Especial Macatuba 116 anos // 2016

Page 1

MACATUBA 116 ANOS É FESTA! “No coração deste estado, nosso rincão está guardado por campos verde-azulados, por águas do Tietê. E na iriante paisagem, o mel, o doce... e a coragem do povo a transparecer e na alma, a emoção de viver”. O começo do hino de Macatuba diz muito, principalmente para o seu desenvolvimento. Através da coragem do povo, a cidade nasceu, cresceu e se desenvolveu. E o mesmo povo se emociona ao falar de sua terra, que nesse mês completa 116 anos de vida. Parabéns Santo Antônio do Tanquinho, Bocayúva, Macatuba. Parabéns macatubense!


h i s tó r i a

Macatuba,

cidade de todos nós

Curiosidades, história e muito mais: conheça tudo o que está por trás da antiga terra de Santo Antônio do Tanquinho

E2

j u n . 16


A

minha, a sua, a nossa Macatuba. Nesse mês tão especial, a terrinha completa mais um ano. Uma vida centenária, que começa lá atrás, no dia 13 de junho de 1900. Pelo trabalho de homens à procura de terras férteis para desenvolver suas lavouras, nascia mais um município paulista. Eram pequenos sitiantes e lavradores que buscavam sua sorte para mudar suas vidas. Fixaram suas residências umas próximas das outras, formando-se assim um pequeno povoado. Inicialmente, foi denominada Santo Antônio do Tanquinho (existiam muitos tanques formados pelos rios que ali passavam). E tinham o Santo Antônio como seu padroeiro. O antigo povoado também teve sua origem ligada a uma raia de corrida de cavalos, que foi criada pelos seus antigos sitiantes. No local das reuniões de batalhas esportivas foram construídas casas para estabelecimentos comerciais, onde vendiam bebidas, comidas e cereais, além de pequenas casas. Posteriormente, em 7 de dezembro de 1912 (através da lei nº 1.337), com um número razoável de famílias, o então distrito de Lençóis Paulista levou o nome de Bocayúva. Passado alguns anos, o distrito se tornou município através da lei nº 1.975, de 1º de outubro de 1924, sendo desmembrado de Lençóis Paulista. Em 30 de novembro de 1944, através do decreto nº 14.334 de 30 de novembro de 1944, a cidade passou a se chamar Macatuba, que quer dizer “abundância de macás”, frutas silvestres. Inicialmente, a economia era voltada à agricultura, com pequenas plantações de café, milho e cana. Aos poucos o comércio começou a crescer, principalmente com o advento da costura e da sapataria. Por muitos anos, moradores da região se instalaram na cidade para trabalhar. Os anos foram passando, e a novamente agricultura começou a “ditar as regras”, principalmente através da cana de açúcar. Hoje, a Usina São José, do grupo Zilor, emprega boa parte dos trabalhadores da cidade, seja de forma direta ou indireta.

M A C AT U B A 116 A N O S

O brasão de Macatuba

O brasão é composto por um cavalo, duas faixas trépidas, três estrelas, uma fortaleza e dois ramos de plantas (um em cada lado). E seguem as explicações sobre cada um desses componentes:

Cavalo - Além de ser um símbolo de força e intrepidez, faz uma referência ao passado. Macatuba era uma referência regional em corridas de cavalos, com apostas e grandes eventos. Faixas trépidas - Representam os grandes Macatuba sempre foi uma cidade agrícola, com plantações de café, cana-deaçúcar e milho

rios que passam por Macatuba: Tietê e Lençóis; e também os dois córregos que cercam a cidade: Tanquinho e Aguinha.

Estrelas - Nobreza e subordinação a Deus. Fortaleza - Cidade forte e que está de portas abertas para todos. Ramos de plantas - Ao lado esquerdo, a cana de açúcar. Ao lado direito, o café. Macatuba foi e continua sendo um município essencialmente agrícola.

