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A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta! julho/agosto 2008 • ano 2 • edição 8
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Rodrigo da Rocha Loures
Capa
Resíduos: Saiba como reduzir o impacto no meio ambiente
20 Visão Sustentável Consciência também na hora de levar para casa 24 Responsabilidade Social Corporativa
Ações Integradas: base para crescimento local
Os múltiplos ângulos da qualidade de vida no trabalho
Educação empresarial na busca da formação responsável
Impactos ambientais em todo ciclo de vida do produto
Evento de reciclagem consolida sua importância para sustentabilidade
28 Qualidade de Vida
34 Educando para o futuro 36 Empreendedorismo
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Infante Exodus Consult D&G Trier Elo Civitas Ambiotech De Figueiredo Demeterco Recibras
Anunciantes e Parcerias
Colunas
40 Responsabilidade Ambiental Plantando um futuro melhor 46 Reciclagem
Matérias
04 Editorial 05 Espaço do Leitor 06 Notas 49 Ong e Ação 50 Publicações e Eventos 54 Indicadores de Sustentabilidade
32 Ser Sustentável 38 Empreendedor 44 Meio Ambiente 48 Destaque Jurídico
Entrevista
Philip Morris JW Unilehu julho/agosto 2008
GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
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Editorial
Sabemos gerar, mas não sabemos gerenciar resíduos Todos nós temos percebido que o volume de resíduos gerados está comprometendo seriamente as questões ambientais do planeta, principalmente pelo aumento no volume de lixo. Um dos principais vilões deste cenário são as embalagens (com destaque as descartáveis), pois a maioria dos produtos adquiridos vêm embalados. Produtos relativamente pequenos são embrulhados em gigantescas embalagens para melhorar o visual e agregar mais valor ao produto. O nosso cotidiano é cercado pelas praticidades dos produtos descartáveis. O descartável soa, em muitos casos, como “mais” higiênico, e traz uma impressão de melhor qualidade e mais limpeza. Por outro lado, os resíduos gerados dizem o contrário - comprometem a qualidade do ambiente e aumentam a quantidade de lixo gerado. Tudo tende a ser embalado, até o próprio lixo doméstico que descartamos são acondicionados nas práticas “sacolinhas” plásticas. As pessoas e as empresas devem perceber que o ciclo de produção e compra do produto não acaba no momento em que se consome o “conteúdo” e sim quando é dado o devido destino a tudo o que foi gerado paralelamente no processo. O destino final dos resíduos e das embalagens é de responsabilidade das empresas ou dos consumidores? A resposta dependerá de qual o tipo da categoria do resíduo. Os que geram grandes danos (pneus, embalagens de agrotóxicos, etc.) devem ser de responsabilidade do fabricante e devem atender legislação própria... Já a garrafa pet e a sacola plástica, apenas para citar dois exemplos, ficam por conta da população destinar para a reciclagem. As baterias, pilhas e o óleo de cozinha, mesmo com o grande impacto ambiental, também estão concentrados no consumidor. A logística da destinação do resíduo é complexa... Não é tão simples como a logística da geração do produto e da venda que geram faturamento e lucratividade. Enfim, quais são as alternativas? A produção reversa, a reciclagem, o co-processamento e o destino final... Dentre os mais variados assuntos discutidos na sustentabilidade, encontrar alternativas e soluções para os resíduos e o lixo gerado, sem dúvida, é o grande desafio! Boa Leitura. Pedro Salanek Filho Diretor Executivo
O sonho de uma
Geração Sustentável
Diretor Executivo Pedro Salanek Filho pedro@geracaosustentavel.com.br Jornalista Responsável Vanessa Brollo (MT - 1691/PR) vanessa@geracaosustentavel.com.br Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck criacao@geracaosustentavel.com.br Comercial Giovanna de Paula giovanna@geracaosustentavel.com.br Revisão Alessandra Domingues Conselho Editorial Pedro Salanek Filho Antenor Demeterco Neto Ivan de Melo Dutra Lenisse Isabel Buss Articulistas articulista@geracaosustentavel.com.br Colaboraram nesta edição Jornalistas: Criselli Montipó, Ana Letícia Genaro e Juliana Sartori Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br Impressão Gráfica Infante
A parceria entre a PSG Editora e a Gráfica Infante para impressão da revista foi realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. O papel (miolo e capa) é produzido com matéria-prima certificada e foi o primeiro a ser credenciado pelo FSC - Forest Stewardship Council. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.
Tiragem: 3.000 exemplares Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. Rua Bortolo Gusso, 577 Curitiba - Paraná - Brasil CEP: 81.110-200 Fone/Fax: (41) 3346-4541
www.geracaosustentavel.com.br A revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL foi idealizada por empreendedores que acreditam que questões voltadas ao tema sustentabilidade farão, cada vez mais, parte da vida das pessoas, como também influenciarão nas estratégias empresariais. O nosso foco principal será o desenvolvimento sustentável, através do qual buscaremos conquistar um espaço estratégico junto ao ambiente empresarial. Entre os objetivos está a divulgação das iniciativas, atitudes, ações e experiências bem sucedidas e aplicadas de forma sustentável nas atividades organizacionais. Caro leitor, compartilhe conosco deste sonho. 4
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A revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opiniões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são terminantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos. ERRATA - Na edição anterior (7 ª edição) na pág. 31 “O INSS...... o trabalhador”. Não é o trabalhador e sim o empregador.”
Espaço do Leitor
Em nossa Instituição, todos os cursos têm como linha central em seus projetos didáticos-pedagógicos as questões que envolvem a temática ambiental, associada à promoção do desenvolvimento regional de forma sustentável. Assim sendo, vários são os projetos que desenvolvemos envolvendo docentes e discentes, e como decorrência, já possuímos um vasto material teórico/científico acerca das temáticas outrora apresentadas. Após uma atenciosa leitura, fiquei surpreso com o teor das informações apresentadas, já que o grau de abrangência e seriedade dos artigos são pontos de extrema relevância, já que em praticamente todos os casos apresentados, há uma associação com preocupação ambiental, mas ao mesmo tempo, em sintonia com os interesses mercadológicos das organizações, onde estarei utilizando vários artigos para discussões com os docentes e discentes da nossa Instituição. Cordialmente Msc. Thiago Hernandes de Souza Lima Geógrafo e Mestre em Análise Ambiental Docente e Pesquisador Institucional da Faculdade Eduvale. Avaré/SP
Quero agradecer pela matéria publicada sobre as ações da ASP na revista e parabenizar pelo aniversário. Vocês têm feito um excelente trabalho e ficamos honrados de ter uma matéria publicada sobre nossos projetos numa revista com conteúdo de primeira linha. Mara C. Ferreira Coordenadora de Projetos ASP – Ação Social do Paraná
Infelizmente não compareci ao evento de comemoração do primeiro aniversário da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL. Mas não poderia deixar de transmitir meus sinceros parabéns a toda equipe que vem traçando tão belo caminho. Desejo que o sabor da novidade, a leveza das ações e o frescor das novas idéias/qualidade que a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL conseguiu imprimir em suas páginas – sejam constantes na trajetória da publicação. Sucesso e parabéns! Ana Luiza Veloso Comunicação Corporativa Fiat Automóveis S.A.
