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RECICLAGEM MODERNA
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JAN / FEV / 2009
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EDIÇÃO Nº 14
04 Editorial
08 Notas
As principais características de pinças tipo mexerica para você não errar na hora da compra.
14 ENTREVISTA
50 PLÁSTICO
Arebop: Aprovação de texto no Conama em março poderá ampliar mercado de pneus.
Sacola de plástico não deverá sair do mercado.
06 PAINEL DO LEITOR
24 Capa Os reflexos da crise provocaram alguns lances interessantes no jogo de compra e venda de sucata ferrosa. Veja quais são as saídas usadas pelos comerciantes de sucata.
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44 EQUIPAMENTOS
16 ACONTECE Projeto criado pela Abmaco abre oportunidade para a reciclagem de 13 mil toneladas de compósitos. Nota Fiscal Eletrônica passa a ser obrigatória em 1º de abril.
22 GESTÃO E NEGÓCIOS
54 PAPEL Reunião em Brasília cria esperança para o setor.
56 ALUMÍNIO Sucata para área de fundidos ainda segue em ritmo lento.
58 COBRE Medidas contra as fortes oscilações de preço.
Projetos de eficiência energética para reduzir custos.
60 ELETRÔNICOS
34 LOGÍSTICA
64 TÊXTIL
Os entraves para o Brasil exportar materiais recicláveis.
Aterro é o principal concorrente de recicladores.
40 Especial
66 classificados
A melhor parte sai do País.
O que podemos aprender após a tragédia de Santa Catarina.
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Prezado(a) leitor(a),
www.revistareciclagem.com.br A Revista Reciclagem Moderna é uma publicação da ECOBRASIL Editora Ltda. dirigida aos comerciantes (sucateiros, aparistas), geradores e processadores/consumidores dos mais diversos tipos de sucatas, consumidores de matérias-primas secundárias (recicladas), prestadores de serviços, fabricantes de equipamentos e demais pessoas-chave ligadas de forma profissional à indústria da reciclagem de sucatas.
Diretor EXECUTIVO Adriano Assi
Redação Editor-chefe Sergio Vieira | MTb 27462 redacao@revistareciclagem.com.br Auxiliar de redação Igor Antunes Penteado
ReVISÃO Hebe Ester Lucas
Arte Direção de arte e produção paulo c. r. marcondes arte@revistareciclagem.com.br Designer gráfico ERNANI YOSHINAGA Agradecimento Américo Luiz Varoli
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tiragem 9.000 exemplares
ASSINATURAS www.revistareciclagem.com.br/assinatura
Após três meses de contínua queda nos preços e na demanda de diversos tipos de materiais recicláveis, 2009 não começou tão mal em relação ao consumo da população, como muitos imaginavam. No fim do ano passado, apenas os mais otimistas não falavam em recessão no Brasil no primeiro semestre de 2009. Talvez seja o clima de que o país, tradicionalmente, começa devagar e só decola realmente depois do carnaval. O fato é que, comparado a países da Europa e América do Norte, nossa situação não está tão complicada. Prova disso foram as (ainda pequenas) ações tomadas pelo governo federal que, aos poucos, estão beneficiando setores que produzem bens de consumo. Cada vez mais, segmentos como o automobilístico e a construção civil começam a traçar novos cenários para 2009, confiando na retomada do ritmo da produção industrial. E por falar em confiança, o setor de reciclagem nacional está deixando de lado o receio de exportar seus produtos. É cada vez maior o número de empresas brasileiras que querem participar mais ativamente do comércio internacional de materiais recicláveis. É bem verdade que, para algumas commodities, as primeiras remessas ainda acontecem de forma tímida, especialmente para os comerciantes que estão iniciando seus primeiros embarques, mas a prática, aos poucos, pode se consolidar. Dessa forma, os comerciantes podem ir ganhando flexibilidade para superar momentos de fraca demanda interna como este que estamos vivendo. No setor de sucata ferrosa, por exemplo, existe a esperança de que a exportação possa corrigir o baixo preço da sucata no mercado interno. É importante lembrar que, historicamente, as oscilações de preços (tanto para cima quanto para baixo) do ferro-gusa e do dólar sempre foram justificativas para a queda de preços da sucata nacional. Voltando à exportação de sucatas, cabe ressaltar que os caminhos que o setor de reciclagem vai descobrindo não devem ser trilhados apenas em momentos de crise. Eles devem ser fortalecidos também quando o mercado interno estiver favorável. É importante lembrar que o comércio internacional é feito, sobretudo, de confiança construída em cima de frequência. Ele não deve ser procurado apenas quando a água bater no pescoço. Depois do carnaval o setor de reciclagem aguarda muitas surpresas. Que venha, então, o dia 1º. de março.
55 11 3512-9454
Boa Leitura
ECOBRASIL EDITORA ltda. Av. Vereador José Diniz, 3300, conj. 810 Campo Belo, 04604-006, São Paulo (SP) Fone: (11) 5535-6695 ecobrasil@ecobrasil.com.br www.ecobrasil.com.br
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Adriano Assi, Diretor executivo
Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias sem expressa autorização da editora. As imagens não creditadas foram cedidas pelas produtoras e/ou assessorias para divulgação. As opiniões expressas em artigos assinados não são necessariamente as adotadas pela Revista Reciclagem Moderna.
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painel do leitor
CARTAS
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Opinião
Reciclagem de eletrônicos Estou feliz em ter descoberto e assinado a revista Reciclagem Moderna e espero que continue com matérias interessantes sobre reciclagem. Desde o início de 2008, venho buscando na Internet informações sobre reciclagem, em especial na área de eletrônicos. Não encontrei dados estatísticos sobre o volume gerado no Brasil, taxa de crescimento anual e o futuro desse setor no País. por e-mail
Deborah, não temos informações acumuladas sobre resíduos na área de eletrônica. No Brasil, as empresas desse setor, em geral, não têm nenhuma responsabilidade quanto aos produtos que fabricam. Além disso, existe no País uma grande entrada de produtos eletrônicos fabricados na China e em Taiwan, o que aumenta ainda mais o nível de irresponsabilidade nesse setor. O Brasil é carente no processamento e extração de metais nobres desse tipo de resíduo. Veja nesta edição nossa seção setorial de eletrônicos, na qual você poderá acompanhar o que acontece na área de placas de circuito impresso.
Edições anteriores
Processamento de aço carbono
No site da revista Reciclagem Moderna encontrei dois assuntos de meu interesse em números anteriores: vidro e pneus. Como faço para adquirir as revistas que tratam dos referidos assuntos? Gostaria de parabenizar a editora pela revista de grande qualidade e importância para o setor de reciclagem.
Estou precisando de um equipamento para processamento de sucata de aço carbono, em chapas de espessura de até 200 mm. Gostaria de obter o contato de alguns fabricantes desse tipo de equipamento.
Maurício de Almeida Alves
Almir, em geral, restos de chapas que viram fardos de sucatas possuem espessura bem abaixo dos 200 mm.
Deborah da Costa Muricy
Juiz de Fora - MG
Almir Pereira - Blanks Estampagem Ipatinga - MG
De acordo com alguns consultores da revista Reciclagem Moderna, talvez seja mais viável tentar comercializar o material da forma como está, ou seja, sem tentar transformá-lo em fardos. Devido à situação dos preços de sucata metálica, talvez o custo para preparar material nessa espessura não compense o investimento. Verifique a espessura que você mencionou na sua mensagem. Talvez compense vender a sucata na forma bruta.
Venda de matéria-prima
Desde o início de 2009, o site da revista Reciclagem Moderna está de cara nova e o leitor pode ver agora todos os assuntos que foram abordados até o momento. A assinatura da revista Reciclagem Moderna pode ser feita diretamente pelo www.revistareciclagem.com.br ou pelo telefone: (11) 3512-9454. Para adquirir edições anteriores, ligue para (11) 5535-6695.
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Todos os meses minha empresa gera uma grande quantidade de materiais recicláveis, tais como: ferro, papelão, papel branco, papel toalha, pet, jornal, alumínio, madeira, vidro, pilhas, baterias, equipamentos de informática, cobre, plástico em geral, entulho de obras, fios e cabos. Gostaria de saber onde encontro compradores de sucata. Gildo Magalhães - TV Cultura São Paulo - SP
Os interessados em realizar negócios de compra e venda de matéria-prima podem entrar em contato com o departamento comercial da revista Reciclagem Moderna. Informações pelo telefone: (11) 5535-6695 ou pelo e-mail: publicidade@revistareciclagem.com.br. Algumas empresas preferem entregar suas sucatas (papel, plástico, metal, entre outros) para apenas um gerenciador de resíduos industriais.
Sugestões, críticas ou reclamações sobre o setor de reciclagem ou sobre a Revista Reciclagem Moderna devem ser enviadas para cartas@ revistareciclagem.com.br. Por restrição de espaço, as cartas podem ser editadas. www.revistareciclagem.com.br
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notas
REDAÇÃO
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Reciclador móvel atinge marca de 90 mil toneladas de concreto O primeiro reciclador móvel de concreto do País, comprado pela Craft Engenharia, está prestes a completar dois anos de operação. O Power Crusher, que chegou ao Brasil em setembro de 2006 e começou a ser usado em março de 2007, já processou cerca de 90 mil toneladas de RCD — resíduos de construção e demolição, sendo que mais de 80% desse material foi utilizado nas próprias obras. Segundo a Craft, devido à crescente demanda simultânea do serviço em diversas localidades do País, a empresa tem a intenção de comprar outra unidade. O reciclador móvel, que é de origem austríaca, trabalha em conjunto com outra máquina, cuja função é preparar o RCD que irá alimentá-lo, e custou aproximadamente 1 milhão de euros. O equipamento tem a capacidade de processar 200 toneladas de concreto armado por hora no próprio canteiro de obras, transformando-as em agregado reciclado, com características que se assemelham às da brita. Além da reutiliza-
Empresa já pensa em partir para um segundo reciclador como esse da foto.
ção desse material na própria obra para aterros, reforço de subleito e construção de sub-base de pavimentação, o Power Crusher resolve o problema do descarte dos resíduos sólidos, reduzindo custo e tempo com o transporte desse material para os locais determinados pela legislação de cada cidade.
Os resíduos da construção civil e demolições representam 61% do lixo produzido nas cidades brasileiras, segundo dados da Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério das Cidades. De acordo com a pesquisa, este percentual corresponde a 90 milhões de toneladas de lixo/ano.
Unir: vários setores sob o mesmo teto No próximo dia 25 de março os profissionais de materiais recicláveis vão se reunir em São Paulo para definir os rumos finais da criação da entidade que até o momento tem o nome sugerido de Unir – União Brasileira da Indústria da Reciclagem, uma entidade nacional com sede em Brasília para zelar pelos interesses do setor de comércio e preparação de materiais recicláveis. A entidade será formada pelos vários segmentos que compõem a coleta e beneficiamento de matérias primas secundárias (sucatas, aparas etc). No encontro é esperada a presença de representantes das empresas e entidades que lidam com a reciclagem de sucata ferrosa, não ferrosa, plásticos, papel, vidro, borracha, eletrônicos, fabricantes de equipamentos para o setor, entre outros.
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“Diferente de outras entidades que possuem foco nos geradores de resíduos ou abraçam um ou outro tipo de sucata isoladamente, a Unir vai promover a integração e crescimento de todo um setor que é o verdadeiro agente social e ambiental e dá um destino correto ao que a sociedade hoje chama de lixo”, comenta Adriano Assi, diretor executivo da revista Reciclagem Moderna e incentivador do projeto. Segundo ele, no que diz respeito à organização, a idéia é seguir os moldes de entidades já consagradas internacionalmente no setor, mas, obviamente, respeitando os anseios dos comerciantes do mercado interno. A Unir pretende ser uma união de forças de entidades e empresas que, hoje, atuam de forma isolada em questões
como: preço e tributos dos materiais, busca de novos mercados ou reuniões com o governo. “A Unir será um importante ponto de apoio para todo o mercado e terá como um dos objetivos a promoção do aumento do consumo de matérias primas secundárias”, comenta Assi. “Com um maior consumo de matérias primas secundárias em substituição às matérias primas virgens, maiores são os índices de reciclagem dos materiais e maior é o faturamento de todo o setor: da indústria consumidora de materiais recicláveis ao pequeno comerciante destes materiais”, conclui. Outras informações sobre a reunião da Unir podem ser obtidas através do e-mail: projetounir@revistareciclagem.com.br ou pelo telefone: (11) 5535-6695
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Notas | Redação
Papelão ondulado: aumento diante da crise do reciclado Apesar de modesto percentual, o setor de papelão ondulado registrou crescimento no ano de 2008. Segundo dados da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), as vendas aumentaram em 0,88% em relação ao ano de 2007. O crescimento foi abaixo do esperado, como diz o presidente da associação, Paulo Sérgio Peres. “Encerramos o ano com vendas abaixo das últimas previsões do setor, 1,0% a 1,5%.” Em dezembro, as vendas foram de 157 mil toneladas (queda de 4,52% em relação ao mesmo mês do ano anterior). As vendas de 2008 totalizaram 2,2 milhões de toneladas. O que chama a atenção nesses números é que eles vêm de um setor que, teoricamente, consome papel reciclado para a fabricação de papelão. Entretanto, como vimos na edição número 13 de Reciclagem Moderna, os comerciantes de papel reciclado estão pas-
CURTAS |
Parceria
O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) encaminhou para reciclagem cerca de meia tonelada de sucata de PVC que foi tirada das torres de resfriamento do sistema de ar-condicionado, utilizado para a conservação das obras de arte. Segundo o engenheiro de manutenção do Masp, Pedro Lombardi Filho, a manutenção do sistema de refrigeração é feita a cada cinco anos e a Lumaplastic, empresa especializada na área de PVC, retirou o produto para reciclá-lo. O material será transformado em eletrodutos e tubos para esgoto.
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sando por uma das piores crises da sua história devido aos baixos preços e à redução violenta das encomendas das fábricas de papel. Ou seja, como um setor “consumidor” apresenta certa estabilidade, enquanto o de fornecedores registra fechamento de empresas e desinteresse pela atividade de reciclagem? O baixo preço da celulose no mercado interno é um ingrediente interessante que pode ajudar a encontrar a resposta para essa questão. Vale lembrar que no início da ponta da cadeia da reciclagem do papel misto, jornal e papelão está o catador que, em virtude dos baixíssimos preços, está cada vez mais desinteressado em pegar esse material nas ruas, o que agrava ainda mais a situação dos aterros sanitários. A situação vivida pelo setor de papel reforça a tese de que a consciência ambiental cai por terra quando o preço da matéria-prima secundária deixa de ser atrativo.
Caixas jogadas em rua próxima à estação Santa Cruz, em São Paulo, atestam certa desarticulação no setor de papel reciclado.
Móveis escolares podem virar sucata e ir a leilão A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informou, pelo site oficial do governo, que realizará a maior troca de carteiras e cadeiras escolares do País. A previsão é de que, até o meio de 2009, sejam beneficiados 1,2 milhão estudantes, com 514 mil novas unidades. Ao todo, as novas peças atenderão cerca de três mil escolas por todo o Estado. Além do mobiliário dos alunos, serão trocados também 12 mil móveis utilizados por professores (mesa e cadeira para salas de aula) e seis mil conjuntos de refeitórios (mesas e cadeiras para seis alunos). A informação da Secretaria da Educação é de que a troca dos móveis teve início já no fim de 2008, no período de férias escolares, e que o destino do mobiliário antigo seria o Fundo Social de Solidariedade do Estado de São
Paulo (Fussesp), órgão governamental presidido pela primeira-dama do Estado, Monica Serra. De acordo com a assessoria do Fussesp, nenhum comunicado oficial ou material já chegou à entidade, embora eles estejam sabendo da operação. Assim que estiverem com os móveis em mãos, haverá uma triagem para separar os que estão em bom estado. Estes serão encaminhados para os fundos municipais e entidades cadastradas. Os que estiverem em mau estado irão a leilão eletrônico. Segundo o site do Fussesp, os leilões de materiais inservíveis são a principal fonte de receita do fundo. Também são uma boa oportunidade para os comerciantes de sucata comprarem materiais diversos doados por órgãos do governo ou por empresas da iniciativa privada.
