Revista Rumos

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SUMÁRIO

Noel Joaquim Faiad

Victor Brasil

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Portal da Copa/ME

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ENTREVISTA Antonio Carlos S. Quintiliano

Foco na erradicação da pobreza

EXPERTISE Vinicius Bogéa Câmara

Nome próprio

CAPA Eventos

Obras do presente para o futuro

AO LEITOR ano de 2013 promete! Essa frase de efeito que poderia ser dita no início de qualquer ano parece se encaixar com mais verdade no momento atual do Brasil. A partir de 2013, a nação passa a ocupar uma posição de destaque na cena internacional, pois sediaremos a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude, dois eventos que vão dar o norte da capacidade do país em receber grandes públicos. Para saber se estamos preparados, Rumos traz um retrato da construção dos estádios, das obras de mobilidade urbana e dos treinamentos programados para atender aos turistas. Já é possível visualizar o legado deixado por essas intervenções nas cidades. Outro evento importante que acontecerá em novembro, no Rio de Janeiro, será o Fórum Mundial de Ciência, que pela primeira vez acontece fora da Europa. O secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), Luiz Antonio Elias, explica o porquê da realização do evento no Brasil. Com todas essas atividades, o Brasil, definitivamente, está em evidência; a visibilidade que vem recebendo também poderá se refletir nas empresas nacionais, portanto, vale olhar com atenção a entrevista de Vinicius Bogéa Câmara, diretor de Marcas do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) que reforça a importância do registro das marcas e de como essas devem acompanhar as mudanças pelas quais as companhias e os países passam. Já que estamos falando em legado, cabe ainda saudar o trabalho realizado pelo ex-editor da Rumos, Luiz Cláudio Dias Reis, que fez dessa publicação um espaço para a reflexão sobre o futuro que queremos para o Brasil. Com você, leitor, assumo o compromisso de continuar a construir essa história, acreditando no desenvolvimento do país. Boa leitura!

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RUMOS - 4 – Janeiro/Fevereiro 2013

REFLEXÃO Victor Leonardo de Araújo

Financiamento de longo prazo, BNDES e Tesouro Nacional EM DIA Marina Mendes

Sobre marcas e o desafio de se manter relevante EXTREMO SUL Desembolsos

Agricultura em alta AMAZÔNIA Expansão

Novo nicho de mercado OPINIÃO Delfim Netto

Não está engessado INOVAÇÃO Luiz Antonio Elias

Brasil é palco para a ciência mundial ARTIGO Financiamento

Cooperativismo de crédito e agropecuária REPORTAGEM Funding

Captação reforça operações às MPEs PANORAMA Ignacy Sachs

A atualidade do ecodesenvolvimento CENÁRIOS DO RIO Investimento

Rede em crescimento ENTREVISTA Regina Madalozzo

Exemplo a ser seguido MICRO E PEQUENAS Sociedades de Garantia de Crédito

Os desafios do crescimento

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FOMENTO LIVROS


REFLEXÃO CRÉDITO

Financiamento de longo prazo, BNDES e Tesouro Nacional Noel Joaquim Faiad

Victor Leonardo de Araújo Professor Adjunto da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (victor_araujo@terra.com.br).

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esde 2008, o Tesouro Nacional tem reforçado o funding do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mediante operações de subscrição de títulos da dívida pública que já totalizam R$ 312 bilhões. O montante das operações e seus impactos sobre a dívida bruta do setor público serviram de pretexto para trazer novamente para a agenda do debate o papel desempenhado pelo Estado brasileiro, particularmente por meio do seu banco de desenvolvimento. Criado em 1952, o BNDES (na época ainda sem o "S") teve a tarefa de prover o financiamento de longo prazo para viabilizar a formação bruta de capital necessária aos anseios do desenvolvimento econômico, e até hoje cumpre esse papel. Se por um lado o banco significou a solução para o problema crônico da inexistência de instituições provedoras de recursos a longo prazo, por outro a economia brasileira sempre se ressentiu da inexistência de fontes privadas nesta modalidade, e jamais conseguiu desenvolvê-las a contento. Esse ressentimento voltou a ocupar a agenda econômica após as recentes operações envolvendo o Tesouro Nacional e o banco. Até o ano de 2008, os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ainda constituíam a primazia das operações passivas do BNDEs, mas a incapacidade de expandir estes recursos na velocidade que o ciclo recente de expansão econômica demandava levou à gradativa substituição pelos recursos do Tesouro, que, em junho de 2012, já respondiam por mais de 53% das operações passivas do banco. Os argumentos contrários são de diversas naturezas – os principais são de ordem ideológica, questionando a dimensão da intervenção do Estado brasileiro, mas se travestem de argumentos técnicos, centrados no custo fiscal das operações envolvendo Tesouro e BNDES. As operações do Tesouro têm ocorrido em um contexto bastante peculiar da economia brasileira, qual seja, de expansão sem precedentes dos mercados de capitais no Brasil. Em 2012, as captações nas modalidades de renda fixa e variável totalizaram R$ 139 bilhões. Entretanto, os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) revelam que apenas uma fração muito pequena desse total é destinada ao investimento para ampliar a capacidade produtiva da economia. O mercado de capitais brasileiro continua curto-prazista e quando opera em modalidades de longo prazo, os recursos são prioritariamente captados para o mercado imobiliário.

O setor bancário privado, por sua vez, reproduz a mesma tendência: entre os cinco maiores bancos privados em operação, nacionais ou estrangeiros, a parcela das operações de crédito com prazo superior a cinco anos sequer chega a dois dígitos, já levando em consideração o financiamento habitacional e a aquisição de automóveis. Qualquer que seja o diagnóstico para a atrofia dos canais privados de financiamento de longo prazo existentes, é necessário reiterar duas coisas. A primeira é que mudanças estruturais demandam tempo, e a curto e médio prazos a economia brasileira não poderá prescindir da principal instituição do seu Sistema Nacional de Fomento (SNF), que é o BNDES. Isto quer dizer que o desenvolvimento econômico brasileiro também não poderá prescindir das operações de capitalização realizadas pelo Tesouro Nacional sob pena de financiar o investimento em bases frágeis. Críticas de ordem microeconômica à atuação do BNDES e das demais instituições constituintes do SNF são bem-vindas e salutares, e todos os que se preocupam com os rumos do país têm o dever de fazê-las: muitas vezes os recursos são destinados às empresas de grande porte; a setores que reforçam o caráter regressivo da estrutura produtiva brasileira; e são concentrados nas regiões e cidades mais ricas do país. Mas, do ponto de vista macroeconômico, a conclusão é óbvia: o Brasil não dispõe de mecanismos privados para financiar o seu processo de desenvolvimento, e continuará por muito tempo dependendo dos mecanismos públicos, e se desejar acelerar a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) a curto ou médio prazos terá de seguir fortalecendo as instituições públicas que compõem o SNF, mormente o BNDES. O segundo ponto a se reiterar é que a agenda que chama o setor privado a contribuir para o financiamento de longo prazo é bem-vinda e pertinente, mas deve ser distanciada das ideologias que colocam o mesmo em um patamar hierarquicamente superior ao setor público. Os mecanismos privados de financiamento do investimento podem perfeitamente ser complementares aos mecanismos públicos, sem substituí-los. Convém sempre lembrar que a oferta privada de recursos financeiros, seja ela por meio de bancos ou por meio de mercados de capitais, é pró-cíclica, e sempre se retrai (em alguns casos muito fortemente, como em 2008-9) nos momentos de crise e reversão do estado de confiança dos agentes econômicos, e por isso não se pode prescindir de instituições públicas financeiras pujantes.  

RUMOS - 5 – Janeiro/Fevereiro 2013


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ENTREVISTA

Antonio Carlos Sampaio Quintiliano

Por Thais Sena Schettino

PLANEJAMENTO

Foco na erradic A Desenvolve, Agência de Fomento do Estado de Alagoas, utiliza o financiamento como ferramenta para redução da pobreza e para promoção do desenvolvimento local. Nesta entrevista, o presidente da instituição, Antonio Carlos Quintiliano, aponta a importância das parcerias e do planejamento para alcançar tais objetivos.

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umos – Ao olhar o portfólio da Agência, percebe-se que a promoção do desenvolvimento regional é uma das preocupações da instituição, como, por exemplo, o incentivo aos Arranjos Produtivos Locais. Como a Desenvolve vem atuando nesse sentido? Quintiliano – A Desenvolve tem uma característica diferencial das demais agências de fomento do país, pois ela não nasceu com o objetivo de ser apenas direcionada para o crédito, mas visa montar estratégias de desenvolvimento, principalmente voltadas para projetos que tenham a função de formalizar e organizar os pequenos e médios empreendedores, para a geração de emprego e renda. Os trabalhos elaborados em prol do fortalecimento dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) têm muito essa função, tratando-se do maior programa de desenvolvimento aos pequenos negócios do governo de Alagoas. Durante o ano de 2011, houve uma reformulação no que diz respeito a esse programa, nas questões estratégicas de gestão, e toda uma nova forma de trabalho foi estruturada com o apoio da Desenvolve e, agora, são executadas pela Secretaria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento Econômico, em parceria com o Sebrae Alagoas. Essa reforma na metodologia das atividades fez com que o programa ganhasse mais força, tendo como exemplo a criação de mais cinco arranjos em 2012. Hoje, o programa contempla diversos seguimentos da economia, que se dividem em ações dentro dos 18 APLs do estado, que englobam atividades como: ovinocaprinocultura, fruticultura, mineração, tecnologia da informação, apicultura, piscicultura, turismo, dentre outros segmentos.

Rumos – São apenas três anos de operação, mas a Desenvolve já viabiliza diversos programas. Quais os números da agência hoje? Quintiliano – A Desenvolve realiza diversas ações de fomento, que estão contempladas nos 11 projetos de desenvolvimento em andamento. Todos os projetos são voltados para a inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável. A exemplo disto, temos o programa de Apoio aos APLs de Baixa Renda, que contemplou, através de um edital, 16 instituições, entre cooperativas e associações, com um investimento total de R$ 5 milhões. Já o Programa de Fortalecimento das Microfinanças de Alagoas, que foi iniciado por meio do primeiro Edital de Microcrédito, investiu aproximadamente R$ 2,5 milhões em cooperativas de crédito em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Outro projeto de destaque é o Alagoas Cidadã, que tem o foco na redução da pobreza da população, no qual já foram beneficadas mais de quatro mil pessoas e 750 empreendimentos. Ainda falando em números, a agência liberou, somente em 2012, um volume de crédito de R$ 2 milhões, que contemplaram, principalmente, pequenos empreendimentos comerciais. Esse setor produtivo deteve 88% das operações realizadas pela instituição, com investimento de aproximadamente R$ 1,3 milhão. Rumos – A agência tem parcerias importantes com organismos internacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Qual o papel dessas instituições no desenvolvimento dos projetos/programas da financiadora?

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Ivo Gonzalez

Victor Brasil

ação da pobreza Formado em engenharia civil pela Universidade Federal de Alagoas, Quintiliano tem mestrado em Finanças pela Universidade Pública de Évora, em Portugal, e pós-graduação em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas.

Quintiliano – A parceria com organismos internacionais é de extrema importância para a Agência de Fomento de Alagoas, tendo em vista que ela nasceu e foi estruturada a partir das parcerias formadas entre o governo do estado e instituições de desenvolvimento de todas as partes do mundo. Dentre estas organizações, há uma forte ligação com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, por meio do Fundo Multilateral de Investimentos (BID/Fumin), que nos ajudou na montagem da nossa Unidade Executora de Projetos. Além dele, contamos com o apoio da Agência Espanhola de Cooperação para o Desenvolvimento (Aecid), do Banco Mundial (Bird), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), e de outros organismos que foram responsáveis pela montagem da nossa estratégia de atuação e fortalecimento institucional. Esse apoio continua, e procuramos fortalecê-lo sempre, pois o consideramos fundamental. Rumos – Dentre as linhas de fomento, há um mix de produtos que atendem tanto a orientação para os negócios do turismo (como a Economia da Praia) quanto para a produção rural. Como a agência coaduna as vocações do estado? Quintiliano – Além dos projetos idealizados por nossos técnicos, a agência trabalha dentro e de acordo com o planejamento estratégico do RUMOS - 7 – Janeiro/Fevereiro 2013


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ENTREVISTA

Antonio Carlos Sampaio Quintiliano

estado de Alagoas que contempla o período 2011-2022, e compreende 25 projetos estruturantes e ações de erradicação da pobreza extrema. Nesse programa, denominado Alagoas Tem Pressa, a Desenvolve participa nas ações de fortalecimento das linhas de crédito para micro e pequenas empresas; apoio à inserção no mercado de trabalho e o empreendedorismo; e apoio à descentralização do investimento através da reestruturação do programa de Arranjos Produtivos Locais do estado. Outra questão

Rumos – Quais são as ações ou os projetos previstos para 2013 a serem implementados pela Desenvolve? Quintiliano – Os projetos já em desenvolvimento precisam ter continuidade e, nos próximos meses, iremos colaborar e coordenar alguns outros, principalmente em parceria com as Secretarias de Estado da Agricultura e do Trabalho, Emprego e Qualificação Profissional. Além disso, vamos fortalecer as parcerias já existentes com as prefeituras municipais e aproveitar as futuque deve ras oportunidades para captar ser bastante explorada novos projetos que favoreçam o desenvolvimento regional sustenem 2013 é o fortalecimento tável. No caso do crédito, queredo empreendedorismo mos focar em nichos específicos de algumas cadeias produtivas. focado na inovação.

