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D E S E N VO LV I M E N T O
PA R A
OS
NOVOS
Um dia com o
Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus
TEMPOS
ANO 39 – Nº 281 – Maio/Junho de 2015
ECONOMIA
EDITORIAL
S Américo Vermelho
SUMÁRIO
4
Noel Joaquim Faiad
Ita Kirsch
14
28
EXPERTISE Bianor Cavalcanti
Em busca da confiança perdida
EMPREENDER Convênio
Parceria renovada entre cooperativismo e pequenos negócios
REPORTAGEM CAPA Muhammad Yunus
O mundo que queremos
AO LEITOR
U
m feito atípico é a nossa capa: um economista ganhador do Prêmio Nobel. Apresentar Muhammad Yunus apenas por essa façanha é fazer pouco da trajetória de um homem que contribui, de forma definitiva, para alterar o quadro de pobreza em seu país. Ao cunhar o termo microcrédito, o economista deu ao mundo uma nova forma de fazer financiamentos e impactou todo o planeta com a simples filosofia de que é preciso ajudar aqueles que querem empreender, gerando apoio financeiro e oportunidades. Em visita ao Brasil, a Rumos acompanhou as duas palestras que ele proferiu no Rio de Janeiro. Confira! Quem também passou pelo país foi a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde. Ainda que tenha demonstrado entusiasmo pelas últimas conquistas sociais promovidas pelo governo brasileiro, Christine foi enfática ao sinalizar que o ajuste nas contas é necessário e que o país estará no caminho certo se seguir à risca as medidas propostas pelo Ministério da Fazenda. Em nossa seção Expertise, ao comentar sobre a falta de confiança na administração pública, Bianor Cavalcanti, especialista em administração e políticas públicas, demonstra que este é um fenômeno que não acontece apenas no Brasil e aposta no reforço do caráter moderno e participativo do nosso arcabouço institucional para reverter a desconfiança. A Rumos traz ainda uma entrevista com o economista José Cláudio Linhares Pires, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que comenta um estudo inédito realizado pela instituição sobre a efetividade dos mecanismos de apoio às Pequenas e Médias Empresas brasileiras. Boa leitura!
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RUMOS – 3 – Maio/Junho 2015
ENTREVISTA Osmar Dias
Inovação no relacionamento com micro e pequenas empresas
OPINIÃO Antonio Delfim Netto
Começar do começo em 2017
ENTREVISTA José Cláudio Linhares Pires
Radiografia de um setor
REPORTAGEM Economia
Elogio à austeridade
EM DIA Os novos desafios do compliance no Brasil (parte 1 de 2)
EXTREMO SUL Energia
Alternativas possíveis
ARTIGO Ênio Meinen
O cooperativismo financeiro e os canais de (auto) atendimento
REPORTAGEM Inovação
O passaporte para o desenvolvimento
PELO MUNDO Jorge Varaschin
Nippon Ginko: símbolo da peculiaridade do desenvolvimento capitalista japonês
46 FOMENTO 48 LIVROS
EEXPERTISE
Bianor Cavalcanti
Em busca da co Por Ana Redig
A crise de confiança nas instituições públicas não é só uma questão que está em debate no Brasil, mas em outros países também, é o que mostra nesta entrevista o especialista em administração e políticas públicas Bianor Cavalcanti. Confira!
C
onfiança na Administração Pública. Este é um assunto que vem preocupando e desafiando gestores por todo o mundo. Exatamente por isso o tema foi escolhido como o foco dos debates no Congresso IIAS 2015, encontro anual promovido pelo International Institute of Administrative Sciences (Instituto Internacional de Ciências Administrativas), e que aconteceu no Brasil, na Fundação Getulio Vargas (FGV/RJ), de 22 a 26 de junho. A opção por dar destaque à (des)confiança foi feita durante o congresso de 2014, realizado no Marrocos, por ter sido um grande consenso entre a diretoria do Instituto, responsável por configurar o evento do ano seguinte. Rumos conversou com o especialista em administração e políticas públicas Bianor Cavalcanti, diretor Internacional da FGV e um dos principais articuladores e organizadores do congresso no Brasil. É verdade que o país vive uma crise de confiança, com casos como o Mensalão e o da Petrobras. Mas não foi essa a razão de sua escolha para sediar o Congresso IIAS 2015. “É importante registrar que o problema da confiança não é uma exclusividade brasileira, longe disso!”, garante o especialista em administração e políticas públicas Bianor Cavalcanti. Ele explica que a questão aflige profissionais da área em todos os cantos do mundo. “O congresso recebeu representantes de países de todos os portes e graus de desenvolvimento”, afirma. Cavalcanti destaca que existem problemas de confiança tanto da sociedade em relação à admiRUMOS – 4 – Maio/Junho 2015
nistração pública, como pela ótica da administração pública em relação a todos os tipos de representação da sociedade. Ele diz que é importante perceber que o governo, geralmente responsabilizado pelos problemas de confiança, é apenas um ator, dentro de toda a complexidade que é a ambiência pública da atualidade. “Hoje temos as parcerias público-privadas, além de diversas formas de participação no exercício das políticas sociais: com Organizações Não Governamentais, conselhos, associações. É preciso encontrar formas eficientes de gestão adequadas para cada uma delas”, observa. Bianor Cavalcanti, que é doutor em Administração e Políticas Públicas pelo Virginia Polytechnic Institute and State University e já foi diretor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da FGV/RJ, afirma que as mudanças na área da administração pública não se dão de uma hora para outra. “O Brasil é um país extremamente complexo. Em alguns momentos históricos específicos, tivemos que fazer acertos mais gerais, as chamadas reformas, para conseguir efetivar mais do que um projeto de governo: um projeto de país. Hoje estamos longe disso, pois parece que não temos projeto algum”, avalia. O especialista não considera este um bom momento para realizar reformas radicais na administração pública brasileira. “Qual decisão tomar: reformar ou mudar lentamente, é uma questão que acompanha a comunidade de estudiosos de administração e de políticas públicas há muitos anos. Eu, pessoalmente, acredito que este é um processo e, como tal, deve ir sofrendo mudanças de forma mais suave, encontrando caminhos e dialogando com os diversos
nfiança perdida atores que compõe toda essa complexidade”, argumenta. Segundo Bianor Cavalcanti, o Brasil sempre seguiu os Estados Unidos de perto, quando o assunto é administração pública e gestão. “Neste sentido, o brasileiro costuma achar que problemas como corrupção e burocracia, por exemplo, são exclusividades nossas, e isso não é verdade!”, enfatiza. De fato, no início do século passado, a corrupção nos Estados Unidos chegava a níveis altíssimos. O especialista compara o brasileiro Tenório Cavalcanti, conhecido como o “Homem da Capa Preta”, com o “Homem da Tammany Hall”, de Nova Iorque. Tenório arregimentava nordestinos que chegavam a Duque de Caxias sem dinheiro e à procura de trabalho para oferecer “ajuda”. Este era o futuro eleitorado que seria manipulado conforme a necessidade. O nova-iorquino fazia o mesmo com os italianos e outros europeus que chegavam à cidade americana com fome, fugidos de guerras e outros conflitos, em busca de um futuro na América. “Até que situações deste tipo chegaram
a um ponto que foi necessário fazer mudanças mais densas, tanto lá, como aqui”, ensina. Reformas – Cavalcanti diz que a reforma promovida em 1937, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, representou uma mudança muito importante na formação do poder e do aparato burocrático central de governo. “Essas medidas foram responsáveis por sedimentar uma administração pública em nível federativo, nacional. A administração pública foi fortalecida para garantir o desenvolvimento deste projeto de país, que incluía educação, legislação trabalhista com a implantação dos direitos, entre outros”, afirma o especialista. Ainda que ele
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Há alguns anos, a sociedade e os movimentos sociais faziam reivindicações, cobrando ações do Estado. Hoje esses atores trabalham articulados, participando da definição e implementação de políticas públicas.
Américo Vermelho
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EXPERTISE
Bianor Cavalcanti
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admita os defeitos deste modelo, desafios. Ele lembra que a água, no Brasil, falBianor diz que ele teve a qualidade ta onde mais precisa e sobra onde já tem. “A de organizar as relações de trabadistribuição da água é como a de renda: desiÀs vezes lho na sociedade brasileira. gual. Trata-se de uma equação invertida criticam o No início dos anos 1950, na entre abundância de água e o desenvolvisegunda gestão de Vargas, em seu mento. O Norte tem mais água e a maior tamanho da período mais democrático, foi cridemanda está no Sudeste”, observa. O espeburocracia, ao ada uma série de organismos cialista afirma que a Constituição de 1988 alimesmo tempo importantes como a Petrobras, o cerçou a base da Política Nacional de RecurBNDES, a Capes e a própria sos Hídricos, que trata da sua gestão integraque cobram Escola de Administração Pública da. “Esta lei deu um salto qualitativo, pois fiscalização e da Fundação Getulio Vargas. introduziu aspectos de mercado onde antes “Foi uma safra de instituições não havia: precificou-se o valor da água brueficiência, o que que tinham como missão formar um quadro ta, que era gratuita no país. Então, além dos geralmente exige na administração pública profissionalizado, mecanismos de outorga e controle, foi poscontratação, e não de alto nível. Foi outro momento importansível passar a cobrar pelo recurso utilizado, te, mas o modelo de Estado vigente na época gerando responsabilidade por ele”. cortes. tinha uma administração mais hierárquica, Cavalcanti explica que a lei institui uma mais monolítica. Havia uma clareza maior noção de gestão integrada em nível de bacia sobre o que cabe ao governo e o que cabe à e estabelece a obrigatoriedade da formação iniciativa privada fazer. Era outro cenário”, dos “comitês de bacia”, que contam com a observa. representação de organizações de especialiMais tarde, nova reforma, implantada em 1964, levou o zação acadêmica, da sociedade, de governo, entre outros. país a uma nova forma de fazer a gestão da administração “Este é o tipo de arranjo institucional para o qual caminhamos, pública, com uma concepção mais sistêmica. Ele lembra que a é este modelo que está à nossa frente e ao qual precisamos nos administração pública se dá dentro do contexto da política, do adaptar”, adverte. Ele destaca que a questão da água ainda direito constitucional e da gestão. Estes três fatores represenenvolve a da geração de energia, igualmente estratégica para o tam um sistema de interdependência complexo com interesses país. Para decidir e construir uma hidrelétrica é preciso um plabastante diversos. “Veja como a Constituição de 1988 mudou a nejamento de 10 a 15 anos, cerca de três mandatos diferentes, forma de conceber o público. Precisamos perceber que isso é portanto. Além disso, a questão vai envolver sete a oito setores um processo contínuo. É ingenuidade acreditar que podemos que participam diretamente da gestão da água envolvida neste criar um modelo do nada. Não adianta termos as melhores leis, empreendimento: governos dos três níveis, grandes usuários, sem a capacidade de implementá-las e fiscalizar seu cumpricomunidades impactadas, entre outros. “Não é de estranhar mento”, pondera Cavalcanti. que seja necessário administrar interesses conflitantes. Afinal, Segundo o diretor Internacional da FGV/RJ, o Brasil o que é bom para a geração de energia pode comprometer viveu alternâncias de governos mais e menos autoritários, mas aspectos ambientais, o consumo industrial ou interferir na forsempre foi um país muito aderente ao modelo ocidental de ma de viver de uma reserva indígena”, ressalta. sociedade, vocacionado para a democracia, uma democracia Bianor Cavalcanti observa que, ainda que o país tenha crialiberal que prevalece no Ocidente. “Hoje vivemos uma presdo todo este arcabouço institucional – moderno e participatisão cada vez maior por uma democracia mais direta, mais parvo –, quando a crise da água se acirrou o que se viu foram ticipativa e menos representativa, já que a representatividade governadores cobrando respostas e brigando uns com os política passa por uma profunda crise no momento”, observa outros. “Veja que isso aconteceu mesmo já existindo os mecao diretor da FGV. nismos avançados, democráticos e equilibrados capazes de proDe fato, há alguns anos, a sociedade e os movimentos socimover negociações inteligentes para se chegar a soluções boas ais faziam reivindicações, iniciativas de cobrança de ações do para todos ou pelo menos para a maioria”. Bianor Cavalcanti Estado. Hoje esses atores já se misturam e trabalham articuladiz que o desafio é exatamente encontrar essa adequação e dos, participando da definição e implementação de políticas administrar conflitos e crises. públicas, bem como nas parcerias público-privadas. O especiaPara ele, o mesmo ocorre na área da Saúde que, também lista afirma que a gestão participativa no Brasil já é uma realidaimpulsionada pela Constituição Cidadã, foi muito debatida e, de, mas o desafio está em como lidar com isso, visto que é de certa maneira, uma política pública de Saúde foi formulada. novo. “No entanto, o país enfrenta uma tremenda dificuldade em implementar esta política. E isto inclui a saúde privada”, alerta Bianor Cavalcanti. Ele diz que este problema pode ser enconGestão participativa – Bianor Cavalcanti utiliza a questão da trado até nos melhores hospitais particulares do Rio de Janeiro. água para demonstrar como este processo de mudanças lança
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“Eles têm bons médicos, enfermagem capacido assume, é obrigado até a aumentar, tada, mas permanece o gargalo na coordenacomo aconteceu por ocasião do 11 de ção da interdependência, que é essencial para Setembro, quando foi criado o superminisHá a gestão. A informação não circula. Se ela é tério da Segurança Doméstica, para lidar verdadeiras anotada, não é lida ou considerada. O médico com o problema da ameaça terrorista. prescreve um tipo de dieta, perguntam o que O especialista defende que a burocramáfias operando o paciente prefere comer e quando a refeição cia é necessária, e quanto mais profissional, negócios chega não é o que o paciente escolheu, nem mais eficiente. No entanto, ela precisa de pesados, faz parte do tipo de dieta recomendada. É precontrole. “Hoje temos um nível razoável ciso ter alguém que coordene isso com foco no Brasil como um todo e, em áreas imporenvolvendo e no cliente, caso contrário não funciona. Mais tantes como o Tesouro Nacional, a Polícia usando a máquina importante do que o planejamento, controle e Federal e a Receita Federal, temos um quaorganização é a coordenação das partes que dro altamente profissionalizado, gente que pública. Sem são interdependentes entre si para gerar enfrentou concursos difíceis, que atraem controle, o algum produto”, ensina. talentos importantes”, garante. Para ele, corporativismo se “O Brasil é um país ‘meia boca’. Nossa soreste pessoal especializado traz sua contrite é que como a boca é grande, complexa, ainbuição para que os ocupantes de cargos desenvolve. da temos flagelos para resolver, enquanto políticos se mantenham em determinada administramos áreas extremamente moderdireção, garantindo a continuidade das polínas e de sucesso para o país”, ironiza Bianor. ticas. “São estes funcionários de carreira Ele destaca que, apesar da produção de grãos que têm histórico da instituição, a expeno Brasil ser fantástica, as estradas, os locais riência do que deu certo e o que não deu. para silagem e portos deixam a desejar. “Nós fazemos as coisas Por isso, espera-se uma tensão positiva entre os politicamente pela metade. O país se desenvolveu, se urbanizou, se modernidesignados e a burocracia, que faz bem tanto para a adminiszou, os padrões de consumo aumentaram barbaramente, mas tração pública como para os governantes”, argumenta Bianor precisamos de um projeto de desenvolvimento claro, pois isso Cavalcanti. Ele apenas alerta para que não se exagere no “apareflete na administração”, avisa. relhamento”, uma presença excessiva do aparato político O especialista diz que a resposta para este autoflagelo está designado. “Se o controle político é fraco, o burocrata vai busno relacionamento entre esta diversidade de atores – mais de car os interesses dele, que podem não ser o interesse públium ministério, algumas secretarias, governos estaduais, munico”, avisa. cipais, setor privado, movimentos sociais, o próprio cidadão O diretor da FGV/RJ explica que, com o sistema político comum. enfraquecido, a burocracia precisa de um controle melhor. Bianor lembra que o nosso sistema político requer que escolhaCorporativismo e controle político – Embora Bianor mos alguém para nos representar. Alguém com quem nos afiCavalcanti procure evitar rankings, por considerar que eles não namos politicamente, que pensa a sociedade como nós pensarefletem as realidades dos países, ele afere que, entre os países mos. Esse representante, teoricamente, foi eleito também para da América Latina, o Brasil é o mais estruturado em todos os exercer um certo controle sobre a burocracia. “Mas não adianaspectos. “Não se pode comparar um país com a complexidata dizer que não gosta de política e que não participa. A política de do Brasil com um pequeno país asiático, sem cometer granestá em tudo, na reunião de condomínio, nas decisões coletivas des erros. Mas avaliar uma nação observando outras sempre é do trabalho. As pessoas precisam participar, interferir, para possível e positivo. Quando comparamos o Brasil a outros paíque seus direitos e desejos sejam atendidos”, recomenda. ses latino-americanos, os resultados no nível de industrializaBianor Cavalcanti diz que importância desses congressos é ção, de agropecuária, enfim, no que diz respeito à gestão de coiexatamente debater esses temas de forma aprofundada. “Quesas fundamentais para a economia do país, nossos resultados remos ver a representação de diversos interesses, trabalhando são bons”, garante. na negociação pelo legítimo interesse público. O conceito que O especialista afirma que o tamanho da administração deve valer é esse. Ninguém tem a clareza de expressar o intepública brasileira, de forma relativa, se comparada a outros paíresse público ou o que é melhor para todos. Isso não está na ses, não é tão grande assim. E enxugar a burocracia também cabeça de alguém iluminado. Deve ser construído pelo coletinão é toda a solução. “Veja que às vezes a população e a vo, com foco no interesse público”, defende. imprensa criticam o tamanho do Estado e da Administração Para tanto, o especialista recomenda o investimento em Pública, ao mesmo tempo que cobram fiscalização e eficiêneducação. “Não temos escolha: o país tem recursos estratégicia, o que geralmente exige contratação, e não cortes”, pontua. cos e, se acertarmos a questão da educação, que é a base de Bianor lembra que nos Estados Unidos não há candidato à Pretudo, será preciso apenas fazer uma boa gestão para garantir a sidência que não prometa cortar a burocracia pública e, quanqualidade da despesa”, finaliza.
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ENTREVISTA
OSMAR DIAS
Por Jorge Diehl
Inovação no relacionamento com micro e pequenas empresas Com 2,3 milhões de clientes Micro e Pequenas Empresas (MPE), o Banco do Brasil lança dois modelos de atendimento inovadores para esse público, considerado estratégico para a instituição. É o que explica o vicepresidente de Agronegócios e Micro e Pequenas Empresas do BB, Osmar Fernandes Dias, em entrevista à Rumos. Confira!
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umos – O Banco do Brasil lançou um modelo de agência destinada aos clientes Micro e Pequenas Empresas (MPE). O que são essas unidades? Osmar Fernandes Dias – Chamamos essas dependências de Agências Especializadas MPE. São unidades que oferecem atendimento especializado e exclusivo aos clientes desse segmento que faturam mais de R$ 1 milhão por ano. Nessas agências, os empresários recebem atendimento por meio de profissionais especializados e dedicados. As estratégias de canais de atendimento do banco direcionam para que as agências deixem de ser um local voltado apenas para a realização de transações e se tornem, cada vez mais, um ambiente de relacionamento, focado na consultoria financeira e na realização de negócios, com gerentes treinados para oferecer soluções adequadas e prestar assessoria aos clientes. Foi exatamente por isso que o Banco do Brasil criou as Agências Especializadas MPE, como forma de especializar e qualificar o atendimento ao segmento. As instalações dessas dependências contam com nova ambiência e sinalização interna, com a criação do balcão de atendimento expresso e salas de reunião para atendimento privativo aos empresários. Além disso, oferecem espaço de relacionamento para educação financeira e treinamentos, permitindo um atendimento completo. Contam também com orientação para o uso de canais virtuais, colaborando para a inclusão digital.
Rumos – Mas o que levou o BB a investir neste modelo de agência? Dias – Para corresponder à importância do segmento para o banco e para o país, pensamos: o que mais o BB poderia fazer para melhorar a experiência de seus clientes empresários? Em diversas conversas informais, confirmado posteriormente em pesquisas realizadas pelo banco, era relatado o desejo desses clientes em contar com um atendimento mais especializado, de preferência em um ambiente diferenciado e exclusivo. Ao mesmo tempo, percebemos que, com a assessoria financeira adequada, os empresários poderiam evoluir seus empreendimentos de forma mais sustentável e consistente. O que resultaria em um ciclo virtuoso, bom não só para os empresários, mas também para seus clientes, seus funcionários, para o banco e para o país. Analisamos nossa rede de agências de perfil varejo e percebemos que algumas iniciativas favoreciam a implementação desse modelo. Algumas unidades da rede do banco já vinham atendendo os clientes MPE de modo mais focado, com funcionários especialistas no relacionamento com o segmento. São agências com grande potencial para relacionamento com os empresários, pois geralmente estão localizadas em setores comerciais ou industriais de suas cidades, apresentando alta concentração de empresas como clientes. Resolvemos transformar as experiências dessas agências em um novo modelo de atendimento, estruturado e com acompanhamento de resultados e da satisfação dos clientes.
RUMOS – 8 – Maio/Junho 2015
Divulgação / Banco do Brasil
Osmar Fernandes Dias é Vice-Presidente de Agronegócios e Micro e Pequenas Empresas do Banco do Brasil. Engenheiro Agrônomo, foi Senador da República durante 16 anos, Secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Estado do Paraná, Gerente Técnico da Fazenda Experimental da Cocamar, Professor e Diretor da Fundação Faculdade de Agronomia Luiz Meneguel, Presidente da Companhia Agropecuária de Fomento Econômico do Paraná.
