Rumos 291

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#291 JANEIRO/FEVEREIRO

TEMPOS MODERNOS EXPERTISE

Celina Turchi, uma das dez mais importantes cientistas de 2016, fala sobre zika, pesquisa e desenvolvimento.

2017

O caminho sem volta da integração entre consumidores e a produção fabril traz a revolução da Indústria 4.0 diante dos nossos olhos. A customização é o futuro.

DEBATE

ARTIGO

Nova série de artigos inicia a reflexão sobre os alicerces da economia e o Sistema Nacional de Fomento.

O sociólogo Mario Grangeia estuda as visões dos governos brasileiros sobre desigualdade e política social.


A ABDE nasceu para fazer ecoar o ideal dos agentes que representa. Unir esforços, conhecimentos e recursos. Potencializar o desenvolvimento de um país com dimensões continentais. Agora, tem novos desafios: a partir de uma nova visão estratégica, se prepara para se tornar mais forte. Conciliando diferentes saberes, realidades e experiências. www.abde.org.br


SUMÁRIO

JANEIRO/FEVEREIRO 2017

#291

AO LEITOR

NESTA EDIÇÃO

Hoje em dia é preciso ter cuidado ao mencionar a palavra privilégio, mas aqui, ela vale para destacar a sorte que a geração atual tem de poder acompanhar a nova Revolução Industrial e não, necessariamente, ser surpreendida por ela, como aconteceu no passado. A Indústria 4.0 ou Manufatura Avançada trouxe o consumidor para “dentro da fábrica”, criando a produção sob demanda e personalizada. Na reportagem de capa ficamos sabendo mais sobre esse caminho sem volta rumo ao novo. A modernidade também está na agenda das Instituições Financeiras de Desenvolvimento, seja na forma de tecnologia, efetivamente, como mostra o Banco da Amazônia, com novo aplicativo de monitoramento ambiental, ou o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, com a adoção de políticas de equidade. E temos ainda o aniversário de 50 anos do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, que teve ação definidora no desenvolvimento do estado. Como o momento é de novidade, apresentamos, nesta edição, uma nova seção da revista, “Como retomar o desenvolvimento”, que tem a curadoria do economista Nelson Marconi, professor da Fundação Getulio Vargas-SP e presidente da Associação Keynesiana Brasileira. Nas próximas edições, dois convidados trarão ideias sobre a economia brasileira para que possamos pensar em caminhos para o retorno ao crescimento e fortalecimento do Sistema Nacional de Fomento. Ainda sobre artigos, o pesquisador das ciências sociais Mario Grangeia perpassa os discursos dos recentes governos sobre os temas desigualdade e política social e, ainda, publicamos os vencedores da edição 2016 do Prêmio ABDE-BID. Confira. Vale também uma atenção especial para a conversa da revista com a epidemiologista Celina Turchi Martinelli, considerada uma das 10 mais importantes cientistas do mundo em 2016, pela revista britânia Nature, pelo estudo que permitiu atrelar a doença zika ao aumento de casos de microcefalia no Brasil. Mais uma vez, fica clara a importância do incentivo à pesquisa científica como um dos caminhos para o desenvolvimento. Boa Leitura!

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Thais Sena Schettino Editora

RUMOS

PRÊMIO ABDE-BID 2016

PRÊMIO ABDE-BID 2016

Luiz Fernando de Paula Elias Jabbour

A China e seu catching up

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Turchi Martinelli

Uma orquestra afinada

OPINIÃO

Antonio Delfim Netto

Agência Petrobras

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EXPERTISE | Celina Maria

Travessia

REPORTAGEM

Presente e futuro em transformação ARTIGO

Mario Luis Grangeia

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REPORTAGEM | Prêmio

Estímulo ao debate

Desigualdade e política social segundo governos brasileiros Noel Joaquim Faiad

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Divulgação

Márcio Roberto Moran Anju Seth José Antônio B. M. Ziebarth

Conflito entre políticas públicas

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DESTAQUES

REPORTAGEM

Um olhar sobre o outro ARTIGO

Ênio Meinen

O cooperativismo e a nova ordem econômica COMO RETOMAR O DESENVOLVIMENTO

Marco Antonio Lima Nelson Marconi REPORTAGEM

Desenvolvimento tecnológico

20 CAPA |

Reportagem

Admirável mundo novo SEÇÕES

34 LIVROS

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SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

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EXPERTISE

Fotos: Divulgação

Uma orquestra afinada

A epidemiologista Celina Turchi, especialista em doenças infecciosas da Fiocruz Pernambuco, foi escolhida entre os 10 cientistas mais importantes de 2016 pela revista britânica Nature, uma das mais respeitadas publicações científicas do mundo. Ela comandou a força-tarefa que descobriu a relação entre o vírus da zika e a microcefalia, entre outubro de 2015 e abril de 2016. Celina se diz privilegiada por fazer parte dessa equipe multidisciplinar e garante que qualquer um dos pesquisadores envolvidos na investigação teria a capacidade de liderar o grupo. “Éramos como músicos que já haviam tocado juntos outras vezes, em diferentes formações e, numa emergência, fomos capazes de formar uma grande e afinada orquestra, e fazer uma bela apresentação”, compara. Celina Maria Turchi Martinelli, formada pela Universidade Federal de Goiás, com mestrado na London School of Hygiene and Tropical Medicine, na Inglaterrra, e doutorado em medicina preventiva pela Universidade de São Paulo (USP), tem sido a “regente” dessa “orquestra”. Em meio a muitos compromissos, ela encontrou um tempo na agenda para conversar com Rumos. Ela destacou a importância do incentivo à pesquisa científica e da continuidade dos programas de cooperação e de formação entre o Brasil e instituições estrangeiras. POR ANA REDIG

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JANEIRO JANEIRO || FEVEREIRO FEVEREIRO 2017 2017


Era setembro de 2015 quando um grande número de casos de microcefalia começou a aparecer em Recife e em outras regiões de Pernambuco e do estado da Paraíba. A frequência chamou a atenção dos médicos e do setor de Vigilância do Ministério da Saúde, que solicitou à médica Celina Turchi uma avaliação. Assim, ela foi visitar, logo no início da epidemia, os principais hospitais de Recife, onde conversou com neonatologistas, neurologistas, radiologistas, entre outros especialistas. “Desde o início era muito claro que estávamos diante de uma situação excepcional, extraordinária, do ponto de vista da gravidade dos neonatos”, conta Celina. O número de casos era muito acima do esperado – de quatro a cinco por dia. A cada nova visita, a especialista ouvia novamente a frase: “Nunca vimos uma situação como essa”. Os médicos se referiam tanto à grande quantidade de casos como ao fenótipo de microcefalia apresentado pelos bebês. Assim, quando partiu para a investigação, Celina já havia contatado alguns colegas, mesmo sem qualquer formalização ou recurso garantido. Desde o início, profissionais com larga experiência acumulada sentiram a necessidade de colaborar com suas equipes e traçar prioridades dentro do processo. Foi quando o Grupo de Pesquisa em Microcefalia Epidêmica (Microcefaly Epidemic Reserch Group – Merg, em inglês) foi formado. No início eram apenas cinco ou seis pesquisadores com suas equipes. Na maior parte dos casos, os estudiosos já haviam estabelecido parcerias sólidas em projetos anteriores e, à medida que os trabalhos foram se tornando mais intrincados, o grupo foi se ampliando. Todos perceberam que o problema era muito complexo, não apenas pela gravidade dos casos clínicos e por ter uma transcendência social, pois estava relacionado à reprodução humana, mas também por ser agravado pelo desconhecimento. “Uma coisa é um evento que tem uma etiologia conhecida, outra é um que ainda não se tem um vínculo na literatura”, destaca Turchi. O relatório de avaliação foi entregue no início de novembro e o Ministério da Saúde decretou, imediatamente, estado de emergência e solicitou ao grupo de pesquisadores de Pernambuco que elaborasse um projeto para realizar a investigação científica completa. Com a emergência, o projeto teve seus trâmites acelerados para que toRUMOS

das as etapas necessárias “As doenças infecciosas, – escrever o protocolo, delinear a metodologia, principalmente as indicar quem são os intransmitidas por vetores, são vestigadores, passagem por comitê de ética etc. uma questão de segurança – fossem realizadas com nacional, no sentido da o máximo de rapidez. Dessa forma, no dia 20 saúde, da segurança das de dezembro, a primeipessoas, por isso é preciso ra parcela dos recursos para a pesquisa havia implementar e manter uma sido liberada. estrutura forte com hospitais Para Celina, foi estratégico o fato de muitos públicos, laboratórios de dos pesquisadores desse referência, laboratórios de grupo já terem, em algum momento de suas carreisaúde pública.” ras, trabalhado em rede, em projetos afins ou em conjunto. Em sua opinião, esse relacionamento anterior, que às vezes se estende por décadas, facilitou todo o trabalho, pois já existia um intercâmbio científico sólido construído. Um exemplo foi a doutora Laura Rodrigues, que é brasileira e trabalha como professora de Epidemiologia de Doenças Infecciosas na London School of Hygiene and Tropical Medicine. “O grupo compartilhou com ela as evidências, a proporção de casos, os desdobramentos e em pouco mais de duas semanas ela estava aqui, in loco, para fortalecer a equipe e contribuir com os resultados”, destaca a cientista. Para Celina, é extremamente importante ter projetos constantemente em desenvolvimento, laboratórios de excelência capacitados, com profissionais treinados trabalhando. “As doenças infecciosas, principalmente as transmitidas por vetores, são uma questão de segurança nacional, no sentido da saúde, da segurança das pessoas, por isso é preciso implementar e manter uma estrutura forte com hospitais públicos, laboratórios de referência, laboratórios de saúde pública. Isso é fundamental para que, no momento da emergência, essa capacidade instalada no país possa ser acionada e a cooperação ocorra com sucesso”, aconselha. À medida que as pesquisas avançavam e as condições exigiam, outras equipes foram entrando no grupo. Hoje são mais de 40 pesquisadores seniores com suas equipes das mais diferentes áreas: neurologia, crescimento e desenvolvimento, neonatologiatas, infectopediatras e até cientistas sociais. O Merg envolve profissionais do Instituto Argel Magalhães (Fiocruz Pernambuco), Universidade Federal de Pernambuco 5


(UFPE), a Universidade de Pernambuco (UP), a Fundação Altino Ventura, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), London School of Hygiene & Tropical Medicine, entre outros. Agora o grupo ganhou mais capilaridade, incluindo projetos com institutos da União Europeia. O CAMINHO DAS PEDRAS A hipótese da relação entre a zika e os casos de microcefalia foi levantada pela primeira vez pelo médico Carlos Brito em setembro de 2015, quando a epidemia começou. Ele tinha estado muito envolvido com a epidemia em adultos que havia ocorrido em Recife nos primeiros meses de 2015. E também havia estudado pacientes que, pouco depois de terem adquirido a forma aguda da zika, apresentaram a síndrome de Guillain-Barré, que afeta o sistema neurológico. “Isso já era conhecido da literatura, mas não havia um sistema de notificação da doença no país. Os radares da saúde pública do Brasil e do mundo estavam voltados para a chegada da chikungunha e para os casos de dengue, porque a literatura científica até o momento apresentava a zika como uma infecção viral relativamente benigna”, explica Celina. O doutor Carlos Brito observou que os problemas neurológicos estavam acontecendo de seis a sete meses depois da epidemia de zika. No entanto, epidemias da doença em outros países, como na Polinésia Francesa, não relatavam quadros neurológicos semelhantes nos meses seguintes. O Brasil insistiu nessa possibilidade e o sistema de vigilância de saúde europeu voltou a investigar seus dados. Como na Polinésia vigoram as mesmas leis francesas, a interrupção voluntária da gravidez é permitida. “Quando os pesquisadores consultaram os dados e foram verificar as ultrassonografias das gestantes que abortaram, encontraram os casos de microcefalia”, lembra a especialista. Outra evidência fundamental foi trazida pela médica Adriana Melo, que recebeu uma gestante na fase aguda da doença em seu consultório, na Paraíba. Ela extraiu líquido amniótico e constatou a presença do vírus. Imagens tomográficas das crianças com microcefalia mostravam a presença de muitas calcificações, geralmente associadas a infecções congênitas, como o citalomegalovírus, o que também reforçava a relação entre a epidemia e a má-formação. Também o trabalho de outra médica, a Patrícia Brasil, que comprovou alterações fetais, abortamentos e a presença de microcefalia em um grupo de gestantes no Rio de Janeiro foi seminal para o bom desempenho da pesquisa. Quando o Merg se formou oficialmente, essas evidências já estavam disponíveis, e o trabalho, em andamento. “Era importante comprovar as evidências, reforçar a questão do controle do vetor, da proteção individual, agilizar o que é possível na produção de vacinas e alertar populações ainda não atingidas para que elas possam fazer um monitoramento adequado etc.”, lembra Celina. A questão era emergencial, e um dos 6

“Era importante comprovar as evidências, reforçar a questão do controle do vetor, da proteção individual, agilizar o que é possível na produção de vacinas e alertar populações ainda não atingidas para que elas possam fazer um monitoramento adequado etc.” “Fizemos o melhor que podíamos, com o máximo de comprometimento, no menor tempo possível.” maiores desafios enfrentados pelos pesquisadores foi, sem dúvida, a pressão do tempo. Era preciso encontrar respostas rápidas e não havia relatos científicos internacionais que fizessem essa associação entre a zika e a microcefalia. O processo todo levou – de setembro de 2015 a abril de 2016, da hipótese até as associações – seis meses. “Em abril já tínhamos o caso-controle pronto, de acordo com um protocolo bem estabelecido. Fizemos o melhor que podíamos, com o máximo de comprometimento, no menor tempo possível”, garante. Do ponto de vista da pesquisa, os resultados foram encontrados muito rapidamente e todas as providências foram tomadas para evitar novos casos. “Mas para a sociedade, nós sabíamos o quanto aquilo tudo estava sendo demorado”, relembra a especialista. Em dezembro de 2016, o estudo de caso-controle foi concluído e os resultados preliminares, publicados. Provavelmente o texto completo estará disponível até abril deste ano. Outros protocolos e pesquisas estão em andamento, e muitos são relacionados entre si. O professor Ricardo Ximenes, da UFPE e da UP, lidera o grupo que estuda as gestantes. O grupo coordenado pelo infectologista Demócrito Miranda Filho investiga os neonatos. Outro ângulo de estudos que está sendo investigado dentro do Merg são os impactos sociais e econômicos da síndrome congênita da Zika na família e na sociedade. A equipe de estudos é coordenada pela doutora Tereza Lyra e é uma parceria com a London School of Hygiene & Tropical Medicine. De fato, do ponto de vista do impacto econômico e social, é esperado que o nascimento de uma criança com microcefalia afete a vida desta família, já que a criança precisará de cuidaJANEIRO | FEVEREIRO 2017


dos permanentes para garantir seu desenvolvimento. “Especialmente a vida das mulheres, das mães, vai se alterar, mas ainda não se pode mensurar como ou quanto. Algumas das consequências provocadas pela epidemia só serão sentidas em alguns anos. As pesquisas já estão em desenvolvimento e precisam seguir avançando, pois vão guiar as políticas de saúde, assistência social e educação”, exemplifica. CORRIDA DE BASTÃO Para a especialista, o pior que pode acontecer no país dentro do campo da pesquisa é a descontinuidade do incentivo e dos processos, principalmente na formação dos pesquisadores e de apoio às investigações. Para Celina Turchi é isso que mantém e facilita as redes e pontes entre as diversas áreas de conhecimento. “Essa permanência gera confiança e mantém os canais abertos para agilizar os processos de pesquisa”. Ainda que o cenário para a pesquisa no país não seja favorável em nenhuma área, especialmente na da saúde, a especialista acredita e espera que a trágica experiência da epidemia de zika faça o Brasil reconhecer a necessidade não só da manutenção, mas também da implementação de estruturas sólidas de pesquisa. Para Celina, a manutenção de laboratórios de referência, bolsas para jovens pesquisadores, entre outros recursos, precisam existir de forma contínua, pois o conhecimento é como uma corrida de bastão: é preciso continuar a formar pessoas com grande capacidade, realizar intercâmbios entre grupos internacionais e ter capacidade de mandar nossos profissionais para o exterior para fazer mestrado, doutorado, pós-doutorado, trazer cientistas de outros países. “A descontinuidade disso é desvantajosa para todos, para o país”, finaliza.

