Segunda edição revista litere se2017

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Poetizando

Janeiro 2017 - Edição 02

Litere-se


A Revista

Litere-se Deseja a todos os escritores e leitores, um feliz e próspero 2017!


Editora-chefe

Perla de Castro Conselho Editorial

Alberto Neto Glau Kemp Pedro Cotrim Projeto Gráfico

Perla de Castro Capa

Maluz Ilustrações

Giu

Colunistas

Alberto Neto Alexandre D' Assumpção Danie Ferreira Diego Guerra Elves Boteri Jhefferson Passos Luana Melo Pedro Cotrim Perla de Castro Raquel Rasinhas

Equipe


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Editorial

É com muito orgulho que nasce a 2ª edição da Revista Litere-se. Para começar 2017 com pé direito e muita energia boa, a Litere-se traz uma edição cheia de poesia e cores. Ouça com os olhos os sentimentos de cada texto dos escritores que movem a Litere-se. Deixe o coração aberto para todas as sensações. Não estranhe se sentir o medo ou a angústia, afinal não é só de dia ensolarado que se faz poesia. Além de versos, têm contos e crônicas, eles também são poéticos! Existe poesia maior do que mãos que escrevem? Por que uma edição tão poética? Ora vejamos, viver é poesia! Andar pela rua e sentir o vento no rosto é poesia. O sorriso de uma criança transborda em poesia. O pôr do sol, o abraço de amigos, a cumplicidade de irmãos, o cuidado dos pais, o amor dos amantes, os humanos apressados nas ruas cinzentas, a dor, a tristeza, a alegria genuína... Isso tudo é a vida Poetizando.

Perla de Castro Editora­chefe


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Autores nesta edição

Augusto B. Medeiros Adso Campestrini Denor Ramos Diego Silva Elicio Santos Emily Del Vecchio Hedjan C.S. Ícaro Estevam Kelvin Henrique Lisa Hallowey Lisi de Castro Paula Tavares Pedro Cotrim Pietro de Castro


Índice 8 - Rede de versos, por Pedro Cotrim 12 - Os caminhos entre a publicação da produção literária e o poeta; Onde se esconde a Poesia? , por Diego Guerra 16 - Ceia , por Augusto B. Medeiros 17 - Infindo , por Adso Campestrini 18 - A prisão , por Denor Ramos 19 - Morada de amor , por Diego Silva 21 - Coluna: O Velho Caolho , por Elves Botéri 24 - Perfil de Escritor ( com o poeta Rafael Sarzi), por Luana Melo 30 - O dia seguinte , por Elicio Santos 33 - O medo , por Emily Del Vecchio 34- Antes do último metrô , por Hedjan C.S. 39 - Violetas , por Ícaro Marques Estevam 40- Eu vou viver , por Kelvin Henrique 41- Coluna : A História da Estória , por Raquel Rasinhas 44 - Coluna : Contos, onde eu os encontro? , por Alberto Neto


46 - Coluna : O lado agridoce da Poesia , por Luana Melo 48 - Amanhã , por Lisa Hallowey 49 - Poesia de Lisi de Castro 50 - Poesia de Paula Tavares 51 - Entrevista com o poeta Felipe Escobar - Poesfera 55 - Pano de fundo , por Pedro Cotrim 56 - Negra glória, por Pietro de Castro 57 -Coluna: Escuridão Profunda e Vazia - Uma página sombria , por Jhefferson Passos 58 - Resenha: Um sussurro nas trevas - H. P. Lovecraft , por Danie Ferreira 60 - Você conhece o Haikai? , por Alexandre D' Assumpção 63 - Coluna : Contra Crítica , por Pedro Cotrim


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Parceiros


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Rede

" A

i n t e r n e t

p r o d u ç ã o n a

p o é t i c a ,

c r i a ç ã o

p o é t i c a ,

p e r m i t e

d e

de

u m a

versos

v e r d a d e i r a

a d q u i r i n d o

p ú b l i c o

e

c o m p r o m i s s a d a

u m

i n c e n t i v o c o m

a

a s c e n s ã o

p a p e l à

d a

i m p o r t a n t e

u m a

p r o d u ç ã o

l i b e r d a d e

e

c o m

o

s e n t i m e n t o ” .

Na visão do poeta, a poesia é a

Contrariando os tradicionalistas, duros

melhor forma ou, talvez a única, de

pelas regras despoetizadas, que se

traduzir o nosso íntimo, de doar­

inflam para gritar por crise poética, a

nos aos mundos. Independente de

poesia invade todos os cantos

técnicas, independente de estilos.

virtuais, faz nascer novos poetas, faz

A poesia é libertária e libertadora,

a liberdade tornar­se prazer e vida e

uma verdadeira revolucionária. Ela

salta para o mundo real, entre saraus,

fala de essência, mexe com as

livros, intervenções... Estamos em

essências e se dissolve para

tempos de revelações, de novos

tornar­se concreta da forma que o leitor desejar. Foi assim desde sempre, ganhou formas, regras, estilos, mas nunca deixou de ser sobre sermos. Ela tem o poder de se alastrar, de conseguir surgir pelos caminhos mais imprevisíveis e fazer­se notada. Hoje, nada é diferente, a poesia pinta o virtual, com o espírito que só ela pode ter, inunda as redes sociais, se mostra

autores, escrevendo sentimentos, redescobrindo formas e nos encantando com suas confissões versadas e de autores já consagrados, também se redescobrindo, se adaptando aos novos meios, para conquistar outros leitores. Atrevo­me afirmar que vivemos uma grande ascensão da produção poética.

de formas mil, se adapta ou, melhor dizendo, faz os meios se adaptarem a ela.

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A internet acabou encorajando muitos escritores de gaveta, como eu, a mostrar seus escritos, a criar espaços autorais e principalmente, a participar de grupos e páginas, criando assim, verdadeiros saraus virtuais. “A poesia é isso: encontrar uma maneira de ser atual, independente da época” , disse Zack Magiezi, em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo. Zack é um dos representantes dessa nova geração e sabe muito bem usar a internet para semear seu trabalho. Ele tem mais de 600 mil seguidores em sua página de Facebook e, por causa do seu sucesso, teve seu primeiro livro publicado. Assim como ele, vários outros nomes fazem com que essa comunhão poética permita sair do anonimato para as primeiras publicações, algo que não acontecia com tanta facilidade antes da internet.

A colaboração desses novos meios para fazer­se poesia, não apenas abre espaço para quem já é poeta, mas incentiva novos escritores e cria um público, que antes, até por preconceito, em alguns casos (muito pela forma como é ensinada nas escolas), não lia poesia e hoje, está cada vez mais próxima dos versos. E nessa abertura de espaços, os grupos de redes sociais, como o Facebook, tornaram­se importantíssimos para essa revolução poética. Alguns grupos chegam a ter centenas de milhares de participantes, com incontáveis publicações diárias, em estilos variados e que se aproximam do público. A interatividade da rede permite que o público fale direto com o autor. “Estamos tendo muito acesso à poesia, principalmente pelas redes sociais, livros, eventos..., os versos livres estão ganhando espaço, textos em prosa se

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desprendem de métricas e algumas

Independente do gosto de alguns

regras que limitam os escritores

críticos, a poesia de hoje está

(principalmente quem está

crescendo cada vez mais e ganhando

começando), que sentem a

novos adeptos, trocando mais

necessidade de colocar no papel seus

sensações e sentimentos. Isso é

sentimentos sem ter ‘obstáculos’”, diz

importantíssimo para que uma nova

Liliane Oliveira, poeta e criadora do

geração de poetas se forme e, desde

grupo ‘Gritos Poéticos’, com mais de

o início, entenda que poesia está

6,7 mil participantes e administradora

mais ligada ao sentimento e a

de outros grupos. Victor de Abreu,

liberdade de exprimi­lo, que à métrica,

também escritor, fundador e

regras, formas.

administrador do ‘Beco do Poeta’, com

Por isso que Liliane nos atenta para a

mais de 48,8 mil membros, completa,

importância desses espaços para o

acreditando que “a ascensão das

incentivo à produção poética. “Eu

redes sociais trouxe grandes

acredito que as redes sociais,

benefícios para um público que não

principalmente o Facebook

tinha onde despejar todos esses

proporcionam um espaço,

sentimentos, trouxe uma verdadeira

principalmente para os escritores

união de mentes que acaba por

iniciantes que ainda não tiverem a

inspirar e ajudar uns aos outros”.

oportunidade de publicar em livros físicos, utilizam o espaço para divulgar em páginas e grupos”, diz. E completa, “[o grupo] é um espaço que proporciona interação entre os membros, trocas de experiência no mundo da poesia, incentivos, críticas...”.

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Com isso, espaços virtuais estão transformando o modo de se ler e de se produzir poesia, incentivando mais e mais autores a deixar de guardar seus versos nas gavetas reais, para semeá­las no grande campo fértil da internet.

Pedro Cotrim

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Os

caminhos

produção

onde

se

entre

a

publicação

literária

esconde

e

a

o

da

poeta;

poesia?

