#296 NOVEMBRO/DEZEMBRO
2017
PREMIADOS A Rumos conversou com os cineastas responsáveis pelos documentários vencedores do Festival de Cinema do Rio de Janeiro e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: Dedo na Ferida, Piripkura e Em nome da América. Confira, neste especial, como os filmes aclamados pela crítica refletem sobre o Brasil de ontem e hoje e pensam novos modelos de desenvolvimento para o futuro do país.
REPORTAGEM
ARTIGO
REPORTAGEM
Fórum do Desenvolvimento reúne especialistas internacionais para pensar o futuro.
Vencedores do Prêmio ABDEBID, edição 2017, apresentam os resumos dos trabalhos.
As fintechs foram tema de seminário que discutiu a inovação no setor financeiro.
badesul.com.br Central de Atendimento: (51) 3284 5800 Ouvidoria: 0800 642 5800
SUMÁRIO
NOVEMBRO/DEZEMBRO 2017
#296
Thais Sena Schettino Editora
RUMOS
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ARTIGO
Noel Joaquim Faiad
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Marco Aurélio Almada
Jovens líderes e a nova economia
OPINIÃO |
Netto
Antonio Delfim
Momento de reflexão
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REPORTAGEM | Fintech
Novidades tecnológicas
ARTIGO
Larissa Vieira Resende/ João Prates Romero
Estrutura produtiva e crescimento
Fábio Abdo
A primeira edição da revista de 2017 fazia alusão à juventude, e em como era um privilégio poder viver em uma época de tamanha transformação. Um ano se passou, e são as novas gerações as homenageadas com a palavra do ano escolhida pelo Dicionário Oxford: youthquake ou, em uma tradução livre, terremoto da juventude, faz referência a “uma mudança cultural, política ou social significante provocada pelas ações ou influência de pessoas jovens”. Os desdobramentos dos atos dessa juventude estiveram nas páginas da revista, com reportagens sobre Indústria 4.0, economia colaborativa, armazenagem em nuvem, fintechs... dentre outros projetos disruptivos que mudam o mundo. E eles continuam presentes em nossas páginas, com a cobertura do Seminário “Brasil Fintech – Tecnologia e Inovação no Setor Financeiro”, ocorrido no Rio de Janeiro, que trouxe reguladores e empresas para apresentar um cenário sobre o segmento. Em especial também, trazemos a cobertura do Fórum do Desenvolvimento, que contou com participações internacionais com dos economistas Ha-Joon Chang, e Milford Bateman e da especialista Justine Leigh-Bell, da Climate Bond Initiative, seguida da cerimônia de entrega do Prêmio ABDE-BID, em sua quarta edição. Como as férias estão chegando, trazemos na reportagem de capa especial três documentários vencedores de festivais nacionais que fazem uma reflexão sobre questões importantes para a sociedade brasileira, em especial em um momento decisivo como o ano que se inicia: os limites do sistema financeiro, a urgência do desenvolvimento sustentável, o respeito aos povos originários, as contradições entre a política externa e as ideologias juvenis, o presente e o futuro do Brasil. Com tantas boas histórias e filmes para ver e conhecer, ficamos por aqui e desejamos boas-festas e um 2018 cheio das inovações juvenis! Boa Leitura!
DESTAQUES
NESTA EDIÇÃO
12 REPORTAGEM | Fórum
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O papel do Estado ARTIGO
Rafael A. Anicio Ferreira/ Marcelo Millan
Títulos verdes e o Novo Banco de Desenvolvimento
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ARTIGO
Laís Karlina Vieira/Valéria Gama Fully Bressan
Diversificação nas cooperativas de crédito
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Noel Joaquim Faiad
AO LEITOR
REPORTAGEM
Futuro em construção
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CAPA | Reportagem
Realidade nas telas
34 SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO
36 LIVROS
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REPORTAGEM
Noel joaquim Faiad
Novidades tecnológicas
Seminário no Rio de Janeiro marca o lançamento do primeiro grupo de trabalho focado no desenvolvimento das fintechs no Brasil. Criado no âmbito do Laboratório de Inovação Financeira (Lab), uma iniciativa da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o grupo será um espaço intersetorial para discutir as demandas do segmento e pensar formas de regulação que deem maior liberdade para que as instituições financeiras inovadoras possam testar novas soluções e tecnologias. O evento contou com a participação de especialistas nacionais e de outros países da América Latina, em um dia de debates sobre o papel da regulação e do Sistema Nacional de Fomento para o crescimento das empresas inovadoras e a proteção ao consumidor em um mundo cada vez mais digital. POR CARMEN NERY
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NOVEMBRO NOVEMBRO || DEZEMBRO DEZEMBRO 2017 2017
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estuda a forma como poderá ser implementado o Sandbox regulatório no país, uma licença temporária utilizada para tecnologias financeiras inovadoras para que a empresa possa testar sua solução no mercado até ver a viabilidade de uma licença definitiva. O anúncio foi feito por Marcelo Santos Barbosa, presidente da CVM, na abertura do Seminário “Brasil Fintech – Tecnologia e Inovação no Setor Financeiro”, realizado em 14 de dezembro, no Rio de Janeiro e promovido pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), CVM – no âmbito do Laboratório de Inovação Financeira (Lab) –, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com o apoio do Sebrae. Também foi anunciada a criação do quarto grupo de trabalho do Lab, o GT Fintech, que será um espaço intersetorial para discutir as demandas do segmento. Entre os integrantes já confirmados estão representantes da ABDE, do BID, do BNDES, da CVM, da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), do Ministério da Fazenda, da Bolsa de Valores (B3), Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e do Sebrae. Mas estão sendo convidados outros ministérios – entre os quais, Planejamento e Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações –, instituições do Sistema Nacional de Fomento, o Sistema Financeiro, investidores e diferentes associações de fintechs. Antes de ser colocado em prática, o estudo para implantação do Sandbox será realizado no âmbito desse grupo de trabalho. O presidente da CVM abriu o seminário reiterando que o tema fintechs é de extremo interesse para a economia de forma geral, e a CVM, como reguladora do mercado de capitais, cuida especialmente para que a informação seja utilizada de forma correta. Faz parte do mandato da autarquia também que os prestadores de serviços estejam sujeitos ao monitoramento apenas com fins de garantir a qualidade do serviço que é consumido nesse mercado. Ele explicou que, para isso, a instituição atua de forma a garantir que, em algumas atividades, seja necessária a obtenção de algum tipo de autorização. “Essas companhias, resultantes da visão de empreendedores, ainda sem o recurso, muitas vezes RUMOS
precisam entrar num mercado Estamos neste regulado. Com isso, pode aconmomento olhando tecer que, em um segmento já para todas estabelecido, em que o serviço é as regulatory prestado por empresas de maior porte, a empresa inovadora não sandboxes com tenha condições de ficar espeo objetivo de rando o deferimento de um peencontrar um dido de registro. Isso muitas veequilíbrio para zes mata uma ideia e o sonho do empreendedor logo na entrada”, a concorrência e justifica Barbosa. proteção para o Sendo assim, uma das alterconsumidor. nativas que se discute – e que já é executada com algum sucesso na Inglaterra, Cingapura e AusFlore-Anne-Messy, da OCDE. trália – é o regime de autorização temporária conhecido como Regulatory Sandbox. “Trata-se de um período em que o regulador admite o empreendedor no rol dos prestadores de serviços, mas ainda com alguns limites de exposição sua e dos clientes em um regime de prestação de serviços para que o regulador possa acompanhá-lo e aprender. E, principalmente, com um prazo para que a companhia nova possa decidir se, de fato, quer uma autorização definitiva”, esclareceu o presidente da CVM. Também presente na abertura, Alexandre Comin, gerente do Sebrae, observou que a entidade já apoia empresas emergentes e está envolvida no ecossistema de inovação há muitos anos. E que vem procurando alternativas de financiamento às micro e pequenas empresas. Particularmente as fintechs, que têm mostrado um caráter disruptivo mais forte. “Elas ainda estão muito focadas na pessoa física, enquanto em outros países elas são muito voltadas para os pequenos negócios, e esse que será nosso foco”, sinalizou Comin. CONCORRÊNCIA E PROTEÇÃO Flore-Anne-Messy, representante da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), afirmou que a entidade está observando todas as áreas e acompanhando os benefícios da digitalização, monitorando os mercados e as soluções regulatórias e seu impacto na competição em diversos países. “Estamos neste momento olhando para todas as regulatory sandboxes com o objetivo de encontrar um equilíbrio para a concorrência e proteção para o consumidor”, resumiu. Orlando Lima, coordenador geral de sistemas financeiros do Ministério da Fazenda, afirmou que as novas tecnologias vão proporcionar redução de custos, diminuição de barreiras de entradas com aumento da competição, redução de spreads, além de inclusão e educação financeira. “Os reguladores têm que proporcionar um crescimento ordenado, mas tomando cuidado 5
para não sobrecarregar com carga regulatória os negócios nascentes”, afirmou Lima. Ricardo Ramos, diretor da Área de Administração e Recursos Humanos, da Área de Comércio Exterior e Fundos Garantidores e da Área de Operações Indiretas do BNDES, lembrou que o banco desenvolveu um estudo sobre Internet das Coisas, lançou o Venture Debt e conduziu um processo interno de captação de ideias no qual surgiram várias sugestões baseadas em blockchain. “Nesse mesmo processo surgiu a oportunidade de um projeto de uso do blockchain relacionado ao Fundo Amazônia em parceria com a KFW. E vamos lançar duas chamadas para fintechs”, anunciou Ramos. Marco Antonio A. de Araujo Lima, secretário-executivo da ABDE, ressaltou que a inovação e a inclusão financeira estão entre as prioridades da instituição. Ele destacou ainda a parceira de quatro anos com o BID que resultou no lançamento do Laboratório de Inovação Financeira, no qual se decidiu incluir a questão das fintechs. Ele explicou que a participação da ABDE traz a possibilidade de que essa discussão de fomentar novos negócios possa ocorrer no Brasil como um todo. “Temos discutido com todos que essa rede federativa tem de ser fortalecida e certamente vai usar todas essas inovações. Estamos atentos à questão de cuidar do risco e de dar segurança aos investidores, mas nossa palavra de ordem é fomentar o desenvolvimento sustentável”, afirmou. FINTECHS DA AMÉRICA LATINA Antonio Pinheiro Silveira, diretor-executivo do BID, disse que a instituição multilateral acompanha com interesse o impacto que as inovações tecnológicas têm na vida das pessoas. Ele acredita que haverá em breve um processo de consolidação. A dúvida é como esse processo se dará: se será liderado pelas instituições financeiras tradicionais ou pelas empresas de tecnologias, como Google, Amazon, Facebook. “Do ponto de vista do desenvolvimento, o BID sempre estará acompanhando as micro, pequenas e médias empresas e o impacto que as fintechs podem ter nos pequenos negócios. No caso da América Latina e do Caribe, precisamos aprofundar a discussão da convergência regulatória, particularmente no momento em que na América do Sul, os países do Mercosul e da Aliança do Pacífico têm tido um diálogo crescente de promover uma integração maior para criar mercados de maior escala”, propôs Silveira. 6
Ajudamos na regulação no México, Argentina e Chile e agora vamos trabalhar com o Brasil por meio do Lab Diego Herrera, do BID
Gabriela Andrade, especialista em mercados financeiros do BID, informou que são mais de 700 fintechs na região, das quais uma em cada três são do Brasil. De acordo com estudo do BID, são cerca de 300 fintechs no Brasil, o México vem em segundo com 250, em seguida vêm Colômbia, Chile e Argentina. Juntos, esses cinco países representam 65%. “Antes de 2012, não havia nada. Em 2014, houve uma avalanche. Mas são empresas muito jovens: 1/3 apenas chegou ao estágio de crescer e expandir, 25% ainda precisam escalar, e muitas operam em apenas um país. Quanto ao apoio, 47,9% receberam investimento, mas apenas 14% de governo e 8% de instituições financeiras. A maior parte dos aportes foi de fundos de venture capital locais e regionais, num total de US$ 1 bilhão. A maior parte, 54%, são Business to Consumer (B2C), e 46%, Business to Business (B2B)”, analisou Gabriela. Miles Larbey, gerente geral do Centro de Educação do Investidor da OCDE, informou que foi criada uma força-tarefa na organização para proteção ao consumidor no âmbito do G20 e aberta a todos os Estados-membros. Ele diz que o grupo tem coletado dados e observado quais abordagens os países estão adotando. “Quase 90% dos negócios veem as fintechs como disruptivas. O Global Fintech Report, estudo da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), revelou que US$ 12,7 bilhões foram levantados em 2016, fruto de 836 acordos. Em 2017 foram US$ 7,9 bilhões até o segundo semestre. A América Latina é o terceiro maior mercado”, resumiu Larbey. No painel “O papel da regulação financeira”, Rocio Robles Peiro, da Comissão de Valores Mobiliários do México, Ivan Novacovich, da Comissão de Valores Mobiliários da Argentina, e Henrique Balduíno Machado Moreira, da CVM, apresentaram as recentes experiências de regulação do crowndfunding em seus países. O painel foi mediado por Diego Herrera, representante do BID, que convocou os participantes para o encontro em abril de 2018 sobre reguladores do NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
