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#PReJOGO
2. + esporte
+ esporte . 3
Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
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#PReJOGO
SEM MANUAL T
POR ESDRAS FELIPE PEREIRA
em horas que dá vontade de jogar tudo para o alto. Nossos projetos, ideais, sonhos. Quem disse que seria fácil? Em nenhum momento de nossas vidas teremos em mãos um manual de instruções de como seguir em frente sem lidar com as dificuldades. E elas são necessárias. É preciso estar calejado diante do mundo atroz, veloz e voraz que nos cerca. Mas e quando trabalhamos e os objetivos parecem estar um tanto distantes? Faz parte! Só que basta chegarem a nosso alcance, para sentirmos o quanto o esforço é recompensador. É assim que +ESPORTE chega às suas mãos, leitor, como recompensa pelo empenho de
4. + esporte
cada um dos envolvidos no processo de produção desta revista. Em um paralelo com a vida, também não há manual de instruções de como fazer revista, seja ela esportiva, como esta que você lê agora, ou de qualquer outro segmento. É claro que existem bons exemplos por aí e, para colocarmos em prática nosso projeto, não os deixamos de lado. A icônica Placar, com mais de 45 anos de fundação, é um deles, e foi uma ótima base para emplacarmos nosso veículo de comunicação, embora busquemos contemplar o esporte de maneira mais ampla. Não, isto não é uma crítica à publicação quase cinquentenária da Editora Abril – que tem o futebol como seu carro-chefe. Jamais
a faríamos, até porque o mundo da bola também não será deixado de lado por aqui. A amplitude, citada acima, neste caso, tem relação com o desejo de nossa equipe de trabalho: trazer o esporte como ferramenta de inclusão social, como fundamental em questões relacionadas à saúde, como um estilo de vida e, obviamente, como paixão nacional, independente da modalidade preferida de cada um. E como foi importante o entrosamento dos envolvidos em +ESPORTE. Sem a dedicação de todos, cada qual à sua maneira, nada disso se tornaria possível. Levando em conta a sintonia desta equipe, foi possível disponibilizar uma série de materiais dignos de sua leitura em nossa primeira edição. Nela, com uma reportagem especial, esmiuçamos o esporte paralímpico no Brasil, em um ano marcante nesse sentido, graças à Paralimpíada no Rio de Janeiro. Descobrimos que a mídia ainda deixa a desejar na cobertura de modalidades praticadas por deficientes e, por isso, dedicamos nossa principal atenção ao tema. Ficamos na torcida para que, ao fim da leitura, você possa ser +ESPORTE! ◘
#DAVEZ #LIFESTYLE 6. CROSSFIT
Treinamento para qualquer pessoa
10. SK8 4EVER
Preconceito com a modalidade resiste ao tempo
14. SE LIGA!
Pegue sua bike e faça sua trilha
#RESENHA
16. ENTREVISTA
34
Marinalva de Almeida: mãe, atleta, modelo e dorminhoca
#OLHONOLANCE
20. E.C. SÃO BENTO
De volta ao cenário nacional, time vive melhor momento de sua história
24. CRAQUES
Cinco jovens atletas de Sorocaba que se destacam no esporte
#PARATODOS
28. ESPORTE PARALÍMPICO Por menos discriminação e mais reconhecimento
38. BRAÇADAS DE VITÓRIA Conheça a história de vida da nadadora paralímpica Elisabeth Bertolini
40. SE LIGA!
Novidades no mundo paralímpico ajudam atletas a melhorar rendimento
#SAÚDE
46. CARDÁPIO
Saiba dicas do que comer antes e depois do treino
#PARATODOS
DONOS DA FORÇA Itu tem centro de treinamento de halterofilismo paralímpico
48. ALÉM DA ESTÉTICA
Prática regular de atividades físicas serve, também, para a mente
#FITNESS
52. DILEMA
42
Especialistas explicam se vale a pena alongar
54. NO CONFORTO DO LAR
Cinco exercícios para malhar em casa usando uma cadeira
56. INSPIRAÇÃO
Os exercícios populares no mundo fitness
57. ENSAIO FOTOGRÁFICO
Caminhada: primeiro passo para o ínicio da prática esportiva
#CHAVEDEOURO 62. EXPERIÊNCIA
A emoção de ser verde-amarelo
EXPEDIENTE REDAÇÃO Ana Carolina Chinelatto, Caio Vinicius Filoso Rossini, Carolina Lameira Moreira Pinto, Esdras Felipe Pereira de Campos, Jéssica Caroline do Nascimento FOTOGRAFIA Ana Carolina Chinelatto, Caio Vinicius Filoso Rossini, Carolina Lameira Moreira Pinto, Esdras Felipe Pereira de Campos, Jéssica Caroline do Nascimento EDIÇÃO DE IMAGEM Ana Carolina Chinelatto e Carolina Lameira Moreira Pinto
DIAGRAMAÇÃO Ana Carolina Chinelatto Carolina Lameira Moreira Pinto MÍDIAS SOCIAIS Esdras Felipe Pereira de Campos Jéssica Caroline do Nascimento VALOR: R$12,90 IMPRESSÃO Gráfica e Editora Paratodos (15) 32388-2000 - Av. Carlos Reinaldo Mendes, 1340 Sorocaba/SP TIRAGEM: 1 exemplar Universidade de Sorocaba Sorocaba - 2016
#SAÚDE
AMOR À BARRIGA Os benefícios da atividade física durante a gestação
E-MAIL: revista@maisesporte.com.br ANUNCIE: comercial@maisesporte.com.br +ESPORTE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do diploma de graduação em Comunicação Social - Jornalismo, da Universidade de Sorocaba. Orientação Prof. Me. Marcel Stefano Tavares Marques da Silva – MTB: 30.312-SP
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+ esporte . 5
Você também pode ler nossa revista on-line. Acesse www.issuu.com/revistamaisesporte
#lifestyle
UM DESAFIO DIÁRIO QUEM PENSA QUE CROSSFIT É SÓ PARA PESSOAS FORTES E COM UM BOM CONDICIONAMENTO FÍSICO ESTÁ MUITO ENGANADO. AS AULAS NÃO SE RESUMEM EM CARREGAR PESOS. O MÉTODO PODE SER ADEQUADO PARA QUALQUER PRATICANTE, SEMPRE RESPEITANDO AS LIMITAÇÕES E DIFICULDADES DE CADA UM POR JÉSSICA NASCIMENTO
6. + esporte
M
ais que um treinamento. O CrossFit é considerado um estilo de vida por seus adeptos, que se dizem motivados pela superação dos próprios limites. As aulas, adaptadas para as dificuldades de cada um, exigem muita força de vontade e determinação, como em qualquer outro esporte. Com a filosofia de que condicionamento físico é saúde, a modalidade ganha cada vez mais praticantes, que seguem à risca todos os princípios do treinamento em busca de mais qualidade de vida.
Todas as noites após o trabalho, o designer gráfico Guilherme Ribeiro Nascimento, de 25 anos, marca presença no box de CrossFit, onde pesos, barras, argolas, cordas, caixotes e muito suor tomam conta do treino. Há quatro meses frequentando as aulas, ele diz que sua evolução é surpreendente. Hoje, faz muitos movimentos que jamais imaginou realizar e até participou de um campeonato da modalidade. Cansado das aulas monótonas de musculação, Nascimento se identificou com o CrossFit pelo treinamento ser dinâmico e diferente todos os dias, com cargas, movimentos e técnicas espe-
Fotos: Jéssica Nascimento
de CrossFit em Sorocaba. Segundo ele, as aulas contam com aquecimento e treino do dia, os chamados Wods, que são diferentes, de acordo com o nível de condicionamento físico de cada um. “Eu acompanho sedentários, idosos, crianças e até gestantes. As aulas são totalmente adaptáveis”, frisa. O CrossFit é um programa de treinamento de força e condicionamento físico global que nasce de movimentos funcionais, feitos em alta intensidade e constantemente variados. De acordo com o head coach, a modalidade busca exercitar 10 capacidades físicas do ser humano: força, resistência muscular, resistência cardiorrespiratória, flexibilidade, potência, velocidade, equilíbrio, coordenação, precisão e agilidade. “A modalidade traz muitos benefícios à saúde. Acabou se popularizando pelos resultados serem mais rápidos”, acredita.
“MINHA VIDA SE TRANSFORMOU DEPOIS DO CROSSFIT. ESTOU MUITO MAIS DETERMINADO E DISPOSTO NO DIA A DIA”, AFIRMA
GUILHERME NASCIMENTO
cíficas. Além disso, ele garante que a modalidade contribui com o rendimento dele no Motocross, outro esporte que pratica. Com dieta saudável e suplementação, conta que a prática trouxe vários benefícios, tanto físicos quanto psicológicos. Hiperativo, passou a descarregar energias e estresse nas aulas. “Minha vida se transformou depois que comecei os treinos. Estou muito mais deter-
minado e disposto no dia a dia”, revela. PARA TODOS Diferente do que muitos pensam, o CrossFit pode ser realizado por qualquer pessoa, independente de idade, sexo ou nível de condicionamento físico, já que o método explora os movimentos naturais do corpo. É o que diz o head coach Neto Quartucci, proprietário de um box
ANIMAÇÃO DE VOLTA Um remédio natural. Assim a analista financeira Delis Bueno, de 23 anos, define o CrossFit. O treinamento a ajudou a superar um momento de tristeza que viveu há um ano. “Eu era muito sedentária, não tinha ânimo para fazer nada. Minha vida se resumia em assistir televisão. O CrossFit me ergueu”, lembra. Agora, a realidade é outra. Ela perdeu cinco quilos e está mais disposta. Aliando a atividade com alimenta-
DEPOIS QUE COMEÇOU A TREINAR, DELIS SE SENTIU DISPOSTA PARA PARTICIPAR, INCLUSIVE, DE CORRIDAS DE RUA
O CROSSFIT NÃO TE DEIXA ESTAGNADA. VOCÊ QUER SEMPRE MAIS. ELE DESAFIA SEUS LIMITES. DESAFIA VOCÊ MESMA. É PRECISO SE DEDICAR SEMPRE DELIS BUENO
+ esporte . 7
#lifestyle
Foto: Chores Rodrigues
UMA FONTE DE RENDA A paixão da atriz Naty Graciano, de 28 anos, pelo CrossFit, se transformou em um negócio lucrativo, quando ela e dois amigos abriram um box em Sorocaba, há dois anos. “O CrossFit me fez bem
Foto: Jéssica Nascimento
ção saudável, percebeu melhoras na circulação, fadiga, resistência, dores no corpo, além do relacionamento com as pessoas. Depois que começou a praticar a modalidade, a jovem decidiu participar também de corridas de rua. Ao todo, foram sete, todas respeitando seu tempo e limite. Delis termina as aulas pingando suor, mas com um sorriso no rosto por ter vencido mais um dia. Há um ano praticando a atividade, ela se sente mais bonita e forte, pois percebe que é capaz de fazer mais do que imagina. “O CrossFit não te deixa estagnada. Você quer sempre mais. Ele desafia seus limites. Desafia você mesma. É preciso se dedicar sempre”, frisa.
fisicamente e mentalmente. Mudou meu corpo e saúde pra melhor. Hoje é a minha fonte de renda”, ressalta. Ela NATY
TRANSFORMOU A PAIXÃO PELO CROSSFIT EM UMA FONTE DE RENDA
DELIS SUPEROU conheceu a modaliUM MOMENTO dade pela televisão. DE TRISTEZA E Depois de saber que VOLTOU A SORRIR COM O CROSSFIT a atividade era capaz de ajudar no emagrecimento, não pensou duas vezes e logo começou a praticar. O gosto dela pela modalidade se consolidou ainda mais este ano, quando recebeu o título de embaixadora do CrossFit no Brasil, pela marca de tênis que patrocina o esporte pelo mundo. Naty foi para Boston testar os equipamentos da marca para a modalidade. “Foi muito legal ser a primeira brasileira a testar o melhor tênis para CrossFit”, conta. Embora pratique o esporte há mais de dois anos e seja fascinada por ele, a atriz reconhece que algumas pessoas ainda tem uma visão equivocada sobre a modalidade. “Alguns dizem que o CrossFit é só para viciados. Isso é um engano. É para todos, basta ter vontade de praticar”, argumenta. ◘
CURIOSIDADE: O CrossFit é baseado em três esportes: atletismo, ginástica olímpica e levantamento de peso. A modalidade foi criada pelo californiano Greg Classman, em 1995.
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+ esporte . 9
Foto: Ana Carolina Chinelatto
#lifestyle
E
ra madrugada. Uma escola pública do bairro George Oeterer, em Iperó, foi invadida e teve grande parte dos alimentos, até então estocados na cozinha, furtada. De manhã, não havia provas concretas do que ocorrera. Pelo simples fato de carregarem um skate debaixo do braço, os primeiros a ficarem sob o fogo cruzado das acusações faziam parte de um grupo de
skatistas que costumava praticar suas manobras no entorno da unidade de ensino. Um deles era Alan Cristiano Gallavotte Xavier, 15 anos, que teve de dar explicações à direção. Esse é apenas mais um dos episódios que confirma a existência do preconceito à modalidade e a seus praticantes em pleno 2016. Direta ou indiretamente, a imagem do skatista ainda é ligada por alguns à marginalidade, drogas e vanda-
ALÉM DAS BARREIRAS DO ESPORTE, PRATICANTES DO SKATE, INCLUSO COMO MODALIDADE OLÍMPICA PARA TÓQUIO 2020, PRECISAM ENCARAR DISCRIMINAÇÃO DA SOCIEDADE
ENFRENTANDO
PRECONCE POR ESDRAS FELIPE PEREIRA
10. + esporte
lismo, acredita Gallavotte. “Mas não me importo. Na minha vida, o skate é uma forma de paz”, diz o garoto, que arriscou suas primeiras remadas aos 11 anos. Quanto ao furto da escola, o jovem afirma que ele e seus amigos conseguiram provar que nada tinham a ver com a situação. “Mas não deveríamos ter passado por essa desconfiança”, lamenta. Em 2015, conforme pesquisa
do Instituto DataFolha, 11% dos domicílios brasileiros tinha ao menos um morador que praticava ou andava de skate a partir dos 12 anos de idade. O estudo indicava, ainda, que a maior quantidade de adeptos à modalidade estava nas regiões metropolitanas do Sudeste. Tendo em vista a infinidade de praticantes, tanto a desconfiança como o preconceito depositados sobre Gallavotte e seus amigos não são exclusividade deles.
NA MINHA VIDA, O SKATE É UMA FORMA DE PAZ ALAN CRISTIANO GALLAVOTTE XAVIER, SKATISTA AMADOR, 15 ANOS
ITOS
Inegavelmente, o começo da discriminação à prática tem certa relação com o período histórico vivido pelo Brasil quando de seu surgimento, nos anos 60, época em que o “comando” do País ficou a cargo dos militares, que chegavam a recolher à força os skates das ruas. No livro A Cidade e a Tribo Skatista: juventude, cotidiano e práticas corporais na história cultural, o autor Leonardo Brandão também cita a ligação do skate ao movimento punk, conhecido por contestar valores tradicionais da sociedade, como sendo determinante para o avanço do preconceito. Lembra que, entre os anos 60 e 80, a juventude era tratada como a “escória da sociedade” e, muitas vezes, associada ao uso de drogas. “A prática do skate também foi atingida por esse imaginário, uma vez que oportunizava aos skatistas vivenciar sensações de liberdade, não condizentes com a repressão da época: a adrenalina e
o perigo, por exemplo, não faziam parte do cotidiano daquela sociedade que lhes era imposta”, contextualiza Brandão. No artigo Das ruas para os Jogos Olímpicos? Dinâmicas em torno da prática do skate, Maurício Bacic Olic acrescenta que a “apropriação” do espaço urbano por parte dos skatistas resulta no preconceito. “Afinal, a performance dos skatistas acaba desgastando e destruindo os equipamentos urbanos devido ao atrito provocado pelas manobras, além de sua presença, muitas vezes, afugentar os frequentadores habituais do espaço”, aponta. SUSTENTAR O SKATE OU SER SUSTENTADO POR ELE? Boné para trás, bermuda larga, extravagantes meias vermelhas, tênis, trucks, shape e rodinhas em boas condições de uso. O funcionário de uma empresa de e-commerce Fábio de Almeida Silva, 31, nem sempre pôde andar assim, com itens de qualidade. Morador de Itapevi, vez ou outra ele vem a Sorocaba, na casa da irmã, e aproveita a pista do Parque das Águas, no Jardim Abaeté. Silva contou à + ESPORTE que, desde os 15 anos, decidiu começar a trabalhar justamente para “sustentar” sua vida de skatista amador. Não escapou, no entanto, do preconceito exposto até por seus próprios pais. “Continuei a andar meio forçado, pois eles sempre diziam que skate era só para drogado e insistiam que eu iria me perder”, lembra. Que seu hobbie é tratado com olhares preconceituosos, ele não tem dúvidas. Esse tipo de situação, porém, também é enfrentada por quem “vive” do skate. “Já sofri bastante (preconceito). As pessoas falam: ‘em plena tarde você vai andar de skate? Não veem que é meu trabalho”, declara o skatista profissional André Ribeiro, 38, no curta-metragem Um Documentário sobre o Preconceito ao Skate em São Paulo, produzido pela ZeroDoze Skate, em 2013. SENSO COMUM Para a mestre em Comunicação e Cultura e pesquisadora de cultura urbana, Thífani Postali, o preconceito que cerca os skatistas e a modalidade, tem relação com o domínio de um discurso de senso comum. “Principalmente a grande mídia retrata alguns grupos sociais de forma bem estereotipada. A gente não tem grandes produções
+ esporte . 11
#lifestyle
SKATISTA AMADOR,
FÁBIO SILVA,
31, PRECISOU TRABALHAR PARA “SUSTENTAR” A MODALIDADE
sobre o skate, por exemplo, como cultura mesmo”, explica. A pesquisadora acredita que um dos principais motivos a contribuir com os pré-julgamentos é a generalização. “Se uma pessoa já vem com uma imagem que o skatista fuma maconha, tem tatuagem, é marginal e fica na rua, é difícil descontruir esse discurso sem a ajuda de produções midiáticas que vão mostrar outros ideais”, argumenta. “Falta um pouco mais de alteridade”, completa. MODALIDADE OLÍMPICA Dias antes do início dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, o Comitê Olímpico Internacional (COI) fez um anúncio que pode ajudar no combate ao preconceito enfrentado pelo skatistas. A partir de 2020, em Tóquio, a modalidade passa a integrar a Olimpíada. Na opinião da pesquisadora, a inclusão causará um impacto na visão das pessoas acerca do esporte. “Você ter a mídia e um comitê tratando o skate como esporte olímpico, deve mudar o olhar das pessoas. Ele (skate) sai só da rua, da praça, dos cantos... Deixa de ser exótico, diferente”, pontua.