Em meio a um mundo de editoras,

O self­publishing entende­se uma

selos independentes, plataformas de

forma de auto­publicação, onde o

self­publishing, entre outros, o poeta,

autor assume todas as funções de

quando insere a pontuação final de

produção do livro, cumprindo assim

sua obra literária está prestes a travar

suas etapas que a priori seriam

um grande caminho entre o seu

realizadas por uma editora, como;

então documento virtual até o livro

capa, diagramação, revisão (podendo

impresso (ou eletrônico). Visando o

também esta etapa ser realizada por

novo autor, ou ainda o escritor que

um profissional contratado pelo

não é de fato reconhecido no

autor), distribuição, venda.

mercado editorial, nesta edição vou

Atualmente, graças à internet, é

percorrer alguns pontos principais

comum o autor publicar e vender seu

para a publicação de um original; o

próprio livro sem sair de casa, para

autor independente (self­publishing),

isso, pontuarei nesse artigo algumas

e o autor­editoras; para isto vamos

plataformas que conheço a fim de

expor algumas diferenças visíveis

apresentar para você ferramentas de

entre as editoras presentes

publicação.

no mercado, e tentar ilustrar qual seria o caminho ideal para a publicação da obra poética, qual o seu lugar.

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Para o autor indepente o self­ publishing é o seu principal instrumento, se este for produzido pela internet, temos diversos sites que dispõe de recursos específicos para a produção de um livro a partir do documento original da obra. Na publicação de livros virtuais, ou seja, formatos e­books, recomendo o Amazon's Kindle Direct Publishing (KDP), e a BiblioMundi, estes dois formatos são específicos para e­books, no KDP, o escritor faz o upload do material e­ pub no site e direciona o preço de capa e as informações técnicas, recebendo conforme as vendas realizadas na loja Amazon de todo o mundo, logo, o livro fica disponível para qualquer pessoa do mundo, sendo possível baixar e lê­lo no kindle (aparelho de leitura). A segunda forma, contudo, apresenta um suporte para a elaboração deste documento em e­pub, juntamente com a publicação deste em livrarias virtuais, e lojas como Google, etc... Além de você escolher o valor de capa baseado nos royaltes (porcentagem em cima do livro, cerca de 10%, que é de direito de criação do produtor deste) que deseja escolher.

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Ainda, se o autor independente quiser disponibilizar o seu livro para venda impresso existem dentre tantos os sites: Clube de autores, e Bookess. Nesses sites você basicamente monta o seu livro em .pdf e disponibiliza­o para a venda, como a impressão deste é feita unitariamente sob demanda, no momento da compra, o livro sai demasiadamente caro ao meu ver. Por exemplo, no próprio Clube de Autores há algum tempo tinha feito testes com um conto meu de 30 páginas que teve seu preço de capa de R$35,00, na minha posição essas formas não são muito eficientes ou ainda convenientes ao autor, pois além de termos uma obra “cara”, o produtor recebe um valor ínfimo diante todo o seu trabalho, que também consta com todas as etapas de produção citadas acima.


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Ao enviar sua obra para as editoras, Diante, agora, às editoras e na colaboração entre autor­editora, gostaria primeiramente de esclarecer que entre as editoras existe uma variedade gigantesca,em suas propostas e contratos, há as que desejam lucrar com os custos do autor somente, ou principalmente, nos livros vendidos no lançamento, pagando assim os custos da produção, as chamadas “publique de graça”. Editoras que o escritor precisa pagar para publicar sua tiragem, as grandes editoras que detêm o monopólio do mercado editorial, que, pontuando especificamente a escrita de poesia, nessas editoras o espaço dedicado a este gênero é muito limitado, ou ainda, ausente em algumas. E por fim, saliento também a presença dos selos editoriais independentes, que por não serem vinculadas a editoras maiores, e não terem que seguir uma norma requisitada por elas, estas, por sua vez, conseguem oferecer uma melhor proposta de publicação, um melhor preço de capa do livro, sendo que podem elaborar o contrato de produção da melhor forma, visando também o custo benefício de ambas as partes.

é importantíssimo rever as linhas de publicação delas, os gêneros que costumam publicar, e sua perspectiva de produção, por exemplo, no caso da poesia, muitas editoras não publicam esse gênero, e outras têm selos especializados nessa publicação. Para isso, vale ler muito a respeito de cada empresa, se tiver dúvidas mande e­mails, contate­ se antes de fazer o envio da obra, para pedir maiores esclarecimentos. Ver e encontrar o lugar da poesia no mercado editorial não é fácil, nem sempre a maior editora cumpre a melhor proposta, ou ainda confia maior valor a sua obra poética, nesse sentido, compreendo que as publicações por selos editoriais independentes são a melhor opção, pelo menos para a primeira tiragem do escritor que ainda não é reconhecido e deseja investir em editoras, muitas delas estão muito interessadas no material do seu livro e prontas para dar lugar de destaque a eles.

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Contudo, reconheço que a auto­ publicação, cumprindo o autor todas as etapas de publicação até a impressão na gráfica é uma ótima opção, mas esta requer um grande investimento inicial do poeta, porém o seu lucro também é mais alto, sendo que este também é responsável pela venda da obra. Gostaria de finalizar expondo o exemplo de minha escolha para publicação, quando finalizei meu livro de poesia e busquei torná­lo físico para venda, descartei de início a auto­publicação por não ter o capital necessário e tempo para administrar sozinho todas as etapas de edição e venda (envio no correio, recibo de banco, etc...). Porém achei nas editoras independentes um espaço propício para a publicação da obra, selos que se comprometem com a propagação da cultura literária, e propõe uma tiragem com um valor justo, e não exorbitante para preço de capa. Nesse sentido indico a editora Madrepérola, apresentada pelo editor­chefe Rafael Silvaro, quem precisamente me atendeu para meu projeto literário; o livro “Novelo do Verbo”, e apresentou a melhor proposta de publicação, em colaboração comigo.

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Nesta editora seu livro é avaliado pelo conselho editorial e é reconhecido como uma obra pertinente a ser publicada em função do tratamento crítico literário. Assim na sua finalização, além dos livros que são do escritor, o restante da tiragem fica sob domínio da editora para a venda. Diante desse breve artigo sobre o assunto, podemos individualmente tirar o esclarecimento sobre algo que é tão pouco difundido entre os escritores, e dessa forma, cada escritor pode procurar sua melhor proposta, diante sua realidade e expectativa para publicação, visando a melhor proposta que atenda o projeto literário do autor. Por isso apresentei algumas opções que conheço pessoalmente, podendo assim ver seus prós e contras, para o poeta diante sua primeira publicação que precisa ser impulsionada e reconhecida, avaliando também o cenário da produção de poesia em âmbito nacional.

Diego Guerra


Ceia Na véspera de Natal Apesar do Feliz Pesa o estômago Em cada um É quando engolimos a gravidade Com todo o oco de sua densidade Formada por perguntas sem respostas E ao invés de saciar, corrói Ao invés de nutrir, dói E nós fingimos confundir vazio e fome Mesmo assim boicotamos a ceia E ao invés de buscar comida Bebemos café como nunca

Augusto B. Medeiros

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Infindo São nesses pequenos momentos De uma noite qualquer Num silêncio profundo Que brota dentro de mim De repente Esse desejo ardente De dar vida à fantasia Essa fantasia pura e ingênua De tão breves saudades Dessa minha gente Que passa por mim e se vai Sem adeus Como posso sentir Tão sinceras saudades De momentos que nunca existiram? Como pode tamanha saudade Daqueles até que nunca conheci?

Adso Campestrini 17

Mas é tudo tão real Assim como é real esta chuva fria Que invade meu céu Que abraça minha alma E transcende minha existência Isso tudo vive em mim Num sonho que sonhei De olhos abertos De braços estendidos Abraçando essa ideia de ser Tudo isso é Tudo isso quer ser Tudo isso um dia foi Porque a noite vem e vai E esse estado de entrega É uma maneira incerta De dizer que estou aqui E sempre estarei Infindo


A prisão Acordou decidido a dar um basta naquela sucessão de absurdos que lhe levaram a viver naquele ciclo. Estava exausto, cansado de ser tragado. Precisava de paz. Refletiu ao longo do dia e à noite encontrou com ela. Queria dizer tudo aquilo que era preciso dizer. Mas não conseguiu. O cheiro, toque, o olhar, a voz dela. Todos aqueles truques desmontaram as palavras que ele havia ensaiado por horas a fio. Foi aí que ele virou refém outra vez. Sofreu um sequestro relâmpago e acordou na cama dela. Antes das sete saiu do cativeiro sem o seu coração, que ficou nas mãos da garota. Sofreu a tortura de ser amado por uma noite e descartado ao amanhecer. Até queria pagar qualquer preço para ser libertado de uma vez por todas. Pena que não existia uma forma simples e rápida de sair daquela abstrata prisão. Ele estava cumprindo pena no presídio da solidão por ter se apaixonado tão perdidamente. E só mesmo tempo e distância podiam fazer justiça. Amar mais do que devia era crime inafiançável. Ele bem sabia que foi esquecido feito um cigarro qualquer na borda de um cinzeiro. Lágrimas rolaram no rosto e se perderam no espaço.

