Lençóis Paulista « Outubro de 2013 « R$ 5,00 « Ano 4 « Edição Nº 58 Gente de verdade que faz a história acontecer!
15 de Outubro Dia do Professor “O professor se liga à eternidade. Ele nunca sabe quando cessa a sua influência”
Henry Adams
Ady Grassi Fernandes ............................................................14 Alessandro Marcelo Estrella...................................................95 Cássia Regina de Toledo Rando..............................................16 Clarice Aparecida Alencar Garcia ...........................................19 Cláudio Abade .......................................................................95 Cleide Marly Pasquarelli Cassador .........................................20 Cristina Giacomini Flosi .........................................................23 Daniele Lourenço Gomes Spadotto........................................24 Diusaléia de Fátima Jacomino Furlan ....................................26 Douglas Coneglian ................................................................28 Eder Pires de Camargo...........................................................30 Edson Fernandes ...................................................................32 Edwaldo Roque Bianchini......................................................35 Eletéia Lorenzetti ..................................................................37 Eliane Mari de Oliveira...........................................................39 Elza Bernardes Bianchini .......................................................40 Gilda Bustos MacLean ...........................................................42 Guerino Telli ..........................................................................45 Izabel Cristina Campanari Lorenzetti .....................................46 Jademir Vasconcelos..............................................................96 Lucelena de Freitas................................................................48 Luzia Getúlia Leite Carneiro ...................................................52 Marco Toledo Filho ................................................................97 Maria Albina Perantoni .........................................................54 Maria da Graça Lorenzetti Rocha Lopes .................................56 Maria Nilza Nege ...................................................................58 Neusa Carone ........................................................................60 Norma Capoani .....................................................................62 Olinda do Prado Simioni........................................................64 Patrícia Guilen Guedes Garavelli ............................................66 Raphael Carlos Perantoni Blanco ...........................................98 Raquel Ribeiro de Andrade Ghirotti .......................................68 Regina Célia Monteiro Ramos................................................72 Regina Maria Batistela de Camargo.......................................71 Roberto Maximino José.........................................................98 Rosângela Gigioli ..................................................................74 Rosângela Maria Donato Castilho Martins.............................76 Rosângela Radicchi Podadera................................................79 Soely Paccola.........................................................................80 Sônia Maria Sinokava ............................................................82 Tereza Honda ........................................................................84 Vera Lúcia Borante Foganholi ................................................86 Vera Lúcia Portes Martins Tagliatela ......................................88 Wilton da Silva Moretto.........................................................90 Zilda Paccola Grandi ..............................................................92
Apoio
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Nossos Mestres Revista O Comércio
:: Missão, Visão e Valores Nossa Missão
Nossa Visão
Nossos Valores
A construção de uma sociedade se dá
Constituir um canal de comunica-
Comprometimento, compromisso,
a partir da história de homens e mulhe-
ção diferenciado no que tange à classe
respeito e lealdade às pessoas e às em-
res que se tornaram referenciais ao con-
empresarial e seus consumidores, que
presas que investem em nosso veículo
tribuir para o progresso de cidades. Gerar
também considera o poder de compra
de comunicação; Valorização, partici-
emprego é uma capacidade que merece
dos leitores de modo correlato à neces-
pação, reconhecimento e gratidão aos
aplausos tanto dos cidadãos quanto dos
sidade de venda dos anunciantes.
nossos colaboradores, distribuidores
poderes públicos constituídos.
Dominar por excelência os perfis
e fornecedores; Respeito à tendência
Expor ideais, valores e projetos que
sociais, culturais e econômicos liga-
político-religiosa, assim como, estímu-
contribuem para o desenvolvimento
dos à produção editorial para gerar
lo à criatividade e liberdade de expres-
das comunidades nas quais estamos in-
interação entre categorias de interes-
são entre os membros de nossa equipe;
seridos é o que pauta a linha editorial
ses afins, possibilitando parcerias e
Honestidade, seriedade, transparência,
deste veículo de comunicação junto ao
experimentações.
idoneidade, competência e competiti-
seu público.
Solidificar-se como referência nos
vidade compõem nossas seis diretrizes
Imprimir em nossas páginas o tra-
quesitos: comprometimento com o
das relações comerciais; Temor a Deus,
balho do gênio humano é o nosso dire-
cliente, lealdade ao leitor, compro-
amor à Pátria e à democracia, aliados
cionamento, aliando informações que
misso com fornecedor e atendimento
aos princípios universais de liberdade,
auxiliem no crescimento profissional a
profissionalizado, ao mesmo passo que
igualdade e fraternidade norteiam, pes-
editorias atuais, dentro de um progra-
prospectamos novos clientes para dar
soal e profissionalmente, nossos colabo-
ma economicamente viável.
amplitude ao nosso raio de circulação.
radores em suas relações interpessoais.
Revista O Comércio Nossos Mestres EXPEDIENTE DIRETORES Anderson Prado de Lima prado@revistaocomercio.com.br Breno Corrêa Medola breno@revistaocomercio.com.br JORNALISTAS RESPONSÁVEIS jornalismo@revistaocomercio.com.br Cristiano Guirado • MTB: 44.324/SP Editora Centro Oeste • CNPJ: 12.374.239/0001-00 Rodrigo Rosseto • MTB: 60.376/SP Revista O Comércio • CNPJ: 10.744.028/0001-97 COMERCIAL comercial@revistaocomercio.com.br Anderson Prado de Lima Patrícia Prado de Lima Regina Mello CRIAÇÃO arte@revistaocomercio.com.br Breno Corrêa Medola José Augusto Rodrigues COLABORAÇÃO Alcimir Antonio do Carmo Beatriz de Souza Vieira Juraci Rodrigues Logan Humberto Caversan Railson Rodrigues IMPRESSÃO Grafilar • CNPJ: 60.333.853/0002-58 TIRAGEM 5 mil unidades CIRCULAÇÃO Agudos, Borebi, Lençóis Paulista e Macatuba
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:: Editorial De nossas memórias, há informações
ou mesmo para estudar para a prova de
que jamais deixarão de existir: aquelas re-
gramática e de cálculos que, só de pensar,
ferentes aos nossos mestres, que, muitas
nos deixava ansiosos. E quantas vezes,
vezes, e para o nosso bem, tiveram que ex-
depois de o problema facilmente resolvi-
trapolar a formalidade da Educação para
do, não o consideramos fácil demais para
transformarem-se em amigos, conselheiros,
causar tanta angústia?
pai, mãe, irmãos! Afinal, quem é que não se
Lembrar dos anos da escola é, para
lembra de seus primeiros professores que
muitos, um misto de saudade, dor e de-
ensinaram as primeiras letras, a ler, a escre-
lícia, mas, também, momento de refle-
ver e também a ordenar os pensamentos?
xão sobre a importância dos professores,
Qualquer um de nós teve ao menos um
desses profissionais que têm uma tarefa
momento marcante envolvendo a sala de
para lá de nobre e, sequer, tem um salário
aula e um mestre na compreensão da ma-
digno ou uma estrutura decente. Muitas
téria, do assunto, do tema, da aula... Uns
vezes, nem reconhecimento.
se lembram com saudades das aulas de
É nesse contexto, de memória ines-
português, nem sempre um caminho tão
quecível em relação a esses mestres e com
suave, outros, ao menos no imaginário do
as linhas enternecidas, que, com muito
aluno, com a temerária matemática.
esmero, dedicamos esta edição. Por certo,
Quantas vezes, quantos de nós, alunos,
virão outras, com tantos outros de nossos
não passamos noites, madrugadas ou fi-
mestres que ainda não estão por estas
nais de semana para resolver um proble-
páginas, mas sim, no coração! Parabéns
ma de química, física, aritmética, biologia
pelo 15 de outubro, Dia do Professor!
Revista O Comércio Nossos Mestres
:: Carta ao leitor Quando a nossa revista foi às ruas pela primeira vez, era dia 10 de outubro de 2010. Naquela época, que não é tão distante assim, não sabíamos direito onde iríamos chegar, mais que isso, onde queríamos chegar e como faríamos isso. Vivíamos um misto de sensações, entretanto, as mais latentes, eram a ansiedade e o medo. Demos o primeiro passo, mesmo que, talvez, não estivéssemos preparados para ele. A verdade é que nunca ninguém está. O apoio do empresariado local soava muito mais como um patrocínio paternalista, do que uma ação de marketing que vislumbrasse alguma forma de retorno mensurável para suas lojas e seus diversos estabelecimentos. Sem nada que possa envergonhar a nossa breve história de três anos, nossos primeiros parceiros comerciais, mais do que anunciar, ajudaram para que o projeto saísse do papel e, de fato, existisse, ganhasse vida. Com a torcida a favor e a contribuição de pessoas e empresas que nos são estimadas e preciosas, a revista foi encorpando. Criamos produtos, elaboramos projetos, organizamos eventos. Fomos abraçando as demandas que julgávamos que os leitores e anunciantes fossem aprovar. Claro que não encontramos somente rosas pelo caminho, porém, como sempre digo, há beleza também nos espinhos. Todavia, descobrimos a nossa vocação. Na prática do jornalismo comunitário, fomos redescobrindo a cidade através de histórias incríveis que estão escondidas lá no íntimo das pessoas. Empresários, comerciantes e comerciários que transformaram a sua realidade através do suor e do trabalho. Abrimos as portas e as janelas da nossa casa – que nada mais são do que as páginas da nossa revista – para revelar as trajetórias de sucesso dessa brava gente lençoense de nascimento ou de coração. Já abordávamos conteúdos exclusivos, mas era preciso ir além. Em dezembro de 2011, criamos a editoria Vida de Professor. Era o tubo de ensaio para a edição que – agora – colocamos em suas mãos já pensando na lista do próximo ano. A Revista O Comércio ‘Especial Nossos Mestres’ foi feita com esmero e devoção para os leitores, contudo, especialmente, para eternizar os nomes desses educadores fantásticos, porque, como escrevi dia desses, “A escola é a porta para a salvação. O professor, a chave dessa glória”. Boa leitura! Anderson Prado de Lima Diretor da Revista O Comércio prado@revistaocomercio.com.br
7
8
Nossos Mestres Revista O ComĂŠrcio
Revista O Comércio Nossos Mestres
O que eles pensam
B
asicamente, para tudo que o ser huma-
9
Plurais, dedicados e professores: saiba o que ensinam, o que fazem e o que pensam ralidade da figura do professor.
como professores que defendem a Edu-
no não nasce sabendo e não vai conse-
E o que eles pensam da profissão e
cação moderna, com argumento de que,
guir aprender pelo método de tentati-
do atual cenário da Educação no Brasil?
se antes o aluno era treinado a ouvir e
va e erro, existe o professor. E quem ensinou
Ao contrário do senso comum, não há
se calar, hoje ele é influenciado a falar, a
o alfabeto ao professor? Grande pergunta!
sequer um professor desanimado. Eles
interagir. Estes mestres consideram que
Ser um docente é ser o portador de conhe-
estão sim, pesarosos de lembrar épocas
a escola contemporânea – por piores que
cimentos acumulados pela humanidade em
passadas e compará-las com o presente. E
sejam as condições de trabalho – forma
centenas de milhares de gerações, através de
são unânimes em sentir a falta da família
alunos mais críticos do que no passado.
toda a história da evolução do homem. Mais
no processo da educação.
A tecnologia divide opiniões. Enquan-
do que isso, é semear e, principalmente, la-
Alguns – e não são poucos – apontam
to alguns professores falam como se os
vrar o solo do conhecimento das gerações
a falta de vontade das lideranças políticas
celulares devessem ser banidos no am-
futuras, atividade que vai garantir alimento
em promover uma Educação melhor. E
biente escolar, outros acham que é preci-
intelectual para que o homem continue a
muitas vezes não é qualidade técnica que
so encontrar uma forma de vencer a para-
trajetória da evolução da espécie.
falta, mas sim, adequação de realidades.
fernália na disputa pela atenção do aluno.
Professores de crianças, de jovens, de
Quase todos ressaltam (e lamentam) que
Por fim, todos são unânimes em seu
adultos, professores especiais. Professo-
o sistema educacional brasileiro não é de-
orgulho. Orgulho daqueles que têm parti-
res de dança, de equitação, de direção, de
senvolvido para que todos os alunos che-
cipação direta na construção da sociedade
tecnologia, de esportes... professores de
guem ao curso superior.
contemporânea, que veem no dia a dia, o
outros professores. Na medida do possí-
Outra maioria esmagadora reprova o
resultado do seu trabalho refletido no de-
vel, a edição especial Nossos Mestres da
atual sistema de ensino. Mas neste caso,
senvolvimento daqueles que já foram, ain-
Revista o Comércio tenta seguir essa plu-
surgem ideias opostas interessantes,
da são ou sempre serão seus alunos.
10
Nossos Mestres Revista O Comércio
Desde os primórdios P
ara que servia o ensino
Do improviso do século 19 à corrida pela estru-
O longínquo ano de 1861
em 1861, em uma co-
turação no século 21, professores se dedicam a
é a data do primeiro registro
munidade jovem, espar-
sa e que vivia essencialmente
de atividade pedagógica em
passar conhecimento e melhorar a comunidade
Lençóis Paulista. Ainda de-
da vida no campo? Se hoje Lençóis Paulista é referência
pendente administrativamente de Botucatu, a Vila de
em ensino profissionalizante e tem uma série de índices
Lençóes tinha um professor de primeiras letras para
positivos nas avaliações de ensino em diversos níveis, é
meninos, Theodoro Vieira. Em 1862, o governo da
prova inconteste da qualidade e dedicação dos professo-
Província de São Paulo autorizou a abertura de uma
res atuais, mas reflexo do trabalho dos primeiros mestres
sala para meninas, a ser comandada pela professora
que passaram por esta terra denominada solenemente
Maria Carolina Marques.
como “Cidade do Livro”.
A despeito das dificuldades, as demandas por Edu-
No Brasil Império, o ensino público gratuito não
cação cresceram na Lençóis Paulista do século 19 e a
era obrigatório e os municípios destinavam pouco or-
lista de mestres daquele tempo não parou de aumentar,
çamento à Educação. A principal fonte de renda era o
logo vieram Henrique Xavier Benjamin, Belarmino Fer-
trabalho na lavoura.
raz, Antonio Lopes Moraes Bueno, Antônio Januário de
3264-7191 / 99701-1020
3263-3386
3263-3055
3263-2920
99701-1819 / 3264-2718
99737-8505
3263-0217
3264-1819 / 3263-0711
3263-6809
3264-3573
3264-3707
3264-1272
3263-3433
3263-2635
3264-9500
PROJETOS E INSTALAÇÕES ELÉTRICAS INDUSTRIAIS
3264-3029
3263-1241
3264-8768 / 99632-0231
3264-1409
3264-4244
Revista O Comércio Nossos Mestres
Professora Cecília M. Bosi
Professora Maria Bove Coneglian
Professora Idalina Canova de Barros
Vasconcelos, Maria Generosa, Joaquim Pereira Escobar
a um próprio público. Na verdade uma maestra (“pro-
e até o major Octaviano Brisola – importante figura
fessora” em italiano), Amélia Gasparoni Brega.
política da região e responsável direto pela fundação e
Ela mesclou a vocação para a Educação com o sangue
estruturação de Bauru – tinha sua turma de alunos no
empreendedor, equipou uma escola primária em sua
ensino primário. Todos antes de 1900.
própria residência, instituição que manteve por 25 anos.
E foi justamente em 1900 que a cidade viu surgir o primeiro mestre que depois viria a emprestar seu nome
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Hoje, em sua homenagem, Lençóis Paulista tem não um prédio, mas um bairro inteiro, a Vila Maestra Amélia.
