Revista Gastronomia & Turismo

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SUÍÇA

Ski e sofisticação em Zermatt

ROMANÉE-CONTI Um vinho incomum

ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS Luxo no Caribe

AMERICAN AIRLINES Cardápios de alto nível

TURQUIA

Passeio pela História

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C� ��� �� � � � ��� 2013 é um número bonito. E será um ótimo ano! Gastronomia & Turismo brinda o novo ano com o melhor vinho francês e o melhor português no friozinho do inverno suíço. No coração da África com champagne; nas ilhas Virgens com comida caribenha; na Turquia com doces de avelãs; e na Ásia com jade, diamantes, rubis... Então, que 2013 traga a prosperidade almejada por todos nós. Porque ser próspero é também ser feliz, ter saúde. Muitas vezes ser feliz também implica conforto, aventuras, boa mesa (e excelentes vinhos!) – em luxo. implica ainda generosidade, doação, amor ao próximo. Nesse intuito, G&T inicia o ano com ações de inclusão social. Você vai ler, nesta edição, a respeito do grito imperativo do russo invadindo Paris (pedindo rapidez na bebida) e o dia que vinho americano superou o francês. Para os mais crescidos, o filme Festa de Babette (Oscar filme estrangeiro, 1988) é um clássico do “cinema gastronômico”: mutatis mutandis, um time de exímios chefs faz a festa de passageiros premium em voos para os EUA. Vamos ainda sondar a criatividade do chef francês Roland Villard, no Rio, e a arte de outro francês atrás de um grill em Sampa. Curitiba também revela seus points de cozinha francesa. Sob outra bandeira, no Cais da Ribeira carioca, as delícias portuguesas aparecem no fogão do chef Renato Vicente.

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Este é o passeio de início de ano para nossos leitores perspicazes, elegantes em sua inteligência e sutis na percepção estética. Gastão Neto publisher

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Capa: Estação de trem em Gornergrat, nos Alpes suíços, com o Matterhorn ao fundo durante o entardecer

Impressão e acabamento Gráfica Regente Fotos Shutterstock Tiragem 10.000

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TURQUIA

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MYANMAR Turistas e peregrinos

BARCA VELHA Excelência do Douro

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ROMANÉE-CONTI

CURITIBA Cozinha francesa

HYATT Point de badalação

ZERMATT

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VINHOS AMERICANOS Nappa Valley

pESTANA Restaurante português

48 51 AMERICAN AIRLINES

32 ILHAS VIRGENS

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MOÇAMBIQUE Ensaio

pRÉ CATELAN Um francês

FOZ DO IGUAÇU Maravilha natural


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LONDRES - London's Eye Para relaxar, não existe nada melhor do que sair da rotina! Viajar está no topo da lista para se "sair da rotina". Passar alguns dias em Londres, em uma cidade vibrante, cosmopolita e antiga, moderníssima, é uma satisfação! A capital da inglaterra e seus arredores valem a pena ser explorados: desde os clássicos passeios como na London's Eye até as visitas aos castelos, como o de Winsdor, preenchem o dia e nos fazem voltar na História. Vanessa p. dos Santos (economista) e Jaqueline M. de França (engenheira Civil) - Curitiba - pR

WASHINGTON - Lincoln Memorial Eu e minha avó Ana Sielski em frente à estátua do ex-presidente americano Abraham Lincoln. O lugar é lindo, e no caminho é possível visitar também a United Nations Wall e o Korean War Veterans Memorial. infelizmente, no dia de nossa visita, a Reflecting Pool em frente à estátua estava em reforma, completamente sem água. paloma Sielski (empresária) - Florianópolis - SC

VANCOUVER / CANADÁ

Com praias organizadas, pessoas animadas e temperatura nas alturas, passar o verão no Canadá é simplesmente mágico! Passear pela orla de bicicleta, ou deitar no gramado e curtir uma boa música de piano ao vivo, é só uma das atrações que o verão canadense oferece a você! Rafael Menon (Gerente Comercial) - Curitiba - pR

Envie fotos da sua viagem inesquecível, ela poderá aparecer aqui também. IMpORTANTE: encaminhe suas fotos com uma pequena descrição, seu nome completo, profissão, cidade e estado onde você mora para o email:

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PRESEnTES “Conforto”. Esta tem sido a inspiração durante os últimos 40 anos para a confecção de poltronas reclináveis. Estilo e beleza são importantes, mas o que realmente faz a diferença para quem está sentado é a maravilhosa sensação do corpo. Cada parte da poltrona foi pensada com um único objetivo: deixar você o mais confortável possível. Graças ao ajuste automático do encosto de cabeça, você tem a possibilidade de ler ou assistir televisão até mesmo na posição reclinada. E com um simples movimento você a ajusta para a posição de dormir. De fácil locomoção, o puff possui um sistema deslizante embutido que se ajusta aos movimentos de seu corpo para máximo conforto. Produzidas em diversos tamanhos, a diferença entre elas é quase imperceptível ao olho, porém o corpo vai apreciá-las imediatamente. pOLTRONA COM pUFF DREAM Poltrona reclinável, giratória, suporte lombar, altura de apoio de cabeça regulável designer: Ekornes Noruega Medidas: poltrona: L: 86 A: 101/111 P: 82. Altura de assento: 43 pufe: L:54 A: 44 P:50 preço: R$ 9.984, 80 na Ton Sur Ton - www.tonsurton.com.br

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pRODUTOS DIVERSOS BIER HOFF A cerveja mais premiada é a Weizen, laureada em 2011 e 2012 no South Beer Cup. Contudo, a que recebeu o prêmio mais importante foi a Nigra, que ficou em terceiro lugar no European Beer Star, classificando-a como a terceira melhor cerveja do mundo no estilo germânico Schwarzbier. preços: Pack 2 Garrafas de 600ml Bierhoff Premium + Copo - R$ 40,00 Relógio Garrafa Bier Hoff - R$ 30,00 Tampa decorativa de barril - R$ 90,00 encontra na loja virtual da Bier Hoff www.bierhoff.com.br/loja ou nos restaurantes

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ARTIGO

CARNE DE QUALIDADE NO BRASIL Enzimas e genética influenciam na maciez da carne: o mito do relevo cai por terra

Por Felipe Pohl de Souza*

O

Brasil foi, em 2011, o segundo maior produtor e exportador mundial de carne bovina, ficando atrás dos EUA na produção e da Austrália na venda. Mesmo assim, encontrar

carne saborosa e macia em açougues, supermercados ou mesmo restaurantes não é tarefa fácil. Repetir o achado então, quase impossível. Por que isso ocorre? Vamos tentar explicar. Em primeiro lugar temos de considerar que a qualidade da carne depende de vários fatores: os animais que vão originá-la, o transporte destes até o frigorífico, o abate, o resfriamento da carcaça, a maturação, os cortes, a embalagem e, finalmente, o acondicionamento no ponto de venda. Falhas

em qualquer uma dessas etapas podem resultar no comprometimento do produto que chegará ao consumidor. O churrasco é a forma de preparo que exige a melhor qualidade da carne, pois nela só entram sal e fogo. Depois de preparada, deve ser saborosa, suculenta e macia. Pensemos nestes três pontos, pela perspectiva do animal que origina a carne: O sabor é influenciado pela alimentação que o animal recebe antes do abate, pela idade e pelo sexo. Animais terminados a pasto, com até 30 meses de idade, machos castrados ou fêmeas têm melhor sabor. Para pessoas com paladar mais apurado, alguns ingredientes das dietas de confinamento podem influenciar no paladar, assim como animais não castrados e mais velhos. A suculência é determinada pela presença de gordura entre as fibras, o chamado marmoreio. Esta característica é G&T 7


ARTIGO

influenciada pela raça e pelo grau de acabamento da carcaça, que é a deposição de gordura no tecido subcutâneo. Algumas raças têm maior facilidade para a marmorização, como, por exemplo, as raças britânicas aberdeen angus e hereford. A maciez, provavelmente a característica mais importante da carne, é determinada pela idade, acabamento e raça sendo que a raça tem grande influência nesta característica, pois a maciez está relacionada aos processos enzimáticos que ocorrem no músculo depois do abate. Uma das principais enzimas promotoras da maciez é a calpaína, e algumas raças produzem grandes quantidades de calpastatina, que é um inibidor da ação da calpaína. Por esta razão, também temos uma grande diferença na maciez quando comparamos raças. As raças britânicas produzem pouca calpastatina, consequentemente, carne mais macia. A carne argentina, que é uma referência em categoria, é produzida em pastagens de excelente qualidade e a partir de animais jovens de raças britânicas, daí ela ser saborosa, suculenta e macia. A qualidade sensorial da carne bovina não está relacionada com o relevo onde o animal é criado (montanhas ou planícies), nem com o pouco espaço (confinamento), que reduziria seus deslocamentos, mas, sim, com suas características genéticas. No Brasil, utilizamos um grande número de raças para produção de carne, variados sistemas de produção, diferentes idades de abate e graus de deposição de gordura na carcaça. Isso explica a ampla variação de qualidade que encontramos nas prateleiras de açougues e supermercados. 8 G&T

Touro Nelore

Touro Aberdeen Angus Mas os produtores estão atentos ao problema e trabalham na seleção de animais que possam produzir carne para atender ao mais exigente paladar. Nesse sentido, é importante a valorização das marcas que têm garantia de origem e que criam uma ligação entre produtores e consumidores. Este vínculo permite uma retroalimentação na cadeia produtiva, garantindo a melhoria constante do nosso tradicional churrasco. * Felipe Pohl de Souza é médico veterinário e mestre em ciências veterinárias. Consultor na área de pecuária e professor da Faculdade Evangélica do Paraná.


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TURQUIA

Türkiye, A imigração turca no Brasil foi pequena, mas todos conhecem os “turcos” Por Adir Nasser Jr.

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Turquia


“P

onte entre o Oriente e o Ocidente”, “encontro de civilizações”, “museu ao ar livre”, “síntese de tradição e modernidade”, essas expressões são lugares-comuns para designar a Turquia. E todas verdadeiras. Mas, por mais que os truísmos se

somem, não dizem tudo sobre este país. A riqueza histórica e cultural, deixada por um sem-número de civilizações que por ali passaram, junta-se aos atrativos naturais da geografia privilegiada para ser o destino sonhado por milhões de turistas ao redor do mundo. Celebrada atualmente na novela Salve Jorge, da TV Globo – que vem encantando o público, sobretudo com imagens diversas, como balões de ar quente sobre a Capadócia, Anatólia Central, a terra do santo guerreiro Jorge –, a Turquia faz, na verdade, a cabeça de 23 milhões de pessoas, que, como os antigos conquistadores, passaram pelas terras da Anatólia para dela pegar o que tinha de melhor. Não é para menos: ali há mesquitas, palácios, igrejas, sítios arqueológicos e mercados repletos de sabores e cores orientais – tudo isso combinado com estrutura profissional de quem já viu o potencial da indústria turística. DOIS MUNDOS Só Istambul (eterna Bizâncio e Constantinopla) é, em si, uma pérola de beleza, com a indescritível magia de ser uma terra em dois continentes, ponto cobiçado ao longo de toda a História. O Topkapı Sarayı, palácio dos sultões otomanos, hoje museu, é uma das mais admiráveis obras do período grandioso do Império Otomano. Seus quase 700 mil metros quadrados de área, com construções e cômodos ricamente decorados, dão testemunho do poderio a que chegou o império, que havia estendido seus domínios da Hungria à Somália.

A Mesquita Azul ou Mesquita do Sultão Ahmed é uma mesquita otomana de Istambul, Turquia

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TURQUIA

Basílica de Santa Sofia, conhecida como Hagia Sophia, que significa "Sagrada Sabedoria"

E como não se impressionar com a Mesquita Süleymaniye, que se ergue majestosa na terceira colina de Istambul com suas cúpulas em profusão? Ou o lustre de 4,5 toneladas de cristal, que ornamenta o salão de 56 colunas do Palácio Dolmabahçe? Em Istambul está também a glória do antigo Império Bizantino, expresso na magnífica Catedral de Santa Sofia (Hagia Sophia), ex-basílica do Patriarcado Ortodoxo, convertida em mesquita com a conquista islâmica, e hoje um museu que guarda belos mosaicos remanescentes aos saques cruzados e ao encobrimento com gesso pelos muçulmanos. HISTÓRIA Para quem quiser conhecer a vida de uma cidade muçulmana na Idade Média, a dica é ir para Edirne, vizinha a Istambul, e ver em detalhes a Mesquita Selimiye, um complexo que inclui, além do templo, hospital, escola islâmica e salas de banho. Se o viajante achar o passado pouco distante, pode andar alguns quilômetros até Hisarlık e conhecer as ruínas da cidade de Troia, das trimilenares Guerras Troianas, descritas no Ciclo Épico Grego, especialmente na “Ilíada”, de Homero. 12 G&T

Interior da Hagia Sophia


TURQUIA

Rochedos e praias no mar Mediterrâneo

Se nada disso ainda satisfizer o visitante que procura algo não convencional, passeios de barco no Bósforo e em Dardanelos dão uma visão de boa parte dos monumentos dos dois lados da cidade. Nos mercados históricos da região, especiarias diversas, queijos e doces são algumas das atrações para o paladar. RIVIERA O litoral turco também reserva agradáveis surpresas. No Mediterrâneo (mais propriamente no Egeu), um trecho particularmente precioso, entre as províncias de Muğla e Antalya, chamada Riviera Turca ou Costa Turquesa, atrai turistas, sobretudo europeus, para balneários de águas claras no sopé dos Montes Taurus. A região também reúne ruínas de duas das Sete Maravilhas do Mundo Antigo – o Mausoléu de Halicarnasso e o Templo de Ártemis. Além disso, carrega a fama de ter sido o local da lua de mel do imperador romano Marco Antônio com a rainha egípcia Cleópatra. Rumando para o outro litoral, o do Mar Negro, o viajante se depara com uma paisagem verdejante, que pouco lembra o país árido, gravado no imaginário popular. Na província de Bolu, a meio caminho entre Istambul e Ancara, é possível encontrar aprazíveis resorts em Kartalkaya para a prática de esqui do inverno. No verão, os convites são para os lagos, como o Gölcük. A tradição da boa comida da região – famosa por doces de avelãs – se confirma no concurso anual, em agosto, para os mestres em especialidades culinárias turcas. ANDANÇAS Finalmente no litoral norte, o viajante que chegar a Sinop, terra do filósofo Diógenes, o Cínico, se depara com um panorama pitoresco formado pelos barcos

