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Um novo ciclo letivo significa sempre
ano, fora da UA; a atividade cultural e de
um recomeço: de vida, com redobrados
promoção do gosto pela Ciência, de que
sonhos e esperanças, para os
são exemplo a Fábrica-Centro de Ciência
estudantes que chegam pela primeira
Viva e a Orquestra Filarmonia das Beiras; a
vez; de planos, com novas ideias
intensa relação com as empresas, decisiva
e entusiasmos, para os que fazem
para nos tornar na Universidade com maior
acontecer Universidade em Aveiro; de
percentagem de receitas próprias.
prioridades, com afinação de políticas e estratégias, para a própria instituição no
Razões bastantes para comemorar. Mas
seu afã de melhor realizar a missão que
o mais importante é, sempre, “o jogo
lhe cumpre.
seguinte”! Neste ano vamo-nos centrar nessa revisitação às questões da qualidade
Manuel António Assunção Reitor da Universidade de Aveiro
É assim em cada ano. Todavia, este virar
e do viver com o mundo. O tema e o
de página é especial: vamos completar a
convidado – o eminente filósofo Gilles
quarta década de existência. Tempo para
Lipovetsky - para a Sessão de Abertura do
celebrar, claro. Mas também para uma
Ano Letivo dão o mote certo para o que
reflexão profunda sobre o nosso percurso,
tem que ser, cada vez mais, missão da
sobre aquilo que nos tem feito fortes, sobre
universidade: ajudar a compreender o que
aquilo que importa corrigir ou incorporar.
se passa na sociedade, interrogar-se sobre possíveis saídas para os problemas; e
Nasceu e cresceu a UA sob duas
contribuir para o desenho de soluções que
importantes ideias: a afirmação pela
permitam escolhas adequadas.
qualidade e a abertura ao exterior. Duas preocupações iniciais que temos sabido
Esta revista foi muito pensada para
honrar, duas caraterísticas que fomos
promover uma relação mais intensa com os
capazes de tornar identitárias da nossa
antigos estudantes da UA. A Linhas é-lhes
matriz, dois motores das nossas escolhas e
especificamente dedicada. Porque são
da nossa atuação, sempre presentes.
essenciais para trazer ideias, dinâmicas e oportunidades de fora para dentro; e
A procura da qualidade tem tradução bem
porque são “embaixadores” num duplo
visível: a presença constante em rankings
sentido, já que podem atuar em favor da
internacionais, de que destaco o 66º
UA, com o conhecimento e afeto que nos
lugar mundial entre as universidades com
liga, e são, na sua vida, a melhor evidência
menos de 50 anos; a liderança nacional na
do impacto da nossa ação.
Editorial
investigação, em número de publicações e citações por docente; a oferta de cursos
A realização pela primeira vez do Dia do
com grande atratividade; e a crescente
Antigo Aluno da UA, em união de vontades
internacionalização, comprovada pelas 77
entre a Associação dos Antigos Alunos, a
nacionalidades que integram a UA.
Associação Académica e a própria UA, é uma das maneiras mais bonitas de celebrar
Temos, do mesmo modo, sido fiéis ao
40 anos de serviço público. Vamos fazer do
repto que o Prof. Veiga Simão nos lançou
dia 28 de setembro um momento coletivo,
quando criou a UA: uma Universidade
inspirador e com efeito multiplicador.
em osmose com o meio, para melhor servir a região e o país. Veja-se a rede
Desejo, a cada um, membro ou
regional de formação, com mais de uma
simplesmente amigo da UA, um 2013/2014
dezena de concelhos do Baixo-Vouga e
muito proveitoso e feliz! O “Campus Que
do Entre-Douro-e-Vouga; a Incubadora de
Pensa”, em que diariamente nos revemos,
Empresas, ela própria estendida à Região;
não é mais do que a dinâmica que resulta
a parceria com a CIRA, especialmente
do contributo de todos.
reconhecida pelo Observatório do QREN; mais de mil estágios realizados, em cada
linhas
set 2013
03
EDITORIAL Manuel António Assunção
10 - 15
Reitor da UA
PERCURSO ANTIGOS ALUNOS Elisabete Rita Manuel Fernandes Thomaz Paulo Castelo-Branco
06 - 07
OPINIÃO Revisitar a linha de vida da UA
16 - 21
PERCURSO honoris causa Há espaço para novas utopias Gilles Lipovetsky
obriga-nos a mergulhar nas razões da sua origem Jorge Arroteia
08
22 - 26
PERCURSO singular Joaquim Renato Araújo
OPINIÃO 2013 — Ano internacional da matemática do planeta terra
27 - 31
DISTINÇÕES
e ano internacional da estatística João Santos
09
OPINIÃO Conhecimento e inovação no centro da região de Aveiro Filipe Teles
32 - 33
COOPERAÇÃO Uma mão cheia de saberes que se estende à comunidade
5
34 - 38
DOSSIER A UA do tamanho da língua portuguesa
50 - 52
ENSINO Novo edifício congrega ESSUA, SACS e Centro de Biologia Celular
39
EDIÇÕES
53 40 - 43
Robôs já não sonham
54 - 55
ACONTECEU NA UA
INVESTIGAÇÃO Alta pressão: novo paradigma na conservação de alimentos e aplicações biotecnológicas
47 - 49
Sons dos Festivais de Outono voltam a ouvir-se na cidade de Aveiro
INVESTIGAÇÃO com carneiros elétricos
44 - 46
CULTURAL
ENTREVISTA COM ... António Barreto
56 - 57
ALUMNI UA promove o Dia do Antigo Aluno
linhas
set 2013
Revisitar a linha de vida da UA obriga-nos a mergulhar nas razões da sua origem À semelhança do que sucede com as
A tenacidade dos “heróicos” entrincheirados nas instalações do
demais organizações sociais a Universidade
Pavilhão I foi coroada com a homologação dos primeiros Estatutos
de Aveiro, que assinala em data próxima o
da UA (Despacho Normativo, nº 52/89) e a instituição reconhecida
seu quadragésimo aniversário, apresenta
como “pessoa colectiva de direito público”, dotada de autonomia
marcas da sua evolução no tempo.
estatutária, científica, pedagógica, administrativa, financeira e
Da fase de instalação à consolidação
disciplinar. Este documento veio acabar com a fase de transição
do seu estatuto como Universidade
em que se encontrava desde 1982 - fim do período de instalação -
de referência entre as universidades
e abriu o período seguinte de consolidação da Universidade.
portuguesas e a nível internacional, Jorge Carvalho Arroteia Docente aposentado do Departamento de Educação da Universidade de Aveiro
decorrem quatro décadas de afirmação
Com o arranque da construção dos novos Departamentos
de um projecto de desenvolvimento com
e demais instalações do Campus de Santiago, a UA foi
orientação estratégica, desempenho
construindo o seu “estatuto de alforria”, acolhendo mais
assertivo, doação e labor da sua população
estudantes, docentes e funcionários, vencendo novos
e responsáveis.
concursos e projectos de investigação, fortalecendo o seu corpo de investigadores e ampliando a formação e graduação
Evocar a linha de vida da UA obriga-nos
académica e especializada com novos cursos de Licenciatura,
a rever, nos pergaminhos do seu passado
Mestrado e Doutoramento. Nesta fase beneficiou do “efeito de
recente, o esforço desenvolvido pela
onda” decorrente da democratização do ensino, alargamento
comunidade académica e incentivar as
da esperança de vida escolar obrigatória, expectativas de
gerações vindouras para que venham
mobilidade social da população portuguesa e abertura do
a responder com determinação e
mercado de emprego aos novos diplomados. Beneficiou,
compromisso académico, científico e
igualmente, da diversidade de fundos europeus que foram
profissional, às necessidades de uma
postos à disposição dos países membros de UE e dos
sociedade confiante no desempenho das
incentivos à investigação conferidos por instituições europeias
suas instituições universitárias. Entendida
e internacionais.
como “locus” de conhecimento e de investigação científica, de inovação e
O contexto favorável desta etapa da UA foi acompanhado
de regeneração social, de mobilidade
pela acção de equipas reitorais que, em momento próprio,
e de formação avançada de recursos
souberam criar as condições indispensáveis à construção
humanos, a Universidade de Aveiro
de uma comunidade académica interessada, dinâmica,
pugnou desde o seu início por ser uma
competitiva e dotada de grande generosidade. Tais atributos
Universidade nova e não só, uma nova
foram determinantes na construção do “ethos” organizacional
Universidade (Victor Gil).
e da “marca” – Universidade de Aveiro – consubstanciada na diversidade dos seus cursos, desempenho e qualidade dos efectivos académicos e formações, afirmação das equipas
7
opinião
de investigação e expressão da investigação desenvolvida,
Revisitar a linha de vida da UA nestas quatro décadas obriga-
abertura da Universidade ao exterior e à internacionalização,
-nos, mais do que assinalar datas, factos, pessoas ou
procura crescente de alunos.
entidades, a mergulhar nas razões que estiveram na origem da criação desta instituição universitária, reflectir sobre o seu
Evocar a fase de consolidação da UA – que prosseguimos
desempenho e entraves, pugnar pela afirmação e determinação
de forma contínua nos dias de hoje -, não desmerece o
como projecto coeso, inovador, funcional, equilibrado, inclusivo
esforço e a acção de antigos e novos “pioneiros” integrados
e eficaz, responsável pela formação dos melhores e mais
em diferentes equipas de gestão académica, pedagógica,
reconhecidos recursos humanos a que pode aspirar uma
científica e reitoral na construção de projectos e orientações
instituição universitária. Obriga, de igual modo, a estar atento
universitárias conducentes à consolidação da estrutura
à evolução da matriz organizacional e à leitura dos muitos
matricial, abertura a novos públicos, afirmação da qualidade e
contextos, internos e externos, que sugerem uma constante
avaliação internacional, alargamento da rede, consolidação da
adaptação desta organização social e académica às exigências
cooperação institucional.
do meio na procura de uma melhoria contínua dos processos, procedimentos e dos resultados expressos na formação
O acolhimento do ensino superior politécnico e a oferta de
e enriquecimento do seu “capital humano”, qualidade da
novas formações pós-secundárias e universitárias estabelecem
investigação, mediação e cooperação com a sociedade.
a ligação com a nova fase de vida da UA marcada pela expansão do seu “campus”, construção do espaço europeu
Quando escasseiam recursos financeiros e alunos não se
de ensino superior – determinada pelo Modelo de Bolonha
pode abrandar a dinâmica de uma obra que se quer renovada
– e adopção do regime fundacional. Acompanham-no um
e constantemente acarinhada pela excelência do seu
contexto demográfico adverso marcado pelos efeitos da
desempenho, mas cada vez mais dependente de uma teia de
recessão demográfica, degradação da situação económica
decisões políticas e financeiras que transcendem as fronteiras
das famílias, constrangimentos internos e internacionais
tradicionais de um Estado soberano. Porque dos homens se
ditados pela situação de dependência financeira da “velha”
faz conhecimento e deste o desenvolvimento social e humano,
Europa, competitividade dos mercados, mobilidade acrescida
pugnamos para que as futuras comunidades de seres e de
da população jovem e adulta, consolidação da “dependência
saberes da UA saibam prosseguir o sonho dos “heróicos” e
estrutural” da nossa sociedade e expectativas insanáveis de
“pioneiros” e manter vivo um projecto sempre novo, consistente
melhoria do seu bem-estar e nível de vida.
e de excelência que marque, na sua vida pessoal e profissional, a sua afiliação a esta Universidade.
linhas
set 2013
2013 — ano internacional da matemática do planeta terra e ano internacional da estatística O ano de 2013 concilia duas importantes
O DMat não podia ficar alheado desta importante iniciativa,
iniciativas a nível internacional na área
associando-se através da organização de diversos eventos,
da Matemática a que o Departamento
nomeadamente a concretização já verificada de um workshop,
de Matemática (DMat) naturalmente dá o
ações de formação, palestras e seminários. Estão ainda a ser
seu contributo. De facto, está a decorrer
ultimados novos eventos que serão brevemente divulgados na
o Ano Internacional Matemática do
página oficial do DMat.
Planeta Terra 2013 (MPT2013), iniciativa
João Santos Docente e diretor do Departamento de Matemática da UA
apoiada pela UNESCO, que tem como
A outra grande iniciativa que decorre em 2013 é a
objetivo promover o desenvolvimento
comemoração do Ano Internacional da Estatística
de atividades que visam mostrar como
(Statistics2013). Também aqui se verifica à escala mundial,
a Matemática desempenha um papel
em mais de cem países, a participação de múltiplas
fulcral em questões relacionadas com o
organizações — universidades, institutos de investigação,
planeta Terra.
escolas, sociedades científicas e profissionais, agências governamentais e empresas – que se associam com o objetivo
A abertura oficial do ano MPT2013
de promover e celebrar a importância da Estatística.
decorreu no passado dia 5 de março,
Durante o ano de 2013 as organizações participantes
na sede da UNESCO, em Paris, contando
propõem-se aumentar a tomada de consciência pública sobre
a nível mundial com a dedicação de
o poder e o impacto da Estatística em todos os aspetos
universidades, institutos de investigação,
da nossa sociedade e ainda fortalecer a Estatística como
fundações, associações e sociedades
uma carreira profissional, especialmente entre os estudantes
e com um programa estruturado em
dos ensinos secundário e superior.
quatro grandes temas sob a égide de um planeta - para descobrir (oceanos,
O DMat também se associou a esta iniciativa, tendo decorrido já
meteorologia e clima, processos do
um workshop integrado no Statistics2013 (e, simultaneamente, no
manto, recursos naturais, sistemas
MPT2013), organizado pelo Grupo de Probabilidade e Estatística
solares); - suportado por vida (ecologia,
do Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e
biodiversidade, evolução); - organizado
Aplicações (CIDMA), da Universidade de Aveiro, visando fomentar
por humanos (sistemas políticos,
a interdisciplinaridade e promover a importância da Estatística
económicos, sociais e financeiros,
Aplicada em diferentes domínios científicos. Ainda neste
organização das redes de transporte e
âmbito, o DMat e a Sociedade Portuguesa de Estatística (SPE)
de comunicação, gestão dos recursos,
organizam em Aveiro, de 29 de novembro a 2 de dezembro de
energia); - em risco (mudanças
2013, o XXI Congresso da Sociedade Portuguesa de Estatística.
climáticas, desenvolvimento sustentável,
Neste congresso a SPE encerrará as atividades relativas ao Ano
epidemias, espécies invasoras,
Internacional da Estatística através de uma sessão especialmente
desastres naturais).
dedicada ao tema.
9
opinião
Conhecimento e Inovação no Centro da Região de Aveiro orientação comum representa um esforço significativo de identificação de prioridades e instrumentos, afirmando-se, também de forma muito clara, que o seu sucesso depende da eficaz articulação dos diversos stakeholders regionais. A missão, que sublinha a aposta da Região de Aveiro no conhecimento, no empreendedorismo e na atratividade do seu
Filipe Teles Docente do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da UA e coordenador UA/ CIRA do Quadro Comum de Investimentos da Região de Aveiro
O Plano Estratégico da Universidade de
território, procura traduzir aqueles que serão os instrumentos
Aveiro (2012) reconhece como prioritário
preferenciais a privilegiar e os objetivos a atingir: a promoção
o “reforço da cumplicidade da UA
da qualidade de vida, a criação de um contexto favorável
com o desenvolvimento económico,
ao empreendedorismo, e a construção de mecanismos de
social e cultural da Região, como
boa governação e de atratividade do território, em estreita e
fator distintivo […] nos panoramas
inseparável relação com o conhecimento e a inovação.
universitários português e europeu”.
A sua concretização contribui para a resposta aos desafios
O acordo interinstitucional assinado
societais que enfrentamos, tais como o emprego e a necessária
com a Comunidade Intermunicipal da
internacionalização da economia regional, com a promoção da
Região de Aveiro deu maior visibilidade
inclusão e da sustentabilidade, com a garantia de instrumentos
a esta opção estratégica e enquadrou
de escala de governação e de promoção da coesão territorial.
o trabalho que veio a ser desenvolvido em parceria e que culminou com a
Para a criação das condições necessárias a um contexto
apresentação de um Quadro Comum de
favorável ao crescimento Inteligente, Sustentável e Inclusivo
Investimentos da Região de Aveiro.
da Região de Aveiro, a Universidade desempenha um papel determinante através: da contribuição para o sistema de
Este documento é, agora, uma peça
inovação regional, intimamente ligado – mas não de forma
central no posicionamento da região
exclusiva – às atividades de investigação; da promoção do
no futuro período de programação
empreendedorismo, do desenvolvimento empresarial, de
financeira 2014-2020, contribuindo
negócio, de processos e de produtos; da contribuição para
de forma decisiva para que esta
o desenvolvimento das competências, qualificações e capital
venha a contratualizar uma Iniciativa
humano da região; e da melhoria da coesão territorial, através
Territorial Integrada (ITI), fundamental
do seu impacto no tecido cultural, social e económico.
para prosseguir a operação de desenvolvimento regional que tem vindo
Uma Região saudável, equilibrada, promotora de emprego e
a ser concretizada, no atual período de
com uma política de educação que seja capaz de proporcionar
gestão do QREN. A região, sabemos hoje,
as melhores condições para a qualificação e a qualidade de
soube marcar a diferença no volume, tipo
vida dos seus cidadãos, necessita de uma Universidade forte
e categoria de investimentos efetuados,
(e que se ajuda a fortalecer, precisamente, ao torná-la útil ao
numa tentativa de lhe dar uma articulação
desenvolvimento regional). Desta forma colocam-se, também,
intermunicipal e ao apostar na relação
desafios importantes à Universidade de Aveiro. Esta deve saber
interinstitucional que estabeleceu com a
assumir de um modo ativo o seu papel de instituição de ensino
Universidade de Aveiro.
superior de referência no panorama internacional, na formação, na investigação e na articulação com a região, de forma
A apresentação deste documento de
independente, mas também particularmente empenhada.
Elisabete Rita
linhas
set 2013
“Sempre foi um orgulho ser aluna da UA�
11
percurso antigo aluno
Desde muito cedo soube que o seu futuro profissional passaria pelo planeamento do território ou ambiente. A Universidade de Aveiro foi a escolhida, pela proximidade e pelos cursos que lecionava. O futuro destinou-lhe o cargo de diretora geral da Associação Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA). Mas o contributo para a indústria começou muito antes, com a criação de um sistema de georreferenciação para o concelho de Aveiro. Nascida e criada em Ílhavo, a UA foi
investidor saber rapidamente que terrenos
saudar todos os colegas, logo de manhã,
uma opção mais do que natural para a
estavam disponíveis, o seu tamanho, quem
quando não está no estrangeiro em
continuação dos seus estudos. Colocou
era o proprietário, as distâncias a um porto
missões empresariais, pois “o apoio à
a licenciatura em Planeamento Regional e
de mar, a uma autoestrada, etc.
internacionalização é uma das áreas fortes de trabalho da AIDA”.
Urbano em primeiro lugar no concurso de acesso ao ensino superior e entrou.
Durante este projeto apercebeu-se que a AIDA necessitava de dar apoio às
“Este curso é essencial para o
Durante os cinco anos do curso, Elisabete
empresas numa área em que também
desenvolvimento do país”
Rita foi fazendo as disciplinas de um
tinha competências: os processos de
Apesar de hoje em dia a licenciatura
ano e algumas do ano seguinte. Quando
licenciamento industrial. Ou seja, “foram
que frequentou já não existir na UA,
chegou ao 5º ano faltava-lhe apenas o
as competências obtidas no curso que
mas sim um mestrado, Elisabete Rita
projeto final. Neste âmbito, trabalhou num
acabaram por me trazer para
considera que este curso é essencial para
gabinete de arquitetura no Porto com
uma tipologia de empregador que não
o desenvolvimento do país: “Nenhum
Teresa Andresen (arquiteta paisagista,
seria o empregador típico”, explica.
país se pode dar ao luxo de descurar o urbanismo e o planeamento regional. Seria
professora na UA entre 1987 e 2002 e orientadora do projeto final de curso de
E quais foram essas competências?
uma pena que não se percebesse que a
Elisabete Rita): “Uma pessoa que muito
“A percepção do território como um todo,
sustentabilidade do território depende de
me marcou e que continuo a ter como
ter uma visão das empresas como uma
visões integradas, sustentáveis e globais e
absoluta referência”, frisa.
parte integrante do desenvolvimento
que, para isso, pessoas com esta tipologia
regional, perceber a ligação urbana com
de formação podem dar um contributo
as áreas industriais, etc”.
muito importante”.
necessidades do país naquela época: o
Este projeto continuou a ser desenvolvido
Por tudo isto, para Elisabete Rita “sempre
ordenamento do território e as implicações
em parceria com a UA, através da
foi um orgulho ser aluna da UA”. “Cada
que isso tem no desenvolvimento social e
GrupUNAVE, e alargou-se a todo o
vez mais, quando se veem notícias da
económico”. O curso focava áreas como
distrito de Aveiro. “O sistema evoluiu de
Universidade, sinto-me honrada por
economia, história, matemática, ambiente,
tal forma que neste momento temos um
ser antiga aluna e por a entidade onde
o que permitiu “ter uma visão muito
projeto emblemático em cooperação com
trabalho hoje manter um elo cada vez
alargada de vários assuntos”.
a Associação Nacional de Empresas de
mais forte com ela. Poder contribuir para
Metalurgia e Electromecânica em que
que haja relações mais fortes entre a UA
Por isto mesmo afirma que não é raro
estamos a desenvolver um Sistema de
e as indústrias, para mim é uma forma
encontrar antigos alunos deste curso em
informação Georreferenciado de Apoio
de recompensar o que me foi atribuído
“empresas privadas ligadas à atividade
à Metalomecânica”, explica.
enquanto estudante”, frisa.
além das saídas profissionais óbvias dos
A recompensa para o seu trabalho foi a
Uma dessas iniciativas é o projeto
alunos desta área: câmaras municipais,
proposta de ocupar o lugar de secretária
Aveiro Empreendedor, uma parceria que
gabinetes de arquitetura e planeamento,
geral da AIDA em 2001, função que ainda
une a AIDA, Câmara Municipal de Aveiro
comissões de coordenação.
desempenha. O seu dia-a-dia é tudo
e UA com as empresas. “Felizmente
menos rotineiro: coordena internamente
temos em Aveiro ‘a’ universidade mais
A ligação à AIDA
uma equipa de 23 pessoas, faz a ponte
virada para o exterior do ponto de vista
Foi isso mesmo que aconteceu a Elisabete
com a direção, define estratégias e
das empresas, a nível nacional. A UA
Rita. No final da licenciatura, no âmbito do
acompanha todo o tipo de atividades.
tem conseguido conciliar o saber de
estágio, Elisabete propôs à AIDA a criação
“O meu dia começa sempre cedo e não
uma universidade com as necessidades
de um sistema de georreferenciação para
tem hora para acabar”. Mas no meio de
das empresas, tem tido uma abertura
o concelho que permitisse a um potencial
tantos compromissos, faz questão de
extraordinária para o exterior”.
