Rumos 273

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D E S E N VO LV I M E N T O

PA R A

OS

NOVOS

TEMPOS

ANO 38 – Nº 273 – Janeiro/Fevereiro de 2014

ECONOMIA

ABDE EDITORIAL

Destino: Brasil O país deve bater o recorde de turistas em 2014 e instituições de fomento investem no setor

Entrevistas Luiz Gonzaga Belluzzo Matheus Cotta de Carvalho Paulo Gadelha



S Renato Cobucci

SUMÁRIO

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Valter Campanato / ABr

SXC

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40

ENTREVISTA Matheus Cotta de Carvalho

Além das fronteiras

CAPA TURISMO

Sempre cabe mais um

ENTREVISTA Luiz Gonzaga Belluzzo

Ajustes no caminho

AO LEITOR

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e esta edição da Rumos pudesse ser definida em uma palavra, ela seria “perspectiva”. Início de ano é tempo de refletir sobre os desafios futuros, e é o que apresentamos nas próximas páginas, em entrevistas com estudiosos (como o economista Luiz Gonzaga Belluzzo e a socióloga Claudia Pfeiffer) e presidentes de instituições financeiras, ao lado de artigos que discutem, sob vários ângulos, os cenários políticos e econômicos do país. Na coluna Economia, o especialista Eduardo Grijó comenta a experiência de um banco público inglês criado especialmente para financiar projetos ligados à sustentabilidade. E Luis Paulo Rosenberg e Thaís Marzola Zara apresentam sua projeção para este ano atípico, marcado pela realização da Copa do Mundo de futebol e também pelas eleições, além dos efeitos de possíveis manifestações populares. Mas não são apenas os manifestantes que encherão as ruas do país – a matéria de capa esmiúça os números do Ministério do Turismo e mostra que são esperados cerca de sete milhões de visitantes em todas as regiões do Brasil, com um número expressivo de turistas vindos do exterior, um recorde para o setor. Estamos preparados para esse contingente? As conclusões ficam com você, caro leitor. Com esta edição, buscamos trazer mais informações para entender um ano diferente, com fenômenos novos e grandes expectativas. Desejamos, assim, contribuir para que 2014 não seja um ano tão difícil de se compreender. Boa leitura!

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RUMOS - 3 - Janeiro/Fevereiro 2014

EXPERTISE Claudia Pfeiffer

Um novo modelo para as cidades REFLEXÃO José Domingos Vargas

Bons negócios nas comunidades PANORAMA Ignacy Sachs

Para quando um plano nacional de desenvolvimento a longo prazo? EXTREMO SUL Projeção

Alternativas para um ano desafiador OPINIÃO Delfim Netto

O que está feito... ENTREVISTA Paulo Gadelha

Saúde como vetor para o desenvolvimento econômico ARTIGO Financiamento

Cooperativismo financeiro: progressos e desafios ECONOMIA Eduardo Grijó

O Green Investment e o Desenvolvimento EM DIA Luis Rosenberg e Thaís Zara

2014: mais do mesmo

MICRO E PEQUENAS Novo tempo

Nas ondas da tecnologia

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FOMENTO LIVROS


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ENTREVISTA

Matheus Cotta de Carvalho

Por Jader Moraes

Organização

Além das fronteiras O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) supera metas de crescimento e celebra a manutenção de ratings por agências de classificação de risco estrangeiras; foco sobre captações internacionais é ampliado e revela uma nova tendência de atuação da instituição

Renato Cobucci

Matheus Cotta de Carvalho é economista, com especialização em Teoria Econômica pela Unicamp, e exerce a presidência do BDMG desde 2011. Antes, foi assessor especial do Ministério do Trabalho, secretário adjunto de Planejamento de Minas Gerais e superintendente de Orçamento do estado, entre outras funções exercidas também na iniciativa privada.

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umos – Quais são as expectativas do BDMG para 2014? Matheus Cotta de Carvalho – Na verdade, daremos continuidade ao plano estratégico com um conjunto de ações voltadas para os nossos clientes: municípios, micro e pequenas empresas (MPEs) e empresas de médio e grande portes, com uma atenção especial aos projetos que inovem em produtos e serviços. Sempre com foco em sermos um banco cada vez mais essencial para o desenvolvimento do estado de Minas Gerais.

Rumos – O banco teve crescimento no volume de desembolso, com aumento expressivo no número de atendimento a clientes. A que podemos atribuir esses resultados? A expectativa de ter alcançado cerca de R$ 2 bilhões em desembolso em 2013, em comparação aos R$ 1,4 bilhão do ano anterior, se confirmou? Carvalho – De fato, planejamos um crescimento substancial no desembolso para 2013, saltando de R$ 1,4 bilhão, que realizamos em 2012, para R$ 2,09 bilhões no último ano. Atingimos esta meta como resultado de um trabalho de reorganização de áreas de negócios do banco. Melhoramos o atendimento às médias e grandes, com propostas diferenciadas para esse seguimento. Para as MPEs em particular, criamos sistemas e mecanismos para tornar o banco mais próximo e menos burocrático. Fato que nos possibilitou atender um maior número de clientes; clientes novos, portanto, que estão agora compondo a carteira. De maneira que, também do ponto de vista do número de clientes, não somente atingimos a meta estabelecida, como a superamos, passando de 4.518 clientes atendidos em 2012 para 5.678 em 2013, dos quais 95% são MPEs. Rumos – Qual o balanço que o senhor faz das ações desenvolvidas pela diretoria no último ano? Carvalho – No momento em que assumimos o BDMG, três anos atrás, estabelecemos um planejamento estratégico e uma visão de médio e longo prazos para que pudéssemos orientar os esforços de reposicionamento do banco. Definimos com clareza quais eram os negócios com os quais íamos trabalhar; alinhamos propostas de valor para cada um desses mercados específicos que escolhemos e temos atuado de uma maneira bastante sistemática no sentido de atender adequadamente os clientes e, especialmente, os grupos de empreendedores que estabelecemos como sendo prioritários. O ano de 2014 dará continuidade a esse processo em que reforçaremos a produtividade e qualidade do atendimento aos clientes. Rumos – Mesmo com as incertezas macroeconômicas do cenário mundial e também da economia brasileira, o BDMG teve ratificada em 2013 sua classificação de grau de investimento por duas agências de classificação de risco internacionais. A que o senhor atribui e qual a importância desse duplo grau de investimento alcança-

do pela instituição? Carvalho – Para a instituição, é fundamental a obtenção e, agora, a manutenção destes ratings porque nos possibilita o acesso ao mercado financeiro, tanto nacional quanto internacional. Já fizemos várias operações com agências internacionais. Em agosto de 2013, o banco assinou contrato de abertura de crédito de US$ 100 milhões com a Corporação Andina de Fomento (CAF), direcionado às operações das micro e pequenas empresas. Em dezembro do mesmo ano, firmamos contrato de empréstimo de 50 milhões de euros com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), cujos recursos serão destinados ao financiamento de projetos de infraestrutura municipal voltados para questões climáticas e para a universalização de serviços básicos. Agora, avançamos em uma negociação com o próprio Banco Interamericano de Desenvolvimento e isso ocorre porque temos, de fato, nosso Investiment Grade, que, da mesma maneira, viabiliza a obtenção de recursos no mercado interno. Temos feito operações de emissões de Letras Financeiras, o que tem possibilitado ao banco alavancar o seu patrimônio e gerar recursos para suas operações e aumentar, portanto, nosso desembolso total junto aos nossos clientes, e assim ampliar nossa contribuição ao desenvolvimento de Minas. Rumos – As captações internacionais são uma tendência da atuação do banco? Carvalho – Sim, porque normalmente é no mercado internacional que temos recursos com prazos mais compatíveis com uma operação de banco de desenvolvimento, com prazos mais longos. No mercado local, as operações normalmente resumem-se a operações de três ou cinco anos, enquanto no mercado internacional fazemos operações acima de dez anos. Rumos – O BDMG tem empregado um novo modelo de negócios que tornou o atendimento mais ágil e qualificado. Qual o resultado obtido com a adoção de ações como a plataforma digital BDMG Web, a rede de correspondentes bancários e o call center especializado? Carvalho – A avaliação é muito positiva porque conseguimos estabelecer plataformas de relacionamento com o cliente que permitem o acesso aos serviços de forma desburocratizada e ágil. Via correspondentes bancários temos uma presença mais próxima dos demandantes, em todo o estado, em todas as regiões, sem a necessidade de estabelecermos uma estrutura física. Estamos presentes também por meio de um sistema, o BDMG Web, que atende muito bem a base de clientes e é por isto que tem sido muito expressivo o número de atendidos. Obtivemos uma grande aceitação por parte destes clientes dos serviços que estamos prestando. Rumos – Há uma política orientada no sentido da ampliação da oferta de crédito para as micro e pequenas empresas? Por que a ampliação do foco neste público específico?

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ENTREVISTA

Matheus Cotta de Carvalho

Carvalho – Sim, porque é importante que o banco de desenvolvimento atue para multiplicar sua base de clientes, especialmente em se tratando de micro e pequenas empresas. Ao fazer isso, o banco se torna mais relevante. É importante que esse alinhamento seja realizado sem a necessidade de estabelecer estruturas que vão onerar a instituição, já que é necessário otimizar, entre outros, os recursos da internet que permitem o acesso remoto ao banco. Eu diria que o nosso modelo é muito inovador na medida em que o empresário pode emitir o contrato no seu escritório ou da sua própria casa. Conseguimos, com isto, agilizar a liberação dos recursos e com um diferencial no mercado: clientes sem prévio relacionamento conosco obtêm financiamento. Rumos – Isto é um objetivo específico em relação às micro e pequenas empresas? Carvalho – Certamente, é fundamental atender a este público, que é muito carente de crédito no Brasil e que precisa de recursos na hora certa. Não basta que o financiamento esteja disponível, mas que ele chegue de forma ágil para que possa gerar riqueza e empregos para a população brasileira. Ao cumprir esta missão como instituição de fomento, ampliamos e diversificamos a base de clientes. Rumos – O estado de Minas Gerais é reconhecido pelo alto número de startups, abrigando importantes comunidades autogerenciadas criadas por jovens empreendedores. Qual o apoio que o BDMG oferece a essas e outras iniciativas no âmbito da inovação? Carvalho – No nosso mapa estratégico está explícito a necessidade de apoiarmos as empresas inovadoras e os empreendedores. Para tanto, desenvolvemos um conjunto de soluções voltadas especificamente para este público, seja por meio da concessão do crédito em condições mais favoráveis e em prazo compatível com este tipo de empreendimento, seja por meio da aplicação de recursos em fundos que são voltados exatamente para estas startups. Somos parceiros, inclusive do BNDES, em vários fundos que visam exatamente atender a este público, ou seja, por meio da participação direta no capital de empresas inovadoras. Poderia citar, a título de exemplo, a Six, que é uma empresa que está em construção na Região Metropolitana de Belo Horizonte e irá produzir semicondutores, e também há, na área de biotecnologia, a Biomm, que irá voltar a produzir insulina humana no Brasil e que também é um outro projeto em que somos sócios junto com o BNDES. Esta é outra forma de apoiar a inovação em Minas Gerais. Rumos – A Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapemig), com quem o banco assinou convênio recentemente, tem sido uma parceira importante? Carvalho – A Fapemig tem sido uma parceira sistemática nas ações voltadas para inovação. Inclusive, gostaria de destacar que parte do funding para estas ações, sejam ações de financiamento de empresas startups, seja para o financiamento para empresas mais amadurecidas, tem origem nos recursos da Fapemig.

Rumos – Como tem sido a atuação do banco junto ao setor público, em especial no apoio ao desenvolvimento dos municípios mineiros? Carvalho – Este é outro foco importante do banco. Ele tem atuado em cerca de 600 municípios de todas as regiões do estado, com uma carteira superior a R$ 1 bilhão. Esses são recursos dirigidos principalmente para o desenvolvimento da infraestrutura municipal. Os municípios, e essa é uma questão nacional, normalmente são carentes de recursos para este fim. As verbas, na maioria dos casos, são direcionadas para o gasto com custeio e o pagamento da máquina administrativa e dos salários dos funcionários públicos. Estes recursos que o banco disponibiliza permitem a eles fazerem projetos que implicam no desenvolvimento da infraestrutura local, contribuindo para o avanço do estado. Rumos – O banco tem trabalhado também o incentivo às concessões? Carvalho – Temos apoiado também infraestrutura nos municípios por meio de financiamento de organizações criadas com propósito específico para desenvolvimento de determinados projetos, em particular as Parcerias Público-Privadas (PPPs) nas áreas de educação e saúde. Um exemplo que sempre cito é o financiamento da SPE Inova, que está construindo 37 escolas municipais em Belo Horizonte, que atenderão cerca de 20 mil crianças, um projeto de grande repercussão social na capital de Minas [saiba mais sobre essa PPP na Rumos nº270]. Rumos – Quais os números da instituição hoje? Funcionários, patrimônio líquido, projetos financiados, recursos financiados, municípios atingidos? Carvalho – O BDMG possui cerca de 350 funcionários, o que significa que temos obtido grandes e frequentes ganhos de produtividade, com o aumento de desembolsos. Temos um patrimônio líquido de aproximadamente R$ 1,7 bilhão, o que significa também um crescimento substancial em relação aos últimos três anos, quando o patrimônio líquido, em 2011, era de R$ 1,15 bilhão. Tivemos um desembolso em 2013 na faixa de R$ 2,09 bilhões. Atingimos aproximadamente 600 municípios com financiamentos e temos uma base de 16 mil clientes ativos. Estamos crescendo e é este o objetivo da instituição: tornar-se mais relevante, respeitando sempre o propósito de ser um banco de desenvolvimento com objetivos claros em relação à sua missão. Rumos – Que importância o senhor confere à ABDE, a entidade que congrega e representa o Sistema Nacional de Fomento, integrado pelos bancos de desenvolvimento e pelas agências de fomento do país? Carvalho – A ABDE é fundamental porque é uma entidade que proporciona a troca de experiência entre as várias agências e bancos de desenvolvimento que a compõem. Essa troca permite que todos nós possamos aprender uns com os outros, de forma que todo o sistema nacional de desenvolvimento possa trazer resultados positivos para as regiões e territórios onde atuam. n

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Uma Associação a serviço do desenvolvimento do Brasil

Informação Relacionamento Capacitação Saiba mais em: abde.org.br

ABDE


Noel Joaquim Faiad

EEXPERTISE

Claudia Pfeiffer

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ATUALIDADE

Um novo modelo para as cidades Doutora em Planejamento Urbano, Claudia Pfeiffer acredita que os grandes centros estão pressionados e defende uma reorientação das políticas urbanas, que leve desenvolvimento também para outras regiões. Nesta entrevista, ela também fala sobre as pautas contidas nas manifestações populares, que continuam a acontecer em 2014

Por Ana Redig

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al o ano começou e um novo anúncio do aumento das tarifas de ônibus, em várias capitais brasileiras, como no Rio de janeiro, de R$ 2,75 para R$ 3, voltou a movimentar as redes sociais e as ruas. Difícil não se lembrar das manifestações populares ocorridas a partir de junho de 2013, que se alastraram por todo o país. Desencadeados pelo mesmo motivo – o aumento de R$ 0,20 nas passagens –, e inicialmente organizados pelo Movimento Passe Livre, de São Paulo, os protestos ganharam a adesão de muitos brasileiros mobilizados, sobretudo, pela internet. Em um efeito dominó, outras causas se juntaram às manifestações, em mais protestos que se alastraram por centenas de municípios em todo o país. Imprensa, partidos políticos e militantes foram rejeitados, tanto de forma pacífica, por meio de cartazes, quanto de forma violenta, com vários registros de conflitos e incidentes. A sociedade ficou atônita. Tratava-se de algo muito diferente de outras manifestações já acontecidas no Brasil. Por isso, quando os protestos começaram, muitos pesquisadores se debruçaram sobre o fenômeno. Um deles foi Claudia Ribeiro Pfeiffer, socióloga e doutora em Planejamento Urbano e Regional, que concentra suas pesquisas nas possibilidades e perspectivas de desenvolvimento local. Ela coordena o Laboratório de Responsabilidade Social, Desenvolvimento Local e Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ippur/UFRJ), onde é professora adjunta. Claudia acredita que as mobilizações mostraram claramente que

paciência tem limite. “A mobilidade urbana é, sem dúvida, um dos principais gargalos das nossas cidades. É desumano que estudantes e trabalhadores gastem quatro horas por dia, ou mais, para se locomoverem entre a casa e o trabalho, a escola ou a universidade”, constata. Desencadeada pela questão dos transportes – um dos temas mais urgentes nas principais cidades brasileiras – a onda de protestos acabou por se caracterizar pela multiplicidade de insatisfações, reivindicações e demandas, reclamadas por diversos agentes sociais e políticos, e, ainda, por uma clara rejeição de parte da sociedade às instituições políticas tradicionais e a governos. “As pessoas que vivem nessas cidades estão reclamando por eficiência de serviços. O que preocupa é que, diante de manifestações de massa, da ação direta, e da organização e informação via mídias sociais e alternativas, polícia e governos mostraram total despreparo: oscilaram entre a insegurança e a violência, entre a apatia e o autoritarismo, colocando a democracia e a vida das pessoas em risco”, lamenta. Para a especialista, os candidatos às próximas eleições devem estar conscientes de que as armas utilizadas durante as manifestações de 2013 são instrumentos de pressão eficientes sobre os governantes, pois muitos prefeitos se viram forçados a recuar, se retrataram quanto a ações violentas e revogaram o aumento. “As questões sobre a cidade e seu desenvolvimento, no entanto, deveriam ser debatidas todos os dias por todos os que vivem e trabalham nos centros urbanos e, claro, pelos que os governam”, defende. Descontentamento – Ela observa em suas pesquisas que o

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EEXPERTISE

Claudia Pfeiffer

número de pessoas insatisfeitas com o rumo que as cidades estão tomando vem aumentando. “Todos estão cansados de esperar por soluções efetivas que sempre são prometidas e nunca chegam. Mas antes precisamos pensar o que queremos para nossas cidades; o que entendemos por desenvolvimento”, ensina. Esta consciência é fundamental para construir o modelo de sociedade que cada grupo espera. A doutora Claudia Pfeiffer sonha com uma sociedade “em que todas as pessoas possam exercer sua condição de agentes, de forma ponderada, refletida, e, a partir disso, escolher a vida que querem levar”. Por isso conhecimento, educação e desenvolvimento humano são fundamentais. Também é necessário oferecer um leque amplo de opções e oportunidades para que as pessoas possam fazer suas escolhas. “Só assim elas podem ampliar seus horizontes, se inserindo de forma criativa e fundamentada. Porque a humanidade é muito rica e produziu muitas coisas para que grupos fiquem excluídos desse conhecimento”, aponta Cláudia. A socióloga reforça que onde um grupo tem reservado para si apenas determinadas ofertas, não há escolhas de fato. O modelo de sociedade que ela defende também prevê o acesso à diversidade cultural como forma de influenciar positivamente a criação e a vida cultural. “Hoje há uma supervalorização do entretenimento, frequentemente confundido com cultura e arte”, observa a socióloga. Em resumo, a pesquisadora acredita em uma sociedade que permita que cada um se diferencie por suas individualidades, e não por falta de informação, de conhecimento ou de oportunidades. Onde todos possam aprender a conviver com a diferença e a construir algo coletivamente, superando essas diferenças. “No dia em que as cidades se transformarem em locais constituídos por pessoas imbuídas de espírito público, teremos um desenvolvimento justo”, acredita.