Mateus
Prado de Lima Especialista em Implantes Dentários
3264-4323
99710-3969 / 3263-7120
3263-2188
3264-1624
3264-6404
3263-7112
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3264-7545
3264-1665 / 99805-6993
3263-0871
3263-2610
3269-1200
99838-4495 / 99639-7106
3263-4723 / 99799-9249
3264-6201
3264-3435
3264-2338 /
3263-1740
3264-2523
3263-0989
Revista O Comércio Nossos Mestres
Os mestres eternizados Eles fizeram parte da história da educação em Lençóis Paulista e deixaram seus nomes gravados para sempre
Em 2014, a Escola Esperança de Oliveira completa o seu centenário; a mais tradicional instituição de ensino lençoense está entre os colégios mais antigos da região
A fachada mantém as principais linhas arquitetônicas do prédio que leva o nome do eterno mestre do ensino, o Professor Antonio Esperança de Oliveira
M
ais do que marcar a vida
mitiram seus conhecimentos para
professor. Ou seja, excluem-se Vir-
dos seus alunos, os mes-
milhares de lençoenses de várias
gílio Capoani, Paulo Zillo e Rubens
tres do século passado aju-
gerações diferentes.
Pietraróia e ficam os educadores Le-
daram a desbravar e consolidar um
Na lista das escolas de ensino in-
onina Alves Coneglian, Antonieta
dos campos mais importantes da
fantil, dois mestres emprestam seus
Grassi Malatrasi, Vera Braga Franco
formação social do município, que
nomes para os prédios escolares,
Giacomini e Cecília Martins Bosi
é a Educação. Logo, é natural que a
Yvone Conti Capoani e Marcelino
(em Alfredo Guedes).
eles não faltem homenagens.
Dayrell Queiroz. Entre as institui-
Por fim, a rede particular tam-
Para saber os nomes dos princi-
ções de ensino fundamental estão
bém tem um mestre homenageado.
pais professores de Lençóis Paulista
alguns dos nomes mais famosos da
Trata-se de Francisco Garrido (que
no século 20 não é preciso muito
educação na cidade: Esperança de
aliás, também participou da vida
esforço. Existe quase que uma “fór-
Oliveira, Edwaldo Roque Bianchini,
pública, como vereador na década
mula” para se saber quem foram
Idalina Canova de Barros, Lina Bosi
de 1960) que foi um ativista da edu-
esses mestres. A regra é simples:
Canova, Maria Zélia Camargo Pran-
cação técnica em Lençóis Paulista.
olhe para os nomes das escolas da
dini, Amélia Benta do Nascimento
Além do colégio, ele também em-
cidade, exclua os entes políticos
Oliveira, Guiomar Coneglian Borcat
presta seu nome ao Centro de Aten-
e figuras marcantes da comuni-
e Nelson Brollo.
dimento do Cidadão, prédio que
dade. Todos os que restarem, são
Entre as escolas estaduais a regra
educadores, que no passado trans-
é mais fácil. Quem não é prefeito, é
abrigava a Escola Técnica de Comércio no final da década de 1950.
13
14
Nossos Mestres Revista O ComĂŠrcio
Dy
Dona
Revista O Comércio Nossos Mestres
A
dy Grassi Fernandes, a Dona Dy, tem
15
tive bons professores, bons no sentido
toda a vida profissional dedicada à
Da alfabetização à coordenação pedagó-
de amigos. Professores que ensinavam e
Educação. Porém, trajetória que é di-
gica, Ady Grassi Fernandes se realizou pro-
tinham preocupação com o aprendizado
vidida entre a sala de aula e a coordenação pedagógica. Natural de Macatuba, teve suas primeiras salas de aula na cidade natal.
fissionalmente; “se eu tivesse que escolher de novo, escolheria a mesma coisa”, diz
Ingressou como professora do Estado
do aluno”, conta. “E isso atrai a criança para a Educação, e precisa disso, porque a criança é muito autêntica, se criar-lhe problemas, ela se afasta”, observou.
na cidade de Lucélia, antes de lecionar nas
mais sete anos na função, no Paulo Zillo e
escolas das comunidades rurais da Fartura
no Francisco Garrido.
Longe do ambiente de trabalho há mais de 15 anos, Dona Dy conta que
e Usina Barra Grande. Além das aulas no
A escolha pela profissão de educado-
perdeu todo o contato com a Educação.
primário, Dona Dy se formou em Pedago-
ra, ela conta, aconteceu naturalmente.
“Não tenho nenhum sobrinho em idade
gia e também deu aulas de Estudos Sociais,
“Sempre gostei e achei legal, como aluna
escolar, nenhum filho de amigos e nem
Educação Moral e Cívica, OSPB (Organiza-
mesmo, achava maravilhoso o ato de en-
vizinhos que me peçam socorro”, brin-
ção Social e Política Brasileira) e Psicologia.
sinar do professor”, revela. “Se eu tivesse
ca. “O que eu sei da Educação de hoje é
Em meados da década de 1970, foi
que escolher novo, escolheria a mesma
o que acompanho pela imprensa. Mas o
coisa”, garante.
que posso dizer do meu período é que foi
aprovada em concurso para o cargo de coordenadora pedagógica, que assumiu
Da admiração que carregou de seus
muito bom. Os professores eram muito
no Virgílio Capoani e depois no Espe-
próprios professores, Dona Dy formatou
valorizados, tinham muitos cursos e atu-
rança de Oliveira, onde se aposentou em
uma metodologia de trabalho que levou
alização constante. A gente aproveitava
1987. Mesmo depois, ainda trabalhou por
consigo para a vida profissional. “Eu
bem, dava para inovar bastante”, finaliza.
16
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Cá M
ais do que ser influenciada, ela acompanhou a mãe. Literalmente. E as viagens pela zona rural de
Lençóis Paulista tinham lá seu requinte. “Ela ia dar aulas de charrete, fui com ela várias vezes quando era criança”, conta Cássia Rando. A prática de lecionar não estava muito bem resolvida na hora de escolher a profissão. “Eu sabia que teria relação com a arte. Escolhi Educação Artística, que era a opção que tinha na região”, continua. Junto com Educação Artística (com habilitação em Artes Plásticas), ela fez Pedagogia.
Revista O Comércio Nossos Mestres
ássia
17
dio, tinha até o nome do aluno a quem ele
do semestre como professora do curso de
pertencia. E acabei comprando”, conta. “E
Pedagogia da Facol (Faculdade Orígenes
meu marido fez o seguinte comentário:
Lessa). Nessa nova fase, ensina os universi-
uma vez professora, sempre professora”.
tários – futuros professores infantis – sobre
De certa forma, essa tem sido a tônica
a arte como ferramenta para o aprendiza-
da vida de Cássia Rando. Depois de apo-
do e desenvolvimento saudável da criança.
sentada da rede estadual, começou a dar
“Agora eu fico só inventando moda, quero
aulas na Etec Paula Souza, onde ficou até
trabalhar isso no contexto educacional do
o final do primei-
Seus primeiros passos como educadora
ro semestre deste
foram em 1977, como orientadora de OSPB
ano. Quando a
(Organização Social e Política Brasileira).
prefeitura precisou
Em 1980, foi efetivada e trabalhou no Paulo
efetivar professo-
município”, revela.
Das idas à escola de charrete junto com a mãe ao novo desafio como professora, Cássia Rando confessa: “uma vez professora, sempre professora”
“Se fosse para fazer algo igual ao que já tinha feito, talvez eu não aceitasse.
Zillo (em frente à sua casa), por 20 anos. Os
res no quadro, ela
últimos anos de sua carreira foram no Vir-
não quis prestar
gílio Capoani, onde se aposentou, em 2011.
concurso e concorrer à vaga. “Não queria
Cássia Rando hoje divide o clima de
Ela conta que recentemente, em viagem
voltar a ter compromisso, muita gente não
debutante como professora universitá-
de lazer com o marido, Isaías Rando Jú-
vê a hora de se aposentar para fazer algu-
ria, com o ateliê – que já mantém há 15
nior, resolveu parar em um brechó. “Adoro
ma coisa diferente”, explica. “Resolvi que
anos – onde ensina artes a crianças e
brechós”. Logo se interessou por um livro
não ia mais dar aula.... até que me chamas-
adolescentes. Realizada? “Muito realiza-
de História da Arte. “Gostei do livro, da
sem de novo”, brinca.
da! Como é a frase? Uma vez professora,
linguagem... era um livro de ensino mé-
E o convite veio e ela começou o segun-
Mas se é diferente...”, completa.
sempre professora”, finaliza.
Revista O Comércio Nossos Mestres
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Clarice Em 26 anos como educadora, Clarice Alencar Garcia, além de alfabetizar em Lençóis e Macatuba, ajudou a formar professores em São Manuel
D
esde os tempos de estagiária, Cla-
no final, consegue aprender, temos a sen-
também se acentuam, como as drogas, e
rice Aparecida Alencar Garcia já
sação de sucesso, de dever cumprido. Com
ainda há uma nova estrutura familiar. Es-
atuava na profissão de professora
os jovens, os alunos de pedagogia, tenho a
ses fatores geram comportamentos mais
e educadora na Escola Estadual Rubens
oportunidade de ensinar como trabalhar
agressivos e os alunos têm necessidade
Pietraróia, mas, sua primeira experiência
com as crianças. É muito gratificante ver
de maior afeto dos educadores. Por outro
depois de formada foi na escola da Usina
que, além de alunos, alguns são colegas de
lado, o desgaste dos professores é maior
São José, sempre às séries iniciais - 1º e 2º
trabalho”, comenta a professora.
do que antes, afinal, é preciso pensar em
anos - como alfabetizadora.
Para Clarice Garcia, a Educação bra-
diversos outros fatores quando se leciona.
Além da Educação Infantil, Clarice
sileira está em fase de transição, já que
“Ser diretora é diferente de ser profes-
Garcia tem atuação no ensino superior
“é preciso reformular os espaços físicos
sora, a responsabilidade na liderança de
onde, por 17 anos, lecionou para o curso
e o tempo escolar, mas, para isso, é ne-
uma escola faz com que tenha outros olha-
de Pedagogia do IMES - Instituto Munici-
cessário o empenho político e dedicação
res que as pessoas da equipe não enten-
pal de Ensino Superior de São Manuel. A
dos especialistas. Apesar de saber que é
dem, porém, necessários. Aprendi muito
professora também já lecionou na escola
preciso mudar, ainda não se sabe como.
também sobre relacionamento profissio-
estadual Fernando Valezi e escola muni-
Por isso, o grande desafio da Educação é
nal como diretora, por 15 anos, da Escola
cipal Odila Galli, ambas em Macatuba.
descobrir como adequar a escola à socie-
Idalina Canova de Barros”, relata Clarice.
“A experiência com Educação Infantil
dade atual”, conta.
A esposa de Márcio e mãe de Logan,
é o oposto da experiência com jovens e
Entre diversos aspectos para que a
Renan, Giovani e Victor comenta que essa
adultos”, avalia ela, pois, “enquanto a pro-
Educação evolua, é preciso ressaltar a
é a carreira que sempre quis ter na vida.
fessora vibra com cada passo do aluno que
mudança em relação ao comportamento
“Me realizei pessoal e profissionalmente
se alfabetiza, com cada aprendizado por-
dos alunos. E escola é o reflexo da socie-
e obter esse sucesso mostra que sempre
que ainda não apropriou a fala à escrita e,
dade e, infelizmente, alguns problemas
estive e fiz o que devia fazer”, finaliza.
20
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Cleide
U
m ângulo para cá, uma área para lá,
compensa está no resultado e no carinho
compasso e esquadro nas mãos...
dos ex-alunos, como o caso de um que
Ela lecionou em praticamente todas
Muita gente começou a conhecer
hoje é cirurgião plástico e veio lhe agra-
as escolas da rede estadual de Lençóis
os fascinantes segredos da Geometria
decer pelas aulas de Geometria que foram
Paulista e no bairro de Alfredo Guedes.
através do quadro negro elaborado pela
muito úteis quando trocou a rede pública
Nas suas mais de duas décadas de ensi-
professora Cleide Pasquarelli Cassador.
pela escola particular.
no, Dona Cleide considera que vivenciou
contro e os abraço”, diz.
Formada na Magistério e no curso de De-
“Isso não tem preço que pague, é mui-
duas fases distintas da Educação. A pri-
senho e Plástica na Fundação Educacional
to mais do que o salário, é uma satisfa-
meira, de apoio incondicional por parte
de Bauru - hoje Unesp – não quis seguir
ção”, ressalta. Dona Cleide também brin-
dos pais ao trabalho dos professores. A
carreira como professora universitária.
ca ao lembrar que o tempo passa para
segunda, de desconfiança total da família
Essa escolha fez com que dedicasse
todos, inclusive para os jovens de outro-
nos docentes e proteção aos alunos. “An-
toda a sua vida em sala de aula à educação
ra. “Às vezes, encontro alguns já calvos,
tes, os professores tinham apoio dos pais
dos jovens lençoenses. Aposentou-se em
me lembro que foram meus alunos, que
à educação dos filhos e, depois, os filhos é
1994, depois de 28 anos de trabalho. A re-
eram pequenos, novinhos... Ainda os en-
que receberam esse apoio, a tal ponto que
Revista O Comércio Nossos Mestres
Cleide Marly Pasquarelli Cassador acredita em nova mudança na Educação; “é importante que os pais tomem parte na responsabilidade do ensino dos seus filhos”, diz
muitos pais brigavam com professores, para sair em defesa dos filhos, mesmo que esses não tivessem razão em suas demandas”, avalia. Otimista, ela acredita que uma nova mudança na Educação está prestes a acontecer. “A que parece, será benéfica ao ensino porque, justamente, procura trazer os pais à educação diária dos filhos na escola. Acredito mesmo que essa proposta será bem sucedida, pois, é importante que os pais tomem parte na responsabilidade do ensino dos seus filhos”, considera.
21
23
Cris Revista O Comércio Nossos Mestres
C
ristina Giacomini Flosi é mais uma das mestres que nunca precisaram parar para pensar no futuro profis-
sional. “Sempre gostei muito de criança, gosto de estar no meio dos jovens, me
primário”, conta.
Formada em Matemática, Biologia, Ciências e Pedagogia, Maria Cristina Giacomini Flosi passou por todos os cargos
Essa foi a primeira de muitas experiências na Educação, inclusive com longas passagens pelas escolas estaduais Esperança de Oliveira e Leonina Alves
atualizar junto com eles. Faço isso há 42
da Educação; ‘ainda tenho muito ânimo,
Coneglian. Saindo da sala de aula, foi co-
anos e ainda tenho muito ânimo, gosto do
gosto do que eu faço’, diz
ordenadora de Matemática - e depois, su-
que faço”, afirmou. “E pra quem gosta e
pervisora – da antiga Delegacia de Ensi-
tem vocação é gratificante, eu venho tra-
aula por algumas semanas no primário,
no de Lençóis Paulista. “Ocupei todos os
balhar com prazer”, continua.
em uma escola na zona rural, na Fazen-
cargos da Educação, mas foi na direção
Prestes a completar 14 anos à frente
da Irara. Peguei uma sala que tinha os
que eu me realizei mais. Dá a possibili-
da Cooperelp (Cooperativa Educacional
três primeiros anos juntos e o professor
dade de um trabalho mais amplo, vendo
de Lençóis Paulista), Cristina, tem um
sozinho tinha que dar conta. Desde en-
tanto o lado pedagógico quanto o lado do
currículo polivalente no ensino. “Dei
tão, sempre valorizei muito o professor
aluno”, explica.