12. + esporte
CONTINUEI A ANDAR MEIO FORÇADO, POIS ELES SEMPRE DIZIAM QUE SKATE ERA SÓ PARA DROGADO E INSISTIAM QUE EU IRIA ME PERDER FÁBIO SILVA,
SKATISTA AMADOR, 31, LEMBRA SOBRE A VISÃO QUE OS PAIS TINHAM DA MODALIDADE
Thífani pensa que o skate pode seguir caminho semelhante ao do futebol feminino, que embora seja pouco incentivado no País, recebeu apoio considerável durante a Olimpíada no Rio. “O skate na Olimpíada é muito positivo. E provavelmente a publicidade vai trabalhar mais com esse tipo de comunicação. A gente teve o exemplo do futebol feminino. Pode ser que essa força se perca, mas, sem dúvida, mexeu com a população, e diminuiu bem o preconceito”, analisa. SKATE JÁ FOI PROIBIDO NO PAÍS Uma situação ocorrida há 28 anos, em 1988, ainda é vista como uma espécie de “símbolo da criminalização” do skate no Brasil. À época, o então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, proibiu que se andasse sob quatro rodinhas no Parque do Ibirapuera. A proibição motivou inúmeras manifestações de repúdio por parte dos praticantes da modalidade, o que fez com que o chefe do Executivo paulista ampliasse o veto a todos os espaços públicos da cidade. Os skatistas, então, passaram a vestir camisas com frases como “skate não é crime”, “skate, direito do cidadão,
Fotos: Caio Rossini
Estudo do DataFolha, de 2015, indicava que a maior quantidade de adeptos do skate estava nas regiões metropolitanas do Sudeste
dever do Estado”, a fim de conseguir reconhecimento à prática. Em 1989, após a posse de Luiza Erun-
dina como prefeita, o veto à modalidade nas ruas de São Paulo foi revogado. Dos anos 90 em diante, o skate passou a ter mais visibilidade e, por consequência, mais pistas foram construídas no Brasil. Na capital paulista, especificamente, mais de 60 na gestão de Marta Suplicy. “De marginalizado nos anos 80, o skate passa então a ter uma ‘função social’: se transforma em um instrumento de inclusão social e de combate a violência e a criminalidade nas periferias. Não é à toa que grande parte das
pistas construídas pelo poder público está nestes territórios”, escreve Maurício Bacic Olic em seu artigo. Atualmente, a modalidade é regulamentada pela Confederação Brasileira de Skate (CBSk), fundada em 1999, em Curitiba. A CBSk tem por objetivo desenvolver, divulgar, difundir, fomentar a prática e organizar o esporte, além de representá-lo no Brasil perante os poderes públicos e a sociedade organizada (empresas, ONGs, fundações, associações e federações). ◘
Por andar de skate,
Alan Gallavotte, 15,
teve de dar explicações à direção da escola sobre furto de alimentos na cozinha da unidade
+ esporte . 13
#seliga!
NÍVEIS DE DIFICULDADE saiba qual trilha é mais adequada para você!
TRILHAS
N1: percurso sem obstáculos ou subidas, não exige muita resistência corporal. Indicado para iniciantes. N2: percursos de até 35km com descidas íngremes, cascalhos, pedras e buracos no chão. Exige um pouco mais de resistência do ciclista; indicado para quem pedala com frequência.
POR CAROLINA MOREIRA
A
Mapas: Universidade de São Paulo - PROCAM
Área de Proteção Ambiental Itupararanga (APA) envolve oito cidades, como Votorantim, São Roque e Alumínio, por exemplo. Além da represa, biodiversidade, paisagens dignas de contemplação e conservação ambiental, a área tem várias trilhas que podem ser feitas de bike. Se você curte ecoturismo aliado a atividade física e esporte, se liga nessas dicas que a + ESPORTE separou:
N3: percursos com mais de 35km. Pode apresentar longas subidas, descidas radicais e áreas mais complexas para pedalar com terreno erosivo, com pedras, cascalhos e raízes. Exige bom condicionamento físico e resistência. Indicado para ciclistas habilidosos e experientes.
■ VOLTA IBIÚNA, SÃO ROQUE E MAIRINQUE
■ ROTA SEBANDILHA EM MAIRINQUE
Com 43km de distância, essa trilha é para quem gosta de pedalar em asfalto. Sem muita subida ou descida íngreme, o percurso é indicado para ciclistas iniciantes, com classificação N1. Vale ressaltar que exige um treino antes, já que o espaço a se percorrer é maior. O ciclista também poderá contemplar partes da Mata Atlântica e áreas rurais.
Indicado para quem gosta de paisagens montanhosas e surpresas no meio do caminho, como trilhos de trem ou uma prainha, esse percurso tem 30km de extensão. Classificado em N2, o caminho apresenta algumas dificuldades e serra sem acostamento, onde o ciclista deve ter atenção redobrada. Já o terreno é misto, de terra e asfalto em alguns pontos.
■ VOLTA OLÍMPICA
14. + esporte
O nome do trajeto já deixa claro que é para ciclistas preparados e experientes. Muito utilizado para treinos, com distância de 50km e classificação N3, o percurso em chão de terra apresenta subidas longas e íngremes. O ciclista poderá ver áreas urbanas em Votorantim e rurais em Piedade, além de plantações e Mata Atlântica. Recomendamos levar um lanche e muita água.
ATENÇÃO CICLISTA! A APA Itupararanga solicita que esses equipamentos de proteção sejam utilizados: capacete, luvas, joelheiras e cotoveleiras; Verifique se os freios da sua bike estão em perfeito funcionamento; Cuidado com o tráfego na direção oposta.
FB.COM/REVISTAMAISESPORTE
Foto: Canva Design
@REVISTAMAISESPORTE
+ esporte . 15
#RESENHA
MUITO ALÉM
DO ESPORTE OITAVO LUGAR NOS JOGOS PARALÍMPICOS DO RIO, MARINALVA DE ALMEIDA, DA VELA ADAPTADA, FALA SOBRE SEU COTIDIANO, SONHOS, MEDO E FUTURO COMO ATLETA, APÓS ANÚNCIO DE QUE A MODALIDADE NÃO ESTARÁ EM TÓQUIO 2020
A
entrevista será por telefone devido à correria sem fim daquela que estará do outro lado da linha. Nem por isso, a entrevistada esconde sua vaidade. No horário marcado, ela envia uma mensagem: “Espera cinco minutos, estou terminando de passar batom”. Essa é Marinalva de Almeida, 39 anos, que competiu na vela adaptada nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, neste ano. Mari, como gosta de ser chamada, participou da classe Skud18, ao lado do companheiro na modalidade Bruno Landgraf. Ela tem a função de proeira e, entre outras obrigações, dá direção às velas, assim como faz os ajustes necessários. Ao fim da competição, terminaram em oitavo lugar - melhor colocação do País se comparada às outras classes (Sonar e 2.4 mR).
16. + esporte
Foto: Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB
POR ESDRAS FELIPE PEREIRA
+ ESPORTE – Qual é sua avaliação sobre a participação (junto do companheiro de vela adaptada Bruno Landgraf) na Paralimpíada do Rio de Janeiro? Foi um oitavo lugar com gostinho de vitória por ter sido a melhor colocação do país na modalidade? Marinalva de Almeida – Eu queria
sétimo lugar. Mas a gente cresceu muito. Em Londres eu não participei, era uma outra proeira. Olhando o crescimento de lá para cá, essa colocação tem gosto de medalha de prata (risos).
Foto: arquivo pessoal
Aos 15 anos, a atleta sofreu um acidente de moto em sua cidade natal, Santa Isabel do Ivaí (PR), e foi necessário amputar a perna esquerda. Não nega que foi um baque. Após se conformar, decidiu tirar o ocorrido como lição: passou a agradecer muito mais por tudo que possui e não o contrário. Hoje, Mari é mãe de três filhos: Bento, 8 anos, Pedro, 15, e Robert, 20. Antes de morar em São Paulo e, depois, Rio de Janeiro, para se dedicar intensamente aos treinos de sua modalidade, a atleta residiu em Itu, Salto e Sorocaba – onde ficou até 2013 -, nesta ordem. À + ESPORTE, entre outros assuntos, ela revela aspectos de seu cotidiano, sonhos, medo e também fala de seu futuro esportivo, após o anúncio de que a vela adaptada não será incluída nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2020. Confira abaixo a íntegra da entrevista:
MARINALVA E SEUS FILHOS (À ESQ.) PEDRO E (À DIR.) BENTO
atletas mais novos. A competitividade é muito acirrada. Eu quero migrar para algo que eu tenha futuro. Você deve continuar no Rio de Janeiro? Eu devo continuar até o fim do
ano, porque o meu filho Pedro tem uma apresentação de dança no Teatro Municipal, em dezembro. Aí em janeiro vou começar a pensar melhor para onde ir, dependendo do esporte que escolher para praticar. Eu ainda quero trazer uma medalha para o Brasil.
Se por um lado a colocação e participação foram gratificantes, por outro vocês receberam uma notícia triste (de que a vela adaptada não estará nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2020)...* Exatamente. Mas eu quero par-
ticipar dos Jogos de Tóquio. Eu vou ter que migrar para outro esporte. Provavelmente a vela deve voltar em 2024, está todo mundo fazendo um movimento para que isso aconteça. Se isso acontecer, quem sabe eu volto a competir pela vela. Ou então se me der bem em outro esporte, permaneço. Já estou vendo a paracanoagem, pois já tive uma rápida experiência no caiaque. Tenho um certo conhecimento... E o salto em distância (classe F43), modalidade que você é recordista brasileira? Eu estou com 39 anos. A
idade não importa para você conseguir participar ou não. Mas pensando no lado físico eu acho muito difícil, por causa dos
O que o esporte significa na sua vida?
O esporte abriu um leque de possibilidades. Me deu força física, e também mentalmente e psicologicamente eu me tornei uma pessoa mais forte. O esporte pra mim é qualidade de vida em todos os sentidos. Você acredita que ainda existe muita discriminação com atletas paralímpicos no Brasil e, sobretudo, com os deficientes em geral? Até existe sim,
mas nem se compara há 20 anos. E também as próprias pessoas com deficiência estão buscando seu espaço e estão provando ser capazes. A partir do momento que o deficiente se respeita, o respeito do outro acontece naturalmente. Só dessa maneira o preconceito e a discriminação vão ficando para trás. Quem é a Mari nas horas vagas? O que você gosta de fazer? Eu gosto de
A PARTIR DO MOMENTO QUE O DEFICIENTE SE RESPEITA, O RESPEITO DO OUTRO ACONTECE NATURALMENTE
dormir (risos). A vida já é bem corrida, fora o esporte. No meu tempo livre, preciso repor as energias, pois muitas vezes eu extrapolo e não durmo direito o tempo necessário. Então, quando eu tenho tempo, eu descanso, assisto bastante televisão, adoro filmes. Sou bem caseira. Você falou de filmes... Tem algum filme, livro e música preferidos? Filme
tem O Aluno, um senhor de 70 anos que nunca estudou e vai para escola, mas enfrenta muitos empecilhos. Fala sobre superação. Música eu sou muito eclética, mas gosto bastante daquela da Sia, Unstoppable. E também adoro música brasileira, MPB, as mais antigas. Livro tem
+ esporte . 17
#RESENHA Foto: Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB
MARINALVA DE ALMEIDA E BRUNO LANDGRAF COMPETIRAM NA CLASSE SKUD-18 NOS JOGOS PARALÍMPICOS
sair com meus amigos, então quando saio quero saber tudo que está acontecendo. E eu gosto muito de estar perto de pessoas que têm projetos, que estão preocupadas em ajudar a comunidade... São coisas que me atraem muito. Você também já foi modelo. Continua sendo? Quando se iniciou essa fase? Mais ou menos (risos). Comecei
em 2012, com a Dariene Rodrigues, que tem um site de moda inclusiva e projeta roupas para pessoas que têm alguma deficiência. E, depois disso, abriram outras oportunidades, para campanhas de moda convencional. E já participei de desfiles em passarela mesmo. Foi uma quebra de paradigmas. aquele Sete Hábitos das Pessoas Mais Eficazes, que é muito bom. E sua família, o que representa para você? Vida. Porque eu tive tanto apoio
da família, dos meus filhos. Tudo que ia fazer, apresentava para eles e eles me apoiavam, de todas as maneiras. Sabendo que eu estou longe, buscando um futuro melhor para mim e, principalmente, para eles. São minha maior motivação.
Você tem muitos medos? Eu nem gos-
to de falar sobre isso... Mas é o de perder algum dos meus filhos, ou para violência, para as drogas, seja para o que for... Acho que é o medo de toda mãe, todo pai. A pessoa que tem filhos vive uma vida completamente diferente daquela que não tem. Mas procuro não ficar pensando nisso. Eu tive amigas que perderam filhos e imagino como deve ser muito triste. É meu único medo maior.
Quando você se mudou para o Rio de Janeiro para treinar, seus filhos também foram? No primeiro e segundo
mês, eu fiquei sem ninguém. Isso nunca tinha acontecido. Mas cheguei a um acordo com o meu ex-marido: o Bento, mais novo, ficou com ele. Embora tenha ficado com muita saudade, foi a coisa mais certa, porque ele ficou bem assistido. Aí o do meio, Pedro, também foi para casa do meu ex-marido, mas depois de dois meses veio morar comigo. E o Robert,
18. + esporte
mais velho, ficou em São Paulo, porque já estava fazendo faculdade, trabalhando e treinando... Ele é campeão sul-americano de canoa havaiana. E você como mãe, é ciumenta? Não
sou. Eu tenho preocupações, o que acho que toda mãe tem: se está em segurança, com quem está, essas coisas... Tanto que se fosse ciumenta não teria deixado o mais novo morar com o pai (risos). Eu sou muito coerente nesse sentido. Toda pessoa que tiver perto dos meus filhos e estiver ajudando, agregando valores, eu não vou sentir ciúmes, vou sentir prazer e satisfação em tê-los por perto.
