&
D E S E N VO LV I M E N T O
PA R A
OS
NOVOS
TEMPOS
ANO 38 – Nº 275 – Maio/Junho de 2014
ECONOMIA
EDITORIAL
Para além das quatro linhas O que, afinal, ganhamos com a Copa? Entrevistas Juraci Barbosa Sobrinho Dalberto Adulis
S Arquivo / ABDE
SUMÁRIO
Douglas Lucena
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Portal da Copa/ME
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30
ENTREVISTA Juraci Barbosa
Em todos os cantos
EXPERTISE Dalberto Adulis
Via alternativa
CAPA Legado
Depois do apito final
AO LEITOR
O
pontapé inicial dado pela seleção brasileira de futebol no dia 12 de junho significou, na verdade, a reta de chegada de um processo que se iniciou sete anos antes, com a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de futebol. Transcorrido todo este tempo, chegou o momento de contabilizarmos o que, de fato, fica para o país após a passagem deste grande evento. Quais os legados efetivos trazidos pela Copa? Essa é a motivação da reportagem de capa desta edição, que busca junto a governos e especialistas um balanço do que – independente do resultado das quatro linhas – o país ganha ao sediar o principal evento esportivo do planeta. Além deste importante debate, a Rumos traz nesta edição um especial sobre o Inovacred, com números sobre o programa, que, em articulação com os agentes financeiros locais, tem sido fundamental para o financiamento dos projetos inovadores Brasil afora. Apresentamos ainda a ação do BRDE com as cooperativas de crédito e de produção do sul, que foi reconhecida com um importante prêmio internacional. De Minas Gerais, trazemos uma experiência inovadora utilizada pelo BDMG, que tem facilitado o acesso ao crédito para empreendedores da base da pirâmide. Em nossa seção Expertise, Dalberto Adulis defende a racionalização do uso dos recursos naturais como meio para se alcançar o desenvolvimento. E ainda tem um retrato minucioso do banco de desenvolvimento chinês, o grande propulsor da economia que mais cresce em todo o globo. Boa leitura!
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RUMOS - 3 – Maio/Junho 2014
REFLEXÃO Lavinia Barros de Castro
Sistemas Nacionais de Fomento: velhos problemas, novos desafios REPORTAGEM Inovação
Para aumentar a competitividade REPORTAGEM Resultados
Portas abertas à pequena empresa OPINIÃO Análise
Desigualdade disfuncional MEMÓRIA “Carismático e intelectual”
Pedro Falabella morre aos 72 anos REPORTAGEM América Latina
Reconhecida e premiada PELO MUNDO Desenvolvimento
O gigantes chinês REPORTAGEM Cooperativas
Fomento ao agronegócio EM DIA Heli Gonçalves Moreira
O complexo mundo das negociações coletivas e das greves REPORTAGEM Desenvolvimento local
Reforço para a base da pirâmide CENÁRIOS DO RIO Gestão
Mais mudanças REPORTAGEM Economia
Um “novo Brasil” em debate MICRO E PEQUENAS Encadeamento produtivo
Cooperar em vez de competir
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FOMENTO LIVROS
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ENTREVISTA
Juraci Barbosa
Por Jader Moraes
Presente
Em todos os Agência de Fomento do Paraná completa 15 anos com presença em mais de 90% dos municípios paranaenses; presidente destaca parcerias e modelo de financiamento que é referência no país
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umos – A Fomento Paraná atende desde o pequeno empreendedor em situação de vulnerabilidade até grandes projetos, como foi o caso recente do financiamento para a arena da Copa do Mundo. Como é, no dia a dia, lidar com essa diversidade? Juraci Barbosa – A Fomento Paraná, que completou 15 anos em junho, assumiu o Sistema de Financiamento aos Municípios com a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2000. A lei vedou a realização de operações de crédito entre entes federativos. Com isso, acumulamos expertise em financiar o setor público, que responde por 86% da carteira de crédito. São obras, máquinas e equipamentos para os municípios. Contabilizamos R$ 1,7 bilhão em mais de 2.960 contratos que beneficiaram 367 dos 399 municípios paranaenses. Temos a parceria da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e o serviço social autônomo Paranacidade, para estruturação e acompanhamento dos projetos. Também acumulamos expertise no microcrédito. A carteira soma R$ 32 milhões em mais de cinco mil contratos ativos. Nos últimos três anos, focamos o atendimento ao setor privado, com oferta de crédito a empreendedores de todos os portes e todos os setores. Chegamos a R$ 463 milhões. Para isso, a instituição foi reorganizada, com ampliação de espaços físicos, modernização tecnológica, adequação da estrutura orgânica, especialmente na área de atendimento e suporte ao cliente. O quadro de pessoal ganhou um plano de cargos e salários, que deu suporte a um concurso público. Criamos linhas de crédito, que atendem do informal até empresas de médio porte. Formalizamos parcerias com as secretarias de estado e com prefeituras para criar uma ferramenta de apoio aos empreendedores menos privilegiados e nasceu o Paraná Juro Zero. Financiamos valores entre R$ 300 e R$ 4.000, em 11 ou 22 parcelas. Quem paga as parcelas em dia tem a última ou as duas últimas parcelas equalizadas por um fundo. A Copa do Mundo foi um case especial, que exigiu um grande esforço para criar um modelo diferenciado e capaz de atender ao interesse público de ter uma arena para sediar o mundial em Curitiba. Foi uma grande experiência, que nos habilitou para dar passos maiores no financiamento de grandes projetos de infraestrutura de interesse do Paraná. E a comprovação aparece no contrato com a Caixa Eco-
nômica, para sermos agentes financeiros dos municípios para financiar obras de mobilidade e de saneamento, com recursos do FGTS. São R$ 200 milhões. E desenvolvemos uma parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), em um programa de financiamento para projetos de gestão de resíduos sólidos nos municípios. São R$ 140 milhões. Rumos – Quais são as expectativas para 2014, em que a Copa do Mundo, as eleições e as manifestações populares prometem marcar a agenda política e também econômica do país? Acredita que esses eventos podem, de alguma maneira, afetar o desempenho das instituições financeiras de desenvolvimento? Barbosa – A Fomento Paraná fez um grande esforço para viabilizar financeiramente a Copa do Mundo em Curitiba. Tivemos assertividade no projeto ao contratar uma auditoria externa, que permitiu manter um controle do avanço físico e financeiro do cronograma, da avaliação da qualidade dos materiais, do cumprimento do projeto e do custo dos insumos. A cidade recebeu muitos investimentos por conta do projeto, com impacto visível nos aspectos renda e trabalho. Vamos estar na mídia internacional e isso pode atrair muitos investimentos. No aspecto eleitoral, a experiência nos permite antecipar o planejamento das ações, porque é um procedimento incorporado ao calendário institucional. Estamos trabalhando muito para poder atender aos municípios com os recursos do FGTS e da AFD, que vamos contratar. São volumes significativos e que se revertem em ações importantes para a melhoria da qualidade de vida da população, que representam muitos empregos e recursos novos circulando na economia, especialmente nas pequenas cidades. Quanto ao ambiente e horizonte econômico, somos extremamente confiantes. As IFDs [Instituições Financeiras de Desenvolvimento] são um importante instrumento de combate à inércia econômica e uma alavanca para o crescimento do produto interno. Temos atuação complementar às demais instituições financeiras. Logo, temos espaço e nicho para ampliar nossas atividades. A dinâmica econômica gerada pela atuação das IFDs promove um ciclo virtuoso. Obras de empreendimentos financiados precisam de insumos, de trabalhadores. Isso gera contratos, aumenta a arrecadação de impostos, que proporcionam benefícios sociais. O crédito é
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cantos Arquivo/ABDE
Juraci Barbosa Sobrinho é presidente da Fomento Paraná desde 2011. Advogado e especialista em Gestão Pública, foi fundador do Instituto Paraná Metrologia, subchefe da Casa Civil do Governo do Estado do Paraná e diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba.
um propulsor da economia. Criamos as facilidades para que isso aconteça, pela amplitude dos recursos disponíveis e pela rede de agentes que formamos. Rumos – O Banco do Empreendedor - Taxistas é uma das linhas de financiamento de maior destaque da instituição. Pode nos explicar como funciona o programa e quais resultados tem obtido? Barbosa – Criamos esta linha ao final de 2012, para estimular a renovação da frota de veículos e a capacitação dos motoristas que prestam serviços de táxi nos municípios, dentro das ações para o projeto Copa do Mundo no Brasil. Proporcionamos uma taxa de juros muito atrativa e competitiva em relação aos bancos comerciais e aos das montadoras. Essa diferença representa uma renda extra, que fica com a família. Até abril deste ano tínhamos 324 veículos financiados. Outras 400 operações estão em análise. Somando tudo, são mais de R$ 24 milhões. A linha financia veículos novos para serviços de táxi, para conversão do veículo ao uso de gás natural veicular (GNV) ou para adaptar o automóvel para atender passageiros com dificuldade de mobilidade. É possível financiar até 100% do veículo, entre R$ 3 mil e R$ 50 mil. Podem solicitar o financiamento pessoas físicas, titulares de autorização, permissão ou concessão. Rumos – Os desembolsos referentes ao microcrédito cresceram significativamente na carteira da agência nestes últimos anos. Qual a importância do apoio aos pequenos empreendedores para o desenvolvimento da economia local? Barbosa – O crescimento da carteira de microcrédito resulta de um amplo trabalho para formar uma rede de parceiros
com diferentes atores do segmento privado e público. Foi a fórmula que encontramos para superar limitações que impedem a abertura de agências, filiais etc., e pelo custo envolvido. Não conseguiríamos ofertar as taxas que praticamos se tivéssemos unidades regionais. Por isso formalizamos convênios com prefeituras, secretarias de estado, sindicatos patronais, cooperativas de crédito, sociedades de garantia de crédito, conselhos de profissionais autônomos, federações e associações comerciais. Cada parceiro indica colaboradores para atuar como agentes de crédito, que são capacitados, por meio de uma plataforma exclusiva de ensino à distância. Eles são certificados e passam a formalizar e fazer o acompanhamento das propostas e da aplicação dos recursos. Criamos uma estrutura interna para identificar as demandas, os parceiros e operacionalizar uma sistemática eficiente de ação. A rede já conta com mais de 600 agentes atuando em cerca de 400 pontos de atendimento localizados em mais de 300 dos 399 municípios paranaenses. Com esta ação, a carteira de microcrédito passou de R$ 8,9 milhões, em 2010, para R$ 32,2 milhões, em 2013. São mais de 5 mil contratos ativos com empreendedores do comércio, da indústria, do setor de serviços. Seguramente estamos contribuindo para a consolidação do crescimento do PIB paranaense, que cresce a uma velocidade bem superior à média nacional. Rumos – Como tem sido a atuação do banco junto ao setor público, em especial no apoio ao desenvolvimento dos municípios paranaenses? Barbosa – Nosso modelo de financiamento aos municípios é referência nacional, com mais de R$ 1,7 bilhão em financia-
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ENTREVISTA
Juraci Barbosa
mentos. Apresentamos o modelo em eventos conjuntos da ABDE com o BID e com o Banco Central, para estimular outras agências. Funciona tão bem na parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, o Paranacidade e a Secretaria do Tesouro Nacional, que estamos replicando o procedimento com a Caixa, para recursos do FGTS, e com a AFD, para financiamento de projetos e programas de gestão de resíduos sólidos, na área de sustentabilidade e meio ambiente. Nosso primeiro contrato com os recursos do FGTS está com obras em andamento em Quatro Barras, na região metropolitana de Curitiba. Estimamos contratar R$ 50 milhões nessa linha em 2014. E temos uma minuta de contrato em análise pela AFD, em Paris, para os projetos de gestão de resíduos sólidos. O destaque desta linha é dar aos municípios a oportunidade de atender à Política Nacional de Resíduos Sólidos e assim eliminar os lixões a céu aberto desenvolvendo programas de coleta seletiva, compostagem e reciclagem de materiais. Além disso, para nós, uma obra é um investimento, que desencadeia uma série de funções, que exigem mão de obra, insumos, operadores, prestadores de serviço. E tudo isso se reverte em aumento da renda e da arrecadação. Isso é desenvolvimento. Rumos – A Fomento Paraná trabalha com um conceito de “gestão por resultados”, presente em seu planejamento estratégico e alinhado com as diretrizes do Executivo estadual. Pode nos explicar como funciona esse modelo de gestão? Barbosa – A gestão por resultados é uma diretriz prevista no plano de governo do governador Beto Richa para o período 2011-2014. Seguindo essa diretriz, elaboramos um planejamento estratégico em linha com o contrato de gestão do estado, onde ficam estabelecidas as metas a serem atingidas, com as respectivas métricas. Esse contrato de gestão também é assinado pelos colaboradores da instituição e as respectivas diretorias e gerências, com a presidência. O objetivo é otimizar processos e o uso dos recursos, para fazer mais e melhor, gerando melhores resultados a cada período. As macrometas previstas para o contrato de gestão 2014, e aprovadas pelo Conselho de Administração, envolvem alcançar um Lajida de R$ 86,6 milhões, com rentabilidade sobre o patrimônio líquido de 5,5%. Para isso devemos chegar a R$ 237 milhões em operações com o setor privado, nas diversas linhas, e R$ 190 milhões em financiamentos contratados com o setor público. Rumos – Em dezembro de 2013, foi entregue à presidenta Dilma Rousseff uma moção reivindicando a criação do Fundo Constitucional do Sul. No que consiste e por que se faz necessária a criação desse fundo? Barbosa – A criação do Fundo Constitucional do Sul pode ajudar a superar gargalos logísticos que atrasam o desenvolvimento e impedem o pleno emprego do potencial produtivo da região, porque prejudicam a circulação da produção e comprometem a mobilidade urbana. Estradas precisam ser construídas ou duplicadas. Faltam contornos rodoviários e ferroviários. Os portos necessitam de requalificação, e os aeroportos, de ampliação. A Ferrovia Norte-Sul precisa chegar ao Rio Grande e deve ter um ramal de ligação ao porto de Paranaguá, maior porto graneleiro e importante porta de entrada de insumos agríco-
las. São projetos acalentados há tempos, que podem alavancar a produção de riqueza da região e ajudar a reduzir o custo Brasil. Um fundo constitucional pode beneficiar milhares de empreendedores com a possibilidade de buscar recursos a taxas de juros mais baixas do que as dos bancos comerciais. Isso alavanca negócios nas diferentes cadeias produtivas, move a economia e promove o desenvolvimento regional, gerando emprego e renda. São fatores que resultam em mais qualidade de vida para a população. O sul contribui significativamente para a desconcentração econômica e a riqueza de sua produção beneficia os contingentes populacionais das outras regiões. Mas está na hora de a balança se equilibrar, em favor do sul, sob o risco de perdermos a competitividade. Rumos – A agência acaba de assinar seu primeiro contrato do programa Finep Inovacred. Como foi esse processo e qual a perspectiva? Barbosa – O governo do Paraná tem compromisso com a inovação e isso está presente em ações coordenadas pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, na Fundação Araucária, no Fundo Paraná, no programa Tecnova e outros. A Fomento Paraná se insere nesse contexto, fechando a cadeia, e com os recursos da Finep consegue levar apoio às empresas inovadoras já instaladas ou em implantação. Mais que assinar o primeiro contrato — um case de investimento importante para um pequeno município no Sudoeste do estado —, iniciamos uma agenda com todas as instituições envolvidas com a inovação e o desenvolvimento tecnológico no estado, para encontrarmos as empresas inovadoras e as áreas estratégicas onde o apoio financeiro é mais necessário. Rumos – Que importância o senhor confere à ABDE, a entidade que congrega e representa o Sistema Nacional de Fomento, integrado pelos bancos de desenvolvimento e pelas agências de fomento do país? Barbosa – Consideramos importante o fortalecimento da ABDE. É por meio dela que estabelecemos a troca de experiência entre os afiliados de todos os estados no Sistema Nacional de Fomento, para tirarmos proveito da diversidade cultural e econômica de um país tão vasto e criativo. Cada estado tem uma realidade e desenvolve uma alternativa econômica para atender suas demandas. O compartilhamento dessas experiências é fundamental. Da mesma forma como é fundamental que as discussões sejam organizadas para que se tenha um interlocutor único nos organismos que nos fiscalizam ou que podem ser nossos parceiros, como a Finep, o BID, a AFD, o BNDES, etc. A ABDE está de parabéns ao liderar a construção de uma pauta de reivindicações que é importante para o desenvolvimento das IFDs.
Fomento Paraná em números Colaboradores Patrimônio líquido Ativos totais Carteira de crédito para o setor público Carteira de crédito do setor privado Contratos ativos Municípios atendidos
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162 R$ 1.185,7 mi R$ 1.248,6 mi R$ 604,2 mi 69,5 mi 5.674 376 (94% do estado)
EEXPERTISE
Dalberto Adulis
Dalberto Adulis é professor de Sustentabilidade e Desenvolvimento na Faculdades de Campinas (Facamp) e especialista em gestão pública e desenvolvimento sustentável. Atualmente é gerente de Conteúdos e Metodologias do Instituto Akatu.
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Via alternativa Especialista em gestão pública e desenvolvimento sustentável defende o consumo consciente como uma forma eficaz de promover o desenvolvimento, por meio da geração de renda e dinamização da economia Por Ana Redig
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ser humano aprendeu utilizar todos os recursos disponíveis na Terra necessários à sua sobrevivência e ao seu desenvolvimento. Porém a falsa ideia de inesgotabilidade e o uso irresponsável desses insumos fizeram com que ultrapassássemos vários limites do planeta. “A previsão é que a população mundial salte dos atuais 7 bilhões de habitantes para 9 bilhões de pessoas em 2050. Se mantivermos os padrões de consumo de hoje, não haverá água e alimento suficientes para todos, e não haverá como dar destino a todo o resíduo produzido”, afirma Dalberto Adulis, gerente de Conteúdos e Metodologias do Instituto Akatu, organização não governamental que trabalha pela conscientização da sociedade para o consumo consciente. Akatu em tupi quer dizer ao mesmo tempo boa semente e mundo melhor. O Instituto foi criado há 12 anos pelo presidente da instituição, Hélio Mattar, ex-secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que já trabalhava a questão da sustentabilidade junto às empresas no Instituto Ethos. “Ele percebeu que paralelamente era necessário trabalhar junto aos consumidores, pois é muito difícil promover uma mudança desta monta apenas pelo lado da oferta. Sem um consumidor consciente não se mudam padrões de consumo”, explica Dalberto. A ideia é que os consumidores sejam esta boa semente na construção de um mundo melhor. Mantido por empresas que apostam na sustentabilidade, o Instituto vem produzindo conteúdos, realizando pesquisas e gerando informações que possam ser utilizados para sensibilizar os consumidores. O objetivo é munir o cidadão com um repertório maior de informações, tornando-o mais capaz de tomar decisões de consumo que diminuam os impactos negativos destas atividades.
Professor de Sustentabilidade e Desenvolvimento na Faculdades de Campinas (Facamp) e especialista em gestão pública e desenvolvimento sustentável, Dalberto Adulis garante que o consumo consciente é uma das formas mais eficientes de promover o desenvolvimento, por meio de efeitos positivos, como geração de renda e dinamização da economia, além de minimizar os efeitos negativos, ambientais e sociais. Inicialmente o Akatu trabalhava focado apenas na conscientização do cidadão consumidor, e colaborando com empresas interessadas em oferecer produtos com menor impacto, mas que tinham dificuldades em comunicar isso ao seu público. Com o tempo, o Instituto percebeu que podia ir além e levar o olhar do consumidor para contribuir com a elaboração, desenho e implementação de políticas públicas. Avanços – O professor aponta avanços no que tange à sustentabilidade nos últimos anos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, que passa a vigorar em agosto, é um exemplo. Ela colabora com a adoção de uma economia circular, em que os resíduos são vistos como recursos naturais reaproveitáveis. No entanto são necessários investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento para pensar formas de produção com menor impacto e para transformar o que antes ia para o lixo em insumos. “Esta é uma tendência mundial. Nos Estados Unidos a empresa de carpetes que mais cresce nos últimos anos já opera com 70% e tem como meta utilizar 100% de matéria-prima reaproveitada. É preciso investir em inovação e estimular este tipo de iniciativa”, cobra Adulis. O Akatu vem atuando em várias frentes – mobilidade, meio ambiente, água, energias renováveis etc. – sempre trazendo a questão do consumo consciente e o olhar do consumidor para os debates. Atualmente a instituição está envolvida na elaboração do Plano Nacional de Produção e Consumo Sustentá-
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EXPERTISE
Dalberto Adulis
vel. O Plano nasceu no Processo de Marrakesh, iniciativa liderada globalmente pelas Nações Unidas e no Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente e, apesar de já desenhado, encontra dificuldades na implementação de suas propostas. “Os sistemas econômicos dominantes não querem ver essas mudanças acontecerem e fazem tudo para manter a legislação como está”, afirma Dalberto. O professor lembra que este é um setor estratégico, pois uma malha mais barata e eficiente reflete na boa logística, impactando na economia do país como um todo. “Precisamos abandonar o modelo centrado no automóvel individual e enfatizar o transporte coletivo de qualidade. Isso inclui fornecer ligações ferroviárias entre as cidades”, sugere. O Brasil, no entanto, parece caminhar na direção contrária. A malha ferroviária no país diminui a cada ano. No semestre passado, a Rodovia Bandeirantes, em São Paulo, uma das melhores do país, ganhou mais pistas. “O ideal seria utilizar aquela via para criar um trem bala, há muito prometido. E o pior é que as novas pistas vão gerar um fluxo maior de carros que, quando chegarem à Marginal, ficarão parados”, conclui Dalberto Adulis. Ele elogia a atuação do Ministério do Meio Ambiente na elaboração do Plano, porém lembra que várias propostas lá colocadas não conseguem hegemonia para se tornarem efetivas do ponto de vista de incentivo e de financiamento. “Muitas vezes o marco legal inviabiliza que os bancos de desenvolvimento ofereçam mais incentivos”, avalia o especialista.