E3


H I S TÓ R I A

Fundadores do povoado Santo Antônio do Tanquinho José Jacinto Soares de Macedo Benedito Domingues Maciel Eugênio Saboia Joaquim Franco da Rocha João Batista Daré Joaquim Antônio de Azevedo José Antônio de Moura Luís Antônio de Godoi Francisco Fantini Alexandre de Góes

Você sabia que Macatuba já teve uma prefeita? Pedrina de Toledo César nasceu em Lençóis Paulista, em 29 de junho de 1906. Foi a quarta filha do casal José Toledo César e Argemira de Almeida Sales. Cursou a 1ª escola em Macatuba com a professora Teophila Pinto de Camargo. A sua diversão preferida era brincar de roda. Chegou a Macatuba com seis anos, acompanhada da família. O pai havia sido nomeado cartorário com a criação do Distrito Bocayúva. Na época, o pequeno povoado contava com uma igreja, farmácia, venda do Sr. Saboya com alimentos, roupas e muitos sítios. Paulo Barbosa, prefeito em exercício, pede afastamento para se candidatar novamente. Pedrina é nomeada substituta do prefeito pelo juiz de direito da comarca de Pederneiras. Era do partido PRP (Partido Republicano Paulista). Durante o período em que atuou como prefeita, as pessoas a procuravam para pedir emprego, menos horas de trabalho, aumento no salário, entre outras regalias.

E4

Curiosidades

1º prefeito: Benedito Domingues Maciel 1º coletor: Francisco Nascimento 1º médico residente: Angricio Canuto da Boa Viagem 1º delegado residente: Guelfo Vanini 1º sapateiro: Rodolfo Marzanatti 1º açougueiro: Luiz Enei 1º barbeiro: João Rodrigues 1º dono de agência de automóveis: Faustino Siqueira 1º mecânico: Marcos Antonio da Silva 1º comerciante: Eugenio Sabóia 1º ferreiro: Napoleão Pirolo 1º eletricista residente: Saul Chiari 1º defunto enterrado no cemitério: José Nani

Algumas “grandezas” de Macatuba Entre ruas de terra, vendas e casas: aos poucos Macatuba começou a crescer e a se desenvolver

O maior boi abatido: 32 arrobas O maior peixe pego (Tietê): 82 quilos, um jaú A maior cana: 5,8 metros (sem a ponta) A maior enchente: 1932 A maior seca: 1941 (9 meses de estiagem) A festa mais longa: Santo Antônio: 2 meses (1942) A maior geada: 24 de julho de 1918 A maior árvore em linha horizontal: figueira da Aguinha

J U N . 16


TO N I D A R É

SAUDADES DO PASSADO Com 87 anos e muita história para contar, Toni Daré é uma das grandes figuras de Macatuba

D

aré, Artiolli, Galli, Valezi, Fantini, Lista... São inúmeras as famílias tradicionais macatubenses, que doaram suas vidas pela cidade. Histórias, trabalho e muito amor são alguns dos componentes que, juntos, ajudaram na construção de cada casa, comércio ou empresa. E um desses baluartes é Antonio Daré, ou somente Toni para os amigos mais próximos. Nascido em uma pequena casa na Rua Rio de Janeiro, na antiga Bocayúva, logo se mudou com a família para uma chácara nas redondezas. Foi ali que Toni cresceu e viveu momentos inesquecíveis ao lado dos irmãos e dos pais Jacob Daré e Ird Roratto. “Meus pais criaram 14 filhos e deram um bom exemplo a todos”. Jacob trabalhou como celeiro (produzia arreio de cavalo) e, mais tarde, no transporte com caminhão “cabeça de cavalo”, como o próprio entrevistado define. Com 22 anos, se casou e foi morar na cidade. Na época, atuava como sapateiro, ofício que aprendeu ao lado de Nelson Franco. “Comecei bem novo, com apenas 16 anos”. Anos mais tarde, vendeu a casa e tentou a vida em Pederneiras, como motorista de caminhão. “Meu irmão morava lá e quis que eu fosse trabalhar com ele. Depois de dois meses voltei para trás, pois não me acostumei com a cidade”. Mais tarde, foi convidado por João Batista Cavalari, João Pimentel e Desiderio Minetto a trabalhar com o veículo do posto de saúde. E lá se foram 31 anos. “Antigamente, eu, Dora e Olívio Artiolli íamos até as propriedades rurais para vacinar a população. Dessa forma, conheci o município inteiro”. Paralelamente, praticava um seus principais hobbys: o futebol. “Por volta de 1948, comecei a jogar futebol e não parei mais. Era polivalente, mas preferia jogar como beque central”. Se precisasse, Toni