E na escola, a Mari era uma boa aluna? Tinha alguma matéria preferida e alguma que não gostava? Eu era nota
8 (risos). Português eu gostava; matemática eu odiava. Tive uma professora de matemática que chegamos a fazer um abaixo-assinado para ela sair da escola, mas não era só eu que não gostava dela (risos). E tive uma de português que a gente adorava. Ela pedia para nós contarmos histórias dos livros que líamos. Estou falando isso e lembrando da expressão que ela fazia enquanto contávamos... Era muito legal. E quando você está com os amigos, sobre o que gosta de falar? Sobre qual-
quer coisa que interesse para eles. Não tem um assunto específico. É difícil eu
Antes de se tornar atleta, você exercia qual profissão? O meu último trabalho
foi como assistente administrativa (numa empresa multinacional de Sorocaba). Fazia um trabalho no ambulatório, com organização de arquivos, prontuários, atendimento ao público, agendas, então era bem diversificado. Você ainda tem muitos sonhos na sua vida? Poderia falar alguns? Não é bem
um sonho, é uma necessidade: preciso entrar para a faculdade. Para 2017, dentro das coisas que eu quero fazer, já entra nesse plano começar. Esse crescimento fora do esporte é preciso. Conhecimento sempre é importante. Também quero aprender outras línguas e aprender a tocar piano ou violão, ou os dois (risos). E tenho um sonho a longo prazo: tenho a intenção de, futuramente, desenvolver uma dança com algum dos meus filhos. Acredito que vai ser com o Pedro, que já tem mais conhecimento. E quero me apresentar, senão não tem sentido (risos). *A retirada da vela adaptada da Paralimpíada 2020, em Tóquio, teve como base o regulamento do Comitê Paralímpico Internacional, que exige que, para estar no evento, o esporte precisa ser “regularmente e amplamente” praticado em 24 países, no caso dos esportes em equipes. Além da vela, o futebol de sete também ficará de fora. Em seus lugares, vão entrar o taekwondo e o badminton. ◘
+ esporte . 19
#olhonolance
O RETORNO
DO AZULÃO
EM CERCA DE CINCO ANOS, SÃO BENTO SAI DE QUASE FALÊNCIA PARA SER UM DOS 60 MAIORES CLUBES DO PAÍS, COMEMORANDO VITÓRIAS E MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR
A
POR CAIO ROSSINI
s lâmpadas incandescentes iluminavam uma pequena sala do Sorocaba Clube quase com a mesma intensidade de força do time que, um dia, havia disputado os maiores campeonatos do país. O ano era 2011. Aliás, um ano para se esquecer. Rebaixamento, greve, salários atrasados e, em campo, um quase saco de pancadas que parecia dar seus últimos suspiros. O São Bento corria risco de acabar. “Era a ideia da chapa concorrente”, relembra o atual presidente do clube, Fernando Martins da Costa Neto.
Fundado em 1913, o Esporte Clube São Bento passava por uma das suas maiores crises da história. A equipe, que já revelou atletas para a seleção brasileira – caso, por exemplo, de Paraná e Marinho Perez –, e que disputou a elite do campeonato estadual por 29 anos consecutivos, estava sumindo. Nos bastidores, havia dificuldade em formar uma diretoria que atendesse ao novo estatuto do clube, com mais autonomia ao sócio-torcedor e que tentava evitar “aventureiros” assumindo o clube. Márcio Rogério Dias, na época, era cotado para ser o presidente, mas teve
da lama ao sucesso: SEM PRESIDENTE: Luís Augusto Manenti renuncia ao cargo faltando um mês para as eleições do clube. O vice-presidente, Eduardo Elia Junior, assume o cargo, mas também pede renúncia oito dias depois. O São Bento ficava sem presidente;
13/10/2011
20. + esporte
11/11/2011
ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE: Das duas chapas candidatas, uma desiste e os 11 membros do conselho deliberativo elegem Fernando Martins da Costa Neto como novo presidente.
que assumir o departamento jurídico do clube. “O conselho deliberativo do clube consultou o estatuto do clube e, para ser diretor jurídico, precisava ter inscrição no quadro da OAB. E o único que possuía a carteirinha era eu”, conta. Além dele, a diretoria eleita foi formada pelo presidente Fernando Martins da Costa Neto, o vice-presidente Agacyr Maister (Xixo) e os diretores Almir Laurindo, Marcelo Anderson Coelho, Carlos Athiê e Sérgio Garcia. A situação complicada em campo refletia anos de descaso. As pendências judiciais do clube ultrapassavam o
QUASE CLASSIFICAÇÃO: Em campo, o primeiro time montado pela gestão Costa Neto bate na trave. Oito times se classificavam para a segunda fase da Série A3, mas o São Bento terminou em 9º por ter menor saldo de gols (3 contra 7 do Batatais). “Faltou um pouco de ousadia da diretoria para trazer reforços na hora certa”, relembra Márcio Rogério Dias.
08/04/2012
Foto: arquivo pessoal / Jesus Vicente
valor bruto de R$ 6 milhões. Eram 432 processos correndo na Justiça Federal, 38 na esfera civil e 386 na trabalhista. O presidente lembra que, em todo jogo, apareciam de três a cinco oficiais de justiça para pegar a renda da partida. “Aquilo nos abalava totalmente. Era um momento difícil. Chegamos a nos esconder de oficiais de justiça”, recorda. Márcio Rogério Dias lembra, ainda, que “toda hora tinha notificação de novos processos e audiências”. Além dos problemas com a justiça, o time sofria com problemas estruturais. “Quando assumimos, das nove lâmpadas na secretaria do clube, apenas uma acendia”, diz Costa Neto. “O piso estava soltando. Uma das primeiras ações foi fechar a secretaria e reformar, pintar as paredes, dar uma nova cara para aquilo.” A estrutura de treino também era das piores. A equipe sequer possuía bolas e itens para treinamentos. “O São Bento tinha o nome, a entidade, a logomarca e as dívidas”, cita Marcio Rogério Dias. Por isso, uma das metas principais da diretoria era revitalizar o CT Humberto Reale que, à época, era um matagal e abrigava um ônibus antigo, sem condições de rodagem. MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS Cinco anos depois, a situação dessa mesma diretoria mudou completamente. Inclusive, quem lê essa história pode até duvidar que ela seja verdadeira. Em 2013, o clube conquistou um título após 11 anos, o da terceira divisão estadual, retornando para a Série A2. Logo
11/05/2013
DE VOLTA À SÉRIE A2: O empate emocionante em 3x3 contra o Sertãozinho, em Sorocaba, garantiu o acesso para a segunda divisão do futebol paulista. O time precisava de um empate para subir, mas saiu perdendo por 2x0. Após empatar a partida no segundo tempo, o Sertãozinho fez seu terceiro gol aos 38’ do segundo tempo. O gol do acesso veio apenas aos 46’, iniciando a recuperação histórica do time;
EM CINCO ANOS, HENAL VIVEU DOS MAUS AOS BONS MOMENTOS NO CLUBE
no ano seguinte, o time conquistou o acesso para a primeira divisão, com um roteiro digno de filme. Como não recordar do gol aos 48 minutos do segundo tempo contra o Santo André? Em 2016, um quinto lugar histórico no estadual
TÍTULO! Após mais de 10 anos, o São Bento gritava “É campeão!”. A equipe venceu o Batatais fora de casa e empatou no jogo final em Sorocaba, conquistando o título da Série A3 de 2013.
25/05/2013
colocou a equipe novamente no cenário nacional após mais de 20 anos. E, no mesmo ano, o time ainda subiu para a terceira divisão nacional, feito inédito em sua história. Um crescimento enorme em pouco
01/11/2013
NOVO TÉCNICO: Paulo Roberto Santos, na época ex-treinador do Atlético Sorocaba, é apresentado como técnico do São Bento para a série A2 de 2014. “Fui com a certeza de que teria a condição de trabalho que sempre quis ter. Tendo como montar um bom elenco, a chance do acesso era grande”, diz ele.
+ esporte . 21
Foto: Esdras Felipe Pereira
#olhonolance NO CLUBE DESDE 2011, O GOLEIRO HENAL SE DESPEDIU NO FIM DO PAULISTÃO 2016, PARA JOGAR NO CUIABÁ
O PRIMEIRO CONFRONTO
CONTRA UM DOS GRANDES DO ESTADO NO PAULISTÃO 2016. MORAIS À DIR. MARCOU UM GOL ANTOLÓGICO DIANTE DO PALMEIRAS
tempo e que possui alguns elementos fundamentais. Há três anos no clube, o técnico Paulo Roberto Santos conquistou três acessos e ressalta que o ambiente de trabalho sempre foi leve. “Sem fofoca, sem interferência. Claro que a conversa sempre houve, sugestões, mas quando elas não eram aceitas não tinha problema nenhum. A palavra final sempre foi da comissão técnica e este ambiente saudável dentro do clube foi fundamental para o sucesso”, fala ele, acrescentando a sequência do trabalho como outro ponto importante. “Nós nunca tivemos uma discussão,
17/03/2014
TRAGÉDIA! Na véspera do jogo contra o São Caetano, o time perde o massagista Luiz Eduardo Rodrigues, o Luizão. Ele foi encontrado morto na concentração após sofrer um infarto fulminante na madrugada. Funcionário do clube há três anos, o fato abalou a equipe, que passaria a acumular tropeços no campeonato.
22. + esporte
uma briga que não fosse resolvida em reunião”, diz o presidente Costa Neto. “Nos reuníamos às segundas-feiras para decidir as coisas internas. Só íamos ao vestiário para cumprimentar o técnico e dar apoio. Não participamos de conversas nenhumas. O técnico tem de ter 100% das decisões na mão dele”. A estrutura também mudou bastante. Um dos que acompanhou a história de perto foi o goleiro Henal. Ele chegou ao São Bento em 2011, ano do rebaixamento, e continuou na equipe até o primeiro semestre de 2016. Para ele, a situação mudou tanto que é difícil comparar.
A REDENÇÃO EM SANTO ANDRÉ: O grupo dos quatro times que subiriam a elite estava se distanciando. O São Bento precisava vencer o Santo André fora de casa para ainda ter chances de acesso. E o resultado veio em uma partida emocionante. Markinho marcou o gol da vitória aos 48’ do segundo tempo. Era a arrancada para o acesso.
29/03/2014
“Antes, nós treinávamos no campo do Flamengo de Votorantim, isso quando não chovia e ficávamos sem treino. Hoje temos o Complexo Esportivo Humberto Reale, o CT do Atlético Sorocaba e podemos usar mais o Estádio Municipal. O material de treino nem se compara. Estrutura de trabalho, salários, comida… Tudo mudou para melhor”, indica. Já na questão financeira, o clube, que penava para manter os compromissos em dia, já possui situação mais confortável atualmente. A Federação Paulista de Futebol (FPF) repassa uma cota relacionada aos direitos de transmissão televisiva que
12/04/2015
DE VOLTA À ELITE: Precisando de uma vitória, o São Bento foi até Catanduva enfrentar o time da casa. Logo aos 2’ do primeiro tempo, Hebert abriu o placar. Markinho marcou o segundo gol aos 32’ da segunda etapa, mas o jogo ficou complicado quando o Catanduvense marcou seu primeiro gol, aos 45’. Mas acabou por aí. O 2x1 levou o São Bento de volta ao Paulistão.
Fotos: arquivo pessoal / Jesus Vicente
Fernando costa neto (à dir.), presidente do são bento desde 2011
O técnico
paulo roberto santos
chegou ao clube em 2013 e conquistou a torcida beneditina com acessos seguidos
gira em torno de R$ 2 milhões/ano. Dos processos trabalhistas existentes, apenas dois ainda estão abertos. Todos os outros foram negociados e estão sendo pagos, incluindo a assinatura do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut), que coloca obrigações fiscais ao time em troca do parcelamento da dívida em 20 anos. “Nós, inclusive, ganhamos alguns processos. Agora, temos apenas dois processos em execução, mas porque não quiseram fazer acordo; outros cinco em fase de conhecimento, e uma ação de cobrança de
Queda em pé: A campanha fantástica na primeira fase – incluindo vitória contra o São Paulo em casa – colocou o time nas quartas de final do Campeonato Paulista. Mais de 800 torcedores do São Bento viajaram até Santos para acompanhar a partida, que terminou em 2 a 0 para o Alvinegro. Apesar da derrota, a equipe comemorou muito a campanha e garantiu vaga para o Campeonato Brasileiro Série D do mesmo ano.
16/04/2016
uma nota promissória.”, comenta Márcio Rogério Dias. “Nós quase que fabricamos esse dinheiro”, acrescenta Costa Neto. Meta, agora, é “treinar” novos gestores A diretoria, que alcançou o maior sucesso à frente do São Bento, tem prazo para dar adeus. Em outubro de 2017, o clube passará pelo processo eleitoral novamente, mas agora sem a possibilidade de reeleição do presidente Fernando Martins da Costa Neto. Por isso, um dos principais desafios do clube na próxima temporada é “treinar” novos dirigentes. Por isso, o
17/06/2016
Estreia nacional: A participação na Série D ficou ameaçada pela falta de dinheiro, mas mais de 20 anos depois, o São Bento voltava a jogar um campeonato nacional. E estreava bem, vencendo o São José por 1x0 em casa. Era o começo de outra campanha histórica.
atual mandatário classifica o ano como “o mais difícil da nossa diretoria”. “O São Bento é muito grande para ficar na mão de poucas pessoas”, analisa Costa Neto. “Precisamos de mais pessoas. O maior objetivo agora é trazer novos diretores, convidar pessoas para entrar no grupo. É preciso aumentar esse leque”, cita. Nos bastidores, novos líderes estão se formando. O atual vice-presidente, Márcio Rogério Dias, foi presidente por seis meses devido a um afastamento por questão de saúde de Costa Neto e, sob sua gestão, a equipe alcançou o acesso para a Série D. Entre os diretores atuais, alguns já estão mais afastados e outras pessoas aparecem mais próximas. Ao mesmo tempo, os sinais de que a atual diretoria começa a sentir cansaço pelo desgaste do cargo são frequentes. “O São Bento hoje precisa de administração”, comenta Costa Neto. “E, para isso, precisamos de uma pessoa sensata que saiba viver em grupo. A situação financeira do clube é suficiente para que a pessoa não precise colocar dinheiro do bolso. Acredito que não será difícil encontrar alguém”, projeta. Há, ainda, a ideia de criar o cargo de mentores vitalícios do clube. Entre os nomes cotados para assumir o novo cargo estão Ailton Sewaybricker, Laor Rodrigues e Zezo Lanaro. A ideia é que sejam 11 mentores para aconselhar a diretoria e fiscalizar futuras gestões. “Eles serão os pilares do São Bento. Os mentores seriam a melhor coisa que poderia ter para o clube. Assim, quando o presidente precisar, pode consultar essas pessoas que já viveram muita coisa dentro do clube”, finaliza Costa Neto. ◘
O maior final feliz da história: Mesmo com todas as dificuldades, o São Bento precisava apenas de um empate em casa, contra o Itabaiana, para conquistar o primeiro acesso no cenário nacional. E os mais de 8 mil torcedores que compareceram ao estádio viram uma vitória por 2 a 0. O resultado garante calendário cheio a partir de 2017, disputando a terceira divisão do futebol nacional.
04/09/2016
+ esporte . 23
#craques
JOVENS TALENTOS
Foto: Arquivo pessoal
V
JUDÔ
POR ANA CAROLINA CHINELATTO
ocê já ou ouviu falar sobre o jogador Ademir de Barros, mais conhecido como Paraná? Ele jogou na seleção brasileira da Copa do Mundo de 1966, mas foi em Sorocaba que a história dele começou, quando integrou
a equipe do São Bento. Hoje, 74 anos depois que o jogador nasceu, Sorocaba continua revelando talentos no esporte. A +ESPORTE separou para você alguns dos jovens sorocabanos que, apesar da pouca idade, estão mostrando o seu potencial por aí. ◘
NATAÇÃO WANDER SOUSA,
14 ANOS são de ouro, quatro de prata e duas de bronze. E foi além: bateu o recorde em sete provas. De todas essas medalhas, dois ouros, uma prata e um bronze ele conquistou no XXI Troféu Chico Piscina, campeonato que já revelou grandes nomes da natação brasileira, como os medalhistas olímpicos César Cielo e Gustavo Borges. Neste ano, o atleta conquistou um patrocínio do qual pode e deve se orgulhar: da marca MP Aqua Sphere, que leva a assinatura de ninguém menos que o recordista olímpico da natação Michael Phelps.
ANDREI SCAVARIELO, 17 ANOS
Foto: Marcos Nakashira
Esse é um sorocabano que merece destaque quando o assunto é esporte. Com apenas 4 anos ele teve o primeiro contato com a piscina, mas foi aos 9 que participou da primeira competição. As medalhas vieram como consequência do esforço diário. Hoje, Wander acumula mais de 120. Ele integra a equipe da Associação de Pais e Amigos da Natação de Sorocaba (Apan), mas em inúmeros campeonatos representou o Estado de São Paulo. Somente em 2016, em cinco campeonatos que participou, o sorocabano levou 16 medalhas para casa. Dessas, 10
24. + esporte
Com apenas 5 anos, o pequeno Andrei pisou pela primeira vez no tatame. A paixão foi tanta que, desde então, a academia se tornou o lugar preferido dele. Aos 6 anos conquistou sua primeira medalha em amistoso, realizado em Araçariguama. Em 2014, o judoca garantiu a terceira colocação na Copa São Paulo da modalidade e se consagrou como terceiro melhor do país na categoria sub-18, no Campeonato Brasileiro de Judô Região 5. Seguindo naquele ritmo crescente de vitórias, o jovem conquistou, no ano passado, na categoria sub-18, uma vaga na seleção brasileira. Em 2016, o sorocabano está cotado para continuar integrando a equipe que representa o país, mas sem deixar as raízes de lado. Ele continua representando Sorocaba em competições oficiais, integrando a equipe do projeto Judô na Faixa.
fb.com/revistamaisesporte
@revistamaisesporte
Foto: Canva Free
+ esporte . 25
#craques ATLETISMO
FUTSAL
GABRIELA MARTINEZ,
PATRICK SOARES, 16 ANOS
Sorocaba tem atletas jovens que se destacam em diversas modalidades esportivas. Além dos já citados, outro nome que você deve ficar atento é o dessa menina. Ela foi destaque nos Jogos Escolares de Sorocaba (JES) de 2015, quando competiu nas provas de 100 metros rasos e salto em distância, em agosto. O técnico da equipe de atletismo de Sorocaba estava nas arquibancadas e se interessou pela jovem. Foi aí que a história dela começou. Gabriela foi convidada para fazer um teste para integrar a equipe de Sorocaba
e passou. Ela contou que no começo não levava os treinos muito a sério, mas depois pegou gosto e hoje não deixa de ir ao Centro Esportivo (CE) da Vila Gabriel, em Sorocaba. Gabi concilia os estudos com o esporte e se esforça para alcançar o lugar mais alto do pódio e seguir a carreira de atleta, o que parece estar dando certo. Este ano ela participou, inclusive, do campeonato brasileiro da modalidade. Além disso, foi escolhida pela Associação de Atletismo Pista e Campo de Sorocaba (AAPC) como atleta revelação de 2016.
