A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta! maio/junho 2008 • ano 2 • edição 7
É hora de lançar luz sobre alternativas sustentáveis
Produzir Energia com Responsabilidade Social
Saúde Ocupacional: Qualidade de vida do trabalhador e nos serviços prestados
Setor logístico investe em tecnologias sustentáveis
Os exemplos práticos da sustentabilidade ambiental
Evento destaca a reciclagem e a preservação ambiental como forma de sustentabilidade
30 Qualidade de Vida
34 Educando para o futuro O alfabeto da cidadania 38 Empreendedorismo
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Colunas
40 Responsabilidade Ambiental 48 Reciclagem 02 13 19 21 27 29 31 33 37 43 45 47 49 51 53 55
Matérias
24 Responsabilidade Social Corporativa
Capa
28 Responsabilidade Social 32 Ser Sustentável 44 Meio Ambiente 52 Economia Sustentável
Instituto Ethos Interfaceflor FGV Consult Exodus Werner & Bara JW Elo Agência De Figueiredo Demeterco Infante Unilehu Fesp
Anunciantes e Parcerias
04 Editorial 05 Espaço do Leitor 06 Notas 46 Ong e Ação 50 Publicações e Eventos 54 Indicadores de Sustentabilidade
10 Entrevista Augusto de Franco 14 Capa É tempo de renovar as energias 22 Visão Sustentável
Trier Civitas, Vioti e Creare Congresso de Bioenergia Philip Morris
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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
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Editorial
Completamos um ano... Com muita energia!
Diretor Executivo Pedro Salanek Filho pedro@geracaosustentavel.com.br
A revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL está completando o seu primeiro ano de aniversário, e nada melhor do que destacar, como matéria de capa, um tema tão relevante e pertinente para este momento comemorativo: Energia com um olhar sustentável. O fator energético vem revolucionando o setor produtivo há muito tempo. As fontes energéticas são relevantes no processo de produção, pois alavancam os meios produtivos que geram resultados econômicos. A contínua geração de energia é considerada estratégica dentro das políticas governamentais de uma localidade, visto que a limitação energética compromete o crescimento nas mais diversas esferas (industrial, infra-estrutura, logística, etc). Atualmente as principais fontes energéticas causam graves impactos sociais e ambientais, mas, por outro lado, apresentam forte viabilidade econômica. Como o tema sustentabilidade está tomando espaço na agenda corporativa, um novo cenário vem se desenhando com relação às fontes energéticas. Fontes consideradas alternativas, limpas e renováveis começam a apresentar viabilidade econômica e tecnológica, tanto para as empresas que necessitam produzir como para as que consomem energia. As energias renováveis devem trazer alguns tipos de benefícios, principalmente para as indústrias, como a redução de custos, a proteção contra escassez e os incentivos fiscais. Alguns programas federais já começam a ser implantados, por exemplo o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia); e o PNPB (Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel), os quais visam criar incentivos e atrair investimentos para o setor. O processo energético deve passar por uma grande transformação, seja com o surgimento de novas alternativas (biomassa, geotérmica, hídrica, solar e biocombustíveis) ou pela conscientização de um uso mais consciente e racional. Setores que produzem veículos, equipamentos e eletrodomésticos também já começam a se adaptar para uma nova realidade energética, desenvolvendo produtos que consomem menos energia. Pelo ponto de vista comercial, as empresas poderão utilizar, na embalagem dos seus produtos, um selo - dizendo que aquele produto foi fabricado com energia limpa. Estamos iniciando uma nova revolução energética... Porém uma revolução para uma energia mais saudável para as pessoas, para o meio ambiente, enfim, para todo o planeta. Boa Leitura. Pedro Salanek Filho Diretor Executivo
Jornalista Responsável Vanessa Brollo (MT - 1691/PR) vanessa@geracaosustentavel.com.br Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck criacao@geracaosustentavel.com.br Comercial Giovanna de Paula giovanna@geracaosustentavel.com.br Revisão Ana Cristina Castex Conselho Editorial Pedro Salanek Filho Antenor Demeterco Neto Ivan de Melo Dutra Lenisse Isabel Buss Articulistas articulista@geracaosustentavel.com.br Colaboraram nesta edição Jornalistas: Criselli Montipó, Ana Letícia Genaro e Juliana Sartori Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br Impressão Gráfica Infante
A parceria entre a PSG Editora e a Gráfica Infante para impressão da revista foi realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. O papel (miolo e capa) é produzido com matéria-prima certificada e foi o primeiro a ser credenciado pelo FSC - Forest Stewardship Council. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.
Tiragem: 3.000 exemplares Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. Rua Bortolo Gusso, 577 Curitiba - Paraná - Brasil CEP: 81.110-200 Fone/Fax: (41) 3346-4541
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Da esquerda p/ a direita, a equipe da Revista Geração Sustentável: Giovanna de Paula, Vanessa Brollo, Pedro Salanek Filho, Juliana Sartori, Criselli Montipó, Ana Letícia Genaro e Marcelo Winck.
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A revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opiniões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são terminantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos.
