Revista Hilda - 2ª edição

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m nossa primeira edição, pudemos contar com a colaboração de diversas mulheres incríveis e prontas para produzir o melhor conteúdo possível. É difícil ser gorda em um mundo que, muitas vezes, não quer nos enxergar e não nos inclui. Por isso, nesse ambiente gordofóbico, é preciso encontrar quem te faça bem e dar forças aos semelhantes. A partir daí, surgiu uma união e aliança entre mulheres baseada na empatia e no companheirismo. A Hilda é produzida de modo totalmente colaborativo e com total liberdade para que todas as visões possíveis sejam abordadas em nosso conteúdo. Ao início da edição, buscamos por mulheres de várias regiões que estejam dispostas a dedicar seu tempo e intelecto conosco. Sugerimos pautas a partir de um tema geral pré-definido e acolhemos sugestões dadas por elas também. Por depender de colaboradoras para sua produção, a revista fica vulnerável com relação a sua publicação, mas nos esforçamos muito para que possamos entregar um conteúdo de muita representatividade e qualidade. Agradecemos a todos que contribuíram de alguma forma, seja com texto, fotos, imagens e ilustrações. Ainda somos pequenos, mas, com todo o esforço e carinho que recebemos, somos fortes. Seguiremos sempre com Hilda e preparem-se para cada vez mais novidades!

- Amanda Lima editora-chefe

Colaboradores

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Maria Eduarda Novaes Dani Verdejo Alexandra Kalogeras (p.46-49) Texto (Capa, p.22-29) Fotógrafa (p.16-17) Texto Maurício Camara Aline Luppi Daniel Aguiar (p.22-25) Modelo (p.46,48-49) Modelo (p.32-33) modelo Natalie McCain Ana Carolina Lima Geraldo Felício (p.22-25) Modelo (p.52-55) Ilustrador (p.38-39) Modelo Paulo Gustavo Simão Giovana Baria Ana Clara Arantes (p.52-55) Texto (p.46,48-49) Fotógrafo (p.12-15) Texto Priscila Suares Bruno Leal Pereira Gisele Lima (p.4-7) Texto (Capa, p.26-29) Modelo (p.44-45) Texto Isabella Trad Renata Grota Carla Pereira (Capa, p.26-29) Modelo (p.50-51) Texto (p.18-21) Texto Rita Cruz Carol Plima Lara Amaral (p.32-33) Modelo (p.30-31) Modelo (p.30-31) Modelo Thiago Suares Caroline Tedesco Lucas Cajueiro Diagramador (p.42) Fotógrafa Revisor

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hilda número 2 - Mar/ 2018

RELAÇÕES 4

Vamos Aprender?

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O Mercado de Trabalho Não Está Pronto para Nós

Ana Clara Arantes

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Gordofobia, Preconceito a ser Superado

Maria Eduarda Novaes

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Os Ossos de Cada Ofício

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Perder Peso por Alguém: A Gordofobia Dentro dos Relacionamentos Amorosos

Amanda Lima e Dani Verdejo

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Ensaio Encontre Alguém Que...

Amanda Lima

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Sem Vergonha

Amanda Lima

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Gorda e Grávida

Gisele Lima

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Linda, Livre, Sexy e Gorda

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Aline Luppi: Uma História Sobre Relações

Isabella Trad

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#FALAHILDA A Mulher Gorda como Modelo

Giovana Baria

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Manifesto para as Gordas

Priscila Suares Amanda Lima

Renata Grota

Alexandra Kalogeras

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Vamos aprender? Por Priscila Suares

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m um processo de autoaceitação, é preciso compreender alguns termos e conceitos. Por exemplo, você sabe o que é padrão de beleza? Trata-se de regras e aspectos que estabelecem e definem o “normal” para que o sujeito se identifique e imponha aos outros. O grande problema dessa realidade é o fato de que esses corpos ideais são apenas representações sociais que retratam uma visão compartilhada e imposta. Essa construção está em constante mudança e é moldada de acordo com cada época, local e cultura. A partir do padrão estabelecido, há uma grande disseminação por meio da mídia e da própria sociedade exigindo esse padrão. Assim, são formados comportamentos e aspectos físicos ditos como positivos e negativos. Na atualidade, ser gorda vai totalmente contra o considerado ideal. Toda a ditadura e preocupação com a aparência do outro ocorre porque o corpo é o veículo de comunicação do homem e o padrão de beleza diz respeito ao que, diante da sociedade, é mais comunicativo. Aqueles que

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fogem do modelo sofrem represálias por estarem fugindo de um padrão comunicativo estabelecido pelo grupo social daquele momento. O preconceito surge, então, com aqueles que não se encaixam nesse padrão de beleza. Ocorrem dois modos de repressão que variam de acordo com o tamanho da pessoa: a pressão estética e a gordofobia. A primeira é referente à constante exposição de corpos “perfeitos” na mídia, pois ela condiciona o tipo físico ao sucesso e à beleza. Essa pressão constante faz com que aqueles fora dos padrões se sintam mal consigo mesmos e queiram mudar para serem incluídos. Eles consomem, portanto, produtos e serviços fornecidos pela indústria, criando um ciclo que se baseia na infelicidade e inconformidade de ser como é. Isso é pressão estética. Haverá muitas críticas ao corpo e o indivíduo será levado a crer que seu biotipo, no caso, não é o ideal. Trata-se de um ciclo cruel e que pode acarretar em questões psicológicas.


Já a gordofobia, além da discriminação e aversão ao corpo gordo, priva a pessoa também de manter um convívio social. É a catraca que não comporta a silhueta, a cadeira que não suporta, as roupas que não servem, a poltrona que não cabe. Todos esses empecilhos estão presentes diariamente. O mundo não está pronto para o seu tamanho e não se dispõe a mudar. Ele insiste em afirmar que não foi feito para você, fora do padrão. Percebe-se então que a gordofobia não é um “estágio mais grave” da pressão estética, pois você pode não ligar se criticam sua aparência ou se não

se encaixa no padrão, mas você não consegue deixar para lá uma roupa que não te serve ou uma cadeira que não te cabe. Com todas essas represálias que um corpo fora do padrão pode receber na sociedade atual, o body positive se mostra necessário. Em tradução literal, significa imagem corporal positiva. Ou seja, um olhar positivo e sincero com seu próprio corpo, um olhar com carinho para a própria imagem. É não deixar esses padrões interferirem no modo como você se enxerga e se trata. É simplesmente estar pronta para ver a beleza existente em si mesma.

