Rumos 289

Page 1

#289 SETEMBRO/OUTUBRO

ECONOMIA DA ATENÇÃO EXPERTISE

O economista Pedro Dutra Fonseca fala do desafio de conceituar o desenvolvimentismo.

2016

A dificuldade de manter o foco em algo por um certo tempo transformou a atenção em um produto. A economia estuda esse fenômeno, que tem influenciado a vida produtiva.

REPORTAGEM

ARTIGO

Seminário na Região Norte evidencia as potencialidades de desenvolvimento local.

Marco Almada, presidente do Banco Cooperativo do Brasil, aponta as novidades das fintechs.



SUMÁRIO

SETEMBRO/OUTUBRO 2016

#289

Thais Sena Schettino Editora

10 13 14 20 30 32 34 36

ARTIGO

Marco Aurélio Almada

O cooperativismo financeiro e a economia colaborativa

REPORTAGEM

Presença forte

OPINIÃO

Antonio Delfim Netto

04

EXPERTISE | Pedro Cezar Dutra Fonseca

Desenvolvimento: um caminho para chegar lá

Renascimento

ARTIGO

Francisco Bezerra Diniz

Geração eólica e solar no Brasil: o sonho vira realidade ARTIGO

Claudia Alamar Aguilla

Zona franca verde

16

REPORTAGEM

Diferença e semelhanças

REPORTAGEM

Excelência como meta

REPORTAGEM

Indústria enferma REPORTAGEM

Desafio verde

22 CAPA |

Economia da Atenção

Pare, olhe, agora!

ARTIGO

Fernanda Feil Andrej Slivnik Raiani França

Uma questão transversal

RUMOS

Carlos Will/Centro Celso Furtado

08

DESTAQUES

Levi Mendes/Imprensa SEI

“Atenção, tudo é perigoso, tudo é divino e maravilhoso”, com essa frase, a canção de Caetano Veloso, imortalizada na voz de Gal Costa, na época dos Doces Bárbaros, nos idos dos anos 1968, enunciava o que estava por vir: será preciso ficar atento, cada vez mais atento, para os riscos de estar todo o tempo conectado, interagindo com o mundo virtual e sendo espionado por ele; mas, ao mesmo tempo, é maravilhoso viver esse momento, das novas tecnologias de informação e de comunicação. Sobre a dor e a delícia de disputar a atenção do outro é que versa a reportagem de capa desta edição. A Economia da Atenção é o novo paradigma da produtividade e o desafio das áreas de marketing, educação e neurociência. Especialistas e profissionais explicam o que é esse novo momento, no qual atrair a atenção e mantê-la é o maior desafio. E por falar em desafio, o professor e economista Pedro Dutra Fonseca trouxe para si a responsabilidade de conceituar o desenvolvimentismo, em um trabalho de relevo e fôlego que o permitiu ganhar o prêmio de Conselho Federal de Economia (Cofecon). Nas reportagens, duas matérias para refletir sobre o desenvolvimento brasileiro: como anda a (des)industrialização nacional e como aproveitar todas as potencialidades das florestas da Região Norte sem colocar as árvores no chão. E ainda sobre as novas tecnologias, o presidente do Banco Cooperativo do Brasil, Marco Aurélio Almada, explica como as fintechs vão revolucionar o mercado bancário de meios de pagamentos. Enfim, são muitos os assuntos, qual irá chamar a sua atenção primeiro? Boa leitura!

NESTA EDIÇÃO

SXC

AO LEITOR

SEÇÕES

38

40

LIVROS

FOMENTO

3


EXPERTISE

Fotos: Carlos Will/Centro Celso Furtado

Desenvolvimento: um caminho para chegar lá

Pedro Cezar Dutra Fonseca já esteve nas páginas de Rumos mais de uma vez. A ênfase do seu trabalho e de suas pesquisas concentra-se nos temas Desenvolvimento Econômico, Formação Econômica do Brasil no século XX e História do Pensamento Econômico. Nesta edição, o doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular do Departamento de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) concede esta entrevista para falar sobre um conceito muitas vezes mal compreendido: o desenvolvimentismo. O tema voltou a chamar atenção em agosto deste ano, quando o trabalho de sua autoria “Desenvolvimentismo: a Construção do Conceito” conquistou o 1o. lugar na categoria Técnico ou Científico do XXII Prêmio Brasil de Economia, organizado pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon). POR ANA REDIG 4

SETEMBRO SETEMBRO || OUTUBRO OUTUBRO 2016 2016


A pesquisa para o texto “Desenvolvimentismo: a Construção do Conceito” surgiu da necessidade de conceituar o termo para uma publicação sobre o tema que está sendo levada a cabo pela equipe do professor Pedro Fonseca na pós-graduação da UFRGS. O trabalho buscou, em experiências históricas, os pontos comuns que caracterizam o conceito, e constituirá o primeiro capítulo do estudo. “Este é um termo muito fluido, e é usado para governos tão diferentes como o Estado Novo e os governos Geisel, João Goulart e o de Juan Peron, na Argentina. Por isso optei por não definir o que seria desenvolvimentismo de forma autoral”, conta o especialista. Pedro Dutra Fonseca recorreu a uma metodologia que vai aos autores para perceber como a comunidade usa esses termos e em quais contextos históricos. Assim, ele reuniu autores nacionais e internacionais para descobrir o que eles trazem de comum nessas várias designações. “Depois disso, usei um viés historicista, fazendo uma testagem para verificar até que ponto a teoria se confirmava na prática”, explica. Foram selecionados 34 governos latino-americanos de oito países – Brasil, Argentina, Chile, México, Uruguai, Colômbia, Venezuela e Peru – tipicamente designados como desenvolvimentistas. A pesquisa mostrou-se bastante trabalhosa porque todos os atributos a esses governos foram checados para concluir por qual razão essas experiências históricas são chamadas de desenvolvimentismo e quais foram seus resultados. Desta forma, o pesquisador foi capaz de delimitar um “núcleo duro” do conceito, ou seja, apesar do desenvolvimentismo ser flexível e ser capaz de se moldar a experiências históricas novas e diversas, ele apresenta características principais sempre encontradas em todos os autores e países. “Podemos afirmar que o desenvolvimentismo é uma estratégia de longo prazo de superação do subdesenvolvimento, por meio de uma intervenção do Estado, com base no desenvolvimento da produção e da produtividade, liderada pelo setor industrial e sempre dentro de um projeto nacional, um projeto de mudança para o país, para a sociedade”, afirma Fonseca. O professor destaca que, ainda que os governos possam desenvolver planos políticos e econômicos bem estruturados, o sucesso de um projeto nacional desenvolvimentista depende fundamentalmente de uma base social de apoio consistenRUMOS

te; base esta bastante difícil Para que a de ser construída. Fonseca intervenção seja cita a Colômbia, que não consegue levar suas propos- bem-sucedida, tas adiante por falta de ade- é necessária uma são de importantes grupos base social de sociais. “A Argentina, por apoio que garanta exemplo, teve sucesso até os a governabilidade anos 1950, mas depois há um durante as conflito social que inviabilimudanças. za o projeto”, elucida. Para ele, o desenvolvimentismo é também uma crença, a crença de que este é o caminho para sair da posição de país subdesenvolvido e alcançar a meta de se tornar desenvolvido. “Para isso é necessário estabilidade social, que garante a governabilidade durante a mudança”, completa. O CONCEITO Com exceção do liberalismo clássico, que acredita – de forma mais radical – que o mercado é capaz de tomar todas as decisões e de superar os desafios de uma sociedade, todas as outras ideologias e doutrinas econômicas propõem uma certa intervenção do Estado na economia. Assim, o desenvolvimento pode ser considerado uma forma de intervencionismo, mas muitas vezes é confundido com ele. “A intervenção do Estado é comum também à social-democracia, ao socialismo, ao trabalhismo, ao keynesianismo, entre outros modelos. O que vai torná-los diferentes entre si será a extensão – intervenções mais ou menos profundas – e, sobretudo, o motivo pelo qual o Estado deve interferir. No keynesianismo, por exemplo, o Estado intervém para interromper um ciclo econômico em crise. Quando o país entra em uma fase de desemprego e recessão, o governo utiliza políticas monetárias e fiscais de forma contracíclica. Já no socialismo, o motivo central está atrelado à crítica à propriedade privada e à questão da distribuição de renda. No caso do desenvolvimentismo, a razão maior da interferência do Estado se 5


prende a um fator de longo prazo. Significa, principalmente, uma estratégia para o país para superar o subdesenvolvimento. O subdesenvolvimento, conceitua Pedro Fonseca, geralmente é visto como uma defasagem do país com relação a outro grupo de países. “Esse atraso se manifesta por meio de baixa produtividade, indicadores sociais ruins, má distribuição de renda, baixa industrialização e baixa inovação”, define. O desenvolvimentismo incorpora a distribuição de renda, mas a atrela também ao crescimento da produção. É preciso, portanto, investir na indústria, na melhoria da produção e em inovação, para melhorar a produtividade e alcançar a sociedade desejada. Segundo o economista, os autores até podem divergir sobre quais seriam os indicadores de subdesenvolvimento, mas todos concordam que o mercado não é capaz, sozinho, de alavancar um país do subdesenvolvimento até o desenvolvimento. “Por isso, a presença do Estado vai viabilizar e/ou acelerar esse processo”, elucida. O ex-ministro Delfim Neto afirmava que era preciso fazer crescer o bolo para depois dividi-lo. Segundo Pedro Cezar Dutra Fonseca, a experiência brasileira mostra que esta ideia não se concretizou. Pelo contrário, no período em que houve crescimento no país esse processo se deu de forma bastante perversa e não houve a preocupação simultânea com a distribuição, consagrando uma maior concentração de renda. “A proposta do desenvolvimentismo faz com que duas coisas possam caminhar juntas, elas não são incompatíveis nem excludentes. O ideal seria que a distribuição de renda se

Mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). Coordenou a Rede Brasileira de Ensino de Desenvolvimento Econômico e atualmente é membro titular Comitê de Economia do CNPq e também da Diretoria do Centro Internacional Celso Furtado.

6

desse gradualmente com o crescimento”, defende. “A experiência da social-democracia europeia se deu assim no pós-guerra, bem como nos Estados Unidos da década de 1920. À medida que a economia ia crescendo, iam se incorporando ganhos de produtividade aos salários, gerando uma gradual distribuição de renda”, observa. O economista admite que a fórmula oposta – distribuir para crescer – também não é fácil de executar, pois sem uma economia em crescimento, sem aumento do PIB, não há muito a distribuir. SUBDESENVOLVIMENTO HISTÓRICO A consciência do atraso no Brasil começa no século XIX – somente alguns anos depois, na Comissão Econômica para a América Latina, Celso Furtado cunharia o termo subdesenvolvimento –, na época da transição do Império para a República, quando ocorrem muitas mudanças no país, inclusive a abolição da escravatura. Ela surgiu principalmente entre as elites brasileiras, fortemente atrelada à ideia de progresso, muito presente neste período. É desse período a ideologia do país jovem, que reconhece seu atraso, mas assume que gradual e naturalmente vai chegar lá. “Essa manifestação aconteceu muito entre industriais, militares, jornalistas, políticos, inclusive sobre a égide do positivismo, com a ideia de progresso, e foi se encorpando, ganhando espaço na sociedade”, afirma Fonseca. O desenvolvimentismo, porém, não se firmou sobre uma ideia abstrata de progresso, mas sim a partir do entendimento de que, reconhecido o atraso do país, o caminho para sua superação estaria no crescimento industrial, já que a não industrialização seria a causa dessa defasagem. Fonseca destaca que, na época, autores atribuíam as origens desse atraso a questões raciais, geográficas ou de cunho cultural, como a miscigenação, a tropicalidade e a colonização lusa. “O desenvolvimentismo surgiu como uma novidade, mostrando que a questão se dá devido a uma situação histórica. O Brasil ocupava uma posição de exportador de matérias-primas na divisão internacional do trabalho, e o fazia de forma muito concentrada – quase exclusivamente café. A saída, portanto, seria a industrialização do país e, ao mesmo tempo, a diversificação da produção primária e da pauta de exportações”, ensina. No Brasil, o ciclo do desenvolvimentismo durou pelo menos cinco décadas. “É fato que ocorreram SETEMBRO | OUTUBRO 2016


experiências regionais isoladas – como João Pinheiro, em Minas Gerais, e Getúlio Vargas, no Rio Grande do Sul –, mas foi a partir de 1930, no Estado Novo, que surgiu a oportunidade histórica para materializar, sendo adotado como projeto nacional”, destaca o economista. Uma nova elite ascendeu ao poder, derrubando a anterior, agroexportadora, e abrindo a possibilidade da saída para a crise por intermédio do crescimento da industrialização. Esse período durou até os anos 1980, quando termina o governo Geisel e se completa a fase de substituições de exportações com o II Plano Nacional de Desenvolvimento. DESENVOLVIMENTISMO ATUAL A globalização e a mudança do paradigma tecnológico no mundo também contribuíram fortemente para o encerramento desse ciclo. Ainda assim, enquanto não forem superadas as questões que historicamente levaram ao subdesenvolvimento – desigualdades regionais, desigualdades de renda, baixos indicadores sociais, atraso tecnológico, entre outros –, sempre haverá propostas de desenvolvimentismos. Além disso, com o tempo as demandas sociais também se transformam e o modelo também sofre adaptações. “A indústria hoje não tem mais a mesma relevância dos anos 1950 e não é mais uma substituidora de importações, mas permanece relevante no contexto econômico e precisa acompanhar o paradigma tecnológico mundial, inovar e ser competitiva”, observa Pedro Fonseca. O desenvolvimentismo é um modelo flexível e sempre encontra formas de incorporar novas variáveis, exigências sociais que não existiam no passado. Para o professor, os conceitos que permanecem são aqueles capazes de inovar suas próprias propostas, incorporando essas conquistas históricas. A sustentabilidade e a preservação da natureza, por exemplo, eram questões irrelevantes até a tomada de consciência da limitação dos recursos naturais e hoje já está incorporada ao debate. Frequentemente, porém, há resistências para incorporar essas novas variáveis. “No século XIX os liberais restringiam o voto a certo nível de renda e excluíam as mulheres, o que hoje seria inconcebível”, exemplifica. A adoção do desenvolvimentismo na atualidade, portanto, carrega adaptações necessárias ao desenvolvimento atual. Um bom exemplo de intervenção do Estado visando o desenvolvimento é a implantação das leis trabalhistas. Apesar da resistência de boa parte do empresariado, o salário mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) eram parte do projeto nacional de desenvolvimento do Estado Novo e foram implementados. Esse tema deve voltar à pauta no próximo ano, uma vez que o governo federal está enviando propostas de flexibilização de muitos direitos trabalhistas. “Uma coisa é mexer em direitos sociais quando o país já superou suas dificuldades, outra é discutir esses direitos em um país como o Brasil, com baixo grau de organização social, baixo patamar de renda, com altos índices de emprego informal e um desemprego estrutural,” analisa o especialista. Em países como a Suécia e a Dinamarca, por exemplo, que já alcançaram um estofo social, é possível debater sobre mais ou menos Saúde Pública, mais ou menos direitos trabalhistas e realizar algumas mudanças e flexibilizar esses direitos. Por aqui, ainda há um longo caminho a percorrer. RUMOS

O desenvolvimentismo não é um conceito estático. Ele tem uma flexibilidade que o permite se atualizar conforme as novas realidades.