Espaço do Leitor
“Os gregos tinham duas palavras para definir o novo: neos (novinho em folha, recém-lançado) e kainõs (inédito, inusitado, surpreendente). Como professor de MBA, consultor especializado em Sustentabilidade Empresarial e parceiro estratégico da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, gostaria de deixar registrada, na celebração do seu primeiro ano de vida, minha admiração não somente pelo produto editorial qualificado em nível de excelência inovadora na área de gestão de negócios, como também pela contribuição do seu criador e equipe ao Desenvolvimento Sustentável. Há homens que entram para a história, e há aqueles que fazem a história - parabéns por estar neste time dos que fazem diferença.” Cleuton Rodrigues Carrijo Sócio-diretor da CREARE Aconselhamento Empresarial & Consultores Associados
“Antes de tudo quero destacar a coragem de Pedro Salanek e equipe para conceber esta publicação e concretizá-la. Parabéns pelo primeiro aniversário. Falar de sustentabilidade, além de ser um grande desafio, é também uma grande responsabilidade: reconhece o ser humano, com todos os seus desafios, forças e fragilidades, como o grande responsável e, ao mesmo tempo, vítima deste processo de dimensões planetárias. Muito se fala, muito se repete, pouco se faz. Só desejar mudar não basta. Agir para mudar é imprescindível. Fazer esta publicação é uma contribuição ímpar de reconhecimento e avaliação do que já foi feito, de gestão do conhecimento, de educação e formação, enquanto alicerce para os próximos passos de seus leitores. O diálogo é necessário, os desafios incomensuráveis e a labuta inesgotável. Parabéns a toda equipe!” Anne Louette Administradora de Empresas Coordenadora de Publicações de RSC
“A leitura da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL permite ao cidadão comum a perfeita conscientização da importância do ‘pensar e agir’ sustentável, trazendo reflexões profundas sobre a sustentabilidade numa linguagem simples e de fácil compreensão. Parabéns a todos os envolvidos no desenvolvimento deste fantástico periódico, nesta importante data
comemorativa! Este certamente é o primeiro de muitos anos de ‘vida’ desta relevante fonte de informações sobre a sustentabilidade. Parabéns!” Marcus Guaragni Engenheiro e Professor Universitário
“Em um ano de existência, a revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL já se tornou uma referência no tema da Sustentabilidade. Com seus conteúdos atuais e interessantes, todas as suas edições mostram uma visão crítica sobre a Responsabilidade Social e o papel de todos neste processo. O futuro das próximas gerações depende da conscientização e este é um dos pilares editoriais desta revista, que provoca um constante debate sobre o que deve ser mudado na gestão das empresas para a efetiva prática da sustentabilidade. Desta forma, a Revista Geração Sustentável transcende o seu papel de comunicação e assume um outro muito mais importante, que é ser um articulador e promotor de soluções para a construção de um mundo mais justo, igualitário e, principalmente, sustentável.” Andrea Koppe Presidente de Unilehu
Quero cumprimentar toda a equipe da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL pela brilhante estruturação desta importante publicação na área de responsabilidade social empresarial. Tenho sempre acompanhado os exemplos das empresas e os artigos dos profissionais que abordam, com tanta profundidade, este tema. A revista tem mostrado uma linha editorial coesa e atual. A preocupação deste tema no ambiente dos negócios vem se tornando uma discussão constante e estará influenciando, nos próximos anos, os processos corporativos e os desejos de consumo dos clientes. Como atuo também como professor da área de responsabilidade social e ambiental, frequentemente uso, nas minhas aulas (para debate entre os alunos) os exemplares da revista. Desejo longevidade a este projeto e que venha a ser uma referência de consulta na mesa de todos os empresários. Fernando Braga de Souza Consultor e Professor em Gestão Responsável Belo Horizonte (MG)
SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL REVISTA GERAÇÃO SUSTENTÁVEL LANÇA PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL O I PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL “SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL” é um programa desenvolvido pela Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL que visa reconhecer as iniciativas corporativas para um desenvolvimento sustentável. A Sustentabilidade Empresarial, assim definida pelo Instituto Ethos, consiste em: “assegurar o sucesso do negócio no longo prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, com um meio ambiente saudável e uma sociedade estável”. Neste intuito, aspectos como responsabilidade social corporativa, comprometimento com a comunidade, gestão socioambiental e ética empresarial são temas recorrentes no mundo dos negócios e estarão cada vez mais fazendo parte das definições estratégicas e da visão de negócio das organizações. A tendência atual dos negócios pressupõe que as empresas sejam rentáveis e gerem resultados econômicos, mas também contribuam efetivamente para o desenvolvimento da sociedade e para a conservação do meio ambiente. O prêmio reconhecerá as ações e iniciativas sustentáveis de empresas e demais organizações, realizadas no ano de 2008, nas quatro categorias mencionadas abaixo: • Gestão Sustentável • Responsabilidade Social Corporativa • Responsabilidade Ambiental • Práticas para a Sustentabilidade Maiores informações e regulamento do prêmio podem ser obtidos pelo site: www.geracaosustentavel. com.br ou pelo e-mail contato@ geracaosustentavel.com.br
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Entrevista
Desenvolvimento local efetivo: comunidade engajada em fazer algo por si mesma
divulgação
Augusto de Franco Professor e escritor Ana Letícia Genaro
GERAÇÃO SUSTENTÁVEL • O tema desenvolvimento sustentável tem sido muito abordado, é possível e viável atingi-lo totalmente? AUGUSTO DE FRANCO • Sim, é possível e viável atingir totalmente o desenvolvimento sustentável. Mas só podemos mensurá-lo, saber se ele está alcançando os objetivos, em escala local. Por isso, as tentativas, ensaios, experiências de processos de conquista da sustentabilidade são locais. GS • O senhor sempre destaca o DlIS – Desenvolvimento local Integrado e Sustentável. Qual o primeiro passo para incentivar e promover o DlIS em uma região? AF • A primeira ação é sempre identificar, na sociedade em questão, os agentes de desenvolvimento dispostos a fazer isso. Aí é só começar a conectar essas pessoas numa rede de desenvolvimento comunitário. Tudo começa assim, no início de tudo está essa rede de pessoas interessadas voluntariamente em promover seu próprio desenvolvimento e também o desenvolvi-
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Professor convidado da Fundação Dom Cabral (Desenvolvimento de Executivos e Empresas) e de vários MBAs nas áreas de terceiro setor e desenvolvimento local na área de responsabilidade corporativa e sustentabilidade empresarial, Augusto de Franco é hoje articulista do jornal Folha de São Paulo. Escreveu mais de 13 livros sobre desenvolvimento local e, entre 1995 e 2002, integrou (juntamente com Ruth Cardoso e Miguel Darcy de Oliveira) o Comitê Executivo do Conselho da Comunidade Solidária, sendo responsável pelas Rodadas de Interlocução Política que geraram, dentre outros resultados: a chamada Nova Lei do Terceiro Setor; a estratégia de indução ao Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (Programa Comunidade Ativa); e o início do processo de regulamentação da atividade microfinanceira no Brasil. Em entrevista à GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, Augusto de Franco falou sobre o DLIS - Sistema Local Integrado e Sustentável, suas características, aplicações, barreiras e elementos fundamentais para a implantação.
