www.geracaosustentavel.com.br setembro/outubro 2007 • ano 1 • edição 3
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Entrevista
Miguel Krigsner
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Capa
20 Visão Sustentável
Quanto vale a economia de custos
24 Responsabilidade Social Corporativa
O exemplo que vem das cooperativas
32 Qualidade de Vida
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Higiene e beleza com consciência
36 Educando para o futuro
Virtudes para um mundo melhor
40 Empreendedorismo
Em busca do desenvolvimento local
44 Responsabilidade Ambiental
A capacidade de solucionar problemas ambientais e inovar o mercado
48 Ong e Ação
Comitê das entidades no combate à fome e pela vida
02 Jerônimo Mendes 13 Consult 19 Exodus 23 Trier 28 e 29 Unifae 31 JW 35 Instituo Ethos 43 Civitas, Vioti, Creare 45 Unilehu 51 De Figueiredo Demeterco 53 Fesp 55 Infante setembro/outubro 2007
Anunciantes e Parcerias
Opiniões
22 Gestão Sustentável 30 Diversidade 34 Ser Sustentável 39 Educação Sustentável 42 Empreendedor 46 Meio Ambiente 49 Destaque Jurídico 52 Economia Sustentável
Matérias
04 Editorial 05 Espaço do Leitor 06 Notas 50 Publicações e Eventos 54 Indicadores de Sustentabilidade
Investindo no Capital Humano das empresas
GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
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Editorial
O Capital Humano é essencial para a Sustentabilidade Corporativa Já se foi o tempo em que as pessoas eram consideradas apenas recursos dentro das empresas. Aquele departamento de RH - Recursos Humanos ou Departamento Pessoal que apenas recrutava e elaborava a folha de pagamento, pelo menos na expressão, já deixou de existir. Os empregados e trabalhadores passaram a ser chamados de colaboradores. Esses colaboradores passaram a ser stankholders das organizações. Cada vez mais a gestão do conhecimento, que depende das pessoas, é valorizada. Relações transparentes, ambiente sadio e perspectivas profissionais são fundamentais para conquistar e manter os colaboradores na empresa. Planos de carreira, participação nos resultados... Enfim, hoje a visão é bem mais ampla, pois as corporações estão se modernizando e percebendo que o ser humano é, de fato, a única força viva que move uma organização. Os investimentos estão sendo ampliados nesta área e vem sendo implantado um processo estratégico de gestão de pessoas. As empresas já falam em Capital Humano, e de um capital se requer desembolso e se espera retorno satisfatório. Com as equivalências tecnológicas e com os acessos iguais aos demais recursos, as corporações descobriram que são as pessoas que realmente fazem a diferença. Nesta terceira edição, a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL conversou com consultores e empresas que acreditam que o Capital Humano é de fato um diferencial precioso no mercado competitivo. Boa Leitura. Pedro Salanek Filho Diretor Executivo
O sonho de uma
Geração Sustentável
A revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL foi idealizada por empreendedores que acreditam que questões voltadas ao tema sustentabilidade farão, cada vez mais, parte da vida das pessoas como também influenciarão nas estratégias empresariais. O nosso foco principal será o desenvolvimento sustentável, através do qual buscaremos conquistar um espaço estratégico junto ao ambiente empresarial. Entre os objetivos, está a divulgação das iniciativas, atitudes, ações e experiências bem sucedidas e aplicadas de forma sustentável nas atividades organizacionais. Caro leitor, compartilhe conosco deste sonho.