Denor Ramos 18


Morada de Amor Era lindo de ver no café da manhã o modo como ela lambuzava de margarina os pedaços quebrados de torrada para que ele usufruísse dos inteiros, e isso era despretensioso como um te amo antes do sono noturno. A graciosidade como tomava seu café numa xícara qualquer, mas em suas mãos lembrava uma película filmada numa calçada do café Maris na cidade luz. Nonata carregava um sorriso largo nos lábios, daqueles que enchem de significados a existência mais medíocre. Tinha saboneteiras que emolduravam o pescoço, ali, um bom lugar pra repousar e dispender beijos leves numa manhã fria. Ela trazia na voz turva uma esperança palpável, nos olhos que marejavam fáceis até com propaganda do Boticário uma promessa de amor eterno, e até o modo como segurava o cigarro na janela da sala era uma escultura venusiana. Paulatinamente Victor abandonou o violão, os livros de García Marquez, os amigos e fez de Nonata sua tônica principal. Amor, estranho amor. Numa noite de chuva, Victor era só mais um homem na estação buscando o conforto do lar e o aconchego da mulher amada. Ao abrir a casa, adega de suas emoções, não sentiu o perfume da amada, chamou-a pelo nome. Silêncio. Na porta da geladeira apenas um post it com sua caligrafia magistral: “Fui-me, estava deixando de ser eu para ser o que você precisava”. 19


Amor, imundo amor, lamentou o amante. Toda felicidade, riso e afeto vivido dilacerando seu peito e machucando seu cerne. Sempre acreditara que o amor era sua alma se reconhecendo em outro alguém. Mas, e agora? Mudara a alma de casa, fizera de Nonata sua morada e ali no chão da sala, de posse do pergaminho moderno, chorou, compreendendo as palavras de um poema que ela ainda não terminara. “Quanto amor há na partida? Quanta razão há no amar? Se a razão está sempre com dois lados, o amor é o amálgama da loucura e da sabedoria, sensato, porém voraz". No fim, naquela noite fria e chuvosa de outono, aquele adeus levou muito mais que sonhos. Cruzou o espaço e feriu no único ponto imperceptível a olho nu, onde nem Victor sabia doer tanto.

Diego Silva

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O

VELHO

CAOLHO

F a z e r

P o é t i c o

O

Poesia, ah, Poesia! Meio pelo qual exprimimos os mais ocultos sentimentos pela vida Ou por si só! Poesia, tão cheia de sinestesia, E ao mesmo tempo cheia de anistia! - Elves Botéri.

Poesia, um doloroso se doar por este

1°­ Inspiração:

encanto fatigante da Arte, na qual lhe

Este primeiro ponto trata sobre o que

restará a solidão e o silêncio. E do

lhe faz refletir a cerca de si, seja um

canto escuro ao qual te encontras a

momento, uma música de seu gosto,

verá brilhar terna e eterna enquanto

uma pessoa, um sentimento retraído,

aproveita o ultimo suspiro que lhe

etc. Rápido como o bater de asas de

resta. O fazer poético retrata e busca

um beija­flor é este momento. Aqui se

muito mais além do que meras

pondera a emoção.

abordagens filosóficas ou

2°­ Ação Artesanal:

introspectivas de uma forma

Aqui acontece o cinzelar, o trabalho

generalizada, mas sim, advém do seu

da Forma, onde se prevalece a

interior, da partícula mais sagrada

intelecção. Quanto à forma poética ­

que há dentro de você e da qual

sua estrutura ­ o escritor usará

estão seus pensamentos e

daquela que mais atenderá ao que se

sentimentos mais ocultos.

quer ser exposto.

Podemos trazer duas etapas principais para o fazer poético:

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Os quais podem ser: Soneto (a forma mais conhecida); quadrinha; balada; vilancete; ode; canção; madrigal; elegia; idílio; rondó; epitalâmio; haicai.

Valendo­me de uma máxima de Nietzsche para esta afirmativa, ele diz: “Os poetas não têm pudor em relação às próprias experiências: eles as exploram”.

Trabalhar seus versos entre regulares (regras clássicas) e livres (também chamados de irregulares), tornando estes mesmos versos em heroicos ou sáficos com suas respectivas sílabas tônicas. Fazer com que suas rimas sejam cruzadas, interpoladas ou emparelhadas ou que não haja rima alguma. Que sua estrofe seja dística por conter somente dois versos ou que seja uma décima. Que haja o enjebement ou que os versos sejam individuas em sua expressão.

Os artifícios técnicos por si só não compõe a arte do fazer poético. Estes artifícios são os meios que utilizarei para exprimir a poesia, ou não. Se nos remetermos aos clássicos, e analisar sua forma poética, todos estarão dentro de uma forma poética de seu tempo. Mas, a muito já se deixou de se fazer o fazer poético dentro de formas pré­estabelecidas. Na contemporaneidade, se é utilizado muito à forma dos versos livres. Um momento! Mas, como já falado, os versos livres não são uma forma de “estrutura poética”? Sim, porém, ele possui este nome, pois, o escritor está livre para escrever da forma que bem entender, sem, necessariamente estar atrelado a uma técnica poética clássica.

O uso destas técnicas citadas (e não foram todas, há uma grande variedade de técnicas que se pode empregar na poesia) ajudam na lapidação de sua poesia, na sua estética. Porém, além de somente técnicas, a poesia é feita de sinestesia, ela é o que da vida, é o sangue que corre entre as veias (versos) da poesia!

A poesia é uma piscina olímpica na qual não existem raias. Você pode nadar em que direção seus sentimentos mandarem ou pedir para que recoloquem as raias para que nade entre elas.

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Sobre isto, deixo­vos um trecho de Alberto Caeiro para refletirem sobre o que foi explanado do canto escuro em que me encontro: “E há poetas que são artistas E trabalham nos seus versos Como um carpinteiro nas tábuas!... Que triste não saber florir! Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro [...] ­ Caeiro, O guardador de rebanho.

Elves Botéri

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P e r f i l

Poeta - Rafael Sarzi

Biografia Poeta, escritor, sonhador e menino. Através de Poemas, Notas e Cartas, utiliza uma linguagem simples descrevendo a complexidade dos sentimentos com a intensidade que enxerga o mundo. Em novembro de 2015 lançou seu primeiro livro ­ Um Eterno Réu dos Meus Pensamentos – no qual retrata os sentimentos como o Amor, Saudade e a Felicidade, em poemas que tocam e nos fazem percorrer um mundo de sonhos e surrealismo. Março de 2016 teve sua primeira participação no evento Sarau de Zack Magiezi em São Paulo. Em Setembro de 2016 fez a Intervenção Poética – Escrevo Cartas de Amor e Ex­Amor ­ na FLIM – Feira Litero Musical – Vicentina Aranha ­ Na cidade de São José dos Campos­SP. Novembro de 2016 – Intervenção Poética – Escrevo Cartas de Amor e Ex­Amor na Wine Party – São José dos Campos – SP. Desenha com palavras o que o coração se inquieta a falar. Faz das linhas do Destino o seu perpétuo caderno.

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Sinopse:

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O livro

Um Eterno Réu dos Meus Pensamentos nasceu com uma linguagem simples para descrever a complexidade dos sentimentos, remetendo ao leitor o fascínio do pseudo surrealismo provocado pelo amor, paixão, medo, receio e encantamento. Por meio de versos e palavras, o autor discorre sobre as sensações que o coração, mente e alma sentem quando estão aprofundados em sorrisos, angústias e dilemas. É um livro que surpreende a cada leitura, nos detalhes, nos versos, nos sentimentos que são descobertos em cada página, fazendo o leitor transcender suas emoções às palavras, se reencontrando em situações vividas e se entregando ao êxtase dos poemas. Numa visão contemporânea dos sentimentos eternos que invadem a nossa alma, Um Eterno Réu dos Meus Pensamentos cria um mundo misto, paralelo e intuitivo. Uma profunda reflexão daquilo que pensamos e sentimos, permitindo a maior compreensão do ser e sentir. O grito do coração traçado em palavras.


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Sobre os obstáculos de publicar um Livro:

Com as palavras do autor O Meu primeiro livro teve como principal obstáculo tirá­lo da gaveta e encarar que aquelas palavras poderiam se tornar realmente um livro. Uma coragem que eu não tinha, enfrentar o medo do sonho virar realidade. Pois o meu lado mais íntimo seria exposto a todos agora. E estar sujeito a crítica e julgamentos do seu lado mais sensível e escondido, foi o grande obstáculo que tive que transpor para me aceitar como poeta e escritor. E claro, sem contar os julgamentos e críticas que todos, inclusive os mais próximos, te dizendo " Você vai realmente só escrever? E como vai se sustentar? Acho que isso não dá certo hein. Isso não é trabalho. E mais um monte de blá, blá, blá " E para encarar tudo isso, precisa estar centrado e focado no que realmente sonha em virar realidade. Pois o que mais terá em seu caminho são pessoas querendo que você desista dos seus sonhos e raras serão as que estarão ao seu lado te apoiando e ajudando.

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Entrevista

De

onde

escrever

Quando

descobriu

sua

paixão

pela

escrita?

Descobri minha paixão pela escrita há muito tempo. Era adolescente ainda. Havia começado a sentir os primeiros sinais da paixão se manifestando em mim e não conseguia entender direito o que estava acontecendo. E como uma forma de talvez tentar entender, comecei a escrever. Escrevia tudo o que sentia para num outro dia tentar decifrar o que estava passando com a minha cabeça e coração. E desde então, a escrita passou a ser parte da minha vida.

