Ano 01 . N 1 . Junho de 2019
Carta ao Leitor É com muito orgulho que lançamos a primeira edição da revista “Glauber” Já existem outras publicações no Brasil que falam sobre cinema, TV e internet, mas não com foco em produções baianas e voltada para os nossos profissionais, pesquisadores, estudantes e curiosos sobre esse campo tão criativo. A ideia de uma revista que falasse sobre a cultura e o povo da Bahia nasce da vontade de valorizar nosso estado e nosso mercado audiovisual, que desde o século 20 busca construir uma identidade regional que, de fato, nos represente. Para além disso, é uma publicação que procura ainda relembrar figuras fundamentais para o desenvolvimento do cinema baiano, como o próprio Glauber Rocha, que inspirou o nome do nosso veículo e que estampa a capa desta primeira edição. Em 2019, o cineasta completaria 80 anos, e na matéria especial, explicamos porque ele é tão importante. Ao longo das páginas, nós esperamos que você, leitor, se delicie com os conteúdos variados sobre a produção do audiovisual baiano, um campo tão rico e cheio de mentes criativas, e que chegue ao final desta revista com orgulho de ter nascido, se criado ou de viver na Bahia. Boa leitura!
Redação Cássia Carolina de Macedo Costa cassiacarollina@gmail.com
Diagramação Thailine Montalvão dos Santos montalvaothailine@gmail.com
Orientação Carla Araujo Risso Colaboradores Vinícius Félix TV Aratu Esta revista faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso, ano 2019.1, de Cássia Carolina de Macedo e Thailine Montalvão, estudantes de Jornalismo e Produção Cultural, respectivamente, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.
Revista Glauber
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@revistaglauber
Sumário 8
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O Cinema no Interior Baiano Entrevista com Ary Rosa e Glenda Nicácio
Baianidade na tela da Tv Conheça o Dendê na Mochila
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Você Sabia?
Conheça o cenário do único filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro
Cine-Theatro Cachoeirano Espaço valoriza produção audiovisual baiana
Resenhando
“Os Fuzis”, de Ruy Guerra
40 42
Curtinhas Universitárias Graduação em cinema
Agenda
Fique por dentro dos principais festivais e mostras
P 8 --- Cinema e TV
O ‘nascimento’ do cinema na Bahia
Cinema e TV --- P 9
Em 1959, o Cine Guarany, onde atualmente funciona o Cinema Glauber Rocha, em Salvador, vivia um momento histórico, com a exibição do primeiro longa-metragem baiano, “Redenção” Fotografias: Reprodução / Divulgação
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m 1895, em uma sala do Grand Café, em Paris, o cinema dava seus primeiros passos com a exibição do filme de apenas 50 segundos de duração, “Arrivée d’un train em gare à La Ciotat” (A Chegada do Trem na Estação). Os responsáveis por esse acontecimento histórico, que viria a ser oficialmente o ‘nascimento’ da sétima arte, foram os irmãos Auguste e Louis Jean Lumière. No Brasil, a primeira exibição de um filme ocorreu somente dois anos depois, no Rio de Janeiro. Mas, foi apenas em 1898, com um registro pioneiro do cinegrafista italiano Affonso Segretto, também no Rio, que começaram a surgir as primeiras gravações no país. Na Bahia, tivemos experimentações, a exemplo do curta “Entre o Mar e o Tendal”, de Alexandre Robatto, e o primeiro longametragem, intitulado “Redenção” — concluído apenas em 1958 e lançado em 1959, pela persistência de Roberto Pires, considerado hoje o fundador da cinematografia baiana.
O ‘pai’ do cinema na terra do dendê “Se o cinema baiano não existisse, Roberto Pires o teria inventado”, escreveu Glauber Rocha em sua obra “Revisão Crítica do Cinema Brasileiro”, destacando a importância que o diretor de “Redenção” teve para o desenvolvimento de uma produção fílmica genuinamente baiana. Pires nasceu em Salvador, em setembro de 1934, e apesar do interesse em cinema, ele não tinha qualquer formação na área — era técnico em ótica. “Ele era um inventor, mas não cineasta.
Vai se tornar um cineasta e inspirar o Cinema Novo e o Cinema Marginal na Bahia, explica José Roberto Severino, professor da Faculdade de Comunicação da UFBA, e pesquisador no campo de patrimônio cultural, produção cultural e audiovisual relacionadas à memória social. “Mas quem era ele antes? Era uma pessoa curiosa. O que leva ele para o cinema é a curiosidade”, prossegue Severino. Além de produzir, roteirizar e dirigir filmes, Roberto Pires também inventou a lente anamórfica igluscope, algo semelhante ao cinemascope, que permitia a gravação em widescreen que ainda não existia no Brasil. “Ele criava soluções técnicas e improvisadas, desde lentes até a parte cenográfica do filme. Estava sempre inventando situações”, acrescenta o professor. “Redenção” levou quase três anos para ser concluído — as filmagens foram iniciadas em 1956 e finalizadas apenas
em 1958 —, enfrentando obstáculos e falta de recursos. Contudo, a película, finalmente, teve sua exibição no Cinema Guarany, em 1959, onde hoje funciona o “Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha”, na capital baiana. A história, com uma narrativa linear e Salvador como cenário de fundo, acompanha dois personagens principais, e um deles está em liberdade condicional. O aparecimento de uma terceira figura misteriosa causa todo o conflito, e o enredo tem um clímax no melhor estilo “quem matou?”. A obra marcou o início do movimento chamado “Ciclo Baiano de Cinema”, do qual fizeram parte grandes cineastas como o próprio Glauber Rocha. “O que ele acaba fazendo é mostrar que o cinema é algo que se faz industrialmente e coletivamente”, conta Severino. Logo após “Redenção”, o cineasta dirigiu “A Grande Feira” (1961) e “Tocaia no Asfalto” (1962), considerados seus melhores projetos.
“ Gravação do filme “A Grande Feira”
Se o cinema baiano não existisse, Roberto Pires o teria inventado”
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Gravação do filme “Redenção”
Iglu, a primeira produtora da Bahia Roberto Pires foi pioneiro em muitas coisas: além de estar à frente do primeiro longa-metragem baiano, e de ter inventado a lente anamórfica igluscope, também foi um dos fundadores da Iglu Filmes, a primeira produtora da Bahia, criada em 1958. Ele e os amigos, Braga Neto e Élio Moreno Lima, costumavam frequentar o Cine Excelsior, na Praça da Sé, e ali próximo ficava uma lanchonete chamada “Frios Iglu”, para onde os meninos iam depois das sessões. Foi daí que surgiu o nome para a produtora. Quem conta essa história é Petrus Pires, filho de Roberto Pires. “A Frios Iglu acabou se tornando ponto de encontro dessa turma, que não era de intelectuais, nem universitários. Gostavam de cinema americano e a ideia deles de fazer cinema era meramente uma reprodução do que eles viam na tela”, relata. Aos 37 anos, Petrus acabou seguindo passos parecidos com os do pai: abandonou a faculdade de cinema, na Faculdade de Tecnologia e Ciências, em Salvador, ainda no primeiro semestre, mas continuou seguindo no ramo do audiovisual por pura paixão. Atualmente é responsável pela direção da Iglu Filmes. Ele explica que, apesar do desenvolvimento do cinema baiano, ainda encontra muitas dificuldades para atuar nesse campo no estado. “Se você produzir um filme hoje, não vai conseguir exibir em uma sala do ‘multiplex’, porque existe um compromisso comercial, um monopólio do cinema americano, que vem desde a época do primeiro filme de meu pai. E a gente vive esse movimento até hoje”, dispara o produtor. Petrus relembra ainda que o próprio “Redenção” chegou a ser desprezado no Cine Guarany, para dar lugar aos filmes da Warner. “Tem o movimento dos sem-terra e o movimento dos ‘sem tela’”, brinca. Atualmente, a Iglu realiza produtos audiovisuais, como propagandas e peças publicitárias. “O que para mim é muito claro é que as pessoas, de fato, não tem interesse de assistir esse tipo de filme, nacional e genuinamente baiano”, lamenta. “Viver de cinema é um sonho. Até na época da Iglu do meu pai
Cena do filme “A Grande Feira”
era um sonho, o que eles mais produziam eram cinejornais. Aí eles usavam o dinheiro dos cinejornais para fazer esses longas”, comenta. Apesar dos percalços pelo caminho, Petrus já conseguiu lançar alguns documentários, como “O Artesão de Sonhos”, que narra alguns aspectos da vida profissional do pai, “Bahia Sci-Fi”, sobre “Abrigo Nuclear”, um dos longas produzidos por Pires, e “Os Filmes que Eu Não Fiz”, inspirado em Alexandre Robatto Filho. Pode parecer que o cineasta foi motivado por Roberto a seguir no mesmo caminho, mas ele garante que não. “É claro que ele me influenciou, porque se não fosse ele, eu não estaria aqui. Mas ele não me incentivou, porque a minha adolescência foi ver a crise do cinema nacional estampada na nossa vida. Foram anos muitos difíceis”, revela. Assim como Roberto Pires insistiu no sonho de fazer cinema há mais de 50 anos, Petrus mantém o mesmo esforço: “Acho que nossa maior semelhança é nesse âmbito, essa vontade e persistência”.
