Revista Geração Sustentável

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Capa



A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta!

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Políticas Públicas Meio Ambiente Desenvolvimento Local

Colunas

Gestão Sustentável

Desenvolvimento Local vem da união que transforma

Visão Sustentável

Marketing Verde: muito além da maquiagem

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Responsabilidade Social Corporativa

Fitoterapia ganha espaço no mercado e conquista novos consumidores

44 Gestão de Resíduos

k 30 40 42 47

Mario Barra

Bitucas, latas e restos de tintas estão com os dias contados no Paraná

02 17 25 27 29 31 35 37 39 41 43 45 48 49 51

Monte Bello Brinox Consult Junior Achievement-PR Estação Business School Civitas Acessus Ambisol DFD FIA-USP IBF

Anunciantes e Parcerias

04 Editorial 05 Espaço do Leitor 06 Notas 48 Publicações e Eventos 50 Cidadão & Ação

Matérias

março/abril • Ano 4 • edição 17 • 2010

Teclab Jornal do Meio Ambiente Enfoque Instituto Ethos GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Editorial

As cidades e as borboletas “O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você”. Esse era o conselho do poeta gaúcho Mário Quintana, para quem ele chamava de “caçadores de borboletas”. Eram aqueles que buscavam beleza e sabedoria para suas terras e saíam a caçar borboletas em lugares distantes. Ao serem caçadas, ali permaneciam por pouco tempo, já que sempre iam embora. Esse conselho é uma metáfora que pode ser aplicada tanto na vida pessoal de muitas pessoas como também na história de populações inteiras ou de algumas cidades. Nessa edição, a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL mostra a trajetória de municípios que passaram por dificuldades incríveis e souberam reverter a situação quando descobriram a capacidade de “cuidar de seu próprio jardim”. Nesse trabalho, perceberam que o único jeito era trabalhar em equipe, e para isso desencadearam processos de desenvolvimento local que dificilmente serão desmanchados. Afinal, criaram a cultura do sábio pensamento em conjunto capaz de proporcionar e multiplicar o crescimento em todos os que estão ao redor, respeitando individualidades e o meio em que vivem. O modelo que cada um encontrou para obter desenvolvimento é o que menos importa. O fundamental é o fato de que descobriram potencialidades dentro de sua própria cultura e foram buscar fora somente mecanismos para ajudar a despontar o crescimento. Nesta edição, o leitor também conhecerá um pouco sobre um processo que é sustentável em todo o seu ciclo - a indústria da fitoterapia. Saberá os segredos das empresas que adotaram o Marketing Verde e ainda o que empresas de setores como o de tintas e de cigarros estão fazendo para diminuir o problema que os resíduos de seus produtos causam à sociedade e ao meio ambiente. Boa Leitura! Pedro Salanek Filho

Conheça o perfil do nosso leitor

Maiores informações acesse o mídia kit: www.geracaosustentavel.com.br

Diretor Executivo Pedro Salanek Filho (pedro@geracaosustentavel.com.br) • Diretora Administrativa e Relações Corporativas Giovanna de Paula (giovanna@geracaosustentavel.com. br) • Jornalista Responsável Juliana Sartori / MTB 4515-18-155-PR (juliana@geracaosustentavel.com.br) • Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck (criacao@geracaosustentavel. com.br) • Revisão Alessandra Domingues • Conselho Editorial Pedro Salanek Filho, Antenor Demeterco Neto, Ivan de Melo Dutra e Lenisse Isabel Buss • Articulistas (articulista@ geracaosustentavel.com.br) • Colaboraram nesta edição Jornalistas: Criselli Montipó, Ana Letícia Genaro e Lyane Martinelli• Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br • Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br • Impressão Gráfica Capital

A impressão da revista é realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. O papel (miolo e capa) é produzido com matéria-prima certificada e foi o primeiro a ser credenciado pelo FSC - Forest Stewardship Council. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.

ISSN nº 1984-9699 • Tiragem da edição: 5.000 exemplares • 17ª Edição • março/abril • Ano 4 • 2010 Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. CNPJ nº 08.290.966/000112 - Av. Sete de Setembro, 3815 - sala 15 - Curitiba - PR - Brasil - CEP: 80.250.210 Fone: (41) 3346-4541 / Fax: (41) 3092-5141

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

www.geracaosustentavel.com.br A revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opiniões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são terminantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos.


Espaço do Leitor

Nessa edição, recebemos dois artigos sobre questões ambientais de leitores da nossa revista. Divulgamos aqui o parágrafo inicial de cada texto. O restante do conteúdo você acessa diretamente nos links indicados abaixo:

Lixo que não é lixo é dinheiro

Princípios do direito ambiental

Nas últimas semanas, batalhas acirradas vêm sendo travadas na cidade de Curitiba e Região Metropolitana, em virtude da necessidade de se conseguir uma nova área para a destinação do lixo produzido pela nossa população. É evidente que o aterro do Caximba já está, há muito tempo, com sua capacidade de estocagem e armazenamento esgotada, e a manutenção desse local como aterro sanitário pode causar, e causará, até o mês de novembro de 2010 – data limite para fechamento do mesmo – diversos danos ao meio ambiente e à saúde da população que reside na região. Acesse o artigo na íntegra pelo link: http://revistageracaosustentavel.blogspot.com/2010/04/ lixo-que-nao-e-lixo-e-dinheiro-joao.html João Paulo Maranhão (é sócio-advogado do Escritório Katzwinkel & Advogados Associados

A evolução do direito ambiental acompanha a crescente preocupação humana com o ambiente à sua volta. Mas somente na década de 1920, com a massificação das relações sociais, foi reconhecida a existência de direitos metaindividuais, entre eles o direito à vida saudável. A tutela ambiental está assentada nessa premissa: necessidade de criar e preservar um ambiente adequado para desenvolvimento pleno do homem e das gerações futuras. Acesse o artigo na íntegra pelo link: http://revistageracaosustentavel.blogspot.com/2010/04/ artigo-direito-ambiental.html Sabrina Maria Fabel Becue (membro do escritório Katzwinkel e Advogados Associados)

Rede social Confraria Sustentável Nós, profissionais envolvidos com a produção da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, resolvemos arranjar uma forma de nos aproximar ainda mais de você leitor e envolvê-lo em debates sobre desenvolvimento sustentável. Para isso, criamos a Confraria Sustentável – rede social virtual que serve como espaço destinado a todos que contribuem com a sustentabilidade e querem trocar ideias a respeito do tema. Não perca essa oportunidade e mostre como cada um de nós pode contribuir para criar uma geração mais responsável e equilibrada!

Confira alguns dos grupos de debate que você pode participar: • Pauta da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL • Sustentabilidade Corporativa • Responsabilidade Social • Responsabilidade Ambiental Participe desta rede acessando: http://confrariasustentavel.ning.com GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Sustentando

Lançamento do Relatório Social Unilehu 2009/2010

divulgação

No dia 7 de abril, a Unilehu (Universidade Livre para a Eficiência Humana) reuniu parceiros e outros convidados para divulgar o seu Relatório Social 2009/2010, que discorre sobre todas as atividades realizadas no ano anterior e oferece uma perspectiva dos desafios que estão pela frente. O lançamento teve a participação do consultor paulista Reinaldo Bulgarelli, sócio da Txai Consultoria que realizou uma palestra com o tema Diversidade. Num clima descontraído, ele falou sobre a riqueza das diferenças na descoberta de soluções inovadoras para a sustentabilidade das empresas. Por meio de uma sensibilização com imagens sugestivas, propôs que cada um redimensionasse o seu tamanho no universo, na terra e na sociedade, refletindo sobre os preconceitos e a aceitação das diferenças de gênero, raça, idade e também das condições de deficiências. Uma entrevista exclusiva com o palestrante, que também é autor do livro “Diversos Somos Todos”, está disponível no blog da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL (http:// revistageracaosustentavel.blogspot.com)

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

PepsiCo celebra o dia mundial da água de 2010 com metas globais A PepsiCo anunciou metas globais para promover o acesso à água segura a três milhões de pessoas de países em desenvolvimento até 2015, assim como buscar o equilíbrio positivo da água de forma contínua em operações da empresa localizadas em áreas com acesso restrito à água. Esse novo conjunto de compromissos tem como base o progresso da empresa no que diz respeito à promoção do uso eficaz de água em suas operações e à aquisição de água respeitando comunidades e ecossistemas. Em 2007, estabeleceu a meta de reduzir em 20% o consumo de água por unidade de produção até o ano de 2015. Hoje, a companhia atingiu melhora de 15% quanto ao uso eficaz de água em comparação aos dados de 2006 da companhia. A PepsiCo iniciou sua atuação no Brasil com a marca Pepsi-Cola em 1953, um dos maiores sucessos globais de consumo, e continuou sua expansão por meio de parcerias e aquisições bemsucedidas. Mais informações sobre o compromisso com a proteção dos recursos naturais da terra e os esforços em aumentar o uso eficaz de água podem ser encontradas em www.Pepsico.com/water.


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Prêmio Planeta Casa 2010: inscrições abertas! Estão abertas até o dia 15 de junho as inscrições para o Prêmio Planeta Casa 2010. O prêmio é gratuito e tem a missão de valorizar e divulgar empresas e profissionais das áreas de arquitetura, construção, design e decoração que estão engajados na tarefa de conciliar conforto e bem-estar com total respeito ao planeta. Em sua nona edição, o prêmio conta com seis categorias: Ação Social, Produtos de Decoração, Materiais de Construção, Projeto Arquitetônico, Design de Interiores e Empreendimentos Imobiliários. Podem concorrer empresas, organizações não-governamentais (ONGs), arquitetos, engenheiros, designers de produtos, designers de interiores, construtoras e incorporadoras. O regulamento completo está disponível no hotsite do concurso: www.casa.com.br/planeta-casa. Os participantes podem inscrever quantos produtos ou projetos desejarem e, ainda, disputar o prêmio em mais de uma categoria. Os vencedores participarão de uma festa de premiação, em que receberão troféu - uma escultura de vidro assinada pela artista plástica Jaqueline Terpins.

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anos gerando

sustentabilidade

SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL REVISTA GERAÇÃO SUSTENTÁVEL LANÇA PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL O I PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL “SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL” é um programa desenvolvido pela Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL que visa reconhecer as iniciativas corporativas para um desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade empresarial, definida pelo instituto Ethos, consiste em: “assegurar o sucesso do negócio no longo prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, com um meio ambiente saudável e uma sociedade estável”. Neste intuito, aspectos como responsabilidade social corporativa, comprometimento com a comunidade, gestão socioambiental e ética empresarial são temas recorrentes no mundo dos negócios e estarão cada vez mais fazendo parte das definições estratégicas e da visão de negócio das organizações. A tendência atual dos negócios pressupõe que as empresas sejam rentáveis e gerem resultados econômicos, mais também contribuam efetivamente para o desenvolvimento da sociedade e para a conservação do meio ambiente.

Muita gente já sabe que não se pode jogar o óleo de cozinha usado na rede de esgoto, já que é um grande poluidor. Mas depois que separa o óleo em casa, não sabe muito bem o que fazer com ele. A receita para resolver o problema é antiga: óleo mais água, mais soda cáustica, igual a sabão. A novidade é que a empresa mineita Reciprátik facilitou esse processo ao criar uma máquina de uso doméstico, que faz a reciclagem do óleo de cozinha usado e pode ser facilmente realizada e feita em pequenas quantidades. Além de resultar numa economia para a família, com a obtenção de sabão, propõe a conscientização sobre o descarte inadequado do óleo, evitando a poluição.

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Reciclador de óleo doméstico

O prêmio reconhecerá, em 2010, as ações e iniciativas sustentáveis de empresas e demais organizações realizadas nas quatro categorias mencionadas abaixo: • Gestão Sustentável • Responsabilidade Social Corporativa • Responsabilidade Ambiental • Práticas para a Sustentabilidade Maiores informações e o regulamento do prêmio podem ser obtidos pelo e-mail contato@geracaosustentavel.com.br


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divulgação

Projeto Ecoheater do Paraná recebe Prêmio ECOMUDANÇA 2009 O Instituto de Pesquisa e Conservação da Natureza Idéia Ambiental, por meio de seu departamento de Mudanças Climáticas, foi vencedor do prêmio ECOMUDANÇA 2009, promovido pelo Banco Itaú, com o projeto Ecoheater - substituição de combustíveis fósseis por pellets de resíduos vegetais na indústria. O projeto resulta de uma parceria firmada entre a empresa Ecoheater, desenvolvedora da tecnologia (queimadores de biomassa adaptados à realidade industrial brasileira) e o Ideia Ambiental, o qual avaliou o potencial de geração de créditos de carbono e redução da emissão de Gases de Efeito Estufa em empresas que necessitam de energia térmica em seu processo industrial. Trata-se de um arranjo inédito no Brasil para esse tipo de iniciativa, uma vez que, além do fornecimento de tecnologia, garante também o fornecimento de matéria-prima (pellets de biomassa) e, potencialmente, os benefícios da redução de emissões (créditos de carbono, marketing ambiental, redução de custos, entre outros). Esse projeto já foi destaque da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL na edição 16 (páginas 34 e 35) www.geracaosustentavel.com.br.