Aproveito a oportunidade em congratular a toda a equipe da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, por este primeiro ano, confirmando o seu início e garantindo o seu presente perpetuando o futuro. Parabéns! Alexandre Schlegel Diretor Presidente da KRAS
Somos bombardeados diariamente com um turbilhão de notícias. É impressionante a velocidade e quantidade do fluxo de informações que recebemos por meio dos diversos meios de comunicação. Aliás, às vezes ficamos mais confusos que informados. A revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL é um veículo que veio para ficar. Trata-se de um instrumento que forma opiniões porque os temas abordados, vinculados ao tema principal que é a SUSTENTABILIDADE são tratados com todo cuidado e atenção que merecem. É visível que não se trata de mais uma revista. O evento no Teatro Paiol em comemoração ao primeiro aniversário foi uma prova disso. Pudemos conhecer um pouco mais sobre a originalidade do projeto e o comprometimento da equipe. Tudo muito bem articulado e com bom gosto. O Coral Meninos de Angola foi extremamente oportuno. Parabéns e longos anos de “vida”! Lúcia Rosa de Almeida Jornalista Coordenadora Projeto Natureza Solidária Instituto de Pesquisa e Conservação da Natureza Idéia Ambiental
Desde o primeiro exemplar da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL tenho acompanhado o empenho, a dedicação e doação, muitas vezes a paixão que o Pedro Salanek e a Giovanna de Paula com sua equipe de colunistas e demais colaboradores tem construído cada exemplar. É muito gratificante saber que existem pessoas tão empenhadas em informar as práticas já existentes para se viver sustentavelmente em qualquer meio que você (qualquer cidadão) atuar. A cada novo exemplar da Revista lançado é visível a evolução, mas sempre com a sabedoria e riqueza de informações com abordagem inteligente, o que nos passa uma vontade enorme de ler e sair praticando. Parabéns a toda a equipe pelo lindo trabalho e que tenham muita luz para continuar plantando sementes boas para estas e novas gerações. Irene Hoffelder Vioti Consultora de Marketing, Endomarketing e organização de eventos sustentáveis – Vioti Assessoria de Marketing Ltda. julho/agosto 2008
SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL REVISTA GERAÇÃO SUSTENTÁVEL LANÇA PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL O I PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL “SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL” é um programa desenvolvido pela Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL que visa reconhecer as iniciativas corporativas para um desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade empresarial, definida pelo instituto Ethos, consiste em: “assegurar o sucesso do negócio no longo prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, com um meio ambiente saudável e uma sociedade estável”. Neste intuito, aspectos como responsabilidade social corporativa, comprometimento com a comunidade, gestão socioambiental e ética empresarial são temas recorrentes no mundo dos negócios e estarão cada vez mais fazendo parte das definições estratégicas e da visão de negócio das organizações. A tendência atual dos negócios pressupõe que as empresas sejam rentáveis e gerem resultados econômicos, mais também contribuam efetivamente para o desenvolvimento da sociedade e para a conservação do meio ambiente. O prêmio reconhecerá as ações e iniciativas sustentáveis de empresas e demais organizações realizadas, no ano de 2008, nas quatro categorias mencionadas abaixo: • Gestão Sustentável • Responsabilidade Social Corporativa • Responsabilidade Ambiental • Práticas para a Sustentabilidade Maiores informações e o regulamento do prêmio podem ser obtidos pelo e-mail contato@geracaosustentavel. com.br
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Entrevista
Desenvolvimento Sustentável e Educação para a Nova Indústria Rodrigo da Rocha Loures é paranaense, nascido em Curitiba. Formado em Administração pela FGV/SP, foi professor de Administração da UFPR e PUC/PR. Em 1968 fundou a Nutrimental, empreendimento nascido das pesquisas de alimentos da UFPR, numa das pioneiras experiências de cooperação entre universidade e empresa do país. Atualmente, ocupa a presidência da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) e é vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), onde preside o Copin (Conselho de Política Industrial e Desenvolvimento Tecnológico). Integra o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da presidência da República), o CCT (Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia), o Conselho Deliberativo da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e o Conselho Diretor do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Com forte interesse pela questão da sustentabilidade, é um dos 20 fundadores da FBDS (Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável), formada por empresas de todo o país. É membro do Global Compact da ONU, da SOL (Society for Organizacional Learning) e do Instituto ETHOS. Rocha Loures falou com exclusividade para a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL sobre sustentabilidade empresarial.
divulgação
Rodrigo da Rocha Loures
Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná GS • Como o Sistema FIEP vem tratando o tema sustentabilidade? Rodrigo da Rocha Loures • A questão da sustentabilidade permeia todas as iniciativas da nossa organização. Temos duas idéias-força que norteiam as ações do Sistema: Desenvolvimento Industrial Sustentável e a Educação para a Nova Indústria. Em vista disso, nossos programas estão articulados a quatro dimensões de atuação concomitantes, quais sejam: dimensão individual um novo estilo de liderança conectado com o todo, com visão de conjunto e pautado por relações conscientes; dimensão organizacional - novos modelos de organização mais ágeis e flexíveis, amigáveis à inovação e favorecedoras do desenvolvimento das pessoas no local de trabalho; dimensão cultural - novo imaginário coletivo indutor de agendas positivas para evolução política, econômica, tecnológica e social; e, monitoramento – um sistema apropriado de produção e comunicação de indicadores de sustentabilidade para propiciar informações estratégicas a todos os atores sociais e monitorar o progresso de
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iniciativas. Como meio de aprendizagem organizacional, promovemos no Paraná três edições do BAWB (Business as an Agent of Word Benefit). Para estimular o imaginário coletivo, organizamos com outras entidades o Fórum Futuro 10 Paraná, que traçou um mapa consistente para o desenvolvimento paranaense. Para contemplar o desenvolvimento social, promovemos o movimento Nós Podemos Paraná, o qual mobiliza mais de treze mil lideranças visando antecipar para 2010 os objetivos do milênio estabelecidos pela ONU, previstos para 2015. Para dar suporte a estas iniciativas instalamos o Conselho de Cidadania Empresarial e lançamos a Rede de Participação Política do Empresariado www.redeempresarial.org. br. Entendemos que não se pode dissociar a responsabilidade social e ambiental da responsabilidade política. Para apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de um novo estilo de liderança, instalamos a Universidade da Indústria (www.unindus.org.br), que é um agente catalisador de competências em programas de gestão. Instalamos um observatório para medir resultados e avaliar indica-
dores de sustentabilidade, o Orbis (www.orbis.org.br). Desta forma, contemplamos simultaneamente as quatro dimensões as quais acreditamos concorrerem para a aprendizagem da sustentabilidade. GS • No mês de junho realizou-se o Global Fórum, quais foram os principais avanços deste evento para o desenvolvimento sustentável das empresas, das instituições de ensino e da própria sociedade? Como se dará a continuidade destes trabalhos? RL • Até a alguns anos, os temas econômicos ocupavam de forma exclusiva a vida das empresas. Atualmente, as preocupações ambientais e sociais fazem parte da pauta de muitas corporações. O mesmo acontece no ambiente dos governos, da academia e das ONGs. Cada um destes setores estabelece, ao seu modo, iniciativas próprias para o que considera vital ao desenvolvimento sustentável. Isso é importante. Mas, sem articulação entre eles, ainda há baixa efetividade e produtividade das iniciativas em prol da sustentabilidade. Para isso, é necessário cooperação e tratamento sistêmico para as ações. O Global Forum América Latina permitiu esta articulação. Minha visão é a de que este encontro está entre as mais importantes iniciativas já realizadas no Brasil para debater a sustentabilidade da humanidade. Reunimos mais de 1.200 pessoas e construímos em Curitiba a visão de que queremos a estratégica que nos anima e nos une. Fizemos um trabalho de fôlego. Agora, vamos transformar essas reflexões em propostas de ação efetiva. Temos cerca de 80 proposições para trabalhar em novos encontros batizados de Call for Action (chamadas para a ação), que acontecerão em Curitiba (29 e 30 de julho) e São Paulo (20 e 21 de agosto e 20 e 21 de novembro). No ano que vem, levaremos o resultado deste trabalho para um encontro internacional em Cleveland. Antes disso, contudo, estão sendo organizados encontros em diversos países latino-americanos, inspirados no Global Forum. GS • O processo de educação é fundamental para a conscientização tanto da atual como das futuras gerações. Quais são as ações que o Sistema FIEP vem desenvolvendo nesta área? RL • A Educação para a Sustentabilidade foi adotada como princípio filosófico que permeia as ações da nossa organização. Buscamos sensibilizar e conscientizar colaboradores e parceiros para uma reflexão acerca de suas ações. O conceito dos programas e projetos que promovemos é de uma educação transformadora. Para isso, o Sistema Fiep vem desenvolvendo diversas competências em todas as suas áreas de atuação. A motivação desse esforço deu-se em razão da decisão firme de inovar cada vez mais nos processos educacionais do SENAI, do
SESI, do IEL e da UNINDUS, dentro de uma dinâmica de desenvolvimento sustentável. O princípio de educação na sustentabilidade adotado pelo Sistema FIEP considera fatores de ordem social, econômica e ambiental. Além destas dimensões, incluímos mais cinco pilares importantes à nossa proposta: ética, valorização humana, educação em conexão com a vida, parcerias com a comunidade e inovação. Este modelo educacional voltado ao desenvolvimento integral do ser humano visa inspirar outros atores a realizarem no presente, de forma consciente, ações que criem um futuro desejado e sustentável. GS • Durante o Global Fórum, o Senhor lançou o livro “Proposições Provocativas”. Como está estruturado este livro e quais são as principais mensagens e reflexões? RL • Como o próprio título diz, os ensaios da publicação são provocações para estimular um diálogo apreciativo a respeito da missão das organizações, da academia e da própria sociedade em favor da sustentabilidade. Os textos são resultado de diálogos com amigos e colaboradores.
