Juremadigital 5 2015

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JUREMA

SETEMBRO 2015

PERSONALIDADE

Tadeu Alencar

GASTRONOMIA

Chef

ANDRÉA

HUNKA MERCADO

DEEMBARCAÇÕES LUXO

CIDADES

JABOATÃO

moda.com DOLORES OLIVEIRA

BRIGITTE

BARDOT JAN SOUZA, 45 ANOS DE CARREIRA

R$ 10,00

Editorial



Du Louvre

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ÍNDICE setembro de 2015 04 ÍNDICE 05 CARTA DA EDITORA

PERSONALIDADE Tadeu Alencar Vice–Presidente da Comissão de Reforma Política da Câmara Federal do Brasil MULHER & PODER Terezinha Nunes Presidência da JUCEPE — Junta Comercial de Pernambuco

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14 EDITORA DE MODA Dolores Oliveira 19 SOCIAL 3 Anos De Dreams By Lead! 20 COLEÇÃO Brigite Bardot 45 anos de carreira do estilista Jan Souza 22 “E DEUS CRIOU A MULHER” Fotografias de Roberto Portella 30 ARTESANATO Xuruca Pacheco 32 POLO AGRESTE Leopoldo Nóbrega 33 ARTES VISUAIS Beth Oliveira

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ESPECIAL gastronomia EDITORA DE GASTRONOMIA Andreia Hunka COMIDA DE SANTO Andreia Hunka VINHOS RIO SOL Ana Paula ÁFRICA A BOCA Raul lody

ESPECIAL cidades 46 JABOATÃO Maria da Penha vai a Escola

SESSÕES

50 ECONOMIA CRIATIVA Beto Azoubel 52 SUSTENTABILIDADE Selva sobre Pedras 56 MOBILIDADE É de Bike que eu vou. 60 TRANSPOP Paulo Floro 61 INTERNACIONAL I Encontro Internacional de Música & Literatura Luso–Brasileira 62 ENTREVISTA Maestro Israel de França 66 CENA MUSICAL PERNAMBUCANA 68 TEATRO Paula Roger 72 CARROS Tarcísio Dias 76 MERCADO DE LUXO Recife Boat Show 80 LITERATURA As poéticas de Raul Córdula 84 CAUSOS Affonso Rique 85 SAÚDE MENTAL Bione 86 URBANISMO Estética Urbana e a Reinvenção do Grafismo 88 MEMÓRIA Abelardo da Hora 92 HOMENAGEM Selma do Coco

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REVISTA J UREMA  Setembro 2015

88 MODELO: ELENA VIOLIN (ROCK MMGT) / FOTO: ROBERTO PORTELLA

36 37 41 42

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: THIAGO CASTRO

ESPECIAL moda

22 CAPA setembro 2015 Fotógrafo: Roberto Portella Modelo: Millena Vasconcelos (Rock Mmgt) Veste Jan Souza Produção de Moda: Aleta Câmara Beleza: Gedson Moreno Assistente: Mário Herculano Sapatos: Jailson Marcos

FOTO: ROBERTO PORTELLA

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FOTO: DIVULGAÇÃO

POLÍTICA


EDITORIAL

“E DEUS CRIOU A MULHER”

A

ssim começa o editorial de moda nesta edição, com uma homenagem a Brigitte Bardot, magníficas imagens inspiradas na coleção do estilista Jan Souza pelas lentes do fotógrafo Roberto Portella. Nada a ver com luxo, é elegância, beleza natural. Assim como a revista JUREMA. Tem a ver com transformar, todos os dias, reinventar, a nossa prosaica realidade em sonho. Tem a ver com pequenos detalhes, como usar taças de cristal em um piquenique ou embrulhar lindamente um presente mais simples. Ou ainda caminhar à toa pelas ruas de Paris, a cidade onde nasceu BB (Brigitte Bardot). A revista JUREMA, volta a circular em uma Mala Direta para 3.000 leitores, e poderá ser encontrada nas principais bancas de revista de Pernambuco. O título teve a sua circulação interrompida ao completar 1 ano de vida. Promoções e novos colaboradores fazem parte das mudanças na equipe da revista JUREMA. Juntam–se a ela Andrea Hunka (Editorial de Gastronomia), Hilton Costa (Comercial), Aleta Câmara (Coordenação) e Iara Lima (Jornalista Responsável). As mudanças, têm

o objetivo de atender melhor ao mercado publicitário. A revista volta no mesmo formato, mas seguindo um novo modelo de distribuição, que incluirá o envio de exemplares aos 3 mil leitores do Livro Sociedade Pernambucana. (Os anunciantes adoraram a idéia de enviar exemplares diretamente na casa de potenciais clientes). Nos eventos culturais, salões de beleza, agências de viagens, consultórios, escritórios de engenharia e principais bancas de revistas do estado, serão distribuídos outros 1 mil exemplares. Este ano, esta editora foi premiada com o prêmio DONA SANTA, que contempla mulheres negras que são exemplo de luta e de conquistas numa homenagem a mulher negra Latino–Americana e Caribenha. A maior expressão dessa aproximação está presente hoje no conceito editorial da revista, que reflete uma maneira de pensar muito parecida nas duas nações: a antítese das fórmulas prontas, a celebração da liberdade de escolha, a discussão sem censura das grandes e pequenas questões da vida da mulher contemporânea. Esta nova edição, que marca o início do projeto “ESPECIAL CIDADES”, é dedicada as mulheres que empreendem a partir da sua cidade, na política, no social e na iniciativa privada. Boa leitura! 

Luciana Araújo LUCIANA ARAÚJO Diretora Presidente

Setembro 2015  REVISTA J UREMA

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JUREMA DIRETORA PRESIDENTE Luciana Araújo COORDENAÇÃO GERAL Aleta Câmara JORNALISTA RESPONSÁVEL (Reportagem) Iara Lima COMERCIAL Hilton Costa PROJETO GRÁFICO & DIREÇÃO DE ARTE Roberto Portella REVISÃO Affonso Rique ESPECIAL DE GASTRONOMIA Andrea Hunka ESPECIAL DE MODA Dolores Oliveira COLABORADORES DA EDIÇÃO COLUNISTAS: Beto Azoubel, Ana Paula Crasto, Raul Lody, Beth Oliveira, Manoel Bione, Leopoldo Nóbrega e Paulo Floro TEXTO: Jéssica Pinheiro, Weslley Leal, Luciana Araújo, Meire Glauce, Monaliza Brito, Affonso Rique e Tarcísio Dias. FOTOGRAFIA: Roberto Portella, Haroldo Matias, Rinaldo Marques PRODUÇÃO DE MODA: Aleta Câmara CORRESPONDÊNCIA CEL — Casa dos Escritores e Livros LTDA. CNPJ. 13.044.894/0001–63 Rua da Santa Cruz, 158, Boa Vista, Recife/PE. CONTATO revistajurema@gmail.com FONE: (81) 3222 2037 / 99811 3391 FACEBOOK: https://www.facebook.com/RevistaJurema https://www.facebook.com/pages/CEL-editora/338560052882090 INSTAGRAM: @revistajurema IMPRESSÃO GRÁFICA: Gráfica FLAMAR Tiragem 4.000 exemplares. A revista JUREMA é uma publicação bimensal da CEL EDITORA Os textos e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista JUREMA É proibida a reprodução de textos e fotos sem autorização expressa.


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PERSONALIDADE

FOTO: MARCELO LOUREIRO/ PHOTONEWS

FOTO: MARCELO LOUREIRO/ PHOTONEWS

FOTO: DIVULGAÇÃO

CONTRA A

CORRENTEZA?

Representante da Comissão de Reforma Política, o deputado TADEU ALENCAR enfrenta em seu primeiro mandato a força de uma oposição, que busca colocar seus interesses acima da Democracia

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Protagonista de uma das mais importantes pautas do ano na política brasileira, o Deputado Federal, Tadeu Alencar (PSB) traz no sangue a força do sertanejo, necessária para enfrentar os desafios que deve enfrentar pelos próximos três anos de mandato. Relator do projeto de Reforma Política para o país, o cearense, radicado em PE, Francisco Tadeu Barbosa de Alencar nasceu em Juazeiro do Norte (CE) em 1963. Ao lado de oito irmãos, o jovem teve uma infância tranquila – a despeito de seus conterrâneos , e hoje nutre lembranças de seu passado, que semearam nele suas primeiras noções de injustiça social. Membro de uma família com forte DNA revolucionário, a inclinação para a política despertou no rapaz ainda na adolescência. “Bárbara de Alencar, minha tia–pentavó, foi a primeira presa política do Brasil em 1817; e meus pais participaram ativamente da política local e estadual. Mas o que me marcou mesmo foi ter participado da organização e recepção de Miguel Arraes no seu retorno do exílio”, relembra Alencar, à época com 16 anos.


FOTO: ROBERTO PEREIRA JR.

não é negar outras. Dialogar, ouvir, são coisas fundamentais”, afirma o deputado, cuja vida sindical foi talhada ainda no Tribunal de Contas (1991–1993) e na Procuradoria da Fazenda Nacional (1993). Militante convicto, foi ao lado do então Governador Eduardo Campos que Tadeu Alencar galgou seus primeiros voos mais altos na política. A convite do ex–líder de governo em PE, durante sua primeira gestão (2007–2010), Tadeu ocupou o cargo de procurador geral do Estado. No segundo mandato em 2011, o parlamentar assumiu o cargo de Secretário da Casa Civil, para então em ser eleito Deputado Federal com 102.669 votos em 2014. “O Governador Eduardo Campos nos restituiu o sabor pela boa política. Participar do seu governo foi uma rica experiência. Ele era um Estadista que foi interrompido

brutalmente em seu destino”, lamenta Alencar, a respeito de sua estadia ao lado de Campos, vítima de um acidente de avião. Quase um ano após a tragédia de Eduardo, a experiência adquirida por Alencar ao lado do ex–governador é posta à prova. Um dos membros responsáveis pelo andamento da Reforma Política–projeto que sai da gaveta depois de 20 anos—, Tadeu enfrenta uma oposição forte, empenhada em passar por cima da Comissão de Reforma Política. Leia–se, neste sentido, a tentativa do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha e seus apoiadores de ‘burlar’ o texto da Comissão e votar pontos da reforma política, como o apoio de empresas privadas a candidatos durante as eleições, a seu bel prazer, com pouca ou nenhuma avaliação prévia. Elaborado com afinco pelo deputado há cerca de três anos, o relatório versa sobre o mandato de cinco anos sem direito à reeleição; o financiamento público das campanhas eleitorais; tempo de filiação partidária, marketing eleitoral, entre outros tópicos. Alencar afirma que o objetivo da comissão é diminuir a influência do poder econômico, reduzir a fragmentação partidária e aprimorar a Democracia. “Infelizmente pelo andar da carruagem da reforma política não estamos vendo consolidadas as mudanças desejadas mas ainda temos vários rounds pela frente”, desabafa. Enquanto esse capítulo não termina, Tadeu Alencar se firma em um partido que perdeu seu expoente e padece de líderes como Eduardo. E, mesmo vendo um momento difícil para o Brasil, com as denúncias de corrupção, desace-

FOTO: DIVULGAÇÃO

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e mudança para o Recife na década de 1980, o parlamentar cursou Direito na Universidade Federal de Pernambuco. Ainda na graduação, já participava ativamente do movimento estudantil. Atuante no Banco do Brasil (1982–1991), ele revela que foi na instituição onde aprendeu as primeiras lições da vida pública, que carrega até hoje. “Em toda minha vida profissional, estive envolvido com a militância sindical e aprendi que defender uma ideia

leração da economia, ele acredita que as instituições estão funcionando e que se a sociedade se mantiver vigilante e nas ruas, podemos esperar dias melhores. “Como pai, marido, filho e cidadão, procuro exercitar os valores que recebi dos meus pais, de respeito ao outro, exercitar o diálogo acima de tudo. Agora como um representante do povo tem a possibilidade de combater as injustiças e busco exercer um mandato sério, ético, transparente”, finaliza. 

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MULHER&PODER

TEREZINHA NUNES,profissão:

J

Servidora Pública

“Pesa sobre meus ombros a responsabilidade de ser a primeira mulher a presidir uma autarquia com mais de cem anos e que registrou importantes e tradicionais empresas da economia pernambucana.” —Terezinha Nunes

ornalista ,

deputada

estadual ,

secretária de estado, secretária

de município, ativista . Po dia ser Escritora, Professora, Administradora, e tantas outras que desempenharia suas funções no serviço público de um jeito singular: uma mistura de profissionalismo e amor. Terezinha Nunes que encerrou o mandato na Assembléia Legislativa em 31 de janeiro de 2015, mas antes ela já havia atuado na administração pública municipal e estadual em Pernambuco. Hoje é a primeira mulher a assumir a Presidência da JUCEPE—Junta Comercial de Pernambuco. Ela integra a lista das servidoras que são maioria no estado de Pernambuco na saúde, na educação e na gestão. Nestas áreas, destacam-se pela capacidade de adicionar o afeto à atuação no dia–a–dia, seja cuidando e zelando pelo outro, ensinando e aprendendo continuamente, gerindo processos e pessoas. À frente do órgão desde o dia 02/02/15, quando tomou posse para a gestão 01/02/2015 à 31/01/2019. E uma de suas metas é capacitar o usuário da Junta para se adequar as recentes mudanças, às alterações ocorridas e aos novos procedimentos adotados, devido ao fato de a Receita Federal não receber mais abertura e fechamento de empresa.Vejamos o que ela tem a nos dizer nesta entrevista...

REVISTAJUREMA: Quais os principais desafios que a senhora está enfrentando nesse seu primeiro mandato à frente da Jucepe. TEREZA NUNES: A Jucepe é uma referência nacional

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em bons serviços prestados. Estamos cuidando de avançar para novos patamares. Em primeiro lugar consolidando o propósito de agilizar ainda mais o processo de abertura e fechamento de empresas. Já é difícil manter uma empresa no Brasil então temos obrigação de reduzir os entraves para dar melhor fôlego ao empresariado do pequeno ao grande. No momento estamos abrindo e fechando empresas em apenas três dias, em alguns casos em apenas um dia. Para se ter uma idéia o Governo Federal apontou com meta nacional para 2017 cinco dias de prazo. Nós estamos bem à frente. RJ: Empresários e profissionais contábeis reclamam da exigência da Jucepe em se protocolar procurações antes de realizar qualquer ato. Porque há essa exigência? TN: Quando eu cheguei na Jucepe observei que quase todos os processos julgados em segunda instância pelo Conselho de Vogais que representa a sociedade civil na condução da entidade, se referiam a falsificação de assinaturas. Ou na abertura da empresa ou na mudança do quadro de sócios. Decidimos então exigir o reconhecimento de firma nesses dois procedimentos e só nesses. Isso visa dificultar a fraude e a abertura de empresas fantasmas. A corrupção no Brasil tem muito a ver com empresas fantasmas abertas em nome de terceiros, os chamados laranjas, é nossa obrigação com órgão público combater isso. RJ: Como a Jucepe controlava antes esta questão de falsificação de assinaturas? TN: O controle era precário porque ficava apenas na mão dos analistas que quando observavam alguma falsificação


fazendo seminários de orientação a esses profissionais em todo o estado. Já fizemos em Recife, Caruaru e Garanhuns e vamos a todas as regiões administrativas do estado. RJ: Com relação ao Projeto Integrar, que tinha como objetivo desburocratizar o registro de empresas e implantar a Redesim, já está totalmente implantado em Pernambuco? Todas as cidades estão integradas? TN: Como falei anteriormente a Redesim está tendo sua implantação concluída no estado. Hoje temos integração com os órgãos já citados e rapidamente pretendemos cumprir a meta de integrar os demais. Quanto aos municípios já estamos conectados a 24 deles, o Recife estará integrado até o final do ano e chegaremos à integração total do estado no próximo ano. É necessário ressaltar que hoje a Junta jé atende os empresários do interior através dos 12 núcleos que possui nos polos de desenvolvimento do estado. E com o mesmo serviço de excelência prestado na capital. RJ: Qual o papel da Jucepe no projeto Integrar/Redesim, como órgão coordenador? TN: A Jucepe é o órgão responsável pelo sistema Redesim em Pernambuco RJ: A Jucepe está preparada e apta para exercer essa função de órgão integrador do Redesim? TN: Está sim e a prova é o que temos feito nesse sentido. A Jucepe é tida hoje em todo o país como uma das juntas mais ágeis na abertura e fechamento de empresas e não fazemos nenhum favor por conta disso. É a nossa obrigação. Temos um órgão bancado inteiramente com recursos privados decorrentes das atividades de registro e nossos usuários merecem o serviço que recebem. RJ: A senhora é jornalista e política partidária. Tem dificuldade de comandar um órgão no qual é a primeira mulher em 100 anos a assumir o posto? TN: Dificuldades sempre temos mas quero informar que a maioria dos funcionários da Jucepe são mulheres e era natural que um dia uma mulher assumisse o posto. Agradeço ao governador Paulo Câmara pela oportunidade. No começo senti um estranhamento das pessoas dentro e fora da junta mas isso já passou. Além de jornalista eu já tinha assumido secretarias municipais e estaduais. Na gestão de Jarbas fui secretária de desenvolvimento urbano do estado. Além disso, considero que o jornalista pela visão macro que tem pode se adaptar bem em qualquer outra atividade que venha a exercer.  FOTOS: EUDES SANTANA

tomavam providências mas eles não tem especialidade para isso. Só o Instituto de Criminalista pode, em última análise, atestar se uma assinatura é falsa ou não. As pessoas lesadas recorrem a isso para provar inocência mas temos que combater o processo no nascedouro. Sabemos que o reconhecimento de firmas não é totalmente seguro mas é um entrave. Se observarmos qualquer problema daqui para a frente vamos denunciar os cartórios e eles terão que responder por isso. RJ: Um empresário ao abrir uma empresa, há muitos anos atrás, efetuou o registro de sua empresa na Receita Federal. Se hoje ele resolve mudar, alterar o CNAE, quem ele deve procurar: a receita ou a Jucepe? Ou é necessário fazer a alteração nos dois órgãos? Há prazo para fazer essa alteração ou pode ser a qualquer tempo? TN: Desde dezembro de 2012 que não é mais necessário o empresário procurar a Receita. Tudo é feito na Jucepe. Isto vem sendo proporcionado pela Redesim que em Pernambuco, por decisão do Governo do Estado, está sob coordenação da Jucepe. A Redesim tem o objetivo de transformar a Jucepe no único órgão a ser procurado para abertura e fechamento de empresas. Antes o empresário fazia uma peregrinação por diversos órgãos. Hoje quando ele entra com processo na Jucepe já é atendido pela Receita Federal—nós fornecemos o CNP—e pela fazenda estadual—recebe também na Jucepe a inscrição estadual da empresa. Até o final do ano pretendemos cumprir a meta de nos interligar com a CPRH, os Bombeiros e a Prefeitura do Recife—já estamos interligados a outras 24 prefeituras—fazendo com que tudo seja resolvido em um único lugar: a Junta Comercial. RJ: Há alguns anos atrás havia uma grande preocupação por parte da Jucepe e do Conselho Regional de Contabilidade quanto ao alto número de processos devolvidos por incorreção, entre aqueles que davam entrada na Junta para registro. Melhorou ou continua? TN: Este é um segundo ponto que estamos cuidando em resolver e as providências já estão sendo tomadas e operacionalizadas. Observamos que, embora a Junta tenha internamente adotado como meta a agilização, muitas vezes processos ficam pendentes por erro no preenchimento dos formulários que são disponibilizados pela Internet. Esses erros são cometidos pelas pessoas que dão entrada nos processos. Como a maioria é de contadores fizemos pareceria com o CRC e Sescap e estamos

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DOLORES OLIVEIRA

Empresária e Blogueira de Moda

EQUIPE: Colaboração: Jéssica de Lima e Gedai Silton Assessoria de imprensa: Unique Comunicação (@uniquecomunicacao) Fotografia: AME Fotografia (@amefotografia) Beleza: Dudu Menezes Beauty Artist (@dudumenezs)


MARIANA MENDONÇA VESTE MELK Z—DA / FOTO: ROBERTO PORTELLA

JUREMA

ESPECIAL

Moda

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MODA

DOLORES DE OLIVEIRA do Blog Donna Chic Chic (@blogdonnachicchic), é apaixonada por moda e adora compartilhar as últimas tendências e novidades do mundo fashion com seus leitores.

