JUANITA revista

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revista


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por

uanita J

acima de tudo é um ato de fé. Fé cênica, mas fé. juanita é um ato de presença. Presença de espírito. Que espírito? O meu. O nosso. juanita já se estende espaço de tempo (eu adoro essa expressão), que nós, os envolvidos no e pelo processo, pudemos viver coisas intensas em nossas vidas. Acompanhar como cada um faz o seu caminho, recortados por um processo artístico que é ele mesmo o traçado de um caminho: é uma coisa mágica, misteriosa e profunda. Acho que ainda não entendo – ou entendo em parte, ou re-significo a cada dia – o por que disse sim, em meio a tantos nãos que dizia quando aceitei fazer parte desse ato. Eu lembro que olhava um parquinho desses de criança num lugar hoje abandonado nas ruínas do meu passado, eu lembro que meu coração disse sim antes da minha boca, eu lembro de tantas dúvidas e raivas e incertezas. Eu lembro de nenhum arrependimento. E ali foi o começo da revolução. Eu lia os livros quase como uma literatura apócrifa, e hoje nem sei mais por que

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ana roxo

isso parecia tão subversivo. São livros. É uma trajetória, como tantas outras que já li, que já escrevi, que renego e traço no meu dia a dia. Faz três, quatro anos? Faz três, catorze, quatrocentos mil anos, por que esse espaço de tempo me levou a recortar, recordar e recapitular, sou outra e ainda outra e ainda outra. Irreconhecível e ainda assim, imutável. Como pode? E agora eu me pego aqui, escrevendo um texto tão vago quanto todos os que pedi que não escrevessem... Não, eu não sei explicar como foi o processo, não, não tem nenhum conceito que eu possa tirar da manga pra explicar a arte, a vida, e essa brincadeira que os deuses fazem com a gente entrelaçando as duas coisas. Eu me resigno humildemente a narrar uns fragmentos e organizar outros narrados pelos meus parceiros, de um jeito que fique aberto ao entendimento múltiplo: não há desejo em ser clara, eu não desejo ser inteligível, o desejo é que você trafegue sobre essas palavras como você puder/quiser (se é que há diferença entre poder e querer). E isso, eu sou o testemunho de mim: eu nunca


antes desejei semelhantes disparates. juanita operou algo de mágico em mim e para mim: eu me abro aos sentidos, com todas as acepções que cabem nessa palavra. Agora, te convido a se abrir também. Trafegue por essa revista como quiser: não há regras. Há pistas, caso você se perca, mas como se perder num caminho que não dá em lugar algum? Como avaliar que não é ali mesmo que deveríamos estar? Sim, revista é um labirinto.

Uma floresta. Um chaparral. A mente humana. Essas imagens que usamos pra iniciação. Mas ela também é um traçado oblíquo: como o tempo. Um desenho que se desdobra em sentido. Um poema visual? Um caderno coletivo de rabiscos e anotações de uma viagem sem fim, sem retorno, sem expectativas. Essa viagem aqui que a gente vive. 5


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nesse caminho tem coração.

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ler: ler:

nômade nômade.

Enveredar o universo mágico, mergulhar num diário imagético, na literatura fantástica. Tentar Ver o que a obra tem a me dizer, o que nela a minha história pessoal reflete e me espelha: Onde estou eu? Qual destes personagens me representa? O que me toca? Por que me toca? Me desdobro e desvendo meus sentidos. Me descubro. E desvelo meus mistérios. Sonho.

Abro os olhos, o sol brilha baixo, é alvorecer. O céu multicor, azul, laranja, dourado, anil, e do outro lado algumas poucas estrelas. O cheiro de areia fresca e gelada. No horizonte o costume de ver só o pó. Levanto e carrego o que tenho, nômade que sou. No tilintar dos pertences, no brilho do sol matutino na água do cantil que carrego, lá está o que me guia. Aprecio o frescor da água que desce por dentro de meu corpo recém desperto. Levanto e sigo. Os passos naquele infinito de areia, dentre poucos sinais de verde que ditam as direções. Sinto o que busco mas ainda não o vi. Espero estar desperta no instante em que o intento se apresentar, e pra isso exercito o respirar, para experimentar despertar. O calor vem subindo, o sol a pino e dentre dias após dias sigo.

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quase quase morri de novo...

são ataques, crises que empurram e pressionam.

mas não cri, fiz de conta que não era nada, uma impressão errada,

Dessa vez falo especificamente dos meses entre julho e novembro de 2014.

tiro a bici, encosto na parede e volto para fechar a porta,

Dia 1… de julho, terça-feira, tive mais uma crise de fluxo sanguíneo. Há quase 30 anos elas existem, mas cada crise é uma fase de crescimento diferente. Estava saindo, ia encontrar a Ana na praça Horácio Sabino, Vila Madalena, Sampa, falar sobre a revista do juanita e sobre a vida, desci dois lances de escada para buscar a bicicleta no porão, abri a porta-tudo ali é muito úmido tive um primeiro sinal,

segundo sinal,

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daí já era, vi que era pra valer, cabeça pulsando, estômago enjoado, pensei que ia desmaiar, isso é bem raro, me soltei na escada pra evitar uma queda, pensei que se desmaiasse ali tava lascada: iam demorar horas para me achar, consegui me organizar para guardar a bici e subi para casa.

corpos

dispon

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olho olho

de fora a trajetória mágica do grupo: amigos artistas impulsionados pelo ígneo chão, suspensos por fios tênues que vêm do alto, abastecidos na sintonia das chamas horizontais de seus corações. O prazer atemporal do nada e do tudo. Para mim não é relevante saber quem era de fato o autor, Carlos Castañeda, de biografia misteriosa. Nos doze livros que contam de forma circular seu processo iniciático, ele subverte a antropologia tornando-se aprendiz do seu objeto de estudo (que já no começo da narrativa deixa de ser a coleta de informações sobre plantas de poder e passa a ser o desvendar dos mistérios do sistema de conhecimento xamânico do índio yaqui nagual Don Juan). Depois de um tempo, o escritor abandona a metodologia acadêmica para se entregar definitivamente – após vencer muitas resistências -- ao acesso do que é inexprimível. Cada livro conta basicamente a mesma história de

uma forma encadeada e retroativa, acrescentando sempre algo muito novo, que expande, que aprofunda, que desperta, que amplia a visão. Da mesma forma, juanita desafia conceitos e abre mão das teorias que enquadram o movimento da dança. A partir das raízes da Nova Dança o grupo se lança como buscador do pulsar corpóreo, energético, anímico. A cada espetáculo a improvisação fala do extraordinário de uma forma única, efêmera, guardada na memória sensorial. A diretora do projeto e seus parceiros se propõem a trazer para a dança alguns dos estados de realidade acessados por Castañeda. É a narrativa de um mundo não revelado, onde o pensamento esvazia, quase inenarrável. Uma linguagem própria, xamânica como seu inspirador; a feitiçaria que cura, no espaço interno, sem tempo. Silêncios musicais, composições, luzes, palavras: dança-teatro-literatura. Arte sem trejeitos ou fissuras, gerando uma simplicidade refinada, que restaura a alma. Sim, isso é possível.