Diretor Executivo Pedro Salanek Filho pedro@geracaosustentavel.com.br Jornalista Responsável Vanessa Brollo (MT - 1691/PR) vanessa@geracaosustentavel.com.br Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck criacao@geracaosustentavel.com.br Comercial Giovanna de Paula giovanna@geracaosustentavel.com.br Revisão Ana Cristina Castex Conselho Editorial Pedro Salanek Filho Antenor Demeterco Neto Ivan de Melo Dutra Lenisse Isabel Buss Articulistas articulista@geracaosustentavel.com.br Colaboraram nesta edição Jornalistas: Juliana Sartori e Ana Letícia Genaro Impressão Gráfica Infante Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br Tiragem: 3.000 exemplares Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. Rua Bortolo Gusso, 577 Curitiba - Paraná - Brasil CEP: 81.110-200 Fone/Fax: (41) 3346-4541
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Espaço do Leitor
Como empreendedor social, parabenizo-o e à equipe editorial, pela excelência do conteúdo da Revista Geração Sustentável, ponto de referência para aqueles que atuam no dinâmico Terceiro Setor e que precisam de fontes seguras para desenvolver suas atividades. Estefano Ulandowski Presidente do Instituto Eko e Coordenador do CASEM da Associação Comercial do Paraná
Gostaria de cumprimentar toda a equipe da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL pela capacidade de observação e competência em desenvolver um veículo de comunicação direcionada ao desenvolvimento sustentável, reciclagem e preservação ambiental. Parabéns pela coragem empreendedora e pelo foco objetivado com a revista, pois é de ações iguais a esta que o Brasil e o Planeta precisam para que possamos combater e diminuir o aquecimento global, através da leitura e da educação dos povos. Contém sempre com a Montebello eventos e com a Feira Reciclação nesta empreitada. Valdir Bello Montebello Eventos
Quero parabenizá-los pela Revista: está ótima, as matérias são críticas, inteligentes, bem escritas e estimulam pessoas e organizações a iniciar/revisar projetos no âmbito social. Aos idealizadores desta proposta meu sincero desejo de que este trabalho continue! Andressa de Oliveira Aluna da Pós-Graduação de Gestão Social da UNICENP/UNINDUS/SESI
A Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, mais que um veículo de informação, é uma fonte de inspiração para as organizações que querem atuar com maior engajamento social. As matérias comprovam que é possível sim responder às necessidades do presente sem comprometer essa capacidade das gerações futuras. Não há como ficar indiferente diante de tantos bons exemplos. Parabéns. Adriana Pierini Coordenadora de Desenvolvimento Humano e Social - Cocamar Cooperativa Agroindustrial
Parabéns pela publicação desta revista, além do excelente material de editoração, os temas abordados são fundamentais para que possamos ajudar a preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, e assim contribuirmos com as gerações futuras. Jorge Luis Prado Curitiba/PR
Quero destacar a iniciativa empreendedora de lançar uma revista em um tema tão importante nos dias de hoje. Quando tive a oportunidade de conhecer a revista, logo percebi que se tratava de uma publicação séria e comprometida com a sustentabilidade das organizações e da sociedade. Parabéns aos idealizadores e aos colaboradores do projeto. Roberto de Oliveira Administrador de Empresas e Instrutor
Bastante interessante à edição nº 02 dessa conceituada revista que tratou tão bem de um assunto que nos remete a uma reflexão: o que podemos fazer para manter nossa cidade e nosso mundo em uma condição sustentável de viver: a reciclagem. Parabenizo aos redatores desse veículo de comunicação em tratarem tão bem de um assunto que hoje é uma necessidade. Se cada um de nós fizer a nossa parte com certeza teremos uma condição melhor de vida, e podemos começar em nossa casa. Que a reciclagem hoje é uma necessidade, todos sabemos mas ainda há muito para fazer. Vivemos em uma cidade onde já existe uma política de reciclagem que dá condições de ganho para muitas pessoas. Só para destacar: moro em uma rua de uma quadra apenas e fazemos com a contribuição de alguns vizinhos uma seleção do lixo, para que garrafas de plástico, caixas de papel, entre outros não fiquem junto com o lixo normal. Continuem assim, destacando assuntos importantes e dessa forma poderemos transformar nosso mundo em um lugar bom para se viver. Abraços Antonio Salanek Plancontábil Assessoria Ltda.
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Entrevista
divulgação
Sustentabilidade como essência do negócio
Miguel Krigsner GERAÇÃO SUSTENTÁVEL • A Fundação O Boticário surgiu em 1990, quando o tema sustentabilidade ainda não era tão debatido. De que maneira começou a preocupação com o tema? MIGUEL KRIGSNER • Desde a minha juventude, eu tinha interesse pela preservação da natureza. Ainda na universidade, assisti algumas palestras que me chamaram muito a atenção. Também conheci um programa desenvolvido pela organização israelense KKL, que, desde 1901, recupera áreas em Israel e promove o plantio de árvores no país. Somou-se a isso que, desde o início das atividades do Boticário, a marca era associada ao meio ambiente por seus consumidores, o que gerava uma demanda considerável de pedidos de apoio a iniciativas relacionadas ao tema. Em 1990, decidi criar um projeto para concretizar o desejo de fazer algo pela natureza brasileira. Foi quando desenvolvemos o modelo da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, em princípio, como um mecanismo para apoiar financeiramente projetos de terceiros e, aos poucos, incluindo outras ações de conservação da natureza. De fato, naqueles tempos, havia pouca discussão sobre ações de proteção à natureza e mesmo as idéias de responsabilidade social eram muito pouco conhecidas e aplicadas. Podemos ser considerados pioneiros nesta iniciativa e o fizemos por acreditar no compromisso e na contribuição que as empresas podem dar para construir um país mais justo, que valoriza, respeita e cuida de todas as formas de vida que existem.
