Revista Geração Sustentável

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A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta! março/abril 2008 • ano 2 • edição 6

Entrevista

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Capa

Editorial

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Visão Sustentável

Espaço do Leitor

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Onde mora o desenvolvimento sustentável Empreendimentos verdes

Matérias

Responsabilidade Social Corporativa Em busca da consolidação dos direitos humanos

Notas Ong e Ação

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Qualidade de Vida

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Educando para o futuro

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Empreendedorismo

42

Responsabilidade Ambiental

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Reciclagem

Produtos alimentícios saudáveis: garantia de saúde dos clientes e de longividade dos negócios

Publicações e Eventos Indicadores de Sustentabilidade

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Gestão Sustentável Empreendedor Destaque Jurídico Economia Sustentável

Opiniões

Onde mora o desenvolvimento sustentável 24 40 48 53

Clarice López de Alda

Semeadores de futuro Solução vem da arte

Construir com responsabilidade

Uma empresa em constante reciclagem

02 02 13 19 23 25 29 33 37 39 41 43 47 55

Unilehu (Caderno Especial) Instituto Ethos Exodus Consult Jerônimo Mendes Reciclação Trier Civitas, Vioti, Creare De Figueiredo Demeterco JW Fesp Ambiotech Infante

Anunciantes e Parcerias

04 05 06 46 52 54

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Philip Morris

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Editorial

Além de edificações... Temos que aprender a construir nossa continuidade

Nesta edição destacamos a relação do ser humano com o ambiente onde ele mora e trabalha. As edificações sempre fizeram parte de nossas vidas, por isso buscamos, cada vez mais, ambientes harmoniosos para contemplar desejos com conforto e segurança. Atualmente o conceito de sustentabilidade começa a se destacar e passa a ser considerado tanto no projeto como na execução imobiliária. Para o âmbito interno a arquitetura e a engenharia estão se modernizando para: utilização de materiais reciclados, gestão de resíduos, adequado uso da água, permeabilidade do solo e opções energéticas (auto-suficiência) e de menor impacto ambiental. Já no âmbito externo do imóvel, busca-se evoluir em melhorias que o avanço imobiliário traz para as dimensões econômicas, sociais, ambientais e culturais de uma localidade. Estas dimensões estão relacionadas diretamente ao desenvolvimento sustentável de uma sociedade. Uma edificação nunca está sozinha. Ver uma edificação de forma isolada não faz muito sentido quando tratamos de sustentabilidade dos espaços construídos pelo homem. A visão deve ser sistêmica, a construção para ser sustentável deve ser elaborada em um contexto em que a relação com o externo é tão importante quanto o que ocorre nas suas dependências. O ser humano começa a perceber que além de construções ele deve aprender a “construir a si próprio”, revendo seus conceitos, seus valores e a sua interação com o meio. Boa Leitura. Pedro Salanek Filho Diretor Executivo

O sonho de uma

Geração Sustentável

A revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL foi idealizada por empreendedores que acreditam que questões voltadas ao tema sustentabilidade farão, cada vez mais, parte da vida das pessoas, como também influenciarão nas estratégias empresariais. O nosso foco principal será o desenvolvimento sustentável, através do qual buscaremos conquistar um espaço estratégico junto ao ambiente empresarial. Entre os objetivos está a divulgação das iniciativas, atitudes, ações e experiências bem sucedidas e aplicadas de forma sustentável nas atividades organizacionais. Caro leitor, compartilhe conosco deste sonho.

Diretor Executivo Pedro Salanek Filho pedro@geracaosustentavel.com.br Jornalista Responsável Vanessa Brollo (MT - 1691/PR) vanessa@geracaosustentavel.com.br Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck criacao@geracaosustentavel.com.br Comercial Giovanna de Paula giovanna@geracaosustentavel.com.br Revisão Ana Cristina Castex Conselho Editorial Pedro Salanek Filho Antenor Demeterco Neto Ivan de Melo Dutra Lenisse Isabel Buss Articulistas articulista@geracaosustentavel.com.br Colaboraram nesta edição Jornalistas: Criselli Montipó, Ana Letícia Genaro e Juliana Sartori Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br Impressão Gráfica Infante

A parceria entre a PSG Editora e a Gráfica Infante para impressão da revista foi realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. O papel (miolo e capa) é produzido com matéria-prima certificada e foi o primeiro a ser credenciado pelo FSC - Forest Stewardship Council. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.

Tiragem: 3.000 exemplares Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. Rua Bortolo Gusso, 577 Curitiba - Paraná - Brasil CEP: 81.110-200 Fone/Fax: (41) 3346-4541

www.geracaosustentavel.com.br A revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opiniões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são terminantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos.