PESQUISAS E DIVULGAÇÃO Pela novidade e pelo impacto social, as pesquisas sobre zika ultrapassaram as fronteiras dos periódicos científicos, alcançando a imprensa em geral. No Merg há um entendimento de que a cooperação significa também um respeito à produção científica de cada grupo. “Por isso, temos acordos internos de divulgação e trabalhamos de forma articulada e rotineira com o Ministério da Saúde, secretarias, OPAS e outros órgãos de saúde, repassando imediatamente todas as evidências comprovadas”, garante Celina. Toda a informação acumulada e produzida pelo Merg está disponível no site do grupo (http://www.cpqam.fiocruz.br/merg/), incluindo protocolos de pesquisa, formulários etc. “Esse é um movimento de harmonização mundial frente a uma situação alarmante. O compartilhamento de experiências e de protocolos facilita as análises conjuntas, o intercâmbio entre os pesquisadores e, ainda que não haja concordância com 100% dos protocolos, garante que blocos comuns possam ser analisados em conjunto, otimizando um precioso e escasso tempo rumo a resultados”, ensina a especialista.

Celina Maria Turchi Martinelli, formada pela Universidade Federal de Goiás, com mestrado na London School of Hygiene & Tropical Medicine, na Inglaterra, e doutorado em medicina preventiva pela Universidade de São Paulo (USP).

RUMOS

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Agência Petrobras

PRÊMIO ABDE-BID 2016

Estímulo ao debate

Rumos apresenta o resumo dos trabalhos vencedores do Prêmio ABDE-BID 2016, na categoria I. Nesta e na próxima edição, os autores indicam os principais pontos dos quatro artigos que receberam as melhores avaliações na premiação. Em sua terceira edição, o Prêmio ABDE-BID de Monografias sobre o Sistema Nacional de Fomento recebeu mais de duas dezenas de trabalhos que refletiram sobre o desenvolvimento brasileiro e as instituições que apoiam os diversos setores da economia, especialmente bancos com carteira de desenvolvimento, agências de fomento, bancos de desenvolvimento e bancos cooperativos. Como parte da premiação, a Rumos publica nesta e na próxima edição um resumo dos trabalhos primeiros colocados em cada uma das duas categorias. Pela primeira vez, acadêmicos e pesquisadores de todo o país puderam apresentar seus artigos para avaliação – até então, a participação era restrita aos funcionários das instituições filiadas à Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE). A apresentação dos artigos começa justamente pelos dois primeiros colocados da categoria I – Desenvolvimento em Debate, aberto ao público de maneira geral. Nesta categoria, os artigos abordaram assuntos relevantes ao processo de desenvolvimen8

to, com enfoque em modelos públicos, privados ou do papel do mercado de capitais para o financiamento ao investimento. O trabalho vencedor foi escrito pelos economistas Márcio Roberto Moran, Anju Seth e José Antonio Ziebarth, com o título “Conflitos entre políticas públicas e (falta de) coordenação de ações estatais: uma análise empírica da presença da BNDESPAR e da atuação do Cade em fusões e aquisições no Brasil”. O segundo lugar, também com um resumo publicado nas páginas seguintes, foi conferido ao trabalho “China e seu catching up: uma abordagem desenvolvimentista clássica”, de autoria de Luiz Fernando de Paula e Elias M. Khalil Jabbour. Os vencedores da categoria II – Financiamento: desafios e soluções terão seus resumos publicados na edição de março/abril. A quarta edição do prêmio, uma iniciativa da ABDE em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, será lançada no dia 8 de março e terá importantes novidades. As informações estarão disponíveis, a partir dessa data, no site da ABDE (www.abde.org.br). JANEIRO | FEVEREIRO 2017


Conflito entre políticas públicas

RUMOS

de receber apoio do BNDES por meio de participação acionária em detrimento às empresas estrangeiras, mas, também, tem maior probabilidade de sofrer intervenções do Cade em processos de F&A. Da mesma forma, os setores de “Petróleo, Gás e Biocombustíveis” e “Alimentos e Bebidas” afetam positivamente a probabilidade de que o BNDES adquira ações ou cotas de uma empresa, porém as F&A, nessas indústrias, são mais expostas às restrições ou à reprovação do Cade. Finalmente, a pesquisa mostra a preferência do BNDES por empresas que se envolvem em atos de concentração econômica com potencial dano ao bem-estar dos consumidores. Quanto às implicações desses achados, destaca-se a necessidade de uma revisão das molduras jurídico-institucionais brasileiras, a fim de que as áreas de conflito entre as políticas públicas observadas se reduzam ou se extingam. Finalmente, esta pesquisa se justifica, ainda e em grande medida, pela escassez de trabalhos empíricos que analisem a coerência das políticas de Estado. MARCIO ROBERTO MORAN Doutor pela FEA-USP, Professor na FIA Business School e Diretor da OTB Assessoria em Projetos.

ANJU SETH Ph.D., R.B. Pamplin Professor of Strategy and International Business, Pamplin College of Business, Virginia Tech, USA.

Fotos: Arquivo Pessoal

Conflitos entre políticas públicas e falhas na coordenação de ações estatais são problemas enraizados nas administrações públicas em todo o mundo, o que pode gerar desperdícios de recursos escassos ou inibir a maximização da eficiência de custos e qualidade dos serviços prestados. Isso se dá, em parte, pela especialização das diversas áreas de governo, que se traduz na atuação de órgãos com finalidades bastante restritas. Outro fator importante é o tamanho das administrações federais: se o aparato estatal é grande, as chances de conflito e falhas de coordenação também são significativas. Não menos distante da especialização e do tamanho da máquina pública, as barreiras de cunho operacional também explicam o fenômeno em questão, pois cada organização de um governo procura preservar a independência, a autonomia e o modo de produção que lhe são peculiares, o que torna a sincronia de rotinas organizacionais complexa. Adicionalmente, uma vez que as partes envolvidas ou interessadas em cada política veem um mesmo objeto por diferentes perspectivas e têm expectativas distintas de resultados, bem como enfrentam tipos de pressão distintos, os gestores públicos tendem a minimizar a incerteza dos ambientes nos quais atuam, sem atentarem-se às incertezas de outras esferas. Tal fato, inclusive, é agravado em governos sustentados por extensas coalizões políticas, nas quais residem diferentes ideologias, programas partidários e opiniões. Uma vez, então, que as causas dos conflitos entre políticas públicas têm elevado potencial de ocorrência no Brasil, o estudo Conflitos entre políticas públicas e ( falta de) coordenação de ações estatais: uma análise empírica da presença da BNDESPAR e da atuação do Cade em fusões e aquisições no Brasil estuda, empiricamente, a existência de indícios de tensão na atuação de dois organismos estatais brasileiros: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Com esse intuito, um banco de dados composto por 5.091 Fusões e Aquisições (F&A) julgadas pelo Cade, entre 2000 e 2013, foi aplicado a quatro modelos econométricos do tipo Probit. Como resultado, tem-se, de forma genérica, que a política de controle de atos de concentração implantada pela autoridade de defesa econômica se opõe à participação do banco estatal em empresas. Especificamente, o estudo confirma que os grupos empresariais brasileiros têm maior probabilidade

JOSÉ ANTONIO B. M. ZIEBARTH Lecturer na Faculdade de Direito da Universidade de Melbourne, Austrália (Melbourne Law School).

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PRÊMIO ABDE-BID 2016

A China e seu Catching Up

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tura de demanda”: do consumo ao export-led até combinação entre export-led e investment-led; 5) constituição de um sistema nacional de fomento, com papel central dos bancos públicos no financiamento; 6) gradual e intenso processo de substituição de importações; e 7) política cambial e industrial ativas promotoras de exportações. A visão convencional do processo de desenvolvimento chinês em geral ressalta a abertura ao capital estrangeiro e a desregulamentação do mercado como fatores chaves deste processo e critica a presença de um amplo sistema financeiro público, empresas estatais em setores chave, amplos controles dos fluxos de capitais etc. Contudo, a experiência chinesa está longe do conjunto de políticas neoliberais conhecidas como Consenso de Washington, na medida em que a entrada de capital estrangeiro e a desregulamentação do mercado têm sido feitas de forma gradual e controlada pelo governo chinês, sendo que a relação entre Estado e mercado é crucial para entender o seu processo de desenvolvimento.

LUIZ FERNANDO DE PAULA Professor Titular da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE/UERJ).

ELIAS JABBOUR Professor Adjunto da FCE/UERJ. Fotos: ABDE

O desenvolvimento econômico da China é provavelmente o fato econômico mais importante do nosso tempo: a taxa média de crescimento do PIB real em 1980/2015 foi de 9,5% a.a., sendo que a renda per capita cresceu 36 vezes! Este processo foi acompanhado de uma elevada taxa de investimento, com média de 36,9% do PIB em 1982/2011, e desde 2013 a China é o país de maior volume de comércio exterior no mundo. Atualmente, sua economia é a 2ª maior do globo. O alcance e a longevidade do crescimento econômico chinês é uma demonstração clara de um vigoroso processo de catching up em curso desde a década de 1990, momento em que se entrecruzam três elementos: 1) os investimentos ultrapassam o consumo na formação de demanda agregada e alcançam patamares elevadíssimos; 2) o país passa a ser importador de petróleo (1993); e 3) acelera-se o processo de urbanização pari passu com o lançamento de amplos e audaciosos programas de conexão física de seu imenso território com vistas à formação de um mercado nacional unificado. Neste contexto, o “retorno aos clássicos do desenvolvimento” – Arthur Lewis, Alexander Gershenkron, Albert Hirshman e Raul Prebisch – se torna um imperativo para análises de processo de catching up, sendo este “retorno”, a nosso ver, necessário para abrir luzes à análise do processo de desenvolvimento chinês, que, quando devidamente consideradas as especificidades do caso em questão, permitem uma análise mais profunda do seu processo de desenvolvimento. Em contraponto a uma interpretação “etapista” do processo de crescimento do país asiático, o retorno aos clássicos do desenvolvimento permite-nos uma visão ampla e integrada de um processo histórico em que se combinam os seguintes elementos: 1) liberação de mão de obra do setor atrasado ao setor moderno, ensejando profunda mudança estrutural na economia chinesa; 2) planejamento econômico e papel ativo do Estado, que assume diferentes papéis ao longo do processo de desenvolvimento; 3) utilização plena das possibilidades do “desenvolvimento desequilibrado”, beneficiando o novo setor privado surgido ao longo das reformas econômicas; 4) capacidade do Estado em perceber necessidades de mudança na “estru-

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OPINIÃO

Travessia

RUMOS

um canal bloqueado: dois terços das empresas têm receita líquida menor do que os juros exigidos por suas dívidas! Em quase todos os setores, notadamente no setor industrial, persiste uma capacidade ociosa significativa, o que desestimula novos investimentos e, mais grave, aprofunda o atraso na incorporação de novas tecnologias. Terceiro, depende do aumento das exportações. A indústria nacional foi sucateada nos últimos trinta anos no altar da estabilidade monetária, desde que “sábios economistas” decidiram utilizar a taxa de câmbio como principal instrumento de controle da taxa de inflação. Trinta anos de erros consistentes impuseram ao setor industrial brasileiro, que já foi um dos mais sofisticados do mundo emergente: a) pesada tributação que incide inclusive nas exportações, porque os governos brasileiros sempre tergiversaram no “reintegra” e cobram imposto do importador alemão que consome sapato brasileiro; b) a maior taxa de juro real do universo que pesa demasiadamente nas cadeias produtivas mais longas. Assim se roubou ao longo dos anos a isonomia competitiva de que gozava a indústria quando nossas exportações de manufaturas cresciam mais do que as dos competidores mundiais. Há trinta anos, a ilusão do câmbio flutuante (que não existe a não ser nos livros-texto) serve mais ao sistema financeiro, que especula com “derivativos”, do que ao setor real da economia, que gera crescimento e empregos. Perdemos consciência de que as finanças devem servir o setor real da produção e não servir-se dele! Dados recentes sinalizam, felizmente, para uma resposta positiva das exportações industriais a uma taxa de câmbio competitiva.