Filmografia 1958 - Redenção 1961 - A Grande Feira 1962 - Tocaia no Asfalto 1963 - Crime no Sacopã 1969 - Máscara da traição 1970 - Em busca do su$exo 1981 - Abrigo Nuclear 1989 - Brasília, a última utopia 1990 - Césio 137 - o pesadelo de Goiânia
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O cinema no
interior baiano Com o sonho de produzir longas-metragens que valorizassem a região onde vivem, Ary Rosa e Glenda Nicácio idealizaram os premiados filmes “Café com Canela” e“Ilha”, gravados na Ilha Grande de Camamu e no recôncavo da Bahia
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pesar das produções ‘hollywoodianas’ tomarem conta das salas de exibição nos cinemas de todo o país e inspirarem cineastas brasileiros, ainda há aqueles que vão na contramão, e tentam construir obras mais voltadas para os aspectos regionais e culturais do ambiente em que vivem, a fim de criar uma representatividade em tela. É o caso de Ary Rosa e Glenda Nicácio, produtores dos premiados longas “Café com Canela” e “Ilha”. Os dois mineiros se conheceram no curso de cinema da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde são formados, e foi durante essa trajetória acadêmica que eles se apaixonaram pela região baiana. A dupla iniciou a carreira com curtas-metragens e pequenas realizações de ficção e documentários, e em 2011, fundaram a produtora independente Rosza Filmes, com sede na cidade de São Félix. Em entrevista para a Glauber, Ary e Glenda compartilharam suas experiências sobre fazer cinema na Bahia.
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Glauber: O filme “Café com Canela” foi o primeiro longa dirigido por você e Glenda Nicácio. Como surgiu a ideia para realizar o filme? Ary Rosa: “Café com Canela” nasce dessa vontade de desenvolver um filme que se aproxime da cultura, das tradições e do cotidiano do lugar que escolhemos viver e construir nossa produtora: o Recôncavo. A vontade de contar uma história que passa pela tradição e costumes dessa região, mas que tem sua força maior no dia a dia de pessoas comuns que sofrem, sentem dor, se ajudam, tomam uma cervejinha no fim da tarde. O encontro e o afeto é o que move esses personagens; o local traz a vibração para suas vidas e os fazem únicos. G: Como foi feito o financiamento para as produções dos longas “Café com Canela” e “Ilha”? A.R.: Ambos os projetos foram feitos em parceria com o Governo do Estado e a ANCINE através o programa de Arranjos Regionais da agência.
G: Vocês ‘ousaram’ bastante na montagem do “Café com Canela”, inserindo elementos de gravação que são pouco usuais. Houve inspiração em algum cineasta em particular, ou tentaram criar uma individualidade? Glenda Nicácio: É do e no cotidiano que nasce a nossa forma de olhar. Entendendo que não é a vida que corre atrás do cinema. É ele - o cinema que pode muito pouco quando não se assume enquanto recorte, afinal, a vida é muito mais vasta. Por isso, na nossa narrativa a câmera se locomove tanto, sai tantas vezes do seu lugar. O mundo segue rodando, é o cinema que precisa se deslocar para acompanhar as brasilidades de cada chão. Nosso mise em scène se inspira na composição dessa terra chamada Recôncavo, as imagens e sons buscam se aproximar do que existe de mais verdadeiro, seja na ficção ou no documentário. Qual o limite de cada uma dessas fronteiras? Essa é uma pergunta para qual não buscamos resposta, uma vez que nosso desejo é
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Essa é coisa mais importante que a vida-cinema nos ensinou: tudo é uma questão de ponto de vista”
o de provocar, aproximando o que até então era distante, distanciando o que convencionalmente era primeiro plano. Criar caminhos entre abismos, descobrir lugares e entrelugares, sem deixar-se esquecer de que lugar estamos. Essa é coisa mais importante que a vida-cinema nos ensinou: tudo é uma questão de ponto de vista. Nesse sentido, as técnicas apontam possibilidades de escrituras que articulam forma e conteúdo, trazendo a possibilidade da inovação da linguagem. Por isso a criatividade é essencial, porque ela nos permite a reinvenção, Fotografias: Reprodução / Arquivo Pessoal
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pela descoberta, a vontade de se deixar molhar pela novidade que o cinema é ao se permitir se impregnar do dia a dia.
por ela podemos burlar os tratados já existentes, transgredir a convenção, questionar. Cada filme propõe uma nova experiência, que é única, com necessidades específicas ao projeto, e elas começam antes de câmera, antes de ator, antes de cenário. São as necessidades de produção, a forma estratégica de organizar as etapas de filmagem, desde a escolha do roteiro até a finalização. Cada filme segue um caminho. Por isso, cinema é ponto de partida, fluxo que conta com o planejamento, com o acaso, e com condições que invariavelmente não são as ideais, mas que precisam existir, serem recriadas para garantir que o filme se realize. G: “Café com Canela” e “Ilha” foram gravados em território baiano, expressando regionalidade e deixando claro a valorização da identidade. Como fizeram para trabalhar essa questão, e fugir dos estereótipos? A.R.: Quando em 2010 começamos a sonhar cinema, o primeiro grande projeto-sonho foi “Café Com Canela”.