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Espaço do Leitor

É com muita satisfação que acompanhamos o lançamento desse importante veículo de comunicação. Em tempos de mudanças climáticas e do alinhamento de empresas na sociedade e nos mercados internacionais em relação às políticas de sustentabilidade empresarial e responsabilidade social corporativa, essa revista não se torna apenas mais um periódico, mas sim uma ferramenta de consulta e de referência para o mundo empresarial brasileiro. Fazer com que os altos executivos de empresas, principalmente do setor de agronegócios, estejam atualizados quanto aos diferentes temas da responsabilidade socioambiental é um objetivo muito importante e acreditamos ser o maior desafio da GERAÇÃO SUSTENTÁVEL. Para nós da Vanguarda do Brasil S/A, que temos como missão “desfrutar a terra para produzir alimentos e bioenergia com responsabilidade socioambiental”, e que acreditamos na responsabilidade social e ambiental como ferramenta de mudança na forma de fazer agricultura no Brasil, a Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL é um importante veículo de informações nos encorajando a seguir em frente na implementação do desenvolvimento da sustentabilidade na produção agrícola no Estado de Mato Grosso. Anderson S. Figueiredo Depto. Desenvolvimento Sustentável Reginaldo Magro Responsável Técnico - Contábil/Fiscal Grupo Vanguarda do Brasil Nova Mutum/MT

Com uma abordagem simples mostrando soluções práticas e viáveis, a revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL destaca que o conceito de empresa cidadã está cada vez mais difundido no meio empresarial e que, muito mais do que um tema midiático, existe sim uma legítima preocupação com a comunidade e com o ambiente. São através de medidas como estas que se percebe o impacto de uma verdadeira gestão sustentável, que estão as chaves para um futuro mais justo socialmente em que oportunidades são geradas sem deixar de lado a questão do impacto que uma empresa gera para o meio ambiente. Parabéns à GERAÇÃO SUSTENTÁVEL pela iniciativa. Marcos Coelho e Flávio St Jayme Sócios-proprietários da Clockwork Comunicação

Como Ecologista e um dos 1.000 multiplicadores da causa do Dr. Al Gore, que luta contra o aquecimento global, tive o prazer de conhecer os diretores da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, o Sr. Pedro Salanek Filho, Diretor Executivo, e a Sra. Giovanna de Paula, Diretora Comercial, por ocasião da entrega do Prêmio Ozires Silva, em parceria com a FGV/ RPC, talvez o mais cobiçado e valorizado de todo Brasil, o qual envolve os Empresários, Empreendedores Sociais e

Ambientais. Ao ler o exemplar de Jan/Fev destaco três pontos fundamentais: 1) A forma editorial que coloca a revista no caminho certo, que é a divulgação das ações positivas das empresas que terão a seu favor um ativo intangível na parte ambiental. Isso fará sempre a diferença entre os seus consumidores pelo respeito ao meio ambiente e sua contribuição contra o aquecimento global. 2) Pudemos ver o carinho, respeito ao meio ambiente pela impressão junto à Gráfica Infante, realizado dentro dos padrões de energia limpa e a preocupação com o tratamento dos efluentes. O Papel é produzido com matéria-prima certificada. 3) A mensagem do inicio da edição: “A reciclagem é o destino final para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta.” Vamos mais longe e, se aceitarem sugestão, coloquem esta: “Prezado leitor, se você gostou desta edição e de alguma forma ela o ajudou a mostrar a conscientização em favor da Natureza e da Vida, faça chegar a uma ONG ou a uma Escola, com isso você estará ajudando a reduzir as ações do aquecimento global pela educação ambiental e a cidadania planetária”. José Pedro Naisser Ecologista

Digna de aplausos a iniciativa promovida Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL. Inúmeros são os “discursos” acerca da responsabilidade social e do desenvolvimento sustentável, muitas vezes, lamentavelmente, apenas como forma de se utilizar os reflexos desses discursos como ferramenta de marketing empresarial. Raras, portanto, são as iniciativas voltadas a discutir o assunto, a abordar de forma sistemática os principais problemas que ensejam insustentabilidade e põem em risco condições de vida digna para as presentes e as futuras gerações, de modo a idealizar soluções para tais problemas. A Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, como demonstrou na edição nº. 05, enfrenta as fontes contemporâneas de insustentabilidade. Assim, não reduz sua atividade a apenas trazer a lume tais problemas, mas também em demonstrar as atuais alternativas existentes para superá-los, como o fez na Reportagem “Os impactos da chuva ácida no planeta”, abordando a sistemática de funcionamento do Programa de Chuva Ácida – ARP – Acid Rain Program. Também em relação aos resíduos gerados pela atividade agropecuária, noticiou a existência do Biodigestor, tecnologia que produz, mediante aproveitamento dos ditos resíduos, biogás e biofertilizante, permitindo ao produtor rural uma postura ambientalmente sustentável. Sucesso cada vez mais à Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL. Tal iniciativa merece perdurar no tempo, dadas as benesses patrocinadas em termos de promoção do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social. Dra. Sandra Lewis Lewis & Associados – Advocacia e Consultoria

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Entrevista

divulgação

Responsabilidade Social como metodologia de gestão

Clarice López de Alda

Clarice López de Alda é formada em Jornalismo, pós-graduada em Antropologia Social e mestre em Jornalismo para Editores com MBA em Responsabilidade Social Empresarial. Já trabalhou como coordenadora de redação do Jornal Gazeta do Povo e hoje é diretora executiva do Instituto RPC de Responsabilidade Social da Rede Paranaense de Comunicação – entidade que desenvolve projetos e programas sociais, principalmente de comunicação e educação, por meio de parcerias com empresas privadas, setor público, instituições de ensino e entidades sem fins lucrativos. Diretora nacional de Responsabilidade Social da ANJ (Associação Nacional de Jornais), falou à Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL sobre o trabalho que desenvolve no Instituto RPC, a diferença entre ações e gestões empresariais socialmente responsáveis e a responsabilidade social dos meios de comunicação na atualidade.