Rumos – Essa forte interlocução com as necessidades do estado aparece na nova linha de crédito para o transporte complementar. Qual a expectativa da agência com essa nova linha de financiamento e sua interação com as Rumos – Que outras medidas secretarias e agências do estado? o senhor considera fundamenAs empresas devem Quintiliano – Esta é mais uma polítais para acelerar o processo de se centrar na inovação, tica pública do governo do estado, desenvolvimento de Alagoas? apoiada pela Desenvolve, que busQuintiliano – O estado de Alapois este cenário só vai ca organizar e formalizar esse tipo goas está com a casa arrumada, ser modificado caso elas de transporte em Alagoas. O projeequilibrado do ponto de vista fisto foi realizado por meio de uma licical e administrativo, além disso, saiam do “quadrado” e tação pioneira no país, que contemestá apto para pleitear a inclusão passem a fazer algo além plou mais de 800 permissionários em qualquer programa do goverdo transporte público complemenno federal e parcerias com orgado “mais do mesmo”. tar. Nessa ação, a Desenvolve está nismos internacionais. Mas, mesinserida com a linha de crédito, em mo assim, a atual situação de Alaparceria com a Agência Reguladora goas não difere dos demais estade Serviços de Alagoas (Arsal), e dos da federação, onde há granconta ainda com o apoio do Sindides dificuldades para investimencato dos Transportadores Completos com recursos próprios, sendo mentares de Passageiros de Alagoas (Sintracomp/ AL). O esse um dos principais impedimentos para um ritmo maior objetivo é financiar 50% das outorgas liberadas pelo estado. de desenvolvimento. Estamos trabalhando para que essa situCom menos de um mês de lançada, a linha já beneficiou 200 ação não continue bloqueando o ritmo de crescimento. Hoje, clientes, que juntos somam um valor de R$ 357 mil em crétrabalhamos para mudar o perfil concentrado que existe na dito. Essa procura comprova a nossa participação e a total economia alagoana, que está fortalecida apenas em alguns contribuição com as políticas de atuação estado. setores produtivos. Outra questão que deve ser bastante explorada, em 2013, é o fortalecimento do empreendedorisRumos – A agência realiza várias ações voltadas para o mo focado na inovação, que vemos como uma das saídas para o desenvolvimento do estado. As empresas devem se centrar pequeno empreendedor. Ele é o público-alvo? Quintiliano – Digamos que eles sejam parte do nosso públina inovação, pois este cenário só vai ser modificado caso elas saiam do “quadrado” e passem a fazer algo além do “mais do co preferencial, porém, além dos pequenos empreendedores, também temos dado apoio aos grandes. Como a economia alamesmo”. goana tem evoluído bastante e passa por um bom momento, acompanhando o ritmo de crescimento do nordeste, que é Rumos – Como o senhor avalia o trabalho que vem sendo desenvolvido pela ABDE, que congrega e representa superior ao resto do país. Logo, surgiram empreendimentos novos, os quais, acreditamos, estão dando um impulso para a o Sistema Nacional de Fomento, o qual a Desenvolve é integrante? economia alagoana e são de fundamental importância para alavancar o estado. E é por isso que temos o objetivo de levar o Quintiliano – Acho muito importante essa associação e nova estratégia adotada pela ABDE de fortalecimento do Siscrédito e o fomento aos milhares de alagoanos, que ainda estão à margem da inclusão produtiva, e dos milhares de tema Nacional de Fomento. Por acreditar e crer no trabalho coordenado por esta instituição é que nós da Desenvolve parempreendedores que precisam de financiamento para fortalecer seus negócios. ticipamos e apoiamos ativamente esse processo.  RUMOS - 8 – Janeiro/Fevereiro 2013



Noel Joaquim Faiad

EXPERTISE

Vinicius Bogéa Câmara

RUMOS - 10 – Janeiro/Fevereiro 2013


CONCORRÊNCIA

Nome próprio Por Ana Luisa Gider

A marca é um ativo, que inclusive pode ser dado como garantia em financiamentos. Para falar sobre a importância de se obter o registro de determinada marca para o futuro de uma empresa, a Revista Rumos conversou com Vinicius Bogéa Câmara, diretor de Marcas do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). Ele explica que a marca deve ser um símbolo da missão e dos valores das instituições, e refletir sua evolução ao longo do tempo. “Com o passar dos anos é natural que ocorram alterações e a nova marca deve contemplar essas mudanças. Esta é uma estratégia interessante, desde que reflita uma real renovação de valores”, aconselha.

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ma marca pode ser definida como sinal distintivo, visualmente perceptível e suscetível de registro, que identifica e distingue produtos e serviços de outros análogos, de procedência diversa. Assim, o trabalho do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) é evitar que haja mais de um produto idêntico ou assemelhado com a mesma marca. “O que está por trás do sistema de propriedade intelectual, de forma geral, é uma noção de equilíbrio concorrencial. Ainda assim, muitas empresas e instituições não compreendem seu real valor e, por isso, não registram suas marcas”, observa o diretor de Marcas do Instituto Vinicius Bogéa Câmara. Estas, diferentemente das patentes, podem valer eternamente. Uma patente dá ao seu inventor o direito de exclusividade de uso e permite a cobrança de royalties sobre aquela inventividade humana por 20 anos. Ao fim desse período, a criação torna-se de domínio público, ou seja, o “pulo do gato” torna-se patente para toda a sociedade. No caso das marcas é importante haja uma renovação de 10 em 10 anos, pois ela reflete conceitos que não necessariamente se relacionam diretamente com os produtos ou serviços prestados. Um exemplo bastante conhecido é o da Coca-Cola, que existe há mais de 100 anos e se renova periodicamente. Neste caso, a marca tornou-se um ativo muito mais valioso do que o produto em si, tornando-se uma marca “notoriamente reconhecida”. As primeiras propagandas eram focadas nos seus benefícios para a saúde do consumidor, até surgir o “Enjoy Coke”. Daí em diante, houve um descolamento entre a marca e o produto, passando a fazer parte de um pequeno grupo de marcas de alto renome, em que a fama é tão grande que ultra-

passa seu nicho original, impregnando todos os campos mercadológicos. Ainda que não haja concorrência direta, torna-se impossível dissociar outro produto ou serviço da marca famosa. Por isso, a legislação brasileira (Lei nº 9.279/96) prevê proteção especial nesses casos independente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil, em razão de seu conhecimento notório. Reconhecimento – Quando se registra uma marca, adquirese o direito de exclusividade de uso e de sua comercialização. No limite, esse direito pode ser explorado para sempre, desde que renovado decenalmente. “Nosso sistema é atributivo de direito, ou seja, a marca nasce com o registro. Por isso, com alguma frequência temos casos frustrantes de empresários que criaram sua marca e a usam há mais tempo, tendo realizado investimentos e construído uma reputação, mas perdem o direito ao uso porque outro solicita o registro antes deles”, alerta Vinicius Câmara. Em princípio, o INPI concede o registro para quem faz o pedido primeiro. A lei prevê exceções, o chamado direito a precedência, que se aplica a quem usava a marca há mais de seis meses, com boa-fé. “Infelizmente, o empresário que é surpreendido com o registro do concorrente – válido, legítimo e legal – é aquele que não é atento a processos e prazos, e acaba por ter que tirar a marca dos seus produtos e serviços, gerando enorme prejuízo”, lamenta o diretor. Segundo Vinicius Câmara, os empresários brasileiros ainda têm pouca consciência das vantagens que o registro traz. “Além do direito de excluir terceiros – um direito negativo no sentido de que exclui seus concorrentes do uso deste sinal ou de qualquer sinal que induza à

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EEXPERTISE

Vinicius Bogéa Câmara

confusão ou associação com a sua marca –, esse sinal distintivo agrega valor, podendo até mesmo ser oferecido como garantia, ou ser comercializado através de franquias”, exemplifica. Para que o registro seja concedido, o pedido (ou depósito) é analisado por examinadores, que representam a figura do consumidor médio. Ao comparar dois sinais, eles consideram tanto os sinais em si, como a quais produtos se destinam. Se as logos forem distantes ou se forem semelhantes, mas se destinarem a consumidores distintos, mercados diferentes, canais de divulgação diversos, não há possibilidade de confusão, engano ou conflito. Nesse caso, ambos podem conviver.

Agilidade e conscientização – Em 2005, o INPI instalou um sistema de depósitos de marcas on line que, além de facilitar o processo, tornou-o de 35 a 40% mais barato. Hoje um pedido de registro para um pequeno empresário, pessoa física ou instituição sem fins lucrativos custa menos de R$ 1.000, incluindo o pedido inicial, a taxa de expedição do certificado de registro (quando aprovado) e a taxa decenal. Isso incrementou em 15 a 25% os pedidos para micro e pequenas empresas nos últimos quatro anos. Para dar conta do aumento da demanda e agilizar o processo, o instituto chamou 259 concursados, entre examinadores e pessoal técnico-administrativo. Atualmente são cerca de mil funcionários, além de 200 colaboradores para atender a todo o Brasil. “Em breve realizaremos outro concurso para aumentar de forma expressiva o número de examinadores e conseguir entregar um registro de marca em até seis meses e de patente em um ano”, avisa Câmara. Para o diretor, as instituições financeiras associadas à ABDE, bem como o Sistema S, têm um papel de grande importância, pois trabalham muito próximos aos micro, pequenos e médios empresários, destaca Câmara. Para ele, isso tem se mostrado fundamental, sobretudo pelo conjunto de atividades que o INPI tem feito em favor da conscientização da importância do registro junto a esse público. Mais de oito mil pessoas foram capacitadas nos últimos cinco anos por meio de capacitações presenciais e on line. “Os cursos são realizados através de mais de 100 acordos de cooperação para formar multiplicadores”, explica. Isso inclui secretarias de desenvolvimento, de indústria e comércio de todo o Brasil, os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) das universidades etc. “Em virtude desse trabalho ativo de conscientização realizado pelo INPI, o volume de depósito de marcas vem crescendo num ritmo médio de 10 a 12% ao ano”, afirma Câmara. O instituto é, hoje, o 6° maior receptor de marcas do mundo, com cerca de 150 mil pedidos ao ano. Há seis anos esse número girava em torno de 90 mil.

Instituições financeiras – Vinicius Câmara afirma que é um engano acreditar que instituições financeiras, sejam elas comerciais ou de fomento, não precisem proteger suas marcas por aparentemente não terem concorrentes. “É a marca que orienta o consumidor, que referencia o mercado. Isso é especialmente importante para as instituições que gozam de confiança e solidez. É preciso estar sempre vigilante, pois esta imagem

já consolidada pode ser aproveitada indevidamente por outros, como consultorias, serviços de gestão financeira ou contábil, ou mesmo uma instituição financeira privada que oferece empréstimos a aposentados”, exemplifica. Nesse caso, se a pessoa não tiver muita instrução, pode associar a marca com um banco sólido, com respaldo governamental, confundindo e prejudicando o consumidor. “É o que nós chamamos de concorrência parasitária, ou seja, o aproveitamento de uma imagem já construída e consolidada por terceiros”, explica. Por essa razão, ele recomenda que, em momentos de revisão da identidade de qualquer entidade, seja realizada uma consulta envolvendo todos os funcionários da instituição para

Um exemplo bastante conhecido é o da Coca-Cola, que existe há mais de 100 anos e se renova periodicamente. Neste caso, a marca transformou-se um ativo muito mais valioso do que o produto em si, tornando-se uma marca “notoriamente reconhecida”.

identificar se a marca consegue, de algum modo, expressar os valores e a imagem institucionais. Também é preciso questionar se a gestão da marca é eficiente, pois a organização precisa estar apta a identificar casos de quem queira “pegar carona” nesta marca, pondo em risco a força da marca e da própria instituição. Existem formas mais e menos sutis de fazer isso, mas é preciso estar alerta. Recentemente, o INPI negou um pedido a uma empresa de serviços contábeis cuja marca proposta era muito semelhante à do INSS. Os examinadores consideraram que a imagem foi escolhida deliberadamente, com o intuito de desfrutar da reputação já existente pela seguridade social. Marca Lusófona – Embora existam sistemas de propriedade intelectual globais mais antigos, a convenção da União de Paris, de 1883, tornou-se um dos tratados comerciais internacionais mais sólidos e eficazes em vigor. Na época havia grandes exposições universais e o capitalismo avançava de tal forma que os produtos e serviços começavam a alcançar um nível de circulação global muito intenso. Locomotivas, manufatura, telégrafo, o mundo começava a se conectar. Esta intensificação comercial entre países abriu a possibilidade de cópias de marcas e outros atos de concorrência desleal. “Nesse tratado, assinado pela maior parte dos países, incluindo o Brasil, todos se comprometem

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a respeitar determinadas obrigações. Ainda assim, os sistemas de registro permanecem sendo nacionais, exceto no caso das marcas de grande renome. Portanto, quem quiser registrar uma marca ou patente, precisa fazê-lo em cada um dos países em que deseja proteção”, esclarece Câmara. Vale a pena mencionar que, no caso de patentes, o examinador avalia três quesitos: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Como a pesquisa que gera a inovação já era feita de modo cooperativo e global há bastante tempo para não haver multiplicação de esforços, surgiram alguns institutos e mecanismos de proteção transacional. Em 1997, a União Europeia criou um escritório regional comunitário com sede na

Espanha só para marcas. Ele garante, com um só pedido de registro, um título único de proteção em seus 27 Estadosmembros. No caso das patentes, existe o Escritório Europeu de Patentes, com um modelo muito parecido com o de marcas, embora neste caso elas possam ser desafiadas em cada país. Há também a iniciativa dos institutos de propriedade intelectual dos países do Cone Sul em favor da integração regional que ruma, ainda que lentamente, para a criação de uma marca regional sul-americana de cooperação e integração na área de patentes e de marcas (o Prosur). Os países africanos de língua francesa criaram a Organização Africana de Propriedade Intelectual, que concede um certificado válido em todos esses paísesmembros. A Organização Mundial de Propriedade Intelectual, com sede na Suíça, tem um tratado chamado Protocolo de Madri, do qual o Brasil ainda não é signatário. Ele simplifica e desburocratiza o processo do pedido de marca, concentrando-o e solicitando, de uma só vez, os países em que ele quer depositar a marca. “De certa forma, o que se faz é uma triagem e a distribuição para os países que ele está designando depósito. Além de simplificar o procedimento, desobrigando o empresário de registrar em cada país, também torna mais simples, rápidos e baratos os procedimentos administrativos de renovação,

mudança de nome, alteração de endereço, entre outros”, avalia o diretor do INPI. A análise, no entanto, continua a ser feita por cada nação, de acordo com sua legislação. O Brasil caminha para aderir ao Protocolo de Madri movido pelo clamor da indústria, já que a integração e a regulamentação atendem essa demanda de não duplicar esforços. No caso das marcas, o interesse é outro. A pesquisa realizada para conceder ou não o registro é sempre nacional, mas a integração econômica tende a promover a aglutinação em blocos também no comércio. O Brasil tem intensificado o comércio com a África, com os países árabes e com o Cone Sul. O registro integrado das marcas por meio de uma porta única de entrada favorece a integração comercial. “É esse o caso da Marca Lusófona, proposta em 2007, que consiste em um depositante fazer um só pedido que valha nos sete países de língua portuguesa existentes no mundo”, adianta o diretor. Em um primeiro momento, não se espera harmonizar as leis, apenas os procedimentos, com vistas a reduzir custos e tarefas administrativas, além de unificar o prazo para emissão do título. Com o tratado, também vislumbra-se um efeito pedagógico, pois os países africanos de língua portuguesa carecem de muitos recursos e estrutura. “Além dos evidentes benefícios econômicos, é importante construir um espaço político e técnico da propriedade intelectual nos países de língua portuguesa que hoje não têm muita expressão”, defende Câmara. O projeto ultrapassa o âmbito da propriedade intelectual, na medida em tem motivações de ordem cultural, linguística e até histórica. "Isso fortalece nossa identidade lusófona, o que é muito bemvindo, e que vem tomando corpo nos últimos anos”, opina. A proposta ainda está sendo construída no âmbito dos institutos de propriedade intelectual e seus ministérios – de Desenvolvimento, Indústria e Comércio no Brasil, e da Justiça em Portugal – para depois ser encaminhada ao Itamaraty com o devido embasamento técnico. “Estamos trabalhando na elaboração de um documento que alinhe um sistema integrado de marcas lusófonas e estamos muito próximos de encaminhá-lo formalmente ao governo federal brasileiro para que a proposta seja debatida em nível diplomático”, explica o diretor do INPI. Para Vinicius Câmara, tão fundamental quanto construir a Marca Lusófona é o Brasil se inserir nos tratados internacionais já existentes, principalmente o Protocolo de Madri. “Para o exportador, por exemplo, a vantagem é inegável, pois entra-se em outro mercado com maior poder de venda. Um exportador de coco a granel agrega valor ao seu produto se este for vendido embalado, com uma marca atraente e que ainda ajuda a ‘vender’ o Brasil”, observa ele. Tomando o caso das Havaianas, que reciclou sua marca e ganhou o mundo, se ela quiser ampliar ainda mais suas exportações, objetivando, em hipótese, o mundo árabe, é necessário ir a cada país para garantir sua marca. “Se o Brasil assinar o Protocolo de Madri, ela fará isso somente uma vez. Por isso, a Confederação Nacional da Indústria tem sido uma parceira muito importante neste processo,” afirma o diretor. A adesão a esses tratados provocará um aumento da demanda de marcas estrangeiras no Brasil que, ao contrário do que muitos pensam, não provocaria uma avalanche de registros de marcas do exterior. “Há algum tempo, isso ameaçava a indústria nacional. Hoje 80% das marcas depositadas são brasileiras e o país compete com muita força no mundo,” garante. 

