Joy Edição única. Ano 2015
E X P E D I E N T E Carolina Vajas
Editora de Fotografia
Fernanda Pinheiro Editora de Texto
Jéssica Duarte Editora de Design
Carolina Vajas e Fernanda Pinheiro Fotografias
Carolina Vajas, Fernanda Pinheiro e Jéssica Duarte Textos e entrevistas
Marília Lafetá Diagramação
Raf-----------iza Varão Orientadora
D E D I C A T Ó R I A
JÉSSICA DUARTE
FERNANDA PINHEIRO
CAROLINA VAJAS “Dedico este trabalho aos meus pais, André e Patrícia, por sempre investirem e acreditarem em mim. Também dedico a todos aqueles que me apoiaram e ajudaram direta e indiretamente durante o processo de desenvolvimento deste projeto.”
“Dedico este projeto aos meus pais, João e Teresa, que, além de me apoiarem, sempre estiveram presentes em todos os momentos da minha vida. Além do mais, sem eles eu não poderia concluir mais esta etapa. Não posso deixar de ressaltar a minha gratidão a Deus por me dar oportunidades e, acima de tudo, me guiar diante delas. Por fim, dedico este trabalho a todos que me ajudaram e torceram por mim.”
“Dedico este trabalho a minha família, que me apoiou durante esta jornada e jamais me deixou desistir, em especial, a minha mãe Marní Ferreira, que fez o possível e o impossível para a minha formação no ensino superior; e ao grupo Laços da Alegria que tornou isso possível.”
S U M Ă R I O Editorial 5 De nariz vermelho e jaleco branco 6 AlĂŠm da maquiagem 20 Ensaio: o sorriso da alma 36
E D I T O R I A L E
sta revista foi produzida durante as matérias de Projeto Experimental I e II, do Curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Católica de Brasília. Como editoras da publicação e responsáveis pelo andamento e produção, buscamos apresentar, por meio de reportagem e fotografias, a história e rotina do grupo de trabalho voluntário Laços da Alegria. O processo de criação desta publicação foi intenso e cheio de emoções, o que nos proporcionou exercitar a fotorreportagem e registrar de perto o trabalho e os indivíduos que doam seu tempo para ajudar ao próximo.
A
edição única da revista Joy mostra a dedicação do Grupo Laços da Alegria em transformar a rotina hospitalar de pacientes internados em situações mais leves e alegres. Durante a leitura, você poderá conhecer o perfil de alguns integrantes dessa equipe de voluntários e apreciar algumas experiências marcantes compartilhadas por eles. O objetivo e a mensagem principal da revista é mostrar que pequenos gestos podem melhorar não só o dia, mas também a vida de muita gente. A revista Joy foi feita pra você que se interessa por histórias de superação e fotografias recheadas de sinceridade e alegria. 5
DE NARIZ VERMELHO E JALECO BRANCO S
ábado à tarde, sol de 30°. Debaixo de uma árvore alta, que forma uma grande sombra, é possível vê-los com penteados, roupas e maquiagens coloridas. Em cerca de uma hora vai começar o grande espetáculo. Com nariz vermelho, rosto pintado e muita energia para gastar, o grupo de trabalho volun-
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tário Laços da Alegria se reúne semanalmente em hospitais do Distrito Federal para levar sorrisos e gargalhadas para aqueles que mais precisam. Formado em sua maioria por jovens, o Laços, como é carinhosamente chamado, promove o humor e o bem-estar de pacientes, visitantes e funcionários do Hospi-
“Nosso intuito era facilitar o ingresso de novos voluntários para atuar conosco” Carlos Eduardo
tal Universitário de Brasília (HUB), Hospital Regional do Gama (HRG), Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) e da Associação Brasileira de Assistência às Pessoas com Câncer (Abrapec). Sem patrocínios, vínculos ou ajuda financeira, o grupo conta com o compromisso e companheirismo de cada um dos participantes para distribuir risadas, conversas e brincadeiras aos pacientes das instituições. Para o guia de crianças Carlos Eduardo, também conhecido como Dr. Desafinado, esse é o segredo para o sucesso do projeto. “Não precisamos de patrocinadores e não possuímos nenhum fim lucrativo. Só vamos para doar nosso tempo sem nenhuma obrigação”, conta. 7
Além de ser um dos coordenadores da equipe, Carlos ajudou a construir o Laços, que foi oficialmente fundado em 2012. A vontade de criar um grupo de palhaços e visitar hospitais começou em 2011, porém, no início, a turma só visitava casas de apoio, orfanatos e asilos. Um ano depois, conseguiram começar o trabalho filan-
