Revista Rumos - nº 293

Page 1

#293 MAIO/JUNHO

2017

LANTERNA NO HORIZONTE No ano do centenário de nascimento de Roberto Campos, confira as ideias do economista que influiu na modernização do país e deixou sua marca na história do desenvolvimentismo brasileiro. ENTREVISTA

Dov Seidman, especialista em ética, aponta que compliance é parte de uma cultura e não de um setor empresarial.

REPORTAGEM

ARTIGO

Investir na qualidade do corpo funcional da administração pública é ter serviços de melhor qualidade.

O economista Adriano Fernandes fala sobre o financiamento internacional da infraestrutura do Brasil.



SUMÁRIO

MAIO/JUNHO 2017

#293

Thais Sena Schettino Editora

RUMOS

8 10

OPINIÃO

Antonio Delfim Netto

Câmbio, um gosto amargo

REPORTAGEM

Novos talentos

Divulgação

7

DESTAQUES

4

ENTREVISTA | Dov Seidman

Cultura da transparência

ARTIGO

Adriano de Marchi Fernandes

Financiamento externo da infraestrutura

16 18 28

REPORTAGEM

Impulso para novas ideias

ARTIGO |

Almada

Marco Aurélio

Estímulo à competição

ARTIGO

Aroldo Natal Silva Filho

FIPs: solução ao alcance das nossas empresas

ARTIGO

Marco Antonio A. de Araujo Lima

Roberto Campos: um desenvolvimentista pragmático

32

14

Divulgação

Independente de orientações políticas, filosóficas ou sociais, é fato que todos os países buscam orientar suas economias com o foco no desenvolvimento das nações. Logo, em certos momentos, a discussão de como isso deve acontecer se sobrepõe às reais ações que orientam as políticas para que o avanço das sociedades aconteça. E, nem sempre, as ações podem ser enquadradas facilmente em uma doutrina heterodoxa ou ortodoxa. Esse é o caso das ações de Roberto Campos, político e economista, que por muito tempo manteve-se em destaque na cena nacional orientando os caminhos que colocariam o Brasil nos trilhos do desenvolvimento. Os rótulos não dão conta desse personagem brasileiro, que, em abril teria completado 100 anos, como mostra nossa reportagem de capa. O fato é que as simplificações em categorias, por vezes, deixam escapar importantes atitudes assumidas por ele, extrapolando as definições de liberal ou desenvolvimentista. São muitos os artigos interessantes nesta edição, a começar pelo que acompanha a reportagem de capa, do Secretário-Executivo da ABDE, Marco Antonio Lima, que perpassa um pedaço da trajetória de vida de Roberto Campos para instigar a reflexão sobre as definições e “rótulos”. Já os presidentes do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, Aroldo Natal Silva Filho, e do Banco Cooperativo do Brasil, Marco Aurélio Almada, mostram caminhos para ampliar a atuação do Sistema Financeiro Nacional, seja por meio de Fundos de Investimentos em Participações (FIP) ou com a expansão do sistema bancário. Da Alemanha, o pesquisador em economia Adriano de Marchi Fernandes fala sobre financiamento externo da infraestrutura e a atuação de bancos públicos. Também para pensar fora das caixas do conhecimento, o filósofo norte-americano Dov Seidman propõe que as empresas incorporem a cultura da ética e não só criem departamentos voltados para o assunto. Ele acredita que a única maneira de preservar as empresas e pessoas é pensar em “como” agir e não no “que”. Vale a reflexão. Boa Leitura!

NESTA EDIÇÃO

REPORTAGEM

Capacidades públicas em construção

Noel Joaquim Faiad

AO LEITOR

20

CAPA | Reportagem

Decifrando Roberto Campos SEÇÕES

34 LIVROS

36

SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

3


Divulgação

ENTREVISTA

Cultura da transparência Em entrevista exclusiva, o professor norte-americano e especialista em direito e filosofia Dov Seidman defende a importância de um novo padrão ético nas organizações após o nível de confiança nas instituições ter atingido o nível mais baixo em décadas. POR JADER MORAES Em um mundo conectado, a reputação tornou-se vital para o sucesso das companhias – e o “como” importa mais do que o “que” é feito. Quem defende essas premissas é o professor norte-americano Dov Seidman, formado na Escola de Direito de Harvard, universidade onde também cursou bacharelado e mestrado em Filosofia. Também é bacharel em Filosofia, Política e Economia pela Oxford University. Autor do livro Como – Porque o “como” fazer algo significa tudo... nos negócios e na vida, prefaciado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, Seidman é fundador e CEO da LRN, uma companhia que busca ajudar empresas a navegarem simultaneamente em complexos ambientes regulatórios e legais, e incentiva culturas éticas. Para ele, a realidade atual impõe que compliance não deve ser entendido apenas como um programa ou uma política da empresa, mas sim como cultura. 4

RUMOS – Confiança, integridade, reputação. Por que essas qualidades se tornaram tão decisivas e, hoje, as empresas em todo o mundo parecem estar se esforçando para conquistá-las? DOV SEIDMAN – Estamos profundamente imersos no que chamo de “Era de Comportamento”. Atualmente, como nos comportamos importa muito mais do que como pensamos. Tanto o comportamento individual como o comportamento organizacional importam cada vez mais, num grau tão elevado como jamais imaginamos. E de múltiplas formas. O mundo passou de conectado a interconectado e a interdepenMAIO | JUNHO 2017


dente. Um número crescente de pessoas pode agovezes mais chances de ver níveis elevados de inovação em ra se conectar, aprofundando diferentes formas de relação à sua concorrência, e seis vezes mais chances de colaboração. Quando o mundo se enlaça em estreita alcançar elevados níveis de desempenho empresarial em aproximação, os valores e comportamentos de cada comparação com outras organizações do mesmo setor. um importam mais do que nunca, porque impactam mais pessoas do que nunca. RUMOS – Em seu livro, publicado no Brasil há seis anos, Também vivemos agora em um mundo hipero senhor avalia que o “comportamento econômico sempre transparente. Hoje em dia, não estamos apenas teve uma dimensão moral”. No entanto, vemos crescentes obtendo visão de raios-X no comportamento dos questionamentos à ética na forma de atuação de diferentes outros. Estamos obtendo Imagens de Ressonância agentes e do sistema financeiro em si, especialmente após Magnética (IRMs) de alta definição da intimidade e a crise econômica iniciada em 2007/2008. O ambiente de do jeito como operam as organizanegócios está realmente ções: IRMs dos palácios presidencorrompido pela falta de ciais, das salas de reuniões de concredibilidade e má reputaselhos corporativos e do modelo Funcionários que trabalham ção de seus agentes? mental de seus líderes. SEIDMAN – A confiança em ambientes de alta Consumidores e funcionários nas instituições atingiu, confiança são 32 vezes tendem cada vez mais a mudar sua historicamente, o seu nível lealdade para as empresas que eles mais baixo. E o caminho a mais propensos a assumir percebem como mais virtuosas. seguir é reconhecer que a riscos que podem beneficiar Desse modo, estamos num mundo ruptura no grau de confiana organização, possuem em que você precisa viver e conça é de tal ordem que preci11 vezes mais chances quistar sua reputação. Não basta samos decidir que tipo de de ver níveis elevados de gerenciá-la ou simplesmente fazer coisas fazer para construir declarações afirmativas. a confiança. A ideia de ter inovação em relação à sucesso nos negócios sem sua concorrência, e seis RUMOS – Então, o comportaimportar-se se a sociedade vezes mais chances de mento das marcas e das empresas fracassa não é apenas equialcançar elevados níveis de tornou-se preponderante para seu vocada. Essa ideia agora sucesso? está falindo, porque isso já desempenho empresarial SEIDMAN – Depois de ter defendinão é mais possível em um em comparação com outras do por duas décadas que princípios e mundo interdependente organizações do mesmo lucros se reforçam mutuamente, deem que negócios e sociedasetor. cidimos testar e medir o vínculo ende estão fundidos. Acredito tre valores e desempenho. Por isso, que precisamos repensar lançamos o HOW Report (http://paa ideia de “grande demais ges.lrn.com/how-2016-português), para quebrar”. O que neum estudo desenvolvido pela minha empresa e reacessitamos é de organizações que se tornem bastante granlizado de forma independente pelo Boston Research diosas em princípios virtuosos, em significado e no que é Group, em colaboração com o Research Data Techduradouro. nology e o The Center for Effective Organizations of O momento atual exige novos modelos de liderança e noUniversity of Southern California. Esta nova análivas formas de pensar, especialmente quando o mundo está se mundial dos comportamentos dos funcionários mudando muito mais rápido que nós. A maioria das métriconfirma que as empresas realmente construídas cas usadas pelas organizações, especialmente as grandes, com base em propósito, orientadas por valores e são do tipo “quanto”. Quantos produtos você vendeu esta pela prática da confiança possuem vantagens signisemana? Elas poderiam dizer a um funcionário: “seja ético; ficativas em relação à concorrência. faça a coisa certa”. Mas ele é recompensado ou pago pelo Nossa pesquisa mostra, por exemplo, que os fun“quanto”. O que precisamos é começar a medir o “como”. cionários que trabalham em ambientes de alta conComo (quão profundo) é o seu relacionamento com seu fiança são 32 vezes mais propensos a assumir riscos cliente? Como está o nível de lealdade? Como está o nível que podem beneficiar a organização, possuem 11 de colaboração entre os colegas de trabalho? RUMOS

5


para estabelecer regras sobre o que as pessoas podem e não podem fazer. Em vez de simplesmente fixar regras, precisamos de uma cultura baseada em valores que inspire as pessoas a fazer o que se deve. RUMOS – As primeiras leis anticorrupção, no mundo, surgiram na década de 1970. Podemos apontar avanços concretos desde então, na gestão e governança de empresas e governos? SEIDMAN – Todas as jornadas para adquirir conhecimento são curvilíneas e indiretas: frequentemente envolve dar um passo atrás para dar dois passos à frente. No passado, quando conversava com CEOs sobre ética e comportamento, eles normalmente diziam: “Isso é importante. Fale com o meu advogado geral ou com o diretor de risco.” Hoje, os CEOs estão perguntando: “Como podemos ser os melhores em comportamento ético?”. Mas muitas empresas estão profundamente paralisadas, enquanto outras estão entendendo que as crises do nosso tempo exigem novos comportamentos. Elas perceberam que não podem simplesmente buscar lucros e retorno para os acionistas. Elas têm que fazer mais.

Então, temos um problema de sistemas massivos que não estão medindo as coisas certas. E eu acho que o caminho a seguir para um grande banco ou qualquer grande instituição será realmente reformular o sistema com outra arquitetura. Porque precisamos de um sistema para fazer qualquer coisa em escala. E não há ninguém melhor que o mundo corporativo na arte de criar sistemas. RUMOS – O senhor defende que compliance deve ser visto como uma cultura, não como uma política ou um departamento dentro de uma empresa. Por que e como alcançar esse ideal? SEIDMAN – A noção de um Programa de Compliance ou Conformidade deve ser substituída pela noção de compromisso com uma cultura em que compliance é resultado ou consequência de uma conexão profunda, de cada membro da organização, com um conjunto fundamental de valores, com uma missão e com um propósito de elevado significado. Obter conformidade apenas pelo esforço de fazer conformidade tem sido uma falsa escolha. Para realmente obter conformidade, precisamos de um modelo de governança, cultura e liderança praticado de forma sistemática e abrangente. As práticas de compliance têm sido projetadas 6

RUMOS – Compliance é um termo em voga nesse momento no Brasil, principalmente em função do cenário atual, em que políticos e empresários estão sendo acusados por práticas de corrupção. O senhor acredita que o país pode sair dessa crise com novos valores morais? SEIDMAN – Precisamos entender como dois modos distintos de liberdade – “livre de” e “livre para” – interagem e convivem entre si, e governam nosso mundo e nossas organizações. O modo de liberdade que se espalhou maciçamente neste país e quase em todos os lugares é o modo “livre de” [exemplo: brasileiros querem se ver “livres de” problemas]. “Livre de” elimina os sistemas de regras supérfluas, de lógicas obsoletas de poder, de noções e estereótipos preconcebidos, bem como de processos unilaterais . O problema com o “livre de” é ser um campo negativo: ele cria um vácuo em que qualquer coisa pode acontecer – boa, ruim ou terrível. Estar “livre de” um poder tirano, por exemplo, não significa automaticamente estar “livre para” viver em uma democracia responsável apoiada pelo Estado de Direito. Significa apenas que o tirano foi destronado, e que um longo e difícil trabalho começou. É aí precisamente onde o modo de liberdade “livre para” é necessário. “Livre para” é a maneira mais eficaz de preencher e aproveitar o espaço criado pelo “livre de”. “Livre para” tem foco consciente em valores compartilhados e princípios comuns que trazem alinhamento e compromisso comportamental. Temos o desafio de obter o adequado equilíbrio e a dinâmica de reforço entre o “livre de” e o “livre para”. Agindo assim, ajudaremos todas as nossas instituições. MAIO | JUNHO 2017


OPINIÃO

Câmbio, um gosto amargo

RUMOS

em 2,1% por ano. O ajuste foi seguido por uma recuperação forte com um crescimento médio do PIB de 6,9% entre 1984 e 1986. Levamos 20 anos para negociar a dívida externa por conta de uma infantilidade do ministro da Fazenda no governo Sarney, decretando, abruptamente, um default que liquidou nossa credibilidade junto à banca e prejudicou fortemente nosso crescimento. Com o pré-apocalipse que foi o Plano Cruzado, inaugurou-se a farsa extremamente custosa de controlar o câmbio para reduzir a inflação. Ela foi seguida por todos os governos até hoje. Reduziu a taxa de crescimento para a média anual de 2,6% do PIB, de 1985 a 2016. Há milhões de narrativas possíveis, mais “elegantes”, mais “científicas”, mais “dialéticas” ou mais “enganadoras” para essa brutal realidade: 30 anos de políticas econômicas entre razoáveis e medíocres nos trouxeram de volta – com a China nos “puxando pelo nariz” – à situação de colônia do mundo: fornecedores de alimentos e de matérias-primas e desprezo pela verdadeira indústria que não depende de benefícios do governo. Pelo contrário, foi sacrificada por juros escorchantes e câmbio valorizado. A história destas três últimas décadas mostra que Deus, provavelmente, andou pensando em desistir do Brasil! Temos tido uma infelicidade atrás de outras, com muito pouca trégua nesses anos todos, uma Constituição Cidadã, mas inconclusa, quatro presidentes da República eleitos pelo voto universal, dois punidos com impeachment. Todos encerraram os seus governos sem as reformas necessárias, embora fartamente prometidas, enquanto o Brasil se deteriorava, sem perdão à vista...

