INsights CPLP 0

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COMUNIDADE

PAÍSES

DOS

DE LÍNGUA

PORTUGUESA

NÚMERO 0 | ANO I JANEIRO 2015 BIMESTRAL

O ELIXIR DA INTELIGÊNCIA A ANOREXIA E A BULIMIA NA ADOLESCÊNCIA

KARYNA GOMES

A REVELAÇÃO DA MÚSICA GUINEENSE

INSUCESSO ESCOLAR

EVENTO COM APOIO INSIGHTS

CONTO PSICOLÓGICO

DESAFIO AOS LEITORES INSIGHTS

BERTA RODRIGUES

AUTORA DE AS AVENTURAS DE GUITOTELA

BEATRIZ FRANCK

A FASHIONISTA EMPREENDEDORA

JUIZ CONSELHEIRO ONOFRE DOS SANTOS – AUTOR DE “O ASTRÓNOMO DE HERODES“ – EM ENTREVISTA


BREVEMENTE NAS BANCAS, COM MAIS

CONTEÚDOS E EM MELHOR

FORMA!

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REVISTA INSIGHTS | AGOSTO/SETEMBRO 2014


FICHA TÉCNICA Directora Elsa Carvalheiro

EDITORIAL

Director Adjunto Paulo Gonçalves Editora Elsa Carvalheiro Jornalistas Eduardo Almeida Inês Ruivo Luís de Freitas Mariana Araújo Paulo Duarte Revisão Paulo Gonçalves Colaboradores Carlos Céu e Silva Fernando Fonseca Joaquim Caeiro Luísa Coutinho Márcia Gonçalves Maria Helena Estevão Vânia Fernandes Periodicidade Bimestral Paginação PáginaCarmim – César Évora Serviço de imagens e fotografia Depositphotos Depósito Legal N.º 357158/13 ISSN n.º 2182/8032 N.º de inscrição ERC 126344 Proprietário Editora Ómega Rua Guilherme Marconi, n.º 13 loja 10 Bons Dias 2620-448 Ramada ASSINATURAS assinaturas@revistainsights.pt COORDENAÇÃO MARKETING, IMAGEM E COMUNICAÇÃO Alexandre Ruivo alexruivo@revistainsights.pt MARKETING Denise Silva marketing@revistainsights.pt CONTACTOS 91 680 69 09 insights@revistainsights.pt correiodoleitor@revistainsights.pt www.revistainsights.pt www.facebook.com/RevistaInsights www.facebook.com/editora.omega Esta obra não pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo, à excepção de excertos para divulgação. Reservados todos os direitos, de acordo com a legislação em vigor. Os conteúdos são da responsabilidade do(s) autor(es).

A Insights Comunidade dos Países Língua Portuguesa aparece em suporte digital como alavanca maior para uma cobertura planetária, melhor, para chegar aos países (e continentes) da CPLP, à distância de um “clique”. A Insights CPLP procurará radiografar a idiossincrasia destes países, designadamente doenças endémicas, investigação, desenvolvimento, turismo e cultura, mantendo, naturalmente, as linhas programáticas da irmã em papel: saúde, bem-estar e desenvolvimento pessoal; mediante artigos de opinião fornecidos por cidadãos a viver na diáspora, no próprio país; mas também na forma de reportagens, crónicas e entrevistas produzidas pela nossa Equipa. Certamente que a Insights CPLP que o estimado leitor tem à sua frente – este é o número zero – tem um longo percurso pela frente: deverá já na próxima edição (daqui a dois meses) ter distribuição diversificada e representativa de todos os nove países que compõem este grémio, coisa que, no número zero, ainda não acontece. Preferimos, todavia, avançar desde já, que esperar reunir todas as condições – até porque “reunir tudo” numa estrutura empresarial fora dos grandes grupos de Media é (quase) utópico; acreditamos no Caminho realizado passo-a-passo: hoje um metro, depois um quilómetro, amanhã teremos dado a volta ao Planeta. Como é Natal, onde quer que esteja AMIGO LEITOR, na Guiné-Bissau, na Guiné Equatorial, em Timor Leste, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Angola, Brasil, ou Portugal, queremos, na língua que nos une, desejar Feliz Natal e próspero Ano Novo – com saúde, em boa-forma, partilha (tudo é partilhável), como estes conteúdos, e com muita, muita espiritualidade. PS: Mande as suas sugestões e críticas, Amigo Leitor, certamente serão pertinentes. Elsa Carvalheiro Directora


NOTÍCIAS

DOENÇAS CARDIOVASCULARES COM TENDÊNCIA PARA AUMENTAR

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte da população a nível mundial e a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que esse número venha a aumentar. Manuel Carrageta, Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, foi peremptório na afirmação “A forma como nós vivemos é que vai condicionar a forma como adoecemos e morremos”. Este tipo de doenças é, por norma, resultado de uma combinação de vários fatores de risco no dia-a-dia — como o tabagismo, o colesterol alto, a diabetes e a pressão arterial alta. Um estudo apresentado no 23º Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, na Suécia, mostra que o consumo exagerado de carnes, de gordura animal, de derivados do leite, de açúcar e de cerveja leva a problemas cardiovasculares. Além do sal, que em excesso também é perigoso — especialmente para quem tem pressão arterial alta. Uma boa alimentação pode evitar problemas de colesterol, pressão alta e obesidade. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, só no Brasil as doenças cardiovasculares matam, por ano, mais de 300 mil pessoas. A OMS estima que o número de mortes por doenças cardíacas aumente de 17 para 24 milhões de pessoas até 2030.

OMS – ALERTA PARA POSSÍVEL CATÁSTROFE

RLO

.com.pt 91 F.M.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para a probabilidade das infecções pelo vírus Ébola poderem aumentar de forma exponencial, caso os esforços de retenção não sejam fortemente reforçados. “Se não travarmos a epidemia muito em breve, isto vai passar de um desastre para uma catástrofe”, confessou o responsável da estratégia da OMS, Christopher Dye. Caso o surto de vírus não seja controlado, pode arrastar-se por vários anos e possivelmente tornar-se epidémico na África Ocidental – onde já matou mais de 3 mil pessoas.

RÁDIO LITORAL OESTE

A minha rádio de sempre ...

A rádio garante os melhores objectivos publicitários porque influi directamente na vida das pessoas em casa, no campo, no trabalho e no carro. “A Rádio é de longe, o melhor veículo de comunicação” Rua do Cemitério • 2510-052 Óbidos Tel. 262 955 300 • Fax 262 955 301 Email: radio@litoraloeste.net • facebook.com/litoraloeste


NOTÍCIAS

ONU – PRIMEIRA MISSÃO PARA UMA EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA

É a primeira vez na história da Organização das Nações Unidas (ONU) que se cria uma missão para uma emergência de saúde pública. A Missão consiste na união de recursos das várias agências das Nações Unidas e de fundos e programas, para reforçar a qualidade técnica e a experiência da OMS nestes surtos de epidemias. Segundo a Diretora-Geral da OMS, Dra. Margaret Chan, “esta não é apenas uma crise de saúde pública. É também uma crise social, uma crise humanitária, uma crise económica e uma ameaça à segurança nacional, bem além das zonas do surto (…) por estas razões, o Secretário-Geral da ONU, Sr. Ban Ki-moon, e eu estamos a aclamar uma iniciativa através de todo o conjunto das Nações Unidas, para convergir todas as capacidades das agências relevantes para o assunto dentro da ONU”.

APTO 8ª EDIÇÃO “PENSAR A PRÁTICA E OLHAR O FUTURO”; FÁTIMA, ABRIL 2015

O Congresso Nacional de Terapia Ocupacional realizará a sua 8ª edição em Fátima, dias 16,17 e 18 de Abril, no Centro de Apoio a Deficientes João Paulo II; hasteando como bandeira temática “Pensar a prática, olhar o futuro”. Há 54 anos que a Associação Portuguesa de Terapeutas Ocupacionais exerce a sua actividade em prol da Terapia Ocupacional e dos terapeutas ocupacionais em Portugal. A APTO tem sede em Benfica, Lisboa, é membro do Conselho Europeu de Terapeutas Ocupacionais e da Federação Mundial de Terapeutas Ocupacionais. O manifesto desta Associação assenta as suas linhas programáticas na defesa da ética, na deontologia e na qualificação profissional. Segundo Elisabete J. C. Roldão, Presidente da APTO, terapeuta profissional, “desempenhamos um papel primordial ao nível da formação contínua organizando cursos, workshops, jornadas e outros eventos”. A Terapia Ocupacional nasceu após a segunda guerra mundial (1939-1945) como necessidade de reabilitar e integrar na sociedade os milhares de soldados feridos nos diferentes cenários de guerra, muitos deles com lesões graves, a necessitar de reaprender a viver. Foi de capital importância a criação, pelos vários países europeus flagelados pela guerra, de departamentos de Terapia Ocupacional. Actualmente o curso de Licenciatura em Terapia Ocupacional é ministrado em seis escolas do Ensino Politécnico, de norte a sul de Portugal. Os terapeutas ocupacionais intervêm numa plêiade de lesões e diversas patologias físicas e psicossociais.

Há 4 anos a editar novos autores e a reeditar outros sob o signo do compromisso

+351 211 920 730 — editoraomega@editoraomega.com

Há um livro que nos liga


SAÚDE

PORTUGAL

ANOREXIA E BULIMIA NA ADOLESCÊNCIA

DEVEMOS SUSPEITAR DA POSSIBILIDADE DE ANOREXIA E BULIMIA QUANDO O ADOLESCENTE SE RECUSA A MANTER O PESO MÍNIMO PARA A IDADE E ALTURA; TEM UM MEDO EXAGERADO DE GANHAR PESO OU DE SE TORNAR OBESO, MESMO ESTANDO ABAIXO DO PESO ESPERADO; PERDE PESO SEM UMA CAUSA APARENTE; APRESENTA COMPLICAÇÕES MÉDICAS DEVIDO AO ABUSO DE EXERCÍCIOS FÍSICOS. GRUPOS DE RISCO: ATLETAS, BAILARINOS, DANÇARINOS, GINASTAS E MODELOS.

O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

Márcia Gonçalves

Psicóloga Clínica Mestrado em Psicologia Clínica

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C

ada vez mais se observa um aume­ nto significativo no número de casos de transtornos alimentares, nomeadamente, a Anorexia e Bulimia. O tema tem vindo a ser abordado sob vários aspetos, especialmente do ponto de vista psicológico, fisiológico e social nos mais diversos meios de comunicação social. Neste artigo, o público-alvo será apenas o sexo feminino, ainda que os transtornos alimentares se verifiquem igualmente no sexo masculino, no entanto em menor número. Abordar este tema constitui, sempre, um desafio. A investigação revela que revistas e reportagens sobre beleza em que se evidenciam padrões estéticos rígidos, compromete seguramente a sua saúde física e mental das adolescentes. É evidente que com a puberdade surge uma maior acumulação de gordura corporal no sexo feminino. Esta alteração/mudança desencadeia uma maior insatisfação com a imagem corporal e sentimentos negativos em relação ao seu tamanho e forma. As adolescentes que revelam um medo exagerado de engordar desenvolvem comporta-

mentos de risco, tais como, dietas exageradas, exercício físico excessivo, medicação (laxantes, diuréticos e outros) e provocação de vómitos, que promovem os transtornos alimentares. A investigação indica que as perturbações alimentares, habitualmente, têm início na adolescência, mas poderá acontecer na infância ou, após os 20, e até após os 40 anos de idade. As práticas inadequadas de controlo de peso entre adolescentes, apresentam dados alarmantes. CAUSAS DA ANOREXIA E BULIMIA

Alguns estudos indicam que a baixa auto estima e a distorção da imagem corporal são os principais responsáveis pela procura de um emagrecimento rápido e continuado, recorrendo permanentemente ao jejum, exercício físico exagerado e uso de laxantes ou diuréticos. A investigação sugere também que os transtornos alimentares são mais comuns quando na família, nomeadamente a mãe, já passou por algum. O ambiente familiar constitui um dos fatores que contribuem, significativamente, tanto para o desencadeamento como


para a manutenção da perturbação. Outras pesquisas mostram que as raparigas provenientes de meios socio económicos e culturais mais elevados e diferenciados têm uma maior incidência desta perturbação. Outros estudos consideram que a ocorrência de episódios traumáticos, nomeadamente, a rejeição familiar, abuso psicológico, físico ou sexual, constitui-se como fator de risco para desenvolvimento destas problemáticas. Outros autores mencionam que uma das principais causas será a obesidade na infância. A investigação sugere, também, que estas adolescen-

tes são oriundas de famílias com comportamentos obsessivos, com tendência para a exigência e o perfeccionismo. ANOREXIA

Embora existam vários sinais físicos e comportamentais associadas aos sintomas de anorexia nervosa, nem todos os sinais se manifestam em todas as pessoas. Alguns sinais de alerta: perda excessiva de peso; medo de engordar intenso e irracional; negação quando questionadas sobre o transtorno; restrição da alimentação; obsessão com as calorias e gorduras; recusa a comer junto a outras

pessoas; prática excessiva de exercício físico; depressão (tristeza e/ou apatia); solidão (evita amigos e familiares); torna-se intolerante ao frio, devido à perda de isolamento de gordura corporal; e os períodos menstruais tornam-se irregulares ou mesmo inexistentes. Importa salientar que é comum a anorexia ter início nas vulgares dietas das adolescentes. O quadro desenvolve-se para anorexia quando a dieta e a perda de peso permanecem, até que são atingidos níveis de peso muito inferiores aos esperados para a sua idade, perdendo a autocrítica 7


SAÚDE

«ALGUNS SINAIS DE ALERTA: PERDA EXCESSIVA DE PESO; MEDO DE ENGORDAR INTENSO E IRRACIONAL; NEGAÇÃO QUANDO QUESTIONADAS SOBRE O TRANSTORNO...» sobre a situação. As adolescentes com anorexia nervosa não ingerem uma quantidade de alimentos necessária para suprir as necessidades nutricionais de calorias, proteínas, vitaminas e minerais. Geralmente, diminuem o número de refeições e preferem alimentos com baixa caloria ou permanecem em jejum por tempo prolongado. O resultado final é a perda excessiva de peso com grandes consequências físicas e psicológicas. As adolescentes com anorexia têm uma imagem corporal distorcida e, mesmo estando extremamente magras, vêem-se gordas. Isso justifica para elas a restrição alimentar cada vez mais rigorosa e a utilização e abuso de drogas laxativas e inibidoras do apetite. Poderão apresentar um atraso na maturidade sexual e no crescimento físico, e muitas vezes não atingem a estatura esperada. Existe um grande risco de desnutrição grave e redução perigosa dos níveis corporais de água, minerais e vitaminas, podendo comprometer as funções de órgãos como pulmões, coração, vasos sanguíneos, in8

testinos e pele. Pode incluir, também, possível infertilidade e depressão grave. Se a anorexia não for corretamente tratada tem alta probabilidade de evolução para a morte. BULIMIA

A Bulimia nervosa manifesta-se através de uma alimentação compulsiva seguida de purgação ou comportamentos compensatórios inadequados (jejuns e/ou exercícios físicos excessivos). É um distúrbio alimentar caracterizado por um ciclo de atração/purgação de alimentos. Existe um consumo de alimentos muito superior ao que seria ingerido pela maioria das pessoas num determinado período de tempo, acompanhado de sensação de perda de controlo. Através da indução do vómito, uso de laxantes e exercícios físicos excessivos, as bulímicas conseguem perder peso mas, por outro lado, têm episódios de alimentação compulsiva que não conseguem controlar (comem em pouco tempo vários pacotes de bolachas, chocolates, etc.). Depois destes episódios, a bulímica irá

induzir o vómito e sentir-se-á muito culpada e deprimida. Surge, então, um ciclo vicioso e este padrão caótico de alimentação instala-se. Alguns sinais de que estamos na presença de Bulimia: medo de engordar; mentir sobre os alimentos que ingerem; comer compulsivamente em segredo; demonstrar uma preocupação profunda em relação ao peso; esconder-se em roupas largas e soltas; esconder laxantes e diuréticos; vomitar em segredo; deixar água da torneira ou duche a correr na casa de banho para disfarçar os episódios de purgação; queixas em relação a problemas dentários; e outros. A bulimia nervosa parece ser mais comum que a anorexia, mas não compromete tanto o estado nutricional como acontece na anorexia. A adolescente poderá manter o peso dentro da normalidade. PERFIL DA BULÍMICA

Apresenta autoestima flutuante; ansiedade excessiva; perfeccionismo; exigência alta; pensamento do tipo “tudo ou nada”; dificuldade de encontrar formas de prazer e


satisfação; e incapacidade de “ser feliz”. PERFIL DA ANORÉTICA

Revela baixa autoestima; sentimento de desesperança; tendência a procurar aprovação externa; desenvolvimento insatisfatório da identidade; extrema sensibilidade a críticas; conflitos relativos aos temas autonomia ou dependência. SINAIS DE ALERTA PARA A FAMÍLIA

Devemos suspeitar da possibilidade de anorexia e bulimia quando o adolescente se recusa a manter o peso mínimo para a idade e altura; tem um medo exagerado de ganhar peso ou de se tornar obeso, mesmo estando abaixo do peso esperado; perde peso sem uma causa aparente; apresenta complicações médicas devido ao abuso de exercícios físicos. Grupos de risco: atletas, bailarinos, dançarinos, ginastas e modelos. PRÁTICA CLÍNICA

Na minha prática clínica, sempre que se questiona o seu transtorno e a sua resistência à mudança, as Anoréxicas e Bulímicas enunciam sem qualquer dificuldade vários motivos que sustentam o seu comportamento alimentar, nomeadamente, “Gosto de como me sinto quando estou magra”; “Ouço elogios”; “sinto-me mais respeitada”;

“gosto da atenção que recebo”; “gosto das roupas que já posso usar”; “fico mais bonita”; “sinto nojo de ter gordura no meu corpo”; “quando estou magra, percebo melhor as coisas”; “a minha família e o meu médico preocupam-se comigo”, “sinto-me mais saudável e com mais energia quando estou com pouco peso”; “gosto do sentimento de autocontrole”; “sinto-me mais confiante e capaz quando estou magra”; “sinto-me especial, pura e diferenciada”. INTERVENÇÃO

As perturbações alimentares implicam, não poucas vezes, complicações médicas e psicológicas sérias. O tratamen-

to psicológico é complexo, no entanto, os e­ studos demonstram que a abordagem Cognitivo-Com­p ortamental revela-se como a mais eficaz nestas perturbações. Após uma profunda análise dos resultados da avaliação médica e psicológica, poderá, se necessário, ser indicada intervenção farmacológica. O tratamento da anorexia nervosa e da bulimia deve envolver, necessariamente, uma equipa multidisciplinar, nomeadamente, médico de família, pediatra, psicólogo, pedopsiquiatra e nutricionista. Não esquecer que o apoio familiar em todo o processo terapêutico é essencial. • 9


SAÚDE

PORTUGAL

O DESCANSO SUSTENTA O SONO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE

VIVER SEM DORMIR É IMPOSSÍVEL, MAS SABER DORMIR BEM É ALGO QUE NEM TODOS CONSEGUEM. QUANDO SE TRATA DE CRIANÇAS OU ADOLESCENTES O PROBLEMA COMPLICA-SE – POIS ESSA PATOLOGIA AFETA EM GRANDE PARTE O SEU DESENVOLVIMENTO.

