Ragga #47 - Mulheres

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REVISTA

Ah, as mulheres Mônica Waldvogel “A GENTE É MENOS MACHISTA DO QUE SE IMAGINA”

DE TUDO CINCO ENTREVISTADAS REVELAM O QUE QUEREM DA VIDA

E mais: Bonecas infláveis Six mountain bike Carnaval: baile de máscaras inusitado

#47

A modelo Carol Vitter recria a pose-ícone do feminismo

NÃO TEM PREÇO

março 2011 ano 6




Atitude Comportamento Estilo 24hs na sua TV por assinatura





BÚSSOLA

28

Elas por elas

Uma freira, uma atriz pornô, uma atleta, duas funcionárias públicas

38

De plástico

Bonecas que aliviam a tensão

42

Ladeeeira

Trio Ragga pedala seis horas direto

52

Revolução dos bichos

76

Ensaio fotográfico meio Carnaval. E bem verão

De saia

Mônica Waldvogel: certinha, mas nem tanto

já é de casa 12 ESTILO || FABIANA CAVALHAES 46 QUEM É RAGGA 48 DESTRINCHANDO

62 EU QUERO! || ELA QUER 68 ON THE ROAD || PIPA 70 AUMENTA O SOM 72 CULTURA POP INTERATIVA 73

RAGGA GIRL || JANAÍNA MALDONADO


EDITORIAL

Tenho uma teoria pessoal para justificar o porquê de Freud não ter conseguido responder a pergunta acima, acho que é simplesmente pelo fato de que ele generalizou. E foi generalizar logo a coisa mais plural que existe. Ele esqueceu que cada mulher é, ao mesmo tempo, várias, e que cada uma dessas várias quer uma coisa diferente. Ou seja, meu caro Freud, não se faz uma pergunta dessas. Mas uma coisa todas elas têm em comum: passaram por maus bocados ao longo da história. Imagine não poder votar, não poder trabalhar, não poder mostrar o rosto, não poder expor suas opiniões. Até pouco tempo atrás, essa era a realidade que, inclusive, levou John Lennon a musicar: “a mulher é o negro do mundo”. No entanto, assim como os negros, as mulheres vêm virando o jogo e, como não poderia deixar de ser, começaram a alterar completamente o rumo da história. Ao contrário de

STOCK.XCHNG

O que elas querem?

não poderem votar, são eleitas presidentes. Ao contrário de não poderem trabalhar, são parte essencial da economia doméstica e global. Ao contrário de não poderem expor as opiniões, são voz ativa nas principais decisões do novo mundo. Aliás, a mulher tem formado tanta opinião, que tem muito marmanjo por aí querendo ser uma delas e pagando caro por isso. São os perigos do excesso, por isso o equilíbrio é tão importante. Temos que ter o cuidado de não passarmos dos limites, chegarmos à igualdade de valores, mas respeitando e convivendo com as diferenças. De nada adianta a mulher assumir um papel de líder e se sentir frustrada por falta de feminilidade, ou o homem se sentir inferior por colocar alguns reais a menos do que a esposa dentro de casa. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, dedicamos a edição de março a elas. E, por isso, são exatamente as mulheres que dirão o que querem, a partir da página 28. A líder do programa mais feminino da TV, Mônica Waldvogel, marcou muito bem seu espaço no nosso Perfil (página 76). E, como fez em todas as etapas da sua vida, a londrina Ruth Flowers, de 70 anos mostra que ser mulher não lhe impede de fazer nada e a idade muito menos, confira os bits da Vovó DJ na página 74. Essas e muitas outras pautas interessantes na edição mais charmosa e perfumada que a Ragga já soltou. Parabéns e obrigado por existirem, mulheres! Boa leitura! Lucas Fonda — Diretor Geral lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br


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< CARTAS > Gui Cunha @_GuiCunha // via Twitter Vou deitar um pouco e ler a minha @revistaragga de fevereiro. A matéria sobre Dubai tá muito legal. Brenno Ferraz @Brennoferrazi // via Twitter A edição deste mês [fevereiro] está tão boa que não tem como colocar defeito.Vai de havaianas até o Alemão e ao futuro px de 2015. Igor Faria @igorfaria // via Twitter Olha só! @revistaragga em mãos, e congrats pra Iasmin Leão, a Ragga Girl desse mês. XXXpetáculo de garota! Gabriel Azevedo @gabrielazevedo // via Twitter Acabei de ler a @revistaragga #46 desse mês que chegou aqui em casa. Uma beleza a "Rio we go" misturando Foursquare e Twitter.

< EXPEDIENTE > DIRETOR GERAL lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR FINANCEIRO josé a. toledo [antoniotoledo.mg@diariosassociados.com.br] ASSISTENTE FINANCEIRO nathalia wenchenck GERENTE DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING rodrigo fonseca PROMOÇÃO E EVENTOS ludmilla dourado EDITORA sabrina abreu [sabrinaabreu.mg@diariosassociados.com.br] SUBEDITOR bruno mateus REPÓRTER bernardo biagioni e flávia denise de magalhães JORNALISTA RESPONSÁVEL luigi zampetti - 5255/mg NÚCLEO WEB lucas oliveira [lucasoliveira.mg@diariosassociados.com.br] DESIGNERS anne pattrice [annepattrice.mg@diariosassociados.com.br] bruno teodoro. isabela daguer. marina teixeira FOTOGRAFIA ana slika bruno senna

carlos hauck carol vargas romerson araújo ILUSTRADOR CONVIDADO bruno morais [iambrunomorais.com] ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO izabella figueiredo ARTICULISTA lucas machado COLUNISTAS alex capella. cristiana guerra. henrique portugal. kiko ferreira. lucas buzzati. rafinha bastos COLABORADORES gisele sanfelice. pedro vaz. roberto assem. vinicius lacerda PÍLULA POP [www.pilulapop.com.br] RAGGA GIRL MODELO janaina maldonado FOTOS gisele sanfelice CAPA carlos hauck MODELO carol vitter PRODUÇÃO julia astigarraga e mayara leão REVISÃO DE TEXTO vigilantes do texto IMPRESSÃO rona editora REVISTA DIGITAL [www.revistaragga.com.br] REDAÇÃO rua do ouro, 136/ 7º andar :: serra :: cep 30220-000 belo horizonte :: mg . [55 31 3225-4400]

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[CAPA] Elas Durante a Segunda Guerra Mundial, homens trocaram as fábricas dos Estados Unidos pelos campos de batalha noutros continentes. Em seus lugares, mulheres saíram de casa para assumir as linhas de produção. O cartaz do Comitê de Coordenação de Produção da Guerra, com a clássica ilustração de uma modelo mostrando o bíceps e os dizeres “We can do it” (“podemos fazer isso”), conclamava mais e mais mulheres a prestar serviço ao país, como mão-de-obra remunerada. Finda a guerra, a massa de trabalhadoras, apelidadas de “Rosie the Riveter”, nunca mais se contentaria em passar os dias inteiros dentro de casa.

Os textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não expressam necessariamente a opinião da Ragga, assim como o conteúdo e fotos publicitárias.

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ARTIGO

Clube dos Cafajestes

ANNE PATTRICE

por Lucas Machado

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"Vou te contar o que me faz andar\Se não é por mulher não saio nem do lugar\Eu já não tento nem disfarçar\Mulher de corpo inteiro\Não fosse por mulher eu nem era roqueiro\ Mulher que se atrasa, mulher que vai na frente\Mulher dona-de-casa, mulher pra presidente\Tanto faz se ela é machista ou se é feminista\Eu gosto é de mulher." Ultraje a Rigor

Você deve estar pensando: "como assim o artigo é sobre 'Os cafajestes' logo na edição temática sobre mulher?" Bom, acredito que tem tudo a ver, pois quem não teve um cafajeste na vida, na família ou entre amigos? Geralmente, os cafas acertam nas vestimentas, pois elas valorizam o físico ou escondem perfeitamente a falta dele. Eles são engraçados, pois sabem muito bem que as minas gostam mesmo no primeiro encontro de umas boas risadas. Falam sempre baixo sem gesticular. Aquele tipo italiano, saca? Nas baladas, eles nunca dançam espalhafatosamente, chegam rápido e saem mais rápido ainda. Geralmente, uma ou duas mulheres somem na sequência. Correm de fotos e estão, na maioria das vezes, sozinhos ou com poucos companheiros. O James Bond é um tipo bem interessante de cafajeste. Quem acompanha seus filmes sabe que ele é um tremendo cafa. Mas, na real, este texto é para contar um pouco sobre um grupo de cariocas que, de uma maneira glamourosa e divertida, fizeram parte do "Clube dos Cafajestes", na década de 1940. Eram todos bem-sucedidos, de família tradicionais e inseridas na sociedade. O Clube era uma verdadeira instituição da boemia carioca. Faziam parte deste time o comandante Eduardo Martins de Oliveira, um dos líderes do grupo, o playboy e milionário Mariozinho de Oliveira, o membro da família imperial brasileira Dom João de Orleans e Bragança, o industrial Francisco Matarazzo Pignatari, o produtor de cinema e dono do canal 100, Carlos Niemeyer, Alberto Sued, um dos fundadores, o jornalista e político Carlos Lacerda, o jogador do Botafogo Heleno de Freitas e o playboy do Copacabana Palace Jorginho Guinle, entre outros bon vivants. Posteriormente, Ibrahim Sued, que foi barrado em uma das festas, mas, como seu irmão fazia parte da trupe mandou liberá-lo, juntou-se ao grupo dos boêmios.

A partir dali, Ibrahim começou sua carreira prometendo que nunca mais seria barrado em nenhum evento. Surgia assim um dos maiores colunistas sociais da história do jornalismo brasileiro. Colunista do jornal O Globo por quatro décadas, ele criou frases e bordões que ficaram famosos: "de leve", "sorry, periferia", "ademã que eu vou em frente", "os cães ladram e a caravana passa", "olho vivo que cavalo não desce escada", entre outros. O "Clube dos Cafajestes" foi criado na Avenida Atlântica, esquina com República do Peru, em Copacabana, em um bar que se chamava Alvear. No início, se encontravam ali depois dos bailes de domingo que rolava nos clubes Botafogo e Fluminense. A maioria tinha de 20 a Eles chegam 35 anos. Irreverentes, mulherengos, agitadores culturais, alegres rápido e e imprevisíveis, tinham como casaem mais racterística principal amar loucamente as mulheres, mas nunca rápido ainda. ter compromissos sérios. Nas roGeralmente, das de bar debochavam, mesmo fazendo parte dela, do cinismo uma ou duas da high society, que desde aquemulheres la época se preocupava mais a aparência do que com a somem na com integridade moral. Os cafajestes sequência faziam as melhores festas da cidade, mas também eram verdadeiros penetras, entravam em todas as festas, mesmo que fosse pulando o muro. As mocinhas de família disputavam não só a festa, mas com qual deles terminariam a noite. O grupo foi pego de surpresa com a morte de Edu em um desastre de avião, em julho de 1950. No carnaval do ano seguinte, a marchinha Zum, zum, zum, tá faltando um, gravação de Dalva de Oliveira, homenageou o companheiro. Com a perda de um dos seus líderes, o "Clube dos Cafajestes" perdeu o fôlego, mas continua na lembrança e os que são vivos ainda se encontram para relembrar as histórias vividas juntos. E, para não dizer que não falei das flores, no who is who dos relacionamentos afetivos, podemos dizer que nos dias de hoje existem vários grupos como o deles, na versão feminina. A história e os cafajestes agradecem. No mais, eu gosto é de mulher. E não sou tão cafajeste assim.

manifestações: articulista.mg@diariosassociados.com.br | Twitter: @lucasmachado1 | Comunidade do Orkut: Destrinchando

J.C.


FOTO: Fテ。IO BITテグ

BIANO BIANCHIN

THE HANG


Luiza Ferraz

arquivo pessoal

arquivo pessoal

COLABORADORES Formado em jornalismo, com especialização em cinema, Pedro Vaz é guitarrista (quase) aposentado, fã incondicional da genuína e antropofágica cultura brasileira e de tudo o que pode ser interessante ouvir, assistir e experienciar. Nesta edição, é dele o texto sobre nossa Ragga Girl. pedrovazperez@gmail.com

Depois que transformou a paixão pela fotografia em profissão, Gisele Sanfelice se especializou no que mais a inspira: pessoas. É dela o ensaio da Ragga Girl e a foto de Cléo Cadillac, na matéria “O querem as mulheres”. gisanfelice@gmail.com

Apaixonado pela profissão de jornalista, Vinícius Lacerda trabalha como gestor de comunicação no Instituto Cidades Criativas. Seu grande interesse é escrever sobre iniciativas que resultem no bem-estar das pessoas. Participante da Ragga Night Run, ele escreveu nesta edição sobre a prova. sobreboasideias.com

< na night >

IMAGENS: Divulgação

Depois do sucesso da segunda Ragga Night Run — 2 mil inscrições esgotadas em duas semanas —, uma terceira edição da prova já está marcada: dia 6 de agosto, num local ainda a definir. Pode ir treinando.