Balões de ar quente sobre o vale na Capadócia coloridos que singram as águas diante do porto natural. De clima agradável, Sinop destaca-se na gastronomia pelos frutos do mar. Não perde nada quem for até Amasra, a alguns quilômetros a oeste. Esse porto, fundado no século VI antes de Cristo, se distingue pelas praias e construções históricas. Voltando ao sul, encontramos Ankara (antiga Angora, a nomear as raças de cabras, coelhos e gatos), a moderna capital do país, que, além de pontos históricos – como o Templo de Augusto e Roma –, conta com boas opções em parques e centros de compras. No extremo leste, no Curdistão, destaca-se o Lago Van, com suas águas salgadas e alcalinas, guardando em suas ilhas antigos mosteiros cristãos. FÉ QUE MOVE O turismo religioso tem em Konya um de seus pontos altos. Na cidade, fica o jazigo do místico persa Jalal-ud-Din Rumi. É o centro espiritual da Ordem Mevlevi, a mais conhecida irmandade de derviches rodopiadores, que entram em êxtase enquanto fazem danças de movimento circular. A ordem realiza festivais religiosos e peregrinações à cidade. A Konya atual é a mesma Icônio da Antiguidade, terra de uma das primeiras comunidades cristãs. No entanto, há outras comunidades importantes para o cristianismo na TurG&T 13


TURQUIA quia. Uma delas é Tarso, hoje Mersin, no sul, terra natal de São Paulo e palco de martírio de santos, como São Bonifácio. Outro ponto de interesse é Antioquia (Antakya), sede de um dos patriarcados da antiga igreja e local onde os cristãos foram chamados pela primeira vez por esse nome. Também guarda tumbas de importantes santos muçulmanos. LÍNGUA A língua turca, idioma oficial do país, pertence à família linguística altaica (classificação não unânime entre linguistas), que inclui idiomas como o mongol, o azerbaijano, o tártaro e o japonês. Estruturalmente distante tanto do indo-europeu quanto do semita, a moderna língua turca, escrita com alfabeto latino modificado, é herdeira do idioma turco otomano, a língua imperial, superada pelas reformas ocidentalizantes de Mustafa Kemal Atatürk, após a i Guerra Mundial. Palavras incorporadas do persa e do árabe foram banidas naquela reforma, assim como o então alfabeto, baseado no árabe. RELIGIÃO Em “Salve Jorge”, é apresentada como algo bastante corriqueiro a celebração de um casamento cristão em terras turcas, onde 99% da população é muçulmana. Apesar de ser um dos berços do cristianismo, abrigar diversas igrejas históricas e contar hoje com um estado nominalmente laico, a Turquia praticamente viu fenecer a crença no Nazareno após uma série de perseguições religiosas no início do século XX. Hoje, na terra de São Jorge, não está muito na moda “ser Jorge”: menos de 1% dos turcos são cristãos. Comunidades cristãs outrora pujantes, como dos greco-bizantinos, armênios, georgianos e siríacos, foram reduzidas a

um número ínfimo, que não guarda proporção com a contribuição que deram outrora ao país. Um exemplo disso é o arquiteto de origem cristã, Mimar Sinan, responsável por grandes obras dos sultões Süleyman, o Magnífico, Selim ii e Murad iii. Muitas das antigas igrejas foram convertidas em mesquitas (como Cristo Pantocrator, em istambul), viraram museus (como Hagia Sophia, também em istambul, após ter sido usada como mesquita) ou simplesmente estão em ruínas (como as catedrais armênias de Ani e Tekor). Na Capadócia, a comunidade grega não existe há 90 anos, desde que foi removida para o norte da Grécia. NO BRASIL Nunca houve um fluxo significativo de imigração turca no Brasil. Apesar disso, no país, todos conhecem os “turcos”, que é como são chamados os imigrantes sírios, libaneses e palestinos, que aportam no país desde o final do século XiX e se dedicaram sobretudo ao comércio. A designação equivocada deve-se aos passaportes que esses imigrantes portavam, expedidos pelo então império Otomano, do qual muitos deles estavam fugindo.

DICAS G&T MELHOR ÉPOCA

O clima da Turquia é seco no verão, com temperaturas que podem chegar a 40°C; instável e úmido no inverno com temperatura abaixo de 0°C. De março a outubro o clima é agradável. Os meses de julho, agosto e início de setembro são os mais indicados se você gosta de calor. Já aqueles que querem neve, o melhor é visitar de novembro a janeiro, principalmente a famosa região da Capadócia.

COMO CHEGAR

Entre as companhias aéreas que voam até a Turquia está a Turkish Airlines, considerada em 2010 a melhor do circuito europeu. Istambul tem três aeroportos internacionais e ótimas ligações com a Europa e a Ásia. No site da Skyscanner (www.skyscanner. com.br) você encontra todas as operadoras para comparar.

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HOSPEDAGEM

Um dos hotéis mais luxuosos da Riviera Turca, o Mardan Palace Hotel, fica na Antalya. Em Istambul, o hotel Four Seasons ocupa o prédio que já foi um antigo presídio. O D-Hotel Maris, com selo da rede The Leading Hotels of the World, situa-se à beira do mar Egeu. Para ter uma experiência completa na cidade da Capadócia, hospede-se numa caverna de luxo: Cave Hotel Anatolian Houses ou Resort Cappadocia Cave.

ALIMENTAÇÃO

O restaurante 360, em Istambul, tem uma das melhores vistas da cidade. O Asitane tem receitas dignas dos sultões. O Mado serve sorvetes maravilhosos e tem várias filiais pela cidade. Os próprios hotéis oferecem ótimas refeições, e nas ruas existem os kebabs, tradição turca.

INFORMAÇõES GERAIS Capital: Ancara População: 73.000.000 habitantes Língua: turco Moeda: nova lira turca Cotação: 1 dólar = 1,79 nova lira turca Fuso horário: 5 horas a mais em relação a Brasília Documentação: passaporte válido; não é necessário visto para permanência como turista até 90 dias


COM SÚDITOS DÓCEIS, A FAST-FOOD REINA

Riscos da alimentação rápida são conhecidos, mas não há quem enfrente os gigantes que apostam na permissividade de seu público Por ADiR NASSER JR.

Repleto de calorias, açúcar, sódio e gorduras saturadas, é responsável por obesidade, doenças cardíacas, elevação da pressão arterial, diabetes e danos ao fígado – e até mesmo pela maior incidência de depressão e doenças respiratórias –, mas satisfaz ao paladar médio, é relativamente barata, prática e está em consonância com o ritmo frenético dos grandes centros urbanos. Eis um resumo do que é a fast-food, a comida nada saudável que cresceu amparada pela necessidade de conveniência e pela facilidade de se vender alimentos em massa a baixo custo e sem grande preocupação com o valor nutricional, mas que hoje se identifica com um verdadeiro traço cultural, um elemento enraizado no modo de vida das populações urbanas. Esta indústria – que já é conhecida por realizar mudanças negativas na dieta dos países desenvolvidos, onde nasceu – cresce hoje em grande parte nos mercados emergentes, como Brasil, China e Índia, que passam a desempenhar um papel mais relevante na economia mundial e concomitantemente a ter uma maior população de classe média a mimetizar os hábitos de consumo das nações já desenvolvidas. A fast-food, como a grande variedade da junk food (categoria mais ampla que inclui os petiscos e doces carregados de gorduras saturadas e açúcar, vendidos em mercados e lojas de conveniência), é hoje facilmente acessível a populações de quase todo o mundo, com todos os efeitos à saúde correlatos. Vale dizer, os emergentes passaram da dieta restrita ou mesmo da fome à artéria entupida, sem escalas. RISCO Os danos potenciais à saúde – mostrados em síntese no documentário “Super Size Me: a Dieta do Palhaço” (EUA, 2004), no qual Morgan Spurlock registrou no próprio corpo os efeitos de 30 dias de dieta com colossais sanduíches – passam a ser conhecidos todos os dias por pessoas ao redor do mundo que, após manter por um longo período uma dieta pouco saudável baseada em fast-food, descobrem-se portadoras de doenças graves. Mas ninguém precisa chegar a este estágio: hoje, há ampla difusão de informação sobre os riscos deste tipo de alimentação. Mesmo assim, 55% dos brasileiros vão a lanchonetes fast-food (as redes chamam de 'restaurantes') ao menos uma vez por semana, segundo pesquisa da empresa Shopper Experience. Sintomaticamente, uma nova geração de pessoas com excesso de peso nasce: entre crianças

de 5 a 9 anos, o sobrepeso atinge 34,8% dos meninos e 32% das meninas, mais do que na faixa seguinte (10 a 19 anos), que é de 21,7% e 15,4%, respectivamente, segundo dados do iBGE. irônica e definitivamente, não é uma geração mais saudável do que aquela submetida a uma dieta restrita décadas atrás. No passado de carestia e hoje na abundância de junk food, grande parte da população sofre com a carência de vitaminas e minerais. É bem diferente e é a mesma coisa: por isso foi cunhada uma expressão para designar o fenômeno atual: “fome gorda”. QUEM OS ENFRENTA? Apesar do quadro preocupante, não existem políticas para frear estes riscos, apesar das iniciativas genéricas de governos ao orientar para os cuidados com a alimentação. Ao contrário, vistas como sinônimo de “modernidade” e investimento produtivo, as redes de fast-food não encontram resistência do poder público e vão mantendo seus planos por mais mercados, que hoje chegam a cidades de médio porte. De acordo com uma pesquisa da consultoria Euromonitor, o setor de fast-food movimentou R$ 55 bilhões em 2011 no país e deve crescer 56% até 2016. isto indica a dimensão do problema com que os agentes públicos têm (ou teriam) de se defrontar. Mas não se trata somente da cupidez capitalista a subjugar com junk food ocupadíssimos e incautos consumidores em nome do lucro. A mesma pesquisa da Shopper Experience mostrou que já nem são mais os fatores localização e preço a guiar a decisão pelo consumo de fast-food. No levantamento, o instituto detectou que o público dá preferência ao fast-food em detrimento de um restaurante convencional em razão do hábito já entronizado ao padrão de consumo. Trocam o à la carte ou o buffê pelo sanduíche porque querem, simplesmente. Ou seja, as pessoas passam a ser permissivas e vão adotando posturas cada vez mais arriscadas quando se trata de alimentação. Neste campo, ceder aos próprios gostos e caprichos pode significar sujeição a um mercado nem um pouco comprometido com a saúde de seu público. Afinal, necessidade por alimentação sempre haverá, e os gigantes dos fast-food sabem como ninguém fazer uma comida “conveniente” a pessoas que, mesmo sabendo dos riscos daquilo que levam à boca, “se permitem”. G&T 15


MYANMAR

Templo Shwedagon Pagoda brilhando em Yangon, Myanmar (Birm창nia) 16 G&T


Myanmar, a última

fronteira da Ásia

“A

Por Helio Ciffoni (Tóquio)

última fronteira da Ásia”, como denominação da República da União de Myanmar, apareceu em artigos dos cadernos de economia nos principais jornais do mundo durante todo o ano de 2012. Myanmar sofreu uma grande transformação neste ano, e acredito que boa parte dos leitores não conseguia ligar o nome do país a sua história e até mesmo a sua posição geográfica. Fechado ao mundo por algumas décadas, esse país do sudeste asiático, posicionado entre Índia e China, vizinho de Laos, Cambodja, Tailândia e Bangladesh, ocupou o noticiário internacional em função das eleições parlamentares e da libertação da líder Aung San Suu Kyi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1991, que permaneceu em prisão domiciliar por 15 anos até sua mais recente libertação, em novembro de 2010. Estive em Myanmar em três ocasiões em 2012. Em fevereiro, antes das eleições, pude observar a campanha nas ruas em favor do partido da líder oposicionista, com as camisetas, cartazes e chaveiros estampando as fotos da Grande Dama e de seu pai, o general Aung Sun, herói da independência da Birmânia, o antigo nome da União de Myanmar. Em abril voltei a Myanmar logo após as eleições. Já se percebia o movimento de estrangeiros em busca de negócios em um país carente, vindo daí a designação de “a última fronteira”, referindo-se ao potencial cliente com 45 milhões de consumidores. Retornei a Yangon, antiga capital, em outubro, e o aumento dos preços e a oferta de novos produtos e serviços já davam mostras de que novos ventos estavam soprando naquela área. G&T 17


MYANMAR

Foto: Helio Ciffoni

Em novembro de 2005, a capital de Myanmar foi transferida para Naypyidaw, cidade especialmente construída para ser o novo centro político, localizado no centro geográfico do país e a meio caminho entre Yangon e Mandalay, as duas mais importantes e populosas cidades. Naypyidaw possui largas avenidas, um lago artificial e é dividida em setores, como Brasília: setor comercial, setor hoteleiro, setor residencial, zona militar e a zona ministerial. Com cerca de 1 milhão de habitantes, a capital é uma das dez cidades de mais rápido crescimento no mundo. Com poucos atrativos

Foto: Helio Ciffoni

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para o turismo, Naypyidaw não é um destino procurado por estrangeiros ou peregrinos. As dificuldades de acesso à capital são causadas pela ausência de linhas aéreas regulares e a falta de transporte por ônibus em moderna rodovia. Geralmente é preciso enfrentar uma viagem rodoviária de seis horas para deslocar-se de Yangon a Naypyidaw, com poucos pontos de parada no caminho. Mandalay, ao norte do país, foi fundada em 1857 pelo rei Mindonmin, o penúltimo rei da Birmânia. De acordo com


MYANMAR uma profecia, a nova capital deveria ser criada aos pés das montanhas e na proximidade de quatro rios; assim, Mandalay tornou-se a capital durante a comemoração dos 2.400 anos do budismo. No período colonial britânico (1885– 1948), Mandalay perdeu sua importância para Yangon, que teve rápido desenvolvimento como o novo centro político, administrativo e comercial.

A venda de alimentos nas ruas é uma tradição local, e os restaurantes a céu aberto nas ruas principais ou nas imediações da estação de trens ou das docas são motivos ótimos para provar da culinária local. A venda de frutas, legumes e verduras dá também um belo colorido e misturamse com outras atividades comerciais, como as confecções de roupas nas máquinas de costura colocadas nas calçadas.

