Geração sustentável - edição 27

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A REVISTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL CORPORATIVO

[ ANO 6 • EDIÇÃO 27 • R$ 11,90 ]

Pensamento

SISTÊMICO

Veja as dicas de consultores para conectar a sua empresa com a sociedade e o meio ambiente

Sustentax cria selo para reconhecer produtos sustentáveis

Projeto de ciclovia elevada contribui com a mobilidade e a segurança do cidadão




A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta!

Ano 6 • edição 27

Capa

Pensamento Sistêmico e Visão Estratégica: Combinação ideal para gerir o mundo corporativo

24 Tecnologia & Sustentabilidade

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Sustentabilidade comprovada em rótulo

30 Desenvolvimento Local

Excesso de impostos e importações ameaça indústria têxtil brasileira

36 Responsabilidade Social Corporativa

Pelo futuro das empresas

40 Empreendedorismo

Iniciativa de inclusão transforma a vida de pessoas por meio do empreendedorismo

46 Acessibilidade

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Gestão Estratégica Perfil Profissional Gestão Sustentável

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Colunas

Sustentabilidade sob duas rodas

02 e 03 Junior Achivement 05 Consult 11 Expolux 17 GBC 23 Ambiente EXPO 29 FAC 34 e 35 D&G 43 Civitas 45 EBS 49 DFD 51 Unimed/PR 52 Reciclação

Anunciantes e Parcerias

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Matérias

06 Editorial 07 Mundo Digital 08 Sustentando 50 Vitrine Sustentável

12 Entrevista Ozires Silva 16 Capa



Editorial

Você possui visão sistêmica na gestão do seu negócio? O tema de capa dessa edição envolve um assunto de grande relevância para o “pensar sustentável”. A sustentabilidade efetivamente está na pauta estratégica dos negócios e veio, sem dúvidas, para ficar. Será que já mudamos a forma de pensar antes de começar a agir? É comum alguns profissionais, principalmente do ambiente acadêmico, mencionarem a sustentabilidade como um tema interdisciplinar e que seja incluído, de forma transversal, em outras disciplinas. Dentro dessa linha, essa área começa a ganhar amplitude e complexidade, visto que envolverá diversas variáveis, tanto internas como externas, bem como as controláveis e as não controláveis. A interpretação começa a tomar forma de rede e cada agente (indivíduo dessa rede) começa a ter várias inter-relações e conexões. Essa construção que começa a se definir exige que busquemos outras habilidades, além de uma percepção que irá muito além de um plano linear. Começa a ficar claro que decisões pontuais e unilaterais não irão trazer soluções eficientes. Será necessário (e também obrigatório) começar a olhar além das condições individuais, desenvolvendo uma percepção holística do sistema que está se formando, fazendo-se necessário o desenvolvimento de uma visão sistêmica. Em linhas gerais, podemos definir o sistêmico como a condição de "enxergar o todo", enquanto o não sistêmico (estilo mais cartesiano) teria uma visão mais engessada em modelos padronizados e critérios mais mecanicistas e lineares. Parece até ser uma questão simples, mas na maioria das vezes o imediatismo por resultados e a ganância pela lucratividade limitam que o gestor construa esse olhar do todo. O gestor irá perceber que a continuidade do negócio, o surgimento de novas oportunidades e a manutenção ou o crescimento da lucratividade estará nesse novo contexto. Além da temática de pensamento sistêmico, esta edição traz ainda um panorama do setor têxtil brasileiro e suas dificuldades com a concorrência dos produtos importados e as altas cargas tributárias. Na editoria Acessibilidade, você encontrará um projeto de ciclovia elevada criado por um arquiteto de Curitiba. O selo da Sustentax é o destaque na matéria sobre tecnologia e sustentabilidade. Boa Leitura! Pedro Salanek Filho

Diretor Executivo Pedro Salanek Filho (pedro@geracaosustentavel.com.br) • Diretora Administrativa Giovanna de Paula (giovanna@geracaosustentavel.com.br) • Relações Corporativas Fabrício Campos (fabricio@geracaosustentavel.com.br) • Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck (marcelo@geracaosustentavel.com.br) • Conselho Editorial Pedro Salanek Filho, Antenor Demeterco Neto, Ivan de Melo Dutra e Lenisse Isabel Buss • Colaboraram nesta edição Jornalistas: Bruna Robassa, Letícia Ferreira, Lyane Martinelli e Karla Ramonda (redacao@geracaosustentavel.com.br) • Revisora Alessandra Domingues • Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br • Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br • Impressão Gráfica Capital • ISSN nº 1984-9699 • Tiragem da edição: 10.000 exemplares • 27ª Edição • janeiro/fevereiro • Ano 6 • 2012 A impressão da revista é realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. A revista é produzida com papel certificado. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.

Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. CNPJ nº 08.290.966/0001-12 - Rua Bortolo Gusso, 577 - Curitiba - PR - Brasil - CEP: 81.110-200 - Fone: (41) 3346-4541 / Fax: (41) 3092-5141

www.geracaosustentavel.com.br A revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opiniões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são terminantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos. Errata: Na edição 26 na matéria da editoria: Visão Sustentável o nome correto da empresa mencionada é Honda Prix.

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VOLVIMENTO

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Sustentando

Prêmio promovido pelo ISAEFGV reconhece iniciativas empreendedoras Incentivar as empresas e empreendedores que desempenham projetos com olhar voltado para a sustentabilidade. É esse o objetivo do prêmio Ozires Silva, promovido pela ISAE/FGV, que reconhece iniciativas empreendedoras que fazem a diferença também no quesito sustentabilidade. De acordo com Norman Arruda, superintendente da ISAE/FGV, “de nada adianta ter uma boa ideia que tenha sucesso apenas no pilar econômico. Se o projeto não contemplar a área ambiental e social, acabará sucumbindo a médio ou longo prazo”. Além de organizações da área pública ou privada, de qualquer porte ou segmento, o Prêmio em 2012 também contempla estudantes e empreendedores, as pessoas físicas. Empresas, pessoas físicas e comunidade acadêmica puderam inscrever seus projetos nas categorias Empreendedorismo Econômico, Ambiental, Educacional e Social. “Este ano, incluímos a categoria estudante porque queremos incentivá-los a, cada vez mais, desenvolver projetos voltados para esse tripé da sustentabilidade”, afirma Arruda. A avaliação do prêmio é baseada, principalmente, nos critérios de consistência do plano de negócios, cuidado ambiental, social e econômico. Essa metodologia é refinada a cada ano, com foco nos três pilares da sustentabilidade. Todos os projetos inscritos são avaliados por, pelo menos, três jurados. Os jurados elegem os finalistas que passam por uma banca de avaliação. “Eles apresentam seus trabalhos para uma banca de jurados convidados, sendo esses profissionais de notória importância e de renomada atuação, agindo de maneira soberana nas decisões”, explica Arruda. O resultado vem da média aritmética das notas atribuídas dentro de vários quesitos, incluindo a apresentação para os jurados.

Uma telha na geladeira Você sabia que uma caixinha longa vida de leite pode ser transformada em telhas? É isso mesmo. As embalagens são feitas de um material com uma vida longa e a sua reciclagem pode contribuir muito para um futuro melhor para o planeta. Com o intuito de estimular o aumento da reciclagem dessas caixinhas do nosso dia a dia, a Tetrapak criou o portal “Rota da Reciclagem”, que mostra aos consumidores os pontos de coleta seletiva de embalagens longa vida. É só digitar o endereço e descobrir os locais por toda a cidade. Ao todo, no Brasil, já são 3400 locais cadastrados para a coleta. O portal também tem um aplicativo gratuito para iPhone e iPad que indica onde é possível fazer a entrega desses materiais. www.rotadareciclagem.com.br 8

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL


Sustentando

Cidadania embalada para crianças O Instituto de Embalagens, criado em 2005, no Brasil, para promover o desenvolvimento do setor no país, busca ensinar e estimular crianças sobre educação ambiental. Por isso, criou o “Conjunto de Educação Ambiental”, um kit que contém uma cartilha que ensina as crianças sobre embalagens, seus usos, como descartar corretamente embalagens e as formas de transformá-las em instrumentos para um mundo melhor; um caderno com exercícios sobre os conteúdos da cartilha e adesivos para que as crianças possam identificar as lixeiras de forma correta, como uma prática do aprendizado. A cartilha é sustentável, produzida em BOPP reciclado e com a impressão feita com tintas especiais, que torna o material impermeável à água.

Sapato com selo sustentável O Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica da USP em parceria com a Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) está desenvolvendo um selo para atestar que os sapatos produzidos no Brasil são feitos de forma sustentável. Estudantes de um projeto do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) vieram ao Brasil para avaliar o impacto das ações de sustentabilidade na cadeia produtiva de calçados. O MIT estima que sapatos sustentáveis tenham seu preço final 25% mais caro que calçados comuns. Por isso, o selo é parte de uma estratégia para conscientizar consumidores e formar parcerias de apoio a projetos sustentáveis na área. Para ter o selo verde, os fabricantes terão de se enquadrar em quatro quesitos: - Econômico, com o uso racional de matérias-primas, economia de água e energia, e aspectos ligados à produtividade; - Ambiental, com a não utilização de substâncias tóxicas, como o cromo, usado no amaciamento do couro; - Social, com questões de saúde preventiva, segurança no trabalho, incentivos dados aos funcionários em relação à educação e o não uso de mão de obra infantil; - Cultural, com a interação positiva da empresa com as comunidades locais onde atua. GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Biblioteca

Auditoria ambiental florestal Julis orácio felipe editora clube dos autores

gestão para a sustentabilidade Julis orácio felipe editora clube dos autoresEditora atlas

escolhas sustentáveis Discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global rafael morais chiaravalloti e cláudio valadares pádua editora urbana aquecimento global e créditos de carbono rafael pereira de souza (ORG.) editora quartier latin

Sustentabilidade planetária, onde eu entro nisso? Fabio Feldmann terra Virgem Editora

CIÊNCIA AMBIENTAL Terra, um Planeta Vivo daniel b. botkin e edward a. keller ltc editora

a flor no concreto Um reencontro com a natureza e os valores humanos marisol isidoro

MANUAL DO EMPREENDEDOR Como construir um empreendimento de sucesso jerônimo mendes editora atlas

LOGÍSTICA REVERSA Em busca do equilíbrio econômico e ambiental PATRICIA GUARNIERI editora CLUBE DE AUTORES

O PROPÓSITO DO SÉCULO XXI Um plano vital pra assegurar nosso futuro JAMES MARTIN CULTRIX - AMANA-KEY

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Sustentando

Mais sujeira no mundo Aumentou o consumo de carvão no mundo. A afirmação é do Centro de Informações Energéticas (EIA) do governo norte americano, que mostra que a demanda por carvão quase dobrou em todo o mundo desde 1980. A Ásia é a principal consumidora da fonte mais suja de energia e 73% de todo o consumo de carvão do continente é de responsabilidade da China. O EIA estima que a China já consome metade de todo o carvão mineral produzido no mundo. Essa forma de energia é a que mais emite gás carbônico para cada watt gerado. O grande problema é convencer países emergentes asiáticos a abrir mão de um recurso abundante e barato em nome no equilíbrio do clima global. Hoje, a China já investe em hidrelétricas e energia eólica, mas não consegue se comprometer em reduzir a quantidade de carbono emitido por dólar gerado.

Trocando garrafas por bicicletas Um meio de transporte alternativo, barato e saudável. E além de tudo, pode ser ainda mais sustentável. A conhecida bicicleta, em um projeto do inventor uruguaio Juan Muzzi, que reside no interior de São Paulo, usa garrafas pet para produzir os “quadros” das bicicletas. Para cada bicicleta, ele usa 200 unidades de garrafas pet, que deixam de ir para aterros sanitários ou poluir o meio ambiente. Além de ser uma solução para o uso dos resíduos, o material proporciona ter uma bicicleta mais resistente e barata, que não enferruja, é mais leve e que continua sendo reciclável. Já estão sendo feitos estudos para utilizar também outros materiais nessa produção, como para-choques de carros e embalagens de shampoo. A meta do inventor é produzir 132 mil unidades por ano, reciclando 15,8 milhões de garrafas. Por enquanto a Muzzzicycle (nome que o inventor deu a nova bicicleta) é produzida sob encomenda e o preço pode variar de R$250 a R$ 3 mil. Já são 2,5 mil pessoas na fila de espera e quem quiser pode baratear o preço da nova bike levando as suas próprias garrafas pet.