< Novo patrocínio >

A etapa brasileira do Mundial de Wakeboard 2011 que será, pela terceira vez consecutiva, realizada pela Ragga tem novo patrocinador, a Quiksilver, uma das maiores marcas esportivas do mundo. É esperar maio para conferir. < ¡Viva, Mexico! > < Tridimensional >

Como em todas as festas mais importantes da cidade, a Flowers 3D, evento de música eletrônica, terá um Camarote Ragga. Com acesso às áreas 3D Stage + Mapping Stage, open bar (whisky, energético, vodka, cerveja, suco, água, refri) e open food (creps e konis). Deixe o dia 2 de abril reservado na agenda. flowers3d.com.br

Nos dias 19 e 20 de março, em Valle de Bravo, no México, vai ser realizada a etapa do Mundial de Wakeboard, também assinada pela Ragga. Como já acontece na etapa brasileira, em Nova Lima, o público mexicano vai poder ver os maiores atletas de wake em ação e suas manobras perfeitas, além de aproveitar a festa, após a competição. Trinta boarders internacionais estão confirmados.


ILUSTRADOR CONVIDADO

Bruno Morais [iambrunomorais.com] Designer de formação e ilustrador por paixão, vejo todo trabalho como um desafio que requer interação e aprofundamento. Sempre começo meu processo criativo com a pesquisa de imagens e memórias recorrentes. Um traço, de forma subjetiva, vai dando vida ao que antes era apenas pensamento. As ideias se concretizam, passando por boas surpresas, tropeços esperados e, assim, entrego ao mundo o que antes era meu. Difícil é reconhecer a hora de parar, na melhor das intenções. Hora de começar um novo desafio. Gostaria de ler/ouvir sua opinião: bruno.morais.assis@gmail.com

Quer rabiscar a Ragga? Mande seu portfólio para annepattrice.mg@diariosassociados.com.br


COLUNA

Chega de mimimi

REFLEXÕES REFLEXIVAS DO TWITTER

e lucianohuckicamente bundão

RENATO STOCKLER

O sol brilha, os pássaros cantam, as nuvens sorriem. Dia perfeito pra um latrocínio. Vâmo?

"Artista" que não tá preparado para ser odiado não tem que entrar em rede social. Se entrou, aguenta e para de mimimi. Dormi cedo 3 dias seguidos. Estou lucianohuckicamente bundão.

Pagar contas no débito automático é ser regularmente estuprado pelo homem-invisível.

Quebrado ao meio. Alguém aí me empresta uma coluna vertebral? Christofer Reeve? Stephen Hawkings? Alguém?

Quem usa perfume, naturalmente, fede. E ñ me venha com mimimi, sua porca.

Pessoas desprezíveis são muito mais interessantes em uma sala com ar-condicionado.

Mulher c/ mais de 30 anos de mariachiquinha merece entrada vip no hospicício.

Este novo salgadinho sabor "vagina de colegial" é incrível.

Todo(a) repórter que pergunta "Como é que tá o coração?" merece perder um testículo/ovário.

Aos que perguntam sobre minhas participações em campanhas publicitárias: sim, sou uma puta e gosto de $.

BRUNO MORAIS

"Olá, eu sou DJ", disse 47% da raça humana

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Eu queria ser um atirador de elite p/ acertar a boca do ator que fala sobre o seu personagem na novela. Não me acho grande coisa só porque construí o mundo em 7 dias.

Pobre Mubarak. Ninguém entende os ditadores corruptos e sanguinários.

< RAFINHA BASTOS >

é jornalista, ator de comédia stand-up e apresentador do programa CQC (Custe o Que Custar)

Feliz é o hermafrodita de pau torto.

fale com ele: rafinhabastos.mg@diariosassociados.com.br


hb.com.br


COLUNA

Da vida real

ELISA MENDES

PROVADOR

< CRIS GUERRA >

40 anos, é redatora publicitária, ex-consumidora compulsiva, ex-viúva, mãe (parafrancisco. blogspot.com) e modelo do seu próprio blogue de moda (hojevouassim. blogspot.com)

Pode parecer exagero. Pode soar falso. Aquelas cenas de novela em que o vilão convence sua vítima a fazer o que ele quer, de forma dissimulada, com um sorriso na fala, parecem mesmo só acontecer na mente fértil do autor. Mas, ao longo da vida, começamos a entender que essas personagens habitam, sim, o mundo eral. Há o risco de se formular a hipótese de que a vida, de fato, imita a arte. Afinal, o Brasil completa décadas de cultura do folhetim: já nascemos com a alma noveleira. Mas sei de vilões mais antigos que as novelas, embora só tenha assistido ao vivo aos que vieram depois delas. O fato é que eles existem também fora da ficção. Não sei se matam, pois não deixam rastros. Mas sei que deitam a cabeça no travesseiro, felizes, depois de humilhar alguém de menor poder aquisitivo, ou de enganar dezenas de parceiros. Sei que dizem mentiras entre um sorriso e outro. E sorriem ao se apoderar do dinheiro alheio. Fazem cara de vítima depois de roubar joias da própria mãe. Sorriem para o cliente, ao mesmo tempo em

BRUNO MORAIS

Vilões da vida real são os piores porque existem. E podem fazer da nossa vida uma novela

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fale com ela: crisguerra.mg@diariosassociados.com.br

que torturam psicologicamente os funcionários nos piores momentos de sua vidas. Cometem estelionato na maior classe, para andar por aí com mais classe ainda. Sei que fazem coisas ainda piores, mas tenho dificuldade de imaginar devido à minha incurável ingenuidade. Na vida real, escapar de um vilão de novela também parece impossível. Aos personagens de boa índole, resta uma alternativa: mudar de história. Dobrar a primeira curva e sumir de vista. Recomeçar. Mudar de núcleo. Vilões de novela não têm cura, pois são obras de si mesmos. E, por isso mesmo, de péssimo gosto. Se, como eu, os autores de novelas tiveram a chance de conhecer alguns deles, a vida lhes garantiu boa parte de sua obra criativa — mesmo que esteja longe de ser considerada obra-prima. Mas os autores, na maioria das vezes, escrevem para eles finais diferentes, caminhos edificantes, de modo que há a esperança boba de que eles se regenerem. Alguns mais ácidos, porém, já aprenderam: para tornar suas histórias mais impactantes, mostram a vida como ela é. Mas a vantagem é que o último capítulo sempre chega. E o vilão se desmancha no ar, independente de ter tido um final triste ou feliz. Vilões da vida real são os piores porque existem. E podem fazer da nossa vida uma novela. Com a desesperadora desvantagem de não desaparecerem quando mudamos de canal.



ALOHA,

ESPORTE < surfe >

Noronha

Hang Loose Pro completou 25 anos. Surfistas de todo o mundo participaram do campeonato, mas foi um brasileiro que levou a melhor por Izabella Figueiredo

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Travis Logie, de 31. Nas próprias palavras do campeão, “vencer é o melhor sentimento de todos”, vibrou Alejo Muniz, logo que chegou ao pódio, depois de ser carregado pelos amigos. “Este é o maior campeonato do Brasil. No ano passado, cheguei bem perto [parou na semifinal], mas agora deu tudo certo e começar o ano assim não poderia ter sido melhor. Vencer aqui em Fernando de Noronha é demais.” Na edição 2011, o Hang Loose Pro contou com 96 competidores de todo o mundo, dos quais 44 eram brasileiros, 13 americanos e 8 australianos, formando, assim, as maiores delegações do evento. De acordo com a organização, a expectativa é que o campeonato tenha movimentado cerca de R$2 milhões na economia do estado de Pernambuco, com a vinda de atletas e da equipe que acompanha o evento.

FOTOS: A. ALVES/DIVULGAÇÃO

Quem esteve em Fernando de Noronha, entre 15 e 20 de fevereiro, parou para assistir à 25ª edição do Hang Loose Pro Contest, tradicional campeonato mundial de surfe. “Éramos jovens e sonhadores, tivemos a oportunidade de trazer a ASP para o Brasil e não pensamos duas vezes: fizemos o campeonato”, conta Álfio Lagnado, idealizador do evento. “Foi tão bacana, que continuamos e estamos aqui agora. Nem parece, mas faz 25 anos. A maioria dos atletas que competiu aqui nem tinha nascido. O surfe brasileiro daquela época, em comparação ao que é hoje, evoluiu muito, com vários brasileiros competindo de igual pra igual com os melhores do mundo. Então, tudo isso nos deixa muito satisfeitos”, complementa. O sabor de comemoração deu mais emoção à disputa. Na paradisíaca Praia da Cacimba do Padre, conhecida pelas tubulares perfeitas, o catarinense Alejo Muniz, de 21, rivalizou com o australiano Dion Atkinson, de 24, pelo primeiro lugar, e acabou levando a melhor com o total de 6.500 pontos alcançados contra os 5.200 de Atkinson. Em terceiro lugar, ficou outro brasileiro, Heitor Alves, de 27, dividindo a colocação com o sul-africano

Em dois tempos: imagens da primeira edição na praia da Joaquina, em Florianópolis

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PÔSTERES: DIVULGAÇÃO

A PRIMEIRA EDIÇÃO DO HANG LOOSE PRO CONTEST FOI REALIZADO EM 1986, EM FLORIANÓPOLIS (SC), E DESDE ENTÃO PASSOU POR IMPORTANTES PRAIAS DO PAÍS

Dropada do campeão de 2011, Alejo Muniz DANIEL SMORIGO (ASP SOUTH AMERICA)/DIVULGAÇÃO

A primeira edição do Hang Loose Pro Contest foi realizada em 1986, em Florianópolis (SC), e desde então passou por importantes praias do país, como as pernambucanas Gaibu e Maracaípe. Desde os anos 2000, passou a ser realizado nas ondas de Fernando de Noronha. O Hang Loose Pro Contest conta ainda com apoio da Administração do Arquipélago de Fernando de Noronha, com a parceria da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), do Projeto Tamar, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Área de Proteção Ambiental Fernando de Noronha.


THE FERRIS


CORRIDA

Bem sábado à noite por Vinícius Lacerda fotos Carlos Hauck e Carol Vargas

Em sua segunda edição, a Ragga Night Run foi realizada numa nova pista: a Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima. Porém, o horário e o clima de festa continuaram os mesmos De um lado, a Lagoa dos Ingleses prestes a sediar o último pôr do sol do horário de verão. Do outro, cerca de 2 mil pessoas se preparavam para correr na segunda edição da Ragga Night Run. A corrida reuniu homens e mulheres, nas modalidades 5km ou 10Km, num clima amistoso, mas de superação. No percurso, muitos foram pegos de surpresa pelos dois morros que fizeram alguns corredores pararem. No entanto, desistir não estava na programação e todos seguiram em frente. Quem esteve presente sentiu o clima de euforia que impulsionava todos desde a largada até a linha de chegada, ao som das músicas que vinham das pick-ups de dois DJs. Bem sábado à noite.