Com uma população de aproximadamente 5 milhões, Yangon é ainda a cidade de maior importância em Myanmar. Embora a administração do país tenha se deslocado para a nova capital, o centro de negócios permanece em Yangon, com a sede dos bancos e grandes empresas e a presença das embaixadas e representações estrangeiras. Importante centro cultural do sudeste asiático, no período colonial, Yangon (então denominada Rangoon), era destino de estudantes vindos de outros países da região, como os atuais Malásia, Tailândia e Cingapura. A maior atração de Yangon são os templos budistas, os pagodes. O Shwedagon foi construído há mais de dois mil anos e tem uma estrutura impressionante, com sua torre principal elevando-se além dos 100 metros de altura. Por toda a cidade, encontramos monges budistas; com 89% da população praticando o budismo, o turismo de peregrinos é tão formidável que há um item específico no pedido de visto quando se pretende visitar Myanmar. Outro ponto de atração em Yangon é o mercado, que leva o nome do general Aung Sun. Quiosques com jóias e pedras preciosas atraem os turistas: Myanmar produz jade de qualidade excepcional, além do rubi, considerado o de maior valor no mundo; jóias em diamantes e esmeraldas também são comuns. A indústria têxtil, o artesanato em sândalo e pedra, objetos laqueados e trançados em cipó são encontrados a preços convidativos.

Foto: Helio Ciffoni

Foto: Helio Ciffoni

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MYANMAR O clima em Myanmar é o mesmo do sudeste asiático, onde se alternam as altas temperaturas de março a maio, atingindo 40ºC; chuvas fortes de julho a setembro e temperaturas amenas de novembro a fevereiro, com pouca chuva. Para brasileiros há a necessidade de visto, que pode ser solicitados à Embaixada de Myanmar em Brasília. A Embaixada do Brasil em Yangon está localizada na 56 Pyay Road e tem à frente o embaixador José Carlos da Fonseca Júnior.

KYAIKTIYO PAGODA - Um dos locais mais sagrados da Birmânia �ica no topo de um penhasco localizado perto de Yangon, uma enorme pedra com cerca de 25 metros de altura e 15 metros de circunferência que se equilibra à beira do penhasco. Conta a lenda, que a rocha �ica no lugar que está por causa de um �io de cabelo de Buda que foi trazido por um eremita e dado ao rei para colocar embaixo da rocha. Ela parece desa�iar a gravidade e é visitada por milhares de peregrinos que visitam o santuário três vezes ao ano para que sejam abençoados com riqueza e reconhecimento. Além de santo para o povo budista o local é também uma grande atração turística.

DICAS G&T MELHOR ÉPOCA Temperaturas que variam de 20°C a 24°C, entre novembro e fevereiro: é a época ideal para visitar, pois chove menos e o clima é ameno. Já de março a maio o calor é bastante elevado, média de 30°C a 35°C. A partir de junho até agosto chove muito na região e a temperatura é de 25°C a 30°C.

COMO CHEGAR Não existem voos diretos decolando da Europa. O mais fácil é embarcar em Bangkok, capital da Tailândia, e de lá pegar outro avião para Yangon, ou ir até qualquer capital asiática que tenha ligação com a cidade. Entre as empresas aéreas que fazem esse trajeto está a Singapore Airlines (www.singaporeair.com).

HOSPEDAGEM

O hotel The Governor's Residence, na cidade de Yangon, possui uma arquitetura colonial, elegante, e jardins soberbos. Com o selo The Leading Hotels of the World, The Strand Yangon, esbanja luxo, conforto e experiências inesquecíveis.

ALIMENTAÇÃO A cidade de Yangon possui os melhores restaurantes. O Le Planteur apresenta uma criativa cozinha europeia moderna misturada à indochinesa. No hotel The Governor's Residence fica o restaurante Mandalay, de cozinha exótica e com grande variedade de especialidades europeias, rodeado por jardins tropicais e lagoas de lótus.

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INFORMAÇõES GERAIS Capital: Naypyidaw População: 50.000.000 habitantes Língua: birmanês (oficial), mas nas escolas ensinam também o inglês básico Moeda: quiate Cotação: 1 dólar = 6 quiates Fuso horário: 10h30 a mais em relação a Brasília Documentação: passaporte com validade mínima de 6 meses e visto de entrada necessário para todos


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BARCA VELHA

mantém a excelência dos vinho do Douro Por ADiR NASSER JR.

“Mais clássico dos tintos portugueses”, segundo a definição do crítico luso João Paulo Martins, o Barca Velha, produzido pela Casa Ferreirinha, é ainda hoje, passados 60 anos de sua primeira safra, a grande referência nos vinhos de mesa da região do Douro. Definitivamente, é um vinho intenso, complexo e rico, que resulta somente de vindimas excepcionais – que, ao longo de sua história foram apenas 17, a mais recente a de 2004.

Após a maceração, os vinhos que potencialmente criam um Barca Velha são transportados para instalações da Vila Nova de Gaia, na costa, para iniciar a sua elevage, ou maturação, que se prolonga por até a um ano e meio em barricas novas de carvalho francês. O lote final de Barca Velha é elaborado por meio da seleção continuada dos melhores vinhos, depois de inúmeras provas na maturação aos diferentes lotes e barricas existentes.

O Barca Velha, hoje vinificado na adega da quinta da Leda (Vila Nova de Foz Côa), surgiu de um projeto do enólogo Fernando Nicolau de Almeida, que, após uma visita a Bordeaux durante a ii Guerra Mundial, decidiu-se a produzir no Alto Douro – terra dos fortificados vinhos do Porto – um vinho de mesa de altíssima qualidade. A proposta de vinhos tintos de mesa não teve acolhida imediata, e os fortificados prosseguiram como principal interesse das vinícolas do Douro. A Casa Ferreirinha, hoje controlada pela Sogrape Vinhos, perseguiu ao longo dos anos a ideia, que seria abraçada por outras companhias só na década de 70.

Por fim, o engarrafamento se dá sem tratamento, sendo natural a formação de depósitos. Mas todo esse cuidado ainda não extraiu o melhor do Barca Velha. O apogeu para a degustação se dá de 15 a 20 anos após colheita, com os devidos cuidados de manejo da garrafa, abertura, temperatura e decantação que um vinho exclusivo como esse requer. A colheita de 2004, que chegou ao mercado este ano, inclui as castas Touriga Nacional (40%), Touriga Franca (30%), Tinta Roriz (20%) e Tinto Cão (10%).

Segundo o atual enólogo da Casa Ferreirinha, Luís Sottomayor, além da experiência em produção vinhateira, a região do Douro conta com características geográficas privilegiadas. “São efectivamente terras acidentadas, com diferentes exposições e altitudes que favorecem uma grande versatilidade e condições para as uvas se adaptarem a cada situação. Os solos de xisto, que para além de preservarem uma certa umidade, permitem as raízes procurar sempre mais fundo na busca de água, sobretudo necessária nos anos muito secos e quentes, proporcionando maturações moderadas”, disse Sottomayor em entrevista à G&T. Pioneira, a Casa Ferreirinha soube como ninguém aproveitar estas características e valer-se de diferenciais que fazem do Barca Velha um vinho internacionalmente reconhecido. Na adega da quinta da Leda, as uvas selecionadas são vinificadas por castas separadas ou em lotes, escolhidos à mão, na vinha ou na recepção da adega. As uvas são submetidas a uma longa maceração de cerca de 21 dias, o que faz com que componentes da película da uva passem para o vinho, enriquecendo-lhe o sabor. 22 G&T

Assim o enólogo da casa Ferreirinha, Luís Sottomayor, descreve a degustação de um Barca Velha safra 1957, feita em 2008: Não me esqueço! Foi em novembro de 2008, precisamente no Brasil, no Consulado-Geral de portugal no Rio de Janeiro. um apaixonado pelos vinhos, CéLuís Sottomayor lio pinto de almeida, trouxe para a prova vertical de Barca Velha mais completa alguma vez realizada uma garrafa de 1957. parti para o vinho cheio de expectativas e curiosidade! e mal o decantei, porque os anos em garrafa assim exigiam, fiquei encantado com a sua juventude. Não posso dizer que foi uma surpresa, porque essa longevidade é precisamente um importante traço da personalidade deste vinho, mas foi com enorme prazer que constatei que mais de 50 anos passados, ainda estava novo, com cor vermelha viva, boa estrutura, e acima de tudo, uma enorme complexidade e harmonia!


Receita do Chef

O

chef de cuisine Paulo Bitencourt tem 27 anos de profissão em cozinha de hotelaria. Suas especialidades são: cozinha internacional, cozinha brasileira e ornamentação. Trabalha com eventos de todos os tipos. Natural de Florianópolis, SC, atualmente reside em Ponta Grossa, PR, onde trabalha no seu restaurante anexo ao Hotel Princess. Provocado por G&T a criar uma receita, enviou para a Redação a delícia que segue:

Chef Paulo Bitencourt

SalmÃO com molho de amoras Receita para 2 porções

INGREDIENTES

Modo de preparo

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Temperar o salmão com limão e sal, após grelhar o salmão.

100g de amoras frescas 100ml de vinho branco seco ½ colher de amido de milho 600g de salmão 3 colheres de azeite de oliva 5 colheres de açúcar 2 colheres de mel ½ limão Sal a gosto 100g de nozes picadas 50g de frutas cristalizadas 50g de damasco 2 colheres de creme de leite fresco 3 colheres de salsinha 300g de arroz cozido 1 colher de manteiga 6 batatas inglesas, cozidas sem casca ao dente

Molho: em uma frigideira adicione 2 colheres de açúcar e reserve o restante do açúcar, leve ao fogo até ficar em ponto de caramelo; após adicione o mel, 50ml de vinho e reserve o restante Em seguida coloque as amoras inteiras e deixe ferver até desmanchar as amoras. Enquanto isso, dissolva o amido em 2 colheres de água e engrosse o molho levemente. Tire do fogo e reserve. Arroz: em uma panela coloque a manteiga e leve ao fogo até derreter; em seguida coloque as nozes, frutas cristalizadas o damasco depois a salsinha; sal a gosto e o restante do vinho; deixe ferver por 3 minutos e adicione o arroz cozido e misture; finalize com creme de leite, tire do fogo. Batatas caramelizadas: em uma frigideira coloque o restante do açúcar e leve ao fogo até dar ponto de caramelo; adicione as batatas e tire do fogo. Monte o prato do seu gosto e sirva. Contato com chef Paulo: (42) 8404 8153 - (42) 9920 3132 - (42) 3219 6408 (comercial)

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VINHOS

ROMANÉE-CONTI,

um dos vinhos mais desejados do mundo Por Adir Nasser Jr. "Il n'y a pas de vins communs", sentenciou ainda no século XVIII o historiador da Borgonha Claude Courtépée acerca de Vosne-Romanée, Côte de Nuits, Leste da França. A bebida que de lá brota pela graça da natureza e pelo esmerado trabalho humano, com efeito, nada tem de ordinário: o grand cru Romanée-Conti, um dos mais desejados e caros vinhos do mundo. Na época de Courtépée, como ainda hoje, os mais exigentes apreciadores colocam o Romanée-Conti numa lista dos vinhos que estão no nível do sublime, por suas características únicas. Em reduzidíssima área de 1,8 hectare, o Romanée-Conti pertence a um só proprietário, por isso monopole, e é produzido pela Domaine de La Romanée-Conti (DRC), que em terroirs vizinhos também produz os tintos La Tâche, Richebourg, Grands Échézeaux, Échézeaux e Romanée-St-Vivant e o branco Le Montrachet. A produção, de altíssima qualidade, é escassa e, apesar dos demais vinhos da região serem também seletíssimos, o Romanée-Conti está num patamar bem mais elevado. Embora, nas palavras do enólogo Robert Parker, os vinhos da DRC compartilhem características como “aromas celestiais e surreais de temperos orientais”, “concentração deslumbrante” e “perfume de trufas”, a excelência do Pinot Noir a que se chega no RomanéeConti faz dele uma régua pela qual se medem todos os demais vinhos da Borgonha. Os premiers grands crus de Bordeaux – entre as quais os châteaux Latour, Lafite e Margaux – produzem, em média, 100 mil caixas por ano, período no qual o Domaine de la RomanéeConti produz apenas 7.500 caixas, das quais somente 450 são de Romanée-Conti. A marca dos vinhos Bordeaux é a relativa linearidade, ao passo que os da Borgonha, como o RomanéeConti são mais complexos a preencher o paladar. Os vinhos da Borgonha também são de mais difícil produção, mas cabe-se perguntar se, apesar desta excelência e raridade, faz jus uma garrafa de Romanée-Conti aos mais de US$ 10 mil que são cobrados por ela? Os apreciadores certamente encontrarão detalhes de cor, textura, aroma e paladar a justificar o preço, embora o terroir vizinho, La Tâche, rivalize e supere o Romanée-Conti em algumas safras. Poderia se dizer, por outro lado, que nada há de extraordinário na produção. Contudo há, a ponto de destoar sensivelmente de outros vinhos da Borgonha. A estratificação do solo deste terroir possui uma delgada camada de argila, diferente dos demais na área. Além disto, a drenagem natural do solo 24 G&T

muito favorável e a disposição do terreno, mais alto a oeste, a propiciar um adequado banho de sol, logo no início do dia, favorecem o cultivo das uvas Pinot Noir, base dos vinhos de Vosne-Romanée. Outros cuidados também são tomados para garantir a completa qualidade: os suplementos de solo são derivados somente de cascas de uva, raízes das parreiras e resíduos da fermentação. Esta técnica, típica da agricultura orgânica, da qual a família Villaine, co-proprietária da DRC, é adepta desde 1986, soma-se a outro: uso de cavalos em substituição aos tratores, a fim de evitar a compactação do solo. Além disto, a produção segue os princípios da biodinâmica, que preconiza, entre outras medidas, seguir o ritmo dos astros, especialmente as tábuas lunares, em razão de sua influência no desenvolvimento das culturas agrícolas. Ao longo do ano, severas podas são realizadas para extirpar galhos defeituosos e uvas de baixa qualidade. A colheita é feita escrupulosamente para garantir a qualidade do vinho: as uvas são classificados em pequenos cestos e examinadas individualmente quanto à adequação para a produção em mesas de triagem; só então as selecionadas vão para o preparo. Após a fermentação, o vinho é acondicionado em barris novos de carvalho entre 15 e 20 meses. Os tonéis são preparados numa tanoaria da região especialmente para a DRC e não voltam a ser utilizados, após receber uma única vez os vinhos da casa. Cumprido o seu papel de produzir um dos melhores vinhos do mundo, os tonéis são vendidos para outros produtores. Para a adequada apreciação, porém, é preciso o descanso das garrafas por pelo menos 15 anos. Assim, para o consumo hoje de um Romanée-Conti, um sommelier certamente indicará safras anteriores a 1997. As mais cotadas, porém, são safras anteriores a 1945. Isto por que naquele ano a produção foi suspensa para ser retomada em 1952, em razão da devastação causada pela filoxera. Esta retomada da produção não foi o único momento marcante da história da Romanée-Conti. A região, que passou a se chamar Romanée por seus ex-proprietários, da família Croonembourg, foi conquistada pelo príncipe de Conti, após vencer uma disputa com Madame de Pompadour no século XVIII, e desde então passou por diversos proprietários (nove ao todo, desde o início da exploração comercial dos vinhedos), que, apesar das contingências políticas que sobrevieram, souberam manter o padrão de excelência do vinho.