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cavar cavar

,

cavar, cavar Subir, subir, subir Para o desconhecido

A Liberdade Vinda , bem vinda do trato com a estrutura energética humana. Somos realmente luz, fibras. Então nosso corpo matéria carne - visível é uma ilusão-prisão? Ou nossa mente aprisiona nosso corpo? Dançando e vendo dançar, existindo e vendo existir, certas perguntas perdem o sentido. 15


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Gu

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minha minha vizinha tem uma pitangueira... um certo dia descendo a escada vi várias no chão na escada de casa, a pitangueira passa pro meu muro de casa... olhei ali as pitangas no chão.

juanita pra mim é uma semente que foi plantada em meu corpo/espírito/alma, que cresceu no meu cotidiano,

O que fazer com elas, as sementes? deu folhas, Plantei no jardim e deixei que o tempo fizesse sua parte... várias mudas cresceram, doei algumas para amigos e tenho em casa alguns pés crescendo.

frutos, e até secou.

Mas a semente continua lá.

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eu eu

não quero um manifesto Mas pretendo uma mani-festa Uma orgia de som e dança Um Baile De luz e música Uma Festa que desperte os mortos E refaça a alegria que desperta no ar E pela noite afora que tudo seja Luz radiante de passos mágicos De danças celestiais e sons onomatopeicos Suor e risos Força-som Caminhando juntos até o raiar do dia E quando a Aurora chegar Depois de tudo Possamos repousar com o corpo cansado O coração leve e o Espírito-Dança Desperto para todo sempre

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oo sangue sangue sobe,

dá meia volta no intestino,

dói,

inunda o coração, a garganta, roda no centro do cérebro e avermelha tudo,

retira toda a energia vital,

pulsa e depois de um tempo próprio

exaure os rins.

desce de novo, bagunça a tripa e a casa caverna da criação.

Depois, por dias, fica uma névoa,

O que é para descer, sobe, o que é para subir

uma massa vibracional, ali,

fica rodando.

se deixando ser vista, sentida.

É um choque no metabolismo, um colapso,

O mais difícil foi

e isso não é pouco,

não dar conta de andar de bicicleta.

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ser chão ser chão Ser terra

Ser base, apoio, sustento Ser alento Estar atento Caminhar pelo corpo do outro Me mover com outro movimento De olhos fechados descubro onde vou Sigo de olhos abertos vendo trajetos Encontro Acomodo Ganho pista para voar Me lanço E alcanço.

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quando quando eu me dei conta já estava em pé no meio da praça tocando com um arco de cello o sino tibetano, o movimento que todo meu corpo começou a fazer não me era habitual; as mãos giravam fazendo círculos no ar enquanto o resto do corpo queria uma independência para realizar espirais

O movimento respeita o tamanho do tamanho; e aproveita toda 30


a extensão possível. 31


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primeiro primeiro ensaio com o equipamento, a três dias da estreia do ensaio aberto. Cheguei no ensaio não sei se era terça ou quarta, estúdio do Diogo, chego apressado, carregando um caixa, uma mesa de som , um Kaoss Pad, um sampler velho, quatro microfones, três pedestais, um iPhone quebrado, um MacBook Pro e muitos cabos e extensões elétricas, em meio a olhares de interrogação e uma certa apreensão monto o equipamento, tudo ok, posiciono os microfones, abro as portas de vidro do fundo da sala, o vento entra, ok, missão um ticada, é preciso ter o som do vento.

Meu

a m ag i a d a l i a b o p r co

Anotação 1: Falando com as plantas, vento e canção Mexicana, cantiga Mexicana, Bola de Nieve,

Drume Negrita... Mamá, la negrita Se le salen los pies en la cunita Y la negra Mercé Ya no sabe que hacer Tu drume negrita Que yo va comprar nueva cunita Que va tener capitel Y va tener cascabel

o a c o n te c i m e n to

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o obaço baço ,

que também é uma das casas do espírito,

os glóbulos soltam tudo o que é ou foi pesado, são acolhidos, descansam, se renovam, rola um reset, se lembram de quem são e voltam ao circuito.

está no tilt, está contrariado. Ele é o templo da guarda, do sangue, dos glóbulos brancos, os guerreiros do corpo. Ele é roxo, passam litros e litros de sangue venoso por ele, sem parar, e quando o sangue passa, ele é filtrado e essa filtragem é uma purificação, um descarrego. O sangue chega nesse pequeno templo, o baço tem por volta de 150 gramas de peso, cabe na mão, o fígado é um peixe baleia comparado a ele, e ali,

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Baço e fígado são os extremos esquerdo e direito nesse plano do meio do abdômen do corpo, pâncreas, estômago e duodeno estão no meio, rins atrás e ureteres fazendo uma conexão diagonal de cima para baixo e de trás para frente. Baço e fígado conversam olho no olho pelo sangue, o diálogo tem que ser límpido, físico, espiritual, delicado, fino e rápido, um é o suporte do outro,


mas o baço é mais sutil e misterioso, é uma casa espiritual,

E além de tudo fabrica um transporte de ponta para os glóbulos brancos em direção ao sistema endócrino.

as coisas se dão muito no plano da energia, tem o objetivo anímico de escanear e se possível conectar, fazer compatível, tudo o que entra no corpo e o que não é compatível, minimamente compatível, com a matéria, o emocional e o espiritual é o que vai dar trabalho,

Quando rola um choque no metabolismo, dessa natureza sanguínea, é porque o fígado está louco, o grande sábio farmacêutico, o alquimista da quintessência biliar, precisou sentar, seu próprio ser está confuso e uma das suas expressões se manifesta numa ascensão do sangue, dos intestinos ao coração e deste para a cabeça, o rosto, a face, as veias saltam, tudo aquece, a pressão interna sobe… tudo pela frente, sistema orgânico.

ele conecta com o que vem um pouco antes da matéria, o que conversa com a estrutura interna, própria de tudo, antes que o diálogo dos elementos materiais possa se dar.

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partindo partindo do encontro com a energia Que guia e me lava a encontrar Nas minhas costas, nuca A minha espada coluna. Com ela corto o que não me serve Pelo espaço Corto Medo Arrependimento Tristeza

Solidão Sofrimento Desconfiança. Me fortaleço Conectada Busco a ligação com a Fonte de energia vital Para guiar meus movimentos. 39


os desenhos os desenhos atravessaram meu corpo como longas flechas atiradas por algum povo indígena da floresta ou da montanha. Como os choques que a gente leva da tomada quando o chão está meio molhado e a gente é ainda meio criança e ignorante demais pra tomar cuidado ou se defender (graças a Deus!). Essa lembrança já tinha muito tempo e eu tinha me esquecido da sensação e do susto.

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Como sinal provável de uma coisa que existe. Uma coisa existe.