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trópico em hospitais, e o primeiro deles foi o Hospital Regional do Gama (HRG), que visitam até hoje. “Nosso intuito era facilitar o ingresso de novos voluntários para atuar junto conosco”, lembra. Apesar de ser um trabalho divertido e filantrópico, existe hierarquia entre os participantes. Os novatos devem respeitar e tirar dú-
vidas com os usam jaleco b chá. A cada se jeto recebe no lista de espera tando. Atualm sam de 250 n de aprender a hospitais e con o trabalho, os transformam e fissionais “bes O ritual de fo
doutores, que branco e craemana, o proovas caras, e a só vai aumenmente, já pasnomes. Depois as normas dos nhecer melhor os calouros se em novos prosteirologistas”. ormatura dos
doutores palhaços acontece na quarta visita e dá direito a jaleco e nariz vermelho. Os encontros funcionam de forma serena e espontânea, como conta o estudante de química Bruno Gastão, de 25 anos. Mais conhecido como Dr. Feijão, Bruno diz que o grupo nunca combina o que fazer e que tudo acontece de forma natural. “Podemos fazer má-
gica, cantar, bater papo ou até mesmo tirar piada das conversas”, diz. Apesar da colorida e alegre caracterização, ele conta que muitas vezes o paciente só quer alguém para conversar. A estudante de direito Vanessa Correa, 19 anos, conta que o diálogo é um dos pontos fortes das visitas. “A gente se veste de palhaço com o intuito de quebrar o gelo,
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para tornar o acesso mais fácil, mas priorizamos o diálogo. Existem pacientes que não recebem visitas, então tentamos preencher esse vazio”, conta a jovem, que adotou o nome de Dr. Prinxexa. Quando chega ao hospital, o grupo se reúne do lado de fora para preparar a maquiagem, os penteados e os acessórios. A ideia por trás da caracterização é fazer com que as pessoas lá dentro esqueçam que estão em um hospital. À medida em que vão ficando todos prontos, formam uma grande roda onde os mais experientes falam sobre as regras, diretrizes e cuidados que os novatos devem ter durante a visita. Depois de muita conversa e orientações, a turma se divide de acordo com as alas visitadas.
“o trabalho do grupo visa o cuidado psicológico, o que faz uma grande diferença” Michele Costa
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A visita nos quartos pode durar de quatro a dez minutos, preservando sempre o espaço e as vontades de cada paciente. A enfermeira do setor de hemodiálise, Michele Cristina Costa, acredita que as visitas são muito importantes, pois diversos estudos já apontaram que o trabalho de palhaços em hospitais
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diminui efeitos colaterais de certos tratamentos. “No hospital, nós cuidamos do físico. Já o trabalho do grupo visa o cuidado psicológico, o que faz uma grande diferença. Percebemos que o número de intercorrências durante as diálises diminui bastante quando acontecem as visitas”, afirma.
O grupo tem o apoio total dos hospitais que os recebem e a passagem semanal acaba alegrando não só os pacientes, mas também os médicos, enfermeiros e outros funcionários das instituições, que acreditam que o trabalho ainda precisa ser mais praticado e difundido em Brasília e no resto do país.
O riso é o melhor remédio
E
ssa forma de distribuir afeto tem uma inspiração – o famo-
so oncologista pediátrico norte-americano Hunter “Patch” Adams. Ele é conhecido por sua inusitada metodologia no trata-
“a nossa intenção é humanizar o ambiente hospitalar, deixando ele mais leve. visitar pessoas que a gente não conhece e levar um pouquinho de alegria e amor ao próximo” Carlos Eduardo
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mento de pacientes em estado terminal. Adams é a prova viva do que é estar do outro lado, e esse foi um dos maiores motivos para ele se dedicar a este tipo de trabalho. Após ser internado em um manicômio, o médico decidiu que serviria a humanidade da forma mais pura, apenas com alegria e carinho. Sua história foi retratada no comovente filme “Patch Adams: o amor é contagioso”, estrelado pelo ator Robin Williams. Adams defende que o riso pode ser um grande aliado no tratamento de doenças e é uma espécie de ídolo para os jovens que fazem parte de grupos como o Laços da Alegria.