ARTIGO

Tradição Gastronômica Francesa

Por Rudy Keller

E

Bistrot do David m 1533, Catarina de Médicis, quando saiu de Florença para se casar com o rei da França Henrique II, não sabia que ela seria tão importante para o refinamento da culinária e dos costumes franceses.

Levou consigo seus inúmeros cozinheiros florentinos, pratarias, talheres e muitas receitas. Trouxe ainda ingredientes finos, como trufas e foie gras, inclusive o segredo do molho espanhol, que se transformou em demi-glace, o molho mais importante da culinária. Catarina, uma das poucas mulheres a terem importância no comando de um país, reinou na França com glamour e uma pitada de tirania. Hoje a gastronomia mundial segue normas e termos franceses: quenelles, entrecôte, velouté, médaillons, entre tantos. Pratos como boeuf bourguignon, coq (galo) au vin, sole (linguado) à la belle meunière, consommé e bouillabaisse são mundialmente conhecidos.

Moules do Bistrot do David

Grandes chefs franceses aportaram no Brasil e hoje são referência na nossa gastronomia. Nomes com Laurent Suaudeau (que veio por indicação de Paul Boucuse, uma lenda viva da gastronomia francesa), Erick Jaquin, Emmanuel Bassoleil, Roland Villard e Laurent Grolleau (um dos melhores pâtissiers do país) são hoje nomes de referência da alta gastronomia nacional. Em Curitiba, temos excelentes opções de gastronomia francesa, como o eterno Île de France, há 50 anos pertinho do Passeio Público, com o casal de proprietários sempre recepcionando os clientes, servindo pratos clássicos da alta gastronomia francesa. Eu geralmente prefiro o camarão com trufas, vários amigos preferem o clássico strogonoff (quem diria?), ou pato com laranja. O Challet Suisse é outra opção excelente, situado em Santa Felicidade, servindo pratos clássicos franceses e o famoso fondue suíço. Novos restaurantes se estabeleceram na cidade, como o Bistrot do David e da Giovana, incrustado no Jardim Social, com seus moules (mexilhões) deliciosos, entrecôte com molho béarnaise, mignon com molho poivre e várias opções de frutos do mar... E sempre o chef David passando pelas mesas com seus óculos inconfundíveis, preparando a crosta do crème brulée junto aos clientes. Por último, e com a mesma importância, bem no Centro, aparece o L'Épicerie, considerado o melhor francês da cidade por um júri especializado.

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EUROPA

26 G&T


ZERMATT

A beleza do inverno e do verão atrai turistas para atividades turísticas diversas Por ADiR NASSER JR. ATAÍDE NEMÉSiO

E

nclave franco-ítalo-germânico, a Suíça é uma república composta por 26 estados ou cantões e um dos países mais ricos do mundo, com PiB per capita de mais de 75 mil dólares e população de oito milhões de habitantes; Zurique e Genebra consideradas a segunda e terceira cidades com melhor qualidade de vida no planeta – difícil é saber como anda São Paulo nesse quesito atualmente. Formada por quatro regiões linguísticas, étnicas e culturais (italiana, francesa, alemã e romanche – esta no cantão dos Grisões) é conhecida pela sua neutralidade, relógios, bancos, raclete, país de Carl Gustav Jung e nova morada de Paulo Coelho. Tem fama de país chato para se viver, mas quem vive lá tem apartamento em Nova York.

Matterhorn G&T 27


EUROPA

Zermatt, famosa cidade turística de esqui nos Alpes suíços Conhecida mundialmente como um centro de montanhismo e prática de esqui, a cidade suíça de Zermatt – localizada no sopé do mais emblemático pico alpino, o Matterhorn, ou Monte Cervino – consegue ser uma atração o ano inteiro, pela pujança de paisagens e atrativos que encerra: a terminação do Vale de Matter (Mattertal), a poucos quilômetros da fronteira italiana, onde se encontram a gigante Breithorn e o Passo Theodul. Quem vê hoje a série de instalações turísticas pode não imaginar que toda a estrutura existente e a própria cidade se desenvolveram recentemente. De uma antiga comunidade agrícola até metade do século XIX, Zermatt se transformou quando o desafio de conquistar o Matterhorn (última montanha alpina a ter seu topo alcançado) levou aventureiros ao lugar para a escalada. Após várias tentativas frustradas, o desafio foi vencido, em 1865, pela equipe do britânico Edward Whymper, que perdeu quatro de seus sete membros na descida. Esse batismo de sangue – hoje registrado no Museu do Matterhorn, uma das atrações do lugar – foi a entronização de Zermatt ao circuito do turismo. O vilarejo rural passou, a partir de então, a um polo de atração de visitantes. Para isso, teve de garantir estrutura para os seus encantos e instalações para os turistas. 28 G&T

Chegadas e partidas – Zermatt passou a ser um fim em si e também o cruzamento de rotas turísticas. A cidade é o ponto de partida para a Haute Route, trilhas para os hikers que se dirigem a Chamonix-Mont-Blanc e para o roteiro de competições Patrouille des Glaciers, organizado pelo exército suíço para a disputa na neve entre militares e civis. Também é o ponto de chegada de milhares de turistas que fazem uma das mais lindas e pitorescas viagens da Europa – o roteiro de sete horas, a partir de Saint Moritz, pela linha turística ferroviária Glacier Express (autointitulado “o mais lento trem expresso do mundo”), com seus vagões de janelas panorâmicas pelas quais se aprecia a beleza natural do trecho, que inclui Visp, Disentis e Chur. Finalmente em Zermatt, os turistas podem desfrutar de uma cidade não apenas encantadora, com a paisagem alpina e arquitetura preservada, mas também de um ambiente peculiarmente sem poluição (veículos a motor de combustão são proibidos na cidade, que adota apenas automóveis elétricos). Uma série de outros atrativos faz deste local uma referência nos Alpes. Opções – Teleféricos de gôndola e cadeira levam os esquiadores ao alto do Klein Matterhorn (3.800m), durante o inverno, e também dão acesso à Itália, para se buscar as melhores opções de esportes de neve. No verão, são os hikers a tomar os teleféricos para descobrir as belezas do lugar, como a Sunnegga Paradise (área que dá ampla visão do Matterhorn), o Blauherd (ponto para conhecer o habitat natural de marmotas), ou ainda o Schwarzsee (lago a mais de 2.200m próximo ao Matterhorn). Para os que abrem mão da neve e seus esportes – esqui, snowboard e patinação no gelo – e preferem aproveitar Zermatt com temperaturas amenas, as trilhas a pé, mountain bike, escalada, golfe e tênis são boas pedidas nessa cidade de hotéis encantadores. Também dá para ir ao cume da Gronergrat (3.089m, ponto de início para várias trilhas mais cavernosas), ou aproveitar a Gronergratbahn, a mais elevada estrada de ferro da Europa. Exclusivo – Para além da Zermatt esportista, existe a cidade que é pura sofisticação. E como falar em sofisticação sem mencionar comida e hospedagem? Nesta questão específica, encontramos o Riffelalp Resort 2222m e o Mont Cervin Palace, ambos ostentando o prestigioso selo da Leading Hotels of the World (LHW).


EUROPA

Cume da montanha Breithorn visto do pico Matterhorn


EUROPA

Riffelalp Resort 2222m O Riffelalp 2222m oferece o típico bucolismo alpino com microclima privilegiado. Os hóspedes são mimados com amenities de alto nível, têm o conforto e as facilidades de um ski-in ski-out (o esquiador sai do hotel direto na pista ou na direção dela), condizentes com um cinco estrelas grand hotel, e toda sorte de lazer e bem-estar de montanha (geladas ou não). No coração da Zermatt livre de carros, fica outro cinco estrelas, o Mont Cervin Palace – inaugurado em 1852 com apenas 14 camas –, de fachada típica e seus torreões característicos (terraços apertados e verticais no ângulo ou no topo de um edifício). No acesso à entrada, charretes charmosas na cor vinho dão o tom ao ambiente requintado do hotel. Os quatro diferentes edifícios onde estão os apartamentos, são conectados por dentro, oferecendo uma ampla gama de quartos e suítes em arquitetura de época e estilo “chalé suíço alpino”. Uma área interna de 1.700 m² para lazer, banhos e spa garante as férias de inverno ou verão do (muito exigente) viajante. Jantando fora - No mesmo Mont Cervin existem três restaurantes gourmets: Le Restaurant, Grill Le Cervin e Ristorante Capri. O Le Cervin foi agraciado com 14 pontos no conceituado guia Gault&Millau, e o Capri o melhor score dos restaurantes de Zermatt, com 16 pontos no Gault&Millau e uma estrela no Michelin. Há ainda dois bares com 30 G&T

música ao vivo, um lounge para fumantes e diversos cantos para se relaxar. Já o Riffelalp Resort 2222 m conta com o Ristorante Al Bosco, 13 pontos no Gault&Millau. É um restaurante elegante com terraço ensolarado; como dizem os ítalo-americanos: “Dolce vita in the Alps!” O Restaurant Walliserkeller tem cozinha regional feita em “fogo aberto”. O Mark Twain Lounge, com 13 pontos, oferece terraço ensolarado sem hustle and bustle (vulgo muvuca!): éo chamado Deluxe-Lunch-Relax (DLR). Dica: Para jantar no Riffelalp, pegue o trem em Zermatt às 18h00 ou 19h24 da estação GGB. Para voltar a Zermatt, o trem parte às 22h58 ou 23h50 (não esqueça dos passes de ski ou montanhismo). O resort fica a 500 metros da estação Riffelalp, uma caminhada gostosa em terreno plano através da floresta de pinheiros. Português em alta Com uma população fixa de 5.800 habitantes, a maioria não nascida no lugar, Zermatt poderá ter em breve o português como uma de suas línguas correntes. O vilarejo germanófono tem, entre os alunos matriculados em suas escolas, 50% de portugueses.


EUROPA

Hotel Mont Cervin Palace

DICAS G&T MELHOR ÉPOCA Para esquiar, com certeza a melhor época é na alta temporada de inverno. Contudo de outubro até abril as temperaturas podem cair até -8°C. No verão, entre junho e meados de setembro, o termômetro pode marcar 24°C.

COMO CHEGAR Primeiro é preciso voar até Zurique. A maneira mais fácil de chegar a Zermatt é de trem. São três horas de viagem através de lindas paisagens, montanhas e cenários fascinantes.

HOSPEDAGEM A vantagem de se hospedar no Mont Cervin Palace* ou no Riffelalp Resort*, é a certeza do luxo e do melhor tratamento 5 estrelas da região, marca registrada dos hotéis com o selo The Leading Hotels of the Word. Outra ótima pedida é o Hotel Grand Hotel Zermatterhof, pois dois terços de todos os quartos possuem vista para o Matterhorn.

ALIMENTAÇÃO Os pratos da tradição suíça estão em todos os restaurantes da região, mas uma ótima escolha é comer no hotel onde se hospedou. Não é só de fondue que se vive lá, existem restaurantes orientais como o Lanna Thai e o Albana Real, dentro do hotel com o mesmo nome, onde os chefs fazem verdadeiros shows para os visitantes.

INFORMAÇõES GERAIS População: 5.800 de habitantes Língua: alemão Moeda: franco suíço Cotação: 1 dólar = 0,93 franco suíço Fuso horário: 4h a mais em relação a Brasília Documentação: brasileiro não necessita de visto *Reservas e grupos: The Leading Hotels of the World: 55 11 3171 4000 (Grande SP). Demais regiões: 0800 014 1819

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AVIAÇÃO

CONSTELAÇÃO DE CHEFS FAZ A 'FESTA DE BABETTE' NO AR

American Airlines capricha nos cardápios e bebidas de bordo

Por Ataíde Nemésio, com assessorias

Fotos: Divulgação / Aeronave 777 300

Let’s have a drink talvez seja a expressão mais usada na língua inglesa e também uma das mais simpáticas do mundo. É um convite à comunhão, amizade e boa conversa. Dentro desse espírito da milenar alegria germânica, os anglo-saxões recebem seus amigos. E é assim que os passageiros da American Airlines são acolhidos a bordo, independentemente da classe em que viajam. A idéia surgiu do vice -presidente de marketing da empresa aérea, Rob Friedman, como uma ação de continuidade do compromisso para melhorar a viagem. “Nossos passageiros pediram cerveja e vinho grátis e nós os ouvimos. O cliente que viajar para o exterior a bordo da American, será convidado a tomar um drink por nossa conta”, diz. E americano quando faz uma coisa, faz bem feita: chamaram o célebre consultor de vinhos Ken Chase, apaixonado pela enocultura, que criou uma ampla seleção de vinhos e cervejas para a companhia. Na primeira classe e executiva, destilados , cerveja, vinho continuarão gratuitos. Cutucado na minha alma etílica, preparei-me para entrevistar o diretor de vendas e marketing da American Airlines Dilson Verçosa Jr. para o Brasil, Dilson Verçosa Jr. 32 G&T

G&T O que um passageiro da AA vai encontrar somente nos voos da AA? Dilson Verçosa Jr. Todos os passageiros da American Airlines encontram tripulantes que falam português, cardápios em inglês e português. Além de filmes com legendas em português. G&T Qual o volume aproximado de passageiros e voos entre Brasil e EUA? DVJ Somente a American Airlines terá, a partir de dezembro, 111 frequências semanais entre EUA e o Brasil. Considerando as outras empresas que operam diretamente para os Estados Unidos, existe pouco mais de 200 frequências semanais, que transportam anualmente mais de um milhão de passageiros. G&T O que a AA espera com a aproximação da Copa 2014 e Olímpiadas 2016? DVJ American já opera para sete cidades no Brasil onde acontecerão os jogos da Copa do Mundo de 2014, com isso, temos certeza que iremos transportar um número grande de passageiros não só dos EUA, mas de outros países para visitar o Brasil. Por enquanto, ainda não temos programação de frequências adicionais para os dois eventos.