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Notas | Redação
Aço reduz produção, mas sobe em vendas internas, aponta IBS A produção brasileira de aço bruto em 2008 foi de 33,7 milhões de toneladas, representando redução de 0,2% em relação a 2007, segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Essa retração deve principalmente às quedas de produção registradas em novembro e dezembro em decorrência da baixa demanda de praticamente todos os grandes setores consumidores. Em relação aos laminados, a produção de 2008 foi de 24,7 milhões de toneladas, representando queda de 4,5% em relação ao ano anterior. Quanto às vendas internas, o resultado do ano foi de 21,8 milhões de toneladas de produtos, crescimento
de 6% sobre o ano anterior, que refletiu a boa performance do setor até outubro, quando o crescimento acumulado foi de 14,4%. As exportações de produtos siderúrgicos de 2008 atingiram 9,3 milhões de toneladas no valor de US$ 8,1 bilhões. A queda no volume das exportações (- 10,9%) deve principalmente a prioridade das empresas para o atendimento ao mercado interno devido ao forte crescimento observado até o 3º trimestre. A receita das exportações, que representou aumento de 21,1%, foi decorrente principalmente dos elevados níveis de preço do mercado internacional naquele período.
Câmara rejeita PL de catadores O Projeto de Lei 2.710/03, do deputado Milton Monti (PR-SP), que regulamenta o exercício da profissão de catador de lixo reciclável, foi arquivado pela Câmara. Seguindo parecer do relator, o deputado Roberto Santiago (PV-SP), o projeto foi rejeitado pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Segundo Santiago, o PL não preenche requisitos para a regulamentação de uma profissão, como garantia de fiscalização do exercício profissional. De acordo com o projeto, o catador deveria ter curso ou treinamento em reciclagem e teria de usar obrigatoriamente equipamentos de segurança, como luvas e botas. Outro projeto, que tramitava apensado — quando dois ou mais projetos tramitam em conjunto, ou seja, propostas semelhantes são apensadas ao projeto mais antigo — também foi rejeitado pela comissão, o PL 5.649/05, do deputado Eduardo Valverde (PT-RO). Segundo o relator Roberto Santiago, “apesar de os projetos disporem sobre a proteção dos coletores, catadores e recicladores de lixo, não foram estabelecidas as responsabilidades nem os deveres relativos ao exercício profissional, que não devem ser confundidos com os deveres e responsabilidades que qualquer trabalhador deve ter”. Como tramitava em caráter conclusivo — no qual o projeto não precisa ser votado pelo Plenário, apenas pelas comissões designadas para analisá-lo — e a Comissão de Trabalho era a única responsável pela análise de mérito, a proposta foi arquivada.
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No que se refere às importações, registrou-se o volume de 2,6 milhões de toneladas (US$ 3,7 bilhões). O consumo aparente nacional de produtos siderúrgicos foi de 24,0 milhões de toneladas em 2008, 9,1% acima de 2007. O consumo de produtos planos de 13,9 milhões de toneladas representou crescimento de 4,1%, enquanto para longos (10,1 milhões de toneladas) o aumento foi de 16,9%, refletindo o acelerado crescimento do mercado observado até outubro, principalmente na área da construção civil. Em ambos, no entanto, refletindo a mudança de cenário da economia e a baixa demanda dos setores consumidores, observou-se forte queda nos dois últimos meses do ano.
CURTAS |
Dia da Reciclagem em MT
Foi instituído, por meio da Lei 9.058, o Dia Estadual da Reciclagem. O projeto, de autoria do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Sérgio Ricardo de Almeida (PR-MT), foi sancionado em dezembro pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi. O dia escolhido foi 5 de junho, data em que é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, desde 1972.
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Prefeituras de Sergipe unidas por usina de reciclagem Encabeçados pelo prefeito de Itabaiana, Luciano Bispo de Lima (PMDB), os 14 prefeitos da região Agreste do Estado esperam que o governador Marcelo Déda (PT) patrocine o projeto. A instalação da usina de reciclagem que beneficiará os municípios que compõem a área necessita de um investimento inicial de R$ 500 mil.
Os prefeitos já fizeram uma reunião em Itabaiana junto a representantes das Universidades Tiradentes e Federal de Sergipe para discutir melhor a questão. Segundo Bispo, os municípios não têm condições de arcar com a despesa, por isso, a ajuda do governo do Estado é imprescindível. O próximo passo será marcar uma audiência para falar com Marcelo Déda, a quem vão explicar a finalidade da proposta. Para o prefeito de Itabaiana, a reciclagem do lixo resolve o grande problema da região, porque todo o material será reaproveitado pela usina de beneficiamento.
Consumo brasileiro de alumínio bate recorde Segundo os dados mais recentes (até o fechamento desta edição) da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), divulgados em dezembro de 2008, mesmo com a desaceleração do último trimestre do ano, o consumo nacional de produtos transformados em alumínio deve atingir mais de 1 milhão de toneladas. Esse volume representa um aumento de 12% em relação a 2007. Entre janeiro e setembro, o setor vinha apresentando crescimen-
to um pouco maior, de 14,7%. As áreas que mais se destacam são: chapas e lâminas, com crescimento de 12,1%; extrusão, com 9,5%; fundidos, com 12%; e fios e cabos, com 25,3% de aumento. Já o saldo da balança comercial deve fechar bem positivo, em US$ 3,8 bilhões. Isso porque as exportações devem ficar na casa dos US$ 4,8 bilhões, enquanto as importações atingirão cerca de US$ 1 bilhão.
Pilhas
Depois do Banco Real, agora é a vez de o Banrisul iniciar a coleta de pilhas e baterias. O projeto vai começar em 15 pontos de Porto Alegre. O recolhimento e o armazenamento das pilhas serão realizados pelos Correios. Na nota divulgada pelo banco não foi informado o destino que será dado às pilhas enquanto durar o projeto. O mercado de pilhas foi tema do setorial Eletrônicos em nossa edição 12 (Reciclagem Moderna, set./out. 2008).
Consumo doméstico de Produtos Transformados em Alumínio (em mil ton.) (p) previsão Fonte: Abal
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entrevista
AREBOP
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Sérgio Vieira
Mercado de pneus fora de uso poderá aumentar em 2009 Dentro
da reciclagem, o setor de pneus é um dos que menos sentiu os impactos da crise mundial que anda atrapalhando a comercialização de materiais recicláveis. Com a coleta de 330 mil toneladas de pneus em 2008, segundo a Associação Nacional das Empresas de Reciclagem de Pneus e Artefatos de Borracha (Arebop), o setor está na expectativa para a aprovação do novo texto da Resolução 258/99 do Conama. A coordenadora de área técnica do Conama, Dominique Louette, disse que a principal diferença nesse novo texto está na quantidade de pneus que as empresas fabricantes são obrigadas a enviar para reciclagem. Segundo ela, pelo novo texto que está para ser aprovado, as empresas
são obrigadas a atuar somente no mercado de reposição, ou seja, encaixam-se nesse perfil apenas os pneus já totalmente fora de linha. Os fabricantes conseguiram obter isenção sobre os pneus novos e alegam que o passivo ambiental já foi resolvido. Entretanto, chama a atenção o fato de a Arebop estimar o mercado de pneus em 330 mil toneladas/ano, enquanto que a entidade criada pelos fabricantes nacionais (Bridgestone Firestone, Goodyear, Michelin e Pirelli) aponta para uma retirada de 160 mil toneladas em 2008. Para saber mais sobre os impactos do novo texto no setor da reciclagem, a revista Reciclagem Moderna esteve na sede da Arebop, em Santo André (SP). O diretorexecutivo da entidade, José Carlos Arnaldi, acredita que o texto, da forma como está apresentado, pode aumentar o mercado de reciclagem em mais 30% (percentual sobre a quantidade que os fabricantes dizem que recolhem).
Arnaldi acredita que mercado será ampliado em 30% com novo texto do Conama.
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RECICLAGEM MODERNA: Qual é a posição da Arebop quanto ao novo texto da resolução 258/99 do Conama? Arnaldi: A resolução era para ter sido aprovada em novembro. Para nós, do jeito como estava até a última reunião, ela poderia ser aprovada. Não é uma resolução de aprovação 100% para todo mundo. Da forma como está hoje, dá para levar a situação por mais dois anos. Depois, se for o caso, faremos uma nova.
cartado. Tem gente que leva o pneu para casa e depois joga em qualquer lugar. Mas da forma como está o texto, os fabricantes poderiam cumprir e assim teríamos um acréscimo de 30%. RM: Da forma como está hoje, o senhor acredita que o texto será aprovado em março? Arnaldi: Acredito que sim.
RM: Por que essa resolução é importante para o setor de reciclagem de pneus? Arnaldi: Caso ela fosse aprovada da forma como está, teríamos um aumento de 30% no volume de pneus para reciclar no mercado. Os fabricantes e importadores teriam de aumentar o volume de destino. O texto antigo da resolução não dava condição para os fabricantes porque pedia reciclagem sobre produção. No novo texto pede um destino correto de pneus de reposição. RM: E por quê? Arnaldi: Vamos partir do princípio de que o passivo é zero no País. Tome como exemplo uma produção de 700 pneus, sendo que 200 vão para o exterior e 200 vão para equipamento original. Teríamos 300 pneus para reposição. Nesses 200 que vão para equipamento, não existe uma contrapartida ambiental porque são veículos novos. Ou seja, seriam 50 carros novos que recebem 200 pneus novos. Depois que esse pneu rodar é que vamos atuar nos “inservíveis”. RM: Mas ainda existe pneu no meio ambiente. Arnaldi: Existe. É o chamado pneu des-
RM: Existem mercados que já podem ser considerados significativos para a venda de pó de pneu? Arnaldi: A entrega do pó para a fabricação de grama sintética começa a despontar hoje como um mercado promissor, inclusive porque recebeu aprovação da Fifa. O “asfalto borracha” (mistura do pó de borracha ao asfalto), que já é usado pela maioria das concessionárias de rodovias, é outro mercado que está se mostrando interessante. Algumas legislações em âmbito municipal também caminham no sentido de usar pó para recapeamento de ruas e avenidas. Uma consulta pública da Agência Nacional do Petróleo (ANP) sobre o uso do pó de borracha também dá sinais da abertura nesse setor de construção. RM: A crise mundial provocou algum tipo de impacto no setor de reciclagem de pneus? Arnaldi: As tramas de aço dos pneus radiais que são enviadas para o setor siderúrgico tiveram o seu preço reduzido em mais de 50%. Agora o serviço sobre a borracha é o principal produto de um pneu, este não mudou em função da crise. Hoje 23% dos pneus rodando do mercado são convencionais (com câmara), mas 79% já são radiais. Embora o pneu radial tenha muito mais volume, no pneu convencional tem-se um método muito mais rápido de reciclagem.
RM: Qual é a quantidade de pneus que se descarta hoje no mercado para reciclagem? Arnaldi: Por volta de 350 mil toneladas, sendo que o mercado consegue absorver essa quantidade.
RM: Como está o envio de pó de pneus para as cimenteiras? Arnaldi: Hoje estão comprando por R$ 50,00 a tonelada. O que as cimenteiras consideram resíduo, na verdade é um combustível alternativo já reconhecido pelo Ibama. Essa prática de cobrança pelas cimenteiras não é exclusiva do Brasil, acontece também em outros países. |||
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acontece
Compósitos
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Uso de compósitos por segmento
da redação
Fonte: Abmaco
13 mil toneladas de compósitos poderão ter novo destino Projeto está aberto para qualquer empresa que deseja investir em reciclagem
A indústria
de materiais compósitos encerrou o ano de 2008 com um faturamento de R$ 2,3 bilhões, um aumento de 20% em relação a 2007. Ao todo, 2.200 empresas no Brasil trabalham com a transformação desse material nos mais diferentes produtos (piscinas, peças automotivas, tubulação, telhas etc.), totalizando 170 mil toneladas/ano. Para quem desconhece, o compósito é um produto que nasce da combinação de outros dois tipos de materiais. Na área dos polímeros, o mais conhecido é o plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV). Os produtos são criados a partir da deposição de um tecido formado por finíssimos filamentos de vidro sobre uma estrutura de plástico. Em seguida, é feita a adição de uma resina de poliéster sobre a fibra para que seja criado um “composto” (daí a origem da palavra: compósito). O PRFV tem uma ótima resistência à tração, flexão e impacto. Não enferruja e possui boa resistência em ambientes altamente agressivos. É leve e não conduz corrente elétrica. (Obs.: No PRFV, o plástico entra como parte da estrutura do composto, que geralmente cria produtos apenas com o uso da fibra e da resina.)
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Na média, 30% dos compósitos produzidos no País são aplicados no setor de transporte (reparos, parte da cabine de caminhões e parachoques); 27% vão para a construção civil (telhas, isolamentos e caixas d’água); e o setor de energia eólica responde por 16% (aplicados nas hélices das turbinas). Boa parte da fabricação desses produtos no Brasil ainda é 100% manual. Por esse motivo, durante o processo é gerada uma grande quantidade de rebarbas e peças com defeito. Esse material, somado aos produtos pós-consumo, gera um total de 13 mil toneladas/ano de compósitos que vão parar em aterros sanitários por falta de opção de envio no mercado, segundo informações da Abmaco – Associação Brasileira da Indústria de Compósitos. As perdas, mais o valor necessário para envio em aterros, representam um custo de R$ 90 milhões por ano para as empresas do setor. Para reverter essa situação, a Abmaco, a partir de um consórcio de 16 empresas, criou um projeto junto com o IPT orçado em R$ 2 milhões. Financiada pelo BNDES, a ideia do projeto é reinserir aquilo que hoje é considerado descarte pela indústria de compósitos. “Esse projeto vai se transformar numa oportunidade de negócios para quem estiver disposto a investir”, diz o presidente da Abmaco, Gilmar Lima.
Lima: projeto está aberto para quem quiser investir
No projeto, o IPT ficou responsável por desenvolver o aditivo para ser aplicado ao compósito e torná-lo útil novamente à indústria de transformação. Também faz parte do projeto o desenvolvimento de toda a logística reversa, que inclui denominação, triagem e tratamento do material que será reutilizado. “O primeiro laboratório de testes será instalado em São Paulo”, disse o presidente. Depois, a ideia é que tenha uma unidade em cada um dos pontos de maior consumo de compósito. Detalhe: o projeto é aberto, ou seja, pode participar qualquer empresa que esteja disposta a comprar os royalties da tecnologia e criar uma logística de retirada e entrega de material. Segundo Lima, a meta do projeto é chegar à reciclagem de pelo menos 9 mil toneladas de compósitos. |||
Transformadores de compósitos possuem custo de R$ 90 milhões com perdas e envio de material para aterros.
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acontece
NOTA FISCAL ELETRÔNICA
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Sérgio Vieira
Nota Fiscal
Eletrônica:
um novo jeito de comprar e vender sucata Apesar de o setor estar obrigado a emiti-la, o difícil é achar empresa que já adotou a nova regra
A Nota
Fiscal Eletrônica (NFe) já é uma realidade para mais de 2.300 empresas só no Estado de São Paulo. Ela já está presente em quase todos os Estados do País e elimina boa parte do papel que ainda é necessário para comprar, vender ou circular com mercadorias. Para o setor de reciclagem, em particular, a NFe aumenta o poder de rastreabilidade de compra e venda de sucata. Além de reduzir custos e agilizar processos, a NFe também tem o objetivo
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de reduzir o número de fraudes e sonegação fiscal. O assunto foi um dos destaques na última edição da Exposucata, que aconteceu no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. “A nota fiscal tradicional pode representar até 5% do custo fixo de uma empresa”, disse Newton Olliver de Mello, líder do projeto NFe no Estado de São Paulo. Segundo ele, apenas a Volkswagen possui um gasto mensal de R$ 186 mil com impressão e armazenamento de notas fiscais convencionais. Em Mello: papel pode representar até 5% do custo fixo
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acontece | Nota Fiscal Eletrônica | Sérgio Vieira
algumas empresas, o gasto pode ultrapassar 5% do custo fixo. É o caso da Souza Cruz, com 8 milhões de notas fiscais emitidas mensalmente. Além do custo de impressão, o armazenamento das notas tradicionais é outro problema, não apenas das empresas, mas também do poder público. O governo do Estado de São Paulo, por exemplo, possui galpões para armazenar 3,6 bilhões de notas (o montante, se colocadas lado a lado, é suficiente para dar 27 voltas no planeta). Localizar um documento no meio dessa papelada não é tarefa fácil.