Relativamente ao curso, considera que “conseguia claramente dar resposta às
económica e à visão estratégica”, para
Manuel Fernandes Thomaz
linhas
set 2013
De engenheiro se fez gestor
13
percurso antigo aluno
Com formação em Engenharia Eletrónica e Telecomunicações, hoje faz da gestão a sua atividade profissional. Os seus dias são passados entre Lisboa, Aveiro e outras cidades do país, enquanto administrador executivo da AdP - Águas de Portugal, SGPS, e presidente do conselho de administração da AdRA - Águas da Região de Aveiro. Sem raízes familiares em Aveiro, foi por
ANJE e a partir daí deixou a engenharia
Ligação às águas… Começa na
obra do acaso que os seus pais aqui se
definitivamente para trás. Mas nem tanto…
SIMRIA Manuel Fernandes Thomaz desempenha
instalaram depois do 25 de abril de 1974. Fez todo o percurso académico nesta
Manuel Fernandes Thomaz considera
atualmente funções no grupo AdP:
cidade, desde o ensino básico à licenciatura
que o “mind set” ou a maneira de pensar
é responsável pelas 19 empresas da
na Universidade de Aveiro, uma escolha
de um engenheiro é “muito importante
área das águas e saneamento e pela
“absolutamente natural”, porque a UA
em qualquer atividade”. E embora hoje
reforma do setor. Como as empresas
tinha o curso da sua preferência e por ser
se considere muito mais um gestor
se localizam em todo o país, anda
uma instituição relativamente jovem
profissional, não tem dúvidas de que
“de um lado para o outro”. Executa
e “com boa reputação”.
a forma de raciocinar, de abordar os
“essencialmente um trabalho de
problemas, é muito mais “à engenheiro”,
coordenação, de gestão e supervisão”.
Não teve de pensar “sequer um minuto”
“numa lógica de identificar um problema
em escolher Engenharia Eletrónica e
e fazer um plano para o resolver”.
Mas a sua ligação ao mundo das águas
Telecomunicações, pois “era exatamente
“A engenharia molda muito as pessoas
começou em 2003, quando assumiu as
o curso que queria”. Iniciou os
e não há dúvida de que o curso que eu fiz
funções de administrador-delegado da
estudos ainda nas antigas instalações
deu esse enorme contributo”, frisa.
SIMRIA, Saneamento Integrado da Ria de Aveiro, S.A., empresa pertencente ao
do Departamento de Eletrónica e Telecomunicações. No ano em que o
“Acho que hoje o mundo precisa de
grupo AdP. E é com orgulho que afirma
Departamento mudou de instalações,
soluções novas que só os engenheiros
que a SIMRIA “alterou radicalmente a
Manuel Fernandes Thomaz estava longe,
são capazes de dar. Não tenho dúvidas
face de Aveiro e da sua ria. Hoje a ria
na “University College of North Wales”,
que um engenheiro é claramente uma
é uma coisa viva, onde se faz turismo,
Reino Unido, no último ano de curso, ao
mais-valia para a área privada como
onde se cultivam bivalves!”
abrigo do programa Erasmus.
para a área pública. Um engenheiro que queira trabalhar e não tenha receio de
Em 2007 foi convidado pela
Dos anos que passou na UA, recorda
desafios, como sair do país, tem um
Administração da AdP para assumir as
como momento mais marcante aquele
enorme contributo a dar, se colocar
funções de administrador-delegado da
em que conheceu a esposa, estudante
no seu trabalho a forma de pensar à
empresa Águas de Moçambique. Fez
no Departamento de Línguas e Culturas.
engenheiro”, sustenta.
as malas com a família e viveu uma das mais marcantes e enriquecedoras
Hoje, casados há 22 anos e com três filhos, diz que foi na UA que encontrou
E defende também a inovação e o
experiências da sua vida. Desempenhou
a sua “companheira de vida”.
empreendedorismo como forma de
aí funções até julho de 2010, altura em
contribuir para o progresso do país e
que foi nomeado presidente do Conselho
Um pensar à engenheiro
ultrapassar a crise económica. E aí as
de Administração da AdRA.
Assim que terminou o curso, em
universidades desempenham um papel
1989, entrou na Phillips Portuguesa,
fulcral: “Não tenho a mínima dúvida de
De regresso a Portugal, além das funções
S.A., unidade industrial de Ovar, no
que hoje as universidades estimulam
na AdRA, continuou o seu trabalho de
departamento de Engenharia de Produção.
o empreendedorismo, a inovação e a
gestor na AdP tendo, em fevereiro de
Esteve lá um ano e depois concorreu ao
criatividade. As universidades podem
2012, sido eleito administrador e membro
programa JEEP - Jovens Empresários com
ser os motores de uma nova cultura
da Comissão Executiva da holding
Elevado Potencial. Recebeu um prémio
dos jovens, muito menos ancorada
AdP, SGPS. Os planos para o futuro
para investir numa empresa. Aí começou
no funcionalismo e no empreguismo e
passam pela continuação do trabalho de
a sua atividade na área da gestão.
muito mais no empreendedorismo, não
harmonização de tarifas e resolução do
Entretanto, inscreveu-se na Associação
só numa ótica de ser empresário, mas
problema do crescente deficit tarifário
Nacional de Jovens Empresários (ANJE)
também numa ótica do fazer. Ou seja,
do setor das águas e saneamento e do
e tornou-se delegado de Aveiro. Mais tarde
o empreendedor é aquela pessoa que
endividamento das câmaras municipais
foi convidado a assumir a presidência da
faz acontecer e arrisca”, considera.
perante a AdP.
Pedro Castelo-Branco
linhas
set 2013
Em busca dos segredos do cancro
15
percurso antigo aluno
Licenciado em Biologia pela Universidade de Aveiro, o investigador do Centro de Investigação de Tumores Cerebrais do Hospital Sick Kids, em Toronto, uma referência mundial na investigação pediátrica, tem aberto, uma a uma, as portas aos segredos de uma doença que a Ciência luta por erradicar. Os títulos dos jornais colocaram-no nas
A estes ingredientes junte-se “o rigor e
Medicina da Universidade de Harvard, em
bocas do mundo. As letras gordas com que
a forma como os estudos científicos em
Boston, onde fez um Pós-Doutoramento
o nome Pedro Castelo-Branco foi impresso
geral são desenhados e desenvolvidos”
em investigação do cancro, durante o qual
durante o último mês de maio não podiam
na UA. “Foi a mais-valia que a academia
desenvolveu um vírus que reconhece células
ser mais justas. Do Centro de Investigação
me deu”, reconhece. Pedro Castelo-
cancerígenas. Seguiu-se, depois, o Centro
de Tumores Cerebrais do Hospital Sick
Branco lembra ainda Jorge Rino, docente
de Investigação de Tumores Cerebrais do
Kids de Toronto, no Canadá, o investigador
do Departamento de Biologia da UA,
Hospital Pediátrico Sick Kids, da Universidade
anunciava a descoberta de um novo
um exemplo que o marcou pela “forma
de Toronto, onde conclui, em 2013, outro Pós-
marcador biológico que poderá ajudar a
meticulosa com que se dedicava à
Doutoramento na mesma área.
tratar tumores cerebrais em crianças. Mais,
investigação”. Ciências (ou não) à parte,
o trabalho da equipa liderada por Pedro
da Magna Tuna Cartola, da qual foi um
O primeiro lugar alcançado no The Hospital
Castelo-Branco revelou que o mesmo
dos fundadores, rigorosa igualmente à boa
for Sick Children Genetics and Genome
marcador pode ser utilizado para melhorar
maneira dos cartolas, o saxofonista guarda
Biology Meeting poster competition, em
o diagnóstico de diversos tipos de cancros
“amigos para a vida”.
2010, e as dezenas de publicações e apresentações dos resultados alcançados,
e auxiliar os médicos na hora de decidir formas de tratamento mais eficazes para
De Aveiro para o mundo
são a parte mais visível do trabalho que
cada paciente.
Da UA seguiu para o Departamento de
Pedro Castelo-Branco tem realizado na
Microbiologia da Universidade François
perseguição de um sonho: contribuir
Antes das manchetes, Pedro Castelo-
Rabelais, em França, onde caracterizou
decisivamente para que um dia a Ciência
Branco não era um nome desconhecido
um novo gene resistente a antibióticos.
descubra a cura do cancro.
entre quem faz da investigação
Dois anos volvidos, Pedro Castelo-Branco
biomédica, com especial atenção à
regressa a Portugal, desta vez para o
Concretizar os sonhos
área oncológica, uma missão. Já em
Instituto Nacional do Desporto onde
Hoje, o investigador do Centro de
2011, então com 37 anos, o cientista
estudou o uso ilegal de diuréticos como
Investigação de Tumores Cerebrais do
demonstrava que através do uso de
disfarce de substâncias dopantes.
Hospital Sick Kids revela que o marcador biológico que deu a conhecer à comunidade
um inibidor de telomerase é possível erradicar células iniciadoras de tumores
O passo seguinte levou-o até ao Instituto
científica em maio “está a ser testado no
neuronais sem afetar células estaminais.
de Biologia Molecular e Celular da
cancro da próstata, da bexiga, dos ovários
Universidade do Porto. Na mira do
e do cólon”. E o futuro poderá acontecer
Licenciado em Biologia pela
microscópio do investigador estiveram
amanhã: “Há já várias companhias de
Universidade de Aveiro, em 1998, Pedro
mecanismos de regulação de mRNA.
biotecnologia interessadas em comercializar este marcador”.
Castelo-Branco dava então o primeiro dos muitos passos que entretanto já
Em 2000, a Fundação para a Ciência
calcorreou nas Ciências Biomédicas.
e Tecnologia atribui-lhe uma bolsa de
Trabalho, rigor, método e pró-atividade.
Doutoramento em Biologia Molecular para
As regras pelas quais Pedro Castelo-Branco
“Sempre gostei da ideia de fazer
ser feito em qualquer parte do mundo à
tem pautado a carreira são as mesmas,
investigação e a Licenciatura em Biologia
escolha. Apontou para a Universidade de
em formato de conselhos, que o investigador
da UA oferecia-me essa vertente”,
Oxford onde trabalhou entre gigantes da
dá aos estudantes de Biologia da UA que,
recorda o investigador. Biologia
área no processamento de RNAs e lecionou
como ele, querem deixar uma marca
molecular, métodos estatísticos, técnicas
a cadeira de Técnicas Laboratoriais. Em
na Ciência. “Invistam no desenvolvimento
laboratoriais, genética, bioquímica,
Inglaterra, ganhou o prémio Gustav Born
das vossas carreiras em áreas científicas
toxicologia, matemática e física foram
com um trabalho sobre os mecanismos que
que tenham grande impacto social
alguns dos alicerces que Pedro Castelo-
regulam a coagulação do sangue.
e económico. E identifiquem os centros de topo onde se faz a investigação
Branco adquiriu na academia. “O curso ofereceu-me um patamar para
Um grande passo chegou em 2005 com
que pretendem e façam as diligências
poder desenvolver diferentes linhas de
a ida para o Centro de Investigação de
necessárias para se juntarem a esses locais”,
investigação”, aponta.
Tumores Cerebrais da Faculdade de
aponta. E os sonhos concretizam-se.
linhas
set 2013
Gilles Lipovetsky, autor de “A Era do Vazio”, vai ser Doutor Honoris Causa pela Universidade de Aveiro Há espaço para novas utopias
17
percursos honoris causa
Gilles Lipovetsky é autor de uma obra com múltiplas
estabilidade, nem religiosa nem tradicional. É a nossa condição
implicações na qual parece estender,
de homens hipermodernos.
à sociedade moderna, um espelho de “aumento”,
questionamento, dúvida, não apenas sobre a economia
inflexível, sem qualquer condescendência, que incomoda, mas que nos obriga a refletir sobre uma sociedade “desorientada”.
Vivemos em sociedades abertas, sociedades que suscitam mas sobre tudo. Consideremos um exemplo recente: em França, existe uma lei, que foi aprovada mas que provoca enorme perturbação, que incide sobre o casamento dos homossexuais e sobre a adoção de crianças. A sociedade contemporânea encontra-se totalmente dividida sobre estas
O filósofo vai ser Doutor Honoris Causa pela
matérias. Não se trata de uma crise específica mas poderíamos multiplicar os exemplos, porque vivemos numa sociedade
Universidade de Aveiro, numa sessão marcada
onde os fundamentos são relativamente estáveis: aceitamos
para dia 18 de setembro. Foi entrevistado
a democracia, a liberdade, reconhecemos a igualdade como
por Otília Pires Martins, professora do Departamento de Línguas e Culturas da UA.
valor mas, depois, surge a tradução de todos esses aspetos. De repente, descobrimos que fazemos parte de uma sociedade de “desacordo”, de discordância… e poderíamos multiplicar os exemplos: que fazer com as “barrigas de aluguer”? E a pena de morte? Devem liberalizar-se as drogas? A sociedade não
As palavras “crise” e “austeridade” são repetidas
possui respostas claras para todas estas dimensões. Outrora,
à exaustão, nos media, e dominam o discurso do
tudo era diferente, nas sociedades em que as igrejas forneciam
quotidiano, em Portugal mas também no resto da Europa.
respostas dogmáticas; pelo contrário, numa sociedade
Recentemente o mundo inteiro assistiu ao funeral de
democrática e individualista, a igreja diz uma coisa mas a
Margaret Thatcher cuja responsabilidade no início da
sociedade pode discordar e argumentar… e a argumentação
desregulação dos mercados (com Ronald Reagan) já
tem consequências muito diversas. Eis o primeiro ponto.
não gera qualquer dúvida. O que é que se encontra, verdadeiramente, na génese da crise actual? Pensa que a
Segundo ponto: somos sociedades hiper-individualistas
crise actual obriga a uma maior regulação, para evitar os
mas somos também sociedades de informação. E, hoje,
malefícios decorrentes dos excessos, do hiperconsumo?
a informação não para de enviar mensagens, muitas vezes contraditórias, em todo o caso, múltiplas e diversas.
Com efeito, infelizmente, hoje, fala-se, na Europa – e sublinho:
Vejamos o caso concreto da alimentação: a alimentação foi
na Europa – de crise, mas a palavra crise é complexa.
sempre um problema. A História oferece registo de épocas em
Na realidade, a crise que conhecemos tem vários níveis
que se morria à fome. Hoje, na Europa, não se morre à fome
de entendimento. Não existe uma crise única: existe a crise
mas existe uma outra crise, a saber: “o que é que se come?”.
das subprimes, estritamente económica, de endividamento
Não se trata, de modo algum, de uma questão metafísica mas
excessivo e de risco demasiado elevado, mas a situação
sim do facto de a informação transmitir mensagens divergentes.
complicou-se ao surgirem novas crises: a crise do
Assim, dizem-nos: “Isso é muito perigoso para o sistema
financiamento público, das despesas do Estado, a crise
cardiovascular; isso é cancerígeno… quem come isso tem uma
do euro e a crise das instituições europeias.
menor esperança de vida…”. Veja-se o caso das OGM: será que vamos assistir à “transformação” dos produtos alimentares?
Bem, acerca das primeiras, não tenho uma opinião muito
Existem grandes debates sobre o assunto.
definida já que eu não sou propriamente economista;
Em resumo, hoje em dia, nenhum domínio escapa à crise.
o meu interesse incidiu, essencialmente, sobre a evolução da
Somos, pois, sociedades onde os fundamentos são estáveis,
sociedade atual. Questão: tratar-se-á, realmente, de uma crise?
mas a organização quotidiana é, diria, polémica.
Depende do que se entende por crise. Ao nível societal, um dos pontos que me parecem essenciais reside na dinâmica
Afirma que o “efémero” é uma das razões da crise…
de individualização do nosso mundo; e a sua dinâmica de
uma espécie de zapping que resulta na “mobilidade”
individualização significa que, no fundo, já nada é estável.
do indivíduo e lhe permite ir de um universo ao outro,
Nesse sentido, a crise é difusa. Posso dar exemplos concretos
em todos os aspectos (família, religião, vida íntima…)
que envolvem todos os domínios: a família, a religião, a arte, a cultura, a educação. Não existe um único setor que escape
Sim, é o resultado de uma sociedade individualista e
ao questionamento: numa sociedade hiper-individualista,
mercantil…
tudo é permanentemente posto em causa pois já não existe
linhas
set 2013
O ‘efémero’ tornou-se permanente e generalizado e é, também, um dos fatores desta ‘desorientação’.
as pessoas mudam de vida, mesmo bastante tarde. Assim, o “efémero” transformou-se numa espécie de lei permanente. É um oximoro: o “efémero” tornou-se permanente e generalizado e é, também, um dos fatores desta
Em que tudo é transacionável…
“desorientação”, porque, quando tudo é estável, as pessoas podem sofrer mas sabem onde estão, o que devem fazer…
Sim, transacionável. Toda a economia “funciona” baseada
Hoje, tudo muda constantemente!
no “efémero”. Veja-se: a quase totalidade dos produtos que consumimos não existirá dentro de dez anos. Todos os anos
A hipermodernidade, de que fala, vai acabar? Caminha
surgem, nos mercados europeus, 20 a 30 mil novos produtos
para um fim?
que desaparecem nos dois anos seguintes. Não paramos de inovar porque a inovação faz vender. Assim, a sociedade
Como todas as coisas, provavelmente, sim, mas…
mercantil “funciona” através do “efémero”. Produzimos constantemente coisas que vão desaparecer… Em segundo
O que poderá surgir no seu lugar? O que a poderá
lugar, somos sociedades do “efémero” porque somos
substituir?
sociedades da informação. Uma informação apaga a outra. Hoje, fala-se disto, amanhã daquilo e depois esquecemos!
Aquilo a que eu chamei “hipermodernidade” surge – falou disso,
Em terceiro lugar, somos sociedades do “efémero” porque,
no início –, com Margaret Thatcher, Ronald Reagan, por volta
como muito bem referiu no início, as regulações tradicionais
dos anos 80. É muito recente. A modernidade triunfal começa no
foram esvaziadas de substância. Exemplo: antigamente,
século XVIII: é algo que dura dois séculos, dois séculos e meio…
as pessoas casavam-se para a vida inteira! Não se tratava
Estamos, portanto, apenas no início da hipermodernidade. Mas
de uma escolha. Era a moral religiosa e, até, laica, que
dentro dessa hipermodernidade, podemos imaginar diferentes
conduzia as pessoas a comprometerem-se para sempre.
hipermodernidades, pelo menos, é de esperar que assim seja…
Isso não significa(va) que as pessoas se entendiam bem, mas
estamos perante um século XXI que tem de ter – como sublinhou
aceitavam… hoje, não é assim: os casais separam-se,
há pouco –, um certo número de regulações. Não sou um
19
percursos honoris causa
regulador frenético – sou de opinião que deve dar-se liberdade
permanentes do capitalismo. Não é nada de novo. Portanto se
às empresas, aos atores e aos indivíduos. Mas liberdade não
existe “falência”, não é, certamente, a do capitalismo.
significa anarquia – sabemos isso há muito – e talvez se tenha
Existe, aliás, uma “falência” bem mais importante: a do Estado.
ido demasiado longe – seguramente, mesmo –, num determinado
Se existe um sistema que perdeu poder, foi o Estado. O Estado
número de regulações. Assim, a hipermodernidade que temos
já não tem, hoje, margem de manobra e aí reside o cerne da
agora, não será sempre a mesma…, a hipermodernidade, hoje,
questão: é necessário reencontrar margens de manobra já que
é a entrada da China, da Índia, do Brasil, de todos esses países,
uma sociedade não pode reduzir-se a um mero mercado.
na era da competição internacional, mas, no fim do século,
Se só existisse mercado, graves problemas daí adviriam pois
haverá outras. Esperemos, aliás, que haja outras.
é necessário que haja competitividade e eficácia – o mercado
A face planetária será diferente, no plano geopolítico, mas será
e o melhor! – mas também necessitamos de justiça porque
diferente até no plano da vivência social. Exemplo: as mulheres.
somos sociedades democráticas. Se o sistema que organiza
Assistimos a uma importante revolução, ao longo dos últimos
essa eficácia for o único, então o liberalismo arruinará o ideal
trinta ou quarenta anos. Trata-se da condição feminina. Não é um
democrático. E tal não pode acontecer. É necessário encontrar,
aspeto de somenos importância. Estamos a falar de metade da
constantemente, meios para que o liberalismo seja compatível
humanidade! E isso muda muita coisa – e de que maneira! – na
com os ideais democráticos. Não se pode ir demasiado longe
vida das pessoas: a vida profissional, a identidade das mulheres,
porque o homem não é apenas um homem económico: é
a educação, a relação com o trabalho… mas “o que será
também um homem com valores, nomeadamente, valores
uma mulher?”, “ como é que as mulheres vão organizar a sua
democráticos. Existe, pois, neste ponto específico, uma
existência, daqui por um século?”. Tudo questões extremamente
profunda crise dos Estados – do Estado democrático porque já
difíceis, porque já não somos uma sociedade estável.
não tem margem de manobra nem poder. E isso não é aceitável
Creio, no entanto, que é possível fazer alguns prognósticos
mas – e, finalmente – sim, a Europa está doente, a Europa está
para o futuro. Penso que em relação à hipermodernidade –
muito doente, e eu desejo vivamente que a situação se altere,
não se pode falar de mil anos mas de um século, talvez –, ao
porque que me sinto profundamente europeu, sinto--me em
mercado, à democracia, não se antevê o desaparecimento de
casa, em qualquer parte da Europa, amo a Europa e sei que
tudo isso mas, depois, em pormenor, sim, poderá acontecer.
a Europa não está bem. Mas também acredito que podemos
Para retomar o primeiro exemplo, a propósito dos mercados: eles são uma realidade que se institui, como economia que se autoregula, em princípio, a partir do século XVIII. Nos dias
Lipovetsky, o pensador que alerta para os perigos
de hoje, assistimos a enormes vagas de desregulação mas o
da hipermodernidade
capitalismo da Finlândia ou da Suécia não é igual ao capitalismo americano. Tal significa que, a partir dos mesmos princípios,
Gilles Lipovetsky (1944), sociólogo, filósofo, professor
podemos imaginar diferentes tipos de regulação.
universitário (Grenoble), autor de inúmeros ensaios sobre
“O Estado já não tem, hoje, margem de manobra e aí reside o cerne da questão: é necessário reencontrar margens de manobra já que uma sociedade não pode reduzir-se a um mero mercado.”
questões como a hipermodernidade, o hiperconsumo e o individualismo contemporâneo. Desenvolve uma visão neoindividualista, questiona o conceito de pós-modernidade, preferindo-lhe o de hipermodernidade.