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EM DIA MARKETING

Sobre marcas e o desafio de se manter relevante Divulgação

Marina Mendes Publicitária formada pela University of Houston, no Texas e coordenadora de Branding na Tátil Design de Ideias

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arca é um jeito de ser e pensar que diferencia uma empresa de todas as outras. Enquanto a Coca-Cola fala de felicidade e diversão de maneira lúdica − “Abra a felicidade” − a Harley Davidson fala de rebeldia e liberdade de maneira irreverente. Cada marca representa uma promessa. Ela surge como uma técnica para identificar propriedade. Depois, com o passar do tempo, vai se tornando garantia de qualidade e origem de produtos e manufaturas. Hoje, a marca pode até ser o ativo mais valioso de uma empresa. Segundo o ranking “Best Global Brands 2012”, publicado pela Interbrand, a marca Coca-Cola – primeira do ranking – vale mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) da Bolívia, Panamá e Paraguai juntos: US$ 77.839.000,00. As marcas que seguem, Apple, IBM e Google, são outros exemplos usados frequentemente para falar sobre construção consistente de marca. Logo, as companhias já perceberam que as empresas que valorizam a gestão das suas marcas aumentam seu poder de negociação, reforçam vínculos com as pessoas, fortalecem sua reputação. Transformam colaboradores e clientes em embaixadores da marca. Há casos de afinidade e identificação tão significativos, que a personalidade das pessoas e das marcas acabam se misturando. Por isso é bastante comum ver motoqueiros que tatuam a marca da Harley Davidson na própria pele como uma forma de expressar seus sentimentos. Da mesma forma que alguns consumidores da Apple têm orgulho de se autodenominar “applemaníacos”. Muito mais do que um mero símbolo, as marcas são uma síntese do que a empresa tem de mais valioso e estratégico: seu propósito, sua essência, seus valores, suas competências e sua forma particular de ver e atuar no mundo. Uma das consequências disso é que as marcas que têm um relacionamento estreito com seus consumidores têm mais credibilidade, e logo mais facilidade para atravessar crises. A filosofia de gestão que coloca a marca no centro de todas as decisões corporativas da empresa é o que chamamos de branding. Ainda uma incógnita para muitos, o assunto é relativamente novo no Brasil e, muitas vezes, é confundido com uma simples revitalização do logotipo, da identi-

dade visual, mas vai muito além. Por isso, o branding, mais que uma atividade ou projeto, é um processo que se aprofunda na história da empresa, no seu princípio fundador, no contexto em que está inserido e no entendimento dos seus públicos de interesse. Faz uma leitura ampla e sensível do espírito da época. Depois, constrói valor aos poucos, com consistência para todos os públicos de interesse e em todos os seus pontos de relacionamento. E se antes as marcas eram construídas basicamente na comunicação, hoje são inúmeros os canais de relacionamento: ponto de venda, pessoas, mensagens, imagens, uniformes, ações, patrocínios e por aí segue uma longa lista, que varia de acordo com o negócio. Tudo o que se imaginar é passível de comunicar uma mensagem, de carregar uma associação de ideias. Nem todas as companhias conseguem realizar as mensagens que veiculam. As marcas que comunicam valores em mensagens institucionais, mas falham ao “entregar” consistência em outros pontos de contato, soam falsas e não conseguem segurar a atenção do consumidor por muito tempo. Para exemplificar, vamos pensar em um caso hipotético: se uma empresa investe verba para comunicar que acredita em construir um mundo melhor por meio de produtos e de relações sustentáveis, mas não investe em coleta seletiva e não trata bem seus funcionários, verá que todo esse gasto de comunicação terá sido em vão. Cada vez mais, as pessoas têm acesso a informação e podem cobrar as promessas que são feitas. Acreditamos que o segredo está na sintonia entre a alma da marca − onde mora sua essência, seu propósito, sua competência essencial − e seu corpo − suas expressões e experiências, produtos e serviços. As marcas que atingem esse equilíbrio são as marcas verdadeiramente vivas, que constroem significados, orientam organizações, criam comunidades. Que se mantêm relevantes porque conseguem fazer diferença na vida de cada um. Quem têm autoconhecimento, estão conectadas com os princípios fundadores e são capazes de se adaptar ao passar do tempo, sempre verdadeiras. Depois de tudo isso, fica a reflexão: no cenário de tantas incertezas em que vivemos, com tantas mudanças de paradigmas acontecendo, sua marca tem capacidade de se adequar sem perder relevância?  

RUMOS - 14 – Janeiro/Fevereiro 2013



SUL EXTREMO

Desembolsos Por Thais Sena Schettino

Agricultura em alta O apoio à produção agrícola foi um dos destaques de 2012 nos desembolsos do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). O balanço do desempenho da instituição mostra diversidade de setores financiados, com crescimento de 67% no crédito ao setor industrial e de 35% para as micro e pequenas empresas.

Jonas Rosa/Nova Aliança

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e a previsão se confirmar, a safra brasileira de grãos, em 2012, terá atingido o recorde de 163,7 milhões de toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número reflete um aumento de 2,2% em relação ao registrado em 2011, quando a produção chegou a 160,1 milhões de toneladas. Além do trabalho dos produtores e da situação climática, uma boa safra também é reflexo das condições favoráveis de financiamento, que permite aos agricultores se preparar para o plantio e para a colheita. Nesse ramo merece destaque a atuação do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que, no ano passado, praticamente dobrou o crédito para o setor agropecuário, com 6.511 operações contratadas, contra 4.161 realizadas em 2011. “O anúncio da seca nos Estados Unidos, mais o câmbio favorável elevaram o preço das commodities”, analisa José Hermeto Hoffmann, diretor administrativo do BRDE. Para ele, as cooperativas agrícolas, que têm destaque na carteira do banco, tiveram um papel importante na produção e comercialização de grãos e podem ter um crescimento ainda maior neste ano. “Vislumbramos novos mercados na Ásia para a proteína animal, o milho e a soja. E há sinais positivos na economia norte-americana”, avalia Hoffmann indicando que 2013, no fomento à agricultura, pode ser ainda melhor. “A pujança do setor agropecuário evidencia-se no crescimento dos desembolsos feitos para as cooperativas. Se forem analisadas as contratações, nós praticamente dobramos”, completa Hoffmann. Faz parte do histórico do BRDE o suporte para o surgimento e desenvolvimento de cooperativas na Região Sul, tanto que, em 2012, 19 cooperativas

Construção da nova unidade industrial da Cooperativa Vinícola Nova Aliança, em Flores da Cunha (RS).

gaúchas tiveram financiamentos no valor total de R$ 180 milhões. Uma das que foram contempladas com o crédito foi a Cooperativa Vinícola Nova Aliança, de Flores da Cunha (RS), com projeto no valor total de R$ 83 milhões, sendo R$ 55 milhões financiados pelo BRDE. O recurso viabilizou a implantação de uma nova unidade industrial de 34,8 mil m² para fabricação de vinhos, sucos e espumantes. “Vamos ter uma grande mudança no perfil de produtos que temos hoje: vendemos mais de 50% da produção a granel e com a indústria poderemos fracionar a mercadoria e entrar em outras linhas de montagem, utilizando o vidro, cartonado e pet. Isso

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Crédito da foto

SXC

Legenda da foto

Em 2012, a safra brasileira cresceu 2,2% em relação ao ano anterior, atingindo a marca de 163,7 toneladas. Os financiamentos agrícolas contribuem para a melhoria da produção, pois permitem que o agricultor planeje o plantio e colheita.

notadamente o Programa de Sustentação do Investimento (PSI)”, avalia o presidente do BRDE, Carlos Henrique Horn. Para o diretor Hoffmann também contribuiu para o bom resultado da instituição uma melhora nos processos de gestão do banco. “Um fator que ajudou foi a organização da própria instituição, em tempo de concorrências mais acirradas, estamos colhendo os frutos de uma proposta mais ousada de busca de clientes, com formação de quadros. Um processo já desenvolvido no ano anterior, mas que reflete hoje”. Já no setor industrial, houve um crescimento de 67% nos desembolsos; para as empresas de comércio e serviços, o Demais operações – O bom desempenho do banco não se aumento foi de 60%; somente no Rio Grande do Sul, para a reflete apenas no setor agrícola. As aprovações de crédito do indústria de transformação, o banco fechou contratos no BRDE para a Região Sul avançaram 78%, atingindo a marca valor de R$ 312 milhões. As indústrias de alimentos (R$ 101 de R$ 3,9 bilhões. No Rio Grande do Sul, as aprovações de milhões) e bebidas (R$ 75 milhões) receberam a maior parte financiamentos bateram recorde, chegando a R$ 1,1 bilhão. destes recursos, seguidas da indústria coureiro-calçadista (R$ “Os resultados são determinados por uma série de fatores, 40 milhões). devendo-se destacar uma maior proatividade do BRDE As micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) combinada a incentivos de crédito do governo federal, também tiveram destaque nos desembolsos do Rio Grande do Número de operações contratadas Sul ao receberem a maior parte dos recursos contratados pelo 2010 2011 2012 BRDE no ano passado. Foram R$ 263 milhões, o equivalente a Valor Valor Valor nº de nº de nº de médio médio médio 35% do total de contratações. operações operações operações R$ mil R$ mil R$ mil Estes projetos ganham Operações relevância pelo significado e 445 3.975 4.898 358 7.667 383 contratadas importância socioeconômica Agropecuária 3.245 121 4.161 125 6.511 158 para as comunidades onde Indústria 244 2.942 310 1.852 393 2.441 atuam. O ano de 2012 também Infraestrutura 230 1.150 121 2.158 251 1.262 marcou o início da operação Comércio e serviços 283 1.716 360 1.298 512 1.241 pelo BRDE do BNDES FGI, fundo garantidor para apoio às MPMEs.  Fonte: BRDE. Superintendência de Planejamento. Elaboração da assessoria da presidência. Valores a preços correntes. significará um aumento no portifólio de produtos.”, explica Alceu Dalle Molle, presidente da Cooperativa Nova Aliança. O projeto abre a possibilidade de agregação de valor à safra, seja na produção de suco ou vinho e “dessa forma melhorar a remuneração do cooperado. Essa mudança da matriz de comercialização é uma chance de remunerar melhor e de nos tornarmos mais competitivos”, complementa o presidente. A Nova Aliança reúne cinco cooperativas e congrega aproximadamente 800 famílias.

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AMAZÔNIA

Por Solange Bagdadi

Empresário do ramo de supermercados, com o apoio do Banco da Amazônia, investe em panificação para suprir a demanda interna e exportar para países andinos

Novo nicho de U

m horizonte de prosperidade. Foi o que aconteceu quando o empresário José Gonçalves da Silva resolveu expandir sua empresa – um supermercado – e montar uma indústria de panificação. Para abraçar o novo sonho, ele procurou o Banco da Amazônia para viabilizar o projeto, por intermédio da modalidade Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), do Programa de Financiamento do Desenvolvimento Sustentável, voltada para médias e grandes empresas. De acordo com o superintendente do Banco da Amazônia (Regional Rondônia), Valdecir Tose, essa linha de financiamento é bastante flexível, se adapta às necessidades do empreendimento e se destina a projetos desde a construção civil até treinamento de funcionários e publicidade. “A modalidade é voltada para médias e grandes empresas, visto que o banco tem uma linha própria para microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP). Esse programa possui estruturação diferenciada devido aos juros baixos, prazos adequados ao retorno do investimento, entre outras vantagens”, informa.

Juros menores –Tose destaca ainda que podem ser beneficiadas por essa linha as empresas de todos os segmentos de indústria, comércio e prestação de serviços já em atividade ou constituídas recentemente, sem carência para pleitearem recursos do fundo. “Os pré-requisitos exigidos são situação econômico-financeira equilibrada, viabilidade econômica do projeto, capacidade de pagamento e demonstração de que o negócio pode agregar vantagens socioambientais”. Segundo ele, a linha possui os menores juros existentes no mercado, com 3% ao ano e bônus de adimplência para as operações de investimento contratadas até 30 de junho de 2013. “Se consi-

derarmos uma inflação prevista de 5,5%, ao ano, para 2013, teremos juros reais negativos de 2,5% ao ano. Não há indexador atrelado a taxa de juros como Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) ou qualquer outro, portanto, é taxa de juros limpa”, ressalta o superintendente. Os prazos de amortização e carência são adequados à necessidade de retorno do investimento, podendo chegar a 20 anos de prazo total e até quatro de carência. Não há incidência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o que também é um diferencial relevante considerando que este imposto é de 1,5%, ao ano, além dos 0,38% por liberação. Modalidades de financiamentos como o FNO se adaptam bem ao perfil empreendedor de José Gonçalves da Silva, cliente do Banco da Amazônia desde 1985. A parceria de longa data começou um pouco depois da chegada à região, em 1975, dos irmãos João e José, vindos do interior do Paraná. Eles logo se tornaram comerciantes: montaram uma pequena mercearia e continuaram a trabalhar juntos até 1989, quando decidiram separar a sociedade. João ficou com o Supermercado Irmãos Gonçalves, e José, com o Supermercado Gonçalves. Agora, José, que já tem nove lojas em Rondônia e outra em Rio Branco, no Acre, teve a iniciativa de montar uma indústria de panificação. A ideia é atender ao consumo interno e a clientes como as grandes construtoras instaladas no estado. O projeto de Gonçalves consiste na implantação de uma indústria de panificação, aproveitamento, seleção e fracionamento de alimentos, bem como uma cozinha industrial para produção de pães, bolos, tortas, panetones, manipulação de frutas, legumes, frios, entre outros. Também atuará na fabricação de alimentos prontos para atendimento dos restaurantes e lanchonetes da rede de supermercados. A empresa terá 16 mil metros quadrados, com alta capacidade de armazena-

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Expansão

Fotos: SXC

O empreendedor José Gonçalves começou no ramo de supermercados e, com o financiamento, parte agora para a fabricação de pães e o processamento de frutas.

mercado mento, arquitetura moderna e planejada, e funcionará 300 dias por ano. O empreendedor explica que o mercado do segmento de panificação e massas na região oferece um mix de produtos muito incipiente, que existe demanda por produtos de qualidade e praticidade, mas o mercado não está atendendo. “Identificamos esta oportunidade e decidimos investir na indústria de massas e panificação. Ela atenderá as nove lojas próprias da rede e também ao mercado de Rondônia, Acre e Amazonas”, diz Gonçalves. Segundo ele, a planta industrial proporcionará à rede padronização, ganho de escala, redução de custos, elevação de produtividade e levará a empresa a ser mais competitiva no mercado onde atua. “Além de atender as nossas lojas, a indústria servirá ao mercado em geral, proporcionando aumento expressivo de qualidade, padrão e inovação nas regiões próximas”. Fabricação – Segundo o empresário, o empreendimento deve gerar quase 500 empregos, entre mão de obra fixa e variável e mais 850 postos de trabalhos indiretos. Ele informa também que estão previstas ações sustentáveis na implantação da indústria, tais como aproveitamento do lixo orgânico para formação de gás natural, a fim de ser usado no próprio negócio. O empreendimento irá atender os municípios de Porto Velho, Ariquemes, Jaru e todos no eixo da Rodovia BR–364 (Acre-Amazonas), e iniciar exportação para os países andinos. As obras começaram em julho de 2012 e o prazo de entrega é para julho deste ano. Para o Banco da Amazônia, este projeto industrial é de alta relevância devido à união de produtores rurais de alimentos locais, ao reaproveitamento de frutas, verduras e legumes, ao fracionamento de alimentos e à panificação em larga escala. A introdução destes produtos com a fabricação na região irá

reduzir custos locais e aliar renda e crescimento sustentável para a região. Segundo o superintendente Valdecir Tose, o Banco da Amazônia é uma instituição financeira que estimula o desenvolvimento sustentável e que tais investimentos na Amazônia, em sua maioria, passam pelo processo de análise do banco. “O banco atua para que a região se desenvolva com políticas e empreendimentos que prezem o apelo ambiental, social e cultural da região, além da visão financeira do empreendimento. O projeto em questão traz aspectos de geração de emprego e renda, diferenciais tecnológicos e de sustentabilidade que foram pontos relevantes para o apoio financeiro da instituição”, destaca. Em se tratando do FNO, o Banco da Amazônia teve recorde de R$ 4,3 bilhões na aplicação de créditos, somando o total de R$ 14,3 bilhões apenas nos últimos cinco anos. Desde que o fundo foi criado (1989) até hoje, a instituição já aplicou R$ 22 bilhões em recursos do Fundo. Os investimentos de crédito de fomento, realizados em toda a Região Amazônica, atingiram neste mesmo período o valor de R$ 31,5 bilhões, sendo R$ 6,8 bilhões aplicados no ano de 2012, o que corresponde a mais de 70% de todo o crédito de fomento investido na região. Para José Gonçalves, o Banco da Amazônia representa um verdadeiro parceiro para os empreendedores da região. “Trata-se de um banco que está muito próximo do empresário e do investidor, que tem interesse mútuo no desenvolvimento da região. É uma instituição que possui produtos que podem atender e viabilizar os investimentos. É um parceiro que, uma vez instituído, o relacionamento é de longo prazo, uma relação que permeia desde a implantação, passando pela consolidação do negócio até as ampliações necessárias ao crescimento. É um banco que tem os melhores produtos para nossa região.”, avalia. 