A indústria hoje não tem mais a mesma relevância dos anos 1950 e não é mais uma substituidora de importações, mas permanece relevante no contexto econômico e precisa acompanhar o paradigma tecnológico mundial, inovar e ser competitiva.

7


ARTIGO

O cooperativismo financeiro e a economia colaborativa Vivemos uma época em que o ritmo das mudanças tecnológicas e comportamentais está especialmente acelerado. Há uma grande transformação em curso e, ainda que estejamos inseridos nesse processo, não é muito clara a abrangência e sua repercussão sobre nossas vidas, negócios, empresas e nas estruturas a que estamos vinculados. Um desses fenômenos emergentes que está diretamente ligado a esse processo é a economia colaborativa, que trata de um novo comportamento social. A ECONOMIA COLABORATIVA E A INDÚSTRIA FINANCEIRA Comportamentos de colaboração e compartilhamento estão assombrando a indústria financeira, que nem sempre imprime uma boa experiência de consumo de produtos e serviços bancários. Isso abriu caminho para uma explosão de fintechs. As experiências proporcionadas pelos bancos tradicionais são caracterizadas por produtos e serviços desenvolvidos sob a ótica bank-centric, ou seja, criados sob a perspectiva da empresa bancária como centro de solução de atendimento. As fintechs trabalham com conceito diferente, denominado user-centric. Nesse modelo, o usuário deve vivenciar a melhor experiência possível, de forma mais personalizada, mas sendo ágil e objetiva. Esta é uma revolução no atendimento financeiro por parte dos novos entrantes no mercado. Há uma diferença estrutural de 8

grande impacto entre o modelo bank-centric e o As novas tecnologias user-centric. A manutenção de estruturas para devem agregar ao que atendimento presencial é o cooperativismo já é, significativamente mais pois, com sua doutrina e cara que as estruturas para seus valores, habilita-se, atendimento totalmente naturalmente, como o virtual. Além do mais, o grande ancestral da atendimento presencial economia colaborativa. tende a ter a sua capacidade de agregar clientes limitada ao tamanho da estrutura disponível. Assim, os modelos de negócios financeiros estruturados com base em atendimento exclusivamente digital conduzem a um custo marginal zero, ou seja, o custo de se adicionar novos clientes, produtos e serviços tende a zero. Em paralelo ao surgimento das fintechs, outra tendência está perturbando os CEOs (Chief Executive Office – Diretores Executivos) dos bancos. Grandes empresas não financeiras como Apple, Facebook, WeChat, VoiP e Starbucks estão lançando serviços financeiros simplificados, que concorrem com os serviços tradicionais das instituições financeiras, a exemplo dos cartões pré-pagos, pagamentos para compras on-line, transferências monetárias e muito mais. Analisando o impacto das inovações sobre os serviços financeiros atuais, que têm o potencial de subverter princípios basilares da organização bancária, uma das soluções tecnológicas mais disruptivas é o emblemático blockchain. Trata-se da tecnologia por trás da bitcoin, a moeda virtual mais famosa no momento. O potencial de separação dessa tecnologia reside na possibilidade de armazenamento, com segurança, de informações financeiras de forma descentralizada, permitindo que as transferências de recursos ocorram entre seus usuários sem a necessidade de livros-caixa SETEMBRO | OUTUBRO 2016


RUMOS

e armazenamento dos hardwares: Omni Channel, Big Data, Inteligência Artificial e Biometria. A REVOLUÇÃO DIGITAL E O COOPERATIVISMO FINANCEIRO Devemos preparar alternativas à estratégia em curso, via digitalização dos serviços financeiros, lançando soluções compatíveis com as das fintechs de maior sucesso e nos abrindo para fazer novas parcerias estratégicas, inclusive com empresas não financeiras. A ideia é reconhecermos a tendência sem precipitar os acontecimentos, mas estando preparados para uma eventual transição. Nesse modelo é o cooperado que definiria a plataforma de sua preferência. Diante do momento desafiador, nota-se que trabalhando conjuntamente o cooperativismo brasileiro tem plenas condições de triunfar no desafio de permanecer – e avançar – como uma excelente alternativa de serviços financeiros aos cooperados e às suas comunidades. Preza para que se mantenha sempre o DNA do bem comum colaborativo, pois não se pode empoderar um cooperado mais do que o fato de ele ser dono da sua cooperativa e poder participar das decisões e dos resultados gerados por elas. As novas tecnologias devem agregar ao que o cooperativismo já é, pois, com sua doutrina e seus valores, habilita-se, naturalmente, como o grande ancestral da economia colaborativa. Que o sistema cooperativo, portanto, faça parte desta revolução como protagonista, contrariamente aos opositores resistentes.

MARCO AURÉLIO ALMADA Divulgção

centrais, os quais atualmente são oferecidos pelos bancos, por exigência do órgão regulador. Se negócios financeiros com essa tecnologia prosperarem, no limite de um cenário hipotético, as instituições financeiras deixariam de ser necessárias em sua função primordial de registro e custódia dos valores pertencentes aos seus clientes. A essência bancária estaria com os dias contados. Para os bancos, existem obstáculos difíceis de superar, como, por exemplo, as barreiras tecnológicas relacionadas à velocidade das transações e os limites operacionais fixados pelas autoridades reguladoras. Nos sistemas convencionais, a lógica dominante é do software fechado e protegido, ou cercamento tecnológico. Já por trás das fintechs temos os programadores, denominados de “hackers do bem”, que pensam de forma aberta e arejada, aceitando sugestões dos clientes e dos parceiros e não se subordinando às regras das empresas bancárias. Por essa razão as soluções por eles propostas são tão disruptivas. O conjunto de inovações em curso afeta os serviços bancários convencionais, fazendo aumentar a concorrência, reduzindo os custos dos serviços financeiros para o usuário final, possibilitando a estruturação de plataformas operacionais que permitem adicionar novos clientes e produtos com custo marginal tendente a zero, tornando os atuais produtos e serviços bancários obsoletos e, em alguns casos, lançando produtos substitutos. As consequências naturais dessas diferenças entre os desenvolvedores tradicionais e os “hackers do bem” são que as startups se apresentam mais ágeis que os departamentos de Tecnologia da Informação (TI), produzindo softwares mais baratos em função do aproveitamento de programas abertos. Assim, as startups têm comprovado dispor de uma fórmula mais eficaz para inovação, mais competitiva. A nova fórmula é: Design Think + Mobile + Agile. Em geral, as estratégias adotadas pela indústria financeira para minimizar o efeito das fintechs sobre seus negócios têm sido: build (construir), buy (adquirir) ou partner (fazer parcerias). Para se adaptar, os departamentos de TI dos bancos mais arrojados estão se esforçando para dominar quatro novos desafios tecnológicos que, no momento, estão em franca evolução em virtude da crescente capacidade de processamento

Administrador de empresas, com MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC. Desde março de 2009 é diretor-presidente do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

9


Divulgação

REPORTAGEM

Presença forte Com histórico de apoio ao setor agropecuário, o BRDE utiliza sua participação em feiras para expandir relacionamentos com pequenos e grandes produtores do sul do país; mesmo em cenário de crise, saldo de operações de crédito cresceu 7,6% no primeiro semestre, totalizando R$ 12,8 bilhões. POR JADER MORAES Durante alguns anos, no período recente, o agronegócio sustentou em boa medida a economia brasileira, com taxas de crescimento superiores às dos demais setores. Mesmo que o cenário neste momento seja distinto, condizente com o estado geral da economia nacional, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) comemora uma realidade diferente: crescimento no saldo de operações de crédito este ano, com participação expressiva do setor agrícola, que tem impulsionado os resultados da instituição e permitido ao banco colaborar de forma efetiva para o desenvolvimento da região. No primeiro semestre de 2016, o banco firmou 4.451 contratos de financiamentos, totalizando R$ 1,84 bilhão. Desses, pouco mais de 28% foram empregados diretamente para a agropecuária – e, na prática, esse número pode ser maior, pois a cadeia do agronegócio tem impacto também sobre outros setores, como em Comércio e Serviços (com projetos de armazenagem para cooperativas, por exemplo) e também na Indústria. No total, a instituição possui R$ 7,8 bilhões em operações ativas no setor, o que 10

representa em torno de 65% do seu saldo ativo de aplicações. Para alcançar empreendedores de todos os portes, uma das ferramentas estratégicas utilizadas pela instituição é a atuação em grandes feiras que acontecem nos três estados do sul, além das de pequeno porte realizadas em cidades menores. Por meio dessas feiras, o banco consegue atrair e concretizar negócios e incrementar novos relacionamentos, com clientes, proponentes, consultorias e demais instituições financeiras. GRANDES FEIRAS Em todos os estados do sul, anualmente, são realizadas feiras em pequenas e grandes cidades voltadas para o agronegócio. Algumas se destacam por sua magnitude e têm especial atenção do banco, que considera esses eventos espaços privilegiados para reforçar sua atuação na região. A maior delas é a Expointer, que acontece no município de Esteio, na região metropolitana de SETEMBRO | OUTUBRO 2016


RETOMADA Em Santa Catarina, o banco recebeu demandas de financiamento que somaram mais de R$ 180 milhões na Mercoagro, considerada a maior feira do mundo no setor de processamento e industrialização de carnes. Além dos pedidos, a instituição também assinou contratos no valor de R$ 72,5 milhões ao longo do evento, para três cooperativas agroindustriais e uma cooperativa médica. O gerente regional do Oeste Catarinense, Paulo César Antoniollo, lembrou que não apenas os produtores que visitam a feira, mas também os expositores são potenciais clientes do banco – uma vez que a instituição possui a ferramenta para viabilizar os negócios entre visitante e expositor. “Para o produtor comprar um frigorífico que uma empresa está expondo na feira, vai necessitar de um financiamento”, exemplificou. Antoniollo acredita que o cenário de crise, que RUMOS

DISTRIBUIÇÃO SETORIAL DOS FINANCIAMENTOS – 1O SEM/2016 31% Comércio e Serviços

19% Indústria

28% Agropecuária

22% Infraestrutura

Divulgação

Porto Alegre, do último sábado de agosto ao primeiro domingo de setembro, e é reconhecida como um dos maiores eventos do mundo no gênero, sendo considerada a maior feira a céu aberto da América Latina. A participação do banco é destacada pela atuação de seus técnicos em espaço próprio denominado “Casa do BRDE”, no coração da feira, para concentrar diversas atividades, desde o atendimento a empreendedores interessados em obter um financiamento até a realização de palestras e debates com diretores da instituição. Na edição de 2016, realizada entre os dias 28 de agosto e 4 de setembro, o BRDE registrou R$ 190 milhões em solicitações de financiamento por parte de produtores rurais e cooperativas de crédito. “Embora abaixo do ano anterior, o resultado foi melhor do que o esperado, tendo em vista a situação econômica do país e do setor”, afirmou o gerente de Planejamento da agência Rio Grande do Sul, Alexander Nunes Leitzke. Ele lembrou que a agropecuária corresponde a mais da metade da economia do estado e que, contando toda a cadeia do agronegócio, o setor corresponde a cerca de 40% dos financiamentos efetuados pela agência. “É difícil precisar, pois muitos financiamentos concedidos à indústria ou serviços também são ligados à agricultura”, explicou Leitzke, que destacou ainda a participação em outras feiras do segmento, como a Expodireto-Cotrijal, segunda maior feira gaúcha, realizada por uma cooperativa parceira do banco, no município de Não Me Toque.

Estande do BRDE na Mercoagro e visão aérea da Expodireto-Cotrijal.

11


PARCEIROS Outro destaque na agenda do banco em eventos de grande porte é o Show Rural-Copavel, que ocorre há 28 anos em Cascavel, no Paraná, e teve a presença constante do BRDE na última década. Por ser a primeira grande feira rural do ano no Brasil, geralmente em fevereiro, o evento costuma ser o palco do lançamento e exposição das novas tecnologias do agronegócio. Na última edição da feira, o banco liberou mais de R$ 188 milhões em financiamentos, com a assinatura de contratos com empresas, cooperativas e produtores da região. Além disso, foram recebidos pedidos de financiamento que totalizaram R$ 96 milhões – apesar da crise, o volume de consultas e o financeiro se mantiveram estáveis em relação ao ano anterior. “Nossa missão é o financiamento de longo prazo para atividade produtiva, ou seja, crédito para investimento. Mas recebemos também demandas para capital de giro, que não é nosso foco. Percebemos que houve uma retração nos investimentos por conta da crise, mas também há muitos produtores em compasso de espera, aguardando para voltar a investir em breve”, comentou o superintendente da agência do Paraná, Paulo Cesar Starke Junior, destacando que, mesmo com queda, ainda há bastante investimento por parte dos empreendedores, especialmente em armazenagem e logística. Paulo Cesar ressaltou que o setor agrário é o carro-chefe da agência no Paraná, em função da vocação econômica do próprio estado. Por isso, cerca de 60% de todos os financiamentos liberados pela agência são para a cadeia do agronegócio, destacando também que nessa conta entram outros segmentos, como indústria e infraestrutura, em atividades que são relacionadas ao agronegócio. Para ser bem-sucedida no fomento ao setor, a agência possui uma parceria histórica de mais de 50 anos com as cooperativas de produtores do estado, apoiando de forma direta (financiando o parque industrial, por exemplo), e também indireta (com financiamento para os cooperados). “A feira é a cereja do bolo desse relacionamento”, marcou o superintendente, destacando também o valor institucional da participação do banco nessas atividades, para além dos ganhos comerciais ou do volume de negócios realizados. 12

“Como promotores do desenvolvimento que somos, temos que estar ao lado das entidades que promovem a economia da região. É importante posicionar nossa marca ao lado delas.” Paulo César Antoniollo, gerente regional

Divulgação

inibiu investimentos nos últimos anos, está se transformando. Já para este ano, ele projeta que a sua agência terá crescimento nas operações em relação ao ano anterior. “O produtor já está querendo investir novamente. Como até 2013 tínhamos condições excepcionais, de juros extremamente baixos, bastante subsidiados, e no último período tivemos alta dessas taxas, muitos empresários estavam aguardando, acreditando que voltaríamos ao patamar de três anos atrás. Mas agora já se conscientizaram de que não vai acontecer, que as condições ainda assim são muito boas se comparadas com as do mercado, e estamos vendo um cenário de retomada de investimentos”, avaliou. O gerente destacou que, além dos objetivos comerciais, a participação em feiras tem um importante papel institucional. “Como promotores do desenvolvimento que somos, temos que estar ao lado das entidades que promovem a economia da região. É importante posicionar nossa marca ao lado delas”, disse.

Panorama geral da Show Rural-Copavel e espaço de antendimento do BRDE na Expointer.