Sustentabilidade Brinox Quando o assunto é meio ambiente, qualquer pequena ação em prol da natureza se torna grande. A Brinox sabe disso e cumpre seu papel de empresa responsável que se preocupa com a sustentabilidade do planeta. Dentro das suas diretrizes está contemplada uma rigorosa política de cuidados, que visa diminuir ou eliminar impactos dos processos da indústria ao meio ambiente. Para isso, mantém o controle e a separação de todos os resíduos gerados. Os efluentes líquidos passam por um moderno sistema de tratamento, possibilitando que a água seja devolvida à natureza, de acordo com as exigências dos órgãos ambientais. Os resíduos recicláveis, por sua vez, são separados por categoria e ganham o destino mais adequado para cada tipo. Com o objetivo de estimular ações por um planeta melhor, a Brinox repassa parte desse material para associações de recicladores que transformam esses resíduos em importante fonte de renda. Outra importante ação promovida é a coleta e o armazenamento da água da chuva de aproximadamente 20 mil metros quadrados de telhado da fábrica. Por meio de uma rede exclusiva, o precioso recurso natural é conduzido para um reservatório com capacidade para 1 milhão de litros, onde passa por um processo de filtragem e, após, é reutilizado no jardim em procedimentos industriais. Depois de adotar essas medidas, a Brinox reduziu em 10% a quantidade de água potável utilizada. A preocupação com a natureza aparece também na produção dos produtos. Atualmente, a empresa possui um portfólio com mais de 2 mil itens. Entre eles estão utensílios de uso doméstico e para o mercado corporativo voltados à reciclagem. Um exemplo disso é a Lixeira Seletiva da Linha Decorline. Lançada recentemente, foi desenvolvida com base em um projeto que visa auxiliar a coleta seletiva e a reciclagem dos mais diversos tipos de resíduos – promovendo vantagens ambientais. Todos os produtos da marca que possuem apelo ecológico recebem a chancela do Selo Verde, criado pela Brinox. Seu objetivo é fazer um convite a cada pessoa para dar um passo em direção a um mundo ecologicamente melhor. Mais informações: Fundada em 1988, a Brinox é atualmente uma das maiores fabricantes de utilidades domésticas no Brasil. Seus produtos são desenvolvidos com tecnologia de ponta, a partir da necessidade do mercado. Instalada em uma área de 80 mil m² em Caxias do Sul, trabalha com mais de 2 mil itens em seu rol de produtos. Conheça toda a linha de produtos acessando o site: www.brinox.com.br. 8

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Vivo leva pessoas com deficiência visual para assistir a peças teatrais no Festival de Curitiba No último final de semana do Festival de Curitiba, mais de 50 pessoas com deficiência visual do Instituto Paranaense de Cegos, da Associação dos Deficientes Visuais do Paraná, da Secretaria Estadual de Educação - Setor Educação Especial e do UNILEHU - Universidade Livre para Eficiência Humana, foram convidadas pela operadora Vivo para assistir à peça Farsa da Boa Preguiça, utilizando o recurso de audiodescrição. O recurso consiste na tradução do visual para o verbal e permitiu maior compreensão do contexto do espetáculo, apresentado no Teatro Positivo. Para melhorar ainda mais o entendimento, as pessoas com deficiência visual receberam a sinopse da peça em braile e em letra aumentada, para aqueles que sofrem de baixa visão. Logo depois do término da apresentação, Terezinha Aparecida de Lima, 41 anos, elogiava muito o espetáculo. Ela já havia assistido a filmes com o recurso, mas no teatro foi a primeira vez. Para Ênio Rodrigues da Rosa, interventor do Instituto Paranaense de Cegos (IPC), o processo de audiodescrição no Brasil ainda é muito recente, necessitando de outras iniciativas para ampliar a utilização e o conhecimento desse recurso em mais espetáculos.

Gastando e ganhando energia A ReRev, uma companhia da Flórida, inventou um meio de aproveitar a energia gasta por seus clientes que estão malhando. Ela adaptou equipamentos da academia para converter 30 minutos de esforço e suor em energia elétrica suficiente para alimentar uma lâmpada por mais de duas horas, ou ligar um laptop por uma hora. Em locais onde ainda se usa querosene quando escurece, essa novidade pode ter um grande impacto. No começo deste ano, os testes foram realizados em Nairóbi, capital do Quênia.

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Sustentando

Trânsito consciente A Holanda, um dos países com maior densidade populacional da Europa, é também um dos que mais sofrem com congestionamentos de trânsito. Na tentativa de diminuir o problema, o ministério dos transportes holandês anunciou que, a partir de 2012, passará a cobrar uma taxa por quilômetro rodado de todos os carros que circulam no país. A tarifa básica será de 3 centavos de euro por quilômetro, com previsão de reajuste gradual até chegar a 6,7 centavos em 2017. Os valores serão maiores nas vias mais movimentadas e nos horários com volume de trânsito maior. Carros híbridos e muito econômicos terão descontos. Como compensação pela nova taxa, os impostos sobre veículos serão reduzidos. Até a cobrança entrar em vigor, todos os motoristas holandeses terão de equipar seus carros com aparelhos de GPS, que enviarão as informações sobre sua movimentação a uma central responsável pela cobrança. A falta do GPS acarretará multa. Com a medida, o governo holandês espera reduzir pela metade os congestionamentos de trânsito até 2020. Outra consequência será a diminuição das emissões de gases do efeito estufa.

Banco do Brasil adere à ReciclAção 2010 A criação de negócios sustentáveis que atendam às necessidades dos geradores de resíduos e recicladores atraiu para junto da ReciclAção - Feira Brasileira de Reciclagem, Preservação e Tecnologia Ambiental, o Banco do Brasil. O Banco participará como expositor e patrocinador da ReciclAção 2010 por meio do DRS – Desenvolvimento Regional Sustentável, uma estratégia negocial que busca impulsionar o desenvolvimento sustentável das regiões onde o banco está presente. Para Ney Augusto Resmer Vieira, gerente DRS da Superintendência de Negócios Varejo e Governo do Paraná do Banco do Brasil, o evento é uma vitrine inédita e um excelente espaço para as empresas gerarem negócios e mostrar que existe viabilidade econômica no segmento de reciclagem. “Mostra para o empresariado que pode produzir com qualidade, respeitando as leis ambientais e lucrando ainda mais reaproveitando e reutilizando seus resíduos”. O evento acontecerá entre os dias 16 e 19 de junho no centro de Eventos Expo Unimed Curitiba.

Dança da sustentabilidade A academia sustentável é resultado de um conceito criativo de danceteria ecológica, que surgiu em Rotterdam em 2005. O principal item desenvolvido foi a pista de dança sustentável, inaugurada em sua primeira versão em 2006, capaz de capturar a energia das pessoas dançando. A pista de dança é uma fusão de eletrônicos, softwares integrados e materiais inteligentes e duráveis. Consiste em módulos de 65 x 65 cm. Cada um deles faz um movimento vertical de aproximadamente um centímetro enquanto as pessoas dançam. A energia produzida pelos movimentos é convertida em eletricidade, por um motor elétrico, que faz a pista de dança reagir de maneira interativa com cada uma das pessoas dançando sobre ela. Ao acender as lâmpadas de LED em seu interior, de acordo com a quantidade de energia produzida, as pessoas se tornam conscientes da energia que são capazes de produzir. Cada pessoa tem a capacidade de produzir de 5 a 20 watts, dependendo de seu peso e ritmo de dança.

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Educando para o Futuro

Programa da Junior Achievement com foco em Sustentabilidade

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Associação Junior Achievement Paraná é uma entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo levar educação empreendedora aos jovens por meio da iniciativa de empresas mantenedoras e de profissionais que prestam orientação voluntária. Os Programas “Atitude Pelo Planeta” e “Nosso Planeta, Nossa Casa”, incorporados ao portfólio de projetos do Paraná neste ano, fazem parte do Projeto Sustentabilidade da Junior Achievement, para disseminar a filosofia e as práticas do uso sustentável dos recursos entre os jovens brasileiros. No dia 11 de maio iniciam-se em Curitiba as aplicações do Programa “Nosso Planeta, Nossa Casa”, projeto em que os alunos do Ensino Fundamental aprenderão sobre conceitos relacionados ao desenvolvimento sustentável e à preservação do meio ambiente, ambos de suma importância para o futuro de nosso planeta. As seis primeiras turmas do programa serão atendidas por voluntários da Oi, patrocinadora do projeto ao lado de Gerdau e Santander, e durante as aulas, o tema será tratado com muita responsabilidade para que fique claro para o estudante o seu compromisso socioambiental.

Rodada de Palestras e Feira das Miniempresas • A sustentabilidade é um valor presente em todos os projetos da Junior Achievement, o qual é trabalhado na prática pelo Miniempresa. Nesse projeto, alunos do 2º ano do Ensino Médio das redes pública e privada formam equipes de 30 alunos, criam e administram uma empresa real,

pensando em formas sustentáveis de negócio. Em maio acontecem dois grandes eventos desse projeto. No dia 02 de maio, o Curitiba Master Hall recebe a 10ª Edição da Rodada de Palestras do Programa Miniempresa, com a presença de cerca de 700 convidados, entre eles os 600 estudantes que participam desse projeto da Junior Achievement. Os palestrantes do 1º semestre de 2010 são: José Pio Martins – Reitor da Universidade Positivo, e Darci Piana – Presidente da Fecomércio, ministrando as palestras “Gestão de Empresas Familiares” e “Empreendedorismo”, respectivamente. Esse é um momento de aprendizado muito esperado pelos nossos alunos e pelos nossos voluntários que vibram ao perceber o desenvolvimento dos jovens “achievers”. No próximo dia 08 de maio é o grande dia da Feira das Miniempresas, no Shopping Crystal, evento em que as 20 equipes participantes desse mesmo projeto comercializam seus produtos durante o horário de funcionamento do shopping. Cada Miniempresa contará com um stand e utilizará diversas estratégias de marketing para atrair os clientes. A utilização de materiais sustentáveis desde a matéria-prima até a embalagem costuma chamar a atenção dos empresários e do público, e tem sido um fator decisivo para a escolha do produto destaque, importante prêmio concedido ao final do projeto. Convidamos a todos para conhecerem a Nova Geração de Empreendedores na Feira das Miniempresas. Saiba mais: www.japr.org.br.

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Vida Urbana

Curitiba leva prêmio e é eleita a cidade mais sustentável do mundo

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Esse valor é quase igual à reserva legal, que é uma exigência das propriedade rurais”, explicou. Outros projetos decisivos para tornar Curitiba a cidade mais sustentável do mundo foram também aqueles ligados às políticas públicas para incentivar a conservação de áreas verdes, “como os parques, as transferências de áreas e a redução de IPTU para as áreas verdes e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipais (RPPNM)”, afirmou Andreguetto . Ele ainda citou os planos de habitação por meio da Cohab e os cursos para profissionais da área de jardinagem, que são capazes de gerar conhecimento e renda. Em nota oficial, o comitê de jurados afirmou: “Curitiba demonstrou grande profundidade no nível de entendimento da essência para o desenvolvimento sustentável de uma cidade, nas políticas públicas e na implementação das ações. Particularmente, a abordagem holística com que a cidade encarou os desafios da sustentabilidade é bem delineada e gerenciada numa clara demonstração de forte e saudável participação da comunidade e integração da dimensão ambiental com as dimensões intelectual, cultural, econômica e social.” Além da premiação, Curitiba terá participação especial na Conferência Mundial de Sustentabilidade Globe Forum, que acontecerá em Estocolmo, nos dias 28 e 29 de abril. Curitiba terá um palestrante na sessão Inovação em Cidade Sustentável e um espaço para exibição de seus programas no salão de exposições da Conferência. A cidade também ganha dois anos como membro especial do Globe Forum, em 2010 e 2011, e destaque nas Conferências que acontecerão em Dublin, em novembro de 2010, e em Gdansk, em 2011.

José Paulo Fagnani

uritiba ganhou em março deste ano o prêmio Globe Award Sustainable City, que elege a cada ano a cidade mais sustentável do mundo. O prêmio é organizado pelo Globe Forum, da Suécia. A eleição de Curitiba foi unanimidade entre os jurados. O objetivo do prêmio é destacar cidades com excelência em desenvolvimento urbano sustentável e torná-las exemplos positivos para outras cidades. Além de Curitiba, as finalistas eram Sydney, na Austrália; Malmö, na Suécia; Murcia, na Espanha; Songpa, na Coreia do Sul; Stargard Szczecinski, na Polônia. Esse é o segundo prêmio mundial vencido por Curitiba neste ano. Em janeiro, a cidade ganhou o Sustainable Transport Award, em Washington, pela implantação da Linha Verde. O júri avaliou itens como preservação de recursos naturais; bem-estar e relação social nas cidades; inteligência e inovação nos projetos e programas; cultura e lazer; transporte; confiança no setor público e gerenciamentos financeiro e patrimonial. O carro-chefe do case apresentado por Curitiba ao comitê foi o programa Biocidade, que integra a questão ambiental a todas as ações do Município. Segundo o secretário do Meio Ambiente de Curitiba, José Antônio Andreguetto, “o Biocidade é um modelo de desenvolvimento local em que o cidadão leva o conceito de sustentabilidade para dentro de casa”, analisou. Para o secretário, a cidade foi capaz de receber o prêmio por uma série de iniciativas e também algumas estratégias. “Um aspecto foi a apresentação do projeto com links da cidade no serviço de mapas na internet do Google, o Google Earth . Dessa forma, os jurados puderam ler o case de Curitiba e ainda visualizar a cidade, que possui 18% de área verde.

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Vida Rural

AEAPR-Curitiba apoia V Simpósio Brasileiro de Educação em Solos

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Departamento de Solos e Engenharia Agrícola e o Programa de Pós-graduação em Ciência do Solo do Setor Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná sediou, de 15 a 17 de abril, o V Simpósio Brasileiro de Educação em Solos, promovido pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. O evento contou com o apoio da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná - Curitiba (AEAPR-Curitiba) e de diversas entidades como a Itaipu Binacional e a Secretaria de Educação de Pinhais. Os engenheiros agrônomos Valmiqui C. Lima e Marcelo Lima, professores da UFPR, coordenaram a organização desta edição do evento. De acordo com o professor, existem muitas maneiras de promover a educação em solos. “É imprescindível que nos ensinos fundamental e médio os escolares sejam sensibilizados no que se refere à importância do solo, pois além de fornecer alimentos e fibras, exerce múltiplas funções na natureza, podendo-se destacar, entre outras, sua atuação como reservatório de nutrientes para as plantas e como armazenador de água”, observou o professor Valmiqui. No ensino superior e na investigação científica, há avanços das pesquisas sobre o tema, segundo Valmiqui. Há 50 anos, pouco se sabia sobre os solos do Brasil. “Atualmente, todo o território nacional possui mapas de solos, o que permite que saibamos suas qualidades e limitações para agricultura, assim como sua fragilidade ambiental. Tal é a importância do tema que todas as universidades têm departamentos de solos. É importante enfatizar que esses departamentos também pesquisam sobre educação em solos, como é o caso do nosso departamento na UFPR”, contou.

O papel dos engenheiros agrônomos • O presidente da AEAPR-Curitiba, Luiz A.C. Lucchesi, ressaltou que o solo e a sua conservação, ou degradação, têm sido a causa da ascensão e queda de civilizações. Fato este, inclusive, biblicamente registrado. “O Brasil, como detentor de grande extensão de solos com grande potencial produtivo, e, portanto, riquíssimo, não tem dado a devida importância à conservação desse recurso natural não-renovável. Tal importância, no entanto, necessita ser conscientizada entre todos. Isso somente será possível por meio da educação. Nesse contexto, os engenheiros agrônomos, que recebem formação para utilizar e manejar os solos de forma sustentável, têm obrigação de dar sua contribuição”, avaliou.