FESTA “LIKE A PRINCESS”

Se vestir para aquela ocasião especial deixou de ser uma missão quase impossível para quem mora no Recife. A Loja A Maison, da empresária Mary Mansur, dispõe dos mais belos modelos, inspirados nas últimas tendências em moda festa que repercutem nas capitais da moda. Segundo Mary a proposta d’A Maison é trazer vestidos mais estruturados, com tecidos encorpados, corte e elegância. Para a empresária o estilo “princesa” está em alta e peças deste modelo estão entre as mais desejadas. Transparências ainda são usadas, mas com cortes mais estruturados.

Vestido de tecidos fluidos, como o crepe georgette, deixam qualquer mulher elegante e flutuando, mesmo que com um vestido simples. Caso a ocasião peça, jóias, bijuterias ou uma clutch podem compor um look mais sofisticado.

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SERVIÇO: A Maison (@amaisonrecife) Av. Domingos Ferreira, nº 2361, Lj 02 Fone: (81) 3877–2715 (79)


MODA PLUS SIZE COM LEVEZA Para quem tem alguns quilinhos acima do padrão pode ser difícil encontrar peças que estejam em tendências e com um bom caimento. A Opulência Store, da empresária Taís Machado, é uma loja especializada em moda plus size e conta com modelitos de vários tamanhos e cheios de estilo para todos os biotipos. Taís explica que as mulheres plus size podem usar qualquer tipo de roupa, desde que prezem sempre pelo bom senso e conforto.

Truques como deixar um pouco da barriga à mostra e apostar em calças flare, alongam a silhueta e dão a impressão de que a mulher é mais longilínea. Tecidos mais grossos também são indicados para evitar marcas indesejadas.

Ela montou alguns looks com tendências para o verão, que caem bem para as mais cheinhas e podem ser usados sem medo! Se sentir bem é a palavra–chave.

SERVIÇO: Opulência Store (@OpulenciaStore) Av. Santos Dumont, nº 490, Lj 03 Fone: (81) 3125–2005 (81)

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“CRIO” SEM MEDO Criolipólise é o resfriamento da gordura localizada, de forma não invasiva, com temperaturas em torno de –5º a –15 º, causando uma inflamação na região e, consequentemente, a morte das células de gordura. O tratamento se tornou uma opção para quem deseja reduzir alguns centímetros de circunferência sem ter que recorrer a procedimentos cirúrgicos. É um método bastante seguro e eficaz que, se realizado por profissionais capacitados e com o acompanhamento adequado, pode reduzir até 17 cm de gordura. O Spazio Santé, conta com fisioterapeutas e auxiliares que garantem ótimos resultados e segurança a seus pacientes.

SERVIÇO: Spazio Santé (@spaziosante) Rua Sant’Anna, nº 222 Casa Forte, Recfe Fone: (81) 3082–7215

ACERTE NA GLADIADORA Inspiradas nos calçados da Roma antiga, as sandálias gladiadoras têm roubado a cena há algumas estações. Quanto mais altas as tiras, maior a impressão de pernas grossas. Nudes e marrons são indicadas para alongar a silhueta e as pretas garantem uma produção mais marcante. Para quem prefere um look mais sensual, as de salto são uma boa pedida. E o melhor: as gladiadoras são super democráticas e podem ser usadas por mulheres de qualquer biotipo!

SERVIÇO: Raphaella Booz (@raphaellaboozrecife) Shopping Recife, 5ª etapa Fone: (81) 3038–1144

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AS POLÊMICAS UNHAS STILETTO A unha stiletto, que tem formato pontiagudo, já foi um clássico nos anos 60 e 70, voltou com tudo nos últimos tempos e está super em alta! O estilo remete ao glamour das antigas divas de Hollywood e é ideal para mulheres de personalidade forte, modernas e exóticas. Muitas celebridades, como Lady Gaga, Rihanna, Beyoncé, são adeptas à stiletto.

Para a consultora de espaços de beleza Kalina Lygia, o toque final fica por conta da esmaltação que pede cores e tons fortes, metálicas e foscas. Nail arts com glitter, pedras e francesinha invertida também podem ser usadas. A Oh! Linda Esmalteria é especialista no estilo e conta com profissionais capacitadas para deixar qualquer mulher cheia de personalidade! SERVIÇO: Oh!Linda Esmalteria (@ohlindaesmalteria) Av. Fagundes Varela, nº380 Jardim Atlântico, Olinda Fone: (81) 3203–2977

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TRABALHO OU BALADA? VÁ DE T—SHIRT

LOOK 1: A t-shirt usada com a calça preta e acessórios com brilho criam um visual bem noturno, podendo ser usado em baladas ou eventos mais informais à noite

Para conseguir acompanhar as novidades do mundo da moda, usar a criatividade tem sido uma alternativa entre as fashionistas e antenadas da área. Uma das peças que vem ganhando espaço nas ruas e vitrines, sendo usada de várias formas, conforme o estilo de cada mulher, são as t–shirts. Segundo a consultora de moda Corina Simões é possível usar a camiseta em um look mais despojado e, acrescentando estilo e os acessórios certos, a peça pode ganhar charme e se tornar mais elegante. Confira alguns looks montados pela blogger de moda Roberta Mégda:

LOOK 2: A saia no joelho e a sandália fina deixaram o look mais clássico e elegante. Pode ser usado no trabalho, acrescentando um blazer, em um happy hour ou jantar com amigos

LOOK 3: O shortinho, apesar de ser uma peça que normalmente deixa a composição mais despojada, foi quebrado com uma bela sandália de trançada e maxi brincos modernos, deixando seu passeio ou almoço de final de semana cheio de glamour

T–Shirt TriZ R$69,90 Colar Loja Síria R$ 59,90 Pulseiras Loja Síria R$ 59,90 Calça Loja Síria R$159,90 Brinco Pedra Azul Loja Síria R$ 39,90 Saia Loja Síria R$ 129,90 Brinco Preto Loja Síria R$ 29,90 Short Loja Síria R$ 157,90

SERVIÇO Loja Síria (@lojasiria) Rua Aniceto Varejão, nº 415, Galeria New York Fone: (81) 3428–7275 18

Triz (@toptriz) Fone: (81) 9 9894–6026


SOCIAL

Carla Bensoussan

Mary Mansur

Lala K

DREAMS BY LEAD! COMEMOR A 3 ANOS EM GR ANDE ESTILO

Rebeka Guerra

A empresa Dreams de Carla Bensoussan, Jamine e Denise Tinoco comemorou três anos com festa no Armazém Blu’nelle, na noite do dia 11 de agosto. A atração principal do evento, Preta Gil conversou com cerca de 200 noivas sobre o seu enlace. A festa teve início às 19h, com recepção do Quarteto de Cordas Alexandre Lemos. Em seguida Jamine e Denise baterem papo com as meninas da Boutique de Três, Gizella Luglio, Elisa Tavares e Edda Ugolini Bauder, o requisitado maquiador Junior Mendes e o casal Preta Gil e Rodrigo Godoy. Durante o evento foi lançada a plataforma para criação de sites de eventos Invite by Lead! Ao final do painel a banda Tea at Five animou os convidados, que curtiram as delícias do buffet Blu’nelle, comandado por Leo Coutinho, além dos deliciosos doces de Lana Bandeira e Lucinha Cascão. Personalidades, fashionistas e empresários do Recife circularam na festa. Confira.

Walmir Balaca

19 Roberta Jungmann


MODA Jan Souza

Texto MEIRE GLAUCE Fotos AGENCIA GLEYSON RAMOS/FLÁVIO ALVES

Brigitte BARDOT

C

Comemoração dos 45 anos de carreira do fashion designer JAN SOUZA

apixaba de nascimento, mas, pernambucano de coração assim é João Januário Régio de Souza, que no final dos anos 70 escolheu o Estado para trabalhar e viver e se transformou no fashion designer Jan Souza. “ Senti que aqui em Pernambuco as raízes eram muito fortes e a riqueza cultural me influenciou em várias fases de minha vida profissional. Em cada coleção eu me inspirava no regional e pincelava com um toque de sofisticação”, detalha.

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O talento para a moda está no DNA. A mãe, dona Hilda Régio era modista e ele nasceu dentro desse clima fashion. Com 45 anos de carreira, Jan Souza se orgulha de todas as suas criações, verdadeiras obras de arte, pensadas minuciosamente para cada cliente. “ A própria cliente já é uma fonte de inspiração”, salienta. E inspiração é o que não falta. Jan já vestiu cerca de 3 mil noivas e incontáveis madrinhas e mães de noivas.


COLEÇÃO DE BARDOT PARA BARDOT Deslumbrante! Essa palavra define a coleção De Bardot para Bardot criada pelo estilista Jan Souza e apresentada ao público, no Club Bardot, em Boa Viagem, na noite desta última terça–feira (07). Luxo, criatividade e bom gosto pautaram a coleção que teve como matéria prima seda pura, gazar, rendas, patchworks, transparência em tecidos fluídos e encorpados, padronagem animal print e bordados. Com esse novo trabalho o fashion design ratificou a sua versatilidade quando o assunto é alta costura e provou que imprime a sua marca em todas as criações e que arrasa não só quando veste as suas noivas. Oito modelos envergaram os 16 looks criados pelo estilista e desfilaram entre os convidados. A gola role, que valoriza o rosto feminino, marcou presença em algumas peças, bem como a transparência sofisticada que insinua e não mostra e dá um ar jovial a mulher. Como o desfile era inspirado na diva Brigitte Bardot, o espaço foi escolhido a dedo pelo profissional e teve adesão imediata das empresárias Paula Ardanza e Gheuza Sena, que compraram a ideia e abrilhantaram o evento servindo um menu requintado e criado especialmente para a ocasião assinado pela chef da casa Karyna Maranhão. Os convidados degustaram quiche de alho poró, consume de batata, trouxinhas de ragu, cesta de pato, bachamel de salmão com espaguete e colher de brigadeiro com Flor de sal. Tudo divino! O cabelo e make das modelos, bem no estilo anos 70, foi assinado por Laércio AZ Studium. As modelos usaram jóias da Lubella, da empresária Bella Salles, que foi conferir in loco o desfile. Nos pés, Jailson Marcos. Um luxo! Jan Souza era pura satisfação com a repercussão desse novo trabalho e disse que era apenas o começo das comemorações pelos seus 45 anos de carreira. “ Vem mais coisa boa por aí. A ideia desse evento foi algo mais intimista mas, o próximo , será algo grandioso”, enfatiza. Pelo o que foi apresentado no Club Bardot, a partir de agora já estamos contando os dias para o novo evento desse mago da alta costura. Que venha o próximo! 

SERVIÇO Ateliê Jan Souza Rua Padre Nestor de Alencar, 2444, Candeias (81) 3469–2650

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MODA Editorial

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Fotos ROBERTO PORTELLA








MODELO: Millena Vasconcelos (Rock Mmgt) Veste Jan Souza PRODUÇÃO DE MODA: Aleta Câmara BELEZA: Gedson Moreno ASSISTENTE: Mário Herculano SAPATOS: Jailson Marcos


ARTESANATO

TUDO SE

TRANSFORMA...

F

Carioca, radicada em PE, artesã Xuruca Pacheco empresta seu talento na condução de objetos descartáveis em peças de arte Texto JÉSSICA PINHEIRO

oi no maior teatro ao livre do mundo, em Fazenda Nova, a 202 km de Recife, que Xuruca Pacheco deu literalmente seu os primeiros passos. O sobrenome já entrega sua origem. Filha de Plínio e Diva Pacheco, criadores do Teatro de Nova Jerusalém—que leva a mais de quarenta anos milhares de pessoas ao agreste do Estado para ver o espetáculo da Paixão de Cristo—, Xuruca cresceu nas coxias. Foi lá que a figurinista pregou os primeiros botões, costurou as primeiras roupas, deu os primeiros pontos de crochê. “Já com seis, sete anos, ajudava minha mãe na confecção dos figurinos para os espetáculos. Foi uma importante escola na minha vida”, relembra Xuruca. Mas antes de ser reconhecida no Brasil e no exterior por

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seu trabalho artesanal, Xuruca se dedicou muitos anos de sua vida à função de produtora, depois que se mudou para o Rio de Janeiro, ainda aos 15 anos. Atuando na produção de bandas e peças teatrais, foi ao lado do grupo MPB4, na maior parte do tempo, que ela rodou o Brasil. Só a partir de 1990, já de volta ao Recife e com o nascimento da segunda filha, que a figurinista deixou de lado a vida de produtora para cuidar da família e mergulhou de vez no artesanato. A partir dos retalhos deixados pela confecção, que mantinha em casa, Xuruca começou a produzir as primeiras peças. “Na época, morava em uma casa muito grande, então tinha uma pequena confecção montada, onde costureiras de Fazenda Nova trabalhavam. Limpava a casa e via aquele monte de retalho, foi quando decidi fazer alguma coisa com aquilo e encontrei uma forma de ganhar dinheiro, fazendo coletes”, conta. Daí por diante, a trajetória de Xuruca retoma as origens.


À frente dos figurinos da Paixão de Cristo, herdado da mãe Diva, a artista mergulhou no estudo de tecidos e materiais que melhor se adequassem às cenas, locações do espetáculo. O objetivo era dar mais caimento as roupas e assim melhorar a representação dos atores, que para Xuruca é ‘um trabalho de harmonia’. Nascia então a artista reconhecida por empregar a regionalidade em suas peças, que se tornou marca registrada de suas coleções. Paralelo ao evento, ao qual se dedicava durante seis meses do ano, Xuruca também passou a produzir figurinos para novelas, peças teatrais e espetáculos de dança. Figurinista do Homem da Meia Noite, a carioca, radicada pernambucana, é a primeira mulher a vestir um dos personagens mais importantes da cultura de PE. E, foi a partir desta experiência que ela

Xuruca na intimidade

descobriu novos materiais, como a lata, que figura como um dos elementos mais importantes de sua produção. Há quatro anos, a reciclagem passou a ganhar cada vez mais espaço nas suas criações. Couro, pet, arame, plástico, tecido, são matérias–primas para suas peças, que ganham destaque principalmente no Carnaval. “Adoro pegar lixo e encontro muita coisa bacana na rua. Tenho dois netos e me preocupo em deixar um mundo melhor para eles, mesmo que eu não esteja aqui”, salienta. Apesar do reconhecimento internacional, o trabalho não é fácil. “As pessoas ainda tem certo preconceito com material reciclado. Acham bonito, mas pensam: Por que eu vou pagar esse valor por uma lata batida”, desabafa. Mas se engana quem vê só uma lata ou retalhos. Os adereços são verdadeiras obras de arte, peças únicas. Xuruca conta que nunca faz duas peças iguais. Uma peça simples leva de três a quatro horas para ser feita, já as mais elaboradas podem levar dias para serem finalizadas. A entrevista, aliás, foi uma dessas oportunidades de conferir o trabalho da figurinista de perto. Na ocasião, ela visitava uma escola de dança, cujo figurino é de sua autoria. Os olhos atentos não perdiam um movimento sequer dos alunos e denunciavam o trabalho de pesquisa da artista, que analisa coreografias para encontrar a harmonia perfeita entre suas roupas e a dança. Um trabalho incansável dessa pernambucana que tem nas mãos o poder de transformar ‘lixo’ em verdadeiras peças de arte. 

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POLO AGRESTE

LEOPOLDO NÓBREGA é Artista Plástico, Designer, Ativista e Consultor de Moda e Mercado.

A cor da MODA!

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FOTO:ROBERTO PORTELLA

ada de Verde Esperança, Nude ou criativos, é chegada a hora de unir esforços em prol de Azul Elétrico. Para o Coletivo Criativo: soluções que possam reposicionar a produção pernamAtivistas da Moda, a tendência 2015 para bucana de confecção e instaurar uma transformação o Polo de Confecção de Pernambuco é comportamental de “dentro para fora”. mesmo despertar o segmento fashion Entre as principais problemáticas da região, vale destacar para os novos tempos! a ausência de um calendário de Acordar para os desafios que a moda moda que estimule a comunicação impõe através do seu ritmo acelerado interna e absorção das tendências em descompasso com as dificuldades em tempo real além de posicionaeconômicas e impactos ambientais do mento do polo como produtor de desenvolvimento global. “moda”. Na contramão do desenFundado em 2008 no eixo Agreste, volvimento esperado, rodadas de um grupo de criadores, empresários, negócio sazonais, reproduzem estudantes de design e volunos antigos modelos de oferta tários lançaram a primeira coleção/ pelo preço e não pelo produto. campanha com o intuito de sensibilizar A “cultura” dos genéricos vem o ambiente industrial do Polo de potencializando o velho estigma Confecção do Estado, representado que profetizou a nossa produção por mais de 20 mil indústrias localicomo “baixa qualidade” com zadas predominantemente nas cidades pouco ou nenhum impacto no e Caruaru, Toritama, Santa Cruz do meio fashion. Capibaribe, Surubim e Pesqueira. A médio prazo, práticas mercadolóNaquele momento, nascia o desejo gicas que não contribuam para um de mobilização social e ativação dos crescimento saudável do mercado podem se transformar em veneno potenciais criativos da região bem disfarçado de cura. E para quem como a preocupação com os impactos ambientais do Polo Agreste, que há já comeu muito peixe, está na hora “O Polo de Confecção do mais de três décadas vem se desende aprender a pescar! Apesar do Agreste/PE, ocupa hoje volvendo em paralelo ao mercado talento nato para o empreendedonacional de moda, ocupando hoje rismo, é fundamental estar aberto o destaque de segundo o destaque de segundo principal ao novo e acreditar que somos principal produtor de produtor de confecção do Brasil. capazes de gerar respostas mais Entre o sucesso das feiras semanais criativas, autorais, que aproximem confecção do Brasil...” que aquecem a economia e garantem o os princípios da sustentabilidade sustento de muitas marcas locais e as dificuldades compe- como eixo de um desenvolvimento saudável, despertando titivas dos novos tempos, surgem as cores sombrias da o desejo no consumidor e redesenhando uma panorâmica estação mais longa já vista. Ao passo em que as vendas de possibilidades para o segmento de confecção em diminuíram e a concorrência internacional se encar- Pernambuco. Em nome dos Ativistas da Moda, desejo regou de desqualificar gradativamente nossa produção um despertar criativo para os que ainda acreditam que por aspectos qualitativos, quantitativos, tecnológicos e somos Made in PE. A–COR–DA–MODA! 