Como teste piloto, o BB inaugurou sete agências para o segmento de micro e pequenas empresas: Centro Comercial, em Campo Grande (MS); Praça Sete, em Belo Horizonte (MG); Bauru, em Bauru (SP); Frei Serafim, em Teresina (PI); Avenida Saudade, em Ribeirão Preto (SP); Curitiba, em Curitiba (PR); e Vitória, em Vitória (ES). Rumos – Quais foram as principais percepções durante o teste piloto? Dias – A principal conclusão diz respeito à disponibilização de respostas mais ágeis e relevantes às necessidades dos clientes, ampliando o foco no relacionamento e na concretização
de negócios que aumentem a competitividade das empresas. Durante o período do teste, os empresários perceberam a atenção que o Banco do Brasil estava destinando ao seu atendimento, o que refletiu em evolução no índice de satisfação desses clientes. Além disso, a agilidade dos processos garantiu o fluxo adequado de negócios, tanto do ponto de vista dos clientes quanto do banco. Os funcionários dessas agências também foram beneficiados pelo fato de trabalharem com foco no público específico. Sem a dispersão com atendimento a diversos segmentos ao mesmo tempo, os processos ficam mais ágeis e mais fáceis de conduzir. Isso propicia um ambiente agradável para ambas as
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ENTREVISTA
OSMAR DIAS
partes, o que estimula a prospecção e concretização de mais negócios com qualidade. A avaliação do BB é que a experiência é um grande sucesso, isso devido a diversos tipos de melhorias: da experiência e da satisfação dos empresários, da qualidade da interação entre a agência e esses clientes, do conforto e tranquilidade do ambiente, do foco na assessoria às necessidades das empresas, entre outras. Tudo isso obviamente reflete no resultado: desempenho crescente, sustentável e superior à média. Desse modo, todos ganham!
nas empresas. Isso significa maior conhecimento dos negócios dos clientes e maior qualidade no relacionamento desses funcionários com os empresários. O objetivo geral é promover o atendimento proativo e estabelecer uma maior proximidade com o cliente, seu cotidiano, suas necessidades, seus desafios. Acreditamos que todas essas características somadas contribuem para que as Agências Especializadas MPE se tornem um espaço onde o empresário se sinta mais confortável e propicie uma melhor experiência para tomar suas decisões financeiras. Mas o modelo não é estático, ele está sob constante avaliação e permanente evolução. Já estamos elaborando estudos Rumos – O senhor falou rapidamente sobre os diferenpara a implantação de outros diferenciais. Posso citar os terciais disponibilizados para as micro e pequenas empreminais de autoatendimento sas nas agências com atendo Sebrae, que foram instadimento especializado. lados em algumas das AgênPoderia descrever com cias Especializadas MPE. mais detalhes esses difeEm breve, devemos estenrenciais? der esses terminais para as Dias – Sim, claro! Estamos A estratégia é que as agências deixem demais unidades do modemuito satisfeitos com a qualo. Outro serviço em estudo lidade do espaço de relaciode ser um local voltado apenas para é o uso de courier para transnamento que essas agências a realização de transações e se porte de documentos, mais se tornaram em tão curto tornem, cada vez mais, um ambiente um benefício para facilitar o espaço de tempo. Na estrudia a dia de nossos clientes. turação das agências especiade relacionamento. Algumas unidades lizadas, foram pensadas soluda rede já vinham atendendo os ções para viabilizar uma Rumos – O senhor citou clientes MPE de modo mais focado. ambientação diferenciada e as sete Agências Especiapropiciar especialização no lizadas MPE do teste piloResolvemos transformar essas atendimento, alinhadas às to. O BB deverá expandir experiências em um novo modelo necessidades dos clientes esse modelo para o restande atendimento. MPE. te do país? Nesse contexto, foram Dias – Nós já estamos implementadas adequações expandindo. Após analisar na ambientação e sinalizaos resultados obtidos duranção interna. Melhoramos a comunicação visual e os equipate o funcionamento dessas primeiras unidades, o banco decimentos. Tudo é pensado e adequado às necessidades dos diu ampliar o modelo para o restante do país, com inauguraempresários. Isso faz toda a diferença para nosso cliente ções de agências especializadas durante este ano de 2015 por MPE se sentir à vontade e se tornar o foco da atenção do todo o Brasil. banco, facilitando a realização de bons negócios. Além das sete agências, que estão em pleno funcionamenAlém disso, nas Agências Especializadas encontramos to, possuímos mais duas prontas para serem inauguradas. São espaços de relacionamento para diferentes objetivos. Há, por elas: Nelson D’Ávila, em São José dos Campos (SP), e Santa exemplo, uma sala para educação financeira, onde podem Efigênia, em São Paulo (SP). ocorrer palestras, reuniões ou treinamentos. Também existem Está prevista a implantação de mais 42 Agências Especialisalas de reuniões para atendimento aos empresários, onde zadas MPE, que estarão distribuídas por todo o país. Haverá podem ser tratados assuntos financeiros, de forma privativa, pelo menos uma unidade em cada um dos estados da Federagarantindo uma maior discrição nas negociações. Também foi ção e no Distrito Federal, totalizando 51 unidades. As futuras implantado balcão de atendimento expresso, onde são recebiinaugurações serão amplamente divulgadas. A lista completa dos os mais diversos tipos de documentos em uma fila especidas unidades em funcionamento pode ser consultada no site al. Esse balcão propicia uma racionalização do atendimento, bb.com.br/mpe. pois agiliza a entrega de documentos, além de permitir uma disRumos – As Agências Especializadas MPE atendem as ponibilidade maior de tempo para os funcionários focarem na empresas que faturam mais de R$ 1 milhão por ano. E os atividade de assessorar os empresários. clientes que faturam abaixo desse patamar, como ficará Os clientes das agências especializadas podem contar seu atendimento? com atendimento especial às suas necessidades, pois os funDias – Em 2013, iniciamos um modelo inédito de atendicionários dessas unidades foram capacitados com uma gramento digital ou remoto para os clientes micro e pequenas de de treinamento centrada no segmento de micro e peque-
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RUMOS – 10 – Maio/Junho 2015
empresas que faturam menos de R$ 1 milhão por ano. Trataespecialistas em investimentos, previdência, seguridade e se de um modelo totalmente inovador, que permite aos clioperações de crédito. Ressaltamos que o acesso direto a entes receber atendimento à distância e em horário estendiesses especialistas é pouco frequente nas agência físicas, do, das 8h às 18h. devido às limitações operacionais. Mas, com os funcionáriEssa nova plataforma de relacionamento é o começo de os do Escritório de Negócio MPE, esse acesso não só é posum importante processo de mudança e modernização dos sível, como também esse relacionamento é feito com toda a modelos adotados pelo banco para se relacionar com seus conveniência das ferramentas digitais e, além de tudo, com clientes MPE. horário estendido. No Escritório, os especialistas também Entre as principais inovações previstas, está o uso de fercontribuem para acelerar o andamento de operações, mesramentas de conveniência digital, como videoconferência, mo aquelas contratadas na agência varejo onde o empresário mensagens instantâneas, e-mail, chat on-line, troca eletrônimantém sua conta. ca de documentos e gravações telefônicas, entre outros. Há É importante ressaltar que os clientes permanecem com também facilidades para transporte de documentos entre a acesso ao atendimento presencial na agência onde mantêm empresa e o banco, como o serviços de courier. conta-corrente. Também destacamos que eles continuam O uso dessas ferramenpodendo utilizar a Central tas vai permitir que o cliente de Atendimento do Banco possa ser atendido sem a do Brasil, para obter infornecessidade de ir até uma mações e realizar transaagência física do Banco do ções. Brasil. Isso está alinhado à Em 2014, o mobile pessoa jurídica evolução do comportamenRumos – Todos os cliento do pequeno empresário: tes MPE do banco já do BB apresentou crescimento de em 2014, o mobile pessoa juríestão sendo atendidos 196% e o internet banking para dica do BB apresentou crespor meio desses dois empresas evoluiu 34%. Ou seja, os cimento de 196% em suas modelos? transações mensais e o interDias – Estamos em procesempresários estão cada vez mais net banking para empresas so de migração dos clientes “conectados”. O relacionamento evoluiu 34% no mesmo aptos a serem atendidos nos por meio das ferramentas digitais é período. Ou seja, os empredois modelos, de forma grasários estão cada vez mais dual, para garantir uma ótium desejo muito forte dos clientes. “conectados” e comparema experiência para todos. Atender esse anseio também significa cem menos ao banco. Para ter uma ideia, mais da inovar no atendimento. O relacionamento com metade dos clientes Micro e o empresário por meio das Pequena Empresa do BB ferramentas digitais, não estão aptos para migrarem abrindo mão também do para o modelo digital. São atendimento presencial, é um desejo muito forte dos clienmuitos empresários! Queremos que todos eles passem a ser tes. Atender esse anseio significa inovar no atendimento, atendidos no novo modelo da melhor forma possível. entregando benefícios, como agilidade, acessibilidade e conO modelo digital foi implantado em caráter experimenveniência. Tudo isso contribui para melhorar a experiência tal em 2013. O projeto teve início com a implantação do do empresário, oferecendo-lhe comodidade e modernidade Escritório de Negócios em São José dos Pinhais (PR). no acesso ao BB e maior tempo para se dedicar ao seu negóSomente a partir desse escritório são 15 mil clientes atendicio. Acreditamos que a disponibilização desse atendimento dos em todo o país. Essa experiência demonstrou evolução digital é um enorme passo nessa direção. em vários indicadores, mas quereremos destacar o índice de satisfação dos clientes. A melhoria foi de aproximadamente Rumos – Entre as ferramentas estão e-mails, chat on10%, o que para nós caracteriza claramente que acertamos line e videoconferência. Mas quem são os funcionários na estratégia. que prestam o atendimento digital? Após obter esses bons primeiros resultados, o Banco do Dias – O que difere nesse modelo é que os empresários irão Brasil expandiu, em abril de 2015, o projeto para outro contar com mais um ponto de contato. São os gerentes e Escritório de Negócios em Joinville (SC). Já em pleno funciassistentes especializados, que trabalham em um novo tipo onamento, o escritório atende quase dois mil clientes daquede unidade que o BB criou: o Escritório de Negócios MPE. la cidade catarinense. Além disso, temos a previsão de inauEsses gerentes de relacionamento e a equipe especializagurar, ainda este ano, mais um escritório nos mesmos molda têm treinamento específico – por vezes até por ramo de des na cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo, por meio do atividade das empresas dos clientes – para prestar a melhor qual deverão ser atendidos centenas de empresários. Nossa assessoria financeira possível e atender as necessidades dos expectativa é continuar lançando escritórios continuamente empresários. até passar a atender, por meio deste modelo, aproximadaAssim, os nossos clientes MPE passam a contar com mente 600 mil clientes MPE
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OPINIÃO
Começar do começo em 2017 Marcelo Correa
Antonio Delfim Netto Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.
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orçamento federal – como todos os orçamentos no Brasil: estaduais, municipais, das empresas estatais, fundações, autarquias e até das ONGs (entidades nominalmente “não governamentais”, mas financiadas pelos governos) – tem caráter geológico. A condição suficiente para um programa estar no orçamento de 2015 é que tenha estado no orçamento de 2014... E, para ter estado no de 2014 é porque já estava no de 2013... Assim, por uma indução regressiva, qualquer programa – seguramente sem avaliação de sua eficácia – terá permanecido por ter tido a sorte daquele “jaboti” posto na árvore por um político diligente, que ameaçou não votar o orçamento na undécima hora se ele não fosse aceito... A condição necessária é eleger um bom “caçador” de jabotis! A estrutura “geológica” se explica por conta dos “programas” que se acumulam em camadas. Nunca terminam. Vão se somando uns sobre os outros adquirindo, quando preciso, novos nomes “fantasia”. É por isso que é fundamental – pelo menos a cada geração, 25 anos – instituir uma “força-tarefa” para construir o Orçamento de Base Zero: rever e avaliar, objetivamente, os resultados de todos os programas e ordenar os que passaram no teste por suas taxas de retorno social. Por que uma geração? Porque a Câmara dos Deputados terá sido renovada seis vezes, com taxa média de retorno de 60% e menos de 5% dos plantadores de jaboti originais ainda estarão lá para defender suas “criaturas”... Não se trata de reduzir a carga tributária, mas de eliminar o desperdício para ampliar o investimento. A Constituição de 1988 escolheu construir uma sociedade civilizada, em que a igualdade de oportunidades é o “ideal” a ser perseguido. Isso exige um Estado forte, constitucionalmente controlado, capaz de regular os mercados e usar eficientemente os recursos apropriados pelo sistema tributário para proporcionar saúde e educação para todos (paga por todos) e mitigar os efeitos da transmissão intergeracional da riqueza acumulada quer pelo mérito, quer pela sorte. Há tempo mais do que suficiente para preparar um Orçamento BASE-ZERO (OB-0) e submetê-lo ao escrutínio do Congresso em agosto de 2016, para vigorar em 2017 destinando 4% ou 5% do Produto Interno Bruto (PIB) para investimento público na infraestrutura e mantendo o controle da relação Dívida Bruta/PIB. Isso nos leva a um segundo grande problema. É inegável
que o funcionalismo público de carreira, admitido por concurso e promovido com a complementação de cursos de aperfeiçoamento internos, tem melhorado de qualidade. Esta só não é otimizada devido à parasitagem dos companheiros de “passeata” ou de “tertúlias acadêmicas” de livre nomeação que infestam a administração. Não é possível explicar a ineficiência do Estado brasileiro sem olhar para a sua estrutura. O recente The Global Competitiveness Report – 2014/15, do Word Economic Forum, analisa o nível de competitividade de 144 países (o melhor tem rank 1º e o pior 144º). Quando separamos os setores privado e público há uma enorme perplexidade: somos o 36º (muito melhor que nossos competidores mais próximos) com relação ao setor privado e, lamentavelmente, o 136º com relação ao setor público (muito pior do que nossos competidores). A ineficiência do setor público leva o Brasil ao 57º lugar no índice geral. Esses fatos – por mais imprecisos que sejam e por mais amarga que seja sua digestão – não podem ser explicados como uma perseguição mundial às ilusões da nossa grandeza nacional. Sugerem, ao contrário, que temos um grave problema estrutural na organização interna do Estado, cuja percepção é cada vez mais gritante, como se vê na sugestão de enfrentá-lo reduzindo o número de ministérios. Isto, por si só, não eliminaria os programas que satisfazem apenas a grupos organizados e interesses privados disfarçados de públicos. O Presidente da República pode, por decreto, “dispor sobre a organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos”. Por que, então, não pensar numa segunda força-tarefa de experimentados administradores públicos e privados para estudar formas de colocar o setor público no “estado da arte” e oferecer projeto em 2016 ao exame do Congresso Nacional, para analisar “a criação e extinção de órgãos da administração pública”, como exige a Constituição? São iniciativas que mobilizariam a inteligência nacional e seriam muito bem-vindas para reconquistar a confiança da sociedade brasileira no Estado, essencial para dar suporte a ideias nas quais se pensa o país no longo prazo, sem o que a volta ao crescimento robusto não acontecerá. Por que não começar do começo em 2017, enquanto pomos em ordem a economia em 2015/2016? O Brasil precisa, acima de tudo, de esperança!
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SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO AFAP Agência de Fomento do Estado do Amapá S/A www.afap.ap.gov.br
BANDES Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A www.bandes.com.br
AFEAM Agência de Fomento do Estado do Amazonas S/A www.afeam.am.gov.br
BANPARÁ Banco do Estado do Pará S/A www.banparanet.com.br
AFERR Agência de Fomento do Estado de Roraima S/A www.aferr.rr.gov.br AGEFEPE Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S/A www.agefepe.pe.gov.br AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINS Agência de Fomento do Estado do Tocantins www.fomento.to.gov.br AGERIO Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro S/A www.agerio.com.br AGN Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S/A www.agnrn.com.br
FINEP Inovação e Pesquisa www.finep.gov.br
BB Banco do Brasil S/A www.bb.com.br
FOMENTO PARANÁ Agência de Fomento do Paraná S/A www.fomento.pr.gov.br
BDMG Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S/A www.bdmg.mg.gov.br
GOIÁSFOMENTO Agência de Fomento do Estado de Goiás S/A www.fomento.goias.com.br
BNB Banco do Nordeste S/A www.bnb.gov.br
MT FOMENTO Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S/A www.mtfomento.mt.gov.br
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social www.bndes.gov.br BRB Banco de Brasília www.brb.com.br BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul www.brde.com.br
BADESC Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S/A www.badesc.gov.br
CAIXA Caixa Econômica Federal www.caixa.gov.br
BADESUL Badesul Desenvolvimento S/A – Agência de Fomento RS www.badesul.com.br
DESENBAHIA Agência de Fomento do Estado da Bahia S/A www.desenbahia.ba.gov.br
BANCO DA AMAZÔNIA Banco da Amazônia S/A www.bancoamazonia.com.br
DESENVOLVE Agência de Fomento do Estado de Alagoas S/A www.desenvolve-al.com.br
BANCOOB Banco Cooperativo do Brasil S/A www.bancoob.com.br
DESENVOLVE SP Agência de Desenvolvimento Paulista www.desenvolvesp.com.br
PIAUÍ FOMENTO Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S/A www.fomento.pi.gov.br SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas www.sebrae.com.br
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EMPREENDER CONVÊNIO Por Sarah Barros
Parceria renovada entre cooperativismo e pequenos negócios Sebrae firma novos convênios com entidades do setor de cooperativismo de crédito, consolidando práticas para promover a inclusão financeira e o acesso ao crédito para pequenos negócios
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ma nova etapa de aproximação entre cooperativas de crédito e pequenos negócios, com incentivo para a ampliação do acesso a mercados e à capacitação técnica de associados e colaboradores, foi inaugurada no primeiro semestre de 2015. Isto porque o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) firmou novas parcerias com instituições do setor cooperativista brasileiro, com atuação no meio urbano e rural. A celebração de convênio com o Banco Cooperativo Sicredi, em maio de 2015, expande o campo de atuação conjunta já desenvolvida entre as duas organizações e formalizada no âmbito do Projeto de Fomento às Boas Práticas em Cooperativas de Crédito. Já o compromisso firmado entre o Sebrae e a Confederação Nacional das Cooperativas Centrais de Crédito e Economia Familiar e Solidária (Confesol), assinado em abril deste ano, prevê ações de acesso ao crédito com foco no pequeno produtor e agricul- Presidente da Confesol, Ailton Croda, e a diretora-técnica do Sebrae, Heloísa Menezes, na assinatura do convênio. tor rural.