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veio

O

a

inspiração

para

Eterno?

A inspiração veio de momentos que vivi. Amores, paixões, saudades e despedidas. Esses sentimentos resumem " Um Eterno Réu dos Meus Pensamentos ". A Concepção do livro me veio em 2006. Mas era composto por poemas que eu julguei um pouco infantil e revoltados. E com o passar dos anos consegui colocar um pouco mais de calmaria nas minhas palavras e com isso, quase 10 anos depois, o livro ganhou a cara que eu gostaria e saiu da gaveta.


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Percebi

Nos

fale

um

pouco

sobre

trás

trabalho

poético

de

Amor

a

máquina

de

escrever

uma

essência

mágica

para

sua

maravilhoso;

escrita.

Cartas

que

esse

e

Ex

Você

sempre

escreveu

em

Amor.

máquinas

Ah! Cartas de Amor e Ex Amor é uma intervenção que tenho um carinho enorme por ela! Surgiu em setembro desse ano, quando recebi o convite da fundação cultural de São José dos Campos­SP para participar da Feira Literomusical ­ FLIM e fazer essa intervenção poética. Eu aceitei mas não saberia se daria conta do recado, uma vez que nunca havia criado algo na hora utilizando o sentimento do outro. E pra minha surpresa e para a surpresa dos organizadores, deu super certo e foi lindo demais! E desde então, levo essa intervenção a vários outros eventos.

de

importância

como

escrever?

dela

na

Qual

sua

a

trajetória

Poeta?

Sim, a máquina ela é mágica. Eu escrevia em máquinas de escrever quando era criança, uma vez que o computador não pertencia a todos e preferia entregar os trabalhos de escola datilografados ao invés de ser manuscritos. E fiquei um bom tempo ansiando em ter uma quando comecei a escrever meus poemas e textos, mas não sabia onde vendia e como faria para arrumar a que tenho em casa, até que na intervenção poética na FLIM eu teria que usar uma. Uma amiga tinha e por uma tarde eu passei escrevendo na dela e adorei, trouxe­me toda aquela nostalgia e fascínio pela máquina e foi quando comecei a pesquisar para comprar uma. Achei num lugar onde um senhorzinho vende e arruma máquinas de escrever e fiquei encantado. Comprei a portátil e agora levo ela para todos os eventos, como também em casa crio muitos textos com ela. A máquina produz uma sensação ímpar de um texto limpo e com uma essência singular e pura de sentimento.

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Como

você

literatura

hoje

no

brasileira

a

cenário

da

inserção

da

poesia?

Deixe

uma

leitores

los

à

ler

Eterno

Com as redes sociais a poesia ganha uma grande participação no cenário literário e no cotidiano das pessoas. Claro, como toda forma de arte no Brasil, alcançar o equilíbrio entre trabalho x rendimento financeiro, é difícil, mas existe um campo enorme e vasto onde essa possibilidade é muito plausível.E o que me encanta a cada passo que dou nesse caminho, é que tenho admiradores adolescentes a pessoas com mais de 60 anos e isso me enche de gratidão, pois vejo que a poesia está em todos.

Podemos

esperar

por

novos

projetos?

Sim! Com certeza! Em 2017 lançarei ao menos dois livros que já estão prontos. E espero levar essa intervenção para outras regiões do Brasil!

e

mensagem

aproveite

seus

e

para

trabalhos

Cartas

de

para

convidá-

poéticos;

Amor

e

O

Ex

Amor.

Eu agradeço imensamente a todos que apreciam e acompanham o meu trabalho, as minhas palavras, poesia. Pois se não fosse por esse carinho enorme que recebo, certamente todas essas ainda estariam dentro de um caderno escondido numa gaveta. E sou muito grato por poder compartilhar o meu melhor com vocês. Espero que gostem do conteúdo e acompanhem na minha Página " O Eterno " No meu perfil no Facebook " Rafael Sarzi ", insta @sarzirafael , todas as minhas postagens e os eventos no qual participo e quem sabe poder estar com essa intervenção na sua cidade! Muito obrigado! E para sempre Poesia.

Luana Melo

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nossos


O dia seguinte

A jovenzinha sente as pernas – magricelas – tremerem: de baixo para cima. Uma sensação de enjoo a imerge em pensamentos medonhos. Ter de recomeçar o necessário. Sente o coração: Tum! Tum! Tum! Tum! Tum! Tututututum! Tutututututututututum! O escuro esclarecido abafa os móveis do quarto, vislumbrados como se não estivessem nos seus lugares (pela proprietária), que mais se sente uma hóspede de última categoria: estante de livros cinzentos, cama cinza, teto, brinquedos borrados sobre o guarda-roupas, o fôlego, o cheiro, os dedos – da mesma não-cor e pegajosos – não há exceções ao caos. “Querida, abra a porta! ”, ouve do lado de fora, junto aos sacolejos à maçaneta. Amorzinho, por que você se trancou? Não sabe que tá na hora? A porta trepida igual à alma da filha, chorando sob o lençol da Turma da Mônica. “Meu Deus... manda ele embora, por favor! ” Pow! Pow! “Abre, querida! ” Pow! Pow! Buuummm! Arromba o empecilho com um chute. “Não! Sai daqui! Socooooorrroooooooo! ”. Dá um pulo esguio ao soalho e engatinha acelerada – a lugar nenhum.

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“Calma, amorzinho... papai vai dar o que cê gosta. Vem aqui, vem! ”, diz arriando o zíper da calça. A fala sai rouca, luxuriosa. A pequena se atropela ao banheiro e cerra a entrada. “De novo, benzinho? Pra que isso? Eu sei que você quer... vem pro papai, vem! ”, ri sacana e badala o obstáculo flexível. De dentro, as mãozinhas farejam algo entre os cosméticos, na mesma eletricidade da respiração e as veias abrindo - fechando galopando... Crick! Crick! Estraçalha algo nos azulejos e insiste: “Socoooorroooooo! ” Cabuuummm! Dá um quique na portinha que desaba sobre a menina armada. Ela empunha algo bem firme e avança, num brusco, antes de qualquer pensamento... Enfia o agudo vidro no tórax do animal. O barulho da carne soa ácido, cruel, milagroso. O homenzarrão flácido, leitoso, grisalho, fedido a gordura, estatela-se ... antes mesmo de sangrar a rodo: parece uma fonte de vermelho grosseiro: boca, ouvidos, narinas, sem falar no buraco redentor: aflora na menina um orgasmo indizível. À medida que (de marcha à ré) contempla o que fez, a mocinha se sente estranha. Não acha os remorsos. O bucho perfurado se esvai rápido: a garrafa de perfume entre os mamilos. Enforma-se letal na grande massa em ebulição. 31


A responsável desorganiza os seus pertences, fuzila-os na mochila escolar. Corre até a frente da casa e ao enorme portão de ferro: ambos destrancados. Ouve os latidos do cãozinho, por trás do alto muro de acesso ao quintal. “Tchau, Snoopy... adeus! ”, sussurra consigo. Parte à rua, onde vigora a pouca iluminação. As perninhas tremem algo. O fôlego duro segue a saliva e as palpitações que, com jeito, são obedientemente acorrentados: a um raciocínio sobrevivente

Elicio Santos

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O medo Como caracterizar o terrível desespero que sinto? A angústia que assola meu ser, a insegurança que sinto ao acordar, o medo que toca, todos os dias, que bate na porta da minha alma, como o ruído do vento na janela. Aquele instante em que tudo fica escuro, quando as luzes se apagam e as cortinas se fecham. Eu o sinto. Quando abro meus olhos, tentando recordar – me da noite anterior. Eu o sinto Como uma sombra, um fantasma, sempre a espreita. Esperando, esperando a solidão. Esperando o silêncio da noite. Ou talvez a minha morte.