A sua obra põe a nu o modo como os novos paradigmas do capitalismo e do individualismo desembocaram, nas últimas
O que é que está em “falência”, o modelo capitalista ou o
décadas, numa “civilização do desejo” e, posteriormente, numa
modelo europeu?
sociedade marcada pela preeminência absoluta do mercado. Em suma, Lipovetsky analisa os paradoxos e os perigos das
Bem, não me parece, de todo, que o capitalismo esteja em
sociedades dominadas pelo hiperconsumo e tenta demonstrar
“falência”! De modo algum! Até se “planetarizou”! Sabe que,
que “o espírito consumista é, quase sempre, sinónimo de
ainda nos anos 80, pelo menos no início, existia um aceso
deceção, ansiedade e frustração”.
debate, entre os grandes intelectuais que diziam que o capitalismo – ou o liberalismo –, iria desaparecer porquanto
Desde o enorme sucesso, em 1983, de L’Ère du vide, já
não iria conseguir resistir à economia planificada, à União
publicou uma obra considerável lida no mundo inteiro e, muito
Soviética, a todo o sistema comunista. Ora, aconteceu
recentemente, publicou L’esthétisation du monde: vivre à l’âge du
precisamente o contrário: o capitalismo saiu vitorioso.
capitalisme artiste (2013).
Ele vence, no seio das crises… as crises do capitalismo são a sua própria natureza. Sabe-se, desde Marx, que existem crises
linhas
set 2013
ultrapassar esta crise. Ao fim e ao cabo, a verdade
crises permitiam caminhar para um mundo melhor porque se
é que a Europa sempre avançou no meio de crises. Esperemos,
acreditava que a Ciência, as Luzes conduziam o homem em
pelo menos, que esta crise, que é gravíssima, e que corre
direção a algo superior, no sentido de: “amanhã será melhor que
o risco de asfixiar um certo números de países, permita
hoje”. Mas agora, interrogamo-nos – e esta religião do progresso
encontrar regulações mais moderadas, menos duras para um
é profundamente contestada. Exemplo: a questão da ecologia.
desenvolvimento mais solidário da Europa e, sobretudo, que
A ecologia diz: “Não! Vamos para pior porque estamos a assistir
este não seja uma “religião do curto-prazo” porque querer
à degradação da ecosfera e porque o abuso da tecnologia e
reduzir e impedir os desequilíbrios orçamentais é uma coisa
da ciência resultará num planeta onde não será possível viver.”
sã, boa, mas o remédio não deve matar o doente. Está-se a
Eis-nos, pois, perante uma grave crise do ideal da modernidade.
ir demasiado depressa. Deve permitir-se, às nações sobre
Mas, simultaneamente, temos de convir que outros valores
endividadas, que, através de regulações, pratiquem uma gestão
dessa modernidade estão mais fortes que nunca. Por exemplo,
mais moderada, mais controlada sem, no entanto, retirar meios,
a democracia já não é fundamentalmente contestada no seu
a um Estado, impedindo-o de impulsionar a sua economia.
princípio, pelos povos democráticos, pelos povos europeus. O ideal de liberdade é um valor já profundamente interiorizado
Em sua opinião, o que resta dos valores da modernidade?
pelos povos, de certo modo – eis a razão que me leva a falar
Que valores poderiam salvar a modernidade?
de hipermodernidade: os valores da democracia, os valores da modernidade já não têm de ser conquistados; são dados
Bem, um desses valores está gravemente enfermo: o progresso!
adquiridos. Existe, portanto, uma crise da modernidade mas que
Durante mais de dois séculos, os Modernos tiveram a religião
tem, como pano de fundo, algo de mais estável do que o que
do progresso, a religião – laica – do progresso. Existia a ideia
acontecia outrora: é o paradoxo!
de que a História ia no sentido do progresso, isto é, de mais justiça, mais liberdade, mais bem-estar. Havia crises, mas essas
O que pensa das críticas à modernidade, feitas por autores como o britânico John Gray que afirma que a modernidade só produziu erros trágicos como o nazismo e o comunismo? Não partilho essa opinião. Não. São questões demasiado complexas mas, se quiséssemos sintetizar, eu diria que se pode defender a ideia de que esses erros – que não são erros mas sim verdadeiras perversões! – não são a essência da modernidade. Pertencem a sociedades de uma modernidade inicial. E essa modernidade inicial não é uma verdadeira modernidade. Os acontecimentos de que fala, o nazismo, o comunismo são, na realidade, manifestações pré-modernas, manifestações que quiseram reconstituir uma espécie de formação pré-moderna. Em meu entender, o fascismo, por exemplo, não é uma pura expressão da modernidade: a noção de povo, a noção de raça e outros aspetos continham, em si mesmos, uma exigência de totalidade, uma recusa da diversidade que não são de essência moderna. Por tal facto, penso que a modernidade produziu horrores absolutos – o Goulag, o Holocausto… são o horror absoluto – mas a modernidade significa, também, a invenção do ideal de liberdade dos homens, da democracia, da liberdade de pensamento, da ciência que se desenvolve e se transforma numa magnífica aventura… Claro que existem riscos mas, sinceramente, que a humanidade possua a capacidade e o poder de construir o seu próprio futuro é algo que me enche de entusiasmo! A ideia de que caminhamos em direção ao conhecimento do infinitamente pequeno e do infinitamente grande, que somos capazes de pensar o big-bang, esta aventura imensa que nos faz recuar catorze biliões de anos, compreender, é uma extraordinária exaltação:
21
percursos honoris causa
a ciência é a honra do homem. Claro que existiram tragédias, claro que sim. Mas não culpemos demasiado depressa a modernidade!
Honoris Causa para referência no estudo de
A modernidade não é a única responsável por massacres.
políticas públicas
A História está pejada de massacres, extermínios e outros horrores… a humanidade viveu com a escravatura…
Gilles Lipovetsky é considerado «um dos maiores pensadores
a modernidade produziu muitos problemas mas tem também
contemporâneos sobre questões relacionadas com a
imensos méritos: a esperança de vida do ser humano não para de
‘hipermodernidade’, o ‘hiperconsumo’ e o ‘hiperindividualismo’
crescer, as mulheres conquistaram o livre domínio de si mesmas
contemporâneo. O primeiro livro que publicou (…) – ‘A Era
e podem, agora, construir livremente as suas vidas;
do Vazio’ – constitui um ensaio incontornável sobre este
a aventura da ciência… tudo isto está aberto… não existe apenas
‘hiperindividualismo’, alicerçado na sedução alienante da
miséria, desgraça ou drama… existe também uma admirável e
sociedade de consumo». No texto, aprovado por unanimidade no
poderosa energia nesta modernidade!
Conselho Científico da UA, reunido a 17 de abril, que inclui este
“É necessário dar aos jovens intrumentos que lhes permitam, através do comprometimento e da paixão, construir um futuro melhor.”
extrato, o pensador é comparado a Beck, Baumanm, Habermas e Giddens, embora conjugando uma «particularidade muito rara» entre os autores que mais se têm debruçado sobre problemas na esfera pública: parte da Filosofia e não raramente busca o auxílio da Sociologia ou da Psiocologia (Social) para analisar o fim do
Uma última questão: o vazio é definitivo ou será ainda
evolucionismo utópico que caraterizava obras de autores como
possível reinventar, recriar sentido?
Marx, Durkheim ou Weber.
O vazio de que trata o meu livro, L’ère du vide, é o vazio dos
O pensador, considerado referência para o estudo das políticas
grandes sistemas explicativos, das grandes ideologias coletivas.
públicas e para o Departamento de Ciências Sociais, Políticas e
Muito sinceramente, não o vejo reconstituir-se… isto é, não vejo
do Território da UA, recebe o Doutoramento Honoris Causa a 18
reconstituir-se a situação, a conjuntura que o antecedeu:
de setembro.
os grandes sistemas religiosos, o ideal do progresso, de que já falei, o nacionalismo, o comunismo, a revolução… não considero que isso se possa reconstituir… Aquilo a que assistimos, aliás, infelizmente, é à fragilização do que poderia servir de inspiração aos povos, isto é, a ideia de Europa, o ideal europeu… portanto, nesse aspeto, não vejo que seja possível o regresso das grandes ideologias coletivas e não é por essas grandes ideologias coletivas estarem caducas, isto é, por já ninguém acreditar nelas; aliás, não acreditar nessas ideologias não significa não acreditar em nada: existem tantos outros projetos, mais restritos, talvez, mas tão carregados de sentido! Quando nos dedicamos a uma causa e acreditamos nela – os ecologistas, os movimentos humanitários, a ajuda aos mais desprotegidos no planeta, a investigação científica – mas talvez, também, fazer um filme, criar uma orquestra, escrever um livro… pode ser algo de arrebatador e apaixonar uma existência. Dramático seria se tudo se reduzisse ao consumo! O consumo pode ser positivo mas não pode existir em demasia. Se ocupar demasiado espaço, poderá empobrecer toda a humanidade. Mas, acredito que, entre as grandes ideologias e o consumo, que são polos extremos, existe espaço para novas formas de utopia, novas formas de sonho, novas formas de projetos, mais disseminados, mais diversos, mais variáveis, talvez, mas que podem preencher uma existência. Por tudo isso, é necessário dar aos jovens instrumentos que lhes permitam, através do comprometimento e da paixão, construir um futuro melhor. E, isso, estou convicto de que a modernidade é perfeitamente capaz de fazer.
(N.R. : Esta entrevista foi realizada paralelamente às “Exit Talks – Conversas sobre exportação”, promovidas pela Universidade de Aveiro, em parceria com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), a 15 e 16 de abril).
linhas
set 2013
Joaquim Renato Araújo uma equipa, uma visão e o futuro da UA acontece Foi Reitor da Universidade de Aveiro entre 1986 e 1994, anos decisivos para a jovem academia alcançar robusta a idade adulta. A implementação do Campus de Santiago pela mestria dos melhores arquitectos portugueses, a aquisição de equipamentos científicos de ponta e a aprovação dos primeiros estatutos da UA cunham uma época em que Joaquim Renato Araújo e um grupo de homens e mulheres visionários fizeram da Academia um imenso espaço para o Ensino e a Investigação se multiplicarem rumo ao século XXI.
Imagem de cima // Renato Araújo a discursar durante o jantar que o homenageou em 1994. Imagem de baixo // Renato Araújo (segundo a contar da esquerda) durante a visita de Marçal Grilo, então Secretário de Estado do Ensino Superior em 1994.
23
percurso singular
Finais dos anos 80. O Campus de Santiago é um enorme
presente nos lugares cimeiros dos rankings mundiais. Hoje a
estaleiro de obras. Há sete departamentos em construção.
UA é o único lugar do mundo onde à distância de um pestanejar
Centenas de operários plantam alicerces e fazem nascer
se podem ver obras de dois Prémios Pritzker.
paredes a um ritmo avassalador. Ao longo dos dias dezenas de camiões chegam, descarregam materiais, carregam entulho
“A nossa responsabilidade era para com o futuro”, recorda hoje
e partem. Para se fazerem ouvir, os homens falam alto lá de
Renato Araújo. Do gabinete que tem no Complexo Pedagógico,
cima dos andaimes. Em volta dos edifícios vestidos ainda a
Científico e Tecnológico, um dos edifícios construídos no Campus
cimento cru tudo é poeira, lama, ruído, guindastes e betoneiras.
já no século XXI porque há 25 anos atrás se imaginou que um
Às toneladas, tijolos de barro, vigas de ferro, madeiras,
dia pudesse existir, o antigo Reitor folheia a memória: “Não
cerâmicos, vidros e alumínios aguardam pela vez de entrarem
queríamos que as nossas decisões constrangessem qualquer
na história.
tipo de crescimento da Universidade. Nós não éramos os donos do futuro da UA, éramos apenas uns meros contemporâneos
O caos é apenas aparente. A UA está em expansão e segue uma linha escrutinada até ao milímetro. Por entre as obras, de olho nos detalhes, há uma figura que passa diariamente. Leva na cabeça o plano concebido pelo arquiteto Nuno Portas que, juntamente com os melhores mestres da arquitetura contemporânea portuguesa, ousou desenhar um Campus virado para as necessidades da academia, em sintonia com a cidade e com a região e, sobretudo, voltado para o futuro. Nas mãos traz os esquiços que vão ganhando forma à sua frente. Reservado, de trato afável, abranda o passo para conversar uma e outra vez. Tem uma palavra, sempre, para toda a gente. Chama-se Joaquim Renato Araújo, foi reitor da UA entre 1986 e 1994 e a obra de edificação do Campus de Santiago confunde-se com o seu nome. “Não concordo com essa afirmação. Prefiro que se escreva que a obra de edificação do Campus coincidiu com os meus dois mandatos”, propõe. A correção fica feita.
Renato Araújo a discursar na cerimónia de tomada de posse do Reitor Júlio Pedrosa em 1994.
O coletivo sempre à frente do Eu
de um determinado período e, por isso, havia sempre o cuidado
Setembro de 2013. O Campus de Santiago é um museu
que qualquer decisão que se tomasse não fosse limitativa para o
aberto da arquitetura portuguesa contemporânea. Cada um
caminho que a academia pudesse vir a fazer”.
dos departamentos da UA tem a assinatura de nomes tão incontornáveis como Eduardo Souto Moura, Alcino Soutinho,
“Nós” é um pronome constante no discurso sereno de Renato
Pedro Ramalho, Adalberto Dias ou José Maria Lopo Prata.
Araújo. Utiliza-o sempre. Nunca se refere ao que fez mas ao
A Biblioteca e o depósito da água têm a assinatura de Siza Vieira.
que “nós fizemos”. É difícil, senão impossível, fazê-lo centrar-
O Edifício Central e da Reitoria é de Gonçalo Byrne. Na alameda,
-se nele próprio. Nunca gostou de protagonismos. Google-se
os três andares de cada edifício respeitam os olhos virados
“Renato Araújo” juntamente com “Universidade de Aveiro” e
para a paisagem da ria de Aveiro e a traça de uma cidade pouco
pouco aparece. Não tem o currículo disponível no site da UA
dada à volumetria e às alturas. Por entre os hectares de espaços
nem o quer mostrar agora porque o que fez pouco lhe interessa
verdes, o laranja do barro sobressai. Só podia ser assim numa
publicitar. “O percurso coletivo é mais importante”, volta a
universidade nascida de uma região onde a cerâmica povoa todos
sublinhar. As fotos são raras porque não se deixa retratar
os livros da história cultural e industrial.
facilmente. Não gosta de falar se si.
Mas é essencialmente o futuro que se antevê em cada
“É uma característica que devo à aldeia onde cresci e fiz a
espaço do Campus. Depois de 1994, ano em que passou
escola”, justifica-se. Entre os trabalhos agrícolas – e não havia
o testemunho da Reitoria para as mãos de Júlio Pedrosa, a
nenhum na aldeia que não envolvesse toda a gente - “tive a
academia continuou a expandir conciliando a linha harmoniosa
sorte de ter um professor fabuloso, um pedagogo excelente
do Campus com as necessidades estruturais para incrementar
que ajudou a congregar em mim esse espírito e, por isso, os
investigação e ensino. Hoje a UA é uma universidade sempre
meus amigos dessa altura continuam hoje a ser meus amigos”.
linhas
set 2013
Equipa para retomar o caminho primordial
cuja “linha foi de certa rutura” com a herança deixada pelo
Chegou à UA em dezembro de 1974. Licenciado em Geologia
primeiro responsável da academia.
pela Universidade de Coimbra, o 25 de Abril encontrou Renato Araújo na Universidade de Lourenço Marques onde era professor
Assim, perante a candidatura de um dos vice-reitores de
convidado. Na leva dos retornados, aterrou em Aveiro para
Mesquita Rodrigues, que apontava para a continuidade de um
colaborar com Victor Gil, o primeiro Reitor da UA, “na pequena
projeto com o qual Renato Araújo discordava, “um grupo pensou
equipa que iniciava o caminho da edificação desta academia”.
em retomar com as linhas orientadoras” de Victor Gil. “Resolveu-
Por três vezes foi presidente do conselho científico da academia
-se que seria eu a avançar”, lembra. Avançou e ganhou. A seu
antes de ser eleito para o lugar maior da Reitoria em 1986.
lado tinha os Vice-reitores João Baptista e Júlio Pedrosa. Que projeto tinham? “Estávamos na linha com o que o
Candidatou-se porque “alguém tinha de o fazer”. A eleição,
professor Victor Gil tinha marcado como opção e que foi
a primeira em cuja vontade da comunidade académica era
transmitido ao conjunto de pessoas que, como eu, foram
alvo de escrutínio, definiu muito do amanhã da UA. “Para
entrando nos dois primeiros anos de vida da Universidade”,
contextualizar o que estava em causa”, lembra Renato Araújo,
diz. Era, “sem dúvida”, uma linha que “agradava totalmente”
a Victor Gil seguiu-se, em 1976, Mesquita Rodrigues, um Reitor
a Renato Araújo. A estratégia de Victor Gil, que tanto o cativou, apontava para “uma universidade próxima da lógica das universidades novas inglesas, assente numa estrutura muito participativa, que começava ao nível da base nos departamentos, e com uma capacidade de inovar em áreas que se entendiam serem fundamentais” para o desenvolvimento do país. “Havia uma dinâmica que tinha em conta esse referencial mas também aquilo que era Portugal e o que era necessário que as universidades ajudassem a fazer para o país crescer”, acrescenta. Para isso, urgia a criação de “cursos muito novos, transversais e com qualidade”. “Foram essas as linhas mestras que a nossa equipa reitoral voltou a agarrar quando entrou”, relembra. A edificação de um Campus sintonizado com a cidade era, igualmente, um dos planos que Victor Gil deixou na ‘gaveta’ e que “era prioritário retomar”. Assim aconteceu quando assumiu a Reitoria. E com ele um grupo que tinha “grande vontade de mudar o mundo” e que carregava uma força que haveria de fazer toda a diferença: “A interajuda entre todos, a disponibilidade para discutir e ajudar a encontrar uma ideia trave que fosse significativa para aquilo que se pedia que fossem as universidades públicas eram a nossa marca”. Nuno Portas junta-se ao futuro da UA No cenário do Campus, na hora de tomada de posse do Reitor Renato Araújo, existiam já os pavilhões 1, 2 e 3. A Zona Técnica Central, os Serviços Sociais e o Departamento de Eletrónica estavam em construção. Mas para cumprir os objetivos que a que se propuseram - uma UA atenta à realidade do país e que pudesse formar jovens quadros para suprimir as necessidades do mercado de trabalho - esse campus não chegava.
Imagem de cima // Renato Araújo (segundo a contar da esquerda) durante a cerimónia
Já na anterior reitoria, lembra, “havia uma série de colegas,
que o homenageou em 1994.
nomeadamente o João Baptista e o Luís Severo, que tinham
Imagem de baixo // Júlio Pedrosa, Victor Gil, Jorge Veiga e Renato Araújo
questionado o desenvolvimento do campus da UA”. “Nós não
25
percurso singular
aceitávamos o tipo de edifícios que estavam a ser projetados para a UA”. O Departamento de Eletrónica e Telecomunicações e o de Ambiente e Ordenamento ainda hoje traçam esse modelo contestado. Os planos da equipa de Mesquita Rodrigues e da Direcção Geral do Ensino Superior apontavam para duas linhas de edifícios paralelos, construídos em altura com materiais estranhos à região de Aveiro, e que “cortavam a relação da academia com a ria, um dos elementos estruturantes da Universidade, tanto mais que tínhamos criado em Portugal o primeiro curso de ambiente”. A equipa de Renato Araújo defendia ainda que a UA tinha de ter uma ligação próxima à cidade e que isso passava pelo património. “A Universidade não podia ser uma instituição qualquer, edificada numa cidade em que o património construído é muito frágil e pouco expressivo”, lembra. De facto, Renato Araújo e os seus pares queriam “uma UA cujos edifícios
Renato Araújo e Júlio Pedrosa em 1994.
pudessem ajudar Aveiro a ter um património de referência”. Para ajudar a concretizar essa missão, Nuno Portas, marca maior
iria caminhar”, relembra. Por isso, como responsáveis pela
da Escola de Arquitetura do Porto, era a pessoa indicada.
universidade, “não podíamos construir um modelo que fosse
“Convidámo-lo para fazer parte do projeto e ele ficou encantado
rígido e que pudesse ser um constrangimento para o futuro”.
por poder estar connosco. Tivemos com ele uma convivência
Para além dessa imposição, a visão dos responsáveis pela UA
magnífica”, lembra Renato Araújo. Com a adesão do país à
apontava para “uma estrutura que levasse à rápida e simultânea
Comunidade Económica Europeia e, com isso, a possibilidade
construção de vários departamentos, ao contrário do modelo
de aceder a fundos financeiros extraordinários - aos quais a UA
anterior que apontava para a construção de um departamento
antecipadamente preparou candidaturas - estavam alinhados os
de cada vez, uma opção trabalhada pelo Prof. Ferrer Correia”.
astros da bonança para a jovem academia que contou com o apoio dos Secretários de Estado Ralha e Fernando Real
E numa época em que o aproveitamento energético era um
e dos engenheiros Cândido Ribeiro e Maria dos Anjos Alfaiate,
assunto inexistente, os arquitetos ouviram da UA uma ideia
técnicos da Direcção Geral do Ensino Superior.
inédita para os edifícios escolares: paredes duplas. “Foi a primeira vez que elas apareceram em escolas portuguesas”,
Arquitetura de excelência
regozija-se Renato Araújo.
