Ondinaview (2)

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Ondina

REVISTA CULTURA SURF

Expedição

INDÚSTRIA do surf

Diogo Guerreiro e Flávio Jardim

Marina Werneck encara o Sri Lanka

Um retorno à Inside A nova estética dos

filmes

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Ondina

Foto: Diogo Guerreiro

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A palavra de ordem é o desafio. Atravessar o mundo em um barco, dar um destino ecologicamente correto para resíduos, criar, transformar, reinventar-se, fazer algo que quase ninguém faz, ir para lugares inusitados, viver um novo estilo de vida, abrir mão da segurança para fazer o que se gosta, competir, superar obstáculos, enfim... Construir esta revista foi um desafio. E é essa palavra que permeia cada uma das matérias. Ele está sempre ali, seja atual, futuro ou vivido. A crise na indústria do surf é bipolar e precisa se recriar. Viver de arte e viver de surf sempre será um desafio. Ir atrás dos próprios sonhos, romper os próprios limites, ser mulher em um mundo de homens, pegar as melhores ondas. Ele está por tudo. Na última matéria tentamos trazer um pouco da cultura de Florianópolis pelo viés do que foi a primeira revista de surf com expressão da capital catarinense. Passar de informativo para revista não é tão corriqueiro. Tentamos falar de sentimentos, impressões, desejos e pontos de vista. Tudo o que o surf é: um esporte que lida com a sensação e o autoconhecimento. E para terminar, um adendo: Ondina é, segundo as mitologias germânica e escândinava, o espírito que rege as ondas e as marés. Também foi o nome cogitado para substituir Desterro em 1894, no fim da Revolução Federalista. O nome da revista faz a ponte entre os dois.

#6 #37

Textos:

Foto Capa Rodrigo Ormond Pedra Careca, Joaquina

Contato:

revistaondina@gmail.com 4

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Entrevista

Mulheres Surfistas, Mulheres de Atitude

REVISTA CULTURA SURF

INDÚSTRIA do surf

#16 #22

Uma ideia na cabeça

#32 #40

Anota aí

#18

Quando a arte e o surf se encontram

#26 #34 #42

Há luz no fim do túnel?

Em terra de Elefantes

Ondina

#14

POLIURETANO NO quintal de casa

Onde está a tal essência?

Daniela Pacheco Costa Ramona Zilli Markus Ribeiro

Surfando o mundo

#21 #29

Expediente:

Diagramação:

#12

Dias de Glória

Foto: Dalton Gonçalves

EDITORIAL

INDICE

Nova Onda

#46

Meninas do Brasil

Por dentro da Inside

Filmes & Livros

Expedição

Diogo Guerreiro

e Flávio Jardim

Marina Werneck encara o Sri Lanka

Um retorno à Inside A nova estética

dos

filmes de surf

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Foto: Arquivo Pessoal

ESTIL O DE

VIDA

SURFANDO O MUNDO Viajar de barco com a ideia de dropar as melhores ondas de cada lugar não é para qualquer um, pois é preciso ter acima de tudo coragem e uma boa dose de parceria para o sonho tornar-se realidade

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ESTIL O DE

Diogo pegando altas ondas na Micronésia

O empresário Diogo Guerreiro, hoje com 32 anos, tinha um sonho, assim como tantos outros jovens aos 20 anos de idade. Diogo foi atrás do seu: conhecer o mundo pelo mar, passando pelos melhores picos de surf do mundo e fugir dos padrões convencionais de vida. Ele encontrou no amigo Flávio Jardim, que tem a mesma idade, uma parceria. Os florianopolitanos, que surfam desde a infância, começaram a planejar essa aventura em 2001, definindo o que seria preciso e pensando numa rota com lugares paradisíacos e ondas perfeitas. Foi com o veleiro do pai do Flávio que realizaram a primeira viagem com destino a Fernando de Noronha. Nesse primeiro momento eles puderam imaginar roteiros e sonhar com cada detalhe. Foram dez anos de dedicação para a realização de um sonho. Sabiam que para uma viagem desse porte seria necessário uma boa quantia em dinheiro, por isso a dedicação dos amigos foi intensa e indispensável. O começo foi pensar em viabilizar um patrocinador, o que é um pouco difícil por se tratar de um investimento muito alto. A ideia então foi tentar chamar a

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Fotos: Arquivo Pessoal

atenção de patrocinadores através de viagens com grande visibilidade. A primeira foi de windsurf. O percurso, do Chuí ao Oiapoque. Uma aventura realizada durante um ano e dois meses, onde puderam conhecer todas as praias do Brasil. Dormindo por onde passavam, os amigos contavam apenas com as “mochilas nas costas”, sem a ajuda de carro ou de barco. Essa experiência lhes rendeu em 2004-2005 a publicação no Guinness Book, por ser a maior viagem de windsurf do mundo já realizada. Continuando com a tentativa de conquistar patrocinador, Diogo Guerreiro resolveu fazer mais uma viagem. Desta vez, ele foi sozinho de Fernando de Noronha até Natal também de windsurf. Foram 400 quilometros de mar aberto, por causa dos desvios causados pela correnteza. Novamente sem barco de apoio, teve que dormir uma noite em cima da prancha, mas todo esforço valeu à pena. Essa aventura que aconteceu em 2006 rendeu a Diogo mais um recorde mundial. Com duas viagens de grande visibilidade as possibilidades de conseguir patrocínio tornavam-se uma realidade. Fechado o patrocínio com as empresas Mormaii, Grandene e Technos, a rota começou então a ser traçada com um planejamento bem cauteloso. Treinamentos também foram realizados pelos dois amigos para que nada desse errado. Entre eles, de meteorologia e mecânica. Diante de toda essa dedicação, Diogo Guerreiro tornou-se o mais jovem Capitão-Amador da marinha do Brasil, com apenas 20 anos de idade.

Diogo no Tahiti

Continua...

A chegada de Diogo e Flávio em Oiapoque

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VIDA


ESTIL O DE

O sonho torna-se realidade

Com os novos amigos em Papua Nova Guiné

depararem com tempestades, elas aconteceram. Mas a preocupação foi quando começaram a receber os alertas de ataques de piratas. Foi no ano de 2010, quando passavam pela Somália. Essa travessia apesar de tensa ocorreu tudo bem. Já um outro barco, que fazia a mesma rota que o Itusca foi seqüestrado e mantido em cativeiro. Um dos lugares mais interessantes, segundo Diogo, foi Papua Nova Guiné. Um lugar com ilhas primitivas e altas ondas, onde o dinheiro não tem grande valor. Um vilarejo remoto no qual os habitantes pescam e caçam para se alimentar e ainda constroem as próprias casas. “Conhecer Papua Nova Guiné foi como fazer uma viagem no tempo. Já o Tahiti tem um povo bem acolhedor, lembra muito a alegria do povo brasileiro. Viajar de barco é legal por isso, de repente você está num lugar com uma determinada cultura e, logo em seguida, em outro lugar completamente diferente”, resume o surfista. Fotos: Arquivo Pessoal

A emocionante volta dos amigos a Garopaba depois de dois anos e meio de expedição

Diogo e Flávio costumam dizer que foi uma volta e meia ao mundo. Isso porque, foram até a Grécia para comprar um barco mais confortável, com quatro suítes e ar condicionado, um catamarã. De lá, passaram pela Europa até chegar novamente ao Brasil, e aí sim começar a travessia. No dia 17 de agosto de 2008 partiram de Garopaba com destino ao Caribe, atravessaram o Canal do Panamá rumo à Asia, África 10

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e voltaram ao Brasil 30 meses depois. Nesse trajeto passaram por Galápagos, Polinésia Francesa, Ilhas Cook, Tonga, Fiji, Micronésia, Papua Nova Guiné, Indonésia, Chagos, Madagascar, Moçambique e África do Sul, para citar apenas alguns. Eles fizeram um cálculo onde chegaram à conclusão de que, do tempo total da viagem, ficaram sete meses em travessia e dois anos parando para conhecer e cur-

tir os lugares. Nas paradas, aproveitavam também para comprar alguns mantimentos como arroz e macarrão, já que o peixe estava garantido. A rotina a bordo do veleiro Itusca tinha dois momentos, a travessia com todo o trabalho, e o prazer de pegar as melhores ondas e curtir os lugares. Eles chegaram a ficar 28 dias navegando sem ver a terra. Era uma rotina bem diferente do que a de costume.

Enquanto um dormia, o outro ficava acordado vigiando cada momento. Um revezamento confortável, segundo eles, pois proporcionou muita reflexão e leitura. Uma oportunidade de conhecer as melhores ondas do mundo, vivenciar a cultura de cada povo, adquirir conhecimento e curtir a vida de um novo ângulo. Mesmo tendo traçado cada rota e verificado as possibilidades de não se Papua Nova Guiné

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VIDA


Foto: Danie la Pac heco

ESTIL O DE

Dias de Glória Acordar cedo e ir de encontro ao mar é simplesmente saber viver.

Diversão no “quintal de casa”, praia da Joaquina

Mais um dia de trabalho no Tribunal de Justiça de Santa Catarina

Fotos: Arquivo Pessoal

Numa das viagens que fez à Mentawai, na Indonésia,

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Marcelo Meira é um autêntico “manezinho da ilha”. Ele é filho e neto de nativos, algo raro de se encontrar em Florianópolis nos dias de hoje. Desde moleque pegava onda na Joaquina, “quintal de casa”. Foi ali que começou a trajetória como surfista. Todas as manhãs, bem cedinho, Marcelo, acorda e vai para Internet. Não para as redes sociais, e sim verificar as informações das ondas. À par das condições do mar, que vê nos sites da Waves ou Windguru, Marcelo “toca” para a praia. Não, Marcelo não é um surfista profissional, ele simplesmente “vive o surf”. Funcionário público, aos 41 anos, a rotina é tranqüila, ele cumpre diariamente sete horas de trabalho no período vespertino. Inclusive pode se dar ao luxo de fazer o que gosta, surfar, sem precisar fazer disso, o ganha pão. Essa foi a opção de vida de Marcelo Meira, ser funcionário público e paralelo a isso, free surfer. E nas aventuras como surfista, Marcelo conheceu muitos picos irados. No Estado praticamente to-

dos. No Brasil entre os muitos lugares que já surfou está Fernando de Noronha, um arquipélago onde existem as ondas mais tubulares do Brasil. Nessa viagem ele aproveitou também para mergulhar. São cenários onde a visibilidade da água e a variedade de vida garantem a fama internacional do lugar. Agora a “vibe” do surfista está na direção das ondas internacionais, isso porque, nas férias de 2013, o destino é Galápagos. Em 2014, viagem para as Ilhas Maldivas, um dos lugares mais cobiçados pelos surfistas. E não para por aí. Em breve, Marcelo pretende realizar a trip de barcos em Mentawai, na Indonésia. Nessa aventura os tripulantes ficam durante 11 dias em alto mar só surfando. “É uma rotina diferente da habitual, onde por alguns dias você vive exclusivamente o surf.” Marcelo que já esteve em Mentawai, garante que as ondas são perfeitas para o surf. O surfista segue agora, rumo a outro lugar onde possa “viver o surf”, seja ele na Indonésia, ou aqui mesmo no “quintal de casa”.

Aproveitando a paisagem submersa de Fernando de Noronha

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VIDA


Siebert e Tropical Brasil no “70’s e Tal”

Foto: Felipe Siebert

E não foi dessa vez...

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Foto: Dan iela

Pacheco

RÁDIO WEB Entrou no ar no final de setembro a rádio online S365[o]omundo. O projeto, pioneiro no sul do Brasil, mistura música e informação e, apesar de ainda estar em fase experimental, já conta com um time de primeira. Pena, Guina, Fernando Mansur e Anselmo Döll, foram integrantes de emissoras que marcaram época na cidade, pioneiros de “rádios rock”, como Antena 1 e União FM. A S365[o]mundo também tem a pretensão de ser um portal que traz notícias sobre surf, skate, moda, música, cultura e comportamento. Acesse: www.s365.com.br

Surf & Homossexualidade Foto: Divulgação

No dia 31 de outubro fechou a janela de espera do Desafio Mormaii de Ondas Grandes que aconteceria na Laje de Jaguaruna, localizada no município que leva o mesmo nome, localizada a 157 quilômetros da capital catarinense. Os 24 atletas convidados estavam de sobreaviso desde o dia 20 de maio, mas as condições não foram favoráveis. O evento, que só aconteceu em 2006 e 2011, teria agora um diferencial, os surfistas teriam que entrar nas ondas na remada, ao contrário dos outros anos nos quais os surfista entravam nas ondas de tow-in, como é de costume.