O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

Maria Helena Estêvão

Pediatra, diferenciada em Medicina Pediátrica do Sono

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U

ma noite de sono calmo é de uma importância extrema na vida de uma crian­ ça ou adolescente. A perturbação do sono pode ter consequências significati­ vas a nível do comportamento, humor, aprendizagem, saúde e qualidade de vida da criança. No entanto, são entre 25 a 40 por cento o número médio de crianças que apresentam algum tipo de problema de sono durante a infância. A ideia de que o problema é ultrapassado com o crescimento nem sempre é correta. Pois, a falta de orientação adequada pode favorecer o prolongamento do problema até à adolescência ou idade adulta tornando-o crónico. Os problemas de sono que se apresentam na infância e adolescência são múltiplos e variam com a idade da criança. Um dos problemas mais frequentes que atravessa todos os grupos etários relaciona-se com as dificuldades de adormecimento e da manutenção do sono: resistência/recusa em ir para a cama, dificuldade no adormecimento por necessida-

de de determinados rituais e acordares múltiplos. A ansiedade da separação é uma característica do desenvolvimento das crianças pequenas. Para estas, a hora de deitar constitui um momento de separação que algumas tentarão evitar a todo o custo, recorrendo a todo o tipo de estratagemas ou rituais. A repetição destes mesmos rituais de adormecimento (por exemplo a presença dos pais, adormecer na cama dos pais, beber leite) são habitualmente exigidos, de cada vez que há um acordar durante a noite, para que o sono seja restabelecido. A falta de consistência e de observância das regras de higiene do sono está habitualmente na base deste grupo de manifestações. Na adolescência, associam-se à ocorrência (fisiológica) mais tardia da sonolência noturna hábitos de sono cada vez menos saudáveis – resultantes não só pelo aumento da pressão social e escolar, mas também pela expansão das tecnologias informáticas. A presença de vários equipamentos, como


televisão, consola, computador e telemóvel no quarto pode condicionar o sono – tornando-o muito tardio e curto e, por vezes, ainda altamente fragmentado (por receção de mensagens ou luminosidade). Neste grupo etário, a incidência dos problemas de sono tem vindo a aumentar. Durante o sono, tanto na criança como no adolescente, podem também ocorrer determinados fenómenos de-

signados de parassónias. Os exemplos mais frequentes são os pesadelos, os terrores noturnos, bruxismo (ranger de dentes), sonambulismo, sonilóquio (falar alto a dormir) e enurese (urinar na cama). O facto de alguns destes fenómenos estarem ligados a uma determinada fase do sono, condiciona o predomínio da sua ocorrência, na primeira ou na segunda parte da noite. As parassónias podem

ser desencadeadas por uma variedade de estímulos físicos (ex. febre), psicológicos (ex. ansiedade) e ambientais (ex. mudança de ambiente) e habitualmente têm tendência a desaparecer com o crescimento. A existência de um historial familiar com o mesmo problema é frequente. Mais raramente, a criança pode manifestar uma necessidade de dormir considerada excessiva, quer em termos de duração de sono quer nas circunstâncias de adormecimento – adormecer frequentemente durante o dia ou em situações inapropriadas apesar de ter efetuado um período de sono noturno. Uma doença neurológica ou o efeito de determinados medicamentos podem estar na origem destas manifestações. Grande parte das perturbações do sono são resultantes de alterações do comportamento ou variantes fisiológicas. Uma proporção menor, mas ainda assim de prevalência significativa, é constituída por patologias orgânicas que se manifestam pela perturbação da respiração durante o sono. A causa mais frequente é representada pela obstrução das vias aéreas superiores, mas surge também por compromisso dos pulmões ou dos músculos respiratórios em algumas doenças. O aumento das dimensões das amígdalas e das adenoides (que atingem o seu auge entre os 3 e os 6 anos de idade), constitui um dos fatores 11


SAÚDE

«A PRESENÇA DE VÁRIOS EQUIPAMENTOS, COMO TELEVISÃO, CONSOLA, COMPUTADOR E TELEMÓVEL NO QUARTO PODE CONDICIONAR O SONO» com maior responsabilidade na obstrução das vias áreas superiores. Outros fatores, isolados ou em associação, podem ainda estar na origem desta obstrução – tais como obesidade (cuja incidência tem vindo a aumentar), rinite alérgica, exposição a fumo de tabaco, características faciais particulares, entre outros. O ressonar é o sintoma mais frequente desta obstrução e ocorre em 10 a 15% das crianças em idade escolar. Nos casos em que o quadro é mais grave, pode mesmo haver paragens da respiração durante o sono, denominadas de apneias obstrutivas do sono. Esta perturbação ocorre entre 2 a 3 por cento das crianças deste grupo etário. A falta de tratamento pode facilitar a ocorrência de hipertensão arterial, obesidade, diabetes e depressão entre outros, numa fase mais tardia até à idade adulta. O tipo e a frequência dos problemas de sono ao longo da noite são variáveis e ditados pela fase do sono em que predominam. Quer resulte num período mais curto de sono ou numa fragmentação do mesmo, a privação 12

de sono poderá resultar em diversa manifestações: Nas crianças mais pequenas – Irritabilidade (birras fre­ quentes), instabilidade emo­­ cional, palidez, cansaço, lap­sos de memória, hiperatividade, dificuldades de concentração e aprendizagem, problemas de crescimento Nos adolescentes – Difi­ cul­ dade de aprendizagem, fra­ co desempenho escolar, emo­ções negativas e de difícil controlo, problemas de comportamento, maior probabilidade de utilização de estimulantes (cafeína, nicotina), álcool e substâncias similares, risco acrescido de acidentes não intencionais. Muitas das doenças do sono têm recorrência familiar. No entanto, as suas manifestações, por serem variadas e subtis, podem passar despercebidas durante muito tempo, sendo necessário estar atento para o seu despiste. A relação intrínseca entre o sono e os vários sistemas orgânicos está cada vez mais fundamentada e já é possível concluir que uma boa noite de sono é um fator a ter em conta para um adequado funcionamento intelectual, psicológico, cardiovascular,

metabólico, endocrinológico. Sempre que há dú­vidas so­ bre o sono dos fi­lhos, os pais devem abordar o assunto com o seu médico. Em caso de persistência de dúvidas, po­derá haver recurso a um mé­ dico com competência na área da medicina pediátrica do sono e, em casos particula­res, a exames específicos do sono. “A necessidade de dormir é biológica, a arte de bem dormir é aprendida”. Os problemas decorrentes da má higiene do sono são os que ocorrem com maior frequência. Assim, o cumprimento das regras de higiene do sono, desde os primeiros dias de vida, constitui um passo fundamental na aquisição de bons hábitos de sono numa criança ou num adolescente. A educação na família, na escola e na sociedade assume um papel preponderante na consolidação destes hábitos com contribuição para uma vida mais saudável de toda a família. O sono deve ser encarado co­mo uma função básica do nosso organismo e, do mes­ mo modo que não conse­gui­ mos viver sem respirar, é im­ possível viver sem dormir. •


REGRAS DE HIGIENE DO SONO DA CRIANÇA • Ter esquemas regulares de sono • Ter ambiente do quarto sossegado e escuro, temperatura agradável • Fazer sestas adaptadas ao desenvolvimento (evitar ses­ tas muito prolongadas ou fre­quentes) • Evitar alimentos ou bebidas com estimulantes nas várias horas que antecedem o sono • Evitar a fome ao deitar • Não ingerir líquidos excessivos ao deitar nem durante as horas noturnas • Evitar atividades vigorosas nas 1 a 2 horas que antecedem a hora de deitar • Ter rotina da hora de deitar • Adormecer sozinha, sem intervenção dos pais REGRAS DE HIGIENE DO SONO DO ADOLESCENTE • Ter horário regular de deitar e acordar com 8 a 9 horas de sono/noite • Ser encorajado a ter rotina relaxante antes de deitar – leitura, banho, música • Ter condições adequadas no quarto – temperatura agradável, escuro e calmo • Ter ambiente com claridade de manhã e evitá-la ao fim do dia • Manter televisão, computador, consola e telemóvel fora do quarto • Evitar cafeína depois da hora do almoço • Ter o exemplo dos pais e diálogo sobre a importância do sono


SAÚDE

PORTUGAL

DAR VIDA AOS ANOS! O FACTO DE TRATAR DAS DOENÇAS E PERTURBAÇÕES DO SISTEMA MÚSCULOESQUELÉTICO TORNA COMPREENSÍVEL QUE OS CONHECIMENTOS DE ORTOPEDIA TENHAM ACOMPANHADO A MEDICINA AO LONGO DOS SÉCULOS, JÁ QUE AS DEFORMIDADES DO APARELHO LOCOMOTOR NÃO SÃO DESTE SÉCULO

Fernando Fonseca

Director Serviço de Ortopedia do CHUC

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A

história da ortopedia e da medicina andaram sempre de braço dado. Hipócrates, pai da medicina, fez a primeira descrição e tratamento de uma luxação recidivante do ombro, afecção do foro ortopédico que tratava de uma forma lógica mas que actualmente é muito cruel. Um ferro em brasa aplicado à pele! O facto de tratar das doenças e perturbações do sistema músculo-esquelético torna compreensível que os conhecimentos de ortopedia tenham acompanhado a medicina ao longo dos séculos, já que as deformidades do aparelho locomotor não são deste século. Quem não se lembra das figuras do aleijadinho com as costas tortas que faz furor nas feiras medievais, ou do “corcunda” tão bem retratado no cinema de animação no filme “O corcunda de Notre-Dame”! A palavra ortopedia é também um ensinamento sobre a especialidade. Resulta da junção de duas palavras gregas que em tradução livre designariam “crianças direitas”,

uma clara alusão às malformações e anomalias do aparelho locomotor. Também os tratamentos ortopédicos estão ligados a um imaginário de aparelhos e técnicas parecidas com as torturas infligidas aos condenados na idade média. Num auto-retrato, a pintora mexicana Frida Kahlo junta as deformidades que padecia aos complicados aparelhos utilizados para as tratar, contribuindo para que este imaginário e a realidade andassem juntos durante muitos e longos anos. Os tratamentos ortopédicos no início do século XX eram essencialmente de prevenção ou pouco interventivos: ora recorrendo à exposição solar, como apresentado por Bissaya Barreto nas sua tese de doutoramento, ora utilizando ortótese ou gessos. Tratavam-se casos de infecção óssea, fracturas, deformidades da coluna ou dos membros com talas, tracções e outros métodos que retinham o doente no leito muitos meses ou, na melhor das hipóteses, lhe alteravam a forma de vida durante largos períodos de tempo, num raro exercício


de paciência e resiliência da parte de doentes e médicos. Nas Faculdades, o ensino da ortopedia passou à dignidade de cadeira quando, na reforma de 1911, foi instituída a disciplina de ortopedia na Faculdade de Medicina de Coimbra, dotando-a de um lente responsável, no caso, Bissaya Barreto.

A importância desta especiali­ da­de nas estruturas hos­pita­ lares pode-se aferir por uma “Ordem de Serviço” datada de 1940 e assinada pelo Director dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que estabelecia a tabela de preços relativa aos serviços prestados no Laboratório de Ortopedia da instituição, lo-

cal onde se tratavam os doentes e se ensinavam os alunos. A título de exemplo, para o tratamento de uma artrose da anca o hospital cobrava 40$00 (20 cêntimos). Foi sobre o tratamento da artrose da anca (coxartrose) que Fernando Serra de Oliveira elaborou, em 1955, a primeira tese de 15


SAÚDE

«NA ACTUALIDADE, A ORTOPEDIA UTILIZA TÉCNICAS DE VIDEOCIRURGIA (ARTROSCOPIA) PARA TRATAR PROBLEMAS ARTICULARES (TRATAMENTO DA CARTILAGEM, REPARAÇÃO DE ROTURAS LIGAMENTARES)» doutoramento de ortopedia em Portugal estudando os fundamentos e os resultados da utilização da prótese acrílica de Judet na coxartrose. Uma das evoluções marcantes na ortopedia estabelece-se há cerca de 50 anos com o desenvolvimento por John Charnley da sua prótese total da anca, solução que, combinando metal com polietileno (produto derivado do petróleo) se mostrou eficaz relativamente às existentes na altura e permitiu a muitos doentes o alívio das dores e o retorno a uma vida normal. A evolução da ortopedia não parou fornecendo aos doentes soluções práticas e eficazes, permitindo-lhes autonomia e independência numa sociedade em profunda transformação que já não aceita uma articulação imobilizada ou um doente amarrado a um aparelho de tracção durante muitos meses. Há trinta anos, quando tomei contacto com a ortopedia pela primeira vez, os doentes estavam longos períodos imobilizados. Hoje, tal já não é aceite por doentes, familiares e sociedade em ge16

ral que pretendem respostas que os devolvam rapidamente à vida activa. Dentro da ortopedia assiste-se à ramificação dos saberes divididos em subespecialidades como: ombro e cotovelo, cirurgia da mão, cirurgia da anca, cirurgia do joelho e traumatologia desportiva, cirurgia do pé, cirurgia da coluna, ortopedia infantil e ortopedia oncológica, entre outras. Também aqui o Serviço de Ortopedia, impulsionado pela visão pioneira de Norberto Canha, criou pela primeira vez consultas de subespecialidade que se foram desenvolvendo e permitem, actualmente, dispor de um tratamento de elevada diferenciação e excelência, para os problemas mais complexos. Na actualidade, a ortopedia utiliza técnicas de videocirurgia (artroscopia) para tratar problemas articulares (tratamento da cartilagem, reparação de roturas ligamentares), cirurgia percutânea para tratar problemas do pé, microcirurgia e cirurgia nervosa no tratamento de lesões do plexo (na criança e no adulto). Além de se implantarem

próteses em articulações com artrose, já se substituem as mesmas quando se desgastam devido à utilização intensiva por parte do doente. O tratamento de articulações destruídas por doenças reumatismais permite fornecer ao doente, que delas necessita, uma grande autonomia e melhor qualidade de vida. Apesar da sua grande evolução, a ortopedia não se desenvolveu tanto como outros ramos da medicina. Fruto deste desenvolvimento da medicina, temos assistido a um aumento da longevidade das pessoas, isto é, dá-se mais anos à vida. A ortopedia de hoje é uma especialidade amadurecida com soluções técnicas inovadoras e em evolução constante, que contribui para fornecer uma melhor qualidade de vida aos doentes que padecem de doenças do aparelho locomotor que lhe causam deformidades, dores e limitações de vária ordem. No Serviço de Ortopedia do CHUC, podemos não dar anos à vida, mas certamente que daremos, aos que necessitam, vida aos anos! •