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ARTES VISUAIS

BETH OLIVEIRA é jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com especialização em Literatura Brasileira pela Fafire. Graduanda em Letras—Espanhol pela UFPE, é inquieta, curiosa e tem paixão por artes visuais.

Mulheres

(DES) ORDEM?

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FOTO: GUILLERMO KAHLO

FOTO: DIVULGAÇÃO

agu, Frida, Rita Lee, Luz Del Fuego e “O Beijo”. Obra se transformará em uma série com 60 Nina Simone foram mulheres que, de peças, intitulada “Sem chão versus nas nuvens”. certa maneira, inquietaram e subverteram os espaços sociais e culturais onde UM SITE PARA CHRISTINA viveram. A convite do Seu Mundico, a Nascida no Pará, mas radicada em Pernambuco, Christina artista Nathalia Queiroz retratou a força Machado se conectou ao universo das artes plásticas e a vitalidade dessas mulheres a partir de 1976. A cerâmica incríveis. As ilustrações originais é o principal suporte no qual ganharam réplicas, elaboradas expressa suas inquietações pela marca de decoração que, e construções. Lançado junto à artista, criou o conceito em maio, o site da artista, estético da mostra Mulheres reúne suas obras—apree Desordem. A expô aportou sentadas de acordo com na Risoflora 147 com o eixos temáticos—e textos intuito de discutir o papel críticos, cuja curadoria das mulheres no mundo. fica por conta de Joana Nada mais justo do que D’Arc Lima, a respeiRita Lee questionar a autonomia e to de sua produção. a normatividade, através Em tempo, o conteúdo de i mpor tantes fig u ras multimídia do site é assifemininas, que fizeram questão nado pelo artista Diogo de desconstruir conceitos e Todë. Vale a pena confebuscaram exercer o máximo rir: www.christinamachado. de sua liberdade, diante da com.br. sociedade machista e patriarcal, ainda bastante vigente. As ENCERRAMENTO obras continuam à venda com o Nascida em 2006, a Revista Seu Mundico. Tatuí chegou à sua 14ª e última edição. Voltada para PARA MARCAR UMA DÉCADA a crítica de arte, a publicação Frida Kahlo Templo de exposições distintas, teve diversos colaboradores ao a Arte Plural—localizada no bairro do Recife—, longo de sua circulação. Liderada pelas curadoras comemora seus dez anos de atuação na cena artística Clarissa Diniz e Ana Luisa Lima, a revista buscou pernambucana, com a mostra “Visões do outro”. Juntos, investigar as artes visuais de modo muito peculiar. Christina Machado e Renato Valle, assinam a expô, Nesta última versão, a proposta foi pensar sobre a cuja curadoria ficou a cargo de ninguém menos que forma na arte, rompendo as barreiras tradicionais Raul Córdula. Composta por obras de um Valle que do formalismo. A revista pode ser acessada através usa grafite e agulha de crochê para as suas criações, do http://issuu.com/tatui ou adquirida a R$ 10 + frete e uma Christina, que trouxe a maquete da escultura através do email revistatatui@gmail.com. 

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ANDREA HUNKA

Coordenadora gastronômica e artística do Prêmio Dólmã (Principal prêmio da gastronomia brasileira)


JUREMA

ESPECIAL

Gastronomia


EDITORIAL Gastronomia

ANDREA HUNKA Comunicadora social, cozinheira e produtora cultural.

TENDÊNCIAS NA

GASTRONOMIA

E

vamos partir para o começo... Na busca incessante pelos temperos, pelos melhores sabores e novas maneiras de trazer a praticidade para a gastronomia, seguindo a aceleração da vida conturbada dos centros urbanos, exageramos pela quantidade e a qualidade se tornou duvidosa: os produtos e insumos se curvaram ao sabor da indústria e se renderam, ao longo desses anos, a um desenfreado ritmo de alquimia e química de conservação, coloração acentuada, perfumes e aromas falsos, onde o prejuízo só se ateve ao comensal. A sede de trazer a velocidade e a rapidez no modo de comer levou ao ser humano ao destempero de uma comida harmonizada com as piores condições e variedades de tóxicos que podemos aguentar. Isso acontece não apenas na cozinha, mas antes mesmo de chegar ao consumo as plantações passaram e passam ainda pelo constante briga entre os inseticidas, os super orgânicos, as mutações em toda a sua composição biológica e natural e as cadeias saudáveis se perderam nessa encruzilhada entre consumismo, poderio econômico e modernidade impensada. E já estamos pagando o preço dessa equação com o resultado visível do aumento do nível de doenças na humanidade. Hoje passamos por um processo de retomada, de volta à cozinha, à aquisição e ao plantio saudável, uma nova filosofia de bem estar, deixamos de querer

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a produção em cadeia, em massa, pagamos mais por uma condição de sobrevivência justa, equilibrada. A comida passa por uma nova ordem, um novo compasso: agora queremos a afetividade, os cheiros originais, a funcionalidade e a transparência do alimento, ele por ele mesmo, sem nada de super grãos, mas grãos puros com suas aparências reais... Caminhamos por uma busca, onde os cozinheiros se voltam para a construção da história, e uma história de resgatar e salvaguardar a humanidade, porque dele, o alimento, depende sua subsistência. Ervas, vegetais, o modo de cozinhar de acordo com nossos antepassados estão sendo revistos: alimentação indígena, formigas na dieta, ervas selvagens, farinha quebrada da forma mais rudimentar ganham espaço e enchem os olhos e olfatos dos consumidores. O momento é de reeducar, trazer à mesa o melhor e mais honesto insumo, ir buscar e incentivar o produtor orgânico. Valorizar o alimento como matéria prima, e as preparações como arte e identidade de um povo. A procura e a orientação por escolhas acertadas e a qualidade dos insumos, na origem, na procura do conhecimento e valorização do torrão, na experiência de quem o manuseia e no respeito e dignidade pelo ser que vai ingerir... Essas são a nova ordem, tendência e resgate, respectivamente. A busca e a retomada que há anos se perderam... Mas que podem ser recuperados! AVANTE! 


COMIDA DE SANTO Texto ANDREA HUNKA

S

agrado, misto de força e mítica, os insumos são as amarras e sentir com a alma tudo o que é vivenciar cuidadosamente escolhidos e consagrados... o que possa ser essas preparações. A verdade é que Entre uma beleza plástica e múltipla, as cores ela está, em parte, de uma forma profana, nas nossas se encontram e os sabores se condensam. mesas quando comemos os acarajés, os vatapás, o O cheiro invade o espaço e as mãos agem de forma caruru... ela está no nosso jeito de mexer, de harmouniforme... As Yabasses se voltam para a sua disci- nizar as ervas, ela está nos mingaus e papas que plina e, religiosas, cumprem preceitos e conceitos comíamos na infância... Nas cocadas, nós cortes e que transformam matérias primas em mimos e quantidades imersas nos caldeirões. avassaladoras iguarias, que feitas sobre cadência, A comida de santo está em nossa história, e dela se tira respingam gotas e soltam buquês que remetem a uma lição de respeito, devoção, disciplina, reunião, ancestralidade... Ervas selvagens trazem as raízes de religiosidade, fé, renúncia, sacerdócio... A quem a faz um povo, e toda a história que remete a primórdios. e quem dela se alimenta. Nos traduz a real interpreMomento de uma beleza sui generis. Assim é tação do alimento e de sua importância. sentido quando nos colocamos a ver o ritual e forma No terreiro, uma palavra rodeia todo o sentimento: respeitosa que um povo, uma nação se porta ao falar é o SENTIR, desde o entrar descalçar os sapatos e e conceber a alimentação num terreiro. O fato dela saber que da fonte de vida a comida tudo possibilita... ser sagrada e dela se alimentar uma E que ela deve ser dividida e que dela “...A comida de santo nada pode estragar. E que primeiro natureza, O ORIXÁ, a torna cheia de energia(AXÉ) e dela se sente o está em nossa história, há uma hierarquia, e dela não se foge. melhor que o insumo pode dar. Comida de santo, uma das primorE incontestável que essa comida e dela se tira uma lição diais preparações do Brasil, tão de respeito, devoção, rica e diversa que vários expoentes nos traz um instante mágico, uma experiência diferenciada e que disciplina, reunião, das artes buscam incessantemente invade todos os dias a nossa cozinha. entender, interrogar e colocá–la em religiosidade, fé, A história remota a isso: nossas pauta usando várias linguagens como primeiras cozinheiras, as negras, renúncia, sacerdócio.” filmar, escrever e trazer a população à substituíram as índias e na cozinha luz do seu conhecimento. Assim o faz fizeram seu elo e contato com o mundo sagrado da há anos, por exemplo, o antropólogo Raul Lody, que comida da sua ascendência com a comida burguesa, através de vários escritos, livros e palestras revela que reverenciam os salões europeus, mas a magia e essa riqueza intrínseca à nossa nação. A cineasta a majestade desse alimento suplantaram quaisquer Alice Gouveia é outro exemplo, que em 2011 se outras e das mãos que grosseiramente e desrespei- debruçou sobre o tema e teve como resultado o filme tosamente eram massacradas nas senzalas, surgiram Comida de Orixá. Muitos se colocam e se rendem a as refeições que adentraram as mesas que luziam em esse assunto, porque não obstante nos leva à nossa cristais e baixelas inglesas. Assim a comida brasileira origem e responde a nossas indagações culturais. foi sendo formada e, dela, as misturas e essências Falar da gastronomia afro é remeter a todas as nossas que trouxeram à nossa raça mestiça. mesas brasileiras e lembrar, de alguma forma, de nossa O encontro com essa cozinha foi dessa maneira, falar infância e dos cheiros que nossa memória afetiva não dessa fração de nossa mesa e dizer que ela é detentora, nos deixam esquecer. Hoje o consumo da gastronomia domina e permeia nosso dia a dia, saber que da pipoca afro e sua preparação vem, a cada dia, crescendo e às mais diversas iguarias, a nossa cozinha rende–se a sendo reinventadas, finalizadas de formas diversas, essa linguagem diversa e perfumada que é a comida mas jamais perdendo seu perfume, seu princípio, de raiz africana. Saber que parte de nossos descen- sua fonte de energia e AXÉ. Aos que ela tocam, dentes cozinhava e cozinha para alimentar e referenciar sentem o respeito e o princípio que ela carrega, a um orixá e que pelo amor e afago o mesmo retribui representatividade de todas as nações africanas, que àquele terreiro o Axé. É preciso desvincular de todas emanam bênçãos sem fim. 

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PAR A IEM A C E AN U Q

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HOMENAGEM A IEMANJÁ MODO DE PREPARO: 1. Aqueça o azeite de dendê e refogue a cebola. 2. Adicione o alho, os pimentões e os tomates. 3. Tempere com sal. 4. Lave os camarões e os lagostins com o suco de limão. 5. Tempere com sal e pimenta–do–reino. 6. Acrescente os crustáceos ao refogado de pimentões, junte o leite de coco e finalize com o coentro. 7. Para a terra: Derreta a manteiga, junte a cebola até dourar, acrescente a farinha panko e deixe dourar até ficar crocante.

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400 gr de camarão rosa limpo 400 gr de lagostim sem casca 3 colheres (sopa) de azeite de dendê 4 colheres (sopa) de cebola picada 1 unidades de pimentão verde picado 1 unidade de pimentão vermelho picado 3 unidades de tomate picados, sem peles ou sementes 1 dente de alho picado 200 ml de leite de coco 2 colheres (sopa) de coentro picado 40 ml de suco de limão Sal a gosto Pimenta–do–reino branca a gosto Acompanhamento: Terra de manteiga 2 xícara(s) de farinha panko 1 colher(es) (sopa) de cebola picada(s) 1 colher(es) (sopa) de manteiga Sal a gosto

FOTO: GREG

DECORAÇÃO: Alga kombu hidratada Esfera de açúcar para servir a moqueca.

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HOMENAGEM A OXOSSI

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MODO DE PREPARO SALADA:

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1. Junte todos os ingredientes e reserve. MODO DE PREPARO MOLHO: 1. Junte a polpa, o vinagre e o açúcar e leve ao fogo baixo por 10 minutos ou até que reduza pela metade. 2. Espere esfriar e com o garfo vá batendo e emulsionando o azeite até que fique bem homogêneo. 3. Adicione sal e junte a salada. OBSERVAÇÃO: Serve 2 (duas) pessoas e com sugestão para servir com beiju de tapioca.

FOTO: PAULO PAIVA

PARA SALADA INGREDIENTES:

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100 gramas de pato confitado desfiado 50 gramas de folhas variadas 3 flores de jambo (só tem em uma época do ano–de agosto ao final de setembro) 1/2 manga inchada cortada em cubos 2 morangos cortados em cubos PARA VINAGRETE DE PITANGA INGREDIENTES: 200 gramas de polpa de pitanga 80 gramas de açúcar granulado 3 colheres de sopa de vinagre balsâmico 6 colheres de sopa de vinagre extra virgem Sal a gosto

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HA COM ES N I L PE A C G (

MODO DE PREPARO:

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HOMENAGEM A OXOSSI 1. Matar a Galinha. 2. Cortar a galinha nas juntas e deixar marinando num bowl com todos os temperos processados (exceto cebola e coentro), prestando atenção para passar bem o tempero, esfregando com as mãos para absorver os sabores das especiarias. 3. Suar a cebola no azeite e depois acrescentar o frango refogando bem. 4. Acrescente água ou caldo de galinha e deixe cozinhar até que a carne esteja macia ao toque do garfo. 5. Sirva com arroz lavado ou arroz de coco. Rendimento: 8 porções.

1 Galinha inteira (ou frango de preferência caipira ou orgânico). 1 xícara de chá de coco ralado. 1 colher de sopa de Coentro fresco picado (raízes e folhas). 2 col de sopa de pimenta malagueta seca. ½ colher de sopa de Cominho em pó. 1 colher de sopa de Cúrcuma (açafrão da terra). 1 colher de sopa de Canela em pó. ½ colher de sopa de Cravo da índia. 5 sementes de cardamomo. ½ colher de sopa de Noz moscada. 3 col de sopa de Banha de porco. 3 unidades de Cebola grande picada. 1 col de sopa de Pasta de tamarindo (ou polpa). 1 xícara de chá de Leite de coco. 2 colheres de sopa de Amendoim picado. 2 col de sopa de Azeite de oliva. sal a gosto.

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FOTO: VICTOR MUZZI

INGREDIENTES

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O EF D A . PA U LO M ACH


ANA PAULA CRASTO É SOMMELIER PROFISSIONAL AIS/ONAV E JURADA GUIA VINI BUONI D’ITALIA TOURING EDITORI.

O VINHO DE PERNAMBUCO

FOTO: DIVULGAÇÃO

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Vale do São Francisco, 2° maior região produtora de vinhos do Brasil, 15% da produção nacional, fica em Lagoa Grande, sertão pernambucano. Estando localizado especificamente entre os paralelos 8 e 9 ao Sul do Equador, apresentando características peculiares e um “terroir” único ao mundo! Com 2 a 3 safras ao ano devido a ausência de sazonalidade, na Rio Sol é possível colher uvas em diferentes fases do ano, peculiaridade que atrai visitantes não só do Brasil, como do mundo todo. O clima é tropical semi–árido, “O Enoturismo trans- com poucas chuvas o que facilita formou a região do o cultivo da Vitis Vinífera ou seja, sertão nordestino variedades próprias para fazer vinhos de qualidade. A irrigação trazendo crescimento é facilitada por ser a região sócio econômico e banhada pelo Rio São Francisco. gerando mais de 30 O Enoturismo transformou essa região do sertão nordestino mil empregos diretos trazendo crescimento socioecoe indiretos...” nômico, gerando mais de 30 mil empregos diretos e indiretos. A vitivinicultura, ou seja, a produção de uvas destinadas à elaboração de vinhos é uma atividade recente, iniciou–se na região em meados dos anos 80, com a implantação de videiras européias trazidas do Sul do Brasil e da França.

João Santos, português é o carismático enólogo que está a frente da Rio Sol, figura muito querida e respeitada aqui no nosso nordeste. Bem em homenagem as mulheres e suas lutas hoje falarei do Vinho Rendeiras, vinho tinto meio seco feito de uvas Syrah, produzido pela Rio Sol. Notas de degustação organoléptica Vinho Rendeiras: percebi notas de frutas vermelhas pequenas frescas, taninos macios e redondos. Harmoniza com pratos leves com carnes brancas e para um simples aperitivo. Rendeiras é um vinho tinto meio seco, que cai muito bem para quem está se aproximando pela primeira vez ao mundo dos vinhos ou para quem quer beber uma taça de vinho despretensiosamente devido a sua grande bebilidade. 

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UM OLHAR ANTROPOLÓGICO DO ALIMENTO

ÁFRICA À BOCA s profundas relações históricas, culturais, sociais e econômicas entre o continente africano e o Brasil são muitas e anteriores ao processo escravagista que se dá a partir do século XVI, para obtenção de mão de obra; e, em especial, para plantar a cana sacarina e produzir açúcar. Sem dúvida, a África está presente na própria formação da civilização ibérica. É a marca dominante por mais de oito séculos com os africanos do norte, africanos muçulmanos, conhecidos como o Magreb. Assim, Portugal e Espanha têm na sua formação de seus “Portugal e Espanha têm na povos e de suas culturas sua formação de seus povos a África Magreb, que e de suas culturas a África se manifesta nos patrimônios, nos estilos, e nas Magreb, que se manifesta nos identidades que mostram patrimônios, nos estilos, e nas o Magreb na música, na comida, na arquitetura, identidades que mostram nas artes, nos idiomas, o Magreb na música, na entre tantas outras comida, na arquitetura, formas. Desta maneira, pode–se entender que a nas artes, nos idiomas...” colonização oficial portuguesa chega africanizada, repleta do Magreb. Mais tarde, esta mesma colonização chega ao Brasil com mais de seis milhões de africanos em condição escrava, isto se dá durante três séculos, com a chegada de africanos da costa ocidental, centro–atlântico, e costa oriental do continente.