Negócio sustentável é aquele em que encontramos competências para, no mínimo, gerar lucro sem causar impactos negativos Certamente que o conteúdo não é uma obra acabada e não se encerra em si. Trata-se de uma contribuição para que possamos avançar neste debate. O livro divide-se em três grandes temas. O primeiro trata da sustentabilidade e dos negócios, quando falamos da importância da redefinição dos currículos dos cursos de administração como forma de preparar os profissionais para os desafios do desenvolvimento sustentável. Repensar o ensino superior da área de gestão e cursos correlatos significa identificar o que concorre para que o desenvolvimento sustentável esteja presente no conhecimento adquirido por nossos futuros líderes empresariais. O segundo capítulo fala sobre processos de educação do Sistema Fiep. Por fim, o livro trata dos desafios das empresas na era da economia do conhecimento. Para mim, o conhecimento é o tesouro oculto das organizações. GS • Sustentabilidade é um termo que está fazendo parte do mundo dos negócios. Em sua opinião, o que é sustentabilidade empresarial? Quais são os aspectos primordiais para um negócio ser sustentável? RL • Hoje, negócio sustentável é aquele em que enconjulho/agosto 2008
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Entrevista
tramos competências para, no mínimo, gerar lucro sem causar impactos negativos. Negócios sustentáveis são aqueles que produzem soluções para a sociedade. Não se trata apenas de fazer bem para o mundo em termos ambientais, mas de garantir a sustentabilidade dos negócios humanos, dos valores humanos, dos arranjos e valores sociais que construímos. Não basta adotar um novo discurso correto sem mudar os padrões das organizações e o modo de funcionamento das empresas. Ter lucro é uma obrigação e não um objetivo. O desafio da sustentabilidade empresarial é definir apropriadamente a causa a que servem nossas empresas. Peter Drucker já dizia que todos os problemas que existem no planeta devem ser vistos como oportunidades de novos negócios. Mas para isso, é preciso enxergar a educação por outro prisma. GS • Fatores externos à empresa, principalmente aqueles ligados a questões sociais e ambientais, influenciarão cada vez mais os negócios. Em sua opinião, qual deve ser o posicionamento das indústrias para este cenário? Como compatibilizar estas questões com crescimento o econômico? RL • O fato é que, conquanto a comunidade empresarial seja a grande geradora de empreendedorismo, renda e riqueza, em paralelo, ela tem contribuído, de forma contundente, para as disfunções dos sistemas do nosso mundo. O chamado para deixar de fingir que tudo é apenas business as usual está soando nos nossos ouvidos. Precisamos despertar e agir. O certo é que as lideranças empresariais devem estar cada vez mais sensíveis às questões de sustentabilidade, que é hoje o novo nome do desenvolvimento. Defender o desenvolvimento sustentável não é fazer proselitismo ambiental, e sim identificar aquilo que concorre para a expansão dos negócios em sintonia com a promoção de qualidade de vida no planeta. O certo é que o reposicionamento do mundo empresarial, a complexidade e o dinamismo crescente dos mercados pedem gestores com atitude e métodos diversos - visão sistêmica, habilidades de liderança e inovação, sensibilidade social e política. GS • Geralmente os projetos de responsabilidade socioambiental são aplicados em cada localidade, sendo respeitadas as características culturais e vocações específicas. Como as corporações devem desenvolver esses projetos locais? RL • Não existe uma fórmula, uma receita ou uma cartilha a seguir. O ideal é que no momento em que as empresas decidem promover ações de responsabilidade social ela trabalhe em parceria com a comunidade em que está inserida. Neste mundo dinâmico e em permanente ebulição, há uma grande urgência para identificar áreas 12
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de cooperação e ações conjuntas efetivas em favor do desenvolvimento sustentável. Para que o sonho de um mundo sustentável seja possível, empresas, governos, academia, organizações da sociedade civil e redes de cidadãos precisam aprender a articular suas ações. GS • Considerando que todas as empresas buscam a sua continuidade e o seu crescimento, em sua opinião como será a empresa do futuro? RL • Nós, empresários, temos grandes desafios pela frente. Entre os principais está em fazer com que os nossos negócios aprendam a produzir e distribuir riquezas a partir dos seus ativos mais estratégicos como a criatividade, a capacidade de gerar conhecimento e o entusiasmo humano. Nestes tempos de grandes transformações um dos principais motores do desenvolvimento é a inovação. Por isso, é preciso oportunizar ações que estimulem a criatividade, a iniciativa, a liberdade e a imaginação dentro das nossas empresas. GS • Considerando que as corporações devem focar sempre o seu cliente e atender as necessidades e os desejos de consumo, o que mudará no comportamento do consumidor nas próximas décadas? RL • Não há dúvidas de que as empresas tendem a fazer o que os consumidores desejam comprar e não há indicativos de que as pessoas queiram diminuir o seu padrão de vida. Mesmo que existam movimentos no sentido de termos um consumo mais consciente, ainda vivemos num ambiente em que quem tem pouco quer mais, quem tem o suficiente quer mais e quem tem muito quer mais. Isso cria zonas de conflito e causam impactos indesejados ao planeta. Daí a imperiosidade de envolver a humanidade como um todo no processo de reconceituação da produção e do consumo. GS • Que mensagem final o senhor quer deixar para os leitores da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL? RL • Tem uma passagem no livro Proposições Provacativas que nos faz pensar no nosso papel neste mundo. Trata-se de um estudo do historiador inglês Arnold Toynbee, que detalhou os estágios do processo de extinção de 21 civilizações. Segundo ele, o desaparecimento surge da deterioração do que ele chama de minoria criativa, cuja função social é primordialmente de liderança. Quando esta parcela da sociedade se transforma meramente numa minoria dominante, passa a obrigar a maioria a servi-la e obedecê-la, sem merecer a pretendida obediência. Com isso perde a legitimidade social e política. Perde a sustentação. A civilização por ela representada acaba. Parece familiar?
