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MensageM do chair
Você conhece a sua Fundação?
Quando as pessoas me perguntam o que é a Fundação Rotária, digo que ela é o coração do Rotary. Você já deve ter ouvido falar que o Rotary tem um coração inteligente. A Fundação combina nossa resposta emocional de compaixão com ações pragmáticas. Com o coração e o cérebro, você pode mudar o mundo. Então, o que a Fundação significa para você? Novembro é o mês da
Fundação Rotária, mas você realmente a conhece? Em primeiro lugar, ela é verdadeiramente a nossa Fundação. A Fundação Rotária não pertence a mim, nem aos outros 14 curadores, nem ao Conselho diretor ou ao presidente do Rotary International. Ela pertence a cada um dos rotarianos em todo o mundo. E ela existe para que todos nós possamos mudar o mundo. Salvamos mães e filhos porque temos compaixão e sabemos como planejar. Oferecemos água potável e saneamento para quem precisa porque criamos estratégias com base nas necessidades da comunidade. Combinamos nosso apoio à paz, à educação e à estabilidade econômica para comunidades em risco com a capacidade de gerenciar grandes projetos. doar para a Fundação também é algo inteligente, pois, ao fazer isso, você multiplica o valor da sua contribuição. Você consegue pensar em outras fundações que identificam, financiam e executam seus próprios projetos? A nossa é a única que eu conheço. E fazemos tudo isso com um custo administrativo relativamente baixo. Esse é um dos motivos pelos quais a Charity Navigator sempre dá à Fundação a pontuação máxima de quatro estrelas. Às vezes me fazem a seguinte pergunta: quanto devo doar à Fundação? A cada ano, doe o valor que você tiver condições de doar. Para alguns, isso pode ser US$ 100, para outros, mais. O mais importante é que você doe algo, pois cada contribuição generosa nos ajuda a atender à crescente demanda que estamos observando dos associados por Subsídios Globais e nossos outros programas. Este ano, queremos arrecadar US$ 50 milhões para o Polio Plus, valor que será equiparado na proporção de dois para um pela Fundação Bill e Melinda Gates, totalizando US$ 150 milhões. Se todos os Rotary Clubs contribuíssem com apenas US$ 1.500, superaríamos esse objetivo. Também temos outras metas – para o Fundo Anual, Fundo de dotação e doações diretas –, levando o total a US$ 410 milhões. Chegaremos lá se estabelecermos esse propósito em nossos corações (e nossas mentes). Mas lembre-se: não se trata de uma questão de dinheiro e sim do que ele pode proporcionar. Há um ditado que afirma: “Sozinho não posso mudar o mundo, mas posso lançar uma pedra sobre as águas e criar muitas ondulações”. A Fundação é essa pedra, então vamos usá-la para transformar as ondulações em grandes ondas, usando nossos corações e nossas mentes.
John F. Germ
Estou olhando para dentro de uma caixa de vidro iluminada por LEDs vermelhos e azuis em busca de algo vivo. É uma tarde ensolarada de sexta-feira na região metropolitana de Houston, nos
Estados Unidos, e acabei de entrar com um grupo de viajantes em um prédio grande no Space Center Houston – o museu no Johnson Space Center da
Nasa. Foi aqui que os astronautas do programa Apollo treinaram para suas viagens espaciais no simulador de força G, uma máquina conhecida como
“centrífuga”, que o astronauta Michael
Collins, um dos tripulantes da Apollo 11, chamou de “diabólica”. Hoje, você pode entrar no Centro de Controle da Missão Apollo, onde funcionários da Nasa ficaram de olhos arregalados enquanto Neil Armstrong dava seus primeiros passos na Lua. A caixa iluminada que estou analisando é uma cultivadora de vegetais. Talvez um dia ela seja utilizada em uma colônia em
Marte. Vejo folhas finas brotando ali dentro. Acho que são alface ou, quem sabe, rúcula.