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Por tudo isto, o Brasil é, no mundo, o país de maior afrodescendência fora do continente africano. Tantas, muitas e diversas, são as maneiras de se trazer a África no Brasil, aqui escolho, destacadamente os sistemas alimentares e as suas inúmeras formas, escolhas, processos culinários, ingredientes, e formas de servir e consumir comida. As muitas “Áfricas” são representadas com muitas comidas e os seus significados no cotidiano, nas festas e nas tradições religiosas. Assim, convivem as antigas e as ancestrais cozinhas africanas com as interpretações africanas dos produtos nativos. Quiabo; azeite de dendê; “grão do paraíso” que é a pimenta da Costa; inhame; obi; lelecum; bejerecum; e receitas como o arroz doce; o rghaif, que é o filhós; entre muitas outras atestam uma múltipla e complexa relação de culturas e de civilizações africanas que estão integradas aos nossos hábitos alimentares de brasileiros. Com certeza, todos os dias a África está nas nossas bocas, nos nossos sabores e nas nossas escolhas alimentares. 

RAUL LODY, antropólogo e museólogo, é criador e curador do Museu da Gastronomia Baiana (Senac Bahia, 2006), museu pioneiro na América Latina. Representa, no Brasil, a International Commission on the Anthropology of Food (ICAF). Também é criador e coordenador do Grupo de Antropologia da Alimentação Brasileira da Fundação Gilberto Freyre. Lody coordenou para o IPHAN o Projeto de Registro Patrimonial Imaterial dos Ofícios das Baianas de Acarajé.

FOTO: DIVULGAÇÃO

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Texto RAUL LODY



FOTO: MARCELO FERREIRA


JUREMA

ESPECIAL

Cidades


JABOATÃO

Projeto MARIA DA PENHA vai à escola vira ação

GOVERNAMENTAL em JABOATÃO Iniciativa do prefeito ELIAS GOMES garante que o programa tenha continuidade nas próximas gestões

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Texto MONALIZA BRITO

iente de sua responsabilidade no tocante ao enfrentamento da violência contra a mulher, a Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes implantou no município, desde 2013, o projeto Maria da Penha vai à Escola. E, agora, com o Decreto municipal Nº 122/2015, a ação é oficializada e se torna permanente na cidade. A assinatura do decreto foi feita com a presença da farmacêutica, mestra em bioquímica, Maria da Penha, inspiradora da Lei federal N° 11.340/06, durante evento alusivo aos nove anos da lei, na primeira quinzena de agosto. Dessa forma, o Maria da Penha vai à Escola, que já vinha

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sendo desenvolvido no município, ganha mais força ainda. Se fortalece, é ampliado e passa a ser uma ação governamental, podendo transpor governos e se perpetuar em Jaboatão, permitindo que adolescentes e comunidade escolar possam, cada vez mais, se envolver com a causa do enfrentamento à violência contra a mulher. “Crianças e adolescentes, ao vivenciarem experiências dessa natureza, têm mais chances de, na fase adulta de suas vidas, não reproduzirem conceitos e práticas que reforçam a desigualdade de gênero e conseqüentemente atitudes e comportamentos violentos”, ressaltou Ana Selma, secretária Executiva da Mulher, ao destacar a a importância da iniciativa tomada pela gestão do prefeito Elias Gomes.


(da dir. para a esq.): Conceição Nascimento, Secretária de Desenvolvimento e Mobilização de Jaboatão e Bianca Pinho Alves, Secretária Especial da Mulher de Paulista

Francisco Amorim, Secretário Executivo de Educação de Jaboatão

FOTOS: VALTER ANDRADE

Ana Selma, Secretária Executiva da Mulher de Jaboatão (da dir. para a esq.): Silvia Cordeiro, Secretária Executiva da Mulher de Pernambuco, Bianca Pinho Alves, Secretária Especial da Mulher de Paulista, Maria da Penha e Jaime Asfora, Advogado, Procurador do Estado e Vereador do Recife

FOTO: MARCELO FERREIRA

FOTO: MARCELO FERREIRA

Silvia Cordeiro, Secretária Executiva da Mulher de Pernambuco

Lembra ainda a secretária, que é objetivo mais imediato do projeto fazer com que haja uma maior divulgação, tanto da Lei 11.340/06 como da rede de serviços instituída no município–todos serviços que devem ser acionados em caso de violência contra a mulher. “A Lei sozinha não tem força. É preciso um envolvimento da sociedade, e na escola envolvemos pais, estudantes e professores. Temos que começar a conscientização desde cedo. É muito importante esta transformação”, destacou a secretária municipal de Desenvolvimento e Mobilização Social, Conceição Nascimento. “Estamos avançando na política pública integrada. Desde 2009 trabalhamos e desenvolvemos ações, sejam religiosas ou de cultura de paz, de forma intersetorial com as demais secretarias”, completou o secretário Executivo de Educação, Francisco Amorim. BOM EXEMPLO Durante o ato de assinatura do decreto municipal, após ouvir a exposição do projeto, a inspiradora da Lei, Maria da Penha, parabenizou a iniciativa da gestão municipal. “Jaboatão está dando um exemplo muito importante. Pernambuco está à frente de outros Estados. Somos mais de 50% da população e somos mães do restante, temos

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que saiu de uma intervenção pulverizada para uma mais focal. O objetivo é possibilitar à comunidade escolar uma maior reflexão sobre o tema, localizando as temáticas de gênero no contexto escolar, como forma de contribuir para a quebra de paradigmas reforçadores das desigualdades que permeiam a sociedade. Para esta nova fase, o projeto ganha a importante parceria do Instituto Maria da Penha, que atuará tanto na formação como combater a violência contra a mulher. A violência dos (as) educadores (as) do projeto quanto na intervenção não aumentou, as mulheres estão denunciando mais. em sala de aula, por meio dos defensores e defensoras da Alguns homens estão participando da luta porque têm Cidadania do Próprio Instituto. filhas e sabem que todas as mulheres podem sofrer este Seguindo a divisão político–administrativa do município, tipo de violência”, pontuou. que está dividido em sete Regionais (Jaboatão Centro, O Projeto Maria da Penha vai à Escola é uma iniciativa Cavaleiro, Curado, Muribeca, Prazeres, Praias e que está sendo vivenciada em vários municípios de Guararapes), o projeto atenderá inicialmente grupos Pernambuco, resultante de uma experiência desenvolvida de cinco escolas por Regional totalizando, por ciclo, o em Caruaru, no Agreste do Estado, e compartilhada atendimento a 35 escolas. A cada grupo de cinco delas no Fórum de Gestoras de Organismos de Mulheres de atendidas, será realizado um momento de socialização Pernambuco. A partir desta socialide experiências na Regional. Ao final “A Lei sozinha não zação, várias cidades foram adaptando desta etapa, compreendendo as 35 e adequando estratégias e metodoescolas, será realizando um segundo tem força. É preciso logias próprias a sua realidade. momento de socialização, agora envolum envolvimento da Ao aderir e instituir formalmente o vendo a representação das escolas das sociedade, e na escola projeto, Jaboatão dos Guararapes atende sete Regionais. ao que preconiza o I Plano Municipal Concluído o ciclo, serão agendadas novas envolvemos pais, de Políticas para as Mulheres, instituído A proposta é que cada unidade de estudantes e professores. escolas. pelo Decreto Municipal 025/2013, mais ensino que receber o projeto fique com um Temos que começar a especificamente no Eixo II–Educação Núcleo fomentador/animador para continuar Inclusiva, não sexista, não racista, não conscientização desde a promover ações sócio–pedagógicas na homofóbica e não lesbofóbica. É desta de gênero. cedo. É muito importante perspectiva forma que o Maria da Penha vai à Farão parte do programa alunos esta transformação” Escola se fortalece em Jaboatão, como (as) a partir do 5º ano do Ensino uma estratégia de governo que pretende Fundamental. Cada estudante receberá atuar na perspectiva de uma educação não sexista, baseada uma carta explicativa sobre a Lei Maria da Penha, na discussão de gênero e amparada pelos conteúdos da material referência para o desenvolvimento da metodoLei Maria da Penha, que tipifica e criminaliza a violência logia, que prevê ações interativas após os debates e contra as mulheres. atividades. Com a colaboração de um facilitador (a), Entre outros objetivos, o projeto se propõe a fomentar os (as) participantes deverão expressar o resultado das o debate sobre os condicionantes das desigualdades vivências por meio de variadas linguagens, bem como de poder entre homens e mulheres e as conseqüências organizar a apresentação da turma que será levada para dessa desigualdade para as mulheres e para a sociedade. o dia da socialização. Toda essa vivência será feita em Promoverá dinâmicas que levem à reflexão da cultura três encontros. Ajustes e complementações necessários do respeito às diversidades de gênero, raça e orientação contarão com o apoio do (a) professor (a) e o apoio sexual e contribuir para substituir práticas preconceipedagógico da escola.  tuosas por comportamentos e atitudes mais respeitosos e de solidariedade. ATUAÇÃO MUNICIPAL Já participaram do Projeto Maria da Penha vai à Escola em Jaboatão dos Guararapes 258 professores (as) e 1.920 alunos (as) de 66 escolas municipais. O programa foi iniciado em 2013. O acumulado dessa experiência foi a base referência para esse novo momento do projeto,

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ECONOMIA CRIATIVA

Cidades criativas:

O TOQUE DE TROMBETAS PARA A CRIATIVIDADE

É

Texto BETO AZOUBEL

comum ouvirmos vários conceitos que definem as cidades. Cidades industriais, cidades dormitórios, cidades satélites. Atualmente temos ouvido falar em cidades inovadoras. E, mais recentemente, sobre as cidades criativas. Mas, afinal, o que é uma cidade criativa? A expressão ganhou o sentido, conforme entendemos hoje, em 1995, através do pensador britânico Charles Landry, autor do livro The Creative City: A Toolkit for Urban Innovators (em português “Cidades criativas: um kit de ferramentas para inovadores urbanos”). Para Landry, um dos mais prestigiados consultores europeus sobre o tema, cidade criativa é um conceito positivo, já que parte do princípio que pessoas comuns podem fazer coisas extraordinárias acontecerem. “É um toque de trombetas para estimular abertura mental, imaginação e participação pública. Isso tem um impacto dramático na cultura organizacional. A filosofia é que há sempre mais potencial em qualquer lugar do que pensaríamos à primeira vista. Parte–se do pressuposto que devem ser criadas condições para que as pessoas pensem, planejem e ajam com imaginação para aproveitar oportunidades ou resolver problemas urbanos aparentemente intratáveis. Estes podem variar, de respostas à questão dos desabrigados à geração de riqueza ou à melhoria do ambiente visual”, arremata Laundry em artigo escrito em 2009. Ainda de acordo com o estudioso pioneiro no tema, as cidades criativas devem ser pensadas tanto do ponto de vista do indivíduo—na perspectiva de serem lugares que permitam às pessoas fazerem parte da criação do ambiente em que vivem—, como também pelo viés da administração pública, no desafio gerencial de encontrar soluções inteligentes e oportunidades interessantes para os problemas de suas comunidades. E, nesse sentido, já encontramos vários exemplos no mundo: Copenhague (Dinamarca) foi revitalizada em 2003 e deixou de ser porto industrial e cruzamento de tráfego para se transformar em um

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grande centro cultural e referência mundial no design; Amsterdã (Holanda), que faz dos seus artistas de rua, seus museus, suas galerias e da sua cultura das bicicletas, uma fonte de renda para cidadãos e cofres públicos; Barcelona (Espanha) que, após os jogos olímpicos de 1992, investiu pesadamente na recuperação de seu patrimônio histórico na promoção de sua imagem no exterior e na construção e fortalecimento de seus equipamentos culturais e espaços públicos (construiu até praias na cidade!); entre tantas outras que nos serviriam de ilustração. Citei cidades, mencionei termos como abertura mental, imaginação, filosofia...tudo um tanto subjetivo, mas, objetivamente, quais os fatores que caracterizariam essas cidades? FATORES CRIATIVOS Após ser cunhada por Charles Landry, a expressão ganhou o mundo e vários pesquisadores e estudiosos passaram a se debruçar sobre o assunto. No Brasil, ainda que a habitual falta de planejamento urbano aponte para o descaso com as nossas urbes, algumas pessoas, de forma pioneira e corajosamente, investiram na temática das cidades criativas. Entre esses profissionais, está Ana Carla Fonseca Reis (economista, doutora em urbanismo, consultora, conferencista e sócia–diretora da empresa Garimpo de Soluções). Em um dos cinco programas—documentais do projeto Criaticidades (cuja missão é investigar como a Economia Criativa pode contribuir para o desenvolvimento das cidades brasileiras: www.criaticidades.com.br), ela destaca três fatores que efetivamente potencializam uma cidade criativa, independentemente de sua escala, contexto socioeconômico e sua história. São elas: 1) inovação: inovações tecnológicas, sociais, culturais etc. São elas que desencadeiam os registros de patentes e novos produtos; 2) conexão: entre áreas da cidade, entre público e o privado, entre o local e o global, entre diversidades que convivem num espaço público; 3) cultura: valorização dos bens simbólicos, o impacto econômico das manifestações culturais, o ambiente


Barcelona

criativo que o apoio e fortalecimento da cultura acaba gerando nas cidades; Nessa perspectiva, destaco ainda outros três importantes atributos, que são praticamente decorrentes desses primeiros traços: 4) Talento: que pode ser observado, entre outras variáveis, pela quantidade de patentes, doutores e profissionais de setores tão variados como engenharia, teatro, biotecnologia, educação, arquitetura, moda, cinema, etc; 5) Tolerância: que pode ser avaliado no quanto secular ou individualista é a cultura de um lugar em relação aos valores tradicionais, como religião e nacionalismo. Outros valores mais “avançados” como democracia e presença de boêmios, por exemplo, podem ser incluídos nesse critério; 6) Tecnologia: que pode ser medida pelo nível de projetos de pesquisa e desenvolvimento e de inovação em ciência, cultura e sociedade. TERRITÓRIOS CRIATIVOS A pauta das cidades criativas encontra–se no Plano Nacional de Cultura (PNC). As CCs integram o que o governo federal denominou de Territórios Criativos (que além delas, podem ser constituídos por bairros e também por regiões). De acordo com o Ministério da Cultura, os Territórios Criativos são aqueles que apresentam potenciais culturais criativos capazes de promover o desenvolvimento integral e sustentável, aliando preservação e promoção de seus valores culturais e ambientais–neles podem existir diversas atividades, pois são consideradas desde indústrias culturais clássicas, como artes visuais, música e literatura, até outros setores, como propaganda, arquitetura, arqueologia e design. Os TCs estão na meta 8 do PNC, que prevê o reconhecimento de 110 territórios brasileiros com requisitos que os qualifiquem como criativos.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Copenhague

da Cultura apresentou o estudo Polos Criativos, sobre pequenos territórios criativos brasileiros. O texto trata de um conjunto de estudos resultantes de Consultoria da UNESCO junto à Secretaria de Economia Criativa (SEC–MinC). Tem como finalidade apresentar um estudo preliminar e conceitual sobre polos criativos no Brasil, tendo em vista auxiliar na conceituação e na proposição de políticas a serem aplicadas pelo próprio MinC. Além disso, nesse mesmo ano, foi realizada uma parceria com o SEBRAE, com o objetivo de estimular o desenvolvimento de pequenos empreendimentos culturais e criativos. A cooperação é fundamentada em três áreas de atuação: Gestão do Conhecimento para o Fortalecimento dos Segmentos e Territórios de Atuação da Economia Criativa; Formação em Gestão Empresarial e Qualificação Técnica de Profissionais e Empreendedores Criativos; e Promoção e Difusão de Empreendimentos e Negócios Criativos. Nesse sentido também, existe uma parceria entre MinC e CNPq, no intuito de incentivar a pesquisa sobre Economia Criativa, tendo um dos eixos temáticos para os estudos e pesquisas justamente os territórios criativos (Arranjos Produtivos Locais—APLs, cidades, bairros, polos etc). Do ponto de vista de nossas políticas públicas, estamos dando os primeiros passos no que diz respeito às cidades criativas. É preciso dar continuidade e crédito a essas ações, pois é delas que depende a economia do século XXI. 

FONTES: CIDADES CRIATIVAS—Análise de um conceito em formação e da pertinência de sua aplicação à cidade de São Paulo. Tese de Ana Carla Fonseca Reis defendida na Universidade de São Paulo em 2011. Projeto Criaticidades (www.criaticidades.com.br). Plano Nacional de Cultura (http://pnc.culturadigital.br). ROBERTO AZOUBEL é antropólogo/pesquisador e atualmente trabalha como assessor técnico da Representação Regional Nordeste do Ministério da Cultura (RRNE/MinC).

E O QUE ESTÁ SENDO FEITO PARA SE ALCANÇARMOS ESTA META? Conforme está descrito na plataforma digital do PNC (http://pnc.culturadigital.br) em 2013, o Ministério

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SUSTENTABILIDADE

Telhados Verdes

I SOBRE SELVA

PEDRAS Texto WESLLEY LEAL

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lhas de vegetação em meio ao mar de concreto das grandes cidades, os Telhados Verdes vêm se tornando cada vez mais comuns em Metrópoles mundo afora. E, nesse sentido, o Recife entra na rota de localidades como Paris, Toronto e Chicago—que já contam com ‘Tetos Verdes’, a propósito da Lei aprovada no último mês de Abril—que determina a obrigatoriedade dessas estruturas sustentáveis em prédios com mais de quatro pavimentos e acima de 400m² de área coberta. A Lei prevê a implantação de gramas, hortaliças e arbustos, bem como árvores de pequeno porte em lajes


FOTOS: DIVULGAÇÃO

de edifícios, no sentido de diminuir o impacto do calor, ocasionado principalmente pela alta concentração de estruturas de concreto e pouca vegetação em algumas cidades. O projeto tem em vista ainda a construção

de reservatórios para captação de água da chuva, em imóveis residenciais e comerciais novos, com área de solo acima de 500 m² e que tenham 25% do terreno impermeabilizado. Ponto para a Prefeitura do Recife, já que a água armazenada diminuirá os efeitos da estiagem na nossa região, sem falar que a retenção reduzirá os problemas causados pelo escoamento da chuva. “Um prédio com telhado verde pode chegar a uma temperatura até seis graus mais baixa do que seu entorno”, afirma o paisagista Marcelo Kozmhinsky. Ele complementa que é essencial o cálculo da estrutura do prédio/casa por engenheiro habilitado para poder assegurar a capacidade de sobrecarga que o peso do telhado verde irá exercer sobre o imóvel. “A impermeabilização e o tipo de vegetação adequada à localidade também são fatores importantes a se considerar antes da implantação. Plantas tóxicas, com raízes de desenvolvimento exagerado ou árvores que sobrecarreguem o peso também não são adequadas a esse tipo de estrutura”, completa. Marcelo acrescenta ainda que geralmente essas áreas verdes se situam em ambientes com muita irradiação do sol e por isso plantas que se adaptam a ambientes mais sombreados devem ser evitadas. “As vegetações que suportam maior incidência dos ventos em geral também são mais adequadas”, pontua ele. DUAS PERGUNTAS A MARCELO KOZMHINSKY JUREMA: Em cidades como Toronto houve uma redução do consumo de energia, na casa dos 1,5 mi KWh ao ano, devido possivelmente à implantação de placas para captação de energia solar. Você acha que isso funcionaria por aqui?