Entrevista

Francisco Martins

Empreendedorismo: entusiasmo e tenacidade para colher bons resultados

Ozires Silva Ozires Silva nasceu em Bauru/SP, em 1931. É engenheiro aeronáutico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e atuou como oficial da Força Aérea Brasileira e no Correio Aéreo Nacional. Destaca-se pela sua contribuição para o desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira com a criação da Embraer, empresa da qual foi presidente por vinte anos. Atuou também como presidente da Petrobras e da Varig, na área política foi ministro de Estado da Infraestrutura. Atualmente é Reitor da UNISA – Universidade de Santo Amaro de São Paulo, presidindo também a OSEC – Organização Santamarense de Ensino e Cultura; Presidente do Conselho Consultivo do WTC – World Trade Center de São Paulo e Presidente do Conselho de Administração da PELE NOVA Biotecnologia S/A. Autor de vários livros e homenageado por diversas vezes no Brasil e no mundo, Ozires Silva também faz parte de uma série de Conselhos e de Associações de Classe. Nesta edição da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, ele comenta sobre os desafios que enfrentou na implantação de seus projetos inovadores e a respeito dos impactos socioambientais atuais no setor da aviação. 12

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Com sua ampla experiência como gestor e empreendedor em uma trajetória que envolveu riscos, desafios e grandes feitos, quais recomendações o senhor daria hoje para uma pessoa que deseja iniciar seu empreendimento? Diria que é preciso sonhar, acreditar no que sonhamos e que um dia esses sonhos possam se transformar em realidade. Perseguir sempre, com entusiasmo, fé e tenacidade nossos projetos e não desistindo até que, um dia, seja possível comemorar resultados que tragam benefícios para todos.

Atualmente, são muito questionados os fatores socioambientais nos negócios, como viabilizar uma empresa de forma responsável e lucrativa? O sonho é um ponto de partida. Daí por diante, os objetivos passam a ser os mais diferentes, conforme as circunstâncias. e não bastam os limites que colocou de “responsável e lucrativo”. Muitos outros atributos devem ser vencidos, inclusive, os que apontou, e isso varia de empreendimento para empreendimento. Não há dois iguais!

Como disseminar para o mercado consumidor as iniciativas sustentáveis e como torná-las diferenciais competitivos? Nem todas as iniciativas partem como sustentáveis e com diferenciais competitivos, embora sejam itens importantes a serem considerados desde o início, mas tudo depende do período necessário para consolidar o empreendimento. O mundo não está parado e não nos espera. Os cenários mudam sempre e temos de adaptar os projetos, à medida que se avança, tendo em vista os fatores externos. Se olharmos as histórias dos empreendimentos vamos ver que a concepção do empreendedor, dos instantes iniciais, foi parcial ou inteiramente alterada quando o produto estava pronto para enfrentar o mercado e os consumidores. Como ocorreu no caso dos aviões brasileiros, que hoje foram vendidos e operam em mais de 90 países, o diferencial competitivo, visto desde o início, centrando-se na criação de um mercado para a Aviação Regional, revelou-se algo da maior importância para os sucessos da atualidade.

Como contribuir para a formação e o reconhecimento de empreendedores dentro desses novos desafios da sustentabilidade? Novamente, a sustentabilidade é um atributo, importante, mas deve ser considerado entre muitos outros. Sinto a preocupação das perguntas, centradas em sustentabilidade, o que, no mundo dos homens, não tem sido suficiente para o sucesso.

Desse modo, temos que colocar o objetivo de ter êxito e construir a sustentabilidade dentro dos limites do possível. A sustentabilidade não pode ser constituída numa limitação das ações, pois tendo em vista a variação dos modos de vida, que sempre afetaram e afetarão os empreendimentos, podem vir de qualquer região ou país do mundo global. Assim, embora diferente do que se pensou no passado, diria ser quase impossível responder a isso no início de um projeto.

O ISAE/FGV promove anualmente o prêmio de empreendedorismo sustentável que leva o seu nome. Quais são os pontos relevantes dessa iniciativa? A iniciativa do prêmio veio da decisão do Professor Norman Arruda que, de forma generosa, julgou que o meu nome poderia incentivar, sobretudo os jovens e estimulá-los a empreender. Assim, entendo – e o Professor Norman pode entender

O mundo não está parado e não nos espera. Os cenários mudam sempre e temos de adaptar os projetos, à medida que se avança, tendo em vista os fatores externos diferentemente – que entre os pontos relevantes podemos nos referir a mostrar que, muitas vezes, um sonho pessoal – como o meu de transformar o Brasil num produtor mundial de aviões – por distante que possa parecer, reunindo os atributos de fé, entusiasmo e crença no sucesso, pode ter êxito.

Com relação às empresas do setor de aviação. Quais são os maiores impactos socioambientais que elas causam? Como superá-los? O impacto ambiental da operação de aviões, de longe, é muito menos significativo, do que o dos veículos de superfície, que usando motores bem ineficientes provocam danos ambientais muito maiores do que os aviões. Do ponto de vista social, o avião é uma extraordinária ferramenta de transporte rápido e um dos mais importantes atributos do mundo moderno, graças a sua velocidade e a capacidade de vencer distâncias, isso o torna como um dos mais eficazes dos instrumentos hoje disponíveis para assegurar as crescentes exigências da mobilidade moderna. Portanto, visto GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Entrevista

sob esses ângulos, o avião provoca muito menos prejuízos sociais do que seus concorrentes terrestres.

ele vai requerer mais peso por unidade de potência produzida. Isso reduz a carga-paga dos aviões, reduzindo sua operação economicamente viável.

O senhor acredita que existiram alternativas eficientes e menos poluentes no que diz respeito aos combustíveis utilizados na aviação? Estaremos, dentro de alguns anos, viajando em aviões “ecológicos”?

Iniciativas governamentais como aquela implantada na Europa no início deste ano, tarifando as companhias aéreas e obrigando-as a compensar todo o carbono emitido durante os seus voos. Essa ação do governo é válida?

Os aviões hoje respondem por 2% do chamado efeito estufa, da escala mundial, o que representa valores menores, do que as alternativas de transporte. Os gases de escapamento dos motores aeronáuticos são menos poluidores do que os dos motores, por exemplo, dos automóveis, ônibus, etc. A combustão nos motores aeronáuticos requer mais ar de combustão, do que os motores convencionais a pistão, instalados nos demais veículos, pois, para cada unidade de combustível precisa de 15 unidades de ar, permitindo combus-

Há um bocado de demagogia, diria, nessas orientações. Porque não se faz isso para os outros meios de transporte muito mais poluidores do que os aviões, quando sabemos que os aviões queimam pouco mais de 2% do petróleo consumido no mundo, hoje estimado em quase 90 milhões de barris/diários? Note que parece ser objetivo das autoridades centrar suas colocações muito mais contra atividades que tenham impacto junto à opinião pública, evitando atacar aquilo que afeta as pessoas diretamente, como os automóveis particulares ou o transporte de cargas a base de combustível diesel.

O impacto ambiental da operação de aviões, de longe, é muito menos significativo, do que o dos veículos de superfície, que usando motores bem ineficientes provocam danos ambientais muito maiores do que os aviões tão mais completa do que nos automóveis que queima apenas 1/3 do ar utilizado pelos motores aeronáuticos. No momento atual, embora experimentos com biocombustível estejam sendo realizados, sou muito cético sobre a possibilidade de êxito nessas direções, pelo menos em relação ao que tem sido conseguido até o momento. Os biocombustíveis têm-se apresentado com um poder calorífico da ordem de 30%, mais baixo do que o querosene de aviação. No avião, o peso é um parâmetro entre os mais importantes e os tanques de combustíveis têm de oferecer, para um mesmo volume de armazenamento, a maior quantidade de energia por unidade de peso. Assim, se o combustível alternativo tiver um poder calorífico menor, 14

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Em sua opinião, compensação de carbono resolve o problema ambiental? Pode ser considerada de fato uma ação sustentável? Boa a sua pergunta. Realmente, o que coloca a necessidade de olhar o meio ambiente no seu todo. Temos que considerar outros itens, como as emissões de particulados resultantes da combustão de um modo geral, do lixo, dos recicláveis, poluição das águas, do solo, extinção das espécies, desmatamento e assim por diante. Como vê, embora todos os esforços na direção de reverter as ações generalizadas contra a vida do planeta ainda não tenha faturado resultados positivos mensurados e palpáveis.

Que mensagem final o senhor quer deixar aos leitores da revista Geração Sustentável? Seria uma mensagem simples. Recebemos da Natureza um planeta com condições excepcionais para a criação e a preservação da vida, tanto animal como vegetal. O homem na sua marcha para o desenvolvimento não levou tudo isso a sério suficientemente e, como sabemos, desenvolveu uma capacidade muito superior a qualquer outra espécie na Terra, de destruir tudo isso, cujo equilíbrio, como sabemos, é sensível ao extremo. Assim, precisamos, como a Revista Geração Sustentável prega, reverter tudo isso. É fundamental e necessário. E, mais, o que deve nos preocupar é que o período de tempo que temos para conseguir resultados não é infinito.



Capa

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Pensamento sistêmico e visão estratégica: combinação ideal para gerir o mundo corporativo Especialistas e consultores falam sobre a teoria sistêmica e sua influência nos modos de produção e consumo atuais Letícia Ferreira

N

o livro Tieta do Agreste, a Pastora de Cabras, do autor, Jorge Amado, conta um problema digno de análise: a instalação de uma fábrica altamente poluidora na praia de Mangue Seco, local paradisíaco e intocado. Os cidadãos das proximidades se dividem: para uns, a poluição virá, mas valerá a pena aproveitar os lucros que virão com ela. Afinal, o progresso é assim mesmo e bobo de quem ficar para trás. Para outros, nenhum dinheiro ou progresso paga o desastre ambiental e a perda da paz e da saúde. Assim, temos dois tipos de pensamento em Agreste, cidade vizinha à praia: o imediato, dos primeiros, que enxergam apenas o linear e cartesiano (método criado por René Descartes que contribuiu com a Revolução Científica); e o sistêmico, dos segundos, que enxerga o todo e o futuro. A história se passa em 1966 e o pensamento sistêmico e a sustentabilidade ainda não eram palavras familiares nas empresas do Brasil. Atualmente, a mentalidade está começando a mudar. Será? Alguns especialistas, como Aurélio L. Andrade e Paulo Vodianitskaia, acreditam que os esforços são poucos, mas existem. Já para os biólogos e consultores Gastão Octávio da Luz e Rosimery de Fátima Oliveira, nada leva a crer que o pensamento sistêmico esteja, de fato, tomando forma no mundo corporativo no Brasil ou no mundo. O pensamento sistêmico, entretanto, vem antes da invenção do corporativismo. Andrade explica que o pensamento sistêmico, ou PS, surgiu da evolução do pensamento cartesiano, que, nos séculos passados, não conseguiu explicar satisfatoriamente fenômenos como a natureza da matéria e da luz, a termodinâmica e a evolução das espécies. "A visão cartesiana provocou crises de percepção na física, biologia, psicologia, sociologia, economia, religião e artes", afirma. Para Luz, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento e em Sustentabilidade, e Oliveira, especialista em Diagnóstico e Pensamento Sistêmico, pensar sistematicamente é pensar a realidade além do reducionismo mecanicista que começou a tomar conta do mundo nos séculos 16 e 17 (Revolução Científica) e 18 (Revolução Industrial). Segundo eles, essas revoluções levaram a civilização a ver a vida somente sob a ótica do racional, do científico e das especializações: "Pensar sistematicamente é buscar a ligação entre a Ciência (razão), Arte (sensação), Filosofia (sentimento) e Transcendência (intuição) - tudo está ligado a tudo, uma vez que a soma das partes, nunca é igual ao todo, mas sim maior do que ele".