ANTONIO DELFIM NETTO Marcelo Correa

Em pouco mais de seis meses na presidência, o governo de Michel Temer organizou uma espécie de parlamentarismo de ocasião e conseguiu reunir consenso político suficiente para aprovar no Congresso Nacional uma reforma constitucional que limitou o avanço das despesas primárias! A aprovação da reforma dá respaldo ao início do programa do governo que tem como objetivos a retomada da atividade econômica e a redução do desemprego. E significou um estímulo importante à política monetária do Banco Central para reconduzir a taxa de inflação à meta, em 2017. Assegurado o avanço do controle fiscal, a expectativa do controle da inflação melhorou um pouco mais com a confirmação da estimativa de aumento de 16% da safra agrícola 2016/2017. Destaques para feijão (30%), milho (31%), soja (11%) e mais arroz (12%) e algodão com 10%, o que significa abastecimento melhor e preços mais amigáveis para a alimentação dos brasileiros. E, de acordo com estimativa do Departamento de Agricultura dos EUA-USDA, para a safra mundial 2016/2017, aparentemente não haverá efeitos importantes nos preços internacionais daqueles produtos, que já cresceram 10% em dólares no último ano. A taxa de inflação na meta, graças ao controle fiscal, é o garante que a redução do juro real (que até agora não aconteceu) será consistente e terá efeito importante sobre as despesas com juros de nossa imensa dívida pública. De outro lado, a receita federal cresceu em janeiro de 2017 comparada à de 2016, em termos reais, o que talvez seja um sinal que o nível da atividade esteja mesmo começando a mover-se. A combinação dos dois efeitos mudará as expectativas sobre o quadro fiscal e aumentará a credibilidade dos programas do governo. De que depende, de fato, o crescimento consistente da atividade, condição preliminar para a redução do desemprego que ameaça a estabilidade social? Primeiro, depende do aumento dos investimentos em infraestrutura, o que exige que o governo suporte as ações das Agências Reguladoras, garantindo a integridade financeira dos contratos, cuja duração pode ser de 20 ou 30 anos, e que as concessões sejam feitas com leilões que obriguem os candidatos a “contar o que sabem e os governos não sabem”... Na área de óleo e gás, com a melhora na administração da Petrobras (cujo rating foi elevado pela S&P), as perspectivas são excelentes. Segundo, depende do estímulo ao setor privado, basicamente da disponibilidade de crédito e de taxa de juro real menor do que a do retorno do investimento. Infelizmente este é

Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

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Sagrilo

REPORTAGEM

Presente e futuro em transformação Depois de viver inúmeras remodelações ao longo das últimas cinco décadas, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo comemora seu cinquentenário com mais mudanças e o desejo de continuar como agente fundamental para a economia capixaba. Economias verde e criativa e Parcerias Público-Privadas ganham destaque na nova fase. POR JADER MORAES Reinvenção. A palavra utilizada em diversos momentos da história do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) é também o mote deste momento, em que a instituição financeira chega aos seus 50 anos. “O banco está se recriando. No que já somos referência, como a agricultura, vamos continuar apoiando; mas teremos também um olhar mais carinhoso para outras áreas, novos projetos, como economia verde, criativa, parcerias público-privadas... Temos muito o que fazer neste ano de 2017 e também nos próximos”, resume o diretor-presidente da instituição, Aroldo Natal Silva Filho. A história do Bandes, fundado em 1967, contempla pequenas e grandes transformações, que acompanharam o desenvolvimento do estado e o impulsionaram. No princípio, ainda na década de 1960, sua atuação esteve voltada princi12

palmente à área rural, com a estruturação do Plano de Diversificação Agrícola do Espírito Santo, destinado a apoiar novos segmentos agroindustriais e agrícolas que pudessem oferecer aos produtores rurais capixabas opções de produção alternativas à cafeicultura, que atravessava grave crise naquele momento. Depois, nas duas décadas seguintes, o banco se dedicou ao processo de reestruturação do setor industrial e de serviços do estado, contribuindo para formação de cadeias produtivas induzidas pelos setores industriais produtores de commodities – metalmecânica, química, logística e transportes – e pelo crescimento de regiões produtivas no interior. Nessa época, era operador de dois fundos robustos (Funres e Fundap), além de atuar com repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). JANEIRO | FEVEREIRO 2017


TRANSFORMAÇÕES Nos últimos dois anos, a instituição aprovou mudanças importantes: o lançamento das novas políticas operacionais, em 2015, e o Plano Estratégico 2017-2021, apresentado em 2016, que guiarão a instituição neste novo ciclo. Com isso, o Bandes renovou suas estratégias e criou mecanismos de apoio financeiro, ampliando o leque de setores a serem atendidos – além dos já citados programas voltados para a economia verde e economia criativa, também voltado a novas modalidades de apoio à inovação e à exportação e aos instrumentos de capital de risco para viabilizar projetos estratégicos. A diretora de Administração e Finanças, Denise de Moura Cadete Gazinelli Cruz, destacou o processo de construção de uma nova estratégia como fundamental para o futuro da instituição. “Ano passado, o banco precisou se repensar, olhando para o passado e o presente, mas já vislumbrando o futuro. Contratamos uma consultoria e pensamos em cinco projetos estruturantes, que passam por novas soluções financeiras, gestão de pessoas e presença digital, entre outros”, afirmou. Apesar da crise vivida pelo país nos últimos anos, o Espírito Santo não se encontra em situação de dificuldades fiscais comparáveis a outros estados brasileiros. Assim, o governo do estado fez recentes aportes na instituição que ajudaram a aumentar de forma significativa o capital financeiro do banco. De acordo com Denise, o Patrimônio Líquido do Bandes mais que triplicou nos últimos oito anos, passando de R$ 132 milhões em 2009 para os atuais R$ 470 milhões. Da mesma forma, a carteira de crédito da instituição saltou de R$ 370 milhões para mais de R$ 1,8 bilhão no mesmo espaço de tempo. No ano passado, especialmente, a instituição de desenvolvimento celebrou marcos importantes: passou a ser agente técnico e financeiro do Reflorestar, em parceria com o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, operacionalizando um fundo específico, com objetivo de promover a restauração do ciclo hidrológico por meio da conservação e recuperação da cobertura florestal; criou, a partir da contratação da Fundação Dom Cabral para realização de projetos estruturantes, a Gerência de Participações e Investimentos, para coordenar e executar as atividades relacionadas a novas soluções financeiras, como os Fundos RUMOS

Fotos: Ascom/Bandes

Nos últimos anos, a instituição vem se destacando, especialmente, pela operacionalização de programas de microcrédito rural e urbano, com o objetivo de apoiar pequenos empreendedores e contribuir para a democratização do crédito. “Desde sua criação, o banco cumpre um papel importante na economia capixaba, e, devido à própria dinâmica local, tem se reinventado inúmeras vezes: agora, se revigora para continuar a ter protagonismo no desenvolvimento econômico do nosso estado”, destaca o diretor-presidente, Aroldo Natal Silva Filho. O Nossocrédito, por exemplo, programa de microcrédito do Bandes, já atendeu mais de 140 mil empreendedores, com liberação total de R$ 640 milhões. “E estamos cada vez mais próximos das entidades representativas do setor produtivo, propondo soluções e ajudando a desenvolver novas cadeias de produção”, frisou o diretor de Crédito e Fomento, Everaldo Colodetti.

Jornal anuncia a criação da Companhia e Fundo de Desenvolvimento do Espírito Santo, que originaria o Bandes.

Edifício-sede do banco, em Vitória.

Diretor-presidente Aroldo Natal destaca o processo de renovação da instituição.

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de Investimento em Participações (FIPs) e Parcerias Público-Privadas (PPPs); e se tornou agente repassador do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE). POLÍTICAS Mais do que simplesmente um importante agente financeiro para o desenvolvimento local, o banco tem se esforçado para desempenhar um papel que está no cerne das instituições públicas de fomento em todo o mundo: ser um braço governamental para execução das políticas públicas definidas como prioritárias pelo estado. “Neste processo é muito importante a interação com outras secretarias e a integração com o planejamento do governo do estado, para ajudá-lo a responder aos desafios econômicos e sociais para desenvolver a região”, diz Denise. Funcionário do banco há 32 anos, o diretor Everaldo Colodetti destaca que a instituição sempre teve papel destacado, ao propor ferramentas e ser formulador de políticas que visam dar melhor dinâmica à economia do estado. Com a reconfiguração dos fundos que eram a principal fonte de recursos da organização, a forma de atuação se alterou, mas a instituição permaneceu com protagonismo no desenvolvimento da região. Ele acredita que hoje o banco atua como uma espécie de “incubadora do desenvolvimento”, incentivando aqueles projetos e empreendimentos que estão em fase embrionária, ainda carentes de apoio e com grande potencial de transformação da realidade local. “Nós não concorremos com os grandes bancos comerciais. Nossa missão é acreditar nos pequenos

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empreendimentos, fomentar esses projetos, criar novos negócios e trazê-los para o mercado. Temos que atuar como um banco de soluções, formulando novas políticas de desenvolvimento e atraindo a iniciativa privada para participar do processo de crescimento do estado”, acredita Colodetti. Nessa missão de fomentar a economia do estado, a instituição buscará aumentar sua presença junto aos municípios, em uma parceria que pode trazer benefícios diretos à população em serviços essenciais, como saúde, educação e saneamento. O diretor explica que são poucas as prefeituras que têm condições, neste momento, de investir recursos próprios, enquanto existem projetos nessas cidades que interessariam à iniciativa privada. “Vamos fazer essa articulação”, garante. O banco também está atento para que as grandes cadeias de produção – petróleo e gás, mineração, siderurgia e celulose – possam se difundir amplamente nos demais setores e regiões econômicas do estado. E com isso possibilitar que redes de fornecedores locais e segmentos econômicos se desenvolvam com o apoio de uma rede bem estruturada de C&T e de mecanismos adequados para a difusão de inovações entre pequenas e médias empresas capixabas. “Neste último ano, conseguimos reverter um momento ruim, arrumamos a casa, e vamos continuar fazendo o que sempre fizemos, que é apoiar o desenvolvimento do estado”, assegura o presidente Aroldo Natal.

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Elzinete Maretto Federici tinha apenas 17 anos quando entrou pela primeira vez no Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo. Jovem estagiária, passou por diferentes áreas, viu o banco e o estado mudarem, e hoje fala com orgulho da trajetória da instituição que a acolheu ainda nos tempos de escola. “Aqui foi o verdadeiro nascedouro do desenvolvimento capixaba. Impossível falar em desenvolvimento sem vincular com o Bandes”, declara, hoje com 61 anos. Ela é a funcionária que há mais tempo trabalha no banco. Entrou na instituição por meio de um sistema de seleção de estagiários de segundo grau e encontrou uma empresa que abrigava técnicos pesquisadores e formuladores dedicados a desenvolver grandes diagnósticos e estudos econômicos. “Tínhamos a melhor biblioteca de economia do estado”, lembra. Em sua primeira década no banco, Elzinete realizava apenas trabalhos administrativos, até que ingressou na carreira técnica em 1985, após concurso interno. Passou pelas áreas operacional, auditoria interna e planejamento, estando hoje na Gerência de Análise de Crédito. Dos primeiros tempos, recorda-se sobretudo da fase dos grandes projetos industriais, principalmente nas áreas de metalurgia, papel e celulose, pelotização

RUMOS

de minério de ferro, quando as exportações se ampliaram. Sobre a fase mais recentemente, explica que o banco está movimentando a economia do estado de outra forma, com apoio ao micro e pequeno empresário, em especial na área rural. “Muitos projetos de médio e grande porte que passaram por aqui trouxeram e ainda trazem bons resultados, pois o Espírito Santo era um estado de economia agrária, centrada na cafeicultura, com poucas indústrias. O Bandes teve papel fundamental na mudança deste cenário”, destaca a técnica. “A história do estado está intimamente ligada à história do Bandes nestes 50 anos”, repete.

Ascom/Bandes

Uma história em comum

Elzinete Maretto Federici, técnica bancária da Gerência de Análise de Crédito (Gecre).

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ARTIGO

Desigualdade e política social segundo governos brasileiros Como a desigualdade é retratada pelos governos brasileiros? E quais são seus diagnósticos e prognósticos quanto à política social? Apesar da heterogeneidade dos discursos dos governos mais recentes (1985 a 2016) e dos mais duradouros (anos Vargas), uma análise de seus enquadramentos da desigualdade e da política social torna nítida a recorrência de três pares de imagens difundidas: • Desigualdade como injustiça; política social como efetivação de direitos – perceptível desde os anos 1930, remonta à visão da efetivação de direitos como respostas contra a questão social; • Desigualdade como atraso; política social como modernização – par mais reiterado desde 1985, captado já nos anos 1950 e a favor de políticas econômicas e educacionais contra desigualdades; e • Desigualdade como dívida; política social como redistribuição – presente nos anos 1980, propõe reformas como agrária, previdenciária e tributária, além de programas de transferência de renda. Tal tipologia pode ser notada ainda a partir do contraste entre duas dimensões de análise (figura ao lado): num eixo, os polos são a maior universalização ou focalização da política antidesigualdade (com a imagem da injustiça no primeiro caso; e da dívida no segun16

do); no outro eixo, as imagens se dividem entre aquelas com ênfase maior em soluções via Estado (injustiça) ou mercado (atraso). As dicotomias universalização-focalização e Estado-mercado realçam as maiores diferenças e semelhanças naquelas imagens governamentais, bem como sublinham a falta, no discurso, de uma imagem que concilie políticas focais e ênfase no mercado (eis uma ausência que merece reflexões). A tipologia deriva de uma pesquisa de tese realizada no Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na qual foram analisados 12 discursos de posse, 39 Mensagens ao Congresso Nacional (relatórios anuais do Executivo) e outros discursos após a volta à democracia (1985-2016) e nos governos de Getúlio Vargas (1930-45/51-54) – estes são úteis contrapontos àqueles devido à reconhecida centralidade da questão social na retórica varguista. Três elementos usados para captar as imagens foram: (a) diagnósticos da desigualdade; (b) seus prognósticos; e (c) papel da política social. INJUSTIÇA/EFETIVAÇÃO DE DIREITOS – Diagnósticos: foram enquadradas como injustas as desigualdades de classe, até 1945, categoria profissional (ambas só nos anos Vargas) e, desde 1985, aquelas por região, renda e – após Fernando Henrique Cardoso – raça. As desigualdades referidas por Vargas foram atribuídas à desorganização do trabalho (e menos ao individualismo, industrialização e superpopulação). Outras causas mais re-

Imagens da desigualdade/política social, por graus de focalização e estatização Universalização

Focalização

Estado Injustiça/efetivação de direitos

Mercado

Atraso/modernização

Dívida/redistribuição

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centemente citadas foram a ação das elites (Itamar), desfocalização do gasto social (Cardoso), história (Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva) e falta de proteção social (Dilma Rousseff ). – Prognósticos: há menções a males sociais (todos os governos), males políticos, declaradamente à democracia (sobretudo Itamar e Cardoso), e econômicos (principalmente Cardoso e Dilma). Sob Vargas, sobretudo, os males sociais incluíram o êxodo rural e a marginalização. Os governos Sarney e Itamar ressaltaram a insegurança; e Lula, a discriminação. A efetivação de direitos é o prognóstico típico dessa imagem, presente na defesa de mais leis trabalhistas (Vargas), novos benefícios (Sarney), segurança alimentar (Itamar), benefícios para os trabalhadores, focalização e ações afirmativas (Cardoso) e valorização do salário mínimo, distribuição de alimentos, benefícios para os mais pobres e legislação por igualdade racial (Lula e Dilma). – Papel da política social: justiça. Efetivar direitos teve, nos anos Vargas, a meta de organizar relações de trabalho e, desde 1985, obter mais democracia ou cidadania (todos os governos), mitigar males como fome e miséria; e, a partir de Lula, fortalecer o mercado.

