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D E S E N VO LV I M E N T O

PA R A

OS

NOVOS

TEMPOS

ANO 39 – Nº 279 – Janeiro/Fevereiro de 2015

ECONOMIA

EDITORIAL

Confiança expressa em uma nota Agências de classificação de risco:

como funcionam e para que servem



S Charles Damasceno

SUMÁRIO

Eddu Ferraccioli

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Noel Joaquim Faiad

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EXPERTISE Ana Carla Fonseca

Economia criativa e cidades: reinvenção permanente

MICRO E PEQUENAS ECONOMIA

Atenção e cautela

REPORTAGEM CAPA Risco

A confiança expressa em números

AO LEITOR

m ano começa e novas expectativas surgem. É cedo para falar, mas 2015 já desponta com desafios na área econômica, é o que mostram os artigos do ex-ministro Delfim Netto e de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Os pequenos negócios e as cooperativas também precisarão de criatividade e de estratégia para enfrentar os meses que prometem ser de restrição ao crédito, como apontam a reportagem e o artigo sobre o tema. Mas os ajustes econômicos não são novidade no cenário internacional, cujas economias ainda não se recuperaram plenamente da crise de 2008. Naquele ano, instituições que avaliam a saúde financeira de bancos e países pelo mundo estiveram no centro dos debates quando as notas que emitiam não conseguiram capturar a quebradeira que se seguiria... As agências de classificação de risco, como são chamadas essas instituições, são o tema da reportagem de capa; entender como funcionam e para que servem os graus de investimento (ratings) emitidos permite compreender melhor o funcionamento das instituições financeiras e conhecer como é construída a nota dada a empresas e organizações. São análises complexas que sinalizam para o mercado financeiro a capacidade da empresa de honrar ou não seus compromissos. O ajuste fiscal não figura sozinho na agenda do dia, a crise hídrica, vista em um espectro maior de preservação da natureza é o tema da entrevista com o advogado Eduardo Felipe Matias, que mostra que o inimigo a vencer nesse tema é o próprio homem e sua conduta no mundo. Boa leitura!

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REPORTAGEM Expansão

Complexo de saúde OPINIÃO Novo governo

Superar os preconceitos ARTIGO Novo ano

Oportunidades do cooperativismo financeiro em cenário econômico adverso ENTREVISTA Eduardo Felipe Matias

Engajamento para uma nova realidade REPORTAGEM Gestão

Mais integrado EM DIA André Perfeito

A construção de uma infraestrutura financeira EXTREMO SUL Agronegócio

Feira de oportunidades REPORTAGEM Balanço

BDMG expande e diversifica atuação PELO MUNDO Organização

O “Sistema Nacional de Fomento” Mexicano PRÊMIO ABDE Edição 2014

Incentivo à criatividade PRÊMIO ABDE Financiamento do Desenvolvimento

Programa Renova SP: Financiamento para renovação da frota de caminhões Excelência em gestão

Avaliação do planejamento estratégico numa instituição pública a partir do Balanced Scoredcard: O caso BRDE

Seção

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46 FOMENTO 48 LIVROS


Economia criativa e cidades: reinvenç Por Ana Redig

Eddu Ferraccioli

“Economia Criativa” é provavelmente um dos termos mais interessantes, charmosos e pouco compreendidos dos últimos tempos. Simplificando, pode-se dizer que a criatividade é um recurso econômico de valor inestimável, que pode se converter em dinheiro, realização e bem-estar, desde que sejam criadas condições para isso. Para saber como a Economia Criativa pode contribuir com o desenvolvimento das cidades brasileiras, Rumos conversou com a especialista Ana Carla Fonseca, referência quando o assunto é Economia, Cidades e Negócios Criativos. Dona de um currículo impressionante, Ana Carla foi apontada pelo jornal El País, em 2013, como uma das oito personalidades brasileiras que impressionam o mundo.

Ana Carla Fonseca é doutora em Urbanismo pela Universidade de São Paulo e autora da primeira tese no país sobre cidades criativas. Divulgação

EEXPERTISE

Ana Carla Fonseca

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ão permanente

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Não conheço nenhum caso bem-sucedido de transformação urbana que tenha vingado sem a participação do tripé governo, setor privado e sociedade civil, já que cada um desempenha papéis e tem interesses muito complementares.

EXPERTISE

Ana Carla Fonseca

CIDADE CRIATIVA

Inovação:

Conexão:

Cultura:

é a essência de tudo; novos produtos, serviços, processos e olhares com valor percebido, resolução de problemas e aproveitamento de oportunidades.

entre público e privado, entre as áreas da cidade, evitando bolsões de criatividade em detrimento de uma consideração sistêmica da cidade, entre sua história e sua visão de futuro, entre ela e suas cidades vizinhas e o redor do mundo

pelo que traz de mais identitário, por seu impacto econômico e por ajudar a formar um ambiente propício à criatividade.

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Divulgação

Criatividade

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na Carla Fonseca escreveu livros inovadores, como Marketing Cultural e Financiamento da Cultura (2002), Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável (Prêmio Jabuti 2007) e Cidades Criativas (primeiro livro brasileiro sobre o tema e finalista do Prêmio Jabuti 2013); e concebeu e editou livros digitais globais, como “Economia Criativa como Estratégia de Desenvolvimento” (2008) e “Cidades Criativas – Perspectivas” (2009). Ela criou projetos de impacto em economia e cidades, a exemplo de Criaticidades e Sampa CriAtiva e foi consultora do Creative Economy Report (ONU), em 2008 e 2013. Por 15 anos liderou projetos em multinacionais na América Latina, em Londres e Milão, experiência que a capacitou para se tornar assessora para a ONU sobre o tema, além de ser consultora e conferencista em cinco línguas e 28 países. É curadora de congressos internacionais, diretora de Conteúdo da ExpoGestão e membro do Corpo Mundial de Peritos da Unesco, dos Repensadores, dos conselhos da Página 22, da Virada Sustentável, da Creative Industries Development Agency (Inglaterra) e jurada da Creative Business Cup (Dinamarca). Venceu o Prêmio Claudia 2013, em Negócios.


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REPORTAGEM

EXPANSÃO

Por Jader Moraes

Complexo de saúde

Divulgação

Fiocruz ergue campus de 125 mil m² para abrigar novos institutos nacionais de infectologia e saúde da mulher, criança e adolescente; espaço será dedicado à assistência, pesquisa e ensino

Projeção de como ficará o novo Campus dos Institutos Nacionais, em construção na Zona Norte do Rio de Janeiro; previsão é que obras terminem em 2018 e o espaço entre em funcionamento no ano seguinte.

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ransformados em Institutos Nacionais em 2010, os centros de Infectologia Evandro Chagas (INI) e de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF) se preparam para entrar em nova fase. Com um aporte de mais de R$ 600 milhões, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) começa a erguer um grande complexo que vai abrigar as novas instalações das duas unidades: o Campus dos Institutos Nacionais (CIN), uma imponente construção de 125 mil m² em São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro. No CIN, os dois institutos continuarão a atuar de forma autônoma, mas compartilharão alguns equipamentos e terão sua capacidade de atuação ampliada de forma considerável: o INI, por exemplo, passará de seus atuais trinta leitos de atendimento para 120. O campus contará ainda com outros 290 leitos do IFF (totalizando 410), 224 consultórios, 74 módulos ambulatoriais e 16 salas de cirurgia geral. O CIN fortalecerá o conceito de transversalidade entre assistência, pesquisa e ensino. “Nossas unidades cumprem papel de assistência, pesqui-

sa clínica, pesquisa biomédica e ensino. São quatro perfis que não se dissociam. Mas, em muitos casos, uma área acaba tendo peso maior que outra: no caso do IFF, o que se destaca é a dimensão da assistência, dada a carência na cidade do Rio de Janeiro de hospitais com esse tipo de atendimento; ao passo que quando olhamos para o INI é a pesquisa clínica, também pela carência na rede pública desse tipo de pesquisa. Elas cumprem todas as funções, mas o colorido de cada unidade acaba se dando em função das lacunas que ela tem que cumprir. Um dos objetivos desse complexo é justamente equilibrar essas quatro dimensões”, explicou o gerente de projetos da Fiocruz, Leonardo Lacerda. De acordo com o gerente, desde a transformação das duas unidades em Institutos Nacionais, elas reforçaram sua forma de inserção na rede pública de saúde e ganharam novas responsabilidades e atribuições: agora têm papel de norteadoras, são referências na atuação assistencial para a rede e podem atuar como formuladoras de proposições e políticas nacionais em suas áreas de atuação. “Mas elas continuam vinculadas à Fiocruz”, esclarece o gerente.

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Divulgação

Virginia Damas/CCI/ENSP/Fiocruz

“Quando o Ministério da Saúde estabeleceu as unidades como Institutos Nacionais deu um incremento de atribuições, seja no quantitativo de atendimento, seja em novas responsabilidades. Com essa nova realidade, identificamos a oportunidade de ampliar o escopo de atuação das duas unidades, que tinham limitações, inclusive físicas e estruturais. Na prática, as duas unidades vão manter sua integridade institucional, mas vão compartilhar plataformas e áreas afins”, completou. O Instituto Evandro Chagas foi planejado ainda por Oswaldo Cruz, em 1910, e já teve várias denominações em sua vasta história – Hospital Oswaldo Cruz, Hospital de Manguinhos e Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec). Desde a década de 1980, tem sido referência no atendimento e pesquisa clínica em doenças infecciosas e negligenciadas como malária, dengue, doenças de Chagas, HIV/Aids, dentre outras. A expectativa, com a transformação da unidade em instituto e o posterior projeto de construção do grande complexo, é que o INI cumpra esse papel.

“Nossas unidades cumprem papel de assistência, pesquisa clínica e biomédica e ensino. São quatro perfis que não se dissociam. Mas, em muitos casos, uma área acaba tendo peso maior que outra. Um dos objetivos desse complexo é justamente equilibrar essas dimensões”

Já o Instituto Fernandes Figueira, que possui longa trajetória dedicada à pediatria e ao desenvolvimento e avaliação de novas tecnologias, é diretamente responsável pela qualificação de quadros estratégicos do Sistema Único de Saúde (SUS) na área de sua competência – Saúde da Mulher, Criança e Adolescente –, para a melhoria dos cuidados e dos indicadores. Possui tradição de hospital de ensino e teve nos últimos anos uma expansão de seus cursos de pósgraduação e o lançamento de um programa de incentivo à pesquisa para seus funcionários doutores, além de ter ampliado significativamente o seu portfólio de cooperação internacional.

Espaço multiuso – Muito além de abrigar os institutos nacionais vinculados à Fiocruz, a presidência da instituição pretende transformar o futuro campus em um espaço em sintonia com todos os demais setores da Fundação, ampliando inclusive suas possibilidades de funcionamento. Um exemplo é que, como o novo imóvel se encontra em uma região mais central da cidade, será possível planejar cursos noturnos, o que hoje é dificultado em função da localização Leonardo Lacerda do seu campus principal. Gerente de Projetos Para isso, o local contará com trinta salas de aula, quatro espaços multiuso, auditório para 500 lugares, refeitório, entre outras áreas secundárias. “Assim como os dois institutos vão compartilhar espaços físicos, também teremos plataformas de funcionamento para outras unidades da própria Fiocruz”, conta Lacerda. A previsão é que as obras do campus se encerrem no segundo semestre de 2018, mas o espaço só deve começar a funcionar a partir de 2019, devido ao período de adaptação, certificação, transferência de funcionários e treinamento. Este prazo pode variar e os dados relativos ao projeto estão em constante atualização. “Todo processo de aprovação e desenvolvimento deste projeto é bastante complexo”, explicou o gerente. Outro ângulo de como ficará o Campus, que abrigará os dois institutos ligados à Fiocruz. RUMOS – 9 – Janeiro/Fevereiro 2015


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OPINIÃO Novo governo

Superar os preconceitos Marcelo Correa

Antonio Delfim Netto Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

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o primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff houve uma evidente deterioração das contas públicas pelo atraso do governo em reconhecer que: 1) a situação externa tinha se invertido; e 2) as intervenções voluntaristas nos projetos de infraestrutura e pontuais nos mercados de bens e serviços eram incapazes de alterar a causa básica da redução da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB): a substituição da oferta interna da indústria nacional pela oferta internacional (a importação). Nunca houve falta de demanda industrial interna. Os aumentos dos salários reais, a ampliação do crédito e a redução da taxa de juros real sempre a sustentaram. O que ocorreu foi uma dramática destruição das condições que garantiam uma relativa isonomia competitiva da indústria nacional, o que a levou à estagnação e arrastou com ela o PIB. Essa alteração da estrutura produtiva – que está se transformando de conjuntural em estrutural – torna ainda mais problemática a estimativa do etéreo “produto potencial” e, consequentemente, da “falsa-constante”, a taxa de juro real de equilíbrio, aquela que manteria o emprego perto do seu máximo sem acelerar a taxa de inflação, ambas exigidas para o exercício da política monetária “ótima”. Há pouca “ciência” e muito “arbítrio” em tudo isso, o que mostra os graus da sorte, conhecimento, sensibilidade, humildade, habilidade e arte dos novos executores da política econômica, que a presidenta espera que, “com o menor sacrifício dos menos favorecidos”, cumpram tarefas pouco conciliáveis: 1) a recuperação do equilíbrio fiscal sem comprometer os investimentos públicos; 2) a rápida redução das intervenções no sistema de preços, principalmente na taxa de câmbio, com a simultânea redução da “expectativa” inflacionária; e 3) que acordem o “espírito animal” do setor privado mostrando que o “ajuste” não é a redução da demanda efetiva, mas apenas a preparação para a volta ao crescimento do setor industrial e, consequentemente, do PIB. Alguns sinais parecem indicar a séria disposição da nova administração de assegurar a redução dos desequilí-

brios e criar as expectativas de volta do crescimento do investimento público, dos investimentos privados e do PIB, condições necessárias para facilitar o ajuste “benigno” desejado. O primeiro sinal foi a decisão anunciada de reduzir firmemente o “imbróglio” fiscal sem retroceder no processo civilizatório, isto é, com o menor desconforto para os menos favorecidos e na manutenção do aumento da igualdade de oportunidades para que eles possam continuar a construir a sua cidadania com dignidade. Isso é fundamental para a coesão e justiça sociais e é a condição política de sustentabilidade das medidas. É evidente que o ajuste fiscal só será bem-sucedido se for capaz de despertar o “espírito animal” do setor privado, dentro de um prazo razoável. De qualquer forma, parece que o superávit primário projetado de 1,2% do PIB em 2015 é um bom começo. O segundo sinal veio do Relatório do Banco Central de dezembro de 2014, que revela maior disposição de resistir à “dominância fiscal” e sugere a necessidade de uma íntima cooperação entre a política monetária e as políticas social, fiscal, salarial e cambial. Por último, recente decisão do Banco Central mostra que as intervenções no mercado cambial destinam-se a reduzir a volatilidade e não a “determinar” o nível da taxa de câmbio. Há muitas dificuldades à frente no segundo mandato da presidenta Dilma. A tragédia da Petrobras é enorme, mas não pode e não deve “congelar” o governo. Esta é a hora da grandeza e da solidariedade com a nação. É hora de superar ridículos preconceitos ideológicos (os “selfies” do atraso) e reconhecer que nossas instituições estão cada vez mais fortes e são a garantia da nossa liberdade. Não serão medíocres arreganhos de uma “direita” boçalizada, ou de uma “esquerda” imbecilizada que irão enfrentá-las. É hora, pois, em legítima defesa, de torcer e trabalhar para que o Brasil se reencontre com o caminho do crescimento econômico eficiente com ampliação da inclusão social. 

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Aguardem! Prêmio ABDE de Monogra as Edição 2015


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MICRO E PEQUENAS

ECONOMIA

Por André Tennitz

Atenção e cautela Mudança no cenário econômico, com maior restrição ao crédito, leva os pequenos negócios a rever suas estratégias e a investir com segurança

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país vive um período de transição que exige cautela e atenção dos agentes econômicos. As medidas de ajuste fiscal e monetário que estão sendo implementadas pelo governo federal para corrigir desequilíbrios, controlar a inflação e recuperar, a médio prazo, a trajetória de crescimento da economia criam restrições que afetam todos os empreendedores, independentemente do porte ou do setor de atuação. No segmento das micro e pequenas empresas, no entanto, a conjuntura marcada por contenção de demanda, custos fiscais mais elevados e maior seletividade no crédito, tem impactos diferenciados, dadas as caraterísticas específicas desses empreendimentos. Para o Sebrae, é um momento que exige, sobretudo, cuidado e atenção dos empresários para evitar problemas que possam comprometer a saúde de seus negócios. O acesso ao crédito sempre foi um dos grandes desafios dos empreendimentos de menor porte, e, num momento de ajuste, a postura dos agentes financeiros tende a ser mais conservadora. “Não se tem a dimensão exata dos efeitos que as medidas fiscais e monetárias em curso terão na economia real, mas a situação precisa ser monitorada com cautela pelos empreendedores, principalmente aqueles que estão à frente de pequenos negócios, que sempre foram os elos mais frágeis no que diz respeito a crédito”, observa a diretora técnica do Sebrae, Heloisa Menezes. “Normalmente, micro

e pequenas empresas têm reservas limitadas para amortecer os impactos gerados por situações de constrangimento financeiro.” Para a diretora, além de manter a atenção no cenário macroeconômico, os empreendedores precisam voltar o foco para seu negócio e mercado específicos. “É hora de reavaliar objetivos e estratégias”, aconselha. “Eventualmente”, acrescenta, “o planejamento não pode utilizar as mesmas taxas de crescimento e de vendas de anos anteriores.” Além disso, pondera, o momento é de aprimorar a gestão de caixa e reforçar a relação com os fornecedores. Pesquisas do Sebrae mostram que, dadas as dificuldades de oferecer garantias reais ao sistema financeiro tradicional, as micro e pequenas empresas têm no crédito de fornecedores sua principal fonte de capital de giro. Além disso, é comum o recurso a modalidades que, embora de acesso mais simples e rápido, impõem altos custos financeiros ao empreendedor, como cartões de crédito e cheque especial, cujas taxas médias superam os 200% ao ano, segundo os levantamentos mais recentes do Banco Central. Se já eram extremamente onerosos, esses instrumentos tornam-se absolutamente proibitivos num cenário de restrição de crédito e elevação de taxas de juros. Custo do crédito – De maneira geral, todas as linhas de crédito do sistema financeiro já se tornaram mais caras com a

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Charles Damasceno

Heloisa Menezes, diretora técnica do Sebrae, lembra que as cooperativas de crédito são uma opção em tempos de restrição no sistema financeiro. política de aperto monetário conduzida pelo Banco Central. Em dezembro de 2014, a taxa média de todas as linhas (pessoas físicas e jurídicas) estava em 32,4% ao ano, contra 29% no fim de 2013. Dentro do próprio sistema financeiro, no entanto, é possível encontrar alternativas de custo mais baixo, pondera a diretora do Sebrae. “As cooperativas de crédito, por exemplo, tiveram um olhar diferenciado para os pequenos negócios. Há também um espaço grande para que instituições de fomento ampliem a atuação junto às pequenas e microempresas”, afirma. Heloisa Menezes destaca, por exemplo, instrumentos como o Cartão BNDES, destinado a viabilizar capital de giro e de investimento para empresas de pequeno porte, que expandiu significativamente, nos últimos anos, tanto o volume de operações, como a abrangência geográfica de sua atuação, estando disponível, hoje, em praticamente todos os municípios do país. Linhas de crédito amparadas em mecanismos de garantia também possuem menor custo financeiro, acrescenta. É o caso do Fundo de Garantia de Investimento (FGI), do próprio BNDES, ou do Fundo de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), administrado pelo Sebrae. Há também o Fundo de Garantia de Operações (FGO), operado pelo Banco do Brasil, e o Funproger, pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). “Esperamos que haja a oportunidade de discutir com bancos de fomento novas formas de atuação para que o cré-

dito chegue em melhores condições às pequenas empresas”, diz a diretora. Ela lembra, ainda, o papel importante que podem desempenhar as Sociedades de Garantia de Crédito (SGC), que precisam ganhar velocidade na sua disseminação pelo país. Com atuação local, constituídas pelos próprios empreendedores, com apoio de entidades de classe e do próprio Sebrae, essas entidades atuam no fornecimento de garantias para recursos tomados pelos pequenos negócios em bancos e outros agentes de crédito, possibilitando a redução das taxas cobradas. Oportunidade – Luiz Ajita, diretor-presidente do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, em Maringá (Sicoob Metropolitano) – cooperativa de crédito do Norte do Paraná, com 26 pontos de atendimento e cerca de 33 mil associados –, avalia que o cenário oferece uma oportunidade para que essas entidades ocupem espaço no mercado de maneira consciente. “Para isso, as cooperativas devem se valer de suas características próprias: políticas de créditos locais ou regionalizadas, maior rapidez na análise do crédito, utilização das parcerias estabelecidas com as Sociedades de Garantias de Crédito, taxas diferenciadas e atendimento personalizado”, afirma. Ajita observa que, depois de anos de forte expansão, o volume global de crédito na economia vem mostrando desaceleração. Em 2014, refletindo a perda de fôlego da

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MICRO E PEQUENAS

ECONOMIA

Divulgação

empresas têm um espaço de acomodação maior do que as médias e grandes. “Os pequenos negócios têm a capacidade de acomodar a elevação de custo fixo de forma mais positiva”, afirma. A variável decisiva, explica, será a liquidez destas empresas, ou seja, como elas estarão preparadas para enfrentar um período de menor fluxo comercial e, até mesmo, alguma inadimplência. “Certamente, o relacionamento com uma instituição financeira parceira é importante nestes momentos”, afirma Machado. Ele observa que o aumento do risco naturalmente tem impacto negativo nos sistemas de crédito, como redução de limites, exigência de maiores e melhores garantias, redução de prazos e aumento de taxas. “Vale destacar, entretanto, que as dificuldades econômicas podem resultar em renegociação em detrimento da inadimplência. Isso depende de vontade e do relacionamento entre cliente e instituição Luciano Machado, do Bancoob, acredita que os pequenos negócios têm mais capacidade de ajuste do que as médias empresas.