O Pensamento Sistêmico é a abordagem fundamental para “pensar fora do quadrado”, envolvendo inúmeras variáveis para a formação de uma visão integrada de produção, economia, sociedade, cultura e ambiente natural

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Para Paulo Vodianitskaia, professor de estratégia empresarial e consultor na área de sustentabilidade (empresa Hapi Consultoria), acrescenta que o pensamento sistêmico, enunciado pelo austríaco Ludwig von Bertalanffy há quase um século, significa interpretar algo em seu contexto mais amplo. "O pensamento sistêmico transcende a visão do ser humano como mera mercadoria, do mundo como mero mercado, do universo como mero mecanismo", diz. Segundo ele, Leonardo da Vinci, Goethe, Rudolf Steiner e Carl Gustav Jung são exemplos, entre outros, de pessoas que preferiram pensar e trabalhar sistemicamente, o que é perceptível em sua obra.

do sistema produtivo, que exerce mais a depleção na natureza e mais polui, gerando um ciclo vicioso e insustentável". Segundo eles, tanto o sistema financeiro quanto a máquina industrial-comercial não dão sinais efetivos do pensar sistêmico, a não ser na usurpação do discurso socioambientalmente correto e inteligente, com um marketing ambiental que ilude a crítica e perpetua a "insustentabilidade". Assim, do ponto de vista sis-

Pensamento sistêmico e mundo corporativo • Andrade, co-autor do livro Pensamento Sistêmico Caderno de Campo e co-fundador da Escola Brasileira do Pensamento Sistêmico (www. escolaps.com.br), em 2008 e, em 2012, do Instituto Sistêmico (www.sistemico.com.br), acredita que o pensamento cartesiano também não deu conta do advento do mundo corporativo. Para ele, os novos tempos pedem flexibilidade, significado humano e sustentabilidade ecológica e social, ou seja, pedem o pensamento sistêmico. "O PS é a abordagem fundamental para 'pensar fora do quadrado', envolver inúmeras variáveis e conectá-las, transcendendo a visão tecnicista em direção a uma visão integrada de produção, economia, sociedade, cultura e ambiente natural. É a abordagem que ajuda a adotar uma posição empática, de diálogo e de visão comum", afirma. Luz e Oliveira, porém, não acreditam que o empresariado tenha atingido, em nenhum nível, o pensamento sistêmico: "É preciso rever o modelo macroeconômico e impor limites à máquina produtiva". Para os pesquisadores, apesar das crises (ambiental, social, econômica, política e de recursos – água e energia), as corporações não mostram sinais de mudança de paradigma: "As pessoas desejam mais emprego para mais consumir, o que garante o lucro 18

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têmico, crescimento e desenvolvimento não são a mesma coisa e, fora dele, "fica-se apenas com o discurso, a falácia que se vale do termo sustentabilidade". Vodianitskaia, que atua no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e na ABRAPS, a Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, admite que ainda é o pensamento linear mecanicista que predo-


mina, no mundo todo, no primeiro e segundo setores da economia, ou seja, no governo e nas empresas. Entretanto, vê algumas iniciativas corporativas, mas poucas, e acredita que o pensamento sistêmico demorou várias décadas para transitar entre o mundo científico e o mundo corporativo, mas, a partir da consciência dos limites naturais há muito violados, algumas empresas passaram a considerar que a garantia de seu sucesso em longo prazo é trabalhar também

para o sucesso do ecossistema e da sociedade em que estão inseridas. Para o consultor, é crescente, embora pequeno, o número de líderes políticos e empresariais que pensam e agem de forma holística e estratégica para promover o desenvolvimento sustentável. E lembra um para ilustrar a crença de que uma empresa pode crescer e lucrar sem abrir mão da sustentabilidade e usando o pensamen-

to sistêmico: a Interface Global, fabricante de carpetes modulares (ver box).

Enganos • A InterfaceFlor é um exemplo muito celebrado, mas pouco imitado. Vodianitskaia afirma que empresas de todos os ramos de atividade, administradas para produzir a ficção de resultados extraordinários em curto prazo, continuam atentas unicamente à velha single bottom line (foco apesar no resultado imediato), negligenciando o desenvolvimento de seus funcionários, esmagando pequenos fornecedores, terceirizando a gestão de resíduos pós-consumo de seus produtos para a sociedade, e enganando clientes com greenwashing (maquiagem verde). O destino dessas empresas, para o especialista, é funesto: "verão sua margem de manobra (e de lucros) minguar com o passar do tempo, sem ao menos entender por quê. Em um mundo interconectado por redes sociais, a condução antiética dos negócios será cada vez mais claramente percebida e punida." Para o consultor, essas corporações desprezam a cooperação e seus frutos, manejando crescentes passivos ambientais e trabalhistas com dispendiosos serviços jurídicos, e não conseguem engajar seus funcionários na busca de maior eficiência porque são justamente os funcionários os primeiros a perceberem o logro que os vitima em primeiro lugar. E que um dos fatores que dá a essas empresas uma falsa sensação de segurança é o consumidor ainda não educado a um consumo consciente. "Executivos, em geral, ainda hesitam em ver suas empresas como organismos dentro de um sistema ambiental e social que as nutre e metaboliza o que fazem. Preferem vê-las como máquinas que impõem seus produtos à sociedade aliciada pelo bombardeio constante do marketing", diz. Os biólogos Luz e Oliveira resumem desta forma: as empresas que adotassem a filosofia sistêmica perderiam, num primeiro momento, pois isso implicaria redução do produzir-con-

“Empresas que se prepararem, desde já, para um mercado de experiências tomarão o lugar daquelas aferradas ao mercado de consumo”, Paulo Vodianitskaia da Hapi Consultoria

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Capa

sumir-descartar, até que se desenvolvessem outras matrizes energéticas e/ou fossem feitas revisões na produção de bens realmente necessários em detrimento da produção de supérfluos descartáveis. Porém, se o mundo corporativo não adota a filosofia sistêmica, todos perdem a qualidade (como já vem ocorrendo) e as próprias corporações perdem, a médio e longo prazos: "É uma questão de inteligência socioambiental que o capitalismo vigente não tem demonstrado possuir". E Andrade define em uma frase: "Quem for sistêmico encontrará soluções e inovações criativas. Quem não for, adotará soluções superficiais e o resultado disso é apenas a postergação do próprio fim".

Cenário ideal • Andrade, entretanto, é otimista e acredita que, no futuro, organizações sistêmicas serão tão inovadoras que praticamente não serão mais organizações no sentido tradicional: "Não serão mais hierarquias, mas redes de pro-

dução e propriedade colaborativas que envolvem colaboradores, usuários e sociedade". Para os pesquisadores Luz e Oliveira, uma empresa que adotasse o pensamento sistêmico provocaria uma revolução de paradigma ao deixar de confundir crescimento com desenvolvimento, ao promover a distinção entre o que é necessário e o que é supérfluo, ao favorecer as desconcentrações e a descentralização dos bens, da riqueza, em favor da universalização da qualidade de vida e, finalmente, ao ajudar a educar para outra relação sociedade-natureza. E, para Vodianitskaia, as empresas que adotam, em algum grau, o pensamento sistêmico em sua governança, ganham limites mais elásticos de crescimento, lealdade dos clientes, atraem talentos e sabem cooperar em seu setor industrial e na sua cadeia de valor. Com isso, produzem situações em que todos ganham. Além disso, reduzem perdas, passivos e riscos porque o pensamento sistêmico favorece a abordagem interdisciplinar, vital para a gestão de sustenta-

Exemplos e tentativas A InterfaceFlor Global, empresa fabricante de carpetes modulados, foi fundada em 1974 por Ray Anderson, morto em agosto do ano passado, aos 77 anos. Anderson ainda é reverenciado por, em 1994, ter feito a empresa crescer, tornando-se líder do segmento, ao economizar milhões de dólares simplesmente coibindo o desperdício de água e energia. Sua fama como empreendedor sustentável, porém, vem de mais atitudes: aliando-se ao método TNS (The Natural Step ou O Passo Natural, em tradução livre), aos poucos, sua indústria passou a utilizar material orgânico e de PET reciclados em sua produção e ainda assumiu o compromisso de reduzir as emissões dos Gases do Efeito Estufa gerados pela Interface, que já está em 70%. As metas, em longo prazo, incluem a eliminação total dos desperdícios até 2020. Em 1998, Anderson surpreendeu o mercado quando a InterfaceFlor começou a entrar em contato com donos de carpetes antigos, até os não fornecidos por ela, para reciclá-los. E o ideal ia com ele para a casa: usava um automóvel híbrido e, em seus imóveis, energia solar. Deixou à Interface o objetivo de se tornar a primeira empresa do mundo totalmente sustentável. Outro caso interessante é o Portal do Software Público Brasileiro, criado em abril de 2007 para compartilhar softwares de interesse público e tratar o software como um bem público. Cerca de 50 softwares gratuitos estão à disposição e qualquer pessoa pode se cadastrar e utilizá-los. Há softwares de gestão empresarial, de gestão de servidores de e-mail, de gerenciamento de instituições de ensino, bibliotecas, municípios, softwares de música, de atendimento ao público, etc. Já a The Hub, fundada em São Paulo, em 2008, por Paulo Handl, existe em várias cidades do mundo (há Hub em Curitiba), e oferece, em sistema de trabalho colaborativo, um espaço para troca de ideias e lançamento de projetos e negócios voltados para melhorar o mundo. O conceito surgiu em 2005, na Inglaterra. Ali se reúnem empreendedores que pensam em sustentabilidade social, ambiental e corporativa. Para se inscrever, é necessário apresentar um projeto que será avaliado. O escritório oferece planos de pagamento para vários bolsos e necessidades. Uma das empresas que trabalha na Hub Curitiba é a Terra Azul Consultoria, que oferece serviços de consultoria e assessoria técnica em gestão organizacional, otimização de processos e em desenvolvimento e meio ambiente. Em São Paulo, são membros da Hub empresas como Carbono Zero Courier, que faz serviços de entrega com bicicletas, Solstice Empreendedorismo, de consultoria de evolução sustentável para eco-empreendedores que desejam entrar no mercado brasileiro, e a Ecotece - Instituto do Vestir Consciente, que atua como agência de criação e conhecimento, formulação de projetos sociais e produtos ecológicos que geram renda e comunicam valores sustentáveis.

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bilidade, cuja estratégia deve ser traçada a partir da ligação entre a empresa, o meio ambiente e a sociedade. Esses resultados positivos, explica, não são mensuráveis somente em longo prazo, mas também pelo engajamento dos stakeholders, análise de materialidade e escolha de indicadores adequados, por exemplo, os propostos pela Global Reporting Initiative (GRI): "Evidentemente, de nada adianta incluir novos indicadores sem a gestão de metas desafiadoras e sem prover espaço para a inovação voltada à sustentabilidade", afirma. "Infelizmente, é o caso de muitas empresas que aderem a compromissos, como O Pacto Global da ONU, sem integrar à sua gestão quaisquer metas ligadas aos princípios desse pacto." Vodianitskaia acredita que, hoje, é consenso que o ser humano destrói a vida mais rapidamente do que a natureza a pode criar e paga e pagará caro por isso; mas tem esperança de que as mudanças inesperadas nos sistemas

ambiental e social, que a humanidade começa a perceber, pouco a pouco, transformem consumidores em experimentadores, que aprenderão a degustar o mundo sem consumi-lo: "Empresas que se prepararem, desde já, para um mercado de experiências tomarão o lugar daquelas aferradas ao mercado de consumo: mais software e menos hardware, porções menores de alimentos melhores, viagens em número menor, mas mais longas, mais reuso e menos matéria-prima virgem, mais integração da cadeia de valor e menos perdas, energia renovável sem desmatamento nem emissões poluentes e desestabilizadoras do clima." Para Vodianitskaia, percebe-se melhor a adoção do pensamento sistêmico no terceiro setor, entre as ONGs e, dos conflitos e dilemas entre o segundo e o terceiro setores, aparece como solução dialética um quarto setor, não direcionado somente ao lucro, mas principalmente ao benefício. "Esse novo setor está destinado a usufruir o maior nível de crescimento e uma insuperável

A partir da consciência dos limites naturais, algumas empresas passaram a considerar que a garantia de seu sucesso em longo prazo é trabalhar também para o sucesso do ecossistema e da sociedade em que estão inseridas

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Capa

geração de valor para seus stakeholders", diz. Mesmo com essa esperança, Vodianitskaia crê que não há mais tempo para uma reformulação ordenada da educação formal ou da política no sentido do pensamento sistêmico: "A mudança dos padrões de comportamento atuais virá de fenômenos emergentes, rápidos, sistêmicos, como a mobilização social que se estende dos países árabes a Wall Street".