diretora executiva do Instituto RPC de Responsabilidade Social

Ana Letícia Genaro

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL • Como surgiu o Instituto RPC? CLARICE LÓPEZ DE ALDA • O instituo RPC surgiu em janeiro de 2001 com o objetivo de sistematizar as ações de responsabilidade social que já vinham sendo desenvolvidas historicamente pelas empresas que integram o grupo RPC. A RPC, principalmente a Gazeta do Povo, sempre teve uma tradição de relacionamento com a comunidade de apoio a entidades sociais. Os projetos começaram na Gazeta do Povo e acabaram sendo disseminados para as outras empresas do grupo. Na época, cada unidade tinha sua autonomia. Muitas vezes campanhas aconteciam paralelamente sem se conversarem. Então, o Instituto surgiu com o objetivo de sistematizar essas ações de responsabilidade social. GS • Qual é o papel do Instituo RPC na gestão da Responsabilidade Social na RPC? CA • Ele é o principal organismo de gestão de responsabilidade social do grupo. Ele não é só um dos elementos como também integra o processo de gestão

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do grupo, como um grupo empresarial. O Instituto RPC não é só uma entidade de responsabilidade social do grupo, ele é ligado diretamente à vice-presidência e integra o Conselho Gestor. Quando fazemos as reuniões de planejamento estratégico do grupo, o Instituto tem assento. Não trabalhamos somente com ações de responsabilidade social ou projetos socialmente responsáveis, mas com toda a visão do grupo RPC, para integrar toda ela. GS • Qual o investimento do Instituto RPC nos vários projetos, parcerias e divulgação em 2007? Quais os projetos para 2008? CA • Nós não falamos em investimentos. Temos uma verba orçamentária que o grupo destina para manter essa estrutura. No ano passado a verba foi de 500 mil reais e em 2008 dobrou para um milhão de reais. Estamos com vários projetos novos para 2008. O projeto Empresa e Comunidade, por exemplo, deve trabalhar com três praças como foco principal – Foz do Iguaçu, Cascavel e Ponta Grossa. Vamos trabalhar com a pros-


tituição e abandono infantil em parceria com entidades da sociedade civil. O objetivo é desenvolver ações positivas e minimizar, num período de dois anos de trabalho, em torno de 20% esse problema. As nossas expectativas são ambiciosas. Estamos também implementando o Programa de Voluntariado que incentiva os funcionários de todas as empresas do grupo a doarem seu tempo, trabalho e talento a iniciativas sociais. O Clube do Jovem Leitor, também de 2008, da Editora Gazeta do Povo, trabalhará com o público infanto-juvenil e tem como objetivo aproximar e consolidar os vínculos do jornal com este segmento, fortalecer a marca e formar o leitor do futuro. Já o novo projeto Televisando o Futuro, deve mobilizar a comunidade escolar para discutir temas sociais relevantes tratados em matérias jornalísticas exibidas pelos telejornais RPC, premiando os melhores trabalhos e as escolas com maior envolvimento. GS • Qual é o projeto do Instituto que mais surpreendeu pelo alcance de resultados? CA • Nosso maior projeto continua sendo o Ler e Pensar - projeto socioeducativo de leitura, desenvolvido pela Editora Gazeta do Povo desde 1999 em escolas públicas e particulares do Paraná. Ele tem como objetivos estimular a leitura e a produção escrita; formar novos leitores; democratizar a informação; aproximar os conteúdos escolares dos fatos noticiados no jornal; e contribuir para o desenvolvimento da cidadania nas comunidades escolares. A missão do programa é apresentar o jornal como um recurso pedagógico complementar que subsidia o aprimoramento da expressão oral e escrita, capaz de ampliar e dar significado aos conteúdos escolares, estimular o pensar integral, desenvolver a reflexão crítica, provocar uma melhor compreensão da realidade e estimular a atuação efetiva de educadores e estudantes no contexto sociocultural e ambiental. Hoje ele atende mais de 200 mil crianças e mais de 8.800 professores em 40 municípios do Paraná. Tivemos um grande salto do ano passado para esse ano. Conseguimos que todas as oficinas de capacitação dos professores (como oficinas de leitura, de projetos socialmente responsáveis e de cidadania) virassem cursos de extensão certificados por instituições de ensino, como as universidades Positivo e Tuiuti do Paraná. Pelo alcance, pelos resultados, pelo crescimento exponencial qualitativo e quantitativo o nosso maior programa com certeza é o Ler e Pensar. GS • Na sua opinião, Responsabilidade Social é o principal mecanismo que as organizações desenvolvem para ter comprometimento junto à sociedade? Qual o principal diferencial? CA • É, mas não deveria ser. Qualquer empresa é um

organismo vivo de uma sociedade. Ela se beneficia de tudo o que a sociedade pode oferecer e também beneficia a sociedade com o que ela oferece. A gestão empresarial socialmente responsável não implica necessariamente em projetos de Responsabilidade Social. Implica em metodologia de gestão, gestão preocupada com o meio ambiente, com a valorização humana, com a inclusão. Isso é gestão socialmente responsável. Existe ainda uma grande dificuldade de as empresas saberem como estar socialmente atuantes a não ser fazendo projetos sociais. Os projetos sociais só tangenciam de uma maneira mais clara para a sociedade toda uma atitude da empresa. Uma empresa, por exemplo, pode ter projetos sociais fantásticos e ser socialmente irresponsável. O principal não são os projetos, mas sim a forma de organização e metodologia de gestão e a gestão da empresa. De nada adiantaria nós termos um Instituto estruturado com bons projetos se a RPC não tivesse uma gestão preocupada com a cidadania, com