JEAN MATHEUS DE OLIVEIRA, Este é outro jovem que merece atenção. Ele começou no esporte por acaso. Com 12 anos, frequentava o CE da Vila Gabriel para jogar futebol com o irmão. O técnico da equipe do atletismo, sempre de olho em novos talentos, reconheceu que Jean era um deles. O menino passou no teste e com 14 anos ganhou sua primeira medalha de ouro no arremesso de peso. Ele testou suas habilidades em outras provas e se identificou com o lançamento de martelo. E foi com esta especialidade que o jovem garantiu o terceiro lugar no campeonato brasileiro interclubes, realizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. No mesmo ano ele foi vice campeão do estado na modalidade. A frequência dos campeonatos passou a ser maior e hoje Jean participa de circuitos paulistas uma vez por mês. São nessas provas que os jovens têm a chance de mostrar o seu talento para o mundo e conquistar os lugares mais disputados da
18 ANOS
modalidade. O que era apenas um hobby passou a ser trabalho aliado à paixão. Hoje o jovem cursa Educação Física e almeja um futuro de grandes conquistas e reconhecimento no esporte. Foto: Arquivo pessoal
Foto: Erick Pinheiro
Foto: Arquivo pessoal
Logo que aprendeu a andar, Patrick deu os primeiros chutes na bola, que rapidamente se tornou o brinquedo preferido. Com 7 anos, entrou numa escola de futebol de campo, onde começou a se aperfeiçoar e a pegar ainda mais gosto pelo esporte. Entre idas e vindas, quando participou do seu primeiro JES, em 2012, Patrick foi destaque do jogo da final, o que chamou a atenção do Guarany Futsal Sorocaba. Quando foi convidado para integrar a equipe, Patrick recusou o convite, já que seria difícil deixar de treinar com os amigos. Em 2014, o jovem fez um teste para o Sorocaba Futsal, passou, jogou a primeira partida, mas novamente desistiu para voltar a jogar com os amigos, competindo pela série A-2 do campeonato Paulista. E já no primeiro ano, ganhou o prêmio de luvas de prata do Estado. Em 2016, Patrick foi convidado mais uma vez para o Sorocaba e, um pouco mais maduro, aceitou. Hoje, ele disputa o campeonato paulista série A-1 e já coleciona 22 medalhas e seis troféus de melhor goleiro.
26. + esporte
15 ANOS
Foto:Â CPB
PRECONCEITO CO C O
+ esporte . 27
#paratodos
UM NOVO
RUMO
APÓS PARALIMPÍADA DO RIO, ESPERANÇA É DE QUE, POUCO A POUCO, ATLETAS COM DEFICIÊNCIA SEJAM MENOS ALVOS DE DISCRIMINAÇÃO NO PAÍS. POR OUTRO LADO, DESEJO É DE QUE PASSEM A SER MAIS CONHECIDOS PELA TORCIDA BRASILEIRA
Foto: Marcio Rodrigues / MPIXCPB
POR ANA CAROLINA CHINELATTO E ESDRAS FELIPE PEREIRA
28. + esporte
A
alvos de discriminação, principalmente nas ruas. Mas, com o sucesso da Paralimpíada, na qual o Brasil alcançou sua melhor campanha da história (72 medalhas: 14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes), há esperança de que, pouco a pouco, esses paradigmas sejam chutados para escanteio. O preconceito, embora causador de feridas na alma de quem o sofre, serve como força para a quebra das barreiras impostas pela sociedade a quem é deficiente. O nadador Daniel Dias – que nasceu com malformação congênita dos membros superiores e da perna direita –, por exemplo, precisou deixar para trás o apelido de Saci, colocado em sua infância e adolescência, épocas em que os colegas de escola chegavam a tocá-lo para ver se seu corpo era de verdade. À +ESPORTE, o presidente do CPB, Andrew Parsons, enfatizou que os Jogos Paralímpicos do Rio serviram para que os brasileiros pensassem em novas perspectivas com relação às pessoas com deficiência. “Ninguém vai aos Jogos e volta para casa da mesma maneira. Todos são impactados. Mas esta não é uma mudança que acontecerá da noite para o dia. Ela virá, sobretudo, das
HOJE, O NADADOR
DANIEL DIAS ACUMULA NADA MENOS QUE
24 MEDALHAS
EM TRÊS PARALIMPÍADAS DISPUTADAS
gerações de jovens e crianças que acompanharam e se encantaram. Eles são os futuros tomadores de decisões”, destaca. A jovem sorocabana Gabriela Amaral de Alencar Leite, 19 anos, é uma das que se encaixa no discurso adotado por Parsons. Teve a oportunidade de assistir ao arco e flecha na Paralimpíada, na companhia da prima Giovana, 25. “Nunca tinha acompanhado pessoalmente algum evento esportivo com atletas deficientes. Juntou que eu ganhei um irmãoziFoto: Washington Alves / MPIXCPB
família está reunida no sofá. Na televisão, nadadores sedentos na busca pelo pódio. Termina a prova, com vitória de um brasileiro. A mãe pergunta ao filho: “quem é ele?” O jovem, mais antenado ao esporte, responde: “Daniel Dias, o maior medalhista paralímpico da história de nosso País”. O enredo em questão, com certeza, se repetiu em muitos lares neste ano, durante a Paralimpíada do Rio de Janeiro. Se até mesmo um multicampeão esteve na mira do desconhecimento popular, não seria diferente com os outros 288 atletas da delegação brasileira que participou da competição. Não bastasse a falta de conhecimento da sociedade em geral, eles também precisam enfrentar o preconceito das pessoas, o que foi comprovado – e divulgado – pouco antes do início dos Jogos Paralímpicos 2016, em pesquisa feita pelo Instituto DataSenado em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e o gabinete do senador Romário (PSB-RJ). Foram entrevistados, ao todo, 888 atletas com deficiência, dos quais 71% afirmaram já terem sido
DANIEL DIAS ERA APELIDADO DE SACI E OS COLEGAS CHEGAVAM A TOCAR EM SEU CORPO PARA VER SE ERA DE VERDADE
+ esporte . 29
nho com deficiência intelectual, então a minha vontade de apoiar cresceu e quis ir de qualquer jeito”, conta. Na opinião de Gabriela, “a Paralimpíada vai, sim, ajudar na quebra do preconceito”. Percebeu, na competição, que o público – até mesmo os brasileiros – não se importava tanto em torcer para apenas uma nação. “Era um clima bem harmônico. No arco e flecha, teve Estados Unidos e República Checa disputando, e a galera aplaudia igual. Quando erravam, todos aplaudiam mais ainda”, recorda. A carioca Fernanda de Carvalho Rivello, 32, assistiu tanto a Olimpíada quanto a Paralimpíada. No segundo evento esportivo, foi com o marido e levou a filha de 3 anos e outros três sobrinhos, de 5, 8 e 12 anos. Diz que se divertiram muito: “A gente, na maioria das vezes, reclama de barriga cheia. Eu saí de lá (Paralimpíada) muito motivada, pois fiquei pensando na história de superação daqueles atletas que estavam lá”. A Paralimpíada, aliás, foi um verdadeiro sucesso GABRIELA ALENCAR, 19 no que se refere à pre(À ESQ.), E A sença do público. Mais SUA PRIMA GIOVANA de 2 milhões de ingressos FORAM A foram vendidos nos 12 PARALIMPÍADA dias de evento. Apenas APOIAR OS ATLETAS no dia 11 de setembro, 167 mil pessoas assistiram às modalidades e, durante toda a competição, conforme o Ministério do Turismo, o Rio de Janeiro recebeu 243 mil turistas. O interesse nos Jogos Paralímpicos, no entanto, chegou a ser posto em xeque, já que poucas entradas haviam sido vendidas pouco depois do término da Olimpíada. O presidente do CPB, porém, afirma que o número de ingressos comprados e a lotação não surpreendeu a entidade. “Nós conhecemos o esporte paralímpico de perto e sabemos o quanto ele é extraordinário. Então sabíamos que as pessoas também se encantariam com os Jogos se tivessem a oportunidade de conhecer o esporte e os atletas de perto”. MENOS PRECONCEITO, MAIS RECONHECIMENTO Sobre a possibilidade de novas ações e campanhas para combater o preconceito e lutar contra o desconhecimento, por parte do comitê, Parsons declara que “o CPB já realiza campanhas nas redes sociais e trabalha junto à mídia na
30. + esporte
Foto: Arquivo pessoal / Gabriela Alencar
#paratodos
mudança dessa percepção por meio do esporte”. “Nosso foco principal foi justamente o período dos Jogos Paralímpicos, pois sabíamos que jamais haverá um evento de tanto alcance quanto este”, pontua. O mesmo questionamento foi feito ao Governo Federal, por meio do Ministério do Esporte. A reportagem acrescentou, ainda, se a pasta avaliava a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, sancionada em 2015, como uma aliada nesse sentido. Até o fechamento desta edição, entretanto, não obteve retorno sobre o assunto. OUTRO OLHAR Para o sociólogo Olavo Furtado, formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o preconceito e o desconhecimento enfrentado por pessoas com deficiência, na maioria das vezes, existem porque o diferente constrange, mas acrescenta que isso não é uma justificativa concreta. “Essas pessoas também têm que ter uma postura de não se olhar como um aleijado, mas sim como
alguém que tem direitos iguais aos de qualquer outro cidadão”, argumenta. Questionado sobre a importância da Paralimpíada no que diz respeito à inclusão social, Furtado indica que é um evento importante, capaz de proporcionar discussões. Por outro lado, avalia como um momento pontual. “Não é isso que vai construir uma forma diferente de se pensar. Não é uma coisa ‘antes e depois da Paralimpíada’. A Paralimpíada não é um milagre. Gera reflexão, mas precisa de um processo contínuo, com a ajuda do governo”, opina. Ao final da entrevista, o sociólogo chegou a citar o renomado físico americano Stephen Hawking como exemplo. “Ele tem uma doença degenerativa muito séria e, mesmo assim, todas as condições lhe foram dadas para chegar onde chegou. Se você for olhar, ele só tem um problema físico. Então o papel das universidades onde ele estudou, do governo americano, do direito americano, é muito forte. A gente tem que olhar para essa questão (da inclusão social) como um direito civil”, conclui. ◘
COBERTURA DA IMPRENSA AINDA DEIXA A DESEJAR
Veículos de comunicação A +ESPORTE entrou em contato com os
principais veículos esportivos do País, bem como com os dois maiores jornais do Brasil, no intuito de que comentassem como se deu a cobertura jornalística de cada um durante os Jogos Paralímpicos do Rio. Apenas o editor do caderno de Esportes de O Estado de S.Paulo, Robson Morelli, deu retorno à reportagem. Segundo Morelli, na cobertura da Olimpíada, estiveram envolvidos mais de 30 profissionais. Na Paralimpíada, o quadro diminuiu consideravelmente, quase que pela metade. Outra diferença, aponta, foi numa aba de “minuto a minuto” criada no Twitter para os dois eventos. “Na Olimpíada, a cobertura foi 24h. Já na Paralimpíada, a cobertura era das 7h às 23h”, confessa. Ainda que com equipe reduzida, o editor assinala que houve o máximo de empenho para que o público interessado ficasse bem informado. “A Paralimpíada foi um divisor de águas. A gente percebeu que foi um movimento social muito interessante e esperamos que continue”, projeta. “As histórias de superação dos atletas viraram muita pauta, mas evitamos falar tanto disso para não cansar o leitor e também para não fazer o atleta paralímpico parecer coitadinho. Eles são atletas como quaisquer outros, mas as histórias são mais comoventes”, comenta. Sobre os motivos para não “apostar” tanto na cobertura do evento, Morelli explica que a decisão é interna e acontece com embasamento. “A gente tem pesquisas dizendo que nosso leitor se interessa mais pelo futebol. Não dá para ficar arriscando. Somos uma empresa, preci-
samos pensar no que mantém nossos leitores ativos e o que vai dar lucro. A gente tem que cobrir conforme o interesse. Não é primeiro divulgar e só depois ver como foi a audiência, o retorno”, emenda. A reportagem enviou questionamentos sobre o assunto, via Facebook – e solicitou um possível número de telefone de contato –, para a ESPN Brasil, Fox Sports e Revista Placar, mas não recebeu respostas. Via e-mail, enviou as perguntas a cinco repórteres do GloboEsporte. com, assim como para a repórter Joanna de Assis, envolvida na cobertura da Paralimpíada pelo SporTV, também sem sucesso. Por fim, solicitou a demanda a um editor do caderno esportivo da Folha de S. Paulo, que disse que não havia possibilidade de respondê-la. ◘ o editor de esporte do jornal o estado de s. paulo, robson morelli Foto: Carolina Moreira
A
mesma pesquisa do Instituto DataSenado, que trata sobre o preconceito sofrido pelos atletas com deficiência, aborda outros temas. Um deles é a cobertura dedicada pela mídia ao esporte paralímpico no Brasil. Dos 888 entrevistados, 49% opinaram ser ruim ou péssima. Outros 24% acreditam ser boa ou ótima, 26% atribuem como sendo regular e 1% não respondeu. Na Paralimpíada, por exemplo, a maior emissora do país, Rede Globo, deixou de exibir ao vivo tanto a abertura como o encerramento do evento. Optou por colocar em sua grade, quase de madrugada, os “melhores momentos”. O presidente do CPB, Andrew Parsons, curiosamente, é jornalista. Afirma que a entidade trabalha há muitos anos para atrair a mídia na cobertura dos principais eventos paralímpicos. “Nos Jogos Paralímpicos de Sydney, em 2000, o CPB, pela primeira vez, levou jornalistas convidados para cobrirem o evento e fazer com que o esporte paralímpico se tornasse mais presente na imprensa. Em 2004, nos Jogos de Atenas, o CPB pela primeira vez comprou os direitos de transmissão de TV das Paralimpíadas e os repassou ao SporTV”, explica. Em 2012, nos Jogos Paralímpicos de Londres, o cenário começou a mudar. Isso porque a Rede Globo comprou os direitos de transmissão, sem a necessidade de tal medida ser encabeçada pelo CPB. “Em 2016, o CPB não convidou nenhum jornalista para os Jogos no Rio e mesmo assim tivemos ampla cobertura da mídia brasileira. Claro que há espaço para que essa cobertura seja ainda maior”, destaca Parsons. “Mas ainda não é possível comparar a cobertura dos Jogos Paralímpicos com os Jogos Olímpicos, criados há 120 anos e que contam com mais patrocinadores e mais transmissões de TV”, completa.