Emily Del - Vecchio

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Antes do último metrô Vargas desceu as escadas correndo, saltando de dois em dois degraus. Viu quando as portas iniciaram o processo de fechamento e deu uma última acelerada, ignorando os pulmões ardendo. Foi inútil. Enquanto recuperava o ar, sentindo o coração golpear furiosamente seu peito, o trem do metrô se afastava, ganhando velocidade progressivamente. Olhou em volta. A estação estava vazia. Afastou-se, andando na direção do começo da plataforma. Preferia pegar o primeiro vagão, pois andaria menos quando saltasse em sua estação. Sempre fora a favor da Lei do Menor Esforço, menos quando queria chegar logo em casa. Isso o fazia correr o mais rápido que podia. Às vezes dava certo, às vezes não. Enquanto caminhava, tirou os óculos. O calor do corpo embaçara as lentes. Enxugou a testa e preferiu deixar os óculos no bolso da camisa até que o calor do corpo diminuísse. Identificou a área de ação do grande ventilador da estação e ficou ali, abençoando mentalmente o vento que ajudava a secar o suor do rosto. Passaram-se 15 minutos e o metrô não veio. Pelo alto falante uma voz feminina avisou que realizavam um procedimento para retirar detritos da linha e se desculpou pelo atraso. Alguém lhe disse, uma vez, que esse era o código usado pelos trabalhadores do metrô para acobertar suicídios na linha. Detritos... Que termo horrível para se usar. 34


Ficou olhando para baixo, identificando o terceiro trilho, aquele que conduzia a tal carga mortal de eletricidade. Foi quando notou o buraco. Não tinha uma forma regular, e aos olhos de Vargas parecia ter a forma de uma fechadura colocada na horizontal. A distância calculou que devia ter quase um metro de largura. Achou ter visto algo se movendo lá dentro. Colocou os óculos. Algo se movia ali. Primeiro pensou que poderia ser um gato, pois viu olhos brilhando na escuridão. Mas era um brilho anormal. Eram olhinhos vermelhos, como minúsculas brasas de cigarro. Deu alguns passos à frente. Os olhos sumiram. Ouviu passos às suas costas. Um jovem magro e de cabelos longos aproximava apressado. Carregava um estojo de violão. Postou-se furtivamente atrás de uma pilastra. Vargas voltou sua atenção para o buraco. Os olhos tinham voltado. Que bicho seria aquele? De repente, descobriu. Lembrava uma ratazana muito grande. Devia ter pelo menos uns 40 centímetros do focinho ao rabo. A princípio Vargas pensou que o roedor tinha duas cores. Quando o bicho parou de se mexer, farejando o ar, conseguiu perceber que na verdade o negro e o rosado eram devido à falta de pelos do animal em vários pontos do corpo. Parecia que tinham jogado água fervendo no bicho. Instintivamente deu um passo para trás, sentindo asco. Olhou para o túnel, desejando mais ainda que o trem viesse. Voltou a olhar a ratazana. Ela farejava o chão e se deslocava, farejava o ar e se deslocava. Até o modo de andar do bicho era grotesco. Apesar de muito rápida, não andava em linha reta. Parecia se mover em arrancos, em ziguezague. 35


Já tinha visto ratos andando assim, mas tinham sido envenenados. O bicho parou perto de um copo de plástico que estava entre os trilhos e começou a roê-lo. - Cara, achei que estava vendo coisas por causa da bebida! A voz esganiçada vinha de suas costas. Era um homem com um macacão bordado -Retífica Presidente- olhando admirado. - Aquilo ali é um gambá? - Achei que fosse uma ratazana. - É a maior que já vi... Mas parece doente. Tomara que o metrô venha logo e acabe com o sofrimento da miserável. Vargas concordou com a cabeça. Olhou na direção da ratazana. O bicho sumira. Os dois, como numa sincronização mental, aproximaram-se da borda da plataforma, ignorando a linha amarela que demarcava o local seguro. Olharam pra baixo e viram o bicho tentando escalar a parede. Algo se chocou contra o chão. Olharam para trás e viram um segurança do metrô abordando de forma truculenta o rapaz. O estojo do violão estava no chão. - Vocês vagabundos já deviam saber que não podem vir ganhar dinheiro aqui! Nada de tocar nos vagões em troca de moedas!

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Vargas continuou olhando a cena, vendo o jovem responder com a mesma hostilidade, mas o homem de macacão tinha voltado a contemplar os trilhos. De repente gritou e bateu no braço de Vargas: - Saí daí, cara! O bicho subiu! Vargas olhou para a borda da plataforma. Só então entendeu que tinha que sair dali. O segurança e o jovem pararam a discussão e olharam para os dois homens que se afastavam correndo da borda. Os quatro viram o animal se erguer com dificuldade. Aquela ratazana deveria estar sendo exibida em um circo, pensou Vargas. Conseguiu ver o bicho em sua totalidade quando ele ficou de pé farejando o ar. A cabeça era muito pequena em relação ao corpo. Em compensação, o focinho era muito comprido e de longe podiam ver os dentes, finos como agulhas, se projetando para fora da boca. Os olhos eram grandes em relação à cabeça e tinham uma cor indiscutivelmente vermelha. As patas de traz eram finas e longas, em contraste com as da frente, muito mais curtas. - Que porcaria é essa? – perguntou o jovem. O bicho emitiu um guincho e tombou sobre as patas dianteiras, farejando na direção dos homens. Em seguida suas pernas traseiras se flexionaram, como um corredor se preparando para a corrida de 100 metros. Disparou na direção dos quatro como uma flecha. 37


Vargas encolheu-se contra a parede. Ouviu o homem de macacão gritar um palavrão e o nome de Deus na mesma frase. O segurança, por sua vez, foi rápido. Acertou um chute na ratazana, que foi lançada de volta para os trilhos. Os três se aproximaram da linha e chegaram a tempo de ver a ratazana caída de barriga pra cima, nos últimos estertores. - Bicho nojento – disse o segurança – minha bota ficou toda melecada. Vargas disse que ela tinha vindo do buraco. Quando olharam para o buraco, centenas de olhos vermelhos surgiram no escuro. Vargas soube na mesma hora que seria inútil correr.

Hedjan C.S.

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Violetas Abelha voa por cima da cor púrpura embebendo-se do néctar farto com gosto de roxo. Emaranhando-se entre as teias e as pétalas, a aranha tece sua rotina equilibrando-se sobre o plástico azul-ferrete seguindo os poucos raios louros que entram pela janela e maquilam a tez da manhã. Um pouco de poeira empobrecida salpica o cinza que faltava na natureza morta de uma casa vazia, como resquício de um sentimento que outrora sentias. Talvez isso explique por que as traças comem do amarelo da carta junto ao bouquet de violetas que entreguei mês passado. Interrompo a morbidez do dia e me ponho a chorar.

Ícaro Marques Estevam

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Eu vou viver A vida é um dom, e eu vou viver. Vou, sim, viver, Uma vida em pleno tom. A minha vida é uma dádiva, vou viver, vou viver. Vou viver mesmo se morrer, pois a vida também é trágica. Viverei minha vida, viverei à moda antiga, como uma canção lida. Viverei como uma cantiga, cantada por uma lira uma canção antiga.

Kelvin Henrique

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A

História

da

Estória

-

Poesia

Poesia, a arte de compor através de

"Poesia, segundo o modo de falar

versos; modo de expressão artística

comum, quer dizer duas coisas. A

caracterizada pelo uso de regras, de

arte, que a ensina, e a obra feita com

sons ou de estruturas sintáticas

a arte; a arte é a poesia, a obra

específicas. É isso que diz o

poema, o poeta o artífice.” −

dicionário, mas não é assim que

ALMEIDA, Manuel Pires de (1597­

nossas almas e corações veem a

1655). Discurso sobre o poema

poesia, para nós é algo muito mais

heroico.

profundo, denso e cheio de todo o

Falando da poesia como uma forma

tipo de sentimentos. Mas como a

de arte, ela vem antes da escrita

poesia começou mesmo?

sendo utilizada de forma oral, com o uso das frases repetidas e ritmadas

A poesia está inclusa nas sete artes

para ajudar a memorizar as histórias

tradicionais (Literatura) pela qual a

contadas. Então veio a escrita e

linguagem humana é utilizada com

adivinhem... A poesia aparece entre

fins estéticos ou críticos, ou seja, ela

os primeiros registros da maioria das

retrata algo em que tudo pode

culturas letradas, como em obeliscos

acontecer dependendo da

antigos, pedras rúnicas e outros

imaginação do autor como a do

monumentos.

leitor. Poesia é diferente de poema. O poema é a forma em que está escrito e a poesia é o que dá a emoção ao texto.

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O esforço dos pensadores antigos em determinar o que faz a poesia uma forma distinta e o que distingue a poesia boa da má resultou na "poética", o estudo da estética da poesia. O contexto pode ser essencial para a poética e para o desenvolvimento do gênero e da forma poética. Poesias que registram os eventos históricos em termos épicos, serão necessariamente longas e narrativas, enquanto a poesia usada para propósitos litúrgicos (hinos, salmos, suras) é suscetível de ter um tom de inspiração, enquanto que elegia e tragédias são destinadas a invocar respostas emocionais profundas. Outros contextos incluem cantos gregorianos, o discurso formal ou diplomático, retórica e invectiva políticas, cantigas de roda alegres e versos fantásticos, e até mesmo textos médicos. A poesia pode fazer uso da chamada licença poética, que é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da língua, tomando a liberdade necessária para recorrer a recursos como o uso de palavras de baixo­calão, desvios da norma ortográfica que se aproximam mais da linguagem falada ou a utilização de figuras de estilo como a hipérbole ou outras que assumem o caráter "fingidor" da poesia.

Quem nunca ouviu falar de William Shakespeare, Drummond, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes, Camões, Miguel de Cervantes, Cora Coralina, Edgar Allan Poe, Cecília Meireles Casimiro de Abreu e Martha Medeiros não vive no planeta terra. Esses são alguns dos nomes mais conhecidos da literatura, poetas que deixaram sua marca no mundo de uma forma impar. Com esses exemplos claro que a poesia está crescendo e mostrando novos talentos todos os dias e mais uma vez o wattpad é a atual mais importante porta de entrada desses poetas. Um grande poeta que vem inspirando as novas mentes é Fabrício Carpinejar, autor de trinta e quarto livros, formado em jornalismo, Professor por profissão e poeta por vocação, tem blog, canal no Youtube, página no Facebook, então se ainda não conhece fica a dica. Outro nome inspirador é a poetisa Angélica Freitas, jornalista, premiada em 2012 da Associação Paulista dos críticos de arte, viveu em países como a Holanda, Argentina e Bolívia. É coeditora da revista de poesia Modo de usar & Co, teve poemas reunidos em livro, pela primeira vez, em uma antologia de poesia brasileira contemporânea publicada na Argentina, intitulada Cuatro poetas recientes del Brasil.

