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D E S E N VO LV I M E N T O
Edição especial
45 ANOS
PA R A
OS
NOVOS
TEMPOS
ANO 38 – Nº 274 – Março/Abril de 2014
ECONOMIA
EDITORIAL
Entrevistas: Antonio Delfim Netto e Guilherme Henrique Pereira
S Ascom/Bandes
SUMÁRIO
Roosevelt Pinheiro/ABr
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Divulgação
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ENTREVISTA Guilherme Henrique Pereira
Nova escala
EXPERTISE Antonio Delfim Netto
Lições de Desenvolvimento
CAPA Especial
Aos 45 anos, de cara nova
AO LEITOR
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sta é uma edição especial e histórica. No momento em que a ABDE completa 45 anos, e muda sua marca, passando a assinar como Associação Brasileira de Desenvolvimento, a Rumos refaz a trajetória da entidade, que ao longo das últimas décadas contribuiu decisivamente para o desenvolvimento brasileiro – desde seu nascimento, com o auxílio na elaboração do II PND, ainda na década de 1970, até os tempos recentes, como com a forte presença de seus associados no combate aos efeitos da crise mundial iniciada em 2007, quando foi reafirmada a importância das instituições públicas para a boa saúde da economia nacional. Nossa reportagem de capa traz, além da história da entidade, em um painel em que ouvimos figuras importantes desta trajetória, a visão de futuro da associação, com o que ela projeta para o país e para si mesma. Destaque também para o seminário que comemorou esta data especial, em Brasília, e para a nova identidade visual da ABDE. Imperdível! E tem muito mais nesta edição especial: uma entrevista profunda com o economista Delfim Netto; um relato sobre a importância dos bancos públicos na principal potência econômica da Europa, a Alemanha; e em uma reportagem especial sobre nosso sistema elétrico, ouvimos especialistas para entender o porquê de, com o cenário hidrelétrico muito próximo ao de 2001, ainda não corrermos o risco de um racionamento de energia. Será que estamos mais preparados? Desejamos a todos uma boa leitura!
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RUMOS - 4 – Março/Abril 2014
REFLEXÃO Vitor César Ribeiro Lopes
O papel do SNF na promoção do desenvolvimento: os investimentos de longo prazo REPORTAGEM Projeção
A passos largos
EM DIA Ramaís de Castro Silveira
O que pode e o que não pode nas instituições de fomento REPORTAGEM Infraestrutura
O caminho da luz
REPORTAGEM Energia
Estamos mais preparados?
CENÁRIO DO RIO Mudanças
Foco nas pessoas
EXTREMO SUL Regional
Novo impulso ao fomento
PELO MUNDO Alemanha
Existe alternativa ao mercado de capitais? ARTIGO Saúde e ambiente
Boas práticas: compartilhamento, intercâmbio e inovação
MICRO E PEQUENAS Cooperativismo
Por boas práticas de crédito
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FOMENTO LIVROS
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REFLEXÃO
ECONOMIA
O papel do SNF na promoção do desenvolvimento: os investimentos de longo prazo Divulgação
Vitor César Ribeiro Lopes Mestre em Economia. É presidente da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) e vice-presidente da ABDE.
O
financiamento das atividades produtivas é um dos principais mecanismos de promoção do crescimento; por meio dele é possível viabilizar novas combinações produtivas que geram desenvolvimento e dinamizam a economia. Entretanto o grau de maturidade do desenvolvimento financeiro interfere diretamente no nível da atividade econômica. Em economias em desenvolvimento, o investimento de longo prazo tem sido constrangido pela incapacidade dos mercados financeiros em suprir a demanda. Nesse contexto, os investimentos são prioritariamente viabilizados através do financiamento externo, que, por sua vez, tem sua atuação moldada pela estrutura do mercado financeiro e pelas políticas monetárias e fiscais. No Brasil, a atuação de um Sistema Nacional de Fomento (SNF), composto por instituições cuja finalidade consiste no fomento do desenvolvimento, no financiamento de longo prazo, apoiando os setores estratégicos, constitui-se em um dos principais instrumentos da política de desenvolvimento. Cabe ressaltar que o aproveitamento das oportunidades de investimento só pode ser viabilizado pela disponibilidade de crédito com prazos, custos e quantidades convenientes. Além disso, falhas de mercado e externalidades reforçam a necessidade de atuação do SNF na promoção de segmentos e setores de interesse econômico e social. Esse é o caso, por exemplo, dos investimentos em infraestrutura (sistemas de transportes, de telecomunicações, de energia elétrica, de saneamento básico, dentre outros), considerado um dos grandes gargalos do crescimento e desenvolvimento econômico no Brasil. Em uma economia, com infraestrutura ineficiente, as taxas de crescimento tornam-se limitadas, surgem pontos de estrangulamento na sua estrutura, e, consequentemente, há elevação dos custos de produção e diminuição da produtividade e da competitividade do país. Ademais, a articulação e integração entre as regiões produtoras e consumidoras de um país é estritamente dependente do sistema de transporte. Desse modo, uma estratégia que ataque a falta de infraestrutura, impeditiva para a integração, pode impulsionar o crescimento da renda per capita em diferentes regiões, lembrando
também que as vantagens comparativas entre regiões e/ou estados só são aproveitadas se há logística para isso. Por outro lado, para o Brasil como um todo, maior integração regional diminui, pelo lado da demanda, a dependência de mercados externos e contribui, pelo lado da oferta, para maior inserção internacional. Os investimentos requeridos para infraestrutura são vultosos e de longo prazo. Esse é um dos segmentos nos quais os agentes do SNF – os bancos públicos federais, os bancos de desenvolvimento regionais e estaduais, os bancos cooperativos e as agências de fomento – devem atuar para viabilizar projetos estruturantes, que geralmente possuem prazos maiores de maturação e riscos elevados, uma vez que o sistema bancário privado concentra suas preferências no mercado de curto prazo, incompatível com o investimento. Podemos citar os investimentos em estradas, construção e reforma de ferrovias, construção e adequação dos portos e aeroportos, centros de distribuição e hidrovias. A participação do SNF em projetos como esses deve contemplar as diversas fases, desde a identificação, a estruturação e o financiamento. Além disso, suas diretrizes devem estar alinhadas com uma estratégia de desenvolvimento nacional que incorpore as disparidades regionais, numa ação coordenada entre os níveis de governo (federal e estadual). Cabe rememorar que os agentes do SNF têm reconhecida capacidade de melhor avaliar as características locais em razão de sua atuação regional e/ou estadual. No caso das agências de fomento a sua capacidade de lidar com a assimetria de informação é maior e é mais forte a sua habilidade de flexibilização e de adaptação de produtos. Nos últimos anos tem sido notório o papel exercido pelos bancos de desenvolvimentos, bancos públicos e agências de fomento na promoção dos investimentos de longo prazo, garantindo a manutenção dos investimentos mesmo diante de instabilidade no cenário macroeconômico. Após a crise internacional de liquidez em 2008, essa função contracíclica do SNF, liderada pelo BNDES, foi fundamental na diminuição da volatilidade do produto e do volume de inversões fixas, que tem impacto negativo sobre o crescimento econômico de longo prazo.
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ENTREVISTA
Guilherme Henrique Pereira
Por Jader Moraes
Crescimento
Nova escala Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Bandes) projeta uma injeção de R$ 600 milhões na economia capixaba este ano e assume papel de protagonismo no desenvolvimento regional
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umos – O senhor chegou ao Bandes ainda como estagiário, no fim da década de 1960, foi economista da instituição e, depois uma carreira como professor universitário, assumiu a presidência do banco há pouco mais de seis meses. Como foi voltar à instituição, agora na condição de principal gestor? Guilherme Henrique Pereira – Voltar ao banco é algo especial e representativo, porque minha vida profissional começou aqui. É também de fundamental relevância estar aqui no momento em que o governo estadual lança e executa o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Espírito Santo (Proedes), que coloca o Bandes como protagonista do desenvolvimento regional equilibrado e como uma das instituições responsáveis por articular junto às entidades representativas a busca pela maior competitividade.
Rumos – Quais os principais desafios que estão colocados neste momento? Pereira – Destacamos três grandes desafios: manter eficiente o maior programa estadual de microcrédito; implantar novas escalas ou temas para atuação do Bandes, entre os quais financiamento ao setor público, financiamento para inovação e foco no desenvolvimento regional e em segmentos dinâmicos; e implantar novas metodologias de trabalho, com vistas a modernizar e agilizar a atuação do banco. Esses desafios representam um começo do trabalho forte voltado para fomentar a competitividade tanto no plano das empresas quanto no plano do território capixaba, em relação aos mercados nacional e internacional. Nosso foco no desenvolvimento regional vai se realizar por meio de programas previamente definidos e articulados com os atores relevantes do segmento. No campo da inovação, buscaremos atender a todos os empreendimentos que tenham alta incorporação de conhecimento, alta perspectiva de geração de valor agregado para a rápida diversificação da economia. Novos negócios na metalmecânica, eletrônica e comunicação, nos segmentos intensivos em biotecnologia e energias alternativas têm grande aderência ao potencial já instalado em nosso estado e serão nossas priori-
dades. No que diz respeito às novas metodologias, além da busca de eficiência via automação, avançaremos na gestão de fundos públicos e parcerias com fundos de investimentos. Rumos – Pode nos explicar como se dá a atuação do banco no desenvolvimento regional, por intermédio de programas como o da avicultura industrial? Pereira – Esta é uma forma de atuação em que realizamos um diagnóstico do segmento produtivo considerado prioritário em razão de seu potencial de geração de empregos e de agregação de valor. Neste estudo focamos na possibilidade de expansão da produção e de melhoria de sua competitividade, tendo como referência as concentrações regionais de atividade. O programa define metas, perspectiva de mercado e a tecnologia a ser utilizada compatível com os incrementos de produtividade desejados, bem como o modelo que será utilizado em cada caso. No caso da avicultura para corte, o programa já define quantas unidades serão implantadas e qual o processo a ser utilizado. Durante a elaboração do programa, o órgão de licenciamento ambiental e outros protagonistas participam das definições necessárias. De sorte que a análise do crédito, o licenciamento e contratação posterior são amplamente beneficiados em ganhos de tempo. Neste caso ainda, escolheu-se como modelo a ser adotado o que poderíamos chamar de “coordenação”, no qual um grande frigorífico em sua área de influência assume o fornecimento de insumos, assistência técnica e compromisso de compra dos frangos. Para o Espírito Santo podemos dizer que esta será uma inovação organizacional que será introduzida no segmento. Também ilustra um papel relevante que os bancos de desenvolvimento podem cumprir, que é o de utilizar sua capacidade institucional de articulação na construção de sinergias geradoras de eficiência e estimuladoras do investimento. Estamos trabalhando na mesma linha com o segmento de laticínios e móveis modulados, mas ainda não estão na fase operacional. Rumos – O Bandes apoiou e até viabilizou muitos dos empreendimentos que permitiram o crescimento da
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economia do Espírito Santo. Nos últimos 10 anos, consolidou um modelo de crédito produtivo orientado voltado para os pequenos negócios. Qual é o foco do banco na atualidade, em que parece estar vivendo um novo momento? Pereira – Na implantação do Bandes, há 47 anos, o principal condutor da política do banco era o de promover a industrialização do nosso estado. Nesta época, o parque local de empresas industriais era muito mais incipiente e a oferta de crédito de longo prazo para suportar investimento era muito mais escassa. Um período histórico em que o financiamento do Bandes era mais decisivo para implantação de novas plantas. O acerto da política de desenvolvimento local, a atuação do banco e o ambiente favorável em nosso estado para os investimentos já tornaram o Espírito Santo uma região com uma economia robusta e bem mais complexa. Aqui já operam muitas empresas de grande porte. A presença do Bandes é importante para o incentivo à inovação e para segmentos específicos que possuem ainda muitos espaços para ganhos de competitividade e maior inserção de nossos produtos nos mercados nacional e internacional. Não podemos dizer mais, felizmente, que o desenvolvimento do estado está tão diretamente ligado ou dependente dos programas de desenvolvimento. Assim, o foco do Bandes hoje é o setor produtivo local, buscando contribuir para competitividade e ampliar a participação das empresas capixabas nos mercados nacional e mundial. Além deste esforço, o banco trabalha para manter o modelo já consolidado de concessão de crédito e criar novas escalas de atuação, com novas metodologias e mercados, para gerar mais competitividade em áreas estratégicas. Rumos – No início deste ano, várias cidades do Espírito Santo sofreram com os efeitos das fortes chuvas que atingiram a região, e a linha emergencial criada pelo Bandes socorreu muitos empreendedores prejudicados no episódio. Já existe um balanço sobre os resultados da atuação neste caso? Pereira – Mais de 900 atendimentos já foram realizados e R$ 6,5 milhões liberados. Outros R$ 9,5 milhões estão em análise
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Guilherme Henrique Pereira é o atual presidente do Bandes. Economista graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi secretário de Estado de Economia e Planejamento e secretário nacional de Ciência Tecnologia e Inovação, do Ministério de Ciência e Tecnologia.
para liberação. Somados são R$ 16 milhões destinados à revitalização das economias locais. A linha foi criada para ajudar na recuperação dos empreendimentos prejudicados, conta com juros baixos, subsidiados, e prazo de pagamento estendido. Esse crédito contribui para a circulação de bens e serviços nas cidades atingidas e faz com que, dentro do possível, a situação volte à normalidade e a tragédia seja menos dolorosa e rapidamente superada. Rumos – Dados do próprio banco indicam que, nos últimos dez anos, o programa Nossocrédito injetou mais de R$ 370 milhões na economia capixaba, em mais de 92 mil projetos de financiamento aprovados. Mas, além dele, há também o programa Creditar, voltado para empreendedores informais nas comunidades do estado. Qual o principal papel do microcrédito orientado neste contexto? Pereira – O Creditar, criado em 2011, está presente em comunidades de elevada vulnerabilidade social e atua junto a bancos comunitários e em Centro de Referência de Assistência Social (Cras), das prefeituras. O programa disponibiliza o valor de até R$ 1 mil para empreendedores informais. Desde sua criação, foram beneficiados mais de 1,3 mil famílias em condições de vulnerabilidade social. Em 2013, na agricultura familiar foram investidos R$ 140 milhões, por meio do Pronaf, e mais R$ 70 milhões pelo Nossocrédito, programa de microcrédito do governo do estado destinado ao setor urbano.
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ENTREVISTA
Guilherme Henrique Pereira
Nossa atuação é, portanto, ampla e diversificada, comportando modalidades e parceiros diferentes e tendo como clientes desde agricultores familiares até comerciantes, artesãos e prestadores de serviços. Ou seja, estamos envolvidos com o microcrédito em todos os setores e segmentos da economia capixaba. Esses resultados fazem do estado um referencial nacional para concessão de microcrédito produtivo orientado. Relativamente, somos o maior nesse tipo de financiamento, que tem papel imprescindível no desenvolvimento regional equilibrado. Tanto é assim que o Espírito Santo é o estado da federação que mais reduziu a pobreza nos últimos anos.
Pereira – As prefeituras municipais foram as principais prejudicadas com a mudança ocasionada pela resolução 13 do Senado Federal, que alterou as regras do ICMS interestadual. Pensando nisso, lançamos um programa de investimento exclusivo para as prefeituras, o Proinveste Capixaba. Essa linha nasceu com R$ 100 milhões para ajudar as cidades a manter a respectiva capacidade de investimento. É, portanto, uma linha de crédito do Bandes para o financiamento de investimentos e desenvolvimento institucional das administrações municipais. Insere-se como parte de um conjunto mais amplo do governo estadual de apoio aos municípios na capacitação em processos de captação de recursos, do qual constam fundos de recursos e apoio técnico.
“O governo autorizou Rumos – Quais os números da instituiRumos – Outra ação importante do banco foi o lançamento da linha hoje? o aumento de capital ção Crédito Fácil, que ampliou a oferta de Pereira – O governo autorizou o aumento em R$ 150 milhões. de capital em R$ 150 milhões. R$ 70 milhões crédito para novos negócios no estado, inclusive os ainda em fase de implerealizados e R$ 80 milhões para 2014. Isso Isso é um fato inédito éjá um mentação. Quais as principais vantafato inédito na história do banco, que na história do banco, irá dobrar o seu tamanho. Isso multiplica nosgens dessa linha? Pereira – Essa linha nasceu da unifisa capacidade de investimento, uma vez que que irá dobrar o seu cação de várias linhas existentes no banco para cada real integralizado podemos captar tamanho”. para simplificar a concessão do crédito. mais cinco reais em outras fontes. InternaDesse modo, empreendimentos de micro, mente, procuramos desenvolver processos pequeno e médio portes, de diversas ativimais eficientes e menos burocráticos, além dades produtivas, do comércio, indústria e serviços podem de atuarmos na recuperação de crédito, por meio da realização financiar até 100% de seu empreendimento com valores de R$ de leilões de bens para garantir mais receitas e menos custos. 10 mil até R$ 15 milhões, com cadastro desburocratizado e fluEssas ações já surtiram efeito, como fica comprovado em nosxo simplificado. sas demonstrações financeiras. Em 2014 o planejamento da instituição traz em seu cerne a operacionalização da natureza multiescalar da instituição, com Rumos – A implantação do Programa de Desenvolvia qual será possível atuar em prol do desenvolvimento sustenmento Sustentável do Espírito Santo (Proedes), com as tável, estando pronto para apoiar desde o financiamento dos diretrizes do governo estadual para a área, significa que micro e pequenos negócios, passando pelos projetos de inovadesafios e que oportunidades para o banco? ção, até o financiamento de negócios de médio porte, com os Pereira – O Proedes aponta as diretrizes gerais da trajetória devidos recortes regionais e de articulação de investimentos que deveremos perseguir. Lá foram colocados os três grandes complementares de cadeias produtivas. Com todas essas iniciatemas que a sociedade capixaba deverá se dedicar com afinco tivas, esperamos injetar R$ 600 milhões na economia capixaba nos próximos anos: 1) Educação e Inovação; 2) Logística; e 3) ainda este ano. Incentivos ao desenvolvimento. A expansão da exploração de petróleo em nosso território abre um grande leque de oportunidades de investimentos. É um segmento que demandará muiRumos – Que importância o senhor confere à ABDE, a to desenvolvimento tecnológico, novos componentes e muito entidade que congrega e representa o Sistema Nacional trabalho altamente qualificado. Daí em especial a importância de Fomento, integrado pelos bancos de desenvolvimento da educação e inovação, porque sem tal qualificação correree pelas agências de fomento do país? mos o risco de não absorver as oportunidades. A logística, Pereira – A formulação das leis e políticas alcançará seus assunto sobre o qual o Espírito Santo tem sido esquecido pela melhores objetivos quanto mais os formuladores e gestores União, somente agora com maior sinalização de que alguns gartiverem conhecimento do setor. Assim, as associações desemgalos antigos serão resolvidos, é importante por razões óbvias. penham papel fundamental na produção e subsídio de inforE finalmente, os incentivos ao desenvolvimento que devem sinmações úteis ao processo. Elas são protagonistas e contribuem tetizar uma política de efetiva articulação de todos os protagopara o aperfeiçoamento do processo decisório nas democracinistas do desenvolvimento capixaba. as. A ABDE, sem dúvida, demonstrou sua funcionalidade para o sistema de financiamento do desenvolvimento neste quase meio século de existência. Além disso, é um espaço excelente Rumos – Como tem sido a atuação do banco junto ao de trocar experiências, o que contribui para o crescimento de setor público, em especial no apoio ao desenvolvimento todos os associados. dos municípios capixabas? RUMOS - 8 – Março/Abril 2014
ANÁLISE
Lições de De O professor Delfim Netto acredita que, a despeito do baixo crescimento observado nos últimos anos, a situação econômica brasileira não é trágica e critica clima de pessimismo generalizado
Por Ana Redig
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uando a ABDE foi criada, há 45 anos, o Brasil vivia um período que ficou conhecido na história como o “milagre econômico”, liderado à época pelo então ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto. Quase meio século depois, mudaram o Brasil, o mundo e as teorias econômicas. Mas o economista e professor emérito da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) permanece sendo uma referência no tema. Às vésperas de completar 86 anos, ele permanece extremamente ativo e profundamente informado sobre as transformações nas economias brasileira e mundial. Além de palestras e conferências, o economista escreve artigos para os principais periódicos do país, como Carta Capital e Folha de S. Paulo. Na sua opinião, nunca houve um “milagre” no país: “Milagre é um efeito sem causa. O desenvolvimento econômico do Brasil foi produto do trabalho duro, árduo, dos brasileiros”, defende. Delfim destaca que não é possível comparar o mundo atual e o de 1969, já que a própria política econômica era totalmente diferente. “Em 1969 era comum o recurso de políticas de renda para combater a inflação, ou seja, o controle de preços e salários. Isso se mostrou, ao longo do tempo, muito ruim”, admite. O ex-ministro observa, no entanto, que o Brasil daquele período trabalhava mais e mais bem orientado do que atualmente. “É por isso que as taxas de crescimento são diferentes”, garante. Ele avalia que o crescimento do Brasil está muito abaixo de suas possibilidades, mesmo reconhecendo que o mundo todo está vivendo o mesmo problema. O professor lembra que o PIB brasileiro cresceu 2,3% em 2013, “o que não é das menores taxas dentre as demais economias, em um ano em que até o crescimento chinês encolheu.” Em sua avaliação, esta é uma taxa muito baixa, ruim mesmo, para uma economia que atravessa um processo de inclusão social e que desenvolveu um mercado interno muito importante. Para o economista, estes dois fatores são os responsáveis pela manutenção do consumo em crescimento e por garantir um nível de emprego bastante satisfatório, principalmente se comparado com a situação nas mais importantes economias do globo.