ANTONIO DELFIM NETTO Marcelo Correa

Trinta anos de governos cujas diretrizes de política econômica oscilaram entre aceitáveis e medíocres trouxeram o Brasil de volta à condição de fornecedor de alimentos e matérias-primas para os países desenvolvidos. Não é possível esquecer que nos anos 1970 do século 20 nosso país já tinha uma estrutura industrial sofisticada (opinião do Banco Mundial), cujas exportações com relação à exportação global de manufaturados crescia 15% ao ano! O que nos aconteceu nos últimos trinta e poucos anos do século passado e nesses anos iniciais do século 21? Temos sempre insistido que o míope liberalismo cambial, que só existe nos livros-texto com hipóteses utópicas, quando posto em prática determina a estrutura produtiva do país. O que nos aconteceu é que “esquecemos” que ele só funciona quando a taxa de juro real interna, mais a taxa de risco do país é parecida com a taxa de juro real mundial. Quando isso não existe, a taxa de câmbio se transforma num ativo financeiro que serve à especulação e nada tem a ver com a economia real. Diante do quadro lamentável a que chegamos, alguém tem coragem de afirmar que uma sociedade de 210 milhões de habitantes pode ser próspera exportando apenas alimentos e matérias-primas? Nossa agricultura e o setor de produção de matérias-primas são bastante eficientes e respondem por cerca de 50% das nossas exportações, o que significa que fazem o mesmo papel centenário da exportação do café, que determinava a taxa de câmbio, quando correspondia a 70% da receita cambial. Isso foi alterado a partir de 1966. Na média dos anos 198385, a produção de café estimulada pelo governo cresceu 33% em relação à média de 1966-68, mas a sua importância nas exportações tinha caído para menos de 10%. O que aconteceu? As colheitas de soja e de outros produtos agrícolas cresceram com aumento de produtividade por meio de ações de governos (Embrapa, principalmente), e à crença e garra dos produtores rurais. Essa expansão foi acompanhada por um programa de estímulo à produção industrial com uma política horizontal (câmbio estimulante e previsível, crédito à exportação e diplomacia de comércio). Em 1984 a composição das nossas exportações era assim: produtos básicos, 32%; produtos industrializados, 67%. Depois do terremoto do petróleo que nos pegou de calças curtas (não por falta de aviso), superamos o problema do déficit em conta corrente já em 1984, à custa de uma forte recessão de 1981 a 1983 que reduziu o Produto Interno Bruto (PIB)

Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

7


REPORTAGEM

Divulgação

Novos talentos Jovens empreendedores passam por capacitação e recebem apoio da Agência de Fomento do Estado de Alagoas (Desenvolve) para abrir o primeiro negócio e ajudar a transformar suas localidades. POR DANILE REBOUÇAS

Magdiel Soares tem 19 anos e é empreendedor na cidade de Santana do Ipanema, localizada no sertão do estado de Alagoas. O jovem estudante teve como estímulo para empreender o desemprego do pai. A situação difícil em casa o levou a fazer lanches e sobremesas para comercializar, com o apoio da família, a partir de fevereiro de 2015. Com o surgimento do Programa Juventude Empreendedora, do governo do estado em parceria com a Agência de Fomento do Estado de Alagoas (Desenvolve), Magdiel impulsionou o negócio. Após conhecer o projeto, por meio de uma amiga, ele se inscreveu, passou por curso de formação e foi selecionado para receber apoio financeiro. Com o recurso recebido comprou materiais e investiu na infraestrutura de produção. “Foi de suma importância esse apoio, uma vez que não tinha tanto conhecimento na área de negócios”, reconhece. O programa, criado em 2016 pelo governo do estado, busca ajudar jovens a fomentar a economia local, por meio do empreendedorismo. É uma alternativa inovadora diante do

8

cenário de crise. O jovem ao participar passa por curso de capacitação para empreender no município onde mora e pode receber o apoio financeiro para montar seu negócio. O poder Executivo entra com a formação e a transferência de recursos e a Desenvolve libera os financiamentos. “Temos como principal resultado o surgimento de novas oportunidades. A crise tem desmotivado bastante o jovem e a oportunidade de transformá-lo em empresário, sem dúvida, é um divisor de águas na nossa sociedade. São pequenos negócios, mas que possuem grande potencial de crescimento”, ressalta o presidente da agência de fomento, Rafael Brito. Até a primeira quinzena de junho deste ano, 54

MAIO | JUNHO 2017


preendedor e a elaboração de um plano de negócio. Ao final, os alunos passam por uma avaliação que considera as notas do curso, o perfil empreendedor e a qualidade do plano de negócios. Se o projeto for selecionado, o jovem poderá obter crédito, por meio da Desenvolve, para abrir sua empresa, tendo o auxílio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e assistência técnica especializada. Todos que passam pela capacitação estarão aptos e preparados para enfrentar o mercado de traMadgiel Soares, empreendedor balho e empreender. O programa beneficia micro e pequenas empresas de todos os setores. O INVESTIMENTOS presidente da Desenvolve conO Juventude Empreendedora contribui para a geração de emprego no estado e ampliação de investimentos. Comparando ta que já financiou desde pequeno bufê até loja de o ano de 2014 com 2016, por exemplo, houve um crescimento de quase peças de motos e bicicletas. “São coisas simples, do seis vezes nas liberações financeiras da Desenvolve para os pequenos cotidiano das nossas pequenas cidades e que tem fáempreendimentos – saiu de R$ 573.964 em 2014, para R$ 3.078.538 libe- cil clientela e penetração no mercado consumidor. Tem uma jovem da cidade de Junqueiro que montou rados em 2016. Essas liberações referem-se às linhas Microcrédito Desenvolve/ Ban- uma loja de acessórios on-line e hoje vende suas peco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Juven- ças para todo o Brasil”, comenta. Entre as atividades tude Empreendedora e Pró-Comunidade, com valores máximos de R$ 15 beneficiadas estão lojas de enxoval, bijuterias, bomil. Os recursos ajudam produtores rurais, comerciantes e prestadores los, calçados, lanchonete, esmalteria, mercadinho, de serviços que buscam o apoio do governo para investir em seus negó- manutenção de informática, comércio de produtos cios e gerar renda. “Sem dúvida essa ampliação do valor é reflexo do sur- eletrônicos, assistência técnica de microcomputagimento do Juventude e do programa Pró-Comunidade em que a Desen- dores, etc. Para Rafael Brito, trata-se de um crédito desbuvolve tem levado crédito às áreas de periferia em Maceió. Hoje, além dos jovens, os empresários das grotas e de comunidades carentes têm acesso rocratizado, que incentiva a mudança de comportamento do jovem. “O programa tem tido grande ao crédito da agência”, destaca Rafael Brito. aceitação e muito sucesso. Já temos a sinalização de duplicação do programa para o próximo ciclo. COMO PARTICIPAR Para participar do Juventude Empreendedora, que atende as 102 cidades Isso fará com que a Desenvolve passe também a fido estado de Alagoas, é preciso ter estudado em escola pública e ter entre 18 nanciar o surgimento de mais mil novas empresas”, e 29 anos de idade. Para se inscrever, inicialmente, é necessário fazer uma comemora. O presidente considera o Juventude Empreenpré-matrícula no site http://juventudeempreendedoraal.com.br, quando será direcionado para o local onde deverá fazer a matrícula definitiva. dedora, no âmbito do governo, o principal programa “Daqui a um tempo, esses primeiros beneficiários do programa servirão de empreendedorismo entre os jovens e o maior do de exemplo de empreendedores e de altruístas na vida para tantos outros Brasil. Ele sugere que outras unidades da federação repliquem seus princípios e a sua metodologia. jovens alagoanos”, afirma Renan Filho, governador do estado de Alagoas. Primeiro, os participantes passam por cursos de formação, ministrados “Estamos vivendo a maior crise econômica da nossa via internet, nos laboratórios de informática das escolas e telecentros par- história e cuidar do nosso jovem ajuda no combate ticipantes do projeto. A capacitação está dividida em cinco módulos, cada ao desemprego, no combate ao uso de drogas, criminalidade e principalmente na construção de um um de 20 horas, totalizando 100 horas. A formação aborda, entre outras questões, a inclusão digital para o em- futuro melhor para todos nós”. jovens foram beneficiados com os recursos. A previsão até o final de julho é de incluir mais 85 novos projetos. O presidente da Desenvolve relata que a meta inicial é financiar 500 novas empresas por meio do Juventude Empreendedora, nome do programa, além de cinco mil jovens capacitados no curso de empreendedorismo e gestão empresarial. “Depois do aporte financeiro tivemos uma facilidade maior em comprar materiais e em conseguir vendas também. Os ganhos pessoais e profissionais incluem o reconhecimento na minha cidade, aumento nas vendas e mais credibilidade com pessoas influentes do município”, afirma o empreendedor Magdiel. Ele tem como meta manter o crescimento da empresa, seja com as vendas, seja com a ampliação da capacitação de sua família, que o ajuda a administrar.

RUMOS

Depois do aporte financeiro tivemos uma facilidade maior em comprar materiais e em conseguir vendas também. Os ganhos pessoais e profissionais incluem o reconhecimento na minha cidade, aumento nas vendas e mais credibilidade com pessoas influentes do município.