E o 70’s e Tal, documentário do Canal Off que estreou em outubro, e conta a história do surf no Brasil teve participação da marca de pranchas de Florianópolis, Siebert Woodcraft Surfboards. As pranchas, construídas pelo shaper-designer Felipe Siebert, já têm tradição no conceito retrô. Construídas com madeira, foram feitas réplicas perfeitas das utilizadas nos primórdios do surf no Brasil. Os shorts que também imitavam os utilizados na época, aquele modelo mais curto, ficaram sob a responsabilidade da Tropical Brasil.

JOAQUINA VOLTA A SEDIAR MUNDIAL

Imagem: Divulgação

anota aÍ

Foto: Akiwas Alexandre Flóra

O tabu da homossexualidade no surf é o foco do documentário intitulado “Out in the line-up” que dois australianos, Thomas Castets e David Wakefield, estão tentando produzir. Para levantar fundos eles estão com uma campanha de financiamento coletivo no site Kickstarter, e precisam conseguir 30 mil dólares até o dia 13 de dezembro, caso não consigam o dinheiro será reembolsado. Confira uma sinopse do filme no site: http://outinthelineup.com/home/synopsis/

Depois de dez anos sem receber um campeonato internacional de surf, a praia da Joaquina sediou, entre os dias 27 outubro e 5 novembro, a última etapa do HD World Júnior Championship que definiu o título mundial masculino e feminino da ASP (Association of Surfing Professional) na categoria para surfistas com até 21 anos de idade. O evento foi resultado de uma mobilização conjunta entre Governo do Estado, Prefeitura Municipal de Florianópolis, Secretaria Municipal de Turismo, Federação Catarinense de Surf (Fecasurf) e da Associação de Surf da Joaquina (ASJ) que conseguiram trazer para cá o evento que inicialmente aconteceria em Portugal. Florianópolis apresentou uma proposta com um ótimo padrão de qualidade para a organização do evento e foi escolhida. A praia da Joaquina também se encaixou nas exigências da ASP por ser um lugar de boas e consistentes ondas. Essa foi a segunda vez que o mundial sub 21 aconteceu no Brasil. A primeira em 2011 na cidade do Rio de Janeiro, e agora em Florianópolis. O HD World Junior Championship 2013 distribuiu uma premiação total de 130 mil dólares nas duas categorias.

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POLIURETANO NO quintal de casa

do surf, a Clarck Foam. Para Paulo Eduardo Antunes Grijó, carioca radicado em Florianópolis, surfista, ex-shaper, mestre em Engenharia Ambiental e fundador do Projeto Marbras et Mundi (Movimento Associativo de Reciclagem Brasileira no Surfe e no Mundo) o vilão não é a indústria do surf, mas sim a indústria do poliuretano. “Todas as geladeiras de todas as casas do mundo tem o tolueno diisocianato que usa o poliuretano”, garante o mestre em engenharia. De 1999 até 2013, Paulo Grijó desenvolveu o Marbras et Mundi, um modelo de referência de produção sustentável de pranchas de surf. Mas as idéias e experiências que o embasam tem suas raízes lá em 1985, quando Paulo, trabalhando no marketing da Clarck Foam, começou a observar como o processo produtivo, da forma como era feito, acabava por gerar mais resíduos que o necessário: apenas 15% do bloco virava prancha. Durante os 14 anos Grijó batalhou pelo Marbras. Teve projetos aprovados nas Universidades Federais de Santa Catarina e Rio de Janeiro, levantou toda a viabilidade técnica e econômica da criação de um pólo industrial de pranchas de surf. Na visão do surfista, o pólo abrangeria desde a criação da prancha (pesquisa, arte e design) até a reciclagem dos resíduos. Recebeu muitos elogios mas nenhum apoio concreto, ninguém quis investir. Foto: Daniela Pacheco

Achar o destino adequado para os resíduos das pranchas é questão antiga, mas a reciclagem não é apenas consciência ecológica, ela ainda precisa ser lucrativa Quando o sócio do Paulo Grijó abriu a porta de um quarto da casa onde moravam e o resíduo de 4 meses fabricando prancha caiu todo sobre a sua cabeça, deu um ultimato no shaper para que desse um fim naquela situação. O ano era 1985 e a cidade o Rio de Janeiro. Olhando para o chão da sala, desanimado com o valor que o funcio-

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nário da coleta de lixo local acabara de fornecer para fazer o transporte dos resíduos, Grijó teve uma idéia: misturar os resíduos de prancha com cimento e areia e colocar naquele vão do piso que ainda estava por fazer. Por instinto isolou a mistura com uma camada de cimento obtendo um resultado cujo benefício só descobriu mais tarde: isolamento acústico

e térmico. O poliuretano é o principal resíduo que sobra da fabricação de uma prancha de surf, além de perigosamente inflamável é altamente tóxico, e ainda possui prazo indeterminado de decomposição. O seu efeito nocivo é tão acentuado que em 2005 levou ao fechamento da principal fábrica de blocos de poliuretano para a indústria

O que sobra de uma prancha

Fórum Mundial jeto Marbras no III Grijó expondo o prode na Indústria do surf na Bahia. Sustentabilida

de

ERA UMA VEZ UM BLOCO VERDE Manezinho da Ilha, Rodrigo Silva, 33 anos, fabrica prancha há 17 anos. O shaper também investiu em pesquisa. Uma parceria com a Escola Técnica de Florianópolis, rendeu uma inovação na já existente máquina de corte do bloco de poliuretano: o aumento da precisão e a baixa taxa de manutenção, o que resultou na diminuição drástica da margem de erro na hora do corte, diminuindo o desperdício de 100 blocos para 1 ou 2 por ano. Como consequência, reduziu também a quantidade de resíduos na fabricação das pranchas da empresa. Durante um tempo e com o auxílio dos engenheiros sanitaristas Henrique Santana e Kalil Salim, participou do Projeto Bloco Verde, concebido pela engenheira ambiental Bernadete Batalha Batista. Incialmente, o projeto reciclava restos de ostras e mariscos, mas com o contato do Rodrigo começaram a aceitar também o poliuretano, transformando-o em blocos para a construção civil pela Blocaus. “Atualmente, a empresa não recebe mais os resíduos, pois não possui um local adequado para armazená-lo”, confessa a engenheira. No período em que destinou seus resíduos para reciclagem, Rodrigo pagava o dobro pelo transporte, pois a Blocaus era quem definia a empresa que faria o serviço. Apesar de ser mais barato enviar o lixo para um aterro industrial, o shaper preferia dar um destino mais sustentável para

ECOL OGIA Foto: Arquivo Pessoal

as 3 toneladas de resíduo produzidas por ano. Mas a história não é tão romântica assim. Rodrigo confessa que o projeto surgiu mais por necessidade do que por consciência ecológica. “Como tenho CNPJ, sou obrigado a prestar conta do destino dos resíduos para a Prefeitura”, revela o shaper. Rodrigo estima que são produzidas por ano em Santa Catarina cerca de vinte mil pranchas. Dessas, apenas cerca de cinco mil teriam uma destinação adequada. “A maioria das empresas de pranchas, por não terem registro, não tem obrigação de enviar para um aterro ou reciclar. Muitos acabam colocando o poliuretano no lixo comum mesmo”, revela. E parece que esse é realmente o destino dos resíduos. A Proactiva Meio Ambiente Brasil é a empresa que recebe todo o lixo da Grande Florianópolis. A engenheira responsável pelo local, Fernanda Félix diz nunca ter recebido nenhum resíduo de poliuretano de nenhum fabricante de pranchas. Apesar de o produto proveniente da reciclagem do poliuretano ser muito bom e ter bastante aceitação no mercado, a indústria do surf não produz resíduo suficiente para que seja atrativo economicamente. Esse é um dos motivos pelo qual projetos, como o de Paulo, têm dificuldades em ir para frente. Embora o surf tenha se tornado uma indústria lucrativa, isso não deve servir de justificativa para que se cometam abusos e degradações contra o próprio meio que o sustenta, a natureza. ONDINA | REVISTA CULTURA SURF

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INSP IRAÇÃ O Murilo Graf respira arte. Enquanto o surf é um esporte que ele pratica desde os 15 anos (tem 52), ele não consegue precisar em que exato momento a arte entrou na sua vida. É como se ela sempre estivesse estado ali. Ele ainda tem desenhos de quando tinha 3 anos de idade, e mais tarde era o responsável por fabricar brinquedos para os colegas. Natural de Itajaí, Murilo Graf peregrinou até os 15 anos. A cada dois mudavam de cidade. Filho de um juiz de Direito, ele sentiu na pele o que as regras exigidas pela sociedade poderia fazer com um espírito tão livre. Aos 15 anos resolveu ir morar com os avós em Itajaí e se libertou daquela pressão que era ter que “dançar conforme a música”. Naquela cidade descobriu o skate. “Eu tinha vindo lá de Joaçaba, an-

dava muito de bicicleta, tinha as pernas fortes, andar de skate foi muito fácil”, conta Graf. Em cinco meses praticando o esporte ganhava a primeira competição. Era o “Primeiro Campeonato de Skate de Itajaí”, em 1977, e Graf tirou o primeiro lugar na categoria “360º” e o segundo na “freestyle”. Daí para o surf foi um pulo, rapidinho trocou o skate por uma prancha. “Um amigo ficou com o meu skate e me deu uma prancha, depois que desci a primeira onda o cheiro e a sensação me tocaram profundamente”, relembra. Graf está sempre criando. Formado em artes plásticas ele desenha, pinta e cria esculturas com material alternativo (prefere chamar assim pois, “reciclado parece que é algo que não se quer mais”, explica). É dele a logo de alguns shapers

e marcas catarinenses: Newton Andrade, Jorge Costa, Jefferson Lopes, Spider e Hot Glass. Desenha os cartazes de propagandas de eventos relacionados à cultura nativa e campeonatos de surf, o último foi o “Hurley Surfestudantil” que rolou em meados de novembro deste ano na Praia Mole. Ele também faz “tirinhas”, onde brinca com alguns acontecimentos relacionados ao surf, entre seus personagens estão o “Kelis Leite” e o “Mark Okiloki”, e volta e meia alguma aparece em uma mídia de surf. “A arte é eterna”, filosofa o artista. Por pensar assim é que nunca se interessou em pintar pranchas de surf. “Em seis meses, a prancha de um cara que surfa todos os dias já está pronta para ser trocada”, explica.

Fotos: Arquivo Pessoal

Continua...

Na máquina que herdou da avó, Graf cria os produtos da própria marca

e t r a A O D QUAN

M A R T N O C N E E S f E O sur

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f rtista Murilo Gra a o , z fa e u q lo pe l e apaixonado ansformação. tr e d te n fo a Criativo, sensíve e brio u ponto de equilí se o e rt a a n m te ONDINA | REVISTA CULTURA SURF

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MOMENTO “REVIVAL”

Hurley de Surf Estudantil na Praia Mole, na frente do palanque cuja arte criou

Tudo o que ele produz, com pouca exceção, possui um símbolo que ele diz não ser uma marca, mas a tradução de um conceito: “What’s up?” (“Qual é que é?”). Para o artista isso significa que tudo o que ele faz tem a intenção de questionar, de intimar, para despertar um sentimento na pessoa que vê, uma cura, um auto-conhecimento e uma conseqüente mudança no mundo. É o que ele costuma dizer: “A arte fala, a arte cura, a arte muda”.

Camisetas “What’s up?”