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Há 30 anos, quando abriu uma pequena farmácia de manipulação no Centro de Curitiba, Miguel Krigsner dava início ao O Boticário e a uma história de muito sucesso. O empreendedor e visionário, sempre à frente do seu tempo, já falava em responsabilidade ambiental e social quando esses assuntos ainda não estavam na pauta das grandes corporações. Nessa entrevista à GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, ele conta um pouco da sua trajetória, fala dos projetos da Fundação O Boticário, e também dá dicas importantes para as empresas que sonham em se tornar sustentáveis.
GS • Há algum projeto da Fundação que o senhor considera mais importante? MK • Eu posso ser considerado óbvio ao dizer que todos os projetos da Fundação O Boticário são muito importantes, mas faço uma defesa desta afirmação porque há poucas organizações e empresas dedicadas às questões ambientais e menos ainda voltadas para a conservação da natureza, que pode ser considerada, talvez, a única estratégia efetiva para a garantia da qualidade de vida para todos os seres, hoje e no futuro. Se tiver, porém, que citar uma ou duas iniciativas de destaque, destaco o Projeto Oásis, um mecanismo pioneiro de pagamento por serviços ambientais que a Fundação O Boticário está desenvolvendo na bacia de Guarapiranga, na Grande São Paulo. Por meio dele, a Fundação desenvolve um mecanismo inovador no Brasil, que pode se transformar em uma eficiente solução para a manutenção das florestas em pé. Não poderia deixar de mencionar também as Reservas Naturais e a Estações Natureza. Acabamos de adquirir uma propriedade em Cavalcante (GO), em que implantamos a Reserva Natural Serra do Tombador, como uma contribuição efetiva para a conservação do Cerrado, hoje, o bioma mais ameaçado do Brasil. As Estações Natureza, por sua vez, realizam um amplo trabalho de sensibilização das populações urbanas sobre o cuidado com o meio ambiente. Atualmente, a Fundação O Boticário mantém duas unidades delas implantadas em Curitiba (PR) e Corumbá (MS), e outros projetos estão em fase de implantação.
GS • Em relação ao meio ambiente, o que mais uma empresa poderia fazer para ajudar? MK • São inúmeras as oportunidades de ajudar, cotidianamente. Em primeiro lugar, é importante que as empresas cumpram as leis e regulamentos ambientais, adotando medidas ecológicas em seus processos de produção e também nos administrativos. Isso já é uma importante contribuição porque diminui o impacto sobre o meio ambiente. Outro papel determinante que cada empresa pode fazer é selecionar bem e ajudar no processo educativo de seus fornecedores. No Boticário, todos os fornecedores passam por processos de avaliação, em que sua conduta ambiental conta pontos no relacionamento. E o mais importante disto é que, detectada uma falha, fazemos todos os esforços para que este fornecedor se adapte aos processos necessários e, inclusive, os adote como padrão em todos os seus acordos comerciais com outras empresas. Todos os anos, reconhecemos as iniciativas exemplares de nossos fornecedores, e isso provoca transformação em cadeia e em volume. Todos esses ajustes em produção e em comportamentos administrativos são contribuições importantes para frear os efeitos das mudanças climáticas. É fundamental lembrar que as empresas podem ser as geradoras de grandes mudanças de comportamento, pois são consumidoras de grande porte. Toda vez que uma empresa adota uma nova postura quanto ao tipo de material que consome, provoca a adequação de toda uma cadeia produtora de matéria-prima e de serviços. E apoiar projetos sérios e eficientes de organizações sempre será uma excelente alternativa.
cial: levar a magia das histórias para hospitais, creches, orfanatos e instituições de apoio a crianças. O Instituto O Boticário também investe em espaços e apóia ações que visam a preservação do patrimônio cultural nacional como: Espaço do Boneco, Espaço Perfume Arte & História e Museu da Farmácia Augusto Stellfeld.
GS • A empresa também desenvolve projetos de responsabilidade social. Como funciona o Crescer? MK • Implantado em 1999, tem o objetivo de proporcionar condições para jovens competirem no mercado de trabalho. Conta com a parceria da comunidade local e com a Guarda-Mirim de São José dos Pinhais. Atualmente, participam do programa 30 jovens aprendizes.
GS • O senhor acha que as empresas estão mais conscientes de que devem assumir compromissos sociais e ambientais? MK • Ainda temos muito para aprender e evoluir neste processo, mas é evidente que o empresariado brasileiro tem amadurecido muito em suas práticas de responsabilidade social e ambiental. Prova disso são organizações como o Instituto Ethos e o GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, que reúnem e mobilizam dezenas de empresas em todo o Brasil, capacitando e buscando soluções modernas para a prática do investimento social privado e da responsabilidade social. E se ainda falta motivação para agir, os índices de sustentabilidade corporativa têm demonstrado que empresas responsáveis têm vida mais longa.