Acomodação – O superintendente comercial do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), instituição especializada no atendimento a cooperativas de crédito, Luciano Ribeiro Machado, pondera que, apesar do arrefecimento da demanda e do cenário de restrição financeira, micro e pequenas

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atividade econômica, o aumento foi de 11%, uma taxa ainda significativa, mas a menor dos últimos 10 anos. Ele nota que os bancos já começaram a tomar medidas mais restritivas na concessão de crédito e acredita que providências mais rigorosas poderão ser adotadas por instituições privadas. “Infelizmente, nesse cenário, micro e pequenas empresas terão que repensar seus planos de expansão e se preocupar com a manutenção de seus negócios”, destaca. Para o presidente do Sicoob Metropolitano, as instituições financeiras, de maneira geral, tendem a elevar o rigor na avaliação da situação das empresas, reforçando a observação de elementos como restrições cadastrais, pontualidade nos pagamentos de compromissos, faturamento, endividamento, estoques e garantias ofertadas. “Isto tudo resultará num processo mais lento, difícil e oneroso para os negócios de menor porte”, resume. A tendência, aliás, já vem sendo notada, observa. De um lado, o consumo das famílias vem caindo em virtude do alto grau de endividamento e do menor dinamismo do mercado de trabalho, com as pessoas se preocupando em saldar dívidas e não contrair novos débitos. Por outro lado, os bancos adotaram uma postura mais cautelosa na concessão de crédito. Essa estratégia permitiu que eles reduzissem o índice de inadimplência, que, no ano passado, caiu de 4,1% para 3,5% nos bancos estrangeiros, e de 4,3% para 4% no caso das instituições nacionais. A contrapartida, porém, foi que o crédito tornou-se mais escasso.

Pesquisas já indicam uma retração no consumo das famílias.

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financeira, caso a caso.” O sistema cooperativo, salienta Machado, tem maior proximidade do dia a dia do cliente. Há, ainda, o compromisso natural do associado com sua comunidade, o que gera uma pressão adicional de adimplência em suas operações junto à cooperativa. Isso não significa que as cooperativas financeiras devam se eximir de rever seus critérios de negociação. “É fundamental o alinhamento com a conjuntura econômica. Afinal, a cooperativa administra os recursos de associados, o que é uma enorme responsabilidade. “Mas, via de regra, as crises econômicas abrem oportunidades para os sistemas financeiros cooperativos. A proximidade com a comunidade permite a manutenção do relacionamento comercial de produtos e serviços em níveis superiores às instituições financeiras tradicionais. Estamos prontos para aproveitar”, declara Machado.

Exceção regional – Embora já seja visível nos indicadores macroeconômicos nacionais, o esfriamento do nível de atividade não se manifesta da mesma forma em todos os setores e regiões. De acordo com o superintendente de Negócios de Varejo e Agronegócios do Banco do Nordeste (BNB), Luiz Sérgio Farias Machado, as pesquisas do banco indicam que o consumo da chamada nova classe média tem se mantido consistente na região, que, nos últimos anos, vem apresentando indicadores de crescimento econômico superiores à média do país. O banco tem participado, por exemplo, de feiras de franquias nas principais cidades nordestinas, e os franqueadores continuam com demanda elevada de negócios na maioria dos setores, o que mostra que a expectativa ainda é positiva para manutenção do consumo, diz ele. “O crescimento recente da região foi beneficiado por alguns fatores, particularmente pelo aumento da renda, especialmente nas classes C, D e E. O Banco do Nordeste trabalha com projeções de crescimento nos próximos anos acima da média nacional, impulsionado ainda pelo movimento de ascensão das classes mais baixas, que continuará a ser positivo”, afirma Luciano Machado. O superintendente ressalta que a instituição tem compromisso com o desenvolvimento, já que administra recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), o que possibilita à instituição oferecer taxas de juros e condições mais atraentes às pequenas e microempresas. A expectativa do BNB é contratar junto ao segmento, R$ 3,07 bilhões neste ano em operações de investimento e de capital de giro, valor superior aos R$ 2,9 bilhões desembolados em 2014. Desse montante, R$ 2,46 bilhões serão com recursos do FNE. A expectativa é continuar crescendo cerca de 10% a cada ano. O banco tem aperfeiçoado os processos, de forma a se tornar mais competitivo e também tem produzido melhorias no atendimento ao cliente, a exemplo da dispensa de apresentação de projetos para operações de investimento até R$ 3,42 milhões. Recentemente, a instituição lançou, em parceria com entidades do comércio varejista, um cartão de crédito para capital de giro, que pretende ampliar para outros segmentos. Ainda este ano, diz Machado, pode ser lançado um cartão de crédito específico com recursos do FNE. O BNB possui também o maior programa de microcrédito urbano da América do Sul, o Crediamigo, com 1.862 mil clientes ativos. No ano passado, foram desembolsados R$ 7,1 bilhões no âmbito do programa. Segundo o dirigente, o BNB já tem uma política de garantias conservadora e não se vislumbra alteração a curto prazo, considerando as atuais oscilações do mercado. “Acredito que não haverá necessidade de procedimentos mais cautelosos porque o Banco do Nordeste já observa fielmente a boa prática bancária e os regramentos internos e externos, além de atender a todas as orientações dos órgãos de fiscalização”, afirma. 

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ARTIGO NOVO ANO

Oportunidades do cooperativismo financeiro em cenário econômico adverso “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinqueta. O que ela quer da gente é coragem” (Guimarães Rosa) Ênio Meinen

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arece haver um grande consenso de que em 2015 teremos de nos reposicionar como governo, cidadãos e empreendedores. E os ajustes – para assegurar a travessia – serão bastante sensíveis do ponto de vista financeiro, concentrados na máxima do “gastar menos e melhor”, já que a economia parece não dar sinais de grande vitalidade. E como esse cenário repercutirá no mercado bancário e, em particular, no cooperativismo financeiro? Por conta das expectativas nada animadoras sobre nível da atividade econômica e do já elevado grau de comprometimento da renda dos brasileiros com o pagamento de dívidas há pouco contraídas, é improvável que o sistema financeiro convencional sinta-se à vontade para seguir emprestando com o apetite de outros tempos, especialmente para financiar o consumo. Isso inclui até mesmo os bancos oficiais, uma vez que o Tesouro já não tem o mesmo fôlego para bancar as necessidades de capital dessas instituições. E tem mais: porquanto também se prognostica a descontinuidade dos reajustes reais nos salários (a prioridade será manter o emprego), combinada com novas demissões, notadamente na indústria, aumenta a preocupação com a inadimplência. Crescendo as impontualidades nos resgates das obrigações junto ao sistema financeiro, acentuam-se as provisões, o que, por sua vez, diminui a disponibilidade de capital para novos empréstimos. Para o cooperativismo financeiro, sem que se despreze a

cautela requerida em tais circunstâncias, o fato de a concorrência retrair-se no crédito gera uma grande oportunidade. Como as cooperativas conhecem melhor o seu associado do que o banco a seu cliente, devem aproveitar essa proximidade e antecipar-se aos concorrentes na busca do bom tomador. É inegável que a agilidade – para atender a uma necessidade, muitas vezes emergente, do associado – fará aumentar o sentimento de gratidão e de pertencimento do cooperado, além de impulsionar a migração de seus negócios complementares (mantidos, não raro, em instituição convencional) para dentro da cooperativa. Essa atmosfera, ademais, aponta para a possibilidade de atração de novos cooperados, diante de sua insatisfação como clientes de bancos. Consulta a períodos recentes de semelhante adversidade ou incerteza, tanto no ambiente doméstico como externo (vide, por exemplo, 2008/2009), revela que as cooperativas deram saltos mais representativos em sua expansão justamente nesses momentos, afirmando, assim, um de seus grandes diferenciais, que é o compromisso permanente com o cooperado e a sua comunidade. Essa fidelidade, como já se disse, reproduz-se no comprometimento (fidelidade recíproca) do cooperado com a sua própria instituição financeira. A conjuntura também sugere uma oferta mais intensiva do portfólio de produtos e serviços fora da intermediação financeira. Com efeito, a prudência adicional que se impõe em relação ao crédito (pelo alto risco envolvido) há de

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Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS) e autor/coautor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro – área na qual milita há 31 anos –, entre eles “Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios”. Atualmente, é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

“ Ascom/Bancoob

Para o cooperativismo financeiro, o fato de a concorrência retrair-se no crédito gera uma grande oportunidade

impulsionar a exploração das inúmeras alternativas de negócios já disponíveis – e ainda muito pouco ativadas – no meio cooperativo, como seguros, cartões, consórcios, previdência privada, cobrança, convênios e adquirência (de cartões), soluções essas de elevado potencial de rentabilidade e irrelevante consumo de capital (pelo risco irrisório). Neste particular, aliás, as cooperativas enfrentarão o apetite voraz dos bancos de varejo, que se tornarão ainda mais agressivos na busca de receitas novas para recompor a redução dos ganhos com o crédito. Por fim, o cooperativismo deverá também “entrar no cli-

ma” que identifica – e desafia – os novos tempos da nação como um todo. Daí que, de um lado, rever seus modelos organizacionais de modo a, por exemplo, aproveitar adequadamente as estruturas de segundo e terceiro níveis sistêmicos (gastando menos e melhor), e avançar nos processos de aglutinações/incorporações (tanto para economizar como para ampliar os limites operacionais de forma a atender a demandas de crédito mais expressivas), e, de outro, repensar o padrão de seus investimentos, otimizando-os, serão movimentos cuja eficiência fortalecerá o setor e alavancará a sua presença no mercado financeiro. 

* Sistema Financeiro Cooperativo Data-base: Terceiro Trimestre de 2014

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ENTREVISTA

Eduardo Felipe Matias

Por Thais Sena Schettino

MEIO AMBIENTE

Engajamento para O advogado Eduardo Felipe Matias, especialista em direito internacional, ganhador do Prêmio Jabuti em 2006, na categoria Economia, Negócios, Administração e Direito, não esconde sua preocupação com o futuro do planeta: “temos que mudar radicalmente a nossa forma de ser e viver. A crise ambiental veio mostrar que esse modelo do crescimento incessante não é viável, não é sustentável e que por isso é preciso repensar o modelo.” Em seu mais recente livro, A humanidade contra as cordas, o advogado apresenta dados, expõem estudos e não deixa dúvida de que estamos no caminho para o esgotamento dos recursos naturais. Mas sua visão não é pessimista, e, sim, realista. Existem soluções a serem buscadas, que passam pelo engajamento e pela adaptação das populações aos novos tempos. Confira!

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umos – A obra possui um formato diferente, em que o senhor pontua algumas passagens com um pouco de literatura, existe um personagem que permeia o livro. Por que a escolha dessa metodologia? Eduardo Felipe Matias – Eu crio este personagem no início do livro e ele volta a aparecer próximo ao meio e no final, exatamente para trazer o leitor para dentro do problema, para envolvê-lo nessa situação. O personagem é um professor e não tem nome, talvez seja esse o objetivo: tentar fazer com que as pessoas se identifiquem com este personagem e percebam que somos nós todos que estamos “contra as cordas”. Agora, o livro tem uma forma de apresentação que é muito didática, mas não é romanceada. A pessoa se envolve com essa situação do professor e provavelmente vai ler o livro como se estivesse participando daquelas aulas, mas se envolvendo com aquela realidade. Foi um objetivo de aumentar o envolvimento do leitor exatamente porque esse é um problema que só se soluciona com o envolvimento de todos nós. Como eu digo no livro, não é um problema que se resolve com uma ação de apenas um ou outro ator, depende do círculo virtuoso da sustentabilidade que envolve diversos atores, entre eles cada um de nós, cada indivíduo.

Rumos – O senhor defende que a busca pela sustentabilidade não é uma utopia, mas uma necessidade. Por quê? Ela é verdadeiramente viável? Matias – É importante ser realista na raiz do problema. Ser realista não significa ter posição derrotista, ao contrário, sig-

nifica entender que existem dificuldades, pois nos colocamos numa situação muito difícil; e entender que para sair dessa situação vamos precisar de um grande esforço. Realmente vamos precisar acionar diversos mecanismos, envolver diversos atores, e mesmo com todo esse esforço precisaremos enxergar de uma forma realista e entender que talvez algum grau, por exemplo, de mudanças climáticas ou de escassez de recursos, vamos vivenciar e precisaremos lidar com essa situação. Mas não fazer nada é muito pior, claro, então precisamos fazer alguma coisa. Rumos – No livro, o senhor faz uma comparação entre a crise financeira de 2008 e a crise de 1929. Não seria um exagero fazer essa relação ou o impacto da recente crise foi realmente comparável àquela grande crise mundial? Matias – A comparação das duas crises é válida porque foi a maior crise global após 1929, afetou o mundo inteiro e teve como epicentro os Estados Unidos, no centro nervoso do sistema econômico mundial. Então, de fato, foi uma crise muito grande. Parece que ela não vai durar tanto quanto a de 1929 e talvez não tenha efeito tão grande como foi. Mas eu acho que a comparação mais importante é entre as duas crises atuais: a crise financeira, de que bem ou mal o mundo está saindo, alguns países mais rápido que outros; e a crise ambiental. Aí é que está o grande paralelo. A crise financeira e a crise ambiental resultam de incentivos perversos. As duas são do mesmo tipo de mentalidade predatória que faz com que se leve em conta o curto prazo em detrimento do longo prazo. A mesma mentalidade que leva ao desequilíbrio financeiro, porque exis-

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uma nova realidade

A humanidade contra as cordas Eduardo Felipe P. Matias Paz e Terra, 364p., 2014.

Divulgação

tes muito sérios e resolver ou superar essas limitações depende, em grande parte, do papel do Estado, que não pode ser empresário. É uma lição que fica: o Estado não é um bom empresário e isso já foi assimilado, mas também não pode deixar de exercer uma função de supervisionar e de criar estímulos e incentivos positivos para o mercado. Essa crise veio mostrar que a desregulamentação total é perigosa em relação à globalização e, portanto, há de se ter cuidado. E a crise ambiental veio mostrar também que esse modelo do crescimento incessante, do crescimento que tem limite, também não é viável, não é sustentável e que por isso é preciso repensar o modelo. Repensar o modelo, que é baseado no consumo, para reformular o capitalismo para que ele possa sobreviver.

te uma preocupação em apurar lucros imediatos independentemente da capacidade dessas empresas de lucrar em longo prazo, leva também a esgotar os recursos naturais a curto prazo. Esse é o paralelo mais importante. A globalização, sobretudo no modo como é encarada hoje, é uma expansão do capitalismo, para um capitalismo de livre mercado, de desregulamentação da economia, e por aí segue. E o que a gente constatou com a crise de 2008, e tem constatado com a crise ambiental, é que esse modelo tem limi-

Rumos – Neste sentido, o senhor tem pontuado que é preciso ser criativo e encontrar saídas no capitalismo, e não fora dele. Isso é possível? Matias – É possível e, devo dizer mais, temos obrigação de tentar porque de fato o capitalismo, e mais que o capitalismo, a globalização tem condições para tal. A globalização pode ser vista como um inimigo, com essa ênfase no crescimento e na produção incessantes, mas ela também é um aliado à medida que se precisa de novas tecnologias de baixo carbono para combater principalmente as mudanças climáticas. É um poderoso aliado para espalhar mais rapidamente essas tecnologias, mas é preciso também uma nova mentalidade, que entenda que esse consumismo excessivo é prejudicial ao planeta. E como é que se vai espalhar essa mentalidade? Mais uma vez, é positivo você ter, talvez pela primeira vez na história, um

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ENTREVISTA

Eduardo Felipe Matias

mundo realmente interligado, interdependente, em que cada vez mais a influência cultural é recíproca. Respondendo à pergunta, sobre se é de fato possível, acredito que para reverter esse quadro é preciso transformar a nossa economia, caminhar realmente para uma economia verde e para uma sociedade mais verde, e para isso é importante a globalização. Ela pode ser maleada e, portanto, é possível sim. Agora, essa é uma visão realista. É possível dentro de determinadas limitações que existem, porque muitos países ainda precisam crescer, muitas populações ainda precisam ter acesso a bens materiais e por aí vai; e isso vai ter, quase que inevitavelmente, um efeito. Energias renováveis, por exemplo, que sejam menos nocivas ao meio ambiente numa escala necessária para atender grandes populações, é algo que pode levar mais tempo. Rumos – Nessa linha, o senhor sinaliza que pela primeira vez existe esse cenário em que a humanidade também dispõe de recursos para procurar essas soluções. Matias – É isso, precisamos destravar esse potencial criativo e empreendedor. Da mesma forma que o Estado tem um papel, uma vez que é ele que dá a sinalização de que as emissões de carbono e o uso excessivo de recursos deveriam ser penalizados de alguma forma, as empresas também têm que reagir a esses estímulos e gerar novas tecnologias. As empresas podem ser pressionadas e podem ser persuadidas; aliás, elas devem ser pressionadas e persuadidas. Pressionadas no sentido de que a regulação, o consumidor mais consciente ou outras empresas que já adotaram modelos mais sustentáveis pressionam para que essas empresas também o façam. E persuadidas no sentido de que temos que mostrar para as empresas que existe um business case, a sustentabilidade pode ser um bom negócio. Elas provavelmente terão melhor reputação, maior envolvimento com os seus empregados, poderão explorar novos nichos de mercado mais vezes, vão ter redução de custos, porque vão ser mais eficientes. Então, existem sim muitos motivos para convencer as empresas que a sustentabilidade é um bom negócio. Rumos – Seguindo o título da obra, o senhor coloca que a questão da sustentabilidade é uma luta contra a humanidade, contra nós mesmos: somos nossos próprios oponentes. Isso facilita ou complica esse confronto? Matias – Por que eu uso a imagem do boxeador? Porque é exatamente isso, em algum momento esse personagem explica que no final é uma luta: ficamos atordoados, ficamos contra as cordas e com dificuldade de reagir, e em determinado momento percebemos que o boxeador que está do outro lado somos nós mesmos. E a dificuldade é exatamente essa – percebemos que para mudar, para superar esse problema, temos que mudar radicalmente a nossa forma de ser e viver, e existe uma inércia muito grande, as pessoas continuam fazendo as coisas da mesma forma como sempre fizeram, é preciso romper isso. E de fato eu acho que dificulta. Dificulta porque se trata apenas de mudar as empresas ou só mudar os governos, temos que mudar toda nossa forma de ser e de pensar como sociedade. Então, de fato é uma missão difícil, mas é a missão do nosso tempo. É a missão da nossa era.