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Afina o que quEre

AH, AS MULHERES

Cinco entrevistadas, com diferentes perfis e irremediรกveis semelhanรงas, contam sobre o principal desejo de suas vidas


al, e em as

mulheres


GISELE SANFELICE

Podem falar de tudo desta moça. Mas ninguém há de negar que a atriz pornô Cléo Cadillac não é uma mulher de coragem. Afinal, aos 26 anos, ela já enfrentou muita coisa grossa e grande em sua curta carreira. E nem os preconceitos a fizeram deixar de sonhar em, um dia, conquistar um princípio básico da vida: “ser feliz com uma pessoa”, diz ela. Não que hoje a afilhada e sucessora da ex-vedete Rita Cadillac seja uma pessoa infeliz. Pelo contráiro. Depois de ter aumentado as medidas do bumbum de 102 para 122 centímetros, Cléo se sente a mulher mais feliz do mundo. O resultado pode ser visto nas mais importantes revistas masculinas do país e em algumas produções cinematográficas recheadas de montagens e efeitos especiais. “Não teve nada disso”, nega, ao ser questionada sobre a duração das cenas em que teve de dar o seu melhor para as câmeras. “Os homens gostaram”, garante. Mas esta felicidade, segundo ela, é passageira, dura algumas horas e tem como fundamento o dinheiro. “Acho que ser atriz pornô é uma profissão como qualquer outra. Pago impostos como qualquer cidadã”, compara. A moça, com curvas volumosas, busca uma felicidade mais profunda, digamos assim. E ela só vai ser completa com um amor de verdade. “Quero uma pessoa que goste de mim não só pelos meus 110 centímetros de bumbum”, sonha. [Alex Capella]

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BRUNO SENNA

Daniella Flávia do Carmo Santos, de 35 anos, responde à pergunta freudiana em uma palavra: respeito. “A mulher quer ser respeitada de igual para igual. Infelizmente, ainda é discriminada, são cenas que se repetem de geração a geração.” Segundo ela, os constrangimentos acontecem diariamente, mas, “se for comparar com o passado, melhorou bastante, apesar da violência que ainda existe.” Gari há 15 anos da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), o dia da mãe do Daniel, de 16 anos, e do Davi, de 7, começa com o cantar do galo. Ela acorda às 5h junto com o marido, mas ajeita o despertador para mais meia hora de sono. Praticante de atletismo, Daniella vai para o trabalho correndo ou fazendo caminhada. Depois de 12 anos na varrição, hoje ela trabalha na Unidade de recebimento de pequenos volumes (URPV). Além do atletismo, Daniella tem outras paixões: toca violão, teclado, percussão e bateria. Gosta de música gospel e adora o piano de Ray Charles. “Me considero uma pessoa feliz. Se for enumerar os meus sonhos a entrevista não vai acabar”, brinca, deixando escapar um em especial: gravar um CD e um DVD. Antes de responder se ela tem esperança de um dia haver igualdade entre homens e mulheres, Daniella deixa uns poucos segundos de silêncio no ar e diz, segura, como se fizesse uma previsão: “O futuro será melhor que o passado e o presente.” [Bruno Mateus]


CARLOS HAUCK

Nascida em Mali, na África, Deborah Taziwona Jamalli, 30 anos, quer ser a mais feliz das irmãs da congregação Sagrado Coração de Maria, na qual se prepara para ser freira, num convento de Belo Horizonte. A afirmativa, que poderia soar competitiva e meio arrogante vinda de outra pessoa, saída da boca de Deborah, ganha uma entonação tão inocente quanto as comparações do tipo “meu pai é mais forte que o seu”, que tanta gente costuma fazer na infância. O pai da noviça morreu quando ela tinha 12 anos, deixando-a com a mãe e três irmãs – uma das quais, gêmeas com Deborah. Foi pelo estilo de vida e prioridades da irmã nascida no mesmo dia que ela, que, aos 14 anos, foi possível perceber o quanto era diferente das outras adolescentes. “Meu objetivo principal era seguir a Jesus Cristo, não sair com meus amigos e namorar”. Amigos ela teve e tem muitos. Namorados, não. “Nunca fui beijada”, diz, olhando para o lado, meio tímida. “Mas muitos quiserem ficar comigo”, faz questão de esclarecer. Assistindo os filmes de Hollywood, ela diz que se sente bem torcendo pelos romances, por ser parte de sua natureza feminina. “Embora eu tenha escolhido outro caminho”. A opção pela fé religiosa a privou de uma família com marido e filhos, mas está longe de ser solitária. Em meio às muitas irmãs que ganhou, Deborah cuida de moradores de rua e faz planos de conhecer outros destinos do mundo e do Brasil, como Salvador. “Preciso conferir a vibração africana que todo mundo diz que existe lá”, planeja. [Sabrina Abreu]


[SA]

ARQUIVO PESSOAL

Por ser atleta profissional, Jaqueline Mourão, 35 anos, se acostumou a traçar metas. E é de um jeito bem direto que ela enumera os principais desejos pessoais em quatro tópicos: continuar praticando esportes, estar em contato com a natureza, saborear a vida e ver o filho crescer feliz. Quando criança, sua vontade era ter uma uma máquina de pôrdo-sol, para conferir o crepúsculo nos lugares mais diferentes. “Sempre fui apaixonada por essa hora do dia”, conta. E, por difícil que pudesse parecer para um adulto que a observasse três décadas atrás, Jaque conseguiu encontrar a tal máquina por meio da prática esportiva, que a levou a observar o sol se escondendo em montanhas e mares dos 40 países nos quais treinou ou competiu. Ela ficou famosa, primeiro, no mountain bike, modalidade que competiu nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004) e de Pequim (2008). Por anos, ela acumulou à rotina de ciclista a prática de outro esporte: o esqui cross-country, no qual defendeu o Brasil nas Olimpíadas de Inverno de Turim (2006) e ao qual se dedica de modo exclusivo, atualmente. Quem a apresentou ao novo esporte foi Guido Visser, também esquiador cross country, com quem é casada há 6 anos e tem o filho Ian, de 3 meses. Sobre a sociedade esperar que as mulheres sejam mães e esposas, ela pondera: “A mentalidade das pessoas têm mudado, estão percebendo que a realização pessoal é algo bem individualizado”. Mas completa: “No meu caso, sou muito feliz por compartilhar a vida com meu marido e a experiência da maternidade foi fantástica”. Mais companhia para assistir os pores-do-sol.

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CARLOS HAUCK

Tratada como diferente pela sociedade, a atriz e servidora pública Walquíria La Roche sonha em ser vista apenas como uma pessoa comum. Ela sabe que o caminho será árduo. Mais até do que os meses de recuperação da cirurgia de redesignação sexual à qual se submeteu. O tempo anterior à transexualidade, Walquíria quer apagar da memória, assim como fez com a sua antiga identidade. Nem por isso nega a sua história. “Minha militância não se dissocia da história da minha vida”, diz. Mineira de Belo Horizonte, sofreu todos os tipos de preconceito comuns às minorias. “O nosso segmento é o mais aviltado e vilipendiado em seus direitos”. Apesar disso, foi à luta. Garante que não se entregou à prostituição – comum no caminho de muitos travestis e transexuais – e batalhou pelo seu lugar na sociedade. Formou-se em educação física e pósgraduou-se em gestão e administração pública, tornando-se referência na luta pelos direitos dos transexuais, sem levantar qualquer bandeira. “Não queremos ser apontados nas ruas”. Esta postura a levou para a direção Centro de Referência para Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (GLBTTT) da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedese-MG). No órgão, trabalha na discussão da inclusão social dos transexuais e na criação de políticas públicas voltadas à categoria. “É uma discussão relacionada aos direitos humanos”, lembra.

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[AC]



NOITE ADENTRO

Desde março de 2003, o Jack Rock Bar vem escrevendo um novo capítulo do cenário rock em Belo Horizonte. O nome Jack foi escolhido em homenagem à música The Jack, da banda australiana AC/DC. O rock n’ roll está presente em todos os lugares por onde se passa: na decoração, nas músicas, nos vídeos, no cardápio, nas apresentações ao vivo e no espírito do público que frequenta a casa. A noite começa com VJ rolando videos de bandas que marcaram época. Lá, você encontra sinuca, cerveja gelada, drinks especiais, petiscos diversos, conforto, segurança e atendimento diferenciado. O Jack respira rock. fotos Carol Vargas


VJ RESIDENTE

O VJ Jeff é o responsável pelos videos que agitam a galera antes da apresentação das bandas e nos intervalos. AC/DC, Metallica, Iron Maiden, Pearl Jam e Rage Against the Machine sempre estão nas telas do bar. O set list também varia de acordo com a programação do dia. Roqueiro de nascença, o VJ também é guitarrista da banda Endemya.

VJ Jeff

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COMPORTAMENTO

ATÉ FICAR sem ar por Flávia Denise de Magalhães fotos Carlos Hauck

Bonecas infláveis: das tradicionais às versões high-tech, nem sempre com a boca aberta

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Seus nomes não são muito criativos. Amber, Tifanny, Melody são comuns nesse universo em que mulheres são de plástico e os homens verdadeiros devotos. Quando um cara compra uma boneca inflável (é claro que a grande maioria dos compradores é masculina), quem não está familiarizado com o brinquedo imagina que ele quer, simplesmente, uma mulher bem obediente, que não discute, não reclama, nunca tem interesse em sair de casa e está sempre a fim de sexo. Em grande parte, é para isso mesmo que as bonecas servem. São uma espécie de masturbação glorificada, na qual desejos escondidos podem ser realizados com a ajuda de uma cópia em tamanho real do corpo feminino. Os modelos de bonecas são inúmeros. Vão desde versões femininas do bonecão do posto até cópias mais fiéis do corpo da mulher, com direito a seios realistas, cabelo de gente e genitálias similares à realidade. Tudo coberto com a última tecnologia em pele artificial: o cyberskin. As bonecas mais simples, feitas de vinil, têm o cheiro semelhante ao das boias que você usava na piscina durante a infância. A textura é igual a do boneco do posto, exceto pela cabeça feita do mesmo material que bonecas de criança. É exatamente essa versão que marcou o imaginário coletivo: corpo malfeito, seios infláveis ligeiramente disformes e a boca eternamente aberta – ela não aparenta ser capaz de satisfazer nenhuma vontade sexual. Mais benfeita do que essa, existem as bonecas que têm partes do corpo como mamilos, genitália, mãos e pés feitas de cyberskin. Elas têm a aparência mais bizarra entre as sex dolls. Quando infladas, têm partes do corpo com uma pele que não combina bem com o resto, fazendo o conjunto parecer um verdadeiro “Frankenstein do sexo”. Por último, temos as chamadas high end sex doll. Elas custam a partir de US$ 10 mil e podem ser personalizadas a pedido do comprador. Usando essa tecnologia, já teve gente que comprou uma boneca igual à sua ex-namorada ou igual a si mesmo. Esse modelo não pode ser desinflado, tendo que ser guardado inteiro. Pesa cerca de 35kg e tem todo o corpo coberto pelo material de alta tecnologia que imita a pele humana. O cyberskin promete ser igual à pele real, mas ainda está longe disso. A pele humana, com suas imperfeições e textura próprias, não corre risco de ser substituída por uma prótese realista. Entretanto, quem já usou o brinquedo diz que, depois que o atrito esquenta o tecido sintético, a boneca fica muita parecida com uma mulher. E talvez seja por isso que milhares de homens se reúnem em fóruns e conversam sobre seus brinquedos sexuais como se fossem companheiras reais. Muitas dessas pessoas simplesmente tiveram experiências negativas demais com relacionamentos. “Uma boneca é algo que venho considerando há anos, mas sempre tive esperança de conhecer a mulher certa. Em vez disso, tudo que consegui foi um coração partido, rejeição e solidão. Ainda quero uma presença feminina na minha vida, mas não tenho interesse no stress e obrigações que acompanham a mulher. Simplesmente não quero um relacionamento real mais”, desabafou BlindWebster, como se identifica



A TEXTURA É IGUAL A DO BONECO DO POSTO


um dos membros sênior de um dos maiores fóruns sobre sex dolls do mundo (dollforum.com). Outra parte dos usuários têm mulheres em suas vidas, mas tratam a boneca como uma espécie de apoio para quando a mulher viaja ou não está interessada em atividades na cama.

primário desses homens. Porém, algumas alternativas escolhidas, como “fotografia”, “dormir” e “maquiar”, revelam um lado menos carnal e mais afetivo de quem compra as bonecas.

Desde 8 a.C.

As sex dolls existem em todo o mundo, mas, em Belo Horizonte, não é possível encontrar as bonecas mais elaboradas e similares às mulheres reais. O principal motivo para isso é que, segundo vendedores dos sex shops, elas não têm uma grande saída. A venda de bonecas infláveis, por mês, não justifica um estoque mais sofisticado. Marcelo Gentil, vendedor da Sex Shop, explica que a maioria das vendas que faz são para presentes de sacanagem. “Uma vez um cara chegou à loja, no dia 24 de dezembro, com um copo de uísque na mão e pediu para ver a boneca. Ele estava cheirando a álcool e disse que queria comprar um presente para o pai. Depois de comprar, perguntou: ‘Vocês enchem?’. Expliquei que não, mas, entrando na brincadeira, disse que ele podia fazer isso no posto. Não deu 15 minutos e ele passou na porta da loja, buzinando, com a boneca cheia no banco de trás. A festa de Natal deve ter sido uma diversão”, relembra Gentil, rindo do caso. Apesar das “bonecas de postinho” dominarem o mercado mineiro (e brasileiro), quem se interessa no cyberskin não fica desabastecido em BH. Marcelo Gentil explica que, mesmo com pouca demanda para a venda desse tipo de boneca, as chamadas próteses de cyberskin vendem bem. Elas vão desde genitálias até uma pequena miniatura de mulher, com todas as cavidades.

