Há um céu que nos une “No fim tudo dá certo, e se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim” – Fernando Sabino, escritor mineiro, no livro de crônicas No fim dá certo, de 1998 Meu caro amigo Hipólito, tudo vai dar certo, e você não chegou ao fim. Nunca chegamos, e sua jornada na outra dimensão apenas começou. Afinal, como reiterou outro mineiro, Carlos Drummond de Andrade, “não importa a distância que nos separa, se há um céu que nos une”. O céu rotário deve tê-lo recebido com carinho e acolhimento. Na reunião, capitaneada por Paul Harris, Paulo Viriato e seu amigo Archimedes Teodoro, o mineiro símbolo da luta contra a poliomielite, tagarelam animadamente. Para eles, você ainda era um menino, eleito diretor para 1999, para orgulho da Marilene. Governador em 1985 com pouco mais de quarenta anos, diretor aquém dos sessenta. Um trator para o trabalho, como muitos em sua empresa construtora. Cartesiano, engenheiro, mas com o coração talhado pelas montanhas das Gerais, recôndito da História do Brasil, um cadinho da nossa etnia, sensibilidade e prudência do matuto. Mineiro, com a sabedoria serrana de ouvir com os olhos, com todo o ser, não só com os ouvidos. Seguidor de João Guimarães Rosa, outro pilar mineiro – “A gente vive muito em voz alta. Mas às vezes a gente não se ouve”. Ouvidos para escutar seu então jovem governador de Santo André, na caminhada na praia do Guarujá, sorvendo conselhos sobre como melhor dirigir seu distrito. Rotariano de cerne, católico de fé. Num domingo álgido de Evanston, em abril, a disposição de acompanhar, agora como curador, o seu ex-governador agora diretor, a Denise e o André para a missa de domingo de Páscoa na Catedral de Chicago. Homem que walks the talk, ação além do discurso, resultado além da inspiração. “Não sou homem de ter uma opinião no bolso e outra
na lapela”. Otto Lara Resende, mais um escritor mineiro. Hipólito era firme, afável, porém consistente; duro, porém terno. Princípios acima de tudo, inegociáveis; tergiversações e arranjos típicos da “brasilidade” rejeitados de pronto. Trabalha em silêncio, não dá ponto sem nó, não perde o trem. Deve ter ficado um “tiquim” sentido comigo, quando não pedi que continuasse na presidência da Associação Brasileira da The Rotary Foundation, uma das suas paixões. Não podia imaginar que os planos divinos para ele, e na minha cabeça, eram outros: assumir a cadeira de curador, logo após a minha gestão, representando o Brasil e a América do Sul. Parceiraço. Como curador, não precisava tratar do quadro associativo, preocupação do diretor. Mas sua visão holística não o permitia alhear-se do combate. Participava das incontáveis reuniões virtuais comigo sem precisar afinar o roteiro: tocávamos de ouvido, orquestra sem regente, uma sinfonia calibrada em 20 anos de vida rotária conjunta. “Oncotô? Oncetá?” “As pessoas não morrem, ficam encantadas... A gente morre é para provar que viveu”, disse João Guimarães Rosa em discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em novembro de 1967. Você se encantou, meu velho amigo. Motivou, semeou, provou que viveu. Vá, que a reunião vai começar. Aqueles iluminados líderes que abriram o caminho do Rotary, que nós só conhecíamos dos livros, agora são seus parceiros. Você agora faz parte da história cá embaixo, e fará história aí em cima. Mas vai sentir uma falta danada do “pãozindiquejo”, “cafezin”, “mingaudimio”, “broadifubá” e “torresmin”. Dizem que o cardápio aí nem uma cachacinha de Salinas tem. Conversa com o protocolo. Mário César Martins de Camargo Curador 2015-19, antecessor do Hipólito Governador 1999-00, aluno do Hipólito Diretor 2019-21, parceiro do Hipólito Daniela Ometto
No estande da ABTRF, na Convenção do Rotary de 2015, em São Paulo: o diretor 2019-21 Mário César de Camargo, o governador distrital 1991-92 Bemvindo Augusto Dias, Hipólito Ferreira e o diretor 2009-11 Antonio Hallage
Rotary Brasil
JANEIRO de 2021
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