A dedicação desses jovens traz resultados positivo durante os tratamentos e a reflexão está na simplicidade e eficácia do método utilizado. Fazer palhaçadas e pintar o rosto vai muito além de uma brincadeira. Trata-se de uma escolha, abdicar de algum tempo livre para ajudar o próximo, e ter como prova que rir pode ser um dos melhores remédios. Uma pesquisa feita pela Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, garante que a liberação de endorfina causada pela gargalhada se reflete em uma ação analgésica no organismo, podendo reduzir consideravelmente a sen15
sação de dor, ajudar no tratamento de doenças e no desenvolvimento de laços pessoais. Segundo Márcia Queiroz, nefrologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB), o internamento traz muita insegurança e tristeza para os pacientes, e as visitas de grupos como o Laços da Alegria se torna uma peça fundamental para amenizar esse sentimento. “Entre as principais melhoras observadas no momento da visita está o sor16
riso no rosto, as gargalhadas e o contato com pessoas que não têm ligação com o hospital. Isso os fazem sentir menos doentes e terem mais esperança”.
Compromisso dos voluntários
A
realização e retorno espiritual e pessoal daqueles que praticam trabalho voluntário é, em diversas vezes, tão grande quanto o daqueles que o recebem. Para Tereza
Emília, também conhecida como Dra. Lindinha, a satisfação de levar o sorriso para alguém que precisa é indescritível. “Me sinto muito orgulhosa do trabalho que realizamos, pois ver a gratidão dos funcionários e dos pacientes me faz perceber a importância do que fazemos, tanto pra eles como para nós, afinal, não tem como não sair bem após receber e doar tanto amor”, diz a palhaça. Para Carlos Eduardo, o trabalho
do Laços é uma forma de fazer o bem ao próximo. “Muitas pessoas participam porque tem um bom coração e gostam de ajudar os outros. A nossa intenção é humanizar o ambiente hospitalar, deixando ele mais leve. Visitar pessoas que a gente não conhece e levar um pouquinho de alegria e amor ao próximo”, explica. Apesar do egoísmo e individualismo serem características comuns na sociedade contemporânea, o traba17
lho de grupos como o do Laços da Alegria, mostra que, de fato, existe uma luz no fim do túnel. A visita dos doutores palhaços em hospitais vai muito além da animação e da brincadeira – trata-se de se importar com o próximo em troca de nada mais que sorrisos sinceros. O carinho e o cuidado do grupo funcionam como remédio. As conversas, risadas e desabafos lembram aos pacientes que eles não estão sozinhos, nem que seja por um breve instante. Os momentos difíceis, como a hospitalização, podem ser menos tristes quando existe o afeto daqueles que se importam. É simples: como dizia Caetano Veloso, “um carinho, às vezes, cai bem”.
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Vestidos de palhaรงos, jovens levam alegria e sorrisos para dentro do hospital 19
alĂŠm da maquiagem
Guilherme Braga de Medeiros 22
Dr. Alce
Estudante de Análises e Desenvolvimento de Sistemas | 21 anos
“Na verdade, minha entrada no grupo é uma história engraçada. Foi pelo aplicativo de relacionamentos Tinder [risos]. Estava conversando com uma menina e contei que meu sonho era fazer parte de alguma atividade voluntária. Então ela me disse que tinha uma amiga que fazia parte do Laços da Alegria, me convidou para o grupo do Facebook e já faço parte há um ano, mas ela nunca apareceu por aqui [risos]”.
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“Para mim, a importância desse trabalho é tirar aquela visão de hospital, aquele sentimento de solidão e, nem que seja por cinco minutos, levar alegria para os pacientes. Quando você está no hospital parece que o tempo triplica, não passa nunca, então quem está do outro lado vê a importância. Mesmo que você chegue lá e fale apenas um ‘oi’ já faz toda a diferença”.