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“Gorda” como xingamento O machismo de cada dia faz com que a mulher seja valorizada de acordo com sua beleza. Então aquelas fora dos padrões são taxadas de preguiçosas e indesejadas. Além disso, há o fator cultural que coloca a palavra “gorda” como ofensa. Porém, não, gorda não é xingamento, é apenas uma característica como qualquer outra: alta, baixa, magra... Quem tá comendo tá gostando / não tá reclamando Você coloca no outro a responsabilidade de estar se sentindo bem consigo mesma. Além disso, você não pode depender de alguém para se gostar. Mimimi / vitimismo / coitadismo Termo usado para falar que alguém está reclamando de algo que não existe, exagerando muito. Geralmente, quem utiliza esses termos não vive a opressão daquela pessoa. Por isso, sugerimos um exercício: fique em silêncio e se coloque no lugar do outro, recorra à empatia. Não utilize a experiência que você tem do mundo para definir todas as experiências existentes. Gordice Refere-se ao ato de comer muito ou comer algo não tão saudável, como doces, massas, fast foods e afins. Entretanto, comer não é uma exclusividade da pessoa gorda. Inclusive, existem pessoas magras que comem tanto ou mais que qualquer pessoa, não dá para generalizar.

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“Tô enorme de gorda, uma baleia” Geralmente utilizado por pessoas magras que não vestem nem perto do 48. Tudo bem você não gostar de estar gorda, tudo bem você não querer engordar nenhum quilo, mas não condene aquelas que estão. Assim como você tem preferência pela sua aparência, as garotas gordas também têm. Olho gordo Novamente, comer não é exclusividade de uma pessoa gorda, assim como ela também não vai desejar tudo o que você tem ou come. Gordelícia Muitas mulheres gordas utilizam o termo a fim de ressaltar sua sensualidade mesmo fora do padrão. A questão é que o termo sexualiza a mulher gorda e a restringe a objetificação. Ser gostosa está ligado à magreza, todas nós somos e podemos ser. Por isso, para que o termo?

Gordinha, fofinha, cheinha, fortinha Não, somos gordas mesmo. Não precisa ter medo de se referir a nós como a mulher gorda, pois nós somos mesmo. Novamente, é apenas uma característica. Utilizar diminutivos e eufemismos não eleva nossa autoestima e nem “melhora” nossa forma física.

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O mercado de trabalho não está pronto para nós Por Amanda Lima

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ma pesquisa realizada com 31 mil executivos identificou que 65% têm alguma restrição na hora de contratar pessoas gordas. Além disso, o mercado paga mais às pessoas magras. Ou seja, cada valor a mais no Índice de Massa Corporal (IMC) da pessoa significa, para o trabalhador, uma diminuição em seu salário. Sim, é assustador como essa discriminação causa tamanha desigualdade e falta de oportunidade. Muitos dos empresários que procuram por recepcionistas, secretárias,

vendedoras e afins, alegam ainda que “contratar uma pessoa gorda pode afetar a imagem na empresa”. Relacionar o peso de alguém com o nível de beleza, além de desumano, é irracional. A gordofobia é presente sim no mercado de trabalho e, com ela, há a dificuldade de pessoas gordas para encontrar um emprego ou um local saudável no qual não irá sofrer preconceito por causa de sua forma física.

M. C. Já trabalhei em uma empresa que organizou uma corrida solidária, nem lembro mais a causa. Quando me inscrevi, rolaram comentários maldosos por parte da organização, além de piadinhas pelo corredor. Já em outra, tomavam conta de tudo o que eu comia. Se estava fazendo dieta, diziam “mas não cansa de comer só ovo?”. Se estava numa semana mais desregrada: “Ué! Parou com os ovos?”. Não sei de onde tiraram que gordo é um território neutro onde todo mundo pode meter o bedelho. Nunca me lamentei ou pedi ajuda de ninguém!

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N. F. Eu trabalho em prefeitura, área da saúde, então escuto tudo quanto é palpite sobre meu corpo por ser gorda. Uma época emagreci e ficaram falando que estava magra demais. Ou seja, nunca está bom. No início, eu chorava, mas hoje eu lido no coice.

K. M. No meu primeiro emprego, eu fui fazer entrevista na inocência sem perceber que o perfil que era esperado era o de meninas magras (para trabalhar com divulgação na rua). Os entrevistadores ficaram me passando de um para o outro sem querer me entrevistar. Consegui o emprego e pedido de desculpa depois, mas a hostilidade inicial me marcou. Outra vez, eu passei no concurso do IBGE para fazer o censo e o chefe lá me negou uma área porque disse que, com o meu peso, eu não aguentaria cobrir a área toda.

S. S. Já me acusaram de ser a pessoa que rouba comida na empresa. E, em outra ocasião, disseram que eu só trabalho bem porque não tenho beleza para conseguir emprego dando para o chefe. Em nenhuma das duas situações, aconteceu algo com a pessoa que falou.

M. B. Tenho uma chefe que passa na minha sala e eu posso estar comendo um iogurte natural caseiro de café da manhã (porque saio correndo de casa e como no trabalho) que ela me chama de gulosa. Lá temos também uma confraternização semanal, em que as pessoas levam o lanche e tal. Quando ocorre, não fica ninguém sem reclamar que está gordo. Tem gente que fica só olhando os outros comerem com cara de cachorro que caiu da mudança para não sair da dieta. É super desagradável.

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A. L. Eu trabalhei em um hostel durante um ano, super informal. Eu tenho piercings, cabelo colorido e ia de short e chinelo trabalhar (Rio, 40°). O primeiro dono me tratava mal porque não gostava de gordo, me achava insuportável desde o primeiro dia. O segundo dono era legal, porém namorava uma mulher super magra. Daí eles controlavam o que comiam o tempo todo e falavam coisas, como: “Bruno, amor, você está ficando gordo, essa barriga aparecendo? Uma vergonha, esse mês é academia todo dia”. Eram incentivos. Um dia eu fiquei doente e, depois disso, eu era chamada constantemente na sala deles para falar sobre meu peso e sobre como isso estava atrapalhando o trabalho. Falavam também que, se eu não fizesse uma dieta e comesse melhor, eles iam me demitir. O almoço era lá no hostel mesmo, a moça da cozinha separava um pedaço de frango para mim e eu levava arroz de casa. Eles a proibiram de deixar frango para mim e disseram que, se eu quisesse comer lá, seria a comida que fosse saudável. Ouvia que eu era preguiçosa, que rendia pouco, que não devia fazer sucesso entre os caras...

