#292 MARÇO/ABRIL
O CÉU É O LIMITE Os novos instrumentos financeiros gerados a partir dos dispositivos móveis por empresas inovadoras, as fintechs, prometem fazer uma revolução na relação cliente-banco. Serão infinitas as possibilidades de interlocução.
EXPERTISE
O biógrafo Lira Neto visita a vida de Getúlio Vargas e traz lições para a política praticada na atualidade.
REPORTAGEM
ARTIGOS
As parcerias público-privadas podem ser o caminho para dar novo impulso ao crescimento dos municípios.
Os economistas Ernani Torres e Manoel Pires falam sobre as condições de financiamento.
2017
Edição 2017
www.abde.org.br
Dúvidas: premio@abde.org.br
SUMÁRIO
MARÇO/ABRIL 2017
#292
Thais Sena Schettino Editora
RUMOS
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REPORTAGEM | Prêmio
Uma grande oportunidade
REPORTAGEM
Cooperativismo no futuro
Renato Parada
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DESTAQUES
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EXPERTISE | Lira Neto
Uma radiografia de Getúlio Vargas
REPORTAGEM
Chamada ao setor privado
ARTIGO
Fernando Rugitsky
O antimilagre econômico brasileiro
Noel Joaquim Faiad
Embora tentemos escapar, a tecnologia nos alcança e surpreende. Com a reportagem de capa desta edição, sobre as fintechs, startups inovadoras que desenvolvem instrumentos financeiros disruptivos, a Rumos completa três edições falando sobre as revoluções econômicas e, claro, sociais que a modernidade nos traz. Na matéria, é possível ver como serão diferentes das atuais as nossas relações com o sistema bancário, seja para abrir uma conta, contratar um seguro ou fazer um financiamento. Os jovens à frente dessas mudanças nos fazem ver que o céu é o limite para tudo o que os aplicativos móveis podem nos proporcionar e conectar. Ainda no campo das inovações, trazemos uma cobertura sobre a Conferência Internacional Cooperativismo e Desenvolvimento Regional, realizada pelo Sicoob Unicoob e pelo Instituto Sicoob, em Foz do Iguaçu (PR), cujo tema fintech teve destaque. Também atento aos novos tempos, o IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, promovido pela Frente Nacional dos Prefeitos, tendo a ABDE como um dos apoiadores, mostrou que criatividade e bons projetos são o caminho para promover uma melhora na qualidade de vida nas cidades, com destaque para a utilização de instrumentos como as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Três artigos nos chamam a refletir sobre a economia brasileira: Fernando Rugitsky analisa a crise financeira que o país enfrenta, e os economistas Ernani Torres e Manoel Pires, compõem a coluna “Como retomar o desenvolvimento”, com apontamentos sobre o financiamento de longo prazo e seus condicionantes. Como nem só de economia vive a revista, o biógrafo Lira Neto estudou a fundo a trajetória do ex-presidente Getúlio Vargas e conta, nas páginas da Rumos, como aquela maneira de fazer política ainda diz muito do momento que vivemos hoje. Boa Leitura!
NESTA EDIÇÃO
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CAPA | Reportagem
Novos paradigmas
REPORTAGEM
Desenvolver o campo
REPORTAGEM
Diante dos desafios
OPINIÃO
Antonio Delfim Netto
Trump
Arquivo Pessoal
AO LEITOR
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ARTIGO | Estéfano Luís de Sá Winter
O novo ecossistema de serviços financeiros
SEÇÕES ARTIGOS | COMO RETOMAR
O DESENVOLVIMENTO
Ernani Torres Manoel Pires
38 LIVROS
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SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO
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EXPERTISE
Renato Parada
Uma radiografia de Getúlio Vargas
Desde cedo o maior talento do jornalista e escritor Lira Neto foi contar histórias. Cearense, iniciou a carreira no Diário do Nordeste e O Povo, ambos em Fortaleza. Hoje radicado em São Paulo, começou a escrever biografias em 1999, quando publicou O poder e a peste: a vida de Rodolfo Teófilo. Em 2004 lançou Castello: A marcha para a ditadura e, dois anos depois, O Inimigo do Rei: Uma biografia de José de Alencar. A obra, que tem o subtítulo folhetinesco de A mirabolante aventura de um romancista que colecionava desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil, rendeu a ele o Prêmio Jabuti de Literatura de 2007, na categoria melhor biografia. Nesse mesmo ano ficou pronto Maysa: só numa multidão de amores e, em 2009, Lira Neto publicou Padre Cícero. Três anos depois chegou às livrarias Getúlio 1882-1930. Dos anos de formação à conquista do poder, primeiro livro de uma trilogia lançada pela Companhia das Letras sobre o ex-presidente. Os outros dois tomos, Getúlio 1930-1945. Do governo provisório à ditadura do Estado Novo e Getúlio 1945-1954. Da volta à consagração popular ao suicídio, também já estão disponíveis. Lira Neto está com a agenda lotada devido a compromissos com o lançamento de Uma história do samba, seu novo livro, mas encontrou um tempo para falar com Rumos sobre a trilogia de Getúlio Vargas. POR ANA REDIG
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MARÇO MARÇO || ABRIL ABRIL 2017 2017
Apesar de apaixonado pelo exercício cotidiano do jornalismo, João de Lira Cavalcante Neto sofria de inquietações profissionais incontornáveis. “Em especial, perturba-me o fato de o repórter ser acossado, de modo permanente, por um duplo tipo de pressão atávica, decorrência automática das limitações de tempo e de espaço: cada vez há menos tempo e menos espaço para apurar e contar uma boa história”. Diante da constatação de que a grande reportagem se tornou raridade em jornais e revistas, que optaram por apostar em um modelo superficial e compacto, Lira Neto decidiu migrar para as páginas dos livros. Assim poderia se dedicar com mais intensidade – e com muito mais liberdade – àquilo que ele considera fundamental e indispensável na profissão: oferecer ao leitor investigações profundas e textos bem-acabados. Assim, o gênero biográfico caiu como uma luva para o jornalista. Adotar as biografias como propósito e prioridade de trabalho foi a forma que ele encontrou para unir o jornalismo à história, sua outra grande paixão. “Essencialmente continuo sendo um repórter, que escreve livros-reportagens, ambientados no passado. Isso exige um tempo para ser produzido e um espaço para ser desenvolvido”. Foi com essa vontade de contar histórias que ele mergulhou na vida de Getúlio Dornelles Vargas, sem dúvida o personagem histórico sobre quem mais se escreveu no Brasil. Contudo, quase toda essa vasta bibliografia prexistente sobre o ex-presidente parecia padecer do mesmo pecado original: o maniqueísmo. Lira Neto conta que os relatos biográficos sobre Getúlio oscilam entre a devoção política ingênua, de um lado; e a mera tentativa de desconstrução ideológica, de outro. “Uns veem nele o líder imaculado, o grande ‘Pai dos Pobres’, o condutor generoso das massas exploradas. Outros apontam o ditador sanguinário, o tirano do Estado Novo, o político oportunista obcecado pela permanência infinita no poder. Os dois tipos de enfoque são parciais”, conta o escritor. Dois enfoques opostos, acredita ele, não são capazes de dar conta da complexidade de quem foi Getúlio e da chamada Era Vargas. “Faltava, creio, uma narrativa jornalística equilibrada, livre de paixões partidárias e convicções extremadas”, pondera o autor. Na busca de encontrar mais matizes que mostrassem o homem Getúlio, Lira Neto diz ter esRUMOS
colhido o caminho mais Uns veem nele o líder difícil, ou seja, aquele imaculado, o grande que aponta as contradi‘Pai dos Pobres’, o ções e as nuances de um condutor generoso das personagem histórico que acumulou, ao longo massas exploradas. da sua trajetória política Outros apontam o e pessoal, tantos afetos ditador sanguinário, e tantos ódios. Além de o tirano do Estado consultar uma “avalanNovo, o político che” de livros já escritos oportunista obcecado sobre Vargas, o jornalista garimpou informapela permanência ções em um conjunto infinita no poder. Os variado de fontes pridois tipos de enfoque márias – incluindo dosão parciais. (...) cumentos diplomáticos, Faltava, creio, uma inquéritos policiais, arnarrativa jornalística quivos jurídicos, corresequilibrada, livre de pondências ativas e passivas, diários íntimos, paixões partidárias e entre outros. “Também convicções extremadas. consultei arquivos públicos e privados, no Brasil e em vários países, como Alemanha, Argentina, Estados Unidos, Inglaterra, Itália e Uruguai. De posse desse manancial de dados, decidi dividir a biografia em três volumes, cujos subtítulos explicitam o período específico de cada um: ‘Dos anos de formação à conquista do poder’, ‘Do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo’ e ‘Da volta pela consagração popular ao suicídio’”. TRÊS GETÚLIOS Lira Neto afirma que é comum dizerem que existiriam “três Getúlios”: o revolucionário de 1930, o ditador do Estado Novo e o líder nacionalista dos anos 1950, mas na realidade Getúlio foi um só. Pragmático, assumiu várias personas, cada uma delas adequada e adaptada ao momento histórico específico. “O pragmatismo de Getúlio estava para além das ideologias. Ainda assim, ele manteve, em todos esses momentos, uma surpreendente coerência”, analisa. Formado no positivismo do republicanismo gaúcho, sempre desdenhou da democracia representativa e acreditava em governos personalistas e no poder intervencionista do Estado. Nos anos de 1930 e 1940, isso o aproximou dos governos totalitários do nazi-fascismo. Nos anos 1950, no contexto da Guerra Fria, foi acusado de ter aderido às teses da esquerda. “Na verdade, Getúlio permaneceu no mesmo lugar, onde sempre esteve. Nesse intervalo de tempo, o mundo é que mudou; ele, não”, afirma. 5
Arquivo
O primeiro volume da trilogia é aquele que, sem dúvida, apresenta um maior número de novidades e documentos inéditos. “Ao reconstituirmos os anos de infância, juventude e mocidade de Getúlio, percebemos o impacto que a matriz do ideário positivista exerceu sobre sua personalidade política”, relembra Lira Neto. O positivismo gaúcho não acreditava na representatividade, desprezava o Legislativo, preconizava a hipertrofia do Executivo e fazia do Judiciário um mero apêndice dos governos. Além disso, pregava a necessidade da morte da política e o primado da administração técnica sobre aquela. “Estes são ideias e conceitos que Getúlio levará para o plano nacional, a partir da sua chegada ao Catete”, lembra Neto. No segundo livro, são encontradas as ações mais marcantes de Vargas, como a criação das leis trabalhistas. “A legislação trabalhista foi idealizada e posta em ação como uma resposta aos movimentos sindicais, então controlados em sua maioria por anarquistas e comunistas”, destaca o autor. O Brasil vivia em meio a um imenso barril de pólvora, com movimentos de operários nas ruas, greves recorrentes e sindicalistas exigindo direitos civis. “Ao legislar a favor do trabalhador, Getúlio reduziu a pressão social e se apropriou das próprias bandeiras do operariado urbano, tornando-se extremamente popular entre as classes baixa e média. Em um país mal saído da escravidão, aquilo foi fundamental”, avalia. Outro grande momento do período coberto pelo segundo volume foi a participação do Brasil na Segunda Grande Guerra. “Até nesse ponto Getúlio foi pragmático. Por afinidade, seu governo estava muito mais propenso a apoiar as forças do Eixo [Alemanha, Japão e Itália], com quem entabulou diversas negociações, como mostram os documentos diplomáticos secretos utilizados no livro”, revela o autor. Segundo ele, a Alemanha era, então, a principal parceira comercial do Brasil, fornecendo máquinas e armas em troca de matérias-primas. Com o bloqueio britânico do Atlântico, porém, o Brasil ficou sem ter como fazer negócios com os parceiros germânicos. “Em um jogo de xadrez milimétrico, que envolveu pressões e chantagens de parte a parte, Getúlio acabou declarando apoio
O discurso que sataniza a política e louva a ‘gestão’, hoje enunciado como símbolo de modernidade, é, na verdade, uma falação tão antiga quanto a República Velha.
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MARÇO | ABRIL 2017
aos Estados Unidos, em troca do reequipamento do Exército nacional e do financiamento da indústria siderúrgica brasileira”, afirma o jornalista. NACIONALISMO O último livro abrange o curto período de tempo em que Getúlio governou com as regras do jogo democrático em pleno vigor, entre 1951 e 1954. De acordo com Lira Neto, em seus escritos íntimos Vargas se queixava a todo instante de que, em semelhante contexto, se via obrigado a recorrer à política como forma de negociação dos conflitos. Ao lado do ministério propriamente dito, nomeou uma assessoria econômica paralela, que respondia diretamente ao palácio e, assim, estava a salvo das pressões partidárias. “Foi dessa equipe, cujos integrantes foram apelidados de ‘boêmios cívicos’, por trabalharem até altas horas da madrugada, que surgiram os grandes projetos nacionalistas da Era Vargas, incluindo a Petrobras, o BNDES e o embrião do que viria a ser a Eletrobrás”, revela. O suicídio de Vargas, ocorrido em 24 de agosto de 1954, é um dos eventos históricos mais importantes do país. Importante e polêmico. Especialmente por isso, Lira Neto mergulhou em farta e variada documentação, procurando mostrar e confrontar as múltiplas versões, e chamando a atenção do leitor para as incongruências, lacunas e imprecisões do inquérito que apurou o fato. “O papel da imprensa, nesse caso, foi fundamental. Carlos Lacerda, o principal adversário de Getúlio, com sua oratória incendiária, soube conflagrar a opinião pública com base em manchetes estridentes, que levaram ao trágico desfecho de agosto de 1954”. Lira Neto diz que aprendeu muito ao pesquisar e estudar o assunto para escrever sobre Getúlio. “Uma das coisas que aprendi é que o discurso que sataniza a política e louva a ‘gestão’, hoje enunciado como símbolo de modernidade, é, na verdade, uma falação tão antiga quanto a República Velha. Afinal, foi pregando a ‘morte da política profissional’ e a necessidade de uma ‘administração técnica’ que Getúlio fez sua campanha eleitoral e chegou ao poder em 1930”. Lira questiona: “Quando abandonamos a política, o que nos sobra? O autoritarismo”. E completa, estendendo sua análise ao cenário atual: “Foi o que aconteceu àquela época e está novamente acontecendo. Além do mais, estudar a história de Getúlio nos mostra que o país e a sociedade sempre retrocedem quando se juntam, em um mesmo caldeirão, três ingredientes mais do que manjados: o moralismo seletivo contra a corrupção, um patriotismo ingênuo que se pinta de verde-amarelo e a luta contra o fantasma caricatural representado pelos ‘comunistas’. O mais constrangedor é perceber que esse tipo de truque ainda funciona”. RUMOS
RESUMO DAS OBRAS
No primeiro volume da trilogia, o leitor acompanha Getúlio Vargas desde suas origens na pequena São Borja (RS) até a tomada do poder federal após a Revolução de 30.
A segunda parte reconstitui a trajetória do político gaúcho entre o momento de consolidação do poder após a Revolução de 1930 e o golpe militar que encerrou o Estado Novo em 1945.
No último livro, Lira Neto apresenta os acontecimentos políticos e pessoais mais importantes dos anos finais do ex-presidente.