Poliane Carvalho Almeida 24
Dra. Boneca E s t u d a n t e
d e
D i r e i t o
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a n o s
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Dra. PINXEXA E s t u d a n t e
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d e
D i r e i t o
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a n o s
Vanessa Evelyn Gomes Correa “A história mais marcante para mim foi com uma senhora do Mato Grosso. Ela descobriu que tinha câncer através de sua filha mais velha, que já havia sido diagnosticada com a doença, e veio fazer o tratamento aqui. Depois que chegou perdeu o contato com as filhas e, desde dezembro de 2014, ela não fala com a filha mais nova. Isso mexeu comigo, porque ela conta com a nossa visita”. 27
DR. FEIJテグ E s t u d a n t e
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d e
Q u テュ m i c a
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a n o s
Bruno Gastão Correa Alves
“Quando entramos no hospital, acreditamos que vamos passar alegria para as pessoas, mas no final somos nós que saimos completamente realizados, porque aprendemos o quanto os nossos problemas são pequenos em relação aos dos pacientes. Eu gosto muito de ir para a área dos mais velhos porque ouço histórias que me fazem refletir. O grupo é formado por jovens e muitos pacientes nos falam que podíamos estar em festas ou fazendo outra coisa, mas ao invés disso estamos lá dando ânimo à eles. A cada visita a gente percebe o quanto vale a pena”.
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Dr. BARBIXA Bacharel em Publicidade e Propaganda | 29 anos
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Luiz Henrique Gregori Caddah
“Visitávamos um paciente chamado Abel, uma criança com autismo agudo. Nas primeiras visitas ele estava na cama, triste, debilitado, e o grupo tentou conversar, fazer palhaçada, brincadeiras, mas ele não reagia. Uma semana depois, disseram que ele já estava menos encolhido. Na última vez que o vi, quando entrei no quarto, começamos a brincar e cantar e ele já esboçava uma resposta e, mesmo sem falar nada, levantou os braços, mostrando animação. A mãe dele falou que ele estava feliz e queria demonstrar. Poder ajudar dessa forma traz um retorno inexplicável”.
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DR. KEN
Estudante de Direito | 20 anos
“Sempre fui uma pessoa que gosta de ajudar os outros e o Patch Adams é um ícone que inspirou muita gente pelo trabalho de humanização nos hospitais. Em instituições públicas, encontramos as pessoas que mais precisam de ajuda, pois elas estão isoladas, sozinhas, moram longe, às vezes nem têm família. Muitos esperam pela gente e até comentam que ficam nos esperando quando estamos atrasados. Além disso, é provado cientificamente que esse trabalho ajuda na recuperação dos pacientes. Isso me inspira e é gratificante estar aqui”.
Guilherme Córdova Fontineli Cândido 32
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ainda sem apelido...
Estudante de Pedagogia | 20 anos
Débora Luiza Rodrigues “Uma das coisas que me motivou a participar do projeto foi a internação do meu pai. Eu fiquei muito tempo dentro do hospital e percebi que lá não tinha esse tipo de visita. Foi aí que vi o quanto era necessário, pois haviam diversos pacientes que não recebiam visitas nem tinham acompanhantes. Algumas vezes eu e minha família visitávamos outros quartos só para conversar. Durante os encontros do Laços da Alegria, sempre tem um paciente que mexe muito comigo. Na verdade, acredito que o retorno que eles trazem pra gente seja maior do que o que a gente transmite para eles”.
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o sorriso da alma
N
ão é preciso muito para se
transformar
em
verbo amar, na busca deste estado
Doutor Alce ou Dou-
constante, que existe a pretensão
tora Pinxexa. Não é preciso ter
de criar um personagem. Esses
nome de palhaço, ser profis-
jovens geram alegria buscando
sional ou saber fazer palhaça-
energia dentro do próprio corpo,
da. As tintas e os acessórios
o que faz cada um ter sua identi-
fazem parte da caracterização,
dade e características singulares.
mas ainda mais importante do que isso é o amor.
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É a percepção do significado do
Esse laço não gira só em torno da alegria, é mais do que isso. Tem a
Para se transformar em ex-
ver com a paciência em se dispor
emplares Doutores ou Dou-
a compreender o outro, mesmo
toras, o amor é fundamental.
que para isso seja necessário vol-
Compartilhar experiências ver-
tar a ser criança ou se tornar um
dadeiras e ajudar ao próximo
piadista amador. Isso tudo acon-
é uma espécie de lema. Com
tece na busca não só de um sorri-
companheirismo e boa vonta-
so, mas sim da transformação de
de, qualquer um pode se tornar
um momento delicado em uma
um grande “besteirologista”.
experiência de vida.