mento do local onde elas vivem. Às vezes é preciso enviar um agente facilitador que faça esse trabalho de identificação. O resto é a metodologia já conhecida no mundo todo: visão de futuro, diagnóstico, plano de desenvolvimento, agenda, pacto em torno de determinadas prioridades. E isso é o desenvolvimento local. GS • Identificar oportunidades, incentivar e promover o desenvolvimento local, de forma integrada e sustentável, é possível em qualquer região que tenha alguma atividade produtiva ou apenas nas que apresentem alguma vocação? As vocações locais devem sempre ser respeitadas para a manutenção de um desenvolvimento endógeno? É possível desenvolver-se mudando estas vocações? AF • Toda localidade tem uma vocação, mas ela não é algo que cai do céu ou brota em árvore. A vocação é uma escolha das pessoas por determinado caminho. Uma comunidade pode escolher, por exemplo, desenvolver o ecoturismo na região. Isso não quer dizer que nada lá além do ecoturismo pode acontecer. É que nes-
te caso a região escolheu a atividade como eixo principal do seu desenvolvimento. As vocações locais devem sempre ser respeitadas, quando forem a escolha de uma comunidade. Isso porque se foi escolhida, quer dizer que as pessoas estão dispostas a trabalhar naquela direção. Muitas vezes a comunidade sonha com uma vocação, ensaia um caminho e depois descobre outra opção. Isso é bem comum, acontece em quase todas as experiências de desenvolvimento local. As vocações são temporárias em alguns casos. Vão aparecendo novas vocações para a mesma localidade. Uma região que pretendia ser ecoturista de repente descobre que é um ótimo ambiente para tecnologias da informação, desenvolvimento de software, por exemplo.
acontecendo. Nada dura para sempre. Então a sociedade vai tentar outras saídas. O seu desenvolvimento é como se fosse o resultado do metabolismo da vida da comunidade. Desta forma este grupo não vai usar uma metodologia para uma chegar num lugar e se destacar das demais. A própria comunidade acaba se desenvolvendo e vai atrair populações pobres, carentes de atendimento de saúde e de outros programas assistenciais. Mas isso é quase que inevitável. Se fosse assim, ninguém poderia se desenvolver. Os problemas gerados pelo desenvolvimento e pelo desequilíbrio regionais têm que ser resolvidos no processo desse próprio desenvolvimento. Não há uma vacina, uma fórmula anterior para isso.
GS • A permanência da renda no “local” é fundamental para o seu desenvolvimento. As periferias das grandes cidades são consideradas culturalmente, interna e externamente, como regiões de subdesenvolvimento. Frente a estas duas constatações, como se pode promover o DLIS em microrregiões periféricas dos grandes centros? AF • A metodologia do desenvolvimento local pode ser aplicada em qualquer lugar que tenha uma sociedade e uma história, seja na periferia, num bairro do centro da cidade, numa microrregião, numa microbacia ou uma região bem grande. Desde que exista uma comunidade de projeto se formando, que esteja disposta a trabalhar, o desenvolvimento local é apenas o resultado deste trabalho.
GS • Onde residem as maiores possibilidades de insucesso na implantação do DLIS? AF • Os maiores adversários do processo de desenvolvimento local são o assistencialismo, o clientelismo, a centralização e o clima adversarial. O velho sistema político introduz em geral esses elementos que são ex-
GS • Vencer a barreira da cultura de competição, abrindo espaço para a cultura de cooperação é fundamental dentro de uma estratégia de DLIS. Como superar esta dificuldade? AF • Na verdade, as pessoas naturalmente cooperam. Elas cooperam para fazer várias coisas, como organizar um mutirão, uma festa, um ato, uma ação coletiva. O que se trata é estimular estas formas de cooperação que já estão presentes na sociedade. A cooperação não é um remédio para curar a doença da competição. Ambas são importantes. A competição é fundamental no mercado e a cooperação na sociedade. O que não podemos fazer é inverter essa lógica. O mercado é que tem que ser competitivo, a economia tem que ser de mercado, mas a sociedade não. GS • Como evitar que o sucesso na implantação do DLIS em uma região acabe se tornando uma arma contra si mesma, como por exemplo grandes movimentos migratórios internos, inchaço populacional ou aumento da pobreza e da criminalidade? AF • Não há como evitar isso. O sucesso de uma experiência local aparece exatamente quando ela está
As vocações locais devem sempre ser respeitadas, quando forem a escolha de uma comunidade. Isso porque se foi escolhida, quer dizer que as pessoas estão dispostas a trabalhar naquela direção terminadores de capital social e as principais barreiras do desenvolvimento local. Para promover o desenvolvimento local não é preciso fazer muita coisa. O melhor é não fazer certas coisas. Por exemplo, não dar coisas de graça para os outros, não distribuir cestas de alimentos - salvo em situações emergenciais - não ter uma atuação paternalista que transforma as populações em beneficiárias passivas permanentes de coisas que vão chegar do alto. O desenvolvimento local existe quando as pessoas dizem: eu posso fazer, eu posso me juntar ao outro para a gente resolver um problema, eu posso exercer esse protagonismo, eu posso exercer esse empreendedorismo. O desenvolvimento local é resultado dessa efervescência, dessa coragem das pessoas para fazer coisas, para inovar, para agir diferente. Para isso, você precisa remover obstáculos mais do que propriamente impulsionar, apostando em novas oportunidades. Quanto mais desenvolvida uma localidade, menos os elementos da velha política são determinantes. É preciso quebrar essa dependência fazendo coisas em que maio/junho 2008
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Entrevista
as pessoas exercem seu protagonismo, independente do benefício que vão receber. Com isso, mais pessoas agem em prol do desenvolvimento e também se desenvolvem e aprendem ao agir. GS • Qual o melhor exemplo de DLIS implantado no Brasil? Onde o senhor identificaria hoje, no Brasil, uma grande oportunidade de incentivo à implantação do DLIS e por que isto ainda não ocorreu, na sua opinião? AF • Não existe um melhor exemplo de DLIS implantado no Brasil porque toda experiência de desenvolvimento local é boa, desde que haja participação da comunidade. Quanto mais participação democrática das pessoas, quanto mais empreendedorismo, quanto mais inovação, melhor. Isso pode ser feito de tantas maneiras diferentes que não há como comparar. Em algumas regiões o DLIS ainda não ocorre até agora basicamente porque os governos e sistemas políticos ainda pensam de maneira centralizada. Os governos querem um projeto de desenvolvimento no Brasil quando, na verdade, nós precisamos de milhares de projetos. O desenvolvimento é o resultado dessa efervescência capilar da sociedade. Então, em todo o lugar onde as sociedades
A sustentabilidade hoje é um desafio sistêmico. Ela não pode ser dividida em setores como sustentabilidade ambiental, econômica e social. A sustentabilidade é uma capacidade que um determinado sistema tem de mudar de acordo com a mudança das circunstâncias conseguiram dar um salto no seu processo de desenvolvimento, aconteceu assim: não é a partir de um plano elaborado por uma inteligência. As pessoas não participam, não entram em projetos estruturados de cima para baixo. Elas entram apenas para obter alguma vantagem, benefício. Elas não dão uma energia adicional de si mesmas. O desenvolvimento precisa de um combustível que é a energia liberada quando alguém resolve fazer algo por si mesmo. GS • Na sua ótica, qual o papel das empresas para o desenvolvimento local? Elas efetivamente contribuem ou as suas ações geralmente são isoladas e sem características sistêmicas? AF • As empresas, no sentido amplo, são indispensáveis porque elas são empreendimentos e o desenvolvimento local é um conjunto de empreendimentos. Então as empresas stricto sensu de mercado e também 12