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OPINIÃO INDÚSTRIA

Não está engessado Marcelo Correa

Antonio Delfim Netto Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

O

ano começou com um tiroteio entre a área econômica do governo, claramente na defensiva, e a oposição procurando demonstrar que o crescimento em 2013 estava irremediavelmente comprometido, isto “em razão do fracasso” das medidas de estimulo à retomada da produção industrial e da queda dos investimentos programados pela administração federal para acelerar a reconstrução da infraestrutura. Para enfrentar o tiroteio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, encurtou suas rápidas férias em janeiro e convocou uma conferência de imprensa no final do mês, quando declarou enfaticamente: 1º) que a política fiscal é anticíclica, mas responsável; 2º) que a taxa Selic não está “engessada” e que a escolha dos instrumentos para o controle da meta inflacionária é tarefa do Banco Central e, por fim, mas não menos importante, 3º) que “a taxa de câmbio não é instrumento para baixar preços”. Afirmações mais do que necessárias para reduzir o “ruído” que se estabelecera sobre a política econômica nas primeiras semanas do ano. Ruído que disseminou um pessimismo exagerado sobre o crescimento de 2013, incompatível com as medidas já tomadas pelo governo: a redução da taxa de juros real, a sustentação do crédito pelos bancos estatais, o corte da tarifa de energia, a desoneração da folha de pagamentos, a mudança da política cambial, a perspectiva de leilões inteligentes para a aceleração das concessões das obras de infraestrutura e a boa safra que se aproxima. O ministro da Fazenda mostrou que o efeito conjunto da desoneração da folha e da relativa melhoria cambial está mudando a nossa capacidade de concorrer no mercado internacional, como já é visível em alguns setores (até na produção de bens de capital, onde é grande a capacidade ociosa). A recente intervenção do Banco Central no mercado de câmbio causou um estresse nos exportadores que acreditam na política do governo e tomaram o risco de voltar a procurar seus clientes. É ridículo afirmar, como tinha sido feito, que como a “mudança cambial não aumentou as exportações é melhor usá-la no controle da inflação”, ignorando que a destruição produzida por anos de insensata supervalorização não pode ser superada em alguns meses de política econômica correta.

Os números do PIB de 2012 mostram que o medíocre resultado que tanto nos incomoda tem múltiplos ingredientes, mas a “causa causans” foi o mergulho da produção industrial que, desde 2008 (quando cresceu 3,1%), vem flutuando para reduzir-se a menos 2,7% em 2012. De 2008 a 2012, a produção industrial praticamente não cresceu, contra 4,3% entre 2004 e 2008. Honestamente, é preciso perguntar o que mudou entre os pontos médios dos dois períodos (2006 e 2009) em matéria de instituições, de legislação, de política de crédito, de produtividade da infraestrutura, de absorção de novas tecnologias? Ouso dizer que praticamente nada, nem mesmo a taxa de inflação (5,4% ao ano entre 2004-08 e 5,6% entre 2009-12) ou a política fiscal. O déficit nominal médio foi de 3% do PIB no período 2004-09, contra 2,7% de 2009-12, e a relação Dívida Líquida/PIB caiu, monotonicamente, de 47% em 2006, para 36% em 2012. Entre os dois períodos mudou apenas uma coisa: a taxa de câmbio como se vê abaixo: Média no período 2004-09 Média no período 2009-12

2,22 R/US$ 1,85 R/US$

Supondo uma inflação média mundial de 2% ao ano, a valorização da taxa de câmbio real entre os pontos médios foi da ordem de 25%. O saldo em conta corrente com relação ao PIB saltou de positivo 0,81, para negativo de 2,07. Entre 2009 e 2012 acumulamos um déficit em conta corrente de quase 180 bilhões de dólares! É claro que uma taxa de câmbio relativamente desvalorizada e estável não é tudo. Mas a política governamental não parou aí. A redução do custo da energia, por exemplo, é fundamental. Há alguma desoneração fiscal permanente. Se concretizar-se a melhoria da qualidade dos leilões, como o governo anunciou no dia 6 de fevereiro, e estimularmos a competição, o mercado fixará as menores taxas de retorno compatíveis com a qualidade dos serviços de infraestrutura especificada pelo governo, o que abrirá espaço para o investimento privado. Não há razão para acreditar que em 2013 não poderemos acelerar o crescimento para 3,5% e 4%, sem criar maior tensão inflacionária e sem aumentar o déficit comercial.  

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INOVAÇÃO

LUIZ ANTONIO ELIAS

Por Edilene Rodrigues

Brasil é palco para Desde que foi criado há mais de dez anos, pela primeira vez o Fórum Mundial de Ciência (FMC) será realizado fora da Europa. Sua 6ª edição ocorrerá em novembro, no Rio de Janeiro. Nesta entrevista, o secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luiz Antonio Elias, antecipa questões a serem discutidas no encontro.

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Augusto Coelho/Ascom do MCTI

umos – Quando nasceu a intenção de trazer o Fórum para o Brasil? Elias – Esse programa vem sendo trabalhado desde 2008. A intenção era trazer o fórum para o Brasil em 2011, data transferida depois para 2013. Nesse meio-tempo, houve a transição de governo e achamos melhor adiar a realização por dois anos. Esse intervalo permitiu aos atores do sistema nacional de Ciência e Tecnologia (C&T – MCTI, ABC, SBPC, CNPq, MRE, MEC-Capes, Finep, CGEE, Andifes, Consecti, Confap e representação da Unesco no Brasil) criarem uma ambiência, decidindo pela realização de sete encontros nacionais.

(FAPs), a Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e todo o conjunto de outras instituições que foram parceiras, ou seja, houve uma rede construída que se voltou para o mesmo objetivo, que era o de trazer o Fórum. Além disso, foi feito um trabalho de cooperação internacional muito forte, com os países latino-americanos, em especial os da América do Sul, tendo a participação significativa da Unesco. Todo esse trabalho foi condensado num manifesto apresentado na edição 2008/2009 do Fórum, em Budapeste, na Hungria. Nesse documento se caracterizou muito bem o avanço obtido não só na capacidade de conhecimento, mas também de se ter conseguido fazer com que esse conhecimento gerasse produtos e processos cada vez melhores. Toda essa movimentação e envolvimento positivo contribuiu para consolidar a vinda do Fórum para o Brasil.

Rumos – Esses encontros já estão em andamento? Elias – Sim. Já ocorreram os de São Paulo, Belo Horizonte, Manaus, SalvaElias acredita que o Brasil foi escolhido como dor e Recife. Fecharemos o ciclo em sede pelo fato de ter avançado na área Rumos – Hoje, o conhecimento junho em Brasília. Para cada encontro científica, ocupando a 13ª posição no ranking gerado na Academia não chega à elegemos temas, mas fechou-se um mundial na produção de artigos em periódicos outra ponta do processo, que é o conentendimento de que deveríamos ter internacionais. sumo, daí um dos entraves da inovaquatro temas que seriam transversais e ção no Brasil. O senhor acredita que sendo palco do estariam presentes em todas as reuniões preparatórias: EducaFórum essa realidade tende a se modificar? ção e Ciência; Difusão e Acesso ao Conhecimento, Ética na Elias – O Fórum não tem esse objetivo. Ele é um debate entre Ciência e Ciência para o Desenvolvimento Sustentável e academias de ciência em torno de uma temática. A de 2009, Inclusivo. por exemplo, tinha um olhar sobre a questão da ética e educação, da questão da ciência como uma ferramenta para a reduRumos – O reconhecimento internacional que a ciência ção das desigualdades e integração entre os povos. Então, o nacional conquistou nos últimos 25 anos contribuiu de Fórum tem uma visão mais ampla, é um debate internacional alguma forma para trazer o Fórum para o Brasil? sobre as atividades científicas. Creio que a ciência nacional Elias – A ciência cresceu no país, ganhou qualidade e hoje tem avançou muito, o mesmo não ocorrendo em alguns setores relevância. A interiorização das universidades públicas elevou empresariais, que ainda veem o recurso aplicado em P&D o padrão do conjunto da ciência. Mas há outros fatores que como custo e não como investimento. Ambos se diferem no também reputo sejam relevantes, como o de aglutinar as prinprazo e tempo. Se olharmos o recurso em curto prazo, investir cipais instituições no Brasil, a Sociedade Brasileira para o Prona máquina é mais fácil para atualizar o processo produtivo. gresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciência Assim, creio que o gargalo não está na relação direta entre a uni(ABC) sendo centrais, mais as fundações de amparo à pesquisa RUMOS - 22 – Janeiro/Fevereiro 2013


a ciência mundial versidade e a empresa. Está em outro conceito, as questões de resultado no curto. médio e longo prazo que se pode obter. Além disso, há o risco da incerteza, não se podendo perder de vista o cenário da competitividade, do mercado externo. Hoje, por exemplo, há crédito facilitado, prazos razoáveis de carência, juros extremamente baixos, vantagens e ambiência para construir o processo inovativo. Rumos – Então, por que ele não ocorre? Elias – Não é porque falta ciência. O país hoje tem ciência produzida no mesmo patamar, na mesma dimensão, na mesma capacidade de outros países. Existe um gargalo no setor industrial e ele precisa ser identificado. O fórum não pretende responder a isso completamente, mas objetiva responder como o avanço da ciência poderá permitir o fortalecimento da cooperação; como o avanço da ciência proporcionará a redução das assimetrias, da inclusão social; o que, na verdade, esse elemento da ciência pode contribuir efetivamente para a educação, ou seja, para formar a sociedade. Rumos – A meta do governo é chegar a 2015 aplicando 1,8% do Produto Interno Bruto em C&T, bem como estimular um incremento da participação privada, hoje no patamar de 0,4%. Sediar o Fórum contribui com esse cenário? Elias – Com certeza. Brevemente a presidenta Dilma Rousseff lançará um robusto programa para inovação. Ele cobre todas as instituições, cria e demonstra ao empresário uma ambiência favorável e permite que se tenha uma visão clara de todo os instrumentos já à disposição como crédito com subvenção; os projetos corporativos universidade/empresa; produz ou melhora algumas possibilidades de dedução de custos eventuais, dá trato diferente a despesas relacionadas à P&D, e algumas perspectivas da Lei do Bem no tocante ao tópico de pesquisador na empresa. O governo está fazendo o seu dever de casa no tocante à inovação e pretende cada vez mais fazer o seu dever de casa no tocante à ciência. Rumos – Estamos seguindo o caminho já trilhado por outros países? Elias – Não existe nem um país no mundo que se desenvolveu sem ciência. Tanto que no último programa do presidente Obama visando a melhorar a competitividade da economia norte-americana, ele cita três pontos chaves, que considera centrais para que os Estados Unidos retomem o seu processo de crescimento. Não é só a redução de sua dívida, não são só as questões relacionadas a balança comercial ou ao câmbio, mas ressalta a ciência. Portanto, o primeiro ponto é que o país se fez por ciência, ou seja, os EUA são o que são hoje pelas grandes universidades que têm e pela possibilidade de gerar conhecimento, que transborda para a sociedade. Dois, a educação. É preciso que os EUA retomem o processo de formar mais mão de obra. O país está percebendo que existem alguns setores com gargalo muito profundo, alguns na fronteira do conheci-

mento. E três, a infraestrutura. Os EUA têm uma logística de infraestrutura invejável que quer melhorar cada vez mais, isso para escoar a produção, para facilitar para o empresário, diminuir custo de transação. Desta forma o presidente Obama está gerando externalidade, que é positiva para que se aumente a competitividade e, certamente, melhore os custos de produção das empresas e é isso que estamos fazendo no Brasil. Olhar a ciência na sua perspectiva maior, interiorizar, integrar o território brasileiro. Essa visão nós já temos há alguns anos, quando projetos dos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação se expandiram para o interior do país, das universidades. Se isso é um fato, o laboratório permitirá que se eleve conhecimento. É a ciência no eixo dinâmico nesse processo, ou seja, gerar conhecimento. Rumos – Um dos reflexos seria a geração de patentes? Elias – Outra questão que falo sempre e que também é um equívoco. Universidade não precisa fazer patente, ela precisa disseminar conhecimento. Em minha opinião isso é um equívoco. Os EUA e alguns outros países têm uma visão correta desta questão. Rumos – A patente ficaria por conta dos empresários? Elias – Sim. Quanto mais patentes nas universidades mais se cercea o conhecimento. A patente é um monopólio.

Rumos – Isso significa que precisamos reformular a mentalidade do empresariado? Qual a dificuldade em convencê-lo? Elias – Exato. Para que ele possa gerar mais conhecimento, mais cooperação, pagar por isso, ou seja, investir e não considerar isto um custo. Os Marcos Legais são mais difusos e talvez, eu diria, eventualmente mais complexos para a universidade, no sentido de que possa integrar, internalizar os recursos e conseguir gerar produtos, diferentemente do que é para o empresariado. Hoje, a ambiência no Brasil é extremamente favorável. Temos instrumentos, à semelhança dos produtos internacionais. Em 2003/2004 fizemos um levantamento. Tínhamos na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), dentro do que se chama Campo da Inovação, dois instrumentos, que eram a TJLP mais 5% e a Lei de Informática. E hoje temos mais de 10, 12 instrumentos, compras governamentais, com margem de preferência de 25%, a Lei do Bem, que este ano deve superar os R$ 4 bilhões, o aprimoramento da Lei de Informática, a Lei de Inovação, a ambiência para que o empresário se entenda direto com a universidade; as deduções que podem ser auferidas. Temos ainda a parte relacionada a alguns setores considerados estratégicos, como a área de petróleo e gás, enfim, as deduções fiscais que são feitas, as exonerações agora em áreas centrais como a de software para tecnologia de informação e comunicação. Isso é decisivo para que o empresário tenha mais capacidade de resposta e inclusive diante de uma crise internacional. Desta forma, a ambiência no Brasil hoje é extremamente favorável. 

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ARTIGO

Financiamento

Cooperativismo de crédito e agropecuária Neste artigo, o presidente da Confederação Nacional das Cooperativas do Sicoob, José Salvino de Menezes, mostra a importância da democratização do crédito para o desenvolvimento econômico-sustentável, com especial atenção para o financiamento rural.

