Revista MIGA nº1

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Oi, miga! Carx miga, Esse exemplar da revista MIGA que está em suas mãos é resultado de muito esforço e carinho das migas que escrevem! Nossa revista surgiu de uma ideia e brincadeira entre amigxs e daí percebemos a necessidade que sentimos em passar e repassar informações sobre o mundo que nos cerca, sobre as várias dúvidas que aparecem na nossa adolescência e, por isso, achamos que poderíamos ajudá-lxs a enfrentar esses momentos com a maior naturalidade e informação possível. A origem da revista MIGA se deu a partir do próprio nome: “miga”, que interpretamos como um tratamento universal, tanto para mulheres, quanto para homens; sem qualquer distinção de sexualidade ou identidade de gênero. A nossa ideia era conseguir contribuir de alguma forma para a desconstrução de diversos preconceitos que, nós, as próprias editoras, revisoras e xs designers da revista, não concordamos e lutamos contra. Mais do que matérias que envolvem sexo e diversão, essas são experiências que nós da MIGA vivenciamos ou que foram muito próximas a nós. Por acharmos que esses casos de homofobia, misoginia e machismo, entre tantos outros, ocorrem com muito mais frequência do que imaginamos, decidimos fazer nossa parte ajudando esse tipo de atitude não se propagar pelo nosso mundo. Nós da MIGA contamos com vocês para exterminar todo ódio e preconceito da Terra! We got the power, migas! Por fim, esperamos de coração que vocês gostem das matérias e das informações aqui contidas, queremos muito que elas ajudem vocês e, dessa forma, vocês também possam as espalhar pelo mundo com todo amor possível. Beijos, Revista MIGA.


Migas Lara Freitas, 18 Designer

Lucas Rocha, 18 Designer Isabela Kale, 19 Redatora

Beatriz PaixĂŁo, 18 Designer

Karla CorrĂŞa, 18 Redatora

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Nathalia Menezes, 18 Redatora Mariana Frois, 18 Redatora

Foto por: Caroline Petersen


Índice Oi, Miga!.........................1 Aceite-se....................4 Moda e Beleza..............7

Quebrando regras e padrões

Comportamento.........17 Identidade Sexual Identidade de Gênero O mito da Heterofobia

Ativismo........................23

O que é...?

Sexo e Relacionamentos....11

Sobre Sexo...

Precisamos falar sobre: DSTs

Métodos Anticoncepcionais Relacionamento Abusivo

Feminismo Te ensinando certin: Ludmilla

Diversão........................33

Empodere-se Quiz

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Aceite-se

Essa seção tem como objetivo promover a autoaceitação dos leitores da MIGA, afinal, a revista é feita pra vocês

Guinevere Gaspari, 25 Sou Guinevere, tenho 25 anos, sou lésbica. Sofri e sofro todo dia por isso. É difícil, pois tem hora que você acha que realmente está sozinha, que o mundo te deu as costas, mas então, você percebe que tem muita gente pra te dar apoio, que cada “porrada” que a gente leva nos deixa mais fortes quando a gente se levanta. Eu levei bastante tempo para entender a importância dos movimentos para mim, como mulher e lésbica. No movimento LGBT eu ainda tenho um pé atrás, mas o movimento feminista me ajudou muito na questão da aceitação do meu corpo e quanto a minha orientação, porque o mundo inteiro está gritando e dizendo que você é pior por isso. É nesse movimento que eu me sinto abraçada, acolhida, que “pego na mão das amigas” e sigo em frente. É tudo um processo. Até quando eu não me identificava como feminista e dentro do movimento LGBT, eu tentava combater algumas coisas. Pra ser sincera, eu comecei a militar mais ano passado. Na minha primeira faculdade, de direito, as pessoas eram mais conservadoras e tal, então no inicio eu tentava esconder dizendo que era hétero, porque eu tinha medo da reação delas. Quando eu entrei na faculdade de comunicação a coisa já foi diferente, pois eu me sentia mais a vontade. Até porque eu era mais velha, estava muito mais empoderada e estava começando a ter meus primeiros relacionamentos

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sérios com garotas. Eu acho que todo dia estamos tentando combater essa opressão, tanto pessoalmente quanto virtualmente, mas o virtual dá uma força maior para as pessoas, por não ser cara a cara e as pessoas acabarem falando as coisas sem medir como pode afetar a gente, o que acaba comprometendo mais o nosso psicológico. A principal questão é que as pessoas tem mais problemas em casa do que na rua, como falar da orientação para os pais. Porque até para pessoas que tem relacionamentos bons com os pais, acaba sendo um choque. A gente tem esses movimentos, e tem muita gente que dá muito suporte. Mas sim, rola muito uma coisa de pra fora de casa tudo bem, mas dentro de casa não: eu não criei meu filho pra isso.

Pedro Cholodoski, 20

Meu nome é Pedro Arthur, tenho 20 anos, sou gay e me considero agênero. Desde criança sofro preconceito porque todo mundo exigia e ainda exige de mim um comportamento muito masculino. Quando criança era repreendido por brincar de criar roupas para meus bonecos. Cresci numa família conservadora e, por isso, até os


16 anos, eu reproduzia machismo, até que chegou um momento que eu pensei “eu sou uma pessoa marginalizada, não posso marginalizar pessoas que sofrem as mesmas coisas que eu” e foi quando eu quebrei com essa identidade antiga e comecei a ser o que eu gostaria de ser. Até hoje eu sofro com esse tipo de preconceito, até mesmo pela minha cor, porque já chegaram a falar pra mim que não ficariam comigo pela minha cor e por causa dos meus traços físicos. É difícil. O que eu tenho a dizer para uma pessoa que está passando pelo mesmo tipo de situação que eu é: definitivamente não é fácil. Não é algo que eu espero que as pessoas entendam. Tem lugares onde é mais fácil a aceitação e tem lugares que é mais difícil. Para as pessoas que vivem em lugares mais acolhedores, a primeira coisa que eu tenho a pedir é que elas não usem da vivência delas para desmerecer as pessoas que sofreram mais. É muito difícil chegar para uma pessoa que tem problemas em casa que “ah, não, acima de tudo sua família vai te proteger” quando tem milhões de pessoas morrendo de depressão por causa dos pais. Essas pessoas que tem uma aceitação mais fácil devem procurar ajudar aquelas que sofrem mais. Também há momentos que você pensa que você não vai conseguir sair, conseguir se aceitar, só que com a ajuda que das pessoas que você considera próximas, dos seus amigos, você começa a se sentir esperançoso. É preciso ter autoconfiança, porque se você desistir de si mesmo, não tem como você lutar, sabe?

Maria Clara Freitas, 18 Meu nome é Maria, tenho 18 anos. Sou bissexual, negra e sempre sofri com retaliações por causa disso. Há uns seis meses eu comecei a me envolver com a militância um pouco mais. Primeiro eu comecei com o feminismo, depois com o movimento negro e depois com as intersecções dos dois. Eu sempre morei num lugar de classe média, nunca tive muita amiga negra, devo ter, no máximo, umas três. Já passei por muitas situações difíceis relacionadas ao racismo e a misoginia. Desde pequena odiava meu nome por causa de piadinhas e comentários, como “Maria Escura” ou “ah, como sua mãe fez isso com você? Sacanagem!”. Quando conheci o movimento, percebi que o racismo dos outros me fez odiar meu próprio nome. Fora que eu nunca tive em quem me espelhar. Muitas pessoas da minha família reproduziam e reproduzem o racismo e a misoginia, então eu não tinha com quem dividir as experiências. Então, eu conheci o movimento e vi várias mulheres que tinham as mesmas vivências que eu. Eu me senti acolhida. Eu acho que a pessoa que passa por esse tipo de situação precisa é de apoio, e já que a pessoa muitas vezes não encontra na família, uma boa fonte é pesquisar no facebook ou em blogs sobre o assunto, até mesmo para poder se orientar.