Noel Joaquim Faiad
Antes de 2012, não havia nada. Em 2014, houve uma avalanche. Mas são empresas muito jovens: 1/3 apenas chegou ao estágio de crescer e expandir, 25% ainda precisam escalar, e muitas operam em apenas um país. Quanto ao apoio, 47,9% receberam investimento, mas apenas 14% de governo e 8% de instituições financeiras. A maior parte dos aportes foi de fundos de venture capital locais e regionais, num total de US$ 1 bilhão. A maior parte, 54%, são B2C, e 46%, B2B. Gabriela Andrade, do BID
mercado financeiro. “Ajudamos na regulação no México, Argentina e Chile e agora vamos trabalhar com o Brasil por meio do Lab”, afirmou Herrera. O painel “O Papel das Instituições Financeiras de Desenvolvimento” foi mediado pelo deputado federal Otavio Leite (PSDB/RJ), que destacou a aprovação do Refis paras as micro e pequenas empresas e o Programa Nacional do Microcrédito Produtivo Orientado como uma alternativa para desamarrar o crédito na ponta dos 5,6 mil municípios (ver reportagem na página 30). Na sequência foram apresentadas as experiências do Banco Estado, do Chile, do Banco do Brasil, do BNDES, da Caixa e da Desenvolve SP. À tarde, o seminário contou com a participação das fintechs. O painel “Fintech no Brasil – Visão Geral, Oportunidades e Desafios” teve a participação de José Prado, especialista e CEO do Conexão Fintech, Paulo Deitos, cofundador da fintech Urbe. me e diretor da Associação Brasileira de RUMOS
Fintechs (ABFintechs) e Magnus Arantes, empreendedor serial e investidor da NXTP. Deitos informou que a ABFintechs conta com mais de 330 associados, 60% B2B e 70% localizadas no Sudeste. “Nosso pilar é a aproximação com os reguladores e gerar negócios para as fintechs e entre elas. As empresas estão divididas em nove verticais e 67% já têm aporte superior a R$ 1 milhão”, disse Deitos. Especialista no segmento e voltado para a consolidação e análise de informações, Prado destacou que o crescimento do segmento que se destacou foi o de insurtechs, as fintechs de seguros. “Elas cresceram tanto que se separaram. Fizemos um evento em julho e vamos realizar a segunda edição em abril. Uma peculiaridade é que, diferentemente das fintechs, que podem concorrer com os bancos, dificilmente uma insurtech vai existir sem uma seguradora”, analisou Prado. Arantes, da NXTP, já avaliou mais de mil startups e tem 200 empresas investidas por meio de programas no Chile, Argentina, Colômbia e México. Na Argentina montou um fundo de US$ 10 milhões com sete bancos para investir em fintechs em estágio inicial. “O Brasil é complexo, e não é para amadores”, justificou a pouca presença no país. O último painel, “Perspectivas das Finanças Alternativas no Brasil”, apresentou os cases das fintechs Urbe.me, Creditas, Equity Brazil e Broota. 7
ARTIGO
Jovens líderes e a nova economia Adele vive em uma grande cidade nos Estados Unidos. Ela tem 25 anos e, como jornalista em início de carreira, tem uma vida bastante intensa e agitada. Além da rotina de trabalho, ela participa de um grupo de dança e costuma se reunir com os amigos quando está de folga. Faz os deslocamentos a pé ou de bicicleta. Quando o destino é mais distante, usa o transporte público ou utiliza um aplicativo de carona. Ela participa de várias redes sociais com diferentes propósitos. Recentemente passou a ajudar imigrantes por meio de uma plataforma de financiamento coletivo. Para diminuir o contato com bancos, utiliza uma carteira virtual para pagamentos eletrônicos. Apesar da pressa diária, ela ainda prioriza refeições saudáveis. Costuma fazer o pedido pela internet e pegar na loja mais próxima do seu trabalho ou de sua casa. A cadeia de lojas em que ela compra possui produtos naturais e frescos, utiliza fornecedores próximos e colaboradores engajados na ideia de uma alimentação saudável. Os afazeres relacionados ao pequeno apartamento onde mora sozinha e as tarefas do dia a dia são feitos de forma rápida, o que não a impede de separar o lixo corretamente. Ela se sente parte de uma comunidade, já que os amigos compartilham do mesmo costume e, não raro, debatem sobre as receitas culinárias disponíveis no site da loja de alimentos ou como o trabalho humanitário para imigrantes pode impactar a vida deles. Adele é uma personagem fictícia, mas ela é a personificação de um movimento que vem ocorrendo ao redor do mundo. Com especificidades aqui ou ali, a vida de Adele é a representação dos jovens que vivem em grandes cidades de países com economia desenvolvida ou em desenvolvimento. O aplicativo de caronas é o Lyft; as redes sociais são o Instagram, o Facebook e o LinkedIn; a cadeia de lo8
jas é a Whole Foods (comprada recentemente pela Amazon); a plataforma de financiamento coletivo é a Kickstarter; e a carteira virtual é a Paypal. Esses são todos exemplos da nova economia, existente em um ambiente cultural transformado pela tecnologia. Essa inovação proporciona novas formas de interação e de relacionamento. Vivendo nesse ambiente estão os millennials, sendo uma boa parcela deles consciente da questão ambiental e das causas sociais, além de buscarem propósito em suas ações. Por outro lado, são bem mais críticos e imediatistas e não toleram processos morosos. Fazer negócios com esse público passa a ter uma dinâmica diferente e força as empresas a repensarem suas abordagens tradicionais. Algumas perguntas surgem para os gestores de negócios: como atrair esses jovens sem perder os clientes tradicionais? Como evidenciar o propósito do negócio? Como estar presente em todos os canais utilizados por eles? Apesar de se tratar de perguntas difíceis de responder, algumas constatações devem ser levadas em consideração. Os meios de posicionamento de marca tradicionais não são mais suficientes. É preciso estar presente de maneira mais integral e verdadeira destacando sempre o propósito do negócio. Outro aspecto desse novo cenário é a facilidade de encontrar e participar de grupos de interesse, sejam eles quais forem. Ou seja, torna-se mais fácil fazer parte de comunidades onde há intensa troca de conhecimento e, ao mesmo tempo, mais complexa, pois a variedade de perfis comportamentais é infinitamente maior. A customização dos produtos oferecidos é necessária para que tenha apelo ao consumidor. Para isso é preciso conhecer a fundo os grupos de clientes potenciais, entendendo suas necessidades e suas expectativas. Com relação à abordagem, o NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
elevado, cultura e liderança conscientes e orientação para os stakeholders. No Brasil temos um movimento jovem bastante relevante, que ocorre dentro das universidades e busca o aprimoramento profissional dos alunos participantes por meio de experiências reais no mercado empresarial, provocando nos envolvidos, logo cedo, o senso de responsabilidade e autonomia. Esse é o movimento das Empresas Juniores. Nesse sentido, o Sicoob lançou em setembro o projeto Conexão Sicoob, que busca aproximar a entidade do público jovem, notadamente os estudantes engajados no movimento das empresas juniores e que nutrem grande desejo de gerar impacto. Para alcançar o público desejado foi firmada uma parceria com a Brasil Jr., confederação nacional que congrega as diversas federações estaduais de empresas juniores, e com a empresa Eureca!, responsável por soluções em recrutamento e mentoria de jovens empreendedores. O formato do projeto é de um Road Show por 27 cidades brasileiras, alcançando 90 universidades e, aproximadamente, quatro mil estudantes durante nove meses. Estão previstas diversas atividades de integração entre os participantes e os líderes do Sicoob, buscando uma experiência intensa para ambas as partes durante esse período. Ao final dessa jornada, esperamos ter estabelecido uma conexão verdadeira com os jovens, não só em termos de produtos e serviços, mas principalmente de intercâmbio cultural entre nossa instituição e os jovens empreendedores universitários.
marketing externo, muitas vezes desvinculado dos valores da empresa, pode não fazer mais tanto sentido e tornar-se ineficaz. Os altos valores investidos nas campanhas podem ser mais bem empregados em ações internas para fortalecer a cultura da empresa entre os colaboradores e fomentar relacionamento de longo prazo com os consumidores, tendo como consequência, entre outras coisas, um atendimento mais humanizado. Percebendo a convergência desse novo cenário com a essência do cooperativismo, o Sicoob passou a integrar o projeto global Capitalismo Consciente, que visa transformar a sociedade por meio da inspiração de negócios conscientes, sustentáveis e inovadores; e tem como pilares: propósito
Maior rede social do mundo.
Rede social de compartilhamento de fotos e vídeos.
KICKSTARTER
Maior site de financiamento coletivo.
Rede social de contatos de negócios, com propósito de apresentar aptidões profissionais.
LYFT
Segunda maior empresa de transportes – pelo método e-hailing, que é o ato de requisitar um táxi por meio de um dispositivo eletrônico – dos Estados Unidos, perdendo colocação de market share apenas para a Uber.
PAYPAL
Empresa de pagamentos norte-americana com atuação internacional e uma das maiores do mundo.
WHOLE FOODS
RUMOS
MARCO AURÉLIO ALMADA Divulgação
Rede de supermercados multinacional dos Estados Unidos que comercializa produtos naturais, orgânicos ou sem conservantes, sabores, cores e gorduras artificiais.
Administrador de empresas, com MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC. Desde março de 2009 é diretor-presidente do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).
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OPINIÃO
Momento de reflexão
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explicava o apoio ao governo). Entretanto, a comparação com o grupo de controle mostra que o Brasil deveria ter crescido 10% a mais (o que não era percebido pelo eleitor). Por curiosidade, fizemos agora uma gambiarra e “modernizamos” o gráfico, usando o mesmo grupo de controle e seu PIB per capita em paridade de poder de compra com base em 2011. A conclusão, mostrada no gráfico, é que a partir de 2012 o Brasil “afundou” e que ao final do ano passado havíamos crescido menos 26% do que o “grupo de comparação”, uma experiência custosa demais para ser repetida...
Estamos num momento de reflexão. É tempo de escolhas judiciosas que terão efeito no longo prazo. Não precisamos de um “populista” que vende o “lago azul” que não pode entregar, nem de um “salvador da pátria” ou de um “homem de negócio”, abominadores de política, o que põe em risco a democracia.
ANTONIO DELFIM NETTO Marcelo Correa
Do ponto de vista político, o Brasil atravessa um período complicado, com a população dividida entre: 1) uma minoria que se pensa de “esquerda”, recusa a aritmética e insiste em repetir o passado; 2) outra, de “direita” troglodita, que recusa qualquer solidariedade social e sugere que é “liberal”; e 3) o “resto”, uma maioria perplexa e calada porque não sabe bem o que quer e atordoada, do ponto de vista moral, pelo criminoso incesto entre o Estado e o setor privado revelado pela operação “Lava Jato”. E ainda sacrificada, a partir de 2012, pela política “voluntarista” que produziu uma crise fiscal que nos levou à quase insolvência. Com relação à economia as coisas caminharam relativamente melhor desde a posse do governo do presidente Temer – em maio de 2016 – e após superar as turbulências resultantes de uma apaixonada e torturada intervenção até agora não plenamente esclarecida do Ministério Público Federal. Podemos acreditar que entregará o governo com uma melhoria importante da conjuntura. Infelizmente, o mesmo não acontecerá na “estrutura” do sistema econômico, porque o trágico aumento da “judicialização da política” e sua irmã siamesa, a “politização da justiça”, dissiparam a força “reformista” do governo e invadiram as atribuições do Executivo e do Legislativo. As reformas que permitirão a volta do crescimento robusto, inclusivo e sustentável ficarão para o governo que for eleito em 2018. De sua boa solução dependerá se o Brasil vai recuperar o “espírito” do crescimento perdido ou se vamos continuar a empobrecer relativamente. Este é o problema nacional! Em setembro de 2014, às vésperas da reeleição de Dilma Rousseff, comentei, a propósito, um excelente estudo – A Década Perdida 2003-2012 – de três competentes economistas (Carrasco.I, V.Mello, J.Duarte). A metodologia utilizada, cada vez mais o “estado da arte”, é conhecida pelo nome de “controle sintético”. Constrói “contrafactuais” agrupando países escolhidos por algoritmos estatísticos para cada item da confrontação desejada. Na comparação da taxa de crescimento do PIB, por exemplo, o método “escolhe” alguns países que antes de um evento conhecido e dado (a eleição de Lula) apresentavam crescimento agregado parecido com o do Brasil. Foram escolhidos Tailândia, Turquia, Ucrânia e África do Sul para constituir o “grupo de controle sintético”, com relação ao qual se medirá o desempenho da economia brasileira. A principal conclusão do trabalho é que entre 2003 e 2012 o Brasil cresceu (o que
Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.