Com roteiro criado em 2011, iniciamos a nossa trajetória de dar forma ao que eram personagens, cenários, vozes. Nesse tempo éramos alunos do curso de Cinema da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e morávamos em Cachoeira e São Félix, cidades que eram também o lugar onde a história de Margarida e Violeta se passava. E nesse sentido, enquanto produtores e diretores, nos sentíamos diariamente mergulhados no universo da narrativa. Não por acaso, o roteiro trazia o cotidiano das rezas, das crenças e da sabedoria dos sambas de roda como matéria-prima para o que seria o nosso conceito de cinema no mundo, num momento de um Brasil reconvexo, que olhava por dentro e multiplicava as possibilidades de se firmar em suas margens e periferias. O Recôncavo da Bahia nos revelava uma forma essencial de fazer cinema. Um cinema feito de gente, de sandália de couro, de feira, de ruínas, de história – passado e presente reinventados para contar histórias de um território pouco mostrado. Fora de rota, fomos guiados
“Café com Canela” (2017)
“Ilha” (2018)
Drama | 14 anos | 100 min Direção: Ary Rosa e Glenda Nicácio Roteiro: Ary Rosa Produção: Ary Rosa, Márcia Souza, Glenda Nicácio, Ohana Almeida
Drama | 16 anos | 94 min Direção: Ary Rosa, Glenda Nicácio Roteiro: Ary Rosa Produção: Thamires Vieira
G: Os dois longas produzidos por vocês ganharam prêmios em festivais de cinema. Qual a importância deste reconhecimento do trabalho? G.N: Os prêmios são importantes para o reconhecimento de nosso trabalho entre os cineastas, críticos, imprensa e público. G: Além de personagens majoritariamente negros, um dos longas também aborda um romance homossexual. Como foi para você, Ary, como cineasta gay, trazer essa discussão para a história? A.R.: Com bastante naturalidade. No “Café” temos um casal gay casado e bem resolvido na sua sexualidade; em “Ilha” acontece um romance entre os dois protagonistas. Tratar com naturalidade me parece um bom caminho para discussões mais afirmativas. G: E no caso de Glenda, como avalia a representatividade de atores negros nos dois filmes? G.N.: O Recôncavo Baiano é composto por uma população majoritariamente negra, e já que contamos histórias deste local, nada mais correto que compor o elenco com atores negros. Para além disso, mais da metade da equipe é formada por profissionais negros, assim, entendemos que é fundamental trazermos histórias que sirvam para além da emoção e/ou entretenimento, mas que também seja ferramenta política de representação e representatividade.
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Baianidade na tela da Tv Com o programa “Dendê na Mochila”, jovens produtores da TV Aratu exploram histórias, linguagem poética, cultura e belas paisagens
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esde que a reportagem jornalística ultrapassou os jornais impressos e se tornou um produto audiovisual para a televisão, os canais no Brasil e no mundo têm investido em atrações que exploram novos formatos, técnicas e linguagens. Um tipo de jornalismo que se consolidou foi o de turismo, que mescla a informação, item essencial na
produção da reportagem, com belos cenários, explorados pelo repórter ao longo da atração. No Brasil, temos o exemplo de matérias veiculadas pelo “Globo Repórter”, da Rede Globo, e “Viagens ao Redor do Mundo”, da Band. Na Bahia, um programa que explora os mesmo moldes do jornalismo turístico ganhou
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destaque na programação da TV Aratu, emissora filiada ao SBT: o Dendê na Mochila. A atração, no entanto, foi além da exibição de belas paisagens, e preza por uma boa estética em cena e uma linguagem mais profunda, com as características do jornalismo literário. A ideia do “Dendê” surgiu ainda em 2014, quando o atual apresentador
Matheus Boa Sorte, era colaborador indireto da TV Aratu, em Vitória da Conquista, e já fazia parte de um projeto semelhante, o programa “Aprochego Me Leva”. A atração, produzida na cidade do centro-sul baiano sem muitos recursos, também visitava cidades da região, e foi ao ar na emissora durante um ano. Matheus foi transferido de Conquista
para a filial em Salvador, onde ainda atuou como repórter do programa “Universo”. Já contratado pela emissora, custeou os cinco primeiros episódios do “Dendê na Mochila” e vendeu a ideia para a empresa, que encomendou mais oito. A atração passou a ser exibida em maio de 2015, aos sábados, e atualmente, tem uma das melhores audiências. Fotografias: Divulgação / Arquivo Pessoal
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Apesar de ter ‘nascido’ para ser um programa de turismo, a atração acabou virando um programa de comportamento, com um estudo prévio do perfil dos entrevistados, mostrando histórias de vida, cultura e culinária. “Eu sempre quis mostrar que o interior da Bahia vai muito além daquela ideia de ‘sofrimento’ e de que não tem nada. Tem muita coisa. Posso fazer um episódio do ‘Dendê’ em todos os municípios do estado, qualquer um. Se não tem cachoeira, rio ou montanha, tem gente. Se tem gente, tem história, se tem história, tem programa”, diz o apresentador, formado em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda. Apesar do roteiro em 2018 ter tido foco na Bahia, o “Dendê” já teve episódios gravados fora do país e em outros locais do nordeste. Atualmente, Matheus também assume a função de direção do “Dendê”, e divide as funções com Hermeson Manoel Ferreira, editor de texto da TV Aratu que também realiza a préprodução do programa. “O primeiro contato é feito com a prefeitura, especialmente com a Secretaria de Cultura ou de Comunicação. Nem sempre existe, nessas cidades do interior, uma equipe preparada para receber a
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Se tem gente, tem história”
gente, é uma novidade pra eles. Em alguns lugares, já fomos recebidos pela Secretaria de Agricultura”, conta o jovem, que também é natural de Vitória da Conquista. Nessas cidades, a “equipe de dois”, formada por Matheus e Hermeson, vai em busca de pessoas e boas histórias, que possam render um bom roteiro. “O programa tem esse objetivo, não é mais só uma imagem bonita. O importante é, por exemplo, trazer a história daquela pessoa que mora próximo de uma cachoeira, que conhece desde criança. A cachoeira é só um motivo pra gente conhecer a história da pessoa que está ali. Na culinária, o importante é a história da cozinheira, não é o prato. O prato é um detalhe”, explica o editor. O “Dendê” é um ótimo exemplo do que se pode fazer explorando várias áreas da comunicação, como o jornalismo, a literatura, o áudio e o som. Dessa mistura, sai um episódio de 42 minutos que dá conta de levar entretenimento, informação e elementos do próprio cinema, com organização textual que
obedece aos conceitos de uma estrutura narrativa. Por trás da construção dessa linguagem, preocupada com a forma do discurso, há a paixão do apresentador: a poesia. “Eu sempre gostei de escrever poesias, minha vida toda é baseada nisso, um universo com linguagem mais lírica”, conta Matheus. A edição também procura valorizar a estética em cena: desde o formato da filmagem até a paleta de cores. “Foi muita pesquisa, demorei bastante pra acertar. São anos de muito estudo, viajei o Brasil fazendo cursos. O perfil de cores do “Dendê na Mochila” pode ser identificado por quem assistir, porque aquela é nossa linguagem; a setagem que se usa na câmera, as imagens mais puxadas para o amarelo, representando o sol forte do sertão, então, nada é por acaso”, diz ele.
Recursos Reduzidos Quem senta em frente à TV, aos sábados, para assistir um episódio do “Dendê”, depois que todo o trabalho é feito, nem imagina que aquele produto é realizado com o esforço de basicamente duas pessoas. Matheus e Hermeson são os responsáveis pela maior parte de produção do programa: são eles
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que se aventuram em viagens, que podem durar até 18 dias, em busca de conteúdo. “São equipes enxutas, a gente não tem como viajar, como outras emissoras fazem, com dez pessoas, para ficar na cidade vário dias. Um episódio do programa é gravado, muitas vezes, em apenas dois dias. Então, a gente precisa adiantar ao máximo e gravar até
o último ‘fio de luz’. Tentamos prezar sempre pela qualidade fotográfica da imagem”, revela Hermeson, ressaltando a importância da pré-produção para facilitar o processo. “Às vezes eu dirijo, às vezes ‘Chocolate’ [apelido do editor], eu que piloto o drone, opero o áudio, e aí ele já está cuidando da imagem. Tudo que eu sei fazer, ele também sabe, e vice-
versa. Nós começamos a fazer TV juntos, aprendemos juntos, nós caímos nas mesmas coisas, levantamos, aprendemos. É importante saber muito além do seu”, complementa o apresentador; “é difícil? Claro que é. Mas, o programa hoje não existiria se não fosse assim”.