AVIAÇÃO

Começava a anoitecer. Fui tomar um vinho branco gelado (Oak Leaf Chardonnay, californiano) e comecei a pesquisar sobre os menus da American. A primeira informação que obtive foi a respeito do timaço de chefs-celebridades que trabalham nos cardápios: Richard Sandoval, Marcus Samuelsson, Sam Choy, Maneet Chauhane e Cindy Hutson, Esse time junto, que reúne as capacidades individuais das respectivas cozinhas regionais, consegue cozinhar para paladares exigentes de diferentes culturas, em toda sua diversidade gustativa. Não à toa, são donos de restaurantes famosos mundo afora. Richard Sandoval Por isso, em minha licença poética, inseri no título a referência ao longametragem Festa de Babette, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1988, em que uma francesa exilada em vilarejo dinamarquês oferece um “banquete” a convidados especiais. Pratos Principais do Serviço Internacional Flagship

pratos – munido das informações provindas dos comissários de bordo e clientes (e com base nesses comentários) – criou novos itens para os happy few da primeira classe. Os aperitivos incluem vieiras marinadas no limão, e camarões marinados no molho de mojito, servidos com abacaxi. Pratos como pernil de cordeiro com molho de tomate ale ou lasanha com cogumelos e linguiça (sem faltar os vegetais

Menu Transatlântico Os novos cardápios transatlânticos oferecem um sabor caseiro e aventureiro, incorporando aperitivos, saladas, entradas e sobremesas que refletem de forma distinta os sabores europeus e americanos. Os voos da Europa para os Estados Unidos já oferecem itens de menu criados com ingredientes e receitas europeus. Os voos que partem dos EUA com destino à Europa em geral apresentam pratos típicos da cozinha norte-americana.

frescos da época para acompanhar muitos dos pratos prin-

Menu Transcontinental Aquele conclave de chefs reconhecidos internacionalmente para desenvolver novos

principais especialmente selecionados, vinho e o tradicional

cipais) ajudam a fazer a festa. Jantar Especial na Classe Executiva Em voos selecionados da frota de aeronaves Boeing 767 entre a Europa e a América do Sul, a American Airlines lançou um serviço exclusivo na classe executiva: pratos de aperitivos e salada aprimorados, uma escolha de pratos sundae de sorvete com várias opções de coberturas.

Halibut do chef Sandoval

Chicken do mesmo chef G&T 33


HOTEL

STYLE, CLASS, COMPETENCE Três restaurantes em São Paulo viram coqueluche da nite paulistana

Por Adir Nasser Jr. Ataíde Nemésio, com assessorias

F

Fotos: Divulgação

estivais gastronômicos com chefs in-

nhos apresenta “exemplares” da Library, composta

ternacionais e estrelados, degustação

de aproximadamente 250 rótulos e 2 mil garrafas,

mensal com os melhores vinhos e vários

entre brancos e tintos, sem contar os champagnes e

outros grandes eventos enogastronô-

espumantes, com 10 rótulos de cada.

micos. Foi assim que o Complexo 17, o ponto de entretenimento do Grand

Hyatt São Paulo, se tornou um dos endereços da badalação e alta gastronomia da região Berrini-Morumbi.

O Grand Hyatt São Paulo é um dos principais endereços para o turismo de negócios e lazer na capital paulista. Instalado na Marginal Pinheiros, próximo ao World Trade Center e à Av. Luís Carlos

Um francês, um italiano, um japonês. A exemplo do fil-

Berrini, o hotel da rede americana, que conta com

me de Marco Ferreri (1973), “La grande bouffe” poderia ser

380 instalações no mundo, tem na sua filial paulis-

o nome imaginário da esquina de três restaurantes... Mas

tana uma arquitetura imponente e requintada, que

na real do Hyatt, o point são os restaurantes em que os vi-

está em consonância com as cinco estrelas de pa-

sitantes chegam diretamente na Wine Library. A carta de vi-

drão internacional que ostenta.

34 G&T


HOTEL

O italiano

O japonês

O francês

Ao lado do lobby, no hotel, e

Pratos tradicionais japoneses à

Agraciado com importantes

comandado pelo chef Plínio

base de peixes e frutos do mar são

prêmios da gastronomia nacional,

Garcia, o Grand Caffè, de cozinha

encontrados no Kinu, restaurante

o restaurante francês do Grand

italiana, abre suas portas aos

com ambiente jovem e requintado

Hyatt São Paulo foi reformulado

gourmets para oferecer um menu

e liderado pelo sous-chef Kazuo

e passou a se chamar Eau French

de pratos típicos acompanhado

Harada. Os ingredientes frescos

Grill, com uma proposta mais

de um bufê, antepastos, saladas,

e da época, impecavelmente

descontraída e contemporânea. No

pratos quentes e sobremesas

preparados e apresentados

menu o que prevalece são pratos

– e um concorrido brunch aos

com simplicidade, conferem

da gastronomia contemporânea

domingos. Além de apresentar um

autenticidade ao restaurante.

francesa, comandado pelo chef

menu à la carte no jantar. Uma área

Um extenso menu de saquês

Laurent Hervé desde setembro

especial de “coffee shop” disponível

proporciona um grau extra de

de 2007. Seu segredo é valorizar a

aos hóspedes e visitantes do

legitimidade. O restaurante conta

origem dos alimentos e resgatar os

hotel traz um charme especial ao

também com uma sala de jantar

sabores regionais de cada país.

restaurante.

privativa, sushi bar e um extenso terraço ao ar livre com vista para

na cozinha panorâmica, produtos orgânicos, importados, cortes

precisa dizer que já se firmou como uma das melhores opções de Sampa a oferecer uma cozinha japonesa contemporânea e criativa.

nobres de carnes, frutos do mar, legumes e verduras frescas são alguns dos destaques que garantem um menu descomplicado e com receitas caseiras, sem perder

Foto: Tadeu Brunelli

Foto: Tadeu Brunelli

o jardim e espelho d’água. Não

Uma moderna grelha instalada

o toque refinado da gastronomia francesa. Em tempo: Hervé é egresso do Maxim´s, de Paris.

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ARTIGO

Vinhos americanos

Q

uando pensamos em um bom vinho, logo lembramos dos grands crus franceses ou dos DOCG italianos, além, é claro, dos já tradicionalíssimos chilenos, argentinos e sul-africanos. Sim, realmente eles são ótimos. No entanto, temos excelentes vinhos americanos no mercado que são sinônimos de qualidade e sabor. Não tão tradicionais, os vinhos americanos começaram a ganhar notoriedade mundial a partir do Julgamento de Paris, ou Paris Tasting, em 1976. O pequeno evento, realizado no dia 24 de maio daquele ano, é hoje considerado a degustação mais importante do século XX. Menos de 20 pessoas apareceram, incluindo os garçons que serviram os vinhos. O responsável pela organização foi um britânico que possuía uma loja de vinhos em Paris. Um britânico com uma loja de vinhos em Paris? A degustação ocorreu numa sala emprestada, na qual os participantes tiveram de se apressar na saída por conta de uma festa de casamento que viria logo depois. O evento opôs vinhos desconhecidos da Califórnia e os mais famosos vinhos franceses. Somente um jornalista estava lá para cobri-lo. Antes disso, na primavera de 1976, o tal britânico Steven Spurrier foi ao Napa Valley selecionar alguns vinhos chardonnay e cabernet sauvignon para opor aos franceses. Chegando lá, encontrou somente duas dúzias de vinícolas e conseguiu facilmente escolher aqueles vinhos de que gostou. De volta a Paris, Steven retirou de sua loja alguns vinhos franceses que tinha certeza que iriam ofuscar os californianos. Ele escolheu o melhor da França: Château Haut-Brion como um dos cabernets, e o Puligny-Montrachet Les Pucelles du Domaine Leflaive, nos chardonnays. Ninguém jamais acusou Spurrier de ter sido tendencioso na escolha dos franceses. Após a seleção, o britânico convidou alguns amigos para serem juízes. Novamente escolheu os melhores, incluindo o co-proprietário do Domaine de la Romanée-Conti, Aubert de Villaine, e sommeliers de restaurantes três estrelas como Tour d'Argent e Taillevent. Como

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Por RODRiGO DO PRADO*

indicativo do machismo da época, havia apenas uma mulher no júri: Odette Kahn, editora da revista La Revue du Vin de France, a mais famosa publicação francesa do assunto. Cerca de metade dos jurados já tinham experiência com os vinhos do Napa Valley. Aubert de Villaine morou por algum tempo na Califórnia e era casado com uma norte-americana. Os sommeliers já haviam provado alguns vinhos do Napa antes. Outros nunca haviam provado, o que não era de se surpreender devido à escassez de vinhos californianos de qualidade na França, na época. O resultado deste teste, que supostamente era para ser uma humilhação para os americanos, foi surpreendente: nas duas categorias os vencedores foram os vinhos do Napa Valley, o Chardonnay Chateau Montelena e o Stag’s Leap Cabernet Sauvignon, derrotando alguns dos mais tradicionais vinhos da França. Segundo Robert Parker, este evento foi o divisor de águas para o mundo dos vinhos. Também é de lá que vêm nomes importantes como Robert Mondavi, empresário que fundou uma das maiores produtoras dos Estados Unidos e que fez história e gerou polêmica no velho mundo, por criar a ideologia do consumo dos vinhos varietais e abrir as portas do mundo para o novo mundo; e Robert Parker, crítico de vinho que virou referência mundial – sendo outro marco na história do vinho. Os Estados Unidos ocupam hoje o quarto lugar no ranking de maior produtor de vinhos do mundo, ficando atrás apenas da Espanha, itália e França. Apesar do volume total considerável de vinho produzido, há um consumo interno bastante representativo, que gira em torno de 10 litros per capita. É curioso observar que, da mesma forma como acontece nos países que possuem grande tradição, quando buscamos pela seção de vinhos num mercado ou mesmo num Liquor Store nos Estados Unidos, o que se vê, basicamente, é o vinho americano. E alguma coisa de França e itália lá nos fundos da loja. Assim, fica fácil entender o porquê desses vinhos dificilmente chegarem até nós.


ARTIGO

A história do vinho americano é longa e cheia de sobressaltos. Teve início com a colonização no século XVi. quando os ingleses chegaram aos Estados Unidos, ficaram bem impressionados com a quantidade de uvas que já se plantava naquelas terras (eram mais de 12 espécies). imaginou-se que o vinho seria uma das boas coisas do novo mundo, mas as uvas ali cultivadas, quando vinificadas, tinham sabor esquisito. E as diversas tentativas de se plantar videiras europeias em solo americano foram por um longo tempo em vão, até que se descobrisse porque elas não vingavam naquelas terras – a presença de uma praga que viria, tempos depois, avassalar as videiras de todo o velho mundo: a phyloxera. Depois disso, Os EUA ainda enfrentaram a peste negra, a Guerra Civil e a Lei Seca, que proibiu a venda e o consumo de qualquer bebida alcoólica de 1918 a 1933. E assim, descobriram o vinho caseiro, e sua produção ilegal espalhou-se por diversas regiões. Apesar de todas as barreiras, a produção vinícola floresceu e tem dado bons frutos, com destaque para Califórnia, Oregon e Washington, na costa oeste, e Nova iorque, Pensilvânia e Virginia, na costa leste. Hoje o país é um dos únicos, junto com a França, que possui mais de 40 vinhos pontuados com 100 pontos na renomada revista Wine Advocate. Entre estes, irei citar alguns da lista dos melhores vinhos americanos de todos os tempos de Robert Parker. Alguns outros vinhos, como os Fume Blanc e o Opus One, de produção da vinícola de Robert Mondavi, mesmo sendo muito famosos não estão na lista abaixo, onde só constam os rótulos pontuados com 100 pontos por Robert Parker. * RODRiGO DO PRADO é restaurateur e diretor do espaço Gourmet escola de Gastronomia, Curitiba.