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Fotos: Fábio Abdo
REPORTAGEM
O papel do Estado Fórum do Desenvolvimento reúne especialistas brasileiros e internacionais para discutir sobre a importância da atuação estatal para o crescimento sustentável dos países; debatedores também destacaram a importância do apoio às cooperativas e ao mercado dos títulos verdes, para que o sistema financeiro reflita as principais preocupações e possibilidades dos novos tempos. POR JADER MORAES
Evento já tradicional no calendário de debates sobre o futuro do país, o Fórum do Desenvolvimento reuniu, em sua quarta edição, grandes nomes nacionais e internacionais em Belo Horizonte, no dia 13 de dezembro. Na agenda das discussões, questões como a atuação do estado na economia, o cooperativismo como alternativa ao sistema financeiro tradicional, e o impulso dos títulos verdes para o desenvolvimento sustentável dos países – temas que também dialogaram com a mais recente edição do Prêmio ABDE-BID de Artigos sobre o Sistema Nacional de Fomento, cujos premiados foram homenageados durante o fórum. O evento foi uma realização conjunta da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Sistema OCB, com apoio
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do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e patrocínio do Sebrae-Minas. A principal palestra do fórum ficou a cargo de um dos mais importantes debatedores mundiais do desenvolvimento, o economista sul-coreano Ha-Joon Chang, professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e autor, entre outros, dos livros Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica e 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo, ambos com importante repercussão no Brasil. Apresentado pelo mediador do debate, o presidente do BDMG e vice-presidente da ABDE, Marco Aurélio Crocco, como um “militante do desenvolvimento”, Chang defendeu, ao longo de pouco mais de uma hora de palestra, a importância da atuação do Estado no processo histórico de desenvolvimento dos países, inclusive aqueles que hoje são reconhecidos como liberais e apoiadores do mercado livre. Para ilustrar, ele citou os exemplos das indústrias automobilística japonesa e do aço sul-coreana, ambas desenvolvidas na contramão das
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regras liberais, com importante papel da política industrial estatal. Mas os principais exemplos, de acordo com Chang, estão nas duas nações que hoje são aclamadas como pátrias do livre mercado: Reino Unido e Estados Unidos. De acordo com ele, esses países utilizaram-se de protecionismo por longo período para desenvolver suas indústrias e hoje querem intervir, por meio de órgãos multilaterais, em economias pobres ou em desenvolvimento para que não façam o mesmo. “Eles utilizaram a escada e, quando chegaram lá em cima, chutaram-na para que ninguém mais suba”, comparou Chang, para quem os Estados Unidos foram, até a Segunda Guerra Mundial, o país mais protecionista do mundo. “Essa é a história do capitalismo, todos os países ricos recorreram a isso. O mercado tem um papel central sim, mas acompanhado de proteção e regulação – e esses dois pontos eles tentam esconder. Ao olharmos para a trajetória dos países hoje desenvolvidos, reconhecendo que a intervenção do Estado foi determinante para seu sucesso, podemos afirmar: a ortodoxia está errada”, destacou o economista. O descontentamento observado na última década em diferentes partes do globo, com manifestações de grande escala ainda emergindo, demonstra, na opinião do Chang, que “o experimento neoliberal claramente falhou”. Ao contrário das expectativas, houve baixo crescimento, que traz consigo um aumento da desigualdade e piora da qualidade de vida das populações, com a renda estagnada desde a década de 1970. Esse cenário de fragmentação leva ao acirramento de tensões e, no limite, à elevação da intolerância contra os imigrantes, inflamada pelo discurso de políticos como o presidente norte-americano Donald Trump, que os culpa pelos males econômicos e sociais enfrentados pelo país. “Isto é ridículo, mas temos que entender: as pessoas têm razão de estarem descontentes; elas foram enganadas pelo establishment, que entrou em suas casas, roubou-lhes tudo e nada aconteceu. Então, as pessoas têm razão, mas o próprio establishment se aproveita desse descontentamento e não quer que as pessoas prestem atenção aos impostos e subsídios dados aos ricos, prefere que pensem que os culpados são os imigrantes e os chineses”, alertou. Analisando a América Latina, Chang destacou que a região cresceu em consonância com o restante do mundo durante as décadas de 1960 e 1980, com índices ligeiramente superiores, mas que nos últimos 36 anos tem avançado muito menos do que os seus pares. “Por que a intervenção na América Latina não funcionou tão bem como no Leste Asiático e em algumas regiões da Europa?”, se questionou. Chang reconheceu os argumentos de que o cenário mundial mudou e não é possível o mesmo nível de intervenção de antes: há as cadeias globais de valor; a questão ambiental; o encolhimento do espaço político; a suposta emergência de RUMOS
uma era “pós-industrial”. Ainda assim, e refutando um a um esses pontos, ele defendeu que os países precisam oferecer proteção às suas indústrias, principalmente aquelas em estágio inicial de desenvolvimento, mas precisam forçar para que essas indústrias aumentem a sua produtividade nesse período de proteção. Ao lado disso, é preciso desenvolver políticas industriais que apoiem a exportação, pois “o desenvolvimento econômico requer exportação”. “Não estou dizendo que temos que voltar para a década de 1960 ou para o modelo da Coreia em 1970. Diferentes países têm condições diferentes e precisam se valer de diversos mecanismos. O capitalismo americano é diferente do alemão, que é diferente do francês e do brasileiro. Países como Cingapura, por exemplo, nós nem conseguimos definir se ainda é capitalismo. Enfim, não dá para transferir modelos. É fundamental uma abordagem pluralista que entenda a complexidade do mundo”, finalizou. SUSTENTABILIDADE Outros dois temas debatidos ao longo do Fórum foram o cooperativismo de crédito e o crescente mercado de títulos verdes. No primeiro, o professor da Pula University, da Croácia, Milford Bateman, defendeu que o modelo cooperativo deve ser favorecido pelos Estados, pois pode contribuir não só para o desenvolvimento sustentável dos países, como mostram algumas experiências históricas, mas também para uma mudança de paradigma do sistema financeiro atual. Acompanhado, no painel, do diretor de Operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), Ênio Meinem, e do presidente do Conselho de Administração da Sicredi Pioneira RS e vice-presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste, Márcio Port, Bateman apresentou alguns modelos cooperativos bem-sucedidos no mundo, especialmente em países europeus como a França e a Itália, e afirmou que o Estado tem um papel fundamental, no que diz respeito à regulação, para que as cooperativas possam funcionar em todo o seu potencial. “A desregulamentação pode matar as cooperativas financeiras. É preciso que o poder público esteja atento e as apoiem, pois elas são além de uma simples instituição financeira, mas têm uma posição central em suas comunidades, geram os melhores empregos, criam redes de solidariedade. É extremamente positivo apoiar esse movimento, que está ramificado em diferentes setores econômicos, como a agricultura, as empresas, e o próprio sistema financeiro”, enumerou. O diretor do Bancoob ressaltou que as cooperativas de crédito contribuem para a economia real, pois não fazem investimento em mercado futuro. Meinem destacou a boa regulação já existente no Brasil, que pode servir de modelo para outras regiões do mundo. Já Márcio Port lembrou que o sistema cooperativo, em termos quantitativos, está atrás apenas dos 13
Mesa de abertura do evento, com a participação de ABDE, BID, BDMG, OCEMG e BNDES.
Milford Bateman: o papel do cooperativismo para o desenvolvimento.
Justine Leigh-Bell: o ascendente mercado dos títulos verdes.
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cinco maiores bancos brasileiros e afirmou que o principal desafio do cooperativismo de crédito, um movimento centenário e responsável pela primeira instituição financeira privada do país, é expandir o negócio para que as populações das médias e grandes cidades também se associem às instituições. “É o nosso desafio e nossa oportunidade”, resumiu o executivo do Sicredi. No painel dedicado aos títulos verdes, a diretora de Desenvolvimento de Mercados da organização internacional Climate Bonds Initiative, Justine Leigh-Bell, apresentou os principais conceitos e o estágio de maturação do mercado dos títulos verdes, ou green bonds, em diversas regiões do mundo. Ela destacou que, em um curto período, as emissões de papéis com essa característica quadruplicaram e o tema das mudanças climáticas tornou-se central na agenda pública mundial. “É um desafio urgente e uma questão importante também para os investidores, pois os riscos ambientais estão afetando concretamente os seus portfólios”, revelou. Ela aposta que o mundo está mudando para uma economia mais verde e, nesse contexto, os green bonds serão fundamentais para o desenvolvimento da infraestrutura. Em todo o mundo, já foram emitidos cerca de US$ 985 bilhões em títulos verdes, sendo que, desse total, US$ 674 bilhões ainda estão pendentes, em busca de projetos que possam ser enquadrados. A China está na liderança na emissão desses títulos, seguida de Estados Unidos e da Comunidade Europeia. O Brasil tem contribuído e possui condições de ser o líder global nesse mercado, mas ainda existe um longo trabalho que precisa ser feito para atingir essa posição – atualmente, o país ocupa a posição de 11ª nação que mais emite títulos verdes. “É uma participação já expressiva, com quase R$ 4 bilhões emitidos, mas sabemos que o potencial é enorme”, afirmou Justine. Para impulsionar esse mercado ainda incipiente, foi lançado, em agosto deste ano, o Laboratório de Inovação Financeira (LAB), iniciativa da ABDE, do BID e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O especialista líder de mercado financeiro do BID, Luciano Schweizer, e o superintendente de normas da CVM, Claudio Benevides, também participaram do painel, destacando a relevância do laboratório para apoiar o desenvolvimento sustentável do Brasil, em três dimensões: justamente NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
o mercado de títulos verdes, o financiamento da infraestrutura por meio das finanças verdes, e os investimentos de impacto social.
Confira na próxima edição da Rumos entrevistas exclusivas com os economistas Ha-Joon Chang e Milford Bateman.
DESENVOLVIMENTO O Fórum do Desenvolvimento, realizado anualmente pela ABDE e parceiros, tem por objetivo debater quais passos que devem ser tomados para que o Brasil se desenvolva de forma sustentável. O vice-presidente da associação, o economista Marco Crocco, destacou, na abertura, que as questões discutidas no evento são fundamentais, pois se relacionam com os dilemas que o Estado brasileiro vem enfrentando nos últimos anos. “E as discussões travadas aqui vão orientar como os bancos de desenvolvimento e as agências de fomento podem se preparar para o cenário político e econômico em 2018”, afirmou Crocco, destacando o objetivo do BDMG, do qual ele é presidente, de ser tornar um banco verde. “É o futuro, algo inescapável para as instituições financeiras de desenvolvimento, e precisamos estar preparados”, disse.
O diretor de Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Da Costa, ressaltou que, para além do papel tradicional de agente de crédito, os bancos de desenvolvimento podem ter atuação mais ativa ao influenciar o cenário de desenvolvimento do país e auxiliar o aumento de sua complexidade econômica. “Para onde vai o Brasil? Podemos ser um importante catalisador e redutor das dúvidas, para construirmos o futuro desse país. Nosso papel não é apenas conceder crédito, somos apoiadores e orquestradores de decisões em ambientes complexos”, defendeu. Costa afirmou que os debates econômicos do Legislativo atualmente se resumem à questão fiscal. De acordo com ele, uma pesquisa recente indicou que 95% das sessões de economia do Congresso se dedicaram a esse tema. Por isso, afirmou, é preciso que os atores que possuem uma visão clara para o país se apresentem. “A solução do problema fiscal não pode cair no vazio, virar o sacrifício pelo sacrifício. É preciso esperança de que o sacrifício está a serviço de um projeto”, pontuou.
Prêmio ABDE-BID lança livro e homenageia vencedores No encerramento do Fórum, ABDE, BID e Sistema OCB homenagearam os autores do trabalhos vencedores da edição 2017 do prêmio. Os participantes receberam placa comemorativa, além dos primeiros exemplares do livro que contém a íntegra dos trabalhos mais bem colocados nas três categorias em disputa: Desenvolvimento em Debate, Finanças Verdes e Cooperativismo de Crédito e Desenvolvimento. Os vencedores em cada categoria receberam R$ 8 mil, com os segundos colocados sendo agraciados com R$ 4 mil. Ao todo, foram 34 trabalhos inscritos. Na primeira categoria, foram premiados os trabalhos de: Larissa Vieira Resende e João Prates Romero, ambos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o título Estrutura produtiva e crescimento: uma análise comparativa de Brasil, Austrália e Canadá; e de Márcio Roberto Moran, da Universidade de São Paulo (USP), com o tema Concentração de mercado no sistema financeiro nacional e regulação concor-
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rencial: implicações sobre a eficácia da regulação financeira e o desenvolvimento brasileiro. Na categoria dois, os economistas Rafael Antonio Anicio Pereira (USP) e Marcelo Milan, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foram os vencedores com o trabalho Os mercados de títulos verdes nos países em desenvolvimento e o papel do Novo Banco de Desenvolvimento; e o segundo lugar ficou com José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, que apresentou trabalho sobre Expansão pecuária no Brasil e proposição metodológica de cálculo da produtividade em termos de sustentabilidade ambiental. Por fim, a terceira categoria premiou o trabalho Estrutura de diversificação das cooperativas de crédito brasileiras, de Laís Karlina Vieira, do Instituto Federal de Minas Gerais, e Valéria Gama Fully Bressan, da UFMG; e, em segundo lugar, o artigo Impenhorabilidade das quotas nas sociedades cooperativas de crédito, de Ademir Cristofolini, do escritório Schmitt e Cristofolini, de Blumenau (SC). Os vencedores em cada categoria terão um resumo do artigo publicado nesta edição da Rumos. Os segundos colocados terão seus resumos publicados na próxima edição da revista, de Janeiro/Fevereiro de 2018.
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PRÊMIO ABDE-BID – VENCEDOR DA CATEGORIA 1 PRÊMIO ABDE-BID - VENCEDOR DA CATEGORIA 3
Estrutura produtiva Diversificação nas e crescimento cooperativas de crédito
indicada pela qualidade dos bem exportados em todos os setores tecnológicos, conforme demonstrado pelos índices de qualidade. Sicredi apresentaram, no geral, alto nível de A principal contribuição desseum estudo, portandiversificação. to, é indicar que a especialização na exportação de Os resultados obtidos indicaram que as coopeprodutos primários e manufaturas baseadas em rativas de primários crédito, deste estudo, possuem uma esprodutos é compatível com elevados trutura diversificada produtos e serviços. níveis demais renda per capita ede desenvolvimento proA explicação sugerida é que a maior concorrência dutivo, contanto que se verifique diversificação do sistemarumo financeiro, a evolução tecnológicaapeea produtiva a setores de alta tecnologia mudança na regulamentação estimularam coosar da atividade primário-exportadora. Emas outras perativas diversificarem. Outra questão também palavras, aaanálise dos índices de desenvolvimento observada é o fato de se ter analisado os três granestrutural e de qualidade das exportações dedes sistemas brasileiros, e como monstrou que,cooperativistas ao contrário do que pode parecer tal, estes são capazes de proporcionar a estrutura ao se analisar a composição das exportações de necessária para que asesses cooperativas singulares ofeCanadá e Austrália, países possuem estrureçam um amplo portfólio de produtos e serviços tura produtiva consideravelmente desenvolvida, aos seus o que nãoassociados. se observa para o Brasil. Por fim, como contribuições do trabalho, destaca-se o estudo de instituições financeiras importantes para a economia, em um contexto de mercados emergentes e a discussão da diversificação como uma estratégia viável para as cooperativas de crédito. LAÍS KARLINA VIEIRA Professora do Departamento de Ciências
Arquivo Divulgação Pessoal
JOÃO PRATES ROMERO Gerenciais e Humanas do Instituto Federal de Minas Gerais. Mestra em Ciências Professor do Departamento ContábeisAdjunto pela Universidade Federal de de Economia Minas Gerais.da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge.