Agências de risco – No que tange ao mercado externo, Delfim Netto mostra que o Brasil não vive nenhuma complicação maior – o país tem reservas acumuRUMOS - 10 – Março/Abril 2014
Marcelo Corrêa
EEXPERTISE
Antonio Delfim Netto
senvolvimento
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A situação do crescimento no Brasil não é tão dramática como se imagina; o que existe são algumas tensões que vamos ter que enfrentar.
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EEXPERTISE
Antonio Delfim Netto
ladas em torno de US$ 370 bilhões. Além disso, o déficit em contas correntes foi calculado pelo Banco Central para 2014 em US$ 80 bilhões. Para ele, mesmo o déficit sendo grande, ele não deve continuar. “É preciso notar que o mercado ajudou a corrigir os erros do governo com uma desvalorização cambial que só deve apresentar resultados daqui a 10 ou 12 meses”, avisa. “Pode-se dizer que a situação não é das mais confortáveis, mas nada que indique a iminência de alguma tragédia”, ironiza. O professor observa que o recente anúncio da Standard & Poor’s rebaixando em um ponto a nota de crédito do Brasil – embora tenha mantido em um ponto acima no chamado grau de investimento – vem permitindo que se explore a crença do brasileiro de que estamos em uma situação difícil, o que, em sua opinião, está longe de ser verdadeira. “Sabemos que essas agências de classificação de riscos têm critérios bastante duvidosos de análise, o que nos leva a suspeitar de muitas de suas conclusões e ainda mais de suas previsões”. O ex-ministro diz que, no caso particular da Standard & Poor’s, este era um acidente anunciado. A agência já vinha dizendo que estava observando de perto a economia brasileira, e que “havia uma probabilidade de rebaixamento da nota”, o que de fato aconteceu. Ocorre que seus eventuais efeitos – se é que eles são significativos – já tinham sido incorporados aos preços do mercado. No comunicado, a agência cita fatos, mas a interpretação que oferece pareceu bastante exagerada aos analistas. Para Delfim Netto, o Brasil não tem hoje “um grave problema fiscal”, como eles alegam. “Temos, sim, uma relação dívida bruta/PIB que continua estável há 10 anos, em torno de 60%. Podemos aceitar que existe, infelizmente, uma perspectiva de que esse equilíbrio fiscal possa piorar no futuro, desde que o governo não tome as providências adequadas para enfrentá-lo. Mas não se aponta, entretanto, um fato que nos leve a isso. O déficit fiscal hoje gira em torno de 3,5% a 4% do PIB. Não é nada exagerado para um país como o Brasil”, garante o especialista. Para o ex-ministro, as demais críticas que integram o documento foram todas reconhecidas pelo governo e pelos analistas brasileiros: a inflação está batendo no teto da meta e há um déficit em transações correntes. “Todas essas críticas são velhas conhecidas e também a afirmação de que ‘o Brasil demorou a corrigir isso, mas está tentando corrigir’. Ora, o governo da presidenta Dilma se comprometeu com um superávit primário de 1,9% do PIB, mas ficou faltando uma explicação razoável de como ele vai financiar esse problema que apareceu na conta de energia elétrica”, observa o professor. Para ele, a agência de classificação de risco não acreditou em nada e simplesmente se antecipou, sem querer esperar alguns meses para confirmar suas suposições. “É lamentável que uma opinião arbitrária, firmada no puro preconceito a priori de que o governo não aprendeu nada e estaria apenas ganhando tempo com suas promessas, tenha levado a Standard & Poor’s a negar um voto de confiança ao país. De qualquer forma, não adianta brigar com os fatos: tudo isso terá consequências, talvez já esti-
vesse até marcado na curva, mas vai significar, no mínimo, a consolidação da elevação dos custos do financiamento do Brasil, não apenas do governo, mas também do setor privado”. As agências de rating adquiriram grande importância devido a um oligopólio misteriosamente construído e conservado pela legislação administrativa dos Estados Unidos. O controle da apuração de fundos americanos decidiu que os fundos de pensão só podem aplicar seus recursos naquelas empresas ou fundos que tenham grau de investimento. Isso deu às agências um grande poder. Para que os fundos de investimento possam aplicar no país, é preciso ter o grau de investimento estabelecido por pelo menos duas agências, o que o Brasil ainda mantém. “Mas as agências sabem muito pouco. Seu fracasso ficou demonstrado durante a crise de 2008”, avalia. Aula de desenvolvimento – Como todo bom professor, Delfim Netto explica que, para entender a razão de precisarmos de uma política econômica e social que redirecione sua ênfase distributiva para a ampliação do investimento e da produtividade total dos fatores de produção, é fundamental voltar ao básico. Isso quer dizer admitir que os problemas que vivemos são, em larga medida, consequência de uma bem-sucedida política social que deve ter prosseguimento porque é parte do processo civilizatório que desejamos construir. “Cometemos alguns exageros, usando instrumentos pouco eficientes para superar a pobreza (principalmente a pobreza absoluta), como o salário mínimo, que tem efeitos colaterais dramáticos sobre as finanças públicas. É preciso reconhecer, no entanto, que tivemos um inegável sucesso na superação da ‘grande recessão’ de 2008/2009”, avalia. Para o economista, ainda que o país, em seguida, tenha se exorbitado na ênfase ao consumo, isso não deve obscurecer o fato de que, entre 2007 e 2013, o PIB brasileiro cresceu à média anual de 3,5%. Além disso, a taxa de inflação anual manteve-se em torno de 5,8% (30% acima do centro da meta) e o balanço em conta corrente foi, na média, de 2% do PIB, e a dívida bruta / PIB andou próxima dos 60%, com acúmulo de US$ 290 bilhões em reservas externas. “Neste período testemunhamos o avanço extraordinário da inclusão social acompanhada por significativa redução das desigualdades”, observa. Na avaliação do professor, depois de ter aprendido como ativar as concessões nos projetos de expansão de infraestrutura, o governo acerta ao voltar a estimular os investimentos. “São eles que, afinal, lideram o processo de crescimento”, ensina. No entanto, Antônio Delfim Netto diz que uma administração estatal não será eficiente se não souber utilizar os mecanismos de mercado. Da mesma forma, não há mecanismo de mercado que possa funcionar sem as garantias de um Estado suficientemente forte para controlá-lo. O economista afirma que isso é válido tanto para os países desenvolvidos quanto para as sociedades emergentes que se pretendem repúblicas e democracias. No Brasil, pela falta de compreensão adequada deste processo, segmentos da nossa sociedade deixaram de utilizar todo o potencial de crescimento da nossa economia nos últimos três
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anos, alimentando um clima de pessiconhecimento e inovação, ao mesmismo que só agora começa a dissimo tempo que investe pesado na par-se. “É evidente que isso foi conseprodução e exportação de commoquência em parte do péssimo funciodities, como minério, petróleo e namento da economia mundial, mas soja. Para o professor, isso sugere Essas agências de também resultado do entendimento diversidade, o que eventualmente já classificação de risco defeituoso dos mercados financeiros faz parte da discussão sobre incensabem muito pouco e têm com relação à política econômica do tivos a processos inovadores, inclugoverno”, analisa. sive no campo da produção. Ele afircritérios bastante Esse sentimento de pessimismo ma que não há perdas para o país duvidosos, o que nos leva só começou a ceder diante da recupeem bancar investimentos, quando ração do nível da atividade percebido esses vão dar sustentação à autonoa suspeitar de suas ainda no final de 2013, fato que surmia alimentar. “O mesmo foi feito a conclusões e ainda mais preendeu a maioria dos críticos da duras penas e com perdas constande suas previsões. Seu Política Econômica do governo. Para tes de continuidade na infraestrutuo professor, a desconfiança, que só ra que acompanhou a expansão da fracasso ficou depois disso começou a se dissipar fronteira agrícola e permitiu a condemonstrado durante a entre o governo e o setor privado, foi, solidação do uso da tecnologia na realidade, produto de um honesto moderna nos mais diversos setores crise de 2008. superativismo governamental, derida criação animal”, destaca. Delfim vado da crença de que poderia aceleNetto afirma que, apesar da enorrar o tempo da correção de nossos me incompreensão que se produz a graves problemas estruturais. “Quanrespeito do crescimento do agronedo olhamos objetivamente para aquegócio no Brasil, “a verdade é que as le ativismo, vemos apenas resquícios fronteiras da produção alcançaram de uma atitude comportamental que só foi sendo superada o extremo oeste e hoje se expandem rumo ao norte, graças às pelo período de aprendizado. O problema que demorou a ser corajosas decisões estratégicas de aproveitamento do potenciintuído é que o nível de investimento privado não depende apeal energético da Amazônia no governo Lula e à realização dos nas da existência da demanda, mas do sentimento geral dos leilões no atual governo para a construção dos acessos rodoinvestidores, do seu ‘espírito animal’. Se eles acreditam – como viários e às instalações portuárias nos rios amazônicos”. tantos acreditaram até há pouco tempo – que o governo lhes é Lenta recuperação – Observando a economia mundial, o pouco amigável, não há incentivo que os mova”, garante o exprofessor Antônio Delfim Netto conclui que a recuperação da ministro. Desta forma, o governo fica refém do capitalismo de última crise está se dando de forma muito lenta. “Sete anos “compradores”. Os mais ousados e oportunistas que, com depois do seu início, o mundo desenvolvido está voltando ao dinheiro público, lutam por oligopólios protegidos, mas que nível de atividade que tinha em 2007, com uma situação fiscal não têm a menor condição de induzir os outros a segui-los. “A muito mais difícil”, avalia. Nos Estados Unidos já se tem um única saída para continuar com a política civilizatória é harmodesenvolvimento um pouco mais robusto, mas não suficiente. nizar as relações entre distributivismo (com porta de saída) e a Na Europa, demonstra, a situação está ainda complicada. “A volta ao crescimento, que é a condição necessária para sustenComunidade Europeia está sob a ameaça de processo monetátá-lo, o que exige mais investimento. A fórmula é: maior liberrio extremamente difícil, que pode terminar numa deflação – dade de iniciativa nos estímulos à competição”, acredita Delque seria uma tragédia muito maior do que a inflação”. fim Netto. No chamado mundo “emergente”, é possível observar De fato, nesses últimos meses diminuiu visivelmente a desque a China está precisando “trocar os pneus do caminhão confiança recíproca entre o governo e o setor privado emprerodando”. Já no caso do Brasil, sua maior tarefa é se defender sarial, graças à iniciativa da presidenta Dilma Rousseff de de forma eficiente nesse processo de baixo crescimento que ampliar o diálogo e ouvir importantes lideranças que podem acontece globalmente. “Estamos crescendo pouco, 2,2% ou influenciar na aceleração dos investimentos, especialmente na 2,3%, o que não é um crescimento desastroso diante do que infraestrutura. Para o ex-ministro, isso tem revelado uma nova vem acontecendo no mundo, mas infelizmente estamos nos postura, resultando na superação da desconfiança mútua – que desenvolvendo hoje na proporção da metade do que crescem sempre fora negada explicitamente – entre governo e os setoas demais economias emergentes”, observa. Para Antônio Delres privados mais dinâmicos; e devolve aos programas de fim Netto, a situação do crescimento no Brasil não é tão dragoverno a visão logística estratégica, que incorpora os sistemas mática como se imagina; o que existe são algumas tensões que de rodovias com as ferrovias, os portos e a geração e distribuivamos ter que enfrentar: a tensão inflacionária, de um lado, e ção de energia, particularmente a hidrelétrica. um déficit em contas correntes muito grande, do outro. Além disso, o país tem feito fortes investimentos em
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REPORTAGEM
PROJEÇÃO
Por Ana Carolina Oliveira
A passos largos Após expansão de 20% em participação de mercado no último ano, o segmento cooperativo mira a ampliação de sua presença no Sistema Financeiro Nacional
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crise global, que teve Rubens Rodrigues Filho. Em sua opiinício em 2008, renonião, o modelo de gestão das cooperativou o debate sobre vas contribui fortemente para a solidez qual a dinâmica ideal do SFC. para o sistema financeiro. Fatores – O resultado positivo alcançado Enquanto o mundo se recupera, pelas cooperativas financeiras se deve a no entanto, a importância das diversos fatores, e um deles é o atendiinstituições bancárias para o mento personalizado. A legislação brasicrescimento econômico se realeira exige que essas instituições operem firma. Segundo o Relatório de apenas nas regiões em que estão inseridas, Estabilidade Financeira do Bano que permite uma proximidade maior co Central (REF), divulgado em com o associado. Dessa forma, os produmarço deste ano, a atividade ecotos e serviços são desenvolvidos para nômica global se fortaleceu no atender, da melhor maneira possível, às segundo semestre de 2013. Nesnecessidades do associado e da região. se período, o movimento cooAssim, o segmento contribui para o perativista financeiro assumiu mercado financeiro brasileiro desenvolgrande importância e hoje vendo a economia das regiões onde está detém parcela significativa de inserido. O Sistema de Cooperativas de mercado em alguns países, com Crédito do Brasil (Sicoob), aliado ao tramarketshare em torno de 35%, balho do Bancoob, amplia e fortalece a como são os casos de França, cada ano a oferta de produtos e serviços Alemanha e Canadá. No Brasil, financeiros, conquistando a confiança da onde os efeitos da crise foram Para Rubens Rodrigues Filho, diretor do população. menos drásticos, o cooperati- Bancoob, o modelo de gestão contribui Outro fator que contribui para o cresvismo também apresenta núme- fortemente para a solidez das cooperativas cimento do SFC é o ciclo virtuoso do ros significativos. cooperativismo, que promove o desenvolvimento local. Os Existem 13 ramos do cooperativismo organizados no recursos captados pelas cooperativas circulam dentro do próBrasil, entre eles o financeiro, que atua para democratizar e prio município, ou seja, os depósitos feitos pelos associados aprimorar o acesso aos serviços financeiros, enfrentar os abissão retidos e reinvestidos na própria comunidade, evitando a mos socioeconômicos e a diminuir as injustiças sociais. No evasão de riquezas. cenário econômico atual, o Sistema Financeiro Cooperativo Nestas instituições, o cooperado não é apenas usuário, ele (SFC) tem comprovado sua importância para o Sistema também é dono da cooperativa em que está ligado. A coopeFinanceiro Nacional. Segundo a Organização das Cooperatirativa tem o poder de formar seu próprio quadro social e elevas Brasileiras (OCB), o país possui atualmente (dados de ger seus dirigentes, ampliando a visão e participação dos assodezembro de 2013) 1.154 cooperativas financeiras com cerciados, o que resulta em uma relação de maior responsabilidaca de 6,4 milhões de associados. O segmento obteve, no últide entre os cooperados e suas instituições. Ao fim de cada mo ano, expansão de 20% em participação de mercado. Os exercício, o sócio ainda participa da distribuição das sobras, ativos totais dessas instituições chegaram a R$ 118,4 bilhões. designadas lucros na linguagem dos bancos convencionais. Já os depósitos somaram R$ 55,7 bilhões. Este ano, as entidades devolverão aos seus cooperados cerca “O crescimento significativo observado nos últimos de R$ 2,5 bilhões. anos demonstra que o cooperativismo de crédito financeiro caminha a passos largos para expansão de sua participaBalanço – O Sicoob, com mais de 2,6 milhões de cooperação no Sistema Financeiro Nacional”, salientou o diretor dos, também fechou o ano de 2013 com saldo positivo. As de controle do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), RUMOS - 14 – Março/Abril 2014
operações de crédito chegaram a R$ 25,1 bilhões, o que significa um aumento de 24,4% em relação ao ano anterior. Já os ativos atingiram a marca de R$ 41,6 bilhões, crescimento de 21,9%. O patrimônio líquido das cooperativas teve um avanço de 17,8% e encerrou 2013 com R$ 9,6 bilhões. Os depósitos somaram R$ 25,6 bilhões, 22,6% a mais que o observado no ano anterior. De acordo com o diretor de operações do Bancoob, Ênio Meinen, o denso portfólio oferecido pelas cooperativas do Sicoob contribuiu para o avanço dos números e para a inclusão financeira. “O ano de 2013 foi mais um exercício em que as cooperativas financeiras mereceram a preferência da sociedade, porquanto o seu crescimento, especialmente no quesito depósitos e carteira de crédito, ficou acima do desempenho
do sistema financeiro tradicional. Com portfólio completo de produtos e serviços e governança eficiente, as cooperativas veem a confiança da população se consolidando ano após ano”, comentou. Com atuação estratégica voltada para as instituições integrantes do Sicoob, além de manter parcerias importantes com outros agrupamentos do setor cooperativo financeiro, o Bancoob também apresentou em seu balanço anual um crescimento percentual acima da média de mercado. Os ativos totais da instituição tiveram aumento de 22%, se comparados a 2012, chegando a R$ 18,1 bilhões. O resultado do exercício apontou um lucro líquido de R$ 47 milhões. Em dezembro, o patrimônio líquido havia alcançado R$ 580,8 milhões, ou seja, um crescimento de 25,3% em relação a 2012.
Crédito Rural e parceria com o BNDES impulsionam o setor Entre as várias modalidades oferecidas pelo Bancoob, por meio das cooperativas Sicoob, estão as linhas de crédito e financiamento, que contribuem fortemente para o desenvolvimento do agronegócio, segmento que mais influenciou a economia em 2013. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo. O setor atingiu 7% de aumento, em relação ao ano anterior, registrando a maior expansão desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1996. O relatório de inflação do Banco Central estima um crescimento de 3,5% da produção em 2014. Com o Sicoob Crédito Rural, por exemplo, o produtor rural pode financiar as despesas com custeio, colheita, estocagem e fazer investimentos. O Bancoob também disponibiliza as linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como o crédito ABC, que estimula a recuperação de áreas degradadas e o Programa de Desenvolvimento Cooperativo (Prodecoop), que tem como principal objetivo incrementar a competitividade do complexo agroindustrial das cooperativas brasileiras. Atento às necessidades do mercado financeiro, o Sicoob passou a oferecer, em 2013, aos micro, pequenos e médios empresários, o Cartão BNDES Sicoob, com bandeira própria (Cabal), um dos mais importantes instrumentos para o desenvolvimento do empresariado brasileiro. Estima-se que 40 milhões de brasileiros, entre 18 e 64 anos, estejam envolvidos com a atividade empreendedora. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostra que o Brasil atingiu em 2013 o nível mais elevado de empreendedores por oportunidade dos últimos 12 anos. De
acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os pequenos negócios são responsáveis por 25% do PIB brasileiro. O diretor-presidente do Bancoob, Marco Aurélio Almada, vê a parceria com o BNDES como um estímulo ao empreendedorismo, promovendo o desenvolvimento econômico e social. “O cooperativismo financeiro tem sido ágil e bastante objetivo na sua estratégia de atendimento às micro e pequenas empresas”, disse Almada. Fundo – Ainda em 2013, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a resolução que deu origem ao Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que cobre os depósitos dos cooperados até R$ 250 mil. O objetivo do FGCoop é garantir os créditos dos associados nos casos de intervenção ou liquidação extrajudicial de instituição associada. Na opinião do diretor-presidente do Bancoob, essa é uma ferramenta que confere ainda mais credibilidade ao SFC. “Estamos criando uma rede de proteção para as cooperativas financeiras que diminui ainda mais os riscos e permite que o associado utilize os serviços ofertados com maior credibilidade”, ressaltou. Os resultados positivos, reforçou, sugerem que o Sistema Financeiro Cooperativo tem um papel muito importante no crescimento econômico e social do país. Além de possibilitar o desenvolvimento descentralizado pelo Brasil, as cooperativas promovem a melhoria do acesso aos financiamentos e exercem influência positiva para as ações empreendedoras em seu quadro associativo, circunstância que amplia a percepção e estimula a responsabilidade do indivíduo com a sua localidade.
RUMOS - 15 – Março/Abril 2014
EM DIA ELEIÇÕES 2014
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O que pode e o que não pode nas instituições de fomento Ramaís de Castro Silveira Advogado. Assessor jurídico da Diretoria de Planejamento do Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), é mestre em Ciência Política e doutorando em Direito pela Universidade de Brasília (UnB).