"Quem for sistêmico encontrará soluções e inovações criativas. Quem não for, adotará soluções superficiais e o resultado disso é apenas a postergação do próprio fim”, Aurélio L. Andrade do Instituto Sistêmico

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Realidade brasileira • Para Vodianitskaia, individualmente, o brasileiro comporta-se como quem valoriza mais as experiências relacionadas a relações pessoais ou com a natureza de que é parte, e não a alguma satisfação egoísta. Coletivamente, porém, muda a figura: o brasileiro comporta-se como se nada mais importasse além de sua satisfação imediata, buscando lucrar em curto prazo e em detrimento do futuro. "Consumimos irrefletidamente e, até na educação formal, aprendemos a pensar linearmente: ou penso o mundo como comerciante, ou biólogo, ou engenheiro. Em geral, não aprendemos sobre sustentabilidade em cada uma das disciplinas que cursamos". Já Luz e Oliveira acreditam que esse pensamento egoísta e linear, como define Vodia-

nitskaia, não é privilégio do povo brasileiro: "A questão deve ser analisada pela óptica civilizatória - o desempenho 'crescimentista' (em detrimento da 'desenvolvimentista') é planetária, globalizada e hegemônica". Para ambos, os colapsos já estão na pauta dos acontecimentos e a necessidade é realizar mudanças profundas no modo de se viver no planeta, em lugar de se sobreviver do planeta: "O ser humano precisa deixar de ser um parasita para entrar numa relação de simbiose com a Terra". Andrade não limita cultura a países, mas também não vê o mundo como uma cultura hegemônica, fazendo uma polarização entre cultura global e cultura ocidental/oriental. E brasileiros estão preparados, em termos cognitivos e culturais, mas pouco predispostos a adotar uma nova forma de pensar. "Nós somos, em termos empresariais, mais globais e ocidentais pela nossa origem europeia e americana de escolas de administração e economia", diz. "Temos o aparato cognitivo e cultural para pensar diferente, mas nossa sociedade é formatada pela visão cartesiana, analítica. Precisamos um reequilíbrio de ênfases. Buscar mais o sistêmico, o orgânico, o holístico."



Tecnologia&Sustentabilidade

Sustentabilidade comprovada em rótulo Selo foi criado para reconhecer produtos sustentáveis de acordo com regras preestabelecidas Bruna Robassa

O

tema sustentabilidade tem sido cada vez mais comentado e difundido pela mídia, pelas empresas, autoridades, governo e sociedade, refletindo as crescentes preocupações com os impactos de nossas atividades. Mas, afinal, o que significa ser sustentável? Quais são as práticas que comprovam se uma empresa ou produto são sustentáveis? De acordo com Newton Figueiredo, fundador e presidente do Grupo SustentaX, organização que teve a iniciativa de criar um selo que comprova a sustentabilidade, produto sustentável é aquele que respeita o consumidor, a sociedade e o meio

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ambiente. “É um produto competitivo, que não faz mal à saúde, tem qualidade comprovada para o que se propõe, e é desenvolvido, fabricado e comercializado de forma socioambientalmente responsável”, diz. Figueiredo conta que 65% dos consumidores brasileiros têm interesse em obter mais informações sobre produtos sustentáveis, contra 20% da média mundial, dado que foi constatado em uma pesquisa realizada em 2010. De acordo com a mesma pesquisa, divulgada pela empresa GS&MD Gouveia de Souza, os consumidores já estão dispostos a pagar 8% a mais


por produtos sustentáveis. De acordo com Rômulo Viel, coordenador do Comitê de Sustentabilidade da Rede Paranaense de Metrologia e Ensaios — Paraná Metrologia, para um produto ser considerado sustentável ele deve ser “economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto”, seguindo a conceituação clássica de sustentabilidade. O comitê coordenado por Viel foi criado em abril de 2011 com o objetivo de difundir ideias sustentáveis aqui no estado. Segundo ele, a rede tem como foco atuar de modo a dar suporte a ações que garantam a qualidade dos processos. “Ao garantir a qualidade conquistamos a confiança do cliente, o que é um diferenciador tecnológico e comercial para as empresas”, explica. Diante dos amplos e distintos conceitos que existem acerca do termo sustentabilidade, a busca pela rotulagem surge como uma forma de comprovar tecnicamente, de acordo com critérios preestabelecidos, se um produto é comprovadamente sustentável. Além disso, segundo o presidente do Grupo SustentaX, a busca pela rotulagem está relacionada com a intenção de comprovar ao consumidor a qualidade das iniciativas e dos produtos de uma empresa. “Por meio de selos confiáveis, os consumidores podem comparar melhor os produtos que desejam adquirir. Para citar um exemplo, no caso de eletrodomésticos, 40% dos consumidores já estão dispostos a pagar até 10% a mais para produtos que têm o selo Procel. Só depois de confirmarem a existência do selo é que se voltam para a marca. É uma quebra de paradigma, pois até há alguns anos se comprava por marca”, conta. Outro segmento que tem se interessado por rotulagem de sustentabilidade é o de materiais de reforma, decoração, construção e operação de edificações. Exemplo disso é a manta de proteção para pisos fabricada pela empresa Promaflex, que acaba de conquistar o selo de sustentabilidade. O material é desenvolvido para reduzir custos e desperdícios de materiais e aumentar a produtividade em obras e reformas. A manta é capaz de proteger, durante os trabalhos, superfícies e pisos já instalados. O “Promapiso” é uma manta laminada que possui as características necessárias para substituir com eficácia sacos de aniagem com gesso e também a proteção de papelão e resina. Para a arquiteta Andrea Velletri Martins, gerente de marketing da Promaflex, a conquista do Selo SustentaX para o Promapiso demonstra a preocupação da empresa em oferecer soluções

inovadoras para um mercado que busca produtos que gerem menos impactos sobre as pessoas e o meio ambiente, com garantia de qualidade e sustentabilidade. “O processo para obtenção do selo foi mais uma comprovação de que cumprir os preceitos de nosso sistema da qualidade com benefícios para a empresa e para toda a cadeia que nos cerca, é sempre o melhor caminho”, afirma. O processo de rotulagem trouxe melhorias no processo fabricação da manta, como explica a arquiteta. “Eliminou-se o uso de adesivo de contato para a laminação dos materiais, substituindo-o por calor. Foi necessário o investimento em maquinário, mas, por outro lado, reduzimos o custo com matéria-prima, aumentamos velocidade de produção e atendemos outros requisitos da rotulagem”, explica a gerente.

Certificação X Rotulagem • É muito comum termos técnicos como esses serem confundidos. No entanto, para que fiquem mais claros, os termos certificação, rotulagem, assim como inspeção e declaração de fornecedor são tipos de “avaliação de conformidade”, segundo explica Rômulo Viel. Um processo de certificação refere-se a processos, como por exemplo, a ISO 9001, norma internacional de gestão da qualidade. No caso, o processo de produção é certificado e não o produto em si. É utilizada, normalmente, entre empresas. Uma certificação pode ser compulsória (obrigatória) ou não compulsória (voluntária). A certificação é obrigatória para produtos que, por suas características, podem colocar em risco a saúde e a segurança do usuário e também o meio ambiente, caso sejam fabricados de maneira inadequada. É o caso de produtos como extintores de incêndio, botijões, fios e cabos elétricos, preservativos, entre outros, que têm seu processo de fabricação regulamentado pelo INMETRO. Como forma de controle, equipes técnicas visitam periodicamente os locais em que se encontram à venda esses produtos, verificando suas condições. Os fabricantes e importadores que não cumprem as normas e os regulamentos são multados e os produtos irregulares são retirados de comercialização. A certificação voluntária, que tem como objetivo garantir a conformidade de processos, produtos e serviços às normas elaboradas, é decisão da empresa que fabrica produtos ou fornece serviços. Nesses casos, a certificação é um diferencial de mercado em favor das empresas que a adotam.

"Por meio de selos confiáveis, os consumidores podem comparar melhor os produtos que desejam adquirir. Para citar um exemplo, no caso de eletrodomésticos, 40% dos consumidores já estão dispostos a pagar até 10% a mais para produtos que têm o selo Procel”, Newton Figueiredo, presidente do Grupo SustentaX

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Tecnologia&Sustentabilidade

No caso da rotulagem ou etiquetagem, entende-se como o resultado de uma avaliação que analisou características do produto em relação a determinados parâmetros. A rotulagem visa informar o consumidor sobre determinadas características que diferenciam o produto enquanto a certificação trata, normalmente, do seu processo de fabricação. O Selo SustentaX enquadra-se na rotulagem ambiental do tipo I, em conformidade à Norma ISO NBR 14024:2004, sendo um programa de terceira parte voluntário, onde não há envolvimento com fabricação ou comercialização.

Processo de análise para rotulagem de produto • Para que um produto conquiste o Selo SustentaX o fabricante deve comprovar a existência dos atributos essenciais de sustentabilidade, aqueles que não podem faltar em um produto para que ele possa ser considerado, minimamente, como sustentável. São eles: salubridade (não pode fazer mal a quem fabrica nem a quem instala ou utiliza), qualidade (funcional e ambiental) e as Com o selo da Sustentax, o promapiso é uma manta laminada certificada para proteção de pisos e superfícies durante períodos de obras e reformas

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responsabilidades socioambiental e de comunicação com o consumidor do fabricante. Após essa primeira etapa, se a empresa comprovou todos os atributos essenciais do produto, são analisados os complementares de sustentabilidade, referentes a como o produto foi concebido (sustentabilidade do design), fabricado (sustentabilidade na fabricação) e comercializado (sustentabilidade na comercialização). Nessa fase, são analisados: utilização de conteúdo reciclado, biodegrabilidade, regionalidade dos materiais, desmaterialização, contribuição para a economia de água, eficiência energética, entre muitos outros aspectos. Quanto mais atributos complementares tiver, mais sustentável o produto será. O processo para rotulagem leva, no mínimo, 6 meses. De acordo com Paola Figueiredo, vice presidente executiva do Grupo SustentaX, os produtos com o selo de sustentabilidade, em geral, atendem aos principais requisitos para comercialização de “produtos verdes” nos mercados internacionais. Quando um produto recebe o selo,


nada mais importante que essa informação seja difundida. Por isso, folhetos com informações sobre o diferencial do produto são disponibilizados com inúmeras informações úteis, tanto para vendedores desses produtos como para especificadores e compradores públicos e privados. No folheto explicativo de cada produto é possível encontrar informações sobre sua salubridade, qualidade assegurada, produtividade, e como os produtos podem contribuir para certificações ambientais. “O desenvolvimento de um folheto com essas características é único no mundo e só foi possível pela existência, na SustentaX, de uma equipe multidisciplinar permanente de profissionais de várias especialidades de engenharia (civil, elétrica, mecânica, meio ambiente e naval), arquitetura, geografia, química, marketing, jornalismo, relações públicas, entre outras”, enfatiza Paola Figueiredo.

A sustentabilidade no Paraná • A sustentabilidade está ganhando força no Paraná. A Rede Paranaense de Metrologia e Ensaios — Paraná Metrologia - criou recentemente um comitê voltado à sustentabilidade que tem o objetivo de difundir ideias sustentáveis aqui no estado.

De acordo com Rômulo Viel, coordenador do Comitê, a rede apoia a iniciativa do Grupo SustentaX em criar uma rotulagem de sustentabilidade. “O comitê foi criado recentemente, em abril de 2011, e o nosso objetivo é desenvolver atividades voltadas à sustentabilidade, assim como difundir o conceito. A criação desse selo está bem enquadrada nos assuntos que pretendemos discutir no comitê. “É algo muito novo, que está sujeito a críticas, mas o nosso objetivo é exatamente esse, discutir tudo que existe sobre sustentabilidade, especialmente no Paraná”, diz Viel. O coordenador ainda fala sobre a ligação do conceito de sustentabilidade com a economia. “No fundo, o que impacta a decisão empresarial ainda é a questão financeira, por isso, é importante dizermos que, para um produto ser sustentável ele tem que ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto, de modo que as atividades econômicas reflitam melhor as preocupações da sociedade”, declara. Viel conta que um dos projetos do comitê é promover ainda este ano um seminário sobre sustentabilidade, o qual deve reunir representantes de empresas que se interessam pelo tema para discutir e difundir o assunto.

Sobre a Paraná Metrologia A atuação da Rede Paranaense de Metrologia e Ensaios ainda é recente na área de sustentabilidade. No entanto, a rede já atua há mais tempo na difusão da cultura metrológica aqui no Estado. Trata-se de uma rede que congrega diversas entidades de ensino, pesquisa, tecnologia e laboratórios de maneira associativa, visando promover a infraestrutura tecnológica e de apoio às empresas instaladas no Paraná.