9


ARTIGO

Financiamento externo da infraestrutura No momento de recessão econômica atual, vemos um cenário de restrição acentuada de crédito, tanto por parte dos bancos privados quanto públicos. Segundo dados do Banco Central, os bancos públicos responderam por 1,730 trilhão de reais do estoque de crédito, uma retração de 3,7% entre dez./2015 e dez./2016, tendo sua participação permanecido praticamente estável (de 55,8% para 55,7%) em relação ao total de crédito oferecido no mercado. O BNDES, de forma mais pungente, reduziu o montante de desembolsos em 35,1% entre 2015 e 2016, de R$ 135,9 para R$ 88,3 bilhões. Essa tendência vai de encontro à atuação contracíclica adotada pelos bancos públicos após a crise de 2008, e que, para muitos especialistas, foi um importante motor para a rápida recuperação da economia brasileira no período. A falta de oferta de crédito interno, portanto, poderia servir como cenário propício para o aumento das operações dos bancos de desenvolvimento internacionais, instituições criadas por meio de acordos entre diferentes países, que têm como missão a promoção do desenvolvimento econômico em regiões periféricas por intermédio da concessão de empréstimos para empresas ou governos locais. Tais instituições são normalmente financiadas com a emissão de dívida no mercado de capitais, tendo como agentes garantidores os próprios países-sede. Elas contam com um leque variado de instrumentos para viabilizar suas operações, desde o financiamento tradicional até estruturas ligadas a equity e capital mezanino. Na Europa, o banco alemão KfW (Kreditanstalt für Wiederaufbau) opera em escala global, tendo representações em mais de 80 cidades pelo mundo, por meio não somente do KfW Banco de Desenvolvimento, mas também de suas subsidiárias DEG (Deutsche Investitions- und Entwicklungsgesellschaft mbH), que opera com o setor privado e possui um portfólio de € 2,4 bi10

lhões na América Latina; e KfW IPEX-Bank, que atua na área de exportação e project finance, com cerca de € 4,9 bilhões em ativos concentrados na região. Entre os bancos multilaterais, destaca-se o European Investment Bank (EIB), que representa os interesses dos países-membros da União Europeia e, embora tenha suas atividades concentradas na própria Europa (com cerca de 90% dos ativos), também possui presença internacional, incluindo a América Latina com € 6 bilhões em operações de dívida, dos quais o Brasil participa com cerca de 40%. Apesar do potencial destes bancos de desenvolvimento e do panorama oportuno, no qual há uma grande demanda não atendida de crédito de longo prazo para infraestrutura, a realidade mostra uma situação diferente. Devido à crise econômica e, parcialmente, ao rebaixamento do Brasil da classificação de rating de Investment Grade em 2015, boa parte dessas instituições tem agido com cautela na aprovação de novos financiamentos e direcionado suas operações para países mais seguros como Chile, México e Uruguai. Em outros casos, o problema é justamente inverso: o Brasil é classificado como país de renda média-alta na lista do Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e algumas instituições de fomento têm como política concentrar seus créditos em países de baixa ou média renda per capita, como Bolívia e Paraguai. Outra limitação está relacionada ao tamanho das operações e à concorrência em relação aos bancos nacionais, notadamente o BNDES, cuja participação no valor total do investimento pode chegar a até 80%. Bancos bilaterais dificilmente assumem uma posição majoritária no financiamento de projetos de infraestrutura locais. Claramente, a finalidade não é exercer um papel de liderança entre credores, e sim oferecer recursos complementares e um “selo de qualidade” para MAIO | JUNHO 2017


RUMOS

o que possibilita a participação em projetos de maior escala. Outra alternativa inclui as operações indiretas feitas por instituições financeiras locais, que compartilham a responsabilidade pela alocação dos recursos. O BNDES tem trabalhado ativamente com o KfW neste sentido, incluindo uma captação de € 265 milhões junto ao banco alemão em A redução das taxas de 2015 para uso em proje- juros no Brasil iniciada tos de desenvolvimento em 2016 faz parte de urbano. um processo demorado A redução das taxas de juros no Brasil e difícil, cujo reflexo iniciada em 2016 faz na oferta de crédito de parte de um processo longo prazo ainda deve demorado e difícil, cujo demorar a ser sentido. A reflexo na oferta de crépresença de instituições dito de longo prazo ainda deve demorar a ser bi e multilaterais não sentido. Bons projetos é somente bem-vinda, continuam sem chan- como necessária ce de implementação para a viabilização da devido ao alto custo de financiamento. Neste infraestrutura do país. cenário, a presença de instituições bi e multilaterais não é somente bem-vinda, como necessária para a viabilização da infraestrutura do país. Porém, para efetivar a cooperação desses provedores de capital atrativo e de qualidade, é preciso uma melhor interação entre legisladores, empresas e instituições financeiras, de forma a alocar os riscos de implementação de projeto corretamente aos diferentes agentes e buscar soluções criativas para os problemas típicos de países em desenvolvimento como o Brasil.

Fund. Humboldt /Daniela Schmitter

a empresa que tem seu crédito aprovado. O EIB, por exemplo, tem como política não financiar mais de 50% do custo financeiro de um projeto, de maneira a incentivar o envolvimento de outras instituições. Ainda assim, um dos maiores obstáculos na atuação destes bancos está relacionado ao risco de câmbio. Normalmente, os empréstimos são denominados em moeda estrangeira (dólares ou euros), o que representa um risco para o tomador de recursos dos setores de energia e saneamento, por exemplo, cuja receita é realizada em moeda local. Desta forma, resta à empresa fazer uma operação de swap para equalizar seu fluxo de caixa e assim se proteger da flutuação da moeda. Porém, o mercado de derivativos cambiais ainda é incipiente no Brasil, e os contratos de swap raramente têm ultrapassado dois anos no momento atual, prazo insuficiente para mitigar todo o risco em projetos de infraestrutura cuja maturação ocorre em 10 ou 15 anos. Frequentemente, portanto, a dificuldade de emprestar em moeda local restringe este tipo de financiamento às empresas que possuem receitas em dólar, como é o caso de exportadores e operadores portuários. Existem, contudo, iniciativas para contornar esse risco que têm auxiliado instituições bilaterais a expandir suas operações. No setor de geração de energia, observa-se a disposição de alguns governos da América Latina em assumir o risco de câmbio, oferecendo uma parte dos pagamentos dos contratos de Power Purchase Agreement (PPA) em dólar, de maneira a permitir a entrada de bancos estrangeiros na estruturação financeira da concessão, e diminuindo assim o custo total da dívida. Outra opção é a utilização de fundos internacionais como o The Currency Exchange Fund (TCX), especializado em mercados de baixa liquidez, para a estruturação do hedge. Às vezes, a solução é encontrada por intermédio da sindicalização do financiamento entre diferentes instituições. Desde 2012, os bancos de desenvolvimento DEG (Alemanha), FMO (Holanda) e Proparco (França) possuem um acordo que objetiva a facilitação de cofinanciamento por meio da racionalização de recursos na análise e monitoramento dos investimentos,

ADRIANO DE MARCHI FERNANDES

Formado pela FEA-USP, mestre em economia pelo Insper e pesquisador visitante no Instituto Latino-Americano da Freie Universität Berlin, Alemanha.

11




ARTIGO

Estímulo à competição A eficiência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) é, como sabemos, fundamental para a dinamização da atividade econômica e o bem-estar da população. Mesmo que tenhamos um Banco Central (BC) competente em suas atribuições, temos vivenciado constantes desajustes na economia brasileira e sucessivas tentativas governamentais que buscaram estabilização do cenário econômico, principalmente em relação ao desequilíbrio inflacionário do final da década de 1980. Essa situação contribuiu, no início dos anos 1990, para um elevado nível de concentração bancária. Como reflexo desse legado, hoje, apenas cinco bancos possuem cerca de 72% da cota de mercado em operações de crédito (ver quadro abaixo). Em nossa visão, esse fato interfere negativamente na competitividade do

14

SFN. Por exemplo, na década de 1980, cerca de 40% do mercado era atendido por bancos púbicos federais, 30% por bancos públicos estaduais e 30% por bancos privados. Para alcançar 72% em operações de crédito das instituições bancárias, eram necessários mais de 20 bancos. Em ambiente de baixa competitividade, diminuem-se as opções para o cliente, o que permite aos bancos forçarem seus preços para cima. Dessa forma, os ganhos de escala produzidos por essa concentração bancária são revertidos diretamente para os acionistas. Uma das consequências é o elevado spread bancário que o Brasil registra atualmente, sendo o maior da América Latina e, também, um dos maiores do mundo. Recentemente, o BC retomou a agenda (BC+) de políticas públicas que visam reduzir, de forma sustentável, tal distorção. Ela busca benefícios sustentáveis para a sociedade brasileira, abrangendo os temas: Mais Cidadania Financeira; Legislação Mais Moderna; SFN Mais Eficiente; e Crédito Mais Barato. A respeito da agenda “Crédito Mais Barato”, o spread bancário vem sendo o alvo dos estudos e ações. O elevado custo de oportunidade da taxa de risco é reflexo da baixa competitividade e da alta remuneração dos títulos públicos – base do processo de constituição de garantias. Outro aspecto que é considerado propulsor da elevação das taxas são os altos

MAIO | JUNHO 2017


níveis de inadimplência, que geram um cadastro negativo. Como alternativa, tentou-se instituir o cadastro positivo – de adimplência –, cuja regra atual não se mostra eficaz, potencializando os efeitos assimétricos da informação entre bancos e clientes. Essas particularidades, conjugadas ao mau momento da economia nacional, favorecem um aumento na inadimplência e, consequentemente, aumento do spread bancário. Faz parte dessa agenda, ainda, aumentar a competitividade dentro do sistema na busca pela manutenção de preços mais equilibrados, praticados pelos bancos. O cooperativismo de crédito enxerga que a concentração bancária é o ponto central nesse debate e que o BC tem trabalhado no intuito de estimular a alocação mais eficiente do crédito e amenizar essa diferença entre os cenários brasileiros e internacionais. Como medidas, ainda no final dos anos 1990, o BC adotou: abertura do mercado para capital internacional, regulamentação do Banco Postal – embora com efeitos ainda limitados – e melhor regulamentação do sistema cooperativo de crédito, que favoreceram o desenvolvimento do cooperativismo brasileiro ao longo dos últimos anos.

exclusiva no Sistema Nacional de Cooperativismo de Crédito (SNCC). Para alcançar esses números, o SNCC enfrentou muitas dificuldades nos períodos inflacionários, como os altos custos oriundos das exageradas taxas de juros. Quando da extinção do Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC), no início dos anos 1990, as cooperativas centrais se organizaram para criar os dois bancos cooperativos brasileiros. Desde então, vem se aperfeiçoando para melhor atender às demandas de seus cooperados, que tem forte atuação em suas cooperativas locais. O Sicoob, por exemplo, até dezembro de 2016, atuava sozinho em 198 municípios brasileiros, fazendo girar a economia local e concentrar esforços para o seu desenvolvimento. Nos 20 anos de funcionamento do SNCC, as cooperativas equipararam seu portfólio de produtos e serviços financeiros ao dos bancos de varejo e tem conseguido manter as condições comerciais vantajosas se comparadas às praticadas pelos cinco maiores bancos do país. O SNCC também tem tido uma atuação destacada como agente privado de execução de políticas públicas voltadas para o crédito produtivo. Hoje, 25% da carteira de crédito do Sicoob é praticada com taxas subsidiadas. Nesse papel, atua de forma diferenciada, pois têm ênfase nas necessidades dos cooperados e não distorce as condições das linhas operadas com práticas agressivas de exigência de reciprocidade. Isso reforça a condição de instituição financeira de economia social, cumprindo sua função de agente de desenvolvimento regional.

ALTERNATIVA O sistema cooperativo está em constante adaptação trabalhando para melhorar seus controles e governança. É composto, hoje, por quatro sistemas de terceiro nível – no qual organizações sistêmicas objetivam a economia de escala nos serviços das cooperativas filiadas – e várias cooperativas de segundo nível (ou cooperativas centrais) e cooperativas de primeiro nível (ou cooperativas singulares). As 1.041 mil cooperativas de crédito hoje em atuação no Brasil administram R$ 296 bilhões de ativos, o que representa 3,6% do SFN1. Isso demonstra o quanto o sistema cooperativo ainda pode crescer e como nossa atuação ainda é recente. O sistema cooperativo de crédito é assegurado, assim como o SFN, por um fundo garantidor constituído nos moldes no Fundo Garantidor de Crédito (FGC) que atende os bancos convencionais. Por terem diferentes atuações, o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) e o FGC são independentes, mas compartilham a mesma cobertura de R$ 250.000,00 por CPF ou CNPJ para recuperar os depósitos ou créditos das operações financeiras em caso de intervenção ou liquidação extrajudicial. O FGCoop também possui dois bancos múltiplos – Bancoob e Banco Sicredi – como associados, por serem bancos com atuação Dados divulgados pelo Banco Central do Brasil. Data-base: 31/12/2016. Percentual atingido quando se excluem bancos de desenvolvimento do total de ativos transacionados no país.