“A gestão empresarial socialmente responsável não implica necessariamente em projetos de responsabilidade social. Implica em metodologia de gestão, gestão preocupada com o meio ambiente, com a valorização humana, com a inclusão. Isso é gestão socialmente responsável.” a ética, com a valorização humana. Se não fizéssemos isso como empresa, na nossa linha editorial que é nosso principal produto, esses projetos não valeriam de nada. Seriam só maquiagem em cima de uma gestão condenável. Fazemos os projetos a partir de demandas da nossa própria gestão. GS • Quais as dificuldades de implementar a Responsabilidade Social nas empresas hoje? CA • A dificuldade ainda é o entendimento dos principais gestores. Quando se fala de Responsabilidade Social deve haver decisão de cima para baixo e não de baixo para cima. Isso envolve procedimentos, uma visão de mercado, uma visão gerencial que vai muito além dos processos normais de administração. É a percepção de que a empresa tem um papel importante na sociedade que ela está inserida. Ela tem um papel de desenvolvimento e pode começar isso dentro de casa. Vivemos um momento ainda com resquícios de uma março/abril 2008

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Entrevista

fase empresarial na qual era preciso primeiro pensar em lucro e depois em pagar impostos. Não existe o total entendimento das empresas a respeito da possibilidade de se trabalhar a gestão envolvendo de uma forma socialmente responsável não apenas os processos internos, mas também as relações e inter-relações com clientes, colaboradores, investidores, fornecedores, comunidade, enfim, em que trabalha, tira seus insumos e coloca seus produtos. GS • Fale da sua atividade de Responsabilidade Social na área da Comunicação. CA • Hoje ainda se faz muito pouco. Recentemente estive num encontro em São Paulo (SP) com o objetivo de desenhar os primeiros Indicadores Setoriais Ethos de jornais. Como diretora de Responsabilidade Social da ANJ (Associação Nacional de Jornais), nosso comitê propôs a elaboração dos indicadores setoriais para jornal impresso. Estamos negociando com o Instituto Ethos e esses indicadores devem ser apresentados no Congresso Nacional da ANJ, em agosto. A imprensa em geral sempre esteve preocupada em divulgar o que os outros fazem, mas nunca se enxergou também como um ator desse movimento da Responsabilidade Social.

“A imprensa em geral sempre esteve preocupada em divulgar o que os outros fazem, mas nunca se enxergou também como um ator desse movimento da Responsabilidade Social.”

Projetos do Instituto RPC Ler e Pensar

Programa do Jornal Gazeta do Povo cujos objetivos são democratizar a informação e incentivar a leitura, a escrita, o ensino-aprendizagem e a cidadania, beneficiando alunos do Ensino Fundamental, Médio e EJA em escolas do Paraná.

Empresa Comunidade

Programa em que o Instituto RPC apóia o desenvolvimento local, estimulando a formação de parcerias e grupos de trabalho com o objetivo de potencializar resultados de projetos e ações comunitárias voltadas ao bem comum.

Mídia Social

Programa de cessão gratuita de espaços de mídia nos veículos da RPC, cujo objetivo é viabilizar e dar visibilidade a projetos comunitários de caráter filantrópico e social desenvolvidos por entidades sem fins lucrativos.

Programa Voluntariado

Programa social, formal e organizado, que incentiva os funcionários de todas as empresas do Grupo RPC a doarem tempo, trabalho e talento a iniciativas sociais, filantrópicas e projetos comunitários relevantes.

Clube do Jovem Leitor

Programa de relacionamento da Editora Gazeta do Povo com o público infanto-juvenil, cujos objetivos são aproximar e consolidar os vínculos do jornal com este segmento, fortalecer a marca e formar o leitor do futuro.

Programa de Extensão GS • Que mensagem final gostaria de deixar aos leitores da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL? CA • Os veículos de comunicação devem pensar que a primeira Responsabilidade Social deles é com a informação. Quando o veículo dá uma notícia sobre uma pessoa e essa notícia não é verdadeira, ele está dando um tiro de canhão. A pessoa atingida pode ficar com aquela mácula sobre sua imagem a vida inteira. Qualquer desmentira que apareça no dia seguinte não vai ter o mesmo efeito. A seriedade no trato, a ética na informação, a veracidade, a busca da confirmação da informação antes de divulgá-la é a primeira Responsabilidade Social de todo e qualquer veículo de comunicação. A imprensa tem nas mãos o poder de destruir uma empresa, um político, uma pessoa comum e não percebe isso. Em comunicação, Responsabilidade Social não é apêndice, é a essência do seu negócio. 12

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Programa que une a excelência das principais Instituições do Paraná à prática, talento e profissionalismo das empresas RPC, para oferecer cursos de extensão universitária na área de comunicação.

Programa Visitas

Programa que abre as portas das empresas RPC para escolas, instituições de ensino superior e empresas com o objetivo de estreitar o relacionamento com a comunidade e dar visibilidade aos seus processos produtivos.

Televisando o Futuro

Programa que mobiliza a comunidade escolar para discutir temas sociais relevantes tratados em matérias jornalísticas exibidas pelos telejornais RPC, premiando os melhores trabalhos e as escolas com maior envolvimento.


