Revista Geração Sustentável

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A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta! janeiro/fevereiro 2008 • ano 2 • edição 5

Entrevista

Beat Grüninger

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Capa

Processos produtivos que primam pela qualidade e sustentabilidade

20 Visão Sustentável

Para onde elas vão?

24 Responsabilidade Social Corporativa

Trabalho contínuo para diminuir as diferenças sociais

28 Qualidade de Vida

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Investimento no ser humano é o que mais dá resultado

34 Educando para o futuro

Tecnologia a serviço da educação

38 Empreendedorismo

Matérias

04 Editorial 05 Espaço do Leitor 06 Notas 46 Ong e Ação 52 Publicações e Eventos 54 Indicadores de Sustentabilidade

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Ações empreendedoras resultam em desenvolvimento econômico e arte

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Responsabilidade Ambiental

Reciclagem de água: ciclos econômico e ambiental garantidos

50 Reciclagem Preocupação com o destino final

02 13 19 21 23 27 31 33 37 47 49 51 53 55

Jerônimo Mendes UniFAE Consult Reciclação Unilehu Exodus Infante Fesp JW De Figueiredo Demeterco Instituto Ethos Trier

Anunciantes e Parcerias

22 Gestão Sustentável 30 Diversidade 32 Ser Sustentável 40 Empreendedor 44 Meio Ambiente 48 Destaque Jurídico

Opiniões

Civitas, Vioti, Creare Philip Morris janeiro/fevereiro 2008

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Editorial

Processo produtivo sustentável: um passo de excelência empresarial O conceito de sustentabilidade vem, cada vez mais, se alastrando pelo ambiente corporativo. Muitas empresas estão direcionando determinados recursos e realizando grandes investimentos em questões sociais e ambientais. Nos dias atuais, quando acessamos a maioria dos sites empresariais, encontramos um ícone, uma reportagem ou mesmo um extenso programa dos projetos sociais e ambientais que as empresas desenvolvem. Mas estes projetos trazem retornos ambientais/sociais efetivos? Estes projetos são apenas um instrumento de marketing para agradar o público consumidor? Estes projetos visam apenas aumentar o número de páginas do balanço social? A visão estratégica da sustentabilidade empresarial é ampla e não deve se limitar a ações isoladas, que podem ser intituladas como “boas ações” ou até mesmo de filantropias. Uma corporação que adota a estratégia de sustentabilidade para o seu negócio rompe as limitações lucrativas de curto prazo e estabelece um planejamento multidisciplinar relacionado com aspectos externos ao negócio. As empresas necessitam absorver o conceito de sustentabilidade também no seu processo de produção. Uma corporação sustentável deve avaliar o seu processo produtivo, ampliar sua visão para toda a cadeia do processo e buscar fornecedores comprometidos e também responsáveis. Uma corporação sustentável estimula o processo criativo de seus colaboradores e busca constantemente encontrar alternativas produtivas e matéria-prima com o menor impacto social e ambiental possível. Um reflexo desta tendência já começa a se refletir nos empréstimos junto a instituições financeiras, a partir das quais começam a ser avaliadas as influências dos processos empresariais e de suas políticas e ações com responsabilidade ambiental e social. Empresas com processos produtivos sustentáveis terão taxas de juros mais atrativas. Buscar a sustentabilidade nos processos produtivos não deve ser vista como uma obrigação para atender uma legislação ou um ato de responsabilidade isolado, mas sim como uma nova oportunidade para o negócio. Este desafio empresarial é possível e necessário. Boa Leitura. Pedro Salanek Filho Diretor Executivo

O sonho de uma

Geração Sustentável

A revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL foi idealizada por empreendedores que acreditam que questões voltadas ao tema sustentabilidade farão, cada vez mais, parte da vida das pessoas, como também influenciarão nas estratégias empresariais. O nosso foco principal será o desenvolvimento sustentável, através do qual buscaremos conquistar um espaço estratégico junto ao ambiente empresarial. Entre os objetivos está a divulgação das iniciativas, atitudes, ações e experiências bem sucedidas e aplicadas de forma sustentável nas atividades organizacionais. Caro leitor, compartilhe conosco deste sonho.

Diretor Executivo Pedro Salanek Filho pedro@geracaosustentavel.com.br Jornalista Responsável Vanessa Brollo (MT - 1691/PR) vanessa@geracaosustentavel.com.br Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck criacao@geracaosustentavel.com.br Comercial Giovanna de Paula giovanna@geracaosustentavel.com.br Revisão Ana Cristina Castex Conselho Editorial Pedro Salanek Filho Antenor Demeterco Neto Ivan de Melo Dutra Lenisse Isabel Buss Articulistas articulista@geracaosustentavel.com.br Colaboraram nesta edição Jornalistas: Criselli Montipó, Ana Letícia Genaro e Juliana Sartori Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br Impressão Gráfica Infante

A parceria entre a PSG Editora e a Gráfica Infante para impressão da revista foi realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. O papel (miolo e capa) é produzido com matéria-prima certificada e foi o primeiro a ser credenciado pelo FSC - Forest Stewardship Council. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.

Tiragem: 3.000 exemplares Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. Rua Bortolo Gusso, 577 Curitiba - Paraná - Brasil CEP: 81.110-200 Fone/Fax: (41) 3346-4541

www.geracaosustentavel.com.br A revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opiniões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são terminantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos.