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Resíduos Saiba como reduzir o
impacto no meio ambiente
Juliana Sartori
Quando separado e bem-gerenciado, o lixo pode deixar de ser problema. Empresas começam a trazer soluções e reduzem seus resíduos 14
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ixo é um grande problema para os centros urbanos, e isso não é novidade para ninguém. No entanto, é possível afirmar que mesmo em uma situação caótica, cercada de lixões a céu aberto e rios poluídos com resíduos orgânicos, há solução bemsimples. Basta que consumidores e empresas tenham consciência e responsabilidade sobre aquilo que produzem e consomem. Vale lembrar que nesse processo, o poder público também tem grande responsabilidade. Segundo o coordenador do curso de Agronomia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Lucchesi, resolver o problema que o lixo pode causar aos centros urbanos é mais fácil do que se imagina. Os passos que levam à solução do problema são: acondicionamento e transporte do resíduo sólido, coleta seletiva, reciclagem e armazenamento do resíduo final. Se essas etapas não forem cumpridas de forma consciente, o lixo que sobra pode ser reaproveitado de maneiras infinitas, como na recuperação de solos degradados e até na produção de energia. “A idéia é que a gente possa trazer de volta para os solos aquilo que deles foi retirado e está fora do lugar”, explica. Segundo Lucchesi, o lixo urbano é composto em 30% de material orgânico, 20% de papel e o restante é produto que pode ser reciclado. “Se existe a separação e o gerenciamento do que sobra de material orgânico, o que era problema pode tornar-se solução”. Mas isso vai depender de investimento do poder público em educação para incentivar a população a pensar sobre a sua responsabilidade no que diz respeito ao lixo que produz. “Enquanto as pessoas continuarem a jogar papéis de bala ou bitucas de cigarro na rua, mais distantes estaremos de resolver o problema do lixo”, afirma. A separação do lixo e a reciclagem seriam capazes de transformar um cenário caótico em oportunidades de emprego, geração de renda e recuperação de solos. Para Lucchesi, os governos são, de forma geral,
omissos, pois não investem em saneamento básico de forma transparente, na coleta de esgotos, estações de tratamento ou aterros sanitários. Além disso, para ele, é necessária a aplicação de leis compatíveis com a realidade brasileira, para que um sistema comece a funcionar de forma efetiva. “Uma idéia é que aquelas pessoas que separam o lixo tenham uma taxa de lixo reduzida”, propõe. Empresas • Para Lucchesi, o papel das empresas nesse processo de transformação de consciência é extremamente importante. Além disso, ele pode acontecer de maneira muito mais rápida. “Implantar sistemas de redução de geração de resíduos, reaproveitamento de matéria-prima e destinação correta de resíduos poluidores em empresas é muito mais fácil do que mudar o hábito dos consumidores”, explica o agrônomo. Em 2003, a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná lançou o programa Desperdício Zero para reduzir em 30% o volume de resíduos depositado nos aterros sanitários paranaenses – cerca de 20 mil toneladas a cada dia. Uma de suas primeiras ações foi a identificação dos materiais que chegavam, desnecessariamente, em grandes quantidades nos aterros sanitários para colocar em prática a ‘logística reversa’. Sacolas plásticas, embalagens longa vida, pilhas e baterias, papel, materiais de construção civil, pneus, lâmpadas, metais, orgânicos, vidros, óleo lubrificante eram alguns destes resíduos. Com o diagnóstico, foram convocados fabricantes e distribuidores dos principais tipos de resíduos para aproximá-los das recicladoras e apresentar programas de redução de resíduos. Em março deste ano, a iniciativa do programa recebeu o apoio do Ministério Público na responsabilização dos grandes geradores de resíduos – como redes de supermercados, fabricantes de embalagens longa vida e distribuidores de óleo lubrificante, por exemplo – sob
“Implantar sistemas de redução de resíduos, em empresas é muito mais fácil do que mudar o hábito dos consumidores”, Segundo o coordenador do curso de Agronomia da UFPR, Luiz Lucchesi
HSBC - Climate Partnership O banco HSBC tem uma preocupação com o meio ambiente que vai além dos apoios ou da realização de eventos pontuais. Por meio do programa ambiental HSBC Climate Partnership, que é coordenado pela matriz em Londres, o banco promove trabalhos diretos de conservação e preservação ambientais além da melhoria na sustentabilidade operacional do Grupo. Tudo isso é realizado por meio de uma parceria com ONGs ambientais internacionais de grande importância. O Brasil foi escolhido pelo Grupo HSBC como o líder do Programa HSBC Climate Partnership para a América Latina, por ser o dono das maiores biodiversidades do planeta (Amazônia, Pantanal e Mata Atlântica). O HSBC Climate Partnership conta com um investimento de U$ 50 milhões e inúmeras ações mundiais, como recuperar a biodiversidade nos três maiores rios do mundo, incluindo o Amazonas. Com o dobro do investimento, o novo programa terá como foco as mudanças climáticas, agindo em suas causas e conseqüências. Nos próximos cinco anos, a América Latina receberá 22% deste investimento. O Brasil contará com um investimento próprio de U$ 8 milhões, destinados especificamente à WWF Brasil. Ao todo, são 20 países envolvidos no projeto. Participarão mais de 25.000 colaboradores do HSBC, trabalhando como voluntários em centros de pesquisa ambiental, assimilando conceitos ambientais que possam ser replicados na sua vida pessoal e profissional.
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D&G - Apoio e projetos ambientais Para entender como a D&G é capaz de auxiliar uma empresa a diminuir seu impacto ambiental, basta conhecer um pouco os serviços oferecidos: A empresa desenvolve projetos para estações de tratamento de efluentes e afluentes; de reaproveitamento de águas da chuva; tanques para limpeza de embalagens contaminadas; dutos e coifas para sistemas de exaustão; lavadores de gases; entre outros. Além disso, a D&G faz assessoria para a implantação dos certificados ISO 9000 e 14000; auxilia na retirada de licenciamento ambiental; faz auditoria ambiental e perícia ambiental; além de oferecer técnicos em processos galvânicos, têxteis, alimentos e indústria metal mecânica. A D&G também oferece todos os tipos de análises químicas para desenvolvimento e pesquisas ambientais.
a destinação final dos produtos que comercializam ou distribuem. Quem não segue às regras fica sujeito a pesadas multas. A Tetra Pak, fabricante exclusiva das embalagens longa vida cartonadas também acatou a solicitação da Secretaria e desenvolveu, em parceria com o Desperdício Zero, um programa de recolhimento dos seus produtos. Já os postos de combustíveis, um dos principais distribuidores de óleo lubrificante, lançaram no começo deste mês o programa Jogue Limpo, para recolhimento e reciclagem destas embalagens. As redes de supermercados também tiveram que dar início a um processo difícil, o qual tenta fazer com que a população diminua o uso das sacolas plásticas, utilizada no transporte dos produtos e depois aproveitadas pelos consumidores como sacolas para condicionar o lixo. A maioria dos supermercados instalados no Paraná já ade-
divulgação
Durante a realização da Conferência do Instituto Ethos, no mês de maio, o Sr. Ray Anderson Presidente da Interface (à direita), recebeu um exemplar da GERAÇÃO SUSTENTÁVEL de Juvenal Correa Filho, da Civitas e concedeu esta entrevista com exclusividade.