LARISSA VIEIRA RESENDE
VALÉRIA GAMA F. BRESSAN
Divulgação Arquivo Pessoal
A abordagem da complexidade econômica de Hausmann e Hidalgo (2009) sugere que a complexidade da cesta de exportações de um país – medida pelo Índice de Complexidade A diversificação de–produtos enquanto estraEconômica (ICE) expliqueeaserviços, variância de níveisuma de renda tégia corporativa, se destaca como um meio de explorar novas per capita entre países. Contudo, quando olhamos para paoportunidades de negócios. suasprimários atividades, íses com presença expressivaAo devariar produtos nauma sua instituição pode aproveitar seus recursos disponíveis para pauta de exportações, essa relação parece não se confirmar. obter sinergias, gerar economias de escopo e obter fontesem de Em 2009, produtos primários e manufaturados baseados renda adicionais. Essa estratégia bem visível em empresas inprodutos primários tiveram uma participação de 79% nas dustriais também tem se destacado intermediários finanexportações da Austrália, 62% no nos Brasil e 46% no Canadá. ceiros, os como cooperativas de crédito. Todos trêsaspaíses têm níveis de complexidade muito baiinstituições financeiras podem utilizar a estratégia xos,Asocupando a posição 82 (Austrália), 54 (Brasil) e 39 (Cade diversificação ao oferecer aos seus clientes e cooperados nadá) no ranking da complexidade econômica. No entanto, outros produtos e serviços além intermediação Austrália e Canadá estão entre os da 20 clássica países com maior nível financeira, empréstimos e poupança. de renda per capita, enquanto o BrasilAssim, ocupa considerando a posição 46. a aplicabilidade da2005, estratégia de diversificação nas ainda cooperaAlém disso, desde a Austrália alcançou níveis sutivas de crédito, este estudo teve como objetivo classificar as periores aos do Canadá, obtendo assim o maior índice entre cooperativas de crédito brasileiras conforme a sua estrutura os três. (grau) de diversificação adicionalmente, analisaroamaior comO fato de que o país e,menos complexo possui posição da receita operacional dessas instituições. Para tal, rendimento per capita dos três exportadores de recursos realizaram-se análises cluster hierárquica de composinaturais desafia a visãodeconvencional sobre ae complexidaçãoeconômica. da receita operacional de uma amostra 525argumento cooperatide Apresentamos neste artigodeum vas de crédito singulares, pertencentes aosadicionais sistemas: Sicoob, complementar que utiliza indicadores para o Sicredi e Unicred. Osdedados foram obtidosEstrutural junto ao Banco ICE, como o Índice Desenvolvimento (proCentral do Brasil, no período de 2009 a 2014. porção dos bens de alta e média tecnologia proporcional à A análisetotal), de composição da receita demonspopulação desenvolvimento poroperacional Romero et al. (2015) que hádeuma tendência das receitas com opeetrou o Índice Qualidade de crescente Exportações, desenvolvido por rações deecrédito e também Feenstra Romalis (2014). das receitas não decorrentes de operações de crédito. receitas com operações crédito O fundamental paraAso nosso argumento é que odecaminho se confirmaram, de acordo com o não esperado, comodaa sofisticaatividade para o desenvolvimento envolve só a busca principal das cooperativas crédito. Todavia, as receitas não ção econômica, movendo ade estrutura de produção para setodecorrentes de operações detambém crédito sea apresentam como uma res mais tecnológicos, mas melhoria contínua da importante fonte de recursos para essas instituições. qualidade dos bens, independentemente de suas intensidaanálise de cluster classificou as cooperativas crédito desAtecnológicas. Em outras palavras, os casos dade Austrália grupos distintos: diversificado, moderadaeem dotrês Canadá revelam quealtamente o desenvolvimento não é apenas mente diversificado grau de diversificação (ou concenuma questão do quee baixo um país exporta, mas também do que trado). O estudo revelou que 56,8% das cooperativas de crédium país produz com elevada qualidade. Essa observação to daimplicações amostra são classificadas traz importantescomo paraaltamente os países diversificadas, exportadores 25,9% como naturais. moderadamente diversificadas e 17,3% como de de recursos A quantidade de conhecimento acubaixo grau diversificação. Indicando há uma predomimulado porde Canadá e Austrália (que nãoque é totalmente captunância de cooperativas e moderadamente diversificadas. rada pelo indicador de alta complexidade econômica) pode ser Destaca-se ainda que as cooperativas de crédito do sistema
Estagiária de Programas e Pesquisas Internacionais na Fundação Dom Professora Adjunta do Departamento Cabral. Graduanda em da Relações de Ciências Contábeis UFMG e do Econômicas Internacionais,epela Centro de Pós-graduação Pesquisas Universidade Federal de Minas Gerais. em Controladoria e Contabilidade. Possui doutorado e pós-doutorado em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.
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PRÊMIO ABDE-BID – VENCEDOR DA CATEGORIA 2 PRÊMIO ABDE-BID - VENCEDOR DA CATEGORIA 3
Títulos verdes e Diversificação nas o Novo Banco de cooperativas de Desenvolvimento crédito
RUMOS 18
todo o potencial para desenvolver os mercados Sicredi apresentaram, no imporem geral, umseus alto próprios nível de mais atrasados, tanto por diversificação. sistemas de salvaguardas ambientais aos mutuáOscomo resultados obtidos menos indicaram queverdes as cooperios por emitirem títulos em rativas de crédito, deste estudo, uma espaíses em desenvolvimento. Aopossuem fomentar o uso trutura maisambientais diversificada de produtos e serviços. de sistemas locais e estabelecer cooA explicação é queaafim maior concorrência peração com sugerida os mutuários de fortalecê-los, do sistema financeiro,mercados a evolução ea além de prospectar detecnológica títulos verdes mudança na regulamentação coonas economias de seus paísesestimularam acionistas, a as expecperativas diversificarem. Outra questão também tativa é dea que o Novo Banco de Desenvolvimenobservada é o fato de se ter analisado os um três papel granto criado pelos países do Brics tenha des sistemas brasileiros, e como ativo, mesmocooperativistas que indireto, no desenvolvimental, estes são capazes de proporcionar estrutura to de mercado de títulos verdes em apaíses em necessária para queAinda as cooperativas singulares seja ofedesenvolvimento. que a instituição reçam portfólionão de existam produtoselementos e serviços muito um novaamplo e, portanto, aos paraseus umaassociados. análise definitiva, evidências formais e Por fim, como do trabalho, destainformais, como contribuições documentos oficias e discursos ca-se o estudo deindicam instituições financeiras impordos seus líderes, que essas expectativas tantes para a economia, em um contexto de merse justificam. cados emergentes e a discussão da diversificação como uma estratégia viável para as cooperativas de crédito. LAÍS KARLINA VIEIRA
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Professora do Departamento de Ciências MARCELO MILAN Gerenciais e Humanas do Instituto Federal de Minas Gerais. Mestra em Ciências Mestre em Economia pela Universidade Contábeis pela Universidade Federal de de São Paulo (USP) e Doutor pela Minas Gerais. Universidade de Massachusetts Amherst. Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS.
RAFAEL A. ANICIO PEREIRA
VALÉRIA GAMA F. BRESSAN
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As chamadas “finanças climáticas” constituem um mecaA diversificação de capaz produtos e serviços, enquanto uma estranismo alternativo de tornar o futuro do planeta metégia corporativa, se destaca como um meio de explorar novas nos dependente de grandes acordos e políticas ambientais oportunidades de negócios. variar suas atividades, uma centralizadas. Usados para Ao financiar projetos que usam instituição pode aproveitar seus recursos disponíveis para tecnologias limpas ou com impacto positivo sobre o meio obter sinergias, gerar verdes economias escopo obter fontes de ambiente, os títulos têmde sido cadaevez mais negorenda adicionais. Essa estratégia bem visível em empresas inciados ao longo dos últimos anos. Especialmente a partir dustriais tambémcorporações tem se destacado nos intermediários finande 2013, quando e bancos comerciais também ceiros, como aasparticipar cooperativas de crédito.global, a expansão das começaram do mercado As instituições podem utilizar a estratégia emissões tem sidofinanceiras ininterrupta, a ponto de praticamente de diversificação ao oferecer aos seus clientes e cooperados dobrar de tamanho em 2016. E devido à ainda pequena paroutros produtos serviços da clássica intermediação ticipação no totalede títulos além emitidos, ainda há muito espafinanceira, empréstimos e poupança. Assim,Neste considerando ço para as “finanças climáticas” avançarem. sentido, aplicabilidade estratégia de diversificação nas cooperaa questão abertada é como expandir a oferta de títulos verdes tivas de crédito, este estudo teve como objetivo classificar as nos países desenvolvidos e, sobretudo, nos países em decooperativas de crédito a sua estrutura senvolvimento, os quaisbrasileiras tendem a conforme estar menos preparados (grau) de diversificação adicionalmente, analisar a compara lidar com eventuaise,catástrofes ambientais. posição da receita operacional dessas instituições. Para tal, De maneira geral, a transparência é uma condição esrealizaram-se análises de cluster hierárquica e de composisencial para reduzir assimetrias de informação e melhorar ção da receita operacional de uma 525 cooperatio funcionamento do mercado deamostra títulos de verdes. Diversas vas de crédito já singulares, pertencentes aos sistemas: Sicoob, organizações vêm realizando auditorias e certificações Sicredi e Unicred. Os dadoscom foram obtidosde junto ao Banco de forma descentralizada o intuito reduzir esse Central do Brasil, no período de 2009 a 2014. obstáculo. Instituições deliberadas pelo Estado também A análise de composição da receita operacional podem dinamizar este mercado. Em termos fiscais,demonsuma estrou quetributária há uma tendência crescente das receitas com opetrutura que favoreça projetos sustentáveis e os raçõesmais de crédito e também receitas não decorrentes torne rentáveis (o quedas seria justificável do ponto de operações de crédito. As receitaspelo comfato operações crédito vista da eficiência econômica, de estesdeprojetos se confirmaram, de acordo compositivas), o esperado, comoa aincentivar atividade apresentarem externalidades tende principal das cooperativas declimáticas. crédito. Todavia, as diz receitas não o crescimento das finanças No que respeito de operações crédito seque apresentam como uma àdecorrentes legislação ambiental, é de importante ela esteja de acorimportante fonte de recursos para essas instituições. do com padrões mínimos globais e também seja aplicada A análise decontinuamente. cluster classificouPor as cooperativas de crédito e aprimorada fim, é importante que em três grupos distintos: altamente diversificado, moderadaagentes com credibilidade participem cada vez mais deste mente diversificado e baixo grau de diversificação (ou concenmercado e sirvam de exemplo para outras instituições fatrado). O estudo revelou que 56,8% das cooperativas de crédizerem o mesmo. to da amostra classificadas altamente Apesar de são serem grandes como participantes dodiversificadas, mercado de 25,9% como moderadamente diversificadas e 17,3% como de títulos verdes, os bancos multilaterais de desenvolvimento baixo graudedemaneira diversificação. há uma predomi(BMDS) geral, Indicando sobretudoque aqueles governados nância de cooperativas alta e moderadamente diversificadas. majoritariamente por países não mutuários, não atingem Destaca-se ainda que as cooperativas de crédito do sistema
Mestre em Economia do Professora Adjunta doUniversidade Departamento Desenvolvimento pela de Ciências Contábeis daSul UFMG e do Federal do Rio Grande do Centro de Pós-graduação e Pesquisas (UFRGS), doutorando em Economia do em Controladoriana e Contabilidade. Possui Desenvolvimento USP. doutorado e pós-doutorado em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais. 17 NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
PRÊMIO ABDE-BID - VENCEDOR DA CATEGORIA 3 PRÊMIO ABDE-BID - VENCEDOR DA CATEGORIA 3
Diversificação nas Diversificação nas cooperativas de cooperativas de crédito crédito Sicredi apresentaram, no geral, um alto nível de Sicredi apresentaram, no geral, um alto nível de diversificação. diversificação. Os resultados obtidos indicaram que as coopeOs resultados indicaram que asuma cooperativas de crédito,obtidos deste estudo, possuem esrativas de crédito, deste estudo, possuem uma estrutura mais diversificada de produtos e serviços. trutura mais sugerida diversificada e serviços. A explicação é quedea produtos maior concorrência A explicação sugerida é que a maior concorrência do sistema financeiro, a evolução tecnológica e a do sistema a evolução tecnológica ea mudança nafinanceiro, regulamentação estimularam as coomudança anadiversificarem. regulamentação estimularam as cooperativas Outra questão também perativas aédiversificarem. questão também observada o fato de se terOutra analisado os três granobservada é o fato de se ter analisado os três grandes sistemas cooperativistas brasileiros, e como des estes sistemas cooperativistas brasileiros, e como tal, são capazes de proporcionar a estrutura tal, estes são capazes proporcionar a estrutura necessária para que asde cooperativas singulares ofenecessária para que as cooperativas singulares ofereçam um amplo portfólio de produtos e serviços reçam um amplo portfólio de produtos e serviços aos seus associados. aosPor seus associados. fim, como contribuições do trabalho, destaPorofim, como do trabalho,impordestaca-se estudo decontribuições instituições financeiras ca-se opara estudo de instituições importantes a economia, em umfinanceiras contexto de mertantes para a economia, em um contexto de mercados emergentes e a discussão da diversificação cados uma emergentes e aviável discussão diversificação como estratégia para asdacooperativas de como uma estratégia viável para as cooperativas de crédito. crédito. LAÍS KARLINA VIEIRA
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Professora do Departamento de Ciências LAÍS KARLINA VIEIRA
Gerenciais e Humanas do Instituto Federal de Minas Gerais. Mestra em Ciências Professora do Departamento de Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Gerenciais e Humanas do Instituto Federal de Minas Gerais. Minas Gerais. Mestra em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Minas Gerais.