AEAPR-Curitiba abre inscrições para MBA em Agronegócios • Estão abertas as inscrições para o MBA em Agronegócios. Promovido desde 2008 pela AEAPR-Curitiba, o curso é ministrado pelo Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Agronegócio (Pecege), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), de Piracicaba. A próxima edição do curso deve iniciar no dia 16 de julho. O presidente da AEAPR-Curitiba, Luiz Antonio Corrêa Lucchesi, conta que os docentes são professores doutores, associados e titulares da Esalq e de outras unidades da USP, bem como profissionais de renome no setor privado. Para Lucchesi, a entidade assume o papel de esclarecedora da opinião pública sobre questões estratégicas para o país e para a própria sobrevivência humana.

“O Brasil, não tem dado a devida importância à conservação do solo como recurso natural não-renovável. Isso somente será possível por meio da educação.”, comenta Luiz A. C. Lucchesi, presidente da AEAPR-Curitiba

Serviço Informações referentes às programações podem ser obtidas na AEAPR-Curitiba: www.aeaprcuritiba.com.br, (41) 3354-4745, aeapr@aeaprcuritiba.com.br. A sede da AEAPR-Curitiba fica no bairro São Lourenço – Rua Nilo Brandão, 551

Agenda de eventos da AEAPR-Curitiba • 4 e 5 de junho – Curso Excel para finanças no agronegócio • 16 a 19 de junho - RECICLAÇÃO • 16 de julho – Início das aulas do III MBA em Agronegócio - Esalq/USP - em Curitiba • 24 a 26 de novembro - Feira AnB 2010 - Granja Canguiri

Evento Simultâneo ao AnB 2010 – XVI Congresso Paranaense de Engenheiros Agrônomos GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Entrevista

Inovação e sustentabilidade são as duas faces da mesma moeda

divulgação

Mario Barra Juliana Sartori

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

O membro da diretoria da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Mario Barra, em entrevista exclusiva para a revista Geração Sustentável, fala sobre a relação entre os conceitos de inovação, sustentabilidade e cooperação. Termos que estiveram em discussão durante a X Conferência Anpei de Inovação Tecnológica, evento coordenado por Barra e promovido em Curitiba.


Geração Sustentável • Como funciona hoje a Anpei no meio corporativo brasileiro? Mario Barra • A Anpei tem como propósito estimular a inovação tecnológica nas empresas e, consequentemente aumentar sua competitividade e inserção no mercado global. Como entidade representativa das empresas e instituições inovadoras, a Anpei atua junto às instâncias de governo e formadores de opinião, visando elevar a inovação tecnológica à condição de fator estratégico para o Brasil. Tanto é que, reconhecendo os méritos dos 26 anos de trabalhos junto às empresas, o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) recomendou a todos os empresários se associarem à Anpei. Como parte dessas ações, a Anpei promove a troca de experiências sobre as melhores práticas de gestão da inovação em proveito da competitividade. Internacionalmente, atua junto à suas congêneres de outras sete regiões, como o IRI (Estados Unidos) e EIRMA (Comunidade Europeia). Expressão dessa atividade são as conferências anuais, que vem realizando desde 2001 e que se tornaram um dos principais fóruns de debate sobre o tema e uma oportunidade para que as empresas se atualizem sobre a prática da inovação.

GS • Em sua opinião, qual a relação entre a inovação e a sustentabilidade? MB • Na conjuntura atual, constatamos que o mundo, até então expansionista e consumista, agora tende a valorizar a vida, a produção, o trabalho, a eficiência, a inovação e o meio ambiente. Dessa forma, sustentabilidade vem se tornando cada vez mais indissociável à inovação. Aliás, nessa nova ordem, a competitividade das empresas será determinada pela inovação e, cada vez mais, pela sustentabilidade. Resumidamente: inovação e sustentabilidade são as duas faces da mesma moeda.

GS • Uma empresa interessada em inovar precisa claramente investir em pesquisa, estudo e se aproximar do mundo acadêmico. Como vê essa relação hoje, entre a universidade e o mundo corporativo? MB • O trabalho em cooperação é uma realidade cada vez mais presente, orquestrada pela função Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação. As empresas precisam identificar suas oportunidades de inovação por meio da gestão do conhecimento, seja ele de fontes internas de capacitação tecnológica ou de fontes externas em “open innovation”, junto às universidades e aos institutos. Esse é o contexto da inovação aberta, multiplicadora das

possibilidades de resultados positivos, ao combinar competências internas, externas e recursos. É por isso que adotamos como título da X Conferência a integração dos conceitos de cooperação, de inovação e de sustentabilidade como espelhado em seu título-tema: “Cooperação para inovação sustentável”. Dessa forma, os temas passam a ser a cooperação, não qualquer cooperação, mas sim aquelas gestadas na função P, D & I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) das empresas e que resultem em inovações. Sustentável passa a adjetivar a inovação. Ou seja, quem é sustentável é a inovação, não só a empresa ou o planeta.

O mundo, até então expansionista e consumista, agora tende a valorizar a vida, a produção, o trabalho, a eficiência, a inovação e o meio ambiente GS • O investimento em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação no Brasil passou de 0,98% do PIB em 2002 para 1,13% do PIB em 2008. No entanto, a iniciativa privada vem mantendo participação inferior a 50%. Como avalia esses números? MB • A Anpei vem propondo medidas que tornem a conjuntura mais favorável ao empreendedorismo inovador. As leis da Inovação e a do Bem, que concedem incentivos às empresas que praticam P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) foram promulgadas com o apoio da Anpei, que teve uma participação ativa em sua elaboração, levando ao Governo os pleitos e as sugestões das empresas associadas. Efetivamente, desde sua fundação, em 1984, a Anpei vem destacando a importância do investimento em Inovação. Esse montante teve ligeiro aumento desde 1 % do PIB, em 2002, para 1,13 %, em 2008. Mas a ênfase dada ao setor privado não é a devida, o que é preocupante, pois sua participação não decola dos 47% do total GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Entrevista

Para atender à demanda reprimida dos 4,3 bilhões de excluídos da economia formal, de um total de 6,8 bilhões de seres humanos, é preciso aumentar em torno de 10 vezes a produção atual dos investimentos nos seis anos considerados. Lembro de que é vocação e responsabilidade do setor privado a transformação do conhecimento em produção de bens e serviços em benefício da qualidade de vida da população. Por exemplo, nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a média dos investimentos privados é de 62 %. Fatores conjunturais vêm comprometendo a competitividade e a inovação devido à baixa escolaridade, juros altos, encargos e tributos elevados, real apreciado, infraestrutura deficitária e ultrapassada e excesso de burocracia. Para construir um futuro para o país, é preciso atualizar seus ativos produtivos, um patrimônio da nação não só dos empresários. Para tanto, é preciso modernizar, renovar a indústria e inovar.

GS • Como vê o avanço da sustentabilidade e da inovação tecnológica no mundo atual? MB • Numa visão globalizada, para atender à demanda reprimida dos 4,3 bilhões de excluídos da economia formal, de um total de 6,8 bilhões de seres humanos, é preciso aumentar em torno de 10 vezes a produção atual. Como só a energia

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é responsável por 25 % das emissões de gases efeito estufa, se essa geração for multiplicada por dez, não haverá planeta que sobreviva a tal poluição. Para produzir mais e melhor nessa escala, só uma explosão de inovações tecnológicas e sustentáveis, partindo da mobilização e engajamento da indústria, dará condições para criação de uma massa crítica necessária para alcançar a dimensão da resposta requerida.

GS • Qual a sua relação pessoal com a sustentabilidade e a inovação? Por que se envolveu com o tema e acabou fazendo parte da diretoria da Anpei? MB • Lembro-me de que ao final dos anos 70 recebi a incumbência de montar a função Pesquisa e Desenvolvimento da empresa nacional onde atuava. Para tanto, inscrevi-me no primeiro curso voltado à gestão da inovação tecnológica na FEAUSP, interagindo com outros colegas da mesma área. No início dos anos 80, esse grupo decidiu criar a ANPEI, entidade da qual tive a honra de ser um dos fundadores e de ter sido eleito presidente nos seis anos iniciais de sua vida associativa. Como profissional, sempre estive vinculado à inovação na indústria, portanto acredito estar mais do que envolvido com o tema e com a ANPEI, pois é minha vocação e compromisso.

GS • Qual mensagem gostaria de deixar para os leitores da revista Geração Sustentável? MB • Com esse testemunho é fácil entender por que me identifico com os propósitos da revista Geração Sustentável. Não só pelo que ela é hoje, mas pelos seus propósitos e compromissos de vida e de um futuro digno para todos nós. Uma revista não é só o que publica, mas o que compartilha com seus leitores e acrescenta, contribuindo para informar e formar a opinião pública. Geração Sustentável veicula fatos, promove ideias e um ideal de futuro possível e mais promissor.



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k Desenvolvimento

local vem da união

que transforma Municípios do Paraná dão exemplo de como é possível uma população se organizar para proporcionar crescimento para todos Juliana Sartori

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ra uma vez uma cidade paranaense que vivia da plantação de feijão. Era na década de 1980, quando o município de São José da Boa Vista chegou a ser chamado de capital do feijão. O solo era fértil e as plantações garantiam o sustento de quase todos. Com o passar dos anos, a terra foi deixando de ser assim tão boa. Mal cuidada, esgotou-se. A produtividade começou a baixar e a população, quase toda composta de pequenos agricultores, perdia o viço. A produtividade caiu, e junto foi embora a vida daquele lugar. Mas o que tinha cara de fim, era, na verdade, o começo de uma nova história. Graças a uma iniciativa que partiu da própria população, que descobriu a força da união e foi capaz de recuperar a bonita trajetória daquele lugar. Uma ideia trabalhada em conjunto que fez trocar os grãos pelos gados. Foi um grupo que teve a iniciativa, investiu em formação e conseguiu transformar o destino de toda a região ao seu redor – mudando a vocação local e garantindo o futuro das próximas gerações com uma indústria leiteira de muita qualidade. Isso mais parece um conto antigo, daqueles que falam das histórias de reinos e aldeias muito distantes. Mas o exemplo da cidade de São José da Boa Vista é bem contemporâneo e mostra a capacidade de uma população que aprendeu na prática o significado das palavras desenvolvimento sustentável e cooperação. Na realidade, a ideia de associar interesses comuns a partir de iniciativas de cooperação é realmente bastante antiga. Porém, foi somente a partir de 1990, no Brasil, que as discussões sobre o tema ganharam bastante peso. Principalmente quando se passou a falar em desenvolvimento local e sustentabilidade. Presente nesse contexto encontra-se o associativismo, como uma exigência histórica para melhorar as condições de vida

“O que aconteceu no município é resultado do trabalho e esforço da própria população. E isso não é um processo que se perde, mas se fortalece com o tempo”, conta o eng. agrônomo Wagner Cardoso GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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dos indivíduos de determinado local, pois faz com que a troca de experiências constitua-se em oportunidade de crescimento. “Um processo de desenvolvimento local só é desencadeado quando a comunidade quer mudanças e acredita na própria capacidade e em suas competências. É um ato de fé, e depois de sair em busca de ajuda para que o crescimento aconteça”, explica o professor do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da FAE, Antoninho Caron. Segundo Caron, para que esse “ato de fé” se torne realidade, é preciso que apareçam os “heróis” dessas histórias. “São as lideranças locais as únicas capazes de iniciar um processo de desenvolvimento. Elas são pessoas comuns da comunidade, mas que começam a discutir os problemas, as faltas de oportunidades e a sugerir soluções”, explica.

Do feijão para o leite • E não é que foi exatamente isso o que aconteceu em São José da Boa Vista no Norte Pioneiro do Paraná? A partir do momento em que lideranças locais descobriram e estimularam essa força em comum, só fez crescer. O ano era 1994 quando técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) decidiram reunir os produtores para pensarem juntos uma nova alternativa de renda, após a queda da agricultura à base de feijão. “Mesmo sem ter cultura nenhuma com a produção de leite e nem tradição, o pedido de ajuda dos produtores foi o início de uma nova fase para a cidade”, conta o engenheiro agrônomo Wagner Mattos Cardoso, que é hoje também o vice-prefeito da cidade e participou de forma ativa em todo 20

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esse processo de transformação. A primeira coisa que conseguiram foram recursos da prefeitura e do Governo Federal, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), para melhorar a infraestrutura e o serviço de coleta da pouca quantidade de leite que já existia na cidade e ficava concentrada nas mãos de apenas 27 produtores, que não tinham ainda o costume de trabalhar em conjunto. Aos poucos, esse grupo, desacreditado pelo restante da cidade, começou a apresentar novidades. Perceberam que precisavam melhorar a qualidade do produto e necessitavam de conhecimento. Por isso, essa turma logo virou uma associação (Associação Geral dos Produtores Agropecuários – Agepagro). Com investimento em formação e melhora genética do gado, a associação tornou-se, em 2007, a Cooperativa Agropecuária Familiar do Leste Pioneiro (Coaflep) – a qual conta hoje com mais de 400 produtores, não só do município, mas também de toda a região. Foi nesse ano também que os produtores da cidade conquistaram a usina de pasteurização de leite. Com a usina, o pequeno produtor passou a ganhar quase o dobro com aumento da produtividade e da qualidade do leite. “Dos R$ 0,31, passou para R$ 0,51 o litro do leite”, conta Wagner. Segundo o vice-prefeito, o grande empregador do município e órgão que mais gera receita hoje em São José da Boa Vista é a hoje a Coaflep, que produz diariamente 22 mil litros de leite. Ele garante que o projeto com o leite envolve toda a família dos produtores, gerando renda e melhorando a economia da cidade. E para quem pensa que esse ciclo do leite pode ter fim como o do feijão está enganado. “O


fotos: divulgação Coaflep

que aconteceu no município é resultado do trabalho e esforço da própria população. E isso não é um processo que se perde, mas se fortalece com o tempo”, diz.

seja em cursos técnicos, sistemas de educação, universidades, ou estudos busca de mercados - é definitivo para influenciar um espaço local, garante o professor.

Educação transformadora • Para o professor Antoninho Caron, depois que a busca pelo desenvolvimento é desencadeada, ela só é potencializada e vai em frente “quando entra em jogo um processo de educação”, afirma. E foi exatamente o que aconteceu na trajetória de São José da Boa Vista. O investimento em formação -

Protagonistas de suas histórias • No Paraná, são vários os exemplos de iniciativas de pessoas que se uniram e desenvolveram, respeitando suas tradições e ganhando modernidade. São povos que souberam reconhecer suas vocações e passaram a narrar as histórias de suas cidades como protagonistas.