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Quando morava em Ituporanga, no Alto Vale do Itajaí, lembra de acordar de madrugada e ver a mãe pintando em um quarto. “Isso me marcou, pode ser que tenha vindo daí”, reflete ele, tentando achar uma resposta para a inspiração. As primeiras marcas de surf que surgiram tinham um colorido fluorescente que fascinavam Graf. Entre 78 e 79 conheceu a arte da serigrafia, começou a estampar camisetas e não parou mais. Apesar de utilitários, calças e camisas, suas peças tem o diferencial de serem, com exceção das camisetas, todas construídas a mão na sua própria casa. “Cada uma é única, não sei fazer outra igual”. Sua última invenção é uma caneta para desenhar em tecido que ele diz substituir ou mesmo superar a qualidade obtida pela serigrafia. Esse instrumento de trabalho ele não mostra para ninguém, “porque é muito simples e vou patentear”. Já as calças são cortadas por ele mesmo e costuradas na máquina de 70 anos que ganhou da vó, Dona Erna, a mesma que dá nome à marca das calças. A propaganda é o “boca a boca” e o Facebook, o que já lhe rendeu vendas para lugares inusitados como Londres, China, Tailândia e Costa Rica. Graf acredita que foi a arte que lhe deu reconhecimento no surf, “pois nunca fui competidor”, explica. No Encontro de Gerações de 2012, evento organizado pelo Klaus Kaiser, tour manager da ASP (Association of Surfing Professionals) da América do Sul, Graf foi um dos homenageados, representando a galera de Itajaí, pelos serviços prestados ao surf. “No Atalaia, em Itajaí, tinha muito localismo, e quando íamos surfar em outros lugares não dizíamos de onde éramos, porque não deixávamos ninguém surfar lá”, conta. Graf acredita que quando veio para Florianópolis meio que começou a fazer essa ponte, o que aconteceu principalmente através da sua arte. Nesse evento aconteceu um encontro inesperado. Fazia um tempo que Graf estava construindo uma pranchinha para a mão, para pegar “jacaré”. Ele já tinha feito uma uns 30 anos atrás, mas ela tinha sumido. “De repente um surfista “das antiga” entra na festa com a pranchinha, com uma quilha que já nem era mais a que eu tinha feito, e eu não acreditei que ele ainda tinha aquilo”, exalta-se. Murilo Graf é assim, intenso. É da turma daqueles que ainda não perderam a capacidade de se emocionar. Algumas vezes, durante a entrevista seus olhos ficaram marejados. Ele não consegue falar sem se envolver com aquilo que diz. Para ele, tudo é arte.

Foto: Ramona Zilli

ENTREVISTA

Dr. JOEL STEINMAN Instruções e dicas para crianças que estão iniciando no surf

Paulista radicado em Florianópolis há 20 anos, Joel Steinman é médico especialista em Medicina do Exercício e do Esporte, em acupuntura médica e quiropraxia e Pediatra. É também fundador e diretor da Tao Pilates Instituto de Medicina do Exercício e do Esporte. A clínica, localizada em Florianópolis, oferece atendimento na unidade Beira-Mar (matriz) e na Lagoa da Conceição. Há 30 anos na prática médica, o trabalho do Dr. Steinman, à frente da Medicina esportiva, envolvido em especial com o surf, culminou com o lançamento do livro Surfing and Health. O livro é uma enciclopédia ilustrada de surf e saúde. Revista Ondina: Como médico do Esporte e Pediatra, o que tem a dizer sobre o surf para crianças? Joel Steinman: Crianças que crescem na beira da praia têm um desenvolvimento bem saudável. Inclusive, o surf para quem não sabe é um dos esportes com menor índice de lesões. É um esporte excelente, não só para crianças como também para adultos, pois te permite chegar aos 80 anos surfando. E as crianças, a partir dos quatro anos, já podem começar a surfar na companhia de um adulto, R.O Quais as recomendações que faria para crianças que estão iniciando no surf? JS: De modo geral para uma iniciação esportiva, o surf é um esporte muito seguro. Lógico que se faz necessário alguns requisitos, como por exemplo, saber nadar, saber entrar e sair da água, evitar surfar sozinho, conhecer seus limites e o mar onde vai surfar. Cuidados deve haver sempre, pois é um esporte praticado na água. Com o tempo a criança vai criando habilidade e confiança para enfrentar as diferentes condições de mar. R.O Se a criança desejar ir mais além, se tornar surfista profissional, o que o senhor aconselha? JS: Surfar não é fácil. A criança deve ter muita perseverança. Vencer as arrebentações, que no caso, é um momento de conquista. É um esporte em que você

tem que “cair” para acertar. Surfar bonito é difícil, por isso a necessidade de muita dedicação e prática. R.O Quem pratica o surf com muita freqüência, pode ter alguma interferência no desenvolvimento físico? JS: Sim, no caso crianças de 12 a 15 anos, que estão em fase de crescimento e desenvolvimento, com a prática do surf, acabam crescendo muito e os ossos ficam menores porque não crescem na mesma velocidade. Terá encurtamento da musculatura posterior da coxa, aumento da lordose (curvatura excessiva da coluna para dentro) na cervical e lombar e da curva pélvica. Então, a criança fica com propensão a ter mais dores na coluna devido a esse encurtamento muscular. O que não impede a criança de praticar o surf, pois um bom treinamento antes resolve o problema. Inclusive o surf é um esporte que deixa a criança com muita aptidão física, capacidade aeróbica e anaeróbica boa e bom equilíbrio. R.O Crianças com algum problema de saúde devem evitar a prática do surf? JS: No caso de quem tem asma e quadros alérgicos, surfar no inverno, por exemplo, fica mais complicado. O tempo frio complica o quadro, não é legal. Crianças com déficit motor, cadeirante ou com qualquer outra deficiência, podem surfar, mas com um surf adaptado. R.O O senhor lançou um livro que se chama Surfing and Health, o que exatamente aborda no livro? JS: O livro é uma enciclopédia ilustrada de surf e saúde. Nele eu abordei todos os principais aspectos da saúde do surfista. É a medicina do esporte relacionada ao surf. No livro tem uma parte em que eu menciono as lesões causadas pelo surf, princípio de tratamento e exercícios básicos de reabilitação. Tem também informações detalhadas sobre o treinamento físico, aconselhamento nutricional, estratégias psicológicas para melhorar a concentração e o desempenho do surfista.

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UMA IDEIA NA CABEÇA

Foto: Arquivo Pessoal

Com uma câmera na mão e experiência em editoração de vídeos, surfistas têm arriscado criar um novo conceito em imagens cinematográficas

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INOV AÇÃO Cada vez mais os filmes de surf irão se restringir à internet e deverão ser mais curtos.

Os filmes de surf mudaram. O que antes era uma sequência frenética de ondas, deu lugar a imagens interpostas que remetem a um universo cultural e até mesmo particular. Há uma supervalorização da fotografia, tornando o filme atraente não apenas para quem se interessa por surf. As músicas também acompanharam essa transformação. Elas são pesadas em um momento para serem suaves em outro, mostrando que o sentimento ligado ao surf não se resume apenas à adrenalina. Existe uma safra de bons videomakers que estão fazendo história por aqui e pelo mundo. Catarinenses como Loïc Wirth, Michelangelo Bernardoni e Pablo Aguiar ganham prêmios em festivais importantes como o de San Sebastian, na Espanha (“Intention”, do Löic Wirth recebeu o prêmio como o de melhor performance em 2012), filmam para grandes marcas de surf e têm seus vídeos divulgados em revistas e canais de televisão especializados em esportes de aventura, onde a qualidade da fotografia é requisito primordial.

OS DEVANEIOS DE PABLO “Deslumbre” acabou de sair do forno. O último filme de Pablo Aguiar foi encarte da revista Hardcore do mês de outubro e, aos poucos, vai estreando em pequenos circuitos nas cidades catarinenses. Nele, sete surfistas - Adriano de Souza, Jessé Mendes, os irmãos Miguel e Samuel Pupo, o argentino radicado em Santa Catarina Alejo Muniz e os catarinenses Yago Dora e Jean da Silva - detonam as ondas das Ilhas de Mentawai, na Indonésia, entubando e voando em aéreos de tirar o fôlego. Durante 12 dias a equipe viajou de barco pelas

ilhas, dos quais renderam 22 minutos para o filme. Natural de Gaspar, no Vale do Itajaí, Pablo foi criado em Blumenau e, há 10 anos, mora em Balneário Camboriú. Aos 16 anos Pablo começou a “brincar” de filmar com os amigos, e depois produzir seus próprios filmes de surf com o material. Ele diz não se apegar muito a referências, o que se confirma pela autenticidade de alguns dos seus trabalhos, como o Madness (2007) e o Delirium – a Trip of Madness (2012), “que é uma continuação mais elaborada do primeiro”, diz Pablo. Nele há uma mensagem mais definida: a valorização da água, assim como mostrar o surf de alta performance. Tanto o Madness quanto o Bon Jour (2011), outro trabalho de Pablo, foram gravados na Califórnia e ambos não tinham um roteiro definido. Adepto da linha autoral é Pablo quem faz toda a produção, desde o agendamento da viagem até a definição do meio em que ocorrerá a divulgação (canal de televisão, distribuição em revista). No meio disso, ele faz a direção, captação, edição e finalização dos filmes. No “Delirium” e no “Deslumbre”, Léo Telles cuidou da trilha sonora, já a arte gráfica costuma ficar a cargo dos publicitários Guilherme Rosa e Marcos Ribas. “O excesso de informação dificulta a criação de algo totalmente novo, original, puro, algo que seja totalmente a cara do artista”, opina Pablo. Ele também não é muito otimista quanto ao mercado de filmes de surf no Brasil, principalmente por causa da falta de incentivo. As marcas brasileiras não se animam muito em produzir seus próprios filmes, como acontece com as grandes marcas estrangeiras, e a conseqüência disso é que, na opinião do filmaker, haja uma tendência à extinção dos filmes de surf no formato que conhecemos hoje. “Cada vez mais os filmes de surf irão se restringir à internet, e cada vez serão mais curtos.” Continua...

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INOV AÇÃO

ta, ainda é pouco explorada com sucesso. “Em geral estas experiências visuais se perdem na falta de um contexto mais profundo, na falta de uma história que fuja dos clichês tão batidos sobre a busca da onda perfeita e da interação com a natureza”, critica. O desafio desse novo estilo parece ser a profundidade, passar uma mensagem que metaforiz esse universo interior através das imagens. Hoje em dia o acesso fácil à Internet possibilita a qualquer um fazer filmes. Se há dinheiro para investir em uma boa câmera, lentes e software de edição já é meio caminho andado. “Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, máxima do cineasta Glauber Rocha, nunca esteve tão em alta. “É muita informação visual”, reflete Burin, “olhando a nova geração de espectadores, me assusta a idéia de que a visualização dos filmes esteja condenada

a ficar cada vez mais restrita a uma tela pequena de celular em clipes de 3 minutos de duração”. Essa saturação de informação acaba por esconder um pouco aquilo que é realmente significativo. É aí que o cineasta vê a importância dos festivais de cinema e eventos similares: dar visibilidade para o que pode ser interessante. A produção de filmes nos mercados de surf no Brasil ainda é pequena. A maior parte dos realizadores produz para grandes marcas ou foram trilhar caminhos no exterior, onde há um reconhecimento maior do trabalho, principalmente com a existência de grandes festivais destinados aos filmes de surf ou esportes de aventura. Há o reconhecimento, mas não um ganho financeiro direto, o que acaba levando essas pessoas a produzirem para grandes marcas. Também tem os canais que usam como prioridade e conceito a qualidade da fotografia, tornando-se mais uma opção para a circulação dos vídeos, principalmente os independentes. Se os filmes de surf estão mudando é natural que o meio pelo qual circulam também mude.