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SXC
PRÊMIO ABDE-BID 2016
Uma grande oportunidade Em sua quarta edição, prêmio visa estimular a reflexão sobre a contribuição do Sistema Nacional de Fomento no desempenho da economia brasileira; os artigos poderão ser enviados até 24 de julho, com divulgação dos vencedores em setembro. A Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com o apoio do Sistema OCB, já abriram as inscrições para o Prêmio ABDE-BID de Artigos 2017, em importante iniciativa que visa estimular a reflexão sobre os rumos do desenvolvimento e o papel do fomento no desempenho da economia brasileira. Neste ano, o prêmio é voltado a todos os segmentos da sociedade, tais como universidades (graduação, pós-graduação e acadêmicos), institutos de pesquisa, instituições financeiras associadas à ABDE e demais interessados e especialistas dedicados aos temas do desenvolvimento e do fomento. O prêmio é formado pelas seguintes categorias: Desenvolvimento em debate; Financiamento Verde; e Sistema OCB: Desenvolvimento e Cooperativismo de Crédito. Os artigos poderão ser escritos por autores individuais ou em grupo. O vencedor em cada uma das três categorias receberá prêmio de R$ 8 mil e será publicado em livro. O segundo colocado receberá prêmio de R$ 4 mil e também terá o trabalho publicado em livro. 8
As inscrições podem ser feitas até 24 de julho e a divulgação dos vencedores será em 18 de setembro, com entrega do prêmio em 13 de dezembro, no Fórum do Desenvolvimento. O regulamento, a ficha de inscrição e demais materiais estão disponíveis no site da ABDE, www.abde.org.br. Os interessados em mais informações devem escrever para: premio@abde.org.br. Nas próximas páginas estão publicados resumos dos artigos vencedores da edição 2016, na Categoria 2, “Financiamento: desafios e soluções” – exclusiva aos funcionários das instituições associadas à ABDE. Leonardo de Moura Perdigão Pamplona venceu o grupo A, que reuniu funcionários de bancos públicos federais, bancos cooperativos, Finep e Sebrae, com o texto “Financiamento a empreendimentos de baixa renda e a busca pela efetividade na inclusão produtiva”; e no grupo B, com funcionários de bancos estaduais e agências de fomento, venceu o artigo “A aplicação da análise de sobrevivência como ferramenta para identificação dos condicionantes da inadimplência de um banco de desenvolvimento”, de Denise Benetti Ramirez. MARÇO | ABRIL 2017
Análise de sobrevivência
RUMOS
2. O recurso não reemEntende-se bolsável pode passar a ser possível construir cobrado do tomador, na medida da sua capacidade, estratégias ainda que não retorne à fon- estruturantes te original. A cobrança deve em áreas com ser compreendida de um baixo dinamismo ponto de vista pedagógico, econômico, e ao gerar maior compromiscontribuir para so com a eficiência operaa redução das cional e assim possibilitar a construção de capacidade de desigualdades pagamento e o acesso a cré- sociais e regionais, dito no médio prazo, contri- parte relevante da buindo para a ampliação da missão do BNDES. efetividade da inclusão produtiva. Dada a natureza do recurso, há boa margem de flexibilidade nas condições de crédito. Pode-se, ainda, ampliar o retorno social, reaplicando o recurso por meio de um mecanismo rotativo, operado no âmbito da articulação mencionada anteriormente. O conceito de fundo de “doações recicláveis” vem crescendo entre investidores sociais, no sentido de superar a cultura do “fundo perdido”. Dessa maneira, entende-se possível construir estratégias estruturantes em áreas com baixo dinamismo econômico, e contribuir para a redução das desigualdades sociais e regionais, parte relevante da missão do BNDES.
LEONARDO PAMPLONA Arquivo Pessoal
O financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) viabiliza os grandes projetos estratégicos para o país, mas também chega às micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), negócios de risco ligados à inovação e a empreendimentos de baixa renda. As desigualdades sociais e regionais são foco natural do banco, que vem desenvolvendo meios para atuar em territórios com baixo dinamismo econômico, carentes de investimentos estruturantes que potencializem seu desenvolvimento. A visão do BNDES projeta uma postura “inovadora e pró-ativa ante os desafios da nossa sociedade”, e o desafia a apoiar mesmo os empreendimentos mais frágeis, a fim de cumprir plenamente sua missão. Considerando o esperado impacto social, esse público, sem acesso a crédito nem capacitações adequadas, foi, na última década, o principal tomador dos recursos não reembolsáveis do BNDES Fundo Social, a fim de se estruturar e, posteriormente, passar a tomar crédito, se firmando como alavanca territorial. Desde 2008, por meio de ampla articulação institucional, a atuação do banco nesse nicho cresceu significativamente. Parceiros alinhados com políticas públicas, investindo de maneira paritária e corresponsáveis pela boa execução na ponta, contribuíram para tal resultado, que alcançou cerca de 1.600 projetos em mais de 1.700 municípios, tendo sido investidos mais de R$ 1 bilhão, metade por meio do BNDES e o restante pelo conjunto de parceiros. Essa expansão implica em limites orçamentários e operacionais para a continuidade da atuação, dados os desafios para um adequado acompanhamento e avaliação. Assim, a ampliação sustentada da atuação deve buscar uma crescente convergência de recursos, estratégias e processos. Nesse sentido, alguns pontos para reflexão são apresentados: 1. A constituição de plataformas de articulação, que congreguem os recursos dos atores-chave nos territórios e sejam geridas por instituições especializadas, possibilita a interação, o aproveitamento da especialidade de cada ator (financeira, operacional ou consultiva), a redução de custos em atividade meio e uma atuação em nível mais estratégico. A gestão profissional pode ainda atrair empresas, e até pessoas físicas, que queiram investir no social mas ainda não o fazem como gostariam por falta de conhecimento, confiança ou condições operacionais para execução.
Economista e mestre em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, trabalha no Departamento de Meio Ambiente do BNDES.
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PRÊMIO ABDE-BID 2016
Efetividade na inclusão produtiva
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tados favoráveis quanBancos de to à significância. desenvolvimento, As variáveis explicativas significantes e crédito de longo que colaboraram para prazo e modelos de a redução da probabi- risco são conceitos lidade de inadimplên- intrinsecamente cia foram: pertencer relacionados, à agência paranaense; especialmente na pertencer à agência catarinense; o aumento economia brasileira. dos juros do contrato; ser um pequeno produtor rural; provir da região metropolitana de Porto Alegre; provir da região nordeste e noroeste do Rio Grande do Sul; o aumento do PIB; o aumento do índice de emprego; o aumento da TJLP; o aumento das expectativas de inflação e o aumento da desvalorização cambial. Colaborando para o aumento da probabilidade de inadimplência estavam: provir do oeste de Santa Catarina e provir do oeste e do centro paranaense. No teste de razão de verossimilhança, verificou-se que os modelos irrestritos tiveram um desempenho superior comparado aos modelos restritos. Isso indica que para a investigação proposta, tanto variáveis macroeconômicas como microeconômicas colaboraram no diagnóstico da inadimplência desse banco. Propõe-se para um próximo trabalho que ferramentas de seleção de variáveis sejam aplicadas, como o método Stepwise, assim como o diagnóstico evolua para um problema de Credit Scoring.
DENISE BENETTI RAMIREZ Arquivo Pessoal
O objetivo deste trabalho foi investigar os condicionantes da inadimplência de um banco de desenvolvimento, por meio da Análise de Sobrevivência, que é uma abordagem relativamente simples, atual e está contemplada nas recomendações de Basileia II como metodologia para análise de risco da carteira de crédito. Em virtude da disponibilidade dos dados do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que atua nos estados da Região Sul do Brasil, bem como às suas peculiaridades no mercado de crédito e sua relevância para a região, tomou-se a instituição como objeto de estudo. Aplica-se a Análise de Sobrevivência quando o que se deseja conhecer é o tempo até que um evento de interesse ocorra, como, por exemplo, a inadimplência; isso porque, nesses modelos, os indivíduos (tomadores de crédito) apresentam uma determinada característica por um determinado período de tempo e que pode se alterar, que é o que ocorre à situação de adimplência, que pode se modificar ao longo do tempo. As características individuais dos clientes, assim como as do ambiente econômico, podem ajudar a entender quais fatores propiciam que um tomador de crédito passe de uma condição a outra. A técnica surgiu com os estudos demográficos no século XVII, quando a morte das pessoas passou a ser registrada como fenômeno de interesse político e social. Já na Segunda Guerra Mundial, a Análise de Sobrevivência foi aplicada para mensurar o tempo de falha dos equipamentos militares e, com isso, por toda a indústria mecânica. No âmbito financeiro, a mortalidade empresarial foi o interesse dos primeiros estudos usando essa metodologia. Econometricamente, a metolodogia foi empregada nesse trabalho em função de sua capacidade de incorporar o tempo à análise de risco de inadimplência. A duração de tempo até a ocorrência desse evento é uma variável aleatória, contínua e não negativa para o modelo. Bancos de desenvolvimento, crédito de longo prazo e modelos de risco são conceitos intrinsecamente relacionados, especialmente na economia brasileira, e fizeram parte da literatura consultada para o desenvolvimento do trabalho. Assim, constituíram-se três modelos, a partir de 11.251 observações entre outubro de 2013 e abril de 2015 da carteira total de crédito do banco de desenvolvimento estudado. Os modelos estimados por meio da maximaverossimilhança foram: o Exponencial, o Weibull e o Cox, apresentando resul-
Mestre em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Analista de Projetos no setor de Acompanhamento e Recuperação de Crédito no BRDE.
MARÇO | ABRIL 2017
Produtores rurais e cooperativas encontram no BRDE crédito para investir na próxima safra, qualificar a produção e tornar o agronegócio ainda mais competitivo. Sempre com a orientação de profissionais especializados, que trabalham junto a cada cliente para encontrar o financiamento ideal para a sua necessidade. BRDE. O banco que liga você ao desenvolvimento.
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Fotos: Divulgação
REPORTAGEM
Cooperativismo no futuro Conferência Internacional Cooperativismo e Desenvolvimento Regional debate exemplos internacionais, especialmente o caso alemão, e apresenta novidades tecnológicas implementadas pelo sistema brasileiro. POR JADER MORAES A primeira edição da Conferência Internacional Cooperativismo e Desenvolvimento Regional, realizado pelo Sicoob Unicoob e pelo Instituto Sicoob, com apoio da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), em Foz do Iguaçu (PR), nos dias 4 e 5 de abril, reuniu membros e gestores de cooperativas de crédito de todo o país. Em pauta, as novas tecnologias de comunicação, mecanismos de garantias e experiências internacionais em cooperativismo financeiro. O presidente do Sicoob Unicoob, Jefferson Nogaroli, destacou que a Alemanha é uma importante inspiração para o sistema cooperativo brasileiro e disse que um dos principais desafios para as cooperativas nacionais é obter ganhos de escala e produtividade. “O cooperativismo é transformador, pois nossa missão é promover o desenvolvimento do território e das pessoas que estão nele. Precisamos ganhar escala para aumentarmos nossa influência”, elencou Nogaroli, na abertura do evento. O presidente do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), Marco Aurélio Borges de Almada Abreu, também ressaltou a importância da missão de desenvolvimento assumida pelo segmento cooperativista de crédito. Contudo, ele lembrou que é preciso conjugar isso a eficiência operacional e viabilidade econômica das organizações. “Nossa missão é nobre, temos que ter compromisso com o desenvolvimento da comunidade em que atuamos, mas para isso é preciso cumprir nossas obrigações”, comentou, 12
durante palestra em um dos painéis dedicados à tecnologia e inovação (ver boxe). Ao iniciar o painel de debates internacionais, o diretor do Volksbank Trier, Norbert Friedrich, apresentou dados sobre a rede financeira cooperativa alemã e sua importância para o fomento ao desenvolvimento regional. “A instituição bancária cooperativa é um banco de verdade, e não serve a interesses particulares”, destacou. Para Norbert, as condições fundamentais para o sucesso dos bancos cooperativos são o elevado grau de identificação que possuem com a região e sua população e o aprimoramento constante de estruturas. Como principais desafios atuais para o segmento, o diretor destacou as mudanças trazidas pela revolução digital, como a abordagem do cliente, que não se concentra mais no âmbito presencial, as Fintechs (ver reportagem de capa) e os mecanismos necessários para tornar os pagamentos online mais seguros para os clientes. José Manuel Serrano, diretor de Projetos e ReMARÇO | ABRIL 2017
presentante na América Latina da Confederação Alemã das Cooperativas (DGRV), afirmou que um dos objetivos da instituição, uma das maiores organizações econômicas da Alemanha, é atuar em cooperações técnicas para o desenvolvimento do cooperativismo no exterior. Atualmente, está presente em 28 países. Serrano destacou que o cooperativismo pode colaborar com os objetivos do desenvolvimento sustentável, elaborados pela Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente em um continente tão desigual como o latino-americano. Para isso, a DGRV tem auxiliado programas de apoio a pequenos produtores organizados em cooperativas em países como México e Paraguai, colaborando também no aperfeiçoamento da gestão de riscos e do processo de concessão de crédito em instituições similares desses países. “As cooperativas são o modelo empresarial mais adequado para contribuir com o desenvolvimento sustentável”, afirmou. GARANTIAS Outro foco do debate na conferência, os sistemas de garantias precisam ser vistos como parceiros e não como concorrentes dos sistemas financeiros, na opinião do executivo sênior da Cooperação Andina de Fomento (CAF), Alejandro Soriano. “Eles possibilitarão que bancos possam colocar mais crédito e chegar a novas empresas”, avaliou. O executivo cobrou maior envolvimento dos órgãos reguladores e lembrou que o fortalecimento das garantias gera empresas com maior capacidade de inovação e competitividade, o que colabora para eventual internacionalização e consequente aumento de empregos, de divisas e de uma série de benefícios colaterais. O diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Damaso, frisou que o principal objetivo do sistema financeiro é o desenvolvimento da economia. Neste sentido, um de seus principais desafios é o aumento do crédito para micro e pequenas empresas (MPEs). Há, no entanto, dois entraves para o cumprimento desse ponto: assimetria de informações e, justamente, garantias. “As regras prudenciais muitas vezes limitam as possibilidades de as MPEs obterem garantia”, disse. Para superar essas dificuldades, o diretor assegurou que o Banco Central é “amplamente favorável” ao modelo de cooperativas de garantias, conforme consulta pública que o órgão publicou em 2014. Ele destacou que as Sociedades Garantidoras de Crédito são importantes, mas ainda pouco numerosas justamente pela incerteza regulatória. “Uma boa regulação tem potencial para alavancar essas iniciativas, como aconteceu com as próprias cooperativas. Chegou a hora de retomarmos esse debate, inclusive pelo momento que estamos vivendo no país, em que o crédito para micro e pequenas é fundamental”, concluiu. O secretário-executivo da ABDE, Marco Antonio A. de Araujo Lima, presidiu uma mesa que reuniu diferentes experiências de educação cooperativa das cinco regiões do país, com a participação da chefe do departamento de Educação Financeira do Banco Central, Elvira Cruvinel. Marco Antonio destacou os números RUMOS