24
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dani Diretora da APAE de Lençóis Paulista conta como se apaixonou “à primeira vista” pelo ensino especial; “não me vejo mais fora daqui”
Revista O Comércio Nossos Mestres
A
25
pesar da formação profissional e
conta. Daniele foi fazer o teste a convite de
que o trabalho despertou nela quando
dos primeiros passos no mercado
uma amiga. Passou, provou da experiência
chegou, há 13 anos.
de trabalho, há 13 anos, antes de en-
e ficou. “Cheguei assustada. Oficialmente,
“Contratar é um problema para nós.
trar na APAE (Associação de Pais e Ami-
era meu primeiro emprego e eu tinha alu-
Muitos profissionais chegam aqui com o
gos do Excepcional), Daniele Lourenço
nos da mesma idade, que eram adultos
currículo perfeito e acabam desistindo em
Gomes Spadotto confessa: “me via mesmo
mas que, muitas vezes, temos que tratar
pouco tempo. Por outro lado, já aconteceu
como dona de casa, ajudando na oficina
como crianças. Foi um choque”, revela.
de contratar pessoas sem experiência algu-
do marido e me dedicando aos filhos”.
Ela confessa que engravidou do segun-
ma e que se identificam com o trabalho”,
Nessa época, a vida que ela levava era o
do filho já pensando em parar e se dedi-
explica. “Recentemente contratei uma me-
do professor eventual. “Passei por escolas,
car à educação das suas crianças. “Não
nina como monitora. De repente, uma pro-
creche, educação infantil... é uma situação
deu. Não me vi mais fora daqui”, brinca.
fessora precisou se afastar e eu trouxe essa
complicada e todo mundo que é professor
“Terminei a licença e voltei, no começo,
jovem para a sala de aula, com uma equipe
eventual passa por esse aperto, tem que
por metade do dia. Depois fui preenchen-
de apoio. E a sensação que eu tenho é de
ter aulas preparadas, pois não se sabe para
do os horários. Me encaixei e meus filhos
que ela está na APAE há 20 anos”, conta.
onde vai e a permanência na sala é de um
praticamente cresceram aqui. Hoje eles já
dia, onde o aluno não te respeita, porque
sabem: onde está a mãe? Na APAE”, diz.
ele queria estar vago e o professor substi-
Realizada
profissionalmente?
Com
certeza. Se antes pensava em não levar o
Em meados de 2008, teve que deixar
magistério à frente, hoje, Daniele usa o
a sala de aula para assumir a direção da
seu ambiente de trabalho como exemplo
O que deu errado? Ou melhor, o que
escola. Um novo desafio, mas Daniele
para colegas de profissão. “O respeito e o
deu tão certo? “O ano 2000 foi um ano de
garante que encontra tempo de conciliar
carinho que esses alunos têm com os pro-
transição na APAE, alguns professores ha-
as tarefas administrativas com o convívio
fessores, com a equipe da escola, não se
viam saído e seis novos foram contratados.
com os alunos. E hoje busca e identifica
encontra em qualquer outra instituição de
E tínhamos que conquistar nosso espaço”,
em sua equipe técnica a mesma vocação
ensino”, finaliza.
tuto está ali”, considera.
26
Nossos Mestres Revista O Comércio
Diusa Mãe de um casal de filhos, Diusa Furlan concilia sua vida de professora com a de mãe, esposa, dona de casa e é apaixonada pela profissão e pelo ensino
Revista O Comércio Nossos Mestres
A
27
professora Diusaléia de Fátima Jacomino Furlan classifica
a Educação exigida para todo cidadão do terceiro milênio. “O
a Educação no Brasil como de nível insatisfatório e afirma
grande desafio, ao meu ver, é conciliar tudo que sempre funcio-
que isso é evidente em todas as pesquisas feitas sobre a
nou, a escola tradicional, com as novas e velozes tecnologias, as-
Educação brasileira. Mãe de Eduardo e Camila e esposa de Eder
sim conseguiremos oferecer aulas mais dinâmicas e atraentes em
Furlan, Diusa é professora de matemática na escola estadual Vir-
um mundo contemporâneo”, comenta.
gílio Capoani e ama a profissão e a convivência com os alunos,
Diusa Furlan é educadora há quase três décadas e comenta
mesmo sendo uma disciplina que poucos gostem, a educadora
que tenta deixar a relação com os alunos a melhor possível,
procura deixar a aula mais dinâmica e animada.
brinca, conversa e sempre deixa claro que quer o melhor para
Sobre a Educação em Lençóis Paulista, Diusa Furlan conta:
a vida deles.
“nossa cidade tem rompido com as limitações de uma aula con-
“A responsabilidade social de um professor é muito grande,
vencional, na qual percebo o aumento de capacitação dos profis-
além de sua área específica, na qual deve ser especialista e no
sionais da Educação e o uso de tecnologias, a transição entre a
meu caso é a matemática, devemos abordar também diferentes
aula tradicional e a digital e inaugura, também, formas diferen-
temas nas aulas, como ética, valores, orientação sexual, meio
tes de ensino e aprendizagem”.
ambiente, saúde, cidadania, sustentabilidade, trabalho, consu-
Para a professora, os professores precisam rever as maneiras
mo, dentre outros assuntos. Uma das conclusões, depois de tanto
de ensinar, pois o mundo vive em mudanças rápidas e constan-
tempo na Educação, é a de que meus alunos são minha vida, amo
tes. Isso acontece, pois essa mudança precisa ser feita porque é
essa profissão, por vocação e paixão”, finaliza.
28
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dodô Perto de completar três décadas dedicadas à Educação, Douglas Coneglian desabafa: “é a profissão mais heróica do mundo, convive o tempo todo em situação de risco”
Revista O Comércio Nossos Mestres
N
29
o próximo mês de novembro, Dou-
sil não é interessante que as pessoas
comecei a lecionar as condições de tra-
glas Coneglian, 48 anos, completa
tenham boa educação, boa formação”,
balho ainda eram boas e o professor era
três décadas de magistério. “Nun-
protesta. “Temos alunos cada vez mais
respeitado. Hoje temos outra realidade
ca precisei de teste vocacional, sempre
engessados, e este é um tipo de Edu-
social, as famílias são desestruturadas e a
quis ser professor, e de Educação Física”,
cação que o Estado privilegia, ele quer
escola não é planejada”, lembra.
revela. “Lógico que inspirado no voleibol,
que aconteça dessa forma, quanto mais
Na sua avaliação, além de vocação,
pois era uma forma de continuar traba-
crianças paradas e sem saber se expres-
dedicação e conhecimento, para exercer
lhando com o vôlei, apesar dos meus pais
sar, melhor. A escola não mudou porque
sua profissão o professor contemporâ-
insistirem para eu ser médico, engenhei-
não existe interesse”, acrescentou.
neo precisa de uma boa dose de hero-
ro ou advogado”, conta.
Ele considera que a forma com que
ísmo. “É a profissão mais heróica do
Para Douglas, a crise na Educação
o Brasil tratou a Educação nas últimas
mundo, que convive o tempo todo em
brasileira é questão cultural, reflexo di-
décadas tenha sido decisiva na desvalo-
situação de risco”, considera. “Quem não
reto de políticas educacionais que ele
rização profissional e social da figura do
conhece não entende a dificuldade de se
considera falhas. “Muita gente acha que
professor e da própria escola pública. “Só
administrar uma sala de aula com 35, 40
o professor perdeu o respeito, mas quem
tive professores excelentes, de gabarito
alunos. Se o professor ganhasse quatro
perdeu o respeito para com o professor
excepcional. E sempre estudei em escola
vezes o que ganha hoje, ainda não seria
foi a comunidade. Na verdade, no Bra-
pública, diga-se de passagem. Quando eu
suficiente”, finaliza.
30
Nossos Mestres Revista O Comércio
Professor Eder Bons amigos na escola e professores como referência: a receita de Eder Pires de Camargo para superar a deficiência visual e chegar ao pós-doutorado
E
der Pires de Camargo é tudo aquilo que tinha de tudo para não ser. Formado em física pela Unesp de
Bauru, onde fez mestrado em Educação para Ciências, doutorado na Unicamp e pós-doutorado na Unesp, desde maio de 2006 pertence ao departamento de Física e Química da Faculdade de Engenharia da Unesp, de Ilha Solteira.
Revista O Comércio Nossos Mestres
31
Ele é deficiente visual. Começou a per-
las mãos e me levou para a frente e disse:
cursos de engenharia e agronomia. Tec-
der a visão aos nove anos de idade e teve
‘menino, você tem potencial’. E começou
nologias de acessibilidade e uma relação
que abandonar a última carteira. “Com
a me ensinar primeiramente matemática
de colaboração com os alunos superam a
o tempo, passei a me sentar na primeira
e depois as outras disciplinas. Quis ser
deficiência. “Faço chamadas em um sof-
na lateral, depois no centro. Depois tinha
como ele”, revela. “Todos amavam o pro-
tware que ao final de cada mês me dá a
que levantar para ler o que estava escrito
fessor Edevar e eu tive a sorte de ter sido
porcentagem de presença dos alunos,
na lousa e voltar para escrever no cader-
seu aluno. Deixei de ser um aluno sem in-
profissionais da Unesp me ajudam na
no. Até que passei a copiar a matéria que
teresse para ser um aluno estudioso e que
aplicação e correção das provas”, explica.
meus colegas ditavam para mim. Estudei
em pouco tempo começava a dar aulas
Eder encerra lamentando os moldes
neste ritmo até o fim do ensino médio
para seus colegas”, continua.
da Educação brasileira. “Nossa Educação
no Virgilio Capoani, em 1990”, conta. Ele
Ele destaca também o apoio da dire-
é construída em padrões capitalistas de
destaca a ajuda fundamental dos amigos
tora da escola Rubens Pietraróia, Thaís
competitividade. Isto faz com que alu-
Cristiano Langona, Marcos Blanco e An-
Jacon, que lhe fortaleceu nos primei-
nos tenham que decorar e não aprender
dré Canova neste complicado processo de
ros momentos em sala de aula. “Foi um
significados. Eles precisam decorar para
leitura de conteúdo.
momento difícil, eu estava começando a
escrever respostas certas em provas, já
Dos tempos de escola, destaca seus
ingressar no mercado de trabalho”, relem-
que a qualidade de ensino é medida pelo
mestres Dorival Tagliatela e Guerino
bra. Eder destaca o apoio da irmã Erica e
número de alunos que determinada esco-
Telli. Mas foi outro professor, desta mes-
da mãe Elisabeth, que ajudavam a elabo-
la aprova em exames de seleção”, avalia.
ma época, que o inspirou a seguir carrei-
rar e corrigir provas no início.
“Junto com uma nova escola, o Brasil pre-
ra pelo magistério. “No primeiro colegial,
Hoje ele leciona para os cursos de Fí-
cisa de um novo modelo social. O modelo
ele me viu na última carteira, desanimado
sica, Biologia e Matemática da Unesp, em
atual sufoca e impossibilita a plena parti-
e triste com as notas baixas. Me pegou pe-
Ilha Solteira. Já lecionou também para os
cipação das pessoas”, finaliza.
32
Nossos Mestres Revista O ComĂŠrcio
Professor Edson
Revista O Comércio Nossos Mestres
33
Marcante na vida de seus alunos, Edson Fernandes diz que não há um grande fato a destacar, mas sim, pequenas surpresas que a atividade diária proporciona
E
dson Fernandes tem mais de 25
ele, ser professor tem algumas satisfações
e demonstrar aos alunos que eles podem
anos de magistério. Um dos profes-
valiosas, como quando algum aluno se
e devem ter uma visão crítica do mundo.
sores mais marcantes da história re-
interessa por sua matéria. “Também há
“Um mundo do qual esses jovens são parti-
cente da Educação lençoense, ele garante
aquela pergunta surpreendente, que o faz
cipantes, não espectadores”, ressalta.
que em sua carreira não há grandes fatos
ir para casa repensando as suas certezas
Edson se considera testemunha ocular
dignos de destaque, mas sim, surpresas
sobre determinado assunto e, claro, há os
da queda da qualidade na Educação bra-
diárias. “É uma conversa mais demorada
atritos, os desentendimentos; uma con-
sileira, especialmente no estado de São
com um aluno, quando você acorda para
versa mais ríspida. Enfim, são pequenos
Paulo. “Quando penso que o mesmo par-
o fato de que por detrás de um número
eventos do cotidiano que tornam a vida
tido está no poder do Estado mais rico da
de chamada há uma vida sofrida e então
do professor diferente da maioria das
federação há quase 20 anos e não houve
seu relacionamento com tal aluno passa
profissões. Só não dá pra dizer que é uma
uma mudança significativa nos padrões
a ser outro”, revela.
atividade monótona”, afirma.
de qualidade, pelo contrário, houve piora,
É com essa simplicidade e compro-
O professor defende a Educação como
tenho a convicção de que o modelo está
misso com a Educação que Edson Fer-
transformação social. Ele considera a
errado”, avalia. “É uma mistura de má
nandes e seus ensinamentos ficam para
condição de professor de História como a
gestão, más escolhas de modelos, más in-
sempre na lembrança dos alunos. Para
chance de levar a política para a sala de aula
tenções e maquiavelismo”, completa.
Revista O Comércio Nossos Mestres
35
Bianchini Professor
E
dwaldo Roque Bianchini é um dos
sensação de dever cumprido. “Nenhuma
que seus filhos passem de ano e não que
nomes mais conhecidos da Educa-
outra profissão, mesmo que mais ren-
aprendam. Elas colocam toda educação
ção em Lençóis Paulista e reconhe-
tável, traria esse sentimento. Decidi ser
aos cuidados do professor e este se vê na
cido em todo o país. Por 30 anos, esteve
professor por uma satisfação íntima que
obrigação de ensinar e fazer o papel que
ainda hoje me fas-
em salas de aulas
caberia aos pais”, considera.
cina. É maravilhoso
O professor também fala com orgu-
poder estimular a
lho sobre o fato de ter uma escola em
mudança de com-
seu nome. É um dos raros exemplos de
portamento”. E seus
personalidades homenageadas ainda
ex-alunos
fazem
em vida. “Sinto-me abraçado pela cida-
questão de demons-
de onde depositei minhas raízes, cons-
livros de matemática e mudou o concei-
trar esse resultado. “Recebo visitas, reco-
truí minha família e de onde saí para,
to de se ensinar matemática no Brasil.
nhecimento e testemunhos emocionantes
através de aulas e livros, exercer minha
Suas obras foram adotadas não só pelo
pelo que representei na vida deles”, diz.
paixão mais gratificante: a Educação”,
de escolas em Ourinhos, Lavínia, Santo Anastácio e Bernardino de Campos. Escreveu e pu-
Conhecido em todo o país e autor de mais de 50 livros, Edwaldo Roque Bianchini ressalta o magistério como estímulo à mudança de comportamento
blicou mais de 50
público alvo como também como apoio
Bianchini avisa, a educação é capaz
didático em cursos universitários. “Posso
de trazer grandes transformações. “Que
dizer que ajudei a mudar a cara do livro
aprendam a aprender, para poderem ad-
didático de matemática, deixei-o mais
quirir novas competências e sejam capa-
alegre, com figuras e fotos. Os problemas
zes de adaptar-se aos novos rumos com
e a história da matemática passaram a ser
iniciativa, autonomia e criatividade”.
em quadrinhos. Tudo isso exigiu que os
E critica a falta de apoio da família
livros fossem publicados a quatro cores,
ao estudante do presente e futuro. “Atu-
coisa que até então não existia”, conta.
almente, as famílias se preocupam com
Para ele, o melhor da profissão é a
concluiu Bianchini.
