Entrevista Guilherme de Sรก Janeiro 2017
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Entrevista Por Revista Rosa News
GUILHERME DE SÁ Projeto Íngreme Guilherme de Sá anuncia seu projeto solo depois de 15 anos que integra como vocalista do Rosa de Saron,e nós da Revista Rosa News, trazemos uma entrevista exclusiva com o cantor a cerca desse projeto, onde você poderá entender mais sobre o projeto “Íngreme”, não apenas simples perguntas, mas revelações sobre o processo de criação do CD, estilo 01 - Em um post no Instagram e no pocket no Rio de Janeiro você disse q ele foge um pouco do estilo da banda. Quais seriam as referencias e inspirações para que ele acontecesse? Eu jamais faria um trabalho solo para apresentar uma mesma versão de mim mesmo, esta sempre foi a condição básica: se eu fizesse algo novo, teria que, não apenas soar diferente, mas vir com uma proposta diferente também. A regra em si consiste em fazer um som que me agradasse por completo e isso é algo dificílimo de cumprir no que se refere à parte criacional, porque, embora eu seja uma pessoa de gosto eclético, tenho uma absoluta negação como compositor, desde o primeiro processo de composição até onde a música toma sua forma em estúdio. Até lá, as canções passam por um teste de fé tremendo, porque para mim é tudo tão fácil, é tão simples compor, que no terceiro blá-blá-blá eu já quero engavetar a música. Então faz-se necessário acreditar nela e dar segmento ao processo todo que a envolve. Um exemplo: “Latitude, Longitude” iria para a gaveta, quem convenceu-me a trabalhála foi minha esposa. Isso aconteceu diversas vezes. Neste novo trabalho não tive este luxo, compus o Revista ROSA NEWS
musical, o clip, novidades sobre seu livro que ainda será lançado, composições e particularidades sobre sua vivência e carreira. Específicas e esclarecedoras são suas respostas e percebe-se a preocupação e carinho com que elas cheguem aos fãs. Que todos tenham uma ótima leitura! disco todo em 38 dias em meio à duas turnês e a paternidade, foi algo inédito para mim. Íngreme pode ser classificado como Folk Romântico e há muitas referências para ele, é a somatória de quatro anos de audições, onde ouvi muitas coisas diferentes dentro do estilo em si, mas não poderia aplicá-las à banda, porque são outras propostas sonoras. O disco tem dois lados: o lado A que é mais feminino e o lado B que é mais elaborado. Mas, em síntese, Íngreme é um disco minimalista como um todo. Em resumo, entre virtudes e defeitos, ainda é o Guilherme compondo e cantando, então haverão semelhanças entre Rosa e Solo.
02 - Podemos esperar então algo do tipo “voz e violão”? Sim. Cinquenta porcento do CD é praticamente violão e voz. Diferentemente das produções que faço com o Rosa, onde maximizo as músicas com camadas e camadas de arranjos, desta vez, segui com precisão a máxima “menos é mais”. Não há dobras de violão, nem camadas do mesmo. Base e solo tocadas de uma só vez. Não fiquei nem dez dias gravando.