Claudio Coli, diretor da Mastersaf durante a Exposucata 2008
A partir do dia 1º de abril é obrigatória a emissão de nota fiscal eletrônica na entrada de sucata acima de 200 kg.
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Com a adoção da NFe, todo o trâmite de envio, fiscalização e recebimento de mercadorias passa a funcionar digitalmente (veja o box “Como funciona na prática”). Os caminhões também passam a ter menor tempo de parada em postos fiscais, uma vez que os agentes irão acessar a nota eletronicamente. Num segundo momento, a Secretaria da Fazenda de São Paulo estuda um projeto que prevê a implantação de RFID (identificação por radiofrequência) nos caminhões. Dessa forma, o agente ficará conhecendo o conteúdo da carga antes mesmo de o veículo chegar ao posto fiscal. No Estado de São Paulo já são 110 mil NFes autorizadas por dia, sendo que grande parte refere-se às empresas que já estão obrigadas a adotar esse novo modelo de emissão fiscal. É o caso dos fabricantes e distribuidores de cigarros e os produtores e importadores de combustíveis líquidos, que passaram a emitir a NFe em abril de 2008. A informação é de
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Claudio Coli, diretor da Mastersaf. No último mês de dezembro, o governo de São Paulo passou a obrigatoriedade para os fabricantes de automóveis, ônibus, motos, cimento, medicamentos alopáticos, refrigerantes, bebidas alcoólicas, frigoríficos e empresas da área de energia elétrica. Também passam a ser obrigados os fabricantes de ferro-gusa, aços semiacabados, laminados planos ou longos, trefilados e perfilados. Até setembro de 2009, o governo paulista acredita que haverá 15 mil estabelecimentos comerciais emitindo e recebendo a NFe. O setor de sucata de metal foi um dos que mereceu destaque no plano de implantação da NFe em São Paulo. O Estado (conforme previsto na portaria CAT 162/08) isentou a emissão de NFe na entrada de sucata de metal com peso inferior a 200 kg que for adquirida de particulares ou catadores. Entretanto, no fim do dia, o comerciante deve emitir uma NFe englobando o total das entradas ocorridas. A partir de 1º de abril de 2009 (e não é mentira), entrarão na obrigatoriedade do governo paulista as empresas que comercializam produtos siderúrgicos e ferro-gusa, bem como os fabricantes de alumínio, laminados e ligas. E é nesse momento que os comerciantes de sucata em grande escala deverão entrar na obrigatoriedade. O credenciamento e emissão de NFe já pode ser feito de maneira voluntária, mas até o momento não há notícias de participação de empresas paulistas da área de reciclagem. Nas secretarias da Fazenda do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, a Gerdau foi uma das empresas que já se credenciou para emissão de NFe. No Rio Grande do Sul também foi encontrado o registrado voluntário da MCR Indústria e Comércio de Sucatas. Infelizmente, não conseguimos nenhum contato dessa empresa para explicar suas operações com NFe.
No Estado de
Como funciona na prática
São Paulo, as
para o vendedor. 4 O vendedor prepara então o carregamento do caminhão e imprime uma versão reduzida da NFe chamada de “Danfe” que será entregue para o motorista. 5 Quando a mercadoria chega ao seu destino final, o comprador dá baixa na nota entrando no site do sistema da Secretaria da Fazenda (mediante uma assinatura eletrônica). 6 No fim da operação, comprador, vendedor, secretaria e receita terão cópias dos documentos.
1 Após ter se credenciado junto à Secretaria da Fazenda do Estado, o vendedor baixa um programa pela Internet para a geração de notas fiscais. Após digitar todas as informações necessárias na nota, o emissor gera um arquivo que será assinado digitalmente. O arquivo é então enviado para a Secretaria da Fazenda. 2 O arquivo é validado pela secretaria que gera uma cópia para arquivo e envia uma outra para o banco de dados da Receita Federal. 3 Depois de validada pela Secretaria, a NFe volta
empresas que se recusarem a emitir NFe poderão pagar imposto
Comprador
Vendedor
integral mais acréscimo de
4
1
3
5
multa.
6
2 Secretaria da Fazenda
De acordo com Mello, a NFe é apenas um dos projetos do programa Sped – Sistema Público de Escrituração Digital. Toda a parte contábil e fiscal das empresas, no futuro, também existirá apenas no formato digital. A assessoria de imprensa da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo informou que existem penalidades para as empresas que se recusarem a
Receita Federal
emitir NFe, conforme previsto no Decreto RICMS 45.490 de 30 de novembro de 2000 e na Lei 6.374. Dependendo da situação, a empresa é obrigada a pagar o imposto integral acrescido de multa. Em São Paulo, o programa criado para emissão de NFe (disponível pelo site www.fazenda.sp.gov.br/nfe/) permite que o estabelecimento faça alguns testes antes da operação do sistema. |||
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gestão & negócios
REDUÇÃO DE ENERGIA
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Redução de custos com energia elétrica nas empresas do setor de reciclagem por meio da eficiência energética
Sérgio Vieira
Oportunidade para reduzir a conta de energia Especialista vê espaços para melhorias nas empresas de reciclagem
Oportunidades
Recursos
O ganho
• Levantamento e análise da situação existente • Análise da viabilidade técnico-econômica
previsto na redução da conta de
• Autofinanciados • Concessionárias • Fundos de investimento • Fornecedores • Parceiros • Proesco
energia servirá como garantia para o financiamento
Implementação
Uma empresa
sem recursos e mantendo os equipamentos ligados pode reduzir o consumo de energia elétrica? O feito pode parecer difícil, ou até mesmo impossível, mas algumas empresas no Brasil conseguiram montar projetos com recursos do governo e reduziram suas contas de energia mantendo o ritmo de produção. O feito é possível graças a um convênio existente entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), agentes bancários e as empresas que se especializaram na montagem e aplicação de projetos de eficiência energética, conhecidas no mercado como “Escos” — sigla em
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Ricardi: redução na conta pode chegar a 50%
inglês para Energy Services Companies. O projeto também pode ser financiado pela própria empresa interessada, pelas concessionárias de energia, fundos de investimento, fornecedores e parceiros. No setor de reciclagem, o tema ganha importância, uma vez que, depois do transporte, o consumo de energia é considerado a segunda maior despesa nas empresas. “Há espaços para aplicar algumas tecnologias mais econômicas de energia nas empresas desse segmento”, comenta Armando Ricardi Junior, conselheiro da Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia (Abesco). A redução de custos de energia nas empresas de reciclagem foi tema da última edição da Exposucata, que aconteceu durante o mês de outubro de 2008 em São Paulo. O ganho previsto na redução da conta de energia servirá como garantia para o financiamento do projeto. “A Esco fica com a responsabilidade de apresentar a proposta para o BNDES, buscar o agente e fazer a implantação de eficiência energética na empresa”, disse Ricardi. Parte do ganho obtido com a redução na conta de energia é
• Execução dos projetos aprovados • Medição & Verificação dos resultados
do projeto que é elaborado pela Esco.
usada para o pagamento da Esco. De acordo com Ricardi, em alguns casos, a redução de preço na conta pode chegar a 50%. No geral, a Esco atua nas empresas em algumas frentes de ações, como iluminação, motores, ar comprimido, bombeamento, aquecimento, automação e controle, correção do fator de potência, entre outras. As Escos não costumam cobrar para uma avaliação da situação das empresas. O conselheiro da Abesco informou que, após a redução na conta de luz, as empresas abrem a possibilidade de pleitear os créditos de carbono junto às entidades competentes. Essa modalidade de negócio premia empresas e nações que, comprovadamente, promovem ações que captem o carbono da atmosfera, ou ainda projetos que evitam a emissão desse elemento (é o caso do uso racional de energia). Pelo Proesco – Programa de Eficiência Energética do BNDES, já foram financiados dez projetos de empresas, que totalizaram recursos de R$ 53 milhões. De acordo com a assessoria do banco, outros seis projetos, que solicitam financiamento de mais R$ 37 milhões, estão no processo de avaliação. |||
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FERROSOS
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Sérgio Vieira
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Matéria fechada no dia 4 de fevereiro
Comerciantes de sucatas ferrosas buscam alternativas para o setor
Foto: World Steel
capa
Parada de compras no mercado interno e movimento de verticalização das siderúrgicas obrigam comerciantes de sucata a tomarem atitudes
Tradicionalmente, as siderúrgicas brasileiras redu-
zem as compras de sucata ferrosa entre o dia 15 de dezembro e a primeira quinzena de janeiro. Mas, especificamente em 2008, a crise mundial fez com que as siderúrgicas antecipassem suas reduções de compra de sucata para o início de novembro de 2008. A redução de compra evoluiu para a paralisação total a partir do dia 15 de novembro. Durante todo o mês de dezembro de 2008 e janeiro de 2009, muitos comerciantes de sucata não conseguiram vender 1 grama de material para empresas como Gerdau, Barra Mansa ou Arcelor Mittal. Até o dia de fechamento dessa matéria, a situação estava inalterada nas empresas de vários associados do Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e Não Ferrosa do Estado de São Paulo (Sindinesfa) que foram contatados por nossa reportagem.
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Siderúrgicas cresceram mesmo com crise
Assim como ilustra a capa dessa edição, o setor de sucata ferrosa está em xeque e precisa tomar atitudes. As medidas implementadas pelos comerciantes vão desde o corte de funcionários à interrupção de compras avulsas de fornecedores. Mas, a mais interessante e positiva de todas as atitudes, com certeza, é a exportação de sucata ferrosa. “Embarcamos sucata para o Paquistão, China, Índia, Coreia do Sul e Taiwan”, comenta o diretor geral da RFR (Guarulhos-SP), Marcos Sergio Gonzalez. Segundo ele, o material enviado foi a sucata de obsolescência processada por shredder. A medida proporcionou a entrada de capital de giro para a empresa que estava com estoque totalmente parado desde o mês de novembro de 2008. “Estávamos esperando uma melhora para esse mês de janeiro, mas ela não aconteceu”. Até o momento, a RFR não
interrompeu a compra de sucata, mas em dezembro teve que cortar 30% do quadro de funcionários como forma de reduzir custos. “Estamos há exatos três meses sem realizar negócios no Brasil”, disse. Um comerciante da região de Campinas (que não quis se identificar) informou que também encontrou na exportação uma forma de levantar capital de giro. A sucata teria sido vendida por um preço melhor que aquele oferecido pelas siderúrgicas. “A exportação aconteceu em boa hora, estávamos parados desde o dia 15 de novembro”, disse um representante da empresa. Já a solução encontrada pela Sulfermetal (Santo André – SP) foi comprar sucata apenas de fornecedores assíduos e já abriu mão dos fornecedores eventuais. Caso a situação continue por mais algumas semanas, a empresa também passará a pagar para os fornecedores somente quando receber dos clientes.
“Em 40 anos de existência da nossa empresa nunca vimos uma situação assim” comenta Josilvan de Barros, um dos sócios da Sulfermetal. Segundo ele, a situação só não está pior porque a empresa está com as contas em dias e não fez grandes investimentos em 2008, fato que não comprometeu o caixa em 2009. A empresa recebeu a visita de um grupo de coreanos interessados na compra de sucata, mas não conseguiu fechar negócio. Apesar das ações de alguns comerciantes que o leitor viu até aqui, a situação encontrada em boa parte das empresas é de espera. De um lado estão as siderúrgicas com paralisação total de compra de material proveniente dos grandes comerciantes; do outro está o receio de muitos comerciantes em ingressar no mercado de exportação (leia mais sobre esse assunto na nossa Seção de Logística). Além disso, a sucata de obsolescência continua
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capa | Ferrosos | Sérgio Vieira
sendo oferecida, mas nos pátios das empresas comerciantes não há mais espaço para estocar material. Para o presidente do Instituto Nacional de Sucata Não Ferrosa, Ferro e Aço (Inesfa), José Arévalo Júnior, as exportações que estão ocorrendo na área de sucata estão focadas apenas em excedentes. “O setor sempre teve a capacidade de exportar sucata, mas em respeito ao mercado nacional nunca houve essa necessidade”, comentou. Vale lembrar, entretanto, que onde não existe consumo interno, toda a produção se torna excedente. De acordo com informações divulgadas no mercado pela Steel Business Briefing (SBB), os preços da sucata apresentaram estabilidade depois da queda no quarto trimestre de 2008. Nos EUA, os preços tiveram acréscimo de US$ 90 por tonelada em dezembro. O mesmo aumento também aconteceu nas exportações para o Sudeste Asiático. Ainda de acordo com o SBB, a sucata triturada nos EUA oscilou entre US$ 260-280/t durante o mês de dezembro, enquanto que o pacote de HMS 1 (Heavy Melting Steel) variou entre US$ 220-225/t. Na Ásia, a sucata oscilou entre US$
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IBS discute crise com o presidente Lula O Conselho Diretor do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) esteve reunido em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para tratar da situação e de perspectivas do setor diante da crise mundial e seus impactos no País. Foi enfatizado pelo IBS que a perspectiva de crescimento do mercado interno é o principal diferencial que o Brasil apresenta em relação à maioria das grandes economias, muitas já em recessão. Para isso, no entanto, é necessário que o mercado interno seja preservado e incentivado por meio de novas medidas de apoio aos investimentos e ao consumo, além de mais apoio contra as importações desleais. Na ocasião, o IBS foi representado por Jorge Gerdau, presidente do conselho administrativo da empresa que leva o seu nome.
240-280/t. Na Europa foi o local onde a sucata teve melhor recuperação entre € 180-240/t (US$ 245326/t). A Turquia que figura como um dos principais compradores mundiais de sucata teria puxado a leve alta de preços. Na opinião do presidente do Inesfa, se for considerado apenas preço é preciso observar se realmente é interessante exportar sucata. “Ninguém paga mais que a realidade de mercado”, disse. Ele lembra
O IBS vê a necessidade de ampliação dos cortes de juros e a desoneração tributária dos investimentos, consumo e exportações e substancial melhoria nos mecanismos de recebimento e/ou compensação de créditos tributários das empresas. Ainda assim, devido ao bom desempenho registrado de janeiro a outubro, as vendas internas, 21,8 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos, apresentaram crescimento de 6% sobre o ano anterior. As exportações (9,3 milhões de toneladas) caíram 10,9% principalmente pela prioridade das empresas para atendimento ao mercado interno devido ao forte crescimento observado até o terceiro trimestre. Os investimentos da siderurgia em 2008 totalizaram US$ 4,3 bilhões.
que em cada remessa para o exterior é preciso considerar o custo de frete de pelo menos US$ 100 por tonelada. O Inesfa enviou uma carta ao Ministério da Indústria e Comércio com dois pedidos: redução da taxa de juros para que os comerciantes de sucata possam financiar seus estoques; e a viabilização de um canal de exportação para sucatas a granel. Para o presidente do Inesfa, o governo federal deveria realizar ações que vão bem além do apoio que é dado a movimentos de catadores e cooperativas de reciclagem. “Muitas pessoas poderiam ser beneficiadas se houvesse mais atenção às empresas onde os recicláveis são vendidos, que são os comerciantes”. Na Cofarja, onde Arévalo é diretor-geral, houve um corte de 30% dos funcionários em dezembro e, atualmente, 40% da frota de caminhões encontra-se parada. A empresa ainda não colocou produto no mercado externo, mas segundo Arévalo algumas negociações estão em andamento.
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Fluxo de sucata
capa | Ferrosos | Sérgio Vieira
Sucata obsolescência Geradores Industriais de sucata
Sucata obsolescência Geradores Industriais de sucata
CENÁRIO ATUAL Siderúrgicas Comerciantes de sucata Fundição
CENÁRIO FUTURO Siderúrgicas Comerciantes de sucata
A exportação como medida para gerar fluxo no mercado não é algo exclusivo dos grandes comerciantes de sucata. Uma notícia divulgada no Jornal “O Povo”, do Estado do Ceará, informou que o Sindicato das Indústrias Mecânicas e de Materiais Elétricos do Estado (Simec), tentou um envio de 50 contêineres (mil toneladas) de sucata para o Japão. O material selecionado foi o HSM1, sucata pesada que tem um melhor valor comercial no mercado. Entretanto, com a queda no mercado mundial, a venda não foi concretizada. O sindicato tenta agora redirecionar o material para o Paquistão. O Simec trabalha com um estoque regular de 3 mil toneladas.