R. A. Tenho uma graduação e um mestrado, ambos em uma universidade de ponta. Curiosamente, sempre sou o candidato ideal até a entrevista.... Desta última vez, passei para uma terceira etapa de um processo seletivo que envolve um processo de formação e dinâmicas. Cheguei no local e a surpresa: a velha cadeira com aquela mesa acoplada simplesmente não comporta meu corpo. O que a gente faz numa hora dessas? Eu tenho me esforçado para me manter forte e inabalável. Mas não há lembrete maior do que viver essas situações.... Um ressoar da frase “você NÃO pertence aqui, aqui NÃO é seu lugar”.

D. A. Aconteceu comigo ano passado. Ficarem super interessados no meu currículo, até pedirem uma foto de corpo inteiro. Eu disse que era gorda e nem precisei mandar foto, pois eles sequer responderam.

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Preconceito a ser superado Por Ana Clara Arantes

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ordofobia: medo exagerado, falta de tolerância ou aversão a pessoas gordas. Esse é o significado correto da palavra, mas quem sofre por causa dos gordofóbicos sabe que vai além de uma definição, trata-se de um preconceito. Nunca se falou tanto em plus size e autoaceitação e, em um mundo em que a quebra do padrão de peso anda tão em alta, também deve-se colocar em voga a gordofobia, preconceito vivido por muitas pessoas acima do peso imposto pela sociedade. Não é incomum encontrar pessoas que sofrem discriminação por serem gordas. É o caso da jornalista Thalita Freitas, de 26 anos. Na infância, ela sofreu bullying de amigos de escola a chamando de gorda. Thalita, além de ser fora dos padrões, possui alopecia – doença que causa perda parcial ou total dos pelos do corpo. “Com os amigos foi bem interessante porque eu fui uma criança com problemas desde cedo. Com a doença, fiquei completamente careca aos 15 anos. O processo todo começou com 13

e meus cabelos só voltaram aos 17. Então eu, além de ser a garota gorda, também era a garota careca e doente”, explica. Ela relata ainda que a maior parte da gordofobia era, e ainda é, praticada por familiares. “Meus irmãos pegavam muito no meu pé por conta do peso. Me chamavam de gorda, falavam o tempo todo que eu precisava emagrecer, que não podia comer determinadas coisas. Foram anos de bullying. Hoje, não vou dizer que eles não falam as mesmas coisas, mas acho que perceberam que eu não dou muita atenção, então pararam de comentar o tempo todo sobre meu peso”. Foi em 2012 que a jornalista aceitou o próprio corpo e descobriu que o peso não a impedia de ser quem ela quisesse e como desejasse. Então, Thalita começou a fazer pole dance e percebeu que podia sim ser desejada por outras pessoas.

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Já Adriana Líbini, 32, é fotógrafa especializada em mulheres gordas. Segundo ela, sempre foi gorda e isso nunca a incomodou. O incômodo partia das pessoas de fora e, na maioria das vezes, de dentro de casa. Apesar de se aceitar e amar, Adriana percebe que ainda assim o preconceito não diminui. O que muda é a perspectiva dela sobre ela mesma, o que faz com que o que vem de fora não a incomode.

“Na época de escola o meu apelido era GORDA, no ensino médio era MAMUTE. Naquela época não tinha muita gente falando de plus size, gordofobia, aceitação e, pelo fato de ser super tranquila, achava legal o apelido e lidava de uma forma positiva. Acho que quando não damos ênfase nessas coisas, o pessoal não pega pesado e nossa aceitação acaba incomodando.’’ Na profissão, a fotógrafa relata que as modelos magras não a querem e os fotógrafos a chamam de corajosa por fazer fashion plus. Segundo eles, é difícil fotografar esse estilo. Adriana diz ainda que foi na profissão que

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ela aprendeu que qualquer pessoa merece ser como e o que quiser. O engenheiro agrônomo Jorge Afonso* tem 32 anos e é gordo desde os 10 anos de idade. Atualmente, em processo de emagrecimento, decidiu perder peso por questões de saúde e estética e acredita que os preconceitos vivenciados ao longo da vida o levaram a tomar essa decisão. Mesmo sofrendo com a gordofobia, percebe que as mulheres sofram mais que os homens. “Por ainda estar em uma condição acima do peso, ver as críticas machistas e preconceituosas me machucam muito, pois sinto empatia pelas mulheres. Acho lamentável tudo isso”, disse. Para a psicóloga Letícia Luján, de 25 anos, suas amizades já foram motivo para sentir-se mal. Ela conta que quando as amigas endeusam corpos magros ou falam com certo ódio que engordaram, isso significa que seu corpo gordo não é válido. Letícia lembra que fazia de tudo para disfarçar seu corpo quando saía com algumas amigas. Hoje em dia, ela não faz mais isso e enfatiza que ninguém é capaz de fazê-la sentir vergonha de si mesma. A psicóloga conta ainda que sua profissão ajuda mulheres gordas. “Eu sou psicóloga clínica, ajudo mulheres a entenderem que a gordofobia existe e que, independente do preconceito, ela precisa ter autoestima para continuar vivendo e com qualidade”.


“Eu me amo demais. Eu não conseguiria viver sem mim. Meu corpo é a minha história, é a minha imagem. Amo demais tudo o que tenho, sou muito feliz comigo mesma. Às vezes eu tenho problema de autoestima, mas nunca mais teve relação com meu corpo.” Nem todas as amizades são preconceituosas e fazem mal, reforçando um padrão estético. Letícia diz que o processo de autoaceitação veio devido ao feminismo, quando ainda estava na faculdade. Ela fez amizades importantes, que a levaram a descobrir a luta contra a gordofobia e, como consequência, se encontrou, se aceitou e passou a se admirar e amar. Todas as pessoas gordas têm um relato sobre um preconceito sofrido. Quando se tenta tanto quebrar um padrão estético, é necessário lembrar também que junto ao imposto pela sociedade vem o preconceito daquilo que é contrário. Deve-se sempre lutar pela quebra deste preconceito, pelo fim da gordofobia. Quem disse que temos de ser como a sociedade prega que sejamos? Que quebremos padrões e construamos felicidade e amor com nosso próprio corpo! *Nome fictício

Vamos superar juntas.