Fotos: Reprodução

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Reprodução de imagens da Crise Econômica Mundial, em 1929

Rumos – As campanhas globais de mobilização, como “Um Dia sem Automóvel”, podem levar a uma saída a essa inércia ou será preciso pensar em algo ainda mais revolucionário para fazer as pessoas buscarem alternativas? Matias – As campanhas ajudam, mas será preciso haver todas essas ações ao mesmo tempo agora. Esse é o ponto: é preciso criar um círculo virtuoso de sustentabilidade e todas essas ações ajudam. Quando se estimulam as empresas a perceberem que a sustentabilidade pode ser um bom negócio e faz-se com que elas se movam, é algo que ajuda. Quando uma empresa quer pressionar o seu fornecedor porque ela também quer ser mais sustentável, e então quer influenciar sua cadeia de suprimentos, ajuda. Também quando se diz que o governo tem que criar regulações que obriguem as empresas a serem mais sustentáveis – e talvez nada seja mais efetivo hoje em dia do que criar algum tipo de precificação do carbono, ou seja, atribuir um preço às emissões de gás de efeito estufa; isso pode ser feito por meio de um tributo, por meio de licenças de emissão, mas tem que existir, porque daria um sinal muito claro para as empresas, os mercados e para a sociedade de que o comportamento ao comprar um produto, ao fabricar um produto que tem alto grau de emissões de carbono em sua produção, prejudicial ao meio ambiente. Então, é a soma de todos esses pequenos mecanismos e ações que podem levar a reverter a situação atual. Rumos – Em suas palavras, nos livros e aulas que ministra, parece haver certo ceticismo quanto à efetivação dessas mudanças... Matias – O tom do livro é realista e ao ser realista não dá para simplesmente dizer “tudo vai se resolver num passe de mágica com a descoberta de uma nova tecnologia”, ou “com a criação de imposto sobre o carbono”, ou o que quer que seja. Ao contrário, temos que constatar que, mesmo com todas essas ações necessárias, ainda assim é possível que não dê tempo de deter absolutamente as mudanças climáticas, e aí é que entra a questão da adaptação. Hoje, a posição responsável diz que

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“A crise financeira e a crise ambiental resultam de incentivos perversos. As duas são do mesmo tipo de mentalidade predatória que faz com que se leve em conta o curto prazo em detrimento do longo prazo. A mesma mentalidade que leva ao desequilíbrio financeiro, porque existe uma preocupação em apurar lucros imediatos independentemente da capacidade dessas empresas de lucrar em longo prazo, leva também a esgotar os recursos naturais a curto prazo. Esse é o paralelo mais importante.”

nós temos que fazer todo o possível para resolver o problema e temos que fazer já. Agora, sendo realista, existem países que ainda vão continuar a crescer, muitos deles usando energias que ainda não são as mais limpas e, portanto, nós temos que pensar em alternativas que nos garantam ou que evitem outros problemas que podem surgir em decorrência das mudanças climáticas. Estamos falando basicamente de adaptação. O tom é realista. Não é cético no sentido de “isso não vai acontecer”; é realista no sentido de que, mesmo no melhor cenário... quer dizer, o melhor cenário seria de uma grande descoberta de uma tecnologia nova disruptiva que resolvesse o problema de fornecimento de energia do mundo e por aí vai; ou seja, isto é algo que é imponderável. Dentro do script normal, com todo esforço que pode ser feito, ainda assim é um esforço gigantesco e que provavelmente vai ser suficiente para resolver o problema em parte. Ele não vai deixar de ser feito porque senão o problema fica insolúvel e nos afeta de uma forma irreversível. Agora, sendo realista, tem que se pensar também em adaptação. Rumos – Existem algumas correntes de cientistas que divergem desse tom de que o aquecimento é provocado pelo homem, mas isso seria um ciclo do próprio planeta que tem fases de mais aquecimento. Em qual alinhamento o senhor se perfila? Matias – Essa é uma corrente que se contrapõe à imensa maioria dos estudos realizados dos últimos 50 anos. É muito complicado você questionar a ciência, até porque o efeito estufa é ciência básica. Existem duas coisas que são inegáveis: primeiro, o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre provoca aquecimento, porque a irradiação solar que vem para cá e parte dela é retida; segundo ponto, as medições todas de aumento dos gases do efeito estufa coincidem com a Revolução Industrial para cá. São duas coisas que são inegáveis. Estou falando de uma forma muito crua, algo que os cientistas têm comprovado de uma forma maciça nas últimas décadas. Se partirmos da premissa de que não existe o aquecimento global, ou de que o homem não é culpado pelo aque-

cimento global, realmente a discussão fica complicada, é bom nos basearmos na conclusão da comunidade científica. Rumos – O ponto é: além de todo esforço de convencer aquelas pessoas que já acreditam e que veem essas evidências a perceberem que têm que se mobilizar, há também a mobilização desse grupo que fatalmente ficaria na inércia. É nessa hora que o Estado deveria se impor junto a essas comunidades científicas que são descrentes e fazer efetivamente uma atuação mais forte, ou regulando, ou dando mais incentivos de pesquisa, ou efetivamente criando campanhas para fazer o engajamento? Matias – A conscientização é uma arma. Algumas das armas que eu menciono no livro para vencer essa luta pela sustentabilidade, uma das mais importantes é a educação. Se não se educar a população e se as pessoas desde cedo não entenderem a gravidade do problema e as necessidades de zelar pela sustentabilidade, de fato as chances desse círculo virtuoso acontecer são pequenas. E, por outro lado, quando há essa educação – e aí o Estado realmente tem muita importância –, há uma conscientização maior, se formam não só consumidores que vão forçar as empresas a se preocuparem um pouco mais com a sustentabilidade dos seus negócios, mas também eleitores mais conscientes. O eleitor também tem a sua arma, que é o voto para eleger políticos que também levem em conta, ou se preocupem com a sustentabilidade. Então, estamos estimulando esse círculo virtuoso da sustentabilidade: a pessoa mais consciente pressiona as empresas, que pressiona os governos, e aí por sua vez os governos vão pressionar as empresas que não estão conscientes, vão estimular a pesquisa e desenvolvimento de novas soluções tecnológicas, as pessoas vão comprar esses produtos que vêm dessas fontes mais sustentáveis etc. Vai criando um círculo virtuoso, no qual a opinião de alguns poucos que vão contra as evidências científicas tem muito pouco peso. Sempre vão existir, mas eles vão ter muito pouco peso em relação ao que é a consciência coletiva e ao que é e ao que está acontecendo de fato. 

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REPORTAGEM

GESTÃO

Por Luciano Silva

Mais integrado Após longo processo, o BNDES implanta novo sistema de gestão, amparado na plataforma SAP, que permite maior interlocução entre as áreas do banco e muda a infraestrutura tecnológica da instituição; mais de 200 funcionários foram envolvidos, no que se transformou no maior projeto corporativo da história da instituição. Gerentes e superintendentes falam das dificuldades e lições aprendidas durante os cinco anos de construção

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aseado no tripé processos, tecnologia e pessoas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concluiu no fim de 2014 a implantação de um conjunto de ferramentas que, após cinco anos de construção coletiva e compartilhada, está mudando a infraestrutura tecnológica de um dos motores do desenvolvimento brasileiro. O Programa de Aplicativos de Mercado (PAM) interligou alguns sistemas de gestão da instituição, com impacto sobre todos os seus processos de back office. O PAM consiste em um sistema integrado de processos e rotinas de trabalho, que une os setores do banco por meio de um software já existente no mercado, mas personalizado para atender as necessidades da instituição – a plataforma Entreprise Resource Planning (ERP), contratada da empresa alemã SAP, líder mundial em soluções de negócios colaborativas e multiempresas. A construção da plataforma, com participação das diversas áreas do banco, se transformou no maior projeto corporativo da história do BNDES, com o envolvimento de 200 funcionários e 120 colaboradores terceirizados. Carlos Cotovio, superintendente da Secretaria de Gestão do Projeto Agir (Ação para Gestão Integrada de Recursos), área onde foi desenvolvido o programa, enfatiza que o projeto está em momento de estabilização, após longo processo de implementação. Para ele, o projeto teve percalços, mas foi exitoso. “Foi um processo importante, em que fizemos várias entregas, mas também difícil e com percalços, pois uma empresa não apenas implanta o SAP, ela sofre a implantação. Não é um caminho fácil e agora estamos passando por um momento de estabilização da solução”, comenta. Com o sistema, existem novas funcionalidades à disposição das áreas do banco, garantindo maior confiabilidade e eficácia no desenvolvimento de suas atividades. As melhorias incluem desde a implantação da gestão da frequência eletrônica à arquitetura digital para a realização de compras no rito da lei de licitações até o envio de material aos conselheiros,

com possibilidade de consulta por meio móvel. Para o chefe do Departamento de Processos e Gestão de Mudanças do Agir, Leopoldo Orsini, é imperioso para o banco buscar as mais modernas ferramentas que lhe permitam estar de acordo com as exigências públicas e do mercado.“O que tínhamos antes eram sistemas muito engessados, que não permitiam a gestão da informação de forma integrada e com a qualidade que se tem hoje. Era um caminho inexorável, o banco teria que pensar nisso de qualquer forma”, resume. No mesmo sentido, o gerente de Processos do Agir, Vinicius Correa, afirma que esta era uma “não-questão”: pelo crescimento contínuo que o banco tem observado nos últimos anos, a adoção de sistemas novos e integrados, em um ambiente de informações mais confiável, transparente e rastreável era fundamental. “O banco não pode optar por fazer ou não fazer um projeto de integração e modernização na área de processo e tecnologia. É mandatório que façamos isso para que possamos responder não só às questões que surgiram nos últimos dez anos, mas àquelas que porventura virão”, diz. História – O PAM foi concebido dentro do projeto Agir, uma iniciativa do banco reunida desde 2006 sob forma de secretaria, que busca refinar os processos de trabalho e informatizá-los de maneira integrada. Em meados de 2004, o BNDES decidiu contratar um sistema de gestão já disponível no mercado, mas a ideia foi logo repensada: antes da compra do software, era preciso mapear os processos, analisá-los e definir de que forma seriam apoiados por novos sistemas. Em outubro de 2009, o PAM começou a ser de fato implementado, em um trabalho que envolveu diretamente nove áreas do banco – além da própria equipe do Agir, as áreas de Tecnologia da Informação, Recursos Humanos, Administração, Jurídico, Auditoria, Financeira, Gabinete da Presidência, Planejamento e Gestão de Riscos participaram do processo. Alguns funcionários dessas áreas chegaram a

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SXC

ser deslocados de seus setores originais para a secretaria do Agir por longos períodos e formaram uma só equipe, que discutiu e planejou as melhorias necessárias para que o sistema de gestão do BNDES pudesse servir a toda a empresa, de forma integrada e organizada. “O Agir foi o primeiro projeto do BNDES que teve como um fator crítico de sucesso a criação de uma secretaria específica, com status de área. O banco sempre utilizou a metodologia de grupos de trabalho, em que as pessoas dedicavam algum tempo do dia a determinada iniciativa. Só que neste sabíamos que precisávamos de um grupo que trabalhasse integralmente no projeto, full time”, conta o gerente de Gestão de Mudanças do Agir, José Paulo Farah. Depois de identificados mais de 50 processos existentes no banco, que se desdobravam em 340 subprocessos, com elevado grau de autonomia e baixa interlocução, foi contratado o software de gestão da SAP. A um sistema já existente e testado no mercado foi preciso uma forte adaptação e personalização para que se adequasse às necessidades do banco e aos diagnósticos elaborados ao longo da fase de mapeamento. O PAM foi implantado em três ondas, concluídas no fim de 2014. No primeiro momento, a implantação se deu nas áreas financeira e contabilidade. Depois, simultaneamente, as duas últimas ondas contemplaram as demais áreas do banco e um complemento e aperfeiçoamento na área financeira. No fim, mais de 97% dos requisitos funcionais possíveis foram executados – alguns pactuados inicialmente deixaram a lista por motivos vários, como mudanças na legislação. “Se tivesse que atribuir uma nota para todo o processo, daria entre sete e oito. Não fomos brilhantes, mas passamos de ano”, afirma o superintendente do Agir, ressaltando que o processo se deu em uma realidade muito próxima, o que difi-

culta uma avaliação mais precisa da implantação. “Mas tenho confiança de que essa nota vai aumentar ao longo do tempo, com a consolidação do sistema”, completa. Durante o evento que celebrou o encerramento do programa, o presidente da instituição, Luciano Coutinho, afirmou que os benefícios alcançados pelo extenso trabalho “reduzem o risco e tornam o sistema mais eficiente e menos fragmentado”. Mudanças – Além de mudanças técnicas, que aumentaram o nível de interlocução do sistema, o novo software trouxe alterações palpáveis aos funcionários, com novidades que aos poucos estão sendo incorporadas por todos os setores. “Projetos desse tipo, que impactam o dia a dia do trabalho do funcionário, precisam de uma terceira dimensão, que são as pessoas. É preciso olhar para os processos e as tecnologias, mas também para as pessoas. Projetos de transformação sempre trazem um índice de desconforto, estamos trabalhando para que as pessoas passem por essa mudança da forma mais confortável possível”, comentou o gerente Farah. Uma das principais melhorias diz respeito ao processo de compra e contratação de bens e serviços. Devido ao novo sistema, hoje o banco opera integralmente, dentro do rito eletrônico, a Lei 8.666, que rege as licitações no país. Há alguns anos, uma avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU) havia criticado a falta de desenvolvimento de soluções para a utilização plena da lei pelas estatais brasileiras. “O BNDES está dentro do compliance da lei, de forma absolutamente eletrônica. O processo de compra do banco hoje, tanto para contratações diretas quanto para licitações, é eletrônico e segue o rito preconizado na lei”, garante o chefe de departamento Orsini.

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REPORTAGEM

GESTÃO

O superintendente da área Jurídica do banuma boa implantação do SAP ou qualquer outro sistema de co, Hugo Ribeiro Ferreira, conta que, para atengestão. “Antes de implantar o sistema, tem que mapear o proder plenamente ao setor, que possui demandas cesso, avaliar e otimizá-lo. Senão, o sistema pode perpetuar muito específicas de sistema, foi necessário busum processo que não é bom. É imprescindível esse mapeacar outro software, também já conhecido no mermento e otimização para que dê certo”, aconselha Chacur. cado, que foi incorporado à plataforma SAP. Para acompanhar a implantação, três funcionários da área Um dos principais ganhos foram direcionados ao Agir e puderam para a área, segundo Ferreira, deve ser fazer a interface entre o que o sistema alcançado ao longo do tempo: a perceppodia oferecer e as demandas e possibição por toda a instituição do setor Jurílidades do setor. Uma dessas funcionáriEste é um projeto dico como parte do processo de negócio as, Camila Carvalho da Costa, avalia que do banco. a metodologia utilizada foi crucial, pois que mexe com as “O processo não foi livre de sofria combinação de especialistas oriundos pessoas, então tem mentos, especialmente porque não das áreas com os técnicos do software posuma resistência tinha um módulo jurídico que satisfizessibilitou melhores resultados na implannatural, se nossas expectativas, então tivemos tação. “O desafio agora é fazer com que que buscar outra solução no mercado, o banco tenha a cultura de usar o sisteespecialmente com que foi acoplada ao SAP. Mas certamenma, precisaremos difundir a utilização um sistema desse te foi um ganho em termos de agilidade dessas ferramentas que, no caso da nostamanho. Nem todos e transparência, o que fez com que sa área, permitem que tenhamos uma os ganhos estarão atuássemos de outra forma e será pricoleta de informações mais estruturada mordial para que a área seja percebida de e menos dispersa”, diz. visíveis neste primeiro forma mais integrada ao banco”, afirma. Até mesmo situações mais simples, momento, mas Opinião semelhante possui o supedo dia a dia do banco, ganharam novo acreditamos que nos rintendente da área de Administração, padrão de confiabilidade com o novo próximos dois anos Carlos Roberto Haude, que também sistema: um exemplo é o envio de mateconsidera prematura uma avaliação riais para os representantes do Consejá estejam mais conclusiva sobre o sistema. Em lho de Administração do BNDES. mais claros. seu setor, a implantação foi finalizada “Antes, os dados eram enviados por em dezembro de 2014. “Já percebemos mídia física para os conselheiros. melhorias em muitos processos, sobreInformações confidenciais, importanCarlos Cotovio, superintendente da Agir tudo os mais rotineiros, em que obtivetíssimas, enviadas em CD pelos Corremos ganhos de tempo, maior controle e ios, o que é um risco, além de todo cussegurança gerencial. Contudo, em proto envolvido. Agora, são enviados de cessos mais complexos, o sistema não conseguiu nos atenforma virtual e os conselheiros podem acessar inclusive no der plenamente, então será preciso uma complementação a celular, em um sistema superseguro, com dupla autenticaser desenvolvida pelo próprio corpo de analistas do banção”, contou Orsini. co”, conta. Estes exemplos são apenas uma amostra das mudanças Durante o processo do PAM, 14 funcionários de sua área que o programa tem inserido na rotina da empresa. Para o (correspondente a 10% do total) foram deslocados para a gerente Correa do Agir, no entanto, o principal ganho da aquiequipe do Agir, sendo que nove permaneceram integralmensição de um sistema de mercado é que, para além dos proceste dedicados ao projeto por dois anos. Essa metodologia persos já existentes, ele equipa o banco para enfrentar novas obrimitiu que os funcionários do banco deslocados garantissem gações e desafios. “Um sistema de mercado, qualquer que a continuidade das informações mesmo com eventuais seja, tem um fluxo de evolução constante e contínuo, e o banmudanças na equipe de consultores. Para as empresas que co está preparado para seguir esse movimento. A SAP vai landesejam realizar processos com esse nível de complexidade, çar suas novas versões no futuro, e poderemos atualizar nosHaude tem um conselho: “É muito importante que a empreso sistema de forma mais fácil. Isso vai valer daqui para a frensa envolva desde o início as pessoas que farão a sustentação te: qualquer nova atualização ou novo sistema vai estar dispodo sistema no futuro, para que elas se inteirem de todo o pronível para o banco decidir usar ou não”, completa. cesso. Isso é um grande facilitador”. O superintendente do Agir, Carlos Cotovio, acredita que Outra área que também serve de exemplo ao citar o proeste foi um salto importante para a instituição e faz um jeto é a de Gestão de Riscos, que foi totalmente equipada nesbalanço do processo: “Foram muitas as lições aprendidas sa implantação, uma vez que não possuía sistema informatidurante a implantação. A principal delas é que este é um prozado para seus processos de gestão de risco operacional. O jeto que mexe com as pessoas, então tem uma resistência superintendente da área, Maurício Chacur, ressaltou a comnatural, especialmente com um sistema desse tamanho. plexidade do processo, que tem saldo positivo desde que foi Nem todos os ganhos estarão visíveis neste primeiro implantado no início de 2013. Para ele, a avaliação dos promomento, mas acreditamos que nos próximos dois anos já cessos já em operação na instituição é fundamental para estejam mais claros”.  RUMOS – 24 – Janeiro/Fevereiro 2015


EM DIA ECONOMIA

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A construção de uma infraestrutura financeira

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André Perfeito Economista-Chefe da Gradual Investimentos.