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Espaço do Leitor

Vivemos num momento especial, de grande importância para o futuro de nosso planeta e nossas vidas. A humanidade começa a se movimentar para corrigir os erros e excessos cometidos e, também, para estabelecer novos caminhos por onde o homem possa continuar usufruindo dessa maravilha divina que é a Terra, de forma mais correta e respeitosa. Apesar do egoísmo de alguns países, como os Estados Unidos, que resistem em participar de projetos universais de controle da poluição, assistimos no mundo todo inúmeras iniciativas para salvar o planeta de um futuro que, de outra forma, seria terrível. A importância de uma revista, neste contexto, tratando com seriedade de vários temas e exemplos nesta área é enorme. É com muito orgulho que constato ser de nossa capital esta iniciativa, que também servirá de apoio às pesquisas escolares, com certeza. Silvana Marchi Empresária

A revista Geração Sustentável é uma publicação que nos leva a refletir o quanto o mundo vem perdendo em qualidade de vida para a geração atual e outras que virão, se não tivermos mais consciência com o nosso planeta, fatalmente entraremos em colapso mais tarde. Com iniciativas conscientes como a reportagem sobre os impactos causados pelo “carbono negro”, percebemos que temos uma parcela de culpa para a ocorrência deste fenômeno, e se o homem continuar com as queimadas e utilizando os combustíveis fósseis em grande escala, como vem sendo feito até os dias de hoje, o planeta estará condenado a se tranformar em deserto, como ocorreu com a Somália e a Etiópia. Adorei o artigo, o homem precisa ter conhecimento e mudar as atitudes com urgência. Helena S. Oliveira Empresária do ramo de artesanato

Sustentabilidade é o assunto mais divulgado e comentado na mídia mundial. Isso demonstra a magnitude do tema, e que aqui na revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL é muito bem abordado. Lendo os artigos percebo como a força do conhecimento bem divulgado consegue transformar a sociedade, de uma forma lenta, mas constante, fruto do esforço incansável daqueles que conseguem ver mais longe do que a maioria. Vejam vocês que em 1992, quando o Rio de Janeiro foi sede da Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUCED), já eram abordados assuntos que mostravam a seguinte realidade: “Não existem bons negócios em sociedades falidas”. Hoje, há exatos 16 anos, ainda ouvimos que a preocupação com a sustentabilidade econômica é uma questão a ser resolvida somente pelas grandes empresas. Os micros e pequenos empresários, assim como a grande maioria da população, acreditam que não fazem parte do problema e nem da sua solução. Luiza Menezes Empresária e Professora

Parabenizo a revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL e sua equipe pela trajetória de sucesso em 8 meses de circulação. Seu conteúdo responsável e dinâmico a cada edição apresenta matérias atualíssimas que em muito contribuem para a informação do leitor, atinado à formação de uma sociedade mais consciente e solidária. Adv. Adriano Nogueira Lemke & Prosdócimo Advogados Associados

No momento em que o mundo celebra o “milagre chinês”, país que têm elevado seu PIB a taxas médias de 10% ao ano durante as duas últimas décadas, é motivo de festejo a consolidação da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL. Como bem evidenciou Lester Brown, renomado eco-economista, para ficar num único exemplo, caso a China, com uma população 10 vezes superior à do Japão, seguisse o mesmo padrão de consumo de pescado japonês, precisaria de 100 milhões de toneladas de produtos do mar, ou seja, todo o pescado mundial produzido ao longo de um ano, algo totalmente insustentável. Os artigos da revista são intrigantes e de fácil leitura, nos possibilitando conhecer os principais conceitos e formas de entender a sustentabilidade. Já as entrevistas e matérias produzidas pela redação da Revista nos permitem enxergar as melhores estratégias, empresarias e empreendedoras que podem nos ajudar a percorrer o caminho da sustentabilidade, em especial, na construção de uma Geração Sustentável, responsabilidade gigante de nossa geração e que ganhou reforço considerável com essa publicação. Fábio Tadeu Araújo Professor de economia e sócio-consultor da Brain - Bureau de Inteligência Corporativa janeiro/fevereiro 2008

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Entrevista

Grüninger nasceu em 1963, na cidade de Schaffhausen, na Suíça, e formou-se Bacharel em Filosofia pela Universidade de Zurique, com pós-graduação em Desenvolvimento e Cooperação Internacional (Escola Politécnica Federal de Zurique). Trabalhou como jornalista e como gerente de comunicação para o Comitê Suíço da UNICEF, onde era responsável pelo apoio ao Estatuto de Direitos de Criança no Brasil. Em 1998, iniciou um trabalho com cadeias produtivas sustentáveis e atua desde então, como consultor, realizando implementações de sistemas de gestão de responsabilidade social em várias grandes empresas (Petrobras, Elektro, Santander, Comgas, Samarco, Holcim, Atlantic LNG). Atuou também como capacitador na estruturação dos serviços de responsabilidade social empresarial e incentivou a tradução das normas sociais AA1000, SA8000 e das Diretrizes do Relatório de Sustentabilidade GRI - Global Reporting Initiative para o português. Trabalhou também como oficial de ligação no Brasil da FLO (Fairtrade Labelling Organizations International) e recentemente assumiu a coordenação de um projeto da USAID em parceria com a TransFair USA, Café Bom Dia e WalMart, que tem como objetivo aumentar as vendas do café brasileiro no mercado justo internacional até o ano 2010. Grüninger é certificado pelo IRCA/Accountability como Associate Sustainability Assurance Provider (CSAP), e pela Social Accountability International como auditor SA8000. É Professor de normas sociais no curso FGVPEC/Ethos, instrutor do UniEthos e Sócio-diretor da BSD Ltda. Nesta Entrevista à GERAÇÃO SUSTENTÁVEL falou sobre o comércio justo e o desenvolvimento. A conversa com Juvenal Correia Filho aconteceu em reunião de planejamento da parceria entre a Civitas - Responsabilidade Social e a BSD Brasil Ltda., no dia 11 de dezembro de 2007, na cidade de São Paulo.

