9 minute read
VOCÊ PERGUNTA. GORDON RESPONDE
O presidente eleito do Rotary afirma que pretende liderar tendo o zelo como seu principal valor
Se você perguntar a Gordon McInally qualquer coisa sobre o ano dele como presidente do Rotary International, ele o corrigirá prontamente. “Não é o meu ano que importa. O importante é como será este ano no Rotary”, pondera. “Acredito muito na continuidade e não vejo cada ano isoladamente.”
Em outubro, Gordon se reuniu com seis integrantes da equipe de comunicação do Rotary para responder a perguntas feitas por associados de todo o mundo nas redes sociais. Brincalhão e com um senso de humor rápido, ele encheu a sala de risadas enquanto uma equipe de filmagem instalava microfones, câmeras e luzes. Ao se apresentar como associado ao Rotary Club de South Queensferry, na Escócia, ele brincou sobre sua forma inconfundível de falar: “Apesar da falta de sotaque, sou escocês e tenho muito orgulho disso”.
A identidade escocesa de Gordon fica evidente em seu escritório, onde uma pintura de uma paisagem colorida do artista escocês John Lowrie Morrison adorna uma parede. “A Escócia nem sempre é tão melancólica quanto costuma ser retratada”, comenta. “Às vezes, é um lugar bem alegre.” Na verdade, existem muitos estereótipos sobre a Escócia que Gordon está tentando superar. “O tartã, aquele padrão xadrez, é muito tradicional, muito estereotipado”, afirma. Em vez do lugar comum, sua gravata presidencial foi inspirada nas cores claras usadas por Morrison, seu artista favorito, junto com as cores de uma concha da Tailândia que serviu a ele de inspiração para o seu lema presidencial. Entre outras curiosidades encontradas no escritório do presidente eleito está uma representação gigante de papelão da sua cabeça, que ele recebeu depois de um Instituto Rotary em Minneapolis, nos Estados Unidos. Os visitantes adoram tirar selfies com n Natarajan Sundaresan, Rotary Club de Koothapakkam, Índia l Meu principal valor pode ser expresso em uma só palavra: zelo. Acredito que eu zelo pelas pessoas. Profissionalmente, como dentista, cuidei das pessoas por muitos e muitos anos. É algo que foi instilado em mim pelos meus pais. É algo que incutimos em nossos próprios filhos. E o melhor de tudo é que agora vejo isso sendo ensinado aos nossos netos. Acho que, se houvesse mais zelo e mais gentileza, o mundo seria um lugar bem mais feliz e pacífico. A paz é uma das questões nas quais eu, particularmente, quero que avancemos. ela para postar nas redes sociais. Rindo, ele diz: “Acho que eles entendem melhor a cabeça do que a mim”. Gordon ingressou no clube de South Queensferry quando tinha 26 anos. Ele e sua esposa, Heather, haviam se casado recentemente e queriam criar raízes nas imediações de Edimburgo. Um fazendeiro que eles haviam conhecido os convidou para um evento social do Rotary e depois para algumas reuniões. Antes que Gordon percebesse, ele já estava a caminho de se associar ao Rotary – Heather McInally também é rotariana, integrando o clube satélite de Borderlands do Rotary Club de Selkirk, na Escócia. “Eu não conseguia entender como um dentista trabalhando sozinho em Edimburgo poderia fazer uma grande diferença no mundo”, lembra Gordon. “Mas logo percebi que fazendo parte do Rotary isso seria possível. E de fato foi.” n Jannine e Paul Birtwistle, Rotary Club de Guernsey, Ilhas do Canal, Reino Unido l Conheço Jannine e Paul muito bem, e é muito bom receber uma pergunta deles. Acho que a maneira de recuperar o “brilho nos olhos” de alguns associados é garantir que a experiência no clube seja a melhor possível e a mais adequada a todos. Não é um caso de formato único. Alguns clubes preferem se reunir em uma associação de campo e passar duas horas e meia almoçando. Outros preferem se reunir por 45 minutos na manhã de sábado para um café da manhã e depois fazer trabalho voluntário juntos. n Abdur Rahman, Rotary Club de Secunderabad, Índia l Um dos grandes projetos em que estamos trabalhando no momento é o plantio de manguezais em vários lugares do mundo, e existem muitas outras iniciativas na lista. Devemos lembrar que o Rotary sozinho não conseguirá resolver o problema das mudanças climáticas. Precisamos trabalhar no âmbito em que somos capazes de trabalhar, além de incentivar e pressionar os governos de todo o mundo a garantir que enfrentemos a questão das mudanças climáticas no futuro. n Dale Kerns, Rotary Club de North East, Estados Unidos l Precisamos trazê-los para os Rotary Clubs como rotaractianos e permitir que nos ajudem a moldar o futuro do clube. Falamos