Best. Nr.: 93 660-201

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2 | 2014


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PORTUGAL

O MAGO DA COLUNA VERTEBRAL HARUO NISHIMURA

É EXPRESSIVO E FALA SEMPRE COM UM SORRISO GENEROSO, RODEIA AS PESSOAS COM UM PENSAMENTO POSITIVO E DE FRANCO OPTIMISMO. SENDO MÉDICO, CIRURGIÃO, A SUA POSTURA ASSEMELHA-SE AO QUE NA REALIDADE É: UM CIDADÃO DE ASCENDÊNCIA JAPONESA QUE SE TORNOU UM CASO RARO DE SUCESSO E POPULARIEDADE. CHAMAM-LHE MESMO “MAGO” DA COLUNA VERTEBRAL. Luís de Freitas O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

Fotos: Orlando Teixeira

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édico com uma pós-graduação na Chiba University, no Japão, a sua origem familiar, Haruo Nishimura dedicou cerca de 15 anos ao estudo e pesquisas direcionadas para a complexa vida da coluna vertebral. Pretendia com isso combater os males que afetam esta zona tão sensível do nosso corpo. A sua metodologia assenta fundamentalmente na fusão das medicinas convencional e oriental, onde oriente e ocidente se complementam com funcionalidade. Desde 2012 que o nosso anfitrião decidiu radicar-se em Portugal, tendo o seu espaço clínico em Azeitão, onde tem ao seu dispor tecnologia de última geração, isto apesar de, tal como realça “só faço a cirurgia em último recurso”. Depois de muitos anos em São Paulo e com uma variedade de pacientes, repleta de celebridades vindas de todo o mundo, estabeleceu-se em terras de sobreiros e oliveiras: “Agora sou imigrante por cá, e minha família está a adorar”, esclarece convicto. “Já tínhamos pensado em mu-

dar há já algum tempo, queríamos novas etapas, e a forma como se vive em Portugal agradou-nos bastante, temos casa, escola, a vivência com as pessoas, foi uma boa adaptação”, diz-me sempre divertido, e acrescenta mais um dado: “sabe, até a minha mãe, com 92 anos, apesar de inválida, está a viver connosco aqui em Portugal. Estamos felizes”. Ainda assim, há um detalhe que Nishimura não esquece: “A nossa clínica continua a ter muitos pacientes estrangeiros, que estão satisfeitos com a nossa deslocação para Portugal e nos visitam. Os pacientes brasileiros continuam fiéis e eles sabem que podem desfrutar do país encantador que é Portugal”. A movimentação na clínica é grande com os pacientes a serem encaminhados aos gabinetes terapêuticos depois de diagnosticados pelo Dr. Nishimura. “Claro que cada caso tem uma duração de tratamento diferente, depende da especificidade da lesão”, esclarece. Certo é que ao nível dos custos, a consulta se situa nos 60 euros.


O que o levou a especializar-se na coluna vertebral? Algum caso familiar? Foi intuitivo? Desde jovem sou praticante de Judo e isso direcionou as minhas atenções à coluna vertebral, dada a sua importância frente à anatomia corporal. Além de a coluna ser uma estrutura fundamental para a mobilidade e locomoção, é nela onde se encontra o canal vertebral abrigando a medula espinhal que faz parte do sistema nervoso central e de onde se originam as raízes nervosas. Estas se ramificam por todo o organismo, induzindo direta e indiretamente ao bom funcionamento do corpo humano.

DIAGNÓSTICO AO DETALHE

No fundo as pessoas devem estar atentas a sintomas? Sim, claro, apesar de o problema mais comum ser a hérnia de disco, há também a escoliose (coluna em S), hipercifose, hiper-lordose, dores ciáticas e outros. Os males da coluna vertebral podem repercutir em alterações que irradiam por todo o corpo sob diversos sintomas, como dores de cabeça, perda de sensibilidade, tonturas, depressão, angústia, stress, osteoporose precoce e irritabilidade aumentada. No seu caso particular, como soluciona esse ramalhete de lesões?

Como em toda a medicina, “cada caso é um caso”, daí existir um diagnóstico que depois é estudado em detalhe e o tratamento pode ser modificado em função da evolução do processo. É importante que o paciente tenha confiança nos nossos profissionais, na metodologia, para que as coisas corram de forma a alcançar um êxito total. Mas cuidado, para o perfeito funcionamento da coluna após um tratamento inicial, é fundamental a constante manutenção da mesma, pois estamos diante de uma estrutura de vital dinâmica, que está em continuo movimento, sendo ainda o eixo que sustenta o nosso corpo. O que pretendo é evitar danos irreversíveis. 19


A manutenção favorece a lubrificação das facetas articulares das vértebras, fortalece a musculatura de sustentação, impedindo a compressão intervertebral e mantém-se, acima de tudo, o corpo em perfeito estado de funcionamento e maleabilidade. Deixe-me rever uma questão: o seu foco como médico está muito centrado no tratamento sem recorrer à cirurgia?! Certo. Um dos maiores trunfos da Clínica Nishimura é o sucesso no tratamento da hérnia discal sem intervenção cirúrgica. Porque acima de tudo, sendo cirurgião, penso no paciente. Então, tudo começa no diagnóstico meticuloso e preciso, porque as dores nem sempre são causadas pela hérnia de disco em si. Ela pode resultar de outras estruturas como as articulações das vértebras, li20

gamentos longitudinais anteriores e posteriores, a cápsula sinovial, o ligamento amarelo, os nervos, a musculatura, etc. Portanto, através do critério de avaliação, detectamos o ponto exato que provoque os sintomas e só aí decidimos sobre o tipo de tratamento. Ao longo destes anos a lidar com tudo que diz respeito à coluna, a nossa clínica tem auxiliado variados colunopatas a desviarem-se das cirurgias, isto porque elas, além de altos riscos, podem ter consequências nem sempre agradáveis e até em alguns casos irreversíveis. Como cirurgião, procuro recorrer a esse meio somente quando todos os outros recursos se esgotaram. Há que se ter sempre cautela e discernimento. De entre seus ilustres pacientes está o cantor Português

Emanuel. Em que consistia seu caso? Aproximadamente há quatro anos, meu querido amigo Emanuel, ao tomar conhecimento da nossa clínica, deslocou-se de imediato ao Brasil, pois ainda lá vivíamos. Lembro-me de ter chegado com dores insuportáveis, sob stresse ao limite e à base de medicamentos, além do que ainda vinha com indicação cirúrgica para o seu problema, pois a coluna apresentava 3 hérnias discais. Decidi então por um “tratamento de choque” intensivo e em pouco tempo ele estava de volta a Portugal livre da dor lancinante e com perspectivas animadoras para a sua total recuperação. Atualmente retorna à clínica para a manutenção regular de sua coluna, concedendo-a um padrão normal e saudável, como deve ser.


Podemos pensar que num conjunto de pessoas com a mesma lesão, cada uma delas terá o seu próprio tempo de cura? Tudo está relacionado com um diagnóstico muito completo e preciso. Logo, não se pode pré-determinar o tempo exato da cura, dado que existem fatores intrínsecos e diferenciados para cada paciente. Aliás, a meta principal é aliviar as dores o mais rápido possível. A cura poderá vir naturalmente conforme a sequência dos tratamento. Afinal não sou um curador, muito menos milagroso! Nós, profissionais da área médica que trabalhamos em prol da vida, estamos cientes da imensa responsabilidade e do rigor absoluto a que somos constantemente submetidos e nada pode abrilhantar nos-

sa carreira mais do que ver a felicidade estampada na face de cada paciente. Ao vê-los a abandonar as suas cadeiras de rodas, bengalas e canadianas, regozijamo-nos imenso. É justamente para isso que vale todo o conhecimento, estudo, pesquisa e principalmente a fé, a perseverança e o amor pela preservação da vida. Quando conseguimos diminuir o sofrimento do próximo, tornamo-nos seres mais completos, conquistamos amigos para toda a vida. E diga-se em síntese: o segredo da Clínica Nishimura não se ampara somente na medicina em si, mas também na simplicidade, na conduta séria e no prazer de se alegrar com os que se alegram. Inspira-nos o senso de dever cumprido. •


DESENVOLVIMENTO PESSOAL

PORTUGAL

O CÓDIGO DA VIDA

O EU DIVINO É A FONTE DE TUDO O QUE EXISTE VIVER CADA MOMENTO, CADA SEGUNDO, NA CONSCIÊNCIA QUE APENAS EXISTE UMA OPORTUNIDADE PARA ESSE MOMENTO. VIVER CADA INSTANTE SABENDO QUE SE TRATA DO ÚNICO QUE NOS É POSSÍVEL EXPERIENCIAR NESTA CONDIÇÃO HUMANA.

O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

Joaquim Caeiro

Psicoterapeuta da Alma & Life Coach https://www.facebook.com/joaquim.caeiro.1

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credito numa filo­­so­fia de vida intemporal, antes de tudo o que exprime a essência e o coração de todas as religiões e linhas espirituais. É aí que eu descanso… é isso que eu sou: o fluir da existência divina! Envolvidos pela azáfama do dia-a-dia e pela ação hipnótica condicionada por uma sociedade baseada em objetivos específicos de concretização, materialismo e alcance de algo, esquecemo-nos muitas vezes que o verdadeiro propósito é VIVER. Viver cada momento, cada segundo, na consciência que apenas existe uma oportunidade para esse momento. Viver cada instante sabendo que se trata do único que nos é possível experienciar nesta condição humana. Afastamo-nos de tal forma da lembrança de quem realmente somos que, facilmente responsabilizamos o mundo e tudo o que escolhemos viver como responsáveis pelos nossos fracassos, insatisfações e frustrações. DESPERTAR PARA A EXISTÊNCIA

Se parar e observar a vida a

acontecer em si, entende que tudo funciona sem o seu comando. Cada órgão, cada célula, cada parte do seu corpo sabe exatamente o que fazer para o manter vivo. Se criar o hábito em parar e dedicar apenas 10 minutos de manhã e 10 minutos à noite para observar a vida, irá mostrar ao seu corpo e tudo o que nele funciona que reconhece esta perfeição, esta inteligência, esta presença de algo divino e grandioso. Este hábito diário irá permitir-lhe lentamente, dia após dia integrar e aceitar a ideia de que a única condição para alcançar seja o que for, é estar vivo! Isto irá despertar em si a consciência que afinal basta existir… independentemente da sua situação, das suas escolhas ou de qualquer comportamento – ser apenas o que é, é suficiente para dar continuidade à sua manifestação aqui na terra. TUDO COMEÇA E TERMINA EM SI EM CADA INSTANTE

Estar desperto para a sua própria e simples existência, como vida e manifestação inteligente, permite-lhe


criar condições para saber que tudo começa e termina em si, que é você o criador de tudo o que acontece e é na sua vida. Que afinal, até tem dentro de si e em toda a sua manifestação o poder da criação, a inteligência suprema a acontecer sem paragens ou dúvidas. Olhe à sua volta. Aquilo que os seus olhos enxergam e todos os seus sentidos percecionam é a realidade que considera real. Cada detalhe, cada forma, cada reconhecimento e identificação do local onde se encontra, é processado de acordo com o seu conhecimento, com as suas memó-

rias e associações. Aquela cadeira pode ser a mesma cadeira que outra qualquer pessoa pode percecionar, mas a forma como essa cadeira entra no historial interno da pessoa é diferente da sua. Aquela janela, observar o exterior através do vidro pode ser o mesmo que qualquer pessoa observa e contempla… mas a forma como tudo isso é processado dentro de cada um é diferente da forma como é processado dentro de si. Recordações, associações, vivências, conceitos, estilos de vida, família e tudo o que é, acredita e manifesta, nesse momen-

to em que observa esse local, tudo isso é responsável pela criação desse momento e dessa realidade dentro de si. Portanto, faça o que fizer, ande por onde andar e seja quem for, está sempre a criar o momento… está sempre a criar tudo… porque tudo é observado com os seus sentidos, que só sabem processar à sua semelhança. EXISTE APENAS UMA OPORTUNIDADE PARA VIVER

Não importa a sua situação, a sua origem, a sua raça, a sua linha espiritual, ou a sua filosofia de vida. Esteja onde 23


DESENVOLVIMENTO PESSOAL

«SE OLHAR À SUA VOLTA E OBSERVAR A VIDA, TUDO EXISTE NUMA PERFEIÇÃO E NUMA INTELIGÊNCIA QUE TRANSCENDE A CAPACIDADE HUMANA...» estiver, faça o que fizer, aconteça o que acontecer, apenas existe uma verdade – este momento em que está a ler estas linhas já passou. Na sua manifestação única, cada momento, corresponde a uma única oportunidade em ser apenas aquilo que deseja ser. Por outro lado, graças a todo o mecanismo inteligente que é o seu corpo-mente e o seu corpo-coração, cada instante é registado internamente como mais um passo, o que não lhe dá a possibilidade de ser exatamente a mesma manifestação, no momento que se segue ao que está a viver agora – por outras palavras só vive exatamente como é, uma única vez, por cada momento! E se é o momento que dá origem ao próximo, já parou para observar o que está a ser cada momento? Já pensou que, se cada momento é único, se existe apenas uma oportunidade, pode estar apenas a tentar ser algo no futuro, ficando apenas nesse círculo vicioso em que o resultado fica apenas pelo tentar? A MENTE E O CORAÇÃO SÃO UM SÓ

Estamos habituados a referir-nos aos pensamentos e às emoções como se fossem se24

parados um do outro. Como se a mente tivesse que comandar o coração ou vice-versa. Na realidade, tudo acontece em simultâneo, senão teríamos de ter dois momentos em vez de um momento. Já imaginou um pensamento sem uma emoção? Já sentiu uma emoção sem pensar? Prisioneiros de um esquecimento quase irresponsável, longe estão as memórias que nos poderia ajudar a lembrar que a separação apenas existe na ilusão e na necessidade de identificarmos partes do todo que somos. Da mesma forma que a mente e o coração acontecem e são em simultâneo, tudo em si é em simultâneo. Não existe espaço para “duas existências” no próprio momento. Devido à nossa condição de sermos apenas o momento e podermos viver apenas um instante de cada vez, que por cada vez que observamos apenas o fazemos numa direção de cada vez, criamos a ideia de que cada momento é separado do todo. O seu coração bate em todo o corpo, em cada célula, em cada órgão interno o coração está presente, no pulsar na lembrança que está ligado à vida. O seu fígado, realiza as suas funções em todo

o seu corpo, porque é graças ao resultado das mesmas que se mantem o equilíbrio em todo o corpo. Os seus pulmões e todos os restantes órgãos internos fazem a mesma coisa. O que quer dizer que afinal cada parte de si é inseparável da outra parte e integrada num todo que só existe porque cada parte existe. É INSEPARÁVEL DO COSMOS

Se olhar à sua volta e observar a vida, tudo existe numa perfeição e numa inteligência que transcende a capacidade humana. Cada forma de vida, cada ciclo, cada acontecimento parece estar divinamente organizado por uma força lógica que dita a sua essência única na sua própria manifestação. Tudo está ligado, tudo está a acontecer ao seu ritmo, aparentemente isolado, mas ligado à rede e malha da vida. Observe o seu dia e tudo o que faz parte dele para compreender melhor esta consciência. Ao acordar, centenas de outras pessoas o estão a fazer. Ao sair de sua casa, cada passo, cada ação, centenas, milhares de outras pessoas o fazem em simultâneo. A cada amanhecer, o sol, a luz volta e são criadas


as condições para que tudo possa existir mais um dia. Agora observe mais perto de si – sempre que age e se manifesta como ser, é “obrigado” a fazer parte de todas as outras manifestações. Nada interrompe a sua existência para que você aconteça – tudo está em simultâneo a acontecer, interligado e perfeitamente sincronizado. Está sempre onde tem de estar, nem mais nem menos. Primeiro porque o tempo não existe, a separação do passado, presente e futuro, mais uma vez foi uma ação para percebermos e situarmos a nossa existência – o passado são memórias, o presente já é passado por cada vez que se manifesta e o futuro são sonhos, possibilidades baseadas no que acreditamos e manifestamos agora. Portanto cada instante da sua vida é perfeito, por-

que usa tudo o que dispõe para escolher e ser. A ideia da imperfeição, insatisfação ou desilusão, está diretamente associada ao desfasamento entre a ilusão de uma concretização controlada antecipadamente no mundo interno do processamento geral e a lembrança que afinal essa concretização nunca corresponderá exatamente ao que prevê, pois se cada momento é diferente pela experiência e por estar sempre a acrescentar “tempo” de vida e conhecimento, quando o que deseja acontece está num momento diferente daquele em que estava quando pensou ou criou a possibilidade disso. COMO CONCRETIZAR E SER TUDO O QUE DESEJA?