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chegada do ano eleitoral é sempre carregada de dúvidas e boatos nas mais diversas searas da administração pública. As angústias vão desde “aquilo que não se pode fazer”, passam por “quando se deve parar de fazer algo” e chegam no “que acontecerá caso haja infringência da legislação eleitoral”. O presente artigo busca auxiliar a dirimir estas incertezas, esclarecendo alguns dos mais importantes temas que se vinculam às proibições do período eleitoral, com foco nos tipos jurídicos mais comuns às instituições financeiras de fomento. A mais relevante norma sobre as condutas vedadas em virtude das eleições é a Lei Federal nº 9.504/97, conhecida como Lei das Eleições. A partir do art. 73, há o tópico que versa sobre as “Condutas Vedadas aos Agentes Públicos em Campanhas Eleitorais”, o que engloba todos e quaisquer empregados e funcionários das instituições financeiras de fomento. Há um conjunto de atitudes que são aberrantes, pois evidente e diretamente destinadas a favorecer determinado partido ou candidato. Estas ações, naturalmente, são vedadas pela lei. É proibido, por exemplo, ceder servidor público para comitês de campanha ou fazer uso promocional, em favor de candidato, de distribuição de bens custeados pelo poder público – claros exemplos de improbidade, punidos dentro e fora do chamado período eleitoral. A lei, contudo, não se resumiu a proibir as iniciativas que certamente influenciem nos resultados eleitorais; vedou, de forma muito mais ampla, um conjunto de condutas apenas “tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos” – elas são proibidas mesmo que não influenciem, de fato, a eleição. Uma primeira proibição deste tipo é de contratações, nomeações e quaisquer outras formas de admissão e desligamento funcional ou alterações das condições de exercício profissional (tal como remoções e transferências) de servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos (entre de 05/jul./14 e 1º/fev./15). Caso não observada a restrição, o resultado será a anulação do ato administrativo que tiver levado a cabo a conduta vedada. A Lei, contudo, faz expressa exceção quanto aos ocupantes de cargos em comissão e funções de confiança, que poderão, mesmo dentro daquele período referido, ser admiti-
dos e exonerados. Também se poderá nomear candidatos aprovados em concursos públicos, contanto que os certames tenham sido homologados até o início do prazo de três meses anteriores ao pleito. Também, a partir de 05 de julho, será proibido veicular logomarcas de governos em anúncios comerciais e institucionais das entidades de fomento. As propagandas e publicidade em geral, por exceção, estão permitidas aos Bancos de Desenvolvimento e Agências de Fomento a qualquer tempo. Contudo, o teto de dispêndios com estas ações, válido para todos os entes públicos, igualmente a eles se aplica. Ele consiste em estabelecer como limite de gastos, de 1º/jan. a 05/jul. de 2014, a média do que se tenha aplicado na mesma rubrica nos três últimos anos que antecedem o do pleito ou apenas no último ano (no caso, o de 2013), valendo o que for menor. A lei é omissa quanto ao regramento dos gastos no período posterior a 05 de julho, o que tem conduzido à cautela de estipular o teto referido como limite máximo de empenhos em todo o ano eleitoral. Relevante é a proibição contida no § 10 do art. 73 da Lei das Eleições, assim lançado: “No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública (...)”. Aqui estamos falando, principalmente, de brindes, que usualmente são distribuídos em feiras e campanhas específicas. Em todo o ano eleitoral, não é lícita tal liberalidade. As consequências do descumprimento, aplicáveis às demais condutas vedadas, são de suspensão da atividade, multa, cassação do registro ou diploma do candidato eventualmente beneficiado e condenação por improbidade administrativa. Como se vê, efeitos bastante graves. Vale, por fim, referir a proibição, também nos três meses pré-eleitorais, da contratação de shows artísticos pagos com recursos públicos na realização de quaisquer espécies de inaugurações. Observadas tais restrições, os negócios podem ser tranquilamente continuados e os Bancos de Desenvolvimento e Agências de Fomento permanecer, ainda que em período eleitoral, cumprindo seu relevante papel no fortalecimento da economia brasileira. Afinal, é também regra basilar da Administração Brasileira o princípio da continuidade!
RUMOS – 17 – Março/Abril 2014
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AMAZÔNIA
Por Solange Bagdadi
Infraestrutura
O caminho da luz Banco da Amazônia financia a modernização de parque industrial de empresa paraense, que utiliza a cadeia produtiva de cobre para as linhas de transmissão e redes de distribuição de energia elétrica no país
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Ascom/Banco da Amazônia
om a previsão de crescimento da cidade de Barcarena e região, criando ordem de 40% do Sistema Interemprego e renda para 600 pessoas, ligado Nacional, responsável direta e indiretamente. Outro benefício pelo escoamento da energia será dado pela aquisição de 95% dos produzida no país, e a expansão materiais e serviços necessários para a do mercado de fios de cobre no país, o Banco produção, de fornecedores paraenses, da Amazônia tem ampliado seu apoio ao reforçando o mercado por meio de segmento, na região onde atua. Recentemenparcerias econômico-financeiras, bem te, a instituição financiou um projeto da Alucomo a criação de efeitos de arrasto bar Metais e Cabos, companhia sediada no (necessidade do serviço de outras estado do Pará, que pretende modernizar seu empresas envolvidas na produção de parque industrial. alumínio) na economia do estado, e A Alubar é uma empresa que fornece estimulando a produção de insumos vergalhões, fios, cabos e condutores elétriutilizados. cos de alumínio e cobre, para uso nas linhas Segundo o diretor da Alubar, Otávio de transmissão e redes de distribuição de Ribeiro, a diversificação da produção da energia elétrica pelas grandes concessionáempresa em fios de cobre proporcionará rias de energia. No Brasil, essas concessio- Wilson Evaristo, diretor comercial do a verticalização do cobre como fonte de nárias atendem à população urbana e rural banco: investimento gera empregos e, matéria-prima à produção de cabos elétride 90% dos estados. A operação de fomen- assim, contribui para a melhoria cos, contribuindo para a conversão do to à empresa foi negociada com os recursos da qualidade de vida local estado de produtor para transformador do Fundo Constitucional de Financiamento de matéria-prima. “Dessa forma, haverá do Norte (FNO). geração de riqueza e renda em nossa região, superando as difiDe acordo com a gerente-executiva de Grandes Clientes do culdades no que diz respeito à distância dos grandes centros”, banco, Marilene Ribeiro, os recursos serão destinados para a afirma o executivo. implantação de uma planta industrial utilizando a cadeia produtiva do cobre na fabricação de cabos de cobre nu e revestido, PAC – Marilene lembra que os projetos de geração, transmissão conhecido com Building Wire. A diversificação no parque e distribuição de energia elétrica são prioridades para o Goverfabril da empresa implicará também na necessidade de investino Federal e fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimentos em obras civis, máquinas e equipamentos, instalações e mento (PAC). “Nesse sentido, os investimentos em infraestrumontagens, ferramentas e utensílios para a produção, veículos, tura no setor de energia elétrica são imprescindíveis para o e capital de giro correspondente. adequado desempenho da rede energética brasileira, garantindo Além de contribuir para o desenvolvimento tecnológico assim o crescimento econômico do nosso país”. das indústrias de alumínio do Pará, as contrapartidas ao O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), de resinvestimento são diversas. Entre elas está a geração de mão ponsabilidade do Ministério de Minas e Energia, indica que a de obra por meio da criação de empregos diretos – até o capacidade instalada do parque gerador de energia elétrica no momento, foram gerados 58 empregos diretos para este país deverá crescer 53% até 2022, representando um aumento projeto, sendo cerca de 90% da mão de obra proveniente da aproximado de mais de seis mil megawatts anuais. O Sistema RUMOS – 18 – Março/Abril 2014
Interligado Nacional, responsável pelo escoamento de toda essa energia, deverá crescer 43%, alcançando 142 mil quilômetros de linhas de transmissão. As ações da segunda fase do PAC, no período de 2013, somam um montante de R$ 108,1 bilhões no eixo Energia, investimento dedicado à melhoria e expansão nas áreas de geração e transmissão de energia elétrica, exploração de petróleo e gás natural, refino e petroquímica, fertilizante e gás natural, revitalização da indústria naval e combustíveis renováveis. Já o programa Luz para Todos, considerando apenas as ações do PAC 2, realizou mais de 360 mil ligações de energia elétrica, que beneficiaram quase 1,5 milhão de pessoas que vivem no campo, em assentamentos da reforma agrária, aldeias indígenas, comunidades quilombolas e ribeirinhas, em todas as regiões.
ção, diversificação, implantação, modernização, reforma e relocalização de empreendimentos não rurais, localizados na Região Norte”, explica o diretor. O financiamento adquirido pela Alubar deverá ser pago num prazo total previsto pela linha de crédito de 36 meses, com a amortização de 108 meses.
Ascom/Banco da Amazônia
Parceria – É grande a importância da Alubar para a Região Norte. De acordo com Marilene, a empresa é a única do Norte e Nordeste que atua na produção e comercialização de vergalhões e cabos elétricos de alumínio e cobre, que são utilizados em linhas de transmissão e redes de distribuição de energia elétrica pelas concessionárias de energia. “A Alubar Dentre as contrapartidas da empresa para o possui mais de 30 anos de atuação financiamento, está a aquisição de 95% dos materiais e serviços de fornecedores paraenses. nesse ramo. É uma empresa tradicional no mercado e tem um excelente histórico creditício com o banco. Possui um quadro de gestores eficientes, que sempre Regional – De acordo com o diretor comercial do Banco da agiram com muita responsabilidade no cumprimento de suas Amazônia, Wilson Evaristo, projetos com a natureza do parque obrigações. Além disso, tem como compromisso a preservação industrial da Alubar, que fica localizado no município de Barcado meio ambiente, a prevenção de fontes poluidoras, a melhorena, no Pará, no complexo de Vila do Conde, ao lado das ria contínua de seu desempenho ambiental, o atendimento à indústrias Alunorte e Albrás – empresas do grupo Vale do Rio legislação e outros requisitos, disseminando esses valores a seus Doce – são empreendimentos considerados de grande imporcolaboradores e à sociedade, questão fundamental para o apoio tância para o desenvolvimento sustentável da localidade onde do Banco da Amazônia”, enumerou. está sendo implantado. “Eles estão inseridos em um contexto Otávio Ribeiro, da Alubar, confirma a importância da parmais global de fomento ao desenvolvimento regional, pois ceria com a instituição financeira. “O Banco da Amazônia é transformam as matérias-primas da região em produtos, agrenosso parceiro desde sempre, em investimentos nas ampliações gando maior valor, resultando na geração de emprego e renda da empresa desde 1998, quando obtivemos o primeiro recurso na Amazônia e na melhoria da qualidade de vida das populaproveniente do FNO para ampliação da fábrica”, lembra o ções locais”, observou. diretor da empresa. Segundo Evaristo, a empresa está sendo financiada com Além de investimentos como os da Alubar, o diretor recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, comercial do banco, Wilson Evaristo, informa que a instituição que é proveniente de 0,6% da arrecadação do Imposto de financeira atua em políticas e programas voltados à sustentabiliRenda (IR) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O dade, tais como o Plano Brasil sem Miséria; a Operação Cidadafundo é administrado pelo Banco da Amazônia, que o aplica nia Xingu, realizada nos municípios da área de influência da por intermédio de programas elaborados, anualmente, de acorUsina Hidrelétrica de Belo Monte; a Operação Arco Verde, do com a realidade ambiental, social e econômica da região, em realizada nos municípios da Amazônia Legal com os maiores parceria com os representantes das instituições públicas e dos índices de desmatamento; e o Programa Crescer, de microcrédiversos segmentos da sociedade. Atua, também, em consodito produtivo orientado, dando tratamento preferencial às nância com o Plano Plurianual para a Amazônia Legal (PPA) e atividades produtivas de mini e pequenos produtores rurais e com as prioridades espaciais e setoriais definidas pelas Unidamicro e pequenas empresas. des Federadas da Região Norte. “O programa apoia a amplia RUMOS – 19 – Março/Abril 2014
R Estamos mais preparados? REPORTAGEM
ENERGIA
Por André Tennitz
Apesar de os reservatórios hidrelétricos estarem operando a níveis muito próximos aos de 2001, são poucos os que acreditam que o país possa viver um cenário de racionamento de energia em 2014. A Rumos buscou as explicações de governo e especialistas para entender o que, afinal, diferencia esses dois momentos
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escassez de chuvas dos últimos meses fez renascer os temores sobre a possibilidade de racionamento de energia no país e reacendeu discussões sobre a confiabilidade do sistema elétrico. A redução do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que concentram 70% do armazenamento de água do Sistema Interligado Nacional (SIN), levou analistas, empresas de consultoria e empresários do setor a alertar para o risco de o país passar novamente pela situação vivida em 2001, quando, devido a um quadro hidrológico bastante adverso, residências, estabelecimentos comerciais e indústrias foram induzidos pelo governo a reduzir o consumo médio em 20%. No primeiro trimestre de 2014, os índices de chuvas no Sudeste/Centro-Oeste foram os mais baixos das últimas décadas, sendo os de fevereiro os piores em 80 anos. O mês de março terminou com os reservatórios da região com apenas 36,27% de sua capacidade, nível bastante próximo dos registrados em há 13 anos nessa mesma época, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pelo gerenciamento do SIN. Como aproximadamente 64% da capacidade de geração de energia do país é baseada em hidrelétricas, empresários e grandes consumidores de energia se colocaram em alerta. O governo, no entanto, sustenta que não há motivos para temer o pior. Em audiência pública na Câmara dos Deputados em 19 de março, o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Zimmermann, admitiu que a queda na capacidade de geração das hidrelétricas acendeu um “sinal amarelo”, mas descartou o risco de racionamento de energia. Na avaliação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), colegiado formado por seis órgãos oficiais ligados ao setor, o sistema “apresenta-se estruturalmente equilibrado, com sobras em termos de balanço energético”. Somente em caso de agravamento ainda maior do
cenário traçado para as chuvas nas bacias que abastecem os principais reservatórios do país, afirma o comitê, haveria dificuldade de suprimento de energia em 2014. A confiança do governo se baseia no fato de que, diferentemente de 2001, o país conta hoje com um parque de geração térmica capaz de atender quase um terço da demanda nacional, independentemente do regime de chuvas. Com isso, mesmo com os reservatórios das hidrelétricas em níveis muito baixos, o país teria condições de atravessar o período seco, entre maio e novembro, quando o armazenamento de água deve cair ainda mais, sem a necessidade de medidas incisivas de contenção do consumo. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao MME, responsável pelo planejamento do setor, desde a crise de abastecimento do início do século, a capacidade de geração nacional de energia aumentou acima da demanda. Conforme os dados da estatal, de 2001 a 2013 o consumo cresceu 50%, mas a capacidade instalada aumentou 72%. Somente depois de 2005, de acordo com os dados da empresa, os leilões para a contratação de energia permitiram um acréscimo de 67,4 MW de capacidade no sistema, ainda que nem tudo tenha sido ainda entregue. Cerca de metade dessa capacidade nova é de usinas térmicas. A expansão, na avaliação da EPE, decorreu em grande parte de mudanças no marco regulatório do setor, em 2004, que estimularam os investimentos em geração e distribuição. Com as novas regras, os projetos de geração passaram a contar com garantia de demanda das distribuidoras, o que deu mais segurança aos investimentos. As mudanças permitiram ainda que a rede de transmissão fosse ampliada. Hoje, existem 116 mil quilômetros de linhas, o que permite a transferência de carga de uma bacia para outra, em caso de necessidade. Em 2001, por exemplo, boa parte da energia produzida na Região Sul não pôde ser dirigida para o mercado do Sudeste por falta de canais de transmissão.
RUMOS - 20 – Março/Abril 2014
Marcello Casal Jr./ABr
Marco regulatório de 2004 permitiu a ampliação da rede de transmisão: três anos antes, a energia produzida na Região Sul não pôde ser dirigida para o mercado do Sudeste por falta de canais de transmissão.
Consumo – O consumo de energia no país vem aumentando fortemente nos segmentos residencial e comercial, que mostram desempenho acima da média geral. Entre 2004 e 2013, segundo os dados da EPE, as altas foram de 59% e 68,5%, respectivamente. Considerando somente os dois primeiros meses deste ano, enquanto o consumo total aumentou 6,8% em relação ao mesmo período de 2013, a demanda das residências avançou 10,6%, e a do comércio, 12%. Esse perfil de evolução reflete o aumento da renda das classes C e D nos últimos anos, que turbinou as vendas do varejo e ampliou o uso de eletrodomésticos entre a população. No início deste ano, a tendência foi acentuada pela forte onda de calor que atingiu vastas regiões do país, provocando a utilização mais intensa de ventiladores e aparelhos de arcondicionado em residências e instalações comerciais. Chama a atenção, porém, o baixo índice de crescimento do consumo industrial, de 1,2% no bimestre, e de apenas 1% em 12 meses. Reflexo do ritmo fraco de atividade do setor, a baixa demanda da indústria, que absorve quase 40% da carga do sistema, vem contribuindo para evitar problemas mais agudos no fornecimento de energia. Para o presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel), Reginaldo Almeida de Medeiros, caso o PIB do país estivesse se expandindo a taxas mais robustas, a situação seria outra. “Considerando a demanda atual, com uma economia rodando em baixa escala, o parque térmico atende. Mas é uma situação não muito fácil de ser administrada, pois estamos utilizando toda a energia térmica disponível”, afirma. Custo maior – Se tem sido capaz de evitar o racionamento de energia de imediato, o uso intensivo das usinas térmicas está provocando um forte aumento dos custos de operação do sistema elétrico, cujos efeitos ainda não estão totalmente dimensionados. O problema atingiu fortemente as distribui-
doras, que acumulam vultosos déficits de caixa por causa do descasamento entre os custos de fornecimento de eletricidade e as receitas tarifárias. O descompasso se tornou ainda mais acentuado porque muitas delas não têm todo o suprimento garantido por contratos de médio e logo prazos com as geradoras e, por isso, vem precisando recorrer ao mercado livre, onde o preço disparou. Desde fevereiro, o custo por MW se mantém em R$ 822,83, valor máximo definido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A estimativa é que o volume de energia a descoberto das distribuidoras chegue a 3,2 GW, o que gerou um passivo da ordem de R$ 10 bilhões nos três primeiros meses do ano. Reginaldo de Medeiros calcula que, se houvesse uma diminuição de apenas 5% no consumo total de energia, seria possível obter uma redução de 70% no custo das térmicas. Outro problema, aponta, é que essas usinas, em operação de forma praticamente continua desde outubro de 2012, precisam parar em algum momento para que seja feita a manutenção das máquinas. Na avaliação do professor Nivalde de Castro, coordenador do grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o sistema elétrico assume cada vez mais as características de um modelo hidrotérmico. A médio prazo, diz ele, a elevação dos custos vai necessariamente acarretar a alta dos preços para oS consumidores cativos. Para impedir o repasse imediato às tarifas, a estratégia do governo tem sido a de diferir esse aumento pelos próximos anos, período em que conta com a melhoria do regime de chuvas, a entrada em operação de novas usinas e a geração de energia a custos menores para compensar as pressões atuais. Em março, os Ministérios da Fazenda e de Minas e Energia anunciaram um pacote de mais de R$ 15 bilhões para socorrer as distribuidoras, dos quais R$ 4 bilhões em repasses diretos do Tesouro e R$ 11,2 bilhões em empréstimo a ser contratado no sistema bancário pela Câmara de Comerci-
RUMOS - 21 – Março/Abril 2014
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REPORTAGEM
ENERGIA
alização de Energia Elétrica (CCEE), com a garantia das receitas futuras das empresas de distribuição. Além disso, para diminuir a exposição das distribuidoras ao mercado de curto prazo, o MME decidiu promover em abril um leilão extraordinário para a contratação, em caráter emergencial, de energia já existente no sistema. A médio prazo, o governo conta ainda com a relicitação das hidrelétricas que tiveram as concessões renovadas para reduzir o impacto da alta de tarifas. Segundo o MME, em 2015 cerca de 5 mil MW passarão a ser fornecidos a custos bem mais baixos que os atuais, já que as novas concessionárias serão remuneradas nos termos da Lei 12.783, ou seja, apenas pela operação e não mais pelos investimentos, que já foram amortizados. Além disso, a expectativa é de que outras fontes comecem a abastecer o sistema a partir do próximo ano, como a ligação de novas turbinas nas usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira (RO), e o início das operações de Belo Monte, no rio Xingu (PA), em 2016.