Problemas em outro cenário Quando o mundo estiver em níveis “normais” de produção e consumo, outro problema no setor de ferrosos também deverá obrigar os comerciantes de sucata a tomarem uma nova postura. Trata-se da retirada de material pós-industrial (mais limpa e homogênea) por parte das
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Fundição
siderúrgicas diretamente nas fontes geradoras, principalmente, na indústria automobilística. A ação das siderúrgicas foi intensificada até agosto de 2008 e reduzida a partir do mês de setembro em função dos impactos da crise. Um associado ao Sindinesfa, que não quis ter o nome revelado, informou que perdeu a retirada de sucata em quatro fontes geradoras. Todas as perdas teriam acontecido devido à ação da Siderúrgica Barra Mansa (que faz parte do Grupo Votorantim). A aciaria teria oferecido um valor maior pela retirada de sucata. A Siderúrgica Barra Mansa também estaria atuando na retirada de sucata na unidade da Volkswagen em Taubaté. Antes dessa ação da siderúrgica, a sucata ferrosa era retirada por um dos maiores sucateiros do país que preparava e enviava a sucata pós-industrial para as fundições fabricantes de virabrequins, cabeçotes, carcaça de eixo, entre outros produtos. A redação da revista Reciclagem Moderna entrou em contato com as assessorias de imprensa das empresas Volkswagen e Barra Mansa, mas as
Hoje os comerciantes de sucatas acabam prestando um serviço, não apenas de preparação, mas de abastecimento de todo o setor consumidor.
Num cenário de verticalização, a sucata pós-industrial segue para poucas siderúrgicas. A sucata de obsolescência sobra no mercado, pois fundições necessitam de homogeneidade, algo que a sucata de obsolescência não tem.
mesmas não retornaram até a data do fechamento deste texto. Dentro desse cenário, os comerciantes de sucata não são os únicos prejudicados. O setor de fundição é outro que sente bem de perto os impactos dessa verticalização das siderúrgicas. “A crise pode ter apenas postergado nossa preocupação”, comenta José Rubens dos Santos, diretor adjunto da Associação Brasileira de Fundição - Abifa. Segundo ele, a situação vulnerável das fundições, no que diz respeito a fornecimento de matéria-prima, foi tema de reuniões na Abifa em 2008. Do total aproximado de 9 milhões de toneladas/ano de sucata ferrosa gerada no país, as fundições consomem perto de 10% (900 mil). E é justamente devido a essa baixa representatividade de consumo que recai a preocupação da Abifa. “Não temos condições de lutar com as mesmas armas que as siderúrgicas”, observa Santos que reconhece a importância do trabalho dos grandes sucateiros para manter a regularidade de fornecimento para as fundições.
Grande mídia e meio ambiente A todo instante estão sendo publicadas reportagens na grande imprensa sobre a precária situação de cooperativas e catadores que lidam com materiais recicláveis. O problema só foi identificado agora pela grande mídia, entretanto, o leitor assíduo da Reciclagem Moderna percebeu que o assunto foi tema de capa da nossa edição de dezembro de 2008. Como principal mídia do setor de recicláveis na América Latina, identificamos o problema na fonte, ou seja, nos grandes comerciantes de recicláveis, e já havíamos adiantado que essa questão se estenderia. Na ocasião, detectamos que a coleta de materiais provocaria um desestímu-
“Quando o grande sucateiro faz a coleta de material pós-processo (industrial), ele mesmo se encarrega de dividi-lo conforme a necessidade de seus clientes de fundição”, observa o diretor da Abifa. Já a siderúrgica faz essa captação de sucata apenas para consumo próprio. O problema está passando despercebido no atual cenário de super oferta de material. Com o baixo preço, algumas fundições aproveitaram para estocar material em novembro e dezembro. Apesar desse estado de aparente folga para aquisição de material no mercado, ainda existe uma expectativa em 2009 quanto à retomada de compra de sucata pelas siderúrgicas, direto nas fontes geradoras. A Abifa ainda não sabe o que fazer se o problema voltar a acontecer em 2009. A ideia de importar sucata já foi deixada de lado, uma vez que o setor de fundição teria que ter volume de consumo considerável para justificar os custos de importação. “No mínimo teríamos que encher o porão de um navio com 40 mil toneladas”, diz o diretor da Abifa.
lo para catadores e cooperativas que estão na ponta de coleta de alguns tipos de materiais. O fato é que as entidades e pessoas que fazem parte dessa categoria não têm como repassar “queda de preço”. Com certeza, para a grande mídia, ONGs e poder público (que não estão habituados à realidade do setor de recicláveis), uma pergunta fica no ar: se os recicláveis colaboram com o meio ambiente, por que os catadores e cooperativas não estão fazendo o seu papel? Já o leitor da Reciclagem Moderna sabe muito bem que nenhuma entidade, empresa ou pessoa está no mercado de recicláveis por pura paixão ao meio ambiente.
Algumas fundições que foram contatadas pela nossa reportagem preferiram não se pronunciar a respeito. Devido às várias indefinições que giram em torno dos principais setores consumidores de sucata no país, elas alegam que a divulgação de informações sobre o consumo de sucata criaria um certo “conflito” com os departamentos de compras de sucatas das próprias fundições. Já em outras empresas, a preocupação quanto a uma possível falta de sucata passou para um segundo plano diante da grande oferta atual de material no mercado. As incertezas quanto ao ano de 2009 são o assunto hoje mais discutido nas empresas de fundições. É o caso da Hübner Fundição, empresa com sede em Ponta Grossa (distante 114 km de Curitiba). Até o início de setembro de 2008, a empresa consumia uma média de mil toneladas/mês de sucata a um preço de até R$ 750. Hoje, embora o valor para aquisição de material tenha caído pela metade, a empresa não deve adquirir sucata tão cedo no mercado.
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capa | Ferrosos | Sérgio Vieira
De acordo com o responsável pelo departamento de compras, Johnny Costa Debtil, a compra de sucata está diretamente ligada à venda de máquinas automotivas pesadas e implementos agrícolas (área onde se encontram os clientes da Hübner Fundição). Segundo ele, todo o início de ano é normal uma queda de 20% nos pedidos de clientes. Essa redução também é repassada para a compra de sucata. Porém, em função da crise iniciada no último trimestre de 2008, o cenário ainda é de incertezas para esse início de 2009.
Uma das principais fontes de fornecimento de sucata para o setor de fundição era a empresa Kerspe Empreendimentos e Participações (uma empresa do Grupo Super Laminação). Entretanto, a parte de sucata de aço foi vendida para a Gerdau que passou a canalizar a sucata de processo para consumo próprio. A Super Laminação continua no Brasil com a parte de transporte, sucata não ferrosa e retalhos. Com este cenário é possível perceber que a sucata mais interessante – pós-processo – está sendo
tirada das mãos de quem mais necessita – as fundições – e indo diretamente para as siderúrgicas – sem o trabalho dos sucateiros. Assim, cabe aqui uma grande dúvida: se as fundições não conseguem consumir a sucata de obsolescência, qual será o destino destas toneladas que são agora,de certa forma, rejeitadas? Tanto para o comerciante de sucatas ferrosas, quanto para as fundições o mercado tem saída. E aparentemente a resposta está fora do País. Afinal, a situação é de xeque, não de xeque-mate. |||
Perspectivas nos grandes consumidores de aço Distribuidores de aço
Assim como foi previsto, os distribuidores de aço fecharam o ano com uma forte retração nas vendas no último trimestre de 2008. De acordo com Cristiano da Cunha Freire, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), até setembro o setor seguia em uma média de venda de 309 mil toneladas mensais de aço. Em novembro, as vendas caíram para 225 mil toneladas e dezembro fechou com 145 mil toneladas. O setor fechou o ano de 2008 com crescimento de 12,8% nas vendas. O ano de 2009 começou com queda nas vendas de 5% (138 mil) em relação a dezembro do ano passado e de menos 30%, se comparado com janeiro. Freire afirmou que, considerando as ações do governo federal em setores estratégicos da economia, são boas as expectativas de vendas de aço a partir de março de 2009.
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Autopeças
O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos (Sindipeças) divulgou, em dezembro de 2008, a consulta que fez com 95 empresas associadas. A sondagem apontou que o crescimento de 2008 deve ficar em torno de 6,3% em relação ao ano de 2007. A previsão anterior era de crescimento de 9,6%. O valor total do faturamento pode chegar a R$ 74,4 bilhões. Sobre a intenção de investir, 48% das empresas informaram que manterão o que havia sido programado para 2009, 46% vão reduzir e 6%, aumentar. O Sindipeças montou um grupo de trabalho para estudar o que pode ser feito para minimizar os efeitos da retração do mercado, mas, segundo previsão do presidente Paulo Butori, “o primeiro trimestre de 2009 será muito difícil”.
Máquinas e equipamentos
O setor de máquinas e equipamentos registrou, no ano de 2008, faturamento nominal de R$ 78 bilhões, um crescimento de 21,6% em relação ao ano anterior, de acordo com a avaliação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Mesmo com o resultado positivo, a queda no último trimestre do ano em decorrência da crise global foi significativa. Se comparada com o trimestre anterior, a diminuição foi de 9,9%. O déficit na balança comercial de máquinas e equipamentos cresceu 21,3% em relação a 2007. Os investimentos em 2008 também caíram, somando R$ 7,1 bilhões (queda de 9,8%). Já a expectativa para 2009 é de nova queda. O declínio previsto é de 2,9%, ou seja, investimento de R$ 6,9 bilhões.
Materiais de construção
O setor de materiais de construção teve um ótimo 2008, fechando o ano com crescimento de 9,5% em relação a 2007. O faturamento do varejo de material de construção foi de R$ 43,23 bilhões. Os dados são da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). A Anamaco calcula que, em 2009, o setor deve ter um crescimento semelhante a este (8,5%). O principal fator para isso ocorrer, segundo o presidente da entidade, Cláudio Conz, é o número de obras lançadas e vendidas no ano passado, cujos contratos têm de ser cumpridos, e que mantêm a necessidade de consumo dos produtos de material de construção.
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logística
ENTRAVES PARA EXPORTAR
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O mercado está interessado, mas brasileiros participam pouco do cenário internacional
Os entraves para o Brasil exportar materiais recicláveis
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Durante
o o último evento do BIR – Bureau of International Recycling, em maio de 2008, o vice-presidente da divisão de ferrosos da entidade, Anton van Genuchten, deu apenas um exemplo do volume que a sucata ferrosa movimenta no mercado internacional. Segundo ele, em 2007, só o Egito comprou o montante de 897 mil toneladas de sucata da Europa. A Índia vem logo atrás, com compras de 633 mil toneladas da mesma região. Em maio de 2008, a tonelada de sucata ferrosa estava cotada a US$ 655 no mercado internacional, ou seja, apenas esses dois países realizaram negócios de mais de US$ 1 bilhão. Se for levada em consideração a cotação atual do dólar (próximo aos R$ 2,40), Egito e Índia movimentaram mais de R$ 2,4 bilhões em compras de sucata ferrosa européia. A quantidade pode ser assombrosa se compararmos com o Brasil, mas é considerada normal em épocas fora de recessão e crise. Apesar das interessantes cifras e volumes, o Brasil praticamente não aparece na rota internacional de compra e venda dos mais diferentes tipos de materiais recicláveis e, em especial, das sucatas ferrosas. A característica do País é de venda apenas para o mercado interno, mesmo possuindo produtos elogiados no cenário internacional. Num momento em que muitos comerciantes sofrem no Bra-
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Setorial | Logística | Sérgio Vieira
A divisão de ferrosos do Grupo Cargill, um dos interessados na sucata brasileira, está presente na China, Índia, Taiwan, Turquia, Dubai, Estados Unidos entre outros países.
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sil por estarem nas mãos de poucos compradores, a revista Reciclagem Moderna foi consultar algumas empresas para entender essa história de interesse mundial e regionalismo brasileiro. Praticamente todos os dias, traders brasileiros, estrangeiros e comerciantes de sucatas ferrosas recebem pedidos de preço de venda de várias partes do mundo, principalmente da China. Um dos motivos desse grande interesse está na qualidade da sucata nacional, reconhecida pelo mudo afora. O interesse exterior, entretanto, contrasta com a realidade do mercado nacional de sucata ferrosa. Os comerciantes atuam de forma regionalizada e pouco se estimulam em colocar o produto no mercado externo. Esse é outro entrave para a exportação de sucata ferrosa. “Estou tentando exportar sucata ferrosa”, conta Pedro Fernandez Gontijo, gerente de negócios da Divisão de Ferrosos da Cargill. Segundo ele, a empresa já pensou até em fazer o caminho inverso (importar para vender no Brasil), mas por enquanto a ideia foi deixada de lado. Essa divisão do grupo existe desde 1832 e possui escritórios no Brasil, China, Índia, Cingapura, Suíça, Taiwan, Tailândia, Turquia, Dubai, Inglaterra, Ucrânia, Estados Unidos e Vietnã. A Sunrise, trader de origem indiana, é outra que tenta abrir mercado em solo brasileiro. Depois de três anos de conversa com comerciantes brasileiros, só agora a empresa conseguiu apresentar na Índia as primeiras amostras de sucatas ferrosas produzidas no Brasil. “Os compradores ficaram muito empolgados”, comenta o representante, Fausto Cangussu, que também passou a receber pedidos de cotação de sucata de aço inox. Segundo ele, a Índia possui atualmente 160 siderúrgicas, boa parte delas interessada em fazer negócios com o Brasil. A Sunrise também tem escritórios na China, país que conta com 450 siderúrgicas. Na visão de Cangussu, os comerciantes brasileiros poderiam fazer algumas ex-
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periências cedendo pequenas quantidades de sucata para serem vendidas no mercado internacional. “A quantidade não alteraria em nada o mercado local”, avalia.