+ esporte . 31
MAIOR PARTE DO INVESTIMENTO NO ESPORTE PARALÍMPICO VEM DO SETOR PÚBLICO
O
setor público é o maior responsável por investir no esporte paralímpico brasileiro, apontou a pesquisa do Instituto DataSenado. Foi o que afirmaram 52% dos 888 entrevistados. Do restante, 24% indicaram o setor privado como principal apoiador, 16% citaram entidades sem fins lucrativos, e 8% deixaram de responder à pergunta. No mesmo estudo, 44% dos atletas acreditavam que os investimentos diminuiriam após a Paralimpíada. O programa Bolsa Atleta, criado pelo governo federal em 2005, é, sem dúvidas, a maior fonte de incentivo ao esporte praticado por pessoas com deficiência no País. Segundo informações do Ministério do Esporte, no último ciclo paralímpico (de 2012 a 2015) foram investidos R$ 73,4 milhões, por meio de 5.071 bolsas. O valor é 40% superior aos R$ 52,4 milhões depositados, por meio de 3.849 bolsas, para o ciclo de Londres (entre 2008 e 2011). Da delegação brasileira na Paralimpíada, formada por 289 pessoas, 262 (90,65%), tiveram patrocínio do Bolsa Atleta. Inclusive, dos 103 medalhistas, 101 foram beneficiados entre 2012 e 2016. O programa apoia esportistas – olímpicos e paralímpicos – com bons resultados em competições nacionais e internacionais dentro de suas modalidades, independente de condição econômica. É feito o pagamento, anualmente, em 12 parcelas, conforme a categoria em que o atleta se enquadra. São elas: Atleta de Base (R$ 370,00); Estudantil (R$ 370,00); Nacional (R$ 925,00); Internacional (R$ 1.850,00); Olímpico/Paralímpico (R$ 3.100,00) e Pódio (R$ 5 mil a R$ 15 mil). CONVÊNIOS E LEI AGNELO PIVA Outras consideráveis fatias do investimento no esporte paralímpico vêm de
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convênios celebrados pelo Ministério do Esporte e da Lei Agnelo Piva. Um total de 17 convênios foi firmado com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) desde 2010, o que representa um montante de R$ 67,3 milhões. De acordo com o Ministério do Esporte, foram contempladas as seleções permanentes de atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, ciclismo, esgrima em cadeira de rodas, futebol de 5 e de 7, goalball, halterofilismo, hipismo, judô, natação, remo, rúgbi em cadeira de rodas, tiro esportivo, vela e vôlei sentado. Com eles, foi possível investir em treinamentos no Brasil e exterior, e participar de competições internacionais. Outros dois convênios foram celebrados em 2013 e aditados em 2015 com a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, da ordem de R$ 7,1 milhões, visando estruturar dois centros de treinamento da seleção paralímpica, em Brasília e Piracicaba. A verba também serviu para que 15 atletas pudessem estar nas principais competições do calendário internacional, na Europa, Ásia e América. Com relação à Lei Agnelo Piva, a previsão é de que sejam arrecadados mais de R$ 350 milhões desde 2010 até o fim de 2016. O texto, sancionado em 2001, sofreu uma alteração em 2015, com a implantação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que vai beneficiar ainda mais o esporte paralímpico nacional. Inicialmente, a lei previa que 2% da arrecadação bruta das loterias federais em operação no Brasil, descontadas as premiações, fossem repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao CPB, numa proporção de 85% e 15%, respectivamente. Agora, porém, serão destinados 2,7% do que for arrecadado, e o CPB, por sua vez, passará a receber 37,04%.
CENTRO DE EXCELÊNCIA Além dos patrocínios individuais, os atletas paralímpicos de 15 modalidades poderão ter acesso à estrutura do Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, localizado no Parque Fontes do Ipiranga, em São Paulo, que conta com área total de 140 mil metros quadrados. Trata-se do principal espaço de excelência da América Latina. Para construi-lo e equipá-lo, houve investimento de R$ 187 milhões por parte do Ministério do Esporte e R$ 115 milhões do Governo do Estado de São Paulo. FUTURO Sobre o futuro dos investimentos no esporte paralímpico brasileiro, colocado sob desconfiança na pesquisa do DataSenado, o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, pediu tranquilidade, em coletiva de imprensa realizada no Rio de Janeiro logo após o fim da Paralimpíada. Disse que continuará sendo uma das prioridades da pasta. “Nós não vamos precisar construir novas instalações, mas manter funcionando as que existem. O orçamento discricionário do Ministério do Esporte para o próximo ano é maior do que para este ano. Ele está indo de R$ 505 milhões para R$ 656 milhões. Ou seja, um acréscimo de 30%”, explicou Picciani. O presidente do CPB, Andrew Parsons, acredita que, com o legado dos Jogos Paralímpicos no Brasil, até mesmo o setor privado pode passar a se interessar mais pelo esporte para pessoas com deficiência. “Ficou muito claro o potencial incrível do esporte paralímpico. Então, se antes havia uma miopia de empresas que não percebiam o potencial dos atletas paralímpicos, agora, essa miopia virou cegueira. Acredito que existe muito espaço para empresas privadas investirem no esporte paralímpico”, ressalta. ◘
Foto: Marcio Rodrigues / MPIXCPB
#paratodos
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e acordo com 95% dos ouvidos pela pesquisa do DataSenado, a Paralimpíada no Brasil vai incentivar a prática esportiva para pessoas com deficiência no País. E, para que isso aconteça de fato, o CPB também direciona sua atenção para o esporte de base. De 21 a 26 de novembro, por exemplo, o Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, na capital paulista, sediou a décima edição das Paralimpíadas Escolares. A competição, que reuniu cerca de mil pessoas, é a maior do mundo para atletas paralímpicos em idade escolar, e já revelou campeões como Alan Fonteles, Petrucio Ferreira e Lorena Spoladore – todos eles do atletismo. Para o presidente do CPB, o evento é incrível e proporciona grandes experiências e lições para quem participa e acompanha. “É, muitas vezes, a primeira opor-
Foto: Marcio Rodrigues / MPIXCPB
GRANDES TALENTOS SAEM DO ESPORTE DE BASE tunidade para um jovem com deficiência descobrir que do outro lado do Brasil existe alguém que tem uma história de vida parecida”, afirma. O Brasil tem, ainda, um acordo de cooperação internacional assinado em junho de 2011 com o Reino Unido, que promove o intercâmbio de experiências e informações entre os esportistas. “A iniciativa possibilita a participação de estudantes brasileiros nos UK School Games e de estudantes ingleses nas Olimpíadas e Paralimpíadas Escolares no Brasil. Em quatro anos, 80 atletas e técnicos brasileiros e outros 80 atletas e dirigentes ingleO BRASILEIRO ses participaram ALAN FONTELES COMEÇOU SUA das atividades”, TRAJETÓRIA NA informa o MinistéPARALIMPÍADA rio do Esporte. ◘ ESCOLAR
PARSONS ENCERRA MANDATO COM SENTIMENTO DE DEVER CUMPRIDO Foto: Marcio Rodrigues / MPIXCPB
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frente do Comitê Paralímpico Brasileiro desde 2009, o atual presidente Andrew Parsons terá de deixar o cargo em março de 2017, já que o estatuto interno da entidade permite apenas uma reeleição. Após todos esses anos no comando, seu sentimento é de dever cumprido. “Saio satisfeito porque acredito que consegui mudar a dinâmica da instituição, estabelecendo planejamentos a curto, médio e longo prazo. Os resultados dos programas e projetos que criamos são PARSONS DESCONVERSA SOBRE
POSSÍVEL CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA DO COMITÊ PARALÍMPICO INTERNACIONAL
evidentes, o desempenho do Brasil nas competições paralímpicas internacionais mostra isso”, garante. Além do cargo no CPB, Parsons acumula a vice-presidência do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), que também terá novas eleições em 2017. Nos bastidores, muito se fala sobre a possibilidade de o brasileiro, desta vez, se candidatar à presidência do IPC. “Em relação ao IPC, a candidatura é uma possibilidade, já que o atual presidente não poderá concorrer a uma nova eleição. Mas eu somente vou tomar uma decisão sobre isso quando terminar meu mandato à frente do CPB. Uma coisa de cada vez”, assinala. ◘
+ esporte . 33
#paratodos
OS DONOS
DA FORÇA EM ITU, ATLETAS DO HALTEROFILISMO PARALÍMPICO TÊM ACESSO A CENTRO DE REFERÊNCIA DA MODALIDADE, SOB OLHARES ATENTOS DE TÉCNICO DA SELEÇÃO BRASILEIRA
POR ANA CAROLINA CHINELATTO, CAIO ROSSINI E ESDRAS FELIPE PEREIRA
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úsculos por toda a parte. Mais do que isso: com a força que possuem, conseguem deixar para trás outras tantas limitações físicas. Esses são os atletas que treinam no Centro de Referência em Halterofilismo Paralímpico, em Itu, modalidade que, de maneira inédita, teve brasileiros conquistando medalhas na Paralimpíada do Rio de Janeiro. O espaço foi implantado em 2014, no interior de uma academia localizada na região central da cidade, que fica a aproxi-
madamente 38 quilômetros de Sorocaba. O investimento – cujo valor não foi divulgado -, foi feito pelo Comitê Paralímpico Brasileiro e pelo Ministério do Esporte. Igual ao centro, existem outros 7 espalhados pelo País, informa o treinador da seleção brasileira de levantamento de peso Paralímpico, Valdecir Lopes. Em Itu, cerca de 20 atletas se utilizam da estrutura atualmente, mas nem todos integram a equipe do Brasil. O técnico acumula no currículo a experiência de comandar a seleção brasileira nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara, em 2011, e Toronto, 2015, assim como as duas últimas Paralimpíadas (Londres, 2012, e Rio, 2016). O evento no Brasil, sem dúvidas, foi o mais marcante para Lopes. Lá, pôde acompanhar a melhor participação do País na história dos Jogos Paralímpicos, com uma prata, um bronze e dois quintos lugares. A prata, aliás, foi conquistada por Evânio Silva, baiano que treina no Centro de Referência em Itu e disputou a categoria até 88 quilos. Na competição, ele levantou 210 kg. O local de treinamentos fica na Rua das Andradas, 46, no interior da Acade-
O centro de referência em desenvolvimento de halterofilismo paralímpico
mia Fórmula. Lopes afirma que quem tiver interesse em conhecer o espaço e, possivelmente, participar da equipe, basta se dirigir até lá. “Qualquer pessoa que tiver uma lesão medular ou uma outra deficiência, pode vir até aqui. Vou fazer uma avaliação e dizer se ela se enquadra ou não no halterofilismo. Se não se enquadrar, a gente indica outra modalidade que pode ser feita, pois temos um total de 21 modalidades paralímpicas”, explica, acrescentando não ser necessário morar em Itu para participar.
Fotos: Esdras Felipe Pereira
foi implantado em 2014, no interior de uma academia localizada na região central de itu
Duzentos quilômetros Em meio aos homens, uma bela mulher. Maraisa Proença Moral, 31 anos, treinava pesado na ocasião em que a reportagem de +ESPORTE esteve no centro de referência, em Itu. Mais do que a limitação física – ela precisou amputar a perna esquerda aos 2 anos, por conta de uma malformação –, a atleta tem de vencer quase 200 km para treinar sob a excelente estrutura do espaço, já que mora em Anhembi, pequena cidade do interior de São Paulo. Frequenta o local, em média, a cada 15 dias, e consegue levantar mais de 60 kg. Ainda assim, também faz os treinos em seu município e manda vídeos ao técnico Valdecir Lopes para que possa corrigir os erros à distância. “Sempre fui bem ativa, mas o esporte mesmo comecei recentemente. Comecei a ir para a academia com o intuito de perder peso, mas acabei pegando gosto pelo levantamento de peso”, cita Maraisa. Maraisa ainda não faz parte da seleção brasileira. Hoje, integra a Associação Esportiva de Apoio aos Atletas, Paratletas e Esportistas de Itu e Região (Aesa), também comandada por Lopes, e compete no Circuito Loterias Caixa de Halterofilismo Paralímpico. “É uma superação diária. Não é todo dia que você está disposto, ainda mais que trabalho durante o dia e só posso treinar à noite”, conta. “Mas a cada 100 gramas que aumenta na barra já vale a pena, é uma felicidade”, destaca ela, que também faz trabalhos como modelo. Embora não consiga viver unicamente do esporte, Maraisa tem patrocínio para suplementos e próteses. Acredita que, se conseguir um auxílio como o Bolsa-Atleta, por exemplo, poderá chegar mais longe no esporte. Depois de acompanhar sua modalidade na Paralimpíada do Rio das arquibancadas, a atleta não titubeia sobre onde quer estar em 2020: “Meu sonho é chegar à seleção brasileira e, então, disputar a Paralimpíada de Tóquio”. ◘
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#paratodos A UM QUILO DA PARALIMPÍADA DO RIO Faltavam seis meses para os Jogos Paralímpicos do Rio quando o atleta Christian Porteiro, de 38 anos, tomou uma decisão corajosa: largou o emprego para se dedicar apenas aos treinos no centro de referência. A meta era conquistar o sonho de chegar ao maior evento do mundo em sua modalidade. Tinha noção que o caminho a trilhar não seria fácil, mas se apoiava no fato de ser o dono da melhor marca do país em sua categoria (acima dos 108 quilos), com 198 kg levantados. “Meu técnico me avisou do que eu precisava para estar nos jogos”, conta o atleta, que teve que amputar a perna direita em 2003, depois de um acidente de trabalho. “Eu treinava todo dia, uma ou duas horas. Fiz uma alimentação mais balanceada e o mais importante, que é o descanso. Treinando e trabalhando você não tem descanso mental e físico. Acaba ajudando nisso. Você consegue descansar bem o corpo para preparar a máquina para o dia seguinte”, relembra. O critério de classificação para os Jogos Paralímpicos era o seguinte: os atletas precisavam estar entre os oito melho-
res do mundo em sua categoria no dia 29 de fevereiro de 2016. O desempenho dele crescia. Ele chegou a levantar 15% a mais de carga no período de treinamento intenso. Em treinos, o atleta já havia ultrapassado a marca dos 200 kg. Uma das principais chances de classificação à Paralimpíada para Porteiro ocorreu em janeiro, quando houve a Copa do Mundo de Halterofilismo Paralímpico, no Rio de Janeiro. Nos treinos, o atleta tinha alcançado as marcas necessárias para garantir a vaga, então destinada aos três melhores da competição. Só que vários motivos levaram o atleta a render menos do que o esperado e a classificação bateu na trave. “Era minha grande chance. Eu estava levantando o suficiente para ganhar o ouro, só que eu tive uma distensão, o que me atrapalhou bastante”, conta ele, admitindo ter ficado com o psicológico abalado devido à dimensão do evento. “Acabei sentindo a pressão. Terminei em quarto lugar, um quilo a menos do que o terceiro colocado e levantando 15 quilos a menos do que eu poderia. Eu acabei ficando em
11º na colocação geral”, lamenta. Porteiro ainda poderia ter sido convidado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para participar da Paralimpíada, já que o País tinha direito a mais vagas do que estavam sendo ocupadas pelos critérios, mas isso não se confirmou. Decepcionado, ele não acompanhou os resultados expressivos de outros atletas de seu esporte. Apenas após o evento teve coragem de ver alguns vídeos. Passada a lamentação por ter ficado fora da competição “dentro de casa”, Porteiro passa, agora, a depositar toda sua esperança nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2020. “Difícil sempre, impossível nunca”, comenta, confiante. “É meu sonho e eu quero concretizar. Em 2012, Londres ficou mais distante. Minha meta era a seleção brasileira e consegui isso em 2016. Bati na trave em estar no Rio. Não é impossível, basta acreditar em mim mesmo, me dedicar e, 2020, se tudo correr bem, estarei lá”, completa. CHRISTIAN PORTEIRO
PASSA, AGORA, A DEPOSITAR TODA SUA ESPERANÇA NOS JOGOS PARALÍMPICOS DE TÓQUIO, EM 2020
36. + esporte
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#paratodos
BRAÇADAS DE VITÓRIA COM FÉ E DETERMINAÇÃO, A NADADORA PARALÍMPICA ELISABETH BERTOLINI SUPEROU SUAS LIMITAÇÕES E FAZ HISTÓRIA NAS PISCINAS DE TODO O BRASIL
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POR JÉSSICA NASCIMENTO
il novecentos e noventa e seis. Impossível cair no esquecimento da nadadora paralímpica Elisabeth Aparecida Bertolini, de 58 anos. Na primeira temporada de sua carreira, a atleta buscava participar dos Jogos Paralímpicos de Atlanta, nos EUA, mas foi surpreendida por um acidente de percurso. Após se classificar na primeira seletiva da maior competição para deficientes, com primeiro lugar nas provas de
50 metros livre e 100m costas, o inesperado aconteceu: Elisabeth escorregou ao sair da piscina após a última prova, caiu e fraturou o fêmur. Sem poder nadar, ela precisou deixar de lado seu sonho de participar de uma competição internacional para se recuperar da lesão. Para muitas pessoas, uma queda pode ser sinônimo de derrota. Não para Elisabeth. Depois de se recuperar do acidente, a nadadora levantou a cabeça e continuou em busca de seus objetivos, transformando seu tombo em um caminho para a vitória. Sem se abalar com os obstáculos da vida, ela superou as sequelas da poliomielite e fez uma carreira brilhante nas piscinas. Em mais de 20 anos de natação, Elisabeth, que mora em Sorocaba desde os 9, conquistou títulos de campeã sulamericana, brasileira e paulista em sua modalidade. Passou a colecionar medalhas, sendo a maioria delas douradas, mostrando para todos que a limitação está na cabeça das pessoas.