Não temos permissão para abrir a incubadora e provar os produtos, mas talvez alguns recrutas aventureiros tenham a oportunidade de experimentá-los em 2022, quando a
Nasa transformará um dos hangares do Space Center em uma colônia simulada de Marte.
Uma equipe de voluntários passará um ano no local, vivendo dentro de um módulo de 158 metros quadrados, para que a Nasa possa se preparar para os fatores de estresse físico e psicológico que a exploração cósmica apresentará: o confinamento em locais pequenos, as mensagens atrasadas da Terra e muita comida liofilizada. Esse é um dos vários experimentos relacionados a viagens espaciais que estão sendo conduzidos no Space Center: um modelo do nosso futuro tomando forma aqui mesmo, na sombra de Houston.
Ou seria o contrário? Houston é a quarta maior cidade dos Estados Unidos, com 7 milhões de habitantes em sua região metropolitana. E embora Houston tenha toda a iconografia familiar associada ao Texas – ônibus espaciais, o brisket de peito bovino –, sendo natural de Boston, eu tinha, muito antes da minha visita, começado a captar transmissões da cidade que iam além de tudo que eu acreditava ser verdade. Fotos de lagostins capturados por pescadores vietnamitas-americanos na costa do Golfo e servidos no estilo Viet-Cajun, cobertos de manteiga de alho. Vídeo de Anthony Bourdain em um parque da cidade, conversando com rapazes a respeito de seus carros tunados, coloridos e com rodas especiais, uma inovação do cenário hip-hop de Houston. Desde 1982, a pesquisa anual
Kinder Houston Area Survey, realizada pela Rice University, acompanha a evolução de Houston como uma das cidades de maior diversidade racial e étnica dos Estados Unidos, com mais da metade da população constituída por negros, hispânicos e asiáticos. Uma sondagem de 2019 do Departamento do Censo dos Estados Unidos revelou que quase 30% dos habitantes de Houston nasceram fora do país. Além de mostrar que em Houston as minorias são maioria, isso também reflete mudanças demográficas mais amplas em cidades em todo o mundo, à medida que a globalização e outros fatores estimulam a migração. Não é à toa que a Convenção do Rotary International de 2022 será realizada aqui. Houston não é apenas um centro de inovação tecnológica; é uma janela para o mundo que vai além do nosso presente imediato.
Mas como é a cidade de Houston hoje? O que nos espera neste mosaico de cidade com raízes internacionais? Vim para cá exatamente para experimentar isso.
Enquanto o Space Center evoca um futuro cósmico, a segunda parada do meu itinerário – um almoço tardio antes de fazer check-in no hotel – oferece uma visão mais terrestre
iStockphoto
Páginas de abertura: as luzes são muito mais brilhantes no centro da cidade. Nesta página, o Saturn V, o tipo de foguete que enviou o homem à Lua, em exposição no Space Center Houston. Na página ao lado: a área da piscina na cobertura do Marriott Marquis Houston inclui um rio lento que serpenteia ao redor de um deque de concreto no formato do Texas
do amanhã. O lugar se chama Blood Bros. BBQ e fica escondido em um centro comercial em Bellaire, alguns quilômetros a sudoeste do centro da cidade. No cardápio, o famoso churrasco do Texas, mas não da maneira como você imagina. Os sócios Robin e Terry Wong e Quy Hoang cresceram em um bairro próximo, perto da Chinatown de Houston, e, com o Blood Bros., criaram um laboratório no qual o churrasco do Texas pode evoluir. As paredes cor de laranja são decoradas com camisetas do Houston Astros, equipe de beisebol da cidade. Baldes de garrafas geladas da cerveja Shiner Bock ocupam o balcão. O brisket aparece em destaque no cardápio, mas o que sai da cozinha em uma bandeja de aço é o que faz toda a diferença. Panceta defumada thit nuong com uma cobertura doce e ácida que penetra na carne. Arroz frito com brisket, picante, misturado com carne bovina defumada. Uma salada de pepino verde eletrizante com toques de vinho de arroz e gergelim.