Nuno Portas rapidamente se fez rodear da nata da arquitetura portuguesa. Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto Moura, Alcino
“Nós fomos a primeira instituição a dar aos arquitetos
Soutinho, Alfredo Matos Ferreira, Joaquim Oliveira, Adalberto
portugueses dessa geração a possibilidade de construírem para
Dias, Victor Figueiredo e os irmãos Mateus, entre tantos outros
o Estado ao nível do Ensino Superior”, diz Renato Araújo. Se
arquitetos geniais, sob a batuta de Nuno Portas e o sonho
indelevelmente a UA ganhou para sempre um cunho daqueles
de Renato Araújo e dos seus vice-reitores, desenharam em
que já eram a promessa de uma arquitetura de excelência
conjunto o futuro do Campus.
portuguesa, “também a UA os marcou a eles para sempre”.
Renato Araújo lembra que “não foi difícil reunir todos esses
Comunidade académica pequena, coesa e muito motivada
arquitetos porque beneficiámos muito do prestígio de Nuno
A edificação do Campus ocorreu a um ritmo frenético.
Portas, uma referência para todos os colegas”.
Renato Araújo lembra o período em que “chegámos a ter ao mesmo tempo sete edifícios em construção”. Outra inovação
As reuniões decorreram ao ritmo da “boa disposição e de forma
introduzida pela equipa prendia-se com a fiscalização
assertiva e construtiva” e sem nunca perder de vista o plano da
das obras que havia de ser entregue a entidades externas
equipa reitoral: “A qualidade do Campus era fundamental para
constituídas por engenheiros civis que, desde o primeiro
nós. Sem isso a UA não poderia afirmar o seu objetivo número
minuto, acompanharam o desenvolvimento do projeto. “Isso
um que era a qualidade na investigação e no ensino”.
dava-nos a garantia de que tínhamos uma visão externa e que podia interferir e ser crítica quer para a própria Universidade,
“Estávamos numa fase em que a Universidade tinha três ou quatro áreas de referência e não sabíamos para onde
quer para os projetistas e construtores”, justifica Renato Araújo.
linhas
set 2013
A contratação destas equipas independentes ajudou também
edifícios. “Tínhamos os recursos humanos e começávamos a
a UA a equilibrar o acompanhamento das obras já que os
ter as condições físicas, só faltavam os equipamentos. E eles
serviços técnicos eram constituídos apenas pelos engenheiros
vieram graças ao Programa Ciência para o qual concorremos
Tavares da Conceição e o desenhador Miguel Morais.
com bons projetos coordenados pelo professor Joaquim
“As pessoas não acreditam que nessa altura tínhamos só duas
Vieira e dentro do âmbito da política interna estimulada pelos
pessoas nos serviços técnicos, duas pessoas extraordinárias
professores João Baptista e Júlio Pedrosa, que incrementaram
a quem a UA deve muito”, lembra Renato Araújo.
os doutoramentos e as opções por equipamentos laboratoriais de referência”, diz. Foi igualmente neste período que a equipa
O antigo Reitor recorda igualmente o professor Aristides Hall,
de Renato Araújo fez aprovar os primeiros estatutos da UA
homenageado mais tarde com o Pavilhão Gimnodesportivo da
que consolidaram o regime departamental e o princípio da
UA que recebeu o seu nome. “Era um trabalhador fantástico.
representatividade em todos os órgãos da academia.
Ele preparava os cadernos de encargos como pouca gente conseguia”, reconhece. Derrapagens orçamentais?
Olha pela janela do gabinete em direção à alameda. Sorri.
“Só tivemos uma num único edifício. De resto o orçamento
“Ainda hoje, felizmente, o campus continua harmónico e em
foi inteiramente cumprido até ao tostão”, orgulha-se. A UA
crescimento. Ainda hoje se vê por aí o génio da equipa de Nuno
“tinha uma belíssima situação financeira graças às pessoas do
Portas que nos trouxe o atual modelo daquilo que é a ferradura
Serviço Administrativo, em especial o Ulisses de Carvalho de
da UA”.
Jesus e o Modesto Aradas que trabalharam noites inteiras para podermos processar a parte administrativa dos processos,
Passagem do testemunho
e à Dra. Maria do Rosário Amador que controlava perfeitamente
Março de 1994. Final do segundo mandato de Renato Araújo
toda a despesa”.
que teve na equipa os Vice-reitores Aristides Hall, Gustavo Caldeira, Estela Pereira e Maria Helena Nazaré, os presidentes
Não esquecer que as obras não fizeram parar o ensino e a
dos conselhos científicos Edmundo Fonseca e Manuel Serrano
investigação “o que exigia equilíbrios muito difíceis e grandes
Pinto e o presidente do Conselho Pedagógico Manuel António
sacrifícios de muita gente que teve de abdicar de certas coisas
Assunção. Regressa ao Departamento de Geociências e
porque não se conseguia fazer tudo em simultâneo”. Aulas em
aposenta-se pouco depois com a certeza da missão cumprida
salas improvisadas, trabalhos de laboratório a decorrerem em
após 20 anos de dedicação à construção da UA e 39 de serviço
‘vãos de escada’, tudo serviu para aguentar num enorme fôlego
no total. Podia ter concorrido a um terceiro mandato mas
os anos em que os andaimes foram quem mais ordenava na
recusou essa hipótese aberta pelo então Ministro da Educação
UA. “Éramos uma comunidade pequena mas coesa e disposta
Roberto Carneiro que fazia aprovar a lei que dava aos reitores
a fazer grandes sacrifícios” para que a UA se cumprisse.
essa possibilidade.
Campus harmónico e em crescimento
“Eu fui o único reitor a recusar concorrer ao abrigo dessa lei”,
O resultado salta à vista até dos menos atentos: cada edifício
sublinha. A razão é simples: “entendida que aproveitar uma
da UA tem diferenças, sobretudo nos seus espaços internos
lei que saía a meio do percurso não era cordial. Nós tínhamos
de circulação e de trabalho. Mas o que é comum tem a força
sido eleitos com outra lei e era com essa que tínhamos de
unificadora para os enquadrar de forma harmoniosa no
funcionar”. Ponto final. “Felizmente havia a garantia que o
conjunto do campus. Depois das provas dadas em Aveiro,
caminho da UA ainda ia melhorar muito com o professor
muitos dos arquitetos que assinaram cada um desses primeiros
Júlio Pedrosa [um dos Vice-reitores de Renato Araújo que o
edifícios foram chamados a conceber outras universidades.
sucederia] que estava disponível e muito mais bem preparado do que eu”.
A Renato Araújo escapa um segredo: “É bom ver que temos alguns defeitos nalguns edifícios, nomeadamente com muitas
Depois de “milhares de situações com uma efervescência
das janelas, porque os arquitetos estavam a projetar pela
enorme”, de anos seguidos em que “entrava na Universidade
primeira vez para o Ensino Superior”. E, já agora, a jovem
às oito da manhã e visitava o campus todo, departamento a
equipa reitoral, “também com pouca experiência”, não
departamento” a hora era de “adeus e até já”.
conseguiu fazer passar para os esboços dos edifícios “algumas
Na verdade, Renato Araújo esteve sempre presente na
coisas importantes”. Mas o caminho faz-se caminhando:
Universidade desde então. Discreto, integra o Conselho de
“Há defeitos que eles depois melhoraram e corrigiram quando
Curadores da UA. Diz hoje que a UA “tem bases suficientes
projetaram para outros sítios. Aprenderam muito aqui”.
para aguentar qualquer impacto e encarar com esperança
Para além do cimento, dos andaimes e dos tijolos de barro
o futuro”. Sendo ele a dizer, a UA pode certamente continuar
acrescente-se ainda, sublinha Renato Araújo, o recheio dos
a trabalhar como até aqui.
27
distinções
DISTINÇÕES
UA volta a estar entre as 70 melhores e mais jovens do mundo
Anticorpos a partir da gema de
A Universidade de Aveiro é a 66ª melhor universidade do mundo com menos
ovo valem bolsa milionária
de 50 anos e a melhor das portuguesas. A classificação no ranking da revista
A investigadora Mara Freire, da
Britânica Times Higher Education (THE) de 2013, um dos mais conceituados rankings
Universidade de Aveiro, conquistou uma
internacionais de ensino superior, foi atribuída pela segunda vez consecutiva.
das bolsas atribuídas pelo Conselho Europeu de Investigação, as mais
Entretanto, num outro ranking mundial, de difusão científica da SCImago, um dos
importantes na Europa. A bolsa atribuída
mais prestigiados a nível internacional, a academia aveirense sobe 29 posições
à cientista do Centro de Investigação
na lista das instituições com mais artigos publicados, integrando o top cinco das
em Materiais Cerâmicos e Compósitos
universidades portuguesas e o 524º lugar, em termos mundiais.
(CICECO) corresponde a cerca de 1,4 milhões de euros, a atribuir ao longo de
“Melhorámos a nossa performance, porque a competição é sempre maior de ano
cinco anos para desenvolver o projeto
para ano”, denota o Reitor da UA, Manuel António Assunção, sobre a manutenção
“IgYPurTech: Uma tecnologia sustentável
do mesmo lugar do ano passado no ranking THE. Simultaneamente, Manuel António
para a purificação de anticorpos”.
Assunção entende que as classificações que têm vindo a ser conseguidas pela UA são o resultado de 40 anos de trabalho: “Há aqui um testemunho de todo o nosso
O trabalho da cientista de Aveiro procura,
percurso, das escolhas que fizemos em sermos diferentes na oferta formativa,
a partir de anticorpos retirados da gema
na organização, e também do esforço que fizemos, desde o primeiro momento,
do ovo, desenvolver biofármacos baratos
de entendermos que a formação e qualificação dos recursos humanos e a aposta
e mais eficazes do que alguns dos atuais
na investigação são uma área estruturante de base fundamental para se ser uma
antibióticos. Nos últimos anos, o estudo
universidade de qualidade”.
da produção e purificação de anticorpos para uso em seres humanos tem-se
Já em abril deste ano, a UA se tinha destacado em relação às restantes
centrado, principalmente, nos anticorpos
universidades portuguesas, quanto à prestação científica, ocupando o lugar 133 da
produzidos por animais de pequeno
Europa, de acordo com ranking CWTS publicado pela Universidade de Leiden que
porte. Contudo, para além do elevado
contabiliza todas as áreas científicas. Na área de “Ciências Naturais e Engenharia”,
custo de produção, a recuperação destes
a UA surgia no lugar 69 das universidades europeias.
anticorpos requer o uso de práticas
linhas
set 2013
invasivas. “Uma potencial alternativa baseia-se na imunoglobulina Y (IgY), um anticorpo produzido em grande quantidade e presente na gema de ovo”, aponta a investigadora do CICECO. Para além da sua obtenção não fazer uso de técnicas invasivas, explica, “o facto de o IgY ser abundantemente produzido contribui para uma redução dos custos de produção pela indústria farmacêutica”. O desafio maior do projeto premiado da UA é o desenvolvimento de uma nova
Academia Mundial
Estudo sobre código
técnica de purificação de IgY que, a
de Cerâmica acolhe José Maria
genético na Nature Reviews
partir da gema de ovo, permita obter
FONTE Ferreira
in Microbiology
os anticorpos com a pureza necessária
José Maria Fonte Ferreira, investigador
O estudo de investigadores da
à indústria farmacêutica e a um preço
do Departamento de Engenharia de
Universidade de Aveiro sobre o invulgar
competitivo.
Materiais e Cerâmica (DEMAC)
código genético do fungo patogénico
da Universidade de Aveiro, é o mais
“Candida albicans” voltou a ser
recente membro da Academia Mundial
destacado numa publicação científica
EUR-ACE atribui qualidade
de Cerâmicas e, com isso, tornou-se
internacional e de renome.
europeia a Engenharia Física
no único português a ser convidado
Após a publicação do artigo em
O Conselho Diretivo Nacional da Ordem
para fazer parte de um grupo constituído
“Proceedings of the National Academy
dos Engenheiros atribuiu a Marca de
pelos melhores cientistas do mundo
of Sciences”, o estudo que mostra como
Qualidade Europeia EUR-ACE (European
na área. Os estatutos da Academia,
o fungo alterou o seu código genético,
Accreditation of Engineering Programmes)
constituída por cerca de 200 membros,
antes considerado universal e comum
ao Mestrado Integrado em Engenharia
permitem apenas abrir as portas aos
a todos os seres vivos, foi destacado
Física (MIEF) lecionado na Universidade
investigadores cujo trabalho constitui
na “Nature Reviews in Microbiology”.
de Aveiro, o primeiro curso desta área,
“uma notável contribuição internacional
a nível nacional, a receber o selo.
para o avanço da cerâmica”.
Esta marca é conferida segundo critérios
A Academia Mundial de Cerâmica foi
sob coordenação de Manuel Santos,
definidos pela associação European
fundada em 1987 e é um centro de
professor do Departamento de Biologia
Network for Accreditation of Engineering
excelência para a comunidade científica
da Universidade de Aveiro e investigador
Education (ENAEE), e destina-se também
internacional que promove o progresso
do Centro de Estudos do Ambiente e do
a promover a mobilidade no mercado
tecnológico no campo da cerâmica.
Mar, descobriu que o fungo patogénico
A equipa constituída pelos doutorandos Ana Rita Bezerra e João Simões,
“Candida albicans” utiliza um código
de trabalho: um curso ao qual tenha sido atribuída a Marca de Qualidade será
Coordenador do Grupo de Materiais de
genético diferente do de outros seres
automaticamente reconhecido em todos
Processamento Avançado de Materiais
vivos e percebeu como foi alterado.
os países da União Europeia.
Cerâmicos do DEMAC, José Maria Fonte
A partir daí, alterou artificialmente
Ferreira tem como principais alvos de
o código genético do fungo e testou
Com a atribuição deste selo ao MIEF,
trabalho o processamento de materiais
o efeito quanto à resistência a antibióticos
válida até 2019, são já quatro os cursos
cerâmicos, vítreos, vitrocerâmicos
e ao potencial inflamatório em ratos.
de engenharia da UA reconhecidos
e compósitos, com enfâse especial no
Os investigadores concluíram, então,
internacionalmente: Mestrado Integrado
desenvolvimento de substitutos ósseos
que a alteração do código genético leva
em Engenharia Eletrónica
sintéticos para aplicações na regeneração
a mudanças na constituição da parede
e Telecomunicações, Mestrado Integrado
óssea em ortopedia e medicina dentária,
celular do fungo e traz vantagens na
em Engenharia Química e Mestrado
na engenharia de tecidos e na libertação
adaptação às condições ambientais,
Integrado em Engenharia Civil.
controlada de fármacos.
nomeadamente tornando-o mais resistente aos antibióticos e à resposta imunitária do hospedeiro.
29
distinções
Projeto de novos
lugar no pódio. O mesmo lugar, terceiro,
Emoções de um novo sistema
revestimentos é um MUST
foi também conseguido pela equipa FC
de partilha de “bikes”
O projeto MUST (Multi-Level Protection
Portugal, das Universidades de Aveiro,
O bikeemotion, sistema de quarta geração
of Materials for Vehicles by Smart
Porto e Minho. Os portugueses trouxeram
de partilha de bicicletas, foi nomeado por
Nanocontainers) em que participam o
ainda prémios de relevo em desafios
um júri internacional de especialistas na
Departamento de Engenharia de Materiais
técnicos específicos de cada liga. Estes
área das TIC para representar Portugal no
e Cerâmica e o Centro de Investigação
resultados mantêm a Robótica da UA no
World Summit Award (WSA), na categoria
em Materiais Cerâmicos e Compósitos
topo da investigação e desenvolvimento
e-Culture & Tourism.
da Universidade de Aveiro ganhou
neste domínio a nível mundial.
o segundo lugar na competição para o “melhor projeto de Investigação 2013”.
O bikeemotion é um dos cerca de 500 A edição deste ano do RoboCup (www.
produtos de 168 países, destacados pelo
robocup2013.org) decorreu de 24 de
seu conteúdo de excelência.
Organizada pelo EuroNanoForum-2013,
junho a 1 de julho, em Eindhoven,
O projeto tem autoria de antigos
a maior conferência europeia na área
na Holanda, e reuniu mais de 2500
alunos da Universidade de Aveiro (UA)
das nanotecnologias e dos materiais
participantes de 35 países.
e a colaboração do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território.
que se desenrolou de 18 a 20 de junho, a competição premiou um projeto que
A delegação portuguesa foi composta
tem nos investigadores Mário Ferreira
por seis equipas de instituições de ensino
O bikeemotion é um projeto inovador
e Mikhail Zheludkevich da UA duas das
superior e por treze equipas de escolas
que visa desenvolver um sistema de 4ª
principais forças motrizes.
básicas e secundárias. Esta delegação
geração de partilha social de bicicletas
esteve entre as 10 maiores do mundo e foi
mais económico e sustentável, dado que
a segunda maior da Europa.
o bloqueio/desbloqueio remoto permite
Baseado na ideia de autorreparação de
estacionar as bicicletas livremente.
revestimentos de materiais, com atuação a diferentes níveis de proteção, sugerida
Na participação de equipas do ensino
O bikeemotion está equipado com a
pelo investigador Mikhail Zheludkevich,
superior, a UA destacou-se ao conquistar
mais moderna tecnologia de localização,
o MUST é um projeto europeu que,
seis prémios, nas ligas de futebol robótico
pagamento e reserva de bicicletas,
entre outros objetivos, pretende
médio, futebol robótico simulado 3D e
mantendo, ao mesmo tempo,
desenvolver para a indústria aeronáutica
futebol robótico simulado 2D.
a simplicidade de utilização.
por si a fuselagem dos aviões.
A CAMBADA participou este ano com
O projeto está a ser desenvolvido
O revestimento vai ser utilizado por um
novas plataformas robóticas cuja
pela Ubiwhere (empresa graduada
dos maiores fabricantes mundiais
estrutura mecânica resultou de uma
da Incubadora de Empresas da UA),
de aviões comerciais, a EADS,
estreita parceria entre o Departamento
promotora, em cooperação com a UA,
a empresa proprietária do AIRBUS.
de Electrónica, Telecomunicações e
a Ponto. C e a Micro I/O.
No entanto, as tecnologias desenvolvidas
Informática da UA e a Escola Superior
não estão apenas focadas em aplicações
de Tecnologia e Gestão de Águeda
aeronáuticas já que também estão
que interveio na conceção, desenho e
a ser desenvolvidos revestimentos
maquinação da estrutura.
revestimentos inteligentes que reparem
para a indústria automóvel e marítima. O MUST resultou na criação de uma spin-off da UA, a Smallmatek, facto que contribuiu igualmente para a atribuição do prémio.
Mais um pódio internacional para a CAMBADA da UA A CAMBADA, equipa de futebol robótico da Universidade de Aveiro, a concorrer na liga de robôs médios, regressou da RoboCup 2013, na Holanda, com mais um
linhas
set 2013
Bolsa inédita para investigador
de Mérito Científico do Município
do telecomando sem pilhas
de Aveiro. A atribuição da Medalha
Uma das dez “MTT Graduate Student
de Mérito Científico tem um significado
Fellowship” de 2013 no mundo
especial, este ano em que se assinalam
inteiro, um primeiro prémio na “IMS
40 anos da Universidade de Aveiro,
2013 Student SDR and DSP Design -
35 do Departamento de Ambiente
Undergraduate Competition” e ainda um
e Ordenamento e 20 anos do Instituto
segundo lugar na “SDC-LSNA MTT-11
de Ambiente e Desenvolvimento.
Measurement Competition”, resultaram da que foi a maior participação de
A distinção foi atribuída em sinal do
sempre da Universidade de Aveiro no
reconhecimento pelo contributo decisivo
International Microwave Symposium
para a inovação, formação, avanço e
de 2013 (IMS2013), em Seattle.
desenvolvimento científico dado pelo
O aluno de doutoramento Alírio
académico. Carlos Borrego, que também
Boaventura está entre os dois primeiros
exerce funções de diretor do Instituto de
num grupo de dez a nível mundial a
Ambiente e Desenvolvimento, foi Vice-
receber o prémio Graduate Fellowship
reitor, entre 1998 e 2002, e ministro do
Estudantes da UA premiados no
2013, sendo o primeiro estudante em
Ambiente e Recursos Naturais, de 1991 a
design de garrafas de azeite
Portugal a receber esta distinção na
1993. Para além de vários outros cargos e
“Desenvolver uma garrafa para azeite
categoria Graduate Student.
funções que desempenhou e desempenha a nível nacional e internacional, é
português” foi o desafio que a BA Vidros, especializada em embalagens
Este prémio, atribuído pela Sociedade
coordenador do Grupo de Emissões e
de vidro para a indústria alimentar e de
de Radio-frequência e Micro-ondas
Modelação das Alterações Climáticas
bebidas, lançou aos jovens designers
(Microwave Theory and Techniques -
(GEMAC), do Departamento de Ambiente
portugueses. Através dos Glassberries
MTT-S) do Institute of Electrical and
e Ordenamento da Universidade de Aveiro,
Design Awards 2013, a empresa premiou
Electronics Engineers (IEEE), consiste
sendo coordenador de seis projetos
as propostas mais criativas para novas
numa bolsa de estudos de pós-
atualmente em curso com financiamento
embalagens de vidro. A Universidade de
graduação no valor de sete mil dólares,
da UE e de quatro com financiamento do
Aveiro, que assegurou participação com
que visa reconhecer o mérito
PRAXIS XXI.
os alunos de Design, conquistou todos
e excelência académica.
os prémios a concurso. Alírio Boaventura, de nacionalidade
Dissertação de antiga aluna
O concurso premiou as propostas mais
cabo-verdiana, é aluno do programa
é ideia de futuro com prémio
criativas para as novas garrafas de
doutoral em Engenharia Eletrotécnica
europeu
azeite português, entre os estudantes
na Universidade de Aveiro e investigador
Antiga aluna do Departamento de
da área de design de produto de três
no Instituto de Telecomunicações, sob
Ambiente e Ordenamento (DAO) da
universidades nacionais. José de Oliveira
orientação científica de Nuno Borges
Universidade de Aveiro, Ana Sofia
Araújo e Tiago Ruivo Pinheiro venceram
de Carvalho, professor do Departamento
Fonseca venceu a categoria de
o primeiro prémio; Catarina Mouta e
de Eletrónica, Telecomunicações
Manufacturing (Indústria) na competição
Mariana Gomes conquistaram a segunda
e Informática. A proposta apresentada
«Future Ideas - European Innovation
posição no pódio e Soraia Carvalho da
relaciona-se com o projeto
Master Thesis Competition 2013»,
Rocha e Bruno Graça levam para a casa
“Telecomandar sem pilhas”.
com a dissertação de mestrado.
o terceiro lugar a concurso. Para além A ex-aluna da UA defende, no seu
dos prémios, os vencedores terão a Carlos Borrego recebe
trabalho, que o desmantelamento
medalha municipal de Mérito
de veículos em fim de vida (em vez
O desafio da BA Vidro foi lançado
Científico
da habitual desfragmentação) traz
em março e, nesta segunda edição,
O professor e diretor do Departamento
vantagens para o meio ambiente.
a BA convidou três escolas a participar:
de Ambiente e Ordenamento da
a UA, a Universidade Lusíada e a ESAD,
Universidade de Aveiro e ex-ministro do
O concurso Future Ideas destina-se
de Matosinhos.