RUMOS

Divulgação

1

MARCO AURÉLIO ALMADA Administrador de empresas, com MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC. Desde março de 2009 é diretor-presidente do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

15


Noel Joaquim Faiad

REPORTAGEM

Impulso para novas ideias

O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) se destaca no financiamento à inovação, em parceria com a Finep e o BNDES, e com o programa próprio BRDE Inova. POR CARMEN NERY O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) acredita na inovação como “ferramenta central do desenvolvimento econômico e social para imprimir dinamismo à atividade econômica presente e estabelecer bases para a trajetória de longo prazo da estrutura produtiva”, como ressalta o diretor-presidente Odacir Klein. Traduzindo em números, nos últimos cinco anos o BRDE financiou para empresas e projetos inovadores no ambiente produtivo o montante de R$ 836 milhões, sendo R$ 164,9 milhões pelo Programa BNDES MPME Inovadora, R$ 201,4 milhões pelo Inovacred e R$ 469,9 milhões pelo Inovagro. A esta relevante cifra se somam mais R$ 173,1 milhões em fianças concedidas para empresas da Região Sul contratarem seus projetos junto à Finep. Os 56 anos de história do banco são marcados pelo apoio à implantação de novos setores, às atividades de pesquisa e desenvolvimento e ao lançamento de produtos e processos inovadores. Primeiro agente credenciado da Finep e primeiro também para atuar com o Inovacred, o BRDE foi responsável pela aplicação de 32% dos recursos desta linha em todo o país, embora só tenha presença nos três estados do Sul. Segundo Marcelo Nicolas Camargo, gerente do Inovacred da Finep, a linha já teve R$ 632 milhões contratados em 334 projetos até maio de 2017, de um orçamento de até R$ 1,3 bilhão. A maior parte dos recursos são da pró 16

pria Finep, que agora busca novas fontes de captação junto ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para capitalizar o programa. “São 18 instituições financeiras credenciadas. O BRDE foi o primeiro e é o principal agente, já tendo contratado 94 projetos e repassado R$ 200,5 milhões, dos R$ 300 milhões que o banco tem disponível de limite de crédito autorizado pela Finep. Foi uma atuação muito expressiva”, elogia Camargo. Ele explica que a carteira de projetos em análise e em contratação no banco representa mais de R$ 100 milhões, o que sinaliza que, até o final do ano, o BRDE terá utilizado o seu limite de R$ 300 milhões. “Por meio de um processo de negociação e de atingimento de metas, e pela importância do BRDE – que hoje é o principal parceiro, com uma carteira muito expressiva, projetos muito inovadores e uma equipe muito aguerrida –, os recursos tendem a ser renovados”, sinaliza Camargo. Carlos Ponzoni, assessor de diretoria do BRDE, MAIO |JUNHO 2017


destaca que o banco traz, desde sua constituição, o espírito de inovação: foi criado como uma autarquia interestadual dos três estados do Sul, o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o Paraná. Pioneiro, iniciou a utilização de linhas da financiadora, em 1969, com o “Programa de Apoio aos Usuários de Serviços de Consultoria – AUSC”, ampliando, em 1975, com o “Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Empresa Nacional – ADTEN”. A iniciativa da Finep com o Inovacred de voltar a credenciar bancos de desenvolvimento e agências de fomento descentralizou a sua atuação em apoio ao desenvolvimento regional, como acontece com o BNDES na sua linha MPME Inovadora. Ponzoni diz que o BRDE fez valer a expertise de seus técnicos nas áreas de economia, de engenharia e de direito, para prospecção, análise e contratação dos financiamentos, por meio de de equipes multidisciplinares. Da mesma forma, tratou das operações de MPME Inovadora, Inovagro e de prestação de fiança. Os profissionais receberam treinamentos que tiveram participação da Finep e do BNDES. Reunindo as linhas disponíveis e criando condições aos empreendedores para superarem as dificuldades com a apresentação de garantias, o banco estruturou o seu programa BRDE Inova. Tatiana Henn, gerente de Planejamento da Agência do Paraná do BRDE, diz que o desafio inicial foi entender o que é inovação e esclarecer à empresa a inovação no seu projeto. “Muitas vezes, o empresário deixa de buscar um financiamento por não reconhecer o seu projeto como inovador, ou que o lote pioneiro que vai a mercado pode ser financiado. Temos trabalhado esclarecendo o que pode ou não ser enquadrado. Foi um período muito bom de aprendizado e os números têm mostrado o sucesso do programa”, comemora Tatiana. Entres os projetos inovadores aprovados no Paraná está o da Akiyama, empresa nacional que fornece soluções biométricas oriundas de tecnologias próprias, resultante do forte investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Com os recursos do BRDE Inova, a Akiyama desenvolveu por intermédio de algoritmos próprios dotados de informações específicas e habilitados por meio de alto desempenho de inteligência artificial, com alta resolução, a solução de identificação biométrica de recém-nascidos, já na sala de parto. Aline Mota, gerente de Operações Industriais da Agência do BRDE no Rio Grande do Sul, reforça a importância do banco ter especializado suas equipes com o programa BRDE Inova. “Avaliamos com a empresa que busca recursos, até se ela está desenvolvendo uma RUMOS

inovação que vai agregar algo ao seu produto ou processo e gerar os resultados esperados de aumento de faturamento ou participação de mercado. Foi uma quebra de paradigma para os nossos técnicos também”, reconhece Aline, que vê incremento no faturamento das empresas que investiram em inovação, mesmo no cenário de crise. A Agência do Rio Grande do Sul conta, para a divulgação do BRDE Inova, com a parceria de 18 entidades parceiras tecnológicas como a PUC/Tecnopuc, Unisinos e a Softsul. Como destaque no estado está Bhio Supply, que vai instalar um núcleo de pesquisa e desenvolvimento no parque tecnológico Feevale/Techpark. O financiamento permitirá a substituição de importados por produtos de tecnologia nacional, desonerando os procedimentos cirúrgicos do setor de saúde no país, incluindo SUS, além de possível exportação para a América Latina. No projeto está o desenvolvimento de “clip” hemostático, um “roboclip” e um “stent” de silicone para vias aéreas. A boa performance da Agência de Santa Catarina em inovação pode estar relacionada à estratégia da adesão de importantes entidades à parceria com o BRDE Inova. O BRDE reúne a Federação das Indústrias de Santa Catarinal (IEL e Senai), Associação Catarinense de Tecnologia, Senac, Fundação de Amparo à Pesquisa de Santa Catarina (Fapesc), ABES, Sebrae, Certi, Acafe, Embrapi, entre outros. “Isso foi muito importante para conhecer mais de inovação e também levar o recurso ao cliente na ponta. Já contabilizamos 90 projetos contratados com recursos do Inovacred e do BNDES MPME Inovadora”, diz Felipe Castro do Couto, gerente de Planejamento da Agência do BRDE em Santa Catarina. Entre os catarinenses está o projeto da Torfresma, empresa de São Miguel do Oeste fabricante de equipamentos para a agroindústria. Ela criou um sistema automático de paletização por camadas para facilitar a separação de produtos e o encaixotamento. Outra inovação apoiada foi uma célula de produção da joint venture Royal Ciclo, criada em 2005 a partir da união da maior fabricante mundial de selins de bicicletas, a italiana Selle Royal, e a gigante em fabricação de pedais, a catarinense Metal Ciclo, de Rio do Sul. Ampliando processos de automação e reduzindo custos, o financiamento do BRDE viabilizou o projeto do produto pedivela monobloco – peça responsável por transmitir a força das pernas do ciclista à transmissão da bicicleta –, que era 100% importada. A Royal Ciclo se consolida como a única fabricante desse tipo de componente no país. 17


ARTIGO

FIPs: solução ao alcance das nossas empresas

18

ceiros institucionais na formulação e na implementação de programas e projetos considerados prioritários. Por isso, estamos destinando cerca de R$ 30 milhões, em Com participação recursos do Fundo acionária de fundos de Desenvolvimende investimentos, to do Espírito Santo (Fundes), gerido pelo empresas que pretendem Bandes e que é dire- transformar-se em tamente relaciona- grandes companhias do às estratégias do passam a dispor de banco e do governo, oportunidades adequadas para essa finalidade de investimento. Na para financiar o seu prática, o Bandes se crescimento, com torna cotista do Fun- apoio para a criação de do, que, por sua vez, estruturas de governança passa a ser acionista das empresas apoia- corporativa. das, com aportes periódicos. A experiência vem mostrando que este é um caminho: em fevereiro de 2016, ingressamos como cotistas do Criatec 3, com o compromisso de aporte de R$ 10 milhões e participação no Comitê de Investimento do Fundo. E vem dando certo. Assim, estamos convictos de que esta é uma maneira de proporcionar o desenvolvimento de empresas que não conseguiriam recursos financeiros por meio de financiamentos tradicionais, o desenvolvimento da estrutura de mercado de capitais no estado, e o desenvolvimento da economia como um todo, como prega a nossa missão. AROLDO NATAL SILVA FILHO Assessoria Bandes

Os investimentos em Fundos de Participação Venture Capital e Private Equity (PE&VC) têm ganho destaque na atualidade. Esse tipo de investimento envolve a participação em empresas com alto potencial de crescimento e de rentabilidade, por meio da aquisição de ações ou de outros valores mobiliários, com o objetivo de propiciar consideráveis ganhos de capital a médio e a longo prazos. Essa opção, que parece distante das nossas empresas, sobretudo as que estão começando sua trajetória, vem se configurando como alternativa real para o mercado capixaba, nos mais diversos setores: desde o agronegócio até as empresas com alto potencial de exploração de Tecnologia da Informação. Com participação acionária de fundos de investimentos (FIPs), empresas que pretendem transformar-se em grandes companhias passam a dispor de oportunidades adequadas para financiar o seu crescimento, com apoio para a criação de estruturas de governança corporativa, foco no crescimento e lucratividade, bem como na sustentabilidade futura do negócio. Por vários fatores, principalmente de natureza econômica, diversas empresas brasileiras de pequeno e médio porte têm grande dificuldade na consecução de financiamentos e investimentos. Nesse cenário, essas soluções revelam-se de extrema importância para a economia. O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) está tornando essa alternativa uma opção viável no estado. Os investimentos dessas atividades a partir dos FIPs são, muitas vezes, a melhor forma de capitalização devido à pequena capacidade de pagamento inicial para arcar com amortizações e encargos característicos de um financiamento, além de, algumas vezes, não disporem de garantias para tal. O Bandes se apresenta como instituição que visa, para além de sua condição de organização financeira, participar da construção de soluções estratégicas e acessíveis para o desenvolvimento do estado e de ações conjuntas com outros par-

Diretor-presidente do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes).

MAIO | JUNHO 2017


Equilíbrio e Transparência Fiscal Dívida Pública e Concessão de Garantias Alocação Eficiente do Gasto Público

Premiação 1º R$40.000,00 2º R$20.000,00 3º R$10.000,00

Inscrições Até 4 de setembro

Regulamento

Informações

esaf.fazenda.gov.br

(61) 3412-6286 | 3412-6018

Patrocínio

Realização

premio-stn.df.esaf@fazenda.gov.br

Idealização


Noel Joaquim Faiad

REPORTAGEM CAPA

20

MAIO | JUNHO 2017


Decifrando Roberto Campos No ano do centenário de nascimento do economista Roberto Campos, vale lembrar dessa figura controversa, que, nas diferentes décadas em que influiu na modernização do Brasil, buscou orientar suas decisões tendo como horizonte a construção de um país do futuro. POR CARMEN NERY

“Não sou controvertido. Controvertido é quem controverte comigo.” A frase, proferida em discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 26 de outubro de 1999, resume o perfil do economista Roberto Campos (1917-2001), polêmico, mas cuja inteligência e importância para o desenvolvimento econômico brasileiro são respeitadas tanto pelos amigos como pelos adversários. Mesmo as esquerdas, que o viam como “entreguista” – o que lhe rendeu o apelido jocoso de “Bob Fields” –, reconheciam o valor de Campos, que, se estivesse vivo, teria completado 100 anos em 17 de abril. Embora os últimos anos de vida tenham sido marcados por posições neoliberais, a maior parte da contribuição de Campos para a economia brasileira se deu em sua fase desenvolvimentista. Ainda no início da carreira, chegou a participar de grupos de estudos de esquerda, a exemplo do Grupo de Itatiaia, criado em 1952 a partir da ampliação dos debates sobre a questão do petróleo e dos rumos do desenvolvimento nacional. Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista e cientista político, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, diz que Campos foi um desenvolvimentista extremamente importante nos anos 1950, ajudando o presidente Juscelino Kubitschek (mandato presidencial 1956 - 1961) a elaborar o Plano de Metas. Depois, teve um papel fundamental no ajuste feito durante o governo de Castelo Branco (mandato presidencial 1964-1967). “Pode-se chamar de um ajuste ortodoxo, mas foi absolutamente necessário. Para construir Brasília, Juscelino havia desequilibrado as contas públicas, o que resultou em inflação relativamente alta. Nesse período, Campos também tem um papel decisivo ao estatizar a Companhia Telefônica Brasileira e a energia elétrica. A Eletrobras já havia sido criada, mas ainda havia empresas privadas, que foram estatizadas”, diz Bresser. Campos fez a estatização dos dois setores, fundamentalmente, porque essas empresas estavam com preços reprimiRUMOS

dos – a lei impedia que as empresas tivessem um lucro maior que 10% do capital investido – e não investiam. Após a estatização, ele imediatamente fez um aumento de preços, tornando as empresas autofinanciadas. “Assim a telefonia e a energia tiveram um grande avanço”, recorda Bresser. NA PRÁTICA O professor Ricardo Bielschowsky, no livro Pensamento Econômico Brasileiro – O ciclo ideológico do desenvolvimento, destaca que, à luz do processo histórico efetivamente ocorrido no país, Campos destaca-se nos anos 1950 como um pensador certeiro. Foi, sem dúvida, o economista da nova ordem do Brasil, que passava da velha estrutura agrário-exportadora à nova estrutura de economia industrial internacionalizada. Segundo o autor, Campos apostou na industrialização pela via da internacionalização de capitais e do apoio do Estado – e ganhou. “De todos os economistas brasileiros mais ativos, Campos foi aquele cujo projeto desenvolvimentista esteve mais próximo da política de investimentos efetivamente realizada. Ele representa, no panorama político brasileiro do nosso período, a ‘ala direita’ da posição desenvolvimentista”, ressalta Bielschowsky. Ele observa que Campos trabalhou no projeto de industrialização do país e bateu-se pelo planejamento do desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo, defendeu a atração de capitais estrangeiros, inclusive para mineração e energia, e atacou a solução estatal para investimentos em quase todos os casos em que vislumbrava uma solução privada”. Bielschowsky destaca que o fato de suas características políticas e seu desempenho após 1964

21


Divulgação/Museu da República

Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, sediou reuniões para a definição da política econômica brasileira.