Revista O Comércio Nossos Mestres
37
Eletéia Professora por vocação e paixão, Eletéia Lorenzetti sempre foi enérgica nas salas de aulas, mas sentia o carinho dos alunos
V
inte e cinco anos em sala de aula,
professores tem boa vontade para ensi-
“Essa culpa não é só dos pais, é tam-
Eletéia Lorenzetti lecionou em três
nar, mas os alunos não querem aprender.
bém da sociedade, pois, hoje, as mães
escolas da cidade: Virgílio Capoani
A professora aposentada sempre gos-
precisam trabalhar e não dão total aten-
e Paulo Zillo, onde se efetivou, além do
tou de lecionar. “Lecionar é vocação, já fui
ção aos filhos e eles ficam com as avós,
Colégio São José, no qual ministrou aulas
convidada para participar da diretoria de
mas, na maioria das vezes, elas não corri-
por meses. Sempre lecionou a disciplina
ensino, para ser coordenadora, mas nun-
gem como é preciso para essa educação”,
de Língua Portuguesa, mas, muitas vezes,
ca aceitei porque sempre quis estar em
comenta Eletéia Lorenzetti.
quando não havia o teacher, ministrava a
sala de aula. Amo ensinar, não me frus-
Viúva e mãe de José Antonio Garri-
disciplina de Inglês.
trei com a profissão. Eu estava sempre
do Filho e Renata Lorenzetti Garrido,
“Sou formada em Letras pela PUC
preocupada em como dar uma aula mais
ela também lecionou para os dois filhos
de Campinas, mas estudei o segundo
dinâmica, atrativa e eu mesma criava o
e fez questão disso. “Eu era rígida, acho
grau em Bauru, na Escola São José, onde
material didático”, relata.
que até um pouco autoritária. A sala
cursei o magistério e, na escola Ernesto
Sobre o respeito para com os pro-
nunca me saiu do controle e nenhum
Monti, a formação no clássico”, comenta
fessores, Eletéia confirma que hoje não
fato que aconteceu durante minha car-
a professora.
existe por parte dos alunos e que quem
reira me decepcionou. Hoje, os alunos
Quanto à Educação no país, classifica
educa são os pais, mas, principalmente,
me encontram e dizem que lembram das
como muito fraca e comenta que, antes,
a mãe que muitas vezes tem essa res-
minhas aulas e que queriam para os fi-
a possibilidade de estudos era às pessoas
ponsabilidade sozinha e, hoje em dia,
lhos professoras assim como eu era. Por
com mais poder aquisitivo, os mais po-
não são tão firmes como antigamente.
volta dos idos 1995, me aposentei, época
bres não tinham acesso à escola e acredi-
E essa falta de respeito continua sendo
em que meu neto nasceu. Então fui em-
ta também que o ensino hoje está em de-
culpa da família, que não impõe limites
bora para São Paulo com a minha filha,
cadência por conta das famílias que não
e como os alunos são tratados em casa,
para curtir o papel de vovó, que continua
incentivam os alunos, pois a maioria dos
eles tratam os professores.
sendo uma educadora!”.
Lia
Revista O Comércio Nossos Mestres
39
Eliane Mari de Oliveira fala sobre amor à profissão, essencial ao professor de hoje em dia; “esquecem que sem eles, os médicos, advogados, juízes, as mudanças sociais não existiriam”
E
liane Mari de Oliveira dedica tem-
la integral de Medicina, então, optei por
da têm problema de socialização, inversão
po integral à Educação, seja como
estudar Física por gostar de cálculos e ter
de valores e a falta de objetivos e sonhos”,
professora, seja como aluna. Ela é
facilidade com números”, revela.
considera. Para ela, a situação do educador
formada em Física pela Unesp, mestre
Foi amor e identificação ‘à primeira
brasileiro é uma grande injustiça. “O pro-
em Biotecnologia pela UFSCar e douto-
vista’, em uma história que já coleciona
fessor tem sido massacrado pela sociedade
ra em Ciências de Materiais pela Unesp.
uma série de passagens marcantes, “como
brasileira e muitos esquecem de que sem
Atualmente, cursa Pedagogia. Quem ga-
aquela que o aluno que convida a mestra
ele, os médicos, advogados, juízes, as mu-
nha com seu aperfeiçoamento constante
para o casamento, para ser madrinha. Ou
danças sociais não existiriam”, completa.
é o aluno, de todos os níveis de ensino.
quando um aluno passa no vestibular e
Por fim, Eliane observa um distancia-
“No ensino fundamental, ciclo II, leciono
corre conversar com você e agradecer
mento dos jovens com a profissão, por
matemática e ciências. No ensino médio
pelo que fez por ele e muitos outros fatos”,
conta das difíceis condições de trabalho.
leciono física e química. Na faculdade, le-
ressalta Eliane.
“É muito triste quando pergunto aos alu-
ciono física, cálculo e economia”, explica.
É claro, a professora tem visão críti-
nos o que eles querem ser como profissio-
A Educação entrou em sua vida como
ca dos obstáculos da sua profissão. “No
nais e eles me respondem que qualquer
alternativa, quando terminou o curso
Brasil, a situação é bem difícil, devido a
coisa, menos professor. Isso reflete na
de Processamento de Dados. “Depois de
má remuneração e a dificuldade em lidar
falta de profissionais nesse ramo de tra-
formada, já era mãe, portanto, não tinha
com adolescentes e crianças, que chegam
balho, além dos maus salários e da pouca
mais tempo para me dedicar à uma esco-
cada vez mais cedo nas escolas e que ain-
valorização da carreira”, finaliza.
40
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona
Elza
“Era um tempo no qual se valorizava as questões básicas da ética e da moral”, diz Elza Bernardes Bianchini sobre sua época como professora
Revista O Comércio Nossos Mestres
E
41
la é esposa do professor e escritor Edwaldo Bianchini. Além
consequência havia uma grande disposição dos professores em
da vida, eles compartilham do amor à profissão. Profissão
ensinar. Hoje existe uma preocupação exacerbada com o ‘passar
na qual Elza Bernardes Bianchini fez questão de investir: a
de ano’ em detrimento de um maior volume de conhecimentos e
primeira formação foi como professora primária, depois conseguiu a licenciatura em Estudos Sociais e Geografia e depois, habilitação em Educação Moral e Cívica.
preparação para o exercício da cidadania”, avalia. Com a segurança de quem viveu tempos melhores, Elza Bianchini também chama atenção para o fracasso de políticas públicas
Elza Bianchini ressalta que seu período como professora foi
de valorização do professor. “São muitos os discursos que falam a
um tempo em que as questões básicas de ética e moral eram va-
respeito do professor e da Educação e em todos, com raras exceções,
lorizadas. “Os professores eram lembrados pela sua cultura, por
há críticas aos professores quanto à qualidade de ensino. Esses dis-
sua dedicação, por sua metodologia e pela sua disposição em ser-
cursos em nada ajudam o desenvolvimento escolar. Ao contrário:
vir com dignidade à nossa sociedade”, relembra.
desanimam os professores que já sofrem com a carga horária exces-
Para ela, o principal obstáculo para a Educação de hoje está
siva e o baixo salário”, considera. “Como pode o professor se aperfei-
no interesse do aluno em aprender. A professora considera ainda
çoar, se não existe tempo disponível para isso e nem recursos para
que falta aos jovens de hoje, disposição para o diálogo, aceitação
se atualizar e buscar novas metodologias de ensino? Onde buscar
de bons conselhos e compreensão espiritual. E, é claro, a parti-
elementos motivadores para suas aulas, se ele próprio está desmoti-
cipação da família. “ O apoio da família ao estudante garantia
vado, sem estimulo para trabalhar?”, desabafa a professora em tom
respeito, um bom entrosamento entre escola e sociedade e em
de crítica, entretanto, cheia de amor pela profissão que escolheu.
42
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Gilda G
ilda Bustos MacLean vive no Brasil há 25 anos. Em 1988,
sileiro foi em 1996, no Colégio Francisco Garrido. A primeira
acompanhando o marido, trocou a paradisíaca Viña Del
reação ao convite foi a recusa, por conta da insegurança com o
Mar, no Chile – onde nasceu e viveu –, por Lençóis Paulis-
idioma. “O conteúdo era em português e eu não sabia falar por-
ta. Nos primeiros anos, dedicou-se exclusivamente aos filhos, que
tuguês. No final, aprendi português ensinando espanhol”, revela.
tinham quatro e dois anos, quando trocaram de país. Filhos que
Isso fez dela a primeira professora de castelhano da região na-
hoje ela admite, são mais brasileiros que chilenos. “Falam melhor
tiva de um país onde se falava o idioma. E Gilda fez sucesso. Le-
o português que o castelhano”, diz, apesar de em casa só se falar a
cionou em todas as escolas da cidade, que lencionam o espanhol
língua nativa. “Em casa até os cães são bilíngues”, brinca.
e, em Bauru, já foi dona da própria escola de idiomas e hoje se
Muita gente não sabe, mas Gilda não leciona castelhano por
dedica ao Fisk e dá aulas particulares de reforço.
ser nativa da língua. No Chile ela já era professora do idioma
Inserção na comunidade que hoje faz Gilda brincar com sua
para crianças de 7 a 10 anos, e também dava aulas de folclore. A
naturalidade. “Eu digo que Lençóis é minha segunda cidade na-
primeira oportunidade para exercer sua profissão em solo bra-
tal, nasci de novo aqui e aqui eu conheço todo mundo”, diz. E
Revista O Comércio Nossos Mestres
Primeira professora de espanhol nativa na região, Gilda Bustos MacLean, diz que nasceu duas vezes, em Viña del Mar, no Chile, e em Lençóis Paulista
sempre que teve oportunidade, se envolveu em projetos culturais, artísticos e sociais. Gilda revela que, ainda no Chile, a afinidade com o convívio com crianças e adolescentes a levaram a optar pelo magistério. O que ela não sabia é que essa característica a garantiria a realização profissional em solo estrangeiro. “Para mim os alunos são muito importantes, são todos meus filhos, preenchem o vazio de não ter a família por perto. Minha casa está sempre cheia de alunos para fazer uma pizza ou ver um filme”, conta. “Ganhei uma família muito grande aqui”, finaliza.
43
Revista O Comércio Nossos Mestres
45
Como professor, era um perfeccionista assumido, o que lhe rendeu a fama de professor rígido.
Seo Guerino P
ara o professor de Física, Guerino
blemas. Era muito tempo de convivência,
Telli, a oportunidade de lecionar faz
impossível não se envolver”, revela.
caiu consideravelmente. E apesar de toda a diferença estrutural,
parte do destino. “Para ser professor,
Como professor, era um perfeccio-
ele garante, o principal problema é o alu-
tem que ter paciência e amor. Sou grato
nista assumido, o que lhe rendeu a fama
no. “O aluno passou a procurar a escola só
por carregar esses dons no coração”. Com
de professor rígido. “Ensinava os alunos
para ter a frequência, a busca pelo conhe-
esses ingredientes, só precisava da inspira-
a raciocinarem. Se a lâmpada acende e
cimento acabou”, lamenta. “O adolescente
ção certa para ingressar na profissão. E isso
dois mais dois são quatro, tem que ter
não tinha cabeça feita, não conseguiu assi-
aconteceu na escola, quando um professor
uma razão. Não adianta decorar, tem que
milar a mudança para o bem. Perante tan-
demonstrou como a Física faz parte do co-
entender”, enfatiza.
to desinteresse e desqualificação da minha
tidiano. “É muito lindo. Foi assim que des-
Nos seus mais de 40 anos em sala de
cobri aptidão pelo campo de exatas”, conta.
aula, viveu duas fases bem distintas da
Aposentado desde 2001, Guerino
Seo Guerino era o professor do tipo
Educação, durante o Regime Militar e
continuou a lecionar, em parceria com a
conselheiro, aquele que ganha a confian-
depois da redemocratização do país,
iniciativa privada, em supletivo e mesmo
ça dos alunos, inclusive para assuntos de
na década de 1990. Ele compartilha
em aulas particulares. Paixão pelo ato
fora da sala de aula. “Muitas vezes sentei
do senso comum dos professores mais
de ensinar que ele mantém ativa. Como
com alunos para conversar sobre seus pro-
antigos, de que o nível da Educação de-
todo bom professor.
profissão, me senti inerte”, confessa.
46
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Bel U
ma criança vencer os pais pelo cansaço da insistência é relativamente comum. O que não é comum foi
o objeto da insistência da jovem Izabel Cristina Campanari Lorenzetti. “Ir à escola me atraía tanto que meus pais me matricularam no 1º ano antes dos sete anos”, lembra. Também é comum que as crianças brinquem daquilo “que querem ser quando crescer”. “Brincava de escolinha. Eu dava aulas para as bonecas, para os irmãos, para os amigos. Usava a parede dos fundos de casa como lousa. O giz podia ser o carvão de fogão à lenha, um pedaço de telha ou pedacinhos de giz mesmo, que
Revista O Comércio Nossos Mestres
47
Criança inquieta que queria ir mais cedo para a escola, Izabel Cristina Campanari Lorenzetti brincava de professora e acabou fazendo carreira na Educação
sobravam no lixo da sala de aula”, revela.
mente meus deveres como professora
ainda hoje a cumprimentam com um “oi
Com quatorze e quinze, ela dava au-
chegando sempre no horário, faltando
professora”. “São muitos os profissionais
las de reforço para os colegas e ensinava
apenas em caso de muita necessidade,
que estão na cidade, no país e até fora do
piano para algumas crianças nos finais de
preparando aulas interessantes, cum-
Brasil que partilharam comigo, na sala
semana. Fazer o curso Normal (Magis-
prindo prazos combinados”, diz. “E em
de aula, um período de suas vidas. Pro-
tério) e depois ir para a faculdade foram
tempos que não havia muitas opções de
fessoras da rede municipal, funcionários
decisões naturais. “A identificação com
escolas na cidade, na mesma sala estavam
da prefeitura, empresários, médicos, ad-
a profissão sempre foi total! Ainda hoje,
filhos das famílias mais ricas e influentes
vogados, dentistas, engenheiros, que von-
quando preencho um formulário ou res-
e os filhos das famílias mais simples e ne-
tade de mencionar todos! É bem como se
pondo à pergunta “Profissão?”, escrevo ou
cessitadas. Tratar a todos com o mesmo
lê na Bíblia ‘como estrelas no céu...’. To-
falo automaticamente: professora”, diz.
respeito, repreender ou elogiar pelas fa-
dos fazem parte da minha vida da mesma
Nessa época surgia a Dona Bel, que
lhas ou esforço de cada um, mostrar que
forma que eu, com certeza, faço parte da
lecionou por quase 30 anos. Tão natural
somos responsáveis pelas nossas escolhas
vida deles. Penso comigo mesma: Deus
quanto sua escolha pela profissão vieram
sempre foi minha prática” ressalta.
abençoe a todos e ilumine o caminho de
as primeiras “receitas” para ser um pro-
Dona Bel ressalta o contato com os ex-
fessor de sucesso. “Cumprir exemplar-
-alunos que encontra no dia a dia e todos
cada um. Ser professor é essa riqueza, essa grandeza!”, finaliza.