Mande você também a sua história: aceite-se@revistamiga.com.br /RevistaMIGA

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Marcos Marinho, 18

Meu nome é Marcos Marinho, tenho 18 anos e sou bissexual. Eu vivo um tipo de opressão que vem da própria classe e isso é algo que tem que ser exposto. É comum ouvir de um hétero ou homossexual: “não existe isso”, “ você tem que se definir” e “ ou você é mais isso, ou você é mais aquilo’’. É preocupante ver esse tipo de preconceito vindo de uma classe que também está lutando pelo seu espaço na sociedade. Outro tipo de opressão que eu passo diariamente é a questão dos padrões de beleza, pois às vezes as pessoas viram para mim e falam “nossa, tá gordinho, quando vai fazer uma dieta?”. Quanto ao meu corpo: eu estou bem com ele. Já a opressão da bissexualidade, eu só fico triste que isso aconteça e acho que temos que combater isso nos lugares propícios pra isso: escola, faculdade, com os amigos, etc . De maneira geral, eu sempre fui uma pessoa muito crítica e quando eu entrei no Colégio Pedro II, em 2012, eu pude me manifestar politicamente no movimento estudantil e esse espaço me propiciou que eu pudesse botar pra fora esses sentimentos. Acredito que só cada um de nós tem a dimensão daquilo que mais dói na gente. Então a questão é sempre fazer uma reflexão profunda do que a gente quer na vida e aí caminhar pra frente, assumindo os riscos. E isso só você pode fazer e você tem companheiros e alguns vão ficar pra trás, e que fiquem para trás, porque temos que andar pra frente.

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Julia Newlands, 23

Tenho 23 anos e me defino como lésbica. Eu entrei com 13 anos no movimento LGBT, em um grupo de e-mails que eu descobri para pessoas gays e jovens. Foi quando eu comecei a entender as diferenças: que não existiam só pessoas gays, das causas, e de todos que fazem parte. Já o movimento feminista, eu conheci há dois anos. Eu entrei porque percebi que a reação de uma mulher lésbica, com certeza do que ela queria, era diferente da de um gay. Um exemplo de opressão que já passei foi no ano passado, quando eu estava numa feira no Grajaú, em uma apresentação da igreja. Eu e minha namorada estávamos de mãos dadas, e por isso fomos as únicas que não recebemos o panfletinho distribuído pela igreja. Mas dentro do ativismo, um momento muito intenso foi quando eu fui para um ato de umas 300 pessoas, no máximo, pela morte de um menino que estava sendo anunciada como uma briga entre dois rapazes, quando era óbvia a homofobia. Como não tinha ninguém para puxar o ato, eu e mais alguns amigos tivemos que fazê-lo. Foi bem pesado. O meu recado para as pessoas que estão começando a se descobrir e a vivenciar a homofobia na pele é que você não está sozinho. Às vezes sua família vai ser sua maior inimiga, mas existem pessoas como você. Quanto mais aberto você for sobre quem você é, mais abertas as pessoas estarão para te receber.

O ensaio fotográfico dessa seção foi realizado por João Barreto


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Quebrando regras e padrões

Mariana Frois

A sociedade impõe muitos mitos e passamos boa parte da vida acreditando neles. A seguir, mostramos qual a importância de quebrá-los e desmitificamos o que até então era considerado verdade absoluta. Você já se questionou de onde vem a ideia de que determinada coisa é feia, de que isso não pode, de que ser de determinada maneira está errado? Se prestarmos atenção em uma propaganda iremos ver corpos “perfeitos”, cabelos lisos, olhos claros, e diversos outros fatores que não representam boa parte da população (principalmente a brasileira). Com o passar dos anos o mercado publicitário pode até ter se tornado um pouco mais inclusivo, porém ainda é bastante comum encontrarmos marcas que promovem anúncios machistas, homofóbicos ou que simplesmente não personificam a pluralidade da sociedade. Infelizmente, não são apenas as campanhas publicitárias que ocasionam essa sensação de não pertencimento. O mundo da moda também impõe alguns preceitos estéticos. Muitas pessoas não se veem representadas em desfiles e ensaios fotográficos, sentindo-se culpadas e desvalorizadas. Estamos diariamente tendo contato com esses tipos de situações, mas essa também é uma construção que acontece desde a infância. Um exemplo disso é um vídeo que viralizou há alguns anos atrás, em que crianças eram questionadas a respeito de

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uma boneca negra e outra branca. Para a pele mais escura, sempre eram atribuídos fatores pejorativos e negativos, completamente contrários às características positivas atribuídas para a pele mais clara. Isso demonstra que essas premissas são construídas dentro de casa e as influências sociais geram essa concepção desde cedo. A maioria cresce com esse tipo de pensamento, mas a adolescência não é o período em que devemos fortalecer quaisquer ideias semelhantes a essas, muito pelo contrário. Essa é uma fase em que, apesar da vulnerabilidade relacionada às opiniões alheias, devemos compreender que não existe um manual do que é bonito ou feio e nenhuma característica física irá tornar-lhe inferior ou superior, por mais diferente que ela seja. Nas próximas páginas a MIGA se dispõe a mostrar mentiras, que muitas vezes são reproduzidas incessantemente e nos desencorajam a ser quem bem entendemos. Além disso, quebraremos certos mitos sociais, não necessariamente ligados à estética ou beleza, mas também a comportamento e preconceito.

Mitos: 1 - Existe roupa feminina e masculina Desde muito cedo já existe o contato com essa construção social. Na realidade, os pais já


começam a padronização antes mesmo do nascimento da criança: Se é do sexo feminino as roupas são rosa, caso seja do sexo masculino, azul. Porém as cores usadas por alguém não tem que ser determinadas pelo sexo biológico. Aliás, não existe sequer um estilo de roupa que pertença a um determinado sexo. Até o século XIX, por exemplo, o “padrão de cores” era invertido. Rosa para meninos e azul para meninas. O uso de saia por parte dos homens já foi bem mais comum e recorrente. E por mais que as lojas tentem determinar, é importante deixar claro que não existe uma vestimenta adequada, nem cor específica para você. Você pode usar o que quiser, enfim, o que te deixar confortável. Seu corpo não é um problema que precisa ser resolvido por roupas estratégicas. 2 - A mulher tem que vestir-se de determinada forma para ter respeito Em 2014 uma pesquisa assustou milhares de pessoas. Nela, 65% dxs entrevistadxs afirmava que o tipo de roupa interferia no estupro. Ou seja: quanto mais curta a sua saia, mais responsável você seria

pelo seu próprio estupro. O resultado chocante desencadeou o movimento “Eu não mereço ser estuprada”, aderido por muitas mulheres através de fotos e textos. Usar o argumento de que mulheres são estupradas até mesmo utilizando burca não é a melhor saída. Mulher nenhuma, em hipótese alguma, está pedindo um estupro. A única coisa que pedem é respeito e o direito de se sentirem seguras independentemente da roupa. 3 - Você precisa de um determinado tipo de corpo para ir à praia. Isso não está escrito em lugar algum, mas as revistas reproduzem assim mesmo. Boa parte dos editoriais de peças íntimas e/ou biquíni expõe corpos em sua maioria magros, sem estrias, sem celulites quase que inatingíveis. Muito se deve ao Photoshop, é claro. Mas, a constante eternização do mesmo princípio estético apenas reforça uma paranoia generalizada sobre o corpo. O constante crescimento de catálogos e ensaios fotográficos com pessoas comuns e mais próximas do nosso dia a dia é de extrema importância. Mas, no meio tempo é importante lembrar que você não precisa ser igual às modelos de passarela para colocar um biquíni. Nada contra a Gisele Bundchen, mas a praia é uma das poucas coisas que ainda permanece sendo de todxs e para todxs. 4 - Cabelo natural é feio Quem nunca passou horas e horas sofrendo em nome da ‘beleza’ que atire o primeiro secador e chapinha. Milhões de químicas, temperaturas elevadas, um gasto enorme. Mas e por trás disso? Muita

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insegurança com o seu cabelo natural. Houve uma propagação do preceito de que cabelo liso é o único tipo considerado bonito. E não é. Se o seu cabelo é diferente disso, ele não é ruim, é apenas o seu cabelo. Ame-o do jeito que ele é. Você pode mudar seu cabelo da maneira que você quiser, mas não por pressão ou por medo do que os outros vão pensar. Sua opinião e bem estar devem estar acima de qualquer coisa.

dável. Porém, pode acontecer de você gostar da sua personalidade, jeito de vestir, falar e se expressar. Por ser algo tão raro você será taxadx de arrogante. Se te chamarem de ‘lindx’ e você responder ‘eu sei’, é provável que te achem prepotente. E isso precisa parar! Não é porque você é jovem que não pode gostar do que representa e se sentir feliz do jeito que está.

5 - Se você se sente lindx você é arrogante A adolescência é conhecida por ser um período de grande insegurança em que a auto estima vive em uma montanha russa cheia de altos e baixos. É comum olhar no espelho e não se sentir feliz mesmo que isso não seja nem um pouco sau-

Aliás, isso é um grande privilégio. Como você pode amar alguém se não pode se amar primeiro? Então, ter orgulho de si é um importante passo e não há problema algum nisso.


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Sobre Sexo...