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MK­: Eu vi isso funcionar em Israel, quando morei lá em 1982 por um ano. Em todas as residências existiam coletores de energia solar e no inverno a água quente era fruto dessa tecnologia. Vivemos num pais tropical e numa região onde a insolação é altíssima. Não vejo razões para essa tecnologia não ser implementada por aqui. Acho que os preços dessa tecnologia aqui, no entanto, ainda são proibitivos na questão da viabilização, mas creio também que é só uma questão de tempo para ser implantada. RJ: Com a sanção da Lei, você acha que os Telhados Verdes funcionarão no Recife tanto quanto em outras cidades do mundo? MK: A Lei foi feita para ser cumprida e creio que os arquitetos que projetam e as construtoras já estão cientes de seu papel nesse novo modelo a ser adotado. Algumas iniciativas de telhados verdes já implantadas ou a serem implantadas de

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edificações existentes mostram o acolhimento dessa iniciativa no Recife. Os telhados verdes foram criados em países de clima frio com objetivo de aquecer os ambientes. Nós apenas os adequamos para amenizar o calor. TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE DE MÃOS DADAS Cravada no Bairro do Recife, a Softex— empresa que atua no segmento de software na região Nordeste—, conta atualmente com um telhado verde, que começou a ser implantado há cerca de um ano, em função de reparos realizados no terraço do imóvel, localizado na Rua da Guia. “Achamos que era a oportunidade de fazer algo definitivo. Pensamos em um espaço que pudesse ser de uso comum e para reunir pessoas”, conta Manoel Borba, Gestor de Administração e Finanças da Softex/Recife.

A estrutura com 400m² teve projeto executado por Marcelo Kozmhinsky, com plantas, mesas, cadeiras, bancos, que emolduram a vista da cidade de um dos pontos mais disputados do Recife. “É uma ação pioneira. Posteriormente soubemos que estava em tramitação na Câmara de Vereadores um projeto para tornar obrigatórios os Telhados Verdes. Acho que o impacto positivo será o de inspirar, independente da lei, outros empresários a fazerem o mesmo tipo de investimento, pois, além de trazer conforto aos habitantes do empresarial, embeleza e valoriza o empreendimento e ajuda a humanizar a cidade”, defende Borba. Sobre a implementação de placas solares pra geração de energia junto ao telhado, borba comenta que ainda não pensou na alternativa, visto que o prédio, por estar dentro do sítio histórico (Bairro do Recife), sofre algumas restrições arquitetônicas.


ILHA DO LEITE ‘VERDE’ Sexta torre do Complexo Rio Ave Corporate da Ilha do Leite, o Charles Darwin ganhará um telhado verde até meados de 2016 com 2,5 mil m² de área verde, um dos maiores do Brasil, com capacidade de armazenar cerca de 75 mil litros de água, além de sequestrar 11 toneladas de CO2 ao ano. O empresarial, que leva o nome do naturalista britânico, terá 25 mil m² de área bruta. O jardim no telhado, cujo projeto paisagístico é assinado por Christoph Jung, possuirá área com gramado e canteiros com espécies variadas. Leia–se nesse sentido principalmente um tipo de capim, que busca dar leveza e movimento ao jardim. “É mais uma maneira de levar mais vida ao concreto e bem–estar à vizinhança. As espécies escolhidas devem prever raízes pouco profundas, baixa demanda de

fertilidade do solo e facilidade de manutenção quanto à poda e geração de resíduos orgânicos e readubação.”, conta Fabian Bezerra, Gerente de Projetos da RioAve. SAIBA MAIS —A Lei sancionada pela Prefeitura do Recife nº 18.111/2015, pretende também ampliar as áreas verdes ao redor de parques e praças. Os novos empreendimentos para terrenos, ao redor de 340 praças e parques de Recife, terão que manter um recuo de dois metros na parte da frente dos edifícios para arborização; —Toronto no Canadá foi a primeira cidade do mundo a implantar os Telhados Verdes, que atualmente ocupam uma área em torno de 1,2 milhão de m² em diferentes tipos de construções do lugar. A medida obrigatória foi implementada a partir de 2010;

—Em cidades da Suíça os telhados verdes são obrigatórios em todos os edifícios novos, e na Cidade do México as pessoas que adotam esta iniciativa recebem 10% de desconto no imposto; —Copenhague tem aproximadamente 20 mil m² de Telhados Verdes, o que corresponde atualmente a 30 edifícios com essas instalações. É previsão da cidade é ter um crescimento anual de cinco mil metros quadrados; —Entre os benefícios dos telhados verdes, destacam–se absorção de até 80% da água da chuva; ajudando a reduzir problemas de inundação; redução das temperaturas urbanas; proteção das edificações dos raios UV e das mudanças bruscas de temperatura; cultivo de produtos para consumo próprio, reduzindo custos para os habitantes e negócios; contribuição para uma melhor qualidade do ar nas cidades. 


MOBILIDADE

ÉDE

BIKE EU

QUE

VOU Bicicletas ganham espaço na agenda de políticas públicas e adeptos na Região Metropolitana Texto IARA LIMA

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FOTO: DIVULGAÇÃO

“U

ma população que utiliza meios não motorizados para o deslocamento na cidade é mais saudável e menos estressada. Uma cidade que disponibiliza infraestruturas para o transporte não motorizado é mais limpa, mais democrática e mais humana. Mais pessoas nas ruas tornam essas mesmas ruas mais seguras. Ruas mais seguras se tornam mais vivas, existe mais variedade de usos e maior urbanidade. O hábito da bicicleta é um dos fatores que tendem a construir um ciclo virtuoso de planejamento e utilização do espaço urbano”. A máxima é de Cristiano Borba, arquiteto e urbanista da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ) ao se referir às muitas vantagens da adoção de bicicletas nos deslocamentos dos grandes centros. De fato, a discussão sobre mobilidade é preocupante se levarmos em consideração que o número de veículos no Estado dobrou em apenas dez anos (de 1 milhão de veículos em 2001 para 2 milhões em 2011 e que já chega a 2,6 milhões em 2015) sem falar que apenas a Região Metropolitana do Recife (RMR) registra um acréscimo de 5,7 mil veículos por mês à atual frota circulante. Trocando

em miúdos: a conta da fórmula matemática “crescimento de frota X aumento de infraestrutura viária” não fecha. Recife sempre teve uma vocação natural para o emprego da bicicleta enquanto meio de transporte por sua natureza plana. Nossas ruas sempre foram tomadas por trabalhadores dos mais diversos segmentos e bicicletas consideradas de transporte básico como o clássico modelo Barra Forte são uma constante. Para se ter uma ideia, apenas um levantamento de contagem de usuários de bicicleta feito pela Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (AMECICLE) no cruzamento das Avenidas Beberibe com Professor José dos Anjos identificou 3.723 ciclistas ao longo de um intervalo de 14 horas. De acordo com Borba, o que a cidade precisa é repensar a cultura da individualidade do veículo em detrimento da coletividade. Carros poluem, promovem o aquecimento urbano e ocupam espaço público que está sendo apropriado por quem possui posses suficientes para comprar um carro, que passa a ter privilégios sobre esse espaço. Retirar o espaço dos veículos para ceder vez ao pedestre e ao ciclista precisa se tornar a tônica desse processo de mudança.”Não se pode valorizar a vida, o humano e o coletivo e, ao mesmo tempo, manter os

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FOTO: DIREITOS URBANOS

Cais José Estelita

FOTO: PREFEITURA DO RECIFE

Ponte da Boa Vista

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FOTO: DIVULGAÇÃO

privilégios daqueles que possuem carro: ou se opta por um ou por outro”, enfatiza o pesquisador. Há poucos anos, a capital pernambucana vem mudando um pouco a cultura no que diz respeito às bicicletas—antes praticamente restrita aos trabalhadores—, e vemos cada vez mais as magrelinhas ocupando as vias e dividindo o espaço com automóveis e pedestres. Para quem circula pelas cidades de Recife, Olinda e Jaboatão é possível desfrutar do meio de transporte de compartilhamento através do Bike PE. Lançado em 2013, o programa permite que o usuário possa usufruir de 800 bicicletas distribuídas em 70 estações distintas. A mensalidade custa R$ 10 e trabalhadores que possuem o cartão VEM não precisam pagar pelos serviços. O modelo é bastante interessante, mas ainda deixa a desejar no tocante à manutenção: bicicletas com pneus murchos, estações fora do ar e problemas na retirada ou entregas de equipamentos são uma reclamação constante pra quem usa o serviço. Também em 2013, a Prefeitura do recife iniciou o projeto das ciclofaixas móveis aos domingos, quando boa parte da população passou a ocupar as vias para (re)conhecer a capital do ponto de vista da bicicleta. De imediato, algumas lojas especializadas registraram um aumento de até 40% no faturamento. Para Daniel Valença, engenheiro doutorando e nome à frente da AMECICLO, a ciclofaixa móvel é uma maneira de introduzir a prática do ciclismo. Sua entidade, por exemplo, disponibiliza voluntários para acompanhar quem quer passar a utilizar a bicicleta como meio de transporte no dia a dia mas ainda possui algum medo de fazê–lo. Além disso, a organização foi uma das que participou da elaboração do Plano Diretor Cicloviário da região Metropolitana do Recife. Lançado em 2014, a proposta previa uma série de medidas, como instalação de 590 quilômetros de ciclofaixas, ciclovias e ciclorrotas no Grande Recife nos próximos dez anos, interligação da rede aos terminais de ônibus, às estações de metrô e às plataformas de transporte fluvial. “Independente de falhas, o plano acerta mais do que erra. O grande problema é que possui prazos e metas que estão sendo descumpridas. Nenhum quilômetro de ciclovia foi construída e não houve sequer dotação orçamentária”, desabafa Valença. 


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PAULO FLORO é jornalista do portal NE10, onde edita o blog de tecnologia Mundobit e a Revista O Grito!, referência nacional na cobertura pop e cena alternativa recifense.

TRANSPOP

A

MACHISMO, esse vilão

FOTO: DIVULGAÇÃO

hora das mulheres no tal universo “geek” Negra, personagem de Scarlett Johansson, tem como chegou. E à medida em que aumenta função primordial ser o interesse romântico de Hulk, a representatividade delas nesse meio, desvirtuando completamente de sua contraparte nas HQs. cresce também um movimento contrário Longe de ser parte crucial da trama, ela está ali como uma de ojeriza e desdém do público até o distração e não como peça de sustentação da narrativa momento majoritário: os homens. É bom (ao contrário de Homem de Ferro, Capitão América, etc). deixar claro que produtos pop sempre foram categorizados Que mico, Marvel! de acordo com o gênero, o que é Nos quadrinhos mainstream um grande embuste e um erro (tipo Marvel e DC), o panorama do ponto de vista mercadológico. não é muito diferente. Volta e Agora, longas como Mad Max: meia leitores se rebelam em Estrada da Fúria e jogos como os fóruns e redes sociais por da série Dragon Age sabem que é conta do protagonismo de muito melhor quando você trata personagens mulheres, ou da a mulher como uma consumidora ausência dele. Grande parte em pé de igualdade. ­E ninguém dessas obras, verdade seja dita, quer ir ver um filme e se sentir sempre serviram às fantasias diminuída(o). adolescentes masculinas e A PERSONAGEM FURIOSA DE CHARLIZE Assim que saiu o novo Mad Max, traziam diversos clichês da THERON EM MAD MAX—ESTRADA DA FÚRIA de George Miller, que é incrível por suposta fragilidade da mulher sinal, um grupo que defendia o ‘direito dos homens’ veio a e do papel do homem como provedor/salvador. Isso deve público pedir boicote ao longa. Eles alegam que o público ter afastado diversas gerações de meninas de se conecmasculino “está sendo enganado”, ao ser atraído para o tarem com esse universo de super–heróis. Mas hoje, cinema por conta das sequências de ação, mas ao chegarem autores como Brian Michael Bendis, um dos nomes mais lá se deparam com uma “propaganda feminista”. Estão poderosos na Marvel Comics vem trazendo um olhar irritados pelo tratamento dado à personagem Furiosa, dissonante. No ano passado, ele criou um grupo de X–Men interpretada por Charlize Theron—uma imperatriz formado só por heroínas. Acabou recebendo mensagens rebelde e casca dura que não depende de homem nenhum de ódio em seu Tumblr. Bendis respondeu o seguinte a e que se rebela contra um sistema tirânico. Alegam que um leitor que perguntou se ele não tinha medo de perder ela tem até mais falas que Max Rockatanski (Tom Hardy), a sua “principal” audiência (masculina): “Como um leitor que batiza a franquia. do meu trabalho, eu quero que você me ouça com atenção: Primeiro que não existe nada mais ridículo e patético que você tem grandes, grandes problemas.” “direitos dos homens”. É tão absurdo quanto “dia do orgulho Ainda há muito chão a ser percorrido, mas é bom ver que a hétero”. E depois: quem inventou a regra de que filmes de própria indústria atinou para a importância de requalificar ação são feitos apenas para audiências masculinas? Sempre a presença feminina na cultura pop. E nós, consumidores visionário, George Miller entendeu o estado atual das coisas homens e mulheres, temos mais é que reclamar e chamar em Hollywood e criou um roteiro que foge aos clichês das atenção para casos de machismo ou preconceito. Termino mocinhas em perigo e mulheres coadjuvantes de luxo, que com uma frase ‘delicada’ e bem direta, dita por minha amiga aparecem apenas como beldades ajudantes do ‘herói’. Dandara Palankof em um texto seu na Revista O Grito!: “Mad Max” é o oposto de “Vingadores: Era de Ultron”, “ei, homofóbico e machista, pare de ler HQs”. Os “ativistas no que diz respeito ao serviço que faz à representati- de direitos dos homens” (risos) revoltados com Mad Max vidade da mulher na telona. No filme da Marvel, a Viúva deveriam ouvir o mesmo e parar de mimimi. 

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INTERNACIONAL

CULTURA LUSO—BRASILEIRA

É CELEBRADA EM ENCONTRO INTERNACIONAL

A

pesar de ser conhecido como música tradicional portuguesa, o fado tem suas raízes também no Brasil juntamente com a chegada de D. João VI e a Côrte. Essa e outras curiosidades foram contadas e celebradas durante o I Encontro Internacional de Música

e Poesia Luso–Brasileira— “Tudo isto é Fado”. O evento aconteceu no Gabinete Português de Leitura e no Teatro Santa Isabel nos dias 10 e 13 de junho. Com intuito de promover o acesso ao conhecimento e à cultura luso–brasileira em Pernambuco, o evento trouxe apresentações musicais, roda de diálogos, poesia e contação de histórias. Vindos de Portugal, os fadistas Emanuel Soares e Andreia Matias fizeram o show no Teatro Santa Isabel. Representando a brasilidade, os artistas Kelly Rosa e Beto do Bandolim também participaram

do show “Tudo isto é Fado”, que aconteceu no dia 13 de junho, no Teatro Santa Isabel. O Gabinete Português de Leitura recebeu diversos poetas que realizam um grande sarau no dia 10 de junho, começando 10h da manhã e encerrando ás 16h. A proposta foi promover a preservação das tradições e expressões portuguesas no Recife e no Estado. O evento foi idealizado por Luciana Araújo, e teve a Produção Cultural da Cel Editora, da Revista Jurema e do Gabinete Português de Leitura. 

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ENTREVISTA Música

ISRAEL DE

FRANÇA REVISTA JUREMA: Como a música entrou na sua vida? ISRAEL FRANÇA: No Loteamento Tamandaré, no bairro de Peixinhos, na Banda Sinfônica Juvenil Pernambucana, em 1979, meu prazer era joga futebol. Mas minha mãe, queria “coisa melhor” pra mim, me convencendo a entrar na Escola Jonas Taurino. Comecei a estudar teoria e logo após com a requinta. RJ: Como foi que perceberam que você tinha talento? IF: Acho que foi uma dessas coincidências da vida, Deus me fez músico no ventre da minha mãe. Depois de 6 meses na bando apareceu um professor Espanhol com uma proposta de um curso de instrumento de cordas, Violino. Juntou uns 50 meninos em uma sala da banda, fez uns testes de musicalidade, dos 50 só passaram 3 e eu estava ai, daí foi quando vi que realmente tinha talento. RJ: Qual o músico principal nas peças que você interpretou na carreira? IF: Mozart e Bach são minhas paixões como violinista, as Sonatas e partitas de Bach para violino solo marcou na minha vida, e Mozart também, porque foi o primeiro concerto como solista no teatro Santa Isabel no ano de

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FOTO: ROBERTO PORTELLA

Uma luta solitária e “invisível” por Direitos Humanos... A vida é feita de provações. Mas são poucos os que tiveram tantas adversidades em sua carreira como Israel de França

82 junto a ORQUESTRA DE CÂMARA da UFPE sobre a regência de meu querido Professor Luis Soler. RJ: Qual foi seu momento mais emocionante como violinista? IF: Quando toquei pela primeira vez no Auditório da Orquestra Filarmônica de Berlim junto a orquestra Ciudad de Granada, inesquecível. RJ: O que representou para o senhor as oportunidades recebidas ao longo da sua trajetória profissional? IF: Representou muito, e penso que peguei e aproveitei todas, o caso verdade da REDE GLOBO no ano de 1983 sobre minha vida, foi uma coisa muito importante para que o Brasil me conhecesse e a partir daí tudo foi mais fácil. RJ: O senhor já pensou em desistir de tocar?


FOTO: DIVULGAÇÃO

Israel de França me foi apresentado como um presente de aniversário, pelo Maestro Adelmo Apolônio. Transformando—me em seguida em sua Produtora Cultural, que durou pouco mais de 9 meses. (Luciana Araújo)

violino que ganhei do historiador armando Souto Maior no qual mudou minha vida. Quero com essa Instituição fazer uma trabalho na área da música, mais não quero esquecer os que não tem talento para a música, esses pretendo engajar em outras atividades. RJ: O que o empresário ganha investindo em ações como esta? IF: Um empresário inteligente e sensível ganha algo que não está escrito, porque ele está contribuindo para a salvação de muitas vidas, existem muitas crianças abandonadas, outras sem as mínimas condições de estudar um instrumento tão difícil e não muito comum na nossa terra, tenho certeza que vai aparecer muitos empresários para ajudar nessa ação. RJ: Como analisa a atuação do poder público no apoio a música clássica? IF: Não analiso porque praticamente não existe, não vejo muitos projetos realizados por governos ou prefeituras, ao contrário vejo músicos correndo atrás para realizar projetos maravilhosos sem sucesso, penso que isso deve mudar e nossos políticos devem conhecer o projeto que existe na Venezuela, El Sistema, e quem sabe isso pode mudar. RJ: Qual o destaque que o senhor pretende dar há alguns desses jovens? IF: O destaque é o interesse de cada um, alguns podem chegar a tocar em Berlim e outros ficarão no Brasil, mais o importante é realizar o trabalho querendo ser o melhor sempre. RJ: O senhor acredita que mesmo os que não sigam tocando, podem ganhar novas perspectivas a partir do contato com a música? IF: Sim, isso pode mudar o jeito de pensar e fazer essa criança ver a vida de outra forma mesmo passando a fazer outra atividade. RJ: O senhor sabia que Villa Lobos tinha um sonho de ter centenas de orquestras nas escolas. Acredita que isso é possível? IF: Com certeza, mais estamos muito longe dessa realidade, quase impossível. A luta é grande para que exista mais e mais músicos e orquestras, mais insisto, tudo depende do poder. RJ: Quantas orquestras jovens o senhor pretende formar no estado? IF: Por mim em cada cidade do interior teria uma, imagine que coisa linda. RJ: Como músico, o senhor continua se reinventando? Quais as metas e projetos para o futuro? 