Futuro promissor A ideia da Coaflep para o futuro é aumentar a produção e agregar valor com novos produtos. Por isso, o próximo passo é a industrialização do leite, que acontecerá assim que a cooperativa receber os recursos do Fundo Social, por meio de uma parceria entre o Banco do Brasil com seu Núcleo de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). O investimento, a fundo perdido, servirá para montar a infraestrutura necessária na Coaflep para que os produtores passem a industrializar o leite, fornecendo novos produtos, como queijos, requeijão, doces e outros produtos que em breve devem começar a circular pelas prateleiras de todo o estado. “Vamos com toda a coragem e capacidade entrar no mercado comum, além de reforçar nossa oferta de leite para a merenda escolar do estado”, conta orgulhoso o agrônomo, que viu de perto uma cidade, quase desaparecendo, renascer. E é por toda essa história e o rápido desenvolvimento conquistado, que a cooperativa de São José da Boa Vista será a primeira iniciativa do Paraná a receber esse investimento não reembolsável do BNDES. Segundo o agente DRS da Superintedência do Banco do Brasil no Paraná, Ademar do Carmo Moreira, o projeto de São José da Boa Vista está em processo de finalização e em breve a verba deve ser liberada. O núcleo DRS é uma estratégia negocial do Banco do Brasil, que busca impulsionar o desenvolvimento sustentável das regiões onde o banco está presente. Ou seja, mostrar para uma comunidade carente que é possível desenvolver e criar oportunidades para melhorar a qualidade de vida de uma localidade.

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“Todos os agentes são focados em estabelecer o protagonismo local, para que os atores locais sejam capazes de transformar e tocar em frente seu próprio talento”, Marcelo Percicotti, Fiep Segundo o professor Antoninho Caron, os exemplos de modelos que representam o desenvolvimento local são variados, podendo partir de cooperativas, como já foi citado, entre outros. Outro modelo bem conhecido no Paraná é o de Arranjos Produtivos Locais (APLs), que também podem ser chamados de clusters. Eles são aglomerações de pequenas empresas, localizadas em determinado espaço geográfico, que atuam em uma atividade produtiva comum. As empresas dos APLs compartilham uma identidade cultural local e possuem vínculos de articulação e aprendizagem entre si e com outros agentes locais, como governo, associações empresariais,

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instituições de crédito, de ensino e de pesquisa. Não interessa o nome do modelo, se é APL, cluster, cooperativa ou associação. O que importa é que todos esses modelos têm como base o mesmo ponto de partida: que é o crescimento em conjunto. E ainda, o mesmo destino: o desenvolvimento em todos os aspectos, social, econômico e ambiental. Segundo Caron, os modelos de desenvolvimento local aplicados no Brasil são em sua maioria inspirados nas experiências italianas. “Na Itália, aconteceram várias experiências bem-sucedidas, de associações de pequenas e médias empresas que foram capazes de impulsionar o crescimento de cidades inteiras. Mas o que precisamos lembrar sempre é de que ao usarmos modelos de fora temos que tomar o cuidado de respeitar a cultura local. Afinal, é ela quem vai ditar as regras e fazer com que os diversos segmentos da sociedade encontrem as alternativas locais, gerando modelos a partir do debate”, afirma.

Arranjos Produtivos • Atualmente a Rede APLs no Paraná conta oficialmente com 22 polos industriais no Estado. São cidades reconhecidas em todo o Brasil por serem expoentes em certo produto que fabricam e vendem, recebendo apoio de diversas instituições para que desenvolvam ainda mais. São municípios como o de Apucara-


Vocação para prosperar Contar a história de uma pequena cidade que viu seus índices sociais e econômicos melhorarem em um pequeno período de tempo é fácil quando existe cooperação. “O próprio sistema de organização das cooperativas é um modelo sustentável, nos pontos de vista econômico, social e ambiental”, garante o gerente de tecnologia econômica da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra. As cooperativas no Paraná, segundo ele, têm um papel fundamental no desenvolvimento social das famílias rurais. Afinal, cerca de 70% dos cooperados são proprietários de terras com menos de 50 hectares, ou seja, são agricultores familiares. “Sem as cooperativas, jamais teriam a chance de fazer seus produtos chegarem ao consumidor. As cooperativas são capazes de agregar produtos para fazer volume para poder comercializar com competitividade”, afirma Turra. Apesar de serem pequenos, os cooperados do Paraná utilizam tecnologia de ponta nas suas plantações. Por isso, são capazes de produzir em quantidade, com qualidade e sem agredir o meio ambiente. Com as cooperativas, eles conseguem contratar o auxílio de assistentes técnicos, que visitam e ensinam os mais variados métodos de desenvolvimento de suas plantações. “Para um agricultor sozinho, conseguir contratar esse trabalho seria inviável. Com as cooperativas, é possível diluir esse custo e contar com tecnologia para suas propriedades”, diz. Números das cooperativas no Paraná - O Paraná, hoje, conta com cerca de 240 cooperativas; - Elas congregam cerca de 530 mil agricultores; - Geram cerca de 1,3 milhão de postos de ocupação; - Pelo menos 55% da armazenagem de grãos do Estado pertencem às cooperativas, e cerca de 53% de tudo o que é produzido no estado é dos cooperados. Fonte: Ocepar

na, famoso na produção de bonés, Loanda e seus metais sanitários, Imbituva com as malharias, ou Campo Largo e a sua produção de louças. Segundo explica Marcelo Perciotti, da coordenação de Desenvolvimento do Sistema Fiep, que faz parte da Rede APLs, o Governo do Estado, em 2004, realizou um plano para identificar polos industriais no estado e assim iniciar esse trabalho de potencializar as vocações. “O objetivo é organizar, articular a rede, que conta com diversas instituições que trabalham em sinergia, como Estado, prefeituras, sindicatos, Sebrae, Fiep. Todos os agentes são focados em estabelecer o protagonismo local, para que os atores locais sejam capazes de transformar e tocar em frente seu próprio talento”, enfatiza Marcelo. Ou seja, para uma cidade ter desenvolvimento, não é uma solução salvadora, de fora do município, que ditaria as regras. A transformação só é possível de dentro para fora, analisa Perciotti. Para entender o que faz a rede APLs, basta conhecer alguns exemplos. “Para se ter ideia do trabalho, podemos falar de Imbituva, que há anos organizava uma feira, que reúne todos os

fabricantes de malha. O que fizemos foi potencializar essa união. Oferecemos capacitação para modernizar as malharias, com cursos de moda e gestão, por exemplo, Também conseguimos centralização dos negócios, para que os fabricantes pudessem aperfeiçoar seus recursos e diminuir seus custos”, explica Perciotti. Segundo ele, o motivo que leva um município a se transformar em polo industrial é diverso. “Às vezes, é a tradição histórica, outras a cultura local, os recursos naturais, ou até mesmo um empreendedor que começou sozinho com uma ideia e acabou incentivando toda a população a seguir seu exemplo. Cada caso é um caso e todos têm histórias muito interessantes”, lembra.

Tudo por causa da geada • Lúcia Figueiredo era só uma adolescente que vendia roupas de porta em porta nas casas de Cianorte. Hoje ela tem 700 empregados e produz cerca de 100 mil peças de confecções por mês, a maioria de calças jeans. O município de 70 mil habitantes localizado no Noroeste do Paraná tem pelo menos outras 450 histórias parecidas como essa. São GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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pessoas que prosperaram atuando na criação de roupa, costura, bordado, serviços de lavanderia e outras atividades da indústria da moda. Batizada de “capital do vestuário”, Cianorte oferece ao mercado cerca de 60 milhões de peças por ano e movimenta também a economia de municípios vizinhos, com a geração de cerca de 30 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Os moradores vendem tanto para grandes varejistas como para butiques e lojas de marcas famosas. Usam etiquetas próprias ou de terceiros, espalham representantes pelo país ou recebem lojistas de diversos estados em quatro shoppings de atacado ou na Rua da Moda, no centro da cidade, onde são expostas as coleções de fabricação própria, com pronta entrega. Na região, não há falta emprego, mas muitas vezes falta profissional especializado. Mas o passado da cidade nada tem a ver com tudo isso. O cultivo do café era a principal atividade das famílias de Cianorte, mas a geada de 1975 trouxe a necessidade de mudanças. Mudanças que impulsionaram, por exemplo, a vida de Lúcia Figueredo. A empresária comanda seu negócio e participa do APL região. Lúcia tem três marcas: a

que leva seu nome, Retrato Falado e Lu and Lu. De acordo com o site da Prefeitura Municipal de Cianorte, de cada cinco pessoas que vivem no município, duas trabalham no setor de vestuário, que gera aproximadamente 15 mil empregos. Metade do Produto Interno Bruto (PIB) do município é gerada pela população economicamente ativa envolvida direta e indiretamente com o setor do vestuário, o que mostra sua importância para o município e a região. O salário médio do cianortense é de R$ 600. Dentro da cadeia produtiva na área de confecção, o valor chega a R$ 724. O setor comanda, ainda, a Exposição do Vestuário (Expovest), que movimenta a cada edição, de acordo com os números oficiais, algo em torno de R$ 20 milhões.

Serviço:

Para conhecer essa e outras histórias de cidades do Paraná, com exemplos de desenvolvimento sustentável e que souberam potencializar suas vocações, basta acessar o site da Rede APL: www. redeapl.pr.gov.br e para conhecer o cooperativismo paranaense acesse: www.ocepar.org.br

• Malhas do Município de Imbituva • Madeiras e Esquadrias de Porto União da Vitória • Confecção do Município de Maringá • Instrumentos, Equipamentos e Aparelhos. Médico-Odontológio-Hospitalares de Curitiba • Máquinas e Implementos Agrícolas de Cascavel e Região • Móveis de Metal e Sistemas de Armazenagem e Logística de Ponta Grossa • Cal e Calcário da Região Metropolitana de Curitiba • Metais Sanitários de Loanda e Região • Moda Bebê de Terra Roxa • Móveis do Sudoeste do Paraná • Louças e Porcelanas de Campo Largo • Software de Curitiba • Software de Londrina • Software de Maringá • Software de Pato Branco • Bonés de Apucarana • Vestuário de Cianorte • Mandioca da Região de Paranavaí • Móveis de Arapongas • Confecções do Sudoeste • Madeira e Móveis de Rio Negro • Instrumentos Médico-Odontológicos de Campo Mourão 24

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Fonte: APL-PR

Rede oficial APLs no Paraná



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Marketing

Verde

muito além da maquiagem

Para posicionar-se como ambientalmente responsável, a empresa precisa, em primeiro lugar, reinventar-se para ser consciente em todas as suas esferas de atuação

Ana Letícia Genaro

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xpressões como responsabilidade ambiental e consumo consciente ganham cada vez mais espaço nos discursos dos consumidores e, principalmente, das empresas. Dentro desse contexto, o Marketing Verde consolidou-se como uma estratégia de comunicação muito utilizada pelas empresas para estabelecer vantagem competitiva à frente dos seus concorrentes no mercado. “Trata-se de uma ferramenta poderosa de aculturamento, capaz de diferenciar a empresa da concorrência e, ao mes-

mo tempo, apresentar uma contrapartida coerente à sociedade”, afirma Cleuton Rodrigues Carrijo, professor do Ibmec e Estação Business School e consultor em sustentabilidade empresarial. No entanto, diz ele, essa estratégia precisa ser muito bem conduzida para não gerar percepções equivocadas que possam causar danos por vezes irreversíveis à notoriedade e reputação da marca. “O verdadeiro Marketing Verde nada tem a ver com aquela onda de modismo que invadiu o mercado nos últimos anos: um verniz corporativo


também conhecido como maquiagem verde que por fora parece ser ecológico e por dentro lança mão de processos produtivos ineficientes e que não compreende ou não internaliza o posicionamento estratégico competitivo da marca”, diz Carrijo. Tampouco, segue ele, significa apenas vestir produtos e serviços com uma roupagem ambiental, por meio da adoção de normas - como a ISO 140001 - se a empresa ou as partes interessadas ligadas a ela mantiverem algumas práticas viciosas em sua cadeia de valor sem que haja o redesenho de cada elo dessa cadeia. “Trata-se, de fato, da adoção de um processo de venda de produtos ou serviços com apelo ambiental verdadeiro, que busca impactar positivamente clientes e públicos de interesse para que aqueles que ainda não o são também se tornem verdes”, destaca o consultor em sustentabilidade empresarial.

Produtos Verdes X Consumidores • Em dez anos de pesquisas realizadas com os consumidores cariocas, o publicitário especializado em Marketing Verde e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), André Lacombe, concluiu que grande parte de seus entrevistados ainda não confia nas ofertas oferecidas pelas empresas ditas ecologicamente corretas. De acordo com ele, as empresas ainda não estão fazendo o suficiente para serem percebidas de maneira ecologicamente correta. “Identificar os padrões de produção ideais e as concepções dos produtos que vendem é fundamental, assim como avaliar até que ponto suas ofertas vão de encontro às demandas desse segmento de mercado”, afirma. Explica que, quando foram feitas simulações com os entrevistados sem dizer ao certo o objetivo da pesquisa, revela-se que há variáveis em relação ao produto - como preço e marca - que vêm em primeiro lugar e acabam tomando conta do processo decisório. “O discurso ecológico dos consumidores ainda não está em consonância com a prática. Há indícios de que antes de pensar no coletivo, o comprador ou consumidor ainda procura por soluções para suas próprias

necessidades”, afirma. Por isso, segue ele, além de informar detalhes sobre a composição dos produtos, o método produtivo e os cuidados com seu descarte pós-consumo, é preciso relacionar essas informações com os atributos dos produtos e os seus benefícios não só para o meio ambiente como também para os consumidores.