48
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona
Lucelena Lucelena de Freitas lecionou por mais de 30 anos e garante que a Educação do Brasil melhorará quando o país encarar os problemas de frente
Revista O Comércio Nossos Mestres
O
49
Brasil pode ser um dos melhores
vinlândia, Guarulhos, Caçapava, Ubatu-
Para ela, a falta de interligação com a re-
na Educação quando encarar de
ba, Mairiporã e Bauru. Por aqui, deu aula
alidade é um dos grandes atrasos da Edu-
frente os seus problemas, valori-
no Leonina Alves Coneglian, Esperança
cação brasileira. Lucelena considera que
zar professores e alunos e fornecer a eles
de Oliveira, Lina Bosi Canova, Vera Bra-
as filosofias de ensino do país não acom-
uma Educação voltada para a realida-
ga, Paulo Zillo, Colégio Francisco Garrido
panham a evolução da sociedade e esta é,
de. Preparar e respeitar seus cidadãos e,
e Maria Zélia Camargo Prandini.
segundo ela, a principal pedra no caminho
“
principalmente, respeitar as inteligências
Lucelena revela que, ao longo da ex-
de professores e alunos. “Em 2008, tive a
múltiplas, talentos que todos temos de
tensa carreira no magistério, fez um pou-
oportunidade de lecionar por apenas um
sobra”. O desabafo de Lucelena de Freitas
co de tudo para ter que driblar uma das
mês e vi que os alunos são deste século,
bem que poderia servir como um manual
piores questões da profissão: a remunera-
mas a escola, com pouquíssimas mudan-
rápido de ensino de qualidade.
ção. “Já trabalhei em comércio, com arte-
ças, permanece no século 19. E isso gera
Palavra de quem começou a lecionar
sanato e como manicure”, conta. “O salá-
violência entre professores e alunos, tanto
na década de 1960 e passou por uma série
rio de professor nunca foi suficiente para
em relação à mente, atitude e físico”, afir-
de cidades (interior, capital e litoral) até
ter uma vida digna. Atualmente, dou aula
ma. “As escolas de hoje ainda se baseiam
chegar a Lençóis Paulista, em 1982 (onde
particular e faço parte da Unidade Aberta
na divisão do conhecimento por áreas, no
se aposentou em 2008). Antes de chegar
à Terceira Idade, na Universidade do Sa-
treinamento dos alunos para a execução
à cidade foi professora em São Paulo, Al-
grado Coração”, acrescenta.
de tarefas repetitivas”, afirmou.
52
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Luzia A
professora de Português e Inglês,
ta que os professores tem a possibilidade
Luzia Getúlia Leite Carneiro, re-
Para Luzia Getúlia Leite Carneiro, incen-
de aplicar essa transformação. “Vou me
conhece as limitações do atual
tivo ao senso crítico deve ser instrumen-
aposentar como professora e poder dizer
sistema de ensino. Quando ela começou lecionar, há mais de dez anos, a Educação brasileira já revelava suas crises de conte-
to dos professores para a formação de bons alunos
údos e resultados.
que valeu a pena. Até o fim vou trabalhar para que crianças e adolescentes saiam da escola maduros e pensantes”, diz. Dona Luzia sempre trabalhou em es-
No entanto, para ela o desafio de trans-
tos. Os alunos levam a vivência do dia a
cola pública, lecionou em Lençóis Paulis-
mitir conhecimento para gerar conheci-
dia para dentro da sala de aula e, na troca,
ta e atualmente é vice-diretora em Agu-
mento é o desafio que incentiva o profes-
ambos aprendemos muito”, diz.
dos. Ela considera a transparência como
sor a nunca desistir. “Como professores,
Ela é mais uma que aposta na Educa-
atitude facilitadora do ensino hoje em
transmitimos e adquirimos conhecimen-
ção como transformadora social e ressal-
dia. “Na hora que tenho de ser exigente
Revista O Comércio Nossos Mestres
não hesito, mas, ao mesmo tempo, sei ouvir os alunos. Busco ajudá-los a enxergar os erros, tanto na matéria quanto no comportamento”, explica. Formar bons alunos é uma questão de estimular o pensamento crítico. “Tenho duas filhas que estudaram em escola publica. Na época na qual cursavam o colegial, percebia que alguns professores bloqueavam o desenvolvimento do pensar. Ao contrário, busco estimular os alunos a raciocinar e a argumentar”, completa. Apesar do contexto, ela defende a escola pública e revela: acredita no futuro da Educação. “Nossa Educação tem jeito! E é nisso que acredito. É claro que precisa de muitas mudanças como, por exemplo, menos alunos em sala de aula e melhor remuneração ao profissional”, finaliza.
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54
Nossos Mestres Revista O ComĂŠrcio
Dona
Albina Maria Albina Perantoni passou 27 anos em sala de aula e relembra do status do professor no passado recente
Revista O Comércio Nossos Mestres
E
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la era conhecida por ser rigoro-
uma professora e de lembrar dos alunos:
velhas reconhecem mais o trabalho do
sa e disciplinadora, bem ao estilo
alguns pela desobediência, pela falta de
professor”, ressalta. Outro fato aconteceu
dos mestres à moda antiga. Para as
respeito, outros pela obediência e respei-
no início da carreira, quando conseguiu
to com os professores”, destaca.
junto ao então prefeito Fernando Valesi,
crianças do ensino fundamental, a notícia de que Maria Albina Perantoni seria
Foram 27 anos dedicados ao ensino
obras de infraestrutura em uma escola
a professora daquele ano era presságio
em escolas de Lençóis Paulista, Mauá, na
da zona rural de Macatuba: instalação de
de um ano difícil. Já para os pais, era a
Grande São Paulo, e Macatuba. Em Len-
cercas, água encanada e a construção de
garantia de sucesso daquele ano escolar.
çóis Paulista, suas principais escolas fo-
uma cozinha.
Ela mesma não rechaça a fama de
ram Rubens Pietraróia e Paulo Zillo.
Sobre as diferenças entre o ensino do
professora enérgica e exigente, princi-
A vida profissional foi marcante. “Sem-
passado e o de hoje, Maria Albina Peran-
palmente, porque considera seu esti-
pre gostei de lecionar, de estar na sala de
toni cita a condição do professor como a
lo como uma das ferramentas para o
aula, me sentia realizada, porque lecionar
principal mudança. “O professor era mais
aprendizado’. “Eles ficavam meio tristes
era a minha vida!”, conta. E ainda é. De-
respeitado, os pais participavam mais
quando sabiam que eu seria a professo-
pois de aposentada, agora trabalha como
ativamente da vida dos filhos na escola,
ra. Mas os pais gostavam, pois era para
instrutora teórica no Centro de Formação
ofereciam mais apoio aos professores e
o bom aprendizado deles, e eu conse-
de Condutores Lençóis.
isso era muito bom”, afirmou. “Hoje, na
guia. Sempre tentei ser amiga dos meus
Alguns episódios deixaram marcas
maioria das vezes, não é isso que aconte-
alunos, sempre procurei conquistá-los”,
para sempre. Um deles, quando lecionou
ce, a maioria dos alunos não tem respeito
relata. “Existem duas formas de marcar
para alunos do supletivo. “As pessoas mais
nenhum para com o professor!”, lamenta.
56
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona
Graça
Revista O Comércio Nossos Mestres
57
Maria da Graça Lorenzetti Rocha Lopes conta como se apaixonou pela Educação; “o sentimento de educar é insubstituível”, diz
A
história
de
encaminhamento
com o seu público, os alunos. “O conta-
cimento que gera autoconfiança no pro-
profissional de Maria da Graça
to com crianças, adolescentes e jovens
fessor”, considera.
Lorenzetti Rocha Lopes é quase
me encantou, me apaixonei definitiva-
idêntica a várias outras professoras que
mente”, diz.
Aposentada e longe das salas de aula, ela garante, será para sempre professo-
hoje tem mais de 60 anos. “Eu não es-
E Dona Graça comprovou, com muita
ra. “Serei eternamente apaixonada pela
colhi ser professora, foi uma eventuali-
disposição, esse encanto que nutre pela
Educação. O sentimento de educar é in-
dade. Fiz magistério por falta de opção
profissão e pelos alunos. Chegou a dar
substituível”, afirmou.
de cursos em Lençóis Paulista. Depois
quase 60 horas por semana, conciliando
Dona Graça comenta as diferenças
de formada, não tinha opção de carreira
a rede estadual – onde atuou por 20 anos
entre a Educação do passado e a dos dias
universitária, então escolhi biblioteco-
– e a Instituição Dinâmica de Ensino,
de hoje. Ela faz parte do grupo de profes-
nomia, mas não me encontrei na área.
atual Cooperelp. A busca pela excelência
sores que considera insuficiente o desen-
Influenciada por amigas que moravam
do trabalho era parte da dedicação que
volvimento dos alunos. “A principal dife-
comigo no pensionato em São Paulo, de-
tinha para com os estudantes. “Eu acre-
rença da Educação de ontem com a atual
cidi fazer Geografia”, revelou.
ditava que era responsável pela educação
é a motivação. Nunca tive os problemas
O que fez Dona Graça – como ela foi
e bagagem de conhecimento dos meus
que os professores enfrentam hoje com
conhecida em sala de aula – se apaixo-
alunos”, confessa. “Por isso busquei atu-
os alunos, como a droga, por exemplo”,
nar pela profissão é o fator que viria
alização constante, fiz pós-graduação e
avalia. “Aliás, a relação é de total compa-
a ser seu diferencial pessoal: o apego
muitos cursos. É essa busca pelo conhe-
nheirismo e amizade até hoje”, completa.
58
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona
Nilza Com quase 50 anos dedicados à Educação, Maria Nilza Nege defende o atual modelo de ensino público; “se houvesse um verdadeiro entendimento da escola de hoje, ela seria maravilhosa”
Revista O Comércio Nossos Mestres
E
“
59
ra um caminho já traçado, as moças
fissional ela dedicou à Educação. “Sem-
no. “A disciplina era um ponto positivo,
não tinham muita opção na época.
pre sou chamada para dar palestras em
mas antes a aprendizagem era um pro-
Todas as jovens da minha turma se
faculdades por causa da minha expe-
cesso fechado, o aluno ouvia, tomava
tornaram professoras”. Também é verda-
riência. Lecionei em todos os níveis de
nota e se calava. Hoje ele é obrigado a se
de que Nilza Nege tem isso no sangue,
ensino, do primário ao superior. Percorri
expressar, crescer e se tornar crítico. Se
DNA espalhado por quatro gerações de
todo o caminho da Educação e vi todas as
houvesse um verdadeiro entendimento
mulheres da família. “Minha avó era
mudanças da escola pública”, conta.
da escola de hoje, ela seria maravilho-
professora, minha mãe era professora e
Testemunha ocular das mudanças no
várias tias são professoras. E tenho uma
ensino, Nilza classifica o afastamento da
A crença na melhor compreensão do
filha professora” conta.
família como a mais marcante. “Mas não
sistema de ensino e investimentos feitos
Do seu período em sala de aula como
podemos criticar tanto a família, ela se
pelo governo do Estado são argumentos
professora de Geografia, a maior parte
afastou por uma questão de sobrevivên-
que Nilza usa para dizer que acredita no
foi no Virgílio Capoani. Como direto-
cia. Antigamente, o pai era o chefe da casa
futuro do ensino. “Vai dar certo? Nin-
ra, já comandou o Paulo Zillo e hoje é a
e a mãe administrava a educação. Hoje os
guém sabe, já se tentou tanta coisa. A
responsável pela direção da escola Pedro
dois trabalham, a principal diferença é
escola pública é um ponto de interroga-
Augusto Barreto, em Areiópolis.
essa”, considera. “Temos alunos indisci-
ção”, diz. “Mas o aluno deveria se interes-
Ela deu seus primeiros passos em sala
plinados? Sim, em algumas escolas. Mas
sar mais. Quando ele participa, dá certo.
de aula aos 18 anos, como alfabetizado-
também temos classes excelentes”, garan-
Tenho alunos que foram aprovados com
ra. Hoje, aos 67, diretora de escola, faz
te Dona Nilza.
tranquilidade nos vestibulares mais con-
as contas de quanto tempo da vida pro-
Nilza vê evolução no sistema de ensi-
sa”, considera.
corridos”, finaliza.
60
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona
Neusa Educadora com currículo internacional, Neusa Carone revela sua esperança no futuro da Educação no Brasil; “a missão do educador pressupõe crença na vida”, diz
Revista O Comércio Nossos Mestres
E
61
la é Formada em História, Pedago-
processos buscando inovações que ve-
Educação no Brasil, através do fortaleci-
gia e Psicologia, com pós-graduação
nham agregar valor aos projetos da esco-
mento da figura do professor. “Que co-
e mestrado em História. Conheceu
la, mantendo sempre o foco na aprendi-
nhecimentos professor tem para gerir a
zagem do aluno”, diz.
sala de aula e as relações entre os alunos?
sistemas educacionais de outros países e no Brasil, já trabalhou na Secretaria de
Ela conduz o relacionamento de pais
É preciso colocar em discussão essas e
Educação do Estado de São Paulo, lecio-
e alunos com a escola, que ajuda a enten-
outras questões e ter propostas que pos-
nou do fundamental ao superior, passan-
der o contexto familiar e aperfeiçoar a
sam apoiar o professor na sala de aula”,
do pelo ensino médio, já foi diretora mu-
forma com que a família deve ser chama-
indica. “Também precisamos de profis-
nicipal de Educação e até se engajou em
da a apoiar a educação do aluno. “Não é
sionais comprometidos com a melhoria
projetos voluntários em Lençóis Paulista.
fácil. A estrutura familiar de nossos alu-
da Educação e do país, e bons profissio-
O currículo de Neusa Carone pode ser
nos não é a mesma da de nossa geração.
nais precisam de boa remuneração. São
bastante complexo, mas sua meta é bem
Não estou dizendo que os pais não têm
vários os desafios de hoje, mas alguns
simples: o aprendizado. Tanto é que ela
a responsabilidade de educar os filhos, é
são essenciais. A missão do professor
garante que é na atual função - diretora
claro que têm. Mas se o aluno fica mais
pressupõe crença na vida, crença na ca-
da EMEF Luiz Zillo -, que ela alcança
tempo com a equipe escolar do que com
pacidade do homem em compreender a
sua realização profissional. “Dirigir e
os pais, qual é o papel da escola diante
realidade e atuar, tornando–se melhor e
coordenar são ações complexas, exigem
dessa realidade?”, questiona.
melhorando a qualidade de vida de toda
um conjunto de competências para gerir
Ela se revela otimista com o futuro da
a sociedade”, finaliza.
62
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Norma P
ara os jovens de hoje – e até para
primórdios da abertura do mercado de
São muitas, segundo ela, as diferenças
grande parte dos adultos – vai longe
trabalho para o sexo feminino, encontrou
entre a escola de 50 anos atrás e a de hoje.
o tempo em que, por uma série de
sua realização profissional na sala de aula.
No entanto, a distância mais séria está no
convenções sociais, não era comum que a
“Quando optei pelo meu emprego meus
aluno. “Existia a indisciplina, porém exis-
mulher estudasse e trabalhasse. Quando
pais apoiaram, porque ser professor na-
tia o respeito e a obediência. Era possível
esses conceitos comuns começaram a se
quele tempo era maravilhoso”, lembra.
conscientizar os alunos sobre a necessi-
reformular, o magistério foi uma das pri-
Norma participou da história da Edu-
meiras profissões a surgir como “essen-
cação em Lençóis Paulista. Começou
Ela lamenta observar a decadência nas
cialmente feminina”.
nas escolas da zona rural, lecionando
condições de trabalho ao longo dos anos.