VALÉRIA VALÉRIA GAMA GAMA F. F. BRESSAN BRESSAN Divulgação Divulgação
A diversificação de produtos e serviços, enquanto uma estraA diversificação e serviços, enquanto uma estratégia corporativa,deseprodutos destaca como um meio de explorar novas tégia corporativa, se destaca como um meio de explorar oportunidades de negócios. Ao variar suas atividades,novas uma oportunidades negócios. seus Ao variar suasdisponíveis atividades, para uma instituição podedeaproveitar recursos instituição podegerar aproveitar seusde recursos para obter sinergias, economias escopo edisponíveis obter fontes de obter sinergias, de escopo obter fontesinde renda adicionais.gerar Essaeconomias estratégia bem visíveleem empresas renda adicionais. Essa estratégia bem visível em empresas industriais também tem se destacado nos intermediários finandustriais também tem se destacado nos intermediários financeiros, como as cooperativas de crédito. ceiros, como as cooperativas de crédito. As instituições financeiras podem utilizar a estratégia instituiçõesaofinanceiras utilizare acooperados estratégia de As diversificação oferecer aospodem seus clientes de diversificação ao oferecer aos seus clientes e cooperados outros produtos e serviços além da clássica intermediação outros produtos e serviços além da clássica financeira, empréstimos e poupança. Assim,intermediação considerando empréstimos e poupança. Assim, considerando afinanceira, aplicabilidade da estratégia de diversificação nas cooperaa aplicabilidade da estratégia de diversificação cooperativas de crédito, este estudo teve como objetivo nas classificar as tivas de crédito, este estudo teve como objetivo classificar as cooperativas de crédito brasileiras conforme a sua estrutura cooperativas de crédito brasileiras conformeanalisar a sua estrutura (grau) de diversificação e, adicionalmente, a com(grau) de e, adicionalmente, analisarPara a composição dadiversificação receita operacional dessas instituições. tal, posição da receita operacional dessas instituições. Para tal, realizaram-se análises de cluster hierárquica e de composirealizaram-se análises de cluster e decooperaticomposição da receita operacional de uma hierárquica amostra de 525 ção de da crédito receita operacional de uma amostra 525 cooperativas singulares, pertencentes aos de sistemas: Sicoob, vas de crédito singulares, pertencentes aos sistemas: Sicredi e Unicred. Os dados foram obtidos junto aoSicoob, Banco Sicredi edoUnicred. Osperíodo dados foram obtidos Central Brasil, no de 2009 a 2014.junto ao Banco Central do Brasil, no períododa dereceita 2009 aoperacional 2014. A análise de composição demonsA que análise de composição da receitadas operacional demonstrou há uma tendência crescente receitas com opetrou que uma tendência dasnão receitas com operações dehá crédito e também crescente das receitas decorrentes de rações de crédito e também das receitas não decorrentes de operações de crédito. As receitas com operações de crédito operações de crédito. As receitas com operações de crédito se confirmaram, de acordo com o esperado, como a atividade se confirmaram, de acordode com o esperado, como a atividade principal das cooperativas crédito. Todavia, as receitas não principal dasde cooperativas decrédito crédito. as receitas não decorrentes operações de seTodavia, apresentam como uma decorrentesfonte de operações de crédito se apresentam como uma importante de recursos para essas instituições. importante de recursos para as essas instituições. A análisefonte de cluster classificou cooperativas de crédito análise de distintos: cluster classificou asdiversificado, cooperativasmoderadade crédito emAtrês grupos altamente em trêsdiversificado grupos distintos: altamente diversificado,(ou moderadamente e baixo grau de diversificação concenmente diversificado e baixo de diversificação (oude concentrado). O estudo revelou quegrau 56,8% das cooperativas créditrado). O estudo revelou que 56,8% das cooperativas de crédito da amostra são classificadas como altamente diversificadas, to da amostra são classificadas diversificadas como altamente diversificadas, 25,9% como moderadamente e 17,3% como de 25,9%grau como diversificadas e 17,3% como de baixo demoderadamente diversificação. Indicando que há uma predomibaixo grau de diversificação. que há uma predominância de cooperativas alta eIndicando moderadamente diversificadas. nância de cooperativas e moderadamente diversificadas. Destaca-se ainda que asalta cooperativas de crédito do sistema Destaca-se ainda que as cooperativas de crédito do sistema
Professora Adjunta do Departamento de Professora Adjuntada doUFMG Departamento Ciências Contábeis e do Centro de de Ciências Contábeis da UFMG e do Pós-graduação e Pesquisas em Controladoria Centro de Pós-graduação e Pesquisas e Contabilidade. Possui doutorado e pósem Controladoria e Contabilidade. Possui doutorado em Economia Aplicada pela doutorado e pós-doutorado em Economia Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais. Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.
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Noel Joaquim Faiad
REPORTAGEM CAPA
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Realidade nas telas No apagar das luzes do ano de 2017, dois dos principais festivais de cinema do país, a Mostra Internacional de São Paulo e o Festival do Rio, consagraram documentários que, a partir de diferentes perspectivas, se dispuseram a pensar o Brasil e o nosso modelo de desenvolvimento. A Rumos conversou com os diretores de Dedo na Ferida e Piripkura, vencedores, respectivamente, do prêmio do voto popular e do júri especializado no festival carioca, e de Em nome da América, premiado como melhor documentário na mostra paulistana. Em comum, os cineastas fazem uma reflexão sobre questões importantes para a sociedade brasileira, em especial em um momento decisivo como o ano que se inicia: os limites do sistema financeiro, as possibilidades da economia produtiva, a urgência do desenvolvimento sustentável, o respeito aos povos originários e à manutenção da floresta em pé, as contradições entre a política externa e as ideologias juvenis, o presente e o futuro do Brasil. Um caldeirão complexo, com questões desafiadoras e importantes pontos de reflexão sobre as distâncias entre o país em construção e o país que se deseja construir. Abaixo, um pequeno resumo dos filmes e, nas próximas páginas, entrevistas com os realizadores das obras premiadas.
FILME:
Dedo na Ferida
Reprodução
POR JADER MORAES e THAIS SENA, COM COLABORAÇÃO DE MARCO ANTONIO A. DE ARAUJO LIMA e LUCAS CANDIDO
Direção: Silvio Tendler Resumo: Documentário aborda o sistema financeiro e suas contradições, com o fim do estado de bem-estar social, em uma crítica ao capitalismo especulativo e defesa da economia produtiva. Pág. 22 Divulgação
FILME:
Piripkura
Direção: Bruno Jorge, Mariana Oliva e Renata Terra Resumo: Os dois únicos sobreviventes do povo Piripkura vivem em uma área protegida no meio da floresta amazônica. Para que a área continue sob proteção, a cada dois anos uma expedição vai ao local assegurar que eles estão vivos. Pág. 24 Divulgação
FILME:
Em nome da América Direção: Fernando Weller Resumo: O filme investiga a controversa presença de centenas de jovens norte-americanos no Nordeste brasileiro na década de 1960, participantes do programa Corpos da Paz, com depoimentos dos jovens cinquenta anos depois. Pág. 26
RUMOS
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Lucas Candido
Dedo na ferida
O que precisa ser dito RUMOS – Como foi que se chegou a esse tema e qual o objetivo do filme? SILVIO TENDLER – Essa questão da economia me preocupa bastante há muito tempo. Não sou especialista na área, mas sou um cidadão que sofre os efeitos de uma economia financeirizada. Observei a vida inteira, especialmente nas décadas de 1970 e 1980, e queria entender por que não se discute mais o trabalho. Depois, fiquei alegre com a globalização, até o momento em que o professor Milton Santos me disse “não fique feliz”. Eu falei: “mas, professor, agora nós vamos poder comprar o que quisermos, o mercado vai estar liberado, poderemos viajar”. Ele dizia: “o mercado não vai estar liberado e não vai ter para todo mundo”. Então, entendi que só liberaram a livre circulação de mercadorias e dinheiro, não de pessoas – e hoje vemos milhares de refugiados morrendo mensalmente afogados em botes, porque não podem circular pelo mundo livremente. Tudo isso foi provocando em mim essa curiosidade do porquê dessa extrema liberdade do sistema financeiro em dominar a economia, enquanto o sistema produtivo vive à míngua. Resolvi trabalhar essa questão e colocar o dedo na ferida. Tanto que a primeira coisa que surgiu, quando fiz o filme, foi o título. Alguns parceiros do projeto não gostaram muito no início, mas agora todos concordam e começa a haver uma discussão nacional, não apenas com militantes de esquerda ou os nacionalistas, mas tem muita 22
gente oriunda da “economia boa”, a economia produtiva, que está protestando contra essa hegemonia do sistema financeiro. Fico feliz que o filme tenha aberto um debate e esteja provocando as pessoas, porque acho fundamental que seja feito. RUMOS – Em seus filmes, o senhor geralmente possui um personagem conhecido nacionalmente, protagonista de momentos políticos importantes, como os presidentes Juscelino Kubitschek, João Goulart e Tancredo Neves. Dessa vez, o personagem condutor do documentário é um podólogo, personagem comum. Como tomou essa decisão? TENDLER – Descobri essa questão conversando com as pessoas. Estou com problemas físicos e minhas cuidadoras vêm, em grande maioria, de Engenheiro Pedreira, em Japeri [município vizinho ao Rio de Janeiro]. Comecei a entender a realidade delas, de sacolejar uma hora e meia por dia num trem para vir me atender. O podólogo, por exemplo, acorda cinco horas da manhã, para estar às nove e meia em Copacabana. Comecei a ver essa realidade e constatei que uma hora e meia, que é o tempo que eles sacolejam num trem, é o tempo de duração de um filme. Então, ele, em vez de estar em um cinema vendo um filme, está sacolejando num trem ou indo para o trabalho, ou voltando para casa. São três horas por dia de transporte, porque as condições de vida são muito precárias e junto com isso vão-se os direitos sociais, ninguém tem tempo para o lazer. Ele passa de segunda a sexta sacolejando num trem, sábado e domingo ele quer descansar, não quer ir ao teatro, a um cinema, não quer ter uma vida cultural. Não é que ele não goste ou não pense, mas é que a vida dele é muito ingraNOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
ta e difícil. A partir disso, resolvi discutir as condições de vida das pessoas que são os cidadãos brasileiros típicos. Eu sou um privilegiado, que tenho tempo para pensar. E esse ócio, que a burguesia me brindou, é o que me leva a refletir sobre a qualidade da vida que eles não tem. RUMOS – A questão do desenvolvimento tangencia muitos de seus filmes e neste, em particular, há uma defesa da economia produtiva. Qual a contribuição que o senhor acredita que as instituições financeiras de desenvolvimento, representadas pela ABDE, podem dar ao país? TENDLER – Uma contribuição enorme. Como discurso dentro do filme, eu defendo os bancos públicos e o professor Ladislau Dowbor fala da importância dos bancos cooperativos, não só no Brasil, como no exterior, citando os casos da Polônia, da França, da Alemanha e até mesmo exemplos brasileiros. Eu acredito que os bancos cooperativos são fundamentais no desenvolvimento de qualquer país. No início dos anos 1970, eu morei na França e convivi com a economia em que os bancos eram públicos, existiam vários deles voltados para nichos da economia. Então, sempre defendi isso. Eu morei no Chile, na época do presidente Salvador Allende, e uma de suas primeiras medidas, que estava contida no programa da Unidade Popular, foi a estatização do crédito. Depois passei pelo Peru, em um governo militar nacionalista, do presidente Juan Velasco Alavarado, que também estatizou o crédito. E em 1975 passei por Portugal, que também estatizou os créditos. Onde se pensa em desenvolvimento econômico voltado para a nação, pensa-se no controle público do crédito. Então, esses bancos são todos fundamentais. Evidentemente, o papel do BNDES na vida econômica brasileira é fundamental: o programa de metas do JK foi possível em virtude do banco, que o Getúlio criou, e era um projeto político nacional fundamental, que veio junto com o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), com o pensamento e os livros do Celso Furtado; veio com todo um conhecimento e uma plataforma econômica fundamental. Então, sou inteiramente favorável. RUMOS – Nos filmes anteriores de que tratamos aqui – sobre JK, Jango e Tancredo –, há sempre a questão de uma crise pairando pelo Brasil. Qual vai ser a consequência dessa crise que passamos hoje? TENDLER – Fico muito feliz de saber da existência dessa instituição [ABDE] e dessa revista [Rumos], que é fundamental, pois o grande problema, o grande nó do Brasil hoje é a comunicação. Começo a perceber que não é um problema só brasileiro, mas universal. Mas o problema brasileiro é muito grave porque a gente não se comunica. Um filme como esse, por exemplo, é fundamental porque dá amálgama para as pessoas, permite que elas conversem, criem pensamentos que levem a uma conclusão e a uma possível transformação. QuanRUMOS
Quero ouvir todo mundo. E então, percebi que existe no mundo inteiro um consenso para lutar contra essa economia que é determinante no mundo hoje: a economia de cassino.