22

o identificarem como homem de direita não devem levar a conclusões preconceituosas sobre as características teóricas do pensamento econômico que expressava nos anos 1950. “É preciso advertir que Campos estava, naquela época, longe de ser um economista ‘ortodoxo’, ou seja, de pensar de acordo com os postulados liberais ou neoliberais. No início dos anos 1950, sua defesa de industrialização com apoio do Estado e de planejamento colocava-o em franca confrontação teórica com a essência da ortodoxia liberal e o identificava com a nata da heterodoxia teórica do subdesenvolvimento, isto é, com autores como Prebisch, Nurkse, Singer, Lewis e outros”, escreveu Bielschowsky. “Era recente a experiência de industrialização brasileira, que só fora possibilitada pela construção de infraestrutura pelo capital privado, notadamente estrangeiro. Também o desenvolvimento industrial não teria sido possível sem os investimentos de capitais estrangeiros, predominantemente ingleses, em portos e ferrovias”, afirma Campos., em seu livro autobiográfico Lanterna na Popa. Ele cita as análises de Bielschowsky sobre as controvérsias ideológicas em que chama esse grupo de desenvolvimentista não nacionalista em contraste ao grupo desenvolvimentista nacionalista, representado por Rômulo Almeida e Jesus Soares Pereira. “Conquanto a análise de Bielschowsky seja objetiva e correta, a designação é menos feliz. Todos nos considerávamos nacionalistas. A diferença essencial era metodológica. Os chamados desenvolvimentistas não estatistas acreditavam na imprescindibilidade da cooperação do capital estrangeiro, mesmo nas atividades de infraestrutura, enquanto os desenvolvimentistas nacionalistas acentuavam a tônica da intervenção governamental e eram hostis à participação de capital estrangeiro nos chamados setores estratégicos”, afirmou Campos. Ele explicou que as linhas divisórias entre os diferentes grupos não eram tão nítidas. Os desenvolvimentistas não nacionalistas, que ele prefere chamar de desenvolvimentistas liberais, tinham muitos pontos em comum com a escola liberal clássica, chefiada por Eugênio Gudin e Octávio Bulhões. Já o grupo do Catete, que assessorava Getúlio Vargas, partia de outra visão, defendendo que o Estado deveria ser o grande promotor do desenvolvimento. “Daí emergiram vários projetos como o da Petrobras e o da Eletrobras. O mais controverso foi, sem dúvida, o relativo ao petróleo. Ao sair das mãos da assessoria de Vargas, o projeto da Petrobras parecia MAIO | JUNHO 2017


bastante racional. Tratava-se apenas de firmar a presença do governo no setor por intermédio da criação de uma empresa estatal não monopolista. Houve uma tríplice aliança entre militares, que promoveram a campanha do Petróleo é Nosso, comunistas que se opunham às multinacionais e, curiosamente, membros de um partido supostamente conservador, a UDN. (...) Coube à UDN contribuir para transformar o projeto num documento nacionalista e monopolista. Dessa aliança, resultou o monopólio da Petrobras, que certamente diminuiu o fluxo potencial de recursos para o Brasil e retardou enormemente o objetivo da autossuficiência”, resumiu Campos a origem de suas críticas à Petrobras.

Roberto Campos: intelectual controverso Divulgação

CONTROVERSO Para muitos biógrafos, Campos marcou sua atuação no cenário político e econômico do país como um liberal conservador. “A primeira coisa a fazer no Brasil é abandonar a chupeta das utopias em favor da bigorna do realismo”, disse Campos. Mas até nisso há controvérsia, uma vez que Campos, em mais de meio século de vida pública como diplomata, economista, senador e deputado federal, também ficou marcado inicialmente pelas ideias do economista britânico John Maynard Keynes, que apoiava a intervenção do Estado na economia, para combater o desemprego estimulando o crescimento. Bresser observa que é difícil dizer o que levou Campos a se transformar num neoliberal, antes mesmo do apogeu da doutrina, durante os governos de Margareth Tatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos EUA. “Talvez tenha sido alguma insatisfação com o governo militar, que era desenvolvimentista. Como foi excluído após o ajuste dos anos 1960, pode ter havido um elemento pessoal nessa mudança. Ele foi importante para a expansão da economia brasileira enquanto foi desenvolvimentista. Depois que saiu do governo, ele pas-

RUMOS

23


24

Noel Joaquim Faiad

sou a ter horror ao populismo desenvolvimentista. Como ele fez o ajuste no governo militar, a esquerda o atacou muito violentamente e isso deve tê-lo irritado muito”, analisa Bresser. Para o economista e professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, seria muito restritivo e simplificador colocar uma etiqueta em Roberto Campos, seja desenvolvimentista ou liberal, pois estaríamos cometendo um erro, comum nesses debates, de querer enquadrar uma personalidade como a de Campos. “Eu prefiro colocar o Roberto Campos no ambiente histórico no qual ele desenvolveu suas ideias. Não se pode esquecer que ele pertenceu à delegação brasileira de Bretton Woods. O mundo em que ele viveu foi o do pós-guerra, quando prevaleceu a ideia de que era preciso se colocarem algumas regras para o funcionamento do capitalismo. Foi também o mundo do nascimento do Estado do Bem-Estar Social, das políticas keynesianas e das industrializações periféricas, sobretudo a brasileira”, defende Belluzzo. Ele ressalta que não se pode esquecer que Campos ajudou a criar e foi um dos dirigentes do BNDE, instituição do Brasil desenvolvimentista de Getúlio. Na época, ele foi conversar com o Vargas na companhia do Raúl Prebisch, fundador da Cepal, e de Celso Furtado. “É, portanto, muito difícil jugar o Roberto Campos apenas pelo que ele escrevia no fim da vida. O seu liberalismo proclamado não combinava com sua experiência como homem de Estado”, reforça Belluzzo. Assim, Campos participou de algumas das principais iniciativas governamentais, entre as quais a criação de estatais como a Petrobras e a Eletrobras, além do BNDE, do Banco Central, e também do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que substituiu a estabilidade do emprego por uma indenização. Em 1944, participou, junto com líderes de 44 países, da Con-

ferência de Bretton Woods, que estabeleceu o gerenciamento econômico internacional e a criação do Banco Mundial (BID) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Campos era um intervencionista consciente. Sempre fui um apoiador do Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg), trabalho de Campos, então ministro do Planejamento, e Otávio Gouvea de Bulhões, ministro da Fazenda. O Paeg promoveu as reformas entre 1964 e 1967; enquanto o Decreto-Lei 200 organizou o Estado brasileiro e deixou uma constituição, a de 1967. Sem essas reformas, jamais poderia ter havido o desenvolvimento econômico que se seguiu”, diz o economista Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura. O Paeg foi o primeiro plano econômico do governo brasileiro após o Golpe Civil-Militar de 1964, que tinha por objetivos: combater a inflação – que caiu de uma projeção de 144%, em 1964, para 25% ao ano em 1967 –; aumentar os investimentos estatais; reformar o Sistema Financeiro Nacional; diminuir as desigualdades regionais (Norte-Sul); e atrair investimentos externos. “O viés liberal do Campos era mais ideológico do que prático. Quando a missão do FMI veio ao Brasil, em 1964, e recomendou um tratamento de choque, ele recusou porque isso tiraria a capacidade de investimento do Estado e geraria desemprego. Na prática, como homem de Estado, ele fez reformas importantíssimas em 1964. Há sempre uma certa resistência em observar isso com alguma distância, porque fazíamos oposição ao regime militar. Mas não podemos deixar de perceber que Roberto Campos foi, na prática, um desenvolvimentista, porque ele e o Bulhões implementaram reformas que deram impulso ao Milagre Brasileiro, preparando o avanço da industrialização”, diz Belluzzo. MAIO | JUNHO 2017


Ele acrescenta que, como estrutura econômica, Campos reforçou as empresas públicas, criou o mercado de dívida pública no Brasil, renegociou os atrasados comerciais da dívida externa e criou todas as condições para que a economia ganhasse impulso. “Com essa reforma financeira, Campos criou outras formas de se financiar o desenvolvimento, mas mantendo forte atuação dos bancos públicos”, lembra Belluzzo. Mais tarde, Campos se tornaria um crítico do intervencionismo do Estado e também da Petrobras, empresa com a qual tinha uma relação de amor e ódio, a ponto de denominá-la de “Petrossauro”.

RUMOS

No governo de Juscelino Kubitschek, Roberto Campos chegou à presidência do BNDE. Luiz Roberto dos Santos/CC

CRIANDO AS BASES DO BNDE Marco Antonio Albuquerque de Araujo Lima, secretário-executivo da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), cita no livro O Desenvolvimento Inacabado do Brasil, as duas passagens de Campos pelo BNDE, na década de 1950. “Depois de participar da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, cujo relatório final propusera a criação do BNDE, Campos foi nomeado, pelo presidente Vargas, diretor econômico do banco. Mas ele demitiu-se da diretoria, em 1953, por incompatibilidade com José Soares Maciel Filho, empresário e homem de confiança de Vargas, e então presidente do banco. Em 1954, após a posse de Eugênio Gudin no Ministério da Fazenda, Campos retornou ao BNDE, então como diretor-superintendente, acompanhando seu colega de Comissão Mista Brasil-EUA, Glycon de Paiva, nomeado presidente, com quem em 1951-52 havia trabalhado na referida Comissão na elaboração de 42 projetos de investimento que formariam o ponto de partida do projeto do BNDE. No banco, conseguiria dialogar com a ala desenvolvimentista, mesmo com a nacionalista, e também com a ala conservadora, cujo grande expoente era justamente Eugênio Gudin. Tanto é que, após a eleição de Juscelino Kubitschek, Campos permaneceu como diretor-superintendente, embora Glycon de Paiva tenha deixado a presidência, substituído por Lucas Lopes. Embora o prestígio político de Lucas Lopes com Juscelino Kubitschek tenha facilitado imensamente a ação do BNDE, Roberto Campos é reconhecido como o principal formulador e executor do Plano de Metas, sendo considerado o principal executivo do desenvolvimento econômico brasileiro na década de 1950.” No BNDE, Campos lançou as bases para o funcionamento do banco, estabelecendo grupos de trabalho para a análise dos projetos compostos por engenheiros, economistas e advogados. Para isso, determinou o ingresso via concurso público. Fábio Giambiagi, atu-

25


al superintendente de planejamento e pesquisa do banco, destaca a atuação na modernização do arcabouço brasileiro com a reforma tributária, a criação da correção monetária e o combate à inflação, que formaram as bases para o Milagre Econômico que ocorreu de 1968 a 1973. “Ele se caracterizou por reunir ideias mais conservadoras com o conhecimento técnico, o que lhe permitiu fazer propostas adequadas, sem qualquer fantasia”, resume Giambiagi. Em comemoração ao centenário do nascimento de Roberto Campos foram lançados dois livros este ano. O primeiro é Lanterna na Proa - Roberto Campos 100 anos (uma referência ao livro autobiográfico de Campos, A Lanterna na Popa), organizado pelo economista e atual presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro e pelo jurista Ives Gandra da Silva Martins, e publicado pela editora Resistência Cultural. Rabello e Gandra coletaram ideias, testemunhos e aplicações, ao Brasil de hoje, do pensamento político, filosófico e econômico de Campos. Além de artigos dos organizadores, o conteúdo do livro foi confiado a 62 autores, entre os quais Armínio Fraga Neto, Arnaldo Niskier, Candido Mendes, Ernane Galvêas, Guilherme Afif Domingos, Gustavo Loyola, João Paulo dos Reis Velloso, José Sarney, Miro Teixeira e Paulo Roberto de Almeida. Gandra diz que teve o privilégio de escrever quatro livros com Campos, e que prefaciou sua segunda tese acadêmica para a USP sobre o impacto das despesas militares nos orçamentos públicos, editada no livro Desenvolvimento Econômico e Segurança Nacional, Teoria do Limite Crítico, de 1971. Os contatos entre os dois eram frequentes, principalmente por causa do irmão de Gandra, o pianista João Carlos Martins, amigo de Campos desde sua chegada a Washington. “Ele gostava de contar o episódio em que se conheceram,

Divulgação/Presidência

Roberto Campos foi ministro do Planejamento durante o governo militar de Humberto de Alencar Castelo Branco (1964 a 1967)

