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viagens & memória por marisa v. n. cruz O acervo do Guia Levi na Biblioteca Nacional

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A Biblioteca Nacional, localizado na cidade do Rio de Janeiro, em frente à estação Cinelândia do metrô e a parada de VLT Cinelândia, é um dos maiores acervos de livros da América Latina para visitação pública, e é também o único (ou um dos únicos) que possuem o acervo “99% completo” do Guia Levi, que foi o periódico que trazia um guia de ruas da capital paulista com todas as linhas municipais de ônibus dessa cidade, além das tabelas horárias de linhas ferroviárias de todo o país. Para quem não sabe, é possível sim visitar a biblioteca e consultar qualquer um dos periódicos desse fantástico guia, de segunda a sexta, das 10 às 17 horas, no setor de Periódicos, localizado no segundo andar (o mesmo piso do térreo). Aos sábados a biblioteca não abre. No dia em que eu fui, não foi necessário o agendamento prévio - basta levar seu documento de identificação e uma moeda de 1 real (isso mesmo, para guardar seus pertences em um guarda-volumes antes de entrar na sala. Ao retirar seus pertences, a moeda de 1 real é devolvida).

Com certeza é a maneira mais barata de consultar o acervo ao invés de ficar pagando centenas ou milhares de reais para adquirir um único exemplar desse periódico, o que infelizmente os vendedores ainda continuam inflando os seus preços de venda em conhecidas lojas virtuais.

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Dias antes do último carnaval, eu resolvi ir ao Rio de Janeiro justamente para consultar o acervo do Guia Levi. Mas... voltando à história: na edição 525, em dezembro de 2020, comentei que eu visitei a Biblioteca Nacional em um sábado de março daquele ano - tempos antes da pandemia (sim, na época abria aos sábados somente em alguns setores) e na época tirei dúvidas com um atendente.sobre o catálogo do Guia Levi - e o mesmo informou que pertence ao setor de Cartografia.

Daí veio a pandemia, as restrições, e somente em fevereiro deste ano eu voltei à capital fluminense. Quase três anos depois, voltei à Biblioteca Nacional e perguntei onde fica o setor de cartografia: ficava no terceiro andar, porém era agendado por e-mail. Imediatamente peguei meu celular e escrevi minha solicitação. Horas depois, eu recebi uma mensagem positiva, que poderia visitar o setor no dia seguinte. Já no outro dia, ao consultar o índice virtual no setor de cartografia, eu percebi que tinha recebido uma informação incorreta de anos atrás que era nesse setor, mas na verdade ficava no setor de periódicos, sem a necessidade de agendamento. Desci as escadas e corri logo para o setor correto, para eu poder ver o máximo possível aquele acervo. Naquele dia, eu pedi alguns volumes mensais do ano de 1974, para eu consultar a evolução de suas linhas de ônibus da zona sul de São Paulo com a chegada do metrô paulistano. Todo o controle dos volumes é rigoroso. Primeiro eu faço um requerimento, por exemplo: eu quero pegar todos os volumes de 1974. Após a validação, um auxiliar vai até o andar onde estão os volumes, traz todos os disponíveis e deixa no balcão para que o bibliotecário imprima os termos de uso. Ao pegar o volume, eu vou ao balcão e pegar um volume por vez, assinando um tempo de retirada do livro e pegar um volume por vez. Para pegar o próximo volume, tenho que devolver, pegar o volume posterior e assinar novamente. E assim sucessivamente até eu pedir os pacotes de exemplares de 1975 e 1976.

Lembrando que eles não tem 100% do acervo, pois o acervo de 1976 não havia disponível cerca de 3 ou 4 exemplares mensais. Mesmo assim eu consegui ter uma visão global daquela evolução de suas linhas, por exemplo... a Gatusa tinha sua linha principal, a 541 Divisa de Diadema - Rodoviária Júlio Prestes. Até outubro de 1974 constava essa linha, mas na edição do mês seguinte, com a aquisição da linha 613 da CMTC (era Jurubatuba - Praça da Árvore fazendo quase o caminho da atual 675P), passou a linha à Gatusa utilizando o mesmo número 541 nas duas edições posteriores até voltar a ser o número 613. Por essa lacuna deixada pela extinção da 541, a CMTC passou as linhas Vila Clara e Fonte São Bento para a Tupi como bifurcações da linha 600, depois 971.

Vi também o bairro do Jardim São Jorge, na região da Pedreira, começar a ser atendido por ônibus somente no início de 1976 com a bifurcação da linha 644 (atual 546J, existente até hoje).

Vi também que no decorrer de 1976 várias linhas da zona sul que iam até Anhangabaú ou Rodoviária foram seccionadas ao ponto final de um metrô. Enfim, são tantas histórias e anotações que valeu mesmo a pesquisa. Só parei a pesquisa por aqui, pois ia parar para o almoço, e não voltei no dia seguinte, pois era ponto facultativo na sexta-feira de carnaval.

Ah, atenção para o detalhe: não pode fotografar nenhuma página de um determinado exemplar, muito menos as páginas do Guia Levi, respeitando os direitos autorais. Para suas anotações manuscritas, eles fornecem lápis e folhas tamanho A4. Daqui a alguns meses quero voltar para lá, para a continuação dessa pesquisa, dessa vez a partir de 1977. Quem for viajar ao Rio de Janeiro em breve, não esqueça de colocar a Biblioteca Nacional no seu roteiro!

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