Térmicas têm a maior expansão Capacidade instalada de geração (MW) Ano
Hidro
Termo
Nuclear
Eólica
Total
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
61.063 62.409 64.473 67.698 69.087 71.059 73.679 76.869 77.545 78.610 80.703 82.459 84.294 86.019
10.623 10.481 13.813 16.130 19.556 19.770 20.372 21.229 22.999 25.350 28.762 31.243 32.775 38.529
1.966 1.966 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007
19 21 22 22 29 29 237 247 398 602 928 1.426 1.894 2.202
73.671 74.877 80.315 85.857 90.679 92.865 96.295 100.352 102.949 106.509 112.400 117.135 120.973 126.755
Fontes: Balanço Energético Nacional/Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Dados de 2013 do Comitê de Monitoramento do Setor elétrico (CMSE).
Críticas ao governo Mesmo com maior capacidade, analistas lembram que o sistema não tem condições de garantir o abastecimento em qualquer situação hidrológica. Segundo a EPE, estruturalmente, o sistema ainda possui uma folga de aproximadamente 6 mil MW entre capacidade de geração e consumo, o que permite classificar como baixo risco de cortes no fornecimento. Consultorias privadas, no entanto, calculam que as chances de o sistema não conseguir atender plenamente a demanda são bem maiores. No final de março, um relatório do Citibank afirmou que a possibilidade de o país ter que racionar energia é praticamente certa: 94%. Mesmo considerando cenários menos desfavoráveis, boa parte dos analistas acredita que seria melhor adotar logo medidas de racionalização do consumo antes que o quadro se agrave ainda mais. “Se a média histórica de precipitação pluviométrica continuar baixa, o governo terá que tomar a decisão de determinar políticas de redução de consumo. Na nossa avaliação, o Ministério de Minas e Energia já deveria ter adotado medidas voluntárias, simples e diretas, que diminuiriam o consumo e preservariam os reservatórios para o período seco de maio a novembro, quando a série histórica indica que as chuvas são poucas”, afirma o professor Nivalde de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Castro reconhece que o sistema elétrico hoje é mais confiável do que em 2001, em função do planejamento que estimulou a construção das térmicas. “No entanto, como nossa matriz é predominantemente hidrelétrica, o risco hidrológico é inerente. E, como estamos enfrentando uma crise climático-hidrológica de grandes proporções, falta ‘combustível’ – água – para nossas usinas”, salienta. Calendário político – O presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello, observa que a tomada de decisões pelo
governo está sendo fortemente influenciada pelo calendário político, num ano em que o país vai estar exposto à atenção mundial por sediar a Copa do Mundo de Futebol. Por isso, não acredita que sejam adotadas ações restritivas ao consumo, que teriam ampla repercussão negativa, antes das eleições de outubro. Na avaliação dele, embora o clima adverso tenha tido papel fundamental na configuração do atual quadro de incertezas, a situação foi agravada pelo que classifica como um “somatório de erros” cometidos em anos recentes. Entre eles, Mello destaca a Medida Provisória 579, de setembro de 2012, que pressionou geradoras e empresas de transmissão de energia a antecipar a renovação, em bases tarifárias mais baixas, de contratos de concessão que venceriam entre 2015 e 2017. O objetivo era obter uma diminuição média de 20% nas tarifas para os consumidores, atendendo um antigo pleito de setores da indústria. Além de reduzir a receita das concessionárias, a MP, posteriormente convertida na Lei 12.783/2013, indenizou as empresas pelos ativos existentes em valores abaixo dos pretendidos. Para Mello, a medida, que atingiu pesadamente a federal Eletrobras e pequenas centrais (grandes geradoras estaduais como Cesp e Cemig não aceitaram os termos propostos), limitou a capacidade de investimento dos agentes que já participam do mercado e tirou a confiança de novos investidores. “O setor percebeu que ficou vulnerável à caneta do poder”, resume. Além de ter efeito patrimonial e financeiro negativo sobre as empresas – somente a Eletrobras, controladora das gigantes Chesf Furnas e Eletronorte, fechou balanços com prejuízo acumulado de R$ 13,2 bilhões em 2012 e 2103 –, a decisão de cortar as tarifas emitiu um sinal econômico que induziu ao aumento do consumo, num cenário que já era de demanda crescente.
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MUDANÇAS
CENÁRIOS DO RIO Por Carmen Nery
Foco nas pessoas Diretora da Agência Estadual de Fomento (AgeRio) fala sobre as mudanças que a instituição está promovendo para o aprimoramento dos processos da área de Recursos Humanos; iniciativas incluem um novo Plano de Cargos e Salários (PCS), renovação na estrutura de gestão e investimento em capacitação da equipe.
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Agência Estadual de Fomento do Rio de Janeiro (AgeRio) vem passando por uma série de reformulações na área de Recursos Humanos e adotando ações que potencializam a gestão de RH, como o Novo Plano de Cargos e Salários (PCS), o Novo Plano de Funções Gratificadas, o Programa Crescer com a AgeRio (de capacitação), o Programa Qualidade de Vida e a Gestão por Competências. O concurso público em andamento já contempla todos os aspectos da nova orientação definida no planejamento estratégico da agência. “Todo trabalho é fruto do Programa Modernizar para Competir, que colocamos em curso desde o início da nova gestão da agência”, afirmou Helia Azevedo, diretora de Administração e Finanças da instituição. “Quando chegamos à AgeRio, em julho de 2012, encontramos uma equipe com níveis de conhecimento e formação elevados – a maior parte tinha nível superior e pósgraduação. Mas, por meio de um diagnóstico elaborado por consultoria especializada, foi identificado que, apesar dos altos níveis de competência e formação, havia elevado turn over, por faltar uma perspectiva de trajetória profissional”. Segundo Helia, o plano de cargos e salários existente naquela época não possibilitava a retenção de talentos. Outra questão ressaltada pela diretora era a inexistência de um regime de alçadas, o que fazia com que as decisões do dia a dia fossem praticamente centralizadas na Diretoria. As funções eram integradas pelos cargos de “chefia de departamento” e de “assessor comissionado”, sem poder deliberativo, e com uma política de remuneração desalinhada das práticas do mercado, situação incompatível com os novos desafios organizacionais da empresa. Assim, o PCS foi pensado visando ao alinhamento com o futuro da agência, no âmbito do planejamento estratégico, pois, de acordo com a diretora, foi identificada a necessidade de se investir no principal ativo da empresa: as pessoas. “Quando desenhamos o planejamento estratégico, vimos a oportunidade de se desenvolver um plano de cargos e salários sob a ótica da missão, da visão e dos valores, que foram revisa-
dos. Seguramente um dos pontos mais importantes para uma boa e adequada gestão de recursos humanos é a existência de um Plano de Cargos e Salários aderente à dinâmica, estratégia e eficiência dos negócios da organização. O valor do conhecimento de cada pessoa contribui para o crescimento da organização e pode ser maior ou menor de acordo com as políticas e práticas de gestão aplicadas”, complementou Helia. Planejamento Estratégico – Sobre o Planejamento Estratégico foram definidos objetivos e projetos que propiciarão a concretização da missão da agência: “Fomentar, por meio de soluções financeiras, o desenvolvimento sustentável do estado do Rio de Janeiro, com excelência na prestação de serviços”. Como ação decorrente, foi revisado o Estatuto da Agência para adequá-lo à nova visão empresarial, permitindo a criação de Comitês deliberativos e a adoção de Regimes de Alçadas, dentre outras ordenações. Já no campo das pessoas, foram ressaltados dois objetivos: formação e capacitação dos empregados (Programa Crescer com a AgeRio) e o projeto PCS. Um dos pontos de atenção foi pensar num PCS que pudesse ter regras de movimentação salarial, possibilidade de carreira e mecanismos para atrair, manter e desenvolver profissionais com as competências adequadas aos desafios da AgeRio. “Estruturamos um PCS apoiado em premissas que contemplem captação e retenção de talentos e, ainda, a melhoria do clima organizacional, levando a ganhos de produtividade”, reforçou Helia. Fizeram parte das etapas de elaboração do PCS entrevistas para diagnosticar os processos, as competências e as atribuições, cujo objetivo era mapear os cargos que seriam necessários à empresa na visão do seu negócio. Para a diretora, este mapeamento foi fundamental para o melhor entendimento do negócio da empresa. A partir desse levantamento, foram identificadas duas categorias de carreiras específicas e com competências próprias – a profissional e a de analista de desenvolvimento, categorias consideradas estratégicas para a restauração da empre-
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Gestão – Em paralelo ao plano de cargos e salários foi criado um Plano de Funções Gratificadas (PFG). Esse plano veio no bojo de uma nova estrutura organizacional, permitindo a instalação dos Comitês Estatutários e a implementação do Regime de Alçadas. Com o PFG foram criados dois níveis gerenciais: superintendente e gerente executivo. No mesmo nível hierárquico do gerente executivo há, ainda, o gerente regional de negócios, que representa a empresa nas regiões onde ela está presente. “Hoje 54% das funções gratificadas gerenciais são ocupadas por concursados”. Os planos tiveram aprovação do Conselho de Administração da empresa e foram divulgados para todo corpo funcional. O novo PCS ficou aberto à adesão por trinta dias. Nesse período foram feitas palestras para elucidar as mudanças, os trilhos de carreira e a nova tabela salarial, a fim de que as pessoas pudessem fazer suas escolhas. Crescer – Outro objetivo estratégico foi a busca de capacitação por meio do Programa Crescer com a AgeRio. Para municiar a iniciativa, foram realizadas entrevistas com os gestores. A
SXC Divulgação
sa, revisão de seus processos e definição do setor jurídico e o de engenharia, além dos macro espaços de atuação: financeiro, administrativo, operacional e de controladoria. Além das duas categorias, foram criados quatro níveis (verticais) – júnior, pleno, sênior e especialista –, e uma régua de seis graus (horizontais) para cada nível. O candidato aprovado é admitido no nível júnior, enquanto o enquadramento por níveis se dá por promoção, e a evolução nos seis graus horizontais, por progressão. Essa evolução de carreira ocorre por meio de uma avaliação de desempenho, pois o PCS traz uma nova sistemática de gestão por competências. “A partir de três anos, o profissional tem oportunidade de crescer na visão da promoção de níveis. A média de mercado é de cinco anos. Já há um grupo que, em 2015, passará a ser elegível à promoção (nível). A gestão por competência avalia conhecimento, habilidade e atitude”, esclareceu Helia. Helia explica ainda que foi contemplada a integração de profissionais que entraram na empresa por meio de concurso para nível médio – cargo que foi extinto no novo plano. Apesar de terem entrado para o cargo de nível médio, todos tinham nível superior. “A tabela salarial foi mantida, mas criamos o cargo de assistente administrativo, respeitando todas as atribuições do cargo original e permitindo que eles pudessem aderir ao novo plano”, disse Helia. A análise de todos os postos de trabalho da empresa permitiu a definição de uma estrutura de cargos e salários mais compatível com os conceitos modernos de gestão de pessoas. Há possibilidade de crescimento e gestão de carreira tanto para profissionais que venham ingressar na empresa, como para aqueles que já fazem parte do seu quadro de pessoal.
Helia Azevedo, diretora de Administração e Finanças
partir das entrevistas, foram definidas quatro dimensões com ações educacionais dirigidas à formação: de Líderes, Negocial, de Sustentação ao Negócio e Geral. O programa está sendo executado por meio de três formas básicas. A primeira é o treinamento in company com conteúdo específico para a agência. A segunda inclui cursos de mercado que tenham aderência com o negócio da instituição. E, por fim, a terceira, que, por meio de parcerias e convênios com a Universidade Caixa, já permitiu criar o Portal Educacional AgeRio, com cursos de ensino a distância e presencial para formação de líderes. Como extensão das reformulações de RH, será criado o Programa Qualidade de Vida, com diversas ações direcionadas a bem-estar, saúde e cidadania. Segundo Cinthia Bastos, superintendente de Gestão de Pessoas, o programa contará com ações voltadas, inicialmente, ao bem-estar, como sessões de shiatsu e massagem laboral no ambiente de trabalho. Outra ideia é a ginástica com técnicas de alongamento para que os empregados corrijam a postura inadequada. “Haverá também palestras sobre ergonomia, hábitos saudáveis e estímulos a cuidados básicos da saúde. E vamos discutir com outras áreas as ações voltadas a cidadania e questões ambientais. A ideia é que os programas sejam sustentáveis”, concluiu Cinthia.
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SUL EXTREMO
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REGIONAL Por Carmen Nery
Novo impulso ao fomento Recriação de órgão nos moldes da extinta Sudesul, em fase de estudos, coroa fase de expressivo crescimento do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE); história do banco se confunde com o desenvolvimento econômico da região
riado em 1961, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) consolidouse como o banco de referência em crédito de longo prazo e teve papel fundamental para o desenvolvimento econômico dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Desde 2009 passou a atender também ao Mato Grosso do Sul, que ingressou no Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul). Hoje, o BRDE possui contratos vigentes em 1.056 cidades, número equivalente a 88,7% dos municípios da região. E essa atuação de fomento ao desenvolvimento deverá ser fortalecida. No final do ano passado, o Codesul determinou que o BRDE formatasse um estudo para a recriação de um órgão nos moldes da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Região Sul (Sudesul), num modelo similar aos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). O foco é o desenvolvimento regional, com investimento em grandes projetos de infraestrutura – ferrovias, portos, estradas – e ampliação do apoio a empreendedores de todos os portes. Segundo o diretor-presidente do BRDE, Jorge Gomes Rosa Filho, o estudo propõe duas fontes de recursos: a edição de uma medida provisória para incluir a nova superintendência no Orçamento Geral da União e uma emenda para a criação de um fundo constitucional a ser alimentado por 1,2% dos recursos que a União arrecada com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto de Renda (IR). “É importante frisar que o novo órgão de desenvolvimento não terá estrutura grande e própria. O estudo preparado pelo corpo técnico do BRDE prevê uma superintendência formada por servidores das secretarias de Planejamento dos estados do Sul apoiados por colaboradores do banco e utilizando a estrutura física da instituição financeira
de fomento. A meta é que, com o pleno funcionamento da entidade, os produtores rurais, cooperativas, empreendedores, empresas e indústrias parem de se preocupar com os altos custos gerados pela falta de infraestrutura e com a deficiência logística. Nossa economia ganhará competitividade no mercado global. Hoje, da porta para dentro, os produtores e empresas da região são competitivos. Da porta para fora, o poder público não consegue criar as condições necessárias para que os produtos não ganhem um adicional de custo pela falta de infraestrutura”, diz Gomes Rosa. A trajetória do BRDE se confunde com o próprio desenvolvimento econômico da Região Sul. O presidente do banco explica que a finalidade da instituição é atuar como o braço financeiro dos estados do Codesul em suas políticas públicas de desenvolvimento. Nos anos 1960, o Sul do Brasil estava iniciando seu processo de industrialização, o que permitiu à instituição participar desse desenvolvimento tendo como slogan “Parceiro para crescer”. Cooperativismo – Foi assim também que o banco viu nascer e apoiou, desde o início, o cooperativismo, marca forte da economia regional. Com suas linhas de financiamento, apoiou a fundação e o desenvolvimento das cooperativas agrícolas em várias etapas. No princípio, as cooperativas apenas armazenavam a sua produção e o BRDE esteve presente financiando a construção de armazéns. A partir dos anos 1970, as cooperativas passaram a agregar valor aos produtos agropecuários, industrializando o que antes só era armazenado. Gomes Rosa destaca que a evolução do agronegócio na Região Sul é orgulho para o país. “Hoje podemos ver em cooperativas de sucesso, a exemplo da Coamo, que tem um mapa que aponta os produtos saindo de Campo Mourão, no Paraná, para diversas partes do mundo, como Pequim, na China, e Ottawa, no Canadá. A empresa compete com as multinacionais de alimentos graças à sua
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capacidade de agregar qualidade, preço e tecbanco foi responsável pelo financiamento nologia de uma forma extraordinária”, diz o de R$ 500 milhões em projetos agroindiretor-presidente do BRDE. dustriais. O BRDE está cumprindo muito “O BRDE foi o grande bem o seu papel de promover o desenvolO banco também apoiou a organização da economia dos estados da região. No Paraindutor da montagem vimento. Quando o banco financia uma ná, o Sistema Ocepar é formado por três cooperativa, atinge milhares de associada infraestrutura das dos”, ressalta o presidente do sistema Ocesociedades distintas, sem fins lucrativos, que, em estreita parceria, se dedicam à reprepar, João Paulo Koslovski. cooperativas” sentação, ao fomento, à defesa sindical, ao Resultados – Em um quadro amplo, o desenvolvimento, à capacitação e à promoJoão Paulo Koslovski, desempenho da instituição nos últimos ção social das cooperativas paranaenses: o presidente do Sistema Ocepar anos é expressivo. Em 2011, o banco cresSindicato e Organização das Cooperativas ceu 23,2% em relação ao ano de 2010, atindo Estado do Paraná (Ocepar), o Serviço gindo um montante de R$ 1,7 bilhão em Nacional de Aprendizagem do Cooperaticréditos concedidos. Em 2012, o crescivismo do Paraná (Sescoop-PR) e a Federamento foi de 68% em relação a 2011, somando R$ 2,9 bilhões ção e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná em financiamento. E, em 2013, a expansão foi de 28%, num (Fecoopar). total de R$ 3,8 bilhões em operações de crédito. Os recursos Segundo João Paulo Koslovski, presidente do Sistema para micro e pequenos produtores alcançaram, no ano passaOcepar, as cooperativas – participando dos diversos ciclos do, R$ 116 milhões; para micros e pequenas empresas, somou econômicos do estado do Paraná – foram sendo estruturadas R$ 616 milhões. As médias empresas receberam R$ 450 em setores específicos da economia rural e urbana, principalmilhões; as médias e grandes, outros R$ 194 milhões; e os mente nas áreas da agropecuária, crédito, saúde, transporte, grandes grupos foram financiados em R$ 1,6 bilhão. infraestrutura, trabalho, educação, consumo, turismo e habi“Em 2013, os R$ 3,8 bilhões de financiamentos resultantação. O Sistema Ocepar coordena um trabalho de representes de 1.056 contratos de 7,3 mil clientes viabilizaram investitação junto aos governos dos estados e federal nas demandas mentos totais de R$ 6 bilhões. O ICMS recolhido por esses de crédito e leis de apoio ao cooperativismo. projetos atingiu R$ 426 milhões, e foram gerados 69 mil “É também de orientação técnica, consultiva dos assunempregos. Apesar do aumento substancial na concessão de tos ligados ao cooperativismo e tem um papel significativo crédito, o ano passado foi excepcional na redução dos índices em capacitação por meio do Sescoop, que já capacitou 151 de inadimplência que chegaram a 1,92% ante 2,97% do sistemil pessoas somente em 2013”, enumera Koslovski. ma financeiro nacional. Outro fato marcante de 2013 é que o O cooperativismo paranaense é formado por 240 coopeBRDE é a primeira instituição credenciada pela Finep para rativas registradas na Ocepar, com mais de 735 mil cooperaoperar o programa de inovação Inovacred”, comemora dos e 62.300 colaboradores. As cooperativas faturaram cerca Gomes Rosa. de R$ 43 bilhões no ano de 2013 e congregam em torno de 2 No ano passado, os três estados controladores do BRDE milhões e 500 mil paranaenses. Werner Tschoeke, gerente de manifestaram uma posição favorável em capitalizar a instituiAcompanhamento e Recuperação de Créditos da agência do ção com aporte de R$ 200 milhões para cada um. Hoje, o capiBRDE no Paraná e um dos funcionários mais antigos da instal social da instituição é de R$ 85 milhões e com o aumento tituição, lembra que o cooperativismo no estado é baseado de capital passará a R$ 685 milhões. Com isso, o fator de alaem três modelos. O primeiro é a organização a partir da base vancagem será aumentado em sete vezes, atingindo R$ 4,2 de agricultores reunidos na Acarpa, que conta com expoenbilhões. “Nossa meta para 2014 é operar R$ 3 bilhões, um tes como a Coamo, C. Vale, Copagril, Copacol, Lar e Coasul. pouco menos que em 2013 em função da elevação da taxa de O segundo modelo foi criado de cima para baixo por uma inijuros que faz com que haja uma redução na procura pelo créciativa do Instituto Brasileiro do Café (IBC), que chegou a dito”, antecipa Gomes Rosa. reunir mais de 20 cooperativas no norte do Paraná, das quais O diretor-presidente do BRDE faz questão de distinguir apenas duas prosperaram: Cocamar e Cocari. a atuação do banco de fomento em relação aos bancos “O terceiro modelo é o étnico, com raízes nas comunidacomerciais. Embora essas instituições financeiras tenham des de imigrantes europeus, que procuraram organizar estruacesso às mesmas linhas de financiamento do Banco Nacioturas comuns para compra e venda de sua produção, além de nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o suprirem suas necessidades de consumo e crédito por meio foco é a concessão de crédito a projetos que representem baide sociedades cooperativistas”, diz Tschoeke. xo nível de risco e operações em que é assegurado o lucro. Já o “O BRDE sempre foi um banco que acreditou no cooBRDE leva em conta as políticas de desenvolvimento dos perativismo e foi o grande indutor da montagem da infraesestados controladores, os fatores sociais e, também, econôtrutura das cooperativas. Inicialmente, com o apoio à consmicos. “O BRDE trabalha em conjunto com os governos trução dos armazéns que passaram a dar sustentação ao receestaduais para induzir investimentos, para promover e favobimento da safra na década de 1970. E, nos últimos anos, o recer a ação da iniciativa privada em áreas carentes de emprebanco apoiou o desenvolvimento agroindustrial. Em 2013, go e com baixos níveis de renda familiar”. só no Paraná, as cooperativas investiram R$ 2,1 bilhões, e o n RUMOS - 27 –Março/Abril 2014
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REPORTAGEM
ESPECIAL - ABDE 45 ANOS
Por Gilberto Negreiros
Aos 45 anos, de cara nova ABDE lança nova marca e reafirma seu papel histórico de apoio ao desenvolvimento sustentável do país. Para revisitar essa trajetória, a Rumos ouviu ex-presidentes e colaboradores da entidade, que também ajudam a traçar os próximos passos da instituição – o que ela projeta para si própria e para o Brasil
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ABDE chega aos 45 anos com o vigor de uma instituição que atravessou quatro décadas e meia mantendo intacta, por todo esse tempo, sua marca de origem – o desenvolvimento econômico do Brasil. A partir de agora denominado Associação Brasileira de Desenvolvimento, este grupo que reúne atualmente 29 agentes públicos e cooperativos, entre bancos, agências e entidades de fomento, tendo à frente o BNDES, viveu momentos difíceis, mas hoje se apresenta robustecido para enfrentar o desafio de ser porta-voz do Sistema Nacional de Fomento e em sua missão de capacitar seus associados para atuarem como instrumentos do processo de desenvolvimento, respaldado no tripé planejamento de longo prazo, sustentabilidade e inclusão social. Criada em 29 de março de 1969, na cidade de Araxá, em Minas Gerais, a ABDE nasceu como associação representante dos bancos públicos de desenvolvimento, em um período que o país era governado pelos militares. Hoje se apresenta revigorada por um processo interno de renovação, cujos pontos de destaque foram o lançamento, em 2012, da Carta ABDE, estabelecendo os postulados do Sistema Nacional de Fomento, e o branding que reposicionou a marca da entidade. Entre os dois marcos, que vão da década de 1970 do século passado ao governo da presidenta Dilma Rousseff, ocorreram profundas transformações: milagre econômico; década perdida dos anos 80 e hiperinflação; privatizações e submis-
são ao Consenso de Washington; estabilização e monetária, com o Plano Real; e retomada do crescimento com forte participação estatal, a partir de 2004, no governo do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em todos esses episódios, o nome da ABDE se manteve como referência entre os setores da sociedade incondicionalmente alinhados na defesa do desenvolvimento, mesmo quando a economia dava sinais de fraqueza. Esse aspecto foi ressaltado pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho: “Desde a sua fundação, a ABDE é uma instituição que tem como compromisso o desenvolvimento, e faz com competência o trabalho de divulgação de conhecimentos através da revista Rumos”. A ligação estreita com o BNDES é um aspecto importante na trajetória da ABDE, que tem como presidente do seu Conselho dos Associados o presidente do banco. Depois de declarar que exerce essa função na entidade “com muito prazer”, Coutinho elogiou o processo de sua modernização, destacando a realização do curso de Desenvolvimento Econômico, em parceria com o Instituto de Economia da UFRJ. “Esse foi um dos projetos mais estimulantes desta nova fase”, disse Coutinho. Na comemoração dos 45 anos, Rumos ouviu integrantes e ex-integrantes dos quadros da ABDE. As entrevistas permitem a montagem de um painel que rememora passagens dessa travessia que já soma quase meio século. E também
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Flora Egécia
Seminário realizado em Brasília celebrou os 45 anos da instituição, com debates sobre o crédito ao desenvolvimento e o lançamento da nova marca da ABDE, agora denominada Associação Brasileira de Desenvolvimento.