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fifizzparte parte desde projeto até um ponto e depois da vírgula continuei minha viagem. Sem puxar saco e mimimis. esse projeto foi um dos mais fortes na minha vida, transformou vários espaços internos, até como um simples rolamento feito nas aulas de Aikido com a Isabel Tica Lemos, rolamento que pensava que sabia fazer e vi que poderia fazer de outra forma. Reaprender a fazer um rolamento. Simples assim. Mas sinto que juanita começou mesmo pra mim bem antes, quando um dia jogando capoeira com a Tica, nossos corações jogaram juntos, foi um lindo momento. O que aconteceu passado um tempo é que fomos nos aproximando até que um dia ela me convidou para trabalhar no projeto dela.

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espírito o espírito ,

O espírito, o baço está contrariado e o fígado está escutando e expressando, no mínimo, uma situação que precisa ser vista , sentida e compreendida. O que está acontecendo? O que no meu comportamento, no meu movimento está contrariando assim o meu espírito? Sou obrigada a um mergulho de balanço e no mergulho, realmente percebo que estou morrendo antes da hora, sim, pensei que isso é possível. Mas tem uma coisa que me toca profundamente: - se o espírito, uma faísca brilhante, uma consciência luminosa é minha própria essência e vida, por que ele mesmo não me informa, não responde as minhas perguntas? Ou ele não está ou eu não estou, ou ele está e eu não sei perceber sua linguagem, sua mensagem. Esperar que outro me leve a outro nível de consciência? que a dança me leve a outro nível de consciência?

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O d e s e n h o n a s c e c o m o e v i d ĂŞ n c i a d o e n c o n t ro .

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não encontro não encontro pistas, não encontro traços, nem outros peregrinos, não encontro em mim o porquê de tudo mas só consigo encontrar o estar ali; um passo após o outro; um pensamento após o outro, e no crepúsculo uma redenção. .

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Não trouxe a canção, vai ter que ser outra… Nat King Cole em espanhol

Aquellos ojos verdes De mirada serena Dejaron en mi alma Eterna sed de amar, Anhelos de caricias De besos y ternuras De todas las dulzuras Que sabían brindar Aquellos ojos verdes Serenos como un lago En cuyas quietas aguas Un día me miré

nat king cole em e nat king cole em espanho 50


espanhol ol 51


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asasfrequênci frequências que saíam do sino tibetano começaram a criar camadas no espaço criando imagens sinoidais ora de quintas, oitavas, terças menores, nonas, todo o espaço começou a ficar imantado de geometrias moventes e todos os sons que antes se encontravam no ambiente de forma dispersa começaram vagarosamente a entrar em sintonia nesse fluxo sonoro.

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telefono telefono , marco encontros com os amigos bruxos e bruxas, professores, terapeutas, familiares, médicos, escrevo, converso, penso em tudo, medito, respiro e vou abrindo portas e acessando imagens. Algumas falas, ações e insights se tornam cruciais, vou montando um mosaico da minha vida, recebo visitas e ajudas inesperadas, arregaço a manga e me exauro ainda um pouco mais, fico completamente perdida. Mas alguns atos de feitiçaria, que têm poder de mudar a realidade, o espaço e o tempo, acontecem. Apenas narro, pois a elaboração não é possível. Enquanto morria e nada ainda entendia da visão chinesa misturada à antroposofia, ou talvez no espaço de uns dois ou três meses em que as informações foram chegando, me vi completamente envolvida mais uma vez numa visita visceral aos órgãos. Um curso sobre os órgãos na visão do BMC (centralização corpo e mente).

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ppartiu artiu da proposta aberta, libertária, de que os caminhos para o desenho seriam aqueles que eu desejasse, contanto que dialogassem com o processo investigativo do grupo em torno da literatura de Castaneda. Os desenhos realizados serviriam inicialmente para ilustrar o blog do projeto e os certificados de participação nas oficinas, mas eu carregaria no corpo uma prontidão receptiva aos novos desdobramentos. Iniciado o percurso, passei a entender, intuitivamente, que parte do desenvolvimento da pesquisa não seria uma prática pura e simples do desenho, mas um acompanhamento e vivência das experiências corporais dos dançarinos. Meu corpo também precisava ser preparado para compor o grupo de trabalho. Fui compreendendo, pouco a pouco, que apesar de composto por diversas linguagens, com suas especificidades, a pesquisa juanita é um todo; um corpo complexo de artistas em busca de uma forma singular de produzir arte.

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o odevir devir de ir. A pé. Passo a passo, atrás dos Passes Mágicos. O dever de ser. Íntegro na tensão. Tênsil com integridade. Impecabilidade. Tensegrity ou Tensegridade. Termo utilizado na mecânica, biomecânica e arquitetura, em que o conceito foi desenvolvido por Buckminster Fuller. Tensegridade, junção da palavra “tensão” com a palavra “integridade”, é uma propriedade presente em objetos e estruturas vivas cujos componentes ou membros usam a tração e a compressão de forma combinada, de maneira a proporcionar-lhes estabilidade e resistência. O nome foi emprestado por Carlos Castañeda e seus discípulos para batizar a sua nova abordagem e decodificação de um conhecimento milenar, que descende dos antigos xamãs, feiticeiros e guerreiros, também chamados “homens de conhecimento”, habitantes da região onde hoje ficam o México e outros países da América Central. Práticas corpóreo-respiratórioenergéticas que datam de até 10.000 anos atrás, descobertas e acessadas pelos antigos xamãs em transes,

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estados alterados de consciência e através do sonhar. O intuito destas práticas é desenvolver a percepção e a conexão do corpo físico com o corpo energético, acessando, redistribuindo e armazenando energia vital disponível, bem como limpando o elo com o “intento”, ... uma força imensurável e indescritível... absolutamente tudo o que existe no cosmo inteiro está ligado ao intento.. . Elas foram ensinadas a Castañeda pelo índio yaqui Dom Juan Matus e eram chamadas de Passes Mágicos. Através do trabalho de difusão e popularização dessas práticas, Castañeda experimentou novas configurações energéticas, criou novas pontes conceituais e deixou discípulos e praticantes que formam uma rede global de proteção, manutenção e desenvolvimento desse conhecimento.


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mandala a mandala de cinco pontas que é nosso corpo “visível” pode desafiar a si mesma e, revelando-se mais, liderar o movimento de quebra de ilusões mentais ligadas à separação, à densidade. A estrela de cinco pontas tem em sua forma o sonho e a força para ser ponte. No tarô, um dos nomes do quinto arcano é o pontífice.

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háhá impass impasses ,

sem dúvida, na hora de suportar o vazio de um gesto, aguardando que a energia preencha o vão, para em seguida saltar o salto que some no espaço e se transforma em canção, em palhaçada, em vida melodiosa. Ter a oportunidade de respirar cada segundo correndo o ar pelas veias, pelas células, pelo olhar, é para quem sustenta ser a si mesmo sem perderse do mundo. E, generosamente, ainda oferece o sabor da co-criação. Nesse diapasão, Castañeda encarna uma fagulha de seu espírito nos corpos livres que sentem que sentem o que sentem e provocam o inesperado que os espera, usufruindo da matéria e entregando a forma para o eternamente dissolúvel.