Presidente do Bancoob: Estamos no meio da travessia No painel dedicado a tecnologia e inovação, o presidente do Bancoob, Marco Aurélio Almada, apresentou as ações que a organização tem desenvolvido para se posicionar na fronteira tecnológica, em intenso relacionamento com seus clientes e na dianteira em relação às demais instituições financeiras. Almada destacou que o mundo passa por uma transformação cultural, ancorada nos valores da efemeridade, sincronicidade e mutualidade, que faz com que a vinculação das pessoas às instituições seja mais precária. Hoje, os consumidores já não têm paciência de esperar e, em contrapartida, possuem maior consciência do poder da colaboração para resolver os problemas. Os dispositivos tecnológicos estão no centro dessas mudanças culturais. “Estamos no meio da travessia e ainda não sabemos para onde esse processo em curso nos conduzirá. Mas é inexorável: o mundo caminha nessa direção e as instituições também devem seguir esse rumo”, afirmou. Almada ressaltou que o Bancoob tem desenvolvido uma série de soluções digitais para se integrar a essa realidade, especialmente com a criação de canais de atendimento por meio de aplicativos, como mobile banking, controle das finanças e captura dos dados geodésicos das propriedades rurais. “Não estamos brincando com a digitalização, pois é algo que pode ser transformador e moldar o futuro do cooperativismo”, assegurou o presidente, defendendo que os bancos cooperativos precisam estudar com competência a realidade digital. “Não cabe a nós resistirmos à nova dinâmica”, concluiu. impressionantes do cooperativismo de crédito e como ele pode desempenhar um papel fundamental para que o país supere a crise e volte a crescer. “O Brasil precisa desesperadamente voltar ao desenvolvimento, pois está em seu DNA. Em um momento de crise como esse, precisamos reafirmar o desenvolvimento como valor, e o cooperativismo pode dar uma contribuição vital para alcançarmos esse objetivo”, resumiu. 13
Vinicius Loures
REPORTAGEM
Chamada ao setor privado Encontro conclama prefeituras a se prepararem para parcerias público-privadas e concessões de serviços públicos. Na oportunidade, novos e antigos gestores de municípios se reuniram para pensar soluções para o desenvolvimento das cidades. POR SARAH BARROS
Prefeitos, vice-prefeitos e gestores municipais de todo o Brasil se reuniram em Brasília, entre os dias 26 e 28 de abril, encorajados a construir meios para reinventar o financiamento e a governança das cidades, tema central da quarta edição do Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável (EMDS). Entre as ferramentas propostas, as parcerias público-privadas (PPPs) e as concessões foram amplamente discutidas e apontadas como as mais apropriadas para promover investimentos em infraestrutura urbana diante do momento adverso que a economia brasileira enfrenta. Em uma das 22 salas temáticas abertas no evento, esses instrumentos foram dissecados tanto enquanto meio para financiar projetos com entrada de capital privado quanto em relação à gestão e ao controle dos contratos pela administração municipal. 14
Logo na abertura do evento, promovido pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e apoio da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), os ministros Bruno Araújo, das Cidades, e Dyogo Oliveira, do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) revelaram as principais diretrizes do programa em discussão no Governo Federal para dar apoio, principalmente financeiro e técnico, aos municípios no processo de assinatura de contratos de PPPs e concessões. De acordo com Oliveira, diante de diagnósticos de restrições fiscais e das demandas por desenvolvimento em infraestrutura, “uma saída viável e adequada é ampliar a participação do setor privado”. Ao todo, o governo estima investir R$ 10 bilhões em iniciativas voltadas prioritariamente para as áreas de iluminaMARÇO | ABRIL 2017
ção, gestão de resíduos sólidos, mobilidade e saneamento. A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil também começaram a direcionar linhas de crédito no total de R$ 4 bilhões para financiar os investimentos nessas infraestruturas. O alvo do governo é atender à demanda de municípios que tenham população acima de 100 mil habitantes, o que representa cerca de 300 cidades brasileiras, segundo suas próprias estimativas. Os detalhes do programa, ainda em estágio de construção, também abriram os debates na sala temática intitulada “PPPs e Concessões para viabilizar investimentos”, a começar pelos impactos esperados sobre a oferta de serviços públicos urbanos. “A população vai ver a melhoria dos serviços ofertados e a geração de emprego e renda. Os impactos positivos para as prefeituras virão com o fortalecimento da economia local, a aceleração dos investimentos em infraestrutura urbana, o aprimoramento da gestão dos serviços públicos e a promoção de serviços de qualidade com responsabilidade fiscal”, afirmou o assessor da Secretaria de Desenvolvimento de Infraestrutura do MPOG, Renato Rosenberg. Para o empresariado, espera-se a criação de novas oportunidades de negócios e a geração de valor às empresas. Oito eixos formam o programa, sendo o primeiro deles a criação de um fundo de estruturação de projetos a ser gerido pela Caixa. Para isso, o governo estuda a edição de uma Medida Provisória e, com capitalização da União, a Caixa fará o chamamento público dos municípios interessados em participar e organizará a demanda, inclusive com contratação de consultorias. A ideia é que as prefeituras arquem com até 30% do valor dos estudos, com a possibilidade de financiamento da contrapartida a partir de bancos. Também norteiam a iniciativa: o assessoramento das instituições financeiras federais na revisão dos editais e contratos; a padronização dos documentos necessários; o financiamento por meio de linhas de crédito com condições claras de contratação; provimento de garantias; capacitação técnica; legislação; e regulação de contratos. PERSPECTIVAS Os debates que se seguiram sobre o tema até o final do encontro indicaram que os movimentos em direção à concretização de PPPs e concessões por parte das prefeituras brasileiras abrem novas perspectivas para a administração municipal manter um nível satisfatório de investimentos em serviços públicos e oferecer melhor qualidade de atendimento à população. “Entendemos que o setor privado é o que mais terá crescimento no Brasil. A nossa ação com os municípios não é só no financiamento, mas no assessoramento técnico aos gestores municipais”, afirmou o diretor de Infraestrutura, Saneamento e Produtos de Governo da Caixa, Antônio Gil. A avaliação tem alicerces na experiência da instituição que, atualmente, administra carteira ativa de financiamento em investimentos de infraestrutura que gerou mais de R$ 120 bilhões em mais de três mil operações – a maioria delas com o setor público. O representante do Banco do Brasil, Carlos Cerqueira, apontou ainda haver grandes dificuldades para a implantação dos contratos com o setor privado, mas acredita serem as Parcerias Público-Privadas uma das grandes soluções que o país tem de investir. “Acredito que vamos RUMOS
conseguir ter a garantia de que, talvez, nunca tivemos. Essa garantia, saindo de um fundo, como foi apresentado aqui, vai ser uma das grandes vantagens sobre essa questão”, disse. E assim, passo a passo, o Brasil avança na consolidação desses instrumentos adotados desde a década de 1990. “Não foi da noite para o dia que surgiram as PPPs e as concessões. Houve anos de transição, de idas e vindas desde 1991, quando tivemos o primeiro momento de interlocução com o setor privado”, pontuou a especialista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ana Lúcia Dezolt, na última mesa de debates, sobre os riscos e desafios desta relação entre os setores público e privado. Segundo ela, o Brasil está na quarta geração de todo esse processo, em que é perceptível a busca por projetos autossustentáveis e a necessidade de uma forte racionalidade econômica. “Vemos, agora, a necessidade de um amplo apoio federativo e as questões da governança e do investimento em capital humano; a seleção rigorosa e priorização de projetos e recursos; a transparência e o diálogo com o poder público e os atores de mercado; além de agentes de controle”, afirmou. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável é um evento bienal que reúne autoridades federais, municipais e estaduais, além de pesquisadores, estudantes e integrantes de delegações estrangeiras para promover a inclusão do tema da sustentabilidade em programas de governo e criar agendas propositivas de desenvolvimento local sustentável. Nesta quarta edição, 8.755 pessoas acompanharam a programação montada com a participação de 476 palestrantes, moderadores e debatedores. Ao todo, 1.089 municípios foram representados, dos quais 426 são prefeitos e vice-prefeitos. O tema central “Reinventar o financiamento e a governança das cidades” foi abordado em debates propostos em torno de sete eixos temáticos: serviços e políticas públicas como direitos da cidadania; cidades inteligentes, inovadoras, democráticas e transparentes; direito à cidade; repactuação federativa, consorciamento e desenvolvimento regional; qualidade e eficiência na gestão pública e a judicialização da escassez; agenda urbana global e mudanças climáticas; incentivo à economia local, empreendedorismo, emprego, trabalho e renda. 15
ARTIGO
O antimilagre econômico brasileiro A queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2016 confirma que estamos passando por uma das crises econômicas mais profundas da nossa história. Essa crise é mais bem compreendida à luz do período imediatamente anterior, que pode ser dividido em duas fases: i) o período do boom das commodities, entre 2004 e 2011, em que o crescimento acelerou-se em relação à tendência observada desde os anos 1980 e a desigualdade salarial declinou; e ii) o período de desaceleração, a partir de 2012. A trajetória brasileira no período foi similar àquela de alguns países sul-americanos, que também passaram por uma aceleração do crescimento combinada à queda da desigualdade, até que a reversão do ciclo das commodities trouxesse seus impactos negativos. Seria possível supor que tais trajetórias podem ser explicadas essencialmente pelos efeitos da própria dinâmica dos preços das commodities e pelas políticas implementadas pelos governos de centro-esquerda que chegaram ao poder no período, em vários países da região. No entanto, olhar para a interação entre demanda agregada, distribuição de renda e estrutura produtiva permite uma compreensão mais profunda da curta fase auspiciosa e de seus limites, a fim de que as lições desse ciclo, que, ao menos no Brasil, se encerrou, sejam aprendidas. Uma primeira hipótese sobre a relação entre demanda e distribuição de renda pode ser formulada recorrendo-se a um arcabouço teórico que combina uma relação de demanda kaleckiana e uma relação distributiva que depende das trajetórias do mercado de trabalho 16
e da produtividade (ver tabela).1 Segundo ela, o consumo agregado foi impulsionado, entre 2004 e 2011, pelo aumento do percentual dos salários na renda e pela redução da disparidade salarial – ambos resultantes de políticas que elevaram o poder de barganha dos trabalhadores, como a valorização do salário mínimo e o Bolsa Família, e do padrão setorial do crescimento econômico –, bem como pela expansão do endividamento familiar – fruto, em parte, da autorização do crédito consignado. Já o investimento agregado foi estimulado pelo crescimento do investimento público, pelo aumento dos termos de troca e pela elevação do nível de utilização da capacidade produtiva instalada. Tais impulsos mais do que compensaram o desestímulo representado pela queda do percentual dos lucros na renda. Assim, o crescimento tanto do consumo quanto do investimento, acompanhados no início pelo crescimento das exportações líquidas permitido pelo boom das commodities, resultaram em um crescimento acelerado da demanda agregada. Esse crescimento, por sua vez, estimulou o aumento da parcela dos salários na renda, incentivando ainda mais o consumo. A desaceleração do período posterior pode ser, então, explicada pela inflexão dos determinantes da demanda agregada.2 Em um primeiro momento, entre 2011 e 2013, alguns desses determinantes ainda estimulavam a demanda, enquanto outros já a estavam pressionando para baixo e o nível da utilização da capacidade instalada contrai-se lentamente. Em 2014 e 2015, no entanto, os três determinantes caíram e a contração da utilização de capacidade ganhou velocidade, resultando em queda no PIB desde 2015. O percentual dos salários na renda, por sua vez, continuou au-
Mais detalhes sobre a formulação teórica e sua aplicação à trajetória brasileira recente podem ser encontrados em trabalho em andamento do autor, que está à disposição de eventuais pessoas interessadas. 2 Interpretações sobre as razões para o aumento e posterior queda desses determinantes da demanda agregada estão disponíveis no trabalho mencionado do autor. 1
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3 A importância de incorporar heterogeneidade setorial ao arcabolço kaleckiano foi abordada em Rugitsky (2016).
RUMOS
o consumo e em pressões políticas para contrair a demanda. O segundo limite está relacionado à inserção externa da economia brasileira. A mudança na estrutura produtiva observada tende a ter um impacto negativo sobre as elasticidades-renda do comércio exterior, reduzindo a taxa de crescimento compatível com equilíbrio das transações correntes, tal qual definida por A. Thirlwall. A contínua deterioração do saldo de transações correntes do Brasil, principalmente desde 2009, foi em parte uma manifestação dessa regressão da estrutura produtiva. Assim, os limites das políticas implementadas foram intensificados pelas implicações do processo cumulativo. Tomados em conjunto, tais fatores parecem permitir uma interpretação mais frutífera das dificuldades observadas desde 2011, em que a política econômica buscou, sem sucesso, lidar com esse legado complexo do período anterior. Isso não significa que a crise atual seja reflexo dos erros cometidos pelos governos passados e dos excessos permitidos no período de abundância, como sugere a visão convencional, a fim de defender uma guinada liberal que não tende a gerar prosperidade, a não ser para os muito ricos. Significa, no entanto, que uma estratégia que combine crescimento com redução de desigualdades deve levar em consideração seus impactos sobre a estrutura produtiva, para que consiga evitar que se acumulem tensões que ponham a perder as conquistas alcançadas. Referências BONELLI, Regis (2016). “Uma medida de utilização de capacidade na economia brasileira, 1947-2016.” IBRE-FGV Séries Históricas. ORAIR, Rodrigo (2016). “Investimento público no Brasil: trajetória e relações com o regime fiscal.” IPEA Texto para Discussão, n. 2215. RUGITSKY, Fernando (2016). “Growth, distribution, and sectoral heterogeneity: reading the Kaleckians in Latin America.” Economia, Vol. 17 (3), pp. 265-278.
FERNANDO RUGITSKY
Acervo Pessoal
mentando até 2013 e caiu apenas em 2014. Ainda não há dados disponíveis para os últimos dois anos, mas é provável que a redução tenha continuado. A dependência do crescimento entre 2004 e 2011 nos termos de troca, que não podem ser controlados, e em algumas políticas (de redução da disparidade salarial e de expansão do crédito às famílias) cujos efeitos tendiam a se esgotar contribui para explicar a desaceleração que se seguiu. Contudo, apenas levando em consideração as mudanças estruturais por que passou a economia brasileiro no período é possível encontrar razões para o tamanho do tombo.3 Embora as evidências a esse respeito sejam ainda preliminares, dada a escassez de estudos, o período entre 2004 e 2011 parece ter sido também caracterizado por um processo de causação circular e cumulativa envolvendo a redução da desigualdade salarial e as transformações na estrutura produtiva. Concretamente, a queda da desigualdade teria levado a uma alteração na composição do consumo agregado, com a difusão para a base da estrutura social de hábitos de consumo antes restritos aos grupos relativamente mais ricos. Tal mudança do padrão de consumo teria repercutido nos preços relativos e impactado a estrutura produtiva, levando especialmente ao crescimento relativo do setor de serviços. Essa mudança da estrutura produtiva teria, por sua vez, reflexo na estrutura do emprego, comprimindo o percentual de empregos nos dois extremos da escala salarial e ampliando o percentual de empregos de remuneração intermediária. Fechando o ciclo, a alteração da estrutura do emprego teria levado a uma redução adicional da disparidade salarial, reiniciando o processo. O crescimento econômico brasileiro durante o chamado “milagre econômico”, entre 1968 e 1973, foi caracterizado por um processo cumulativo similar, mas com sinal invertido: o aumento da desigualdade impactava a estrutura produtiva, o que ampliava ainda mais a desigualdade. Daí nossa proposta de chamar a trajetória recente de “antimilagre econômico”. Esse processo cumulativo conferiu, em um primeiro momento, impulso adicional à demanda agregada, pelo seu impacto na desigualdade salarial. No entanto, ele tinha limites que, cedo ou tarde, apareceriam. O primeiro deles está relacionado ao aumento da inflação de serviços. Enquanto os termos de troca favoreceram a apreciação cambial, até 2011, a variação dos preços dos produtos comercializáveis manteve-se abaixo na meta de inflação, compensando a variação dos preços dos serviços. Com a reversão dos termos de troca, no entanto, e com a desvalorização cambial que a acompanhou, essa compensação deixou de ocorrer e a inflação passou a acelerar, resultando em efeitos negativos sobre
Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e pesquisador associado do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Doutor em economia pela New School for Social Research, mestre em direito econômico pela USP.