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL • O que é o comércio justo? Qual é a origem? Beat Grüninger • Comércio Justo é uma parceria comercial baseada em diálogo, transparência e respeito, que procura por maior equidade no comércio internacional. Ela contribui para o desenvolvimento sustentável oferecendo melhores condições de comercialização e assegurando os direitos de produtores marginalizados e trabalhadores - especialmente no Hemisfério Sul. O Comércio Justo certificado, nos moldes do que temos hoje internacionalmente, teve sua origem em 19881989 com a crise mundial do preço do café. Pequenos produtores no México tiveram graves problemas econômicos com a queda do preço. Eles chamaram organizações não-governamentais da Europa para ajudar na comercialização direta do café. Abriu-se então um canal alternativo, criado por eles com a ajuda de um homem chamado Francisco Van der Hoff, que era padre, economista e sociólogo, e tinha conhecimento tanto da vida social dos produtores como dos mecanismos do mercado. 10

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Beat Grüninger Sócio-Diretor BSD Brasil

Mas a origem da idéia de comércio justo se deu já na década de 60, quando havia grupos organizados europeus e norte-americanos (ONGs, agências de cooperação, instituições filantrópicas, grupos de consumidores) que vendiam em seus mercados produtos feitos por pequenos produtores, vítimas do isolamento comercial imposto aos regimes políticos em que viviam ou vítimas simplesmente da pobreza. A intenção era ajudar esses pequenos produtores a superar as dificuldades extremas que enfrentavam. Na década de 70, alguns desses grupos começaram a discutir a possibilidade de unirem forças em torno de formas alternativas de comércio que compensariam pelo que percebiam ser condições comerciais injustas, enfrentadas por pequenos produtores em países pobres. Assim teve início um processo lento, mas continuado, de uniformização de conceitos, harmonização de princípios e práticas - por exemplo o pagamento de preços mínimos, contratos de longo prazo - e criação de instrumentos de cooperação entre organizações de comércio alternativo, que de certa forma continua até hoje.

divulgação

Pelo Comércio Justo Certificado


Na segunda metade da década de 80, apareceram as primeiras iniciativas formais de colaboração, como a IFAT (International Federation for Alternative Trade) e as Iniciativas Nacionais do Selo de Comércio Justo. O mercado justo, propriamente dito, começou em 1988 com a primeira certificadora, a Max Havelaar da Holanda, que partiu da iniciativa do padre Francisco Van der Hoff, no México, e que daria impulso ao aparecimento de várias outras em outros países. Hoje, na Fairtrade Labelling Organizations International (FLO), são reunidas 21 iniciativas nacionais que atendem 22 mercados. O comércio justo certificado garante ao consumidor e ao produtor o atendimento a quatro critérios básicos: pagamento de um preço mínimo, pagamento de um prêmio fair trade, pré-financiamento ao produtor e cumprimento de exigências sociais e ambientais na produção. O primeiro produto a ser certificado foi o café, mas hoje já há uma gama ampla de outros produtos, como sucos, frutos, nozes e até bolas de futebol com o selo. GS • Já existe o comércio justo no Brasil? BG • Sim, mas o Brasil fica atrás de outros países da América Latina (Bolívia, Colômbia e Peru), que têm um número muito maior de grupos certificados. Aqui no Brasil há produtores certificados de dez grupos de café, entre associações e cooperativas; quatro grupos produtores de laranja; um de castanha do Pará; três de manga; num total de pouco mais de 8 mil pequenos produtores inseridos. Além disto, há dois grupos com trabalhadores rurais contratados, um de laranja e um de manga, atingindo aproximadamente mil trabalhadores rurais. Há ainda mais de 10 grupos no caminho da certificação, entre eles produtores de algodão. As vendas de café e de laranja estão crescendo razoavelmente bem no Brasil, o que dá uma boa sustentação a esse sistema e aos produtores inseridos. GS • Este comércio justo é direcionado somente para exportação ou tem a ver com o mercado interno? BG • O Comércio Justo certificado do Brasil é destinado somente ao mercado exterior. A questão da abertura no mercado brasileiro e a disponibilização de produtos do Comércio Justo no Brasil foi discutido no primeiro Fórum de Comércio Justo, certificado em 2006. A discussão do lançamento de produtos com o selo no mercado interno levou à criação do Instituto Fairtrade Brasil (www.faitradebrasil.net) e em pouco tempo os primeiros produtos, começando com café, serão lançados aqui no Brasil. No âmbito do comércio solidário, que é um conceito mais amplo e reúne mais atores dentro da idéia do comércio justo, expoentes da BSD incentivaram, anos atrás, um grupo a discutir a idéia, o que levou

à criação do “Faces do Brasil” (www.facesdobrasil.org), uma iniciativa que promove o comércio ético e solidário e a qual já aderiram diversas entidades sociais e lojas, como por exemplo a loja Mundaréu em São Paulo. GS • Existe um consumidor com o perfil de comércio justo no Brasil? BG • As pesquisas do Instituto Akatu mostram que existe no Brasil um consumidor consciente, mas o seu perfil é ainda muito tímido. Enquanto em países da Europa e nos Estados Unidos entre 40 e 60% dos consumidores estão dispostos a escolher produtos “éticos”, esta porcentagem se situa no Brasil entre 16 e 20%. O perfil do consumidor de comércio justo, que paga até um preço um pouco maior para um produto certificado, está em torno de 5%. O problema é que no Brasil o comércio justo não é ainda um conceito amplamente divulgado, como por exemplo na Suíça, onde existe o selo Max Havelaar entre as 10 marcas mais reconhecidas do mercado, e por exemplo os Estados Unidos onde cerca um quarto da população conhece o Fairtra-