Isabela Kale

Aqui na MIGA, não entendemos sexo como algo vergonhoso ou até mesmo sujo; somos contra esse tipo de visão ultrapassada. Na verdade, queremos disseminar a ideia de que sexo é algo natural, bonito e humano. É algo que muitxs fazem ou farão um dia e, principalmente, um assunto que deve ser abordado. Por isso, nesta sessão quebraremos alguns tabus sobre o sexo e tiraremos as maiores dúvidas de vocês! Neste espaço, seremos sua MIGA mais íntima!

Precisamos falar sobre: DSTs

Mariana Frois

DSTs são as doenças sexualmente transmissíveis. Elas podem propagar-se de diversas formas, sendo a mais comum através do contato sexual sem o uso da camisinha com uma pessoa que já infectada. As DSTs mais comuns são a desesperar. Procure um posto algumas décadas atrás. Você já gonorreia, a herpes, a HPV e a de saúde e faça os exames pode se tratar gratuitamente AIDS. Mas, com tantos riscos necessários. Algumas DSTs não nos serviços de saúde do SUS, de transmissão, qual o motivo apresentam nenhum tipo de melhorando a sua qualidade de os jovens seguirem fazendo sintoma até que estejam em de vida e interrompendo o que sexo sem nenhum tipo estado avançado, independen- poderia tornar-se uma transde proteção? A respos- te do sexo. Se tratada a tempo, missão em cadeia. ta pra isso é a falta de complicações graves podem ser Mas, para evitar tudo confiança na camisinha evitadas, assim como a infertili- isso o método mais e o mito de que tran- dade e alguns tipos de câncer. eficaz ainda é a camisisar com preservativo O importante é usar preservati- nha. Se já possui algum é ruim. Pode até haver vo nas relações e isso não inclui tipo de DST, use o preuma diferença, porém graças apenas o sexo vaginal, mas o servativo do mesmo jeito, pois ao avanço das empresas desse anal e oral também. A conta- impede que haja uma reinfecramo existe uma variedade minação também pode ocorrer ção pelo vírus, o que poderia enorme e o látex não incomo- com o compartilhamento das agravar mais ainda o seu estado da durante o ato sexual. Afinal, seringas de drogas injetáveis, de saúde. Os preservativos tem sexo melhor do que aquele transfusão de sangue e duran- (feminino e masculino) são disque é feito com segurança e te a gravidez (caso a mãe esteja tribuídos pela rede de saúde sem preocupar-se com futuras infectada). No caso da AIDS, a pública brasileira. Não tem doenças ou até mesmo uma amamentação também é um motivo para não usar. gravidez não desejada? período de transmissão. Mas calma. Se você transou Mas ter DST não é mais tão sem camisinha, não precisa se complicado quanto era em

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Métodos Anticoncepcionais

Isabela Kale

A MIGA está aqui para esclarecer e tirar as principais dúvidas sobre a pílula anticoncepcional. Vem com a gente!

A pílula anticoncepcional é um remédio a base de hormônios femininos que, quando tomado adequadamente e com orientação médica, tem 98% de eficácia contra a gravidez indesejada. Seu uso ainda pode ajudar a regular a menstruação, combater a acne, aliviar as cólicas e diminuir o fluxo menstrual. Mas, apesar de todas essas vantagens, seu uso pode provocar efeitos colaterais, como enjoos e dor de cabeça, além dela não proteger contra DSTs. Por isso, é importante ouvir umx ginecologista, ou um médico especializado, a fim de descobrir o que é mais saudável para o seu corpo e sempre usar preservativos durante o sexo.

Dúvidas frequentes:

Quando a pílula começa a fazer efeito? A pílula começa a fazer efeito assim que você a toma, mas é indicado esperar uma cartela para depois transar. A pílula anticoncepcional engorda? Algumas pílulas anticoncepcionais têm como efeito colateral o inchaço e, às vezes, um pequeno aumento de peso. Se isso realmente te incomodar, relaxe! O inchaço é um efeito passageiro: passa à medida que você se ajusta a pílula e não traz nenhum malefício ao corpo. A pílula anticoncepcional é abortiva? Não! A pílula foi feita para prevenir a gravidez, não para interrompê-la. Mas, se utilizada em uma mulher grávida, pode causar danos ao bebê. A pílula vai mudar meu corpo? Não! Esse é um mito muito comum, mas o que acontece, na

verdade, é que várias meninas ainda estão passando por mudanças corporais quando entram em contato com o medicamento. Isso não é a pílula, é o desenvolvimento natural da adolescência. Posso tomar anticoncepcional antes da minha primeira vez? Pode e é muito legal que se procure umx ginecologista o mais cedo possível! Procurando uma ginecologista, você vai se sentir mais confortável quando qualquer dúvida relacionada a sexo surgir e você vai poder esclarecê-las. Além disso, sabendo seu histórico, essa pessoa vai poder te indicar o remédio ideal para seu corpo. É importante entender: não adianta usar o anticoncepcional da irmã, da prima, ou da mãe! O que é bom pra uma não é necessariamente ideal para outra. A pílula me protege de doenças? Alguns estudos dizem que a pílula ajuda a diminuir os riscos de alguns tipos de câncer, porém, como dito anteriormente, ela não previne de DSTs e não elimina a necessidade do uso de preservativos no sexo. Usem camisinha, gente! Posso dividir o preço da pílula com meu parceiro sexual? É uma ótima ideia! Afinal de contas, esse tipo de medicamento ainda é muito caro, e ele beneficia os dois. Você pode conversar com ele e ver o que ele acha. Se ele topar, ótimo! Você alivia seu bolso e não morre de preocupação! Se não, saiba que está sendo desenvolvido um anticoncepcional masculino e quem sabe um dia essa responsabilidade deixe de ser apenas da mulher? Vamos torcer...

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Relacionamento Abusivo

Karla Corrêa Alves

Falar sobre relacionamentos sempre é algo complicado. Ainda mais, quando se trata de relacionamento abusivo, onde a maioria das pessoas sequer sabe que estão vivendo um, ou relutam para reconhecer que estão, sim, em um relacionamento abusivo.

Esse tipo de relacionamento abusivo, não ocorre apenas entre um homem e uma mulher. É verdade que vemos com mais frequência atitudes abusivas entre casais heterossexuais, porém, casos de abuso na relação — e aqui falamos de um abuso não somente físico, mas também psicológico — podem acontecer entre um casal do mesmo sexo, ou até mesmo com casal composto por pessoas sem uma identidade de gênero definida. O fato é que estar em um relacionamento desse tipo, pode causar danos irreversíveis ao psicológico de uma pessoa e, muitas vezes, elas levam esse tipo de comportamento abusivo para futuras relações, achando que é algo completamente normal, porque reproduz o que viveu em relacionamentos passados. Sendo assim, reconhecer que você está ou não num relacionamento abusivo é o primeiro passo para melhorá-lo ou mudá-lo, ou até mesmo dar um pé-na-bunda de quem está te fazendo sofrer. Mas como saber que se está nesse tipo de situação? Inspiradxs no vídeo viral da maravilhosa youtuber Jout Jout, reunimos diversas situações e a seguir, expomos alguns sinais de que você está vivendo num relacionamento abusivo e precisa mudar isso: 1 - Seu/sua parceirx te impede de sair com xs amigxs e/ou familiares.

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Se essa pessoa te impede de sair com outras pessoas que você também ama, algo está muito errado. É importante que elx perceba que você não é nenhum dependente emocional ou sexual delx. Você também precisa conviver com outras pessoas que fazem parte da sua vida. 2 - Elx já mandou você tirar o batom vermelho ou qualquer outra maquiagem, porque você estava com “cara de puta”. Isso é muito, muito, MUITO errado. É algo muito comum de acontecer com casais heterossexuais. Se elx está te impedindo de utilizar algo que faz com que você se sinta confortável, bem, feliz e bonitx, isso ESTÁ errado. Por mais que seu/ sua parceirx seja importante para você, você não pode se basear somente na opinião dessa pessoa e deixar de se sentir bem consigo mesma. Vai, gata! Usa bastante batom vermelho e arrasa quer elx queira ou não!