Resistências e avanços – A questão dos resíduos enfrentou a mesma resistência, por isso o professor acredita na educação para promover uma real mudança de cultura. “Os indicadores melhoraram, mas a qualidade do ensino ainda é fraca e as crianças passam pouco tempo na escola. Precisamos de uma educação mais abrangente, que promova o desenvolvimento de um indivíduo capaz de compreender o mundo e promover mudanças. Só este cidadão será capaz de dar o salto”, aposta Dalberto. Para envolver crianças e jovens de 8 a 16 anos no debate sobre consumo consciente e sustentabilidade, o Instituto Ikatu criou o desafio “De onde vêm as coisas?”. Pela rede de aprendizagem Edukatu, mais de mil escolas públicas e particulares participam gratuitamente de uma espécie de gincana. Alunos utilizam uma plataforma especialmente criada para o projeto como recurso de aprendizagem. O professor lidera o ambiente virtual e os alunos participam de um circuito com três percursos: água, ar e terra. “Todas as informações necessárias para vencer o desafio estão presentes na plataforma, que também tem espaços interativos e de consulta. Como o desafio é lúdico, desperta o interesse dos jovens, que muitas vezes discutem os temas de forma prática”, explica Dalberto. O especialista explica que precisamos construir uma mudança de cultura e, para isso, será necessária a participação do governo, das empresas e do consumidor. “O Brasil se ilude com sua grandiosidade, com sua fartura. Os recursos são mui-
tos, mas não são ilimitados. Praticamos a cultura do desperdício e estamos perdendo com isso”, argumenta Adulis. “No Brasil a gente tem essa ilusão de que a natureza é infinita e percebe que ela se torna mais limitada quando a população passa a ser mais urbana e passa a consumir mais. Por isso investir nas próximas gerações é fundamental”, conclui. Apesar das dificuldades, tanto culturais quanto políticas, o processo de desenvolvimento econômico sustentável no Brasil tem obtido avanços em diferentes áreas. Um bom exemplo de tendência que parece ter vindo para ficar são os produtos concentrados, especialmente de higiene e limpeza. Fruto do tão necessário investimento em P&D, a inovação permite oferecer ao consumidor embalagens de 500 ml do mesmo produto tradicionalmente oferecido em recipientes de 2 litros. Este processo gera economia na logística e transportes, reduzindo as emissões de CO2, usando menos papelão para embalagens e diminuindo as áreas necessárias para estocagem. Além disso, economiza água na produção, já que a diluição será feita em casa. Este conjunto de benefícios reduz fortemente a pegada desses produtos, tornando-os mais sustentáveis. O problema, segundo o professor, é que o marco regulatório brasileiro não favorece ou estimula este tipo de iniciativa, como acontece no exterior. “Estamos falando de todos os recursos disponíveis e essenciais para a produção e não de algo distante. Racionalizar o uso dos recursos naturais representa economia. A ideia de que a sustentabilidade e o meio ambiente são contra o desenvolvimento é totalmente equivocada. Até hoje, no Brasil, as iniciativas têm partido da indústria, sem qualquer incentivo. A legislação precisa ser cada vez mais exigente, já que esses benefícios são para todos”, argumenta Dalberto. O especialista avisa que investimentos em tecnologia e inovação tecnológica são fundamentais para permitir o desenvolvimento de produtos mais eficientes e com menor impacto. “É o que acontece com as pás para produzir energia eólica, por exemplo: dependemos de importação, pois não investimos no desenvolvimento da tecnologia”, cita. Adulis explica que quando uma indústria adota uma produção sustentável ocorre uma economia imediata, com redução de custos logísticos e outros já citados. Segundo ele, o mesmo acontece com o consumidor consciente: o primeiro ganho é econômico, por isso, a oferta de produtos não pode inviabilizar a escolha. O segundo passo é o redesenho dos produtos, incorporando inovações. “Este é o salto maior, que além da economia vai gerar reputação, pois os consumidores valorizam cada vez mais as empresas com atuação mais responsável. As empresas que não entrarem nisso estão com os dias contados”, garante. Na Alemanha, as líderes da indústria automobilística Volkswagen e BMW disputam o mercado de locação de carros de forma intensa. Apostando na tendência do compartilhamento e não na posse do veículo, que ganha cada vez mais espaço na Europa, as empresas entenderam que se não oferecerem este serviço com qualidade, em paralelo às vendas de automóveis, em 10 anos estarão fora do mercado. Pelo celular os usuários localizam o carro disponível estacionado mais próximo
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Desenvolvimento – De forma geral o Brasil tem apresentado melhorias em seus indicadores econômicos, ambientais e sociais, mesmo quando colocado em comparação com outras nações em desenvolvimento como Índia, China e México. No entanto, ainda há importantes pontos para se avançar. O Social Progress Index, indicador desenvolvido pelo professor Michael Porter, na Universidade de Harvard, procura observar simultaneamente o bem-estar, as oportunidades e as necessidades básicas dos habitantes. O Brasil ocupa o 46° lugar. “Houve avanços no que tange às necessidades básicas. No entanto, pioramos nos itens que nos permitem dar um salto significativo rumo ao desenvolvimento sustentável, inclusive comparado a outros países da América Latina”, avisa o professor. A questão da segurança é uma delas. O Brasil está em 122° lugar e exibe uma taxa alarmante de mortes: 60 mil pessoas assassinadas em 2013 e o mesmo número de vítimas fatais no trânsito. É um contingente muito expressivo. “Quando se analisa o desenvolvimento do ponto de vista puramente econômico, podemos concluir que a violência contribui com o crescimento do PIB: aumentam os gastos com segurança patrimonial privada, blindagem, cercas elétricas, serviços de vigilância, entre outros. No entanto, isso não é um benefício para a sociedade, pois cai a qualidade de vida da população. Por isso é fundamental considerar aspectos não econômicos”, frisa o professor. Para o especialista, o país também apresenta retrocesso em outro setor estratégico: o energético. Ele critica a recente opção pelo uso crescente de energia termelétrica, diminuindo a utilização das fontes consideradas limpas e renováveis em nossa matriz energética. “Na comparação com os países em desenvolvimento, a China sai na frente com um plano de investimentos expressivo em energia solar e eólica que inclui a construção de parques enormes. No Brasil faltam incentivos para o desenvolvimento desses parques, bem como um marco regula-
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Fotos: Douglas Lucena
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Racionalizar o uso dos recursos naturais representa economia. A ideia de que a sustentabilidade e o meio ambiente são contra o desenvolvimento é totalmente equivocada.
tório consistente”, avisa Adulis. Dalberto Adulis realça que o Brasil registrou uma melhoria significativa na distribuição de renda nos últimos 15 anos, destacando o país de qualquer outro neste quesito. Um contingente muito grande de brasileiros migrou das classes D e E para a classe C, ou seja, essas pessoas foram incluídas no mercado consumidor. Apesar de extremamente positiva, ele afirma, é preciso estar preparado para os desafios impostos por esse novo cenário, especialmente no que tange a impactos ambientais: aumento de demanda por recursos naturais – água, alimentos, energia etc. – e o crescimento na quantidade de resíduos gerados. “Como vamos atender a toda esta demanda?”, indaga o especialista. Por seu volume populacional, a China ainda é um grande mercado de venda de automóveis. No entanto, a malha ferroviária do país é planejada para que toda cidade que alcance 200 mil habitantes passe a ser servida por um trem bala no prazo de cinco anos. Este planejamento é fundamental e não estaria sendo feito no Brasil. “O mesmo acontece com os serviços ambientais. O desmatamento de florestas melhorou, mas não temos um plano para pensar a biodiversidade como um recurso estratégico no país. Continuamos a adotar uma agricultura de commodities, de baixo valor agregado – no fundo estamos exportando água –, e a gente vai caminhando para trás de certa forma em relação há 20 anos”, critica o especialista. Para o professor, quem mais avançou nos últimos anos no Brasil foi a sociedade. “As redes sociais e as novas ferramentas de mobilização permitiram às pessoas assumirem posições mais enfáticas em relação àquilo que querem. As recentes pressões por escolas, hospitais e mobilidade ‘padrão Fifa’ vão nessa direção”, opina. Para Dalberto Adulis, este novo consumidor começa a perceber que ter renda não é suficiente. É preciso alcançar qualidade de vida: uma cidade mais sustentável, com mais espaços públicos, mais espaços verdes, segurança, transporte adequado. “Cada vez mais pessoas querem alimentos saudáveis, e não em quantidade; transporte público em vez de carro; energia e água limpas em vez de fartas; o durável mais do que o descartável”, garante. De fato, é preciso conhecer os limites do planeta para não ultrapassálos. “A economia precisa se reconciliar com o meio ambiente e com a ética. Só assim conseguiremos promover a diminuição da desigualdade,” conclui.
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em uma vaga comum. Com o cartão de crédito, o caro é liberado e aquele usuário fica com ele até estacioná-lo novamente para que outro possa utilizá-lo. O sistema é inspirado no das bicicletas, iniciativa de sucesso em muitas cidades no Brasil e no mundo. “Esta é uma tendência muito forte, pois diminui o uso de recursos naturais ao mesmo tempo que oferece qualidade de serviços. Infelizmente esta ainda é uma realidade distante para o Brasil”, lamenta Dalberto.
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REFLEXÃO
Sistemas Nacionais de Fomento
Antigos problemas, novos desafios Arquivo pessoal
Lavinia Barros de Castro Economista do BNDES* * As opiniões aqui expressas não representam a posição do BNDES
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odos aqueles que começam a estudar Sistemas Nacionais de Fomento (SNF) se deparam com a mesma questão. Frente à variedade institucional existente, como defini-lo? Não há, de fato, descrição abrangente o suficiente para comportar a multiplicidade de desenhos institucionais compreendida num “Sistema Nacional”, que envolve desde bancos especializados a bancos que atuam em múltiplos setores, bancos nacionais, regionais, agências com atuação local ou de atuação. Há, porém, três características que parecem ser fundamentais para caracterizar um SNF. A primeira é de senso comum: atuar em segmentos de crédito pouco desenvolvidos pelo mercado privado, seja pelos maiores prazos, volumes de capital requeridos ou dificuldade em avaliar riscos. Já a segunda é o reconhecimento de que os riscos devem ser avaliados não apenas em relação à rentabilidade esperada de cada um dos projetos, individualmente. É preciso manter a sustentabilidade financeira da instituição no longo prazo, mas, a depender das prioridades de fomento, é possível, por exemplo, praticar subsídios cruzados entre diferentes atividades, criar fundos onde o sucesso de um projeto viabiliza os demais, entre outros. Por fim, um “sistema” só se caracteriza se houver entre as diversas instituições complementaridade e inter-relações em prol de um objetivo comum mais amplo: o desenvolvimento nacional – conceito este também abrangente e mutante ao longo do tempo. Para os adeptos da tese do “Estado Mínimo”, a intervenção do Estado inibe o desenvolvimento natural do mercado de crédito, seja pela existência de subsídios ou por seu excessivo direcionamento. A intervenção reprimiria a oferta de poupança – com implicações para o crescimento econômico. No máximo, reconhece-se algum papel para instituições de fomento nas “falhas de mercado”. De acordo com esta tese, a atuação pública no mercado de crédito só se justificaria em situações em que existe poder de monopólio (caso em que se defende a regulação), na presença de assimetrias de informação (o que justifica, por exemplo, o apoio público às MPMEs), de externalidades positivas (ex.: apoio à exportação) ou negativas (evitar corridas bancárias) e diante de bens públicos (ex.: apoio à infraestrutura urbana). Ademais, reconhece-se que quando há grande instabilidade macroeconômica, instituições de fomento são necessárias – o que desapareceria quando os fundamentos fossem colocados “em seu devido lugar”. Não se está negando que o aprofundamento do sistema
financeiro possa contribuir para o desenvolvimento econômico, ao ampliar e diversificar fontes de financiamento. Nem tampouco que existam segmentos que, embora extremamente relevantes, dificilmente serão atendidos pelo setor privado em virtude de falhas, como o crédito para MPMEs. O que a teoria das falhas não reconhece é a própria inexistência de um mercado financeiro nacional de longo prazo como problema estrutural que, se não tratado, inviabiliza o crescimento e, portanto, justifica um sistema público. A necessidade de instituições de fomento não está apenas em contrabalançar a instabilidade macroeconômica, nem se restringe a países em desenvolvimento; nem muito menos deve atuar apenas nas “falhas” A verdade é que quando os riscos são muito grandes ou prazos muito longos, mesmo que o financiamento seja privado, exigem-se garantias ou alguma forma de apoio creditício do Estado, inclusive em países desenvolvidos. Dificilmente o mercado privado contribui para reduzir desigualdades regionais, sociais e setoriais. Sim, existem problemas estruturais no mercado de crédito. Sim, o mercado privado tende a se comportar ciclicamente e possuir instituições de fomento já consolidadas em momentos de crise pode ser muito importante. Sim, existe incerteza no sentido forte – a informação, às vezes, simplesmente não existe, não é que seja apenas assimétrica (Studart, 1995). Reconhecidos os antigos problemas do mercado, cabe nos perguntarmos sobre os novos desafios. Estamos preparados para apoiar financeiramente um país inovador? Compreendemos o significado das novas demandas sociais? Temos exercido a nossa capacidade de ver primeiro os desafios do desenvolvimento? Atiçamos o espírito empreendedor? Fomentamos a competitividade tendo em conta nossos novos competidores? Estamos atentos aos desafios do envelhecimento da população em termos das demandas futuras em infraestrutura urbana e saúde? Estamos atuando para integrar as dimensões social e ambiental à dimensão econômica? Complementamos políticas públicas voltadas ao desenvolvimento local e regional? Somos financeiramente sustentáveis e atendemos as novas demandas regulatórias? Não basta existir. É preciso responder aos novos desafios do desenvolvimento. Referência: STUDART, Rogério: Investment Finance in Economic Development, London, 1995.
RUMOS – 12 – Maio/Junho 2014
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REPORTAGEM
INOVAÇÃO
Por Alana Gandra
Para aumentar a Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo oferece crédito para projetos inovadores, visando o desenvolvimento das empresas capixabas
RUMOS – 14 – Maio/Junho 2014
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novação. Esse é o caminho que levará ao desenvolvimento das empresas capixabas, disse à Rumos o presidente do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), Guilherme Henrique Pereira. Ele apontou que uma das ferramentas que levarão a esse caminho é o Bandes Inovação, linha de crédito operada pelo banco com recursos de diversas fontes, cujo lançamento oficial está programado para este mês pelo governo do estado. O Bandes Inovação se insere no âmbito do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Espírito Santo (Proedes). Guilher me Henrique Pereira esclareceu que a instituição, nos anos anteriores, ficou muito voltada para Linha de crédito inaugura nova forma de atuação do Bandes, que deseja sinalizar operações de microcrédito e agora, aos empresários locais que a instituição trabalha com novos produtos que visem após aumentar seu capital, está traba- ao desenvolvimento inovador e tecnológico. lhando para abrir novas frentes de trabalho. Com o Bandes Inovação, o banco inaugura uma Bandes Inovação prevê a participação da instituição inclunova fase, “como se estivesse criando uma agência virtual, sive como sócia no capital de empresas inovadoras. “Essa uma forma nova de atendimento”, para sinalizar aos possibilidade existe. Nós estamos legalmente autorizados empresários locais que a instituição está trabalhando com a fazer isso”, manifestou. O Criatec é um fundo de capital, outros produtos que visem o desenvolvimento inovador e criado em 2007 pelo BNDES e outras instituições e operatecnológico. do por gestores regionais, que apoia empresas nascentes Segundo Pereira, a linha de crédito vai ser um “guardainovadoras, as chamadas startups – empresas novas ou ainchuva”, uma vez que o banco fez convênio com a Agência da em fase de constituição, que contam com projetos proBrasileira de Inovação (Finep), do Ministério da Ciência, missores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolviTecnologia e Inovação, no âmbito do programa Inovamento de ideias inovadoras. Por serem jovens e estarem cred, e também com as linhas do BNDES Inovação, do implantando uma ideia no mercado, necessitam de investiBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social mento de risco. (BNDES). Há possibilidade ainda de o Bandes apoiar projetos inoTambém em parceria com o BNDES, o Bandes vai opevadores das empresas do Espírito Santo com recursos prórar o Criatec 3, que, de acordo com o presidente, “vai dar prios, explica Carlos Magno de Barros, diretor de Crédito formato à participação societária”, tendo em vista que o e Fomento do banco. Com estes recursos, a instituição se
competitividade habilita a apoiar as empresas inovadoras. “É o Bandes fomentando a inovação para conferir competitividade às empresas locais”, salientou o diretor. Flexibilidade – O Bandes Inovação tem limite para empréstimos de até R$ 15 milhões por empresa. As condições para que as empresas acessem os recursos são as mesmas do BNDES Inovação e do Inovacred, da Finep. Já com recursos próprios do Bandes, o presidente assegurou
que há flexibilidade para o atendimento aos projetos. “Quer dizer, o banco está aberto para incluir projetos que porventura não se enquadrem nas linhas do BNDES ou da Finep”, explicou. O Bandes Inovação está disponível a empresas de qualquer porte, não se restringindo ao segmento de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs). Os diretores afirmam que “se houver uma grande companhia que quiser recursos para inovação, para desenvolver um projeto que caiba dentro do limite de R$ 15 milhões, ela também pode ser contemplada”. A ideia é melhorar o valor agregado das empresas já existentes e aumentar sua competitividade no mercado. Para as empresas nascentes que tenham um produto considerado inovador, indicou que o Bandes Inovação pode dar o impulso necessário para o crescimento do negócio.
Guilherme Henrique Pereira, diretor-presidente do Bandes.
Cesar Mello
Encontros com empresários No contexto do Bandes Inovação, o banco está promovendo encontros visando identificar empresários capixabas que manifestam interesse em diversificar suas atividades, e também empreendedores que criaram ou desenvolvem produtos inovadores e têm uma proposta de constituir um plano de negócios. “A gente está fazendo um dia de trabalho em que juntamos esses empreendedores com esses empresários, nos quais é debatido o plano de negócios dele”, comentou o presidente. O intuito é que esses empresários, junto com os empreendedores inovadores, possam discutir o interesse de uma ação conjunta para tocar um plano de negócios. O sucesso da primeira edição do Encontro de Oportunidades de Investimentos, realizado no último dia 26 de maio, do qual participaram 15 empresários, com sete planos de negócios apresentados, sinaliza que o projeto terá continuida-
de. Pereira informou que já está com vários pedidos de empresas que querem participar dessa reunião com empreendedores inovadores. Além de fomentar o desenvolvimento econômico do estado a partir da maior competitividade das empresas, o Bandes quer estimular a inovação e, também, a sustentabilidade das empresas, porque acredita que, com isso, contribui para a geração de empregos e o aumento da renda no Estado. “O Bandes Inovação é isso: um conceito para abrigar essas linhas que trabalham especificamente com inovação e vão desde a promoção do negócio, como é o caso desses encontros de empreendedores inovadores e investidores, até o financiamento da empresa”. O financiamento do Bandes Inovação tem juros que variam de 4,5% até 11% ao ano, dependendo do enquadramento das empresas e o prazo de pagamento se estende por até dez anos.
RUMOS – 15 – Maio/Junho 2014
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REPORTAGEM
RESULTADOS
Por Gilberto Negreiros
Portas abertas à Aposta da Finep para descentralizar o crédito à inovação, Inovacred supera suas próprias metas e amplia presença junto aos agentes financeiros dos estados
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m pouco mais de um ano após o lançamento, o nados em 28 de maio de 2013 durante Assembleia Geral da Inovacred, criado pela Finep em parceria com a ABDE, entre a Finep e três agentes financeiros: um do Rio de Associação Brasileira de Desenvolvimento Janeiro, a Agência Estadual de Fomento (AgeRio); e dois do (ABDE), caminha rapidamente para ser a porta de Rio Grande do Sul, a agência de fomento Badesul e o Banco entrada da inovação no universo das pequenas empresas. No Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). “A curto período entre maio de 2013 e agora, saltou de três para meta era chegar ao fim de 2013 com dez contratados. Nós 15 o número de agentes financeiros credenciados em diferenencerramos o ano passado com 12 e hoje já estamos com 15”, tes regiões do país. Dispondo de funding de R$ 1,2 bilhão, o proinformou Guimarães. grama oferece a empreendimentos com receita operacional A proposta de descentralização do crédito à inovação bruta anual ou anualizada de até R$ 90 milhões crédito para em escala nacional teve como decorrência a necessidade de desenvolvimento ou aprimoramento de produtos, processos e adaptação do programa às peculiaridades das regiões geoserviços, marketing ou inovação organizacional. gráficas do país. “A extensão do Brasil impõe diferenças marCláudio Guimarães Júnior, diretor Financeiro e de Concantes entre as regiões, em termos de inovação. Um exemplo troladoria da Finep, empresa pública é o projeto de silos que financique lidera a inovação no Brasil, é o gesamos no Acre para proteger a tor do programa e se entusiasma ao colheita de castanha, aipim e “O fato de uma empresa mostrar os resultados já alcançados. outros produtos agrícolas. Para “O Inovacred é a resposta da Finep ao a região, esses silos represencomo a Finep dar uma desafio de descentralizar o crédito à tam uma inovação porque preresposta em 30 dias, com inovação. Assim como o Tecnova, nosservam os produtos e possibiliso programa que promove a descentam o beneficiamento posteriqualidade, é uma quebra tralização concedida a empresas inoor para exportação”, disse. de paradigma na vadoras, o Inovacred é executado junConhecimento – Outro aspecto com os agentes financeiros dos estaadministração pública, um to destacado pelo gestor do Inodos”, explicou. tremendo avanço para o vacred é a necessidade de Guimarães ressaltou que a resposta conhecimento da realidade ao desafio da descentralização do créBrasil.” local por parte de quem concedito assenta-se sobre dois pilares. Um Cláudio Guimarães Júnior, de o crédito: “O agente conhece deles é o Finep 30 dias, sistema que foro micro e o pequeno empresánece nesse prazo as análises de crédito, diretor Financeiro e de rio local. Com isso, ele consegue risco e teor de inovação dos projetos. Controladoria. avaliar de perto quão inovador é O outro pilar é a Comissão de Inovao projeto”. ção da ABDE, da qual ele é presidente, Também para atender as que promove bimestralmente enconpeculiaridades regionais, foram adotadas taxas de juros difetros de agentes da entidade com técnicos das diferentes instirenciadas nos financiamentos. O custo para as empresas das tuições de fomento associadas, para discussão de temas referegiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste tomadoras de crédito é rentes à inovação e contratação de projetos. TJLP mais a taxa do agente. Nas regiões Norte e Nordeste, os “O ano de 2013 foi de conhecimento, nosso e dos agenjuros têm diferencial de 1,5%. tes, sobre inovação. Agora, com o Finep 30 dias e o trabalho Para formar seu funding, o Inovacred recebeu um aporte de integração conduzido pela ABDE, acredito que em 2014 fundamental de recursos do governo federal. No lançamennós possamos efetivamente fazer decolar a descentralização to do programa Inova Empresa, também gerido pela Finep, a do crédito para a inovação no Brasil inteiro”, afirmou. presidenta Dilma Rousseff aprovou a destinação de R$ 1 bilhão do FAT para o crédito de inovação à pequena empreComeço – Os primeiros contratos do Inovacred foram assiRUMOS – 16 – Maio/Junho 2014
Noel Joaquim Faiad
pequena empresa
Os primeiros contratos do Inovacred foram assinados em maio de 2013 durante Assembleia da ABDE (foto); técnicos da Finep têm ido aos estados para auxiliar os agentes locais na identificação dos projetos inovadores.