EU CONSEGUI TRANSFORMAR UMA POSSÍVEL DERROTA EM UMA GRANDE VITÓRIA. HOJE TENHO UMA VIDA SAUDÁVEL E FELIZ ELISABETH BERTOLINI
38. + esporte
A atleta, que tem deficiência físicomotora nos membros inferiores, já nadou em piscinas de todo o Brasil e em competições na Argentina, na classe S7, para nadadores que podem bater os dois braços e uma das pernas. Competiu por mais de 15 anos no esporte de alto rendimento, na equipe da Associação para Integração Esportiva do Deficiente Físico (Ciedef), mas hoje participa apenas dos Jogos Abertos do Interior de São Paulo, nos quais conquistou o título de campeã por cinco vezes, e dos Jogos
Foto: Jéssica Nascimento
ALÉM DO ESPORTE Se não conquistasse uma carreira de sucesso no esporte, Elisabeth diz que
COMPETE NAS PROVAS DA CLASSE S7
seria professora de inglês. Formada em Letras pela Universidade de Sorocaba (Uniso) e pós-graduada em Gramática da Língua Inglesa pelo Centro Universitário Sant’Anna, ela chegou a lecionar aulas de inglês por três anos em uma escola supletiva de Sorocaba, mas deixou a carreira de lado para se dedicar às piscinas. “Eu poderia ser uma professora universitária e não estar na natação, mas não tenho dúvidas que não teria a saúde e a qualidade de vida tão boas como tenho hoje no esporte”, acredita. Ela também teve outra profissão: foi ser vidora pública do Ser viço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) por 32 anos. Assim conseguiu sua independência financeira, sem deixar de lado sua maior paixão: a natação. A DOENÇA Elisabeth contraiu a poliomielite quando ainda era criança. O vírus provocou lesão total e aguda na região do quadril para baixo, atrofiando os músculos dos membros inferiores, o que prejudicou o desenvolvimento das pernas, principalmente da direita. Desde então, faz tratamentos ortopédicos com médicos e fisioterapeutas. Para que voltasse a andar, ela passou por mais de 10 cirurgias nas pernas. Hoje, usa órtese na perna direita, que vai dos pés até a coxa, muletas canadenses e um sapato especial, que tem o solado mais alto para igualar a altura das pernas. Elisabeth, que é muito religiosa, diz que se sente normal em relação a deficiência, pois os pais a criaram de forma que não se sentisse inferior aos outros, com muita
naturalidade. Para ela, que adora contar sua história de vida e não tem complexo de seu corpo, é impossível dizer que já sofreu algum preconceito, seja dos outros ou dela mesmo, pois até ajuda pessoas com suas palestras motivacionais. “Eu consegui transformar uma possível derrota em uma grande vitória. Hoje tenho uma vida saudável e feliz”, conclui. ◘ Foto: Jéssica Nascimento
AMOR À PRIMEIRA VISTA A nadadora conta que a paixão pelas piscinas surgiu aos 9 anos, quando começou a fazer exercícios de fisioterapia na água, e foi um amor à primeira vista. Porém, a natação só entrou em sua vida anos mais tarde. Elisabeth lembra até hoje da primeira vez que disputou uma competição, com 37 anos. Foi a 22ª Travessia do Lago Rodrigo Meira de Castro, no Círculo Militar de Campinas. Ela atravessou uma extensão de 600 metros, competindo na equipe master com 10 nadadores, incluindo homens e mulheres, todos sem deficiência. “Foi maravilhoso. Fiquei em terceiro lugar. Tinha participado apenas para conhecer, mas até ganhei medalha de bronze”, recorda. A atleta se destaca nas piscinas desde a sua primeira competição oficial para atletas com deficiência. Ela disputou a prova dos 50m livre e chegou em primeiro lugar, recebendo sua primeira medalha de ouro. Na ocasião, precisava marcar o tempo de 1 minuto e 11 segundos para participar do campeonato brasileiro, mas concluiu a prova em 49 segundos. Outra data marcante para ela foi quando o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) a convidou para participar da competição Meetining Internacional de Natação Paralímpica, no Rio de Janeiro, em 2009.
A NADADORA
Foto: Arquivo pessoal
Regionais. Até já perdeu as contas da quantidade de medalhas e troféus que ganhou em toda sua carreira. Hoje, Elisabeth está se recuperando de uma lesão, mas garante que logo estará de volta às piscinas. Além de todos os prêmios conquistados, esse ano a atleta passou por um momento marcante em sua carreira: foi condutora da Tocha Olímpica durante a passagem por Sorocaba. “Foi um momento único. Fiquei muito emocionada por ser escolhida para representar a cidade nesse evento tão importante”, conta. Ela nunca participou dos Jogos Paralímpicos, mas hoje não almeja as competições internacionais, pois é preciso ter um bom tempo e condicionamento físico para se classificar. “A natação exige muito. Com a minha deficiência, é raro ter longevidade no esporte”, frisa.
A ATLETA JÁ PERDEU A CONTA DE QUANTAS
MEDALHAS GANHOU AO LONGO DA CARREIRA
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#Seliga!
NOVIDADES DO MUNDO PARALÍMPICO 2.
Foto: André Machado
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área do esporte para atletas com deficiência, com o passar dos anos, apresenta melhorias e avanços tecnológicos. Esse upgrade ajuda no melhor rendimento deles e na obtenção de melhores resultados. Se liga nessas novidades que a +ESPORTE separou para você: 1- SUPER CÂMERA. Uma das novidades tecnológicas usada nos Jogos Paralímpicos do Rio é a câmera de photofinish. Esse dispositivo é o que capta a imagem de cada corredor assim que ele cruza a linha de chegada. Mas, com modificações, a câmera agora é capaz de registrar 10 mil fotos digitais por segundo, o que ajudou e muito na apuração correta dos resultados. 2- MEU GUIA. Estudantes da Universidade Nilton Lins, de Manaus, criaram uma tecnologia para contribuir com o atletismo para deficientes visuais. O objetivo é que esses atletas possam correr sozinhos, com auxílio de uma roupa e acessórios inteligentes. O projeto Meu Guia se apresenta em duas vertentes. A primeira é composta por braceletes que vibram, e cada tipo de vibra-
40. + esporte
ção dá uma informação para o atleta. A segunda é um macacão em que a vibração no braço indica a direção em que ele deve virar. Se as costas vibrarem ele deve seguir reto. Já se as pernas vibrarem é porque ele cruzou a linha de chegada. O projeto está em testes e tem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 3- APERFEIÇOAMENTO. Aparelhos capazes de melhorar o rendimento, indicados por atletas como a pernambucana Jenifer Martins, do salto à distância, são o 1Jump, que avalia a potência e fadiga muscular e o 1Speed que mensura a velocidade e agilidade. Ambos são da empresa paulista One Sports e monitoram variáveis de desempenho como as velocidades média, máxima e total, bem como tempo e índice de fadiga. Isso ajuda os treinadores a saber onde há necessidade de melhora e quais músculos precisam de mais carga nos treinos. 4- 243 MIL. A Paralimpíada do Rio de Janeiro trouxe 243 mil turistas à Cidade
Foto: divulgação Foto: Ana Carolina Chinelatto
3.
Foto: divulgação
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Foto: divulgação
POR CAROLINA MOREIRA
Maravilhosa, segundo o Ministério do Turismo, o que gerou R$ 410 milhões em renda. Já a data em que o Parque Olímpico da Barra ficou mais cheio durante os dois eventos - Olimpíada e Paralimpíada - foi o primeiro sábado dos Jogos Paralímpicos, dia 10 de setembro, com um total de 172 mil pessoas no local. 5- BANCO TECNOLÓGICO. O Instituto Nacional de Tecnologia (INT) desenvolveu bancos que ajudam os arremessadores de peso. Feitos sob medida para cada atleta, os bancos auxiliam no conforto, já que os atletas apresentam diferentes tipos de amputação. Isso influencia positivamente e possibilita a melhora nos resultados. Duas atletas, Rosinha e Julyana da Silva, já utilizaram e aprovaram o equipamento no evento-teste que antecedeu a Paralimpíada. Nele, ambas alcançaram lugares no pódio. ◘
DENGUE
MAT A
FAÇA SUA PARTE. NÃO DEIXE ÁGUA PARADA
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#saude
EVENIZE DIZ QUE OS
EXERCÍCIOS FORAM FUNDAMENTAIS PARA TER UMA GESTAÇÃO TRANQUILA, SEM DORES NA COLUNA
POR AMOR ÁÀ BARRIGA
A PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS DURANTE A GRAVIDEZ PODE TRAZER BENEFÍCIOS TANTO PARA AS MAMÃES QUANTO PARA OS BEBÊS, DESDE QUE SEJA ACOMPANHADA POR PROFISSIONAIS. O EXERCÍCIO ESCOLHIDO PRECISA RESPEITAR CADA GESTAÇÃO, DE MODO QUE AS FUTURAS MAMÃES SE SINTAM CONFORTÁVEIS E TRANQUILAS NA REALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS POR JÉSSICA NASCIMENTO
A
cariciando suavemente a barriga que carregava os trigêmeos Alice, Max e Olívia, a jornalista Evenize Batista, de 40 anos, realizava alguns exercícios de pilates, inspirando e expirando profundamente a cada movimento. O barulho da cidade movimentada sumia logo no começo da aula, pois a concentração da mamãe era intensa durante a atividade. Com ouvidos
42. + esporte
atentos a cada palavra da fisioterapeuta, ela alongava pernas, costas e braços para que seu corpo ficasse forte e preparado para a chegada dos pequenos. As aulas tranquilas se repetiram uma vez por semana até quinze dias antes do parto. A prática de atividades físicas durante a gestação não deve ser encarada como um bicho de sete cabeças. Na gravidez, assim como em toda fase
da vida, o exercício físico regular está associado a promoção de saúde, qualidade de vida e prevenção de doenças. É o que diz o professor doutor de ginecologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Luiz Ferraz de Sampaio Neto. “A mulher tem que ser acompanha por um obstetra e um profissional de educação física, mas a aptidão e o interesse da gestante sempre
CUIDOU DE SEU CORPO PARA QUE OS TRIGÊMEOS NASCESSEM COM SAÚDE
PROCUREI PREENCHER ESSE TEMPO COM COISAS QUE CONTRIBUÍSSEM COM MEU BEM-ESTAR. TENHO CERTEZA QUE AS ATIVIDADES FIZERAM TODA A DIFERENÇA PARA MIM E PARA MEUS BEBÊS EVENIZE BATISTA
devem ser levados em conta”, ressalta. De acordo com ele, a mulher grávida sofre mudanças fisiológicas no organismo e no esqueleto que são consideradas normais, decorrentes de alterações hormonais, circulatórias e respiratórias. Conforme o profissional, essas mudanças podem ser beneficiadas com a prática de exercícios. “O aeróbico, por exemplo, melhora a circulação sanguínea, ajudando a reduzir o inchaço; alivia o desconforto abdominal e diminui câimbras nas pernas”, frisa. Foi visando esses benefícios e seguindo as recomendações de seu médico, que Evenize aliou pilates, Reeducação Dinâmica Muscular (RDM) e yoga do quarto ao oitavo mês de gestação. A iniciativa foi, principalmente, para que o corpo suportasse o peso dos três bebês sem grandes dificuldades, prevenindo lesões na coluna, já que a gravidez era considerada de risco. Hoje, depois de quase três meses do nascimento dos pequenos, ela não tem dúvidas de que os exercícios a ajudaram a ter uma gravidez mais tranquila. “Antes eu sofria com a coluna, mas
durante a gestação não senti nenhuma dor. Foi excelente”, destaca. Além disso, a mamãe acredita que as atividades contribuíram com o bem-estar dos bebês, pois os três nasceram calmos.
Evenize diz que se sentia totalmente confortável durante os exercícios, que eram feitos com muita responsabilidade, sempre respeitando seus limites. No início, a jornalista também frequentou aulas de hidroginástica, mas, com o crescimento da barriga, ficou difícil sair da piscina. Para não arriscar, ela desistiu da atividade. Para ela, todo cuidado era pouco, pois os pequenos foram planejados com muito amor. “Procurei preencher esse tempo com coisas que contribuíssem com meu bem-estar. Tenho certeza que as atividades fizeram toda a diferença para mim e para meus bebês”, acredita. Foto: Jéssica Nascimento
Fotos: Ana Carolina Chinelatto
A MAMÃE
CASSIA MALHA HÁ CINCO ANOS E CONTINUOU A ATIVIDADE DURANTE A GESTAÇÃO DA MANOELA
+ esporte . 43
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#saude TRABALHO PREVENTIVO De acordo com a fisioterapeuta Liz Andrade, os exercícios praticados durante a gestação funcionam como um trabalho preventivo. “O fortalecimento da musculatura é uma preparação para o parto e pós-parto”, explica. Liz diz ainda que as atividades contribuem com a postura da mulher, evitando dores e lesões, já que os exercícios favorecem a descompressão
EU SEMPRE FUI MUITO ATIVA, ENTÃO CONTINUEI MALHANDO NA GESTAÇÃO. QUANDO TREINAVA ME SENTIA MUITO MELHOR
ALERTA!
da coluna. Porém, durante a realização das atividades, é preciso ter uma atenção redobrada com esse público, evitando riscos para a paciente. “A gestante pode fazer qualquer exercício, desde que não haja fortalecimento de abdome. Os exercícios variam conforme cada gestação, de modo que contribua com a qualidade de vida da mulher e, consequentemente, com a do bebê.”, ressalta.
De acordo com o médico ginecologista, esportes como esgrima, equitação, ciclismo e outras atividades de alto impacto são considerados inadequados para gestantes.
CONTINUE MALHANDO E quando a mulher já pratica alguma atividade física antes da gestação, o que fazer? O médico ginecologista orienta que a paciente continue com as aulas, respeitando as contraindicações de cada gestação. É o caso da enfermeira Cassia Queiróz, 29, que há cinco anos pratica musculação. Enquanto carregava a Manoela no ventre, ela continuou a atividade, dando um intervalo apenas nos dois primeiros meses da gravidez, considerados pelo seu médico como os mais arriscados. Ela diz que se sentiu melhor que na primeira gestação, que não fez nenhuma atividade física. “Melhorou minha dor nas costas e a respiração, fiquei menos fadigada. Ajuda até na autoestima, pois durante a gravidez a mulher fica enorme e inchada”, brinca.
A cada exercício ela descansava por alguns segundos, segurando a barriga, para não acelerar muito os batimentos cardíacos da bebê. Cássia trabalhou pernas, braços e costas. As aulas contavam com alongamentos, caminhada na esteira e aparelhos de musculação. A enfermeira frequentou a academia até as últimas semanas antes do parto e conta que foi muito tranquilo. “Eu sempre fui muito ativa, então continuei malhando na gestação. Quando treinava me sentia muito melhor”. E para garantir saúde também para os bebês, todas as mamães deveriam seguir os exemplos de Evenize e Cássia, mas claro, sempre com a liberação de um médico. O ginecologista alerta que os exercícios são recomendados apenas para as gestações que não tenham problemas clínicos ou obstétricos relevantes. ◘ Foto: Jéssica Nascimento
CASSIA QUEIRÓZ
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OS EXERCÍCIOS A DEIXARAM MUITO MAIS DISPOSTA DURANTE A SEGUNDA GRAVIDEZ
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FEITA PARA QUEM
QUER MAIS
Foto: Canva Free
ANUNCIE NA
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#cardapio
PRA QUEM TÁ COMEÇANDO POR ANA CAROLINA CHINELATTO
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você desejava. Mas, independente do objetivo, a causa do seu treino perdido pode ser a mesma: má alimentação. Para ajudar quem está começando nessa vida fitness, a +ESPORTE conver-
sou com a nutricionista Carolina Cacace. A profissional deu dicas simples que podem te ajudar a levar uma vida mais saudável e, consequentemente, conquistar o corpo que você deseja. Confira:
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Fotos: divulgação internet
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ão é fácil criar coragem para sair do sofá e praticar exercícios físicos. Porém, mais difícil que começar, é perceber que o seu esforço nos treinos não está dando o resultado que
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1- HIDRATAÇÃO. Que temos que beber muita água diariamente todo mundo sabe. Mas, quem segue à risca? Tomar dois copos por dia não é suficiente para nos manter hidratados, principalmente quando praticamos algum exercício físico. Segundo a nutricionista, o ideal é ingerir 35 ml de água por quilo de peso. Mas, no dia de fazer exercício, a quantidade deve aumentar, porque perdemos muita água quando transpiramos. 2- FRACIONAMENTO DE DIETA. Café da manhã, almoço e jantar não são refeições suficientes para quem busca saúde e quer ficar em forma. A dica é fazer no mínimo cinco refeições diárias, ou seja, incluir um lanche da manhã e um da tarde. Para quem vai dormir tarde, é recomendado fazer mais um lanche depois do jantar. Você já deve ter ouvido falar que “o cer to é comer de três em três horas”. Carol confirma essa frase, mas acrescenta: “não é pra comer fast food nesse inter valo de tempo”.
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3- ALIMENTAÇÃO BALANCEADA. O indicado é variar os tipos de alimentos a cada dia, para que sejam ingeridos todos os nutrientes necessários. Uma dica simples para os lanches é beber iogurte, uma fruta ou um mix de oleaginosas, que são vegetais que possuem óleos e gorduras boas, essenciais no nosso organismo (castanha, nozes, amêndoas etc). Nas refeições principais, o indicado é colocar vegetais e legumes (crus e cozidos) em metade do prato e a outra metade dividir em proteína animal, vegetal (feijão, grão de bico, lentilha etc) e carboidrato. 4- COMER ANTES E DEPOIS DO TREINO. Antes de treinar você precisa consumir alimentos que te deem energia para conseguir fazer o exercício até o fim. Para quem está começando com atividades mais leves, uma boa dica é banana com aveia ou pão de forma integral com patê natural ou frango desfiado. Quando voltar do treino, o corpo vai precisar de alimento novamente, então, o indicado pela nutricionista é comer em até 20 minutos após o término.