Se tudo já é perfeitamente organizado e sábio. Se tudo faz parte de uma consciência glo-

bal inseparável de si mesma. Se apenas existe uma única oportunidade para ser, então só conseguirá alcançar condições para criar o caminho e, tudo o que precisa para chegar aos seus sonhos e à sua realização feliz, sendo apenas o que é. Sim, nada existe a curar, a transformar ou a alterar em si, talvez aquilo que desejamos fazer é criar condições para sermos com tudo o que faz parte de nós em paz, sem rejeições, zangas ou necessidade de acrescentar ou retirar seja o que for. Mas se o momento é único, fazer qualquer cosia diferente daquilo que é a naturalidade da manifestação é distanciarmo-nos da lembrança de quem realmente somos – a fonte, o tudo e o nada, o Deus em manifestação. Seja apenas você mesmo e o mundo será ele mesmo. • 25


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PORTUGAL

A DEFICIÊNCIA A QUESTÃO DA DEFICIÊNCIA, POR TER UM CUNHO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO, ACABA POR ENTRAR EM DOMÍNIOS SENSÍVEIS, DEPARANDO-SE COM MUITOS OLHARES E PARECERES DIFERENTES, E ASSIM SENDO, MUITAS VEZES, A NECESSÁRIA COMPREENSÃO DO PROBLEMA, É POSTA NUM PLANO ALTERNATIVO.

O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

Carlos Céu e Silva

Psicólogo Clínico Presidente da Olhar – Associação pela Prevenção e Apoio à Saúde Mental

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abendo que nunca se deve recorrer a generalizações, é sempre difícil, quando refletimos em torno de temas complexos, não cair, em divagações, muitas vezes contaminadas com impressões pessoais, que pelas razões mais óbvias, não nos levam ao fundo das questões. E os debates sérios, refletidos, ficam lesados. Esta realidade ocorre muito quando nos debruçamos sobre a deficiência, e em particular, quando queremos perceber o que é que ainda está mal e precisa ser resolvido. A pessoa com deficiência, ainda é confundida quase na generalidade, como um todo e a sociedade atual rege-se (e bem) no dever ético da assistência, onde a promoção de acessibilidades, a integração profissional e a defesa dos direitos, sejam uma realidade concreta. No entanto, não separando “o trigo do joio” e não querendo “complicar” o que é fácil de entender, coloquemos, em abstrato, alguns pontos: • Como é lidar com uma situação de limitação motora, após um acidente rodoviário? Ou ficar imobilizado, após situações de violência física, ou devido a um assalto, a uma que-

da no trabalho (ou em casa)? • Como será sentido o mundo, com o aparecimento inesperado de uma cegueira? • O que é ficar com mobilidade reduzida aos 20 anos, aos 40? • E a “compreensão” da deficiência no feminino? Numa adolescente? • E no homem? Num jovem? A deficiência não é uma situação marginal da vida. Não pode existir como um “outro corpo” que acompanha a pessoa, em todos os seus momentos. A pessoa com deficiência já carregava consigo a sua identidade, que acaba por ser reduzida, se não apagada, quando o que é colocado à sua frente, é a aceitação forçada de uma nova situação, sem tempo de preparação e assimilação. E esta “coisa” ainda quase sem nome que se torna implacavelmente visível, por vezes, o que causa é um afastamento e não, como devia ser, uma aproximação. Mesmo sabendo que a sociedade atual, está realmente focada na inclusão natural das pessoas com privações físicas, na prática, e muitas vezes, em nome de “boas práticas” nem sempre as coisas ocorrem


idealmente, como deveria ser. Acontece na família, repete-se nas instituições, e confrontamo-nos com surpresas desagradáveis no espaço público e urbano. A família, é quase sempre, o primeiro elemento a desagregar-se. Baralha-se e desgasta as suas energias em torno de tantas situações, por serem novas e imprevistas, que acaba por retardar o seu papel de intervenção, com o elemento atingido. A sociedade, principalmente as instituições responsáveis, nem sempre são hábeis nas respostas e acabam por criar barreiras, mais psicológicas que físicas, na pessoa com deficiência e na própria família. As instituições atuais, estão quase todas preparadas para acolher com qualidade uma pessoa com deficiência. O que acontece ainda, e não vale a pena falar da boa vontade de cada um, é existir uma impreparação de determinados profissionais, que lidam com a pessoa com deficiência, através de um aliança de emocionalidades ambíguas, que produzem efeitos, muitas vezes, nocivos e causadores de desconfortos permanentes. Outro fator institucional penalizante, são as horas excessivas de reuniões e planeamentos a que as variadas equipas são forçadas a ter, afastando a sua prestação no que seria mais útil e benéfico, que seria o estabelecimento de relações mais próximas com o utente.

Os profissionais atuais vivem subjugados a critérios avaliativos permanentes, o que os desvia do seu trabalho. Eles ocupam-se mais com planos, programas, iniciativas, no fundo, ações de afirmação e valorização profissionais, em detrimento dos seus desempenhos como técnicos de saúde. E quem é penalizado descaradamente é a pessoa institucionalizada. As suas necessidades não são satisfeitas num tempo razoável e a atenção que deveria ser dada é eliminada. Um outro ponto, e retornamos à família, é o caso das institucionalizações de longa duração, onde os familiares vão reduzindo cada vez mais as suas visitas, quando não deixam mesmo de aparecer. Ou então, os familiares “falsos-ausentes” que só apare-

cem em situações de conflito ou para exigirem determinados direitos. A pessoa com deficiência tem uma identidade. E o que muitas vezes acontece, é a inexistência de um entendimento saudável entre as partes. É frequente ouvir-se muitos profissionais acusarem a pessoa com deficiência, de intolerantes e impacientes. Talvez, muitos o sejam. Mas, estas atitudes ganham grandes proporções, porque a sua satisfação para ser ouvida, é muitas vezes só depois de protestos audíveis significativos. Esquecemo-nos, porém, do óbvio: uma pessoa sem deficiência, autonomiza-se a qualquer momento, até em pensamento. Uma pessoa com deficiência, sente a partir do seu corpo, que a autonomia só existe dentro dele. Porque visto de fora, as dúvidas mantêm-se... • 27


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PORTUGAL

O ELIXIR DA INTELIGÊNCIA TÊM SIDO CADA VEZ MAIS RECORRENTES OS ARTIGOS E FILMES QUE SE REFEREM À AVIDEZ DE DESCOBRIR UMA FORMA DE AUMENTAR A CAPACIDADE DE INTELIGÊNCIA HUMANA, ALEGANDO QUE USAMOS APENAS 10% DA NOSSA CAPACIDADE CEREBRAL O QUE PRESSUPÕE QUE HAVERÁ UMA FORMA DE O POTENCIAR MUITO MAIS.

Vânia Fernandes Psicóloga Clínica

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endemos a associar a capacidade de Inteli­ gên­­ cia ao Sucesso, es­ quecendo muitas ve­ zes o impacto que as Emo­ções representam. Esta ideia reflecte-se na forma como educamos os nossos filhos por isso importa repensar a forma de olharmos para os seu desempenho, para o potenciar de uma forma mais saudável e realmente eficaz. Têm sido cada vez mais recorrentes os artigos e filmes que se referem à avidez de descobrir uma forma de aumentar a capacidade de inteligência humana, alegando que usamos apenas 10% da nossa capacidade cerebral o que pressupõe que haverá uma forma de a potenciar muito mais. Procuramos a inteligência como quem procura o elixir da juventude, como se quisessemos encontrar uma chave mágica para o sucesso. Mas afinal o que entendemos por inteligência? Em 1905, Alfred Binet introduziu o conceito de idade mental, o qual traduz o nível intelectual médio correspondente a uma determinada

idade. O QI, Quociente de Inteligência resultaria assim da divisão da idade mental com a idade cronológica, multiplicado por cem, indicando a capacidade de uma pessoa para resolver um determinado tipo de problema. Deste modo, quando a idade cronológica e a mental coincidem, o QI é de 100, ou seja, igual à média. Mais tarde, em 1995, Daniel Goleman viria a criar o conceito de inteligência emocional (QE, Quociente Emocional) para contrapor a ideia de que a nossa inteligência é apenas intelectual. O Quociente Emocional ou a Inteligência Emocional descreve a capacidade (ou incapacidade) de nos ligarmos aos outros seres humanos. Em outras palavras, a Inteligência Emocional corresponde ao modo como nós nos entendemos a nós mesmos e como nós conseguimos estabelecer relações com as outras pessoas. Este conceito, contribuiria assim para contrabalançar a ideia de que a nossa capacidade cognitiva é a única responsável no nosso desempenho tendo


sido mais valorizada no próprio sistema educativo. Mas afinal que ideia temos nós do que é a Inteligência? O aluno mais inteligente é o que tem melhores notas? Caímos muitas vezes no erro de associar a qualidade do desempenho à capacidade de inteligência e ao sucesso obtido, mas será mesmo a capacidade de inteligência o factor principal para que sejamos melhor sucedidos? O que consideramos nós que é um aluno ou pessoa bem sucedida? Em que critérios nos baseamos? Existem muitos pais que nos chegam à consulta convictos de que o filho é muito esforçado, pois para ter boas

notas tem que estudar muito mais do que os outros colegas que precisam de menos horas de estudo. “A inteligência não é o seu forte, talvez não tenha muito jeito para os estudos…” como se a capacidade de inteligência fosse o único factor determinante. A verdade é que existem várias questões adjacentes a esta ideia que é muitas vezes errada. Por um lado, após a avaliação psicológica verificamos muitas vezes que estas crianças chegam a apresentar um valor de QI até superior ao esperado para a sua faixa etária, o que é claramente contraditório com o seu desempenho escolar. Por outro lado, emocionalmen-

te são muitas vezes crianças que têm subjacente alguma falta de confiança ou um lado mais triste que dificulta que tenham um maior interesse e energia necessários ao bom desempenho escolar. Menosprezamos muitas vezes o impacto das competências emocionais por isso, vejamos a importância que elas podem assumir. Pensemos que em termos escolares, para se ser bom aluno é preciso ter capacidade de concentração para adquirir novas aprendizagens e que esta capacidade só é possível, em parte, tal como nos adultos, se tivermos apaziguados por dentro, se não estivermos inquietos, se não 29


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«TENHAMOS EM CONTA QUE CRIANÇAS FELIZES SERÃO MUITO PROVAVELMENTE ADULTOS MAIS INTELIGENTES E MELHOR SUCEDIDOS A NÍVEL PROFISSIONAL E PESSOAL.» houver nada de maior que nos preocupe. Será mais difícil para uma criança estar concentrada nas aulas se perceber que o ambiente está mais tenso e que existe algum problema de maior na família, por exemplo. Por sua vez, se a criança for mais ansiosa, consequentemente irá ter um sono prejudicado, logo a capacidade de reter informação e de memorizar diminui. É muito comum termos pais em consulta que não se apercebem da qualidade de sono dos filhos. Recordo o caso do André de 8 anos que tinha medo do escuro mas que tinha vergonha de dizer aos pais, por isso demorava muito mais tempo que o habitual para poder adormecer, consequentemente an­­dava mais cansado e com um menor rendimento escolar apesar do seu esforço. A capacidade de integração na escola, nomeadamente na relação com os pares é certamente um factor fundamental no bom desempenho escolar. Nunca uma criança sentirá vontade de ir para a escola se tiver uma má relação 30

com os colegas ou se não se sentir integrado. Portanto, as competências sociais desempenham um papel bastante relevante. O desempenho nos trabalhos de grupo será tanto melhor se a criança tiver confiança em expor as suas opiniões e se souber gerir melhor os conflitos inerentes a um grupo com diferentes personalidades, da mesma forma que se tiver maior resistência à frustração ou for mais capaz de ultrapassar as dificuldades que naturalmente ocorrem não só dentro do grupo mas em contexto escolar, contornando melhor os problemas, não as tornando tão derrotistas perante uma dificuldade, poderá melhorar o seu desempenho. A demonstração de interesse na sala de aula é também um contributo relevante na avaliação do aluno. A criança terá maior à vontade para colocar dúvidas ou para tentar responder a questões na sala de aula se for mais confiante e se não tiver medo de errar em público. O bom desempenho do aluno depende também, muitas

vezes, mais da capacidade criativa de pensar de forma divergente, e com imaginação para criar desenhos, composições ou mesmo descobrir novas soluções para um problema do que propriamente da quantidade de conhecimento que este adquire. A Joana, de 5 anos, tinha vindo à consulta de Psicologia a pedido dos pais com um pedido de avaliação psicológica para perceber se estava apta a entrar para escola naquele ano lectivo dado que só iria completar 6 anos em Novembro. Como já tinha muitos conhecimentos de leitura e de escrita, entre outros mais avançados para a sua idade, era, aparentemente, óbvio que estava apta a ir para a escola, mas a verdade é que a Joana não sabia brincar ao faz de conta e isolava-se bastante dos colegas no jardim infantil a par de alguma falta de confiança na relação com o outro e alguma irrequietude, o que nos fez prever desde logo que estes aspectos emocionais iriam dificultar a sua adaptação na escola, levando-nos a propor um


acompanhamento da Joana que permitiu melhorias bastante significativas a este nível, facilitando a sua integração na escola. Vivemos numa sociedade cada vez mais competitiva e por isso os pais tendem a achar que se os filhos tiverem mais actividades extracurriculares que proporcionem mais conhecimento e mais cultura vão estar mais aptos para o sucesso. Confundimos muitas vezes quantidade com qualidade e achamos que se os nossos filhos passarem muitas horas seguidas a estudar vão ter melhores resultados, esquecendo a importância do método de estudo e a importância de haver intervalos com actividade física tão importante no dispêndio de energia e aumento de concentração. Lembremo-nos que existem factores que irão contribuir de forma mais significativa para o nosso sucesso pessoal e profissional, e que mais facilmente poderemos proporcionar aos nossos filhos, como a qualidade do afeto e da segurança que lhes podemos dar desde bebés pois é na relação e no olhar com o adulto que, desde o nascimento, se pode construir uma imagem de si próprio mais segura e mais confiante e em que se adquire capacidades tão importantes como a de empatia, tão importante na relação com os pares ou na leitura adequada das regras.

É também nos momentos de brincadeira livre e espontânea, ao qual tantas vezes se retira importância, sobretudo na diminuição dos intervalos da escola, que se regularizam as emoções, dando lugar à expressão saudável de preocupações e sentimentos mais inquietantes, para que haja um dispêndio maior de energia, aumentando a concentração e a diminuição da irrequietude. É ainda na brincadeira de faz de conta que a criança poderá desenvolver a sua imaginação, criatividade e capacidade de representação. Por isso, não nos deixemos levar pela ideia de que o aumento do conhecimento e de actividades múltiplas é a única forma dos nossos filhos se-

rem melhor sucedidos, nem nos deixemos levar pela ideia, também ela errada, de que o sucesso associado à qualidade dos resultados obtidos é garantia de bem-estar emocional. Alguns dos melhores alunos chegam-nos, na maior parte das vezes, numa idade mais avançada com sintomas como ansiedade, dificuldade em dormir ou falta de apetite num nível mais agravado, porque afinal o aparente sossego dos bons alunos, com boas notas raramente revela sinais de alerta de que o seu estado emocional poderá não ser tão favorável como aparenta. Tenhamos em conta que crianças felizes serão muito provavelmente adultos mais inteligentes e melhor sucedidos a nível profissional e pessoal. • 31


DESENVOLVIMENTO PESSOAL

PORTUGAL

RUMO A UM VOLUNTARIADO SEGURO DESTINA-SE A PESSOAS ENTRE OS 18 E OS 30 ANOS E PODE DURAR ENTRE DUAS SEMANAS A UM ANO. DECORRE EM PAÍSES DOS ESTADOS-MEMBROS, PAÍSES VIZINHOS E PARCEIROS DO MUNDO. PARA PARTICIPAR, BASTA PROCURAR UMA ORGANIZAÇÃO DE ENVIO E ESCOLHER O PROJETO. Inês Ruivo O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

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er entre os 18 e os 30 anos e a procura de uma organização de envio, como a Pro­ Atlântico, a Rota Jovem ou a Global Volunteer Network, por exemplo, são as primeiras etapas para quem pretende passar algum tempo noutro país em ações de voluntariado. Após o contacto e a aceitação por parte de alguma dessas associações é o voluntário que escolhe o projeto em que deseja participar, a duração (entre seis meses a um ano – dependendo dos projetos) e o país para onde mais lhe interessa ir. Nos sites online das várias organizações à disposição encontramos desde projetos ligados ao apoio de crianças ou idosos até projetos de limpeza de áreas costeiras ou ajuda no tratamento e preservação da vida marinha. Os países à disposição dependem das organizações. Desde as ilhas Fiji e Seychelles até Espanha, Roménia ou países africanos. Por norma, as organizações de acolhimento baseiam-se nas cartas de motivação e no currículo para selecionarem os voluntários. Ainda assim,

umas preferem ter formulários próprios ou recorrer a entrevistas telefónicas ou via Skype. Já os prazos de candidatura são definidos por elas e a seleção pode ser feita meses antes do início do projeto. Nuno Camejo, voluntário em Itália durante oito meses, afirma que “A escolha do projeto é crucial. O país onde se realiza deve ser um aspeto secundário na escolha. Este deve adaptar-se aos objetivos do voluntário para que não se sinta desiludido posteriormente com a sua escolha.” Também a cultura e língua diferentes podem ser uma barreira às boas relações entre voluntários ou coordenadores. Alguns voluntários desistem dos projetos devido a quezílias que surgem entre eles. Foi o que aconteceu a Sílvia Camejo, voluntária no Quénia. Segundo ela, o não cooperativismo entre membros da instituição em que estava integrada, fê-la desistir três semanas após iniciar o voluntariado e alerta para que o jovem esteja preparado para certas dificuldades que possa encontrar nas


relações interpessoais. Para tentar colmatar possíveis discrepâncias culturais, é dada formação inicial ao voluntário, de modo a conhecer melhor o país onde se desenvolve o projeto e incentivar a interação com os colegas. Durante o horário de serviço é também dada formação linguística. Como ponto positivo, Nuno Camejo realça a aprendizagem de uma nova língua – através do voluntariado, aprendeu a falar fluentemente italiano. Já o convívio com pessoas de diferentes países fê-lo conhecer novas culturas e receitas gastronómicas. PLANEAR A VIAGEM