Não Ferrosos e outros materiais A Japan Trading Corporation é outra interessada na sucata ferrosa brasileira. Esta, entretanto, interessa-se não apenas pelas sucatas metálicas, mas também pelos plásticos, papéis e eletrônicos. Para Jorge Kitamoto, responsável pelas operações no Brasil, o maior problema para viabilizar o comércio entre os dois países está na reunião de informações das empresas brasileiras. A Oscar Resource Trading, dirigida no Brasil pelos irmãos malaios Sérgio e Alexandre Tan, foi a única encontrada por nossa reportagem que está fazendo a exportação de sucata brasileira de vários tipos de materiais (ferrosos, não-ferrosos, plástico, entre outros). Entretanto, devido a segredos de contratos com uma operadora chinesa, a trader não quis prestar esclarecimentos sobre seus negócios no Brasil. “No momento, reduzimos o volume, mas continuamos a exportar”, disse Sérgio Tan. Para Régis Quezado, desenvolvedor internacional da Alumitherm Internacional, a falta de profissionalismo de alguns comerciantes brasileiros é um dos grandes entraves para o Brasil exportar sucata. A Alumitherm é uma empresa de origem canadense com foco na compra de sucata de radiadores, latas, placa de litografia, fios, entre outros materiais. Há três anos, Quezado ficou responsável pela elaboração de um projeto para investigar a viabilidade de importar sucata de alumínio do Brasil. “Encontrei empresas que não informam preços”, disse Quezado. Segundo ele, por meio dessa estratégia, o vendedor visa o maior lucro possível e fica avaliando quanto o importador está disposto a pagar pelo produto. Ele conta que chegou a encontrar preços de sucata de alumínio no Brasil comparáveis aos prati-
A Japan Trading
Aprendendo com outros setores
Corporation
Até 1975, o Brasil não exportava uma
não houvesse o privilégio de marcas. De-
única asa de frango para o mercado externo, mas
pois, o consórcio entrou em contato com
o fato começou a mudar a partir de uma união
operadores portuários para formalizarem
de empresas como Perdigão, Sadia e Chapecó,
os trâmites legais para exportação. Todas as
além de outros dez produtores. “Descobrimos
marcas envolvidas no consórcio criaram um
a necessidade de países muçulmanos de consu-
produto único que seguia o mesmo padrão
mirem carne branca devido à religião”,
de qualidade. Assim, não havia diferença no
lembra o professor de comércio exterior
produto que nascia em São Paulo, no Para-
Samir Keedi, que coordenou o grupo
ná ou em Santa Catarina.
que inseriu o Brasil no mercado inter-
nas sucatas metálicas, plásticos, papéis e
Apesar de ter perdido algumas po-
eletrônicos.
sições em 1985, hoje, o Brasil é o principal
nacional de frangos. A primeira medida
exportador de frango e detém 45% do mer-
foi criar um selo próprio
cado mundial, com faturamento de US$ 7
e imparcial, batizado de
bilhões. “O ponto fundamental nessa ação
“União Brasileira dos
foi estudar o produto certo para o mercado
Exportadores
está interessada
de
Frango”, para que
O responsável pelas operações
ideal”, lembra Keedi, que é consultor em lo-
no Brasil,
gística e comércio exterior da Aduaneiras.
entretanto, Keedi: produto certo para o mercado ideal
cados pela Bolsa de Metais de Londres (LME) para o produto primário. “Talvez pela demanda superior à oferta, o mercado brasileiro age na base do ‘quem dá mais leva’”, acredita ele. Quezado percebeu que o uso de um agente local tornou a importação ainda mais inviável devido ao encarecimento da operação. Assim, a ideia de importar sucata do Brasil foi deixada de lado. Agora, a Alumitherm estuda formas de importar sucata dos EUA devido aos benefícios concedidos pela Nafta (área de livre comércio na América do Norte e que inclui o México). A empresa não informou quais os preços que considera viáveis para importar alumínio e disse que não faz contratos de fornecimento. O valor cambial do dólar (que se manteve por mais de um ano abaixo dos
encontra
R$ 2) é outro motivo que emperra a exportação de sucata brasileira. “Com o dólar na casa dos R$ 2,50, pode começar a ficar interessante exportar”, comenta Elieser Loewenthal, representante da Cotia Trading, empresa que atualmente faz o caminha inverso: importa sucata do exterior para clientes brasileiros. A empresa não informou as quantidades, mas importa da América Latina sucata de alumínio para aciarias e fundições do Brasil. Há quatro anos, quando o dólar oscilava próximo à casa dos R$ 3,50, a empresa exportava, mas começou a fazer o caminho inverso conforme o real foi se valorizando. “O Brasil precisa ter a opção de exportação nesse mercado”, reconhece Loewenthal. Segundo ele, atualmente não há demandas externas para a exportação de sucata de alumínio.
dificuldades em reunir informações das empresas brasileiras comerciantes.
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Material exportado do Brasil na forma de resíduos, aparas e desperdícios
Setorial | Logística | Sérgio Vieira
Fonte: Ministério do Desenvolvimento.
Investimentos em infraestrutura como guindastes e empilhadeiras dependem de contrato de exportação junto aos
Infraestrutura e redução de custos Diferente do mercado de não ferrosos - que costumeiramente utiliza contêineres para realizar o comércio internacional - a principal dificuldade para o Brasil exportar sucata ferrosa é a falta de infraestrutura nos terminais portuários. Seriam necessários investimentos em equipamentos logísticos para realizar a movimentação do material — como garras e eletroímãs — para reduzir os custos com contêineres e despachar o produto a granel. A assessoria de imprensa da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), entretanto, informou que esses investimentos só são realizados a partir do momento em que existe uma demanda das empresas. Já o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp) infor-
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mou que os investimentos em infraestrutura são realizados mediante assinatura de contrato de fornecimento. Por meio dele, o exportador (ou grupo de exportadores) comprometese a manter uma regularidade na venda de material para o mercado externo. Para se ter uma ideia da segurança que os operadores querem garantir com esse contrato, basta observar os preços de alguns equipamentos utilizados na exportação por contêineres, como referência. Um guindaste pode chegar a custar US$ 10 milhões e uma empilhadeira não sai por menos de US$ 1 milhão. Para viabilizar esta exportação a granel é utilizado o porão do navio e para que o custo do frete seja interessante uma grande quantidade de sucata se faz necessária. Para se conseguir este volume uma das opções para os comerciantes e traders é a exportação por lote. Nessa modalidade, vários interessados reúnem-se em uma espécie de consórcio. Os gestores do consórcio contabilizam qual é a parte do faturamento que cabe a cada exportador do grupo e fazem o rateio. Caso os comerciantes profissionais de materiais recicláveis no Brasil se interessassem mais pela exportação de materiais recicláveis, teriam também uma vantagem importante
agentes portuários.
em relação a alguns outros setores da economia. Trata-se do uso da frota própria de caminhões para transporte até os terminais portuários. Este diferencial pode e deve ser considerado pelos profissionais do setor. Basta lembrar que uma viagem de São Paulo a Santos, muitas vezes, é mais cara que de Santos até a China. Algumas viagens, por exemplo, até o Porto de Santos podem ser a resposta para tirar alguns setores da reciclagem da agonia de preços do mercado interno. Caso essa ação fosse feita, seria interessante observar como oportunidade de negócios a volta do caminhão vazio para o depósito. Por qual motivo não transformar esse retorno em uma prestação de serviço de frete terceirizado? |||
Alto custo de frete
De acordo com Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Região em São Paulo (Setcesp), muitas são as variáveis que formam o preço de carga destinada aos portos brasileiros. As principais são: custo do percurso entre a transportadora e o ponto de retirada do contêiner vazio; tempo de espera para retirada do contêiner; entrega do contêiner no cliente para carregamento; tempo de espera no cliente; entrega do contêiner no terminal de embarque; tempo de espera no terminal de embarque; custo do retorno do caminhão para a transportadora. A planilha de referência de Custo de Transporte de Contêiner, da entidade NTC&Logística, estima que, no percurso de 170 km entre São Paulo e Santos (ida e volta), uma empresa chega a gastar perto de R$ 1.200 para transportar uma carga de 25 toneladas. “Esse não é um preço de mercado, mas o valor que as empresas deveriam receber”, comenta Maria José Liberato, responsável pelo Departamento de Economia do Setcesp. Segundo ela, os custos logísticos no Brasil (transporte somado à movimentação de carga) chegam a representar 13% do PIB. Na Europa são de 11% e nos EUA, de 8%. Os entrevistados desta reportagem acreditam que o alto valor cobrado pelas empresas de transporte só será reduzido quando houver o investimento em infraestrutura de portos, aeroportos, portos secos e rodovias, além, é claro, de uma revisão na carga tributária que incide no transporte de mercadorias.
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especial
SANTA CATARINA
|
Sérgio Vieira de Itajaí e Blumenau
Máquina trabalha sobre montanha de materiais
Foto: Secretaria de Comunicação de Santa Catarina/divulgação
Após a enchente, enquanto a grande mídia enxergava
A lição após a tragédia de Santa Catarina Enchentes e deslizamentos que aconteceram no fim de 2008 mostram o quanto a sociedade ainda precisa conhecer sobre a reciclagem de materiais
apenas “lixo”, depósitos aproveitaram para coletar sucata de plástico e metal.
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Mal
entraram em atividade e alguns prefeitos de Santa Catarina já têm um enorme problema pela frente: o que fazer com a grande quantidade de entulho gerada pelas chuvas, enchentes e desmoronamentos no fim do mês de novembro de 2008. Após mais de dois meses da série de desmoronamentos e enchentes que abalou o Estado, o cenário dos dias de tragédia mudou. Agora, não se vê mais a montanha de entulho e lama que cobria boa parte das ruas e praças das cidades. Nada é visto nes-
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ses lugares, mas em cidades como Itajaí (distante 100 km de Florianópolis), a montanha de sucata de diversos materiais apenas mudou de endereço. Para uma cidade litorânea como Itajaí, foi difícil para muitos moradores aproveitar algo que não tenha ficado boiando por pelo menos dois dias. As ruas planas facilitam o avanço da água e, logo que voltaram para suas casas, eletrodomésticos como geladeira, fogão, microondas e móveis como cama e sofá foram os primeiros a ser descartados nas calçadas.
Na grande imprensa começaram a aparecer as primeiras notícias que refletem essa atitude dos moradores. Note, por exemplo, este título publicado na edição on-line da Folha de São Paulo no dia 30 de novembro de 2008: Após catástrofe, cidades viram “lixões a céu aberto”. Por falta de conhecimento, as notícias e reportagens geradas nos grandes jornais, rádio e TV enxergam apenas lixo e entulho nas cidades atingidas. Enquanto isso, em Itajaí, donos de depósitos de ferro-velho perceberam que os catadores de sucata não estavam dando conta de tanto material ferroso gerado pelas enchentes e usaram seus caminhões para recolher material direto das calçadas. Muitos não precisaram percorrer muito para, em poucos minutos, lotar o caminhão com geladeiras, fogões, freezers e máquinas de lavar roupa. A mesma ação de depósitos também aconteceu em Camboriú, balneário a 81 km de Florianópolis. A coleta de material nas ruas por parte dos depósitos só não esteve mais atraente porque o comércio de sucata (em dezembro de 2008) já estava sentindo os impactos da crise mundial no setor de commodities (drivers dos preços para sucatas). Apenas de um depósito próximo à rodoviária de Itajaí saíram dez caminhões de sucata ferrosa que foram entregues na cidade de Navegantes (distante 110 km da capital catarinense). Em Itajaí, a oportunidade também apareceu para donos de pizzaria, olaria e estabelecimentos em geral que utilizam madeira em fornos. De acordo com o então secretário de obras, Jean Pierre Lana, a prefeitura tomou a decisão de abrir os aterros para essas empresas retirarem a madeira para queima.
A decisão aliviou um pouco a situação dos aterros, mas não o suficiente para impedir a chegada de outras toneladas de madeira, provenientes de sofás, camas, armários e guarda-roupas da população atingida. A maior parte foi queimada pela própria prefeitura como forma de reduzir a quantidade de material. Para se ter uma ideia da situação em Itajaí, a prefeitura passou a jogar todo o entulho gerado pelas enchentes em três terrenos de emergência. No total, trabalharam pela prefeitura 80 caminhões, divididos em seis equipes. A quantidade de material retirada das ruas ultrapassou os 100 mil m³ estimados inicialmente pela prefeitura. Em um dos três terrenos onde a prefeitura estava depositando material ainda é possível perceber uma imensa quantidade de plástico, madeira, tecido, equipamentos eletrônicos e papel que não foi aproveitada por catadores ou depósitos de sucata. Agora, eles ficarão soterrados até a decisão do prefeito Jandir Bellini, que assumiu a prefeitura de Itajaí em 2009. A oferta de material nesse terreno fez com que alguns catadores até montassem acampamento próximo ao local de descarregamento de caminhões.
A quantidade de material gerada nas ruas de Itajaí devido à enchente ultrapassou os 100 mil m³ estimados inicialmente pela prefeitura.
Retirada de materiais “inservíveis” nas ruas de Itajaí
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Dono de depósito reclama de preço de materiais, apesar de quase perder empilhadeira e caminhões.
Apesar da oferta de material, a cheia do rio Itajaí-Mirim, que corta toda a cidade, também trouxe prejuízos. Em um estabelecimento conhecido apenas como Depósito do Caco, a enchente danificou três caminhões, uma empilhadeira e levou embora 150 toneladas de papelão. Todo o estoque do depósito ficou submerso. O custo para colocar as máquinas em ordem passou dos R$ 8 mil. Apesar dos estragos, a principal reclamação do proprietário está no preço obtido com alguns materiais recicláveis. Na região de Itajaí, em dezembro, os depósitos conseguiam repassar o quilo do ferro a R$ 0,15 e o plástico PET a R$ 1, enquanto que o papel estava sendo estocado. Além do baixo valor, os depósitos tinham dificuldades para repassar o material no mercado. Ao contrário do que a grande mídia começou a noticiar nesse o início de 2009, o segmento de materiais recicláveis já sentiu os impactos da crise mundial em outubro de 2008, quando os baixos preços da sucata foram repassados para toda a cadeia. Num outro depósito em Itajaí, o baixo preço dos recicláveis obrigou a proprietária a reduzir as vendas. Não se sabe quan-
Foto: Secretaria de Comunicação de Santa Catarina/divulgação
Setorial | Especial | Sérgio Vieira
to uma empresa (mesmo que pequena) consegue ficar sem capital de giro, mas ela decidiu continuar apenas na compra de sucata. No depósito, todo o material que chegava (principalmente o que teve origem na enchente) estava sendo acumulado à espera de dias melhores para a venda.
Blumenau Enquanto em Itajaí os comerciantes trabalharam diante de uma diversidade de materiais, em Blumenau a madeira proveniente da queda de árvores foi o principal atrativo para empresas da região. O rio Itajaí-Açu, que corta a cidade de Blumenau, subiu incríveis 14 metros, mas não foi o suficiente para inundar as casas. Em dois dias, a cidade de Blumenau recebeu 500 mil m³ de água, ou o equivalente a um mês inteiro de chuva na região amazônica. Uma série de desmoronamentos e deslizamentos provocou a queda de dezenas de casas. Junto com a movimentação dos morros e encostas, surgiram na cidade 4 milhões de m³ de madeira. Esse montante tornou-se uma verdadeira dor de cabeça para a prefeitura, que teve de providenciar
Dutra: 4 milhões de m³ de madeira.
Trabalho da defesa civil um dia depois da tragédia.
a remoção e desbloquear as ruas. De acordo com o diretor de serviços urbanos Valdecir Dutra, a cidade de Blumenau ficou literalmente isolada do resto do País com o bloqueio e a queda de avenidas e estradas. Para livrar-se da madeira, a prefeitura agiu de forma rápida e entrou em contato com empresas da região para oferecer o material. “Se esse pessoal não tivesse tirado pelo menos um pouco, teríamos um grande problema”, observa Dutra, que não sabe estimar a quantidade aproveitada pelas empresas. No dia em que Dutra concedeu esta entrevista, ainda havia muita madeira à disposição dos interessados. Uma pequena parcela da madeira que desceu dos morros acabou sendo absorvida pela própria prefeitura. É que a cheia do Itajaí-Açu provocou a queda de 48 pontes de madeira na cidade. O departamento de marcenaria da prefeitura vai utilizar parte das toras de eucalipto para reconstruir as pontes levadas pela cheia do rio.
Lá, o trabalho não é encarado apenas como um dever do Estado, mas uma forma apropriada de lidar com materiais que podem e devem retornar a processos produtivos ou podem gerar contaminação ao meio ambiente, como baterias automotivas, por exemplo. A Fema estima que foram gerados 45 milhões de m³ de resíduos após a passagem do Katrina. Já em Santa Catarina é difícil estimar a quantidade de material reciclável que foi gerada em razão das enchentes e deslizamentos de terras. Para aqueles que perderam entes queridos, com certeza, os dois últimos dias do mês de novembro de 2008 deveriam, de alguma forma, ser apagados da memória. Entretanto, a tragédia ocorrida em Santa Catarina precisa servir como um importante alerta para os administradores públicos: durante tragédias ambientais sempre haverá uma grande quantidade de material que precisa ser corretamente administrada. A medida não só alivia a situação dos aterros sanitários, como contribui para que materiais recicláveis sejam reinseridos em processos industriais, reduzindo os impactos ambientais durante a extração de produtos primários. Apesar de uma pequena parcela do material gerado em Santa Catarina ter sido coletada ou estocada por comerciantes de sucata, a maior parte, provavelmente, ficará soterrada para sempre. Para evitar que isso aconteça, é preciso que nossos governantes lancem um novo olhar sobre o que hoje é simplesmente chamado de “lixo”. |||
Nem tudo é “lixo”
Enquanto alguns tipos de plásticos foram aproveitados, muitas carcaças de eletrônicos foram para o aterro.
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Em países mais habituados a lidar com tragédias ou catástrofes, o trabalho de coleta, caracterização e acionamento de empresas de reciclagem é considerado totalmente normal. Em 2005, por exemplo, após a passagem do furacão Katrina pela costa dos Estados Unidos, a Fema (uma espécie de “Defesa Civil” nacional norte-americana) atuou na triagem e destino correto para recicladores de boa parte do material que foi gerado.