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fios de energia fios de energia Sigo uma linha tênue delicada fio de teia de aranha Que sai de meu corpo Sigo com minhas mãos receptáculo Teço com os fios Fibra a ser manipulada De tamanha beleza Brinco de enrolar e esticar Cobrir e descobrir Meu corpo recebe e distribui A natureza.

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eles vinham eles vinham correndo. Não vinham da cabeça, mas de algum lugar fora dela. Fora da cabeça, debaixo dos pés, de trás das costas, por cima dos trapézios, pelas narinas, pelos olhos (fechados ou abertos) e pela frente do coração. Não corriam exatamente, mas vinham rápidos e firmes como longos Dragões Brancos que serpenteavam no céu de um passado. (seria bom ter um pincel na mão). Vinham de linhas de luz.

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deito em mim deito em mim tarde após tarde sabendo que meus passos me guiam, me deixo levar. Algumas dúvidas vêm mas logo vão pois nuvens não cabem no deserto. O céu é límpido, e só assim para acontecer o que deve acontecer, e eu perceber.

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sou energia sou energia Água transborda pelo meu ser Vibro, ondulo, sigo, estanco, transmuto Pingo, Caio, choro, circulo, transbordo Busco na fonte sagrada, me encontro Me acho e sou eu Círculo pelo fluxo eterno do meu ser Consagro meus líquidos e transbordo Amor.

Sou eu Sou eu Eu Eterno ser Transparecer Circular Transformar Mar Do Meu Ser

Me movi com a energia do solo Busquei a flexibilidade da água Sua fluidez Me movi De gota em gota Pulei, subi e desci Fui água Líquida Pura Lívida Energia Sutil Doce Delicada.

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do processo do processo a literatura a cada livro que terminava de ler ficava mais profundo o mergulho/BMC transformava meu olhar com o meu corpo/RESPIRAÇÃO Sokushin Kokyu Ho (respiração pela sola dos pés) era um momento em que todas as informações eram organizadas seja ela da leitura, do BMC, do contvato improvisação, era um escaneamento energético/CONTATO IMPROVISAÇÃO um entendimento do peso, do espaço, do que é meu e do que é do outro, até onde eu vou com o meu pensamento corpo / DEITAR, isso mesmo deitar o corpo no chão e entregar para o chão, e não fazer mais nada... não fazer mais nada e acreditar que isso é trabalho. Sim, é trabalho, e um trabalho de grande valia, um momento em que o corpo restaura, se

integra com a vida para além de um processo criativo, artístico, em que até meu corpo dormiu... sim, o corpo precisa descansar, mas com o decorrer do tempo era aprender a entregar o corpo e não perder a consciência... pra onde vai o pensamento?/ AIKIDO, momento no qual nos conectávamos com o movimento do outro/CONVERSA NA COZINHA, um momento delicado, cotidiano, quando podíamos falar do processo, do que íamos fazer, e até mesmo jogar conversa fora, para mim, um lugar sagrado. Peço licença para usar uma frase de Guimarães Rosa: “felicidade se acha é em horinhas de descuido”. Agradeço a Isabel Tica Lemos e a meus companheiros desta jornada da qual fiz parte por um período

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hoje hoje

a aula é sobre os órgãos que também participam do sistema endócrino, baço, fígado com sua linda vesícula biliar e pâncreas, fofo e amarelinho, ele próprio gordurinhas, fabricante de pré-enzimas, e como quase todos eles enviam químicos para o duodeno e intestino e como o fígado recebe químicos do intestino e de como o fígado é praticamente um milagre da existência, a mais alta tecnologia farmacêutica, a pobre indústria farmacêutica mundial é uma cópia pobre dessa realidade. Vamos ouvindo suas peculiaridades, formas, texturas, funções e para aprender a ser de fato, às vezes deitamos e apagamos, por exaustão de vivência, às vezes nos movimentamos, orientados a buscar a forma do órgão, ou sua função.

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sim sim

ok, passo 2, testar os microfones, reverb longo, espacializar o som Preciso chegar a acionar os portais, preciso de força-som, algo que os impulsione em um abismos e depois os transporte para outra camada sonora, preciso de várias camadas sonoras...…

meu coração meu coração Pulsa Em abundância Danço Com meu coração Com paixão.

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vinham vinham dos dançarinos, dos espreitadores!... e de mim, espreitador de mãos dançarinas, de onde saíam os desenhos pela ponta da caneta.

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vontade “a vontade entra pela barriga”, disse o feiticeiro. Primeiro, estar ali. Segundo, estar ali. Na sequência, estar com o outro que espelha. Depois, a alteridade na plateia. Cada pulo no abismo é um ato de magia, lançando mão da capacidade de transformar a realidade pelo caminho da consciência. Na espreita.

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tudo tudo

não é só o que parece. Artistas de vários tipos criam com extremo cuidado pontes e pistas para outros mundos. E é através do corpo físico que quem vê é guiado à mina de ouro de outros planos mais sutis e portanto impossíveis para o olho denso. O corpo é o fórum , anteparo, mão condutora , que revela a si próprio como portal e não paisagem final.

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d udurante rante a caminhada e na medida em que compartilhávamos as leituras dos livros, também foi ficando cada vez mais claro que a literatura de Castañeda seria para mim muito mais que uma “referência”; porque não interessaria simplesmente representar seus elementos enquanto formas externalizadas, mas sim apreender seus conteúdos, vivenciando em arte os ensinamentos mágicos ali compartilhados. A literatura de Castañeda passou a ter, então, o papel fundamental de me servir como alimento e ferramenta para mobilização e manifestação da energia em forma de arte.

Assim fui me envolvendo cada vez mais com o projeto, que se revelou pra mim, inclusive, como um terreno extremamente fértil para o desenvolvimento do meu trabalho como artista. Possibilitou-me acessar integralmente e sistematizar em pensamento meu processo de criação, abrindo espaço para novos entendimentos sobre o desenho e para a experimentação de outros formatos, suportes e materiais. Inicialmente a criação consistia em gerar imagens a partir de certo acúmulo de informações e experiências 78

resultantes da pesquisa junto ao grupo de artistas participantes de juanita. Gerar imagens enquanto um “resultado” -- não no sentido projetivo, de uma elaboração racional do que elas viriam a ser, porque o improviso é a característica fundamental do meu trabalho, mas como o ponto auge de um processo -- parecia ser o objetivo da minha participação no projeto e era como eu me relacionava com ele num primeiro período. A partir do momento em que comecei a desenhar durante os ensaios, já não mais me entendendo como uma observadora externa, quase que como apêndice do processo, mas sim como “observadora componente” do ambiente instaurado pelos corpos em movimento, estando eu performaticamente em ação, o ato criativo ganhou, no meu entender, o tal status de “auge”. Com essa mudança de paradigma interno, o desenho passou também a ser dança. Então os papéis de suporte cresceram para receber o movimento mais amplo do corpo, apareceram materiais mais adequados à nova agilidade e escala do desenhar. Formatos novos chegaram, o caminho se abriu.