sa. A contrapartida de R$ 200 milhões que coube à Finep no rateio totalizou R$ 1,2 bilhão. Esse montante de recursos é empregado nos contratos firmados com os agentes financeiros estaduais, cujos valores variam de R$ 30 milhões a R$ 80 milhões, de acordo com o porte da agência de fomento ou do banco. Assistência – “Ao longo de 2013”, relatou Guimarães, “nós contratamos os agentes e demos treinamento para análise de projetos de inovação. O BDMG [Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais] já tinha um núcleo que financiava projetos de inovação e a AgeRio também. Então, alguns já estavam acostumados a trabalhar com inovação. Mas os agentes que apresentaram necessidade recebem toda a assistência e acompanhamento. E continuamos a fazer isso. Nossas equipes vão lá onde eles estão e fazem o treinamento. Recentemente, promovemos aqui na Finep, com ampla participação de agentes, uma reunião para mostrar como nós acompanhamos os projetos de inovação”. No treinamento dos agentes, as equipes de apoio procuram estabelecer com precisão o conceito de inovação. “Em nossas apresentações básicas”, disse o diretor da Finep, “esclarecemos o que entendemos por inovação, que não é algo restrito ao produto. A inovação pode ser de processo, de serviço.” Dentro desse enfoque amplo, “tudo o que tiver estrita ligação com o projeto, até obras civis, treinamento, consultoria, é agregado ao financiamento”. As atividades das equipes de treinamento incluem, tam-
bém, o trabalho de prospecção de clientes. “Na ponta, nós integramos os agentes locais para que eles se habilitem a participar do Inovacred. A Finep realiza nos estados reuniões entre agências, universidades e incubadoras, em um trabalho conjunto que faz a triagem de clientes potenciais”. Garantias – Na estruturação do programa, um dos maiores obstáculos enfrentados foi a questão das garantias necessárias à concessão de crédito. “Concluiu-se que, pelo fato de a pequena e a média empresa não terem inicialmente garantias a dar, essa era uma das maiores dificuldades no financiamento da inovação”, contou Guimarães. “Mas, com a ajuda da ABDE, negociamos com o BNDES o acesso dos agentes do Inovacred ao Fundo Garantidor da Inovação (FGI), que estará disponível para os participantes do programa no primeiro trimestre de 2015. ” O leque de garantias ampliou-se com o apoio do Sebrae, que dobrou de R$ 300 mil para R$ 600 mil a cobertura proporcionada pelo Fundo de Apoio à Pequena e Média Empresa (Fampe) nas operações dos agentes do programa. “E estamos trabalhando junto ao Banco do Brasil para que, da mesma forma como aconteceu com o BNDES, os nossos agentes tenham também acesso ao Fundo Garantidor de Operações (FGO), que já desenvolve um projeto piloto com a AgeRio”, anunciou. “Tudo isso reduz custos drasticamente e dá segurança aos agentes do programa. O sistema de garantias vai impulsionar de maneira bastante significativa o volume de operações. ”
RUMOS – 17 – Maio/Junho 2014
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REPORTAGEM
RESULTADOS
Guimarães ressaltou que a gestão do Inovacred exigiu também da sua executora disposição para enfrentar o desafio da inovação. Isso foi conseguido com a criação, em setembro do ano passado, do Finep 30 dias, sistema que simplificou o processo de análise das propostas de financiamento. Sem mais complicações burocráticas, os projetos reembolsáveis recebem os três ratings exigidos – crédito, risco e inovação – no prazo de 30 dias, algo até então inédito. Paradigma – “O fato de uma empresa pública, como é a Finep, dar uma resposta em 30 dias, com qualidade, é uma quebra de paradigma na administração pública, um tremendo avanço para o Brasil. Nem as agências de inovação dos países mais desenvolvidos têm um módulo como esse”, afirmou. Para Guimarães, o padrão de eficiência firmado com o Finep 30 dias deveria gerar iniciativas semelhantes em outros órgãos governamentais: “Se uma empresa pública responde a um pedido de financiamento em 30 dias, é inconcebível que a Previdência demore mais de 30 dias para dizer se alguém tem ou não direito à aposentadoria. Ou que se demore mais de seis meses para analisar o projeto de compra de uma caldeira”. Com a implantação do Finep 30 dias, as empresas tomadoras de financiamento para inovação passaram a se cadastrar pela internet. Se o projeto tem valor igual ou abaixo de R$ 10 milhões, é imediatamente repassado aos agentes do Inovacred. “Em 2014, nós vamos mais e mais mandar projetos para os agentes”, disse Guimarães. “E também pretendemos estender ao longo deste ano o sistema 30 dias aos nossos agentes, para capacitá-los a analisar um projeto de inovação com segurança e prontidão. Com isso, a Finep valoriza cada centavo do contribuinte brasileiro que financia a inovação. Nós dizemos isso com muito orgulho. ” Guimarães destacou, também, a criação da Comissão de Inovação da ABDE. “Formou-se um caldo de cultura para falar de inovação. O BNDES está conosco na Comissão. Lá se discute a situação de setores e são apresentados cases sobre a experiência de cada agente na contratação de projetos”, disse. As análises sobre o estágio da inovação no Brasil convergem, quase invariavelmente, para a comparação com a Coreia do Sul, que em menos de três décadas deu o salto tecnológico e hoje compete na primeira linha da produção de automóveis, eletrônica digital e telefonia. O diretor da Finep concorda: “Em 1974, o Brasil era mais inovador que a Coreia; nos anos 80, estávamos próximos; e hoje eles estão lá em cima e nós estamos cá embaixo. A Coreia investiu em educação e inovação. Porque quando se investe em inovação, as empresas inovadoras geram empregos de melhor qualidade e produtos melhores e mais competitivos no mercado mundial.”
AGENTES PARCEIROS DO INOVACRED NOS ESTADOS
BANCO DA AMAZÔNIA
AGN AGEFEPE DESENVOLVE DESENBAHIA GOIÁS FOMENTO BDMG BANDES
BRDE
AGERIO DESENVOLVE SP FOMENTO PARANÁ BADESC BADESUL BANRISUL
Produtividade – Guimarães acrescentou que a inovação tem relação direta com dois fatores cruciais na economia moderna: produtividade e competitividade. “A empresa industrial brasileira precisa ter produtividade semelhante à da agricultura, onde o Brasil cresce mais que o mundo”, afirmou. Na sua avaliação, o caminho para o salto da produtividade está traçado. “Em março do ano passado”, lembrou, “a presidenta Dilma lançou o programa Inova Empresa. Nunca antes na história deste país foram destinados R$ 32,9 bilhões à inovação. Agora, a Finep coordenou, através do seu presidente, Glauco Arbix, o Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento, voltado para a ciência e com duração de dez anos, que vai ter o mesmo impacto do Inova Empresa. ” Coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o programa tem como objetivo integrar o conhecimento científico produzido nas universidades e institutos de pesquisa com as empresas e os órgãos do governo. As Plataformas do Conhecimento abrangem um conjunto de sete áreas: agricultura, saúde, energia, aeronáutica, manufatura avançada, tecnologia da informação e Amazônia. Também está prevista a contratação de pesquisadores de alta qualificação, do Brasil e do exterior, e o reaparelhamento e a implantação de instituições de pesquisa com padrão internacional. Uma das primeiras ações será na área da saúde. “Com esse novo programa, o Brasil vai se aproximar da fronteira do conhecimento. Estamos muito felizes e estimulados por estar participando de um processo que vai entrar para a história deste país”, afirmou Guimarães.
RUMOS – 18 – Maio/Junho 2014
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OPINIÃO ANÁLISE
Desigualdade disfuncional Marcelo Correa
Antonio Delfim Netto Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.
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livro do economista francês Thomas Piketty, O Capital no século 21, merece o sucesso editorial e as atenções dos meios acadêmicos, mas é um exagero dizer que ele revolucionará o estudo da Economia. A tendência à acumulação da renda e do patrimônio é um fenômeno muito conhecido dos historiadores e vem sendo estudada quantitativamente pelos economistas desde o final do século 19, quando Vilfredo Pareto (Cours d´économie politique, 1897) estabeleceu as famosas leis estatísticas que mimetizam a distribuição da renda nas mais variadas sociedades e que Piketty usou em suas extrapolações. Quem tiver dúvida pode consultar uma ingênua nota publicada há 60 anos sobre a distribuição da renda no Brasil (ADN – “A Lei de Pareto e o Imposto de Renda em 1951 no Brasil”, Revista dos Mercados, agosto de 1953), para testemunhar a qualidade daquela aproximação. As conclusões de Piketty têm sido abusadas pelas variadas vertentes ideológicas que infestam os estudos da Economia. Talvez seja hora de lembrar um gigantesco estudo sobre a História da Civilização, que Will e Ariel Durant publicaram em 10 volumes, entre 1935 e 1967. Ignorado pelos historiadores profissionais, impressionaram amadores, como foi o meu caso. Em 1968 publicaram um pequeno volume, The Lessons of History, onde condensaram o que tinham aprendido tentando entender 25 séculos da caminhada do homem. O capítulo 8, “Economics and History”, é muito interessante. Em apenas seis páginas expõem o poder da interpretação materialista da história de Karl Marx e suas limitações. Avançam, depois, um largo quadro que mostra que ao longo da História, nos mais variados regimes e circunstâncias, a concentração da riqueza parece inevitável. A concentração pode chegar a um ponto em que o poder do número de pobres atinge o poder das habilidades dos poucos que são ricos, uma situação de equilíbrio instável que será enfrentada por uma redistribuição pacífica e legal da riqueza ou por uma revolução que distribuirá a pobreza. Um exemplo da primeira foi a reforma de Sólon, da Atenas de 594 a.C., onde prevaleceu o bom senso e a capacidade política. Exemplo da segunda foi a indiferença do Senado Romano à proposta de Tiberius Gracco (162-133 a.C.) para reduzir a concentração da riqueza, que resultou em um século de lutas de classe e guerra civil.
Os autores afirmam que a experiência do passado deixa poucas dúvidas que todo sistema econômico, cedo ou tarde, apoia-se em alguma forma de estímulo para levar indivíduos ou grupos a produzirem. Organizações alternativas – escravidão, coerção, entusiasmo ideológico – mostraram-se muito improdutivas, custosas e transitórias. A habilidade prática difere de pessoa para pessoa, e em quase todas as sociedades elas concentram-se numa minoria. A concentração da riqueza é resultado natural dessa concentração das habilidades e aparece recorrentemente na História. A taxa de concentração varia com a liberdade econômica aceita pela moral e pelas leis. A relativa igualdade que prevalecia nos EUA antes de 1776 (Guerra da Independência) foi soterrada por milhares de diferenciações físicas, mentais e econômicas, de maneira que a distância entre o mais rico e o mais pobre, agora (1967) é maior do que em qualquer tempo. Os governos americanos em 1933-52 (Franklin Roosevelt e Harry Truman) e 1960-65 (John Kennedy e Lyndon Jonhson) conseguiram uma moderada e pacífica redistribuição. A classe alta americana reagiu com submissão, mas logo recomeçou a concentração da riqueza, que Piketty agora aponta. Will e Ariel Durant viram com clareza que quem controlou a moeda e o crédito controlou os outros: “dos Medicis de Florença e os Fuggers de Augsburg aos Rothschilds de Paris e os Morgans de Nova York, os banqueiros sentaram nos conselhos dos governos, financiaram guerras e papas e, às vezes, revoluções”. A conclusão dessa viagem extraordinária pela história do homem é que “a concentração da riqueza é natural e inevitável, mas periodicamente aliviada por redistribuição pacífica ou violenta que ocorre quando algum fenômeno crítico – uma crise de abastecimento como no passado ou um aumento profundo e prolongado do desemprego como no presente – reduz à miserabilidade parte importante da sociedade e o sistema político parece incapaz de corrigi-la”. Não há lei histórica! A desigualdade disfuncional nada tem a ver com “direita” ou “esquerda”. É apenas insensibilidade e incompetência de quem controla o poder político, como sugere Piketty.
RUMOS – 20 – Maio/Junho 2014
MEMÓRIA
“Carismático e intelectual”, Pedro Falabella morre aos 72 anos
recordações de Falabella. Ele lembrou sua liderança em um momento muito delicado da ABDE. “Conheci o Pedro Falabella no contexto da militância em prol do fomento de crédito no Brasil. Foi presidente da ABDE em um momento muito delicado para a instituição. Ali reconheci um líder que priorizava os interesses coletivos em detrimento dos assuntos particulares. Filho de imigrantes italianos, foi prefeito de Urucará, no interior do estado do Amazonas, por cinco mandatos, mas o que o fazia vibrar era a luta pelo fomento em prol dos povos ribeirinhos do seu estado. Tinha consciência de que pequenas intervenções podem mudar a vida das pessoas”, lembrou, sobre o amigo. “Ao nos deixar abruptamente, Pedro empobrece o cenário das lutas pelo desenvolvimento em geral e do fomento em particular”, completou. Nas redes sociais e por meio de notas oficiais, políticos e personalidades do estado de Manaus lamentaram a morte de Falabella, querido por onde passou. Em sua página pessoal no facebook, o senador Eduardo Braga postou uma declaração emocionada sobre a perda de seu amigo e companheiro de militância política: “Urucará, o Amazonas e o Brasil perderam um grande homem público. Vá em paz, meu amigo. Obrigado por tudo”, declarou. O governador José Melo também emitiu uma nota sobre o legado de Falabella. “Homem de profundo espírito público, dedicou sua vida à luta pela construção de tempos melhores para a população deste estado. Pedro Falabella deixa um legado de dignidade e trabalho”, concluiu. Na Assembleia Legislativa, que já havia conferido ao economista a Medalha do Mérito Legislativo, os deputados relembraram, durante sessão plenária, a atuação de Falabella em favor do desenvolvimento econômico e social do estado, em especial o desenvolvimento do setor primário da economia local. Representantes do Ministério Público Estadual também lamentaram a morte de Falabella. “Por onde passou, ele deixou sua marca de um administrador eficiente e ao mesmo tempo conhecedor da estrutura política do Amazonas”, testemunhou o promotor de justiça, Otávio Gomes, que classificou o economista como uma figura “carismática e intelectual”.
RUMOS – 21 – Maio/Junho 2014
Noel Joaquim Faiad
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residente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) em um momento-chave da vida da entidade, e fundador da Agência de Fomento do Amazonas (Afeam), Pedro Falabella faleceu aos 72 anos, no último dia 28 de maio. Economista e artista plástico, Falabella estava internado por conta de problemas cardíacos na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Beneficente Portuguesa, em Manaus, quando veio a falecer. O economista foi presidente da ABDE entre 2007 e 2009, em um momento importante para a associação, e teve papel destacado durante as negociações com o Banco Central para as alterações na Resolução 2.828, que trata da normatização das agências de fomento. Ele considerava essa negociação a maior conquista de sua gestão. “As alterações dessa resolução foram um grande legado”, afirmou recentemente em entrevista à revista Rumos, na edição especial de aniversário da ABDE. Nesta mesma entrevista, ele recordou que no período em que esteve à frente da entidade a associação conseguiu superar uma etapa crítica de sua história. “Superamos a crise e preparamos o terreno para o início do planejamento estratégico, que visava a abertura do diálogo dos associados com o Banco Central e o BNDES”, contou. O presidente da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) e diretor da ABDE, Milton Luiz de Melo Santos, que conviveu com Falabella durante o período em que este presidiu a associação, lembrou de seu permanente engajamento em favor das instituições de fomento. “Pedro Falabella foi uma das pessoas que mais me impressionou nesses anos todos em que eu convivi com agências de fomento e bancos de desenvolvimento, pela sua luta incansável em defesa de um sistema de fomento voltado às empresas de pequeno porte. Ele foi um lutador, um grande defensor de um sistema de crédito mais objetivo, menos burocrático e mais simplificado, para que o pequeno produtor, o pequeno empresário, pudesse obter o crédito mais adequado ao seu negócio”. Presidente da Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc), Luis Antonio Ramos também guarda boas
SUL EXTREMO
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América Latina Por Sarah Barros
Reconhecida e premiada Iniciativa do BRDE é vencedora de prêmio internacional; ação aumenta a capilaridade do banco e permite alcançar pequenos produtores da agricultura familiar com maior volume de crédito, a custos mais baixos
Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) recebeu em maio, na cidade de Cartagena de Índias (Colômbia), prêmio oferecido anualmente pela Associação LatinoAmericana de Instituições Financeiras para o Desenvolvimento (Alide) pelo modelo de convênio utilizado para levar crédito aos pequenos produtores da agricultura familiar no sul do Brasil. As parcerias operacionais com cooperativas de crédito e de produção, além de empresas do setor agropecuário, têm permitido a distribuição do crédito de fomento no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, com aumento de 350%, entre 2000 e 2013, no número de municípios dos três estados com contratações de financiamentos junto ao BRDE. O Prêmio Alide 2014 foi entregue em 9 de maio, durante a 44ª Assembleia da associação, que contou com a presença de aproximadamente 200 líderes dos setores público e privado de fomento. O objetivo da premiação é reconhecer e divulgar as melhores práticas e as inovações em produtos e serviços voltados para o desenvolvimento econômico e social dos países da região. Atualmente, a Alide congrega cerca 80 entidades na América Latina, além de membros associados na Alemanha, Canadá, China, Espanha, Portugal, Suécia e Rússia. O trabalho intitulado “Parcerias Operacionais do BRDE: uma solução para o financiamento à agricultura familiar na Região Sul do Brasil” foi premiado na categoria 1 – Produtos Financeiros. “A premiação internacional foi um reconhecimento pela modalidade que o BRDE criou para financiar o desenvolvimento da agricultura familiar, fazendo com que um banco com apenas três agências consiga apoiar agricultores no território dos três estados do Sul, com a integração das cooperativas de crédito e produção, parceiras desde o primeiro momento”, destaca o diretor de Planejamento do banco, Carlos Horn. Na oportunidade, também foram reconhecidas iniciativas de bancos de desenvolvimento da Argentina, do México e da
Colômbia, além de projeto do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do Brasil, na categoria Informação, Assistência Técnica e Responsabilidade Social. Capilaridade – O modelo de parceria utilizado pelo banco consiste principalmente na aproximação junto às cooperativas de crédito e de produção, que possuem contato direto com pequenos produtores da agricultura familiar e já conhecem suas necessidades, além de suas capacidades financeiras para assumir financiamentos. Desta forma, a solução permite que um banco de desenvolvimento como BRDE, que mantém, por questões normativas, apenas uma agência em cada capital dos três estados do Sul do Brasil, alcance empreendimentos em quase todos os municípios da região, assegurando benefícios para todos os envolvidos. “Isso encurta o tempo de liberação do crédito ao produtor e dá acesso ao recurso de maneira mais adequada, a partir de sua própria cooperativa, com quem ele já tem uma relação de mútua confiança”, explica o coordenador do trabalho premiado e superintendente de Planejamento do BRDE, Carlos Ponzoni. A avaliação é acompanhada pela economista Mayara Dias, assessora de diretoria e analista de projetos do banco, atuante no projeto premiado. “A parceria com as cooperativas, que conhecem a atuam diretamente com a agricultura familiar, possibilitou ao BRDE ter a confiança necessária para fazer o crédito chegar a esses agricultores”, completa. A partir de 41 convênios em vigor atualmente, a instituição mantém parceiros para análise e concessão de crédito para a agricultura familiar em 749 municípios. No ano de 2000, o banco havia contratado financiamentos em 214 cidades. “Ampliar os canais de distribuição e conseguir atingir 89% dos municípios que compõem a região Sul do Brasil, possuindo apenas três agências, foi o principal desafio encontrado ao longo dos anos, mas superado por meio das parcerias”, reforça a economista e analista de projetos do BRDE, Fernanda Souza, que também foi uma das autoras do trabalho premiado.
RUMOS – 22 – Maio/Junho 2014
Acervo/BRDE
O trabalho intitulado “Parcerias Operacionais do BRDE: uma solução para o financiamento à agricultura familiar na Região Sul do Brasil" foi premiado na categoria 1 – Produtos Financeiros do Prêmio Alide 2014.
Esse modelo de parceria contribuiu para que a parcela de volume de crédito destinada para o interior dos estados abrangidos aumentasse consideravelmente, respondendo por 92,3% dos valores financiados em 2013. Este percentual era de 79% em 2000, com os demais 21% dos financiamentos obtidos por tomadores em áreas metropolitanas. Os resultados do estudo apontam ainda que, do total de contratos firmados pelo BRDE em 2013, 88% são produtores rurais, dos quais 31% correspondem a mini e pequenos produtores. O valor médio contratado pela agricultura familiar junto ao banco entre 2000 e 2014 atingiu o montante de R$ 23 mil. “Isso demonstra que conseguimos desconcentrar o crédito, alcançando o interior dos estados”, aponta Ponzoni. Operacionalização – No modelo de parceria desenvolvido pelo BRDE e cooperativas, cabe à entidade conveniada divulgar as linhas de crédito disponíveis aos produtores, selecionar os possíveis tomadores e realizar parte da análise cadastral de seu associado. Após este primeiro trabalho, o banco de desenvolvimento faz a conferência de documentação e o registro do cadastro, completa a análise de crédito e efetiva a contratação caso o crédito seja aprovado. Os recursos, provenientes principalmente de linhas administradas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), são, então, liberados e repassados ao produtor. A principal linha de crédito acionada por meio das parcerias é o Pronaf Investimentos, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), responsável por mais de 70% do valor contratado pelo BRDE com esse segmento. Para garantir a correta aplicação do crédito é importante a aproximação com as cooperativas junto ao produtor. “A concessão do crédito por meio da cooperativa é importante não apenas na hora de receber os recursos, mas a instituição também zela pela correta identificação da necessidade do produtor e da aplicação do crédito”, afirma Ponzoni. No caso do Pronaf Investimentos, o montante liberado deve ser aplicado em ações como aquisição de equipamentos e maquinários ou ampliação de áreas de armazenagem da produção. Com isso, é esperado que o pequeno produtor rural alcance maior produtividade e melhor qualidade do trabalho, elevando os níveis de renda e qualidade de vida nas propriedades da agricultura familiar que, no Sul do Brasil, correspondem a 84% do total de propriedades rurais e a 77% da população ocupada na agricultura. “Os pequenos produto-
res familiares têm dificuldades de superar os obstáculos inerentes à sua atividade e ao seu porte para acessarem o crédito oferecido pelas instituições financeiras”, indica o documento apresentado na premiação na Colômbia. Evolução – As primeiras parceiras do BRDE no desafio de levar crédito aos pequenos produtores do Sul do país foram cooperativas de crédito rural, por meio de convênios firmados ainda nos anos 90. “Contribuiu o fato de essas cooperativas já possuírem experiência quanto à identificação de clientes em potencial e familiaridade com análise de cadastro”, assinala o superintendente do banco. Neste processo, tais entidades também se beneficiam com o fortalecimento proveniente do apoio técnico fornecido pelo banco de desenvolvimento. Os principais parceiros do banco hoje, nesta modalidade, são o Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária (Cresol), o Sistema de Cooperativas de Crédito Rural (Crehnor) e o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi). O amadurecimento do modelo junto às cooperativas de crédito permitiu incorporar, posteriormente, as cooperativas de produção e ainda empresas agroindustriais. Em 2014, vigoram 17 convênios firmados pelo banco com empresas agroindustriais, incluindo fornecedores de maquinários, implementos agrícolas e outros atores da cadeia agropecuária. Este é o caso do convênio firmado, em 2010, com a empresa Gonçalves e Tortola S/A, do grupo GTFoods, que tem como principal produto itens derivados da criação de frangos. De acordo com o consultor financeiro do grupo, Luiz Pedro, a parceria com o BRDE tem sido uma importante ferramenta de aproximação do produtor rural junto ao crédito e às suas necessidades de investimentos na propriedade rural. “A avicultura se apresenta como uma excelente oportunidade de viabilizar a pequena propriedade agrícola e o convênio como um agente financeiro veio mitigar certos conceitos de crédito e risco”, analisa. Luiz Pedro acredita que a principal vantagem incorporada pelo modelo de convênio premiado é o acesso do pequeno produtor a crédito para investimentos em valores mais elevados. “Normalmente o pequeno produtor busca recursos de valores menos elevados até pelo tamanho da propriedade ou pela atividade exercida. A avicultura agrega valor e em muito à propriedade, gerando emprego e renda no campo, e isso permite que, mesmo o pequeno proprietário, possa ter acesso a volumes maiores de crédito”, completa.