Brasil está passando por um choque anafilático. Um choque deste tipo se caracteriza na medicina por uma reação alérgica do corpo a algum agente externo e a reação é violenta, podendo obstruir as veias respiratórias e levar a óbito. A solução nesse caso é, num primeiro instante, injetar adrenalina para fazer o coração reagir aos primeiros sintomas e assim manter o paciente vivo. Vivemos um momento análogo na Política Monetária e a queda da taxa SELIC até o patamar mínimo de 7,25 em 2012 criou uma reação violenta no sistema financeiro como um todo. Em 2005 a taxa de juros real era em torno de 12%, em 2012 ficou abaixo de 1,5%. Isto criou um fenômeno previsível, mas extremamente áspero na confiança empresarial. A queda das taxas de juros implica necessariamente numa alta dos preços dos ativos dada a maior disponibilidade de crédito na praça. Os preços dos ativos sobem fazendo com que seu retorno caia ao longo do tempo, um fenômeno análogo ao que acontece no mercado de títulos. Simultaneamente, e talvez por isso mesmo, os salários subiram na esteira da queda da taxa de desemprego, forçando assim os lucros empresariais para baixo. Este estado de coisas fez algo novo acontecer no Brasil; com os juros em queda e o salário em alta, ganhar dinheiro no Brasil ficou mais difícil. Quando tínhamos uma taxa de juros real de 12%, como foi em 2005, isto implica dizer que todas as outras taxas de rentabilidade estão muito mais altas, caso contrário o dinheiro migraria para aplicações e não para investimentos. Em 2005, o PIB crescendo a 5%... A queda da taxa de juros por si só traria desconfortos, afinal “ganhar dinheiro” no Brasil ficou mais difícil, mas não foi só isso. Após anos de queda lenta e gradual da SELIC, isso forçou que parte da indústria financeira deixasse de ficar pós-fixada para ficar pré-fixada, logo acreditando que os juros continuariam a cair. De fato a compo-

sição da dívida pública se alterou, em 2003 cerca de 50% da dívida mobiliária federal era pós-fixada via LFT, hoje não passa de 20% e a parcela pré-fixada pulou de menos de 3% para mais de 40%. Este processo foi acompanhado por uma mudança substancial da duração da dívida pública, que passou de poucos dias para alguns anos nos dados recentes. A dívida pública amadureceu, o país mudou, mas o mercado financeiro não acompanhou as mudanças com raras exceções de empresas financeiras que entraram pesado no mercado de crédito privado. A queda da taxa de juros é um processo qualitativo e não quantitativo. Cortar a taxa de juros tem que vir associado com mudanças na percepção sobre o “estado dos negócios”. Uma indústria financeira que viveu anos com juros reais altíssimos simplesmente não estava preparada fisicamente para “mudar a mão”. Neste sentido, a indústria financeira não diminuiu a assimetria de informação, mas sim aumentou a assimetria. A elevação da taxa de juros e a queda dos salários que iremos verificar com o aumento do desemprego é uma tentativa de voltar para a antiga zona de conforto dos juros elevados em todas as classes de ativos. Antes de nos aventurarmos a fazer o investimento surgir, temos que criar uma infraestrutura financeira no país e isso ocorrerá com uma sinalização clara de que os juros longos cairão e de mudanças microeconômicas que visem facilitar o trabalho na “minha indústria”. É um processo difícil, mas há uma nova geração de profissionais financeiros que não aceitam mais o jogo viciado de juros públicos elevados. Queremos e podemos diversificar, mas para isso acontecer o governo tem que entender que os juros são o ponto de apoio do futuro, não o futuro em si; não adianta cortar a taxa de juros para além do que a economia pode aguentar. 

“O governo tem que entender que os juros são o ponto de apoio do futuro, não o futuro em si”

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SUL

AGRONEGÓCIO

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EXTREMO

Por Jader Moraes

Feira de oportun Safra recorde de 2014 anima a participação do BRDE em uma das principais feiras do setor agropecuário no país; Expodireto reúne mais de 200 mil visitantes de diversas partes do mundo em busca de oportunidades de negócio

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Divulgação/Cotrijal

resente desde a primeira edição da Expodireto, instituição, que foi classificada como o “banco das cooperatiuma das mais importantes feiras agropecuárias do vas” pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico país, organizada pela Cooperativa Agropecuária e e Social (BNDES). “Foi o reconhecimento de que somos Industrial (Cotrijal), o Banco Regional de Desenlíderes no financiamento das cooperativas em todo o país, volvimento do Extremo Sul (BRDE) participa da então vamos ratificar essa nossa posição”, diz Leitzke. 16ª edição do evento, em março, com expectativa de ampliar Para o diretor Hoffmann, o destaque do banco no apoio a interlocução com produtores e reforçar sua forte relação ao sistema de cooperativas, reconhecido nacionalmente, com as cooperativas agrícolas da região. Apesar do momento torna fundamental a presença do BRDE na feira. “Nossa de incerteza no cenário econômico brasileiro, o banco espera participação é muito importante porque somos um banco repetir, durante os cinco dias da feira (entre 9 e 13 de março), das cooperativas. Como o evento é organizado por elas, se o volume de negócios alcançado na última edição do evento. não estivéssemos estaria faltando uma perna. Em 2014 A expectativa é baseada nos bons resultados da safra nacifomos agraciados como o banco que mais apoia as cooperational, que atingiu recorde de 192,8 milhões de toneladas de vas, então só isso já justificaria nossa presença”, reforça. grãos em 2014 (ver boxe) e há a perspectiva de repetir o bom Segundo o gerente Leitzke, praticamente todas as coopedesempenho em 2015. Como explica o diretor de Acomparativas que participam da feira possuem algum tipo de relacinhamento, Planejamento e Recuperação de Créditos do banonamento com o banco – a maioria integra a carteira da instico, José Hermeto Hoffmann, várias linhas de crédito do Plano tuição. Sobre a Cotrijal, especificamente, o gerente lembrou Safra ainda vigoram com juros do ano passado. “Esse é um que a cooperativa e o banco possuem uma relação que extrafator muito favorável aos negócios, a excelente safra que tivepola a questão puramente financeira e cita os convênios de mos no país. Por isso a nossa expectativa inicial é de manter o apoio técnico existentes entre as instituições. “Quando a volume de investimento, mesmo que não tenhamos uma Cotrijal propôs a feira, ainda no ano 2000, fomos parceiros conjuntura econômica favorável neste momento”, comenta. desde o primeiro instante”, recorda. Outro ponto que reforça Direcionada aos agriculessa expectativa é a sólida tores, profissionais de assisrelação construída entre o tência técnica, empresários, banco e as cooperativas do sul estudantes e outros segmendo país. De acordo com o tos ligados ao agronegócio, a gerente de Planejamento do feira este ano tem como tema BRDE, Alexander Leitzke, “Negócios que inspiram o depois de alguns anos em que amanhã” e acontece no munia instituição priorizou os cípio de Não-Me-Toque, no negócios com os produtores, Rio Grande do Sul. O evento nesta edição o foco será retoreúne, em seus 84 hectares, mado para as cooperativas. cerca de 515 expositores e A estratégia vem como recebe mais de 230 mil visireforço ao reconhecimento A exposição ocupa 84 hectares e tem cerca de 515 estandes. tantes, do Brasil e do exterior. obtido recentemente pela O presidente da Cotrijal, RUMOS – 28 – Janeiro/Fevereiro 2015


Nei César Mânica, mostrou otimismo em relação ao volume de negócios a serem realizados no evento. “O produtor encontrará os mais diversos lançamentos e oportunidades de negócios. Serão cinco dias voltados para o desenvolvimento rural, com eventos direcionados para o homem do campo e lançamentos em diversos setores da feira, tanto em máquinas quanto em produção vegetal e animal”, afirmou o presidente no lançamento do evento.

Aline Tyska

idades Equipe da Cotrijal, liderada pelo presidente Nei Mânica, com o diretor Hoffmann e o gerente Alexander Leitzke.

Negócios – A participação do banco se dá principalmente por meio de um importante espaço de exposição, onde o BRDE recebe produtores rurais, cooperativas, empresas agropecuárias e outros parceiros regionais e nacionais interessados em ampliar as relações institucionais ou buscar financiamento para suas atividades produtivas. Além da presença no estande, os técnicos da instituição também fazem visitas a outros espaços da feira, para buscar oportunidades de parcerias e negócios junto a outros expositores, e o banco está presente em espaços institucionais do evento.

Safra bate recorde em 2014 e a expectativa para 2015 é de mais crescimento No início deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou as previsões de safra recorde em 2014: segundo consta no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), a produção total de cereais, leguminosas e oleaginosas chegou a 192,8 milhões de toneladas no ano, resultado 2,4% acima da safra nacional de 2013, que foi 188,2 milhões de toneladas. Para 2015, as projeções são ainda melhores e indicam novo recorde de produção. O prognóstico da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas indica uma safra de grãos de 202,9 milhões de toneladas, resultado 5,2% superior a 2014. A produção de soja em 2015, tal como em 2014, deverá ser destaque, reflexo dos preços que, apesar de terem baixado no último ano, permanecem bastante favoráveis quando comparados a outras commodities.

O gerente da Região do Planalto, Miguel Oliveira, que acompanha a feira desde sua primeira edição, acredita que a presença do BRDE visa, de um lado, tornar a instituição mais conhecida; e de outro, desmistificar uma suposta inacessibilidade do crédito. “Ou seja, queremos mostrar a forma de se chegar ao crédito e que somos bastante acessíveis aos produtores, destacando que o processo de solicitação é simples”, explicou. O gerente explica que a participação do BRDE na feira sempre foi importante para levar o banco para perto do produtor, especialmente em um momento em que a instituição só possuía uma única unidade fora da capital, na cidade de Passo Fundo. A partir da presença na feira, o banco estabeleceu um canal direto e tornou as linhas de crédito mais acessíveis. “É um espaço onde podemos receber o produtor, falar sobre as linhas e condições e, ao mesmo tempo, registrar os dados e expectativas desses produtores para podermos identificar futuros investimentos”, comenta Oliveira, ressaltando que muitos resultados são colhidos no pós-feira, com os contatos colhidos no evento. O gerente Alexander Leitzke lembra que o agronegócio passa por um bom momento e isso pode impulsionar os negócios este ano. “A Expodireto é, junto com a Expointer, um dos principais momentos de captação de negócios do banco ao longo do ano. Sabemos que, devido à situação da economia, há certo receio do empresariado em geral em investir; mas o agronegócio vive um bom momento, a safra foi muito boa, e acreditamos que os produtores continuarão a fazer investimentos”, repete. Nas últimas três edições da feira, o banco recebeu mais de 350 solicitações de financiamento ao longo do evento, que levaram a um volume de negócios de R$ 534 milhões. Em 2014, a Expodireto atraiu visitantes de 77 países, e o volume de negócios assinados pelos 505 expositores chegou ao recorde de R$ 3,2 bilhões, resultado 27% superior ao do ano anterior. 

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Por Carmen Nery

A confiança expressa em uma nota Instituições financeiras recorrem a agências de classificação de risco para obter o grau de investimento, uma nota que sinaliza para o mercado a capacidade do banco de desenvolvimento ou agência de fomento em honrar seus compromissos. A Rumos ouviu as principais empresas de classificação que atuam no país. Conheça como funcionam e qual a importância de obter um rating

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ada vez mais Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs) estão recorrendo às agências de classificação de risco de crédito como uma das formas de terem acesso a fontes alternativas de recursos, sobretudo no exterior. Os bancos de desenvolvimento poderão ampliar o volume de emissões de letras financeiras (Resolução 4.123 do Banco Central – BC) e as agências de fomento precisam do rating com grau de investimento para acessarem as linhas provenientes de organismos multilaterais e instituições financeiras internacionais de desenvolvimento – como prevê a Resolução 3.757 também do BC. O rating é uma exigência dos mercados para captações financeiras e emissões de dívidas e as agências e bancos em expansão estão recorrendo às classificações para terem acesso a esses mercados. As agências de classificação de risco foram criadas no início do século XX com a função de organizar e qualificar produtos financeiros ou ativos de empresas, bancos, governos e países. O objetivo da classificação é mostrar a capacidade de pagamento de dívidas no prazo prometido. No caso de países e seu banco central, o risco de inadimplência é chamado de risco soberano. Quando se avalia o conjunto de instituições de uma nação, o conceito é de risco país. As três principais agências de risco – Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s (S&P) – adotam cada uma sua própria metodologia. Geralmente, utiliza-se a escala A, B, C, D. Na escala da S&P e da Fitch, a melhor classificação é AAA; a pior é D. Já na escala da Moody’s, a melhor classificação é Aaa e a pior é C. Notas acima de BBB- (Fitch e S&P) ou Baa3 (Moody´s) dão ao agente o grau de investimento, enquanto os classificados abaixo dessas notas recebem o grau de especulação. A critério do contratante, a classificação de risco pode ser

divulgada ou manter-se confidencial. Além disso, a qualquer momento, a classificação pode ser revista e alterada – tanto para cima (upgrade) como para baixo (downgrade) –, caso a avaliação do risco de crédito atribuído à empresa ou ente público se modifique. As agências colocam os avaliados ainda em perspectiva que indica mudança iminente na classificação, que pode ser perspectiva positiva ou negativa. Em meados de 2013, a Moody’s colocou o Brasil em perspectiva negativa, o que pode indicar um rebaixamento do rating atual, mas2 que ainda é grau de investimento. As agências de classificação de risco têm procurado deixar claro que o rating não passa de uma opinião, não se aplicando como recomendação de investimento ou como segurança de que não há risco e menos ainda com valor de auditoria. A crise financeira de 2008 deixou claro que as agências também erram em suas avaliações e, como nos casos da seguradora AIG e do Banco Lehman Brothers, erram muito. Até seis dias antes do colapso do referido banco, a S&P manteve o rating de grau de investimento do banco de “A”. A Moody’s manteve o rating até um dia útil antes que o banco entrasse em colapso. Desde então, as agências vêm sendo alvo de críticas e o principal argumento contrário ao modelo é o fato de que elas são remuneradas pelos clientes que têm de avaliar. “Um triple A significa pouco risco, mas não risco zero. A Fitch e a S&P têm escalas com 20 notas. Quando uma instituição emite um título de dívida, faz um empréstimo junto a investidores anônimos, que não têm uma estrutura de avaliação de risco de crédito como um banco que faz um empréstimo. O rating dá ao investidor uma ideia do risco, mas é só uma opinião sobre o risco de falência e não uma garantia de que não vai haver perdas”, observa Patrick Behr, professor de Finanças da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da

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Noel Joaquim Faiad

Fundação Getulio Vargas (Ebape/FGV). Ele explica que as agências não são infalíveis, pois nem sempre conhecem totalmente o passado e certamente não podem prever o futuro. “Um exemplo foi a falência da Enron, em 2003, o que provocou várias mudanças na regulação das agências de risco pelo congresso americano em 2006”, lembra Behr. Apesar das mudanças regulatórias, elas não foram suficientes para barrar nova crise em 2008. O professor observa que as agências se depararam com instrumentos mais complexos de subprime e securitização. “A grande dúvida é se erraram porque quiseram fazer um favor a quem emitiu os títulos ou porque eram cenários realmente muito complexos. O grande problema é que quem paga as agências é quem emite a dívida e há quem considere que elas tenderiam a dar um rating favorável. Mas elas alegam que se fizerem isso perderão a reputação. Se é verdade ou não, é difícil de avaliar”, resume. Existem discussões em todo mundo sobre quem deve pagar pelo rating e há quem defenda que, para tornar o modelo

mais transparente, o pagamento deveria caber ao investidor, algo que é difícil de operacionalizar dada a pulverização dos investidores, além do risco de isso onerar os negócios. Mesmo assim, já há experiências como a da Egan Jones, agência independente que começou a prestar ratings em 1995 e ganhou credibilidade sinalizando as falhas da Enron e da WorldCom. A grande diferença é que a agência não é remunerada pelas empresas que avalia e sim pelos investidores. O tema também está em discussão no interior do Brics. O bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que recentemente formalizou a criação de um banco de desenvolvimento, estuda criar uma agência de classificação de risco própria, para servir de alternativa às três grandes empresas que hoje dominam o mercado, responsáveis pela avaliação de 95% das dívidas em nível global. Especialistas dos cinco países estão em diálogo e a questão deve ser apresentada na próxima reunião do grupo, em março. Apesar dos questionamentos, as agências de rating ainda são consideradas a melhor forma de sinalizar riscos de merca-