Como uma estrela de nêutrons na boca de um buraco negro, tudo desaparece em questão de minutos.
ConheCendo a vizinhança
Deixe-me dizer de novo: com 1.650 quilômetros quadrados, Houston é realmente grande, e sua população cresceu 10% na última década. Ao dirigir pelas autoestradas labirínticas que serpenteiam pela cidade, às vezes os arranha-céus do centro parecem estar a centenas de quilômetros de distância. Para os residentes novos, as dimensões de Houston significam mais oferta de moradias e mais espaços para a criação de empresas, o que dá à cidade uma vantagem competitiva em relação a Nova York ou Los Angeles. Mas para um viajante, o tamanho de Houston significa que não é possível conhecer tudo em um fim de semana. O jeito é escolher alguns bairros e começar a explorar.
Na sua primeira viagem, um modo eficaz de se orientar em meio à vastidão de Houston é se concentrar nas comunidades que ficam dentro do Loop. É assim que os habitantes se referem à parte central da cidade, que é cercada pela autoestrada Interstate 610. Escolhi o centro como minha base e, com a ajuda de Jeff Balke, um desenvolvedor de sites e escritor freelancer que cresceu em Houston e já teve matérias sobre a gastronomia e a vida noturna da cidade publicadas na revista Houstonia, montei uma lista de indicações para conhecer vários bairros do Loop. “Comer é a melhor coisa para se fazer em Houston, sem dúvida”, Balke me disse em nossa conversa por telefone. “Basicamente, uma nova taqueria abre a cada três dias, e quase todas são ótimas. Tenho a sensação de que vão abrir uma até no meu banheiro na próxima semana.”
De certa forma, a história do centro de Houston como ele é hoje não começa com os arranha-céus que abrigam empresas da Fortune 500, como Chevron e Kinder Morgan, mas sim com o centro de convenções George R. Brown, um gigante envidraçado com chaminés decorativas vermelhas que parecem peças de Lego do tamanho do Godzilla. O prédio é também a sede da Convenção do Rotary de 2022.
Não muito tempo atrás, essa área estava em um estado crônico de retrocesso. O boom do petróleo do início do século 20 trouxe comércio e vida ao centro da cidade, mas quando as rodovias criaram novos bairros suburbanos, a região sofreu um êxodo. Mesmo quando o embargo do petróleo de 1973 fez com que os preços disparassem, inundando Houston com mais dinheiro, muitos dos dividendos foram parar fora do centro. Uma década depois, os preços do petróleo despencaram e a recessão resultante gerou um novo consenso entre os líderes da cidade: a região central precisava ser mais do que um centro comercial. Especificamente, precisava de mais espaços onde os habitantes de Houston pudessem se divertir.
O centro de convenções foi um dos primeiros espaços recreativos a serem criados após a recessão do petróleo, em 1987. Ele foi seguido pelo Minute Maid Park – o primeiro estádio com teto retrátil de Houston e a casa do Houston Astros – e por uma onda de novos restaurantes, casas noturnas e
apartamentos. Como Houston não tem leis de zoneamento, o residencial e o recreativo se encontram aqui.
Você pode ver essa convergência enquanto caminha pelo centro, que é a minha primeira atividade depois de deixar minha mochila no Lancaster Hotel. O hotel boutique está em atividade desde os loucos anos 1920, e um pouco dessa opulência sobreviveu (pense em mármore branco, maçanetas douradas e check-in com direito a champanhe). O hotel fica a alguns passos das salas de espetáculos do Theatre District, de inúmeros bares e restaurantes e, melhor ainda, do Discovery Green, onde estou quando chega o fim da tarde. Criado pela cidade com uma organização sem fins lucrativos em 2008, esse parque de US$ 125 milhões fica em frente ao centro de convenções, e é fácil imaginar uma multidão de rotarianos e rotaractianos se espalhando por ele em 4 de junho para a festa de boas-vindas da noite de abertura que foi planejada pela Comissão Anfitriã. As atrações daqui incluem um lago cristalino, o qual contorno passando pelos jardins à beira d’água; espaços exuberantes para piquenique, onde vejo jovens praticando ioga; fontes; esculturas; e até mesmo um restaurante sofisticado chamado The Grove, que cultiva suas ervas e produtos agrícolas em uma horta no terraço.