GS • Em relação à cultura. O Teatro de Bonecos Dr. Botica, em Curitiba, não é só uma casa de espetáculos? MK • A capacidade de sonhar é essencial para os seres humanos. Acreditamos que a fantasia, a magia, as histórias e as sensações, são capazes de renovar as pessoas, despertando o interesse para o conhecimento, já que a arte e a cultura são grandes amigas da educação. O Boticário é o principal patrocinador do Teatro de Bonecos Dr. Botica, inaugurado em 2001 numa antiga estação ferroviária em Curitiba. Além de ser palco de festivais, exposições, seminários e cursos que divulgam a arte bonequeira, o Teatro de Bonecos tem importante papel so-
GS • Como funciona a Estação Natureza? MK • As Estações Natureza são exposições permanentes, criadas e mantidas pela Fundação O Boticário, que têm como objetivo sensibilizar a população para a conservação da natureza. Além de proporcionarem um espaço em ambiente urbano para contato da população com a natureza brasileira, apóiam o trabalho de professores de ensino fundamental e médio para a inserção da temática ambiental nas escolas, e proporcionam aos estudantes espaço de aprendizagem sobre questões ambientais. A Estação Natureza Curitiba foi instalada em 2001 na capital paranaense. A exposição mostra as belezas naturais do Brasil de forma lúdica e interativa, por meio de painéis fotográficos, elementos interativos, maquetes, sons e aromas, permitindo que o visitante faça uma verdadeira viagem pelos biomas brasileiros. A Estação Natureza Pantanal foi inaugurada em fevereiro de 2006, em Corumbá/MS. É uma exposição permanente dirigida a turistas, estudantes e demais moradores da região, incluindo bolivianos das cidades fronteiriças. Elementos interativos, imagens e sons retratam detalhes da planície pantaneira, sua formação, aspectos físicos e a biodiversidade do local. Elas servem para lembrar que todos nós temos um papel a desempenhar na manutenção do nosso planeta.
Os índices de sustentabilidade corporativa têm mostrado que empresas responsáveis têm vida mais longa
GS • Como é trabalhado internamente essa visão de sustentabilidade para os funcionários? MK • Nossa forma de transmitir a visão e a filosofia de conservação da natureza aos funcionários passa, principalmente, pela atitude. Estamos sempre em busca de novas tecnologias e procedimentos que diminuam o setembro/outubro 2007
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Entrevista
As pesquisas indicam que o brasileiro ainda exerce pouco seu poder como consumidor, mas as estatísticas indicam que cada vez mais pessoas incluem, entre seus critérios de seleção de consumo, itens como origem das matériasprimas, formas de produção, comportamentos das empresas quanto ao cumprimento das leis e suas ações de responsabilidade social
impacto sobre o meio ambiente, seja nos processos industriais ou nas práticas cotidianas nos escritórios da empresa. No ano passado, iniciamos um projeto chamado Bioconsciência, para retorno e reciclagem das embalagens de nossos produtos. O primeiro passo foi dado junto aos funcionários, em campanhas de informação e sensibilização deles para adesão à iniciativa. A diretoria de comunicação corporativa da empresa integra, entre suas funções, diversas atividades de comunicação e mobilização interna, em parceria com a área de Saúde, Segurança e Meio Ambiente e com a própria Fundação O Boticário. Os informativos internos têm páginas fixas sobre o assunto. Diretores, gerentes e coordenadores são frequentemente estimulados a observar inovações e melhores formas para desenvolver todos os processos. Todos os funcionários são sensibilizados para adotarem condutas ecologicamente amigáveis em sua rotina de trabalho, como reduzir a geração de lixo, reciclar tudo o que for possível, economizar água e energia. Nossas campanhas procuram informar sobre como essas atitudes contribuem efetivamente para a proteção da natureza como um todo. Para avançar, é necessário que o processo seja gradativo e constante. GS • O senhor acredita que os consumidores percebem quando uma empresa é sustentável? MK • As pesquisas indicam que o brasileiro ainda exerce pouco seu poder como consumidor, mas as estatísticas indicam que cada vez mais pessoas incluem, entre seus critérios de seleção de consumo, itens como origem das matérias-primas, formas de produção, comportamentos das empresas quanto ao cumprimento das leis e suas ações de responsabilidade social. Em média, as sondagens estimam que esse público gira em torno de 20% dos consumidores no Brasil. E, mesmo que a postura de preferência por empresas mais sustentáveis ainda seja pequena, por outro lado, cresce a rejeição por produtos que são comprovadamente nocivos à vida. GS • Quando o senhor analisa o sucesso de todos esses projetos, o senhor tem a sensação de que está fazendo a sua parte? MK • Há poucas semanas, recebemos a notícia de que uma nova espécie de perereca foi descoberta por um projeto financiado pela Fundação O Boticário. Com ela, são 19 novas espécies brasileiras descobertas com o nosso apoio. Pode parecer pouco, mas quando observamos a velocidade da degradação ambiental e quanto de riqueza temos perdido sem sequer tomarmos conhecimento, tenho certeza de que nossa contribuição é muito significativa. Mais de mil iniciativas em todo o Brasil já receberam nosso apoio financeiro e permitiram