Sociedade – Claudia percebe que as pessoas vêm perdendo a noção de que vivem em sociedade, não se dando conta da interdependência na qual estão inseridos. Ela acredita que é fundamental resgatar essa consciência de que a vida das pessoas só existe e só é possível porque tudo o que as rodeia é produzido por todos. “Só assim elas vão se imbuir de espírito público para resolver as coisas de forma a atender as necessidades reais da coletividade”, aposta, lembrando do fenômeno recente dos “rolezinhos”, que causaram grande incômodo em alguns setores da sociedade. “Eles revelaram essa não coletividade, esses direitos só para alguns, essa cidade partida”, analisa a socióloga. Segundo ela, um novo modelo de cidade é possível de ser construído por meio de políticas governamentais que assegurem a todos os direitos de sobreviver e de circular pela cidade, sem perda de tempo no trânsito. Por uma educação de qualidade que reconheça, faça uso e potencialize a diversidade de saberes e linguagens, além de desenvolver o pensamento crítico dos educandos e transmitir a eles os conhecimentos relevantes para uma inserção social satisfatória, que amplie seus horizontes culturais e artísticos. Este modelo de cidade também deve ofertar iniciativas (políticas, programas, projetos, planos e ações) capazes de promover a interação entre pesso-

as de inserção social diferentes na busca de soluções de problemas, na promoção de desenvolvimentos, na construção coletiva. “Em meu trabalho, costumo misturar pessoas diferentes, tentando construir algo em conjunto. Quando elas se abrem para as diferenças conseguem vivenciar esse espírito público e encontrar soluções mais criativas e baratas do que as apresentadas pelos técnicos. A manifestação de opiniões divergentes é muito rica. Não se deve temer nem evitar o conflito. Deve-se lidar com ele e chegar a um consenso pela melhor solução. Com o tamanho das cidades, os partidos políticos deveriam desempenhar este papel de promover essa participação. Mas, para isso, também seria preciso reconstruir o modelo político a partir do resgate dessa percepção de coletividade e colaboração. Mais do que consultar as pessoas, é preciso que todos ajudem a refletir, propor, debater, participar e encontrar as melhores soluções para a sociedade”, acredita Claudia. Participação – Uma imagem pode ajudar a entender a importância de ouvir não apenas os técnicos, mas aqueles que vivem nas cidades. Muitas vezes observamos um jardim com um belo caminho de pedras, por onde ninguém passa. Logo ao lado, a grama desgastada mostra exatamente onde as pessoas gostari-

Grupos e bandeiras de protesto “O Brasil acordou”, “Vem pra rua” e “Isso não me representa” foram algumas das muitas frases usadas pelos manifestantes para demonstrar que a insatisfação havia chegado ao seu limite. Segundo pesquisas, as pessoas que foram às ruas em 2013 exigir atendimento às mais diversas demandas não eram, em sua maioria, ligadas a alguma organização ou movimento social tradicional. “Quem estava se manifestando ao seu lado podia não ter a mesma causa que você, mas estava unido pelo fato de todos estarem lutando para ter uma importante demanda atendida”, observa a pesquisadora. Com base em seus estudos, Claudia afirma que é possível perceber uma mudança no perfil da juventude das classes média baixa e especialmente na popular. “Nos últimos anos foi feito um grande investimento na educação, por meio de políticas de transferência de renda e de compensação social. Isso resultou em mudanças na formação desses jovens, que passaram a ter mais clareza sobre seus direitos. O protesto é um indicador de melhoria social, significa que as pessoas estão tomando consciência dos seus direitos e reivindicando-os, fazendo-se ouvir”, observa. O Movimento Passe Livre, que iniciou todo o processo, se autodefine como “um movimento social autônomo, apartidário, horizontal e independente, que luta por um transporte público de verdade, gratuito para o conjunto da população e

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equipamento –, está inviabilizando as cidades. “Se continuarmos a alimentar este modelo de desenvolvimento que concentra nas grandes cidades a responsabilidade de resolver todos os problemas do seu entorno, nenhuma vai dar conta disso. Por que insistir, então, em continuar a dar as melhores ofertas de inserção social concentradas nestas localidades?”, indaga. Para a especialista, a resposta está em oferecer moradia, educação, oportunidades de trabalho e lazer que sejam consideradas satisfatórias pelas pessoas em todos os lugares. “Só assim esses problemas estruturais poderão alcançar melhorias significativas”, completa. n

Tomaz Silva/Abr

am que ele fosse. É isso que historicamente vem acontecendo na maior parte das cidades brasileiras: governo após governo, executam-se obras, mudam-se trajetos e criam-se alternativas sem consultar o usuário. “Para quem afinal estamos construindo esta cidade? Por que estão mexendo agora nos transportes?”, indaga a pesquisadora. Infelizmente sua conclusão é: para atender às normas técnicas exigidas pelos grandes eventos e não para promover melhorias para a população. A pesquisadora alerta para o fato de que a manutenção deste modelo, que faz a cidade cada vez mais atraente para o capitalismo internacional, e não para o usuário – que é a razão de ser deste

fora da iniciativa privada”. Estas características atraíram uma pluralidade de vozes sem vínculos formais para reivindicar diversas outras insatisfações, indignações e demandas sociais. Os controversos Black Blocs são outro elemento característico das manifestações recentes. Eles não se consideram manifestantes e seu objetivo é “atuar contra os mecanismos de opressão por intermédio de ações concebidas para causar danos materiais às instituições opressivas, e não danos a pessoas”. A diversidade das ruas também incluiu nas manifestações o grupo dos pacifistas, que atuou tentando evitar ou conter atos violentos da polícia, de manifestantes e de ativistas. No início de fevereiro, no entanto, uma confusão originada em uma manifestação no Rio de Janeiro levou à morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, da TV Bandeirantes, que foi atingido por um rojão disparado por um manifestante. Associações de classe, governantes e diversos setores organizados da sociedade pediram por um basta nas cenas de violência presenciadas desde o início dos protestos, tanto do lado policial quanto de grupos de manifestantes. Para muitos analistas, o cenário difuso, em que governos, imprensa, partidos políticos e seus militantes foram rejeitados, indica a existência de uma crise institucional. “Isso não foi uma impressão que ficou no ar. Isso foi escrito com todas as letras e exibido nos cartazes em todo o Brasil”, recorda Cláudia Pfeiffer.

Protesto próximo ao estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, no ano passado: “As questões sobre a cidade e seu desenvolvimento, no entanto, deveriam ser debatidas todos os dias”, afirma Claudia.

De fato, foi a primeira vez no Brasil que a contrainformação e a informação chegaram ao público ao mesmo tempo, com qualidade. Um exército de cidadãos “armados” com seus celulares usaram as mídias alternativas e redes sociais em todo o seu potencial e transmitiu os fatos ao vivo, sem cortes, de dentro dos acontecimentos. Isso permitiu comparar os dois olhares: o dos manifestantes e o da imprensa. “Ainda não é possível avaliar o impacto disso, mas a imprensa foi colocada em xeque de uma forma que nunca supus que pudesse acontecer”, opina Claudia. “Foi um momento de grande estresse para sociólogos e antropólogos. Algo muito novo e importante estava acontecendo. A mídia tradicional não trazia aquilo que eu via e ouvia nas ruas e salas de aulas. Passei uma semana buscando informação nas redes sociais e comparando à cobertura da imprensa tradicional”, completa. Ela alerta que conclusões definitivas sobre este fenômeno são prematuras neste momento, já que ele ainda está em processo, e promete se repetir inclusive durante a realização dos jogos da Copa, neste ano. “Ainda não temos o distanciamento necessário para avaliar causas, consequências, estratégias, padrões etc. Mesmo assim, já é possível determinar algumas características que tornam este movimento muito diferente de qualquer outro que o Brasil já tenha vivido”, observa.

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DESENVOLVIMENTO

REFLEXÃO

Divulgação /AgeRio

Bons negócios nas comunidades José Domingos Vargas Presidente da Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (AgeRio).

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geração de emprego e renda na comunidade e o crescimento dos empreendedores causam um ciclo virtuoso, que ultrapassa as barreiras da informalidade e dos limites geográficos, permitindo a transferência de renda de fora para dentro da comunidade, integrando-a economicamente à cidade. Durante o ano de 2013 atendemos a dois mil empreendedores. Em 2014, chegaremos à marca dos sete mil e, até 2018, nossa meta é ter 20 mil empresários apoiados permanentemente pelo programa de microcrédito produtivo. Nossa atuação é direcionada para usar todo o potencial da comunidade, desde a seleção dos capacitadores dentre os jovens da localidade. Estes profissionais atuam na divulgação do programa e na prospecção de empreendedores, auxiliando-os na elaboração do projeto e na coleta da documentação. O processo de concessão vai desde identificar o empreendimento, entrevistar o seu responsável, orientar no projeto, avaliar as necessidades do negócio e acompanhar o resultado. Temos vários casos de sucesso para contar, seja o salão de beleza com atendimento qualificado, o mercadinho com melhoria na entrega em domicílio ou o hostel, que amplia o fluxo de turistas. Por utilizar o Fundo UPP, criado pelo governo do estado, o microcrédito da AgeRio pode oferecer juros e prazos adequados a cada projeto, fomentando a geração de emprego e renda, abrangendo diferentes atividades, tais como estética, vestuário, alimentos, comércio etc., o que transforma a vida do empreendedor, que passa a acreditar que pode crescer na sua comunidade ou ir além. A gentrificação é notada quando o próprio empreendedor vê que tem condições de fazer diferente, melhor, mudar de hábitos em função de novos clientes mais exigentes, e essa exigência proporciona um repensar do negócio, acreditar nos novos tempos. Não se trata de ter que ficar ou sair, trata-se de ter opção, de ser livre para decidir, percebendo que está ajudando a moldar uma nova cidade. Uma única cidade! n Divulgação/AgeRio

s comunidades pacificadas do Rio vivem grande transformação. A integração dos três níveis de governo dá sustentação a macroações conduzidas pelo governo do estado: investimentos em infraestrutura, políticas públicas nas áreas de educação e saúde, pacificação pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e fomento ao desenvolvimento. Tais pilares estimulam o processo de gentrificação, impactando a dinâmica física e socioeconômica dessas áreas. Podemos definir gentrificação como uma transformação sociocultural na comunidade, introduzindo novos negócios e costumes, o que pressiona a saída de antigos residentes. O programa de microcrédito produtivo da Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (AgeRio) apoia os empreendedores locais na renovação ou criação de novos negócios, fazendo com que o morador se integre ao processo de mudanças que acompanha os investimentos. O reconhecimento e a valorização dos talentos locais, a

Dona de um hostel no Vidigal, Fernanda Botelho venceu o Prêmio Empreendedor da Comunidade, organizado pela AgeRio

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PANORAMA PLANEJAMENTO

Para quando um plano nacional de desenvolvimento a longo prazo? Ignacy Sachs Luiz Reis

Professor Emérito da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais em Paris.

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m artigo anterior, dizíamos que o Brasil tem condições para avançar rapidamente na elaboração e implementação de um plano nacional de desenvolvimento a longo prazo, capaz de pôr em marcha um processo de desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável para os decênios seguintes, eliminando a pobreza extrema e evitando desastres ambientais. O planejamento prosperara em vários países na época do ábaco. Paradoxalmente, custa a reconquistar uma posição de relevo na era dos computadores. Em parte isto se deve aos notórios insucessos do planejamento central em alguns países do antigo bloco soviético. Mas chegou o momento de virar a página e voltar a planejar em todos os níveis, do local ao nacional e ao transnacional, conquanto não nos omitamos, país por país, a um exame prévio, crítico e detalhado das experiências passadas, tarefa à qual as universidades brasileiras deveriam se associar. Para tanto, devemos (re)aprender a fazer bom uso da computação, lembrando que este deve ser acompanhado por um vigoroso debate democrático envolvendo todos os atores sociais do processo de desenvolvimento, tanto sobre os objetivos a alcançar quanto sobre a maneira de lográ-los. Por grandes que tenham sido os erros do passado, eles não podem servir de pretexto para abandonar o planejamento democrático numa época em que até as crianças aprendem a brincar com computadores. Sabendo que o uso do computador não garante por si só a qualidade do planejamento, a qual vai depender da sua inserção no conjunto das instituições locais, nacionais e transnacionais. Não temos tempo a perder. Para avançar rapidamente rumo à promoção da justiça social e à redução das enormes desigualdades sociais e territoriais prevalecentes no Brasil (e no mundo), aproveitando os abundantes recursos naturais de que dispõe e uma mão de obra numerosa e cada vez mais bem qualificada, precisamos de um plano de desenvolvimento a longo prazo, indo bem além do atual desenho quadrienal do “Plano Mais Brasil” (2012/2015) e capaz de assegurar ao país uma trajetória social – e ambientalmente superior ao crescimento orientado por forças do mercado. Convém, portanto, preparar com urgência, por difícil que

possa ser esta tarefa, um plano de 15 ou 20 anos, destinado a assegurar ao país um crescimento vigoroso, aliado a uma clara melhoria dos parâmetros sociais e ambientais de desenvolvimento, tais como o autoemprego e o emprego convenientemente remunerados, bem como a redução das disparidades interregionais no que diz respeito aos indicadores sociais e ambientais. Trata-se de objetivos ambiciosos ante as enormes diferenças atuais de nível de desenvolvimento prevalecentes entre os estados situados no Sudeste e os do Nordeste e do Norte no país. Sem falar do contraste entre os bairros ricos e pobres nas cidades e entre as zonas urbanas e rurais. Este plano seria subsequentemente detalhado em três ou quatro outros planos quinquenais sucessivos. Num país de tamanho continental como o Brasil, o planejamento deve ser abordado por regiões, de maneira a aproveitar melhor os recursos naturais latentes de cada bioma (trópico úmido e semiárido, litoral atlântico, floresta amazônica, etc.) e a mão de obra disponível localmente, além de promover trocas interregionais e internacionais seletivas e mutuamente vantajosas. Estas últimas, em vez de dar lugar a rivalidades espúrias entre as regiões, deveriam contribuir à redução das disparidades sociais entre elas, cabendo ao Governo Federal uma política explicitamente voltada a este objetivo. Ainda não estamos lá. Seria conveniente intensificar o diálogo entre os atores locais de desenvolvimento, com vistas à identificação de projetos de aproveitamento dos recursos disponíveis e identificação dos excedentes eventuais para exportação, os quais financiariam a importação de produtos provenientes do exterior. Os planos locais deverão ser integrados em planos regionais, que, por sua vez, virão compor um plano nacional. Lembrando que o sucesso do plano brasileiro vai depender da sua integração no processo de desenvolvimento mundial, que não podemos mais deixar ao jogo espontâneo das forças do mercado. Não só o Brasil, mas o mundo inteiro deveriam adotar o quanto antes o planejamento para reduzir os custos sociais e ambientais do desenvolvimento e evitar concorrências e até conflitos internacionais espúrios de consequências desastrosas. n

RUMOS - 14 – Janeiro/Fevereiro 2014



SUL

Por Mara Andrich

Alternativas para

ASCOM / BRDE

E

EXTREMO

PROJEÇÃO

Para driblar as incertezas sobre o cenário econômico de 2014, com grandes eventos e eleições na pauta nacional, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) aposta em setores menos afetados pela instabilidade, como a infraestrutura e os projetos de inovação

Jorge Gomes Rosa Filho, diretor-presidente do banco.

A

pós fechar 2013 com o índice de inadimplência mais baixo da história do banco – da ordem de 1,6%, contra uma média nacional que chega aos 2,8% – e com financiamento recorde, os dirigentes do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) sabem que no ano de 2014 o ritmo de crescente otimismo deve desacelerar. Isto porque este é um ano atípico, com diversos eventos e acontecimentos que podem mudar os rumos de alguns setores da economia. Entre eles estão a Copa do Mundo, as eleições e algumas mudanças no cenário econômico, como o aumento das taxas de juros. Quem faz a avaliação é o diretor-presidente do banco, Jorge Gomes Rosa Filho. O dirigente explica que, desde 2011, a instituição tem alcançado resultados positivos em suas concessões de crédito, sendo que no ano passado estes valores chegaram a R$ 3,8 bilhões, o que representou um aumento de 28% em relação a 2012, quando a quantia foi de R$ 2,9 bilhões. “No entanto, para 2014 projetamos um patamar menor, na faixa dos R$ 3 bilhões”, afirma. Para Rosa Filho, o aumento na taxa de juros, somado à instabilidade de um ano eleitoral e com eventos extraordinários como a Copa do Mundo deverão impactar os financiamentos do BRDE, já que aumenta a insegurança para investimentos. “Em ano eleitoral, as pessoas refletem mais sobre tudo que vão fazer. E a política econômica do país, que

está estagnada, também propicia uma cautela maior dos empresários”, avalia. De 2011 para 2012, o aumento na quantidade de contratações registrada pelo banco foi de 68%. Mesmo com o otimismo reduzido em 2014 em relação aos anos anteriores, não há como “baixar guarda”. E a ordem no banco é buscar alternativas para que a instituição possa continuar cumprindo o seu papel de desenvolver as diversas regiões dos três estados do sul, área onde atua. Prova deste papel destacado é que, no ano de 2012, o BRDE foi o quarto maior repassador do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) no Sul e se destacou em nível nacional como o maior repassador de recursos dos programas agrícolas do governo federal (com exceção do Finame Agrícola), já que tem contratos firmados em 1.056 dos 1.091 municípios da Região Sul (88,7% de abrangência). Uma das apostas, então, para buscar bons resultados em 2014, dado o cenário incerto, é procurar outras fontes de recursos que não sejam influenciáveis, em larga medida, pelos eventos que vão ocorrer este ano. Como explica Rosa Filho, alguns dos recursos que provêm dos fundos de inovação podem dar esse fôlego ao banco. “São setores não tão sensíveis aos problemas que teremos em 2014. As empresas inovadoras, por exemplo, têm capacidade de se renovar mais facilmente”, observa. O setor de infraestrutura é outra aposta do banco. Dentro

RUMOS - 16 – Janeiro/Fevereiro 2014


um ano desafiador Ainda assim, em 2014, lembrou Rosa Filho, a tendência é que o cenário se inverta. “Temos um ponto sensível, que é a política econômica do país. Se existe uma política que beneficia o crédito, isso vem ao encontro do que queremos. Mas a situação como está agora, com alto grau de endividamento, vai fazer com que o crédito fique deficiente”, observa.