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“Em geral estas experiências visuais se perdem na falta de uma história que fuja dos clichês tão batidos sobre a busca da onda perfeita e da interação com a natureza” Alejo Mun iz,

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Mentawai, Indonésia

Indonésia Mentawai,

Foto: Arquivo Pessoal

O carioca Luciano Burin, radicado em Florianópolis há mais de dez anos, é jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e, pela sua formação, acabou direcionando-se por uma outra vertente dos filmes de surf: o documentário. Para ele, as condições para a produção audiovisual no Brasil, e principalmente em Florianópolis, não são favoráveis. “Todo realizador sonha em ter o seu filme exibido numa sala de cinema de verdade, para um grande público e isto, infelizmente, ainda é algo muito restrito”, lamenta o jornalista. Segundo ele, os principais problemas são a dependência dos editais e leis de incentivo e a questão da distribuição dos filmes. Em 2012, Burin lançou o documentário “Pegadas Salgadas”, no Florianópolis Audiovisual do Mercosul (FAM). O vídeo narra como a cultura da Ilha de Santa Catarina foi moldada pelo estilo de vida do surf. O filme é um documentário fundamentado em entrevistas com as pessoas que vivenciaram o início do surf na Ilha de Santa Catarina. Tem conteúdo, informação e boas imagens, mas sai da linha dessa nova estética. É um documento. Apreciador de filmes mais reflexivos, como os de Wim Wenders e Jim Jarmusch, Burin acha que os filmes de surf estão ficando mais estilizados. “É neste sentido que gostaria de produzir novas obras, chegando a uma união harmoniosa entre o bom conteúdo de um documentário jornalístico, com a poesia da fotografia e da trilha sonora”, confessa. Na opinião do cineasta, essa verve mais artística dos filmes de surf, essa veia mais intimis-

FUTURO INCERTO

Fotos: Eduardo Fleck Rosa/Ellement Water Fotográfia

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Foto: Diogo Guerreiro

HÁ LUZ NO FIM DO TúNEL? Em franca expansão econômica contrastando com uma crise de identidade, o mercado de surf precisa se reinventar para continuar a receber esse nome

INDÚ STRIA DO Um artigo publicado recentemente na versão on line do jornal inglês The Guardian, escrito pelo blogueiro australiano Russel Jackson, trazia em seu primeiro parágrafo a morte iminente da Billabong, uma das maiores empresas mundiais de surf. No fechamento do ano de 2012 a empresa constatou que o prejuízo que teve ultrapassou os 800 milhões de dólares australianos, o equivalente a três vezes mais o seu valor de mercado. O caso da Billabong não é isolado, ele reflete a realidade intrincada por diversas variáveis pela qual passa a indústria do surf na atualidade. Segundo dados do Instituto Brasileiro do Surf (Ibrasurf), desde o início do século o mercado de surfwear tem crescido 10% ao ano e, segundo uma pesquisa realizada em 2008 pelo Sistema de Inteligência Setorial, empresa de Florianópolis, o mercado brasileiro movimenta anualmente cerca de R$ 2,5 bilhões em negócios, além de gerar cerca de 1,5 milhão de empregos. O que parece ser uma franca contradição é na verdade uma falácia. O que se via no início da indústria do surf e que fez jus de assim ser chamado, era um mercado em expansão onde surfistas produziam para surfistas. Hoje a coisa não se desenha exatamente dessa forma. Segundo o diretor de marketing da Mormaii, maior empresa no segmento de surf do sul do Brasil, Gerson Vignolli Perrenoud, o mercado está estável, mas com um grande volume de consumidores. No entanto, ele estima que 97% de seus clientes não são surfistas, mas sim simpatizantes do estilo de vida que o surf representa. Ele próprio já não define o conceito da marca como unicamente ligado ao surf, mas sim à natureza e esportes radicais. Tudo bem, a empresa cresceu, e é exatamente aí que mora o perigo. “A cultura urbana ganhou e tirou espaço do lifestyle exclusivo da praia” diz Gisela Hemmer, estilista, pesquisadora de tendências e que, por mais de dois anos, foi responsável pelo merchandising visual das lojas da Mormaii. Ela diz que as empresas de surf começaram a com-

prar ou serem compradas por outras marcas, como no caso da Billabong que englobou uma empresa de relógios e uma de skate, e não conseguiu dar conta. “Outro caso característico é a Hurley, que foi comprada pela Nike, que não tem tradição no esporte, mas montou uma equipe de surf e se deu mal no faturamento”, comenta. Em 1981, o santista Avelino Bastos abriu, em Florianópolis, a Tropical Brasil. O grande foco do empresário sempre foi a fabricação de pranchas. Além disso, ele também colaborou em dar visibilidade para o surf brasileiro ao patrocinar atletas como Flávio “Teco” e Neco Padaratz. Articulado, Avelino tem uma visão clara do caminho percorrido pela indústria do surf e consegue contextualizar a situação atual elencando as diversas variáveis responsáveis pela condição da indústria do surf nos dias de hoje. À medida que o surf foi crescendo e tomando ares de indústria, foi inevitável atingir os grandes centros urbanos, cuja lista inclui cidades que se localizam a centenas de quilômetros das praias mais próximas. “Todo mundo queria consumir o lifestyle do surf. Todo mundo queria ir morar na praia, mas em algum momento essas pessoas também quiseram ganhar dinheiro e o surf cresceu”, diz o shaper. Na experiência enquanto empresário do surf ele viu que os produtos que eram feitos pelas marcas de surf para quem vivia na praia começaram a englobar o meio urbano, assim como a noite. “Nesse crescimento ocorreu uma desconexão, uma incongruência de estilos, o surf perdeu a sua identidade. O excesso de opções também fez com que houvesse uma retração do surf. A moda do surf misturou-se com a moda urbana e ampliou o público”. Hoje em dia o cara não surfa apenas, ele corre, voa de parapente, anda de skate, é profissional liberal, empresário, empregado, veste terno, é pai de família e avô. São muitos estilos diferentes para se fechar em um só, e a surfwear acaba não sendo mais identificada unicamente com o esporte. Continua...

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INDÚ STRIA DO

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Foto: Daniela Pacheco

O estilo que levou até hoje não comporta mais aquilo que se transformou. O surf precisa revolucionar a si próprio

tria do surf precisa mudar, e se isso acontecer, ela até pode ficar maior do que já foi um dia, mas ele tem dúvidas de que consiga ter o mesmo impacto na cultura que já teve. O que antes era contracultura, transformou-se em cultura de massa. Aqueles que antes eram formadores de opinião deixaram de consumir os produtos que não refletiam da mesma forma o estilo de vida ligado ao esporte e foram em busca de formas próprias de expressão. Talvez a indústria do surf não esteja no leito de morte, o mais correto seria dizer que ela está em um momento de introspecção. Talvez o surf esteja amadurecendo, entendendo que o estilo que levou até hoje não comporte mais o negócio em que se transformou. Para isso ele precisa criar novas tendências, reinventar seu estilo de vida, e compreender que o que pode fazer diferença entre a vida e a morte está exatamente na sua origem, na capacidade de revolucionar a si próprio.

ONDE ESTÁ A TAL ESSÊNCIA? Às vezes o surf parece ter perdido a conexão com o seu objetivo primordial: o de uma vida simples e em contato com a natureza, mas ainda parecem existir linhas de fuga. Continua...

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Foto: Diogo Guerreiro

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Avelino analisa e lança conjecturas do mercado

Avelino concorda com Perrenoud quanto ao perfil do consumidor de surfwear. Ele diz que cerca de 90% do consumidor de moda surf não é o surfista que acorda cedo diariamente para ir à praia pegar onda, é o surfista ocasional ou aquele que simpatiza com o estilo de vida. Adroaldo Wisbeck e Maurício Marques são casos típicos que se enquadram nesses 90%. O jornalista Adroaldo, 52 anos, gasta por mês cerca de R$ 800,00 em roupas de surf. Ele começou a pegar onda aos 38 anos quando, já estabelecido profissionalmente, passou a ter poder aquisitivo para comprar um estilo de vida ligado ao surf. “Eu comecei a pegar onda por causa de uma menina por quem me apaixonei. Ela era 20 anos mais nova e ligada a esse mundo”, conta ele. Por causa desse amor foi que também começou a comprar em surf shop, “me faz parecer mais novo”, confessa. Ele entra no mar uma vez por semana e assume francamente que às vezes nem pega onda, “só estar no mar, já me faz bem”. Maurício Marques tem 46 e é micro empresário. Ele pega onda nas temporadas ou nas viagens que faz com amigos para lugares com ondas e clima quente. Apesar de não pegar onda com freqüência, toda temporada ele troca de prancha e, quando viaja, compra uma no lugar em que estiver e depois vende por lá mesmo: “Vale mais a pena”, diz. A cada seis meses, em média, ele compra roupas em surf shops e deixa para o mercado cerca de R$ 1.500. São essas pessoas que alimentam a indústria do surf. Uma indústria que já não é tão surf assim, uma indústria que vive de um conceito que, na opinião do shaper Avelino, está de certa forma ultrapassado. “O surf mantém o mesmo formato dos anos 80, ele não se reinventou. Ele ainda está ligado aquele lifestyle hippie, mas as coisas mudaram e o surf precisa mudar também”, diz. Ele vê o surf em um momento de retração: ele cresceu, foi até os centros urbanos, alcançou a periferia, se popularizou, foi englobado por outras culturas e, por isso, perdeu seu público alvo que era o surfista praticante. Avelino pensa que a indús-

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Foto: Henrique Pinguin

Foto: Ricardo Estevez

INDÚ STRIA DO

Ícaro Rochi à vontade no tubo verde de Mentawai

Os tripulantes do Sibon Explorer celebrando nas ilhas de Mentawai

O surf é essencialmente um “bom negócio”. Neste ano, Florianópolis, após um período de hibernação, voltou a sediar um campeonato mundial. Um evento do porte do HD World Junior Championship aquece a cultura da Capital e põe a cidade à vista dos olhos do mundo. Ao contrário de antigamente, os eventos de surf de hoje contam com estrutura e tecnologia de ponta. A Association of Surfing Professionals (ASP) exige que tudo seja feito dentro de um padrão determinado por ela. O coordenador geral do evento, Xande Fontes, diz que não tem como fazer um campeonato desse porte sem a ajuda do governo do Estado, além do mais, a ASP, que antes era uma associação, viu-se obrigada a se transformar em empresa limitada para sobreviver. Tudo gira em torno do lucro. O campeonato foi todo transmitido em tempo real, e apenas a estrutura para transmissão via web equivalia ao valor da premiação, R$ 130 mil, confessou Xande Fontes. “O surf transformou-se em um evento que nem o da Fórmula 1”, exagera o coordenador. Enquanto isso, nos bastidores, o que se encontra são atletas que reclamam da falta de apoio, de patrocínio e de oportunidades, principalmente com o fim dos campeona-

tos profissionais brasileiros. É essa a situação que se encontra o surf brasileiro, tentando se reerguer. Voltando a fazer os grandes campeonatos, tenta atrair novamente o interesse das empresas para os atletas e também os estimula a quererem dar o melhor de si. Mas nem todos querem correr atrás da máquina por esse caminho, afinal, há outras formas de se ganhar dinheiro com o surf.

Indonésia, surfando ondas perfeitas. É um momento para se desligar do mundo real, sem televisão, internet ou telefone, vivendo essa tal vida de surfista. Pelo valor aproximado de R$ 6 mil por pessoa inclui-se passagem aérea, hospedagem por 11 dias e a alimentação. Jac gerencia as vendas das trips e, nessa história, aproveita para curtir a viagem. No decorrer de um ano, junto com o marido, já vivenciou essa experiência quatro vezes.

“Quando chego a Mentawai meu desejo é não sair da água, principalmente se ancoramos nas minhas ondas preferidas. Lá é o paraíso, mar de água quente, azul cristalina, onda perfeita, canal, coqueiros, sol e calor.” Quando Jac está lá ela acorda pensando em surf e vai dormir sonhando com o tubo que pegou naquele dia. Faz três, quatro até cinco sessões de surfe diariamente e conhece o limite do cansaço. Além disso ainda tem o “plus” de ver todos os dias o sol nascer e se pôr na linha do horizonte e poder admirar todas as noites a lua. “E se for dias de lua cheia então, você nunca vai ter visto uma noite tão linda na sua vida, é o tipo de viagem que faz você se sentir vivo, saudável, agradecido com o Universo.”