RUMOS

MARIO LUIS GRANGEIA

Acervo Pessoal

ATRASO/MODERNIZAÇÃO – Diagnósticos: com início no 3º governo Vargas (1951-54), atribui as desigualdades de renda, oportunidade e região a uma modernização não atingida por todos. Dado seu efeito concentrador de renda, a inflação é muito responsabilizada por ela (algo mais raro na imagem da injustiça). Há constante correlação entre políticas econômica e social e se atribui a desigualdade ao sistema educacional, principalmente nos governos de Vargas, Sarney – que viu a dívida externa como agravante –, Cardoso e Lula. – Prognósticos: foi reiterada a necessidade de o governo intervir na economia, contra a inflação e pró-geração de empregos, e na educação, para qualificar mais a população. O impacto do crescimento econômico na miséria e desigualdade foi acentuado sobretudo por Vargas, Sarney e Lula, enquanto Collor e Cardoso ressaltaram a adoção de políticas econômicas com sacrifício e Itamar criticou a espera pelo crescimento da riqueza para só então distribuí-la. Dilma defendeu o que definiu como novo modelo de desenvolvimento. – Papel da política social: modernização, a se alcançar por meio de políticas econômicas e educacionais. O desenvolvimento econômico e a democracia eram considerados requisitos ao fim de desigualdades enquadradas como atrasos. O combate à pobreza e a estabilidade da economia foram correntemente articulados nos discursos dos mais diferentes governos.

DÍVIDA/REDISTRIBUIÇÃO – Diagnósticos: ausente nos anos Vargas, tal imagem costumou ser associada à desigualdade de renda (foi raro o olhar à desigualdade de gênero como uma dívida; outras desigualdades foram enquadradas usando as imagens anteriores). Além das causas expostas antes, acrescenta-se aqui a negligência de governos anteriores e regressividade do sistema tributário (pelos governos Cardoso e Lula, que também indicaram a transferência de renda como avanço da focalização). – Prognósticos: discursos igualitaristas dos governos Sarney, Cardoso, Lula e Dilma foram favoráveis a duas formas de ações redistributivas: reformas agrária, tributária e previdenciária (pautas mais destacadas pelos dois primeiros) e programas de transferência condicionada de renda (mais entre os dois governos mais recentes). Embora pautada por Cardoso, a focalização do gasto social só foi mais relacionada ao sucesso dos programas sociais nos governos seguintes. – Papel da política social: redistribuição, mais frisada por seu efeito corretivo de reduzir as desigualdades do presente (em oposição à redistribuição preventiva, que busca a equidade via serviços sociais e instrumentos não fiscais). A meta é transferir recursos, como terras e auxílios financeiros, para equiparar as condições de vida de certos grupos às dos outros. Apontar que uma série de governos no Brasil enquadrou desses três modos a desigualdade e a política social atesta quão fecundo pode ser estudar a criação e disputa de significados oficiais adotando a perspectiva dos enquadramentos. Esta análise trouxe novos subsídios a reflexões sobre o papel do Estado e cidadãos frente à desigualdade, questão persistente na agenda global e que, no Brasil, é mais usualmente estudada com foco na distribuição de renda e perfil da estratificação.

Doutor em sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e analista de comunicação social do Ministério Público Federal. É autor de Brasil: Cazuza, Renato Russo e a transição democrática (Civilização Brasileira, 2016).

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Divulgação BDMG

REPORTAGEM

Um olhar sobre o outro Programa de Pró-Equidade do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) promove novos parâmetros para as relações de trabalho, que geram ganhos interpessoais para a sociedade. POR DANILE REBOUÇAS

Um ambiente de trabalho onde mulheres e homens são tratados da mesma forma, sem distinções por conta da raça, orientação sexual ou deficiência física. Este é o clima que o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) preserva em suas relações e no dia a dia da instituição. Para reforçar ainda mais essa atitude, em abril de 2016, o banco aderiu ao programa Pró-Equidade de Gênero e Raça do governo federal. Voltado para empresas e instituições de médio e grande porte dos setores públicos e privados, o programa contribui na promoção da igualdade. “O Pró-Equidade está alinhado ao conceito de desenvolvimento que orienta todas as estratégias do BDMG: muito mais amplo do que apenas estimular negócios, geração de empregos e empresas”, afirma o presidente do BDMG Marco Aurélio Crocco. E acrescenta: “O desenvolvimento que buscamos perpassa o da cultura, da inclusão, da construção de tolerância e da capacidade de aceitar diferenças. São essas posturas que trabalhamos para implementar no ban18

co e, por meio dos funcionários e da participação de representantes de diversos setores da sociedade, gerar a equidade de fato”. Com esse propósito, o BDMG pautou ações, para 2016 e 2017, em quatro eixos: transexualidade, raça, pessoas com deficiência e o gênero feminino nas relações de trabalho. Em 2016, foram promovidos ciclos de debates, com sensibilização do público interno e externo, e mudanças de comportamento já são perceptíveis. A gerente geral de Gestão de Pessoas e presidente da Comissão Pró-Equidade do banco, Maria Isabel de Camargos, explica que os eixos escolhidos visam fornecer uma matriz para abordar a promoção da igualdade no âmbito das relações trabalhistas e mitigar a discriminação existente no mercado de trabalho. “A expectativa é de que se amplie a consciência a respeito das questões de gênero, raça e pessoas com deficiência, que permeiam as diferenciações sociais de papéis e comportamentos. Assim, espeJANEIRO | FEVEREIRO 2017


ra-se contribuir, em termos gerais, para a construção de uma sociedade mais justa; e, em termos específicos, para a ampliação e distribuição igualitária de oportunidades de trabalho”, ressalta. O BDMG, como instituição financeira, tem como missão promover o “desenvolvimento socioeconômico sustentável e competitivo de Minas Gerais, com geração de mais e melhores empregos e redução das desigualdades”. A adoção do Programa Pró-equidade gera discussão interna e na sociedade, com temas que promovem o desenvolvimento com inclusão. Após investir na capacitação dos membros da Comissão Pró-Equidade, com discussões das temáticas inclusivas e treinamentos, a instituição começou a atuar no Eixo Cultura Organizacional. Para isso, fomentou debates sobre gênero, raça/cor/etnia e desigualdade social. Em agosto de 2016, houve um evento, aberto ao público, de lançamento do programa Pró-Equidade BDMG. Em seguida, a instituição promoveu o primeiro Ciclo de Debates, com o tema “Visibilidade Trans”. Em novembro, em referência ao dia da Consciência Negra, realizou uma roda de conversa sobre “População Negra, Mercado de Trabalho e Conjuntura Política Atual” com militantes do movimento negro. Entre as ações, o banco já ampliou a licença paternidade para 20 dias e foi aprovado em 24 de janeiro, pela Diretoria Executiva, a norma interna que regulamenta o reconhecimento do nome social das pessoas transgênero e travestis. A presidente da Comissão Pró-Equidade informa ainda que a instituição trabalha na adaptação dos sistemas do banco para adequação à utilização do nome social, na elaboração de pesquisa para diagnóstico de discriminação de gênero, raça e condição socioeconômica. “O programa está realmente mudando e inovando as relações de trabalho internas, na medida em que reafirmamos o compromisso de promover o desenvolvimento com inclusão”, destaca Maria Isabel. SELEÇÃO O programa de seleção de estagiários da instituição também passou por mudanças, com incentivo e critérios de escolha alinhados com o Pró-Equidade. Atualmente, 44% dos estagiários são negros e em fevereiro deste ano, o BDMG receberá o primeiro estagiário trans, já aprovado em processo seletivo. Na seleção para servidores, que se dá por concurso público, o banco estuda a possibilidade de adotar cotas para pessoas negras/pardas ou indígenas. A instituição, como as demais públicas, já oferta vagas para pessoas com deficiência. “Por isso, estamos trabalhando o recorte de gênero, cor/ raça/etnia na seleção de estagiários. É aí que podemos trabalhar, dando a oportunidade de contratação destas ‘minorias’”, comenta a gerente Maria Isabel de Camargos. A analista de desenvolvimento Édilla Marice Gonçalves Fernandes é negra e está há cinco anos na instituição. Ela ingressou por concurso público, sem reserva de vagas, e apoia a campanha Pró-Equidade. Édilla relata que percebeu que houve uma abertura para discussão, para tentar entender o lado do outro, após a adesão ao programa. “Essa abertura, mesmo que pareça pequena, na verdade já é um passo primordial para futura mudança de comportamento. Eu acho que é um privilégio trabalhar em um local que está atento à realidade brasileira, e quer ter dentro da instituição uma RUMOS

representação da diversidade na qual estamos imersos”, afirma. Édilla conta que nunca sofreu discriminação na vida profissional por ser negra. “Creio que pelo meu pai – negro e de origem miserável – ter me educado sempre falando que ‘na ponta do lápis todos somos iguais’, nunca deixei que minha cor de pele determinasse quem eu seria academicamente/profissionalmente”, comenta a servidora, que tem formação em engenharia elétrica. Mas Édilla lembra que já sofreu, no passado, retaliação de gerente, que não era seu superior, por ser mulher, com gritos e cobranças não devidas. “Infelizmente acredito que esse fato ocorreu porque não havia homem algum no momento por perto que inibisse esse comportamento agressivo – é triste a necessidade de ter homens ao nosso redor para inibir atos como esse. No entanto, o caso foi resolvido de maneira sábia dentro da empresa”, diz. No que depender do BDMG, situações como essa nunca irão acontecer dentro da instituição. “Estamos só começando, com muito trabalho pela frente. Estamos atentos e combatendo todas as formas de discriminação e intolerância no ambiente de trabalho. É uma tarefa árdua e muitas vezes com passos de formiga (como disse o poeta)”, ressalta a presidente da Comissão Pró-Equidade. PERSPECTIVAS Para 2017, já estão programados novos ciclos para abordar as relações raciais, pessoas com deficiência e o feminino, com ampliação das discussões internas e a participação da comunidade. Em março será iniciada uma campanha interna sobre prevenção de assédio às mulheres no ambiente de trabalho. A ação inclui palestras e debates sobre o papel da mulher na empresa, em casa e na sociedade. “É muito gratificante poder promover estas discussões em um banco, ter a consciência de que a inclusão não é um benefício, e sim a devolução de um direito da pessoa que lhe foi subtraído. Temos a certeza de que colheremos muitos frutos a partir de 2017”, comemora a gerente Maria Isabel de Camargos. O presidente do BDMG, Marco Aurélio Crocco, ratifica que as perspectivas para 2017 são positivas. “No âmbito estadual, outras instituições de Minas Gerais implementam o programa e estamos atuando em parceria. Tenho perspectiva de que a troca de aprendizado pode contribuir com novas políticas públicas, focadas na equidade no ambiente corporativo”, afirma. 19


Noel Joaquim Faiad

REPORTAGEM CAPA

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ADMIRÁVEL MUNDO NOVO A geração atual tem o privilégio de acompanhar a nova revolução industrial, sem, necessariamente, ficar surpresa com o que virá. A Indústria 4.0 ou a Manufatura Avançada, como queiram chamar, já faz parte do nosso dia a dia. O futuro está a nossa frente! POR CARMEN NERY