"Produtos com o selo de sustentabilidade, em geral, atendem aos principais requisitos para comercialização de 'produtos verdes' nos mercados internacionais” , Paola Figueiredo, vicepresidente executiva do Grupo SustentaX

Principais objetivos - Identificar as necessidades de treinamento e capacitação técnica das instituições e laboratórios que atuam na área de metrologia e ensaios no Paraná. - Promover atividades de capacitação de recursos humanos e organizar e promover eventos técnicos nas áreas de gestão da qualidade e competitividade, inovação e metrologia. - Promover programas de avaliação, acompanhamento e orientação à implantação de técnicas de melhoria da qualidade da prestação de serviços tecnológicos bem como a disponibilização de tais serviços. - Estabelecer e manter estreito vínculo com o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), seguindo as orientações daquele Órgão bem como o apoiando em suas atividades, a fim de colaborar de maneira efetiva para o fortalecimento da estrutura da metrologia e os ensaios no Brasil. - Promover a conscientização da sociedade, dirigentes empresariais e atividades de ensino, pesquisa e desenvolvimento do Estado para a necessidade e importância da gestão da qualidade e competitividade, inovação e metrologia.

Acesse: www.paranametrologia.org.br

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Julianna Antunes

Gestão Estratégica

Especialista em planejamento estratégico sustentável e processos sustentáveis

Em um mundo que caminha para o esgotamento de recursos naturais, ao mesmo tempo em que a demanda por eles cresce exponencialmente, adotar a sustentabilidade é uma alternativa para garantir a perenidade do negócio em médio e longo prazos

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A sustentabilidade corporativa ainda é uma escolha?

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uitas empresas, a maioria, eu diria, associa a sustentabilidade a custos; mais um item para ser considerado na hora de formação do preço e que pode inviabilizar a estratégia comercial de uma companhia. Sim, isso realmente pode acontecer. No entanto, a questão vai depender muito mais de como as empresas lidam com o tema do que com o montante de dinheiro disponível. Se para a empresa sustentabilidade significa apenas projetos sociais como resposta a demandas da sociedade e dos stakeholders em geral, sim, será um custo. Necessário, porém custo. No entanto, se ela encarar a sustentabilidade como um agente catalisador de mudança em seus processos e busca por eficiência operacional, o custo se transforma em investimento, que é pago ao longo do tempo. Em um mundo que caminha para o esgotamento de recursos naturais, ao mesmo tempo em que a demanda por eles cresce exponencialmente, adotar a sustentabilidade é uma alternativa para garantir a perenidade do negócio em médio e longo prazos. É um sinal que as empresas dão aos seus investidores de que elas estão trabalhando para que questões como mudanças climáticas, racionamento de água ou mobilidade geográfica não comprometerão sua performance operacional e financeira. Assim como a qualidade foi há décadas atrás, a sustentabilidade nada mais é que um novo modelo de gestão. Um modelo que proporciona uma série de ganhos. Um modelo que ainda é pouquíssimo praticado pelas empresas, que, em uma visão rasa, basicamente enxergam a possibilidade de retorno de imagem e reputação. A grande dificuldade para que a sustentabilidade seja efetivamente praticada pelas companhias é mudança de valores e comportamento pela qual elas precisarão passar. É preciso engajar, é preciso capacitar, é preciso

cobrar dos colaboradores uma postura sustentável. E o maior desafio é formar profissionais que tenham essa visão não apenas no trabalho, mas na vida. Aliado ao engajamento e à formação é preciso planejar em longo prazo e ter consciência de que os resultados nem sempre serão alcançados rapidamente. E é justamente essa relação entre tempo e retorno que pauta uma gestão sustentável. Com uma proposta de resultados que transcende as cifras, muitas vezes a implementação da sustentabilidade encontra resistência nas empresas que vivem no modelo de máximo lucro o mais rápido possível. No entanto, esse modelo capitalista vigente desde o século passado, e grande responsável pela crise que vem assolando a Europa e os Estados Unidos desde 2008, deixa claro que o esgotamento de matérias-primas e o colapso nas relações com stakeholders são apenas uma questão de tempo. Pouco tempo, eu diria. Por conta disso, questões que há pouco tempo pautavam a agenda de trabalho de gerentes médios (e que muitas vezes acumulavam funções, como, por exemplo, saúde, segurança e meio ambiente ou então comunicação e responsabilidade social), hoje chega ao topo da hierarquia corporativa. Mesmo que ainda estejam pisando em cacos de vidro, as empresas acordaram para a necessidade de trabalhar a sustentabilidade de forma mais estratégica e menos reativa. A jornada ainda está no começo e algumas empresas largaram na frente, ainda que não seja possível dizer que haja, sequer, uma 100% sustentável. Todas possuem um grande passivo que é o resultado de anos e anos de gestão focada apenas no lucro excessivo. Mas antes de resolver o que está lá atrás, precisamos assegurar que o daqui para frente seja diferente. E essa decisão tem de ser feita já. Atualmente sustentabilidade não é mais uma questão de escolha.


Foz do iguaçu (PR) será sede do fórum internacional de acessibilidade e cidadania No próximo mês de junho a cidade será sede do maior e mais importante evento de acessibilidade do Brasil

RAFAIN EXPOCENTER IV DATA: 13, 14 e 15 de JUNHO www.forumdeacessibilidade.com.br Local:

O ACESSO

OBJETIVOS

A ACESSIBILIDADE

É objeto fundamental para inclusão social equilibrada e qualitativa.

• Identificar experiências bem sucedidas relacionadas à acessibilidade e cidadania • Detectar prioridades regionais • Desenvolver estudos que possam contribuir para a elaboração de novos projetos e projetos já existentes

O FAC

Eventos Paralelos

É um imperativo norteador da vida.

É um local de debates, estudos, troca de experiências para a formação de um olhar voltado aos benefícios da acessibilidade para o desenvolvimento local sustentável

• 7º Salão de Turismo das Cataratas do Iguaçu • Hotelshow • VII Feira de Turismo • III Mostra de Turismo Sustentável • Rodada de negócios

EVENTOS LOCAIS 23 de março em Socorro/SP Seminário Paulista de Acessibilidade e Cidadania 19 de abril em Curitiba/PR Seminário Paranaense de Acessibilidade e Cidadania 24 de maio em Porto Alegre/RS Seminário Gaúcho de Acessibilidade e Cidadania

Serviço Inscrições e informações: www.forumdeacessibilidade.com.br fac@forumdeacessibilidade.com.br Assessoria de Imprensa: Jornalista Cristina Lira (MTB DF 00990 JP) lira_cris@hotmail.com

“INCLUSÃO, É PARTICIPARMOS JUNTOS!”


Desenvolvimento Local

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m um bairro de periferia, uma pequena confecção – microempresa familiar – explora o trabalho de costureiras e lucra com os produtos vendidos a grandes varejistas que, por sua vez, lucram muito mais praticando preços bastante altos para o consumidor final. Pode ser enredo de novela brasileira, mas, infelizmente, pode também ser real. E pode ser pior. Lançado em 2005, o documentário China Blue, não autorizado pelo governo chinês e exibido no Brasil no cinema e na TV paga, acompanha a vida de duas jovens chinesas que trabalham para uma fábrica de jeans no sudoeste da China. Elas são obrigadas a morar na fábrica, onde as condições são precárias (a água, por exemplo, tem que ser levada por baldes), têm carga horária massacrante, ganham menos de um dólar por dia e têm suas despesas (alimentação, etc.) descontadas do salário. Para cumprir um prazo de entrega, ficam noites sem dormir. Um "feitor" analisa o tempo todo o trabalho e multa quem ele acha que está fazendo "corpo mole". A China, entretanto, não é a única. China Blue faz parte da trilogia Globalização, do diretor Micha Peled, cujo primeiro filme é Store Wars: When Wal-Mart Comes to Town, a respeito do conflito entre a rede Wal-Mart e uma pequena cidade na qual a ela acaba de implantar uma mega-store. O terceiro filme, Bitter Seeds (ou Sementes Amargas, em tradução livre), estreia no Brasil no final de março. O documentário mostra, na Índia, a

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epidemia de suicídios – que já matou cerca de 250 mil pessoas – entre pequenos agricultores de algodão, obrigados a trabalhar com sementes geneticamente modificadas, com isso perdendo sua terra e seu sustento. Segundo a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), os países asiáticos que mais vendem produtos têxteis para o Brasil são China, Índia, Indonésia, Taiwan e Bangladesh. Todos são países sem democracia, ou com democracia fraca, população muito pobre e que, eventualmente, aparecem na mídia que denuncia o trabalho escravo. Ao contrário dos produtos nacionais, com os quais competem e que, ao menos no caso brasileiro, pagam uma carga tributária gigantesca, esses produtos chegam ao consumidor muito mais baratos. Um barato que sairá caro, segundo o coordenador do Conselho Setorial da Indústria do Vestuário da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Marcelo Surek. Para ele, o consumidor brasileiro precisa se conscientizar de que, ao adquirir esses importados, além de contribuir com uma indústria que não respeita os direitos humanos, nem o meio ambiente, está contribuindo para a desindustrialização do setor no Brasil, e o consequente prejuízo para o país e para si mesmo. "O que é mais caro? Sem indústrias, não há geração de emprego e de consumidores para outros mercados", declara. Segundo Surek, a indústria têxtil e de confec-


Excesso de impostos e importações ameaça indústria têxtil brasileira Uso de trabalho escravo, desrespeito ao meio ambiente e falta de controle de qualidade são outras questões levantadas contra produtos importados da Ásia Letícia Ferreira

ção é a segunda maior geradora de empregos no Brasil (e, segundo o BNDES, a que tem o maior potencial gerador de empregos na indústria de transformação): a cada 10 milhões de reais por produto, são gerados cerca de mil empregos diretos e muitos mais indiretamente. O coordenador afirma ainda que o problema do Brasil, entretanto, não é a China, mas o próprio Brasil e sua carga tributária altíssima: "O produto nacional sofre uma carga tributária em cascata, que incide sobre toda a cadeia produtiva e de comercialização. No final das contas, o lojista vende um produto do qual 45% do preço é imposto". Diz ele que isso dificulta não somente a concorrência com os produtos importados, mas o desenvolvimento da indústria, pois, com a perda que o setor está sofrendo, não pode investir, por exemplo, na qualificação de mão de obra: "O Brasil não precisa de trabalho escravo para oferecer produtos acessíveis e de qualidade. Precisamos de isonomia, condições de competir de igual para igual, com impostos justos".

Brasil importou 4,6 bilhões de dólares em 2011 • A Abit lançou, em janeiro, o importômetro: painel que mede as importações brasileiras de produtos têxteis relacionadas a quantos empregos deixaram de ser ofertados pelas empresas do setor no país. Segundo informações da Fiep, que apoia a iniciativa, o painel mostrou que, somente no primeiro mês deste ano, 60 mil postos

de trabalho deixaram de ser gerados. Com o importômetro, a Abit lançou também uma campanha para colher um milhão de assinaturas e, com isso, pressionar o governo a adotar medidas eficazes para melhorar a competitividade da indústria têxtil brasileira. O formulário para assinatura, bem como o painel atualizado em tempo real, estão disponíveis no site da Abit www.abit.org.br. De acordo com dados levantados pelo departamento econômico da Fiep, o Brasil importou, em 2011, US$4,6 bilhões em produtos têxteis: aumento de 21% em relação a 2010. Somente o Paraná, no ano passado, importou US$ 181 milhões: aumento de 86% em relação ao ano anterior. Para Surek e outros empresários das indústrias têxteis e confecções a situação é grave: "Estamos à beira de uma desindustrialização do setor e o produtor brasileiro está vendo suas vendas diminuindo, muitas vezes, em até 70%. Alguns estão fechando as portas". Segundo a área técnica da Abit, antes de 2005, praticamente não havia roupa importada da China no Brasil. Quem supria esse mercado eram as empresas nacionais, com roupa de excelente qualidade. Para a associação, a China corrompeu os valores de mercado porque, para produzir roupa barata, explora funcionários, contratando mão de obra escrava e infantil, empresta dinheiro aos seus exportadores sem cobrar juros, desrespeita todas as leis ambientais e mantém o câmbio forçadamente desvalorizado. Assim, a roupa pronta

"O Brasil não precisa de trabalho escravo para oferecer produtos acessíveis e de qualidade, mas de isonomia e impostos justos”, Marcelo Surek, coordenador do Conselho Setorial da Indústria do Vestuário da Fiep

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Desenvolvimento Local

chinesa chega aqui custando menos que o empresário brasileiro pagaria só pelo tecido. Além disso, aponta a área técnica da Abit, os produtos que entram no Brasil sofrem apenas a fiscalização tributária, ou seja, o consumidor não tem garantia nenhuma de qualidade e procedência. Ao contrário do que acontece com os produtos brasileiros, os importados não precisam se submeter a nenhum padrão ou controle de qualidade. Ao adquirir uma roupa da China ou de qualquer um dos países que praticam o mesmo tipo de produção, ele não sabe de onde vem a matéria-prima, em que condições e por quem é produzida. Recentemente, a pedido dos empresários, o governo anunciou que irá fazer uma parceria com o INMETRO para que os fiscais do instituto possam entrar nos portos e fiscalizar, pelo menos, etiquetas. Para Marcelo Surek, não há como fiscalizar os 70 portos brasileiros: "Com a arrecadação do governo, tecnicamente há condições para isso, mas o país não tem a estrutura necessária, não há como pensar em fiscalizar qualidade e procedência de produtos."