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Em 2012 seu livro um útero é do tamanho de um punho, alcançou grande sucesso de crítica, sendo finalista em 2013 no Prêmio Portugal Telecom. Não tem como falar dos novos talentos da poesia sem falar do Wattpad, afinal os novos grandes nomes podem nascer de lá. Um desses novos talentos é Luanna Mello, poetisa de vinte e dois anos do Tocantins terá seu primeiro livro de poesias publicado pela Editora Fragmentos, mas já participou de duas antologias; Mosaicos – Sonetos e Poesias pela editora Illuminare e Prêmio Poesia livre 2016 – Antologia poética pela editora Vivara Nacional. Outro nome que vem fazendo muito sucesso no Wattpad com suas poesias é Júnior Ferreira com mais de 322k de leituras em seu livro Olhei, virou poesia, numero #1 no Ranking. Com vinte e cinco anos, graduado em Sistemas de informação participou de três antologias; Café com Poesia, Sonhos – Lembranças e Desilusões e Antologia Cavaleiros da alma poética.

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Com escritores tão talentosos acredito que a nossa literatura, nossas poesias, estão em excelentes mãos. Sendo assim, chegamos ao final dessa jornada pela história da poesia. Espero ter ajudado a sanar qualquer dúvida sobre essa parte tão profunda da literatura que é a poesia, também espero ter inspirado vocês para se aventurarem nesse mundo de sonhos e sentimentos, vida e esperança. Nos vemos na próxima edição de Litere­se.

Raquel Rasinhas


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Contos,

N a s n a s

t r a v e s s a s m á s c a r a s

E m

t o d o s

o u

a p e n a s

l a s c a

d a

d a s d o s

e s s e s

onde

eu

e s t a n t e s ,

os

n a s

c o m e d i a n t e s

l u g a r e s

o b s e r v a r

s o c i e d a d e

e

a

e u

m a l a s

e

d o s

a t o r e s

p o d e r i a

m i n h a

v e r ,

e

encontro?

p r a t i c a n t e s .

a c h a r

c i d a d e ,

s e n t i r

v i a j a n t e s ,

t a i s

e s s a

a q u i l o

i m p a s s e s p e q u e n a

q u e

m e

f a z

r e f l e t i r .

– Lembra daquelas temporadas? De quando as nuvens não cabiam e se amontoavam no céu, tudo parecia tão grande e os dias eram tão esparsos que mal se contavam. Lembra que tudo parecia tão brilhante? Tínhamos pequenos sois iluminando cada canto da casa, possuíamos uma cascata em nosso banheiro que ligava e desligava, era só girar a maçaneta. – Lembra que você podia ficar invisível? Apenas usando um lençol – Lembra daqueles passeios, pelo parque? Que era tão imenso que parecia uma floresta – Lembra quando chegou o inverno? Quando você descobriu sua inferioridade no universo? – Lembra do primeiro dia de aula? Lembra que você não queria ir? – Lembra das escolhas que fez? Mesmo sem querer O céu parece tão imenso agora e as nuvens se dissipando em chuva, esta chorando? os dias se arrastam como uma cobra rastejando e provocando ansiedade. É tudo tão escuro com um tom de cinza. As luzes já não brilham, queimaram e acho que você não pagou a conta?

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– Lembra que ainda há tantas coisas a serem feitas? E você não sabe onde começa – Lembra de tantas promessas que deixou por ai? Apenas para ver alguém sorrir – Lembra que não sabe mais para onde ir? E por isso não quer mais sair da sua cama – Lembra quando tudo era novidade? Mas na realidade éramos nós os novatos – Lembra quando os sonhos eram reais? Quando vivíamos nossa infância

Pois é, são apenas lembranças, lembretes escritos por uma criança em uma folha branca com seus gizes de cera coloridos que com o tempo vão se desfazendo em pó.

Alberto Neto

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O

lado

T o d o

agridoce

d i a

é

d i a

d e

da

Poesia

P o e s i a

Como este mês a edição da revista aborda o tema: Poesia. Pensei em mostrar um dos lados da poesia escrito em poucas linhas. Para quem não conhece, são mini poemas ou micropoesias (poesia em poucos versos). A inspiração para escrever micropoesias veio do desafio de microcontos. Um concurso organizado pela coordenadora da editora Illuminare, Rosana Mierling no início do ano de 2016. Depois de ter participado do desafio, me veio a ideia de trabalhar em um novo projeto poético que foi lançado neste ano 2017. Meu livro está disponível na plataforma digital Wattpad, 365 dias de Micropoesias. O livro é dedicado a todos os leitores e amantes de poesias como eu. Esse ano, vamos ter poesia todo dia. É isso meus queridos, desejo para todos um ano regado palavras poéticas. Que voces tenham sabedoria e inspiração para transformar toda dor e energias em POESIA. Um grande abraço,

Luana Melo Poetisa

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Amanhã

Quer saber? Chega! Amanhã Vou secar as lágrimas, lavar o rosto Você não merece elas Vou rasgar as fotos, excluir seu número dos contatos Vou apagar os áudios Não te direi mais: “Bom dia, meu amor”, nem “Boa noite, dorme bem” Mas uma coisa eu te digo: você vai sentir saudade Mais cedo ou mais tarde, ela vai bater na sua porta Só que vai ser tarde, já terei ido embora Amanhã irei fazer caminhada, colocar a leitura em dia Escreverei meu Romance Talvez eu aprenda a tocar um instrumento, sei lá Sair com os amigos Ver o pôr-do-sol Deitar no meio do quintal à noite e contar as estrelas De um jeito ou de outro, vou te esquecer Sei que vou te esquecer E depois, não permitirei que mais ninguém se aproxime Mas, tudo isso vai ser só amanhã Porque hoje, ainda estou de luto Ainda quero olhar suas fotos e ouvir sua voz Quero ouvir as músicas que você gostava Quero chorar com a tristeza Beber com a saudade E depois dormir com as lembranças, Lisa Hallowey Abraçada ao travesseiro Me despedir de um amor Que eu sei que nunca vou ver mais.

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Naquela noite apaguei as luzes para fitar seu luminar A luz pintava de prata as águas do rio as folhas das árvores e o barco a navegar A lua majestosa põe os corações apaixonados a cantar O poeta fica a recitar O cantor faz a viola chorar E a morena a sonhar Esse brilho cor de prata desce pela cascata e espalha sua beleza pelo mar Oh lua bela, que encanta o coração daquela que vive a te olhar Oh lua com seu brilho generoso, vai dormir de novo nas águas do mar.

Lisi de Castro

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Quando conheci aquele moço Já andava lá pelas tantas da vida E caiu um cisco no meu olho Aquele moço sabe atrasar o fim de semana A noite mora em suas pálpebras Só chega quando ele vem seu olho é quase casa Sua boca é quase quarto Seus dedos são a inquietação do pré-poema Despe a alma como quem desnuda o corpo E depois vai embora rápido feito hora nova Leva o mês inteiro na bagagem A raiz de todos os males é amar quem mora longe!

Paula Tavares

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Entrevista

com

o

Poeta

Quando a escrita entrou em sua vida? Na adolescência, a necessidade de me expressar e a não adequação a alguns padrões sociais me fizeram usar a poesia pra libertar e entender meus sentimentos. Quanto de poesia há em Felipe Escobar? Na mesma medida da minha sensibilidade. Digo que os processos que passei na vida e a paixão pelo ser humano me fizeram muito sensível. Quanto mais eu me conecto com minha essência mais poesia existe, mais fluxo criativo vem.

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Felipe

Escobar

-

Poesfera

O que move suas poesias? Pertencimento. A consciência que todos no mundo somos um, não só como seres humanos, mas com o todo, natureza e culturas. Minha escrita se baseia muito em relações reais e verdadeiras. Todas são voltadas para o amor genuíno, aquele que é livre, libertador. Não utilizo da escrita para conectar as pessoas com suas dores, o que tem sido padrão nos escritores contemporâneos, principalmente no movimento poético da Internet. Minha poesia é movida pela paixão pelo ínfimo, pelo intimo. Pelo sorriso que se vê e pelo que não é visível.


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O que é a Poesfera? Poesfera é a junção das palavras Poesia e Esfera. Como disse anteriormente, a poesia para mim é uma ferramenta que uso como forma de pertencimento, se você navegar pelo Instagram vai ver estampados rostos bonitos de gente de classe média alta e pessoas em situação de rua. Crianças de comunidades que receberam oficina de poesias e professores bem sucedidos que receberam o mesmo conteúdo. Poesfera é isso uma esfera de pertencimento, de conexão de todos com o todo. Esse é o propósito do Poesfera. Expandir a consciência das pessoas para o pertencimento e empatia. De onde nasceu a ideia e vontade de fazer a oficina de poesia? O Instagram Poesfera ia fazer um ano de existência em abril de 2016. Amigos dono da empresa consciente Euzaria me presentearam com uma estampa comemorativa que levava um trocadilho que fiz com a frase “Vem comigo que no CARINHO eu te explico, normalmente as pessoas postam esta frase com a palavra CAMINHO.