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PELO MUNDO
DESENVOLVIMENTO
Noel Joaquim Faiad
O gigante chinês Fernanda Feil Formada em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre na mesma área pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Gerente de Estudos Econômicos da ABDE.
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este terceiro artigo da série “Pelo Mundo”, coluna onde discutimos a atuação e relevância de diferentes instituições de fomento em diversos países ao redor do globo, falaremos sobre o Banco de Desenvolvimento da China (China Development Bank Corporation – CDB). O CDB foi fundado em 1994 e, no momento, é dono de 37 agências espalhadas pelo país, além de uma agência em Hong Kong, três escritórios de representação em outros países – no Brasil, no Egito e na Rússia, com planos para estabelecer um escritório na Venezuela – e cinco subsidiárias, o Village Bank, o Fundo de Desenvolvimento China-África, o CDB Leasing, o CDB Capital e o CDB Valores Mobiliários. Sua estrutura conta com mais de sete mil empregados. O banco é totalmente controlado pelo Estado chinês, vinculado diretamente ao governo central, e age como um instrumento de políticas públicas, contribuindo para o desenvolvimento da nação e seguindo as diretrizes dos planos quinquenais. Com o slogan “financiando o desenvolvimento”, o CDB é especializado em crédito de médio e longo prazo, com foco no financiamento à infraestrutura, especialmente em energia e transporte (totalizando aproximadamente 66% do total de suas operações de crédito neste segmento, em 2013), algumas indústrias chaves, projetos de interesse do Estado, agropecuária e projetos ambiental e socialmente responsáveis. Fomentador do desenvolvimento regional, com operações em todas as regiões da China, atuando como coordenador do desenvolvimento local e da urbanização, o banco opera juntamente com os governos para desenvolver e implantar projetos produtivos. Adicionalmente, a instituição tem o importante papel de promover a cooperação internacional, financiando os investimentos chineses fora de suas fronteiras e estimulando o fomento a países em desenvolvimento, de forma a impulsionar no exterior os interesses chineses. Resumidamente, o CDB age como um braço do Estado. Seu tamanho é incomparável: seus ativos, algo em torno de US$ 1,3 trilhão, ultrapassaram os 14% do gigantesco PIB chinês
em 2013, e seu saldo de operações de crédito alcançaram 12,6% do PIB (ou US$ 1,1 trilhão). Seu expressivo desempenho operacional vem acompanhado de uma taxa de inadimplência de menos de 1%. Ainda, conta com a qualificação de grau de investimento, concedida tanto pela Moody’s quanto pela Standard & Poor’s. A criação do banco está intimamente ligada ao recente processo chinês de desenvolvimento. Deng Xiaoping, presidente que articulou e implantou tal processo no final da década de 70, decidiu que o país precisava crescer de forma planejada. O modelo de desenvolvimento tinha sua raiz num longo, gradual e incrementalista movimento de reforma das instituições. Dadas suas características naturais e políticas (população elevada, baixa produtividade, baixa disponibilidade de terra cultivável, entre outros), via-se como fundamental a necessidade de aumento da produtividade tanto no campo quanto na cidade. Para isso, era indispensável o aumento considerável do investimento, que seria feito através da participação tanto do governo central quanto dos regionais. Deng providenciou que o primeiro tivesse acesso ao financiamento de longo prazo sem, no entanto, fazer o mesmo com os segundos. O problema foi resolvido de uma forma nada ortodoxa: os governos locais conseguiam linhas de financiamento desenfreadamente através do déficit orçamentário ou da emissão de títulos de crédito. Em 1994 o governo central regulamentou as finanças dos governos locais, proibindo-os de vender títulos ou incorrer em déficits (o que dificultou sua capacidade de financiar o processo produtivo). Observe que no período ainda não havia fonte de financiamento de longo prazo na China que desse conta do processo de desenvolvimento pretendido pelo governo. Nesse cenário de reestruturação da economia e do sistema financeiro, nasce o CDB, juntamente com o Banco de Desenvolvimento Agrícola da China, que atua na política agrícola estadual, e o Export-Import Bank (Eximbank), banco de desenvolvimento que apoia as exportações. Ao estimular o mercado financeiro no financiamento ao desenvolvimento o governo prescindia de utilizar o orçamento público.
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O CDB nasceu para minimizar o China agiu da mesma forma e usou a oporproblema do financiamento ao desentunidade para intensificar seu fortaleciAnalisar o estrondoso volvimento, especialmente o regional, e mento. Com o intuito de minimizar a crescimento chinês das passou a prover os governos locais com depressão que os efeitos da crise financeio capital para seus projetos (esses ra tiveram sobre a economia chinesa, o últimas governos locais podem agir como comgoverno anunciou, já no fim de 2008, um décadas não é tarefa fácil; estímulo de quatro trilhões de yuans (algo panhias). O banco opera com emissão mas certamente esse de títulos próprios, de dívida e do em torno de US$ 585 bilhões ou 13% do Tesouro, com maturidade, normalmenPIB). O governo central financiou apenas crescimento foi te, de dez anos, podendo chegar a 50 30% desse valor, o restante foi provenienpropulsionado anos, comprados pelos bancos comerte dos bancos públicos, principalmente do pela atuação do Banco de CDB, via estímulo aos governos locais. A ciais chineses (o sistema financeiro na China é, essencialmente, público), espemaioria do investimento foi direcionada, Desenvolvimento Chinês, cialmente os quatro grandes bancos assim como na crise asiática, para projetos um instrumento de comerciais – Banco Comercial e de infraestrutura. Da mesma forma que os política pública que Industrial da China, Banco de bancos públicos ajudaram, na década de Construção da China, Banco da China e 90, o país a navegar com calma a maré turcanaliza o investimento Banco de Agricultura da China – e bulenta da crise asiática, eles ampararam e promove repassados, principalmente, aos governovamente o país nesse período conturbao desenvolvimento. nos locais e a empresas controladas do da economia mundial. pelo Estado. Ou seja, com o sistema A atuação do banco em resposta à cridesenvolvido, o gigante chinês vende se não se limitou apenas ao aumento de títulos aos bancos comerciais que os suas operações de crédito. Desde 2007 compram com recursos provenientes suas operações fora do território chinês da poupança da população, com risco zero e taxas de retorno se intensificaram. O CDB aumentou seus investimentos no atrativas. À medida que os bancos comerciais capitalizavam o mercado internacional, onde supervisionou mais projetos, CDB, sua capacidade de financiar os governos locais aumenprocurou novas demandas e mandou funcionários para acestava consideravelmente. sar os investimentos ou instalar escritórios de representação nesses lugares. Foi a partir de então que intensificou sua expansão nas operações no restante da Ásia, na América Crises – O Banco de Desenvolvimento da China, assim como Latina e África. Em 2011 os financiamentos em moedas a maioria de seus congêneres em outros países, tomou corpo estrangeiras totalizaram 20% da carteira do banco, apesar de em momentos de crises econômicas. Os agentes financeiros eles não contarem com investidores internacionais que privados atuam de forma pró-cíclica – nas crises há retração de adquirissem seus títulos. A partir de meados de 2012 essa reacrédito, em períodos de crescimento, há abundância, tornando lidade mudou e o CDB começou a vender seus títulos no mero sistema instável. Uma das funções das instituições públicas é cado internacional, marcando a capacidade de o governo chia de operarem de forma contracíclica. A crise financeira de nês comercializá-los em sua própria moeda com uma taxa de 1996-1997, iniciada na Tailândia e espalhada pelo restante do juros bastante reduzida. continente asiático, atingiu especialmente a China e contribuiu O banco, indutor do desenvolvimento regional, com seu para represar o crédito. O banco atuou como agente financeiro massivo investimento em infraestrutura é também essencial de desenvolvimento, aumentando suas operações e garantinpara o processo de urbanização chinês – processo que transfordo a oferta de crédito ao fomento do país – seu principal canal ma trabalhadores agrários de baixa produtividade em trabalhade financiamento foi o massivo investimento em infraestrutudores urbanos de alta produtividade. A urbanização produz efeira. Nesse período, os gastos no setor dobraram e até 2002 trito significativo no PIB, garantindo altas taxas de crescimento e plicaram. A instituição atuou nesse processo com os investipromovendo o desenvolvimento econômico e social. Em 2011 mentos iniciais, depois atraindo outros grandes investidores – a China se tornou uma nação predominantemente urbana. uma vez que um governo local conseguisse empréstimo do Analisar o estrondoso crescimento chinês das últimas CDB os outros quatro grandes bancos comerciais chineses décadas não é tarefa fácil, dada a velocidade do seu cresciinvestiam nas regiões também (a aprovação da linha de crédito mento, sua capacidade de adaptação e magnitude das grandepelo banco de desenvolvimento era considerada uma certificazas de seus dados. No entanto, esse crescimento foi, certação de solidez por parte do Estado chinês). Posteriormente, os mente, propulsionado pela atuação do Banco de outros bancos nacionais e locais também seguiram o moviDesenvolvimento Chinês que, ao agir como instrumento de mento, gerando, assim, um círculo virtuoso. política pública, canaliza o investimento e promove o desenQuase uma década mais tarde, durante a crise financeira volvimento. que se iniciou em 2007-2008, o Banco de Desenvolvimento da RUMOS – 25 – Maio/Junho 2014
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REPORTAGEM
COOPERATIVAS
Por Ana Carolina Oliveira
Fomento ao Cooperativismo financeiro representa mais de 10% do segmento de crédito rural brasileiro
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Ascom/Bancoob
gilidade e atendimento qualicontínua ao longo do ano. De acordo com ficado são algumas caracteo diretor financeiro do Bancoob, Ricardo rísticas inerentes ao cooperaSimone Pereira, o cooperativismo é um tivismo financeiro, cujo objeimportante meio de repasse de crédito tivo é o desenvolvimento social. Para forrural. “O Sistema Financeiro Cooperativo talecer a atividade econômica nas comurepresenta mais de 10% do segmento de nidades e consequentemente melhorar a crédito rural brasileiro. O Sicoob foi resqualidade de vida da população de forma ponsável pela transferência de mais de R$ justa e democrática, o segmento dispõe 12 bilhões aos associados em 2013, ocude um amplo portfólio de serviços que pando o 2º lugar entre os principais alocaauxilia todo tipo de cooperado. dores de recursos”, ressaltou o diretor. Associado à Cooperativa de Crédito O próximo ano safra se inicia em 1º de Livre Admissão de Brasília (Sicoob de julho de 2014 e termina em 30 de Brasília), o produtor rural de Planaltina, junho de 2015. Para esse período, o Plano Distrito Federal, Jaito Carlos Costa, no Agrícola apresenta novidades como utiliza há mais de 14 anos os recursos ofeo aumento do limite de financiamento recidos por sua cooperativa para finando Programa Agricultura de Baixo Carciar as despesas que tem com a atividade bono (ABC), lançado em 2010 para agrícola e pecuária em sua região. financiar atividades que promovam o Diretor financeiro do Bancoob, Ricardo Na opinião do produtor, o que difere Simone Pereira ressaltou que o Sicoob foi desenvolvimento sustentável. Houve o Sistema de Cooperativas de Crédito do responsável pela transferência de mais de também incrementos para a pecuária Brasil (Sicoob) de outras instituições é R$ 12 bilhões aos associados. de corte. A partir de julho cada criador justamente a agilidade no processo de poderá financiar até R$ 1 milhão para negociação e o atendimento exclusivo oferecido ao associaaquisição de matrizes e reprodutores. do. “Conheço o Sicoob tanto quanto ele me conhece. Muito do meu crescimento, enquanto agricultor e empresário, deveDesenvolvimento local – O compromisso do Sicoob é com se ao apoio que recebo do sistema, principalmente quando a o associado, mas visa à melhoria da qualidade de vida na área safra não é favorável”, disse Jaito. de abrangência da cooperativa. No cooperativismo essa ação Para operar com o crédito rural, o Sicoob, com o apoio do é chamada de círculo virtuoso, em que o dinheiro, alocado Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), além de utilizar o pelos cidadãos nas cooperativas, é realocado nas regiões próprio capital, disponibiliza linhas de repasses oriundas de gerando renda e aumento do poder aquisitivo da população. várias fontes. Entre elas estão o Banco Nacional do DesenAs empresas passam a vender mais, o que repercute na arrecavolvimento (BNDES), o Fundo de Defesa da Economia dação de impostos, além de gerar novas vagas de emprego. Cafeeira (Funcafé) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Com mais dinheiro, o poder público municipal pode investir Abastecimento (Mapa), o Fundo Constitucional do Centroem infraestrutura e em outros projetos de desenvolvimento Oeste (FCO), a Poupança Rural e o Depósito Interfinanceiro econômico e social, o que amplia a capacidade produtiva e Rural (DIR). gera novas riquezas para a região. A partir de julho deste ano, o Governo Federal irá dispoO capital originário de outras fontes permite que o Sistenibilizar por meio do Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015 ma ofereça ao associado opções para cada tipo de necessidade, mais de R$ 156 bilhões para custeio, investimento e comercicomo no caso de Jaito Carlos, que utiliza praticamente todos alização da atividade rural, o que representa um aumento de os produtos disponibilizados por sua cooperativa. “O que me quase 15% em relação à safra anterior. Nos últimos três anos, mantém associado é a relação que tenho com o Sicoob. Da o volume de recursos para o financiamento da agropecuária mesma forma que sou fidelizado, ele é fidelizado a mim. Eu cresceu mais de R$ 40 bilhões. realmente sou tratado como um dos donos da cooperativa. O Sicoob disponibiliza recursos do Plano Safra de forma Não preciso ficar rogando pelos serviços e tudo o que invisto a RUMOS –26 – Maio/Junho 2014
Agência Brasil
agronegócio
Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015 prevê mais de R$ 156 bilhões para custeio, investimento e comercialização da atividade rural. Nos últimos três anos, o volume de recursos para o financiamento da agropecuária cresceu mais de R$ 40 bilhões.
mais, retorna no fim de cada período, porque as sobras da cooperativa são divididas entre os cooperados”, explicou. Segundo informações do Mapa, o Brasil possui 851 milhões de hectares, cujas áreas urbanas representam 10% do total. As florestas e as áreas de produção rural correspondem a 60% e 30%, respectivamente. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil está entre os principais países que irão colaborar para o crescimento de 20% da produção mundial de alimentos nos próximos oito anos. O agronegócio já responde por 23% do PIB brasileiro. A capacidade produtiva do país contribui para o fortalecimento da agropecuária e as cooperativas têm interesse de investir principalmente em pequenas regiões. “A capilaridade é uma forte característica do cooperativismo, atendemos grande número de produtores rurais de pequeno e médio portes. É uma filosofia que coloca as pessoas em primeiro plano. Não faz distinção social, racial, ou de gênero. O lucro não é o objetivo. O desenvolvimento por meio do capital, sim”, salientou Simone. Para disseminar essa cultura, o Sicoob participa de feiras como a Agrishow, que ocorre em Brasília (DF) e a Tecnoshow,
em Rio Verde (GO). Os consultores do Sistema utilizam a estrutura para fomentar o agronegócio e difundir o cooperativismo. “Aproveitamos para apresentar o nosso portfólio de produtos e explicar o funcionamento do Sicoob e do Bancoob. Muitas vezes o produtor obtém o crédito em nosso estande e já compra um trator ou outro equipamento no estande de alguma empresa ao lado”, disse o diretor. Cooperativas – As cooperativas são organizadas por atividade econômica. Podem ser formadas por pessoas de uma determinada profissão ou atividade, como agricultores, pequenos e microempresários e microempreendedores. Além disso, existem cooperativas de crédito de livre admissão de associados, nas quais coexistem grupos de associados de diversas origens e atividades econômicas. O Sicoob disponibiliza produtos e serviços para mais de 2,6 milhões de cooperados em 23 estados e no Distrito Federal. Existem 17 cooperativas centrais e mais de 500 filiadas. Até o fim de 2013 existiam mais de 2 mil pontos de presença física e outros 2,2 mil terminais de autoatendimento. O Sistema ocupa a sexta posição no ranking das maiores redes de serviços presentes no Brasil.
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REPORTAGEM
LEGADO
Por Lúcia Lima
Depois do apito
Após sete anos de preparação, a Copa do Mundo desembarca no Brasil e o país se pergunta: o que fica depois da festa? A Rumos ouviu especialistas, governo e empresários para um balanço sobre o que foi investido e o legado do evento para o país.
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realização de um evento do porte da Copa 2014 implicou um contrato do Brasil não só com a Federação Internacional de Futebol (Fifa), mas principalmente com o mundo, de que ela seria bonita, teria conforto e segurança para os torcedores que aqui vivem e visitantes. Um contrato que traz implícito momentos especiais de confraternização entre os povos de todos os continentes. Torcedores de 186 países compraram ingressos para assistir aos jogos e milhões os acompanham à distância. Quando seleções entram em campo, emoções afloram para além dos chutes a gol. Jogadores vestem-se com as cores nacionais, hinos são tocados, bandeiras tremulam. “A seleção é a pátria de chuteiras”, dizia Nelson Rodrigues, escritor, jornalista, apaixonado pelo esporte. Mas se a grandiosidade da Copa 2014 não a livra de con-
trovérsias, é certo também que há uma lista de benefícios para além do campo esportivo em jogo desde o momento em que o país foi eleito para sediar o evento. Nos meses que antecederam e também durante o torneio acontecem manifestações nas cidades-sedes contra o volumoso dispêndio com a sua realização em um país ainda carente de infraestrutura e de serviços básicos para a população, como água, esgoto, saúde e educação. Dois dias antes da abertura solene, em 12 de junho, a presidenta Dilma Rousseff ocupou rede nacional de rádio e televisão para defender os investimentos feitos, enumerando os benefícios que já estão trazendo para a população. “As obras não irão embora nas malas dos turistas”, tem dito. Para a presidenta, organizar uma Copa é como disputar uma longa partida, com direito a prorrogação e disputa nos pênaltis. Mas o resultado e a celebração final valem o esforço.
RUMOS – 30 – Maio/Junho 2014
No coração de Manaus, a Arena Amazônia foi construída especialmente para a Copa do Mundo e virou alvo de elogios da imprensa internacional e torcedores, por sua beleza e imponência.
final
Chico Batata/Portal da Copa
também prometeu que contas da Copa estão sendo analisadas minuciosamente pelos órgãos de fiscalização. Se ficar provada qualquer irregularidade, os responsáveis serão punidos com o máximo rigor. O balanço final da Copa, incluindo seus efeitos para a economia, serão conhecidos apenas no médio prazo, quando certamente analistas, governos e institutos de pesquisa se debruçarão sobre os números do evento para chegar a um quadro mais preciso do que ele significou para o país. Antes disso, porém, já é possível fazer uma projeção de quais os ganhos que o Brasil herdará após este ciclo de sete anos desde que fomos escolhidos como sede do mais importante torneio esportivo do planeta. Para isso, a Rumos ouviu especialistas, fontes do governo, empresários e outras instituições para tentar compreender a dimensão deste legado, com o que de fato já está investido em grandes áreas, como o turismo, a infraestrutura, as tecnologias e o desenvolvimento regional.