Divulgação / Porto de Itajaí

Aproximação – Em 2014, o setor de agronegócios continuará representando a maior parte da aplicação do BRDE. A área de armazenagem deve receber maiores investimentos por conta das linhas específicas. E a aproximação com as cooperativas, que tem sido fundamental para os números positivos que o banco tem alcançado nos últimos anos, permanecerá como uma das prioridades – o segmento deve representar 40% do orçamento da instituição, principalmente no estaPortos e retroportos (armazenagens), ao lado de setores como o elétrico e o audiovisual, do do Paraná. Essa aproximação com estão em foco no banco. as cooperativas tornou-se um modo de chegar mais rapidamente aos agricultores, uma vez que o bandele, destaca-se o setor elétrico, ainda mais levando-se em co não tem um número de funcionários que pudesse dar tamaconta os recentes problemas nesta área enfrentados pelo nha capilaridade à sua atuação junto a esse setor. “Criamos uma país. Segundo o presidente do banco, já existem diversos propostura mais proativa”, salienta Rosa Filho. jetos em análise de subestações, linhas de transmissão, Esta postura também é adotada em feiras de negócios – Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e parques eólicos. A como o Show Rural 2014, que aconteceu em fevereiro, em Casinstituição aposta ainda no campo de Portos e Retroportos cavel, oeste do Paraná. A participação do banco no evento (armazenagem). movimentou R$ 8 milhões em apenas três dias, sendo metade Outro setor que pode contribuir é o audiovisual, do qual o deste valor realizada em contratos, e a outra metade em soliciBRDE também é agente financeiro, por meio do Fundo Setotações de negócios por meio de cooperativas. A maior parte rial do Audiovisual (FSA). O banco é credenciado pela Agêndos contratos serão para aquisição de equipamentos, animais e cia Nacional do Cinema (Ancine) desde 2013. “Estamos preinstalações para agricultura. vendo R$ 400 milhões de aplicação nessa área, uma ação No Rio Grande do Sul, a expectativa é para a Fiemma Braimportante da instituição”, avalia Rosa Filho. Os setores consil 2014, marcada para o período de 22 a 25 de abril, na cidade templados neste fundo são os mais variados – desde distribuide Bento Gonçalves. A Fiemma é a maior feira de meio ambição e comercialização, até exibição, infraestrutura e serviços ente da América Latina, com cerca de 300 expositores e even(as chamadas públicas estão no site do BRDE). tos de negócios. Uma parceria com a Secretaria de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul também deve possibilitar o mapeCartão – O cartão do BNDES/BRDE – instituído em setemamento de projetos privados nesta área e aumentar o número bro de 2013, sendo o BRDE o primeiro banco de desenvolvide financiamentos feitos pelo banco. mento a operar nesta modalidade – também tem tido boa aceiEm Santa Catarina, o BRDE pretende elevar a pulverizatação, segundo o presidente da instituição. Ele comentou que ção de recursos para instituições operadoras de microcrédito. este projeto está sendo estendido para as cooperativas de crédiNos anos anteriores, o banco contratou cerca de R$ 18 to, o que vai facilitar ainda mais o acesso ao cartão. milhões nesta modalidade, atingindo perto de mil pessoas físiA menor taxa de inadimplência já registrada pelo BRDE cas e jurídicas que atuam em negócios de pequeno porte. pode ser explicada pelo aumento da qualificação do crédito. n RUMOS - 17 – Janeiro/Fevereiro 2014


O

OPINIÃO BALANÇO

O que está feito... Marcelo Correa

Antonio Delfim Netto Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

U

m dos benefícios psicológicos do calendário é que ele define períodos de tempo aos quais, num evidente autoengano, damos significação física. Temos a sensação de que em 31 de dezembro de cada ano se encerra um período. É uma quebra no tempo contínuo. Em 1º de janeiro inicia-se um ano novinho, sem a herança dos erros e acertos acumulados nos anos anteriores. Tudo se passa como se a queima dos fogos que saudaram o Ano Novo tivessem consumido as alegrias e decepções de 2013, enquanto as contas são fechadas de forma inexorável. É inútil ficar triste. É inútil arrepender-se ou blasfemar. É inútil lembrar contrafactuais que eram oportunidades, mas foram perdidas. O tempo terminou e 2013 foi exatamente o que nossas escolhas (do governo e do setor privado) fizeram dele: como nos lembrou Shakespeare em “Tanto barulho por nada”, uma de suas mais populares comédias, “o que está feito, está feito; não pode ser não feito! Talvez possa ser refeito!” As consequências vêm sempre depois... 2011 foi o que 2010 nos deixou, somado ao que nele fizemos: maior ativismo do governo e aumento da desconfiança do setor privado, além da deterioração da situação da economia externa, que não se deve ao nosso governo, obviamente. Isso se repetiu em 2012 e continuou até a segunda metade de 2013. A partir daí o setor privado começou a entender os legítimos objetivos do governo e o governo entendeu que no tipo de organização econômica em que vivemos o setor privado não pode ser tratado como um “bando de egoístas, ávidos de vantagens”. Três anos (20112013) de desconfiança, suspeitas e incompreensões do setor privado e de longo aprendizado pelo governo – o tempo contínuo do triênio de 1.095 dias – deixou resultados pobres: 1) taxa de crescimento do PIB de 6%; 2) taxa de inflação de 19%; e 3) déficit em conta corrente de 187 bilhões de dólares. Mas resultados pobres com relação a quê? Pobres em relação ao “esperado”, mesmo quando se desconta a menor expansão do PIB mundial: 1) um crescimento de 9% no triênio, contra os 6% obtidos (2/3 da expectativa); 2) uma taxa de inflação ligeiramente declinante de 0,5% ao ano a partir dos 5,9% de 2010, capaz de entregar a “meta de 4,5%” em 2013. Uma inflação no período da ordem de 16% contra os 19% verificados; e 3) um déficit em conta corrente de 2,7% do PIB, contra 1,8% no triênio anterior (2008-2010), o que o aumentou de 127 para 187 bilhões de dólares, 47% acima do que havia ocorrido no triênio anterior, cujo PIB cresceu 13% contra os 6% do atual! A desconfiança que começa a dissipar-se foi produto do

superativismo governamental, derivado da crença de que poderia acelerar o tempo da correção de alguns de nossos graves problemas estruturais. Quando olhamos objetivamente para aquele ativismo vemos apenas resquícios de uma atitude comportamental que vai sendo superada pelo aprendizado. Na crença popular existe um ente com capacidade de interferir no comportamento das pessoas, o “encosto”. No clássico Aurélio, “é um espírito que está ao lado de um ser vivo para protegê-lo ou prejudicá-lo”. No magnífico Houaiss, “é um espírito perturbado que se presume estar ao lado de alguém para prejudicar”. E no sofisticado Sacconi, “é um espírito mau ou bom que se aproxima de uma pessoa para ajudá-la ou prejudicá-la”. Na economia brasileira os maus “encostos” se multiplicaram. São muitos e poderosos. E não são as Agências Reguladoras que, por definição, são “encostos” bons quando entes do Estado, não sujeitos ao aparelhamento por “companheiros de passeatas”. Nada se podia fazer nos transportes rodoviários sem o “encosto” do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) – o que mudou após a ação da então ministra Gleise, da Casa Civil, e do ministro Cesar Borges, do Transporte. Mas nada ainda pode ser feito no transporte ferroviário sem o “encosto” da Valec, que é positivamente maléfico! No setor de energia elétrica tudo depende do “encosto” da Eletrobras. No setor de gás e petróleo sempre há de aturar-se o “encosto” da Petrobras e, agora, um “encostinho” recém-chegado, o Pré-sal Petróleo S/A. No transporte aéreo nada decola ou pousa sem o “encosto” da Infraero. Temos usado como “encostos” alguns dos nossos instrumentos fundamentais de desenvolvimento (como o BNDES, os Fundos de Pensão e a Caixa Econômica) para promover alguns investimentos duvidosos, esquecendo que seus passivos serão dívida “contingente” do Governo Federal. Com a desconfiança recíproca existente até há pouco entre o governo e o setor privado empresarial, não há política econômica (fiscal, monetária e cambial) e social que funcione para acelerar os investimentos e aumentar a taxa de crescimento do PIB. Felizmente os ministérios do Transporte e da Fazenda, que “escutavam, mas não ouviam”, passaram a “ouvir”. Por outro lado, o setor privado entendeu que a insistência do governo na “modicidade tarifária” buscava eficiência na prestação de serviços em monopólios públicos que, depois dos leilões, seriam monopólios privados. Sujeitos a contratos “abertos”, eles precisam de regulação cuidadosa. Não era, pois, “socialismo”! Os resultados já são visíveis: os leilões de infraestrutura mostraram que o diálogo está restabelecendo a confiança mútua. E com a volta da confiança virão os investimentos. Talvez esta seja mesmo uma descontinuidade temporal que fará de 2014 um ano melhor do que a média do triênio 2011-2013. n

RUMOS - 18 – Janeiro/Fevereiro 2014


SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S/A Presidente: Sávio Peres www.afap.ap.gov.br

BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S/A Presidente: Augusto Sergio Amorim Costa www.banparanet.com.br

BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul Presidente: Jorge Gomes Rosa Filho www.brde.com.br

AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S/A Presidente: Pedro Geraldo Raimundo Falabella www.afeam.am.gov.br

BANRISUL – Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A Presidente: Túlio Luiz Zamin www.banrisul.com.br

CAIXA – Caixa Econômica Federal Presidente: Jorge Fontes Hereda www.caixa.gov.br

BB – Banco do Brasil S/A Presidente: Aldemir Bendine www.bb.com.br

DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S/A Presidente: Vitor Lopes www.desenbahia.ba.gov.br

BDMG – Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais S/A Presidente: Matteus Cotta de Carvalho www.bdmg.mg.gov.br

DESENVOLVE – Agência de Fomento do Estado de Alagoas S/A Presidente: Antonio Carlos Quintiliano www.desenvolve-al.com.br

BNB – Banco do Nordeste S/A Presidente: Ary Joel de Abreu Lanzarin www.bnb.gov.br

DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista Presidente: Milton Luiz de Melo Santos www.desenvolvesp.com.br

AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S/A Presidente: Murilo Gomes Pereira www.aferr.rr.gov.br AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S/A Presidente: Agnaldo Nunes de Souza www.agefepe.pe.gov.br AGERIO – Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro S/A Presidente: José Domingos Vargas www.agerio.com.br AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S/A Presidente: João Augusto da Cunha Melo www.agnrn.com.br BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S/A Presidente: João Paulo Kleinubing www.badesc.gov.br

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Presidente: Luciano Coutinho www.bndes.gov.br BRB – Banco de Brasília Presidente: Paulo Roberto Evangelista de Lima www.brb.com.br

FINEP – Agência Brasileira da Inovação Presidente: Glauco Arbix www.finep.gov.br FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S/A Presidente: Juraci Barbosa Sobrinho www.fomento.pr.gov.br GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Goiás S/A Presidente: Luiz Antônio Faustino Maronezi www.fomento.goias.com.br

BADESUL – Badesul Desenvolvimento S/A – Agência de Fomento RS Presidente: Marcelo de Carvalho Lopes www.badesul.com.br BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S/A Presidente: Valmir Pedro Rossi www.bancoamazonia.com.br

MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S/A Presidente: Mário Milton Verlangieri Ferreira Mendes www.mtfomento.mt.gov.br

BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S/A Presidente: Marco Aurélio B. de Almada Abreu www.bancoob.com.br

PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S/A Presidente: Lucrecina Pereira da Silva www.fomento.pi.gov.br

BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A Presidente: Guilherme Henrique Pereira www.bandes.com.br

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Presidente: Luiz Eduardo Barretto Filho www.sebrae.com.br

ABDE




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ENTREVISTA

Paulo Gadelha Por Jader Moraes e Thais Sena Schettino

Gestão

Peter Ilicciev/ Fiocruz

Ao comentar desafios do sistema público de saúde, o presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) destaca a participação expressiva do setor no PIB e sua liderança nos processos relacionados às fronteiras tecnológicas mais significativas do país

Saúde como vetor para o desenvolvimento econômico

A

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é considerada a mais importante instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, com números que impressionam: doze mil trabalhadores, sendo 1,1 mil doutores, e sete mil estudantes por todo o país, que produzem anualmente cerca de 130 milhões de doses de vacina, quatro bilhões de medicamentos e 1.500 pesquisas dos mais diversos matizes. Em entrevista à Rumos, o presidente da instituição, que assinou um convênio de cooperação técnica com a Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (ABDE), afirma que a saúde deve estar no centro da política de desenvolvimento nacional, por possuir um papel chave na economia do país, movimentando aproximadamente 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e empregando cerca de 10% da força de trabalho qualificada no Brasil. Ele lembrou ainda que a área atua nas fronteiras tecnológicas mais significativas, como a engenharia genética, a biotecnologia, a nanotecnologia. “A inovação nacional tem na saúde uma grande âncora”, afirma Paulo Gadelha.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista, em que Gadelha também discute os desafios do sistema público de saúde, a atuação da instituição em projetos sociais e a preocupação crescente com o desenvolvimento regional para o alcance da equidade no país. A íntegra da entrevista pode ser conferida no site da Associação, em www.abde.com.br.

Desafios da instituição É um desafio constante atualizar e recriar o projeto da Fiocruz. É um projeto que já bebe muito do seu processo de formatação da matriz original, da visão de como a saúde, a ciência e a tecnologia são ingredientes centrais do modelo de desenvolvimento; e ao mesmo tempo, de como a instituição é suporte do ponto de vista de inteligência, formulação e também de operação dos grandes projetos nacionais. Para isso, temos trabalhado muito com o sentido de prospecção. Um dos produtos desenvolvidos recentemente, que passa a ser uma atividade permanente da instituição, é trabalhar com uma prospecção de médio prazo, cerca de duas décadas, onde

RUMOS - 22 – Janeiro/Fevereiro 2014


nós realizamos uma avaliação dos vários fatores condicionantes que vão referenciar a atuação da instituição. Por exemplo, a evolução demográfica, a evolução da carga de doenças no Brasil, o processo de conformação da base produtiva brasileira no campo da saúde, do chamado “Complexo Econômico da Saúde”, as questões ligadas a modificações tecnológicas. Em todos esses fatores, trabalhamos para definir qual a melhor forma de atuação da Fiocruz, considerando a competência instalada e as lacunas que temos que preencher.

âncora. Temos, hoje, uma questão extremamente séria do ponto de vista do equilíbrio econômico brasileiro, que é a balança de pagamentos, e estamos trabalhado no sentido de reduzir esse déficit no campo da saúde, mas ainda há cerca de 11 bilhões de dólares como déficit na balança comercial dirigida, relacionada ao campo da saúde. E, por outro lado, o país aplica um percentual baixo do seu PIB para a área da saúde, algo em torno de 3,5%. Vários outros países, inclusive de economias equivalentes, aplicam valores muito mais elevados. Esse desafio tem que ser pensado como desafio maior do país na atualidade.

Desafios da Saúde

Desenvolvimento Regional

A constituição do SUS [Sistema Único de Saúde], que teve a participação ativa da sociedade brasileira, coloca a questão do direito à saúde como o direito da cidadania e dever do Estado de prover as condições para que esses direitos sejam exercidos plenamente. Nesse sentido, há vários desafios. Existem aqueles mais gerais, que dizem respeito ao processo das relações federativas do Brasil, e em muitos casos os recortes territoriais não necessariamente acompanham os federativos. Então, o processo de definição da regionalização, da criação das redes, a definição de contratos de responsabilidade, para a capacidade de definir metas, processos de monitoramento e aferição dos resultados, são grandes desafios no campo da pactuação federativa e também do processo de gestão e coordenação das ações de saúde. Logo, estamos falando do próprio modelo de Estado, da forma como o SUS se organiza para adquirir uma efetividade. Temos que pensar também na modificação da base demográfica e da carga de doenças. Porque vamos ter uma população cada vez mais idosa na comparação com a população jovem. E isso traz desafios enormes no campo da seguridade social, no caso da previdência e, certamente, no caso da saúde. Acompanhar essa mudança significa também para a Fiocruz se redefinir, no sentido de fazer as pontes entre seu campo de tradição mais forte, que são as doenças infecciosas, e esse novo campo ligado às crônicas não infecciosas. E há outros elementos como a própria questão da violência, que no Brasil tem um peso muito grande no padrão de qualidade de vida e de mortalidade.

Desenvolvimento regional A saúde é sem dúvida um dos esteios muito fortes para se pensar a coesão e a equidade do país em termos das suas desigualdades geográficas. Ela tem esse poder alavancador para estimular o desenvolvimento, do ponto de vista da melhoria da qualidade de vida, com tantas distorções que acontecem, seja em microrregiões de estados mais desenvolvidos, seja em regiões nacionais onde os indicadores de saúde são extremamente desfavoráveis. Em nossa experiência, vemos que, de uma forma estruturada, induzida, organizada, a presença da saúde, da ciência e da tecnologia em nível regional já produz um efeito de geração de emprego, renda, base tecnológica. E ainda começa a corrigir as iniquidades de concentração forte que o Brasil tem como padrão, principalmente na região Sudeste, onde concentra a maior parte de tecnologia. A atualização do projeto nacional da Fiocruz tem sido um indutor de arranjos produtivos e de processos de desenvolvimento em vários locais do país, como o polo tecnológico voltado exclusivamente para o campo da saúde no Ceará e também outras unidades no Piauí, em Rondônia, e no Mato Grosso do Sul, que possuem forte capacidade de alavancagem de uma série de iniciativas no campo da base produtiva tecnológica daquelas regiões.

A saúde deve estar no centro do modelo de desenvolvimento do país e deve ser percebida por todos os setores envolvidos com o desenho das políticas de desenvolvimento. Muitas vezes, há uma dificuldade de compreensão entre setores do campo da economia e da área social para entender que a saúde joga um papel central no processo de desenvolvimento por várias razões. É sabido que cerca de 8% do PIB nacional gira em torno da saúde, considerando a área de insumos, de vacinas, medicamentos e serviços. Cerca de 10% da força de trabalho qualificada no Brasil está envolvida na área da saúde. Se pensarmos nas fronteiras tecnológicas mais significativas, elas estão associadas com o campo da saúde, incluindo a engenharia genética, a biotecnologia, a nanotecnologia. Portanto, para pensar uma base de inovação para a produtividade nacional, ela deve ter na saúde uma grande

Peter Ilicciev/ Fiocruz

Saúde e desenvolvimento

Envolvido com pesquisa e inovação, laboratório da Fiocruz para a produção de remédios é referência no país.

RUMOS - 23 – Janeiro/Fevereiro 2014


E

ENTREVISTA

Paulo Gadelha

Políticas Sociais Políticas Sociais

nas PDPs, pode-se utilizar mais de uma associação com relação ao desenvolvimento daquele produto, o que gera entre as empresas oportunidades tanto de indução, mas também de competitividade para que elas acelerem a sua competência de base tecnológica e produtiva no país. E esse processo tem gerado dados bastante positivos do ponto de vista econômico.

Peter Ilicciev/ Fiocruz

Desenvolvemos um programa com a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] que é direcionado para concessão de bolsas ao nível da pós-graduação para projetos cujo objeto de pesquisa sejam as situações relacionadas ao “Brasil Sem Miséria” e que tenham como característica buscar resultados de conhecimento e de Desenvolvimento: “Para pensar uma base de inovação para a proposta de intervenção para produtividade nacional, ela deve ter na saúde a sua grande âncora. modificar essa realidade. Ou seja, é o projeto de fazer com que haja uma relação muito direcionada entre produção de Integração conhecimento e resolução de problemas sociais. Temos outro projeto importante, em que atuamos junto com a FunaA Fiocruz tem uma matriz muito diversificada: pesquisa, sa [Fundação Nacional de Saúde], que diz respeito à questão produção, ensino, controle de qualidade, formação de nível do acesso e da qualidade da água no semiárido, que no caso da técnico. Essa diversidade poderia ser elemento de dispersão e Fiocruz é importante também pelo lado da produção do de desagregação, mas se torna um grande valor do ponto de conhecimento e da tecnologia. Logo, atuamos nas duas vista de vantagem comparativa, justamente porque conseguidimensões: no trabalho diretamente envolvido com populamos fazer com que todas as áreas da fundação se integrem em ções carentes, com modelos de atenção à saúde na área de projetos estratégicos comuns – seja pela nossa relação com o atenção básica e na discussão dos determinantes sociais Ministério da Saúde e por esses projetos que têm uma direção sobre a saúde, mas também estamos presentes nesse campo clara do ponto de vista de projeto nacional, seja pelo modelo específico de indução ao desenvolvimento do estado produde planejamento e gestão participativa que adotamos. Não tivo. E esse é o grande desafio que temos: fazer com que a podemos, em nenhum momento, pensar que, por exemplo, a política de desenvolvimento produtivo no Brasil responda às presença no “Brasil Sem Miséria” esteja desconectada de uma demandas de carga de doenças, às de serviços, às de tecnoloatuação na criação de uma base tecnológica numa região do gias que a saúde requer, porque se não tivermos isso, o SUS se Nordeste, onde você tem a maioria da população do progratorna insustentável. ma; ou então pensar em como a promoção da saúde depende de pesquisa, da tecnologia. Essa atuação gera demandas depois num nível mais complexo de atenção à saúde. Desse Parcerias Privadas modo, não há como pensar de forma desintegrada, procuraAs Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDPs) são mos trabalhar todos esses componentes dentro de um proinstrumentos muito importantes de uma política bem mais cesso comum de planejamento e sinergia. ampla, que está inserida no “Brasil Maior”, com o objetivo de conferir um arranjo organizacional e base normativa que Parceria com a ABDE possam induzir os processos de inovação e produção brasileira associados às demandas no campo social. Hoje, já Essa parceria, para nós, é fundamental. É fundamental, temos 35, o que equivale a um terço das PDPs em vigor no primeiro pela credibilidade, pela capacidade de articulação e de país. Na definição das parcerias, a condição primeira é que se formulação da ABDE. Depois, porque o nosso grande desafio tenha produção nacional, com incorporação ou desenvolvié encontrar vínculos cada vez mais orgânicos para pensar essas mento de tecnologia, para garantir que esse processo esteja dimensões do desenvolvimento e da saúde. O acordo de dentro de uma inteligência de Estado, e necessariamente cooperação técnica permite uma sistematização e um alinhadeve-se ter a presença de um laboratório público como um mento que pode ter desdobramento para vários setores, para a dos parceiros. Há, portanto, uma questão central que é definição de políticas da própria Fiocruz, para áreas de refereforçar o protagonismo do Ministério da Saúde como ator rências com relação às agências de financiamento, para intedessa área de inovação e desenvolvimento tecnológico no grar questões mais amplas do debate que hoje é feito no âmbipaís. Com isso, conseguimos construir mecanismos ao to do projeto do Ministério da Saúde junto com os outros mesmo tempo de indução de parcerias e, nessa fase mais órgãos governamentais ligados à temática do desenvolvimenrecente, também de competitividade entre as várias empreto. A expectativa é muito positiva e estamos muito empenhasas, na medida em que, ao desenhar um determinado alvo dos que esse acordo seja um grande sucesso. n RUMOS - 24 – Janeiro/Fevereiro 2014



A

ARTIGO

FINANCIAMENTO

Cooperativismo financeiro: progressos e desafios Diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), Ênio Meinen comenta, neste artigo, a importância da criação do Fundo Garantidor Único das Instituições Financeiras Cooperativas (FGCoop) e os desafios que o sistema cooperativo tem de vencer para seguir em sua expansão

o lado do crescimento substantivo em seus principais indicadores (associados, pontos de atendimento e volume de negócios), cuja estimativa aponta para uma expansão média ao redor de 25%, conservando o desempenho ascendente já de toda uma década e possivelmente emplacando novo avanço na participação de mercado, o cooperativismo financeiro brasileiro tem pelo menos um segundo – e principal – motivo para saudar o ano que se encerrou, fator esse relacionado com a sua sustentabilidade no longo prazo. Com efeito, 2013 figurará com especial destaque na cronologia de marcos relevantes do setor por conta da criação do Fundo Garantidor Único das Instituições Financeiras Cooperativas (FGCoop). Considerando os seus desdobramentos, que em muito ultrapassam o simples – embora não irrelevante – objetivo de salvaguardar depositantes e investidores em casos de insucesso de entidades vinculadas, pode-se dizer que esse passo concreto de intercooperação (societária) identifica um novo recomeço na história recente do movimento. Estreme de dúvidas, a iniciativa conduzirá à aproximação

Desafios e oportunidades – No plano institucional, a racionalização do atual modelo de supervisão voltado para as cooperativas, âmbito no qual se estuda a concentração do conjun-

Elaboração: Bancoob-Suest

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dos vários subsistemas cooperativos e o grupo de entidades independentes, porquanto seus representantes passarão a reunir-se em um mesmo fórum para discutir diferentes aspectos de interesse comum, com foco na solidez do conjunto dos empreendimentos. Em outras palavras, a solidariedade fará aumentar o interesse pelo diálogo, e nesse ambiente haverão de se descortinar e tomar forma inúmeras oportunidades de fortalecimento intersistêmico, entre elas a atuação conjunta em projetos negociais ou de apoio ao negócio. Enfim, dado o quadro que já aponta para várias ações de cooperação entre as instituições financeiras convencionais, o que se advoga para o futuro, sob a batuta das lideranças do setor, é a convergência do cooperativismo financeiro em múltiplas frentes (institucionais, estratégicas e operacionais), à luz do que proclama a doutrina e evidenciam as melhoras práticas universais do movimento.