No estudo “Indústria 4.0 – Ecossistemas industriais explorando corporações conectadas mundialmente” a consultoria Deloitte mostra como o casamento de técnicas avançadas de fabricação com as inovações em tecnologia da informação, dados e análise está conduzindo a uma nova revolução industrial. Esta era convida líderes de fabricação a combinar tecnologia de informação (TI) e tecnologia de operações (TO) para criar valor de novas e diferentes maneiras. Trata-se da Industria 4.0, como cunharam os alemães; Manufatura Avançada ou Internet Industrial das Coisas, como preferem os americanos; ou Indústria do Futuro, na visão dos franceses. O estudo aponta que a Indústria 4.0 conecta tecnologias e processos de produção inteligentes para abrir caminho para uma nova era tecnológica. Esse momento transformará radicalmente as cadeias de valor da indústria e da produção, criando novos modelos de negócios com fabricação customizada em escala industrial, no chamado paradoxo da massificação da customização. Paulo Ossamu, diretor-executivo de Estratégia de Tecnologia na Accenture Strategy, explica mais o fenômeno. Ele seria fruto de uma combinação de fatores de evolução das tecnologias da informação e comunicação (TIC) que semearam o solo fértil para a configuração do que já se considera a quarta revolução industrial, após a primeira revolução com a máquina a vapor do final do século XVIII; a segunda, com a produção em série, a partir do século XIX, e a terceira, com a automação iniciada nos anos 1980. A Quarta Revolução Industrial, mote do Fórum Econômico Mundial em 2016, nasce a partir da digitalização que ganhou força no final dos anos 2000. Desde então, nunca houve tanta informação disponível, o custo de armazenamento nunca esteve tão baixo, a capacidade de processamento passou a ser praticamente ilimitada com a computação na nuvem e o número de dispositivos conectados cresce exponencialmente, seja em função da mobilidade com a expansão da telefonia móvel, seja pela disseminação dos sensores, que RUMOS

conectam objetos e máquinas na chamada Internet das Coisas (IoT). “Esse efeito combinatório e as novas tecnologias aplicadas na indústria estão revolucionando a produção e o suplay chain (cadeia logística) hoje totalmente integrados a fábricas autônomas, com pedidos convertidos no processo de produção e produtos altamente customizados de forma industrializada. O melhor exemplo, que tem sido aplicado cada vez mais, são os conceitos de inteligência artificial e machine learning, em que a máquina autoaprende, entende padrões e otimiza processos industriais”, explica Ossamu. Ele cita a Siemens Lights Out, fábrica da companhia alemã com planta totalmente automatizada, que roda apagada e sem supervisão, usando conceitos de inteligência artificial, integração industrial, produção flexível, digitalização e automação. Outra quebra de paradigma é a primeira loja física da Amazon, que criou um estabelecimento sem check out. “Na Amazon Go, os produtos são retirados das prateleiras e a pessoa já sai da loja com tudo pago automaticamente. Cada vez mais, também teremos carros autônomos”, vislumbra Ossamu. Essa revolução industrial tecnológica tem em sua liderança duas grandes potências industriais: a Alemanha e os Estados Unidos (EUA). O estudo da Deloitte aponta que a definição de Indústria 4.0 foi introduzida pela primeira vez em 2011, na feira de Hannover Messe e foi objeto de um grupo de trabalho criado pelo governo federal alemão. A Germany Trade & Invest (GTAI), a agência de desenvolvimento econômico da Alemanha, a definiu como: “Uma mudança de paradigma tornada possível por avanços tecnológicos que constituem uma inversão da lógica do processo de produção 21


convencional. Simplificando, isto significa que a maquinaria de produção industrial não mais simplesmente ‘processa’ o produto, mas que o produto se comunica com a máquina para dizer exatamente o que fazer”. Já o termo manufatura avançada surgiu nos EUA como uma iniciativa do governo Barak Obama (Advanced Manufacturing Iniciative), que canalizou um investimento inicial de US$ 1 bilhão, ao mobilizar uma série de institutos regionais para a criação da rede de inovação – National Network for Manufacturing Innovation (NNMI). O objetivo foi criar plataformas de indução de cada um dos elementos considerados essenciais para implementação da Manufatura Avançada. Entres eles estão manufatura aditiva (impressão 3D), internet das coisas, machine learning, novos materiais, semicondutores etc. Os institutos atuam com hubs (centros de conexão), desenvolvendo pesquisas para empresas privadas e projetos num modelo de parcerias público-privadas, sempre associadas a uma ponta de demanda como a defesa, a saúde ou a energia. DISPUTA Indústria 4.0 e Manufatura Avançada também têm condicionantes de economia política e até geopolítica – constituindo-se num conjunto de políticas visando a retomada da primazia industrial em um ambiente de acirrada concorrência global. Para João Furtado, professor de economia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e especialista em política industrial e políticas de ciência e tecnologia, a Industria 4.0 e a Manufatura Avançada são a resposta do Ocidente à ameaça industrial asiática, não apenas chinesa, mas especialmente a chinesa. “Essa é uma primeira dimensão da questão, na qual Estados Unidos e Alemanha compartilham o mesmo interesse de que a Manufatura Avançada e a Indústria 4.0 representam uma forma de anular ou reduzir as vantagens chinesas em escala de produção e custo de trabalho”, define Furtado. Mas os dois países divergem na segunda dimensão, que é a importância das chamadas empresas do mundo digital – como Google, Facebook, Uber, Apple, Amazon. São empresas que permitem o deslocamento do comando das cadeias industriais para a ponta onde justamente estão as empresas do mundo digital. Furtado observa que essas companhias têm uma enorme capacidade de estar próximas dos clientes e de compreender suas demandas e, assim, colocarem as empresas industriais numa posição de menor autonomia. “É nessa dimensão que as estratégias da Alemanha e EUA são diferentes. A Alemanha tem poucas empresas relevantes do mundo digital, enquanto os EUA são o berço delas. Uma empresa como o Google diz que vai fazer um carro autônomo. Um carro autônomo de uma empresa do mundo digital é uma ameaça poderosa às empresas automobilísticas tradicionais. O Uber vale tanto quanto as montadoras Ford e a General Motors, que são empresas centenárias”, diz Furtado. 22

A capacidade das empresas do mundo digital criarem valor, com base em uma virtualidade de uma prestação de serviços que não está associada a uma capacidade produtiva, é uma enorme ameaça para as empresas do setor industrial.

Ele observa que essa capacidade das empresas do mundo digital criarem valor, com base em uma virtualidade de uma prestação de serviços que não está associada a uma capacidade produtiva, é uma enorme ameaça para as empresas do setor industrial. Do ponto de vista de estratégia nacional, a Alemanha vê o modelo comandado pelas empresas do mundo digital como uma grande ameaça; e os EUA, como uma oportunidade. “Em qualquer um dos casos, a nossa avaliação é de que ambos serão vencedores, e a China e os países em desenvolvimento serão os grandes perdedores. Os EUA têm um déficit de US$ 300 bilhões em comércio de manufaturados com a China. A partir do momento em que a manufatura avançada vai devolver a produção para o território do consumo, esse montante deixará de ser produzido na China para atender os EUA, e passará a ser produzido pelos norte-americanos em lojas que fabricam produtos customizados sob demanda. Um exemplo é o protótipo da loja da Adidas integrada a uma fábrica”, diz Furtado. O professor argumenta que o fato de a China ter empresas de alta tecnologia não resolve o problema de os grandes mercados desenvolvidos para produtos sofisticados para demandas individualizadas estarem nos países mais ricos, pois a Indústria 4.0 combina despesas de produção baixos com altos níveis de customização de produtos. Sem acesso a esses mercados sofisticados, a China ficará ainda mais agressiva nos demais mercados, o que afetará diretamente o Brasil. JANEIRO | FEVEREIRO 2017


“O Brasil vai sofrer um impacto tremendo pelo fato de que a perda dos mercados dos países desenvolvidos pelas empresas chinesas vai intensificar a competição em todos os outros mercados de nações em desenvolvimento em função do modelo chinês de produção em massa”, diz Furtado. Ele explica que, por mais que a China anuncie que também vá investir em Indústria 4.0, isso não depende apenas de um desejo e sim de uma construção que está ligada às características evoluídas do mercado de consumo. “É preciso construir produtos customizados, porque os consumidores são sofisticados. Em mercados em que o preço continua sendo determinante como fator de compra, a produção em larga escala vai continuar sendo a forma razoável de se produzir e vender”, analisa Furtado.

Casp

PREPARAÇÃO BRASILEIRA Esses cenários vêm sendo estudados há pelo menos três anos pelo governo brasileiro, que mantém uma agenda bastante atualizada com o que está sendo discutido em todo o mundo. Ainda que com um pouco de atraso em relação aos países desenvolvidos, o governo já prepara uma Estratégia Nacional de Manufatura Avançada prevista para ser anunciada ainda este ano. O embrião foi a criação, em 2014, da Câmara de Internet das Coisas, que resultou, no final de 2015, na formação do Grupo de Trabalho de Manufatura Avançada. O grupo é capitaneado pelos Ministérios de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) e de Desenvolvimento Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), além de contar com a participação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), do CNPq, do BNDES, da Finep, da Embrapii e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), representando o setor privado. Jorge Mário Campagnolo, diretor do departamento de políticas e programas de apoio à inovação e secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, diz que um dos objetivos iniciais foi avaliar o estágio atual da manufatura no país. Para isso, ao longo de 2016 foram realizados sete workshops em diferentes capitais – Brasília, Belo Hori-

zonte, São Paulo, Florianópolis, Rio de Janeiro, Recife e Salvador – com especialistas do setor empresarial, empresas, academia e técnicos do governo e consultores. Em novembro passado, em Brasília, foram apresentados os resultados desse diagnóstico enfocando os principais gargalos e os desafios nas áreas de recursos humanos, infraestrutura, regulação e legislação. O secretário diz que uma das questões levantadas é se estamos formando pessoas capazes de lidar com a indústria do futuro, se os professores não terão de passar por uma reciclagem ou mesmo se os gestores não precisarão se atualizar. “Essa nova indústria é totalmente baseada em novas tecnologias, em que o virtual trabalha como o real. Será que as relações de trabalho que temos hoje são condizentes com o que as indústrias desse tipo vão demandar? Será que não precisaremos requalificar nossos profissionais e os próprios gestores? Também temos de definir padrões de interoperabilidade. Será que nossa infraestrutura é eficiente?”, questiona o secretário do MCTIC. Como benchmark internacional, o grupo de trabalho avaliou seis países: EUA, Alemanha, China, Coreia, Japão e França. Marcos Vinícius de Souza, secretário de inovação e novos negócios do MDIC, diz que os primeiros objetivos eram compreender o que estava acontecendo de Manufatura Avançada

A Alemanha é uma das líderes da revolução industrial tecnológica em curso.

RUMOS

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no mundo e tentar identificar quais os impactos que teriam num país como o Brasil. O grande desafio é que o assunto é discutido amplamente, mas com os planos já sendo implementados pelos países desenvolvidos. “Uma das estratégias principais desses países é usar a Manufatura Avançada para atrair de volta indústrias que eles perderam para países em desenvolvimento, como a China e o Brasil”, destaca Souza. Ele explica que esse movimento, conhecido como reshoring, vai ter um impacto muito grande em países em desenvolvimento. Isso porque grandes cadeias de produção em massa, hoje localizadas na China ou no Brasil e em outros países emergentes, poderiam estar mais perto dos consumidores em países de economia avançada, exigindo menos trabalhadores porque as plantas serão todas automatizadas e conectadas e com a capacidade de realizar a customização de produtos em massa. “Isso até pouco tempo era um paradoxo, mas, com a Manufatura Avançada, é possível o consumidor criar o produto do jeito que ele quer e receber o mais rápido possível na sua residência. Para isso, não será mais preciso ter grandes produções globais na China com produtos iguaizinhos”, observa Souza. Mas ele ressalva que, antes, é preciso saber quando tudo isso vai acontecer, lembrando que essas tecnologias de robótica autônoma, inteligência artificial, impressão 3D, big data, já começam a ganhar atração, mas ainda não se sabe quando o custo estaria reduzido o suficiente para compensar trocar pessoas por tecnologia. “Hoje a maioria não está. O reshoring implica em risco mas também abre oportunidades”, defende o secretário. Otimista, ele cita análises de relatórios de bancos de investimento e consultorias apontando que os países em desenvolvimento vão puxar a demanda mundial de consumo nas próximas décadas, principalmente em função do aumento da classe média. Para ele, a questão do tamanho de mercado desses países pode lhes conferir poder de barganha sobre onde serão produzidos os produtos, um poder maior até do que se tem hoje. NOVAS FRENTES Uma das iniciativas em curso é a Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII), criada em agosto de 2016 replicando o modelo norte-americano do Industrial Internet Consortium (IIC). O consórcio foi criado em março de 2014 por líderes de indústria dos EUA, como a General Eletric e a IBM. O objetivo é reunir as organizações, líderes de mercado verticais, pesquisadores, universidades e organizações governamentais para padronizar tecnologias necessárias a fim de acelerar o crescimento da internet industrial. José Rizzo, presidente da ABII, informa que a entidade já tem uma relação com o IIC para aproveitar as melhores práticas globais. “A diferença do modelo americano para o alemão é que ele vem sendo liderado pelo setor privado. O IIC já conta com 300 empresas associadas e, enquanto o governo alemão vislumbra a Indústria 4.0 com o modelo de produção do futuro, as empresas americanas chegaram à conclusão de que todas as tecnologias já estão disponíveis e já é possível implementar o futuro. Para isso, basta promover a convergência da tecnologia da informação (TI) com a tecnologia de operações (TO) do chão de fábrica”, diz Rizzo. Bruno Jorge Soares, coordenador de Indústria de Alto Impacto na ABDI, afirma que cada vez mais surgirão novos negócios inspirados nos modelos de software como serviço. Ele observa que a Alemanha tem como tradição ser a principal produtora de bens de capital. Hoje, porém, está escalando para um modelo que inclui a agregação de uma camada de software (um programa acoplado) e de serviços. Ele cita o exemplo de uma fabricante de robôs alemã que vende robôs solda. A empresa se prepara para, no futuro, não mais vender nem alugar o robô e sim comercializar pontos de solda. “A empresa vai transformar uma venda episódica de uma máquina num modelo de receitas recorrentes. Essa fabricante alemã hoje produz o hardware, colocará uma camada de software que está na nuvem e oferecerá quantos pontos de solda o cliente quiser, 24

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RUMOS

FreePik

PRODUTOS E NEGÓCIOS Outro aspecto é que as novas tecnologias vão permitir o surgimento de novos modelos de negócios. Com tecnologias baratas e acessíveis, reduzem-se barreiras de entrada para startups e abrem-se oportunidades para empresas brasileiras, chinesas, indianas entrarem nos mercados desenvolvidos oferecendo produtos ou serviços especificamente para esses mercados, já que o custo do software e equipamentos de produção 3D serão reduzidos. “Isso é uma quebra de barreira incrível, pois hoje para entrar no mercado industrial é necessário um grande custo de capital. Se conseguirem usar esse bem de capital como serviço, a parte de criatividade e inovação é o que vai ser mais importante, bastando mandar o projeto para uma impressora 3D e produzir sob encomenda como se fosse serviço. Isso é uma oportunidade”, acredita o secretário do MDIC, Marcos Vinicius de Souza. Ele informa que o grupo de trabalho de Manufatura Avançada avaliou cinco vertentes que seriam impactadas pela Indústria 4.0 e que deveriam ganhar atenção da política pública que será elaborada na Estratégia Nacional de Manufatura Avançada a ser anunciada este ano. A primeira é a de tecnologia. Com base nas novas tecnologias – de sensores, robótica autônoma, IoT, big data –, a ideia é levantar qual a competência do Brasil em nichos tecnológicos e quais seriam as tecnologias prioritárias. “Agora estamos na fase de quantificar a capacidade da academia e do setor privado no domínio de cada uma das tecnologias. Se identificarmos nichos nos quais o país tenha competência para desenvolver tecnologia a curto e médio prazos, poderemos direcionar o investimento público. Para as que não temos, ou vamos demorar muito tempo para alcançar, simplesmente vamos facilitar a aquisição”, explica Souza. O segundo ponto é quais cadeias produtivas ou setores serão mais impactados por esse novo modelo de produção. Tanto aquelas que serão seriamente afetadas e precisam se preparar porque não têm competitividade; quanto aquelas que têm capacidade de puxar o desenvolvimento tecnológico a exemplo do agronegócio e dos setores de saúde, óleo e gás e logística. O terceiro aspecto diz respeito aos recursos humanos. A ideia é avaliar quais as habilidades e competências os trabalhadores deverão ter, desde os profissionais do chão de fábrica até a alta gestão e os pós-doutorados. O secretário diz que uma das abordagens necessárias para o trabalhador do futuro é o domínio de habilidades socioemocionais, de acordo com o que foi apontado tanto nos workshops realizados pelo grupo de trabalho quanto nos promovidos pelo Fórum Econômico Mundial.