NA NATUREZA SELVAGEM Vamos entrar agora em um mundo completamente diferente do que vivemos. Nos desligar literalmente de qualquer contato e viver intensamente a natureza e o esporte. Vamos conhecer nosso corpo e nossos limites. Essa tem sido a experiência da manezinha da ilha Jacqueline Boeing. Isso porque o seu esposo Thiago Carriço, junto com um amigo brasileiro e uma indonesiana, são donos do barco Sibon Explorer que alugam para surfistas que querem se isolar do mundo entre as ilhas de Mentawai. Durante 11 dias, os aventureiros moram no barco que fica atracado entre as ilhas a cerca de 100 km da costa oeste de Sumatra, maior ilha da

Jac aproveita mais um dia de onda perfeita em Mentawai

LIVRES PARA SURFAR Em julho de 2013, o free surfer Ícaro Ronchi, natural de Florianópolis, foi com dez amigos viver também essa aventura no Sibon Explorer. Durante todos os 11 dias eles pegaram ondas perfeitas de três a seis pés. Quando não estavam surfando, estavam comendo, mergulhando, rindo ou olhando o pôr do sol. Os amigos foram por conta própria, ele foi “trabalhar”. Ícaro tem 22 anos, já foi surfista profissional, mas logo viu que a pressão dos campeonatos não era a sua praia. Filho do ex-editor da extinta revista Inside, começou a surfar com três anos de idade, e aos nove já estava competindo. Com 18 anos resolveu fazer uma proposta para o seu patrocinador e, desde 2008, leva a vida como free surfer e empresta a sua imagem para a marca. Nessa história já foi para Galápagos, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Colômbia, Havaí, quatro vezes para a Indonésia, Uruguai e Argentina. Para a empresa que o patrocina traz fotos e vídeos nas “ondas perfeitas”, sua especialidade. “Hoje o free surfing é dividido, tem vários caminhos, não é mais de alma”, fala Ícaro com a lucidez de quem entende que nada mais é do que um negócio. Ícaro diz que cada surfista tem sua especialidade: tem aquele que é conhecido por só entubar, o que pega ondas grandes, o que dá aéreos e assim por diante, e é esse papel que devem desempenhar na frente das câmeras.

Ele não tem intenção de ser free surfer para sempre, ganhar dinheiro com isso, mas também acha que no momento não tem porque parar. Quando ele viaja para os lugares e não tem onda sempre tem algo para fazer: praticar outro esporte ligado a água, visitar algum projeto social, sempre com a intenção de agregar valor à marca. Assim também era Gustavo Schilickmann que foi por 12 anos patrocinado pela marca americana Volcom mas, desde julho deste ano, o ficou sem apoio. Hoje, aos 25 anos, o free surfer acha que ter começado a competir aos nove anos prejudicou o seu desempenho. “Eu deveria ter começado a competir mais tarde, ter desenvolvido mais o meu surf primeiro, antes de entrar nessa de pressão de competição”, diz o atleta. Apesar de não poder mais viajar tanto como gostaria, por falta de patrocínio, Gustavo faz do quintal de casa sua oficina de surf. É no Riozinho, conhecido pico de surf na praia do Campeche, em Florianópolis, que Gustavo treina os aéreos, sua especialidade. Gustavo diz que está focado em surfar só pelo amor ao surf. “O profissional tem que estar focado na competição, tem que agradar o juiz. Por enquanto só estou querendo agradar a mim mesmo”, diz. Enquanto não arruma patrocínio, Gustavo tem se dedicado a fazer algumas filmagens com os amigos, que têm servido como marketing pessoal. Essa brincadeira já rendeu quatro filmes. Por todo e qualquer caminho só há um objetivo: tentar viver do surf.

Foto: Ricardo Estevez

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LUGA R INC OMUM

Fotos: Ju Martins

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Em Terra de Elefantes Quatro brasileiras sozinhas surfando no Sri Lanka, sem tempo de pensar nos riscos.

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A surfista profissional Marina Werneck, carioca radicada em Florianópolis, largou as competições, mas não desistiu de viver do surf. Foi por isso que quando a também surfista profissional e jornalista Cláudia Gonçalves a convidou para ir surfar no Sri Lanka e gravar um programa para o Canal Off, ela não pensou duas vezes, arrumou as malas e partiu. Dificilmente as pessoas pensam no Sri Lanka como um destino para o surf e com Marina não era diferente. Porém, depois da experiência ela não hesita em voltar ao país asiático que está em reconstrução desde 2009 quando cessou a guerra civil que perdurou por mais de 25 anos. Além de Marina e Claudinha, embarcaram nessa trip a filmaker Ju Martins e a produtora Carla Lima Rocha, responsáveis por registrar as imagens. Quatro mulheres sozinhas pegando onda em um país onde as mulheres nativas andam, em sua maioria, cobertas dos pés à cabeça. A solução era estar o tempo inteiro de vestido longo. Marina conta que pessoas apontavam para elas nas ruas, eram motivo de chacota de mulheres se estivessem vestindo shorts e corriam alguns riscos: no Sri Lanka as mulheres são objeto de compra e venda dos homens. “Mas a galera do surf é diferente, tem a cabeça mais aberta”, conforta-se a surfista, referindo-se aos nativos que pegam onda. De Colombo, capital do país, as meninas rumaram para Arugam Bay, no distrito de Ampara, do lado sudeste da ilha. É para lá que a maioria das pessoas seguem, pois a ondulação é mais constante, ao contrário do sul da ilha onde existem períodos certos para a ondulação e o fundo de coral forma uma onda mais tubular. Foram três dias cruzando o país por uma estrada que cismava em sumir para só reaparecer quando vinha um veículo na contramão. Pausa para conhecer Kandy, cidade sagrada que guarda o dente de Buda, e um orfanato de elefantes. Logo que chegaram em Arugam Bay foram recebidas por dois metros de ondas que vinha lá de trás quebrando perfeito em dois pontos distintos. Infelizmente essa condição não se manteve nos dias posteriores. Arugam Bay é um point break (fun-

do de pedras) de direita e tem uma onda que vem lá do fundo e quebra duas vezes. Na parte mais próxima do inside tinha várias pessoas surfando e, lá no fundo, onde as ondas começavam, ninguém. Se tiver problema alguém grita pensaram. E se jogaram. Não tardou para terem companhia de alguns locais que devem ter se sentido na obrigação de encarar as ondas na nascente junto com a mulherada. “As ondas são bem perfeitas e relativamente fáceis de surfar, algumas mais tubulares em fundo de pedra e outras um pouco mais cheias”, descreve Marina. Ela aconselha a levar uma pranchinha um pouco maior para os dias de swell mais potente, mas para o dia a dia cabem as pranchas menores. No quiver ela levou três pranchas: uma 5’9 round pin, e outras

duas 5’7 e 5’3 squash. Durante os 10 dias que ficaram por Arugam desbravaram algumas praias ao redor da região: Pottuvil, Lighthouse, outro point break de direita, e Okanda , essa última com vista para uma reserva de animais selvagens. No último dia, depois da última caída no mar um tornado invadiu a ilha e por uma hora colocou tudo nos ares. Quase que as meninas ficam sem as pranchas. No restaurante, onde relaxavam depois do surf, o refúgio foi a cozinha. Mas como sempre depois da tempestade vem a bonança, um céu laranja formou-se transformando a paisagem em uma belíssima silhueta negra. Na volta, como não poderia deixar de ser, mais uma passada por Kandy. Dessa vez, apenas para agradecer.

rante mais deste da Ásia. Du ² localizada no su Km Até 2009, l . mi ias 25 etn de is a a ilh as duas principa tre O Sri Lanka é um en il civ lde pelo be ra re er esteve em gu era considerada de 25 anos o país e o sal, a minoria tâmil os am eit er dir nc r ve s ica tai nd en e reivi forças governam as por ser minoria üência al eq fin ns No co . es mo , os cingales erra durou. Co grupo dominante sarmadas s 26 anos que a gu de no o s sã rto e mo qu l mi as 0 mb 10 de bo que o do foi de mais de is de um milhão usa das bombas dos pelo país ma i também por ca Fo oo il. existem espalha tod r tâm po ia s etn do eles, espalha mulheres da elefantes, já que por um grupo de de ato fan ) or br o m. iar .co por cr estadao governo acabou as. (Fonte: www. o as maiores vítim ONDINA | REVISTA CULTURA SURF 33 país, acabam send


PERF IL

Meninas do Brasil

DANÇANDO SOBRE AS ONDAS A mãe queria que ela fosse bai-

larina, o pai apenas que praticasse algum esporte para fugir do vício generalizado que os jovens têm pelo computador. Ela resolveu fazer do surf a sua profissão e hoje, o pai, que nunca surfou, sabe tudo sobre o esporte. Aos seis anos a filha do carioca Gilson e da capixaba Verônica Ribeiro, vendo o irmão na escolinha de surf, resolveu que queria surfar. A primeira vez que subiu na prancha ficou em pé, e o pai se convenceu que seria legal ela freqüentar algumas aulas. Depois de quatro meses veio o primeiro campeonato, só com alunos da escola da Associação de Surf Arraial do Cabo, em Cabo Frio, onde moram, e Karol Ribeiro, competindo só com meninos, ganhou o primeiro lugar. Foi aí que o pai, um judoca, aposentado da Marinha, viu que ela tinha talento e contratou um treinador, o surfista Raul Arrabae, que há sete anos ajuda Karol a se desenvolver dentro do surf. O pai trabalha como piloto de helicóptero o que lhe dá flexibilidade de horário para acompanhar a filha. Neste ano Karol passou dois meses na Austrália e um mês na Nicarágua competindo no mundial de surf amador, onde ela ficou entre as 20 melhores com 19ª colocação. Ano passado Karol venceu o Rip Curl Gromm Search (título que foi da Carol Fernandes em 2011) o que lhe rendeu a oportunidade de no início deste ano representar o Brasil na final do mundial na Austrália. Em 2012 Karol foi convidada pela Confederação Brasileira de Surf para representar o Brasil no mundial amador do Panamá. No meio de tanta viagem as aulas ficam em segundo plano, mas Karol tem apoio da escola que lhe dá flexibilidade de horário para compensar aulas e provas. Continua...

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Foto: Daniel Smorigo – ASP

Às 6 horas da manhã de domingo, 27 de outubro, as “carolinas” Carol Fernandes e Karol Ribeiro já estavam prontas para a primeira caída no mar da Joaquina. O vento sul que soprava descartava a possibilidade de naquele dia iniciar o tão esperado HD Junior World Championship. Seria preciso esperar. As cariocas Carol Fernandes, 18 anos e Karol Ribeiro, 14 anos fazem parte da nova geração do surf feminino. Elas pensam que hoje em dia as mulheres detonam mais nas ondas, têm um surf mais inovador, fazem manobras mais radicais, arriscam-se mais. As “carols” se conheceram no surf. As duas começaram a surfar com seis anos de idade, em escolinha, e têm apoio incondicional dos pais para que realizem o sonho de se transformarem em atletas de mais destaque. Enquanto Ribeiro surfa todas as tardes, Fernandes surfa todas as manhãs, pelo menos uma, duas horas por dia. Elas estiveram juntas na seletiva do Peru. Karol Ribeiro ficou em nono lugar, Carol Fernandes em quinto. Nenhuma brasileira classificou-se para o campeonato em Florianópolis. O surf as juntou mais uma vez, agora em Florianópolis, onde elas estavam sempre juntas. Carol Fernandes foi, junto com a catarinense Marina Rezende, convidada para participar da competição na Ilha de Santa Catarina. Karol Ribeiro veio com o pai para observar o nível das outras meninas, já que a esperança de que abrisse uma vaga para que pudesse participar se esvaiu no ar. Era a primeira vez que elas colocavam os pés em Florianópolis.

ssoal Foto: Arquivo Pe

Lutas e sonhos de duas surfistas de terras Tupiniquins

Karol Ribeiro nas ondas de

Cabo Frio/RJ

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Foto: Fabrício Caldas Foto: Rodrigo Amorim

“Meu pai me ensinou que se for para perder tem que perder mostrando surf, e isso acho que eu consegui”, diz, satisfeita, a carioca Carol Fernandes, radicada em Saquarema, sobre a sua desclassificação nas oitavas e finais no HD Junior World Championship. Carol é competitiva, e detesta perder. Para o pai e treinador Álvaro Taratari Mendes isso é positivo, “pois a estimula a sempre querer melhorar”. Aos 6 anos Carol aprendeu a surfar com o pai. Até hoje ele está ao seu lado, sempre dando um toque, um apoio moral, uma estrutura psicológica. Ele acredita que se estivesse em Florianópolis teria conseguido deixar Carol mais tranqüila para entrar na água. Mas avalia que ela fez um bom trabalho, entrando nas oitavas e finais “mais consciente”, apesar de ter sido desclassificada. A surfista fez uma pontuação muito próxima da adversária, a australiana Stephanie Single. Carol enviou seu currículo para a organização do evento e surpreendeu-se ao descobrir que, mesmo antes disso, era o seu nome que eles estavam cogitando chamar. Nos bastidores da praia da Joaquina ouvia-se dizer que ela “arrasa nas ondas”. Carol decidiu pelo surf muito

Mulheres de Atitude

Desafio, vitória, escolha e sucesso, cada uma com um foco, mas muito em comum.

