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Taís Curi

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Rosangela Maluf

Rosangela Maluf

Taís Curi Santos/SP

Aprendendo com a natureza

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Todos os dias a natureza nos oferece lições. Nem sempre as percebemos. Nem sempre nos valemos delas para avançarmos no aprendizado da vida. Mas elas estão lá. Basta um olhar mais atento. Tudo está em movimento, agindo, crescendo e se adaptando, quando necessário. É uma luta e um trabalho constante, nos surpreendendo a cada momento e nos indicando que a sobrevivência e a vitalidade encontram lugar mesmo nos ambientes mais inóspitos.

Se contemplarmos um rio, veremos que ele não teme o perigo e nem se deixar abater por obstáculos. Contornaos e segue em frente, acreditando no destino final: transformar-se em oceano. Mesmo que em alguns momentos seja preciso deixar de ser rio e tornar-se cachoeira, ele não se intimida. Entregase às circunstâncias. Lança-se em queda livre, até alcançar novamente o leito e dali segue seu curso, vivenciando a jornada diária de altos e baixos.

Com os pássaros, outro aprendizado. O de que devemos tirar os pés do chão e alçar voos em busca do novo, do desconhecido. Há sempre os riscos e o medo da primeira vez, mas se não o fizermos dificilmente concretizaremos o que povoa o nosso imaginário. No voo conjunto das aves é ainda possível observar a sintonia perfeita, alcançada pela linguagem corporal, pela energia próxima, a nos indicar que a harmonia nem sempre necessita de palavras.

E o que dizer das borboletas, com sua aparência sensível e frágil? Vida curta, mas carregada de ensinamentos. A metamorfose vivenciada nos estágios de formação: ovo, lagarta e casulo, de onde emergem belas e aladas, é a metáfora perfeita para as transformações que precisamos enfrentar até nos tornarmos seres completos, interna e externamente. E na vida breve das borboletas, mais um alerta: mesmo que a existência humana não seja tão curta, o tempo passa rápido e exige que aproveitemos o momento presente.

Mas foi observando as árvores que extraí uma lição ainda mais significativa. E a aula me foi dada pelo abacateiro plantado há anos no quintal de uma casa vizinha. Exuberante, oferecia frutos e sombra, até quando sofria com secas, ventos fortes e chuvas volumosas. Aguentava firme a quebra de galhos, a raiz exposta, reequilibrando-se nas

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sucessivas vezes em que era obrigado a dobrar o corpo. Nada disso, porém, foi suficiente para torná-lo agradável aos olhos dos moradores. Em uma manhã ensolarada, deceparam-lhe os galhos e boa parte do tronco. Deixaram-no quase morto. Só faltou arrancá-lo do solo.

Abandonada, a pobre árvore – ou o que restou dela – não se entregou ao fim. Reuniu forças e, aos poucos, começou a produzir pequenos brotos, que foram se erguendo com alguma dificuldade até se transformarem em novos braços. Agora, sem qualquer harmonia com o antigo tronco.

Renasceu como um abacateiro defeituoso, mas com uma vontade de viver enorme. Cresceu, cresceu, pendendo mais para um dos lados, e deu mostras de perdão. Retribuiu com frutos a violência contra ele praticada.

Ao dono da árvore, que talvez nem tenha valorizado o esforço do sobrevivente abacateiro e tampouco aprendido a lição que lhe ofereceu, coube somente a tarefa de repartir com a vizinhança a grande quantidade de abacates que colheu.

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