Certificado FAIRTRADE: uma garantia para todos FLO lança Selo Fairtrade no Brasil Mais informações podem ser obtidas no seguinte contato: FAIRTRADE BRASIL Rua José Maria Lisboa, 860 sl. 73 - Cep: 04123-083 São Paulo-SP www.fairtradebrasil.net - Tel: 11-3884-3779

de. Neste primeiro momento, o típico consumidor de comércio justo no Brasil se encontra mais nas grandes metrópoles, mas com certeza o conceito é atraente para amplos segmentos da população no interior, que tem uma relação com a agricultura familiar. GS • Qual a relação entre Fairtrade e Desenvolvimento Sustentável? BG • O comércio justo busca o desenvolvimento sustentável das comunidades envolvidas. Desenvolvimento pode ser entendido como uma mudança social associada a uma noção de progresso. Ele é sustentável se não tende a ser interrompido por problemas econômicos, sociais ou ambientais. O comércio justo busca a valorização da sustentabilidade econômica, social e ambiental em suas práticas. Para atender a este objetivo, a certificação de comércio justo aplica uma série de critérios sociais, ambientais e econômicos e assim atende totalmente ao objetivo de contribuir como Desenvolvimento Sustentável. Vários estudos de impacto confirmaram que o Fairtrade é uma das ferramentas janeiro/fevereiro 2008

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Entrevista

O comércio justo certificado garante ao consumidor e ao produtor o atendimento a quatro critérios básicos: pagamento de um preço mínimo, pagamento de um prêmio fair trade, pré-financiamento ao produtor e cumprimento de exigências sociais e ambientais na produção. mais eficazes para criar impactos sustentáveis. A principal ferramenta para melhoria das condições de vida das famílias dos produtores é o preço maior recebido pelo produto, o que garante uma renda digna, enquanto o chamado prêmio de comércio justo ajuda as cooperativas a investir em projetos sociais e ambientais dentro das comunidades. GS • Como reconhecemos uma empresa que vende comércio justo? BG • Empresas ou grupos de produtores certificados têm o direito de vender o seu produto como selo Fairtrade, que é um selo único no mundo inteiro. Atualmente existem denominações diferentes, como Fairtrade, Comércio Justo, TransFair e Max Havelaar, mas todos os selos correspondem aos critérios da FLO. No Brasil existem cinco empresas comercializadoras interessadas em vender produtos com o selo, mas eles vão precisar fechar um contrato como licenciados e serão submetidos a auditorias. GS • O selo é certificador ou somente associativo? Qual a relação com outros selos internacionais? BG • O selo é uma certificação e garante que a produção é certificada e que todos os critérios de comércio justo são respeitados. A FLO segue práticas internacionalmente aceitas de monitoramento externo e certifica os produtos dentro de processos internacionalmente reconhecidos. Para cada produto a FLO possui normas sociais e também algumas normas ambientais e de especificação técnica. Hoje, a FLO, IFAT, NEWS (uma associação de mais de 3.000 lojas de Fairtrade na Europa) e EFTA, a organização dos maiores importadores de

O comércio justo busca o desenvolvimento sustentável das comunidades envolvidas. Desenvolvimento pode ser entendido como uma mudança social associada a uma noção de progresso. 12

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comércio justo, formam um grupo de trabalho conhecido por FINE. Este grupo busca harmonizar conceitos, princípios e práticas e fomentar a colaboração entre as quatro organizações. A certificação da FLO também é inserida no contexto da aliança internacional ISEAL, em que as maiores e melhores certificações sustentáveis, como FSC, orgânicos e Rainforest trabalham em conjunto para harmonizar as práticas de certificação. GS • Quais os casos de sucesso no mundo e no Brasil? BG • O conceito de Fairtrade em si é uma história de sucesso, pois o crescimento do mercado tem sido espetacular, mais de 40% anualmente. Na Suíça, os maiores supermercados vendem até 100% da suas bananas com certificação, e a introdução de flores certificadas chegou a ocupar em pouco tempo 40% do mercado de todas as flores importadas na Suíça. Na Inglaterra, após os Estados Unidos, segundo mercado consumidor de comércio justo, várias cidades, entre elas Londres, aderiram ao conceito de Fairtrade Town, adotando a compra de produtos para a prefeitura e incentivando a promoção de Fairtrade nas lojas das cidades, que recebem até um mapa próprio. No Brasil, grupos certificados, como os cafeicultores de Poço Fundo, um dos primeiros grupos a ser certificado, e que pode ser encontrado abrindo o Google Earth para o Brasil e Sul de Minas, teve um crescimento significativo das vendas e uma melhoria da condição de vida para os produtores em poucos anos. O primeiro projeto de comércio justo certificado, com os produtores de laranja do Noroeste do Paraná, também teve um impacto social e econômico na região e levou melhorias para muitos bóias-frias, que conseguiram aumentar a renda e regularizar seu trabalho. Graças ao prêmio de comércio justo em breve teremos o primeiro grupo de produtores que forem colhedores naquela região. GS • Que sugestões o senhor dá para o empresariado para mergulhar no mundo de comércio justo? BG • Empresas que querem adotar a prática de Fairtrade aqui no Brasil podem achar todas informações relevantes no site www.fairtradebrasil.net e, num primeiro momento, seria interessante se as empresas começassem a mudar as compras corporativas para o sistema de comércio justo. Isto não se aplica somente a empresas, mas também a universidades e outras escolas, entidades governamentais e não-governamentais. As lojas e o varejo que introduzem um produto de comércio justo podem, assim, fortalecer seu compromisso com a responsabilidade social na cadeia produtiva e, com certeza, receberão mais atenção do lado dos consumidores, cada vez mais sensibilizados para esta questão.