3 - Elx já pediu para você trocar de roupa, porque a mesma estava “indecente demais” e outrxs ficariam olhando. Esse tipo de insegurança é comum demais


de acontecer em todo tipo de relacionamento. Acredito que, infelizmente, todo mundo tenha passado por esse tipo de situação e é aqui que venho reforçar o tão querido e falado “amor próprio”. Se você utiliza a roupa e se sente bem consigo mesmx, com seu corpo e sua autoestima vestida daquela forma, então a use! Use sem pensar. Ciúmes excessivos só fazem mal para um relacionamento, e inevitavelmente alguém vai olhar para você mesmo se você estiver de burca. Utilizar roupa x ou roupa y não vai adiantar de nada. Se a pessoa não compreender isso e continuar tendo mais controle sobre seu corpo e suas decisões do que você mesmx, talvez seja hora de dar tchau! 4 - Elx já te impediu de sair para algum lugar que você queria muito Isso ocorre geralmente quando você deseja ir para algum lugar onde elx não pode ir ou não quer estar. É um tipo de medo surreal que ele tem de você usar todas as três combinações acima: amigos + batom vermelho + roupa curta + pessoas te olhando. Mas se isso tira o controle da sua própria vida e põe nas mãos delx, é porque algo muito errado está acontecendo. 5 - Elx já pediu para que você excluísse pessoas das suas redes sociais Outro tipo de coisa que é muito comum e muitos vêm de forma natural, o que definitivamente NÃO é! Se elx te impede de ter contato com ex-namoradxs ou qualquer outro tipo de pessoa que, para elx, é um pretendente em potencial, elx precisa de um tratamento médico. Você não pode simplesmente deletar todos os seus contatos de uma rede social por simples capricho. Um relacionamento tem que ser fun-

dado na confiança, senão não tem nem porquê ele existir. 6- Elx já te impediu de conversar na vida real com determinadas pessoas Se elx fez isso, é um baita sinal de que você está vivendo um relacionamento bastante abusivo. Se elx te viu conversando com alguém, te impediu de conversar com essa pessoa e ainda te levou para um cantinho para fazer um showzinho: FUJA, MIGA! FUJA! 7- Sempre que vocês brigam, elx acaba fazendo com que você se sinta culpadx Numa situação hipotética, você resolve falar com a pessoa sobre alguma coisa que está te incomodando muito. Depois de muita discussão, de repente você começa a achar que está erradx. Você SABIA que estava certx, antes de começar a discussão, mas alguma coisa ocorreu ali, alguma manipulação de sentimentos e de repente você começou a achar que está erradx. Cuidado, isso pode ser um sinal de um relacionamento abusivo! 8- Elx sempre faz chantagem emocional para você não terminar a relação Você não su-por-ta mais toda essa situação. Não aguenta mais ter que ser controladx o tempo todo e precisa respirar bem longe dessa pessoa. Você finalmente percebe que está num relacionamento abusivo e quer terminar, PORÉM basta algumas palavras e uma chantagem emocional para fazer você mudar de ideia: “se você terminar comigo, eu vou me matar!” (Spoiler: ele NÃO vai se matar! Mas caso você perceba algum comportamento depressivo ou psicótico, o leve para um psicólogo antes de terminar, só por via das dúvidas).

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9- Elx faz com que você se sinta inferior em diversos aspectos (físico, intelectual etc) Se elx faz você se sentir ‘’feix’’, “burrx” ou te põe para baixo de alguma forma só para se sentir superior, fazer com que você se sinta completamente perdidx caso não o tenha em sua vida, é um sinal de que você está vivendo uma relação nada saudável. Quando a pessoa que, teoricamente, te ama, sente a necessidade de colocar para baixo para se sentir bem, é realmente a prova de que não, ela não te ama de verdade. É doloroso, mas é necessário abrir os olhos e seguir em frente. 10- Você alguma vez não quis transar e elx ameaçou ir terminar e ir embora Provavelmente um dos sinais mais nojentos de todos os outros. Se a pessoa realiza esse tipo de coisa, é sinal de que elx só está contigo procurando uma satisfação sexual e pouco se importa se você está triste, teve um dia ruim, está doente ou simplesmente não queira transar naquele determinado momento ou dia. Vale lembrar que você não é fetiche sexual de ninguém. Você tem sentimentos, desejos e dias ruins como qualquer outra pessoa. Há diversas formas de um casal aproveitar a companhia um do outro, sem que envolva sexo, como, por exemplo, ver um filme comendo um brigadeiro. Caso elx não entenda isso, siga em frente e procura alguém que te entenda. Bônus: todos percebem que você era mais feliz antes dele entrar na sua vida As pessoas costumam dizer que antes você se divertia mais, saía mais, era mais feliz e ativa e que agora você só fica discutindo o tempo todo e qualquer saída é motivo para um drama infinito digno de novela mexicana. Esse é o ponto que você precisa se recordar de como você era antes, e como você atualmente é, vivendo nessa relação.

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Fica aqui essas perguntas para autoanálise: você acha que você era mais feliz antes? Você acha que atualmente você sofre demais com ele e que a sua vida atualmente parece um drama infinito? Você chora mais agora, com esse relacionamento, do que chorava antes? Essas são questões que você precisa fazer a si mesma. É necessária uma autoavaliação para saber se isso está te fazendo bem ou se esse relacionamento está te levando à destruição. Esses são apenas os principais sinais de que, provavelmente, você esteja vivenciando um relacionamento abusivo. Tem muitas situações que são vivenciadas todos os dias e sequer temos conhecimento. Vale lembrar que nós não queremos, de forma alguma, controlar os seus sentimentos ou sua relação. Você, mais do que ninguém, deve saber o que é bom ou não para você mesmx. Muitas vezes, é complicado demais dar um fim a alguma relação, ainda mais quando ela tem muito tempo, mas, se você se identificou com os sinais acima, talvez seja o melhor a se fazer. Não é legal ficar com alguém apenas por ter medo de ficar sozinhx e ficar vivenciando sempre essa tortura, né? Seja livre, seja donx de si mesmx e procure um relacionamento onde a outra pessoa também compreenda suas necessidades e gostos. Onde ambos se completem, sem jamais se sobreporem as vontades e necessidades dx outrx. Tudo isso se resume basicamente em ser feliz e ter um relacionamento saudável.


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Identidade Sexual

Nathalia Menezes

Atualmente em debate pela sociedade nas ruas e na internet, sempre no meio de polêmicas. Mas não se desespere: A MIGA vai te ajudar a entender (e também a se entender). A adolescência é um período muito confuso, caracterizado principalmente pela busca de uma identidade. Entretanto, essa jornada de autoconhecimento se torna bastante complicada à medida que certas pressões – internas e externas – começam a pipocar. Será que conseguirei viver as expectativas dos meus responsáveis? Será que vou me encaixar em algum grupo? Será que realmente escolhi a carreira certa pra mim? Enfim, fica muito difícil se achar quando você mesmo se questiona a cada instante. E a questão da identidade é ainda mais delicada quando diz respeito a gênero e a sexualidade, já que não é segredo pra ninguém que o preconceito vai ‘’muito bem, obrigado’’. A internet ajudou nesse aspecto, facilitando a criação de comunidades LGBT e, com isso, a própria aceitação pessoal. Mas nem tudo são flores e é importante lembrar que há bastante desinformação, sem falar em discursos de ódio bem frequentes de gente protegida pelo anonimato do computador. Por essas e outras razões a MIGA resolveu tirar todas as suas dúvidas a respeito de identidade sexual/de gênero esperando que a informação possa te libertar.

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Orientação Sexual Está ligada a quem você sente atração. Algumas pessoas também chamam de opção sexual, embora esse termo seja problemático, já que a atração não é uma escolha, fato reconhecido através de uma luta intensa do movimento LGBT. Abaixo segue uma listinha das orientações mais conhecidas e/ou frequentes:

Heterossexual: A pessoa que se identifica como hétero só se interessa por pessoas do gênero oposto.

Homossexual: A pessoa que se identifica como homossexual só se interessa por pessoas de mesmo gênero.

Bissexual: A pessoa que se identifica como bi se interessa por pessoas do próprio gênero como também do oposto. Também funciona como termo guarda-chuva.

Pansexual: A pessoa que se identifica como pan se interessa por pessoas de todos os gêneros. Os pansexuais, ao contrário dos bis, não fariam


diferenciação entre gêneros, ou seja, não teriam preferência sobre nenhum. Se interessariam independente do gênero.

Assexual: A pessoa que se identifica como assexual não sente atração sexual por pessoa de gênero nenhum.

Demissexual: A pessoa que se identifica como demissexual só sente atração sexual por pessoas com quem já tem certa intimidade.

Atração sexual e Atração Romântica Diferenciar atração sexual de atração romântica é necessário já que não é só porque uma pessoa é assexual que ela não vai se apaixonar/se interessar romanticamente por alguém. Para a maioria das pessoas, esses dois tipos de atração coincidem, porém não é impossível que alguém que sinta atração sexual somente por homens, não possa se apaixonar por outros gêneros, por exemplo. Pessoas que sentem atração apenas sexual são chamadas de arromânticas. Elas existem, possuem sentimentos e amam, porém, não romanticamente, como as outras pessoas. Podem amar os pais, os amigos, o animal de estimação, mas dificilmente se

envolveriam em um relacionamento simplesmente por não sentirem vontade.