26

“(...) [Roberto] Campos foi questionado pela filha do senador Mansfield sobre o que achava do jovem pianista, que havia feito muito sucesso em Porto Rico e se apresentaria naquela semana em Washington. Após Campos confessar que não o conhecia, ela retrucou perguntando como um embaixador podia ser tão ignorante a ponto de desconhecer um pianista daquele nível. Campos rebateu dizendo: ‘Que sou ignorante não tenho dúvidas, mas que, em tão poucos dias no seu país, todos nos EUA já soubessem do fato é que me surpreende’, provocando gargalhadas”, recorda Gandra.

quando, com apenas dois dias em Washington, em uma recepção, Campos foi questionado pela filha do senador Mansfield sobre o que achava do jovem pianista, que havia feito muito sucesso em Porto Rico e se apresentaria naquela semana em Washington. Após Campos confessar que não o conhecia, ela retrucou perguntando como um embaixador podia ser tão ignorante a ponto de desconhecer um pianista daquele nível. Campos rebateu dizendo: ‘Que sou ignorante não tenho dúvidas, mas que, em tão poucos dias no seu país, todos nos EUA já soubessem do fato é que me surpreende’, provocando gargalhadas”, recorda Gandra. O DIPLOMATA O segundo livro, O Homem que Pensou o Brasil – Trajetória Intelectual de Roberto Campos, da editora Appris, foi organizado pelo diplomata Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri). Almeida destaca que o mais importante na biografia de Campos é o caráter de planejador e de tecnocrata. Ele cita a tese de mestrado em economia de Campos, em 1947, sobre ciclos e flutuações econômicas, que foi considerada digna de um doutorado. Almeida lembra que Campos foi o primeiro concursado para o Ministério das Relações Exteriores, em 1938, em concurso realizado pelo Departamento de Serviço Público (Dasp). Na época, ele não tinha nenhum diploma de graduação, apenas o seminário, que o preparou com estudos de filosofia, lógica, história, direito canônico e economia, permitindo sua aprovação e posse em 1939. MAIO | JUNHO 2017


PARA SABER MAIS Confira a lista de livros citados na reportagem: A Lanterna na Popa Roberto Campos Vols.1 e 2 4a. edição Topbooks, 2004

Pensamento Econômico Brasileiro Ricardo Bielschowsky. Contraponto, 2017

O Desenvolvimento Inacabado do Brasil Marco Antonio A. de Araujo Lima BNDES, 2009

Lanterna na Proa Paulo Rabello de Castro e Ives Gandra Livraria Resistência Cultura, 2017.

O Homem que Pensou o Brasil Paulo Roberto de Almeida Appris, 2017.

RUMOS

“Campos passou a trabalhar em áreas desprezadas como almoxarifado, criptografia e a parte comercial e econômica. Por isso foi para Washington para tratar de abastecimento de petróleo e outros produtos estratégicos e aproveitou para estudar economia, tornando-se um diplomata distinguido na área econômica”, diz Almeida. Em 1982, aposentou-se do Itamaraty, quando se elegeu senador pelo Mato Grosso, pelo PDS, o partido de direita. Depois, foi deputado federal pelo Mato Grosso, de 1990 a 1994, e também pelo Rio de Janeiro, de 1994 a 1998. “Ele esteve afastado da diplomacia quando trabalhou no BNDE, em 1952-53 e, de novo, a partir de meados de 1954. Em 1959, foi para a iniciativa privada. Em 1961, voltou à diplomacia ao ser designado embaixador em Washington até 1964, quando se tornou ministro do Planejamento no Governo Castelo Branco, até 1967. Depois retornou para a iniciativa privada, trabalhando em consultoria para bancos de investimento e, em 1974, tornou-se embaixador em Londres, cargo que ocupou até 1982”, relata Almeida. O diplomata observa que Campos se interessava mais pela competência do que pelas ideias políticas dos pares com quem se relacionava. Um exemplo é o episódio relatado pelo ex-senador e ex-prefeito do Rio, Roberto Saturnino Braga. “Eu, Inácio Rangel e Juvenal Osório Gomes havíamos passado no primeiro concurso, mas não pudemos tomar posse porque éramos fichados no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Campos era superintendente do BNDE e foi ao Armando Falcão, ministro da Justiça de Vargas, e disse que não ia acatar a prova de investigação social, assumindo a responsabilidade pela nossa posse”, recorda Saturnino. Ele conta que, na época, Campos era um desenvolvimentista assumido, tendo pertencido ao grupo de Itatiaia, que resultou na criação, em 1955, do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), que reunia nomes como Nelson Werneck Sodré e Hélio Jaguaribe e era voltado a pensar o desenvolvimento do país. “Em 1998, disputamos uma eleição de altíssimo nível para o Senado no Rio. Ele já havia sido senador por Mato Grosso, e disputou a vaga do Rio pelo PFL, e eu, senador duas vezes pelo Rio, disputei mais uma vez pelo PSB e acabei vencendo. Ele foi um extraordinário pensador liberal brasileiro e teve um papel importantíssimo de representação diplomática brasileira”, resume Saturnino. 27


ARTIGO

Roberto Campos: um desenvolvimentista pragmático Roberto Campos é um personagem que consegue, no centenário do seu nascimento, alimentar polêmica sobre sua ação política. A partir da década de 1970 se tornou mais conhecido por suas ideias liberais a favor do livre mercado. Foi um crítico enfático do monopólio da Petrobras. Combateu com fervor a política de Informática. Durante este período de sua vida política não ocupou cargo algum no Executivo. Mas destacou-se como embaixador na Inglaterra na década de 1970 e parlamentar nas décadas seguintes como representante no Congresso Nacional dos estados do Mato Grosso e Rio de Janeiro. Nas décadas de 1950 e 1960, no entanto, Campos teve uma atuação completamente distinta. Notabilizou-se como um executivo pragmático, atuando com intensidade no projeto de modernização da sociedade brasileira, tanto no período democrático como durante o regime militar. Fez jus ao título de principal “economista desenvolvimentista não-nacionalista” atribuído a ele por Ricardo Bielschowsky em seu livro O Pensamento Econômico Brasileiro: o Ciclo Ideológico do Desenvolvimentismo. Começou a se destacar como desenvolvimentista ao participar da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, decorrente de negociações entre os dois países ainda no governo Dutra, embora os trabalhos só tenham se iniciado em julho de 1951, já no mandato do presidente Getúlio Vargas. Um dos principais legados desta Comissão foi a definição de 41 projetos que integraram o Plano de Reaparelhamento Econômico, cuja execução seria financiada pelo Banco Mundial (Bird), ou pelo Eximbank, dos Estados Unidos, em montante entre US$ 400 e US$ 500 milhões. A segunda contribuição importante da Comissão foi a sugestão de 28

criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, inicialmente sem o “S”), com a missão de financiar e gerir os recursos captados no exterior ou no país, que viriam principalmente do Fundo de Reaparelhamento Econômico, constituído por uma taxa adicional sobre o imposto de renda de pessoa física e jurídica. FUNDAÇÃO DO BNDE Para a direção do BNDE, foram indicados três membros da Comissão: Ari Frederico Torres, engenheiro do IPT de São Paulo para o cargo de presidente, Glycon de Paiva, geólogo que ocupou a diretoria técnica, e Roberto Campos, responsável pela área econômica. Participou também dessa diretoria, a partir de 1953, Cleanto Paiva Leite, um dos componentes da Assessoria Econômica do presidente Getúlio Vargas, que fazia parte do grupo que Bielschowsky denominou “economistas desenvolvimentistas nacionalistas”. Durante a montagem da primeira diretoria, Roberto Campos foi ao Chile, autorizado por Ari Torres, convidar Celso Furtado, que trabalhava na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), para participar do colegiado. O secretário-executivo Raúl Prebisch não o liberou, mas aceitou que se formasse no Brasil o Grupo Misto Cepal – BNDE, sob a direção de Furtado. Passavam a influir na estratégia do BNDE com mais destaques dois dos mais renomados economistas brasileiros: Roberto Campos e Celso Furtado, este também um “economista desenvolvimentista nacionalista”, que assumiu a liderança do grupo nacionalista, com a volta para a Bahia, após a morte de Vargas, do chefe da Assessoria Econômica da presidência, Rômulo Almeida, líder inconteste anterior. São esses dois executiMAIO | JUNHO 2017


vos que vão formular o Plano de Metas de Juscelino seria enviado para decisão da diretoria. Estava criaKubitschek. Furtado, com sua visão de planejamento do o grupo de trabalho no BNDES, método que tem global, e Roberto Campos, com a teoria dos pontos incentivado o debate internamente e que permanece, de germinação, que se assemelhava ao conceito de até a atualidade, como uma contribuição inestimável Albert Hirschman, que sugeria a prioridade para proà independência dos técnicos do Banco e à qualidade jetos com “encadeamentos” para a frente e para trás. de suas propostas. Roberto Campos não se limitou a definir estratégias para o Banco. Preocupou-se também em montar FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO uma organização que primasse pela qualidade técniO Banco foi criado, mesmo sem a destinação total dos ca e independência. Embora não tenha conseguido recursos externos prometidos pelo Banco Mundial e inicialmente instituir o concurso Eximbank, que liberaram apenas público como processo de seleção, US$ 181 milhões, segundo o CPDoc. Campos nunca deixou de acalen- Roberto Campos não Nem todos os projetos foram imtar a implantação deste processo se limitou a definir plantados, mas a nova tecnologia administrativo. A oportunidade estratégias para o de apoio a investimentos por meio surgiu quando foi convidado por de projetos se consolidou no país. Banco. Preocupou-se Lucas Lopes, ministro da FazenCom o Plano de Metas, o BNDES também em montar da, para compor a diretoria no não só participou como protagogoverno de Juscelino, ocupando uma organização nista das definições dos principais o estratégico cargo de diretor-su- que primasse pela objetivos como presidiu o Conseperintendente. Para implantar o qualidade técnica e lho de Desenvolvimento EconômiPlano de Metas, o BNDE precique as aprovou e acompanhou o independência. Embora co saria de novos profissionais para desempenho do Plano. ser bem-sucedido na realização não tenha conseguido Um debate importante que das ousadas 30 metas. Ao decidir inicialmente instituir o aconteceu no Banco foi o financiapelo concurso em 1956, Campos concurso público como mento a empresas estrangeiras: obrigou todos os que já prestauma divergência entre as correntes processo de seleção, vam serviço desde 1952, inclusive nacionalistas e não-nacionalistas os que mais se destacavam, tais Campos nunca deixou de do Banco. Os principais exemplos como Ignácio Rangel, Juvenal acalentar a implantação foram: o projeto da Sanbra – SocieOsório Gomes e José Pelúcio Fer- deste processo dade Algodoeira do Nordeste Brasireira, a se submeterem ao concurleiro, com a questão se o Banco deadministrativo. so. Felizmente, todos passaram e veria financiar projetos de bens de o concurso público, embora não consumo; o da Light, cuja decisão fosse uma obrigação constitucional, passou a ser a foi financiá-lo por meio de debêntures conversíveis, marca da área de recursos humanos do BNDE. o que redundou em lucros extraordinários para a insA outra contribuição de Campos foi a alteração do tituição; e o da indústria automobilística, que concorprocesso de análise dos projetos que se candidatavam ria com o projeto ferroviário, considerado prioritário ao financiamento de longo prazo. Os departamentos pelas equipes técnicas do Banco. O que suscitou mais operacionais designavam técnicos, que faziam os repolêmica, no entanto, foi o de exploração de petróleo latórios de cada uma das especialidades requeridas: e gás na Bolívia, que seria implantado pela Refinaria econômico, financeiro, técnico e jurídico. Os assessode Capuava, empresa nacional parceira da Gulf Peres do diretor-superintendente, de posse desses relatroleum, no âmbito do Acordo de Reboré, assinado tórios, sintetizavam os argumentos e encaminhavam em 1958 entre os dois países. Ou seja, um financiapropostas em um único documento para decisão da mento a uma empresa privada nacional para implandiretoria. Roberto Campos se insurgiu contra esse tar projeto em um país vizinho. processo e solicitou aos profissionais responsáveis Foi na época da discussão desse último projeto que pelos relatórios setoriais que se reunissem e escreo presidente Juscelino fez uma reforma ministerial e vessem, eles mesmos, um documento-síntese que substituiu Lucas Lopes do ministério da Fazenda e RUMOS

29


mas o Ipea, sob o comando do economista João Paulo dos Reis Veloso, marcou o processo de desenvolvimento brasileiro. No início da década de 1970, Ipea e BNDE formularam o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), executado pelo BNDE no período em que Reis Veloso comandou o Ministério do Planejamento durante o governo do presidente Ernesto Geisel. Como ministro do Planejamento, Campos também se preocupou em criar novos instrumentos de poupança, com destaque para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para financiar o setor de habitação, cujos recursos seriam administrados pelo Banco Nacional de Habitação, banco público também criado durante o governo do presidente Castelo Branco. Com a criação do FGTS, a aprovação da reforma tributária, o reajuste das tarifas públicas e a implantação da correção monetária, propostas elaboradas por Campos, o governo ajustou o orçamento fiscal, fortalecendo o Estado para investir e contribuir para a retomada do crescimento no período 1967 a 1980. Roberto Campos foi muito bem definido por Bielschowsky como um “desenvolvimentista não nacionalista”, embora preferisse ser conceituado como um “desenvolvimentista liberal”. Por sua vez, sua ação nas décadas de 1950 e 1960, na ditadura e na democracia, autoriza também que se enuncie outro lado do seu desenvolvimentismo: o “institucionalista”. Com determinação, estruturou o BNDE e organizou o planejamento no Estado brasileiro. Mas durante as décadas de 1950 e 1960, Roberto Campos foi também um executivo pragmático que soube conviver com a diferença.

também o presidente do BNDE, Roberto Campos. Por trás desta mudança, havia a insatisfação pela política de ajustamento comandada por Lucas Lopes e apoiada por Campos. Como alertou, em um artigo seminal, o professor Antônio Barros de Castro, o sistema expelia quem se contrapusesse à Convenção do Crescimento, que perdurou no Brasil de 1930 a 1980.