GS • A InterfaceFlor tem a sustentabilidade como a orientadora do seu negócio. Como surgiu este posicionamento? Quais foram os resultados já alcançados com esta estratégia? Ray Anderson • Em meados dos anos 90, os clientes estavam perguntando sobre nossa postura em relação ao meio ambiente. Nossa divisão de pesquisa organizou um grupo de trabalho ambiental e convidou-me para uma conversa inicial e, também, para compartilhar a minha visão ambiental com a Interface. Sinceramente, eu não tinha uma visão, somente cumpria, cumpria, cumpria. Por
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riu a sacolas ecologicamente corretas - como as feitas de plástico oxi-biodegradável, tecido ou retornáveis. Segundo o superintendente da Associação Paranaense de Supermercados, Valmor Rovaris, o setor passou a seguir as recomendações da Secretaria de Meio Ambiente, que são em primeiro lugar, utilizar sacolas retornáveis, em segundo as sacolas biodegradáveis e em terceiro as sacolas oxibiodegradáveis (produto de polietileno que contém oxiaditivo). “As redes nacionais já estão em conformidade com a legislação, mas há algumas redes internacionais que ainda encontram dificuldades”, explica Rovaris. Para ele, é difícil entrar em um consenso para saber se as alternativas apresentadas realmente não são poluidoras, como as polêmicas sacolas oxibiodegradáveis, já que são produtos derivados do petróleo que acabam gerando algum tipo de resíduo. “Mas o importante é que essa discussão envolve a necessidade da mudança de hábito, fazendo a população ficar mais bem informada e consciente”, opina o superintendente. Elas deram o primeiro passo e o exemplo Interface Flooring Systems • Enquanto algumas empresas correm o risco de pagar multas por não cumprirem o mínimo exigido por lei na questão ambiental, há outras que se tornaram exemplos de investimento na diminuição da geração de resíduos. A Interface Flooring Systems, um dos maiores fabricantes mundiais de carpetes comerciais, chega a surpreender pelas iniciativas arrojadas para cumprir a sua meta: chegar em
puro acaso, alguém me enviou uma cópia do livro de Paul Hawken “A Ecologia do Comércio”. Mudou minha vida. A premissa de Hawken era de que os industrialistas são responsáveis pela destruição da Terra e são os únicos poderosos o bastante para conter isso. Era um momento de manifestação divina. Uma definição nova de negócio bem-sucedido começou a rastejar em minha consciência. Eu era um saqueador da terra, e este não era um legado que eu quisesse deixar. Eu dei a esse grupo de trabalho uma missão para converter a Interface em uma empresa restaurativa. Eles evoluíram em uma estratégia de sete partes: a) reduzir; b) reusar; c) recuperar; d) reciclar (mais tarde nós adicionamos o reprojeto); e) adote as melhores práticas empresariais e então avance e os compartilhe; f) desenvolva tecnologias sustentáveis e invista nelas quando isso faz o sentido econômico, g) desafie os nossos fornecedores a seguir nossa ligação. Com base na nossa linha de 1996, reduzimos o desperdício em aproximadamente 52%. Isso gerou, em dólares reais, em U$ 372 milhões de desperdício do custo ou em economias. O uso de água no mundo inteiro em nossa companhia reduziu 75%. Nós fomos capazes de acabar com 47% de nossas chaminés por meio de mudanças no processo, e reduzimos 81% de nossos efluentes. Recapturamos produtos usados no fim de sua primeira vida até a quantia de 133 milhões de libras (60.000 toneladas) de “resíduos” que nós trouxemos de volta às nossas fábricas para fechar o ciclo do material. Nove de nossas 11 fábricas estão funcionando 100%, agora com eletricidade renovável. GS • O que é Missão Zero e por que a missão de Interfaceflor é dividida em
2010 com impacto zero ao meio ambiente na produção de carpetes. Desde a década de 90, a empresa desenvolve uma série de tecnologias para formar a base dos seus carpetes em produtos com matéria-prima a partir de resíduos de outras indústrias. Segundo o gerente executivo de negócios da região Sul e Centro Oeste da Interface no Brasil, Cláudio Valério, uma das primeiras experiências da empresa foi a utilização dos restos das usinas de carvão existentes na Georgia (EUA). Já no ano 2000, a Interface conseguiu implantar um programa que é capaz de formar a base do carpete com 100% de matéria reciclável, a partir de resíduos de gás metano de aterros sanitários e do próprio carpete descartado pela indústria. “Em 2007 passamos a receber todo e qualquer carpete, não importa a origem, para reciclar e utilizar como matéria-prima nos nossos produtos. Separamos e classificamos os carpetes pelo tipo de fio. O que pode ser aproveitado volta para os fabricantes de fio para ser utilizado. A base é separada e volta para o carpete novo. A sobra de tudo isso pode ter dois destinos: a indústria automobilística, que utiliza os resíduos para fabricação de painéis, pára-choques e outros componentes; e aquilo que não é possível reciclar é triturado e utilizado como serragem”, explica Valério. “Hoje somos a única empresa que tem carpete com 15% de fio reciclável e 100% base reciclável”, afirma. Os carpetes da Interface podem ser utilizados por empresas ou construções que têm projetos que visam a certificação ambiental. “A aplicação dos nossos pro-
dutos ajuda a pontuar um projeto para a certificação”, garante Valério. “Somos pioneiros na busca pela solução de reduzir o impacto ao meio ambiente. Fazemos isso muito antes do assunto virar moda ou que a sociedade começasse a pensar sobre a importância dessa premissa. Não somos uma empresa marrom, que está fazendo um produto verde. Somos uma empresa que procura poluir o mínimo possível e oferece um produto que carrega essa preocupação”, analisa o gerente. A Interface tem sede nos EUA, Atlanta e conta com 33 fábricas espalhadas pela Europa, EUA, Canadá, Austrália. Segundo Valério, está em estudo uma fábrica no Brasil, que hoje conta somente com unidade comercial, para atender toda a América Latina. D&G Projetos • Há empresas que estão no mercado somente para auxiliar outras a diminuir os prejuízos causados ao meio ambiente. Uma delas é a D&G Projetos, que presta consultoria ambiental para qualquer tipo de empresa, seja um pequeno escritório ou até uma grande fábrica industrial. Segundo o proprietário Gláucio Alves Pinto, qualquer empreendimento tem impacto ambiental, seja na geração de resíduos ou no consumo de energia. “Por isso, qualquer um pode implementar um projeto por mais simples que seja para trazer resultados positivos ao meio ambiente e que trará economia para a empresa”, explica. A consultoria da D&G trabalha tanto com reaproveitamento de resíduos, regulagem de equipamentos