SETEMBRO | OUTUBRO 2016


OPINIÃO

Renascimento

RUMOS

balhadores será atin- Sem uma maioria gido. Que as mudanças forte, consciente, são uma necessidade decidida e bem imposta pela demogra- coordenada, tanto fia que nos envelhece. na Câmara como Que republicanamenno Senado, de te deseja, em nome da nada adiantarão igualdade de oportunidades que, no futuro, bons programas. todos – setor público e A sociedade é setor privado – sejam heterogênea e composta de sujeitos à mesma lei. Qualquer programa “ganhadores” e econômico só será sal- “perdedores”. vo se o Executivo puder construir uma maioria no Congresso capaz de sustentá-lo. Temer fez isso com relativo sucesso enquanto presidente interino. Esperemos que possa fazer ainda mais, insistindo e integrando-se na maioria que habilmente construiu. É hora de dedicar-se ao que faz melhor: reafirmar sua capacidade de intermediar conflitos. Isso criará as condições de confiança na antecipação do equilíbrio fiscal num horizonte previsível. Dará condições para que o Banco Central atue para diminuir a taxa de juros real, reduza o custo da dívida e libere recursos do Governo para usos mais nobres. Essa é a preliminar para a volta do desenvolvimento inclusivo e sustentável que todos esperamos.

ANTONIO DELFIM NETTO

Marcelo Correa

No dia 31 de agosto deste ano da graça de 2016, tomou posse como Presidente da República o Sr. Michel Temer, após um breve período de interinidade, lidando com uma situação social e econômica extremamente difícil, que pode ser sintetizada pelos seguintes registros: 1) uma retração do Produto Interno Bruto (PIB) per capita da ordem de 6%, que deixou atrás de si quase 12 milhões de desempregados; 2) um déficit fiscal de 10% do PIB, quatro vezes maior do que a média de 2009/2013 (2,7%); e, 3) uma relação Dívida Bruta/PIB próxima de 70% (era de 52% em 2013). Desde o início da interinidade, Temer disse a que veio. Primeiro, estabeleceu uma espécie de “parlamentarismo” informal. Em seguida, apresentou um programa sensato de enfrentamento do desequilíbrio fiscal, que é condição necessária (mas não suficiente) para a volta ao desenvolvimento inclusivo e sustentável. Nem o mais competente administrador poderá, num mandato de 850 dias, dos quais não mais do que 600 serão, efetivamente, operacionais, resolver o problema nacional. Mas é evidente que se introjetar a oportunidade que a História lhe deu de terminar como um “estadista”, Temer poderá construir as condições para que seus sucessores possam fazê-lo. Sem uma maioria forte, consciente, decidida e bem coordenada, tanto na Câmara como no Senado, de nada adiantarão bons programas. A sociedade é heterogênea e composta de “ganhadores” e “perdedores”. As medidas propostas vão modificar a relação de força entre eles. Deve-se esperar a defesa dura e incisiva de quem tem o que “perder”, não só do setor privado mas, principalmente, do corporativismo estatal que se apropriou do poder em Brasília. A situação só pôde chegar aonde chegou porque à irresponsabilidade do poder Executivo somou-se a indispensável adesão e entusiasmo dos poderes Judiciário e Legislativo. Hoje os números do orçamento mostram que a “casta” de rentistas, corporativamente organizada, controla o poder e se apropria de parte exorbitante do excedente produzido pelo setor privado (o que reduz os investimentos produtivos) e é um grave impedimento ao desenvolvimento econômico. O governo Temer, se quiser ter o sucesso que o Brasil precisa, tem que mostrar essa dura realidade à sociedade e convencê-la de que nenhum direito constitucional dos tra-

Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), exministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

13


ARTIGO

Geração eólica e solar no Brasil: o sonho vira realidade A matriz elétrica brasileira possui características próprias que a distingue da existente na maioria dos países. Aqui predomina, historicamente, a geração a partir de fontes renováveis, com destaque para a energia hidráulica. Caracteriza-se, também, pelo uso de biomassa e, mais recentemente, pela presença da geração eólica. Em conjunto, as fontes renováveis representam 80,6% da capacidade instalada de geração no Brasil, correspondente a 148 GW em outubro de 2016, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A fonte hídrica participa com 64,7%, a biomassa, com 9,4%, e a eólica, com 6,5%. A fonte solar, ainda incipiente, participa com 0,02% da capacidade instalada nacional de geração de energia elétrica. No Brasil, o potencial das fontes solar e eólica é gigantesco, superando, em muito, a capacidade instalada do atual parque de geração elétrica do país. A média anual de velocidade de ventos supera 7,0 m/s em muitos sítios do território nacional, muito acima da observada, por exemplo, na Alemanha, atualmente detentora da terceira maior capacidade instalada nessa alternativa energética. Particularmente para a fonte solar, o Atlas Brasileiro de Energia Solar, publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), disponibiliza os valores médios das estimativas do total diário de irradiação solar do Brasil para o período de julho de 1995 a dezembro de 2005. De acordo com esse estudo, os valores de irradiação solar global incidente 14

no território brasileiro varia entre 1.5002.500 kWh/m2, sendo superiores aos da O Nordeste se destaca maioria dos países da União Europeia, por dispor das áreas como Alemanha (900-1.250 kWh/m2), mais propícias à França (900-1.650 kWh/m2) e Espanha implantação de (1.200-1.850 kWh/m2), onde projetos para empreendimentos aproveitamento de recursos solares são de geração com o amplamente disseminados. O elevado potencial brasileiro, aliado uso dessas fontes. ao paulatino aumento da competitividade Particularmente na da geração solar e eólica, tornam promis- fonte solar, o semiárido soras as perspectivas para essas alterna- nordestino se sobressai tivas energéticas no país. Com efeito, as como uma das áreas previsões do Plano Decenal de Expansão que apresentam os de Energia Elétrica 2024 indicam que, no horizonte do estudo, a potência instalada parâmetros técnicos será de 24 GW para a fonte eólica e de 7 GW de insolação mais para a solar, e corresponderão, respectiva- favoráveis. mente, a 11,6% e 3,3% da capacidade de geração do país. Nesse contexto, o Nordeste se destaca por dispor das áreas mais propícias à implantação de empreendimentos de geração com o uso dessas fontes. Particularmente na fonte solar, o semiárido nordestino se sobressai como uma das áreas que apresentam os parâmetros técnicos de insolação mais favoráveis. De acordo com o Atlas Brasileiro de Energia Solar, o valor máximo de irradiação global do Brasil – 6,5 kWh/m2 – ocorre no norte do estado da Bahia, próximo à fronteira com o Piauí. Essa área apresenta um clima semiárido com baixa precipitação ao longo do ano (aproximadamente 300 mm/ano) e a média anual de cobertura de nuvens mais baixa do Brasil. Este fato per se faz do semiárido nordestino um candidato natural a receber investimentos em projetos de geração centralizada de energia elétrica a partir da fonte solar. Nos leilões de comercialização de energia elétrica ocorridos nos últimos anos, a fonte eólica tem se mostrado competitiva, ao contrário da SETEMBRO | OUTUBRO 2016


Projetos de energia eólica e solar aprovados em leilões EÓLICA

SOLAR

Região

Potência (MW)

Investimento (R$ bilhões)

Potência (MW)

Investimento (R$ bilhões)

Nordeste Norte Sudeste Sul Centro-Oeste Total

6.101,9 526,6 6.628,5

23,20 2,25 25,46

1.762,8 95,0 785,0 10,0 2.652,8

8,86 0,63 3,34 0,05 12,88

Fonte: elaboração própria a partir de dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE. Nota: dados referentes aos leilões com projetos aprovados para as fontes eólica e/ou solar – 17o Leilão de Energia Nova (LEN), 18o LEN, 19o LEN, 20o LEN, 22o LEN, 3o Leilão de Fontes Alternativas (LFA), 6o Leilão de Energia de Reserva (LER), 7o LER e 8o LER. Esses leilões ocorreram entre fins de 2013 e 2015.

RUMOS

meses subsequentes. Essa e outras regras ensejaram mais confiança para a geração da própria energia pelos consumidores no Brasil, abrindo enormes perspectivas para o crescimento dessa modalidade no país. Assim, de meros 0,42 MWp até 2012, foram implantados no Brasil, por meio da geração solar distribuída, 1,28 MWp em 2013, 3,64 MWp em 2014, 9,30 MWp em 2015 e 17,35 MWp de janeiro a agosto de 2016. Esse crescimento exponencial tende a se manter nos próximos anos, prevendo-se alcançar 1,3 GWp de capacidade instalada em geração distribuída até 2023. O potencial substancial brasileiro para o incremento da geração solar fotovoltaica tem atraído o interesse de grupos estrangeiros em se instalar no país. Neste contexto, foi inaugurada, em agosto de 2015, a fábrica da Global Brasil na Região Metropolitana de Campinas (SP), com capacidade de produzir 180 MW por ano em módulos fotovoltaicos. Além dessa, outras empresas já manifestaram interesse em produzir módulos fotovoltaicos no Brasil, a exemplo da chinesa BYD, a canadense Canadian Solar e a norte-americana SunEdison. Embora com atrasos, tudo leva a crer que o Brasil encontrou o caminho, com o avanço do marco regulatório, para a consolidação da geração eólica e solar no país. O sonho dos entusiastas dessas fontes energéticas, finalmente, está virando realidade.

FRANCISCO BEZERRA DINIZ Acervo Pessoal

solar, cujos projetos têm sido aprovados por meio de editais específicos, iniciativa governamental de incentivo à inserção dessa fonte no país. Contudo, os preços da geração solar apresentam tendência de queda, indicando que esta fonte se tornará competitiva no futuro. Particularmente no que concerne à geração distribuída, modalidade na qual os consumidores produzem a sua própria energia, a fonte solar já é competitiva, de modo geral, ante as tarifas praticadas pelas distribuidoras de energia elétrica. Nos leilões promovidos pela Aneel, foram aprovados 6,63 GW em projetos de geração eólica e 2,65 GW de geração solar. Para materialização desses empreendimentos, foram previstos, nas propostas vencedoras, investimentos de quase R$ 40 bilhões, em valores correntes, conforme mostrado na Tabela. Das regiões brasileiras, o Nordeste foi a mais aquinhoada, com 92,0% da potência eólica e 66,5% da potência solar, atestando sua competitividade nessas fontes de geração elétrica. Com a entrada em vigor da Resolução Normativa (REN) Aneel nº 482, de 17 de abril de 2012, a geração distribuída tem despertado interesse no Brasil. A REN 482 (aprimorada posteriormente) criou o sistema de compensação de energia elétrica, por meio do qual o excedente gerado pela unidade consumidora com micro (unidades geradoras até 75 kW) ou minigeração (unidades geradoras com mais de 75 kW até 5 MW) pode ser injetado na rede da distribuidora, resultando em crédito de energia (kWh) a ser utilizado para abater o consumo na fatura dos

É coordenador de Estudos e Pesquisas do Banco do Nordeste do Brasil e Professor do Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade de Fortaleza. É especialista em Desenvolvimento Econômico e doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo Prodema/UFC.

15


Levi Mendes/Imprensa SEI

REPORTAGEM

Diferenças e semelhanças O Encontro de Economia Baiana chega a sua 12ª edição debatendo razões e possibilidades de superação da crise e pensando em formas de equalizar o desenvolvimento nas regiões. POR MORGANA DAMÁSIO

Confiabilidade na plataforma econômica do governo, queda da inflação, aprovação do ajuste fiscal, redução da taxa Selic, reanimação de crédito, estímulo ao consumo, aumento do lucro das empresas e recuperação da receita tributária. Essas seriam algumas das premissas para um cenário otimista, que vislumbra uma rápida retomada do crescimento da economia brasileira. Uma segunda projeção acredita que os investimentos não voltarão a ter uma dinâmica forte de crescimento nos próximos meses, particularmente no ano de 2017. Os fatores que influenciam esse cenário seriam insegurança quanto às reformas propostas pelo governo, uma suposta ociosidade da capacidade industrial, investimento lento do empresariado no programa de concessões, valor cambial baixo para que as exporta16

ções sejam um motor para o crescimento da economia do país e baixa queda da inflação para que o Banco Central reduza as taxas de juros. Outra possibilidade é de que diante do ajuste fiscal não seria possível contar com os gastos do governo para alavancar a demanda agregada pelo componente do crescimento. Os cenários foram apresentados pelo economista Oswaldo Guerra, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “A economia brasileira vai começar a ter uma leve recuperação. Esses cenários – otimista e estagnacionista – estão discutindo se essa recuperação será em forma de V, em que aceleraríamos com certa rapidez, ou se será em forma de U, quando ficaríamos um certo tempo estagnados até a recuperação ter início”, explica. Guerra foi um dos participantes do XII EnSETEMBRO | OUTUBRO 2016


contro de Economia Baiana, que reuniu pesquisadores, estudantes e profissionais do mercado e do setor público, entre 22 e 23 de setembro, no Auditório da Fecomércio, em Salvador. O tema escolhido este ano foi Crise Econômica: Interpretações e desafios à retomada do crescimento sustentável. O evento é realizado por meio de uma parceria entre a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), a Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), o Curso de Mestrado em Economia da UFBA e as Secretarias Estaduais do Planejamento (Seplan), Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra) e Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz). Oswaldo Guerra participou da mesa-redonda “A crise e a economia baiana” ao lado de Reinaldo Sampaio, representante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia. O espaço, mediado por Vitor Lopes, presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia e ex-presidente da ABDE, teve como foco o processo de desenvolvimento econômico baiano, sua concentração, e necessidade de descentralização e planejamento para o desenvolvimento do semiárido baiano. A mesa foi um dos principais destaques do encontro que contou com debates sobre economia baiana, economia regional, financiamento e desenvolvimento, com apresentação de trabalhos que discutiram desde rendimento, mercado de trabalho, indústria e setor público até o comportamento dos torcedores do Esporte Clube Bahia, em um paralelo entre economia e futebol. PANORAMA DA ECONOMIA BAIANA “A Bahia tem a maior taxa de desemprego do Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia e do Brasil são bem próximos; com esse comportamento não alteramos a realidade social. Precisamos crescer mais”, afirma Reinaldo Sampaio, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, que aponta como desafios a serem superados no estado a elevada concentração industrial, baixa inserção nacional e internacional e agricultura familiar de baixa produtividade. Apenas cinco municípios concentram 42% do PIB da Bahia, deste percentual quase um quarto do valor está concentrado em Salvador. Apesar dos esforços governamentais para aumentar a relevância do interior na economia do estado, os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam a necessidade de descentralização na economia na região. Os números sinalizam que a capital baiana tinha 24,3% do PIB do estado, figurando como o município com maior participação. Ao todo, o produto de Salvador somou R$ 38,8 RUMOS

bilhões, em um total de R$ 159,8 bilhões em toda a Bahia. Para Oswaldo Guerra, as razões para uma participação tão elevada está na alta densidade demográfica, com aproximadamente três milhões de habitantes, num total de 15 milhões no estado, além de se destacar como um polo de serviços, com destaque para o turismo e o comércio, por ser uma capital. Segundo os dados do IBGE, Salvador é seguida por Camaçari, com 7,7% de participação no PIB, Feira de Santana (5,2%), Candeias (2,9%) e Simões Filho (2,5%). Nesses municípios vivem apenas 26,3% da população de todo o estado. O pesquisador também destaca o sul e o extremo sul do estado como importantes áreas da economia baiana. “O sul se caracteriza pela produção de cacau e o extremo sul pelo turismo e a indústria de celulose”, explica, alertando para a necessidade de se pensarem alternativas de desenvolvimento na região do semiárido. UM DESAFIO CHAMADO SEMIÁRIDO Fruto de uma matriz original de uma economia escravagista e agroexportadora, muitos fatores de natureza cultural, econômica e política deixaram marcas que se refletem até hoje na economia baiana. Segundo Sampaio, desde que Salvador perdeu o posto de capital para o Rio de Janeiro, em 1763, também foi deslocado o foco de prioridade de visão estratégica para o Sudeste. “Somado isso a fatores climáticos, a Bahia carrega um semiárido. Sempre tratamos o semiárido primeiro na perspectiva de sobrevivência das pessoas, depois das pessoas e dos animais, nunca se traçou uma estratégia eficaz para prosperidade da região. O semiárido reproduz com a Bahia o que o Nordeste reproduz com o Brasil. Não há um locus de poder político e econômico que direcione prioridades estratégicas e governamentais para uma construção de uma outra possibilidade”, afirma. Ocupando 265 dos 417 municípios que compõem o estado da Bahia, o semiárido possui bem menos de um terço da riqueza produzida pelo estado e reúne municípios marcados pelo baixo índice de chuva, dificultando a atividade agrícola em larga escala e predominando uma agricultura de subsistência familiar. O cenário também é caracterizado pela falta de estrutura, seja na inexistência de um sistema de transporte eficaz que interligue a região, na ausência de uma rede que estruture a produção econômica e até mesmo na escassez de saneamento público. “Se a Bahia pudesse ser descolada dessa região, os indicadores sociais seriam de outra dimensão, mas quando colocamos o semiárido a Bahia desarma em termos de indicadores sociais”, dimensiona Guerra. Nessa região existem algumas exceções, como Feira de Santana, chamada de Portal do Sertão, Vitória da Conquis17