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Ascom/Bancoob

Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS) e autor e coautor de vários livros sobre cooperativismo de crédito – área na qual atua há 30 anos –, entre eles “O cooperativismo de crédito ontem, hoje e amanhã”. Atualmente, é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

to das atividades em uma única entidade de atuação intersistêmica (“entidade de auditoria cooperativa”), e a integração da rede de autoatendimento do setor habilitam-se como temas de fundo na agenda do movimento (Informativo OCB 2675, edição de 05-12-13: “Sistema de Supervisão das Instituições Financeiras Cooperativas sairá do papel”). Ambos os desafios alinham-se aos objetivos do Banco Central na busca de uma maior eficiência da indústria financeira (projeto “Otimiza BC” – Rumos, edição nº 271 – setembro/outubro de 2013), e representarão movimentos relevantes para ampliar a indispensável convergência entre os subsistemas cooperativos, resultando no aumento da competitividade e, por extensão, no fortalecimento do setor. A par desses propósitos de interesse geral, renovam-se também os desafios usuais relacionados com a disputa de mercado e a necessidade de continuada expansão. Neste particular, duas frentes sugerem especial atenção: de um lado, já contando com um eclético e atraente portfólio de soluções negociais, as cooperativas terão de ser cada vez mais proativas no oferecimento de produtos e serviços complementares à intermediação

financeira, diversificando e desconcentrando a matriz de receitas e de resultado. De outro, considerando a ainda baixa escala de associados e o grande potencial de expansão oferecido pela universalidade de acesso, há que se buscar o incremento de beneficiários. No primeiro caso, sabe-se que um expressivo contingente de associados mantém relacionamento com uma segunda instituição financeira, não cooperativa, tomando da concorrência vários serviços que poderiam, ou deveriam, ser entregues pela sua própria entidade. Essa “infidelidade” – iniquamente dispendiosa (pelo duplo controle e baixo poder de barganha) – poderá ser atenuada por iniciativa da cooperativa, bastando que vá ao encontro do associado e a ele demonstre as vantagens de obter equivalentes soluções em “casa”. A maior aproximação com o cooperado permitirá, ainda, identificar outras demandas não atendidas pelo mercado. A não ser assim, perde legitimidade a propagada enunciação de que a cooperativa é a principal instituição financeira de seu dono! Quanto à expansão da base de associados, que passa também pela ampliação da rede de atendimento nos médios e grandes centros urbanos e nas regiões Nordeste e Norte do país, há que se ressaltar a abundante oportunidade voltada para o público empreendedor, mais especificamente o pequeno negócio, ainda com inexpressiva representatividade entre os beneficiários das soluções cooperativistas. Além de outros pontos de convergência a justificarem maior aproximação, as micro e pequenas empresas e o empreendedor individual têm em comum com as cooperativas a filosofia de proximidade (ambas são organizações locais), o compromisso permanente com a comunidade (na bonança e na crise) e o viés associativista (na medida em que as MPEs operam sob a coordenação de entidades de classe geridas pelos próprios membros). Ademais, muitas pessoas físicas, proprietárias de empresas, já compõem o quadro social das cooperativas (enquanto, na Pessoa Jurídica, relacionam-se com os bancos convencionais). Em síntese, o alargamento e a perpetuação do virtuosismo recente do cooperativismo financeiro requerem de seus atores – dirigentes e executivos – o indispensável desprendimento, para acompanhar os movimentos de rearranjo estrutural, próprios de um mercado dinâmico e altamente competitivo, e arrojo, tanto para densificar o volume de negócios com o quadro social atual como para atrair novos cooperados-beneficiários. Esse é o único caminho para o desejado protagonismo concorrencial do associativismo em favor da melhoria da qualidade e da justa precificação dos serviços financeiros entre nós. n

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Por Carmen Nery

Sempre ca O financiamento para a construção de novos hotéis e reforma dos atuais estabelecimentos coloca o Brasil na concorrência pelos turistas estrangeiros, com vistas a sair do patamar de sete milhões de visitantes por ano. Pesquisas e propagandas indicam qual o melhor caminho para atrair os viajantes

Portal da Copa/ME

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governo comemora o recorde histórico de turistas em 2013, quando o país recebeu seis milhões de visitantes. Em 2014, somente com a Copa do Mundo, são esperados mais de 600 mil turistas, que deverão contribuir para um novo recorde, já que a expectativa é fechar o ano com sete milhões de visitantes estrangeiros, com injeção de R$ 22 bilhões na economia brasileira. E o turismo interno também tem sido estimulado. Segundo dados do Fórum Econômico Mundial, o Brasil é a sexta maior potência do setor com 200 milhões de viagens internas e 70 milhões de brasileiros viajando todos os anos. Segundo pesquisa encomendada pelo Ministério do Turismo (MTur) à Fundação Getulio Vargas (FGV), o Brasil é o destino preferencial de 70% dos viajantes brasileiros. A pesquisa “Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem” foi realizada em sete regiões metropolitanas – Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo –, com consultas a duas mil famílias, sobre a intenção de realizar viagens nacionais e internacionais nos próximos seis meses. O levantamento apontou que 37,2% pretendiam viajar e, nesse universo, 68,7% indicaram como destino cidades brasileiras. Outros 23,3% disseram que vão visitar outros países. A sondagem mostrou também que os estados da Região Nordeste continuam sendo os preferidos, com 49% das indicações. Em seguida, estão os destinos do Sudeste, com 23,3% das preferências, e do Sul, com 18%.

Pesquisas – Os números deverão ser confirmados pela Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo, levantamento qualitativo e quantitativo, de âmbito nacional, sobre o cenário econômico do setor de turismo. Realizado com os principais executivos de hotelaria, agências, operadores e organizadores de eventos, o estudo mostra a percepção desses empresários em relação ao momento atual dos negócios e as perspectivas para o ano. A pesquisa relativa a 2013 come-

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be mais um e pesquisas do Ministério do Turismo, a expectativa inicial era de que, em 2013, o setor crescesse 7,5%. “Mas as sondagens trimestrais mostraram que, até setembro, o crescimento já era superior a 8%, um número que deverá crescer conforme sinalizou a sondagem do consumidor, em dezembro, que mostrou que 37,2% pretendiam viajar”, diz Lopes. A projeção do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) é que o turismo no país cresça 6% em 2013. Para 2014, não existe uma projeção do órgão, mas a estimativa do MTur é que a participação direta do turismo na economia tenha um crescimento de 10%. Mesmo assim, os brasileiros ainda gastam mais no exterior do que o turista estrangeiro deixa no Brasil. Em 2013, a conta de viagens internacionais no balanço de pagamentos divulgados pelo Banco Central (BC) apresentou déficit de US$ 1,6 bilhão no mês de dezembro de 2013, influenciado pelos aumentos de 3% dos gastos de estrangeiros no Brasil e de 11,5% dos gastos de brasileiros no exterior, ambos na comparação a dezembro de 2012. No ano, o saldo negativo de US$18,6 bilhões constituiu o recorde da série, aumentando 19,5% em relação ao ano anterior, com receitas provenientes dos gastos de turistas estrangeiros no país, atingindo US$ 6,7 bilhões e as despesas dos brasileiros lá fora somando US$ 25,3 bilhões. Segundo Wilson Rabahy, coordenador das pesquisas de turismo da FundaA prefeitura do Rio de Janeiro trabalhou para trazer o Centro de Mídia ção Instituto de Pesquisas Econômicas da Copa do Mundo para a cidade, considerada a porta de entrada do país. (Fipe), o turismo não é o único vilão do déficit do balanço de pagamentos, uma ça a ser realizada agora pela FGV, com divulgação prevista vez que, na conta das despesas, estão também os gastos com para abril. a aquisição de bens no exterior, seja diretamente lá fora, seja O relatório de 2012 ouviu 80 das maiores empresas do no Brasil por meio de compras pela internet com cartão de setor que empregam 115 mil profissionais e somam um fatucrédito. ramento de R$ 57 bilhões de reais, um crescimento de 13% e o equivalente a 25% do total gerado pelo turismo do país, que Gastos no exterior – A Fipe realiza pesquisas sobre os turisatingiu, naquele ano, a marca de R$ 250 bilhões. Segundo mos doméstico e internacional desde 1998 e dispõe de dados Francisco Salles Lopes, diretor do departamento de estudos mostrando que, enquanto o turista brasileiro que vai para o RUMOS - 31 – Janeiro/Fevereiro 2014


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TURISMO

exterior é influenciado pelo câmbio e pelo preço dos bens e serviços, o mesmo não ocorre com o turista estrangeiro que vem para o Brasil. Em 2005, quando o real voltou a se valorizar, as despesas dos brasileiros lá fora com hospedagem representavam 30% dos gastos, a alimentação, 15%, e as compras de bens, 15%. Em 2012, hospedagem e alimentação mantiveram-se em 45%, mas as compras de bens saltaram para 30%. A influência do câmbio nas decisões do turista brasileiro pode ser comprovada com a análise da série histórica. Com o Plano Real, o câmbio ficou praticamente congelado, com paridade entre o dólar e o Real, o que estimulou os brasileiros a sair e a importar. Em 1995, com o dólar a R$ 0,90, as receitas com turistas internacionais no país somaram US$ 971,6 milhões, e as despesas dos brasileiros lá fora atingiram

US$ 3.391,3 bilhões, gerando um déficit de US$ 2,219 bilhões. A partir de 2000, o dólar passou de R$ 1,83 para até R$ 3,08 em 2003, estabilizando-se em R$ 2,43 em 2005. Ficou caro para o brasileiro sair, e, em 2003 e 2004, o saldo foi positivo de R$ 217,6 milhões e R$ 350,8 milhões, respectivamente. A partir de 2006, o real voltou a se valorizar e voltaram os déficits, que cresceram aceleradamente passando de US$ 1,447 bilhão em 2006 para US$ 5,593 bilhões em 2009, US$ 14,709 bilhões em 2011, até chegar aos atuais US$ 18,6 bilhões. “O dado interessante é que as receitas não avançaram nos períodos em que o câmbio esteve favorável ao turista estrangeiro e isso não foi suficiente para mudar uma tendência histórica de crescimento de 4%. Isso porque o turismo internacional não sofre o mesmo impacto do câmbio e dos preços”,

Fomento ao turismo Para acompanhar este momento, os bancos públicos estão investindo fortemente no setor, com linhas de créditos especiais voltadas a empresas aéreas, hotéis, parques, transportadoras, agências de turismo. Segundo dados do MTur, os investimentos dessas instituições saltaram de R$ 1 bilhão em 2010 para R$ 13 bilhões em 2013. Os empréstimos foram concedidos pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Nordeste e Banco da Amazônia. De acordo com dados do Ministério do Turismo, os financiamentos realizados por bancos públicos às empresas do setor tiveram aumento de 17% de janeiro a setembro de 2013, em relação ao mesmo período do ano passado. Os investimentos subiram de R$ 7,8 bilhões para R$ 9,2 bilhões no período. Em 2012, os empréstimos dos bancos somaram R$ 11,2 bilhões. O Programa BNDES ProCopa Turismo foi criado em janeiro de 2010 com o objetivo de atender, primordialmente, a duas carências. A primeira era a necessidade de adequação das condições do crédito direto do BNDES às demandas do mercado hoteleiro, o que era evidenciado pelo baixo fluxo de financiamentos contratados pelo setor com o banco nos anos anteriores. Em segundo lugar, o aquecimento da demanda por hospedagem no Brasil e a expectativa de seu crescimento acentuado, da qual a Copa do Mundo de 2014 era um ingrediente emblemático, projetavam uma preocupante carência da oferta desse serviço. O ProCopa Turismo foi ainda utilizado como instrumento de estímulo à adoção de práticas e investimentos voltados à sustentabilidade ambiental no setor, oferecendo aos projetos que cumprissem tais requisitos maiores prazos de pagamento e menores taxas de juros. Com esse objetivo, o programa foi concebido com dois subprogramas: Hotel Eficiência Energética e Hotel Sustentável. O primeiro oferecia prazo de pagamento de até 15 anos para a cons-

trução de novos hotéis e de até dez anos para ampliações, reformas e modernizações, desde que os empreendimentos financiados, depois de concluídos, obtivessem certificação de eficiência energética nível “A” do Programa de Eficiência Energética nas Edificações (Procel Edifica). Já as condições do Hotel Sustentável permitiram a expansão dos prazos de pagamento para até 18 anos na construção de novas unidades e até 12 anos para inversões em ampliação, reformas e modernização. Nesse segundo subprograma, tiveram direito a prazos mais dilatados apenas os empreendimentos que, depois de sua conclusão, viessem a obter certificação no Sistema de Gestão da Sustentabilidade para Meios de Hospedagem, ou outro certificado de construção sustentável reconhecido por entidade acreditada pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade. Os mesmos pré-requisitos estabelecidos nos dois subprogramas – de adoção de práticas e investimentos voltados à sustentabilidade ambiental dos empreendimentos –, uma vez cumpridos, também conferiam aos contratos menores taxas de juros. Como forma de estimular ainda mais os investimentos nas cidades-sede da Copa de 2014, foi mantido o patamar mínimo de R$ 3 milhões para os empreendimentos localizados nos 12 municípios que vão sediar o evento. Para as demais localidades do país, esse piso foi elevado para R$ 10 milhões. Criado em 12 de janeiro de 2010, com orçamento de R$ 1 bilhão e vigência até o fim de 2012, o BNDES ProCopa Turismo teve sua dotação ampliada para R$ 2 bilhões e seu prazo para protocolar projetos estendido até 30 de junho de 2013. Até setembro de 2013, 17 operações do programa foram aprovadas, o que viabilizou investimentos da ordem de R$ 1,7 bilhão por meio da contratação de R$ 1 bilhão em créditos. Entre construção de novas unidades, reformas e modernização, os financiamentos já aprovados no programa envolveram 4.727 quartos, dos quais 30,2% encontram-se no

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diz Rabahy. Ele explica que, para esse segmento, o principal fator de decisão é a distância. “No mundo inteiro, 70% do turismo acontece na mesma região. Ou seja, 70% do turista emissivo europeu viaja para países da Europa; os asiáticos, para a Ásia; e assim por diante. Com isso, sobram pouco mais de 20% para decidir entre todos os países do mundo. O Brasil não representa nem 1% do turismo internacional”, ressalta o coordenador da Fipe. Ele estima que, mesmo com a Copa do Mundo, não deve haver uma reversão espetacular desse quadro e o país poderá atrair entre 200 mil e 500 mil turistas estrangeiros. O efeito do mundial de futebol na economia brasileira já é positivo e tem reflexos desde 2010. Segundo estudo da FGV, além dos gastos de R$ 29 bilhões no Brasil relacionados à Copa para garantir a infraestrutura e a organização, a competição deverá injetar, adicionalmente, R$ 112,79 bilhões na economia

brasileira, com a produção em cadeia de efeitos indiretos e induzidos. No total, o país movimentará R$ 142,39 bilhões adicionais no período 2010-2014, gerando 3,63 milhões de empregos ao ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população, o que tem impactado o mercado de consumo interno. Essa produção também deverá ocasionar uma arrecadação tributária adicional de R$ 18,13 bilhões aos cofres de municípios, estados e federação. O impacto direto da Copa do Mundo no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é estimado em R$ 64,5 bilhões para o período 2010-2014. Como a Copa do Mundo é um evento pontual, uma parte de seus impactos sistemáticos não será permanente. De fato, uma vez concluídos os investimentos e realizada a Copa, a continuidade dos fatores positivos dependerá dos esforços do governo e dos demais agentes. “O turismo é uma atividade multissetorial que afeta vários

e Marcus Vinicius Macedo Alves, gerentes do departamento de bens de consumo, comércio e serviços, na área industrial do BNDES, o ProCopa Turismo foi encerrado mas o banco continuará apoiando o setor de turismo por meio de outras linhas como sempre fez antes da criação do programa. De 2009 a 2013 foram liberados R$ 992,7 milhões para locação de automóveis; R$ 845,2 milhões para bares e restaurantes; R$ 286,5 milhões para agências de viagens; R$ 132,7 milhões para restauração e conservação de prédios e lugares históricos; R$ 50,2 milhões para produção de espetáculos de dança, teatro, circo, rodeios, vaquejadas e diversas outras atividades ligadas ao turismo. Até o lançamento do ProCopa, as operações diretas respondiam por um pouco mais de 10% dos créditos do Linhas de crédito – Segundo Job Rodrigues Teixeira Júnior BNDES para os investimentos em hotelaria. O programa fez esse percentual praticamente dobrar e elevar-se a quase um quarto do total de desembolsos do banco para o setor, em um contexto de crescimento acentuado dos fluxos de financiamento a hotéis e similares. O sucesso do programa em ampliar o apoio direto ao segmento hoteleiro é expressivo, sobretudo tendo em vista que o predomínio de operações indiretas reflete características do setor, que conta com um número relevante de pequenas empresas atendidas pelos agentes financeiros do BNDES. Os financiamentos indiretos do BNDES, refletindo o aquecimento do setor, também se expandiram durante o período de vigência do BNDES ProCopa Turismo. De janeiro de 2010 a setembro de 2013, foram desembolsados R$ 579,3 milhões por meio de operações Com muitos atrativos naturais, como o Morro do Careca, no Rio Grande do indiretas. Atualizado, esse montante corresNorte, o Brasil pode potencializar o turismo com a exposição mundial dada ponde a R$ 639 milhões de 2013 e a uma pelos grandes eventos. SXC

Nordeste; 58,7%, no Sudeste; e 7,5%, no Sul. A implantação de novos hotéis representou um incremento de 3.237 quartos, o equivalente a 68,5% do total do ProCopa, demandando para tal 75,8% dos créditos aprovados. Além das 17 operações já aprovadas, a carteira do programa conta com mais 12 projetos em análise ou consulta, totalizando cerca de mais R$ 1 bilhão em créditos, que deverão alavancar novos investimentos da ordem de R$ 1,5 bilhão. Esses projetos, caso aprovados, elevarão as cifras do BNDES ProCopa Turismo para 29 operações, R$ 2 bilhões em financiamentos e algo em torno de R$ 3,2 bilhões em investimentos.