apontam os novos caminhos que devem balizar a trajetória dos próximos 45 anos: consolidar a posição de entidade dedicada ao aprimoramento de normas e processos, visando assegurar o protagonismo dos agentes públicos na promoção do crescimento econômico. Estigma – A trajetória da ABDE tem início auspicioso coincidente com a arrancada do breve milagre econômico, que na primeira metade da década de 1970 fez do Brasil alvo de admiração por todo o mundo. Na euforia do crescimento, os bancos estaduais de desenvolvimento assumiam papel fundamental no financiamento de projetos. Mas o milagre foi sonho fugaz desfeito na crise da dívida externa, que levou o Estado brasileiro à falência e abriu caminho para o sombrio período 1979-1989, marcado por estagnação e hiperinflação. Nesse quadro de depressão, os bancos de desenvolvimento se enfraqueceram. Já em meados dos anos 90 do século passado, o saneamento financeiro promovido pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso estigmatizou os bancos de desenvolvimento, então o cerne da ABDE, como exemplos de ineficiência e irresponsabilidade fiscal dos estados. Oriundo do quadro técnico do BNDES, onde ingressou em 1974 ainda engenheiro recém-formado, e superintendente-executivo da ABDE desde 2009, Marco Antonio de Araujo Lima inclui-se entre os que consideram haver boa dose de
injustiça na estigmatização dos bancos públicos que constituíram o núcleo original da associação. “Na década de 1970, os bancos de desenvolvimento liberavam mais recursos que os bancos de investimento, que eram privados”, argumentou. “Além disso, tinham equipes muito competentes, que conheciam as empresas melhor que o BNDES, que então começava a atuar nesse setor.” Mas os anos 80 trouxeram a crise que se prolongou por toda a década. “A crise causa primeiro a queda dos investimentos. Caindo o investimento, caiu o mercado dos bancos de desenvolvimento. Com problemas financeiros, as empresas passaram a requerer recursos para saneamento.” Sem projetos para financiar, alguns governos estaduais usaram os bancos de desenvolvimento para captar recursos. Foi quando muitos deles se tornaram financeiramente inviáveis. Com o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) eles foram fechados, restando hoje apenas o BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais), Bandes (Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo) e BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul). Presidente do BDMG (1979-83) e da ABDE (1980-81), Luiz Aníbal de Lima Fernandes participou, na linha de frente, de um período em que “o país estava em recessão, mas existia um sistema nacional de bancos estaduais de desenvolvimento liderado pelo BNDES, que funcionava como irriga-
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REPORTAGEM
ESPECIAL - ABDE 45 ANOS
dor de recursos para os estados. E a ABDE tinha o papel de realçar esse sistema, que se baseava em um conceito de desenvolvimento”. Itaipu – Como prova de que houveram avanços mesmo em um cenário de dificuldades para área de fomento, ele citou o papel da ABDE na criação do pool de bancos de desenvolvimento que financiou uma das linhas de transmissão da usina hidrelétrica de Itaipu. “Na qual nenhum banco privado tinha interesse”, lembrou. Fernandes não tem dúvida de que o futuro da entidade que presidiu é recuperar o conceito de desenvolvimento que integrava BNDES e bancos de desenvolvimento em um sistema. “Mas o banco de fomento de hoje tem que se ver como agente financeiro, precisa ter gestão bancária e assegurar o retorno do capital investido nas operações. Não pode mais ficar no laissezfaire de só registrar prejuízos a cada mês”, enfatizou. Fernando Perrone ocupou a superintendência da ABDE de 1985 a 1990. O último ano da sua gestão coincidiu com o início do governo do presidente Fernando Collor, “quando nuvens negras no horizonte prenunciavam o fim da era dos bancos de desenvolvimento”. Mas ele acrescentou que o período anterior tinha sido “extremamente profícuo” para os bancos de desenvolvimento. “Foi um período áureo da ABDE”, afirmou. “Estávamos na transição da ditadura para a democracia e a ABDE assumiu o papel de aglutinadora dos bancos de desenvolvimento, que passaram a ter mais autonomia diante do governo federal. A nossa entidade passou a canalizar os interesses e a promover a capacitação desses bancos.” Perrone marcou sua passagem pela superintendência também pela incorporação da Caixa Econômica Federal e do Sebrae à ABDE. “No momento em que se previa o enfraquecimento da associação, em virtude da crise dos bancos de desenvolvimento, nós ampliamos a base dos associados.” A abertura para o mundo do empreendedorismo significou, efetivamente, um enriquecimento para uma instituição que já tinha como seu norte o desenvolvimento. O diretortécnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, enfatizou esse
aspecto: “Foi uma grande oportunidade para estreitar os laços entre a agência de desenvolvimento brasileira voltada para os pequenos negócios, o Sebrae, e as instituições financeiras vocacionadas para o desenvolvimento. Por meio de inúmeras parcerias, ações e projetos conjuntos, conseguimos avançar na aproximação dos pequenos negócios com os associados da ABDE. Para nós do Sebrae, é um orgulho poder participar e contribuir com a ABDE”. Nos tempos atuais, o primeiro sinal de alento para as instituições públicas de desenvolvimento surgiria apenas no início dos anos 2000. “Começou a tomar corpo a compreensão de que os bancos de desenvolvimento tiveram participação muito grande no nosso processo de crescimento e que isso não deveria ser descartado”, ressaltou o superintendente Marco Antonio. “Então, por volta de 2002 foram criadas as agências de fomento, embora com menos atribuições que os bancos de desenvolvimento.” Crise – E a história viria abrir novas perspectivas promissoras aos agentes reunidos sob a marca da ABDE. Depois do período de estabilização com recuo da presença do Estado na economia, durante o governo Fernando Henrique, em 2004 veio a retomada do crescimento, já no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas no fim de 2007 sobreveio o terremoto da crise financeira mundial, em um catastrófico cenário que parecia repetir a Depressão de 1929, e que ameaçou condenar a economia brasileira a mais um voo breve. Em ação rápida centrada no poderio de três agentes estatais – BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal –, o governo federal ajudou a manter a economia em atividade, assegurando crédito ao sistema bancário e financiamento de projetos às empresas. Graças a essas medidas anticíclicas, o Brasil emergiu como um dos países que mais rapidamente superaram os efeitos de uma crise que fazia estragos mundo afora. A situação brasileira evidenciou uma das lições a serem extraídas da crise: países dotados de bancos públicos são mais capacitados para impedir que as crises econômicas se transformem em catástrofes. Assim, o fantasma da depressão aca-
Texto
Legenda da foto Da reunião de fundação ao lançamento da Carta ABDE, passando por Assembleias e reuniões do Conselho de Administração,
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“Desde a sua fundação, a ABDE é uma instituição que tem como compromisso o desenvolvimento”. Luciano Coutinho, presidente do BNDES e do Conselho dos Associados da ABDE bou acendendo a centelha para o retorno, com toda a força, do debate sobre a participação estatal no processo de desenvolvimento, que no caso brasileiro é uma referência histórica com raízes fincadas nos anos 30 do século passado. No governo da presidenta Dilma Rousseff, o economista Luciano Coutinho, ao assumir a presidência do BNDES, reconheceu a importância que os bancos públicos tiveram na administração da crise. Isso contribuiu para que o Sistema Nacional de Fomento voltasse a ter papel acentuado na economia. Renovação – Na ABDE, esta evidência do papel fundamental reservado às instituições financiadoras do desenvolvimento produziu efeitos imediatos. Esse momento foi o marco fundamental de um processo interno de renovação, que abre perspectivas revigoradoras no momento em que se comemoram os 45 anos da entidade. Na gestão do então presidente Maurício Chacur, deu-se início à elaboração e implantação do plano estratégico que visa à consolidação do Sistema Nacional de Fomento. Outro quadro originário do BNDES, Chacur, cuja gestão teve início em 2009 e se estendeu até o começo de 2012, foi o iniciador do processo de revitalização da ABDE. “Quando cheguei, percebi a importância que nossa entidade tinha para o desenvolvimento econômico. Por isso, ficava muito incomodado com a situação em que nos encontrávamos há décadas, desde a retração dos bancos de desenvolvimento.” Assim nasceu um projeto que, conforme destacou, “ti-
nha como objetivo fazer com que a ABDE ganhasse efetivamente importância em nível nacional como representante dos bancos de desenvolvimento e agências de fomento, assim como é a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) em relação aos bancos privados”. Quanto às perspectivas para o futuro, Chacur acentuou que, “evidentemente, ainda temos um bom caminho a percorrer”. Antecessor de Chacur no comando da ABDE (20072009) e hoje presidente da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), Pedro Falabella assumiu a entidade em um momento crítico, quando problemas de gestão agravavam os decorrentes da crise dos bancos de desenvolvimento. “Mas superamos a crise e preparamos o terreno para início do planejamento estratégico, que visava a abertura do diálogo dos associados com o Banco Central e o BNDES”, recordou. Falabella destacou como conquista da sua gestão a mudança da Resolução 2.828 do Banco Central. “Foi a resolução que normatizou as agências de fomento, mas impôs seu engessamento. A ABDE propôs e obteve uma série de mudanças na Resolução 2.828. Depois houve a modificação da Resolução 3757. As alterações dessas resoluções foram um grande legado da ABDE”, avaliou. Para o presidente da Afeam, “a ABDE hoje é uma associação mais presente e tem muito a crescer, mas deve manter uma postura mais independente no relacionamento com o Banco Central e o BNDES. Precisamos ser donos do nosso nariz”. A caminhada para os próximos anos já se delineia com o prosseguimento das iniciativas que ampliaram o espaço de atuação da associação. O atual presidente, Carlos Horn, também diretor de Planejamento do BRDE, conduziu o debate entre os associados que resultou na Carta ABDE. Lançado em 2012, o documento é dirigido aos governos federal e estaduais. O texto estabelece uma agenda de medidas a serem tomadas para a consolidação do Sistema Nacional de Fomento, integrado por ncos públicos federais, bancos de desenvolvimento controlados por estados da federação, bancos cooperativos, bancos públicos comerciais estaduais com carteira
são quatro décadas e meia em que o país mudou, as instituições mudaram, a economia brasileira e mundial também mudou... Continua
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REPORTAGEM
ESPECIAL - ABDE 45 ANOS
de desenvolvimento, agências de fomento, a Finep e o Sebrae, transformando a rede de associados em instrumento de desenvolvimento nas dimensões econômica, social e ambiental. Semelhança – Para Horn, “há traços semelhantes entre o momento de criação da ABDE e o atual”. A entidade, lembrou, “é um dos frutos do período de desenvolvimentismo brasileiro, marcado por forte industrialização, que acabou se esgotando com a crise da dívida externa”, no início da década de 1980. Durante o longo período de estagnação que se estendeu pelos dois decênios seguintes, notadamente nos anos 90 “houve o enfraquecimento dos entes públicos financiadores do desenvolvimento”. Com a chegada dos anos 2000, continuou Horn, “ocorre a reafirmação da importância das instituições públicas de desenvolvimento”. E sublinhou: “Essa é a semelhança entre os momentos de criação e o atual da ABDE: a importância renovada das instituições públicas de financiamento do desenvolvimento”. O secretário de Desenvolvimento e Promoção do Investimento do Rio Grande do Sul, Mauro Knijnik, disse que a ABDE é “uma associação de grande espírito de união que está sendo vitoriosa”. Ex-presidente do BRDE, ele acredita que, “neste momento de revisão da política adotada no passado, a restrição aos bancos de desenvolvimento merece se reestudada”. Após destacar que os bancos de desenvolvimento, núcleo original da ABDE, são instrumentos essenciais na promoção do crescimento “porque têm a percepção das realidades regionais”, Knijnik acrescentou que eles devem atuar em conjunto com o BNDES para a consolidação do Sistema Nacional de Fomento. Comunicação – Ao mesmo tempo que mobilizou os associados com o objetivo de levar as propostas dos agentes regionais às esferas de governo, a ABDE estendeu seu processo
de revigoramento à frente da comunicação, complementando a reinserção estratégica focada no Sistema Nacional de Fomento com o planejamento da sua nova imagem. A iniciativa do branding que operou o reposicionamento da marca foi do então gerente de Comunicação, Luiz Cláudio Dias Reis, que em 2005 assumira a função, junto com a de editor de Rumos. Após assinalar a fundamental importância da criação das Comissões Temáticas da Associação para o processo de revigoramento, ele lembrou que a Comissão de Comunicação foi o berço do plano de reinserção midiática da entidade. “Foi no contexto do Planejamento de Comunicação, iniciado em 2011, que sugeri a reestruturação da marca, com o intuito de relançá-la no universo da sociedade brasileira. Isso era uma necessidade, porque pesquisas indicavam que a marca ABDE se apagara. Havia um hiato de memória, porque quem conhecia a ABDE ainda vinculava seu nome à época dos bancos de desenvolvimento, na década de 1980”, relatou. A flexibilização normativa do Banco Central em relação às agências de fomento representa, na avaliação de Luiz Cláudio, uma das vitórias do amplo processo de renovação pelo qual vem passando a Associação. Para atingir seus objetivos, ressaltou, a ABDE conta, além da importância das Comissões, que aglutinam forças em prol dos interesses do seu conjunto de associados, com outros “dois produtos riquíssimos”: o programa desenvolvido em sua área de Desenvolvimento Profissional, com a realização de treinamentos para os funcionários das instituições associadas, e a revista Rumos. “São duas peças essenciais que fortalecem a ABDE e auxiliam a instituição, cuja capacidade de atuação pode, inclusive, subsidiar os governos na formulação de políticas públicas”, afirmou. Capilaridade – Para a construção de um robusto sistema público de fomento, outro importante diferencial da ABDE é a capilaridade dos agentes aos quais confere sua marca de associação com 45 anos de existência, que é brasi-
Texto
Legenda da foto Mas o nome da ABDE se manteve como referência entre os setores da sociedade incondicionalmente alinhados na defesa do
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Lançada em 2012 e direcionada aos diferentes níveis de governo, a Carta ABDE estabelece uma série de medidas para a consolidação do sistema nacional de fomento.
que estávamos tirando os clientes deles. A solução foi repassar uma parte dos projetos a esses agentes, que também acompanharam a execução junto conosco. E eles deram uma contribuição valiosa, até porque conheciam as empresas melhor que o próprio BNDES. Foi aí que senti, pela primeira vez, a necessidade de haver políticas de crescimento nos estados. É impossível fazer política no país sem ter políticas para os estados.”
Fotos: Arquivo / ABDE
leira e tem como único propósito o desenvolvimento. Sobre isso o superintendente Marco Antonio pode falar com a autoridade da expertise acumulada em sua atividade profissional. Ele participou, na década de 1980, do projeto de plantio de soja no Rio Grande do Sul, em parceria que uniu BNDES e Embrapa. Na presidência da Companhia de Desenvolvimento do Rio de Janeiro (Codin), esteve à frente dos projetos de implantação das montadoras Peugeot e Volkswagen no interior fluminense em 1995, num momento que o estado passava por grave período de decadência. Essas duas iniciativas bem-sucedidas, segundo Marco Antonio, comprovam a relevância do aspecto regional na promoção do desenvolvimento. “O BNDES está centrado no Rio de Janeiro e precisa ter nos estados instituições com competência para fazer a capilaridade financeira e, eu diria, a capilaridade técnica também, porque é necessário conhecer o estado, saber que tipo de projeto dá certo ali”, afirmou. Ele reforçou a afirmação com o relato de outra experiência, que foi o projeto do BNDES para expansão da agroindústria com as empresas Sadia, Perdigão e Ceval, em 1989: “Era o momento em que a inflação estava no pico e ninguém queria investir. A gente dizia aos empresários que, mesmo com aquela situação, era preciso investir, acreditar no país. Fizemos contato com a Sadia, Perdigão e Ceval. Propusemos um plano estratégico para cada uma delas, mas isso provocou uma reação enorme. Os bancos de fomento do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná reclamaram
Agências – As agências de fomento são outro ponto que a entidade considera crucial para que se construa um Sistema Nacional de Fomento poderoso. Hoje existe nas normas regulatórias forte preocupação com essas agências, com o Banco Central melhor aparelhado para fazer o acompanhamento das instituições, resultando em um cenário em que é mais difícil uma agência de fomento se desestruturar por conta de má política ou de gestão. A experiência desta última década mostra que há uma tendência de que os governos cada vez mais olhem as agências de fomento como instituições capazes de executarem políticas públicas importantes. Esse otimismo decorre também de resultados que o processo de revigoramento da instituição começa a produzir. Um dos mais pródigos é a construção de um diálogo constante e mais simples com o BC, que possibilitou alterações na regulamentação das agências de fomento, criando condições para que as instituições utilizem o mercado de capitais e possam operar com novos produtos. Quanto às propostas da Carta ABDE, o estágio é ainda de negociação. Após ver algumas de suas sugestões serem incorporadas ao recém-lançado programa Otimiza BC, a associação adicionou novas solicitações ao órgão. Assim, o processo de negociação torna-se permanente. Outro obstáculo a ser superado na consolidação do amplo sistema estatal de fomento defendido pela ABDE é o que seu superintendente considera como falsa dicotomia entre público e privado. Para ele, o país possui uma vantagem competitiva que não pode deixar de utilizar: a coexistência de um sistema financeiro privado muito competente
desenvolvimento e do protagonismo dos agentes públicos na promoção do crescimento econômico do Brasil.