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antes antes do movimento: vibração

Sensações indescritíveis, de primórdios, lembranças muito antigas, uterinas Paz. Como se acompanhasse em consciência a formação do meu ser, visto de dentro fora. Uma estrela na água. Capacidade de alcançar, um movimento leva ao outro, passa pelo meio, expande, alcança. Possibilidade de tudo. Percepção do interno infinito.

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outro outro nome e abordagem que vem se desenvolvendo à partir dos Passes Mágicos/ Tensegridade, é o chamado Being Energy, que, sob os cuidados de dois discípulos de Castañeda, um deles médico, busca sistematizar e dissecar a infinidade de movimentos, respirações e detalhes imagéticos, cinestésicos, sensoriais e biológicos destes passes, organizando-os de forma mais didática, tonal e científica. Em dezembro de 2014, eu e outros integrantes do núcleo juanita viajamos para a Chapada Diamantina – BA, para encontrar Daniel Eremkim, baiano, professor licenciado de Being Energy, praticante e pesquisador dos passes mágicos e tensegridade, além de um “nagualista” com tendências radicais de auto isolamento e de imersões de auto-conhecimento na natureza selvagem. Daniel, que já havia estado em São Paulo em duas oportunidades ministrando treinamentos para o núcleo juanita ao longo do processo deste projeto, formou, há muitos anos, uma comunidade, num ponto isolado da Chapada chamado de Cercado, ao pé do Morro do Camelo, que praticava os preceitos do chamado “caminho do guerreiro”.

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2

Anotação

2

Ventos soprando pelas folhas, num ritmo, ao fundo um cantarolar, uma melodia ao longe, o apito de uma sirene de fábrica, o som de um lamento, um gemer baixinho, choro, soluços, gargalhadas, um assobio que parecia estar em todos os lugares ao mesmo tempo, então nada parecia ter mais tempo.

Ok, eles parecem um pouco temerosos, mais uma explicação sobre a natureza, acho não vai ser por aí, preciso testar o plim, acho que com a câmara de echo vai ficar potente, será? Não sei, mas é isso temos para hoje. Meditação e quando eu quiser começa, primeira vez, ok mixer , ok kaoss, ok iPhone

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ali ali

naquele estúdio vi tudo. Os guerreiros brancos sendo varridos, numa espécie de purificação. Células espíritos feiticeiros, limpando, curando, benzendo outras células espíritos guerreiros. Quando os percebi, quando acessei aquelas ações e sentimentos da vida batalhando minha vida dentro do corpo, a labuta dos seres brancos para manter a saúde dentro do desequilíbrio, para ajustar a energia das mil naturezas internas e externas invasivas, senti uma ira pelo que me atingia, depois uma fúria em luta e capacidade, um sentimento de tomar posse de mim, e então o júbilo do despertar e do prenúncio de mudar e assim me vi gritando com uma voz de não sei onde, xingando e afirmando o que é e o que não é, às vezes puros sons de guerra e luta e ordem, e às vezes tudo isso em sonoridades cantantes…

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uuuuuuhhhhhhuuuuuuu, êêêêêhhêê, iiiiiiiiiiisshhiiiii…

enquanto o corpo em movimentos vigorosos batia os pés no chão, de forma alternada, os braços se moviam, ora muito veementes para o chão, ora para o espaço e o alto, ora em círculos e giros, ora retilíneos, tudo era espada e então ajoelhava e tremia e cobria os olhos com os dedos ou os braços e respirava enquanto algo pedia tempo de ordenação, os dedos das mãos às vezes muito esticados, às vezes o mindinho, anular e dedão dobrados enquanto o indicador e o do meio perfuravam o espaço ou o meu corpo e limpavam tudo, os pés solidamente plantados, as pernas eram de potência. Definitivamente chamo


isso de catarse, de incorporação de si próprio, de uma dança de feitiçaria. Isso também dá um tilt energético no sistema, mas dessa vez, o tilt era de retomada de rumo. Em vez de exaustão, circulação, energia. Quando achei que tinha ido no topo e estava pronta para encerrar o expediente, veio o tempo de

experienciar o pâncreas. Mas esse, por hoje, foi de uma suavidade química. E ali quando o baço, o fígado e a vesícula biliar se encontraram tive acesso à percepção mítica de um conselho de sábios. Vou dar início a outra(s) experiência(s) num encontro(s) terapêutico(s) só que dessa vez em sistema nervoso.

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por que por que a obra de Carlos me é tão impactante? Por que fala tão fundo ao meu coração, ao meu espírito? Por que consigo sentir, ver, perceber tão verdadeiramente, em mente sã, conscientemente, a concretude e realidade de muitas das crenças, atos, pensamentos e instruções que estão na obra e que dialogam com tudo que eu venho praticando e pesquisando nos últimos 20 anos? Será que é tudo fruto da minha própria imaginação, sendo moldada e moldando meu corpo e minhas percepções? Ou será que meus

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aparelhos e instrumentos perceptivos e sensoriais estão se desenvolvendo e refinando minha capacidade de perceber fenômenos e consciências que existem (nagual), que são reais, mas invisíveis e imperceptíveis à percepção comum, à atenção cotidiana (tonal), da vida? Como não sou nem cientista, nem religioso, sendo artista não me preocupo com a resposta. A imaginação é meu material de trabalho, é uma ferramenta das mais poderosas, e também cria (ou capta?) mundos tão ou mais reais que qualquer realidade ordinária compartilhada.


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olhei olhei

para dentro e me vi crescer em um meio aquoso. Não tinha nada e fui começando a ser. Do nada, aos poucos, fui me formando, e a cada momento, tinha a consciência do que era naquele instante, e que logo depois deixaria de ser e viraria outra complexidade. Ser uma célula só, ser duas, ser quatro, ser dezesseis. Ser um conjunto, e me mover como tal. Nascer da vibração e pulsar, em consonância. Quanto poder há aí! O seu ser vibrando, pulsando em crescimento. Ter entrada e ter saída. Ter centro e extremidade. Me mover, estender, alcançar. Integrar.

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eles eles

saíam pelo meu corpo, que dançava, articulado pelos desenhos, que passavam a existir nesse plano e que atingiam esses companheiros da jornada, que lhes davam novos contornos e percursos, e depois voltavam pra mim pelos corpos deles e pelos seus olhos! E esse vai e vem seguia, e o papel e o chão eram um som e uma música... e todos entravam nessa dança, nessa ciranda; e ríamos e corríamos e caíamos, e rolávamos e nos levantávamos e voltávamos a cair e a nos levantar.