O Brasil “venceu os principais obstáculos e chegou preparado para a Copa, dentro e fora do campo”, disse. Na lista de benefícios, estão a duplicação da capacidade dos aeroportos, reformas e construção de portos, avenidas, viadutos, pontes, vias de trânsito rápido e sistemas de transporte público. Outro resultado encanta brasileiros e estrangeiros: os doze estádios multiuso modernos e confortáveis que, além de servir ao futebol, também foram programados para funcionar como centros comerciais, de negócios e de lazer, palcos de shows e festas populares. “Uma Copa dura apenas um mês, os benefícios ficam para toda a vida. A Copa não representa gastos apenas. Ela gera negócios, injeta bilhões de reais em nossa economia. Cria empregos, é fator de desenvolvimento econômico e social”, enfatizou Rousseff no pronunciamento em cadeia nacional e recorrentemente em solenidades públicas por todo o Brasil. Os investimentos nos estádios, construídos em parte com financiamento dos bancos públicos federais e, em parte, com recursos dos governos estaduais e das empresas privadas, somaram R$ 8 bilhões. Desde 2010, quando começaram as obras das arenas até 2013, o governo federal, os estados e os municípios investiram, no mesmo período, cerca de R$1,7 trilhão em educação e saúde, valor 212 vezes maior. Rousseff
Projeção internacional – A Copa 2014 garantiu ao Brasil, desde o momento que foi concebida, grande inserção no mundo. Milhões de pessoas, em todos os continentes, puderam acompanhar pelos jornais, televisão, rádio e internet seus preparativos. Mesmo antes da abertura oficial, em São Paulo, em 12 de junho, o processo de organização já colocou o país no foco da mídia mundial. O governo, por meio de porta-vozes de todos os escalões, defendeu a realização da Copa como forma de o país mostrar-se ao mundo com grande impacto interno e externo. As obras programadas já concluídas e em processo de conclusão permitiram a investidores de todos os portes a identificação de oportunidades de negócios, além de explicitar roteiros turísticos importantes, mas ainda com pouca visibilidade. Quem aponta são os especialistas. Para Maria Aparecida de Aquino, historiadora e professora da Universidade de São Paulo (USP), os investimentos em 12 sedes trarão maior interiorização do turismo. Ela rebate com veemência as críticas ao número considerado excessivo de sedes. Isso porque a Copa 2014 trata-se também de um projeto pensado no longo prazo. Os investimentos, avalia, trarão resultados locais importantes em termos de maior faturamento para empresas e capacitação de mão de obra. Ela dá como exemplo o Teatro Amazonas, uma das principais atrações turísticas de Manaus, inaugurado em 1896, expressão cultural das mais significativas do ciclo da borracha. “O teatro está lá há tempos, tem seus eventos, não morreu. Os estádios também não morrerão”, afirmou ao defender, inclusive, os investimentos feitos em arenas como as de Manaus e Cuiabá. Na primeira fase da Copa, Manaus foi “invadida” por ingleses, e Cuiabá, por cerca de quatro mil chilenos, que vieram em caravana rodoviária. Todos planejaram com antece-
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REPORTAGEM
LEGADO
dência os roteiros para o devido acompanhamento das respectivas seleções. Farão deslocamentos que lhes permitirão ter uma ideia melhor do país e de sua gente. “O turismo no Brasil se resumia a São Paulo e Rio, além de alguns locais do Nordeste. A Copa permitirá que se espalhe para outras regiões”, afirma Aquino. As imagens dos principais canais de televisão mostraram a torcida holandesa fazendo a festa em Salvador. Muitas dessas pessoas nunca viriam ao Brasil se não fosse pela Copa do Mundo. Vieram, podem retornar e recomendar o país aos amigos. Para Francisco Alambert Jr., também professor do Departamento de História da USP, eventos como a Copa do Mundo obrigam os governos dos países a planejar e a fazer, de fato, investimentos altos que necessariamente agregam imagens positivas. Prova disso é o encantamento registrado pelas equipes de TV, Rádio, jornais e mídia eletrônica de todo o mundo com relação às arenas das cidades sedes. Monica Cabanãs, gaúcha, moradora de Ferney-Voltaire, na divisa entre França e Suíça, registrou em sua página do facebook a admiração dos repórteres e narradores franceses, suíços e alemães com as imagens das arenas lotadas de torcedores e também dos respectivos entornos. “Em todos os lugares do mundo, Copas e Olimpíadas podem trazer transtornos econômi-
cos no curto prazo. Mas, a médio e longo prazos, há ganhos em termos de visibilidade internacional. Ficam também claros os avanços que um país como o Brasil precisa perseguir para buscar a modernidade, a competitividade entre as nações” , registra o professor. Segundo o Ministério do Turismo cerca de 6,2 milhões de pessoas circularão pelo país durante o torneio. “É uma ótima oportunidade para apresentarmos a extensão e a diversidade cultural, ambiental e social do Brasil. Isso aumentará o interesse das pessoas de todo o mundo de conhecer o país e a hospitalidade do nosso povo nos próximos anos”, ressalta Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae, que implementou um programa especial para orientação aos pequenos empresários neste período (ver box). É inegável, assinala, a importância do Mundial para incrementar o turismo brasileiro e gerar emprego e renda em diferentes segmentos. “Os resultados desse evento não se encerram com o jogo final, mas serão colhidos ao longo dos próximos anos”, prevê o diretor. ProCopa – Os financiamentos concedidos pelo BNDES para a construção e melhoria das arenas das cidades-sedes estão todos discriminados no site do banco. As operações foram feitas com os respectivos governos estaduais, limitadas a 75% do valor de cada obra. As três primeiras foram firma-
Pequenos negócios também faturam O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) implementou programa especial, o Sebrae 2014, para que o segmento auferisse as vantagens possíveis do evento. O programa foi montado com base no tripé: difusão de informações e orientação sobre as oportunidades; capacitação e preparação para que as empresas pudessem atender as exigências dos organizadores; realização de eventos de aproximação comercial, em que micro e pequenas empresas ofertantes podem atender demandas de oferta de produtos e serviços contratados. Como orientação empresarial, foram lançadas cartilhas sobre turismo e comércio varejista, que integram a série intitulada “Cenários e Projeções”. As publicações trazem casos e lições como a Copa da África do Sul, em 2010; projeções, perfil e hábitos de turistas; informações sobre aspectos de infraestrutura; polícia e economia. O objetivo do Sebrae é estender esse tipo de prática de análise de cenários para outras ocorrências de impacto para o país, como as derivadas da exploração de petróleo (Pré-Sal) e as concessões de grandes obras. Maria Cristina é proprietária da Brasil Solutions Turismo, no município paulista de Serra Negra, que faz parte do Circuito das Águas. A microempresa oferece pacotes turísticos e receptivos em toda a região que engloba nove municípios responsáveis pela produção de 50% de toda água mineral do país, além dos banhos termais. Com dois funcionários, a empresária conta com aumento de 20% no faturamento deste ano por conta da Copa. A região recebeu a
delegação da Costa do Marfim, que ficou concentrada na cidade de Águas de Lindoia. De olho nos turistas e nos jornalistas, especialmente os de língua francesa, Maria capacitou seus servidores nesse idioma e desenvolveu roteiros turísticos especiais. “Oferecemos uma rota de queijos e vinhos, pela Serra Negra, e uma rota da cachaça, que passa por diferentes engenhos de Monte Alegre do Sul. Além disso, temos opções para quem curte esportes e aventuras, como arvorismo, rafting e rapel”, informa. A empresária acredita que a Copa ajudará muito na consolidação desses roteiros. Na primeira fase da competição, a maior concentração de turistas nas primeiras fases da competição se deu nas regiões Nordeste e Sudeste. Nas fases finais dos jogos, as grandes concentrações se movem em direção ao Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. O faturamento adicional das 40 mil empresas apoiadas pelo Sebrae com foco na Copa 2014 está estimado em R$ 400 milhões. Além disso, avaliação feita por meio da Matriz Competitividade demonstra que esse conjunto de empresas sai da Copa mais preparado para enfrentar as demandas do mercado, graças às ações organizadas de promoção de inteligência competitiva setorial. Também continuarão em atividade os pontos de venda instalados para venda de artesanato (Projetos Brasil Original e Mosaico Brasil) e a Central de Oportunidades, ambiente online criado pelo Sebrae para empresas fazerem negócios. Por meio da Central, pequenos negócios podem ofertar produtos, procurar fornecedores e solicitar orçamentos.
RUMOS – 32 – Maio/Junho 2014
Marco Mari
das com os estados da Bahia (R$ 323,6 milhões), do Ceará (R$ 351,5 milhões) e do Mato Grosso (R$ 393 milhões), em setembro de 2010. O novo estádio da Fonte Nova, Salvador, que também teve participação da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) para sua viabilização, está entre os que têm maravilhado torcedores brasileiros e estrangeiros. Tem capacidade para 50.273 espectadores. A concepção do projeto teve como referência a AWD Arena, da cidade de Hannover, Alemanha, sede da Copa do Mundo de 2006. Atendendo a pré-requisitos do BNDES ProCopa Arenas e do caderno de encargos da FIFA, o estádio obedece a critérios de sustentabilidade ambiental, o que inclui plano de gestão de resíduos gerados pela demolição, racionalização do uso da água e implantação de central de aquecimento solar. Considerando as etapas de demolição, implantação e operação, o empreendimento gerou em torno de 4.200 empregos diretos e indiretos. Além do benefício mais imediato, o de viabilizar a participação de Salvador como cidade-sede da copa, o projeto em questão tem o mérito de contribuir para revitalizar Aeroportos passaram por grandes obras nos últimos anos e a uma área da cidade que passou por sério processo de conclusão das intervenções ficou para depois da Copa. Na foto, degradação. o novo terminal do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Segundo o discriminado no site do BNDES, ao todo foram liberados R$ 3,8 bilhões para construção e reformas de 11 arenas, incluindo o lendário Maracanã, no Rio de Até o lançamento do ProCopa, as operações diretas resJaneiro, e o novo Itaquerão (ou, como define o padrão Fifa, pondiam por um pouco mais de 10% dos créditos do “Arena Corinthians”), em São Paulo. O Estádio Nacional de BNDES para os investimentos em hotelaria. O programa Brasília, o Mané Garrincha, foi o mais caro de todos (R$ 1 fez esse percentual praticamente dobrar e elevar-se a quase bilhão) e o único fora dos financiamentos do BNDES. Foi um quarto do total de desembolsos do banco para o setor, construído com recursos da Terracap, empresa que gerencia a em um contexto de crescimento acentuado dos fluxos de venda de terrenos no Distrito Federal. financiamento a hotéis e similares. Em termos nominais, a Outra ação do banco especialmente voltada para o evento média anual do volume de financiamentos contratados pelo é o BNDES ProCopa Turismo. Em 42 meses de vigência, o setor com o banco saltou de R$ 7,5 milhões, no período de programa formou uma carteira de 29 projetos, com um total dez anos que antecederam o ProCopa (2000 a 2009), para R$ de financiamentos de R$ 2 bilhões, incluídas desde operações 271,7 milhões, a partir do lançamento do programa. Em teraprovadas até aquelas ainda em fase de consulta. Com orçamos reais, trata-se de um incremento superior a 1.900%. Do mento de R$ 1 bilhão e vigência até o fim de 2012, o progratotal de investimentos aprovados, 93,1% destinaram-se a ma teve sua dotação ampliada para R$ 2 bilhões e seu prazo empreendimentos localizados em municípios que vão sediar para protocolar projetos estendido até 30 de junho de 2013. esse evento. Outros 3,7% foram direcionados a hotéis situaAté setembro de 2013, 17 operações foram aprovadas, o que dos em cidades bem próximas a Recife, Salvador ou Rio de viabilizou investimentos de R$ 1,7 bilhão (incluindo a particiJaneiro. O prognóstico é que o Brasil terá pelo menos 422 pação da iniciativa privada), por meio da contratação de openovos empreendimentos de hospedagem até 2016. rações de crédito de R$ 1 bilhão. Além do BNDES, Caixa Econômica Federal, Banco do Criado em janeiro de 2010, o programa adequou as condiBrasil, BNDES, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia ções do crédito direto do BNDES às necessidades do mercavêm direcionando mais fortemente, desde 2010, recursos para do hoteleiro, quadro evidenciado pelo baixo fluxo de financia ampliação e modernização da rede de hotéis e pousadas Braamentos contratados pelo setor com o banco nos anos anterisil afora. Diversas agências estaduais de fomento, em todo o ores. Visou atender o aquecimento da demanda por hospedapaís, também criaram linnhas especiais voltadas para o fortalegem no Brasil e a expectativa de seu crescimento acentuado, cimento do setor, visando a Copa do Mundo. Já o investimenda qual a Copa do Mundo era um ingrediente emblemático. to privado deve ultrapassar os R$ 12,2 bilhões, gerando 33,8 Entre construção de novas unidades, reformas e modernizamil novos empregos diretos no setor. A região Sudeste conção, os financiamentos já aprovados abrangeram 4.727 quarcentra a maior parte dos investimentos previstos (59%), com tos, dos quais 30,2% encontram-se no Nordeste, 58,7% no 250 novos estabelecimentos, seguida pelo Nordeste (13%), Sul Sudeste e 7,5% no Sul. A implantação de novos hotéis repre(11%), Centro-Oeste (10%) e Norte (7%). Entre 2011 e 2013, sentou um incremento de 3.237 quartos, o equivalente a cerca de 150 empreendimentos foram inaugurados no país, 68,5% do total do ProCopa, demandando para tal 75,8% dos gerando mais de 11 mil empregos diretos com a injeção de R$ créditos aprovados. 3,3 bilhões na construção de 21,3 mil novos quartos. RUMOS – 33 – Maio/Junho 2014
R
REPORTAGEM
LEGADO
Portal da Copa / ME
Novos avanços – Como a Rumos trouxe em sua primeira edição do ano, as previsões eram de que, apenas para o evento, turistas de 186 países desembarcassem no Brasil. A maioria (62%) pela primeira vez. No cálculo menos otimista, isso corresponde a mais de 600 mil estrangeiros em viagem pelo país em função dos jogos programados, além de 3,1 milhões de brasileiros em trânsito interno. A previsão é que esse fluxo de turistas injete R$ 6,7 bilhões nas 12 cidades-sede, descontando-se os custos com deslocamentos. Na Copa das Confederações, em 2013, 138 cidades brasileiras foram visitadas. Esse número deve mais que dobrar em 2014. Para o ministro do Turismo, Vinícius Lages, os impactos da Copa são imediaTorcedores de 186 países compraram ingressos para o evento; o ministério prevê tos e de longo prazo. São também econôque, por conta da Copa, o país tenha um crescimento de 5 a 10% no número de turistas nos próximos anos. micos e de imagem. O Brasil – ressalta – tem dois pontos muito fortes em seu tos eletrônicos já nos ajuda muito. Temos que avançar para posicionamento como destino turístico internacional. Um é a termos reciprocidade, liberar essa questão do visto. Avançarbeleza natural. Outro é a hospitalidade e a cultura. “Temos mos também para mercados que hoje são os maiores emissoessa cultura de celebração, de acolhimento para o outro se senres, como os da Ásia. O mercado dos nossos vizinhos tamtir em casa. Isso é muito importante para qualquer destino bém interessa muito. Se tivermos a média do que ocorreu em turístico. E é o que nos interessa. É importante que os turistas outros países que sediaram a Copa, nos próximos anos terevejam que aqui é um país muito bom de estar, de ficar. O país mos um crescimento de 5 a 10% no número de turistas. Com está tendo uma janela de visibilidade enorme, para fortalecer isso, cumulativamente, vamos ultrapassar o teto de 6 milhões o nosso posicionamento. Mas é fundamental que a gente saia de turistas estrangeiros”. dessa Copa com uma ação forte de promoção. Se nós cruzarmos os braços, não vamos aproveitar essa grande visibilidade Mobilidade – Se os estádios foram construídos a tempo para que o país tem. Então, o Ministério do Turismo lançará, por a Copa, mesmo que alguns tenham sido concluídos somente meio da Embratur, uma campanha de fortalecimento da boa às vésperas do evento, boa parte das obras incluídas no plano imagem que o país vai conseguir até o final da Copa. Querede investimentos nos terminais aéreos, divulgado em 2010, mos aumentar o fluxo de turistas internacionais e estimular teve sua conclusão adiada para depois do fim do torneio da mais brasileiros a viajarem internamente”. Fifa. Dos nove aeroportos administrados pelo Poder Público Ainda de acordo com o ministro, o Brasil herda da Copa em sedes do Mundial de futebol, sete estavam inacabados uma infraestrutura bastante qualificada. “Há questões relaciquando o evento começou. Entre eles, o de Belo Horizonte onadas ao esforço de gestão pública no país, como a integra(Confins), Manaus, Rio de Janeiro (Galeão) e Salvador. Tamção, por exemplo, na área de segurança, dos equipamentos disbém não ficaram prontas a construção da nova torre de conponíveis com inteligência e a capacitação. Esse processo agotrole do aeroporto de Recife e a ampliação da pista de pouso e ra é um legado e o Brasil precisa cuidar disso. As obras de decolagem do aeroporto de Porto Alegre. Os dois projetos mobilidade urbana já realizadas sem dúvida projetam melhoforam retirados da lista oficial de obras para o Mundial, a charias ainda maiores nas grandes cidades brasileiras. A economada Matriz de Responsabilidades. As obras do aeroporto de mia dos esportes pode crescer muito, sobretudo com as OlímCuritiba também obedecem a um cronograma pós-Copa. piadas de 2016. Vamos ter condições de mostrar que o Brasil O governo tem defendido que as melhorias feitas são não é só o país do futebol. Estamos com uma herança muito capazes de atender as necessidades de um grande evento boa do ponto de vista dos aeroportos, um Brasil que viaja como a Copa do Mundo, mas as obras continuam porque são cada vez mais e que poderá receber cada vez mais gente”. importantes para atender ao crescimento da demanda do BraDe acordo com Lages, a Copa mostrou que o Brasil é um sil e garantir o bem-estar da população, que passou a ter renda bom local para se visitar, um país alegre, um “spa” para a suficiente para comprar passagens aéreas. De 2003 a 2014, o alma. “Se melhorarmos ainda mais a logística e a infraestrutunúmero de passageiros que transitam pelos aeroportos saltou ra, e é o que vamos continuar fazendo, vamos atingir novos de 33 milhões para 111 milhões ao ano. Outra aposta do mercados. No caso dos americanos, a questão do visto era governo é na aviação regional, para descentralizar e facilitar o um desafio. Acho que a simplificação através de procedimenRUMOS – 34 – Maio/Junho 2014
fluxo de passageiros – estão sendo investidos cerca de R$ 7,3 bilhões na expansão de 270 aeroportos no interior do país. Entre as diversas obras de mobilidade construídas para a Copa, nas cidades sedes do evento, uma das mais robustas é o BRT TransCarioca, no Rio de Janeiro. Entregue ainda sem todas as estações funcionando, no início de junho, a linha expressa para ônibus vai reduzir, quando totalmente concluída, em 66% o tempo de deslocamento entre o aeroporto internacional e a região da Barra da Tijuca, importante centro
Desenvolvimento regional: Nordeste em alta Segundo pesquisa elaborada pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), órgão vinculado ao Banco do Nordeste, os impactos econômicos da Copa do Mundo de 2014 apontam para um efeito de crescimento adicional de 1,2% no PIB do Nordeste, com geração de 49 mil empregos nos quatro municípios-sede (Salvador, Recife, Natal e Fortaleza). O Banco do Nordeste financiou, ao todo, 79 projetos ligados à Copa do Mundo de 2014, destinando R$ 1,3 bilhão em recursos e viabilizando investimentos totais da ordem de R$ 3,9 bilhões. Os créditos foram empregados, em sua maioria, na rede hoteleira nordestina, em empreendimentos nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. As organizações internacionais estimam que o turismo é responsável pela geração de um em cada 12 empregos diretos no mundo. Com amplo efeito multiplicador, cada um deles gera 1,5 emprego em outros setores. Também foram registrados financiamentos para arenas de futebol, locadoras de veículos e restaurantes. Os financiamentos se deram por meio das linhas FNEProatur e FNE-MPE Turismo, voltadas para ações estruturadoras da cadeia produtiva do turismo. As linhas contemplam inclusive a aquisição de empreendimentos que constituam meios de hospedagem, com unidades já construídas ou em construção, além de capital de giro e aquisição de insumos. O BNB Proatur financia construção, ampliação e reforma de benfeitorias e instalações; veículos automotores; máquinas e equipamentos; móveis e utensílios; capacitação de mão de obra; capital de giro, dentre outros itens. Os financiamentos do programa têm prazo total de até 20 anos, incluindo até cinco anos de carência, de acordo com a finalidade do projeto e dependendo da capacidade de pagamento do mutuário, e podendo ser apoiado até 100% do investimento total, para empreendedores individuais, micro e pequenas empresas; de até 80 a 95%, para pequenas-médias e médias empresas; e de até 65 a 90%, para grandes empresas.
turístico e econômico da cidade. Tem 39 km de extensão e corta 27 bairros do Rio. A obra, que prevê 10 viadutos, nove pontes, três mergulhões, 47 estações e cinco terminais de integração, faz parte da Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo e conta com R$ 1,18 bilhão de investimento federal, além de R$ 524 milhões em contrapartida municipal. A nova opção de transporte atenderá diariamente 320 mil pessoas nessa primeira fase. Para o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, além de ser uma obra fundamental para a Copa do Mundo e as Olimpíadas 2016, a via mostra que os eventos, além da geração de empregos, da projeção da imagem das cidades e do próprio país, também podem deixar resultados para a população em obras urbanísticas transformadoras. Os comerciantes do Mercadão de Madureira, tradicional ponto de comércio popular do Rio de Janeiro, esperam que o início das atividades do BRT inclua o local no roteiro de mais cariocas e turistas. O bairro vai ficar no meio do caminho do corredor de ônibus expressos. Há uma parada bem em frente ao Mercadão. “Há muitas pessoas que não vêm ao Mercadão porque não conhecem ou porque não têm onde deixar o carro. Os estacionamentos sempre estão todos lotados”, afirma Vicente Gazola, 56 anos, um dos mais de 300 lojistas do centro popular. Telecomunicações – No setor de telecomunicações, a Telebras registrou investimentos de R$ 79,2 milhões, até o mês de março de 2014, com a implantação de infraestrutura de fibra óptica para atender as demandas da Copa. Este valor engloba os dispêndios de 2012, 2013 e os três primeiros meses deste ano. Foram investidos R$ 40,7 milhões em 2012, R$ 29,5 milhões em 2013 e mais R$ 9 milhões nos três primeiros meses de 2014. A Telebras é a empresa responsável pela construção da rede de fibra óptica que será usada na transmissão de imagens de alta definição (HDTV – vídeo e áudio) entre os estádios e o Centro Internacional de Coordenação de Transmissão (IBC) no Rio de Janeiro. Essas infraestruturas se incorporam à rede da Telebras como parte das redes metropolitanas e ficam como legado para utilização no Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), além de servirem de base aos demais objetivos comerciais e sociais da empresa pós-Copa do Mundo, a exemplo do que aconteceu com a Copa das Confederações. As redes de telefonia celular e de banda larga móvel também foram ampliadas e instaladas pelas prestadoras privadas do serviço nos estádios e arredores. Ao todo, 4.738 antenas fazem parte da infraestrutura interna instalada pelas prestadoras nas arenas. Para a instalação da infraestrutura de telefonia móvel e banda larga, as prestadoras fizeram uma parceria para a implantação de um projeto único, com investimentos de R$ 226 milhões e infraestrutura compartilhada. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil), além da cobertura indoor, que permanecerá instalada nos estádios depois da Copa, as empresas de telefonia também investiram R$ 1,3 bilhão nas cidades que sediam os jogos, ampliando em 28%, em média, a infraestrutura que ficará de legado para a população.
RUMOS – 35 – Maio/Junho 2014
EM DIA MANIFESTAÇÕES
O complexo mundo das negociações coletivas e das greves Divulgação
Heli Gonçalves Moreira Fundador e sócio-diretor da HGM Consultores, é especialista em administração e solução de conflitos trabalhistas e estratégias empresariais.