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Fonte: Banco Central
A participação do Sistema Nacional de Fomento no volume total de crédito do Sistema Financeiro Nacional cresceu de forma significativa a partir da última crise mundial. No ano passado, atingiu 52,5%.
e do Sistema Nacional de Fomento robusto e forte, que tem a capacidade de assumir riscos e apostar no financiamento de longo prazo. “Tanto a Febraban quanto a ABDE têm que trabalhar no sentido de que seus associados atuem para que haja desenvolvimento, porque precisamos de investimentos superiores a 23% em relação ao PIB e esses dois sistemas podem tranquilamente obter esse índice”, comentou. Preconceito – Para Carlos Horn, “ainda vivemos o preconceito por parte de alguns contra os agentes públicos de fomento, o que não se justifica”. O presidente da ABDE lembrou que a entidade “promove o fortalecimento e melhora a governança dos seus associados e cria o cenário para que exerça sua missão de dar voz às instituições financeiras públicas de desenvolvimento, proporcionando condições para que atinjam esse potencial. E isso se faz, sobretudo, através do aperfeiçoamento da regulação, de capacitação e de novas modelagens de financiamento”. Presidente da ABDE de 1979 a 1983, quando deixou o posto para assumir a presidência do BNDES, Jorge Lins Freire disse que, já na época da sua gestão, uma das características da entidade era a integração das instituições associadas “numa relação muito profissional, que enfatizava a formação de equipes de pessoal técnico capacitado”. Ele acrescentou que “a capacitação é tão importante quanto os recursos financeiros para o desenvolvimento”. Segundo Freire, “com ou sem bancos de desenvolvimen-
to, o importante é o financiamento de longo prazo. Hoje, a filosofia deve ser pensar em desenvolvimento, não importa onde estejam os recursos. A ABDE pode atuar como ponte entre os fundos de investimento e as instituições e, também, na capacitação desses agentes”. E acrescentou: “Vejo isso com muito bons olhos”. Qualificação – A qualificação dos quadros técnicos dos associados é considerado requisito essencial à consolidação da rede de instituições públicas de fomento. Para atingir esse objetivo, a ABDE investe em programas de treinamento intensivo, inclusive com o intercâmbio entre técnicos de instituições, que são convidados a conhecerem as melhores práticas das instituições de outros pontos do país. A instituição também pretende promover, nos próximos meses, seminários internacionais de microcrédito e de políticas públicas por meio de sistemas de financiamentos públicos e privados. “Somos uma associação a favor do desenvolvimento e nós acreditamos, sinceramente, que o Brasil tem tudo para intensificar o financiamento de longo prazo, para fazer com que os índices de investimento em relação ao PIB cresçam e que este país gere capacidade de produção, atenda às necessidade de consumo, atenda às necessidades de investimento e exporte para ser competitivo em produtos internacionais, e competitivo também com os produtos de empresas estrangeiras que queiram entrar aqui. A ABDE vai usar toda a sua força no sentido de contribuir para que o Brasil tenha desenvol vimento econômico e social sustentável”, concluiu.
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BRASIL O símbolo, em sua forma e cores, busca remeter à bandeira do Brasil.
EXPANSÃO As laterais curvadas demonstram um país em expansão.
RIQUEZA O degradê amarelo representando a riqueza.
VISÃO A faixa branca que cruza o símbolo demonstra a visão além do horizonte.
CRESCIMENTO O alargamento da faixa representa a perspectiva de crescimento.
TRANSPARÊNCIA As variações de azul representam a transparência da associação.
Uma nova identidade Para marcar os 45 anos da associação, e fruto de um processo que se iniciou ainda em 2011, com a elaboração do Plano de Comunicação, a ABDE lançou em abril sua nova identidade visual. Foi a primeira mudança radical de logomarca da história da entidade (ver quadro abaixo), como símbolo de uma instituição cada vez mais moderna, ágil e dinâmica em sua missão de apoiar o desenvolvimento sustentável do país. O reposicionamento começou a ser construído em 2011, quando a instituição iniciou um trabalho de branding que pretendia facilitar o entendimento geral sobre quem ela é e como atua. Em uma primeira etapa, de construção do branding propriamente dito, a empresa de design Tátil realizou um diagnóstico da marca e fez um estudo sobre o reposicionamento da entidade. Em um segundo momento, após reabertura de diálogo com o corpo de associados, chegou-se à conclusão que era necessário simplificar a descrição da sigla para Associação Brasileira de Desenvolvimento, no lugar de Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento. Posteriormente, foi desenvolvido o desenho da nova marca da associação, eleita pela Assembleia Geral da entidade.
1971
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O trabalho de construção da nova marca foi conduzido pela Dragon Rouge, maior empresa independente de design e branding do mundo, fundada na França e presente em dez países. Entre os clientes mais conhecidos da empresa estão a eletrônica Sony, a multinacional Unilever e, no Brasil, o conglomerado alimentício BRF e a companhia aérea Gol, além de também ter desenvolvido a marca da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), associada à ABDE. A nova logomarca da ABDE traz um losango amarelo e azul, desenhado com laterais curvadas, numa alusão à bandeira brasileira. O desenho é composto por tons sutis: as variações de azul representam a transparência da entidade em sua trajetória e o amarelo remete à riqueza gerada pelos associados, enquanto a faixa branca que cruza o círculo demonstra a visão além do horizonte e a perspectiva de crescimento da associação. Assista ao filme e conheça mais detalhes sobre a nova marca no site www.abde.org.br
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ESPECIAL - ABDE 45 ANOS
Flora Egécia
Seminário reafirma compromisso com o desenvolvimento
Painéis debateram Desenvolvimento Regional, Inovação em Garantias e Financiamento de Operações Estruturadas; na foto, Claudio Torres apresenta a experiência da Desenvolve SP em garantias
Um seminário sobre o papel do Sistema Nacional de Fomento como fonte de crédito para o desenvolvimento e a apresentação da nova marca da ABDE, eventos realizados em Brasília no dia 16 de abril, na sede do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), marcaram a comemoração do 45º aniversário da instituição, a partir de agora denominada Associação Brasileira de Desenvolvimento. Na abertura do encontro, o presidente da entidade, Carlos Horn, disse que sua reestruturação, inserida em um planejamento estratégico, significa “a decisão do corpo de associados de reforçar o nosso compromisso com o desenvolvimento, que é núcleo e o coração do nosso trabalho”. A importância da ABDE foi ressaltada também por integrantes das agências de fomentos da mesa, que teve a participação do diretor de Controle do Bancoob, Rubens Rodrigues Filho. A representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Brasil, Daniela Carrera, destacou que as agências de fomento associadas “são planejadoras e executoras de projetos de desenvolvimento regional”. “Essas instituições financeiras”, prosseguiu, “têm conhecimento da economia de cada estado e sabem como potencializar as capacidades de cada região.” Daniela anunciou que, a partir deste ano, o BID destinará recursos para cooperação técnica com as agências de fomento. Chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, Sérgio Odilon dos Anjos assinalou que o novo nome e a marca da ABDE enfatizam o foco da instituição no desenvolvimento. Para o cumprimento desse propósito, continuou, o marco regulatório que rege os agentes de fomento vem sendo gradativamente aperfeiçoado. “Isso tem que ser feito de forma segura para que não tenhamos problemas”, pontuou. Outro integrante da mesa, Guilherme de Lacerda, diretor das áreas de Infraestrutura Social, Meio Ambiente, Agropecuária e Inclusão Social do BNDES, apontou como
“grande tarefa da ABDE” a integração das agências e bancos estatais de fomento. “Eu quero deixar ressaltado que o BNDES, dentro dessa disposição de fazer mais e gerar funding para o microcrédito e grandes projetos de infraestrutura, precisa recolher da ABDE sugestões e críticas, para elevarmos o Sistema Nacional de Fomento ao nível que ele merece.” A abertura do seminário contou também com a participação dos representantes dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, Valter Bianchini, secretário de Agricultura Familiar; e do Meio Ambiente, Francisco Gaetani, secretário-executivo. Eles destacaram as parcerias entre os ministérios e as instituições financeiras de fomento. "O MDA tem compromisso com o desenvolvimento rural sustentável. Representamos um segmento onde nossas políticas públicas são voltadas para mais de quatro milhões de agricultores familiares em diferentes biomas do país, com diferenças de renda, acesso à terra e às políticas públicas. Esse seminário é importante para pensar na unidade a essas políticas, no rumo da diretriz da ABDE, que se preocupa não só com o desenvolvimento econômico, mas, também, com a inclusão produtiva para reduzir desigualdades e promover o desenvolvimento das futuras gerações”, disse Bianchini. “É importante que vocês se organizem e a ABDE possa ampliar essa interlocução com o governo. A economia vai passar por uma grande reformulação em todo o globo e a sustentabilidade é o DNA dessas mudanças. O que nos distingue em relação aos países em desenvolvimento é a presença de um BNDES, somos vistos como vanguardistas na questão do desenvolvimento. Precisamos pensar em longo prazo sistêmico e os bancos e agências de fomento são muito importantes neste desafio. Vamos ampliar essa interlocução”, reforçou Gaetani. Painéis – Desenvolvimento regional, inovação em garantias e financiamento de operações estruturadas constituíram a pauta
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REPORTAGEM
ESPECIAL - ABDE 45 ANOS
de temas debatidos nos painéis do encontro. O diretor Financeiro e de Controladoria da Finep, Cláudio Guimarães, informou que o programa Inovacred, lançado em 2013 na sede da ABDE, “já conta com 17 e caminha para 19 agentes que estão levando inovação para o Brasil inteiro”. Acrescentou que há 700 empresas com projetos de valor inferior a R$ 10 milhões cada e desse total 390 serão encaminhadas a agentes associados à entidade. O Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), criado há cerca de três anos pelo BNDES, atingiu em março passado a marca de R$ 4 bilhões, perfazendo aproximadamente 21 mil operações, segundo Ruy Gomes, chefe de departamento da Área de Crédito. Outro aspecto por ele destacado é a composição das garantias: “A maioria das contratações é de agentes que não estavam obrigados a fazê-las. O agente financeiro contrata o FGI por entender que é interessante como apoio às suas operações. Isso é uma inovação.” Diretor do Fundo Garantidor de Cooperativismo de Crédito (FGCoop), Lúcio César de Faria disse que o cooperativismo financeiro, surgido em 1995 e hoje contando com 6 milhões de associados, passa por uma fase de consolidação no Brasil. Ele destacou que o FGCoop, uma associação civil sem fim lucrativo, oferece garantia para depósitos com valor até R$ 250 mil. “Nosso esforço é para que as cooperativas de crédito ampliem o leque de produtos e serviços e se tornem cooperativas financeiras”, afirmou. “E para isso contamos com a capilaridade do cooperativismo, característica marcante que é uma forma de inclusão financeira.” Sociedades – O diretor-técnico o Sebrae, Carlos Alberto Santos, assinalou que a expansão do mercado financeiro em direção ao segmento dos pequenos negócios exige formas de garantia de crédito diferentes das convencionais. Deu como exemplo a iniciativa surgida em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde se formou a primeira sociedade de garantia de crédito. “Esse é um instrumento eficaz para a pequena empresa, já que as garantias dadas por essa sociedade são um aval da comunidade à empresa.” Outra forma inovadora é a utilização do crédito do ICMS a ser recebido pela empresa como garantia de financiamento,
adotada com grande sucesso em São Paulo, segundo o diretor de Fomento e Crédito da Desenvolve SP, Claudio Torres. “É uma coisa inédita no Brasil que tem atraído muitos investimentos para São Paulo”, ressaltou. A decisão de superar os gargalos que travam o crescimento da economia com megaprojetos nas áreas de logística e transportes tornou cruciais as operações estruturadas. Nesse segmento é fundamental a presença de dois bancos estatais: BNDES e Caixa Econômica Federal, componentes do Sistema Nacional de Fomento. Parceria – Superintendente da Área de Estruturação de Projetos do BNDES, Henrique Amarante da Costa Pinto definiu como objetivo das operações estruturadas a montagem de projetos focados no modelo de concessões, visando atrair a iniciativa privada para atuação em parceria com o setor público e, ao mesmo tempo, criar parâmetros de qualidade de serviços. Depois de frisar que infraestrutura é serviço público e cabe ao governo atuar com exclusividade nesse setor, diretamente ou por meio de concessão à iniciativa privada, ele acrescentou que “esse é o modelo que vem sendo aplicado com sucesso na modernização de aeroportos, porque quando faz a concessão o governo muda os parâmetros de qualidade dos serviços”. Também para Carlos André Lins Rodrigues, gerente de Clientes e Negócios de Infraestrutura e Saneamento da Caixa Econômica, a parceria com a iniciativa privada é imprescindível para superar o atraso da economia brasileira na área de infraestrutura. “Será necessário investir 5% do PIB durante 20 anos. O modelo de parcerias público-privadas e concessões é o mais adequado para enfrentar um desafio desse tamanho”, afirmou. Rodrigues lembrou que o PAC, lançado em 2007, “foi a primeira proposta estruturante depois de 30 anos de ausência do planejamento governamental”. Em consequência, “a Caixa, que antes era um banco de habitação e saneamento, começou a ocupar, junto com o BNDES, vários espaços: aeroportos, energia elétrica, transportes, telecomunicações, construção naval”. Segundo o gerente de projetos de infraestrutura da Caixa, o setor público arca, atualmente, com 59,4% dos investimentos nessa área. “Mas o governo não poderá enfrentar sozinho o desafio de investir anualmente 5% do PIB. A alternativa será a entrada do mercado de capitais”, disse.
Flora Egécia
Coletânea de trabalhos No seminário, ABDE lançou a coletânea de trabalhos “Sistema Nacional de Fomento: Financiando o Desenvolvimento”. A obra reúne dez artigos, que buscam definir e caracterizar o Sistema, com olhar específico dos autores (técnicos das instituições associadas, na foto ao lado) sobre as realidades locais e como elas dialogam com o contexto geral do sistema. Os artigos foram escritos como trabalho final de conclusão do curso “Desenvolvimento Econômico e Sistema Nacional de Fomento”, promovido pela associação em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Prêmio ABDE Edição 2014
Tema 2: Excelência em Gestão Tema1: Financiamento do Desenvolvimento
Melhores práticas do Sistema Nacional de Fomento
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Envio dos trabalhos até 30 de agosto de 2014
Regulamento no site www.abde.org.br
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Informações: gesec@abde.org.br
Prêmio de R$ 5 mil para o melhor trabalho em cada categoria Premiação para as instituições dos autores vencedores
Realização:
P
PELO MUNDO
ALEMANHA
Noel Joaquim Faiad
Existe alternativa Dayane da Silva Tavares
O
segundo artigo da nossa coluna Pelo Mundo, que pretende caracterizar o sistema de fomento de diferentes países, foi escrito por Dayane Tavares e trata sobre o sistema de desenvolvimento alemão. Dayane chama atenção, no texto, para a importância das instituições financeiras públicas na recuperação econômica e para o desenvolvimento da maior economia europeia, além de nos contar um pouco sobre a complexa divisão do sistema em bancos comerciais privados, bancos públicos e bancos cooperativos e sobre a atuação dos bancos especializados. Elaressalta também a peculiaridade da baixa participação do mercado de capitais no sistema de financiamento produtivo do país. Dayane Tavares é economista de formação, especialista em Economia do Petróleo e Gás pela UFRJ e atua como analista técnica na ABDE. Espero que vocês aproveitem a leitura. Fernanda Feil, economista e gerente de Estudos Econômicos da ABDE
A
recente crise financeiro-econômica iniciada em 2007/2008 nos lembrou que a história do capitalismo é permeada por crises – algumas mais intensas que outras, mas todas assolaram a economia. É interessante notar que, durante esses períodos de instabilidade, uma das alternativas encontradas para minimizar os efeitos dos ciclos econômicos em muitos países, desenvolvidos e em desenvolvimento, foi a criação ou consolidação de bancos públicos de financiamento com o objetivo de fortalecer as economias nacionais. Foi assim nos Estados Unidos, no New Deal, e em parte da Europa, Ásia e América Latina no pós-Segunda Guerra Mundial. A Alemanha não foi exceção. Ainda que os bancos tenham desempenhado papel central na história econômica e financeira alemã desde a Idade Média, o país implantou e aperfeiçoou um complexo sistema bancário público para apoiar seu desenvolvimento e industrialização na reconstrução do pós-guerra (esse sistema foi decisivo também no processo de unificação na década de 1990). Com um Produto Interno Bruto de US$ 3,6 trilhões em 2013, a Alemanha é a quarta economia do mundo. Na Europa é a maior economia, o país mais industrializado e o segundo mais populoso. Apresenta, ainda, baixas taxas de desemprego e de inflação, alto índice de escolaridade e um dos maiores PIBs per capita do mundo, que totaliza US$ 43,9 mil. O setor exportador tem
papel fundamental na economia, tendo sido um dos principais responsáveis pelo crescimento nos últimos anos. No geral, a Alemanha exporta produtos de alto valor agregado, com destaque para veículos, máquinas, equipamentos e produtos químicos. As exportações foram fundamentais para que o país iniciasse o processo de recuperação da crise financeira. Diferentemente de outras nações onde o mercado de capitais tem grande relevância, na Alemanha o crédito bancário é a principal fonte de recursos para empresas, especialmente para as de pequeno e médio porte. Atualmente, o país conta com um sistema financeiro misto, com a participação de instituições privadas e públicas. O crédito é em grande parte fornecido por bancos comerciais e de poupança, enquanto outras formas de crédito são secundárias. Basicamente, o sistema financeiro alemão está estruturado em bancos comerciais privados, bancos públicos e bancos cooperativos. O sistema é complementado, ainda, pelos bancos especializados (privados ou públicos). A principal característica desse sistema é a universalidade na oferta de serviços, ou seja, a maioria das instituições oferece uma série de serviços bancários: comerciais, investimento, seguro, imobiliário etc. Os bancos comerciais (grandes bancos, bancos regionais, estrangeiros e particulares) atuam como bancos múltiplos e representavam 36% dos ativos do sistema bancário em 2010.
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ao mercado de capitais? Os bancos públicos, que representavam 31% dos ativos do sistema neste mesmo período, são divididos em caixas econômicas municipais (Sparkassen) e centrais regionais de depósitos (Landesbanken). As Sparkassen são as principais prestadoras de serviços bancários para pessoas físicas e empresas, na maioria pequenas e médias. Os Landesbanken agem como câmaras de compensação para as respectivas caixas econômicas locais, além de atuarem no mercado de capitais. O setor de bancos cooperativos possui estrutura similar ao segmento de bancos públicos. As cooperativas de crédito depositam o excedente de recursos nas caixas centrais de cooperativas, que o canalizam para o Banco Cooperativo Federal. Essa estrutura representava 11% dos ativos do sistema. O foco dessas instituições são as pequenas e médias empresas, empréstimo imobiliário e investimentos estruturados pelas cooperativas centrais. As caixas cooperativas centrais agem de forma similar aos Landesbanken, como câmaras de compensação e porta de entrada para os mercados de capitais. A partir das últimas décadas, os bancos públicos e cooperativos têm atuado cada vez mais como bancos múltiplos. Tais instituições possuem atuação restrita regionalmente, de forma que não há concorrência entre as instituições do próprio segmento. Finalmente, o sistema bancário alemão é complementado pelas chamadas instituições especializadas, que são protegidas por barreiras legais contra concorrência com as demais instituições financeiras, que só podem atuar neste segmento por meio de subsidiárias. São exemplos de instituições especializadas os bancos hipotecários, companhias imobiliárias e instituições com funções específicas. Os bancos hipotecários podem ser privados ou públicos e são os mais importantes dentro desse grupo, responsáveis pelo financiamento da construção civil, investimentos industriais e agrícolas. Além disso, concedem crédito ao setor público e instituições públicas. As instituições de fomento puras ficaram restritas ao KfW Bankengruppe e bancos estaduais com propósitos específicos. Fundado em 1948 com o objetivo de auxiliar a reconstrução da economia após a Segunda Guerra Mundial, como parte do Plano Marshall, o KfW atualmente é um dos mais importantes bancos de desenvolvimento do mundo e um dos dez maiores bancos da Alemanha. Com ativos da ordem de 512 bilhões de euros (algo em
torno de 18% do PIB) e financiamentos de mais de 400 bilhões de euros (15% do PIB), o controle de seu capital pertence ao governo federal (80%) e aos estados da federação (20%). A estrutura de captação está concentrada (cerca de 90%) no mercado monetário e de capitais, principalmente por meio de títulos que são garantidos pelo Governo Federal. Atualmente, o KfW trabalha em duas frentes principais: mercado doméstico (financiamento e capital de giro para pequenas e médias empresas, financiamento para inovação, educação, habitação, infraestrutura, meio ambiente, setor público, entre outros) e negócios internacionais (financiamento ao setor exportador e cooperação financeira internacional). O grupo atua por meio de subsidiárias que possuem perfis específicos em termos de foco e instrumentos. O sistema bancário alemão cresceu de forma constante até 2008, quando os ativos totais representavam 366% do PIB nominal na Alemanha. Depois de uma contração de 13% entre 2008 e 2009, o sistema manteve-se, aproximadamente, do mesmo tamanho. Entretanto, o setor foi fortemente afetado pela crise financeira de 2008-2009. Com os balanços de bancos privados deteriorados, os empréstimos foram reduzidos. Assim como outros países (o próprio Brasil e o Chile, por exemplo), a Alemanha utilizou bancos públicos para intensificar o financiamento ao setor privado. O KfW introduziu um “programa anticíclico especial” que forneceu linhas de crédito e garantias de empréstimo para bancos, a fim de manter o crédito à economia fluindo. Além disso, aumentou a concessão de crédito para grandes empresas com problemas de liquidez, intensificou os empréstimos para infraestrutura e ajudou na recapitalização de bancos estatais regionais. Ao longo das últimas duas décadas, as instituições financeiras públicas mantiveram participação relevante no total dos ativos bancários mundiais (em média 25%). Experiências de países desenvolvidos demonstram que não há um modelo ideal de sistema financeiro para promover o desenvolvimento econômico. O formato institucional desse conjunto varia bastante entre os países em função de uma série de fatores. Tanto sistemas financeiros baseados no crédito bancário, quanto em mercados de capitais, tiveram êxito. A Alemanha é um exemplo de país que conseguiu combinar desenvolvimento financeiro e econômico, com base no crédito bancário, por meio da utilização de um sistema bancário misto, com a participação de instituições públicas e privadas.