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MDA
REPORTAGEM
Desenvolver o campo
O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) atua apenas nos três estados do Sul do Brasil: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná; mesmo assim, destacou-se como o segundo principal agente financeiro de repasse de recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. POR DANILE REBOUÇAS O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) ganha destaque no cenário nacional pelo repasse de crédito à agricultura familiar, cumprindo sua missão social de fomento ao setor que responde por cerca de 70% dos alimentos consumidos em todo o país, como destaca o seu diretor-presidente, Odacir Klein. No ano agrícola 2016/2017, que se refere ao período de julho de 2016 a junho de 2017, o BRDE foi o segundo que mais repassou recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) entre todas as instituições financeiras credenciadas no Brasil. A posição foi alcançada com sua atuação apenas nos três estados do Sul, e mesmo tendo somente uma agência localizada nas capitais: Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba. “Ainda que sejamos um banco de desenvolvimento regional e com presença em apenas três estados, destacamo-nos pelo fato de atuarmos em uma região com forte presença de atividades agropecuárias e, sobretudo, pela nossa forma de trabalho conjunta com cooperativas de produção e de crédito fazendo chegar esse recurso até o produtor rural
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na pequena propriedade”, ressalta a chefe do Departamento de Crédito e Normas do banco, Vera Regina Ferreira Carvalho. Ela acrescenta que “é a rede de parcerias estabelecida a partir do BRDE que permite a difusão do Pronaf Investimentos na região”. O Pronaf é um dos programas de crédito rural do Governo Federal repassado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aos seus agentes financeiros, dentre eles o BRDE. Este, por sua vez, contrata os créditos para que os produtores realizem seus investimentos em obras, instalações e aquisição de equipamentos. Vera Carvalho lembra que o BRDE foi o primeiro agente financeiro credenciado para repasse dessas operações indiretas do BNDES, já or-
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ganizadas em programa específico em 1995. Mas, mesmo antes, já atuava fortemente no apoio ao setor rural. “Financiar a agropecuária é uma ação característica do BRDE”, afirma. Os valores orçados do Pronaf, para todo o país, no ano agrícola 2016/2017, são de R$ 2.672 milhões, dos quais R$ 1.847 milhões são para investimento – modalidade em que o BRDE se insere – e R$ 825 milhões para custeio. Desses montantes, a rubrica investimento já realizou 67% do valor orçado, ou seja, R$ 1.236 milhões, sendo que R$ 389 milhões, que correspondem a 31,47% do total, foram repassados pelo BRDE às famílias produtoras, de julho de 2016 até março de 2017. “Levar recursos praticamente à totalidade da Região Sul é uma meta muito importante que temos alcançado, possibilitando que o agricultor realize investimentos e se qualifique para produzir mais e enfrentar mercados cada vez mais competitivos”, destaca Vera. RESULTADOS A atuação do BRDE com o Pronaf contribui para o fortalecimento da instituição como agente econômico do Sul e estimula o desenvolvimento do país. Os resultados dessa parceria do BRDE com o BNDES são visíveis em grande parte dos 1.095 (91,9%) dos municípios da região onde tem clientes ativos. A gerente de Operações Conveniadas da Agência Rio Grande do Sul, Letícia Weber, afirma que os resultados são positivos no estado, com o benefício de famílias de pequenos produtores rurais e a promoção do aumento da produção regional, com a diminuição dos custos. “Em consequência, eleva-se a renda da família produtora rural, influenciando, inclusive, na permanência dos jovens agricultores no campo”, completa. Letícia destaca, ainda, que, em 2016, 59% das contratações da carteira rural do BRDE no Rio Grande do Sul eram de operações do Pronaf. Dentre elas, 912 operações foram de Pronaf Mais Alimentos, modalidade que é abrangente e cobre as necessidades de investimentos dos pequenos empreendedores desse importante segmento produtor de alimentos. “A nossa principal motivação é participar do desenvolvimento dessas famílias, melhorando sua qualidade de vida”, afirma. Em Santa Catarina, a gerente de Operações Conveniadas, Sílvia Daniela da Silva Monteiro, também comemora os resultados obtidos. No estado que é caracterizado pelo grande número de pequenas propriedades rurais, ela confirma que a utilização das linhas do Pronaf incentiva a permanência das famílias na atividade no campo, gerando aumento de renda e melhor qualidade de vida, evitando o êxodo rural. “Nas regiões catarinenses nas quais o BRDE financiou um maior número de operações do Pronaf onde uma maior concentração de municípios com melhor Índice de DesenvolviRUMOS
mento Humano (IDH), evidenciando os bons resultados alcançados por esta modalidade de financiamento”, comenta Sílvia. Somente no ano de 2016, a agência em Santa Catarina realizou cerca de 1.800 operações Pronaf, com valores médios de R$ 44 mil, o que evidencia os resultados descritos. Sílvia explica que “em complemento a esses financiamentos, mas também com o objetivo final de propiciar melhores condições para os produtores, o BRDE também disponibilizou mais de R$ 123 milhões para projetos das cooperativas de produção por meio do Pronaf/Agroindústria”. PARTICIPAÇÃO Levar recursos em A equipe do BRDE trabalha praticamente à de forma harmônica e inte- totalidade da Região grada com o BNDES e com Sul é uma meta os parceiros operacionais muito importante conveniados, dedicando-se que temos alcançado, com esmero nas análises dos possibilitando que projetos e nos contatos com o agricultor realize os empreendedores. “A for- investimentos ma de trabalhar da institui- e se qualifique ção, desde sua origem, tem para produzir sido esta. Vale para os pro- mais e enfrentar jetos de maior porte e vale mercados cada vez também para os pequenos mais competitivos, produtores”, reforça Vera ressalta a chefe do Carvalho. Departamento de É para melhor empreen- Crédito e Normas do der e democratizar o acesso Banco, Vera Regina aos recursos que o BRDE Ferreira Carvalho atua com as parcerias que estão próximas dos pequenos produtores rurais. Para isso, são firmados convênios operacionais que viabilizam a tomada de recursos. As conveniadas conhecem as reais necessidades de seus associados e auxiliam no encaminhamento dos projetos às três agências do banco nas capitais dos estados do Sul. O site do BRDE (www.brde.com.br) oferece a relação das suas conveniadas nas quais os produtores associados podem buscar financiamento. Essas parceiras, além de fazerem o encaminhamento das operações de seus associados, dão o respaldo técnico e auxiliam no cumprimento da realização dos investimentos. Todas elas conhecem a forma de trabalhar, as normas e os regulamentos do banco, bem como os programas operacionalizados, realizando trocas de informações e treinamentos conjuntos para alcançar os padrões de análise e de melhorias contínuas. Para o ano agrícola 2017/2018, o BRDE aguarda os montantes a serem disponibilizados pelo Governo Federal para, no mínimo, repetir os valores que forneceu às famílias produtoras de alimentos neste ano que encerra. 19
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REPORTAGEM
Diante dos desafios À frente de um cenário adverso, a Fomento Paraná repensa a estrutura e os processos da instituição para se preparar para o futuro. POR CARMEN NERY
A Agência de Fomento do Paraná (Fomento Paraná) promoveu uma ampla reformulação estrutural neste primeiro trimestre de 2017 a fim de se adaptar às condições do mercado de crédito no atual cenário macroeconômico. As mudanças foram iniciadas a partir da formulação do 2º Ciclo do Planejamento Estratégico 2015-2018, que foi debatido com os colaboradores, no eixo de Governança Corporativa, uma vez que as alterações afetam cargos e atribuições de várias áreas. “O foco do trabalho de reestruturação foi a maximização da eficiência operacional. É preciso fazer mais, ter mais produtividade e eficiência com o corpo de colaboradores que já possuímos. O trabalho da consultoria contratada – Elogroup – nos mostrou que, com organização, e conhecendo nossos processos, isso é possível. Estamos adequando a estrutura ao nosso tamanho, minimizando retrabalhos e eventuais sombreamentos na atuação entre as unidades, permitindo a racionalização dos processos. Outra intenção foi especializar o nível de coordenação”, explica Juraci Barbosa, presidente da Fomento Paraná. A reestruturação da instituição foi definida ainda no Ciclo do Planejamento Estratégico, quando verificou-se que era preciso reavaliar o seu tamanho, porque a empresa cresceu e diversificou muito rapidamente a atuação. O processo foi aprovado pela diretoria, pelo conselho de ad20
ministração e assembleia geral, e as mudanças que estão em curso foram avaliadas também pelo Conselho de Controle das Empresas Estaduais e pela Comissão de Política Salarial, órgãos com competência para padronizar as políticas de governança no estado do Paraná. “A Fomento Paraná começou a direcionar esforços para o setor privado em 2012, quando foi feito um primeiro dimensionamento, mas, naquele momento, o cenário econômico era outro. Era preciso focar a instituição no negócio e ocupar o espaço existente no mercado. Agora, mais consolidados nessa atuação e considerando a curva de aprendizado, notamos que era preciso reavaliar nosso tamanho e capacidade de entregas. A intenção é que a empresa se aperfeiçoe ainda mais. O nível do nosso quadro técnico é muito bom, mas podemos melhorar em processos e dar mais agilidade às nossas análises, convertendo um volume maior de propostas em operações efetivas de crédito contratadas”, reitera Barbosa. MARÇO | ABRIL 2017
O foco do trabalho de reestruturação foi a maximização da eficiência operacional. É preciso fazer mais, ter mais produtividade e eficiência com o corpo de colaboradores que já possuímos. Juraci Barbosa, presidente ção para ocupá-lo, expandindo significativamente a carteira de crédito”, conta o diretor. Ocorre que veio a crise de 2014 e a empresa começou a perceber que a demanda por crédito estava se enfraquecendo, pois as empresas estavam endividadas, as taxas não estavam mais tão atraentes e a atividade econômica, em geral, teve redução. “O baixo consumo de crédito acabou atingindo também a Fomento Paraná”, resume Neves. NOVOS DESAFIOS Como exemplo de desempenho, em 2010 o saldo da carteira de crédito no setor privado da empresa era de R$ 17 milhões; em 2011, passou a R$ 21 milhões; em 2012, R$ 33 milhões; em 2013, R$ 69 milhões. Em 2014, quando começou a crise, a empresa chegou ao patamar de R$ 184 milhões. Em 2015, o volume passou a R$ 214 milhões, mas a expectativa era de que já estivesse em R$ 300 milhões. “Em 2016, chegamos a R$ 260 milhões, quando deveríamos ter chego a R$ 400 milhões de saldo. Entretanto, a meta prevista era de chegarmos em
Divulgação
Heraldo Neves, diretor administrativo e financeiro, observa que a Fomento Paraná foi criada em 2001 e concedia financiamentos, num primeiro momento, aos municípios, além de atender ao setor privado apenas com o microcrédito. Em 2011, quando a atual diretoria assumiu, foi elaborado um planejamento estratégico para que a instituição cumprisse sua finalidade de ofertar crédito para os setores público e privado em todos os portes e segmentos da atividade econômica. “Como consequência do 1º Ciclo de Planejamento, foi preciso reestruturar a empresa para o mercado de crédito. Revisamos o Plano de Cargos, Carreiras e Salários, realizamos concurso público e expandimos o quadro. Foram feitas melhorias na estrutura física, atualizado o parque de tecnologia da informação, e novos sistemas foram desenvolvidos. Também promovemos campanhas de marketing, para que a empresa se tornasse conhecida”, lembra Neves. O resultado é que atualmente a Fomento Paraná é uma empresa que detém um patrimônio líquido de R$ 1,5 bilhão, com uma carteira de ativos de R$ 1,75 bilhão, dos quais a carteira de crédito representa R$ 1,2 bilhão, e apresentou um lucro líquido de R$ 101,6 milhões em 2016, operando essencialmente com recursos próprios. “Quando chegamos, em 2011, tínhamos um ativo de R$ 1,26 bilhão, dos quais 52% eram aplicações financeiras e apenas 48% carteira de crédito. A maior parte era de aplicações no mercado mobiliário, ou seja, cumpríamos apenas parcialmente nossa finalidade. Para cumprirmos, tivemos que fazer todos aqueles ajustes”, justifica Neves. Mas as novas estratégias foram adotadas num cenário de política anticíclica do governo federal pós crise financeira de 2008, baseada na importância da componente de crédito como reativador da economia. “Uma das estratégias do governo federal para combater a crise de 2008 foi ofertar crédito farto e barato. Percebemos que tínhamos espaço para ocupar e planejamos a institui-
Reunião da diretoria com o presidente Juraci Barbosa (ao centro) na Fomento Paraná. RUMOS
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Confira as alterações no organograma da Fomento Paraná Diretorias
Antes
Depois
Características
Mercado e Relações Institucionais
Duas gerências: Mercado e Relações Institucionais
Uma gerência unificada
340 balcões para atendimento em 266 municípios
Operações
Três gerências: Cadastro; Microcrédito e Micro, Pequenas e Médias Empresas; e Operações Especiais
Uma gerência de Operações do Setor Privado, com três coordenações: Microcrédito, Operações Especiais e Operações para Micro e Pequenas Empresas
A área de cadastro foi para a Diretoria de Mercado para tornar mais racional a análise de crédito. Agora, uma vez identificada uma restrição cadastral, não se toma mais tempo das demais áreas
Jurídica
Três gerências: Jurídica; de Recuperação de Crédito; Risco e Compliance
Mantidas duas gerências, mas Risco e Compliance foi transferida para o gabinete da presidência em função da Lei 13.303.
A gerência de recuperação de crédito contava com as coordenações de gestão de bens, cobrança e negociações e passou a ter apenas a coordenação de negociações
2018 a R$ 800 milhões na carteira de crédito do setor privado. Em função dessa distância da meta se justificou a reestruturação, para termos uma estrutura compatível com o novo cenário. Esse montante sugere um volume de contratos ativos muito superior ao que temos hoje, de pouco mais de 12,4 mil. Logo, é preciso rever a meta”, sinaliza Neves. Ele destaca que as transformações devem assegurar à Fomento Paraná uma estrutura mais adequada à consolidação de sua missão: “Promover o desenvolvimento sustentável através do apoio técnico e financeiro voltado às necessidades da sociedade paranaense”. O diretor, que está deixando a empresa, explica que a reforma envolve a revisão da infraestrutura orgânica da instituição, atingindo todas as diretorias, incluindo o gabinete da presidência. “Essa adequação vai proporcionar uma economia de R$ 1,5 milhão e é um ingrediente importante para chegar a uma sustentabilidade institucional, para garantir que a Fomento seja independente de aportes de nosso controlador, diferentemente da maior parte das instituições de fomento do país que dependem de aportes dos respectivos tesouros”, reitera Neves. Não houve redução no número de diretorias, 22
mas foi promovida uma readequação nos níveis hierárquicos inferiores, com a redistribuição de algumas atividades entre as diretoriais e enxugamento do número de gerências e coordenações. A presidência, por exemplo, além de incorporar a área de Risco e Compliance, passou a assumir toda a atividade de Marketing e Comunicação e de Relacionamento Institucional, que estava na diretoria de Mercado. “Apesar da redução do quadro, tivemos autorização para abrir 22 novas vagas para dar mais consistência às áreas fim de mercado e operações. Fato que permitiu a promoção da melhora no nosso quadro funcional, reduzindo o número de cargos de confiança e de adidos em benefício de quadros de carreira”, diz. O presidente da Fomento Paraná diz que o objetivo é preencher pequenas lacunas que permitam manter o crescimento controlado e sustentável da agência, de forma a fortalecer a atuação nos objetivos primordiais, na missão da instituição, que é fornecer apoio técnico e financeiro às necessidades da sociedade paranaense. “Especialmente no tocante ao crédito voltado ao setor privado, o objetivo é estimular o crescimento da base produtiva, a geração de emprego, renda e riqueza em todas as regiões do estado. Provavelmente, daqui algum tempo, será novamente necessário reavaliar essa estrutura, para podermos sempre crescer de forma sustentável”, conclui Juraci Barbosa. MARÇO | ABRIL 2017
OPINIÃO
Trump
RUMOS
Há mais: em 1924, já sob a presidência do também republicano John Coolidge, que sucedeu a Harding, o Congresso americano aprovou o “Immigration Act”, que inaugurou o controle por quotas da imigração para os EUA. Limitou-se a imigração de qualquer país a 2% do número de descendentes de imigrantes da mesma nacionalidade, residentes nos EUA em 1890! A ideia provavelmente era a de que, fixando 1890, a composição étnica dos EUA se manteria relativamente estável. É interessante saber por que a escolha de 1890, quando os EUA tinham uma população de 63 milhões (em 1920 atingira 106 milhões, um crescimento de pouco mais do que 1,7% ao ano). Em 1890 a população de estrangeiros era 13% do total, o mesmo percentual que em 1920. O que os distinguia era a profunda mudança na nacionalidade dos imigrantes. Esses fatos exprimem, mais do que mil palavras, o viés étnico que dominou Harding e Coolidge, reforçado agora por Trump. A restrição não é contra qualquer imigrante, mas contra particulares imigrantes! Com o governo de Herbert Hoover (1929-33) o partido republicano completou 13 anos de política isolacionista, uma das contribuições mais fortes para o aprofundamento da Grande Depressão do século 20, enfrentada, depois por Franklin Roosevelt, um democrata (1933-45), mas isso já é outra história. Essa pequena excursão à essência do pensamento republicano faz parecer menos idiossincrático o estranho comportamento de Trump. Ele talvez responda a um profundo sentimento de parte da nação americana...