“Nos próximos 10 anos, 40% das profissões ainda vão surgir. Com base nisso, é preciso um conjunto de competências em que a parte técnica acaba não sendo a mais importante – porque essas funções serão realizadas por tecnologia –, e sim as socioemocionais: criatividade, trabalho em equipe, resolução de problemas, resiliência, comunicação”, prevê. O quarto ponto é a infraestrutura, em que a principal é a banda larga e a ultrabanda larga. Uma das características da nova era produtiva é que as fábricas e os sistemas de produção são todos conectados por meio de redes de internet e para ter segurança e disponibilidade, a rede precisa ser confiável. “Outro tipo de infraestrutura é o parque tecnológico de universidades, institutos e centros de pesquisa públicos e privados e as plantas industriais”, acrescenta. A quinta área é de regulação e legislação, entre as quais a legislação trabalhista e a lei de proteção de dados pessoais. Souza destaca que um dos aspectos são os padrões de interoperabilidade. Uma das grandes vantagens da nova revolução é a conexão entre máquinas, mas, para isso, os equipamentos de diferentes fabricantes precisam se comunicar. O ideal é que o Brasil não adote nenhum padrão nacional e sim padrões globais. “A questão é que esses padrões ainda estão sendo discutidos e o importante é que o Brasil participe dessas discussões desde o início. E vale lembrar que essas discussões ocorrem na área privada. Grandes consórcios de empresas estão se reunindo e é importante que o país saiba o que quer e como pode influenciar esses padrões, para não ser pego de surpresa”, recomenta Souza.

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financiamento para projetos ligados à inovação. No início de janeiro, o banco anunciou as novas políticas operacionais, reforçando ainda mais a importância da inovação nas linhas de financiamento. “O banco reviu algumas prioridades dentro das políticas operacionais, e a linha de inovação, de forma transversal para todos os setores, foi mantida com as melhores condições do banco. São projetos que terão o maior percentual possível em TJLP, até 80%. Isso é válido tanto para inovação de produto quanto de processo”, informa Daniel Silveira Barreto, gerente do departamento de bens de capital, da superintendência de indústrias de base do BNDES. Trata-se de uma estratégia para estimular a instalação de plantas mais atualizadas e a modernização das já existentes com troca de máquinas antigas por equipamentos mais inteligentes e eficientes. Barreto explica que o parque fabril brasileiro é muito antigo. Na sua avaliação não estaríamos ainda nem na Indústria 3.0. “São poucos os segmentos com microeletrônica embarcada. Ainda temos de fazer um esforço para tentar modernizar o parque fabril. Ao mesmo tempo, temos de incentivar a indústria de bens de capital a desenvolver máquinas da Indústria 4.0”, sinaliza Barreto. Para Bruno Gomes, diretor de Inovação do Sistema Firjan, mais importante que chegar na nova era da indústria, é preciso criar uma trajetória para a 2.0, a 3.0 e a 4.0. Ele observa que os setores inFreePik

num modelo de manufatura como um serviço. Todas as empresas de hardware alemãs, como a Siemens e a Bosch, estão colocando uma camada de software para oferecer um hardware inteligente”, resume Soares. Para ampliar a participação da indústria e demais consultores e especialistas que não participaram dos workshops realizados em 2016, o Grupo de Trabalho de Manufatura Avançada lançou uma consulta pública com o resultado do trabalho elaborado a partir dos encontros. O resultado das contribuições obtidas durante a consulta pública será adicionado ao dos workshops e somado a outros estudos em elaboração pela ABDI e o BNDES. “Um dos novos estudos foi contratado pelo BNDES para a implementação do Plano Nacional de Internet das Coisas, no qual solicitamos a inclusão da manufatura avançada com uma das verticais a serem analisadas. Estamos com muito cuidado para ter uma tomada de decisão com base em evidências, cenários e comparações internacionais, no impacto que teria no país e como o Brasil deveria reagir. Nos setores que definirmos como prioritários, teremos um grande volume de recursos, evitando pulverização”, sinaliza Santos O Plano Nacional de Internet das Coisas, outra grande iniciativa do governo ao lado da Estratégia Nacional de Manufatura Avançada, terá a primeira minuta apresentada em fevereiro, no Mobile World Congress, em Barcelona, a partir de estudo encomendado pelo BNDES ao consórcio formado pela consultoria Mckinsey, pela Fundação CPqD e o Escritório Pereira Neto Macedo. O plano esteve em consulta pública de 12 de dezembro a 16 de janeiro, e será desenvolvido em três etapas, com conclusão prevista para agosto. O BNDES também deverá oferecer condições especiais de

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dustriais vêm absorvendo as tecnologias de forma diferente. Enquanto a indústria automobilística já está na 4.0 no mundo todo. A indústria de móveis no país ainda é artesanal. “O Brasil ainda está migrando da Indústria 2.0 para a 3.0, pois ainda não atingiu a automação. Então pensar na indústria 4.0 com digitalização, prototipagem virtual, é um cenário distante, uma vez que ainda não automatizamos o parque. Temos de definir setores em que queremos investir e criar uma política de incentivos para sermos usuários ou produtores de tecnologia portadora de futuro, além de formarmos profissionais”, diz Gomes. Para ele, o papel das entidades industriais, por meio dos movimentos empresariais da inovação, é incentivar o governo a absorver as novas tecnologias via parcerias globais ou por instalação de empresas de bases tecnológicas. E também pela formação de recursos humanos para o novo ambiente industrial. PESQUISA E INFORMAÇÃO Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) elegeu o tema Manufatura Avançada como um dos estratégicos para o período de 2015 a 2017. Vinícius Fornari, especialista em política industrial da CNI, integrou o grupo de trabalho sobre o assunto que no ano passado a Confederação realizou uma sondagem sobre o cenário da Indústria 4.0 no Brasil e um estudo sobre as sete dimensões que a entidade considera relevantes. “Elas incluem que setores seriam afetados pelas novas tecnologias; mecanismos para indução de novas frentes; aplicação de desenvolvimento tecnológico; ampliação de infraestrutura, como a banda larga; aspectos regulatórios, formação de RH; e articulação institucional”, lista Fornari. Tudo isso associado à digitalização da economia, como cidades inteligentes, mobilidade urbana, consumo eficiente e smart grid. “Se houver uma articulação institucional entre essas políticas, o desenvolvimento tecnológico pode ser mais eficiente”, defende Fornari. A pesquisa “Indústria 4.0: novo desafio para a indústria brasileira”, realizada pela CNI, procurou investigar aspectos sobre a adoção de tecnologias digitais relacionadas à era da manufatura avançada. Realizada com 2.225 empresas de todos os portes entre 4 e 13 de janeiro de 2016, o levantamento identificou a adoção de dez tipos de tecnologias digitais pelas empresas e seu uso em diferentes estágios da cadeia industrial. Renato da Fonseca, gerente-executivo de Pesquisa RUMOS

e Competitividade, O Brasil ainda destaca que a maior está migrando da parte dos esforços indústria 2.0 para feitos pela indústria no Brasil está na 3.0, pois não atingiu fase dos processos a automação. industriais. Setenta e três por cento das Bruno Gomes, diretor de Inovação empresas que afir- do Sistema Firjan. maram usar, ao menos, uma tecnologia digital o fazem na etapa de processos. Outras 47% utilizam na etapa de desenvolvimento da cadeia produtiva e apenas 33% em novos produtos e novos negócios. “Mas o importante é que 48% das empresas identificaram ao menos uma das dez tecnologias que apresentamos – como automação digital sem sensores; prototipagem rápida ou impressão 3D; utilização de serviços em nuvem associados ao produto ou incorporação de serviços digitais nos produtos. São empresas que pelo menos têm automação digital com ou sem sensores. Dessas, 27% têm automação digital com sensores. E há 19% que têm sistemas integrados, ou seja, quando desenvolvem o produto o fazem aliado com a manufatura, embora seja difícil dizer o quão avançada seja esta integração”, diz Fonseca. Outra questão que ele ressalta é quando se indagou sobre a importância dessa tecnologia para competitividade da indústria brasileira. “Nesse caso, 58% afirmaram ser importante”, diz Fonseca. A maior parte dos empresários consultados na pesquisa responde que a redução dos custos (54%) e o aumento da produtividade (50%) são os principais apelos para a adoção da tecnologia. Entre os setores que mais usam ao menos uma tecnologia destacam-se equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos (61%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (60%); coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (53%); máquinas e equipamentos (53%); metalurgia (51%); produtos plásticos (51%); produtos têxteis (47%); veículos automotores (46%); químicos (45%). A pesquisa mostrou que ainda há muito desconhecimento. Entre as empresas consultadas, 42% não identificaram quais tecnologias digitais, em uma lista com 10 opções, têm o maior potencial para impulsionar a competitividade da indústria. O desconhecimento é maior entre as pequenas empresas (57%). Entre as grandes, o percentual cai para 32%. 27


ARTIGO

O cooperativismo e a nova ordem econômica “A cooperativa de crédito não é um negócio financeiro ordinário... É a expressão no campo da economia de um ideal social elevado.” (Alphonse Desjardins, líder precursor do cooperativismo financeiro na América)

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ÊNIO MEINEN

Divulgação

No empreendedorismo cooperativo o fim social se confunde com os desígnios econômicos. Tal reunião de propósitos – uma espécie de “dois em um” – foi bem traduzida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu pronunciamento na cerimônia de abertura do evento Rio Cooperativo 2000: “a cooperativa, como uma empresa, caracteriza-se por aliar diretamente, na mesma organização cooperativa, dois aspectos fundamentais do desenvolvimento sustentável: a racionalidade econômica e o sentido da solidariedade social. Um híbrido de empresa e organização do terceiro setor, uma empresa com coração.” Em vista disso, as cooperativas são empresas reconhecidamente comprometidas com o seu público (cooperados) e respectivas comunidades. Representam, assim, arranjos peculiares, constituindo o modelo precursor e o cerne do que se convencionou chamar atualmente de economia colaborativa, compartilhada ou ainda de rede, prestigiada e difundida ao redor do mundo. As novas formas de empreender apresentam, com efeito, um conjunto de características convergentes com a doutrina e a prática cooperativistas, destacando-se: 1) a comunhão de interesses de uma coletividade de pequenos empreendedores; 2) o intercâmbio de soluções por meio da ajuda mútua (ex.: quem tem empresta, mediante expectativa de justa remuneração, para quem não tem); 3) o desenvolvimento pela soma de esforços e não pela competição (construção conjunta: “a união faz a força”); 4) a ausência de hierarquia entre os empreendedores (propriedade comum, com gestão democrática); 5) a flexibilidade e a busca de soluções personalizadas e tempestivas de acordo com a demanda dos usuários;

6) a autonomia e empoderamento dos destinatários das soluções (usuários/cooperados no centro das decisões); 7) a transparência na condução dos empreendimentos; 8) o compartilhamento de estruturas e de outros recursos, otimizando investimentos, reduzindo impactos ambientais e gerando economia para os usuários; 9) o partilhamento dos resultados. A reputação e a confiança são outros dois aspectos-chaves comuns a ambas as iniciativas. Daí, também, a legitimidade e a conveniência do emprego das locuções: economia da cooperação ou economia da mutualidade. O consumidor também vem tornando-se mais seletivo, acentuando a busca de motivações para as suas escolhas. Cada vez mais, as pessoas têm procurado identificar organizações que tenham uma causa ou que defendam uma bandeira do bem. O protagonismo na formatação das soluções e na sua precificação é outro anseio que cresce, progressivamente, entre os usuários. Ora, o cooperativismo, como uma causa do bem e que reúne em um mesmo ator os papéis de empreendedor e consumidor (proprietário e usuário) – eliminando o intermediário –, acolhe, legitimamente, as expectativas da nova sociedade. Em síntese, nas palavras de Robert J. Shiller (Nobel de Economia em 2013), “o movimento cooperativo constitui uma inovação essencial para uma boa e nova sociedade. É, portanto, uma iniciativa sempre atual para esse propósito, uma vez que, embora reconheça a livre iniciativa, não tem o lucro como objetivo.” Arrematando, sentencia: “cooperativismo é sinônimo de boa sociedade.” (Segunda Cúpula Mundial do Cooperativismo. Quebec, Canadá, 7 de outubro de 2014.)

Advogado, pós-graduado em direito e em gestão estratégica de pessoas. É diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

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O BRDE faz parte da vida e da história de cooperativas e cooperados de todo o Sul do Brasil. Com apoio, orientação especializada e crédito de longo prazo, tem transformado projetos em realidade. Esta parceria beneficiou mais de 460 mil famílias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, só no ano passado. BRDE. O banco que liga o desenvolvimento ao cooperativismo.

O BANCO QUE LIGA VOCÊ AO DESENVOLVIMENTO

www.brde.com.br

Ouvidoria DDG 0800.600.1020

O BRDE FINANCIOU R$ 1,5 BILHÃO PARA AS COOPERATIVAS DA REGIÃO SUL EM 2016. MAS A NOSSA PARCERIA NÃO É DE HOJE.