O voluntário é orientado durante o projeto. O promotor tem como função apoiar o voluntário nas tarefas e dar apoio linguístico e administrativo. Já o orientador fornece assistência pessoal e ajuda-o a integrar-se na comunidade local. O voluntário conta ain-

da com apoio logístico, alimentação, plano de seguro e despesas de deslocação (que incluem apenas transportes económicos, como o autocarro). A viagem de avião tem de ser assegurada pelo voluntário em dez por cento. Nuno Camejo fazia parte do Serviço Voluntário Europeu (SVE) e todas as suas despesas foram pagas pela Comissão Europeia. Em contrapartida, a sua irmã, Sílvia Camejo, fê-lo através de uma associação e o custo da viagem teve de ser suportado por ela. Ambos concluem que é importante estar informado de quais as despesas que serão asseguradas para evitar perdas de dinheiro substanciais. Outro aspeto que estes dois jovens realçam ser necessário é ter noção de que a bolsa atribuída não é suficiente para passear e conhecer o país. “Se o voluntário não levar dinheiro, estará confinado ao espaço onde se reali-

za o trabalho e sentir-se-á «preso» durante todo o projeto”, refere Nuno Camejo. O SVE permite a participação de voluntários com menos oportunidades ou necessidades especiais. Para tal, têm de o justificar no formulário de candidatura e apresentar faturas/recibos em todas as despesas efetuadas. Com esses comprovativos, todo o dinheiro gasto ser-lhes-á reembolsado. Estes jovens podem fazer voluntariado europeu a partir dos 16 anos. Na execução da carta de motivação e do currículo, o voluntário pode pedir ajuda à organização. Nos programas de voluntariado com duração superior a seis meses, o jovem é obrigado a uma avaliação intercalar. Esta decorre num outro local fora dos campos onde estão inseridos e pode assim conhecer voluntários envolvidos em diferentes projetos noutros locais do país de acolhimento. • 33


DESENVOLVIMENTO PESSOAL

BRASIL

POP COACHING [...] ”O COACHING NÃO É UM MÉTODO DE LUNÁTICOS IDEALISTAS, EM ABSOLUTO. É, ANTES DE TUDO, UM PROCESSO QUE FAZ A PONTE ENTRE A SUA REALIDADE E O SEU OBJECTIVO, SENDO ESTE TANGÍVEL, MENSURÁVEL, RELEVANTE...” [...] Eduardo Almeida

S

endo a criadora do Pop Coaching como define este processo/ conceito? Uma assessoria para a tomada de decisão profissional, baseada em valores, talentos e propósito de vida. Qual foi a sua inspiração para criar este tipo de coaching? Estava fazendo formação em coaching em 2008 e durante uma sessão sobre missão de vida me dei conta de que se tivesse tido aquele tipo de reflexão na minha adolescência, teria tomado menos atalhos duvidosos na juventude. Então decidi testar a ferramenta com meu próprio filho adolescente, então com 14 anos. Senti que ele respondeu bem e aumentou consideravelmente o nível de consciência de si mesmo. Nesse instante, tive a ideia: “Por que não ajudar muitos jovens a se descobrirem através do coaching?” Imagino que tenha sido para suprir lacunas no mercado. Que lacunas eram essas e qual a sua opinião relativamente a outras técnicas de orientação profissional, co-

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mo testes vocacionais, etc? É verdade. Fui pesquisar o que estava sendo feito nesse sentido e encontrei coaching para atletas, para casais, para grávidas, além de muita gente voltada para os executivos, mas para adolescentes nada... Quem se lembra deles, a não ser na hora do consumo desenfreado? Essa constatação me estimulou ainda mais. O que eu via até então eram processos de orientação vocacional clássicos muito calcados em testes padronizados e que pouco pareciam ter a ver com a realidade do brasileiro de hoje. Sou um pouco reticente quando se trata de teste, porque muito da subjectividade se perde quando se tenta objectivar questões pouco tangíveis, como o contexto social, as motivações intrínsecas e a própria história de vida do sujeito. Tecnicamente, digamos assim, como idealizou este processo? Qual é a sua estrutura? Tomei como premissa o modelo FARM, proposto pelo Behavioral Coaching Institute, entidade com sede na Califórnia que me


relativas ao auto-conhecimento e as 5 últimas à exploração de possibilidades profissionais e planeamento em si. Penso que antes de ir às lojas comprar roupas devemos verificar o guarda-roupa para ver o que temos e o que nos falta. Com a escolha profissional ocorre o mesmo: primeiro precisamos saber quem somos e o que buscamos, para depois ir ao encontro do que nos cai bem.

certificou, a saber: Foco, Acção, Resultado e Melhoria Contínua. Sendo assim, o Foco corresponde à escolha da profissão, a Acção consiste nas etapas do processo de auto-conhecimento que embasaria a tomada de decisão (Resultado) e Melhoria Contínua sendo o planeamento estratégico pessoal e profissional para 5 anos, ou seja, não apenas a escolha do curso ou instituição como um fim, mas os passos seguintes, como especialização, busca por estágio, entrevistas de emprego, estudo de línguas e tudo o mais que

se faça necessário para atingir o ponto B correspondente à “vida ideal” que o jovem desenhou para si. De acordo com o modelo FARM, planei um processo em 10 sessões e adaptei as ferramentas à linguagem e estética da geração digital. Sabendo que cada cliente é único e apresenta um caso também único (o seu próprio caso), por favor descreva a metodologia que, em geral, mais utiliza durante o processo. Seguindo o modelo FARM, distribuo o processo em 10 sessões, sendo as 5 primeiras

Como decorre um processo típico/médio de Pop Coaching? Quais são as suas fases/passos, desde o início até à conclusão? Acho que expliquei um pouco nas anteriores. Durante as 5 sessões de auto-conhecimento, investigamos valores, crenças, talentos e o próprio conceito de sucesso do indivíduo. Isso é feito através de uma ferramenta que, apesar de pré-formulada, contém perguntas poderosas que vão eliciar em cada um, uma resposta personalizada. Durante as 5 sessões de exploração de possibilidades profissionais, eles são guiados a descobrir o tipo de trabalho que os atrai, o ambiente em que preferem estar, as condições de trabalho, os cursos que os atraem e se utilizam do mesmo tipo de análise e cenários de que empresários e executivos lançam mão: a que leva em conta aspectos emocionais e racionais da decisão. 35


DESENVOLVIMENTO PESSOAL

«EM GERAL, O QUE ACONTECE É QUE, COM O DECORRER DAS SESSÕES, OS PAIS PERCEBEM MUDANÇAS POSITIVAS NO COMPORTAMENTO DOS FILHOS, COMO AUMENTO DO COMPROMETIMENTO COM OS ESTUDOS» Em geral, testes como os vocacionais não são muito bem vistos no mercado, sendo considerados pouco fiáveis e precisos. Nesta medida, o Pop Coaching deve substituir os testes vocacionais (ou outras técnicas existentes para este fim) ou ambos devem completar-se no processo? Penso que auto-conhecimento nunca é demais! Se eu tivesse de optar por uma metodologia ou outra, ficaria com coaching, pela possibilidade de aprofundar a reflexão e a percepção de si, mas penso que se, ao final do processo e com a decisão já tomada, o jovem quiser uma resposta padronizada, ele pode complementar o trabalho com um teste de personalidade de credibilidade, como o MBTI, por exemplo. Como encontrar o equilíbrio entre a real vocação/paixão de um jovem, as necessidades do mercado laboral e uma profissão promissora, bem remunerada? Com criatividade e, sobretudo, atitude empreendedora, você sempre vai encon36

trar quem precise da sua paixão ou vocação. Ou melhor, essa pessoa vai encontrar você... Um senso de missão muito forte vai levá-lo a ser mais competitivo, a buscar novas formas de resolver velhos problemas e a se fazer visível. Para o jovem que desenvolve a mentalidade de ser um resolvedor de problemas, nunca faltam clientes ou emprego. Da sua experiência, de que é que os jovens que a procuram estão mais dispostos a abdicar: da sua paixão a favor de uma carreira bem remunerada, que lhes pode conferir bom status social mas que não os realizam profissional e pessoalmente ou o contrário? Vejo os dois casos com frequência. O Coaching não é um método de lunáticos idealistas, em absoluto. É, antes de tudo, um processo que faz a ponte entre a sua realidade e o seu objectivo, sendo este tangível, mensurável, relevante... Então, considerando ecologicamente a realidade do jo-

vem, se estabilidade financeira é um valor muito forte para ele e sua família, é natural que ele seja mais conservador em suas escolhas, optando por carreiras clássicas como o Direito ou que estejam em alta no mercado, como as Engenharias. Nesse caso, quando a escolha não é necessariamente uma grande paixão, ajudo-o a encontrar um meio de compensar o sacrifício ou o esforço da abdicação, como um hobbie em paralelo. Por outro lado, em muitas famílias em que não há a pressão pelo rápido retorno financeiro do investimento feito em educação, tenho percebido que os pais estão mais suportivos a qualquer que seja a escolha de seus filhos, desde que seja uma decisão consciente. Não tenho visto pais apavorados porque um filho quer ser músico ou estilista. Vejo-os muito preocupados em que seus filhos desejem ardentemente qualquer curso e que sejam capazes de concluí-los com êxito. A ascensão de novas carreiras como a dos web designers e analistas de mídias


sociais, bem como o advento das startups e o sucesso estrondoso das empresas da nova economia dão ao jovem a sensação de que ele pode ser o que quiser, basta encontrar o seu nicho. Em que fase da escolaridade são mais procurados os serviços de Pop Coaching? Nos anos de transição, em que o aluno tem que tomar opções para escolher a área a seguir? Sem dúvida, quando passam do Ensino Fundamental para o Médio e começa-se a se questionar quanto ao futuro. Quais são as maiores dificuldades e preocupações apresentadas pelos seus clientes? Optar entre tantas possibilidades; Medo de não passar no processo selectivo (vestibular, aqui no Brasil) para a universidade almejada; medo de não conseguir emprego. Que papel têm os pais/educadores/encarregados de educação ao longo de todo o processo de Pop Coaching? Cuidar da auto-estima do jovem, sempre. Mesmo os mais populares sofrem com ranhuras no seu auto-conceito, então é fundamental que todo educador, tutor, familiar, coach reforce e reconheça os talentos que fazem daquele menino ou menina cheios de borbulhas uma pessoa especial. É a percepção que o

jovem tem de sua capacidade que determina o estabelecimento de objectivos. Pouca auto-confiança significa metas pequenas e metas pequenas não motivam ninguém. Uma pessoa só abre mão de prazeres imediatos se tiver um grande sonho e só tem um grande sonho quem confia em si mesmo. Como gere as discrepâncias que eventualmente existam entre a vocação/vontade dos jovens e a vontade dos pais quanto à profissão a escolher? Mesmo quando há concordância, toda escolha implica perdas e ganhos. Se os

pais chegam com uma demanda diferente da do coachee, coloco a questão às claras à frente de todos e faço com que reflictam sobre os riscos e ganhos de aquele jovem abdicar de uma missão de vida e também das implicações de contrariar a família. O meu compromisso é com a felicidade do meu coachee, sempre, e sei que dificilmente ele será feliz se estiver em guerra com a família ou em guerra com o trabalho que exerce. Se se estabelece um impasse, exercitamos a habilidade de negociação (necessária para toda a vida, aliás). Geralmente, ou os pais dão um prazo para que o filho tenha êxito antes de abandonar a carreira X ou o jovem aceita transformá-la em um hobbie lucrativo ou ainda adia por uns anos até poder custear o próprio estudo, enfim, sempre é possível estabelecer consenso quando todos partem da mesma premissa: o mais importante é ser feliz, saudável e auto-sustentável. As sessões de coaching são por norma confidenciais. Nesta medida, como gere esta questão, ou seja, quais os limites que impõe ao feedback que passa aos pais? Eu estabeleço com o coachee que só vou levar aos pais algo que se torne potencialmente ameaçador à integridade física e psicológica do jovem. Uso de substâncias 37


ilegais, por exemplo, caso o assunto surja em sessão. Via de regra, estimulo o jovem a partilhar suas reflexões e resultados com os pais, mas junto a esses me comprometo apenas a revelar se o jovem tiver algum problema que deva ser de seu conhecimento (para que o encaminhe a um especialista) e o resultado final do processo em termos de ter feito efectivamente uma escolha profissional congruente ou não. Em geral, o que acontece é que, com o decorrer das sessões, os pais percebem mudanças positivas no comportamento dos filhos, como aumento do comprometimento com os estudos, mais foco, atenção e até mesmo mesmo melhora na comunicação em casa. Raramente as famílias querem saber pormenores do processo, porque o coaching só acontece num ambien38

te de autonomia e responsabilidade, os quais já devem existir no seio familiar. Este processo tem sido aplicado apenas no âmbito escolar e universitário ou também ao nível da formação profissional? Predominantemente no âmbito escolar, mas não é raro eu ser procurada por profissionais mais velhos descontentes com a escolha que fizeram e em busca de redireccionamento. Trabalha sempre com alunos que a procuram individualmente ou Estabelece parcerias com instituições de ensino? Neste caso, o pop coaching é utilizado no ensino público ou privado? O processo foi concebido para ser aplicado em grupos de até 20 participantes, no ambiente escolar. Contudo, também po-

de ser conduzido individualmente, com muito sucesso. Infelizmente, minha experiência aconteceu predominantemente em parceria com instituições privadas. A mim me encantaria poder ser mais útil aos que mais necessitam de suporte e apoio, que são os jovens do ensino público. Costuma fazer o follow-up dos seus clientes, isto é, anos mais tarde contacta-os para saber qual o impacto que as sessões de pop coaching tiveram na sua vida a nível da sua realização pessoal e profissional? Que ilações tira da aplicação deste processo? Tenho muita sorte de manter contacto com meus ex-coachees pelas redes sociais. O mais fascinante de se trabalhar com jovens é que, uma vez conquistada sua confiança, você se torna um mentor


DESENVOLVIMENTO PESSOAL

«O COACHING NÃO SE RESTRINGE AO SETTING DA SALA DE AULA OU CONSULTÓRIO»

dele para toda a vida. Tenho histórias lindas de coachees que me procuraram para ajudá-los no processo selectivo de grandes empresas e que conquistaram a vaga. Outro que, integrante da comissão de eventos académicos, convidou-me a fazer uma palestra na universidade... Fora os que simplesmente deixam mensagens agradecendo o benefício que o coaching teve em suas vidas. O que posso concluir é que a juventude precisa apenas de que alguém aposte nela e que a ajude a pensar o futuro com esperança e coragem. No âmbito do processo está prevista a realização de visitas ou mini-estágios através de parcerias com várias empresas como forma de proporcionar aos jovens um contacto real com a profissão para a qual se sentem vocacionados e desta forma concluir se esta corresponde de facto às suas expectativas? O coaching não se restringe ao setting da sala de aula ou consultório. Visitas são possíveis e muito úteis quando o jovem não tem absoluta clareza quanto à rotina de determinada profissão.