Apesar de serem feitas com a última tecnologia, as sex dolls não são novidade. A primeira história que se refere a desejos sexuais por uma boneca é a lenda grega de Pigmalião e Galateia. Nela, Pigmalião cria uma mulher de mármore tão perfeita que ele se apaixona por ela, passando a devotar toda sua vida à escultura, comprando joias e roupas para a mulher de pedra. Apaixonado, ele pede à Afrodite que permita que ele encontre uma mulher igual à Galateia. A Deusa ouve seu pedido e transforma a estátua de pedra em mulher. Não faltam homens modernos que tentam trilhar o caminho de Pigmalião. Além do pessoal que faz sua própria sex doll em casa — com resultados que vão do nojento ao risível — grande parte dos donos (principalmente os que têm bonecas de cyberskin) se “apaixonam” pela boneca e a tratam como namorada. Nos fóruns tem, inclusive, gente que finge que é a boneca quem responde às perguntas e eles são simplesmente namorados ou maridos de uma mulher sexy, sincera e de plástico. A ilusão que esses seres são reais é tanta que chegou-se ao ponto em que o sexo com a boneca perdeu o lugar de uso único para muitos. Recentemente, o Doll Forum fez a enquete: “O que você faz com sua boneca?”. Das opções, a mais marcada, “sexo”, não foi nenhuma surpresa. Afinal, sexo é o objetivo

Agradecimento Delirius Avenida Bias Fortes, 557 — Lourdes Preço: a partir de R$ 280

Minha boneca


ESPORTE < mountain bike >

POR QUE PEDALAR DURANTE SEIS HORAS, NOITE E DIA, DEBAIXO DE SOL E CHUVA? por Lucas Fonda fotos Bruno Senna

Nosso diretor-geral dá notícias da participação do Trio Ragga na prova SIX – moutain bike + fun

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Quem compete em qualquer tipo de esporte sabe que a prova não começa na hora da largada, e sim no dia em que se faz a inscrição. A nossa foi feita depois do telefonema do Eduardo Lages, que trabalha na organização da Copa Internacional de Mountain Bike, que anunciou “um evento que é a cara da Ragga: seis horas de pedal – das 16h às 22h –, com DJ de rock 'n' roll durante a prova, balada depois da competição e piscinada no dia seguinte”. Na mesma semana, foi formado o trio Ragga e isso significava intensificar os treinos, ajustar a alimentação, evitar baladas, preparar o psicológico e deixar o equipamento pronto. Foi o que fizemos. No último sábado de fevereiro, lá estávamos batendo um óleo na corrente, girando um pouco as pernas para aquecer os músculos, encontrando velhos e novos amigos e sentindo a adrenalina correndo um pouco mais forte à medida em que a largada se aproximava. Enquanto isso, as caixas de som alternavam a locução da prova e os riffs de guitarra do AC/DC. Durante a semana que antecedeu a prova, o circuito esteve liberado para reconhecimento da pista, mas nosso trio – formado por mim, pelo Pedro Machado e Henrique Montalvo – não teve como ir. Tudo o que sabíamos é que havia chovido na noite anterior e que estava uma lama só.


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Às 16hs, o mais velho do trio larga e, obrigatoriamente, a primeira troca de atleta só poderia acontecer depois de 45 minutos de tempo corrido. Como membro mais velho do trio Ragga, essa função era minha. Bike posicionada na primeira fila, últimas orientações do diretor de prova, barulho das correntes e marchas trocando, guidões esbarrando, últimas alongadas, adrenalina no talo e ttéééée (isso é uma buzina). Começa o Six. Os comentários pré-prova estavam de acordo. Muita lama, subidas duras, trechos técnicos e escorregadios. Mas viramos bem a primeira volta e, na medida em que o corpo aquecia mais e o traçado da prova ficava mais familiar, o tempo consequentemente melhorava a cada volta. Após os primeiros 45 minutos, era hora de passar o bracelete para o próximo atleta. De acordo com nossa estratégia, seria a vez do Pedro correr e depois dele o Henrique. Assim foi feito. Uma volta cada um a partir de agora para que os três possam correr enquanto o sol ainda ilumina o circuito. Dessa forma, todos teriam definido seus traçados, o que facilitaria o desempenho quando a noite caísse. O Henrique já está esperando na tenda de transição e o Pedro passa o bracelete. Tempo bom na volta, mas o pneu está furado. Pit stop, câmera nova na roda, cada um dá mais uma volta. Com a terra mais seca fica mais fácil de “zerar” as subidas sem empurrar a bike, hora ideal para tirar tempo e melhorar a posição na classificação geral, acompanhada pela equipe de apoio volta a volta. Henrique chega de sua volta com uma forte cãibra na panturrilha. O bom de correr em equipe é isso, enquanto um recupera ou ajusta o equipamento, o outro corre a volta. Dito e feito: o cara ficou zero e voltou para a prova com tudo.

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O trio Ragga Lucas Fonda, Henrique Montalvo e Pedro Machado momentos antes de o perrengue começar

OS COMENTÁRIOS PRÉ-PROVA ESTAVAM DE ACORDO: MUITA LAMA, SUBIDAS DURAS, TRECHOS TÉCNICOS E ESCORREGADIOS A noite cai e junto com ela uma forte chuva, que ameaçou cair durante o dia, resolveu dar o ar da graça no momento mais intenso da prova. Os faróis grudados no guidão ajudam a encontrar o traçado, mas a memória da pista durante o dia fez uma grande diferença. Apesar de que, agora, o que domina a prova era a lama, o pneu já não traciona mais, os freios já não seguram e o pedal não


firma mais o pé. Hora de “socar a perna” na raça e virar a volta no melhor tempo possível. Depois de seis horas e mais alguns minutos, terminamos a prova. E é exatamente nessa hora que vem a resposta da pergunta do título dessa matéria. Por que pedalar durante seis horas, noite e dia, debaixo de sol e chuva? Simplesmente porque nesse momento você olha para a cara dos seus amigos e, além da lama que cobre o rosto inteiro, tem lá um sorriso que é diferente do que você está acostumado a ver. É uma mistura da alegria mais sincera com superação e vida pura. É a certeza de que durante aquelas seis horas você viveu intensamente cada segundo e isso, sem dúvida, é algo raro de sentir.

A troca do bracelete indicava também a mudança de atleta na pista

O mau tempo castigou a pista e o equipamento

comente redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br

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ESTILO

fabiana carvalhaes por Lucas Machado fotos Carlos Hauck

< kit sobrevivência >

Formada em comunicação social e design de moda, a belo-horizontina Fabiana Carvalhaes, antes mesmo de terminar seu primeiro curso, morou em Nova York durante um ano e quando voltou, no fim de 2000, já tinha convicção de que o mundo fashion era o seu destino. Começou sua carreira como modelo desfilando para estilistas como Victor Dzenk e Eduardo Suppes. Fez vários catálogos e campanhas publicitárias. “A moda veio de família, minha mãe foi estilista da Patachou durante 10 anos, mas depois descobri que, com meus 1,70m, não iria muito longe nas passarelas”, comenta. Fabiana trabalhou nas grifes Barbara Bela e Patachou. Hoje, faz consultoria de moda para a GoodMood Store, escreve para o site creativeboysclube.com, faz toda a parte de marketing da Elisa Atheniense e acaba de assumir o blog da marca. “O marketing foi a única experiência que ainda não havia vivido na moda. Tomo conta das franquias, concepção de campanhas e produtos. Faço tudo”, diz. Fabi é viciada em filmes de arte, assiste pelo menos dois por dia. Na música, vai da bossa nova ao rock ‘n’ roll, de Vinicius de Moraes a Elvis. Durante um ano e meio, fez um trabalho com crianças carentes na Rádio Favela. Ela não esconde que o grande amor da sua vida é a filha Júlia, de 7 anos. E, apesar de ser uma mulher de todas as estações, adora o inverno e dias cinzentos.

< Fabiana usa > bota All Saints blusa GoodMood Store calça Animalle anel e bracelete Elisa Atheniense

livro Dalí – A obra Pintada Robert Descharnes e Gilles Néret

bolsa prata Elisa Atheniense máquina de costura Leonam De Luxe

vestido GoodMood Store

sapato Elisa Atheniense

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bonecas de cerâmica Presente de sua avó, a artista plástica Maria do Carmo Carvalhaes J.C.


AH, as mulheres

Ragga Girls

fotos Carlos Hauck

Numa edição especial sobre a mulher, nada mais justo do que homenagear as mulheres que ajudam a Ragga a ser o que é. Cada uma ao seu jeito, elas deixam o ambiente de trabalho mais leve, mais divertido e mais bonito. Impossível viver sem elas.

Vilma Moreira, recepcionista

Nathália Wenchenck, assistente financeiro

Ludmilla Dourado, promotora de eventos

Sabrina Abreu, editora da Revista Ragga

Flávia Denise, editora do Ragga Drops

Teresa Caram, editora de suplementos do Estado de Minas

Izabella Figueiredo, estagiária de jornalismo

Anne Pattrice, designer da Revista Ragga

Marina Teixeira, designer do Ragga Drops

Isabela Daguer, estagiária de design

Carol Vargas fotógrafa

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QUEM É fotos Carlos Hauck

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CULTURA

Noite de verão fotos Carlos Hauck

O clima da apresentação do músico e surfista Donavon Frankenreiter era menos de show e mais de “festa de verão” — não à toa, foi esse o nome escolhido para a noite. Músicas como Free, It don't matter e Glow não decepcionaram quem esperava por hits. E a canja com o amigo de surfe Tom Curren surpreendeu o público que lotou o Camarote Ragga. O pessoal já estaria satisfeito se Donavon fosse a única atração. Mas não foi. Houve ainda a abertura do trio de Djs Double Trouble e da banda No Voice. Para encerrar o evento, DJ Puff. E, entre uma música e outra, vários encontros, como convém a uma boa noite. E ao verão.

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ENSAIO

Baile de

más

ca ras Um ensaio meio Arca de Noé, meio Carnaval, para encerrar o verão A ideia da fotógrafa capixaba Carol Vargas era fazer um vídeo chamado O encontro de todos os bichos, nas areias de Ubatuba, litoral de São Paulo. “O vídeo não ficou do jeito que imaginei”, ela conta. Mas, para compensar, a coleção de imagens do making of acabou virando um ensaio fotográfico primoroso.

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A revista ĂŠ mensal. Mas a RAGGA tem novidade todo dia.


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Revista Ragga NO FACEBOOK


< Olha isto > Mais imagens do ensaio: revistaragga.com.br Outros trabalhos da Carol: flickr.com/carolinevargas

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@revistaragga NO TWITTER


COLUNA

#FalaNaFrente PATRÍCIA CAGGEGI

FRENTE DIGITAL O PROGRAMA DOS ARTISTAS INDEPENDENTES

WÉBER PÁDUA

Frontman de uma das bandas mais emblemáticas do indie rock nacional dos anos 2000, o músico Jair Naves, agora em seu primeiro trabalho solo, fala com o Frente.

< HENRIQUE PORTUGAL >

produtor e tecladista da banda Skank twitter.com/ programafrente

O EP Araguari é considerado uma crônica musical de sua lembrança da cidade mineira e você já chegou a dizer que considera a cidade um elo entre você e seu pai, falecido quando você era criança. Foi difícil compor as músicas do EP? Para mim, é sempre difícil compor. Espero muito de mim mesmo e que meu próximo trabalho seja melhor do que o anterior. Era um assunto delicado e por alguns momentos me questionava se não estava me expondo demais. Mas não me arrependo – acredito que essas quatro faixas são as melhores coisas que já fiz na minha vida. Eu devia isso à minha família e a mim mesmo. O que você trouxe da sua antiga banda, a Ludovic, para esse trabalho atual? Eu já apresentava lá as mesmas características [de hoje]

Envie Frente para 49810 e receba diariamente notícias sobre o cenário independente brasileiro

Suas composições atuais estão menos aceleradas. Você está procurando o caminho das canções? Estou procurando compor um formato de canção mais universal, que não me deixe limitado a um gueto. Passei 10 anos em uma banda que falava para um gueto — do rock pesado, underground. Não quero fazer música para “entendido”. Estou procurando o caminho das canções tradicionais, sempre com a preocupação de escrever as melhores letras possíveis, me identificar mesmo em longo prazo.