IF: Só uma vez, eu estava saindo da requinta e começando violino e nesse momento a pessoa mais importante da minha vida si foi (faleceu), a Sra. Maria do Carmo Ramos de França, minha querida mãe. Eu não tinha força para seguir, nada tinha sentido na minha vida, mais meus professores e amigos e familiares insistiram muito e não me deixaram desistir. RJ: O senhor é maestro regente da Orquestra Sinfonietta de Granada na Espanha e fundou recentemente a Sinfonietta em Pernambuco, ao mesmo tempo em que cria o Instituto Israel de França de Arte e Cultura, promove Turnê em várias regiões do estado de Pernambuco. O senhor não se cansa? Onde encontra tanta energia e força para acreditar em um projeto tão difícil que é a música clássica? IF: Quando entramos numa coisa pra valer devemos aproveitar o máximo. Estou feliz por ter a Sinfonietta de Granada que juntamente com uma grande violinista e Professora Colombiana, Sandra Paola Cote Gomes, elaboramos esse projeto da Sinfonietta, trazendo mesma idéia para Pernambuco. Objetivando criar Postos de Trabalho. Sobre o Instituto, sempre tive essa vontade de realizar um trabalho e retribuir tudo que aconteceu comigo como, um

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FOTO: ROBERTO PORTELLA

FOTO: REI SAN

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IF: Formar uma Orquestra no bairro de Peixinhos, Olinda, depois fazer com que todo Pernambuco, tenha sua Escola de Música com sua Orquestra e ou Banda Sinfônica, Mozart e Bach são suas paixões como violonista, mais realmente me sentirei realizado as sonatas e partituras quando ver meu primeiro aluno de Bach para violino cruzando o barco para o velho solo marcou a sua vida, e Mozart foi o seu primeiro continente e seguir sua verdadeira concerto como solista no transformação musical. teatro Santa Isabel no ano RJ: O senhor pretende promover de 1982 junto a orquestra da Câmara da UFPE sobre concertos a preços populares, a regência de seu professor em teatros de grande porte em na época, Luis Soler Pernambuco e no Brasil. Através da criação do Movimento AMIGOS DA MÚSICA CLÁSSICA. Por que essa idéia e como funciona na prática? IF: Eu penso que toda apresentação de música clássica deve ter RJ: Como avalia a música um preço popular para que todos erudita em Pernambuco? “Nascido em Pernambuco, os ouvintes e amantes da música IF: Aqui só temos uma Orquestra Israel foi criado no bairro tenham acesso aos concertos, a Profissional, que é a Orquestra música deve ser mais valorizada, Sinfônica do Recife, com um de Peixinhos, em Olinda, e faremos concertos ao alcance de grande problema salarial, fica todos, teremos Associações Amigos mora há 23 anos na Espanha. muito difícil que tenha uma Ele ficou famoso depois de da Musica, da Sinfonietta de PE boa programação. Tínhamos para divulgar todos esses concertos. protagonizar, ainda criança, uma orquestra Jovem no RJ: Como tem sido a construção do Conservatório Pernambucano e um episódio de racismo que caminho de volta a Pernambuco/ me parece que acabou, o porque chocou o país.” Brasil, especialmente a Olinda, eu não sei. Nossos jovens estão bairro de Peixinho, onde tudo órfãos de tocar as sinfonias de começou na sua vida? Mozar, Beethoven etc... Existe muita gente querendo Realmente não está sendo fácil, como falei antes, aqui nada estudar música em Pernambuco, mais não temos meios é tranquilo quando si trata de música clássica. Mesmo nem escolas suficientes, além de uma demanda reprimida assim, existem boas possibilidades para tudo dar certo. de professores sem trabalho. Gostaria muito de contribuir para tentar dar uma cara nova a nosso estado dentro da música erudita. RJ: O que diria aos jovens que querem aprender e seguir carreira na música clássica? IF: Que não existe dificuldade alguma, só basta querer, em outros tempos era pior e aqui estamos contando a historia, é querer, começar e estudar, estudar e estudar. RJ: Está agendado a gravação de um CD com compositores do Movimento Armorial para o próximo ano. Como estão os preparativos? IF: Estamos ainda elaborando, penso que uma gravação deve ser feita com carinho, com dedicação, com muito cuidado, infelizmente eu escuto gravações com muitos problemas musicais, como afinação, que pra mim é o primeiro, porque vamos deixar um documento para o resto da vida, mais voltando para a pergunta, aqui existe grandes compositores, realmente grandes, como Clovis Pereira, Alvaro Mattos, Benny Wolkof, Ari de Arimateia entre outros. Por fim quero comentar que teremos cds Beto do Bandolim, Maestro Israel de França e Maestro Adelmo Apolônio com musica armorial, musica clássica e mais surpresas.

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Cannibal

CENA MUSICAL Sobre a música

PERNAMBUCANA,

FOTO: RENATO FILHO

FOTO: BRENO CÉSAR

Almério

Paulo Diniz

FESTIVAIS E CIRCULAÇÃO DE CONTEÚDO

C

FOTO:DIVULGAÇÃO

Texto IARA LIMA

annibal, homem por detrás do Punk–rock da Devotos e do Dub do Café Preto, estava sentado no sofá da minha sala quando começamos a falar sobre o show de Paulo Diniz no Abril pro Rock (APR) deste ano. A última vez que eu tinha assistido a um show de Paulo Diniz havia sido no próprio APR, há uns bons 15 anos. Falamos de Almério, que eu achei incrível, e de Aninha Martins, que o deixou impressionado, e o papo degringolou para a atual Cena Beto e o formato dos festivais. Num esforço de memória, começamos a tentar lembrar, juntos, dos eventos pernambucanos que servem ou serviram para garantir espaço ou como vitrine para a

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produção musical local: Soul do Mangue, PE no Rock, Rock na Praça, Encontro Anti–Nuclear, Alto Falante, Brechó Cultural, Cinzas do Rock, Pré–AMP, Rec Beat, Abril pro Rock, Pré no Reggae, Porto Musical. Dos 12 eventos citados acima, menos da metade continua a existir e, certamente, não em seus formatos originais enquanto outros palcos surgem como o festival A Noite do Desbunde Elétrico, que surgiu há sete edições e agrega boa parte da nova produção que atende pelo nome de Cena Beto. Mas o que houve entre os 20 anos, que separam o surgimento da cena Mangue—responsável por projetar o Recife para outros eixos de produção cultural—, e a atual nova produção? Para Jeder Janotti Jr., professor integrante do Programa de Pós–Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e estudioso das cenas musicais, a produção atual do Recife é bastante plural e contempla gêneros que vão do brega ao samba, passando pelo frevo e, claro, o rock. Entretanto, ao contrário do que aconteceu no final do século XX, a produção está bastante pulverizada. Segundo o pesquisador, boa parte disso se deve ao fato de que a crítica musical não possui mais papel prospectivo ou aglutinador, e, portanto, às


vezes ficamos sem saber o que circula ao nosso lado. ia de regra, pode–se dizer que a forma de consumo e a circulação da música mudou. E isso se reflete diretamente nos espaços de consumo. De plataformas físicas como fitas demo e CDs, os ouvintes migram para a Internet e o formato streaming. Descobrir uma banda e conhecer um trabalho inédito deixa de ser tarefa hercúlea destinada a curadores, e o produto em rede passa a ser acessível a todos ao mesmo tempo. “É mesmo, né? Hoje é difícil dizer ‘descobri uma banda’. Ninguém descobre nada, tudo acontece ao mesmo tempo na Internet”, pondera Cannibal. Essa transformação da escuta coletiva (festivais e discos) para algo individual–fones de ouvido ou caixas de som de computador—, promove uma imersão menor. Mas, segundo Janotti, a qualidade da execução de música ao vivo, mesmo para os pequenos eventos, é muito alta. “Transitamos entre os médios dos carrinhos dos vendedores de CDs que achatam os sons até qualidades sonoras de apresentações ao vivo e que deixam, mesmo o mais apocalíptico dos velhos roqueiros, estupefatos”, pontua o pesquisador. Em relação ao cansaço do formato dos festivais, Jedder cria polêmica ao afirmar: “Acho que os três grandes festivais do Recife, talvez com exceção do Rec–Beat, estão com suas curadorias falidas. Enquanto uns se tornam reféns do patrocínio das cervejas de cereais não–maltados, outros se transformaram em caricaturas de si mesmos”. Uma saída seria ‘uma melhor divisão do bolo do famigerado fun– cultura’, com mais espaço para os pequenos festivais e retirada de parte desse bolo dos festivais sem frestas para o investimento na criação de espaços pequenos. Quem sabe, a partir daí, um pouco mais duradouros, mambembes, mas possíveis”, sugere. Guilherme Moura, curador do Abril pro Rock—maior e mais longevo dos festivais dedicados ao gênero—coloca a questão sob outro ponto de vista. “É justamente graças aos patrocinadores que podemos experimentar outros formatos e trazer bandas novas. Se o festival dependesse apenas da bilheteria não teríamos como apostar”, pondera. Em 2015, o evento teve 14 mil espectadores e quando comemorou 20 anos, reuniu 23 mil pessoas em três dias de realização, com uma performance de ingressos esgotados

na primeira noite do Abril, que teve um apelo mais pop, já que se tratava da volta do Los Hermanos, banda com a qual o espectador recifense em geral possui uma relação de afetividade longínqua. Nestes 23 anos de existência, o APR já teve variações e eventos paralelos como o APR Club (Série de shows menores que ocorriam na Rua da Guia e Downtown, além de exposições. Outro diferencial do Abril em relação aos demais é o destaque que destina à noite do metal, o sábado, que vem se firmando desde 2002, quando Paulo André Pires, fundador do evento, percebeu uma demanda crescente—principalmente do interior—por sons mais pesados. Hoje cerca 30% do público do sábado vem de cidades do interior e outros estados. Em 2015, propuseram como diferencial uma noite dedicada à psicodelia pernambucana com links para os anos 70. No palco principal, baluartes como Ave Sangria e Paulo Diniz e, no palco 2, figuras da nova cena como Aninha Martins e Almério. Como principal desafio, Moura afirma ser encontrar a dosagem certa de atrações que dialoguem com públicos de todas as idades, bem como a formação de plateia. “Reverenciar o passado sem deixar de olhar pra frente. Como lidar com a história de 23 anos do festival e continuar indo em frente e como renovar o publico sem perder o público que sempre nos acompanha”, exemplifica.  A CENA BETO, Jeder Janotti— “Qualquer rótulo é sempre agregador e excludente, não há muitas fugas para esse processo de incorporação e ‘excorporação’ das cenas e gêneros musicais. Não é diferente com a Cena Beto. Há um núcleo que acabou solidificado e ligado ao rock, inclusive uma influência no modo de acionar o rock como agenciador de outros gêneros à la Raul Seixas, formado por Juvenil Silva, Graxa e Ana Martins (a turma que circulou por Areias) e outros atravessamentos que ainda se reconhecem como Betos, como é o caso de Ex–Exús e mesmo Matheus Mota. Mas ocorreram deserções precoces, caso de Cláudio N. Bem, uma característica comum que une os que ainda permanecem na ‘nau’ é passar ao largo da ‘tradição (para mim maldição) mangue’ e acionar como referência—interferência o desbunde e a psicodelia da década de setenta capitaneada por Lula Côrtes e pela singular Tropicália pernambucano de Jomard Muniz de Britto.

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TEATRO

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PAPO

aula de Renor: Fez teatro no Colégio Santa Maria com Jader Austregésilo. Depois, alguns colegas, dentre eles, a atriz e jornalista Stella Maris, passaram a fazer parte do grupo de Marcos Siqueira e ela, como estava estudando para Engenharia elétrica, não conseguia fazer nada além de estudar. Cursou dois anos, arrumou bolsa para um ano nos Estados e Unidos, voltou antes deste prazo com a certeza que não faria mais engenharia. Fez alguns cursos de teatro, sem convite para trabalhar, resolveu, montar seu primeiro espetáculo para poder atuar, aos 23 anos de idade. Leu dezenas de textos. Como primeira produção: Patética, de João Chaves. Demorou mais de um ano para conseguir liberação, pois o texto tinha sido censurado na ditadura. Era sobre Vladimir Hezog, Registrou a Remo Produções (que está na ativa até hoje).

“CA BE ÇA” “... só existe a produtora porque existe a atriz.”

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Paula e Roger 2010

Paula (23 anos) e Roger (19 anos). 1982

Roger (6) e Paula (10). 1969

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FOTO: HANS VON MANTEUFFEL

CARÍCIAS Ana Cláudia Wanguestel e Paula de Renor

DUAS MULHERES EM PRETO E BRANCO Paula de Renor e Sandra Possani

FOTO: ROGERIO ALVES

REVISTA JUREMA: Nessa trajetória toda, você com certeza trabalhou com muita gente boa... PAULA DE RENOR: Muita! Minha formação foi de campo, na experiência e sempre convidei atores que pudessem me ensinar. Germano Haiut foi o primeiro exemplo de generosidade, simplicidade, talento! Ele não me conhecia, eu tinha 23 anos, e ele acreditou no meu sonho, e me ajudou a realizar! Aprendi muito com ele e com todos que me dirigiram e contracenaram comigo. Sou muito grata a José Francisco Filho e Carlos Carvalho. E, atualmente, a Moacir Chaves, diretor carioca que vem numa parceria comigo nos meus dois últimos espetáculos. Sempre tive este privilégio de só trabalhar com quem admiro e respeito! Fora de minhas produções, também tive o prazer de trabalhar com atores maravilhosos e pessoas como Reinaldo de Oliveira, Geninha da Rosa Borges, Carlos Reis, Augusta Ferraz, entre outros... RJ: E sua atuação como produtora cultural? PR: Sempre afirmo que só existe a produtora porque existe a atriz, afinal, comecei produzindo para que pudesse atuar! Depois tomei gosto, mas só em 2000 foi que percebi que realmente eu era uma produtora e que esta era, de fato, minha profissão. Daí em diante comecei a viver somente de produção cultural, o que faço até hoje. Produzi diversos projetos para o Teatro Armazém, entrei na produção do Janeiro de Grandes Espetáculos, realizei projetos sociais vinculados ao teatro, fiz coproduções internacionais, comecei a receber convites para festivais fora do Brasil e fiz uma rede de contatos. Hoje faço parte da RED de Promotores Culturais da América Latina e Caribe. Vivo de produção cultural, apesar de todas as dificuldades. RJ: Você participou ativamente de diversos projetos teatrais aprovados no Funcultura nos últimos 10 anos. Você acha que a participação do Governo nas ações de produção cultural contribui para o desenvolvimento cultural ou vicia os produtores? E acaba com as plateias pagas? PR: O fomento à cultura nestes moldes de incentivo fiscal, através de leis de incentivo, via Fundo, de fato acomoda a maioria dos produtores, pois é melhor mesmo, receber uma verba para produção, sem precisar buscar nas empresas. Mas depois disso, vem o problema do público: as verbas para montagens e temporada restringem muito o montante para divulgação, os recursos são poucos, e então se monta um espetáculo, mas não se tem verba para uma boa divulgação, então não se tem público. Como o produtor é obrigado a realizar aquele número de apresentações, ele faz de qualquer forma, às vezes topando, inclusive, espaços e horários que não facilitam muito, mas afinal de contas ele é obrigado a realizar no período proposto! Esquecemos assim do público e apresentamos para uma plateia pequena. Pouco são os casos que obtém sucesso de público com divulgação somente nas redes sociais. O Funcultura já foi bom e necessário até alguns anos

FOTO: DIVULGAÇÃO

SALTO ALTO (1990) Carlos Carvalho e Paula Roger

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FOTO: MARCELO LYRA/OLHONU

FERNANDO E ISAURA

ABELARDO E HELOÍSA

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atrás. Agora ele precisa ser repensado. Ele não nos serve mais neste formato, onde temos um número crescente de projetos a cada ano com o valor total dos recursos sem aumentar na mesma proporção. Então praticamente para cada alínea de segmento, só um projeto praticamente é aprovado: só uma montagem, só um projeto de circulação, só um projeto de temporada! Essas leis de cultura não são projetos de política cultural, elas fazem parte, somente! Isso precisa ser entendido e alterado! Só tivemos uma vez, uma proposta de política cultural, que foi na gestão de Luciana Azevedo na Fundarpe. Luciana deixou um projeto de lei para a cultura pronto, mas este mesmo governo não a levou em consideração ou levou adiante. Tenho fé que a atual presidente da Fundarpe, Márcia Souto, consiga retomar o projeto. Precisamos ter programas continuados, com links na educação e que visem à formação de plateia, à interiorização, democratização e fomento de nossa cultura. Chega de eventos. O governo estadual e a Prefeitura perdem o tempo na produção de eventos e não sobra nenhum para pensar a cultura! RJ: Você teve oportunidades de trabalhar com nomes de peso da cena cultural. O que essas experiências lhe acrescentaram de mais significativo? PR: O amor pelo que fazem! A persistência! Não é fácil atuar, produzir e viver toda vida, por opção, num estado onde ainda o coronelismo a toda hora reaparece! RJ: Qual a experiência mais marcante? PR: Tudo que montei foi muito marcante para mim, mas ver o espaço onde montei Abelardo e Heloísa se transformar no Paço Alfândega, foi de fato marcante! Tudo o que vivi no Armazém 14 também. Também foi muito marcante um projeto de teatro que


REI LEAR

FOTO: GUGA MELGAR

O Bairro do Recife tem uma essência cultural, o Bairro precisa abrir espaço para moradia e trabalho de artistas. Precisamos de teatros, ateliês e espaços culturais. Assim, o Bairro se humaniza através da arte e com isso a violência vai desaparecendo. Não com a força policial, mas a força da arte. RJ: O que há de positivo acontecendo na cultura da região? PR: Artistas independentes estão criando formas de continuarem seu ofício, sem depender do poder público, sem contar com teatros ou patrocínios! Eles estão fazendo teatro nas casas aonde moram e levando o público a se interessar por isso! É uma saída maravilhosa! RJ: “Paula e Roger de Renor: companheiros na arte e na vida. Irmãos e parceiros profissionais, ambos atuam há mais de vinte anos no cenário cultural de Pernambuco e fizeram história com a Soparia e o Pina de Copacabana.” Como vocês estão hoje do ponto de vista das produções artísticas? PR: Estou trabalhando sempre com Roger, administrando seus projetos, fazendo prestações de contas ou elaborando. Estamos juntos no projeto “Som na Rural’, que é a gravação de seis programas para TV Brasil e a circulação da Rural para Brasília e São Paulo. Roger foi meu ator em duas produções: Arlequim e Salto Alto! Daí em diante estivemos sempre juntos participando um na vida do outro, com a Soparia, o Pina de Copacabana, o Teatro Armazém e nossas produções individuais. Sempre conversamos muito, trocamos ideias, sonhamos, fazemos planos e lutamos junto com outros para criação de uma política pública para cultura e uma cidade melhor. Afinal, foi aqui que escolhemos passar toda nossa vida! 

fiz com uma equipe maravilhosa de atores e diretores em seis comunidades, por oito meses e depois o governo: que tinha prometido continuidade: não pode cumprir e não continuamos com aqueles alunos maravilhosos. Fomos responsáveis por eles, mostramos possibilidades, demos perspectivas e depois tiramos tudo de volta! Foi frustrante e triste! Nada nesse país em relação à cultura tem continuidade! RJ: O atual presidente do Ministério da Cultura (MINC) tem uma visão de associar a promoção cultural à questão social, inclusive como mecanismo para reduzir a marginalização e a violência. Você acha que é esse o caminho? PR: Esse é um caminho, mas tem que ser associado à educação também! É provado que tiramos crianças e adolescente das ruas e os tiramos da condição de risco, com teatro, dança, música, pintura, etc. Mas essas ações tem que ter continuidade para não acontecer o que mencionei com o projeto que coordenei em seis comunidades. RJ: Mas você concorda que a promoção cultural pode ajudar a reduzir a violência? PR: Claro! Isso é provado. O Governo Eduardo Campos prestou muita atenção nisso e Luciana Azevedo soube utilizar os Pontos de Cultura para tal fim. Hoje, vemos um equívoco. O Governo quer acabar com a violência e tráfico no Bairro do Recife, com policiamento, enchendo o Bairro de bares e restaurantes para classe média alta.