Como a empresa é capitalista consciente, todos seus produtos tem uma contra partida social. A cada camisa vendida uma outra igual é doada por exemplo, mesmo material, mesmo carinho. No caso da camiseta que fizemos juntos, a contra partida social foi oficina de poesia para crianças carentes. Isso veio corroborar com o sentimento que eu já tinha de que: todo mundo pode escrever poesia”. A oficina foi um sucesso, crianças em situação de vulnerabilidade social escreveram lindas poesias. Foi ai que percebi ao conversar com profissionais da psicologia, espiritualidade e educadores o poder transformador que a oficina tem. Hoje além de fazer com que qualquer pessoa possa escrever poesias, a oficina tomou um rumo muito mais amplo, ela ajuda as pessoas a se conectarem com suas essências e a liberarem todo seu potencial criativo, pra qualquer área.

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Qual sua visão sobre a crescente disseminação de poetas e poesias pelas redes? Acho magnífico, na verdade não vejo muitos poetas de fato nas redes, o que é maravilhoso também, muitas pessoas tem seguido uma linha mais “frasista” o que acho legal também, pequenos textos de sete ou dez palavras que com sua objetividade alcançam muita gente. A poesia é carregada de subjetividade não pode ser lida como jornal. Isso explica porque poucas pessoas lêem poesia. Quando lemos uma poesia de forma corrente e direta como um jornal ou artigo científico, a poesia se fecha aos olhos do leitor, não a entendemos e deixa de fazer sentido. Espero que mais e mais pessoas se expressem, não existe forma certa ou errada, é importante que as pessoas se expressem. Admiro muito os poetas da poesia marginal, a poesia na Internet tem dado voz a gênios das periferias e guetos, nutro profunda admiração por essa galera. Mel Duarte, Cleyton Mendes, por exemplo, são geniais.

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O que te inspira? Qualquer coisa que me faça sentir. Uma vez no trabalho ao ver um cacto sob o sol já fiz verso. Há uns três anos conversando com uma amiga que sofria de insônia e estava sem energia elétrica me inspirei. A maior parte, porém são inspiradas em pessoas com quem me relaciono. Quais são suas influências literárias? Florbela Espanca, poetiza portuguesa, uma mulher empoderada, muito a frente do seu tempo. Leminski pela sua genialidade e transcrever o ínfimo de forma tão inteligente, seus trocadilhos e brincadeiras com as palavras são geniais. João Victor Fernandes, este publica suas poesias no Instagram @transtorno_poetico. Victor é um gênio contemporâneo, Victor mistura personagens do nosso folclore com navio negreiro, a Praça dos Três Poderes e a luta das mulheres pelos seus direitos num texto só. Gênio.


Como funciona seu processo criativo? Existem duas formas de escrita pra mim: a intelectual e as “prontas”. A primeira é quando sento e escrevo, sobre qualquer assunto ou situação, existe um trabalho de formar aquele texto, imprimir palavras e sentimentos coerentes com a mensagem. A segunda que chamo de poesias prontas são as que sinto que fui apenas uma ferramenta para o universo para transcrever algo que não tem esforço de construção da minha parte, simplesmente elas vem e eu transcrevo, estas são escritas em dois minutos, três, e são as que mais gosto.

O melhor sempre vem de dentro, não é clichê. A essência de todo ser humano é amor. Sim todos, até daquelas pessoas que menos achamos ser possível. Elas apenas se esqueceram do quão boas são. Amem a si mesmos, pratiquem seu amor próprio, o que obviamente não significa por sua melhor roupa e mostrar desinteresse por alguém. Somente dois inteiros podem ser felizes de fato juntos. Curta sua companhia, vá ao cinema sozinho. Se você mesmo não suporta ficar só, talvez você não seja uma boa companhia ainda. Mas pode ser. Com muito amor, Felipe Escobar

Deixe uma mensagem cheia de poesia para nossos leitores. Queridos leitores da Litere­se. Expressem­se. Lembrem­se que a intenção por traz da ação é o que vai reverberar. Não importa o que se fala, como se escreve, sua intenção por traz de qualquer coisa é que vai reverberar no universo e adentrar nos corações. Espero que olhem para dentro de vocês e encontrem tudo que há de melhor aí dentro.

Perla de Castro 54


Pano de fundo minha cor de fundo ĂŠ cinza, cinzas da alma, soltas ao vento, em busca de sol, sob chuvas, derrubo-me, misturo-me com a terra, ganho cor, nutro-me, torno-me vida outra vez, volto a ser alma, com cor de fundo cinza, tingidas em paletas coloridas!

Pedro Cotrim

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Negra glória Putrefação pairava onde havia vida Um telefonema parecia a única saída A chegada das sirenes alarmava a morte Arrombaram a porta e perceberam, com as lanternas acesas, que era mais uma falta de sorte. Cacos de vidro espalhados no local E um corpo ali estirado de mais uma vítima fatal. Observando de uma distância longínqua O feitor se deliciava com a investigação não rica Prazeroso com a sensação de morte Foi em busca de outro alguém que saciasse seu vício forte. Era conhecido como “Escuridão” Um famoso Serial Killer que agia ali pela região A cada dia uma morte De vários modos, para não se cansar de seu hábito e não sair dos holofotes. Doente e depressivo Usava tóxicos para manter-se ativo Até que um dia um vendedor o dedurou E a força tarefa, com todas as informações, o encontrou. Sem saída e descoberto em sua toca num penhasco Viu-se obrigado a dar adeus a toda essa vida que o mesmo chamava de “Fracasso” Interessado em fazer história Jogou-se do mais alto ponto com toda sua glória Conhecido por todos ele ficou E toda aquela escuridão que pairava na região O amanhecer do dia clareou.

Pietro de Castro

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Escuridão

Profunda

página

e

vazia

-

Uma

sombria

Estavam sentados em uma mesa da Sorveteria. Já se passaram cinco minutos desde que fizeram seus pedidos e não falavam nada um ao outro. O silêncio era quase absoluto entre eles. Os únicos sons eram os das pessoas que os cercavam. O som da vida moderna e urbana de cada dia. Então, Alessa, incomodada, não aguentou mais aquilo. — Você precisa sempre ter alguma coisa para falar! Dalton apenas levantou os olhos do seu celular para encarar ela apenas por uma fração de segundos e voltar sua atenção para o que estava fazendo naquele aparelho. O silêncio. Mais silêncio. Chegou o pedido. Silêncio. Alessa voltou a falar. — Eu tenho uma lista de assuntos, para nunca deixar a conversa parada! Dalton tinha deixado o celular sobre a mesa para tomar seu sorvete, então, voltou a pegar o aparelho e começou a digitar nele. Houve um som distinto que Alessa reconhecia. Era o seu celular tocando. Desbloqueou e abriu seu Whatsapp e leu o que Dalton estava falando; "Gosto de vir nesta sorveteria! A massa do sorvete deles é ótima! E você?"

O pai quis dar uma de Tarzan e acabou se enforcando na frente dos filhos.

Aline comeu doces e foi dormir sem escovar os dentes. Ao amanhecer, foi encontrada pela mãe, com a boca cheia de baratas.

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Pique esconde no ar. Carlinha conseguiu pegar quase todos os amiguinhos na brincadeira. O corpo de Lisa foi encontrado no dia seguinte, pendurado na forquilha de uma árvore.

Jhefferson Passos


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Resenha

-

Um

Sussurro

nas

Trevas

(H.

P.

Lovecraft)

DADOS DO LIVRO Título: “Um Sussurro nas Trevas” Título Original: “The Whisperer in Darkness” Autor: Howard Phillips Lovecraft (EUA) Ano de Publicação: 1930 Ano de Publicação no Brasil (esta edição): 2012 Editora: Hedra Arte da Capa: Tulio Caetano (“Viagem a Yuggoth”) Número de Páginas: 150

SOBRE O LIVRO Depois das enchentes de 1927 em Vermont, nos EUA, muitos habitantes da região relataram a presença de corpos de criaturas desconhecidas que apareciam boiando nas águas. O folclorista Wilmarth, que vivia em outro estado, tenta acalmar os ânimos, explicando que talvez, as pessoas estivessem vendo coisas demais ou fantasiando isso segundo o que eles sabiam das lendas da região. Mas, Wilmarth recebeu uma carta muito interessante vinda de Vermont. A carta foi escrita por outro cara, Arkeley, e o conteúdo da mesma era de cunho muito perturbador, falava a respeito da veracidade da existência dos tais seres estranhos.