Crônica:

Os ossos de cada ofício Por Maria Eduarda Novaes Sim, eu estava completamente vazia – mesmo sem saber como “completamente” e “vazia” poderiam caber numa mesma sentença. Mas minha sentença-mistério era outra: como carregar a minha dureza por mais um dia? Deitei-me na cama, outra vez, outra noite, sentindo-me murcha. Dormia agarrada a travesseiros, pois ossos batendo em ossos, machuca... Sim, a dureza dói! A cada mirada no espelho, não via conteúdo, recheio, perspectiva, uma gota sequer de autoestima, e muito menos um futuro caso continuasse assim. Sentia que nem mesmo as comidas gostavam de mim, já que nem elas me preenchiam: morriam na boca, tal qual o prazer que me davam. Simples blusas já me vestiam até quase o joelho, calças precisavam ser dobradas... A vida era um festival de “P” que precisava ser alongado, ou “M” que precisava ser encurtado.

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Eu invejava pessoas com viço, enquanto eu parecia uma doente. Por tanto tempo, me senti um fantasma arrastando corrente. Se vestisse branco, era facilmente confundida com uma entidade, como no dia em que o dono da funerária local resolveu me pedir que fizesse fotos com a frase “voltei para dizer que não tenho do que reclamar do serviço”. Como sei bem que osso batendo em osso dói, desci-lhe o braço no crânio sem dó. As mágoas e a dor no braço, fui curar na sorveteria, tomando sundae duplo com o braço encostado na geladeira. “Tudo isso, moça? Cuidado, assim vai engordar”. Quem dera fosse tão simples. Tirar é mais fácil que pôr. Leva-se anos para engordar, mas bastam algumas horas para sugar tudo numa lipo. Quem dera houvesse o procedimento oposto, pois levei tempo demais para construir o corpo que queria. E lá se foram cinco anos... Enfim, via no espelho uma nova mulher, quase irreconhecível. Enfim, havia viço, conteúdo, autoestima. Já não precisava mais reformar as roupas por ser menor que a menor numeração, e podia vestir branco, pois as “propostas publicitárias” também mudaram. Queriam minhas fotos em borracharias, em anúncios de confeitarias, e até em SPAs, mas vendendo meu “antes” como se fosse o “depois”... Sim, eu estava completamente vazia - mesmo sem saber como “completamente” e “vazia” poderiam caber numa mesma sentença. Mas minha sentença-mistério agora é outra: como devolver a dureza a quem de fato lhe pertence? Deitei-me na cama, outra vez, outra noite, mas agora me sentido um bambu. Foram anos criando raízes para ser por dentro exatamente o que já sou por fora: firme o bastante para balançar nas piores tempestades, mas não quebrar! As pessoas seguem a me ofender com consciente malícia, mas quando o preconceito me acerta, inclino uns 90°, e, voltando ao eixo, empurro de volta, com força propulsora invejável, tudo que me pendeu. Efeito bumerangue turbinado, mais que minha nova silhueta, mais até que minha nova autoestima.

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Perder peso por alguém:

A gordofobia dentro dos relacionamentos Por Renata Grota

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pesar de cada um ter uma vivência diferente, existem situações que são comuns para boa parte das pessoas gordas. Aquelas que foram gordas na adolescência – em especial, mulheres – sabem o que é lidar com um amor platônico e ver aquela pessoa por quem você está apaixonada com alguém mais magra que você. Ou então, existem os casos de quem começou um relacionamento magro e, quando engordou, foi trocado por outra com quilos a menos.

Essa situação, misturada com a pressão da sociedade cheia de padrões em que a gente vive, faz com que muitas vezes a mulher acredite que, para estar em um relacionamento, ela precisa ser magra. A obsessão pela magreza é bombardeada na sociedade e há quem ache que não merece ser amada justamente por estar fora daquilo considerado como um corpo ideal. O problema é que isso não faz bem nem para a saúde física e nem para a mental.

Felizmente, isso não é regra, mas a verdade é que a gordofobia nas relações amorosas ainda está muito presente. Isso não acontece só com quem nunca namorou ou já passou por um término por causa de peso. Até quem está em um relacionamento passa por isso. Quantos parceiros (as) reclamam do peso? Quantos falam para emagrecer? Quantos dizem que “você se cuidava mais antes”? Se você perguntar o porquê dessas atitudes, eles vão dizer que é uma simples preocupação, mas, na verdade, isso vai muito além.

Sobre essa questão de saúde, os psicólogos e psiquiatras frisam que a busca incansável pelo corpo ideal pode causar um problema muito sério: o distúrbio de autoimagem. Por causa dessa doença, a pessoa vê no espelho uma imagem que não condiz com a realidade, se vê com muito mais peso do que tem e tenta de todas as formas mudar essa situação. As consequências disso são transtornos alimentares de extrema gravidade que podem vir a ser fatais.

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Isso tudo afeta nossos relacionamentos também. O fato de as pessoas não estarem bem consigo mesmas e com seus corpos reflete na maneira que ela vê o relacionamento. E quando esse relacionamento está pautado em gordofobia isso é pior ainda. A Samara Lopes teve esse tipo de problema em suas relações amorosas. Segundo ela, os namoros começavam bem até que a gordofobia começava a atrapalhar. “Com o

decorrer do tempo, a cobrança era excessiva. Por conta do preconceito que eles sofriam e vergonha também”, conta. Para tentar atender ao pedido dos namorados, além de malhar e fazer dieta, ela chegava a tomar suco de casca de abacaxi para inibir o apetite. Atualmente, Samara tem uma visão muito diferente disso: “hoje me aceito como sou e quem quiser seguir comigo que me aceite sem preconceitos”.