Brasil precisa aprender com países que estão acostumados a lidar com tragédias. Gerenciamento correto alivia situações dos aterros sanitários.
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equipamentos
Pinças Mexerica
|
Não
importa em que ponto da cadeia da reciclagem sua empresa se encontra: o manuseio de materiais recicláveis é um dos processos fundamentais para otimizar o tempo de produção e fazê-lo de forma correta está diretamente ligado à redução de custos na empresa. A movimentação exige muito dos manipuladores e braços hidráulicos e, por tabela, da ferramenta mais comum na manipulação de materiais: as garras ou pinças. Também conhecidas como “mexericas”, esses equipamentos apresentam uma ampla variedade de tamanhos e capacidades. A atividade principal desses equipamentos é a carga/descarga de caminhões e caçambas, mover e triar materiais (processados ou não), assim como alimentar os equipamentos que transformarão esses materiais, como trituradores, prensas etc. Sem uma garra para movimentação de materiais, algumas empresas do setor praticamente parariam de trabalhar, especialmente aquelas que lidam com sucatas em alto volume e peso, como as ferrosas. Como as garras estão entre os acoplamentos mais usados do setor, comprar
um equipamento com estilo ou quantidade de pinças errados pode realmente diminuir o tempo de produção. Com o objetivo de orientar os leitores nas próximas compras, a revista Reciclagem Moderna fez uma pesquisa entre alguns dos principais fabricantes desses equipamentos no mercado. Conseguimos reunir algumas informações técnicas que podem fazer a diferença na sua empresa. Antes de comprar uma garra, é importante definir exatamente o que se deseja desse tipo de equipamento: velocidade? Volume de carga? Baixo peso? Menor manutenção? O equipamento parece simples, mas são várias as perguntas a serem feitas. Uma pequena empresa, por exemplo, deve procurar uma pinça que caiba dentro dos veículos dos fornecedores e não algo maior para carregar muito volume. Deve-se levar em consideração também em que tipo de equipamento — manipulador/ escavadeira ou braço hidráulico — será instalada a garra e suas respectivas capacidades de carga. Não obstante a necessidade de cada um dos clientes, os fabricantes de equipamentos são categóricos em dizer: não escolher a garra que melhor atenda à sua operação é correr o risco de sobrecarga do equi-
Antes de comprar uma garra, é importante definir o que se deseja com esse tipo de equipamento: Velocidade? Volume de carga? Baixo peso? Menor manutenção?
Garras para
movimentação
Faça a melhor escolha Detalhes como tamanho, volume e tipo de material influenciam na eficiência do equipamento
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Setorial | Equipamentos
compradores
pamento, tanto em peso quanto em volume. Pegar volume a mais pode acelerar o desgaste das partes e causar aquecimento — o que leva à perda de força, por exemplo — e pegar pesos excessivos pode causar danos estruturais, além de o equipamento não conseguir elevar a pinça, nem o material que ela carrega.
devem
Gomos
Além do tamanho e da capacidade, os
segura todas
Embora uma pinça com quatro “gomos” seja a mais conhecida e utilizada no mercado, sua quantidade e formato estão ligados diretamente ao tipo de material a ser movimentado. Se você vai movimentar material muito pequeno — como “moedas” provenientes de estamparia, pontas de pequenos tarugos ou material triturado, talvez considere um maior número de “gomos” de um modelo mais fechado (tipo “cesta”) para aumentar o peso a ser carregado por viagem. Por outro lado, uma garra com “gomos” mais abertos e em menor quantidade dá melhor pegada em materiais maiores ou com formatos estranhos, como veículos e produtos da linha branca inteiros, por exemplo. Mesmo utilizando um equipamento com “gomos” mais fechados, ainda assim é difícil pegar materiais bem pequenos. Nesse caso, o uso de um ímã é recomendado. Além do tamanho e da capacidade, os compradores devem considerar a forma com que esses equipamentos são construídos, especialmente em relação à robustez da torre principal, uma vez que ela é o coração da pinça e que segura todas as outras peças importantes.
as outras peças
Manutenção
considerar a forma como esses equipamentos são construídos, especialmente em relação à robustez da torre principal, uma vez que ela é o coração da pinça e que
importantes.
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Como qualquer outro equipamento, pinças necessitam de manutenção periódica e preventiva para que continuem a serem operadas com máximo desempenho e sejam utilizadas por vários anos. Os custos de manutenção são sempre menores quando o equipamento não é utilizado até a exaustão, ou quando o equi-
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pamento é parado assim que é detectado o defeito. Além do mais, a segurança do operador deve ser sempre uma prioridade. Preste atenção às buchas e pinos. Em equipamentos articulados, a lubrificação é de suma importância, ainda mais nos casos em que o equipamento tem contato direto com materiais a serem processados. Se seu equipamento está instalado em um veículo ao ar livre, este é um ponto mais que pacífico a ser observado por conta de vento, chuva e poeira, que agridem a lubrificação e, dessa forma, aceleram o desgaste da máquina. Outro ponto de atenção são as mangueiras e porcas de fixação, uma vez que a quebra de mangueiras e o afrouxamento das porcas estão entre os principais problemas com esse tipo de equipamento. Nesse caso, ele pode até parar de funcionar, sem contar que o vazamento de óleo hidráulico — além de contaminar o material que está sendo manipulado — encarece o trabalho, pois este é caro e, em condições normais, precisaria ser reposto ou trocado depois de alguns meses apenas. Quando a pinça passa a apresentar uma série de defeitos em campo, deve-se elaborar um relatório para que seja detectada a causa do problema. Nem sempre o defeito de uma pinça está diretamente ligado à sua construção, mas sim à forma com que o equipamento é operado.
Cuidados Quem opera esse tipo de equipamento não deve esquecer que ele foi projetado e construído apenas para levantar materiais e não para: • Arrastar caçambas ou veículos; • Arremessar materiais para formar uma pilha maior; • Ser usados como martelo para fazer caber mais material numa caçamba ou câmara de compressão. |||
Liebherr Produto | Especificação
VEJA ANÚNCIO NA PÁGINA 27 GM65 Peso (kg):....................................1470 Nº de gomos:....................................5 Cap. volumétrica (litros):...............600 Cap. de carga (kg):.....................4000 Pressão média trab. (bar):..............350 Temp. de trab. (ºC):.........................70 Abertura da garra (mm):.............2040 Fechamento da garra (mm):........1400 Alt. da garra aberta (mm):...........1788 Alt. da garra fechada (mm):........2147 Vel. abertura/fechamento (s):.........1,8 Cap. de rotação:......................... 360º
GM70C* Peso (kg):....................................1730 Nº de gomos:....................................5 Cap. volumétrica (litros):...............800 Cap. de carga (kg):.....................4000 Pressão média trab. (bar):..............350 Temp. de trab. (ºC):.........................70 Abertura da garra (mm):.............2278 Fechamento da garra (mm):........1616 Alt. da garra aberta (mm):...........1885 Alt. da garra fechada (mm):........2406 Vel. abertura/fechamento (s):.........2,5 Cap. de rotação:......................... 360º
* A pinça GM70C, possui duas versões com o mesmo nome, mudando apenas as seguintes características técnicas: Peso (kg): 1850 | Cap. volumétrica (litros): 1100 | Abertura da garra (mm): 2290 | Fechamento da garra: 1770 mm | Alt. da garra aberta (mm): 1915
Madal Palfinger Produto | Especificação
VEJA ANÚNCIO NA PÁGINA 09 SG300 Peso (kg):......................................424 Nº de gomos:....................................6 Cap. volumétrica (litros):...............300 Cap. de carga (kg):.....................2500 Pressão média trab. (bar):..............300 Temp. de trab. (ºC):.........................60 Abertura da garra (mm):.............1660 Fechamento da garra (mm):..........780 Alt. da garra aberta (mm):...........1155 Alt. da garra fechada (mm):........1500 Vel. abertura/fechamento (s):............ Cap. de rotação:.....................Infinita
SG300K Peso (kg):......................................440 Nº de gomos:....................................6 Cap. volumétrica (litros):...............250 Cap. de carga (kg):.....................2500 Pressão média trab. (bar):..............260 Temp. de trab. (ºC):.........................60 Abertura da garra (mm):.............1640 Fechamento da garra (mm):.............. Alt. da garra aberta (mm):.............975 Alt. da garra fechada (mm):.............. Vel. abertura/fechamento (s):............ Cap. de rotação:.....................Infinita
CHB Produto | Especificação
BRM - 4 Peso (kg):......................................460 Nº de gomos:....................................4 Cap. volumétrica (litros):...............250 Cap. de carga (kg):........................... Pressão média trab. (bar):..............200 Temp. de trab. (ºC):.........................80 Abertura da garra (mm):.............1600 Fechamento da garra:................. 50% Alt. da garra aberta (mm):...........1350 Alt. da garra fechada (mm):........1530 Vel. abertura/fechamento (s):............ Cap. de rotação:......................... 360º
BRH - 5 Peso (kg):....................................1280 Nº de gomos:....................................5 Cap. volumétrica (litros):...............800 Cap. de carga (kg):........................... Pressão média trab. (bar):..............320 Temp. de trab. (ºC):.........................80 Abertura da garra (mm):.............2200 Fechamento da garra:................. 80% Alt. da garra aberta (mm):...........1700 Alt. da garra fechada (mm):........2050 Vel. abertura/fechamento (s):............ Cap. de rotação:......................... 360º
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Setorial | Equipamentos
Motocana Produto | Especificação
GS 300 Peso (kg):......................................480 Nº de gomos:....................................4 Cap. volumétrica (litros):...............300 Cap. de carga (kg):.......................900 Pressão média trab. (bar):..............120 Temp. de trab. (ºC):........................... Abertura da garra (mm):.............1940 Fechamento da garra (mm):........1040 Alt. da garra aberta (mm):...........1250 Alt. da garra fechada (mm):........1680 Vel. abertura/fechamento (s):............4 Cap. de rotação:......................... 320º
GS 500 Peso (kg):......................................750 Nº de gomos:....................................4 Cap. volumétrica (litros):...............500 Cap. de carga (kg):.....................1400 Pressão média trab. (bar):..............120 Temp. de trab. (ºC):........................... Abertura da garra (mm):.............2380 Fechamento da garra (mm):........1300 Alt. da garra aberta (mm):...........1550 Alt. da garra fechada (mm):........2080 Vel. abertura/fechamento (s):............4 Cap. de rotação:......................... 320º
Pauliclan Produto | Especificação
Garra RAG Peso (kg):......................................630 Nº de gomos:....................................4 Cap. volumétrica (litros):...............370 Cap. de carga (kg):.....................3000 Pressão média trab. (bar):..............200 Temp. de trab. (ºC):........................... Abertura da garra (mm):.............2000 Fechamento da garra (mm):........1200 Alt. da garra aberta (mm):...........1600 Alt. da garra fechada (mm):........1890 Vel. abertura/fechamento (s):.........4,3 Cap. de rotação:......................... 360º
DS-PSP-6000 Peso (kg):......................................900 Nº de gomos:....................................6 Cap. volumétrica (litros):...............500 Cap. de carga (kg):.....................4200 Pressão média trab. (bar):..............200 Temp. de trab. (ºC):........................... Abertura da garra (mm):.............2515 Fechamento da garra (mm):........1585 Alt. da garra aberta (mm):...........1635 Alt. da garra fechada (mm):........1933 Vel. abertura/fechamento (s):.........4,3 Cap. de rotação:......................... 360º
Saur Produto | Especificação
RTG250 Peso (kg):......................................390 Nº de gomos:....................................6 Cap. volumétrica (litros):...............250 Cap. de carga (kg):........................... Pressão média trab. (bar):..............280 Temp. de trab. (ºC):........................... Abertura da garra (mm):.............1665 Fechamento da garra (mm):........1100 Alt. da garra aberta (mm):.............872 Alt. da garra fechada (mm):........1045 Vel. abertura/fechamento (s):............ Cap. de rotação:................................-
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RP300 Peso (kg):......................................520 Nº de gomos:....................................6 Cap. volumétrica (litros):...............300 Cap. de carga (kg):........................... Pressão média trab. (bar):..............280 Temp. de trab. (ºC):........................... Abertura da garra (mm):.............1875 Fechamento da garra (mm):........1225 Alt. da garra aberta (mm):...........1084 Alt. da garra fechada (mm):........1269 Vel. abertura/fechamento (s):............ Cap. de rotação:................................-
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setorial
PLÁSTICOS
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Sérgio Vieira
Sacolinha não deverá sair dos supermercados Apesar de interessar para o setor de reciclagem, mudança não deve seguir adiante
O Ibope
constatou em pesquisa o que todo mundo já sabe: 100% dos consumidores brasileiros transformam as sacolas plásticas em sacos de lixo após transportarem suas compras de supermercados, drogarias e varejo em geral. E mais: 70% dos consumidores preferem as sacolas plásticas que qualquer outro meio de transporte de compras; 85% dos consumidores vão fazer compras a pé, o que torna as sacolinhas um meio prático; e 75% acham que o estabelecimento é o responsável pelo fornecimento da sacola. O Ibope ouviu 600 mulheres entre 18 e 55 anos, das classes B, C e D. A pesquisa foi realizada em 2007 em parceria com o Instituto Nacional do Plástico (INP) e a Plastivida. A polêmica em torno das sacolas plásticas envolve vários atores que a revista Reciclagem Moderna decidiu consultar para colocar o setor de reciclagem a par do assunto. De acordo com a Abief – Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis, o Brasil produz por ano 18 bilhões de sacolas plásticas. A fabricação de todo esse montante é proveniente de resina virgem, enquanto que o saco de lixo preto tradicional é produzido principalmente a partir de plástico secundário. Logo se percebe que para o setor de reciclagem a proibição da sacola de plástico criaria um cenário interessante porque estimularia a demanda por plástico secundário para ser utilizado como saco de lixo. Entretanto, uma série de equívocos, interesses comerciais e a total falta de conhecimento de políticos brasileiros na elaboração de leis mostram que a tradicional sacolinha plástica ainda irá perdurar por um bom tempo, pelo menos no Brasil.
O grande equívoco que pretende barrar a fabricação das sacolinhas plásticas é achar que o consumidor deixará de ensacar o lixo residencial em embalagem plástica. A necessidade de ensacar o lixo residencial vai permanecer. E, do ponto de vista ambiental que motiva algumas leis, qual é a diferença entre uma sacolinha de mercado com lixo e um saco preto com o Honda comenta: mesmo conteúdo? Nenhuma. A troca de É difícil imaginar todo plástico que acondimundo usando retornável ciona lixo não vai alterar a situação de aterros sanitários. A redução de plástico (de qualquer origem) em aterros sanitários só 70% dos acontecerá quando este tiver um fim mais nobre de reutilização. consumidores Um acordo carregado de “inovação e sustentabilidade”, assinado entre a Abief, a preferem Abras – Associação Brasileira de Supermercados, a Apas – Associação Paulista de Susacolinhas de permercados e a Plastivida prevê a redução de consumo das sacolas plásticas em até plástico para 30%. A partir desse acordo nasceram dois novos equívocos para tratar da questão. O as compras. primeiro deles é que o acordo prevê o uso de embalagens fabricadas a partir de outros materiais para o consumidor levar suas compras. Levando em consideração que essas embalagens também irão parar em aterros
“
”
Laércio diz: Sacolinha não deverá sair de circulação tão cedo
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“aditivos apenas reduzem plástico de tamanho.” www.revistareciclagem.com.br
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Setorial | Plásticos | Sérgio Vieira
Caixa de papelão aumenta em R$ 0,70 o custo de uma pequena compra. Já a sacola plástica custa R$ 0,01 por unidade para a rede de varejo. Caso houver troca em grande volume de material, advinha quem irá assumir o custo?