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saber mais sobre a biodiversidade brasileira, manejar melhor áreas naturais e pressionar políticas para ampliar a proteção ao meio ambiente. Nossas Reservas se somam ao esforço de proteger áreas extremamente ameaçadas e garantir que remanescentes dos biomas brasileiros sejam preservados para as gerações futuras. Enquanto isso, as Estações Natureza e outros programas de sensibilização da sociedade promovem a reflexão e a adesão de muitas pessoas a novos comportamentos e atitudes. Diante do cenário ambiental brasileiro, seria fundamental contar com mais esforços, com mais apoio governamental, com mais atitude da própria sociedade. Por isso tudo, tenho certeza que estamos no caminho certo e que contribuímos efetivamente para a consolidação de um melhor país para todos nós. GS • Há algum projeto sendo implantado? Como surgem as idéias para a implantação de novos projetos? MK • Em todo o grupo O Boticário, planejamento é uma atividade levada muito a sério e o nosso planejamento é feito com aprofundados estudos de cenários econômicos, políticos, sociais, ambientais, etc. Observamos as tendências, conversamos com especialistas e apreendemos aquilo que tem relação com a essência da empresa e que aponta para o novo, para o ousado, para o transformador, para o gerador de novas tendências. GS • Que conselhos o senhor daria para um novo empreendedor que pretende ter um negócio e desenvolver projetos de sustentabilidade? Por onde começar? MK • O empreendedor precisa apostar na ousadia e na importância da postura ambientalmente correta. Desde o planejamento do negócio, adotar todas as medidas que puder para que seu negócio seja sustentável economicamente e também para a saúde do planeta e ainda ter a capacidade de convencer quem estiver por perto de que este é o melhor caminho para a coletividade. O primeiro passo é fazer uma boa avaliação do cenário, buscar fontes confiáveis de informação e desenvolver um bom planejamento que permita o melhor aproveitamento possível da iniciativa e dos recursos disponíveis, que normalmente são escassos. Uma dica importante é também tentar se livrar dos modismos, tão abundantes no mercado. Hoje, se fala muito em sustentabilidade, mas nem tudo é positivo de fato. Há muitas soluções aparentemente fáceis que precisam ser objetivamente avaliadas para saber se podem gerar resultados concretos no médio e longo prazo, porque quando falamos de meio ambiente não basta pensar nos efeitos imediatos.
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Investindo no CAPITAL HUMANO das empresas
Consultores dizem que apostar nas pessoas é criar diferenciais nas empresas Vanessa Brollo
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lho, alcançar elevados indicadores de desempenho. Na época em que vivemos, a produção de bens e serviços requer mais do que a rotina, requer um enorme esforço coletivo, ampliando a atenção dos gestores para todas as pessoas que contribuem com o processo produtivo”, diz Dante. Irene Duran, da Exodus, que atende clientes em todo o Brasil com projetos de treinamentos customizados, ou seja, voltados às necessidades específicas das empresas, diz que é preciso acreditar que “santo de casa faz milagres”. “Se somássemos todo o conhecimento teórico, tácito das pessoas e bagagem de experiências que trazem para as organizações, teríamos o equivalente a uma usina nuclear de conhecimento. Muitas vezes nem conhecemos o potencial que cada colaborador possui”, afirma Irene. A consultora também dá uma dica de como conhecer melhor o potencial do capital humano de uma empresa: “Uma das alternativas seria elaborar um banco de potenciais, constando todo o histórico do colaborador, o que ele já fez, experiências empresariais e extra trabalho, cursos realizados, enfim, todo o conhecimento e vivências conquistadas. Em determinados momentos na organização, este banco de talentos pode ser acionado e muitas vezes problemas são solucionados internamente pelos ‘santos’ de casa”. PARA QUE AS PESSOAS VISTAM A CAMISA • Muitas empresas investem milhões divulgando ações de responsabilidade social ou ambiental, mas se esquecem de avisar o público interno sobre essas ações. Um erro, segundo os consultores ouvidos pela GERAÇÃO SUSTENTÁVEL. “Infelizmente muitos projetos sociais existem para que as empresas paguem menos impostos, diz Bernt Entschev, que complementa: “Só quando a empresa tem objetivos sérios é que consegue fazer com que os funcionários contribuam”.