Os princípios • De acordo com Carrijo, qualquer empresa – de grande, pequeno ou médio porte, atuando em todo o tipo de segmento – pode ter um instrumento que satisfaça as expectativas dos consumidores, garantindo confiança, respeitabilidade no mercado e atratividade da compra consciente. Contudo, o Marketing Verde só pode ser realmente sustentado por empresas coerentes em todos os níveis de suas atividades. “Não basta prometer ser verde ou parecer verde. É necessário que empresas sejam genuinamente verdes”, diz. É justamente esse o primeiro princípio do Marketing Verde: garantir que a ação de comunicação integrada não seja enganosa e esteja alinhada à estratégia macro da organização. “Consiste em anunciar aquilo que se vende e entregar aquilo que se promete”, diz. O segundo princípio, diz ele, é educar consumidores por meio de um processo de aculturamento mercadológico que oriente suas escolhas, no momento da decisão de compra de qualquer bem, por meio da aceitação ou rejeição consciente. “O importante é o papel de sensibilização dos diversos públicos de interesse com seu poder de compra, mostrando que há caminhos inovadores em prol da construção de um desenvolvimento econômico efetivamente sustentável”, afirma. O terceiro princípio é engajar a sociedade nos seus diversos setores, estimulando o envolvimento de atores sociais. “Como agentes de transformação, é preciso envolvê-los numa grande corrente pra frente, que some massa crítica e junte forças para a viabilização colaborativa de um mundo mais habitável”, diz. Por sua vez, explica Carrijo, o quarto princípio evidencia a prática dos 3Rs. “Muito importantes

“Trata-se de uma ferramenta poderosa de aculturamento, capaz de diferenciar a empresa da concorrência e, ao mesmo tempo, apresentar uma contrapartida coerente à sociedade”, afirma Cleuton Carrijo, professor do Estação Business School e consultor em sustentabilidade empresarial

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para dar norteadores práticos às empresas, significam: reduzir o desperdício energético nos processos produtivos; trazer resíduos de volta à origem fabril via rastreabilidade e manufaturar reversamente o que for reaproveitável; reutilizar trabalhando com um novo conceito de materiais que podem ser infinitamente reusados dentro do processo industrial”, diz.

Percorrendo um caminho verde • No decorrer dos seus 40 anos de existência, a Natura – maior empresa de cosméticos do Brasil - percebeu que iniciativas empresariais que promovem o desenvolvimento com equilíbrios econômico, social e ambiental deixaram de ser vistas como idealistas para se tornarem imperativas. A própria visão da empresa e a maneira de trabalhar passaram, então, a ser a principal estratégia de marketing, capaz de alavancar vendas e de fortalecer a marca. “Essa mudança de percepção só reforça o nosso crescimento, baseado no compromisso com a sustentabilidade, que é a nossa razão de ser”, diz Carla Falchi, gerente de serviços de Marketing da Natura. Desde a sua fundação, a proposta da fabricante brasileira de cosméticos é utilizar ingredientes naturais em suas formulações. “Em 1987, fomos pioneiros na utilização do refil em cosméticos no país, e no ano de 2000, lançamos a linha Natura 28

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Ekos, que marcou a adoção do uso sustentável da biodiversidade brasileira como plataforma estratégica de negócios”, afirma Carla. Outro programa desenvolvido pela Natura é o Carbono Neutro, no qual a empresa assume o compromisso de reduzir em 10% as emissões absolutas de seus processos operacionais até 2010. Apostando no comprometimento cada vez maior dos consumidores com o desenvolvimento sustentável, a Natura passou a apresentar na embalagem de seus produtos a tabela ambiental. Semelhante às tabelas nutricionais, no espaço são estão disponíveis dados sobre o impacto ambiental das fórmulas e embalagens. “Estes dados visam à formação de consciência do consumidor sobre suas escolhas para o meio ambiente, a sociedade e a si mesmo”, explica a gerente de serviços de Marketing da empresa.

Crescimento garantido • O modelo de gestão da Natura, baseado na sustentabilidade, foi exatamente o que assegurou em 2009 um lucro líquido de R$ 683,9 milhões e um crescimento de 32,1% em relação a 2008. De acordo com o relatório anual de 2009, a empresa registrou um crescimento de 6,9% nas operações internacionais. Hoje, a Natura possui cerca de 160 mil consultoras e mais de mil colaboradores nos escritórios na Argentina, Chile, Peru, Colômbia, México.



GESTÃO

jerÔnimo mendes Administrador de Empresas, Consultor, Escritor e Mestre em Organizações e Desenvolvimento

Por um Brasil sustentável

F

A lei da compensação é muito clara, dá com a mão direita e tira com a esquerda. A natureza cobra seu preço

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inalmente, 500 anos depois, o Brasil foi descoberto e começa a fazer algum barulho no cenário econômico mundial com seus quase 200 milhões de habitantes e 8,5 milhões de quilômetros quadrados de área, onde tudo é possível explorar. Embora o país ainda carregue o rótulo de “o celeiro do mundo”, outros rótulos foram estabelecidos ante as diversidades cultural e ambiental que proporcionam experiências de consumo e geração de riquezas altamente promissoras, tais como: “o país do futuro”, “o país da diversidade”, “a bola da vez” e outros títulos não tão simpáticos. Há pouco menos de trinta anos, os pais mandavam os filhos ao armazém mais próximo para buscar uma ou outra mercadoria de primeira necessidade, embora o acerto de contas pudesse ser feito no fim do mês com o recebimento do salário. “Pendurar a conta” fazia parte da cultura economia local. Salvo em localidades ainda muito distantes, hoje é praticamente impossível comprar algo sem apresentar, no mínimo, o cartão de débito ou o de crédito. Nessa mesma época, era possível apinharse na casa de um vizinho afortunado para assistir aos jogos da Copa de 1970 ou mesmo na praça central, onde o espaço diante do único aparelho de TV existente na cidade era disputado pela população com algumas horas de antecedência. Quarenta anos depois, o pequeno casebre do vilarejo mais distante do país já não resiste sem uma TV de 17 polegadas e uma geladeira, graças aos investimentos em eletrificação rural e à facilidade do crédito para compra de uma antena parabólica de última geração. Nos dias atuais, ter dois ou mais aparelhos de TV dentro de casa é sinônimo de status. Por muitos anos, acompanhamos nossos pais nas missas de domingo, nas compras de fim de semana na cidade grande e nos lanches realizados fora de casa uma vez por mês, sem a menor preocupação com o carro estacionado com o vidro aberto no meio da rua. Nossos vizinhos de infância eram os melhores. Nossas casas não tinham cerca e nossas árvores não tinham donos. Nossos amigos eram in-

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gênuos, nossas escolas mais rígidas, nossos professores mais comprometidos, nossos governantes mais duros e, aparentemente, mais honestos e responsáveis. Nossos brinquedos eram montados em casa e qualquer novidade eletrônica era motivo de comemoração e inveja por parte dos colegas. Em menos de trinta anos, o Brasil tornouse a 8ª potência econômica mundial, com um modelo de acumulação de riqueza muito semelhante ao modelo econômico norte-americano. Queremos ter tudo, ao mesmo tempo e agora, com ou sem dinheiro. Se um modelo parecido fosse adotado pela China ou pelos demais países em desenvolvimento, dificilmente seria mantido em razão da sobrecarga de utilização dos recursos naturais e da má distribuição da renda. O custo do desenvolvimento econômico é cobrado em forma de desequilíbrio ambiental. É muito bom tomar dois banhos por dia, possuir dois carros na garagem, ter dois ou três aparelhos de TV, computadores, celulares, geladeiras, som e todas as parafernálias tecnológicas que a economia globalizada nos proporciona. Contudo, a lei da compensação é muito clara, dá com a mão direita e tira com a esquerda. A natureza cobra seu preço. Será que precisamos mesmo de tudo isso? Será que tudo precisa crescer? Dois ou três pares de sapatos não são suficientes? Uma única TV não uniria mais a família? Um celular não basta? Já imaginou todos os moradores de São Paulo com um ou dois carros na garagem? Ser sustentável não significa ter tudo, crescer o tempo todo, nem consumir recursos desenfreadamente. O desenvolvimento sustentável diz respeito ao aprimoramento da condição humana. A melhoria da qualidade de vida atual não deve ser obtida ao custo da degradação da qualidade de vida dos nossos netos e bisnetos. Assim sendo, os discursos político e ideológico precisam de aproximação. Equilíbrio é a palavra-chave. Ação é a palavra de ordem. Com relação a você e a mim, a parte que nos cabe já é um bom começo. Pense nisso e seja feliz!


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Fitoterapia ganha espaço no mercado e conquista novos consumidores A pesquisa científica, a inovação tecnológica e a regulamentação do setor, aliadas às possibilidades de desenvolvimento sustentável, têm dado credibilidade ao consumidor de drogas vegetais e de fitoterápicos Criselli Montipó

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ara cada enfermidade uma planta específica, um modo de preparo e um resultado. Afinal, quem é que nunca recorreu a um chazinho para aliviar uma dor, aconselhado pela vovó? O uso de plantas medicinais está relacionado à história da humanidade e da própria medicina, pois desde o início as sociedades utilizam espécies vegetais com finalidades terapêuticas, alimentares e até cosméticas. De lá para cá, observou-se a criação da indústria farmacêutica voltada à produção de medicamentos à base de drogas vegetais: a fitoterapia. Setor que ganha a cada dia mais espaço no mercado e novos consumidores preocupados com a saúde e com a sustentabilidade. Para a farmacêutica Jane Manfron Budel, doutora em Ciências Farmacêuticas, o sucesso do uso de plantas medicinais em países orientais caracterizou uma tradição herbalista forte durante vários séculos. Entretanto, mais tarde, com o crescimento da medicina ocidental, o uso de espécies vegetais teve certo declínio. “Atualmente, está ressurgindo o interesse pelas plantas medicinais por diversos motivos: como contra-indicações, efeitos colaterais, prejuízos causados pelo uso abusivo ou incorreto de medicamentos sintéticos, o fato de que a maioria da população não tem acesso a esses medicamentos e a crença popular de que o natural é inofensivo”, comenta Jane. Nesse cenário, além de as plantas medicinais serem utilizadas em forma de chás e extratos,

gargarejos ou em banhos de assento, vê-se o crescimento do mercado de medicamentos fitoterápicos. Jane – que pesquisa na área de morfoanatomia e controle de qualidade de plantas medicinais – conta que atualmente os fitoterápicos são objeto de interesses empresariais no país, pois boa parcela do faturamento da indústria farmacêutica é originada de medicamentos à base de plantas medicinais. Considera-se que esse mercado cresce, em média, 10% ao ano.

Rica biodiversidade brasileira: terra fértil para a fitoterapia • O fato de o Brasil possuir em sua flora vasta biodiversidade de espécies impulsiona a produção de fitoterápicos e produtos à base de drogas vegetais. “Possuímos a maior biodiversidade do planeta, com aproximadamente 60 mil espécies catalogadas. Apresentamos também uma grande diversidade étnica e cultural que apresenta um estimado conhecimento tradicional da utilização de espécies vegetais de uso medicinal. Entretanto, temos ainda pouca informação sobre essa diversidade. Dessa forma, acredito que a produção de fitoterápicos será intensificada quando conhecermos mais profundamente as plantas medicinais para serem utilizadas na terapêutica de forma segura e eficaz”, destaca Jane. Vale destacar que as plantas possuem inúmeros constituintes químicos que podem causar toxicidade e interações com fármacos e alimentos.

“Possuímos a maior biodiversidade do planeta, com aproximadamente 60 mil espécies catalogadas”, destaca a farmacêutica Jane Manfron Budel

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“A ideia de que não tem efeito adverso, tóxico, é errada, porque pode apresentar”, completa a farmacêutica e bioquímica Joceline Franco, que possui mestrado em Ciências Farmacêuticas, e atua na área de pesquisa sobre a composição química de drogas vegetais. A farmacêutica e bioquímica Patrícia Maria Stuelp Campelo, doutora em Bioquímica, que também pesquisa sobre a segurança e a eficácia das drogas vegetais, observa que a maioria das plantas que a população utiliza tem poucos estudos sobre seus efeitos. “Poucos sabem que o uso prolongado de uma planta pode causar efeito danoso”, exemplifica. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), apenas 15% das plantas já foram estudadas, o que no Brasil é pouco, diante de sua biodiversidade.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), apenas 15% das plantas já foram estudadas

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Políticas públicas impulsionam o setor • A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, implantada em 2006 e antecedida pela também vigente Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, busca estabelecer as diretrizes para a atuação do governo na área de plantas medicinais e fitoterápicos. Ela foi elaborada a fim de constituir parte essencial das políticas públicas de saúde, meio ambiente, desenvolvimentos econômico e social como um dos elementos fundamentais de transversalidade na implementação de ações capazes de promover melhorias na qualidade de vida da população brasileira. De acordo com o texto dessa política, embora a medicina moderna esteja bem desenvolvida na maior parte do mundo, a OMS reconhece que grande parte da população dos países em desenvolvimento depende da medicina tradicional para sua atenção primária, tendo em vista que 80% dessa população utilizam práticas tradicionais nos seus cuidados básicos de saúde e 85%

fazem uso plantas ou preparações delas. Ainda, segundo essa política, estima-se que aproximadamente 40% dos medicamentos atualmente disponíveis foram desenvolvidos direta ou indiretamente a partir de fontes naturais, assim subdivididos: 25% de plantas, 12% de micro-organismos e 3% de animais. Das 252 drogas consideradas básicas e essenciais pela OMS, 11% são originárias de plantas, e um número significativo é composto por drogas sintéticas obtidas de precursores naturais. O Sistema Único de Saúde (SUS) divulgou, em 2009, a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus), constituída de espécies vegetais com potencial para subsidiar o desenvolvimento de toda cadeia a produtiva, inclusive nas ações que serão desenvolvidas também pelos outros ministérios participantes do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Neste ano, o Ministério da Saúde deve lançar a Relação Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Renafito) que visa estimular o uso desses produtos no SUS. Nesse contexto, os consumidores passaram a priorizar o consumo de medicamentos fitoterápicos, além de alimentos saudáveis, como sucos e chás. Essa mudança de comportamento, segundo Jane, está relacionada à busca de hábitos saudáveis de vida. “As plantas, como alimentos ou fármacos, quando utilizadas corretamente, podem proporcionar uma série de benefícios para o equilíbrio do organismo, bem como para prevenção e cura de enfermidades”, salienta a farmacêutica. Outro fator, levantado por Patrícia, é o econômico. “Antes, o boticário, o médico farmacêutico usava plantas nos tratamentos. Com a industrialização, isso diminuiu, também pelo interesse da indústria. Agora, com o problema econômico, falta de possibilidades para adquirir medicamentos


comerciais e o alto custo dos medicamentos, as pessoas voltaram a usar as plantas medicinais”. Entretanto, quando se trata de medicamento fitoterápico, Joceline adverte que o preço pode ser ainda mais caro do que dos medicamentos sintéticos, pois os processos de controle de qualidade acarretam custo maior.