Revenge Body – O corpo de vingança

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amos fazer um teste. Vá até o Google e coloque “emagrecimento + namoro”. Só na primeira página vão aparecer pelo menos três matérias sobre pessoas (novamente aqui as mulheres são as mais atingidas) que perderam muito peso após terem perdido o parceiro por conta do peso ou depois de passarem por alguma situação traumática no relacionamento por conta disso. Aliás, você não precisa nem do Google. É só passar em qualquer banca de jornal e ver que as revistas colocam na sua capa as mesmas matérias sobre o assunto. “Fulana termina o relacionamento e perde 40KG”; “Mulher perde 20kg e ex pede para voltar”; e por aí vai. Isso acontece com frequência com pessoas que foram humilhadas nos seus relacionamentos por causa da gordofobia. Por isso,

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elas saem daquele período com uma vontade de se vingar. E qual é a vingança que elas procuram? Perder peso e mostrar o corpo novo para o ex. O primeiro problema é justamente esse: como o corpo gordo não é sinônimo de algo bom ou de beleza. O segundo é que, normalmente, aquilo vira uma obsessão. Algumas mulheres mudam completamente sua rotina, elas entram em uma carga de exercícios intensa e fazem dietas restritivas e, algumas vezes, até prejudiciais à saúde. Isso se torna seu único objetivo de vida naquele momento. Além disso, a vontade de emagrecer não é por uma razão pessoal e bem pensada, é a pura e simples vontade de mostrar para o ex que está “bem”. O que, na concepção dessas pessoas, é estar com “um corpão” e muito magras.


Nicole Weingart / E! Entertainment

Esse ano, a discussão veio à tona por causa de um programa de televisão – o “Revenge Body with Khloé Kardashian” (em tradução livre: Corpo de vingança com Khloé Kardashian), do canal E!. Na atração, as pessoas que têm problemas com seu corpo são acompanhadas por diversos profissionais, como nutricionistas e personal trainers, para chegar ao corpo que querem. O programa não fala só sobre pessoas que emagrecem por conta de relacionamentos, mas sem dúvida essa é a motivação da maioria dos participantes: emagrecer para se “vingar” de um ex ou para agradar um atual. E, mesmo que a motivação não seja exatamente um relacionamento amoroso, perder peso não é terapia e não deveria ser mostrado como forma de resolver problemas ou curar traumas. É preciso lembrar de que um relacionamento saudável é aquele em que a pessoa te ama pelo que você

“... a vontade de emagrecer não é por uma razão pessoal e bem pensada, é a pura e simples vontade de mostrar para o ex que está bem” é, não só pelo corpo que você tem ou por quantos quilos você perdeu. Se isso é um fator decisivo naquele relacionamento, então existe algo de muito errado nele. É preciso tirar a gordodobia do caminho e, para isso, cada uma deve olhar com carinho para o próprio corpo e repensar relacionamentos. É essencial respeitar os parceiros em sua totalidade e não apenas no que te interessa.

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Ensaio

Encontre alguém que... Por Dani Verdejo e Amanda Lima

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elhor do que encontrar alguém para amar é descobrir e cultivar o amor intenso por si mesmo. Colocar-se sempre em primeiro lugar e não aceitar nada menos que o melhor para si. É não se contentar com coisa pouca e não permitir que ninguém te diminua. É encontrar alguém que te respeite, te ame igualmente, não tente te mudar e ressalte toda sua beleza (não apenas exterior).

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ncontre alguém que te faça rir e adore suas gargalhadas, que te veja além e te conheça de verdade. Encontre alguém que irá se adaptar ao seu jeito e que vá se encaixar perfeitamente.

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ncontre alguém que seja seu porto seguro, que estará lá sempre que seu mundo desabar e que você não precisará implorar para estar presente.

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ncontre alguĂŠm que te valorize e que se entregue tanto quanto vocĂŞ.

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ncontre alguém que faça você se sentir bem consigo mesma, mesmo que esteja em um mal dia. Alguém que nunca diminuirá sua autoestima e nem te desencorajará a usar certas roupas ou fazer certas atividades.

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ncontre alguĂŠm com quem vocĂŞ possa ser vocĂŞ mesma e que te ajude a descobrir, todos os dias, uma nova qualidade sobre si.

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ncontre alguĂŠm que seja quem vocĂŞ precisa e nada menos.

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Mas se nĂŁo encontrar...


Seja esse alguém, seja o suficiente sempre. Você é inteira, não aceite alguém pela metade.


Sem Vergonha Por Amanda Lima

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eios grandes, barriga avantajada, quadril largo e bunda grande. São muitas curvas a serem calculadas na hora do sexo. Uma posição que favoreça, nos deixe confortável e, lógico, seja mais prazerosa ainda. Não há fórmula secreta, não tem como definir as melhores posições e truques para nós, gordas. Por isso, separamos algumas dicas para te ajudar na hora H e tornar tudo ainda mais incrível (e delicioso). Primeiro, e acima de tudo, é preciso não ter vergonha do corpo. É impossível estar aberta ao prazer se você estiver, ao mesmo tempo, tentando esconder a celulite ou a barriga que se esparrama

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para o lado quando se está deitada. A insegurança com o corpo ou a preocupação com o que a pessoa vai achar de você e da sua performance acaba anulando todo o propósito daquele momento: o prazer. Sobre posições: não existe um kama sutra exato para gordas (ou para magras). É preciso explorar o próprio corpo e se descobrir com o seu companheiro ou a sua companheira. Afinal, são diversos os fatores que podem influenciar. Mas, como somos boas amigas, fizemos uma pesquisa com um grupo de mulheres gordas e descobrimos suas posições favoritas (sim, as mais deliciosas e prazerosas):

frango assado

po r ci ma

Ilustrações de Carlee Ranger.

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Gorda e Grávida por Amanda Lima

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odos os percalços tradicionais da gravidez somados ao preconceito podem tornar toda a experiência extremamente desgastante, porém, recompensadora.

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Natalie McCain é mãe, fotográfa e criadora do The Honest Body project, que visa fotografar muheres com corpos reais e ajudá-las a ver a sua verdadeira beleza.

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ravidez: um estado pelo qual tantas mulheres desejam passar. O momento em que muitas dizem conhecer o verdadeiro significado do amor. É inexplicável, extraordinário, único! E, mesmo com todo o significado e magia que uma gestação carrega, é muito comum relatos de mulheres gordas que, quando grávidas, foram negligenciadas por alguns médicos. Elas descrevem a falta de amparo, discursos intimidadores, brincadeiras em tons jocosos, ofensas verbais, entre tantos outros casos de gordofobia médica. Jeniffer de Oliveira, de 25 anos, conta que, durante sua gestação, foi pressionada a tomar decisões que não se baseavam em fatos científicos, mas sim no preconceito do obstetra que a assistia. “No dia do parto, meu médico teve um imprevisto e fui atendida pelo obstetra de plantão. Esse cara disse que minha vagina era muito gorda para um bebê e que ele se perderia na hora de sair”, relata. Esse não é um caso exclusivo. Tereza Wilhelm, de 33 anos, passou pelo mesmo descaso no nascimento de sua segunda filha. Durante sua gravidez, chegou a pesar 117 kg e, no dia do parto, a médica que foi fazer o exame de toque disse que a razão por ela estar gorda é porque não podia ver uma panela destampada. A quantidade de casos do tipo só mostra o quanto a gordofobia está presente e impede que mulheres gordas possam desfrutar desse período tão especial como qualquer outra mulher.