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TURISMO

aspectos da atividade econômica”, diz Vinícius Lummertz, secretário nacional de Políticas de Turismo do MTur. Ele cita como exemplo a cidade de Gramado que, por meio de eventos como o Festival de Cinema e o Natal, dinamizou vários outros segmentos como o de alimentação – com as fábricas de chocolate – e o setor moveleiro. “O investimento público no turismo é criticado por ser considerado supérfluo e por supostamente estar desviando recursos das prioridades históricas do país, como saúde e educação. Mas o que as pessoas não percebem é que o turismo pode gerar recursos para suprir essas necessidades”, defende Lummertz. Ele destaca que a economia do turismo cresce mais do que a economia brasileira. De 2003 a 2009, o setor cresceu 32,4%, enquanto a economia nacional teve expansão de 24,6%. Em 2012, o setor representou 3,7% do Produto

Interno Bruto (PIB) incluindo as receitas com acomodações, transporte, agências de viagens, atividades recreativas, entre outros segmentos. Agora o governo estuda criar uma conta satélite que acumule o impacto provocado pelo turismo em várias outras atividades como a indústria automotiva, a produção de eletrodomésticos da linha branca e o setor moveleiro. Lummertz observa que o turismo, como atividade, vem sendo estruturado recentemente. Até os anos 1990, o Brasil era fechado e não estava integrado ao turismo internacional. A priorização do segmento como atividade econômica começou em 2010. “Somos a sexta maior economia do turismo e queremos ser a terceira. O desafio é melhorar a infraestrutura interna para que o turista brasileiro prefira viajar por aqui. Hoje são 412 hotéis em construção e 270 aeroportos em reforma. Os países com turismo mais desenvolvido têm uma

média anual de R$ 170,5 milhões. Essa cifra representou um crescimento real de 55% em relação à média de R$ 110,2 milhões registrada no decênio 2000-2009. O BNDES Automático e o Cartão BNDES foram os principais responsáveis por esse desempenho, canalizando cerca de dois terços dos desembolsos dos créditos indiretos do BNDES para o setor de hotelaria durante a vigência do ProCopa, respectivamente, 37% e 27% do total. No universo exclusivo dos créditos indiretos, juntos, representaram 85%. Como gestor do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), o Banco do Nordeste apoia o setor turístico por meio da linha FNE Proatur. O objetivo é integrar e fortalecer a cadeia produtiva do turismo, para o aumento da oferta de empregos e o aproveitamento das potencialidades turísticas da Região Nordeste, por meio da implantação, ampliação, modernização e reforma de empreendimentos do setor. São elegíveis ao financiamento as empresas privadas – inclusive microempreendedores individuais (MEIs) – e pessoas jurídicas de qualquer porte que desenvolvam atividades nos segmentos diretamente relacionados à atividade turística. Para tanto, os beneficiários contam com recursos do FNE com taxas de juros para investimento, incluindo capital de giro associado, variando de 5,30% a 8,24% ao ano, e para capital de giro isolado, entre 7,65% e 12,36% ao ano, conforme o porte dos empreendedores. Para incentivo ao pagamento pontual dos financiamentos, é concedido bônus de adimplência de 15% sobre os juros, outro diferencial do FNE. Os prazos máximos no FNE Proatur são de 15 anos, incluídos até cinco anos de carência, determinados em função da capacidade de pagamento do projeto/proposta, mas podem alcançar até 20 anos (com até cinco anos de carência) se o objetivo for a implantação de hotéis e outros meios de hospedagem.

Por ser uma instituição financeira regional de desenvolvimento, o Banco do Nordeste atende a todos os portes de empreendimentos, priorizando o financiamento àqueles de menor porte – microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas e empresas de pequeno e médio portes. Há condições especiais para o segmento, como, por exemplo, um maior limite de financiamento (que pode atingir 100% do investimento projetado), menores encargos financeiros e a possibilidade de se financiar veículo de passeio para locadoras de veículos e empresas de receptivo turístico. As contratações do Banco do Nordeste com recursos do FNE no setor de Turismo são crescentes. Atingiram, em 2013, o total de R$ 650,6 milhões, 81% a mais do que no exercício de 2012. Em 2013, os estados que mais receberam recursos para financiamento ao turismo foram: Pernambuco (R$ 210,1 milhões), Paraíba (R$ 136 milhões), Bahia (R$ 78,7 milhões) e Ceará (R$ 60,8 milhões). Em 2014, estima-se que os financiamentos para o turismo regional do Fundo Constitucional atinjam R$ 1,015 bilhão, o que representaria uma participação de 7,7% no orçamento total do FNE para este exercício (R$ 13,1 bilhões), equivalendo a um incremento de 56% em relação àquele ano. Além do FNE, o Banco do Nordeste também operacionaliza linhas de financiamento a partir de outras fontes de recursos, com as quais também pode ser apoiada a cadeia produtiva do turismo, a exemplo do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), do qual o BNB é agente preferencial, e das linhas de financiamento do BNDES, que contam com taxas competitivas. Integrante do Conselho Nacional de Turismo, o Banco da Amazônia é gestor do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), de qual partem os recursos para o financiamento ao setor de turismo. Segundo José Roberto de Lima, diretor comercial e de distribuição do Banco da Ama-

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estrutura mais profissional e priorizam o setor há mais tempo do que o Brasil, por isso têm custos mais competitivos. Verificamos duas tendências nos últimos anos: à medida que o turismo no mundo inteiro foi se massificando e barateando, o Brasil foi encarecendo. E precisamos mudar esse quadro”, alerta. O desembarque doméstico cresceu 70% de 2007 a 2012 e houve uma injeção de recursos de R$ 142 bilhões entre 2010 e 2014. Repensando o segmento – Uma das iniciativas nesse sentido foi o Seminário Turismo e Competitividade, promovido

pela Embratur em outubro de 2013, reunindo representantes de órgãos públicos e entidades privadas do setor. O objetivo foi encontrar caminhos para maior competitividade em segmentos estratégicos como o de companhias aéreas e o de hotelaria. Segundo Vicente Neto, assessor da presidência da Embratur, entre os assuntos da pauta estava o retorno ao Brasil da política de céu aberto que prevê que, em períodos de grande demanda, seja permitida a circulação de companhias aéreas que não são as que já operam no país. “O objetivo é reduzir o preço e aumentar a qualidade. Após o seminário foi criado pela presidenta Dilma Rousseff o Comitê de Acompanhamento de Preços”, diz Neto. O Comitê é coordenado pela Casa Civil e conta com a participação do Ministério da Justiça, Ministério do Esporte, MTur, Embratur, Secretaria de

Wilson Dias/ABr

ano (equivalente a partir de 0,77% ao mês), a solução é comercializada com exclusividade pelo Banco do Brasil. O prazo mínimo da operação é de 3, e o máximo de 84, já incluída a carência de até 24 meses. O limite financiável chega a até 90% do valor do projeto. O limite mínimo é de R$ 5 mil, e o máximo, de R$ 1,5 milhão por empresa. Os aeroportos também receberam recursos para reformas, com o intuito Segundo Gisele Barbosa Pessoa, de ampliar a capacidade de atendimento. gerente-executiva da diretoria comercial do BB, a relação de itens financiáveis pela linha é bem ampla. Contempla desde capacitação de pessoal em qualidade de serviço, atendimento e línzônia, a instituição opera a Linha ProCopa para as regiões gua estrangeira; como também máquinas e equipamentos; envolvidas com o evento. Criada em 2012, a linha já permitiu veículos e embarcações para transporte de pessoas aos estaum volume de financiamento de R$ 1,465 bilhão, e a expectabelecimentos, cadastrados no Cadastur – cadastro dos prestiva para 2014 é liberar mais R$ 1 bilhão em crédito. “Financitadores de serviços turísticos do Ministério do Turismo –, amos empreendimentos hoteleiros em Manaus, Rondônia, até o desenvolvimento de sites para implantação de softwaPará e Tocantins. Além de infraestrutura de lazer e transporte res. “O produto visa a geração de emprego e de renda nos – com apoio, inclusive, à construção de aeronaves para setores relacionados, direta ou indiretamente, com o grande empresas que vão aonde as grandes companhias aéreas não evento esportivo.”, diz Gisele. chegam. As linhas também oferecem crédito para lojas de A diretoria comercial também opera linhas de financiaartesanato e shopping centers. E estamos financiando projemento de investimento e giro, com destaque para as linhas de tos de energia em parceria com o governo federal”, informa Fundo do Centro-Oeste (FCO) Turismo e as linhas de repasse Lima. As condições para hotéis incluem prazos de até 12 do BNDES, com condições específicas para o segmento, prinanos com até três anos de carência e juros de 4,12% ao ano. cipalmente o setor hoteleiro, e prazos diferenciados. “Na linha Criada pelo Banco do Brasil (BB), em 2012, a linha de FCO – Empresarial Turismo, o crescimento foi de aproximacrédito FAT Turismo apoia financeiramente as micro e damente 37,6% de janeiro a novembro de 2013, em relação ao pequenas empresas no desenvolvimento de projetos relacimesmo período de 2012, com mais de 190 milhões em contraonados aos grandes eventos esportivos promovidos no Bratações. Em 2013, o BB se mantém líder no repasse em linhas sil: Copa das Confederações em 2013 e Copa do Mundo com recursos do BNDES, segundo ranking divulgado pelo FIFA em 2014. próprio BNDES em outubro do ano passado, e as disponibiliCom recursos do FAT, a linha atende as empresas com fatuzamos em condições atrativas para o setor hoteleiro, com praramento bruto anual de até R$ 25 milhões. Com a referência zos de até 18 anos”, comemora Gisele. sendo a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais 4,5% ao RUMOS - 35 – Janeiro/Fevereiro 2014


REPORTAGEM

TURISMO

Aviação Civil e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Na primeira reunião, o presidente da Embratur, Flávio Dino, sugeriu o estabelecimento de um teto tarifário pelas companhias aéreas para o mundial de futebol. Na segunda reunião, as quatro maiores companhias – TAM, GOL, Azul e Avianca – não receberam bem a proposta. Mas, segundo Neto, algumas já adotaram um teto para os preços e outras resistem. “O Comitê também determinou que as companhias aéreas deveriam fixar em seus sites, até o final de janeiro, os preços e as tarifas finais para a Copa. Esse também foi o prazo para que elas solicitassem autorização para novos voos”, comenta. Ele explica que, em relação aos hotéis, a situação é mais complexa porque o setor fechou um acordo com a Match, agência oficial da Fifa, para a venda de quartos com antecedência de um ano, e a empresa aplicou uma taxação de 40%. Trata-se de uma sobretaxa que acaba criando uma inflação na hotelaria. Em reunião com os empresários do setor no Rio de Janeiro, em meados de janeiro, foi solicitado que esses valores não sejam praticados com o turista nacional. A ação é coordenada pela Secretaria Nacional de Defesa dos Direitos do Consumidor do Ministério da Justiça, e conta com a participação do MTur, dos Procons estatuais, da Embratur e das secretarias estaduais de turismo. “Estamos indo a todas as cidades-sede da Copa para sensibilizar o setor hoteleiro”, diz Neto. A Embratur também vem trabalhando nos principais países emissores de turistas para o Brasil, a fim de potencializar

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Fernando de Noronha atrai visitantes de todo o mundo, mas o acesso à ilha é controlado para fins de preservação ambiental.

o turismo internacional. E vem visitando os países que não são emissores para que eles passem a considerar o Brasil como destino. Em 2013, 14 países receberam representantes das 12 cidades-sede da Copa. Em 2014, foram programadas as rodadas do Programa Go to Brazil em Londres, Santiago, Buenos Aires e Paris que deverão ocorrer até abril. Mas, segundo Neto, o foco é no turismo intrarregional. “O Brasil representa 1% do turismo mundial e ainda é um destino caro. Nossa estratégia é gastar mais com a promoção com os países da América Latina e os Estados Unidos (EUA), que, aliás, é o segundo maior emissor de turistas ao Brasil, atrás apenas da Argentina. A China é um mercado consumidor enorme para os produtos brasileiros, mas, no turismo, a distância e o

DESEMBOLSOS DO BNDES PARA SETORES LIGADOS AO TURISMO ENTRE 2009 E 2013* (EM R$ CORRENTE) SETORES/ANO Hotéis Locação de Automóveis (sem condutor) Restaurantes, Bares e Similares Agência de Viagens Restauração e Conservação de Prédios e Lugares Históricos Produção de Espetáculos de Dança, Teatro, Circo, Rodeios, Vaquejadas e Outros

2009

2010

2011

2012

2013*

2009-2013*

70.147.161 115.040.349 222.136.379 245.391.390 375.715.353 1.028.430.632 192.280.580 149.286.705 211.890.194 215.788.275 223.469.607 992.715.362 66.740.308 112.979.219 191.529.989 258.792.461 215.213.595 845.255.572 27.780.310 50.486.887 51.499.096 74.131.965 82.683.312 286.581.570 23.265.699

30.975.288

37.792.037

28.628.822

12.060.883

132.722.730

2.275.339

6.966.644 12.959.360

15.369.137

12.648.265

50.218.745

6.546.260

8.117.565

10.104.649

12.943.435

4.830.386

42.542.295

7.514.936

4.531.086

4.776.771

4.971.933

11.006.118

32.800.845

13.109.750 Parques de Diversão e Parques Temáticos Atividades de Jardins Botânicos, Zoológicos, Parques 12.543 Nacionais, Reservas e Áreas de Proteção Ambiental Gestão de Espaço para Espetáculos de Teatro e Outras Atividades Artísticas 149.415 48.617 Campings 54.848 Albergues (exceto assistenciais)

1.431.771

2.541.176

9.597.816

6.455.612

33.136.126

2.979.800

2.269.155

6.586.598

3.892.646

15.740.742

47.706 67.342 115.464

44.981 301.002 429.106

8.033.481 530.326 159.546

5.060.833 569.102 166.756

13.336.415 1.516.389 925.720

Atividades de Museus e Prédios e Lugares Históricos Operadores Turísticos, Serviços de Reserva e Outros Serviços Turísticos

*Os dados referentes ao ano de 2013 são somente até outubro/2013, inclusive. Fonte: BNDES

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custo talvez não compensem. Assim, estamos nos aproximando dos irmãos da região. Abrimos três escritórios nos EUA e vários na América Latina”, informa Neto.

des-sede da Copa brigaram para ter jogos do Brasil, nós preferimos brigar para ter o Centro de Mídia, que vai reunir a imprensa do mundo inteiro. Teremos a oportunidade de promover eventos com esses jornalistas para mostrar a cidade e suas atrações”, diz Antonio Pedro. Ronald Ázaro, secretário de Turismo do estado do Rio de Janeiro, observa que todas as cidades que sediaram olimpíadas experimentaram um boom de turismo e depois sofreram um decréscimo. Mas, a partir de ações e políticas públicas, o turismo voltou a crescer. E é essa conjuntura que está sendo levada em conta no planejamento do governo. Ázaro diz que a secretaria estadual de turismo foca na interiorização por meio de três linhas de atuação: qualificação do trabalhador e dos empregadores, infraestrutura e promoção. Ele informa que o Programa de Desenvolvimento do Turismo, elabora-

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Rede hoteleira – Cartão-postal do Brasil no exterior, a cidade do Rio de Janeiro também vem batendo recordes de atração de turistas estrangeiros e se preparando para aproveitar o bom momento que a cidade experimenta. Segundo Antonio Pedro Figueira de Mello, secretário municipal de turismo do Rio de Janeiro, a cidade, praticamente, não tem mais baixa temporada. “Na temporada de verão, estamos estimando que venham para a cidade 3,2 mil turistas, que deverão gerar receitas de US$ 2,363 bilhões. Somente com o carnaval, são esperados 920 mil turistas, que gastarão aqui US$ 734 milhões”, comemora Antonio Pedro. Os investimentos públicos passam pelos projetos na cidade como um todo, com novos empreendimentos – como o Porto Maravilha, o Museu de Arte do Rio –, novos equipamentos culturais e eventos o ano inteiro. “Para a cidade ser boa para o turista, tem de ser boa para o cidadão carioca primeiro. Estamos controlando os preços para coibir os abusos, só que, com o aumento da demanda, não podemos interferir nos valores. Mas o que procuramos mostrar é que o governo está de olho. Então, iniciativas como o Movimento Surreal, atitude espontânea da população para fiscalizar e boicotar quem está extrapolando nos preços, são boas para a cidade e para a cidadania”, diz o secretário. Na área de hotelaria, o objetivo foi aumentar a concorrência atraindo novos A orla de Fortaleza é um dos pontos mais visitados do Nordeste, que também empreendimentos. O Rio de Janeiro conta receberá turistas na Copa do Mundo. com 24 mil quartos, e nas Olimpíadas esse número saltará para 42 mil unidades, ultrado em parceria com o MTur, está investindo, de 2013 a 2017, passando a meta do Comitê Olímpico. Segundo Alfredo R$ 187 bilhões, sendo que 60% são financiados pelo Banco Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Interamericano de Desenvolvimento (BID) e 40% vêm de Hotéis, seção Rio de Janeiro (ABIH-RJ), haverá, de 2009 a recursos dos governos estadual e federal. 2016, um crescimento de 48% na rede hoteleira. Hoje o esta“O Brasil conta com 65 municípios eleitos como priorido conta com 31 mil quartos, e, até as Olimpíadas, serão mais tários do programa. Desses, cinco estão no estado do Rio: 12,5 mil unidades. Os investimentos somarão mais de R$ 1 capital, Angra dos Reis, Paraty, Búzios e Petrópolis. São munibilhão entre 2013 e 2016. Outro dado animador é a chegada e cípios irradiadores para seis regiões turísticas que somam a ampliação das grandes redes hoteleiras, o que deve trazer outros 40 municípios. E o estado conta com 12 polos turísticompetição com redução de preços e melhoria da qualidade. cos”, diz o secretário. O estado também mantém ações para “Hoje os hotéis estão com 70% de ocupação e na Copa atração do turista estrangeiro com foco na América Latina. estarão com lotação esgotada. Mas hotel é um negócio que “Com a Argentina em dificuldade, o Uruguai tem surpredepende de políticas públicas e de promoção. É necessário endido, e estamos fazendo um trabalho forte no Peru, na que, após os eventos, haja políticas de atração de manutenColômbia e nos EUA. Portugal, apesar da crise, é um hub com ção do fluxo de turistas”, adverte Lopes. a Europa. A companhia de aviação portuguesa faz mais de 60 Antonio Pedro diz que a secretaria do turismo do municívoos para o Brasil por mês. Também estamos buscando o pio tem procurado promover um calendário permanente de emissor asiático com uma atuação forte em Hong Kong, por eventos como o Rock in Rio, o Campeonato de Surf e o Arte meio de reuniões com agências de viagens e outros setores Rio, sem falar nos eventos corporativos. E também tem parlocais. Nosso foco é o turismo regional, mas não podemos ticipado de feiras e eventos internacionais com a Embratur abandonar esses mercados”, diz o secretário. n para vender a cidade no exterior. “Enquanto as demais cidaRUMOS - 37– Janeiro/Fevereiro 2014