Ambiente e Recursos Naturais, Carlos
a galardoar os melhores trabalhos
Borrego, foi distinguido com a Medalha
académicos produzidos no âmbito de
oportunidade de estagiar na BA Vidro.
31
distinções
cursos de mestrado em 12 categorias,
e Emanuel Oliveira, conseguido duas
características das macroalgas marinhas
tendo por objetivo estimular a atividade
menções honrosas. A seleção dos
da costa portuguesa, desde a continental
de inovação e empreendedorismo.
trabalhos a concurso foi feita por um
até às dos Açores e da Madeira.
O trabalho premiado foi realizado no
júri constituído pelo público em geral,
âmbito da dissertação do Mestrado
através de votação no Facebook, pela
A obra da dupla de biólogos, intitulada
em Engenharia do Ambiente, intitulado
Love Tiles, por docentes da Universidade
“Macroalgas Marinhas da Costa
“Impactes Ambientais da Integração vs
de Aveiro e ainda pela empresa Viriato
Portuguesa – Biodiversidade, Ecologia
Eliminação de Resíduos de VFV”, com
& Viriato, parceira da promotora em
e Utilizações”, aborda as principais
orientação científica de Maria Isabel da
projetos de comunicação. Estes
espécies de algas que podem ser
Silva Nunes, do DAO, em parceria com
trabalhos foram desenvolvidos no âmbito
encontradas e identificadas na costa,
a empresa Lyrsa Reciclagens Industriais,
da unidade curricular de Projeto de
bem como metodologias e métodos para
Unipessoal Lda.
Design em Empresas do curso de Design
sua recoleção, conservação e estudo.
da UA. A entrega dos prémios decorreu
O trabalho vencedor apresenta também
no DeCA.
as principais utilizações destes vegetais
Ana Sofia Fonseca defende que optar
marinhos para além do uso direto nas
por aumentar o desmantelamento de
indústrias alimentar, farmacêutica, da
componentes no sistema de tratamento de Veículos em Fim de Vida (VFV) traz
Laboratório Central
benefícios ao nível da conservação de
de Análises da UA recebe selo
recursos não renováveis e de redução de
de qualidade
Atribuído pela Câmara Municipal de
emissões para o ambiente, pois permite
O Laboratório Central de Análises da
Cascais, desde 1995, e com o objetivo
a “separação e a obtenção de fluxos de
Universidade de Aveiro é um laboratório
de reconhecer trabalhos científicos
materiais com um nível de pureza” tal
acreditado pelo Instituto Português da
dedicados ao mar, o prémio, de 2500
que “facilita o envio para reciclagem
Acreditação. A acreditação garante aos
euros, inclui ainda a publicação do
de uma maior quantidade de resíduos”.
clientes do LCA que são cumpridos
trabalho em livro, numa edição de 2500
os requisitos mais exigentes a nível
exemplares.
internacional nos ensaios laboratoriais “Fusion” entre “Love” e Design
e logística envolvente. A UA fica dotada
da UA
de um serviço que corresponde ao topo
Tiago Santos, Cristina Fernandes e
da hierarquia da Qualidade e onde são
Emanuel Oliveira são alunos de Design
garantidos níveis de confiança máximos.
no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro (DeCA)
O LCA é acreditado para ensaios de
e receberam, da cerâmica Love Tiles,
águas naturais (análise de Cu e Zn por
o prémio lançado sob o lema “Dream
ICP-OES) e águas de consumo humano
it…Book it…Love it”. O trabalho
(análise de Fe, Mn e Na por ICP-OES
apresentado ao júri resultou na criação,
e análise de Al, Cr, Cd, Ni e Pb por
conceção e implementação de novas
ICP-MS). Ao cumprir os requisitos da
ideias e projetos inovadores no âmbito
norma NP EN ISO/IEC 17025, para as
do design gráfico.
suas atividades de ensaio, o laboratório garante que o seu sistema de gestão
O concurso teve por objetivo a criação
da qualidade satisfaz os princípios da
de materiais de comunicação para a
norma ISO 9001.
nova coleção cerâmica Fusion. Mais do que a elaboração de um catálogo, as propostas apresentadas à Love Tiles
Biólogo da UA ganha Prémio
mostraram a criação e desenvolvimento
do Mar Rei D. Carlos
de todo o conceito de comunicação,
Os biólogos Fernando Correia, da
associado ao lançamento dos novos
Universidade de Aveiro, e Leonel
materiais cerâmicos.
Pereira, da Universidade de Coimbra, conquistaram o Prémio do Mar Rei
Tiago Santos arrecadou o primeiro lugar
D. Carlos de 2012, com um original
tendo os colegas, Cristina Fernandes
trabalho conjunto sobre as múltiplas
cosmética e da saúde.
linhas
set 2013
Portefólio de competências e serviços da UA Uma mão cheia de saberes que se estende à comunidade
A Universidade de Aveiro afirmou-se, desde a sua criação, em
serviços disponíveis envolvendo um significativo número de
1973, como uma instituição de ensino superior inovadora e
entidades e pessoas, agregados num “Portefólio de Competências
aberta à sociedade, em particular, à região e às entidades do
e Serviços da UA”. Esta ferramenta está disponível em versão
tecido económico e social, orientando a sua atividade pelos
impressa e eletrónica na forma de um portal. A versão impressa
mais elevados padrões internacionais de excelência. Estando a
(catálogo)contém informação detalhada sobre a tipologia de oferta
cooperação inscrita num dos vetores da missão da instituição,
por unidade orgânica, com a indicação da pessoa ou entidade a
a UA quer contribuir para o reforço da competitividade das
contactar em cada caso.
empresas nacionais, disponibilizando os seus serviços e as suas competências científicas e tecnológicas.
A versão eletrónica consiste num portal dinâmico e em permanente crescimento, assente numa base de dados
Neste contexto, todas as unidades orgânicas, bem como as
pesquisável. Numa única página é congregada toda a capacidade
unidades de interface, estão envolvidos em atividades de
instalada na UA disponível para colaborar com as empresas,
formação, de consultoria e apoio técnico, científico, prestação de
autarquias e entidades do tecido económico, cultural e social.
serviços, investigação, desenvolvimento tecnológico e inovação em consórcio, orientados para as necessidades das empresas.
O reforço do processo de cooperação com as empresas é
Trata-se, na realidade, de um vasto leque de competências e
promovido através do Gabinete Universidade/Empresa (GUE).
33
cooperação
Esta estrutura assume-se, igualmente, como o “balcão único”
Estas unidades cobrem uma parte significativa das áreas de
das empresas e outras entidades junto da UA.
conhecimento da UA e geram investigação de alto nível.
Com estes novos instrumentos, suportados na agilização de
Avaliação e caracterização de antenas
procedimentos administrativos, assim como numa adequada
O Instituto de Telecomunicações – polo de Aveiro e o
política interna de incentivos à cooperação com empresas, a
Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática
Universidade de Aveiro consolida o seu papel de motor
da UA têm ao seu dispor uma infraestrutura que permite a
de desenvolvimento regional.
caracterização de antenas e a realização de diagramas de radiação, em gamas de frequência entre 1 a 20 GHz, para antenas
É neste âmbito que se destacam algumas das valências
até 1,5 metros.
dos quatro laboratórios associados da UA: Instituto de
O equipamento possibilita ainda a análise de antenas que distem
Telecomunicações – polo de Aveiro (IT), Centro de Estudos
até quatro metros entre si e está também automatizada em três
do Ambiente e do Mar (CESAM), Centro de Investigação em
eixos, permitindo, igualmente, a realização de diagramas 3D.
Materiais Cerâmicos e Compósitos (CICECO) e Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação - Física
Este tipo de medidas permite ao IT realizar investigação nesta área
de Semicondutores em Camadas Optoeletrónicas e Sistemas
de conhecimento, abrangendo a medição de antenas de pontos
Desordenados - I3N-FSCOSD (I3N).
linhas
set 2013
de acesso WiFi, sistemas de comunicações móveis, sistemas RFID
é objeto de investigação pelo mundo fora, têm a ver com
e também prestação de serviços a empresas que necessitem de
o desenvolvimento da chamada eletrónica transparente.
caracterizar as suas próprias antenas. “safe aquaculture in a box” No Laboratório de Antenas está ainda disponível uma Gaiola de
Investigadores do CESAM e do Laboratório para Estudos
Faraday para testes de interferência eletromagnética.
Moleculares de Ambientes Marinhos (LEMAM), do Departamento de Biologia, estão a apostar em análises da composição de
Deposição de filmes finos por “RF-magnetron
microrganismos que vivem em meio aquático e que causam
sputtering”
doenças às espécies piscícolas. Estas doenças microbianas
O sistema que o Laboratório Associado I3N e o Departamento de
podem afetar o crescimento, a reprodução e causar a morte
Física possuem está vocacionado para a deposição de filmes finos
dos peixes cultivados. Vários agentes patogénicos são,
de óxidos transparentes e condutores, constituídos essencialmente
inclusivamente, responsáveis por perdas significativas na
por ITO, TiO2, ZnO, entre outros, intrínsecos ou dopados.
produção de pisciculturas semi-intensivas e intensivas em todo
A obtenção de filmes destes materiais, com as propriedades óticas
o mundo. Através da utilização de metodologias moleculares
e elétricas pretendidas, e de forma reprodutível, requer um controlo
inovadoras, desenvolvidas na UA, é possível detetar quais são
muito fino das condições de deposição.
os agentes patogénicos bacterianos presentes nos sistemas de aquacultura e nas espécies de robalo, linguado, pregado, entre
A técnica de “sputtering” permite assim, de um modo geral,
outras, produzidas na região de Aveiro.
a deposição de camadas ativas e passivas de materiais, com vista à modificação das propriedades óticas e elétricas da
A breve prazo, esse processo vai ser ainda mais fácil. Através do
superfície de dispositivos ou peças. Trata-se de filmes que são,
AQUASAFE Kit, no âmbito do projeto AQUASAFE, criado pelo
simultaneamente, condutores e transparentes, sendo materiais
investigador Newton Gomes, os produtores piscícolas podem
que têm aplicações tecnológicas importantes, como por
recolher amostras de água, fixá-las no kit e entregá-las na UA para
exemplo, em monitores de computadores, televisores, ou ecrãs
análise, recebendo pouco depois um relatório com os resultados.
planos de todo o tipo. Outras aplicações, cujo desenvolvimento
Oportunamente, será ainda disponibilizada na web uma página
35
de serviços que servirá também para esclarecer as dúvidas dos piscicultores, sobre a microbiologia dos seus sistemas de produção. Com estas ferramentas, os produtores passam a ter maior controlo microbiológico do sistema de produção e, consequentemente, menos doenças, menos custos e mais peixes saudáveis, assegurando assim a qualidade do pescado. O desenvolvimento do kit, e demais serviços, é financiado, pelo Programa Operacional das Pescas (PROMAR). Novos materiais e suas aplicações São três, dão pelo nome de difractómetros, moram no CICECO e têm por função fazer uma espécie de “RX” a materiais e compostos químicos com aplicações tão diversas, que vão desde a indústria farmacêutica às cimenteiras. Muitas vezes, nos processos químicos é necessário analisar a composição dos materiais e, com isso, obter informação sobre as suas características. Esta análise é feita, essencialmente, em materiais cristalinos para aplicação, por exemplo, na indústria têxtil ou fibras óticas mas é, sobretudo, muito utilizada na indústria farmacêutica para a descoberta de novas moléculas ou formulações. Outra das indústrias que recorre à análise dos seus produtos é a da cerâmica, seja em peças de arte ou mesmo em cimentos. Com o difractómetro de raios-X de pós é possível efetuar análises in situ a altas temperaturas e, com isso, avaliar o comportamento do material, quando sujeito a determinadas condições. É também uma técnica não destrutiva, daí ser muito útil no estudo de peças de arte e em arqueologia. O equipamento possibilita, ainda, graças às suas valências complementares, analisar um elevado número de amostras num curto intervalo de tempo. As análises de difração de raios – X de pós são, igualmente, extensíveis ao setor da eletrónica e das telecomunicações. Todas as informações sobre o portefólio de competências e serviços da UA em: http://portefolio.ua.pt
cooperação
linhas
set 2013
Uma UA do tamanho da língua portuguesa Faça o seguinte exercício: tire os olhos da Linhas e à primeira pessoa que vir pergunte-lhe se tem alguma ligação a África. Já o fez? Como resposta teve certamente a memória de quem lá viveu e retornou com o 25 de abril, de um militar das guerras coloniais ou de alguém que tem no continente negro um amigo a trabalhar. Faça o mesmo com o Brasil e Timor. Quem tem um familiar que emigrou para o Rio de Janeiro ou torce pela seleção canarinha quando Portugal não joga? Quem ficou arrepiado com o massacre de Santa Cruz e se emocionou na enorme onda de solidariedade com o povo maubere? Toda a gente. É nesta umbilical relação com quem faz da língua portuguesa uma pátria comum que a Universidade de Aveiro dá e recebe no âmbito da Cooperação para o Desenvolvimento.
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São
que o próprio Reitor da academia de Aveiro é o responsável
Tomé e Príncipe, Timor e mesmo Goa (Índia) são países onde
pelo pelouro da cooperação no Conselho de Reitores das
a academia de Aveiro se tem desmultiplicado em projetos
Universidades Portuguesas.
ligados ao ensino, à investigação, à divulgação da ciência, à educação para o desenvolvimento e, de uma forma geral, à
Por esse mundo fora
assistência técnica a programas. “A Cooperação da UA está
O Pensas é o mais emblemático projeto de cooperação que
apontada em mais de 90 por cento para as antigas colónias”,
a UA tem fora de portas. Pensado pela mão impulsionadora
sublinha Carlos Sangreman, responsável na academia de
de António Batel Anjo, o Pensas trabalha há quase uma
Aveiro pela dinamização dos projetos de Cooperação para o
década para melhorar a qualidade do ensino em Moçambique.
Desenvolvimento. A aposta geográfica, que tem no sangue
O docente do Departamento de Matemática da UA dirige
irmão um fator decisivo, é, de resto, a mesma da Cooperação
hoje aquele que é o maior projeto português de formação e
oficial portuguesa com quem a UA trabalha lado a lado.
ensino além-fronteiras de professores e alunos nas áreas da Matemática e da Língua Portuguesa.
Mas de que se fala quando o assunto é Cooperação para o Desenvolvimento? “Não há uma definição estandardizada.
Como exemplo desse imenso trabalho da UA em terras de
Existe uma que é a da cooperação oficial portuguesa e que
Moçambique, registem-se os dez centros que o Pensas edificou
nós, na UA, adaptámos e utilizamos”, diz o responsável.
em cada uma das províncias do país, à exceção de Maputo, e que, equipados com computadores ligados à rede global,
Considerando que, no atual mundo global, uma universidade
proporcionam várias formações ao longo do ano aos professores
de excelência tem que ter como missão a luta, dentro e fora
locais. Com o apoio de manuais com o selo do Pensas e de
de portas, por um desenvolvimento humano que potencie a
uma plataforma de ensino assistido que serve de base ao
expansão da personalidade dos indivíduos e da identidade
projeto, essas formações procuram reciclar e aprofundar os
coletiva de todos os países como atores sociais, a definição
conhecimentos dos professores moçambicanos.
de Cooperação para o Desenvolvimento adotada pela UA, é simples e abrangente. “Apontamos para uma atividade de
Do outro lado do mundo, em Timor-Leste, o empurrão da UA
transferência de recursos em prol de um desenvolvimento
ao jovem país lusófono passou, já este ano, pela conclusão
maior, seja no país que recebe esses recursos seja, a médio
da reestruturação do respetivo plano curricular do Ensino
longo prazo, na entidade que fornece os recursos, neste
Secundário Geral, pela construção dos programas das diversas
caso, a UA”, explica Carlos Sangreman sem deixar de lembrar
disciplinas e, ainda, pela elaboração dos manuais escolares
para alunos e guias didáticos para professores. Um trabalho
projetos de cooperação em Timor, São Tomé e Príncipe,
hercúleo de uma vasta equipa coordenada por Isabel Martins,
Moçambique e Cabo Verde que já são financiados, em parte
docente do Departamento de Educação da academia de Aveiro,
ou na totalidade, pelos governos locais”. Até porque, refere o
que não optou pelo caminho mais fácil. “Todos os manuais são
responsável, “a nossa academia não é uma instituição altruísta
documentos originais, não são traduções nem adaptações de
ou de caridade mas também não é uma empresa ou uma
Manuais e Guias de outros países, e estão contextualizados na
instituição que tenha como objetivo maximizar o lucro”.
sociedade e cultura de Timor-Leste”, aponta a responsável. A UA, desde que oficializou em 2004 a política de Cooperação O Pensas e a restruturação do ensino secundário em Timor são
para o Desenvolvimento, “decidiu que estas atividades não
‘apenas’ alguns dos projetos mais icónicos do vasto trabalho
podem ter lucro negativo”. Ou seja, “podemos não ganhar nada
– incomensurável nestas páginas - que a UA tem realizado em
com um determinado projeto mas não podemos é ter prejuízo”,
prol de um mundo mais humano, igual e participativo. No que
salienta Carlos Sangreman. Por isso, “a avaliação financeira é feita
diz respeito à formação de professores e alunos e cooperação
globalmente e não projeto a projeto”.
académica e científica, também Angola, Brasil, Cabo-Verde e Guiné-Bissau, entre outras ações, têm recebido da UA apoio, seja
Para financiar os programas, para além de orçamento próprio e, em
de recursos humanos, seja de saberes, seja de meios técnicos.
alguns casos, do apoio dos governos locais, a UA procura ou aceita programas e projetos com financiamento do Estado português,
Projetos que extravasam fronteiras
de entidades internacionais (como é o caso da União Europeia
Mas nem só de apoio ao ensino e à investigação se faz a
ou do Banco Mundial) e de entidades privadas, sejam fundações,
Cooperação para o Desenvolvimento da UA. Exemplo disso é a
empresas ou autarquias. Atualmente, a academia de Aveiro tem
adaptação que a academia de Aveiro está a fazer de um software
como entidades financiadoras dos seus inúmeros projetos em
criado pela ONU a pensar na gestão da atividade parlamentar.
curso o Ministério dos Negócios Estrangeiros, através do Camões
Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, países
- Instituto da Cooperação e da Língua, a Fundação Calouste
que não possuem ainda qualquer ferramenta informática para
Gulbenkian, os governos de Moçambique, Cabo Verde, Timor
o efeito, estão a ser apetrechados pelo Departamento de
e São Tomé e Príncipe e a Fundação Portugal África.
Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) da UA. Aposta nas boas práticas governativas Ainda na área informática, Joaquim Sousa Pinto, investigador do
Na UA há uma grande certeza: “são os projetos na área da
DETI e responsável por estas missões, lembra a conceção do
governação que dão sustentabilidade à cooperação”. Professor
Programa de Gestão Informatizada das Secretarias e do Processo
no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território
Penal do Ministério da Justiça de Cabo Verde. O programa entrará
da UA, Carlos Sangreman garante que “se as governações forem
brevemente em funcionamento e, explica o investigador, “pretende
estáveis, há estabilidade em tudo o resto”. Por isso, é cada vez
informatizar os processos penais de forma a torná-los mais céleres,
mais uma obrigação envolver nos projetos de cooperação as
baratos, transparentes e seguros, contribuindo deste modo para a
instituições estatais, parlamentos e ministros locais e operar
maior confiança dos cidadãos na Justiça”.
em conjunto no apoio ao que possa resultar na melhoria da governação e da política. Tudo o resto, com a mesma velocidade
No que toca a programas de cooperação transversais a vários
com que se faz, assim é desfeito “se não houver uma cultura
países refira-se também o “Memória de África e do Oriente”.
política e institucional adquirida profundamente”.
O projeto existe desde 1996 e tem online mais de 2500 obras digitalizadas referentes à história dos países de língua portuguesa
A informatização da gestão das Secretarias e do Processo
e 350 mil referências bibliográficas de instituições em Portugal,
Penal de Cabo Verde, que a UA está a realizar em sintonia
Guiné, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Goa.
com o Ministério da Justiça local, a reestruturação do ensino secundário em Timor-Leste e o Pensas, que envolvem
Dar e receber, receber e dar
profundamente os ministérios da Educação locais, e a adaptação
Se até à crise económica europeia, que se instalou em 2008,
do programa de gestão informático para os Parlamentos
o movimento de recursos para ações de Cooperação para o
de Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste,
Desenvolvimento teve, grosso modo, um só sentido, ou seja,
debatidos com cada uma dessas instituições, “são os projetos
dos países mais desenvolvidos para os menos favorecidos,
que valem realmente a pena pois darão frutos a médio e longo
hoje o cenário tem tendência para ser mais equilibrado. “Os
prazo de forma mais sustentada”.
chamados países emergentes foram adquirindo capacidade para financiarem eles próprios o seu desenvolvimento”, explica
“Essa é a metodologia chave”, aponta Carlos Sangreman.
Carlos Sangreman. Assim, exemplifica, “a UA tem atualmente
Por aí é o futuro, sublinha a UA.
linhas
set 2013
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE A UA está a adaptar um software de gestão para os parlamentos de Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe (STP) e Timor-Leste. O programa está a ser preparado por uma equipa de investigadores do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) da academia de Aveiro e São Tomé e Príncipe deverá ser o primeiro país a tê-lo a funcionar. “Está a ser um trabalho complexo e que exige uma atividade de parceria entre a Universidade e os
UA
Parlamentos de Portugal e de São Tomé”, aponta Joaquim Sousa Pinto, investigador do DETI e coordenador do projeto. “É um programa estruturante para o país e uma afirmação da UA como uma universidade de elevada capacidade tecnológica e com forte empenho na cooperação para o desenvolvimento e na transferência de tecnologia”, sublinha o responsável.