ANTONIO DELFIM NETTO Marcelo Correa
Não são poucos os brasileiros profundamente impressionados com as propostas isolacionistas do novo governo dos Estados Unidos, sob a liderança do sr. Donald Trump, neste momento de graves indefinições que ameaçam a ordem mundial. Não deviam se surpreender muito, porém... Trump talvez seja menos perturbado do que finge ser! A história dos EUA mostra que é algo arraigada a falta de solidariedade dos americanos (e uma boa dose de arrogância de muitos) com relação às sociedades que eles supõem menos virtuosas. Basta olharmos para o comportamento dos EUA depois da vitória na Primeira Grande Guerra no início do século passado, da qual emergiram como o credor “universal”. Na famosa Conferência de Paz, em Paris (1919), o presidente democrata Woodrow Wilson, juntamente com os primeiros-ministros da França (Georges Clemenceau), da Inglaterra (David Lloyd George) e mais uma dezena de líderes mundiais, trabalharam meses para determinar quais “reparações” seriam exigidas dos vencidos e como reorganizariam o espaço geográfico. Por sugestão de Wilson criaram a Liga das Nações, destinada a terminar com as guerras e garantir a “segurança coletiva”. Uma organização que pela ação conjunta de seus membros puniria com a exclusão imediata da comunidade internacional o país agressor que violasse a integridade de qualquer outro membro (proibindo toda a importação dele e toda a exportação para ele), se necessário pela força. Wilson voltou a Washington e passou o restante de seu mandato tentando convencer o Senado a autorizar a participação dos EUA na Liga das Nações, mas não foi ouvido e sentiu-se desmoralizado. Seu sucessor, o republicano Warren Harding (que não chegou ao final do mandato, 1921-23), elegeu-se defendendo o isolacionismo apoiado pelo setor privado americano, temeroso que a Liga das Nações pudesse diminuir a hegemonia adquirida com a vitória na guerra. Os republicanos, que depois da guerra sentiram a competitividade dos EUA ameaçada, exigiram medidas protecionistas, e em 1922 o Congresso aprovou o “Fordney-McCumber Tariff Act”, que simplesmente dobrou a tarifa média dos Estados Unidos. O resultado não poderia ser mais trágico. Como Keynes já havia apontado em 1920 no seu The Economic Consequences of the Peace, o peso da exigência das “reparações” impediria a reconstrução da economia dos “vencidos”, especialmente a Alemanha, com o comércio mundial sufocado pelas políticas protecionistas.
Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.
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Noel Joaquim Faiad
REPORTAGEM CAPA
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MARÇO | ABRIL 2017
Novos paradigmas A revolução digital trouxe um novo conceito de empresa, as fintechs, startups que unem inovação tecnológica a serviços financeiros centrados na melhor experiência para o usuário. Apoiadas na comunicação em nuvem, elas promovem uma ruptura nos antigos modelos de negócio do setor. POR CARMEN NERY
Nos anos últimos anos, a digitalização e desintermediação da economia têm transformado diversos setores, como os de música, entretenimento, transportes ou hotelaria a partir do surgimento de empresas com tecnologias disruptivas, como: iTunes, Spotfy, Netflix, Uber, AirBnb. O setor financeiro não poderia ficar imune a essa onda de transformação. Neste segmento, a fagulha disruptiva atende pelo nome de fintech, startups que unem inovação tecnológica a serviços financeiros centrados na melhor experiência para o usuário. Elas trazem soluções mais fáceis de usar, a maior parte é controlada por aplicativos ou pela web, e combinam maior eficiência, atendimento ininterrupto diferenciado e menor custo, o que as faz conquistarem cada vez mais clientes. O relatório Report FintechLab 2017 – publicado anualmente pela agência de inovação Clay Innovation – destaca que o surgimento do fenômeno fintech coincide com o da crise financeira de 2008, que trouxe descrédito às instituições financeiras tradicionais. A crise também colocou no mercado uma leva de profissionais de finanças que não tiveram alternativa a não ser empreender, aplicando na prática seus conhecimentos em iniciativas inovadoras. Ao mesmo tempo, começava a aceleração da penetração de smartphones em diversos países do mundo, após o lançamento do iPhone em 2007. Outros fatores incluem a chegada da geração millennial ao patamar de consumidores, o fácil acesso às novas tecnologias e o movimento de design de serviços centrado no ser humano. As fintechs também surgem com estratégia de democratizar o acesso aos serviços financeiros, reduzir as taxas e tarifas cobradas pelas instituições financeiras tradicionais e humanizar as relações com os consumidores. O relatório cita pesquisa do McKinsey Global Institute (Digital Finance for All:
RUMOS
Powering inclusive in Emerging Economies), apontando que existem no mundo dois bilhões de pessoas e 200 milhões de negócios sem acesso a serviços financeiros básicos, como poupança ou crédito. No Brasil, 32% da população adulta não tem uma conta bancária e 53% das médias e pequenas empresas não têm acesso a crédito. As fintechs podem contribuir para diminuir essas diferenças. No Brasil, as startups financeiras operando com crédito vêm derrubando as taxas de juros, aprovadas sem complicação. Um exemplo é o destaque desse segmento, a Nubak, que lançou cartão de crédito sem anuidade e com taxa 50% inferior à dos bancos emissores. Outros exemplos incluem empresas que estão focando em serviços para essa população esquecida pelos grandes bancos, como Banco Maré, Pop Recarga, ToGarantido, TáPago, E-dinheiro, Avante, entre outros. Sem falar nos bancos digitais, como Neon, Intermediun e SD, que garantem a abertura de contas pelo celular e não cobram pacotes de tarifas. Com tanta inovação e potencial, as fintechs logo atraíram a atenção dos investidores. Guilherme Horn, líder de inovação na consultoria Accenture, diz que o auge dos investimentos ocorreu em 2015, quando atingiu o patamar global de US$ 25 bilhões. Ele chama a atenção para o fato de que, no mesmo ano, os bancos investiram globalmente US$ 10 bilhões em inovação. Considerando-se que as startups trazem quase sempre serviços inovadores, pode-se concluir que elas têm liderado a inovação do setor financeiro, investindo 2,5 vezes mais. “As fintechs introduziram inovações importantes, como o empréstimo pessoa a pessoa (lending pear to pear), de empresas como a Lending Club, que permite empréstimos pessoais sem a intermediação de um banco, com um retorno financeiro muito maior para quem empresta e taxas muito menores para quem toma o crédito. Outra inovação são as transferências internacionais como as da Transfer Wise, que já detém 8% do mercado de varejo do Reino Unido. A empresa não movimenta recursos de um país para outro, mas encontra em cada país quem queira vender e quem queira comprar a moeda”, exemplifica Horn.
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O executivo é editor do blog Finnovation, que atua no monitoramento do Radar de Fintechs no Brasil. Trata-se de levantamento realizado em conjunto com o Finnovista e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que monitora também Argentina, Chile, Colômbia e México. O Brasil é o maior mercado de fintechs na América Latina, com 219 empresas divididas em 16 segmentos, na frente do México (158), Colômbia (77), Argentina (60) e Chile (56). A maior parte está na área de pagamentos (31%); a área de crédito, talvez a mais promissora para os próximos anos, já representa 12% das startups de fintech no país. Mais da metade, 54%, encontram-se em São Paulo, 10% estão no Rio de Janeiro, 8%, em Belo Horizonte, e 6%, em Porto Alegre. O levantamento apurou também o estágio de maturidade das organizações: 16% estão em estágio inicial, 23% já tiveram o produto lançado, 26% estão prontas para escalar e 35% encontram-se em pleno crescimento. Em relação ao público-alvo, 34% são B2B para empresas médias e grandes; 31% são B2C para consumidores bancarizados; 7% são B2B para pequenas empresas; e 28% são voltadas para a inclusão financeira, seja de pessoas físicas ou pequenas empresas. De acordo com o estudo Report FintechLab, até o terceiro trimestre de 2016, os investimentos globais de fundos de Venture Capital, Private Equity, Anjos e outros chegaram à casa de U$17,1 bilhões. Algumas empresas brasileiras inclusive receberam parte desses recursos. O último relatório da KPMG 2016 Fintech100 considerou duas startups brasileiras na lista das fintechs mais disruptivas do mundo – GuiaBolso e NuBank. A atração de investidores reflete o amadurecimento das fintechs. De acordo com o Report FintechLab, 72% delas já receberam algum aporte de capital. E, das que receberam investimentos, 14% obtiveram aportes superiores a R$ 20 milhões. Somente em 2016, a Nubank recebeu U$ 134 milhões de aportes, além de uma linha de crédito de U$ 100 milhões do Goldman Sachs. Outras empre26
sas de destaque, Guiabolso e Creditas, receberam R$ 60 milhões e R$ 15 milhões, respectivamente. O relatório prevê que, além de apoiadores locais estarem apostando mais nesse setor, investidores internacionais também retomem o interesse no Brasil, a partir da superação da atual crise político-econômica. Estima-se que até o final de 2016, as fintechs brasileiras receberam mais de R$ 1 bilhão. EXEMPLOS A Clay Inovation foi criada pelos irmãos Alexandre e Fabio Lara e por Marcelo Bradaschia – todos executivos de finanças. O objetivo inicial foi desenvolver serviços digitais para o Banco Original. Fábio conta que, ao mapear o mercado em busca de soluções para o banco, a Clay foi percebendo o surgimento das primeiras fintechs no país e viu a oportunidade de estudar este mercado. A primeira versão do Radar FintechLab reuniu 54 empresas no relatório de agosto de 2015. Em 2017, já são 244 mapeadas nas categorias Pagamentos, Gestão Financeira, Empréstimos, Investimentos, Funding, Seguros, Negociação de Dívidas, Câmbio e Multiserviços, entre outras. Na área de Empréstimos existem no Brasil 33 fintechs focadas em crédito, tanto locais quanto estrangeiras, número que representa 18% do total de iniciativas. Entre os destaques está a EasyCrédito criada, no final de 2014, em Goiânia, como um marketplace, que une as duas pontas – clientes e lojistas e financeiras – por meio de uma plataforma digital de operações de crédito na internet. Segundo Marcos Tulio Ramos, CEO da EasyCrédito, a empresa atua como um canal de aquisição de clientes para 32 empresas, entre lojas, financeiras e MARÇO | ABRIL 2017
Fotos: Divulgação
bancos, atendendo 200 mil usuários. A empresa é uma das fintechs apoiadas pelo programa InovaBra, do Bradesco, e já recebeu R$ 1 milhão de investidores Anjo. “No curto prazo não temos interesse em fazer uma rodada de captação de investimentos. Queremos fechar 2017 com 1 milhão de usuários e 70 empresas clientes, e nos tornarmos a plataforma de crédito digital do brasileiro em todos os momentos de sua vida”, projeta Ramos. Um dos destaques entre as empresas de recuperação de crédito é a Kitado, fundada em fevereiro de 2014 por Alexandre Lara e Paulo de Tarso. A empresa já tem contrato com empresas como Itaú, Credcard, Magazine Luiza, BV Financeira, Hipercard, Banco Pan, PortoCred, PortBrasil, Tricard e ViaVarejo e está iniciando o atendimento de mais cinco instituições financeiras e de serviços públicos. A diferença, segundo Lara, é a abordagem, que leva em conta a empatia sem a agressividade comum nos setores de cobrança. “As empresas nos contratam e dão algumas possibilidades de desconto. Além da alternativa de negociação, executamos um pouco de educação financeira. Muitas vezes, a pessoa sabe que vai pagar, só está esperando ter liquidez. Temos mais de seis milhões de clientes aptos a negociar e já conseguimos mais de 35 mil negociações por mês, já tendo ajudado mais de 400 mil pessoas a negociarem suas dívidas”, diz Lara. A Clay Innovation também realizou pesquisa com 177 empresas, das quais cerca de 80% afirmam que já possuem clientes pagantes e já passaram pelas fases de idealização e de validação dos seus modelos de negócios. Com relação ao número de funcionários, pouco mais de 10% das fintechs afirmaram que já contam com mais de 50 funcionários nos seus quadros, sendo que somente RUMOS
Alexandre Lara (Kitado), Felipe Sotto (Verius), Luciano Tavares (Magnets), Rodrigo Soeiro (Algoo) e equipe da EasyCrédito: fenômeno fintech coincide com a crise financeira de 2008, que colocou no mercado uma leva de jovens profissionais de finanças que não tiveram alternativa a não ser empreender.