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do. Segundo Esin Celasun, país pode obter nota acima desses tetos. diretora de instituições finanOutro rating importante na avaliação ceiras da Fitch, a agência da Fitch é o Rating de Suporte, que mostra atribui notas separadamente não apenas a capacidade, como também a para capturar a situação propensão de o acionista ou de um país financeira creditícia de um socorrer a instituição, caso ela não consiga banco (refletida em seu Rating fazer frente aos compromissos (default). de Viabilidade – RV) e a probabilidade de Instituições financeiras diretamente que ele venha a receber suporte caso ligadas ao governo seguem a classificação necessário (refletida em seu Rating de do risco soberano (BBB) com Rating de Suporte – RS). O rating global de longo Suporte 2 numa escala de 1 a 5, sendo 1 o prazo de um banco, denominado na agênmais alto. cia de IDR (Issuer Default Ratings – ou “A maior parte dos bancos de desenRating de Probabilidade de Inadimplência volvimento e agências de fomento avaliado Emissor) e os riscos de emissões são Esin Celasun, da Fitch Ratings. das pela Fitch têm um nível de suporte 2 derivados do Rating de Viabilidade e do que significa que a probabilidade de Rating de Suporte. socorro é alta. Acima desse rating, só o De acordo com a metodologia adotada pela Fitch, os IDRs nível 1 de propensão e capacidade extremamente alta”, acresdas instituições financeiras normalmente classificam o risco de centa Esin. inadimplência em relação às obrigações seniores (as primeiras a Os bancos federais – Banco Nacional de Desenvolvimenserem pagas) perante terceiros, credores não governamentais. to Econômico e Social (BNDES), Banco da Amazônia, Banco A agência adota para o IDR final o que for maior entre o do Nordeste (BNB), Caixa Econômica Federal (CEF) e primeiro nível de IDR de longo prazo que a instituição poderia Banco do Brasil (BB) – têm rating global de longo prazo em alcançar individualmente (sem suporte) conforme refletido no moeda estrangeira equivalente ao rating soberano do Brasil seu Rating de Viabilidade, ou com base unicamente no suporte (BBB), baseado no suporte do governo federal, e rating nacioexterno. nal AAAbra. As agências de fomento AgeRio (BBB-/AA-Bra) O Risco de Viabilidade individual de uma instituição [artigo ao final desta reportagem] e Fomento Paraná (BBB-/AA+), financeira é avaliado com base em cinco fatores: o ambiente têm nota baseada na classificação do governo estadual, assim operacional; o perfil da companhia; a administração; o apetite como o Banco de Brasília (BRB) que é baseado no rating do de risco; e o perfil financeiro. O RV classifica o risco de que Distrito Federal (BBB-/AA-). uma instituição financeira pode vir a falhar, seja tornando-se “Esses bancos federais são bastante dependentes do sobeinadimplente ou vindo a precisar de receber suporte extraordirano e nesse sentido não atribuímos nem o Rating de Viabilidanário ou impor perdas em relação às suas obrigações subordide, à exceção do BRB e do Banco do Brasil, que consideramos nadas (aquelas que são efetuadas apenas após o pagamento bancos comerciais. O rating IDR de longo prazo é baseado das obrigações seniores), para restabelecer apenas no Rating de Suporte”, explica sua viabilidade. Lopes. “No Brasil trabalhamos com duas No caso da Moody’s, a metodologia escalas: uma nacional e uma internacional. para a área financeira tem como ponto de Os ratings na escala internacional são compartida o perfil de risco de crédito isolado parados com as classificações divulgadas da instituição denominada Bank Financiglobalmente. Na escala internacional, há al Strenght Rating (BFSR) e que tem dois ratings principais de longo prazo: um escala de A a E. Alexandre Albuquerque, para moeda local e outro para moeda analista financeiro da Moody’s, explica estrangeira. A diferença é que o primeiro que essa escala é transportada para a não considera os riscos de transferência escala de rating de dívida e depósito que ou conversibilidade da moeda e normalvai de Aaa a C. Com a conversão, a agênmente é utilizado para avaliar a capacidade cia traça o Perfil de Risco de Crédito de se honrarem obrigações em moeda Individual (Baseline Credit Assessment – local dentro do país. O rating de moeda BCA), que mostra a capacidade de um estrangeira considera os riscos de transfebanco em honrar seus compromissos Alexandre Alburquerque, da Moody’s rência do país no exterior. No caso do sem nenhum tipo de suporte externo. Brasil, o rating soberano em moeda local e Na escala da Moody’s, o rating mais em estrangeira é o mesmo BBB”, diz Esin. elevado é Aaa, seguido por Aa com marcadores de 1 a 3; A de 1 Jean Lopes, diretor da área financeira da Fitch, explica que, a 3; Baa de 1 a 3; Ba de 1 a 3; B de 1 a 3; Caa de 1 a 3; Ca de 1 a 3, geralmente, o rating do país é o máximo que uma empresa e C. De Aaa a Baa3 é classificado como grau de investimento. pode alcançar. O Brasil tem grau de investimento, com nota De Ba para baixo é grau especulativo. BBB na Fitch, BBB- na S&P e Baa2 com perspectiva negativa O BFSR é usado apenas para bancos comerciais como o na Moody’s. Praticamente nenhuma empresa ou instituição do Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco do RUMOS – 32 – Janeiro/Fevereiro 2015


Nordeste na classificação da Moody’s. Bancos de desenvolvimento como o BNDES e o BDMG são classificados como Emissores Relacionados ao Governo (GRI, em inglês) e como não têm depósito, têm apenas o Rating de Emissor, que tem por base Rating de Suporte. Nesse caso, a Moody’s usa a metodologia de Análise de Default Conjunto (Joint Default Analysis – JDA), que faz a correlação entre o crédito dos GRIs e de seus governos de suporte centrais, regionais e locais. No caso do BNDES, o Rating de Suporte é elevado, pois o banco é ligado ao Tesouro, o que faz com que, embora o Perfil de Risco de Crédito Individual seja ba1, o Rating de Emissor seja elevado para Baa2 – o equivalente ao rating soberano do Brasil. Já o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) tem Perfil de Risco de Crédito Individual ba1 e recebe o suporte do governo do estado que é Baa3. A Moody’s também avalia as agências de fomento Desenvolve SP, que tem rating Ba1, e a Fomento Paraná, classificada como Baa3. “No caso da Caixa, do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste partimos do BRSF para a formação do Perfil de Risco de Crédito Individual. A Caixa e o Banco do Nordeste têm rating Ba2, que é grau especulativo, mas, quando se considera o suporte do governo federal, o rating final de emissão vai a Baa2, no caso da Caixa, e Baa3, no caso do Banco do Nordeste, ambos grau de investimento. O Banco do Brasil já tem Perfil de Risco de Crédito Individual Baa2, que é grau de

investimento e o mesmo nível do rating soberano do Brasil, antes mesmo de ser considerado o Rating de Suporte. Isso significa que o Banco do Brasil tem capacidade de honrar seus compromissos sozinho, sem a necessidade do suporte federal”, esclarece Albuquerque. As instituições – Vania Maria da Costa Borgerth, assessora da presidência do BNDES, explica que o banco foi buscar agências de rating em meados dos anos 1990, quando decidiu voltar ao mercado internacional, após o período em que cessou as emissões de títulos por conta da moratória brasileira em 1987. O BNDES tem rating BBB- com perspectiva estável da S&P – a única que o banco efetivamente contrata, desde meados da década de 1990 – e Baa2 com perspectiva negativa da Moody’s, agência que presta serviços sob demanda desde o início dos anos 2000. Com a Fitch, o BNDES não tem contrato mas recebeu um rating BBB não solicitado porque a agência entendeu que seria de interesse de seus clientes conhecer o risco de crédito da instituição. “Para nós, o rating tem o mesmo valor de uma auditoria sobre as demonstrações contábeis”, considera Vania, para quem o propósito do rating não é verificar se as empresas têm exatamente capacidade de pagamento. O que a nota indica, na sua avaliação, é muito mais do que a estabilidade financeira de uma instituição. Ela cita o depoimento de Lisa Schineller,

Grau de investimento nos planos

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ão logo seja transformada em instituição financeira, a Finep também deverá recorrer às agências de classificação de risco para conquistar um grau de investimento. Cláudio Guimarães Júnior, diretor Financeiro e de Controladoria, informa que a agência já concluiu uma série de ações para que seja tipificada como instituição financeira e aguarda decisão da Casa Civil e do Conselho Monetário Nacional (CMN). Entre as ações estão a adoção do Cosif, modelo contábil das instituições financeiras, a implementação do sistema de gestão Oracle, a criação das áreas de controladoria e de risco e a segregação de recursos próprios e recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), do qual a Finep comanda a secretaria executiva. “Só falta o CMN decidir tipificar a Finep, e essa é uma decisão política. A Finep quer se consolidar como a agência nacional da inovação, assim como o BNDES é o banco da infraestrutura e da indústria, o Banco do Brasil é do crédito rural e a Caixa é o do crédito imobiliário. É preciso entender que o fomento à inovação tem impacto direto na produtividade das empresas”, defende Guimarães. Ele argumenta que, se a Finep se tornar instituição financeira, terá acesso a outras fontes de financiamento, além do FNDCT, do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel). “O primeiro empréstimo que pegamos do FNDCT, em

2008, foi de R$ 90 milhões. Em 2014, pegamos R$ 1 bilhão. Hoje a Finep é a segunda maior fonte do FNDCT porque retroalimenta o fundo. Nossa meta em 2018 é operar R$ 50 bilhões para a inovação para que o Brasil possa se aproximar de seus concorrentes. Em 2011, a Finep contratou R$ 1,7 bilhão. Em 2014 foram R$ 8,6 bilhões”, enumera Guimarães. Ele explica que a transformação em instituição financeira permitirá à Finep ter acesso também ao Fundo Social. “Hoje apenas 50% do Fundo Social está regulamentado com destinação de 75% para a educação e 25% para a saúde. Para a Finep, 20% dos outros 50% ainda não regulamentados deveriam ser destinados à inovação”, defende. Ele acrescenta ainda que, como instituição financeira, a Finep poderá criar instrumentos de captação para se financiar e ficar menos dependente de recursos públicos. “Poderemos ter acesso a fundos soberanos como o de Cingapura ou emitir debêntures de inovação captando funding externo de fomento de organismos como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Poderemos ainda emitir letra financeira de inovação ou criar fundos de investimento para a inovação”, enumera, acrescentando que o rating será instrumento necessário nesse cenário. Uma das ideias em análise é fechar parcerias com a BBDTVM do Banco do Brasil e outras instituições financeiras. Em dezembro, a Finep acordou com o BTG e a SwissRe uma modalidade de seguro garantia mais barata que a fiança bancária. Agora a empresa está convocando outras seguradoras para aderir ao modelo.

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diretora das avaliações do departamento de mercado internacional mento de riscos soberanos para a e fundos externos da área InterAmérica Latina da S&P, que, durannacional do BNDES. Ele obserte seminário interno no banco, va que essas captações externas afirmou que o rating tem muito mais são sempre denominadas em a ver com o desejo de pagar do que moeda estrangeira e a capacidacom capacidade. de do banco de emitir moeda “Há países e empresas que têm condições estrangeira lá fora depende da políticas instáveis e até têm recursos mas, por capacidade da instituição de questões de honra, não têm intenção de pagar poder repassar esses recursos todas as suas dívidas por considerar os credores para as empresas brasileiras. Em usurpadores. Apesar de serem riquíssimos, têm projetos de infraestrutura, a ratings piores. O rating é uma combinação da maior parte não consegue absorAndré Carvalhal, do BNDES. capacidade e o desejo de pagar”, resume a assesver moeda estrangeira, mas sora da presidência. Ela observa que a S&P classifica o apenas Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). BNDES como empresa do governo – o banco é analisado “Temos de repassar para setores que conseguem absorver pela equipe de rating soberano e recebe a nota equivalente à da moeda estrangeira como a cadeia de óleo e gás, ou os que lidam República. Já a Moody’s classifica o banco como instituição com commodities – que têm preços em moeda estrangeira – e financeira. operações de exportação, entre outros”, explica Carvalhal. “As duas formas são boas para o BNDES e por isso a gente Vania esclarece que, com uma eventual redução dos aporusa dois ratings numa emissão. Por um lado, estar atrelado ao tes do Tesouro, o presidente Luciano Coutinho já anunciou risco soberano dá uma tranquilidade para o investidor, que vê que o banco vai rever seu nível de participação nos projetos. que por trás tem um acionista que tem intenção de honrar um Além disso, a tendência é que o volume de captações externas compromisso, caso o banco venha a falhar. Vale lembrar que, aumente. Ela lembra que o BNDES já usava rating antes dos mesmo durante a moratória, o BNDES recebeu autorização repasses do Tesouro. E, segundo destaca Carvalhal, não para continuar pagando seus compromissos. Teoricamente, houve redução nas emissões no período de 2008 a 2014, um Tesouro tem menos chance de se tornar inadimplente. quando vigoraram os aportes federais. Olhando o lado da Moody’s, ser considerada uma instituição “Em 2014, foram captados R$ 2,5 bilhões, um recorde na financeira mostra que, apesar de sermos governo, temos toda a história da instituição. O banco pretende atuar no mercado flexibilidade e as melhores práticas das maiores instituições internacional, não só por meio das emissões em si, mas tamfinanceiras de Primeiro Mundo”, reforça Vania. bém por meio da relação com o investidor. A classificação A primeira emissão do BNDES pós-rating foi em 1998 no rapidamente passa para o investidor a avaliação da empresa, valor de R$ 1 bilhão. Entre as vantagens que o processo de mas é importante também que o banco esteja em contato obtenção de rating traz, Vania cita o fato de que para que o direto com ele até para que verifique por que a instituição está banco emitisse o primeiro título (bond), a S&P fez um trabarecebendo aquele rating”, reitera Carvalhal. lho de educação sobre a forma com devem ser apuradas as O Banco da Amazônia opera com rating desde o final da informações que se apresentam para uma agência de rating. década de 1990, quando realizou uma reestruturação e “A gente aprendeu muito em termos de apresentação de implantou área específica de gestão de riscos. Na ocasião, o informações, de abertura, transparência, discriminação de banco conseguiu seu primeiro rating da agência de classificainformação e comunicação de desempenho. A Moody’s ção de risco Riskbank e logo em seguida da agência Fitch. nunca precisou vir ao banco apurar informação porque já Pelo Índice Riskbank, o banco tem rating 10,29 – numa escala recebiam o mesmo relatório que enviávamos para a S&P. No de 7 a 11. Pela classificação nacional e internacional da Fitch, caso da Fitch, que nos concede um rating não solicitado, nós tem ratings AAA e BBB, respectivamente, sendo grau de recebemos os analistas, mas não podemos dar o mesmo grau investimento. de informação que damos para a S&P e a Moody’s porque a José Marques de Lima, diretor de Controle e Risco do Fitch não tem contrato de confidencialidade conosco como Banco da Amazônia, explica que a instituição procurou obter as outras duas agências. Além disso, não usamos o rating da classificação de risco por entender tratar-se de um instrumenFitch em nossas emissões”, distingue. to relevante para avaliação do mercado, tanto em escala naciDesde 2008, o BNDES passou a ter aportes cada vez onal quanto internacional. Mas não visando a emissões imemais volumosos do Tesouro Nacional, que hoje representa diatas. O rating fornece aos potenciais credores uma opinião 52,6% do funding do banco. As captações externas, incluindo independente a respeito do risco de crédito da instituição, emissões de bonds e operações com organismos multilaterais, além de retratar o perfil qualitativo do banco junto ao mercarepresentam apenas 4,4%. Com a nova equipe econômica, do. Mas, a rigor, o Banco da Amazônia tem uma boa equação existe a intenção de reduzir a dependência do Tesouro e de funding por meio das linhas de repasses do BNDES, do ampliar novas fontes de recursos. Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), do Fundo da Mari“O percentual de participação das emissões no orçamennha Mercante (FMM) e pela gestão do Fundo Constitucional to do banco pode ser pequeno, mas é grande em volume: são do Norte (FNO). R$ 37 bilhões”, ressalva André Carvalhal, chefe do departa“Não temos necessidade de realizar captações externas. RUMOS – 34 – Janeiro/Fevereiro 2015


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bidos pelo mercado como uma instituição financeira com baixo risco de crédito. A obtenção de avaliações de ratings independentes emitidos pelas três grandes agências internacionais validou esta percepção e permitiu ao banco acessar certos investidores institucionais e mercados internacionais nos quais havia o pré-requisito de rating”, ressalta Ana. Desde a primeira emissão de títulos do BNB, em 1993, todas as emissões de títulos do banco, no mercado internacional, obtiveram rating das empresas conJosé Marques de Lima, diretor de controle e risco, e Luiz Otávio Maciel Monteiro, tratadas. Os títulos emitidos pelo Banco diretor de gestão de recursos do Banco da Amazônia. do Nordeste são seniores, e com as notas foi possível acessar mais investidores e mercados. Olhando o planejamento estratégico até 2019 e a estratégia de “Embora não possamos quantificar, temos a percepção expansão comercial, ainda conseguimos ampliar os recursos clara de que a obtenção do grau de investimento nos ajuda a por meio da captação de depósitos no braço comercial do captar mais e melhor – mais barato e com prazos mais longos. banco. E como banco de desenvolvimento, estamos tranquilos Com um rating forte, podemos ampliar o volume de recursos com as fontes de recursos que temos, pois ainda encontramos captados, melhorar o custo dessas captações e, consequentefunding nacional no patamar adequado”, explica Lima. mente, suprir as necessidades das empresas que atuam na área O banco considera, porém, que o rating proporciona transde ação do banco, com mais crédito de qualidade e menor parência, permitindo ao investidor obter uma visão mercadocusto financeiro possível. Tudo isso ajuda o BNB a cumprir lógica completa da instituição, oferecendo-lhe, a rigor, maior sua missão de atuar na promoção do desenvolvimento sustensegurança nas contratações de negócios. Os ratings nacionais tável da região”, ressalta a gerente do BNB. do Banco da Amazônia se baseiam no suporte de seu principal A Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) acionista, o governo federal. Pelo fato de o banco possuir contratou a Moody’s em 2010, apenas um ano após a sua funelevada liquidez, o principal impacto observado está relacionadação, como uma forma de se preparar para o futuro. A agêndo ao menor custo de captação. cia recebeu o rating Ba1, um nível abaixo do grau de investi“O rating é mais uma necessidade de mercado do que uma mento do estado de São Paulo, que é Baa1. Milton Luiz de necessidade de captarmos. Mas, se o braço comercial do banco Melo Santos, presidente da instituição e vice-presidente da expandir rapidamente a carteira, pode ser que venhamos a ser ABDE, diz que, no ano passado, a Moody’s manteve o grau mais agressivos na captação por meio de emissão de letra como estável, o que o leva a crer que em 2015 a agência pode financeira nacional ou, eventualmente, uma emissão de bond vir a alcançar grau de investimento. internacional”, acrescenta Luiz Otávio Maciel Monteiro, dire“Nossa meta é buscar a expansão dos negócios via captator de Gestão de Recursos do Banco da Amazônia. ção de recursos externos junto ao Banco Interamericano de O Banco do Nordeste (BNB) tem ratings da Fitch (BBB), Desenvolvimento (BID) ou outras agências multilaterais, da Moody’s (Baa3) e da Standard & Poor’s (BBB-). O primeiro como o banco de desenvolvimento da China, a Agência Franrating obtido pelo BNB ocorreu em meados de 1990. Ana cesa de Desenvolvimento (AFD) ou a Corporação Andina de Patrícia Gonçalves, gerente do Ambiente de Mercado de Fomento (CAF)”, explica Santos. O objetivo da Desenvolve Capitais do banco, observa que o rating é um elemento essenSP e das agências estaduais de fomento é ampliar o leque de cial para a captação de recursos no mercado financeiro, pois fontes de financiamento para tocar projetos de maior vulto. ele é uma das principais informações utilizadas pelos investi“As agências de fomento não podem emitir dívida e passidores no processo de tomada de decisão de investimento. vo financeiro, mas podem fazer convênios com outros orgaAlém disso, o banco também considera que obter opiniões nismos multilaterais. Para isso, precisamos da avaliação de isentas e qualificadas das principais agências classificadoras de agências de risco e a obtenção de grau de investimento. Com risco se configura como uma importante iniciativa de Goveros novos recursos, nossa meta é entrar em projetos de financinança Corporativa. amento associados a parcerias público-privadas e nas concesDentre as vantagens da obtenção do rating, ela destaca o sões do governo de São Paulo, ampliando o financiamento a fato de a classificação mostrar a solidez da instituição e fortaleprojetos de infraestrutura”, justifica. cer a imagem institucional junto aos participantes do mercado. O rating também facilita e reduz os custos de captação de Captações – O BDMG obteve grau de investimento da S&P recursos e contribui para a adequada precificação dos ativos e Moody’s em 2012. Segundo Júlio Onofre Mendes de Oliveiemitidos pela instituição no mercado. Além de facilitar o acesra, presidente da instituição, o objetivo foi expandir o nível de so a novas modalidades de captação; aumentar a liquidez dos atuação do banco em Minas Gerais buscando fontes alternaativos emitidos; e contribuir para o acesso a novos mercados, tivas de financiamento, tanto em termos de volume de aumentando a presença do banco no mercado global. recursos quanto em prazo e condições mais favoráveis. Ele “Por sermos um banco público federal, já éramos perceRUMOS – 35 – Janeiro/Fevereiro 2015