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as outras empresas, “dos cidadãos”, quando resolvem fazer alguma coisa, são iniciativas. A multiplicidade dessas iniciativas é o desenvolvimento. Elas ainda atuam isoladamente, embora cada vez mais estão sendo chamadas a atuar conjuntamente. Uma empresa sabe que, para ela crescer e criar um ambiente favorável, precisa da atuação de outras empresas. Não só de outras empresas, mas também de outras organizações da sociedade e dos cidadãos. Nenhuma empresa pode ser boa num ambiente ruim, e este não pode ser construído apenas por uma empresa isoladamente. GS • O que é Capital Social? Como este tipo de capital é estruturado? Quais são os benefícios e diferenciais de uma comunidade que possui alto grau de capital social? AF • Capital Social é a cooperação ampliada socialmente. É, na verdade, os níveis de confiança, de reciprocidade, de cooperação que uma sociedade tem. Hoje nós sabemos que esse capital tem a forma de rede. Não é que a rede social produza capital social. Este é o nome que se dá, aproveitando a metáfora do capital, para designar um determinado metabolismo da sociedade que ocorre quando pessoas se conectam horizontalmente com pessoas, ou seja, quanto mais redes uma região tiver, mais capital social ela dispõe. Então ele é estruturado nessas redes. Quanto mais capital social uma comunidade tiver, quanto mais tramadas forem as redes sociais, mais inovação surgirá. Assim, mais oportunidades de caminho cada pessoa terá. Cada conexão é um caminho, se alguém está ligado a duas pessoas, tem dois caminhos. Se ligar-se a dez pessoas, serão dez caminhos para se chegar onde quer. Isso significa possibilidade de inovação, de abrir novas oportunidades. GS • Que mensagem o senhor gostaria de deixar para o leitor da Revista Geração Sustentável? AF • A sustentabilidade hoje é um desafio sistêmico. Ela não pode ser dividida em setores como sustentabilidade ambiental, econômica e social. A sustentabilidade é uma capacidade que um determinado sistema tem de mudar de acordo com a mudança das circunstâncias. É saber fazer e refazer continuamente congruências múltiplas e recíprocas com o meio. É regular sua própria adaptação e mudar esse programa. O que é sustentável dura, não porque seja algo permanentemente igual a si mesmo. Dura porque muda continuamente sem deixar de ser o que é. Isso só os organismos, os ecossistemas e as organizações humanas, que são sistemas complexos com estrutura de rede, conseguem fazer.
Capa
É tempo de renovar as energias
Ana Letícia Genaro
Fontes limpas, alternativas, renováveis e não poluentes vêm experimentando uma nova fase de crescimento no Brasil 14
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em dúvida as fontes energéticas são fundamentais em qualquer processo de produção. É através delas que os meios produtivos são alavancados, gerando resultados econômicos. A questão é que da mesma maneira que fontes como petróleo e derivados, carvão mineral, gás natural e urânio são essenciais, elas também podem ser bem problemáticas. A utilização desses recursos de maneira incorreta causa graves impactos sociais e ambientais, além de serem esgotáveis. Neste cenário, fontes limpas, alternativas, renováveis e não poluentes surgem como resposta à necessidade de reduzir a dependência das fontes energéticas esgotáveis e de diminuir as emissões de gases poluentes. Estas novas fontes podem se constituir, a partir da biomassa, energia eólica, hídrica, solar, biocombustíveis (álcool - biodiesel), e por meio da queima de resíduos de outros processos produtivos. As fontes de energias renováveis vêm experimentando uma nova fase de crescimento e representam, hoje, 45% da matriz energética brasileira. Além de ser sustentável, a opção pelo uso de energias limpas, tanto na produção como na logística, traz benefícios econômicos e sociais para as empresas que as utilizam e podem ser também uma boa opção de negócio. BIOMASSA • A geração de energia a partir da biomassa é a obtenção de energia por meio de materiais de origem vegetal, como sobra de madeira da indústria, vegetais, frutas, resíduos agrícolas e lixo de natureza biológica. Este segmento já corresponde a 30,2% da composição da matriz energética brasileira. “A biomassa é uma fonte energética renovável, além disso, tem uma base adaptada para qualquer região. Isso quer dizer que ela usa como fonte primária plantas da própria região, seja no Nordeste, na Região Sul ou na Argentina”, explica Dimas Agostinho da Silva, professor de Bioenergia da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Outra vantagem do uso da biomassa é a possibilidade de se fazer um balanço positivo em relação à fixação do carbono. O professor ressalta que “se a usina é movida pela energia de biomassa, o resultado da conta final das emissões é vantajoso, pois a quantidade de gás carbônico gerado pela queima é quase todo absorvido durante o crescimento das plantas.” Uma das formas de se ganhar a energia a partir da biomassa, e que vem crescendo muito no Brasil, é o aproveitamento do bagaço de cana que sobra da produção de álcool e açúcar - ou outro subproduto vegetal no caso de outras culturas - como combustível para usinas termoelétricas, além de ainda aproveitar o calor gerado para outras aplicações industriais dentro da usina - sistema denominado de co-geração, por simultanea-
mente produzir calor útil e eletricidade. De acordo com Frederico Reichmann, consultor técnico para assuntos de energia da FIEP (Federação das Indústrias do Paraná), esse tipo de geração passa a ser representativa na matriz energética brasileira: “Ela é uma energia relativamente barata e competitiva em relação às termoelétricas e ao carvão mineral”. BICOMBUSTÍVEIS E BIODIESEL • O álcool etanol pode ser considerado uma fonte secundária, por já ser processado da cana de açúcar. Há 30 anos o governo federal investe no programa Proálcool - programa de substituição em larga escala dos derivados de petróleo - o que resultou na liderança mundial brasileira em pesquisas e produção de etanol. Hoje, o álcool está sendo muito utilizado nos veículos bicombustíveis. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a quantidade de veículos equipados com o sistema flex fuel no Brasil já supera cinco milhões de unidades. O diretor técnico do TECPAR (Instituto de Tecnologia do Paraná), Alexandre Akira Takamatsu, vê vantagens nesse uso: “O Brasil tem o maior exemplo do uso de energia alternativa, que é o álcool. Além de ser uma fonte renovável, utiliza no seu processo a sua própria biomassa para a auto-sustentação. É com certeza uma solução em escala que, além de tudo isso, tem um saldo positivo em relação à emissão de gás carbônico na atmosfera.” O Biodiesel é classificado também como um tipo de geração alternativa de energia. Ele é obtido a partir da biomassa vegetal. No Brasil, o uso mais comum de matéria-prima é a partir da soja, pinhão-manso e mamona. “Atualmente é utilizado 2% de biodiesel na mistura do diesel. A legislação brasileira determina um cronograma de substituição progressiva ao longo dos anos, até chegar aos 20% da composição do combustível”, esclarece Takamatsu. O biodiesel tem um potencial grande para se desenvolver no Brasil graças à variedade de oleaginosas existentes no país. Este pode ser usado para alimentar motores ou para gerar energia elétrica.