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Processos produtivos que primam pela qualidade e sustentabilidade Criselli Montipó

Empresas atentas à escassez de recursos naturais adotam processos produtivos que minimizam o impacto no ambiente, fabricam produtos ecoeficientes e garantem a sustentabilidade

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quecimento global, espécies animais e vegetais extintas ou em extinção e uma série de outros fenômenos que colocam em risco a manutenção da vida no planeta Terra. O que estes fatores têm a ver com os processos de produção das empresas? Absolutamente tudo. A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) - órgão que existe desde 1988 e tem a função promover avaliações regulares sobre a mudança do clima global - divulgou, em um de seus relatórios, um preocupante cenário sobre os impactos do aquecimento global no ambiente e na economia. De acordo com o estudo, o Brasil está entre os países mais afetados, pois há impactos significativos em vários lugares, como na Amazônia, maior floresta tropical do mundo. De acordo com o IPCC, o Brasil é o quarto emissor global de gases do efeito estufa, com mais de dois terços das emissões vindas do desmatamento. No entanto, grande parte da emissão destes gases vem do processo de produção das indústrias. Desde a revolução industrial, que aconteceu há três séculos, o homem passou a usar intensivamente o carbono, em forma de carvão mineral, petróleo e gás natural, para gerar energia para as indústrias e para os veículos. As florestas, grandes depósitos de carbono, começaram a ser destruídas e queimadas. Com isso, imensas quantidades de dióxido de carbono, metano e outros gases começaram a ser despejadas na atmosfera, tornando mais espessa a camada que retém o calor e aumentando a temperatura da Terra. Somente no último século, a temperatura da Terra aumentou em 0,7ºC. Este pequeno aumento já foi suficiente para promover inúmeras alterações nos fenômenos de manutenção da vida. Para tanto, torna-se indispensável que indústrias em todo o globo adequem seus processos produtivos a fim de minimizar seu impacto ambiental. PROCESSOS PRODUTIVOS RESPONSÁVEIS E SUSTENTÁVEIS • As empresas, principalmente as indústrias, precisam tornar seus processos produtivos responsáveis e sustentáveis. Há uma pequena confusão entre os dois termos. “Processos produtivos responsáveis são, como o próprio nome diz, responsáveis para com outro ou para com algo. É fazer algo pensando no outro. Já quando se fala em sustentável é quando se quer manter o processo produtivo ao longo do tempo. Tem diferença, mas eles podem estar juntos”, esclarece o economista com pós-doutorado em Agronegócios, Christian Luiz da Silva. O ideal é que os dois termos andem juntos na política das empresas. Por isso, ele acrescenta que quando se trata de sustentabilidade não se pode esquecer que

o objetivo do negócio se mantém, mas o processo - que pode ser também responsável - se modifica ao longo do tempo: “Não é uma situação estanque, muito pelo contrário, o processo produtivo sustentável tem que ser inovador e se adequar à escassez de recursos”. A empresa deve internalizar tal processo, já que este tem reflexo em sua economia. “Ela deve buscar alternativas. A tecnologia deve dar conta de reorganizar os recursos e otimizar as matérias-primas para manter o produto na ponta. Não pode ficar dependente de um processo ou de um recurso, se não buscar alternativas, pode até esgotar o negócio”, sustenta Silva. Tal opinião é compartilhada pelo coordenador técnico de Negócios do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Adilson Luiz de Paula Souza, que é engenheiro químico. Ele salienta que as empresas devem utilizar os insumos e matérias-primas sem desperdícios ou perdas: “Para isto, a empresa deve olhar para a otimização de seus processos, implementar novas tecnologias, manter seus funcionários integrados e atualizados técnica e tecnologicamente”.

Empresas que possuam atitudes pró-ativas, antecipando-se na busca de novas alternativas técnicas e tecnológicas para seus processos, de pesquisa de novas fontes de energia e de novas fontes de matériasprimas, tenderão a permanecer no mercado, destaca o coordenador técnico de Negócios do Senai, Adilson Luiz de Paula Souza Souza lembra que quando se fala em sustentabilidade deve-se ter em mente atender a três condicionantes: a sustentabilidade econômica, a ambiental e a social. “Atualmente a maioria das empresas visualiza a condicionante econômica (produzir e vender), olhando, ainda, para as condicionantes ambiental e social como uma pressão legal (meio ambiente e trabalhista), esquecendo que toda ação interna de melhoria (processo e ambiente de trabalho) pode reverter em ganhos de novos mercados, mais produção, mais empregos, mais lucro, aliados a uma crescente na qualidade de vida de seus colaboradores, menos problemas de saúde, maiores salários, menor poluição”. De acordo com a bióloga e mestre em Ciências do Solo, Elaine Vivian Oliva, as indústrias são empresas potencialmente poluidoras do meio ambiente devido aos seus processos de produção e com isso acarretam inúmeras conseqüências: “Para minimizar esse impacto ambiental, as indústrias estão procurando adaptar-se a novas exigências ambientais, visando a diminuição da sua poluição e procurando fornecer produtos e serviços janeiro/fevereiro 2008

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que atendam às necessidades ambientais”. Ela cita a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92), realizada no Rio de Janeiro, em 1992, quando se refletiu sobre maneiras de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra. Foi este encontro que deu origem ao termo “indústrias verdes”, ou seja, indústrias que têm em seus processos produtivos a preocupação com o ambiente. “Algumas indústrias brasileiras já se encontram no grupo das chamadas ‘indústrias verdes’. Porém, apenas algumas delas se adequaram a estas exigências, não sendo totalmente eficientes. Todas as indústrias, independentemente da área de atuação, devem - obrigatoriamente - minimizar a poluição, propiciando menor impacto ambiental. Pois a não atuação de uma indústria na preservação provoca conseqüências globais”, ressalta a bióloga.