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REPORTAGEM

RISCO

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no valor de € 50 milhões com prazo de 12 lembra que, como um banco estadual anos. Os recursos são destinados ao financide desenvolvimento, o BDMG não amento de projetos municipais voltados pode ter rede bancária e a principal para as questões climáticas e para a univerfonte de recurso é o BNDES. A instisalização de serviços básicos. Em junho do tuição também contou com aportes ano passado foi assinado contrato de US$ do governo do estado. O patrimônio 150 milhões com o Banco Interamericano líquido é de R$ 1,7 bilhão e a carteira de Desenvolvimento (BID), em três tranches soma R$ 7,2 bilhões com recursos próprios e capde US$ 50 milhões e prazo de sete anos. Os tações junto ao BNDES. Oliveira explica que para recursos são destinados ao financiamento obter novas fontes o banco teve de se apresentar de projetos de infraestrutura municipal. E ao mercado. em dezembro de 2014 foi realizada capta“Para isso tive de fazer o dever de casa, melhoção junto ao Banco de Tokyo-Mitsubishi rar a governança, os processos e a carteira de crédiUFJ com prazo de quatro anos, no valor de to”, diz o presidente. Ele conta que as conversas US$ 25 milhões. com a Moody’s começaram em 2009 e o BDMG Juraci Barbosa Sobrinho, A Agência de Fomento do Paraná (Foteve seu primeiro rating, naquele momento avaliado presidente da Fomento Paraná. mento Paraná) deu início ao processo de como Ba2 na escala global. Já no ano seguinte, obtenção da classificação de risco de agênrecebeu o seu primeiro upgrade, alcançando o rating cias internacionais em 2012, como parte de um processo de Ba1, e Aa2.br nas escalas global e nacional, respectivamente, reestruturação e aprimoramento das habilidades da agência. terceira maior nota na escala nacional da agência. Em 2012 Juraci Barbosa, presidente da empresa, observa que a Fomento passou a ser avaliado também pela Standard & Poor’s e já nesse Paraná é uma instituição financeira relativamente jovem, com ano foi classificado como grau de investimento, alcançando apenas 15 anos, que administra um ativo de mais de R$ 1,5 rating BBB- na escala global, e brAAA na escala nacional, bilhão e trabalha para crescer muito nos próximos anos. maior nota da escala nacional. Logo após, a agência Moody’s “É fundamental que o mercado nos também concedeu grau de investimento ao veja com bons olhos. E a classificação de BDMG, atribuindo rating Baa3 na escala global, e risco é uma ferramenta que confere Aa1.br na escala nacional, segunda maior nota da transparência para uma instituição finanescala nacional. ceira aos olhos do mercado. Por isso “Mas tínhamos limitação do Banco Central buscamos o rating”, justifica Barbosa. No para a emissão de letra financeira, que é o instruprimeiro semestre de 2013, a Fitch conmento no mercado nacional para bancos de desencedeu rating BBB-, e a Moody’s, Baa3, volvimento. A autorização só veio em novembro com perspectiva estável, ambos graus de de 2012”, observa. Com a autorização, o BDMG investimento. realizou duas emissões de letras financeiras que Barbosa conta que, após a obtenção passaram pelo processo de classificação de risco, a do rating, a Fomento Paraná iniciou negoprimeira em dezembro de 2012 (R$ 350 milhões, ciações com a Agência Francesa de sendo essa tranche – parcela – de R$ 100 milhões e Desenvolvimento (AFD) para uma linha prazo de três anos, e a segunda parte de R$ 250 de crédito destinada a financiar programilhões no prazo de cinco anos), e a segunda em mas e projetos de gestão de resíduos março de 2014 (série única de R$ 247,6 milhões). sólidos nos municípios paranaenses. Em ambas as emissões a agência S&P concedeu o Júlio Onofre Mendes de Atualmente esse processo encontra-se rating brAAA em escala nacional. Adicionalmente, Oliveira, presidente do BDMG. em fase de acolhida de projetos e em 2015 o BDMG realizou ainda duas emissões privadas de deve ser assinado o contrato de financialetras financeiras: a primeira ocorreu em maio de mento com a AFD. “A Fomento Paraná trabalha com a pos2013, no valor de R$ 82,5 milhões e prazo de três anos, sibilidade de captar recursos de outros fundos internacionaenquanto a segunda aconteceu em dezembro de 2013, no is”, antecipa Barbosa. montante de R$ 20 milhões e o mesmo prazo que a anterior. Ele acrescenta que o rating “grau de investimento” tamO presidente do BDMG destaca que, com o grau de invesbém é um importante balizador para o Banco Interamericatimento, o banco passou a ter acesso ao mercado internacional no de Desenvolvimento (BID), com o qual o governo do e, assim, pôde diversificar e alongar sua estrutura de capital Paraná vem tratando de um financiamento para o programa com a realização de diversas captações. Em agosto de 2013, Paraná Urbano III. O programa, no valor de US$ 300 assinou um contrato de empréstimo de US$ 100 milhões com milhões, é destinado a reduzir o déficit de infraestrutura a Corporação Andina de Fomento (CAF), o Banco de Desenurbana, melhorar a gestão tributária e financeira e aumentar volvimento da América Latina, com prazo de dez anos. Os a capacidade de planejamento dos municípios. Os recursos recursos foram destinados ao financiamento de pequenas e serão administrados pela Fomento Paraná. médias empresas com prazos longos e taxas reduzidas. TamNo Brasil, ainda em 2013, a Fomento Paraná foi credencibém foi assinado um contrato de empréstimo com a Agência ada pela Caixa Econômica Federal para atuar como agente Francesa de Desenvolvimento (AFD), em dezembro de 2013, RUMOS – 36 – Janeiro/Fevereiro 2015


técnico e financeiro em operações de financiamento de obras nas áreas de infraestrutura e transportes com recursos do FGTS, pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2). O limite de crédito inicial foi de R$ 124,6 milhões e atualmente é R$ 200 milhões. No ano passado, a agência foi credenciada pela Finep para operar recursos do programa Inovacred, para projetos de inovação e desenvolvimento tecnológico e assinou os dois primeiros contratos de financiamento nesta linha. “Mesmo sem ter correlação direta, o rating nos serve como uma ferramenta que atesta a confiabilidade da instituição, por exemplo, para fazer a gestão do Fundo Garantidor de Parcerias Público-Privadas do Paraná (FGP/PR), que nos foi delegada pelo governo do estado. O fundo, que foi criado com um patrimônio de R$ 260 milhões, é um importante instrumento para viabilizar a implantação das PPPs no Paraná e permitir a execução de grandes projetos de infraestrutura, como a duplicação de rodovias. A administração dos recursos financeiros do FGP/PR está a cargo da Caixa”, finaliza.

A Caixa Econômica Federal conta com ratings BBB estável pela Fitch, Baa2 com perspectiva negativa pela Moody’s e BBB- estável pela S&P. Segundo Rauelison da Silva Muniz dos Santos, diretor executivo de Riscos da Caixa, com a constante instabilidade no cenário macroeconômico global, reforçou-se a necessidade de os investidores analisarem com cautela seu perfil e recursos, além de obter uma série de informações críticas sobre seus investimentos em potencial, com o objetivo de mitigar riscos de perdas e prejuízos e identificar as melhores oportunidades para maximizar seus ganhos. “As agências de fomento e instituições financeiras estão sempre atentas aos ratings que recebem das agências classificadoras de risco, uma vez que essas notas passam segurança aos investidores, e ao mercado em geral, com impacto inclusive na imagem da organização e garantindo a constância de entrada de capitais. Um banco com altos ratings de classificação de risco capta recursos com maior facilidade e com custos menores, visto que seus ratings refletem uma situação econômico-financeira mais robusta”, conclui. 

Artigo

O Rio de Janeiro vive momento singular de atração de investimentos e ampliação de negócios. São centenas de projetos de pequeno, médio e grande porte, que revolucionam e diversificam o perfil econômico do estado, para além da economia do petróleo. A AgeRio participa desse movimento virtuoso, transformando oportunidades em projetos sustentáveis e atendendo às demandas, com menor burocracia, fundings adequados e taxas atrativas. Por operar somente no estado, podemos estar mais perto dos empresários, com visão aguçada quanto às perspectivas de desenvolvimento, identificando vocações regionais, customizando produtos para todos os segmentos da economia, atendendo da micro à grande empresa, além de conduzir o bem-sucedido programa de microcrédito produtivo orientado, nas comunidades pacificadas do Rio de Janeiro. Sintonizada com a estratégia do governo estadual, e contando com seu irrestrito apoio, temos contribuído com o desenvolvimento, exercendo nossa missão não só por meio de operações financeiras e acompanhamento técnico, mas, também, em parceria com os municípios fluminenses na modernização da gestão administrativa e nos investimentos em infraestrutura, que potencializam as vocações locais. Tudo está sendo possível porque a agência permanece atenta às oportunidades e passa por uma transformação, ancorada em seu Programa Modernizar para Competir, que visa torná-la mais eficiente, para desempenhar papel relevante no contexto estadual, como alternativa atraente e confiável para empreendedores e braço operacional da política de desenvolvimento do governo estadual. Reformulamos processos internos, criamos indicadores de desempenho, realizamos concurso público e definimos nova marca, novo site, novo estatuto, novo pla-

Divulgação/AgeRio

Voltada para o futuro no de cargos e salários, além de implantar regime de alçadas e Comitês de Crédito e um arrojado plano de tecnologia da informação. Faz parte deste contexto o compromisso com a transparência, credibilidade e aplicação das melhores práticas voltadas ao aprimoramento contínuo da gestão. Neste sentido, a AgeRio busca sua classificação de risco junto às agências internacionais emissoras de rating, como forma de fortalecer e ampliar as suas ações no âmbito das intermediações financeiras internas e externas. Como passo inicial, já nos submetemos à avaliação de risco de crédito por parte da Fitch Ratings que atribuiu o nível de risco BBB-, na escala internacional de curto e longo prazo, e AA-, na avaliação nacional, conferindo à AgeRio o conceito de grau de investimento. Essas classificações colocam a AgeRio em condições de adequada credibilidade como tomadora de crédito tanto no mercado nacional como no internacional. Diante do desafio que vem motivando nosso corpo funcional, de tornar a AgeRio ainda mais necessária à sociedade deste estado, continuaremos diversificando programas e democratizando o processo de concessão de crédito, ganhando escala, para ser uma Agência de Fomento cada vez mais voltada para o futuro.

José Domingos Vargas Presidente da AgeRio – Agência Estadual de Fomento

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REPORTAGEM

BALANÇO

Por Wagner Concha

BDMG expande e diversifica atuação Instituição obteve resultados robustos de 2011 a 2014: aumento de 83% em desembolsos, crescimento de 46% na carteira de crédito e salto de 162% no número de clientes atendidos

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Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) obteve, pela segunda vez consecutiva, recorde de desembolso total, atingindo R$ 2,5 bilhões em 2014. Comparando-se 2011 a 2014, o banco registrou um salto de 83% nas liberações. A instituição expandiu sua carteira de crédito total, que cresceu 46% nos últimos quatro anos, passando de R$ 4,9 bilhões em 2011 para R$ 7,2 bilhões no ano passado. A carteira de clientes ativos também obteve aumento expressivo, avançando de 12.905 em 2011 para os atuais 21.340 em 2014 – no mesmo período, o número de clientes atendidos disparou 162%, saltando de 3.144 em 2011 para 8.262 no ano passado. O patrimônio líquido cresceu de R$ 1,1 bilhão em 2011 para R$ 1,7 bilhão em 2014, enquanto o lucro líquido manteve-se no patamar de R$ 82 milhões. Os números expressivos espelham o Plano Estratégico 2012 - 2015, lançado em 2011 e que norteou os caminhos a serem percorridos, levando a instituição a se tornar cada vez mais ágil e com ampla atuação em todo o estado – hoje está presente em 760 municípios mineiros. Nesse contexto, em 2012, ano de seu cinquentenário, o BDMG reposicionou-se no mercado, lançando também uma nova marca. A expansão nos desembolsos deve-se, principalmente, ao incremento nos repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição é líder em Minas Gerais, pelo segundo ano consecutivo, em desembolsos da linha Finem e assumiu, no ano passado, a liderança nas operações de BNDES Automático. Ter capital próprio para injetar mais recursos na economia mineira é outro objetivo do BDMG. Nos últimos quatro anos,

o estado de Minas Gerais, principal acionista da instituição, aportou R$ 760 milhões. E, em 2012, a obtenção de duplo grau de investimento concedido pelas agências Standard & Poor’s e Moody´s reforçou a credibilidade da instituição no mercado. Desde então, o BDMG captou mais de R$ 1,1 bilhão, por meio de operações nos mercados interno – duas emissões de letras financeiras – e internacional – quatro contratos de crédito, junto a organismos internacionais (ver página 30). Agilidade no atendimento – Com o intuito de ampliar, agilizar e facilitar o atendimento aos clientes, a partir de 2013 a instituição passou a oferecer atendimento especializado às médias e grandes empresas e setor público; e, para as empresas com faturamento anual de até R$ 30 milhões, foi desenvolvida uma ferramenta de crédito online. “Criamos uma plataforma que abriu as portas do banco para as micro e pequenas empresas, que representam a grande maioria dos nossos clientes”, explica o presidente da instituição, Júlio Onofre Mendes de Oliveira. A rede de Correspondentes Bancários, criada em 2011, foi potencializada nos anos seguintes, promovendo a interiorização do crédito pelo território mineiro: atualmente, são 203 correspondentes ativos em todo o estado, que foram responsáveis por atender 5.232 clientes em 2014. Eficiência no processo de crédito também foi fundamental para garantir os resultados crescentes de desembolsos e número de clientes. Nos últimos quatro anos, o prazo médio para abertura de limite de crédito no BDMG reduziu de 69 dias para 24 dias. Já o prazo médio para contratação de Finame está em 27 dias, um dos menores do mercado. O Finame é uma linha de crédito do BNDES, operada por ins-

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CLIENTES ATENDIDOS 8.262

tituições financeiras credenciadas, para produção e aquisição de máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional.

5.679 4.519 3.144

Inovação – Nos últimos quatro anos, o BDMG ampliou o seu compromisso com o apoio à inovação. Por meio dos aportes em FIPs, o banco estimula as empresas de base tecnológica. A instituição aumentou no ano passado de R$ 30 milhões para R$ 60 milhões o limite de capital para investimento em fundos e adotou a diretriz estratégica de investir em dois novos fundos de venture capital por ano. A instituição participa atualmente nos fundos HorizonTI, Brasil Sustentabilidade, DLM Brasil TI, Criatec II e se comprometeu a investir nos fundos AvanTI, Brasil Aceleradora de Startups e Criatec III. Além disso, o banco criou em 2011 duas linhas específicas em conjunto com a Fapemig: PróInovação, para projetos de desenvolvimento ou a implantação de produtos, processos e serviços inovadores, e Proptec, para empresas instaladas em parques tecnológicos. Desde que foram lançadas, as linhas desembolsaram mais de R$ 60 milhões para 91 empresas mineiras. O BDMG firmou ainda parcerias com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para repassar recursos do Inovacred e com o BNDES para a linha MPME Inovadora.

Atuação além do crédito – O banco expandiu suas atividades para além da tradicional concessão de crédito ao se especializar em operações estruturadas e ao 2011 2012 2013 2014 criar uma subsidiária para participação acionária em grandes investimentos inovadores e estraCLIENTES ATIVOS t é g i c o s p a r a o e s t a d o, a BDMGTEC. Criada em 2012, a 21.340 subsidiária participa do capital social da Unitec Semicondutores, a mais moderna fábrica de semicondutores do hemisfério sul que 16.604 está em fase final de construção em Ribeirão das Neves, e da 13.936 fábrica de insulina humana 12.905 Biomm, a ser erguida em Nova Lima, ambas na Região Metropol i t a n a d e B e l o H o r i z o n t e. 2011 2012 2013 2014 “Investir em projetos estratégicos de inovação com alto conteúdo tecnológico é fundamental para o desenvolvimento de Minas DESEMBOLSOS 2011-2014 Gerais”, explica Júlio Onofre. R$ milhões No campo de operações 2.502 estruturadas, o BDMG oferece 2.090 serviços como coordenação e modelagem de parcerias públi1.504 co-privadas (PPPs), estrutura1.432 974 1.367 ção de operações em mercados 421 de capitais, além de participar em 450 cotas de fundos de investimento Apoio a municípios – O BDMG 534 965 em participação (FIPs) e na é o principal agente financeiro a 879 890 estruturação de fundo de investiapoiar o setor público municipal 383 mento em direitos creditórios em Minas Gerais. Nos últimos qua151 132 108 para cadeias produtivas. tro anos, o banco obteve 81% de 2011 2012 2013 2014 Dentre os projetos de modelaparticipação nas aprovações junto Fundos Estaduais gem de PPPs estão o Parque Tecà Secretaria do Tesouro Nacional Recursos próprios nológico de Belo Horizonte (BH(STN), liberando R$ 781 milhões Repasses Fonte: BDMG TEC) e o Centro Empresarial da para projetos de mobilidade urbaGameleira (Expominas II). A insna, saneamento básico, tratamento tituição também exerce papel socide resíduos sólidos urbanos, dreal importante ao financiar as concessionárias de PPPs, como a nagem urbana, aquisição de máquinas e equipamentos, além construção do Hospital Novo Metropolitano e de escolas de ônibus para o programa Caminhos da Escola. Esses recurmunicipais na capital mineira. sos beneficiam 466 municípios mineiros. RUMOS - 39 – Janeiro/Fevereiro 2015


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PELO MUNDO

ORGANIZAÇÃO

O “Sistema Nacio Mayara Dias

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O sétimo artigo da coluna “Pelo Mundo” trata do sistema de fomento do México – formado, basicamente, por seis instituições públicas especializadas em setores estratégicos da economia. O artigo foi escrito por Mayara Penna Dias, economista, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Mestrado em Economia do Desenvolvimento pela mesma instituição. Mayara é atualmente analista de Projetos do BRDE e foi assessora da presidência do banco.

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definição do conceito de Sistema Nacional de Fomento (SNF) brasileiro foi resultado do planejamento estratégico da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e de amplo debate de ideias durante o ano de 2012 e teve seu destaque no lançamento da Carta ABDE em junho de 2013. O conceito de SNF passou a designar o conjunto de instituições nos níveis federal, regional e estadual voltadas para a promoção do desenvolvimento econômico e fornecedoras de crédito de longo prazo – são aquelas instituições que, em maior ou menor instância, são influenciadas pelas políticas públicas. A ABDE agrega a maior parte dos membros do SNF – no conjunto de integrantes da Associação convivem os bancos públicos federais, bancos de desenvolvimento controlados por estados da federação, bancos cooperativos, bancos públicos comerciais estaduais com carteira de desenvolvimento, agências de fomento, a Finep e o Sebrae. O SNF brasileiro tem suas ações permeadas pelas políticas de cada instituição e por iniciativas conjuntas no âmbito da ABDE, como a Carta já citada. Assim como o Brasil, outros países possuem um sistema de instituições financeiras de desenvolvimento. No México, esse sistema é um dos mais segmentados da América Latina, com seis instituições dedicadas a atender diferentes setores, além de fundos especializados. O “Sistema Nacional de Fomento” mexicano é constituído pelas seguintes instituições:

Nacional Financiera (Nafin), dedicada à pequena e 1 média empresa. Tem como missão promover o acesso de micro, pequenas e médias empresas aos serviços financeiros, e em sua história contribuiu para o desenvolvimento industrial mexicano e sustentou programas de apoio durante crises econômicas.