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Em
1939 Nascia
Glauber Rocha Com estilo audacioso e muito próprio, o
baiano revolucionou o campo cinematográfico brasileiro e deixou uma vasta obra que é estudada até hoje
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ão é preciso entender muito de cinema para já ter ouvido o nome Glauber Rocha por aí. Nascido em 1939 em Vitória da Conquista, na Bahia, foi o primeiro filho de Adamastor e Lúcia Rocha. Glauber teve uma vida breve: morreu em 1981, com apenas 42 anos, mas deixou um enorme legado cultural e intelectual para o Brasil. Sua irreverência e genialidade atravessaram o tempo, fazendo ele ser considerado, ainda hoje, o maior cineasta do país. Não é a toa que mereceu seu nome na capa desta revista. Apesar do talento para a comunicação, Glauber de Andrade Rocha se aventurou como estudante de direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que logo abandonou. A partir daí, deu os primeiros passos em direção à sua carreira no cinema, quando começou a escrever críticas sobre filmes. “Glauber passou muito mais tempo escrevendo textos e livros do que filmando. Ele tem uma obra, é conhecido como um grande cineasta, um dos expoentes do Cinema Novo no Brasil, mas, as pessoas se esquecem um pouco desse Glauber pensador, que reflete sobre cinema e que têm obras importantíssimas sobre o cinema brasileiro”, diz José Francisco Serafim, mestre e doutor em cinema documentário pela Universidade Paris X, e atualmente professor da Faculdade de Comunicação da UFBA.
Estilo Glauberiano Até se tornar a mente por trás de grandes obras, Glauber ainda fez parte do Clube de Cinema da Bahia, atuou como jornalista em veículos locais e nacionais e realizou alguns curtametragens, antes de dirigir seu primeiro longa, “Barravento”, em 1962, produzido por Roberto Pires. O filme é considerado o marco inicial do movimento do “Cinema Novo”, inspirado pela “Nouvelle Vague”, na França, que ia na contramão das produções com estilos hollywoodianos. Antes da década de 60, o cinema tradicional no Brasil consistia em versões, quase ‘cópias’, do que se era feito no cinema norte-americano, como as comédias. Porém, como aqui não tínhamos grandes estúdios nem uma indústria cinematográfica forte, como nos EUA, precursores do Cinema Novo decidem explorar a identidade nacional; a miséria, as características culturais, e conflitos sociais e políticos. Muitos se destacaram nessa época, a exemplo de Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Carlos Diegues e Rogério Sganzerla. Glauber também participava ativamente do movimento. “É um cinema que deixa o estúdio e as formas tradicionais e vai para as ruas. Começa a buscar outros elementos narrativos, apostando em estilos diferentes para contar histórias”, explica Serafim. Apesar da atuação de tantos cineastas talentosos da época, a estética dos filmes de Glauber conseguiu se destacar. “Ele tem essa busca por uma certa originalidade, não só temática, mas formal também.
Cena do filme Barravento
Cena do filme Terra em Transe
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Cena do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol
Cena do filme O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro
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O nordeste dele não é um nordeste realista [...] É o nordeste alegórico. É um nordeste muito pessoal, muito próprio do Glauber, do universo glauberiano”
Estilística. Ele vai além dos outros, de uma narrativa clássica”, esclarece o professor. Apesar de fazer parte do Cinema Novo, ele extrapolava nas questões da modernidade e fazia além. Com “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, Glauber fugiu das fórmulas clássicas para falar, por exemplo, sobre o sertão nordestino - que serviu de cenário para algumas de suas obras mais conhecidas, como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”. “O nordeste dele não é um nordeste realista, não é o nordeste adaptado do Graciliano Ramos, representado pelo Nelson Pereira, em ‘Vidas Secas’. É o nordeste alegórico. Ele trabalha com questões alegóricas. É um nordeste muito pessoal, muito próprio do Glauber, do universo glauberiano”, exemplifica Serafim. “Posteriormente, em outros lugares,
ele também vai trabalhar esse estilo. O último filme dele, ‘A Idade da Terra’ é isso, no qual ele traz tudo: as questões do poder, questões populares, está tudo ali”, completa. Para o professor de cinema, a narrativa do cineasta não é de fácil entendimento, por ser cheia de metáforas. “Acho Glauber fabuloso e revolucionário naquilo que ele traz. O que ele tem de importante não é só a história, mas como essa história é contada. É mais a questão do método, como ele traz isso para a tela”, diz ele. Sem recursos tecnológicos, mas com uma estética extremamente provocadora, os filmes desse baiano ganharam o mundo, e são ainda hoje exibidos em salas de cinema fora do país. Glauber inspirou muitos que vieram depois dele, e já foi fortemente aclamado por grandes personalidades da área, como o diretor norte-americano Martin Scorsese. Fotografias: Reprodução / Divulgação
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Muito ‘baiano’ e desaforado Umbelino Brasil é cineasta, professor da Universidade Federal da Bahia e doutor em Comunicação e Cultura, com a tese “As críticas do jovem Glauber”. Para ele, o conhecimento crítico do cineasta tinha impacto sobre a sua própria maneira de fazer os filmes. “O que ele tem de diferencial com relação aos outros realizadores é que, além de fazer os filmes, ele fundamentou teoricamente. Essa coisa da ‘genialidade’ e tudo mais é legal, mas é bom deixar um pouco de lado. Glauber era um cara com uma formação muito sólida e com profundo conhecimento da
história, política e cultura brasileira”, diz Brasil. O cineasta baiano, de fato, teve uma trajetória marcada por atuações políticas, tanto em suas obras quanto em sua vida pessoal - o que ocorreu em plena ascensão da ditadura militar no país. Além do talento para o cinema, como crítico, diretor e roteirista, Glauber também se destacava por sua ousadia. De opiniões fortes e controversas, não agradou nem a esquerda nem a direita brasileira, e nunca se filiou a nenhum partido político - embora fosse simpatizante de questões sociais, religiosas e culturais, que eram sempre retratadas em suas obras. “Não era
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Não era uma pessoa unânime, mas como dizia Nelson Rodrigues, ‘a unanimidade é burra’”
uma pessoa unânime, mas como dizia Nelson Rodrigues, ‘a unanimidade é burra’”, brinca o autor de “As críticas do jovem Glauber”. Apesar dessa dualidade, os longas escritos e dirigidos por ele tinham críticas sociais muito fortes, que podem ser aplicadas à sociedade ainda hoje, mostrando que suas histórias são atemporais. “Seu cinema era progressista, mas ele não tinha linha partidária”, afirma Brasil; “o filme ‘Terra em Transe’ foi criticado pela direita e pela esquerda. Suas obras eram criticadas e elogiadas por ambos os lados. Ele era muito ‘baiano’, muito desaforado. Uma pessoa que entrou em confronto com muita gente”. Suas falas e opiniões, no entanto, lhe custaram a liberdade e Glauber
- metragens
chegou a ser exilado no início dos anos 70. Inquieto, gravou outras obras fora do país, a exemplo de “O Leão de Sete Cabeças” e “Cabeças Cortadas” - que, não por coincidência, abordam sobre colonização e liberdade. Ao retornar do exílio, chegou a participar de um programa de TV chamado “Abertura”, em 1979, exibido pela extinta TV Tupi, no qual chamava a atenção por seu jeito despojado, com a camisa quase aberta. Lá, o baiano fazia críticas de profunda reflexão sobre política, causas sociais e culturais que estavam em evidência durante o regime militar, que nesta época, já estava em declínio. Não é errado pensar que Glauber “nasceu” para a comunicação, depois de uma carreira multifacetada. Sua última obra, “A Idade da Terra”,
é uma história, ainda hoje, amada e odiada por muitos. Com a figura simbólica de Jesus Cristo, abordou sobre a religião de uma forma crua, mas o filme não foi muito bem aceito pela crítica, o que o deixou frustrado. Não teve tempo de ver o longa aclamado anos mais tarde - em 1981, contraiu uma bactéria e foi internado às pressas em Portugal. Passou seus últimos meses de vida angustiado e doente, em terras europeias; mais tarde, foi trazido de volta ao Brasil, onde morreu dias depois. Apesar da breve trajetória, deixou uma obra vasta e importante para o cinema brasileiro, e para os cineastas e aspirantes que viriam depois dele. Reconhecendo a importância que teve para a cultura do país, a família de Glauber se empenhou em reunir seu acervo e recuperá-lo: documentos, películas, roteiros, cartas e outros foram passados para a Cinemateca Brasileira, para ficarem à disposição do público. Nas palavras de Paloma Rocha, filha primogênita do baiano, apesar de todo o material produzido, o que o pai deixou como legado mais importante para o país foi sua “coragem e lucidez”.