Qual é a da música

Artista: Garotas Suecas Disco: Escaldante banda

Estávamos gravando nosso primeiro EP e o Guto chegou com um esboço de uma música. Sentamos, tocando violão, tendo ideias para essa música e ela acabou se metamorfoseando totalmente. A letra é a história de um amor falido, em que duas pessoas se enganam e insistem nesse engano. Pretenders do título faz um trocadilho com o falso cognato em português, que seriam os pretendentes, mas que, no fim, simplesmente fingem uma relação qualquer.

Selo: American Dust Ano: 2011

Artista: Maglore Disco: Veroz Selo: Independente Ano: 2011

Artista: Lestics Disco: Aos abutres Selo: Independente Ano: 2010

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Já se acostumou a ser o cara que aparece sozinho na foto de divulgação? É irônico, pois em alguns aspectos minha carreira solo tem mais características colaborativas do que na época da Ludovic. Lá, eu compunha as músicas, marcava os shows, cuidava das finanças. Hoje, o projeto leva o meu nome, mas, na verdade, é uma banda. As pessoas que tocam comigo são muito importantes nesse processo.

Dicas de Cds

fale com ele: contato@frentedigital.com.br

LUAN BARROS

SMS

como compositor e intérprete. Não acredito que vá mudar muito daqui pra frente. As semelhanças são a preocupação com a qualidade e honestidade do texto. E espero conservar para sempre.

Música: Pretenders Composição: Dead Lovers Twisted Heart Banda: Dead Lovers Twisted Heart Disco: DLTH One day we tried to pretend We were in love But it has to come to an and Before the things get worse ‘cause you can loose What you don’t have You can also loose What you don’t expect What we have ain’t nothing but fun It’s just a little breath Coming out of our lungs ‘cause we can’t choose What we want We’re not in the mood To get things done 1234 5678 Baby what we’re waiting for? Don’t expect for more ‘cause can’t you see? We’re not ment to be Alone together Maybe should be better We set free

confira a letra completa no frentedigital.com.br


COLUNA

A MÚSICA

e o tema Atrás do trio elétrico por Kiko Ferreira

Arquivo Estado de Minas

Divulgação

Mulheres de respeito: Billie Holiday e Elis Regina são lembradas pela personalidade e pela voz encantadora

No auge da paixão por sua Narinha, aquNo auge da paixão por sua Narinha, aquela que ele esperou em frente ao coqueiro verde por uma eternidade, Erasmo cantou: "Dizem que a mulher é um sexo frágil. Mas que mentira absurda...". De musa a executiva, de autora a empresária, de divulgadora a cantora, a mulher participa da indústria da música sempre de maneira definitiva. E raramente em posição de coadjuvante. Quem acreditou quando Rita Lee cantou que queria ser apenas uma backing vocal e fazer “tchubidudadá”, dançou para não dançar. A ruiva virou a figura mais importante do rock brasileiro. E não tem para Cazuza, Titãs, Barão, Los Hermanos ou qualquer outra agremiação. Quem sabe, Cássia Eller. Na história do BRock, Rita é vocalista do grupo de maior repercussão no mundo, os Mutantes, e tem a melhor e mais duradoura carreira solo. No rock, volta sempre o exemplo de Yoko Ono. De namorada esquisita e vanguardeira do mais independente, politizado e rebelde dos Beatles, virou pivô da separação dos Fab Four. Na sequência, foi mãe, irmã, amante, amiga e colega de Lennon, que chegou ao fim da vida dividindo meio a meio com ela o disco Double fantasy e todas as decisões da carreira. No jazz, instrumentistas como Miles Davis, Duke Ellington, John Coltrane, Art Tatum e Chick Corea ajudaram a nomear estilos, escolas e tendências. Mas quem encarnou o espírito, a alma, o coração e o sentimento que veio do blues foram as cantoras. Billie Holiday, Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald, as definitivas e principais, sempre tiveram ao seu redor e à sua disposição os melhores instrumentistas, arranjadores e produtores, todos prontos a criar camas cada vez mais confortáveis e eficientes para seus solos de paixão e sangue. No cenário jazzístico atual, então, não tem para ninguém. Na voz e no piano, Diana Krall e Eliane Elias. Na condução de orquestra, Maria Schneider. Na fusão, Norah Jones e Stacey Kent. Basta ver a escalação do disco novo do baixista Charlie Haden, dedicado exclusivamente às mulheres: Cassandra Wilson, Diana Krall, Norah Jones, Melody Gardot, Renée Fleming e Ruth Cameron. “É o puder”, como diria o imortal senador.

Na MPB, apesar de Cauby, Nelson, Milton, Emílio, Orlando e outros, as vozes femininas foram sempre mais marcantes. Falar de paixão? Melhores que Lupicínio e Anísio Silva foram Maysa e Dolores Duran. Nana Caymmi sobrevive às mudanças do tempo e Elis foi a mais completa cantora a passar por terras brasileiras. Na Ditadura, quem bancou afrontar a caretice foram Gal, Nara e Bethânia. Para exportação, a música brasileira mais gravada no mundo é a Garota de Ipanema. E o símbolo tropical, Carmem Miranda. No indefinido terreno musical atual, o primeiro fenômeno da internet foi Mallu Magalhães, a garota de 16 anos que domou o Camelo. E os mundos primeiros conhecem Céu, Cibelle, LoveFoxxx (do Cansei de Ser Sexy), Pat C e Patty Ascher, mais que mombojós e manimais. O clichê "por trás de um grande homem está uma grande mulher" vale para a música. Além da já citada Yoko, vale lembrar a Lucinha Barbosa, de Arnaldo Baptista; Kika Seixas cuidando de Raul e Arnaldo Brandão; a punk Nancy segurando as barras de Sid Vicious e Linda McCartney pondo Paul nos trilhos. Gil e Caetano, relevantes artisticamente, mas razoavelmente bem-sucedidos comercialmente, mudaram de patamar de cachês e faturamento quando Flora Gil e Paula Lavigne assumiram os negócios. Quem viu o filme Quase famosos ou leu as biografias de Keith Richards, Jimi Hendrix e Eric Clapton sabe a importância das groupies, as fãs que acompanham os músicos nas excursões, para a sobrevivência dos astros nos dias passados em hotéis, camarins e aviões. Amizade, sexo, uma conversa íntima ou mais animada, conselhos e ajuda no descascamento quase contínuo de pepinos de toda espécie. Muitas viraram cantoras, empresárias, esposas, amantes, conselheiras. No ano em que o país começa a ter sua primeira presidente e sua primeira ministra da cultura, as decisões na área da música passam, cada vez mais, pelos cérebros femininos, incluindo as gestões municipal e estadual. Ana de Holanda, Thaís Pimentel e Eliane Parreiras comandarão o espetáculo da cultura daqui para frente. Quem tiver juízo, vai atrás desse trio elétrico. comente redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br

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RAGGA modelo JanaĂ­na Maldonado fotos Gisele Sanfelice


Vale esperá-la por Pedro Vaz

Olhe para ela e tente não se seduzir por este olhar decidido. Ouse não ser fisgado pelas notas de seu perfume Narciso Rodriguez, que, de forma misteriosa, parecem traduzir a forte e encantadora personalidade. Sensual, Janaína provoca pela sutileza. Nascida em Itu, interior de São Paulo, por conta de uma paixão avassaladora, deixou tudo para trás e foi viver novas experiências na Itália. A relação não durou, mas, nova paixão — dessa vez, pelo jeito caloroso das pessoas, e, principalmente, pelas delícias da cozinha italiana — a fez ficar. “Aprendi a amar tudo no país”, garante.


Hoje, aos 23, mora em Verona, onde trabalha em uma loja de roupas femininas e estuda línguas. Mas, para quem já está pensando em comprar uma passagem para a “velha bota”, recomenda-se cautela: “Estou namorando”, ela conta. “Mas, com certeza, um dia volto para minha terra, nosso Brasil maravilhoso, que é único”. Os brasileiros agradecem.

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O ensaio completo vocĂŞ confere em ehgata.com.br

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CONSUMO

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CARLOS HAUCK

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Eu ela quer

O feminino se manifesta nos objetos, na arte, no cotidiano. Se todos os olhos, de menino ou menina, um dia, se interessaram exclusivamente pela figura de uma mulher — a mãe de cada um, em sua primeira infância —, é normal que, crescidos, as formas, a obra feita por mulheres ou por elas inspiradas continuem chamando a atenção. E chamam, mesmo. Um salve para os cromossomos XX.

por Sabrina Abreu FOTOS: DIVULGAÇÃO

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CARLOS HAUCK

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1. < Clássico >

Seria ela uma mulher, um homem amante de Leonardo da Vinci ou o próprio pintor? Não importa: ainda que tenha tido um calendário de mesa com a figura de Gioconda e tenha visto a própria no Louvre, sua experiência com a pintura mais famosa do mundo não estará completa até dar de presente a alguém o cartão/envelope Monalisa Quotable Notable. Vem com adesivos. R$ 19,90 osegredodevitorio.com.br

2. < Bom gosto > Ele entende a alma feminina. E a masculina, também. Quatro boxes de DVDs fazem retrospectiva da obra de Chico Buarque, que tem inspirações variadas como os relacionamentos românticos e o futebol. Bom gosto para todo gênero. R$ 61,90 (cada) leitura.com.br

6 CARLOS HAUCK

3. < Esquerdo ou direito? >

4. < A Top > Magérrima e meio andrógena, Twiggy virou um nome conhecido em 1960 como a primeira top model do mundo. O ícone fashion virou adesivo de parede, em vinil. Talvez agrade mais às moças. Ou talvez, a quem quer impressioná-las com o discurso: “Sabia que Twiggy virou um nome conhecido em 1960...”. R$ 110 osegredodovitorio.com

Dispensa apresentações o produto que tem como nome “Caneca seio pequeno”. R$ 9 erotictoys.com

5. < A diva >

6. < A artista >

Estatueta/toy da Madonna. Like a Virgin Weenicons homenageia a fase dos 20 e poucos anos da estrela que se transformou década após década até virar — quem negaria — a mais desejável das mulheres de 50. R$ 89 osegredodovitorio.com

Frida Kahlo é orgulho da mulherada do mundo todo e das latinas, em particular. Dona de um traço inconfundível e com uma história cheia de reveses e amantes famosos, foi pelo talento próprio que ela escreveu seu nome e imortalizou seu autorretrato na história das artes plásticas. Em Frida Kahlo: suas fotos, edição luxuosa da Cosac Naif, imagens de sua trajetória. Bravo. R$ 120 leitura.com.br comente redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br

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ON THE ROAD

< Pipa >

Do Amor,

com Pipa texto e fotos Bernardo Biagioni

Certa manhã acordei de sonhos intranquilos em um vilarejo encostado na ponta do Nordeste Amor de Pipa é o amor que fica. Estou olhando para ela, Luiza Olsson, loira, pele vermelha e bronzeada, um metro e setenta e quatro de altura de alma que dança na porta do Oz Music Bar, na Rua dos Golfinhos, de onde se vê por cima da cúpula das árvores a Praia de Pipa sonolenta. "Pareço gringa, mas sou daqui", vem me dizer, percebendo o meu encantamento, e continua ainda dançando, girando os braços segurando sem cuidado um copo de vodka pura que nunca parar de beber. Tem 29 anos, mas parece ter nascido hoje, junto com os primeiros raios de sol que vieram acordar o Rio Grande do Norte. Pipa dói. Dói pelo calor, queima pela saudade premeditada, antecipada, já calculada logo quando a onda da maré baixa vem arrastar os nossos anseios para o mar. Quarenta graus de manhã, trinta pela noite - sem exageros - e logo você começa a entender porque ninguém sabe te dar alguma informação precisa de distância, de localização, de caminhos e destinos. Tudo é um grande oásis onde o único desafio aparente é se manter vivo e sóbrio, seja através do álcool, das drogas, do sexo fácil e das noites intermináveis frequentadas por gringos loucos que atravessam continentes e oceanos em busca do mito do paraíso perdido no Nordeste brasileiro. E são muitos os gringos que

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vem. E poucos os que voltam. O Mito do Paraíso Perdido no Nordeste Brasileiro É perfeitamente compreensível a razão pela qual muita gente larga tudo - casa, trabalho, filhos e animais de estimação - para ficar em Pipa para sempre. A pouco menos de 70km de Natal, a vila pertencente ao município de Tibau do Sul é um convite à perdição, ao pecado e à ruptura com as velhas crenças do que esperamos para uma vida de felicidade. Primeiro pelo óbvio: praias, paisagens de tirar o fôlego, passeios de escuna, Fernando de Noronha ali do lado, drogas, mulheres, sacanagem e forró pau na coxa. Segundo, porque é tudo muito simples e barato. Os gringos vem para passar o verão e antes de acabar a estação já montam bares, restaurantes e baladas eletrônicas. Tudo na loucura.