Com tantos casos de negligência e de preconceito, o medo acompanha a emoção de se descobrir uma gravidez. Paty Magalhães é maquiadora e está grávida de 37 semanas. Ela conta que houve preocupação com relação ao seu peso quando descobriu a gravidez: “Depois que passou o efeito da surpresa, fiquei tomada de preocupação. Fui pesquisar sobre mulheres gordas e gravidez e só encontrei desgraça. Isso fez com que eu ficasse com ainda mais medo e às vezes até culpada por ser uma mulher 40 hildagorda grávida”.

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Quanto à busca de um obstetra, Paty fala da dificuldade em encontrar um especialista pela pouca opção ofertada pelo convênio. Além das poucas opções, ela sofreu gordofobia na primeira profissional com a qual consultou. “Desde a primeira consulta ela me tratava como uma bomba relógio e era extremamente grossa comigo. Ela simplesmente não acreditava no fato de eu não ter diabetes, colesterol alto ou pressão alta, afinal é tudo que as pessoas tacham e esperam de uma pessoa gorda”, desabafa. Ela conta também, que quando entregou seu exame de sangue, a médica viu que estava tudo bem e, ao invés de passar tranquilidade, apenas a amedrontou ainda mais. “Eu estava com medo e insegura e ela só fazia isso piorar. Um dia chorei após a consulta de tão mal que ela me tratou e foi quando decidi mudar de médica”, explica. Foi com a segunda médica que Paty teve uma experiência médica digna. “Com a outra médica foi uma história completamente diferente e feliz. É com quem estou até agora, tem sido ótima comigo e nunca mencionou meu peso como um problema. Aliás, a única vez que falou sobre peso foi na primeira consulta quando disse quanto eu deveria engordar por mês e só. Ela me trata como uma paciente normal, até porque minha gravidez não é de risco, e me tranquiliza quando eu falo sobre ser gorda e ter medo”. Assim como Paty, outras muitas mulheres gordas passam por algum tipo de experiência ruim quanto à consulta médica, seja pelo atendimento gordofóbico ou pela falta de equipamentos que suportem o peso. O ginecologista e obstetra, Edgar Bandeira, explica que o sobrepeso pode ser um fato para risco em uma gestação, mas o risco não é algo exclusivo dessa característica. “É preciso um monitoramento e acompanhamento mais frequente. Porém, não é motivo para falta de ética e profissionalismo, a mulher gorda merece o mesmo tratamento de qualquer outra”, destaca.

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Existem sim cuidados a serem tomados quanto à gravidez de mulheres gordas. Entretanto, ainda que haja certa preocupação, elas não devem ser discriminadas e nem desrespeitadas. Uma mulher gorda não se resume ao número na balança e, ainda que esse seja um fator de risco em determinado caso, o mínimo que ela merece ainda é o respeito. É preciso ter o acompanhamento mais adequado, assim como no caso de qualquer outra mulher, com uma uma abordagem receptiva e não preconceituosa. Afinal, a gravidez é um momento que deve ser único e extraordinário para a mulher, independente do seu peso.

The Honest Body Project Criado pela fotógrafa americana Natalie McCain, o The Honest Body Project (em tradução livre, “o projeto do corpo honesto”) foi criado para ajudar mulheres a aprender a amar seus corpos e a si mesmas. Ele é composto por fotografias e relatos de mulheres incríveis acerca da maternidade. O projeto mostra a alegria, a beleza, a imperfeição e o amor dessas mulheres. Segundo a artista, “como mulheres, somos ensinadas a nos julgar mais do que qualquer um julgaria”. The Honest Body Project busca dar voz a essas mulheres para compartilharem suas experiências quanto às mudanças do corpo após a gravidez. Com a iniciativa, Natalie quer ajudar a próxima geração de mulheres a ter uma imagem saudável de seus corpos. “Eu quero empoderar as mães de todos os lugares a usar com orgulho seus corpos pós-parto”, explica. O projeto nos apresenta mulheres de todos os biotipos, com distintos efeitos da gravidez e muita beleza na diversidade. Afinal, todo corpo merece respeito, todo corpo tem sua história, todo corpo exige respeito.

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Confira a primeira edição da Revista Hilda clicando aqui.

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Linda, Livre, Sexy e Gorda Por Gisele Lima

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e você usa tamanho grande, com certeza já teve (ou ainda tem) dificuldade na hora de comprar roupas. Quando se trata de roupas íntimas então.... Pode ser ainda pior! Mas se está achando que as calçolas sem graça são sua única opção, você está muito enganada! Com a especialização do mercado plus size, o empoderamento feminino e o reconhecimento da sexualidade e sensualidade das mulheres gordas, cada vez mais marcas têm investido no ramo. Por isso, avaliamos as marcas mais recomendadas para te ajudar a escolher a melhor!

A GG.rie é uma marca que investe na sensualidade e na modernidade de seus produtos. Ela busca a acessibilidade das tendências do mercado para o seu público, além de se preocupar em enaltecer a beleza das mais diferentes mulheres e de seus corpos ímpares.

A marca possui uma grande abrangência de tamanhos (do 40B até o 52D), além de oferecer produtos de ótima qualidade e visual. O modelo é um dos mais famosos, disponível em praticamente todos os tamanhos. Ele possui um efeito push-up incrível e sem bojo, além de ser todo em renda. Trata-se de sustentação, conforto e beleza em uma só peça.

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Apesar de produtos incríveis, a loja não possui uma variedade tão grande assim de modelos, e alguns ainda se encontram indisponíveis no site.

Infelizmente como a maioria das marcas, quanto maior o número menor, é a oferta de produtos. Isso faz com que as gordas maiores fiquem com pouca opção. Apesar de todas as qualidades que tem, a marca é bastante cara, dificultando ainda mais o acesso para algumas pessoas.