“Atualmente é utilizado 2% de biodiesel na mistura do diesel. A legislação brasileira determina um cronograma de substituição progressiva ao longo dos anos, até chegar aos 20% da composição do combustível”, esclarece Alexandre Akira Takamatsu, diretor técnico do Tecpar
ENERGIA EóLICA • A energia dos ventos é também considerada uma fonte renovável, limpa e disponível em todos os lugares. Um levantamento com medidas de vento, realizado recentemente em diversos pontos do território nacional, indica a existência de um imenso potencial eólico, principalmente na costa do Nordeste. Hoje, o país tem instalações eólicas de grande porte nos Estados do Ceará, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O Paraná conta com uma usina na região de Palmas, sudoeste do Estado. O custo de produção dessa energia é um pouco mais oneroso que as demais porque os equipamentos, na maioria importados, ainda maio/junho 2008
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Relação do uso de Fontes Renováveis e Não-Renováveis / Brasil 2007
são caros. Gustavo de Brito Ribas, presidente da Associação Paranaense de Geradores de Energia, explica que “a relação de quantidade de energia gerada pelo investimento realizado da energia eólica é mais cara que a biomassa da cana e também mais cara que a hidrelétrica. A média de energia que ela gera ao longo dos anos é cerca de 30% da sua potência instalada. Por outro lado, entre todas é a que causa menos impacto na natureza”.
estrutura da oferta interna de energia (%)
100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
93,8%
87,3%
54,2%
45,8% não-renovável
12,7% brasil (2007)
mundo (2005)
6,2%
renovável
OECD (2005)
Fonte: Balanço Energético Anual (2007) – Ministério de Minas e Energia
O advogado, mestre em Organizações e Desenvolvimento, Antenor Demeterco Neto, destaca pontos relevantes da legislação com relação a questão energética GS • De que forma o governo federal incentiva a geração de energia alternativa no Brasil? Antenor Demeterco • O governo federal, por meio da Lei n.º 10.438/2002, criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, chamado de Proinfa, cujo objetivo é diversificar a matriz energética nacional e garantir uma maior confiabilidade e segurança ao abastecimento. Coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, o Proinfa estabeleceu uma meta de contratação de 3.300 MW de energia no Sistema Interligado Nacional gerados por fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas. Porém, apesar de representar uma importante iniciativa no incentivo de investimentos em energias renováveis levando-se em conta a inexistência de leis anteriores que regulamentassem a matéria, o Proinfa é um programa pouco abrangente e de curto prazo, cujo término está previsto para este ano. Com a intenção de justamente suprir essa falta de regulamentação do setor, está em trâmite no Congresso Nacional, desde julho de 2007, o Projeto de Lei n.º 1.563/2007 de autoria do Deputado Federal Paulo
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Energia Hidráulica • Graças aos grandes recursos hídricos disponíveis, a maior quantidade de energia elétrica produzida no Brasil ainda provém de usinas hidrelétricas - cerca de 77,3%. A vantagem desse tipo de geração de energia renovável em relação aos demais é o custo. “A geração de energia por meio das hidrelétricas é a forma mais barata de todas. O combustível usado na geração é recebido de graça pela natureza. Além disso, o país tem capacidade tecnológica em torno das usinas hidrelétricas por meio da indústria civil, equipamentos, serviços de engenharia e capacidade de planejamento e otimização do sistema”, diz Theóphilo Garcez Duarte Neto, vice-presidente da APGE. Um ponto muito questionado em relação às hidrelétricas é o impacto gerado no ambiente ao redor dela. Ambientalistas alertam que para construir usinas é preciso inundar grandes áreas, causando mudanças climáticas e de biodiversidade irreversíveis.
Teixeira, cujo objetivo é incentivar não apenas as fontes alternativas previstas no Proinfa, mas todos os demais tipos de energias renováveis, tais como os micropotenciais hidráulicos, as ondas, as marés, a solar e a geotérmica, além de regular também a universalização do fornecimento, a geração distribuída e a racionalização energética. GS • Como se dá a regulamentação da produção, comercialização e distribuição da energia alternativa no Brasil? AD • A regulamentação dessas questões no Brasil tem se dado de forma muito esparsa e pontual, daí a necessidade de uma legislação específica para o setor. Além do já citado Proinfa, existem inúmeras leis e projetos de lei, tanto federais quanto estaduais e municipais, que, de alguma forma, tratam sobre algum aspecto de determinada espécie de energia renovável. Se todos os projetos de lei em trâmite hoje no Congresso Nacional que tratam dessa matéria fossem aprovados ter-se-ia um verdadeiro carnaval legislativo. O incentivo à produção, comercialização e distribuição de energias renováveis depende de uma legislação específica, sólida e de longo prazo, bem como de um mercado constante para a atração de investimentos. A inexistência de um marco regulatório específico com regras claras é hoje a principal barreira para o desenvolvimento do setor porque gera insegurança jurídica nos investidores e empresários. Não obstante, com alguns aperfeiçoamentos, é preciso dar seguimento ao
Em relação ao abastecimento do mercado brasileiro, as usinas hidrelétricas já tiveram um panorama melhor no passado. Na segunda metade da década de 70 e primeiros anos da década de 80, cerca de 92% do consumo de energia elétrica do Brasil era suprido pelas hidrelétricas. Reichmann explica que “os melhores sítios que tinham vocação para a produção da hidroeletricidade já foram explorados no passado. Para oferecer a mesma quantidade de energia que se ofertava num único empreendimento agora precisamos de 10 a 12 empreendimentos menores”. Ainda segundo Reichann, grandes potenciais inexplorados podem ser encontrados na Amazônia: “Na década de 90, a comunidade internacional começou a fazer pressões para dificultar a viabilidade de empreendimentos hidrelétricos na região”. O caminho encontrado para suprir a necessidade de energia elétrica do país foi a implantação das termoelétricas movidas a gás natural, num primeiro momento, e depois a carvão mineral. A energia proveniente da queima destes recursos não renováveis e considerados poluentes representa hoje quase 16% da matriz energética brasileira. PCH • As Pequenas Centrais Hidrelétricas - PCHs surgiram como resposta à diminuição da capacidade produtiva das grandes hidrelétricas. Elas representam um dos principais focos de prioridade no que se refere ao aumento da oferta de energia elétrica no Brasil. Por suas características - usinas com potência instalada