muito sobre mentoria. Mas também há mentoria reversa. Temos muito a aprender com os rotaractianos. Um dos lugares mais bem-sucedidos do mundo na integração de rotaractianos ao Rotary é Hong Kong. Eles transitam perfeitamente do Rotaract para o Rotary. Como resultado, quase não há uma divisão. Eles têm uma maneira maravilhosa de integrar o Rotaract e o Rotary. Ambos os lados ganham muito com isso. As pessoas dizem que o Rotaract é o futuro do Rotary, mas na verdade ele é o presente. do você leva um aluno do ensino médio com potencial para uma experiência do Ryla, a mudança que pode ocorrer é incrível. É comum encontrarmos jovens introvertidos e tímidos no começo do Ryla, e, ao final, eles ficarem mais soltos e atingirem um tremendo progresso. É importante enviarmos pessoas com potencial para viverem a experiência do Ryla — não apenas aquelas que já voam alto, porque para essas o sucesso virá de qualquer maneira. Devemos selecionar aqueles para cujo desenvolvimento possamos contribuir. n Marissa De Luna, Rotary Club de Sweetwater San Diego, Estados Unidos n Lindy Beatie, Rotary Club de Penn Valley, Estados Unidos l Sou um grande fã do Ryla [Prêmios Rotários de Liderança Juvenil], um programa de sucesso na nossa região. Quan- l Quando falo sobre continuidade, não me refiro apenas a fazer as mesmas coisas ano após ano. Estou me referindo a um processo de avançar continuamente, de melhorar continuamente. Para isso, precisamos analisar diferentes projetos e diferentes iniciativas, pois a cada momento temos que atender a necessidades e demandas distintas. Portanto, acho que as duas coisas não são mutuamente exclusivas. Acho que podemos participar de novos projetos e pensar em fazer coisas novas. Mas ainda podemos praticar a continuidade, buscando avançar em longo prazo sem nos apressarmos para concluir as coisas durante um único mandato presidencial. n Claudia Arizmendi, Rotary Club de Hermosillo Milenio, México l Vimos um grande aumento no voluntariado durante a pandemia. Acho que temos uma grande oportunidade de nos conectar com essas pessoas e incentivá-las a continuar esse trabalho voluntário por meio do Rotary. Acredito que seja da natureza de todos zelar pelo próximo. Se pudermos acender essa chama nas pessoas e aproveitar o espírito de proteção que observamos durante a pandemia, deixaremos um legado maravilhoso. Cerca de 6,5 milhões
Quais são seus valores e como eles moldam a forma como você lidera?
No período 2023-24, ele dará atenção especial à saúde mental, uma questão que já afetou sua família diretamente e, de modo geral, é frequentemente silenciada. Gordon é embaixador da Bipolar UK, uma organização que apoia pessoas com transtorno bipolar, bem como suas famílias e cuidadores. Recentemente, o Rotary International na Grã-Bretanha e Irlanda lançou uma parceria com a organização no intuito de aproveitar a capacidade dos associados para ajudar a construir uma rede mais robusta de grupos de apoio em todo o país. “Acredito muito em usar as habilidades dos associados do Rotary, em vez de apenas seus talões de cheque”, explica.
A seguir, confira uma versão editada da conversa com Gordon.
Como podemos motivar os associados do Rotary que parecem ter “perdido o brilho nos olhos”?
Tudo se resume à prestação de serviços humanitários. Somos uma organização de associados e de serviços humanitários. Não podemos ser apenas uma das coisas. Precisamos estar presentes em projetos humanitários não só porque isso enriquecerá a nossa experiência, mas também porque mais gente ficará interessada em se juntar a nós depois de verem os frutos do nosso trabalho.
Quais os planos concretos do Rotary em 2023-24 para combater as mudanças climáticas?
Como motivar mais rotaractianos a se associarem a Rotary Clubs?
O Rotary segue criando novas parcerias e lançando novos projetos. Como podemos garantir a continuidade quando um novo presidente toma posse?
Quais programas pró-juventude são importantes para você?
Também acredito muito no Intercâmbio de Jovens. Estou feliz por termos chegado às condições para reativar o programa. Nas últimas semanas, vi jovens viajando por todo o mundo para o que será uma experiência transformadora. Isso nos leva de volta a toda a questão de criarmos um mundo mais pacífico. Ao propiciarmos aos jovens a oportunidade de conhecer gente da sua faixa etária enquanto fazem a imersão em outras culturas por um ano, perceberemos que, no fundo, somos todos semelhantes. Não há necessidade de conflitos, pois estamos todos tentando chegar ao mesmo destino e desejamos a mesma coisa.