P 26 --- Além das Telas
Você sabia? O primeiro filme brasileiro a concorrer ao Oscar e único a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes foi gravado no centro histórico de Salvador
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uita gente que visita despretensiosamente a Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo, no centro histórico da capital baiana, talvez não faça nem ideia da importância daquele local para o cinema brasileiro. É que ali, naquelas escadarias, se passa a maior parte do filme “O Pagador de Promessas”, lançado em 1962, dirigido por Anselmo Duarte, e baseado na peça teatral homônima do baiano Alfredo de Freitas Dias Gomes. O longa é um verdadeiro marco para a cinematografia nacional, sendo a primeira produção audiovisual brasileira a concorrer ao Oscar, na categoria “Melhor Filme Estrangeiro”. Apesar de não ter levado a estatueta para casa, “O Pagador de Promessas” conquistou o prêmio de maior prestígio no Festival
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de Cannes, na França, no mesmo ano de lançamento: a Palma de Ouro. Até hoje, o filme é o único do Brasil a vencer essa disputa. A trama acompanha a trajetória do protagonista, Zé do Burro, interpretado por Leonardo Villar, que tenta cumprir uma promessa feita em um terreiro de candomblé, carregando uma pesada cruz de madeira que pretende colocar no altar, dentro da Igreja do Passo — no filme, chamada de “Igreja de Santa Bárbara”. No entanto, o pobre rapaz não consegue entrar no local sagrado, já que é impedido pelo padre, ao saber que a promessa havia sido feita em um terreiro.
Decidido a levar a cruz até o altar da Santa, Zé do Burro permanece na escadaria da Igreja, ao lado da companheira, Rosa, interpretada por Glória Menezes — que se envolve com outro personagem. A história do “pagador de promessas” começa chamar a atenção de várias pessoas da cidade, como praticantes do candomblé, jornalistas, outros membros da igreja católica, da própria polícia e alguns que acreditam que Zé seja capaz de fazer milagres. No final, o protagonista morre após levar um tiro, e é carregado junto com sua cruz para dentro do templo, numa referência clara à figura de Jesus Cristo.
A história aborda vários elementos como religiosidade, questões sociais e políticas, sensacionalismo midiático, e até mesmo a pobreza, de forma crítica. Quem assiste “O Pagador de Promessas” fica com a sensação de ter presenciado uma grande injustiça, já que Zé do Burro é apenas um homem simples tentando cumprir uma promessa — na qual acredita cegamente —, e é impedido por inquisições que vão muito além do seu entendimento. O protagonista não vê distinção, por exemplo, entre Iansã e Santa Bárbara, que são as mesmas figuras simbólicas, representadas em religiões diferentes.
Cenário Internacional A Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo foi construída em 1736, para ser a matriz da freguesia criada 18 anos antes¹. A escadaria que serviu como cenário de fundo para praticamente todas as cenas de “O Pagador de Promessas” possui 55 degraus, e conecta a Rua do Passo e a Ladeira do Carmo. O interior do local tem inspiração no estilo neoclássico, com destaque para as pinturas do teto, que possuem perspectiva ilusionista barroca, de origem italiana². O templo foi tombado apenas em 1938, pelo Instituto do Patrimônio Fotografias: Reprodução / Divulgação
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Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com o tempo, o espaço foi se deteriorando, oferecendo riscos de acidente para os fiéis e visitantes. Em situação precária, a igreja chegou a ser fechada por quase 20 anos, e sua reabertura aconteceu somente em 2018, depois que o espaço foi totalmente reformado pelo Iphan. A obra durou três anos e custou mais de R$ 11 milhões: bens, imóveis e imagens foram restaurados, azulejos datados do século XVIII pintados à mão, estruturas de madeira readequadas e foram colocados 22 tirantes de aço para sustentar o solo e evitar o deslocamento. Além disso, um novo sino foi posto em uma das torres da igreja e a fiação elétrica substituída; os degraus da escadaria tão famosa, consertados com preenchimentos nos lugares onde o piso estava quebrado. Além da beleza na arquitetura do templo, na Igreja do Passo também existe uma imagem de Santa Bárbara, em gesso, que foi usada durante as locações do filme. Desde outubro de 2018, a Igreja do Passo está sob os cuidados do Apostolado da Oração, Rede Mundial de Oração do Papa, e passou a ser a Sede Arquidiocesana deste movimento que existe em mais de 90 países. Após a entrega, o templo possui programação de missas, e visitas turísticas a preços populares, que visam a manutenção do local. Com o acúmulo de tantos prêmios nacionais e internacionais, “O Pagador de Promessas” transformou a Igreja do Passo em um cenário reconhecido. Para os cinéfilos de plantão, o local é um pedaço importante do cinema brasileiro, que valoriza a sua própria cultura e história. O longa é considerado um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, segundo a Abraccine, que organizou ranking, e a produção ainda leva a imagem de Salvador para o mundo.
Visitação Segunda a Sábado – 9 às 17h Taxa: 5,00 por pessoa E-mail: igrejadopasso.ssa@gmail.com
¹ Fonte: Ministério do Turismo/ Governo Federal ² arquidiocesesalvador.org.br. Consultado em 9 de maio de 2019
Telefone: (71) 3241-6297 Redes Sociais: @igrejadopassa.ssa
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Curiosidade O autor de “O Pagador de Promessas”, Dias Gomes, nasceu em Salvador em 1922, e além de ser romancista e dramaturgo, chegou a se aventurar como escritor de novelas. Entre os anos 60 e 80, ele trabalhou na emissora Rede Globo e escreveu a primeira novela em cores da televisão brasileira, “O Bem Amado”, e mais tarde apostou no realismo fantástico de “Saramandaia”.
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Cine-Theatro Cachoeirano Reinaugurado em 2014, espaço valoriza produção audiovisual baiana e leva artes e entretenimento para região do Recôncavo
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ma das muitas construções antigas que compõe o cenário do centro histórico do município de Cachoeira, no Recôncavo baiano, poderia passar despercebida, não fosse seu imenso valor cultural que permanece até hoje. O Cine-Theatro Cachoeirano, inaugurado em 1923, voltou a funcionar em junho de 2014 após um hiato de 20 anos e de passar por diversas reformas promovidas pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPHAN).