Os dois convênios de cooperação geral definem compromissos dos signatários com o planejamento e a execução de ações orientadas para a disponibilidade, por parte das cooperativas de crédito, de produtos e de serviços financeiros, em condições favoráveis, destinados ao atendimento das necessidades financeiras de investimento e de capital de giro dos pequenos negócios instalados em todo o Brasil. O intuito é promover entre as cooperativas de crédito o aprimoramento do atendimento oferecido ao segmento de negócios com receita bruta anual de até R$ 3,6 milhões, faixa em que se encontram microempreendedores individuais (MEI), microempresários e pequenas empresas. Com isso, pretende-se facilitar e agilizar, por meio de processos simplificados e desburocratizados, o acesso desses clientes ao crédito e aos demais serviços financeiros oferecidos pelas cooperativas filiadas. Como parte da estratégia do Sebrae de fortalecer o coo-
Ita Kirsch
Atendimento a cooperados no Sicred, que já possuía parceria com o Sebrae em sete estados e agora eleva integração ao nível nacional.
perativismo enquanto importante alternativa de inclusão financeira dos pequenos negócios, a entidade, juntamente com suas representações estaduais, se comprometeu, nas parcerias com o Sicredi e a Confesol, em oferecer mecanismos de estímulo a iniciativas de capacitação, consultoria, elaboração de projetos e assistência técnica para que as cooperativas de crédito filiadas possam desenvolver produtos e serviços cujos beneficiários finais sejam os pequenos negócios. O objetivo é prover instrumentos e informações técnico-gerenciais ao corpo funcional das cooperativas, no âmbito da atualização de conteúdos e criação de novas ferramentas para atrair e atender os pequenos negócios. Os convênios contemplam ainda a apresentação de estudos e diagnósticos, nacionais e estaduais, que possam nortear ações das cooperativas de crédito em direção ao público atendido pelo Sebrae. De acordo com a diretora-técnica do Sebrae, Heloísa Menezes, a renovação e ampliação das parcerias para esta segunda fase de fomento ao relacionamento entre o cooperativismo de crédito e os pequenos negócios é a consolidação do trabalho realizado na primeira etapa do Projeto de Fomento às Boas Práticas em Cooperativas de Crédito, iniciado em 2011. “Além de disseminar boas práticas, o segmento cooperativista deve se apresentar como uma alternativa importante de acesso a serviços financeiros para os pequenos negócios”, reforça. Até 2014, o trabalho conjunto do Sebrae com o cooperativismo financeiro viabilizou um crescimento de 140% em crédito para pequenos negócios, proveniente das 185 cooperativas de crédito participantes, em 17 estados, totalizando R$ 8,57 bilhões até agosto do ano passado. No Amapá, por exemplo, o montante saltou de R$ 373,7 mil, em 2011, para R$ 4,3 milhões ao final do primeiro semestre de 2014. Quando considerado todo o universo cooperativista, o desempe-
nho entre pequenos negócios no período de 2011 a 2014 foi menor percentualmente, com aumento de 31,2% no volume de crédito concedido a pequenos empresários, totalizando R$ 10,1 bilhões. No Sistema Financeiro Nacional (SFN), a taxa de expansão foi modesta: 11,66%, chegando ao patamar de R$ 335 bilhões. O caminho adotado pelo Sebrae foi a promoção de intercâmbio de boas práticas para o incremento do acesso a serviços financeiros e a redução de custos focados em empresas de pequeno porte. “Nessa fase, as parcerias com entidades cooperativistas estimularam a participação de cooperativas singulares em projetos do Sebrae voltados à inclusão financeira dos pequenos negócios”, explica Heloísa. Outro resultado positivo foi a ampliação da participação do Sebrae em eventos e ações diversas de parceiros, como o Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred), cuja décima edição aconteceu em Manaus (Amazonas), no ano passado, por iniciativa da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras), e o Prêmio Cooperativa do Ano, promovido pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), entre outras. Segundo a diretora-técnica do Sebrae, essa aproximação fez com que a presença do Sebrae se fortalecesse como instituição de apoio ao cooperativismo. Novas ações – Os convênios assinados com o Sicredi e a Confesol estão inseridos em um horizonte de dois anos de trabalho, que representam investimentos de R$ 7,1 milhões em dez novos projetos de desenvolvimento do cooperativismo financeiro, a segunda fase. Na primeira fase, o valor aplicado foi de R$ 5,2 milhões. A meta prevista nesta segunda etapa é atrair para as cooperativas de crédito conveniadas aproximadamente 50,6 mil empresas, garantindo movimentação de R$ 1,865 bilhão em crédito. “Na segunda fase, não são as
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EMPREENDER CONVÊNIO
mesmas cooperativas, então, estamos conCOBERTURA SICREDI NO BRASIL siderando que esse incremento é somente nas cooperativas participantes da segunda fase”, explica Heloísa. No caso do convênio com o Sicredi, a parceria eleva ao nível nacional a integração entre as duas entidades com ações já PA desenvolvidas junto a cooperativas de crédito localizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins. “Além de fortalecer as parcerias locais em andamento, a TO RO ampliação do acordo vai criar novas oportunidades de MT ações conjuntas, o intercâmbio de conhecimento, além de fomentar o desenvolvimento e a capacidade compe2,9 mi GO titiva dos pequenos negócios”, afirma o CEO do Banco ASSOCIADOS Cooperativo, da Confederação e da Fundação Sicredi, Edson Nassar. O convênio foi assinado em maio, em MS 98 Porto Alegre, durante o II Seminário de Lideranças do SP RJ COOPERATIVAS Cooperativismo Financeiro para Pequenos Negócios. PR O Sicredi conta com aproximadamente 300 mil 1.237 associados pessoas jurídicas, que correspondem a 10% SC UNIDADES DE ATENDIMENTO da base de clientes. Destes, 96% são micro e pequenas RS empresas, que atuam, principalmente, no comércio (46%) e no setor de serviços (40%). O desempenho é Fonte: Relatório anual 2014 - Sicredi atribuído ao atendimento próximo e consultivo, com oferta de soluções que apoiam o empreendedor tanto para aumentar sua rentabilidade quanto na hora de expandir o negócio. Entre maio de 2014 e maio de 2015, a cos regulatórios específicos. Somos cooperativas de crédito base de pessoa jurídica do Sicredi cresceu 13%. “Os pequede ramo e não queremos perder essa origem”, frisa o presinos negócios assim como as cooperativas de crédito promodente da Confesol, Ailton Croda. Atualmente, a Confesol convem o desenvolvimento econômico das regiões onde atuam. grega em cinco centrais (Cresol, Cresol Baser, Crehnor, AscoA capacitação dos colaboradores que estão mais próximos ob e Central Cresol Sicoper) o total de 158 cooperativas de crédo segmento, segundo estratégias metodológicas locais, muldito, instaladas em 20 estados brasileiros, chegando diretatiplicará o acesso ao conhecimento e qualificará o atendimenmente aos associados por meio de 504 pontos de atendimento aos associados pessoa jurídica”, acrescenta o CEO. to. Ao todo, são 394,7 mil associados da agroindústria familiPara o Sebrae, a maior abrangência do convênio abre ar. “Hoje já oferecemos financiamentos, acesso ao crédito oportunidades para a inclusão financeira dos pequenos negórural, assistência técnica, apoio em gestão e regularização e na cios por meio do cooperativismo financeiro. “Temos a persconsolidação de marca dos cooperativados”, elenca Croda. pectiva de ampliar a atuação do Sicredi com pequenos negóNo âmbito da parceria com o Sebrae, a confederação especios e participar de projetos do Sebrae de apoio ao cooperatira agregar outros serviços tanto para o público atendido quanvismo em todos os estados onde o Sicredi está presente”, ponto para a própria gestão das cooperativas filiadas. Uma das tua Heloísa. Além dos sete estados já citados, o Sicredi tamações é prover mais capacitação para dirigentes e colaboradobém conta com pontos de atendimento em São Paulo, no Rio res em áreas como atendimento, papel do cooperativismo para de Janeiro, no Pará e em Goiás. o desenvolvimento regional, legislação e normatização do setor. “O nosso objetivo é continuar fortalecendo o agricultor Crédito ao campo – O convênio firmado pelo Sebrae com a para que ele continue a produzir e permaneça no campo com Confesol se volta para atender outro público em potencial qualidade de vida”, destaca Croda. Com a atuação conjunta associado em cooperativas de crédito: o de pequenos agriculcom o Sebrae, há a perspectiva também de expansão do cootores e produtores rurais. No caso da Confesol, o perfil de perativismo de crédito familiar e solidário e de avanços cada seus associados é o definido pela Lei 11.326/2006, segundo a vez mais significativos no que se refere a serviços tecnológicos, qual os empreendedores familiares rurais são detentores de como sistema de compensação financeira própria – em discusárea com até quatro módulos fiscais e utilizam, predominansão com o Banco Central – e atendimento online. temente, mão de obra da própria família nas atividades ecoFoi justamente na área de tecnologia que se deu a maior nômicas do seu estabelecimento ou empreendimento. A renaproximação entre o Sebrae e as cooperativas de crédito no da deve ser originada, em maior parte, dessas atividades e o setor da agricultura familiar e economia solidária. Em 2008, o estabelecimento deve ser dirigido pela própria família. “Isso apoio da entidade e do Ministério de Desenvolvimento Agrános coloca em uma condição diferente da vivida pelos bancos rio (MDA) à Confesol resultou na criação e implementação cooperativos de área urbana, com produtos específicos e mardo Sistema Colmeia. O programa de gestão de cooperativas RUMOS – 16 – Maio/Junho 2015
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de crédito tem a função de propiciar o importância para fomentar o empreendedorisfuncionamento das instituições de formo e estimular a economia”, avalia o superinma online, atendendo as exigências nortendente de Gestão Estratégica do Bancoob, mativas e regulatórias do Banco CenCláudio Halley. O Bancoob é um banco comertral e demais órgãos governamentais. cial privado especializado no atendimento a cooDesde o ano passado, com a conclusão perativas de crédito, cujo controle acionário perda migração das cooperativas para o sistence a entidades filiadas ao Sicoob. tema, o Colmeia passou a ser a tecnoloPara Halley, a sinergia entre pequenos gia utilizada para a gestão de todas as negócios e cooperativas de crédito se baseia em cooperativas de crédito associadas à duas características compartilhadas por ambos: confederação. “Com essa primeira para busca pelo desenvolvimento local e a ceria, notamos que o potencial existe e realização de atividades de proximidade e o Sebrae busca crescer nesse campo”, comprometimento com a comunidade. relata a diretora-técnica do Sebrae, “Sabemos que, em regiões no interior do país, Heloísa Menezes. micro e pequenos negócios são pouco A nova parceria foi assinada em assistidos pelo Sistema Financeiro Nacional, abril deste ano, no III Seminário Nacitalvez pela baixa tecnicidade na gestão dessas onal do Cooperativismo de Crédito Cláudio Halley, superintendente empresas. No entanto, os atores do pequeno Familiar e Solidário, em Brasília (DF), e de Gestão Estratégica do Bancoob. negócio mostram convergência com o já está em plena execução. O acordo já cooperativismo”, afirma. Os bons resultados abriu as portas para o Sebrae atuar na também são perceptíveis nos números da Bahia e no Sergipe, com mobilização iniciada junto à Ascoob. instituição: no período de 2011 a 2014, a base de associados Na outra ponta do país, no Rio Grande do Sul (RS), a Central pessoa jurídica apresentou um crescimento de 72%, alcançanCrenor trabalha na minuta de projeto para o acompanhamendo 345 mil associados em dezembro de 2014. to ao crédito para 300 agricultores, de seis cooperativas singuO superintendente ressaltou que a demonstração do lares. “Também estamos concluindo uma parceria para que comprometimento do Sicoob com o micro e pequeno cooperativas da Bahia troquem informações com as gaúchas negócio também pode ser observada na agenda de inovações e passem a experiência que têm com a seca, que na Bahia é que tem sido conduzida no âmbito do Sistema. Dentre outras bem mais extensa e pode apontar soluções para os produtoações voltadas ao pequeno negócio, em 2013 o Sicoob foi o res do Rio Grande do Sul”, explica Croda. primeiro sistema de cooperativas financeiras a disponibilizar o O acompanhamento oferecido por cooperativas ligadas Cartão BNDES aos cooperados e em 2014 deu mais um às seis cooperativas gaúchas se dará nos moldes do projeto de importante passo no atendimento às MPEs, lançando uma intercooperação entre as instituições do setor. A iniciativa “maquininha” de pagamentos exclusiva para os lojistas que consiste no apadrinhamento de cooperativas de menor porte, fazem parte de qualquer cooperativa de crédito no Brasil. A por aquelas de maior porte e com mais experiência e serviços Soluções Integradas de Pagamentos (Sipag), habilita os adequados para o perfil dos pequenos negócios. Entre as cooperados a aceitarem pagamentos com cartão de débito e regras do projeto está a obrigatoriedade de que a entidade apacrédito das principais bandeiras de mercado e sem dúvida será drinhadora esteja localizada em unidade federativa diferente mais um grande apoio do Sicoob no desenvolvimento desses das apadrinhadas. Para adotar uma cooperativa, a entidade negócios. apadrinhadora precisa estar em operação há, pelo menos, cinA continuidade nos esforços para aproximar pequenos co anos e ter, no mínimo, 500 sócios pessoa jurídica. Já entre negócios e cooperativas de crédito encontra respaldo os requisitos para ser apadrinhada está a comprovação de funtambém no momento atual de baixa atividade econômica. cionamento há, pelo menos, dois anos e a presença de, ao Embora necessárias, as medidas do governo com vistas à menos, 50 empresários associados. convergência da inflação para o centro da meta recaem em Além do Sicredi e da Confesol, outras entidades do setor elevação da taxa de juros. Segundo Halley, isso provoca um cooperativista, como a Unicredi e o Sicoob Central Cecresp, comportamento de conservadorismo por parte dos bancos estão sendo acionadas para juntar forças com o Sebrae, expanem relação à oferta de crédito. “Já as cooperativas do Sicoob dir o crédito e promover a inclusão financeira e produtiva de adotam uma postura que contrapõe esse comportamento. seus associados. “O Sebrae assumiu o papel de estimular o cooEstamos sempre ao lado de nossos associados apoiando suas perativismo financeiro para os pequenos negócios e esse papel atividades. Assim, avançamos também em momentos de deve se manter”, reforça Heloísa. dificuldades”, aponta. Tal empenho é reconhecido por outras entidades do setor, Com o atual contexto econômico, ações de parceria como o Sicoob, com quem o Sebrae também mantém parceria como esta com o Sebrae impulsionam as contribuições das desde agosto de 2011. A partir de então, são mais de 150 coocooperativas de crédito para que micro e pequenos negócios perativas do Sicoob atuantes em projetos do Sebrae em todo o possam ampliar sua competitividade por meio da manutenBrasil, respeitando características específicas da região de atuação de acesso ao crédito e da prestação de serviços financeição. “A iniciativa do Sebrae em promover a competitividade e ros de qualidade com preços justos aos associados empreeno desenvolvimento dos pequenos negócios é de fundamental dedores. RUMOS – 17 – Maio/Junho 2015
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ENTREVISTA
José Cláudio Linhares Pires
Por Thais Sena
Radiografia de um setor O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) desenvolveu um grande estudo sobre o impacto dos programas de apoio às micro e pequenas empresas do setor industrial. Nesta entrevista à Rumos, o economista José Cláudio Linhares Pires, um dos autores do estudo, comenta os resultados da pesquisa, que aponta as principais dificuldades enfrentadas pelo segmento e apresenta os canais de apoio aos pequenos empreendedores brasileiros
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evista Rumos – A questão da regulamentação e do seguimento às normas gera alto custo para as pequenas e médias empresas (PMEs) e, às vezes, as impelem involuntariamente à informalização. De que forma essas dificuldades impactam na produtividade das micro e pequenas empresas? José Cláudio Linhares Pires – De fato, a burocracia e o custo de fazer negócios são desafios importantes a serem superados, pois podem levar à informalidade das PMEs. Alguns estados já começaram a simplificar os procedimentos para registro de empresas, o que inclui a criação de serviços unificados em que múltiplos recursos e serviços são oferecidos; mas, na maioria dos casos, o processo continua sendo demorado e caro. Por exemplo, no Brasil, levam-se 108 dias para abrir uma empresa, enquanto a média latinoamericana é de apenas 36 dias. As PMEs também lidam com regimes tributários complexos. As recentes medidas de simplificação tributária são boas novas. Eu me refiro à Lei Geral para Micro e Pequenos Negócios, que foi modificada para flexibilizar impostos e introduzir novos setores beneficiados, principalmente no setor de serviços, e ao Cadastro Único Simplificado, que irá introduzir um novo modelo tributário visando reduzir trâmites burocráticos e acelerar o processo de abertura e fechamento de empresas. Estas
medidas são importantes para se reverter um quadro em que as empresas brasileiras de menor porte gastam 2.600 horas por ano pagando impostos – quase 10 vezes a média mundial –, segundo um estudo da Corporação Financeira Internacional, do Banco Mundial. Rumos – O estudo mostra que, no Brasil, há uma “colaboração” entre as instituições no apoio às PMEs, mas que isso não é suficiente para alavancá-las. O que falta acontecer no plano institucional? Pires – O país necessita criar canais institucionais que não só conectem os atores que executam políticas públicas de apoio as PMEs, mas que também promovam a avaliação, elaboração e execução dessas políticas. Neste particular, acredito que falte ainda um aprofundamento de avaliações do que funciona e do que funciona melhor por meio de ações coordenadas. Em nosso estudo, mostramos que a colaboração existe, mas também sabemos que não é feita orientada por resultados. Por exemplo, verificamos que determinados programas são implementados em parceria para promover o apoio às exportações e inovações. Um melhor entendimento de como essas e outras parcerias funcionam poderia gerar, como benefício, o desenho de ações integradas para a execução das mesmas. Poderiam ser gerados programas em que as PMEs passariam por diferentes estágios – consultoria
RUMOS – 18 – Maio/Junho 2015
SXC Acervo Pessoal
José Cláudio Linhares Pires é economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
SXC
Empresas brasileiras de menor porte gastam 2.600 horas por ano pagando impostos – quase 10 vezes a média mundial – segundo um estudo da Corporação Financeira Internacional, do Banco Mundial. Micro e pequenas empresas no Brasil ainda precisam de ações mais coordenadas, no plano institucional, para continuarem no mercado. RUMOS – 19 – Maio/Junho 2015
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ENTREVISTA
José Cláudio Linhares Pires
básica, educação financeira e garantias para a tomada de crédito, capacitação para exportação e assim sucessivamente. Isto requer muita articulação institucional e delegação de responsabilidades para a elaboração, execução, monitoramento e avaliação dos programas. Rumos – O apoio de crédito é descrito como o que mais gera impacto. Esse resultado indica que um maior suporte financeiro a esse segmento poderia desenvolvêlo e alçá-lo a outro patamar? Na sua visão, como as instituições públicas de fomento têm atuado neste sentido? Pires – O principal produto de crédito avaliado – o cartão BNDES – teve um papel preponderante para explicar os impactos positivos do cartão sobre o emprego, salários, exportações e inovações. No nosso entender, este sucesso pode estar relacionado ao “desenho” desta linha de crédito. De acordo com as condições do cartão, as PMEs devem usar os recursos não somente para financiar o capital de giro, mas também para investir em bens como equipamentos de transporte e computadores, que impulsionam, em última instância, o seu desempenho. Além disso, o crédito desponta como uma ferramenta para aumentar as exportações, na medida em que as empresas podem alocar os recursos adicionais necessários para atividades de inovação e para explorar novos mercados. Por sua vez, as instituições públicas de fomento têm sido importantes agentes atuando no “segundo piso”, aumentando a capilaridade do cartão e de outros instrumentos de crédito produtivo, promovendo a inclusão financeira e impulsionando a melhoria de desempenho das PMEs.
SALÁRIOS E OUTRAS REMUNERAÇÕES
GRANDE 47,4%
MÉDIA 20,2%
PEQUENA 16,7%
MICRO 15,7%
Rumos – Ainda sobre a questão do financiamento. O crédito, quando obtido pelas PMEs, tem “significante impacto positivo sobre emprego e salários”. Logo, a partir dessa informação é possível pensar que a expansão do crédito para PMEs seria não só uma política econômica, de estímulo à economia, mas também social? Pires – Sem dúvida. Por um lado, o impacto positivo sobre emprego e salário não implica necessariamente em ganhos de eficiência econômica – esta irá depender do aumento agregado na produtividade, ou seja, de que as PMEs se tornem mais eficientes. Em outras palavras, o fato de um programa de crédito contribuir para uma PME crescer e empregar não necessariamente significa que este programa contribui para aumentar a eficiência da economia como um todo. Para que isto ocorra, o crédito precisa ser traduzido em aumento da participação de empresas mais eficientes na economia. Mas, por outro lado, é inegável que, por si, estes programas de crédito podem ter um componente social importante, principalmente em situações de crise, pois traz o aumento de emprego e salá-rios. Neste sentido, a relevância de políticas sociais que têm como alvo as PMEs se justifica pelo fato de que estas, em particular, têm um importante aspecto anticíclico, pois empregam a grande maioria da mão de obra na economia. Rumos – Os principais desafios das PMEs, listados pelo estudo, se dão no acesso ao financiamento, custo, barreiras comerciais e atraso na emissão de marcas e patentes. Como o setor tem superado esses desafios? Pires – Os avanços têm sido desiguais nessas áreas. A evolução recente do crédito para PMEs foi expressiva na última década, muito embora a retração econômica tenda a trazer uma redução do financiamento deste segmento, historicamente visto como de maior risco creditício pelos bancos. Dados do Banco Central referentes ao crédito em geral mostram um aumento da média nacional: de 36% em 2007 para 59% em 2014. Quanto aos custos de fazer negócios, as medidas que discuti anteriormente de simplificação tributária e de redução de trâmites burocráticos são avanços positivos. No entanto, existem ainda grandes desafios nas outras áreas, que afetam toda a indústria, mas, em maior proporção, as PMEs. Dificuldades de logística e o relativo fechamento da economia brasileira criam dificuldades ao investimento estrangeiro, a participação em cadeias produtivas globais e ao comércio, causando um impacto negativo sobre a economia nacional, particularmente nas taxas de emprego e crescimento econômico. O Brasil ocupa o 124º lugar entre 189 economias em todo o mundo em termos de comércio transfronteiriço. O atraso no processamento de registro de marcas e patentes aumenta a incerteza do negócio e afeta os esforços de inovação das empresas. Por exemplo, as empresas do Brasil levam quase o dobro do tempo das empresas dos EUA para conseguir a certificação de marcas e patentes do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). Rumos – A avaliação abrange apenas as PMEs do setor industrial. O senhor acredita que no setor de serviços, que concentra a maioria das empresas, o quadro de desafios seria muito distinto?
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NÚMEROS DE EMPRESAS Grande 0,6% Pequena 13,7%
Média 2,9%
Micro 82,9%
NÚMEROS DE EMPREGADOS 31,4 24,7
26,0
17,9
MICRO PEQUENA
MÉDIA
GRANDE
DISTRIBUIÇÃO DAS PMEs ENTRE AS REGIÕES BRASILEIRAS NORDESTE NORTE
Pires – Não creio que o quadro de problemas seria muito distinto, mas é possível que os programas de apoio às PMEs deste segmento estejam produzindo impactos distintos. Para responder a esta grande indagação que temos, estamos iniciando outro estudo, incluindo também os setores de serviços e do comércio e ampliando a análise para incorporar empresas de todos os tamanhos. Outra novidade é que estaremos medindo o impacto de programas de apoio empresarial na produtividade. Nossa previsão é que este estudo fique pronto no primeiro trimestre do ano que vem. Rumos – Por que o apoio de aglomeração não gerou um impacto robusto sobre as empresas? O que pode ser revisto neste modelo? Pires – É preciso fazer duas ressalvas importantes em nossa avaliação. A primeira é que os resultados são médios para todo o território nacional, o que significa dizer que podem existir projetos específicos que deram resultados positivos, mas que não aparecem na média nacional. A segunda ressalva é que não medimos os impactos indiretos dos programas, o que faz com que seja possível que existam efeitos de transbordamento que não foram incorporados em nossa análise. No entanto, a inexistência de impacto direto robusto dos programas de apoio às aglomerações – como os arranjos produtivos locais (APLs), encadeamento de cadeias produtivas, por exemplo – justificaria uma análise mais aprofundada destes tipos de apoio. Uma explicação possível para a ausência de um efeito médio do apoio à aglomeração pode estar relacionada ao fato de que o apoio a APLs, uma das atividades mais importantes segundo a classificação utilizada pelo estudo dentro dessa categoria, tenha sido fornecido a grupos de empresários em economias que não podem ser caracterizadas como sendo arranjos. Nesse caso, uma intervenção projetada para desenvolver os APLs não seria efetiva simplesmente pelo fato de que não existiriam ganhos potenciais de aglomeração a serem explorados.