30

MARCO ANTONIO A. DE ARAUJO LIMA Noel Joaquim Faiad

O PLANEJAMENTO NO BRASIL Roberto Campos volta ao cenário político e econômico como ministro do Planejamento do governo do presidente Castelo Branco, em 1964. Por coincidência, quem o antecedeu neste cargo foi Celso Furtado durante o governo presidencialista de João Goulart. Houve entre os profissionais da equipe do BNDES um temor de que a ditadura viesse a enfraquecer a participação do Banco caso fossem implantadas as políticas liberais. A nomeação do um monetarista, Garrido Torres (ex-superintendente da Sumoc), para a presidência amplificou este receio. Depois veio a criação do Escritório de Pesquisa Econômica Aplicada (Epea), atual Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com o objetivo de realizar pesquisa econômica e de planejamento para o País. Em seguida, a Reforma Financeira, com a criação dos Bancos de Investimento. As duas medidas encaixavam-se perfeitamente em um processo de modernização econômica, mas de fato poderiam tirar espaço de atuação do Banco. Temia-se que destinassem ao BNDE apenas o apoio às pequenas e médias empresas, tarefa prioritária, sem dúvida. Entretanto, no entendimento das equipes do Banco, a industrialização brasileira não poderia prescindir do financiamento de longo prazo às indústrias pesadas e à infraestrutura. Mas os acontecimentos não confirmaram estas hipóteses ameaçadoras. Pelo depoimento das lideranças do BNDES sobre Garrido Torres, constata-se que o presidente se integrou à missão do Banco, sendo atribuída a ele a célebre frase: “Eu não aceito ser o coveiro do BNDE”. Em seu mandato foram criadas a Finame, uma agência para “crédito direto ao consumidor de equipamentos”, e o Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funtec), que financiou a implantação do parque de ciência e tecnologia brasileiro. Os bancos de investimento não se consolidaram,

Engenheiro civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Ocupou diversos cargos executivos no BNDES. É Secretário-Executivo da ABDE.

MAIO | JUNHO 2017


ONDE O BRDE ESTÁ PRESENTE, O DESENVOLVIMENTO ACONTECE.

Ouvidoria DDG 0800 600 1020

Com os financiamentos do BRDE, projetos inovadores do Sul do Brasil viram realidade. Aqui, você conta com a orientação de uma equipe especializada que encontra a solução ideal para cada necessidade, além de linhas de crédito específicas para inovação, como o desenvolvimento de novos produtos, aprimoramento de serviços ou modernização de processos. BRDE. O banco que liga você ao desenvolvimento.

CONHEÇA NOSSAS LINHAS DE CRÉDITO PARA INOVAÇÃO www.brde.com.br


REPORTAGEM

Jader Moraes

Capacidades públicas Encontro realizado em junho, no Rio de Janeiro, reuniu experiências em Escolas de Governo de diferentes regiões do mundo; digitalização e ambiente digital são os desafios da administração pública para a prestação de serviços de maior qualidade para os cidadãos. POR JADER MORAES

Em um momento em que as instituições públicas brasileiras passam por um grande teste de credibilidade, em virtude das denúncias de corrupção que atingem diferentes setores da vida política nacional, um evento realizado no Rio de Janeiro reforçou a necessidade de que, para além de governos ocasionais, os servidores públicos estejam tecnicamente bem preparados para que o cidadão possa confiar na qualidade dos serviços a eles oferecidos – em especial nesta era digital, em que a interlocução entre os usuários e provedores de serviços é realizada de forma mais ágil e direta. Os debates aconteceram durante a 5ª Reunião Anual da Rede Global de Escolas de Governo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que pela primeira vez foi realizada em uma cidade da América Latina, organizada pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e pela Escola Brasileira de 32

Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape/FGV). O encontro teve como tema “Mudança de habilidades e liderança para assegurar serviços públicos de alto desempenho em uma era digital”. As Escolas de Governo são instituições dedicadas à qualificação dos servidores públicos das diferentes esferas governamentais, e estão presentes em dezenas de países de todo o mundo. No fim de junho, dirigentes de ao menos uma dezena de nações se reuniram, na sede da Ebape, para debater experiências e ideias para gerar maior eficácia nos serviços oferecidos pelo setor público à população. MAIO | JUNHO 2017


Organizador do encontro, o diretor Internacional da FGV e presidente da Associação Internacional de Escolas e Institutos de Administração (Iasia), Bianor Cavalcanti, destacou que a OCDE pode se tornar uma importante parceira das instituições brasileiras, pois tem desenvolvido estudos para identificar as necessidades de inovação na esfera pública, para melhor atender ao cidadão. “A experiência de diferentes países é fundamental nas discussões. A OCDE busca desenvolver modelos conceituais a partir de seus estudos aplicados e levá-los às Escolas de Governo, de modo que essas instituições possam contribuir com seus programas educacionais para a formação de lideranças no setor público”, disse Cavalcanti. De acordo com ele, a OCDE tem produzido uma série de orientações às Escolas de Governo, sobre como utilizar e desenvolver estudos comparativos, de modo a melhorar o desempenho do setor público nos diferentes países com os quais a organização se relaciona. “Isso requer treinamento, para que os servidores possam melhor se preparar para a complexidade dos problemas, que hoje são diferentes; e também requer melhores estruturas por parte dos governos, que dê condições de um funcionamento mais racional e efetivo da administração pública”, avaliou o diretor. Chefe da Divisão de Reforma do Setor Público, Governança Pública e Desenvolvimento Territorial da OCDE, Edwin Lau avaliou o encontro como uma oportunidade importante para a organização conhecer a realidade das Escolas de Governo sul-americanas e construir uma relação mais sólida com elas. “Essa partilha entre as experiências latino-americanas e as dos países da OCDE é rica para todos, pois nos permitirá entender o que cada um tem feito e aperfeiçoar nossa própria ação. Além disso, fica claro que não existem formatos predeterminados, é importante construir capacidades que estejam ajustadas à realidade local”, comentou. O representante da OCDE lembrou que durante muitos anos os serviços públicos foram encarados, em diferentes regiões, como despesas que precisavam ser cortadas. Assim, muitos países passaram anos sem fazer contratações ou investir em aperfeiçoamento profissional. O quadro se alterou recentemente, de acordo com ele, pois os governos entenderam a importância de fortalecer esses serviços após o momento mais agudo da crise econômica e piora do estado de bem-estar social na Europa e outras partes do globo. Dessa forma, um dos principais desafios encontrados pelas Escolas de Governo nesse momento é reconstruir capacidades que foram perdidas após esse longo período sem grandes investimentos na área pública. “Depois de muito tempo, alguns países voltaram a contratar funcionários e temos que, simultaneamente, treinar estes que entram e capacitar os que já estão dentro, mas há muito tempo não recebiam capacitação”, explicou. Sobre o Brasil, Lau avaliou que o fato de o país possuir diferentes níveis de governo e de ação governamental é importante, por sua extensão e diversidade, mas também representa um desafio: “Alguma coordenação é necessária”, avaliou. A opinião foi partilhada pelo diretor da FGV: “Hoje não existem mais RUMOS

problemas fáceis. Eles exigem interlocução e demandam capacidade de resposta cada vez maior dos governos. Os problemas não podem mais ser resolvidos isoladamente, é preciso cooperação dos diferentes agentes”, reforçou Cavalcanti. MUNDO DIGITAL Ao longo de dois dias de evento, os participantes debateram sobre as habilidades necessárias para um serviço público de alto desempenho; a busca pelo equilíbrio de gênero na administração pública; e a qualificação de lideranças na esfera pública, entre outros temas. Mas a principal questão, que norteou o encontro, foi sobre as mudanças advindas com as novas tecnologias digitais, que tornaram mais complexas as relações entre o poder público e as populações que são por eles servidas. Para os participantes, a digitalização tem transformado o setor público e a forma como ele funciona, o que exige servidores com habilidades digitais, capazes de aproveitar as novidades e gerenciar os riscos a elas associados. Neste cenário, eles avaliam que as tendências digitais emergentes trazem não só novas oportunidades para economias e sociedades, mas também implicações significativas para os governos. Bianor Cavalcanti lembrou que se, de um lado, o instrumental tecnológico ampliou a possibilidade de acesso dos cidadãos aos serviços, e também da avaliação destes, de outro, permite que os órgãos de Estado tenham mais informações acerca da população. É uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. “Temos uma grande base de dados, possibilitada pela digitalização, que nos permite também olhar o micro, não apenas o macro. É possível fazermos diagnósticos mais precisos de situações complexas, para alimentar decisões mais inteligentes de políticas públicas”, afirmou o diretor Internacional da FGV, numa avaliação de que o principal ganho que as novas tecnologias trazem à prestação de serviços não é a velocidade de execução, como corriqueiramente é observado. “A boa decisão antecede a execução. O mais importante é que este novo modelo nos permite gerar informações pertinentes que alimentem o processo decisório. Não é uma questão de ‘fazer mais rápido’, como muitos entendem, até porque rapidamente ou ‘eficientemente’ pode-se caminhar para o abismo”, sublinhou. 33


LIVROS

UMA AGENDA PARA O BRASIL Os economistas Fabio Giambiagi e Mansueto Almeida organizam o livro Retomada do Crescimento – Diagnóstico e Propostas, uma coletânea de reflexões sobre o Brasil no período atual e propostas para a superação dos seus principais problemas. A obra possui prefácio do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e apresentação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com textos assinados por 38 autores, entre eles: Adriano Pires, Claudio Frischtak, Eduardo Zilberman, Fernando Honorato Barbosa, Fernando Veloso, João Manoel Pinho de Mello, José Alexandre Scheinkman, José Roberto Afonso, José Roberto Mendonça de Barros, Mauricio Mesquita, Marcos Lisboa, Paulo Furquim, Paulo Tafner e Vinicius Carrasco. O livro contém 23 capítulos, dividido em três partes: Contexto; Agenda macroeconômica; e Agenda setorial. Percorrendo os capítulos, o leitor encontrará análises e propostas para as áreas econômica, de energia, de transportes, de infraestrutura, de saúde, de educação, entre outras, que grifam a necessidade de fazer avançar o roteiro das reformas. O livro trata do período posterior a 2018 e procura pensar o país de 2019 em diante. A Rumos conversou com um dos organizadores do livro, o economista Fabio Giambiagi, mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor de mais de 25 livros sobre a economia brasileira e atual superintendente de Planejamento e Pesquisa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além de organizador, Giambiagi assina o artigo inicial do livro, em que avalia as transformações no perfil demográfico como decisivas na trajetória de desenvolvimento de diferentes nações e observa que o Brasil passa por mudan34

ças importantes nesse campo, inclusive com possibilidade de queda da população economicamente ativa em um horizonte próximo. Tais mudanças, entre outros fatores, exigem que se produza uma “agenda de modernização do país”. Confira: RUMOS – Qual o desafio mais urgente para o país superar a crise e voltar à trilha do desenvolvimento? Por quê? FABIO GIAMBIAGI – O desafio mais urgente, de curto prazo, é ter estabilidade política, para poder dar continuidade à agenda legislativa que estava avançando muito bem até meados de maio. O papel dos técnicos é aportar ideias e isso todos os autores procuram fazer no livro, mas todos nós entendemos o primado da política no momento de tomar as decisões. Sem solução da crise política, a agenda legislativa tende a ficar travada. RUMOS – Seu artigo defende que o Brasil vai passar por importantes mudanças demográficas nos próximos anos, impactando a economia. Como se preparar para esse futuro que, como o senhor ressalta, “já está batendo às portas”? GIAMBIAGI –Isso passa por um desafio hercúleo de aumentar a produtividade, o que requer um conjunto de características: 1) melhorar a educação; 2) ter um ambiente de maior competição; 3) incrementar a preocupação com a eficácia do gasto público; e 5) elevar os investimentos em infraestrutura. RUMOS – No livro são apontadas uma série de reformas necessárias para a construção de uma agenda de modernização do Brasil. É possível avançar nestas propostas em um ambiente político atual? Qual a contribuição que os artigos trazem a esse debate em um momento tão especial do país? GIAMBIAGI – O livro foi concebido para representar um conjunto de ideias para alimentar o debate acerca dos rumos a serem seguidos pelo país a partir de janeiro de 2019. Minha sugestão inicial, inclusive, era que o título do livro fosse “Depois da transição”. São ideias para os próximos 5 a 10 anos, não para 2017, necessariamente.