Sem dúvidas, uma das lojas com a maior diversidade de produtos: muitos modelos, cores e estilos diferentes estão à disposição. Democrática, de qualidade e ainda tem entrega rápida!

Além da democracia entre os corpos, seu catálogo não apresenta diferenciação entre modelos tamanho padrão e tamanhos plus. A marca ainda promove o consumo consciente e o empreendedorismo feminino. A Pro Me também está antenada às tendências mais recentes, tornando-as acessíveis a qualquer mulher.

Recriar é uma marca que possui muita diversidade. Nela você encontra lingeries mais ousadas, clássicas, modernas e basiquinhas. Possui uma ótima reputação pelo seu e-commerce. Facilmente você vai encontrar uma peça que faça seu estilo.

A marca é uma revolução para o mercado, pois traz todo o estilo e variedade comum em lojas padrão e consegue vestir todas as numerações.

A questão das top tendências ainda é uma questão, dificilmente você vai achar peças que estão em alta na moda.

Apesar de peças lindas e do preço justo, a loja não possui uma variedade enorme de modelos e não oferece opções básicas para aquelas que optam pelo simples.

Apesar de bastante diversa, digamos que as top tendências do momento ainda não estão por lá. Mas imagino que cheguem em breve.

Não encontramos nada a melhorar, sério!

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Perfil - Aline Luppi

Uma história sobre relações Por Alexandra Kalogeras “Eu sempre fui gorda”, conta Aline Luppi. “Eu me percebia diferente, sempre fui maior, mais alta e mais forte que as outras crianças, mas realmente me enxerguei nesse lugar aos 11 anos, com 150kgs e algumas pressões para emagrecer”, recorda. As pressões para emagrecer vinham tanto de fora, quanto de dentro de casa. Durante a adolescência, além de dietas e exercícios físicos, ela visitou diferentes médicos e tomou diferentes medicamentos para perder peso. “Em dois meses, cheguei a perder 40kgs”, lembra. O medicamento provocou taquicardia e dificuldades respiratórias. A família, contudo, estava convencida de que perder peso era essencial para a saúde de Aline. As intenções eram boas, os métodos, nem tanto. “Era sempre aquela questão de ‘é pela sua saúde’, ‘é para te ajudar’, mas isso ia totalmente na contramão da intenção. Aumentava minhas inseguranças e criava outras situações de ansiedade e autoexclusão”, explica.

Questionar o padrão e ousar quebrálo: atos de rebeldia que exigem coragem e uma enorme dose de força. Aline precisou encontrar essa coragem forte dentro de si para reafirmar o direito de apenas ser. “Essa pressão (para emagrecer) é um grito aberto contra quem nós somos, como se precisássemos mudar para sermos alguém. Quando essa pressão vem diretamente do nosso entorno, das pessoas mais próximas e até de nós mesmos, isso tem um peso diferente de quando esses ataques vêm de desconhecidos”. “Hoje, eu não vejo problemas em ser chamada de gorda”, conta. “As pessoas até ficam meio sem jeito na hora de conversar, mas é real, eu sou gorda! Algumas mulheres podem se incomodar, e tudo bem também, mas eu não me incomodo. Realmente gosto, pois acho que quando assumimos o que somos, nesse caso mulheres gordas, estamos quebrando estereótipos e barreiras, muitas vezes imaginárias, que nos prendem”.

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Aline já deixou de subir em árvores, tirar fotos, cantar, vestir “qualquer peça de roupa que não fosse lycra e que fosse muito justa ou curta”. Ela conta que se impunha essas limitações por sentir uma mistura de vergonha dos olhares alheios e medo. De quê? “De não conseguir, não caber ou não me aguentar”, explica. Aline habitava um corpo no qual não confiava e que não parecia adequado para as pessoas à sua volta. Ela relata que, em um certo dia, teve uma epifania que iniciou sua libertação da prisão criada pelo amor familiar e cujas grades eram os remédios para emagrecer, as consultas aos médicos e as dietas alimentares. “Me dei conta que ninguém nunca havia me perguntado se eu queria emagrecer. Percebi que não me sentia mal sendo como eu sou, o que me incomodava era a pressão dos outros para que eu fosse diferente”, afirma. A partir desse ponto, Aline “caminhou ao encontro dela mesma”. “Minha relação com meu corpo mudou quando eu decidi assumir o controle e descolonizar esse território, assumi-lo enquanto corpo, saudável e bonito”, declara. Esse encontro entre ela e seu corpo deu origem a uma nova identidade, que Aline leva para o palco, para a arte e para o dia a dia. “Hoje abuso de estampas, texturas e tamanhos. Acredito que a roupa auxilia e muito a nossa autoestima. Quando nos sentimos bem, numa roupa bonita, com corte e estilo é transformador”, expõe.

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Aline passou a conhecer o próprio corpo, esse desconhecido no qual ela habitava, e todas possibilidades que ele oferecia. Essa nova relação entre mulher e corpo se estendeu por toda a família. “Minha família acompanhou, aos poucos, essa mudança. Abro diálogo sobre como me sinto com meu corpo e levo-os a questionarem suas relações com seus corpos”, relata. Assim como muitas outras, enquanto crescia ela presenciou, diversas vezes, mulheres da família insatisfeitas com seus corpos que fugiam ao ideal de beleza estabelecido. “O mais comum é encontrar mulheres que sofreram grande parte da vida com a angústia de não estarem bem consigo mesmas. Isso afeta diretamente as pessoas a nossa volta. Somos vistas como


Hoje, aos 23 anos, com 1,74 de altura e pesando 140kg, Aline é performer, pesquisadora, ativista gorda e body positive (termo que ela define como “um nome bonito para dizer que gosto do meu corpo e o uso para influenciar positivamente outras pessoas”). O corpo que ela antes julgava ser cheio de limites, se tornou tema central do seu trabalho, seu objeto de estudo e de vivência tanto no palco quanto fora dele. Para ela, o que importa é a autonomia sobre o próprio corpo. Ela se nega a permitir que mais alguém se intrometa e entre nesse relacionamento entre ela e ela mesma. “Meu trabalho vem do meu corpo, das investigações a partir dele na sociedade”, explica. exemplo, no caso das crianças, e cria-se uma convenção de que não podemos estar felizes com nossos corpos fora do padrão”, explica. A convivência com uma mulher gorda que não tem problemas em ser como é acabou por levar outros a questionarem suas próprias relações com seus corpos. “Quando me aceitei gorda e comecei a buscar por respeito a essa escolha, comecei a dialogar com o meu entorno sobre as necessidades desse corpo gordo e a levantar situações gordofóbicas disfarçadas no cotidiano. Isso fez com que as pessoas ao meu redor percebessem essas dificuldades e a falta de acessibilidade para esses corpos e passassem a ver com outros olhos as situações cotidianas”.