É por isso que Norma Capoani – que
para crianças do ensino fundamental e
Para Norma, a transformação do compor-
tem na bagagem quase 50 anos de car-
vivenciou todas as etapas da Educação,
tamento de professores e alunos deve-se à
reira – afirma que “naquela época não
trabalhou em todas as escolas da cidade,
falta de respaldo do governo ao longo dos
tinha muita escolha sobre qual profissão
com alunos de 5ª a 8ª série, ensino mé-
anos. “Comecei a notar essa mudança a
seguir”. Ela é uma das muitas que, nos
dio e como diretora.
partir de 1992, porque até então a rotina
dade de estudar”, avalia.
Revista O Comércio Nossos Mestres
“Ser professor naquele tempo era maravilhoso”, diz Norma Capoani, depois de quase 50 anos de profissão
era agradável e tranquila”, diz. Norma não rechaça a fama de professora severa e garante que, no dia a dia, pôde observar os resultados positivos da sua rigidez, na forma de sucesso e boa formação de seus ex-alunos. “Sempre fui muito severa e exigente, mas assim conseguia disciplina. Quando encontro algum aluno que me enfrentava e não concordava com meu jeito, ele me abraça e agradece. Isso é gratificante”, expressa. “A realização de um professor é transmitir o conhecimento por meio do ensino”, finaliza.
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64
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona
Olinda
Olinda do Prado Simioni viveu a época que chama de “anos dourados da Educação” e revela a esperança de uma revolução no ensino
Revista O Comércio Nossos Mestres
E
65
la foi professora de Francês e quan-
de escolher a profissão. “Professor era
e selecionar o que é essencial. Ser criativo
do o idioma saiu da grade curri-
um símbolo. Eu morava perto do grupo
e líder. É uma profissão que exige doação,
cular, passou a lecionar Língua
escolar, onde hoje é a escola municipal
pois interfere na vida das pessoas”, consi-
Portuguesa. Olinda do Prado Simioni
Esperança de Oliveira e sempre via os
dera. “A satisfação está relacionada a essa
considera seu período em sala de aula
professores chegando para as aulas e me
entrega”, completa.
como “os anos dourados da Educação no
imaginava como professora também”, diz.
Apesar de há tempos estar longe das
Brasil”. A aposentada lembra que não só
Isso em uma época em que o educador
salas de aula, Olinda se preocupa com o
as condições de trabalho eram melhores,
era considerado um dos profissionais
futuro e revela a esperança de uma revolu-
como a figura do professor tinha outra
mais importantes da sociedade.
ção no ensino, que devolva ao professor o
posição social. “A Educação não era to-
Lecionando para crianças e adoles-
prestígio do passado. “Não é saudosismo,
talmente perfeita, já que era fruto de um
centes na escola Virgílio Capoani, Olinda
mas muita coisa da minha época como
período da ditadura militar, era repres-
considera ter participado da melhor épo-
educadora tem de ser resgatada. Uma de-
siva e elitizada, porém, a escola pública
ca da Educação brasileira. Foram 30 anos
las é o próprio professor. Ele precisa ser
era muito bem estruturada, o professor
na mesma escola - aposentou-se em 1988
valorizado. Sua valorização refletirá em
era valorizado”, recorda.
– e várias gerações de alunos, sempre
sala. Quando me aposentei, o professor
Olinda conta que ela mesma foi con-
com muita dedicação. “Para ser professo-
já estava desvalorizado e a causa dessa
quistada por essa importância do pro-
ra precisa se doar, ter senso de responsa-
decadência é múltipla. Essa profissão é
fessor, o que acabou pesando na hora
bilidade, saber transmitir conhecimento
complexa e precisa de apoio”, finaliza.
66
Nossos Mestres Revista O Comércio
Professora
Patrícia
P
A paixão por História levou Patrícia Guilem Guedes Garavelli para as salas de aula, onde leciona para a filha e já foi professora até do marido
rofessora há 18 anos, Patrícia Gui-
lha”, conta. “Um dia ele chegou de viagem
A escolha pela carreira de professora
lem Guedes Garavelli hoje dá aulas
e disse: tenho uma surpresa pra você. Ele
tem a ver com outra paixão antiga. “Per-
para a filha Manuela. “É um grande
tinha se matriculado no supletivo e dis-
cebi, com 12 anos, que eu gostava muito
prazer passar aquilo que eu sei para ela e
se que ia terminar antes do bebê nascer.
de História, era a paixão da minha vida.
para as amigas que eu vi crescer”, revela.
Ainda não era efetivada, fui à atribuição
Até os 15 anos eu já tinha percebido que
Até aí tanto normal ser professor de um
de aula e não havia como saber em que
o que eu queria mesmo era dar aula. E
filho. Mas e do marido?
classe ele tinha caído. Estava na minha
fui fazer magistério, aprender a parte téc-
sala”, continua.
nica antes da faculdade, que foi a espe-
Aconteceu no supletivo. “Nos conhecemos no colegial. Por conta do trabalho
Hoje o marido Sigmar tem curso su-
ele parou de estudar no segundo colegial.
perior em Marketing. E detalhe: ele ter-
E quando eu engravidei me preocupava
minou o supletivo poucos dias antes do
com o exemplo que daríamos à nossa fi-
bebê nascer.
cialização. E ainda fiz pós-graduação em Pedagogia”, afirmou. Patrícia é professora da escola estadual Vera Braga há 13 anos, e há 9 também
Revista O Comércio Nossos Mestres
leciona no Colégio São José. Defende o jogo de cintura para lidar com as realidades diferentes e gosta do que faz. “Em momento algum titubeei ou pensei em parar de lecionar. Até hoje, quando aparece a oportunidade de um concurso pra coordenação e algum colega me chama a atenção, eu recuso, não tem nada a ver comigo. Eu gosto da sala de aula”, garante. Com a propriedade de quem trabalha no ensino público e no particular, ela aponta as falhas das políticas educacionais brasileiras. “Há muita propaganda da Educação, mas os governantes não olham para a Educação. “O professor da rede pública é o mesmo da rede particular, a explicação é a mesma. Mas é preciso seguir um conteúdo que nem sempre prioriza o aprendizado. Infelizmente, no Brasil não há uma preocupação de que os alunos cheguem ao nível superior”, finaliza.
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Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Raquel A
o contrário da maioria dos do-
ção estava no sangue. Ela tem três irmãs
revela. E quem é mestre ou convive com
centes, que chega ainda jovem às
professoras. Pelo incentivo da família
um, sabe: ser lembrado com carinho é a
salas de aula, Raquel Ribeiro de
ela foi parar em sala de aula. Foram ape-
melhor recompensa que se pode receber.
Andrade Ghirotti começou a lecionar
nas 16 anos na função, mas 16 anos bem
Raquel revela seus segredos na con-
depois de casada e com família já forma-
vividos. Tanto que, seus ensinamentos
quista da confiança dos alunos, a ponto
da. Especializada em Estudos Sociais,
extrapolavam as disciplinas, serviam
de servir como educadora e conselheira.
Geografia e História, trabalhava em uma
para a vida.
Um ingrediente da sua receita é o pla-
empresa da área, na capital paulista. Até
Não à toa, ela foi do tipo de professor
nejamento das aulas, que ela classifica
tentou conciliar as duas coisas, mas es-
que fica marcado para sempre na memó-
como fundamental para o sucesso do
barrou em um obstáculo típico de São
ria dos alunos. “Esses dias me deparei
ensino. “Eu tinha o maior prazer de pre-
Paulo: a distância. “Era praticamente
com um moço que foi meu aluno. Ele
parar as aulas e fiz isso até o meu último
impossível”, lembra.
disse as seguintes palavras: ‘Hoje, sou o
dia como educadora. O professor precisa
No entanto – e essa é outra peculia-
homem que sou graças a seus conselhos’.
dominar o assunto para não sofrer com
ridade da história de Raquel – a Educa-
Não tem coisa mais gratificante que isso”,
os alunos que tentam desacreditá-lo”.
Revista O Comércio Nossos Mestres
Vocação, influência familiar, prazer e emoção: coesão de sentimentos marca carreira de Raquel Ribeiro de Andrade Guirotti na Educação
A disciplina em sala de aula era garantida com interação. “Sempre busquei ficar no mesmo patamar que meus alunos, aquela coisa de transmissão de conhecimento de ambas as partes: eles aprendiam comigo e eu aprendia com eles”, conta. “É certo que os problemas eram de menor escala, nada comparado a hoje, mas Deus me abençoou tanto que até para pedir conselhos era procurada pelos alunos. Tínhamos uma relação confiável”, finaliza.
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Revista O Comércio Nossos Mestres
Dona Regina P
71
Para Regina Batistela, o mais gratificante é o reconhecimento dos alunos. Professora para o 1º grau nas disciplinas de Ciências, Biologia e Matemática, ela fala sobre Educação
rofessora por 38 anos, Regina Maria
e não se preocupa muito com a educação.”
Batistela de Camargo, já lecionou
“Outra questão é também em relação
Outro aspecto assustador é constatar
em diversas escolas de Lençóis Pau-
ao governo que, hoje, parece se importar
que a linguagem e a escrita dos alunos atu-
lista, começou no Francisco Garrido, pas-
com a presença, quantitativa, do aluno na
ais são lastimáveis e a comunicação entre
sou pela escola infantil Biquinha e Eliza
sala de aula e não com o conhecimento
eles é sofrível. “Antes, conseguíamos ser
Pereira de Barros, na Leonina Alves Co-
adquirido, além do que os profissionais
mais enérgicas, chegávamos e conseguí-
neglian, Antonieta Grassi Malatrasi, na
não são tão bem remunerados, mas são
amos o silêncio deles. O conhecimento
escola estadual Dr. Paulo Zillo, também
ótimos. Infelizmente, em muitas ocasi-
chegava até a maioria dos alunos. Hoje,
na Usina Barra Grande e Usina São José,
ões, o jogo acaba sendo aquele de que
quando encontro alguns deles, depois de
além da Escola Virgílio Capoani - onde
finjo que aprendo e ele finge que ensina”,
muito tempo, me sinto feliz, pois ainda se
ficou por mais tempo e foi coordenadora
comenta a professora.
lembram de mim e muitos dizem que se
pedagógica durante 15 anos. Também ministrou aulas em Tibiri-
Casada com Nelson Camargo e mãe do biólogo formado, Murilo Camargo, Regina
çá, Macatuba, Bauru, Agudos, Igaraçu
Batistela, diz que não existe mais o res-
do Tietê, Barra Bonita, São Bernardo do
peito dos alunos para com os profes-
Campo, Sorocaba, Ubirajara, mas, antes,
sores, porque “não reconhecem
passou pela Escola Técnica do Francisco
a função dos educadores e não
Garrido, quando ainda cursava o segundo
querem aprender. A minoria
ano de Ciências Físicas e Biológicas com
apenas busca algo mais do
complementação em Biologia. “Trabalhei
que a presença em sala. Difi-
durante 25 anos, me aposentei, depois de
cilmente, encontramos um
aposentada fui alguns anos coordenadora
aluno que se destaca. Vive-
e voltei para a sala de aula até 2010, quan-
mos na era do imediatis-
do me aposentei”, relata.
mo e a figura do professor
A professora diz ter sempre feito o que gostava e fazia por amor, mas, infelizmente os tempos mudaram e, no Brasil, é preciso seriedade de todas as partes. “As pessoas, de modo geral, não levam a Educação tão a sério, mas, trata-se do alicerce para a vida. Educar significa mudar de comportamento, melhorar a qualidade de vida e, em nossa sociedade, é difícil lecionar, pois, o sistema não favorece. Não digo na esfera municipal, mas, sim, estadual”, ressalta a professora, destacando que essa situação, “não é só pelo aluno que está desinteressado, mas, também, a família que não ajuda
vai se acabando. Enfim, está
cada vez mais difícil ser professor”.
lembram de minha pessoa e de minhas aulas”, finaliza, feliz, a professora.
72
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona
Regina R
De professora de bonecas a figura importante na construção, fundação e crescimento de uma escola na cidade (que teve que procurar no mapa): assim é a trajetória de Regina Célia Monteiro Ramos
egina Célia Monteiro Ramos fez sua
marido, teve que trocar o litoral pela ca-
rar no mapa, nunca tinha ouvido falar”,
formação profissional nos fortes co-
pital paulista. Lá ela lecionou em escola
lembra. A primeira impressão foi aterro-
légios estaduais de Santos. E foi na
grande e teve em suas salas, os filhos dos
rizadora e Regina passou a conviver com
cidade litorânea que deu seus primeiros
homens mais importantes do país na
coisas que só conhecia dos livros. “A casa
passos em sala de aula, lecionando para o
época. Entre uma série de sobrenomes
onde fomos morar tinha porão! As crian-
ensino fundamental. Começava ali a rea-
famosos que ela cita, estão famílias tradi-
ças se divertiram, o marido gostou. Só eu
lização de um sonho. “A vida inteira quis
cionais paulistanas, políticos e ministros
que estava em pânico”, brinca. “Quando
ser professora, quando era criança eu
federais da época. Até que...
fomos conhecer a empresa em que ele ia
brincava de dar aulas e minhas bonecas eram as alunas”, revela. Em poucos anos, acompanhando o
“No final de abril de 1984, meu marido
trabalhar, saímos por volta de 11h30 do
me comunicou que estávamos de mudan-
lugar, eu olhei para a rua 15 de Novem-
ça para Lençóis Paulista. Tive que procu-
bro e vi o comércio todo fechado. Parecia
Revista O Comércio Nossos Mestres
uma cidade fantasma”, relata. O resultado do impacto inicial? Depressão. “Chorei por seis meses”. Até que o destino lhe chamou. “A Ins-
sumir a coordenação. “Senti ter deixado a sala de aula, mas não dava para conciliar com o trabalho de coordenação”, admite.
tituição Dinâmica de Ensino funcionava
E a velha cidade ‘fantasma’ que ela
no centro da cidade e estava preparando
achou no mapa há quase 30 anos cres-
para se mudar para o prédio onde esta-
ceu e se modernizou. Regina e a família
mos hoje. E eu fui convidada para ajudar
criaram raízes aqui. E faz muito
a montar a escola aqui”, lembra. “Foram
tempo – tanto que ela nem
muitos treinamentos e muito trabalho, às
sabe o quanto – que ela não
vezes, até fora do seu domínio profissio-
tem vontade de voltar, nem
nal. Acompanhei a obra desde o começo e
pra capital, nem pro litoral.
ajudei a limpar carteira por carteira para
“Meus amigos estão todos
que a fiscalização viesse e desse o nosso
aqui. Hoje sou lençoense,
alvará de funcionamento”, continua.
não quero ir pra lugar
E voltou para a sala de aula. Aos jo-
algum. Tanto é que
vens, lecionava Português, História, Geo-
às vezes viajo para
grafia e Educação para a Cidadania, para
São Paulo ou Santos
as crianças, dava aulas de alfabetização.
e agradeço sem-
Foram 16 anos neste ritmo até que teve
pre que volto para
que deixar as salas de aula para poder as-
Lençóis”, finaliza.