Esteriótipos e realidade Obviamente que numa sociedade LGBTfóbica como a nossa, nada mais previsível que se criem estereótipos sobre qualquer orientação que não é a heterossexualidade, porém vale lembrar que eles são apenas isso: estereótipos. A orientação sexual determina apenas por quem a pessoa é atraída e não como ela deve se vestir, falar, assistir etc. Isso não significa que estar contido nesses estereótipos é algo negativo. Negativo seria segui-los só para ser mais aceito. Atualmente a representação na mídia e a grande conversa que essa proporciona vêm mudando como o mundo vê a comunidade LGBT. Programas de televisão, filmes e até mesmo a música ajudam a estabelecer que pessoas LGBT são simplesmente pessoas e não seguem determinado molde. É importante lembrar que se você não se reconheceu em nenhuma das sexualidades listadas não precisa se preocupar. Na verdade, a lista é enorme e todos esses nomes são limitações bem rígidas para algo com bastante fluidez: a sexualidade humana. Quando o assunto é orientação sexual, não tente se colocar numa caixinha pra conveniência alheia: o importante, por mais clichê que isso possa parecer, é ser feliz.

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Identidade de Gênero

Nathalia Menezes

Outra identidade que precisa ser discutida é a de gênero. Isso porque muita gente ainda acredita no binarismo – ideia de que os únicos gêneros possíveis são o masculino e o feminino. Porém, não é bem assim que funciona.

Gênero é parecido com a sexualidade, à medida que ambos não são tão rígidos quanto a sociedade quer que você pense. Ao invés de pensarmos nele como um conceito inexorável que apresenta duas possibilidades opostas, deveríamos enxergá-lo como um espectro. Partindo dessa visão podemos chegar à conclusão de que gênero não é sinônimo de sexo biológico e sim uma definição bem ampla de como nos enxergamos em relação à sociedade. Por ser uma ideia tão complexa é importante destacar que o conceito de gênero é exclusivo da espécie humana. A variedade de identidades é imensa, sendo possível alguém se identificar com nenhum ou todos os gêneros ao mesmo tempo. Também é bom lembrar que a identidade de uma pessoa não determina o jeito que ela escolheu se expressar. Por exemplo, existem garotas que amam maquiagem e vestidos, coisas tipicamente femininas. Porém, algumas garotas se interessam por futebol e automóveis, hobbies caracterizados como masculinos. Isso não significa que existe um grupo que represente verdadeiramente o que é ser garota. As diferentes vivências dessas garotas, por mais diferentes que elas possam ser, são completamente válidas e de forma nenhuma alteram a identidade de gênero delas. O gênero de alguém não tem nenhuma relação com o corte de cabelo ou a cor predominante

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no guarda-roupa. É algo íntimo, que só pode ser determinado pelo próprio indivíduo. Por isso o respeito à identidade é de extrema importância, mesmo que a pessoa em questão não se enquadre nos estereótipos do gênero com o qual ela se reconhece. Essa questão pode ser complicada no início, mas os benefícios que ela traz são enormes: além de oferecer legitimidade a um grupo marginalizado, ajuda na desconstrução de regras sociais muito antiquadas, oferecendo muito mais liberdade de expressão, independentemente de gênero. Quando falamos de gênero é impossível não citar a causa trans*. Trans* define toda a pessoa que não se identifica com o que lhe foi determinado ao nascer. Dessa maneira, além de mulheres e homens trans*, todas as pessoas que não participam do binarismo são da comunidade trans*. Essa é uma causa bastante interessante que tem ganhado mais poder de fala no ativismo LGBT, mesmo que lentamente. O reconhecimento tem acontecido, principalmente, através das representações na TV, como Orange Is The New Black, Transparent e Orphan Black. Isso não significa que todas as personagens das séries sejam positivas, mas isso é outra conversa. A MIGA apresentará a causa nas próximas edições, devido sua complexidade, polêmica e importância.


O Mito da Heterofobia

Nathalia Menezes

Heterofobia, segundo sua definiçao, é um ódio e opressao a heteros. Mas sera que isso existe mesmo? Vem com a MIGA descobrir

Ultimamente, com a popularização do movimento LGBT e o reconhecimento que o mesmo vem conquistando, as denúncias de homofobia já não são mais tão menosprezadas. Porém, com grande progresso, vem uma grande onda conservadora querendo retrocesso. A partir de então, surge a vontade de criação de um dia do orgulho hétero e de denúncias de heterofobia. O que essa galera não sabe é que não existe nada que cause orgulho em ser hétero. Na verdade, o orgulho compartilhado pela comunidade LGBT é o de existir em uma sociedade que constantemente nega seus direitos, os ridiculariza a todo instante e, em casos extremos, até mata. Por isso, quando alguém reclama de sofrer heterofobia está falando uma besteira tremenda, já que nossa sociedade encara ser hétero como normal, o certo. Falando a verdade, na maioria dos casos de “heterofobia”, a “vítima”

apresenta comportamento homofóbico – esse sim existe – tentando mascará-lo como sua opinião e apelando pra liberdade de expressão. Acontece que a liberdade de expressão não garante o direito a ninguém de ser preconceituoso e violento o que sim, é crime. Assim, quando uma vítima de homofobia acusa seu agressor, isso não é heterofobia, isso é denúncia. A criação de uma sociedade mais diversa e mais segura para todos contidos na sigla LGBT não colocará em risco a existência dos héteros, só transformará os privilégios do último em direitos pro primeiro. Na real, quando se fala em qualquer tipo de minoria, usar a técnica do paralelismo sempre é furada, porque o grupo dominante terá sempre o respaldo histórico e social. É sempre bom lembrar que você não é oprimido só porque um grupo conquistou os mesmos direitos que você sempre teve.

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O que é...?

Karla Corrêa Alves

Diversas vezes na história vimos a juventude fortemente atrelada a movimentos sociais. Alguns exemplos podem ser vistos nos anos 60, que devido a essa juventude tão ativa ficaram também conhecidos como os “anos rebeldes”, onde o feminismo e a luta LGBT tiveram um papel fundamental na garantia dos nossos direitos. Esses movimentos sociais continuam na ativa, e nessa sessão, a MIGA pretende trazê-los, um por um, mais para perto dos nossos leitores.

Feminismo

O feminismo é um movimento realizado por mulheres e visa a igualdade social, cultural, política e econômica perante os homens. Hoje em dia, esse assunto gera bastante polêmica e muitos, principalmente os jovens, não sabem a importância, as origens e os mitos que o cercam. Através dessa matéria e, aos poucos, explicaremos mais sobre esse movimento.

Origens De acordo com Maggie Humm e Rebecca Walker, duas grandes historiadoras do feminismo, sua história pode ser dividida em três “ondas”. A primeira onda do feminismo, que ocorreu entre os séculos XIX e XX, se refere, principalmente, ao sufrágio feminino e focava em obter direitos contratuais iguais para homens e mulheres, além de se opor aos casamentos arranjados pelas famílias, que impossibilitava as mulheres de escolher seus parceiros. Ao fim do século XIX, o movimento buscava conquistar o direito das mulheres de exercerem seu poder de voto. Concedido no Reino Unido, onde o movimento teve forte

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impacto, em 1918, dez anos mais tarde, esse direito foi estendido a todas as mulheres que tivessem no mínimo 20 anos de idade. Considera-se que a primeira onda do feminismo tenha terminado quando em 1919, nos Estados Unidos, as mulheres conseguiram direito ao voto através de uma emenda constitucional. Ainda assim, diversos países só conseguiram esse direito postumamente. No Brasil, por exemplo, a primeira mulher a votar foi Celina Guimarães Viana, em 1926, através de uma ação judicial baseada numa brecha da lei do estado do Rio Grande do Norte. Após esse ocorrido, uma estudante de Direito nascida em Minas Gerais, porém criada na Europa, volta ao Brasil em 1928 e descobre que o veto ao voto femini-


no é uma contradição a um artigo da constituição da época. Após essa descoberta, o voto feminino foi finalmente regulamentado em 1934, no governo de Getúlio Vargas. A segunda ‘’onda’’ feminista tinha maior foco no combate às desigualdades sociais, culturais, e políticas, enquanto a primeira onda se preocupou muito pouco com tópicos como o aborto e a autonomia da mulher perante seu próprio corpo. Fato é que, até então nos Estados Unidos, não havia nenhuma lei que fosse contra um estupro de uma mulher quando esse fosse causado pelo próprio marido. Nessa nova ‘’onda’’, as feministas continuaram a campanha para a reforma das leis referentes à família que davam aos maridos controle sobre suas esposas. Tais leis foram abolidas no século XX no Reino Unido e nos Estados Unidos, mas em muitos países da Europa as mulheres casadas ainda tinham pouco poder. Por exemplo, na França, as mulheres casadas receberam o direito de trabalhar sem a permissão de seu marido, apenas em 1965. Nessa fase, as feministas também trabalharam para abolir a “isenção conjugal” nas leis de estupro que impediam o julgamento dos maridos que estupravam suas próprias esposas. Um destaque desse período foi a filósofa Simone de Beavouir que lança diversos livros que são muito importantes para o feminismo. A mesma oferece soluções marxistas e uma visão existencialista sobre diversos aspectos do movimento. O livro “O Segundo Sexo”, lançado em 1929, é uma das obras feministas mais importantes, onde ela expressa o sentimento de injustiça das mulheres.