Chateau Montelena

OS TOp 100 pONTOS DE ROBERT pARKER Valores em dólares americanos

2002 Abreu Cabernet Sauvignon Thorevilos $649-$765

2007 quilceda Creek Cabernet Sauvignon $170-$395

1997 Abreu Cabernet Sauvignon Madrona Ranch $599-$785

2007 Saxum James Berry Vineyard Proprietary Red $225-$330

1997 Bryant Family Vineyard Cabernet Sauvignon $1000-$1250

2007 Scarecrow Cabernet Sauvignon $525-$1000

2002 Colgin Cabernet Sauvignon Tychson Hill Vineyard $895

2006 Schrader Cellars Cabernet Sauvignon Ccs $799

2007 Colgin iX Proprietary Red Estate $450-$500

2007 Schrader Cellars Cabernet Sauvignon Ccs $425

1992 Dalla Valle Maya Proprietary Red Wine $550-$1248

2006 Schrader Cellars Cabernet Sauvignon Old Sparky $100-$200

2007 Dana Estates Cabernet Sauvignon Lotus Vineyard $274-$450

1997 Screaming Eagle Cabernet Sauvignon $3300-$11250

1997 Harlan Estate Proprietary Red Wine $925-$2148 2001 Harlan Estate Proprietary Red Wine $769-$2000

2002 Shafer Vineyards Cabernet Sauvignon Hillside Select $374$759

1994 Harlan Estate Proprietary Red Wine $899-$2148

2003 Sine qua Non The inaugural (Syrah) $700-$1397

2002 Paul Hobbs Cabernet Sauvignon Beckstoffer To Kalon Vineyard $420-$1292

2004 Sine qua Non Poker Face (Syrah) $490-$585

2002 quilceda Creek Cabernet Sauvignon $265-$399 2003 quilceda Creek Cabernet Sauvignon $245-$550

2002 Sine qua Non Just For The Love of it (Syrah) $565-$1624 2005 Sine qua Non The 17th Nail in My Cranium Eleven Confessions Vineyard $400

2005 quilceda Creek Cabernet Sauvignon $189-$428

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Fotos: Divulgação

HOTEL

AVENIDA ATLÂNTICA, 2964

Rio, eu gosto de você/A morena vai sambar/Seu corpo todo balançar/Rio de sol, de céu, de mar/Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão/Copacabana, Copacabana Tom Jobim Por Ataíde Nemésio, com assessorias Ao invés do endereço da Rua Nascimento Silva 107 e falar com a Elizete, Gastronomia & Turismo resolveu assuntar a assessoria do Pestana Rio Atlantica para saber a quantas anda esse empreendimento na avenida mais famosa do Brasil – fazendo justiça, junto com a Paulista. O hotel passou recentemente por uma reforma de peso (R$ 18 milhões), modernizando todos os seus apartamentos e modificando as áreas de lazer, convenções, restaurante, entre outros renovamentos. “Na fachada e infraestrutura foram implantados elementos de eficiência energética e arquitetura sustentável. O resultado é uma unidade moderna e eficiente, preparada para o Pedro Reimão futuro, e que simboliza o esforço de renovação da nossa gestão, da nossa equipe e do serviço que oferecemos a nossos clientes”, disse Pedro Reimão, diretor presidente do Grupo Pestana no Brasil. No compasso da economia e arquitetura sustentáveis, o hotel esquadrinhou medidas ecológicas em seu novo layout. 38 G&T

O sistema de reutilização de águas cinzas (águas reutilizáveis), em circuito fechado, permite recuperar um equivalente a 30% do consumo de água. O projeto elétrico também foi totalmente renovado, com utilização de lâmpadas LED, que gastam cinco vezes menos energia e têm vida útil cinco vezes superior. Outra medida adotada foi na área de convenções, reformada por inteiro, criando um ambiente universal, sofisticado e aconchegante, para todos os tipos de evento. O espaço contém salas em três andares diferentes, algumas delas com entrada de luz natural e áreas abertas com vista para o mar. A cobertura ficou um show. Piscina, spa (gerenciado pela Shishindo), ginásio, jacuzzi e solarium. Um deck bar foi instalado no local e garante uma vista magnífica de Copacabana, desde o Forte (Posto 6) até ao Morro do Pão de Açúcar (detrás do Leme). Ou seja, você no seu barzinho, dentro da piscina, tomando seu drink com aquele vistão! Happy hours rolam, animação geral ao som de uma boa música. O arquiteto responsável pela obra, Jaime Moraes, tirou os carpetes de todos os ambientes e optou por cores claras, espelhos e madeira, deixando a decoração mais arejada e moderna, inclusive nos corredores de acesso


HOTEL

Deck bar aos quartos. Moraes é o craque que assinou diversos projetos do Grupo Pestana. No Brasil, foi responsável pelo Pestana Convento do Carmo, em Salvador, Pestana Curitiba, Pestana Natal, Pestana Bahia e Pestana São Luís. Em Portugal, assinou o Pestana Promenade, Pestana Porto Santo e Pousada do Porto e Pousada de Cascais, além de unidades na Argentina e Venezuela. “A modernização do Hotel Pestana Rio Atlantica pretende, em primeiro lugar, integrar seus apartamentos no discurso contemporâneo do design, expressando a leveza do espírito casual carioca, oferecendo o conforto não somente no ergonômico, mas também o estético, como a claridade que se aproxima da luz exterior do Rio, e no ambiente com a utilização de materiais antialérgicos em todos os quartos”, analisou o arquiteto Jaime Moraes.

Renato Vicente pilota restaurante e se consagra um dos maiores chefs brasileiros

O Cais da Ribeira, nome que remonta à tradicional cidade do Porto, em Portugal, onde o cais do Rio Douro tornou-se point gastronômico, oferece o melhor da culinária portuguesa contemporânea, somada à descontração do carioca. Em uma varanda com a bela vista panorâmica da praia de Copacabana, um dos cartões postais da cidade do Rio de Janeiro, o restaurante fica localizado no lobby do hotel Pestana Rio Atlântica e funciona em esquema de buffet, para o café-da-manhã e almoço, e "à la carte" no jantar – com um cardápio exclusivo assinado pelo chef Renato Vicente. No menu, que oferece os melhores ingredientes da culinária portuguesa – desde o azeite até a escolha do bacalhau –, há

Chef Renato Vicente

Foto: Leonardo Rozário

O MELHOR DA COZINHA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA

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HOTEL

muitas opções de entradas: uma deliciosa degustação de Tapas Lusitanas. Como prato principal, os carros-chefes do restaurante são o Bacalhau à Lagareiro, composto por lombo de bacalhau assado, batatas a murro, pimentões e alho, e a Cataplana de frutos do mar, com porções para uma ou duas pessoas, que inclui robalo, lulas, polvo, camarões, lagostas e mexilhões. Na hora da sobremesa, o Cais da Ribeira convida a uma deliciosa incursão pelos tradicionais doces portugueses, como os Pastéis de nata de Belém, Toucinho do céu, Fios d’ovos, Dom Rodrigo à algarvia e Mimos de Azeitão. Para acompanhar a refeição, o restaurante reformulou a sua carta de vinhos para harmonizar com os pratos degustados. São os melhores rótulos nacionais e internacionais de champagnes, espumantes, vinhos brancos, vinhos tintos e, como não poderia faltar, o tradicional e digestivo vinho do Porto. O chef Renato Vicente, que comanda o restaurante desde fevereiro de 2008 como chef executivo dos hotéis Pestana Rio Atlântica e Pestana Angra Beach Bungalows, lançará, em março, o novo cardápio do restaurante, no qual firma-se como chef da culinária portuguesa. Em sua trajetória, Renato participou do concurso mais importante da gastronomia mundial, o Bocuse D'Or, e trabalhou em restaurantes na Bélgica e Argentina. No Brasil, foi responsável pelos restaurantes de grandes hotéis em São Paulo, como o Caesar Park, Sheraton e Maksoud Plaza. Trabalhou por 15 anos no Le Méridien Copacabana, sendo cinco deles como sub-chef do Le Saint Honoré, na época do chef Pierre Landry. Chegou à posição de chef executivo do hotel e se tornou responsável por todos os banquetes realizados. No Cais da Ribeira, trouxe, com seus anos de experiência na culinária francesa, o capricho e o detalhismo dessa cozinha para a tradicional cozinha portuguesa. 40 G&T

LOUVOR A COPACABANA

Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia. José Saramago

Se já é difícil dizer qual a mais bela vista do Rio, quanto mais afirmar qual a melhor vista da praia de Copacabana... Com décadas de Portugal, décadas de Brasil e décadas mundo afora, estou gabaritado a asseverar que, indubitavelmente, a grande angular do terraço-piscina do Pestana Atlantica merece, com tranquilidade, a locução adjetiva hors concours. Escrevo estas palavras na madrugada da morte de Oscar Niemeyer, gênio maior da raça e do traço, parvamente criticado por aqueles que confundem política com arte. O mundo reverencia-se, e o esteta agradece do céu. Então, neste palco de ótimos eventos, com os melhores acepipes e bebidinhas – o Deck Bar do Pestana –, deito os olhos à princesinha do mar e reverencio a cidade maravilhosa e o bairro de Rubem Fonseca. Com minha capa de Mandrake, o sol nascendo, o luto momentâneo pelo mestre, viajo pelos meus amores de outrora e as esbórnias vividas. Acendo um charuto bahiano, dou mais um trago na bebida e, ateu, agradeço a deus (substantivo comum) pela generosidade concedida. Na dúvida entre dar um salto à Av. Prado Júnior e ver as amigas, comer um sanduíche e tomar um chope no Cervantes ou dormir para encarar um bacalhau no restaurante do hotel no “dia seguinte”, deixo ao leitor a decisão, lembrando apenas que as três opções são sempre possíveis. (AN)


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CARIBE

ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS

O PARAÍSO EXISTE E ESTÁ LOGO ALI; PARA OS ROMÂNTICOS (LEIA-SE APAIXONADOS), CASAR NÃO DEMORA MAIS DO QUE ALGUMAS HORAS Por ADiR NASSER JR. ATAÍDE NEMÉSiO, COM ASSESSORiAS Fotos: Divulgação


Vista aÊrea de Cane Garden Bay, localizado na ilha de Tortola, uma das melhores praias com boates e diversas opçþes de restaurantes


CARIBE

O

nome pomposo com que foram batizadas – Santa Úrsula y las Once Mil Vírgenes – é sugestivo da grandiosidade das belezas naturais que as cercam. Hoje, as Ilhas Virgens Britânicas, parcela oriental do arquipélago “descoberto” pelos europeus em 1493, fazem valer estes atrativos e os capitalizam, sendo responsáveis pela visitação de 338 mil turistas no ano passado, acompanhando o crescimento geral do turismo no Caribe, segundo dados da Organização Mundial do Turismo (UNTWO). O território das chamadas Ilhas Virgens – que compreende hoje também as Ilhas Virgens Americanas, além de ilhas próximas a Porto Rico, ditas Ilhas Virgens Espanholas, mas igualmente sob domínio americano – foi disputado por ingleses, holandeses, franceses, espanhóis e dinamarqueses. A parcela que pertencia aos dinamarqueses passou em 1917 ao controle norte-americano, ocasião em que o território sob o controle de Londres adquiriu o selo de “Britânico”. Neste pedaço do Caribe sob a égide da rainha, são cinco as ilhas principais – Tortola, Virgin Gorda, Anegada e Jost Van Dyke – e diversas ilhotas que desde Cristóvão Colombo, responsável pelo batismo pomposo, foram alvo de cobiça por se mostrarem estratégicas para os navegantes, sobretudo corsários e piratas. Hoje, a par das atividades financeiras, o turismo é a grande fonte de receita do arquipélago. Não é por menos: as Ilhas Virgens Britânicas oferecem inúmeras opções para passeios, de acordo com a personalidade e o estilo de cada viajante. O conjunto de ilhas e ilhotas proporciona paradisíacas paisagens, como praias, iates, hotéis, resorts, vilas, ilhas particulares, ruínas históricas, parques nacionais e muitos outros para satisfazer todos os gostos.

Spa Peter Island: jacuzzi na beira da praia

Spa Peter Island: piscina alta, com vista para o mar

A seguir, o roteiro trip&fun feito por Gastronomia & Turismo com informações do Orgão Oficial de Turismo das Ilhas Virgens Britânicas.

Opções Os spas são uma ótima opção para relaxar aproveitar a paisagem estonteante em clima de relaxamento. Uma das alternativas é o Peter Island, onde 10 suítes e duas supersuítes oferecem vista para o mar ou para jardins tropicais do local. Para quem busca mais conforto e privacidade, o Peter Island oferece suítes privadas com vista para o mar, jacuzzi e mesas de massagens no quarto. 44 G&T

Ilha de Anegada, a única ilha de coral, chama atenção pelos recifes e corais impressionantes que a rodeiam


CARIBE

A ilha Necker, do multibilionário Richard Branson, é um espaço exclusivo. Já o luxo supremo é buscado em North Sound, em Virgin Gorda, com vilas magníficas, restaurantes de altíssimo nível e resorts para poucos. Já para o mais pitoresco e acessível, uma parada bacana são os bares de Jost Van Dyke, reputados entre os melhores do Caribe para um happy hour. Entre as dicas ficam o Soggy Dollar e o Foxy.

Baía do Diabo, Virgen Gorda

Mergulho em “Wreck of the Rhone”

Outra boa opção de passeio é o mergulho e o snorkeling, favorecidos pela vasta biodiversidade, marina e águas cristalinas. Um dos melhores pontos de mergulho é o Wreck of the Rhone, que se situa na Ilha Salt, onde o RMS Rhone, um navio de casco de ferro, afundou em 1867 e se encontra partido ao meio no fundo do oceano. Já o melhor ponto para a prática de snorkeling encontra-se na praia The Baths, em Virgin Gorda, onde grandes rochas de granito empilhadas e espalhadas ao longo de areias brancas formam cavernas e grutas com lagoas rasas cristalinas.

Rota para brasileiros Para o turista que parte do Brasil, a rota menos cansativa para este paraíso, num percurso que dura cerca de 16 horas, se dá pelo aeroporto de San Juan, em Porto Rico. Os voos de conexão seguem de lá para Tortola – Aeroporto Terrence B.Lettsome – e para Virgin Gorda. Embora brasileiros não precisem de visto para ingressar nas Ilhas Virgens Britânicas, no caso de se atravessar os Estados Unidos ou Porto Rico, será necessário o visto americano. Chegando ao arquipélago, é possível obter visto de permanência válido por um mês, mediante apresentação da passagem de volta.

Povo Neste lugar de belezas naturais e paisagens paradisíacas que oferece sofisticação, conforto e diversão, o turista vai enconG&T 45


CARIBE

trar uma população predominantemente de origem africana – cerca de 90%, os outros 10% são compostos de indígenas, indianos, brancos e naturais do Oriente Médio –, que, embora receba bem os visitantes, costuma ser mais formal no trato cotidiano do que os brasileiros. Por exemplo, os virginenses consideram uma grande falta de respeito chamar alguém gritando pelo nome em público ou fazer perguntas sobre o paradeiro ou negócios de alguém. Por serem mais formais, os mais velhos tratam amigos próximos como "mister" ou "miss".

SABORES A cozinha virginense típica alinha-se ao perfil geral da alimentação caribenha, com algumas características próprias. Entre as iguarias peculiares estão as variações de pão de milho e pratos de ervilhas com arroz. As carnes incluem os peixes frescos e salgados da região, carneiro e cabra; entre os vegetais que dão o sabor próprio às ilhas Virgens estão a taioba, a batata-doce e as bananas da terra. Nos restaurantes das ilhas Virgens, há ainda diversos tipos de sopas como a de peixe, de cabeça de bode, de ervilhas e de abóbora. Um jantar típico do arquipélago segue o estilo caribenho, com influência indiana, composto por pão rôti e polenta ao funghi feita com milho e quiabo. FICOU MAIS FÁCIL SE CASAR NAS ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS

Logo surgiu a ideia entre estrangeiros de celebrarem o casamento no próprio arquipélago. Este importante nicho turístico acaba de ganhar um impulso do governo local. Agora, subir ao altar ficou mais fácil, sendo possível realizar a cerimônia em apenas 24 horas de chegada à ilha. O governo das ilhas Virgens Britânicas fez mudanças significativas para alterar a Certidão de Casamento. O tempo de residência para “licença especial” foi reduzido de três para um dia e todos os passos para obter a licença foram transferidos para o Registro Civil. Dessa forma, o processo de casamento ficou muito mais rápido. Graças a estas mudanças, os noivos podem realizar a cerimônia no Escritório de Registro Civil. Basta apresentar documento de identidade (passaporte), documentação que ateste o estado civil, duas testemunhas e, assim, solicitar e obter sua certidão de casamento. A Taxa de Licença Especial é de US$ 220. Os casais ainda têm a opção de preencher a solicitação de casamento online antes de chegar ao território. É só enviar as informações pelo novo Sistema de informação de Registro Civil pelo site www.bvi.gov.vg. Para solicitar pessoalmente uma certidão de casamento ou qualquer outro serviço sobre o assunto, o turista pode ir ao Escritório de Registro Civil e Passaporte, que está localizado na ilha de Tortola. E parabéns aos noivos!