Bernt Entschev:
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É
preciso uma pessoa para fazer o planejamento antes de abrir uma empresa, de pessoas para colocar esse planejamento em prática, de pessoas para administrar, de pessoas que atendam os clientes. Pessoas, pessoas, pessoas. Não importa o ramo de atuação ou o produto, são pessoas que garantem o funcionamento de qualquer empreendimento e, por consequência, a sua sustentabilidade. Pessoas são consideradas o capital humano das corporações. Se tudo depende desse capital, o que se imagina é que os empresários não têm dúvidas na hora de investir em treinamento, em motivação para os funcionários. Mas nem sempre isso acontece. Segundo Irene Duran Otero, da Exodus Treinamentos, muitos já falaram da importância do capital humano nas organizações como sendo O DIFERENCIAL competitivo, porém, proporcionalmente, o que se observa é que as ações não ocorrem com a mesma intensidade. De acordo com a consultora, empresas que realmente almejam a sustentabilidade conseguem sair do discurso e partir para a ação: “Nas últimas décadas nos tornamos hábeis na gestão de processos, gestão financeira e tecnológica. As empresas necessitam conquistar também a habilidade em gerir pessoas, que verdadeiramente criam identidade ao produto e ao serviço, até mesmo porque pessoas é o que há de vivo na organização. O restante são recursos”. Para Bernt Entschev, renomado especialista em capital humano, fundador e presidente do Grupo De Bernt, vinculado à AIMS International Management Search, segunda maior rede especializada em seleção de executivos no mundo, organizações são pessoas: “Não tem como definir um conjunto de objetivos para uma empresa se não existe a preocupação com o clima organizacional”. O headhunter, que lançou o livro “Executivos, Alfaces & Morangos”, que reúne artigos baseados em episódios que o autor acompanhou em mais de 35 anos de carreira, diz que se organizações são pessoas é essencial que elas tenham o “prazer de fazer” para que uma empresa se diferencie no mercado. “É preciso, treinar, motivar, dar condições para que as pessoas evoluam. É uma questão de sobrevivência das corporações, alerta Bernt. Segundo Dante Quadros, sócio-diretor da Synergygestão para excelência, que atua em projetos específicos na área de gestão organizacional, se as empresas são compostas por pessoas, o ser humano na sua individualidade e complexidade demanda uma atenção especial por parte de quem se propõe a alcançar resultados em qualquer empreendimento. “Dificilmente alguém consegue, sozinho no traba-
“Não tem como definir um conjunto de objetivos para uma empresa se não existe a preocupação com o clima organizacional. É preciso, treinar, motivar, dar condições para que as pessoas evoluam. É uma questão de sobrevivência das corporações”. setembro/outubro 2007
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Irene Duran:
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“Se somássemos todo o conhecimento teórico, tácito das pessoas e bagagem de experiências que trazem para as organizações, teríamos o equivalente a uma usina nuclear de conhecimento”.
Para Irene Duran, primeiro os gestores devem avaliar a real intenção de um projeto de responsabilidade social ou ambiental. Uma vez respondida esta questão é importante desencadear um processo interno de comunicação que consiga transmitir estes reais valores a seus colaboradores: “Historicamente, somos solidários, isto está no DNA do brasileiro. Muitas vezes a pouca adesão dos funcionários está na falta de informação ou então no esquecimento da alta gestão em envolver seus colaboradores na construção do projeto”.
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O consultor Dante Quadros diz não ter dúvidas de que um ambiente que favorece o desenvolvimento do indivíduo tem maior probabilidade de enfrentar desafios de modo seguro e determinado: “As necessidades de mercado, as mudanças imprevisíveis e a concorrência acirrada em custos e qualidade afetam, diretamente, não só o capital financeiro da empresa mas todo o quadro de trabalhadores”. Em relação à sustentabildiade das corporações a partir da valorização do capital humano, Dante Quadros, que também é psicólogo, afirma que deve-se considerar principalmente o bem-estar e o aprendizado das pessoas, uma vez que são elas que alcançam os melhores resultados e que, no final, possibilitam o sucesso produtivo de qualquer organização. “Entendo que os processos que garantem a sustentabilidade estão diretamente relacionados com a importância e valorização de práticas humanísticas que são utilizadas com os empregados dessas organizações”, comenta Quadros. Como valorizar o capital humano • Se a dúvida é a melhor maneira de valorizar e tornar lucrativo o capital humano, o consultor Dante Quadros ressalta o
Dante Quadros:
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“Dificilmente alguém consegue, sozinho no trabalho, alcançar elevados indicadores de desempenho. Na época em que vivemos, a produção de bens e serviços requer mais do que a rotina, requer um enorme esforço coletivo, ampliando a atenção dos gestores para todas as pessoas que contribuem com o processo produtivo”
passando essa consideração para todos os clientes”. De acordo com o consultor, as empresas estão percebendo essa necessidade, estão se voltando decididamente para suas práticas internas, buscando alternativas de seleção, treinamento, remuneração e benefícios que possam aproveitar e manter os melhores talentos: “Afinal são esses colaboradores que tornam realidade a missão e os valores da empresa, garantindo sua permanência no mercado”.