NOITES INTERMINÁVEIS FREQUENTADAS POR GRINGOS LOUCOS EM BUSCA DO MITO DO PARAÍSO PERDIDO NO NORDESTE BRASILEIRO Mas o que é realmente tentador - e paradisíaco - é parar para pensar que estamos na ponta do Nordeste do Brasil, logo na esquina do continente sul-americano, onde a lei maior que impera é a do Senhor, de Iemanjá, de Todos os Santos que mais abençoam do que condenam, que mais entendem do que recriminam. Tudo acontece naturalmente. As praias, as festas, os passeios pela mata virgem. De nada adianta a nossa natural insistência em querer sempre saber o destino, a direção e a ordem das coisas. Com o peito aberto, a sensação é que todos os caminhos nos levarão às respostas que estamos procurando durante toda uma vida. Hippie isso. Mas a verdade é essa. O mar é para amar É que o coração começa a pular mais rápido logo de manhã, quando você corta a rua principal por becos estreitos em direção ao mar. Não tem erro. Para a esquerda você vai parar na Baia dos Golfinhos, onde é possível nadar com as criaturas mais amigáveis, bonitas e bacanas do oceano. Para a direita está a Praia de Pipa, cercada por pedras e corais que criam enormes piscinas naturais. A primeira opção é sempre mais tentadora. Sobretudo se

você não tiver problemas em ser surpreendido por cinco ou seis peixes em formato de tubarão enquanto você pega um jacaré nas ondas. Menos seguro ainda é a Praia do Amor onde essa nomenclatura por si só já cria uma aura de paixão, felicidade e sentimentos perversos. Dizer que o amor está no ar é pouco. Amor mesmo estão nos olhos dos surfistas que olham para as ondas perfeitas que se formam na direita em dias de pouco vento. Entrar na água pode significar morrer afogado ou ter a cabeça trincada pela quilha de alguma prancha. Por isso ame na areia, na barraquinha da tia ou lá do alto do Chapadão, de onde se vê a praia em formato de coração. É tudo tão pleno, sereno e meticulosamente desenhado que, não fosse pelo calor descomunal, ninguém nunca voltaria para casa. Um amor para recordar Eu mesmo quase não voltei para casa. E nem é só por conta das minhas manhãs nadando com golfinhos, da minha pousada barata e com wi-fi, ou por causa das baladas gringas e gratuitas que se enfileram lado a lado pela Rua dos Golfinhos noite atras de noite, primavera atras de primavera. Eu quase não voltei por conta de Luiza Olssen e de todas as outras luizas, anas e adrianas que dançavam sozinhas enquanto um disco do Kings of Leon tocava repetidamente por cima das ruas pavimentadas em pedras do vilarejo, duzentas e vinte e oito almas maravilhosas que desembarcaram ontem no aeroporto de Natal preparadas para descobrir, para procurar, para amar e abandonar tudo do outro lado do mundo caso seja um pouco necessário. Pipa é o mar, são os bares e é o povo simples, sorridente e acolhedor que lhe vê cruzando as suas vidas pela janela de suas casas. Pipa é a saudade e é a vontade de ficar. Pipa é Luiza. Dança, rodopia e deixa minhas lembranças embriagadas no meio do aperto do meu peito. Vem e vai. Aparece e vai embora. E eu fico aqui só tentando manter a sua imagem viva dentro da minha memória.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

AUMENTA O SOM

A morte e todos os seus amigos por Filipe Freitas Fantastic Four #587 é uma edição excepcional em vários sentidos. Não porque nela acontece a já anunciada morte de um dos membros do Quarteto Fantástico. Na última década, heróis e vilões têm batido as botas às dúzias, só para depois voltar do túmulo como se nada tivesse acontecido. Não, a edição é especial, em parte, por todo o esquema de marketing produzido em volta dela. Foi lançada em uma terça-feira – quando as HQs geralmente chegam às comic shops americanas na quarta – e veio em uma embalagem especialmente projetada (um nada mórbido saco preto) para impedir que os leitores folheassem a revista antes de comprar e estragassem a surpresa. Infelizmente, o tiro saiu pela culatra. O golpe publicitário atraiu a atenção da mídia, que acordou particularmente determinada a sacanear os fãs e saiu publicando a identidade do(a) falecido(a) em manchetes de sites que vão da CNN até a globo. com (então, é bem provável que alguém já tenha estragado a surpresa para você). No fim das contas, o que torna Fantastic Four #587 tão especial é a qualidade do trabalho do autor Jonathan Hickman

Prata DA CASA

Os Silicones

DIVULGAÇÃO

por Lucas Buzatti

Ramones e Odair José. Mulheres e bebidas. Assim pode ser descrito o som d’Os Silicones, trio mineiro de punk rock formado por Drin (vocal e guitarra), Iuri (baixo) e Flávio Gatti (bateria). O grupo nasceu em 2007, com a proposta de trazer o bom humor de volta à cena underground. Em 2010, veio o primeiro full-lenght, Sobre lugares, mulheres e bebidas, disponível para download no Trama Virtual. Canções como Gatinha hype e Eu não fui feito para o álcool contam histórias divertidas, como ousadas aventuras românticas e porres homéricos, que têm a noite de BH como principal cenário. Fictícias ou não, as crônicas conseguem ser regionalistas ao mesmo tempo em que criticam o marasmo cultural e o tradicionalismo mineiro. Para 2011, Os Silicones, que já tocaram em casas como A Obra e Velvet, preparam uma turnê pelo interior de Minas. Mas Drin ressalta os reais objetivos da trupe: “Primeiro, a dominação amorosa; depois, a dominação mundial”.

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e, especialmente, do artista Steve Epting. Essa é provavelmente uma das revistas mais bem ilustradas dos últimos meses, talvez até dos últimos anos. E se a morte de um herói é hoje um clichê, nem por isso deixa de ser uma fonte para boas histórias. Existe algo de tocante e extremamente poderoso nas mortes heroicas da ficção, seja com Mel Gibson gritando “Liberdaaaade!”, em Coração valente, ou mesmo com Bruce Willis salvando o rabo de Ben Affleck naquele filme pavoroso de Michael Bay. Antes de sair por aí reclamando “Que se dane, vai ressuscitar daqui a um mês, mesmo”, como cerca de sete milhões e meio de leitores de internet já postaram em comentários por aí, confira a revista. É uma ótima leitura e, se forem mesmo ressuscitar o personagem logo, tenho certeza de que Hickman e Epting o farão em outra história de tirar o fôlego.

Olha isto: myspace.com/silicones tramavirtual.uol.com.br/os_silicones

Saia da garagem! Convença-nos de que vale a pena gastar papel e tinta com sua banda. Envie um e-mail para redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br com fotos, músicas em MP3 e a sua história.


T0P # 10 Mulher-comida Preste atenção no hífen e não leve a mal o título deste ranking. Aqui, nossa homenagem às moças com nomes comestíveis. Qual delas mais lhe apetece?

CULTURA POP INTERATIVA 1) Mulher-Pêra

Além de “dançar e encantar”, como sugere a criativa legenda de uma revista de fofocas, recentemente, ela lançou um CD de funkaxé (o que quer que seja isso). Definitivamente, mais do que um rostinho bonito.

2) Mulher-Filé

Quando um nome já diz tudo.

3) Mulher-Melancia

Aquela que deu origem à série. Andressa Soares emplacou até na capa da Playboy. E créu.

4) Mulher-Jaca

Se as demais são abundantes, imagina aquela denominada Jaca.

5) Morango

Do Big Brother. Lembra?

6) Carmen Miranda

Não está no nome, mas ela é sinônimo de bananas, maçãs e outras frutas na cabeça. Respeito para ela que nasceu em Portugal, mas virou um dos maiores ícones do Brasil. Sorriso constante e gingado diferente das gringas, tomou o mundo de assalto na década

de 1940. Bons tempos aqueles.

7) Mulher-Maçã

Grace Kelly, nome de princesa e modos meio desinibidos demais para os padrões da realeza. Exemplo: o vídeo que fez com o namorado e caiu na rede.

8) Mulher-Melão

Foi candidata a deputada estadual pelo PSH, mas não ganhou. Valeu, Rio!

9) Samambaia

Alguém disse que samambaia não é algo comestível. Mas eu duvido.

10) Fiona Apple

Estava faltando um nome na nossa lista.

Último ranking >>Jogaram o futuro na lata de lixo 1) Rafael, ex-Polegar – 29.85% 2) Guilherme de Pádua – 22.89% 3) Dunga –14.18%


AH, AS MULHERES

ROCK, MAMY, ROCK!

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por Airton Rolim ilustração Bruno Morais Imagine o cenário: Cannes, na França, numa baladinha do último festival de cinema. Como anfitrião, ninguém mais que Karl Lagerfeld, estilista da Chanel. Na pista, gente tão simples quanto Johnny Depp e Vanessa Paradis. Todos aguardando a entrada da DJ que está agitando os clubes mais hypes de leste a oeste do globo. De repente entra, a passos vagarosos, uma vovó de 70 anos, jaqueta colorida, fone prateado, e começa a tocar. Não! Não é uma montagem para a foto do DavidLaChapelle, o nome dela é Ruth Flowers, vulgo Mamy Rock (vovó do rock, como foi apelidada pelos franceses), que será condecorada como a DJ de idade mais avançada do mundo pelo livro dos recordes. Inglesa, de Bristol, no Sudoeste da ilha real, Mrs. Flowers fala pausado, com sotaque polido e jeitinho de vovó. Aliás, foi no aniversário de seu neto, numa boate em Londres, em 2005, que tudo começou. “O segurança não queria me deixar entrar porque eu era muito velha. Tive que insistir. No final, falei que eu poderia até tocar como DJ.” Poucos dias depois, ela estava treinando a arte da discotecagem com o jovem produtor francês Aurélien Simon. Apresentada ao universo do electro e já arriscando mixar o touch touch e canções de seu ídolo Freddie Mercury, Ruth começava uma nova carreira. Perguntada se já não era um pouco tarde, a resposta veio ligeira e acabou virando slogan: “Prefiro assinar um contrato com uma gravadora do que com uma casa de repouso”. E completou: “Aposentar, talvez, no dia em que eu cair morta”. Não que precisasse. Criada em berço de ouro, filha de um tenor, irmã de multi-instrumentistas, ela estudava canto aos cinco anos, numa infância áurea no interior da Inglaterra. “Sempre observava a minha mãe, dedicada à casa e à família e sempre satisfeita. Agora olho para trás e concluo que ela era como uma escrava e não dávamos conta disso”, lembra Ruth, neta de um conservador, mas que sempre se inspirou em sua avó, militante do sufrágio feminino, movimento que garantiu o direito de voto às mulheres no século 19. Mais tarde, casada e sempre de veia independente, Ruth foi convencida pelo marido a vender suas lojas de tecido e se mudar para Portugal para curtir a vida, onde viveram por

A ESTRELA TEM UMA ROTINA AGITADA, MAS SEUS HÁBITOS SÃO BEM DIFERENTES DOS EXAGEROS DOS DEUSES DO ROCK

10 anos. Lá, se sentindo um pouco entediada, ela começou a dar aulas de teatro e canto, até que o marido morreu. “Foi quando pensei: agora posso ou sentar, sentir pena de mim e esperar que alguém venha me visitar de vez em quando... Ou levantar e fazer algo. Então procurei um agente, tirei umas fotos e comecei a fazer propaganda em TV”, conta. Além de DJ, ela palestra sobre História e longevidade e diz nunca ter parado de trabalhar. Por hobby, Flowers ainda se aventura como estilista e, apesar de ter fixado residência numa pacata vila, tem uma rotina um tanto quanto mais inusitada se comparada à de uma tradicional vovó brasileira. A estrela precisa se adaptar a fusos horários, climas, culinárias e culturas, porém seus hábitos são bem diferentes dos exageros dos deuses do rock. “Sempre me exercitei, não fumo, sou vegetariana há 38 anos, bebo apenas socialmente e tomo uma tacinha de Sherry antes de dormir.” Como se não bastasse, Ruth conta que praticava esportes de resistência e correu a maratona de Londres aos 57 anos. “Alguém pode chegar e dizer ‘ela não sabe as dificuldades que a gente passa’ e eu entendo isso, sei que o sistema não favorece tanto os mais velhos. Considero-me uma felizarda, mas sempre busquei ser uma.” Mamy rock agora está gravando seu disco de electro rock, previsto para sair no verão europeu. Do estúdio em Paris, de onde concedeu a entrevista, ela daria uma passada em casa, na Inglaterra, e já voaria para a Ucrânia no dia seguinte. Antes de terminarmos, a diva deixou escapar que estão escrevendo um filme, “superprodução”, inspirado em sua vida. Lady Gaga que se cuide.