5- OLHAR O RÓTULO. Você tem costume de ler o rótulo dos alimentos que consome? Essa é uma dica simples, que, segundo a nutricionista, deve ser adotada no seu dia a dia. Não é porque na embalagem está escrito “integral”, que o alimento manteve todos os nutrientes essenciais. Fique atento: os três primeiros itens da lista são os que mais integram o alimento. Se entre os primeiros estão farinha enriquecida com ácido fólico, farinha branca ou açúcar, evite comprar. Estes ingredientes estão presentes em muitos alimentos e, se consumidos em excesso, são prejudiciais à saúde. 6- PROCURE AJUDA DE UM PROFISSIONAL. Cada pessoa tem um biótipo corporal diferente, por isso, a dieta que foi prescrita para você não pode ser seguida pelo seu amigo ou amiga. As rotinas, altura, peso e objetivos não são os mesmos. Para que você adote uma alimentação saudável que se encaixe no seu treino e te ajude a conquistar seus objetivos mais rápido, é essencial a ajuda de um profissional. ◘
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Foto: Canva Free
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#saude
H “EU ACHO QUE TODO MUNDO TEM QUE ESTAR COM A AUTO ESTIMA BOA E O EXERCÍCIO FÍSICO ME PROPORCIONOU ISSO” , AFIRMA
VITOR HUGO MANSANO
CORPO SÃO, MENTE SÃ
A PRÁTICA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICO TRAZ BENEFÍCIOS QUE VÃO MUITO ALÉM DOS ESTÉTICOS. QUANDO SEU CORPO ESTÁ EM MOVIMENTO VOCÊ SE SENTE MAIS DISPOSTO PARA FAZER AS ATIVIDADES DO DIA A DIA E TEM MAIS FACILIDADE PARA ENFRENTAR PROBLEMAS PESSOAIS, APONTA ESPECIALISTA POR ANA CAROLINA CHINELATTO
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á quem defenda que o exercício físico deve ser praticado apenas quando você precisa perder peso ou quer ganhar massa muscular. Você vai à academia por um tempo, elimina os quilos que estavam te incomodando e pronto. Depois é só cuidar da alimentação e manter o peso. Apesar de o senso comum passar essa ideia à diante, os profissionais da área são enfáticos: os benefícios proporcionados pelas atividades físicas vão muito além dos estéticos. O exercício gera maior relaxamento, por isso, quem leva uma vida muito corrida deveria buscar uma fuga nas atividades físicas. Isso é o que indica o profissional de educação física e psicólogo, Carlos Drigo. “O exercício ajuda a pessoa a entender melhor o seu corpo. Além disso, a prática libera endorfina, que é o hormônio que causa bem estar. O emagrecimento deveria ser apenas uma consequência”. Alguns dos benefícios proporcionados pela atividade física podem ser desconhecidos pelos praticantes, afirma o profissional de educação física. “A vida da pessoa muda em determinado ponto, mas ela não atribui a mudança a pratica dos exercícios”, explica. “Quem controla a minha vida? Sou eu ou o mundo? Quem pratica atividades físicas com regularidade consegue guiar a própria vida com mais facilidade, sem esperar e deixar que os outros façam isso por ela”, acrescenta. Conforme o profissional, não existe uma atividade física que seja melhor que a outra, já que os benefícios estão apenas na forma com que ela é praticada. “Cada pessoa tem que fazer o exercício que faz bem para ela. Tem gente que gosta de correr. Eu, por exemplo, prefiro andar de bicicleta. Quando o corpo está ativo, o bem estar reflete no dia a dia”, garante. E é isso que acontece com a representante comercial Luciana Camargo Ferraz, 30. Mãe de um menino de apenas 1 ano, ela conta que precisa se desdobrar para conciliar os cuidados com o filho, casa e trabalho. Segundo ela, a vida seria muito mais “pesada” se não fosse a prática de Muay Thai. “A luta ajuda a aliviar o estresse. Eu entro carregada e saio renovada. O físico cansa, mas a mente relaxa. Meu dia termina muito melhor quando tenho treino”, comenta. Mas, como disse Drigo, qualquer
Fotos: Ana Carolina Chinelatto
EU ACHO QUE TODO MUNDO TEM QUE ESTAR COM A AUTO ESTIMA BOA E O EXERCÍCIO FÍSICO ME PROPORCIONOU ISSO VITOR HUGO MANSANO
exercício é válido. Damiris Mazini Ribeiro, 23, pratica atividades físicas desde pequena. Começou na natação e dos 12 aos 17 anos, inclusive, competiu profissionalmente na ginástica. Ela, que nunca gostou de academia, se sentiu em casa assim que subiu pela primeira vez no tecido, nas aulas de circo. A jovem conta que durante o treino não tem moleza. “Nos primeiros trinta minutos é condicionamento físico. Depois, por quarenta minutos, praticamos as acrobacias no tecido e, nos últimos vinte, fazemos um alongamento reforçado”. Ela garante que não faz parte do grupo de mulheres que procura o exercício físico para emagrecer. A jovem diz que, jus-
OS RISCOS DO EXCESSO COMO TUDO NA VIDA, quando a atividade física é praticada em excesso, também faz mal. De acordo com Drigo, se a prática for abusiva, pode acontecer o chamado overtrainning. “Isso acontece quando a pessoa não percebe os limites do seu corpo e faz mais exercícios que o corpo é capaz de suportar. Você se sente
muito mais cansado e pode, inclusive, ocasionar uma lesão”, alerta. Outro reflexo negativo da prática abusiva de atividade física é a alexitimia. Conforme o profissional, este é um termo que diz respeito à dificuldade em demonstrar sentimentos. “A pessoa não consegue verbalizar as emoções e nem descrever sensações corporais. É a ausência de emoção”, explica. O fato de continuar em busca de um corpo perfeito, mesmo quando já está em ótima forma física também é resultado da falta de limites. Essa doença é psicológica e chamada de vigo-
rexia. “Afeta principalmente os homens. Eles já estão “fortes” e continuam achando que não está bom. Isso pode resultar também em dor muscular persistente, cansaço, irritabilidade, depressão, entre outros. Mas pode acontecer com mulheres também”, reforça.
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#saude
QUANDO EU TREINO, ME SINTO BEM. EU SAIO COM MAIS DISPOSIÇÃO PARA TRABALHAR NO DIA SEGUINTE E, COM CERTEZA, MEU TEMPO NA FACULDADE RENDE MAIS DAMINIS MAZINI RIBEIRO
PRATICA ATIVIDADES FÍSICAS DESDE PEQUENA E HOJE, OS EXERCÍCIOS CONTINUAM FAZENDO PARTE DA ROTINA
PARA A VIDA TODA Por mais que os profissionais indiquem que o exercício físico seja praticado por todas as pessoas desde cedo visando o bem estar e a saúde, tem quem o procure somente quando a situação foge do controle. Esse foi o caso do Vitor Hugo Mansano Filho, 26. Ele conta que desde criança foi obeso, mas não se importava com a aparência. Com 13 anos e pesando 94 kg, ele percebeu que era hora de mudar. “Eu estava na praia e quando tive que tirar a camiseta quase morri de vergonha. As pessoas me olhavam com desprezo”, lembra.
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Querendo mudar de vida, Vitor buscou ajuda de um médico endocrinologista e começou a praticar atividades físicas regularmente. “Eu estava determinado e logo entrei em uma academia. Fazia musculação e aulas de ginástica. Não demorou muito para eu pegar gosto. Quando vi que estava dando resultado, não abandonei mais os exercícios”, conta. E o que era hobby virou profissão.
Por conta das mudanças positivas que percebeu na vida desde que começou a fazer os exercícios, Mansano optou por fazer faculdade de Educação Física e, há um ano, é dono de um Centro de Treinamento Funcional. “Eu acho que todo mundo tem que estar com a auto estima boa e o exercício físico me proporcionou isso. Quero poder ajudar as pessoas a se sentirem assim”, revela. ◘ Fotos: Ana Carolina Chinelatto
tamente por praticar esportes desde pequena, hoje o corpo sente a necessidade de estar em constante movimento. “A semana que eu não vou treinar é horrível. Por conta de lesão eu já tive que ficar parada por um tempo e isso fez muito mal para mim”, lembra. Para ela, os benefícios gerados pelo exercício também refletem diretamente no trabalho e nos estudos. “Quando eu treino, eu me sinto bem comigo mesma. É o tempo que eu tenho para esquecer tudo que acontece lá fora. Eu saio com mais disposição para trabalhar no dia seguinte e, com certeza, meu tempo na faculdade rende mais”, revela. DAMIRIS
LUCIANA CAMARGO LEVA UMA VIDA CORRIDA E GARANTE QUE TUDO FICOU MAIS SIMPLES DEPOIS QUE COMEÇOU A PRATICAR MUAY THAI
SEDENTA T RISMO TA - SEDENTARISMO
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Foto: Carolina Moreira
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#fitness
ALONGAR OU NÃO ALONGAR?
EIS A QUESTÃO ALGUMAS VEZES FÁCIL DE FAZER, OUTRAS NEM TANTO. MUITO CONHECIDO, MAS POUCO EXPLORADO, O ALONGAMENTO PROMOVE MAIS FLEXIBILIDADE AO CORPO, TIRA A TENSÃO DO MÚSCULO E PRESERVA O COMPRIMENTO E A AMPLITUDE MUSCULAR, MESMO COM TANTOS BENEFÍCIOS AINDA EXISTE A DÚVIDA SOBRE O MOMENTO EM QUE DEVE SER FEITO. QUANDO ALONGAR? ESPECIALISTAS DESVENDAM ESSA QUESTÃO
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POR CAROLINA MOREIRA
a 91ª edição da Corrida de São Silvestre em 2015, Adriana Massa, apaixonada pelo esporte, correu o suficiente para voltar para casa com uma lesão na coxa. A causa? Falta de alongamento. Além do machucado, a corredora teve que ficar 20 dias parada, fazendo fisioterapia. Depois disso, nunca mais deixou de alongar. O alongamento, segundo o especialista em Fisioterapia no Esporte pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Mateus Rossi, é o movimento que tira a tensão do músculo, diminuindo a sobrecarga que eles promovem nos ossos. “Ajuda na preservação do comprimento muscular normal com benefícios a longo prazo”, afirma. Alongar também relaxa a musculatura e aumenta a flexibilidade corporal. No treinamento funcional, por exemplo, que trabalha o corpo e suas capacidades físicas, como velocidade, coordenação motora, equilíbrio, força e resistência, o alongamento feito pós-treino tem a finalidade de relaxar a musculatura para evitar a Dor Muscular Tardia (DOMS) – desconforto sentido nos músculos no dia após o treino. “Quando treino funcional com meus alunos, os músculos ficam mais rígidos”, conta o especialista em Biomecânica, Avaliação Física e Prescrição de Exercícios pela FMU Complexo Educacional., César Pereira.
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Já na melhora da flexibilidade corporal, o alongamento deve ser feito com mais frequência. Adriana Massa, que, além de correr, também faz aulas de Pole Dance, conta que alongar é fundamental para que os movimentos
sejam realizados com sucesso. “Quando alongo Me sinto mais leve e com mais facilidade para realizar os movimentos”, ressalta. Em contrapartida, quem não alonga de forma alguma é Thales de Souza,
ADRIANA MASSA, 33,
FAZ ALONGAMENTO APÓS O TREINO DE FUNCIONAL. SEGUNDO SEU EDUCADOR FÍSICO CÉSAR PEREIRA, 30, O OBJETIVO É RELAXAR A MUSCULATURA A FIM DE EVITAR A DOR MUSCULAR TARDIA - DOMS
de pessoas que não praticam atividade física. “Deve-se alongar em outros dias da semana e não somente naquele momento em que vai se exercitar de maneira intensa. O mesmo é indicado para pessoas que não praticam atividades intensas. O alongamento deve estar inserido na rotina para que se tenha boa flexibilidade e saúde. Não precisa estar necessariamente associado a uma atividade de exercício intensa”, finaliza.
o alongamento preserva o comprimento muscular e traz benefícios a longo prazo Mateus Rossi
especialista em Fisioterapia no Esporte
Lesões Não existem evidências científicas que afirmam que o alongamento previne lesões musculares como estiramentos ou dores nas articulações. Estudo publicado em 2011 pelo European Journal of Applied Physiology apontou que o alongamento feito com movimentos curtos e suaves, por um tempo mais longo, ajuda no rendimento da atividade física. E que as pessoas que se alongam Thales de Souza, 19, muitas vezes na semana recebe são mais fortes. Os alongaorientação mentos têm como benefí- do treinador Lucas Neves, cios a redução das tensões 25, par a que musculares, relaxamento, aqueça as preparação do corpo para articulações antes de atividades físicas e ativacomeçar a ção da circulação. ◘ musculação
Fotos: Carolina Moreira
que faz musculação há sete meses. “Eu não alongo, só aqueço durante o treinamento com cargas mais leves”, conta. Seu educador físico, Lucas Neves, que é especialista em Treinamento Personalizado e Musculação pela Universidade de Sorocaba (Uniso), não indica a prática do alongamento para a modalidade. Neves afirma que a musculação envolve muita sobrecarga nos músculos e que alongar nessa situação só iria aumentar o risco de lesioná-los. Um estudo recente realizado na Universidade de Nevada, em Las Vegas, apontou que a prática de alongar pode ser prejudicial para treino de força, já que seria reduzida a resistência à ruptura das fibras musculares, o que prejudica no objetivo do treinamento (fortalecer o músculo). No treino de força se encaixam outras modalidades além da musculação. “Se a pessoa for realizar uma atividade muito intensa como basquete ou atletismo, em que a força está envolvida, não deve alongar intensamente antes senão irá perder desempenho naquela atividade”, cita Mateus Rossi. Para o fisioterapeuta, que também trabalha com time de atletas profissionais, o alongamento deve ser incluído na rotina tanto de esportistas quanto
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#na faixa
NO CONFORTO
Fotos: Paulo Ribeiro
DO LAR
QUEM DISSE QUE PARA MANTER A FORMA PRATICANDO EXERCÍCIOS FÍSICOS É PRECISO SAIR DE CASA E GASTAR DINHEIRO? POR JÉSSICA NASCIMENTO
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em sempre o valor das mensalidades de academias ou personais trainers cabe no bolso, mas não é por isso que você deve deixar de se exercitar e cuidar da saúde. Há muitos exercícios que podem ser feitos em casa, com a ajuda de obje-
tos do dia a dia. A +ESPORTE convidou a educadora física Paula Maria Nicomedes de Oliveira, de 27 anos, para preparar um treino com oito exercícios, utilizando uma coisa que você, provavelmente, tem em casa: uma cadeira. Tá esperando o que? Dá um play na sua música preferida e corre praticar!
ATENÇÃO
Antes de começar os exercícios, Paula recomenda que seja feito um aquecimento, com um minuto de Sprint (corrida no lugar) ou polichinelo, além do alongamento de cada membro do corpo por 30 segundos.
USANDO UMA CADEIRA AGACHAMENTO Em pé, de costas para a cadeira, sente e levante com os braços esticados na altura do peito. O movimento fortalece o glúteo e a coxa. Faça três séries de 15 repetições cada.
SUBIDA NA CADEIRA Em pé, suba na cadeira, como se estivesse subindo um degrau, levantando uma perna de cada vez. Depois desça de costas. O exercício fortalece glúteos, coxas e panturrilhas. Faça três séries de 10 repetições para cada perna.
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BRAÇOS Agache no chão, de costas para a cadeira, apoie os braços no assento com os cotovelos sempre para trás, abaixe e levante o corpo com auxílio dos membros superiores. O bumbum deve ficar para baixo durante o exercício, sem encostar no chão. O movimento fortalece o tríceps. Faça três séries de 12 repetições cada.
PRANCHA De frente para a cadeira, apoie os braços nas laterais do acento com as pernas esticadas, deixando o corpo reto, como uma prancha. Desça e suba o corpo utilizando a força dos membros superiores, como uma flexão de braço. O exercício trabalha abdome, costas, tríceps e peito. Faça três séries de 10 repetições cada.
ABDOMINAL Deitado de frente para a cadeira, apoie os pés no acento mantendo os joelhos dobrados em um ângulo de 90º. Com as mãos entrelaçadas na nuca, faça abdominais subindo e descendo a cabeça e peito. O exercício trabalha o abdome. Faça três séries de 15 repetições cada.
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#tabombando
PARA SE INSPIRAR
CONFIRA CINCO MODALIDADES DE AULAS QUE ESTÃO SE POPULARIZANDO NAS ACADEMIAS. A LISTA CONTA COM OPÇÕES PARA TODOS OS GOSTOS, VARIANDO ENTRE OS TREINOS MAIS “ZENS” ATÉ AQUELES DE FALTAR FÔLEGO. VALE O INVESTIMENTO!