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exemplo de empresas que praticam o empowerment, favorecendo a delegação e o autogerenciamento dos seus empregados, oportunizando participação e um crescente sentimento de pertencimento. Ele admite, porém, que são alternativas difíceis de serem implementadas, uma vez que implicam numa mudança de comportamento nas relações de trabalho e, sobretudo, na estrutura organizacional mais horizontalizada e menos verticalizada e segmentada. No Paraná, Dante lembra da Volvo, que implantou um processo de trabalho baseado em equipes autogerenciáveis, agilizando significativamente seus processos e alcançando resultados significativos de produção com elevados níveis de satisfação do pessoal. “A empresa é considerada benchmarking mundial e profissionais de várias partes do mundo vêm conhecer as práticas de maior valorização do empregado”, exemplifica. Dante Quadros também faz um alerta aos gestores: “Os consumidores estão atentos e percebem quando uma empresa valoriza o seu colaborador”. Ele cita até um exemplo na própria família que notadamente tem preferência por uma pequena casa comercial de bairro: “Onde sabemos que os funcionários são tratados com muita atenção pelos proprietários, e eles acabam re-
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Natura: Valorizando o Capital Humano desde o início
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A Natura tem um programa para “quebrar o gelo” no primeiro dia de trabalho O programa de integração de colaborador (PIC), tem como finalidade integrar o novo colaborador não só no ambiente físico, mas no que diz respeito ao relacionamento com outras pessoas que trabalham na empresa e também passar informações sobre o funcionamento de cada setor. “É o momento de fazer o acolhimento do novo colaborador, pois a relação é um dos valores importantes da empresa”, explica Theresa Christina Ribeiro Penna, Gerente de Educação Corporativa do Departamento de RH da Natura. No primeiro dia é realizada uma apresentação por um grupo de teatro empresarial que simula a chegada do colaborador na empresa. A peça retrata as ansiedades, medos e expectativas dos novatos. A seguir é feita uma integração com o grupo, o que Theresa Christina classifica de “quebra-gelo”, para que os novos colaboradores se conheçam um pouco mais. As pessoas dão um breve perfil de si mesmas, contam em que área irão atuar e revelam um sonho. Também é realizada uma palestra de introdução à sustentabilidade: “Neste momento falamos sobre a preocupação da empresa em relação a questões ambientais e práticas que a Natura adota para esta área”, relata Theresa Christina. Os novos colaboradores recebem informações sobre o Programa de Qualidade de Vida e benefícios, entre eles o plano de saúde, o clube e a poupança privada. No segundo dia, a programação é mais experimental. Para que as pessoas vivenciem o dia-a-dia da empresa. É feita a visita guiada, que dura cerca de 1h30min, na qual uma monitora apresenta aos novos colaboradores todas as áreas da empresa, explica e tira dúvidas sobre o funcionamento forma de atuação e objetivos de cada uma delas. Os colaboradores visitam o Centro de Informações Bibliográficas, uma espécie de biblioteca onde ficam concentradas e disponíveis todas as informações de pesquisas realizadas. Neste momento é feita uma palestra com a gerente do setor. “Este espaço funciona como área de apoio para toda a empresa”, detalha Thereza Christina. Logo após é realizada a visita e almoço no Clube, local de esportes e lazer localizado dentro da fábrica. À tarde os colaboradores passam por um curso denominado “Paixão por Produtos” no qual recebem informações sobre as linhas conceituais da marca. O encerramento deste dia acontece com a apresentação de um vídeo e a entrega de uma sacola de produtos. Quem vai trabalhar na área operacional da fábrica passa ainda, no dia seguinte, por mais meio período de treinamento voltado para a segurança do trabalho, proteção à pessoa e equipamento de proteção ao produto.
Sobre a Natura
A Natura registrou em 2006 uma receita bruta da ordem de R$ 3,9 bilhões, o que representa um crescimento de 19,9% em relação ao ano anterior. No momento conta com um quadro de mais de 5.000 colaboradores e 561 mil consultoras no Brasil. Nas operações internacionais, a receita bruta aumentou 44,3% e o número de consultoras ultrapassou 56 mil. A empresa opera, no sistema de venda direta, na Argentina, Peru, Chile, México, Venezuela e França, onde mantém ainda sua única loja mundial e um centro satélite de pesquisa e tecnologia. Na Bolívia a marca está presente por intermédio de um distribuidor.