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sanitários, é inevitável perguntar: Onde está a inovação ou a sustentabilidade previstas no acordo? “Se o supermercado passar a usar saco de papel, por exemplo, esse material vai continuar indo para os aterros”, comenta Silvia Martarello, responsável pelo departamento de pesquisa e desenvolvimento da Abrelp – Associação Brasileira de Empresas Públicas e Resíduos Especiais. Do ponto de vista ambiental, ela acredita que o assunto das sacolas plásticas está sendo tratado como um completo equívoco. “Não adianta substituir um material pelo outro”, pontua. Além disso, o uso de caixas de papelão aumenta em R$ 0,70 o custo de uma pequena compra, ou 70 vezes o custo de uma sacola plástica. Obviamente, a rede de varejo não vai assumir esse aumento de custo. Se o consumidor passar a gastar esse valor a mais por caixa, obviamente irá procurar uma loja que ofereça algo mais vantajoso. O segundo equívoco nascido do acordo entre as entidades é a inserção das sacolas retornáveis na rede de supermercados. Esse tipo de embalagem tenta impor à força um novo hábito no consumidor brasileiro. “Hoje, muita gente sai do trabalho e vai ao mercado. São visitas diárias, ninguém se prepara para ir ao mercado como antigamente”, comenta o próprio presidente da Abras, Sussumo Honda, que diz que é difícil imaginar todo mundo andando na rua com uma sacola retornável embaixo do braço. Para se ter uma ideia do total fracasso dessa iniciativa, basta ver o que aconteceu na rede de supermercados do Grupo Pão de Açúcar. Desde a implantação das sacolas, há três anos, o Grupo vendeu até o momento 200 mil sacolas retornáveis no País. Pode até parecer muito, mas, levando em consideração que o grupo possui 554 lojas, foram vendidas perto de 360 sacolas por loja, praticamente apenas uma unidade por dia em cada um dos supermercados do grupo. Fato que demonstra que o consumidor prefere as sacolinhas.
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Rogério, da Abief, é contra a imposição de produtos a empresas.
De todos os equívocos expostos até aqui, talvez o mais curioso de todos esteja passando despercebido pelos próprios legisladores municipais que tentam impedir a fabricação das sacolinhas. A maioria das leis que deram fim às antigas latas de lixo obriga o acondicionamento dos resíduos residenciais em sacos plásticos. Ou seja, vários prefeitos e vereadores do País estão dando um tiro no pé ao impedir que o cidadão continue usando a sacolinha de mercado para depositar o lixo.
Laércio Kutianski Romeiro, especialista em análise do ciclo de vida do Conselho Regional de Química de São Paulo. Segundo ele, os aditivos oxibiodegradáveis apenas reduzem os plásticos em partes menores, não existe uma mágica que faz sumir completamente as resinas termoplásticas com origem na nafta. O Brasil ainda não possui uma norma para esse tipo de aditivo, mas três normas internacionais (ASTM – EUA, DIN – Alemanha e JHOSPA – Japão) já rejeitaram esse tipo de produto que carrega o conceito de “degradável”. Na cidade de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab vetou o Projeto de Lei 159/07, que pedia o uso desse aditivo na fabricação das sacolas. “Não se pode obrigar empresas a usarem um produto do qual não se tem conhecimento sobre os impactos no meio ambiente”, pontua Romeiro. Tanto do ponto de vista técnico como do lado comercial, a imposição do tipo de material para a fabricação de sacolinhas dá sinais de que esta será uma onda passageira. “Somos totalmente contra uma lei que tira a opção das empresas”, avisa Rogério Mani, presidente da Abief. Para o setor de reciclagem, a inclusão de plástico com aditivos biodegradáveis provocaria inúmeros transtornos. Imagine, por
exemplo, um comerciante que vende sucata de plástico para um grande consumidor e, mais tarde, descobre que o produto do seu cliente vai sumindo aos poucos depois de transformado em um objeto. O plástico reciclável caminha para uma estrutura integrada de produção, coleta e reúso, mas, e no caso dos plásticos biodegradáveis? Quem ficaria encarregado de transportá-los para aterros, uma vez que não há valor agregado nesse tipo de material? |||
“Somos totalmente contra uma lei que tira a opção das empresas”, avisa Rogério
Curiosidade
A rede de varejo gasta em média R$ 10,00 a cada mil sacolas compradas nas fábricas (ou R$ 0,01 por unidade). Esse valor é o suficiente para adquirir um produto de qualidade que não vai “arrebentar” se o consumidor colocar até 6 kg de peso em cada sacola. Entretanto, a prática da rede varejista é pedir um produto ainda mais barato, o que acaba por comprometer a qualidade do filme plástico. Diante de várias reclamações de consumidores, o Inmetro decidiu testar as marcas de sacolas entregues na rede varejista. Das 18 marcas analisadas, todas foram reprovadas porque tinham o símbolo da reciclagem de forma incompleta; e 14 tiveram reprovação nos ensaios de resistência. A fabricação de sacolas plásticas no Brasil é regida pela norma NBR 14.937 da ABNT, publicada no ano de 2005.
Mani, presidente da Abief.
O mito do plástico que desaparece Em várias prefeituras no Brasil iniciouse uma onda de publicação de leis que pedem o fim da sacola plástica na rede de varejo e obrigam esses mesmos estabelecimentos a adotarem sacolas “oxibiodegradáveis”. Além de não permitirem que as empresas desse segmento optem por outro tipo de material, quase a totalidade dessas leis é elaborada sem qualquer base científica. Os legisladores são movidos por apelos ambientais sem qualquer preocupação com os impactos que certos aditivos podem provocar no meio ambiente. “Os aditivos são uma aparente solução para se livrar das sacolinhas”, comenta
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PAPEL
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da redação
Anap argumentou com Chinaglia
Papel: uma luz no fim do túnel? Reunião em Brasília pode acelerar votação de leis que ajudam o setor a se reerguer
A situação
do mercado de papel reciclado não é das melhores. Como vimos na edição passada (Reciclagem Moderna número 13, set/out 2008), o setor atravessa uma crise que já se arrasta desde novembro de 2007, ou seja, sem relação direta com a crise mundial deflagrada no último trimestre do ano passado, embora esta tenha ajudado a agravá-la. Diversas empresas estão fechando as portas por não conseguir cumprir seus compromissos. As que não fecharam têm de realizar sucessivos cortes de funcionários, maneira encontrada de viabilizar a continuidade no setor. Mediante esse quadro de total insegurança, representantes da Associação Brasileira das Indústrias Recicladoras de Papel (Abirp) e da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap) reuniramse em Brasília, no dia 20 de janeiro, com
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o então presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, com o objetivo de traçar os rumos da indústria de papel reciclado e, em maior escala, de todo o setor de reciclagem no País. O principal objetivo do encontro foi discutir as possibilidades de incentivo à reciclagem do papel. Esse apoio pode vir por meio de leis que reconheçam os recicladores de papéis como agentes ambientais, concedendo-lhes isenção de tributos em suas atividades, equipamentos e produtos. Segundo o secretário-executivo (Abirp/ Anap) Manuel Lúcio Padreca, foram mostrados documentos ao deputado para que ele tivesse um panorama do setor. “Expusemos a situação a ele, não apenas restrita ao papel, mas sim num âmbito geral.” Padreca também citou os três principais empecilhos que agravam a situação: crise cambial — considerada o grande en-
que para o
Encontro: situação do papel sob o ângulo da Anap...
...mas com a presença da Abirp.
trave; empresas integradas (fabricantes de papéis que possuem uma área de reflorestamento integrada com a fábrica) — estas injetam muito dinheiro no mercado de fibra virgem, mais econômico, preterindo o produto reciclado; e a falta de incentivo à indústria recicladora. De acordo com o secretário-executivo, o deputado Arlindo Chinaglia mostrou-se bastante impressionado com os dados apresentados e sinalizou prontamente a favor dos pedidos. Chinaglia comprometeu-se a enviar as propostas o quanto antes ao deputado Sandro Mabel, que cuida diretamente da reforma tributária. Os representantes do setor de papel argumentaram com Chinaglia que o setor de papel pode ser beneficiado por duas importantes medidas. Uma delas é a Proposta de Emenda à Constituição 571/2006, de autoria do deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), que visa proibir a União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os municípios de instituírem impostos sobre os produtos reciclados de matéria-prima nacional, concedendo imunidade tributária. O segundo incentivo poderia vir por meio do Projeto de Lei do Senado (PLS 112/2008), do senador Paulo Paim (PT-RS), que obriga o Poder Público a priorizar a compra de papel reciclado. Entretanto, segundo Padreca, uma grande pendência ainda atrasa a aprovação dessas duas medidas. “Estamos aguardando uma sinalização da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), onde está sendo discutida uma norma para definir o que é exatamente papel reciclado pós-consumo”, enfatizou.
A norma, se tudo ocorrer como esperado, deve ficar pronta até o fim de 2009, de acordo com o cronograma. Ainda assim, para Padreca, o caso iguala-se a uma trilha com vários caminhos. A PEC, o PLS e a norma estão atrelados e um depende da aprovação do outro. Para a lei ser aplicada, é necessário definir suas resoluções, que dependem dos parâmetros estabelecidos pela normatização. “Tudo se resume em destributação e incentivo à cadeia produtiva para dar suporte ao setor. Dependendo de qual porta vier a abrir primeiro, investimos do outro lado”, completou. Desde a entrevista realizada com a Anap em nossa última edição, o setor piorou. Isso porque há uma sazonalidade natural no Brasil. Na metade do mês de novembro o mercado começa a esfriar e para na metade de dezembro, voltando a reaquecer somente após o Carnaval. Padreca acha que esse é o momento de uma retomada agressiva, que tire o setor do buraco, mas vê a falta de informação como grande obstáculo. “As pessoas acham bonito todo esse papo de reciclagem, mas desconhecem os percalços da cadeia produtiva.” Os aparistas estão pagando entre 15 e 20 centavos pelo quilo do papel. Para o catador, quando encontra comprador, esse valor chega a ser de três ou quatro centavos, por isso sobra material nas ruas de qualquer cidade do País. Hoje, basta andar alguns quarteirões em qualquer capital para deparar-se com pilhas de papelão jogadas nas calçadas. “É triste, mas na atual circunstância é mais fácil pedir esmola e ganhar quatro reais por dia do que carregar uma tonelada de papel para conseguir esse dinheiro”, encerrou Padreca. |||
catador está mais viável pedir esmola que viver de entrega de reciclados.
Chinaglia: impressionado com os dados do setor
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ALUMÍNIO
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Sérgio Vieira
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Matéria fechada no dia 20 de janeiro
Venda de veículos
Freio no momento certo?
Setor ainda não sentiu medidas implementadas pelo governo Retomada de compras de sucata para fundidos deverá acontecer só em março
85% da sucata de alumínio destinada à fundição vira peça de automóvel. Movimento das montadoras impacta no preço e compra do material.
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A área
de sucata de alumínio no Brasil está muito semelhante à fila de aviões na pista em horários de pico que costumamos encontrar em grandes aeroportos. Enquanto alguns estão decolando, outros se preparam para taxiar e, ainda, há aqueles que estão na cabeceira da pista aguardando autorização da torre de controle. Dessa forma, cada subárea da sucata de alumínio encontra-se numa situação diferenciada conforme os sinais de avanço dados pelo mercado. A sucata de extrudados, por exemplo, promete crescimento em 2009, mas aguarda as medidas anunciadas pelo governo federal na construção civil que devem impactar no consumo de perfis de alumínio. Já a sucata de UBC (Users Beverage Can) está em plena expansão, uma vez que as fortes vendas de bebidas no verão estimulam o retorno da lata para o fabricante da chapa de alumínio. Para o setor de fundidos, o momento é de espera. O impacto da crise no setor automobilístico reduziu o número de pedidos das montadoras nas empresas de auto-
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peças, que, por sua vez, reduziram as compras de tarugos de alumínio nas empresas de fundição. As medidas implementadas pelo governo em dezembro de 2008 surtiram efeito apenas nos automóveis que as montadoras já haviam produzido até o fim do ano. Dessa forma, as montadoras ficaram à espera dos clientes e não realizaram novos pedidos de peças. Como essa decisão impacta em toda a cadeia, o setor de fundição iguala-se ao exemplo citado no início desse texto: está na cabeceira da pista à espera de um sinal verde. Segundo uma estimativa do setor, cerca de 85% da sucata de alumínio destinada à indústria de fundição acaba virando componentes automotivos. Diante desse percentual, logo se percebe que qualquer movimento negativo das indústrias automobilísticas já é o suficiente para tirar o sono das empresas de fundição de alumínio e, consequentemente, dos sucateiros que se especializaram nesse nicho de mercado. “Em janeiro e fevereiro deveremos comprar apenas 20% da nossa quantidade habitual de sucata”, confirma Luiz Al-
berto Lopes, diretor comercial da Metalur. Segundo ele, a quantidade obtida será utilizada apenas para a correção de liga em alguns produtos. Caso haja alguma alteração positiva na entrada de pedidos, a Metalur possui estoque de sucata para trabalhar de forma tranquila os próximos 30 dias. “Ainda não sabemos ao certo como será 2009”, disse. Já a Inbra Metais reduziu suas compras em apenas 50% nesse início de 2009, mas assim como a Metalur, está com estoques lotados de sucata. “Pelo menos nos próximos 15 dias não precisamos nos preocupar com sucata”, comenta o diretor, Mário do Canto. Segundo ele, o setor de autopeças já deu um leve sinal de que deve voltar a comprar material, mas ainda é cedo para previsões. A indefinição de como será o ano de 2009 para a área de sucata de alumínio fundido está diretamente ligada a uma série de notícias que apareceram na imprensa, onde cabe uma análise interessante. A GM, a Renault e a Volkswagen anunciaram corte de funcionários em suas unidades. Essa notícia leva a crer que o setor automobilístico realmente está numa fase ruim e 2009 tende a ser um ano difícil. Por outro lado, as medidas do governo de isenção de IPI para veículos 1.0 podem ter sido decisivas para amenizar os efeitos da crise neste setor no início de 2009. A Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) informa em nota que a primeira quinzena de janeiro de 2009 re-
gistrou queda de apenas 1,22% (em comparação com o mesmo período de 2008) nas vendas de veículos de passeio e comerciais leves. Um percentual excelente para aqueles que esperavam uma queda violenta nas vendas em época de crise. Foram vendidos 94.547 veículos nos primeiros 15 dias de janeiro de 2009, contra 95.712 unidades do mesmo período de 2008. Vale lembrar que as medidas adotadas pelo governo surtiram efeito nos veículos que já haviam sido produzidos pelas montadoras e estavam “empacados” nos pátios. As fábricas e concessionárias observam agora se o consumidor vai continuar nesse ritmo nos meses de fevereiro e março. Com relação aos cortes de funcionários pelas montadoras, é importante observar o movimento de cada empresa antes de formar opiniões precipitadas. A Renault possui dificuldades para “emplacar” (bom trocadilho) seus veículos em território nacional diante de fortes concorrentes como Fiat e Volkswagen. O corte na Volkswagen foi de 150 funcionários de uma unidade do grupo que emprega 11 mil pessoas. Em entrevista, a empresa informou que o corte foi feito devido a um ajuste de estoque. Já a situação da GM em nível global não a qualifica como referencial para qualquer análise de mercado. As perdas nas vendas perante os veículos japoneses e o socorro financeiro solicitado ao governo americano dão sinais claros da dificuldade da GM de produzir boas notícias a curto ou médio prazo. |||
Uma pergunta paira no setor de alumínio fundido: Como se comportaria a cadeia de fornecimento de sucatas e tarugos, caso a crise não interrompesse o ritmo de crescimento da indústria de automobilística de 2008?. “A indústria de fundição já estava operando no limite”, disse Luiz Alberto Lopes, diretor comercial da Metalur, referindose à carteira de encomendas do setor até o início de outubro do ano passado. De acordo com a assessoria de imprensa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de janeiro a setembro de 2008 o setor acumulava alta de 27%, comparada ao mesmo período do ano anterior. Em unidades produzidas, 2008 foi o melhor ano da história do setor, com produção de 2,82 milhões de unidades. Devido aos impactos da crise, o setor automobilístico fechou o ano passado com 14% de crescimento ante 2007.