do eu coloco pessoas que não são de esquerda para falar desse tema, como muitos gostariam, é muito importante. E então, percebi que existe no mundo inteiro um consenso para lutar contra essa economia que é determinante no mundo hoje: a economia de cassino, como muito bem define a professora espanhola Maria José Fariñas Dulce. Passamos pela época da superinflação e hoje ela está controlada, mas a financeirização não está. Qualquer pessoa que se movimente dentro de um país precisa de crédito, comprar à prestação, e o crédito no Brasil hoje é extorsivo, os empresários concordam. Quando encontro uma associação como essa [a ABDE], fico muito feliz, pois vejo uma luz no fim do túnel. RUMOS – No momento final do filme, o economista Guilherme Melo afirma que existe uma “grande energia social de descontentamento” hoje no país e que essa energia pode ser capturada por quaisquer dos lados, “aquele que tiver capacidade de dialogar e oferecer respostas a esse descontentamento”. Em sua visão, quem está conseguindo fazer esse diálogo? TENDLER – O Brasil vai aflorar no ano que vem. Hoje estamos diante de alguns enigmas. Esses enigmas têm um reflexo político: nenhum de nós sabe dizer, por exemplo, quem será postulante à presidência da república e qual será o seu candidato. Todo mundo oscila entre um nome de esquerda e um nome de direita: “se tal figura sair, eu voto nele”, ou “se tal figura não sair, eu não voto nele”, ou ainda “se a tal figura não sair, eu vou votar na outra solução, que é radicalmente diferente”. As pessoas estão desesperadas. Agora começa a haver um certo consenso de que o Brasil tem que buscar a via da normalidade. Eu acredito que o país não aguenta muito mais tempo a república dos tribunais de justiça. É preciso devolver à política a força e a importância que ela tem. 23
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Piripkura No Brasil profundo
RUMOS – Como essa temática as atraiu e como foi o processo de filmagem na floresta? MARIANA OLIVA E RENATA TERRA – No final de 2013, fomos gravar um encontro de formação de novos indigenistas para atuarem nas Frentes de Proteção Etnoambiental da Fundação Nacional do Índio (Funai), profissionais que são responsáveis por proteger e monitorar os territórios habitados por índios isolados ou de recente contato. Nesse encontro, conhecemos Jair Candor, chefe da Frente de Proteção Madeirinha-Juruena, que nos falou sobre os Piripkura e sobre vontade de contar a história deles. A nossa empatia e admiração pelo trabalho do Jair foi imediata e tudo o que contou sobre os Piripkura nos atravessou de uma maneira muito forte. Depois deste primeiro contato partimos para uma pesquisa mais aprofundada e para a formatação do projeto. O Canal Curta! se interessou pela proposta e nos apoiou integralmente, o que possibilitou a realização do filme. Depois foi mais um bom tempo para conseguir a autorização oficial junto à Funai de ingresso na terra indígena e iniciar as filmagens. As duas viagens de expedição na floresta aconteceram de acordo com o cronograma de expedições da frente de proteção. Nós nos adaptamos ao planejamento do trabalho da equipe da Funai e suas exigências, sem qualquer interferência. Filmar na Floresta Amazônica é sempre difícil. A floresta é uma imensidão e cheia de surpresas e desafios para o ser humano. Além das questões técnicas como equipamentos que sofrem com a umidade, ausência de locais para carregar baterias, peso do equipa24
mento e outros, ainda tivemos a dificuldade de acompanhar o ritmo dos sertanistas da Funai. Como nossa linguagem cinematográfica é bastante observacional, ou seja, não interferindo na realidade que se apresenta, acompanhar o ritmo deles era essencial para captar algo mais próximo a realidade do trabalho de campo que eles realizam. RUMOS – No discurso do sr. Jair, assumido pelo filme, há uma crítica contundente ao descompromisso com a questão indígena pelos governos ao longo da história. Como vocês enxergam essa realidade hoje? OLIVA E TERRA – Entendemos que os direitos dos povos originários nunca foram prioridade na história do Brasil. E a precariedade das políticas públicas, que perpassa diversos governos, apesar do governo atual ter precarizado de forma muito grave a já frágil situação, deve-se em parte àquela ideia antiga e equivocada, mas ainda vigente, que o sr. Jair nos conta no filme, de que a presença dos indígenas atrapalha o desenvolvimento do país. Quando na verdade, mais do que nunca precisamos aprender com eles para transformar nossa relação de devastação e destruição do meio ambiente. Felizmente, acreditamos que esta visão esteja mudando em segmentos importantes da sociedade civil. Tanto pelo protagonismo dos indígenas em enfrentar de forma incansável a luta pela demarcação de terras e pela defesa de seus direitos, quanto pelo próprio conceito do que seja desenvolvimento, marcado pelos imensos desafios da mudança do clima, aquecimento global NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
e seus impactos. E também pela reflexão de qual desenvolvimento queremos para que o nosso futuro seja próspero ou até mesmo possível. Portanto, nosso olhar não é só em relação a uma postura governamental, mas também da sociedade como um todo. As terras indígenas têm sido historicamente territórios que funcionam como barreiras contra o avanço do desmatamento na Amazônia. Porém, é importante ressaltar que a invasão em terras indígenas vem crescendo substancialmente assim como a violência contra os povos indígenas. Esse quadro é agravado pelo corte substancial no orçamento da Funai. Em um estudo recente publicado pelo Instituto Socioambiental, o orçamento da coordenação de índios isolados e recente contato para o ano de 2018 previsto será menor do que o de 2017, um total de R$ 2,2 milhões para as frentes de proteção dos povos isolados e de recente contato. Mas para manter precariamente as 19 bases ativas, precisariam de R$ 3,5 milhões, o que é muito pouco. Isso tudo nos implica como sociedade. A situação é muito grave e a articulação da sociedade civil para fortalecer a política de proteção aos povos isolados e frear essa onda crescente de violência precisa ser forte e muito mais ativa e ampla. RUMOS – A partir da perspectiva apresentada no filme, é possível agregar o objetivo de desenvolvimento econômico, inclusive para as populações locais, e de preservação ambiental? OLIVA E TERRA – Manter a floresta em pé é imprescindível para o crescimento. Muitos estudos e experiências vêm mostrando que é possível não só um outro modelo de desenvolvimento, mas que o desmatamento compromete a competitividade da agropecuária. A agricultura de baixo carbono vem ganhando espaço, apoio e conta com pesquisa científica e inovações tecnológicas e de manejo importantes. Em relação ao desmatamento, mesmo grandes agricultores do país já se manifestaram dizendo que não é necessário derrubar mais floresta para produzir. Pesquisas científicas indicam que a Amazônia é interligada aos demais biomas, e o que acontece em um bioma com esta dimensão e importância estratégica afeta os demais. As florestas são sistemas imprescindíveis para o regime hidrológico, portanto, para a própria irrigação da lavoura. Então manter a floresta em pé é também fundamental para a garantia de se produzir mais e melhor na agricultura. Temos um vasto território ocupado com pastos degradados que poderiam ser mais bem utilizados, com técnicas mais eficientes e produtivas. O Brasil avançou em pesquisa e inovação e temos hoje no país capacidade para produzir mais e de forma sustentável, equilibrada, sem precisar desmatar mais nada da Amazônia. Essas são medidas que tanto os governos quanto a sociedade civil precisam assumir como prioridade. Mas projetos de leis que estão sendo discutidos e aprovados com apoio do atual governo no congresso apontam para a redução do papel do RUMOS
Manter a floresta em pé é imprescindível para o crescimento. Muitos estudos e experiências vêm mostrando que é possível não só um outro modelo de desenvolvimento, mas que o desmatamento compromete a competitividade da agropecuária.
Estado na fiscalização do desmatamento na Amazônia. Dentro deste contexto os desafios são enormes, o conflito de terras no Brasil é ainda muito violento. Este cenário está associado a relatório recentemente publicado pela Anistia Internacional que aponta o Brasil como líder entre os países mais perigosos nas Américas para quem atua na defesa dos direitos humanos. Essa violência contra os defensores de direitos humanos está voltada principalmente contra aqueles que lidam com questões indígenas, disputa de terra e violência policial. RUMOS – Além do Festival do Rio, o filme foi premiado no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã. A que é possível creditar o fato de que contar um caso tão particular possa trazer tanta empatia com as plateias? OLIVA E TERRA – O encantamento das pessoas com a força e a resistência do Pakyî, Tamandua e da Rita e o reconhecimento da importância do trabalho realizado pelo sr. Jair têm sido muito emocionantes e têm atravessado fronteiras culturais e geográficas. Na nossa estreia no Festival do Rio pessoas vieram emocionadas agradecer e reconhecer o trabalho do sr. Jair. Um menino de 11 anos se aproximou dele, com os olhos cheios d'água, o abraçou e disse “sr. Jair, você é o cara. Obrigado”. Em Amsterdã o filme teve as cinco sessões esgotadas, o festival ofereceu uma sexta, que também esgotou. Temos exibições confirmadas na França, no México, na Colômbia, na Noruega e na Grécia para o início do ano que vem. Compartilhar a história de violência perpetrada contra o povo Piripkura e também abordar sua força de resistência, abrindo espaço para propor uma reflexão sobre nossa forma de estar no mundo, das escolhas que temos feito como sociedade, em um modelo em que a destruição tem prevalecido, foi algo que nos motivou a fazer esse filme. Piripikura quer dizer “povo borboleta”, e é com esta mesma delicadeza de uma borboleta que estes guerreiros da sobrevivência emocionam todos que os conhecem. Eles nos marcaram profundamente. 25
Clarissa Dutra
Em nome da América Passado e presente em contato RUMOS – O senhor já contou que a ideia do filme surgiu a partir de um “mito” sobre a presença de Steven Spielberg no Nordeste brasileiro, que teria vivido clandestinamente no sertão para fugir da Guerra do Vietnã. Em que momento o senhor percebeu que, mesmo sem essa confirmação, havia descoberto uma história que valia a pena ser contada? FERNANDO WELLER – O desejo inicial de fazer o filme partiu de diversas conversas que tive com moradores de uma cidade chamada Afogados da Ingazeira, no sertão de Pernambuco. É uma região muito rica em fabulações e é muito fácil se encantar com as histórias que as pessoas contam por lá. Esse caso do Spielberg é uma grande piada, mas uma piada que revela um pouco a maneira afetiva e fantasiosa como o brasileiro do interior lida com a memória e os acontecimentos históricos. Então, no início, era um filme que procurava mapear esses boatos, sem a pretensão de compreender a fundo a presença americana. Fazer um documentário é um processo demorado, os anos foram se passando e a situação brasileira também mudou de 2013 para cá. Cada vez mais, eu me aprofundava em questões menos anedóticas e mais complexas envolvendo a presença americana no Nordeste brasileiro. Nesse período foram reveladas as ações do NSA, que espionou Dilma Rousseff e a Petrobras, houve as manifestações de 2013 e toda 26
a turbulência política que nos levou ao golpe de 2016. Esses acontecimentos fizeram com que eu me dedicasse a pensar a influência americana no contexto da ditadura militar. Essa influência é conhecida por historiadores. Mas eu descobri que o público em geral, sobretudo a parcela mais jovem, sabe pouco ou quase nada sobre as Ligas Camponesas, sobre a Aliança para o Progresso, enfim, sobre o momento no qual os EUA encararam de maneira estratégica a região Nordeste do país. Assim, foram os acontecimentos do presente que deram uma guinada na minha pesquisa do filme e que me levaram a querer contar a história do filme da forma como contei. Claro que o filme não dá conta de todos os aspectos. Ele sempre vai ser uma leitura parcial a partir das fontes que encontrei. RUMOS – Quais foram as dificuldades para chegar aos jovens voluntários que vieram ao Brasil, mais de cinquenta anos depois, e colher depoimentos sinceros sobre os objetivos do programa, tocando em pontos delicados, como o uso do idealismo juvenil pela política externa norte-americana e a possível existência de espiões entre os participantes? WELLER – Falar em espião com ex-voluntários é um verdadeiro tabu. Com razão, eles evitam a todo custo esse estigma e preferem falar sobre os aspectos afetivos da sua presença no Brasil. Quase todos relatam que viveram seus momentos mais felizes no país. Muitos ficaram por anos, outros se casaram, formaram famílias aqui e lá. Todos que entrevistei se engajaram com sinceridade no programa e se tocaram pela questão social no Nordeste. Enfim, desde o início eu tive a NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
consciência de que eu não deveria expor essas pessoas a interrogatórios, como se eu fosse o dono da verdade que estava lá para desmascará-los. Muito naturalmente eu me aproximei de dezenas de voluntários disposto apenas a ouvir seus relatos. O filme pretende abordar, no fundo, uma grande contradição. Trata-se da distância entre as vontades individuais e os interesses políticos institucionais. Que eu saiba, nunca se provou a presença de espiões especificamente nos Corpos da Paz. Há muitas suspeitas e especulações. O que o filme demonstra é que os voluntários acabaram por participar, no fim dos anos 60, de programas voltados para cooperativas e sindicatos rurais articulados entre a Igreja Católica, o Governo Militar e organizações de fachada operadas pela CIA. Então, apesar de seus interesses particulares e do discurso purista dos Corpos da Paz, os voluntários viveram a ambiguidade de fazer parte de uma política institucional montada para o combate ao comunismo na América Latina. Essa ambiguidade apontada no filme aparece até hoje, acredito, em todas as ações ditas humanitárias em países pobres. Obviamente, os promotores ou financiadores de tais ações são os mesmos que atuam historicamente provocando os danos que dizem querer remendar. RUMOS – Como a realidade exposta no filme – tanto da influência da política externa norte-americana no Brasil e na América Latina, especialmente durante o período da ditadura militar, quanto das mazelas do país na década de 1960 – dialoga com a realidade atual? Em sua visão, o filme nos revela algo sobre o Brasil de hoje? WELLER – Uma das imagens que encerra o filme é a de uma estátua da liberdade que existe em Maceió e que até pouco tempo estava diante de uma pequena comunidade de barracos à beira-mar. Uma vila de pescadores, na verdade. Após as filmagens, fui informado de que a comunidade foi removida em mais um daqueles projetos de revitalização de zonas portuárias, cujas consequências nefastas nós já conhecemos bem, infelizmente. Enfim, o que quero dizer é que a modernização liberal apregoada pelos americanos e encampada, parcialmente, pelos governos militares e depois civis no Brasil aprofundou a nossa dívida social e manteve intactas as estruturas de poder no Nordeste. Os personagens brasileiros pobres que falam no filme são até hoje as vítimas dessas políticas. São até hoje pessoas desconsideradas em sua humanidade. Isso fica explícito nos depoimentos de usineiros dos anos 60 presentes no documentário. Um deles chega a dizer que se o salário fosse mais alto, os trabalhadores da cana não se esforçariam para trabalhar mais. Ou seja, a fome era, para ele, a força RUMOS
O filme pretende abordar, no fundo, uma grande contradição. Trata-se da distância entre as vontades individuais e os interesses políticos institucionais.