Foto Divulgação
03 - Como foi o processo de gravação. Você foi à Europa captar imagens, onde foi? E porque esta escolha? Todo o trabalho foi executado no melhor estilo “do it yourself”, do áudio às imagens. Apenas a voz foi gravada em estúdio, todo o disco foi gravado num pequeno quartinho, que geralmente gourmetizamos classificando-os como “Home Studios”, mas a verdade é que, quando você tem um grande técnico como o Ricardo Domingues, 80% da técnica vem com ele e não precisei mais do que isso. Todos os instrumentos foram gravados por mim. Mas a cereja do bolo ficou por conta das fotos. Convenci a Som Livre que o melhor custobenefício para este projeto era pegar um avião e ir
para o Velho Continente para coletar todo material. Ao invés de levar e/ou contratar um fotógrafo, levei minha esposa, que possui ótima visão e sensibilidade. O resultado ficou incrível, as fotos para o CD e para o Website foram feitas por ela, em uma igrejinha perdida no meio dos Alpes da Baviera, em Schwangau, uma cidadezinha alemã, e em apenas duas horas, havíamos terminado todas as fotos e gravado um Lyric Video no mesmo local. Ainda gravaríamos na República Tcheca, Áustria e na Polônia. Este último, rendeu um videoclipe nos campos de concentração em Auschwitz, para uma música que compus chamada “Floresta de Bétulas”, em memória das mais de um milhão e cem mil pessoas que foram assassinadas naquele local. Revista ROSA NEWS
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04 - Há quanto tempo você tem esse projeto em mente? E como foi feito a seleção das musicas do cd Íngreme? De fato, haviam três melodias completas compostas em outras épocas recentes, que não entrariam em um CD do Rosa de Saron. E que depois viriam a se chamar “Ares, Dezares, Azares”, “Ágora” e “Mistakes and Regrets”. De uma certa maneira, elas foram o start deste projeto, mas eu poderia ter decidido pelo Solo pelos outros motivos que os cercam. A maioria das decisões que tomo na minha vida é uma espécie de “time and feeling” e toda esta idéia surgiu de uma hora para outra. Digamos que, em Setembro do ano passado eu não cogitava a hipótese. Então veio a fagulha. Este projeto é a soma da inspiração retida, com o desejo de querer fazer algo a mais. Percebi que eu era capaz de fazer isso ao viver a grata experiência com o Loop Session Friends, um outro projeto paralelo em que viajei por um ano e meio com Mauro Henrique e Leonardo Gonçalves. Não houve seleção, houve composição. Eu não costumo fazer seleções do tipo: “esta entra neste disco, aquela eu deixarei para o próximo”. Quando engaveto uma canção, geralmente é game over. Às vezes, partes de músicas abandonadas acabam entrando em outras composições. No caso de Íngreme, tive muito pouco tempo para compor, cerca de duas horas por noite, nas noites que trabalhei. E assim, o trabalho foi feito. Foi, disparado, o disco mais rápido que compus e executei. Extremamente prazeroso de fazer, apesar de toda minha neura com as composições. Há três covers e é um disco trilíngue. Revista ROSA NEWS
05 - Porque da escolha do nome Íngreme? Porque foi a palavra mais honesta que encontrei que representasse o que este momento significa. Não gastei cinco minutos para escolher o nome. Íngreme não é apenas um disco. É a metáfora de um conceito que pode ser aplicado em diversos sentidos: por ser um trabalho romântico, traz uma proposta ousada em uma realidade ousada, é particularmente um vôo alto, dado após quinze anos de oportunidades, por um cara que continua focado no alto. E para ele, Íngreme também é sinal de medo, visto que sempre sentiu-se melhor com os pés fixados no chão. Mas que nunca teve medo de voar. Se é sinal de medo, também é sinal de coragem, porque no enfrentamento do medo, abatemos um monstro.
06 - Qual foi sua inspiração para a Logo do seu projeto? Assim como o título “Íngreme”, a Logo surgiu de forma muito rápida. Foi desenhada à caneta. Apenas peguei o papel e saiu o que saiu. O ambigrama “Sá” é uma marca que expressa que o Guilherme sempre procurou dialogar bem com os dois lados. Um lado voltado para Deus e outro lado voltado para o amor.
Foto Divulgação
07 - Já são mais de 10 shows confirmados pelo Brasil, qual a sua sensação por captar esse retorno tão rápido? Na verdade, já são mais de vinte e cinco listados, desde Dezembro do ano passado. Há produtores, patrocinadores, músicos interessados, procurando minha equipe à todo instante. Existe muita coisa acontecendo mas, mesmo assim, mantenho-me focado no básico, que é cumprir a agenda base, ou seja, tudo que envolve a finalização do trabalho e a produção do material visual. Os próximos passos serão os ensaios, afinal é um desafio para mim. Tudo no seu tempo, fico feliz pela procura e interesse, claro. Mas há outras coisas em pauta, inclusive a preparação de uma nova turnê com o Rosa que vai se chamar “Essencial”. Deixo toda essa parte estrutural para a Toca Produções, desde o agendamento até a conciliação da agenda com o Rosa. Este sucesso prévio é deles.