Apesar dessas designações, a segunda e terceira ‘’onda’’ coexistem, porém, com propostas diferentes. Isso porque a segunda onda procura combater desigualdades sociais e culturais, enquanto a terceira onda, surgida em 1990, é uma resposta às supostas falhas da segunda onda, e também uma retaliação a iniciativas e movimentos criados pela mesma. O feminismo da terceira ‘’onda’’ visa desafiar ou evitar aquilo que vê como as definições essencialistas da feminilidade feitas pela segunda onda que colocaria ênfase demais nas experiências das mulheres brancas de classe média alta e deixaria de lado a vivência de outras feministas, principalmente as negras que nessa terceira onda procuraram negociar um espaço dentro da esfera feminista para a consideração de subjetividades relacionadas à raça. Atualmente vivemos a terceira ‘’onda’’, repleta de problemáticas como a liberdade das mulheres de saírem nas ruas sem sofrerem assédio sexual e/ou estupro, o direito a salários igualitários, a um parto humanizado, a descriminalização do aborto e todos esses privilégios que os homens e o patriarcado possuem sobre as mulheres, restringindo, dessa forma, toda a liberdade e o direito que as mesmas deveriam possuir.

Vertentes Antes de continuar a discutir o que é feminismo, é importante falar sobre sororidade, que nada mais é do que a união de mulheres contra o patriarcado e, uma luta contra a riva-

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lidade feminina. Ela mantém a unidade do movimento, onde mulheres demonstram suporte umas às outras, sem ofendê-las ou condená-las. Porém, a sororidade jamais dá o direito de alguma mulher proferir um discurso preconceituoso a outra, e ser defendida por isso. Independente de ser mulher ou não, o preconceito deve ser tratado como preconceito. Mas, voltando ao assunto, no feminismo existem três principais ideologias que diferenciam entre si, apesar de muitas vezes visar o mesmo propósito: são as vertentes feministas. Feminismo pós-moderno, ou interseccional. Essa vertente é, provavelmente, a mais abrangente e popular do movimento. Ela luta para que todas as minorias sejam abraçadas pelo feminismo e contra o preconceito: seja ele classista, capacitista, racista, homofóbica ou transfóbica. Pense em qualquer minoria e, muito provavelmente, essa vertente também estará buscando protegê-la. O que se fala aqui é que ser mulher é apenas um grande conjunto de pequenas diferenças entre cada tipo de mulher: uma mulher branca de classe média sofre um tipo de preconceito distinto de uma mulher transexual, por exemplo. Essa vertente prega o respeito das minorias dentro do feminismo, onde cada particularidade seja respeitada, afinal, não somos uma massa de mulheres iguais

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Feministas liberais, ou libfem Essa vertente é composta por feministas que acreditam que devemos lutar por igualdade, nos inserir no mercado, como ele for, cavando nosso espaço e aceitação. O feminismo começou lá no final do século XIX, como um movimento de mulheres burguesas, elitizadas e brancas que começaram a não aceitar sua posição socialmente inferior e, durante muito tempo, foi para esse público que essas mulheres lutaram. O feminismo liberal prefere creditar aos homens um espaço de luta, ao lado delas, sendo agentes de transformação, por serem os causadores do machismo. Muitas feministas liberais são acusadas de serem individualistas, e colaborarem para a perpetuação do sistema exploratório das mulheres negras que, além da exclusão financeira, sofrem com a exclusão racial. Um dos principais pontos do feminismo liberal remete a aceitação pessoal, já que essas mulheres acreditam que as mulheres são livres o suficiente para optar por se adaptar a certas exigências sociais ou não. As liberais acreditam que você é livre. Você, por exemplo, pode fazer dietas e se depilar se tiver vontade desde que saiba que é, sim, uma pressão social. Feministas radicais, ou radfem. Essa vertente é composta pelas moças que mais causam polêmicas na sua militância, pois acreditam que o feminismo deve ser uma vivência exclusivamente feminina, excluindo por completo a participação dos homens


de qualquer orientação ou origem, incluindo as trans*. Existe uma discussão muito grande sobre o assunto e acerca dessa vertente, por causa dessa exclusão das mulheres trans*, é muito comum encontrarmos brigas agressivas pela internet por causa do tema. Muitas radicais acreditam que o homem é opressor por natureza e que mulheres trans* são apenas uma forma mentirosa de homens viverem no meio de mulheres. Além disso, existe o que elas chamam de lesbianismo político, que diz que o verdadeiro feminismo deve ser vivido com relacionamentos apenas entre mulheres, pois qualquer relacionamento com homens é opressor. Para as feministas radicais, por exemplo, a prostituição ocorre não porque a mulher escolheu esse trabalho e, sim, por causa da opressão capitalista sobre sua cabeça, fazendo com que ela se venda. O mesmo vale pra toda opção que mulheres fazem que, de alguma forma, seja ceder ao patriarcado: ser magra, ou usar produtos de beleza, por exemplo.

Mitos 1. As feministas odeiam os homens (são misândricas) As feministas, em hipótese alguma, demonstram ódio aos homens. Elas apenas querem que lhes sejam dadas a igualdade perante os dois gêneros e que os privilégios que foram e são restritos aos homens, sejam compartilhados com ela. Ou seja, lutam pela verdadeira igualdade. Jamais o ódio é nutrido de

forma gratuita e irracional, sem uma justificativa. “Assim como cabe ao pobre tomar o poder do rico, também cabe às mulheres tirar o poder dos homens. Significa estabelecer igualdade. Assim como o socialismo, o verdadeiro socialismo, estabelece igualdade econômica entre todos os povos, o movimento feminista aprendeu que ele teria que estabelecer igualdade entre os sexos tirando o poder de classe que liderava o movimento, isto é, dos homens.” - Simone de Beauvoir 2. Toda feminista é lésbica Não, nem toda feminista é lésbica. A orientação sexual não é algo opcional ou de escolha própria. Um movimento que prega a igualdade entre os gêneros não ganharia nada em troca pressionando as mulheres a escolherem determinada sexualidade. Mulheres podem ser lésbicas, independente do feminismo, assim como o feminismo prossegue com mulheres homossexuais, bissexuais e heterossexuais. O movimento é composto por mulheres de diversas sexualidades. Não há NADA de errado em uma mulher

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ser lésbica, e esse é o tipo de falácia espalhada por preconceituosos conservadores que buscam enfraquecer o movimento. 3. Feminista quer ser homem É irônico ver esse tipo de argumentação quando o feminismo luta justamente pela valorização da mulher, enquanto mulher, independente de todos os aspectos impostos pelos homens. Uma mulher pode muito bem escolher usar maquiagem ou não, ter a opção sexual que bem entender, e fazer as coisas que ela bem entender. O feminismo busca libertar as mulheres, fazendo com que elas se sintam bem com suas próprias escolhas e, a última coisa que gostaríamos é de impor construção de gênero umas às outras. 4. Machismo não existe mais Provavelmente um dos piores mitos, afinal é só olharmos a nossa volta para vermos que estamos cercadas por machismo diariamente: a mulher vista apenas com valor sexual pelas ruas, o estupro conjugal, muitas vezes, ser visto como algo normal, um salário inferior ao dos homens e, muitas vezes, a culpabilização das mulheres por diversos homens não conseguirem conter instintos animalescos. 5. Feminazi Chamar uma feminista de feminazi é ato completamente imoral e desonesto. Isso porque esse

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termo foi inventado em um sentido pejorativo, por um antifeminista chamado Rush Limbaugh, um radialista republicano norte-americano, que faz questão de comparar mulheres a nazistas, o que obviamente é um enorme absurdo. Então, é uma completa injustiça para o movimento um homem preconceituoso e conservador tentar enfraquecer nossas ideias através de um termo ofensivo como esse. Repense cada vez que utilizar esse termo, porque não é uma injustiça apenas contra as feministas, mas para com todos aqueles judeus mortos nos campos de concentração.