ESTUDOS O Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) foi apontado como uma importante ferramenta para o crescimento econômico da renda per capita no semiárido. A conclusão é do professor Leonardo Bispo (UFBA), que apresentou o estudo “Qual é a relevância do FNE na promoção do crescimento econômico no semiárido baiano?”, durante o evento. “O objetivo era analisar a situação socioeconômica do semiárido no Brasil e verificar os efeitos do financiamento do FNE sobre o crescimento econômico na região e sobre a desigualdade de renda em todo o território do semiárido, entre 1991 e 2010”, explicou. O FNE, juntamente com os outros Fundos Constitucionais, figura como um dos principais instrumentos de financiamento da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) e busca contribuir para o desenvolvimento econômico e social do Nordeste, por meio de instituição financeira federal de caráter regional, mediante a execução de programas de financiamento aos setores produtivos, em sintonia com os respectivos planos regionais de desenvolvimento. O estudo também conseguiu aferir a proximidade dos valores do fundo em toda a área de financiamento sobre a renda média anual per capita da região e comprovou os efeitos positivos do financiamento do FNE na redução da 18

Carol Garcia

ta, e a região da Chapada Diamantina, marcada pelo turismo. Reinaldo Sampaio explica que a estratégia que será implementada para reverter o quadro no semiárido e na Bahia se servirá de modelos diferenciados de desenvolvimento, tendo em vista que o estado se caracteriza por diversidade, que vai desde a sua formação histórica, as questões climáticas, culturais e sociais. “É preciso também territorializar a estratégia, pois as necessidades de um município diferem do outro. Depois disso, é necessário um plano de implementação e gestão desse planejamento”, disse. O gestor afirmou que está sendo realizado um inventário dos planos, políticas e projetos de todas as secretarias do estado, para que se compreenda melhor a dinâmica econômica e onde os esforços precisam ser aplicados.

A mesa de abertura do evento reuniu representantes do governo baiano, economistas e pesquisadores.

desigualdade de renda regional, tanto no semiárido quanto em toda área sobre a influência do fundo, atribuindo sua eficácia como principal ferramenta de desenvolvimento regional do Brasil. O trabalho foi um dos 27 estudos que se debruçam sobre economia apresentados em apenas dois dias de evento e reitera a importância do evento para apontar novos caminhos na economia. Durante a mesa de abertura intitulada de “Crise Econômica – Interpretações e desafios à retomada do crescimento sustentável”, representantes do estado, indústria, academia e comércio baiano reforçaram a importância dos debates para a formulação de preposições. Para Henrique Tomé Costa Mata, coordenador de pós-graduação em Economia da UFBA, “o encontro permite dar visibilidade àquilo que fazemos na universidade. Ele permite ao mesmo tempo debater temas importantes para o desenvolvimento, que utilizem o produto de seus estudos nos mais variados setores da economia da Bahia”, disse. O presidente da Desenbahia, Otto Alencar Filho, também reforçou a necessidade de reuniões dessa natureza: “As discussões nesses eventos são muito importantes para o desenvolvimento da Bahia, pois delas surgem novas iniciativas e reflexões úteis para as próximas ações”, concluiu. O encontro foi marcado por outros dois espaços de destaque, as palestras de abertura e encerramento. Em sua apresentação, o economista Eduardo Costa realizou um apanhado da economia brasileira até 2016, apontando acertos e falhas nas políticas econômicas postas em prática no Brasil. “Temos uma crise em várias instâncias. Entender a crise econômica implica em múltiplas análises”, disse. Já o encerramento, ficou por conta de Leonardo Leão, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), que se debruçou na temática de financiamento do desenvolvimento. Leão apontou as diferenças de possibilidade de investimentos vindos de bancos públicos e bancos privados, e o cenário do investimento em clima de tempos de crise. SETEMBRO | OUTUBRO 2016



ARTIGO

Zona franca verde

20

ao grande empresário, permitindo que todos ganhem, pois gera-se mais emprego e renda. Esse resultado, por sinal, é o que o Banco da Amazônia persegue, instituição que tem como uma de suas principais vantagens competitivas o longo prazo para pagamento aos tomadores de seus financiamentos. Com a missão de promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia por meio da execução de políticas públicas, o Banco da Amazônia possui inúmeros produtos e serviços financeiros que podem ser acessados pelos empreendedores que atuam ou desejam atuar nos municípios da Zona Franca Verde. Dentre esses, há o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), principal recurso de fomento do governo federal na região, cujas taxas são extremamente competitivas, além de ofertar períodos de longo prazo para a quitação dos financiamentos. No FNO tem-se, por exemplo, o Amazônia Sustentável, para investimento e custeio de atividades agropecuárias, voltado à implantação, ampliação, diversificação, modernização, reforma e relocalização de empreendimentos rurais situados na região Norte. Esse produto garante investimentos fixos e semifixos, para custeio e/ou comercialização associado a investimento fixo, bem como para custeio isolado, com as menores taxas do mercado e amplo prazo de pagamento. Com a criação da Zona Franca Verde, o empreendedor pode seguir contando com o Banco da Amazônia para aproveitar todas as oportunidades geradas. Sem dúvida, essa instituição financeira oferta o caminho mais certo e seguro para quem quer modernizar e aumentar a competitividade de seu empreendimento ou criar novos negócios na região, usufruindo de todos os benefícios que só o Banco da Amazônia oferece de forma exclusiva na região.

CLAUDIA ALAMAR AGUILLA Jornalista e analista de Comunicação do Banco da Amazônia Divulgação

Com a regulamentação da Zona Franca Verde (ZFV), novas possibilidades de negócios surgem na região amazônica, especialmente nas Áreas de Livre Comércio dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia e Roraima. Se beneficiam da decisão do Governo Federal empresas sediadas em Brasileia, Epitaciolândia e Cruzeiro do Sul (AC), Tabatinga (AM), Macapá e Santana (AP), Guajará-Mirim (RO), Boa Vista e Bonfim (RR). A ZFV traz inúmeras vantagens aos empreendimentos, incluindo a segurança jurídica necessária para desenvolverem seus negócios em longo prazo na região. O decreto 8.597, de 18 de dezembro de 2015, assegura a natureza subjetiva desse princípio, visto que enseja a confiança almejada pelos investidores que creem no potencial amazônico e agora têm razões ainda mais consubstanciadas para expandir ou implantar novos negócios por essas plagas. O panorama desenhado pela Zona Franca Verde dá essa sustentação, abrindo um leque de oportunidades de investimentos e de crescimento, a partir da valorização das matérias-primas regionais e um incentivo à construção de um modelo de industrialização que valoriza o aproveitamento da biodiversidade da região amazônica. Semelhante ao que ocorre na Zona Franca de Manaus, os negócios realizados na Zona Franca Verde com produtos industrializados a partir do uso de matéria-prima de origem regional receberão benefícios fiscais. A isenção abrange produtos resultantes da extração, coleta, cultivo ou criação animal, incluindo frutos, sementes, animais e madeiras, dentre outras atividades. As empresas que se enquadrarem nesse perfil são isentas do pagamento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e podem, ainda, se beneficiar da isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Caberá à Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) definir os critérios que irão reconhecer a preponderância de matéria-prima regional nos produtos para o recebimento da isenção tributária, ouvido o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Essa nova configuração geográfica, comercial e tributária torna possível o incremento de toda uma cadeia produtiva, beneficiando do pequeno produtor

SETEMBRO | OUTUBRO 2016


• OUTUBRO ROSA •

SICOOB CONTRA O CÂNCER DE MAMA

Prevenir é a melhor maneira de cooperar com sua vida.

Faça do autoexame uma rotina e previna-se contra o câncer de mama.


Noel Joaquim Faiad

REPORTAGEM CAPA

22

SETEMBRO | OUTUBRO 2016


Pare, olhe, agora! A Economia da Atenção é a próxima fronteira de organização de atividades produtivas. Usar as novas tecnologias de comunicação para manter-se concentrado nos mais diversos afazeres e, ainda assim, ter ganhos de escala no trabalho é o desafio desta e das próximas gerações. A Rumos ouviu especialistas para entender melhor o que está acontecendo e o que está por vir. POR CARMEN NERY

É fato que os dispositivos introduzidos com as novas Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) como PCs, smartphones, tablets e wearables (tecnologias vestíveis) encurtaram o caminho do acesso à informação, mas tornaram mais difícil o indivíduo prestar atenção. Pesquisa encomendada pela empresa de segurança da informação Kaspersky Lab às Universidades de Würzburg, Alemanha, e Nottingham Trent, Reino Unido, revelou que, embora os smartphones ajudem a manter o contato com colegas, controlar mensagens e realizar tarefas urgentes de qualquer lugar, eles realmente nos tornam menos produtivos quando estamos no escritório. O estudo mostrou uma correlação entre os níveis de produtividade e a distância entre os participantes e seus smartphones. O experimento testou o comportamento de 95 pessoas com idades entre 19 e 56 anos nos laboratórios das duas universidades. Os pesquisadores solicitaram que os participantes fizessem um teste de concentração em quatro situações diferentes: com o aparelho no bolso, sobre a mesa, trancado em uma gaveta e mantido fora da sala. Os resultados foram significativamente mais baixos quando o telefone móvel estava sobre a mesa, e cada distância adicional imposta entre os participantes e seus dispositivos aumentou o desempenho no teste. No geral, os resultados do experimento foram 26% melhores quando os dispositivos ficavam fora da sala. “Estudos anteriores mostraram que, por um lado, a distância do smartphone tem um impacto emocional negativo, como o aumento da ansiedade. Mas, por outro lado, as pesquisas também demonstraram que a presença do aparelho pode ser um fator de distração”, diz Jens Binder, da Universidade de Nottingham Trent. “As conclusões desse estudo indicam que a ausência do celular melhora a concentração, mais do que sua presença”, acrescenta Astrid Carolus, da Universidade de Würzburg. Hoje, o fluxo contínuo de dados e conexões online permite que alunos, trabalhadores e expectadores pesquisem no Google, conversem no WhatsApp, postem comentários e fotos nas RUMOS

redes sociais, como Facebook, Twitter e Instagram. Atividades que dependem da atenção, como a educação, o trabalho a publicidade e o entretenimento estão tendo que se reinventar e buscar novas formas narrativas ou de encantamento para conquistar a atenção. Tudo isso também tem impacto na capacidade cognitiva das novas gerações. A Economia da Atenção como conceito passou a ser formulada como uma abordagem para a gestão da informação que trata a atenção humana como um bem escasso, um ativo, uma mercadoria, e aplica a teoria econômica para resolver vários problemas de gestão da informação. Os estudiosos Thomas H. Davenport e John C. Beck definiram o conceito de atenção como aquela que está focada no engajamento mental sobre um determinado item de informação. Como o conteúdo tem crescido de forma cada vez mais abundante e imediatamente disponível, a atenção se torna o fator limitante no consumo de informação. Rogerio Panizzutti, doutor em neurociência e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que a atenção é cada vez mais exposta a estímulos rápidos e há dois aspectos envolvidos. O primeiro é a nossa capacidade de mantê-la. Até bem pouco tempo atrás, o período médio de concentração era de 40 minutos, hoje está em torno de 20. Em função disso, na ciência e na educação tem se discutido a necessidade de se apresentarem conteúdos mais curtos e aulas de, no máximo meia hora, sem intervalo. O segundo aspecto é a capacidade multitarefa. Antes, havia limitações em se realizarem várias coisas ao mesmo tempo. Atualmente isso é corriqueiro e a mudança foi provocada pela tecnologia. 23


“Só que a execução multitarefa reduz a performance de cada tarefa. Mas já há ferramentas para treinar a capacidade de as pessoas fazerem várias coisas ao mesmo tempo. De maneira geral, o cérebro tem sido muito estimulado. As crianças têm atingido alguns pontos de capacidade cerebral de forma muito rápida”, resume Panizzutti.