08 - Como seria essa conciliação da agenda da banda com o seu novo projeto? O Loop Session Friends foi fundamental para entender como funcionaria este maquinário: Para o LSF, eu solicitei à banda três datas fracas, que correspondiam à uma segunda, uma terça e uma quarta-feira de cada mês. Para o Solo, pedi seis. A base de todo êxito é a comunicação entre as agendas e a flexibilidade das regras. À partir do momento em que surge uma proposta de show no escritório do Rosa de Saron e uma data reservada para o Solo está disponível, não há porque segurála, posso cedê-la ao Rosa. O mesmo acontece ao inverso. No fim, a única coisa que não pode acontecer, é falha de comunicação. O fato de não ter ocorrido uma falha sequer no LSF foi outro fator determinante para eu decidir à favor deste projeto paralelo.
09 - Qual a expectativa em relação ao publico que te acompanha no rosa com esse novo projeto? Embora eu saiba que este seja um trabalho mais acessível, não pretendo alcançar um novo público com Íngreme. Se ele vier, ótimo. Mas não é este o objetivo. Acredito que as pessoas que nos ouvem, sempre esperam que façamos “o mais do mesmo”, geralmente elas se decepcionam com mudanças, mas como artistas, há uma necessidade de se renovar à todo instante. É uma questão de alma. De tato. Musicalmente e principalmente liricamente. Especificamente em Íngreme, procurei a autenticidade, independentemente de agradar A ou B, porque A e B são o público do Rosa. Há algo de peculiar além de sermos abrangentes em nosso trabalho: Podemos falar o que quisermos, desde que seja verídico. Isso não gera apenas uma legião de seguidores, mas de amigos. Foi assim que cresci neste meio e foi isso que trouxe para este novo desafio. Os primeiros a ouvirem Íngreme serão fundamentalmente os ouvintes do Rosa e do outro lado do som será o Guilherme de sempre.
10 - O que não poderá faltar nessa turnê? Levarei para os palcos, de uma certa maneira, uma herança do Loop Session Friends, no que se refere à intimidade. Pretendo fazer um show intimista, um pouco mais versátil do que faço com o Rosa. Acostumei-me a fazer uma espécie de “Broadway” com a banda, com cada passo e etapa telegrafada, planejada. Com o Solo, será diferente, será algo mais desnudado, permitindo-me errar mais, trazendo à tona, assim, um pouco mais do ser-humano. Este foi um dos segredos do LSF. Revista ROSA NEWS
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11 - Em um momento do pocket no RJ você disse que o novo trabalho tirava a essência que a banda construiu nesses 28 anos de carreira, qual seria essa essência? A palavra correta não é tirar, mas diferenciar, uma vez que todo o trabalho do Rosa é voltado para Deus, mesmo que haja algumas poucas músicas românticas. Este meu trabalho Solo apenas vem embasar o que dissemos a todo momento: “o Rosa de Saron é uma banda religiosa”. Então o leitor pode perguntar: “ora, porque o Guilherme não fez um disco religioso?” A resposta está logo acima e eu insisto: “o Rosa de Saron é uma banda religiosa e eu tenho um trabalho religioso”. E repito: “o Rosa de Saron é uma banda religiosa”. E afirmo: “o Rosa de Saron é uma banda religiosa”. “Ah, mas você pode cantar Rosa para uma namorada! - Sim, você pode.” “Ah, mas você pode cantar Rosa em uma adoração? - Sim, você pode”. Celebrar uma adoração também é um ato de amor. O bem mais precioso que ganhamos desde o momento daquela nossa centelha de vida, é o tão martirizado livre arbítrio. Ele é um bem, não uma maldição. O ser humano jamais deveria se cobrar por praticar o amor, sobretudo se este amor leva o outro à felicidade. Íngreme é essencialmente um disco romântico, feito por um religioso, por opção do religioso. Rosa de Saron é uma banda religiosa, feita por religiosos, por opção dos religiosos.