Costumo transferir esta tarefa a eles: a de pesquisar empresas, pedir para fazer a visita, conversar com um parente ou amigo dos pais sobre os desafios da profissão, enfim, o jovem tem de assumir a responsabilidade por sua escolha, ou seja, eu não planeio essa visita de antemão, mas o convido a fazê-lo, munindo-o em uma carta de apresentação ou acompanhando-o se for o caso. O importante é o jovem encarar sua carreira como um empreendimento o quanto antes. Existe procura deste processo por parte de adultos que queiram prosseguir ou retomar os seus estudos? Ou seja, este processo visa também expandir-se para as áreas da formação de adultos/formação ao longo da vida e até mesmo para alunos de instituições como universidades seniores ou não é esse o seu objectivo? É muito comum adultos insatisfeitos verem no pop coaching uma oportunidade de corrigir a rota e ser mais realizado. A partir do trabalho com os jovens, muitas mães vieram até mim e me surpreendi como as mulheres passam uma vida sem saber

quem são, o que querem e a que vieram! Iniciei um trabalho com mulheres e percebi que, através delas, meu impacto positivo sobre a sociedade seria maior, uma vez que são multiplicadoras em potencial. Entre 2010 e 2011 comecei, então, a formar outros coaches (desde que sejam também psicólogos) no método Pop Coaching, para que cuidem dos jovens enquanto eu me dedico às mulheres. Tenho tido resultados igualmente extraordinários com esse público e continuo como trainer a supervisionar os coaches que seguem o meu método para jovens. Neste momento, Portugal atravessa momentos muito difíceis em termos sociais, económicos e financeiros, com diversas medidas de austeridade a sufocarem a população. Mais de nove mil alunos do ensino superior já abandonaram a faculdade, só desde o início do ano lectivo. Muitos outros fizeram o mesmo no ensino secundário. Por outro lado, a excessiva oferta de cursos está a ser limitada, com a extinção de alguns cursos que não têm absorção de licenciados 39


DESENVOLVIMENTO PESSOAL

«TENHO VISTO MUITOS PORTUGUESES DAREM UM EXEMPLO DE SUPERAÇÃO, DE CRIATIVIDADE, DE FLEXIBILIDADE, DE PERSEVERANÇA…» no mercado de trabalho. A reforma em curso inclui também a fusão de universidades, cujas contas se revelam, em muitos casos, calamitosas. Tendo em conta estas variáveis, o que poderia o Pop Coaching fazer pelos estudantes portugueses? É muito desafiador manter a motivação em um momento como o que Portugal está passando. O que posso dizer, como bisneta de portugueses e brasileira que nasceu em tempos de hiperinflação, que se licenciou Jornalista e Psicóloga em um país que trata ambas as profissões como sacerdócio (e que portanto são mal remuneradas), que o principal benefício do Pop Coaching para a juventude portuguesa sem sombra de dúvida é ajudá-la a expandir a visão para além dos limites da crise, das medidas de austeridade, dos horizontes conhecidos. A mensagem do coaching é que todos somos maiores do que os “nãos” que recebemos diariamente. Todos temos um potencial que pode ser despertado através da coragem, da ousadia, do trabalho consistente e, sobretudo, do amor pelas pessoas. Tenho visto muitos portugue40

ses darem um exemplo de superação, de criatividade, de flexibilidade, de perseverança. Vários estão prosperando porque se recusam a permanecer no espaço-problema e expandem a visão para o espaço-solução. Se olharmos com atenção, há exemplos inspiradores, aí mesmo em Portugal. É preciso, porém, não nos conformarmos com os limites que os outros dizem que temos, buscar o especial em nós e nos prender a uma razão forte para existir. A economia é dinâmica e logo o país vai dar sinais de recuperação, mas o que cada um pode fazer é actuar como “coach” do próximo, legitimando-o, validando seus esforços e se recusando a ocupar o lugar de vítima das circunstâncias. O coaching é muito útil nesse processo de desligar a chave geral das desculpas, das acusações e das lamúrias e de motivar pessoas a tentar de um jeito diferente, a assumir o controlo sobre a própria vida e a realizar o que pode com os recursos de que dispõe. Já expandiu o conceito de Pop Coaching a outros

países? A ideia de ser reconhecida internacionalmente é mais sedutora pela vaidade que pela missão, que é em que me atenho. Restringi-me ao Brasil e com menos intensidade a Portugal porque coaching é pensamento e linguagem e me sinto mais à vontade para “brincar” com a língua portuguesa, que é a minha língua-mãe. Penso que antes de pensar em me expandir mundo afora, tenho muita gente a ajudar ao meu redor... Estatisticamente, qual tem sido a taxa de sucesso do Pop Coaching? 97%, considerando sucesso, nesse caso, a capacidade de optar por uma única profissão. Projetos para o futuro? Capacitar 500 pop-coaches a atender jovens brasileiros e portugueses e preparar, através de coaching, palestras e livros, pelo menos 1000 mulheres líderes até 2015. Mulheres na liderança costumam ser mais justas e socialmente responsáveis e quero que em um futuro próximo elas possam ser também coaches de seus filhos. •


COMUNIDADE

DOS

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DOENÇAS TROPICAIS

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ÉBOLA - SINTOMAS

MEDICINAS NATURAIS

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TIMOR

ORGANIZEMO-NOS É IMPORTANTE SABER COMO ORGANIZAR AS NOSSAS VIDAS, E NEM O ARGUMENTO DO BULIÇO DIÁRIO PODER SERVIR DE DESCULPA PARA A FALTA DE REGRAS. ORGANIZAR É UM BOM DESAFIO, E PROPORCIONA-NOS UMA VIDA MELHOR.

Luísa Coutinho

Consultora em Organização

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A

organização é o modo como se organiza um sistema. É a forma escolhida para arranjar, dispor, classificar ou resolver situações, espaços, objectos, documentos e informações. Fundamentalmente são métodos para melhorar o desempenho pessoal e profissional. A falta de organização é um problema para muitas pessoas. Manter a vida em ordem não é uma tarefa fácil. O estudo realizado pela NAPO (Associação Nacional de Organizadores Profissionais - EUA) em 2008, sobre a necessidade de se estar e de se permanecer organizado, revelou que: • 71% consideraram que se fossem mais organizados, a sua vida melhoraria; • 65% referiram que a sua casa era moderadamente desorganizada; • 27% afirmaram que a sua desordem os impede de ser eficazes no trabalho. A falta de organização prejudica o enfoque, a produtividade, e consequentemente pode gerar stress e problemas de saúde adjacentes. Uma vida organizada elimina todos esses efeitos no-

civos. De entre os benefícios da organização nas nossas vidas, podemos encontrar: • Optimização e economia do tempo; • Economia financeira; • Melhoria da auto-estima e qualidade de vida; • Equilíbrio no trabalho, vida pessoal e familiar; • Possibilidade se dedicar às pessoas e actividades que lhe proporcionam prazer; • Estratégias para a delegação das tarefas; • Controlo do stress e da frustração; • Liberdade; • Estilo de vida prático e simplificado; Um método eficaz para organização pessoal deve inspirar as pessoas. Especialistas em organização como: personal organizers, psicólogos, decoradores e empregadas domésticas são unânimes em afirmar que não existem soluções prontas. Há diferentes personalidades e estilos, pelo que a solução perfeita é a que funciona melhor com cada um de nós. É fundamental dar o primeiro passo. Ao organizar a sua vida, vai aperceber-se de que não existe falta de tempo, mas sim tempo mal administrado.


Adopte hábitos que possam contribuir para o equilibro entre a vida pessoal e profissional. Organizar é um desafio, uma vez que exige uma mudança de comportamento, é controlar a sua própria vida, escolher prioridades, determinar o que realmente é importante. PRIORIDADES

Dê prioridade ao que realmente é importante para si! São diversificadas as técnicas de organização, mas uma absolutamente recomendável é esta: separe os seus objectivos de vida de longo, médio e curto prazo. A técnica de David Allen, criador do método GTD (recolha, proces-

samento, acção e revisão), permite fazê-lo. Esta técnica dos objectivos é muito benéfica porque nos faz analisar e decidir o que realmente é importante nas nossas vidas. Há projectos que nos empolgam momentaneamente, mas que quando realmente os analisamos, vemos que se não estiverem relacionados com os nossos objectivos, não valem a pena ser feitos. E isso faz-nos estabelecer a prioridade das coisas e permite-nos viver a vida mais tranquila e integralmente. As prioridades devem guiar as nossas escolhas, mas quando temos tantas actividades no quotidiano pode ser difícil decidir o que é mais im-

portante e que deve ser feito em primeiro lugar. Para definir as suas prioridades, deve atribuir um significado a tudo na sua vida. Pergunte-se porque está a fazer determinadas actividades? Porque está a trabalhar no seu actual emprego? Porque escolheu determinado curso? David Allen utiliza uma analogia espacial para o(a) ajudar a organizar a sua vida, através do método GTD: • Objectivos de Vida (longo prazo) – 50.000 pés*; • Objectivos de 3 a 5 anos (visão: médio prazo) – 40.000 pés; * Um “pe” equivale a, aproximadamente, 30cm.

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«AS PRIORIDADES DEVEM GUIAR AS NOSSAS ESCOLHAS, MAS QUANDO TEMOS TANTAS ACTIVIDADES NO QUOTIDIANO PODE SER DIFÍCIL DECIDIR O QUE É MAIS IMPORTANTE...» • Objectivos actuais e/ou até 2 anos (curto prazo) – 30.000 pés; • Áreas de responsabilidade – 20.000 pés; • Projectos em curso – 10.000 pés; • Acções em curso – nível térreo. OBJECTIVOS DE VIDA

Esse é o grande quadro – enquadra os seus valores, a sua missão de vida. Tente responder às seguintes perguntas: Quem é? Onde gostaria de chegar? Quais são os seus sonhos? Como gostaria de ser reconhecido(a)? Se estivesse velhinho(a) e olhasse para trás, o que gostaria de ver, de ter feito, de ter sido? Todos temos sonhos, mas na maioria das vezes acabamos por deixá-los de lado por causa do frenesim do dia-a-dia. Gostaria que transformasse os seus sonhos em objectivos, em torná-los alcançáveis. Quer ser o melhor pai possível? Ser uma boa companheira? Ser saudável? Ter a casa e o carro dos seus sonhos? Ter liberdade financeira? Viajar para os seus destinos preferidos no mundo? Poder ajudar os outros? Então transponha isso para a 44

sua vida: o que tem feito actualmente para contribuir para esse objectivo de vida? Por exemplo: se trabalhar num emprego que não esteja minimamente relaccionado com os seus objectivos a médio e longo prazo, então talvez tenha chegado a hora de mudar. Ou então, o seu emprego aparentemente não tem ligação com os mesmos objectivos, mas você tem um plano. Tem gerido as suas finanças para alcançar os seus objectivos? Tem desenvolvido no dia-a-dia comportamentos e atitudes coerentes com o que pretende alcançar? O que importa é que tudo o que faz hoje esteja ligado aos seus objectivos de longo prazo, pois definirá quem é. Estabelecer prioridades é, antes de tudo, viver uma vida coerente, de acordo com os seus valores. E isso tem tudo a ver com organização! Saber quem é e para onde vai, é a única maneira de ter uma vida organizada. VISÃO DE 3 A 5 ANOS (OBJECTIVOS A MÉDIO PRAZO)

Saber o que pretende fazer daqui a cinco anos deve constituir um exercício cons-

tante de revisão de metas e do que é importante para si. Por exemplo: o nascimento de um filho, uma viagem mais longa, um mestrado, planos estratégicos para a empresa. Todas essas metas são decisões importantes que podem guiar as suas acções ainda hoje. OBJECTIVOS ACTUAIS E/ OU ATÉ 2 ANOS (CURTO PRAZO)

O que espera fazer e/ou concluir actualmente ou no máximo em dois anos pode ajudá-la(o) a definir o seu trabalho no dia-a-dia. Muitas vezes desanimamos com a rotina porque nos esquecemos desses objectivos e sentimo-nos como se estivéssemos a fazer as coisas sem um sentido orientador, sem objectivos que nós queremos atingir. Ter estas metas em mente, também nos ajuda a recordar o que já fizemos, o que nos falta fazer, orientando as próximas acções e ajudando a planeá-las com maior antecedência, assim como a lembrarmo-nos da razão por que as fazemos. MEIOS

No mercado existem milhares


de instrumentos de organização pessoal e de gestão de tempo. Equipamentos como: notebooks, smartphones, iPads, além da tradicional agenda, todos são auxiliares úteis no processo. O planeamento é a ferramenta mais importante para quem se quer organizar. Após escolhermos a melhor solução, devemos ter disciplina. Faça um mapa mental de cada um desses objectivos, relacionando-os a tudo o que acredita ser necessário fazer para os atingir. Mapa mental é uma técnica de organização do pensamento que passa por relacionar as informações de forma intuitiva e apresentar um cenário bem organizado dos conceitos principais. Por exemplo, se o seu objectivo de longo-prazo é ser uma pessoa saudável, pode escrever agora no mapa mental que um meio para alcançar é praticar actividade física. Se pretende alcançar liberdade financeira, que tal contratar um bom financial coach? Defina meios para todos os seus objectivos. PROJECTOS

Vamos agora começar a estabelecer propósitos mais palpáveis, que basicamente se tornarão nos seus projectos. Continuando o exemplo em que o objectivo principal é ter uma vida saudável, podemos definir que, para praticar uma actividade física, quer fazer uma caminhada diária de 30 minutos,

de manhã. Isto é um projecto, ou seja: o que tem de fazer para praticar uma actividade física? Quais são as suas ideias? Ginásio, caminhar, praticar um desporto? Decida de acordo com a sua personalidade e com o que sabe que gosta de fazer. Os projectos são constituídos por diversas tarefas e etapas. Por exemplo: arranjar o computador, preparar um dia especial, livrar-se de tudo o que tem em casa e que não precisa, arrumar a arrecadação. Todos nós temos sempre projectos em curso para fazer. David Allen diz que uma pessoa comum tem, em média,

60 projectos em curso na sua vida. Quantos projectos em curso tem para realizar? ÁREAS DE RESPONSABILIDADE

Temos projectos e tarefas em andamento porque somos responsáveis por diversas áreas nas nossas vidas. Temos funções em casa, no emprego, na faculdade, no grupo de estudos, no grupo de amigos, na equipa de futebol. Temos cerca de 15 áreas de responsabilidade, tais como: família, saúde, trabalho, finanças, espiritualidade, educação, etc. Fazer uma revisão dessas 45


DESENVOLVIMENTO PESSOAL

«OS PROFESSIONAL ORGANIZERS MUNEM-SE DE PRINCÍPIOS E CONHECIMENTOS TESTADOS PARA MELHORAR A VIDA DOS CLIENTES.» responsabilidades pode ajudá-lo a definir prioridades na sua lista de projectos. TAREFAS / ACÇÕES

Por último, desmantele os seus projectos em pequenas tarefas. Sendo o seu projecto caminhar todos os dias de manhã, pode estabelecer como tarefas: programar o alarme para acordar mais cedo, deixar a roupa da caminhada separada de noite, informar os seus familiares que sairá mais cedo. São tarefas imediatas, para fazer já ou umas na sequência das outras. As tarefas são acções diárias a fazer: telefonemas a fazer, os e-mails para responder, as pendências na rua, as tarefas diárias no trabalho, as tarefas domésticas e os compromissos a cumprir. É exactamente assim que se começa. Dê um passo de cada vez, sem perder de vista o horizonte. Enfoque-se na sua vida! PROFESSIONAL ORGANIZER

Se tem dificuldade em organizar-se sozinho ou se tiver uma imensidão de áreas para organizar, aconselho-o a recorrer a um Professional Organizer. A indústria de organiza46

ção profissional tem crescido constantemente nos últimos anos, uma vez que cada vez mais as pessoas tentam obter um melhor controlo das suas vidas. Enfrentando cada vez mais exigências e com cada vez menos tempo livre, os consumidores esforçam-se por gerir os seus dias, evitar a desordem e o caos e construir as suas vidas. Cada vez mais, recorrem ao apoio prestado pelos organizadores profissionais (NAPO – National Association of Professional Organizers – EUA). O QUE FAZEM OS PROFESSIONAL ORGANIZERS?

Os Professional Organizers munem-se de princípios e conhecimentos testados para melhorar a vida dos clientes. Ao projectarem sistemas de organização personalizados e ao ensinarem competências de organização, eles ajudam os indivíduos e as empresas a assumirem o controlo do seu tempo, do seu ambiente, das suas pilhas de papel, das suas vidas! Os serviços oferecidos pelos Professional Organizers podem variar: desde organizar

eficientemente um armário a organizar uma empresa. Aos proprietários de casas, podem oferecer planeamento dos espaços e reorganização da propriedade, a melhoria da gestão dos arquivos em suporte papel e informático, sistemas para a gestão das finanças pessoais e outros registos, e/ou formação sobre gestão do tempo e definição de metas. Alguns organizadores profissionais trabalham com populações específicas, tais como com pessoas com déficit de atenção, pessoas cronicamente desorganizadas, estudantes, crianças ou idosos. Os organizadores profissionais vêm de diversas origens e profissões. Alguns têm experiência empresarial anterior, alguns são jovens profissionais que fizeram uma mudança de carreira e outros são pessoas que escolheram a organização profissional como a sua primeira carreira. Mantenha em mente que para se sentir realizado e feliz deve agir de acordo com os seus valores, e expressá-los na sua vida quotidiana através das suas acções. •


INICIATIVA INSIGHTS

CONVIDAMOS OS NOSSOS LEITORES A PARTICIPAR NA INICIATIVA DA REVISTA INSIGHTS O CONTO PSICOLÓGICO! “Conto Psicológico” é um projecto criado em colaboração com a Associação Olhar, Associação Pela Prevenção e Apoio à Saúde Mental. Para participar, basta enviar-nos um texto (que não deverá ultrapassar os 5000 caracteres) que envolva uma experiência individual com significado emocional relevante. Juntamente com cada texto, deverão figurar: contacto, título, nome ou pseudónimo do autor, idade, profissão (opcional) e localidade.