A CONSTRUÇÃO DE UM CONCEITO A economia é a ciência que estuda a alocação eficiente de recursos escassos, logo, quando a atenção passou a figurar conceitualmente como um novo recurso escasso, em meados dos anos 1970, o economista Herbert Simon sistematizou o fato de que quanto maior for o volume de informação mais escassez gera na atenção. Simon desenvolveu uma linha de pesquisa que variou entre os campos da psicologia cognitiva, da ciência da computação, da administração pública, da economia, da administração e da filosofia, recebendo o Prêmio Nobel de Economia em 1978. Segundo o economista, “a riqueza de informação gera pobreza de atenção e com ela a necessidade de alocar a atenção de maneira eficiente em meio à abundância de fontes disponíveis”. 24

DESAFIO PARA O CÉREBRO Nadia Bossa, doutora em psicologia com especialização em neuropsicologia e em psicopedagogia, explica que os exames de neuroimagem mostram como é feita a negociação dos três tipos de atenção no nosso cérebro: concentrada, alternada e dividida. Na concentrada, o sistema nervoso central seleciona um estímulo que é destacado como foco entre os demais do ambiente. O sistema nervoso periférico envia informações para o sistema nervoso central, que vai decodificando o estímulo e dando os comandos em função de sua natureza, que pode ser memorizar ou agir. A atenção alternada é a possibilidade de a pessoa estar engajada num estímulo, mas também ser capaz de responder a outros que chamam a sua atenção e depois retornar ao foco. Na dividida, a pessoa tem a possibilidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Nadia explica que o nosso cérebro se especializa no que faz e desenvolve um ou outro tipo de concentração de acordo com as atrações e distrações. “Hoje há muitos estímulos concorrentes, o que faz com que nosso cérebro trabalhe mais com a atenção dividida, realizando duas ou três coisas simultaneamente”, diz a estudiosa. Ela observa que as crianças estão exercitando com muito mais intensidade a atenção concentrada quando ficam focadas no celular ou no videogame, que são estímulos interessantes para elas, fazendo com que estejam totalmente engajadas. Porém, outras áreas concorrem pela atenção e a criança não se engaja suficientemente naquele que deveria ser o estímulo principal: estudar, uma atividade que requer um investimento maior da atenção concentrada. “Quando estudam, as crianças usam a atenção dividida com música, vídeo ou outras formas de dispersão. Nenhuma é realizada com a qualidade necessária e as elas acabam fazendo o armazenamento da informação de forma desorganizada. Na hora que precisam evocar a memória, não encontram a informação. É preciso que a atenção concentrada seja a prioritária no estudo”, ensina Nadia. Ela ressaltou que há uma diferença em relação à geração anterior à internet. “Quando nós estudávamos, tínhamos uma disciplina para a atenção concentrada, até porque não havia muitos estímulos. Hoje somos adultos multitarefas, mas conseguimos privilegiar a tarefa mais importante do momento porque tivemos a oportunidade de ter uma disciplina mental”, distingue a doutora em psicologia. Já as novas gerações estão trabalhando com todos os tipos de atenção ao mesmo tempo sem que haja uma especialização de cada uma delas. Há um número crescente de crianças diagnosticadas com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Por outro lado, elas possuem habilidades nas quais os adultos têm dificuldade, como interagir com as novas tecnologias. Nadia explica que as conexões e circuitos cerebrais vão se constituindo a partir das experiências. As crianças que logo cedo interagem com os dispositivos eletrônicos vão inaugurando circuitos neurais que são vias prontas do cérebro para responder a qualquer momento que ela se deparar com o aparelho. “Essas vias são abertas muito cedo e se tornam habilidades e competências que as pessoas da terceira idade não têm”, resume a neurocientista. Ela observa que a aprendizagem dos conteúdos acadêmicos utiliza um conjunto de áreas cerebrais que, de maneira integrada, realizam as funções executivas, que são mais sofisticadas. São elas: a capacidade de planejamento, o estabelecimento de SETEMBRO | OUTUBRO 2016


A Economia da Atenção teve impacto profundo no marketing e na publicidade. Antes havia pouca informação e muita atenção: na TV, por exemplo, havia seis canais disputando o espectador, enquanto atualmente os serviços por assinatura oferecem mais de 200. Para a publicidade, é cada vez mais difícil capturar a atenção, o que tem exigido o uso da tecnologia aplicada ao marketing.

SXC/Constantini

metas e objetivos, a flexibilidade mental para mudar de estratégia caso não esteja dando certo e o automonitoramento para avaliar se o objetivo está sendo cumprido. “Quando não são desenvolvidas as três formas de atenção, acaba se comprometendo essas funções executivas e a execução das tarefas”, resume Nadia. Neide Noffs, doutora em educação e diretora da faculdade de educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), diz que nossa atenção nunca esteve tão fragmentada. Hoje todos têm muitas atividades simultâneas e o pensamento vai se fragmentando a cada atividade que o interrompe. O que se recomenda é que as pessoas passem a ter uma atenção seletiva. “É necessário treino cognitivo para desenvolver o raciocínio e dar respostas mais rápidas ao cotidiano”, ensina a educadora. Leonardo Mattiazzi, vice-presidente de inovação da Ci&T, multinacional brasileira da área de Tecnologia da Informação (TI), diz que a Economia da Atenção teve impacto profundo no marketing e na publicidade. Antes havia pouca informação e muita atenção: na TV, por exemplo, havia seis canais disputando o espectador, enquanto atualmente os serviços por assinatura oferecem mais de 200. Para a publicidade, é cada vez mais difícil capturar a atenção, o que tem exigido o uso da tecnologia aplicada ao marketing. “Há pouco tempo o planejamento de mídia era feito com base em acordos com os veículos. Agora é possível colocar o anúncio exatamente na frente do cliente potencial, que está de fato buscando aquele produto ou serviço. São vários algoritmos analisando dados de quem está na internet para propor coisas que geram valor”, diz Mattiazzi.

As embalagens têm que atrair os consumidores em uma disputa por atenção, espaço e preferência.

RUMOS

25


Noel Joaquim Faiad

26

(IN)TANGÍVEL Juliana Inhasz, professora de economia do Insper e da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a Economia da Atenção é mais importante para as empresas, pois nós, enquanto indivíduos, sabemos filtrar o que nos interessa. As empresas, por sua vez, têm de concorrer pela nossa atenção: como o consumidor tem muita informação, o importante para a companhia é que ela consiga captar seu interesse. Na prática, para as empresas, esse novo modelo altera a forma como elas gerenciam bancos de dados com informações sobre o consumidor para dar a ele aquilo que ele deseja. “Mas há um problema com o qual a Economia da Atenção vai ter de lidar. A informação não é tão gratuita e nem sempre é fácil de extrair e pode esbarrar em problemas de ordem jurídica. Não é claro o que é invasão de privacidade. Na nova era digital, deveria haver discussões sobre os limites éticos. Esses conflitos vão forçar a se pensar quais serão as regras na nova era da informação”, resume Juliana. Ailton Santos, da Hewlett Packard Enterprise (HPE), diz que há uma série de dispositivos que captam informações dos usuários, como buscadores, navegadores e aplicativos. Quanto mais a pessoa permite que sua privacidade seja quebrada, mais benefícios terá de conteúdos relevantes. Ele observa que as gerações anteriores à internet são mais preocupadas com privacidade que os millennials, que não têm problema em compartilhar informações. O marketing digital ainda persegue os princípios da publicidade, resumidos na sigla AIDA: Atenção gera Interesse, que gera Desejo, que gera Ação. Mas o marketing digital só consegue chamar a atenção de um usuário se tiver conteúdo relevante no momento adequado. Por isso os buscadores são tão valorizados mesmo oferecendo uma página em branco. “Se alguém entra no Google e coloca a palavra-chave, está dando a chance de a empresa oferecer o produto no momento adequado. Isso vale também para buscadores especializados, como Zap Imoveis, Trivago, Buscapé, pois a hora em que a pessoa busca esse tipo de produto ou serviço é a hora do interesse”, ressalta Santos. O executivo também destaca a diferença entre organizações lineares, como a Blockbuster, e as novas organizações exponenciais, como o Netflix. As lineares lidam com limitações do mundo físico, como fazer cópias de filmes, no caso da Blockbuster, na qual o custo marginal para ter mais exemplares é significativo. Nas organizações exponenciais, como Netflix, Airbnb e Amazon, os custos marginais são irrelevantes, pois os ativos são intangíveis. Marcio Pochmann, professor de economia da Unicamp, diz que o mesmo conceito se aplica aos diferentes tipos de sociedade ao longo dos séculos. Enquanto nas sociedades rurais e industriais predominava o trabalho material, na sociedade da informação predomina o intangível e imaterial. No Brasil, até os anos 1920 predominava a sociedade rural, com jornadas de até 14 horas no campo, onde as pessoas viviam e trabalhavam. A expectativa de vida era de 35 anos, a rotina era em comunidade com contato com cerca de 100 pessoas ao longo da vida. “A atenção se descola à medida que saímos de uma sociedade agrária para a urbana industrial a partir dos anos 1930. A expectativa de vida vai a 50 anos e a sociedade passa a funcionar pela lógica industrial e pelo ritmo da máquina. O aumento dos ganhos de produtividade resulta em reduSETEMBRO | OUTUBRO 2016


TÉCNICAS PARA CHAMAR E MANTER A ATENÇÃO Patricia Feliciano, diretora de organização e talentos da Accenture, diz que a Economia da Atenção é crítica para a consultoria, que presta serviços envolvendo o desenvolvimento de projetos para grandes empresas. Os projetos lidam com os níveis gerenciais e executivos e para engajá-los há novas técnicas, como aprendizagem de pequenas porções (Bite Sized Learning). “Temos cada vez mais de passar informação de forma concisa e direta ao ponto. A Economia da Atenção faz parte de nosso DNA tanto na definição da estratégia como no desenvolvimento das soluções. As pessoas estão muito seletivas no consumo da informação. Precisamos pensar em mensagens apropriadas e customizadas para cada público e até para cada pessoa. Temos projetos envolvendo o C level (diretoria) no qual temos de passar conteúdo de transformação digital e estamos usando TED de cinco minutos e aplicativos com resumos de livros”, diz Patricia. No artigo “Is the future of learning bite-sized?”, publicado na revista Chief Learning Officer, Sebastian Bailey, PhD cofundador e presidente do Mind Gym, afirma que três tendências estão impulsionando grandes mudanças na indústria de aprendizagem e desenvolvimento: miniaturização, modularização e personalização em massa. Miniaturização se refere a uma experiência de aprendizagem em pacotes menores, mais facilmente consumidos. Modularização envolve organizar uma oferta em componentes distintos para criar uma maior flexibilidade para os aprendizes. A customização vem do fato de que a alta qualidade do envolvimento do aprendiz é talvez o fator mais importante na criação de uma mudança sustentada ao comportamento. Uma maneira muito poderosa de alcançar isso é fazer a “viagem única” para esse indivíduo. Heloisa Helena Montes, sócia de consultoria em estratégia de inovação da Deloitte, diz que o que as empresas esperam em termos de métricas para se definirem investimentos é a estratégia para geração de valor. Ela observa que existe um mito desde a década de 1950, quando a comunicação passou a ganhar relevância, de que na área de marketing não é possível medir o ROI (índice que indica o retorno sobre o investimento) porque esta atividade é meio ciência e meio arte. “Em comunicação, media-se o Gross Rating Point (GRP), ou o número de pessoas que seriam atingidas pela mensagem. Hoje isso é totalmente irrelevante, pois após atingir a pessoa, é preciso que ela visualize, preste atenção, tenha interesse, se engaje, para em seguida levá-la a uma ação. E, por fim, nessa escala, está a lealdade”, diz Heloisa. Ela ressalta que da visualização ao engajamento o caminho é longo, pois há mais fontes concorrendo pela atenção. “De uma audiência de 1 milhão de pessoas, apenas 500 mil visualizam. Desse total, apenas 2% chegam ao engajamento para tomar uma ação e, desses, só 0,2% se tornam leais. E mais, hoje a audiência não quer ouvir, ela quer falar”, analisa Heloisa. Marcio Borges, diretor geral da agência de publicidade WMcCann Rio, diz que a atenção está relacionada às audiências,

RUMOS

“Em comunicação, mediase o número de pessoas que seriam atingidas pela mensagem. Hoje isso é totalmente irrelevante, pois após atingir a pessoa, é preciso que ela visualize, preste atenção, tenha interesse, se engaje...” Heloisa Helena Montes, Deloitte

que são as métricas com as quais a publicidade trabalha. O grande esforço é entender as quatro dimensões da audiência, resumidas na sigla OSEP. São elas: Proprietária (Owned), quando a empresa tem seu próprio veículo; Compartilhada (Shared), quando um canal ou loja de uma empresa é compartilhado por outra; Conquistada (Earned), cuja mensagem se propaga no que era conhecido como boca a boca, e hoje, como viralizada, ou sejam, quando alguém reproduz a mensagem gratuitamente; e Paga (Paid), diferente das outras três dimensões e quando é preciso pagar espaço em algum veículo. Ele observa que o tempo que uma pessoa despende olhando uma embalagem vai depender da complexidade do produto. Uma papinha de bebê chama a atenção de uma mãe, que terá pouco interesse em uma lata de refrigerante. A não ser que se utilize um artifício publicitário e um insight criativo, como colocar nomes das pessoas nas latas, como fez a Coca-Cola. “Houve uma descarga de mensagem que a pessoa estava disposta a receber. O futuro da publicidade passa por duas transformações: conteúdo e história. Independente da plataforma, sempre será necessária uma história. A diferença é que hoje a tecnologia permite saber o que é mais eficiente. Mas a criação e a inteligência humana se sobrepõem a qualquer tecnologia. O insight criativo é o que afeta, em última instância, a atenção humana”, defende Borges.

27


ção da jornada de trabalho para oito horas e sobra tempo para o entretenimento, embora também seja disputado pelo deslocamento entre a casa e o trabalho”, analisa Pochmann. Agora vivemos o advento da sociedade pós-industrial focada em serviços e no trabalho imaterial e sem concretude. As pessoas vivem cada vez mais, podendo chegar aos 100 anos e o trabalho de sobrevivência representa apenas 1/5 de tempo, embora isso tenda a mudar com o novo liberalismo e a revisão das leis trabalhistas. “As famílias não têm mais dez filhos, o homem vive mais e tem mais tempo livre. E no trabalho não basta mais copiar, como na era industrial, é preciso criar. Mas somos bombardeados de informação, que não é o mesmo que conhecimento – a capacidade de sistematizar informações. As novas tecnologias democratizaram a informação, mas há uma certa degradação cultural”, sintetiza Pochmann. Ele destaca que os países estão trocando emprego material e industrial com remuneração de R$ 100 mil ao ano por empregos de R$ 15 mil em atividades como o varejo. A sociedade de serviços gera possibilidade de trabalho com renda diferenciada. Mas o Brasil abriu mão da industrialização, tema que aborda em seu mais recente livro, O Brasil sem industrialização: a herança renunciada. “Sem industrialização não há demanda para serviços qualificados, como design e projetos. Nos anos 2000, o Brasil gerou 22 milhões de empregos, mas 95% eram remunerações de um salário mínimo e meio nas áreas de

turismo e varejo”, diz Pochmann. Ele explica que o Brasil tem indústria, mas não tem industrialização, que ocorre quando o capital industrial domina as demais atividades. Até os anos 1930, o Brasil tinha indústria, mas quem comandava era a agricultura. Dos anos 1930 à década de 1980, a indústria comandou o país, mas a partir dos anos 1990 perdeu essa capacidade e hoje representa apenas 8% do PIB. “Parte importante do que era indústria virou serviços e hoje o que domina no Brasil é o rentismo financeiro e a agricultura exportadora. São dois setores globalizados que pouco conectam com o Brasil. O setor financeiro é controlado pelo Federal Reserve, a soja, pelos mercados globais”, lamenta Pochmann. Para Juliana Inhasz, da FGV, os países que vão se beneficiar mais da economia da atenção são aqueles que têm um aparato tecnológico maior e que consigam reverter a atenção das pessoas com mais eficiência. Países como China, EUA, Índia têm vantagem porque sua tecnologia consegue fazer com que seus processos sejam mais produtivos. “Isso deve começar a distanciar os extremos. Quem tem tecnologia terá crescimento elevado”, conclui.

ATENÇÃO: LIGUE AS COLUNAS A missão de muitas empresas é chamar a sua atenção, oferecendo informação relevante para o seu dia a dia. Neste texte, veja se você consegue relacionar a empresa de tecnologia de informação e comunicação com sua real missão no mundo, de acordo com ela mesma. Será que a empresa consegue atingir o seu objetivo?