H
á um ano a sociedade brasileira vem assistindo motoristas de ônibus de São Paulo as lideranças sindicais se perplexa uma verdadeira onda de movimentos viram em apuros, pois uma parcela dos representados aprosociais reivindicatórios, inicialmente pacíficos, vou os termos do acordo coletivo, enquanto outra não aceimas com muita disposição. A falta de preparo e tou e, por sua conta, paralisaram o trabalho na maior metróinabilidade dos governos para lidar com esta pole brasileira. Certamente a liderança sindical não contava nova situação muito contribuiu para o seu com a representatividade total da categoria. crescimento exponencial, com adesões de O presidente do sindicato da categoria cheoutros grupos sociais representativos, gou a declarar que iria mover um processo Com as redes incluindo os trabalhadores de diferentes judicial contra os grevistas da sua própria sociais, os categorias profissionais. categoria. trabalhadores Neste ambiente e com a chegada da Outros fatores concorrem para essa ambiCopa do Mundo era previsível que determiestão descobrindo guidade entre representação e representativinadas categorias profissionais aproveitasdade, gerando uma divisão entre as categorias que não sem para reivindicar condições de trabalho, profissionais. necessariamente como no caso do carnaval no Rio de Janeiro, Em 2008, o Governo Lula oficializou as precisam de suas centrais sindicais constituídas em bases ideocom os garis conquistando, por meio da lideranças greve, um expressivo aumento salarial. O lógicas, concedendo-lhes 10% da arrecadação oportunismo ou a oportunidade não é da contribuição sindical (R$200 milhões sindicais para relevante, mas sim o fato de que o sindicato anuais). O acesso a essa verba depende do mobilizar da categoria pouco influenciou. nível de representatividade das centrais – leiaGreves semelhantes estão ocorrendo se a quantidade de sindicatos filiados e seus em outras sedes da Copa, de categorias associados. Isso estimula a competitividade profissionais que prestam serviços públicos, como motorisinterna nos sindicatos, colocando em xeque o poder de repretas de ônibus, metroviários, ferroviários, professores, polícia sentatividade de suas lideranças. e serviços de trânsito. Umas mais focadas e controladas, O crescente nível de conscientização do trabalhador outras nem tanto, como a dos motoristas de ônibus de São brasileiro sobre o valor de seu trabalho, não acompanhado Paulo, cuja paralisação ocorreu imediatamente após a assinapelas lideranças sindicais, é outro fator preocupante, como tura do acordo coletivo. no caso da construção civil em grandes obras, onde apesar Estes fatos nos colocam diante de uma situação compledos acordos coletivos assinados a ocorrência de greves proxa: a ambiguidade entre a representação e a representatividamovidas por categorias profissionais específicas, como de das lideranças dos movimentos sociais e sindicais. pedreiros, soldadores, motoristas etc., chegam a ultrapassar A representação tem o caráter de formalidade e legalidamais de uma dezena no período de um ano. de e decorre da outorga pelo Estado. Este é o caso dos sindiAssim, quem sofre as consequências é a população que, catos dos trabalhadores, cuja existência é prevista legalmente. além de não ter poder para intervir, paga pelos serviços e não A representatividade, por sua vez, diz respeito à legitimidade os tem no nível de suas necessidades. da representação, que é outorgada pelo coletivo dos repreA conclusão é que ainda temos um longo caminho a sentados, no caso os trabalhadores. percorrer até que as partes envolvidas amadureçam e que os Com este novo poder das redes sociais os trabalhadores poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nos níveis federal, estão descobrindo que não necessariamente precisam de estaduais e municipais, se interessem, de fato, pelo tema, suas lideranças sindicais para mobilizar e criar forças suficigerando soluções adequadas que acompanhem a evolução entes para pressionar seus empregadores. Na greve dos econômica e social que o Brasil requer. RUMOS – 36 – Maio/Junho 2014
R Reforço para a REPORTAGEM
DESENVOLVIMENTO LOCAL
Por Ricardo Vieira
Linha de crédito do BDMG beneficia empresas nascentes com empréstimos de até R$ 15 mil; metodologia inovadora para análise do crédito, premiada internacionalmente, foi utilizada pela primeira vez por um banco público no Brasil
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sonho de empreender está mais palpável em Minas Gerais. Desde abril, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) atua com uma linha de crédito inovadora, destinada a empresas com até seis meses de vida. O BDMG Acredita, que disponibiliza empréstimos de R$ 2 mil a R$ 15 mil, reúne longo prazo para pagamento – 24 meses, com três meses de carência –, taxa fixa de 1,78% ao mês e taxa de abertura de crédito (TAC) de 2%, descontada no ato da liberação. Mais do que evitar uma falência precoce, a linha de crédito visa dar força para os empreendedores da base da pirâmide. “É algo inovador para o sistema de formalização, que apoia o desenvolvimento da produtividade dos países. Hoje, 50% da força de trabalho da América Latina está na informalidade”, explica Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que é um dos parceiros do projeto. “É uma parceria visando encontrar uma solução financeira para atender um segmento de mercado que normalmente não é atendido pelo sistema financeiro”, justifica Júlio Onofre, presidente do BDMG. Com a parceria, o BID vai manter um fundo de R$ 21 milhões como garantia para os financiamentos. A expectativa do BDMG é de que mais de seis mil novos empreendimentos sejam beneficiados ainda neste ano, principalmente nos setores do comércio e de prestação de serviços. Ao todo, estarão disponíveis 60 milhões de reais para financiamentos que poderão ser utilizados como capital de giro, sem a necessidade de comprovação do investimento. “O empresário que está iniciando seu negócio obviamente não tem um passado para mostrar, portanto ele fica sem ter possibilidade de acesso ao crédito. Essa metodologia propõe uma solução para o problema”, explica Onofre. Esse tipo de problema foi evitado pelo empresário Ronie Azevedo, de Ribeirão das Neves. O pai de Ronie é comerciante na cidade há mais de 30 anos e quando os dois decidiram se unir e formalizar o comércio, o empresário passou a pesquisar sobre linhas de crédito que pudessem impulsionar o negócio. Após identificarem potencial, os dois decidiram que
o açougue, de nome “Esquinão da Carne”, tornar-se-ia também uma mercearia. Durante as pesquisas, Ronie encontrou o programa. “Veio na hora certa, impossível ser mais certa. O empréstimo tem sido importante tanto para fluxo de caixa quanto para compra de novos equipamentos”, conta Ronie. Os novos equipamentos citados pelo empresário fazem parte de mais um passo dado com o auxílio dos R$ 15 mil obtidos através do Acredita: um novo empreendimento na cidade, com as mesmas características do primeiro. O negócio de Ronie e de seu pai é um bom exemplo de atuação de base da pirâmide com potencial para se fortalecer. Formalizado em novembro do ano passado, o “Esquinão da Carne” original conta apenas com quatro funcionários, incluindo Ronie e os pais. O patriarca da família cuida do açougue, enquanto o filho se divide entre o caixa, as entregas, o estoque e a parte financeira. O empresário tem experiência administrativa, trabalhou como gerente de vendas e foi corretor de imóveis. Além disso, mora bem próximo ao estabelecimento. Muitos desses fatores foram levados em conta no questionário que Ronie preencheu para obter o financiamento. “Eles abordam dois pontos importantes. Além de perguntar sobre a finalidade do empréstimo, querem saber sobre a vida dos sócios, se têm bens, experiências anteriores, entre outras questões”, explicou, salientando que o procedimento é bem simples: “Existe um passo a passo no site que não deixa nenhuma dúvida. Não demorou 15 dias do dia que eu solicitei até a liberação do empréstimo.” A rapidez que impressionou o empreendedor deve ser uma constante para os outros pedidos. O BDMG estima que o questionário leva cerca de 30 minutos para ser completado. A análise da adequação das informações fornecidas sobre o perfil do empresário com a política interna do banco também não demora. Em poucas horas, o candidato recebe um e-mail com o resultado, informando se teve ou não acesso ao financiamento. Depois dessa etapa, o empresário precisa enviar uma relação simples de documentos e, dentro de no máximo cinco dias úteis, o recurso é liberado na conta bancária da pessoa jurídica do CNPJ solicitante. Cada cliente pode obter no máximo três vezes o capital
RUMOS –38 – Maio/Junho 2014
base da pirâmide
Renato Cobucci
atividade empresarial, para traçar o perfil do avaliado e determinar a avaliação de risco de crédito da nova empresa. A metodologia nasceu dentro da Universidade de Harvard e, após o EFL se tornar uma organização independente, foi premiada e reconhecida pelo G-20 SME Finance como uma das soluções mais inovadoras no mundo para financiamento de empresas da base da pirâmide. Segundo o BID, o BDMG é o primeiro banco público a aplicar a metodologia baseada em testes psicométricos no Brasil. O banco interamericano, parceiro do EFL, decidiu ampliar o alcance das ferramentas que o laboratório havia desenvolvido. Assim, o banco de Minas Gerais foi eleito para se tornar um dos pioneiros no uso das ferramentas na região, por meio de Júlio Onofre, presidente do BDMG: “O sucesso desse projeto irá permitir que seja utilizado uma iniciativa chamada Oportunidacomo referência em vários outros países”. des para a Maioria – um programa do BID que aplica estratégias sustentáveis, com base no mercado, social integralizado da empresa. O empresário não precisa ter para levar os benefícios do desenvolvimento econômico e sido cliente do BDMG, ter começado a faturar ou ter de comsocial à maioria da população da América Latina e do Caribe. provar o faturamento ou o patrimônio dos sócios. O questioEsta iniciativa promove e financia modelos de negócios nário de identificação de perfil fica disponibilizado inicialemergentes que mobilizam empresas do setor privado, mente na plataforma de crédito online do banco, acessado no governos locais e comunidades para o planejamento e a exepróprio site. Posteriormente, será estendido para os Correscução de produtos e serviços de qualidade, a criação de pondentes Bancários espalhados pelo interior do estado. empregos e a participação de produtores e consumidores de baixa renda na economia formal. Inovação – O questionário que Ronie respondeu – e que “Nós temos uma história de parceria muito longa com o todo solicitante deve preencher – é fruto de mais uma parceBDMG”, lembra Luis Alberto Moreno. De fato, a parceria ria firmada para a criação do BDMG Acredita, e mais uma das com o banco mineiro começou ainda em 2008, quando as inovações do programa. Ele foi elaborado pelo Eutreupreneduas instituições firmaram acordo para promover investiurial Finance Lab (EFL) [Laboratório de Finanças para o mentos em energia renovável, eficiência energética e mudanEmpreendedorismo, em tradução livre]. Com escritórios na ças climáticas. Foi assim também no ano seguinte, quando América do Sul, na América do Norte, na Ásia e na África, o foi feito um acordo entre as duas partes para diminuir os EFL busca o desenvolvimento de ferramentas para identifiresíduos sólidos no estado de Minas Gerais. car empresários de potencial para instituições financeiras no Júlio Onofre destaca que, para o BDMG, é importante mundo todo. “O resultado foi muito satisfatório em outros contribuir com a missão do BID de desenvolver as comunipaíses, o que nos animou a buscar essa experiência para Minas dades e regiões que necessitam de apoio. “Esse projeto (o Gerais”, justifica Júlio Onofre, sobre a adoção deste critério Acredita) tem um mérito muito grande porque é voltado para para a liberação do crédito. a base da pirâmide, que é o público mais difícil de alcançar. O Trata-se de uma análise psicométrica do candidato, que sucesso desse projeto irá permitir que seja utilizado como conta com questões éticas e morais, além de dados sobre referência em vários outros países”, completou. RUMOS – 39 – Maio/Junho 2014
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CENÁRIOS DO RIO
GESTÃO
Por Carmen Nery
Mais mudanças Depois do aprimoramento nos processos da área de Recursos Humanos, a Agência Estadual de Fomento (AgeRio) aposta na transformação de sua área jurídica, com caráter consultivo e pensamento estratégico
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Agência Estadual de Fomento do Rio de Janeiro sos mais simples, ágeis e eficientes. Para viabilizar esse novo (AgeRio) está conduzindo uma profunda transmodelo, processos, contratos e documentos foram padronizaformação em sua área jurídica, que passou a ter dos e as rotinas ganharam manuais, reduzindo as possibilidaum perfil mais consultivo e focado nas questões des de erro e agilizando as operações. Para esse projeto foi estratégicas. Para isso, rotinas e contratos foram criado um grupo de trabalho com missão específica de rever padronizados e as áreas operacionais capacitadas, reduzindo a os instrumentos contratuais de crédito. O resultado é que a demanda sobre a área e dando autonomia para a área de negómédia de folhas caiu de 56 para seis. “Pegamos o que era cios tomar as decisões. imprescindível para o cliente saber e inserimos nos contratos. Larry Matos, diretor jurídico da AgeRio, ressalta que, em O resto era norma de observância interna”, esclarece. primeiro lugar, o Jurídico tem de ter consCom todas essas mudanças, Larry ciência do seu papel fundamental para as Matos destaca que foi possível tornar a instituições financeiras de desenvolvimenatividade negocial mais leve, facilitando a to, seja na questão de garantir a conformirelação das áreas operacionais com os Um dos reflexos da dade dos negócios e de todas as ações clientes. Outra vantagem desse modelo é dessas instituições, seja para buscar, ao que ele permite ao advogado a busca ou renovação foi a máximo, a eficiência necessária para o até mesmo a construção de instrumentos mudança do perfil do alcance dos resultados da empresa. Isso jurídicos novos ou mais modernos, requer uma mudança de postura dos advocomo, por exemplo, uma garantia não profissional que se gados, que, pela formação, podem tender usual no mercado, assegurando, assim, quer atuando na para o conservadorismo. uma maior flexibilidade e a customização “A mudança implica em pensar o negódas operações. área: mais cio e agir de forma estratégica e preventiva, “Um Jurídico menos operacional e consultivo, criativo, como uma espécie de lanterna que vai mais estratégico age de forma mais preiluminando os próximos passos da instituiventiva, facilitando as operações e evitanaberto a novas ção, e, com o respaldo da empresa, tornar o do a ocorrência de problemas. Ao soluções e apto a dar mesmo tempo, um Jurídico mais consulJurídico menos operacional e mais consultivo”, reitera Larry Matos. respostas mais ágeis. tivo é capaz de tornar a área de negócios Em meio às mudanças, as duas áreas mais independente, com maior autonodistintas (jurídico operacional e jurídico mia em sua atuação”, diz. consultivo) que formavam juntamente com a área de contencioso o setor jurídico Capacitação – Para que o modelo alcanda instituição, foram unificadas na nova Gerência Executiva çasse resultados, foi realizado um amplo trabalho de capacitaJurídica Consultiva (GEJUC), que cuida de toda e qualquer ção com as demais áreas da empresa, de modo a transmitir consulta jurídica da empresa, independentemente da matéria. conhecimentos jurídicos básicos e diminuir a dependência da “Isso privilegia a interdisciplinaridade do Direito e proporcioárea jurídica. Afinal, não adianta tornar o setor mais consultivo, na maior troca de conhecimento e experiências dos advogase as demais áreas continuarem demandando questões básicas, dos”, justifica o diretor. de fácil solução. Por meio de uma equipe mais enxuta, foi possível dar “Com o treinamento, as áreas de negócio passaram a ter ênfase às questões prospectivas, com foco na eliminação de condições de interpretar um contrato ou uma garantia. Além riscos jurídicos, e tornando, na medida do possível, os procesde ter um entendimento melhor, as áreas deixaram de enviar RUMOS – 40 – Maio/Junho 2014
Noel Joaquim Faiad
“Um Jurídico menos operacional e mais estratégico age de forma mais preventiva, facilitando as operações e evitando a ocorrência de problemas. Ao mesmo tempo, um Jurídico mais consultivo é capaz de tornar a área de negócios mais independente, com maior autonomia em sua atuação”, Larry Matos, diretor jurídico.
ao Jurídico algo corriqueiro, mas apenas o que foge ao padrão básico. Com isso, ganhamos velocidade e agilidade nas respostas e melhor qualidade tanto da área operacional quanto da área jurídica”, diz Marcos Lima, gerente regional de negócios interior Sul. Ele observa que, com a manualização, todas as regras estão escritas e são de conhecimento de todos. “Com isso houve uma boa integração entre a área jurídica e as áreas operacionais”, acrescenta Lima. A lógica foi reforçada por Cláudio Moraes, superintendente de participações e desenvolvimento de produtos financeiros. Ele observa que, antes da mudança, o Jurídico era uma área robusta que participava de todas as questões ordinárias. Com a migração para um perfil mais consultivo, a área passou a se voltar para as questões que fogem ao padrão, encontrando soluções para situações mais sofisticadas. “Antes, havia uma dependência das áreas operacionais em relação a questões básicas, o que gerava uma grande demanda no Jurídico, e, em decorrência, havia problemas de agilidade no processo de consulta jurídica. Com o novo modelo, houve maior independência das áreas de negócio, maior agilidade nas respostas, e os advogados ficaram livres para pensar soluções mais criativas e sofisticadas”, analisa Moraes. Para o superintendente, a padronização e a manualização de processos, contratos e documentos levaram segurança aos gestores. “Ao mesmo tempo, houve empoderamento das áreas operacionais e negociais para que os superintendentes pudessem resolver questões ordinárias com maior autonomia, em vez de ficar esperando uma decisão do Jurídico”, acrescenta. Larry Matos observa que a consultoria jurídica empresarial – sobretudo a financeira, que requer muita agilidade – deve atuar nas exceções, ou seja, nas matérias que fogem ao trivial,
que não estão manualizadas pela empresa. Isso se reflete diretamente na eficiência da área de negócios e na consequente satisfação dos clientes da instituição. Para ele, o Jurídico deve atuar, sobretudo, com foco no cliente, sempre buscando viabilizar as operações, os negócios. “Há que se ter inquietude ao esbarrar nas dificuldades de se dizer o ‘sim’, porque o ‘não’ é fácil de se dizer. Assim, o Jurídico deve atuar de forma estratégica, pensando na melhor maneira de atrair e manter o cliente, e na sua comodidade, no limite do que não possa gerar problemas para a agência”, diz o diretor jurídico. Mas ele ressalva que, como não há crédito sem risco, alguns problemas nas operações acabam acontecendo, por mais que se tente minimizá-los. Nesse ponto, quando o curso das operações de crédito se torna problemático, gerando inadimplência, há de se agir igualmente de forma rápida. Na sua gestão, a área tem procurado atuar não só nos tribunais, mas, principalmente, na fase anterior, que é a de renegociação dessa carteira. “Isso possibilita a proximidade entre o Jurídico contencioso e a área de recuperação de crédito extrajudicial. Essa atuação conjunta, nas hipóteses em que as atividades estão sob diferentes gestões, facilita a obtenção de êxito na recuperação do crédito”, reforça. Um dos reflexos da renovação da área jurídica foi a mudança do perfil do profissional que se quer atuando na área: mais consultivo, criativo, aberto a novas soluções e apto a dar respostas mais ágeis. Segundo o diretor, ao fim do processo, os próprios advogados se sentem mais satisfeitos com uma atuação mais estratégica, o que facilita o alcance dos objetivos institucionais e, principalmente, a viabilização do desenvolvimento econômico regional.
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REPORTAGEM
ECONOMIA
Por Carmen Nery
Um “novo Brasil” Após ciclo virtuoso de crescimento e inclusão social, Fórum Nacional discute, em sua 26ª edição, as reformas necessárias e as oportunidades existentes para acelerar o desenvolvimento do país
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Alexander Landau
logísticos, que poderiam cair para m sua 26ª edição, o Fórum 5%”, defendeu. Nacional – promovido pelo Para Coutinho, o país tem capaciInstituto Nacional de Autos dade de participar e criar as indústrias Estudos (INAE), sob o do futuro, revitalizando os complexos comando do economista em que é competitivo, como mineraJoão Paulo dos Reis Velloso – escolheu ção, agronegócio, papel e celulose, como foco os temas das reformas, oporpetroquímica, automotivo e bens de tunidades, inovação e competitividade. capital. “A revitalização pressupõe O evento reuniu membros do governo, investimento em inovação. E poderepresentantes de entidades empresariais mos aproveitar novas oportunidades e especialistas, que se apresentaram em em microeletrônica, energias renovátrês dias de seminário, realizado no audiveis, como eólica e solar, e em petrótório da Caixa Econômica Federal, no leo e gás, que tem desdobramento em Rio de Janeiro. Na sessão de abertura, o toda a cadeia produtiva, já que a explopresidente do Banco Nacional de Desenração em águas profundas impõe volvimento Econômico e Social desafios logísticos e de inovação”, (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu analisa. a necessidade de reformas e de investiPara João Paulo dos Reis Veloso, mentos em tecnologia e inovação. em 2014 temos necessidade de uma “É imperioso melhorar e simplificar nova estratégia para retomar o crescia estrutura tributária brasileira, tornanmento de 5% dos anos 1970. Ele diz do-a mais eficiente e menos onerosa. Para Luciano Coutinho, presidente do que a proposta de um “novo Brasil” Precisamos melhorar a capacidade de BNDES, é preciso ampliar os instrumentos exige duas ações. A primeira seria a planejamento do setor público, com privados de financiamento de longo prazo criação de um Grupo de Ação para o elaboração de projetos, sobretudo para Brasil das Reformas – com supervisão as concessões das rodovias, portos, aeroda presidência, execução ministerial e portos e ferrovias. E temos uma necessiavaliação pelas equipes técnicas e de empresários selecionados. dade premente de ampliar os instrumentos privados de A segunda envolve a criação do Grupo das Oportunidades. financiamento de longo prazo”, disse Coutinho. Ele obser“O país vive uma revolução, com a emergência de uma vou que o país avançou nos indicadores sociais, reduzindo as sociedade mais ativa, que se manifesta, e mais moderna, que taxas de desemprego. Mas ressaltou que isso exige que se defende o interesse público para que tenhamos melhores alcancem ganhos de produtividade. governos federal, estaduais e municipais. Precisamos de “Isso é necessário para que possamos responder ao reformas nas áreas fiscal, de educação, administrativa e polívirtuoso ganho de inclusão social. A produtividade virá com tica”, defendeu. Ele destacou que há uma enorme diversidamedidas que vão desde a expansão da banda larga e das de de oportunidades. “Temos que explorar o potencial da Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) até a indústria criativa e das tecnologias do futuro, como a biotecintegração das pequenas e médias empresas em sistemas de nologia associada à nossa biodiversidade, as tecnologias da gestão. Também precisamos tornar a logística mais eficieninformação e comunicação e a nanotecnologia”, elencou. te, pois hoje 9% do Produto Interno Bruto (PIB) são custos RUMOS – 42 – Maio/Junho 2014
em debate dez anos anteriores, mas hoje está concentrado no efeito salário, o que sinaliza escassez de mão de obra. “O trabalho tem sido a base do crescimento, o grande protagonista é a renda do trabalhador. Mas precisamos aumentar a produtividade e a poupança. Falta uma agenda de ensino técnico para os ocupados, e outra de certificação e atração de talentos. Cerca de 74% da população concorda em trazer talento qualificado do exterior”, considera. Oswaldo Pedrosa Júnior, presidente da Pré-Sal Petróleo S.A (PPSA) – empresa pública que vai gerenciar e fiscalizar contratos de exploração de petróleo sob regime de partilha –,
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Desafios – Marcelo Neri, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAEPR), defendeu que as novas transformações brasileiras e a agenda das reformas devem focar no tripé prosperidade, igualdade e sustentabilidade. Em sua análise, o país vive um quadro de instabilidade com manifestações que oferecem oportunidades e riscos. Mas ele destacou os avanços obtidos nos últimos anos. De 2003 a 2014, o PIB brasileiro cresceu 27,8%, a renda média segundo a PNAD avançou 51,5%, mas na camada mais pobre a expansão foi de 106,17% – três vezes mais que o PIB.