IVAN DE MELO DUTRA Arquiteto e Urbanista e Mestre em Organização e Desenvolvimento
Falar em sustentabilidade corporativa e do papel que as pessoas desenvolvem neste processo é procurar as razões que levam as pessoas destas corporações a experimentarem novas formas de se relacionarem
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Pessoas, Ambiente e Sustentabilidade Corporativa
o entender dos antropólogos, o ser humano é o único ser possuidor de cultura. No decorrer da sua evolução, a humanidade conseguiu estabelecer uma distinção, em relação aos demais seres vivos, por possuir, segundo Roque Laraia, duas propriedades: a comunicação oral e a capacidade de fabricar instrumentos capazes de potencializar o seu aparato biológico. Para alguns filósofos, principalmente os personalistas, a pessoa e o meio no qual vive ou atua são indissociáveis e a primeira, a pessoa, só pode ser compreendida com o segundo - o ambiente, ou seja, com os que vivem a sua mesma realidade. Acostumamo-nos, segundo Nietzsche, pouco a pouco, à maneira de sentir do ambiente em que vivemos: se nos é favorável e agradável, tendemos a ser-lhe partidários. Do ponto de vista do relacionamento, os chilenos Maturana e Resepka registram que os humanos são, antes de tudo, animais cooperadores. A atividade de cooperar é central na maneira humana de viver, sendo esta uma característica que se baseia na confiança e no respeito mútuos.
setembro/outubro 2007
Muito bem! Somos capazes, então, de nos comunicar, reagimos segundo o meio em que vivemos e temos uma natural propensão para cooperarmos com nossos semelhantes. Esta visão, um tanto simplificada da natureza humana, ajuda-nos a compreender um pouco o comportamento das pessoas dentro das organizações. É natural que no ambiente corporativo as pessoas busquem equilibrar o indivíduo, a dimensão solitária do ser humano com a pessoa social - aquela que se relaciona com o outro. O homem possui um potencial inato para se desenvolver socialmente e para tanto necessita de um ambiente que lhe propicie tal movimento. Peter Senge considera que o ser humano vem ao mundo e, portanto, em algum momento de sua vida, ingressa nas organizações, motivado para aprender, explorar e experimentar. Neste contexto, falar em sustentabilidade corporativa e do papel que as pessoas desenvolvem neste processo é procurar as razões que levam as pessoas destas corporações a experimentarem novas formas de se relacionarem, com o objetivo de garantir a perenidade destas organizações.
Pode-se entender a sustentabilidade corporativa como a característica ou a qualidade de as empresas continuarem com seus negócios ativos ou obterem os recursos de que necessitam para seu crescimento, deve-se, portanto, pensar em um ambiente organizacional que incentive o aprendizado, a exploração, a inovação e a experimentação. É preciso registrar, ainda, que todo este movimento deve ser acompanhado por esforços mais amplos, na busca de um desenvolvimento social, ambiental, cultural, espacial e economicamente sustentável. A IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE PARA A SUSTENTABILIDADE ORGANIzACIONAL • O ambiente organizacional pode ser entendido como aquele resultante da cultura desenvolvida dentro de uma organização, do conjunto de características que esta valoriza. Stephen Robbins aponta algumas destas características, que poderiam identificar se uma corporação cria, continuamente, um ambiente propício ao exercício da criatividade, da exploração e da experimentação. Dentre estas características estariam o estímulo à inovação e ao risco; a atenção aos detalhes; a orientação para pessoas, equipes e resultados; a agressividade; e a busca da estabilidade. Sabe-se, ainda, que na era do conhecimento e da informação, o capital humano é tão ou mais importante que o capital financeiro e que, paralelamente, tem ganhado força nos últimos anos o capital natural, vinculado à sustentabilidade ambiental. Ora, se conhecemos, ainda que parcialmente, o comportamento das pessoas nas organizações, se identificamos as características necessárias para a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento das pessoas e das empresas, e se temos ciência de que o capital humano é fundamental para o sucesso das organizações, falta muito pouco para se potencializar o fator humano dentro do processo de busca da sustentabilidade corporativa. Cabe aqui, talvez, algumas reflexões, tais como identificar se as corporações acreditam e divulgam missões nobres, que estimulam as pessoas que delas façam parte se orgulharem de dar sua parcela de contribuição para a construção de um futuro melhor; se as organizações criam, de fato, um ambiente de bemestar, confiança e lealdade, onde prevaleça uma ética de respeito mútuo entre seus colaboradores e parceiros; se as pessoas conseguem realizar seus objetivos de vida dentro da organização; e, por fim, se os colaboradores acreditam que, no ambiente organizacional, os espaços para crescimento são ilimitados. Talvez valha a pena refletirmos sobre estes pontos. Mesmo tendo uma tendência inata à cooperação, como registraram Maturana e Resepka, mesmo tendo o dom da comunicação, mesmo sabendo que um ser humano só se reconhece como humano na interação com o outro - ou com o seu ambiente, o permanente apelo à concorrência e à competição, natural do modelo econômico vigente, tende a provocar em todos nós diferentes desvios desse comportamento, aparentemente natural.