M A C AT U B A 116 A N O S

Macatuba não seria a mesma sem as histórias de Toni Daré

Toni Daré (segundo agachado, da esquerda para a direita), lembra os bons tempos no futebol macatubense

“chegava a madeira” nos adversários. “Certo dia, jogamos contra Igaraçu do Tietê e o rapaz deu uma entrada meio bruta em mim. Fui tirar satisfação com ele e o irmão veio e me deu um soco na cara. Corri o campo todo atrás dele, mas não consegui alcançar”, conta, aos risos. A vida passou, mas a memória continua em dia. Hoje, com 87 anos, dedica a vida a sua esposa, mas não deixa de lado os amigos e as histórias. Todas as manhãs de sábado, faz questão de parar algumas horas no Bar do Grava para jogar conversa fora. “Contamos histórias e relembramos a época do futebol, é bom reviver o passado. Nasci, cresci e criei as minhas filhas em Macatuba, essa cidade é a minha vida”, finaliza.

E5


D O N A A N TÔ N I A

Contadora

de histórias Dona Antônia é daquelas macatubenses que honram, com palavras e atitudes, a terra amada

E6

O

pai, português. A mãe, cabocla. Criada no bairro rural da Aguinha, Antônia Alves Nunes Valezi tem muita história para contar. E uma delas envolve os avós, que vieram de Portugal para as terras férteis de Santo Antônio do Tanquinho. “Meu avô veio sozinho para o Brasil, onde trabalhou com o primo, José Fernandes. Após um tempo, mandou uma carta para a minha vó e disse que a esperaria no porto de Santos. Naquele tempo, os navios eram movidos à vela e o vento poderia desviar a rota”. Foi o que aconteceu. Para buscar a esposa, o avô de Dona Antônia foi até o bairro do Banharão, em Dois Córregos, onde pegou um trem até Santos. “Chegando lá, cadê o navio? Ele voltou para casa e, após cinco dias, foi novamente para o litoral. Nesse meio tempo, a mãe do meu pai chegou ao Brasil e não encontrou o marido”. A sorte é que um desconhecido ofereceu abrigo à avó de Dona Antônia. Assim que chegou a Santos, o esposo perguntou da amada. Pronto, a família estava reunida novamente. Durante a sua vida, outras lembranças continuaram vivas na memória de Dona Antônia, entre elas as festas em louvor a Santo Antônio, padroeiro de Macatuba. “No início, o evento era realizado em frente a antiga igreja de taboa, que estava situada onde hoje é o coreto”. Os sitiantes