O momento atual que estamos vivendo demanda filmes que revisem o passado, que reflitam sobre os nossos tantos erros para entender um pouco mais o quadro bizarro do presente.
para o trabalho. Esse argumento, aliás, não saiu de moda no Brasil contemporâneo. O que me assusta e me angustia é o grau de resignação das pessoas que entrevistei. “Nesse mundo quem não aprende a viver, aprende a morrer”, diz um personagem brasileiro. RUMOS – O filme foi vencedor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na categoria documentário, e também foi selecionado em importantes festivais no país, com boa recepção da crítica. A que atribui essas conquistas? WELLER – Essa pergunta eu não sei responder, eu acho. Já vi filmes maravilhosos que não foram selecionados em festivais. Também não acho que o sucesso de um filme possa ser medido apenas por isso. São inúmeros fatores que levam a uma seleção ou premiação, mas acho que o momento atual que estamos vivendo demanda filmes que revisem o passado, que reflitam sobre os nossos tantos erros para entender um pouco mais o quadro bizarro do presente. Não sei se o meu filme responde a essas inquietações. Mas, claro, estou muito feliz pela chance de exibir o filme e de debatê-lo nesses festivais. 27
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REPORTAGEM
Futuro em construção Agência de fomento do Rio de Janeiro comemora 15 anos e recorda as principais conquistas do período, visando auxiliar na retomada do desenvolvimento econômico do estado, com apoio especial às micro e pequenas empresas. POR DANILE REBOUÇAS
A Agência Estadual de Fomento (AgeRio), instituição financeira de desenvolvimento do Rio de Janeiro, completou 15 anos de fundação em dezembro. Por meio de incentivos financeiros em quatro eixos principais de atuação – privado, público, microcrédito e participações –, a instituição tem feito diferença no estado, ao potencializar as atividades econômicas locais. “Estamos trilhando uma trajetória que busca responder às demandas do estado, consolidando a agência como ator financeiro estratégico na promoção do desenvolvimento econômico, social e sustentável do Rio de Janeiro”, define a presidente da organização, Helia Azevedo. O crescimento do Patrimônio Líquido (PL) da agência e do saldo gerador de receitas exemplificam o poder de atuação conquistado nesses 15 anos. De 2008 para 2017, o PL saiu de R$ 36 milhões para R$ 445 milhões. Já o saldo gerador de receitas passou de R$ 50,92 milhões, em 2012, para R$ 162,61 milhões, em junho de 2017. A diretora de operações, Dara Silva, acrescenta que a carteira administrada de terceiros envolve recursos de cerca de R$ 1,5 bilhão, oriundos de três fundos estaduais: de Recuperação Econômica de Municípios Flumi28
nenses (Fremf ), de Desenvolvimento Econômico e Social (Fundes) e de Fomento ao Microcrédito Produtivo Orientado (Fempo). Entre as ações que contribuíram para esse cenário de crescimento, a presidente relaciona o apoio a empresas atingidas por desastres naturais na Região Serrana; a gestão de recursos e o acompanhamento dos projetos financiados pelos fundos; o programa de Microcrédito Produtivo Orientado (MPO); e o investimento em projetos inovadores. Na lista dos programas que marcaram a trajetória da AgeRio, Helia destaca ainda o Modernizar para Competir, iniciado há cinco anos. “No âmbito deste programa ocorreu a reformulação do Estatuto Social, que estabeleceu o regime de alçadas decisórias, contendo diretrizes claras, baseadas tanto em normas que regulam as instituições financeiras NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
EQUIPE A presidente da organização destaca que os resultados obtidos pela instituição estão relacionados ao seu corpo funcional. De acordo com ela, os profissionais, em um exercício constante de aprendizado, desenvolvimento e qualificação, buscam aperfeiçoar as soluções financeiras disponíveis. Há quase 11 anos na instituição, o atual assessor especial da Diretoria de Controladoria e Riscos, Fernando Galvão, conta que ingressou na agência com a missão de estruturar a área de risco de crédito para as primeiras operações. Com formações e especializações nas áreas de Economia e Administração Pública, ele se considera um privilegiado. “Em um mundo de transformações rápidas e profundas, permanecer mais de dez anos em uma organização é cada vez mais raro. Neste momento de 15 anos da AgeRio, sinto-me parte do crescimento da agência e isto é gratificante para mim”, diz. O analista de desenvolvimento Rodrigo Almeida também faz parte da equipe de profissionais da instituição. Ele ingressou na agência pelo primeiro concurso público, de RUMOS
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quanto em uma governança afinada com as melhores práticas de mercado”, explica. Em relação aos financiamentos no setor privado, considera marcantes os créditos concedidos a projetos inovadores de desenvolvimento de softwares; de produção de sucos 100% naturais; e de fabricação de móveis inteligentes. Outro destaque é o “Rio em Ação – Agenda Positiva Micro e Pequena Empresa”, uma parceria com o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Sebrae/RJ para apoiar micro e pequenas empresas com crédito e orientação financeira. Dara Silva dá exemplos da atuação diversificada da instituição: o crédito concedido a empreendimento do Complexo do Alemão que produz cerveja artesanal; o financiamento da expansão de franquias do ramo alimentício; a recuperação de varejista após sofrer incêndio; e o apoio a uma cooperativa agroindustrial. Sobre as quatro estratégias de negócios, Dara explica que, no setor privado, o portfólio abrange desde o financiamento a projetos de inovação, aquisição de equipamentos, expansão e abertura de franquias, até soluções sustentáveis para as empresas. Ela acrescenta que a AgeRio é a única instituição do estado a operar com a linha de crédito da Finep. Já nos investimentos em participações, a agência colabora, por meio de fundos de investimentos, com organizações que atuam nos setores de tecnologias limpas, saúde e ciências da vida, audiovisual, inovações em tecnologia da informação e biotecnologia. Nas operações com o setor público, a instituição disponibiliza crédito para as prefeituras aplicarem em gestão, infraestrutura, esporte, lazer, cultura, educação e saúde. E, pelo programa MPO – que passa por reformulação –, oferece soluções financeiras para pequenos negócios.
Helia Azevedo, presidente da AgeRio: “Estamos consolidando a agência como ator financeiro estratégico na promoção do desenvolvimento econômico, social e sustentável do Rio de Janeiro”.
2010, atuando nas Gerências de Administração e de Controle Interno, e na Gerência de Contratos e Licitações. “Já trabalhei no mercado privado e afirmo com absoluta convicção que dentre nossas principais características está o excelente clima organizacional. Em tempos recentes experimentamos diversas transformações em nossa empresa, algumas destas que conduziram a um ambiente de trabalho propício à criação e ao aprimoramento contínuo de nossas atividades”, opina. Ao falar sobre os servidores, Rodrigo cita ações como a criação de um novo plano de cargos e salários, a implementação da participação nos lucros, a descentralização das decisões e o empoderamento de empregados, como fatores determinantes de valorização e redução da rotatividade dos empregados. DESAFIOS Para os próximos anos, a presidente Helia Azevedo aponta como principal desafio trabalhar com os demais atores econômicos do estado para a retomada do crescimento. “Acreditamos no potencial de recuperação econômica do Rio a partir de investimentos em setores estratégicos, como turismo, indústria criativa e inovação, e aspiramos participar diretamente”. Helia destaca que o Plano Estratégico 2018-2022 da instituição está focado nas micro e pequenas empresas, com a reestruturação do portfólio de produtos e investimento na otimização dos sistemas. “Pretendemos inserir a agência em uma nova dinâmica de atendimento, que envolve modernizar fluxos de operação, remodelar o site e demais canais de comunicação, e lançar uma ferramenta digital para auxiliar clientes na obtenção de crédito”, conta. 29
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REPORTAGEM
Apoio extra aos pequenos Projeto de Lei Complementar, em discussão no Congresso, altera o Estatuto nacional da microempresa e da Empresa de Pequeno Porte e pode significar avanços importantes para os pequenos negócios e para as instituições financeiras de desenvolvimento que os apoiam. POR CARMEN NERY
Os deputados da Frente Parlamentar Mista da Micro e Pequena Empresa deverão empreender um esforço concentrado na volta do recesso parlamentar, em fevereiro, para aprovar definitivamente o Projeto de Lei Complementar 341/17, de autoria do deputado federal Jorginho Mello (PR-SC), que altera o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Lei Complementar 123/06). O deputado é o atual coordenador da Frente, uma das maiores do Congresso Nacional, com 387 deputados e 33 senadores. O PLC tramita na Câmara desde junho, quando foi criada a Comissão Especial da Tributação das Micro e Pequenas Empresas (PLP 341/17) para apreciação e votação do projeto, presidida pelo deputado Carlos Melles (DEM-MG), que designou como relator o deputado Otavio Leite (PSDB-RJ). O texto limita em 3,95% a alíquota do ICMS incidente sobre produtos sujeitos à substituição tributária adquiridos por microempresas (ME) e por empresas de pequeno porte (EPP) enquadradas no Simples Nacional. A proposta prevê ainda que o teto do Simples Nacional será reajustado anualmente pela inflação medida conforme o Índice Na30
cional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Jorginho Mello ressaltou que a frente está empenhada na construção do PLC 341, que prevê uma série de mudanças favoráveis aos micro e pequenos empreendedores, como o aumento do teto e alterações na tabela tributária. “Só que o governo enviou a MP 783 para a Câmara sobre o Refis para as grandes empresas, deixando as micro e pequenas empresas de fora. Fizemos uma articulação com todas as lideranças e conseguimos aprovar no plenário uma emenda aglutinativa concedendo aos micro e pequenos empresários os mesmos benefícios, mas o governo vetou. Como não havia tempo de derrubar o veto, pegamos outro projeto que estava em andamento, aprovamos o regime de urgência e colocamos NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
o Refis nas condições idênticas às das grandes empresas com pequenas diferenças”, explica o deputado Mello. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA Os microempresários alegam que hoje pagam a mesma alíquota exigida das empresas de médio e grande porte quando são submetidos à substituição tributária, um mecanismo usual nos estados onde um contribuinte paga o ICMS de toda a cadeia produtiva em que está inserido. Como eles ainda são obrigados a pagar o Simples Nacional, o duplo regime anula o benefício trazido pela lei geral, que reduziu a carga tributária dos pequenos negócios. “Isso está matando o micro e o pequeno empresário, tirando o seu capital de giro, fazendo ele cair no cheque especial e se endividar. Substituição tributária é para grande empresa. Temos que fazer com que um produto de um município possa ser vendido em qualquer estado da federação. Há uma série de mudanças que vamos fazer. Há alguns itens que ainda estamos negociando com o governo. Depois é ler o relatório e levar para o plenário para votar, o que deve ocorrer no início de fevereiro”, prevê Mello. O PLC oficializa a criação do Sistema Nacional de Fomento, que tem como uma de suas principais atribuições a oferta de crédito para MPEs , e cria incentivos como o Programa de Adimplência Premiada Tributária (PAT) e Empresa Simples de Crédito (ou ESC), um tipo de empreendimento individual exclusivo para o financiamento do setor, com tarifas reduzidas e contratação simples, direcionada para pequenos empresários. No modelo proposto, as ESCs serão constituídas nos municípios por pessoas interessadas em fornecer microcrédito para pequenos empreendedores. Segundo o deputado federal Otávio Leite, a expectativa era aprovar o projeto até o final do ano, mas optou-se por mudar a estratégia para votar antes o Refis da Micro e Pequena Empresa, aprovado na Câmara e no Senado no início de dezembro. Agora só falta a sanção presidencial para aprovação do parcelamento e redução das dívidas dos micro e pequenos empresários. “O Refis foi uma questão pontual que teve por objetivo salvar cerca de 560 mil empresas que já foram notificadas. Se elas não tiverem direito a parcelar seus débitos, em janeiro serão excluídas do Simples, o que significa desemprego inevitável”, justificou Leite. Entre os objetivos do PLC 341, estão a redução da burocracia para abrir e fechar MPEs, o estímulo a novas linhas de crédito para este segmento da economia e a revisão do conceito financeiro de MPE. A Lei do Simples é revista a cada dois anos. Desde 2006, quando entrou em vigor, a lei das MPEs passou por seis mudanças, a última no ano passado. Leite explica que a alteração agora é mais profunda: são mais de 60 itens que os parlamentares pretendem alterar, para trazer o estatuto RUMOS
As MPEs sofreram com a desaceleração da economia e escassez de crédito, mas já voltaram a gerar saldo positivo de novos empregos e precisam que o governo garanta um ambiente legal mais favorável para desenvolvimento dos pequenos negócios. Guilherme Afif, Presidente do Sebrae
para século 21. “Em fevereiro vamos retomar com carga total para aprovação desses 60 itens que queremos avançar no maior número possível”, sinaliza Leite. O projeto prevê o tratamento tributário diferenciado da Rede Federativa de Fomento – composta pelo BNDES e suas subsidiárias, pelas instituições financeiras de desenvolvimento criadas e controladas pelos Estados ou Distrito Federal, como agências de fomento e bancos de desenvolvimento, e também por eventuais agências municipais de fomento –, pelo qual autoriza as instituições que compõem a Rede a destinarem até 25% dos valores apurados do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) para aplicação em operações de crédito a serem concedidas às MPME. Fica facultado ainda a suspensão da exigência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins apuradas sobre as receitas decorrentes de operações de financiamento contratadas com as MPME. Tal suspensão, se converterá em alíquota zero (0%), desde que tais receitas sejam aplicadas em novas operações de financiamento contratadas com micro ou pequenas empresas dentro do prazo de até três anos, contados da data da suspensão da exigibilidade das Contribuições Sociais. Também está prevista a criação de uma linha de crédito específica do BNDES para a compra, por MPE, de outra MPE do mesmo ramo de atividade (CNAE) em dificuldade financeira ou em Recuperação Judicial. E a dispensa de Certidões da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e de Seguro para a contratação de operações de crédito de MPE no âmbito da rede de fomento. 31
“Todo o setor que acessa o capital estará estruturado de maneira concatenada, o que vai facilitar a ampliação em território nacional das oportunidades de acesso ao crédito. Ao mesmo tempo, desonera a captação de recursos do sistema de fomento para que o capital seja oferecido a juros mais baratos. Além de eliminar alguns entraves, como exigências bancárias que vamos desobrigar os agentes financeiros, o que vai facilitar a autorização dos empréstimos”, ressaltou Leite. SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO O PLC 341 também propõe a criação do Conselho Superior do SNF, que será integrado por um representante do BNDES, que será o presidente e coordenador; três representantes da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE); um representante da Finep; um representante do Sebrae; um representante do Ministério da Indústria Comércio Exterior e Serviços (MDIC); e um representante do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para Guilherme Afif Domingos, diretor-presidente do Sebrae, a atual proposta de aprimoramento da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa pode trazer uma série de avanços em temas que
Noel Joaquim Faiad
Deputado federal Otávio Leite, relator do projeto de lei que altera o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
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são de grande importância para os pequenos negócios. Ele destaca a Empresa Simples de Crédito (ESC), a correção do Simples Nacional, medidas que beneficiam o investidor-anjo, estímulo à inovação entre outros pontos. “Os dispositivos foram aprimorados para atender as expectativas de todas as partes envolvidas, porque o Banco Central vetou a criação da ESC no ano passado. Também devem ser prioritários os ajustes do Simples Nacional que simplificam as regras para recolhimento de tributos”, defendeu o presidente do Sebrae. Ele ressaltou que as micro e pequenas empresas representam 27% do PIB e são as grandes responsáveis pela geração de emprego e renda no país mesmo na crise. Enquanto as empresas de pequeno porte acumulam saldo positivo de 463 mil novos empregos, as médias e grandes fecharam 178,8 mil postos de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. “Isso mostra a importância dessas empresas para a economia do país. As MPEs sofreram com a desaceleração da economia e escassez de crédito, mas já voltaram a gerar saldo positivo de novos empregos e precisam que o governo garanta um ambiente legal mais favorável para desenvolvimento dos pequenos negócios. É muito importante que o governo conceda ao segmento o mesmo tratamento que foi dado em relação ao parcelamento de débitos tributários das grandes empresas, com condições favorecidas para pagamento”, defende Domingos. Marco Antonio Albuquerque de Araujo Lima, secretário-executivo da ABDE, ressalta que o PLC 341 melhora sensivelmente a burocracia, simplifica a contratação das micro e pequenas empresas, além de facilitar a atuação dos bancos públicos e privados que vão apoiar essas empresas. Outro ponto relevante é que a proposta cria linhas de crédito em condições adequadas para que as micro e pequenas empresas possam investir e se de senvolver, criando mais e melhores empregos. “Esse é um modelo semelhante ao que é praticado no mundo inteiro, em que se faz uma renúncia fiscal direcionada para o apoio às pequenas empresas, o que vai gerar novos empregos, novos impostos e uma série de vantagens para a economia”, diz Lima. Ele defende que a reforma da lei é essencial porque ela se dirige no sentido de incluir o micro e pequeno empresário; mas ressalva que, sem que haja a retomada do desenvolvimento sustentável, essa mudança fundamental não vai ter a consequência que se espera, porque realmente as MPE vão ter muito mais possibilidade de utilizar as mudanças realizadas quando o Brasil voltar a se desenvolver. “Nós, da ABDE, acreditamos que 2018 deva ser um ano de discussão da retomada do desenvolvimento. O país não pode esperar, temos que crescer; o Brasil precisa ter paixão pelo desenvolvimento novamente. E os micro e pequenos empresários precisam dessa prioridade e dessas possibilidades, pois serão um dos motores desse desenvolvimento sustentável”, conclui. NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
Juscelio Queiroz, tĂŠcnico Sebrae Minas
Marcos Maier, empresĂĄrio
Joice Nunes, estudante
SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO
PixaBay
DESENVOLVE MT FIRMA PARCERIA COM EMPRESAS CHINESAS A Agência de Fomento do Estado do Mato Grosso (Desenvolve MT) assinou, em novembro, um protocolo de intenções com a empresa chinesa Zhuhai Yuren Agricultural Aviation, para a instalação de uma linha de montagem de drones agrícolas no estado. O acordo abriu um canal de comunicação entre as organizações, para viabilizar a promoção de linhas de crédito para facilitar a comercialização dessas máquinas no mercado agrícola brasileiro. Outro protocolo, assinado com a empresa chinesa Znshine PV- Tech, prevê a instalação de uma linha de montagem de painéis solares, além de rodadas de negócios com cooperativas, organizações e empresários do estado.