Capa

Onde mora o desenvolvimento sustentável Juliana Sartori

Conheça a arte de construir moradias que são mais do que um lugar para morar, mas um lugar para viver

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oradias com mais qualidade de vida. O que parece ser mais uma das milhares propagandas do mercado imobiliário, hoje é uma necessidade. Transformar o lugar que abriga famílias, negócios ou até o conjunto de todas elas em um local de harmonia com o meio ambiente é o grande desafio da atualidade, já que a proximidade do fim dos recursos naturais faz parte da realidade cotidiana. Pensar e fazer as edificações sustentáveis significa muito mais do que, por exemplo, ter uma pequena casa em local afastado, envolta pela natureza, construída com materiais alternativos. A sustentabilidade pode e, principalmente, deve fazer parte da realidade dos grandes centros urbanos. Ela significa a busca pelo equilíbrio dentro do habitat humano em aspectos variados, que não podem ser vistos de forma isolada. “Se adotarmos como referência as dimensões propostas para um modelo de desenvolvimento com sustentabilidade, poderemos imaginar que uma edificação sustentável é aquela que, do ponto de vista ambiental, por exemplo, se preocupa com o emprego de energias alternativas, como a solar ou a eólica, com o reaproveitamento da água e com uma adequada implantação para que gaste menos energia. É aquela que, do ponto de vista espacial, demonstra preocupações com a densidade habitacional e com a circulação de veículos e pedestres. Que do ponto de vista social e cultural esteja integrada às tradições locais e explore o ‘saber-fazer’ da região, e, do ponto de vista econômico, que privilegie processos construtivos que utilizem matéria-prima reciclada, por exemplo”, explica o arquiteto e urbanista, mestre em Organizações e Desenvolvimento, Ivan Dutra. O grande desafio é fazer com que todas essas intenções saiam do papel e aconteçam nas ruas das cidades, pensa o arquiteto. Na área de atuação de Dutra, a sustentabilidade é também opção de negócio. CASA EFICIENTE • Há hoje quem viva e trabalhe apenas para provar que é possível alcançar a tão almejada sinergia entre fatores sociais, culturais, econômicos e ambientais. É o caso dos designers e professores Libia Patricia Peralta Agudelo e Eloy Fassi Casagrande Jr, que montaram há alguns anos a Erê Design e Arquitetura, que conta ainda com o trabalho da arquiteta Camila Kowalski. A empresa foi criada a partir da construção da casa de Eloy e Patrícia, local onde eles vivem e showroom da empresa. Esse projeto, segundo Patrícia, é a reforma integral de uma casa que foi feita a partir de materiais de demolição. Segundo ela, cerca de 85% do que foi usado na obra eram resíduos de outras construções. Também foram aplicados conceitos bioclimáticos, como paredes duplas que funcionam como isolantes térmicos: “Essas

paredes foram preenchidas com placas de poliuretano expandido, que existe no revestimento de geladeiras. Encontramos uma porção desse material em ferros-velhos. Ninguém sabe o que fazer com o poliuretano, que é caríssimo e largamente utilizado em residências da Europa”. A casa ainda conta com projeto de iluminação, como aberturas no telhado, que reduz o uso da energia. O aquecimento da água também é a partir da luz solar e ainda existe um sistema de coleta de água da chuva para ser utilizado nos vasos sanitários, jardins, entre outras aplicações. Segundo Patrícia, esses elementos fizeram com que o consumo da casa, que é de cerca de 300 metros quadrados, fique equivalente ao de um apartamento de 60 metros quadrados. “A obra da casa sustentável é mais cara, mas depois essa diferença se paga com o tempo, porque a residência se torna muito mais eficiente”, afirma a designer. A partir do primeiro projeto, a empresa passou a aplicar esse tipo de trabalho em outras residências e também em ambientes comerciais. “Outro projeto importante, doado pela Erê, foi o realizado para o Pequeno Cotolengo. A obra contém os mesmo princípios, mas aplicados de forma diferente, por ser outro tipo de ambiente, que não é residencial”, conta Patrícia, que garante que a sustentabilidade pode fazer parte de qualquer tipo de construção, independente da finalidade. Além dos projetos de arquitetura, a Erê também desenvolve móveis construídos a partir de reaproveitamento de resíduos da indústria madeireira. Foram desenvolvidas chapas de restos de pinus, que se transformaram em móveis diversos. “Esses móveis são resistentes, trazem o conceito ecológico, além de serem de alto padrão”, diz Patrícia.

“Uma edificação sustentável é aquela que se preocupa com o ponto de vista ambiental, social, cultural e econômico de uma localidade”, Ivan Dutra, arquiteto e urbanista, mestre em Organizações e Desenvolvimento

UMA QUESTÃO DE MERCADO E DE CONSCIÊNCIA • Colocar em prática os conceitos das edificações sustentáveis não é tarefa fácil, apesar de hoje também já ser uma exigência do mercado. O diretor técnico da Construtora Equilíbrio, Tiago de Mio, conta que a empresa, estabelecida há mais de 30 anos, começou a investir em construções com elementos ecológicos há cerca de quatro anos: “A mudança de consciência da empresa veio junto com a necessidade do mercado. O cliente hoje exige esse cuidado maior com o meio ambiente”. A Construtora Equilíbrio hoje trabalha principalmente com edifícios residenciais que aplicam os conceitos de responsabilidade ambiental tanto na execução dos projetos como no uso das construções, por exemplo com aplicação do sistema de reaproveitamento da água. As obras da construtora utilizam madeiras de reflorestamento próprio; recolhe resíduos para reaproveitamarço/abril 2008