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COBRE
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Sérgio Vieira
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Matéria fechada no dia 23 de janeiro
Oscilações do preço da tonelada de cobre entre 05 e 23 de janeiro de 2009 (em US$) Fonte: LME
Medidas para proteção de estoques 2009 começa com leve recuperação de preços, mas ainda muito aquém de 2008
55% é o percentual de desvalorização do cobre em um ano
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Após
encerrar o ano de 2008 tembro e a primeira semana de outubro com a tonelada na faixa de 2008. dos US$ 2.900 (segundo a cotação da “A crise reduziu o consumo de coBolsa de Metais de Londres (LME), o bre em países emergentes”, comenta cobre inicia 2009 com uma leve recu- Luiz Octavio Cardoso, gerente de vendas peração de mercado na casa dos US$ da Eluma Indústria e Comércio. Segundo 3.100 (cotação do dia 23 de janeiro). O ele, o segmento automotivo e bens de valor ainda está bem aquém dos valo- capital foram os dois principais responres registrados há sáveis pela queda acenum ano. tuada em novembro de Em janeiro de 2008. Por outro lado, 2008, a tonelada do mesmo em crise, segcobre estava cotada mentos como refrigeraem US$ 7 mil, ou ção e fios elétricos conseja, em um ano o tinuaram demandando metal desvalorizouo produto no último trise 55%. Ao contrámestre de 2008 e nesse rio de algumas cominício de 2009. “A camodities que já inideia da matéria-prima ciaram 2008 em sempre é a última a ser queda, o ponto funafetada numa crise de damental para esse mercado”, acredita ele. recuo do cobre foi a Cerca de 50% do crise mundial. Em sistema de trabalho da junho de 2008, a toEluma é voltado para a nelada do cobre transformação (sucata chegou a bater a Luiz, gerente da Eluma: aprendizado com do cliente em que é cocasa dos US$ 9 mil baixos estoques brada apenas a mãoe, até o fim do mês de-obra); enquanto que de agosto, ela nunca chegou a ficar abai- a outra metade é proveniente do sistexo dos US$ 7 mil. Entretanto, em apenas ma “integral” (venda da matéria-prima 15 dias o preço do cobre sofreu quedas mais os custos de mão-de-obra). No fide até 30% entre a última semana de se- nal de cada ano, a Eluma sempre procu-
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ra aumentar a captação de sucata de cobre no mercado, a fim de evitar estoques voláteis de matéria-prima. Para o gerente de vendas da Eluma, 2008 foi um ano que ensinou a empresa a trabalhar com baixos estoques internos de sucata e de produto preparado. Dessa forma, a empresa defende-se de possíveis volatilidades do cobre na LME. Para 2009, a Eluma pensa em criar estruturas internas que possam garantir a estabilidade do cobre. Uma dessas estruturas seria fazer hedge no mercado de commodities. Essa operação, entretanto, não agrada a todo o segmento de cobre como forma de proteger investimentos. “As alternativas de proteção ao risco por mecanismo de hedge são complicadas, caras e de difícil aplicação”, acredita Nelson Leme, vice-presidente da Termomecânica, que também trabalha na transformação do cobre. Em sua opinião, as fortes oscilações do cobre prejudicaram todo o segmento e, para o setor, a melhor forma de gerenciar a empresa está na gestão sobre os estoques a fim de reduzir os impactos da instabilidade do mercado. Um dos temas da Exposucata 2008, o hedge é uma operação no mercado financeiro na qual o valor da commodity é fixado no futuro dentro de uma “opção de venda”. Nesse período, caso haja uma alteração brusca de preço, o investidor está protegido pelo gestor do fundo por-
que optou por vender (ou comprar) um produto em determinada data. Não se tem conhecimento do uso do hedge para o mercado de cobre nacional. De acordo com o professor e economista Antônio Gonçalves, do Instituto Bennet do Rio de Janeiro, as operações de hedge no País são muito usadas pelas empresas brasileiras que precisam fazer pagamento de faturas em dólar (conhecido no mercado como hedge cambial). Segundo ele, a crise criou cenários em alguns mercados que precisam ser muito bem estudados antes de qualquer ação da empresa. “Estamos vivendo uma valorização do dólar numa época em que todas as commodities metálicas caíram de preço. Algumas empresas brasileiras protegeram-se contra as oscilações do dólar, mas acho que subestimaram as perdas com commodities”, observa ele. Para o vice-presidente da Termomecânica, a forte demanda por cobre ao longo de 2008 somou-se ao mercado especulativo. Essa observação talvez explique os níveis de US$ 9 mil a que chegou a tonelada de cobre no último mês de junho. Ou seja, o cobre viveu um momento de preços “irreais” e pura especulação no fim do primeiro semestre de 2008. Já no início do segundo semestre, o cobre voltou ao seu patamar razoável de US$ 7 mil e, nos últimos três meses do ano, teve seu preço reduzido à metade devido à crise. |||
Tonelada a
US$ 9 mil pode ter sido obra de especuladores
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ELETRÔNICOS
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da redação
Parte mais nobre de eletrônicos vai para fora do País Reciclar placas de circuito impresso pode ser um bom negócio na recuperação e reutilização de metais
Do instante
em que você desperta e levanta da cama até a hora em que vai dormir, sem se dar conta, está em contato direto com mais de uma dezena de placas de circuito impresso (PCIs). Para quem desconhece o assunto, as placas de circuito impresso estão presentes em praticamente todo tipo de equipamento que carrega componentes eletrônicos (celular, televisão, telefone fixo, computador, automóvel, leitores de cartão de crédito, DVD, elevadores, eletrodomésticos, brinquedos eletrônicos e milhares de outros produtos).
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Entre outras funções, elas servem basicamente como suporte para a montagem de componentes eletrônicos, como chips e processadores, além da comunicação entre estes no interior dos equipamentos. Sem os componentes, são compostas basicamente por fibras de vidro e cobre, mas uma parte do mercado de placas mais antigas ainda é formada pelas placas feitas de fenolite (celulose impregnada com resinas sintéticas) revestidas com cobre. A produção de PCIs no Brasil ainda é pouco expressiva. Por ano, o mercado interno produz apenas 820 mil m² de placas. Se-
gundo a Associação Brasileira de Circuitos Impressos (Abraci), isso representa apenas 25% da demanda nacional. O restante (ou seja, 1.435 mil m²) é todo suprido pelas importações, principalmente com origem na China e em Taiwan. Com o número de aparelhos eletrônicos em elevado crescimento nos últimos anos, houve também um aumento considerável no volume de sucata gerada de PCIs. Comercialmente, o lado interessante dessa história é que, na maioria das vezes, essas placas (já com componentes) possuem uma razoável quantidade de metais — alguns de elevado valor comercial, como ouro, prata, platina, estanho e cobre —, passando a ser vistas com olhos mais atentos pelo mercado. Para se ter uma ideia, em uma tonelada de sucata eletroeletrônica, calcula-se ser possível encontrar até 300 gramas de ouro e um quilo de prata (ver tabela). Empresas como a Lorene, de São Paulo, especializada em reciclagem, beneficiamento e venda de metais nobres e preciosos, investem nesse setor. Segundo o comprador da empresa, Vanderlei Camargo, a Lorene compra todos os tipos de sucata eletroeletrônica — pós-industrial (sobras, retalhos e aparas) e pós-consumo.
Com a crise mundial, a Lorene sofreu uma retração considerável. A média de compra da empresa, de 250 toneladas por mês, caiu para pouco mais de 150 toneladas no último trimestre de 2008. Camargo acredita que isso seja passageiro e diz que a empresa paga entre R$ 4 e R$ 7 mil por tonelada de sucata pós-consumo. O grande problema é que o Brasil fica apenas com a parte menos nobre do processo de reciclagem, já que ainda não temos tecnologia suficiente para recuperação de metais. Após serem comprados e estocados nas empresas, os resíduos passam por um processo de moagem e são encaminhados para purificadoras em países como Alemanha, Bélgica, Cingapura, China e Estados Unidos. Ou seja, hoje em dia, 100% do material triturado por aqui é exportado. Depois que chegam às usinas e são incinerados, restam apenas os metais pesados, que são separados por eletrólise, unidos em barras e revendidos para o mercado. Uma das principais geradoras de sucata eletrônica, por incrível que pa-
A Lorene é uma das empresas que atua na área de reciclagem eletrônica. Dependendo do tipo de produto, paga entre R$ 4 mil e R$ 7 mil por tonelada.
100% do pós-consumo é exportado
75%
de nossas placas são estrangeiras
10%
300
ao ano é o índice de crescimento de PCI no Brasil
gramas de ouro em 1 Ton. de placa
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Setorial | Eletrônicos | da redação
Quantidades obtidas em uma tonelada de sucata eletroeletrônica Fonte: Cimelia
Fabricantes de placas de circuito impresso geram resíduos como bordas e aparas. Algumas empresas pagam até R$ 300 por tonelada para se livrarem do material que contém cobre e fibra de vidro.
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reça, é a própria indústria de PCIs. Isso porque há uma perda muito grande durante o processo de produção das placas. Para entender melhor, é como se fosse uma cartela de adesivos que, quando são destacados, deixam para trás toda a borda e as aparas. Assim, para fazer 1 m² de PCIs, é necessária uma placa que tenha entre 1,5 e 1,8 m², em média. É o que explica o gerente de desenvolvimento da Micropress, Sérgio Paulo Rodrigues. A empresa produz 350 m² de placas/mês, um volume de sucata considerado baixo pelo mercado, e tem de desembolsar cerca R$ 300 por tonelada para se livrar da sucata pós-industrial. Note que a diferença exorbitante entre o que a Lorene paga por tonelada e a mesma quantidade vendida pela Micropress deve-se à presença de componentes na sucata pós-consumo (fase da vida do produto em que se conseguem extrair os metais nobres). A Cimelia, companhia com sede em Cingapura, compra uma média de 800 toneladas de sucata eletroeletrônica por mês. Segundo a diretora executiva
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de marketing da empresa, Ana Cláudia Drugovich, o preço pago por cada quilo de sucata eletroeletrônica pode variar muito (de R$ 0,01 a R$ 80) dependendo do tipo de material. “Temos um contrato global com grandes multinacionais de eletroeletrônicos e telefonia, então, reciclamos todos os materiais que eles nos enviam”, afirma a diretora. Dessa forma, refugos, produtos defeituosos e fora de linha também entram no carregamento de sucata e são reciclados juntamente com as sobras de placas. Esse material “cru”, caso fosse reciclado sozinho, não seria tão rentável, já que é pobre em quantidade de metais, por ainda não possuir os componentes acoplados. Essa preocupação das fabricantes do setor eletroeletrônico com a reciclagem deve-se muito à Política Nacional de Resíduos Sólidos, que já vem tramitando há algum tempo. Em caso de aprovação, o gerador de resíduos sólidos passará a ter responsabilidade total sobre sua produção, compreendendo as etapas de acondicionamento, disponibilização para coleta, tratamento e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Ou seja, os fabricantes terão de se preocupar com a destinação dos produtos mesmo após o uso do consumidor. Apesar da baixa produção, o mercado brasileiro de PCIs vem em constante evolução, tendo registrado uma taxa de crescimento de 10% em 2007. Já em 2008, devido à crise dos últimos três meses, o crescimento deve ser um pouco menor, na casa dos 5%. Entretanto, para o secretário-geral da Abraci, Silas Anchieta, o principal problema ainda é a concorrência chinesa. “Nem vamos entrar muito nos méritos de qualidade. As empresas, muitas vezes, estão comprando só pelo preço, em que os produtos chineses são imbatíveis, mas devemos fazer um investimento também no sentido ambiental, já que não conhecemos a procedência desses produtos”, conclui Silas. |||
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setorial
TÊXTIL
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da redação
Propostas em andamento
Aterro é um dos concorrentes da reciclagem Setor tem potencial, mas têxtil desorganização atrapalha mercado
O mercado
têxtil brasileiro é fortíssimo. Somos o sexto maior produtor do mundo e o segundo maior produtor de denim (matéria-prima para a fabricação de artigos jeans). De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), o faturamento do setor ultrapassou os US$ 40 bilhões — cerca de 2,5% do PIB nacional. Mais de 26 mil empresas atuam nesse segmento, que se divide em empresas de fios, fibras, tecelagens e confecções. Entretanto, quando o assunto é reciclagem, os dados não são tão impressionantes assim. O primeiro e principal entrave para a reciclagem têxtil é a falta de regulamentação (ver box). Despejar os resíduos em aterros é muito barato — cerca de R$ 50 a tonelada. É o que explica o diretor comercial da empresa Sucatas Avarei, Robert de Oli-
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veira. Localizada em Jacareí (distante 70 km da capital paulista), a Avarei atua há 18 anos no mercado de compra e venda de resíduos têxteis industriais. Segundo Oliveira, a empresa trabalha no sistema de “gerenciamento total dos resíduos”, ou seja, retira na fábrica, transporta, reaproveita e vende. Mas a empresa constantemente esbarra com a concorrência dos aterros. “Não há obrigatoriedade em dar uma destinação correta a esses materiais, portanto, as fábricas simplesmente os despejam”, diz. A Sucatas Avarei compra os resíduos e os revende para diversas finalidades, como enchimento, por exemplo. A média da empresa gira em torno de 200 toneladas/ mês. Outra grande dificuldade encontrada pelo setor é que, muitas vezes, o trabalho realizado pelas empresas não é visto como re-
A falta de legislação atrapalha, mas duas novas propostas podem ajudar a dar uma aquecida no setor. A primeira é o Projeto de Lei 1518/2008, de autoria do deputado Olney Botelho (PDT-RJ). O PL, que está tramitando, autoriza o Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro a firmar convênios com as prefeituras e empresas privadas da Região Serrana para constituição de Unidades de Reciclagem de Resíduos Têxteis e de Confecções. A segunda proposta é a parceria firmada entre a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná com o Sindicato da Indústria do Vestuário (Sindvest). O acordo visa o reaproveitamento de materiais da indústria têxtil da região. A ideia é usar os resíduos na confecção de produtos como acolchoados, edredons e enchimentos de painéis de veículos, por exemplo.
ciclagem. Grande parte acredita que essa prática não passa de simples reutilização dos resíduos e, portanto, não merece atenção ou incentivo. Ainda assim, existem diversas empresas no mercado que atuam nessa área. É o caso da Estopa Guarany Indústria e Comércio Ltda., uma das principais fabricantes de estopas do Rio de Janeiro. A Guarany atua justamente naquele que é o principal destino dos resíduos têxteis: a produção de estopas. O sócio-diretor da empresa, Leonardo Loja, lamenta o fato de empresas como a sua, mesmo beneficiando os resíduos têxteis — que, caso contrário, seriam descartados —, sofrerem severamente com o descaso. “Não somos tratados como uma empresa de reciclagem. E não recebemos nenhum tipo de apoio”, observa. A empresa carioca ainda sofre de outro lado. Como as indústrias exigem que os resíduos sejam recolhidos em grandes quantidades, tarefa muitas vezes inviável, a Guarany acaba tendo de comprar esse material dos intermediários que o retiram. Nos últimos meses, tais intermediários fizeram um reajuste de quase 50% no preço dos resíduos. Como o produto final muitas vezes tem
um preço baixo, as empresas que reciclam não têm como transferir o reajuste ao consumidor final, ficando com o prejuízo. A terceira grande dificuldade do setor é a concorrência. As fibras têxteis advindas de garrafas PET, sobras de pneu e fibras de coco (esta última utilizada principalmente no estofamento de automóveis), muitas vezes ocupam o lugar dos resíduos de fibras de algodão ou poliéster. Para se ter uma noção, duas garrafas PET bastam para fazer uma camiseta. É difícil estabelecer a quantidade de resíduos necessária para fazer outra peça de roupa, principalmente em grandes indústrias, já que esse processo é pouco comum. Isso porque, durante a transformação dos resíduos em fibras, e das fibras em fio, ocorre uma “agressão” muito grande às fibras, resultando em fios grosseiros e irregulares, impróprios para a produção de malhas. A grande verdade é que ainda há escassez de dados sobre o assunto. Nem a Abit possui informações sobre o mercado de reciclagem têxtil. Dos 16 comitês setoriais da entidade, nenhum cuida especificamente do tema. |||
O enchimento de almofadas e a fabricação de estopas estão entre os aproveitamentos dos resíduos têxteis. Setor sofre com concorrência de fibras de outros materiais.
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