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CARRO

Polo Automotivo JEEP: OS DIFERENCIAIS DE UMA FÁBRICA MODERNA Inaugurada em abril, fábrica é resultado da combinação de diversas tecnologias inovadoras em um mesmo processo produtivo Texto TARCISIO DIAS

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Fiat realizou uma excepcional cerimônia para a inauguração oficial do Polo Automotivo Jeep–fábrica mais moderna da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) no mundo, localizado em Goiana, Zona da Mata Norte de Pernambuco. O evento, que contou com a presença dos seus principais executivos, além de políticos, autoridades e imprensa nacional e internacional, apresentou o empreendimento—que deve gerar até o fim deste ano cerca de nove mil empregos diretos e indiretos para o estado. Foi gratificante participar desse momento tão especial, ainda mais quando observamos um Brasil em crise não apenas na economia, mas também na educação, o que resulta, numa ‘crise de futuro’. Mas o grupo FCA faz o caminho reverso e investe na formação, qualificação, numa região onde a cana–de–açúcar era o elemento motriz da economia. Muito bom ver as pessoas superando novos desafios, alcançando novas conquistas, buscando um novo futuro. “Este foi também o projeto mais complexo já feito na história da companhia, considerando o objetivo de construir não somente uma fábrica de automóveis, mas de incluir em seu perímetro um parque de fornecedores de classe mundial, a fim de produzir veículos igualmente nessa ordem global, sempre em sintonia e interação com os stakeholders1”, afirma Stefan Ketter, vice–presidente

mundial de Manufatura da FCA, que coordenou a implantação do Polo Automotivo Jeep. A maioria das soluções implantadas na fábrica pode já ter sido utilizada em outros estabelecimentos, mas o que efetivamente distingue essa planta é a combinação de todas as tecnologias inovadoras em um mesmo processo produtivo. O sistema de produção World Class Manufacturing (WCM) assegura a melhor interação entre homem e máquina, melhorando continuamente todos os processos. Ainda no fluxo do processo produtivo, podem–se destacar os seguintes aspectos notáveis: PRENSAS—As duas linhas de prensas Komatsu são as mais velozes e avançadas tecnologicamente, com capacidade para 18 estampos por minuto, e, ao mesmo tempo, consomem menos energia. Seus motores elétricos permitem o movimento de pesos enormes com precisão

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de décimos de milímetro. Essa precisão preserva a integridade da chapa e a qualidade do estampo. Também em defesa da qualidade da chapa, a linha de prensas conta com uma linha de corte Schuler. Assim, a bobina de aço é recebida, limpa, estirada e cortada na própria planta, com total controle de qualidade que não é possível quando já se recebe o aço cortado. FUNILARIA—Nessa área, está uma inovação projetada e executada exclusivamente para essa planta. Na etapa de projeto da fábrica, foi estabelecido o objetivo de soldar a carroceria em uma única estação. O desafio era aplicar 100 pontos de solda em 60 segundos, congelando a geometria da carroceria em uma única etapa. Normalmente, a fixação das partes e consolidação da carroceria é feita em três estações. O movimento entre uma estação e outra pode comprometer a precisão da geometria, dando origem a futuros problemas, como encaixe imperfeito de componentes, ruídos, etc. A Comau desenvolveu uma linha de framing com 18 robôs instalados no piso e no teto, que envolvem a carroceria e aplicam os 100 pontos de solda em 60 segundos, preservando os fatores de qualidade. A configuração dos robôs confere flexibilidade à linha, que pode produzir até quatro modelos simultaneamente. PINTURA—A área de Pintura inovou ao adotar processo que dispensa uma das camadas de pintura: a Primer. A alternativa tecnológica utilizada é a primerless. O processo assegura a qualidade final do veículo e a durabilidade da pintura, resultando ainda em menor consumo de energia e em menos emissões de produtos químicos na atmosfera. MONTAGEM—Na Montagem, destacam–se: —Devido à concepção da ergonomia do processo, os trabalhadores são poupados de esforços físicos e de movimentos desconfortáveis. A linha utiliza como suporte ferramentas que ajudam o profissional a executar suas tarefas com conforto, como o skillet (carrinho que sobe e desce, adaptando–se à altura do trabalhador, e com base em madeira, por limitar o estresse nas costas) e ganchos rotáveis que giram lateralmente os carros, por facilitar a montagem das peças nos lugares com acesso mais difícil. —Também há ferramentas como a parafusadeira com controle de torque, que elimina o contragolpe ao final da operação. O conceito é simples: se o trabalhador opera com conforto, pode se focar na qualidade. —A acoplagem do power train com o carro é uma parte fundamental e crítica. É difícil de fazer e envolve a movimentação de muito peso. Na linha, é feita automaticamente. O powertrain vem por uma linha no nível do piso, e

a carroceria vem por linha aérea. Em determinado ponto, os dois conjuntos são conectados automaticamente. A automação garante repetibilidade da operação, assegurando total conformidade. —Na logística interna, normalmente, um galpão industrial é um cubo, com uma grande distância entre a porta de entrada de peças e a linha. O galpão de montagem, ao contrário, é como uma mão. A entrada é mais próxima da linha, eliminando distâncias, reduzindo a movimentação e aumentando a eficiência. COMMUNICATION CENTER—O Communication Center é o cérebro do Polo Automotivo Jeep. Com aproximadamente 11 mil metros quadrados de área construída, está localizado no centro da fábrica Jeep e é onde serão concentrados os resultados físicos de cada etapa de produção. É possível, a partir dessa área central, percorrer a pé os pontos essenciais de todos os processos de produção, desde a área de prensas até os veículos prontos para entrega ao consumidor na etapa final da unidade de montagem. O resultado dessa configuração é uma tomada de decisão rápida, uma organização eficiente da planta e o aumento no conhecimento do negócio. No interior do Communication Center, quatro áreas atuam em sinergia com esses conceitos: Centro de Componentes, Centro de Processos, Centro de Veículos e escritórios abertos. 

1 Stakeholders—público estratégico, partes interessadas num plano de negócios/estratégico.

TARCISIO DIAS é Profissional e Técnico em Mecânica, além de Engenheiro Mecatrônico e Radialista, é gerente de conteúdo do Portal Mecânica Online® (www.mecanicaonline.com.br). E–mail: redacao@mecanicaonline.com.br

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RECIFE BOAT SHOW

chega a sua quarta edição com grandes novidades do segmento NÁUTICO e

PRODUTOS DE LUXO Evento será no Cabanga Iate Clube do Recife, entre os dias 22 e 25 de outubro, e deve gerar cerca de R$ 30 milhões em negócios

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FOTOS: CHARLES JOHNSOM

MERCADO DE LUXO


A

quarta edição do recife boat show vai movimentar o mercado náutico pernambucano

entre os dias 22 e 25 de outubro, no Cabanga Iate Clube do Recife. Considerado um dos mais importantes eventos náuticos e de mercado de luxo do Brasil, o salão trará embarcações de 15 a 64 pés, além de motos aquáticas, automóveis de luxo e acessórios. De acordo com os organizadores do evento o Recife Boa Show deve receber cerca de 10 mil visitantes nos quatro dias de salão náutico e movimentar mais de R$ 30 milhões em negócios. Um dos grandes atrativos é a possibilidade de realizacao de test drive dos produtos.

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evento chega à sua quarta edição com boas projeções. O mercado náutico do Nordeste, em termos proporcionais, é o que mais cresce no Brasil. Atualmente, Pernambuco é o 5° estado com maior número de estaleiros no país. O crescimento dos índices econômicos estaduais e regionais, que estão acima da média nacional, contribui para que negócios sejam fechados na feira náutica. Durante o Boat Show, serão oferecidos serviços como o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) para financiamento e, ainda, condições diferenciadas e uma mesa de crédito exclusiva para o salão náutico. Nesta quarta edição haverá a presença de marcas de peso no cenário nacional e até internacional. Estará presente o estaleiro catarinense Schaefer Yachts, considerado o

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maior estaleiro do brasil, com a exposição de iates de luxo de até 64 pés. O estaleiro pernambucano­recém–chegado ao mercado náutico, o NX Boats, levará a NX 270 barco que está sendo considerado o lançamento do ano no seu seguimento, e também a recém lançada NX 250. Além dessas novidades, a Fibrafort, estaleiro de Santa Catarina, apresentará a focker 305, embarcação com 30,5 pés cabinada e com um espaçoso cockpit. Além dessa embarcação, o público conhecerá as versões focker 210, focker 240, focker 265 e a focker i9. Entre os expositores estrangeiros, o estaleiro francês Beneteau participa pela segunda vez do salão apresentando as lanchas GT 40 e a GT 35. O público poderá conferir também o shopping náutico com a exposição de produtos náuticos, acessórios, vestuário, motores, pesca, mergulho, moda praia e eletrônicos, além de caiaques e infláveis. 



FOTOS: LAIS DOMINGUES

LITERATURA

As Poéticas de

RAUL CÓRDULA

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intor, artista gráfico, cenógrafo, professor, crítico de arte, são apenas alguns dos atributos do paraibano Raul Córdula. Nascido em Campina

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Grande em 1943, Córdula começou a pintar em 1958, orientado pelo amigo Flávio Bezerra de Carvalho. Um ano depois já ilustrava as poesias da Geração 59, grupo de poetas paraibanos responsáveis pelo suplemento literário A União nas Letras e nas Artes. O contato do artista com a intelectualidade paraibana é apenas um dos motes da primeira parte do livro Raul Córdula: Poéticas,

FOTO : AMELIA COUTO

Livro revisita meio século de produção cultural e crítica do artista pelas mãos da historiadora Joana D’arc Lima

Raul Córdula e a escritora Joana D’Arc Lima


FOTOS: DIVULGAÇÃO

Livro Poéticas, lançado em abril último na Galeria Arte Plural, que sintetiza os cinquenta anos de produção artística e crítica de Raul

escrito pela historiadora Joana D’arc Lima, lançado em abril último na Galeria Arte Plural, que sintetiza os cinquenta anos de produção artística e crítica de Raul. Nessa perspectiva, o primeiro momento do livro narra os espaços de sociabilidade dessa intelectualidade e dos espaços de formação. A cidade de João Pessoa aparece retratada como um espaço de efervescência cultural, cujos atores são ninguém menos que: Jomard Muniz de Britto, Jurandir Moura, Virginius da Gama e Mello, além do próprio pai do artista título, Raul Córdula—à época gestor da educação, criador de escolas importantes do estado que depois viraram escolas públicas e de espaços de exibição e formação, entre outros. Ainda nessa primeira parte são citados os movimentos realizados pelo artista e suas poéticas narradas entre a figuração, a abstração e abstração geométrica, sobretudo. Tais deslocamen­tos foram realizados entre idas e vidas, de maneira não linear, pelas paisagens naturais das cidades de João Pessoa, Campina Grande, Recife e Olinda. A temática da figuração e da abstração na arte brasileira atravessa o processo criativo do artista tensionado ­pe­­­los acontecimentos do mundo ao seu redor e pela complexa trilha percorrida entre ordem, caos, acaso e os imperativos da razão e da não razão.

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“Escrever esse livro que se intitula Raul Córdula: Poéticas foi uma experiência marcada pelo encontro com muitas falas, imagens, textos”, comenta Joana D’arc, pós–doutoranda em história pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), cujo mote de pesquisa, transformada em livro, encontra–se na obra O país da saudade (1982), também de autoria de Córdula. A segunda parte de Poéticas, obra que conta com incentivo da Lei Rouanet e trabalho de pesquisa documental desenvolvido por Amélia Couto e Mariana Ratts, é constituida pela série de arte postal proposta pelo artista em 1982, O País da Saudade. “Essa série mobiliza artistas de diferentes geografias a participarem na construção de um inventário visual e poético da memória e sobre a história cultural e política do Brasil no período denominada pela historiografia brasileira de redemocratização”, conta Joana. Apesar de ter tido sua trajetória já revisitada em exposição na Galeria Janete Costa (2012): Raul Córdula: 50 anos de arte—uma antologia, “Poéticas” envereda, especificamente, pela obra do artista. Segundo Raul Córdula, o processo de pesquisa para produção do livro o levou a uma autodescoberta, já que a obra apresenta um portfólio de seu trabalho, à luz do levantamento feito pela historiadora considerando diferentes aspectos do artista. Em tempo, o livro expõe ao publico um artista complexo e plural, envolvido com a escrita critica de arte. A obra apresenta uma síntese de arquivos catalogados e, agora revelados, de textos escritos que versam sobre o mundo da arte e de muitos artistas brasileiros. De acordo com Joana, o mapeamento realizado tem em vista também ajudar muitos pesquisadores que desejem entrar no tema da critica de arte feita no nordeste do Brasil da segunda metade século XX e XXI. De quebra, a publicação expõe a trajetória de Córdula, não só como

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artista e crítica, bem como curador, gestor e incentivador de projetos e espaços de produção e formação das artes plásticas, a exemplo do Núcleo de Arte Contemporânea na Paraíba e a reorganização do Salão Pernambucano de artes Plásticas de Pernambuco em 2000, depois de mais de dez anos sem ser organizado. Sobre o artista Raul Córdula Filho, nasceu em Campina Grande–PB, em 1943. Pintor, artista gráfico, cenógrafo, professor, crítico de arte, começou a pintar em 1958, orientado pelo amigo Flávio Bezerra de Carvalho. Um ano depois, ilustra poesias da Geração 59, grupo de poetas paraibanos que edita o suplemento literário A União nas Letras e nas Artes. No início da década de 1960, viaja para o Rio de Janeiro e estuda história da arte no Instituto de Belas Artes e técnica em pintura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro–MAM/RJ, onde é aluno de Domenico Lazzarini (1920–1987). Entre 1963 e 1965, é supervisor do setor de artes plásticas da Universidade Federal

da Paraíba–UFPB. Atua como cenógrafo em várias emissoras de televisão, entre 1965 e 1972. Em 1967, torna–se diretor do Museu de Arte Assis Chateaubriand de Campina Grande–Maac. Idealiza, em 1977, o Núcleo de Arte Popular e Artesanato–NAP, da Casa de Cultura de Pernambuco, no Recife. Entre 1978 e 1985, é coordenador do Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB. Leciona história da arte e fundamentos da linguagem visual nos cursos de educação artística e arquitetura e urbanismo do Departamento de Artes da UFPB entre 1978 e 1988. É contratado pelo Museu de Arte da Moderna da Bahia–MAM/BA para coordenar a implantação do Salão MAM–Bahia de Artes Plásticas, em 1994. Torna–se diretor de desenvolvimento artístico e ­­cul­­tu­ral da Fundação Espaço Cultural da Paraíba–Funesc entre 1997 e 1998. 

*O livro Raul Córdula: Poéticas está disponível para compra na Galeria Arte Plural.


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CAUSOS

AFFONSO RIQUE é Contista de fôlego (premiado), escritor (nem tanto), poeta temporão (mais ou menos, mais pra menos), satírico, mordaz, já cedo encantava e desencantava quando se metia a rabiscar. Sintético em seus minicontos.

SÓCIO DO SANTA CRUZ

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urante algum tempo, o saudoso Célio Célio pousaram nos imensos esteromastóideos que bem Montenegro foi juiz no interior do estado. faziam parelha com os peitorais, os bíceps e os tríceps do Certa vez, na direção do seu fusca branco, homem, absolutamente anormais, que estufavam periquase chegando a sua vara instalada na gosamente o pano da farda. entrada de uma cidadezinha bucólica, Dr. Célio Montenegro nunca foi flor de cheiro. Se, nas brenhas do agreste, deparou–se com de fato, todo homem pequeno é brabo como dizem, uma blitz policial que o fez parar. A do jeito que mulher pequena é o mão estendida do guarda era quase diabo, então Dr. Célio fazia honra do tamanho do para–brisa do carro. ao provérbio. Mas nesse dia estava O guarda era maior que o carro. calmo. Olhou para os nós dos dedos —Bom dia, seu guarda—cumpribrancos, de raiva, envolvendo a mentou com cordialidade, que era direção do carro, pensou um pouco mesmo cordial quando em repouso. e resolveu não engrossar. Milagre. —Tá tudo em orde nessa lebreia?— A documentação estava em ordem, Perguntou o bigodão pendurado no logo ali, no bolso de trás da calça e nariz do mastodonte, mastigando um quanto mais rápido se livrasse da palito da grossura de um pé de baobá, fiscalização melhor. Estava atraolhando para o juiz, lá de cima. sado para suas audiências, mas —Tá sim, tudo em ordem.— era melhor resolver logo o assunto. Dr. Célio estava calmo, o que era Nunca havia dado “carteirada” e ia um milagre. continuar assim. Também, brabo —Apois pra mim num tá não.— do jeito que era, nunca havia preciVociferou o guarda. sado. Baixou a mão, levantou o Quem já viu pavio curto não fundo, do fundo do banco, meteu viu nada se não conheceu Dr. Célio o maior–de–todos e o fura–bolo no Montenegro. Aliás, ele não tinha pavio bolso traseiro da calça, procurou, curto. Simplesmente não tinha pavio. procurou, e nada. Vazio. Procurou Uma edição da editora CEL —É, a gente faz o que pode, né? no outro bolso e nada. Tentou o Cada qual no seu galho, né não? cofre do carro, vazio. Procurou no —O juiz continuava calmo, por incrível que pareça. bolso da camisa e finalmente arrastou de lá uma carteiHavia até omitido a palavra “macaco”, do adágio, para rinha vermelha, pequenininha. Desconfiou que não era evitar confusão. o que procurava e, quase sem olhar, espichou a mão —Oia, e o tampinha inda é metido a engraçadinho... pela porta aberta do carro, bem no narigão do guarda, —o guarda, parece, não gostava de homem pequeno. e disse bufando. —O senhor vai fiscalizar o carro? Tô com pressa. —Aqui, ó, quer saber quem eu sou, é? Taqui, ó, Olhe aqui os documentos. Tá tudo em ordem. sou sócio do Santa Cruz. — Tá pensando o que heim, meu? E quem é tu para Passou uma primeira incrementada e arrancou, para falar desse jeito? Eu vô fiscalizá é tu, tá certo? Vá sartando a guarida de sua vara, com porta escancarada e tudo, logo—e meteu a mão no trinco, abrindo a porta com um sem se importar com a cara espantada da otoridade que safanão—tu é quem???—Sem querer, os olhos de Dr. ficou lá, coberto de poeira. 