Macatuba é uma cidade especial. Aqui criei todos os meus filhos

iam à cidade, onde permaneciam durante um mês. Ali vendiam tudo o que produziam: ovo, verduras, legumes, frutas, galinhas... “A cidade ficava movimentada, com bailes, catira e muito mais. Meu pai comprava os panos e minha mãe costurava nossas roupas, era uma expectativa enorme”. Já a história do tesouro enterrado próximo à igreja Bonfim, que fica na zona rural de Macatuba impressiona. “Antigamente, havia tinha um ranchinho coberto de sapê e telha, feito de pau a pique. Os boiadeiros vinham de grandes distâncias tocando a boiada e paravam ali para pernoitar. Dizem que eles tinham medo de ficar naquele ranchinho, e enterravam ali todo o dinheiro que levavam. Quando chovia, esse dinheiro era coberto pela terra e pela lama. Muitas pessoas cavam ali em busca de moedas e ouro”, conta a aposentada, que completa 82 anos no mês de agosto. Hoje, Dona Antônia continua fazendo um de seus grandes hobbys: o artesanato. Ela doa boa parte do trabalho à Santa Casa de Macatuba, que utiliza o material no tradicional bingo. Grande prova de seu amor pela cidade. “Minha família é bastante grande. Uma vez por ano, reunimos todos e alugamos um salão para uma grande festa. É muito gostoso estar com a família. Criei todos os meus filhos aqui, a cidade de Macatuba é bem legal”, finaliza.

J U N . 16


zé césar

Macatuba:

Construída pelo povo

Zé César garante: população é a grande responsável pela construção da cidade

Macatubense é o principal responsável pelo desenvolvimento de sua cidade; Zé César confirma a teoria e ainda dá alguns exemplos

J

osé César Artioli é um daqueles macatubenses que conhecem praticamente todas as histórias de Macatuba. E ele garante: quem construiu a cidade foi a população, através do amor e do trabalho. A igreja de Santo Antônio e a sua torre do relógio são os grandes exemplos. “Por volta de 1962, a Usina Pouso Alegre era a maior da região. Na época, um dos funcionários iria se casar e convidou o dono da empresa, Otaviano Foltran. Ele era uma pessoa simples, chegava aos bares, tirava o violão do carro e tocava para o pessoal”. No dia do tão aguardado casamento, Otaviano chegou à igreja de Santo Antônio e não conseguiu entrar. “A construção era grande, mas o espaço interno para o público era pequeno. No mesmo instante, ele disse que iria derru-

m a c at u b a 116 a n o s

Cirquinho Boca Quente arrecadou o dinheiro necessário para a construção da torre da igreja de Santo Antônio

bar a igreja e construir outra”. Zé César garante que ele, Sebastião Machado e padre Corsini ouviram os dizeres. Na segunda-feira, Otaviano cumpriu com o combinado. “Ninguém acreditou na promessa, mas ele mandou um caminhão para iniciar o serviço”. Nesse meio tempo, o grupo Zilo Lorenzetti comprou a Usina Pouso Alegre, já que a mesma havia falido. “A construção parou, mas uma cidade não poderia ficar sem igreja”. Para resolver o problema, um grupo de pessoas começou a passar de casa em casa arrecadando dinheiro e doações. “Quem construiu a igreja foi o macatubense”, garante. Igreja pronta, mas uma coisa incomodava. “O pessoal da região dizia que a construção parecia um clube, pois não havia uma torre”. Foi nesse momento que Sebastião Machado, amigo de Zé César, teve uma ideia. “Ele perguntou a mim e a um grupo de amigos se topávamos fazer um circo”. Nascia, ali, o Cirquinho Boca Quente, uma apresentação na qual os participantes toureavam os bois e touros. “Fomo à Usina São José e o Julio Lorenzetti nos doou o eucalipto e o pano para cercarmos o local, além do gado. A Prefeitura de Macatuba nos deu as tábuas, que seriam utilizadas na arquibancada”. Na primeira noite, Zé César e os amigos arrecadaram “550 contos”, suficientes para comprar todo o tijolo da torre. Morador da Fazenda Passa Dois, Zé César ama Macatuba e sua história. Tanto que guarda em sua casa artigos antigos que remetem ao passado. “Antigamente, Macatuba era uma cidade pequena e tinha apenas duas ruas asfaltadas. Os eventos em sítios eram maiores do que os realizados na cidade. Tinha rodeio, jogo de futebol, enfim, sempre foi muito bom morar aqui”, finaliza.

E7



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.