sete metas? RA • A missão Zero é a promessa da Interface em eliminar nossa pegada ambiental negativa em 2020. É a maneira que nós falamos sobre a nossa ascensão na Escalada da Sustentabilidade. As sete regras: desperdício, emissões, energia, fluxos materiais, transporte, cultura, comércio novo. GS • Atualmente a sustentabilidade vem fazendo parte da pauta estratégica das empresas. Quais são os fatores para uma empresa ser sustentável? RA • Não há uma companhia sustentável, atualmente, no mundo, mas muitos empreenderam sua própria escalada. De fato, nós criamos um negócio de consultoria para ajudar outras companhias a encontrar sua maneira para montar a Escalada da Sustentabilidade. A consultoria é chamada de InterfaceRAISE, e a missão é ajudar outras companhias a compreender que você não pode fazer um produto “verde” em uma companhia “marrom”. Em outras palavras, a sustentabilidade é mais do que um produto ou um programa, é um modelo comercial novo que, na maioria dos casos, os meios que mudam o jeito que você olha para cada aspecto de sua companhia, o que você pesquisa, projeta e fabrica os produtos introduzindo-os no mercado, o que acontece no fim da vida útil deles, ou como você recupera ou recicla estes produtos. GS • Como funciona o programa “ReEntry 2.0”. Quais são os principais benefícios para o consumidor e para o meio ambiente? RA • As estimativas da indústria dizem que 2,3 bilhões de kilos de carpetes ter-
Qualquer empreendimento tem impacto ambiental, seja na geração de resíduos ou no consumo de energia, comenta o proprietário da D&G Projetos, Gláucio Alves Pinto
mina nos aterros sanitários todos os anos. Em 2007, a Interface transformou-se no primeiro fabricante do carpete a implementar um processo para reciclar a fibra do nylon 6.6 do pós-consumo, a fibra mais amplamente utilizada na fabricação comercial do carpete. Este novo processo complementa uma parte faltante no processo de reciclagem da indústria de carpetes, criando sistema de reciclagem baseado no ciclo do carpete completamente fechado - fibra na fibra nova do carpete, e no revestimento protetor de carpete novo. O processo da Interface permite “a separação limpa” de fibra do carpete do revestimento protetor, permitindo a contaminação mínima e uma quantidade máxima de material do pós-consumo a serem reciclados em produtos novos. A Interface pode retirar qualquer tipo de carpete, de todo o fabricante, para reciclagem. Os plásticos que não podem ser usados para processos ou produtos da relação são distribuídos a outros fornecedores da indústria para reusar em seu processo de produção. O programa de Interface visa uma reciclagem de mais de 30 milhões de metros quadrados de carpetes por ano, podendo alcançar um número ainda maior, por meio de máquinas adicionais que aparecem nas posições de lançamento nos Estados Unidos e em todas as potências globais. GS • Que mensagem final o senhor quer deixar para os leitores da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL? RA • O poder de cada um é surpreendente! Cada um de nós tem a oportunidade de criar a mudança. O que você fará hoje ?
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“Queríamos tratar a temática ambiental com atividades animadas para envolver as pessoas a sentirem vontade de fazer a sua parte em colaborar”, explica Glacy Gabardo, gerente do Environment Management do HSBC Brasil
para reduzir ou troca de matéria-prima, implantação de equipamentos novos como na implantação de sistemas de captação de água de chuva. “A gente faz uma checagem do que pode ser mudado e quanto o cliente tem interesse em investir”, explica Gláucio. Segundo ele, o objetivo é sempre buscar uma melhor e mais barata forma de utilização de matéria-prima. “As empresas nos procuram por um conjunto de fatores, que vão desde a redução de custos, preocupação com a segurança dos funcionários e certificação para investimento e crescimento no mercado – essas são as empresas que procuram melhorar agora para poder crescer lá na frente”, analisa. Para fazer o “diagnóstico” de um cliente, a D&G conta com uma equipe multidisciplinar. São auditores e peritos ambientais, químicos industriais, engenheiros civis e elétricos, agrônomos, entre outros, que estão em constante atualização referente às tecnologias limpas. Para se ter idéia das mudanças que um projeto pode trazer para uma empresa, Gláucio conta a história de um cliente que possuía uma indústria na qual utilizava uma certa matéria-prima envolta em embalagem contaminadas. Era preciso pagar pela destinação dessas embalagens, já quem não poderiam simplesmente serem descartadas por conterem materiais tóxicos. A D&G construiu uma máquina capaz de lavar essas embalagens e separar o resíduo químico. O plástico, depois de limpo, passou a ser vendido por essa empresa. “Antes a indústria pagava para destinar um resíduo, hoje a indústria tem lucro com o que era lixo”. explica. HSBC • Trazer um incentivo para quem já está investindo em redução de resíduos e para quem quer fazer sua parte e não sabe por onde começar. Esse foi um dos objetivos da Semana do Uso Consciente dos Re-
cursos Naturais realizada Banco HSBC, em Curitiba, durante o mês de junho. “A idéia era envolver funcionários, suas famílias e a comunidade de forma natural para as atividades que a gente concentrou em um local, que antes era apenas um barracão abandonado”, conta Glacy Gabardo, gerente do Environment Management do HSBC Brasil. Segundo Glacy, o espaço todo transformado com uma mostra de arte a partir de objetos recicláveis, recebeu mais de duas mil pessoas entre funcionários, estudantes e a comunidade local. Foram realizadas atividades como oficinas de reciclagem de brinquedos, produção e manipulação de malabares, palestras e workshops. “Queríamos tratar a temática ambiental com atividades animadas para envolver as pessoas a sentirem vontade de fazer a sua parte em colaborar”, explica Glacy. Durante a Semana, funcionários do próprio banco deram palestras para mostrar suas experiências sobre sustentabilidade. Empresas que trabalham a partir de iniciativas sustentáveis também foram convidadas para dar seus depoimentos durante o evento. “Convidamos empresas que têm caráter sustentável, independente de serem ou não clientes do HSBC”, garante a gerente. O HSBC, segundo Glacy, trabalha com projetos de preocupação ambiental em todos os países onde atua, por meio da implantação dos chamados Eco Comitês, que são os responsáveis por programas que envolvam funcionários e a comunidade onde as agências estão instaladas. Por meio do Instituto HSBC, o banco também apóia ações de outros órgãos. “Procuramos trabalhar de forma coerente, com apoio às empresas responsáveis”, explica Glacy. De acordo com a gerente, os Eco Comitês planejam atividades a longo prazo para repensar questões como a utilização de água, energia e apresentar metas de redução de resíduos.