Pesquisa e inovação tecnológica • Embora tenha crescido o incentivo para profissionalização e inovação tecnológica na área, há ainda, muito a avançar. Segundo Jane, a indústria de fitoterápicos tem investido na pesquisa e no desenvolvimento de novas tecnologias de modo a buscar fármacos de origem vegetal que apresentem efeito farmacológico. Esse é o foco de trabalho do Herbarium Laboratório Botânico, localizado em Colombo, a 15 quilômetros de Curitiba. Fundado em 1985, o Herbarium é um dos maiores laboratórios brasileiros especializados em medicamentos fitoterápicos. Hoje, é líder no mercado, com cerca de 60 medicamentos fitoterápicos e mais de cem produtos na

linha (incluindo suplementos alimentares). “A fitoterapia vem se consolidando, principalmente, pela questão científica. A própria indústria fitoterápica vem inserindo tecnologia para oferecer produtos com segurança”, conta Anny Trentini, farmacêutica e gerente da Divisão Técnica do Herbarium. Ela ressalta que a Anvisa exige estudo clínico e um rígido controle de qualidade para que os fitoterápicos cheguem ao mercado. “As empresas regulamentadas recebem auditorias regularmente”, ressalta. O marco regulatório do setor, segundo ela, é a última decada do século 20, mas já no início daquele século havia normas a serem seguidas. “Há empresas que colocam produtos irregulares, mas isso também ocorre com medicamentos sintéticos”, considera. Anny ressalta, entretanto, que essa realidade vem mudando, com mais fiscalização e pesquisa. O Brasil passou a seguir o modelo europeu, onde a fitoterapia já foi bastante estudada. Joceline salienta que a expansão desse mercado também ocorre pelo crescimento na prescrição de fitoterápicos por mais profissionais de

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“A Fitoterapia vem se consolidando pela questão científica”, conta Anny Trentini, gerente da Divisão Técnica do Herbarium

saúde. Hoje, dentistas, médicos e nutricionistas podem receitar este tipo de medicamento que, pouco a pouco, também vem sendo inserido na medicina veterinária. Além disso, como lembra Anny, os próprios consumidores buscam o tratamento fitoterápico. “Os sistéticos evoluíram de forma tal que são muito específicos ao atingirem a doença, o que acarreta mais efeitos colaterais. Já o medicamento fitoterápico tem efeitos colaterais mais amenos, porque não tem um princípio sintetizado”. O aumento no número de prescritores também favorece o crescimento de outro mercado: o da educação. Joceline e Patrícia coordenam uma especialização em Fitoterapia Aplicada na Área de Saúde, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC). Nas Faculdades Integradas do Brasil há o curso de pós-graduação em Fitoterapia Clínica Avançada. E outros tantos surgem Brasil afora. A demanda de formação de profissionais de saúde para atuar na área surge a partir das políticas públicas do setor. Jane, que é coordenadora do curso de Farmácia das Faculdades Integradas do Brasil e membro da Comissão de Ensino do Conselho Regional de Farmácia, é líder do grupo de pesquisa Investigação química e biológica de plantas medicinais, que analisa espécies vegetais brasileiras sob os pontos de vista químico e biológico com a finalidade de fornecer subsídios de classificação das espécies e como ferramenta para o controle da qualidade.

Estímulo à cadeia produtiva • As empresas também buscam aprimorar o estudo científico na área de fitoterapia, como lembra Anny. O Herbarium, por exemplo, realiza uma parceria com produtores de plantas medicinais, tendo como objetivo o cultivo e o manejo sustentado de espécies vegetais que a empresa utiliza para a produção de seus produtos, como o xarope de guaco, ou para a produção de extratos vegetais. Atualmente, o laboratório conta com dois parceiros, a Sustentec, uma associação de produtores do oeste do Paraná e a Universidade de Campinas, de São Paulo, para a produção de guaco, espinheira santa, centela asiática e maracujá. O projeto, chamado Flora Verde, busca estimular a cadeia produtiva de plantas medicinais; promover o uso sustentável da biodiversidade brasileira; e incentivar a melhoria da qualidade das matérias-primas vegetais, garantindo o acesso da população a fitoterápicos seguros e eficazes, entre outros. Nesse sentido, a inciativa privada alavanca a agricultura familiar, atendendo à Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Anny 36

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salienta que é possível ter rentabilidade maior por metro quadrado de produção comparado a outras culturas. Portanto, segundo ela, há a oportunidade de desevolvimento sustentável no segmento de fitoterapia. Jane considera que essa é uma alternativa econômica para os agricultores, pois áreas manejadas de maneira sustentável podem oferecer matériaprima de boa qualidade para serem utilizadas na indústria de fitoterápicos. Essa alternativa diminuiria o extrativismo das espécies medicinais. “Alguns pontos de vista devem ser observados na comercialização do produto, como contatar as possíveis indústrias antes de iniciar a cultura, acompanhar os preços executados e as espécies vegetais de interesse do mercado”, sugere. Dessa forma, as importâncias terapêutica, econômica e ecológica de espécies brasileiras, bem como o risco de sua extinção pelo extrativismo, têm motivado estudos dessas plantas, visando sua preservação, seu aproveitamento racional e a manutenção do equilíbrio entre a exploração e a substituição dessas espécies vegetais.

Vale lembrar que o Brasil é signatário da Convenção sobre Diversidade Biológica, acordo estabelecido no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) que é integrado por 188 países, e que objetiva a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos. A Sustentec – Produtores Associados para Desenvolvimento de Tecnologias Sustentáveis – uma entidade da organização da sociedade civil de interesse público, com sede no município de Pato Bragado, criada em 2003, visa promover a preservação e a conservação do meio ambiente por meio do incentivo ao desenvolvimento sustentável. A entidade – que atua na cadeia produtiva de erva mate e plantas medicinais – reúne 25 agricultores, destes, 17 têm áreas de cultivo de plantas medicinais. Conta, também, com técnicos e profissionais com conhecimento e experiência em processos de secagem de plantas medicinais. A entidade realiza, inclusive, um projeto de secagem e beneficiamento de plantas medicinais em


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parceria com a Itaipu Binacional. “O ambiente de beneficiamento e secagem é um dos pontos cruciais no processamento de plantas medicinais por influenciar na qualidade da matéria-prima que será utilizada na produção dos medicamentos e por requerer técnicas altamente específicas para cada espécie medicinal”, salienta Euclides Lara Cardozo Júnior, presidente da Sustentec. Os agricultores associados, que antes plantavam fumo, procuraram uma cultura menos agressiva, e hoje são adeptos da produção agroecológica. Com meio ou um hectare e meio já é possível produzir diversas espécies de plantas medicinais. “Incentivamos o pluricultivo, e a rentabilidade é de um salário mínimo por área, o que demonstra que tem valor agregado”, conta Cardozo Junior, que é farmacêutico e bioquímico, com doutorado em Agronomia - Produção Vegetal. “O Brasil foi descoberto porque os europeus

estavam em busca de especiarias como canela, cravo, plantas aromáticas, condimentares e medicinais, portanto, temos um relacionamento umbilical com a produção de plantas medicinais. O que faltava era um ambiente seguro, estabelecido com base na Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos”, ressalta. Para Cardozo Júnior, é este ambiente seguro que tem feito com que cada vez mais profissionais de saúde estejam abertos à ideia de utilizar medicina fitoterápica em sua prática clínica. Em março, os associados inauguraram a Unidade de Produção de Extrato Seco de Drogas Vegetais, construída com recursos públicos e privados, que produzirá extrato seco aos 29 municípios da Bacia do Paraná 3, com perspectiva de exportação para países como Espanha, Itália e Japão. Internamente, a meta é atender à demanda do Programa Saúde da Família (PSF) dos municípios, a partir de produtos naturais e orgânicos.

Drogas vegetais, fitoterapia e medicamentos fitoterápicos É importante esclarecer a diferença entre drogas vegetais, fitoterapia e medicamentos fitoterápicos. Segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, droga vegetal é a planta medicinal ou suas partes, após processo de coleta, estabilização e secagem, podendo ser íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada. Já a fitoterapia é a terapêutica caracterizada pela utilização de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal. Os fitoterápicos são medicamentos obtidos empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. A sua eficácia e segurança são validadas por meio de levantamentos etnofarmacológicos de utilização, documentações tecnocientíficas em publicações ou ensaios clínicos. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais. É a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 48, de 16 de março de 2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que trata do registro de medicamentos fitoterápicos. A RDC 48 abrange medicamentos que apresentam princípios ativos exclusivamente derivados de drogas vegetais, sendo caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Os fitoterápicos sofrem processos mais elaborados e são consumidos em formas farmacêuticas como cápsulas, comprimidos e xaropes. A RDC 10, por sua vez, que foi publicada dia 10 de março deste ano, regulamenta a notificação, a produção, a embalagem, o folheto informativo e os testes de qualidade e identidade de cerca de 70 drogas vegetais, após processos de coleta e secagem, podendo ser vendidas na íntegra, rasuradas, trituradas ou pulverizadas. Adicionalmente, os locais de venda deverão cumprir as Boas Práticas de Fabricação, para evitar contaminação. A população poderá, por meio dessa regulamentação, esclarecer dúvidas sobre como obter os efeitos terapêuticos das plantas medicinais, que podem ser usadas na forma de chás, compressas e até banhos de assento. O uso equivocado dos termos fez com que a Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (Abifisa) emitisse recentemente uma nota de esclarecimentos à imprensa, que vinha utilizando os termos erroneamente.

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Fábio André Chedid Silvestre

Políticas Públicas

Advogado, Especialista em Direito Empresarial Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas

No Paraná, uma proposta que se torna cada vez mais viável, é a formatação de um Geoparque que englobe os campos gerais

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Geoparques

O patrimônio cultural como elemento para o desenvolvimento sustentável

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as muitas formas em que uma nova economia mundial pós-crise pode se desenvolver, as que decorrem do uso sustentável das diversas regiões do planeta saltam em primeiro lugar. A tradicional exploração indistinta das porções de áreas disponíveis aos processos produtivos humanos tende a adotar formas mais orgânicas e menos físico-racionais, ou seja, não são apenas territórios de exploração de quantidades, mas locais de convivência sociocultural, ainda que mantidas as interações de produção e distribuição de recursos. Dessa maneira, a segmentação de ambientes característicos, por suas qualidades geológicas, sociopolíticas, culturais e econômicas permitem novas modulações e novos processos de adequação produtiva. Nessa medida, podemos falar em Desenvolvimento Regional, seja lá como se faça o corte do arranjo de produção existente. Boa forma de observar esse fenômeno é o que se denomina Região Metropolitana, uma formulação de política urbanística capaz de antever e construir as inter-relações decorrentes dos fenômenos conurbatórios. Outra modelagem regional pode ser observada no que se denomina de geoparque, que nos dizeres da Unesco é “um território de limites bem definidos com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento socioeconomico local. Deve abranger um determinado número de sítios geológicos de relevo ou um mosaico de entidades geológicas de especial importância científica, raridade e beleza, que seja representativa de uma região e da sua história geológica, eventos e processos. Poderá possuir não só significado geológico, mas também ao nível da ecologia, arqueologia, história e cultura” (http://pt.wikipedia.org/ wiki/Geoparque). Nesse sentido, Geoparques não se referem exatamente às rochas, mas às pessoas e suas interações no ambiente. Esses elementos característicos são, na verdade, encontrados também na Constituição Federal do Brasil como garantias e como competência do Estado. Assim, verificamos que os geoparques

são formas jurídicas de acautelamento e preservação do Patrimônio Cultural, e que respeitam características técnicas. No Brasil, só há um Geoparque reconhecido pela Unesco, o do Rio Araripe, no Ceará (www.geoparkararipe.org). No Paraná, uma proposta que se torna cada vez mais viável, é a formatação de um Geoparque que englobe todas as áreas conhecidas como Campos Gerais do Paraná, por suas características geológicas, histórico-culturais, econômicas e macrorregional. Trata-se uma das regiões mais ricas do país, pelos seguintes itens: a) economicamente, em função da agroindústria cooperativa e tecnologicamente avançada; b) geologicamente em função de locações como Vila Velha e o Canyon do Guartelá; c) culturalmente em face de uma história colonial riquíssima, representada nas 34 Fazendas Tropeiras, em cidades como Castro, Tibagi, Lapa e mais recentemente num conjunto de celebrações étnicas, como em Carambeí, como no Centenário da Imigração Holandesa nos Campos Gerais. Num típico resultado desse adensamento geopolítico e cultural, outras representações estruturantes surgem nessa região, providenciando uma plataforma de resgate dos conhecimentos (saberes e fazeres), integrados por políticas de qualificação regional. Assim, projetos ousados como o Parque Histórico de Carambeí (www.parquehistoricodecarambei.com.br) apresentam-se como elemento indutor de APL (arranjo produtivo local) e de vocação regional. É um local para celebração nacional da etnia holandesa, bem como ferramenta ativa de turismo cultural, calcada em pedagogias de sustentabilidade que envolve a formação de um público usuário local e o receptivo de turistas de todas as partes do mundo. Assim, o desenvolvimento sustentável possui muitas formas de realizar-se englobando toda a sociedade e responsabilizando cada um dos atores dentro de suas identidades, providenciando o máximo de suas capacidades. O Brasil merece esse Geoparque dos Campos Gerais.



rosimery de fátima oliveira

Meio Ambiente

Especialista em diagnóstico e planejamento sistêmico

...os reis presentes sabem que o que é de todos não é de ninguém, por isso que eles eram reis

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O que é de todos...