Foto: Arquivo Pessoal

FORÇA, FÉ E ATITUDE

cedo. Foi vendo o irmão consagrar-se como o primeiro campeão mundial na categoria Pró Junior em 2000 e competir o WCT (World Championship Tour), a divisão da elite mundial do surf, que Carol decidiu que queria isso também. Pedro Henrique é 13 anos mais velho. “Carol sempre mostrou paixão pelo mar, dedicação e talento, mesmo ainda tendo muito o que evoluir, vejo que ela tem clara vantagem sobre muitas meninas”, avalia o irmão. Todos os dias pela manhã Carol surfa por uma ou duas horas nas praias de Saquarema. O pai já a colocou para estudar no período da tarde de propósito, pois “é de manhã que tem as melhores ondas”. Se não tem ondas ela corre, e assim como Karol, ela tem total apoio da escola. Apesar de todo treino e resultados que vem alcançando Carol tem o famoso “paitrocínio”. É por isso também que o pai nem sempre pode acompanhá-la, pois o custo aumenta. A falta de um patrocínio torna as coisas um pouco mais difíceis. Em suas viagens Carol percebeu

Mulheres Surfistas

Carol Fernandes com o trei nad o pai, Alvaro Tartari or,

Foto: Jovani Prochnov/imagem.art

Verônica, que morre de medo do mar, diz que no início, quando a filha resolveu começar a surfar, ela se sentiu decepcionada, pois sempre viu a filha como bailarina. “Mas apesar de tudo, sempre falei para Karol: é seu sonho? Então a gente vai junto com você.”

que as meninas dos outros países têm mais estrutura para surfar. A maior facilidade de patrocínio as possibilita viajar e competir mais e consequentemente adquirir mais experiência. Álvaro pensa que as meninas do Brasil estão muito na margem, sem parâmetro para evoluir, principalmente depois do fim dos campeonatos profissionais brasileiros. “Infelizmente no Brasil não há a preocupação para preparar o atleta para competir, as empresas não tem vontade de apoiar o surf, principalmente o feminino”, desabafa. Carol, que se profissionalizou aos 16 anos, tem pressa em fazer seu nome, pois sabe que o tempo passa e sabe que não vai dar para atingir a excelência por toda a vida, sabe que o tempo é curto para mostrar para as empresas que é boa e conseguir um patrocínio que a ajude a desenvolver todo o seu potencial. Ano que vem, Carol termina o segundo grau e estará mais livre para ver o que vai ser da sua carreira enquanto atleta. Pretende esperar um ano, ver se as condições do surf feminino no Brasil vão melhorar, se não, vai para Portugal morar um tempo com o irmão Pedro Henrique. Ela diz que lá o surf feminino é mais valorizado e que todas as meninas têm patrocínio. Para o próximo ano continuará competindo no Pro Junior e ver o que vai dar. Caso contrário quem está se preparando é o pai, para suportar a ausência da filha que já pensa em surfar outros mares.

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Daniela Pacheco

As Carols e o pai Gilson Ribeiro o campeonato na Joaquianalisando na

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Estilo de vida

Foto: Fabrício Caldas

Vanessa gravida de três meses, na Praia do Santinho

Praticar esportes durante a gestação traz muitos benefícios para saúde da gestante e também do bebê. Inclusive é muito comum ver futuras mamães praticando atividades físicas nesse período. Mas quando vemos uma mulher grávida surfando, fica uma interrogação, será que é aconselhável? Por se tratar de um esporte que requer manobras de impactos parece impossível de acontecer. Mas não é bem assim, e quem confirma essa verdade é a

futura mamãe surfista, Vanessa de Jesus Ghisi Caldas. Natural de Florianópolis, Vanessa surfa desde os 15 anos, quando foi morar com a família na praia do Santinho. No começo praticava o surf de pranchinha e o bodyboarding, hoje está se dedicando a mais uma modalidade, o stand up paddle. Essa modalidade, também conhecida como sup, facilita a prática durante a gravidez, pois o esporte é praticado em pé na prancha. Até o terceiro mês de gestação Vanessa surfou de bodyboarding, mas depois ficou apenas com as remadas do sup praticadas em uma piscina. Claro, que isso só foi possível mediante orientação médica. Bruna Wunderlich, residente em obstetrícia em ginecologia no Hospital Universitário da Federal de Santa Catarina, está acompanhando a gestação de Vanessa e passou as orientações necessárias. Segunda

a médica, a gestante deve praticar atividades que lhe dêem prazer, mas não recomenda que alguém que nunca surfou, aprenda justo na gestação, O ideal, diz a doutora é que toda mulher procure seu obstetra para que juntos, decidam as melhores opções de atividades físicas nesse período. A médica acrescenta ainda que a gestação da Vanessa é de baixo risco e que ela já surfava antes. Seguindo as orientações da médica, ela continuou se dedicando ao surf, mas com limitações, “apenas desfrutando do prazer que é deslizar nas ondas”. Atualmente Vanessa está com 36 anos e é Técnica em Nutrição Esportiva. Mesmo com a vida corrida do dia a dia consegue um tempinho na semana para se dedicar ao sup. “O surf é uma terapia, um momento meditativo, além é claro de garantir uma melhor forma para depois que o bebê chegar”, finaliza a surfista.

Uma profissional da área

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dia se quer sem olhar o mar”. Com muita humildade, Jacqueline falou das viagens que fez para competir e o quanto isso foi importante em sua vida. “Fiz muitas amizades durante esses 17 anos. Conheci lugares lindos, a cultura, os sabores das comidas e bebidas de cada país”. Mesmo as profissões que parecem cheias de boas aventuras, têm também seu dia ruim. Um acidente de carro em 2011, na Austrália, a caminho de mais uma competição, afastou por um ano, Jacqueline do surf. Foi um momento complicado para a carreira profissional. pois acabou ficando sem patrocínio. Atualmente, com 34 e mesmo sem um apoio financeiro, continua treinando, pois os planos são de voltar a competir. E quem quer tem que correr atrás. por isso Jacqueline resolveu criar uma

campanha, cujo objetivo, a partir de doações espontâneas, é arrecadar fundos para que ela possa voltar ao circuito mundial em 2014. Foto: Rodrigo Amorim

Tudo começou na Barra da Lagoa, revezando uma prancha de isopor com o irmão Leandro Silva. E foi graças ao incentivo dele e também ao talento e dom de surfar, que o Brasil e o mundo conheceram Jacqueline Silva, surfista profissional. A surfista que representa Santa Catarina foi campeã brasileira em 1996 e campeão do WCT feminino que aconteceu em Maui no Hawaii em 2002. Manezinha da ilha, moradora da Barra da Lagoa, Jacqueline começou a surfar com apenas nove anos. Aos 17, já se dedicava ao surf profissional. Representando Santa Catarina e o Brasil. Jacqueline surfou nos mares mais cobiçados do mundo. Entre eles, Austrália, Tahiti, Fiji, Indonésia, Hawaii, América central, America do Sul, Europa e África do Sul. “O surf é tudo para mim, respiro o esporte, não consigo passar um

Jacqueline treinando na Praia Mole

Tetra campeã Catarinense de 91 a 94 Vice-campeã Brasileira em 95 Campeã Brasileira em 96 Terceira no ISA em 96 Campeã do WQS em 2001 e 2007, Vice-campeã da elite WCT em 2002 Vitoria em Maui em 2002 e vice em 2006

Eloisa partindo para mais um dia de surf em Balneário Arroio do Silva

Foto: Arquivo Pessoal

Surf em família

A dificuldade em se conseguir apoio de um patrocínio é uma reclamação constante entre os profissionais da área do surf. Enquanto uns esperam ansiosamente por uma chance, outros não fazem questão. Isso porque, o foco é outro: o surf como estilo de vida. Assim aconteceu com Eloisa Costa Staats, catarinense de 23 anos que recusou as oportunidades de surfar como profissional quando elas apareceram. Ela era ain-

da muito jovem quando alguns patrocinadores tentaram investir nos seus “drops pesados”. Uma menina tranqüila, que curte a energia positiva que o surf proporciona em sua vida. Surfar profissionalmente com a pressão de ganhar um campeonato não era o objetivo, e sim quando sentisse vontade, independente de ter boas ondas ou não. Segundo Elo, surfar é curtir a natureza sem pressa para acabar. O primeiro contato dela com o mar aconteceu quando ainda era criança e foi morar com a família na praia de Balneário Arroio do Silva. Mar “aberto”, ondas grandes, local perfeito para iniciar um estilo de vida. E foi aos 11 anos, quando ganhou de presente dos pais uma prancha de surf que o astral dessa “mulher surfista” começou a surgir, pois estava em companhia constante do mar e do sol. Atualmente casada, estudante do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental e gerente administrativa na pousada Sol Nascente, Elo consegue encontrar um tempinho na sua agenda para surfar.

História de sucesso Aprender a surfar não foi um obstáculo na vida de Pâmela Maiara Castro Lorenz. Além do surf, o futsal, judô e a bicicleta estão entre os esportes que a menina, de 15 anos, mais curte praticar. E foi com apenas 8 anos de idade que Pâmela começou a surfar. Como era apenas uma criança e morava com a mãe e o tio, que são cegos, as dificuldades de locomoção até a praia fizeram com que abandonasse o esporte. Em 2011, com o projeto Aragua Social, que acontece na Praia Mole surgia uma nova oportunidade de Pâmela voltar a surfar. Atualmente ela se dedica a pratica uma vez na semana. Segundo a mãe da surfis-

ta, Lúcia Aparecida Castro, a menina sempre teve facilidade em praticar esportes e isso facilitou a sua aprendizagem no surf. Pâmela é de uma família humilde do bairro Monte Verde, em Florianópolis. A rotina dela logo cedo é ir para escola municipal, Donícia Maria da Costa e as sextas-feiras, sozinha, ela pega um ônibus e desce no terminal da Lagoa da Conceição e, junto com o pessoal do projeto Aragua, dirigem-se para a praia Mole, onde as aulas acontecem. É a rotina de uma menina comum, se não fosse por um detalhe. Nas tardes que não está surfando Pâmela freqüenta a Associação Catarinense para Integração do Cego

No verão o surf acontece todos os dias, pois está de férias dos estudos e se dedicando somente ao trabalho na pousada, que está localizada na beira do mar. Já no inverno com a correria do dia a dia, consegue surfar duas vezes na semana, o que já ajuda a dar aquela relaxada e diminuir o estresse acumulado. Mas Elo só agradece por esse presente, que é poder estar na presença do mar. “Poder aproveitar a natureza sem prejudicá-la é uma dádiva nos dias de hoje”. Nunca deixando de lado a vaidade, o que geralmente já nasce com toda mulher, na hora de cair na água não é diferente. Com lycras de surf e pranchas coloridas, Elo encara grandes e pequenas ondas com estilo. Uma rasgadinha aqui, umas batidinhas ali e uns belos tubos, são as manobras que Elo mais costuma arriscar dentro do mar. E isso tudo começa bem cedinho com direito a bis no Final de tarde, onde a surfista garante ser o melhor horário para estar na água, “tudo é muito lindo e perfeito em um fim de tarde”.

Foto: Jovani Prochnov/imagem.art

Pâmela com a equipe do Projeto Aragua na Praia Mole

(Acic). Aos 4 anos, em decorrência de um problema genético a surfista perdeu totalmente a visão. Pâmela é um exemplo de força, atitude e superação.