Qual é o maior potencial que você vê no Rotary como uma organização e que ainda não foi totalmente concretizado?
Não se pode reunir um grupo de jornalistas sem lhes dar também a oportunidade de fazer algumas perguntas. Veja o que os editores da revista Rotary queriam saber do presidente eleito: l O lema será Crie Esperança no Mundo. Acredito muito que tudo começa com a esperança. Quando estava na Tailândia para inaugurar uma vila que o Rotary International na Grã-Bretanha e Irlanda construiu após o tsunami de 2004 no Oceano Índico, conheci uma senhora. Ela parecia ter uns 70 ou 80 anos de idade, mas acabei descobrindo que tinha apenas cerca de 50 anos. Ela havia perdido tudo no tsunami e a sua casa tinha sido destruída. Quando entrei na sua nova moradia, notei que não havia nada lá. Era um novo lar, mas ela havia perdido tudo. Apesar disso, ela insistiu comigo que levasse uma concha que ela havia guardado por mais de 30 anos. Ela me disse: “Eu havia perdido tudo, inclusive a esperança, mas o Rotary me deu uma nova esperança para continuar”. Guardo essa concha até hoje. Se as pessoas não tiverem esperança, nunca serão capazes de seguir em frente. O lema é um chamado à ação: Crie Esperança no Mundo. l Em termos de continuidade, queremos prosseguir empoderando meninas e mulheres. Além disso, vamos incentivar as pessoas a fazerem intercâmbios virtuais. Dessa forma, estabeleceremos uma base mais ampla para a consolidação da paz. Cessar as guerras não é suficiente; precisamos impedir que elas aconteçam. Prevenir é melhor do que remediar. Quase todas as nossas áreas de enfoque têm potencial para fazer isso. de pessoas morreram como resultado da Covid-19 em todo o mundo, e precisamos garantir que a partida delas não foi em vão. Se pudermos nos conectar com as pessoas que reacenderam seu espírito de voluntariado durante aquele período, teremos alcançado algo e tanto. l Aprendi a dormir em camas diferentes a cada dois ou três dias. Viajei muito durante aquele ano pela Grã-Bretanha e Irlanda. Aprendi que todos os Rotary Clubs são diferentes e que todas as pessoas têm interesses distintos. Nem todo mundo é tão apaixonado quanto eu; às vezes, me sinto um pouco fanático. Mas todo mundo tem algo especial. E o segredo é aproveitar os interesses das pessoas e oferecer as condições para que elas possam fazer o que desejam. Isso também se aplica à admissão de novos associados. Não trazemos novos associados e depois dizemos a eles o que precisam fazer. Admitimos novos associados e perguntamos o que o Rotary pode fazer por eles. l Provavelmente seria um incisivo, por ser o primeiro dente que entra em ação. Ao comer, não empurramos nada direto para o fundo da boca. Começamos a mastigar com os incisivos, e gosto de imaginar que sou uma pessoa que toma a dianteira. Isso posto, um incisivo não é mais importante do que qualquer outro dente. Todos são igualmente importantes no processo de alimentação. RB
Fale um pouco sobre o seu lema presidencial.
Quais são suas prioridades?
A terceira prioridade é uma iniciativa de saúde mental. Saindo da pandemia, há muitas pessoas enfrentando problemas de saúde mental. Acredito que essa seja a próxima pandemia. Tenho experiência com amigos que enfrentaram problemas do tipo. Na verdade, acho que todos nós já sofremos com problemas assim em algumas ocasiões. O Rotary precisa ser capaz e corajoso o bastante para entrar nesse espaço e começar o diálogo sobre onde e como podemos fazer a diferença. No nível mais básico, basta abrir caminho para o diálogo sobre saúde mental e ajudar as pessoas a ter acesso a qualquer ajuda profissional de que possam precisar para, em seguida, apoiá-las nessa jornada.
Perdi meu irmão por suicídio. Isso ainda me causa muita dor. Compartilho isso não para obter a compaixão das pessoas, mas para fazê-las perceber que todos são afetados por esse tipo de problema. Não podemos varrer isso para debaixo do tapete. Como uma rede global de 1,4 milhão de pessoas, temos a oportunidade de fazer a diferença para diminuir o estigma e o tabu que envolvem a saúde mental.
Você também serviu como presidente do Rotary International na Grã-Bretanha e Irlanda. O que aprendeu com essa experiência que trará para essa função?
Você é dentista. Se fosse um dente, qual seria?