7% do total possui mais de 100 colaboradores. Outro sinal do amadurecimento do ecossistema é o maior entrosamento entre os bancos e as fintechs. Embora não tenham chegado propriamente a um confronto, alguns segmentos incomodaram as grandes instituições financeiras, como o Guia Bolso e as startups que transacionam a moeda digital bitcoin. Neste último caso, os bancos alegam que, por não ser uma moeda regulamentada, o bitcoin pode ser usado para operações irregulares e lavagem de dinheiro. Já no caso da Guia Bolso o problema é o modelo de negócio que lhe garante acesso às contas correntes e faturas de cartão de crédito dos correntistas dos bancos. A empresa é uma plataforma de educação financeira que opera integrando, numa única interface, todas as contas correntes, cartões de crédito e investimentos do usuário, para propor a melhor gestão dos recursos. Para isso, tem de ter acesso direto a essas contas, o que deixou os bancos contrariados. Thiago Alvarez, CEO da GuiaBolso, explica que a empresa é uma plataforma de gerenciamento de finanças pessoais em que a pessoa consegue agregar seus dados, mas que, apesar do acesso às contas, não permite realizar transações, apenas consultas. A plataforma organiza todos os dados, analisa o que foi gasto em transporte, saúde, alimentação, lazer, e faz um planejamento. Lançada em 2014, já conta com 3,3 milhões de usuários. “Segundo avaliações de impacto, a plataforma permite à pessoa economizar 2,5 vezes mais ou R$ 470 em média. Além disso, há 25% menos pessoas recorrendo ao cheque especial e 15% a mais pessoas investindo. Em 2017, lançamos uma plataforma de crédito para resolver o segundo maior problema das pessoas que é o uso do crédito caro. Pesquisas apontam que 35% das pessoas usam o cheque especial, e 15%, o rotativo do cartão de crédito. Por meio de parcerias com instituições de médio porte estamos oferendo crédito com taxas de 2,7 a 6%”, diz Alvarez. A empresa já passou por quatro rodadas de investimentos, captando um total de R$ 17 milhões de instituições, como a IFC, 27
Panorama das fintechs no Brasil Panorama das fintechs no Brasil
Número de empresas
Área de atuação México 158
Número de empresas registradas, por país
Pagamentos 31% Crédito 12%
Aporte de capital
Colômbia 77
Brasil 219
Já receberam 72%
Local Chile 56
Argentina 60
São Paulo 54% Rio de Janeiro 10% Belo Horizonte 8% Porto Alegre 6%
Estágio de maturidade
Estágio inicial 16% Produto lançado 23% Prontas para escalar 26% Pleno crescimento 35%
Público alvo
B2B para empresas médias e grandes 34% B2C para consumidores bancarizados 31% B2B para pequenas empresas 7% Voltadas para a inclusão financeira 28%
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braço corporativo do Banco Mundial, a Omidyar, fundo que investe em empresas de impacto social, mantido pelo fundador do e-bay, além dos fundos Ribbit Capital, Kaszek, Valor Capital e e-Bricks. O temor inicial das instituições financeiras começa a ceder e a empresa está em vias de fechar uma parceria com um grande banco de varejo. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) tem preferido deixar que os próprios bancos se manifestem sobre as fintechs, uma vez que a maior parte das instituições financeiras já conduz seus próprios projetos. O Bradesco promove há três anos o Programa InovaBra, que seleciona a cada ano cerca de dez startups para apoiar, e eventualmente realizar negócios com algumas delas. O Itaú criou, em São Paulo, o Cubo, um ambiente de inovação e co-working para abrigar startups inovadoras. Para a Febraban, inovações tecnológicas que possam trazer benefícios ao consumidor, mantendo a solidez e confiabilidade dos serviços, contribuem para a expansão e aumento da qualidade do setor. Mas a entidade ressalta que muitas dessas empresas precisam, legalmente, vincular-se a uma instituição financeira para prestarem seus serviços. Para a entidade, as inovações trazidas pelas fintechs deverão levar a uma evolução da regulamentação do setor, por parte das autoridades MARÇO | ABRIL 2017
competentes. A Febraban diz esperar que essa atualização das normas e do arcabouço legal hoje existente seja capaz de garantir condições equivalentes de atuação para os agentes do mercado e facilitar a absorção de novas tecnologias e processos pelas instituições financeiras já existentes, sem tolher a contribuição das empresas inovadoras mais recentes para o bom funcionamento do sistema. Por enquanto, a posição dos órgãos reguladores, tanto o Banco Central como a Comissão de Valores Mobiliários, é regular o mínimo necessário para não inibir a inovação. O primeiro segmento regulamentado foi o de meio de pagamentos, por intermédio da Lei 12.865/2013, após a abertura de mercado com o fim da exclusividade das bandeiras Visa e Mastercard. Não por acaso, esse é o segmento que mais tem crescido. POSICIONAMENTO A PagSeguro é uma das pioneiras no setor e uma das fintechs nacionais mais bem-sucedidas. A empresa foi criada há dez anos, no Vale do Paraíba, como Br Pay, até ser adquirida, em 2007, pela UOL. Juan Fuentes, diretor geral da PagSeguro, explica que, na época, o ecossistema on-line ainda estava em gestação e não havia ferramentas de pagamentos que pudessem fazer com que os pequenos e-commerces se viabilizassem. A empresa se posicionou como o meio de pagamento que viria a dar confiança ao consumidor, retendo o valor pago até ter certeza de que o consumidor recebeu exatamente o que comprou. “Esse modelo teve muito sucesso, levando confiança ao consumidor. Passados seis anos, entendemos que este modelo também poderia trazer benefícios para o mundo off-line. Sempre focando no pequeno empreendedor, disponibilizamos um pequeno leitor de tarja magnética para que o pequeno lojista, o vendedor ambulante, pudessem passar a aceitar cartão de crédito”, diz Fuentes. Em seguida, a empresa passou a trabalhar com dispositivos móveis: o M-POS, que podia ser vendido, o que foi uma grande ruptura, pois as grandes empresas são baseadas em aluguel de máquina. Fuentes conta que o passo definitivo para a inclusão digital para a base da pirâmide foi o lançamento do cartão pré-pago, que funciona como o cartão de domicílio bancário. “Os grandes adquirentes pressupõem que o lojista tenha uma conta bancária amarrada. Com o cartão pré-pago o lojista decide o que faz com o dinheiro. Hoje temos mais de 700 mil estabelecimentos operando conosco e mais de 30 milhões consumidores”, enumera Fuentes. Para o diretor da PagSeguro, o movimento de fintechs terá uma rápida expansão, mas vai passar por um processo natural de consolidação. Como conselheiro da recém-criada Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), ele tem procurado orientar os empreendedores para que haja um fortalecimento das verticais por serviços, fintechs com vocação para seguros, investimentos, pagamentos, a fim de se criar musculatura e conseguir sobreviver num setor de extrema competitividade. Já começa a haver, inclusive, segmentações como o surgimento das insurtechs, fintechs específicas do segmento de seguros, em que a maior expoente é a Youse, da Caixa Econômica, que chegou mexendo com o tradicional mercado segurador. O segmento atraiu também executivos do mercado financeiro, como André Gregori, ex-CEO da divisão de seRUMOS
guros do BTG Pactual, que criou a thinkseg, plataforma 100% mobile. Na definição de Gregori, a empresa não é corretora nem seguradora, mas sim um market place que inclui seis seguradoras parceiras, corretores apaixonados, remunerados por meio de um sistema de pontuação, e clientes que buscam seguros mais bem precificados. O aplicativo está disponível na Google Play para dispositivos Android e, em breve, na Apple Store, para iPhone. O usuário passa a ter seu modo de dirigir monitorado por meio dos sensores presentes no próprio celular que captam informações de quilometragem percorrida, velocidade média, frenagem, aceleração e cambagem (modo como faz curvas). As informações são analisadas, e ao final de cada mês o APP thinkseg mostra os resultados obtidos no modo de condução do veículo. A partir daí, são gerados os pontos e descontos no valor do seguro. O desconto pode chegar até 40%. É um novo formato de seguro, por meio do qual o bom condutor é premiado, não apenas na renovação do seguro, mas todos os dias, por meio da sua tecnologia pay as you drive, pay as you use. “Pesquisei durante vários anos o que estava acontecendo em todos os mercados maduros no mundo até que cheguei ao modelo da thinkseg. Como nascemos do zero, não temos legado nem coberturas duplas, teremos custos menores e preço diferenciado”, diz Gregori. A ABFintech foi criada em outubro de 2016 e já conta com 216 associadas. Rodrigo Soeiro, diretor-executivo, diz que são três os objetivos da entidade. O primeiro é a geração de negócios para os associados. O segundo é a aproximação com os órgãos reguladores e autorreguladores. E, por fim, o terceiro é o impacto social por meio da inclusão bancária, da democratização da inovação e da geração de empregos. Rodrigo é cofundador da Allgoo, fintech especializada em outro segmento que vem despontando: a automatização de investimentos por algoritmos conhecidos como robôs advisors. Outras empresas do segmento são a Vérios, criada no início de 2015, e a Magnetis, de 2012; ambas atuam prestando um serviço que hoje está disponível apenas para o público de alta renda. A Vérios já recebeu R$ 4 milhões de investidores Anjo e pretende levantar mais R$ 6 milhões. A Magnetis recebeu uma rodada de R$ 3,2 milhões em 2015 da Monashees, Redpoint Ventures e 500Startups, além de investidores Anjo. 29
Fique atento! Confira aqui o significado das expressões desse novo tempo: Fintechs: startups que unem inovação tecnológica a serviços financeiros centrados na melhor experiência para o usuário. Inovação disruptiva: Produtos ou serviços que criam novos valores e desestabilizam os concorrentes que antes dominavam o mercado em que se inserem. Millennials ou geração Y: termo utilizado para se referir aos nascidos entre o início da década de 1980 e meados de 1990, e que, portanto, iniciaram sua fase jovem ou adulta juntamente com o início do milênio. B2B: Business to Business, sigla que remete a relacionamento e transações comerciais entre empresas, ou seja, em que uma organização comercializa produtos ou serviços para outra . B2C: Business to Commerce, transações feitas entre uma empresa e o consumidor final. Market Place: na internet, trata-se de um espaço de vendas online colaborativo. Difere do e-commerce tradicional por reunir diversos lojistas em um mesmo espaço.
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A PREPARAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES Além das instituições financeiras comerciais, o Sistema Nacional de Fomento está interessado e vem se articulando para apoiar, interagir e se relacionar com as fintechs. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abriu três linhas de ação em relação ao tema: melhorias internas, facilitação de acesso ao crédito e fomento. Felipe Salzer, gerente de planejamento corporativo da instituição, coordena um grupo de trabalho sobre as fintechs envolvendo vários setores do banco, para capturar oportunidades de melhorias nos processos internos e no backoffice que levem à transformação digital do BNDES. “O objetivo é aprender com as fintechs e, eventualmente, nos associarmos a algumas, quando for possível. Estamos, inclusive, lançando contratações de apoio a serviços pontuais que possam ser acoplados a nossos processos de concessão de crédito. No ano passado, houve um benchmark e chegamos à conclusão de que não existe uma solução completa que possa nos atender de ponta a ponta. Mas há empresas especializadas em determinadas áreas que poderíamos acoplar e obter ganhos”, explica Salzer. Além disso, o banco está mapeando todas as demandas para fazer um esforço mais coordenado. Atualmente, foi elaborado estudo de mercado e encontra-se em curso a realização de provas de conceito (POC) para avaliação de soluções tecnológicas para as plataformas de operações e cobrança, do qual participam cinco empresas. Outra iniciativa é a facilitação do acesso ao crédito, por meio da abertura de novos canais de distribuição para o segmento de pequenas e médias empresas. Recentemente, o banco anunciou a parceria com a B2W, a partir da abertura de uma API (Application Program Interface) que foi desenvolvida internamente pelo banco, permitindo a utilização do Cartão BNDES nos sites de comércio eletrônico das empresas do grupo – Americanas.com, Submarino, Shoptime e SouBarato. “Não é exatamente uma fintech, no entanto, é mais um exemplo desse processo de transformação digital por que estamos passando”, diz Salzer. A terceira frente visa fomentar o desenvolvimento de startups que atuam no setor de soluções financeiras. O banco entende que as fintechs podem atuar no desenvolvimento do mercado de crédito. O BNDES já apoia essas empresas por meio de fundos de investimentos em participações investidos pela BNDESPAR. O Criatec 2, por exemplo, apoia a Vindi, empresa que estrutura plataformas para recebimento de pagamentos on-line. Com a alteração recente na Política Operacional do banco, os fundos de investimentos em participações apoiados pela BNDESPAR também poderão apoiar pequenas e médias empresas de tecnologia que prestem serviços financeiros ao consumidor final. Empresas com esse perfil já estão em análise. Salzer observa que o BNDES tem noção de sua capacidade de mobilização. E, embora naturalmente vá apoiar o segmento com crédito e equity, está estruturando formas mais criativas de apoiar o setor, com atração de outros investidores, aglutinação de empresas, entre outras ações. “Nosso modelo será de colaboração com outros investidores, aceleradoras, associações; queremos chamar as fintechs e ver como podemos ajudar. Faremos uma definição do posicionamento do banco até o meio do ano, e no segundo semestre construiremos ações mais afirmativas para movimentar o ecossistema”, sinaliza. O Banco do Brasil também está interessado em parcerias com as fintechs e já definiu as áreas nas quais vai buscar soluções: agropecuária, agregadores fi-
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FINANCEIRAS DE DESENVOLVIMENTO nanceiros e recuperação de crédito. Segundo Carlos Rudnei, gerente-executivo da diretoria de negócios digitais do BB, o banco também tem um laboratório que incentiva o empreendedorismo interno e já reuniu 5.400 ideias por meio do Programa Action BB. Desse total, 15 ideias foram pré-selecionadas até chegarem a três vencedoras, que passarão por um processo de startup. “Agora o banco deve anunciar, em breve, parceria com três startups de mercado. Vamos adotar um modelo de integração digital, sem aporte financeiro. A startup vai prestar serviços à instituição como um correspondente bancário”, explica Rudnei, comentando que este foi o modelo encontrado para não ferir as limitações do banco como instituição pública. INOVAÇÕES Na Caixa, a aproximação com as fintechs está inserida em um amplo projeto de transformação digital após a contratação da Consultoria BCG (Boston Consulting Group), segundo explica Rodrigo Evangelista de Castro, superintendente nacional de arquitetura empresarial. Com isso foi criada a diretoria de transformação digital, que vai trabalhar como incubadora de negócios usando métodos ágeis de trabalho para transformar negócios tradicionais em negócios digitais, o que poderá resultar em parcerias com fintechs. O banco tem um programa de inovação interno denominado Caixa Lab, para que todos os colaboradores possam fazer sugestões por meio do uso e experiências com inovações semelhantes às fintechs. Há um processo de seleção e monitoramento e anualmente são lançados quatro desafios temáticos. A mais recente buscou soluções para a geração y. “As ideias são armazenadas e priorizadas e vão sendo desenvolvidas pelas áreas de negócio. As dez primeiras ganhadoras são apresentadas durante um evento para os funcionários, que podem votar pela intranet”, diz Castro. Outra instituição afinada com o movimento fintech, o Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) tem se debruçado há três anos no tema da digitalização de seus serviços, diante da constatação de que o modelo físico vem se esgotando. Segundo Marco Aurélio de Almada Abreu, presidente do Bancoob, hoje 66% das transações do banco já são digitais e apenas 33% são realizadas nas 2.551 agências. “Precisamos saber como vai ser o atendimento do futuro. As pessoas terão um conjunto de opções que melhor vai lhes atender. Há soluções para gestão financeira pessoal, outras para investimentos financeiros. A instituição tem de discernir quais as mais promissoras e quais as que poderão atuar como canais de distribuição. Temos cooperativas que já estão inclusive organizando aceleradoras”, diz Almada. Este é o caso da Sicoob RJ, no Rio de Janeiro, que criou um
RUMOS
espaço de co-working de 115 metros quadrados na Barra da Tijuca, Zona Oeste da capital fluminense. Segundo Eduardo Diniz, presidente da instituição, o Space, nome dado ao empreendimento, é uma plataforma de inovação voltado a abrigar startups e que realiza seleções bimestrais por meio de chamadas públicas temáticas. A primeira, sobre fintechs, recebeu 50 inscrições e selecionou seis que estão sendo aceleradas até maio. “Estamos fazendo parcerias com fundos de investimentos, como o Gavea Angel, e negociando aportes em uma das fintechs. Vamos trazer mentores internacionais e contratamos uma empresa de consultoria para mentoria. A meta é replicar o modelo para outras regionais da Sicoob”, anuncia Diniz.
Nosso modelo será de colaboração com outros investidores, aceleradoras, associações; queremos chamar as fintechs e ver como podemos ajudar. Felipe Salzer, gerente de Planejamento Corporativo do BNDES
Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) e da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), organismo que reúne as instituições financeiras de desenvolvimento brasileiras, vê a chegada das fintechs com grande expectativa, sobretudo levando-se em conta um setor extremamente regulado como o financeiro. Ele esclarece que, embora não ofereçam ainda sinergias imediatas para o modelo baseado na aprovação de projetos das agências de formento, as fintechs abrem a possibilidade para as instituições saírem da caixa e buscarem soluções que reduzam custos para o tomador do crédito. “As fintechs abrem a possibilidade de incorporarmos novas tecnologias. Tanto nos EUA quanto na Europa, essas empresas vêm encontrando seus espaços e os órgãos reguladores vêm buscando formas de permitir a concorrência. A Desenvolve SP já está, inclusive, financiando algumas fintechs por meio de linhas de apoio à inovação”, explica Santos.
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ARTIGO
O novo ecossistema de serviços financeiros Em dezembro de 2016, foi publicada a nova edição do Digital Banking Report, de autoria de Jim Morus, um dos maiores especialistas em tendências do mercado financeiro. Nesse relatório, que ouviu mais de 500 instituições financeiras de todo o mundo, é apontada, de modo uníssono, a tendência global dos bancos de aprimorarem a experiência com seus clientes por meio do uso das plataformas digitais. Essa tendência de ampliação dos meios digitais está promovendo uma revolução no mercado financeiro, pois, não apenas novos produtos e serviços surgem rapidamente, como também identificamos o nascimento de novos atores no sistema financeiro, cuja eficiência e forte orientação para as necessidades dos clientes são seus traços constitutivos. Um desses atores, que estão transformando completamente o modelo de banco como conhecemos, são as fintechs: startups voltadas para o design de modelos inovadores de serviços financeiros utilizando alto grau de recursos tecnológicos. Por meio do uso das ferramentas tecnológicas, as fintechs disponibilizam novos serviços para um número crescente de clientes, tais como: abertura de contas por meio de celulares; transações financeiras mais seguras por intermédio de biometria e reconhecimento de voz; softwares automáticos de aten32
dimento (chatbots); meios de pagamento eletrônicos; plataformas de captação coletiva de recursos (crowdfunding); aplicativos de gestão empresarial; e plataformas de concessão de crédito online, entre outros. Esses serviços têm um menor custo para os clientes e são mais eficazes, pois estabelecem um canal de comunicação direto, além de alcançarem maior adesão, uma vez que são desenvolvidos centrados nas necessidades dos usuários (user-centered design). Por tudo isso, as fintechs estão formando um novo ecossistema de serviços financeiros. No Brasil, essas empresas já são responsáveis por um volume significativo de transações, a exemplo de empréstimos, seguros, investimentos, meios de pagamento e plataformas de gestão financeira. De acordo com dados do Report FintechLab 2017, atualmente existem, no país, mais de 240 fintechs que, em conjunto, receberam mais de R$ 1 bilhão em investimentos. Vários bancos privados, como Bradesco, Santander, Itaú, Banco BMG e Banco Votorantim, contam com iniciativas para fomentar o desenvolvimento das fintechs com programas de aceleração, fundos de investimentos para o setor, além de ações de hackton (maratonas de programação para desenvolvimento de soluções tecnológicas). Portanto, ao avaliarmos este novo ecossistema de serviços, podemos constatar que o sistema financeiro passa por profundas mudanças.
Ecossistema das fintechs brasileiras (principais atores no mercado nacional) Empréstimos 1
Investimentos
BankFácil (empréstimos com garantias reais)
InvesteApp (aplicativo de investimentos)
EasyCrédito (empréstimos online)
SmartBot (robôs investidores)
Bidu (cotação de seguros online)
Monetus (gestão e investimentos online)
Geru (cotação de seguros online) Meios de pagamento
Gestão financeira
PagSeguro (pagamentos online)
GuiaBolso (gestão e planejamento financeiro)
NuBank (cartões de crédito)
ContaAzul (gestão financeira para empresas)
Vindi (pagamentos online)
MarketUp (ferramentas de gestão empresarial)
BoletoFácil (emissão de boletos bancários) 1
Recentemente, o BankFácil mudou seu nome para Creditas.