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mento, como os restos de madeira e outros materiais que servem de combustível para caldeiras e olarias; e prima pela aplicação de materiais que possam ser reciclados, como plásticos, papéis, entre outros. “O que sobra é a caliça, que vai para depósitos legais aprovados pela prefeitura”, garante Tiago. Segundo ele, com esses cuidados, a redução de resíduos de construção chega a pelo menos 40%. O caso da empresa Erê foi inverso. O empreendimento foi uma forma de colocar em prática aquilo que Eloy e Patrícia há anos estudam e compartilham com seus alunos e colegas em congressos. Eloy é doutor em Recursos Minerais e Meio Ambiente pela Universidade de Nottingham, Inglaterra; e Patrícia, doutora em Ecologia da Paisagem Natural e Sistemas de Informação Geográfica pela mesma universidade. “Nossa preocupação ambiental não é romântica. Há mais de 20 anos ela faz parte do nosso cotidiano. Mas ainda faltava tirar do papel e provar que é possível viver com mais qualidade”, diz Patrícia. O casal, que viveu anos na Europa para concluir seus estudos, retornou ao Brasil cheio de idéias, mas ainda não era compreendido. “Em 1998, quando dizíamos que era preciso preservar os recursos que iam acabar, ninguém sabia do que estávamos falando. Hoje o cenário é diferente, a discussão faz parte da agenda de todos. É o melhor momento para colocarmos nossas idéias em prática”, explica a designer. Idéia compartilhada • Apesar das diferentes motivações que fizeram com que os proprietários da Equilíbrio e da Erê entrassem no mercado imobiliário com opções de construções sustentáveis, ambas reconhecem que o trabalho que fazem ajuda a conscientizar os que estão ao redor. “É interessante ver que aos poucos a idéia é transmitida aos funcionários, que acabam se acostumando a trabalhar com mais cuidado. Esse processo de qualidade acaba conscientizando todos e melhora nosso método executivo”, garante Tiago de Mio, da Equilíbrio. A professora e empresária Patrícia conta que ainda é complicado convencer as pessoas a investir em projetos ecologicamente conscientes: “Os empresários ainda têm muito medo de mudar a forma de trabalhar”. No entanto, ela conta que existe o interesse quando os investidores enxergam a oportunidade de colocar suas marcas em projetos de responsabilidade ambiental que têm o respaldo da base acadêmica, o qual faz parte da Erê. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon/PR) também trabalha no sentido de incentivar as construtoras paranaenses a se tornarem exemplos de empresas responsáveis para outros Esta16

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dos. Para isso, procura promover, por meio de cursos, a conscientização dos benefícios que as medidas de gerenciamento dos resíduos podem trazer no resultado final da obra, sobretudo porque, inicialmente, essa proposta demanda investimentos, mas ao final, pode trazer economia. Garantia de responsabilidade • Segundo a designer Libia Patricia Peralta Agudelo, ser ecologicamente correto é moda, mas está na hora de educar o consumidor para não ser enganado por oportunistas: “O mercado está cheio de produtos que se dizem eco-design, por exemplo, mas na verdade continuam utilizando matéria-prima não-renovável, ou seja, não têm nada de ecológico”. Para não ser levado por uma propaganda enganosa, basta verificar se os produtos recebem selo que certifique as origens das matérias-primas. Nas edificações, uma forma de evitar que alguma construtora leve fama de ser sustentável, sem realmente oferecer grandes diferenciais ao consumidor, foi fundado o Green Building Council Brasil (GBCB), que oferece a certificação Leed, reconhecida internacionalmente e adaptada à realidade brasileira. As construções chamadas de green buildings são prédios com baixo impacto ambiental, tanto durante a construção quanto ao longo do uso. Para obter o Leed, são consideradas as seguintes questões: o local da obra, que, se for uma área recuperada, gera pontos para a certificação; o uso racional da água, através de sistemas de tratamento de efluentes e captação de água da chuva; a eficiência energética do empreendimento, que deve utilizar ao máximo a iluminação e ventilação naturais, reduzindo a necessidade de luzes e refrigeração artificiais; a utilização de materiais renováveis na construção; e a promoção da qualidade do ambiente de trabalho ou moradia, levando em conta questões como conforto térmico e sonoro. Para mais informações sobre os green buildings, basta acessar: http://www.gbcbrasil.org.br/ Desenvolvimento para quem? • A grande dificuldade dos empreendimentos sustentáveis é tentar levar qualidade às residências das camadas mais pobres da sociedade. Afinal, a grande maioria dos edifícios que carregam os conceitos de sustentabilidade é voltada para as classes mais favorecidas, além de serem mais caros do que as residências comuns. “O desafio da Erê, nesse momento, é levar os projetos arquitetônicos e de design sustentáveis para as habitações populares”, explica Patrícia Peralta. Ela afirma que a empresa estuda a elaboração de um projeto que possa se encaixar às exigências de baixo custo das construções das Cohabs


(Companhias de Habitações Populares). Até mesmo os objetos de móveis e decoração à base de resíduos de madeira criados pela Erê estão sendo adaptados para o público de renda mais baixa: “É o mesmo conceito aplicado a um outro tipo de tecnologia para baratear o custo do móvel”. Uma cidade sustentável • As soluções sustentáveis também podem ser encontradas do lado de fora das residências. Tudo depende do que as políticas públicas resolveram fazer com a cara da cidade, ou seja, nos projetos urbanísticos. Muito mais do que beleza estética, o planejamento das obras da cidade pode ser responsável por oferecer ao cidadão a perfeita integração entre os meios social, cultural e ambiental. Em Curitiba há uma porção de exemplos de obras que carregam esse conceito, afinal a cidade passou a ficar famosa tanto no Brasil como em outros países a partir de uma idéia que revolucionou a forma de pensar o centro da cidade. O arquiteto e urbanista Jaime Lerner, na década de 1970, foi eleito prefeito e tinha em mãos o plano diretor da cidade já aprovado, que tinha como objetivo dar mais espaço ao pedestre na região central da capital. Ele chamou seu colega de curso, o arquiteto Abrão Assad, para fazer um projeto para revitalizar a Rua XV de Novembro, a mais movimentada via da cidade, repleta de comércio e carros. Em 1972, foi a primeira vez que o país viu uma rua de intenso tráfego tornar-se um imenso calçadão. Com o projeto na mão, a obra foi feita em 48 horas.