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stamos no campo das suposições. Em um reinado distante, vasto e razoavelmente desenvolvido, tudo ocorria bem. O rei era um só, amado pelos seus súditos e reconhecido internacionalmente como um chefe de Estado e de governo carismático. A nobreza e a alta burguesia do reino não eram numerosos, mas estavam satisfeitos. A baixa burguesia era bem maior que a alta e estava um pouco contrariada. Já o povo era bem mais que a soma de todos os outros grupos. Todo esse povo acordava cedo, trabalhava e dormia cedo para poder trabalhar no dia seguinte. Os mais necessitados ganhavam todo o mês uma cesta de alimentos enviada pelo rei. Um belo dia aconteceu algo muito estranho nesse reinado. Todos os papéis sumiram. Documentos, livros, jornais. Tudo. Todas as matrizes gráficas e todos os equipamentos para reprodução. Enquanto os órgãos de segurança do reinado tentavam elucidar o mistério, o rei começou a ficar aflito e chamou seus ministros. - Todas as leis sumiram. Precisamos nos organizar e reescrevê-las, pois não quero ser conhecido internacionalmente como “o rei sem lei”. E os ministros começaram a escrever novamente as leis do reino. Mas a nobreza e a alta burguesia ficaram sabendo e reivindicaram participação. Não havia como negar; praticamente todos os serviços do reinado estavam nas mãos deles! O trabalho foi reiniciado e, como agora havia muitos interesses, organizaram uma comissão, que ficou conhecida como Comissão Real de Estabelecimento da União ou CREU. A baixa burguesia ficou sabendo da situação e queria também participar. Era a chance de defender seus interesses. Mas ela não conseguia se organizar, pois eram muitos interessados na representação e ninguém queria ceder para ninguém. Também a criação do CREU resultou em mais uma taxa real e a baixa burguesia precisou correr atrás de mais um prejuízo. O povo não ficou sabendo de nada. E mesmo que soubessem eram tantos que não saberiam se organizar a tempo para qualquer reivindicação. Finalmente, depois de alguns meses, o CREU finalizou o trabalho que foi apresentado ao rei. Ele considerou que o trabalho estava muito extenso – para que tantas leis? – e sentiu falta de um tópico. - Onde estão as leis ambientais? - Leis ambientais? Elas existiam? Perguntou o representante do CREU. - Não sei se tínhamos, mas todos os reinados desenvolvidos têm e eu não quero ficar para trás. E o CREU foi novamente convocado. Nenhum

representante entendia de meio ambiente então resolveram convocar uma reunião com alguns especialistas no assunto. - O reino tem vários problemas relativos ao meio ambiente. Um dos mais urgentes é os das enchentes, desmoronamentos e inundações. - Mas as enchentes e inundações não são causadas pela chuva? Perguntou o presidente do CREU. Podemos editar uma lei que pare as chuvas? E todos riram. O especialista não se abalou com a demonstração de ignorância e continuou. - A nova lei ambiental deve garantir que a vegetação natural seja mantida ao longo dos cursos de água e das nascentes. Também deve proibir qualquer tipo de edificação em encostas. - O reino é um vale e temos muitas encostas onde o povo mora. Os lugares seguros são propriedade do rei. Não podemos alterar isso. - Então a lei deve proibir que se impermeabilize o solo destes lugares com calçadas e castelos. A água precisa de local para ser absorvida pelo solo antes de chegar aos rios. Todos os representantes do CREU riram. Imaginem modificar as lindas calçadas do reino, famosas no mundo todo! Outro especialista foi chamado. - Não podemos utilizar combustível fóssil como base energética, pois é um recurso finito e muito poluente. A lei deve favorecer a pesquisa e o uso de fontes alternativas de energia. - Mas logo agora que descobrimos uma imensa fonte de petróleo no subsolo do reino? Não, não podemos fixar esta lei. E assim foi. Vários especialistas se pronunciaram, mas em vão. Nem uma única lei foi escrita. Precisavam comunicar o rei. O rei ouviu os relatos em silêncio. O grande banquete anual para todos os monarcas importantes do planeta seria no dia seguinte e ele havia preparado um belo discurso onde a questão ambiental era fundamental. Ele dispensou a CREU e ficou o resto do dia meditando. No dia seguinte as leis estavam completas e modernas. A lei ambiental tinha apenas um artigo escrito pelo próprio rei. E naquela mesma noite, perante os soberanos mais importantes da Terra o rei pronunciou seu discurso e sua lei ambiental: “O meio ambiente é de todos e cabe a todos o dever de zelar por ele”. E foi aplaudido de pé. Porque todos os demais reis presentes sabem que o que é de todos não é de ninguém. Por isso, eles eram os reis. (Texto inspirado na obra de 1863 “O que é uma Constituição” de Ferdinand Lassalle: e-book em http://www.ebooksbrasil.org/ eLibris/constituicaol.html). Versão completa desse artigo no link: http://revistageracaosustentavel.blogspot.com/2010/04/ artigo-o-que-e-de-todos.html



Gestão de Resíduos

Ben-Hur, Sarco

Bitucas, latas e restos de tintas estão com os dias contados no Paraná Produtores e distribuidores de cigarros e tintas procuram soluções para seus resíduos

Lyane Martinelli

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esíduos sólidos de produtos como cigarro e tintas, com suas latas, ainda fazem parte de um grupo de materiais que não tem destino claro após o consumo. Hoje, de acordo com estimativas da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, só em Curitiba são jogados no chão, diariamente, cerca de 1,5 mil quilos de filtros de cigarro. Mesmo com os serviços de limpeza urbana diária e a coleta específica

de materiais tóxicos pela capital, ainda é muito elevado o número de resíduos desses materiais que permanecem na natureza sem tratamento em Curitiba e também em todo o Estado. Com o objetivo de estimular as empresas a pensar em novas soluções para a destinação de resíduos específicos, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Paraná promoveu em março uma reunião com representantes das indústrias


produtoras de cigarro, tintas e seus distribuidores. Na reunião, a Secretaria oficializou no Estado a cobrança da responsabilidade dessas empresas pelos resíduos gerados por seus produtos após o consumo. “Essa responsabilidade já está prevista em lei, mas o nosso objetivo vai além da cobrança. Nós queremos trazer as empresas para perto do governo, assim poderemos desenvolver um trabalho em parceria para dar o destino certo a esses resíduos”, explica o secretário estadual do Meio Ambiente, Rasca Rodrigues. A secretaria já marcou novas reuniões em que as empresas terão de apresentar iniciativas para mudar a realidade da destinação de resíduos específicos como bitucas de cigarro, latas e restos de tintas. Os dois setores ainda não têm estratégias prontas para atender às cobranças, mas estão em grande movimento, pensando sobre as possibilidades que vão ser apresentadas à Secretaria. Nesse curto espaço de tempo, as empresas preparam as suas primeiras providências relativas aos seus resíduos, mas o objetivo da iniciativa

do governo é que essas ações sejam contínuas e mostrem à população o quão importante é essa preocupação com os resíduos sólidos e o quanto produtores, consumidores e autoridades deverão estar em sintonia para gerar bons resultados para os próximos anos. Latas e tintas • O segmento de tintas, que deve apresentar suas ideias em 60 dias, já prepara sua posição. As grandes empresas do setor, entre elas a Suvinil, estão alinhadas com a Associação Brasileira de Fabricantes de Tintas (Abrafati). Seguindo o posicionamento da associação, as empresas acreditam que uma ação conjunta trará melhores resultados das providências exigidas. De acordo com o presidente-executivo da Abrafati, Dilso Ferreira, “ainda estamos desenvolvendo o projeto para apresentação à Secretaria, mas, certamente, as ações de conscientização ocuparão lugar de destaque na estratégia”. Há alguns anos, a Abrafati, junto às empresas do segmento de tintas, trabalha com ações de conscientização do consumidor. A associação

Serviços: • Análises de água (água potável, mineral, purificada, in natura, termais e outras); • Análises de efluentes domésticos e industriais; • Análises de solos (Passivos, fertilidade, compostagem, outros); • Análises de alimentos; • Análises de resíduos (classificação NBR 10.004/2004, coprocessamento, compostagem, outros); • Análises ocupacionais (NR 15-MT, ACGIH, NIOSH, OSHA); • Testes de ecotoxicidade aguda e crônica – Biomonitoramento Ambiental; • Análises de metais preciosos em minérios, metais pesados em diversas matrizes ambientais por Absorção Atômica; • Testes de compostos orgânicos por cromatografia gasosa; • Controle de qualidade de fármacos e matérias-primas.

REB LAS

Os dois setores ainda não têm estratégias prontas para atender às cobranças, mas estão em grande movimento pensando sobre as possibilidades que vão ser apresentadas

Qualidade total em laboratórios

LABORATÓRIO CERTIFICADO NBR ISO 9001:2008 / NBR ISO 14001:2004 / NBR ISO IEC 17025:2005

Teclab Tecnologia em Análises Ambientais Rua Paulo Scherner, 425 - 83040-140 São José dos Pinhais (PR) Fone/Fax: (41) 3398-3651 / 3556-1942

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Gestão de Resíduos

produz e distribui um material gráfico explicativo sobre a destinação correta dos restos de tintas, solventes e suas latas. Nesse material, a entidade procura mostrar, de forma facilitada, quais as ações corretas para o descarte dos resíduos do produto. As instruções do material são claras quanto à importância de não lavar as latas de tinta com água corrente e de não guardar tintas para reutilização em um longo espaço de tempo, por exemplo. Ainda segundo Ferreira, já ocorre em algumas siderúrgicas do Paraná um recolhimento informal das latas de tinta e solventes. O objetivo é formalizar essa ação junto às empresas produtoras de tintas, contribuindo para a elevação do número de latas recicladas no Estado e no país.

Bitucas pelo chão • O segmento produtor de cigarros, por sua vez, ganhou da Secretaria Estadual de Meio Ambiente 90 dias para apresentar suas soluções, mas ainda não há um posicionamento específico sobre as ações que serão feitas para ordenar o descarte de bitucas de cigarro. Nesse sentido, ao contrário das empresas produtoras de tinta, a indústria do tabaco não tem nenhuma ação anterior de conscientização de seus consumidores sobre a necessidade de dar o destino correto ao resíduo do cigarro – produto que contém substâncias tóxicas e que, além de fazer mal ao meio ambiente, também traz prejuízos à saúde de seus consumidores. A Phillip Morris, maior produtora de cigarros do Brasil e uma das maiores do mundo, afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que ainda não considera apropriado discutir o posicionamento da empresa para atender à solicitação da Secretaria.

Isso porque a solicitação formal ainda está sendo analisada pela empresa. Porém, o informe dá noção do que a empresa pensa a respeito. “Apesar de muitos de nossos consumidores já descartarem resíduos de maneira adequada, consideramos importante continuar a lembrá-los sobre a necessidade de descartar os resíduos de maneira responsável”, diz o informe. Já a Souza Cruz, segunda maior produtora de cigarros no Brasil, não se posicionou sobre as medidas que irá tomar para se adequar à exigência do governo do Paraná. Enquanto as empresas de cigarro se mantêm distantes da conscientização de seus consumidores sobre o descarte correto dos resíduos de seus produtos, outras ações do governo e da população buscam soluções para o problema. Está em trâmite na Câmara Municipal de Curitiba o projeto da vereadora Noêmia Rocha (PMDB), que prevê a proibição de descartar bitucas de cigarro em ruas, parques e praças da capital. Como alternativa de descarte, o projeto sugere que sejam instaladas lixeiras de material antichamas nos lugares com maior concentração de pessoas, as chamadas “bituqueiras”. Outros projeto interessante é da empresa CleanBeach, do Rio Grande do Sul. Ela é a responsável pela concepção da “lixeirinha ecológica”. Com pouco mais de 15 centímetros de altura e no formato de casquinha de sorvete, ela é feita de material reciclável e não descartável, projetada especialmente para “guardar” pequenos lixos, como bitucas de cigarro e canudos. Utilizada em locais como praias e festas, ela serve de “portalixo” até que o consumidor possa ir até uma lixeira e fazer o descarte correto do material.

Resíduos viram combustível para fornos Tratando-se de reaproveitamento de materiais e resíduos, um bom exemplo é a empresa Essencis Soluções Ambientais S/A. A empresa, com sede em São Paulo e filial em Curitiba, utiliza resíduos como de tintas e solventes, para a composição de um de seus produtos. O blame, como é chamado, é feito com materiais de diversas naturezas, incluindo borras de tintas e restos de tintas e solventes. Esses resíduos passam por várias etapas de tratamento, em que ocorrem diversas transformações químicas e físicas, até chegar ao estado final, que pode se apresentar nas formas líquida, pastosa ou sólida, dependendo do seu uso. A gerente de meio ambiente Gabriela Fernandes, responsável pelo processo na filial da Essencis em Curitiba, explica que os materiais utilizados nesse processo vêm de diversas fontes. “Temos resíduos que vêm em escala industrial e outros em menor quantidade. Todo o material é oriundo de empresas previamente cadastradas conosco”, afirma. O resultado desse processamento é revendido para empresas cimenteiras, como a Votorantin, que o utilizam como combustível para os grandes fornos.

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL


Avaliando os Impactos da Insustentabilidade trospecção acerca da alma e do fazer brasileiros, teria comentado que nem muito planejamento seria capaz de produzir tamanho improviso. As consequências deste improviso estão a nos fustigar quase que cotidianamente ao vivo e em cores. Não podemos ficar cativos de nossa história calcada em improvisos, interesses pessoais e jogos políticos de curto prazo. O Brasil, ou antes, este continente já habitado quando o explorador europeu aqui pisou, merece mais do que tem sido oferecido por aqueles que se apegaram aos meios e a máquina burocrática que deveria servir aos interesses do bem público. A ação local fica prejudicada e de fato sempre o foi, num país onde o Estado nasceu antes da sociedade a quem deveria servir como bem argumentou Raimundo Faoro. Precisamos, com urgência, romper esta nossa forma de fazer e, valendo-nos do que o conhecimento acumulado e a tecnologia permitem, buscar as soluções que nos farão uma nação sustentável e capaz de realmente liderar os homens e mulheres de boa vontade neste planeta. Sem previsão bem fundamentada e a construção de uma infra-estrutura adequada que permita a convivência civilizada de todos os segmentos sociais, não há como esperar soluções salvadoras. As catástrofes farão efetivamente parte de nosso cotidiano. A ação local e a formação de agentes capazes de articular e mobilizar suas comunidades pede a participação de todos sem exceção. Os desafios e tarefas dos próximos governantes serão de difícil resolução sem o engajamento social e as definições das prioridades locais. Os instrumentos que favorecem uma governança participativa hoje existem na maioria dos municípios e podem ser ativados pela comunidade local. As audiências públicas garantidas pela legislação, o acompanhamento do Plano Diretor do município, a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, entre outros meios, permitem uma ação mais próxima e efetiva da população. A ideia da formação de agentes de desenvolvimento local pode alavancar esta participação, canalizando e facilitando o entendimento e o acesso a estes instrumentos, nos aproximando mais de uma democracia participativa e não apenas representativa.