12 - Qual a mensagem você quer passar com as musicas do cd Íngreme? A mensagem de que, se o amor tornou-se apenas sexualidade, o plano de Deus falhou. Eu, com trinta e seis, continuo acreditando na pureza do amor, nos milagres do amor e principalmente na essência do amor. Acredito que você pode Revista ROSA NEWS
livremente se apaixonar, fazer juras de amor e com isso também estar sujeito à decepções e a vida é assim mesmo, nós crescemos com isso e é uma burrice culpar o amor pelos males dos nossos tempos. Porque um religioso não pode amar? Porque demonizar o amor? Eu não acredito que um homem de Deus se volte ao seu criador e diga: “Senhor, fique aí que agora vou ali ser menos cristão e já volto”. Não há como ir tomar um café da manhã e pedir para Deus ficar no quarto. Quando você crê em algo, este algo se torna sua filosofia, seu lema, suas regras. Portanto, quando compus este CD, eu não pedi para Deus: “olha Senhor, fica ali, volta depois que eu terminar”. Deus veio junto, porque Deus é minha filosofia. E é por isso que eu ficaria feliz se essas músicas fossem ouvidas à dois sem receio algum, porque não? E ficaria feliz se cantassem para Deus, porque não? Isso é cumprir o primeiro e o segundo mandamento. O sentido do ambigrama Sá é este.
13 - Em um post em 2016 você afirmou estar cansado e nos deu a entender que sairia da banda e agora está com o projeto solo, o que te levou a tomar essa decisão de seguir com 2 projetos? Escrevi um livro, que é uma espécie de diário, e será lançado em Maio. Em um capítulo específico, penso seriamente em desistir e, ali explico com detalhes, o que se passava naquele momento, portanto esta pergunta será melhor respondida ali. São vários desânimos que esta profissão traz, aquele foi mais um de vários. No fim acabo sempre permanecendo por dois motivos: chamado e necessidade. O primeiro é mais forte, mas não posso deixar de citar o segundo. Há quem pense que somos ricos, estamos muito longe disso. Tenho o suficiente para viver este mês. O próximo vem do trabalho e eu trabalho com música. Querer parar é uma coisa, ter três filhos é outra.
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16 - Esse projeto deixa nós rosarianos muito intrigados, e digo mais, com medo da sua saída da banda, isso de alguma forma é possível?
14 - Sabemos que a musica Fleur de Ma Vie foi feita para a pequena Lívia, você ainda busca inspirações nos seus filhos para compor? Sempre. Todas minhas músicas deste disco são para minha família. Do casamento ao nascimento, é onde aplico a verdade nas minhas letras. Uma composição minha, sempre será sobre vida que me cerca. De uma maneira ou de outra. São altamente biográficas.
15 - Você pretende levar o público a refletir mais sobre Deus com esse projeto? A música, tal como toda arte, é universal. Se dizemos que você pode sentir Deus nas pequenas coisas, então também pode senti-lo na arte. Vai depender da sensibilidade de quem escuta. O diálogo com a divindade é fruto do coração, sempre. Se alguém se apaixonar por Deus em um acorde, ganharei meu dia. Se render um casamento, ganharei outro dia. Se me chamar para cantar no casamento, ganharei algum trocado (risos).
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Há quinhentos outros vocalistas melhores que eu que assumiriam o posto com eficiência no dia seguinte. Compositores também. Não se preocupem com isso. De fato, na manhã seguinte do anúncio do meu trabalho paralelo, apareceram vários candidatos sem sequer eu ter saído. Sou apenas uma peça na engrenagem e sou somente isso. O Rosa de Saron é muito maior que o Guilherme de Sá, mas o Guilherme deseja continuar firme no Rosa. No que se refere à mim, tenho ciência do que o Rosa significa na vida de algumas pessoas e é exatamente por isso que hoje, não há chance de acontecer. Futuro é mesmo imprevisível, a crise está acabando com muitos setores, talentos e ofícios de forma devastadora, há muitas formas de uma banda acabar e há muitas falindo. Apesar de tudo, permanecemos firmes, com projetos à todo vapor e uma agenda ativa.
17 - Deixe uma mensagem de tranquilidade aos fãs (risos). Eu mesmo fiquei preocupado, seria hipocrisia dizer-lhes o contrário. Li ontem uma reportagem, que a Nasa detectou um asteróide do tamanho do Texas vindo em direção à Terra ainda neste mês, algo em torno de 13 dias. Mas fiquei tranquilo em seguida e digo para vocês, fiquem todos calmos: de fato foi por muito pouco, ele vai passar raspando nosso planeta, despejando baratas marcianas, carregando faixas dizendo com letras inteligíveis: “obrigado por esta entrevista!”
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