superior a 1 MW e igual ou inferior a 30 MW e com o reservatório com área igual ou inferior a 3 km² - esse tipo de empreendimento possibilita um melhor atendimento às necessidades de carga de pequenos centros urbanos e regiões rurais. Segundo Ribas “as PCHs são muito consideradas pelo governo brasileiro porque, por serem menores, provocam baixo impacto ambiental”. Desde 1998, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) permite que a iniciativa privada obtenha a concessão e permissão de produção de energia num prazo de 30 anos. Com a permissão em mãos, os empreendedores podem conseguir financiamentos facilitados no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). “Para entrar em funcionamento, a unidade precisa também conseguir uma licença ambiental dada pelas agências ambientais estaduais delegadas pelo Ibama”, explica Theóphilo. As autorizações ambientais levam muito em conta o número de usinas instaladas numa mesma bacia, como alerta Frederico Reichmann: “se uma bacia for aproveitada em vários pontos, o impacto gerado pode ser grande”. Por outro lado, as PCHs geram benefícios sociais para as áreas onde são construídas. De acordo com Ribas, cada obra cria 300 empregos diretos, movimentação da economia, projetos de apoio aos municípios e planos ambientais: “As regiões de queda d’água normalmente são regiões muito pobres, onde a agricultura é desfavorecida pelo relevo acidentado. A população é
trabalho iniciado pelo Proinfa. Urge a fixação de princípios gerais para a atividade e de regras que detalhem a exploração de cada modalidade de fonte de energia renovável, além de formas de atração de financiamentos e que garantam o preço. GS • Quais os benefícios legais para as empresas que optam por utilizar energia renovável? AD • Inúmeros são os benefícios, mas o principal são os créditos de carbono. Uma empresa que substituir sua matriz energética por outra que não emita ou que emita menos gases geradores do efeito estufa pode apresentar um projeto de MDL, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, e com isso obter certificados de créditos de carbono para serem posteriormente comercializados, gerando uma significativa fonte de receitas. Existem ainda benefícios fiscais, como a isenção de IPI para produtores de biodiesel. Sem falar que em 26 de fevereira de 2007 foi apresentado o Projeto de Lei n.º 220/07, de autoria do Deputado Federal Marcondes Gadelha, que prevê incentivos fiscais para o uso de energias solar, eólica, hidráulica e de biomassa. O projeto, se aprovado, permitirá a dedução de despesas com aquisição de equipamentos e serviços necessários para a instalação de sistemas energéticos renováveis da base de cálculo do Imposto de Renda das Pessoas Físicas Jurídicas, bem como da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido.
“A geração de energia por meio das hidrelétricas é a forma mais barata de todas. O combustível usado na geração é recebido de graça pela natureza”, diz Theóphilo Garcez Duarte Neto, vicepresidente da APGE
GS • Existe alguma legislação vigente em outros países quanto ao incentivo da geração de energia limpa que pode ser tomado como exemplo? AD • A Lei de Energias Renováveis da Alemanha é o melhor exemplo de incentivo e desenvolvimento de energias renováveis ao fundamentar uma política energética firme e um organizado sistema de subsídios governamentais. Essa lei obriga os operadores de redes de eletricidade a adquirir preferencialmente eletricidade gerada pelo vento, pelo sol, pela água, pela biomassa e pelo calor terrestre. Os produtores recebem uma remuneração de lançamento, e os custos são divididos entre todos os clientes de energia elétrica. Hoje a Alemanha é responsável por cerca de um terço de toda a energia eólica produzida no mundo, o que representa a metade da potência produzida em toda a Europa. Essa lei transformou o país no maior mercado mundial de fontes de energias renováveis. Na América do Sul pode-se citar o exemplo do Chile, que teve sua lei de energias renováveis promulgada recentemente pela presidente Michelle Bachelet. Apesar de seus resultados práticos ainda serem desconhecidos, a lei tem objetivos muito interessantes, como a fixação da meta de que até 2010 cerca de 5% da eletricidade do país seja produzida por energias renováveis e nacionais, bem como o fomento à construção de pequenas centrais hidrelétricas e de projetos que aproveitem as energias com fontes renováveis.
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assim favorecida com a instalação das PCHs”. O Paraná é um Estado com um grande potencial para a geração hidráulica e já explora mais de 70% dessa capacidade. Há hoje 35 projetos de pequenas usinas em primeira fase - que conseguiram as concessões do governo federal - e mais 68 projetos em fase de elaboração.
em parceria com a APGE sobre as vantagens do uso de energia renovável no setor industrial paranaense. Além disso, conta o vice-presidente da APGE, “as indústrias podem colocar selos nos produtos alegando que estes foram produzidos com energia limpa. O selo poderia ser utilizado como um elemento de marketing”.
Vantagens para a indústria • A utilização das energias renováveis pode trazer diversos benefícios para o segmento industrial, como redução de custos com energia, inclusive com impostos, proteção contra aumentos futuros nas tarifas de energia elétrica e proteção contra eventual escassez e racionamento. Tais pontos foram levantados por um relatório elaborado pela FIEP
Opção de negócio • No relatório, a geração de energia renovável é ainda apresentada como uma esfera com forte tendência para o crescimento de negócios lucrativos nas próximas décadas. Um dos motivos é o aumento constante da procura por este tipo de energia. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, a demanda energética brasileira cresce de 5,3% a 5,5% por ano - mesmo crescimento anual do PIB. Uma segunda justificativa para lucratividade do setor é o incentivo dado pelo governo federal. Um exemplo é o Proinfa - Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia - criado pelo Ministério de Minas e Energia para diversificar a matriz energética do país. “O programa, que surgiu em 2003, tem o objetivo de aumentar a participação no Sistema Elétrico Interligado Nacional de energia elétrica decorrente de empreendimentos independentes, tendo como base fontes eólicas, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa”, esclarece a advogada ambiental Lis Caroline Bedin. Este programa é coordenado pelo Ministério de Minas e Energia e conta com o apoio do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) e da Eletrobrás, que garante a compra da energia produzida pelo prazo de 20 anos. “As propostas do programa estão centradas na implantação de uma política regionalizada e de meca-
Brasil faz parte do E8 Em 1997, a ONG americana Word Watch Institute denominou de E-8 oito países que são referência para soluções ambientais em todo o mundo. A sigla significa Environment 8, que em inglês quer dizer meio ambiente. O E-8 reúne países ligados à questão ambiental não só porque são economicamente capazes de dar soluções para a degradação da biodiversidade, mas, também, porque são responsáveis por essa degradação. São eles Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, Rússia, Indonésia, Índia e Brasil. “Entre os países do E-8 somos despoluidores graças à alta fonte de biomassa que possuímos. Só a cana-de-açúcar, por exemplo, é a biomassa que mais usamos e que, além de fornecer energia, renova o ar da atmosfera ao absorver o gás carbônico que libera”, explica Alexandre Aquira Takamatsu, diretor técnico do TECPAR (Instituto de Tecnologia do Paraná).