O melhor texto será publicado na Revista Insights! Envie-nos o seu texto até ao dia 31 de Janeiro de 2015

contopsicologico@revistainsights.pt


TEMA DE CAPA

ANGOLA

BEATRIZ FRANCK; FASHIONISTA EM 2003 FOI MISS CABINDA, HOJE É UMA DAS EMPRESÁRIAS DE MAIOR SUCESSO NA ÁREA DA MODA EM ANGOLA. ABRIU A SUA PRÓPRIA BOUTIQUE E CRIOU A REVISTA SUPER FASHION ANGOLA. UM EXEMPLO DE EMPREENDEDORISMO E SUCESSO EM VERSÃO FEMININA. Mariana Araújo O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

Esta entrevista teve ajuda à produção de: Produtora: Fátima Magalhães, Focus Imagem e Consulting Fotografo: Elton Varela Maquilhagem: Digo Magalhães Cabelo: Mulher Cheirosa Hair Style Agradecimentos: Stivali, Loja das Meias, Residence Estoril Sol

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B

eatriz da Conceição Pemba Franck, angolana, dona de uma das maiores e mais lu­xuosas boutiques angolanas e empresária de sucesso no país. O seu maior objetivo de vida é vir a ser uma das mulheres mais influentes de Angola ou, até mesmo, de África. Em 2003 foi miss cabinda, um sonho tornado realidade. Desde então, criou a sua própria marca – “Boutique BIBI” – e a revista Super Fashion Angola. Beatriz Franck é acima de tudo o exemplo de uma mulher que para chegar ao sucesso não deixou de parte a determinação e o empreendedorismo.

Considera-se um exemplo para outras mulheres? Considero-me um exemplo para a juventude de Angola, pois sou a prova de que com luta, trabalho árduo e persistência conseguimos atingir os nossos objetivos. Venho duma família humilde e hoje consegui o meu lugar na sociedade, por mérito próprio – por isso sirvo de inspiração para muitas mulheres e jovens em Angola. Recebo inúmeras mensagens nas minhas páginas nas redes socias, de pessoas a dizerem que tomaram a “tal” decisão porque ouviram uma entrevista minha na televisão, na revista ou numa mensagem que deixei nas minhas páginas nas redes sociais.

Como considera ter conseguido o sucesso que tem hoje em dia? Consegui o sucesso de hoje com muita luta, persistência, sempre tive os meus objetivos bem traçados e sempre soube exatamente o que queria ser no futuro. Traço as minhas metas e corro atrás para alcançar uma por uma.

É diretora-geral da revista Super Fashion Angola e pro­ prietária da “Boutique BIBI”, em Luanda – Pretende ex­ pandir ainda mais os seus ne­gócios? Sou uma mulher muito ambiciosa e, como já disse, sei bem o que quero e luto para tal objetivo. Tenho em mente vários negócios que estou


a concretizar por etapas até os concluir todos. Ainda que ache que será impossível “concluir propriamente dito”, porque quando concretizo um projeto, tenho logo um novo em manga e assim sucessivamente. Como começou o projeto da revista? O projeto da revista começou por amor à moda. Comecei a folhear a revista Vogue e comecei a quere-la muito para mim, porque julgava que fazia todo sentido ver a moda divulgada e as pessoas bem vestidas nas revistas. Depois de uma tentativa fracassada de criar a Vogue Angola, disse por que não fazer a minha Vogue com moda angolana? E foi assim tracei o projeto, coloquei em papel e concretizei-o. Como concilia a vida familiar com a vida profissional? Separa-os como sendo ambientes distintos ou expõe-se com facilidade? A vida familiar acaba sempre por perder um pouco, porque levanto-me cedo para


trabalhar e às vezes chego a casa tarde. Sou viciada no bom sentido no meu trabalho, mas sempre que estou fora do trabalho tiro o maior proveito da minha família – o meu marido em particular – sempre que estamos juntos, é como se nos estivéssemos a conhecer naquele dia. Ele também é empresário, por isso entendemo-nos perfeitamente quanto às ausências. Mas sempre que estou em família, estou 100% para eles, esqueço os telefones, não vejo os emails e, por vezes, não quero nem sequer ouvir falar de trabalho. Pensa em ter filhos e construir família ou isso não se coloca como prioridade no

momento? Penso sim, como a maior parte das mulheres pensa em ter filhos e constituir família. Está dentro dos meus planos para breve. O relógio biológico já está a tocar e a dizer que preciso já de ter um filho, hoje em dia já sinto essa necessidade. Formou-se em contabilidade. Quando se formou já tinha ideia do que queria fazer no futuro? Já tinha ideia do que queria, ser, sim. Desde cedo tive inclinação para o empreendedorismo, por isso, formei-me em contabilidade. Mas julguei que não era suficiente para gerir as minhas futuras empresas e voltei a fazer uma for-

mação Gestão de Empresas. Com isso, hoje consigo gerir as minhas empresas. Sonha estar entre as mulheres mais influentes de África. Porque é que isso é algo tão importante para si? Estar entre as mulheres mais influentes de África não é tão importante para mim. É importante para mim ser uma mulher muito influente no meu país, acho que hoje em Angola exerço certa influência em alguns níveis (por exemplo na moda) e sou uma referência. Quando concretizar todos meus projetos, com certeza serei uma referência em África, porque o mundo tem sempre como referência histórias de pessoas que vieram do nada, vingaram na vida e alcançaram o sucesso por esforços próprios. Porque o nome Bibi Boutique e qual é o perfil da marca? Decidi chamar BIBI às minhas lojas porque era o nome de carinho pelo qual as minhas amigas me chamavam. Eramos um grupo de cinco amigas e estávamos na 6ª classe (tinha 14 anos na altura). O meu como é Beatriz (ficou BIBI), a Tatiana (Tati), a Patrícia (Pati), a Vanessa (Vani) e a Ariente (Ari). Foi daí que nasceu o BIBI e ficou. São lojas que vendem multimarcas. A maior loja, em Cabinda, está dividida em secções – infantil, feminina, carteiras e sapatos, masculino, cama, mesa, banho, artigos


decorativos e mobiliário. Na loja de Luanda é apenas vestuário feminino. A sua marca aposta essencialmente no público feminino. Há algum motivo especial para isso? Não há nenhum motivo especial para tal, apenas revejo-me no público feminino, sou mulher e quero que todas as mulheres percebam de moda e se vistam bem como eu. Diz ser viciada em moda. Como se sentiria se tivesse de andar na rua com uma roupa vulgar e desmaquilhada? Sentia-me na mesma, tenho a minha personalidade própria e meus princípios, ganhei respeito na sociedade não pelo que visto, mas sim pelo que sou. Por isso, com roupa vulgar e desmaquilhada seria na mesma a Beatriz Franck, até porque tenho os meus dias “N” em que não me apetece maquilhar. Nesses dias saio sem maquilhagem e de roupa vulgar, chinelos e não faz diferença – as pessoas reconhece-me na mesma e vêm falar comigo, claro que com certa deceção porque estão habituados a verem-me sempre bem apresentada. Qual é a sua marca preferida e com a qual se identifica mais? Não tenho uma marca específica, porque faço o uso de todas as marcas, desde que goste do item. Acho que cada marca tem uma particularidade e às vezes a coleção é das

melhores e outras não. Por isso, sou fashion mania, ou seja, uso de todas marcas. Claro que, como qualquer pessoa tenho umas que estão sempre entre as primeiras opções quando vou às compras – entre Dolce Gabbana, Prada, Chanel, Louis Vuitton, Jimmy Choo, Cristian Louboutin, Dior e Gucci. Que qualidades suas acha que a ajudaram a atingir o sucesso? Atingi o meu sucesso e acho que, além de qualquer qualidade, foi com muito trabalho, trabalho árduo – essa sempre foi a minha palavra de ordem para chegar onde cheguei. Hoje não tem sido diferente, continuo a trabalhar muito. Além disso, penso que sempre tive muita humildade,

senso de justiça apurado, honestidade, acima de tudo, e inteligência. Tinha algum ídolo em mente enquanto percorria o seu “caminho” para o sucesso? Os meus ídolos mudam consoante a idade aumenta. Já tive como ídolo a Madonna, a Beyoncé e hoje é a Oprah Winfrey (quero ter o sucesso dela). Ser empreendedor é a chave do sucesso para os dias de hoje ou há algo mais? Além do empreendedorismo, temos que ter objetivos bem traçados e claros, ao ponto de visualizarmos aquilo que traçamos – foco, persistência, trabalho árduo e disciplina profissional tudo isso equivale a sucesso. • 51


BEM-ESTAR

GUINÉ-BISSAU

“MINDJER”

O DISCO DA GUINEENSE KARYNA GOMES ESTA GUINEENSE TEM NAS SUAS RAÍZES MESTIÇAS E CRISTÃS O FERMENTO PARA A SUA MÚSICA Paulo Duarte

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M

indjer – significa Mulher em crioulo – é uma das canções gravadas pela nova mulher-revelação da África que fala português e que acaba de lançar em Outubro o seu primeiro trabalho discográfico: Karyna Silva Gomes Sequeira, melhor, Karyna Gomes, nome artístico, é natural da Guiné-Bissau. Esta guineense tem nas suas raízes mestiças e cristãs o fermento para a sua música; a viver em Portugal há 3 anos, Mestre em Comunicação e Cultura pela Faculdade de Letras de Lisboa, foi formadora de jornalistas, assessora de imprensa para as Nações Unidas, tem uma filha, a viver em Bissau, tem, como todos nós, família e amigos, tem, e aqui é diferente de todos nós, um talento para a música que a acompanha desde a sua meninice e juventude. Ouvia no gira-discos do TioAvô os diferentes estilos da Pop ao Soul, do Jazz aos Blues, escutava música afro-cubana trazida por um familiar regressado de Cuba,

trauteava música guineense emitida pela rádio local, bamboleava o quadril ao som das guitarras nas festas das famílias mestiças dos anos 80 e 90, passadas nos quintais de Bissau – e no quintal dos Tios-Avós – afinal, como a Artista afirma, “o guineense faz música do nascimento até à morte”. A transcendência espiritual de Karyna Gomes é simbiótica às suas raízes e é determinante na sua vida musical. Foi no Brasil que esta transcendência ganhou relevância; Karyna Gomes em 96 saí da Guiné-Bissau para estudar jornalismo em S. Paulo, torna-se solista um ano mais tarde no coro Gospel do grupo Rejoincing Mass Choir de uma igreja Evangélica; o regresso a Bissau, aos 25 anos, leva-a ao encontro da música sacra crioula guineense e a cantá-la na Igreja Evangélica Central foi um passo. Igualmente transcen­dente para Karyna Gomes são as mandjuadadi (cantadeiras em crioulo) da sua terra natal, que cantam e dançam impulsionadas por um som fantástico – porque transcendente


– produzido por uma cabaça imersa de água, à guisa de tambor. Karyna Gomes com toda esta musicalidade sobreposta em camadas dentro da sua alma e coração vai para 38 anos – das festas dos quintais da sua meninice, das mandjuadadi, das divas

do soul e do blues, à música sacra, a participação em 2006 no festival da CPLP em Bissau, ao lado de nomes de vulto, como Tito Paris, o convite em 2007 por parte de Adriano Ferreira para integrar o aclamado grupo guineense Super Mama Djombo – é um Vesúvio a ameaçar

formidável erupção de lava e tinha de dar o passo que faltava: mostrar uma maquete a uma editora – a Get! Records, encontrar um produtor – Paulo Borges, o homem que trabalha com Tito Paris e Nancy Vieira, o resultado é um disco à conquista do Mundo – Mindjer. • 53


BEM-ESTAR

PORTUGAL

AS CASAS DA ÁRVORE PEDRAS SALGADAS SPA & NATURE PARK

REMETEM PARA O IMAGINÁRIO DA INFÂNCIA E PARA O ROMANTISMO. ESTÃO NO MEIO DA IMENSA NATUREZA DO PARQUE NATURAL DE PEDRAS SALGADAS E JUNTAMENTE COM O SPA TERMAL SÃO “UM TESOURO À ESPERA DE SER DESCOBERTO”.

O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

Texto — Gabinete de comunicação do Pedras Salgadas SPA & NATURE

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D

epois do sucesso alcançado com as Eco Houses, o Pedras Salgadas spa & Nature Park aposta agora, por entre as copas das árvores, em duas novas casas. As chamadas “casas da árvore” remetem-nos para o imaginário infantil e para cenários românticos. Já desde 2012 que a vila termal de Pedras Salgadas está a ganhar um novo encanto graças ao PEDRAS SALGADAS spa & nature park, um projeto hoteleiro inovador orientado para famílias e amigos que gostam de disfrutar de atividades ao ar livre. Trata-se de um turismo de natureza, com conforto e ambiente de luxo, integrado num parque centenário com 20 hectares de flora natural. Fica a uma hora de distância de carro da cidade do Porto e sugere uma estadia em modernas Eco Houses, com a oportunidade de experimentar os benefícios de um Spa Termal que se encontra alojado no edifício recuperado. O poder das águas, as suas fontes e a beleza natural do parque são algumas das

mais-valias deste novo destino de lazer, que se apresenta em plena harmonia com a natureza para agradar a todas as gerações. Localizadas no coração do Parque, as Eco Houses vão-se descobrindo por entre árvores centenárias e a vegetação do parque. Todas as Eco Houses incluem tecnologia topo de gama e estão equipadas para receber até seis pessoas, dispondo também de um generoso deck exterior. Para além das novas e surpreendentes casas da árvore, o PEDRAS SALGADAS também contemplou a renovação de espaços emblemáticos existentes no parque – como é o caso do antigo edifício do Casino das Termas que retomou a sua anterior funcionalidade de salão de festas e conferências, e a Capela construída no início do século XX, que renovada permite a realização de casamentos e batizados. O Parque vai-se revelando por entre os oito quilómetros de caminhos, onde é inevitável uma visita às diversas fontes termais que contêm água com benefícios comprovados


O PARQUE O Parque Termal de Pedras Salgadas é um dos mais belos parques do interior de Portugal e existe desde a segunda metade do séc. XIX. É dotado de uma fauna e flora característica espalhada ao longo de 20 hectares e a 580 metros de altitude, gozando de um microclima que potencia o esplendor da natureza que o rodeia. Por entre o valioso património edificado destaca-se o Bal­ neário Termal, o antigo Casino e as várias fontes termais – a Fonte D. Fernando, a Fonte D. Maria Pia (situada no interior de uma pequena gruta), a Fonte Penedo, a Grande Alcalina, a Fonte Pe­ dras Salgadas e a Fonte Pre­ciosa. Percorrendo os caminhos do Parque, descobre-se o denso e valioso património natural, com exemplares notáveis de sequóia-sempre-verde, de sequóia-gigante, de abeto-de-Douglas, de cedro-do-Atlas, de cipreste-do-Buçaco, de faia, ou exemplares admiráveis de espécies raras como a cuningamia, ou a metasequoia.