O evento reuniu membros do governo, representantes de entidades empresariais e especialistas. O economista João Paulo dos Reis Velloso, ao centro, é o coordenador do Fórum desde a sua primeira edição.
“Isso é uma grande mudança, pois o econômico sempre cresceu mais que o social. E o mais importante é que não houve nos últimos três anos um deslocamento do crescimento da renda em relação aos anos em que o país cresceu bem”, observou. Outro indicador que ele destacou é o da oportunidade de subir na vida, que está em 27,13%, o que, para ele, sustenta o quão estrutural são as transformações. “Em 2000, 41% dos municípios apresentavam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo; em 2010 eram apenas 0,6%”, comemora. Ele lembrou, contudo, que há desafios, como o fato de os bens públicos avançarem menos que os bens de consumo. O crescimento da renda do trabalhador é tão grande quanto nos
informou que em 2014 o Brasil vai produzir 428 mil barris por dia de petróleo na camada do pré-sal. Em 2020, este número saltará para 4 milhões de barris diários nas bacias de Santos e de Campos. Ele observou que já foram descobertos campos gigantes no Cazaquistão e no Irã, mas só o Brasil é líder em descoberta de recursos recuperáveis, que somam 106 bilhões de barris. “Cerca de 88% desses 106 bilhões ainda estão por produzir. Há uma oportunidade imensa de desenvolvimento tecnológico. E como há elevada receita fiscal, haverá novos recursos para o Fundo Social, que visa a induzir o desenvolvimento tecnológico e criar novas oportunidades para o aprimoramento da indústria nacional”, detalhou Pedrosa.
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REPORTAGEM
ECONOMIA
Inovação e Tecnologia como portas para o futuro ciência, enquanto pouco sobra para a inovação. “Temos apenas 0,14% em patentes concedidas ante 25,5% do Japão, 23,1% dos EUA. O país encontra dificuldade para competir e se integrar às cadeias de valor. Entre 2000 e 2013 a importação de alta tecnologia cresceu assustadoramente. Estamos rateando há muitos anos na transformação da ciência e tecnologia e da tecnologia em inovação”, alertou. Propostas – Por outro lado, Antônio Gil, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), defendeu que o país tem avançado muito na área da Tecnologia da Informação. Em 2012, o setor cresceu 10,8%, e em 2013 estimase que chegou a 15,4%, alcançando o segundo maior crescimento do mundo, abaixo apenas da China, e o dobro da média mundial. O Brasil é um mercado de R$ 32 bilhões, o quarto maior do mundo, mas tem grandes desafios, como o fato de a maior empresa faturar apenas R$ 1,5 bilhão, enquanto na Índia as cinco maiores empresas faturam acima de US$ 10 bilhões. “O crescimento das TICs será nas áreas de educação, saúde e segurança. Além disso, as tecnologias mais avançadas se tornaram mais acessíveis: Big Data, social business, computação na nuvem e mobilidade. Nossa proposta é que criemos um Chief Digital Officer à presidência da república para que haja um trabalho conjunto entre o governo e os representantes do setor para a definição de uma agenda pública de TIC”, diz Gil. O evento também contou com a apresentação de Antonio Paes de Carvalho, presidente da Extracta Moléculas Nature, empresa de biotecnologia. Ele defendeu a criação do “Plano de Desenvolvimento da Biotecnologia à Base da Biodiversidade”. A empresa nasceu de forma conjunta com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para buscar moléculas bioativas de interesse, por meio de um processo de triagem robótica de alta velocidade que analisa grandes números de amostras. “Uma vez identificada uma molécula biológica de interesse, as rotas metabólicas podem ser descobertas por meio da bioengenharia reversa. A partir de uma atividade biológica conhecida, chega-se ao gene que pode ser modificado”, explica Carvalho. Ele propõe a criação, a partir de um núcleo no Rio de Janeiro, de um grande centro de processamento de informações para atingir parceiros em todo o Brasil. “A ideia é que, além da base de dados, a atividade empresarial interessada se organize em torno do Instituto Brasileiro da Biodiversidade com coordenação acadêmica e empresarial”, conclui.
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Alexander Landau
O painel “O Brasil como Potência de Inovação e Tecnologia, Impulsionando as Tecnologias do Século XXI” foi responsável por um dos debates mais intensos do evento. Daniela Carrera-Marquis, representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), destacou que, na América Latina, de 75% a 80% da população vive nas cidades, mas que, apesar disso, é uma das regiões com menor crescimento em tecnologia no mundo. Para ela, parte disso está explicado pelo fato da grande concentração na indústria de serviços em comparação com outras regiões do mundo. “Há muita informalidade; falta uma união mais produtiva entre setor público, setor privado e academia, e as inovações científicas não chegam à sociedade. A inovação se dá por meio de compra de tecnologia que é inserida nos processos produtivos. Para o BID há uma importância fundamental em haver uma integração entre esses três setores e a sociedade”, alerta Daniela. Glauco Arbix (foto), presidente da Agência Brasileira da Inovação (Finep), ressaltou que há uma proposta em andamento no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para elevar o patamar desses três setores. O Plano Inova Empresa reuniu recursos de R$ 32,9 bilhões para aplicação em pesquisa e desenvolvimento nas empresas, nos anos de 2013 e 2014, visando a aumentar a produtividade. O programa reuniu recursos de duas agências – a Finep e o BNDES – e de 12 ministérios. O objetivo é incentivar projetos de alto risco tecnológico, com financiamentos com taxas de 3% ao ano, prazo de 12 anos, sendo quatro de carência. “Tivemos uma demanda agregada de R$ 93,4 bilhões de projetos, de 2.667 empresas e 223 Institutos de Ciência e Tecnologia. Estamos conduzindo programas que visam potencializar o poder de compra do Estado por meio de chamadas públicas com adesão de consórcios privados e compra garantida”, comemora Arbix. Ele destacou ainda os avanços da Finep. A agência está integrando os instrumentos de crédito, subvenção, não reembolsável e Equity. Promoveu a descentralização do crédito, por meio de parceria com 16 bancos e agências de fomento estaduais, reservando R$ 1,6 bilhão para pequenas e médias empresas. Também atuou fortemente com subvenção econômica, em parceria com 21 fundações estaduais de amparo à pesquisa. “E conseguimos reduzir os prazos de análise e aprovação de 454 para 30 dias”, destaca Arbix. Claudio Frischtak, diretor do International Growth Center apresentou a palestra “O Brasil na Terceira Revolução Industrial”. Para ele, o país investe muitos recursos em Pesquisa e Desenvolvimento, mas a maior parcela é destinada à
SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S/A Presidente: Sávio Peres www.afap.ap.gov.br
BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A Presidente: Guilherme Henrique Pereira www.bandes.com.br
AFEAM – Agência de Fomento do Estado BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S/A Presidente: Augusto Sergio Amorim Costa do Amazonas S/A www.banparanet.com.br Presidente: Evandor Geber Filho www.afeam.am.gov.br BB – Banco do Brasil S/A AFERR – Agência de Fomento do Estado Presidente: Aldemir Bendine de Roraima S/A www.bb.com.br Presidente: Murilo Gomes Pereira www.aferr.rr.gov.br BDMG – Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais S/A AGEFEPE – Agência de Fomento do Presidente: Júlio Onofre Mendes Estado de Pernambuco S/A www.bdmg.mg.gov.br Presidente: Agnaldo Nunes de Souza www.agefepe.pe.gov.br BNB – Banco do Nordeste S/A Presidente: Nelson Antônio de Souza AGERIO – Agência de Fomento do www.bnb.gov.br Estado do Rio de Janeiro S/A Presidente: José Domingos Vargas BNDES – Banco Nacional de www.agerio.com.br Desenvolvimento Econômico e Social Presidente: Luciano Coutinho AGN – Agência de Fomento do Rio www.bndes.gov.br Grande do Norte S/A Presidente: João Augusto da Cunha Melo BRB – Banco de Brasília www.agnrn.com.br Presidente: Paulo Roberto Evangelista de Lima BADESC – Agência de Fomento do www.brb.com.br Estado de Santa Catarina S/A Presidente: Luis Antônio Ramos BRDE – Banco Regional de www.badesc.gov.br Desenvolvimento do Extremo Sul Presidente: Jorge Gomes Rosa Filho BADESUL – Badesul Desenvolvimento www.brde.com.br S/A – Agência de Fomento RS Presidente: Marcelo de Carvalho Lopes CAIXA – Caixa Econômica Federal www.badesul.com.br Presidente: Jorge Fontes Hereda www.caixa.gov.br BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S/A DESENBAHIA – Agência de Fomento do Presidente: Valmir Pedro Rossi Estado da Bahia S/A www.bancoamazonia.com.br Presidente: Vitor Lopes www.desenbahia.ba.gov.br BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S/A DESENVOLVE – Agência de Fomento do Presidente: Marco Aurélio B. de Almada Estado de Alagoas S/A Abreu Presidente: Antonio Carlos Quintiliano www.bancoob.com.br www.desenvolve-al.com.br
DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista Presidente: Milton Luiz de Melo Santos www.desenvolvesp.com.br FINEP – Inovação e Pesquisa Presidente: Glauco Arbix www.finep.gov.br FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S/A Presidente: Juraci Barbosa Sobrinho www.fomento.pr.gov.br GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Goiás S/A Presidente: Luiz Antônio Faustino Maronezi www.fomento.goias.com.br MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S/A Presidente: Mário Milton Verlangieri Ferreira Mendes www.mtfomento.mt.gov.br PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S/A Presidente: Antônio Luiz Medeiros de A. Filho www.fomento.pi.gov.br SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Presidente: Luiz Eduardo Barretto Filho www.sebrae.com.br
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FOMENTO
Desenvolve propõe soluções para produção de mandioca
BRB participa da Agrobrasília e supera o número de negócios prospectados em anos anteriores
Divulgação/AgloBrasília
Na 7ª edição da Feira, o BRB alcançou um montante negocial superior ao dos anos anteriores. Em relação ao evento do ano passado, o banco teve crescimento acima de 76%. Em 2012, foram prospectados R$ 116 milhões; em 2013, este número subiu para R$ 176 milhões; e, este ano, para R$ 310 milhões. A maioria das operações destinou-se à aquisição de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas. Destaque, também, para linhas voltadas à agricultura familiar, em que foi prospectado o valor aproximado de R$ 10 milhões. O presidente do BRB, Paulo Evangelista, avaliou como positiva a participação do banco no evento. Ele conta que foram entregues 607 propostas ao banco e, destas, 256 foram de produtores que ainda não são clientes do BRB. “O resultado alcançado foi além do esperado.”
Ascom/ Bandes
O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) e a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) assinaram um novo convênio para consolidar a parceria entre as duas instituições e fortalecer as ações de fomento aos programas setoriais e regionais integrados, que fazem parte do novo perfil da instituição financeira, incluído no Plano Estratégico do banco até 2016. Por meio do convênio, o banco capixaba vai disponibilizar acesso mais ágil e simplificado às suas linhas de crédito para os empresários da indústria associados aos sindicatos, que atuarão como agentes estruturadores dos programas setoriais. Para isso, o banco contará com um posto de atendimento no Centro de Apoio aos Sindicatos (CAS) da Findes, além de promover a articulação dos gerentes de relacionamento do Bandes com as diretorias regionais da federação, de acordo com a atuação de cada um. O diretor-presidente do banco, Guilherme Henrique Pereira, e o presidente da federação, Marcos Guerra, assinaram o documento durante evento que reuniu empresários, lideranças e representantes de vários sindicatos capixabas.
Agefepe se torna agente repassador do Inovacred em Pernambuco A Agência de Fomento do Estado de Pernambuco (Agefepe) traz uma boa notícia para os empresários pernambucanos que trabalham com inovação tecnológica e querem financiar projetos. A partir de agora, a agência está credenciada à Finep, por meio do programa Inovacred, tornando-se o único agente repassador do programa em Pernambuco. Para o presidente da agência, Agnaldo Nunes, o Inovacred vai incentivar o desenvolvimento de projetos no setor. “O programa é um avanço para quem trabalha com inovação tecnológica em Pernambuco e vai possibilitar que empresários da área criem e desenvolvam pesquisas e estudos tendo a garantia de que, agora, o processo para financiar os negócios ficou bem mais fácil, já que a instituição oferece toda a estrutura para dar suporte às necessidades desses empresários”.
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Morguefile
Incentivar e facilitar o acesso ao crédito para o auxílio ao fortalecimento da produção de mandioca em Alagoas. Este foi o principal objetivo da Agência de Fomento de Alagoas (Desenvolve) ao participar das discussões de um fórum idealizado pelo Arranjo Produtivo Local (APL) da Mandioca no Ag reste. Durante o encontro, produtores locais conheceram as linhas de financiamento disponíveis pela instituição e oportunidades de desenvolvimento para o setor produtivo. No evento, o diretor de Desenvolvimento e Projetos da Desenvolve, Fabio Leão, apresentou o perfil e ações que a agência de fomento vem realizando no meio rural do estado, exemplificando as parcerias que já ocorrem por intermédio das linhas de crédito disponíveis no mercado para as necessidades locais, como já acontece com a cadeia do leite. “Precisamos criar juntos soluções diferenciadas que atendam as necessidades do APL da Mandiocultura no Agreste e garantir a movimentação do mercado”, afirmou o diretor.
Bandes e Findes assinam convênio para consolidar fomento aos programas setoriais
Eny Miranda/Ascom RJ
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 2,7 bilhões ao município do Rio de Janeiro para melhorias na infraestrutura de mobilidade urbana. Os recursos representam 88% do total a ser investido nos projetos, que compreendem o lote zero do BRT Transoeste, a Via Expressa Transolímpica, a ligação BRT Transolímpica-BRT Transbrasil, entorno do Parque Olímpico, duplicação do Elevado das Bandeiras, Ciclovia Niemeyer, extensão da Via Expressa do Porto Maravilha e entorno do Engenhão. O lote zero do BRT Transoeste prevê a implantação de um corredor exclusivo para ônibus na Barra da Tijuca, com 6,4 km de extensão. Serão construídas sete estações, duas pontes sobre o Canal de Marapendi e um viaduto sobre a Avenida Armando Lombardi. O projeto, no qual serão investidos aproximadamente R$ 95 milhões, permitirá a integração do BRT Transoeste, que hoje liga Santa Cruz e Campo Grande ao Terminal Alvorada, na Barra, com a estação de metrô da linha 4, que está sendo construída no Jardim Oceânico, possibilitando que a cidade tenha, pela primeira vez, um transporte de passageiros de massa ligando o Centro aos bairros da Barra e do Recreio.
Desenbahia se destaca durante a Bahia Farm Show
A Caixa Econômica Federal avalia possibilidades para ampliar seu funding de projetos de infraestrutura, que envolverão este ano investimentos de R$ 32 bilhões. “Se continuar o apetite do mercado e as medidas corretas do governo, o crescimento de projetos (de infraestrutura) pode ser da ordem de 20% ao ano”, afirmou o vice-presidente de Governo da Caixa, José Carlos Medaglia Filho, no Fórum Brasil de Infraestrutura, realizado em Brasília, no início de junho. Segundo ele, a expectativa é de que os investimentos em infraestrutura aumentem para R$ 38 bilhões em 2015. Na sua avaliação, o crescimento dos investimentos em obras poderá contribuir para recuperar o que chamou de “gap de infraestrutura”. O país viveu mais de duas décadas sem investimentos em infraestrutura, afirmou Medaglia. “Mas a população cresceu, adensada nas cidades, e entramos nos anos 2000 com déficit de infraestrutura, frente às exigências da população. Houve deficiência em todas as áreas de investimento”, disse. O ritmo das obras, na sua avaliação, é desproporcional aos anseios da sociedade. “Os investimentos deveriam ser multiplicados dez ou vinte vezes para atender à necessidade (da população). Cada companhia estadual que executa projetos de infraestrutura precisa se aparelhar, ou não conseguiremos dar o salto que nós queremos”, disse.
Fomento Paraná já contratou R$ 538,5 milhões em financiamentos para municípios Noel Joaquim Faiad
Desenbahia/Ascom
A Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), ao fechar as contas, se consolidou como o principal financiador do agronegócio do oeste baiano. Com uma estratégia agressiva de marketing durante a Bahia Farm Show, a agência duplicou sua participação em relação ao ano anterior. A instituição tornou-se praticamente o banco oficial da maior feira de tecnologia agrícola do Nordeste, respondendo por um em cada três dos negócios fechados. “Ultrapassamos a nossa meta, que era de R$ 200 milhões”, disse Vitor Lopes, presidente da instituição Em 2014, a Desenbahia completou dez anos de participação no evento. Segundo Marko Svec, gerente comercial, o resultado se deve à estratégia focada, envolvendo condições de financiamento diferenciadas; atendimento personalizado prévio, durante e pós feira; atuação local de dez gerentes; marketing intenso; além da presença dos diretores da agência.
Agência Caixa de Notícias
Caixa avalia novas fontes de financiamento para projetos de infraestrutura
BNDES aprova R$ 2,7 bilhões para projetos de mobilidade urbana no Rio de Janeiro
A Agência de Fomento do Paraná (Fomento Paraná) encerrou o primeiro quadrimestre de 2014 contabilizando a soma de R$ 538,5 milhões em financiamentos contratados com municípios, desde janeiro de 2011, para obras de infraestrutura e equipamentos urbanos pelo Sistema de Financiamento aos Municípios, Paraná Juro Zero – Máquinas e equipamentos e pela nova linha FGTS Pró-Transporte. Os pequenos municípios, com população inferior a 20 mil habitantes, correspondem a 42% desses contratos, que somam R$ 228 milhões no período. Na faixa entre 20 mil e 100 mil habitantes, os contratos somam R$ 165 milhões. Outros R$ 144 milhões foram contratados por municípios com mais de 100 mil habitantes.
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MICRO E PEQUENAS
ENCADEAMENTO PRODUTIVO
Por Ricardo Berezin
Cooperar em vez Fórum do Sebrae discute estratégia em que empresas – pequenas e grandes – saem ganhando e ninguém sai perdendo
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ncadeamento produtivo pode não ser um termo com o qual nos deparamos todo dia, mas sua menção parece ter um efeito imediato entre os empresários. É a partir dele, afinal, que se estabelecem relações de cooperação entre pequenas e grandes companhias inseridas numa mesma cadeia de valor. Estas relações são, por definição, de longo prazo e mutuamente benéficas. É como se Davi e Golias, em vez de brigar, dessem as mãos. Este foi o assunto do fórum realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) nos dias 21 e 22 de maio em São Paulo, que, como não poderia deixar de ser, reuniu grandes e pequenos empresários, além de especialistas e pesquisadores em gestão de negócios. Roberto Simões, presidente do conselho deliberativo nacional da entidade, foi quem abriu o ciclo de debates. “O encadeamento produtivo é um dos mecanismos mais efetivos e indispensáveis para incrementar a competitividade da economia nacional”, afirmou. “A integração entre empresas é uma tarefa desafiadora, mas a partir dela as pequenas obtêm conhecimento e atendem à demanda das grandes, o que permite aumentar a produtividade e investir mais em inovação.” Cadeia de valor é um conceito cunhado pelo professor norte-americano Michael Porter, também presente no evento, por meio de vídeo, e designa todo o processo por que passa uma mercadoria, desde a aquisição de matérias-primas à produção em si, passando por sua distribuição, manutenção ou mesmo reciclagem. Nesse sentido, o encadeamento produtivo é pensado em relação à empresa-âncora, que desempenha papel de liderança no sistema, enquanto as outras atuam a montante ou a jusante dela. “Pensando no fabricante como empresa-âncora, teríamos as fornecedoras como montantes, e uma vasta cadeia de companhias, ligadas ao comércio e ao pós-venda, por exemplo, como jusantes”, explica Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae. Como destacou durante sua fala no fórum, é a partir de uma dessas vias, pré ou pós-produção, que muitas pequenas empresas podem crescer. “Eu chego à prateleira do supermercado, não com uma marca própria, mas como parte de uma cadeia
produtiva. Para se ter uma ideia, não há um avião exportado da Embraer que não possua componentes fornecidos por uma pequena companhia.” Para Santos, em um contexto de economias avançadas, para o qual o Brasil caminha, existe mais sofisticação na forma como as companhias se colocam na economia. “No momento vemos muitos pequenos negócios disputando no mercado de produtos e serviços padronizados. É um erro capital. Pequena disputando o mercado com grande, sem ter as vantagens da economia de escala, não sobrevive.” Por outro lado, ressalta, elas podem tanto se inserir num sistema de encadeamento produtivo, como já falado, quanto em nichos específicos, nos quais se aproveitam de uma estratégia diferenciada para se destacar. “Pegue o exemplo da pinga e da cachaça. A cachaça é artesanal, traz o nome do dono, uma pequena produção com alto valor agregado. Já a pinga é industrializada, em grande quantidade e baixo valor. Se o pequeno negócio tentar fazer pinga não vai conseguir e se a grande empresa quiser produzir cachaça não vai convencer.” O diagnóstico é de que há muitas pequenas empresas no Brasil, que prestam uma grande contribuição à geração de empregos, mas que representam pouco em relação à massa salarial e ao PIB nacional. “Mais do que a armadilha da renda média, temos a armadilha da produtividade média, pois é por meio de seu aumento que elevamos a renda e o país se desenvolve”, disse Santos. “O que está em jogo, portanto, não são os pequenos negócios, mas a economia brasileira.” Além da filantropia – Michael Porter, professor da Escola de Negócios de Harvard, foi um dos primeiros a formalizar o conceito de cadeia de valor e, consequentemente, é um dos principais teóricos do encadeamento produtivo. Em sua fala no fórum ele foi enfático: os pequenos negócios são vitais para o desenvolvimento de um país, mas sua integração com as grandes empresas também é fundamental. Segundo Porter, historicamente as grandes corporações se envolveram com a sociedade a partir da filantropia, seja via doações, seja pelo engajamento voluntário de seus funcionários. “Isso foi bom, mas devemos dar o próximo passo. Ir além da simples
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de competir radores, investindo em sua estrutura física e treinando seus funcionários. Durante o processo, as vendas de seus produtos cresceram 25% e, em menos de seis meses, o dinheiro gasto já havia sido recuperado. Assim, ao mesmo tempo que a região se desenvolveu economicamente, graças ao crescimento comercial das tiendas, a Arca obteve lucro, o que a estimulou a manter o plano.