Resultado na página 42 desta edição. 28

SETEMBRO | OUTUBRO 2016


Ascom/Petrobras

DESENVOLVIMENTO QUE MERECEU ATENÇÃO Houve um momento da história do país em que a atenção da sociedade esteve concentrada nas possibilidades do seu desenvolvimento e independência econômica. O II Plano Nacional de Desenvolvimento, também chamado II PND (1975 -1979), foi um plano econômico lançado no final de 1974 no governo militar do general Ernesto Geisel. O objetivo era estimular a produção de insumos básicos, bens de capital, alimentos e energia. A ideia era dar uma resposta à crise econômica decorrente do primeiro choque do petróleo em 1973, após seis anos consecutivos de taxas de crescimento acima de 10% ao ano durante o Milagre Econômico. “O II PND representou a construção da base da pirâmide industrial brasileira. O país já produzia bens de consumo, que são a ponta da pirâmide, mas precisava construir a base, representada pela indústria química, pelos bens de capital, pela siderurgia e pela energia. Estatais foram criadas e essas áreas foram desenvolvidas”, diz Marco Flávio da Cunha Resende, economista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele destaca que o II PND foi planejado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e representou um grande volume de investimentos num momento em que o mundo inteiro estava em recessão. Foi o último grande plano econômico de viés desenvolvimentista. O II PND se propôs a realizar um ajuste estrutural na economia brasileira. Enquanto as modificações conjunturais se referem a medidas de regulação da economia ou

RUMOS

de gestão da política econômica no curto prazo – por meio de instrumentos monetários, como taxa de câmbio, taxa de juros, tributação –, o ajuste estrutural tem como objetivo reorganizar as bases da economia. Uma das diretrizes propostas pelo Plano era a redução da dependência do petróleo árabe, por meio do investimento em pesquisa, prospecção, exploração e refinamento de petróleo dentro do Brasil, e o investimento em fontes alternativas de energia ,como o álcool e a energia nuclear. O plano conseguiu êxito parcial, uma vez que, pela primeira vez na história, o Brasil conseguiu dominar todo o ciclo produtivo industrial. Contudo essa industrialização ocorreu a um preço alto, que fez a dívida externa explodir. “Houve uma mobilização do governo e dos setores empresariais, subsídios e juros baixos. Mas o lado ruim é que os investimentos foram feitos com endividamento externo que gerou a crise da dívida dos anos 1980, considerada a década perdida, sem investimentos e com inflação elevada”, analisa Resende. Ele explica que a crise da dívida foi gerada porque o governo estatizou a dívida das empresas, quando veio o segundo choque do petróleo em 1979. A dívida era feita em dólar com juros pós-fixados. “Antes que o dólar começasse a subir, o governo orientou as empresas a pagarem a dívida em cruzeiros ao Banco Central, que assumiu a dívida em dólar e desvalorizou o câmbio em 30%. A dívida explodiu, o governo salvou o empresariado, mas o país quebrou”, conclui.

29


REPORTAGEM

Bandes implementa ações e projetos para reposicionar a empresa nos próximos anos, com foco em planejamento e de gestão estratégica, utilizando as tecnologias disponíveis para repensar e estruturar as colunas de sustentação do banco no futuro. POR DANILE REBOUÇAS

Caminhar rumo à excelência. A frase resume o principal objetivo de gestão do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) neste momento. Apoiada por um novo Plano Organizacional, elaborado com apoio da Fundação Dom Cabral, a equipe de gestores e colaboradores tem implementado uma série de ações estratégicas com foco na construção de uma agenda positiva para a retomada do crescimento no estado. São cinco projetos estruturantes: novas soluções financeiras; Bandes Export; sustentabilidade econômico-financeira; pessoas; e E-Bandes. Todos convergem para a necessidade de reposicionar a empresa nos próximos anos, com excelência operacional e aproximação com o cliente. “Estamos vivendo um momento delicado no país, mas continuaremos a ser um banco que busca resultados, sem perder o olhar para os anseios da população capixaba. A busca pela excelência é uma ra30

Portal Brasil

Excelência como meta zão constante no Bandes e não há receio do novo, da modernização”, afirma o diretor-presidente, Aroldo Natal. A realização de um choque de gestão para aprimorar processos e procedimentos, assim como implantar soluções de financiamento para empresas capixabas, com foco no apoio à economia verde e à economia criativa, ao fomento, ao comércio exterior e aos fundos de participação em investimentos estão entre os principais desafios apontados pelo diretor-presidente. As ações envolvem investimento em tecnologia para otimizar serviços e em novos produtos, como os Fundos de Investimento em Participações (FIPs) e as Parcerias Público-Privadas (PPPs); fortalecimento da atuação com o comércio e a indústria, com parcerias e ações para expansão do crédito; potencialização do turismo e da exportação dos produtos. Aroldo Natal faz questão de reforçar que “as políticas do banco estão voltadas implacavelSETEMBRO | OUTUBRO 2016


mente para a geração e manutenção de empregos. O Brasil sairá da crise e nós, do Espírito Santo, sairemos primeiro, graças aos ajustes realizados pelo governo estadual”, comenta. O assessor da presidência, Gilson Cardoso, define o Programa Bandes Rumo à Excelência 2017/2021, que engloba os cinco projetos estruturantes, como a marca principal da retomada do banco com os processos de planejamento e de gestão estratégica. “Sintetiza os esforços e a dedicação de diretores, gerentes e alguns colaboradores na construção das bases da instituição do futuro”, diz. E ratifica que aquilo que foi planejado vem sendo gerenciado e executado, conforme os cronogramas definidos. TECNOLOGIA Um dos pontos de ação está na execução de melhorias para reduzir os prazos de tramitação e aumentar a eficiência. Nesse sentido, o projeto E-Bandes se propõe a aperfeiçoar processos internos relacionados às operações rurais e urbanas de até R$ 200 mil. A intenção é modernizar o banco para conexões virtuais com clientes e parceiros; e simplificar os fluxos de análise, incluindo a capacitação dos consultores para que a contratação dos financiamentos seja otimizada e ágil. “O nosso foco agora é o tempo de tramitação, focar na resposta, sem ter retrabalho, atendendo o volume e prazo de tramitação. E a tecnologia é um auxílio importante para alcançarmos essa meta. Trabalhamos para ter o prazo cada vez menor, atendendo nosso cliente com excelência operacional”, ressalta o diretor de Crédito e Fomento, Everaldo Colodetti. Ele explica que o banco vai usar a tecnologia para facilitar o cadastro de clientes. A modernização acompanha, ainda, todos os projetos estruturantes da instituição, de forma planejada. “Precisamos caminhar em direção às necessidades contemporâneas dos potenciais clientes e à legitimação do Bandes enquanto agente de soluções financeiras da economia capixaba. Isso significa modernizar, falar a língua dos jovens, ofertar nossos produtos e serviços de forma eletrônica para alcançar mais empreendedores”, ressalta Aroldo Natal. SOLUÇÕES FINANCEIRAS Para agregar soluções às operações de crédito, duas grandes oportunidades foram identificadas: os Fundos de Investimento em Participações e as Parcerias Público-Privadas para municípios. A diretora de Administração e Finanças, Denise de Moura Cadete Gazzinelli Cruz, explica que o banco iniciou com os FIPs, subscrevendo o Criatec III do BNDES (fundo que investe em empresas inovadoras na área de tecnologia). E, agora, busca viabilizar PPPs em alguns municípios. Ela acrescenta que na lista de ações futuras estão a criação de uma subsidiária, a Bandespar, e a criação de FIPs locais, a partir da capacidade de articulação do banco. “Essa ‘cara nova’ do Bandes funcionará em uma gerência específica, subordinada à presidência, e que terá, em sua rotina, a busca por outras soluções e por manter o banco conectado ao mercado, para viabilizar empreendimentos que gerem trabalho, emprego, renda e competitividade da economia capixaba”, descreve. RUMOS

O assessor da presidência, Cardoso, complementa que os planos de ação passam pela sofisticação da atuação do Bandes, para além do crédito, passando a contar com mais soluções que abram novas frentes de relacionamento com prefeituras e empresas. “Tanto a solução FIP quanto a solução PPP possuem orientação para o mercado por meio da estratégia de intimidade com o cliente, tendo por base a missão do banco em oferecer soluções financeiras que viabilizem empreendimentos estratégicos do Espírito Santo”, afirma. Outro aliado da instituição nesse processo estratégico é o projeto estruturante Bandes Export, que estimula as exportações das micro, pequenas e médias empresas. O programa busca estruturar as soluções do banco para a promoção e o financiamento de exportações, contemplando soluções financeiras, serviços de promoção, de articulação, de parcerias e de outras atividades. Para medir o alcance dos objetivos, foram estabelecidas duas metas: incluir 50 novas empresas, micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), na base de exportadores do Espírito Santo até o final de 2018, por meio de apoio financeiro do Bandes; e apoiar, por financiamento, o processo de diversificação e agregação de valor dos produtos de outras 50 empresas capixabas que já exportam. COMPETÊNCIAS De acordo com os gestores, para fortalecer e concretizar todo esse processo de modernização, o Bandes conta com profissionais capacitados. O projeto “Pessoas” define quais as competências individuais que serão necessárias para os próximos passos do banco. Com uma orientação para a excelência operacional e para o mercado, o projeto traz ferramentas para a gestão de competências e do desempenho dos colaboradores da instituição. “Quando tratamos das relações humanas numa visão contemporânea, precisamos conectar as práticas de gestão de pessoas a uma visão de mundo, seu movimento, sua dinâmica. Isso exige a adoção de novas condutas e inúmeras são as oportunidades de melhoria e de inovação”, ressalta Natal. O diretor-presidente completa que o banco almeja resultados positivos tanto para o colaborador como para a empresa; clima organizacional favorável e crescimento pessoal e profissional da equipe. 31


REPORTAGEM

Especialistas debatem diagnósticos e prescrições para recuperar setor que já foi motor do desenvolvimento brasileiro e há 40 anos está anêmico. POR LUCIANO SILVA A indústria brasileira tem um problema. Esse foi o ponto consensual de especialistas reunidos pelo BNDES, no Rio de Janeiro, no mês de outubro. As causas e as saídas para a crise que vive, há mais de três décadas, o setor que já foi o grande propulsor do desenvolvimento brasileiro é que causaram discordância – e explicitaram que o diagnóstico deste paciente enfermo é tanto complexo quanto urgente para que o país volte a crescer. O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Regis Bonelli, demonstrou que, entre 1997 e 2013, a produtividade da indústria de transformação caiu 1,3% ao ano, mas o problema é mais antigo. “Nos últimos 40 anos, diferentes governos, de diferentes orientações, foram incapazes de estancar a progressiva anemia industrial, apesar de inúmeras tentativas. Uma única explicação não vai dar conta de elucidar isso”, comentou. Para o pesquisador, são vários os fatores que podem contribuir para explicar esse fenômeno, entre eles mudanças estruturais na economia brasileira; a competição dos importados, que indicam também uma baixa competitividade do setor nacional; a taxa de câmbio; a “maldição das commodities”; e a baixa poupança, que ele considera o principal problema brasileiro. 32

Stockvault

Indústria enferma “A melhoria da competitividade da indústria dependerá de um ajuste do custo, que terá de ocorrer ou via câmbio real ou via mudanças no ambiente de negócios, infraestrutura, reformas etc.”, destacou Bonelli. “É possível reverter ao menos parcialmente o movimento de queda na indústria no Produto Interno Bruto (PIB) pela desvalorização do câmbio real, mas é difícil imaginar que retorne a patamares muito acima de 15 a 16% no horizonte previsível. O problema central é a baixa poupança”, completou. O economista Fernando Holanda, de outro lado, acredita que o principal desafio é a produtividade, e não apenas de um ou outro setor, mas de todos os segmentos da economia brasileira. Por isso, ele rebateu uma argumentação, que classificou de “recorrente”, de que o baixo crescimento da economia brasileira é um problema de composição setorial – nas últimas décadas, o país teria dado mais peso a setores menos eficientes, como o de Serviços, em detrimento de outros com taxa de produtividade maior, que seria o caso da indústria. Holanda sustentou que o argumento é falso. Ele SETEMBRO | OUTUBRO 2016


apresentou dados que colocam o Brasil na lanterna na comparação com outros países em todos os setores – agropecuária, indústria, comércio e serviços. “A ideia de recuperação do desenvolvimento se dará pela simples transferência de recursos de um setor para outro me parece ser um mito. Somos os piores em tudo, transferir o peso de um setor para outro não elevará nossa condição”, disse. Segundo o economista, o Brasil possui uma “cauda pesada”, que faz com que as empresas menos produtivas estejam em número muito superior quando comparadas às de média e alta produtividade. Para ele, mais do que uma nova divisão no peso dos setores, a redução da cauda tem potencial para elevar a produtividade de forma substancial. “Como podemos fazer para que as mais produtivas cresçam e as menos produtivas desapareçam?”, questionou, criticando mecanismos que garantem “sobrevida” a empresas pequenas, independente de sua produtividade. Como contraponto, o também economista David Kupfer, diretor geral do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/ UFRJ), chamou a atenção para as diferenças demográficas e de ordem estrutural dos diferentes países que muitas vezes são comparados em um ou outro atributo específico. Ele lembrou que não é possível dizer que a agricultura tem baixa produtividade sem considerar que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) engloba nesse setor desde a agroindústria até pequenos agricultores familiares, que correspondem a 12 milhões de pessoas, muitos deles produzindo apenas para o autoconsumo, com enormes dificuldades. “É claro que, num critério geral, esses pequenos empreendimentos familiares serão classificados como de baixa produtividade, mas ali a lógica é outra”, destacou. Para Kupfer, o problema central para a indústria brasileira não é a produtividade ou a baixa poupança, mas sim o investimento, ou, mais especificamente, a armadilha de baixo custo em que as empresas brasileiras estão envolvidas. “O empresário brasileiro minimiza o investimento, toma todas as decisões de modo a diminuir”, comentou. O economista acredita que é tarefa da política industrial resolver essa armadilha, propiciando condições de financiamento para que as empresas ampliem sua capacidade de investir e reestruturem sua posição na concorrência. “É esse o papel da política industrial, e não o de criar demanda. É só a partir do aumento do investimento que poderemos aumentar a produtividade, especialmente em inovação, que é um componente importante para o desenvolvimento”, destacou Kupfer. ISOLAMENTO Claudio Frischtak, economista e presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, chamou a atenção para outro ponto de preocupação da indústria brasileira: o isolacionismo. De acordo com ele, o setor precisa se integrar a cadeias em todo o mundo. Para isso, entre outras ações, Frischtak acredita que o país deve estar mais aberto à atração de profissionais estrangeiros, que tenham conhecimento e possam ajudar a desenvolver os diferentes segmentos da economia nacional. Enquanto apenas 0,32% do mercado de trabalho brasileiro é composto por estrangeiros, há 1,69% de profissionais de outros países no Chile, 1,87% na Coreia e 20% no Canadá. “Estamos nos autoimpondo uma barreira de conhecimento”, criticou. RUMOS