Fundado pelo empresário, dentista e político Cândido Elpídio Vaccarezza, o espaço carrega consigo a imensa responsabilidade de ter sido um dos primeiros cinemas do país. Antes de morrer, dizem que seu fundador pediu aos familiares que aquele lugar jamais fosse usado para outra coisa. E assim têm sido desde então, apesar dos altos e baixos. Em sua trajetória, o Cine-Theatro de Cachoeira foi denominado, durante a
década de 50, de “Cine Glória”, quando foi locado por uma companhia de cinema que pertencia ao empresário Frederico Maron. Naquele período, passou por melhorias e alcançou mais visibilidade em termos de público, tornando-se mais amplo. Já nos anos 80, o local enfrentou uma grave crise, quando entrou em total decadência com os impactos do surgimento dos videocassetes, e processos de instabilidades nas mãos de vários proprietários. Com seu
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fechamento, em 1993, há relatos de que algumas instituições religiosas ainda tentaram adquirir o espaço, mas atendendo ao pedido de Vacarezza, a família não vendeu.
Reabertura e Funcionamento Depois de permanecer fechado por mais de uma década, em estado precário de conservação, o Cine-Theatro Cachoeirano voltou a ter ‘vida’ a partir de 2009, quando o IPHAN comprou o
espaço. Ele foi reformado, equipado e sua administração passou para a responsabilidade da prefeitura da cidade, que fez sua reinauguração em 2014. Atualmente, o ambiente cultural é dirigido por Samir Guimarães Suzart, 35 anos, que trabalha no cine desde a reabertura. Ele se formou na primeira turma do curso de cinema da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), sediada em Cachoeira - o curso de cinema de lá, inclusive, foi o
primeiro do Norte e Nordeste ofertado por uma unidade pública de ensino superior. O local oferece muitos espetáculos culturais, como apresentações de dança e teatro, mas seu foco é a exibição de filmes, com destaque para a valorização de longas realizados na Bahia e por estudantes da própria UFRB. “Montamos junto com eles algumas mostras dos materiais produzidos no curso de cinema, e as sessões ficam cheias, porque vêm os alunos, os Fotografias: Reprodução / Redes Sociais
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colegas, professores e as pessoas da comunidade que participaram do filme”, conta Samir. A grande maioria da programação no Cine-Theatro Cachoeirano é gratuita, ou a preço popular. Além da parceria com a universidade do recôncavo, o espaço também sedia eventos importantes do campo cinematográfico. “Têm dois grandes festivais que acontecem aqui: o CachoeiraDoc, que é um festival de documentários, e também o Panorama Internacional Coisa de Cinema. Aqui também sediamos as atividades infantis da Festa Literária de Cachoeira
[Flica], ofertamos oficinas para escolas da região… Temos uma programação bastante variada”, completa ele.
Ponto de turismo em Cachoeira Com grande importância e reconhecimento para a região do Recôncavo baiano, o Cine-Theatro é atração turística para quem passa em Cachoeira. O espaço carrega beleza tanto por fora quanto por dentro: possui uma única sala de exibição, com um grande telão, altas cortinas, projetores e equipamentos de luz, tudo sem perder suas características históricas, que
foram preservadas, após a reforma. “Nem todas as cidades têm um teatro, e com essa estrutura então, chama muito a atenção. As pessoas sempre vêm, pedem para olhar, conhecer. Aos finais de semanas, têm bastante gente que vem acompanhar a programação”, diz Samir. O aumento do fluxo de pessoas, não somente para visitação, mas também com interesse no que é exibido e apresentado no espaço, é uma boa resposta aos investimentos feitos e à valorização da cultura local e produção audiovisual na Bahia.
CachoeiraDoc
Panorama Internacional Coisa de Cinema
O CachoeiraDoc, Festival de Documentários de Cachoeira, teve sua primeira edição em 2010, com apoio financeiro do Fundo de Cultura da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult). O evento, gratuito e aberto ao público, promove a exibição de documentários, muitos deles inéditos, além de debates com os realizadores, oficinas, mesas-redondas e programação musical. No festival, há ainda uma mostra competitiva, onde os projetos audiovisuais são selecionados e premiados durante o evento. Apesar de ser considerado um dos festivais mais importantes do interior baiano, e um dos eventos cinematográficos mais respeitados do país, o CachoeiraDoc foi descontinuado em 2018, por falta de apoio.
O Panorama Internacional Coisa de Cinema é realizado no Espaço Itaú Glauber Rocha de Cinema, em Salvador, e no Cine Theatro Cachoeirano, em Cachoeira, desde 2010. Na mostra competitiva, são selecionados filmes nacionais e internacionais, subdivididos em categorias de longas e curtas-metragens. Em 2018, Cachoeira passou a ter uma mostra competitiva exclusiva, com curadoria independente feita pela cineasta Camila Gregório. O evento é uma realização da produtora Coisa de Cinema e do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura e sua Secretaria do Audiovisual, e conta ainda com patrocínio da Ancine, do Fundo Setorial do Audiovisuall; além do apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, via Fundo de Cultura.
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A fome e as injustiças sociais exploradas no filme “Os Fuzis” Por Cássia Carolina
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Brasil / Argentina Ano: 1964 Duração: 80 min. Direção: Ruy Guerra Roteiro: Ruy Guerra / Miguel Torres / Pierre Pelegri Gênero: Drama
s Fuzis, com roteiro e direção do cineasta moçambicano Ruy Guerra, é um filme de 1964, rodado em Milagres, no interior da Bahia, que conta a história de uma região assolada pela seca e consequentemente, pela miséria. Para manter longe um povo faminto que se deixa dominar por uma histeria coletiva por causa da fome, o governo manda soldados para vigiarem um depósito de alimentos. A população fica ainda à mercê de um lunático religioso que diz fazer previsões Ao longo da trama, os moradores têm vários conflitos com os soldados, que são bem alimentados, bem aparentados e tem acesso a armamentos, o que dá a eles uma aura de superioridade. O clímax se desenvolve quando o caminhoneiro Gaúcho, um dos personagens principais do filme, se revolta com a cruel situação do povo, após ver um homem apresentar seu filho morto pela fome. Indignado com o falecimento da criança, ele parte contra os soldados, e usando da experiência que já teve com uma arma de fogo, os ataca. Ele é executado durante o confronto, cravejado de balas. No final do filme, vemos esse mesmo povo — agoniado pela seca e embalado pelas profecias de um religioso —, se agrupar para arrancar a carne de um boi que acaba de morrer, de forma desumanizada e selvagem, representando o extremo da miséria no sertão. Tratar sobre o nordeste em filmes é sempre tratar da identidade nacional. Nesse caso, o diretor centrou-se em abordar as mazelas sociais e os conflitos de uma região comumente abandonada pelo poder público, o que se aproxima muito do real. O povo também é retratado como passivo, diante do cenário político do país.
Outra questão abordada de forma crítica é a religiosa, uma vez que essa população mantém suas crenças, de forma quase ‘cega’, mesmo à beira da morte pela fome. É o que ressalta Luís Bueno, no artigo “Banditismo por uma questão de classe”, onde ele escreveu: “Os fuzis, de Ruy Guerra (1964), compõe longamente um quadro em que a população esfomeada, numa cidadezinha do sertão nordestino, em plena seca, permanece ou rezando ou simplesmente parada na frente de um armazém cheio de comida. Essa comida tem um dono, e comê-la seria uma infração à ordem. Só isso pode explicar essa passividade inexplicável (...)” (pg. 2). Apesar de ter sido rodado nos anos 60, a narrativa de “Os Fuzis” pode representar ainda hoje a situação de algumas cidades e pessoas que convivem toda a vida com a seca no nordeste, da forma mais angustiante possível. A cena final aborda a miséria de um jeito perturbador, que instiga sentimentos conflitantes em quem assiste — o que, na verdade, demonstra que o filme cumpriu seu papel.
