bom Jesus dos Navegantes ➢ Igreja do Senhor do Bomfim ➢ Igrena de Nossa Senhora da Conceição Com esta divisão, os envolvidos na pesquisa se dedicaram a buscar mais informações para construir a apresentação da história de cada igreja. 78 |  Revista Feira de Ciências e Cultura

Trabalhar questões relacionadas ao patrimônio cultural de uma cidade, visando levar para os jovens o conhecimento sobre a história do lugar onde eles vivem, é uma experiência importante, pois contribui para a construção de uma conscientização sobre o papel de cada um no processo de salvaguarda e proteção dos bens culturais. Além de uma ação que também está voltada ao despertar da valorização deste patrimônio cultural. Todavia, os desafios encontrados no desenvolvimento desta pesquisa estão relacionados a dificuldade de registrar algumas igrejas, em virtude da ausência de segurança na cidade, pois uma vez que a violência impede a circulação por determinadas áreas onde algumas destas igrejas estão localizadas. Como trabalhamos com o registro fotográfico, a presença de alunos com celulares e máquinas fotográficas despertaria atenção, o que colocaria o grupo em risco. Esta foi a nossa maior


dificuldade. Porém, percebe-se que o projeto teve êxito, sendo possível promover uma discussão e a troca de conhecimentos em torno da arquitetura religiosa de Laranjeiras, sua relação com a cidade, com a sua gente e com os alunos envolvidos com a ação educativa. Referências OLIVEIRA, Filadelfo Jônatas de. Registros dos fatos históricos de Laranjeiras 2 Ed. Aracaju: SECULT, 2005. ORAZEM, Roberta Bacellar. O Patrimônio Histórico e Artístico de Laranjeiras. Disponível em: http://www.cult. ufba.br/enecult2008/14450.pdf> acesso em: 9 de setembro de 2016.

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