2

Banco Nacional de Obras y Servicios Públicos (Banobras), voltado à infraestrutura. Tem a finalidade de financiar investimentos em infraestrutura e serviços públicos, e em seus primeiros anos de existência contribuiu para o desenvolvimento industrial, das comunicações e das cidades mexicanas. Banco Nacional del Comercio Exterior (Bancomext), destinado ao comércio exterior. Tem como objetivo apoiar as exportações, principalmente as agrícolas, e desenvolver o comércio exterior mexicano. O país é um dos principais exportadores mundiais, ocupando a 15ª posição no ano de 2013.

3

Sociedad Hipotecaria Federal (SHF), voltada à habitação. Foi criada em 2001, tendo como objetivo proporcionar acesso à habitação mediante concessão de financiamentos e garantias para construção e aquisição de moradias, principalmente de interesse social.

4

Banco del Ahorro Nacional y Servicios Financieros (Bansefi), dedicado à inclusão financeira; sendo denominado como o banco social do México, e sua missão é democratizar o acesso ao financiamento de projetos com potencial crescimento.

5

Banco Nacional del Ejército, Fuerza Aérea y Armada (Banjercito), especializado em crédito para membros do exército.

6

As seis instituições do sistema de fomento mexicano são entidades públicas federais, com personalidade jurídica e patrimônio próprios.

RUMOS – 40 – Janeiro/Fevereiro 2015


nal de Fomento” mexicano

Os principais – Nafin, Bancomext e Banobras – foram criados na década de 1930, como forma de superar o atraso que vivia o México anos após a revolução mexicana e a grande depressão. Os fundos especializados são voltados principalmente ao apoio à agricultura. Chamado de Banca de Desarrollo, o sistema de fomento mexicano é ligado diretamente ao equivalente ao Ministério da Fazenda do país, que divulga as informações financeiras, políticas e objetivos do sistema como um todo e das instituições em particular. No México, a atuação do sistema de fomento está institucionalizada como uma política de Estado. As ações se realizam no marco do Programa Nacional del Financiamiento del Desarrollo (Pronafide), que tem entre seus objetivos:

1

incrementar o financiamento a setores com impacto na geração de empregos;

2

focar a atenção nos produtores rurais com maior dificuldade de acesso ao crédito;

3

complementar o crédito privado para potencializar o financiamento da economia mexicana; e

4

promover a concessão de crédito de longo prazo para fomentar o aumento da produtividade.

As instituições de fomento têm sido um dos principais instrumentos do Estado mexicano para promover o crescimento econômico e o bem-estar social, apoiando com financiamento as empresas produtivas, com ênfase em áreas prioritárias para o desenvolvimento nacional, como a infraestrutura, o comércio exterior e a habitação, assim como as pequenas e médias empresas. Esse sistema passou por períodos de altas taxas de crescimento, chegando a ter participação equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) – em termos de saldo de operações de crédito – em 1986, quando financiava principalmente o governo. No início dos anos 1990, o sistema de fomento começou a voltar sua atenção para o financiamento ao setor

privado, participando do auge do crédito até 1994, quando eclodiu a crise econômica mexicana. Essa expansão do crédito foi feita sem controle, gerando resultados que não foram sustentáveis, com o governo mexicano tendo que assumir o custo do saneamento financeiro das instituições de desenvolvimento. Ele vem perdendo participação desde então, chegando a 3,5% do PIB em 2013. Não apenas o sistema de fomento perdeu participação, mas o crédito total também. Até 1994, representava mais de 50% do PIB e hoje está em 20%, demonstrando a retração do mercado de crédito após a crise mexicana. Não obstante, a visão atual é de que o sistema de fomento está fortalecido financeiramente e poderá crescer sua participação, dessa vez de forma sustentável, o que de fato já vem ocorrendo. A carteira de crédito desse sistema cresceu mais de 30% em termos reais desde o ano de 2006. Também foi importante sua atuação após a crise financeira mundial, principalmente nos setores automotivo, turístico e aeronáutico. Hoje o desafio do sistema financeiro mexicano é como equilibrar o papel das instituições de desenvolvimento e dos bancos comerciais, canalizando recursos para aqueles setores que não têm acesso ao financiamento de longo prazo. Permanece uma discussão de uma remodelação do sistema de fomento, revisando a funcionalidade e a especialização de cada ente no sistema. Poderá haver uma fusão entre as três maiores instituições – Nafin, Bancomext e Banobras. Uma das referências na discussão do sistema de fomento mexicano é o caso brasileiro. Enquanto no México as instituições são especializadas em determinados setores, no Brasil o sistema é mais pensado em termos objetivos territoriais, produtivos e sociais. Não há um modelo único de “Sistema Nacional de Fomento”, tampouco se pode afirmar que um modelo é melhor que outro. Depende da realidade de cada país. Os casos de México e Brasil são particulares e complexos, pois são países com grande população e com uma base produtiva ampla e diversificada. Um fator em comum entre as instituições de fomento dos dois países são as críticas: necessidade de maior celeridade nas decisões e menos burocracia na gestão. O importante é justificar a especialização das instituições, porque cada país tem necessidades diferentes. 

RUMOS – 41 – Janeiro/Fevereiro 2015


RECONHECIMENTO PRÊMIO ABDE E D I Ç Ã O 2 014

Incentivo à criat Conheça mais duas monografias que receberam a menção honrosa do Prêmio ABDE de Monografias, edição 2014 e prepare-se para o edital deste ano, com previsão de lançamento para o segundo bimestre

Cesar Mello

Livro distribuído na Cerimônia de Entrega do Prêmio ABDE de Monografias. A publicação está disponível para download.

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ever a frota de transportes urbanos e aprimorar a avaliação do planejamento estratégico, esses dois assuntos ganharam a menção honrosa do Prêmio ABDE de Monografias, edição 2014. Dando continuidade à publicação das monografias vencedoras nas duas categorias da premiação, esta edição traz um resumo do texto dos funcionários da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) Paulo Roberto da Silva e Regina Bini Carrosa, intitulado “Programa Renova SP: Financiamento para Renovação da Frota de Caminhões”. Na monografia, os autores explicam como a linha de crédito permite que proprietários de caminhões com data de fabricação igual ou superior a 30 anos, cuja tecnologia está ultrapassada, troquem seus veículos por modelos mais novos, que emitem menos gases poluentes, contribuindo assim para reduzir a emissão de CO2 na

atmosfera. O programa está alinhado com o compromisso assumido pelo governo do estado de São Paulo, que institui a Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC). Dentre os 10 princípios citados pela PEMC, está a prevenção, que consiste na adoção de medidas capazes de mitigar impactos conhecidos no sistema climático da Terra para a manutenção do equilíbrio ecológico. A monografia recebeu a menção honrosa na categoria Financiamento ao Desenvolvimento. Na segunda categoria, Excelência em Gestão, foi a experiência com o Balanced Scorecard, desenvolvida no Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que ganhou a menção honrosa. Marcos Aurélio Cunha, autor da monografia “Avaliação do Planejamento Estratégico numa Instituição Pública a partir do Balanced Scorecard: o caso BRDE”, explica que a necessidade de planejamento é uma

RUMOS 42 Janeiro/Fevereiro 2015


CALENDÁRIO DE ATIVIDADES

ividade

ABRIL 16 e 17

realidade amplamente difundida no cenário empresarial, seja a instituição de natureza privada ou pública, com ou sem fins lucrativos. O texto traz uma revisão bibliográfica do assunto e mostra, com base na experiência do banco, a importância de se avaliarem os critérios utilizados pela instituição estudada frente ao desafio da implantação de um Planejamento Estratégico num ambiente de administração pública indireta. O Prêmio ABDE foi criado com a finalidade de estimular a elaboração de trabalhos escritos de divulgação, reflexão e apresentação de proposições sobre o financiamento do desenvolvimento, em especial sobre o Sistema Nacional de Fomento (SNF). Em 2015, a premiação, cujo edital será divulgado no segundo bimestre, terá duas categorias – Financiando o Desenvolvimento e Melhores Práticas – e poderão concorrer trabalhos somente de empregados, concursados ou não, diretores e estagiários das instituições associadas à ABDE, neles incluídos os aposentados da instituição. Além destes trabalhos, os dois artigos vencedores em cada categoria (publicados na edição nº 278), outros três artigos se destacaram e compõem o livro do Prêmio, que foi lançado durante a cerimônia em dezembro e está disponível para download no site da ABDE: “Sistema de garantias e seguros: uma ferramenta de ampla cobertura funcional”, de Jowâner de Oliveira Araújo (Desenbahia); “A atuação pioneira da Fomento Paraná como agente financeiro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)”, de Gustavo Alexandre Duda Mattana e Mario João Figueiredo; e “Apoio à Inovação das MPMEs: Caso MPME Inovadora”, escrito por Rafael Passos Dickie e Andrea Varela Ramos Fuchsloch (BNDES). Nesta primeira edição, o Prêmio recebeu 27 inscrições, de autores de 11 instituições diferentes. Quinze trabalhos foram aptos para concorrer na primeira categoria, e os demais (12), no segundo tema. O concurso foi organizado pela Comissão de Estudos e Pesquisas em conjunto com a Gerência de Estudos Econômicos da ABDE. Neste ano, os ganhadores receberão um certificado, prêmio em dinheiro e terão os resumos dos trabalhos publicados na Rumos. O prazo para inscrição e envio dos trabalhos será divulgado junto com o edital, mas a solenidade de premiação acontecerá em dezembro. Até lá, a Gerência de Desenvolvimento Profissional da ABDE já dispõe de um calendário de atividades voltado, exclusivamente, para aqueles que atuam nas Instituições Financeiras de Desenvolvimento. Confira a programação no quadro ao lado.

Governança, Riscos e Compliance

MAIO 7e8 13 21

Seminário Fundos Meio Ambiente WSP ABDE-BNDES WSP Instrumentos Garantidores

JUNHO 1º e 2 8e9 17 e 18 25 e 26

TreinaBNDES - São Paulo Análise avançada das demonstrações financeiras Análise de projetos Encontro de TI

JULHO 2e3 30 e 31 30 e 31

Seminário recuperação de crédito Seminário de Assuntos Jurídicos TreinaBNDES - Brasília

AGOSTO 12 e 13 26 e 27

Análise de projetos de inovação Atendimento, prospecção e negociação

SETEMBRO 1a3 22 a 24

Project Finance Gestão de riscos e Basileia

OUTUBRO 1e2 6a8 22 e 23

TreinaBNDES - Fortaleza Projeções financeiras - Avançado Encontro de Risco II

NOVEMBRO 11 12 e 13 25 e 26

Comissão de Recursos Humanos Encontro de RH Gestão Financeira de IFDs

DEZEMBRO 4

RUMOS 43 – Janeiro/Fevereiro 2015

Prêmio ABDE


MONOGRAFIA: Menção Honrosa Financiamento do Desenvolvimento

Programa Renova SP: Financiamento para renovação da frota de caminhões

Cesar Mello

Paulo Roberto da Silva Regina Bini Carrosa Os autores são funcionários da Agência de Desenvolvimento Paulista. Silva trabalha na Gerência de Produtos e Regina na Diretoria Financeira.

O

perado pela Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), o Programa de Incentivo à Renovação da Frota de Caminhões (Renova SP) foi criado em 30 de maio de 2012 por meio do Decreto Estadual nº 58.093 e oferece financiamento com taxa zero para proprietários de caminhões com data de fabricação igual ou superior a 30 anos, cuja tecnologia está ultrapassada, e emitem altas quantidades de gases poluentes, promovendo a troca por caminhões novos e menos poluentes. Sua criação decorre do compromisso assumido pelo governo do estado de São Paulo por meio da Lei nº 13.798, de 9 de outubro de 2009, na qual foi instituída a Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC). Dentre os 10 princípios elencados pela PEMC está a prevenção, que consiste na adoção de medidas capazes de mitigar impactos conhecidos no sistema climático da Terra para a manutenção do equilíbrio ecológico. O dióxido de carbono existe na natureza e é um dos gases que ajudam a reter parte do calor do Sol perto da Terra, o que é importante para garantir a vida no planeta. Mas a queima de combustíveis libera muito dióxido de carbono (CO2) e o excesso desse gás forma uma barreira que retém calor demais na atmosfera. O aquecimento altera o clima, afeta os seres vivos, causa derretimento das geleiras e interfere na composição da água e no equilíbrio do ambiente oceânico. O Programa Renova SP figura dentre as medidas do governo para promover a diminuição da emissão desse gás na atmosfera. Como benefícios esperados pela implantação do Programa Renova SP estão a diminuição da emissão de CO2, pois sabe-se que os veículos produzidos atualmente contam com uma tecnologia tal que os tornam bem menos poluentes do que aqueles produzidos há 30 anos; o impulso ao setor da indústria de fabricação de caminhões, gerando também um aumento no oferecimento de empregos; bem como o desenvolvimento/fomento das regiões impactadas. Dentre as vantagens aos beneficiários do programa estão a possibilidade de trocar seu caminhão velho e ultrapassado

por um novo e moderno, por meio de um financiamento com as taxas de juros equalizadas pelo governo de São Paulo, bem como a migração do emprego informal para o formal, gerando novas receitas, além de contratos com empresas de maior porte. Espera-se uma evolução da renda do beneficiário, seja por acesso a melhores trabalhos com maiores remunerações, seja pela redução dos gastos em manutenção do caminhão ou menor tempo parado devido a quebras. O financiamento é oferecido pela Desenvolve SP por duas linhas operadas pela instituição: Linha de Renovação de Frota com recursos próprios, e a Linha BNDES Procaminhoneiro com recursos originados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Programa, que tem como área piloto a região portuária de Santos, conseguiu estabelecer-se positivamente, retirando de circulação, até o momento, 62 caminhões muito poluentes, contribuindo assim para a melhoria das condições atmosféricas da região. O Renova SP é expressão de uma política pública voltada ao meio ambiente, consciente sobre os problemas ecológicos que afetam todos os setores da sociedade e da economia, empenhando-se em tornar sustentável nossa vida sobre a Terra.

Referências 1 – São Paulo. Decreto Estadual nº 58.093, de 30 de maio de 2012. Dispõe sobre o Programa de Incentivo à Renovação de Frota de Caminhões do Estado de São Paulo. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, 31 de maio de 2012, seção 1, p 4. 2 – São Paulo. Lei n° 13.798, de 9 de novembro de 2009. Institui a Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC). Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, 10 de novembro de 2009, seção 1, p. 1.

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Excelência em Gestão

Avaliação do planejamento estratégico numa instituição pública a partir do Balanced Scorecard: o caso BRDE Cesar Mello

Marcos Aurélio Cunha É formado em Administração e Engenharia Civil, e especialista em Engenharia de Avaliações e Perícias pela Universidade Federal de Santa Catarina. No Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul é analista de projetos.

A

necessidade de planejamento é uma realidade amplamente difundida no cenário empresarial, seja de natureza privada ou pública, com ou sem fins lucrativos. A delineação de metas e objetivos, com a participação do corpo gerencial, assim como a integração com os funcionários são práticas a serem adotadas pelas empresas que almejam o sucesso. A Administração Pública, seja direta ou indireta, também requer planejamento e o alcance das metas e dos objetivos traçados dependem dos métodos implantados, sempre na busca do interesse da sociedade. O presente trabalho justifica-se pela necessidade de avaliação dos critérios utilizados pela empresa estudada frente ao desafio da implantação de um Planejamento Estratégico num ambiente de Administração Pública Indireta e as dificuldades encontradas por um banco de desenvolvimento regional neste cenário. Inicialmente foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre o tema com a finalidade de embasar o estudo e confrontar com o que foi desenvolvido pela empresa estudada. Por meio de documentos institucionais também foi possível descrever o procedimento utilizado para a elaboração do Planejamento Estratégico 2011-2015 do BRDE, cuja metodologia buscou mesclar elementos tradicionais com os conceitos do Balanced Scorecard (BSC). Na pesquisa foi possível observar as etapas e resultados obtidos na formulação do Planejamento. Primeiramente foi criado um grupo de trabalho formado por profissionais do quadro de carreira para auxiliar o Comitê de Gestão na elaboração do documento. A primeira etapa teve como objetivo a definição do mapa estratégico, indicadores, metas e responsabilidades. Na sequência foi elaborado o Plano de Ação que juntamente com os itens já citados formam o atual Planejamento Estratégico. Com base nos cenários traçados, na matriz SWOT [Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças)] elaborada e na filosofia empresarial adotada foram definidas as perspectivas a serem utilizadas no Mapa Estratégico do BRDE: Desenvolvimento Regional; Autossustentabilidade; Clientes e Parceiros; Processos

Internos; Aprendizado e Crescimento. O mapa apresentado trouxe, em quatro níveis, cinco perspectivas adotadas pela instituição como ideais para o período do plano. Para cada perspectiva foram definidos os objetivos estratégicos. Assim feito e confrontando com o que se pesquisou na fundamentação teórica, observa-se que o mapa adotado está inteiramente ajustado para o período que delimitou o trabalho. Com a finalidade de avaliar as dificuldades encontradas pelas pessoas envolvidas na elaboração do trabalho do Planejamento do BRDE, foi realizada entrevista, por meio de questionário, com cinco funcionários pertencentes ao Grupo de Trabalho criado para este fim. Tentou-se agrupar pessoas de diferentes áreas da instituição, de maneira a dissipar qualquer ideia comum ao trabalho realizado e sua participação no referido grupo. Diante das respostas conclui-se que as dificuldades na produção do Planejamento Estratégico ficaram delimitadas nas pessoas envolvidas e não na técnica escolhida. De maneira geral, o Planejamento Estratégico adotado foi bem delimitado e de acordo com o que propõe a literatura específica. Ainda em andamento, este planejamento vem dando um caminho à instituição na busca pela excelência organizacional. Além disso, é possível prever que a implantação do BSC no BRDE trará uma série de resultados intangíveis adicionais. Entre estes é possível identificar a melhoria e padronização da qualidade da informação na instituição; o melhor entendimento por parte dos gestores com relação às necessidades de melhoria, e uma consequente maior focalização dos esforços gerenciais; a desfragmentação do trabalho, permitindo o planejamento e implementação de ações mais integradas e obtendo, assim, melhores resultados; e a descentralização de responsabilidades, já que a clareza das metas do BSC permite desdobrar claramente os compromissos das diferentes áreas da instituição, o que otimiza os resultados pela simplificação do trabalho. O BSC deve cumprir em especial a função de suprir o BRDE com uma ferramenta de gestão institucional, gerando assim um maior alinhamento e focalização do corpo funcional, e induzindo comportamentos mais estratégicos por toda a instituição.

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F

FOMENTO BB é listado entre bancos mais sustentáveis do mundo

Noel Joaquim Faiad

No ano passado, a Caixa bateu o recorde na contratação do Cartão BNDES, com cerca de 32 mil unidades emitidas e R$ 2,6 bilhões em limites concedidos. Em 2013, o cartão encerrou o ano com o saldo de R$ 433 milhões. O saldo gerador das receitas – limite utilizado pelo cliente – atingiu, em dezembro de 2014, o valor de R$ 1,2 bilhão, com 29 mil clientes utilizando o limite. O gerente de clientes e negócios de Planejamento e Desempenho de Rede em exercício, Leandro Nakajima de Souza, destacou o empenho dos empregados da rede para a conquista. “A mobilização, empenho e foco das superintendências regionais e agências, através da geração de significado sobre a importância das operações de investimento como fator de fidelização dos clientes, foi fator determinante para o alcance deste resultado histórico e só reforça o papel do banco como agente financeiro do desenvolvimento sustentável brasileiro.” O cartão pode ser ofertado a empresas com rating “A” e “B”, titulares de conta corrente ou poupança, com faturamento anual bruto de até R$ 90 milhões, não sendo necessário tempo mínimo de conta na Caixa. Caso a empresa possua pelo menos uma das operações entre o Domicílio Bancário de recebíveis MasterCard ou Visa, Giro Caixa, Conta Garantida, ou Cheque Empresa Caixa será concedida a possibilidade de contratação de até 100% do limite autorizado.