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licerçado em valores de ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade, o cooperativismo tem papel fundamental no fortalecimento do país e no seu desenvolvimento econômico sustentável. O cooperativismo de crédito, em particular, se destacou nos últimos anos como importante mola propulsora do desenvolvimento da economia brasileira, sobretudo, a partir de 2002, com a implementação de marcos regulatórios adequados aos seus princípios. Com esses avanços, foi possível o reconhecimento do setor como instrumento eficaz na oferta de produtos e serviços financeiros à população com dificuldades de acesso ao Sistema Financeiro Nacional, o que proporcionou a sintonia com o programa de inclusão finan-

ceira, tão incentivado nos últimos tempos. Além disso, as instituições cooperativistas de crédito têm se evidenciado como importantes instrumentos para a difusão de novas tecnologias no setor financeiro. Atualmente, as cooperativas de crédito são, em muitas regiões do país, responsáveis pela geração de renda e emprego, além de fazerem um elo entre produtores rurais e governo com a oferta de linhas de repasse para a produção agropecuária. O crédito rural, uma das modalidades oferecidas pelas cooperativas de crédito, se consolida como um importante instrumento de incentivo à produção, desenvolvimento e modernização do setor agropecuário, além de promover a expansão da economia e a produtividade do país, o que proporciona melhoria significativa nos indicadores sociais.

Financiamentos rurais e agroindustriais no Sicoob Financiamentos

Dez/2009

Dez/2010

Dez/2011

Nov/2012

3.397.516.210

3.925.941.311

4.869.649.153

5.726.383.709

Milhões

Financiamentos rurais e agroindustriais

% Crescimento

7.000

30% +24%

6.000

+18%

5.000

20%

+16%

4.000

15%

3.000

10%

2.000 1.000

25%

3.398

3.926

Dez/2009

Dez/2010

4.870

5.726

5% 0%

Dez/2011

Fonte: Sicoob Confederação

RUMOS - 24 – Janeiro/Fevereiro 2013

Nov/2012


Divulgação Divulgação

Para Salvino, as cooperativas de crédito são, em muitas regiões do país, responsáveis pela geração de renda e emprego, além de fazerem um elo entre produtores rurais e governo com a oferta de linhas de repasse para a produção agropecuária.

Logo, no setor agrícola, elas desempenham papel fundamental para a expansão e a democratização de crédito no segmento que hoje é responsável por uma grande parcela do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. As cooperativas prestam auxílio aos agricultores em todos os estágios da cadeia produtiva. Em contrapartida, os associados tornam-se agentes transformadores das comunidades onde aquelas atuam, possibilitando melhorias sociais e econômicas na região. Um bom exemplo do desenvolvimento por meio do cooperativismo de crédito é a trajetória da cidade de São Roque de Minas, localizada na Serra da Canastra, em Minas Gerais. A cidade não possuía uma agência bancária há 14 anos e vivia uma forte decadência econômica devido à dificuldade de manutenção de agentes financeiros na localidade. Com o

Sobre o Sicoob O Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) possui mais de dois milhões de associados em todo o país e está presente em 23 estados brasileiros e no Distrito Federal. É composto por mais de 500 cooperativas singulares, 15 cooperativas centrais e a Confederação Nacional de Cooperativas do Sicoob (Sicoob Confederação). Integram, ainda, o Sistema, o Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) e suas subsidiárias, provedoras de produtos e serviços especializados, como consórcio, previdência e fundos de investimento. A rede Sicoob é a sexta maior entre as instituições financeiras que atuam no país, com mais de dois mil pontos de atendimento. As cooperativas inseridas no Sistema oferecem um amplo portfólio de produtos e serviços para seus associados e possibilitam acesso a recursos para empréstimos em geral e investimentos, tanto para pessoas físicas como jurídicas, com juros mais acessíveis.

advento da primeira cooperativa de crédito na região, em 1991, o município passou a reorganizar-se e expandir a economia local com a oferta de empregos e a ampliação do setor agropecuário. São Roque é um modelo de como as cooperativas devem se posicionar para se fortalecer no mercado. É importante que elas sejam capazes de competir, exercendo o papel social com gerência administrativa de qualidade e planos estratégicos bem definidos. O crédito rural é regido pelo Decreto n° 58.380, de 10 de maio de 1966, que o define como suprimento de recursos financeiros a produtores rurais, ou a cooperativas para aplicação exclusiva em atividades que se enquadrem no regulamento. Esse tipo de crédito tem o objetivo de fortalecer economicamente pequenos e médios produtores, estimular os investimentos rurais, favorecer o adequado e oportuno custeio da produção e a comercialização de produtos agropecuários. Tem por finalidade, também, o aumento da produção local com vistas às questões socioambientais, além de estimular os investimentos nas áreas rurais. O Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), o maior do país, oferece opções de financiamento que atendem da agricultura familiar à empresarial, com linhas de custeio, comercialização e investimento. Disponibiliza, ainda, flexibilidade necessária para contribuir com a competitividade na cadeia produtiva dos associados ao Sistema. Além disso, o Sicoob oferece um portfólio completo de produtos e serviços financeiros especializados: consórcio, previdência, poupança, fundos de investimento, entre outros. Nós últimos três anos, o Sicoob tem apresentado um crescimento contínuo na disponibilização de crédito rural. Em 2012, o crescimento do crédito ofertado para pessoa física e jurídica foi de 18% em relação ao ano anterior, com R$ 5,7 bilhões. Já em 2011 e 2010, o crescimento foi de 24% e 16%, com R$ 4,8 e R$ 3,9 bilhões, respectivamente. Além disso, o Sistema trabalha com linhas de repasse de recursos do governo federal como o Pronamp, BNDES, Funcafé e Pronaf.  

RUMOS - 25 – Janeiro/Fevereiro 2013


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REPORTAGEM

FUNDING

Por Wagner Concha

Captação reforça operações às MPEs O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) foi a primeira instituição de fomento do Brasil a captar no mercado nacional por meio de letras financeiras, após autorização do Conselho Monetário Nacional. A emissão faz parte da estratégia de expandir as operações com recursos próprios e reforçar os financiamentos às micro e pequenas empresas.

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Morgue Photo

planejamento estratégico do Banco de Poor’s, que representa a escala máxima permitida no Desenvolvimento de Minas Gerais país. Os títulos foram apresentados a cerca de 50 investi(BDMG) determina a necessidade de captadores, dos quais aproximadamente 20 adquiriram os ção no mercado, como forma de expandir as papéis. A elevada demanda durante a operação permitiu operações com recursos próprios. Por meio dessa estraa redução da taxa de juros da 1ª série. tégia, o banco tem buscado ampliar o seu funding, além Outra recente conquista do BDMG foi o duplo grau dos repasses do Banco Nacional de de investimento concedido Desenvolvimento Econômico e Socipor duas das mais conceitual (BNDES) e dos fundos estaduais do adas agências de classificagoverno de Minas. ção de risco de nível mundiA primeira grande operação resulal. Em novembro de 2012, a tante dessa nova diretriz foi a emissão avaliação da Standard & de R$ 350 milhões em letras financeiras Poor’s atribuiu ao BDMG (títulos de dívida semelhantes a debênrating de crédito BBB – para tures), concluída em dezembro de longo prazo em moeda 2012. O BDMG tornou-se a primeira estrangeira e local na escala instituição de fomento do Brasil a capglobal e br.AAA na escala tar no mercado nacional, por meio de nacional. A perspectiva de letras financeiras, após autorização do ambos é estável. No mês Conselho Monetário Nacional (CMN), As agências publicam análises e pesquisas seguinte, a Moody’s elevou que entrou em vigor em 1º de novem- sobre bolsa de valores, bancos e títulos. os ratings de emissor de lonbro do ano passado. Os recursos serão go prazo em escala global e usados principalmente para reforçar os financiamentos às moeda local (de Ba1 para Baa3), com perspectiva estámicro e pequenas empresas. vel, e de emissor de curto prazo (de Not Prime para Prime3). Os ratings de emissor de longo prazo do BDMG, na Novos investidores – Coordenada pelos bancos Espíescala nacional brasileira, também foram elevados (de rito Santo e J. Safra, a oferta dos títulos foi dividida em Aa2.br para Aa1.br) e têm perspectiva estável. duas séries: uma de R$ 100 milhões, com vencimento em A Moody’s elevou ainda o perfil de risco de crédito três anos, e outra de R$ 250 milhões, com vencimento individual do BDMG (de ba2 para ba1), reconhecendo a em cinco anos. A liquidação financeira ocorreu no dia 17 ampliação consistente das atividades de crédito do bande dezembro e obteve o rating AAA local da Standard & co e da base de clientes nos últimos dois anos. “A admiRUMOS - 26 – Janeiro/Fevereiro 2013


Morgue Photo

A classificação feita pelas agências de rating influenciam os negócios realizados nas bolsas de valores em todo o mundo, em especial na norte-americana, que funciona em Nova York.

nistração do BDMG tem conseguido executar seu plano de crescimento, ampliando a ordem do banco de incluir o financiamento de pequenas e médias empresas e municípios, juntamente com seu papel de agente de desenvolvimento para políticas governamentais do estado de Minas Gerais”, afirma a Moody's em relatório. Para o presidente do BDMG, Matheus de Carvalho, os graus de investimentos conquistados refletem a qualidade do trabalho realizado pelas recentes administrações do banco, que têm trabalhado na busca de alternativas de funding. “O grau de investimento também reconhece a qualidade da administração do seu principal acionista, o governo de Minas Gerais, e o seu apoio ao BDMG”, completa. Micro e pequenas empresas – Além do reconhecimento nas classificações internacionais, o banco também teve destaque no atendimento às micro e pequenas Desembolsos 2012 Desembolso total: R$ 1,43 bilhão Micro e pequenas empresas: R$ 326 milhões Médias empresas: R$ 200,74 milhões Grandes empresas: R$ 663,63 milhões Projetos de inovação (Pró-Inovação e Proptec): R$ 31,5 milhões Municípios: R$ 218,55 milhões

empresas. Em 2012, o banco desembolsou um total de R$ 1,43 bilhão. Foram atendidos 4.518 clientes no período, um aumento de 44% em relação ao ano anterior. A maioria (4.127 clientes) é de micro e pequenas empresas, para as quais o BDMG desembolsou R$ 326 milhões – um crescimento de 56% em comparação ao exercício passado – e pretende ampliar suas operações com os recursos captados na emissão das letras financeiras. Como parte da estratégia de atuar com maior presença junto a esse segmento, o banco desenvolveu o BDMG Web, um sistema inédito e inovador que busca facilitar o acesso ao crédito. Lançada em setembro do ano passado, a plataforma é uma iniciativa pioneira no mercado, uma vez que possibilita a obtenção de financiamentos de forma automatizada, por empresários que já são clientes e também por aqueles que ainda não são clientes do banco. Utilizada nas operações de empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões, a ferramenta analisa o crédito, determina as características do financiamento (de R$ 2 mil a R$ 300 mil) e emite o contrato em menos de uma hora. O sistema informa em tempo real o valor aprovado disponível e reduz o prazo de liberação dos recursos, de 48 dias para sete dias, em média. O BDMG Web inspirou a Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc) a criar o seu próprio sistema, o Badesc Fácil. Outras instituições, como a Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), o Banco Regional de Brasília (BRB) e o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) também conheceram o BDMG Web. 

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REPORTAGEM

EVENTOS

Por Carmen Nery

O ano de 2013 será decisivo para o país, pois é quando o Brasil recebe eventos de grande porte, como a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude. Pensando no que já mudou nas cidades para acolher essas atividades e no que virá em 2014 e 2016, a Rumos fez um mapeamento dos investimentos relacionados em três áreas diretamente ligadas ao suporte dos eventos: estádios, mobilidade urbana e capacitação. Já é possível ver legados para o futuro, mas muito ainda está por vir.

O Obras do presente

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mobilidade urbana é hoje o maior ponto de atenção – sobretudo após a exclusão de cinco projetos da matriz de responsabilidade da Copa de 2014 – na preparação do Brasil para os grandes eventos, que ganham impulso este ano com a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude. Para a Copa de 2014, o cronograma de construção e modernização dos estádios está relativamente sob controle e, mesmo que alguns deles não fiquem pronto a tempo, não vai ferir a exigência da Federação Internacional de Futebol (Fifa), que solicitou ao país oito estádios. O Brasil ofereceu 12 arenas que têm um investimento total de R$ 7,5 bilhões, com financiamento de R$ 3,8 bilhões. O total de investimentos previstos somente para a Copa de 2014 já soma R$ 25,58 bilhões. De acordo com o último balanço do Ministério dos Esportes, os recursos foram alocados em 12 estádios (R$ 7,5 bilhões), projetos de mobilidade urbana (R$ 9 bilhões), 30 aeroportos (R$ 6,8 bilhões) e sete portos (R$ 700 milhões). Também estão previstos investimentos nas áreas de segurança (R$ 1,9 bilhão), telecomunicações (R$ 400 milhões) e turismo (R$ 200 milhões). O balanço, divulgado em dezembro, mostra que os estádios da Copa já consumiram R$ 1,9 bilhão, cerca de 51% do total financiado. Apenas São Paulo, Porto Alegre e Curitiba ainda não receberam desembolsos de financiamento, que, no entanto, já foram aprovados. Os contratos foram assinados com Curitiba e Porto Alegre, enquanto São Paulo – que conta com uma operação indireta do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) – ainda depende da assinatura do contrato com o Banco do Brasil. Os estádios começaram a ser entregues com as inaugurações do Mineirão, em Belo Horizonte, e do Castelão, em Fortaleza, em dezembro de 2012. Outros quatro estarão concluídos para a Copa das Confederações, que acontece em junho deste ano: Fonte Nova, em Salvador; Mané Garrincha, em Brasília; Arena Pernambuco, em Recife; e Maracanã, no Rio de Janeiro. Os demais estádios devem ser entregues até seis meses antes da Copa de 2014: Arena da Baixada, em Curitiba; Arena Pantanal, em Cuiabá; Itaquerão, em São Paulo; Arena Amazônia, em Manaus; Beira Rio, em Porto Alegre; e Estádio das Dunas, em Natal. Os casos mais complicados estão em Natal, que em dezembro de 2012 tinha menos de 50% das obras concluídas; e Porto Alegre e Curitiba com pouco mais da metade das obras prontas. Financiamento – Os estádios são construídos com investimentos públicos, privados ou por meio de Parcerias PúblicoPrivadas (PPPs). Os recursos privados estão presentes nos estádios de São Paulo (R$ 820 milhões, 68 mil espectadores), Porto Alegre (R$ 330 milhões, 50 mil torcedores) e Curitiba (R$ 234 milhões, 43 mil pessoas). Os que receberam investimento público são os estádios do Rio de Janeiro (Maracanã, ao custo de R$ 882,9 milhões e capacidade para 79 mil espectadores), Brasília (R$ 1.015,6 bilhão, 73 mil lugares), Manaus (R$ 583,4 milhões, para 44 mil torcedores) e Cuiabá (Arena Pantanal, R$ 518,9 milhões, público de 44 mil pessoas). E, por fim, os que envolve-