Os produtos que entram no Brasil sofrem apenas a fiscalização tributária, ou seja, o consumidor não tem garantia nenhuma de qualidade e procedência

Trabalho escravo no Brasil • A terceirização nos serviços de costura para a indústria têxtil e de confecção acrescentou a informalidade ao setor, o que tornou as relações cliente/fornecedor muito importantes. Nessa equação, onde se encaixa o trabalho escravo no Brasil? Os imigrantes de outros países sulamericanos, principalmente bolivianos e ilegais, que vêm ao Brasil para fugir de situações de

AGENDA PRIORITÁRIA DO SETOR TÊXTIL E DE CONFECÇÃO

miséria e não conhecem seus direitos, são alvo fácil para confecções que, a exemplo das encontradas em países de democracia fraca e pouco respeito a direitos humanos, buscam lucrar com o trabalho análogo ao escravo. No ano passado, denúncias do Ministério do Trabalho, seguidas de processo pelo Ministério Público, contra a rede varejista Zara Brasil, trouxeram novamente essa questão à tona. A diretoria da rede se isentou de responsabilidade, dizendo que não sabia da procedência dos artigos que comercializa. Diante do processo, assinou com o Ministério Público do Trabalho e com o Ministério do Trabalho e Emprego - junto com a corporação à qual pertence, o grupo Inditex -, um Termo de Ajuste de Conduta. Em nota à imprensa, o Ministério comunicou que o termo visa a aperfeiçoar o controle sobre as confecções da indústria têxtil e garantir melhor qualidade de vida aos trabalhadores. Para pôr em prática várias ações com esse objetivo, a Zara Brasil fará um investimento social de R$ 3,4 milhões e criará um fundo de emergência para resolver eventuais situações de precariedade de trabalhadores. As empresas serão fiscalizadas e, caso não cumpram o compromisso, serão punidas. Para contribuir com o controle desse tipo de problema, a ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil) mantém o Programa de Qualificação de Fornecedores, do qual são signatárias empresas como C&A, Grupo Pão de Açúcar, Marisa, Pernambucanas, Renner, Riachuelo, Wal-Mart, Grupo Gep e Leader, que representam, aproxima-

FORTALECIMENTO DA CONFECÇÃO

CUSTO DA INFRAESTRUTURA

DEFESA COMERCIAL

COMPRAS GOVERNAMENTAIS

NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS

TRIBUTAÇÃO 32

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL


CRESCIMENTO DAS IMPORTAÇÕES DE VESTUÁRIO Mil Toneladas

$ 1721

US$ Milhões FOB

17x $ 100

$ 148

$ 227

$ 1073

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$ 767 96 68

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14 2003 Fonte ABIT

íntegro. A empresa foi, ainda, a primeira a assinar (e a mobilizar seus fornecedores a assinarem) o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil (http://www.pactonacional.com. br). O documento é uma iniciativa da sociedade civil que visa a implementar ferramentas para que o setor empresarial e a sociedade brasileira não comercializem produtos de fornecedores que usam trabalho escravo.

Cortesia Teddy Bear Films

Chun Ya Chai/Teddy Bear Films

damente, 15% do varejo nacional de vestuário. A C&A Modas informa que, além disso, criou, em 1996, a SOCAM, (Organização de Serviço para Gestão de Auditorias de Conformidade), empresa independente e internacional que realiza constantes vistorias em todos os fornecedores e subcontratados da rede, para buscar a melhoria das condições de trabalho, coibir qualquer tipo de mão de obra irregular e garantir um produto

A cada 30 minutos um pequeno produtor de algodão se suicida na Índia

Supervisor vigia as funcionárias que trabalham a noite toda para cumprir prazos de entrega apertados, requeridos por varejistas internacionais GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Responsabilidade Social

c o r p o r a t i v a

Pelo futuro das empresas Cursos e oficinas trazem aos empresários algumas dicas para um futuro mais sustentável Lyane Martinelli

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL


A

s micro, pequenas e médias empresas representam hoje, no Brasil, aproximadamente 95% das empresas do estado do Paraná, sendo responsáveis por mais de 50% dos empregos diretos e com 24% de participação no PIB do estado. Entretanto, muitas delas apresentam dificuldades na gestão e, por isso, o Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) criou o “Guia do Empresário do terceiro milênio”, com dicas e orientações para empresários sobre orientações econômicas e socioambientais. A qualificação e a mudança de postura do empreendedor paranaense é um dos objetivos da publicação, que busca abrir caminhos para uma gestão organizada e responsável, não só no quesito social e econômico, mas também relacionados à sustentabilidade empresarial. “O guia pretende motivar os gestores a administrarem suas empresas encarando novas posturas que lhes proporcionem maior comodidade e conforto no gerenciamento dos recursos humanos, no relacionamento com a comunidade que os cerca e, sobretudo, torná-los mais competitivos no mundo globalizado. Tudo isso fundamentado nos princípios do Pacto Global e nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) entre outras sugestões de boas práticas”, afirma Victor Barbosa, presidente do CPCE. “O CPCE estabelece mecanismos de apoio às empresas que têm interesse em investir na área socioambiental, bem como orienta sobre o investimento social privado e apoia a formação de empresários paranaenses comprometidos”, explica Barbosa. Para isso, ainda em março, será lançado o curso à distância gratuito baseado no Guia do Empresário do Terceiro Milênio, que traz de forma didática, as principais questões a serem implementadas ou ampliadas pelos empreendedores para manter a boa saúde do seu negócio, sem se esquecer do seu lugar na sociedade e no ambiente. Empresários e estudantes poderão ter acesso ao curso pelo site www.eadsesipr.org.br

Oficinas sobre o Pacto Global • Junto a esse trabalho, com o guia para os empresários, o CPCE está desenvolvendo atividades com os empresários paranaenses para difundir os princípios do Pacto Global - uma iniciativa desenvolvida pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas dos direitos humanos, relações do trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. “Esses princípios são um comprometimento mundial com o fazer bem e acertadamente as práticas dos negócios. Nós, o Brasil, não podemos – e não devemos – ficar fora desse movimento que hoje aglomera milhares de organizações pelo mundo articuladas por cerca de 200 redes internacionais”, comenta Barbosa. Para o CPCE, é importante salientar que o Pacto Global não é um instrumento regulatório, mas um código de condutas para promover o crescimento sustentável e a cidadania por meio de lideranças corporativas comprometidas com a inovação. As oficinas vão ocorrer em todo o Paraná durante o ano de 2012 e as datas serão publicadas no site www.cpce.com.br. Responsabilidade Social Corporativa • A falta de planejamento das ações e dos critérios que efetivam a responsabilidade social corporativa (RSC) em uma empresa podem gerar desperdício de tempo e dinheiro. Por isso, o CPCE passou a oferecer em 2012 cursos de responsabilidade social corporativa, para que “cada vez mais empresas trabalhem de forma planejada a sustentabilidade de seus negócios com foco nas áreas que hoje são primordiais para a boa governança empresarial , onde o econômico , o ambiental e o social fazem parte dessa estratégia de negócios e são mensurados e apresentados no balanço social da empresa”, conforme explica Sandra Bortot, articuladora do Núcleo do Terceiro Setor e do Núcleo das Instituições de Ensino Superior do CPCE.

“O CPCE estabelece mecanismos de apoio às empresas que têm interesse em investir na área socioambiental, bem como orienta sobre o investimento social privado e apóia a formação de empresários paranaenses comprometidos”, Victor Barbosa, presidente do CPCE

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Responsabilidade Social

c o r p o r a t i v a

Os 10 princípios do Pacto Global Princípios de Direitos Humanos, baseados na Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948 Princípios do Trabalho Decente, baseados nas Convenções da OIT

Princípios de Proteção Ambiental, baseados na Declaração da Rio 92 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Princípios da Anticorrupção, baseado na Convenção da ONU Contra a Corrupção

01

Respeitar e proteger os direitos humanos

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Impedir violações de direitos humanos

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Apoiar a liberdade de associação no trabalho

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Abolir o trabalho forçado

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Abolir o trabalho infantil

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Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho

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Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais

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Promover a responsabilidade ambiental

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Encorajar tecnologias que não agridem o meio ambiente

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Combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina Fonte: Comitê Brasileiro do Pacto Global

“É essencial aliar as práticas sociais ao planejamento estratégico, buscando sempre a análise dos ambientes externo e interno da organização. Por tanto, é necessário considerar o foco em RSC que deve estar na base de gestão das organizações”, Janine Massolin, conselheira do CPCE

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Os cursos vão contemplar assuntos, como: Normas e Certificações, Voluntariado Corporativo, Incentivos Fiscais e Doações Dirigidas, Planejamento e Gestão Estratégica do Terceiro Setor. “Esses são cursos que têm como grande desafio e objetivo ganhar maior tangibilidade, procurar indicadores concretos, utilizando-se de uma monitoria e avaliação permanentes, aprimorando o trabalho dos gestores e especialmente a percepção de que a RSC deve fazer parte da estratégia de negócios da empresa e de propagar a importância de tratar a questão social como forma estratégica, reaprendendo modos e condutas que

tenham a responsabilidade social como aprimoramento da qualidade de vida e o crescimento sociocultural de todos os envolvidos e guia para as tomadas de decisão”, explica Janine Massolin, conselheira do CPCE. Segundo a conselheira, “é essencial aliar as práticas sociais ao planejamento estratégico, buscando sempre a análise dos ambientes externo e interno da organização. Por tanto, é necessário considerar que o Planejamento Estratégico com foco em RSC deve estar na base de gestão das organizações que as impulsionem para o desenvolvimento sustentável, e para o cumprimento de suas ações”.