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Novos Formatos no Audiovisual Webséries ganham fôlego na internet, e dão espaço para produções independentes. Produzida na Bahia, “Som do Amor” foi eleita a melhor websérie brasileira no Festival Rio WebFest
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crescente acesso à internet possibilitou várias mudanças em diversos campos, e entre eles, o audiovisual; o internauta, além de consumidor de produtos, pode assumir também o papel de criador, com a facilidade de gravar e editar vídeos, através de ferramentas disponíveis na web e em aparelhos como o celular. Além disso, as plataformas digitais e redes sociais, como o Youtube e o Vimeo, democratizaram o alcance à essas obras, tornando possível a qualquer um com internet acessar o que é publicado. A internet é um instrumento poderoso, e deu às produções independentes um espaço que o tradicional mercado audiovisual — cinema e TV —, não dava. Foi a partir daí que começaram a surgir, inclusive, as webséries, ou séries produzidas para a internet, e que popularizou os serviços de streaming, que podem ser pagos ou gratuitos. Com essa opção, muitos produtores aproveitam para lançar e divulgar seus trabalhos na web, de forma independente. Fotografias: Arquivo Pessoal
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Foi o caso da equipe responsável pela websérie “Som do Amor”, produzida em Salvador pelos baianos Gustavo Seabra, 42 anos, Tiago Querino, 33, e Bruno Porciuncula 40. O projeto foi a primeira experiência dos amigos no ramo das séries feitas para internet, e a ideia deu muito certo: ela foi eleita a melhor websérie brasileira em 2018, no Festival Rio WebFest, o maior evento do tipo realizado no país. Bruno, formado em jornalismo pela Estácio FIB, foi colega de faculdade de Gustavo, e chegou a trabalhar como crítico de cinema do jornal A Tarde. Já Gustavo, formado em Publicidade e Propaganda, e Tiago se conheceram em um curso de teatro. O encontro desses três caras fez nascer a primeira idealização para a websérie. “Eu pensei: o que a gente pode? Um longa não dava, porque a gente não tinha recursos; curta a gente também não quis fazer, porque era um mercado muito saturado; a gente queria fazer algo que o pessoal visse, e quem sabe, desse um retorno financeiro para nós”, conta Bruno. Com um roteiro escrito por Gustavo, “Som do Amor” começou a dar seus primeiros passos. “A história é sobre um cara que inventa uma mentira para se aproximar de uma garota, e com esse gancho, vários problemas aparecem para esse personagem. Não me inspirei em nada específico, era mais uma vontade de produzir algo”, explica Gustavo. Para tornar a realização do projeto viável, os três amigos que ficaram responsáveis pela produção resolveram
tirar do próprio bolso a quantia necessária para arcar com os custos iniciais. “O capital inicial foi de R$ 1800, com o valor dividido igualmente para cada um. A gente não pagou ninguém, agregamos uma galera que queria participar da websérie, que curtiu o roteiro. Tiago cuidou da parte do elenco e chamou alguns amigos”, complementa o jornalista. Foram quatro dias de gravação, para cinco episódios com cerca de 5 a 7 minutos. “Uma coisa que a gente tinha em mente era que não queríamos nada mal feito. A gente queria algo com o mínimo de boa produção, nada que fosse muito amador. Poderia dar retorno ou não, mas que a gente pudesse usar também para alavancar outros trabalhos”, detalha Bruno, acrescentando ainda que, após a estreia da primeira temporada no Youtube,
Indicações no Rio WebFest 2018 Melhor Série de Comédia Melhor Roteiro (Comédia) Melhor Direção (Comédia) Gustavo Seabra Melhor Ator (Comédia) Tiago Querino Melhor Elenco (Comédia) Melhor Edição Gustavo Seabra Melhor Figurino Melhor Trilha Sonora Melhor Produção Bruno Porciuncula Melhor Série Brasileira
em abril de 2018, com divulgação em outras redes sociais, a repercussão foi melhor que o esperado.
Festivais de Webséries O campo das séries feitas para a internet ainda está em crescimento no Brasil. Para dar um gás na produção e incentivar novos trabalhos, alguns festivais surgem para qualificar esses trabalhos. A primeira temporada de “Som do Amor” recebeu 10 indicações no Rio WebFest e ganhou em duas categorias: melhor websérie brasileira e melhor ator de comédia para Tiago Querino — que além de participar da produção, também protagonizou a trama. A websérie também foi selecionada para festivais em Londres, Los Angeles, Roma, Medellín, São Paulo e Espanha. “Pesquisando, eu vi que os festivais de webséries são bem abertos a todo tipo de proposta, de linguagens, de temática. Foi por isso que tivemos a ideia de fazer uma, por permitir um formato mais popular, mais próximo do cinema comercial. Esses festivais tem um conceito mais ‘pop’ mesmo”, relata Gustavo Seabra. Para o roteirista, não passou pela cabeça fazer algo mais politizado, a ideia era exatamente uma história mais leve e bem humorada. Apesar de ainda ser um mercado em ascensão, que enfrenta algumas dificuldades como falta de apoio do poder público, Gustavo acredita que é um campo que têm tudo para crescer:
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Uma coisa que a gente tinha em mente era que não queríamos nada mal feito. A gente queria algo com o mínimo de boa produção”
“Eu acho que produzir webséries é uma coisa promissora sim, não só na Bahia, mas no Brasil e no mundo. Hoje, existe um ranking mundial de festivais, e isso é muito legal, pois mostra que tem gente do mundo inteiro produzindo. Ao contrário do Brasil, em vários outros países, tem um investimento muito maior, funciona como um produto mesmo, que tem plataformas parecidas com o Netflix. Aqui ainda não temos esse investimento, mas, isso vem mudando aos poucos. O festival do Rio já é um dos maiores do mundo”. Com a boa recepção da primeira temporada de “Som do Amor”, Bruno, Tiago e Gustavo logo começaram a produzir a segunda, que foi lançada no Youtube em março deste ano. A expectativa era fazer um trabalho mais apurado, no entanto, nem mesmo o prêmio do Rio WebFest foi suficiente para arcar com as novas despesas. Foi aí que surgiu a ideia de conseguir doações através do crowdfunding, a famosa ‘vaquinha’.