O projeto transformou a rua em uma imensa sala de visitas, com mobílias que atraíam as pessoas, coloriam os rostos e davam mais brilhos às flores dos quiosques das floriculturas. A iluminação e as floreiras espalhadas também foram planejadas para que a via parecesse um cenário cinematográfico, no qual a estrela principal era o pedestre. A partir do sucesso dessa iniciativa, Jaime Lerner deu a Curitiba uma cara diferenciada, com a construção de parques e praças em pontos que permitem ao curitibano um refúgio para entrar em contato com a natureza quando bem entender. Na administração municipal por três vezes (1971-75; 1979-83; 1989-92), Lerner liderou a revolução urbana que fez da cidade referência nacional e internacional em planejamento urbano, principalmente em transportes, meio ambiente, programas sociais e projetos urbanísticos. Hoje, o ex-prefeito e ex-governador do Paraná gerencia o Instituto Jaime Lerner, entidade sem fins lucrativos criada para oferecer soluções urbanas para cidades de qualquer porte, que é ligada à Jaime Lerner Arquitetos Associados. Lerner já desenvolveu planos para várias cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Aracaju, Natal, Goiânia, Campo Grande e Niterói; prestou assessoria em Caracas (Venezuela), San Juan (Porto Rico), Xangai (China), Havana (Cuba), Seul (Coréia do Sul); e é consultor das Nações Unidas para Assuntos Urbanos.

“O desafio da Erê, nesse momento, é levar os projetos arquitetônicos e de design sustentáveis para as habitações populares”, explica a designer e professora Patrícia Peralta

Legislação - Resolução CONAMA 307 A Resolução CONAMA nº. 307, de 5 de julho de 2002, é uma das normas responsáveis por fazer o País começar a mudar o modo de lidar com os resíduos da construção civil. A resolução estabelece critérios, diretrizes e procedimentos para a Gestão dos Resíduos da Construção Civil, criando uma cadeia de responsabilidades que inicia no gerador, passa pelo transportador e chega aos municípios. Cada município tem a responsabilidade sobre seus resíduos, de acordo com a resolução, devendo estabelecer ações para cumprir as metas estabelecidas. As prefeituras ficam proibidas de receber os resíduos de construção e demolição em aterros sanitários, devendo oferecer uma área para depósito do material específico. Em Curitiba, por exemplo, existe o Decreto Municipal 1.068/04 o qual determina, no Capítulo IV, entre outras atribuições, que “os empreendedores de obras que excedam 600 m2 de área construída ou demolição com área acima de 100 m2 deverão apresentar o Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, o qual deverá ser aprovado por ocasião da obtenção do licenciamento ambiental da obra ou da obtenção do alvará de construção, reforma, ampliação ou demolição”.

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OPINIÃO O arquiteto e urbanista, mestre em Organizações e Desenvolvimento, Ivan Dutra, destaca pontos fundamentais de uma construção sustentável

GS • A arquitetura integrada ao meio ambiente é apenas um elemento de marketing da atualidade ou representa o início de uma nova maneira de pensar as construções? Ivan • É uma postura que caminha nestas duas direções: a de ajustar o seu produto a um novo comportamento e desejo do consumidor e a de tornar o ambiente urbano menos agressivo para o convívio entre as pessoas. Nos anos 1960 e 1970, o objetivo das construções era a de oferecer um maior número de moradias para atender à demanda por mão de obra dos centros urbanos industriais. A partir do final da década de 1970 e, principalmente, de 1980, as habitações migraram para regiões no entorno dos grandes centros urbanos. Surgiram os condomínios horizontais, que procuravam se adequar à demanda por melhor qualidade de vida de seus clientes. Atualmente, esta tendência se revela inclusive nos condomínios verticais implantados nas áreas urbanas. São empreendimentos que tornam a paisagem urbana mais agradável, se integram ao meio ambiente e se adaptam ao comportamento atual do consumidor. GS • Os condomínios construídos com essas características são destinados a pessoas de certo poder aquisitivo. É possível pensar em residências sustentáveis para as classes menos abastecidas? Ivan • Não somente é possível, mas necessário. É neste segmento social que são encontradas as práticas que menos favorecem o desenvolvimento sustentável. Assim como na economia, de uma forma geral, as pessoas com menos poder aquisitivo não têm alternativas. Invadem terrenos urbanos, despejam resíduos no meio ambiente, lançam esgotos a céu aberto ou diretamente em mananciais de água, utilizam energia elétrica retirada irregularmente da rede de distribuição, enfim, praticam toda forma de agressão a recursos que são finitos. O grande problema é que, como qualquer nova tecnologia, a implantação é cara e impraticável. Importante registrar que, paradoxalmente, entre a população de menor poder aquisitivo pode-se encontrar práticas simples e eficazes que apontam na direção da sustentabilidade, como, por exemplo, o recolhimento de água de chuva para ser utilizada em serviços. O lado triste dessa história é que é puramente por necessidade econômica e não por qualquer aumento do nível de consciência dessa população que, por sinal, sequer tem acesso à educação básica. GS • Quais as principais melhorias que as edificações sustentáveis podem trazer para a sociedade em termos econômicos? Ivan • Qualquer iniciativa acaba se refletindo positivamente no campo econômico, já que são ações sustentáveis. Evidentemente, algumas podem ser contraditórias: quando decidimos morar em um condomínio afastado do centro urbano, estamos caminhando na direção de buscar uma preservação de áreas verdes, de construções mais integradas ao ambiente, etc. Mas gastamos mais combustível no deslocamento diário casa-cidade, aumentando a demanda por um produto de recurso finito. O mais importante, na minha opinião, é que busquemos um aumento da conscientização de todas as pessoas de que é imprescindível e, dentre pouco tempo, tornar-se-á vital, a busca da sustentabilidade em todas as nossas ações. Para tanto só há um caminho: a educação voltada para o desenvolvimento sustentável.