Para minimizar o impacto ambiental, as indústrias estão procurando adaptar-se às novas exigências ambientais, visando a diminuição da sua poluição e procurando fornecer produtos e serviços que atendam às necessidades ambientais, comenta a bióloga e mestre em Ciências do Solo, Elaine Vivian Oliva

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“INDÚSTRIA VERDE” • E Elaine tem razão. Algumas indústrias adotaram estes procedimentos e têm garantido a qualidade e a sustentabilidade de seus negócios. É o caso da Basf, empresa química e uma das líderes mundiais no ramo. A Basf produz tintas e vernizes, produtos químicos, plásticos, produtos de performance para agricultura e química fina (humana e animal), até óleo cru e gás natural. A empresa, de origem alemã, com sede em Ludwigshafen, existe desde 1865 e está no Brasil desde 1955, onde possui diversos centros de produção. A Basf desenvolve novas tecnologias combinando o sucesso econômico à proteção ambiental e à responsabilidade social. A gestão ambiental da Basf é uma demonstração de como o segmento químico tem encarado o desafio de tornar-se referência em uma área considerada estratégica para a sustentabilidade. Mais do que reduzir a geração de efluentes, emissões e resíduos, a empresa atua na prevenção e minimização dos impactos ambientais das atividades produtivas. Ao mesmo tempo, disponibiliza produtos ecoeficientes, atendendo às necessidades da sociedade e dos clientes; realiza parcerias para ampliar a conscientização ambiental com governos e organizações não-governamentais; e disponibiliza tecnologia responsável, por meio da Fundação Espaço Eco. Todas essas ações são preconizadas pela Agenda 21, que foi definida na Eco-92. Esta agenda inseriu a segurança química como uma de suas prioridades. A segurança química é entendida como um conjunto de estratégias para o controle e a prevenção dos impactos da extração, produção, armazenagem, transporte, manuseio e descarte de substâncias químicas. No entanto, antes mesmo do final da década de 80, a Basf já se janeiro/fevereiro 2008

debruçava sobre este tema, adotando globalmente, em 1990, o Responsible Care, que no Brasil recebe o nome “Programa Atuação Responsável”, coordenado pela Associação Brasileira da Indústria Química e implementado a partir de 1992, sendo a filial da Basf brasileira uma das primeiras signatárias. A iniciativa prevê a gestão responsável pelas indústrias químicas de todo o ciclo de vida do produto, desde a concepção até o descarte final. “O ‘Programa Atuação Responsável’ da Basf é um diferencial competitivo para os seus produtos e clientes. Mais do que reduzir a geração de efluentes, emissões e resíduos, a intenção é atuar preventivamente para minimizar o impacto das atividades, garantindo a sustentabilidade da empresa e da sociedade“, explica Odilon Ern, diretor regional de Meio Ambiente. Em 2006 a Basf destinou também recursos para a modernização e automatização da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) e do incinerador de resíduos, no Complexo Químico de Guaratinguetá (SP), o que permitiu maior eficiência do sistema e redução no consumo de matérias-primas, em cerca de 2,5 mil toneladas ao ano, além de 25% de diminuição na geração de iodo. A Basf utiliza o transporte ferroviário para levar matériaprima e produtos do Complexo Químico de Guaratinguetá até o Porto de Santos, retirando da estrada cerca de 6 mil caminhões por ano. Desta forma, nos últimos dez anos, os indicadores ambientais da Basf no Brasil têm melhorado. Entre eles destacam-se a redução de: 78% de consumo de água por tonelada produzida, 55% do total de água captada do Rio Paraíba do Sul e 62% na geração de efluentes. OTIMIZANDO O USO DE MATÉRIAS-PRIMAS E INSUMOS • Os parâmetros de produção com baixo impacto ambiental são também utilizados pela Weg para o estabelecimento de objetivos e metas ambientais. A Weg fabrica geradores, componentes eletroeletrônicos, produtos para automação industrial, transformadores de força e distribuição, tintas líquidas e em pó, vernizes e é uma das maiores fabricantes de motores elétricos da América Latina. A empresa, com sede em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, existe desde 1961 e visa otimizar o uso de matérias-primas e insumos, desenvolver processos e produtos menos agressivos ao meio ambiente e otimizar o gerenciamento de resíduos e efluentes nos processos de fabricação. Desta forma, a empresa avalia previamente os processos que serão implantados em novas fábricas sob os seguintes aspectos: utilização de matérias-primas ou produtos auxiliares não agressivos ou de baixa agressividade; baixa geração de resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas; reciclagem


ou reutilização dos resíduos sólidos gerados; aquisição de equipamentos de alta produtividade e baixa emissão e utilização de controles ambientais com padrões de emissão abaixo dos previstos pela legislação; como destaca Luis Carlos Scoz, do Departamento da Engenharia da Qualidade da empresa. Segundo ele, as tintas produzidas pela Weg são consideradas ecológicas, pois são fabricadas com matérias-primas (pigmentos e outros componentes) nãotóxicas ou de baixa toxidez: “Para a fabricação destas tintas a empresa não utiliza solventes químicos (tintas em pó), mas sim água como solvente (tintas hidrossolúveis) ou até mesmo uma quantidade reduzida de solventes orgânicos (tintas com alto teor de sólidos)”. O processo produtivo de motores também é considerado responsável, pois gera a menor quantidade possível de resíduos sólidos, utiliza matérias-primas auxiliares ecologicamente corretas e recicla ou trata de forma adequada os resíduos gerados. Além disso, a Weg implantou um controle de impacto ambiental e, com isso, obteve certificação ISO 14.001. Perspectivas • De acordo com o coordenador técni-