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33 Anotação

Veado mágico, gemer baixinho, choro, soluços, rir, rio de gargalhadas, rir com vontade, silêncio total, o som do deserto. Deserto, silêncio, na Alves Guimarães não vai rolar... Ok Portal, conexão, observação, som – força, olhar, observar, sentir, conexão, agora, será, agora não, meditação. Não dá pra fechar o olho, um som no primeiro movimento, um som no primeiro movimento, um som no primeiro movimento. Tica... sei portal, plim, echo, volume, reverb, é preciso som, 1, 2, 3!!! Plauw!!! E som se fez, sem massagem Mano, quanta paulada.

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no mesmo no mesmo período do trabalho dos órgãos, meados de novembro, recebo uma bruxa, terapeuta, professora alemã em casa. A gente senta e vou contando tudo o que está me acontecendo, da minha quebra total... ela foi cúmplice da incorporação do baço e estou muito fascinada, contando para ela uma aventura espiritual e real sobre tiranos e escravos, sobre humanos e corruptos, sobre ingênuos e iludidos e sobre como tudo isso atua no corpo. E estou ali na expectativa da continuação do episódio baço. Mas minha voz está meio fraca e profunda – tudo certo – mas a exaustão continua presente, inclusive por estar rearranjando a energia do corpo e enquanto isso trabalhando e dançando. Mas vou tendo uma vontade de silêncio... ela vem chegando e me toca. O toque celular é bem peculiar, uma mistura de presente,

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poderoso e inexistente, não é a mão do outro, mas como o toque é direto a um existir inteligente do meu corpo. Eu poderia ir dançando e respondendo àqueles estímulos tão lindos, porque, na verdade, já eram meus próprios tecidos pulsando e se movendo, mas vem uma decisãointuição de ficar quieta, esperar o corpo sentir e se organizar enquanto eu mesma, próprio corpo, observo.


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ase noites as noites gélidas e escuras e ventosas me trazem cores, traços, sentidos. Sonho com vibrações de força que canalizadas movem-se, curvam-se no espaço. Há um soooommmm. Um soooom firme e preciso que se manifesta através de traços, de toques, de olhares.

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e então e então a imagem e toda uma percepção do grande peixe dourado e luminoso do sistema nervoso se revela, essa flor elétrica, essa mistura de velocidade estelar com o lago límpido do Taj Mahal, aquele líquido que se move com o som do universo, é tão rápido, que é um deus parado. Percebo claramente que há um estancamento do meu sistema na passagem do cérebro, do cerebelo para a medula, há um mundo ali que estava distante, um circuito interrompido e eu não estava consciente, há tempos precisando de um silêncio profundo e revisitado. Lembro da minha mãe, um mês antes, reclamando de uma rigidez na nuca, muito tensa, minha tia, sua irmã, estava numa UTI, sofrendo muito e tendo de lidar com sua passagem de morte naquela situação de medo, num habitat gelado, o corpo colapsado e sem poder de comunicação, a família estarrecida e minha mãe que vem de família espírita me diz: – É pela nuca que o espírito entra, incorpora. Se os órgãos ocuparam a frente do meu corpo, essa serpente emplumada do sistema nervoso é toda retaguarda, escuta e ação. A imagem do conhecimento silencioso, do espírito presente, antes do sangue. 99


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eentendo ntendo agora, com mais clareza, que, no meu trabalho como desenhista, “improviso” é o nome que pode ser dado à manifestação em imagem do campo de forças que se estabelece e com o qual é feita a conexão no ato da criação. No caso de juanita, nome dado à manifestação em imagem do campo de forças criado pelos artistas “aglutinadores” do projeto e todas as energias participantes, como aquelas invocadas pelas leituras dos livros de Castañeda e o público dos ensaios abertos. Ao final deste processo, passo a entender meus desenhos como cartografias subjetivas dos campos de forças que visito; ou, emprestando o termo criado por Suely Rolnik, como espécies de “cartografias do sensível”. E observo que meu trabalho como artista ganhou segurança e consequente liberdade nos seus movimentos e trânsitos de linguagem. O projeto juanita tem me proporcionado a expansão da consciência artística.

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poucos dias poucos dias depois depois fui num trabalho de umbanda, morrendo de medo de morrer. Completamente atolada nas águas e ares de nanã e obaluayê, se não morresse de pântano, morreria de exaustão, exagero de retorno, de busca e saber. Mas esse trabalho era dedicado a oxumarê e a oxum, uma renovação, chuvas e águas doces de aconchego, limpeza e renascimento. O trabalho tem uma pegada experimental, o pai de santo é um poeta, buscando as linhas verticais e também horizontais de soma dos conhecimentos. 102

Havia liberdade para deitarmos e relaxarmos - se assim quiséssemos - e assim eu quis. Resolvi que ia aproveitar a oportunidade daquele trabalho para mergulhar no meu sistema nervoso, reconstruir a conexão, me silenciar, perceber o cérebro, o cerebelo, a medula e o líquido cérebro-espinhal, ir para dentro e o sistema nervoso era a trilha. Após um alinhamento inicial dos chakras, o trabalho foi se abrindo na direção de uma linda festa catártica, danças e cantos, a experiência do êxtase.


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e eentão então se fez uma potente borda e o som começou a perfurar o espaço como se fosse um laser abrindo frestas por onde se viam fragmentos de uma outra parte da praça que até então estava no invisível e essa outra parte também começou a mover frequências que começaram a criar sons de variados pesos, espessuras e novas formas de números no espaço. Criando verdadeiras explosões de acordes quando as “duas praças” cruzavam suas realidades.

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permaneci eu permaneci como uma louca, com uma manta sobre minha cabeça para evitar qualquer imagem visual externa, qualquer distração dessa escuta de mim mesma, do canal entre o céu e a terra do meu próprio corpo e o meu próprio corpo como canal. Delicadamente, no fio da navalha do restabelecimento das minhas sinapses, fui fazendo a cirurgia de retirar os pensamentos rígidos e pré-concebidos de um diálogo com o espírito de deus ou com o meu próprio espírito. Uma experiência nada social, apesar do grupo, da força criada em um grupo.

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oo céu céu me atrai

O chão me atrai E eu voo Flutuo como se fosse cheia de hélio E estou amarrada no chão. 107


poucos aos poucos senti o relaxamento chegando, o líquido pesado da massa muscular endurecida escorrendo, os ombros abaixando, o pescoço se alongando, os braços se encompridando, a respiração mais longa e profunda, (às vezes quase desnecessária) o semblante se soltando das tensões, os lábios se amaciando, as pálpebras, as maçãs do rosto e a testa, a percepção do tubo interno se reapresentando, o silêncio chegou, mesmo que frágil, era necessária uma concentração profunda e suave para que, nesse estado todo, achasse conforto.