Desenvolvimento Local

A

importância da ação local frente os cataclismos globais que tem assolado praticamente todas as regiões do nosso globo terrestre, não só é requisito necessário, como também o é premente. Nunca antes na história deste país foram tão evidentes as consequências do improviso e da falta de conhecimento especializado aplicado aos problemas que afligem a maioria da população brasileira. De uma fase de planejamento sem o envolvimento da sociedade em eras mais recentes, passamos ao extremo oposto onde a falta de ação planejada e compartilhada, coloca em risco a própria sustentabilidade de uma vida cidadã harmônica e produtiva. A ausência do envolvimento efetivo dos agentes locais nas decisões governamentais é preocupante e deveria ser objeto da atenção de qualquer cidadão consciente e com um mínimo de entendimento do papel do Estado numa concepção contemporânea ciente, porém, do seu significado e evolução histórica. Projetos e programas de impacto nacional e mesmo global, estão sendo decididos em gabinete fechado no melhor estilo dos governos autoritários outrora execrados e pela superação dos quais muitos dirigentes da atualidade cerraram fileiras. Desastres ambientais e sociais que têm nos assombrado recentemente não podem ser vistos simplesmente como tragédias próprias do destino humano. Tragédia é algo que, mesmo que como possibilidade, é resultado de fatores imprevisíveis pouco amenos ao poder humano. Qualquer outra coisa é risco calculado. Quando uma comunidade assume como normal avançar sobre áreas que o próprio bom senso informa não ser algo prudente ou inteligente, é de se indagar o que, afinal, dá sustentação racional para a sua ação. Qual é o entendimento vigente sobre direitos e deveres? Será que sabemos o que é contrato social? Nossos representantes, em sua grande maioria, fazem questão de demonstrar que não o sabem. E os indivíduos integrantes deste coletivo que costumamos chamar de sociedade brasileira? Será que sabem? Onde se ensina isso atualmente? Em casa? Na escola? Na TV? Nos estádios de futebol? Nelson Rodrigues, na sua sempre sábia in-

Marcos Schlemm Administrador pela UFPR, Mestrado e Doutorado nos EUA. Assessor da Direção Regional no Sistema FIEPPR

A ação local sempre fica prejudicada em um país onde o Estado nasceu antes da sociedade

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Publicações e Eventos

José Carlos Barbieri Jorge Emanuel Reis Cajazeira

Responsabilidade social, empresarial e empresa sustentável

fio porque ainda não existe um consenso universal sobre o real significado do termo e os assuntos que estão inseridos no conceito ainda estão em construção. De fato, nós da ISO temos dado uma contribuição a este debate por meio do grupo de trabalho sobre Responsabilidade Social que desenvolve a futura norma ISO 26000 para orientar esse tema tão variado, complexo e quase sempre controverso.

• A L A N B RY D E N

Secretário-geral da ISO – International Organization for Standardization

Conheça o site do livro e as demais novidades do nosso catálogo no endereço:

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Responsabilidade social, empresarial e empresa sustentável

Se a abordagem usada pelos autores é muito abrangente, na intenção de refletir sua complexidade, corre-se o risco de tratar o tema com superficialidade. Se os autores focam demais em uma questão ou em um grupo pequeno de temas, fica difícil transmitir uma visão geral da ampla gama de conceitos envolvidos. Entretanto, os autores deste livro foram hábeis em evitar essas duas armadilhas e conseguiram comunicar toda a riqueza que o verdadeiro entendimento do conceito de responsabilidade social requer, tanto na profundidade quanto na abrangência.

José Carlos Barbieri Jorge Emanuel Reis Cajazeira

Escrever sobre Responsabilidade Social é um verdadeiro desa-

Responsabilidade Social Empresarial e Empresa Sustentável Da teoria à prática

José Carlos Barbieri é mestre e doutor em Administração, é professor do Departamento de Administração da Produção e Operações da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP-POI) desde 1992. Foi professor em renomadas instituições de ensino superior, como a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). É professor do programa de pós-graduação stricto sensu da EAESP, da linha de pesquisa em gestão ética, socioambiental e de saúde. Pesquisador e coordenador de diversos projetos de pesquisa nas áreas de gestão da inovação, do meio ambiente e da responsabilidade social. Coordenador do Centro de Estudos de Gestão Empresarial e Meio Ambiente da FGV/EAESP. Membro do Fórum de Inovação da FGV/EAESP. Participou da comissão do INMETRO para criação de normas sobre certificação de sistemas de responsabilidade social. Participa de comitês científicos de diversas revistas e congressos científicos, nacionais e internacionais, e de várias agências de fomento. CONTATO COM O AUTOR:

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E EMPRESA SUSTENTÁVEL José Carlos Barbieri e Jorge Emanuel Reis Cajazeira

barbieri@editorasaraiva.com.br

Jorge Emanuel dos Reis Cajazeira. Engenheiro mecânico pela Universidade Federal da Bahia,mestre e doutor pela FGV/EAESP. Executivo da área de competitividade da Suzano Papel e Celulose, onde trabalha desde 1992. Eleito pela revista Exame, em 2005, como um dos quatro executivos mais inovadores do Brasil. Foi expert nomeado pela ABNT para a redação das normas ISO 9001 e ISO 14001 (1995-2004), coordenou os trabalhos para a criação da norma NBR 16001 – Responsabilidade Social e presidiu a comissão do INMETRO para criação de um sistema nacional para certificação socioambiental. Em 2004, foi eleito o primeiro brasileiro a presidir um comitê internacional da ISO, o Working Group on Social Responsibility (ISO 26000). É membro do comitê de critérios da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), coordenador do comitê de inovação e ativos intangíveis (FNQ) e ex-presidente do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre). CONTATO COM O AUTOR:

Editora SARAIVA

aquecimento global e créditos de carbono rafael pereira de souza (ORG.) editora quartier latin

Auditoria ambiental florestal Julis orácio felipe editora clube dos autores

ORGANIZAÇÕES INOVADORAS SUSTENTÁVEIS José Carlos Barbieri Moysés Alberto Simantob Uma reflexão sobre o futuro das organizações José carlos barbieri moysés alberto simantob Editora atlas

gestão para a sustentabilidade Julis orácio felipe editora clube dos autoresEditora atlas

cajazeira@editorasaraiva.com.br

MANUAL DO EMPREENDEDOR Como construir um empreendimento de sucesso jerônimo mendes editora atlas

Comitê de Embalagens Realizou-se em Curitiba, no dia 24 de março, a primeira reunião para criação do comitê para apreciação, avaliação e fiscalização das embalagens produzidas e em trâmite no Estado do Paraná. O objetivo desse comitê é gerar e discussão e a conscientização para minimizar o impacto e também discutir alternativas para reaproveitamento, de forma mais eficaz, das embalagens produzidas e consumidas no Paraná. Aspectos como novas alternativas para o design, a redução dos resíduos sólidos e a formação de um grupo de trabalho na Região Metropolitana de Curitiba foram temas desse importante evento que aproximou diversos agentes de desenvolvimento local, entre eles: CREA-PR, SMMA de Curitiba, Agenda 21 Paraná, FIEP, UFPR, PUCPR, Universidade Positivo, SINAPRO, STEPPR, CAOPMA, MPT, empresas de Transporte e Reciclagem, associações de catadores e consultores convidados.


Brasileiro é convidado para participar de Fórum Internacional nas Filipinas O meio ambiente e as condições climáticas são assuntos que estão pautados no mundo inteiro. Pensando nisso, o Banco de Desenvolvimento Asiático, em parceria com o Banco Mundial, promoveu nos dias 18 e 19 de março o “2010 Climate Investment Fund – CIF – Partnership Forum”. O evento, que aconteceu na sede do Banco de Desenvolvimento Asiático nas Filipinas, reuniu grandes profissionais de todo o mundo para discutir e trocar experiências sobre a implementação de fundos de investimento relacionados à questão climática. Entre os convidados do Banco Mundial para participar do evento esteve o paranaense Marcelo Leoni Schmid - engenheiro florestal, advogado e diretor de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa e Conservação da Natureza Idéia Ambiental, no qual gerencia projetos ligados à aplicação do conceito REDD (Emissões Reduzidas do Desmatamento e Degradação Florestal) no Brasil. A participação de Schmid no evento esteve focada no Forest Investment Program – FIP, que trata do financiamento de projetos florestais-climáticos em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL recebe prêmio em Brasília Em cerimônia realizada no final do mês de março, a revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL recebeu o Prêmio MPE Brasil, como reconhecimento nacional de eficiência em Gestão para Micro e Pequenas Empresas. O prêmio é direcionado para as empresas que foram capazes de desenvolver uma gestão de qualidade. Em 2009, foram mais de 57 mil empresas inscritas no programa em todo o Brasil. Só no Paraná, foram mais de 3,5 mil empresas. Na etapa estadual, das 20 finalistas, 11 empresas receberam o reconhecimento estadual, entre elas a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, e assim foram classificadas para o reconhecimento nacional. A GERAÇÃO SUSTENTÁVEL é o principal produto da PSG Editora Ltda., revista que foi criada em 2007 e tem como foco a disseminação da sustentabilidade dos negócios. Para o diretor executivo Pedro Salanek Filho, esse reconhecimento em nível nacional demonstra a seriedade do projeto. “Fomos selecionados dentro de um universo considerável de empresas. A revista é um projeto focado na sustentabilidade e procura destacar os bons exemplos e projetos desenvolvidos pelas corporações que veem na sustentabilidade um diferencial de gestão e continuidade dos negócios. A premiação veio em função do nosso compromisso contínuo de divulgar essas boas práticas empresariais e contribuir para o desenvolvimento sustentável de toda a sociedade”. Para participar do prêmio, a PSG recebeu a visita de dois consultores que verificaram como os processos de gestão e planejamento ocorrem. Aspectos como qualidade, estratégias de marketing, pós-venda e retorno aos leitores foram avaliados pelos consultores. Para Giovanna de Paula, diretora de relações corporativas da PSG, “esse reconhecimento reflete que o modelo que adotamos, junto aos nossos parceiros, anunciantes, leitores, enfim, todos os stakeholders ligados ao projeto, está no caminho certo”.

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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cidadão&ação

No comando de uma grande rede de amigos do meio ambiente Ana Letícia Genaro

Presidente da Associação dos Moradores e Amigos do São Lourenço (AMASL) e idealizador do projeto Patrulha Ambiental da AMA São Lourenço, Cesar Paes Leme, já conquistou 6800 voluntários em 18 países

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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ocê pode me encontrar no sábado à tarde, no parque São Lourenço. Participaremos do evento Curitiba Contra Dengue”, disse Cesar Paes Leme, quando foi procurado pela reportagem da revista Geração Sustentável. Na data marcada, lá estava ele em meio a uma dúzia de crianças que, no gramado do parque, faziam desenhos em aquarela com temas ligados à natureza. Vestido com a camiseta do Patrulha Ambiental – um de seus projetos - e boné do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial – do qual é membro – Cesar se dedicava ao que faz de melhor: doar seu tempo livre para sensibilizar as pessoas quanto ao papel de cada um no contexto do meio ambiente. Presidente da Associação dos Moradores e Amigos do São Lourenço (AMA) - entidade com mais de 6800 voluntários em 18 países – o paranaense nascido em Ponta Grossa é o idealizador do Patrulha Ambiental, projeto que incentiva a proteção de matas ciliares e conservação de rios e nascentes de Curitiba e região. “O meio ambiente somos todos nós” • Uma mobilização contra o corte de árvores centenárias em uma praça na cidade de Ponta Grossa - em 1979 - foi o primeiro movimento em prol do meio ambiente que Cesar participou. “Nas cidades onde morei sempre me permitiram um contato muito próximo com a natureza, mas foi quando meu primeiro filho nasceu, em 1990, que passei a preocupar-me realmente com o futuro do nosso planeta”, diz. Disposto a empregar sua habilidade de se comunicar e fazer amizades em favor das causas socioambientais, o editor de livros ingressou na Associação dos Moradores e Amigos do São Lourenço em 2001. Três anos depois, assumiu a presidência dessa organização, iniciando um grande trabalho com diversos atores sociais em torno de um objetivo comum: promover a recuperação do rio Belém - com extensão de 42 quilômetros, o rio corta 35 bairros de Curitiba por onde moram ou trabalham cerca de um milhão de pessoas. Patrulha Ambiental • “Dividimos as nascentes do rio Belém em 50 microrregiões com o grande desafio de envolver as comunidades desses locais para serem responsáveis por um trecho”, explica Cesar. Além do monitoramento do rio, os arranjos locais – como Cesar chama as comunidades - promovem ações de educação ambiental, plantio de mata ciliar, redução do lixo, vistorias constantes nas redes de esgotos, ações voluntárias de moradores para realizar a ligação correta com a rede coletora de esgoto e

dezenas de palestras ambientais por ano. O projeto, batizado como Patrulha Ambiental conta 235 parceiros entre escolas públicas e particulares, igrejas, clubes de serviço, associações de moradores, grupos escoteiros, órgãos municipais, estaduais, universidades e empresas. Dentro desse universo, Cesar atua como um grande comunicador, responsável por gerir informações em um portal virtual de voluntariado – o Supervia Digital. No espaço, os voluntários compartilham informações de passivos ambientais encontrados no “seu trecho” do rio, relatam dificuldades e experiências de sucesso que podem ser repetidas por comunidades em outros lugares. “Das 50 nascentes do rio Belém, 47 já estão recuperadas. A nossa meta é despoluir totalmente as nascentes do rio Belém até 2011”, afirma. Exemplo • Com o projeto estruturado, em 2006, a AMA São Lourenço passou a incentivar outras entidades a criar novas redes ambientais iguais à Patrulha Ambiental. Hoje, a associação tornou-se uma das maiores bases comunitárias de dados e projetos ambientais no Brasil, e o projeto já está sendo replicado em mais de 150 cidades. “É, acima de tudo, um projeto de cidadania. Começamos com uma microrrede e demos forma a uma rede comunitária de gestão ambiental”, explica. O projeto foi, inclusive, mencionado num dos veículos ambientais mais importantes do mundo, o informativo do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) como um exemplo de ação local na despoluição de rio urbano que beneficia milhões de pessoas. “Somos todos amigos” • O segredo para envolver tantas pessoas em prol de um único objetivo? Cesar explica que o primeiro passo é sensibilizar as pessoas para a importância de fazer algo na localidade onde cada um mora. Feito isso, a receita é tratar todos como amigos. “Somos todos grandes parceiros trabalhando juntos. Quando cooperamos, alçamos em seis meses resultados que sozinhos levaríamos seis anos para cumprir”, afirma. Fundamental, diz ele, é incentivar todos os dias essas alianças. “Poderíamos ter nos isolado numa ilha, em vez disso criamos amigos e nos tratamos assim”, completa. Saber dividir o reconhecimento e divulgar os trabalhos que estão dando certo, valorizando a ação de cada um também são itens importantes de sua lista. “Baseio meu trabalho no princípio da permacultura: são pequenas ações organizadas que, juntas, compõem uma ação gigantesca”, afirma.


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