COMO RETOMAR O DESENVOLVIMENTO

Vocação para o crescimento

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anunciadas e via cortes O desenvolvimento na Selic, mesmo que não é ideológico, é sejam válidos, não apresentam efeitos imedia- uma necessidade tos. Investimentos em para o país. O infraestrutura, com fi- Brasil tem vocação nanciamento de longo para o crescimento! prazo garantido pelas Instituições Financeiras de Desenvolvimento, poderiam certamente ajudar a cumprir o papel de estimular o crescimento, mas outras alternativas precisam também ser discutidas. O desenvolvimento não é ideológico, é uma necessidade para o país. O Brasil tem vocação para o crescimento! E é esse o objetivo desta nova coluna que a Rumos está promovendo e que se inicia na próxima edição, a partir de convite ao professor Nelson Marconi para mediar esse importante debate. Ele é economista e renomado especialista em Macroeconomia do Desenvolvimento, Teoria do Desenvolvimento Econômico e Economia do Setor Público. Esperamos que a coluna traga novos elementos e subsídios para a discussão da retomada do processo de desenvolvimento do nosso país. Boa leitura.

Noel Joaquim Faiad

O Brasil conta com um Sistema Nacional de Fomento (SNF), agregando as instituições financeiras que têm em seu escopo de atuação o fomento ao desenvolvimento. Esse relevante conjunto de instituições representava em 2016 cerca de 55% do saldo das operações de crédito da economia e algo em torno de 47% dos ativos totais do sistema financeiro nacional. São importantes instrumentos de promoção do desenvolvimento e encontram na Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) não apenas um fórum representativo, mas um importante lócus de discussão sobre a retomada do processo de desenvolvimento do país. A relevância das instituições financeiras de desenvolvimento na oferta de crédito da economia brasileira se renovou recentemente. Ainda que esse conjunto de instituições tenha desempenhado importante papel no processo de crescimento nacional durante o que se convencionou chamar de período auge do desenvolvimentismo brasileiro (1930-1980), seu fortalecimento recomeçou apenas a partir do fim da década de 1990, quando a criação das agências de fomento e a consolidação dos bancos cooperativos contribuíram para resgatar o papel do SNF enquanto instrumento de políticas públicas e indutor do crescimento. Essa tendência de fortalecimento foi acentuada durante a crise financeira mundial, que se iniciou em 2007-2008, com a adoção de políticas contracíclicas por parte do Estado, quando tais instituições financeiras foram as grandes responsáveis pela manutenção da oferta de crédito na economia. Percebe-se a importância do SNF para a promoção do desenvolvimento, o que não substitui a necessidade de existência de outros instrumentos voltados ao mesmo objetivo. É necessário que instituições públicas e privadas, Estado, classe política, mercado, empresas e a sociedade civil em geral convirjam para o propósito de promover o desenvolvimento do Brasil. Essa conversão é importante em todos os períodos dos ciclos econômicos, mas torna-se ainda mais evidente em situações de depressão, como a que a economia brasileira passa na atualidade. Os esforços adotados pelo governo até o momento, como a normalização das condições de liquidez da economia, por parte do governo, por meio das medidas microeconômicas

MARCO ANTONIO A. DE ARAUJO LIMA Engenheiro civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Atualmente é Secretário-Executivo da ABDE.

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A necessidade de debater estratégias de desenvolvimento

RUMOS

diversos componentes de uma estratégia nacioTodas essas nal abrangente. questões estão Para auxiliar nesse processo, neste espaço, embrulhadas nas próximas edições, em um mesmo uma nova coluna pre- pacote: a ausência tende trazer ao deba- de uma estratégia te questões relevantes nacional de para o desenvolvimento desenvolvimento. da economia brasileira. Eu fui agraciado com o convite para ser o organizador desta coluna, que se intitulará “Como retomar o desenvolvimento”, e a cada edição convidarei dois especialistas para debaterem sobre um tema específico e relevante para o desenho de estratégias com essas características. Esperamos conseguir, com o debate, ressaltar a relevância e encorajar o debate em torno desse tema, além de contribuir para a retomada do desenvolvimento. O tempo urge para estancarmos a regressão em nossa estrutura produtiva e não ficarmos ainda mais para trás.

NELSON MARCONI

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O baixo crescimento registrado na economia brasileira desde os anos 1980, comparado ao de outros países, indica que perdemos, infelizmente, o rumo do desenvolvimento contínuo e sustentado. O Brasil ficou para trás – entre 1980 e 2014, nosso PIB per capita cresceu, em média, mísero 1% ao ano, enquanto, a título de exemplo, na Tailândia o crescimento foi 4,2%, na Coreia do Sul, 5,5%, e inacreditáveis 8,8% na China! Temos com certeza uma série de problemas a resolver para retomar a trajetória do crescimento sustentado; desequilíbrios macroeconômicos, reformas estruturais, facilitação dos investimentos... mas podemos considerar que todas essas questões estão embrulhadas em um mesmo pacote: a ausência de uma estratégia nacional de desenvolvimento. A crise da dívida nos jogou em um bico de sinuca e ao abandono de estratégias de desenvolvimento. Passamos a nos preocupar principalmente com os ajustes na dívida externa e na inflação, e depois da década de 1980, o regime macroeconômico privilegiou a busca da estabilidade – o que é correto –, porém baseada fundamentalmente no binômio juros altos-câmbio apreciado, que prejudicou muito nossa indústria e tem provocado uma regressão em nossa estrutura produtiva e relegado o crescimento econômico a um papel coadjuvante. Por regressão na estrutura produtiva entendemos o direcionamento da produção para setores menos dinâmicos e que geram poucos encadeamentos produtivos, além de produzirem menor valor adicionado per capita. As estratégias de desenvolvimento precisam tornar-se protagonistas novamente, junto com as políticas orientadas à estabilidade. Certamente essas estratégias não serão desenhadas nos moldes antigos, pois o mundo atual é muito mais conectado e globalizado que há quarenta anos, e a revolução tecnológica torna o desafio de recuperação da indústria e o estímulo aos serviços modernos, que crescem conjuntamente, totalmente distinto e mais difícil. O papel dos bancos de desenvolvimento e agências de fomento, ao contrário do que se propaga, tende a ser ainda mais relevante nesse processo: não devem se restringir ao financiamento do investimento, e devem atentar ainda mais ao estímulo à capacitação e inovação e suportar o desenho dos

Mestre e doutor em economia pela FGV, professor nessa instituição e também na PUC-SP, além de coordenador do Fórum de Economia e do Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo na FGV e presidente da Associação Keynesiana Brasileira.

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Reprodução

REPORTAGEM

Desenvolvimento tecnológico Em parceria com a empresa Terras APP Solutions, Banco da Amazônia lança aplicativo que vai gerar maior agilidade, segurança e precisão nos procedimentos realizados pelos clientes e colaborar no gerenciamento de riscos socioambientais nas operações de crédito rural na Amazônia Legal. POR ALCILENE COSTA

Sempre procurando inovar nos seus instrumentos internos para melhor atender à sociedade, o Banco da Amazônia adotará o aplicativo Terras. Em fase inicial de teste, a ferramenta foi desenvolvida em parceria com a Terras APP Solutions, empresa especializada no desenvolvimento de aplicativos para monitoramento de risco socioambiental. “Já tínhamos instrumentos para verificar esse tipo de risco, mas agora, aperfeiçoamos nossos instrumentos com o uso do aplicativo Terras. Com o Terras, por exemplo, o próprio cliente pode enviar suas informações e já chegar no banco com os dados necessários e sistematizados para iniciar o processo para obtenção do financiamento”, explica Laura Santos, coordenadora de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Banco da Amazônia. De acordo com Laura, o APP Terras vai garantir mais agilidade no encaminhamento de projetos ao banco, bem como mais segurança e 32

precisão no fornecimento das informações. “O banco está sempre preocupado em qualificar a sua concessão de crédito, não apenas visando o lucro. Há o compromisso socioambiental da Instituição que reflete na comunidade de modo geral. Além de oferecer um processo mais simples, ágil e seguro, para clientes e para os próprios analistas, o aplicativo vai colaborar, por exemplo, com o cumprimento do novo Código Florestal, entre outras leis, haja vista a comprovação do cumprimento dos dispositivos legais pelos clientes ser totalmente segura e não sujeita a fraudes”, destacou. Laura Santos informa, ainda, que os analistas de crédito da instituição estão sendo capacitados para utilizar o aplicativo. “O treinamento está sendo intensivo para que possamos dar um retorno quase que imediato para o empreendedor sobre a avaliação do crédito, no tocante à análise socioambiental, pois com a utilização do aplicaJANEIRO | FEVEREIRO 2017


NOVAS SOLUÇÕES A Terras App Solutions, cuja missão é desenvolver soluções sustentáveis para o campo, é uma empresa fundada em agosto de 2014 para desenvolver aplicativos (Apps) inovadores para gestão da propriedade rural, monitoramento de risco socioambiental e rastreabilidade de produtos agrícolas, florestais madeireiros e não madeireiros. Os Apps da Terras são desenvolvidos utilizando o estado da arte de computação em nuvem, e para o desenvolvimento ágil de soluções para análises de dados de campo, mapas digitais e imagens de satélites. Em 2016, a empresa Terras foi selecionada pela embaixada norte-americana no Brasil para participar do Global Entrepreneurship Summit (GES), evento que reuniu mais de 700 empresários inovadores e investidores em Palo Alto, Califórnia. A empresa também foi uma das vencedoras do prêmio de ComRUMOS

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tivo, o tempo estimado para a análise será de 30 minutos em média”, relatou. Além das informações, imagens também poderão ser anexadas e enviadas pelo APP, que funciona no sistema Android e que poderá ser baixado, gratuitamente, pelo link que será disponibilizado no site do Banco da Amazônia ou diretamente nas lojas virtuais de aplicativos. O sistema faz consultas nas bases oficiais, entre elas estão o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) e listas de embargo dos órgãos ambientais, os quais filtrarão todas as informações precisas para que o projeto siga adiante. No caso de propriedades com impedimentos, o sistema vai acusar as irregularidades, impossibilitando o acesso ao crédito, até que a situação seja regularizada. Inicialmente pensada para atender as resoluções do Conselho Monetário Nacional (nº 4.327/2014 e 4.427/2015), a ferramenta foi além da integração de várias bases de dados oficiais relativas à temática socioambiental e fundiária, permitindo, ainda, que outros instrumentos de análise socioambiental – formulário e questionário – utilizados pelo Banco da Amazônia fossem incorporados. “A utilização do aplicativo abriu um leque de possibilidades, como, por exemplo, o desenvolvimento de mecanismos de bonificação para os empreendedores que tiverem um melhor perfil de responsabilidade socioambiental, tais como, um fluxo de análise mais célere para o seu projeto, melhores condições operacionais, entre outros benefícios”, informou Laura Santos. Especificamente sobre a Resolução 4.427, de 25 de junho de 2015, no seu artigo 1º, afirma que as coordenadas geodésicas (CG) do empreendimento financiado pelas operações de crédito de custeio agrícola e pelas operações de crédito de investimento referidas nas alíneas “d”, “e” e “f” do MCR 3-3-2 devem ser informadas no orçamento, plano ou projeto relativo ao empreendimento, a partir de 1º de julho de 2016, nas operações acima de R$ 40 mil.

Aplicativo garante maior segurança, agilidade e transparência no gerenciamento do risco socioambiental pelo Banco da Amazônia.

petitividade MPE Brasil em 2016 promovido pelo Sebrae e está na disputa na categoria nacional. O QUE O APLICATIVO PODE FAZER? O empresário e diretor administrativo da empresa Terras App Solutions, Paulo Amaral, explica que o aplicativo permite aos solicitantes de crédito o acesso pela Web, em desktops ou dispositivos móveis: - Cadastrar as propriedades para avaliação dos requisitos socioambientais do Banco da Amazônia, seguindo as normas do Banco Central; - Preencher formulários obrigatórios para a aplicação de crédito rural; - Verificar os resultados das análises de conformidade socioambiental das áreas a serem financiadas; - Criar uma base de dados geoespacial das glebas financiadas e elaborar os croquis das glebas a serem financiadas; “O Banco da Amazônia será o primeiro a adotar essa solução tecnológica no país, reunindo várias funcionalidades em um único aplicativo, com agilidade, segurança e precisão nas informações geradas que são requisitos necessários para que os clientes e projetistas possam elaborar seus projetos de crédito”, informou Paulo Amaral. 33


LIVROS

OITO DÉCADAS DE DEBATES Oitenta anos depois de publicado, a atualidade das questões apresentadas no livro The General Theory of Employment, Interest and Money, do economista John Maynard Keynes, demonstra que a profecia de seu autor se realizou, ao menos em parte: a obra, publicada em 1936, de fato revolucionou o pensamento econômico mundial. O erro de Keynes foi prever que sua Teoria Geral mudaria e influenciaria a economia somente nos dez anos seguintes – ao contrário, as ideias ali contidas continuam sendo discutidas na academia e adotadas pelos formuladores de políticas. Ademais, nas últimas oito décadas, a teoria econômica do mainstream baseou-se ou nas interpretações equivocadas da obra, tais como a síntese neoclássica e novo-keynesiana, ou centrou suas críticas a quaisquer princípios supostamente keynesianos, mais especificamente as teorias monetarista e novo-clássica. MODERNO Prova da atualidade do debate é o lançamento do livro Keynes: ensaios sobre os 80 anos da Teoria Geral, publicado pela Tomo Editorial Ltda., que reúne ensaios, de autores brasileiros e estrangeiros, que ilustram não somente a relevância do pensamento de Keynes, em geral, e daquilo que se condensou na Teoria Geral, em particular, mas também a importância dos desdobramentos do pensamento keynesiano, seja no campo da teoria econômica pós-keynesiana, seja em campos afins da teoria econômica heterodoxa, como Joseph Schumpeter e Mikael Kalecki. O livro resgata os princípios metodológicos, teórico-analíticos e as contribuições de políticas econômicas de Keynes para contextualizar a 34

“revolução keynesiana” no mundo da globalização financeira assimétrica, bem como mostra que as ações contracíclicas dos policymakers contemporâneos vão ao encontro da ideia de que, parafraseando Keynes, “[h]omens práticos, que acreditam ser isentos de quaisquer influências intelectuais, geralmente são escravos de algum economista morto”. Em que consiste a “revolução keynesiana”? Por um lado, Keynes apresenta o modus operandi de uma economia monetária da produção, inerentemente instável devido à volatilidade do investimento, que depende das expectativas de taxa de retorno (lucro esperado), da taxa monetária de juros (custo oportunidade) e da oferta de crédito do sistema bancário. Por outro lado, ele propõe (1) políticas fiscal e monetária contracíclicas e intervenção do Estado na economia para mitigar flutuações cíclicas dos níveis de produto e de emprego e (2) política de rendas para reduzir a desigualdade pessoal da renda e da riqueza. COMPOSIÇÃO Organizado pelos economistas e pesquisadores Fernando Ferrari Filho e Fábio Henrique Bittes Terra, o livro está dividido em três seções: aspectos teóricos da obra de Keynes; ensaios pós-keynesianos; e interfaces entre Keynes e a heterodoxia econômica. Em linha geral, a obra defende que compreender a Teoria Geral é fundamental para se entender a dinâmica da globalização financeira e, mais ainda, para se analisarem as origens e os desdobramentos da crise financeira internacional, iniciada com o subprime em 2007/08, e da “grande recessão”.