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Mas, Wilmarth recebeu uma carta muito interessante vinda de Vermont. A carta foi escrita por outro cara, Arkeley, e o conteúdo da mesma era de cunho muito perturbador, falava a respeito da veracidade da existência dos tais seres estranhos. Então, Wilmarth e Akeley começam a trocar correspondências, e a medida que isso ia acontecendo, as coisas começam a ficar cada vez mais estranhas e sinistras para Akeley que vive em uma fazenda perto de um tenebroso bosque. Na investigação e na busca para descobrir sobre os acontecimentos estranhos, e sobre o que eram essas criaturas e o que estava causando esses acontecimentos sobrenaturais, mais eles se aproximavam num caminho sem volta em uma busca perigosa atrás de respostas que os levariam direto para o encontro de algo que jamais pensariam ser possível. SOBRE LOVECRAFT E SUA GENIALIDADE LoveCraft é considerado pelos críticos de todo o mundo o rei do “Horror Cósmico”, porque trata do terror com uma boa dose de perturbação psicológica. É uma perturbação que nos faz sentir pequenos e obtusos diante de um universo infinito que esconde segredos de mundos e galáxias que vão muito além de nossa tão pequena compreensão. Ele sempre relata em suas obras que, nesses universos paralelos, existem criaturas e segredos que vão além da nossa imaginação e compreensão humana. “Um Sussurro nas Trevas” é um livro relativamente curto com 102 páginas que de forma comprimida tem um grande início, um desenrolar brilhante e um bom desfecho com um grande final. Essa ficção científica mescla­se com o suspense e o horror e nos permite acompanhar a assustadora história de Wilmarth e Akeley. A cada descoberta, nós leitores podemos nos sentir mais próximos dos personagens e acompanhar essa delícia de aventura sinistra. Uma curiosidade que talvez vocês não saibam é que LoveCraft usa da descoberta que ocorreu no ano em que foi publicado o livro (1930) sobre o ex­Planeta plutão que foi encontrado, o que dá bastante sentido no desenvolvimento da trama.

Danie Ferreira

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Você

conhece

E s t o u

Haikai?

d e s e s p e r a d o

H a i k a i M a s

o

d o m i n a

v e n c e r e i .

Desde que o Japão voltou à

No Japão, se referem a algo que está

evidência no final do século passado

acontecendo no momento que são

passamos a ler mangás, assistir

escritas e muitas vezes usam a

animes, ouvir músicas, apreciar idols,

natureza como tema, mas também

trocamos anglicismos por niponismos

podem demonstrar o bom humor e a

e vimos a moda do Cosplay.

melancolia de seus “Haijin”, nome

Aprendemos a gostar de animações

dado aos escritores deste tipo de

arrastadas que nunca terminam, mas

poema.

será que isso é tudo que o Japão tem pra oferecer? Curiosamente, nunca

Dizem que foi criado pelos monges

lembramos do Haiku, ou Haikai.

Zen Budistas do século XVI, o que pode ser verdade, já que além de

Você conhece o Haikai?

lembrar a estrutura das parábolas

.O Haikai é um tipo de poesia curta.

usadas por eles para passar seus

Os poemas têm três linhas, contendo

ensinamentos, também tem alguns

na primeira e na última cinco

monges entre seus mais famosos

caracteres japoneses (totalizando

criadores. O formato tem suas raízes

sempre cinco sílabas), e sete

na renga, importante manifestação

caracteres na segunda linha (sete

literária da cultura japonesa que

sílabas), podendo ter variações nas

remonta ao século XIII.

diferentes línguas com versos mais curtos ou mais longos.

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Os versos eram escritos por vários

Na Semana de Arte Moderna de

autores, que respondiam a uma

1922 o Haicai voltou a ser discutido

forma de “desafio elegante” entre si

influenciou autores como Oswald de

ao escrever. Dentre os muitos que se

Andrade que o adotou em seu livro

destacou nesta arte, o principal Haijin

Pau Brasil (1925). Tivemos outros

(ou haicaísta) foi Matsuô Bashô

autores importantes, mas

(1644­1694), que se dedicou a fazer

curiosamente, o maior expoente vivo

do Haikai uma prática espiritual. Além

da arte é o cartunista Millôr

de ter feito milhares de seguidores,

Fernandes, que adotou o popularizou

Basho, pela sua própria vontade,

o estilo ao adotá­lo em sua coluna no

abriu mão de suas atividades

semanário O Cruzeiro.

remuneradas como crítico e instrutor

Não é curioso imaginar que os textos

para viver em recolhimento e pobreza

da primeira febre mundial japonesa

e exercer influência sobre o

eram curtos e sucintos? Quando

desenvolvimento posterior da arte do

lemos as páginas de nossos

Haikai, elevando­o a uma forma de

repetitivos e verborrágicos mangás

ver e de viver o mundo.

favoritos sequer imaginamos no

Graças a sua estrutura simples, que

quanto os a literatura popular

pode ser feita até por uma criança, os

nipônica mudou no último século. O

Haicais ganharam o mundo e

mesmo vale para a poesia, que

chegaram ao brasil em meados do

muitas vezes se esquece de seu

século XX. O primeiro “Haijin”

parente distante de falas contidas.

brasileiro foi Afrânio Peixoto (1875­ 1947), que em 1919 publicou o livro “Trovas Populares Brasileiras” e cria a forma que os haicais brasileiros passariam a ser criados (5­7­5).

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Exemplos de haikais brasileiros: Millôr Fernandes: Mario Quintana: Viva o Brasil

Silenciosamente

onde o ano inteiro

sem um cacarejo

é primeiro de abril

a Noite põe o ovo da lua…

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

O pato, menina,

O verso é um doido cantando

é um animal

sozinho,

com buzina

Seu assunto é o caminho. E nada

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

mais!

Eu sofro de mimfobia

O caminho que ele próprio inventa…

tenho medo de mim mesmo

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

mas me enfrento todo dia

Deus tirou o mundo do nada.

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

Não havia nada mesmo….. Nem Deus!

Afrânio Peixoto:

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­ Alice Rui:

Derrete­se o gelo. Porém se resfria a água:

Primavera

Ela fria, eu ardo…

até a cadeira

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

olha pra janela

Quando um galo canta

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

Os outros todos respondem:

Rede ao vento

Nenhum quer faltar.

se retorce de saudade sem você dentro

Alexandre D'Assumpção

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Contra

B o m ,

r u i m ,

p a r a

q u e m

crítica

m e s m o ?

Será que temos esse direito? Achar algo bom ou ruim, tudo bem, temos predileções e isso não pode nos ser tirado, mas daí, classificar o outro ou, a produção do outro como boa ou ruim, baseando­se nestas predileções, ao meu ver, torna­se algo um tanto prepotente. Fazer crítica, como ganha pão, não deve ser uma tarefa fácil. Eu não conseguiria. Corta coração, ter que, em uma seleção, dizer não para algum texto, agora, imagina escrever uma crítica sobre ele? Não sei se é por estar do outro lado e entender o que um texto pode representar para o autor, não sei se por pura incompetência e coração mole, mas eu não me atreveria escrever sobre uma obra, escrever os pontos negativos dela, quanto mais, classificá­la, principalmente, baseando­me no que gosto ou não de ler. Toda essa ladainha é por estar lendo críticas atrás de críticas, afirmando que estamos vivendo uma crise na poesia. Que não se produz mais poesia e, as que surgem, são “ruins”, não respeitam a lírica exigida, não têm a estrutura que merecem, as rimas são pobres, podres até, como já li por aí. Mas sério mesmo? Poesia tem que obedecer a regras?Foi justamente aprendendo poesia dessa forma que passei uns quinze anos afirmando que não sabia e não seria capaz de escrever versos e pior, achando poesia uma coisa muito chata. Sempre escrevi prosas, boas para uns, ruins para outros, mas, o mais importante, que me permitiam descarregar todo o peso de uma vida em formação.Mas sempre olhava a poesia como algo distante, algo inalcançável e culpo as minhas aulas de literatura por isso (eu as adorava, mas ensina­se poesia de uma forma muito errada, na minha modesta opinião).

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Até que um dia, uma alma iluminada mostrou­me que para se escrever poesia, bastava sentirmos e sermos. Sem regras, sem métricas, sem preocupações. Essa foi uma das revelações mais libertadoras da minha vida, passei a escrever versos atrás de versos, passei a ser feliz de verdade com a literatura, passei a aprender, a buscar mais conhecimento, descobri os encantos dos grandes, mas me encantei mesmo com os marginais, com os que estavam ali para mostrar que o divertido das regras (neste caso), era quebra­las. Isso se tornou poesia para mim, não as palavras no papel, mas o sentir pulsante que brotava daqui e, como um berro, me libertava. Isso se tornou poesia para mim, depois, entendi e costumo a diferenciar a poesia, essência, do poema, palavras escritas e entendi, de uma vez por todas que fazer poesia não é estar­se preso à regras de uma literatura que não quer renascer­se, mas sim, é sentir uma nova, pungente, na maioria das vezes, mas libertadora vontade de dizer e doar­se para quem lê e assim, os textos que saíam daqui como um berro, passariam a transformar quem os lessem, sem a mínima preocupação com as rimas, com as regras, pois isso aconteceria naturalmente, quando precisasse acontecer. É, para muitos críticos, que defendem essa ideia de crise na produção poética, meus versos são ridiculamente ruins e são a prova de que a poesia está em decadência. Para mim, estes versos são a minha salvação e, para quem os lê e são tocados, eles representam o brilho nos olhos, que percebem que estes momentos especiais nos permitem quebrar regras e sentir­ nos livres! E, se estiver tão errado assim, por favor, que me joguem os tomates!

Pedro Cotrim

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