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ustentabilidade” é um termo que ouvimos diariamente. Representantes de nações se encontram para decidir sobre estratégias para um desenvolvimento mais sustentável. Empresas divulgam em seus sites boas práticas socioambientais. Governos discutem políticas de redução de impactos ambientais e diminuição da desigualdade social. Crises aquecem o questionamento sobre os limites do atual modelo econômico. Por encontrar-se de alguma forma ligado a todas essas e a muitas outras questões, o termo “sustentabilidade” aparece com frequência em nossas vidas. No entanto, se sustentabilidade é algo tão amplo e pluridimensional, o que dizer, então, do “profissional de sustentabilidade”? Quem é ele? Onde trabalha? Qual o seu perfil? Em primeiro lugar, importante destacar que: (i) quando utilizo o termo “profissionais”, refiro-me àqueles que, exercem sua atividade profissional na área, e não àqueles que no seu dia a dia, agem de forma compatível com o que considero uma “vida mais sustentável”, embora, é claro, acredite que deva existir uma coerência entre a atuação e o cotidiano desse tipo de profissional (a nossa prática, ou seja, a forma como fazemos o que fazemos não pode ser dissociada de quem somos, e está intimamente ligada aos nossos valores; em sustentabilidade, não há espaço para profissionais do tipo “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”); (ii) acredito que muitos profissionais contribuem enormemente para a sustentabilidade, como, por exemplo, profissionais da área ambiental ou aqueles que atuam com desenvolvimento social; entretanto, o que apresento aqui é um novo perfil de profissional, que atua dentro de um conceito mais amplo e transversal. Os profissionais de sustentabilidade não têm formação específica. Podem ser engenheiros, educadores, advogados, gestores, biólogos, entre inúmeras outras possibilidades. Podem atuar no setor público ou no privado, em instituições de ensino ou no terceiro setor. Podem atuar, ainda, como autônomos ou em consultorias. Podem ter em seu currículo inúmeros cursos na área ou, mesmo sem

ter se formado em um curso específico, compreender inteiramente o conceito e ter praticado a sustentabilidade em seu dia a dia, no seu trabalho, de forma a se tornar especialista no assunto. Podem ocupar cargos diversos, em departamentos diversos, não estando necessariamente dentro de uma Diretoria ou Gerência de Sustentabilidade. Mas reconheço um profissional de sustentabilidade quando encontro alguém com uma visão de um mundo mais sustentável, reconhecido dentro da instituição onde atua como um dos responsáveis por fazer com que essa instituição trilhe um caminho compatível com essa visão. Esse profissional deve ter compreensão profunda sobre conceitos, assuntos, princípios e ferramentas relacionados ao tema, e deve criar espaços para que esses temas permeiem a instituição onde atua. Além das características descritas, esse profissional tem valores firmes e sólidos, atuando com ética e transparência, construindo em sua instituição um caminho para a sustentabilidade de forma colaborativa, participativa, inclusiva e tolerante perante a diversidade. Ele deve ser capaz de pensar de forma sistêmica, compreendendo as inter-relações entre os diversos atores e aspectos que regem e influenciam sua atuação e sua instituição. Hoje já ouvimos falar em CSOs, ou Chief Sustainability Officers. Esta terminologia, mais utilizada dentro das empresas, segue o padrão de outras já conhecidas como CEO (Chief Executive Officer) ou CFO (Chief Financial Officer) e refere-se aos Diretores de Sustentabilidade, que têm como missão desenvolver estratégias de sustentabilidade dentro de uma empresa. Em outubro de 2011, foi formalizada a ABRAPS – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, com a missão de representar, conectar e fortalecer a atuação do profissional de sustentabilidade. Com isso, percebemos o crescimento inegável desse novo perfil profissional e permanecemos com a esperança da melhoria da qualidade nas inter-relações entre indivíduos, empresas, mercado, sociedade e o planeta.

Mestre em Saúde Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Consultora e facilitadora de processos em sustentabilidade.

Perfil Profissional

Quem é o profissional da sustentabilidade?

Daniella Mac Dowell

O profissional de sustentabilidade deve ser capaz de pensar de forma sistêmica, compreendendo as inter-relações entre os diversos atores e aspectos que regem e influenciam sua atuação e sua instituição

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Empreendedorismo

Iniciativa de inclusão transforma a vida de pessoas por meio do empreendedorismo A cultura da inovação, sustentabilidade e “mão na massa”, é o diferencial de associação que promove desenvolvimento com o apoio de microempreendedores em todo o Brasil Karla Ramonda

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nir forças e viabilizar acessos para que pessoas e comunidades de baixa renda possam ser empreendedoras, promovendo a inclusão e os desenvolvimentos econômico e social.” É com essa missão que está em cena, desde 2005, a Aliança Empreendedora, uma associação sem fins lucrativos que trabalha com projetos de geração de renda e empreendedorismo com o viés da sustentabilidade aplicado às iniciativas. Com sede na capital paranaense, a Aliança realiza projetos com empresas, governos e

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

ONGs em todo o Brasil, valendo-se de iniciativas e equipes no Paraná, em São Paulo, em Pernambuco e na Bahia. Também conta com uma rede de organizações sociais capacitadas nas metodologias desenvolvidas por ela própria em mais 11 estados. São mais de 40 projetos e serviços para empresas e governos de diversos municípios orientados para o acesso ao conhecimento, ao crédito e à comercialização, resultando no apoio direto a cerca de seis mil microempreendedores de diferentes setores. Rodrigo de Mello Brito Silva, diretor de Par-


cerias e Oportunidades de Impacto da Aliança Empreendedora, explica que a associação atua na prestação de serviços e parcerias com grandes empresas que queiram criar modelos de negócios inclusivos junto aos públicos de baixa renda, colocando os microempreendedores como parte de sua estratégia e cadeia de valor. “O objetivo é realizar programas de geração de renda e empreendedorismo para ampliar a escala de impacto e, ao mesmo tempo, tornar as ações sustentáveis”, justifica.

Inovação e sustentabilidade • Algumas das empresas clientes e parceiras da Aliança Empreendedora são conhecidas por imprimir inovação aos projetos. Um deles é o Reciclagem Inclusiva – parceria entre a Aliança, Gerdau (líder no segmento de aços longos nas Américas e um dos maiores fornecedores do mundo), e GIZ (Agência de Cooperação Internacional do Governo da Alemanha) – que visa beneficiar catadores de materiais recicláveis em seis estados brasileiros. De acordo com Marcel de Souza, coordenador do Reciclagem Inclusiva pela Aliança Empreendedora, esse projeto faz parte de uma parce-

ria público-privada entre Brasil e Alemanha, cujo objetivo é integrar o setor informal na cadeia de valor do aço. “A iniciativa busca apoiar e fortalecer as organizações de catadores de materiais recicláveis dentro das áreas de atuação e de influência da Gerdau. Além disso, propõe o aprimoramento dos processos de gestão, produção e comercialização das organizações de catadores de materiais recicláveis dentro da cadeia produtiva e de valor da Gerdau, em todo o território brasileiro”, conta. O projeto iniciou em janeiro de 2011 e dura até julho de 2013, com suporte a nove organizações de catadores no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco. Neste ano retoma o apoio às redes de comercialização organizadas pelos catadores. “O grande legado do projeto será a metodologia Caminhos da Reciclagem, uma ferramenta de profissionalização a ser validada por diversos stakeholders que atuam na cadeia produtiva e de valor da reciclagem, servindo como ponto de partida para apoiar as associações e cooperativas de catadores em todo o Brasil”, informa Marcel.

“A iniciativa busca apoiar e fortalecer as organizações de catadores de materiais recicláveis e propõe o aprimoramento dos processos de gestão, produção e comercialização das organizações de catadores de materiais recicláveis””, Marcel de Souza, coordenador do projeto Reciclagem Inclusiva

Os resultados das organizações de catadores As organizações de catadores são empreendimentos cuja característica é agregar, no mesmo ramo de atividade, o tripé da sustentabilidade (Triple Bottom Line). Elas operam com as chamadas commodities secundárias e, como resultado, geram postos de trabalho e renda (dimensão econômica), reduzem a exploração de recursos naturais, o consumo de energia nos setores primário e secundário da economia (dimensão ambiental) e criam oportunidades para a inclusão social, uma vez que são constituídas por trabalhadores da base da pirâmide. Também convergem para o engajamento multistakeholder, pois se relacionam com o poder público municipal, estadual e federal, com a iniciativa privada, o terceiro setor, os movimentos sociais e com a sociedade de forma geral. Indicadores do Projeto Reciclagem Inclusiva (2011) Abrangência: - Seis estados do Brasil: RS (Esteio e Charqueadas), PR (Araucária), SP (São Paulo e Pindamonhangaba), RJ (Rio de Janeiro), MG (Divinópolis e Barão de Cocais) e PE (Recife), Impacto: - Nove organizações de catadores de materiais recicláveis receberam suporte relacionado à gestão, produção e comercialização e a parcerias; - Elaboração da metodologia "Caminhos da Reciclagem" composta de 15 módulos para assessorar diretores e público

interno das organizações de catadores; - Quatro organizações sociais aliadas (ONGs) estão replicando para a base a metodologia "Caminhos da Reciclagem", o que leva à promoção do terceiro setor local. Indicadores Econômicos: - Nove organizações formalizadas; três emitem nota fiscal, cinco comercializam para a indústria; - 175 toneladas de sucata foram comercializadas diretamente com a Gerdau em apenas seis meses, gerando a quantia de R$ 113.202,00. Indicadores Ambientais: - Nove associações receberam assessoria para operar em conformidade com a legislação ambiental; - Melhoria na qualidade da relação com as Secretarias Municipais de Meio Ambiente; - Sensibilização das nove organizações de catadores sobre os impactos ambientais dos empreendimentos; - Orientação sobre o manejo e a destinação correta de resíduos perigosos. Indicadores Sociais: - 201 catadores beneficiados diretamente e cerca de 600 pessoas beneficiadas indiretamente; - 48 catadores estão contribuindo para o INSS - Instituto Nacional de Seguro Social.

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Empreendedorismo

O projeto “feminino” • Outra união da Alian-

“O objetivo é realizar programas de geração de renda e empreendedorismo para ampliar a escala de impacto e, ao mesmo tempo, tornar as ações sustentáveis”, Rodrigo de Mello Brito Silva, diretor da Aliança Empreendedora

ça Empreendedora é com o Grupo Santander Brasil, que lançou em 2011 o programa Parceiras em Ação, destinado a organizações sociais que executam projetos de apoio a microempreendimentos e a grupos produtivos comunitários constituídos e liderados majoritariamente por mulheres de baixa renda. Para 2012, foram selecionadas cinco organizações entre mais de 200 projetos que, ao longo do período, receberão apoios financeiro e metodológico para acompanhar 14 grupos produtivos. Segundo a coordenadora de Gestão do Conhecimento da Associação Aliança Empreendedora, Caroline Maria Appel, existem alguns critérios específicos relacionados à triagem. Os concorrentes devem prever o apoio desde dois até quatro grupos produtivos, liderados em sua maioria por mulheres. Quanto ao “item” sustentabilidade, Appel explica que não é norma para a seleção. “No entanto, ao longo do tempo de apoio aos grupos, são trabalhados o conceito e as questões relacionadas ao negócio como o aproveitamento e a destinação correta de resíduos, envolvimento

com a comunidade, entre outros.” Desde o primeiro edital (2009), receberam apoio a Fundação Brasil Cidadão (Ceará), Fundação Apaeb (Bahia), Instituto de Desenvolvimento do Artesanato Maranhense (Maranhão), Avesol, Associação do Voluntariado e da Solidariedade (Rio Grande do Sul) e Apesp (Associação de Pescadores no Espírito Santo). Entre essas organizações, destaca-se o trabalho da Fundação Brasil Cidadão, que trabalha as sustentabilidades econômica, ambiental e social em todas as suas ações. Destaca-se, também, o Mulheres de Corpo e Algas, que buscou durante o projeto eliminar a exploração predatória dos bancos de algas de Icapuí/CE, por meio de cultivo e esporulação de algas, sem agredir o meio ambiente. “Todas as cinco organizações apoiaram diretamente 17 grupos produtivos, que construíram seus planos de negócio, receberam máquinas e, com isso, aumentaram a renda dos participantes”, finaliza a coordenadora. As parcerias para a aplicação dos projetos também se estendem a outras empresas como Natura, Danone, Walmart, Sebrae e HP.

Saiba mais sobre a Aliança Empreendedora O que aconteceria se a sua empresa atuasse de forma inclusiva e ao mesmo tempo lucrativa junto ao mercado de baixa renda? Imagine então se cada ONG promovesse a geração de trabalho e renda nas comunidades em que atua com metodologias de impacto? Isso acontecendo em uma rede que articula multiplicadores, parceiros e investidores? E se cada prefeitura tivesse programas de incentivo, formação e apoio a microempreendedores de baixa renda como estratégia para a redução da pobreza de forma consistente e com indicadores de impacto e resultado. Imaginou? Transformar isso em realidade é o que a Aliança Empreendedora faz com os projetos, serviços e formação de multiplicadores em todo o Brasil. Foco e atuação • Negócios inclusivos: Desenho, planejamento, implantação e avaliação de modelos de negócios inclusivos para empresas que queiram atuar junto a públicos de baixa renda por meio de mecanismos de mercado. • Projetos e programas de incentivo e apoio ao empreendedorismo de baixa renda: Desenho, planejamento, implantação e avaliação de projetos, programas e editais de incentivo e apoio a microempreendedores para a geração de trabalho e renda. • Geração de conteúdo e disseminação da cultura empreendedora: Premiações, eventos, geração e disseminação de mídia e conteúdo educativo e inspirador para o empreendedorismo. Desenvolvimento e repasse de metodologias de apoio e educação empreendedora para ONGs, governos, institutos e fundações empresariais • Foco: públicos de empreendedores individuais, grupos produtivos comunitários urbanos e rurais, jovens empreendedores, negócios sociais comunitários e catadores de materiais recicláveis. • Cursos, oficinas e treinamentos: Relacionados aos temas de gestão, empreendedorismo, inovação, negócios inclusivos e geração de trabalho e renda na base da pirâmide. Mais informações: www.aliancaempreendedora.org.br contato@aliancaempreendedora.org.br (41) 3013 2409 – Curitiba, Paraná

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jerÔnimo mendes Administrador, Consultor, Professor Universitário e Palestrante. Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local

O que é ser sustentável?