O economista afirmou que a competitividade da indústria nacional é limitada por conta dos esforços restritos das empresas brasileiras, cuja gestão é muito ruim; da segmentação do mercado; e também por falhas do Estado, que peca na qualidade das intervenções. Ele criticou o que chamou de “ativismo sem estratégia” praticado até recentemente pelo governo federal, lembrando que a apatia da indústria não se deu por falta de apoio via instrumentos clássicos, como financiamento ao investimento e à inovação, incentivos fiscais e proteção. Ao contrário, Frischtak acredita que as ações do governo foram contraproducentes, pois resultaram em expansionismo fiscal e protecionismo, que acabaram por distorcer o comportamento dos empresários, que acham mais importante ter acesso ao Estado do que ao mercado. “Precisamos pensar em uma agenda para a indústria: romper o isolamento, facilitando a mobilidade de bens, serviços, pessoas e conhecimento; apoiar a criação de mercados, projetos e atividades com comprovadas externalidades; e melhorar o ambiente de negócios, com desburocratização total, para que o Estado possa prestar melhores serviços, diretos ou indiretos”, defendeu. O economista João Furtado, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reafirmou a importância do setor, lembrando que todos os países desenvolvidos possuem uma indústria relevante e que todas elas possuem ou são produto de políticas industriais ativas. “Continua havendo espaço para políticas industriais muito ativas, baseadas no fato de o país saber onde quer chegar e, então, mobilizar os recursos para chegar onde quer”, afirmou, destacando que política industrial é diferente de protecionismo. “Pode ser um ingrediente, mas de preferência não duradouro”, concluiu. Ele citou o caso da Alemanha, que se prepara, por meio de políticas, para ser líder na chamada Indústria 4.0 – aquela ligada aos processos tecnológicos e que deve detonar a quarta Revolução Industrial. O economista destacou que a indústria brasileira é diversificada e integrada, mas possui uma curva de desenvolvimento muito longa (no caso dos aviões, em que o país tem destaque, foram 70 anos entre os primeiros passos e a construção da indústria). “O século XXI não dará mais possibilidade para esse espaço temporal tão elástico para a construção de uma indústria”, alertou. 33


REPORTAGEM

Seminário discute a economia da Região Norte, que possui a Amazônia como grande riqueza, capaz de gerar desenvolvimento para todo o país, mas ainda convive com desigualdades intrarregionais difíceis de serem superadas. POR JADER MORAES

A Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) promoveu, em Belém (PA), a segunda edição do Ciclo de Seminários Regionais, desta vez para discutir os rumos do desenvolvimento da Região Norte. Com a participação de executivos das Instituições Financeiras de Desenvolvimento da região, especialistas e acadêmicos, o evento debateu o desafio de transformar a realidade econômica e social dos estados aliado à preservação da biodiversidade local. O encontro aconteceu no dia 22 de setembro, no auditório da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), com o apoio do Banco da Amazônia, do Banco do Estado do Pará (Banpará) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O professor Ennio Candotti, da Universidade Federal do Amazonas, fez de sua apresentação um alerta para o fato de que a Amazônia é o grande patrimônio do país, capaz de gerar riquezas, mas que ainda permanece como incógnita devido aos baixos investimentos em pesquisa e tecnologia e também à exploração predatória da floresta. 34

Jader Moraes

Desafio verde “Se existe um laboratório hoje que pode mudar os rumos da humanidade, é a floresta amazônica. Temos que investir, termos paciência, deixarmos de lado um olhar apenas exploratório, para que possamos entender os segredos da floresta e o quanto de desenvolvimento ela pode gerar para todos nós”, pediu. Para ele, o mais importante nesse momento é investir em recursos humanos. Atualmente, cerca de mil pesquisadores atuam em projetos relacionados à floresta; se este número fosse multiplicado e chegasse a um sonhado patamar de cem mil, Candotti acredita que seria superado o “desconhecimento profundo sobre as particularidades” do local, que pode gerar riqueza e desenvolvimento econômico para o país. O pesquisador defende que 0,5% do total de recursos destinados a investimentos na região (em obras de infraestrutura e energia, por exemplo) seja direcionado para fomentar o conhecimento, por meio da formação de recursos humanos nas SETEMBRO | OUTUBRO 2016


universidades e centros de pesquisa da região. “É preciso coragem para investir em ações aparentemente inúteis, que não trarão resultado no curtíssimo prazo, pois historicamente são esses investimentos que trazem grandes resultados”, disse, com a ressalva de que atualmente já são disponibilizados recursos em montante razoável para a região, mas de forma dispersa, pois derivam de diversas fontes, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), e falta coordenação entre eles. DESIGUALDADES A Região Norte é a maior do país em área territorial, mas concentra apenas 8,5% da população, com pouco mais de 17 milhões de habitantes. À exceção do Pará e do Amazonas, os demais estados da região – Roraima, Tocantins, Amapá, Acre e Rondônia– estão entre os mais pobres do país, no que diz respeito ao Produto Interno Bruto (PIB). Somados os sete estados, o PIB da região é de R$ 239 bilhões – em nível de comparação, apenas o estado do Paraná, 5º mais rico do país, possui um PIB de R$ 239 bilhões (valores de 2014). Contudo, a taxa de crescimento da riqueza da região foi superior à do restante do país na última década, conforme relevou o Ipeadata de 2015. Da mesma forma, o Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) nos estados do Norte, ainda que abaixo dos demais estados do país, demonstrou importante evolução nas últimas duas décadas (em Tocantins, por exemplo, o índice passou de 0,369 em 1991, para 0,522 em 2000 e 0,699 em 2010 – um salto que fez com que o estado saísse de um padrão considerado “muito baixo” para o limite do “médio”, bastante próximo do IDHM “alto”, a partir de 0,700). Os dados foram trazidos pelo diretor de Gestão de Fundos, Incentivos e Atração de Investimentos da Sudam, que também apresentou números relativos ao Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), uma das principais fontes de recursos para investimentos na região, operado pelo Banco da Amazônia: depois de um pico em 2014, quando foram contratados R$ 5,3 bilhões, o fundo iniciou 2016 com disponibilidade de até R$ 3,3 bilhões para financiamentos. Os dados mais recentes, de 2015, indicam que mais de 80% dos recursos são destinados ao setor rural, em especial para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ), com grande prevalência de destinação de recursos para projetos no estado do Pará, o mais desenvolvido da região – das 21 mil operações realizadas com o setor rural no ano passado, cerca de 11 mil foram para o estado. O presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Júlio Miragaya, chamou a atenção para esses dados e apontou que, embora gere impacto positivo no PIB e na geração de empregos da região, a concentração territorial é uma falha que precisa ser corrigida. Outro convidado, o pesquisador Bernardo Campolina, destacou que o FNO poderia fazer a interface entre o sistema produtivo e o sistema de geração de conhecimento – apoiando com mais intensidade universidades e centros de pesquisa. Contudo, o foco no apoio a atividades do setor privado faz com que questões relevantes como inovação e tecnologia fiquem à margem e recebam pouca atenção. RUMOS

Para Campolina, a região tem características, como a questão hidroviária, que a torna muito distinta das demais do país. Por isso, ele critica visões que desejam reproduzir o padrão de desenvolvimento de outras localidades para essa região. “A ideia de que eu consiga copiar o desenvolvimento não é possível. E será que o que a região deseja é reproduzir o mesmo modelo de ocupação que se deu no Cerrado?”, questionou. Ele defendeu que é preciso combinar diferentes escalas de interação – o local, o regional, o nacional, o internacional – para propiciar um desenvolvimento que seja sustentável na região. “Não é nem o modelo antigo, em que as questões locais eram pensadas a partir do ‘centro’; nem a panaceia de que o local vá resolver tudo”, sugeriu. POTENCIAIS O economista Carlos Paiva, especialista em desenvolvimento regional, lembrou que a logística é uma questão central para a maioria das regiões do país e não é diferente no Norte. No entanto, mais do que os gargalos, ele defendeu que as regiões precisam entender quais as oportunidades reais que estão abertas à sua frente, a partir de suas potencialidades. O ponto de partida para que os estados se desenvolvam, dessa forma, é “se olhar”. E o autoexame consiste em responder algumas perguntas: “o que eu sou? O que eu sei fazer? O que os demais territórios demandam de mim? Como eles disputam comigo nas minhas áreas de especialização? Como posso explorar minhas forças e as oportunidades abertas, superando minhas fraquezas e as ameaças?”, apontou Paiva. Com base nisso, o economista apresentou uma série de dados a respeito da região, especialmente sobre os setores que possuem maior número de trabalhadores formais. Em sua análise, ele destacou que os estados do Norte concentram um alto número de funcionários na administração pública e estão acima da média brasileira em setores importantes, como agroindústria vegetal, mineração e metalurgia, eletroeletrônica, material de transporte naval, energia e no setor têxtil de fiação. De outro lado, em setores como saúde e educação, fundamentais para geração de bem-estar e qualidade de vida da população local, os números são bem mais modestos. “Ou seja, a renda produzida pela região não está sendo apropriada aqui”, concluiu Paiva. 35


ARTIGO

Uma questão transversal Os desequilíbrios regionais estão entre os mais relevantes desafios da agenda brasileira de desenvolvimento econômico. No entanto, a despeito de sua importância, o tema costuma encontrar menor ressonância no debate público, enquanto as políticas dedicadas à área usualmente enfrentam dificuldade em se afirmar, como exemplifica a recente tentativa de criação de um Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional. Para a ABDE, associação que representa o Sistema Nacional de Fomento, composto por amplo e heterogêneo conjunto de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs), além de entidades de alcance nacional, a temática sempre esteve no cerne de suas atividades, suscitando questões de difícil encaminhamento. Como compreender e explorar as articulações possíveis entre pautas regionais e nacionais? Como garantir visão sistêmica, de conjunto, a instituições com atuação em níveis e localidades tão distintos e, por isso mesmo, com desafios tão diferentes a enfrentar? Questionamentos desta natureza não poderiam ter escapado à atenção de Rumos, que recorreu, como de costume a alguns dos principais especialistas no assunto. Tânia Bacelar, professora e economista que trabalhou durante décadas na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e responsável pela primeira Política Nacional de Desenvolvimento Regional, em entrevista à revista de Julho/Agosto de 1990, foi categórica ao afirmar que não existiam mais economias regionais no Brasil. Esta afirmação, evidentemen36

te, não significava que não havia ainda Para Tânia Bacelar, era diferenças substantivas entre variadas no próprio processo partes do país, especialmente nos casos do desenvolvimento da Amazônia e do Nordeste, macrorregiões de complexa incorporação e com brasileiro que se características muito diversas entre si. encontravam as raízes No entanto, do ponto de vista da dinâ- dos desequilíbrios mica econômica, o que Bacelar identifi- regionais, de modo que cava era “uma economia nacional, uma seu enfrentamento não economia brasileira que funciona em podia ser feito apenas bases oligopolizadas e, portanto, com uma dinâmica única, com um mercado por meio de políticas que se tornou mercado nacional e que localizadas. impõe às outras regiões o ritmo que é o ritmo geral.” (p. 7). Para a economista, era no próprio processo do desenvolvimento brasileiro que se encontravam as raízes dos desequilíbrios regionais, de modo que seu enfrentamento não podia ser feito apenas por meio de políticas localizadas. Dezenove anos depois, em nova entrevista à edição Maio/ Junho de 2009, Bacelar reiterou a visão defendida quase duas décadas antes, advogando a favor de políticas de desenvolvimento regional que atuassem em duas frentes: “1) políticas nacionais ousadas e adequadamente formuladas, que tenham rebatimento positivo na luta contra as desigualdades econômicas e sociais, que se reproduzem em várias escalas [...] – desde a macrorregional até a sub-regional; e 2) políticas regionais explícitas, voltadas para combater as desigualdades inter-regionais, também em diferentes escalas geográficas” (p. 35). Entre as primeiras, a economista destaca o papel de políticas como o Bolsa Família e a valorização do salário mínimo, com forte impacto sobre o nível de renda das regiões mais pobres do país. Entre as segundas, políticas regionais específicas, como a recriação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Em resumo, Bacelar defende o enfrentamento das desigualdades regionais por meio de políticas que, a um só tempo, estejam integradas ao processo de desenvolvimento nacional e sejam capazes de “tratar desigualmente os desiguais” (p. 37). Outro importante nome do debate brasileiro sobre econoSETEMBRO | OUTUBRO 2016


RUMOS

vista a orientação curto-prazista do sistema bancário privado nacional. As preocupações de Bacelar e Campolina guardam, no entanto, ainda maior complexidade. Isto porque, mais do que público e de longo prazo, é preciso que o crédito ofertado tenha capilaridade e respeite as especificidades locais, garantindo alcance regional diferenciado e convertendo-se, assim, em efetivo instrumento de mitigação das disparidades. Tratar desigualmente os desiguais, sem perder de vista que as desigualdades são fruto da dinâmica econômica nacional – eis a lição a ser aprendida. Para equacionar este desafio, que se impõe a um só tempo nos âmbitos nacional e local, Campolina reitera a necessidade de formar redes que representem a “aliança entre o sistema central e os bancos regionais” (p. 23), exatamente nos moldes do que chamamos de Sistema Nacional de Fomento – conjunto articulado de instituições capazes de apoiar políticas de desenvolvimento em todos os níveis. O fortalecimento do conjunto de IFDs regionais brasileiras e do Sistema Nacional de Fomento justifica-se tendo em vista a consecução de objetivos de desenvolvimento regional e de capilarização dos meios de financiamento de longo prazo, notadamente do crédito, pelo território brasileiro.

FERNANDA FEIL É graduada em Business & Commerce pela Monash University/Australia e em economia pela USP. Possui mestrado em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, é gerente de Estudos Econômicos (Gesec) da ABDE.

ANDREJ SLIVNIK É economista, formado pela Universidade de Campinas, e mestrando pela mesma instituição. Atua como técnico na Gesec.

Fotos: Noel Joaquim Faiad

mia regional, Clécio Campolina, professor de economia e então reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em entrevista à edição de Janeiro/Fevereiro de 2012, não apenas reverberou a ideia destacada por sua colega de profissão, duas décadas antes, como contribuiu no sentido de atualizá-la. A princípio, Campolina lembrou que “as especificidades regionais precisam ser tratadas com o devido cuidado, e numa perspectiva de projeto nacional” (p. 21). Mas, adiante, avançou sobre dois pontos que o diferenciam, da ênfase original de Bacelar. Primeiro, associou as questões regional e urbana, notando que a grande concentração populacional e econômica em determinadas cidades se transformou em grave problema a ser enfrentado, estando no cerne dos desequilíbrios espaciais, por demandarem também a concentração de recursos, para resolver as questões estruturais próprias das metrópoles. Segundo, questionou a viabilidade de se continuar pensando no problema regional em termos de macrorregiões. Para Campolina, o desafio seria pensar os aspectos espaciais do desenvolvimento, contemplando não somente as cinco regiões clássicas, mas uma nova forma de pensar o território, que permitisse perceber que, do ponto de vista da elaboração de políticas públicas, “o Vale do Ribeira de São Paulo poderia estar junto com alguma região nordestina” (p. 22). Apesar de diferenças de ênfase, as visões de Bacelar e Campolina guardam importante convergência quanto ao papel destacado, senão decisivo, do crédito para as políticas bem-sucedidas de desenvolvimento regional. Ainda que não possa ser tomado como o único instrumento, devendo estar associado a outras iniciativas, os economistas compartilham o entendimento de sua centralidade para equacionar aspectos cruciais das disparidades regionais, a exemplo das questões de infraestrutura e ciência e tecnologia. Como lembra Bacelar, “o desenvolvimento é tarefa de longo prazo, logo requer aposta em iniciativas que podem não ser rentáveis hoje, mas serão amanhã”, motivo pelo qual entende que o crédito adequado à superação dos desequilíbrios regionais “é aquele ofertado pelos bancos de desenvolvimento” (Maio/Junho de 2009, p. 37), mesmo entendimento de Campolina, para quem “só o sistema financeiro público brasileiro, por intermédio dos bancos de desenvolvimento e das agências de fomento, fazem financiamento de longo prazo no país” (p. 23), tendo em

RAIANI FRANÇA É graduanda de Economia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e estagiária da Gesec.