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ECONOMIA

EXEMPLO

Acervo Pessoal

O Green Investment e o Desenvolvimento Eduardo Grijó

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ssa seção destina-se a apresentar o sistema de fomento de diferentes países, como funcionam e qual o seu papel no desenvolvimento econômico das nações. Os artigos que serão expostos pretendem caracterizar os principais exemplos de instituições financeiras de desenvolvimento no mundo, para, com base nessas informações, traçarmos um paralelo com o Sistema Nacional de Fomento. Esse é um canal aberto de comunicação entre nossos leitores e a revista Rumos. Este primeiro artigo foi escrito por Eduardo Grijó, economista, mestre em Economia do Desenvolvimento e doutor em Ciências Humanas. Ele atua como analista de projetos do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e é coordenador do Programa Setorial Reciclagem e Despoluição da Política Industrial do governo do estado do Rio Grande do Sul. O texto é sobre o Green Investment [investimento verde, em uma tradução literal] e o Desenvolvimento, com a apresentação da experiência do banco UK Green Investment Bank (GIB), sediado na Inglaterra. Fernanda Feil, economista e gerente de Estudos Econômicos da ABDE

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ratar do fomento produtivo não é coisa trivial. Infelizmente não ocorre como nos modelos econômicos mais elegantes, em que a matriz de preços em um mercado disposto à livre ação dos agentes econômicos conduz ao melhor dos mundos. Hoje temos razões de sobra, tanto históricas quanto teóricas, que nos conduzem à convicção de que o desejo por um mundo melhor não prescinde de decisão consciente: em primeiro lugar de saber que mundo é este; e, em segundo, identificar quais são os caminhos e os instrumentos mais adequados para prossegui-lo. Desenvolvimento já foi confundido com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas naqueles tempos as restrições de ordem social e ambiental ainda não estavam claras para os economistas. Foi dado um passo importante para as economias periféricas. A aposta no âmbito dos modelos e das políticas econômicas desenvolvimentistas punha as questões sociais como “a reboque” das mudanças estruturais no processo de acumulação de capital. Quanto à questão ambiental, esta nunca esteve seriamente pautada – a não ser pelo movimento ambientalista – e hoje emerge como uma restrição importante não apenas para o crescimento econômico, mas para toda a vida no planeta. Todo o processo histórico deve nos trazer lições; neste caso, creio que o mais importante seja reconhecer o êxito dos instrumentos para o crescimento econômico dispostos e das

políticas desenvolvimentistas, naquilo que toca aos seus objetivos mais imediatos – nisso estávamos certos. Mas passa também pelo reconhecimento de que o crescimento não implica necessariamente em desenvolvimento –, no que estávamos errados. Das amplas questões que emergem deste desconforto, o adjetivo “sustentabilidade” pretende sintetizar elementos importantes para o desenvolvimento sob as óticas econômica, social e ambiental. Se hoje compreendemos que o desenvolvimento a ser perseguido já não é mais o mesmo, talvez seja necessário refletir um pouco sobre a adequação necessária das instituições e políticas de que dispomos até o presente. Continuar a história de êxito do Sistema Nacional de Fomento implica, portanto, em criar novas competências, especializar-se em novos produtos, prestar atenção ao novo que nos induz ao futuro de maior prosperidade, discutir e nos convencer de quais são os caminhos viáveis de uma produção mais limpa, que desafios isso implica ao investimento privado e ao fomento público. Alguns países parecem mais adiantados nesta reflexão. Nossa tarefa neste pequeno espaço será fazer um relato do UK Green Investment Bank (GIB), sediado na Inglaterra. O GIB é um banco de desenvolvimento constituído em maio de 2012, tendo entrado oficialmente em operação em outubro daquele ano. Possui funding público de três bilhões de libras, algo próximo de R$ 11,5 bilhões, a serem aplicados exclusivamente em projetos de inovação e de eficiência ambi-

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ental. Não serão indústrias ou setores ao acaso, o crédito orientado decorre de estudos técnicos que focam os níveis de emissão de gases do efeito estufa na atmosfera e a carência de recursos para investimentos no mercado privado. De um modo muito geral, o GIB foi constituído para colaborar com o atendimento dos objetivos do protocolo de Kyoto e outros regulamentos locais. As metas incluem a redução de 24% da emissão de gases do efeito estufa em 2020, e pelo menos 80% em 2050; a ampliação da participação da geração de energia oriunda de “fontes verdes” para 15%; a redução da disposição de resíduos sólidos em aterros sanitários e a ampliação de sua reintrodução no ciclo produtivo. Os recursos serão destinados na proporção de 80% para os setores prioritários, casos em que se avalia que, no atual estado de financiamento do setor, exista um elevado risco de que a taxa de investimento necessária para o atendimento dos objetivos não seja alcançada. São prioritários: A energia eólica fora da costa (offshore wind) trata de parques eólicos no mar. O setor elétrico do Reino Unido é a maior fonte singular de emissões de CO², responsável por 27% do total geral. Espera-se que a força dos ventos em mar aberto venha a ser mais intensamente aproveitada de modo a passar do atual nível de geração elétrica de 3 GigaWatt (GW) para 18GW em 2020. A eficiência energética é o coração de uma economia de baixo carbono. Medidas que operem no lado da demanda reduzem o consumo energético e contribuem em muito para os objetivos de redução das emissões de gases do efeito estufa. Os atrativos da eficiência energética para a economia são muitos: redução de custos de produção; redução na necessidade de geração; redução da emissão de CO²; além de não comprometer subsídios governamentais com incentivos orientados à oferta. As prioridades do GIB se estendem a projetos de resíduos e geração de bioenergia, uma vez que o governo vem estabelecendo uma série de metas em relação à taxa de reciclagem de resíduos domésticos e alternativas para a disposição em aterros sanitários. Outros setores como biocombustível para transporte, biomassa, captura e armazenagem de carbono, energia das marés e fontes renováveis de calor contarão com até 20% dos recursos disponíveis. O objetivo do GIB é duplo: obter impacto significativo em direção a uma economia verde e ter retorno financeiro. Não há conflito nestes dois objetivos, pois um banco, mesmo do sistema público, precisa ser uma instituição forte e regulada como a experiência recente do sistema financeiro internacional pode demonstrar. Sabe-se, contudo, que os recursos do GIB não serão suficientes, e que serão exigidos investimentos multibilionários para o financiamento necessário. Deste modo, o papel do banco é atuar como catalisador e acelerador do investimento privado verde. Isso será feito na medida em que a instituição busca atuar em conjunto com capitais privados, incentivando-os a investir ou emprestar recursos. Em termos operacionais, o GIB funciona mediante deci-

sões colegiadas de nível técnico. Todo o projeto de investimento sofrerá a avaliação de um comitê quanto aos aspectos do (i) retorno financeiro, (ii) impacto para os objetivos de uma economia verde, e (iii) sua capacidade de mobilizar capital privado. Para definir um marco de referência adequado de avaliação e gerir o impacto verde de todas as operações de investimento, foram estabelecidos sete princípios: (1) contribuição positiva a um propósito verde reconhecido; (2) redução global da emissão de gases do efeito estufa; (3) impacto verde perene; (4) critério claro de investimento; (5) avaliação robusta do impacto verde; (6) cláusulas restritivas eficazes, monitoramento e engajamento; e (7) relatório transparente. Os “propósitos verdes reconhecidos” são: (i) a redução de emissão de gases do efeito estufa, (ii) o aumento da eficiência no uso de recursos naturais, (iii) a proteção ao ambiente natural, (iv) o aumento da biodiversidade e promoção da sustentabilidade ambiental. Cada projeto financiado deve atingir pelo menos um destes propósitos. Estes impactos serão avaliados de todo o ciclo do projeto: acesso, monitoramento e relatório. Que lições podemos tirar do UK Green Investment Bank? É bem certo que o GIB não será, sozinho, o único instrumento do desenvolvimento sustentável; mas certamente terá muito a contribuir com o futuro de uma economia mais limpa e, portanto, para com o desenvolvimento do Reino Unido. No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) dispõe uma regulação eficiente ao setor produtivo e público, e para isso prevê a disponibilidade de instrumentos adequados de fomento creditício e fiscal. As demais instituições, entretanto, ainda não estão adequadas para esta disponibilidade. O Sistema Nacional de Fomento, embora forte, ainda necessita avançar muito em estudos e na construção de instrumentos e especialização capazes de promover o investimento ambiental-eficiente necessário à eficácia da PNRS. A lição que podemos tirar deste exemplo inglês é de trabalho técnico, escopo definido e especialização. A especialização se estende desde a compreensão e avaliação de objetivos, de projetos e tecnologias, sob o aspecto econômico e financeiro, até o acompanhamento dos benefícios efetivos ao meio ambiente. A sustentabilidade deve ser encarada como prioridade em todas as políticas de incentivo produtivo e de inovação, incluindo a política de concessão de crédito e funding público. O foco de atuação deve respeitar as soluções locais, em especial no que toca às micro, pequenas e médias empresas, com forte apoio à inovação. Urge a necessidade de um fórum constituído por governo e agentes privados para a discussão qualificada e encaminhamento de ações e projetos para uma economia mais limpa. Uma organização como esta pode ser um forte elemento institucional de construção de condições favoráveis para o ambiente de mercado privado que supere as incertezas de um amplo espectro de soluções e oportunidades disponíveis e ainda não estabelecidas em mercado. n

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ENTREVISTA

Luiz Gonzaga Belluzzo

Por Jader Moraes e Thais Sena Schettino

Panorama

Ajustes no caminho Luiz Gonzaga Belluzzo defende que governo federal dê ênfase à política fiscal para reagir à crise e às mudanças monetárias internacionais; economista acredita no papel dos bancos públicos como imprescindíveis para que o Estado coordene os investimentos para o desenvolvimento econômico do país. Confira!

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umos – O senhor tem dito que “o mundo anda meio confuso”, vivendo ainda as incertezas da crise iniciada em 2007. Contudo, nos últimos meses a economia norte-americana deu sinais de recuperação, com desdobramentos para todas as demais regiões. Olhando este cenário, o que podemos esperar de 2014 e qual o prognóstico desse ano para a economia mundial? Luiz Gonzaga Belluzzo – Este 2014 se inicia de uma maneira muito mais difícil do que eu imaginava por conta da mudança na política monetária dos Estados Unidos (EUA). Se formos olhar rapidamente para tentar traçar um painel de tudo que aconteceu dos anos da crise até hoje, ou até um pouco antes, em que tivemos nos anos 2000 um momento de grande abundância de capitais, acompanhando as bolhas de ativos que surgiram por conta de vários fatores, tudo isso permitiu mais alavancagem, mais liquidez e uma inflação de ativos; ao mesmo tempo puxou o preço das commodities, em boa parte determinado pela demanda chinesa, mas também, em parte, pelo fato de que os mercados começaram a fazer oposições altíssimas às commodities. Há vários estudos que mostram convergência desses dois fenômenos. E o Brasil se beneficiou muito disso: o crescimento, sobretudo a partir de 2004, teve muito a ver com essas circunstâncias. A economia brasileira deu um salto em termos de poder de compra, de salários, de inserção das camadas menos favorecidas, da mobilidade social, com grande mudança na composição do

emprego e da renda nesse período. Tem uma inflação, mas essa inflação também reflete uma mudança na renda, fundamentalmente na renda e no emprego dos menos qualificados. E isso foi contaminando a economia toda para cima. Em 2008, o país reagiu bem à crise, conseguiu se salvar, saltar rapidamente para outro período de crescimento, mas isso tudo foi perdendo força. Hoje, a questão central são os riscos de uma mudança de orientação, de rumo na política monetária norte-americana. É preciso entender com clareza esse ponto, porque senão não conseguiremos dar conta do conjunto de efeitos e contraefeitos que isso provoca. Essa questão monetária internacional é muito importante para se entender o que está acontecendo agora e quais são as possibilidades de reação e de ajustamento dos países se não quiserem fazer uma coisa drástica em suas economias. Temos que pensar: a recuperação da economia dos EUA é boa para a economia mundial? É. A China sofreu muito pouco com esse anúncio e mesmo com essas medidas que o governo americano tomou. O que é que aconteceu com a moeda dos outros emergentes? Todas se desvalorizaram: umas mais, outras menos. O acontece é que independentemente da situação fiscal e do balanço de pagamento dos países, todos eles vão sofrer de alguma forma. Qual é a vulnerabilidade do Brasil? É o déficit em conta corrente, que está em 3,7% do PIB, mas não é assustador. A vantagem é que o país tem como se defender, ele tem 375 bilhões de dólares de reservas, o que é uma coisa inédita.

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Valter Campanato / ABr

Um dos mais conceituados economistas do país, Belluzzo tem sido referência para diferentes governantes na formulação de políticas públicas para o Brasil.

Rumos – O que o Brasil precisa fazer para superar essas dificuldades e reagir a esse cenário que o senhor apontou? Belluzzo – O Brasil está recebendo essa crise numa posição muito melhor do que as outras que ele sofreu. Mas, do ponto de vista doméstico, o que está em jogo é qual é a combinação de política fiscal e monetária que se pode ajustar para enfrentar a crise. Na minha modesta opinião, o Brasil devia fazer um esforço maior na área fiscal para não colocar muito peso na taxa de juros e, ao mesmo tempo, conseguir liberar um pouco a Petrobras desse jogo a que ela está submetida e que está reduzindo o ritmo de investimentos dela. De qualquer maneira, vamos ter que levar esse ano de 2014 de uma maneira muito cautelosa, porque de um lado temos esse problema do avanço do déficit em conta corrente e, de outro lado, existe a questão de um alinhamento da situação fiscal com a taxa de juros. A pior solução seria sobreutilizar a política monetária, sobreutilizar os juros, porque isso pega na dívida pública e torna, na verdade, as taxas internas de retorno mais baixas. Imagino que vamos ter um crescimento de 2,5 a 3%, o que vai ser suficiente para sustentar o nível de emprego atual, desde que consigamos ajeitar melhor a política fiscal. Rumos – E como o senhor avalia a reação do governo brasileiro até o momento diante dessas mudanças na política monetária norte-americana estadunidense? Belluzzo – O que estamos vendo até agora são escaramuças,

o governo está prometendo colocar ênfase na política fiscal, até para abrandar um pouco esse peso que está descarregado sobre a política monetária. Isso é importante, até para você tornar atrativos os investimentos privados nas concessões, e, é claro, que não vai poder prescindir do trabalho dos bancos públicos. Nisso o Brasil tem uma vantagem: os bancos públicos têm condições de financiar tanto no capital de giro de curto prazo, quanto no longo prazo com o BNDES. E simultaneamente fazer com que a taxa de câmbio vá deslizando devagar para dar mais competitividade à indústria. Por exemplo, R$2,40, não é ainda o nível ideal do câmbio. Ninguém sabe qual é. Aliás, as pessoas chutam. Mas o Brasil tem uma vantagem, pois pode continuar obtendo ganhos no mercado interno com um desequilíbrio menor nas importações e nos saldos da balança de pagamento. Rumos – O senhor acredita que é possível, neste que é um ano atípico, com um conjunto grande de eventos e atividades que vão mobilizar o país, promover um ajuste fiscal sem prejuízos políticos ao governo junto à população? Belluzzo – O crucial é manter a inflação sob controle. E falo do ponto de vista do sentimento popular de curto prazo. Inflação controlada e manutenção no nível de emprego. Fatores que não são incompatíveis com um ajuste fiscal. Há o risco de ter um superávit primário um pouquinho mais alto, mas não incompatível. Isso pode ser feito desde que o inves-

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ENTREVISTA

Luiz Gonzaga Belluzzo

timento privado puxe a fila. Como na infraestrutura, nas concessões. O governo deve funcionar mais como coordenador do que como gastador; coordenador e financiador, porque os bancos públicos dispõem de capacidade de financiar e o gasto orçamentário de fato vai ter uma participação relativamente pequena. Há que se cuidar com muito esmero do reposicionamento da Petrobras como grande investidora que ela é. Ela tem, para esses investimentos do pré-sal, uma importância enorme porque eles podem se difundir bastante pela indústria brasileira. Os setores que são fornecedores das Petrobras estão numa situação um pouco difícil e é preciso tratar dessa questão.

cima. Assim, a indústria teve que aceitar esse custo salarial mais alto, ao mesmo tempo que foi perdendo no mercado a capacidade competitiva vis-à-vis com os produtores estrangeiros. Logo, abriu-se um “boqueirão”, um déficit externo da indústria. Os setores de alta tecnologia, alta e média tecnologia, sofreram muito, os protegidos foram aqueles que receberam incentivos do governo: automobilística e máquinas e equipamentos. Então, a situação da indústria é difícil mesmo. Até porque a competição é com países onde os salários estão subindo. E não é só a China: é Vietnã, é Bangladesh, é todo o espaço coordenado pelo iuane, que é a economia “chino-asiática'”, e não só chinesa.

“O governo deve funcionar mais como coordenador do que como gastador; coordenador e financiador, porque os bancos públicos dispõem de capacidade de financiar.”

Rumos – Os bancos públicos, que o senhor tem citado em suas respostas, com as agências de fomento estaduais formam o Sistema Nacional de fomento, que hoje é responsável por mais da metade da oferta de crédito no país. Qual o papel que o senhor enxerga do sistema de fomento nesse processo de desenvolvimento do país? Belluzzo – Na hipótese que desenho, o papel dos bancos públicos vai continuar sendo muito importante. O Brasil tem uma situação peculiar, porque é o único país na América Latina que tem o sistema de bancos públicos preservado. Quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, fez o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer) e recebeu muitas críticas, eu fui uma das poucas vozes que disse que o Fernando Henrique estava certo, que teria que proteger o sistema bancário brasileiro. E ele foi preservado, inclusive os fundos, da devastação provocada pela crise financeira. Não entramos neste jogo, mantivemos o papel do sistema de crédito, fato que foi muito importante para o Brasil poder avançar a despeito desse encolhimento, dessa situação da indústria. Essa é a diferença nossa em relação aos demais países da América Latina. Rumos – Muito se fala que o modelo de crescimento brasileiro está amparado no consumo. O país teve uma valorização real do salário mínimo e ampliou suas políticas de transferência de renda, mas alguns analistas afirmam que esse modelo também implica em custos econômicos, com o desestímulo à indústria. Tais colocações procedem? Belluzzo – Essa discussão é um tema clássico na história do capitalismo e em todos os seus momentos históricos. Se deixarmos o salário real se valorizar demais em termos calculados em uma moeda internacional, existem duas pressões ao mesmo tempo: a competitiva externa esmagando por cima e os salários pressionando por baixo, porque o salário é custo e ao mesmo tempo demanda. O que aconteceu é que, como a economia cresceu em cima da expansão do setor de serviço, foi a dinâmica desse setor que puxou os salários para

Rumos – Ainda pensando nas perspectivas para 2014, qual deve ser a pauta econômica e as prioridades estratégicas para o país nos próximos anos? Belluzzo – Vamos pular o curto prazo. Já que a revista chama-se Rumos, quero falar sobre temas que me preocupam. Primeiro, é uma crise energética brasileira, que precisa avançar na direção das energias renováveis, a despeito da nossa aventura no pré-sal – que é para gerar divisas e aprimorar o que precisa ser melhorado. O nosso financiamento à inovação está quase que restrito à Finep [Agência Brasileira da Inovação] e não há como dar o salto, mesmo mudando a taxa de câmbio, pois o que está se configurando no longo prazo é uma mudança tecnológica de grandes proporções, que pode provocar uma subversão parecida com a promovida pela Revolução Industrial. É a culminância da terceira Revolução Industrial, passando por outra etapa mais avançada da automação, dos robôs, da inteligência artificial e, portanto, dos produtos que respondem à mudança do ambiente, e não é só da impressora 3-D. Isso tudo vai atingir a maneira de produzir, assim como a Revolução Industrial atingiu. Será um verdadeiro terremoto do ponto de vista da estrutura do emprego e da formação da renda. Ou seja, se as mudanças acontecerem sem uma coordenação pública do Estado, certamente será produzido um grau de desequilíbrio maior do que se produziu com a Revolução Industrial. As pessoas não têm ideia do que foram as mudanças sociais nessa revolução, com, nos primeiros anos, uma urbanização violentíssima, a desproteção das pessoas que foram para as cidades. O que eu tenho lido é que serão mais de 700 profissões que vão ser extintas nessas mudanças. Portanto, é preciso prestar atenção muito na tecnologia, se quisermos manter nossa capacidade industrial e nos manter como país relativamente industrializado. Essa mudança exige um salto na educação brasileira e na cultura: necessitaremos de um esforço para capacitar as pessoas para que elas possam acompanhar as transformações, ainda que saibamos n que não será possível absorver todo mundo.