Na área da educação, em parceria com a UNICEF de STP e com o Ministério da Educação e Cultura das ilhas, a UA, através da investigadora Gabriela Portugal, do Departamento de Educação, concebeu um programa curricular para educadores de infância locais. Estes receberam da UA, em 2012, um conjunto de orientações educativas de forma a melhor promoverem a aprendizagem e o bem-estar das crianças de STP.
CABO VERDE É um dos grandes projetos que a UA tem fora de portas. Em Cabo Verde a academia tem a cargo a conceção do Programa de Gestão Informatizada das Secretarias e do Processo Penal. Promovido pelo Ministério da Justiça local e desenvolvido em parceria com a Universidade de Cabo Verde, o programa vai informatizar os processos penais aumentando com isso a celeridade, a transparência, a segurança e a confiança dos cidadãos no sistema jurídico. O projeto, coordenado por Joaquim Sousa Pinto,
GUINÉ-BISSAU
investigador do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações
A formação de educadoras de infância e de técnicos do Ministério
e Informática da UA, deverá entrar em funcionamento durante o atual
da Educação da Guiné-Bissau, em 2004, marcou o início da
mês de setembro. O investigador tem ainda a cargo a adaptação de
cooperação da UA com aquele país. Hoje, a presença da academia
um software de gestão da atividade parlamentar para o Parlamento
na Guiné-Bissau expressa-se na Casa dos Direitos, um espaço que
daquele país.
pretende contribuir para a paz e o desenvolvimento do país através da consolidação da consciência cívica dos cidadãos. Neste projeto a
Na terra da morna, a UA já ajudou a edificar a primeira Casa da
academia é parceira da Associação para a Cooperação Entre os Povos,
Ciência. Inaugurada em 2012, esta tem por objetivo promover a
da Liga Guineense para os Direitos Humanos, do Camões – Instituto da
cultura científica e tecnológica e a ligação entre as universidades
Cooperação e da Língua e da Fundação Calouste Gulbenkian.
e a sociedade. O projeto resultou de uma parceria entre a UA, a Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro e o Ministério do Ensino
A academia de Aveiro está também a dar apoio ao Instituto Nacional
Superior, Ciência e Inovação. A academia de Aveiro prepara-se
de Estudos e Pesquisa (INEP), apoiando a gestão da presença na
também para instalar em Cabo Verde um Laboratório de Tecnologias
Internet daquele instituto e divulgando a respetiva produção científica
de Comunicação e de Informática e estruturar a Universidade local
sobre a Guiné-Bissau. Ao lado da UA está nesta missão a Fundação
nas áreas da Engenharia Informática e da Música.
Mário Soares.
39
dossier
Moçambique É o ex-libris dos projetos de Cooperação para o Desenvolvimento da UA. Chama-se Pensas e, no resumo possível, tem como principal motor a formação de alunos e de professores do 1º ciclo nas áreas da Matemática e da Língua Portuguesa. A estes docentes moçambicanos, o Pensas destina programas que, desde o início do projeto, em 2007, procuram reciclar e aprofundar os conhecimentos nas áreas referidas. As atividades do projeto realizam-se nos dez espaços que o Pensas criou por todo o território moçambicano e que estão equipados com computadores ligados à Internet.
Ainda na área da formação, o Pensas dinamiza anualmente a atividade “Formação em Ação” que envolve professores portugueses e moçambicanos numa troca de experiências, métodos de aprendizagem e lecionação em contexto de sala de aula. O Pensas nasceu de uma parceria entre Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento e o Ministério da Educação de Moçambique e está hoje cada vez mais inserido no próprio sistema oficial de ensino moçambicano.
Naquele país, a academia de Aveiro tem ainda implementado o Programa de Cooperação na Área do Ensino à Distância através do qual se pretende promover a conceção e a avaliação de programas de formação, em modalidade de ensino à distância, na Universidade Eduardo Mondlane. No contexto desse projeto, a UA tem fomentado a qualificação de recursos humanos e técnicos do Centro de Ensino à Distância e lançou o Programa Doutoral em Multimédia em Educação para um grupo de docentes da Universidade Eduardo Mondlane. Ao lado da UA, neste projeto, está a Fundação Calouste Gulbenkian.
timor leste A reestruturação do plano curricular para o Ensino Secundário Geral em Timor-Leste (10º, 11.º e 12.º anos) e a concepção de programas, manuais do aluno e guias do professor para as disciplinas de cada um dos três anos iniciaram-se, pela mão da UA, em 2010. Os projetos da academia, abraçados a convite da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), terminaram em junho deste ano com a entrega em Timor-Leste dos manuais e guias. Financiados pelo Fundo da Língua Portuguesa/ IPAD (atual Camões - Instituto da Cooperação e da Língua) e pela FCG, os trabalhos envolveram 75 especialistas e inúmeros professores timorenses.
Ainda ligado ao Ensino, a UA participa em terreno timorense no Projeto de Formação Inicial e Contínua de Professores tendo selecionado e formado uma equipa de docentes portugueses do ensino secundário. Sob supervisão cientifico-pedagógica da UA, os professores lusos foram reforçar a formação dos colegas timorenses, em particular os que compõem a Bolsa Nacional de Formadores do Instituto Nacional de Formação de Docentes e Profissionais da Educação.
Para além destes projetos, a UA tem ainda em curso a inventariação da flora de Timor-Leste, a implementação de um herbário nacional e um estudo sobre a genética populacional timorense.
linhas
set 2013
brasil
ANGOLA
Nascido em 2007 pelas mãos da UA, do Instituto Energias do
A cooperação da UA com Angola tem estado nas últimas décadas
Brasil e do Instituto Ecológico, o Centro de Conhecimento em
muito centrada na componente académica. Esta tem sido pautada
Biodiversidade Tropical é um local de pesquisa com capacidade
por ações pontuais, nomeadamente as que dizem respeito
para alojar grupos de estudantes e investigadores. A academia de
à mobilidade de docentes e técnicos, envolvendo essencialmente
Aveiro é responsável pelo conteúdo científico e pedagógico dos
a Universidade Agostinho Neto. Mais recentemente, em
projetos e atividades que lá se desenvolvem e pela promoção do
2011,“estabeleceram-se protocolos de cooperação com diversas
intercâmbio de estudantes universitários e investigadores, visando
instituições de ensino superior”, lembra Carlos Pascoal Neto,
a troca de experiências nas áreas de biodiversidade, inovação
Vice-reitor da UA. As atividades desenvolvidas ou em curso, desde
tecnológica, mudanças climáticas e sustentabilidade.
então, “envolvem programas de apoio à capacitação e qualificação do corpo docente e técnico bem como programas de apoio
Do outro lado do Atlântico, a UA tem celebrado parcerias com
à formação graduada e pós-graduada”.
várias universidades e institutos brasileiros com o objetivo de estabelecer programas de colaboração técnico-científica centrados
Destacam-se, nestes contextos, a formação no Departamento
no desenvolvimento de projetos de ensino e investigação e no
de Química da UA de técnicos na área da Química do Instituto
intercâmbio de professores e estudantes. O Instituto Natureza do
Superior Politécnico de Tecnologias e Ciências e o programa de
Tocantins, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
apoio à formação prática de várias dezenas de alunos do Instituto
o Instituto Homem Pantaneiro, o Instituto Nacional de Pesquisas
Politécnico de Benguela das áreas de Engenharias, Administração
da Amazónia, a Universidade Federal de Campina Grande e a
Local e Enfermagem, formações essas oferecidas pela ESTGA-
Universidade Federal do Rio Grande são algumas das instituições
UA e pela ESSUA, bem como o programa de apoio na orientação
a quem a academia de Aveiro tem juntado esforços.
de mestrandos do Instituto Superior de Ciências da Educação – ISCED/Huíla por parte do Departamento de Educação da UA.
EDIÇÕES Descomplicar a Asma
ISBN 9789725923641
Autoria Sílvia Rocha e Ricardo Dias, docentes
Ano 2013
Ano 2013
52 ideias para o Professor -
nos Departamentos de Química e de Física da UA, e André Moreira da Universidade do Porto.
A Virtude nas Organizações - Fonte
Matemática - 1.º ciclo
Edição UA Editora
de progresso e sustentabilidade
Autoria Vários autores, com coordenação
ISBN 9789727893638
Autoria Neuza Ribeiro, docente no Instituto
de Isabel Cabrita, docente no Departamento
Ano 2013
Politécnico de Leiria, Arménio Rego, docente
de Educação da UA
no Departamento de Economia, Gestão e
Edição Porto Editora
Reflexão sobre a escrita: o ensino
Engenharia Industrial da UA, e Miguel Pina
ISBN 9789720130204
de diferentes géneros de textos
e Cunha docente na Universidade Nova
Ano 2013
Autoria Luísa Álvares Pereira, docente
de Lisboa.
no Departamento de Educação da UA,
Edição Sinais de Fogo Publicações
Supervisão e Colaboração - Uma relação para
e Inês Cardoso, investigadora no Centro
ISBN 9789897180378
o desenvolvimento
de Investigação Didática e Tecnologia
Ano 2013
Autoria Isabel Alarcão, professora aposentada da UA, e Bernardo Canha, investigador
na Formação de Formadores da UA Edição UA Editora
SuperEquipas - Orientações para as Equipas
no Laboratório Aberto para a Aprendizagem
ISBN 9789727893584
que Desejam Superar-se
de Línguas Estrangeiras da UA
Ano 2013
Autoria Miguel Pina e Cunha, docente na
Edição Porto Editora
Universidade Nova de Lisboa, e Arménio Rego,
ISBN 9789720345752
Guia das Aves das Dunas de S. Jacinto
docente no Departamento de Economia,
Ano 2013
Autoria Davina Falcão, antiga aluna da UA,
Gestão e Engenharia Industrial da UA
e António Luís, docente no Departamento
Edição Actual Editora
O eSsencial em… Sinalização Celular
de Biologia da UA
ISBN 9789896940393
Autoria Margarida Fardilha, Odete da Cruz e
Edição Departamento de Biologia da UA
Ano 2013
Silva, docentes na Secção Autónoma de Ciências da Saúde da UA e Miguel Conde, antigo aluno da
e Edições Afrontamento; ISBN 9789723612523; Comunicação Eletrónica na Aula de
UA e Cientista Associado na empresa Ablynx.
Português Língua Estrangeira
Edição Departamento de Biologia da UA
Português Língua Não Materna:
Autoria Sílvia Melo-Pfeifer, investigadora
e Edições Afrontamento
Investigação e Ensino
no Centro de Investigação Didática e Tecnologia
ISBN 9789723612530
Autoria organizada por Rosa Bizarro, Maria
na Formação de Formadores da UA, e Maria
Ano 2012
Alfredo Moreira e Cristina Flores, com colaboração
Helena Araújo e Sá, docente no Departamento
de Maria Helena Ançã, docente, e Sílvia Melo-
de Educação da UA
Sinais de Cinza – Estudos de Literatura
Pfeifer, estudante de pós-doutoramento, ambas
Edição Lidel
Autoria António Manuel Ferreira, docente
do Departamento de Educação da UA
ISBN 9789727577088
no Departamento de Línguas e Culturas da UA
Edição Lidel
Ano 2013 - confirmar
Edição Opera Omnia
Ano 2013
ISBN 9789898309334Ano 2012
ISBN 9789727579280 Ano 2013
Lidere como um Líder: Os 12 trabalhos do executivo
Dos Planos à Execução Urbanística
Geologia de Portugal - 2 volumes
Autoria Miguel Pina e Cunha, docente na
Autoria Jorge Carvalho, docente
Vol. I - Geologia Pré-mesozónica de Portugal
Universidade Nova de Lisboa, Arménio Rego,
no Departamento de Ciências Sociais,
Vol. II - Geologia Meso-cenozóica de Portugal
docente no Departamento de Economia, Gestão
Políticas e do Território da UA
Autoria 141 autores, incluindo Beatriz Valle
e Engenharia Industrial da UA, e João Cotrim de
Edição Almedina
Aguado, José Francisco dos Santos, Maria
Figueiredo, gestor.
ISBN 9789724050362
do Rosário Azevedo e Luís Pinheiro,
Edição Edições Sílabo
Ano 2012
docentes no Departamento Geociências da UA.
ISBN 9789726187219
Edição Dinternal
linhas
set 2013
Vinte anos de sucesso na robótica na UA amadureceram o projeto Robôs já não sonham com carneiros elétricos
As competições nacionais e internacionais de
tecnológicos. Persistem muitos problemas a investigar
futebol robótico trouxeram ainda mais visibilidade
e ultrapassar pela ciência, como o refinamento da coordenação
à robótica da UA. Mas, o grupo dedicado a esta
processamento, ou a facilidade de interação com o homem,
área, Atividade Transversal em Robótica Inteligente, estende os braços a vários outros campos com resultados expressivos. A família de “descendentes”, na UA, do Dr. Alfred Lanning, da U.S. Robôs, criador de robôs no livro “Eu, Robô”, de Asimov,
das funções e dos movimentos, da capacidade sensorial e de acrescidos da integração em espaço limitado, da autonomia e do uso de materiais bio compatíveis, em particular quando se pretende vir a apoiar, substituir ou replicar muitas das funções humanas, salienta Bernardo Cunha, professor do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro. O professor é também coordenador da Atividade Transversal em Robótica Inteligente (ATRI),
tem vindo a alargar-se e a ampliar o seu portfólio
grupo de investigação do Instituto de Engenharia Electrónica
de competências e sucessos ao longo de 20 anos.
e Telemática de Aveiro (IEETA). Dir-se-ia que o sonho se tornou mais maduro e se foi ajustando às condicionantes da investigação, às necessidades do dia-a-dia das pessoas e,
“Era um robô grande, feio e desajeitado, recendendo a óleo
globalmente, à realidade. A surgirem robôs na ficção científica
lubrificante e destinado a trabalhar nas minas projetadas
atual, certamente já não sonharão com carneiros elétricos.
para Mercúrio. Mas era capaz de falar e fazer sentido”. Esta descrição de “Eu, robô”, de Isaac Asimov, editado em 1950,
Tal não significa que a investigação em robótica tenha
obra de ficção científica que popularizou o termo “robô”, terá
esquecido a semelhança humana. Mas, desenvolver tarefas
dado o mote a uma ideia de futuro, traduzida na literatura e em
humanas, objetivo que a robótica da UA tem cumprido
filmes e construída com base em robôs que se aparentavam
com tanta distinção, não significa necessariamente aspeto
com seres humanos. Tanto, que em “Do androids dream
humano. Bernardo Cunha destaca a importância dos passos
of electric sheep?” (“Sonham os androides com carneiros
que se vão dando pelo caminho, que podem ser tão ou mais
elétricos?”), de Philip K. Dick, e base do filme “Blade Runner –
transformadores do dia-a-dia das pessoas que uma eventual
Perigo Iminente”, os robôs revoltosos eram tão parecidos com
máquina de aspeto humano.
pessoas que só se distinguiam através de um questionário e da simultânea observação do olho. “Blade Runner” faria sentido
Como muito bem escreve o criador da Microsoft, Bill Gates, na
hoje? Talvez estas imagens precisem de atualização.
Scientific American em janeiro de 2007, ”Ainda que alguns robôs do futuro tenham aspeto antropomórfico tal como personagens da
A robótica é um daqueles poucos casos em que o sonho andou
‘Guerra da Estrelas’, a maior parte nada terá a ver com o ‘C3PO’.
mais depressa que a velocidade já vertiginosa dos avanços
(…) Dado que as novas máquinas serão tão especializadas e
43
investigação
omnipresentes e tão pouco parecidas com os humanoides da
de aplicações e de novas áreas de desenvolvimento.
ficção científica, nem lhes poderemos chamar robôs. Mas,
Neste estudo, afirma-se: “A área da robótica, pela sua natureza,
à medida que se vão tornando mais acessíveis à carteira dos
adapta-se à resolução de problemas e catalisa a geração
consumidores, poderão vir a ter um impacto tão profundo como
de novas atividades e aplicações.”
o PC, ao longo dos últimos 30 anos, na maneira como trabalhamos, comunicamos, aprendemos e nos entretemos”.
Luís Seabra Lopes, para além de co-autor de “Robótica no Mapa”, é também “pai” do CARL. O CARL - Communication,
De notar, a atenção às questões da robótica que Bill Gates
Action, Reasoning and Learning in Robotics – foi o primeiro
evidencia neste texto. Aliás, a Microsoft Portugal foi um dos
projeto de investigação com financiamento externo, na área
parceiros do projeto de domótica Living Usability Lab (LUL), em
da robótica inteligente na UA, e também o primeiro projeto
que também participou a UA e o IEETA, e no qual, entre outras
português centrado no tema da interação humano-robô.
vertentes, se integrou o projeto de conceção de um robô de
O CARL participou em eventos internacionais e apareceu
apoio a idosos ou a pessoas com mobilidade reduzida. Após
na capa do “AI Magazine”, a revista da American Association
uma fase de desenvolvimento das capacidades de navegação,
for Artificial Intelligence (AAAI), em 2001. Seguiram-se os
localização no espaço e outras funções básicas, a próxima fase
projetos LANGG: Language Grounding for Human-Robot
será dedicada à instalação de braços no robô, acrescentando-
Communication, UA@SRVC que teve como objetivo o
-lhe assim capacidade de manipulação.
desenvolvimento de um agente de software para participação no Semantic Robot Vision Challenge (segundo lugar em 2008,
CARL e descendentes
no Alasca), LUL, IntellWheels – projeto com as universidades
Esta é uma vertente da robótica que se poderá designar
do Porto e do Minho para desenvolver uma cadeira de rodas
como antropocêntrica, centrada nas necessidades das
inteligente com interface multimodal já premiado cinco
pessoas, classifica Luís Seabra Lopes, investigador na área da
vezes - e RACE – Robustness by Autonomous Competence
inteligência artificial. Também membro da ATRI, o investigador
Enhancement, financiado pelo 7th Framework Programme,
fez parte da equipa autora de “Robótica no Mapa – Contributos
entre 2011 e 2014. Este último, que procura desenvolver
para um Livro Branco da Robótica em Portugal”, publicado em
unidades capazes de “aprender” usando a “cloud”, é um dos
Dezembro de 2011, onde se traça um quadro das evoluções
primeiros projetos europeus na área da robótica em que a UA
desta área científica em Portugal e se constata a multitude
está envolvida (o outro foi o RESOLV entre 1995 e 1999).
linhas
set 2013
O Flexible AGVs using Mobile Robots, na área da robótica
da ciência e da tecnologia junto dos jovens, se levarmos em
móvel inteligente, foi o primeiro projeto de cooperação
conta as dimensões relativas dos países”. Esta dimensão
internacional entre a Universidade de Aveiro e a Universidade
didática da robótica foi precisamente a primeira a surgir na
de Zhejiang, China, em 2002-2003, financiado pelo antigo
UA, impulsionada por um curso lecionado por Keith Doty,
ICCTI (atual GRICES).
investigador do Machine Intelligence Lab. da Universidade da Florida (EUA), já lá vão cerca de 20 anos. Pouco depois,
A robótica antropocêntrica é uma das três áreas estratégicas
em 1995, dois investigadores da ATRI criaram o Concurso
da ATRI, que incluem ainda a robótica autónoma e cooperativa
Micro-Rato, a mais antiga prova de robótica em Portugal
e a condução e transporte autónomos. Até há pouco tempo a
organizada regularmente. A vertente didática traduziu-se ainda,
robótica da UA dedicava-se, sobretudo, aos robôs inteligentes
por exemplo, numa área dedicada a esta temática na Fábrica
completamente autónomos ou semiautónomos, embora há
Centro de Ciência Viva da UA.
vários anos haja formação em robótica de manipulação no Departamento de Engenharia Mecânica e na Escola Superior
Quando, em 2001, surgiu o primeiro Festival Nacional de
Aveiro Norte. Os robôs estáticos clássicos, como braços
Robótica, uma iniciativa conjunta da UA, do Instituto Superior
robóticos amplamente usados na indústria, foram pouco
Técnico e da Universidade do Minho, dos sete elementos
aprofundados na ATRI, situação que, em certa medida, está
que constituíam o seu Comité Técnico Científico, quatro
a mudar com parcerias recentes. É o caso de uma parceria
eram docentes e investigadores da UA: José Luís Azevedo,
com a EFACEC, para desenvolvimento de robôs móveis
Vítor Santos, Pedro Fonseca e Luís Almeida (atualmente, na
autónomos para desempenhar tarefas pesadas em armazéns,
Universidade do Porto). Os dois primeiros investigadores
outra com a Azevedos Indústria, para criação de um braço
voltam a estar, com Bernardo Cunha, no grupo de fundadores
robótico coordenado com um tapete onde passam pedaços
da Sociedade Portuguesa de Robótica, em 2006, entidade que
de cortiça, ou ainda com a SONAE Indústria no âmbito da
passou a organizar o Festival Nacional de Robótica (FNR).
otimização de processos de produção. A vertente de robótica cooperativa da ATRI engloba as O impulso da robótica didática e de competição
competições nacionais e internacionais, como o futebol
O estudo “Robótica no Mapa – Contributos para um Livro
robótico na Liga dos Robôs Médios (ver caixa) – onde a
Branco da Robótica em Portugal” regista que “Portugal tem
equipa CAMBADA da UA se tem destacado, desde 2007,
sido polo de uma das maiores experiências internacionais na
sucessivamente, a nível nacional e internacional - e as
utilização da robótica para fins educativos e para promoção
competições de futebol robótico simulado, com a equipa
45
investigação
FCPortugal, criada em 2000 em resultado de uma colaboração
A Atividade Transversal em Robótica Inteligente, um dos cinco
entre as universidades de Aveiro e Porto (mais recentemente,
grupos de investigação o IEETA, tem um carácter transversal e
também a do Minho), e que tem obtido, ao longo dos anos,
agrega investigadores de outros grupos da UA. Inclui cerca de
resultados de topo a nível internacional.
15 investigadores doutorados e um número variável de bolseiros. Eis uma família bem-sucedida e em evolução permanente.