Composição da Matriz Energética Brasil 2005 (%)
Composição da Matriz Energética Mundo 2007 (%) hidráulica e eletricidade
2,2% urânio
biomassa
10,5%
biomassa
petróleo e derivados
30,9%
37,4%
petróleo e derivados
6,3%
35%
gás natural
9,3%
hidráulica e eletricidade
14,9% carvão mineral
gás natural
25,3%
carvão mineral
6%
urânio
1,4%
20,7%
Fonte: Balanço Energético Anual (2007) - Ministério de Minas e Energia 18
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nismos para desenvolver uma indústria nacional de equipamentos para a exploração de tais fontes, estes atualmente em grande parte importados”, complementa a advogada. O PNPB (Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel), outra iniciativa de incentivo à produção de energia limpa, foi apresentado pelo governo como um instrumento de inclusão social e de desenvolvimento regional, a partir da produção e uso do Biodiesel de forma sustentável. Créditos de Carbono • O processo de produção da energia limpa é alavancado também pela preocupação mundial com o meio ambiente. Por ser redutora das emissões de poluentes na atmosfera, gera os chamados créditos de carbono que, pelos termos do Protocolo de Kyoto, são uma espécie de moeda de troca na sua comercialização com países do chamado Anexo I do Protocolo. Tal grupo é formado pelos geradores de altas taxas de emissão de gases. “Os países industrializados recebem com os créditos adquiridos o direito de aumentar ou manter seus níveis de geração de poluição atmosférica. Fazem uma compensação de seu excesso através da compra de créditos junto a países de economia menos desenvolvida e que, por isso mesmo, geram menos gases do chamado ‘efeito estufa’. O estímulo que os países desenvolvidos têm para a compra de tais créditos é que eles custam muito mais barato do que as multas previstas no protocolo pela geração de excedentes de carbono”, explica Bedin.
Vantagens das fontes renováveis de energia As fontes renováveis de energia - como biomassa, pequenas hidrelétricas, eólica e energia solar oferecem inúmeras vantagens: - Aumentam a diversidade da oferta de energia; - Asseguram a sustentabilidade da geração de energia a longo prazo; - Reduzem as emissões atmosféricas de poluentes; - Criam novas oportunidades de empregos nas regiões rurais, oferecendo oportunidades para fabricação local de tecnologia de energia; - Fortalecem a garantia de fornecimento porque, diferentemente do setor dependente de combustíveis fósseis, não requerem importação. Fonte: GreenPeace (www.greenpeace.org/brasil)
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Matriz de oferta de energia elétrica importação
7,9%
total (em twh)
biomassa
3,5%
Hidro gás natural
derivados do petróleo
hidro
2,8%
77,3%
deriv. de petróleo nuclear carvão
carvão mineral
biomassa
1,3%
importação
484,5 374,4 17,6 13,7 12,3 6,5 16,8 38,5
gás natural
3,6%
nuclear
2,5%
Fonte: Balanço Energético Anual (2007) Ministério de Minas e Energia
Biodiesel diminuirá dependência do petróleo Considera-se que em dois anos foram consumidos no mundo 10 bilhões de litros de biodiesel. Para 2012 espera-se que esse número aumente consideravelmente para 50 bilhões. Hoje são consumidos no Brasil cerca de 200 milhões, com estimável aumento para 2,4 bilhões em 5 anos. Na região Nordeste estão situadas 23 fábricas construídas ou em construção que trabalham com biodiesel, ao todo são 113 pelo Brasil afora. De acordo com o Engenheiro Agrônomo Frederico Ozanan Machado Durães, Chefe Geral da Embrapa Agroenergia, a oportunidade para o Brasil liderar a nova matriz energética é baseada na energia de biomassa, que congrega as plataformas de etanol, biodiesel, florestas energéticas e resíduos: “O Brasil necessita consolidar o programa biodiesel em 10 anos. Os próximos 3 anos vão definir o futuro do programa no país e o ano de 2008 será especialmente decisivo para aspectos críticos, como o ordenamento e gestão territorial, matéria-prima, logísticas agrícola e industrial, arranjos produtivos locais, regionais e infra-estrutura de produção.” Para colocar em prática planos rentáveis com energias renováveis e biodiesel, acontece em Curitiba o 3º Congresso Internacional de Bioenergia, que tem o intuito de revelar como aproveitar o uso racional de resíduos. Também visa discutir as opções e tecnologias existentes no Brasil através do uso da bioenergia, biodiesel e outras fontes alternativas não poluentes, atualizando o conhecimento e as pesquisas em relação às tecnologias de ponta vigentes em outros países. Paralela ao congresso, a BioTech Fair 2008 - Feira Internacional de Tecnologia em Bioenergia e Biodiesel - apresenta tecnologias brasileiras no segmento de bioenergias e biocombustíveis e oferece uma exposição de produtos e serviços relacionados com a técnica na produção de energia alternativa. A empresa Branco Produtos de Força e Energia, referência no mercado brasileiro na fabricação de produtos de força e energia, proporciona aos visitantes da feira conhecer seus produtos, como os geradores e motores a biodiesel e biogás. Para este ano, a empresa prepara o lançamento de mais uma novidade: motores Bioflex movidos a biogás e álcool. Os eventos serão realizados no Expotrade Convention Center, em Pinhais, entre os dias 24 e 27 de junho. O horário da feira é das 13h às 20h, e o congresso das 8h30 às 18h30. Faça sua inscrição através do site http://www.eventobioenergia.com.br
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ustentando
Fontes renováveis aumentam participação na matriz energética em 2007