Doações Online O crowdfunding é uma alternativa online de financiamento de projetos, que conta com doações de usuários da internet por meio de uma plataforma colaborativa. Diversos sites na web oferecem a ferramenta de ‘vaquinha’, que mostra a meta do valor a ser alcançado e a quantia já arrecadada. É possível doar com pagamento através do cartão de crédito ou boleto. Após o encerramento da campanha, o site hospedeiro fica com uma parte do dinheiro, e o restante é passado ao criador. A campanha para arrecadar fundos para a segunda temporada de “Som do Amor” foi feita através do site Benfeitoria, e divulgada no perfil da websérie no Instagram e no Facebook. Para alavancar as doações, a equipe
de produção do projeto até ofereceu brindes para alguns doadores. “Eu acho uma opção excelente”, defende Gustavo; “para o produtor independente é uma das melhores maneiras, mas tem que ser uma coisa muito bem estudada. Eu pesquisei bastante para escolher a melhor plataforma, saber se é confiável. Ainda assim, acho muito melhor do que depender de dinheiro público, edital do governo, esse tipo de coisa… Acho melhor ‘arregaçar as mangas’ e fazer um bom projeto, porque as pessoas colaboram se elas sentirem ‘firmeza’ nele”, completa. A meta estabelecida pela equipe da websérie foi de R$ 5 mil reais, e eles conseguiram arrecadar R$ 700 reais a mais. Com a quantia e o valor do prêmio do festival, foi possível realizar o projeto da segunda temporada, que ganhou uma produção mais elaborada, com episódios mais longos e já está inscrita em várias disputas. O futuro da websérie ainda é incerto, já que os criadores não tem certeza de uma nova temporada. “Temos a ideia de alguns roteiros novos, mas também pensamos em fazer uma terceira temporada, ou produzir um filme pra ‘fechar o ciclo’. Ainda não sabemos o que vamos fazer porque não temos recursos. Nos inscrevemos em um edital do governo e estamos esperando pra saber se vai ter alguma resposta”, diz Bruno. Com novos episódios ou não, “Som do Amor” já entrou para a história de obras audiovisuais baianas, e mostra que a produção independente merece a atenção do público - e a internet está aí para facilitar o caminho.
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Graduação em cinema, fazer ou não fazer? Estudantes ‘soltam o verbo’ sobre suas experiências com o curso e expectativas para o mercado de trabalho
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Eu gosto de brincar dizendo que eu não escolhi fazer cinema, o cinema que me escolheu. No primeiro semestre do Bi em artes, eu peguei uma matéria sobre documentário, e a partir daí fui me apaixonando pela área. A única decepção é de que a UFBa não disponibiliza um curso de cinema de fato, fazendo com que as matérias dessa área de concentração sejam limitadas, e não ofertando matérias imprescindíveis, como direito autoral, direção de arte e entre outras. Durante minha trajetória na faculdade, participei da realização de 4 curtas e estou na produção de mais um. Fora as produções que já venho participando de forma extra acadêmica. O mercado atual ainda é concentrado no eixo Rio-São Paulo, fazendo com que nós, acadêmicos de cinema, só possamos atuar aqui em Salvador ou no mercado independente, ou através de editais do governo. Com isso, muitos coletivos de cinema de Salvador estão tentando se tornar produtoras audiovisuais, para tentar se manter no mercado, mas ainda assim, é muito difícil. Dispomos de profissionais com bons requisitos, mas com um mercado bastante restrito, fazendo com que a gente se concentre nas áreas de edição de vídeo ou produção”
Alana Karolyne Pinheiro, 24 anos. Estudante do 5º semestre do bacharelado interdisciplinar em artes com concentração em cinema e audiovisual, na Universidade Federal da Bahia
Rudyally Kony de Oliveira Souza, 24 anos. Estudante do 8º semestre do curso de Cinema e Audiovisual na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
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Escolhi o curso de cinema devido a uma cultura de assistir filmes, vinda do meu pai, que me fez mergulhar cada vez mais e pesquisar por obras diferentes, criando assim uma forte identificação com animação, e alguns cineastas que me fizeram anos depois vir a escolher a área do audiovisual. Não me decepcionei com o curso da faculdade, mas com o modo como as graduações são feitas no Brasil, abordando o audiovisual como algo geral e sem muito aprofundamento em uma área singular, o que acaba não preparando o estudante para o mercado. O aluno de cinema tem de buscar áreas afins para iniciar. Durante a vida acadêmica, já participei de alguns curtas metragens de animação, exercendo a função de modelador 3D, Look Dev e também como editor em “As melhores noites de Veroni”, filme indicado ao Festival de Brasília, e outros. Todos foram de extrema importância para preparação de minha vida como profissional e acúmulo de experiência. Hoje, mesmo não formado, já me sinto um pouco mais confiante para encarar o mercado de trabalho. Não tenho uma ampla visão de como seja esse mercado a nível nacional, mas sei que é bastante restrito. Ao mesmo tempo, traz a possibilidade de buscar outras opções, por ser uma área tão ampla. É de extrema necessidade a criação de network para sobreviver em meio a ele” Fotografias: Arquivo Pessoal
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II Mostra de cinema negro brasileiro
Panorama coisa de cinema
A II Mostra de Cinema Negro Brasileiro acontece em Curitiba, entre os dias 01 a 04 de agosto de 2019.
Um dos eventos cinematográficos mais importantes da Bahia, o Panorama Coisa de Cinema acontece entre os dias 30 de outubro e 6 de novembro de 2019, nas cidades de Salvador e Cachoeira.
Serão selecionados 09 projetos de ficção em fase de desenvolvimento de temática livre escritos e protagonizados por pessoas negras, que serão contemplados com três dias de consultoria pelo Laboratório Griô. As inscrições estão abertas até o dia 13 de julho.
As inscrições para a mostra competitiva estão abertas até o dia 20 de julho, epodem participar curtas e longas-metragens nacionais e internacionais. Este ano, o festival completa 15 edições.
Rio WebFest O maior encontro de webséries do mundo chega em sua 5º edição. Sediado na Cidade das Artes, o evento acontece entre os dias 14 e 17 de novembro, com programação gratuita. Paraos produtores de webséries interessados em participar, as inscrições para concorrer em alguma das categorias vai até o dia 1º de setembro. O Rio Webfest conta ainda com o apoio de festivais parceiros, incluindo Los Angeles, Marselha, Toronto, Sicília, Roma, Bilbau, Melbourne, Seul e Berlim.
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9º Sercine
19º Goiânia Mostra Curtas
O Festival Sergipe de Audiovisual, sediado em Aracaju, está com inscrições abertas, até o dia 30 de junho, para sua 9º edição.
A 19º edição do Goiânia Mostra Curtas está programada para acontecer de 8 a 13 de outubro de 2019, em Goiânia, Goiás.
Os interessados podem se inscrever nas competitivas de curtas-metragens: Mostra Competitiva Cão de Telha de Cinema Nordestino, Mostra Competitiva Nacional Universitária e Mostra Competitiva Brasis. Cada pessoa pode inscrever quantos filmes quiser desde que seja feita uma inscrição para cada filme.
7º Cine Virada Festival de Cinema Universitário realizado na cidade de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, e produzido pelo grupo PET CINEMA UFRB. O evento irá selecionar produções audiovisuais universitárias, em duas categorias: mostra Competitiva Bahia e Competitiva Nordeste. Podem ser inscritos curtas-metragens com duração de até 20 minutos (incluindo os créditos), que tenham sido concluídos até maio de 2018. As inscrições vão até o dia 15 de julho de 2019, e o festival acontece entre os dias 03 e 07 de setembro.
O evento, sediado no Teatro Goiânia, tem como objetivo divulgar as produções nacionais e possibilitar o intercâmbio entre produtores. Podem ser inscritos curtas-metragens com até 25 minutos de duração, que tenham sido realizados a partir de 1º de janeiro de 2018. As inscrições estão abertas até 4 de julho.
4º Festival Internacional do Documentário Estudantil (FIDÉ) O FIDÉ é um festival não competitivo, e que busca apoiar e dar visibilidade ao trabalho de jovens documentaristas. Podem participar filmes de qualquer duração, suporte, ano de produção, nacionalidade e temática, que tenham sido realizados por um ou mais estudantes em qualquer instituição de ensino. As inscrições podem ser feitas até o dia 01 de agosto. A 4º edição do FIDÉ acontece entre os dias 07 a 10 de novembro de 2019, na Cinemateca de Curitiba. Fotografias: Divulgação
GLAUBER