Interface Flooring Systems A fabricante de carpetes Interface Flooring Systems é, sem dúvida, uma empresa que prova como é possível liderar um mercado de forma ética e responsável, visando muito mais do que apenas lucro imediato. Enquanto não alcança a meta de zerar seu impacto no meio ambiente, a empresa resolveu compensar a natureza de alguma forma. Para isso, firmou uma parceria com o Programa Florestas do Futuro, da Fundação SOS Mata Atlântica, para criar o projeto de reflorestamento CarpeTree. O programa vai ajudar a recompor matas ciliares das bacias hidrográficas de cinco rios e da Mata Atlântica, que serão definidos pela Fundação e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A idéia é financiar o plantio de uma árvore na Mata Atlântica para cada 25 m² de carpetes vendidos, sempre em nome dos seus clientes, visando recuperar as matas, preservar o hábitat natural de plantas nativas e os animais em risco de extinção, auxiliando também a reduzir o monóxido de carbono na atmosfera, o que contribuirá para impedir o aumento do aquecimento global. Ao verificar os investimentos da Interface na tecnologia de seus produtos, é possível verificar que a meta da empresa deve ser alcançada em breve. Para se ter idéia, algumas linhas de produtos utilizam fibras PLA derivadas de amido de produtos agrícolas como o milho, o arroz e beterrabas - totalmente biodegradáveis, para substituir as fibras sintéticas à base de petróleo. Alguns produtos combinam as bases 100% recicláveis com fibras de materiais renováveis com o nylon - as fibras bio-based. Para mais informações sobre as iniciativas globais de sustentabilidade e a inovação na produção de carpetes, visite a página na web: http://www.interfacesus tainability.com
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divulgação
Ações integradas
Base para crescimento local Entidades trabalham em conjunto para levar o desenvolvimento a uma das regiões mais pobres do Estado do Paraná
Ana Letícia Genaro
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egião que reúne 22 municípios no Centro-Oeste do Paraná e abriga 232 mil pessoas, mais da metade delas no campo. Nos anos 90, enquanto o Paraná teve um crescimento demográfico de 1,12%, muitos municípios do território apresentaram um resultado negativo, registrando a saída de moradores para outras partes do Estado. Segundo dados do censo de 2000, todos os municípios da Cantuquiriguaçu, situados nas bacias dos rios Cantu, Piquiri e Iguaçu, apresentaram um Índice de Desenvolvimento Humano inferior à média brasileira e paranaense. O índice de pobreza registrado também foi elevado, a média da região era de 24,6%, contra a média estadual de 10,8%. Essa situação chamou a atenção de produtores, das indústrias, dos governos estaduais e municipais, dos movimentos sociais e dos clubes de serviço. Jun-
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tos, em dezembro de 2006, conduziram a chamada Estratégia do Território Cantuquiriguaçu, com o objetivo de estabelecer o DRS (Desenvolvimento Regional Sustentável). “diferencia-se de um projeto porque está focada numa idéia a longo prazo, de transformação social. A idéia baseia-se no agrupamento das ações de diversas entidades para promover o desenvolvimento capaz de gerar riquezas e melhoria na qualidade de vida da população de uma região, ao mesmo tempo em que contribui para o equilíbrio social e para o respeito ao meio ambiente e à cultura regional”, explica Antônio Hideraldo Magron, gerente de DRS do Banco do Brasil. Atividade Produtiva • O primeiro passo da Estratégia de DRS é sempre, por meio de avaliação da região, fazer a escolha de uma atividade produtiva economicamente viável que promova a geração de traba-
lho e renda e também um salto de qualidade nos indicadores de desenvolvimento social e ambiental. No caso dos municípios de Cantuquiriguaçu o artigo elegido foi a produção de leite. De acordo com Magron, os motivos da escolha foram a vocação da região, o potencial de crescimento, o compromisso de instituições parceiras, a disponibilidade de recursos, entre outros. “Notamos também que o leite comercializado era de baixa qualidade, os produtores utilizavam tecnologias obsoletas e equipamentos sucateados, havia morosidade e ineficiência na entrega e carência na organização social”, acrescenta. Objetivos específicos • A partir da definição do produto a ser desenvolvido, foram estabelecidos alguns objetivos específicos para a Estratégia na região. “Elevar a produtividade, prestar a assistência técnica, adequar as instalações de processamento de leite são exemplos das metas que guiaram as ações e que já estão em andamento”, esclarece Magron. Atos para facilitar o escoamento da produção, para fortalecer a comercialização do leite e providenciar os licenciamentos estão sendo implementados. ”Até pouco tempo se pensava que bastava incentivar a produção que tudo estava resolvido. Mas, não é bem assim. É preciso enxergar tudo o que possa agregar valor ao produto e fortalecer cada elo dessa cadeia. Deve-se contemplar também o beneficiamento, a armazenagem, a comercialização e as exigências da legislação”, ressalta o gerente. Assim, foi possível determinar como cada ator que já vinha trabalhando no processo produtivo deveria atuar. “Conseguimos entender que os atores precisam se unir aos outros e levar o desenvolvimento para a região. No caso da região de Cantuquiriguaçu são 14 mil famílias que dependem do esforço coletivo para que atividade da produção leiteira se fortaleça”, conta. Resultados • Na propriedade de Luiz Carlos da Silva, de Laranjeiras do Sul, um dos municípios da região, já é possível ver os resultados do trabalho da Estratégia com a comunidade. Em quase três anos, a produção de leite que era de 70 litros quase triplicou. .“Até 2011 pretendo chegar a uma a 1000”, planeja. As lições para a melhoria da produtividade foram aprendidas com os técnicos da Concepar, empresa de distribuição de leite que atua no município, em parceria com a Embrapa. Trata-se de um trabalho de assistência técnica com visitas periódicas nas pequenas unidades produtoras, que são fornecedoras da companhia. “Fazemos acompanhamento de peso e gestação dos animais, ensinamos a fazer o controle diário da produção, trabalhamos na melhoria da pastagem, no uso inteligente do espaço, etc. É um trabalho de transferência de tecnologia ao produtor.”, explica Fernando engenheiro agrônomo da empresa. Treinamentos periódicos com os produtores também são alvo de programas da Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural), Ceagro (Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia), o MST
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Não basta incentivar a produção, é preciso enxergar tudo o que possa agregar valor ao produto e fortalecer cada elo dessa cadeia.
Ressalta Antônio Hideraldo Magron, gerente de DRS do Banco do Brasil.
(Movimento dos Sem-Terra), Senar/PR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado do Paraná), Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste Paranaense), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores). O Banco do Brasil e parceiros que trabalham com a agricultura familiar desenvolveram um procedimento para melhorar a qualidade do crédito concedido aos produtores pelo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). “A idéia é que os projetos elaborados sejam para a propriedade como um todo, contemplando reforma de pastagens, cercas, construções, melhoramentos; não somente aquisição de animais e equipamentos, como anteriormente era
feito: Os valores eram liberados sem muito critério e se tornavam um fardo e não um benefício para o produtor. Com essa nova metodologia os créditos são melhor aplicados, gerando maiores riquezas”, esclarece Fábio Alberto Haupt Gasperin, assistente da carteira preferencial do Banco do Brasil em Laranjeiras do Sul. Territórios da Cidadania • A região de Cantuquiriguaçu é contemplada também pelo programa Territórios da Cidadania do Governo Federal. O objetivo é fazer a integração dos projetos de 19 Ministérios e também dos governos estaduais e municipais, com participação das comunidades beneficiadas. “Nosso
Programa Atitude Consciente Na Kraft as pequenas atitudes geram grandes resultados
A Conscientização Ambiental como instrumento de cidadania, capaz de transformar hábitos e atitudes em cultura disseminada não só na empresa como também na comunidade onde ela está inserida. Este é o foco central do programa Atitude Consciente – Pequenas Atitudes Geram Grandes Resultados, lançado em junho de 2007, pela Kraft Foods, em todas as unidades no Brasil. O programa marca um desafio assumido pela empresa de ampliar sua contribuição por um planeta que forneça condições necessárias de sobrevivência também para as futuras gerações. Parte do princípio que não basta adotar práticas ambientais e processos sustentáveis somente em suas atividades industriais, através do seu premiado Sistema de Gestão Ambiental, mas que é importante também influenciar, estimular e convencer os diferentes públicos com os quais a empresa se relaciona a adotar medidas que favoreçam as atuais e as próximas gerações. Focado na conscientização de todos os colaboradores/empregados da Kraft Foods no Brasil e em sua transformação como agentes capazes de contribuir para a melhoria das condições de vida no planeta, o programa parte do princípio de que, sozinho, o indivíduo pode acreditar não ter força suficiente para promover transformações na cultura ambiental da sua comunidade e da sociedade como um todo. O programa nasceu de uma prática permanente mantida na empresa: a gestão do meio ambiente. Na qual, estudos, metas, propostas e práticas regular-
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mente estabelecidas dentro do Sistema de Gestão Ambiental colocam a preservação do meio ambiente, a redução de impactos ambientais e a sustentabilidade de forma ampla como pressupostos básicos da conduta da empresa onde quer que ela atue – pressupostos estes que a fizeram conquistar, em 2007, de forma rara no segmento de alimentação, a certificação ISO 14001, concedida de uma só vez para o grupo de 17 fábricas da Kraft na América Latina. Ações desenvolvidas • O programa foi lançado em junho de 2007, como resultado de meses de trabalho de um grupo multidisciplinar da Kraft, que se reuniu regularmente desde janeiro do mesmo ano para a definição de objetivos e metas. Com o apoio dos gerentes e diretores de todas as unidades fabris, o comitê definiu estratégias de atuação, tendo como primeiro passo o foco na transmissão de informações e conscientização de todos pela conservação, preservação e redução de impactos da ação do homem na natureza. Desde dezembro de 2007, este comitê cresceu, passou a se chamar Comitê de Sustentabilidade, integrando cerca de 20 pessoas de todas as áreas da empresa, com a tarefa e o desafio de buscar continuamente oportunidades e soluções sustentáveis a serem aplicadas dentro e fora da empresa. Diante dos efetivos resultados do programa Atitude Consciente e da sinergia com que as diferentes áreas da empresa vêm implemen-
objetivo é fazer a integração de todas as ações desenvolvidas para que a situação de pobreza da região seja superada”, explica Reni Denarde, delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário no Paraná. Segundo dados da Secretaria de Planejamento, ao longo de 2008 serão investidos R$ 128 milhões reais em ações de apoio a atividades produtivas, cidadania e acesso a direitos e recuperação e qualificação de infra-estrutura. São ao todo 60 municípios brasileiros beneficiados com o programa. “Foram escolhidos territórios rurais onde o Índice de Desenvolvimento Humano ainda é baixo. No caso do Paraná, são os territórios de Cantuquiriguaçu e do Vale do Ribeira”, finaliza.