BNB PROMOVE FEIRA DE NEGÓCIOS COM CIDADES MÉDIAS O Banco do Nordeste (BNB) realizou, em novembro, o primeiro Fórum BNB de Cidades Médias G20+20, na sede do banco, em Fortaleza. O evento contou com a presença de prefeitos e representantes de mais de 35 prefeituras, de parceiros institucionais, órgãos governamentais, instituições de pesquisa e investidores financeiros, para debater a importância das cidades médias na dinâmica econômica da região. No evento as empresas expositoras apresentaram seus portfólios de produtos e serviços a gestores municipais, que expuseram as oportunidades de projetos em suas respectivas cidades. As empresas privadas que possuem origem nas áreas de saneamento, energia, gestão pública, transporte, tecnologia da informação e comunicação, urbanização, dentre outras, foram selecionadas de acordo com a experiência em estruturação de parcerias público-privadas ou concessões públicas e atuação com o poder público municipal. “Este é um fórum diferente. Sabemos que a capacidade de financiamento das prefeituras é limitada. Por isso, é essencial atrair a iniciativa privada para a oferta de bens públicos”, disse o presidente do banco, Marcos Costa Holanda. 34
BDMG PREMIA PROPOSTAS DE INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) participou, no início de novembro, da Feira Internacional de Negócios, Inovação e Tecnologia (Finit), em Belo Horizonte, e premiou propostas que visassem à inovação e à sustentabilidade. O banco lançou um desafio aos participantes para que desenvolvessem um produto tecnológico que facilitasse o processo de solicitação de recurso das micro e pequenas empresas para projetos de energia fotovoltaica. Com os resultados apresentados, será feita a análise das soluções criadas, avaliando uma possível implementação. “O desafio de se criar uma solução para nova frente do banco uniu as diretrizes estratégicas da instituição: inovação e sustentabilidade. Por meio desses pilares, torna-se possível a geração de produtos e serviços inovadores e a modernização da estrutura produtiva do estado. Como banco de desenvolvimento, temos o compromisso de preparar Minas Gerais para a economia do conhecimento”, pontua o presidente do BDMG, Marco Crocco. NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
Fabiano Marques Dourado Bastos / Embrapa
DESENBAHIA APOIA A PRODUÇÃO DE CAFÉ NO ESTADO A Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) firmou convênio com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com o objetivo de aumentar o financiamento para a produção de café no estado. Com a parceria, a agência passa a contar com recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), sendo disponibilizados oito milhões para custeio de safra e capital de giro. Para a aplicação do fundo, foram criadas duas novas linhas de crédito: Custeio ao Café, que será destinada a cafeicultores ou cooperativas de produção agropecuária, para financiar o custeio da safra do produto; e Capital de Giro do Café, que ajudará indústrias de café solúvel e de torrefação, além de cooperativas de produção. “O empresário pode contar com a agência para investir agora e se preparar para ter uma boa colheita”, afirma o presidente da Desenbahia, Otto Alencar Filho.
AFEAM RENOVA CRÉDITO SOLIDÁRIO
DESENVOLVE SP FINANCIA ILUMINAÇÃO PÚBLICA EM DISTRITO INDUSTRIAL
A Agência de Fomento do Estado de Amazonas (Afeam) e o Fundo de Promoção Social e Erradicação da Pobreza (FPS) renovaram o Programa Crédito Solidário. Nesta nova etapa do projeto, que já beneficiou centenas de famílias em situação de fragilidade social, serão disponibilizados R$ 3 milhões, mudando o atendimento e passando a ter um acompanhamento contínuo com os beneficiados após a liberação do processo. Com o crédito solidário será possível obter financiamentos de R$ 200 a R$ 2 mil. Os empreendedores atendidos são qualificados por parceiros do fundo, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). O programa possibilitou acesso ao crédito de forma desburocratizada para empreendedores em vulnerabilidade social, tendo foco especial para pessoas fragilizadas pelo desemprego.
A Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) e a prefeitura de Ribeirão Preto assinaram, em novembro, contrato de financiamento de R$ 1,4 milhão para a iluminação pública da 3a fase do Distrito Industrial. A prefeitura estima que, com o investimento, o empreendimento, que hoje conta com 53 empresas instaladas, seja dobrado, contribuindo para o crescimento da economia do município. Para o presidente da Desenvolve SP, Milton Luiz de Melo Santos, “Ribeirão Preto está entre as cinco maiores cidades do estado, é um polo de atração de empresas. A ampliação do Distrito Industrial vai incentivar ainda mais o desenvolvimento, a geração de emprego e a renda no município e em toda a região”. A taxa de juros do financiamento ao município será de 9,5% ao ano, mais a atualização do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com prazo de pagamento de seis anos, incluindo 12 meses de carência. Além de Ribeirão Preto, as cidades de Bebedouro, Fernandópolis, Ibirarema, Maracaí, Meridiano, Salto Grande, Suzano e Várzea Paulista também assinaram financiamentos. Com a liberação da verba, será feito um investimento na infraestrutura dos municípios, melhorando a pavimentação, o meio ambiente e o saneamento básico. Os recursos também serão destinados à construção de arenas multiuso e parques industriais, gerando mais empregos para a região.
RUMOS
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LIVROS
SUPERPODER DO CÉREBRO
A vantagem humana: como o nosso cérebro se tornou superpoderoso Suzana Herculano-Houzel Cia. das Letras, 352p., 2017.
Remontando ao homo erectus, que viveu há um milhão e meio de anos, uma das mais renomadas neurocientistas do mundo, a brasileira Suzana Herculano-Houzel, professora associada no departamento de psicologia e biologia da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, demonstra que o desenvolvimento do cérebro humano não foi um desvio excepcional na evolução das espécies, comparado a outros animais que possuem um cérebro maior do que o ser humano, como os elefantes, mas uma decorrência da prática exclusivamente humana de se cozinhar os alimentos. Em sua nova obra, ela defende que o tamanho do cérebro não interessa, mas sim o fato de possuirmos mais
neurônios no córtex cerebral do que qualquer outro animal, graças à invenção de nossos antepassados, que cerca de um milhão e meio de anos atrás criou uma maneira mais eficiente de obter calorias: cozinhar. Aliado ao rigor científico, o texto de Herculano-Houzel utiliza uma linguagem mais leve e oferece uma explicação sobre como nos tornamos notáveis sem nunca termos sido especiais, no sentido de ser uma exceção às regras da evolução, e como conseguimos nos desenvolver ao longo dos anos. Organizado em doze capítulos, a autora revela em sua obra que o cérebro humano se tornou enorme em um espaço curto de tempo, deixando para trás outras espécies.
EVOLUÇÃO DAS CIÊNCIAS
Amor à Ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano José Eli da Veiga Senac, 144p., 2017. 36
O livro Amor à Ciência aborda a tese de que não pode haver materialismo científico que não seja, antes de tudo, darwiniano. Para isso, mostra uma visão panorâmica da crescente utilidade cognitiva dessa teoria em matérias diversas como a psicologia e a física quântica, passando por quase todas as ciências sociais. O autor, José Eli da Veiga, que é professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), tem 25 livros publicados, entre os quais: O Imbróglio do Clima – Ciência, política e economia, Gaia – De mito a ciência e Sustentabilidade: A legitimação de um novo valor. Sua mais recente obra traz um conjunto de quatro ensaios, fornecendo uma visão da progressiva utilização
do raciocínio básico de Darwin. Desencadeado no início dos anos 1980, esse amplo avanço do materialismo darwiniano no âmbito científico também leva o autor a propor uma forte hipótese: de que poderá haver crucial aproximação epistemológica entre todas as ciências. A ideia é resgatar o pensamento original de Darwin, ultrapassando a narrativa mais comum sobre a teoria darwiniana, que se restringe a reconhecer que, além dos genes, os fatores chamados “ambientais” também possuem relevância no processo. O livro ultrapassa esse pensamento comum e busca oferecer uma visão mais ampla , que confirma a essência da grande “sacada” de Darwin, que 150 anos depois não deveria continuar tão desconhecida. NOVEMBRO | DEZEMBRO 2017
HISTÓRIAS DA MOEDA
A moeda e a lei: uma história monetária brasileira Gustavo Franco Zahar, 848p., 2017.
O livro conta a história das instituições monetárias brasileiras durante o período em que se estabeleceu no país, em definitivo, o dinheiro tal como hoje o conhecemos: um impulso magnético cuja existência pode ser atestada na internet, mas que ainda pode ser encontrado no formato já antiquado de cédulas ornamentadas com cores, motivos e heróis da nacionalidade. Na obra, Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e um dos responsáveis pelo Plano Real, apresenta uma história das instituições monetárias brasileiras, tendo como fio condutor o olhar econômico sobre a letra da lei. Ao longo de nove capítulos, o autor tem como foco as convenções pensadas para criar e destruir um objeto que é hoje cada vez menos
um pedaço de papel, e cada vez mais um impulso magnético, abstrato e conceitual. A obra traz a experiência monetária brasileira em um período de 80 anos, até 2013. Trajetória em que o país teve oito padrões monetários, cinco congelamentos, confiscos pequenos e grandes, crises sem limite, euforias também ilimitadas e batalhas épicas para ordenar a moeda nacional e evitar abusos fiscais e financeiros, bem como para estabilizar o seu poder de compra. Os acontecimentos analisados têm imensa atualidade, pois as dúvidas que governam essa história continuam muito vivas. Como se estivéssemos aprisionados há décadas em um mesmo enredo, sempre às vésperas de uma fórmula ideal que parece estar logo ali, mas nunca chega.
A DESIGUALDADE COMO RAIZ
A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato Jessé Souza Leya, 240p., 2017. RUMOS
A nova obra de Jessé Souza aborda questões relacionadas à desigualdade racial e social, destacando que elas estão, mais do que nunca, no centro do debate público. Com o objetivo de desconstruir uma suposta legitimação “naturalizada” ao longo de décadas, o autor toma a experiência da escravidão como a semente da sociedade desigual, perversa e excludente do Brasil para, em seguida, analisar como a luta de classes por privilégios construiu alianças e preconceitos que esclarecem o padrão histórico repetido nos embates políticos do Brasil moderno. Por fim, faz o diagnóstico do momento atual, criticando o que chama de “conluio” entre a grande mídia e a operação Lava Jato. Depois da polêmica aberta por A tolice da inteligência brasileira, livro em que
analisou criticamente a obra de alguns dos principais pensadores brasileiros, o autor apresenta mais um texto crítico na essência, escrito de forma acessível. O livro retrata figuras como as do “homem cordial”, de Sérgio Buarque de Holanda, e do “jeitinho brasileiro”, interpretada por Roberto DaMatta, que teriam sedimentado a síndrome de vira-lata do brasileiro e a ideia de que a corrupção política é o grande problema nacional, herdado especialmente de nossa formação ibérica. Para Jessé, no entanto, ideias velhas nos legaram a compreensão de que a corrupção está restrita à política. Na corrupção real, no entanto, o problema central é a manutenção secular de uma sociedade desigual, que impossibilita o resgate do Brasil esquecido e humilhado. 37
EXPEDIENTE
CARTAS DO LEITOR
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Novo leitor Tive a oportunidade de conhecer e ler a revista Rumos editada pela ABDE. Gostaria de saber como posso receber as referidas revistas, sei que são bimestrais, em meu endereço. Ronaldo M. Crelier, Rio de Janeiro (RJ)
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