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EENDEDO R P M R E

JERÔNIMO MENDES Administrador de Empresas, Consultor, Escritor e Mestre em Organizações e Desenvolvimento

O valor de uma idéia

O

s caminhos que conduzem o empreendedor a uma vida plena de realizações são muito distintos e nem sempre ocorrem como planejados inicialmente. Pergunte a qualquer empreendedor bem-sucedido como ele construiu um império a partir do zero e é provável que ouça algo parecido com “as coisas foram acontecendo”, “trabalhei feito louco” ou ainda “nem eu mesmo sei direito”, porém a realidade é que os negócios bem-sucedidos são idealizados primeiro na mente. Há mais de 90 anos, um caixeiro de nome Asa Candler adquiriu uma fórmula secreta aparentemente insignificante, rabiscada por um velho farmacêutico chamado John S. Pemberton, num simples pedacinho de papel, por uma quantia irrisória na época, porém para o caixeiro representava a economia de uma vida inteira. O farmacêutico ficou contente de negociar a fórmula por quinhentos dólares e o caixeiro tinha consciência do risco ao adquirir um simples pedaço de papel. Os fatos posteriores à negociação entre o caixeiro e o farmacêutico são dignos de seres dotados do legítimo espírito empreendedor. Na realidade, o que Asa Candler comprou foi uma idéia. O velho tacho com a amostra do produto, a pá de madeira e a fórmula secreta entregue pelo farmacêutico foram completamente irrelevantes e acidentais na época. Quase um século depois, o velho tacho de madeira continua gerando riquezas com uma velocidade estonteante ao consumir bilhões de latas e garrafas, ao gerar milhares de empregos diretos ou indiretos em diversos países do mundo e ao proporcionar glória e fortuna para dezenas de artistas e iniciantes que ganham a vida participando de propagandas para promover o produto. Todos os dias, o líquido precioso se faz presente em milhares de comemorações, festas de aniversários, nascimentos e casamentos ao redor do planeta. Não é possível ficar um dia somente sem ouvir ou ler o nome do produto em qualquer lugar que você vá e, apesar do esforço dos vigilantes do peso, da saúde e

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do meio ambiente para a redução do consumo, a força natural do marketing exercido sobre o produto desde a primeira festa de aniversário de qualquer pessoa é praticamente indestrutível. Parafraseando Napoleon Hill, autor de A Lei do Triunfo, seja quem você for, viva onde viver, seja qual for a sua ocupação, lembre-se, todas as vezes que vir e ouvir o nome Coca Cola, que seu grande império de riquezas e influência nasceu de uma simples idéia. O misterioso ingrediente que o caixeiro misturou à fórmula secreta era nada mais, nada menos, do que imaginação. A influência da Coca Cola estendeu-se por todos os povoados, cidades, estados, países, organizações, indústrias, roteiros de cinema, rádio, televisão e encruzilhadas do mundo, e serve de inspiração para qualquer empreendedor que vislumbre a mínima possibilidade de quebrar todos os recordes desse “matador” de sede universal. Talvez nem o próprio Asa Candler fizesse a mínima idéia da dimensão que uma simples fórmula transformada em líquido pudesse tomar na economia mundial. Embora o nome Coca Cola seja visto como símbolo

do imperialismo econômico americano por muitos países, isso é apenas conseqüência dos rumos que uma simples idéia colocada em prática pode tomar. Quando o empreendedor lança uma idéia e ela se torna bem-sucedida, os acontecimentos subseqüentes podem ganhar uma dimensão que tende a fugir ao seu próprio controle. Dentre as 100 marcas mais valiosas do planeta, a Coca Cola ocupa a primeira posição no ranking, segundo a pesquisa Best Global 2007, divulgada na revista americana Business Week, especializada no assunto. Em valores absolutos, uma quantia considerável de US$ 65 bilhões, apenas para o valor da marca, independentemente das demais riquezas proporcionadas pela sua produção e comercialização. O valor de uma idéia pode ser representado pela seguinte fórmula: V = I + E + O, ou seja, (I) imaginação + (E) esforço + (O) otimismo, portanto, nunca despreze uma simples possibilidade, principalmente quando ela estiver alinhada com a sua vocação, o seu propósito de vida e um amplo sentido de realização.

Quando o empreendedor lança uma idéia e ela se torna bem-sucedida, os acontecimentos subseqüentes podem ganhar uma dimensão que tende a fugir ao seu próprio controle.


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