O cenário caribenho paradisíaco das ilhas Virgens sempre se mostrou perfeito para uma memorável lua de mel.

DICAS G&T MELHOR ÉPOCA As temperaturas são agradáveis o ano todo; durante o inverno, vão de 22°C a 28°C; no verão, de 26°C a 31°C. Chove pouco na região – mais nos meses de maio a novembro. Cuidado com os meses de julho a outubro, pois há risco de furacões.

COMO CHEGAR Não existem voos diretos dos EUA para o principal aeroporto, Terrence B. Lettsome (EIS), na ilha Beef, junto a Tortola. O caminho mais rápido para chegar às ilhas é através de San Juan, em Porto Rico. Voos com conexões frequentes são oferecidos pela Air Sunshine, LIAT, American Eagle e Cape Air.

HOSPEDAGEM Em um lugar paradisíaco como as Ilhas Virgens, não poderia faltar grandes hotéis e resorts 5 estrelas. Na cidade de Tortola, o Peter Island Resort combina ambiente de luxo com serviços estrelados e uma extensa vista para o mar. Em Virgen Gorda, a água azul e tranquila dá lugar para o Rosewood Little Dix Villas. O resort boutique oferece ótimos restaurantes, um spa premiado e quartos à beira-mar.

ALIMENTAÇÃO Para chegar ao restaurante do Resort Biras Creek, em Virgen Gorda, é preciso ir de barco e reservar com antecedência. À noite os homens precisam usar calças e camisas de colarinho. O lombo de cordeiro assado com molho de hortelã e alcaparras é uma ótima pedida. Caso a preferência seja por algo menos badalado, o café italiano Capriccio di Mare, em Tortola, é um ótimo lugar para desfrutar uma refeição rápida, saborear bebidas frias e curtir a paisagem.

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INFORMAÇõES GERAIS Capital: Road Town População: 21.730 de habitantes Língua: inglês Moeda: dólar americano Fuso horário: 1h a menos em relação a Brasília Documentação: como não existem voos diretos do Brasil, é preciso ter o visto americano de trânsito


Turismo

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ÁFRICA

ENSAiO

Por ATAÍDE NEMÉSiO

África oriental de gosto salgado da guerra, vermelha do ardor da ferida e turquesa porque senão não dá Anoitecer em Moçambique

A

pimenta mais ardida do mundo, camarões espetaculares e lagostas fabulosas coloridas pelo mimetismo do Índico, sem mencionar a Paradise island, apelido da ilha Santa Carolina, uma das ilhas do arquipélago de Bazaruto. Meu sangue negroide tem origem em Moçambique, quando a capital era Lourenço Marques. Amador da caça e dos acampamentos, dos mergulhos submarinos vislumbrando cobras marinhas e dropando ondas oceanos afora sobre corais que emergiam. O jantar era sempre o momento da recompensa pela sobrevivência do dia: camarões gigantes, lagostas enormes e champã de uma única região – na época, década de 1970, era o que existia e o que se usava fazer. A África, o exclusivíssimo paraíso do turismo de aventura de luxo europeu e norte-americano. Amy Vanderbilt era a rainha da etiqueta mundana e ibrahim Sued a coqueluche do colunismo social carioca.

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ÁFRICA

Vestíamos uma mentalidade colonial, predadora, com casacos de pele de leopardo pendurados nos armários chiques das mansões do Norte. Tiros certeiros de carabinas potentes, com ou sem lunetas, do jipe ou a pé na savana dos big five: elefante, leão, rinoceronte, búfalo e leopardo. Ainda, voos baixos quase rasantes de monomotores na imensidão do oceano infestado de tubarões; e nenhum desses voos jamais deu pane. A mentalidade evoluiu e fizemos a mea culpa – tal rei ibérico em tempos atuais. As então províncias ultramarinas de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau enfrentavam as tropas portuguesas desde a década anterior em sua luta pela independência. No Portugal, o preto era a cor constante nas cidades e interior – um preto que tardava anos a sair de cima das mães e das viúvas; os pais, com corações petrificados.

Tonga da mironga do kabuletê, aqui sem valor semântico (apesar de tê-lo), apenas sonoro, afinal, falamos idiomas parentes 25 de Abril de 1974 irrompe em meio a cravos espetados nos canos das metralhadoras em Lisboa, e um bando de brasileiros “subversivos” invade as pensões e casas de amigos no exterior. Nossa política externa seguia a doutrina do “pragmatismo responsável”, no qual ideologia é uma coisa, e interesse é outra. Vale até hoje!? A Guerra do Ultramar cessa e vem a independência das antigas colônias. Aquela é substituída pela guerra civil. Agora não mais brancos contra

Descanso do leopardo no Parque Nacional Kruger

negros. São facções políticas e tribos rivais que se enfrentam durante quase duas décadas: nações que encontram a desolação, miséria, mutilação física e moral. Em 1980, já com artrite, conheci mercenários portugueses no Jobi, em pleno Baixo Leblon. Mas eu mirava a América Central. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,/Muda-se o ser, muda-se a confiança;/Todo o Mundo é composto de mudança,/ Tomando sempre novas qualidades. (Camões). Em pleno século 21 – era da internet, do ecstasy, da milenar seruma, do turismo massivo com antidepressivos e o real em alta –, a festa em Moçambique é impregnada de malemolência, e a desdita espantada pelo sorriso nativo, franco e amistoso, no último paraíso terrestre. Alguns turistas neuróticos preocupados com espreguiçadeiras e barracas de sol – estas difíceis de encontrar em Vilanculos (local de procedência da pimenta dos deuses tropicais em fúria). Outros, absorvidos em mergulhar nos corais espetaculares de Bazaruto para irem ao encontro de baleias, tartarugas, golfinhos, raias (com e sem ferrões) e cações irados. Naqueles anos de guerra civil, o Parque Nacional de Bazaruto foi um “entreposto” de paz em meio ao massacre. Afinal, a natureza é uma mesma moeda que pode ser vista desde a perspectiva do mergulhador pacifista quanto do sanguinário soldado. Onde há sangue há vida – ou houve: a África não é para iniciantes. Coquetel de beleza e desgraça – Seca, aids, pobreza: não falo do Nordeste brasileiro, mas da Moçambique G&T 49


ÁFRICA

Suíte do Hotel Quilálea endêmica, com cheiro de sangue, suor e lágrimas. África sem safári tem sabor de falta. Então, jipes e câmeras, solavancos, calor e, finalmente, o frente a frente com os animais selvagens na época do politicamente correto – só não vá pensar que o leão gosta de você. Estamos no Parque Nacional Kruger, com 19 mil km², que começa na África do Sul e

Resort Indigo Bay Island Em tempo: o estado do Rio de Janeiro tem 43,5 mil km², também com belas espécies desfilando pelas praias. pÉROLAS: •

rimbas, província de Cabo Delgado. Hospedagem

adentra terras moçambicanas com outro nome. O Kruger faz fronteira com o Parque Nacional do Limpopo (Moçambique) e com o Parque Nacional de Gonarezhou (Zimbábue), com uma área de 35 mil km², batizada de Parque Transfronteiriço Grande Limpopo.

ilha de quilálea e ilha do ibo, arquipélago das quiem quilálea: Azura. No ibo: ibo island Lodge.

ilha de Bazaruto, arquipélago de Bazaruto, inhambane. Hospedagem: Pestana Bazaruto Lodge ou indigo Bay island Resort &Spa.

DICAS G&T MELHOR ÉPOCA Durante os meses de inverno, de abril a setembro, a temperatura média é de 27°C e chove pouco, sendo assim, essa é a melhor época para uma visita. No verão, de outubro a março, os termômetros marcam a máxima de até 40°C e muita chuva; lembrando que a média da temperatura de Moçambique é de 28°C o ano todo.

COMO CHEGAR Para chegar ao aeroporto internacional de Maputo, embarque no Brasil direto a Johanesburg, África do Sul; de lá para Maputo em voos diários. Existem outros aeroportos menos importantes em Moçambique, que dão acesso a qualquer parte do país; entre eles está o da cidade de Beira e Nampula.

HOSPEDAGEM A cidade de Maputo possui ótimos hotéis 5 estrelas, entre os quais o Hotel Polana Serena, no centro, perto de praticamente tudo que é história na região. O próprio hotel já é história, com uma arquitetura majestosa de um passado que remonta a 1922. Agora se a preferência é uma vista para o mar, o Hotel Indigo Bay Island Resort, no arquipélago de Bazaruto, oferece chalés de praia com chuveiros ao ar livre, vilas exclusivas para a família e um chalé de núpcias isolado do resto dos hóspedes.

ALIMENTAÇÃO Os hotéis oferecem restaurantes de qualidade em Moçambique, mas existem outras opções para provar a comida portuguesa ou frutos do mar como o camarão-tigre. O Marina Waterfront tem vista para a baía de Maputo, serve frutos do mar e é possível alugar a quadra de tênis por hora.

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INFORMAÇõES GERAIS Capital: Maputo População: 24.000.000 de habitantes Língua: portuguesa Moeda: metical Cotação: 1 dólar = 30 meticais Fuso horário: 5h a mais em relação a Brasília Documentação: é necessário passaporte com 6 meses de validade e visto emitido pela embaixada de Moçambique em Brasília


RESTAURAnTE

UM FrANCÊS

eSPeCiALÍSSiMO

L'indigestion a été inventée par le bon Dieu pour faire la morale aux estomacs (indigestão é uma criação de deus para impor uma certa moralidade ao estômago) Victor hugo Por ATAÍDE NEMÉSiO, COM ASSESSORiAS Fotos: Divulgação

Roland Villard

Foto: Paulo Marcos

“risoto de amêndoas grelhadas com vieiras, camarões e lagosta e molho de vôngole”. Gostou da sugestão? Bem, caso o leitor não aprecie frutos do mar, salte umas linhas e encontrará algo delicioso que lhe atenda o gosto: um bom cardápio é aquele no qual sempre encontramos várias opções que satisfaçam ao paladar: um bom restaurante é aquele onde a simbiose do chef com a casa é leve, equilibrada – sempre ajudada pela interação do sommelier e do maître nesta sinergia, digamos, alimentar. Poesia, filosofia e gastronomia podem conviver em harmonia, por isso convidei Victor Hugo e Millôr Fernandes para acompanharemme (e inspirar) no labor periodístico. Le Pré Catelan, considerado um dos melhores restaurantes franceses do Brasil, cumpre as diretrizes acima. Localizado em um dos pontos privilegiados da orla, com belíssima vista, o restaurante gastronômico do Sofitel Rio de Janeiro Copacabana exibe uma decoração que alia requinte e modernidade: o bar revestido de madrepérola importada das Filipinas e as mesas com vista para a praia de Copacabana. No restaurante, os arquitetos franceses escolheram cinco lustres de cristais austríacos Swarowski. O local traz também iluminação com lâmpadas led, de alta tecnologia, que dão ao ambiente nuances de cores nas cortinas de voiles brancos. O restaurante oferece ainda uma área reservada, destinada a grupos de, no máximo, 16 pessoas; em tom avermelhado, é chamado de “Salon Rouge”; e o objetivo, oferecer ao cliente o chamado luxo customizado. “Recebemos muitos pedidos de executivos que gostariam de marcar reuniões durante almoços no Le Pré Catelan. Sem dúvidas, temos as melhores condições para atendê-los”, afirma o chef Roland Villard, nascido em uma família de sete crianças em Saint-Etienne, a 60 km de Lyon. Em casa, ele rapidamente compreendeu o privilégio de compartilhar seu gosto pela cozinha, oferecendo à família emoção. “Adoro transformar os produtos que não podemos comer crus, como ovos, farinha, manteiga... Cozidos, eles se transformam – parece que por mágica – num delicioso bolo”. G&T 51


RESTAURANTE

Tartare de tomate e azeitona com rillette de atum e molho de pesto com manjericão

O gourmet é um comilão erudito

Salon Rouge, o salão privado do Le Pré Catelan

Millôr Fernandes

Mágico, poeta, inventivo, alquimista ou cartesiano, no menu elaborado por Villard estão presentes criações que são sucesso entre os clientes: “rigatonis gratinados com parmesão, recheados de codorna, cogumelos do bosque e foie gras”; “costela de Tambaqui (peixe da Amazônia), mousse de batata baroa defumada e molho de tomilho” e o já comentado “risoto de amêndoas grelhadas com vieiras, camarões e lagosta e molho de vôngole”. O menu “Viagem Gastronômica à Amazônia”, é uma das grandes atrações do restaurante e mistura a técnica de preparo francesa aos ingredientes típicos da região brasileira. “Esse cardápio é diferente de tudo o que já criei anteriormente. É muito importante que a riqueza e variedade dos ingredientes da Amazônia sejam apreciadas tanto pelos próprios brasileiros como pelos estrangeiros, que, como eu, se encantam com a descoberta diária de infinitos e exóticos sabores”, afirma Villard. Audacioso com felicidade, o chef acrescentou, há cerca de um ano, deleitosas receitas ao cardápio do Le Pré Catelan. As trilogias – três diferentes formas de preparo de um mesmo ingrediente –, que são servidas como opções de entradas no Le Pré Catelan, ganharam duas novas versões. A trilogia de foie gras é composta por “ballotine e chutney de goiabada cascão, royal de foie gras e licor do porto, em panela com fru52 G&T

MENU DA AMAZÔNIA Blinis de moqueca e camarão grelhado com creme e farofa de castanha do Pará


RESTAURANTE

bremesa é feita do começo ao fim na frente do cliente, que acompanha desde o passo-a-passo até o momento mais gostoso da noite, que é o de experimentar as crepes.