1- POLE FITNESS. A dança com movimentos em torno de uma barra vertical de metal, antes vista apenas como um ícone da sensualidade, agora faz parte das estratégias para deixar o corpo em forma. Diferente do pole dance, as aulas contam apenas com os exercícios, sem a coreografia sensual. A prática consiste na sustentação do corpo no poste apenas pelo contato das mãos e pernas. Exige muita força e fortalece pernas, braços e abdome, além de aumentar flexibilidade, equilíbrio, resistência e autoestima. Além dos giros e movimentos em torno da barra, a aula inclui abdominais e exercícios para fortalecer a musculatura. O pole dance pode ser praticado por qualquer pessoa, desde que não haja restrições médicas, como problemas na coluna. 2- ACROYOGA. A mistura de yoga com acrobacias tem conquistado muitos adeptos, inclusive famosos, como a modelo Gisele Bündchen e a atriz Grazi Massafera. Os exercícios da modalidade são feitos em duplas, já que uma pessoa precisa ficar em baixo, na base, e outra suspensa, para realizar os voos acrobáticos. Para que as posições sejam realizadas, é preciso haver muito equilíbrio e harmonia entre a dupla, pois um depende
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do outro para a execução dos movimentos. A acroyoga contribui com o fortalecimento muscular, trabalhando abdome, pernas e braços, além da respiração e concentração. Pode ser praticada por qualquer pessoa. 3- HIIT. Famoso pela versatilidade e eficiência, o Treino Intervalado de Alta Intensidade, tradução do termo em inglês High Intensity Interval Training (HIIT), combina exercícios aeróbicos realizados em máxima intensidade por um curto período de tempo, intercalados com momentos de descanso. Esses treinos intensos fazem o corpo continuar queimando calorias e gordura durante o dia, após a realização das atividades, por isso costumam apresentar melhores resultados. O HIIT pode ser realizado em qualquer lugar e com vários tipos de exercício, como corrida, bike, natação e musculação. 4- PILATES. Muito recomendado por médicos para o tratamento de patologias, como problemas de coluna, o pilates tem ganhado cada vez mais adeptos. A técnica, que trabalha mente e corpo em conjunto, promove a reeducação de movimentos, utilizando força, tonificação e alongamentos para deixar o
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Foto: Jéssica Nascimento
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Foto: Jéssica Nascimento
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Foto: divulgação/instagram Grazi Massafera
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Foto: Carolina Moreira
POR JÉSSICA NASCIMENTO
corpo mais forte, elegante e saudável. Por proporcionar menos desgaste das articulações e dos músculos, o pilates é indicado para qualquer pessoa. Os exercícios são realizados sem pressa, com muita concentração, controle, precisão e respiração. As aulas também contribuem para melhorar a capacidade respiratória e a tolerância ao estresse. 5- FUNCIONAL. Conhecido por melhorar a qualidade dos movimentos do dia a dia, o treinamento funcional está se popularizando nas academias. O método, que revolucionou os treinamentos de força, visa tornar as funções do corpo mais eficientes. Diferente de outros treinos, no funcional os músculos são trabalhados de forma integrada, pois é assim que eles são exigidos na vida real. Os exercícios utilizam os padrões fundamentais do corpo humano, como agachar, empurrar, puxar, girar e lançar. O método também trabalha o centro de força do corpo, que inclui músculos do abdome, dos quadris e da região lombar, estabilizando a coluna vertebral. A técnica permite que o corpo se torne mais forte, ágil, equilibrado e resistente a lesões, pronto para enfrentar desafios do cotidiano. ◘
Foto: Carolina Moreira
#fitness
O PRIMEIRO
PASSO
ACESSÍVEL PARA TODOS OS PÚBLICOS, A CAMINHADA É A ATIVIDADE FÍSICA INICIAL PARA QUEM PRETENDE PRATICAR ESPORTE POR CAROLINA MOREIRA
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ar um passeio no parque aos fins de semana, levar o cachorro para dar uma volta ou acordar mais cedo para andar no quarteirão. Em todas essas atividades você precisa usar os pés para caminhar. Mas será que só eles são exercitados na caminhada? Um estudo realizado pelo Centro de Estudos de Lazer e Recreação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2011, aponta que as contribuições da caminhada como atividade física são muitas e envolvem todo o corpo. No coração, é melhorada a pressão arterial; nas articulações e ossos, a artrite diminui, os músculos se fortalecem e as dores reduzem. “Melhora o sistema cardiorrespiratório, oxigena o cérebro e é
extremamente saudável psicologicamente, além de aumentar a aptidão física”, afirma o ortopedista especialista em trauma do esporte pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Eduardo Vieira. Indicada para pessoas de qualquer idade, a caminhada é uma atividade física acessível, já que não é preciso contratar algum serviço ou tirar dinheiro do bolso. Basicamente, é só vestir uma roupa confortável, calçar um tênis adequado e escolher o local. Na rua de casa, três vezes por semana, ou no Parque das Águas aos domingos, Mário Campos e seu fiel amigo Fred, cão da raça Golden Retriever, caminham. Para ele a prática faz muita diferença em sua vida. “Me sinto mais disposto, animado, melhora minha musculatura, melhora tudo”, revela.
Quem também sente resultados positivos é Alci Rabaça. Todas as manhãs, às 7h, ela sai com seu filho Pedro, de 11 anos, para caminhar na rua de sua casa. “É um alívio para nossa mente. É um momento que saímos da frente das telas de celular para respirar ar puro. Se eu não chamar, ele fica bravo”, conta. Segundo o ortopedista, o exercício deveria ser pensado como uma atividade a ser feita para se manter saudável, como escovar os dentes por exemplo. “É recomendado separar um tempo para a caminhada, sendo o ideal cinco vezes por semana, durante 50 minutos”, afirma. E não para por aí. A caminhada pode evoluir para a prática de alguma atividade física de maior intensidade. “Ela cria no organismo uma movimentação que, feita com frequência, não será mais suficiente. Logo, é interessante que a pessoa evolua para a corrida e mantenha esse hábito de evolução”, comenta Vieira. A +ESPORTE mostra, agora, a você leitor, a importância da caminhada e o ganho de qualidade de vida que ela é capaz de proporcionar. Um texto com os principais benefícios seria pouco. Para esta edição, decidimos produzir um ensaio fotográfico. Nele, é possível encontrar experiências de quem não vive mais sem caminhar. Selecionamos 10 pessoas que fazem esse tipo de atividade física. Elas compartilharam um pouco dessa experiência, contando o que a caminhada significa em suas vidas. Segundo uma pesquisa feita em 2015 pela Universidade de Saarland, na Alemanha, uma caminhada diária pode acrescentar até sete anos na vida de uma pessoa. E lembre-se, antes de começar a se exercitar, procure um médico ou profissional mais indicado!
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Fotos: Carolina Moreira
#fitness
CAMINHAR É MELHORAR A MINHA VIDA EM TODOS OS SENTIDOS SOROCABANO, MÁRIO CAMPOS, 55 ANOS, PRATICA A CAMINHADA DEVIDO A ORIENTAÇÃO MÉDICA, JÁ QUE OS ÍNDICES DE COLESTEROL DE SEU CORPO ESTÃO ALTOS. TRÊS VEZES POR SEMANA, NA RUA ONDE MORA, ELE CAMINHA DURANTE 50 MINUTOS COM FRED, SEU CACHORRO DE ESTIMAÇÃO. E NO DOMINGO A CAMINHADA É ESPECIAL, AO REDOR DO LAGO DO PARQUE DAS ÁGUAS, EM SOROCABA. ESSA ROTINA JÁ DURA SEIS ANOS.
SE NÃO CAMINHO FICA DIFÍCIL DE DORMIR, ME SINTO INDISPOSTA. CAMINHAR ME AJUDA A DISTRAIR A MENTE, FAZER NOVAS AMIZADES, ME SINTO MELHOR, MAIS VIVA
A SOROCABANA CAMINHA HÁ 13 ANOS, UMA HORA POR DIA, SEIS VEZES POR SEMANA. SEMPRE GOSTOU DE CAMINHAR E, QUANDO O MÉDICO PROCTOLOGISTA PRESCREVEU A ATIVIDADE, NÃO FOI DIFÍCIL ACEITAR. NEREIDE SALGADO, 65 ANOS, SAI DA SUA CASA DE MANHÃ, ÀS 7H, EM DIREÇÃO À PISTA DE CAMINHADA DE UM HIPERMERCADO DA ZONA NORTE DA CIDADE. ELA SEGUE NA CICLOVIA DA AVENIDA ITAVUVU ATÉ SEU DESTINO FINAL, NUM PERCURSO DE DOIS QUILÔMETROS, QUE DURA APROXIMADAMENTE 1H15.
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Nascida em Belém (PA) e residente em Sorocaba desde 2013,
Zaine Moreira tem 47 anos e caminha regularmente há dois.
O motivo? pressão alta. Como uma pessoa ativa, sempre gostou de trocar ônibus e carro por uma bicicleta ou os próprios pés. Mas, a piora da saúde e o ganho de peso, a fizeram criar uma rotina de exercícios mais rigorosa. Caminha cerca de uma hora por dia na volta do trabalho para casa. Tudo isso aliado a uma alimentação saudável.
Disposição, animação e saúde. Isso define a caminhada para mim
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Fotos: Carolina Moreira
#fitness
NAS MANHÃS DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA, A PAULISTANA ALCI RABAÇA, 36 ANOS, SAI COM PEDRO, 11, PARA CAMINHAR NO BAIRRO ONDE MORAM. QUANDO CHEGA O FIM DE SEMANA NA CASA DA FAMÍLIA, TODOS JÁ SABEM: TERÁ CAMINHADA E BATE-BOLA NO PARQUE, E O SOROCABANO DAVID, 40, FAZ QUESTÃO DE ACOMPANHAR A ESPOSA E O FILHO. ESSA PROGRAMAÇÃO É ROTINA DA FAMÍLIA HÁ TRÊS ANOS E FOI ESCOLHA DE ALCI. ELA DESEJAVA TER UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL E TAMBÉM QUERIA AJUDAR O FILHO A TER MAIS MOMENTOS DE INTERAÇÃO E MENOS TEMPO NA FRENTE DAS TELAS DO CELULAR E COMPUTADOR.
A CAMINHADA É UM ALÍVIO PARA NOSSA MENTE ALCI RABAÇA
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Nós sentimos uma melhora significante em nossa saúde depois que começamos a caminhar regularmente e conseguimos passar esse bem-estar também para a Stella Helielce bonifácio
O casal de namorados Helielce Bonifácio, 26 anos, e Daniel Lorenti, 35, caminha há um ano. Os sorocabanos variam o local da caminhada toda a semana, e a prática dura cerca de uma hora e meia por dia. Melhorar o bem-estar foi o passo inicial para o casal começar a caminhar. Hoje, a cachorrinha Stella, da raça West Highland White Terrier, também participa dessa rotina.
Com objetivo de perder peso e desenvolver uma atividade física que pudesse praticar sozinho, Ricardo
Teixeira, 36 anos
começou a caminhar aos 21. Já Vanessa Diana, 33, sua esposa, teve uma motivação diferente: busca por saúde. Principalmente por conta das crises de enxaqueca, ela caminha há cinco anos e percebeu que as dores amenizaram. Os dois caminham três vezes por semana e preferem os locais públicos, como parques, para praticar. A apreciação da natureza e o ar puro são muito convidativos e promovem uma boa sensação para o casal, que garante se alimentar de maneira saudável. Aos fins de semana, porém, dizem que abrem algumas brechas para comidas diferentes e vida social ativa.
É um presente que damos ao nosso corpo que, biologicamente, é uma máquina que pede a atividade física ricardo teixeira
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#CHAVEDEOURO
ORGULHO VERDE-AMARELO E
stávamos animadas com a ideia. Carol jogou no grupo do Whats App numa manhã: “Galera, vamos para a Paralimpíada do Rio de Janeiro?”. Pronto. Três dias depois, nós duas já tínhamos comprado as passagens. Faltava menos de um mês para preparar tudo, achar lugar para ficar, onde comer e como se transportar. Tudo isso dentro de um orçamento de estagiárias. Cartão de crédito? Nunca usamos tanto. A ansiedade era grande. Embarcamos no avião e, dentro de 40 minutos, já avistávamos a Cidade Maravilhosa. E sim, ela é cheia de encantos mil. Mesmo com o tempo nublado, o Rio de Janeiro continuava lindo. Chegamos no apartamento, deixamos as malas, colocamos os celulares para carregar – você deve conhecer a fama que a bateria do Iphone tem – e saímos, trajadas de verde e amarelo, claro. Ao chegarmos no trem, depois de pegar o expresso PARADOR – grave bem esse nome. Se você tem pressa no Rio, não pegue o parador – já conseguimos sentir a cultura carioca e a criatividade do brasileiro. Gambiarras materiais e textuais são o forte por lá no quesito “vendas no coletivo”. Tinha de tudo. Power banks, descascador de vegetais que virava forma para pastel (não pergunte como), salgadinho, pipoca e cookies. Tudo ali, junto e misturado. Engenho de Dentro era a estação que dava acesso ao nosso primeiro destino paralímpico: o Engenhão. Depois de encararmos uma filinha básica, entramos. Ah, como nosso coração bateu mais forte naquele momento… Aquele estádio é tão lindo! A maioria das pessoas vestia verde e amarelo. Nós, interioranas, empolgadas com o evento e superpatriotas, compramos uma bandeira e amarramos no pescoço. Como se não bastasse, pintamos o rosto nas cores que representam nossa nação. Todos olhavam, claro. Mas era impossível conter a alegria que estávamos sentindo naquele lugar. Estávamos ansiosas para ver a Terezinha Guilhermina. Ela é deficiente visual e extremamente vaidosa. Se não viu, você deveria ver essa musa correr. Ela deixa os cabelos coloridos, passa uma maquiagem glamourosa e, para completar, usa uma máscara cheia de glitter nos olhos para tampar a luminosidade. Mas, enquanto não chegava a hora,
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Foto: Ana Carolina Chinellato
POR ANA CAROLINA CHINELATTO E CAROLINA MOREIRA
AS PROVAS DE ATLETISMO FORAM REALIZADAS NO ESTÁDIO DO ENGENHÃO
passeávamos pelo local. Quiosques vendiam lanches, bebidas e havia, também, as lojas com produtos oficiais. Eram tantas coisas lindas. Queríamos levar tudo. O orçamento, a nível estagiária, já estava esgotado àquela altura. Era hora de voltar para o estádio. Ao sentarmos na arquibancada, ficamos uns minutos admirando a beleza do lugar. Duas palavras podem definir o que vimos ali, logo no início da prova: motivação e respeito. Não importava se o atleta era brasileiro ou chinês, a torcida gritava palavras de apoio e batia palmas até que o último atleta cruzasse a linha de chegada. Os aplausos dobravam se alguém caía ou se lesionava. Sentimos orgulho dos torcedores e, mais ainda, dos atletas. A cada premiação todos ficavam em pé, em respeito ao hino do país que havia subido no lugar mais alto do pódio. Não esperávamos que tanta gente fosse prestigiar o evento. O Engenhão estava lotado, assim como o Parque Olímpico, que visitamos no dia seguinte. Que lugar maravilhoso! Tinha gente do mundo todo. Bandeiras de todos os países circulavam os mais de 1 milhão de metros quadrados. Chegamos por volta das 13h. Às 16h, sentamos para comer e descansar. As pernas já estavam cansadas. De barriga cheia e energias renovadas, continuamos a admirar as arenas onde as provas
aconteciam - uma mais linda que a outra. Entre as pessoas que foram prestigiar o evento, vimos muitas famílias. As crianças corriam animadas pelo Parque, gritando Brasil e apoiando os atletas deficientes. E a gente com medo da falta de prestígio! Ainda bem que fomos surpreendidas positivamente. Os atletas andavam no meio de todo mundo e adoravam quando alguém parava para pedir uma foto. Óbvio que estávamos incluídas nesses “alguéns” e tietamos vários deles. Algo que nos marcou também foi a quantidade de pessoas com deficiência que foram assistir aos jogos. Elas se sentiam representadas. Durante a Paralimpíada, não existiu espaço à palavra preconceito. Dentro dos estádios ou pela televisão, o mundo estava apoiando aqueles atletas. E o Brasil deu show! Show de torcida, de organização, de respeito e de inclusão. Mas isso não pode acontecer só a cada quatro anos. Parafraseando Arlindo Cruz, “o show tem que continuar”. Cada um tem que fazer a sua parte para ajudar a acabar com a discriminação. O desejo da equipe que escreve essa revista é que você, leitor, ao chegar ao fim de cada edição e conhecer um pouco mais de tudo que o esporte é capaz de proporcionar, se sinta motivado a lutar por um mundo melhor. Com menos preconceito e muito +ESPORTE. ◘
Foto: Carolina Moreira
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