MARÇO | ABRIL 2017
te especializado duran- O sistema financeiro te as primeiras etapas passa por profundas do seu crescimento. A mudanças. Como o expertise do sistema de fomento em análise de Sistema Nacional projetos e avaliação de de Fomento, empresas pode servir composto pelas para a construção, por agências de fomento exemplo, de um progra- e pelos bancos de ma de aceleração de findesenvolvimento, é techs, que passariam a contar com capacitação afetado? Haverá um e espaço próprio para papel que os agentes implementarem seus de desenvolvimento negócios e, após certo possam e devam período de maturação, adotar em relação teriam acesso à linhas aos novos atores do de crédito subsidiadas. mercado financeiro? Apesar de já existirem alguns programas similares conduzidos por bancos privados, ainda há espaço significativo para ações de fomento específicas, pois os programas atuais não são abrangentes. Além disso, devido ao enfoque desenvolvimentista, esse tipo de programa conduzido pelo Sistema Nacional de Fomento tende a gerar resultados mais sustentáveis e duradouros no longo prazo. Portanto, é fundamental que a discussão sobre o papel do Sistema Nacional de Fomento e as possíveis formas de apoio e parceiras com as fintechs seja aprofundada e ocupe cada vez mais um lugar central no Planejamento Estratégico destes agentes.
Ora, a partir da constatação dessas transformações, algumas importantes indagações podem ser feitas: como o Sistema Nacional de Fomento, composto pelas agências de fomento e pelos bancos de desenvolvimento, é afetado pelas mudanças? Haverá um papel que os agentes de desenvolvimento possam e devam adotar em relação aos novos atores do mercado financeiro?
RUMOS
ESTÉFANO LUÍS DE SÁ WINTER Acervo Pessoal
AS FINTECHS E O SISTEMA DE DESENVOLVIMENTO: INTEGRAÇÃO E FOMENTO Considerando o papel do Sistema Nacional de Fomento e a formação deste novo ecossistema pelas fintechs, nasce uma grande oportunidade de expansão de negócios para as agências e bancos de desenvolvimento por meio de dois eixos principais: integração e fomento. Em primeiro lugar, a integração com as fintechs, por intermédio de parcerias de negócios, pode ampliar significativamente o alcance das ações dos agentes de fomento, que passariam a estar presentes no dia a dia dos seus clientes. Ao congregar esforços com algumas fintechs voltadas para gestão financeira e meios de pagamentos, por exemplo, as agências e bancos de desenvolvimento podem ofertar aos seus clientes novos serviços para sua capacitação empresarial e para modernizar os seus sistemas de cobrança. Além disso, há possibilidade de expansão das frentes de atuação, como, por exemplo, desenvolvendo um programa de crédito orientado ou adotando novos produtos, como cartões de crédito. Basta pensarmos como um programa conjunto de disponibilização de ferramentas de gestão para micro e pequenas empresas poderia ampliar o interesse e conhecimento dos empresários pelas linhas de crédito de um agente de fomento que já começamos a vislumbrar como o resultado dessa integração tende a ser exitoso. Em segundo lugar, a integração pode permitir o aprimoramento de processos internos, redução de custos e criação de soluções específicas. Como exemplo, podemos citar o impacto positivo em processos, custos e na relação com os clientes, que poderiam ser obtidos ao integrar as cobranças das agências e bancos de desenvolvimento com as plataformas eletrônicas de pagamento fornecidas pelas fintechs. Reduzindo custos com atividades de suporte, sobram mais recursos e tempo para os agentes de fomento investirem naquilo que é essencial e os diferencia das demais instituições financeiras. O segundo eixo de ação sugerido é o fomento. É necessário desenvolver ações específicas para as fintechs, que devem contemplar aceleração do desenvolvimento dessas empresas; disponibilização de linhas de crédito subsidiadas; e supor-
Especialista em Gestão & Banking, Mestre pela UFMG e MBA Executivo pela FGV. Coordenador de Garantias e Fundos de Aval no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
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COMO RETOMAR O DESENVOLVIMENTO
A retomada precisa de um BNDES forte Os mercados financeiros são atores muito relevantes do processo de desenvolvimento econômico. Quanto mais rápido e intenso este for, mais os bancos e o mercado de capitais domésticos precisam crescer e ampliar a oferta de fundos de longo prazo em montantes, taxas de juros e prazos adequados. O sistema financeiro internacional é uma fonte adicional que pode ser mobilizada, mas em menor escala, por trazer consigo a indexação à taxa de câmbio e o aumento da fragilidade macroeconômica. Nos últimos 12 anos, o Brasil registrou um crescimento rápido do crédito corporativo de longo prazo. Como se pode ver no gráfico abaixo, seu tamanho mais que dobrou em relação ao PIB, passando de 7,2% em 2004 para um máximo de 15,4% em 2015. Isso se deveu à atuação dos bancos – e em particular do BNDES. Entretanto, novos atores passaram a ter uma presença mais forte nesse mercado. É o caso das Pessoas Físicas, que estavam até então ausentes e que se viram atraídas pela criação das “debêntures de infraestrutura”, que lhes oferece isenção de imposto de renda. Esse segmento é hoje comandado por investidores individuais, gerando impactos positivos em termos de redução
de custos e de liquidez para as empresas. O volume total desses títulos atingiu 0,5% do PIB em 2016, quintuplicando em relação a 2012. O ajuste fiscal iniciado em 2015 e o agravamento da crise econômica afetaram negativamente o crédito corporativo de longo prazo. Inicialmente, os bancos privados se retraíram. Foram seguidos em 2016 pelo BNDES, que reduziu o volume de seus desembolsos a R$ 88,3 bilhões, menos da metade que os R$ 187 bilhões alcançados em 2014. Esse resultado provocou o recuo do estoque de crédito corporativo em 2016. Essa redução se deveu em grande medida à queda nos investimentos das empresas. Entretanto, as políticas restritivas adotadas pelos bancos também concorreram para esse resultado. Um exemplo disso é o desenho da nova política operacional do BNDES, anunciada em dezembro de 2016. Houve uma redução da participação dos recursos em TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) em favor de fontes mais caras, afastando tomadores. Essa orientação contrasta com o fato de que há uma grande sobra de recursos indexados à TJLP, que poderia ser utilizada no atendimento a
Evolução do Mercado de Crédito de Longo Prazo (Em % do PIB)
18
15,3926
16
13,7
14
4,1
12 10 8
8,5679
6
7,2112 1,6
4
2,6
3 0
3,1
2005 BNDES Direto
6,5
3,5
3,0303
2004
4,8
1,9
2006
2007
2008
BNDES Indireto
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
4,2 4,1
5,4383
2016
Debêntures Corporativas
Fonte: ANBIMA e Banco Central do Brasil
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RUMOS
não substituirão diretamente a saída do BNDES na sua maior parte. Restaria, portanto, como alternativa, o mercado de capitais doméstico. Para que isso viesse a acontecer, seria preciso que governo e agentes privados se comprometessem com uma atuação coordenada para acelerar a emissão de títulos de dívi- A retomada do da corporativa. Os recursos desenvolvimento do BNDES poderiam ajudar econômico requererá a nesse processo se fossem presença de um BNDES combinados a essas novas forte e ativo. Essa diretriz debêntures incentivadas em ofertas direcionadas a um não é incompatível com público amplo e não apenas reformas que busquem para uns poucos investidores modernizar o mercado financeiro doméstico qualificados, como é hoje. O pleno desenvolvimento do mercado de debêntures corporativas requer, no entanto, um período razoavelmente prolongado de taxas de juros baixas para se materializar. Enquanto esse regime macroeconômico estável de taxas de juros mais baixas não é alcançado, o excedente de recursos à disposição do BNDES deveria ser utilizado para o financiamento de novos investimentos e para o fortalecimento da estrutura de capital das empresas. Esses novos empréstimos ou participações deveriam ser vinculados à colocação de ações e de dívida corporativa em um momento oportuno. A retomada do desenvolvimento econômico requererá ainda por muito tempo a presença de um BNDES forte e ativo. Essa diretriz não é incompatível com reformas que busquem modernizar o mercado financeiro doméstico e estimular o aporte de fundos privados para o financiamento de longo prazo. No entanto, o caminho que está sendo trilhado pelo governo não está indo nesse sentido. Coloca uma camisa de força no BNDES sem que existam substitutos domésticos de porte para ocupar esse espaço. O comprometimento forçado e precoce de seu principal instrumento de crédito de longo prazo prejudica e retarda desnecessariamente a retomada do crescimento econômico.
ERNANI TEIXEIRA TORRES FILHO Reproduçaõ UFRJ
demandas das empresas, haja vista o repagamento de R$ 100 bilhões ao Tesouro Nacional ao final de 2016. Outra medida que caminou no mesmo sentido foi a extinção da TJLP, anunciada pelo presidente do Banco Central em março último. Em seu lugar, será criada uma nova taxa de juros de longo prazo, a TLP, baseada no custo da NTN-B de cinco anos. Esse título público é indexado à inflação (IPCA) e paga, acima disso, uma taxa real de juros muito elevada e volátil, fixada em leilão pelo mercado. A título de exemplo, a taxa de NTN-B de 5 anos em janeiro de 2017 superava a TJLP por 8 pontos percentuais ao ano. Com essa medida, o BNDES passará a remunerar os recursos do FAT, que não têm custo de captação por serem de origem fiscal, acima do que as empresas de melhor risco conseguem obter por meio da emissão de debêntures incentivadas. A nova taxa será também superior às que são praticadas em operações similares em economias mais estáveis e que são oferecidas às empresas estrangeiras, competidoras das brasileiras. Os defensores da eliminação da TJLP insistem em apontar que essa medida se justifica pelo fato de o estoque de crédito direcionado responder por 50% de todo o crédito bancário, o que, segundo eles, retiraria potência da política monetária. Entretanto, a eficiência da política monetária está associada ao impacto da Selic sobre o fluxo de novos empréstimos e não sobre o estoque de crédito concedido no passado. Do ponto de vista dos fluxos, a importância do BNDES é muito pequena. Entre 2011 e 2016, representou apenas 3,8% de todos os novos créditos bancários. Trata-se de um volume muito pequeno para afetar a atuação do Banco Central. Até porque o crédito é apenas um dos canais de transmissão da política monetária, juntamente com a taxa de câmbio e as expectativas dos agentes econômicos, dentre outros. A redução da demanda por recursos do BNDES, mantida essa decisão, será assim agravada em 2017. Os desembolsos deverão recuar para menos de R$ 60 bilhões. O resultado será o acúmulo de um volume ainda maior de fundos líquidos na instituição que poderão ser usados para acelerar os repagamentos ao governo federal. No entanto, essa desalavancagem do BNDES não deverá ser compensada pelo mercado doméstico. Os bancos
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-Superintendente do BNDES.
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COMO RETOMAR O DESENVOLVIMENTO
O financiamento do investimento O governo federal anunciou a ampliação dos projetos do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), que devem resultar, segundo estimativas oficiais, em recursos de R$ 45 bilhões. São investimentos em saneamento, rodovias, ferrovias, portos, energia elétrica, dentre outros. Muitos já estavam previstos em planos anteriores e apenas 38% correspondem a novos projetos. A agenda do investimento em infraestrutura é extremamente positiva para o país. O déficit desse setor reduz a produtividade da economia, gera ineficiências e diminui o retorno do investimento privado. Tudo isso gera menor crescimento econômico, menos emprego e renda. No entanto, investir no setor tem se revelado extremamente difícil no Brasil e os empecilhos são variados. Uma característica marcante de cada nova rodada de concessões é a quantidade de mudanças substanciais no modelo de financiamento. Tais alterações ocorrem pelo interesse em alcançar vários objetivos, além daqueles decorrentes do próprio leilão, dentre os quais se destacam: (i) a obtenção de vultosas receitas para o governo; e (ii) o estímulo ao financiamento privado de longo prazo. Na sequência desse novo programa de investimentos, o governo anunciou a mudança na regra de formação da taxa de juros de longo prazo (TJLP), a qual também deverá produzir efeitos 36
sobre o financiamento desses projetos. A partir de 2018, a nova taxa seria gradualmente formada por IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo] acrescida da taxa real da NTN-B em uma transição de cinco anos e passaria a ser cha- É importante analisar como mada de taxa de longo as taxas de juros serão prazo (TLP). Os objetivos equalizadas daqui para a dessa medida são: frente para que se busque (i) melhorar a alocação um bom equilíbrio entre de crédito na economia; (ii) reduzir os subsí- a necessária redução dos subsídios e a viabilização dios no orçamento; e (iii) aumentar a eficá- de determinadas atividades econômicas cujas falhas cia da política monetária. Esta proposta ainda de mercado precisam ser precisará de ações adi- corrigidas cionais e de algum tempo para produzir os efeitos esperados. Assim, é importante apontar as questões que ainda estão sem resposta para que a proposta seja aperfeiçoada e que o setor privado tenha previsibilidade e a segurança necessária para realizar seus investimentos. Em primeiro lugar, é importante entender que existem dois tipos de subsídios: (i) o implícito, que corresponde à diferença entre o custo de captação da dívida pública e a taxa que remunera os fundos públicos (nesse caso, vinculados à TJLP), e é contabilizado como pagamento de juros líquidos; e (ii) o explícito, que decorre da diferença entre a TJLP que remunera o agente financeiro e a taxa final para o tomador. É chamado de explícito porque o pagamento desta equalização de juros fica devidamente identificado no orçamento. O aumento da TJLP reduz o subsídio implícito, mas aumenta os explícitos, por conta das equalizações nos programas em que esse MARÇO | ABRIL 2017
RUMOS
O momento atual é oportuno para essa discussão, pois a perspectiva de redução da Selic oferece uma possibilidade de convergência das taxas pela redução da taxa básica da economia ao invés de fazê-lo pelo aumento da TJLP. Mas é importante entender os limites dessa convergência, pois nem todos os subsídios ou todo o direcionamento de crédito ocorre via TJLP. Outras fontes de direcionamento de crédito e subsídios importantes não serão alteradas por essa proposta, como as decorrentes das contas de poupança e do FGTS. Assim, se esta mudança não for acompanhada de outras reformas no sistema financeiro, é possível que a taxa Selic de equilíbrio seja muito pouco alterada ao passo que a TLP se elevaria substancialmente. Se este for o caso, uma TLP muito elevada levaria várias empresas a recorrer ao mercado internacional para financiar suas operações. Assim, teríamos um processo de dolarização de passivos, o que restabeleceria um canal de contaminação e volatilidade da economia internacional para a economia doméstica cuja experiência no passado recente foi muito negativa. O teste decisivo desta mudança, uma vez implementada, ocorrerá quando o Banco Central tiver que elevar a taxa de juros. Nas circunstâncias atuais, haverá tempo para que o governo promova os ajustes necessários e as reformas complementares para que essa mudança possa alcançar seus objetivos sem criar efeitos colaterais negativos. Por enquanto, é importante ter clareza de que a proposta apresentada precisa responder a essas questões para que sua tramitação no Congresso Nacional e posterior implementação seja feita com a plena segurança de que sabemos como melhorar o funcionamento do mercado de crédito no Brasil.
MANOEL PIRES
Acervo Pessoal
procedimento é realizado. Como nem todos os subsídios geram equalizações, a mudança deve reduzir o total de subsídios no orçamento, por um lado, e alterar a composição dos subsídios elevando o montante dos explícitos, por outro lado. No longo prazo, essa mudança na composição não é neutra, pois a literatura mostra que é mais fácil controlar o crescimento dos subsídios quando estes são explicitados no orçamento. Em segundo lugar, do ponto de vista macroeconômico os efeitos multiplicadores são menores que outros tipos de despesa, como o investimento público, de forma que, em um momento de ajuste fiscal, é importante redimensionar o orçamento de subsídios. Mas é importante notar que os subsídios são necessários para: (i) corrigir as falhas de mercado existentes no setor de infraestrutura; (ii) preencher as lacunas do mercado de crédito para empresas pequenas e estudantes; e (iii) reduzir os riscos inerentes ao setor agrícola, por exemplo. Assim, é necessário evitar que, na busca pela correção de um excesso cometido no passado, se crie um excesso na direção oposta. Dessa forma, se essa mudança for efetivada, é importante analisar como as taxas de juros serão equalizadas daqui para a frente para que se busque um bom equilíbrio entre a necessária redução dos subsídios e a viabilização de determinadas atividades econômicas cujas falhas de mercado precisam ser corrigidas. Em terceiro lugar, a NTN-B é uma taxa afetada pela percepção de risco fiscal. Apesar de ser meritório equilibrar as taxas de juros da economia e melhorar a distribuição do crédito, é importante reconhecer que não é desejável que as taxas de financiamento de longo prazo sejam afetadas pelo risco fiscal. Essa é uma questão que deverá ser levada em conta pelo desenho do novo modelo para que o financiamento público cumpra seu papel. Evidentemente que isso não precisa ser resolvido no novo modelo da TJLP. Uma alternativa seria tratá-la na própria definição dos programas específicos. Mas é preciso que o governo ofereça indicações de como irá resolver essa questão, pois é necessário oferecer as soluções adequadas ao setor privado com a nova regulação.
Pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV). Foi Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
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LIVROS
UMA HISTÓRIA BEM BRASILEIRA Mary Del Priore, especialista em história brasileira, com pós-doutorado na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, na França, possui mais de 40 livros lançados sobre personagens e épocas marcantes da história do Brasil, que lhe renderam alguns dos prêmios mais importantes de literatura brasileira, como o Jabuti, o APCA e o Prêmio Casa-Grande & Senzala, concedido pela Fundação Joaquim Nabuco. A historiadora é conhecida por escrever obras que dialogam com outros públicos que não apenas os especialistas na área. É o caso da quadrilogia Histórias da gente brasileira, cujos dois primeiros livros, que abordam os períodos da Colônia e do Império, foram lançados e rapidamente se transformaram em sucesso de vendas. Os livros buscam, de acordo com apresentação feita pela própria autora logo no início da primeira obra, apresentar ao público “uma história do Brasil diferente”. “Não aquela dos grandes feitos, nomes e datas que marcaram o nosso passado; tampouco aquela dos fenômenos extraordinários que provocaram rupturas na nação, mas as histórias do dia a dia, ou melhor, de todos os dias da semana. Histórias feitas por personagens anônimos do passado, que raramente nos são apresentados, pois se confundem com o tecido social em construção”, apresenta a autora. O primeiro volume, Colônia, trata da história de homens e mulheres anônimos que deram forma ao país e que viveram no Brasil entre mais de três séculos. O objetivo é apresentar como eram casas, objetos, festas, roupas e como a “gente brasileira” se relacionava com terra, trabalho, comida, nascimento, adolescência, uniões, doença e morte. Já o segundo volume, Império, 38
aborda as mudanças pelas quais o Brasil passou sob a coroa de D. Pedro II e o reinado do café: transformações nas cidades, no campo, a chegada da luz e o aumento da mobilidade. Entre as mudanças retratadas, estão o surgimento do esporte, o aumento do consumo de objetos, as mesmas velhas doenças e seus novos remédios além, por exemplo, do aparecimento de novas formas de relacionamento afetivo e sexual. “A histologia é o estudo dos tecidos. Gostaria de oferecer ao leitor uma ‘histologia histórica’, uma história do tecido multicolor e complexo da nossa gente. Ou seja, um estudo dos fios miúdos e, por vezes, invisíveis que entrelaçaram as tramas de nosso passado nos momentos mais óbvios da vida: em privado ou em público, frente aos ciclos da vida, na repetição dos gestos de sobrevivência”, defende Del Priore. Outros dois títulos, ainda não lançados, abordarão a República, em dois períodos: entre 1889 e 1950 e de 1951 ao ano 2000. No volume 3, a estudiosa conta a história da República Velha a partir de memórias de grandes escritores de todo o país – de Pedro Nava a Cecília de Assis Brasil, de Carolina Nabuco a José Lins do Rego, entre muitos outros; da Belle Époque ao Estado Novo. Este volume registra acontecimentos marcantes ocorridos no período, como a descoberta das viagens de trem e o impacto das I e II Guerras Mundiais no cotidiano da população brasileira. O último livro da série, que se encerra no momento em que o país comemorava 500 anos de descobrimento, traz entrevistas com brasileiros conhecidos ou não, de todas as partes do país, com impressões, visões, sonhos e interpretações de uma época marcada por avanços e retrocessos, derrotas e conquistas. Para auxiliar o leitor a mergulhar nos períodos retratados na obra, foi criado um site (historiasdagentebrasileira.com.br) com uma série de materiais gráficos e textuais complementares à leitura, como a cópia da famosa carta de Pero Vaz de Caminha, os mapas de viagens dos desbravadores portugueses, além de uma série de curiosidades sobre detalhes da história não oficial do Brasil, coletados pela historiadora ao longo da sua densa pesquisa.
Histórias da gente brasileira – Volume I: Colônia Mary Del Priore Leya, 432 p., 2016.
Histórias da gente brasileira – Volume II: Império Mary Del Priore Leya, 520 p., 2016.
MARÇO | ABRIL 2017
AGRO INOVAÇÃO
Agricultura e indústria no Brasil: inovação e competitividade José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho e Albert Fishlow Ipea, 314p., 2017.
Organizado em dez capítulos, o livro pretende contar a história da mudança tecnológica no setor agropecuário brasileiro, por meio da complexidade das trajetórias de inovação ao longo da cadeia produtiva. Trata-se de uma profunda análise sobre as políticas públicas brasileiras de inovação, enfatizando a importância do agronegócio no conjunto da economia. Erroneamente, a agricultura é considerada por muitos economistas um setor que exerce influência marginal na geração de tecnologias e no crescimento produtivo. A obra demonstra, ao contrário, ao estudar o processo de inovação no Brasil, que a agricultura apresenta-se como um caso paradigmático, mesmo quando comparado aos
exemplos mais tradicionais do setor industrial. A proposta do livro é justamente apresentar teoria e prática, ressaltando o que há de comum nas experiências bem-sucedidas brasileiras, seja na agricultura, seja na indústria. O objetivo é repensar até que ponto a experiência obtida no agronegócio brasileiro encaixa-se na abordagem teórica de inovação institucional induzida e em que medida tal evento compara-se aos modelos da indústria nacional. O livro pode servir de importante subsídio à formulação de políticas públicas na economia e à reflexão do papel do Estado no contexto recente, passado o boom das commodities, e no estabelecimento de prioridades de desenvolvimento de longo prazo.
MULHER E REVOLUÇÃO
A revolução das mulheres: emancipação feminina na Rússia soviética Graziela Schneider Urso (org.) Boitempo, 276p., 2017. RUMOS
Em um momento em que as discussões de gênero e de direitos ganham a cena principal no debate nacional, vale olhar para o passado e ver como as mulheres participaram de eventos estruturantes do mundo como ele é hoje. Definido como “parte de um esforço de dialogar com obras sobre a ação fundamental das mulheres em diversos processos revolucionários ao longo da história, como a Revolução Industrial, a Guerra Civil Norte‑Americana e a Revolução Francesa”, o livro trata das particularidades da condição e da luta femininas nas Revoluções Russas. A expressão das mulheres russas sobre história, política, feminismo e os temas que lhes pertencem, como igualdade de direitos e condições das operárias e camponesas, traçaram caminhos sub-
terrâneos com o intuito de conquistar seus próprios espaços. O objetivo deste livro é lançar luz sobre essas manifestações, trazendo‑as para o primeiro plano. Para isso, a organizadora apresenta vozes femininas da Rússia e da URSS, tanto as mais conhecidas – Nadiéjda Krúpskaia, Aleksandra Kollontai e Inessa Armand –, quanto autoras inéditas para o público brasileiro – Anna Kalmánovitch, Maria Pokróvskaia, Ariadna Tirkóva‑Williams e Konkórdia Samóilova. Em meio ao contexto político, social e cultural da Rússia em ebulição, seus textos retratam momentos revolucionários, destacando as instituições, os eventos e os periódicos femininos mais emblemáticos, principalmente do início do século XX. 39
Divulgação/Bandes
SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO
CONVÊNIO ENTRE BANDES E SICOOB PREVÊ R$ 100 MI PARA CRÉDITO RURAL O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) e o Sicoob firmaram uma parceria para que os recursos cheguem mais rápido a quem precisa investir em competitividade e qualidade nos produtos e serviços. O convênio vai atender a empreendedores de todo o Espírito Santo que queiram acessar recursos de fontes como o BNDES, repassados pelo Bandes, pelas unidades do Sicoob. Neste primeiro momento, a parceria vai priorizar o crédito para empreendimentos rurais. A expectativa é aplicar R$ 100 milhões em recursos em financiamentos. “Ganharemos competitividade, agilidade, e volume de recursos aplicados”, explica o diretor de Crédito e Fomento do banco, Everaldo Colodetti.
ESTUDO REVELA PAPEL DA GOIÁSFOMENTO NO ESTÍMULO À ECONOMIA DO ESTADO Nos últimos 15 anos, a Agência de Fomento de Goiás (GoiásFomento) desempenhou o seu papel de impulsionador da economia goiana, sobretudo incrementando as micro e pequenas empresas com crédito para investimentos e para capital de giro. No período foram injetados R$ 540,2 milhões na economia, bancando 12.465 projetos, principalmente em Goiânia, região de Anápolis, Meia Ponte, sudeste do estado e entorno do Distrito Federal. A conclusão é de um estudo da Gerência de Estudos Socioeconômicos e Especiais do Instituto Mauro Borges (IMB), da Secretaria de Gestão e Planejamento (Segplan). O levantamento analisou as linhas de crédito da Agência desde o início de suas atividades, em 2000, até 2015, com a finalidade de caracterizar o perfil de sua atuação. O estudo aponta para um aumento sustentado da oferta de crédito ao longo de todo o período, sendo a modalidade capital de giro a mais demandada, com 66,6% do total dos empréstimos, embora a modalidade investimento tenha se elevado no último quinquênio, correspondendo a 33,1% dos financiamentos. 40
DESENVOLVE MT ABRE NOVO ESPAÇO PARA ATENDIMENTO À POPULAÇÃO A Agência de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso (Desenvolve MT), vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), já atende na agência do Ganha Tempo localizada no Shopping de Várzea Grande. No ato de abertura, em comemoração a um ano de funcionamento da unidade do Ganha Tempo, o presidente da agência, Mário Milton. que, no novo local “onde o espaço é maior, o público a ser atendido é maior e isso é importante para a agência e para o município. Estaremos montando em poucos dias, num espaço cedido pela Prefeitura de Várzea Grande, na região da Prefeitura, a segunda unidade da Desenvolve MT”. As linhas de crédito da Desenvolve MT abrangem áreas distintas, como serviço, comércio, indústria, de turismo, área rural, agricultura familiar. O carro chefe da Agência é oferecer apoio financeiro, com financiamentos para a comunidade, o micro e pequeno empresário. As pessoas físicas também são atendidas, mas com o incentivo para que esse pequeno empresário busque a formalização como Micro Empreendedor Individual (MEI). MARÇO | ABRIL 2017
Orlando Kissner
SICREDI CELEBRA 20 ANOS DE PARCERIA COM BRDE Em abril, a cooperativa Sicredi Campos Gerais PR/SP recebeu três certificados de comemoração aos 20 anos de parceria com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Durante o período, os associados receberam mais de R$ 60 milhões em créditos, investidos principalmente no agronegócio. Desde 1997, foram mais de 50 mil cooperados beneficiados com cerca de 296 operações de crédito, por meio da parceria entre Sicredi e BRDE. A solenidade foi realizada no Palácio do Iguaçu, em Curitiba (PR), com a presença de autoridades como presidente da Sicredi Campos Gerais, Popke Ferdinand Van der Vinne, os diretores do BRDE, Orlando Pessuti e João Luiz Regiani, e o governador Beto Richa, que assinou contratos de financiamento de empresas paranaenses nos setores de transporte, saúde e educação, inclusive com cooperativas e produtores rurais.
BADESUL É COTISTA NO CRIATEC 3
BANCO DO NORDESTE NEGOCIA CRÉDITO DO FNE COM TAXAS DE JUROS MENORES
A Agência de Fomento do Rio Grande do Sul (Badesul) é um dos cotistas do Criatec 3, terceira edição do fundo que investirá R$ 200 milhões em empresas inovadoras, nos setores de nanotecnologia, tecnologia da informação, biotecnologia, agronegócios e novos materiais. Serão apoiadas empresas com receita operacional líquida de no máximo R$ 12 milhões. O investimento máximo para cada empresa será de R$ 3 milhões. Lançado no início deste ano pelo BNDES, também são acionistas a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), o Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Bandes), o Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG), o Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), a Agência de Fomento do Estado do Paraná (Fomento PR) e a empresa Valid S/A. Haverá uma cota de R$ 10 milhões para projetos gaúchos e um gestor no RS (olheiro de projetos).
O Banco do Nordeste já está operacionalizando o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) com juros menores em toda a sua área de atuação (região Nordeste e norte de Minas Gerais e Espírito Santo). Considerando investimento, giro e custeio, a redução média nas taxas autorizada pelo Conselho Monetário Nacional foi de 0,52%. Nos casos de empresas com rendimentos anuais brutos até R$ 90 milhões, os juros dos investimentos caíram para 8,55% a.a., que, considerando o bônus de adimplência de 15%, ficam em 7,27% a.a. Para rendimentos acima de R$ 90 milhões, os encargos anuais passaram a ser negociados a 10,14%, ficando em 8,62% com o bônus de adimplência. Para capital de giro e comercialização em empresas com faturamento até R$ 90 milhões, as taxas foram reduzidas a 13,08% (11,11% com bônus de adimplência). Nos casos de rendimento acima de R$ 90 milhões, os juros anuais caíram para 15,23% (12,94% com bônus). Já as atividades incentivadas, como projetos de ciência, tecnologia e inovação, continuam apresentando os menores encargos, com juros reduzidos para 7,65% a.a., ficando em 6,50% com o bônus de adimplência, referente a empresas com faturamento até R$ 90 milhões. Nos casos de clientes com faturamento acima de R$ 90 milhões, as taxas anuais passaram para 9,05%, ficando em 7,69% quando considerado o bônus de adimplência. O acesso aos recursos do Fundo com taxas reduzidas representa um potencial dinamizador para a economia regional, visto que beneficiará empresas de todos os portes e segmentos.
RUMOS
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EXPEDIENTE
CARTAS DO LEITOR Admirável Mundo Novo O artigo supramencionado da edição de jan/fev. de 2017 ressalta que: “ o Brasil ainda migra da indústria 2.0 para 3.0, pois não atingiu a automação”. Dessa forma, com relação a este escopo, pode-se deduzir que será arduamente difícil alcançá-la, pois o raciocínio lógico e os dados históricos de educação e cultura brasileiras não permitiram aquele alcance, ressaltandose que em épocas nas quais não havia explosão demográfica e ainda a qualidade da educação, tanto familiar quanto escolar, e a prontidão para o aprendizado eram mais permeadas na sociedade. Julio Sergio dos Mares Guia, mestre em Administração, Ebape/FGV, Rio de Janeiro (RJ)
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AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINS – Agência de Fomento do Estado de Tocantins AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A. AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. AGERIO – Agência Estadual de Fomento BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCO SICREDI – Banco Cooperativo Sicredi S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE MT – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. DESENVOLVE RR – Agência de Desenvolvimento de Roraima S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Inovação e Pesquisa FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
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Ano 41 - nº 292 - Março/Abril 2017 Tiragem: 7.000 exemplares
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MARÇO |ABRIL 2017
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A CONTA É SIMPLES: INOVAÇÃO MAIS INVESTIMENTO É IGUAL A DESENVOLVIMENTO. BDMG E EMBRAPII. JUNTOS, PARA LEVAR MINAS MAIS LONGE. Estimular a inovação para diversificar a cadeia produtiva de Minas Gerais. Esse é o compromisso do BDMG com os mineiros. A parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) vai aproximar as empresas do conhecimento gerado nos centros tecnológicos, com financiamentos de projetos em áreas como biotecnologia, agronegócio, engenharia, eletrônicos, TIC, entre outras. É o BDMG e a EMBRAPII conectando Minas Gerais a um futuro com mais desenvolvimento, por meio da inovação e sustentabilidade.