8% 2%
CENTRO-OESTE
SUDESTE
5% 67% SUL
17%
Rumos – Há dados disponíveis, mas não são completos, deixando questões de análise do custo-efetividade, por exemplo, sem avaliação. Qual seria a orientação ou que instituições poderiam trabalhar para gerar esses dados, permitindo assim um estudo mais detalhado? Pires – Não foi possível coletar informações sobre os montantes de receitas, empréstimos ou o exato valor exportado por cada PME. Se estas informações estivessem disponíveis, o banco de dados teria permitido uma análise mais refinada sobre os resultados de interesse da avaliação. Além disso, como mencionado, não existiam informações disponíveis sobre os custos de implementação dos programas, o que impediu uma análise de seu custo-efetividade. Pretendemos avançar nas discussões com os parceiros do nosso estudo para obter estes dados, assim como junto ao governo brasileiro, em particular com a Receita Federal, para a obtenção de dados que complementariam esta análise. Como todos os programas avaliados são públicos e oferecidos sem ônus ou baseados em subsídios, o contribuinte e a sociedade brasileira poderiam ter informações precisas sobre os tipos de apoio que são mais custo-efetivos.
Fonte dos dados: Estimativas do OVE baseadas no banco de dados do Ministério do Trabalho
RUMOS – 21 – Maio/Junho 2015
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REPORTAGEM ECONOMIA Por Jader Moraes
Elogio à austeridade Durante seminário de metas para a inflação, promovido pelo Banco Central, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, demonstrou otimismo com a política de ajuste fiscal brasileira, cobrou a realização de reformas estruturais e reafirmou que o país só voltará a crescer se reforçar os fundamentos de sua política macroeconômica
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Brasil está claramente no caminho certo”. Com essas palavras, devidamente grifadas nas cópias do discurso entregues previamente aos jornalistas, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, deu aval e demonstrou entusiasmo com o ajuste fiscal promovido pelo governo federal brasileiro. A fala foi registrada durante o XVII Seminário de Metas da Inflação do Banco Central (BC), onde Lagarde defendeu o reforço dos fundamentos macroeconômicos da economia local e cobrou por reformas estruturais no país, no mesmo dia em que o governo anunciou o corte recorde de R$ 69,9 bilhões no Orçamento de 2015. Lagarde foi recebida pelo público formado, basicamente, por economistas e por jornalistas brasileiros e correspondentes de veículos estrangeiros. Durante cerca de 40 minutos, demonstrou, por mais de uma vez, que o FMI está de acordo com a direção que o país tem tomado no momento em que enfrenta dificuldades econômicas. Classificou de “animador” o caminho, disse que o país o faz “acertadamente”, enxergou sinais de que a política está “surtindo efeito” e declarou que o Brasil deve seguir a receita que já conhece. “O reforço das políticas macroeconômicas é a melhor abordagem para preservar a estabilidade e aumentar a resiliência a choques externos. É animador ver que o governo brasileiro está seguindo essa estratégia. Ele anunciou metas de superávit fiscal primário, bem como diversas medidas para atingir essas metas. Esse aumento gradual porém significativo dos superávits primários é necessário para recuperar a credibilidade das políticas internas”, destacou Lagarde. As críticas que surgem em diferentes setores, especialmente aqueles que apoiaram a reeleição de Dilma Rousseff, pela condução da economia neste início do segundo governo, bas-
tante distinto do adotado no período anterior, não passaram despercebidas por Christine. Também por isso, ela considerou a decisão de promover cortes amplos no orçamento como um ato de coragem política. “É um sinal de que o governo está realmente determinado a cumprir as metas estabelecidas. Essa é a maneira correta para lidar com a questão: primeiro, estabelecer metas; depois, entregá-las”, orientou a diretora-gerente, mais tarde, em uma conversa com os jornalistas. Ao fórum lotado do hotel na orla de Copacabana, foi ainda mais enfática. Em crítica indireta às decisões políticas do pri-
Escândalos de corrupção Questionada por jornalistas sobre a influência de casos de corrupção, como o que envolve a Petrobras e algumas das principais construtoras do Brasil, na imagem e recuperação da confiança dos investidores no país, Christine preferiu não pisar forte nesse terreno. Ampliando o leque, disse que os casos de corrupção e a falta de transparência em diversos países latinoamericanos tornam o cenário cinzento e servem como freios para o crescimento. Mas ela acredita, mais uma vez, que as autoridades brasileiras estão dando a resposta correta ao problema. “Quando existem questões específicas que podem interferir no crescimento, como é o caso da corrupção, elas precisam ser tratadas rapidamente. Qualquer esforço feito para eliminar esses problemas é muito bem-vindo e deve ser encorajado. Nós vemos determinação nas autoridades brasileiras para lidar com essa questão e isso pode ajudar a recuperar a confiança do país, sim”, opinou.
RUMOS – 22 – Maio/Junho 2015
Rebeca Dourado
Lagarde defendeu o reforço do tripé responsabilidade fiscal, taxa cambial flexível e controle da inflação para o país voltar a crescer: “O Brasil já conhece essa receita, deve segui-la firmemente.”
meiro governo Dilma, ainda que ressalvando que foi um acerto responder à crise financeira global implementando políticas anticíclicas, afirmou que uma nova dose de estímulo à economia poderia ameaçar a credibilidade “arduamente conquistada dos esforços da política do passado”. “De modo geral, o recente fortalecimento das políticas fiscal e monetária, aliado a uma sólida posição de reservas internacionais e ao regime de câmbio flexível, é crucial para aumentar a credibilidade e a resiliência do arcabouço de política econômica do país”, elencou. Pilares – A defesa dos pilares macroeconômicos – que chamou de “Três Fs” – também foi um ponto forte e reiterado das falas da diretora-gerente no Brasil. Em diálogo com o tema do evento promovido pelo BC, ela destacou que o regime de metas da inflação tem sido um dos principais responsáveis pela solidez da economia brasileira nos últimos 15 anos. “Aliado à responsabilidade fiscal e ao câmbio flexível, ele trouxe benefícios importantes para o país, ao sustentar altas taxas de crescimento e estabilizar a inflação. E isso aconteceu enquanto o país reduzia a dívida pública, acumulava reservas internacionais e, mais importante, tirava milhões de pessoas da pobreza. Trata-se de um feito extraordinário”, comentou. Para ela, o cenário econômico global ainda inspira cuidados. Mesmo com a recuperação de algumas economias importantes, notadamente os Estados Unidos, o crescimento mundial segue modesto e desigual. A América Latina, segundo análise do FMI, terá o quinto ano consecutivo de crescimento mais lento do que o ano anterior e deve avançar menos de 1% em 2015. Para o Brasil, a expectativa é ainda menor: o Fundo prevê uma contração de 1% este ano. Enfrentar os desafios globais – num cenário em que alguns
dos parceiros comerciais do Brasil, como a China, também estão desacelerando – vai requerer, na opinião de Christine Lagarde, um reforço dos arcabouços de políticas e dos fundamentos macroeconômicos. “Uma das principais lições da retirada do estímulo à economia norte-americana em 2013 é que a resiliência à volatilidade externa se constrói em casa, com políticas sólidas e fundamentos vigorosos”, argumentou. Para não deixar dúvida sobre quais políticas e fundamentos tratava, frisou: “Responsabilidade fiscal, taxa cambial flexível, controle da inflação, esse é o conjunto singular para restaurar o crescimento e colocar o Brasil de volta ao rumo correto”. “Claro que o ambiente é distinto, mas o Brasil tem os ingredientes e já identificou a receita. Agora tem que segui-la firmemente, inclusive para manter os programas sociais, que são, com toda razão, o orgulho do país”, reforçou, mais tarde, aos jornalistas. Antes, no plenário, já havia elogiado programas como o Bolsa Família e o Brasil sem Miséria, e contou ter se surpreendido, em visita ao conjunto de favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, com o esforço dos programas governamentais para dar autonomia às mulheres, inclusive para que se tornem empreendedoras. Reformas – Ao lado do reforço às políticas macroeconômicas, Lagarde advogou pela urgência da promoção de reformas estruturais para que o país avance e consiga restaurar um crescimento sólido nos próximos anos. “É o mix de políticas e reformas que vai proporcionar que o país se fortaleça e tenha um desenvolvimento sustentável”, disse. Em especial, a diretora do FMI destacou três áreas em que o órgão enxerga necessidade de reformas para elevar a produtividade e assegurar um crescimento robusto para o país: a eliminação das lacunas da infraestrutura; a redução do custo de
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Rebeca Dourado
EMPREENDER ECONOMIA
Evento no Rio de Janeiro reuniu economistas e executivos de diferentes bancos centrais ao redor do mundo.
fazer um negócio; e a revitalização da integração comercial. A diretora-gerente elogiou o Programa de Concessões de Infraestruturas do governo federal e criticou o sistema tributário brasileiro, classificado por ela como um “conjunto complexo de impostos indiretos”, que gera altos custos para os contribuintes. No que diz respeito à integração de negócios do Brasil com o mundo, defendeu que é preciso “rejuvenescer” essa relação, pois o país pode colher benefício se integrando às cadeias globais de valores. Entre os países emergentes, destacou Christine, o país é um dos que tem menor participação nessas cadeias. “Vejo o Brasil como um forte candidato a liderar pelo exemplo. Sem dúvida, o ambiente externo tornou-se menos propício e as restrições internas não são triviais. Mas com perseverança e as políticas corretas, esse futuro promissor estará ao alcance”, finalizou.
setor agropecuário, com possibilidades de safra recorde, crescimento modesto nos serviços e retração na indústria, ainda que de forma não homogênea – o segmento extrativo, por exemplo, deve registrar expansão, enquanto a indústria de transformação deve ter queda. Sobre os esforços do governo federal na área fiscal, lembrou que há um “profundo e consistente” pacote de medidas em curso, que inclui contenção de despesas correntes e parafiscais, eliminação de subsídios, realinhamento de tarifas públicas, além de medidas de cunho mais estrutural. Ele acredita que esse conjunto de medidas deve levar a um quadro fiscal que permita criar uma percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico do país no médio e no longo prazo. “O fortalecimento da política fiscal por meio de um processo consistente e crível de consolidação de receitas e despesas, rigorosamente conduzido, facilita, ao longo do tempo, a convergência da inflação para o centro da meta. Isto porque tanto a literatura quanto as melhores práticas internacionais identificam que um desenho de política fiscal consistente e sustentável contribui para aumentar a potência da política monetária”, afirmou.
Rebeca Dourado
Especialistas – O Seminário de Metas para a Inflação reuniu durante dois dias representantes de bancos centrais de diferentes partes do mundo, economistas e especialistas brasileiros e estrangeiros, que debateram temas como as políticas monetárias e macroprudenciais, a realidade e perspectivas do mercado de trabalho brasileiro e, claro, a maneira com que se comportam as expectativas da inflação. A palestra de abertura coube ao economista Ricardo Reis, da Universidade Columbia, que destacou as grandes mudanças que ocorreram na política monetária em todo o mundo, nos últimos anos, e o novo estilo dos bancos centrais para estarem em consonância com essas mudanças. “O que temos visto são os BCs intervindo para Rota – O presidente do Banco Central, poder lidar com a crise, inicialmente tentanAlexandre Tombini, que participou de do eliminá-la, especialmente no que diz restodo o encontro, apresentou durante o peito à perda de liquidez dos bancos. Os seminário as percepções da instituição BCs não podem mais seguir totalmente sobre o momento econômico que vive o Tombini reafirmou que o país deve independentes como antes, precisam resmundo e suas consequências para a eco- retornar para o centro da meta de ponder a esse cenário”, afirmou. nomia brasileira, bem como sobre as inflação a partir de 2016. Para Tombini, os temas debatidos no medidas adotadas pelo governo federal seminário refletem as preocupações tamdesde a nomeação da nova equipe ecobém debatidas em grandes fóruns internanômica do Planalto. cionais, especialmente a partir da crise Tombini afirmou, em consonância com o que já havia indifinanceira global iniciada em 2008-2009, em que os bancos cencado em ata o Comitê de Política Monetária (Copom), que o trais assumiram papel destacado para lidar com o revés. país passa por uma transição em 2015, para que retorne às suas “A globalidade e a profundidade dessa crise chamaram a bases sólidas a partir do ano seguinte. Por isso, o BC tem adoatenção para a necessidade de se avançar celeremente em pestado uma política monetária vigilante para que os efeitos do quisa em diversas áreas voltadas para melhor compreender cenário econômico sobre os preços fiquem circunscritos ao fatores indutores de crises, instrumentos e políticas para sua curto prazo, e o país retorne já a partir de 2016 para o centro da prevenção e para sua mitigação de seus efeitos macrofinanceimeta de inflação. ros e, mais recentemente, formas de implementar políticas de A expectativa para este ano, frisou, é que haja expansão no saída da crise”, destacou. RUMOS – 24 – Maio/Junho 2015
EM DIA
Os novos desafios do compliance no Brasil Divulgação
(parte 1 de 2) Antonio Carlos A. Telles – consultor empresarial, diretor da AbissalConsulting e representante da LRN Ethics & Compliance Solutions
Marcelo Coimbra – sócio do Fleury & Coimbra Advogados e Coordenador do Grupo de Ética & Governança da Câmara Brasil-Alemanha, representante da LRN Ethics & Compliance Solutions.
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Lei Anticorrupção Empresarial e sua regulamentação precisam ser consideradas pelas Instituições Financeiras de Desenvolvimentos (IFDs), sobretudo no que se refere às medidas preventivas. Essas instituições, enquanto figurarem somente como tais, não serão solidariamente responsáveis pela prática dos atos previstos na Lei Anticorrupção. No entanto, vale notar que segundo o art. 5º, II, da Lei Anticorrupção, também são responsáveis aqueles que comprovadamente financiarem a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei. Assim, as IFDs devem estar atentas à destinação dos recursos por elas financiados, para que no custo dos projetos não sejam incluídas despesas relacionadas ao pagamento de corrupção. A situação é de maior risco quando forem controladoras, no qual a sua responsabilidade passa a ser solidária. De qualquer forma, mesmo no caso em que detenham participação minoritária, que é a regra, devem zelar pelos seus deveres de acionista, até mesmo para preservar o seu patrimônio/investimento, que no caso das Instituições Financeiras de Desenvolvimento tem um caráter público. Recentemente, a Lei Anticorrupção Empresarial (Lei 12.846/13) foi regulamentada pelo Decreto 8.420, sancionado em 18 de março de 2015, para definir de forma mais concreta alguns pontos essenciais. Dentre esses pontos destaca-se o estabelecimento de critérios mais objetivos para a aplicação das sanções previstas na lei, como a multa, publicação extraordinária da decisão administrativa sancionadora e mesmo a restrição ao direito de participar em licitações ou de celebrar contratos com a administração pública. A confirmação da importância que as empresas estabeleçam e apliquem um Programa de Integridade é o ponto mais relevante do Decreto. O artigo 41 define o Programa de Integridade (compliance) como “conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e
atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira”. O Decreto estabelece os elementos do programa de forma bem ampla e abrangente. Prescreve que o programa seja estruturado, aplicado e atualizado por uma instância independente, de acordo com as características (países onde atua, grau de interação com o setor público), porte da empresa (quantidade de funcionários) e riscos atuais das atividades de cada empresa. Determina ainda que o programa seja constantemente aprimorado e adaptado, a fim de garantir sua efetividade. O Decreto deixa clara a importância de uma cultura ética nas organizações, começando pelo comprometimento da alta direção, evidenciado pelo apoio visível e inequívoco ao programa. Define que os padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimentos de integridade sejam aplicáveis a todos os empregados e administradores e também terceiros, além da existência de canal de denúncias, e realização de treinamentos periódicos sobre o programa de integridade. Como trabalhar a cultura ética nas organizações? Além de dar atenção às novas regras, é preciso aperfeiçoar a consciência de todos os membros da organização, em torno de valores sólidos, que devem ser considerados inclusive no dia a dia. Nesse contexto, o papel dos líderes é fundamental: discussões e decisões inspiradas em diretrizes e princípios estabelecidos no código de conduta da empresa. Essa é uma tendência mundial, como mostram as pesquisas internacionais¹ .Mais do que “anticorrupção” o espírito da nova lei é ser “pró-ética. Assim, o Brasil atendeu ao compromisso internacional firmado com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), dispondo agora de mecanismos fundamentais para fortalecer a reputação e desempenho global de suas instituições. A discussão continua na próxima edição.
¹ The 2014 Ethics & Compliance Programa Effectiveness Report –LRN Corporation.
RUMOS – 25 – Maio/Junho 2015
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REPORTAGEM
MUHAMMAD YUNUS
Por Carmen Nery
O mundo que queremos Ganhador do Prêmio Nobel da Paz e criador do conceito de microcrédito, o bengalês Muhammad Yunus esteve no Brasil, em maio, quando apresentou suas ideias para a redução da pobreza e o incentivo ao empreendedorismo e à criatividade. Rumos acompanhou o dia do economista em dois eventos no Rio de Janeiro
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o início de maio, os cariocas tiveram a oportunidade de vivenciar um dia com um ganhador do Prêmio Nobel da Paz, o bengalês Muhammad Yunus, o único economista a conquistar esse prêmio. Trata-se de um feito e tanto, afinal, geralmente os ganhadores são ativistas, ex-presidentes ou grupo de pesquisadores voltados para a defesa de causas sociais ou ambientais. Nascido em Bangladesh, em 1940, terceiro de uma família de 14 filhos – dos quais cinco morreram nos primeiros anos –, Yunus formou-se em economia na Universidade de Daca, capital do país natal, e doutorou-se na Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos da América (EUA). Em 1972, foi nomeado professor na Universidade de Chittagong, cidade onde nasceu. Diante da pobreza que encontrou no período de grande fome que abateu o país – antigo Paquistão Oriental, que com o apoio da Índia se tornou independente em 1971 –, viu que deveria fazer algo mais do que simplesmente dar aulas. Bangladesh é um pequeno país de apenas 150 mil km² de área, com uma população de 160 milhões de habitantes, o que dá uma densidade de mais de mil pessoas por km². É uma vida dura segundo Yunus: mais de 85% das pessoas estavam abaixo da linha da pobreza quando ele começou sua jornada. Durante a guerra pela independência da parte oriental do Paquistão, havia 75 milhões de habitantes e o país não conseguia produzir alimentos para todos e dependia de alimentos de fora. Mas as pessoas não tinham como pagar. A guerra de separação também trouxe grande destruição.
Na época, Yunus estava nos EUA ensinando em uma universidade e decidiu voltar para casa diante da euforia pósindependência. Mas, ao invés de melhorar, o país entrou em declínio econômico. Em 1974, veio a fome geral e as pessoas começaram a morrer. Ele ficou especialmente tocado com o sistema de semiescravidão que algumas pessoas sofriam nas mãos de agiotas para sobreviver. Passou a oferecer crédito de pequenas quantias para que as pessoas passassem a empreender. Em 2006, recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho para criar desenvolvimento econômico e social a partir da base das pessoas carentes. É também autor do livro Banker to the poor (O banqueiro dos pobres). Yunus afirma que é impossível ter paz com pobreza e, em sua jornada de auxílio a populações desassistidas por meio de crédito e ações de empreendedorismo social, também tem metas ambiciosas. “À minha frente, tenho uma direção: zero pobreza, zero emissão de carbono e zero desemprego. O mundo tem de esquecer que a pobreza existiu. Espero que um dia a gente crie um museu da pobreza. Zero desemprego porque nós viemos de uma tradição de resolução de problemas, não havia empregos na época das cavernas. Nós não trabalhávamos para os outros. No futuro, os jovens vão perguntar: o que era emprego? Tivemos aqui a Rio +20, e espero que, em 2050, atinjamos a meta de zero emissão de carbono”, resumiu Yunus em sua apresentação pela manhã para estudantes de professores de uma universidade, o primeiro evento de que participou no dia 2 de maio, no Rio de Janeiro.
RUMOS – 28 – Maio/Junho 2015
“À minha frente, tenho uma direção: zero pobreza, zero emissão de carbono e zero desemprego. O mundo tem de esquecer que a pobreza existiu. Espero que um dia a gente crie um museu da pobreza.”
RUMOS – 29 – Maio/Junho 2015
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REPORTAGEM
MUHAMMAD YUNUS
Yunus defendeu que o emprego não deveria ser um objetivo do cidadão. Para ele, as pessoas não precisam de emprego, podendo alcançar sua própria subsistência sem ter de trabalhar para alguém. “Não busquem empregos, criem vocês mesmos os empregos”, disse reiteradas vezes em dois eventos do mesmo dia. À tarde, fez, pela primeira vez, uma palestra aberta ao público do Rio de Janeiro, para uma plateia de cerca de mil pessoas, a maior parte formada por jovens envolvidos em movimentos e empreendimentos sociais. O encontro foi no Centro Cultural da Ação da Cidadania, local mais do que apropriado, por ter sido criado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, em sua luta contra a fome e a miséria. “Estou muito feliz por ver, principalmente, jovens aqui”, disse Yunus, ao subir ao pequeno tablado armado no meio do público, que o aplaudiu de pé como se fosse um popstar das causas sociais. Por quase três horas, Yunus discorreu sobre suas ideias para solucionar problemas sociais, por meio de mecanismos de negócio praticados por ele desde que começou a fazer empréstimos a pessoas desassistidas – especialmente mulheres – de Bangladesh. Crédito – Os empréstimos deram origem ao conceito de microcrédito – termo cunhado por ele e que hoje está presente em operações financeiras de todo o mundo – e à criação, em 1983, do Grameen Bank, que emprestava dinheiro aos pobres de Bangladesh a juros módicos. Em 20 anos, emprestou mais de US$ 13 bilhões a 8,5 milhões de pessoas que, em sua maioria, mal conseguiriam abrir uma conta em um banco comum.