O coordenador da ATRI considera que as competições nacionais e internacionais, particularmente as de futebol robótico real e de futebol robótico simulado, muito mais que um jogo, constituem oportunidades ímpares para testar algoritmos, soluções e resultados de investigação sob condições que não se conseguem reproduzir em ambiente de laboratório. A chave do sucesso das equipas da UA reside, salienta Bernardo Cunha, na articulação entre a dimensão real e a dimensão simulada da competição que se completam e contribuem para o enriquecimento das competências da UA nesta área. A simulação permite antecipar e dominar soluções de maior complexidade, que posteriormente podem vir a ser aplicadas em condições reais, as quais estão sempre condicionadas pela autonomia energética, pelo volume e capacidade de processamento das máquinas, pelo elevado grau de incerteza que o mundo real proporciona e também por questões orçamentais.
Uma CAMBADA de sucessos no futebol robótico
Condução autónoma
A primeira participação internacional da robótica da UA numa
Se a robótica cooperativa da UA, com o futebol robótico,
competição internacional ocorreu em 1996, no “Festival
tem vindo a acumular sucessos vários a nível nacional e
International des Sciences et Technologies – FIST”, em La Ferté-
internacional, o braço da condução autónoma que se estende
Bernard, França. O projeto CAMBADA - Cooperative Autonomous
ao Departamento de Mecânica, com coordenação de Vítor
Mobile roBots with Advanced Distributed Architecture - foi
Santos, o primeiro doutorado em robótica na UA, em 1995,
apresentado à FCT, em 2002, e financiado entre 2003 e 2006.
não fica atrás. Após um modesto quarto lugar na prova de condução autónoma do FNR, em 2003, o Projeto ATLAS só
A CAMBADA, a competir na Liga de Robôs Médios, sagrou-se
somou vitórias entre 2006 e 2011. Mais que isso, como a partir
campeã nacional em todas as competições nacionais desde
de 2008 participou com dois robôs na competição nacional
2007 (atualmente hepta campeã nacional) e, a nível internacional,
de condução autónoma, chegou a conseguir o primeiro e
sagrou-- se campeã mundial na sua liga, em 2008, tendo desde
segundo lugares, em mais de uma edição. Este projeto esteve
então conquistado mais oito prémios internacionais, o que a
na origem do Atlascar, o primeiro e, até à data, único projeto
coloca entre as melhores do mundo neste contexto. O sucesso
desta natureza em Portugal com a capacidade de fazer estudos
internacional mais recente foi a medalha de bronze na RoboCup
em situação real, não só manobras autónomas mas também de
2013, em Eindhoven, a que acresce o primeiro lugar no Technical
avaliação de segurança do condutor e de outros agentes na via.
Challenge e o o terceiro lugar no Scientific Chalenge.
Acumula também a caraterística única de poder ser conduzido por uma pessoa ou por um computador, mesmo em simultâneo
A equipa de futebol robótico simulado FCPortugal, parceria entre
com a partilha de funcionalidades entre os dois. Para além
a UA e a Universidade do Porto (atualmente, também a UMinho),
dos sucessos do projeto Atlas nas competições de condução
participou em todos os eventos mundiais do RoboCup, desde
autónoma, a UA (incluindo a Escola Superior de Tecnologia e
2000. Conquistou três campeonatos mundiais e sete campeonatos
Gestão de Águeda e trabalhos de ex-alunos), conquistou o 1º
europeus na modalidade de Futebol Robótico Simulado, tendo
lugar em todas as provas deste tipo disputadas no FNR, desde
também um título europeu na modalidade de Operações de Socorro
2001 até 2013 inclusive.
e Salvamento simuladas, para além de vários lugares no pódio, como o recente terceiro lugar no RoboCup 2013 em Eindhoven, Holanda.
Para além do Atlascar, Vítor Santos, atualmente também
Neste âmbito, resultaram mais de 80 publicações científicas e foram
membro da ATRI, coordenou o Projeto Humanoide da
aprovados três projetos de investigação financiados pela FCT.
Universidade de Aveiro desde 2004, onde se mantinha a semelhança humana como objetivo a longo prazo.
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set 2013
Área de investigação e serviços à indústria em expansão na UA Alta pressão: novo paradigma na conservação de alimentos e aplicações biotecnológicas Já é designado “o novo
O uso da pressão para pasteurização
cru. Adicionalmente, a tecnologia de
paradigma” na conservação
a frio de alimentos teve a primeira
alta pressão permite processos de
aplicação comercial em 1990, com um
pasteurização não-térmica de alimentos
forte incremento a partir de 2000, o
mais eficazes energeticamente e
que estamos a entrar por efeito
que motivou uma aposta reforçada da
amigos do ambiente. Em refeições pré-
da alta pressão abre horizontes
Universidade de Aveiro na investigação
cozinhadas e fatiados de charcutaria
nunca imaginados à investigação
e serviços prestados à indústria e à
ready-to-eat, esta tecnologia permite
sociedade nesta área.
a redução e, em alguns casos, a
de alimentos. Esta “galáxia” em
e à indústria.
eliminação de aditivos antimicrobianos A alta pressão é já “um novo paradigma”
e o aumento de prazo de validade, como
na conservação dos alimentos, porque
explica Rui Queirós que, com Mauro
A Universidade de Aveiro aguarda
permite a pasteurização não-térmica
Santos e Liliana Fidalgo, faz parte da
dois aparelhos, quais naves
de alimentos (sendo mesmo realizada
equipa de investigadores que trabalha
em muitos casos a temperaturas
sob coordenação de Jorge Saraiva.
espaciais, que permitem entrar na linha da frente na galáxia da alta pressão.
de refrigeração), mantendo as propriedades organoléticas originais,
O potencial desta nova tecnologia para
sublinha Jorge Saraiva, investigador do
conservação de alimentos alargou-se
Departamento de Química e da Unidade
à produção de alimentos esterilizados
de Investigação de Química Orgânica,
(como enlatados), após a aprovação pela
Produtos Naturais e Agroalimentares
pela Food and Drug Administration (FDA),
(QOPNA) e coordenador do grupo
dos EUA de uma nova metodologia
dedicado a esta área.
de esterilização, já conhecida como Pressure-Assisted Thermal Sterilization
Um exemplo icónico e de sucesso
(PATS) e em fase de industrialização
comercial crescente, consiste na
pelas Forças Armadas dos EUA.
pasteurização a frio de ostras, mantendo o sabor e textura das
Aplicações mais recentes incluem
ostras cruas, mas eliminando o risco
a extração da parte comestível de
microbiológico de consumo em estado
crustáceos, produção de chá “cru”,
47
investigação
sendo a extração realizada a frio sob alta pressão sem
(6000 atm) equivale à pressão exercida na base de uma coluna
submeter as folhas de chá a temperatura, e a possibilidade
de água com 60 km de altura.
de “cozer” ovos e outros alimentos, a frio por alta pressão, resultando em produtos com características organolépticas
Uma cooperativa da zona de Alcobaça, a Frubaça, foi a
novas, abrindo a possibilidade de uma outra dimensão de
pioneira na aplicação industrial desta tecnologia em Portugal,
alimentos “cozidos” a frio.
na produção de sumos, a partir de 2002. E assim se manteve, solitária nesta prática e no contexto português, durante
Como tenta explicar Mauro Santos, investigador do
vários anos. No entanto, o interesse tem vindo a aumentar
Departamento de Química da Universidade de Aveiro, “Sabe
progressiva e aceleradamente, sobretudo, desde que algumas
a cru, mas tem textura de cozido; é como uma gemada sem açúcar”, ao explicar o inédito sabor do ovo processado a alta pressão. Vantagens? O sabor mais intenso que o do ovo cozido
Parcerias com a indústria
abre muito boas perspetivas para ir ao encontro de todo um conjunto de novos produtos.
Para além de outras parcerias ocorridas ou que ainda se venham a desenhar com a indústria, decorrem projetos financiados pelo
Máquinas aguardadas com expetativa
Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) e fundos
Alertado para esta nova área de investigação, Jorge Saraiva
europeus envolvendo a tecnologia da alta pressão.
lembrou-se de dar outro uso a um aparelho que funcionava no então Departamento de Cerâmica e Vidro, corria o ano de 1998.
Um envolve as empresas Pascoal & Filhos, Frulact, Derovo
Em 2003, foi criada no Departamento de Química uma linha de
e Ernesto Morgado para processos de pasteurização a frio de
investigação nesta área. O aparelho usado no Departamento
vários alimentos. Outro envolve a empresa Primor e dirige-se
de Química desde 2007 consegue atingir 7000 atmosferas e
a produtos de charcutaria, fatiados, com redução do teor de sal
simultaneamente temperaturas entre -20ºC e 100ºC, sendo
e de aditivos antimicrobianos. No âmbito deste último, foram
claramente insuficiente para as necessidades de investigação
desenvolvidos alguns produtos na fábrica da Primor, atualmente
e, sobretudo, para as solicitações da indústria que a equipa de
em fase de teste, que beneficiam de um aumento do prazo de
investigação tem recebido. Por isso, a Universidade de Aveiro
validade muito considerável, permitindo à empresa portuguesa
aguarda dois novos aparelhos: um de 2 litros de capacidade,
a colocação dos produtos em mercados mais longínquos.
9000 atm e 130ºC para fins laboratoriais e outro de 55 litros, 6000 atm para apoio à indústria. Teoricamente, esta pressão
linhas
set 2013
49
investigação
multinacionais acordaram para a novidade em 2011 e 2012, como foram os casos da Starbucks e da rede de sanduíches Subway. O coordenador do grupo de investigação estima que o valor dos alimentos processados com esta tecnologia, em todo o mundo, tenha atingido os três mil milhões de dólares em 2011. As empresas dedicadas à produção de aparelhos de alta pressão vendem cada vez mais e investem cada vez mais no aumento de capacidade dos equipamentos industriais. Nova galáxia Novos horizontes se abrem à investigação com esta nova tecnologia, nomeadamente a aplicação a áreas não alimentares e associadas à biotecnologia. Jorge Saraiva refere os casos do papel (com projetos já em curso com a empresa Renova, envolvendo o investigador Dmitry Evtyugin ); de produtos farmacêuticos que poderão ser mais eficazes em tratamentos se processados através da alta pressão e não da temperatura (um caso encontra-se já em ensaios clínicos de fase 3); a investigação relacionada com organismos que só sobrevivem ou existem nos fundos oceânicos, sujeitos a condições extremas de pressão e temperatura; uma área de aplicação designada “sub-zero”, que consiste na possibilidade de conservação de alimentos abaixo de 0ºC mas sem ocorrer congelação (só possível sob pressão), evitando assim os efeitos prejudiciais da congelação nas propriedades dos alimentos, como a textura. A equipa coordenada por Jorge Saraiva submeteu recentemente um artigo nesta área, que abre novas potencialidades envolvendo este inovador método de conservação de alimentos.
Jorge Saraiva membro do Institute of Food Technologists (IFT)
A simulação de ambientes do fundo do mar para crescimento de microrganismos com novos potenciais biotecnológicos é
O trabalho desenvolvido pela equipa dedicada às aplicações
uma outra área de investigação a dar os primeiros passos,
da alta pressão da Universidade de Aveiro e, especialmente,
acrescenta Jorge Saraiva, tendo a sua equipa de investigação
a atividade de Jorge Saraiva como coordenador desta área
publicado recentemente um artigo de revisão nesta área na
de investigação do Departamento de Química e da Unidade
revista Biotechnology Advances, uma das mais conceituadas
de Investigação de Química Orgânica, Produtos Naturais e
revistas científicas da área da Biotecnologia, tendo como co-
Agroalimentares (QOPNA), mereceu reconhecimento internacional.
autores Rita Lopes, Maria João Mota e Ivonne Delgadillo. O investigador foi proposto para integrar a Non-Thermal
Outro trabalho em curso envolve a pasteurização de queijo da
Processing Division (NPD) do Institute of Food Technologists
Serra a frio por alta pressão, o que permitirá a exportação para
(IFT) dos EUA, por eleição entre os seus membros, pelo atual e
países como os EUA, envolvendo outra investigadora, Ana Rita
anteriores presidentes da NPD.
Inácio. Todas estas possibilidades surgem agora mais tangíveis
Jorge Saraiva foi eleito para o biénio que se inicia em setembro
com os novos aparelhos aguardados na UA. “Entramos numa
de 2013.
nova galáxia”, exclama Jorge Saraiva.
linhas
set 2013
Entrevista com António Barreto Universidades devem contribuir mais para as políticas públicas
António Barreto, sociólogo
As exportações estão muito ligadas à capacidade de inovação das empresas.
e presidente da Fundação
Sabendo que o conhecimento é ingrediente básico da inovação, sabendo,
Francisco Manuel dos Santos,
disseminação do conhecimento, pergunto-lhe como olha para o papel que
considera que as universidades deveriam participar mais em estudos para fundamentar políticas públicas e sublinha
também, que as universidades são centros privilegiados de criação e as universidades podem desempenhar neste esforço de promoção das exportações. Sobretudo, num contexto em que as empresas tendem a surgir em sectores tradicionais e a ter um conteúdo tecnológico mais baixo do que o quadro que foi pintado por realidades como as de Silicon Valley ou as dos países escandinavos.
que crescimento económico e
Não esgotando, certamente, o tema, queria distinguir duas funções da universidade.
coesão social não se podem
Uma delas é função cultural e de estudo através da qual contribui para as políticas
divorciar. Carlos Rodrigues,
públicas. As universidades, enquanto instituições – não os seus membros
professor do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, da Universidade de
individualmente, porque muitos delas colaboram nessa função – estão longe de contribuir como deveriam para as políticas públicas de transporte, de saúde, de educação, de energia… Essas políticas públicas, de todos os sectores, estão muito mal informadas, porque são muito baseadas em trabalhos demagógicos, ou de interesse imediato, ou de interesse partidário ou de interesse político imediato.
Aveiro, entrevistou o sociólogo
Dado que o Estado tem uma grande deficiência de capacidade científica, a grande
paralelamente às “Exit Talks –
área de expansão das universidades, poderia ser o contributo para a formulação de
Conversas sobre Exportação”,
robustez e mais rigor.
políticas públicas do Estado. O contributo das universidades daria ao Estado mais
promovidas pela UA e AICEP, a 15 e 16 de abril.
A outra função está nos antípodas dessa e tem a ver com o contributo para transformação e inovação dos padrões de produção. Por vezes, é a ciência que resulta em atividade económica. Muitas vezes, é a atividade económica que puxa a ciência. Nesta sessão das Exit Talks, de 16 de abril, muitos palestrantes falaram no gosto e na necessidade do consumidor como ponto de partida para a exportação e em como o processo volta novamente a montante para, em conjunto com a ciência, se definirem as soluções tecnológicas para chegar aos objetivos definidos. Ao ouvir
51
entrevista
o debate, lembrei-me do caso do vinho do Porto. O vinho do Porto é, certamente, o produto mais importante da economia portuguesa nos últimos três ou quatro séculos, e chegou a representar 40 por cento das exportações portuguesas há cerca de 100 ou 150 anos. Grande parte dos produtos que Portugal adquiriu, neste período, foi-o com a ajuda das receitas do vinho do Porto. Este não foi, obviamente, feito pelos lavradores do Douro que contruíram, isso sim, a paisagem do Douro. O vinho do Porto foi feito em Inglaterra, em Antuérpia, na Flandres, em Oslo… consumidores esses que começaram a fazer exigências de corpo, sabor, cor, teor alcoólico… As universidades e escolas em Portugal têm uma enorme importância científica, tecnológica e cultural na transformação
PORDATA tornou jornalistas mais rigorosos no uso
de padrões de produção, mas não na conceção dos produtos.
de dados estatísticos
Esses são os consumidores e os vendedores que o definem. A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) tem como
UE devia dar força à relação
missão estudar, divulgar e debater a realidade portuguesa, com
universidade-empresa
liberdade e independência, segundo a página da instituição na Internet. A FFMS toma a iniciativa e patrocina projetos vários,
Concordando consigo, digo que essa ligação exige uma
alguns permanentes e outros com duração determinada. Entre os
proximidade muito grande em termos institucionais.
projetos permanentes estão a PORDATA, Base de Dados Portugal
Entre as barreiras mais referidas na aproximação entre
Contemporâneo, e a coleção “Ensaios da Fundação”. Estes têm
as universidades e o mundo empresarial estavam o
como característica essencial pôr à disposição dos cidadãos a
distanciamento cultural, diferentes noções do tempo…
mais vasta informação existente sobre a sociedade portuguesa. No
Sabe-se que, hoje, essas duas realidades estão mais
caso da PORDATA, trata-se de informação quantitativa.
próximas, mas a relação ainda não é natural, nem sistemática... Continuará a fazer sentido falar
Que importância tem tido a base de dados PORDATA (http://
nessas barreiras?
www.pordata.pt/), gerida pela Fundação francisco Manuel dos Santos, no conhecimento da sociedade portuguesa e na
Acho que houve melhorias nas últimas duas ou três décadas,
produção de estudos mais bem informados?
mas estamos muito longe do que deveria ser essa relação.
Não me compete a mim fazer o elogio da PORDATA, dado que
Fiz grande parte do percurso profissional na universidade,
estou na sua origem… Mas, o número de pessoas que usam os
com passagem pela vida política, e preocupei-me com a
seus dados, de referências na comunicação social, de papers
relação entre o mundo académico e o mundo empresarial.
e na produção científica no mundo académico, ultrapassou as
Percebi que o universitário desconfia do empresário e as
nossas expectativas. Verificámos que, passados quatro anos da
justificações são sempre as mesmas: que o empresário
sua constituição, havia realmente falta de um recurso quantificado,
quer é ganhar dinheiro e não se interessa pelo bem comum,
de indicadores e dados credíveis – não por sermos melhores
quer ganhar dinheiro muito rapidamente, que o empresário
que os outros, mas por usarmos indicadores de fontes oficiais.
quer dominar a ciência, etc… Algo disto é verdade, mas
Limitamo-nos a arrumar e a organizar dados reunidos por outros
nem tudo! No outro lado, o empresário queixa-se que o
(como o Instituto Nacional de Estatística ) – no total, mais de 50 –
académico demora demasiado a chegar aos resultados,
que produzem dados estatísticos. Creio que a PORDATA já ajudou
quer colaboradores a mais, não se preocupa em prestar
jornais, televisões e rádios a usar de modo diferente a informação,
contas, que, no fundo, o académico quer é, também, ganhar
com um pouco mais de respeito. Tenho pena de o dizer, porque
dinheiro… Aqui também há alguma verdade! Alguns bons
estive ligado, durante 20 ou 30 anos, ao jornalismo: não há pior
exemplos começam a aparecer com o atrevimento de alguns
inimigo da estatística que um jornalista. Penso que a PORDATA
empresários e de certos académicos e a força da necessidade.
deu um pequeno contributo e os órgãos de comunicação social
Do lado do Estado, haveria vantagens se, para além dos
começam a ser um pouco mais rigorosos no uso destes dados.
funcionários públicos e organizações políticas, estivesse
A PORDATA serve para pormos o pé no terreno sólido dos factos
também representado o ensino superior, em certos domínios,
para, depois, podermos pensar, estudar e interpretar – isso sim, é
como na gestão do sistema de saúde, na gestão do sistema
uma atividade criativa e importante.
de educação, na gestão das exportações, no vinho, nos portos… As universidades poderiam estar envolvidas em todos
linhas
set 2013
esses setores. E os empresários poderiam estar ainda mais QUEM É ANTÓNIO BARRETO?
envolvidos na vida universitária. Esta ligação poderia, aliás, ser forçada pelas instituições públicas e pela União Europeia…
António Barreto nasceu a 30 de Outubro de 1942, na Foz do Douro, Porto. Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de
Qual acha que poderá ser o papel de conferências
Coimbra, de 1960 a 1963, foi exilado político na Suíça, onde se
e eventos de debate, como o “Exit Talks”, para essa
licenciou em Sociologia, na Faculdade de Ciências Económicas
necessária mudança?
e Sociais da Universidade de Genebra. Depois de regressar a Portugal, em 1974, foi docente na Faculdade de Ciências Sociais
As Exit Talks são um excelente ambiente, mas esses ambientes
e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, investigador no
são, muitas vezes, efémeros. Não vou exagerar: a aproximação
Gabinete de Estudos Rurais da Universidade Católica Portuguesa
e o convívio constituem um passo importante, desde que
e no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e
se prepare o modo como se vai aproveitar esse esforço de
ainda docente e membro da Comissão Instaladora na Faculdade
aproximação. Caso contrário, acontece como no Carnaval
de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Doutorou-se
brasileiro, em que tudo se acaba na quarta-feira.
em Sociologia, pela Universidade de Genebra, em 1985. Foi investigador principal do Instituto de Ciências Sociais desde 1982
Não é o parque eólico, ou a barragem,
até 2008, ano em que se reformou e passou a ser investigador
que cria coesão social
emérito do mesmo instituto.
Que papel podem desempenhar as ciências sociais na Entre os trabalhos que António Barreto realizou, destacam-se a
aproximação entre a universidade e a sociedade no
coordenação (em colaboração com Maria Filomena Mónica) dos
desenvolvimento socioeconómico?
três volumes do “Dicionário de História de Portugal” e a autoria da série de documentários para a televisão “Portugal, Um retrato social”
Custa-me responder, porque parece que defendo a minha
(realizada por Joana Pontes). Colabora, há trinta anos, na imprensa
“dama”… Acho que o papel das ciências sociais é crucial.
escrita e na televisão. Foi galardoado com o Prémio Montaigne em
A ideia que estas questões se resolvem com engenheiros,
2004, e eleito para a Academia das Ciências em 2008.
químicos, matemáticos, médicos ou advogados é errada. Quando se fala destas questões, fala-se, no fundo, de coesão
A sua atividade académica foi interrompida por duas vezes,
social, nacional, territorial, regional, e até de coesão entre
para desempenho de funções políticas, tendo sido deputado
instituições, entre empresas e instituições. Ora isto, sem
à Assembleia Constituinte, secretário de Estado do Comércio
cultura, sem conhecimento da sociedade, sem humanidades,
Externo, ministro do Comércio e Turismo e ministro da Agricultura
sem ciências sociais, não se faz. Não é o parque eólico, ou
e Pescas, e ainda deputado à Assembleia da República.
a barragem, que cria coesão social. Muitas vezes, não cria
Em 2009, foi nomeado presidente do Conselho de Administração
coesão social, de todo!
da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
(Mais informação em http://www.ics.ul.pt/instituto/?ln=p&pid=15&m m=2&ctmid=4&mnid=1&doc=31809901190)
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ensino
Novo edifício congrega ESSUA, SACS e Centro de Biologia Celular
A adaptação ao edifício que congrega a Secção
A nova realidade, em valências e recursos, traz
Autónoma de Ciências da Saúde (SACS), a Escola
laboratórios equipados com tecnologias de ponta,
Superior de Saúde (ESSUA) e o Centro de Biologia
salas de aula, dois anfiteatros ideais para eventos
Celular, torna diferente o início do ano letivo para
científicos e um ambiente natural circundante
os alunos dos cursos de saúde.
propício ao estudo e investigação, no Crasto.