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Marcelo Camargo/Abr

da, em 13 de janeiro de 2010, como compromisso dos governos municipais, estaduais e federal, após anúncio das 12 cidades-sede, previa 53 projetos de mobilidade urbana, totalizando R$ 9 bilhões de investimentos, sendo R$ 5 bilhões de financiamento federal e R$ 4 bilhões de investimento local. Estavam previstos dois Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) em Cuiabá e em Fortaleza, com investimentos de R$ 1,8 bilhão e capacidade para 20 mil passageiros/hora em mais de 35 quilômetros. Constavam também 15 projetos de BRT (Bus Rapid Transit, em inglês, sistema de corredores exclusivos para ônibus), com investimentos de R$ 3,5 bilhões nas cidades de Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Recife, Porto Alegre e Rio de Janeiro, e capacidade de 16 mil a 48 mil passageiros/hora em mais de 130 quilômetros. Além de 26 corredores e vias com investimentos de R$ 3,2 bilhões em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Cuiabá, Recife, Porto Alegre, Natal, Salvador e São Paulo. E mais dez empreendimentos de estações, terminais, centros de controle de tráfego e outros, totalizando R$ 500 milhões nas cidades de Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Porto Alegre. Diante da dificuldade de estados e municípios em licitarem as obras, especialmente pela falta de projeto executivo, seis projetos foram excluídos dos compromissos da Copa, cinco deles de mobilidade urbana. Sendo assim, não precisam mais ficar prontas até julho de 2014. O Grupo Executivo da Copa (Gecopa), do Ministério dos Esportes, previu ainda inclusão de oito obras viárias menos complexas e mais baratas do que os projetos de transporte de massa. Com as seis exclusões e oito adições, o valor total caiu para R$ 25,58 bilhões, ante R$ 26,3 bilhões do planejamento original. Entre as obras excluídas estão o projeto do corredor metropolitano de Curitiba, que custaria R$ 137,6 milhões; o monotrilho que ligaria a região norte ao centro de Manaus e o BRT da cidade, que custariam R$ 1,5 bilhão; o monotrilho de São Paulo, cujo investimento seria de R$ 1,8 bilhão; e a reestruturação da Avenida Engenheiro Roberto Freire, em Natal, obra de R$ 221,7 milhões. Todas as exclusões foram efetuadas a pedidos dos governadores destes estados. Em Brasília, o projeto do VLT, que ligaria o aeroporto e o terminal da Asa Sul, já havia sido excluído da matriz da Copa em setembro. A expectativa é que, embora tenham saído do projeto original, algumas dessas obras – como os monotrilhos de São Paulo e de Manaus – continuem a ser conduzidas. Em Manaus, é possível que as obras do monotrilho e do BRT sejam executadas agora com recursos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e fiquem prontas até o fim de 2015. Em São Paulo, a obra do monotrilho – que vai ligar o Aeroporto de Congonhas ao bairro do Morumbi, com custo estimado de R$ 2,8 bilhões – será executada apenas pelo governo de São Paulo e sua conclusão está prevista para o fim de 2014. Em Cuiabá, o VLT vai ligar o aeroporto de Várzea Grande ao bairro do CPA, na zona sul da cidade. A obra estará pronta em março de 2014. Na capital baiana, o BRT previsto para garantir o acesso do estádio ao aeroporto foi substituído por metrô e retirado da matriz da Copa. O Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de

para o futuro ram PPPs, incluem os estádios de Belo Horizonte (R$ 695 milhões, 62 mil espectadores), Salvador (R$ 591,7 milhões, 55 mil torcedores), Fortaleza (R$ 518,6 milhões, público de 64 mil), Recife (R$ 500,2 milhões, 46 mil espectadores) e Natal (R$ 417 milhões, 42 mil lugares). O BNDES foi o principal financiador da modernização dos estádios por meio do Programa ProCopa Arena. Na carteira atual do programa, todos os 11 pedidos de financiamento apresentados ao banco foram aprovados, no valor total de R$ 3,8 bilhões – o Distrito Federal não deu entrada com pedido. Dessas operações, nove já estão também contratadas, o que significa dizer que estão aptas a iniciar seu cronograma de desembolso, que já soma R$ 1,73 bilhão. Outras duas operações estão aprovadas, mas ainda não contratadas: R$ 131 milhões ao estado do Paraná para reforma da Arena da Baixada e R$ 400 milhões à Sociedade de Propósito Específico (SPE) Arena Itaquera S.A., para construção do estádio homônimo em São Paulo, por intermédio do Banco do Brasil. O financiamento ao Beira-Rio, em Porto Alegre, foi o último aprovado (veja o boxe). Mobilidade urbana – Mas, se por um lado o torcedor terá arenas modernas para assistir aos jogos, a forma como ele vai chegar aos estádios ainda é motivo de preocupação. A 18 meses do mundial de futebol, vários projetos de mobilidade urbana estão atrasados e aqueles que sequer chegaram a sair do papel foram excluídos, no final de dezembro, da matriz de responsabilidade da Copa, a pedido dos estados e dos municípios. A matriz assina-

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REPORTAGEM

EVENTOS

mobilidade urbana, portos e aeroportos que não estão diretamente relacionadas ao evento. “São obras que deveriam ser executadas independentemente de Copa e Olimpíadas para, por exemplo, modernização do parque aeroportuário. Para se ter uma ideia, o aeroporto de Atlanta tem mais fingers (plataformas de comunicação entre terminal e aeronave) do que todos os aeroportos brasileiros juntos”, alerta. Ele observa que a demanda por serviços aeroportuários vem crescendo com o aumento de renda da população, enquanto nosso parque aeroportuário ainda é basicamente dos anos 1970. “O governo foi audacioso porque tentou fazer com que os grandes eventos fossem catalisadores de investimentos. Quanto à mobilidade urbana, o fato de esses investimentos terem sido extraídos da matriz de responsabilidade não significa que eles não venham a ser executados. Essas obras já estão no planejamento da infraestrutura e vão ser concluídas porque são necessárias para o país e não apenas para esses eventos”, observa. Já Josef Barat, economista e coordenador do núcleo de estudos urbanos da Associação Comercial de São Paulo, diz que o país está, na verdade, perdendo a Matriz ousada – Para Pedro Trengrouoportunidade de promover uma grande se, professor do curso da Fundação Getúreestruturação urbana como as que ocorlio Vargas (FGV) “Fifa de Gestão de Marreram em Barcelona (Espanha), Lonketing e Direito no Esporte” e consultor dres (Inglaterra) e Montreal (Canadá). da Organização das Nações Unidas “No Brasil, o planejamento da Copa (ONU) para a Copa de 2014, o Brasil foi A Arena da Fonte Nova está quase pronta se restringe a estádios. Há o risco de se audacioso na elaboração da matriz de res- e poderá receber até 55 mil espectadores. repetir o que ocorreu nos Jogos Panponsabilidade ao incluir diversas obras de americanos no Rio de Janeiro, quando se construiu o Engenhão, um estádio moderno com um entorno tão horrível que os órgãos de segurança não têm como administrar grandes eventos ali. Distribuição dos recursos Na área de mobilidade urbana, aproveipor tipo de investimento taram projetos que já estavam em curso. Não estão sendo criadas concepções urbanísticas condizentes com a grandeSão Paulo Privado za desses eventos e que se traduzam no Porto alegre R$ 1,4 bi chamado legado da Copa e das OlimpíaCuritiba das”, analisa. Trengrouse observa ainda que é preciso criar condições para envolver a Público R$ 3,0 bi Brasília população, pois são apenas três milhões Rio de Janeiro de ingressos a serem comercializados Manaus para uma população de 200 milhões de Cuiabá habitantes. Ele lembra que todos os patrocinadores, além dos valores pagos à federação internacional, investem no país para potencializar a campanha. “O que precisamos agora é de investimentos para não deixar o povo de fora. O goverPPP B. Horizonte no não pode pagar bilhões para a Fifa e R$ 2,7 bi Salvador esquecer os torcedores brasileiros. Tem Fortaleza de haver investimentos para reunir as Recife pessoas em espaços públicos e criar toda Natal Os estádios têm investimento total de R$ 7,1 bilhões,com financiamento de R$ 3,8 bilhões uma atmosfera, senão o país estará atendendo apenas à Fifa e não à sua populaFonte: Ministério dos Esportes ção”, resume. Portal da Copa/ME

Freitas terá um total de 36,4 km e 20 estações com terminais de integração metrô/ônibus, visando a facilitar o acesso de passageiros. As obras iniciam neste trimestre, com prazo total para implantação de 36 meses. Entretanto, a entrega parcial do metrô está programada para ocorrer em 18 meses, quando o sistema metroviário começará a operar comercialmente. A Linha 1 do metrô, no trecho até o Acesso Norte, vai funcionar em operação assistida durante a Copa das Confederações. Já a Linha 2 irá operar plenamente após sua conclusão, ou seja, 36 meses após serem iniciadas as obras. Assim, o acesso do aeroporto à região norte de Salvador, que seria garantido pela Linha 2, não ficará pronto a tempo. No entorno da Arena Fonte Nova está sendo construído um sistema viário para a região, composto por dois viadutos, e estão em prosseguimento as obras do Projeto de Rotas de Pedestres. Juntas, as intervenções vão garantir acessibilidade e mobilidade para a região. A previsão é de que as obras sejam concluídas neste trimestre.

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Investimentos continuados – Além do ProCopa Arenas, o BNDES vem financiando as unidades da federação por meio do Programa de Apoio ao Investimento dos Estados e do Distrito Federal (Proinveste), para suporte a projetos que, apesar de não estarem ligados diretamente à Copa e às Olimpíadas, têm impacto para a população, especialmente na área de mobilidade urbana. O banco é o coordenador do programa e vai

emprestar diretamente R$ 11 bilhões e repassar R$ 6,2 bilhões ao Banco do Brasil (BB) e R$ 2,8 bilhões à Caixa. Em 2012, foram aprovadas 17 operações diretas pelo BNDES, cinco pela Caixa e 11 pelo B B. No fim de dezembro, o BNDES assinou com o governo de São Paulo o empréstimo de R$ 1,958 bilhão do Proinveste, a maior operação individual do programa. Os recursos irão

Rio de Janeiro – Com elevada taxa de ocupação – em média 100 eventos por ano –, o Maracanã passou por uma série de intervenções, algumas de caráter estrutural, para sediar a Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. As obras do interior e intramuros do estádio vão ser entregues em abril com a formalidade de liberação do estádio para a Fifa no dia 24 de maio. O torcedor vai assistir aos jogos de posição privilegiada e, como nos estádios americanos e europeus, ficará muito mais perto do campo. São 78.838 cadeiras,

Daniel Basil/Portal da Copa

A Arena Castelão, em Fortaleza, foi a primeira a ser inaugurada para receber a Copa das Confederações, este ano, e a Copa do Mundo, em 2014. O estádio tem capacidade para 64 mil pessoas e o investimento para a sua construção foi de R$ 518,6 milhões, sendo R$ 351,5 milhões de financiamento federal. O campo tem as dimensões de 105 metros de comprimento por 68 metros de largura e fica a uma distância de 10 metros da arquibancada. Já o novo Mineirão, que vai abrigar partidas da Copa das Confederações e as da Copa do Mundo de 2014, passa a ter capacidade para 62 mil pessoas. O governo de Minas aportou R$ 11,8 milhões. A maior parte dos recursos (R$ 654,5 milhões) veio de uma Parceria Público-Privada (PPP). Do total dos investimentos, o BNDES financiou R$ 400 milhões. Com mais de 90% de avanço físico na obra, a Arena Fonte Nova, em Salvador, já iniciou o plantio do gramado e tem previsão de entrega no primeiro trimestre. O estádio da capital baiana vai receber três jogos da Copa das Confederações e outros seis da Copa de 2014. Depois de pronta, a Fonte Nova terá cobertura com estrutura metálica leve, 2.100 assentos VIPs, 94 banheiros – sendo 23 para deficientes –, 39 quiosques de alimentação, restaurante panorâmico, área de imprensa, estacionamento coberto com aproximadamente duas mil vagas e um museu do futebol. Projetado para ser uma arena multiuso, o estádio também poderá receber shows musicais e outros eventos culturais.

Portal da Copa/ME

Construção e Modernização dos estádios

A Arena Castelão, em Fortaleza, foi o primeiro estádio a ficar pronto e tem capacidade para 64 mil torcedores.

incluídos os lugares disponíveis nos 110 camarotes, cada um com 25 assentos, em média. Cada camarote terá cerca de 80 metros quadrados e serão climatizados. Ao todo foram construídos 231 banheiros, sendo 67 destinados aos portadores de necessidades especiais. A nova cobertura do Maracanã também vai captar água da chuva para reutilização em uso não potável nos banheiros e contará ainda com painéis fotovoltaicos. Isso faz parte da certificação Leed (Leardership in Energy and Environmental Design), concedido a empreendimentos que apresentam alto desempenho ambiental e energético, em atendimento aos padrões internacionais. Haverá ainda um centro de controle, o BMS (Building Management System), que faz parte das recomendações da Fifa, composto por três salas. Uma delas será destinada ao monitoramento de imagens geradas por 360 câmeras com lentes ultrapotentes, espalhadas por todos os cantos do estádio, acompanhadas por monitores de TV de 42 polegadas, para garantir a segurança dos torcedores. Elas irão monitorar a multidão a partir da passagem pelas roletas.

O estádio do Maracanã foi totalmente reformado e deverá ficar pronto em abril. RUMOS - 33 – Janeiro/Fevereiro 2013


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EVENTOS

Portal da Copa/ME

Rio Olímpico – No Rio de Janeiro, segundo Roberto Ainbinder, diretor de Projetos da Empresa Olímpica Municipal, algumas obras de infraestrutura, de responsabilidade da prefeitura, foram antecipadas em relação ao que estava previsto no dossiê da candidatura olímpica. No Sambódromo – local da partida e da chegada da maratona, e da competição de tiro com arco –, a reformulação prevista para 2015 foi entregue em fevereiro de 2012, para o Carnaval. O Parque Olímpico, que será o coração dos Jogos Rio 2016, vem sendo construído por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP) que viabiliza a construção da infraestrutura de todo o parque e da Vila dos Atletas; dos três pavilhões que integrarão o futuro Centro Olímpico de Treinamento; do Centro Principal de Mídia e de um hotel. As obras começaram em julho de 2012. Para viabilizar a construção das demais instalações do Parque Olímpico – Centro Aquático, Centro de Tênis, Velódromo e a Arena de Handebol –, a prefeitura assinou um acordo de cooperação técnica com o governo federal. A União vai aportar os recursos e a prefeitura executará as obras. As licitações para escolha das empresas que desenvolverão os projetos básico e executivo já foram finalizadas. As obras estão previstas para começar no segundo semestre de 2013. No setor de transportes, o principal projeto é a implantação do novo sistema de ônibus expressos e de alta capacidade (BRTs). A integração dos BRTs com trens, barcas e metrô promoverá um aumento do uso de transportes de alta capacidade de menos de 20% para mais de 60%. A Transoeste, inaugurada em junho de 2012, diminuiu em 50% o tempo do trajeto entre os bairros de Santa Cruz e Barra da Tijuca. Com a finalização da Transcarioca, em 2013, o Aeroporto Internacional Tom Jobim terá uma opção de transporte rápido, em calha segregada, para seus passageiros. A Transolímpica reduzirá em 54% o tempo do percurso entre a Barra da Tijuca e Deodoro; enquanto a Transbrasil será um corredor expresso ao longo da Avenida Brasil. No total, mais de 1,6 milhão de pessoas serão beneficiadas por dia, número que supera o público atual total do metrô e dos trens urbanos. Já o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) circulará no Centro e na Região Portuária, com seis linhas Praia da Barra da Tijuca. O bairro e 42 estações. Com 30 km, abrigará a Vila Olímpica.

o VLT estará conectado a estações de metrô, trens, barcas, BRT, ônibus convencionais e ao aeroporto. Essa integração também vai reduzir a circulação de ônibus, diminuindo o trânsito. As ruas da Região Portuária já começaram a ser preparadas para receber o novo transporte. A previsão é de que a primeira etapa de instalação do VLT seja concluída em 2014. O governo do estado também programou uma série de investimentos na área de transportes. O maior deles é para a construção da Linha 4 do metrô que ligará a Barra da Tijuca a Ipanema. A partir de 2016, mais de 300 mil pessoas por dia serão transportadas e cerca de dois mil veículos por hora/pico serão retirados das ruas. Serão seis estações (Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alah, Antero de Quental, Gávea, São Conrado e Jardim Oceânico) e aproximadamente 16 quilômetros de extensão. O investimento soma R$ 7,5 bilhões do governo do estado e R$ 1 bilhão da concessionária. O metrô vai receber ainda 19 novos trens que serão entregues até março de 2013, investimento de R$ 320 milhões.