RUMOS - 42 – Janeiro/Fevereiro 2014


DIGITAL Leia a revista e consulte as edições passadas. Saiba mais sobre o desenvolvimento do país.

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EM DIA CENÁRIO

2014: mais do mesmo Divulgação

Luis Paulo Rosenberg e Thaís Marzola Zara* Economista, mestre e PhD. em economia pela Vanderbilt University. Consultor Sênior da Rosenberg Associados e VP do Sport Club Corinthians.* Economista-chefe da Rosenberg Associados desde 2005, mestre em Economia e em Teoria Econômica pela USP.

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oucas vezes o sentimento político determinou tanto o ambiente econômico quanto agora. Pelo menos nos centros formadores de opinião do Brasil, como se percebe claramente nos principais jornais, a descrença na capacidade do governo de fazer uma política econômica tida como séria é geral entre empresários, intelectuais e economistas. Sem entrar no mérito se tal rechaço à presidente é justificado ou não, o insólito é que este sentimento tenha contaminado a objetividade da avaliação do quadro conjuntural por empresários e economistas, de modo que o desconforto com a situação econômica do país é maior do que no início da década de 1980, quando fomos à falência. Mas é fato que os indicadores macroeconômicos não indicam tanto descontrole: - a economia está em rota de crescimento de 2 a 2,5%, com pleno emprego, queda de endividamento e inadimplência; a inflação tangenciando o limite superior da banda, mas regredindo (principalmente nos livres, o que é mais importante) e ninguém duvida que o Banco Central esteja focado no seu combate, tendo colocado os juros reais nos níveis mais altos do mundo (caminho em que deve prosseguir, ao menos, nas próximas duas reuniões); - a balança comercial zerou e o ingresso de capitais de risco não foi suficiente para cobrir o déficit em transações correntes, mas com a entrada de financiamentos, estamos mantendo nossas reservas internacionais no mais alto nível da nossa história. - o investimento privado vem crescendo e os bemsucedidos leilões de infraestrutura do ano passado (mais os previstos para este ano) descortinam uma aceleração desta tendência, eliminando pontos de estrangulamento e diminuindo o custo Brasil no médio prazo; - as receitas correntes governamentais pouco superaram as despesas, mas a venda de ativos permitiu-nos ficar num déficit total de menos de 3,5 % do Produto Interno Bruto (PIB) – um número civilizado – e ainda diminuir a dívida pública líquida, com colaboração adicional da depreciação cambial; - no quadro institucional, a aprovação da privatizante lei dos portos, o fim da sobretaxa sobre importações básicas, a coragem de alterar a taxa fixa de remuneração da poupança e o fim da aposentadoria integral para os servidores públicos são conquistas liberais que passam despercebidas. Este não é um panorama de uma nação desmoronando, de mãos dadas com a Argentina, muito menos uma companheira das frágeis Turquia, Indonésia, Rússia e que tais. Entretanto, quando a intransferível redução na injeção de liquidez pelo

Banco Central dos Estados Unidos (Fed) vai se concretizando, aos surtos psicóticos dos mercados junta-se o desânimo interno para derrubar a Bolsa, pressionar o câmbio e desestimular o investimento. Paradoxalmente, este negativismo em relação ao Brasil ocorre quando o quadro internacional apresenta-se no seu melhor, nos últimos cinco anos. Realmente, os Estados Unidos deixaram a recessão para trás, estão retomando um crescimento sustentável, ainda que abaixo de 3% ao ano, sem qualquer pressão inflacionária, mas já se posicionando para enfrentar a retirada da liquidez oceânica, gerada pela operação de salvamento deslanchada em 2008. Na Europa, a maioria dos países estão crescendo mais do que no ano anterior (especialmente os mais problemáticos), mesmo que alguns ainda com taxas negativas, mas as ameaças catastróficas, econômica e política, ficaram para trás. Japão vai bem, obrigado, e a incerteza permanece sobre a China, com seu hermetismo de governo autoritário. Indícios que vazam sinalizam que, mais preocupante do que o PIB crescer sete em vez de sete e meio por cento no ano seria um cenário de default bancário. Por tudo isto, não esperamos em 2014 grandes mudanças no quadro doméstico, que sejam provocadas por atitudes na condução da política econômica. Crescimento do PIB pouco maior do que 2%, inflação abaixo de 6%, mas por muito pouco, balança comercial zerada, mas sem perda ou ganho significativo de reservas. Lastreando este quadro, juros Selic próximos a 12%, câmbio no limiar de R$ 2,45/dólar (a menos de espasmos importados por ajustes na economia mundial) e déficit nominal de 4% do PIB. Um compromisso fiscal mais austero, crível, contribuiria para reduzir as fricções entre os investidores e o governo, melhorando o quadro econômico geral; no entanto, é muito improvável, dado o relativo engessamento do orçamento com as despesas extraordinárias e as receitas modestas. No fronte eleitoral, Dilma segue sendo a favorita, mas só o horário eleitoral conseguirá comprovar se o charme da dupla Campos-Marina, somado à organização partidária dos tucanos com Aécio, será capaz de encantar o eleitor. A verdade é que, se houver segundo turno, uma eleição que se vislumbra barbada pode-se tornar um pesadelo para o PT. Simetricamente, Alckmin transita por cenário semelhante: a força de seu partido e a identificação do paulista com sua retidão sem carisma podem ser derrotados por escândalos que remontam ao Governo Covas ou por uma apocalíptica falta d'água, cuja ameaça já é quase palpável. 2014, promete, portanto, ser um ano de mais do mesmo, com emoções adicionais trazidas pela Copa e pelas eleições. n

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A ABDE vai mudar. Aguarde!


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FOMENTO

Afeam realiza ações de crédito em municípios do interior amazonense

Fomento Paraná recebe Agência Francesa de Desenvolvimento Divulgação/Fomento Paraná

A Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), por meio de uma missão, finalizou os trabalhos no Brasil, que tinham como objetivo preparar um programa de financiamento para políticas públicas de gestão de resíduos sólidos nos municípios paranaenses, em parceria com a Agência de Fomento do Estado do Paraná (Fomento Paraná). O grupo teve uma série de reuniões técnicas com a equipe da agência para conhecer a instituição e também manteve contato com órgãos ligados à política ambiental do estado. O chefe de Projetos da AFD em Paris, David Fardel, que liderou a missão, disse que o grupo teve uma impressão muito positiva do trabalho realizado pela Fomento Paraná e da integração entre as equipes da Secretaria do Meio Ambiente, do Instituto das Águas, do Instituto Ambiental, da Sanepar e do Paranacidade, que estão envolvidas nos projetos e que integram o Comitê Gestor do Programa Paraná sem Lixões.

O Banco do Brasil (BB) registrou lucro líquido de R$ 15,8 bilhões no ano passado, valor superior aos ganhos em 2012, de R$ 12,2 bilhões. No quarto trimestre, o banco registrou ganhos de R$ 3 bilhões. Os resultados revelam um desempenho recorde na história do Sistema Financeiro Nacional (SFN). O saldo de crédito concedido às empresas encerrou dezembro com R$ 323,2 bilhões, crescimento de 19,5% em 12 meses e 6,2% em relação ao trimestre anterior. O banco também ampliou a sua liderança no agronegócio, atingindo 66,1%, conforme os dados do Sistema Nacional de Crédito Rural. O financiamento a esse segmento encerrou 2013 em R$ 144,8 bilhões. O montante é 34,1% maior do que o registrado no mesmo período de 2012. Na safra 2013/2014, os desembolsos efetuados já somam R$ 42,3 bilhões e são 27,2% superiores se comparados ao mesmo período da safra anterior. Divulgação/Afeam

Em fevereiro, a Agência de Fomento do Amazonas (Afeam), que completa 15 anos em 2014, iniciou ações itinerantes de crédito, que acontecerão ao longo deste ano nos 61 municípios do interior do Amazonas. O atendimento continuará na capital, simultaneamente às ações itinerantes. A dotação orçamentária para os municípios que ainda não possuem unidades descentralizadas é de R$ 23,390 milhões. Na primeira fase, a equipe técnica da Afeam irá percorrer as cidades da calha do Juruá: Guajará, Ipixuna, Envira, Eirunepé, Itamarati, Carauari e Juruá. Segundo o presidente da agência, Pedro Falabella, as feiras agropecuárias também estão incluídas na dotação orçamentária da instituição. “As feiras fazem parte do calendário cultural e de negócios do setor primário do estado e, neste ano, a Afeam não ficará de fora”, afirmou Falabella. O investimento previsto para as 12 feiras distribuídas em vários municípios do Amazonas é de R$ 6,260 milhões.

BB obtém melhor resultado da história do Sistema Financeiro

BRDE tem desempenho histórico em SC: R$ 1,259 bi em 2013 O vice-presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Neuto de Conto, destacou o crescimento do volume das operações realizadas pela equipe da agência de Santa Catarina e o acerto da abertura de escritórios em Chapecó e Joinville, promovido em 2013. Foram firCOMÉRCIO E SERVIÇOS madas 2.972 contratações 11% AGROPECUÁRIA 19% INFRAESTRUTURA (não incluídas as de microcré19% dito). Segundo os dados divulINDÚSTRIA gados, 86% dos contratos 51% (2.570) beneficiaram produtores rurais, micro e pequenos proprietários. O atendimento priorizado aos pequenos, com R$ 255 milhões investidos, deu-se principalmente através de convênios operacionais do banco com cooperativas de crédito catarinenses. Em sua atuação direta e através de 45 instituições conveniadas, o BRDE manteve operações em 90% dos municípios catarinenses. O diretor financeiro do banco, Renato Vianna, informou que os recursos aplicados pelo BRDE foram destinados em 51% para o setor da indústria, 19% para a infraestrutura, 19% para a agropecuária e 11% para o comércio e serviços. O desempenho operacional de Santa Catarina foi o que apresentou o maior crescimento, para contribuir com o do Paraná e o do Rio Grande do Sul para o resultado inédito alcançado pelo BRDE no âmbito da Região Sul, onde o banco atua. No total das três agências, foram R$ 3,751 bilhões contratados em 2013, contra os R$ 2,9 bilhões do ano anterior.

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Balanço da AGN aponta resultado de R$ 2,9 milhões em 2013

Desenvolve SP financiou 51% a mais para pequenas empresas no ano passado do que em 2012

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O esforço de recuperação de crédito, somado ao trabalho de captação de novos clientes e projetos, levou a Agência de Fomento do Rio Grande do Norte (AGN) a registrar um lucro líquido de cerca de R$ 2,9 milhões em seu balanço, relativo ao exercício de 2013. O diretor-presidente da instituição, João Augusto Cunha Melo, afirma que apresentar este saldo positivo é importante para qualquer instituição, já que ele retrata a saúde financeira da agência. “Este vigor financeiro é fundamental, entre outras coisas, para que possamos levar novos projetos de fomento adiante”, diz ele. No ano passado, por exemplo, cerca R$ 3,5 milhões de reais foram repactuados em financiamentos com parcelas atrasadas. Também pesaram os recursos advindos dos pagamentos das negociações fechadas com devedores cujos débitos já estavam lançados no prejuízo da AGN e que, após os entendimentos, optaram por liquidar completamente suas operações., somando R$ 1,5 milhão.

Empreendedores que pretendem aliar crescimento econômico à mitigação de impactos, preservação ou mesmo recuperação do meio ambiente podem contar com linhas de crédito diferenciadas no Banco do Nordeste (BNB). São cinco diferentes tipos de financiamento que podem ser contratados com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e da Secretaria do Tesouro Nacional (STN): FNE Verde e Pronaf ECO, Agroecologia, Floresta e Semiárido, esses últimos como modalidades especiais do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). As linhas preveem financiamento de projetos de uso sustentável de recursos florestais, recuperação ambiental e convivência com o semiárido, produção de base agroecológica, controle e prevenção da poluição e da degradação ambiental, energias renováveis e eficiência energética, tecnologias ambientais, armazenamento hídrico, sistemas agroflorestais, entre outros. “Trata-se de uma excelente oportunidade para o banco, e também para o cliente, de valorizar uma alternativa de crescimento econômico mais sustentável em um momento em que todo o planeta discute essa questão”, afirmou a gerente da Célula de Meio Ambiente, Inovação e Responsabilidade Social do BNB, Cássia Regina Xavier de Andrade.

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Banco do Nordeste disponibiliza linhas de crédito “verdes”

Os pequenos empresários de São Paulo investiram 51% a mais em seus negócios no ano passado do que em 2012. O balanço da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) indica que entre janeiro e dezembro de 2013 o segmento financiou R$ 100 milhões, contra R$ 66 milhões no ano anterior. Com isso, a participação das pequenas empresas no total emprestado pela agência no ano passado chegou a 28%, contra 17% em 2012. Para o presidente da instituição, Milton Luiz de Melo Santos, o crescimento dos financiamentos para as pequenas empresas indica, entre outros pontos, o amadurecimento do pequeno empresário paulista. “Historicamente, a pequena empresa não está acostumada a ter o nível de planejamento necessário para obter o financiamento de longo prazo, no entanto, os números mostram que isso está mudando. Nosso principal objetivo é o crescimento da economia paulista com foco na pequena empresa. O pequeno empreendedor vem demonstrando que está se organizando e se planejando para crescer com mais sustentabilidade”, diz Santos. O balanço dos financiamentos de 2013 registrou desembolso de R$ 362 milhões, alcançando o valor acumulado de R$ 1,2 bilhão desde a criação da agência, em 2009. Outro número importante foi o volume de crédito concedido para investimento que somado àqueles originados por políticas públicas do governo do estado chegaram a 91% do total. “O empresário paulista já vê a Desenvolve SP como uma instituição de fomento ao crescimento e não como um banco que empresta dinheiro para o dia a dia. Essa mudança de visão acaba por qualificar nossos financiamentos”, diz Milton Luiz de Melo Santos. Do total financiado pela Desenvolve SP em 2013, 37% foram investidos em projetos apoiados por políticas públicas estaduais, com juros praticados de 0% (zero) em muitos casos, subsidiados pelo governo estadual, como o Programa Renova SP, que está financiando a troca de caminhões velhos por novos na Baixada Santista. Até o momento, já foram entregues 35 caminhões, num total de R$ 8,4 milhões.

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MICRO E PEQUENAS

NOVO TEMPO

Por André Tennitz

Nas ondas da Seja no desenvolvimento dos novos produtos, na construção de inovadores modelos de negócio ou mesmo na relação com o consumidor, o uso de novas tecnologias altera a forma de atuação das micro, pequenas e médias empresas brasileiras

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Divulgação / Sebrae

desenvolvimento e a mente o dobro do aumento médio disseminação das tecnomundial, de 5,9%. Considerando os logias da informação e mercados mais relevantes, o avanço do comunicação (TIC) têm segmento no país ficou atrás apenas provocado um impacto do verificado na China, de 15%, imenso na sociedade. O segundo dados da International Data acesso à cultura, as formas de trabaCorporation (IDC). lhar, os relacionamentos interpessoais – tudo tem sido modificado pela Mudança qualitativa – Na avaliação utilização intensa de meios e dispositido diretor-técnico do Sebrae, Carlos vos eletrônicos e da internet. Os Alberto dos Santos, a profundidade e modelos e a maneira de fazer negócios o alcance da revolução digital a tornam também não escapam a essa onda de diferente das diversas ondas de momodernização tecnológica que, desde dernização tecnológica vividas anteria última década do século passado, ormente pela humanidade. Desta vez, vem ganhando velocidade cada vez observa, a mudança vai além da substimaior. tuição de trabalho humano ou dos As micro e pequenas empresas ganhos de produtividade, que caracteCarlos Alberto dos Santos, diretor-técnico (MPEs) também sofrem o impacto da rizaram todas as evoluções precedendo Sebrae nova realidade. Principal agente de tes. “Temos algo diferente, que está apoio ao desenvolvimento desse segmento empresarial, o mudando a própria vida em sociedade”, analisa. “No campo Sebrae vem aprimorando as estratégias para ajudá-lo a vencer dos negócios, as relações com clientes, fornecedores e poder esse desafio, seja apoiando os pequenos negócios produtores público ocorrem cada vez mais pela via eletrônica. Há uma de TIC, seja oferecendo condições para que as empresas de mudança qualitativa por meio de padrões tecnológicos que se ramos mais tradicionais tirem proveito do que o mundo espraiam continuamente. Por isso, fazer parte do mundo digital pode oferecer. Além disso, como agente de fomento, a digital está deixando de ser uma opção e se tornando uma própria instituição tem procurado se valer de novos instrunecessidade.” mentos e ferramentas digitais para dinamizar seu trabalho e Para as MPEs produtoras de TIC, o desenvolvimento da potencializar o atendimento aos clientes. tecnologia abre oportunidades de negócios e viabiliza o surgiO Brasil é um mercado promissor para os pequenos mento de novos produtos. As facilidades de informação e de negócios que se dedicam a produzir e oferecer serviços tecconhecimento do mundo digital diminuem as barreiras à nológicos. De acordo com a Associação Brasileira das entrada de novos empreendedores e potencializam a abertura Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação do mercado para inúmeros concorrentes. Assim, para um (Brasscom), o setor representa 5,2% do Produto Interno grande número de empresas de pequeno porte em atividade Bruto (PIB) nacional. Com o aumento do uso da tecnologia no país, os principais desafios são manter a competitividade e de forma transversal nas mais diversas atividades econômicontar com recursos humanos qualificados. cas, o mercado brasileiro de TI já é o sétimo do mundo. Em O Sebrae apoia o setor por meio de ações de capacitação, 2012, ele movimentou US$ 123 bilhões, fechando o ano com estímulo à inovação e acesso a mercados nos ramos de producrescimento de 10,8% na comparação com 2011, praticação de software e games. Além disso, promove a articulação RUMOS - 48 – Janeiro/Fevereiro 2014


Luiz Prado / ASN

tecnologia

O Sebrae atua no apoio aos produtores de tecnologia da informação e também na adaptação das empresas tradicionais à nova realidade. Na foto, o Campus Party, principal evento de tecnologia do país, também apoiado pela entidade.

institucional com entidades representativas do segmento. O objetivo é fomentar a melhoria de gestão e de processos, permitindo o desenvolvimento sustentável desses negócios. Ganhos de eficiência – Os empreendedores que se dedicam a ramos mais tradicionais da economia são grandes demandantes dos produtores de TIC. Mas também têm muito a ganhar com o uso de ferramentas tecnológicas ou a inclusão de seus negócios no mundo digital. Basta considerar os avanços de eficiência e qualidade proporcionados pela utilização de equipamentos e sistemas eletrônicos em atividades como controle de estoques, custos e processos. Ou perceber que, atualmente, a grande maioria das transações financeiras com o público são liquidadas por meio de cartões magnéticos – modalidade de pagamento que se desenvolveu muito no país, nos últimos anos, proporcionando aos

empreendedores maior segurança e facilidade no controle das vendas. Mas a disseminação das novas tecnologias vem provocando mudanças ainda mais significativas na maneira de fazer negócios. O comércio eletrônico, por exemplo, vem crescendo expressivamente no Brasil. Segundo a E-bit, empresa que reúne informações sobre o setor no país, as vendas por esse canal somaram R$ 28,8 bilhões em 2013, uma alta de 28% em relação ao ano anterior. O segmento de moda lidera o ranking. A inclusão digital das classes C e D, a expansão da tecnologia banda larga, sobretudo em dispositivos móveis, além do aumento da segurança nas transações comerciais pela internet são alguns dos motivos desse crescimento. Os números revelam a existência de um mercado que se expande a cada dia, oferecendo oportunidades a empreendedores de todos