SPOA/OREL SIMON/PHOTOs BY MARJORIE CURTY

O outro lado da septuagenária Ruth Flowers, que ficou mundialmente famosa como DJ

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PERFIL

Sem essa de guerra dos sexos por Sabrina Abreu fotos Roberto Assem

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À frente do Saia Justa há oito anos, Mônica Waldvogel virou nome forte da discussão de temas femininos no Brasil. Mas a jornalista está mais interessada no indivíduo do que no gênero. “Precisamos tirar o guarda-chuva do 'jeito de mulher' e 'jeito de homem'”, ela acredita, arrematando: “É tudo gente” O nome, rosto e voz da jornalista já eram nacionalmente conhecidos, por causa dos trabalhos nas principais emissoras de televisão brasileiras, antes de, em 2002, ela passar a comandar o programa Saia Justa, semanalmente, no canal de TV a cabo GNT. Mas foi discutindo ideias, “sem intenção de chegar a uma conclusão” — como faz questão de frisar —, com outras três companheiras, nas diferentes formações do programa, que Mônica Waldvogel, 55 anos, se tornou meio íntima do público. Encontrá-la no prédio da TV Globo de São Paulo, para uma entrevista, foi estranhamente mais confortável do que em oportunidades anteriores com personalidades do jornalismo ou de qualquer outra área. Pode ser pelo fato de ela, filha de pai rigoroso e mãe romântica, ter um grande apetite por interagir com seus interlocutores — o que resulta numa conversa bem animada. Pode ser pelas opiniões e lembranças que a apresentadora divide com os espectadores, fazendo com que pareça tão próxima. A verdade é que, finda a entrevista e aceito o convite feito por ela para tomar um café, a sensação é de que, embora Mônica não seja uma amiga íntima, fica difícil não imaginar que deve ser bom conviver com sua atitude aberta diante da vida. E ouvir, frequentemente, o bom-humor que permeia suas reflexões sobre assuntos polêmicos e outros nem tanto, da liberdade de expressão às pernas da presidente. Você se tornou uma referência nas discussões de gênero no Brasil?

NESTA ÉPOCA próxima ao Dia das Mulheres, muita gente me procura, sim, para falar sobre isso, por causa do Saia Justa. Mas não sou especialista em assuntos femininos em termos de gênero. Tenho interesse pela visão das mulheres sobre os acontecimentos do mundo. Mas sou jornalista. Jornalistas são seres que ficam fazendo perguntas para muitas pessoas e não mergulham profundamente num tema. Por isso que, quando alguém fala em [mim como] referência, penso: "Meu Deus, será que esperam um pensamento mais articulado, bem-construído sobre as mulheres e o feminismo?". Só tenho intuições e percepções. Faz diferença o fato de a presidente ser mulher?

ENGRAÇADO: sabe que não? A Dilma tentou emplacar a ideia de que a primeira presidente mulher seria um marco, mas acho que não

colou. Uma pessoa que militou na época da ditadura, fez parte da luta armada, é alguém que tem a política no sangue. Mas, depois da prisão e de ser solta, submergiu e emergiu numa secretaria burocrática, tecnocrática, no Rio Grande do Sul, não era alguém que tinha ido ao Parlamento. A gente não sabe muito quem é e o que ela pensa. O fato de o Brasil ter votado na Dilma mostra duas coisas: primeiro, a influência do Lula sobre o eleitorado e, segundo, que esse preconceito contra a mulher é irrelevante. E que a escolha por ela ser mulher também é irrelevante. Há outras variantes que fazem a gente votar na Dilma ou não votar, mais políticas do que de gênero. E, até agora, ninguém falou: “Ela está fazendo isso porque é mulher”. Pode falar que está fazendo por ser PT ou por ser uma criatura do Lula, mas não por ser mulher. A gente é menos machista e preconceituoso do que imaginava. No dia em que ela tomou posse, você tuitou: “Dilma anda feio, mas tem pernas bonitas”. Como foi a resposta do pessoal?

ACHEI o desenho das canelas bonito, elegante. Estava com o Blackberry, assistindo da praia. Não estava com o computador, então não consegui ver as hashtags, com as pessoas dando um malho — as pessoas dão um malho noutro lugar, não necessariamente entrando na minha timeline para eu ver. Depois me falaram que esculhambaram muito. Eu só estava querendo me divertir, mas o Twitter não deixa a gente se divertir em paz. Tem um grau alto de grosseria lá e fico aborrecida. Até aprender a lidar com isso e não ficar aborrecida, fico econômica com ele. De vez em quando vou, depois saio — quando alguém me insulta, perco o interesse [risos]. Sua escolha profissional foi por causa de uma prima que disse: "Jornalismo é estar onde as coisas acontecem e contar isso para as pessoas". Mais de 30 anos depois de formada, essa definição ainda faz sentido?

AMO ESSA DEFINIÇÃO e ela continua fazendo todo sentido. Me senti atraída pelo jornalismo por causa disso e até hoje é minha vibe: acompanhar os acontecimentos. Acho fascinante a gente se alterar, se mudar, se misturar aos acontecimentos, deixar que entrem em você e ser permeável o suficiente para perceber que as coisas vão mudando o tempo. Tem que mudar um pouco junto. Os acontecimentos é que fazem a visão de mundo da gente ser posta em xeque o tempo todo. Não há nada mais idiota do que uma visão de mundo cristalizada, porque o mundo não está nem aí para sua visão. Tudo continua acontecendo, as pessoas, a sociedade, os grupos continuam produzindo ideias, pensamentos, ações que vão afetar tudo isso. Então, ficar o tempo todo brigando com o mundo não tem a menor graça. A graça é o mundo vir dando para você oportunidades de enxergá-lo de formas diferentes. Nesse sentido, acho o jornalismo uma das profissões mais fascinantes que existem. E é também uma das profissões na qual as mulheres

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não são vistas como minoria.

AO CONTRÁRIO [de ser uma minoria]. Na minha geração, as mulheres ocuparam esse espaço. E se sobressaíram. Houve um avanço muito grande: principais colunistas de política no B rasil são mulheres, as de economia, também. Quando você era criança, como era a sua casa? O que tinha nela que fez você ser como é hoje?

SOU a mais velha de cinco irmãos. Será por isso que, na TV, você parece ser tão certinha?

NÓS cinco temos a aparência certinha, porque era uma casa muito disciplinada. Meu pai — que já morreu — era uma pessoa muito rigorosa. Todos os cânones éticos e morais ele passou para a gente: desde a disciplina, a organização, o estudo, até o comportamento na rua que fosse digno para viver na sociedade. Era um estudioso da filosofia e da teologia, uma pessoa muito angustiada, atormentada com o mundo. Ele, sim, de certa forma, sempre brigou com o mundo. Me influenciou, não só porque tinha uma visão de mundo muito sofisticada, mas porque me incomodava tremendamente que ele fosse tão disposto ao choque com o mundo. Mas ele me influenciou muito intelectualmente, porque a casa era um ambiente de conversa e de análise muito exaltada. E sua mãe?

MINHA MÃE, uma filha de português, muito romântica, sempre gostou de literatura aventuresca. Pôs na minha mão os melhores romances quando eu era muito novinha. Então, virou uma mistura. Faz muito sentido eu ter ido para o acontecimento com um pouco de romantismo, de aventura, de gostar. Não vou para a briga, vou para abraçar, porque, de certa forma, meu pai, belicoso como era, me fez ver que não era tão agradável alguém ficar agarrado a suas convicções — o que é muito diferente de você ter fundamentos éticos na vida e norte moral para as decisões que você toma.

O JORNALISMO É UMA DAS PROFISSÕES MAIS FASCINANTES QUE EXISTEM É quase uma verdade que as pessoas não questionam a ideia de as mulheres serem mais maldosas umas com as outras, que é difícil uma amizade sincera entre mulheres — não sei se foi um homem quem inventou essa história.

ACHO ISSO TUDO UM CLICHÊ DANADO. Para viver bem mesmo, precisamos tirar esse guarda-chuva, do “jeito de mulher” e “jeito de homem”, vendo que é tudo gente. Qual é sua relação com o Sagrado? Uma vez, temporadas atrás do Saia Justa, lembro de você falar da Escada Espiral [Karen Amstrong, Companhia das Letras, 2005 — livro que aborda a religiosidade].

ACHO QUE as religiões são dos sistemas mais fascinantes do mundo, porque a gente é fruto desse sistema de crenças, construído na base da história e da sociedade em que a gente está. A gente vive numa sociedade monoteísta, cristã, católica, com uma série de conceitos morais e valores que emanam dessa base religiosa, de seus movimentos e princípios. Por mais que vá se afastando do Sagrado, a gente sabe que aquilo ajudou a construir o mundo em que vivemos. Fui criada num ambiente onde a religião era levada muito a sério. O livro da Karen Amstrong conta sua história como freira que sai do convento e tem a sensação de quanto mais aprendia e estudava, mais se afastava do que era a fé, o que sente que quanto mais razão você põe naquilo, menos fé subsiste ali. Também sinto isso. Você ora, reza, tem algum pensamento?

Quando menina, tinha mais amigas ou amigos?

BRINCAVA MUITO com os meninos, morava numa rua muito calma, com uma pracinha na frente. Mas amizade mesmo era com as meninas.

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SOU CATÓLICA, fui batizada, fiz crisma e tudo, mas não sou crente. Mas é uma coisa quase imediata, se uma pessoa estiver doente, dizer: “Meu Deus, que ela sare, que dê tudo certo”, mas, imediatamente, vem um pensamento: “Mônica, você sabe que não é por aí”. No entanto, tenho uma rela-


ção assim, que não posso dizer que é com o Sagrado, com o Divino ou com o quê, mas todos os dias, antes de dormir, tenho o mesmo pensamento: todas as pessoas que gosto, todas as pessoas que amo, minha mãe, meu filho, meus sobrinhos, meus amigos, não veio nenhuma notícia ruim de ninguém. E não consigo deixar de falar um “obrigada” [risos], não sei para quem digo, mas digo. É um último pensamento, que quase substitui aquela oração da noite, na infância. Em algum momento você foi uma adolescente malcriada?

FUI UMA ADOLESCENTE bem chatinha, dos 13 aos 16, minha mãe diz que eu era insuportável e lembro que era mesmo. Porque, como falei, meu pai era muito rígido nos conceitos e controles que tinha sobre nós. Para formar uma personalidade, tem que ser no enfrentamento, e esse enfrentamento com uma pessoa muito forte é estabanado, tem que ser na base da rebeldia. Dizia que ia, mas ia para outro lugar. Dizia que voltava e não voltava. Vira e mexe era descoberta, porque a gente pensa que é muito esperta, mas não é nada. E foi assim até eu engravidar aos 17 anos.

jeito diferente?

NÃO tem como separar a jornalista da cidadã, é tudo uma coisa só. Mas sou insuportável para assistir televisão com alguém, porque vejo tudo o que acontece, os erros. Da mesma maneira, me debruço sobre qualquer coisa que vejo com minhas perguntas e meu repertório, com o que já vivi, li. Mas procuro manter um jeito flexível de lidar com o que acontece. Não dizer “isso aqui vai ser uma revolução islâmica e, daqui a pouco, o Egito vai ser um país fundamentalista como o Irã”. Pode ser que não seja, não sei o que vai acontecer. Gosto de imaginar que as coisas fora de mim são mais fortes do que o que quero que elas sejam. Acho a vida mais divertida assim. Nesse sentido, imagino que o formato do Saia Justa lhe agrade muito.

MUITO. Demais, não tem compromisso de

NÃO recrimino ninguém que faça, mas, para mim, é uma vida que vem, então venha. Você queria casar?

NÃO, claro que não queria casar [gargalhadas]. Não estava preparada, veio o pacote completo. Era começo do ano, eu teria que conseguir uma transferência para uma escola do Rio, meu namorado era de lá. Foi um choque total, eu ia casar, ser mãe, mudar de cidade, me afastar completamente da minha família. Minha mãe foi adorável, estava assustada, mas deixou bem claro: "Você não precisa se casar por causa disso. Fique aqui, tenha o bebê, vamos criar como sendo um de vocês. Já são cinco, mesmo". Mas meu namorado quis casar. O casamento durou dois anos. Depois disso, a palavra "divorciada" teve seu peso?