73
74
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Rosângela C
ostumo dizer que, graças a Deus,
ra considerada exigente pelos alunos.
sional, acaba por querer se aproveitar
sou uma educadora nata, sabe o
Muitos já confessaram, inclusive, que
do professor”, argumenta.
por quê? Se, por exemplo, faço al-
tinham medo dela pelo rigor das au-
A paixão e respeito que Rosângela
guma comida e a pessoa gosta, mesmo
las. Rosângela acha engraçado, mas
tem pela Educação nasceram de vivên-
sem ela perguntar, já passo a receita.
concorda. “Não importo com essa ca-
cias pessoais. “Sempre tive facilidade
Entende? Gosto de oferecer, comparti-
racterização, pois realmente em clas-
com cálculos, graças ao meu pai. Ele
lhar e, também, receber informações”,
se não tinha uma relação de amizade
tomava a tabuada, me fazia resolver
diz a professora aposentada, Rosângela
com os alunos. Era relação de educa-
contas em uma lousa que tínhamos em
Gigioli. “Acho que me mantém jovem,
dor com aprendiz”, menciona. “Apesar
casa e cobrava bons resultados”, conta.
pois quem não quer aprender já está
de ser considerado um estilo ditatorial
A professora lembra que apesar de in-
praticamente morto”, completa.
por alguns, é uma forma de educação
centivar no seu apreço pelos números,
Por 30 anos ela lecionou matemáti-
que funciona. Infelizmente, o aluno
o pai não queria que ela estudasse. “Sou
ca. Em sala de aula, foi uma professo-
não sabe separar amizade do profis-
de uma família muito pobre e apesar
“
Revista O Comércio Nossos Mestres
Rosângela Gigioli estudou contra a vontade da família, tornou-se professora e hoje defende a valorização da profissão
do meu pai ter sido o grande influenciador em minha escolha profissional, ele não queria que estudasse. Tanto que as professoras tiveram que ir à minha casa pedir para me dar aulas”, revela. A insistência que a levou à profissão – que ela considera como prazerosa – é um dos argumentos que usa para defender a Educação como grande transformadora de vidas. “Por isso dou grande valor à Educação e acho que falta muita conscientização dos alunos hoje em dia”, finaliza.
75
76
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Rô E
O amor da professora Rosângela Maria Donato Castilho Martins à profissão e aos alunos é tão grande que ela não pensa em deixar o ambiente escolar tão cedo
la nasceu em uma família onde os es-
tica porque tive um professor no colegial
cionamento de igual para igual com meus
tudos eram considerados prioridade.
que era ótimo”, diz. No dia 27 de julho de
alunos, era muito bom. Aprendi muito
Assim, com incentivo dos pais, a len-
1982 pisou pela primeira vez em uma sala
com eles. No começo ensinava de uma ma-
çoense Rosângela Maria Donato Castilho
de aula. “Senti medo e insegurança”, lem-
neira tradicional, mas mudei e tive várias
Martins escolheu a profissão que exerceu
bra. Hoje, aos 57 anos, é diretora da es-
experiências. Tive mudanças profissionais
por 27 anos, a de educadora. “Minha mãe
cola Prof. Marcelino Dayrell Queiroz e da
e pessoais”, resume. A sala de aula também
não completou os estudos, meu pai era
creche municipal Wilson Trecenti na rede
ensina muito aos professores. “Aprendi
formado. Os dois sempre investiram na
municipal de Lençóis Paulista. A professo-
a respeitar, entender as dificuldades dos
minha educação e na do meu irmão. Eram
ra recorda as alegrias que viveu em sala de
alunos. Aprendi que ensinar é mais fácil
dois batalhadores”, enfatiza. Ela cursou a
aula. “Trabalhei em várias escolas da cida-
quando conseguimos manter uma relação
Faculdade de Ciências e Letras de Avaré e
de. Enfrentei vários desafios, mas os desa-
de proximidade com os alunos, quando
se formou em Matemática. “Sempre pen-
fios fazem a oportunidade de melhorar. E
estabelecemos vínculos de amizade e res-
sei que seria professora. Escolhi matemá-
eu melhorei, amadureci. Tinha um rela-
peito, sem deixar escapar as obrigações da
Revista O Comércio Nossos Mestres
função de professora”, compartilha. Em 2009 ela se aposentou. E desde então exerce a função como diretora. “É muito rico também. Continuo a ter contato com os alunos e professores”, expressa. “Tem crianças na creche que são filhos de ex-alunos meus. Eu amo minha profissão. Para ser professor, tem que ser envolvido, tem que ser desprendido e realmente gostar do que faz. Não penso em parar tão cedo. Se tivesse que escolher, trilharia o mesmo caminho novamente”, conclui.
77
Revista O Comércio Nossos Mestres
Dona
79
Rosângela F
ormada em Pedagogia pela Universidade de
pin, Ideb, Enem, Enade e tantos outros. Obviamen-
Marília e pós-graduada “lato sensu” e especiali-
te, precisamos avaliar nossos alunos, mas, creio que
zada em Metodologia da Educação Infantil pela
primeiro precisamos garantir a todos uma edu-
Fundação Regional Educacional de Avaré, Rosânge-
cação com muita qualidade, o que só se consegue
la Radicchi Podadera é nascida e criada em Lençóis
através de muito investimento”, afirma. “Mas não
Paulista, oriunda de uma família tradicional do mu-
parece que os governantes estejam preocupados
nicípio. Profissionalmente, nunca pensou em outra
com qualidade, mas, sim, com quantidade”, avalia.
profissão como realização profissional. “Comecei a
Mesmo com todos os problemas que rondam a
lecionar substituindo eventualmente nas escolas es-
profissão, Rosângela Radichi é professora
taduais no ensino fundamental desde que era aluna
e com muito orgulho da profissão.
de magistério na escola Virgílio Capoani, em 1979.
“Foi com ela que criei meus
Na rede pública estadual trabalhei mais de 14 anos e
filhos e, apesar do salário
passei por várias escolas”, comenta.
não ser tão maravilhoso,
Em meados dos anos 1990, uma mudança de
pode-se viver com mui-
rumo. Aprovada em um concurso na Prefeitura,
ta dignidade. Agrade-
foi chamada para atuar na educação infantil. “Me
ço aos meus pais pela
apaixonei pela educação infantil e fui buscar es-
educação que recebi, a
pecialização na área, sempre estudando muito e
Deus por todas as gra-
tentando buscar respostas para as perguntas tão
ças recebidas e só pos-
instigantes dos pequenos”, revela.
so dizer que tudo isso
Rosangela diz que a Educação brasileira tem so-
me faz uma pessoa
frido muito com mudanças. “Principalmente, por
muito feliz e rea-
conta de tantos índices que são usados para medi-
lizada pessoal
ção do desenvolvimento da aprendizagem, como
e profissional-
por exemplo, a Prova Brasil, o Saresp, Saelp, Sael-
mente”, finaliza.
Rosângela Radicchi se diz realizada e feliz com sua profissão, mas revela preocupação com o futuro da Educação brasileira
80
Nossos Mestres Revista O ComĂŠrcio
Dona Soely
Revista O Comércio Nossos Mestres
A
os 18 anos ela já era alfabetizadora.
81
não dos alunos. “Hoje os pais se ocupam
E era só o começo. Soely Paccola
De alfabetizadora a empreendedora da Edu-
muito mais fora de casa, deixam os filhos
ainda colecionaria formações em
cação, Soely Paccola esbanja conhecimento
sem a cobrança por resultados e depois
Biologia, Pedagogia e Administração Escolar. São mais de 40 anos de uma trajetó-
e experiência de mais de 40 anos na área
ria que a levou de professora de primeiras
ainda culpam as escolas pelo fracasso do jovem. Nós, professores, temos que ficar quietos com isso”, reclama. “E um grande
letras a empreendedora da Educação (há
avalia. Soely considera que essa fórmula
problema é a aprovação obrigatória do
dez anos administra a escola Preve Obje-
resulte em pessoas desacostumadas com
governo, que fez com que os alunos pa-
tivo, de ensino médio e cursinho). Além
a liderança, além da ideia de que o pro-
rassem de lutar, pois tudo vem de graça”,
da longa história na rede pública – com
fessor perdeu a autoridade e a autonomia.
completa.
passagens por escolas em Agudos e Maca-
A tecnologia, em sua avaliação, atra-
Mesmo com todas essas dificuldades,
tuba - também lecionou em escolas parti-
palha bem mais do que ajuda. “Um dos
Soely diz não concordar com a opinião
culares de Lençóis Paulista e Bauru.
grandes problemas da juventude de hoje é
geral de que a juventude não tem pers-
Para ela, a Educação é fundamental
o celular que dispersa a atenção e a intera-
pectiva de futuro. “Os modelos de antiga-
para um país que tenta diminuir a desi-
ção dos alunos com o mundo real. Eles se
mente não servem para moldar os jovens
gualdade social. “Só mesmo com Educa-
isolam, não se envolvem com a sala, com
de hoje”, afirmou. Só uma coisa não mu-
ção de boa qualidade é que será possível
os alunos e com o professor. Vivem em
dou em relação à antigamente: as palavras
transpor os nossos maiores problemas.
um mundo irreal”, considera.
“perspectiva” e “futuro” aparecem com
Contudo, a cobrança do governo em rela-
A professora também se queixa da fa-
ção a produtividade dos alunos diminuiu”,
mília, que cobra os resultados da escola,
mais facilidade em frases que também tenham a palavra “Educação”.
82
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona Sônia
T
suya e Kiyonobo, naturais de Toya-
escolheram a profissão, mas sim, foram
melhores lembranças são das pessoas que
ma-Ken, no Japão, atravessaram
escolhidos por ela. “Na realidade não foi
pude ter como alunos”, afirmou. “Acho
o globo terrestre e vieram para o
uma decisão porque desde pequena ad-
que foram verdadeiros presentes de Deus,
Brasil, onde tiveram sete filhos. Desses, a
mirava meus professores e sempre gostei
que me ensinaram muito e continuam me
caçula estava destinada a construir a vida
de ensinar”, afirmou.
ensinando”, completa.
lecionando o idioma nativo da terra que
Hoje, Sônia curte a aposentadoria des-
“A Educação que tive e que no início
frutando de um de seus maiores prazeres:
da minha carreira proporcionei tinha
Foram 25 anos lecionando na rede pú-
a leitura. Junto, se lembra com carinho
como objetivo a transmissão de conheci-
blica de ensino em Lençóis Paulista. Em
dos maiores troféus que a vida como edu-
mentos. O professor era mais respeitado e
seu tempo de professora de Língua Por-
cadora lhe trouxe: seus alunos. A realiza-
os alunos tinham mais interesse”, destaca
tuguesa, Sônia Maria Sinokava despertou
ção profissional está explícita na afirma-
Sônia. A professora ressalta as diferenças
em muita gente a vontade de escrever. Ela
ção. “Nos vinte e cinco anos que lecionei
entre o ensino moderno e os moldes de
engrossa o caldo dos professores que não
passei por muitas escolas boas, mas as
outrora. Para ela, apesar de piores con-
seus pais escolheram para viver.
Revista O Comércio Nossos Mestres
Filha caçula de um casal de japoneses, Sônia Maria Sinokava diz que a escolha pelo magistério foi natural e compensadora; “há muito que se mudar na Educação do Brasil”, considera
dições de trabalho e remuneração cada vez mais insatisfatória, a importância social e a responsabilidade do professor só aumentaram ao longo dos anos. “Hoje, o professor é um educador. Ele é responsável pela formação do indivíduo, papel que antigamente era da família”, completa. Por fim, Sônia considera a tecnologia como um desafio positivo na vida do professor e quando bem usada, uma ferramenta para o aprendizado. “Mas sei que atualmente os professores sofrem muito com o pouco interesse dos alunos e dos governantes. Há muito que se mudar na Educação do Brasil, pois uma nação só é competitiva com um povo bem educado”, concluiu.
83
84
Nossos Mestres Revista O ComĂŠrcio
Dona
Tereza
Revista O Comércio Nossos Mestres
T
ereza Honda nunca precisou decidir
85
muito prazer, realmente amo o que eu
seu futuro profissional. “Nunca tive
No magistério há mais de 40 anos, Tere-
faço e me dedico em fazer bem . Até hoje
que pensar sobre o que ia fazer, ti-
za Honda garante não pensa em parar;
finalizo os exercícios e falo para os alunos:
nha certeza absoluta o tempo todo e nunca mudei de ideia: queria ser professora, e de matemática”, garante. Nascida em As-
‘não enquanto ainda me divertir com meus alunos e aprender com eles’, diz
saí, Paraná, filha de imigrantes japoneses, ela garante que a paixão pelos números está no sangue.
gente, olha que lindo!”. “Resolver questões de Matemática, ainda é meu passatempo preferido, não penso em parar. Não enquanto eu me divertir com meus alunos e
Bauru, hoje Unesp.
aprender com eles”, afirmou.
As primeiras aulas foram no Ernesto
Sobre a mudança no ensino ao longo
Ainda criança trocou o Paraná por São
Monte, onde havia estudado. Enraizada
dos tempos, ela lamenta a falta de evolu-
Paulo, vindo a residir em Bauru. Estudou
em Lençóis Paulista – onde lecionou por
ção do ensino público ao longo dos tem-
o ginásio no Instituto de Educação Er-
mais de 20 anos no Virgílio Capoani e
pos. “A escola pública está cada vez pior. E
nesto Monte. “Precisava fazer um exame
há 15 se dedica aos alunos entre 13 e 18
é uma pena porque ainda temos bons alu-
de admissão para estudar lá, já na quin-
anos do Colégio São José –, Tereza Honda
nos que não tem condições de pagar uma
ta série”, lembra. Também em Bauru fez
ainda não cogita a ideia de deixar a sala
escola particular, a esses tinha que ser
faculdade, na Fundação Educacional de
de aula. “Dou aula até hoje porque sinto
garantida uma boa Educação”, considera.
86
Nossos Mestres Revista O Comércio
Dona V V
era Borante Foganholi tem experiência polivalente na Educação em Lençóis Paulista. Foram 27 anos nas
principais escolas de ensino fundamental e médio da cidade (a maior parte do tempo na escola Rubens Pietraróia), com passagens pelos cargos de gestão escolar e diretora de Cultura entre 1997 e 2000. Ensinou Língua Portuguesa e Literatura para jovens com idades de 12 a 19 anos. Também teve a oportunidade de atuar no EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Revista O Comércio Nossos Mestres
Vera
87
“Quem segue a carreira como educador transforma vidas”, diz professora Vera Borante Foganholi, que classifica o magistério como questão de vocação
Para ela, mesmo longe das salas de aula
prometimento, de esforço e dignidade para
alunos e outros colegas de trabalho, o
(aposentou-se em 2007), é difícil não pen-
seus alunos. Ele busca sempre a oportuni-
aprendizado constante, o relacionamento
sar na Educação como poderoso agente
dade de passar um pouco de religiosidade,
com pessoas. Principalmente, saber que,
transformador da sociedade. “A escola é a
de ética e de valores morais para os alunos.
como professor, você está se doando, está
porta, é o caminho para um futuro melhor.
Enfim, eu acredito que a escola, mas tam-
tendo responsabilidade, está contribuindo
O professor, responsável e comprometi-
bém o professor consciente, são verdadei-
para a formação do ser humano e contri-
do, com aulas preparadas, com opiniões
ramente o caminho para um mundo me-
buindo para formação pessoal e cultural
apropriadas para os questionamentos dos
lhor e mais justo”, completa.
dos jovens”, revela. “O que mais sinto falta
jovens, influencia positivamente e ajuda
Não faz muito tempo que Vera se apo-
é justamente de tudo isso: poder participar
a formar a base moral do cidadão, do in-
sentou. Mesmo assim, a rotina na Edu-
da vida escolar e ajudar na formação dessa
divíduo”, considera. “Seu empenho acaba
cação já deixa saudades. “O que eu mais
juventude. Também sinto falta é de poder
sendo um exemplo de dedicação, de com-
gostava era a troca de experiências com
ver o progresso do alunos”, concluiu.