Depois disso, se envolveu diretamente na criação de mais de 50 outros negócios sociais. Atualmente a Yunus Negócios Sociais, com sede em Frankfurt, está presente em seis outros países, além do Brasil: Haiti, Albânia, Tunísia, Togo, Colômbia, Índia, com previsão de abertura de uma unidade no México. Seu objetivo é auxiliar na criação de novos negócios sociais ou no desenvolvimento de iniciativas que já estejam no mercado e desejem receber suporte para acelerar seu crescimento. Para Yunus, o empreendedorismo é a chave para trazer crescimento econômico, especialmente em tempos de crise. Ele tem especial admiração pelos jovens brasileiros que vão em grande número atuar como voluntários dos empreendimentos sociais de sua organização em Bangladesh. “Estou feliz em ver este grande campus e falar sobre nossa experiência em Bangladesh”, disse na abertura da palestra da manhã, na Universidade Estácio de Sá, uma das instituições de ensino que integram a rede de universidades parceiras da Yunus Negócios Sociais Brasil. Ele abriu a apresentação dizendo que era um aluno que tentava enxergar o que poderia ser feito em seu país para inverter as condições de extrema pobreza. “Passei a me questionar por que os bancos não emprestavam dinheiro para as pessoas pobres. Quando comecei a trabalhar em uma universidade, passei a perceber que o conhecimento precisa ter um propósito, senão as palavras se tornam vazias. Havia algo de errado com a universidade; toda aquela teoria não fazia sentido no ambiente em que eu vivia. Eu via a extrema pobreza em torno do campus e estava tentando
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o país, a Yunus Negócios Sociais Brasil (www.yunusnegociossociais.com) é o braço local da Yunus Social Business Global, fundada pelo Nobel da Paz. Tem como cofundador Rogério Oliveira (foto). Formado em marketing e com MBA pela escola de gestão HBE de Montreal, no Canadá, Oliveira ocupou diversos cargos em grandes empresas durante muitos anos, até que em 2011 percebeu que sucesso financeiro nunca seria o bastante. Inspirado por Muhammad Yunus, fundou o Movimento Buena Onda, consultoria especializada na felicidade no trabalho, um tema que vem ganhando espaço no mundo corporativo. Rogério se aproximou da equipe de Muhammad Yunus e, após um encontro organizado por ele com 20 CEOs brasileiros, foi chamado para ser sócio e implantar a Yunus Negócios Sociais Brasil. A empresa tem como objetivo desenvolver negócios sociais pelo país por meio de dois pilares: o Fundo de Investimentos da Yunus Negócios Sociais Brasil e uma aceleradora. Em maio de 2014, iniciou no Brasil sua incubadora para estimular negócios de impacto social. Em um ano e meio, acelerou 22 negócios sociais e tem sete aprovados para receber investimentos. “O valor médio de investimento é de R$ 800 mil a R$ 1,5 milhão. Estamos estruturando o fundo e pretendemos captar R$ 40 milhões de investidores filantrópicos e bancos e agên-
cias de desenvolvimento como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)”, diz Oliveira. A Yunus Brasil também funciona como um negócio social, ou seja, não há distribuição de lucro aos sócios. Havendo lucro, este é totalmente reinvestido no negócio maximizando o impacto social. No Brasil, a ideia é atrair empreendedores em criar negócios que tenham como missão tirar pessoas da pobreza e melhorar sua qualidade de vida. A incubadora tem sede em São Paulo e atualmente abriga sete projetos: Saneamento Sustentável, Finanduca, Solar Ear, Meu Doutor, Nossa Cidade, Hortas Urbanas e Agente Transforma. A próxima seleção está prevista para o segundo semestre, por volta de
RUMOS – 30 – Maio/Junho 2015
Divulgação
Yunus Negócios Sociais Brasil
Reprodução / Yunus Negócios Sociais Brasil
Muhammad Yunus inspira, em palestra para cerca de mil pessoas, no Rio de Janeiro, planos de ação de empreendedores sociais
resolver o problema, mas sem qualquer planejamento. Isso levou a um passo após outro, e cada um independente. Eu tentava ver se conseguia fazer algo útil para pelo menos um indivíduo, por pelo menos um dia”, contou emocionado o início de sua trajetória. Yunus lembrou que havia um fenômeno social nas vilas
em torno do campus em que as pessoas exploravam umas às outras. Ele não sabia o quer fazer até ter a ideia de emprestar dinheiro de seu próprio bolso para as pessoas deixarem de ser exploradas. Quando seu dinheiro acabou, Yunus foi aos bancos. Mas eles não acreditavam na viabilidade do projeto, alegando que pessoas pobres têm crédito ruim. Ele conta que
agosto, para aceleração entre setembro e novembro. Os empreendimentos são selecionados considerando-se três critérios: o potencial de impacto social que a iniciativa pode gerar; a solidez da ideia e do plano de negócios, incluindo a sua sustentabilidade financeira; e o empreendedor ou grupo de empreendedores que estarão à frente do negócio. Os projetos selecionados oficialmente após o período de aceleração, passam, em seguida, por uma fase de due dilligence, e um comitê de investimento decide se ele estará apto a receber aporte do Fundo de Investimentos da Yunus Negócios Sociais Brasil. Esse investimento é realizado em forma de um empréstimo a juros abaixo dos praticados pelo mercado, que são cobrados para cobrir parte dos riscos inerentes ao seu próprio negócio e ao de outros do portfólio do fundo, que passa a ter uma participação acionária minoritária. Assim, a Yunus Negócios Sociais Brasil permanece no conselho e na governança da empresa, de forma a garantir que ela continue alinhada à sua missão e funcionando como um negócio social. Em sua página, a empresa define o conceito de negócios sociais: empresas que têm a única missão de solucionar um problema social são autossustentáveis financeiramente e não distribuem dividendos. Como uma ONG, têm uma missão social, mas, como um negócio tradicional, geram receitas suficientes para cobrir seus custos. São empresas nas quais o investidor
recupera seu aporte inicial, mas o lucro gerado é reinvestido na própria empresa para ampliação do impacto social. O sucesso do negócio não é medido pelo total de lucro gerado em um determinado período, mas, sim, pelo impacto criado para as pessoas ou para o meio ambiente. “A Yunus Negócios Sociais Brasil também oferece serviços de consultoria para empresas, governos, fundações e ONGs criarem negócios sociais. A meta agora é replicar no Brasil parcerias que já existem em outros países com empresas como a Danone, Adidas, Intel, Basf ”, diz Oliveira. A Yunus Negócios Sociais Brasil também oferece serviços de consultoria para empresas, governos, fundações e ONGs. Promove, ainda, os negócios sociais no meio acadêmico, realiza palestras, workshops e eventos por todo o Brasil. Outro foco de atuação é a educação. Em abril, a empresa lançou, em São Paulo, uma rede de 12 universidades com o objetivo de levar para as pessoas, o mais cedo possível, o conceito de empreendedorismo social, uma nova maneira de empreender no mundo criado a partir das ideias de Yunus. “O objetivo é promover a criação de cursos de empreendedorismo e conscientização social. A meta é termos até o final do ano 20 universidades na rede e que elas se transformem em incubadoras de negócios sociais”, sinaliza.
RUMOS – 31 – Maio/Junho 2015
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REPORTAGEM
MUHAMMAD YUNUS
subiu todos os níveis hierárquicos, até aos diretorespresidentes, sem sucesso. Então teve a ideia de pegar ele próprio o crédito, dando os seus bens como garantia. Até que decidiu criar seu próprio banco. Esses pequenos empréstimos criaram o conceito de microcrédito e deram origem ao Grameen Bank, que se iniciou em 1975 e em 1983 foi formalizado. Os donos são os próprios clientes, um total de 8,5 milhões de cotistas, 95% mulheres muito pobres. Yunus se incomodava com o fato de que 99% dos empréstimos dos ban-
cos tradicionais destinavam-se a homens. Decidiu que os empréstimos deveriam ser 50% para mulheres e 50% para homens. Mas depois percebeu que a administração das mulheres era muito melhor, e elas passaram a ser maioria. “Eu não conhecia nada sobre bancos, e isso foi o melhor que poderia acontecer; pois, se eu soubesse as regras dos bancos, nunca poderia ter feito o banco dos pobres”, diz Yunus. Ele conta que, toda vez que precisava de uma regra, aprendia como os bancos tradicionais faziam e executava exatamente o
Empreendedores Sociais
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uhammad Yunus tem inspirado empreendedores sociais pelo mundo inteiro. Na tarde do dia 2 de maio, muitos foram ao Centro Cultural da Ação da Cidadania ouvir esse grande líder. Entre os presentes, estava Robson Borges, fundador da Cooperativa de Trabalho Socioambiental Eu Quero Liberdade, formada por 35 ex-detentos do sistema prisional para recolher e reciclar resíduos da comunidade do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro. Ele explica que o conceito do empreendimento é de logística reversa, baseada no cooperativismo e que visa a transformar resíduos e pessoas. Robson diz que a reciclagem é uma alternativa para resgatar pessoas em situação de risco e cogita que uma das causas do aumento dos assaltos nas ruas pode estar relacionada ao fim dos lixões como o de Gramacho, em Duque de Caxias, que deixou dezenas de famílias sem trabalho. “Encontramos na reciclagem e no cooperativismo a oportunidade para nos reinserirmos no mercado de trabalho. A sociedade continua extraindo recursos naturais enquanto há bilhões de matérias-primas enterradas nos lixões gerando chorume nos lençóis freáticos e emitindo metano. O deslizamento do Morro do Bumba, em Niterói, é um dos exemplos dos danos causados por resíduos não tratados ”, diz Borges. Há cinco anos, 48 pessoas morreram vítimas de um deslizamento de terra em uma comunidade instalada no Morro do Bumba, local de um antigo lixão. Criada em 2008, a cooperativa recolhe, na comunidade do Alemão e nos estabelecimentos do entorno, resíduos e óleo vegetal para ser tratado, refinado e encaminhado a intermediários que o distribuem como matéria-prima para indústrias de cosméticos, biodiesel, ração animal, manta asfáltica e massa de vidraceiros. Agora eles tentam obter um espaço e um financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para comprarem equipamentos e criarem sua própria usina de beneficiamento. “Hoje vendemos o óleo a R$ 0,80; se tivéssemos a usina, poderíamos obter R$ 2,40. Já estivemos com o governo do estado, que poderá nos ceder um espaço no Jacaré, numa área que está sendo revitalizada. O espaço é fundamental para que consigamos o financiamento do BNDES, que será utilizado para a compra de equipamentos, a capacitação das pessoas e a conscientização da comunidade”. Também na linha da sustentabilidade social e ambiental, o Instituto Eveno é uma ONG que visa a disseminar
novos padrões de produção baseada em fluxos e ciclos de matéria, energia e informação, em oposição ao sistema linear de produção surgido depois da Revolução Industrial. Segundo Ítalo Ferreira da Conceição, técnico em agricultura e pecuária e cofundador do instituto, a ideia é estimular a criação de negócios que sejam conectados à natureza e com uma visão de economia mais ampla, distribuindo valor por toda a cadeia. Um exemplo é a Fruti Box, um negócio social que não distribui dividendos e reinveste o lucro para gerar novos benefícios sociais. Ela foi criada por Ferreira, pelo analista de sistemas Pedro Taramelli e pelo engenheiro aeronáutico Pedro Garcia Lopes, tendo como foco a produção de alimentos saudáveis – orgânicos e não químicos – e a utilização de resíduos para a produção de compostagem, que também pode ser usada para recuperação de flores. “A missão da empresa é alimentar a vida. Criamos alimentos para as pessoas e compostagem para alimentar as plantas, renovando o ciclo. E tudo o que geramos é reinvestido para trazer benefícios para toda a comunidade. Nossa ideia é também estimular a produção de alimentos nos grandes centros, melhorando a ecoeficiência e reduzindo a demanda sobre a infraestrutura”, diz Ferreira. Já a Young Americas Business Trust (Jovens Empreendedores das Américas) foi criada em Washington, em 2004, para a promoção do empreendedorismo entre pessoas de baixa renda. Segundo Tulio Severo, fundador e presidente do conselho da YABT no Brasil, tal qual preconiza Yunus, a organização acredita que a geração de renda dá-se pela criação de empresas, que antecede a criação de empregos. Entre as ações da YABT, está o Laboratório Empresarial, um programa de 20 horas, cuja proposta é fazer com que o jovem tenha contato com ferramentas de empreendedorismo e com empreendedores da própria comunidade – que contam como começaram seus negócios –, além de voluntários das áreas de RH, finanças, marketing, produção e profissionais de mercado. Um dos módulos é de microcrédito, ministrado pela agência de financiamento local. “O laboratório está em todas as Américas, e, no Brasil, já temos operações em Salvador e no Rio de Janeiro. Após um prazo, voltamos ao local para saber os resultados e constatamos que, de fato, entre 10% e 12% empreenderam ou melhoraram seus negócios”, diz Severo.
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cos dos ricos. Para Yunus, mesmo depois de tantos anos, os bancos não mudaram, e o microcrédito é apenas uma nota de rodapé dessas instituições. Ele lembrou a crise de 2008, quando as grandes instituições financeiras entraram em colapso, se derretendo como neve. “No final das contas, perderam o jogo, milhões de pessoas sofreram perdas, e países entraram em colapso. Mas ninguém questionou o papel dos bancos. Deram bilhões de dólares para recomeçarem seus trabalhos, e a justificativa é de que eram
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contrário, porque tais instituições não estavam atingindo as pessoas que ele queria ajudar. “O Grameen Bank é o oposto dos bancos tradicionais, que só emprestam para quem já tem dinheiro e querem que o cliente seja um especialista no que está se propondo. No Grameen, vamos às mulheres para ver se elas querem dinheiro para empreender. Nosso trabalho é persuadir as que dizem que não sabem o que fazer com o dinheiro”, diz Yunus. Assim, ele criou uma instituição que descartava todas as regras dos
As mulheres são o foco do atendimento do Grameen Bank, fundado por Yunus. Ele é o criador do conceito de microcrédito, hoje amplamente difundido, que representa a principal forma de atuação de sua instituição financeira.
bancos tradicionais, emprestando dinheiro sem nenhum documento ou garantia. “Usávamos a confiança das pessoas, e elas pagavam cada centavo. Os banqueiros desdenhavam e diziam que elas só pagavam para pegar mais dinheiro e depois iam parar de pagar. Hoje o microcrédito é um fenômeno mundial, e não existe nenhum efeito colateral”, resumiu Yunus. Ele disse se incomodar com o fato de ser apresentado como “banqueiro dos pobres”, alegando que, sendo assim, os bancos tradicionais deveriam ser apresentados como os ban-
grandes demais para falir”, advertiu. Ele diz que sempre que se pergunta por que as pessoas são pobres, as respostas, invariavelmente, se resumem a dizer porque não há empregos ou porque as pessoas são preguiçosas, não têm disposição e não querem trabalhar. Mas as pessoas trabalham noite e dia, e, na opinião de Yunus, a explicação está na falta de oportunidade para empreender. Para ele, a pobreza é como um bonsai. Pode-se pegar a melhor semente e colocar num pequeno vaso, ela cresce apenas um pouco, apesar de ser a melhor semente.
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REPORTAGEM
MUHAMMAD YUNUS
Divulgação
“As pessoas pobres são como bonsais: a semente é boa, 2015, o número de pessoas abaixo da linha da pobreza. mas a sociedade não deu espaço para ela crescer. É a estrutura “Bangladesh é um dos países que alcançaram essa meta e econômica que criamos. O Grameen Bank não cria empregos, vai atingir os 50% restantes em 2030, dois anos antes do praempresta recursos para que as pessoas criem seus próprios zo estabelecido pela ONU. Hoje apenas 25% da população empregos. Quem falou que você precisa de um emprego?”, vivem abaixo da linha da pobreza. Foi uma conquista enorquestionou para a plateia de universitários. me. Se continuarmos nesse processo de redução, temos um Para assegurar que as pessoas tenham uma vida melhor, o novo desafio: reduzir a zero. Colocamos um anúncio no jorbanco exige que todas nal dizendo que, se em as crianças, filhas de 2030 houver alguém pais analfabetos, frepobre, vamos dar US$ quentem a escola. 1 milhão de recomYunus acredita que pensa. Mas não vai todo ser humano poshaver, e vamos criar o sui instintos de sobremuseu da pobreza”, vivência, autopreserdisse Yunus. vação e uma força criaAlém dos empréstiva que, muitas vezes, timos do banco, Yunus pode ser comprometiencontrou outras forda num emprego ruim. mas de gerar renda Sendo assim, a forma para as mulheres. Em mais efetiva de ajudar 1996, conquistou uma essas pessoas é incentilicença de telefonia var o que elas já têm, celular e criou a Graseu instinto de sobrevimeenphone para dar vência. O microcrédito linhas de celulares a O economista conversou com universitários do Rio de Janeiro e incentivou baseia-se na premissa mulheres em vilarejos os jovens a serem empreendedores – e não ficarem apenas esperando de que os pobres têm onde não havia muitos o emprego bater à porta habilidades profissiomeios de comunicanais não utilizadas ou subutilizadas. Assim, não é a falta de habição. As mulheres passaram a oferecer ligações à população lidades que torna as pessoas pobres, mas, sim, as instituições e local e até às famílias mais ricas, que as chamavam às suas casas, as políticas que as cercam. Ele defende que, para eliminar a e assim elas podiam cobrar mais pelo serviço. Com isso, passapobreza, é preciso também implementar as mudanças aproram a ter geração de renda e o serviço ficou tão popular que priadas nas instituições e nas políticas, ou criar novas. elas ficaram conhecidas como as “senhoras dos telefones”. Assim, ele criou um fundo de negócios sociais para resol“Nos quatro anos seguintes, havia meio milhão de mulhever problemas sociais em vez de gerar lucro. Yunus observa res com telefone em Bangladesh, e elas foram melhorando a que, no mundo convencional, a maximização do lucro é a sua qualidade de vida. Hoje o país tem mais de 120 milhões de meta e o motor que leva a sociedade na direção errada. Ele diz celulares. E, dentro desse processo, a Grameenphone se torque há dois tipos de negócios: o que gera lucro, movido pelo nou a maior e mais experiente empresa do país”, contou egoísmo e por interesses individuais; e o que gera bons frutos, Yunus. Outra empresa foi criada para vender sistemas de enermovido pelo altruísmo, em que tudo o que se faz é para gia solar, que inicialmente eram caros para as populações melhorar a vida das pessoas. pobres, mas a empresa resolveu aceitar o valor que elas paga“Algumas pessoas são muito ricas, e a grande maioria é muivam, mensalmente, pelo querosene como forma de pagamento pobre, porque toda a riqueza foi para o topo. Precisamos do to até que todo o valor fosse quitado. Hoje a empresa tem 50 contrafluxo do altruísmo para que a riqueza venha para baimil funcionários e mais de 1,5 milhão de residências atendidas xo”, resumiu Yunus. Para ele, toda empresa pode ter um negópelo sistema. cio social para tirar os jovens da pobreza extrema. Mas ele afirYunus disse que esses são exemplos de negócio que não ma que suas ações não são estruturadas com o apoio do Estavisam a gerar lucro e sim resolver problemas sociais e ambiendo, como subsídios e redução de impostos. “É a pior coisa que tais substituindo o querosene, que é poluente, por energia limpode acontecer. Nos deem apoio moral e digam que estamos pa. Outro exemplo foi uma fabricante de iogurte que acrescenfazendo uma boa coisa, mas não venham com apoio financeitou ao produto todos os nutrientes que faltavam para resolver ro, porque vai desarticular todo o sistema e gerar negócios socio problema de desnutrição que havia em Bangladesh. ais falsos”, rechaçou Yunus. “Isso é diferente da caridade, que é um dinheiro que faz bem apenas às pessoas assistidas, mas não retorna. No negócio social, o dinheiro pode ser utilizado de forma ilimitada, reinDesigualdade – Na conferência da tarde, ele afirmou que as vestindo-se o lucro gerado, enquanto a caridade só se usa uma ações do Grameen Bank têm contribuído para reduzir os vez”, distingue. níveis de pobreza do seu país. E citou um dos Objetivos do Yunus observou que o ser humano é muito criativo, Milênio estabelecidos pela Organização das Nações Unidas, porém quase sempre essa criatividade é usada para ganhar em 2000, com o apoio de 191 nações: reduzir pela metade, até RUMOS – 34 – Maio/Junho 2015
Um exemplo brasileiro Brasil também tem um expoente com as mesmas motivações do Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus. De acordo com o perfil que ilustra a página do Banco da Previdência, fundado por ele em 1959, Dom Helder Câmara (foto), foi também indicado para o prêmio por sete vezes e deixou uma contribuição para a criação de um mundo pautado por uma ordem social mais justa e pela cidadania, tornando-se uma referência para a humanidade. Nascido em Fortaleza, Ceará, em 7 de fevereiro de 1909, foi ordenado padre aos 22 anos. Transferido em 1936 para o Rio de Janeiro, adotou como desafio antecipar soluções pastorais em prol dos que vivem na pobreza e na indigência. Em 1952, criou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com novas formas de ação do episcopado, visando à promoção da solidariedade e à ampliação da cidadania. Foi grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar no Brasil e pregava uma Igreja simples, voltada para os pobres, e a não violência. Foi sagrado bispo auxiliar do Rio de Janeiro e, depois de 1964 e após 28 anos de ação no Rio de Janeiro, transferido para Olinda/Recife. Dom Helder tinha uma preocupação maior em superar a pobreza. Acreditava na importância da militância dos pequenos grupos e despertava pessoas com capacidades e recursos para contribuir de maneira mais ativa para que os mais pobres tivessem igualmente a oportunidade de despertar e melhorar suas condições de vida. Criou, em 1959, o Banco da Providência, para os pobres sem acesso aos bancos do sistema financeiro. Inventou um novo padrão
dinheiro e criar negócios que deem lucro. Mas a criatividade poderia ser usada para resolver problemas sociais. Ele recomendou àqueles que querem criar um negócio social que olhem para um problema para o qual pode ser criado um plano de negócios para resolvê-lo. Yunus também afirmou que toda a tecnologia existente hoje poderia ser usada para resolver problemas socioambientais. Um exemplo é na saúde: todos os diagnósticos poderiam ser feitos em casa por meio do celular, sem que as pessoas precisassem se deslocar para clínicas e hospitais. “É claro que temos um longo caminho. As empresas ganham dinheiro com esses equipamentos de diagnóstico caros e não vão querer que as coisas sejam democratizadas dessa forma. É por isso que precisamos dos jovens para essa
para a filantropia a partir de três conceitos que, só muitos anos depois, vieram a ser exigência de qualificação em projetos sociais. Em primeiro lugar, a autossustentabilidade, para a qual criou a Feira da Providência, principal fonte de arrecadação de recursos. O segundo conceito é o da sociedade civil organizada. Assim, imprimiu aos seguidores de suas ideias o compromisso da esfera religiosa de atuar como importante articuladora da sociedade civil. E, por fim, o voluntariado, como o principal eixo de sustentação desses valores compartilhados. Em 56 anos de atuação no município do Rio de Janeiro, o Banco da Providência focou sua ação no auxílio aos mais pobres. Passou por um programa de planejamento estratégico com o apoio da Fundação Brava e do Instituto de Desenvolvimento Gerencial. Adotou modernos instrumentos de gestão e implementou a cultura de trabalhar com metas de inclusão social. Em 27 de maio de 2014, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, anunciou o envio de uma carta ao Vaticano solicitando a abertura de processo de canonização de Dom Helder. A carta foi recebida pelo Vaticano no dia 16 de fevereiro de 2015, e, menos de dez dias depois, o parecer favorável foi emitido pela Congregação pela Causa dos Santos, pelo qual ele recebeu o título de “servo de Deus”. A abertura do processo de beatificação foi convocada para o dia 3 de maio, na catedral de Olinda. A instalação do tribunal nessa data marcou o início da fase diocesana do processo de beatificação. Divulgação/Rádio Vaticano
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transformação”, observou. Yunus diz que tem lidado com a frustração dos filhos das mulheres que ajudou a empreender, que puderam estudar, mas, apesar de toda a formação, não conseguem arranjar empregos. E ele os questiona por que precisam de empregos se podem empreender como suas mães. “Eu pergunto a eles se foi a escola que os ensinou que precisam de um emprego. Nós temos de mudar o sistema educacional porque ele educa para que você tenha ‘um bom emprego’. No entanto, o sistema educacional deveria mostrar ao aluno quem ele é e qual a sua capacidade. As pessoas deveriam deixar de achar que não podem fazer nada e não têm utilidade porque estão desempregadas. Temos de imaginar o mundo da forma como o queremos. Se não imaginarmos, ele nunca acontecerá”, concluiu.