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MICRO E PEQUENAS

NOVO TEMPO

os portes. “Para um pequeno varejista, por exemplo, o e-commerce abre a possibilidade de ter uma atuação regional, nacional, e até mesmo internacional – o que pode representar maior divulgação, ampliação do alcance da marca e incremento de vendas”, observa Hyrla Marianna Oliveira, coordenadora nacional de Comércio Eletrônico, da Unidade de Atendimento Coletivo – Comércio (UACC), do Sebrae. Dois mundos – Outra vantagem trazida pelo comércio eletrônico é que ele inverte a lógica tradicional de empreendimentos que precisam montar estoques de produtos, cujo preço vai se ajustando conforme a demanda. Em uma loja virtual não há necessidade de armazenar grande quantidade de mercadorias, que podem ser encomendadas aos fabricantes à medida que as vendas se realizam. Nesse modelo, os custos de formação de estoques, de capital de giro e de montagem de instalações diminuem consideravelmente, o que favorece e a rentabilidade do negócio. “Os impactos sobre a atividade são enormes, com expressivos ganhos de eficiência”, afirma o diretor do Sebrae. Ele observa, porém, que o comércio eletrônico não representa a eliminação completa do modelo tradicional. “Muitos

empreendedores de e-commerce sentem a necessidade de manter uma loja física, ao menos para efeito de demonstração de seus produtos. E o contrário também acontece. Acredito que vamos conviver durante muito tempo com esses dois mundos diferentes”, acrescenta. Desde que explorado corretamente, portanto, o comércio eletrônico é uma ferramenta promissora para os pequenos negócios. Mas é preciso entender a natureza dos novos modelos tecnológicos. “É muito importante entender as diferenças entre o mundo real e o digital e, consequentemente, atender as expectativas do novo cliente virtual. É fundamental lidar bem com a dinâmica da internet aberta 24 horas por dia, sete dias por semana”, frisa Márcio Brito, analista da Unidade de Atendimento Coletivo – Serviços (UACS), do Sebrae Nacional. Para aumentar a chance de sucesso ao vender pela internet, o empresário deve ficar atento a alguns procedimentos. Escolher o mercado a ser atendido e, preferencialmente, definir um nicho de atuação aumenta a eficiência da operação. É fundamental ainda avaliar a concorrência, conhecer os aspectos legais da comercialização pela via eletrônica, planejar ações de marketing e divulgação da loja virtual, monitorar o acesso dos

Sebrae prepara ferramenta que promete revolucionar o atendimento O Sebrae está implantando uma nova e poderosa ferramenta para aprimorar e ampliar o apoio aos micro e pequenos empreendedores. A Plataforma Integrada de Atendimento (Platina), que estará operando plenamente a partir de 2 de abril, pretende oferecer um serviço cada vez mais personalizado e customizado aos clientes da instituição, viabilizando soluções de acordo com o perfil e as necessidades previamente mapeadas dos empresários. “Será um marco histórico na estratégia do Sebrae de relacionamento com as micro e pequenas empresas”, diz Carlos Alberto dos Santos. A Platina vai integrar dois mecanismos: um novo Sistema de Gestão de Atendimento e Relacionamento com o Cliente (CRM) e um novo portal de autoatendimento na internet. O CRM é plataforma única, totalmente integrada aos sistemas corporativos e às soluções disponibilizadas pelo Sebrae às MPEs. Ela permitirá o gerenciamento mais eficiente dos cadastros dos clientes, que poderão ser atendidos pelos consultores da instituição em qualquer ponto do país e por qualquer um dos canais de acesso aos serviços disponíveis – postos de atendimento presencial, internet ou telefone. Autoatendimento – O sistema possibilitará

A Plataforma Integrada de Atendimento (Platina) pretende oferecer serviço customizado aos clientes da instituição.

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clientes e das vendas, oferecer formas de pagamento seguras e garantir a entrega rápida das mercadorias ou serviços.

Marcelo Camargo / Abr

Potencial – As mídias sociais são uma boa opção para maximizar a presença da empresa na mente dos consumidores. Segundo levantamento da comScore, empresa de pesquisa de mercado que fornece dados de marketing e serviços para muitas das maiores empresas da internet, 90% dos internautas brasileiros acessam as redes sociais e muitos deles as utilizam para obter informações sobre as empresas antes de efetuar compras, sendo que duas em cada três pessoas costumam dar feedback às marcas. Além disso, elas permitem a interação com o cliente, possibilitam a promoção dos produtos e serviços, têm larga utilização por pessoas de diversas faixas etárias e são financeiramente leves, oferecendo uma boa relação custo-benefício. Se bem utilizadas, portanto, as redes de relacionamento ampliam as chances de sucesso dos negócios. “O potencial é grande, mas é preciso levar em conta que qualquer erro pode tomar proporções elevadas. Por isso, é muito importante monitorar e gerenciar de forma cuidadosa a presença da marca nas redes”, podera Hyrla Oliveira.

também maior interação com os empresários, que, uma vez cadastrados, poderão receber periodicamente informações de seu interesse sobre oportunidades de negócios, por exemplo, ou a respeito da realização de feiras, palestras ou eventos relacionados ao seu campo de atividade. A iniciativa começou a ganhar corpo em 27 de janeiro, com a implantação do CRM em sete unidades da Federação integrantes de um projeto piloto – Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia e Pará –, além do Sebrae Nacional. O novo portal, por sua vez, passará a ser um canal de autoatendimento, no qual o cliente poderá fazer diagnósticos online da sua empresa, além de acessar todas as soluções e programas mantidos pelo Sebrae – aplicativos gerenciais, simulações e ensino a distância, entre outros. Segundo Carlos Alberto, a instituição vai ainda oferecer aos empresários, gratuitamente, softwares de controle gerencial, que estão sendo adquiridos de desenvolvedores desses programas. “Com isso, o Sebrae passará a ser também um grande comprador das empresas produtoras de TI”, observa. O diretor avalia ainda que a Platina possibilitará a ampliação significativa do número de atendimentos, que atingiu 1,9 milhão em 2013.

Apoio – O Sebrae possui diversos programas para apoiar as MPEs no mundo digital. Realizado em parceria com o Google e a Yola, o projeto Conecte seu Negócio tem o objetivo de colocar à disposição dos clientes uma solução simples, rápida e acessível para a criação gratuita de websites. O programa fornece elementos para a elaboração das páginas eletrônicas, inclusive modelos gráficos e de layout, além de proporcionar a inclusão da empresa nos resultados de busca do Google – que oferece ainda ao empreendedor a oportunidade de experimentar seu programa de publicidade, o AdWords. As MPEs que utilizam o programa podem também receber benefícios de outros parceiros, como a fabricante de equipamentos HP, que concede desconto na compra de equipamentos, e a Serasa Experian, fornecedora de ferramentas de gestão financeira e de informações. Desde o lançamento do Conecte seu Negócio, em agosto de 2011, foram cadastradas quase 240 mil empresas e criados mais de 107 mil sites, dos quais 67 mil já publicados. O projeto Primeiro E-commerce, fruto de uma parceria com o Mercado Livre, companhia líder em comércio eletrônico na América Latina, concede ao micro e pequeno empresário a possibilidade de criar uma loja online de maneira fácil e gratuita. Com a iniciativa, o empreendedor tem a oportunidade de inserir seus produtos no maior site de compras do país e ampliar seus negócios em âmbito nacional. A ferramenta permite a criação de sites de aparência personalizada, de acordo com o estilo e a marca do produto, viabiliza a utilização de meios de pagamento eletrônico e possibilita a interação com redes sociais. Lançado em agosto de 2012, o programa contabiliza até agora a criação de mais de 4,7 mil lojas. O número de empresas cadastradas soma mais de 7,5 mil, das quais 75% são do setor comercial. Diagnósticos – O Sebrae procura ainda disseminar entre os pequenos negócios conhecimentos sobre automação comercial, meios eletrônicos de pagamento e atuação na internet por meio do INOVarejo. O programa é executado em associação com o ALI (Agentes Locais de Inovação), pelo qual bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com o Sebrae se deslocam até as empresas e acompanham sua atuação diária para fazer diagnósticos e propor soluções para problemas. O objetivo é estimular os empresários a adotarem inovações tecnológicas e ferramentas digitais, como administração de estoques por código de barras, uso de redes sociais, criação e gestão de blogs e sites, montagem de lojas online, utilização de cartões eletrônicos de pagamento e de sistemas de pagamentos online. Em 2013, cerca de 4,3 mil estabelecimentos, de 17 unidades da federação, foram atendidos e diagnosticados pelo INOVarejo. As ações permitiram identificar que ainda há relativamente pouco aproveitamento de código de barras e ferramentas de internet (blogs, sites e redes sociais). Os cartões de pagamento, por sua vez, já são bastante utilizados pelas micro e pequenas e empresas. n

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LIVROS

Novos e velhos dilemas no sistema monetário Organizado por Antonio Macedo Cintra e Aline Regina Alves Martins, o livro As Transformações no Sistema Monetário Internacional, lançado, no fim de 2013, pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), reflete sobre a estrutura e as transformações do sistema monetário contemporâneo, particularmente após a eclosão da crise internacional em 2008. A obra contém oito artigos, de mais de uma dezena de pesquisadores de diferentes áreas, alinhados à ideia de se pensar uma ordem monetária mais estável e menos injusta. Cintra conversou com a Rumos e apresentou um pouco da reflexão contida no livro.

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Divulgação

umos – Com a crise econômização dos sistemas monetários ca da Europa, notadamente nacionais, a exemplo do que aconna Espanha, em Portugal e teceu em Bretton Woods? na Grécia, esse é o momento oporCintra – Infelizmente não. E este tamtuno para rediscutir o sistema monebém é um dos propósitos do livro. tário global? Explicitar que a “economia americana Antonio Macedo Cintra – A mudança não deve ser vista como um sistema do padrão libra-ouro para o padrão econômico nacional”, como indicava dólar-ouro ocorreu após duas guerras o professor Celso Furtado no artigo mundiais e uma grande depressão eco“A Ordem Mundial Emergente e o nômica, completando a passagem da Brasil” – publicado na coletânea Brahegemonia britânica para a americana. sil: a Construção Interrompida. Historicamente, as crises explicitam as Nesse sentido, argumenta-se que o contradições e podem (ou não) potencisistema financeiro americano desregualizar as forças transformadoras. Não lamentado e liberalizado – operando “Historicamente, as crises por acaso, a crise dos países asiáticos em em dólar em âmbito global –, ancorado explicitam as contradições no Federal Reserve, fornece e recicla a 1997 também fomentou o debate em torno da reforma do sistema monetário liquidez do sistema monetário internae podem potencializar as internacional, como sugere um dos articional. E, embora tenha ocasionado forças transformadoras” gos de Luiz Afonso Simoens da Silva. muita destruição de riqueza, de renda e Sobre a crise europeia, em particular, de emprego, e tenha gerado muita foi revelado que o euro é uma moeda incerteza sobre o futuro, a crise finanincompleta: cada Estado da área euro é responsável pelo capital ceira iniciada em 2008 não minou a posição dominante dos Estainvestido no Banco Central Europeu (BCE), mas este não pode dos Unidos, nem sua capacidade de reagir, em âmbito tecnológiatuar como emprestador de última instância, nem dos bancos, co, militar, diplomático, econômico, financeiro e monetário. nem dos Estados-membros. Isso faz do euro uma moeda estranSobre o aspecto monetário e financeiro, durante a crise, a “fuga geira para cada país, como afirma o professor Michel Aglietta. para a qualidade” levou os investidores, públicos e privados, a Ou como sugeriu o editor do Financial Times, Martin Wolf, fugir para o dólar e não do dólar, a despeito da redução das taxas a crise revelou também a profunda assimetria na área euro: o de juros para próximo de zero em Wall Street. Dessa forma, a cripoder está concentrado nos países credores, principalmente se, que poderia representar o colapso do dólar, na verdade, reana Alemanha, e na troika – órgãos burocráticos não eleitos – firmou sua centralidade no sistema monetário global. Comissão Europeia, BCE e Fundo Monetário Internacional. Esse déficit de governança democrática foi esmiuçado no artiRumos – A crise financeira de 2008 alterou a percepção go de Aline Regina Alves Martins. mundial sobre o sistema financeiro, que passa a ser A despeito das falhas intrínsecas, o artigo do professor enxergado como instável e assimétrico. Assim, apreendeBenjamin J. Cohen defende que a moeda conjunta não deixará se a necessidade de sua reorganização. Em sua opinião, de existir, dado o compromisso político que ampara sua percomo se daria esse processo de reorganização e aonde se manência. Se esta hipótese se configurar verdadeira, o debate pode chegar? em torno das mudanças na arquitetura do euro requeridas para Cintra – Sim, a crise explicitou a natureza instável e disruptiva permitir a reprodução da sociedade europeia torna-se crucial. do sistema financeiro internacional. Após a falência do banco de investimento Lehman Brothers, as cotações dos ativos Rumos – Observa-se hoje espaço para a criação de um financeiros desabaram, arrastando as economias domésticas e novo “consenso” entre as nações sob novos preceitos, isto o comércio exterior, o desemprego disparou e os déficits é, é possível pensar em impactos profundos de reorganipúblicos explodiram. Diante da profundidade da crise não resRUMOS - 52 – Janeiro/Fevereiro 2014


tava alternativa: havia que promover o resgate dos setores financeiros. Todavia, não houve força política para efetuar uma profunda “re-regulamentação” dos sistemas financeiros, seja em âmbito global (Acordo de Basileia III), seja em âmbito doméstico (Lei Dodd-Frank de reforma do sistema financeiro americano e inúmeras diretivas da União Europeia). Limitar e regular as operações nos mercados de derivativos de balcão, altamente opacas, seria um passo muito importante. No Brasil, mais de 90% das operações com derivativos ocorrem na BM&FBovespa, diminuindo a tomada e a propagação de riscos.

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extensão, a economia internacional, a partir de seus próprios interesses (ou de seus próprios capitais). Nesse sistema interestatal competitivo, a moeda, em si, não logra gerar a coesão sociopolítica que leva ao aumento do bem-estar global. É a política e as instituições que o fazem, como sugere o artigo de José Gilberto Scandiucci Filho. Isso significa que os países – sobretudo, aqueles de moedas inconversíveis – podem defender seus interesses, por meio de mecanismos de cooperação monetária e financeira: operações de swaps de moedas regionais, fundos contingentes de reservas etc.

Rumos – Acredita que, hoje, os países e organismos globais estão caminhando no sentido de construir uma ordem monetária mais estável e menos injusta? Cintra – Infelizmente não. Não há substituto para o dólar. Nem os Estados Unidos permitirão “ajustes” que impliquem alterações na hierarquia monetária. Vale dizer, uma redução no papel de sua moeda em âmbito global. Na verdade, apreende-se que se está, novamente, diante de um acirramento da concorrência interestatal e intercapitalista. Os Estados Unidos (a China, o Japão, a Alemanha, a Rússia etc.) estão procurando reorganizar suas economias e, por

Rumos – Há uma linha comum de pensamento que guia os diversos artigos que formam o livro? Cintra – Há duas ideias que perpassam todos os artigos, em diferentes perspectivas. Moeda é poder – econômico, político, militar, diplomático etc. As moedas e, portanto, os Estados, estão organizados de forma hierárquica, resultando em um sistema internacional altamente assimétrico. O artigo inicial – “O Sistema Monetário Internacional e seu Caráter Hierarquizado, Bruno Martarello De Conti, Daniela Magalhães Prates e Dominique Plihon – detalha estas ideias que estão presentes em todos os outros.

A política dos jogos

Para avaliar bem

O livro aborda questões relativas aos impactos sociais, econômicos e ambientais dos Jogos Olímpicos. A obra, composta de artigos de diversos autores, mestre e doutores, considera o Comitê Olímpico Internacional (COI) uma organização política construída sobre os princípios de honra e moderação, cujas três faces institucionais (a multiplicadora, a humanitária e a empreendedora) convivem de forma sobreposta. Organizado por Maureen Flores, o objetivo é apresentar ao público brasileiro temas atuais, porém pouco conhecidos, como a governança do esporte, o impacto dos megaeventos nas cidades e o legado de sustentabilidade deixado por eles. A publicação é a primeira de uma série que acompanhará a realização das grandes atividades esportivas no Brasil, este volume se oferece como uma leitura que contribuirá para a participação mais ativa da sociedade nas discussões econômicas, sociais e ambientais que acompanharão as

A obra é um guia indicado diretamente para empresários, executivos e profissionais de negócios que precisam de todas as informações sobre processos de recuperação judicial. Com base nos textos apresentados, o gestor “terá os instrumentos tanto para verificar se o processo lhe convém ou não, como para questionar seus interlocutores sobre uma maneira assertiva e, principalmente, se o conhecimento permite que ele não se torne refém desses prestadores de serviço, de credores ou de quem quer que seja” – salienta o autor Luidg Uchoa. No primeiro semestre de 2013, no Brasil, o número de pedidos de recuperação judicial totalizou 460 empresas, alta de 16,5% em relação ao mesmo período de 2012, em que foram requeridos 395 pedidos. A título de ilustração, os autores destrincham temas sobre a classificação dos débitos, o pedido de recuperação judicial efetivamente, a contratação de profissionais que auxiliarão o empresário,

grandes transformações que despontam no horizonte urbano nacional.

Sustentabilidade, Governança e Megaeventos Maureen Flores (org.) Elsevier, 216 p., 2013.

RUMOS - 53 – Janeiro/Fevereiro 2014

documentos necessários, elaboração e apresentação do plano e falência.

Recuperação Judicial Artur Lopes e Luidg Uchoa Évora, 296 p., 2013.


@

CARTAS DO LEITOR Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 429 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall - Brasília - DF – CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 Fax: (21) 2109.6004 E-mail: abderj@abde.org.br

Fundação

CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Luciano Coutinho

Somos da Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros, Campus São Paulo, e recebemos como doação a revista Rumos, porém não recebemos o exemplar nº 271, set./out. 2013. Gostaríamos de solicitar o recebimento da publicação para podermos dar continuidade à nossa coleção. Grata e no aguardo de um retorno. Gislene Alves, Biblioteca Pe. Aldemar Moreira, Fundação Educacional Inaciana. São Paulo (SP).

DIRETORIA Presidente: Carlos Henrique Horn Vice-Presidentes: Antonio Carlos Sampaio Quintiliano, Carlos Alberto dos Santos, Guilherme Narciso Lacerda, Milton Luiz de Melo Santos, Paulo Roberto Evangelista de Lima, Rogério de Paula Tavares, Rubens Rodrigues Filho, Valmir Pedro Rossi. Vitor César Ribeiro Lopes. Superintendente-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima

Biblioteca Recebemos e agradecemos o envio da publicação: Rumos nº 272, nov.-dez./2013, pois veio enriquecer o acervo de nossa biblioteca. Marli de Oliveira Felipe, técnico de biblioteca, Associação Educacional Toledo. Presidente Prudente (SP).

Gratuita Muito bom saber que uma revista de tamanha qualidade é distribuída gratuitamente. Daisy Assmann Lima, Brasília (DF).

Universidade Recebemos e agradecemos sua doação da revista Rumos n°271, ano 38. Atenciosamente, Joedna Santana, Universidade Estadual de Feira de Santana, Biblioteca Central Julieta Carteado. Feira de Santana (BA).

Instituições Associadas à ABDE AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A. AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A. AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. AGERIO – Agência Estadual de Fomento BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A BANRISUL – Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Agência Brasileira de Inovação FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. PIAUÍ FOMENTO – Ag. de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Confira os próximos eventos promovidos pela Gerência de Desenvolvimento Profissional da ABDE*

Abril ECONOMIA

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D E S E N VO LV I M E N TO

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16 Seminário Sistema Nacional de Fomento e o Crédito para o Desenvolvimento Publicação bimestral

29 e 30

Curso de Contabilidade Pública para IFDs

ISSN 1415-4722 Ano 38 – Nº 273 Janeiro/Fevereiro 2014

Maio 05 e 06 Curso Ferramentas Processuais para Recuperações Fnanceiras para IFDs 14 Encontro de Riscos e Basileia III 19 e 20 Curso Análise Avançada das Demonstrações Financeiras para IFDs 23 Workshop Municípios e PMAT

Redação e Administração Avenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20020-906

Telefone (21) 2109.6041 Fax (21) 2109.6004 E-mail rumos@abde.org.br Gerente de Comunicação - Editora Thais Sena Schettino

28 e 29 Seminário Nacional de Comunicação e Marketing para IFDs

Equipe Jader Moraes Livia Marques Pimentel Noel Joaquim Faiad

*Atividades voltadas exclusivamente para Associados.

Revisão Renato R. Carvalho

RUMOS - 54 – Janeiro/Fevereiro 2014

Capa Foto SXC Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta Conselho Editorial Carlos Alberto dos Santos, Carlos Henrique Horn, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.




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