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set 2013
Em novas instalações desde o final de junho, a comunidade
Elsa Melo, também membro da Comissão Executiva da Escola
universitária na área da Saúde está ainda a descobrir o novo
e docente de Enfermagem, corrobora o seu colega:
espaço físico, com cerca de 11 mil metros quadrados, divididos
“Esta escola conta com profissionais de saúde, o que permite
em dois blocos. Se antes tinham como vizinhos o bulício dos
aos alunos interagirem em contexto real desde muito cedo.
carros e das sirenes das ambulâncias que se dirigiam ao
Além disto, estamos inseridos numa universidade muito
hospital, agora têm a ria, o cheiro a maresia, as gaivotas…
dinâmica, uma instituição que tem uma visão da investigação
E um enorme manancial de novos equipamentos à disposição
e da cooperação com a sociedade e comunidade. Agora, com
de alunos e investigadores, que propiciam o desenvolvimento
as novas instalações e novos equipamentos, temos condições
de três vetores considerados essenciais por Rui Costa,
para a formação que nos colocarão em vantagem em relação
membro da Comissão Executiva da Escola e coordenador do
a outras escolas”, afirma.
Gabinete de Educação para a Qualidade da escola: “Estes novos edifícios estão estruturados de forma a poderem cumprir
Pretende-se também aumentar e melhorar a formação de 1.º
a missão da universidade no seu global: melhorar o ensino, a
ciclo e apostar nos 2º e 3º ciclos. Atualmente funcionam os
investigação e a cooperação com a sociedade. Temos alguns
mestrados em Fisioterapia e Terapia da Fala e um programa
laboratórios que estão mais vocacionados para o ensino de 1.º
doutoral em Gerontologia e estão previstos novos cursos (ver
ciclo, outros que se vocacionam mais para a investigação, e
caixa).
outros ainda, como o Centro de Simulação, que podem estar nas três áreas”, explica Rui Costa.
Laboratórios de ponta para todos os cursos A área da enfermagem conta com quatro laboratórios: materno-
Esta é a primeira escola de saúde em Portugal que congrega
infantil, médico-cirúrgico, cuidados intensivos e cuidados de
no mesmo espaço enfermagem, tecnologias de diagnóstico
saúde primários. Todos eles estão equipados com manequins
e terapias de reabilitação, frisa o também diretor do mestrado
que permitem a simulação dos procedimentos técnicos,
em Fisioterapia. Ao integrar-se numa universidade, conta ainda
desde cateterização venosa, introdução de sondas vesicais
com a colaboração de docentes de diversos departamentos.
e nasogástricas, realização de pensos, execução de suturas,
A aprendizagem acontece num “ambiente multidisciplinar,
tratamento de feridas, banho ao recém-nascido, etc. Isto é,
facilitando, no futuro, uma prática profissional também ela
“estes laboratórios permitem simular todos os procedimentos
multidisciplinar”, explica Rui Costa, acrescentando: “A forma
que na prática os profissionais de enfermagem vão ter que
como os cursos estão organizados, numa sequência lógica e
realizar”, acentua Elsa Melo.
cumulativa por áreas de conhecimento, a rede de 123 parcerias para a realização dos estágios clínicos, com instituições
O Laboratório de Fisioterapia oferece condições para uma
idóneas e de reconhecida competência, o corpo docente
aprendizagem em termos de conhecimentos e competências
multidisciplinar, jovem e qualificado” fazem desta (nova)
para que no final dos quatro anos de formação o fisioterapeuta
escola uma referência, considera.
possa exercer a profissão. Proporciona intervenção
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em condições músculo-esqueléticas, neurológicas,
ensino
Centro de Simulação Clínica: a grande novidade
cardiorrespiratórias e uma intervenção mais específica voltada para a comunidade. Tem os recursos materiais essenciais para
O Centro de Simulação Clínica (CSimCS-UA) é o mais recente
uma formação quer ao nível das técnicas de mobilização (ou
projeto de simulação clínica avançada em Portugal. Os objetivos
terapias de movimento), eletroterapias e terapias manuais.
são melhorar a qualidade de ensino, pré e pós graduado e a formação ao longo da vida dos profissionais das diferentes áreas
O curso de Terapia da Fala conta com um Laboratório de
da Saúde, utilizando a simulação clínica avançada.
Fala, Linguagem e Audição (SLH lab) que está equipado com diversos instrumentos que “permitem a avaliação da
Para alcançar estes objetivos, o CSimSC-UA dispõe de programas
fala, linguagem e audição”, explica uma das docentes do
informáticos e modelos que permitem simular situações de
curso, Marisa Lousada.“O laboratório tem instrumentos que
cuidados intensivos, cirúrgicos, alterações cardíacas, suporte
são usados na avaliação tradicional dos utentes, bem como
básico de vida, suporte avançado de vida, simulação de um parto
equipamentos inovadores e únicos em Portugal como é o
ou cirurgia, entre outros, para apoiar a formação dos estudantes
caso da eletropalatografia, que irão permitir uma avaliação
ao nível da avaliação dos quadros clínicos e intervenção em cada
e intervenção de elevada qualidade à semelhança do que é
circunstância. “O manequim/modelo presente no local apresenta
realizado a nível internacional”, destaca a responsável.
um quadro clínico determinado por um software específico e o estudante tem de avaliar e agir em tempo real.
Na área da Radiologia a grande aposta continua a ser o processamento de imagem médica, para permitir aos alunos
Como estratégia de desenvolvimento, a prioridade vai passar pelo
uma formação sólida nessa área, elucida a diretora da
envolvimento de todas as entidades regionais das diferentes áreas,
licenciatura, Sílvia de Francesco. Para além do equipamento já
nomeadamente da saúde e da Proteção Civil, como parceiros
existente, no novo edifício a área da radiologia poderá contar
estratégicos do CSimCS-UA. Deste modo, os projetos abrangerão
com um equipamento de radiologia computorizada que irá
não só o ensino (pré e pós graduado) e investigação nas várias
permitir a aquisição de imagem radiográfica digital; um fantoma
áreas das Ciências da Saúde, mas também o treino e formação
antropomórfico (um manequim com esqueleto e órgãos
dos profissionais de saúde (hospitalar, comunitária e pública) e da
internos realizado com materiais cujas propriedades, no que diz
proteção civil.
respeito à interação com os Raios-X, são parecidas com as do corpo humano) para simulação de procedimentos de aquisição
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set 2013
de imagem; equipamentos para medição da dose de radiação nos diferentes procedimentos, para estudos de controlo de
Existe ainda um espaço com condições para prestar cuidados
qualidade e otimização de protocolos de exame (minimização
à comunidade, que poderá vir a integrar alguns dos serviços
da dose); um equipamento de ecografia equipado com sondas;
de saúde prestados atualmente pelos Serviços de Ação Social
um conjunto de fantomas (objetos de teste) para realização
da UA, nomeadamente consultas de medicina do trabalho e
de procedimentos de controlo de qualidade em raio-X,
exames complementares, ou consultas de ginecologia, por
mamografia, tomografia computorizada, ecografia, ressonância
exemplo. Podem ainda vir a ser realizadas parcerias com
magnética); e um reforço na área do processamento de imagem
outras entidades de modo a possibilitar a prestação de outros
com a criação de um novo laboratório.
cuidados específicos diferenciados, tendo sempre em conta a missão da universidade e a cooperação com a sociedade.
No âmbito da Gerontologia, a Escola vai contar com um laboratório que tem como objetivo principal estudar a funcionalidade e o desempenho de adultos com incapacidade e/ou deficiência em atividades no seu domicílio. Estas atividades incluem tarefas do dia-a-dia e recorrem à utilização
Novas propostas de oferta formativa na UA
de sistemas, produtos, estratégias e técnicas de suporte ao desempenho de alta e baixa tecnologia.
Nas novas instalações da Escola de Saúde e surgirá em funcionamento o Mestrado em Tecnologias da Imagem Médica,
A escola conta também com um Laboratório de Estudo do
que será lançado no ano letivo 2014/2015. A pós-graduação é
Movimento Humano que serve os vários cursos. “De referir
fruto da colaboração e integração técnico-científica entre diversos
que o país tem apenas seis ou sete laboratórios de movimento
departamentos da UA: SACS, ESSUA, Departamento de Eletrónica,
humano. Na área da reabilitação, o que mais se destaca é o
Telecomunicações e Informática, Departamento de Física
nosso”, frisa o diretor do mestrado em Fisioterapia.
e unidades de investigação associadas.
Por seu turno o Laboratório Cardiorrespiratório, que se destina
Para além das novidades na área da saúde, a oferta formativa
também a vários cursos, dispõe de instrumentos para avaliação
de pós graduação da UA para 2013/2014 também inclui outros
da função respiratória e cardíaca, incluindo prova de esforço e
cursos inéditos: o Mestrado em “Geoinformática”, os programas
prova de avaliação pulmonar, podendo ser feita em bicicleta ou
doutorais em “Ciência, Tecnologia e Gestão do Mar”, “História das
tapete rolante e incluir ainda uma ecografia de stress.
Ciências e Educação Científica”, “Políticas Públicas” e “Tradução e
Outros laboratórios transversais são os de anatomia e fisiologia
Terminologia” e o curso de especialização em “Promoção da Leitura
e de bioquímica e histologia.
e Bibliotecas Escolares”.
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cultural
Sons dos Festivais de Outono voltam a ouvir-se na cidade de Aveiro
Os Festivais de Outono da Universidade de Aveiro “invadem”, em
Vão passar ainda pelos palcos dos Festivais de Outono o
outubro e novembro, vários locais do Campus Universitário e da
Quarteto de Moscovo e Paulo Rodrigues, este último com um
cidade de Aveiro. Na sua nona edição, este festival conta com
espetáculo dedicado aos mais novos, intitulado: “A anatomia
concertos de vários géneros musicais (da música clássica ao jazz,
do piano”. O concerto de abertura, pela Orquestra Filarmonia
passando pelas artes de palco), conferências e masterclasses.
das Beiras, inclui a participação do pianista Pedro Burmester, da violinista Ana Pereira e do violoncelista Paulo Gaio Lima.
A chegada do Outono, com as primeiras chuvas e os dias
O elemento didático da programação materializa-se na inclusão
mais pequenos, não tem de ser sinónimo de momentos menos
no programa de recitais com alunos de Doutoramento em
preenchidos e ricos culturalmente. Pelo contrário. Pelo nono ano
Performance da UA e de um recital de percussão com
consecutivo a UA organiza os Festivais de Outono para alegrar
Tiago Ferreira, vencedor do Prémio de Interpretação
os dias e noites de todos os Aveirenses e de tantos quantos
Frederico de Freitas (UA/2013), para além de uma masterclass
queiram aqui deslocar-se, adultos ou crianças, e ouvir o que
com o cravista Miguel Jalôto.
de melhor se faz musicalmente. Desde consagrados artistas nacionais e estrangeiros, a jovens ainda em início de carreira,
Informações detalhadas sobre o programa podem ser
todos marcam presença neste evento que é já um marco na
consultadas em http://www.ua.pt/festivaisdeoutono/
programação musical da Região. “Os Festivais de Outono da Universidade de Aveiro procuram servir a Região Centro de Portugal com um leque diversificado de ofertas musicais. Tendo começado por ser um festival de música exclusivamente erudita, evoluíram no sentido de possibilitar a músicos da área do jazz, das músicas do mundo, da música etnográfica e ainda a criativos do design a apresentação de projetos multidisciplinares, funcionando como uma plataforma que gira entre a Universidade de Aveiro e o exterior”, explica o diretor artístico, compositor e docente no Departamento de Comunicação e Arte (DeCA) da UA, António Chagas Rosa. Assim, o programa de 2013 reforça a intenção dos anos mais recentes de “providenciar espaço de palco para artistas portugueses de alto valor” frisa o diretor do certame. A programação contempla concertos sinfónicos, espetáculos de natureza músico-teatral, recitais de música de câmara e a solo e um concerto de jazz, com Helena Caspurro.
© Daniel Mendonça
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set 2013
ACONTECEU NA UA Novo Conselho Geral reelege
os estudantes para a aprendizagem de outras línguas. O Reitor
Alexandre Soares dos Santos
da UA considerou ainda que fatores como a singularidade da
Alexandre Soares dos Santos, presidente do Grupo Jerónimo
organização em departamentos e não faculdades, a aposta em
Martins, um dos cinco membros externos cooptados no
áreas novas e diferentes, a ligação à sociedade e às empresas
novo Conselho Geral da Universidade de Aveiro, foi reeleito
e a investigação e qualidade na UA têm feito toda a diferença.
presidente na primeira reunião com os novos membros deste
Destacando também a internacionalização crescente da
órgão, a 15 de julho. O conjunto de cinco personalidades
instituição, o Vice-reitor da UA para a Investigação, José
externas inclui três novos membros: João Paulo Oliveira,
Fernando Mendes, recordou a recente criação de institutos
administrador da Bosch Termotecnologia SA, Júlio Magalhães,
virtuais, agregadores do trabalho de investigação, como
diretor geral do Porto Canal, e o suíço Jean-Marc Rapp,
o Aveiro Institute of Nanotechnology (AIN) e Aveiro Institute for
ex-presidente da European Universities Association (EUA).
Marine Science and Technology (AIMARE) e a aposta em cinco áreas estratégias nas candidaturas ao Programa Mais Centro:
Mantém-se Lusitana Fonseca, que volta a ser escolhida para
recursos sustentáveis, medicina regenerativa, “cloud thinking”,
integrar o Conselho Geral por um mandato de quatro anos.
anomalias neuropatológicas e energia solar.
Os representantes dos docentes e investigadores foram eleitos em cada uma das quatro circunscrições que abarcam os vários departamentos e escolas politécnicas e são José Luís Oliveira, Ana Isabel Miranda, Maria Luís Pinto, Helena Alvelos, Elisabete Vieira, Marco André Costa, António Carlos Correia, António Manuel Caetano, Artur Silva e Teresa Monteiro. Os alunos de todos os graus de ensino estão representados neste órgão de governo por Luis Soares, Luís Lemos e André Silva. Miguel Oliveira foi o membro escolhido pelos trabalhadores não docentes e não investigadores. Research Day: os melhores de 2013 O Research Day de 2013, dia em que a Universidade de Aveiro celebra a investigação reunindo as centenas de investigadores
UA apresentou ideias para mudar o país
que constituem a comunidade científica da UA, apresentou 161
Durante dois dias a Universidade de Aveiro e a Agência para o
pósteres, 10 expositores, com protótipos e demonstrações,
Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) juntaram
12 palestras curtas e mais duas convidadas. No âmbito da
empresários, consultores, cientistas e investigadores, artistas e
iniciativa, foram premiados trabalhos de investigação nas áreas
criadores, responsáveis de instituições públicas com interesses
das Ciências, Engenharias e Artes e Humanidades
e atividades ligados à internacionalização nas “Exit Talks –
Na sessão de abertura do Research Day, o Reitor da
Conversas sobre Exportação”.
Universidade de Aveiro, Manuel António Assunção, dirigindose à plateia em língua inglesa, para melhor ser compreendido
O evento, decorrido a 15 e 16 de abril, permitiu mudar a letra que
pelos estrangeiros que estudam, ensinam e investigam na UA –
interessa no alfabeto do desenvolvimento, considerava Carlos
cerca de 10% da comunidade é estrangeira – destacou
Jalali, professor da UA, na leitura das conclusões: o habitual
o grau de internacionalização já alcançado pela instituição
“Portugal sem saída” mudou para “Portugal tem saída”. “Um bom
como um dos fatores para a qualidade de investigação
exemplo do que pode surgir quando a universidade se abre à
produzida. No entanto, referiu a necessidade de aumentar o
sociedade”, sublinhou Alexandre Soares dos Santos, presidente
número de aulas em língua inglesa, de sensibilizar ainda mais
do Conselho Geral da UA e promotor destas conversas.
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aconteceu na ua
Num formato que pretendeu evitar o tradicional monólogo
da UA – que mantém a aposta na interatividade com visitantes
durante algumas dezenas de minutos, oradores tão
e lhe confere características únicas no país.
reconhecidos como António Barreto, Augusto Mateus, Fernando Ulrich, Joana Carneiro, Henrique Cayatte, António
Cerca de 400 jovens de todo o país
Lobo Xavier, Luís Portela ou ainda o filósofo Gilles Lipovetsky
‘experimentam’ a UA através da Academia
partilharam os seus argumentos com uma audiência de meio
de Verão
milhar de participantes muito interessados e ativos..
A Universidade de Aveiro recebeu uma das mais participadas edições da Academia de Verão. Cerca de 400 jovens
Universitários trocaram currículos à procura
estudantes do 2º e 3º ciclos do ensino básico e do ensino
de uma oportunidade no Fórum 3E
secundário entraram na UA para usufruírem de uma experiência
Durante dois dias, finalistas e recém-diplomados
única de iniciação à vida universitária. As atividades nas
da Universidade de Aveiro tiveram oportunidade de contactar
áreas das ciências e tecnologias, saúde, artes e humanidades
de perto com mais de duas dezenas de potenciais recrutadores
decorreram de 7 a 19 de Julho.
e receber informações privilegiadas sobre as exigências do mercado de trabalho. Apresentações concorridas, stands
A edição deste ano integrou 22 programas dirigidos aos
com visitas permanentes e muitos currículos entregues.
alunos do 5º ao 12º ano de escolaridade, explorados nos 14
Assim se resume a feira de emprego, integrada na 13ª edição
departamentos e em duas das escolas politécnicas da UA,
do Fórum 3E - Emprego | Empresas | Empreendedorismo,
envolvidos na iniciativa. O menu da 8ª edição da Academia de
que decorreu em maio, na UA.
Verão contou com um convidado especial, o físico e astrónomo James Kakalios, que veio à UA, com o apoio da embaixada dos
“A ideia é promover a ligação, que se quer estreita, entre o
EUA, falar sobre a Física e os Super Heróis. Nas suas palavras,
aluno e o mercado de trabalho, sobretudo numa altura difícil
foi em Aveiro que este conceituado divulgador de ciência
como aquela em que vivemos”, vincou Carlos de Pascoal Neto,
foi colocado perante a questão mais difícil da sua carreira
Vice-reitor da UA, durante o certame.
quando um participante da Academia lhe perguntou qual o super herói que melhor representaria Portugal. Considerou
Este ano, a terceira componente do Fórum 3E,
que a capacidade que o “Green Lantern” tem de criar qualquer
o Empreendedorismo, foi reforçada com um conjunto
objeto, bastando pensar nele com o poder da sua vontade,
de ações, realizadas na Incubadora de Empresas da UA,
seria o que mais se assemelha ao nosso país. Deixou junto dos
que visaram incentivar e apoiar a criação, o desenvolvimento
jovens o desafio: “ Não há nada que Portugal não possa criar,
e o crescimento sustentado de iniciativas empreendedoras.
impulsionado pelo poder da sua vontade”.
A 13ª edição do Fórum 3E esteve integrada na “Semana Aveiro Empreendedor”, uma iniciativa do projeto Aveiro Empreendedor,
A Academia de Verão contou também com o contributo de
composto por um vasto conjunto de atividades. O Fórum 3E
várias entidades e empresas que pretenderam associar-se a
voltará no próximo ano com novas ideias e propostas.
esta iniciativa de promoção da ciência junto dos mais jovens. Este ano, 68 participantes usufruíram de bolsas asseguradas
Fábrica renovada para novas aventuras na ciência Três mil metros quadrados de infraestruturas em cinco pisos, 12 salas de atividades que se traduzem em ofertas diversificadas em termos de valências e serviços são a proposta da renovada Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro. A missão de levar a divulgação de ciência ao público em geral, através do incentivo à experimentação, tem agora condições beneficiadas. Quase dois anos depois de ter encerrado para obras de beneficiação, o Centro Ciência Viva de Aveiro, instalado no edifício da antiga Companhia Aveirense de Moagens, retoma a sua atividade. O centro, que funciona como uma estrutura de interface da Universidade de Aveiro para a promoção da ciência, e se integra na Rede Nacional de Centros Ciência Viva, apresenta-se com nova imagem, espaço alargado e um programa de atividades multidisciplinar reformulado – concebido em estreita articulação com os vários docentes
pela UA e pelos seus parceiros.
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set 2013
UA promove o Dia do Antigo Aluno E lembras-te quando…? E daquela vez em que a malta…?
O almoço vai ser servido na alameda do campus universitário,
E naquela célebre noite do enterro em que…? E naquela
em vários espaços onde estarão confrarias e associações
aula nos “galinheiros” quando de repente …? E quantas mais
gastronómicas da região, com ementas e preços
recordações e histórias dos velhos tempos passados
diversificados e ao gosto de todos os paladares.
na Universidade de Aveiro vão surgir no dia 28 de setembro?
O chef Chakall ficará encarregue de um “show cooking”
Todas e mais algumas guardadas para sempre no baú dos
em torno do tema do sal.
melhores tempos da juventude. Para tal, e pela primeira vez, a Academia de Aveiro vai reunir os antigos alunos e as
A participação no Dia do Antigo Aluno é gratuita
respetivas famílias durante um dia que se pretende de grandes
mas requer inscrição em www.ua.pt/diaantigoaluno.
reencontros e de fortes abraços. E se tem uma fotografia de um momento marcante A organização do Dia do Antigo Aluno é da UA, da Associação
da sua vida na UA ou da própria UA, uma história
de Antigos Alunos da UA e da Associação Académica da UA,
para contar, um vídeo de um desfile do Enterro do Ano
no âmbito dos 40 Anos da UA. O programa, que vai decorrer
que considere importante envie esse pedaço de memória
entre as 9h30 e as 18h00 no campus da UA, integra um vasto
coletiva para aaaua-40anos@ua.pt.
leque de atividades. Visitas ao campus e aos Departamentos e Escolas, prática desportiva, espetáculos musicais com Frankie Chavez, a Magna Tuna Cartola e a Tuna Universitária de Aveiro, stand-up comedy com Pedro Tochas e animação para crianças são algumas das supresas que o Dia do Antigo Aluno tem reservadas.
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