Então, migas... Fica claro que tudo que o feminismo buscou ao longo de todos esses anos foi a união de mulheres por uma causa maior, pelo bem estar social de cada uma de nós e lutar por aquilo que nos foi tirado; aquilo que temos o total direito. São direitos básicos: o direito de ir e vir, o direito de uma vida mais justa e igualitária. Com essa explicação do que o feminismo realmente almeja, fica claro que o que o feminismo faz é libertar. Se depois dessa discussão, você percebeu que é feminista, empodere suas irmãs, ame suas irmãs, porque é esse amor que move à luta! Venha fazer a diferença, miga!


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Te ensinando certin: Ludmilla

Mariana Frois e Lucas Rocha

O funk brasileiro, desde o seu surgimento, já falou sobre desigualdade, preconceito e amor. Nessa primeira edição da MIGA, nada mais justo do que a entrevistada ser uma das representantes desse movimento musical, cultural e social. Ludmila Oliveira da Silva já foi MC Beyoncè, mas hoje em dia é a Ludmilla que sobe aos palcos com atitude e arrasta multidões em suas apresentações, sejam elas num baile funk da periferia ou em uma grande casa de shows. Vinda de Duque de Caxias, subúrbio carioca, a musa do funk conta pra gente sobre as complicações do início da carreira, sua consolidação e reconhecimento como cantora, e como é ser mulher e negra em um mundo ainda tão machista. MIGA: Ludmilla, o seu lugar de origem influenciou no seu contato com a música, mais especificamente falando, com o funk? E quais foram as dificuldades que você passou por emergir do subúrbio carioca? LUDMILLA: Sim, influenciou bastante nesse contato, principalmente porque tinham vários MCs saindo de Caxias para o Brasil. Enfrentei preconceito, pois o funk era um ritmo não muito aceito pela sociedade, mas hoje conseguimos conquistar lugares que jamais tínhamos chegado antes.

foi diferente. Isso muitas vezes é feito para agradar ao grande público e não ser encarado como um artista limitado somente a esse gênero musical. Mas, além disso, o estilo das músicas mudou um pouco. Tornou-se mais melódico, com elementos do pop. Não ser mais chamada de MC foi algo que influenciou? Eu acho que, pessoalmente, não. Mas, infelizmente, pra sociedade, MC só pode cantar “pancadão”, e, como meu estilo musical sofreu algumas mudanças, foi necessário a retirada, porque, mesmo havendo qualidade, o mercado às vezes restringe o artista só por ele ser chamado de MC.

Mesmo havendo qualidade, o mercado às vezes Você surgiu como MC Beyonrestringe o artista só cè, e depois houve aquela mudança para apenas Lud- por ele ser chamado milla, seu verdadeiro nome. de MC. Como foi enfrentar essa fase? Rolou uma crise de identidade como artista? De verdade, achei que fosse ser mais difícil, porém a aceitação foi boa e rápida, e não rolou crise de identidade. São trabalhos de diferentes fases da minha carreira. No funk é bastante comum a retirada do termo “MC” quando o artista se torna famoso, e com você não

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Você é fã assumida de Beyoncè, e a faixa “Não Olha Pro Lado” começa com uma sample do clássico gospel “Oh


Happy Day”. Pra você, qual é a importância de misturar na hora da criação musical? Acha que é uma maneira de ir contra as pessoas que pensam que funk não combina com mais nada e nem pode ser considerado música? Eu acho que a mistura serve para enriquecer o estilo. E é claro que acaba sendo também uma resposta para as pessoas que acham que o funk não é música.

mulheres se tornarem as porta-vozes do funk? O que mudou foi a questão da oportunidade. A partir do momento em que foi dada a chance para as mulheres mostrarem seus talentos musicais, perceberam que a figura feminina no funk não era somente um corpo.

Não dou ibope pra preconceito

Você tem uma música chamada “Poder da Preta”. Nela, você diz que se alguém quiser te tirar do lugar em que você chegou, vai ter que lutar. Em algum momento da carreira sentiu preconceito relacionado ao fato de você ser negra? Sinceramente? Não. Pode até ter tido, mas não dei importância. Não dou ibope para preconceito.

Voltando ao “Top 3 do Funk”, a gente queria saber o que você acha de Valesca e Anitta. São duas divas, as admiro e as respeito muito. Tenho um enorme carinho por elas, e, sempre que podemos, trocamos ideias sobre trabalho, moda, etc...

Perceberam que a figura feminina no funk não era somente um corpo.

Ao mesmo tempo em que estar num baile vestindo a roupa que quiser, dançando como quiser e com quem quiser é libertador, sabemos que as mulheres muitas vezes são julgadas por isso. Você acha que o funk ainda habita um universo muito machista? Sim, mas não é só o funk, né? O mundo ainda é machista.

Quais são seus principais sonhos para sua vida pessoal e profissional? Meu maior sonho é cantar com a Beyoncè.

Um bate-bola sobre questões polêmicas. É importante tentar responder com poucas palavras ou com apenas uma: Casamento LGBT? Liberdade O Funk é? Tudo Quem te ensinou certinho? Minha família Se ficar de caozada? O couro come Ser negra é? Uma dádiva Feminismo? Direitos iguais para todas e todos

Ser negra é uma dádiva

Atualmente, os 3 principais nomes do Funk são mulheres (você, Anitta e Valesca). O que você acha que mudou para as

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Empodere-se

Mariana Frois

A MIGA é uma mídia nova que pretende te informar e conscientizar mas, antes mesmo de pensarmos em existir, várias outras pessoas já estavam produzindo conteúdos incríveis e que merecem muita atenção. Quer ir além do que está aqui, se informar, e saber bem mais sobre os assuntos dessa edição e das que ainda estão por vir? Nós te indicamos diversas plataformas: virtuais, musicais e cinematográficas, sobretudo nacionais, que oferecem inúmeras possibilidades de conhecer mais sobre os temas e entender sobre diversidade, ativismo, sexualidade, comportamento e sociedade.

Mídias Virtuais Lugar de mulher

O site foi criado a cerca de um ano atrás, porque Clara Averbuck, Mari Messias e Ana Paula Barbi estavam cansadas do que era considerado site para mulher. O lema da página é “Você não manda em mim” e é exatamente isso que as matérias de lá expressam. Sem dicas de como transformar seu corpo em uma semana, como se vestir, como agradar homem. No Lugar de Mulher existe espaço para feminismo, cultura pop, sexo, política e auto-estima. Os textos fizeram tanto sucesso que foram parar numa coletânea, que transformou-se em livro. Tanto a página na web quanto a versão impressa dizem a mesma coisa: “Lugar de mulher é onde ela quiser”.

Garota Siririca Gabriela Masson, ou Lovelove6 (como costuma assinar em suas publicações), é a autora da história em quadrinho chamada Garota Siririca. As histórias são publicadas semanalmente na Revista Samba e um dos objetivos da criação das HQs foi a necessidade de tornar a masturbação feminina mais natural. A leitura é curta, porém

divertida e pode ajudar em certos esclarecimentos a respeito do corpo da mulher, tornando o assunto menos tabu. Além disso, ainda cria um caminho para a masturbação ser conversada e gera em quem lê o desejo da conquista da liberdade sexual e domínio sobre o próprio corpo.

Jout Jout Se além de textos e quadrinhos você também gosta de vídeos, Jout Jout é uma boa dica. A duração rápida faz com que você assista quase tudo que já foi postado, mas alguns conteúdos específicos merecem uma maior atenção. O vídeo “Não tira o batom vermelho”, com mais de meio milhão de visualizações, que fala sobre relacionamento abusivo e “Por uma ppk mais feliz”, em que o tópico é a masturbação feminina. Mas Jout Jout também fala sobre as

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(in)certezas de quando era adolescente, sobre as coisas que quase ninguém sabe sobre as mulheres e sobre como calcinhas podem ser incômodas. Em seu canal no Youtube, conversa como se estivesse numa mesa de bar com xs amigxs, abordando os mais diversos assuntos.