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SUL
ENERGIA
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EXTREMO
Por Danile Rebouças
Alternativas possíveis O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) lança programa com o objetivo de estimular e financiar o uso de fontes de energia renováveis e eficiência energética
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om R$ 60 milhões de recursos próprios e repasses de linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) aprovou, em maio deste ano, o Programa BRDE Energia. Uma iniciativa que traz uma questão atual e de grande importância socioambiental: a necessidade de se estimular o uso de fontes de energia renováveis e eficiência energética. O programa tem caráter permanente e as expectativas são altas. Para garantir a perenidade e disponibilidade adicional de verbas, além dos recursos tradicionais do BNDES, o BRDE negocia a captação em instituições multilaterais de fomento, como o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). O presidente do banco, Neuto de Conto, relata que a instituição estima que nos próximos quatro anos sejam investidos cerca de R$ 700 milhões no programa. Neuto de Conto explica que diante do advento de novas tecnologias de geração de energia e das recentes mudanças tarifárias autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o BRDE entendeu que esse é o momento propício para investir nesta área, sendo necessários recursos em condições diferentes daqueles atualmente disponíveis. Desta forma, o banco formatou o programa com a utilização complementar de recursos próprios e, futuramente, de instituições multilaterais de fomento, de tal forma a ampliar as possibilidades de financiamento. “O volume de recursos destinados dependerá da efetiva demanda dos diferentes setores da economia. De antemão, podemos afirmar que o BRDE não está impondo limite de aplicação neste programa”, afirma o diretor-presidente. A gerente de planejamento adjunta do banco, que coordenou o grupo que criou o BRDE Energia, Lisiane Astarita, ressalta que este é o primeiro programa efetivo de fomento à Eficiência Energética da instituição. “Temos uma vasta experiência em projetos de Energia Renováveis como o Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), mas sempre acompanhando as
Projetos que estimulem a geração de energia eólica podem ser financiados pelo programa BRDE Energia.
políticas de aplicação do BNDES. O BRDE Energia traz diferenciais quanto aos itens que poderão ser financiados, como equipamentos importados, e também a modelagem de garantias, que poderá ser modelada para investimentos que se enquadrem no programa”, afirma Lisiane. Beneficiados – Propostas em diversas modalidades podem ser financiadas dentro do BRDE Energia, que possui duas subdivisões. No subprograma Energia Renovável, conforme destaca o presidente, podem ser apoiados os projetos de implantação ou ampliação de sistemas de geração de vapor ou eletricidade a partir de biomassa, energia eólica, energia solar, pequenas centrais hidrelétricas, geotérmica e mareomotriz.
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No subprograma Eficiência Energética podem receber apoio ações que visem o uso mais eficiente da energia no ambiente produtivo ou comercial; que engloba desde o desenvolvimento de novos produtos, processos ou serviços, até a substituição ou aprimoramento dos já existentes. Os projetos podem estar relacionados, por exemplo, à modernização ou adequação das instalações; aquisição de softwares, máquinas e equipamentos; substituição de sistemas tradicionais de iluminação; implantação de novos sistemas de transmissão e distribuição de energia; entre outros, desde que o resultado da ação esteja relacionado com o melhor desempenho e eficiência energética. O presidente Neuto de Conto reforça que, ao valorizar propostas deste tipo, o banco agiliza o processo de investimento em geração de energia elétrica, que costuma ser longo, passando por questões fundiárias, de meio ambiente, de conexão à rede de distribuição e de comercialização, exigindo muito esforço do empreendedor. “Com o programa, o BRDE reduz o prazo total para concessão do financiamento, facilitando a vida dos empreendedores”, sinaliza Neuto. Sobre os investimentos em eficiência energética, Neuto de Conto destaca que nem sempre eles são prioritários para as empresas, que procuram investir em ativos que tragam aumento de receita, e não necessariamente redução de despesas. “Ao propor a eficiência energética, o BRDE incentiva a redução das despesas, tornando as empresas mais competitivas”, destaca. Divulgação
Apoio nos Estados – As agências do BRDE estão analisando projetos enquadrados no programa. Apesar de a divulgação estar na fase inicial, os superintendentes das agências no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul afirmam que a repercussão já é positiva. “É um assunto moderno e que chama a atenção do empreendedor, especialmente aqueles que se sentem ameaçados pela grande elevação do custo da energia ou pela possibilidade de racionamento futuro”, posiciona-se o superintendente da agência do Paraná, Paulo Cesar Starke Junior. Em Santa Catarina, o superintendente da agência, Nelson Ronnie, afirma que a receptividade do programa foi muito boa junto à Câmara de Energia da Federação das Indústrias (Fiesc) e que fará uma ampla divulgação entre as diversas federações e associações empresariais. No Rio Grande do Sul, o superintendente Paulo Raffin aposta na demanda, principalmente, pela dificuldade de se encontrar funding adequado para projetos desta natureza.
Raffin acredita que no Rio Grande do Sul o programa deve apoiar projetos de pequena escala e os de infraestrutura envolvendo geração de energia descentralizada, por meio da instalação de micro aerogeradores e placas fotovoltaicas (energia solar). “O programa pode ser muito útil em promover a eficiência do uso da energia em clientes onde este componente tem importância em seu custo operacional, como hospitais e supermercados. No Rio Grande do Sul, também já há uma busca pela produção de energia descentralizada no campo, principalmente para o uso em irrigação e resfriamento de leite”, acrescenta. Em Santa Catarina, Nelson Ronnie acredita que os projetos de geração de energia em maior escala (PCHs, CGHs, eólica etc.) consumirão a maioria dos recursos, até porque requerem mais investimentos. No entanto, em termos de quantidade, espera-se que haja uma demanda de propostas de menor valor para microgeração, com destaque também para os fotovoltaicos. Nelson Ronnie conta que o BRDE Energia vai ao encontro do pacote de incentivos do governo estadual, com o objetivo de criar mecanismos que priorizem e facilitem a tramitação de processos relacionados a projetos de eficiência e geração de energia a partir de fontes renováveis. “Nesse contexto o BRDE participa intensamente das discussões de um grupo de trabalho formado pelo próprio governador. E o programa BRDE Energia está em perfeita consonância com esse objetivo do governo catarinense”, comenta. No Paraná, Paulo Cesar Starke Junior pondera alguns valores para o programa, apesar de considerar o projeto amplo e difícil de fazer uma estimativa. Na área de eficiência, por exemplo, acredita que serão aplicados, no mínimo, os R$ 20 milhões de recursos próprios destinados ao Paraná para financiar itens ou projetos normalmente não financiados pelas fontes tradicionais. Quanto à produção de energia de fontes renováveis, crê que no estado serão ampliados os financiamentos às PCHs e estima com segurança, no mínimo, R$ 100 milhões até o final de 2016. Desafios – Para a coordenadora do grupo que criou o programa, Lisiane Astarita, o grande desafio neste momento é motivar os empreendedores a elaborarem seus projetos. “As empresas estão focadas em suas atividades e não enxergam este tipo de investimento como prioritário. Porém, em um cenário de alto custo de energia, procura por ganho de produtividade e competitividade, aliada à busca de sustentabilidade, o uso de energia renovável e a eficiência energética são fatores extremamente relevantes para as empresas brasileiras. Nosso papel também será este, de incentivar a reflexão, levando informação aos diversos setores da economia da Região Sul”, pontua. Outro grande desafio, para Lisiane, é sensibilizar o poder público, para que se tenha uma política que incentive investimentos em Eficiência Energética. “Na última pesquisa realizada em 2014 pelo Conselho Americano por uma Economia com mais Eficiência Energética (ACEEE), o Brasil aparece em 15º lugar entre 16 países participantes, no ranking de Eficiência Energética, portanto temos um longo caminho pela frente”, afirma confiante.
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ARTIGO
O cooperativismo financeiro e os canais de (auto) atendimento “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” Camões Ênio Meinen
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Ascom/Bancoob
uito se fala que um dos diferenem relação a 2013 e já representam ciais ou uma vantagem compa12% do total de transações dos bancos. rativa do cooperativismo finanNo Sicoob, destaque entre as instituiceiro (versus a solução bancária ções do sistema financeiro nacional, tradicional) está no atendimenesse veículo já é responsável por 14% to qualificado aos associados. Aliás, em de todas as transações. diferentes consultas de opinião aos coopeA segunda justificativa está no cusrados esse tem sido um dos atributos mais to. De acordo com dados divulgados enaltecidos, justificando de certa forma o pelo mercado financeiro (Bradesco – entusiasmo com o vínculo cooperativo. Ciab Day 2013), o atendimento no caiA questão é saber em que medida esse xa implica, para a cooperativa, dispênrelacionamento virtuoso limita-se ou devedio da ordem de R$ 2,00 (despesas com ria limitar-se ao contato pessoal. A priori, funcionários, instalações, material de hoje, pode-se dizer que a avaliação do quaexpediente, luz, tributos etc.); no ATM, dro social – pelo menos o que se evidencia R$ 0,50, e pela internet, R$ 0,14. nas pesquisas – considera prevalentemente Ainda quanto aos canais nãoo acolhimento presencial, pois evocam-se presenciais, a sua preferência do lado do características como atenção, simpatia e usuário está no fato de que o autoatendiprontidão do quadro funcional ou mesmo mento representa comodidade, liberdados dirigentes na prestação dos serviços. de (flexibilidade de horário e local), praAtualizando o cenário, no entanto, há ticidade, agilidade, segurança (no caso de Ênio Meinen é advogado, pósque se admitir que servir bem apenas na “bomovimentação de recursos) e economia graduado em direito (FGV/RJ) e em ca do caixa” já não é/será suficiente. Entre de tempo (pelo não deslocamento até gestão estratégica de pessoas outras possíveis variáveis a conduzirem para uma unidade física da cooperativa). (UFRGS), e autor/coautor de vários essa conclusão, duas se sobressaem. Esses “recursos” são (cada vez) mais artigos e livros sobre A primeira razão é o fato de que um valorizados pelas novas gerações (ínticooperativismo financeiro – área na grande contingente de associados não faz mas da tecnologia e do mundo virtual) e qual atua há 31 anos –, entre eles questão de ir até um ponto de atendimento por todos aqueles cujo perfil dispensa o “Cooperativismo financeiro: físico (uma “agência”) da cooperativa, especontato pessoal ou requer otimização de percurso histórico, perspectivas e cialmente a população do meio urbano, tempo. Trata-se, portanto, de valores disdesafios”. Atualmente, é diretor de com destaque ao público mais jovem. Protintos daqueles apreciados pelos coopeoperações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob). va disso é que o Sicoob encerrou dezemrados que buscam a aproximação física. bro/2014 com quase 68% das transações Daí que, combinando o fator custo realizadas em canais digitais (via internet – (sob a ótica do empreendimento cooatravés computadores, tablets e celulares – ou ATMs). Em perativo) e a preferência do cooperado-usuário, não há dúvi2013 a proporção era 57% para 43% (“Retrospectiva SISBR da que investimentos em canais “alternativos” são muito 2014”). De acordo com pesquisa da Federação Brasileira de bem-vindos no cooperativismo financeiro. Aqui, por sinal, Bancos (Febraban – ano-base 2014), as transações via mobile o “ponto de equilíbrio” é quase que simultâneo! banking continuaram apresentando crescimento expressivo Segundo, ainda, pesquisa da Febraban, a penetração RUMOS – 38 – Maio/Junho 2015
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Da mesma forma
mais acelerada dos smartphones em escala na oferta e utilização da rede, comque é indispensável todas as classes sociais também contribinado com a eliminação de estruturas acentuar a oferta de bui para o crescimento das transações de manutenção individualizadas, além por esse meio. Como efeito desta tende aumentar a eficiência operacional das operacionais remotos, dência, quase metade das contas correnentidades, permitirá reduzir os custos também é fundamental tes são movimentadas pelo internet banpara os usuários finais. para a sustentabilidade king e um em cada quatro correntistas utiSobre o perfil das dependências do empreendimento liza o mobile banking. (“agências”) das cooperativas, a exemplo cooperativo a criação Por conta desse cenário-realidade do que vem ocorrendo em alguns estabe(utilização acentuada da internet ou “dilecimentos da rede financeira em certas e o aperfeiçoamento gitalização” bancária), em mercados partes do mundo, e até mesmo no Brasil, de fóruns regulares onde o atendimento bancário está conpoderiam, com o tempo, ser redimensioe institucionalizados solidado há mais tempo, sobretudo em nadas, passando, de um lado, a contemplar de contato pessoal termos de rede física, já se inicia um área customizada para abordagens comernas entidades movimento de redução da quantidade de ciais (“balcão de negócios”) e, de outro, agências, situação mais notada na Europara atividades livres (mas identificadas, pa. No mesmo continente, ainda, os – de alguma forma, com a cooperação) de assim designados – “bancos de internet” interesse dos associados e do público em ou “bancos móveis” vêm assumindo protagonismo cada geral. Aliás, no meio cooperativo nacional, já há pelo menos vez maior, enquanto as instituições tradicionais aceleram a uma experiência pontual dentro do último conceito, aplicada ampliação das suas redes on-line. Em relação às instalações em Minas Gerais. A iniciativa, batizada de “espaço cooperatifísicas, há, também, uma grande preocupação sobre tornávo”, consiste na oferta de ambiente aos cooperados e à comulas mais atrativas ou otimizadas, o que inclui oferta de servinidade em geral para o desenvolvimento de projetos e ações ços não bancários, como disponibilização de tablets para socioeducativo-culturais. livre uso nas dependências (“Bancos europeus fecham 5,3 Com relação, ainda, aos canais virtuais, é desejável que as mil agências em 2013” – Valor Econômico, edição de cooperativas invistam na “preparação” dos associados que 15/04/2014). ainda não despertaram para as facilidades e a importância do Nos Estados Unidos, por sua vez, a disponibilização de mundo tecnológico. Entre as medidas, a título de exemplo, soluções remotas tem sido fator de retenção/atração de cliestá a oferta de treinamentos (inclusive com o emprego de entes nos bancos e de associados nas cooperativas. Prova disrecursos do Fates) sobre o uso de computadores e dispositiso é que cerca de 60% dos usuários americanos de smartvos móveis e a navegação pelo (magnífico) universo virtual. phones ou tablets que mudaram de instituição financeira no Paralelamente a esse movimento, poder-se-ia, também, conquarto trimestre de 2013 disseram que o “banco móvel” foi siderar a possibilidade do financiamento de equipamentos e um fator importante na decisão. Os agentes financeiros amesmartphones, com taxas de juros diferenciadas. ricanos também têm nos custos um atrativo a mais para caliAção nessa linha, além de aumentar o grau de satisfação, brar o orçamento em TI, especialmente na seara do mobile gerar gratidão nos beneficiários (que terão acesso à inforbanking. mação diversificada e atualizada, pelo mundo; diversão; Por aqui, igualmente, temos de seguir apertando os pasnovos amigos etc.) e, assim, contribuir para a sua fidelização, sos em relação ao virtualismo bancário. Contudo, paradoxalpode ser um meio de atrair associados dentro do universo de mente, ainda carecemos de uma rede de varejo mais densa pessoas ainda não familiarizadas com a realidade digital. (agências, correspondentes e ATMs), notadamente no que se Por fim, para que não haja uma leitura no sentido da refere ao atendimento cooperativo. Assim, para o relacionadesimportância da mobilização física dos associados, mento operacional com os associados, as duas frentes – rede (re)afirma-se a necessidade do relacionamento social direto de dependências e canais de autosserviço – devem andar juncom os donos das cooperativas, mas fora das filas dos caixas. tas e merecer ênfase, uma vez que, no todo, a despeito dos Com efeito, da mesma forma que é indispensável acentuar avanços já computados, ainda estamos consideravelmente a oferta de facilitadores transacionais/operacionais remotos, “distantes” de nosso público-alvo (atual e potencial). também é fundamental para a sustentabilidade do empreendiNo que se refere, em particular, aos ATMs, espera-se que mento cooperativo a criação e o aperfeiçoamento de fóruns o Banco Central do Brasil, rapidamente, logre êxito em seus regulares e institucionalizados de contato pessoal nas entidaesforços junto aos interlocutores da indústria financeira des. Daí que, sem que nas sugestões se esgotem as alternativas, para integrar os equipamentos de todos os agentes (coopeé de todo conveniente estimular a formação e a ampliação de rativas e bancos comerciais), de modo que possam ser recinúcleos, comitês sociais e outros formatos de agrupamento de procamente utilizados em qualquer canto do país pelos assoassociados, e também instituir e densificar as pré-assembleias, ciados e clientes dessas instituições. Os grandes bancos, por vias pelas quais a administração efetivamente vai ao encontro sinal, já começam a dar o exemplo, uma vez que recentemendos donos das cooperativas, promovendo o diálogo, estimute decidiram compartilhar todos os seus terminais externos lando a participação e, assim, dando vida ao princípio univerpor meio de uma empresa comum, a TecBan. O ganho de sal da gestão democrática.