Referências Keynes, J.M. (1973). The General Theory and After: part I, preparation (The Collected Writings of John Maynard Keynes, volume 13). London: Macmillan Press Ltda. Keynes, J.M. (2007). The General Theory of Employment, Interest and Money. New York: Palgrav e Macmillan.

Keynes: Ensaios sobre os 80 anos da Teoria Geral Fernando Ferrari Filho e Fábio Terra (orgs.) Tomo, 288 p., 2016. JANEIRO | FEVEREIRO 2017


NEGÓCIOS EM LARGA ESCALA

Oportunidades Exponenciais Peter H. Diamandis e Steven Kotler HSM Educação Executiva, 308 p., 2016.

Escrito especialmente para potenciais empreendedores, mas também útil para os mais experientes, o livro é um manual prático que ajuda a transformar problemas em oportunidades. Os autores, Peter H. Diamandis, CEO da Fundação Xprize e da Singularity University, e Steven Kotler, jornalista, dividem a publicação em três capítulos. No primeiro, apresentam as principais tecnologias exponenciais e citam o exemplo da Kodak como empresa linear, que acabou subestimando o poder dos exponenciais e não foi capaz de acompanhar a digitalização e o crescimento do setor. O segundo capítulo descreve a psicologia do empreendedor exponencial e as ferramentas mentais

que ensinam a pensar em larga escala. Na terceira parte, os autores abordam práticas, examinam as diversas permutações de recursos e demonstram que quase tudo o que você precisa pode ser realizado por uma plataforma acionada pela multidão. O livro inclui conselhos de grandes executivos, como Larry Page, ex-diretor executivo do Google e atual CEO da Alphabet; Elon Musk, cocriador e com participação em empresas como o Paypal, a SpaceX e Tesla Motors; Richard Branson, fundador do grupo Virgin; e Jeff Bezos, CEO da Amazon. com; profissionais que, de acordo com os autores, foram capazes de pensar em larga escala.

A EXUMAÇÃO DO CADAVÉR

Tempos Instáveis: o mundo, o Brasil e o jornalismo em 21 reportagens da piauí Fernando de Barros e Silva (org.) Companhia das Letras, 568 p., 2016. RUMOS

A longa experiência do jornalista Fernando de Barros e Silva nas redaçãos, em especial da Folha de S. Paulo, fez com que tivesse um olhar crítico e realista sobre o trabalho de repórter. E essa percepção que aparece na apresentação que faz da obra em questão: ao republicar 21 dos textos impressos nos dez anos da revista piauí, o que vemos é uma reflexão sobre o jornalismo e sobre os tempos modernos. Tendo como modelo a revista norte-americana The New Yorker, a piauí investiu e investe em grandes reportagens e entrevistas, que abordam vários aspectos dos acontecimentos passados, seja cultura, política, ciência. Como mesmo destaca Silva, por não ser um jornalismo diário ou mesmo online, os aritgos e matérias, na expressão do or-

ganizador do livro, realizam a “exumação do cadáver”, ou seja, buscam novos ângulos, fontes, aspectos, entrelinhas, narrativas não levadas em consideração no anunciar dos fatos. Estão lá os perfis de Michel Temer, então vice-presidente da República, de Ricardo Teixeira, ex-comandante da Confederação Brasileira de Futebol, e as reportagens sobre a crise econômica da Islândia e os jovens desaparecidos no México. Em tempos de pós-verdade, revisitar os fatos com mais informações irá se tornar algo necessário, pois a rapidez do noticiário e a uniformização de vozes pedem um segundo olhar, uma reflexão a mais; as narrativas apresentadas na obra nos (re)lembram que o gande ofício do jornalista não é trazer à tona um fato, mas saber contar uma (boa) história. 35


SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

Afonso Licks

DESENBAHIA ABRE 2017 COM FORTE FINANCIAMENTO AO AGRONEGÓCIO

PRESIDENTE DO BNDES PARTICIPA DE REUNIÃO NO BRDE A presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos Marques, reuniu-se com a diretoria do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), em Porto Alegre, no dia 6 de fevereiro. Maria Silvia foi conferir de perto a atuação do primeiro colocado do ranking do BNDES em operações indiretas na Região Sul e o quinto entre 65 credenciados em todo o Brasil, que contratou financiamentos de mais de R$ 3 bilhões, em 2016. Tendo como tema “BNDES – BRDE, parceria de longo prazo”, a reunião das diretorias tratou de ações em conjunto nesse momento de transição econômica, formas das instituições tornarem a concessão de crédito mais ágil na capilaridade para os recursos chegarem aos tomadores na ponta. Embora atue em apenas três estados, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o BRDE tem presença em 1.095 de um total de 1.188 municípios da Região Sul, com mais de 35 mil clientes ativos. Em sua primeira viagem ao Sul, a presidente Maria Silvia foi acompanhada de Claudio Mendes, diretor da Área de Crédito e da Área Financeira e Internacional; Ricardo Ramos, diretor da Área de Administração e Recursos Humanos, Área de Comércio Exterior e Fundos Garantidores e da Área de Operações Indiretas; Marcelo Cardoso, superintendente da Área de Operações Indiretas; Mariza Louven, chefe do departamento de Comunicação; e Carlos Costa, chefe do departamento de Relacionamento Institucional e Gestão do Crédito Rural, todos do BNDES. Pelo BRDE, participaram o diretor-presidente Odacir Klein, que conduziu a reunião; Orlando Pessuti, vice-presidente e diretor Administrativo; Renato Vianna, diretor Financeiro; Luiz Noronha, diretor de Planejamento; e Neuto De Conto, diretor de Acompanhamento e Recuperação de Créditos. Ao final da reunião, a presidente Maria Silvia ratificou a manifestação do diretor Ricardo Ramos de que “tudo o que gostaríamos era ter uma instituição de fomento ao desenvolvimento como o BRDE em cada região do Brasil”. 36

A Agência de Fomento da Bahia (Desenbahia) fechou o primeiro mês de 2017 com uma marca considerada “espetacular” em relação às aprovações de propostas de financiamento para o agronegócio. O presidente da Desenbahia, Otto Alencar Filho, em nome da diretoria colegiada, parabenizou as equipes que se dedicaram a alcançar este resultado. “Todos os desafios de 2016, ano mais desafiador da história do Brasil, foram inteiramente superados e devemos em 2017, com novo vigor e motivação, superar desafios ainda maiores com muita dedicação, foco nos objetivos, metas e trabalho em equipe, pois nada resiste ao trabalho sério e boa vontade”, afirmou.

DESENVOLVE ASSINA PARCERIA COM A FECOMÉRCIO Como forma de dinamizar os serviços ofertados por instituições sindicais, com financiamentos que proporcionem o crescimento de seus filiados, além de aproximá-los das ações do Governo do Estado, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Alagoas (Fecomércio/AL) e a Agência de Fomento de Alagoas (Desenvolve) celebraram a assinatura de um termo de cooperação técnico-operacional. A finalidade da parceria é auxiliar na execução de ações com o intuito de promover o desenvolvimento de microempreendedores no que se refere ao crédito desburocratizado e também ao acesso à informação para o melhor gerenciamento e crescimento da produtividade dos seus negócios. Na ocasião, Fábio Leão, diretor de Desenvolvimento e Projetos da Desenvolve, destacou os feitos da agência e valorizou a capacidade da Fecomércio de promover melhorias para incorporar as características locais em um momento de ajustes na economia. “Uma das maiores dificuldades do processo de desenvolvimento não é elaborar estudos e diagnósticos, mas encontrar formas de viabilizar projetos. A Agência de Fomento existe justamente para alavancar e executar esse desenvolvimento, afirmou Leão. JANEIRO | FEVEREIRO 2017


Charles Damasceno

SEBRAE E BB FIRMAM PARCERIA PARA REDUZIR BUROCRACIA O Sebrae e o Banco do Brasil (BB) assinaram um convênio que tem como objetivo simplificar a gestão de micro e pequenas empresas (MPE) e orientar financiamento a empresários. Pelo convênio, que integra o programa “Empreender Mais Simples: menos burocracia, mais crédito”, donos de pequenos negócios, que somam 98,5% das empresas do país, terão à disposição um total de R$ 8,2 bilhões – cerca de R$ 1,2 bilhão por meio da linha Proger Urbano Capital de Giro, com recursos do Fundo do Amparo ao Trabalhador (FAT), e R$ 7 bilhões da linha BNDES Capital de Giro Progeren. A parceria prevê soluções de financiamentos por parte do BB, com orientação e acompanhamento por consultores do Sebrae, visando ao uso consciente dos recursos e à melhoria da gestão financeira das empresas, com redução de riscos de inadimplência.

PIAUÍ FOMENTO PREVÊ R$ 6 MI EM RECURSOS A Agência de Fomento do Piauí (Piauí Fomento) comemora a expansão nas aplicações da instituição e o reforço no fortalecimento da economia do pequeno produtor. Para 2017, com o apoio do governo estadual, o presidente da agência, César fortes, espera captar mais R$ 6 milhões a serem executados em áreas como a produção de leite, fruticultura, confecção e construção civil. A meta é alcançar nos próximos quatro anos algo em torno de 30 milhões de reais em novos investimentos. Até 2015, a agência de fomento tinha boa parte das suas aplicações em títulos do governo. Já no ano passado, o estado redirecionou essas aplicações para o setor produtivo, gerando crescimento de setores econômicos, principalmente aqueles geridos por pequenos produtores. RUMOS

SICREDI ESTREIA NO RANKING THOMSON REUTERS STARMINE AWARDS 2016 O Sicredi – instituição financeira cooperativa com mais de 3,4 milhões de associados e com atuação em 20 estados brasileiros – figura pela primeira vez no ranking Thomson Reuters StarMine Awards entre as 10 melhores instituições nas projeções da “Produção Industrial” e da “Taxa de Desemprego Brasileiro”, com o oitavo e sétimo lugar, respectivamente. O ranking, divulgado pela agência de notícias Thomson Reuters, foi elaborado pela StarMine, empresa global em análises de pesquisa na medição de desempenho de analistas. O ranking tem como objetivo listar as instituições que realizaram as projeções do cenário macroeconômico que mais se aproximaram da realidade durante o ano de 2016. Além das categorias “Produção Industrial” e “Taxa de Desemprego Brasileiro”, outros índices são analisados: “Produto Interno Bruto (PIB)”, “Inflação” e “Venda no Varejo”. “O Sicredi estreia no ranking da Thomson Reuters em posição de destaque, conquistando espaço dentro de um grupo seleto de economistas premiados pela qualidade de suas análises, o que reflete um grande feito para nós”, afirma o gerente de Análise Econômica do Banco Cooperativo Sicredi, Pedro Ramos. “Além disso, o Sicredi é a única instituição financeira cooperativa presente no ranking, o que mostra o seu diferencial e o reconhecimento da qualidade do nosso trabalho”, conclui Ramos. 37


EXPEDIENTE

CARTAS DO LEITOR Educação Sou professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) e tenho ministrado a disciplina de Política Econômica Brasileira, razão pela qual a leitura de ensaios e análises sobre os diversos aspectos da economia brasileira torna-se relevante. Além disso, são realizados trabalhos de pesquisa durante o curso, para os quais o acesso a publicações especializadas é importante. Por essas razões, gostaria de receber regularmente a revista Rumos, para utilizá-la nas indicações de leitura e consulta aos alunos. José Carlos de Oliveira, Departamento de Economia da UnB, Brasília (DF).

Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall | Brasília | DF | CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 – 11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 E-mail: gecom@abde.org.br CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Maria Silvia Bastos Marques DIRETORIA Presidente: Milton Luiz de Melo Santos 1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Crocco Afonso 2º Vice-Presidente: Ricardo Luiz de Souza Ramos Diretores: Henrique Tibúrcio Peña, João Pinto Rabelo Júnior, Marivaldo Gonçalves de Melo, Otto Alencar Filho, Perpétuo do Socorro Cajazeiras e Susana Kakuta. Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima INSTITUIÇÕES ASSOCIADAS À ABDE

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINS – Agência de Fomento do Estado de Tocantins AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A. AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. AGERIO – Agência Estadual de Fomento BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCO SICREDI – Banco Cooperativo Sicredi S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE MT – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. DESENVOLVE RR – Agência de Desenvolvimento de Roraima S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Inovação e Pesquisa FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Redação e Administração Avenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro RJ CEP: 20020-906 Telefone: (21) 2109.6041 E-mail: rumos@abde.org.br

Gerente de Comunicação & Editora Thais Sena Schettino Equipe Jader Moraes, Livia Marques Pimentel, Noel Joaquim Faiad Revisão Renato R. Carvalho

Solicitação Sou economista da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), sediada em Belém. Venho por meio deste perguntar como faço para receber as edições da revista Rumos, pois tive a oportunidade de ler algumas edições anteriores e me interessei bastante. José Roosevelt Jr., Sudam, Belém (PA).

Alteração Gostaria de continuar recebendo a revista Rumos, porém tive uma mudança de endereço. Aproveito para parabenizá-los pelo excelente conteúdo disponibilizado. Enelvo Sanchotene Martinelli, Senai, Curitiba (PR).

Capa Noel Joaquim Faiad Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas Distribuição Powerlog Serviços e Manipulação

Conselho Editorial Milton Luiz de Melo Santos, João Paulo dos Reis Velloso, Marco Antonio A. de Araujo Lima e Thais Sena Schettino. Publicação bimestral ISSN 1415-4722

Ano 41 - nº 291 - Janeiro/Fevereiro 2017 Tiragem: 7.000 exemplares

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

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