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SAÚDE

MANOEL BIONE é psiquiatra, psicoterapeuta e jornalista.

O portador de TB mora ao lado (ou não!)

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chei no mínimo temerário o fato de a Revista Jurema ter me convidado para escrever um artigo sobre o Transtorno Bipolar (TB). Quem me conhece sabe que, desde o início de minha formação médica, optei por ser “gauche” em relação à psiquiatria. Comecei com esse, digamos, esquerdismo psiquiátrico a partir da leitura dos então autodenominados anti–psiquiatras , muito lidos nos anos 1970, entre eles, Laing, Cooper, Basaglia e Szass. É graças a eles que o mundo, e em particular o Brasil, se livrou dos famigerados manicômios. Paralelamente à minha formação psiquiátrica acadêmica, busquei outras formas de tratamento psicoterápico, como Gestalt, Bioenergética, Análise Transacional, Biodança, etc. Conheci mestres importantíssimos à minha formação, como Pierre Weill, Octávio Rivas e Rolando Toro Arañeda. E uma das tarefas que assumi em minha vida profissional foi o “desmame” de pacientes intoxicados e viciados pelos psicotrópicos prescritos indiscriminadamente, para júbilo da poderosa indústria farmacêutica mundial. Para se ter ideia, só no ano de 2012, os brasileiros compraram 42,3 milhões de caixas de antidepressivos. Um mercado que cresceu 16,3% em relação a 2011 e movimentou 1,85 bilhão de reais. Dados da Anvisa—Agência Nacional de Vigilância Sanitária. TRANSTORNO BIPOLAR O Transtorno Bipolar (TB) é uma síndrome de caráter afetivo, classificada pelo DSM–IV–TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais americano), associado à Classificação Internacional de Doenças (CID), com os diagnósticos que vão do F30X ao F39. As características clínicas principais do TB são sintomas de transtornos do humor, intercalando episódios de depressão e de mania. Alguns pacientes têm episódios mistos, com manifestações tanto maníacas como depressivas. Outros parecem experimentar episódios de depressão rápidos —de minutos a poucas horas—durante a fase maníaca. Durante os episódios depressivos, há perda de interesse e de prazer. Os pacientes dizem que se sentem tristes, na “fossa” e desvalorizados. Trata–se de uma tristeza sem

motivo aparente, como seria no luto ou em outro acontecimento concreto de perda. Muitas vezes se queixam de ser incapazes de chorar. Cerca de dois terços pensam em suicídio e cerca de 10% a 15% o cometem. Já os episódios maníacos se caracterizam por um estado de humor elevado, expansivo ou irritável. Trata–se de um humor eufórico, às vezes contagiante, e pode até causar uma negação da doença por parte de um profissional inexperiente. Esse humor instável aparece quando o paciente tem seus planos ambiciosos contrariados. Às vezes ele tem surto de consumismo, gastando mais do que possui e assumindo dívidas impagáveis, para desespero dos familiares. Eu próprio tive uma paciente que, num mesmo dia, comprou três televisores num dos shoppings da cidade. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO O tratamento do TB deve ser misto e voltado incialmente para a segurança e bem–estar do paciente. A terapia medicamentosa geralmente é à base de lítio, enquanto a psicoterapia depende da linha e da formação do profissional de saúde. Já o prognóstico varia com a frequência dos episódios maníacos e depressivos, com a idade em que ocorreu o primeiro episódio. A curta duração dos episódios, a idade avançada de início e poucos pensamentos suicidas contribuem para um bom prognóstico. No acompanhamento a longo prazo 15% dos pacientes ficam bem; 45% ficam bem, mas têm algumas recaídas; 30% têm remissão parcial; e 10% são crônicos. Um terço de todos os pacientes com TB desenvolve sintomas crônicos e evidência de certo declínio social. O portador de TB pode ser seu vizinho, seu irmão ou um dos seus pais. É preciso agir com parcimônia e proteção, consultar mais de um profissional e checar suas opções de diagnóstico e tratamento, senão corre–se o risco de se condenar seu próximo a um diagnóstico estigmatizante e/ou a um tratamento que o leve a uma eterna inércia e à perda da cidadania para o resto da vida. Um conselhinho final. Assista a dois exemplos de tratamentos psiquiátricos desastrosos que podem ser vistos em dois clássicos do cinema mundial: Os contos proibidos do Marquês de Sade, de Phillip Kaufman, e O estranho no ninho, de Milos Forman. 


R G DO

E T I F A

O

REIN

VE NÇ Ã

No dicionário, grafitti, grafito ou simplesmente grafite se refere às inscrições feitas em paredes, seja em forma de caligrafia ou desenho, de locais públicos, cujas origens remetem ao próprio Império Romano. Apesar de terem sua origem na Antiguidade, essas intervenções tiveram maior volume e intenção confirmados na década de 1970, quando jovens de Nova York (EUA) Nuvem Produções começaram a se utilizar da té c n ic a como forma de expressão. Galo de Souza Estritamente ligado ao mov i mento hip hop, o grafite teria chegado ao Brasil na década de 1980, porém os grafiteiros brasileiros, insatisfeitos com o modelo n ­ orte– americano da arte, trilharam seu próprio Intervenções de Derlon fazem caminho, de modo referência à Literatura de Cordel que hoje o grafite nacional é um dos mais elogiados no mundo. criança que gosto de desenhar, mas foi na adolescência Visto ainda por algumas pessoas com certo precon- que comecei a me identificar com o grafite, com a ceito –que confundem a técnica com pichações—, capacidade que ele tem de comunicar. Tinha essa o grafite se destaca por reinventar a estrutura necessidade de me comunicar com as pessoas e o artística em sua comunicação e suporte (muros), grafite supriu isso”, conta Derlon, grafiteiro recie já é reverenciado não só pelos que o produzem, fense, que hoje mora e trabalha em São Paulo. como por quem aprecia essa forma de arte Com trabalhos expostos em galerias e festivais, amante da leveza e que é capaz de transpor além de intervenções feitas no Recife e em o universo urbano para o interior de outras cidades do Brasil e do mundo, casas, escritórios, restaurantes e Derlon se destaca pelo trabalho que mesmo, galerias de arte. incorpora elementos do pop art “É uma forma de arte simples, e da cultura popular, entre Tereza Dequinta mas fácil de se comu- os quais, a estética da nicar. Desde x i l o g r av u r a ,

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FOTO : NUVEM PRODUÇÃO

Texto WESLLEY LEAL

FOTO : VICTOR JUCA

ESTÉTICA Urbana


FOTO : NUVEM PRODUÇÃO

FOTO : DANILO GALVÃO

Robézio Marques do Grupo Acidum

Acidum Project

criando uma simbiose de intervenção urbana e um dos principais meios de expressão da cultura nordestina: a literatura de cordel. “O grafite virou algo desmarginalizado e prestigiado. Dá uma maior leveza aos espaços e alguns reconhecem essa possibilidade de trazer essa estética urbana para dentro de suas casas, escritórios, entre outros lugares”, conta Claudia Aires, empresária à frente da Nuvem Produções, produtora especializada em ações, projetos e agenciamento artístico focada em artes visuais. Baseada no interior da Galeria Joana D’arc, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, a Nuvem é responsável por eventos no estado como a feira de design e arte, Pixel Show na capital pernambucana, além de agenciar artistas como o Grupo Acidum.

O coletivo, formado pela dupla Robézio Marqs e Tereza Dequinta, naturais de Fortaleza (Ceará), atua em todo o país há mais de sete anos, utilizando–se de técnicas como graffiti e stêncil–técnica que consiste no uso de pranchas em papel e acetato vazados, para composição de desenhos. Com inúmeros painéis em grande formato, entre os quais, o painel do Sesc Pinheiros em SP e Reduto Walls em Belém (PA), o Acidum Project é um dos grupos mais conceituados do Brasil. Recentemente participaram do Festival Wynwood, na cidade de Miami, Estados Unidos, como artistas convidados, e atualmente moram em Olinda, onde realizam residência artística até 2016. Segundo Galo de Souza, outro pernambucano agenciado pela

SAIBA MAIS: Principais termos e gírias utilizados pelo grafite: Grafiteiro/writter: o artista que pinta. Bite: imitar o estilo de outro grafiteiro. Crew: é um conjunto de grafiteiros que se reúne para pintar ao mesmo tempo. Tag: é a assinatura de grafiteiro. Toy: é o grafiteiro iniciante. Spot: lugar onde é praticada a arte do grafitismo. (Fonte: Brasil Escola) *20 trabalhos entre gravuras e ilustrações de artistas da Nuvem, como Gio Simões Glasner, José Leite, Galo de Souza, Jotazer0ff, Bozó Bacamarte, Enivo, Acidum, David Nascimento, Tche Ruggi, Jerry Batista e o gravurista Cristiano Kana, foram expostos na A7MA—uma das galerias mais prestigiadas de São Paulo no último mês de abril. **A 7ª edição da Recifusion (Festival Internacional do Grafite), realizada em março e que teve como tema “Conquistando espaços, fortalecendo o traço”, contou com intervenções e produção de

Nuvem, o grafite é uma auto representação da própria história, já que ele não veio sozinho, mas acompanhado do próprio hip hop. “É uma forma de expressão para as pessoas, que causa reação instantânea. Ele (o grafite) se molda de acordo com o suporte e ao mesmo tempo o suporte ganha outra vida”, comenta. Grafiteiro desde os dezesseis anos, além de artista, Galo ainda mantém projetos sociais em várias cidades do interior de Pernambuco, que percorre dando oficinas para comunidades carentes. “No Brasil diferente de outros países, procuramos respeitar o espaço do outro grafiteiro, não fazendo nossos desenhos por cima do outro. Não importa se o desenho está numa galeria ou na parede de uma comunidade, o grafite é essa maneira universal de comunicar”, defende. 

painéis artísticos por 64 artistas de quatro cantos do Brasil e sete países. O evento buscou destacar as mulheres na cultura hip hop e o trabalho delas no universo do grafite. ***A lei Nº 12.408, de Maio/2011, reconhece o grafite enquanto manifestação artística, com objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado, desde que consentida pelo proprietário, locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. 

SERVIÇO Nuvem. Cultura + Comunicação Rua Herculano Bandeira, 513 — Sala 07 Galeria Joana D’Arc | Pina | Recife–PE Fone: (81) 8175 7208 — 3052 4530 www.portalnuvem.art.br

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MEMÓRIA

1924†2014

ABELARDO DA HORA

GERMANO

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“Artista não morre. O artista vive através de sua obra. E a obra resiste ao tempo”

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FOTO: ÁGUILA COMUNICAÇÃO

dealizador do MCP—Movimento de pode ser encontrada na própria casa do artista, que Cultura Popular, do Ateliê Coletivo, desde a sua entrada está completamente cheia de peças escultor, ceramista, desenhista, pintor e que representam diversos períodos da sua história. No militante político de esquerda, este era endereço, na Rua do Sossego (área central do Recife), Abelardo da Hora. Seu corpo foi velado fica também o Instituto Abelardo da Hora, criado para na Assembléia divulgar e manter o acervo do legislativa de escultor, além de reviver a idéia Pernambuco. do próprio MCP—Movimento Abelardo da Hora deixou sua de Cultura Popular, do qual o criatividade espalhada por ruas, artista foi um dos criadores. avenidas, prédios públicos e Uma das últimas peças produresidenciais, a exemplo de O zidas por com cinco metros Sertanejo, Memorial do Frevo e de altura e é feita em bronze Família de Retirantes. Instaladas polido. A obra foi inaugurada em praças do Recife. no dia do aniversário do A sua obra é muito extensa e artista, 31 de julho, em frente muitas delas podem ser vistas em à Arena Pernambuco, em vários locais públicos e prédios do São Lourenço da Mata, onde Recife como, Joaquim Nabuco e a Abelardo nasceu. Abolição da Escravatura, painel Sobre a sua obra diz Abelardo de azulejo no Edf. Joaquim Nabuco, na Praça Joaquim da Hora: “Faço a minha arte respondendo a uma necesNabuco; Monumento à Restauração Pernambucana, sidade vital. Como quem ama ou sofre, se alegra ou se na Praça Sérgio Loreto; O Pescador, no Banco Itaú do revolta, aprova ou denuncia e verbera. Fruto das coisas que Parnamirim; Monumento à Convenção de Beberibe, a vida ensina... A marca mais forte do meu trabalho tem na Praça da Convenção; Monumento à juventude na sido entretanto o sofrimento e a solidariedade. A tônica é Universidade Católica de Pernambuco; Mulher deitada, no o amor: o amor pela vida, que se manifesta também pela parque de esculturas do Shopping Center Recife; Mulher repulsa violenta contra a fome e a miséria, contra todos sereia, no Mar Hotel, além de várias outras colocadas em os tipos de brutalidade, contra a opressão e a exploração.” diversos prédios residenciais. A grande maioria das obras de arte de Abelardo da Hora ATÉ SEMPRE CAMARADA! 


FOTO: DRICA MELO

FOTO: DRICA MELO

FOTOS: DIVULGAÇÃO FOTO: MARCELO GOMES

“Em contraste com o seu físico, frágil e franzino, sua obra é de um peso enorme para o País. De uma importância cultural e artística, de uma valentia e coragem de denunciar a pobreza, a miséria e a morte. Nossa cidade foi povoada pelas esculturas de Abelardo, esse homem tão pequeno e tão gigante na sua obra”, —Leda Alves

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Fotos RINALDO MARQUES

O artista plรกstico pernambucano Abelardo da Hora, morreu no dia 23 de setembro de 2014 pela manhรฃ aos 90 anos, foi velado no Plenรกrio da Assembleia Legislativa



HOMENAGEM

E O COCO PERDE SUA ETERNA

RAINHA... Aos 85 anos, Selma do Coco, deixa órfã uma legião de fãs e entra para o rol de símbolos imortalizados da cultura popular nordestina

Selma do Coco e Chico César no Sesc Campo Limpo

Q

uando Selma Ferreira da Silva nasceu, em 1935, o estereótipo de mulher bonita deveria ser magra e bronzeada—não muito diferente do que é almejado hoje, especialmente entre as brasileiras. Além disso, as moças da época deveriam ter sobrancelhas e pálpebras marcadas, visual sofisticado. Naquele momento, a atriz

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americana Greta Garbo personificava o ideal de beleza feminina mundo afora. Paralelo a isso, na Etiópia, a coroação do imperador Ras Tafari ou Hailé Selassié, para os menos íntimos, iniciou um dos mais importantes movimentos em favor à cultura negra no mundo. Embora esses dois eventos não se relacionem diretamente à Selma, a vida dessa pernambucana se tornou, sobretudo, um símbolo de resistência da cultura regional e afro–brasileira, que desde a década de 1930 aflorava nos quatro cantos do mundo. Mulher, negra, viúva aos 30 anos, Selma foi descoberta por integrantes do movimento manguebeat, enquanto transbordava a vivacidade de seu coco nas ladeiras de Olinda, nos anos 1990. Dali em diante, a mãe e trabalhadora viraria a representação da cultura popular nordestina e se tornaria

FOTO: INALDO MENEZES

FOTO: DIVULGAÇÃO

Texto JÉSSICA PINHEIRO


FOTO: PIRE

Apresentação de Dona Selma do Coco no Festival Cena Brasil 2013

artista começou a trilhar os primeiros passos no caminho de apresentar o estilo popular ao mundo, principalmente depois que Chico Science e cia a revelaram ao grande público. Em 1996, Selma chegou ao Abril Pro Rock e, de lá, para o restante do mundo. Um ano depois, o sucesso da cantora inspirou o documentarista Roberto Berliner a produzir o curta–metragem “O Som da Rua”, no qual Selma fala sobre a origem do coco e mostra sua música em apenas dois minutos. No ano seguinte, a artista gravou seu primeiro disco “Minha História”, com o qual ganhou o Prêmio Sharp; e em 2004 saiu o segundo álbum, “Jangadeiro”. A partir dos primeiros discos, músicas como “A Rolinha”, “Areia” e “Meu Sabiá” foram eternizadas. O sucesso da Rainha do Coco ultrapassou as fronteiras do Brasil, e em 2001 participou do famoso Festival de Jazz de Nova Orleans, além do Festival Lincoln Center, em Nova Iorque, além de se apresentar em diversos países como Alemanha, França, Suíça, Portugal e Bélgica. Em 2008, Selma foi considerada Patrimônio Cultural Vivo de Pernambuco, atribuído pelo Governo do Estado de PE. Selma do Coco foi uma mulher que ultrapassou as adversidades do seu tempo, deu voz à luta por representatividade do povo e visibilidade à cultura afro, mas também espalhou pelos quatro cantos do mundo a força da cultura pernambucana ao som do seu indefectível: Iêê ha ha! 

FOTO: ANDRÉA RÊGO

‘Selma do Coco’, que em 9 de maio faleceu depois de 28 dias internada, após uma queda, que nos privaria de sua voz e passos inconfundíveis. Nascida em Vitória de Santo Antão (PE), em 10 de dezembro em 1935, Dona Selma, como era chamada, conheceu as rodas de coco ainda na infância, através dos avós e dos pais. Aos 10 anos, se mudou para o Recife, onde casou, teve dois filhos e criou 14 sobrinhos. Viúva aos 30 anos, ela se mudou para Olinda, e como forma de sobrevivência da família, se dedicou à venda de tapioca no Alto da Sé. Para atrair os turistas e aumentar as vendas, Dona Selma cantava enquanto trabalhava e organizava as rodas de coco em seu quintal nas horas vagas. Foi na década de 1990, que a

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FOTO: RICARDO NASCIMENTO

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