Luiz Prado
Grandes – Veio do gerente de desenvolvimento da área de materiais da Petrobras, Ronaldo Mascarenhas Lima Martins, o relato de outra experiência positiva, dessa vez sob a perspectiva do desenvolvimento tecnológico. “A Petrobras tem uma disposição para inovar e por isso ela Michael Porter, professor da universidade norte-americana de Harvard e é o que é hoje, líder em produção fomulador do conceito de cadeia de valor: os pequenos negócios são vitais em águas profundas”, disse. “Foi para o desenvolvimento de um país, mas sua integração com as grandes através de seu centro de pesquisa, empresas também é fundamental. com ênfase em encontrar soluções de engenharia junto com seus forcontribuição monetária ou da prevenção de danos”, afirma. necedores locais, que chegamos a essa posição. Não foi copi“É o que chamamos de criação de valor compartilhado.” ando ninguém.” De acordo com Martins, se no início das A proposta de Porter é que as corporações se conectem operações da empresa quase tudo vinha de fora, hoje mais de com a comunidade – e também com os empreendimentos 80% dos contratos são firmados com parceiros nacionais. que a constituem – por meio da atividade econômica que Embora exista um requisito legal, formatado pela Agêndesempenham. “Vemos milhares de exemplos no mundo em cia Nacional de Petróleo, para que a estatal se supra prioritarique o setor privado, através de um modelo empresarial, amente do empresariado brasileiro, Martins assegura que a melhora a saúde, estimula a educação e desenvolve o meio em questão vai além de uma norma estabelecida. “Com o tempo que atua. Ao utilizar seu próprio plano de negócios para atene os resultados obtidos, ficou claro, dentro e fora da empresa, der necessidades sociais importantes, as empresas são capaque essa estratégia não havia sido escolhida só por sermos zes de dar maior escala às soluções encontradas e isso pode uma estatal, por procurarmos ter uma conduta socialmente crescer infinitamente, ao contrário de quando se limitam a responsável de suportar a cadeia de suprimento local. Por recursos destinados a doações”, diz. “Não se trata de fazer o mais que isso também seja válido, estávamos pensando no bem, de ser um bom cidadão, mas de negócios. Essa é a manepróprio negócio, pensando como empresa.” ira mais eficiente de se construírem pontes entre grandes e Também presente no Fórum, o diretor de relações instipequenos empreendimentos.” tucionais da L’Oréal Brasil, Patrick Sabatier, falou sobre o Segundo o especialista, essa nova consciência corporativa outro lado da cadeia, o da distribuição. Ele enfatizou que a tem se expandido. Ele usou a experiência da mexicana Arca companhia surgiu há mais de 105 anos a partir do relacionaContinental, uma das maiores engarrafadoras da Coca-Cola, mento entre seu fundador e salões de beleza, ou seja, antes de como exemplo. A Arca, ao perceber que seu sucesso dependia vender para grandes varejistas, os pequenos empreendimentambém das tiendas, as pequenas lojas que comercializam as tos é que foram procurados. De acordo com o executivo, há bebidas, decidiu trabalhar com elas, melhorando seus refrigemais de 500 mil cabeleireiros no país e, para atingir tantos RUMOS – 49 – Maio/Junho 2014
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MICRO E PEQUENAS
canais, um projeto foi criado, cujo objetivo é a formação de microdistribuidores dentro de comunidades, que possam comercializar os produtos em lugares aonde eles não chegam. “Assim, criamos uma cadeia de valor entre a empresa, microdistribuidores e os milhares de salões de beleza que não têm acesso à informação ou a produtos de qualidade.” Pequenas – Se por um lado, com o encadeamento produtivo, as empresas grandes conseguem aumentar a qualidade dos produtos e reduzir os custos de produção, por outro, as pequenas avançam em questões fundamentais como produti-
Todos ganham Logo no início do Fórum, o Sabrae apresentou números a fim de comprovar que tanto as grandes empresas como as pequenas se beneficiam de uma relação de colaboração. Os dados foram obtidos através de uma pesquisa feita com quase dois mil empresários que participaram do programa de encadeamento produtivo, conduzida entre os dias 18 e 21 de março deste ano. A questão básica era: o que mudou após as práticas de colaboração com outras empresas de diferentes portes? As respostas estão agrupadas em pequenas e grande empresas.
Pequenos empresários 71,4% Aumentaram a qualidade de seus produtos
65,8% O faturamento bruto cresceu
48% Aumento na lucratividade
47,1% Elevou o número de pessoas ocupadas
Grandes empresas 90% Qualidade dos produtos ou serviços aumentou
80% O relacionamento com o consumidor final – ou seja, cliente da pequena – avançou.
60% Aumentou a participação das micro e pequenas empresas no volume de vendas
40% Cresceu o faturamento bruto como um todo
80% Relacionamento com pequenas empresas melhorou.
ENCADEAMENTO PRODUTIVO
vidade, gestão e faturamento. É o “ganha-ganha”, conforme destacou o diretor de administração e finanças do Sebrae, José Cláudio dos Santos, ao apresentar os exemplos de pequenos negócios que também tiveram seu espaço no fórum, representados por empresários que, se antes lutavam pela sobrevida de suas companhias, hoje, em situação confortável, têm objetivos bem mais ambiciosos. As dificuldades da CPF Parafusos, por exemplo, começaram em 2007, quando a Petrobras, uma de suas principais clientes, passou a encomendar os suprimentos através de um site de e-commerce próprio. “Com isso passamos a competir com o Brasil todo, inclusive com nossos próprios fornecedores”, disse o fundador da empresa, Marcelo Yeiri Marinho. “Por um problema de competitividade, nós sumimos da lista de compras da Petrobras e ela, ao perceber isso, nos sugeriu o programa do Sebrae. Entramos com o intuito de diversificar nossa produção ou até mudar de ramo se necessário.” Marinho recebeu consultoria, teve acesso a cursos e conseguiu auxílio com seu plano de alavancagem tecnológica. A empresa precisou alterar tanto a gestão quanto a produção, mas o esforço valeu a pena: se a ideia era de apenas retomar a presença no mercado de Sergipe, agora 80% das vendas são para fora do estado e os clientes já passam de 300. “Do início do projeto, em 2007, até o ano passado, nossa lucratividade aumentou 400%”, disse Marinho, acrescentando que até recebeu uma proposta de aquisição de um de seus fornecedores. “Mas é claro que não aceitei.” A história da Soma Usinagem, fabricante de componentes mecânicos para processos de usinagem, é parecida. Instalada em Conselheiro Lafaiete (MG), ela também é uma empresa familiar com 30 funcionários, e passou por uma crise, em 2008, perdendo boa parte de seus fornecedores. Foi convidada pela Gerdau para o programa de encadeamento em 2011. Segundo seu fundador, Renato Henriques Serafim, a empresa sofreu uma reviravolta e deixou de ser uma pequena fornecedora da Gerdau para se tornar grande, com mais de 1.600 itens de contrato. Além disso, reduziu sua dependência da siderúrgica, que, de 100%, passou a responder por 60% de suas vendas. “Reduzimos os custos gerais em 40%, aumentamos nossa receita e a pontualidade da entrega, que está próxima da perfeição. A empresa ganhou muito, nossos funcionários também.” Já a Pred Engenharia, empresa de manutenção industrial de Vitória (ES), não enfrentava um momento complicado quando foi convidada pela Vale para o programa do Sebrae no final de 2011, mas, ainda assim, ele foi um “divisor de águas”, segundo o empresário Ozório Rezende Correia Filho. “A gente fazia bem a nossa rotina, mas depois passamos a questioná-la. Você acha que está tudo normal e acaba se limitando a um patamar muito pequeno”, disse. Correia Filho enfatizou que a experiência o ajudou a entender o negócio em vez de apenas trabalhar nele, o que contribuiu para que a Pred aumentasse seu faturamento em 73% entre 2012 e 2013. “Hoje temos parcerias estratégicas com a Motorola e a SAP, por exemplo. Nós nos conscientizamos de que, como não vamos competir com corporações desse tamanho, o melhor e que fiquemos ao lado delas.”
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BNDES apresenta fundo de segundo piso para SGCs m fundo de segundo piso para as Sociedades Garantidoras de Crédito (SGCs), que dê suporte financeiro para as garantidoras realizarem operações com mais segurança, aumentando os limites das garantias concedidas aos pequenos negócios. Este foi o projeto apresentado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante o IV Fórum Brasileiro de Garantias de Crédito para MPE. O modelo está em fase de análise e foi bem recebido pelos participantes do evento, promovido pelo Alex Costa, do Departamento do Instrumento de Garantias do BNDES, afirmou Sebrae, que aconteceu no início de que modelo deve ser aprovado e disponibilizado em breve junho em Foz do Iguaçu (PR). A proposta de modelo desse suporte financeiro prevê quatro fases: habilitação (análise a serem cada vez mais competitivas. O encontro reuniu das garantidoras), processo de contratação (na qual a mais de 200 participantes, entre autoridades públicas, agengarantidora contrata o Fundo Garantidor de Investimentes do sistema financeiro, lideranças empresariais, dirigentos do BNDES – FGI), pagamento do Encargo por Contes de SGC e especialistas em serviços financeiros do Bracessão de Garantia (ECG) – que é o custo para utilização sil, América Latina e Europa. Representantes de seis países do FGI –, e, por fim, o processo da honra e da recuperação, apresentaram fatores de sucesso e lições de modelos de em que há a verificação das garantias. sistemas de garantias no mundo. “Com a parceria do Sebrae, estamos discutindo e analiEm um dos painéis do evento, o Sebrae apresentou o sando esse modelo, que, em breve, deve ser aprovado e Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), em disponibilizado às SGCs”, afirmou Alex Costa, do Deparque a entidade se dispõe a ser avalista ou fiador na hora de o tamento do Instrumento de Garantias do BNDES. pequeno negócio pedir empréstimo ou financiamento. Para Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Segundo o gerente de Acesso a Mercados e Serviços FinanSebrae, a apresentação de um modelo de contragarantia ceiros da instituição, Paulo Alvim, as operações contratapara as SGCs, por parte do BNDES, é o reflexo do avanço das com o apoio do Fampe totalizaram cerca de R$ 9,4 do sistema. “No passado, no Fórum no Rio de Janeiro, nós bilhões em financiamentos e R$ 6,9 bilhões em aval. O não tínhamos essa perspectiva. Agora, temos a proposta de BNDES, por sua vez, mostrou os detalhes do Fundo passo a passo e as instruções de adesão. Veja o avanço e Garantidor de Investimento (FGI); e o Banco do Brasil, o como isso é importante”, disse. Fundo de Garantia de Operações (FGO). Segundo o diretor, as garantidoras se consolidarão Para muitos dos representantes de garantidoras brasileicomo cooperativas financeiras e já apresentam segurança ras presentes ao evento, a questão da credibilidade é o granjurídica para uma regulamentação do Banco Central. A de desafio das SGCs. Por isso, a necessidade de regulação expectativa é que o anúncio formal do marco regulatório por parte do Banco Central e de uma contragarantia goverdas SGC seja feito no Fórum Banco Central de Inclusão namental foram citadas como meios para que essas organiFinanceira, programado para novembro, em Florianópolis. zações componham, de fato, o sistema financeiro brasileiro. É necessário que haja melhoria das operações, investiFórum – Realizando sua 4ª edição em 2014, o Fórum é um mento em tecnologia da informação e profissionalização, evento que tem reunido dirigentes e representantes de bem como aperfeiçoamento e automatização dos procesinstituições que estão preocupadas em definir estratégias e sos envolvendo as SGCs, sempre com o cuidado de não buscar soluções para apoiar as micro e pequenas empresas encarecer as transações.
Mauricio Lehmkuhl
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LIVROS
O futuro chegou – e ele se chama Brasil Em novo livro, sociólogo italiano Domenico de Masi, um dos mais influentes pensadores da atualidade, afirma que o Brasil pode contribuir para um novo modelo de vida em sociedade
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uando chegou ao país para lançar brasileira (como a desigualdade e a corseu mais recente livro, o sociólorupção), transformam o modelo brasigo italiano Domenico de Masi, leiro em algo muito bem-sucedido: o pensador influente e criador do celebrasincretismo, a cordialidade, a sensualido (e controverso) conceito do “ócio cridade sem o senso de culpa, a receptiviativo”, teve que responder continuadade, a amizade, a antropofagia cultural, mente, entrevista após entrevista, a uma a postura positiva em relação à vida, a mesma questão: “Por que o Brasil?” aversão à guerra, entre outros. É que em sua nova obra, O futuro cheEm um âmbito ainda mais profungou: modelos de vida para uma sociedade desorido, de Masi defende que no país há um entada, de Masi afirma que o país tem conconceito já bastante enraizado, com dições de fornecer ao mundo um novo que o mundo precisará conviver cada modelo social. Após o que ele enxerga vez mais: a miscigenação. “Está acontecomo declínio dos modelos europeu e cendo no mundo a mais imponente misnorte-americano, o Brasil pode ser um tura racial de todos os tempos, determifarol que indique para o mundo um novo nada em nível físico pelas migrações e, modo possível de viver. em nível cultural, pela mídia e pela Segundo o sociólogo, mesmo com internet. Todo o mundo está virando o progressivo aumento de países demomestiço, mas apenas o Brasil já expericráticos e a difusão de informação e edumentou há tanto tempo e tão a fundo a O futuro chegou - modelos de vida para uma sociedacação, o mundo se sente preso entre miscigenação”, explicou em entrevista de desorientada desorientação e medo. Aguarda vento a um jornal brasileiro, citando os inteDomenico de Masi favorável, mas não sabe para onde ir. lectuais que Sérgio Buarque de HollanCasa da Palavra, 768p., 2014 Para tentar iluminar os caminhos, ele da classificoude inventores do Brasil faz uma uma reflexão sobre todos os (“de Joaquim Nabuco a Euclides da modelos socioeconômicos que já foram Cunha, de Manoel Bomfim a Paulo Pratestados pela humanidade no decorrer do, de Gilberto Freire a Celso Furtade sua história. do”), que partiram justamente da misAssim, além de analisar a estrutura de países como Brasil, cigenação em seu esforço de revelar o Brasil para os brasileiros. Índia, China e Japão, o autor perpassa pelos sistemas que mais Na obra, o sociólogo defende as conquistas do país nas últimarcaram a história social do mundo, os modelos católico, mas três décadas, especialmente nos anos dos governos de Ferhebraico, muçulmano, protestante, clássico, iluminista, liberal, nando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva. capitalista, socialista, comunista, até nosso atual modelo pós“O Brasil democrático de hoje demonstra que o seu futuro industrial. O objetivo é extrair o melhor de cada um deles para se chegou, e não só pelo fato de ter um alto percentual de populaconstruir um modelo de vida global inédito, que seja finalmente ção jovem, mas também porque é uma das poucas democracias adequado à sociedade pós-industrial. do planeta cujo PIB cresce há trinta anos, cujas distâncias sociais De Masi sustenta que durante 450 anos o Brasil foi pressiodiminuem, a qualidade de vida melhora e a alternância no poder nado a copiar o modelo europeu; há 50 anos tem copiado o dos é assegurada por eleições democráticas regulares. É o único Estados Unidos. Agora que os EUA e a Europa estão em progrande país que não trava guerras com nenhum outro nem quer funda crise, o Brasil está sozinho consigo mesmo e é obrigado a dominar nenhuma nação. É a única economia na qual, por oito desenvolver seu próprio modelo, que pode ser valioso para o anos, um presidente sociólogo incrementou a riqueza nacional e mundo inteiro. E qual é o cerne do nosso modelo? por outros oito anos um presidente sindicalista tratou de redisPara o sociólogo, o segredo está em uma série de aspectos tribuí-la”, afirma, em um dos trechos destacados do livro. A positivos que, mesmo com as distorções existentes na sociedade Rumos recomenda. RUMOS – 52 – Maio/Junho 2014
Uma nação em crise
Reformas na agenda
O jornalista americano George Packer conta a história das últimas três décadas dos Estados Unidos e retrata a imagem de um país em crise. A partir de personagens anônimos e famosos, o escritor afirma que mudanças importantes ocorridas no espaço de uma geração criaram possibilidades antes inimagináveis de ascensão social, e uma liberdade sem precedentes (nos costumes, iniciativa, vida privada), mas também conduziram o sistema político à beira da falência e deixaram legiões de cidadãos à deriva. Nesta viagem à “nova América”, o leitor encontrará figuras como Danny e Ronale Hertzell, que largam a escola para se casar e a quem a “terra das oportunidades” oferece subempregos no Walmart, habitação num estacionamento de trailers e o completo afastamento de familiares e amigos. Vencedora do National Book Award, um dos mais importantes prêmios literários dos Estados Unidos, a obra retrata um superpoder ameaçado de perder sua essência, com insti-
Editado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), por ocasião do XXVI Fórum Nacional, o livro faz parte da coletânea “Cadernos Fórum Nacional” e conta com ensaios do consultor econômico Raul Velloso, do professor Claudio de Moura Castro, do ministro Aloizio Mercadante e do próprio organizador, o econonomista João Paulo dos Reis Velloso. Os textos abordam a necessidade de reformas, em diferentes áreas, para que o país siga avançando no médio e longo prazo. No prefácio, Reis Vellosos destaca que a agenda de reformas tem sido negligenciada e que ela é indispensável para que “o Brasil deixe de ser o Prometeu Acorrentado, passe a crescer a uma taxa razoável e entre na rota de país desenvolvido”. O livro defende, desse modo, as reformas Fiscal e da Educação. Advoga, ainda, por uma revolução que se dê pela emergência de uma sociedade ativa e moderna; a modernização do Sistema de Partidos e o Congresso
tuições que não mais funcionam e pessoas comuns às quais não resta nada senão improvisar esquemas próprios de salvação e sucesso.
Desagregação – por dentro de uma Nova América George Packer Companhia das Letras, 488p., 2014
Nacional; e uma visão moderna de governo, com um Estado Inteligente e maior capacidade de governar.
Brasil: o país das reformas João Paulo dos Reis Velloso Inae, 96p., 2014
Pequenos Negócios
Às margens do rio
Para estimular o debate sobre o desenvolvimento brasileiro na perspectiva dos pequenos negócios, o Sebrae lançou o sexto volume da coletânea Pequenos Negócios – Desafios e Perspectivas, sob a coordenação do seu diretor-técnico Carlos Alberto dos Santos. São abordagens plurais, que, para além de seu público direto, pretendem contribuir para ampliar a literatura e o debate na universidade brasileira. A publicação reúne 22 artigos de 37 especialistas em encadeamento produtivo e cadeias de valor de instituições de apoio e da iniciativa privada. O debate conceitual, vários casos de sucesso, os desafios setoriais – na indústria, comércio, serviços e agronegócios – e abordagens complementares ao tema vão possibilitar ao leitor uma visão ampliada das experiências que vêm se desenvolvendo no Brasil, com foco na maior competitividade das pequenas e grandes empresas. Os outros volumes da Coletânea
O Centro da Memória da Eletricidade no Brasil acompanha as transformações no setor de energia elétrica, promovendo a preservação da memória e evidenciando a sua importância para a história contemporânea do país. O trabalho de pesquisa mais recente dá luz às regiões CentroOeste e Norte e gerou a obra O rio Tocantins no olhar dos viajantes. A publicação resgata o desenvolvimento dos quatro estados que o rio atravessa – Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará – e os esforços despendidos na construção das atuais sete hidrelétricas, com 12 mil megawatts instalados. Dividida em oito capítulos, a obra conta com o olhar de diferentes personagens que por ali passaram, além de registros iconográficos e documentos de época, em um mergulho entre os anos de 1500 até 2013. Num dos relatos, o médico Júlio Paternostro, em 1930, classificou o espaço em regiões, de acordo com critérios econômicos.
são, respectivamente, “Programas Nacionais do Sebrae”, “Desenvolvimento Sustentável”, “Inovação”, “Educação Empreendedora” e “Ser viços Financeiros”.
Encadeamento produtivo Carlos Alberto dos Santos (coord.) Sebrae, 388p, 2014.
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O livro coloca em perspectiva as interferências humanas no vale de um rio e constitui, com isso, um excelente exercício para compreender o mundo no qual nos movemos.
O rio Tocantins no olhar dos viajantes: paisagem, território e energia elétrica Memória da Eletricidade, 436p., 2013
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CARTAS DO LEITOR Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall - Brasília - DF – CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 Fax: (21) 2109.6004 E-mail: abderj@abde.org.br
Inclusão Vimos, pela presente, solicitar que sejamos inseridos na lista de recebimento do exemplar: Rumos – Economia & Desenvolvimento para os Novos Tempos – ABDE Editorial. Informamos que somos da FIEP – Federação das Indústrias do Paraná/ Gerência de Fomento e Desenvolvimento/ Coordenação de Desenvolvimento. Faustina Melo. Curitiba (PR) Aniversário Li com satisfação a história da fundação da ABDE. Participei do encontro em Araxá na equipe de apoio organizada pelo BDMG. No entanto, o artigo não mencionou seu idealizador, o Dr. Hindemburgo Pereira-Diniz, então dirigente do BDMG e o Dr. Marcos Viana, do BNDES, seu primeiro presidente eleito na assembleia de fundação. Deixo aqui o registro pela admiração que tenho pelos dois. Antônio Augusto de Castro. Informações Prezados, bom dia. Gostaria de verificar se é possível receber a revista Rumos e mais informações da ABDE. Desde já, agradeço. Enelvo Sanchotene Martinelli. Centro Internacional de Inovação. Paraná. Universidade Gostaríamos de agradecer o recebimento da revista Rumos – Economia & Desenvolvimento para os Novos Tempos, Ano 38, nº 273. Suellen Amaral. Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana (BA)
CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Luciano Coutinho DIRETORIA Presidente: Carlos Henrique Horn 1º Vice-Presidente: Vitor César Ribeiro Lopes Vice-Presidentes: Antonio Carlos Sampaio Quintiliano, Carlos Alberto dos Santos, Guilherme Narciso Lacerda, Milton Luiz de Melo Santos, Paulo Roberto Evangelista de Lima, Rogério de Paula Tavares, Rubens Rodrigues Filho, Valmir Pedro Rossi. Superintendente-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima.
Instituições Associadas à ABDE AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A. AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A. AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. AGERIO – Agência Estadual de Fomento BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Inovação e Pesquisa FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
Errata Na reportagem “Seminário reafirma compromisso com o desenvolvimento”, da edição nº 274 da revista Rumos, creditamos erroneamente o sr. Claudio Torres como presidente da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP). Torres é diretor de Fomento e Crédito da referida instituição.
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ISSN 1415-4722 Ano 38 – Nº 275 Maio/Junho 2014
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RUMOS - 54 – Maio/Junho 2014
TEMPOS
Capa Noel Joaquim Faiad com foto de Paulino Menezes/Portal da Copa Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta Conselho Editorial Carlos Alberto dos Santos, Carlos Henrique Horn, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.
Prêmio ABDE Edição 2014
Tema 2: Excelência em Gestão Tema1: Financiamento do Desenvolvimento
Melhores práticas do Sistema Nacional de Fomento
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Informações: gesec@abde.org.br
Prêmio de R$ 5 mil para o melhor trabalho em cada categoria Premiação para as instituições dos autores vencedores
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