O local é um exemplo do renascimento do centro da cidade como um lugar para as pessoas se reunirem e erguerem uma taça, ou um bastão de selfie. Mesmo para quem não mora no Loop, passear por aqui é fascinante. Basta perguntar a Rhonda Kennedy, moradora antiga da região metropolitana de Houston e presidente da Comissão Anfitriã. Residente em Sweeny, que fica uma hora a sudoeste do centro, ela vem para cá frequentemente com sua família e também com seu motoclube. “Nós nos hospedamos em um hotel boutique e eu levo o pessoal a um restaurante no Theatre District”, conta Kennedy. “E lembre-se: estamos falando de motociclistas.”
Depois de tomar uma cerveja Red Ale Cougar Paw no quintal da cervejaria 8th Wonder Brewery – onde encontro quatro estátuas de pedra imponentes representando cada um dos Beatles,
Tim Foisset
Julie Soefer Photography
criadas pelo escultor local David Adickes –, caminho alguns quarteirões no sentido noroeste até o Xochi, onde o chef Hugo Ortega, que veio do México para Houston em 1984, sem conhecer ninguém nem ter emprego garantido, montou um cardápio com uma seleção excepcional de pratos da culinária de Oaxaca. Sabendo que não faltará carne na minha alimentação nas próximas 48 horas (afinal de contas, estou no Texas), peço cogumelos silvestres com flores de abobrinha e bolinhos de massa de milho em mole amarillo [um tipo de molho]. Mas o ponto alto da minha primeira noite em Houston envolve embarcar no VLT que atravessa o centro e vai até o Hermann Park, um oásis de 180 hectares de jardins arborizados e lagos repletos de patos ao sul da região central da cidade.
Nele, sob o toldo em forma de pirâmide do Miller Outdoor Theatre, uma multidão e eu somos presenteados com uma apresentação de dança clássica indiana pela Silambam Houston, cuja fundadora, Lavanya Rajagopalan, ensinava a arte da dança para crianças em sua cidade natal, Chennai, antes de imigrar para os Estados Unidos. Enquanto uma dançarina vestida de verde gira ao som harmônico de percussão e cordas, decido deixar os assentos reservados perto do palco e ir para o gramado superior, onde boa parte do público estendeu toalhas de piquenique na grama, sob as estrelas. A sensação é de que, tanto quanto para assistir às bailarinas, as pessoas também vieram por isto: ter a indescritível experiência de se reunir para algo belo.
Rota de voo
Na manhã seguinte, reabasteço as energias com uma xícara de café com leite do Minuti Coffee e salto de volta no VLT. Mas, desta vez, pego o trem para o Museum District de Houston. Neste bairro residencial arborizado e que pode ser percorrido a pé, 19 museus oferecem uma miscelânea de imersões culturais, incluindo arte contemporânea, ciências médicas, cultura tcheca e até mesmo as explorações psíquicas do psicólogo suíço Carl Jung. O bairro é um denso
Na página anterior: no restaurante Xochi, inspirado em Oaxaca, o chef Hugo Ortega oferece uma variedade de massas caseiras, incluindo estes tentadores molotes de Xoxocotlan, recheados com batata, chorizo da região mexicana do Istmo de Tehuantepec, pimenta chile de onza e outros ingredientes, tudo isso servido com guarnição de gafanhotos. Acima, o templo Teo Chew, onde os visitantes são recebidos por uma estátua de Quan Am, a deusa da Misericórdia
labirinto de museus, apartamentos e parques: outro sinal da ausência de leis de zoneamento em Houston.