E Sustentabilidade diz respeito ao uso eficiente dos recursos naturais utilizados por parte de quem fabrica e também de quem consome. Portanto, as empresas que desejam perpetuar e construir um legado admirável devem pensar, acima de tudo, em como ganhar dinheiro sem destruir o meio ambiente

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

ntre as inúmeras especulações sobre o mito criado em torno de Steve Jobs, existe algo que poucos pesquisadores e aficionados pelo assunto não destacam com a mesma importância com que deveriam: a questão da sustentabilidade e o lado humano da estratégia, visivelmente presentes na política da empresa. De início, pode-se imaginar que a Apple está preocupada apenas com a questão econômico-financeira, porém, quando se analisa a qualidade dos produtos e sua aplicabilidade, é possível ter ideia do que se passava na cabeça de Jobs em relação à sustentabilidade e sua indissociável relação com a criação de facilidades tecnológicas. Sustentabilidade diz respeito ao uso eficiente dos recursos naturais utilizados por parte de quem fabrica e também de quem consome produtos e serviços. Portanto, empresas que desejam perpetuar e construir um legado admirável devem pensar, acima de tudo, em como ganhar dinheiro sem destruir o meio ambiente. Com relação ao lado humano da estratégia, significa dizer que as empresas, a exemplo da Apple, IBM, FIAT, GE e Natura, entre outras, procuram conceber produtos e serviços orientados para o bem-estar do consumidor. Obviamente, visam o lucro, porém, em tempos cada vez mais voltados para a interação do homem com o meio ambiente, é praticamente impossível ignorar essa premissa. Para se ter ideia do que isso significa é necessário entender o que a Apple faz para merecer o conceito de empresa sustentável: • Os produtos Apple são construídos em peça única denominada chassi monobloco com alumínio 100% reciclável; • Os monitores são feitos com vidro 100% reciclável; • A iluminação do painel utiliza tecnologia LED (Light Emitter Diode) - a mesma utilizada na fabricação de chip dos computadores – capaz de transformar energia elétrica em luz al-

ternativa e ecologicamente correta; • Por lei, toda compra realizada no Estado da Califórnia reverte oito dólares para auxiliar na recuperação do impacto dos seus produtos sobre o meio ambiente; • Todos os produtos Apple são fabricados sem componentes prejudiciais ao meio ambiente: chumbo, PVC, mercúrio, arsênio (tela de vidro), BFR (retardador de chama que contém Bromo, altamente tóxico); • As embalagens de produtos Apple são concebidas exclusivamente para acomodar os produtos e nada mais, ou seja, embalagens compactas significam menos transporte, menos consumo de combustível e menos resíduos no meio ambiente; • Se você mora nos Estados Unidos e adquire um produto Apple, ganha um programa de reciclagem para a próxima troca do equipamento; a Apple recicla 90% dos componentes utilizados no produto original; • Em geral, seus produtos são projetados para proporcionar a eficiência energética dos próprios usuários, portanto, mais recursos interativos e menos desperdício de energia. Assim, quando pensar em sustentabilidade, lembre-se da Apple e incorpore em definitivo esse conceito. Quanto maior a conscientização em relação ao impacto dos desenvolvimentos econômico e social sobre o meio ambiente, maior a esperança para o futuro do planeta. Ser sustentável, portanto, significa: • Ter políticas claras voltadas para o bemestar do consumidor e ao mesmo tempo para o menor impacto possível dos seus produtos e serviços sobre o meio ambiente por meio da utilização consciente dos recursos naturais; • Ter consciência de que se você quer deixar algo de valor para os seus filhos e netos, deve fazer muito mais do que se indignar com o que outros fazem com os resíduos dos produtos que fabricam e consomem; • Ter o pensamento orientado para um viés sistêmico que permita entender a diferença entre consumo consciente e consumismo.



Acessibilidade

Sustentabilidade sob duas rodas Arquiteto cria projeto de ciclovia elevada que contribui com mobilidade e segurança

A

falta de estrutura para que ciclistas se locomovam em espaços urbanos os obriga a dividirem o mesmo espaço com carros, ônibus e motos. Hábito que pode ser bem perigoso e até fatal. São cada vez mais comuns as notícias sobre acidentes envolvendo ciclistas e automóveis em todo o Brasil. Somente em Curitiba, de acordo com dados do Corpo de Bombeiros, de janeiro a agosto de 2011, 121 pessoas ficaram feridas em 146 acidentes envolvendo ônibus e bicicletas em Curitiba. Diante desta situação alarmante imagine poder andar de bicicleta sem se preocupar com a movimentação dos carros nas regiões mais movimentadas da cidade. Agora pense como seria bom poder fazer isso contemplando belas paisagens. Esses são apenas alguns dos benefícios

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Bruna Robassa

proporcionados pela ciclovia sustentável projetada pelo arquiteto e urbanista Gilmar Lima. Lima é proprietário da empresa Atmosfera2 (www.atmosfera2.com.br), que existe há mais de 12 anos e tem como foco desenvolver planos estratégicos municipais voltados ao incremento do turismo. Além disso, grande parte dos projetos é sustentável. A Ciclovia Elevada começou a ser planejada há dois anos e pode ser implantada em qualquer região ou cidade. “É um projeto-conceito, que poder ser aplicado em qualquer lugar, no entanto, gostaria que Curitiba fosse a primeira cidade a receber um presente como este”, declara Lima. A ciclovia proposta por Gilmar de Lima é elevada, como se fosse uma passarela que acompanha a linha dos canteiros centrais, onde estão instaladas as estações tubo, que se integram à


e desequilibrada. De acordo com dados do Detran/PR (Departamento de Trânsito do Paraná) entre 2006 e 2010 a frota de veículos em Curitiba passou de 963.464 para 1.197.974, o que significa um aumento de 24%. “Os carros aumentaram significativamente sua frota nas últimas décadas, sem investimentos compatíveis na infraestrutura urbana, além disso, em termos de sustentabilidade, esse tipo de locomoção já deixou a desejar”, ressalta. O arquiteto destaca fatores preocupantes, como o uso individual do automóvel e o pouco hábito de caronas. “Incomum é encontrarmos mais de uma pessoa nos carros. Além disso, o grande número de automóveis gera poluição, estresse e ruas incompatíveis. Mobilidade urbana é, hoje, questão de saúde pública”, enfatiza Lima.

Ideia inédita • O maior problema para a mobi-

ciclovia por meio de elevadores e escadas adaptadas para bikes. O projeto piloto teve como base a cidade de Curitiba em razão de o arquiteto viver aqui nesta cidade. Se fosse contemplada a ciclovia deveria cobrir toda a Linha Verde com integração para as linhas Boqueirão e Pinheirinho - Centro. “Esses foram os locais escolhidos para o projeto piloto pelo grande fluxo de trabalhadores que utilizam essas linhas e por serem regiões mais planas”, explica. O arquiteto lembra que a ciclovia precisa ser encarada como forma de transporte, não só como lazer domingueiro.

O problema da mobilidade nas cidades • Gilmar é um crítico da mobilidade urbana. Segundo ele, as cidades cresceram de forma desordenada

lidade urbana é também a falta de educação no trânsito. “Por isso, projetar ciclovias que fiquem no mesmo nível dos carros não é mais seguro. O trânsito anda tenso e perigoso, e isso nos inspirou na ideia de criar um projeto inédito, tirando a ciclovia do chão”, explica o arquiteto. As estações tubo, conforme mostram as imagens, seriam interligadas a essa ciclovia por meio de elevadores, rampas e escadas. O projeto também prevê que na estação seja construída uma plataforma elevatória para possibilitar o acesso à ciclovia tanto para ciclistas como cadeirantes. A criação de estacionamentos (bicicletários), acoplados às estações tubo, também está prevista no projeto. “Nesses locais também seria interessante que a prefeitura disponibilizasse bicicletas para uso público, assim como já acontece em diversas cidades europeias, no Rio de Janeiro e até no interior do Paraná. A bicicleta pode ser utilizada como meio de condução de um trajeto completo ou por lazer, como apenas para completar o caminho que muitas vezes o ônibus não faz”, sugere Gilmar.

“No Brasil não faltam bons projetos sustentáveis, mas sim planejamento sustentável e uma cultura mais perfilada ao tema” , Gilmar lima, arquiteto e urbanista

Sustentabilidade e acessibilidade • A ciclovia elevada possui vários requisitos que a tornam sustentável. Segundo o arquiteto, há condições para que o piso dela seja gerador de energia em alguns trechos, energia que poderia ser transformada em iluminação de baixo consumo. Uma opção seriam os balizadores de LED. Portanto, a iluminação da ciclovia seria gerada por ela mesma por meio da movimentação dos ciclistas. As características do projeto também o tornam capaz de resolver um problema que poderia ser considerado barreira à implantação da GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Acessibilidade

ciclovia. “A estrutura poderia acoplar parte das tubulações urbanas, que hoje são enterradas, o que causa grandes custos de manutenção e intervenção. Se essas tubulações fossem acopladas na ciclovia, seus custos de implantação e manutenção seriam barateados, assim como seria possível criar mais jardins e liberar passagem de pedestres no solo. Solução integrada, viável e sustentável”, ressalta o arquiteto. Como coordenador nacional do Fórum Internacional de acessibilidade e cidadania, que será realizado em junho deste ano em Foz do Iguaçu (PR), Gilmar de Lima também prevê a utilização da ciclovia para pessoas com deficiência. “A condução para cadeirantes não é uma atividade muito fácil diante do trânsito caótico e da falta de estrutura em muitas calçadas. Por esses e outros motivos, essa ciclovia teria condições de agregar uma parte de comunicação visual e tátil importante e integrada à sua acessibilidade”, conta Lima.

Natureza e segurança • Uma ciclovia elevada permite a contemplação de paisagens urbanas com o benefício de estar no nível da copa de algumas árvores. Além das possibilidades naturais, o arquiteto prevê a plantio de espécies nativas que “abraçariam” a ciclovia. “Dessa forma, além de proporcionar um passeio agradável e sombreamento aos que pedalam, o projeto também promove o embelezamento da cidade, ao mesmo tempo em que é sustentável”. Outra utilização da ciclovia poderia ser a de policiamento. “Já temos policiais que se locomovem de bicicleta, e essa ciclovia também beneficiaria o policiamento, já que a visão periférica tornar-se-ia abrangente, assim como a de um mi48

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rante”. O arquiteto destaca, porém, que a ciclovia proposta “é um projeto único, que deve concorrer a prêmios de mobilidade urbana pela inovação que se apresenta, mas sem cunho político. É um conceito exclusivo que pode e deve ser replicado, apesar de já ter registrado seus direitos autorais”.

Arquitetura sustentável • Gilmar, que possui quase 30 anos de profissão, já tem em sua trajetória diversos projetos sustentáveis aprovados, implantados e bem-sucedidos em muitas cidades do Brasil. O principal foco do arquiteto, é o planejamento de parques, praças, ciclovias que, além de sustentáveis, sejam atrativos para potencializar o turismo em locais degradados. As obras são sustentáveis pelo tipo de material utilizado, que são de preferência ecoprodutos e matéria-prima local. Outros requisitos que caracterizam a sustentabilidade são o reuso de água, a economia de energia e a capacitação de quem executa os projetos para evitar o desperdício e gerar baixo custo de manutenção futura. Como exemplo de projetos já produzidos, Gilmar cita as “Paragens temáticas da Estrada da Graciosa”, no município de Quatro Barras, o “Parque do Rio Timbu”, em Campina Grande do Sul, e o “Polo Náutico Cambirela”, no município de Palhoça, em Santa Catarina, além do Parque Linear S. Francisco, entre outros. Na estrada da Graciosa, as paragens temáticas “contam” a história de Dom Pedro II e promovem uma viagem no tempo com muita interatividade e utilização de materiais reciclados e alternativos. As paragens também são benéficas para os ciclistas que por ali passeiam.



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