88
Nossos Mestres Revista O ComĂŠrcio
Dona
Vera
Revista O Comércio Nossos Mestres
U
m sentimento de missão cumpri-
89
las em uma escola na cidade de Itapevi.
da. É isso que a professora aposen-
Professora aposentada de biologia reve-
“Deparei-me com problemas sociais. Tive
tada de Biologia, Vera Lúcia Portes
la sensação de dever cumprido; “Tenho
que enfrentar alunos com problemas com
Martins Tagliatela sente quando faz uma avaliação do seu tempo de sala de aula.
alunos que são médicos, advogados, pa-
“Tenho alunos que são médicos, advoga-
dres, pastores, empresários. Fico muito
dos, padres, pastores, empresários. Fico
feliz com isso”
drogas. Foi difícil, mas serviu para crescimento pessoal”, relata. Como quem viveu o antes e o depois, ela tem a sua opinião sobre a atual en-
muito feliz com isso. É extremamente
grenagem da Educação no Brasil. “Anti-
satisfatório”, diz. “Tem que gostar de ser
gamente, o aprendizado era valorizado.
professor. Quando entrava em sala nem
queria ir. Minha mãe me empurrou para
O aluno tinha temor em reprovar, se in-
me lembrava do salário, não pensava
fora de casa com o seguinte sermão: foi isso
teressava pelos estudos. Hoje, os interes-
nas condições para que isso não afetasse
que você escolheu, então siga em frente.
ses são diferentes. Com essa ‘aprovação
o meu desempenho. Amar a profissão é
Foi o incentivo que precisava”, brinca. Des-
automática’ aconteceu uma defasagem,
fundamental para ser feliz”, continua.
te dia em diante, foram 30 anos de carreira.
uma mudança trágica que todos sentiram
A profissão foi escolhida com amor e
Como professora, Vera Martins vi-
na pele”, considera. “Na minha época,
admiração. “Desde pequena achava bo-
venciou as mudanças no ensino nas úl-
dava conselhos para os alunos e recebia
nito ser professora”, conta. O primeiro dia
timas décadas. Inclusive, antecipou-se
até carinho que é dado à mãe de alguns
de trabalho foi marcado por uma história
aos problemas que seriam comuns aos
estudantes. Não existe mais esse respeito,
engraçada. “Eu fiquei tão nervosa que não
professores do futuro quando foi dar au-
infelizmente”, completa.
90
Nossos Mestres Revista O Comércio
Wiltinho W
ilton da Silva Moretto fez faculdade de História porque queria ser arqueólogo ou pesquisador. “Mas, isso no Brasil dos anos 1990, era uma dificuldade”, relembra.
Formado, continuou trabalhando com informática, até que foi convidado para substituir o professor Edson Fernandes na escola Virgílio Capoani. Era a chance que precisava para se apaixonar pela Educação. “Fiquei no lugar dele durante o ano todo e no final de 1995 percebi que o magistério era uma boa opção profissional”, conta. Entre as principais recompensas, a possibilidade de trabalhar com quem ainda acredita em um futuro bom, como
Revista O Comércio Nossos Mestres
jovens e crianças. Hoje o professor Wil-
91
dições. “O que difere é a condição mate-
tinho – como é chamado pelos alunos
Mestre ‘por acaso’, Wilton da Silva Moretto
rial e na particular, a disponibilidade é
– leciona História, Sociologia e Filosofia
ressalta a possibilidade de trabalhar com
maior e mais rápida. Na pública, há ou-
na Cooperelp, em Lençóis Paulista, na FAAG, em Agudos e na escola estadual
quem ainda acredita em um futuro promissor
Professora Carolina Lopes de Almeida,
tra velocidade, mas é também possível desenvolver um bom trabalho”. Professor Wiltinho deixa dois recados,
em Bauru. A profissão também lhe dá conquistas que não tem
um para seus companheiros de profissão, outro para as autoridades.
preço. “A minha maior alegria é sair pelo mundo afora e en-
“Aguentem firme, o começo é difícil. Não dá para ficar rico, mas
contrar um aluno trabalhando: seja ele médico ou atendente de
ainda vive-se bem sendo professor e, como em todas as profissões,
lanchonete. O que me deixa feliz é saber que aquela pessoa que
há os prós e os contras”, afirmou. Para ele, negligenciar a Educação
eu ensinei, agora ensina alguém ou cumpre seu papel social,
pode trazer resultados catastróficos no futuro. “Se o Brasil quiser
exercendo sua profissão”, revela.
continuar a crescer como está crescendo, deverá investir mais em
Para ele, é possível ter resultados tanto na rede pública quanto na particular, basta que o professor se adapte às con-
Educação e, principalmente, alterar algumas práticas que emperram o pleno desenvolvimento da Educação no país”, concluiu.
92
Nossos Mestres Revista O ComĂŠrcio
Dona
Zilda
Revista O Comércio Nossos Mestres
93
Aposentada há mais de 30 anos, Zilda
em frente à escola e ouço o barulho das
da charrete duas vezes. Foi uma experi-
Paccola Grandi relembra os bons tempos
crianças sinto muita saudade”, confessa.
ência única”, brinca.
A escolha é uma história quase que
Dona Zilda relembra das incontáveis
uando se ouve Zilda Paccola Gran-
repetida, de tão comum. “Naquela épo-
vezes em que fez papel de pai ou mãe
di falar sobre o tempo em que le-
ca eram poucas as opções de profissão.
do aluno. “Tive um aluno que dormia a
cionou, é possível imaginar que
Ser professor estava no auge”, recorda.
aula inteira. Investigando, descobri que
ela tenha vindo de outro mundo, onde os
“As crianças e adolescentes eram mais
ele passava fome. Tinha que cuidar, le-
mestres eram amados e respeitados pelos
inocentes. Não tinham acesso a tan-
var ele até o refeitório, bem preocupação
alunos. “Eu chegava todos os dias cantan-
ta informação como hoje. Tive alunos
de mãe”, conta.
do na escola”, relembra.
que não sabiam o que era o mar. Então,
Segundo ela, a dica fundamental para
E por falar em relembrar, até hoje –
quando o professor explicava algo, tudo
quem quer ser professor é paciência e
mais de 30 anos depois de sua aposen-
era novidade, o professor era respeita-
dedicação. Tudo, é claro, devidamente re-
tadoria – ela reaviva, instintivamente, as
do”, acrescenta.
compensado pelas pequenas vitórias do
Q
lembranças do seu tempo de carreira. E
Já as histórias do exercício da profissão
dia a dia. “Não tenho nem como explicar
isso acontece sempre que ela passa
são bastante peculiares, como no tempo
a sensação de ver uma criança soletrando
em frente ao prédio da escola onde
em que lecionava na zona rural de Ber-
a primeira palavra. É emocionante. Foi
trabalhou por mais de 25 anos, o
nardino de Campos. “Morava na cidade e
pelo carinho que eu tinha com os alunos
Esperança de Oliveira. “Me apo-
ia todos os dias de charrete para a escola
e eles para comigo que me firmei na pro-
sentei ali. Até hoje quando passo
que ficava na zona rural. Cheguei a cair
fissão”, finaliza.
Revista O Comércio Nossos Mestres
Professor de dança há 16 anos, Estrella fala da descoberta da profissão e resultados do trabalho; “a maioria dos profissionais de dança da cidade foram meus alunos”
Estrella
dia 3 de março de 1997 ficou muito
O
Estrella reconhece os alicerces que fi-
marcado na minha vida, foi meu
xou no cenário artístico local. “A maioria
primeiro dia como professor de
dos profissionais de dança da cidade são
dança. E foi legal, me encontrei e pensei:
ou foram meus alunos. Quando eu fui
é isso que eu quero fazer”.
aprovado no concurso da prefeitura, de
“
O depoimento acima é de Alessandro
95
dez que concorriam comigo, oito foram
Marcelo Estrella, 34 anos, 16 deles dedi-
meus alunos”, diz. “Eu me sinto bastante
cados a ensinar a dança. A identificação
realizado com tudo isso, além de olhar e
com o ensino foi instantânea. “Depois
ver meus alunos trabalhando com a dan-
foi só correr atrás. Fui fazer especializa-
ça, tem uns mais novos chegando agora
ções, me formei em Educação Física, fiz
e vindo com gás, já planejando o futu-
pós-graduação em Dança e agora estudo
ro profissional para também serem
Metodologia do Ensino das Artes”, conta.
professores de dança”, finaliza.
Cláudio Abade Autor do gol do título mais famoso do CAL e hoje professor das escolinhas de futebol, Cláudio Abade revela que já discutiu escalação de equipe com Luxemburgo e Felipão
Abade fez parte do elen-
rie B do Gauchão, mas o convite de um
co do Brangantino,
amigo o trouxe de volta a Lençóis, em
sensação do futebol
1998. “Eu tinha amizade com um em-
láudio Abade fez o único gol da famo-
brasileiro em 1989 e 1990 e anos depois, era
presário japonês que tinha uma parceria
sa final do Campeonato Paulista de
atleta do Juventude de Caxias do Sul, onde
em Lençóis e ele me convidou para trei-
1983, que deu o título da Terceira Di-
trabalhou com o futuro pentacampeão.
nar os jovens”, relembra. “Começamos
C
visão daquele ano, um dos poucos do Clube
“Aprendi muito com os dois. Foi quan-
dando aula para 12 japoneses e outros
Atlético Lençoense no futebol profissional.
do eu percebi que realmente dava para
17 garotos que reunimos no campo da
Não foi da elite de jogadores do país.
ser técnico de futebol. Eles conversavam
Sidelpa. Hoje, temos total respaldo da
Como também não foram Luis Felipe
bastante e tive a oportunidade de discutir
Prefeitura e da Diretoria de Esportes, e
Scollari e Wanderley Luxemburgo, com
a formação da equipe com os dois”, diz.
ensinamos futebol para quase 650 me-
quem teve oportunidade de trabalhar.
Chegou a comandar o Cidreira na Sé-
ninos em toda a cidade”, diz o professor.
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Nossos Mestres Revista O Comércio
Instrutor de direção há 14 anos, Milão questiona: “pensa que eu não sonho com um trânsito bacana, onde o cara coloca o pezinho na faixa e todo mundo para?”
S
Milão
ua sala de aula é o carro e sua lousa, as ruas.
não sonho com um trânsito bacana, onde o cara co-
Desde 1999, essa é a vida de Jademir Vascon-
loca o pezinho na faixa e todo mundo para? Onde
celos, o Milão. “É algo que para fazer direito
todo mundo respeita o outro, dá passagem?
tem que ter o dom, tem que gostar, ser paciente e saber explicar”, afirmou. “Fazer o curso pode ser fá-
É o sonho de todo mundo”. Mas quando vê motoristas errando,
cil, mas se não tiver o dom, fique à vontade: não vai
reage igual professor de alfabetiza-
dar certo. Não consegue aprovar o aluno, estressa
ção. “Eu corrijo mesmo, com jeito
com ele, fica de cara feia... E o aluno, que já tem seus
porque às vezes o motorista está
medos de dirigir, piora”, ressalta.
de cabeça quente com alguma
Em plena crise do trânsito lençoense, Milão re-
coisa, mas não deixo de falar”,
vela a pressão da sociedade sobre os instrutores de
revela. E se for um de seus
direção. As críticas não o aborrecem. “Esses alunos
alunos, a bronca é certa. “Eu
passam por exames de trânsito, não é o instrutor
cobro aluno no meio na rua,
que avalia. Mas quando vai dirigir, se quiser fazer
falo: você está fazendo errado, eu ensinei
de qualquer jeito, vai fazer”, observa. “Pensa que eu
a fazer certo, porque não faz?”, finaliza.
Revista O Comércio Nossos Mestres
Marquinho O
pai de Marquinho, o Marco Toledo,
mirim e o primeiro a conquistar esse título
é o único treinador brasileiro a fi-
no Campeonato Paulista, e de lá para cá a
gurar como tal no hall da fama da
sala de troféus fica cada vez maior e inclui
ABQM – Associação Brasileira de Cria-
3 títulos de campeão brasileiro, 3 campeo-
dores de Cavalos Quarto de Milha. Tanta
natos no Congresso ABQM, dentre tantos.
honraria não é para menos, pois, o pai
Ao lado da esposa, Ana Paula Zillo,
herdou do avô o gosto e a técnica na lida
sua companheira de paixão pelo des-
com animais. E esse amor, incondicional,
porto equestre, pela lida com animais,
passa de geração para geração.
o professor mostra o seu lado de mestre
Marquinho, como carinhosamente é
afetuoso tanto com os peões e amazonas
chamado pelos alunos, é dos profissionais
que se dedicam aos treinamentos,
mais respeitados e não somente no Bra-
em especial às provas dos
sil, pois, já conquistou campeonatos na
três tambores, quanto
Europa, Ásia e pela América e ministrou
no trabalho de doma
cursos na China, Itália e Dinamarca.
racional com técnica
Aos cinco anos foi campeão na categoria
horsemanship.
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Marco Toledo Filho é a terceira geração de apaixonados pela criação de animais, cuidados e ensino do desporto equestre
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Nossos Mestres Revista O Comércio
Raphael
R
Quando percebeu, já era professor; caratê, atletismo, musculação e ginástica: “Eu ensino a cuidar da saúde”
aphael Carlos Perantoni Blanco, 29, é
Raphael também milita no campo da compe-
professor há 12 anos. Quando teve que
tição esportiva. E com resultados. Há cinco anos
escolher uma profissão, praticamente, já
é professor de atletismo pela Diretoria de Es-
era profissional. “Eu já ensinava caratê quando
portes e na mesma área, pelo mesmo período,
veio a idade de escolher uma profissão. Isso me
é professor da premiada equipe PCD (Pessoa
motivou a estudar e me profissionalizar na área
com Deficiência) da Adefilp (Associação dos De-
esportiva”, revela.
ficientes Físicos de Lençóis Paulista), destaque em
Dito e feito, formou-se em Educação Física em
todas as competições das quais participa.
2005, área em que também tem pós-graduação.
“Minha área de atuação é bem prá-
Hoje, contabiliza 12 anos como professor de ca-
tica. É ótimo ser professor de
ratê e também atua como personal trainer (com
Educação Física, é um profis-
um currículo que já tem oito anos), professor de
sional que ensina as pessoas
musculação e de natação, além de administrar seu
a terem saúde e a cuidarem
estúdio de personal trainer, o Life Personal Studio.
do próprio corpo”, finaliza.
Max
administração livre há 16 anos, atua na Click Certo Cursos e em empresas, nos conhecidos cursos in company
toda a sua jornada diária, seja como
pois, “entrou na sala, não se fala mais
empresário e a frente da Mezzani-
português”. Algumas turmas já estão em
no Informática, seja como gestor
R
Professor dos cursos de informática e
andamento e outras em formação.
e, especialmente, professor na
Casado com Andréia Mello e pai de
Click Certo, empresa que tam-
Lucas, 18, Nínive, 15 e Robertinho, 5, o
bém é marca registrada e está
professor Max diz que “ser professor é
no mercado com cursos de
ser multiplicador de conhecimento” e ele
web design, design gráfico,
acredita na interação, pois, “o maior be-
AutoCAD (para a área de
neficiado nessa relação é o professor que
projetos de mecânica e
aprende com 30 alunos, com a diversida-
construção civil) e o Mi-
de, o desafio é o de estruturar a aula com
oberto Maximino José, mais co-
crosoft Project. Uma inovação é a de
técnica, preocupando-se com a pedago-
nhecido como Max, vive infor-
cursos de imersão em inglês, com uma
gia e a didática, de forma que seja possí-
mática e administração durante
proposta inovadora para o aprendizado,
vel a aplicabilidade do aprendizado!”.