A água mineral natural • Hipersalina • PH da água: 6,3 • Temperatura da água (ºC): 15 • Terapêutica: doenças metabólico-endócrinas, do aparelho digestivo, do aparelho respiratório, reumáticas e músculo-esqueléticas • Tipo de água: Gaso­car­bónica, Bicarbonatada, Sódica para o organismo. O percurso pela alameda principal do Parque mostra a riqueza da sua história, ao mesmo tempo que dá acesso a outros serviços do PEDRAS SALGADAS spa & nature park como, por exemplo, piscina exterior, campo de minigolfe, parque infantil e um atraente lago, com uma área superior a 3000 m2, onde se pode realizar passeios de barco. Este novo destino turístico sugere ainda um vasto leque de atividades ao ar livre, tais como, a ciclovia, que liga Pedras Salgadas a Vila Pouca de Aguiar, e circuitos de BTT devidamente identifi56

cados. Também são possíveis experiências mais radicais, como slide, rafting, ou outras mais tranquilas, como visitas guiadas às Minas de Ouro Romanas, aos museus locais ou passeios pelo rio Douro. O Spa Termal, renovado pelo Arquiteto Álvaro Siza Vieira, disponibiliza uma vasta seleção de tratamentos termais, de bem-estar e de estética, tirando o maior partido dos benefícios da água termal das fontes de Pedras Salgadas. A maior parte dos espaços do spa aproveita a luz exterior, permitindo sempre o contacto com a natureza, como é o caso da piscina

interior com os seus circuitos de águas. ECO HOUSES

O conceito ecológico que está na génese deste Spa & Nature Park teve como principal preocupação preservar o perfil natural do terreno e a flora existente. Assim, o alojamento faz-se em modernas casas modulares, que surgem por entre as árvores, adaptando-se à topografia do terreno e reduzindo o impacto da sua interferência no subsolo. As Eco Houses foram desenvolvidas especificamente para o Parque de Pedras


BEM-ESTAR

«EM TODA A ÁREA DO PARQUE PODE-SE DESCOBRIR DIFERENTES ESPÉCIES DE FAUNA OU, MESMO, DAR UM PASSEIO DE BARCO E OBSERVAR AS CARPAS COLORIDAS, AS KOI» Salgadas. Pensadas ao pormenor para garantir um conforto absoluto – com um quarto, sala, kitchenette, casa de banho, hall e deck exterior. A forma fragmentada, bem como as coberturas de duas águas facetadas – sempre nos três volumes que compõem cada uma das casas – procuram criar jogos de luz e de sombra, enfatizando texturas e tonalidades, reforçando assim a pertinência da sua implantação no espaço envolvente. Cada Eco House valoriza e cumpre os parâmetros ideais no que respeita à orientação solar, exposição à luz, vistas privilegiadas, privacidade e segurança dos utentes. Os revestimentos em ardósia e madeira, matéria-prima autóctone, fomentam a integração e conferem invisibilidade a estas pequenas casas, não deixando que sejam as protagonistas deste parque centenário. TREE HOUSES – CASAS DA ÁRVORE

Inserido no projeto do Parque de Pedras Salgadas e da autoria do arquiteto Luís Rebelo de Andrade, as casas da árvore surgiram do desafio de

criar um elemento que pudesse ir ao encontro do imaginário das casas da árvore. Os revestimentos em ardósia e em madeira, matéria-prima autóctone, ajudam a fomentar a integração na paisagem e conferem invisibilidade a estas casas arquitetónicas, mantendo assim o protagonismo que pertence a este parque centenário. No interior, as casas da árvore têm duas janelas, uma que permite observar a vida que corre no parque e outra para olhar as estrelas, uma casa de banho dividida em duas partes, uma kitchenette, uma cama de casal e um sofá. Os conceitos de sustentabilidade e ecologia estiveram sempre presentes no desenvolvimento deste projeto – a não impermeabilização do solo, os revestimentos e isolamentos reforçados, o reaproveitamento de águas negras, os sistemas de iluminação de baixíssimo consumo recorrendo a tecnologia LED. SPA TERMAL

É o edifício do antigo Balneário Termal que acolhe o novo Spa Termal. Siza Vieira, devolveu ao espaço o carisma de outros tempos.

O aproveitamento da luz natural e as amplas janelas destacam-se na traça moderna que os interiores do edifício art nouveau ganharam. A natureza está também na essência do SPA TERMAL. O poder terapêutico da água natural gasocarbónica de Pedras Salgadas, reconhecido há muito por entre a comunidade científica nacional e internacional, é utilizado no vasto leque de tratamentos de saúde e bem-estar. Através de novos conceitos, métodos e equipamentos as terapias disponíveis pretendem renovar o espírito do turismo termal. O SPA TERMAL contempla uma zona húmida e destinada aos tratamentos com água mineral – benéfica para problemas do foro digestivo, respiratório e muscular – e uma zona seca, para tratamentos de beleza e bem-estar. O spa disponibiliza catorze salas de tratamento (que incluem cinco hidroterapias e duas salas duplas). As instalações contemplam ainda uma piscina interior aquecida com corredor de marcha, sauna, hammam (banho turco), hidromassagem, duche de agulheta, duche vichy e duas salas de relaxamento. • 57


MEDIA PARTNER

PORTUGAL

INSUCESSO ESCOLAR

COMUNIDADE

Paulo Duarte

58

DOS

PAÍSES

DE LÍNGUA

PORTUGUESA

I

nsucesso Escolar é o Assunto proposto pela Clínica da Educação para uma Reflexão colectiva por parte de um ecléctico painel de psicólogos, professores, educadores, clínicos de outras áreas da saúde, bem como encarregados de educação, em dois locais – a 21 de Fevereiro, em Lisboa, no auditório do IPJ, e a 28 de Fevereiro, no Porto, no Espaço Atmosfera M. A Clínica da Educação assenta o seu trabalho na área do desenvolvimento e da educação; tem vindo a realizar eventos similares ao proposto, visando cambiar, partilhar informação e experiências. O Evento em epígrafe – Insucesso Escolar – considerará, sobretudo, o ambiente da aprendizagem, formal e informal, por parte de todos os agentes envolvidos, buscando práticas e políticas conducentes ao combate ao Insucesso Escolar.

Os temas em equação nos Encontros agendados estão na ordem do dia, conforme a grelha de trabalho aponta: “Não quero ir à Escola” (o impacto das emoções na aprendizagem); “Até me esforço mas não consigo” (os erros de processo); “Estou desmotivado, a Escola não é para mim” (dificuldades motivacionais); “Sozinho no recreio” (dificuldades relacionais); “A instabilidade da mudança” (que influência na aprendizagem); “Não sei o que quero ser” (indefinição vocacional). As comunicações por parte dos vários oradores sobre os temas indicados, o intercâmbio das opiniões por parte da vasta comunidade que gravita à volta da educação, são razões mais do que suficientes para a Insights se associar a este Evento na qualidade de Parceiro – o Insucesso Escolar segue dentro de momentos. •


COMUNIDADE

DOS

PAÍSES

DE LÍNGUA

PORTUGUESA


CULTURA

ANGOLA

ONOFRE DOS SANTOS O JUIZ QUE ESCREVE CONTOS

É JUIZ CONSELHEIRO EM ANGOLA, MAS AQUILO QUE REALMENTE LHE DÁ PRAZER É ESCREVER E “SER LIDO”. A ESCRITA DE CONTOS É O SEU ESTILO LITERÁRIO DE ELEIÇÃO E DEPOIS DE ANOS A PUBLICÁ-LOS NUM SEMANÁRIO EM LUANDA DECIDIU AGORA ESCREVER EM LIVRO. Mariana Araújo O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

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M

ais do que um escritor lusófono, nascido em Angola, é juiz conselheiro do Tribunal Constitucional de Angola e foi advogado no período da independência nacional do país. Daí resultou o seu primeiro livro “Os (meus) dias da independência”. Mais tarde, a propósito do seu então cargo de Diretor Geral das Eleições publicou “Eleições Angolanas 1992 – Uma lição para o futuro”. Participou ainda na preparação das eleições de outros países africanos e escrevia uma crónica semanal para o Semanário de Luanda, tendo mais tarde optado por compila-las no livro “Eleições em Tempos de Cólera”. Desde 2008 que exerce o seu atual cargo e mais recentemente tem-se dedicado à escrita de contos. “O conto da sereia” e o “Astrónomo de Herodes” são as suas mais recentes publicações e a inspiração veio-lhe, segundo diz, da ilha do Cabo, em Luanda, e do mar.

tido, ou foi algo que foi aparecendo com o passar dos anos? Passei a vida toda a escrever peças profissionais, como advogado e como juiz... É preciso escrever bem e sempre me esmerei com as palavras... Publiquei um diário “Os (meus) dias da independência” publicado em 2001 e que acaba de ser reeditado. Cada um desses noventa dias de novembro de 1975 é uma mini história... Mais tarde, transformei em livro as crónicas que durante quase três anos escrevi durante um período em que estive ao serviço das Nações Unidas em diversos processos eleitorais. Chamei-lhe “Eleições em Tempo de Cólera”. Isto, para lhe dizer que a escrita é um hábito que cultivo com regularidade e até alguma disciplina. Quando me decidi a dar uma passo em direção à ficção nasceram os meus contos semanais que venho publicando sem interrupção há mais de dois anos num semanário em Luanda.

Só mais recentemente se dedicou à escrita de contos, sempre sentiu que teve a imaginação fértil, nesse sen-

“O conto da sereia” foi um momento de inspiração ou há alguma mensagem por detrás do que escreveu?


O meu primeiro conto “Diálogos na areia” foi inspirado numa conversa entre dois miúdos numa praia de Luanda... Enquanto caminhava pela areia junto ao mar foi-me surgindo uma história que nesse mesmo dia escrevi... Enviei a alguns amigos e um deles que trabalhava no semanário “O País” pediu-me para a publicar. Na semana seguinte procurei escrever outro conto. Não podia imaginar naquela altura que iria escrever um conto todas as semanas... Eram sempre pequenas histórias de amor, uma forma de glosar o mesmo tema de forma diferente. “O Conto da Sereia”, título de um dos meus contos, agrupa os primeiros onze contos que então escrevi e quase todos no

ambiente da ilha de Luanda, com personagens que afloram de algum modo em todos eles. Saltando para o seu mais recente livro. Como é que de Angola lhe surgiu inspiração para uma história acerca de lugares tão distantes como Israel e Jerusalém? O “Astrónomo de Herodes” foi um conto de Natal que escrevi em Dezembro de 2012 porque achava que escrevendo um conto por semana poderia dedicar um deles ao acontecimento mais importante que se celebra nesse último mês do ano. Depois escrevi outros contos inspirados na Bíblia, a história de João Baptista e Salomé e de Jesus e a Samaritana, que deram para alguns quantos contos

semanais, divididos digamos assim, em episódios. Podiam ter um subtítulo: “da Bíblia com amor!” Sempre me fascinaram as histórias bíblicas, e conhecendo bem os textos sagrados achei que podia escrever em forma de conto algumas histórias que não escapam ao meu padrão de escrever pequenas histórias de amor impossível. Não considera arrojado escrever contos relacionados com algo tão delicado como a história de uma religião? A literatura está cheia de histórias inspiradas nos textos sagrados. Eu sempre fui imbuído dos seus ensinamentos e acho que eles pretendem ser uma fonte de inspiração... Que é inesgotável... Mentalmente, visualizei 61


CULTURA

«O MEU PRIMEIRO CONTO “DIÁLOGOS NA AREIA” FOI INSPIRADO NUMA CONVERSA ENTRE DOIS MIÚDOS NUMA PRAIA DE LUANDA​»

aquelas sequências e decidi-me a contá-las, como podia contar um sonho... São histórias de amor... Sem pecado... Alguma das personagens principais dos livros é inspirada em alguém (a sereia, o Octávio ou Daniel, o Astrónomo de Herodes)? Acho que a resposta é sempre diferente conforme os leitores das minhas histórias. Seria um desmancha-prazeres se lhe respondesse de forma concreta... Nem eu tenho a certeza de o poder fazer com sentido da realidade. Quando se imagina, está-se quase sempre muito longe desse sentido. Nem isso importa... E o que é que o Astrónomo de Herodes (Daniel) tem em comum com a Sereia ou com o Octávio? Talvez formem um triângulo... A que tipo de triângulo se refere? O astrónomo do meu conto é um homem que passa por anjo junto dos magos e cujo destino se cruza com os dos magos no momento certo. Enquanto Octávio e 62

a Sereia têm destinos cruzados mas nunca no momento perfeito. Os três completam-se na harmonia de um triângulo. Daniel, ao contrário de Octávio e da Sereia (que são movidos pela paixão) é um personagem ideal ocupando o vértice do topo do triângulo. Na base, Octávio gostaria de ser Daniel, e a Sereia é uma mulher impossível para Octávio que encontra em Daniel a sua opção... Para quem costuma escrever? Tenho um “público” penso que diferente dos escritores... Eu conto histórias para entreter um grupo de pessoas que de algum modo me conhecem ou com quem estou relacionado. Envio-lhes regularmente os contos por e-mail. Para além dos que me leem no semanário ainda me podem ler todas as semanas no Facebook e no meu blogue “Dark Horse”... Tenho, porém, a ambição de vir a ser lido por quem não seja apenas meu amigo... Daí a publicação em livro. Tem sido fácil conciliar a vida profissional com a escrita? De facto, a minha atual vida

profissional tem sido propícia à escrita. Divido o meu tempo entre Angola e Portugal. Mas em Angola, onde passo a maior parte do ano, estou quase sempre sozinho e disponho de muito tempo livre para ler, ver filmes, e também para escrever... A solidão e o recolhimento na minha casa de Luanda também ajuda. Que sentimentos lhe transmite a escrita e que sentimentos tenta passar ao escrever? Gosto muito de ler, procuro ler de tudo mas há autores que me seduzem mais e onde certamente procuro encontrar a inspiração da forma de que preciso. O amor é o tema central de quanto leio e também do que escrevo... Acho que o amor é sempre surpreendente e não é por acaso que já se escreveram milhares de livros e outros tantos se continuarão a escrever sobre o mesmo tema mas sempre com alguma coisa que os torna diferentes. Eu procuro fazer uma surpresa a quem me lê... É também a única forma de me continuarem a ler. •


CULTURA

PORTUGAL

BERTA RODRIGUES

A AUTORA DE AS AVENTURAS DE GUITOTELA É PORTUGUESA, MAS GRANDE PARTE DA SUA VIDA FOI PASSADA EM ANGOLA. AGORA, BERTA RODRIGUES EDITA O PRIMEIRO DE VÁRIOS LIVROS DE AVENTURAS INFANTIS, BASEANDOSE NA REALIDADE DE VÁRIAS CRIANÇAS ANGOLANAS. Mariana Araújo O autor escreve em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico

N

asceu em Lisboa, mas grande parte da sua vida foi passada em Angola. Retornou a Portugal em 1975. Licenciou-se em Ciências Sociais e Políticas, mas a arte e a criatividade são algo que lhe esteve sempre intrínseco. Foi uma doença grave que a levou a mudar as rotinas e a dedicar-se mais à pintura e gravura, tendo chegado a expor individualmente não só em Portugal, mas também noutros cantos da Europa e no Japão. Já escrita esteve sempre presente na sua vida, mas nem por isso hesita em afirmar que desde que é avó que ganhou uma nova dimensão. No prefácio do livro diz que as aventuras surgem em resultado de um pacto entre crianças e animais, inspirou-se nalguma situação verídica? Na ação, não. Nas personagens, sim. Todos os animais existiram ou ainda existem. Claro que ficcionei a história. O Guitotela, não sendo um menino que eu conheça é, contudo, o espelho de crianças cujas vidas são autênticos dramas. Foi pensan-

do nelas e em homenagem a elas que criei o Guito. Que crianças são essas? Basta olhar em volta e ver quantas crianças são usadas na mendicidade. Que dramas se esconderão por detrás de cada uma delas? Refiro-me particularmente a estas porque, na história que conto, este é o tipo de exploração infantil de que a personagem principal é vítima. Infelizmente, por todo o mundo, há outras formas de exploração das crianças. É uma realidade para a qual todos devemos estar despertos e disponíveis, contribuindo, na medida das possibilidades de cada um, para que este flagelo seja extirpado da sociedade. Pessoalmente identifica-se com a personagem? Nos ideais, sim. E quais são esses ideiais? Não vejo como escolher entre os ideais que refiro. Muitos outros haveria a acrescentar. Contudo, posso resumi-los numa única frase: “amor ao próximo”. Qual é a mensagem ou a lição de moral que pretende 63


ou prefere a pintura e a gravura por serem mais indiretas? Na escrita deixo voar a criança que há em todos nós. A história aparece como um filme que eu vou relatando. É tudo fantasia e liberdade. Na pintura e na gravura tudo está contido.

Berta Rodrigues

Berta Rodrigues

As aventuras de Guitotela O Segredo

O livro dirige-se a crianças Com livro idades? “O Segredo”, Berta entreo que Rodrigues, dá iníciodirige-se à coleção “As Em princípio, à faiAventuras de Guitotela”. etária aos doze Axa história leva dos o leitoroito a olhar para anos, mas eu gostaria acontecimentos reais, nos quais os que personagens simpáticos, divertios educadores também o lesdos e cheios açãopara interferem. sem. Há de tanto aprender As aventuras surgem em resultado com as crianças! de um pacto entre crianças e ani-

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mais que, unidos, resolvem ajudar osSempre mais fracos, num exemplo de sentiu necessidade coragem e determinação. de escrever?

A escrita esteve sempre presente na minha vida, quer em prosa quer em verso.

O Segredo

que os mais novos retirem da leitura de “O Segredo”? O respeito pelas pessoas e animais, a solidariedade, a coragem e a consciência de que se deve ser parte ativa na sociedade. Nem que seja com um sorriso!

Dedica este livro ao Max, quem é ele? O Max, um dos grandes amores da minha vida, é o meu neto que tem cinco anos e é louco por animais. O primeiro livro que editei e que se chama “Flô e o regador de cristal” e inclui um CD 64

com música, também, de minha autoria, foi dedicado a um outro amor: a minha neta Nina que tem nove anos. Os netos brotaram como flores do primeiro amor, a minha filha Sofia que me deu a alegria de casar com uma pessoa que me é muito querida: o Grant. Porquê escrever para crianças? Porque eles serão os homens e mulheres de amanhã. É com facilidade que coloca as suas emoções na escrita

Escrever faz-lhe bem em que sentido? Em muitos! Liberta-me, faz-me sonhar, diverte-me e dá-me a ilusão de podermos tercada um mundo Em livro, € 1 revertemelhor. a favor de uma instituição de apoio a animais abandonados ou maltratados.

Em quantas aventuras pensa vir a repartir a coleção? Isso vai depender da minha imaginação. Há uma história contínua entre os vários livros? Não, necessariamente! Tudo pode acontecer. Para quando podemos esperar por uma novidade? Vou no quinto capítulo do próximo e o texto estará concluído muito em breve. •



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