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ARTIGO SAÚDE E AMBIENTE
Peter Ilicciev
Boas práticas: compartilhamento, intercâmbio e inovação Valcler Rangel e Alice Branco Vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Assessora técnica da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde/Fiocruz.
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mportantes instituições têm recorrido à criação de bancos de práticas, com o objetivo de difundir e compartilhar soluções para problemas inerentes a distintas áreas de atuação. Destacam-se, por exemplo, a Fundação Banco do Brasil, com o seu Banco de Tecnologias Sociais; a Caixa Econômica Federal, com o Banco de Melhores Práticas; e o Conselho Nacional de Justiça, com o Banco de Boas Práticas de Gestão do Poder Judiciário. As boas práticas são a base de um sistema de inovação e, com a ajuda da tecnologia da informação, é possível ampliar o compartilhamento dessas experiências e favorecer a integração e intercâmbio entre organizações e esferas de gestão. Na área da saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), por meio de um acordo de cooperação técnica, formaram uma Rede de Apoio à Gestão Estratégica do Sistema Único de Saúde (SUS), que gerou como um de seus produtos o Banco de Práticas e Soluções em Saúde e Ambiente (IdeiaSUS). O objetivo do IdeiaSUS é permitir o compartilhamento de ações, iniciativas, projetos e programas que tenham por finalidade o enfrentamento de problemas no SUS, a fim de estimular interações e parcerias. O SUS é um sistema universal, descentralizado, participativo, com controle social e que atende a todos os cidadãos, por meio de ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde, individual e coletiva. É composto por uma extensa rede de milhares de operadores, que inclui os gestores dos quase seis mil municípios brasileiros, as 27 unidades da federação e o governo federal, além da participação complementar da iniciativa privada filantrópica. A complexidade de um sistema dessa magnitude, aliada à vasta extensão territorial do país e à grande diversidade cultural, exigem estratégias de ação que favoreçam a conjugação de esforços e iniciativas. O banco permite identificar, prospectar e dar acesso público a práticas e soluções, desenvolvidas Brasil afora, capazes de fazer frente a situações e realidades insatisfatórias no
campo da saúde. Estruturado como um software web, pode ser utilizado por gestores, técnicos, instâncias de controle social e pesquisadores, tanto do setor público quanto privado. Seu uso facilita a difusão de iniciativas exitosas que podem ser reaplicadas em outras realidades e permite que se conheçam os fatores que inviabilizaram outras experiências que poderiam ter sido bem-sucedidas. Ao longo dos 25 anos de implantação do SUS, completados em 2013, o setor vem se consolidando como estratégico para a política de desenvolvimento nacional, sendo responsável por 8% do Produto Interno Bruto. Em que pesem os diversos percalços políticos, econômicos, gerenciais e as alterações no perfil demográfico e epidemiológico da população brasileira, são inegáveis os avanços alcançados, como constata a extensa e detalhada avaliação realizada pelo Banco Mundial, no relatório “20 anos de construção do sistema de saúde no Brasil: uma avaliação do Sistema Único de Saúde”, publicado em 2013. Continuar o avanço rumo ao alcance dos objetivos de acesso universal e equitativo à assistência à saúde é um processo complexo e demorado. O compartilhamento de experiências que visam a resolução de problemas que afetam todo o sistema evita a duplicação de esforços e recursos e potencializa o aumento da eficiência e da qualidade. Muitos estados e municípios estão experimentando novos modelos e formatos para o enfrentamento de antigos problemas. O banco de práticas é uma ferramenta que permite identificar potenciais parcerias para a incorporação de técnicas e estratégias de distintas naturezas (gerenciais, de monitoramento, de avaliação etc). A otimização dos recursos disponíveis e a melhoria do desempenho do SUS exigem o intercâmbio amplo de lições aprendidas e de boas práticas identificadas. O bom funcionamento do sistema depende da eficácia da colaboração entre os entes gestores. A ampliação do acesso, da qualidade e da equidade só virá como resultado da coordenação de esforços, recursos, ideias, estratégias e iniciativas que agregam valor ao que tem sido feito, a partir das inúmeras experiências que são criativamente desenvolvidas todos os dias neste imenso e complexo país.
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FOMENTO
Divulgação/BNDES
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entregou no dia 25 de abril, na sede regional da Caixa em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, três Cartões BNDES para celebrar a emissão do cartão em todos os municípios mineiros. Com essa marca, o Cartão BNDES atinge 100% de cobertura nos municípios das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O objetivo do BNDES passa a ser emissão do plástico nos 144 municípios das regiões Norte e Nordeste que ainda não contam com empreendimentos apoiados por essa linha de financiamento.
Desenvolve já liberou mais de R$ 5 milhões para setor industrial, em 2014
Ascom/Desenvolve
Comércio, serviços, agricultura e pecuária são fortes setores da economia alagoana beneficiados por diversas linhas de crédito da Desenvolve – Agência de Fomento de Alagoas. Mas, nos primeiros três meses de 2014, o maior destaque vai para o setor industrial, que foi responsável por 95% das liberações financeiras realizadas pela instituição neste ano. A Desenvolve já liberou em 2014 pouco mais de R$ 5,1 milhões em crédito para o fortalecimento dos pequenos negócios de Alagoas. Deste total, R$ 5 milhões foram destinados às indústrias alagoanas, sobretudo as ligadas à cadeia produtiva do leite. Segundo o diretor-presidente da Desenvolve, Antonio Carlos Quintiliano, com isto a instituição está reforçando o seu trabalho voltado para o fortalecimento e estruturação das cadeias produtivas do estado. “Este é um dos principais objetivos da Desenvolve, que vem atendendo os desejos de diversas cadeias produtivas, através de cooperativas e associações, o que motiva o aumento do leque de serviços”, destacou.
Badesul Cidades financiará R$ 6 milhões para infraestrutura de nove municípios gaúchos O Programa Badesul Cidades viabilizará melhorias em infraestrutura, aquisição de máquinas e equipamentos rodoviários em nove municípios gaúchos. Os contratos foram assinados hoje pelos representantes dos municípios e pelo presidente da Agência de Fomento do Rio Grande do Sul (Badesul), Marcelo Lopes, durante cerimônia com a presença do governador Tarso Genro e do secretário de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (SDPI), Mauro Knijnik. Os contratos somam R$ 6,077 milhões e se destinam a investimentos em máquinas e equipamentos rodoviários, infraestrutura urbana e construção de centro administrativo. “É importante ressaltar que o valor é aparentemente pequeno, mas é grande para a realidade financeira das prefeituras. Os financiamentos atendem a necessidades mínimas, urgentes e importantes”, ressalta o governador. Para o secretário Knijnik, “é fundamental que os municípios tenham infraestrutura para fomentar seu desenvolvimento, como é o caso das cidades com economia baseada na agricultura e que, para manterem suas estradas vicinais, precisam adquirir máquinas e equipamentos rodoviários”.
AgeRio libera crédito para empresa de tratamento térmico Especializada em tratamento térmico e serviços de soldag e m , a empresa Fixxar do Brasil obteve crédito na Agência Estadual de Fomento do Rio de Janeiro (AgeRio) de R$ 930 mil para investir em capital de giro e máquinas e equipamentos – recomposição de caixa, aquisição de duas unidades de tratamento térmico e componentes de maquinário. Com cerca de 40 empregados, a Fixxar é estabelecida em Barra Mansa, no sul do estado, e possui unidade em Macaé. A empresa presta serviços de locação de unidades de tratamento térmico, pré e pós-aquecimento (soldagem) para plataformas off-shore, refinarias e indústrias de óleo e gás, energia e construção civil. Também realiza montagem e manutenção industrial e naval e fornece pessoal para operação de maquinário alugado.
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Ascom/AgeRio
Cartão BNDES chega a todos os municípios das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país
Seminário dissemina soluções de crédito para pequenos negócios
Com o objetivo de impulsionar o crédito e disseminar as soluções mais adequadas às necessidades financeiras das empresas de pequeno porte, o Sebrae e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vão realizar neste ano 115 seminários de crédito em 17 estados e no Distrito Federal. Durante os encontros, que já começaram, os donos de pequenos negócios têm a chance de negociar a tomada de crédito diretamente com representantes de instituições financeiras convidadas. Essa é a primeira vez que o BNDES promove seminários em escala nacional e em grande quantidade. O objetivo é chegar mais perto das micro e pequenas empresas por meio da parceria com o Sebrae e fazer com que os bancos credenciados possam atender diretamente os pequenos negócios. Entre os agentes financeiros, estão confirmados: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste do Brasil, Banco da Amazônia, Santander, Bradesco, agências de fomento e bancos de desenvolvimento. Primeiramente, os empresários assistem a palestras com representantes do banco e de agentes financeiros convidados pelas unidades do Sebrae nos estados, e organizadoras dos seminários. As palestras prosseguem com as rodadas de crédito. Neste momento, os participantes têm a chance de ficar frente a frente com diversos agentes financeiros e contam com um primeiro atendimento relacionado à demanda específica de seus negócios. Só no ano passado o segmento de micro, pequenas e médias empresas recebeu recursos do BNDES no montante de R$ 63,5 bilhões. O número é recorde na história do banco e revela um aumento de 26,8% em relação ao ano anterior. Esses recursos foram aplicados graças ao desenvolvimento de novos produtos, a exemplo do Cartão BNDES. Este ano, os empresários vão contar ainda com mais um novo programa, o MPME Inovadora, destinado a ajudar micro, pequenas e médias empresas de perfil inovador a introduzirem as suas inovações no mercado. Os interessados em participar dos seminários de crédito devem procurar diretamente as unidades do Sebrae nos respectivos estados para se informar sobre o calendário e fazer inscrição gratuitamente.
Afeam lança aplicativo para acelerar contratação de crédito A Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) lançou um novo aplicativo móvel, desenvolvido pela Gerência de Tecnologia da Informação da agência, com o objetivo de atender as recomendações de melhoria dos processos de contratação de crédito na capital do estado. O aplicativo, denominado Vistec, permite que os técnicos realizem, em média, 20 visitas no período de dois dias. Com o novo sistema, todas as informações coletadas podem ser sincronizadas em 20 minutos, otimizando a rotina de visitas aos clientes. Anteriormente, as transcrições dos dados cadastrais, que eram realizadas manualmente, demoravam, em média, um dia para serem transmitidas ao Sistema de Controle de Processos (SCP).
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Divulgação/BDMG
O Fashion City Brasil, maior complexo de moda da América Latina, conta com investimento de R$ 141 milhões para sua implantação, R$ 50 milhões estão sendo financiados pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). O empreendimento recebeu a segunda parcela do financiamento, de R$ 8,4 milhões, para dar andamento à construção do shopping no terreno de 205 mil m², localizado no Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A primeira parcela de investimentos permitiu ao Fashion City Brasil iniciar suas obras, que empregam atualmente cerca de 80 pessoas diretamente, além do contingente de trabalhadores indiretos, das empresas de terraplenagem e de pré-moldados. Um dos sócios e o responsável pela estratégia do complexo de moda, Gilson Amaral Brito Jr., considera que os recursos recebidos por intermédio do BDMG são fundamentais para garantir a credibilidade do projeto nessa fase de implantação. Para João Paulo Moreira, gerente de negócios do banco, o empreendimento está alinhado à política estadual de expansão do Aeroporto de Confins. “O empreendimento irá atrair investimentos de cerca de 350 empresas do segmento de moda para o estado, gerando emprego e renda para a região”.
Marcello Casal Jr./ABr
Rodrigo de Oliveira
Fashion City Brasil recebe financiamento do BDMG
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MICRO E PEQUENAS
COOPERATIVISMO
Por Sarah Barros
Por boas práticas Os pequenos negócios ganham cada vez mais relevância entre as cooperativas de crédito. Por esta razão, o setor busca desenvolver boas práticas no atendimento a este público, não apenas para atender as necessidades de crédito, mas também para promover o empreendedorismo
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utilização de boas práticas no relacionamento com micro e pequenas empresas é a aposta das cooperativas de crédito para atrair o pequeno negócio para suas carteiras de clientes e expandir a atuação no setor de crédito brasileiro. Com a nova postura diante do empresariado, o número de pessoas jurídicas que recorrem às cooperativas na hora de obter empréstimos e financiamentos tem crescido continuamente, proporcionando, mais do que atendimento adequado, também a formalização e a consultoria para a expansão do negócio. Este foi o panorama apresentado no Seminário de Lideranças de Cooperativas de Crédito para Pessoa Jurídica, reali-
zado em Brasília pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob). Cerca de 200 representantes de instituições de todo o país participaram, no dia 3 de abril, das discussões sobre os desafios e perspectivas do setor. Na oportunidade, foram exibidos os resultados do projeto Fomento a Boas Práticas de Cooperativas de Crédito, desenvolvido pelo Sebrae desde 2011. De acordo com informações obtidas junto ao Banco Central, as cooperativas participantes do projeto apresentaram crescimento de 28,9% no volume de crédito concedido a pequenos negócios entre 2012 e 2013, alcançando o total de R$ 6,5 bilhões. O montante representa quase 70% do crédito operado por cooperativas com este público no ano passado. Quando mensurados os resultados de todo o setor cooperativo, a SEBRAE expansão das operações com SALDO DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO – PESSOA JURÍDICA empresas foi de 23,8% em volume de recursos concedidos em 2013 na comparação com Crédito Pequenos Negócios - Sistema 2012, atingindo o total de R$ 9,5 Financeiro Nacional bilhões ao final do período. Em todo o sistema financeiro naci5,7% Crédito Pequenos onal, o aumento foi bem Negócios - Sistema menor, de 5,7%. Financeiro Cooperativo Crédito Pequenos Com isso, a participação das Negócios (Projeto cooperativas de crédito cresceu Fomento às boas práticas em Cooperativas de Crédito) de 2,6% para 3% entre as fontes R$ 300 R$ 317 23,8% bilhões bilhões de crédito disponíveis no país, índice melhor que o obtido 28,9% pelos bancos privados nacionais e estrangeiros que, por sua R$ 7,7 R$ 9,5 vez, viram suas participações bilhões bilhões R$ 5,1 R$ 6,5 cair no mesmo intervalo. Os bilhões bilhões bancos privados nacionais fecharam o ano com fatia de Dez/2012 Dez/2013 Dez/2012 Dez/2013 Dez/2012 Dez/2013 35,2% contra 38,8% no ano Fonte: Banco Central do Brasil anterior. Já os bancos estrangeiRUMOS - 48 – Março/Abril 2014
de crédito
Divulgação
perativismo para esse público, por questões históric a s, f o i s e n d o c a d a ve z m a i s cerceada até praticamente ter sido eliminada”, apontou o presidente do Bacoob, Marco Aurélio Almada. A Resolução 3.058/2002 introduziu a possibilidade de formação de cooperativa de empresários, tanto do setor rural quanto industrial, comercial e de serviços. A norma acresSeminário em Brasília reuniu cooperativas; o evento foi organizado pelo Sebrae centou uma alternativa viável de ros tiveram participação reduzida de 17,6% para 16,8% na crédito voltado para atividades produtivas, além de alavanmesma comparação. car iniciativas de estímulo ao empreendedorismo, com Na avaliação do diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto apoio à exportação, desenvolvimento tecnológico e moderdos Santos, o ritmo de crescimento das cooperativas de crédinização operacional. to observado nos últimos anos levará o setor a atingir breveDesde então, as cooperativas de crédito desenvolvem mente dois dígitos de participação entre as fontes de financiaprodutos e serviços voltados para empresários e têm obtido mento no Brasil. “O cooperativismo de crédito vem se desensignificativa adesão às soluções financeiras oferecidas, espevolvendo rapidamente, mostrando maturidade e criatividade cialmente na tomada de crédito, por meio de empréstimos e para se diferenciar e enfrentar a concorrência, com ganhos financiamentos. Segundo o Bancoob, que conta atualmente para os pequenos negócios”, apontou o diretor. Segundo ele, com 2,6 milhões de associados, o número de empresas atenas empresas de pequeno porte representam as melhores didas por suas cooperativas de crédito aumentou 41% entre oportunidades para operações de crédito no cenário nacional 2011 e 2013, correspondendo a 13% da carteira de clientes, atual, podendo ser comparado ao crédito imobiliário. ou quase 290 mil empresas. Mesmo com representatividade menor que um sexto de seus clientes, em volume de crédito, Crescimento – As entidades cooperativas reconhecem a as pessoas jurídicas estão envolvidas em 49% das operações, importância de oferecer produtos e serviços alinhados às com movimentação total de R$ 10,24 bilhões. necessidades do segmento de pequenos negócios. Por isso, a O cenário se repete entre os associados do Sistema de retomada das operações de empresas com cooperativas, Crédito Cooperativo (Sicredi). Conforme dados de dezemaberta pela edição de resolução do Banco Central em 2002, é bro de 2013, dos mais de 2,5 milhões de associados, 10% são comemorada como promotora de novo fôlego para o setor. empresas, dos quais 95% são pequenos negócios. Enquanto a “O cooperativismo de crédito surgiu na Alemanha, voltado base total de associados aumentou 76% de 2012 para 2013, a para pequenos negócios. Mas, no Brasil, a aplicação do cooelevação na base de pessoas jurídicas associadas foi de 116%. RUMOS - 49 – Março/Abril 2014
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Parte do sucesso é atribuída ao número crescente de micro e pequenas empresas. “No Brasil, nos últimos anos, temos visto um forte aumento na criação de novas empresas, a partir do contexto econômico e de incentivos governamentais”, reconheceu o diretor executivo de Produtos e Negócios do Sicredi, Edson Nassar. Boas práticas – O projeto Fomento a Boas Práticas entre Cooperativas de Crédito surgiu justamente para fortalecer o relacionamento das micro e pequenas empresas com as cooperativas de crédito. Com esse alvo, estão sendo destinados R$ 2,5 milhões para que as unidades estaduais do Sebrae executem projetos voltados para micro e pequenas empresas. O volume deverá ser aplicado até o fim de 2014 no financiamento de iniciativas como a capacitação de técnicos das
Novo edital do Sebrae incentiva intercooperação Durante o seminário com lideranças cooperativistas, o Sebrae apresentou nova iniciativa para amplificar as melhorias no desempenho das cooperativas de crédito junto aos pequenos negócios por meio da intercooperação entre as instituições do setor. O edital a ser lançado em maio prevê aplicação de R$ 15 milhões na realização de parcerias entre cooperativas. “O objetivo é ampliar produtos e serviços das cooperativas para pequenos negócios e assim aumentar a vantagem competitiva dentro do sistema financeiro”, pontuou o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos. O alvo é apoiar 50 projetos a serem elaborados com base nos termos e condições previstos no edital. “Com isso abriremos a possibilidade de uma cooperativa com bom desempenho em atendimento à pessoa jurídica ajudar outra instituição, localizada em outra unidade da federação”, detalhou o gerente da Unidade de Acesso a Mercados e Serviços Financeiros do Sebrae Nacional, Paulo Alvim. Após a publicação do edital, as cooperativas apadrinhadoras e apadrinhadas terão 12 meses para manifestar formalmente ao Sebrae de seu estado o interesse em receber o incentivo, para que se estabeleça um fluxo de oferta e demanda. Cada instituição apadrinhadora poderá apoiar até três entidades apadrinhadas, que obrigatoriamente deverá estar localizada em unidade federativa diferente das apadrinhadas. Para adotar uma cooperativa, a entidade apadrinhadora precisa estar em operação há, pelo menos, cinco anos e ter, no mínimo, 500 sócios pessoas jurídicas. A participação no Projeto Fomento às Boas Práticas de Cooperativas de Crédito também será levado em consideração, assim como experiência em cooperação institucional. Já entre os requisitos para ser apadrinhada está a comprovação de funcionamento há, pelo menos, dois anos e a presença de, ao menos, 50 empresários associados.
