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Joedyr Gonçalves Bellas

Joedyr Gonçalves Bellas

São Gonçalo/RJ

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O Sanhaço Veio Cantar Na Minha Janela

Um dia de frio. O sol invadindo o meu quarto, mas o calor do sol não aquece o meu corpo, o frio está dentro da minha alma. Acomodado. Não me incomodo. No computador, palavras não saem com tanta facilidade, bom, pelo menos a facilidade que eu desejava. Sem inspiração. As palavras começam a ter vida própria e teimam em não sair com fluência, mas quando saem, vêm duras, rebeldes, e me contrariam, penso em apagá-las, sou mais teimoso que elas e deixo ficarem. Pessoas na rua morrem de fome, de frio, de uma sopa que não os alimenta pela miséria inteira. Fico olhando pela janela.

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Tenho fotografias espalhadas pela estante à minha frente. Meu pai, meus avós e meus filhos miúdos estão lá. Por onde andam meus filhos crescidos? Deixo pra lá. Cresceram, criaram asas e foram ganhar o mundo, pode ser que não ganhem, mas, pelos menos, tentam, e isso já faz a vida valer à pena. Será? O céu está azul, o sol e seus raios irradiantes, mas o frio ainda não me abandonou. Minha mulher assobia uma canção da cozinha. Minha mulher tem mania de cozinhar e assobiar uma canção, diz ela que ajuda a dar liga no molho. Penso em me levantar e pegar uma tangerina. Muito cedo. Ainda nem tomei café, nem me animei sair do quarto, e a mulher já está preparando o almoço. Penso nas pessoas que antigamente cozinhavam jornal na rua para enganarem a fome; outras, hoje, fazem fila para disputar um osso na fila dos açougues. Osso com jornal me causa dor de barriga. As palavras vão ficando escassas e, pra completar, o título deveria ser e o sanhaço desistiu de cantar na minha janela. Acontece.

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