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REPORTAGEM
INOVAÇÃO
Por Jader Moraes
O passaporte para o Os caminhos para que o Brasil avance e se transforme em um ator global relevante frente à Nova Revolução Industrial foram esmiuçados durante o Fórum Nacional, tradicional evento da agenda econômica brasileira, em debates comandados pelo ex-ministro da Fazenda João Paulo dos Reis Velloso
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Fotos: Divulgação/Inae
onal de Ciência, Tecnologia e Inovação; o apoio aos Projetos erceira Revolução Industrial, Revolução Tecno“Estratégicos” Nacionais; e a promoção ativa da inovação científica, Advento da Sociedade do Conheciempresarial, um grande gargalo brasileiro. mento. O estágio presente do desenvolvimento “Dispomos de uma série de instrumentos para isso, como mundial foi definido por diferentes expressões a subvenção econômica, a construção de relações cooperatinos últimos anos, todas convergentes no sentido vas entre as empresas nacionais e as instituições de Ciência e de apontar para um novo patamar nos padrões de acumulaTecnologia, a atração de centro de Pesquisa e Desenvolvição de riqueza e agregação de valor na economia global. A edimento (P&D) para empresas transnacionais se instalarem e ção de 2015 do Fórum Nacional, evento realizado pelo Instiagregarem valor no Brasil, com estruturas de parques tecnotuto Nacional de Altos Estudos (Inae), coordenado pelo ecológicos que possam apoiar essa vinda”, enumera. nomista João Paulo dos Reis Velloso, apostou na ideia de Entre 2005 e 2012, a participação do setor de Pesquisa e Nova Revolução Industrial e discutiu a centralidade da inovaDesenvolvimento no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ção neste cenário. teve crescimento considerável, passando de 0,99% para Realizado entre os dias 12 e 14 de maio, na sede do Banco 1,21%. Esse crescimento, no entanto, foi impulsionado Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social sobretudo pelos investimentos públicos, que correspondem (BNDES), no Rio de Janeiro, o Fórum debateu as grandes a mais da metade de todo o investimento em inovação realizaquestões econômicas nacionais, com especial atenção para o do no país. “É uma evolução positiva, mas aquém das necespapel que a ciência, tecnologia e inovação desempenham no sidades da promoção do desenvolvimento novo modelo econômico global e como pode nacional por meio da inovação”, reconhece impulsionar a economia brasileira, para que o Fernandes, lembrando que se os dados forem país se transforme em um dos principais atodecompostos, percebe-se que o crescimento res desta nova ordem. no investimento se deu majoritariamente em Na presidência do principal órgão de função da expansão de investimentos goverfomento à inovação do país, a Finep, o cientista namentais, que passaram de 0,51% para político Luis Fernandes acredita que a ciência e 0,68% do Produto Interno Bruto (PIB), a tecnologia estão no coração deste novo modeenquanto, em ritmo menor, o total desembollo de desenvolvimento, que tem na promoção sado pelas empresas foi de 0,48% para 0,53%. da inovação um de seus pilares mais importanEm termos de investimentos governates. Ele garantiu que há, no governo brasileiro, mentais, segundo dados apresentados pela um esforço de promoção de um novo ciclo de Finep, o descompasso do Brasil em relação a desenvolvimento baseado na inovação. países que estão na fronteira da promoção da Para isso, Luis Fernandes defende a atuainovação não é muito grande. O patamar de ção da Finep que tem como visão de futuro jusinvestimento governamental brasileiro é, tamente transformar o Brasil por meio da inoinclusive, maior que o de países como a Espavação. Seus eixos de atuação, explicou o presinha, o Reino Unido, a China e o Japão. Contudente, obedecem a uma lógica de promoção do, se for analisado pelo ângulo dos investide toda cadeia da geração de conhecimento e mentos empresariais, o descompasso do Brada inovação, desde o apoio às empresas nassil é, nas palavras de Fernandes, “gigantesco”. centes de base tecnológica até a operação de A Coreia do Sul, que no início dos anos 1980 crédito em empresas mais consolidadas nas estava em posição equivalente ao Brasil, hoje suas atividades de inovação. Esses eixos estão investe mais de 4,5% do seu PIB em P&D – concentrados em três pontos fundamentais: a Luis Fernandes, presidente desses, mais de 3% são empresariais. No expansão e consolidação de um Sistema Naci- da Finep. RUMOS – 40 – Maio/Junho 2015
desenvolvimento
O ex-ministro Reis Velloso abriu os trabalhos da edição 2015 do Fórum Nacional.
Japão, onde o governo investe menos que o brasileiro no setor, o investimento global se aproxima de 3% do PIB, exatamente por conta do apoio empresarial. “Eu diria que aqui está o grande desafio, que nós não conseguimos ainda superar: criar um sistema de promoção da inovação por meio do qual os investimentos governamentais tenham maior eficácia e eficiência na promoção dos investimentos empresariais em inovação”, destacou o presidente da Finep. A meta do governo é que os investimentos em inovação alcancem 1,5% do PIB nos próximos anos. Admitindo que o apoio governamental deva crescer no máximo até um patamar de 0,8%, que é uma média dos países que mais investem, o grande objetivo é fazer crescer os investimentos privados. “Temos que vocalizar nosso esforço para a promoção da inovação empresarial como locus central do desenvolvimento nacional”, defendeu Fernandes. Para o presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp (Conic), Rodrigo da Rocha Loures, as estratégias do governo para envolver o setor privado no esforço de inovação deve se concentrar nos jovens empreendedores e nas pequenas empresas. Um estudo realizado pela entidade, que comparou o ambiente do Vale do Silício, região de alta concentração de empresas de tecnologia e startups na Califórnia (EUA), com algumas capitais brasileiras – São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba –, constatou que os paradigmas de inovação brasileiros estão obsoletos. De acordo com Loures, a competitividade no mercado brasileiro é espúria, pois não cria novos valores. “Não temos o ambiente adequado nem conhecimento para promover um
empreendedorismo de alto impacto, que é o que realmente transforma a economia”, disse. Mirando no exemplo de países, como Estados Unidos e Israel, que adotaram políticas públicas de fomento e regulatórias específicas para o empreendedorismo de base tecnológica, o presidente defendeu que é preciso uma abordagem mais ousada das políticas e práticas hoje vigentes no país. Isso passa por formar um ambiente propício para o cultivo e o florescimento de empreendimentos inovadores. “Nossa deficiência não é de capital humano, mas sim dos sistemas em que temos que operar, seja nas empresas, universidades, na área pública, que não dão espaço para que o melhor das pessoas e das equipes possa vir à tona. Estamos em desvantagem, a ponto de talentos brasileiros preferirem ir para fora, porque o ambiente – fiscal, creditício, universitário, burocrático – no Brasil não é propício”, comentou. Loures concorda que o país ampliou sua atenção à inovação nos últimos anos, mas criticou a falta de uma estratégia de longo prazo para o desenvolvimento econômico brasileiro. Até agora, frisou, o que se vê são ações e projetos episódicos. “A inovação tem que ser a estratégia central para o desenvolvimento, porque ela é fundamental para a melhoria da qualidade de vida, para repensar as nossas cidades, reindustrializar o país, fazer com que ingressemos em atividades em que ainda não nos encontramos. Enfim, para recuperar o nosso atraso”, finalizou. Exemplos – Quando Reis Velloso apresentou o professor Antonio Paes de Carvalho e sua empresa, a Extracta, fez um breve desafio: “alguém sabe o que essa empresa exporta?” Alguns segundos de silêncio. E então o economista, um tanto triunfante – talvez por “vencer o desafio”, talvez pela surpresa que já antevira que a resposta causaria –, tratou logo de dizer: molécula. A Extracta foi um dos exemplos de investimentos em inovação que o Fórum convidou para tornar a discussão um tanto mais concreta, a partir de experiências reais. Carvalho, diretor-presidente da empresa, falou das vantagens competitivas nacionais quando o assunto é biotecnologia, uma vez que o país possui 22% da riqueza biovegetal do mundo. O Brasil tem buscado implementar uma Rede Nacional de Biotecnologia da Biodiversidade, formada por centros de estudos e desenvolvimento tecnológico públicos e privados, para agregar polos regionais, focar projetos concretos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação na área e atrair mão de obra altamente qualificada em participar do desenvolvimento do setor. Para Antonio Paes de Carvalho, a indústria terá papel essencial para consolidação e expansão do setor no país. “De nada adiantaria formar mestres e doutores sem que a indús-
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REPORTAGEM
INOVAÇÃO
tria se propusesse a orientar esse moviConsultoria Internacional de Negócios, mento ao longo de linhas claras de meracredita que o esforço de inovação na cado. Nas nações emergentes de sucesso, indústria brasileira está estagnado e isso cada novo mestre ou doutor deve estar fica explícito na comparação da particiintegrado num plano que lhe garanta o pação do Brasil no total de registros de emprego em atividades científicas na unipatentes mundial (0,18%) em relação à versidade ou na indústria”, afirma, resparte do país no PIB planetário (3,5%). saltando que a adesão da indústria signifiEle afirma que o impacto das inovações caria um crescimento do emprego indusna economia se dá por meio de sua difutrial do cientista brasileiro dos atuais são e neste quesito o país também está 15% para 70% em médio prazo. atrás – o percentual de empresas que inoO pesquisador Marco Cremona, da varam ficou praticamente estável ao lonPontifícia Universidade Católica do Rio go da última década, com apenas um terde Janeiro (PUC-Rio), apresentou dados e ço das empresas incorporando inovaexperiência com a nanoeletrônica no Brações em produtos ou processos. sil. Assim como na biotecnologia, o país De acordo com o economista, o frápossui uma vantagem que, se bem aprogil desempenho no plano da inovação e veitada, pode colocá-lo em situação de principalmente na sua disseminação na destaque neste setor: está apenas atrás da indústria se reflete na produtividade do China no que diz respeito ao tamanho do trabalho, que chegou a recuar nos últipúblico que se interessa por produtos Antonio Paes de Carvalho, da Extracta, mos anos. Em termos de políticas públiadvindos da nanoeletrônica, também cha- falou sobre a biotecnologia cas, o período recente foi farto em finanmada de eletrônica do futuro – uma inociamentos, desoneração e proteção à vação industrial que permite o surgimento, a cada dia, de indústria. Mas, ainda assim, ele avalia que as políticas direcionovos dispositivos e aplicações nas áreas da energia, saúde, das nadas à geração de inovações e sua difusão pela economia comunicações etc. falharam. Cremona destacou que duas características negativas da “Nos últimos anos, apostou-se que uma rápida expansão indústria nanoeletrônica no país é que em geral são apenas do financiamento levaria a uma forte resposta das empresas seguidoras dos produtos mundiais, o que significa dizer que no plano da inovação. Mas não foi isso que aconteceu. Precisão pouco inovadoras; e o baixo conteúdo nacional em comsamos aperfeiçoar o desenho e a lógica das políticas, para perponentes eletrônicos de maior valor agregado. Para ele, o cebermos se estamos identificando o problema correto. Premaior problema não é a capacidade de inovação brasileira, cisamos, sobretudo, pensar em uma nova agenda para a mas sim as regulações, que muitas vezes significam entraves indústria brasileira, que a tire do isolamento em que se enconpara que o desenvolvimento de produtos inovadores avance tra, melhore o ambiente de negócios e aperfeiçoe as práticas e chegue ao mercado. de governança”, defendeu. Atualmente, o país possui cinco institutos nacionais dediAjuste – O tema do ajuste fiscal não ficou de fora dos debates cados à eletrônica e nanoeletrônica, com um corpo de 400 pesdo Fórum, uma vez que impacta nas expectativas de investiquisadores, 280 mestres e 180 doutores. Para Cremona, o Bramentos dos vários ministérios e também na iniciativa privada. sil pode se destacar especialmente nas áreas de iluminação, O presidente da Finep lembrou que, embora a instituição fotovoltaico e sensores, campos em que já há larga pesquisa e tenha um plano traçado para os próximos anos, a condição experiência próprias. O apoio do BNDES, que desde 2008, conjuntural é de dificuldades. “Não é algo novo, em 2003 tamcom o Fundo de Desenvolvimento Tecnológico (Funtec), tem bém passamos por um ajuste, mas não tínhamos um cenário tratado a eletrônica orgânica como uma área promissora tecexterno tão desfavorável, como essa crise prolongada que estanologicamente, também é considerado importante. Mas o mos vivendo”, afirmou Luis Fernandes. Para ele, o desafio número de apenas 35 patentes alcançadas pelos institutos até para o país neste momento é o de construir uma agenda póshoje (em contraste com os 1,5 mil artigos publicados) é um ajuste, que pense em uma nova política industrial que recupere indicativo de que o caminho não é simples. a capacidade de investimento e de inovação brasileiro. “A competência do Brasil para essa área é muito avançada, O economista Raul Velloso externou sua preocupação de está no nível dos demais países e o investimento necessário que os cortes propostos pelo ministro da Fazenda Joaquim não é alto como em outros setores. Mas temos que ser capazes Levy (boxe) atinjam o investimento, que, em sua visão, é o prinde desenhar uma política inteligente e eficaz para que nos torcipal problema econômico brasileiro hoje. “Enquanto a taxa nemos líderes dessa nova tecnologia, capaz de impulsionar de investimento disparou na Ásia, no Brasil investimos pratimuitos outros segmentos industriais, como a indústria autocamente o mesmo das décadas de 1950 e 1960, e com menos mobilística, de aeronaves, de sensores aplicados ao agronegóeficiência, porque nossa produtividade é baixa”, compara. cio, da energia, e outros mais”, listou. Crítico das ações do governo federal na área de infraestruO economista Claudio Frischtak, presidente da Inter.B RUMOS – 42 – Maio/Junho 2015
tura, Velloso diz que o país perdeu a capacidade de crescer no curto e no longo prazo, com estímulo a um modelo de crescimento do consumo e não do investimento. Contudo, ele acredita que este cenário pode mudar, pois a economia tem dado sinais de que o modelo de consumo interno se esgotou, não restando alternativa que não o investimento em infraestrutura. “Infelizmente, o precipício é que nos leva à solução”, comentou. Organizador do Fórum, o economista e ex-ministro da Fazenda João Paulo dos Reis Velloso acredita que, no curto prazo, o país precisa de um ajuste fiscal, mas que deve se dar principalmente à base de contenção de despesas e não do aumento de impostos. A necessidade mais imperiosa para a economia brasileira neste momento, no entanto, é se integrar à nova revolução industrial e aumentar sua inserção na economia internacional.
Reis Velloso afirmou que a estratégia de desenvolvimento do país passa pela observância do capital humano e lembrou que o mundo vive, hoje, a economia do conhecimento. “Países escandinavos eram pobres há 100 anos e usaram ciência e tecnologia, métodos modernos de gestão e qualificação de mão de obra para o desenvolvimento. Já na economia do conhecimento, as tecnologias recondicionam todos os setores econômicos e sociais. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) coloca que 50% do PIB dos países desenvolvidos resultam da geração, uso e difusão do conhecimento”, lembrou, defendendo também uma reforma na educação, com melhores oportunidades de acesso a todos os segmentos da população. “O conhecimento é um paraíso”, finalizou.
Joaquim Levy defende ajuste e maior participação privada nos investimentos
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m uma fala registrada em vídeo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defendeu a necessidade do ajuste como condição para a retomada do crescimento econômico, com consolidação fiscal, realinhamento de preços e ampliação das opor tunidades de inversão do capital privado na infraestrutura. Levy destacou o papel importante do BNDES na evolução dos mecanismos de financiamento da economia brasileira e lembrou o programa, anunciado recentemente, de incentivo à emissão de debêntures pelas companhias que recorram ao crédito favorecido do banco. “Esse programa visa atender à grande demanda de investidores, inclusive institucionais, por títulos de renda fixa de baixo risco, e adequar-se às atuais condições de oferta de crédito do BNDES. Sua execução poderá sinalizar a velocidade com que o setor privado brasileiro, especialmente os gestores financeiros, responderão aos desafios dessa nova fase da nossa economia, de menor proeminência das commodities”, disse. O ministro defendeu que diminuir a dualidade do crédito, com ampliação do papel do mercado de capitais, é “tarefa inadiável” para o país voltar a crescer. Ele admitiu que a tarefa não é simples e exigirá aprimoramento das condi-
ções contratuais dos grandes projetos, das regulações existentes e um compromisso permanente do governo com a estabilidade econômica e o realismo de preços. “Com as oportunidades de investimentos que existem em nosso país, não há razão de descartar a possibilidade de que novas formas de financiar a infraestrutura brasileira – em cuja experiência do setor privado tem sido vitoriosa – proporcionem uma dessas grandes oportunidades para o país se desenvolver”, afirmou. Levy também comentou sobre os desafios para melhoria dos serviços públicos brasileiros, em especial os educacionais, do fim do superciclo mundial das commodities e das estratégias utilizadas pelo país nos últimos anos para combater a crise econômica. “Enfrentamos as sequelas da crise financeira com políticas de estímulo à demanda doméstica e à canalização de recurso de origem pública para alguns grandes projetos, mas essa estratégia se esgotou. Estou confiante no resultado do conjunto de medidas que o governo tem apresentado: o ajuste fiscal, protegendo os programas sociais e envolvendo o setor privado, abrirá o caminho para a recuperação do crescimento econômico em bases novas”, acredita.
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PELO MUNDO
Nippon Ginko: sím do desenvolvimen Jorge Varaschin
Arquivo pessoal
O nono artigo da coluna “Pelo Mundo” trata do Banco de Desenvolvimento do Japão, conhecido como Nippon Ginko. O artigo foi escrito por Jorge Varaschin, Bacharel e mestre em Economia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Jorge obteve o 2º lugar no 34º Prêmio BNDES de Economia e no Prêmio do Conselho Regional de Economia do RS 2014 com a dissertação “Para Além do Populismo Econômico: Uma Interpretação da Política Econômica do Governo João Goulart (1961 – 1964)”.
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Japão obteve, durante todo o século XX, uma das maiores taxas de crescimento do produto verificadas até então. Símbolo do capitalismo asiático, sua nova estrutura de organização empresarial, câmbio desvalorizado e uma política monetária heterodoxa fizeram da construção do capitalismo japonês uma das mais exitosas experiências de desenvolvimento econômico do século passado. Sua peculiaridade ultrapassa uma suposta vitalidade inerente à economia japonesa: associada a uma estratégia de expansão do mercado externo via aumento das exportações, redução dos custos empresariais e uma política deliberada de desvalorização cambial, atrelando o iene ao dólar, a experiência japonesa demonstra que uma perspectiva de desenvolvimento de longo prazo exige uma certa dose de paciência e criatividade. Em outras palavras: o Japão nos mostra que os manuais podem não apresentar as melhores soluções para um determinado cenário de política econômica. No caso, situações específicas demandam respostas específicas. Nesse contexto, o principal espaço de elaboração da política monetária, o Banco do Japão, conhecido como Nippon Ginko, aparece como um dos grandes protagonistas na trajetória de crescimento do país, exercendo importante influência nos rumos do processo de formação do capitalismo japonês. Criado em 1882 para sedimentar a unificação monetária logo após a Restauração Meiji, que pôs fim à chamada Era Tukugawa e à descentralização econômica e política estabelecida pelos han, a instituição estabeleceu uma ampla reforma financeira e monetária, com base na realocação dos fundos públicos herdados do período anterior. Através, principalmente, da criação de uma dívida pública nacional, lastreou-se a formação de um sistema financeiro com capilaridade nos bancos privados em formação. Apresentando o cenário do final do século XIX: as casas da moeda dos antigos feudos tornaram-se, após a Restauração,
bancos comerciais com poder de emissão que, somado à Lei da Cunhagem de 1871, instituindo o padrão-ouro no país, criou um contexto de desordem monetária. Esse cenário foi minimizado apenas em 1885, quando o recém-criado Banco do Japão passou a emitir suas próprias moedas conversíveis, tornando-se, a partir desse momento, o referencial para a emissão monetária, política de crédito e controle inflacionário. Mais que isso: por meio de uma política de criação de “bancos especiais”, que limitariam a expansão creditícia e atuariam como bancos semioficiais (já que com recursos do banco japonês e sob sua coordenação) de investimentos de longo prazo, centralizaram-se capitais, tendo como perspectivas a adoção de políticas industriais seletivas para diferentes setores, além, é claro, de atuarem contra o ciclo econômico em momentos de recessão. Em outras palavras: o Banco do Japão surgia como responsável por garantir a liquidez para o sistema em sua totalidade. Anos mais tarde, essa política deliberada do governo japonês, sob a salvaguarda de seu Banco Central, formaria os chamados Zaibatsus, conglomerados existentes em diversos setores industriais. Com isso, em comparação com bancos europeus, estabelecia similaridades com o Reichsbank alemão, por meio de um manuseio ativo da política monetária a favor da formação de novas indústrias, marca indelével dos países da Segunda Revolução Industrial. A elasticidade do sistema monetário permaneceu, regulando-se a partir de 1888, através de uma emenda à Lei do Banco do Japão que impunha regras para a emissão por parte dos bancos, lastreado, principalmente, por títulos da dívida pública. Tendo como pano de fundo a visão de uma moeda endógena, propunha-se garantir a liquidez para as indústrias nascentes, o que, ligado ao então militarismo existente no país, favoreceu amplamente a indústria bélica. O que se depreende nesse momento é a centralidade do papel do banco japonês no processo de industrialização nacional, adotando postura ativa e propositiva na condução de
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bolo da peculiaridade to capitalista japonês uma política monetária em prol do crescimento do produto e da consolidação de um sistema financeiro nacional, com capilaridade e liquidez em seu sistema bancário. Tal postura tornou-se elemento cultural do próprio banco e mesmo da economia japonesa, permanecendo no pósSegunda Guerra Mundial, período no qual se inicia uma nova etapa em seu desenvolvimento. Após o lançamento de duas bombas nucleares sob Hiroshima e Nagasaki e a consequente rendição para os Aliados, em 1945, o Japão estava devastado. Sua indústria estava destruída, assim como grande parte da infraestrutura do país. Além disso, nos anos posteriores à guerra, elevou-se a emissão monetária, acarretando uma forte pressão inflacionária. Em 1949, após uma reformulação na chamada Banking Law of 1942, que estruturava a dinâmica interna do banco, o Policy Board tornou-se o órgão decisório, responsável pela elaboração e supervisão das políticas monetária e creditícia. Juntamente a essas alterações, instituíase uma reforma orçamentária objetivando a queda das taxas de inflação, paralelamente a um reordenamento da atividade econômica, voltando-se a canalizar recursos para indústrias estratégicas impactadas pela guerra. Nesse sentido, apesar das pressões dos países aliados para que se desmantelassem os Zaibatsus, o banco manteve o direcionamento da poupança para determinados setores industriais, com taxas de juros artificialmente baixas. Essa política se manteve durante as décadas de 1950 a 1970, quando houve um aumento gradativo da liberalização do mercado financeiro japonês. Durante esse período, fortaleceu-se o sistema bancário do país, com o intuito de dar continuidade à supervisão da política creditícia, operada tanto pela taxa de redesconto quanto pelo controle quantitativo dos empréstimos aos bancos comerciais. Mantinhase, assim, uma combinação de políticas quantitativas e qualitativas para o fornecimento de crédito bancário. O resultado das políticas descritas acima, somadas ao câmbio fixo, foi um rápido crescimento da economia japonesa, mantendo em patamares moderados o nível geral de preços, o que demonstra um aumento substancial de sua produtividade. Entre os anos de 1960 a 1973, o Produto Nacional
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Bruto (PNB) cresceu a uma taxa média anual de 9,4%, com índices de inflação em torno de 5,8%. Em 1973, com o fim do sistema de câmbio fixo, voltou-se a uma política monetária restritiva que, após um período de relaxamento em 1975, se manteve até 1979. Como já referido anteriormente, a década de 1980 representa o início de uma liberalização gradual de seu sistema financeiro, acarretando um fortalecimento do mercado de capitais, com um afastamento entre as empresas e o sistema bancário nacional, diminuindo, com isso, o endividamento das primeiras. Durante todo o período, o Banco do Japão operou ativamente para o fortalecimento da economia japonesa em geral e de sua indústria em particular, com priorização de setores estratégicos, via crédito seletivo. É a liberalização financeira, sob a pressão dos Estados Unidos da América (EUA), que põem termo a esse modelo de política econômica. As décadas de 1980 a 2000 foram de flexibilização do sistema financeiro japonês, com feitos no dinamismo de seu sistema bancário. O baixo crescimento, diretamente relacionado com a valorização do iene, promovida no final da década de 1980, após pressão norte-americana, e seus previsíveis efeitos nas exportações do país, fizeram o banco japonês manter uma taxa de juros em patamares muito baixos durante todo o período. Com a crise de 2008, a situação se deteriorou, com crescimento perto de zero e ainda o perigo deflacionário. Nessa conjuntura, o início do século XXI tem sido de estagnação da economia japonesa, a despeito das tentativas de estímulo da instituição via política monetária. A liberalização das últimas três décadas retirou parte substancial da capacidade de incidência do banco japonês, com aumento da importância do mercado de capitais para o financiamento das empresas, o que impõe limites e reduz a eficácia de sua atuação. Nesse contexto, sua peculiaridade, baseada em sua política pró-crescimento, por intermédio de uma certa dose de heterodoxia, desvaneceu a partir do final do século passado. Seu símbolo, porém, se mantém como uma das marcas do capitalismo japonês e da expansão econômica asiática durante o século XX.