Mas o distrito também se beneficiou de uma visão comunitária de base que começou na década de 1970. Moradores do bairro vizinho de Montrose (irei até lá mais tarde) formaram sua própria organização de desenvolvimento que, combinada com os esforços de outras pessoas, levou à construção de mais moradias, bem como a projetos de melhoria da segurança dos pedestres nas ruas e calçadas que ligam a coleção invejável de museus de Houston. O distrito foi reconhecido oficialmente pela cidade em 1989.
Começo pelo Holocaust Museum Houston (Museu do Holocausto de Houston). Siegi Izakson, um morador da cidade que sobreviveu ao Holocausto, inspirou um movimento voluntário para garantir fundos e recursos para a construção de um museu onde as histórias de sobreviventes pudessem ser preservadas e compartilhadas por várias gerações. Enquanto perambulo por ali, admirando um autêntico barco dinamarquês que teria transportado judeus para refúgios seguros na Suécia, inesperadamente faço uma nova amizade. O nome dela é Gloria. Ela é uma recepcionista voluntária que dá as boas-vindas aos visitantes e oferece informações sobre as exposições. Momentos depois de Gloria se apresentar, já estamos conversando sobre como sua família imigrou da Tchecoslováquia para os Estados Unidos no final dos anos 1920.
Percorro vários quarteirões ao norte do museu até chegar a um prédio antigo de tijolos marrons que lembra uma escola de ensino médio. É o Buffalo Soldiers National Museum, que se dedica a contar a história dos soldados negros que serviram nas Forças Armadas dos Estados Unidos após a Guerra Civil – e de como isso resultou em novas gerações de oficiais da marinha, pilotos e astronautas negros.
O museu fica na divisa entre o Museum District e um dos bairros historicamente negros de Houston: o Third Ward. Se estiver visitando essa área por volta do meio-dia, você pode facilmente passear do museu até o Turkey Leg Hut, onde os sócios Lynn e Nakia
No Holocaust
Museum Houston, uma parede de pedra de
Jerusalém celebra os quase 1.000 sobreviventes que fizeram de Houston sua casa
Price preparam coxas de peru defumadas que são recheadas com arroz temperado e recebem coberturas e molhos deliciosos, como macarrão com lagostins. Quando chego às 11h30, já há uma fila considerável dobrando o quarteirão sob a sombra dos toldos. Mas estou determinado a experimentar as criações exclusivas dos Price (o casal vendia suas coxas de peru em frente ao Houston Livestock Show and Rodeo antes de abrir o restaurante em 2017). Uma coxa suculenta e generosamente glaceada com conhaque Hennessy justifica a espera de 45 minutos.
Saciado, mas ainda curioso, volto de Lyft para o hotel e pego meu carro alugado para me aprofundar mais no Third Ward. Meu destino é uma série de casas brancas discretas, chamadas por aqui de shotgun. Você não perceberia da estrada, mas algumas das casas são galerias independentes que apresentam exposições temporárias de artistas locais ou visitantes: uma selva de plantas domésticas dominando um sofá e uma televisão dos anos 1960. Esferas douradas sobrepostas a fotografias de refinarias de petróleo que ocupam paredes inteiras.
Elas são as Project Row Houses, fruto da imaginação de artistas do Third Ward e líderes comunitários que viram as casas abandonadas como incubadoras em potencial e locais perfeitos para expor a criatividade. Mas esse projeto que ocupa as casas geminadas é também uma tese viva de que a arte pode ser um motor de transformação social. E as galerias não são a única inovação por aqui. Outras casas geminadas são reservadas para jovens mães solteiras que buscam um ambiente acolhedor e criativo onde possam criar seus filhos. As casas mais antigas ficam entre modernas residências do tipo duplex de propriedade de uma empresa-irmã, a Row House CDC, que oferece moradias a preços acessíveis para quem reside na comunidade.