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nada nada

mais natural, como bailarinos, improvisadores, artistas, nós nos sentirmos atraídos pelo aspecto experiencial, material, orgânico, corpóreo, tempo-espacial, coreográfico, rítmico, estético e sequencial de todo universo mágico, filosófico, cosmológico, espiritual e antropológico da obra. Ter a oportunidade de vivenciar essas práticas na natureza, em um lugar isolado, de difícil acesso, de beleza monumental, com paisagens que remetem às muitas descrições geográficas dos livros, guiados e direcionados por um “guia”, mas não só de trilha, uma espécie de “guia espiritual”, um líder, um “nagual”, um guerreiro em seu habitat natural, seu “lugar de poder”, nos pareceu um “presente da águia”, do intento, do cosmos! Quanto a mim, me encheu de excitação, expectativa e medo. A ideia era não só praticar e estudar o vocabulário de movimentos dos passes, mas nos colocar o desafio dos grandes deslocamentos, do estar, do sobreviver. Estado de sobrevivência. Trilhas de Poder. A jornada do homem de conhecimento. Viver a obra. Inspirar e transpirar a atmosfera dos livros.

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permitir permitir de novo que a dança me atravessasse sem ideais de que o movimento tivesse que ser assim ou assado. E assim foi, tudo muito delicado, ali, percebendo as pequenas minúcias vibracionais da minha existência. De que uma expressão das entidades é também livre.

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4

Anotação

4

Som da água Chuva enfim.

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chapada

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isabel tica lemos

cristiano karnas

chegamos

na Chapada por Palmeiras e paramos no Vale do Capão, numa parte mais afastada do centro. Ficamos na casa de Patrícia, uma praticante do caminho, amiga de Daniel. Junto com ele estava Suzana, praticante de caminho e braço direito. O plano era passar dois dias no Capão e no terceiro iniciar uma viagem de 5 dias, ao Vale do Paty. Sendo um dia indo do Capão até o Vale do Paty, três dias pra explorar o Paty, tendo a casa de nativos como base e um dia pra voltar do Paty para o Capão.

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iramaia gongora

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a ideia

era não só praticar e estudar o vocabulário de movimentos dos passes, mas nos colocar o desafio dos grandes deslocamentos, do estar, do sobreviver. Estado de sobrevivência. Trilhas de Poder. A jornada do homem de conhecimento. Viver a obra. Inspirar e transpirar a atmosfera dos livros.

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após

uma prática, entramos, todos muito animados na trilha para o Paty, era dia 11 de dezembro de 2014 por volta das 7:30 da manhã. Cada um caminhava com sua mochila, com roupas, saco de dormir, barraca, utensílios pessoais. A mala havia sido checada pelo nosso guia, para não carregar peso extra, barracas foram testadas para ver quais seriam levadas, e para aprender como se montava e desmontava, a fim de termos alguma familiaridade, caso tivéssemos pressa por alguma razão.

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aaahhh

– Aaaahhh!!! Este peso está bom! ele disse - e colocou uma mochila com mais de 25kg nas minhas costas, calculando as coisas que havia levado comigo e pesado no aeroporto, tirando o supérfluo e mantendo o essencial, acrescido de barraca, saco de dormir, colchão inflável, lanterna, canivete, utensílios de caminhada e acampamento, além de parte da comida distribuída para seis pessoas em cinco dias de trilhas de poder.

mas

enquanto lembro, a memória me estica a mão e lá estou: caminhando, subindo e descendo cinco dias em direção ao vale do Paty, sendo absolutamente atacada por belezas visuais, sonoras, perfumais, texturais e emocionais. Montanhas, chapadões, capins, verde, verde e verdes, flores, vento, aguas, pássaros, lagartos, o sol, o sol, a imensidão, a imensidão, as nuvens, a(s) luz(es), o andar do dia.

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caminhar:

mover corpo no espaço. Atravessar, deslocar, peregrinar. Prosseguir, dirigir, difundir. Pisar por lugares onde passos já foram dados. Sair de casa, deixar a família e por 10 dias mergulhar no desconhecido. Adentrar seres tão antigos, que já estiveram no beira mar, e hoje o mar é verde, de mata habitada por tantos seres. Ter em nossa palheta os infinitos tons de azul, verde, marrom, cinza e branco. E trilhar. Percorrer.

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meu deus o que foi mesmo que pensei?: – por que não tem boi aqui? – porque aqui é uma reserva, um parque. Não tem boi aqui!

eu também

ir

Deslocar-se. Chegar. Não ao léu. Não a passeio. Um propósito definido, sem a menor ideia do que vai acontecer. Espírito inflexível. Desejos flexíveis, maleáveis, mas certeiros como a flecha do arqueiro zen.

pensei: – Que felicidade, que felicidade, que felicidade!!!, – não vou aguentar, terei bolhas? E pensei isso muitas vezes enquanto andava, via, ouvia, cheirava, sentia, percebia e o corpo sendo o receptor daquilo tudo, enquanto o corpo se aquecia, enquanto o fogo atingia seus limites, enquanto administrava milimetricamente e morria de prazer nisso, a velocidade, o peso, a reserva de energia, como romper os limites da reserva e saber que esse é um portal, um objetivo.

destonalizar Esvaziar. Silenciar. Parar os diálogos internos. Estar na natureza, por si só, já renova a energia, desestressa e ressintoniza os sentidos, mas quanto mais conscientes estamos e mais intentamos esta conexão, mais poderoso é o efeito. O lugar é um dos mais lindos em que já tive a felicidade de estar. A vibração das pedras é hipnótica, magnânima e misteriosa.

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anda,

vai, se desloca, o tempo, o espaço e o corpo é que vão fazer, mas você própria, só pode não-fazer. A chapada, com seu desvelamento falou comigo, e o que foi mesmo que ela está dizendo?

atravessar

o rio e iniciar a trilha de subida. A esta altura estamos todos mais silenciosos e, quanto a mim, posso afirmar que bem próximo de conseguir parar totalmente meus diálogos internos. Tarefa árdua.

a subida

do morro do Castelo foi sendo o coroamento de todo aquele propósito, todo aquele desejo. O som da araponga era uma catapulta certeira, era um verdadeiro choque de energia e naquela manhã eram algumas arapongas cantando, então o efeito tinha um cânone e o diálogo tão intenso com a mata e a proximidade da montanha eram avassaladores.

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ver

a abundância e a imensidão desta Terra. Ter a justa medida da nossa pequeneza, perceber como somos nada.

subimos

o Castelo. A natureza é generosa e nos auxilia o tempo todo de nosso trajeto. Raízes saltam da terra para nos apoiarmos, troncos de árvores já antigas oferecem ajuda, rochas abrem sulcos para nos segurarmos. O tempo todo a generosidade e grandeza da Mãe Gaia se faz presente.

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a subida

é lenta, mas contínua, ritmada, prazerosa. Mata densa, generosa, com muitas árvores, galhos, cipós e raízes revestindo o morro de pedra. Sentidos expandidos ao extremo. Um cheiro profundo de floresta, os sons criam uma atmosfera mítica, especialmente o canto da araponga que lembra uma bigorna de um ferreiro medieval e também um pequeno gongo de metal utilizado no teatro tradicional japonês. Hipnótico. A vibração causa um afrouxamento do ponto de aglutinação. Sobe, sobe, sobe. Pedra, água corrente e céu.

o ser pedra

daquela dimensão, se apresentando, era naquele momento como realmente ver uma força a qual, eu, de olhar, tinha medo de cair para trás. Sabe aqueles momentos em que o silêncio é a única coisa que lhe resta? é mais do que isso, o silêncio acontece com a força esmagadora da beleza, da imponência de algo sem nome e além de tudo, o ser pedra era rosa.