Portal da Copa/ME

para a Linha 5 (Lilás) do metrô paulistano, entre as estações Largo Treze e Chácara Klabin. O financiamento permitirá a construção de 11,5 quilômetros de trilhos e 11 estações de metrô. Atualmente, a Linha 5 transporta 275 mil passageiros por dia e a expectativa é de que as obras agreguem um total de 770 mil passageiros por dia.

A construção da Linha 4 do metrô permitirá o transporte de passageiros da Zona Sul para a Oeste, na Barra da Tijuca.

Os trens urbanos contarão com 90 novas composições, dos quais 30 já foram entregues para a operação, um investimento de US$ 166 milhões. Os outros 60 trens já foram licitados e os primeiros lotes começam a ser entregues no primeiro semestre de 2014, somando outros US$ 306,5 milhões. O sistema fluvial ganhará ainda nove embarcações, sendo duas barcas com capacidade para 500 passageiros e sete para até 2.000 passageiros – investimento de R$ 273.153.171,98. Jornada da Juventude – No rol dos grandes eventos que o Brasil irá abrigar, neste ano o país receberá o que é considerado o maior evento direcionado aos jovens, a 28ª edição da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será realizada de 23 a 28 de julho, no Rio de Janeiro, com a presença do novo Papa. O evento é maior do que a Copa do Mundo e as Olimpíadas juntas, devendo reunir, pelo menos, dois milhões de pessoas de cerca de 190 países. “O Rio de Janeiro – especialista em receber bem, como é a sua marca registrada, com o Cristo Redentor de braços abertos – também rejuvenescerá com a vinda de tantos jovens de etnias e línguas diversas. Será o maior evento desses últimos tempos nesta cidade maravilhosa”, disse em comunicado Dom Ora-

RUMOS - 34 – Janeiro/Fevereiro 2013


JMJ Rio 2013

ni Tempesta, arcebispo do Rio de bilhão para R$ 2 bilhões e o prazo de vigênJaneiro e presidente do Comitê cia estendido para 30 de junho de 2013. Organizador Local (COL) da JMJ Antes, o prazo limite para entrega de conRio2013. sultas ao BNDES ia até dezembro de 2012. As inscrições dos peregrinos A carteira do programa atualmente reúne podem ser feitas em um dos sete dez operações aprovadas para reforma de idiomas (português, alemão, espa12 hotéis (uma das operações é referente à nhol, francês, inglês, italiano e obra de três empreendimentos por um mespolonês) disponíveis no endereço mo grupo), no valor total de R$ 754,5 eletrônico oficial da JMJ Rio2013 milhões. Além disso, o banco analisa pedi(www.rio2013.com) e devem ser dos de financiamento que somam R$ 718,5 efetuadas pelo responsável pelo milhões. Assim, a carteira total do BNDES grupo, que pode ter até 50 pesProCopa Turismo (financiamentos aprovasoas. A expectativa é de que pelo dos + pedidos em análise) soma R$ 1,4 menos 60 mil voluntários atuem bilhão. na Jornada, em todos os aspectos logísticos. Até o momento, já Demandas do setor – Segundo dados da estão inscritos quase 50 mil Associação Brasileira da Indústria de voluntários. Os Atos Centrais Hotéis (ABIH), há no país 25,5 mil pousadevem ocorrer na Praia de Copadas, hotéis (de rede e independentes) e cabana e na Base Aérea de Santa O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, resorts, que totalizam 1,3 milhão de unidaCruz. Paralelamente, serão reali- celebra a missa que dá início aos preparativos para des habitacionais e 2,6 milhões de leitos. zadas programações e atividades a Jornada Mundial da Juventude. Deste total, 93% são hotéis independentes culturais ao longo de todos os (familiares), sendo 72% de hotéis de dias da JMJ Rio2013. pequeno porte (com até 50 apartamentos). Enrico Fermi, presidente da entidade, observa que quem alavanca os destinos são os Hotelaria avança – Para receber tantos turistas, é preciso ter leihotéis independentes. Somente depois, quando o destino está tos. Em relação às acomodações, as perspectivas de expansão da consolidado, vêm as grandes redes para agregar melhoria na quarede hoteleira são animadoras. No Rio de Janeiro, cidade que lidade da mão de obra, arrecadação de impostos e outros fatores. abriga a maior parte dos grandes eventos, a oferta de unidades Ele diz que entre os principais desafios do setor estão a capahabitacionais deverá saltar de 32.425 em dezembro de 2012 para citação de mão de obra, acesso ao crédito e redução da carga tri47.812 em 2015. Segundo dados da Rio Negócios – agência de butária. Em relação ao crédito, há o que considera a excessiva promoção de negócios da cidade –, são 74 novos hotéis, cinco burocracia para os pequenos hotéis, como a exigência de 130% projetos de retrofits (reforma e modernização) e 17 expansões, de garantia real para obtenção de empréstimo. Em relação aos totalizando investimentos de US$ 1,5 bilhão até 2015. O avanço será concentrado na rede Oferta dos meios de acomodação nas 12 sedes e entorno hoteleira, que saltará de 20.430 apartamentos em dezembro de Capacidade de hóspedes (em mil); nov/12 Capital, região metropolitana e municípios turísticos do entorno 2012 para 35.817 em 2015, conAcréscimo oferta para 2014 sequência do acréscimo de Oferta anual 2011 4.741 unidades atualmente em construção, 6.143 já licenciadas 1% 13% 48% 11% 11% 38% 17% 4% 28% 14% 15% 27% e 4.503 em análise. A cidade con3 ta ainda com 17 projetos que 16 estão em "banho-maria" (on hold), somando mais 3.705 quartos (saiba mais sobre a expansão da rede hoteleira na página 38). 23 7 Muitos empreendimentos 6 15 8 2 11 estão sendo financiados com 5 recursos do BNDES ProCopa 20 18 Turismo, programa lançado em 170 126 48 62 54 40 46 51 40 35 14 17 fevereiro de 2010 para ampliaSão Paulo Rio de Belo Porto Salvador Fortaleza Curitiba Brasília Recife Natal Manaus Cuiabá ção e modernização do parque Janeiro Horizonte Alegre hoteleiro nacional. Em setemFonte: IBGE, Ministério doTurismo bro do ano passado, a linha de Nota: Valores acima incluem hotéis, pousadas, cama e café, não incluem motéis, flats e campings. financiamento teve sua dotação orçamentária ampliada de R$ 1 RUMOS - 35 – Janeiro/Fevereiro 2013


R

REPORTAGEM

EVENTOS

Wilson Dias/ABr

impostos, o Plano Brasil um número que não se alteMaior beneficiou apera há 10 anos. É preciso busnas os hotéis de grande car mercados nos quais não porte, com a desoneratemos intervenção, como a ção da folha de pagaChina e o Japão. E quanto à mento, o que não commão de obra, o setor hotepensa para os pequenos que estão no leiro vai abrir 20 mil a 30 regime tributário do Simples e têm mil vagas. Até recrutar e treifolha enxuta. Ele observa ainda que, nar leva tempo. A nossa com a ascensão da classe C, 35 expectativa é de que os tramilhões de brasileiros passaram a conbalhadores que hoje estão sumir turismo. Nos próximos 10 ocupados nas obras anos, mais 50 milhões deverão commigrem para o turismo”, prar serviços de hotelaria, uma considera. demanda reprimida para a qual o setor não está preparado. Capacitação – A capacitaA presidenta Dilma Rousseff assina o projeto de lei que cria o “Este contingente é o público- Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e o Emprego. ção dos profissionais que alvo dos hotéis três estrelas. E estes vão atuar nos grandes evenhotéis, que são inclusive os que tos vem sendo feita por profomentam a consolidação do destino, não têm acesso facilitado gramas federais e também por meio dos estados e municípios. ao crédito”, reclama. A expectativa da ABIH durante a Copa do Um deles é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico Mundo é receber 600 mil turistas estrangeiros e 2,5 milhões de e Emprego (Pronatec), que, por meio do Pronatec Copa, prebrasileiros (turismo interno). “Rio de Janeiro e Recife já enfrentende capacitar profissionais em diversas atividades e em líntam a escassez de hotéis atualmente e flexibilizaram a legislação guas estrangeiras para trabalhar nos eventos. O programa está para os empreendimentos serem construídos até a Copa”, oferecendo 240 mil vagas em 29 cursos de formação inicial e observa. continuada e três de línguas – inglês, espanhol e libras – até o Luciane Gorgulho, chefe do departamento de cultura, entrefinal de 2014. Os cursos possuem carga horária entre 160 e 400 tenimento e turismo do BNDES e responsável pelo ProCopa horas/aula. Em 2012, foram geradas mais de 80 mil vagas. Turismo, diz que o programa segue as diretrizes das linhas do Gabriel Grabowiski, professor da universidade gaúcha Feebanco, mas foi adequado às demandas do setor porque a consvale e ex-superintendente estadual de educação profissional do trução de um hotel é intensiva em capital e tem de ter um fluxo Rio Grande do Sul, observa que programas como o Pronatec de pagamentos de longo prazo para que garanta o retorno. “Consão importantes, mas não suficientes, pois atendem a uma versamos com as associações em 2009 e a principal demanda era demanda específica e sazonal. Para ele, os governos poderiam trao alongamento dos prazos, que passaram de seis para 18 anos. O balhar em ações em todas as escolas, que envolvem 50 milhões ponto de corte para o financiamento é a partir de R$ 10 milhões. de crianças e jovens só no ensino básico. “Se conseguíssemos Abaixo deste valor, há a alternativa do financiamento indireto mobilizar esta rede e trabalhar algumas ações sobre como recenão automático, o automático e o Cartão BNDES. Também ber o turista com conceitos de boa acolhida, recepção solidária e houve uma redução dos custos para empreendimentos de cidadania, poderíamos conseguir mobilização social como a que micro, pequenas e médias empresas e aqueles com certificação ocorreu em Porto Alegre durante o Fórum Mundial Social”, diz. ambiental”, enumera Luciane. A Feevale é uma das 30 universidades que integram a Rede Ela diz que não procedem as críticas em relação ao rigor na Escola Governo, iniciativa promovida pela Fundação para o exigência das garantias, pois o banco já trabalha com a possibiliDesenvolvimento de Recursos Humanos do Rio Grande do dade de usar o próprio empreendimento como garantia evolutiSul (FDRH). A rede conduz, atualmente, o programa de forva. “O financiamento só não é aprovado quando os números mação continuada para qualificação de gestores públicos e agensão ruins, há pouca transparência ou o porte da empresa não contes sociais. Segundo Jorge Branco, presidente da FDRH, o objediz com o alto valor que está sendo pleiteado. Isso não impede tivo é promover o debate, formar e qualificar os participantes que o banco financie micro, pequena e média empresa (MPME). no tema dos grandes eventos, com o foco voltado à Copa do Das 12 operações aprovadas, sete são de pequenas e médias”, Mundo. Assim, os jogos tornam-se uma oportunidade para que assegura. seja realizado o debate sobre como estado e municípios podem Com data prevista de encerramento do programa em junho aproveitar essas ocasiões para desenvolverem-se cultural e ecodeste ano, o banco já estuda torná-lo permanente. Segundo a chenomicamente, do ponto de vista de emprego e da renda, entre fe de departamento, a ideia é aproveitar o momento da Copa outras possibilidades e, sobretudo, para investir em planejapara aumentar o fluxo nos hotéis de forma sustentável e não apemento e organização. Outro programa da Rede Escola de nas durante os grandes eventos. Esta também é a preocupação Governo, o Qualificação Online para a Copa do Mundo Fifa de Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ, para quem é preciso 2014, desenvolvido em parceria com o SenacRS, Universidade criar demanda para a extensa expansão da rede por conta dos Feevale e Secretaria do Esporte e do Lazer, oferece 1.500 vagas grandes eventos. Outra preocupação é com a escassez e a capacipara cursos de idiomas e segurança na modalidade de Educação tação da mão de obra. à Distância. Juntas, as ações contaram com mais de 4.200 parti“O mercado brasileiro atrai seis milhões de turistas por ano, cipantes até o final de 2012.   RUMOS - 36 – Janeiro/Fevereiro 2013


PANORAMA FUTURO

A atualidade do ecodesenvolvimento Ignacy Sachs Luiz Reis

Professor Emérito da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais em Paris.

A

cabo de consultar a edição eletrônica do dicionário francês Grand Robert e dei uma espiada no Novo Aurélio – Século XXI (5ª impressão, 1999). Nenhum dos dois menciona o termo “ecodesenvolvimento”, neologismo relativamente recente que surgiu à margem da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente reunida em Estocolmo em 1972. Penso que este neologismo se justifica pelo fato de que, mais do que em qualquer outro momento da já longa presença da nossa espécie no planeta Terra, deveríamos incluir explicitamente na definição do desenvolvimento a dimensão ecológica subsumida no prefixo “eco”. Isto em vista do perigo que representam para o futuro das civilizações humanas mudanças climáticas deletérias devidas ao aquecimento global provocado por emissões excessivas de gás carbônico de origem antropogênica. Convém, portanto, pensar o desenvolvimento como um conceito tridimensional. Seus objetivos são sempre éticos e sociais. No entanto, para que sejam alcançados é necessário dar-lhes viabilidade econômica, precavendo-se ainda, como já foi dito, contra mudanças climáticas deletérias, pelos menos as provocadas por ações humanas que estão sob nossa responsabilidade. Acredito que o termo “ecodesenvolvimento” merece um lugar permanente no nosso vocabulário, como sinônimo e abreviação do desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável. Constitui um passo para a frente na medida em que adiciona explicitamente a dimensão ecológica ao social e ao econômico. A outra dimensão, subentendida, é a política, já que a gestão da economia implica necessariamente decisões de caráter político. Vale a pena lembrar a este respeito que nas línguas de origem latina damos preferência ao termo economia política em oposição ao anglo-saxão economics. O ecodesenvolvimento se contrapõe ainda a diferentes formas de mau desenvolvimento: crescimento econômico acompanhado de impactos sociais e ambientais negativos. De uma maneira geral, deixando de lado as situações de não crescimento econômico (e, portanto, de regressão em termos per capita enquanto a população continua a crescer), podemos distinguir os dois casos limites:  crescimento econômico virtuoso acompanhado de

impactos sociais e ambientais positivos (o ecodesenvolvimento);  crescimento econômico com impactos sociais e ambientais negativos – o mau desenvolvimento que alguns preferem chamar de crescimento perverso. Entre os dois, figuram os casos intermediários. Durante as três décadas que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, tivemos em vários países um crescimento econômico rápido com consequências sociais globalmente positivas ainda que fortemente diferenciadas, porém com um custo ambiental excessivamente alto. Tampouco podemos excluir configurações caracterizadas por impactos ambientais sob controle, porém acompanhadas de polarização social excessiva, deixando à margem do progresso grupos populacionais importantes – camponeses sem terra, favelados e todos aqueles que, por falta de conhecimentos e de sorte, não conseguem inserir-se na economia moderna e são obrigados a lutar pela sobrevivência em condições precárias. Olhando para o futuro, convém reservar o termo de desenvolvimento (includente e sustentável) unicamente a situações com a presença simultânea das três características seguintes:  crescimento econômico por enquanto superior à taxa de crescimento demográfico, lembrando que esta última tende felizmente a se reduzir devido aos progressos da educação e das políticas sociais; e considerando, por outro lado, que a passagem à economia estacionária só será factível depois de termos drasticamente reduzido as diferenças abissais de nível de vida que ainda imperam no mundo de hoje;  impactos sociais positivos por meio da geração em número suficiente de oportunidades de trabalho decente e à existência de um conjunto de políticas sociais abrangendo a totalidade da população; não podemos por enquanto abrir mão do conceito de pleno emprego, nem tentar lográ-lo unicamente pela redução do tempo de trabalho dos já empregados;  redução de impactos ambientais negativos mitigados por políticas ambientais dos Estados desenvolvimentistas, com destaque para a geração da energia, já que o aquecimento global está vinculado à utilização das energias fósseis. A transição para o ecodesenvolvimento está ao nosso alcance. Por que não encarregar as Nações Unidas da formulação de um plano mundial de desenvolvimento includente e sustentável?