A experiência japonesa demonstra que uma perspectiva de desenvolvimento de longo prazo exige uma certa dose de paciência e criatividade
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FOMENTO
Milton Luiz de Melo Santos é o novo presidente da ABDE
Noel Joaquim Faiad
tos, maior interlocução das instituições de fomento com os ministérios e outros órgãos federais. O SNF é responsável por mais de 55% do saldo de operações de crédito do país, especialmente para projetos de infraestrutura e apoio às micro e pequenas empresas. “É importante aumentarmos o diálogo com o Banco Central e intensificarmos a nossa sinergia com o BNDES, para que os agentes financeiros possam cumprir seu papel de propulsionar a economia regional. Cada instituição representa seu estado, mas somos um conjunto que trabalha em prol do desenvolvimento do país. E acreditamos no Sistema Nacional de Fomento como alicerce desse desenvolvimento”, disse Milton. A reunião foi conduzida pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social A Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) (BNDES), Luciano Coutinho, que também preside o Conseelegeu no fim de maio sua nova diretoria, para o biênio 2015lho dos Associados. Coutinho destacou o esforço realizado 2017. O economista Milton Luiz de Melo Santos foi eleito nos últimos anos para ampliar o reconhecimento da associapresidente da associação, durante a Assembleia Geral da ção e sua interlocução com outras instituições, e elogiou a entidade. Oriundo do Banco Central, onde permaneceu por plataforma de trabalho apresentada pelo presidente recém36 anos e foi secretário-executivo, Santos é o atual presidente eleito. “Tenho certeza que será exitosa, pois está articulada a da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), um projeto coletivo. Desejo pleno êxito no desenvolvimento uma das 29 instituições associadas à ABDE – grupo que de toda essa plataforma e, enquanto BNDES, estamos cominclui grandes bancos federais, instituições estaduais e regioprometidos em buscar uma agenda diferenciada, com mais nais de fomento, a Finep, o Sebrae e bancos cooperativos. atenção às agências de fomento, assim como com a instituiUm dos principais desafios do novo presidente será conção do Planejamento Estratégico do Sistema Nacional de duzir o processo de Planejamento Estratégico do Sistema Fomento”, disse. Nacional de Fomento (SNF), que prevê, dentre outros ponA Assembleia Geral da ABDE também elegeu como vice-presidentes da entidade o Nova composição da Diretoria da ABDE economista Marco Aurélio Crocco, do Banco de Desenvolvimento de Minas Presidente Gerais (BDMG), e o diretor do Banco do Milton Luiz de Melo Santos (Desenvolve SP) Brasil Ilton Luis Schwaab. Outros sete diretores, além do conselho fiscal da insti1º Vice-Presidente tuição, também foram eleitos (boxe). Conselho Fiscal – Membros Marco Aurélio Crocco Afonso (BDMG) Efetivos: Novos – A Assembleia Geral também João Carlos Grando (Badesc) 2 º Vice-Presidente celebrou o retorno da Agência de FomenAndré Giovane Canavarro Alves Ilton Luis Schwaab (Banco do Brasil) to do Estado de Tocantins ao corpo de (Bancoob) associados da ABDE. O presidente da José Marconi Freire (Desenvolve) Diretores: agência, José Carlos Freire Junior, apreFrancisco Soares (Banco do Nordeste) sentou a solicitação, que foi acolhida Membros Suplentes: José Henrique Paim (BNDES) Jackson Antonio da Trindade Rocha durante o encontro. O Banco InterameriHumberto Tannús Junior (Goiás Fomento) cano de Desenvolvimento (BID) também (Agefepe) Otto Alencar Filho (Desenbahia) manifestou a intenção de ingressar como Murilo Diniz (AGN) Rogério Tavares (Caixa) associado à ABDE, se comprometendo a Deuzi Cristini Nunes da Cunha Susana Kakuta (Badesul) enviar nos dias seguintes uma comunica(MT Fomento) Valmir Rossi (Banco da Amazônia) ção oficial para selar sua entrada no quadro da associação. RUMOS – 46 – Maio/Junho 2015
Banco do Nordeste promove interiorização de crédito com o circuito FNE Itinerante
Fomento Paraná contrata novo financiamento pela linha Inovacred
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Divulgação/Fomento Paraná
O Banco do Nordeste, em maio, promoveu o circuito FNE Itinerante 2015. O objetivo do projeto é levar a cidades do interior do Rio Grande do Norte uma série de informações às micro e pequenas empresas (MPEs) sobre o acesso ao crédito por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Desde 2009, uma série de encontros já foram cumpridos em todo o estado. No ano passado, nove municípios participaram do circuito e esse ano o número subiu para 18. Durante os eventos, proprietários e administradores de empreendimentos contam com atendimento do Banco do Nordeste e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que realizam a divulgação das linhas de financiamento. O FNE Itinerante é uma ação que faz parte da parceria entre o Banco do Nordeste, Ministério da Integração Nacional e Sudene, que também conta com os apoios do Sebrae, prefeituras, câmaras municipais, Câmaras dos Dirigentes Lojistas (CDLs) locais e sindicatos do comércio varejista.
A Agência de Fomento do Estado do Paraná (Fomento Paraná) assinou mais um contrato de financiamento pela linha Inovacred, que é destinada a projetos de inovação e desenvolvimento tecnológico. A beneficiária do crédito é a empresa Isotron Ltda., sediada na Região Metropolitana de Curitiba. A empresa atua no desenvolvimento de máquinas e equipamentos para microssoldagem. Apoiada pelas atividades de pesquisa e desenvolvimento, a Isotron passou a atuar também nas áreas de automação, ensaios elétricos e energia. O objetivo do projeto é desenvolver o Módulo Inversor Digital (MID), voltado para o segmento de solda a ponto, por meio da incorporação de um controle totalmente digital a um módulo de potência de um inversor de solda. A aplicação do produto é voltada principalmente às indústrias do segmento de eletroeletrônica, de autopeças e metalmecânica. Para o presidente da Fomento Paraná, Juraci Barbosa, a agência tem feito um esforço para apoiar os empreendedores no financiamento à inovação.“Estamos de portas abertas, dispostos a apoiar as empresas, estamos aprimorando nossos processos e esperamos que este seja o primeiro de outros contratos que a Isotron possa assinar conosco”, afirmou.
Empresas capixabas poderão recorrer a fundo para o setor aeroespacial cial de crescimento das empresas e adquire um percentual de participação no investimento. Ou seja, o Fundo entrará como sócio acionista dos empreendimentos selecionados pelo seu potencial de retorno. O diretor-presidente do Bandes, Luiz Paulo Vellozo Lucas, destacou que a ação faz parte da nova forma de atuar do banco. “Por meio da participação em fundos de investimento e participações, o objetivo do Bandes é estimular o empreendedorismo, o desenvolvimento de empresas inovadoras, as melhores práticas de gestão e governança corporativa em parceria com outros investidores. O banco atuará como cotista do Fundo e este, por sua vez, será acionista de empresas capixabas promissoras”, destaca.
RUMOS – 47 – Maio/Junho 2015
Divulgação/Bandes
O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) encaminhou ao BNDES o pedido de participação da instituição em um fundo de investimentos em participações (FIP) que investe em empresas dos setores aeronáutico, aeroespacial, segurança, defesa e integração de sistemas. O Fundo Aeroespacial, que tem como gestora a Portbank, com patrimônio inicial de R$ 131,3 milhões, tem a Embraer como empresa-âncora e uma das cotistas, além do BNDES, FINEP e DesenvolveSP. O Bandes passará a ser investidor do Fundo com o aporte de R$ 10 milhões ao patrimônio. O FIP é uma modalidade de apoio a empresas, distinto do crédito tradicional, onde a gestora do Fundo identifica o poten-
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LIVROS
Estabilidade da desigualdade Livro reúne 14 ensaios que procuram criticar a ideia, bastante difundida, de que há, no país, uma estabilidade da desigualdade. Ao abordar vários aspectos, a obra mostra que foram muitos os avanços, mas alguns grupos sociais não conseguiram se beneficiar do crescimento do Brasil. Confira os destaques da publicação em uma entrevista com a cientista política Marta Arretche, organizadora do livro.
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as editoras universitárias, geralqueda da desigualdade no mercado de trabalho. mente encontramos títulos que De outro lado, mostra que a desigualdade vai senremetem a essa temática: desido reduzida por um mecanismo de saturação, gualdade. O que a obra traz de difeisto é, quando políticas são universalizadas em rente para o debate? um dado patamar, tendem a se deslocar para o Marta Arretche – Esta obra desafia a tese segunpatamar seguinte. do a qual o Brasil teria vivido uma “inaceitável estabilidade” da desigualdade. Em 14 ensaios, que Rumos – Foram utilizadas como base de abordam educação e renda, políticas públicas, dados seis edições dos censos demográficos demografia, mercado de trabalho e participação do IBGE. Qual a maior dificuldade em trapolítica, o livro demonstra que, na verdade, as desibalhar com tamanho volume de dados? gualdades entre os brasileiros foram muito reduziArretche – Este é um trabalho volumoso, que das nas últimas décadas, embora o país continue exigiu muito cuidado em sua montagem, bem entre os mais desiguais do planeta. Os textos ainda como uma equipe tecnicamente competente. deixam claro que o processo esteve estreitamente Mas, como demonstrado, não é impossível de ser vinculado a decisões políticas, das quais, portanto, realizado. Na verdade, temos hoje no Brasil uma depende sua continuidade. O período analisado é grande disponibilidade de dados, que nos permium dos mais distintos econômica e politicamente tem avançar em nossa compreensão sobre os Trajetória das Desigualdades já vivenciados no país, os 50 anos compreendidos grandes fenômenos de interesse da sociedade braMarta Arretche (org.) entre 1960 e 2010. Os textos evocam imagens que sileira. Unesp, 489 p., 2015. refletem uma transição acelerada de um país de perfil rural e homogeneamente empobrecido, em Rumos – No livro, evidencia-se que as polítique apenas 20% dos jovens de até 15 anos concluíam os quatro cas públicas têm desempenhado um papel central na reduanos de ensino básico, para um país urbano, que praticamente unição das desigualdades. É uma sinalização de que somente versalizou o acesso ao ensino fundamental, ampliou significativacom políticas perenes, com continuidade, é possível reverter mente o alcance dos serviços públicos e aumentou em 11 anos a o quadro de desigualdade? expectativa de vida média de sua população. Arretche – Não apenas. É preciso continuidade nas políticas redistributivas, porque as distintas políticas têm efeitos diferentes Rumos – O livro é robusto, com mais de 489 páginas, que sobre a desigualdade. A previdência pública aumenta a desigualdaabordam vários aspectos: educação, renda, mercado de trade, porque paga benefícios elevados a uma pequena parcela de balho, em um intervalo de tempo considerável (1960-2010). beneficiários, ao passo que a previdência privada reduz a desigualVárias conquistas são apontadas, mas também desigualdadade, porque a maior parte destes aposentados recebe até dois saládes persistem, principalmente, para mulheres, pretos e parrios mínimos. Quando o salário mínimo é valorizado, há um dos. É possível identificar por que esses grupos não acompaimpacto positivo sobre a queda de desigualdade. O Programa Bolnharam a evolução do país? sa Família reduz a pobreza assim como reduz um pouquinho a desiArretche – Na verdade, mulheres, pretos e pardos não tiveram o gualdade. Parte da controvérsia sobre a trajetória da desigualdade mesmo sucesso. Elas entraram de forma massiva no mercado de no Brasil é que muitos estudos se concentram em apenas uma trabalho, mas em 2010, assim como os brasileiros do segundo grudimensão e extrapolam por dedução suas inferências para as demapo, obtinham menores rendimentos que os homens brancos, mesis. Parte expressiva das interpretações que concluem que pouco mo quando possuíam o mesmo nível de escolaridade. Os não branmudou no Brasil nos últimos 50 anos é derivada de um viés negaticos avançaram ainda menos, relativamente às mulheres, que se disvo de seleção dos indicadores com pior desempenho e, sobretudo, tribuem por todos os extratos sociais. Embora tenha aumentado o de uma métrica móvel segundo a qual exigências mais elevadas são ingresso de pretos e pardos na universidade nas últimas décadas, adotadas à medida que progressos são obtidos. O viés de seleção em 2010 os brancos ainda eram 75% da população universitária, e também afeta a interpretação que sustenta que um novo Brasil estavam matriculados em geral nas carreiras de maior prestígio. emergiu das mudanças recentes. Esta está baseada na seleção das Em consequência, a redução das desigualdades em relação aos dimensões cuja inflexão positiva foi mais destacada. Na prática, não brancos dentro do sistema escolar permaneceu restrita ao você pode enviesar a seleção das políticas que examina e concluir o nível de ensino em que o acesso tornou-se universal, isto é, no ensique você quiser sobre o impacto do Estado. Por esta razão, em nosno fundamental. De um lado, estes dados evidenciam que a reduso livro, destacamos um conjunto bem amplo de dimensões releção do “prêmio da educação” não é o único fator explicativo da vantes, que foram examinadas separadamente. RUMOS – 48 – Maio/Junho 2015
Vitalidade para a indústria
Uma visão histórica
Tendo como um de seus organizadores o ministro do Planejamento Nelson Barbosa, e fruto de discussões realizadas em seminário promovido pela Fundação Getulio Vargas, o livro busca mostrar os desafios enfrentados pelo setor industrial brasileiro, além de propor formas de recuperá-lo da estagnação. Os organizadores defendem que a indústria é um setor vital para o desenvolvimento do país e deve estar no centro da matriz produtiva de qualquer nação continental como o Brasil. Nos últimos dez anos, o setor foi beneficiado pela expansão do mercado interno e pelo crescimento da economia, mas por outro lado perdeu competitividade devido à apreciação cambial decorrente da evolução do preço das commodities e da política macroeconômica adotada no Brasil e em todo o mundo. Em 24 capítulos, 36 autores discu-
Organizada pelo professor Ricardo Dathein, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a obra traz uma relevante contribuição para o debate teórico e político sobre o desenvolvimento econômico. Ao partir de concepções sobre o desenvolvimentismo e o Estado desenvolvimentista, os autores, divididos em dez capítulos, analisam as diferentes e possíveis bases teóricas atuais do tema, que, muitas vezes, são complementares. Os artigos trazem abordagens institucionalistas, as concepções evolucionárias ou neoschumpeterianas, a teoria keynesiana e a visão marxista, sempre levando em conta as experiências internacionais e a história do desenvolvimento. É uma obra de referência, elaborada por professores e pesquisadores ligados à área de Desenvolvimento Econômico do Programa de Pós-
tem os caminhos para o país aumentar seu desenvolvimento produtivo num cenário internacional de lento crescimento e forte concorrência industrial.
Indústria e Desenvolvimento Produtivo no Brasil Nelson Barbosa, Nelson Marconi, Mauricio Canêdo Pinheiro e Laura Carvalho (orgs.) Elsevier, 712 p., 2015.
Empreender a vida
O Rio pós-2016
Empreendedorismo é um termo só para os negócios? Não é assim que pensa Carlos Hilsdorf, que propõe que empreender é sonhar com conhecimento e atitude e, por este caminho, imprimir a marca pessoal na história da humanidade e das pessoas que nos são caras. Pós-graduado em Marketing pela FGV, consultor e pesquisador dos temas que interligam negócios e comportamento humano, Hilsdorf trata o empreendedorismo de modo inovador, com consequências e repercussões transcendentes. Para ele: “empreendedores e empreendedoras são pessoas comuns que aprenderam a conhecer as suas forças e, com elas, transformar ideias, projetos e sonhos em realidade. Dividida em três capítulos, a obra começa com uma desconstrução dos mitos envolvendo a questão
Faltando pouco mais de um ano para os Jogos Olímpicos, o Brasil – e especialmente o Rio de Janeiro – tem inúmeros desafios para assegurar que o evento propulsione desenvolvimento para a cidade, no plano econômico, esportivo e também social. Desde a escolha da sede, em 2009, pairou sobre os gestores uma série de riscos: o maior deles era o de que a preparação para os Jogos deixasse apenas uma sequela de dívidas enormes, com pesados ônus impostos para os habitantes da cidade durante muitos anos após a realização do evento; outro, era o de 2016 passar sem um legado relevante para a cidade. As Olimpíadas, no entanto, também representam uma série de oportunidades, e é o que este livro traz em suas 320 páginas: por meio de uma série de artigos, faz uma reflexão
de empreender. Em seguida, o autor aponta o que seriam os dez mandamentos para dar início ao empreendedorismo de sucesso, e, por último, apresenta quatro histórias de pessoas que já percorreram esse caminho.
Atitudes Empreendedoras Carlos Hilsdorf Penguin Classics, 240 p., 2015.
RUMOS – 49 – Maio/Junho 2015
Graduação em Economia da UFRGS, que traz o resultado de pesquisas teóricas, com uma característica comum de visão crítica ao liberalismo.
Desenvolvimentismo: o Conceito, as Bases Teóricas e as Políticas Ricardo Dathein (org.) UFRGS, 379 p., 2015.
acerca dos rumos do Rio de Janeiro depois das Olimpíadas, apontando para a necessidade de um projeto de transformação para que a cidade se prepare para o futuro que virá.
Depois dos Jogos – Pensando o Rio para o pós-2016 Fabio Giambiagi Editora Campus/Elsevier, 320p., 2015.
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CARTAS DO LEITOR Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall - Brasília - DF – CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 Fax: (21) 2109.6004 E-mail: abderj@abde.org.br
Estudante Sou estudante de Ciências Sociais, da Universidade de São Paulo (USP), e estou interessada em um artigo publicado por vocês no volume v. 29, nº 222, da revista Rumos. Trata desse artigo: LIMONGI, Fernando. Reforma política: verdades e sofismas. Rumos, Brasília, DF, v. 29, nº 222, p. 4-8, jul/ago 2005. Como no site da ABDE só está disponível a partir do nº 257, por gentileza, vocês tem algum material referente a este artigo para compartilhar comigo? É de extrema importância para completar a minha pesquisa bibliográfica sobre o tema. Roberta Borges. Instituto Ethos. São Paulo (SP) Bibliotecária Recebemos e agradecemos revista Rumos, v. 39, n. 280, mar/abr 2015. Solicitamos receber regularmente por doação, para compor o acervo da nossa biblioteca. Maria Socorro Oliveira Campos. Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Salvador (BA). Errata: Reproduzimos abaixo o quadro que foi publicado de forma incompleta em nossa última edição, no artigo “Microcrédito e Desenvolvimento Produtivo na Bolívia”, páginas 44 e 45, de autoria do economista Andrej Slivnik. Participação das operações de microcrédito no setor bancário e no PIB – Bolívia 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Carteira bruta de operações de microcrédito / carteira bruta total do setor bancário (%) Carteira bruta de operações de microcrédito / PIB (%)
13,9
3,5
14,2 18,7 18,3
4,0
5,8
5,9
21,5 22,2
7,5
CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Luciano Coutinho DIRETORIA Presidente: Milton Luiz de Melo Santos 1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Crocco Afonso 2º Vice-Presidente: Ilton Luis Schwaab Diretores: Francisco Soares, José Henrique Paim, Humberto Tannús Junior, Otto Alencar Filho, Rogério Tavares, Susana Kakuta, Valmir Rossi Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima
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Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Bolívia. Elaboração própria. Publicação bimestral
ISSN 1415-4722 Ano 39 – Nº 281 Maio/Junho 2015
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