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OUTR A CU LTUR A

Em frente a Ilha do Campeche, Rinaldo “navega”

Uma mistura de surf com canoagem que se transforma no esporte mais democrático do momento, não deixando ninguém de fora. É fácil olhar alguém praticando stand up paddle (sup) e sentir vontade de subir em uma prancha e sair remando. É uma cena arquetípica que remete diretamente a algum lugar do nosso passado mais primitivo. O stand up paddle é o esporte que mais tem crescido nos últimos tempos. É um fenômeno mundial. Mas porque o sup tem crescido desse jeito? “Porque qualquer um que chega pode subir e sair remando. Ele é fácil, não causa lesões como o surf e tem o plus de fazer o cara se sentir surfista”, explica Machucho com um leve sorriso nos lábios. As pessoas podem não saber quem é o Jair Fernandes, mas é só perguntar pelo Machucho que está tudo resolvido. Também conhecido como Professor Pardal, Jair “Machucho” Fernandes, 61 anos, é um dos mais antigos e inventivos shapers de Floripa. As pranchas que 40

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fabrica têm um processo todo próprio e ele, se não foi o primeiro, foi um dos que começaram a produzir as pranchas de stand up em Florianópolis. Em 2007 parece que houve quase que uma “convergência cósmica” a favor do stand up. Algumas pessoas na Ilha já estavam se mobilizando pelo sup, sem que uma soubesse da outra. Machucho, em mais uma de suas experimentações, já havia fabricado um pranchão para a prática do esporte a pedido de um amigo do Rio de Janeiro. Ela era feito de madeira oca, bem no estilo dos antigos havaianos. O Magno Matozo, hoje diretor técnico da Confederação Brasileira de Stand Up Paddle, fabricava remos para a prática da canoagem havaiana e alguém chegou até ele pedindo um remo um pouco maior do que os que ele estava acostumado a fazer. As palavras são dele: “fabriquei a encomenda na

condição de experimentar a prancha para poder especular a fabricação de uma semelhante. Foi paixão na primeira remada”. Matozo conheceu o stand up em 2006 e, segundo ele, a primeira pessoa a ter um equipamento original em Florianópolis foi o Marc Conrad, velejador de kite que sempre viajava para fora do país. Assim que experimentou a prancha, Matozo correu atrás de fábricas de surf para ver as possibilidades de fabricação e nenhuma sabia do que se tratava ou estava disposta a fabricar alguma coisa fora do padrão das pranchas tradicionais. Com pesquisas na internet e confiando na própria habilidade foi lá e fez, para uso próprio, duas pranchas e remos. “Não sou fabricante ao pé da letra, mas sim um atleta que constrói seu próprio equipamento em busca de desempenho”, afirma. Logo em seguida descobriu que

o Machucho estava fabricando uma para o “multipranchas” Luís Roberto Formiga, na época apresentador da ESPN, que também reside em Florianópolis. “Estavamos construindo ao mesmo tempo sem ter contato, o que na verdade acontecia pelo Brasil com mais uma meia dúzia de shapers e atletas de outros esportes que também gostaram da experiência”, relembra Matozo. Atualmente, é natural que uma fábrica de pranchas de surf construa pranchas para a prática do stand up. Muitas, inclusive, salvaram seu orçamento com a entrada de mais esse produto. Matozo esteve diretamente envolvido com a evolução do SUP, organizou as primeiras provas e festivais em Florianópolis e é um dos primeiros a praticar as modalidades mais radicais do esporte: o wave nas praias, o race para competições e travessias em alto mar. Ele relembra que a explosão do esporte no Brasil deu-se entre 2009 e 2010, mas em Florianópolis começou mesmo em 2011, principalmente após a criação da Floripa Surf Club que aluga equipamentos e dá aula de stand up paddle na Lagoa da Conceição. Com essa vitrine o SUP foi sendo disseminado pela Ilha. Foto: Fernando de Souza Junior

Foto: Cléia Braganholo

Foto: Arquivo Pessoal

Rinaldo “dropando” nas ondas da praia do Campeche

Sônia Leite “remando” no Campeche

INCLUSÃO “O stand up cresce porque é um esporte inclusivo”, afirma Fernando de Souza Júnior, sócio do mestre Machucho na fábrica de pranchas. “Além do mais você pode praticar em qualquer lugar que tenha água, 30 cm já dá para sair remando”, completa. Fernando conta que ele e Machucho colocaram um colega que ficou tetraplégico, antes surfista, sentado em uma cadeira na borda da prancha e conseguiram proporcionar ao amigo a sensação de surfar. “É isso que o stand up faz, ele te permite a sensação de ser surfista, e você é”, resume Fernando. O funcionário público Rinaldo Feldmann afirma que sua prancha de stand up foi a primeira construída pelo Machucho em Florianópolis. A dele e a do Formiga. Ele entrou em contato com o sup quando, em 2007, pesquisando na internet, descobriu um esporte que poderia trazer-lhe de volta uma sensação muito próxima daquela que tinha quando surfava, sem sentir as fortes dores na lombar, decorrente de um acidente. Feldmann foi lá, comprou a prancha, caiu, levantou, familiarizou-se com o remo e adaptou-se à nova forma de descer as ondas. “Essa foi a minha maior dificuldade, pois o “tempo da onda” é totalmente diferente do surf tradicional, no qual o surfista analisa a ondulação no nível do mar, no stand up a análise é feita na altura do surfista, mas com o tempo pega-se o jeito”, revela. Pegar o jeito não foi nenhum problema para a dona de casa de

72 anos, Sônia Leite dos Santos. Em passeio pela Lagoa foi convencida por amigos a experimentar. “O filho de um amigo tinha as pranchas. O negócio parecia ser fácil, fui e gostei. Foi facílimo”, conta. Mas ela caiu uma vez. Segundo dona Sônia foi um ritual de iniciação, disseram para ela que a primeira vez deveria cair, colocaram o pé e ela caiu. Animadíssima, ela diz que a sensação foi muito gostosa, a de remar, não a de cair: “eu tive uma sensação de liberdade, principalmente porque nunca tinha pensado em fazer isso. Fui lá, fiz e adorei, valeu muito a pena”. Após essa experiência a Sônia já remou mais uma vez, agora no Campeche, e já deixou avisado que sempre que tiver a oportunidade voltará a remar.

Machucho na fábrica de pranchas

Foto: Daniela Pacheco ONDINA | REVISTA CULTURA SURF

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Foto: Daniela Pacheco

MEMÓ RIA Treze anos depois do fim, a história da revista que ajudou a dar contorno à cultura de Florianópolis é recontada

POR DENTRO DA INSIDE 42

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Na primeira metade dos anos 80, Florianópolis era extremamente provinciana. O surf, que já se fazia presente pela capital desde a década passada, tornava-se cada vez mais popular, reunindo uma considerável quantidade de pessoas que se identificavam e queriam participar da cena surf. O lazer era ir para a praia, e foi natural que o surf se solidificasse como um estilo de vida, moldando a cultura da capital catarinense. O surf era tendência, contracultura. As cabeças pensantes de Florianópolis estavam todas envolvidas com o surf. Eram médicos, artistas, políticos, advogados. “O surf era mais cultural, hoje é mais esporte. Surf estava misturado com moda, política, coluna social. Muita gente que fazia política em Florianópolis era do surf”, conta David Husadel, ex-surfista profissional e, por dois períodos, editor da revista Inside. A revista Inside foi um importante marco na cultura surf da Ilha. A partir dela o surf catarinense mostrou-se para o Brasil. “Mas o contexto da época era outro”, diz o fotojornalista Átila Sbruzzi que, junto com o falecido jornalista Ledo Ronchi, foram os primeiros editores da revista. “Havia cerca de uns 200 surfistas na Ilha, sei lá, todos atuantes, unidos. Tinha um frenesi “surfístico” na época. O surf era uma tribo, hoje em dia são várias tribos”, relembra Átila. A Inside, antes de ser a Revista Inside, era apenas o informativo da Associação Catarinense de Surf, mas depois de três anos tinha se transformado em uma revista de circulação nacional. “A gente tinha feito um informativo da Associação Catarinense de Surf. Não sei precisar que ano era isso. Chamamos o Átila (Sbruzzi), que trabalhava na RBS com design, para fazer uma logo e dar um nome para o informativo. Daí ele fez aquela onda com o nome Inside”, conta Saul

Foto: Arquivo Pessoal/Átila Sbruzzi

Oliveira, fotógrafo, primeiro presidente da Associação que, em 1987, transformou-se na Federação Catarinense de Surf (Fecasurf). Nessa época, como durante um bom tempo, o informativo tinha uma “periodicidade variável”. Em determinado momento, já revista, foi definida como bimestral, mas isso estava mais para a teoria. Demorou um tempo até ela alcançar o ritmo do mercado, o que já não se pode dizer da sua abrangência. Em três anos, 1984 a 1987, ela passou de um informativo com quatro páginas em preto e branco para uma revista de circulação nacional, chegando a ter 120 páginas e 45 mil exemplares.

O INÍCIO

número, apresentava-se como um informativo da Associação Catarinense de Surf, que pretendia estar “por dentro” das últimas novidades de surf”. Mostrava-se aberto à colaborações que visassem “o desenvolvimento e o fortalecimento do surf como esporte e estilo de vida” e colocava-se como um “veículo promocional para todos que quisessem divulgar suas marcas”. De distribuição gratuita, era destinado principalmente aos associados. O primeiro número saía em dezembro de 1983. A revista Inside deu contorno e visibilidade ao surf que se estruturava em Santa Catarina. E o surf deu conteúdo e visibilidade para a Inside. Enquanto Ledo cuidava dos textos, Átila era o responsável pela fotografia e diagramação. Como parte do processo de “tocar” a Inside, que acabou sendo o trabalho de conclusão de curso da dupla na faculdade de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, vendiam o rodapé das páginas para publicidade e assim conseguiam bancar a revista. Com um mercado de lojas de surf em franca expansão e com uma quantidade significativa de pessoas empolgadas com a novidade, não faltou gente para investir na revista que crescia. No rol de colaboradores estavam: André Freysleben, Fernando Mansur, Marcos Bicudo, Marcos Ignácio, Anselmo Doll, Beto Stodieck, Flávio Vidigal, Avelino Bastos, Arnaldo “Abacaxi” e por aí vai.

O DESENVOLVIMENTO Por volta de 1984, os então estudantes de jornalismo, Edison “Ledo” Ronchi e Átila Sbruzzi procuraram o Saul Oliveira com a proposta de cuidar da parte editorial e jornalística do informativo da Associação Catarinense de Surf, que já estava no seu terceiro número. “O negócio funcionou porque estávamos fazendo a coisa certa na hora certa. O contexto era diferente. Surf era rebeldia, era revolucionário, muito mais que comercial. Ele por si só se vendia, todo mundo queria participar do estilo de vida que o surf proporcionava”, diz o fotojornalista Átila Sbruzzi. O Editorial, que abria o primeiro

Ledo Ronchi e Átila Sbruzzi na praia da Joaquina

“Tínhamos amigos ligados ao surf por todo o litoral. Fazíamos 3 mil exemplares e depois íamos de São Francisco do Sul até Garopaba e Laguna surfando e distribuindo a revista. Deixávamos um pouco em cada lugar”, relembra Átila. Ele diz que o fato de existir a revista mostrou que aqui existia um mercado de surf, chamando a atenção do país para a capital catarinense. Em 85, a revista de número 11 trazia a capa colorida (as matérias ainda eram em preto e branco) e 44 páginas. “A Inside tinha cara, tinha personalidade. Tinha cabeças pensantes”, descreve Átila. A revista era bem diferente das que se encontra nas bancas de revista atualmente que, basicamente, cobrem campeonato e viagens. Ela tinha, antes de tudo, informação, uma forte preocupação ecológica e mostrava o surf como estilo de vida. No Editorial dessa edição, um alerta para a instalação da Indústria Carboquímica Catarinense que acabava de ser instalada em Imbituba, demonstrava preocupação com o meio ambiente. Em notas eram abordadas iniciativas do mercado de surf que surgia com a I Expo-Surf que expunha material ligado direta ou indiretamente ao esporte de onda. Uma matéria do editor Ledo Ronchi delineava como revistas do padrão da Isto É e Playboy estavam fazendo matérias sobre o surf, e uma outra reportagem trazia o bodyboarding invadindo as praias como um esporte feminino. Os amigos que começavam a viajar para viver o sonho californiano mandavam cartas. Entre eles, David Husadel que mais tarde também seContinua...