No centro de visitantes do Project Row Houses, conheço uma ex-residente, Trinity Williams, uma artista de técnicas mistas que se mudou do nordeste do país para Houston e criou seus três filhos em uma das casas duplex. “É preciso ter uma comunidade para criar uma criança, e aqui temos uma comunidade”, ela explica, enquanto conferimos a geladeira comunitária bem abastecida de alimentos, colocada pelo Project Row Houses em uma das casas shotgun neste verão. Williams trabalhou para o Project Row Houses como docente – uma combinação de professora e guia. Em 2018, com seus filhos já crescidos e vivendo as próprias vidas, ela foi diagnosticada com esclerose múltipla, o que a levou a seguir com sua arte em tempo integral. “Para mim, é uma forma de cura”, explica. Seu trabalho, que inclui técnicas mistas em tela e fotografia, bem como esculturas feitas de materiais reutilizados, já foi exposto e vendido em mostras e eventos de gala em Houston.
O que estou aprendendo, rapidamente, é que, quanto mais você perambula e topa com os habitantes de Houston, maior é a probabilidade de se ver trocando histórias de vida ou números de telefone com alguém. Para uma cidade tão gigantesca e diversa, há um caráter gregário fundamental aqui. Isso se manifesta em conversas espontâneas, mas também em projetos de mentalidade social empreendidos e compartilhados pelas comunidades de Houston.
Perto da extremidade leste do Third Ward, sou saudado por mais um desses projetos em grupo: o Smither Park, um gramado que seria discreto não fossem os incríveis mosaicos cintilantes que artistas construíram no caminho, nas paredes e nos refúgios de sombra do parque. Cacos de vidro coloridos, utensílios de cozinha e eletrônicos retratam tigres, anjos, peixes e criaturas que ainda não
Um modo eficaz de se orientar em meio à vastidão de Houston é focar a sua primeira viagem nas comunidades que ficam dentro do Loop
Com 65 hectares, o Buffalo Bayou Park preserva parte dos pântanos onde Houston foi construída. Na foto de baixo, carvalhos retorcidos, alguns deles com um século de existência, ladeiam um calçadão em Discovery Green, que fica em frente ao centro de convenções George R. Brown
foram nomeadas. Ao entrar no parque, vejo uma jovem saindo de um Camaro azul estacionado nas proximidades, uma câmera em uma das mãos, um café gelado na outra. “Bem quente por aqui, hein?”, ela exclama, e eu respondo: “Ninguém aguenta essa umidade”. E, ainda assim, estamos aqui.
No verão, os habitantes de Houston costumam deixar para sair ao ar livre no início ou fim do dia, quando o sol não está tão forte. Ao pôr do sol, saio para correr no Buffalo Bayou Park, um corredor de 65 hectares de ciprestes, choupos e riachos cristalinos: uma parte preservada dos pântanos onde Houston foi construída. Percebo uma multidão reunida em uma encosta, olhando para uma ponte qualquer que cruza o canal central do parque. Eu me junto ao grupo para ver o que está acontecendo. Uma família devorando grandes quantidades de Chick-fil-A [uma rede de fast food especializada em sanduíches de frango] me explica. A ponte Waugh, para onde estamos olhando, é o lar de 250 mil morceguinhos-das-casas que, ao pôr do sol, deixam as fendas da ponte para uma noite hedonística devorando insetos. Tenho uma reserva para jantar no Mastrantos, um restaurante com toque venezuelano, italiano e espanhol que oferece um chorizo carbonara que seduziu meu estômago durante minhas pesquisas antes de viajar. Mas isto parece imperdível. Então me junto aos espectadores. Gritos promissores ecoam debaixo da ponte. Às 20h13, uma imensa nuvem de morcegos passa por nós por alguns minutos. Não posso deixar de me perguntar: para onde eles estão indo?