Vous voyez ce que la douceur a fait sur son esprit

(Veja o efeito da doçura em seu espírito) Marquise de Sévigné

Roland comanda o Le Pré Catelan há 15 anos e, neste período, 1.800 receitas diferentes já foram criadas por ele na espaçosa cozinha de mil metros quadrados do restaurante.

A vista do restaurante

Javali defumado empanado, tartufa de massa fresca, molho de vinho tinto tas secas caramelizadas”; e a trilogia de crustáceos oferece “trouxinha crocante de lagosta, lagostine e vieiras na chapa sobre chutney de tomate, cocktail de camarão com salada de palmito grelhado”. Ele ensina: “As trilogias são um clássico do restaurante, e eu particularmente adoro pesquisar, testar e criar novas receitas de trilogias, explorando todas as suas possibilidades. Além disso, elas permitem ao cliente experimentar o mesmo produto feito de diferentes maneiras”. Os destaques dos pratos principais são: “escalope de badejo grelhado sobre brandade de bacalhau, molho de moqueca”; “filé de robalo com blinis de banana, molho cítrico de leite de coco”; “duo de costela de javali: defumado, sauté e tagliolini de trufas” e “fatias de lombo de cordeiro assado no forno, panqueca de milho verde e berinjela recheada com kafta de cordeiro”. Dentre as sobremesas, algumas imperdíveis são o “gratin de frutas vermelhas” e as tradicionais “crepes suzetes flambadas ao Cointreau e sorvete à escolha”. Esta última sobremesa, inclusive, é uma das mais pedidas no restaurante, porque, além de deliciosa, oferece aos clientes um verdadeiro show no preparo, uma animação no salão, pois a so-

Na carta de vinhos constam cerca de 40 rótulos franceses, incluindo os austeros e sofisticados Bordeaux, os do Loire, os da Borgonha, região conhecida pelos melhores chardonnays do mundo, os famosos tintos de Côtes du Rhône e os da Alsace. Há também vinhos portugueses, como os típicos vinhos verdes e os brancos maduros, com mais maciez e corpo. O maître e premiado sommelier Jean Pierre, natural da Ilha Réunion, próxima a Madagascar, é um especialista na arte de receber e de servir. "Temos hoje uma das melhores cartas de vinho do Brasil", afirma. Um dos maiores prazeres de Jean Pierre é harmonizar os vinhos com os pratos criados pelo chef Villard. “A escolha de um vinho pode ressaltar todas as qualidades de um prato ou de um ingrediente, mas também pode destruí-las. Ajudar os clientes a achar a melhor opção de vinho é sempre um prazer”. Mesa do chef “Table du chef” é um serviço exclusivo oferecido pelo hotel, além de ser pioneiro na cidade. Os convidados – sempre quatro pessoas – são recebidos pelo chef Roland Villard em seu escritório, na cozinha do Sofitel, e podem degustar um jantar preparado especialmente para eles. Na ocasião, um menu tipo degustação, sem limite de pratos, é oferecido pelo chef, que faz questão preparar de todas as receitas na cozinha e, depois, apresentá-las aos clientes. Geralmente, Roland serve diversas trilogias, como trio de sopas, crustáceos, foie gras, carne, massa, etc., que permitem mostrar a versatilidade dos ingredientes utilizados e trabalhar com diferentes texturas, temperaturas e contrastes. O movimento constante da cozinha pode ser observado pelos comensais de dentro da sala do chef, onde ficam confortavelmente instalados em um ambiente com ar-condicionado, música e até mesmo uma pequena biblioteca gastronômica à disposição durante toda a noite. Ao final da “maratona”, os clientes recebem um certificado com a descrição de todos os pratos degustados na ocasião. O atual recorde do restaurante é de 42 receitas, batido em agosto de 2012. G&T 53


FOZ DO IGUAÇU

Foz do Iguaçu é uma das maiores massas de água doce do planeta

FOZ DO IGUAÇU, sempre um ótimo destino Por ADiR NASSER JR.

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Atrações para todos os gostos na maravilhosa tríplice fronteira

S

empre haverá um bom motivo para visitar Foz do iguaçu. Se não forem suficientes as belezas das cataratas e do Parque Nacional do iguaçu, que atraem 2,5 milhões de pessoas por ano, e o encanto do gigantismo de itaipu Binacional, a cidade da tríplice fronteira oferece seu parque hoteleiro – hoje o quarto maior do Brasil, com 22 mil leitos – para acolher viajantes de todo o mundo interessados no turismo de aventura, turismo de compras e jogos no além-fronteira, e no sempre fervilhante mercado de eventos. Os atrativos naturais continuam a ser o propulsor do turismo na cidade. As Cataratas do iguaçu, com suas 19 quedas principais e dezenas de outras na fronteira entre Brasil e Argentina, ponto consagrado do turismo mundial e tombado pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade, ganharam impulso com a eleição como uma das sete maravilhas naturais do planeta, pela fundação suíça New Seven Wonders. G&T 55


FOZ DO IGUAÇU

A natureza preservada em torno das cataratas, no Parque Nacional do Iguaçu, nos dois lados da fronteira, é não apenas um encanto para os olhos e um bálsamo para os pulmões de quem percorre as suas trilhas, mas também espaço privilegiado para a prática de rapel, tirolesa, arvorismo, sem falar no rafting em águas calmas e em corredeiras. Fontes de águas termais provenientes do Aquífero Guarani são outro atrativo. Deus, homem, natureza Se a natureza é exuberante, o traço humano na cidade é impressionante, expresso nas dezenas de templos religiosos erguidos pelas 72 etnias que colonizaram a região, como as mesquitas e o templo budista. Se o contato homem-transcendente atrai gente de todas as crenças, a obra máxima do engenho humano sobre as forças da natureza em Foz não deixa por menos. Itaipu Binacional é um monumento admirável pelo gigantismo e pela potência, parada obrigatória num roteiro pela cidade. O portento pode ser conhecido em visitas panorâmicas e guiadas no interior da usina. Itaipu mantém ainda um parque astronômico, um refúgio biológico e um ecomuseu. Opções nos vizinhos O comércio nas cidades vizinhas de Puerto Iguazu (Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai) tanto é um complemento às atividades do turista em Foz como um objetivo em si, com os tradicionais sacoleiros em fluxo variável ao longo do ano. O Paraguai, para quem o comércio na fronteira é uma fonte importante de divisas, tem ampliado a venda para

muito além de produtos baratos ou de marcas desconhecidas. Grifes de roupas e grandes marcas de vestuário e eletrônicos podem ser encontradas nas lojas do além-Paraná.

Foz possui o quarto maior parque hoteleiro do Brasil, com 22 mil leitos Já na Argentina, os turistas brasileiros continuam dando vazão a seu gosto por jogos, represado pela lei tupiniquim, entregando-se às máquinas caça-níqueis, e às mesas de blackjack, bacará, roleta americana e poker dos cassinos, também presentes no Paraguai. Eventos e gastronomia A cidade também se reinventa e busca novas formas de cativar o público. Além de procurar se manter como um polo de turismo de eventos – por meio da assessoria gratuita do Iguassu Convention & Visitors Bureau (ICVB) aos agentes deste mercado –, Foz do Iguaçu pretende promover a variedade e as opções gastronômicas de seus mais de 150 restaurantes, um terço dos quais com cozinha de padrão internacional. Típicos da região são os pratos à base de peixes dos rios Paraná e Iguaçu, como o dourado, o surubi e o pacu. As iguarias são legado dos índios que habitavam a região, que, com o passar do tempo, foram aprimorados por chefs trazidos ou formados por grandes hotéis e restaurantes das cidades de fronteira. Mas há muito mais na gastronomia de Foz: restaurantes que oferecem diversificada cozinha brasileira, com culinárias de estados como Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

DICAS G&T MELHOR ÉPOCA Na primavera a temperatura é mais amena e a paisagem mais exuberante, sendo esse o melhor período para visitar as cataratas. Os verões são quentes e os termômetros podem indicar mais de 40°C. Geadas são pouco frequentes no inverno e as chuvas são bem divididas o ano todo.

Como chegar Existem voos diários saindo das principais capitais do país até o Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu. Para brasileiros é possível ir de carro, pela BR 116 e BR 277. A distância de Curitiba a Foz é de 637 km.

HOSPEDAGEM Imagine acordar, abrir a janela e ver uma das 7 Maravilhas do Mundo. O Hotel das Cataratas, o único dentro do Parque Nacional do Iguaçu, que oferece esse tipo de privilégio.

ALIMENTAÇÃO O restaurante Cuisine du Ciel, localizado no Hotel Golden Tulip, tem uma vista fantástica da cidade e é considerado um dos restaurantes mais charmosos de Foz do Iguaçu. Para aqueles que desejam experimentar

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os cortes argentinos, vale uma esticada até Puerto Iguazú e degustar o cardápio das duas churrascarias mais famosas da cidade: El Quincho del Tío Querido e La Rueda.

Informações gerais Estado: Paraná População: 255.000 habitantes Língua: português Moeda: real e dólar Documentação: para quem pretende cruzar a fronteira, precisa da carteira de identidade civil (RG) original ou passaporte; são recusados cópias autenticadas ou documentos como CNH e carteiras profissionais. Menores de 18 anos deverão estar acompanhados pelo pai e pela mãe, no caso da ausência de alguma das partes, o menor deverá portar uma autorização judicial assinada pelo ausente Para saber mais: Iguassu Convention & Visitors Bureau (ICVB): www.iguassu.com.br – Turismo Itaipu: www.turismoitaipu.com.br – Parque Nacional do Iguaçu: www.cataratasdoiguacu.com.br.


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ARTIGO

O SAGUI RANZINZA BÝSTRO! BÝSTRO!

Por Antonio Simão Neto (Genebra) O bistrô, instituição nacional francesa adotada por seus francófonos vizinhos, foi um dia sinônimo de comida boa, rápida e barata. Hoje, quem quiser comer fast food na Suíça vai ter uma grande dificuldade: não tem nada fast por aqui, muito menos food. Não sei o que eles fizeram para impedir as grandes redes e franquias de se estabelecerem aqui e poluírem a paisagem e os paladares, mas seja o que for, funcionou. Talvez obriguem a usar queijo suíço e embutidos locais. Um cheesburguer com gruyère e salsichão branco moído não se encaixaria em um menu americano, com certeza. Nas boulangerires, no entanto, é comum encontrar sandubas assim, lambuzados com mostarda ardida ou raiz forte. Peça um ketchupzinho e seja arremessado para fora pelo proprietário indignado. Pequeno bistrô é uma redundância. Neles, o espaço é mais raro do que um cozinheiro inspirado. Se você resolver experimentar um plat du jour em um desses locais, prepare-se para disputar a passagem entre as minúsculas mesas com clientes apressados (que vão te dar encontrões e depois pedem pardon, como se essa gentileza compensasse sua clavícula deslocada) e com garçons equilibrando perigosamente pratos cheios de molhos escuros e garrafas de vinho em bandejas abarrotadas – justo quando você está de roupa clara.

abaixo da linha da calçada, na qual eram colocadas duas ou três mesinhas nos meses menos frios. Muita gente diz que essa história não procede. Seja como for, o nome ficou, mas rápidos já deixaram de ser há muito tempo. Na França chamam-se de resto rapide os locais onde se serve depressa – nome que traduz muito mal em português: resto rápido não incentiva ninguém a tentar comer em um desses lugares, mesmo que esteja com a maior pressa do mundo. À noite, porém, um kebab num resto rapide acaba sendo a única opção, pois tudo fecha muito cedo. Nos restaurantes mais movimentados, às onze horas da noite todas as cadeiras já se deslocaram para cima das mesas, as luzes já foram se deitar e a conta se materializa misteriosamente sobre a sua mesa. Você arrisca ter de comer salsichão do Vaud, branco e insosso, acompanhado de purê de aipo. Ou rim de carneiro com alguma das horríveis verduras, assim chamadas porque são de um verde exorcista, de abacate caído, revoltante. Pedir carne no prato do dia é uma aventura emocionante. Você poderá ser agraciado com um apetitoso pedaço de carne de veado recém caçado preparado com molho de funcho! O fenouil, sinônimo de horror culinário, é algo que deveria ser banido até dos dicionários para que não restasse traço de sua existência nem mesmo na memória gastronômica.

Se você conseguir uma mesa, prepare-se para a segunda etapa da aventura: descobrir o que são os pratos do dia. Ainda não foi inventado um dicionário que possa ajudar o turista a entender o que podem significar os nomes com que os proprietários dos bistrôs batizam suas criações. Soam bem, mas você logo vai descobrir que não pode comer sons, por mais interessantes que pareçam.

Carne de caça é comumente servida, na temporada. Se estiver muito ruim, a culpa pode ser jogada nos bichos, absolvendo o verdadeiro criminoso, o cozinheiro.

Bem, decida-se (nem que seja fazendo úni-dúni-tê) e peça o seu prato ou menu combinado de entrada, carne ou massa e sobremesa. Um bom conselho é sempre esperar pelo pior: se o prato for ruim, você não tentará se suicidar pulando no lago gelado só de sunga; se for bom... nesse caso comemore indo jantar em um bom restaurante abissínio, somali, filipino ou outro local que sirva comida étnica, que é outro nome para comida com sabor.

Galinhas d'angola, perdizes e outras penosas duras são vegetarianamente servidas no próprio sangue; até quem gosta de um bife ‘boi berrando’ tem um pouco de dificuldade de encarar esses molhos vampirescos.

Esteja também preparado para a demora. Ela está em contradição direta com a própria designação desses lugares. Originalmente, bistrô estava relacionado com comida rápida. Conta-se que a origem do termo remonta à época napoleônica, quando os soldados russos, ao invadirem Paris, tinham pressa para almoçar e costumavam gritar Býstro! Býstro! (“rápido, rápido”, em russo) para os proprietários dos pequenos restaurantes familiares geralmente situados 58 G&T

Há veados, cervos, lebres, javalis e outros seres galhudos ou não, todos democraticamente preparados do mesmo jeito, torrados de um lado só, como se os pobres bichos tivessem sido abatidos com um lança-chamas.

Em suma, almoçar em um bistrô é uma obrigação de todo turista que vem para a França ou para a Suíça, assim como descer em uma montanha russa é dever de quem vai a um parque de diversões. Em ambos os casos, você vai penar um pouco e ter estranhas sensações na barriga, mas depois vai poder dizer, orgulhoso, que sobreviveu a essas corajosas experiências. Býstro!

Ilustrações: Adriano Pinheiro


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