37


LIVROS

REEDIÇÃO DE UM CLÁSSICO

A crise da ideologia keynesiana Lauro Campos Boitempo, 360 p., 2016.

Considerado um clássico da teoria econômica, o livro A crise da ideologia keynesiana, do economista Lauro Campos, ganha nova edição pela Boitempo em 2016. Quando a primeira edição veio a público, em 1980, o professor Campos concluía um longo caminho de pesquisa e reflexão sobre a ideologia econômica keynesiana. A obra constitui, ao mesmo tempo, uma análise e uma crítica do legado de John Maynard Keynes, que rompeu com a teoria da “mão invisível do mercado” postulada por Adam Smith e lançou as bases para a forma histórica que o capitalismo assumiria no século XX, com o advento da social-democracia e do Estado de bem-estar social. Para Campos, Keynes apresentou

uma saída contraditória para a crise de 1929, confundindo a cabeça dos teóricos de sua época, divididos entre encarar seu trabalho ora como reforma, ora como revolução. A obra também aborda diferentes aspectos das sucessivas crises inerentes ao capitalismo que não foram contemplados pelo receituário keynesiano. O livro analisa ainda um aspecto central da teoria marxista: a tendência ao desenvolvimento das forças improdutivas e destrutivas do capital. A relação entre o desemprego estrutural e o Estado consumidor, as transformações da ideologia e a aplicação, nos tempos de paz, das experiências realizadas em economia de guerra são outros dos temas desenvolvidos na obra.

O DESAFIO DAS CIDADES Quais os interesses envolvidos na perpetuação dos padrões de urbanização? Quais ações e iniciativas apontam para um novo futuro? Como se articulam esses atores? Essas são algumas questões debatidas na obra organizada por Renato Balbim, doutor em geografia humana e técnico do Ipea, que reúne diferentes autores em quinze capítulos que, inspirados pelos debates realizados no instituto no contexto de realização da III Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e DesenvolGeopolítica das cidades: velhos vimento Urbano Sustentável, desejam discutir a atual geografia internacional desafios, novos problemas de cidades. Renato Balbim (Org.) Na primeira parte, o atual desenIpea, 364 p., 2016.

38

volvimento das cidades é debatido a partir de seus velhos desafios e, também, enfocando inicialmente alguns de seus novos problemas. A segunda parte é dedicada ao tema da geopolítica das cidades, poder local e participação social. Por fim, a terceira parte do livro busca tratar do tema da inclusão social, fundamental para a transformação do modelo de cidades. A leitura atenta dos capítulos revela que a solução para o enfrentamento estrutural dos problemas urbanos não está na falta de recursos humanos, técnicos ou, tampouco, financeiros. Trata-se, sobretudo, de se instituir uma nova governança urbana.

SETEMBRO | OUTUBRO 2016


O CAMINHO DAS PEDRAS

Fora da Curva Florian Bartunek, Giuliana Napolitano e Pierre Moreau (Orgs.) Penguin, 160 p., 2016.

Perguntas que você sempre quis fazer, mas nunca teve a oportunidade de encontrar com grandes nomes do empresariado brasileiro. Com a chance de conhecer mais sobre a carreira dessas pessoas de sucesso do cenário nacional, Florian Bartunek, Giuliana Napolitano e Pierre Moreau colheram depoimento dos investidores mais bem-sucedidos do Brasil falam sobre suas carreiras e dão valiosas lições de negócios. Com prefácio de Jorge Paulo Lemann, o livro contém depoimentos de André Jakurski, Antonio Bonchristiano, Florian Bartunek, Guilherme Aché, Guilherme Affonso Ferreira, José Carlos Reis de Magalhães Neto, Luiz Fer-

nando Figueiredo, Luis Stuhlberger, Meyer Joseph Nigri e Pedro Damasceno. A ideia para produzir o livro veio a partir dos depoimentos desses profissionais durante duas séries de aulas sobre o mercado financeiro na Casa do Saber, em São Paulo. Foram muitos os pedidos para acesso ao conteúdo ali apresentado, o que inspirou a criação de uma obra com as lições reunidas ao alcance de um público mais amplo. A obra é interessante no que traz de inovador, no tom das histórias pessoais e na forma dos depoimentos, mas fica uma pergunta: dos dez nomes selecionados, está ausente uma representante feminina nesse mercado de investidores. Onde elas estariam?

RELAÇÕES SOCIAIS DIGITAIS

Mídia digital e sociedade Andrew White Editora Saraiva, 320p., 2016.

RUMOS

O prestigiado professor da University of Nottingham’s, Andrew White, debate neste livro a economia digital global e enfatiza os benefícios que resultaram da incorporação de tecnologias de mídia na economia de maneira geral, procurando construir uma teoria da interação do usuário com a mídia digital que vai além da simples relação instrumentalismo/determinismo tecnológico. White mostra como a mídia digital desafia os modelos conceituais existentes de “público” e “privado”, por meio de análises da digitalização do conhecimento e da identidade on-line. Ele parte da ideia de que as mídias di-

gitais mudaram permanentemente a maneira como interagimos com a sociedade atualmente – o jeito de viver, de trabalhar e até mesmo de se divertir, inserindo novos hábitos ao cotidiano e novas formas de comunicação. Enquanto apresenta essa nova era digital, o autor procura sugerir algo concreto e definível, determinando exatamente como as novas tecnologias têm se apresentado em cada aspecto de nossas vidas. Andrew White tem numerosos artigos publicados em mídia digital e em revistas como First Monday, International Journal of Cultural Policy e Estudos Políticos Irlandeses.

39


SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO Divulgação

AFERR MUDA E AGORA É DESENVOLVE RR A Agência de Fomento de Roraima passou por um processo de reestruturação e agora passa a se chamar Desenvolve RR (Agência de Desenvolvimento de Roraima). De acordo com o governo estadual, a mudança de nome também indica uma instituição financeira mais moderna e estruturada para atender os tomadores de crédito da economia formal e informal. Desde o fim de outubro, a instituição está atendendo em novo endereço, em um espaço mais amplo na avenida Major Williams, 1.135, Centro. “Assim nós acreditamos que a Desenvolve RR tem a condição de apoiar o desenvolvimento das pequenas e médias empresas roraimenses, incentivando o crescimento da economia e a geração de emprego e de renda no estado”, afirma o presidente Weberson Pessoa.

GOIÁSFOMENTO OPERA COM LINHAS ACESSÍVEIS A microempresária Flávia Maria de Oliveira tem uma loja de variedades no centro de Aparecida de Goiânia há 12 anos. Assinou seu primeiro empréstimo na Agência de Fomento do Estado de Goiás (GoiásFomento) seis anos depois da abertura do empreendimento e hoje já está no seu quinto contrato. Flávia está entre os milhares de clientes que buscam a GoiásFomento quando querem estruturar seu negócio. A instituição foi criada em 1999 e atualmente é essencial na viabilização de investimentos para o pequeno empreendedor, com linhas de crédito para diversos setores – há opções para profissionais liberais, mototaxistas, taxistas, feirantes, pequenos empresários e empresários individuais. “Muitas vezes por desconhecer estas linhas e não saber como conseguir o crédito, o empreendedor não consegue crescer”, diz Henrique Tibúrcio, presidente da agência. “O serviço que prestamos é muito importante porque impulsiona as empresas, o que reflete na geração de emprego, renda e na movimentação da economia local.” Para obter o crédito é preciso, além de comprovar a capacidade de crédito, estar em dia com a documentação pessoal e jurídica. 40

SICREDI COMEMORA O COOPERATIVISMO DE CRÉDITO O Dia Internacional do Cooperativismo de Crédito (DICC) é celebrado, anualmente, na terceira quinta-feira de outubro. Neste ano, a data foi comemorada no dia 20 do mês com o tema “A verdadeira diferença”. A iniciativa, promovida pelo Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (World Council of Credit Unions – Woccu), buscou divulgar o trabalho desenvolvido pelas cooperativas de crédito, aumentando a conscientização sobre sua importância econômica e social e, consequentemente, o apoio ao movimento cooperativo. E o Sicredi participa da 68ª celebração com duas campanhas. Além da própria campanha institucional, que destaca que o cooperativismo de crédito faz parte da vida de diferentes pessoas – da cidade, do campo, dos jovens e dos empreendedores – e os diferenciais desse modelo de negócio, o Sicredi também apoia a campanha lançada pelo Woccu e promovida no Brasil pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e pela Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras). Em 2016, a iniciativa destaca os “9 Princípios que fazem a verdadeira diferença”, reforçando os valores de cooperação e a força da união. SETEMBRO | OUTUBRO 2016


Por decisão unânime, a Câmara dos Deputados aprovou, no dia 4 de outubro, o Projeto de Lei Complementar (PLP) 25/2007 – Crescer sem Medo. Um de seus principais pontos é a ampliação do prazo de parcelamento de dívidas tributárias de micro e pequenas empresas de 60 para 120 meses. As regras de parcelamento entram em vigor logo após a regulamentação pela Receita Federal. Além do aumento do prazo de parcelamento dos débitos tributários, o Crescer sem Medo eleva, a partir de 2018, o teto anual de faturamento do Microempreendedor Individual (MEI) de R$ 60 mil para R$ 81 mil e cria uma faixa de transição de até R$ 4,8 milhões de faturamento anual para as empresas que ultrapassarem o teto de R$ 3,6 milhões. O presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, comemorou a aprovação do projeto, que considera um marco para os micro e pequenos negócios.

COOPERATIVA ALAGOANA RECEBE “AFEAM EM DIA” VISITA O INTERIOR RECURSO NÃO REEMBOLSÁVEL A partir da assinatura de um conDO ESTADO trato pelo presidente da Agência de A Campanha “Afeam em Dia”, que tem como objetivo oferecer aos produtores rurais a oportunidade para regularizar seus débitos, completou, em outubro, um mês de atendimento em todos os municípios do estado do Amazonas. Os técnicos do Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas), parceiros da Afeam, estão cumprindo uma agenda de visitas, levando às comunidades informações sobre as vantagens sobre a campanha. De acordo com a diretoria da Afeam, as visitas são bastante produtivas, pois, os técnicos têm a oportunidade de falar sobre a importância de reaver o crédito para a sua atividade econômica. “Ganha o produtor, ao ter o nome limpo e recuperar o crédito para continuar investindo, também ganha o município e a economia do estado”, defende o presidente da Afeam, Evandor Geber Filho. RUMOS

Fomento de Alagoas (Desenvolve), Rafael Brito, e o presidente da Cooperativa dos Pequenos Agricultores Organizados (Coopeagro), Geraldo Oliveira, em Maragogi, o governo do estado liberou recurso no valor de R$ 126 mil, não reembolsável, à entidade. A transferência foi realizada com recursos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep) e ocorreu em atendimento a um pedido feito pela irmã Miriam Zendron, fundadora da cooperativa, durante o lançamento do Programa de Financiamento a Cooperativas e Associações Produtivas (Coopmais) pela Desenvolve, em maio deste ano, naquela localidade. O recurso servirá para a modernização do maquinário da cooperativa, substituindo as máquinas existentes e que já se tornaram obsoletas. Três novas máquinas ajudarão na melhoria dos trabalhos de beneficiamento das frutas: uma envasadora automática, um compressor de parafuso com secador integrado e um tanque de resfriamento para as polpas. A cooperativa conta, atualmente, com 70 sócios e um grupo de 120 famílias, gerando 12 empregos diretos e 20 indiretos. 41

Divulgação

Charles Damasceno/Agência Sebrae de Notícias

“CRESCER SEM MEDO” É APROVADO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS


EXPEDIENTE

CARTAS DO LEITOR Parabéns Prezados senhores, gostaria de cumprimentar a toda equipe pela brilhante publicação, em especial as senhoras Maria Silvia Bastos Marques e Thais Sena Schettino, pelo alto nível editorial que a revista apresenta. Nicolau Amaral, Nacom Comunicação, São Paulo (SP).

Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall | Brasília | DF | CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 – 11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 E-mail: gecom@abde.org.br CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Maria Silva Bastos Marques

Agradecimento Recebemos e agradecemos o envio da Rumos, número 288, julho/agosto de 2016, pois veio enriquecer o acervo de nossa biblioteca. Marli de Oliveira Felipe, Associação Educacional Toledo – Biblioteca Visconde de São Leopoldo, Presidente Prudente (SP).

DIRETORIA Presidente: Milton Luiz de Melo Santos 1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Crocco Afonso 2º Vice-Presidente: Ilton Luis Schwaab Diretores: Marivaldo Gonçalves de Melo, Otto Alencar Filho, Ricardo Ramos, Rogério Tavares e Susana Kakuta. Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINS – Agência de Fomento do Estado de Tocantins AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A. AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. AGERIO – Agência Estadual de Fomento BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCO SICREDI – Banco Cooperativo Sicredi S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE RR – Agência de Desenvolvimento de Roraima S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Inovação e Pesquisa FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Redação e Administração Avenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro RJ CEP: 20020-906 Telefone: (21) 2109.6041 E-mail: rumos@abde.org.br

Gerente de Comunicação & Editora Thais Sena Schettino Equipe Jader Moraes, Livia Marques Pimentel, Noel Joaquim Faiad Revisão Renato R. Carvalho

Resultado do desafio da p. 28

INSTITUIÇÕES ASSOCIADAS À ABDE

Capa Foto SXC Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas Distribuição Powerlog Serviços e Manipulação

Conselho Editorial Milton Luiz de Melo Santos, João Paulo dos Reis Velloso, Marco Antonio A. de Araujo Lima e Thais Sena Schettino. Publicação bimestral ISSN 1415-4722 Ano 41 - nº 289 - Setembro/outubro 2016 Tiragem: 9.000 exemplares

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte. 42

SETEMBRO | OUTUBRO 2016


junto é bem melhor. Acreditamos no poder da interação. Sabemos que as trocas geram mudanças positivas que nos motivam, levam mais longe e fazem bem. É por isso que a gente se dedica tanto a ampliar as possibilidades de conexão entre as pessoas. Porque coisas incríveis acontecem quando a gente interage.

oi.com.br



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.