Divulgação

Caixa bate recorde de contratação em cartão

O Banco do Brasil foi reconhecido como um dos oito bancos mais sustentáveis do mundo em responsabilidade corporativa no livro The Sustainability Yearbook 2015, da RobecoSAM, organização responsável pelo processo de seleção do Índice Dow Jones de Sustentabilidade da bolsa de Nova Iorque (DJSI). O BB está listado na categoria bronze, sendo o único banco brasileiro classificado em uma das três categorias. Divulgada em janeiro, a publicação apresenta as melhores práticas em sustentabilidade das grandes lideranças empresariais mundiais. Integram o livro 15% das 1.995 empresas avaliadas que apresentaram o melhor desempenho. O certame reuniu empresas de 42 países, e das 36 indicações do livro para o setor Bancos, somente oito foram considerados líderes em sustentabilidade e classificados nas categorias ouro, prata e bronze. Na avaliação de 2014, o BB foi benchmark nos temas “Políticas/Medidas Anticrime”, “Estabilidade Financeira e Risco Sistêmico”, “Filantropia e Cidadania Corporativa”, “Inclusão Financeira” e “Desenvolvimento do Capital Humano”.

Badesul Cidades irá financiar R$ 7,4 milhões para 8 municípios

Divulgação

Oito municípios gaúchos assinaram contratos com a Agência de Fomento do Estado do Rio Grande do Sul (Badesul) por meio do Programa Badesul Cidades, totalizando o montante de R$ 7,4 milhões. Integrado às políticas públicas do estado, o Programa viabiliza investimentos em infraestrutura urbana, construção de pavilhões industriais, ginásios de esportes, máquinas e equipamentos rodoviários, centros administrativos, escolas e revitalização de praças. Os contratos foram assinados pelos representantes dos municípios e pelo presidente do Badesul, Marcelo Lopes. Durante a cerimônia de assinatura, o secretário do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Fábio de Oliveira Branco, explicou que a intenção é fazer com que as

prefeituras atuem como agentes do desenvolvimento. “É de fundamental importância a qualificação da infraestrutura nos municípios, até porque pretendemos fazer com que as prefeituras sejam os grandes agentes para o desenvolvimento sustentável do estado. Este ato reforça a importância do Badesul para o governo estadual”, disse. A importância desses recursos no progresso de cada município foi destacada pelo presidente da agência, Marcelo Lopes. “A equipe do Badesul fica extremamente orgulhosa em contribuir diretamente com os municípios de forma republicana, pensando e apoiando o desenvolvimento com as prefeituras do nosso estado. É importante lembrar que, no sistema financeiro gaúcho, só quem financia os municípios com recursos próprios é o Badesul”, afirmou.

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BNDES aprova R$ 135,6 milhões para modernizar gestão municipal

O Sebrae e a Campus Party identificaram, a partir de um universo de mais de 600 startups de todo o país e nas mais diferentes áreas de atuação, 200 empresas com grande potencial para conquistar o mercado em 2015. A seleção adotou como critério o nível de desenvolvimento do modelo de negócio, a qualificação da equipe, a qualidade dos produtos e serviços e o volume de potenciais consumidores. Essas empresas foram as grandes atrações da edição 2015 da Startup & Makers Camp, que aconteceu durante a Campus Party, em São Paulo. Os melhores negócios que prometem acontecer em 2015 representam as cinco regiões brasileiras e envolvem o trabalho de mais de 900 pessoas, entre funcionários e sócios. “A maior concentração dessas startups está em São Paulo, com quase metade das selecionadas, Rio de Janeiro (9%) e Minas Gerais (8,5%). Elas criaram inovações nos mais diversos segmentos, principalmente nas áreas de varejo e e-commerce, educação, comunicação e mídia, TIC e Telecom, finanças e entretenimento”, informa o presidente do Sebrae, Luiz Barretto. Além da oportunidade de contatos, os empreendedores terão acesso à orientação de consultores e 48 horas de palestras e workshops promovidos pelo Sebrae em parceria com a Associação Brasileira de Startups. O Startup & Makers, que é realizado pela terceira vez no Brasil, tem o objetivo de apoiar os empreendedores que estão começando ou em fase de consolidação, oferecendo a oportunidade de interação, conhecimento, exposição na mídia e contato com outras empresas e investidores. As startups também contarão com um espaço físico para apresentar seu negócio para possíveis clientes e visitantes. A proposta é que empresários, campuseiros, aceleradoras, investidores, entusiastas e visitantes se unam para compartilhar conhecimento e experiências, desenvolvendo assim os negócios inovadores. Durante o evento, as empresas ganharão prêmios e a possibilidade de demonstrar seus produtos e serviços para aceleradoras, fundos de investimentos e investidores anjo.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou a concessão de financiamentos para modernização das administrações municipais de Osasco (SP), Uberlândia (MG) e Niterói (RJ). As operações, no âmbito da Linha de Financiamento para Modernização da Administração Tributária e da Gestão dos Setores Sociais Básicos (BNDES PMAT), somam R$ 135,6 milhões. O maior financiamento, no valor de R$ 63 milhões, é com a prefeitura de Osasco. Os recursos do BNDES representam 90% do total a ser investido no projeto, que visa modernizar a administração tributária, geral, patrimonial, orçamentária e financeira e a gestão dos serviços básicos de saúde e assistência social do município, complementando as ações de operação anterior da linha PMAT, contratada em 2010. O primeiro financiamento contemplou ações como levantamento aerofotogramétrico, atualização do cadastro mobiliário e imobiliário, revisão da planta genérica de valores e implantação de sistema de informações georreferenciadas, que proporcionaram um crescimento de 55% na arrecadação de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de 2010 para 2013. A nova operação prevê implementação de novos sistemas, ampliação dos equipamentos do parque de Tecnologia da Informação, capacitação de servidores e implantação de duas subprefeituras, nas zonas Norte e Sul da cidade. Em Uberlândia, os R$ 44,6 milhões aprovados pelo BNDES representam 90% do valor a ser investido no projeto, que contempla o provimento de uma estrutura de comunicação de dados e imagem, conectando as diversas unidades da Administração Pública, e modernização dos recursos de TI da Secretaria de Educação e de todas unidades da rede municipal de ensino. Outras ações previstas são a implantação de soluções para gerenciamento eletrônico de documentos, business intelligence, geoprocessamento e cadastro técnico multifinalitário; revisão da legislação tributária municipal; modernização de hardware e de software; estruturação do setor de cobrança e contencioso administrativo; capacitação profissional; mapeamento de processos relacionados à arrecadação; e implantação de rede pública de wi-fi. Para Niterói, o banco de desenvolvimento aprovou R$ 28 milhões, o que corresponde a 90% dos investimentos previstos na modernização da administração tributária e na melhoria da qualidade do gasto público. As ações incluem adequação da Central de Atendimento ao Cidadão e da infraestrutura tecnológica da Prefeitura, bem como implantação de plano estratégico, sistema de gerenciamento de projetos, Programa de Transparência Pública (via portal), gestão eletrônica de documentos e tramitação de processos e sala de monitoramento e controle.

Douglas Mendes

SXC

Sebrae e Campus Party apontam startups promissoras para 2015

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LIVROS

O bom negócio familiar As empresas familiares representam mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) e cerca de 75% dos empregos gerados no país, mas ainda sofrem de desconfiança por conta de casos malsucedidos em diferentes setores – apenas 5% sobrevivem após a terceira geração. Na contracorrente, o diretor da Consultoria de Impacto José Renato de Miranda, autor do livro Empresa familiar – é sim – um bom negócio!, defende que esse modelo pode ser bem-sucedido, se ferramentas profissionais de gestão e descentralização forem seguidas, com o apoio de um profissional especialista no tema. A Rumos conversou com ele.

Divulgação

R

umos – Qual a amplitude do modelo “empresa familiar” no país hoje? José Renato de Miranda – Em média, 85% das empresas brasileiras são familiares, alguns setores como supermercados, autopostos, empresas de transporte coletivo, construtoras atingem quase 100%. Dos 300 maiores grupos brasileiros, 265 têm este perfil. Uma pesquisa da PricewaterhouseCoopers há dois anos, junto a 1.600 empresas familiares no mundo – brasileiras incluídas –, indicou que 82% dos empresários se preocupam com a gestão familiar.

Rumos – Os dados indicam que apenas 5% das empresas familiares sobrevivem após a terceira geração. Ainda assim, o livro afirma, com ênfase, que este é um bom negócio. Por quê? Miranda – A pergunta é pertinente: se a maioria das empresas no Brasil e no mundo é familiar, então o planeta está repleto de empresas falidas e ser familiar não é um bom negócio? Por outro lado, como pode ser um negócio tão arriscado se grande parte das empresas bem-sucedidas é familiar? As familiares brasileiras representam mais de 50% do PIB e 75% dos empregos gerados. Se juntarmos os dados de forma imediata e superficial, são corretas as interrogações. Porém, se pesquisarmos as histórias das empresas familiares, a conclusão será invertida. O tempo de duração das empresas, em geral, de quaisquer segmentos ou características, totaliza de 12 a 15 anos. Entre aquelas que superam a média, as familiares apresentam presença marcante exatamente ainda na primeira geração. Com facilidade, a longevidade ultrapassa 20 anos. Lá na frente, na troca do comando para a segunda ou para terceira geração, é que surgem os catastróficos índices. Ocorre que a empresa que entrou em queda (fundiu, foi vendida, abriu sociedade), na maioria das vezes vai cair em mãos de proprietários que darão novamente perfil familiar, daí o motivo para ser mantida a elevada participação de 85% no mercado. O índice é informado pelo perfil do negócio. Rumos – O senhor enfatiza a importância da descentralização e da profissionalização da gestão. Esses itens garan-

tem a longevidade da empresa? Miranda – Sim, seja pequena, média ou grande empresa, o empresário hoje começa a entender que a competição exige resposta ao mercado, ao cliente, e não à família; começa a entender que a família precisa trabalhar para a empresa, e não mais o contrário. Inclusive, quanto maior esta consciência, maior o valor do negócio. A empresa que funciona numa gestão profissional, sem a centralização no fundador, vale o dobro, o triplo pela sua sustentabilidade independente do conceito pessoal do proprietário. Quem quiser comprá-la não vai precisar incluir o fundador, será pelo valor do negócio, e não das pessoas. Mas a descentralização precisa acontecer com tempo e critério. Comportamentos e medidas entre os familiares devem incluir parar de pensar que o negócio é vitalício, que dá certo hoje e assim sempre será; impedir a entrada de parentes diretos ou indiretos por afinidade pessoal e colocar as necessidades da gestão acima de qualquer contratação; e não esperar pela tragédia anunciada de crises e conflitos para tomar atitude de descentralização e profissionalização. Rumos – Qual a contribuição que os governos e instituições públicas podem dar para que as empresas familiares cresçam em um ambiente de mais segurança em relação ao seu negócio? Miranda – Em face à globalização da competição empresarial e da extraordinária velocidade imposta pela tecnologia contemporânea, a continuidade da empresa familiar não é mais tarefa exclusiva “dos mais velhos” ou apenas da iniciativa privada. Ela cabe agora a todas as idades e setores, inclusive faculdades de Administração, universidades corporativas e instituições classistas. Entre os três motivos para a queda das empresas estão os conflitos familiares, logo, a boa gestão familiar é motivo para equilíbrio e sustentação do negócio. Uma pesquisa do Sebrae revelou que 65% das empresas fundadas morrem no quarto ano de vida, entre os três motivos está o despreparo profissional da família para gestão com união. Assim, é hora de as empresas públicas e instituições darem tratamento especial à profissionalização das famílias nos negócios através de cursos e treinamentos.

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Capitalismo em crise

História brasileira

Lançado no início deste ano, o livro traça uma síntese da geopolítica do desenvolvimento capitalista, tendo como ponto de partida a mais recente crise econômica mundial, que o planeta ainda está vivendo. O cientista político José Luís Fiori mostra a origem do capitalismo e faz uma longa análise da história mundial por meio da ótica capitalista, expondo as estratégias e as razões por este sistema ter se desenvolvido. O fio condutor são algumas teses elaboradas pelo autor ao longo dos anos: da exposição da evolução do sistema interestatal capitalista à análise da conjuntura contemporânea e das transformações mais recentes da economia internacional, Fiori analisa o desenvolvimento econômico de países que ocuparam, ou ainda ocupam, posições de liderança política e econômica dentro de suas regiões, entre eles Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, China, Argentina e Brasil. Voltando às origens do sistema capitalista e abordando novas formas de evolução dele, História, estratégia e

Originário de tese de doutorado defendida na Universidade de Harvard, ainda na década de 1970, o livro é um trabalho original e de fôlego sobre as relações entre capital e trabalho no Brasil antes do século XX. O autor tem como ponto de partida um massivo conjunto de dados estatísticos referentes ao período colonial e imperial e aos primeiros anos da República Velha, que demonstram a transição do trabalho escravo ao assalariado a partir de meados do século XIX, marco inicial da industrialização e da urbanização do Brasil. A despeito de sua reconhecida importância na bibliografia da história econômica do país, a pesquisa de Luiz Aranha Corrêa do Lago permaneceu inédita por mais de três décadas, acessível somente em algumas bibliotecas universitárias. Para fundamentar sua tese, ele utiliza dados que vão da demografia à estrutura agrária, da produção de mercadorias agropecuárias e minerais ao comércio exterior do Brasil, por meio de gráfi-

desenvolvimento, em seus 71 artigos, é, ao mesmo tempo, uma reflexão ao passado e um olhar para o futuro. A obra se torna, assim, peça importante para a compreensão da crise pela qual o capitalismo passa.

História, estratégia e desenvolvimento José Luís Fiori Boitempo Editorial, 280 p., 2015.

cos, tabelas, mapas e notas explicativas. Com esta primeira edição brasileira do texto revisto e adaptado da tese, o trabalho finalmente se torna disponível ao público amplo dos estudiosos e amantes da história.

Da escravidão ao trabalho livre - Brasil, 1550-1900 Luiz Aranha Corrêa do Lago Companhia das Letras, 283p., 2014.

Financiar as cidades

Um gigante em detalhes

Resultado de uma mesa-redonda realizada pela plataforma Arq.Futuro, a obra é uma compilação de artigos que buscam explorar mecanismos tradicionais e inovadores em financiamento de inovações urbanas, questionando o papel dos vários atores desta equação: administradores, governantes e investidores. Além da transcrição das apresentações de Fernando Haddad (prefeito de São Paulo), Luciano Coutinho (BNDES), Fábio Barbosa (Abril), Antônio Ermírio Neto (Vox Capital), Philip Yang (Urbem) e Marcos Cruz (Secretaria Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico de São Paulo), a obra complementa a discussão com artigos de especialistas das áreas jurídica, tributária, financeira e urbanística. Considerando que as cidades desempenham um papel cada vez mais central no desenvolvimento dos países, o livro se organiza em torno de três questões básicas sobre os modelos de financiamento dos orçamentos municipais: como aprimorar o ambi-

Como uma pequena startup se transformou em uma das maiores empresas do mundo? No livro lançado no Brasil pela Intrínseca, a mesma que publicou o best-seller O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty, os autores reúnem as valiosas lições que fizeram da empresa uma gigante conhecida pela missão de inovar incessantemente. Eles descrevem como o avanço da tecnologia transferiu o poder das corporações para os consumidores e reforçam que, para sobreviver na Era da Internet, é essencial concentrar esforços na qualidade dos produtos e investir em uma nova categoria de profissionais: os criativos inteligentes, que unem conhecimento técnico, tino comercial e uma criatividade sem limites. A obra presenteia o leitor com relatos de casos curiosos, além de exemplos da história e do dia a dia do Google, e aborda temas como estratégia, cultura corporativa, tomada de decisões, contratação de funcionários e capacidade de adaptação e inovação.

ente regulatório que afeta projetos urbanos? Quais organizações, públicas ou privadas, poderiam ser envolvidas na sua execução? E como financiar projetos de elevado impacto para a população?

Financiamento da inovação urbana: novos modelos Sérgio Lazzarini (org.) Editora Bei, 136p. 2014.

RUMOS – 49 – Janeiro/Fevereiro 2015

Em um tempo de mudanças cada vez mais rápidas nos negócios, o livro mostra o caminho para que gestores e empreendedores saibam abraçar o espírito de inovação, bem como atrair e manter a maior quantidade possível de talentos.

Como o Google funciona Eric Schmidt e Jonathan Rosenberg Intrínseca, 320 p., 2015.


CARTAS DO LEITOR

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Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall - Brasília - DF – CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 Fax: (21) 2109.6004 E-mail: abderj@abde.org.br

Diretora Estive viajando uns dias no começo do ano. A leitura acumulou, mas agora estou colocando em dia. Parabéns pela excelente entrevista com o professor Pochmann para a revista Rumos. Li esta semana. Aliás, toda a edição recente está um espetáculo. Sônia Araripe, Diretora de Plurale em revista e Plurale em site. Rio de Janeiro (RJ)

CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Luciano Coutinho DIRETORIA Presidente: Rubens Rodrigues Filho 1º Vice-Presidente: Milton de Melo Santos Vice-Presidentes: Guilherme Narciso Lacerda, Rogério de Paula Tavares, Valmir Pedro Rossi. Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima.

Hoteleiro Recebi hoje um exemplar referente à edição novembro/dezembro de 2014, que está ótima. Parabéns, abraços. Samir Curi Hallal, Pelotas (RS). Instituições Associadas à ABDE

Estados Unidos Renovamos o interesse em continuar recebendo a Revista Rumos: economia & desenvolvimento para os novos tempos. Cordialmente, Debra McKern, field diretor, The U.S. Library of Confresss Office. Rio de Janeiro (RJ) Redetec Venho solicitar a gentileza de continuar a receber a revista Rumos no novo endereço da Rede de Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro. Paula Gonzaga, diretora de Operações, Rede de Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro (RJ). Advogado Agradeço o envio do exemplar da edição nov./dez., que contém entrevistas bem interessantes. Parabenizo à equipe. Vinícius Santos, advogado. Rio de Janeiro (RJ).

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A. AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A. AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. AGERIO – Agência Estadual de Fomento BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Inovação e Pesquisa FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Publicação bimestral

ISSN 1415-4722 de 2014 &

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Ano 39 – Nº 279 Janeiro/Fevereiro 2015

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Redação e Administração Avenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20020-906

Telefone (21) 2109.6041 Fax (21) 2109.6004 E-mail rumos@abde.org.br Gerente de Comunicação - Editora Thais Sena Schettino Equipe Jader Moraes Livia Marques Pimentel Noel Joaquim Faiad

Acesse: www.abde.org.br

Revisão Renato R. Carvalho

RUMOS – 50 – Janeiro/Fevereiro 2015

TEMPOS

Capa Noel Joaquim Faiad Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta Conselho Editorial Carlos Alberto dos Santos, Carlos Henrique Horn, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.




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