co do Senai, Adilson Luiz de Paula Souza, o crescimento econômico tem provocado um aquecimento da produção industrial brasileira, levando ao aparecimento de mais empresas, mais consumo de matérias-primas, mais competição: “Portanto, empresas que possuam atitudes pró-ativas antecipando-se na busca de novas alternativas técnicas e tecnológicas para seus processos de pesquisa de novas fontes de energia e de novas fontes de matérias-primas, tenderão a permanecer no mercado”. No entanto, a bióloga Elaine Vivian Oliva adverte que, frente ao crescimento das pressões globais legais e comerciais, as empresas que não se adequarem às novas tendências de produzir de forma ambientalmente correta e socialmente justa, tenderão a ter dificuldades de permanecer no mercado: “As indústrias podem produzir produtos ao mercado consumidor e ao mesmo tempo, por meio da conscientização, minimizarem o impacto ao meio ambiente, adotando medidas como tratamento de resíduos industriais, utilização de processos menos poluentes, manutenção de seus veículos, novas fontes de energia, projetos para proteção e conservação das áreas degradadas, bem como a reutilização de água nos processos industriais entre outros”.

O processo produtivo sustentável tem que ser inovador e se adequar à escassez de recursos, ressalta o economista com pós-doutorado em Agronegócios, Christian Luiz da Silva

Produtos Ecoeficientes • A garrafa que virou tinta - A cada ano, cerca de 50 milhões de garrafas PET são retiradas do meio ambiente para se tornarem esmaltes e vernizes. O projeto da Basf, desenvolvido pela Suvinil, utiliza a garrafa PET para produzir um dos principais componentes das tintas e vernizes, a resina. Para cada lata de esmaltes e vernizes são utilizadas seis garrafas PET na composição. O uso dessas garrafas na produção de tinta é um processo inovador da marca Suvinil, fruto do trabalho constante que a marca desenvolve em busca de ações que favoreçam o meio ambiente. As vantagens da utilização de garrafas PET, previamente processadas pela recicladora, são inúmeras: melhoria na performance do produto, redução de custo e consumo de matérias-primas não renováveis, diminuição em 40% da quantidade de água de reação resultante na produção de resinas, além da geração de empregos. • Mini-carro movido A energia eólica - A Weg, em parceria com a Agix Motor Company, produziu um mini-carro movido a baterias carregadas com energia eólica e motores elétricos de corrente contínua. O projeto do veículo é 100% nacional. Ecologicamente corretos, já que não poluem e não emitem ruídos, de acordo com as normas de Gestão Ambiental, os carros podem ser utilizados tanto para o transporte de carga como de passageiros e têm autonomia de oito a dez horas, além de grande mobilidade-raio de giro de 2,3 a 3,4 metros. O chassi e a estrutura são em alumínio anti-corrosivo e a carenagem termoplástica pigmentada com aditivos anti-chama oferece proteção contra raios UV A/B e alta resistência a impactos. • Ecobras - plástico de fonte renovável e compostável - O Ecobras, plástico de fonte renovável e compostável, é um combinado de Ecoflex (plástico biodegradável e compostável da Basf) e polímero vegetal a base de milho. O produto alia a tradição da Basf com os plásticos à renomada competência da filial brasileira da Corn Products International Inc. no processamento de matériasprimas vegetais. Durante a decomposição, o Ecobras comporta-se como um composto orgânico normal. Versátil, o plástico pode ser aplicado em embalagens injetadas, filmes para a produção de tubetes para reflorestamento, sacolas plásticas, embalagens para cosméticos, entre outras alternativas.

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Capa

OPINIÃO Sustentabilidade do negócio X processo produtivo

O economista com pós-doutorado em Agronegócios, Christian Luiz da Silva, fala um pouco sobre os possíveis fatores que aceleraram os fenômenos ambientais e sociais, a continuidade dos negócios e as tendências empresariais.