Retomada do Crescimento: Diagóstico e Propostas Fabio Giambiagi e Mansueto Facundo de Almeida Jr. (orgs.) Elsevier, 400p., 2017. MAIO | JUNHO 2017


UM GUIA SOBRE COMPLIANCE

Compliance: Concorrência e Combate à Corrupção Franscisco Shertel Mendes e Vinicius Marques de Carvalho Trevisan, 168p., 2017.

Em um momento em que o tema da ética corporativa está definitivamente em pauta, não só no Brasil, mas em todo o mundo, a obra traz panorama completo e acessível sobre as leis de defesa da concorrência e anticorrupção, com foco nos desafios enfrentados para a adoção de programas efetivos de compliance – uma vez que, diante da complexidade e da grande quantidade de normas aplicáveis, cada vez mais empresas buscam estruturar programas com esse fim. Trata-se de um guia com exemplos concretos, que percorre aspectos importantes para empresários, diretorias jurídicas e associações de classe poderem estruturar ou revisar seus próprios programas de compliance. Os autores, com experiência profissional e acadê-

mica na área, abordam como o tema se desenvolveu ao longo das últimas décadas no cenário internacional e de que forma foi assimilado no país. Francisco Schertel Mendes é consultor legislativo do Senado Federal nas áreas de Direito Econômico, Direito Empresarial e Direito do Consumidor; mestre e doutorando em direito pela Universidade de Brasília; e diretor Acadêmico do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Já Vinicius Marques de Carvalho é professor do Departamento de Direito Comercial da Universidade de São Paulo (USP) e do (IDP); e ocupou, entre outros, os cargos de Presidente e Conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

COMUNICAÇÃO E CRISE

Gestão de reputação: riscos, crise e imagem corporativa Elisa Prado (org.) Aberje Editorial, 245p., 2017. RUMOS

A jornalista e diretora executiva da agência de conteúdo TV1 RP, Elisa Prado, é a autora e organizadora dessa obra que reúne mais de duas dezenas de profissionais experientes do setor de comunicação, partilhando suas vivências e refletindo sobre sua atuação profissional, com o propósito de levar conhecimento, conselhos e orientações aos líderes corporativos sobre a importância da prevenção de crises nas empresas. Os autores abordam diversos assuntos que dialogam com a gestão de reputação, tais como mensuração, sustentabilidade, redes sociais, ética e compliance, relações governamentais, entre outros. A obra é dividida em duas partes. Na primeira, sobre “Como fazer a gestão de reputação de uma empresa”, são apre-

sentadas questões como as novidades surgidas com as mídias sociais, o valor primordial do engajamento interno e os desafios da comunicação na “era da transparência”. A segunda parte do livro traz dicas de profissionais de comunicação corporativa de grandes empresas nacionais e multinacionais, em uma série de artigos que abordam diferentes ensinamentos obtidos pelos executivos ao longo de suas carreiras. Entre os expositores, estão a diretora de marketing institucional da Braskem, Claudia Bocciardi, o superintendente de comunicação do Itaú Unibanco, Paulo Marinho, a diretora de corporate affairs da Latam, Gislaine Rossetti, e o diretor de Comunicação do Instituto Brasileiro de Mineração, Paulo Henrique Soares. 35


SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

Agência Brasil

CAIXA DISPONIBILIZA R$ 1 BILHÃO PARA MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS INDÚSTRIAS A Caixa Econômica Federal vai disponibilizar mais de R$ 1 bilhão para micro, pequenas e médias empresas do segmento industrial. O anúncio foi feito pelo vice-presidente de Clientes, Negócios e Transformação Digital do banco, José Henrique Marques da Cruz, ao assinar um acordo de cooperação com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O acordo permite que empresas associadas à CNI encontrem soluções financeiras e serviços bancários adequados às suas necessidades. O vice-presidente lembrou que a Caixa tem 115 mil empresas do segmento industrial como clientes e, desse total, mais de 98% são micro e pequenas empresas.

BNDES COMEMORA 65 ANOS COM DEBATE SOBRE DESENVOLVIMENTO Para comemorar os 65 anos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a instituição promoveu, no Rio de Janeiro, um debate sobre questões relevantes para o desenvolvimento do país. Com o tema “O BNDES na sua melhor idade”, o debate foi mediado pelo presidente do banco, Paulo Rabello de Castro. Ao lembrar a história da instituição, Castro destacou a contribuição decisiva da instituição para o processo de industrialização do país e para o crescimento de empresas brasileiras de diferentes ramos. “Este momento de revisão dos 65 anos tem um sentido prospectivo: ao olhar nossa história, queremos também projetar nosso futuro. É um grande feito que o banco tenha prosperado de maneira tão exitosa em um país que teve tantos percalços nessas seis décadas de sua existência”, declarou o presidente. No fim do debate, os economistas João Paulo dos Reis Veloso, Carlos Lessa e Antônio Delfim Netto foram homenageados com a medalha “Mérito desenvolvedor”, uma condecoração em reconhecimento à contribuição intelectual que deram à instituição. 36

FOMENTO PARANÁ REFORÇA APOIO A MUNICÍPIOS A Agência de Fomento do Estado do Paraná (Fomento Paraná) deu início ao processo de análise de Pedidos de Verificação de Limites e Condições (PVL), que é obrigatório nos projetos de concessão de financiamentos aos municípios. É a primeira instituição do gênero no país a fazer esse processo técnico. Pela nova regra, a agência poderá analisar PVLs de financiamentos de até R$ 5 milhões. Esse valor representa 98% das mais de 230 propostas que tramitam atualmente na instituição. O diretor de Operações do Setor Público da Fomento Paraná, Omar Sabbag Filho, informa que a instituição se preparou para internalizar essa fase do processo de financiamento com o intuito de tornar o procedimento mais ágil. “Essa análise é bastante minuciosa e complexa. Nenhuma outra instituição no país se propôs a fazer, o que denota, mais uma vez, a ousadia da Fomento Paraná”, explica. Ainda segundo o diretor, nesse período inicial do trabalho de análise, a Secretaria do Tesouro nacional se propôs a encaminhar técnicos para ajudar a agência a consolidar o procedimento. MAIO | JUNHO 2017


Adão de Souza/PBH

BDMG FINANCIA PRIMEIROS TÁXIS HÍBRIDOS DE BH O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e a prefeitura de Belo Horizonte entregaram, no mês de junho, as primeiras chaves dos táxis híbridos. Os veículos, financiados pelo banco de fomento, têm motor que utiliza gasolina e energia elétrica. Com isso, reduzem até 50% o consumo de combustível, emitindo menos poluentes na atmosfera. De acordo com o presidente do BDMG, Marco Crocco, a iniciativa reforça o compromisso da instituição com o desenvolvimento sustentável. “Essa é uma das áreas prioritárias de atuação do banco, que conta com outras iniciativas. A prefeitura nos solicitou uma solução financeira para as empresas participantes do edital e assumimos o compromisso de oferecer as melhores condições, pois acreditamos no resultado: a melhoria da qualidade de vida da sociedade, a preservação ambiental e a geração de emprego e renda”.

PROCURA POR CRÉDITO CRESCE NA GOIÁSFOMENTO A procura por linhas de financiamento cresceu na Agência de Fomento do Estado de Goiás (GoiásFomento) nos últimos meses. De acordo com levantamento da instituição, de janeiro até o dia 12 de junho, 441 contratos foram montados e passaram pela Coordenadoria de Análise. O número é 25% superior aos contratos fechados no mesmo período do ano passado, que totalizaram 337. A linha mais procurada é o Crédito Produtivo, que empresta até R$ 50 mil com juros de 0,8% ao mês e prazo de pagamento que vai de 36 a 60 meses. “Esta linha é destinada ao dono de pequena empresa que quer comprar uma máquina, ao dono de um comércio que precisa de mais equipamentos ou, por exemplo, ao proprietário de um estabelecimento que queira ampliar seu espaço físico”, diz o diretor de Operações, Guto Medeiros. “Este ano o número de contratos fechados no Crédito Produtivo cresceu mês a mês”. RUMOS

FINEP ABRE COMEMORAÇÕES DE SEUS 50 ANOS A Finep deu início às comemorações dos seus 50 anos, em evento no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab. Na ocasião, o presidente da financiadora, Marcos Cintra, juntamente com o presidente dos Correios, Guilherme Campos, lançou um selo e um carimbo comemorativos em alusão ao cinquentenário da principal agência de apoio à inovação do Brasil. “A Finep vem desempenhando há 50 anos um papel de protagonista no desenvolvimento do Brasil moderno. Nos últimos 15 anos, apoiou projetos de 59 universidades federais (94% do total de universidades federais brasileiras) e 39 estaduais (87% do total). Na outra ponta da cadeia, foi fundamental para ajudar a introduzir a cultura inovadora nas empresas brasileiras, o que ajudou o país a ser um dos dos principais players em segmentos como aeronáutica, agronegócio, mineração e exploração de petróleo em águas profundas”, destacou o presidente da financiadora, Marcos Cintra. A Finep também aproveitou a solenidade para homenagear 11 personalidades e 12 instituições que marcaram a história da organização, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Embraer. Durante o evento, ainda foram assinados convênios referentes a três chamadas da Finep: Apoio Institucional; Centros Nacionais Multiusuários; e CT-Infra. Ao todo, foram aprovados 171 projetos nesses editais, totalizando R$ 410,5 milhões. 37


EXPEDIENTE

INSTITUIÇÕES ASSOCIADAS À ABDE

Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall - Brasília - DF - CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 – 11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 E-mail: gecom@abde.org.br CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Paulo Rabello de Castro DIRETORIA Presidente: Milton Luiz de Melo Santos 1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Crocco Afonso 2º Vice-Presidente: Henrique Tibúrcio Peña Diretores: Antônio Gil Padilha B. Silveira, João Pinto Rabelo Júnior, Marivaldo Gonçalves de Melo, Otto Alencar Filho, Perpétuo do Socorro Cajazeiras, Susana Kakuta e Weberson Reis Pessoa. Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINS – Agência de Fomento do Estado de Tocantins AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. AGERIO – Agência Estadual de Fomento BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCO SICREDI – Banco Cooperativo Sicredi S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal CRESOL - Cresol Confederação DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE MT – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. DESENVOLVE RR – Agência de Desenvolvimento de Roraima S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Inovação e Pesquisa FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

CARTAS DO LEITOR Desenvolvimento Regional Sou estudante de Geografia do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e gostaria de saber se há disponível online a Edição n° 139 da revista Rumos, pois gostaria de ter contato com o artigo da professora Tânia Bacelar de Araújo intitulado “Nordeste brasileiro face à globalização: impactos iniciais, vantagens e desvantagens competitivas”. Desde já fico muito grato. Juan Bandeira, estudante, Rio Grande do Norte.

Errata Republicamos a tabela corrigida do artigo “O antimilagre econômico brasileiro”, de Fernando Rugitsky, originalmente publicada na edição 292 ( Março/ Abril – 2017).

Fontes: BCB, Orair (2016), Funcex, Bonelli (2016) * Excluindo crédito imobiliário; endividamento como percentual da renda disponível (série com início em 2005)

Redação e Administração Avenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro RJ CEP: 20020-906 Telefone: (21) 2109.6041 E-mail: rumos@abde.org.br

Gerente de Comunicação & Editora Thais Sena Schettino Equipe Jader Moraes, Livia Marques Pimentel, Noel Joaquim Faiad Revisão Renato R. Carvalho

Capa Noel Joaquim Faiad Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas Distribuição Powerlog Serviços e Manipulação

Conselho Editorial Milton Luiz de Melo Santos, João Paulo dos Reis Velloso, Marco Antonio A. de Araujo Lima e Thais Sena Schettino. Publicação bimestral ISSN 1415-4722

Ano 41 - nº 293 - Maio/Junho 2017 Tiragem: 7.000 exemplares

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

38

MAIO | JUNHO 2017


A ABDE nasceu para fazer ecoar o ideal dos agentes que representa. Unir esforços, conhecimentos e recursos. Potencializar o desenvolvimento de um país com dimensões continentais. Agora, tem novos desafios: a partir de uma nova visão estratégica, se prepara para se tornar mais forte. Conciliando diferentes saberes, realidades e experiências. www.abde.org.br



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.