Formada em Licenciatura em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Maringá (PR), Aline encontrou na arte e na academia um espaço para dialogar sobre seu corpo e relacionarse ainda mais com pessoas por meio dele. “Hoje desenvolvo trabalhos sobre o corpo gordo, o que me auxilia e muito a quebrar essas inseguranças e a conseguir dialogar com outras mulheres e homens sobre esses corpos gordos. Juntos podemos entender que está tudo bem ser ‘fora do padrão’ e ser feliz, e que também está tudo bem ‘querer estar no padrão’, desde que seja uma escolha consciente, não importa qual seja”.

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A mulher gorda como modelo Com Isabella Trad

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ulheres gordas (gorda de verdade, com papada e barriga) que aparecem em propagandas e publicidades como a gorda que é, e não apenas curvy (de cintura fina e coxa grande), são de extrema importância para a representatividade daquelas que não pertencem ao padrão. Assim, elas olham para aquela propaganda e se sentem representadas, aquela imagem não causa estranhamento. Acontece que muita mulher renega o corpo gordo. Elas são gordas, mas renegam a própria imagem. Isso faz com que elas não se sintam confortáveis tendo um corpo gordo representado nas propagandas, pois foram ensinadas a esconder aquelas curvas, a afinar a silhueta e a usar roupas que não marquem qualquer dobrinha. Então, quando essas mulheres veem uma gorda na TV, aquilo causa estranhamento. Por isso, é necessário ter pessoas gordas ali, para que aqueles também fora do padrão possam se ver, se enxergar naquele meio. Consequentemente, haverá uma identificação, a mulher gorda poderá sentir que aquele lugar também é dela. Ocupar esse espaço, por mais simples que pareça, pode significar tanto... Por meio da representatividade

na publicidade e propaganda, a mulher vê que pode usar os mesmos produtos que qualquer outra, que gorda também veste chinelo, veste saia, que é uma mulher normal, é uma pessoa, é um ser humano que usa todos os produtos que as magras também usam. Portanto, também têm que estar nas propagandas. Essa representatividade é essencial, porque ajuda na imagem da mulher que está ali sendo representada e até da própria modelo que se vê de várias outras formas. É um dos melhores meios de se amar e de conhecer o seu corpo: se ver pelo olhar do outro em fotografias e vídeos. Afinal, nossa mente é moldada e somos treinadas a encontrar defeitos em nós mesmos. Às vezes, o que a gente vê no espelho é distorcido pelo que nos é ensinado e cobrado quanto ao padrão de beleza. A partir daí você cria uma autoimagem negativa e, quando se vê pelos olhos do outro, você acaba se conhecendo melhor. Então quando você vê uma mulher realmente gorda, ou que tenha o corpo semelhante ao seu, representada nos meios de comunicação, você se sente encorajada, você se sente liberta e “autorizada” a ser feliz do jeitinho que é.

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Manifesto para as gordas Por Giovana Baria

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mar-se gorda é um ato de resistência. É amar cada parte do nosso corpo, seja ele como for: cabelos cacheados demais, estrias e celulites em excesso, quadris avantajados, seios fartos e todas as pressões estéticas imagináveis. É aprender a gostar de tudo aquilo que crescemos e seguimos escutando ser errado, é entender que a moda é sim para todos, mesmo que a indústria ainda seja excludente. Olhos mais atentos saberão enxergar que, ao sair com a barriga, pernas e braços de fora, não queremos “chamar a atenção”, apenas queremos ocupar espaços como qualquer outra pessoa, sem que sejamos julgados pelos dígitos na balança ou por todos os corpos esculturais que estampam as capas de revistas. Amar-se gorda é um exercício diário de se olhar no espelho e aprender a gostar das curvas, das marcas e de toda carcaça. É aprender a gostar de si apesar de ser convencida diariamente a se odiar. Odiar-se gorda é mais fácil. Crescemos achando que ser gorda é solidão. É aceitar migalhas e incompletudes, porque nos doutrinaram a acreditar que devemos ter gratidão por alguém nos aceitar tão imensa, tão desproporcional, tão fora do padrão das dançarinas dos programas dominicais. Afinal, gorda assim, só pode ser preguiçosa. E que par vai querer uma mulher preguiçosa? Como se o mundo se resumisse a duplas e nós, gordas, ocupássemos sozinhas o lugar de dois e, assim, estivéssemos condenadas à solidão eterna. Afinal de contas, você já viu em algum conto de fadas o príncipe salvar a gorda? Você já viu algum desenho de princesa onde a gorda não fosse a bruxa ou, no máximo, a cozinheira simpática? E então crescemos sem representatividade.

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Ilustrações de Geraldo Felício.


A grande virada é no exato momento em que percebemos que não precisamos de atrizes, modelos e artistas para nos inspirar, para nos fazer entender todos os espaços que devemos (e queremos!) ocupar. Pessoas reais passaram a gritar aos quatro ventos que o lugar do corpo gordo é exatamente onde ele quiser. E tudo bem usar biquíni, minissaia, listras horizontais e tudo aquilo que sempre nos desincentivaram não só a vestir, mas a SER. Foi preciso aprender que a nossa inspiração está naquela amiga que usa regata, por mais roliços que sejam seus braços e também naquela menina do instagram que posta fotos desnuda, com todas as curvas e dobras do seu corpo e ainda sim é linda, sem esconder nada com metros e metros de tecido. Amar-se gorda é treino. É olhar todos os dias no espelho e, de vez em quando, não escutar nenhum fantasma dizendo que aquilo é errado, é aprender a ver beleza em todos os formatos, em todas as marcas, sejam do tempo ou de nascença. É conservar-se, defender-se, suportar e não ceder, é se amar apesar de. Amar-se gorda é um ato de resistência.

RESISTAMOS!

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RELAÇÕES @revistahilda /revistahilda

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