NÃO, eu estava no terceiro colegial, minha geração estava em outra, morei no Rio com um cara que tinha outra turma, tinha sido militante de esquerda, torturado, cheguei lá já era outra coisa, aquela confusão, meados dos anos 1970. Voltando aos acontecimentos, o que está acontecendo hoje que chama especialmente sua atenção?

HOJE, HÁ GRANDES ACONTECIMENTOS, no Oriente Médio, especialmente. Por ser jornalista, acredita que veja as notícias de um

Eliana Rodrigues/DivulgaÇÃo GNT

É contra o aborto?

Eliana Rodrigues/DivulgaÇÃo GNT

FOI MUITO TRAUMÁTICO. Já estava tendo minhas primeiras experiências sexuais, suspeitei que estivesse grávida. Fiquei muito apavorada, porque sabia que seria um rompimento total, mas eu não queria. Amava meus pais e meus irmãos. Sabia que ia provocar um choque, levei bastante tempo para conseguir contar. Mas não passava pela minha cabeça fazer um aborto, justamente, por causa de um princípio ético, moral. Fui com meu namorado contar aos meus pais.

FOTOSITE/DivulgaÇÃo GNT

Lembra como foi contar para seus pais?

Três das várias formações do Saia, pelo qual passaram: Fernanda Young, Marisa Orth, Rita Lee, Betty Lago, Luana Piovani, Márcia Tiburi, Soninha Francine, Maytê Proença, entre outros nomes


fechar nenhuma discussão. A gente não está lá para fazer regras, para ensinar nada a ninguém. Só para compartilhar dúvidas, perguntas, insights, percepções. Dá trabalho ser mediadora?

DÁ. Tenho várias funções. A mais importante de todas é manter a conversa interessante para quem está assistindo. E inteligível [risos].

Ao mesmo tempo em que está no GNT, num formato mais próximo do público, você tem um programa na Globo News. Tem um cuidado especial para fazer as duas coisas?

QUANDO fui para o Saia Justa, achava que não voltaria mais para o jornalismo, porque já tinha feito muitas coisas que estavam se repetindo. Fui chamada para voltar e não consegui ficar longe, porque gosto muito. Fui com cuidado no começo do Saia Justa, porque achava que, sendo jornalista, não deveria revelar muito o que penso. Mas foi impossível, principalmenteporque estava com a Rita [Lee], a Fernanda [Young] e a Marisa [Orth], pessoas muito abertas. Aos poucos, fui aprendendo a ficar mais à vontade no programa. Mas preservei algumas coisas, por exemplo, minha vida pessoal. São oito anos e meio, quase nove, e, durante esse tempo, separei, voltei, separei de novo, várias coisas acontecerem e nunca falei — também, por causa da outra pessoa envolvida. Mas falava do meu filho. Dele você falou muito. E tinha o tema recorrente da culpa da mãe que trabalha fora.

MAS isso acabou proporcionando um dos grandes alívios da minha vida. Falei umas três vezes do meu filho. Comentaram com ele no trabalho. E ele me disse: “Não me lembro mais dessas coisas”, pegou na minha mão [pega na mão da entrevistadora] e disse: “Você não poderia ter feito nada diferente, você correu pra caramba, lutou pra caramba, gostei de ter participado dessa luta. E deu tudo certo”. Talvez, no dia a dia, na vida normal, ele nunca se lembrasse de que fosse necessário fazer isso. Mas, como foi dito publicamente, ele chegou e me absolveu de meus erros de mãe [risos]. E foi muito aliviador. Fiquei mais leve, mesmo. Você já falou que chega em casa e não para de checar notícias na internet. Você é viciada em informação?

É, ACHO QUE É ESSE TERMO, mesmo, ou obsessão, por aí. Sempre acho que está faltando alguma coisa: devia ler mais aquele blog, aquele site. Já me peguei na frente do computador às 2h, 3h, vinte para as quatro da manhã. E outros vícios, você tem?

CIGARRO.

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Em 2008, como repórter, nas gravações do Sem Fronteiras (Globo News), em Jerusalém. E, em 1987, em Brasília, nos tempos em que cobria economia na cidade

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

[Risos]. E INTELIGÍVEL. Com um monte de gente falando, nem sempre dá. Depois, tenho que dar um jeito de permitir que todo mundo exiba sua personalidade, sem deixar que essa personalidade seja um ruído tão forte que impeça a conversa — e a coisa comece a complicar. Tenho que fazer isso sem parecer aquela tia chata que fala: "Agora, criançada, vamos acabar com isso" [bate palmas, enquanto fala].


Férias na Islândia, com o filho Daniel, em 2008

Já fumou maconha?

[Faz que sim com a cabeça]. Fumou, mesmo, ou fez igual ao Bill Clinton que não tragou?

[Risada]. OLHA, SOU COMPLETAMENTE VICIADA em nicotina e cafeína. Sou uma pessoa que tem que ficar longe das drogas. Tenho noção exata de que, por exemplo, comecei a andar e fiquei obcecada, só queria andar, andar, andar. Tenho que manter distância dos vícios prazerosos, porque meu sistema de recompensa para equilibrar a culpa vai se agarrar a um vício prazeroso que, se for proibido, me dará muito trabalho. Se for degenerativo, pior ainda. Mas, realmente, não gosto de nada que altere minha cabeça. Adoro beber, mas vou até aquele limite: quando percebo que o cérebro está enevoado, paro. Gosto da minha cabeça do jeito que ela é, com a confusão que produz ela mesma. No filme A lista de Schindler, um personagem fala que "sobriedade é poder". Você concorda?

A FRASE É BOA, mas não levaria a vida de um jeito tão radical. De vez em quando, a gente tem que abrir mão do poder. E da sobriedade. Países como Estados Unidos, Austrália e França têm um marco regulatório de mídia e, no Brasil, uma proposta deve ser enviada ao Congresso no segundo semestre deste ano. Você é a favor dessa medida?

A GENTE NÃO PRECISA de nenhum órgão do tipo. Na verdade, não conheço em outros lugares, mas em países onde a liberdade de expressão é um valor muito sério, os conselhos podem até funcionar para um ou outra correção de exagero. Mas ninguém vai questionar a possibilidade de alguém se exprimir. Sempre lembro do filme do Lerry Flint, por exemplo, em que o cara faz uma revista pornográfica, é processado, e a Suprema Corte decide que é melhor conviver com a pornografia do que ter alguém que diga o que os outros podem ou não ler. É a opção de uma sociedade. Pode-se fazer quantos conselhos quiser, mas isso está sagrado. No Brasil, tão paternalista, é diferente. Sempre tem uma classe social, um partido político que sabe o que é bom para todo mundo. E a quem você delegaria tal função de saber o que é que os outros devem saber? Não conheço ninguém — e olha que conheço muita gente [risos]. Oprah Winfrey era apaixonada pela Diana Ross. Viu a cantora na televisão e pensou: “Meu Deus, existe uma mulher negra que faz isso com a vida dela, também posso fazer”. Alguma mulher lhe inspirou dessa maneira?

TANTAS. Nunca tive só uma que fosse meu modelo, fui tendo

várias, mas gosto dessas jornalistas, pensadoras, ensaístas, que têm um perfil que me faz pensar: “Puxa vida, gostaria de ter uma vida parecida com a dela”. Por exemplo, a Nora Ephron, que teve um blog de culinária. Ela se casou com um dos repórteres do caso Watergate [Carl Bernstein] e ele era galinha, mulherengo. Quando se separaram, de vingança, ela escreveu sobre isso [Amor é fogo, Rocco, 2009]. E o livro virou filme, com Jack Nicholson e Meryl Streep [A difícil arte de amar]. Ela tira você do seu chão e coloca num outro lugar. Escreve roteiros de filmes — adoro Sintonia de Amor. Também escreve crônicas muito interessantes para revistas americanas, como a New Yorker. Escreve gostoso, macio, é uma mulher com uma personalidade. Gosto dessas mulheres que eu poderia ter sido, se tivesse mais talento. Não estou tão longe disso, ela não é uma Madre Teresa abnegada. Jonh Lennon escreveu que "a mulher é o negro do mundo”. O que essa frase representa hoje?

ACHO que de quando ele escreveu para cá, muita coisa mudou, mas se você olhar lugares do Oriente Médio e da África, está abaixo, não vale nada. Mesmo aqui na nossa sociedade com mulheres de classes sociais tão diferentes — mas você, pelo menos, pode fazer alguma coisa por si e, mesmo se não conseguir, pelo menos, está em movimento. Uma vez fiz um Globo Repórter sobre meninas estupradas pelos pais. E aquilo era uma coisa tão terrível que você fala: “Alguém não vale nada, porque não é nada nas mãos de um pai, que tinha a obrigação de protegê-la”, então você vê que está abaixo do negro — no sentido de que ele é discriminado, foi um escravo e demorou a ter um espaço na sociedade. A mulher, muitas vezes, está ainda abaixo disso, mais “coisificada”. Há umas quatro gerações de mulheres que abriram muitos caminhos para que muita gente viesse atrás. Estou indo atrás delas.

AOS 17 ANOS, VEIO O PACOTE COMPLETO: FUI MÃE, ME CASEI, MUDEI DE CIDADE

Nós estamos indo, também. [Risos]

E AINDA FALTA muito para caminhar. comente redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br

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SCRAP IMAGENS/FOTOS: DIVULGAÇÃO

por Alex Capella

SA

fale com ele: alexcapella.mg@diariosassociados.com.br *A coluna Scrap S/A foi fechada no dia 20 de fevereiro. Sugestões e informações para a edição de abril, favor entre em contato pelo e-mail da coluna.

/ Pizza burguer / Mistura de pizzaria com burgueria, o Vila Pizza Burger acaba de abrir suas portas na esquina das ruas Viçosa e Cristina, no Bairro São Pedro, Zona Sul de Belo Horizonte. Com investimentos de R$ 400 mil, os proprietários transformaram o casarão antigo em um ambiente moderno, com uma ampla varanda com vista privilegiada do bairro. Além das pizzas, a proposta da casa é oferecer sanduíches elaborados para quem quer começar ou terminar a noite bem alimentado. A novidade no cardápio é o sanduíche que leva o conceito da casa: o Pizza Burger, feito com dois discos de pizza recheados com o hambúrguer.

/ Bala tech / / Volta da Glória / A versão longa-vida do leite Glória volta a ser comercializada nas gôndolas de Minas Gerais a partir de junho. A LBR adquiriu a Glória no ano passado e retomou investimentos nos itens da marca, que estava fora das gôndolas mineiras desde abril de 2010. A gigante do latícinio é também proprietária da Parmalat e da Poços de Caldas. A empresa, que foi criada no início do ano, após uma fusão entre a Leitbom e a Bom Gosto, aposta na tradição da marca para relançar o portfólio completo da Glória: leite condensado, creme de leite, leite em pó integral, semidesnatado e desnatado e os leites UHT integral e desnatado.

O uísque escocês Ballantine´s traz ao Brasil a versão high tech Equalizer. Com luz própria nas cores azul e vermelha, a proposta da marca com a nova garrafa é iluminar ainda mais as noites dos consumidores ao trazer um equalizador de som eletrônico que mostra as batidas da música que está sendo tocada no ambiente. A edição limitada também pode ser usada como objeto de decoração nos bares das residências de quem é consumidor da marca.

/ geladinho / A linha de Cappuccinos 3 Corações tem um novo integrante: o Cappuccino Shake. A bebida, que deve ser consumida gelada, tem nova fórmula e é mais cremosa. Composta por leite em pó, chocolate e café, leva um toque de baunilha e deve ser preparada com água e gelo. Com o lançamento, a marca pretende atingit jovens e adultos que buscam uma bebida à base de café, mas com o toque refrescante do shake. O novo Cappuccino Shake tem embalagem diferenciada, que lembra o formato de um coração, essência da marca.

/ Chope da Stella / O Celtic Irish Pub abriu as suas portas no Sion, na Zona Sul de Belo Horizonte, onde funcionou o Dela Noche, com uma novidade nos cardápios de Belo Horizonte. No estilo irlandês, a casa traz, de forma inédita, o chope da Stella Artois. Além da vedete da cervejaria belga, o pub também terá no cardápio a famosa alemã Jägermeister, destilado mais consumido no mundo. A bebida é composta por 56 ervas, frutas e raízes e pode ser degustada misturada à cerveja, formando coquetéis aromáticos.

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OS CRAQUES JÁ ESTÃO EM CAMPO. E VOCÊ JÁ PODE COMEÇAR A TORCER.

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