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depois

de horas chegamos. Passando pela porta de entrada, uma caverna fria, escura e profunda. Lá silenciamos o que ainda não havia silenciado. Uma bica de água límpida brota das pedras e nos sacia a sede.

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ao chegar na entrada da caverna do Castelo, a vista era para além do que eu pudera imaginar, desejar, apesar dela vir se prometendo, chegar a ela é um golpe de energia. À frente uma dimensão de distância e grandeza e atrás uma sombra, uma entrada, um mistério. Após um longo momento de êxtase, adentramos o mistério, era como entrar dentro do ser pedra, o real simbólico me deixou muda, mas mesmo assim pensava: estou dentro da montanha, como isso é possível? E lá dentro, água, areia, um grande salão, e um caminho que levava para algumas saídas após um verdadeiro breu. Um breu no céu, dentro do ser montanha.

quando era lindo

havíamos chegado em um lugar sonhado, esperado e era exatamente isso, estávamos dentro da vida, dentro da imagem literária, tantas vezes descrita.

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enfim alcançamos o pico mais alto, ficamos estarrecidos com a vista e a força do lugar, ficamos um tempo absorvendo em silêncio meditativo até explodirmos em choro coletivamente.


seguimos

por um caminho mais agudo, de difícil passagem, rochas íngremes, que nos desafiam em nosso foco. Para seguir é preciso atenção e precisão. O caminho se abre para a concentração. Chegamos ao topo do mundo! E ao lado vemos outro topo do mundo, e outro e mais outro...

olhei

ao redor, o que vi não tenho como descrever em palavras que não dão conta da majestade.. Olhei ao redor, e as lágrimas vieram com tamanha intensidade e sem nenhum aviso e me pegaram nua de minhas máscaras. Era emoção pura de amor por esta terra. 127


o momento

mais emocionante de toda a viagem. Dançamos com os figurinos dos ensaios abertos, filmamos, fotografamos, nos abraçamos e recapitulando nossas trajetórias individuais com o projeto juanita, silenciosamente entendemos, ou simplesmente sentimos um sentido mais amplo no porquê de estarmos ali.

o propósito foi totalmente preenchido, minha expectativa sede fora totalmente saciada, fui além do além.

foi real

Dançamos e já nem era mais dança, era pura feitiçaria.

como

foi mesmo que cheguei ali?, como foi mesmo que saí dali? Com os pés, andando cheguei, andando saí. 128


chorei

Pensei em todos, e fui aos poucos levando todos para lá, para o topo. Um a um. E respirava aquele ar e sentia o vento em minha pele e dançava.

dançamos Caminhamos 10 dias para um ensaio de 20 minutos.

e até agora posso dizer que este foi o ensaio mais e lindo e poderoso da minha vida.

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contra e contra a escuridĂŁo, o caminho sinuoso, subia e descia e voltava a subir, e era uma estrada-pista macia, larga e luminosa que era a borda de uma pĂŠtala da Rosa MĂ­stica.

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abro abro

os olhos e o sol brilha baixo, alvorecer. O céu multicor, vermelho, púrpura, lilás... e pra trás a Lua minguante com algumas estrelas, em tons de azul. Posso tocá-las, posso senti-las em mim. A areia que piso parece mais fofa e mais acolhedora, parece engolirme. Me ajoelho para senti-la com as mãos e pernas, quando me percebo estou sendo abraçada por Deus.

ccaso aso

se pudesse enxergar os fios de energia que formam tal campo e que são aglutinados pelo olhar de quem desenha, então se veria em holograma o que se vê em duas dimensões no desenho-físico: desenho-dança é representação gráfica da holografia invisível gerada no improviso, manifestação corporificada do sensível . Três dançarinos, doze aglutinadores, o público; também tudo o que é invocado e evocado nas leituras de Castañeda; e seus conteúdos profundos, seus ensinamentos mágicos: os desenhos que nascem em juanita são cartografias subjetivas de cada encontro. 133


pentagramas os pentagramas ,

os corpos, dançam por serem de natureza criativa, criadora, de criança extrema, inventores de formas, ângulos, ideias.

Os pentagramas dos brujos de juanita vão trabalhando para tecer e concretizar essas liberdades esquecidas.

e não há um fim

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juanita revista é uma composição a onze vozes que pode ser lida na ordem proposta, em que as narrativas individuais se entrecortam. Outra opção de leitura é percorrer cada voz em sua continuidade, pulando páginas em busca da sequência. Para esta leitura contínua, cada voz se identifica por uma combinação fonte + cor, evidenciada em um destaque do texto:

andrea drigo bettina turner bianca turner cris bacelar cristiano karnas eugênio lima georgette fadel iramaia gongora

Na sessão chapada diamantina abre-se uma excessão, são apenas três vozes, identificadas pela coluna em que se posicionam na página.

isabel tica lemos s tortuosas a s ú nicas, por veze h n i l jerusa messina e libero malavoglia 136


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crĂŠditos das imagens Catarina Assef

Clara Figueiredo

Daniel Lins

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Fernanda Brito

Guilherme Castoldi

Manu Costa

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Vitor Vieira

still do documentรกrio juanita

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Jerusa Messina

fotografado por

Vera Albuquerque

Libero Malavoglia

fotografado por

Vera Albuquerque

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ficha técnica do projeto direção do projeto isabel tica lemos dança-espreitadores cristiano karnas iramaia gongora isabel tica lemos aikido, espada e bastão isabel tica lemos being energy daniel eremkin bmc tarina quelho contato-improvisação gisele calazans palhaço cristiane paoli quito respiração keizen ono shihan voz

iluminação ciro godoy direção de arte bianca turner figurino éder lopes consultoria artística georgette fadel vídeo documentário catarina assef cecilia engels design gráfico anna turra website ruth trosman direção de produção natália reis

andrea drigo

música e desenho sonoro andrea drigo eugênio lima artes visuais jerusa messina libero malavoglia

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dramaturgista ana roxo

produção executiva juliana osmondes produção gaia ki produções artísticas


ficha técnica da revista editor ana roxo projeto gráfico e edição de arte anna turra fotógrafos catarina assef clara figueiredo daniel lins fernanda brito guilherme castoldi manu costa vera albuquerque vitor vieira

agradecimentos Às minhas mães Amarilis e Magda, meu pai Luiz e aos amigos e parceiros Lu Favoretto, Diogo Granato, Hugo Leal, Suzana Miranda, Sérgio Roizenblitz, Aurora e Jorge. À lei de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo, que é uma das coisas mais saudáveis em termos de cidadania e soberania cultural no Brasil e no mundo.

revista juanita.art.br 2015


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