Visão do futuro
Ver aquele grupo de morcegos voando em direção a um destino desconhecido foi intrigante e, ao mesmo tempo, uma lição de humildade. A memória de seu voo ainda me atormenta na manhã seguinte, enquanto dirijo para Montrose, a oeste do centro da cidade. Um dos bairros mais ecléticos de Houston – uma mistura de casas em estilo colonial e condomínios, jardins, bistrôs, bares e galerias de arte modernistas –, Montrose parece tão socialmente acessível quanto o centro, mas mais arborizado e tranquilo. Alimentado por um croissant de pistache decorado com listras esmeralda do Common Bond Bistro & Bakery,
Quanto mais você perambula e interage com os habitantes de Houston, mais provável é que se veja trocando histórias de vida ou números de telefone com alguém
Fora do centro de convenções, a escultura cinética Wings Over Water, de nove metros de altura, incorpora uma fonte de água de 138 metros quadrados. Abaixo, o opulento Lancaster Hotel, que recebe hóspedes desde os loucos anos 1920
sigo rumo à Rothko Chapel, que é ao mesmo tempo uma capela ecumênica e uma obra de arte. As paredes internas apresentam enormes pinturas pretas de Mark Rothko, com os mais tênues traços de roxo e dourado. Uma claraboia ilumina a câmara silenciosa.
Mas as pessoas vêm aqui para venerar o quê? Em duas palavras: justiça social. A Rothko Chapel é visitada regularmente por ativistas de direitos civis e líderes espirituais, unidos por uma visão de bem comum. Para homenagear pessoas que defenderam ou promoveram os direitos humanos, a capela concede a cada dois anos o Prêmio Óscar Romero, em homenagem ao bispo salvadorenho assassinado que foi canonizado pelo papa Francisco em 2018.
Não fiquei surpreso ao encontrar esse tipo de santuário no coração de Houston. Durante minhas 48 horas aqui, testemunhei belezas naturais e artificiais que refletem a ecologia local e o patrimônio internacional desta cidade. Vi o que acontece quando você reúne pessoas de todo o mundo em uma metrópole na costa do Golfo. Elas unem forças e criam coisas novas, e também acrescentam seu toque próprio a pratos, artes e passatempos clássicos, fazendo valer a pena saborear a vida.
Como visitante, você pode entrar livremente em suas oficinas, que é o que eu faço depois de minha visita à Rothko Chapel, mergulhando no pátio enevoado de um bistrô vietnamita-americano chamado Kâu Ba. Aqui você pode pedir um brunch tradicional – ovos sofisticados, mimosas etc. – ou pode ir mais a fundo e descobrir (como eu fiz) o que é o prato misteriosamente chamado de Grandma’s subsidy (Subsídio da vovó, em inglês). Trata-se de uma homenagem à avó da chef Nikki Tran, que sobreviveu à queda de Saigon em 1975 e aprendeu a criar refeições nutritivas usando o que tinha na despensa. É uma deliciosa mistura de sabores umami, mais complexa do que sua aparência minimalista sugere.
Preciso chegar ao Aeroporto Intercontinental George Bush em uma hora, mas em vez de me sentir desanimado por partir, sinto inveja daqueles que ainda virão a Houston. É o tipo de cidade sobre a qual você quer contar aos outros.
Quero deixar Houston com uma nota de reticências – uma visão do que explorar na próxima vez que eu estiver aqui. Então, em vez de dirigir direto para o aeroporto, sigo para o sudoeste, deixando o Loop e chegando a Chinatown (hoje frequentemente chamada de Asiatown), nos arredores da cidade, onde os proprietários do Blood Bros. BBQ cresceram. Passo por apartamentos e shopping centers até chegar ao templo Teo Chew. Telhados abobadados em cor de tijolo; uma estátua de Quan Am, a Deusa da Misericórdia; e barbantes com lanternas de papel marcam o cenário, junto com o aroma doce de incenso. Em um pátio à direita da entrada, adolescentes praticam uma forma de arte marcial, o barulho de varas ecoando pelo interior do templo. Sou saudado por um conselho de divindades budistas, suas imagens manifestadas em pinturas e esculturas. Nós nos encontraremos novamente, eles parecem dizer.
O autor é um escritor de Boston e seu livro mais recente, New England Road Trip, será publicado no final deste mês pela editora Moon Travel, dos Estados Unidos. Este artigo foi publicado na edição deste mês da revista Rotary.