Geração Sustentável • A continuidade do negócio dependerá de um processo produtivo responsável e sustentável. Estamos à beira de um colapso? Christian Luiz da Silva • A demanda por novos recursos é cada vez maior e a oferta menor. Isso significa que não haverá mais recursos naturais suficientes para explorarmos em breve. A questão não é exatamente quanto tempo, mas se este é o único caminho. Os processos tentam se reorganizar para diminuir esta demanda por recursos naturais ou buscar novas fontes, menos escassas, como é o caso do combustível. Contudo, é necessário também diminuir a pressão dos consumidores por novos produtos e serviços no ritmo que estamos. As escalas hoje são globais e uma novidade mundial é produzida em escalas jamais vistas, com um ciclo de vida cada vez mais curto, também jamais visto. O período de natal é um reflexo disso. Crianças com muitos brinquedos, tecnologia de ponta, escolhas decididas e pais reféns dessa onda consumista. GS • É possível apontar fatores que aceleraram os fenômenos ambientais e sociais que vemos hoje, em decorrência do não planejamento e não uso de processos produtivos responsáveis? Christian Luiz da Silva • Justamente, os principais fatores são, muitas vezes, a falta de planejamento e de processos produtivos sustentáveis, ou seja, uma visão de longo prazo e que possibilite aos agentes econômicos, especialmente consumidores e empresas, a saber utilizar de forma coerente os recursos no presente. Vivemos uma explosão de consumismo que afeta o nosso padrão de vida e cria demandas antes inexistentes, por desejos estimulados pela própria indústria, mas aceita pelos consumidores. Quanto maior a demanda por bens e serviços, maior será a necessidade de novos recursos para produzir ou recriar a partir dos recursos já utilizados. Como este último processo ainda é incipiente, a demanda por novos recursos é maior, o que interfere diretamente no meio e, por outro lado, aumenta o abismo social. Algo ainda distante do real, mas necessário, apesar de não ser suficiente, para reduzir os impactos ambientais e sociais que sufocam os meios urbanos e rurais. GS • E sobre tendências e cenários para questões produtivas? Christian Luiz da Silva • As tendências se situam na continuidade desse consumo em ritmo frenético e pressão por processos produtivos que repensem os recursos utilizados. Essa combinação, contudo, não nos livrará do colapso ambiental ou social. A necessária busca por novas tecnologias e reutilização dos recursos deve continuar, e com mais intensidade, inclusive por interesse das empresas para dar sustentação ao seu negócio, mas não será suficiente manter o ritmo de crescimento da demanda atual. Períodos de recessão virão, obviamente, inclusive por ser um ciclo econômico natural, mas a questão é mais profunda que isso. Um paradoxo mais complexo do que os mecanismos que sustentaram esse crescimento após o século XX e, por isso, de difícil consecução. Para termos anos melhores, não somente as empresas devem buscar fontes alternativas e repensar seus processos, mas os consumidores também devem fazer isso e avaliar suas reais necessidades e desejos. Corremos muito e avançamos muito; agora está na hora de avaliarmos para onde avançamos e se o caminho realmente é este. Na minha opinião já tentamos pegar um atalho para o aumento do padrão de vida que nos levará a algo muito sinistro. Retornar o caminho às vezes é mais sábio que não querer.


O FUST E A UNIVERSALIZAÇÃO DAS TELECOMUNICAÇÕES

ANTENOR DEMETERCO NETO

Destaque Jurídico

Advogado e Mestre em Organizações e Desenvolvimento

Atualmente cerca de 40% das residências brasileiras não têm acesso a qualquer tipo de serviço de telefonia e 50% das escolas públicas não possuem linhas telefônicas

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egundo dados obtidos no site do Observatório de Políticas Públicas de Infoinclusão (OPPI), atualmente cerca de 40% das residências brasileiras não têm acesso a qualquer tipo de serviço de telefonia e 50% das escolas públicas não possuem linhas telefônicas. O que leva a crer que no Brasil o acesso irrestrito de toda a população aos serviços públicos de telecomunicações está longe de ser uma realidade. Apesar de a atual estrutura das telecomunicações possibilitar a oferta suficiente dos serviços, a demanda é ainda muito deficitária, o que reflete a histórica concentração de renda brasileira. Existe estrutura apta à oferta, mas não há demanda porque não há renda. Ou seja, o país tem um potencial imensurável no seu mercado interno representado pelos excluídos. Um panorama como esse torna necessária a implementação de estratégias públicas para a universalização do serviço, sendo o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, o chamado FUST, criado pela Lei Geral das Telecomunicações (LGT), um importante mecanismo de efetivação de políticas dessa natureza. É importante esclarecer que a universalização de serviços públicos é a colocação em prática pelo Estado, por meio de instrumentos regulatórios, de políticas públicas destinadas a permitir o acesso irrestrito de toda a população a determinadas utilidades estratégicas para a promoção de um desenvolvimento sustentável. E as telecomunicações, por serem um serviço de infraestrutura muito importante, uma vez que possibilitam a ação comunicativa entre a população, representam um dever inadiável do Estado no seu eficiente controle e manutenção.

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A LGT estabelece duas fontes possíveis de recursos para o custeamento da universalização dos serviços públicos de telecomunicações, cujo investimento não possa ser recuperável pelo agente econômico delegado com a simples exploração eficiente da atividade: a) recursos oriundos dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios; e b) recursos captados por meio do FUST, que é um fundo público especial criado especificamente com essa finalidade, para o qual contribuem os agentes econômicos delegados.


Entre outras formas de captação de receitas, a composição do FUST é feita, principalmente, pela arrecadação da contribuição de 1% sobre a receita operacional bruta dos agentes econômicos delegados que atuam no setor de telecomunicações, sendo a sua natureza jurídica de uma contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDE). E o objetivo desses recursos é o de justamente financiar a prestação dos serviços públicos de telecomunicações a populações e regiões carentes, onde a iniciativa privada não se interessaria ante a inviabilidade econômica do empreendimento. E cabe ao Estado, mediante a utilização de instrumentos regulatórios, fiscalizar e equilibrar a aplicação oportuna desse numerário e o cumprimento das metas de universalização, garantindo que os anseios da sociedade sejam satisfeitos. Porém, apesar de, desde a sua instituição em 2001, o FUST ter arrecadado aproximadamente 5 bilhões de reais, apenas no início de 2007 os seus recursos foram pela primeira vez incluídos em um plano de metas de universalização, no caso, o de serviço telefônico fixo comutado em instituições de assistência às pessoas com deficiência auditiva. Portanto, em se tratando de telecomunicações, o Estado tem à sua disposição um mecanismo de forte impacto socioeconômico e de promoção da redistribuição, o que é de significativa importância para o desenvolvimento sustentável do Brasil, onde a forte concentração de renda e os problemas infra-estruturais figuram entre as causas do seu subdesenvolvimento.


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