COOPERATIVISMO
cooperativas ligados ao atendimento aos empresários, a realização de eventos e palestras, a prestação de serviços de consultoria e a viabilização de intercâmbios entre cooperativas para disseminação de boas experiências na atuação com micro e pequenas empresas, entre outras. A observação de experiências exitosas no Paraná e no Espírito Santo foi o ponto de partida da Sicredi Ouro Verde, em Mato Grosso, para a implementação de atividades que impulsionaram as operações junto a empresas da região de Cuiabá. Integrante do projeto desde 2012, a unidade de atendimento de Morada da Serra experimentou um crescimento de 113% na base de associados desde dezembro daquele ano. Além das missões técnicas, a parceria viabilizou a capacitação profissional dos responsáveis pelo atendimento das empresas, com destaque para o curso de análise de crédito, um dos diferenciais da cooperativa quando comparada à rede bancária convencional. “Passamos a atuar nas brechas abertas no mercado tradicional, alavancando os resultados”, relata a gerente regional do Sicredi Ouro Verde, Eliane Jaqueline Metzner. Um dos problemas enfrentados pelos empresários era a comprovação de renda, que, no âmbito da Sicredi Ouro Verde, passou a ser feita com avaliação caso a caso, com o intuito de contornar a burocracia imposta pelos grandes bancos e, ainda assim, manter a avaliação criteriosa dos candidatos a crédito. A experiência também indicou a pertinência do realinhamento na análise das demandas dos pequenos negócios. A compreensão surgiu a partir de resultados inesperados em ciclo de palestras, inicialmente orientado para a redução de custo em produtos e serviços. Das 400 empresas convidadas, apenas cerca de 10% atenderam ao convite. “Vimos que eles não queriam redução de custo. Eles queriam acesso à informação sobre o que fazer para melhorar o seu negócio, aquilo que possa ser bom para ele”, contou Eliane. A partir de então, a cooperativa passou a oferecer consultoria personalizada às empresas para atender não apenas a solicitações de crédito, mas a outras necessidades próprias das pequenas empresas, como formalização e mais opções de meios de pagamento. No caso da Unicred Alto Sertão, a parceria com o Sebrae tem ajudado a vencer a desconfiança dos pequenos empresários em vinte municípios do Alto Sertão da Paraíba. Primeira cooperativa do Nordeste constituída em regime de livre admissão, a instituição aberta em 2008 congrega atualmente mais de 2 mil cooperados e administra uma carteira de R$ 25 milhões em depósitos totais e R$ 12 milhões em empréstimos. De acordo com o gerente de relacionamento da Unicred Central Norte e Nordeste, Marcos Barbosa, esse patamar de atuação foi fortemente influenciado pelas ações do projeto do Sebrae. Um dos mecanismos utilizados pela Unicred Alto Paraíso para aumentar sua credibilidade é a vinculação da marca da cooperativa ao Sebrae, em feiras e eventos. “Isso é muito importante para a cooperativa porque, na hora em que ela tem um parceiro que é forte na região, isso dá credibilidade aos seus negócios. As pessoas acreditam porque é um parceiro do Sebrae”, destacou Barbosa. A presença também
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em seminários e simpósios nacionais e internacionais tem ampliado o entendimento da cooperativa sobre o setor, fortalecendo seu trabalho. Os números confirmam o sucesso da parceria. Em 2013, o total de empresas entre os cooperados dobrou em comparação com o de 2011, reunindo 292 empresas. Já os empréstimos alcançaram R$ 5,6 milhões no ano passado, contra o saldo de R$ 1,9 milhão verificado em 2011, quando a atuação junto às empresas começou a ser intensificada por meio de boas práticas. Desafios – A expansão do cooperativismo de crédito voltado para as necessidades do micro e do pequeno empreendedor nas regiões mais remotas do país é um dos desafios indicados pelas lideranças reunidas em Brasília. “Temos notado
Instituições internacionais defendem cooperativismo para pequenos negócios A importância das cooperativas de crédito e seu potencial como motor de desenvolvimento para pequenos negócios no Brasil foram destacados por representantes do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que participaram da abertura do Seminário de Lideranças de Cooperativas de Crédito para Pessoa Jurídica. A representante do Banco Mundial/International Finance Corporation (IFC), Eriko Ishikawa, ressaltou o mérito do setor em fortalecer relações com os pequenos empreendedores, como forma de incluir pessoas das classes C e D na cadeia produtiva. “A gente tem que fazer mais negócios que realmente mobilizam as pessoas de todas as bases, mas que também criam emprego e um futuro para as pessoas das camadas C e D”, afirmou. Da parte do banco, Eriko informou que, desde 2005, o Banco Mundial/IFC tem investido mundialmente mais de US$ 9 bilhões em projetos que atingem essa base da pirâmide. No Brasil, são mais de US$ 900 milhões em operações com projetos voltados para este público. “Esses são projetos comerciais, mas que também têm o foco de serem social e meio ambientalmente bons”, disse. Quanto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o especialista setorial da instituição e do Fundo Multilateral de Investimentos, Ismael Gíglio, defendeu avanços na atuação do banco junto às cooperativas. “O cooperativismo é o único instrumento em que o pequeno empreendimento pode alcançar desde o crédito em sua conta e em seu cartão até o processo de investimento e sua garantia futura através de fundos de pensão ou complementares de aposentadoria privada. Ele reúne todos os elementos que podemos entregar a um pequeno empreendimento”, afirmou.
que há estados com grande tradição em cooperativismo de crédito enquanto há outros onde não há instituições deste tipo. Precisamos pensar o Brasil”, reforçou Carlos Alberto dos Santos. Das 185 cooperativas envolvidas nas iniciativas de boas práticas, apenas cinco estão no Norte brasileiro, sendo três apenas no Maranhão. O estado com maior número de cooperativas participantes é Santa Catarina, com 38 representantes. A adequação à urgência nas operações de pequenas empresas é outro obstáculo a transpor pelas cooperativas. Mais acostumadas às demandas de pessoas físicas, ligadas às fases da vida, as cooperativas precisam, ao atender empresas, dar conta das diversas relações que envolvem o negócio, desde as tratativas com fornecedores, passando por obrigações junto ao governo e, finalmente, o atendimento ao cliente. “Quando se trata de pessoa física, para cada necessidade há uma solução, mas, no caso de empresa, todas as soluções financeiras devem ser imediatas”, pontuou o presidente do Bancoob, Marco Aurélio Almada. Diante disso, é necessário manter a evolução de produtos e serviços em relação aos oferecidos pelo sistema financeiro convencional. “Entre 2002 e 2003, enquanto os demais bancos pensavam em internet banking e autosserviço para empresas, as cooperativas estavam começando a atendê-las. Em 10 anos, recuperamos 150 anos em desenvolvimento no atendimento pessoa jurídica”, pontuou Almada. Para ele, o setor hoje já possui portfólio equivalente ao oferecido pelos demais bancos e está preparado para usar as mesmas tecnologias. Para aumentar o acesso ao crédito, com custos menores e prazos condizentes com o perfil das pequenas empresas, o cooperativismo também se confronta com dificuldades quanto a mecanismos de garantias, impedimento este apontado como um dos principais limitadores da obtenção de crédito no sistema financeiro. Neste sentido, o pleito é pela regulação das Sociedades de Garantia de Crédito (SGC). “Esse mecanismo vem preencher esta lacuna, dando mais conforto na classificação do risco do crédito especialmente para a empresa de pequeno porte”, explicou o diretortécnico do Sebrae. Ainda em relação à concessão de garantias, em novembro de 2013, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu a forma de contribuição das instituições associadas ao Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), formado pelas cooperativas singulares de crédito do Brasil e pelos bancos cooperativos integrantes do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC). De acordo com seu estatuto, o FGCoop presta garantia de créditos nos casos de decretação de intervenção ou de liquidação extrajudicial de instituição associada, até o limite de R$ 250 mil por pessoa, bem como contrata operações de assistência, de suporte financeiro e de liquidez com essas instituições. “Este fundo assegura igual tratamento entre todos os clientes do sistema financeiro nacional, dando mais valia ao setor cooperativo”, destacou o diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, Edson Feltrim.
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LIVROS
Intérpretes e inventores de um Brasil plural Livro desenha um mosaico com alguns dos atores fundamentais para se compreender a formação social, política, econômica e cultural do Brasil; a obra vai além dos clássicos, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e Celso Furtado, e recupera os “rebeldes” e os “renegados” que ajudaram a construir a identidade do país
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rganizado pelos professores Herbert S. Klein, professor emérito Luiz Bernardo Pericás e Lindas universidades de Columbia e Stancoln Secco, da Universidade de ford, classifica o volume como um São Paulo (USP), o livro Intérpretes do manual básico para os estudos de hisBrasil: clássicos, rebeldes e renegados ajuda a tória intelectual e da história moderna traçar um amplo panorama do pensado Brasil. “A coleção de ensaios repremento crítico político-social brasileiro senta um guia fundamental para o dos séculos XX e XXI. Ao todo, são entendimento dos mais influentes pen27 estudos e ensaios escritos por recosadores brasileiros do século XX”, nhecidos especialistas acadêmicos que afirma. se debruçaram sobre a vida e a obra de Também são contemplados autoalguns dos principais intérpretes da hisres mais “novos” e menos compendiatória e da cultura no Brasil. dos, como Maurício Tragtenberg, Tanto na seleção dos autores quanJacob Gorender, Ruy Mauro Marini, to na dos comentaristas críticos, os leiMilton Santos, Edgard Carone, e ainda tores poderão observar que os organipersonalidades da importância histózadores buscaram alternativas aos trarica de Paulo Freire e Ignácio Rangel. Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados dicionais nomes que se repetem nas Como lembra o historiador Carlos Lincoln Secco e Luiz Bernardo Pericás (orgs.) publicações que vêm se dedicando ao Guilherme Mota, na orelha do livro, Boitempo, 416p., 2014 estudo dos “explicadores” deste país. cada geração analisa e “redescobre” o Ainda que considerem relevantes a Brasil, interpretando o processo de contribuição decisiva de escritores e nossa formação dentro das condições pensadores já clássicos, como Gilberto Freyre, Sérgio Buare debates de sua época. Porém ele acredita que poucos vão que de Hollanda, Florestan Fernandes, Celso Furtado e Antoalém, como fizeram os organizadores Luiz Bernardo Pericás e nio Candido, responsáveis por obras seminais, que são revisiLincoln Secco. “Verifica-se nesta obra uma significativa abertadas em abordagens inovadoras. tura de foco dos estudos sobre o pensamento brasileiro, não O mérito maior da obra, no entanto, é que os organizadoapenas em termos geracionais como também na variedade de res também trazem para o centro do debate figuras que estavisões teóricas e abordagens pronunciadamente ideológicas”, vam de certo modo à sombra, a despeito de seu importante afirma Mota. “Este livro, portanto, vem ampliar de modo crítipapel histórico. Entre os renegados, normalmente esquecidos co e significativo os horizontes e o debate históricocomo pensadores do Brasil, ora por não se enquadrarem nos historiográfico nesta quadra difícil de nossa história, tão marcânones, ora por serem contrários à abordagem majoritária, cada por ambiguidades, desacertos e, já agora, também por proestão nomes como Octávio Brandão, Heitor Ferreira Lima, fundas revisões para uma retomada rumo a um futuro melhor.” Astrojildo Pereira, Leôncio Basbaum, Rui Facó, Luís da Câmara Cascudo e Everardo Dias. Plural – A lista dos vinte e cinco “inventores” analisados na Para os organizadores, a importância do livro é justamente obra é diversa: Antonio Candido, Astrojildo Pereira, Caio Praser um aporte importante sobre vários intelectuais emblemádo Júnior, Câmara Cascudo, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, ticos e suas teorias. “Para isso, pudemos contar com a generosa Edgard Carone, Everardo Dias, Florestan Fernandes, Gilberto colaboração de diversos estudiosos que se dispuseram a escreFreyre, Heitor Ferreira Lima, Ignácio Rangel, Jacob Gorender, ver sobre esses pensadores do Brasil”, enfatizam. José Honório Rodrigues, Leôncio Basbaum, Mário Pedrosa, Os autores escolhidos compõem um amplo e rico panoraMaurício Tragtenberg, Milton Santos, Nelson Werneck Sodré, ma dos pensamentos social e historiográfico nacional da décaOctávio Brandão, Paulo Freire, Rômulo Almeida, Rui Facó, da de 1920 até o começo dos anos 1990, alguns dos quais muiRuy Mauro Marini, Sérgio Buarque de Hollanda. to pouco discutidos em outras obras do gênero. O historiador RUMOS - 52 – Março/Abril 2014
Orçamentos sem segredos
Economia e desenvolvimento
Um guia prático para evitar as armadilhas na elaboração de orçamentos e previsões. É isto que se propõe o livro, que tem a chancela do prestigiado jornal inglês Financial Times e vem recebendo elogios de executivos dos mais diferentes ramos ao redor do mundo. Escrito por Nigel Wyatt, consultor de treinamento financeiro com trabalhos reconhecidos internacionalmente, o guia traz conhecimentos técnicos e específicos para a elaboração, gerenciamento e avaliação de orçamentos e previsões. A obra possui gráficos, tabelas e exercícios que podem ajudar no entendimento do tema – mesmo para profissionais que estejam assumindo a responsabilidade por um orçamento pela primeira vez. Dividido em doze capítulos, o guia aborda questões básicas como as diferenças entre orçamento e previsão, até lições sobre riscos, balanced scorecards e KPIs. Como bem disse o consultor Manjit Biatn, “ame-os ou odeie-os, orçamentos fazem parte da paisagem
Produzida pelo Centro Internacional Celso Furtado para Políticas de Desenvolvimento, a obra reúne oito artigos, divididos em quatro grandes temas: novas interpretações desenvolvimentistas; reinserção internacional da economia brasileira; investimento em infraestrutura, distribuição de renda e desenvolvimento – experiências recentes e os desafios do Nordeste; e desenvolvimento como redutor da heterogeneidade estrutural e regional. A primeira metade do livro é dedicada a artigos de enfoque regional, destacando-se o desempenho da região Nordeste. Já na segunda metade, o foco é sobre a economia nacional como um todo, contemplando as novas visões desenvolvimentistas para o país. No texto de apresentação, a organizadora do livro, Inez Silvia Batista Castro, destaca que, apesar de a seleção dos artigos ter ocorrido de forma independente, a leitura do livro “leva a uma conversa entre os autores”,
corportativa”. O melhor a fazer, então, é se aprimorar para lidar com eles.
Orçamentos e Previsões – Guia Financial Times Nigel Wyatt M.Books, 220p., 2014
que, se não tem por objetivo chegar à uma “conclusão definitiva” sobre temática tão complexa, serve como uma valiosa contribuição ao debate sobre o desenvolvimento nacional.
Novas Interpretações Desenvolvimentistas Inez Silvia Batista Castro (org.) Centro Celso Furtado, 533p., 2013
Um chamado à criatividade
As faces do regime militar
Neste livro, o leitor é convidado a desvendar um mistério: quem é responsável pela morte da criatividade no ambiente corporativo? Com este chamado curioso, os autores Andrew Grant e Gaia Gant, diretores executivos da consultoria Internacional Tirian, querem provocar os profissionais de diferentes áreas para um cenário que consideram alarmante – o desaparecimento do pensamento criativo nas organizações. Com um clima de mistério, fatos baseados em pesquisas meticulosas se misturam a histórias divertidas para revelar os “assassinos da criatividade”. As ferramentas práticas e os estudos de caso apresentados ao longo do livro demonstram como qualquer pessoa pode reconfigurar o seu cérebro usando as sete estratégias do pensamento criativo para impulsionar um empreendimento. Para escrever a obra, os executivos passaram os últimos 25 anos viajando pelo mundo em busca de melhores práticas para o pensamento
Ao recordar os cinquenta anos do golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil, completado neste mês de abril, o cientista político Milton Pinheiro organizou uma coletânea que tem o desafio de reinterpretar uma história em que vários aspectos estão ainda por decifrar, desde o contexto por trás do golpe até a campanha pelas Diretas Já. A obra, com ensaios inéditos de pensadores como João Quartim de Moraes, Anita Prestes, Lincoln Secco, Décio Saes, Marco Aurélio Santana, entre outros, traça o panorama das continuidades e rupturas na história contemporânea brasileira, abrangendo temas como as mutações da ideologia, o lugar dos intelectuais, dos sindicatos, as políticas econômicas e a presença dos partidos políticos. A forma pela qual se pensou a gestão da política econômica durante o regime militar é destrinchada pelo cientista político Adriano Codato, ao investigar a questão da estrutura administrativa do Estado, e pelo economista Nilson Araújo de
criativo. O resultado é um livro leve, que se propõe a desvendar os caminhos que recoloquem o pensamento criativo em lugar de destaque nas organizações.
Quem Matou a Criatividade? Andrew Grant e Gaia Gant Editora Saraiva, 312p., 2013
RUMOS - 53 –Março/Abril 2014
Souza, que divide o período em cinco momentos, atentando para o complexo de políticas econômicas desenvolvidas e suas relações.
Ditadura: o que Resta da Transição Milton Pinheiro (org.) Boitempo, 376p., 2014
CARTAS DO LEITOR
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Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall - Brasília - DF – CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 Fax: (21) 2109.6004 E-mail: abderj@abde.org.br
Bibliotecária O Setor de Periódicos da Biblioteca Central da Universidade Estadual da Paraíba vem, através desta, agradecer as doações de periódicos feitas por Vossa Senhoria, tendo em vista o enriquecimento e o engrandecimento que tais publicações proporcionam aos nossos usuários. Irenilda Medeiros, Bibliotecária, UEPB. Campina Grande (PB) Diretor Administrativo Senhor Editor, agradeço a remessa de exemplar da revista Rumos, edição de número 273, e felicito-o pela qualidade da publicação. Orpheu Santos Salles, Diretor Administrativo, Associação Brasileira de Imprensa. Rio de Janeiro (RJ) Contador Prezada equipe, sou Contador do BNDES e, desde que assumi uma gerência, responsável pela gestão de seguros das garantias, em 2003, comecei a receber a revista Rumos, que me tem sido muito útil em todos esses anos, razão pela qual aproveito a oportunidade para agradecê-los e parabenizá-los por esse excelente trabalho. Atualmente, não sou mais o responsável por aquela gerência, mas continuo, como contador, atuando como consultor na gestão das garantias (e respectivos seguros) dos financiamentos do BNDES, área essa que eu ainda gostaria de ver, antes de me aposentar, como tema de um evento (seminário ou encontro) promovido pela ABDE, envolvendo executivos e especialistas das Instituições de Desenvolvimento, como já houve no passado e que eu tive a honra e o privilégio de ter participado. Saudações. Haroldo Cella, contador. Rio de Janeiro (RJ) Rede de Bibliotecas Recebemos periodicamente o título: Rumos: economia e desenvolvimento para os novos tempos, porém verificamos que não recebemos o seguinte número: fevereiro de 2014. Solicitamos que, por gentileza, e, se possível, nos seja enviado o número faltante, pois este título é de suma importância para o enriquecimento de nosso acervo. Agradecemos antecipadamente. Natália Aparecida Barbosa. Associação Prudentina de Educação e Cultura, Rede de Bibliotecas Unoeste. Presidente Prudente (SP).
CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Luciano Coutinho DIRETORIA Presidente: Carlos Henrique Horn 1º Vice-Presidente: Vitor César Ribeiro Lopes Vice-Presidentes: Antonio Carlos Sampaio Quintiliano, Carlos Alberto dos Santos, Guilherme Narciso Lacerda, Milton Luiz de Melo Santos, Paulo Roberto Evangelista de Lima, Rogério de Paula Tavares, Rubens Rodrigues Filho, Valmir Pedro Rossi. Superintendente-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima.
Instituições Associadas à ABDE AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A. AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A. AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. AGERIO – Agência Estadual de Fomento BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A BANRISUL – Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Agência Brasileira de Inovação FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. PIAUÍ FOMENTO – Ag. de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
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ISSN 1415-4722 Ano 39 – Nº 274 Março/Abril 2014
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Revisão Renato R. Carvalho
RUMOS - 54 – Março/Abril 2014
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