O Brasil teve a participação de fontes renováveis - que incluem energia hidráulica, produtos da cana-de-açúcar, lenha e carvão vegetal - na matriz energética ampliada em 2007, informou nesta quinta-feira (8) a EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Dados preliminares do BEN (Balanço Energético Nacional) indicam que as fontes renováveis foram responsáveis por 46,4% da oferta energética no país em 2007, totalizando 111 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo). No ano anterior, essas fontes respondiam por 44,9% da matriz. As fontes não renováveis - petróleo e derivados, gás natural, carvão mineral - corresponderam a 53,6% da oferta de energia no ano passado, ante participação de 55,1% em 2006. Ao todo, foram ofertados 128,3 milhões de tep oriundos de fontes não renováveis em 2007. O presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, exaltou o fato de o Brasil ter um aproveitamento de fontes renováveis bem acima da média verificada em todo o mundo. A média é de um aproveitamento de 12,7% de fontes renováveis na matriz energética mundial. A forte presença de fontes renováveis na matriz energética brasileira é decisiva para que o país tenha um número relativamente baixo de emissões de gás carbônico, em função da produção de energia. Cada habitante emite, em média, 1,84 t (tonelada) de gás carbônico. Nos Estados Unidos essa média chega a 19,61 t por habitante. A média mundial é de 4,22 t de gás carbônico por habitante. A cada tep produzido, o Brasil emite 1,57 t de gás carbônico. A média mundial é de 2,37 t de gás carbônico por tep gerado. “Isso mostra que o Brasil tem melhor qualidade na matriz energética, com menos emissões de gás carbônico”, resumiu Tolmasquim. (Fonte: Folha Online)
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L
I A N D I S P ES O B ADE OC I AL
JUVENAL CORREIA FILHO
Psicólogo com MBA em Direção Estratégica e Consultor em Responsabilidade Social
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PONTO DOCE da sustentabilidade Energia como
Na década de 90, as empresas petrolíferas começaram a busca do seu ponto doce da sustentabilidade, direcionando seus negócios para negócios de energia
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gestão da responsabilidade socioambiental das empresas tem oportunizado a descoberta de novas formas de conduzir o negócio com maiores e melhores resultados. No tema meio ambiente, o segmento energia tem um espaço cada vez maior sob este novo olhar do desenvolvimento sustentável. Já a partir da década de 90, as empresas petrolíferas começaram a busca do seu ponto doce da sustentabilidade, direcionando seus negócios para negócios de energia, e assim tornando a geração de lucro e os benefícios para o público quase idênticos. Uma inclusive chegou a mudar o significado de sua sigla tradicional, fundada em 1908 como Anglo-Persian Oil Company, a conhecida (desde 1954) British Petroleum mudou seu slogan para Beyond Petroleum (Além do Petróleo). Com certeza houve um impacto positivo através da publicidade gerada pela mudança que trazia uma mensagem que não passaria despercebida com a marca BP. Importantes foram as atitudes assumidas pela organização, fixando, em 1997, meta de reduzir em 10% as emissões de gases do efeito estufa em relação aos níveis atingidos pelos seus processos em 1990, atingida em 2001. Ganharam US$650 milhões, líquidos, como resultado do aumento da eficiência operacional, das inovações tecnológicas e da melhoria na gestão de energia. A reinvenção da BP também envolveu investimentos em tecnologias de energia alternativa, como células a combustível de hidrogênio, células fotovoltaicas. Hoje ela se define como empresa que
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ajuda os consumidores e a sociedade a realizar seus objetivos, mas de maneira a contribuir para a melhoria do meio ambiente. A GE (General Eletric), que vinha sendo considerada transgressora ambiental nos Estados Unidos ao tentar eximir-se da responsabilidade pela poluição dos rios Hudson e Housatonic (com quase 500 toneladas de resíduos tóxicos), sob o comando do ex-CEO Jack Welch, passou a ser uma empresa “pró-ambiente”. A empresa criou o Ecomagination, conforme seus diretores, é uma ação que vai além do simples cumprimento das leis, para beneficiar tanto a sociedade quanto a solidez duradoura do empreendimento. O principal objetivo é desenvolver tecnologias limpas para ajudar os clientes da GE a reduzir seus impactos ambientais, sendo que até 2010 investirá US$ 1,5 bilhão em energia limpa, buscando assim dobrar suas receitas no mesmo período através de produtos amigáveis ao ambiente. A Ecomagination confirma que as grandes empresas precisam inserir as questões sociais em suas estratégias, de modo a refletir sua atual importância para os negócios. A Toyota, quando revelou sua intenção de criar nova forma de carro híbrido movido a gasolina e a eletricidade, capaz de captar e usar a energia de frenagem, foi ridicularizada como benemérita ambiental e que perderia dinheiro. Hoje a Toyota não consegue produzir o Prius em volume suficiente para atender a demanda. O carro é ágil, durável e fácil de dirigir, além de rodar 22 km por litro de gasolina. Os carros
híbridos são vistos como elemento central na estratégia para tornar-se o maior fabricante mundial. No Paraná podemos verificar o visionário posicionamento da companhia de energia Copel, que iniciou com a implementação de uma gestão de responsabilidade socioambiental consistente, que gerou políticas para a sustentabilidade de forma moderna e arrojada. A empresa já está investindo em outras formas de geração de energia, além da obtida pelas hidrelétricas. O uso de células a combustível que converte hidrogênio e oxigênio em eletricidade, calor e água; a energia eólica já mapeada e a energia solar usada como alternativa à população rural mais distante e também em comunidades do litoral e na Ilha do Mel. Dessa forma fica claro seu princípio de “pensar global e agir local” (Agenda 21). Precisamos investir cada vez mais na gestão da responsabilidade social empresarial e com muita “energia”.
“Estamos convencidos de que num mundo mais globalizado, mais interconectado e mais competitivo, a maneira como se gerenciam as questões ambientais, sociais e de governança corporativa é parte da qualidade gerencial de que as empresas precisam para competir com sucesso. As empresas que apresentam melhor desempenho em relação a esses temas podem aumentar o valor para os acionistas, mediante, por exemplo, a boa gestão de riscos, a antecipação das iniciativas regulatórias ou o acesso a novos mercados, ao mesmo tempo em que contribuem para o desenvolvimento sustentável das sociedades em que operam. Além disso, essas questões podem exercer forte impacto sobre a reputação e marcas das empresas, fator cada vez mais importante para a avaliação do empreendimento”. Este testemunho foi dado pela Goldman Sachs, Deutsche Bank, Banco do Brasil e 16 outros bancos de investimentos multinacionais.