Música

Cinema

Karol Conká E se é pra tombar, ela tombou. O refrão de uma das mais recentes músicas de trabalho da Karol Conká mostra a que ela veio. A internet foi apenas o ponto de partida pra cantora, que já fez turnê pela Europa e conseguiu consolidar-se na cena do rap. Apesar do estilo ainda ter maioria masculina, vem ganhando vozes femininas, principalmente no cenário nacional. Karol veio do gueto, conheceu o luxo e canta sobre os dois sem perder a real identidade que a tornou conhecida. Vale a pena ouvir: Tombei e Você Não Vai

Rico Dalasam “Minha saga é de quem pegou dois busão e trem”. Essa frase pode resumir o cotidiano de milhares de jovens da periferia mas, nesse caso, Rico Dalasam fala de si mesmo. Ainda nos dias de hoje não é em qualquer quebrada que é possível encontrar alguém como Rico : além de rapper, ele é negro e gay. Mesmo assim, não quer que isso o direcione apenas para um determinado público. Dalasam quer muito

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mais do que isso. E manda a ideia no trecho de um de seus singles: “Sem crise, sem chance. Uma dica: Aceite-C” Vale a pena ouvir: Aceite-C e Reflex.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho O filme foi um fenômeno de 2014 e originou-se do curta “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, de 2010. Para assistir ao longa metragem não é necessário ter visto o curta, já que o material que chegou aos cinemas no ano passado é uma versão estendida e muito mais elaborada do que já havia sido produzido quatro anos atrás. Na história, Leo (Ghilherme Lobo) é cego e ao mesmo tempo em que busca liberdade durante a adolescência, também se apaixona por Gabriel (Fabio Audi), seu melhor amigo. O enredo é simples e a narrativa é leve, tratando do primeiro amor de um jovem de uma maneira natural e delicada.

Praia do Futuro Falando sobre paixão e abandono, “Praia do Futuro” mostra o salva vidas Donato (Wagner Moura), que salvou o alemão Konrad (Clemens Schick) de um afogamento. Ambos se apaixonam e partem juntos para Berlim.


Anos depois, Ayrton (Jesuíta Barbosa), irmão do brasileiro, vai procurá-lo para tentar entender o que aconteceu durante todos esses anos. Este filme teve uma notoriedade maior pois, em uma sessão, o atendente do cinema perguntou se o telespectador gostaria realmente de assisti-lo, já que continha cenas de sexo entre dois homens. A atitude serviu para aumentar o número de pessoas interessadas em ir ao cinema e gerou uma campanha anti homofobia.

Tatuagem A história não aborda apenas o relacionamento intenso entre o soldado Fininha (Jesuíta Barbosa) e Clécio (Irandhir Santos), proprietário do circo Chão de Estrelas. O filme se passa durante a ditadura militar e mostra um personagem que se divide entre o quartel, a família e os ideais de amor livre de um circo itinerante que confronta a censura de 1978. Em “Tatuagem” não existe tabu. Nudez, beijo, dança, sexo e poesia são tratados e expostos de maneira semelhante e são igualmente importantes para a construção da obra.

Se você f icou curioso e quer conhecer outras obras LGBT, dos dias 2 a 12 de julho de 2015 vai acontecer o “Rio Festival Gay de Cinema”, abordando todos os gêneros e sexualidades.

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Quiz

Você faz parte da família tradicional brasileira?

Toda boa revista sempre tem um quiz. Nessa edição, você irá descobrir se faz parte da família tradicional brasileira. Responda as perguntas abaixo, some os pontos e descubra! 1) Você usa o argumento ‘Até tenho amigxs gays’ pra expressar que não é homofóbicx? A) Sim B) Não

2) Sentir atração por alguém do mesmo sexo significa que ainda não encontrou a pessoa certa? A) Sim B) Não 3) Receber cantadas de pessoas na rua é abuso? A) Sim B) Não, é elogio 4) Uma pessoa pode “virar” gay? A) Sim B) Não 5) E “cura gay”? Existe? A) Sim, lógico B) Não 6) Com quantos caras uma mulher pode ficar numa noite? A) No máximo dois. Senão é piranha. B) Com quantos ela quiser 7) Bissexuais são indecisxs? A) Sim B) Não

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8) Acha que uma pessoa está querendo chamar atenção quando diz que não é hétero? A) Sim B) Não 9) Feministas odeiam homens? A) Sim B) Não 10) Feminismo é uma forma de opressão? A) Sim B) Não 11) E sexo no primeiro encontro? A mulher pode fazer? A) Lógico. No primeiro, no segundo, no encontro que ela quiser... B) Não, só a partir do quarto ou do quinto. 12) Feminismo significa a superioridade feminina sobre a masculina? A) Sim B) Não 13) As mulheres estão querendo privilégios demais? A) Sim B) Não 14) Mulher tem que se dar ao respeito para ser


respeitada? A) Sim, senão não merece respeito! B) Não, tem que ser respeitada independentemente disso. 15) Ainda existe racismo hoje em dia? A) Sim, bastante. B) Não, as pessoas vêem isso aonde não tem. 16) Existe racismo inverso? A) Não B) Sim! Já sofri!

Quadro de pontos: 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9) 10) 11) 12) 13) 14) 15) 16)

A) A) A) A) A) A) A) A) A) A) A) A) A) A) A) A)

1 2 0 0 2 2 1 1 1 3 0 1 2 2 0 0

B) 0 B) 0 B) 2 B) 1 B) 0 B) 0 B) 0 B) 0 B) 0 B) 0 B) 1 B) 0 B) 0 B) 0 B) 2 B) 3

Resultados! 0 (zero) pontos: Parabéns! Você não faz parte dessa instituição terrível que é a família tradicional brasileira! A gente está bem feliz que você seja uma pessoa tão esclarecida a respeito dos assuntos tratados aí em cima. Você já faz parte da ‘MIGA’ mas, qualquer dúvida, é só ficar de olho nas próximas edições. :)

De 1 a 9 pontos: Você está um pouco distante dessa instituição horrível, no entanto, pisou na bola em algumas questões. Nós, da “MIGA”, estamos aqui para te ajudar a desconstruir qualquer resquício de preconceito para que, cada vez mais, você se distancie dessa instituição opressora. :)

De 10 a 26 pontos: Opa, seu resultado não foi dos melhores. Infelizmente, consta aqui que você faz parte da família tradicional brasileira... Mas calma, não precisa ter pânico! Você marcou suas respostas com um pouco de incerteza e não sabe muito bem qual sua opinião sobre os temas do quiz? Sem problemas. A MIGA está aqui pra te ajudar e te aconselhar sobre tudo isso. Vale a pena uma leitura mais atenta dessa edição e indicamos que você acompanhe as próximas. Quem sabe assim você vire uma pessoa mais tolerante?

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O que vem por aí: Racismo Oi, miga!

Karla Corrêa e Nathalia Manezes

Terminamos essa primeira edição da MIGA com muito carinho e esperamos que você tenha gostado! Nessa revista, tratamos de diversos assuntos, principalmente sobre o feminismo. Porém, na próxima, o tema será racismo. Falaremos sobre os movimentos de resistên- como ferramenta empoderadora de mulheres, cia, tanto no Brasil quanto no exterior, tentando cujas demandas, muitas vezes, são evitadas por apresentar um pouco da história que, infelizmen- feministas brancas. Não é bem uma separação te, não é ensinada na escola – pelo menos não do movimento e, sim, a aceitação de que um com a profundidade e reflexão que esse assunto feminismo generalista não seria o suficiente para merece. alcançarmos igualdade. Precisamos entender que Também falaremos sobre as dificuldades que diversas vezes preconceitos não se excluem, se o mundo da moda impõe, caso você não seja somam. E se realmente quisermos empoderar as branco, com cabelo liso e se encontre dentro mulheres devemos pensar em todas elas (e não dos padrões exigidos por esse mundo fashion, só nas que são parecidas com você ou com pesassim como questões polêmicas que merecem soas da sua família). Se interessou? Então se junte nossa atenção, como, por exemplo, a apropria- à MIGA e apoie suas irmãs negras! ção cultural. Na edição que está por vir, discutiremos algo Até o próximo bimestre. bastante importante: o feminismo que é realizado Com amor, e composto por mulheres negras. O feminismo, MIGA. como apresentamos pra vocês, é um movimento universal cujo um dos objetivos é a criação de um espaço seguro para mulheres. Entretanto, ele não existe num vácuo e não está livre de reproduzir racismo. Assim, infelizmente, pautas importantíssimas que dizem respeito à vivência da mulher negra são ignoradas – isso quando elas próprias não são silenciadas nos grupos de discussão. Acreditamos que quando criamos uma conversa sobre o papel das mulheres na sociedade, temos que destacar o quão mais difícil foi para mulheres negras, justamente por terem que conviver com o racismo, além do machismo. Por essas e outras razões, o feminismo realizado pelas mulheres negras se faz necessário,

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