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MEMÓ RIA ria editor da revista. Eles contavam como era a vida lá fora e as ondas que pegavam. A música também não poderia faltar, já que desde sempre esteve intimamente ligada ao surf. Os campeonatos eram sempre ligados a shows de rock. Nas páginas da Inside tinham espaço os artistas locais ou alguém que despontava no circuito nacional. O surf estava estruturando-se no país e podia-se falar sobre Florianópolis com tranqüilidade sobre coisas que hoje soam tão óbvias, como o surf na Joaquina ou o camarão nas Rendeiras.

A EXPANSÃO Em 1986 aconteceu em Florianópolis o 1º Hang Loose Pró Contest, etapa do mundial que definitivamente colocou a capital catarinense no foco e marcou uma nova etapa do surf no Brasil. A Ilha ficou congestionada e o governador na época, Esperidião Amin, que era grande entusiasta do esporte, teve que descer na Joaquina de helicóptero para abrir o evento. Desse campeonato uma opinião é unânime: nunca se viu a Joaquina quebrar com ondas daquele nível. Apesar disso, no ano seguinte, o editorial da Inside de maio/junho, trazia uma preocupação com a recessão e a diminuição de investimentos nos campeonatos, já que as grandes marcas, mesmo não ligadas diretamente ao surf, tinham “pulado fora”

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e perdido a disposição de investir no surf. Mas o esporte não ficou na mão e nesse ano ocorreu o 2º Hang Loose tendo mais uma vez a Joaquina como palco. Agora era a vez dos amadores, dizia entrelinhas uma matéria da revista, onde era abordado o crescimento e importância dessa categoria. A Joaquina mais uma vez sediava uma etapa do circuito nacional, o OP Pro 87, com um público menor, com menos interesse da mídia, mas com transformações técnicas importantes para a história do esporte. Diz a revista que, pela primeira vez no Brasil os surfistas “terão o direito – e o dever – de duelar entre si”. Em um artigo o juiz Jordão Baillo também falava sobre a penalização para interferências de um surfista na onda de outro. Era o surf se transformando. Nessa época junta-se aos diretores Ledo e Átila, os irmãos paulistas Américo Fernando e Darcy Pedroza Di Pompo Júnior. O Marcos Bicudo (que faleceu em 1994 em decorrência de problemas cardíacos) era o editor. O Átila, que saiu da revista no final desse ano, era diretor de fotografia, e o Juarez Oliveira diretor de arte. No lugar do Átila entrou o fotógrafo carioca Flávio Vidigal. Em 1993, os nove anos da revistas foram comemorados de uma maneira inusitada. Contrataram um barco para fazer ondulação e colocaram na capa o surfista Fê Correa

surfando em baixo da ponte Hercílio Luz. Nessa “barca” também estavam Marcelo “Morceguinho”, Estragado e João Capilé. A revista sempre procurava dar nível para os catarinenses e prioritariamente eram eles que saíam nas capas: Teco, Neco, Ivan Junkes, Roni Ronaldo, David Husadel tinham seus lugares garantidos. O surf era assunto e tinha assunto, muitas matéria diziam nas entrelinhas o que era ser um surfista, como surfar, o que fazer, que prancha comprar, sempre ajudando no “caminho das pedras” para o universo do surf. Tudo era novidade.

O FIM “Por quase uma década (1987/1997) houve talvez a melhor fase da revista”, opina Gustavo Cabral, jornalista que assumiu a redação de 1994 a 1997. Apesar de muitas vezes não terem material suficiente de eventos importantes e nem recursos para buscar, viravam-se com o que tinham. Cabral viajava anualmente para cobrir competições nacionais e, pela Inside, fez quatro viagens internacionais: França, Havaí, Costa Rica e Peru/Equador. “O ambiente era informal, colaborativo, era excelente. Tínhamos ampla liberdade para escolher as pautas, e muitas matérias fazíamos por motivação própria”, relembra o editor. Nesse período também foi feita a informatização da revista: diagramar, fotocompositores e máquinas de escrever foram trocados por computadores. Apesar de ter altos e baixos, por essa época, a Inside era sustentável. O jornalista lembra que logo que ele entrou foi contratado um consultor administrativo que, ao invés de ajudar, acabou por inchar a empresa e a endividou muito. “Depois de um ano ela passou a ficar insustentável, com problemas administrativos e de gestão consideráveis”, relata Cabral. “Em minha opinião essa situação foi decisiva para o desfecho da editora”, conclui. Cabral recorda que em 1996 os funcionários ficaram três meses sem receber salário, mas a revista saía.

Com dificuldades financeiras e para cortar custos a empresa mudou-se para a casa do Fernando Di Pompo, um dos diretores da empresa. Para não quebrar foi fechado um contrato com a editora A3, a mesma da Revista Isto É. Chamaram o David Husadel para ser editor (já havia ocupado o cargo entre 1990 e 1991) e ele foi para o Rio, e agora, “a revista que tinha uma periodicidade variável de 30, 45 dias, era obrigada a sair do forno em 28 dias”, relembra o novo editor. A revista era produzida e comercializada em Florianópolis e impressa e distribuída pelo Rio de Janeiro. A redação foi toda reconfigurada e alguns dos funcionários anteriores, desgastados pelas antigas experiências, foram mantidos em novas funções, conta Cabral. Em 1998, acabou o romance com a A3 e a revista fechou uma parceria com a revista Now, do Rosaldo Cavalcante no Rio de Janeiro. O David Husadel continuou na revista, escrevendo e na área comercial. “Nessa época a Inside perdeu a identidade, o Rosaldo era editor, e aquela coisa de cultura surf foi se esvanecendo, a InsideNow era mais campeonato”, resume Husadel. Aos poucos a revista foi indo para Internet até terminar de vez. A Inside deu certo, sim. Mesmo que apenas por um tempo. Como tudo o que dá certo precisa de um contexto para funcionar, com a Inside não poderia ter sido diferente. A atmosfera surf que existia na década de 80 foi perfeita para a consolidação da revista. Fora do eixo Rio-São Paulo, “desfrutava de certa exclusividade”, diz Gustavo Cabral. No seu processo de consolidação não teve como escapar das pressões do mercado e muito daquele “faça você mesmo” transformou-se em “faça aquilo que o anunciante quer”. Normal. O fato de ter começado como um informativo de uma associação de surf e chegado a uma revista de circulação nacional transforma-se em detalhe relevante quando se percebe a responsabilidade que ela teve na formatação da cultura surf em Florianópolis e na vitrine que foi para o esporte e turismo na Ilha de Santa Catarina.

eco ach aP l e i an o: D Fot

O COLECIONADOR Todo mundo esperava pela nova Inside. Ao contrário de hoje em dia, que frente a quantidade de informações que se tem na Internet o “novo número” nem faz tanta diferença assim, naquela época aguardava-se ansiosamente pela próxima edição. O papel faz tanta diferença que se tornava e ainda se torna alvo de colecionadores. É o caso do Maurio Borges, surfreporter há mais de 20 anos e que coleciona diversas revistas de surf do Brasil e do mundo, e logicamente não poderia deixar de ter a Inside. Desde muito cedo Maurio foi incentivado pelo pai, o jornalista Maury Borges, um aficcionado por futebol e co-

lecionador da revista Placar, a comprar a revista que era do seu interesse. “Não precisava pedir, meu pai já me dava o dinheiro para comprar a Inside”, diverte-se Maurio. “As primeiras Insides eram dadas, a gente saia da aula e passava na Capitain Blue (conhecida loja de surf da época e ponto de encontro de surfistas da Ilha) para pegar cada um a sua. Depois, quando ficou colorida eles começaram a cobrar”, relata o colecionador. Maurio é hoje ponto de referência quando o assunto é revista de surf. No caminho da vida as primeiras se perderam, mas já as teve, e elas servem de base para diversos jornalistas e pesquisadores que estão atrás da história do surf.

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FIlmes&livros Wave of the Winter, o Filme

BETWEEN THE LINES

Andy Irons O campeonato anual do site americano Surfline.com premia com Us$ 25 mil aquele que pegar a melhor onda do inverno havaiano. Na temporada de 2012/2013 quem levou a bolada foi o surfista catarinense da Guarda do Embaú, Ricardo dos Santos, que desbancou surfistas como Kelly Slater e John John Florence. Dentre os jurados estavam Gerry Lopes e Sunny Garcia. fonte: http://www.layback.com.br/surf/wave-of-the-winter-2013-o-filme/)

(fonte: http://www.betweenthelinesfilm.com/)

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No livro Diogo Guerreiro fala sobre aventura, emoção e conquistas na viagem de windsurf que fez com o amigo Flávio Jardim em 2004. O trajeto percorrido por eles foi de Chuí ao Oiapoque. Dormindo por onde passavam, os amigos contavam apenas com as “mochilas nas costas”, sem a ajuda de carro ou de barco. Diogo Guerreiro relata no livro todas as dificuldades e alegrias do percurso e as novas amizades que surgiram ao longo do caminho. O livro aborda ainda questões humanas como medo, paixão, sofrimento, solidão e determinação. Com essa aventura, tornaram-se recordistas mundiais e foram certificados pelo Guinness Book como a mais longa jornada de windsurf do mundo.

Surfing and Health (Surf e Saúde)

Imagens: Divulgação

O mais recente trabalho de Taylor Steele, o ícone dos novos filmes de surf, acabou de ganhar o prêmio de melhor filme no Festival de Filmes de Surf de Londres. Nesse novo vídeo, dois surfistas, Dave Rastovich e Craig Anderson, percorreram o Pacífico durante oito dias atrás das ondas geradas por uma única tempestade, na tentativa de surfar a mesma onda duas vezes. Do Tahiti ao Alasca, passando pelo México e Califórnia, os dois surfistas encontram-se com Kelly Slater, Dan Malloy, Chris Del Moro e Alex Gray, naquilo que o diretor descreve como “uma cinematográfica e cósmica experiência de vida”. fonte: http://www.poorspecimen.com/

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fonte: http://www.onfiresurfmag.com/noticias/livro-sobre-andy-irons-sera-lancado-em-2014/

Stoked – Uma história da cultura surf

This Time Tomorrow

Between the lines: the true story of surfers and Vietnã War (2008) é um documentário, dirigido e produzido por Ty Ponder, que conta a história de dois surfistas, Pat Farley e Brant Page, que se deparam com o dilema de ir para a Guerra ou fugir do alistamento. Duas escolhas, dois caminhos diferentes. Narrado por John Milius, o filme explora a Guerra do Vietnã delineando o impacto que ela teve na cultura surf.

Este é para o ano que vem. O lançamento do livro do jornalista norte-americano Brad Melkian, ainda sem nome, promete destrinchar a vida do tri-campeão mundial Andy Irons, encontrado morto em um hotel em Dallas em 2010. As circunstâncias da morte foram envolvidas em neblina e, no livro, o jornalista especula a questão da indústria do surf por trás da tragédia.

Tempestades e Calmarias

Produzido por Drew Kampion, e Bruce Brow, diretor do clássico Endless Sumer, o livro tem seu forte na qualidade das imagens que apresenta. Da Polinésia até a Califórnia as fotografias mostram os carros, as roupas, as pranchas, a música, os ícones e as lembranças , junta-se a isso o texto que pormenoriza toda a cultura surf e como ela ainda reflete nos dias atuais.

O livro do Dr. Joel Steinman (Médico do Esporte) oferece um guia fundamental e completo de A-Z cobrindo todos os principais aspectos da saúde dos surfistas. Ele oferece também um aconselhamento médico especialista em lesões de surf agudas e crônicas, incluindo o tratamento, reabilitação e estratégias preventivas com base em exercícios de treinamento do núcleo pilates. O livro inclui tópicos sobre doenças dos viajantes, hipotermia, prevenção de câncer de pele, ataques de tubarões e outros acidentes com animais marinhos e surf feminino. Ele aborda ainda, informações detalhadas sobre o treinamento físico, aconselhamento nutricional, estratégias psicológicas para melhorar a concentração e o desempenho do surfista.

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