tando as ações que têm como foco a sustentabilidade, um novo plano de ação já está em vigor na companhia com validade para o ano de 2008. O objetivo do plano é dar continuidade à proposta central do programa Atitude Consciente, reforçando os conteúdos e os objetivos nele traçados originalmente: o de promover a conscientização, envolvimento e mobilização dos públicos com os quais a empresa se relaciona, estimulando a adoção de atitudes mais sustentáveis por parte de todos os envolvidos, até o momento em que se traduzam em mudança real de cultura, interna e externamente. É com este conjunto de ações, esta filosofia e a adoção de práticas simples e organizadas, que a Kraft vem se propondo a construir mudanças importantes em diferentes segmentos da sociedade. Em especial, sua proposta demonstra também que tais mudanças só são possíveis com o envolvimento concreto das pessoas e o entendimento real da necessidade de uma ampla mobilização para, com pequenas atitudes, alcançar grandes resultados.
OBJETIVOS DO PROGRAMA ATITUDE CONSCIENTE - Reforçar internamente o compromisso da Kraft em relação ao cuidado com o meio ambiente; - Sensibilizar os empregados sobre a temática de sustentabilidade e do consumo consciente; - Incentivar práticas sustentáveis dentro da organização e estender o conceito para o público externo, incluindo familiares e comunidade Fonte: Assessoria de Imprensa - Kraft Foods
Uma pequena fábula de um grande problema
rosimery de fátima oliveira
Meio Ambiente
Bióloga, Mestre em Bioquímica e consultora em diagnóstico e planejamento estratégico
Em uma galáxia distante havia um planeta azul com uma espécie de vida pensante que tinha como característica consumir mais recursos do que o necessário para a sua sobrevivência.
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consulta bibliográfica sobre a produção de resíduos sólidos no Brasil nos mostra dados interessantes. Conforme o Manual de Gerenciamento Integrado (IPT/CEMPRE, 1995), eram produzidas no Brasil, diariamente, no início da década de 90, cerca de 241 mil toneladas de lixo. Dividindo esse valor pelo número de habitantes, a média nacional de produção de resíduos por habitante estava em torno de 0,6 Kg por dia. Uma pesquisa mais recente (Manual Integrado de Gestão - CEMPRE, 2007) indica, para o início do século XXI, os valores de 0,6 a 1,0 Kg de resíduos sólidos urbanos per capita. Algumas perguntas instigantes: porque esses valores não diminuíram desde a década de 90? O que resultou de todos os esforços da gestão ambiental? Estamos falando de esforços intelectuais, gerenciais e financeiros de mais de uma década? Por que os mesmos não conseguem minimizar a produção de resíduos e do desperdício de recursos? Mas vamos à fábula: em uma galáxia distante havia um planeta azul. Neste planeta surgiu uma espécie de vida com córtex e neocórtex pensante que tinha como característica, ao contrário de todas as outras espécies existentes no mesmo planeta, consumir mais recursos do que o necessário para a sua sobrevivência - principalmente sapatos (as fêmeas) e automóveis (os machos). Talvez porque uma das características da espécie fosse o fato de serem bípedes, logo os pés e o deslocamento eram supervalorizados. Essa espécie se multiplicou juntamente com os problemas de sua estranha mania bípede e andarilha. Para os sapatos serem mais duráveis eram produzidos com o couro de outra espécie quadrúpede. Os quadrúpedes precisavam de amplos espaços livres para sua criação, então outras
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espécies foram liquidadas para liberar espaço. Com tanto espaço descoberto, quando chovia as ruas alagavam e os sapatos ficavam molhados. Então era necessário mais couro e mais espaço para produção de mais sapatos, enquanto os molhados secavam. Para produzir carros o solo era aberto porque os carros eram produzidos e utilizavam como combustível materiais que estavam sob e dentro do solo. E, se os sapatos eram cada vez mais bonitos, diferentes e descartáveis, os carros também precisavam ser. Para os carros se movimentarem era necessário espaço aberto. E as chuvas alagavam mais as ruas e eram necessários mais sapatos e mais carros. Que espécie desbravadora e inteligente! Os sapatos e os carros velhos e fora de moda eram descartados e utilizados para conter os alagamentos! Alguns seres bípedes de neocórtex desenvolvido alertavam para os problemas. Mas não eram levados a sério porque, além de poucos, usavam sapatos velhos e, às vezes, nem mesmo possuíam carros. Além disso, os demais seres de sapato e carro é que tomavam decisões. Avisos eram colocados em letreiros
mas não eram lidos pelos demais porque estes apenas olhavam para os sapatos e os carros passavam em uma velocidade muito alta para os ler. Além do mais, se houvesse algum problema sério, os antigos, que nem usavam sapatos nem possuíam automóveis, haviam alertado que viria do céu a solução. E ela veio. A nave-mãe tentou pousar no planeta diversas vezes. Não conseguiu nas ruas que estavam alagadas. Nem nas montanhas de sapatos e carros velhos amontoados. Conseguiu finalmente pousar em um espaço vazio onde seres quadrúpedes apenas ruminavam e não tinham a habilidade de comunicação. A nave mãe foi embora depois de mapear o planeta como “nãoaplicável”. E partiu para outros planetas tentando encontrar seres bípedes pensantes e descalços que seus antepassados afirmaram que existiam em algum lugar da galáxia.