RUMOS - 37 – Janeiro/Fevereiro 2013


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CENÁRIOS DO RIO

INVESTIMENTO

Por Solange Bagdadi

Rede em crescimento Linha de investimento especial para modernização de hotéis e transformação de motéis permitirá a expansão no número de leitos na cidade e melhor recepção aos turistas. Treinamento da mão de obra também está previsto no financiamento.

P

Noel Joaquim Faiad

giro, a fim de fomentar melhorias nesses estabelecimentos. aulo Casanova é dono da rede Gallant e um dos Em ambos os produtos, o empresário pode financiar a aquisivirtuais pretendentes a contratar uma das ção de máquinas e equipamentos novos ou usados, de fabricalinhas de financiamento que a Agência Estadução nacional; treinamento e capacitação da mão de obra; gasal de Fomento (AgeRio) está oferecendo para tos com obras civis e reformas, inclusive materiais e instalatransformar motéis em hotéis. O interesse é ções; compra de móveis; recomposição ou fortalecimento de resultado da proximidade dos megaeventos que o Rio de Janecapital de giro; além de outros itens associados ao projeto, a criiro receberá nos próximos anos, a exemplo da Jornada Muntério da AgeRio. O valor máximo dial da Juventude, da Copa 2014 e para empréstimo é de R$ 2 milhões, das Olimpíadas 2016. podendo financiar até 100% do proDe acordo com o diretor de jeto (no caso de capital de giro puro). Operações da AgeRio, Dário CasCasanova, da rede Gallant, já tro de Araújo, a ideia de oferecer começou a obra em 119 unidades, uma linha de financiamento vem das quais 70 estão prontas. “Estamos de encontro com o calendário de trocando tudo, do espelho no teto às eventos do Rio de Janeiro, que camas redondas; com uma decoratransformará a cidade no princição mais moderna; TV de plasma, arpal destino nacional e internaciocondicionado Split e camas do tipo nal do turismo. Segundo Araújo, box. Estamos confiantes que essa foi criada a modalidade “Programudança fará bem aos hoteleiros e à ma de Transformação de Motéis cidade”, disse ele, que começou a em Hotéis”, destinada a reforreforma com recursos próprios, mas mas, ampliação e capital de giro. Para Dário de Araújo, diretor de Operações, o crédito “Para adquirir o financiamento, o irá auxiliar os empresários a receber melhor os turistas. também fará um empréstimo. Assim como a AgeRio, a ABIHempresário precisa apresentar RJ e a prefeitura estão empenhadas que toda a logística hoteum projeto executivo. Vamos avaliar a fim de saber se está adeleira da cidade funcione de maneira eficiente em função da quado à prática do mercado e, assim, liberar o recurso”, proximidade das partidas. Segundo Marcelo Haddad, presiinforma Araújo. Segundo ele, antes de criar a linha de financidente da Rio Negócios, desde 2010, um ano após o anúncio amento foi feito um estudo de viabilidade junto com a Assodo Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos 2016, a preciação Brasileira de Hotéis (ABIH-RJ), prefeitura e Secretaria feitura lançou um pacote de incentivos para a rede, que include Desenvolvimento Econômico, sendo que esta também iu revisão de regras urbanísticas e isenções fiscais, além de define estratégias. “Juntos, vamos ajudar os empresários a se expansões e retrofits. “A iniciativa deu um grande impulso à prepararem para receber milhares de turistas”, prevê. chegada de novos empreendimentos e a perspectiva mais conA agência oferece ainda outra linha, para hotéis, pousadas servadora é que, até 2015, 14 mil novos quartos estejam dise albergues, que financia projetos de investimento e capital de RUMOS - 38 – Janeiro/Fevereiro 2013


Tânia Rego/ABr

Aos famosos hotéis da orla carioca somam-se os motéis que, reformados, passarão a receber os turistas da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

poníveis na cidade. Isto significa investimentos privados de US$1.5 bilhão e a geração de 10 mil empregos diretos”. No que se refere à isenção de tributos para estimular o setor, os proprietários terão redução de ISS durante a obra, remissão de IPTU até 2010, isenção deste imposto durante a reforma para aqueles que modificarem pelo menos 60% do imóvel, além da possibilidade de reconversão após dois anos dos jogos. Haddad informou que, no início do mês de fevereiro, o Comitê de Acomodações da Cidade – que reúne Secretaria de Urbanismo, Empresa Olímpica Municipal, Rio Negócios, Riotur e Comitê Rio 2016 – fechou um acordo com proprietários de motéis. “Estima-se que 3.500 quartos da rede serão convertidos em hotéis nos próximos dois anos. Para isso, estamos oferecendo os mesmos incentivos da rede hoteleira”, avisou. Mais vagas – O presidente da Rio Negócios está animado. Segundo ele, aliada à conversão de motéis em hotéis ainda se somarão novas unidades, com construção de quase cinco mil quartos, mais de seis mil já foram licenciados e devem iniciar as obras em breve, além de 4.500 pedidos que estão sendo analisados na Secretaria Municipal de Urbanismo. “Parte desses quartos – 5.600 – estará pronta até 2014, para a Copa. A promoção comercial, a demanda e a visibilidade internacional que a cidade projetará serão fortes argumentos para potencializarmos novas redes este ano”, estimou. Para o vice-presidente da ABIH-RJ, Antonio Cerqueira, já não era sem tempo que a rede hoteleira do Rio tomasse novo fôlego. Em se tratando de motéis, apesar de terem crescido muito entre as décadas de 1970 e 1990, muitos foram vendidos depois ou estavam com ocupação regular. “Agora, com a chegada dos jogos, a prefeitura nos procurou com a proposta de reduzir os tributos a fim de incentivar a construção de novos hotéis e a conversão dos motéis. Meus cálculos

são que, no total, teremos um acréscimo de cinco a sete mil leitos até 2016”, observou. Cerqueira ressalta que, hoje, o Rio de Janeiro tem 182 motéis em áreas urbanas, ou seja, motéis que não ficam em estradas ou rodovias. Desses, cerca de 60 devem passar por reformas para se adequarem à nova demanda turística carioca. “Os donos de motéis enxergaram uma oportunidade e podem ajudar a cidade. O Rio precisa de vagas para abrigar os turistas. Os motéis convertidos podem receber até 14 mil pessoas.” De acordo com Cerqueira, estabelecimentos como o Serramar, a rede Gandara, o Hotel Marbela, o Diamond, o Villa Régia, além do Gallant, são apenas alguns que já começaram as obras de transformação. Segundo ele, se todos contratarem financiamentos e estiverem no mesmo patamar, somarão R$ 228 milhões em investimentos. “Serão reformas de substituição do mobiliário à modernização de instalações, que incluem também a apresentação de uma recepção e o funcionamento pleno de um restaurante, que vai oferecer do café da manhã até almoços e jantares”, diz. O vice-presidente da ABIH-RJ esclarece também que transformar motéis em hotéis não consiste só em fazer reformas. Esforços estão sendo dedicados a fim de qualificar a mão de obra, como habilitar os trabalhadores a falarem pelo menos dois idiomas. “Atualmente, os motéis têm de 1,2 a 1,4 funcionários diretos por unidade e mais cinco indiretos, por unidade. É um grande contingente de pessoas que precisará também se adaptar ao novo momento”, destacou. A linha de financiamento da AgeRio também prevê ajuda em treinamento e em capacitação de mão de obra. “Vamos deixar o maior patrimônio para o Rio de Janeiro. Depois das Olimpíadas em Barcelona, na Espanha, por exemplo, o número de turistas saltou de 1,7 milhão para 7 bilhões. A cidade do Rio, que já tem vocação turística, será um sucesso nos próximos anos”, prevê Cerqueira. 

RUMOS - 39 – Janeiro/Fevereiro 2013




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FOMENTO

Crédito para pequenos

Sagrilo

Fomento Paraná repassa R$ 26 mi para estádio da Copa

Tânia Rêgo/ABr

O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) deu uma ajuda para os empreendedores que pagam em dia e utilizam recursos do Fundo de Recuperação Econômica do Espírito Santo (Funres). Os clientes que fizeram os pagamentos dos financiamentos em dia, a partir de janeiro, passaram a ter direito a um bônus que garante o desconto de até 2% no valor da taxa de juros nas linhas do Funres. São R$ 2,5 milhões financiáveis e até 10 anos para pagar, em alguns segmentos. As cinco linhas são voltadas para os setores de turismo, inovação, rural, média empresa (como costureiras) e rede particular de saúde que presta serviços a SUS. O bônus, que era de 1% até o ano passado, pode chegar a 2% de redução para empreendedores de fora da Grande Vitória e a 1,5% para financiamentos contratados na região metropolitana. “Mas o bônus só vale para pagamentos feitos em dia”, destaca o diretor-presidente do Bandes, Guerino Balestrassi.

SXC

Diretores e gerentes da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) percorrem, em janeiro e fevereiro, as cidades-polo do interior da Bahia para encontrar empresários e visitar clientes, fábricas e fazendas, além de terem reuniões com gestores municipais. O objetivo é impulsionar novos projetos de investimentos nos setores industrial, comercial, serviços e agronegócio. A equipe liderada pelo Diretor de Operações, Marcelo Oliveira, apresenta aos empresários do interior a redução das taxas de juros e ampliação de prazos de praticamente todas as linhas de financiamento. Em 2012, as liberações da Desenbahia atingiram a marca histórica de R$ 561 milhões, o que corresponde a um aumento de aproximadamente 55% no volume de operações em relação ao ano anterior. Foram 18.211 operações de crédito que contribuíram para criação ou manutenção de cerca de 28 mil postos de trabalho. Já foram visitadas as cidades de Barreiras, Luiz Eduardo Magalhães, Vitória da Conquista e Jequié.

RUMOS - 42– Janeiro/Fevereiro 2013

Divulgação

Gerentes da Desenbahia visitam cidades do interior

Microcrédito do BNB cresce 40% Os programas de microcrédito urbano e rural do Banco do Nordeste (BNB) alcançaram R$ 5,2 bilhões em empréstimos no ano passado, valor cerca de 40% superior ao contratado em 2011. De acordo com a área de Microfinança e Agricultura Familiar da instituição, por meio dos programas Crediamigo e Agroamigo, o banco realizou 3,2 milhões de operações com pequenos empreendedores, batendo novos recordes em volume de crédito e quantidade de clientes atendidos. Para o presidente do Banco do Nordeste, Ary Joel de Abreu Lanzarin, o crescimento do microcrédito na região reflete o empreendedorismo dos nordestinos e se alia ao nível de excelência atingido pelos programas do banco, com anos de experiência e práticas reconhecidas no Brasil e no exterior. “O Crediamigo foi referência para a implantação do Programa Nacional de Microcrédito, Crescer, do governo federal, e segue na dianteira entre os bancos que atuam no segmento”, afirmou.

A Fomento Paraná repassou, em janeiro, a primeira parcela do empréstimo intermediado pela instituição estadual para a conclusão das obras do Estádio Joaquim Américo (Arena da Baixada), que receberá jogos da Copa do Mundo da Fifa 2014. O valor repassado foi de R$ 26 milhões e representa 20% do valor do total do financiamento de R$ 131 milhões liberado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a CAP S/A, sociedade de propósito específico responsável pelas obras de adequação do estádio à lista de encargos da Fifa. O próximo repasse deverá acontecer após a realização de novas medições e auditorias e quando a obra completar 30% da sua execução.


Desenvolve SP financia modernização de empresas

Livia Marques

Divulgação

Os pequenos e médios empresários de São Paulo investiram mais na ampliação e modernização de seus negócios no ano passado do que em 2011. Segundo o balanço de 2012 da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), os financiamentos para projetos de investimento chegaram a 80% do total de R$ 403 milhões desembolsados no ano, contra 20% tomados para capital de giro. Em 2011, a participação de projetos de ampliação e modernização no desembolso da instituição era de apenas 49%. “Essa mudança na composição da carteira de crédito da instituição, onde os recursos para projetos de investimento superaram os desembolsos para capital de giro, demonstra que o empresário paulista está confiante na economia do estado e se preparando para crescer ainda mais em 2013. Estamos cumprindo a nossa missão, que é financiar o crescimento da economia de São Paulo gerando emprego e renda”, diz Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Desenvolve SP. A Desenvolve SP alcançou a marca de R$ 889,8 milhões financiados desde 2009. Só em 2012, a instituição emprestou R$ 409 milhões para as pequenas e médias empresas de 116 municípios de São Paulo. Esse montante é 70% superior ao desembolsado em 2011.

Finep capacita técnicos do Sistema Nacional de Fomento

A Agência de Fomento do Amapá (Afap) dedicou o ano de 2011 à sua reestruturação e, em 2012, deu início a uma ação estratégica para o fortalecimento de sua marca e de aumento da carteira de clientes. Neste ano, o intuito é ampliar o número de financiamento chegando ao interior. "O nosso objetivo agora é avançar no crédito, por meio do processo de interiorização. A expansão da agência visa ainda combater as desigualdades entre os municípios, levando financiamento como forma de fortalecer as economias locais", declarou Sávio Peres, presidente da Afap. O município de Laranjal do Jari já recebeu duas linhas de crédito: Afap Mototáxi e Táxi Legal. A agência financiou 14 motocicletas que contabilizam R$ 83.900,00. Além das motocicletas, foram financiados nove táxis. Os financiamentos visam a aquisição de veículos novos para a renovação e modernização da frota de táxis do estado, gerando assim emprego e renda.

Manoel do Vale

Afap amplia participação no interior do estado

Em janeiro, a ABDE promoveu, em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), um curso com o objetivo de capacitar potenciais candidatos, dentre os representantes dos associados, para se tornarem Agentes Financeiros no Programa Inovacred. Criado em 2012 pela financiadora, o programa oferece financiamento para projetos de inovação visando ampliar a competitividade das empresas no âmbito regional ou nacional. Esse apoio é concedido de forma descentralizada, por meio desses agentes financeiros, que atuarão em seus respectivos estados ou regiões, assumindo o risco das operações, ficando encarregados do recebimento, credenciamento, análise e enquadramento das propostas e liberação e acompanhamento dos projetos. As atividades apoiáveis são todas aquelas que contribuem para a geração, aprimoramento, suporte e utilização do conhecimento. Para a participante do curso Morgana Secco, técnica em Desenvolvimento do Badesul (Agência de Fomento do Rio Grande do Sul), o curso se mostrou bastante satisfatório, já que o banco possui uma área estruturada para receber o programa. “A atividade foi boa para reforçar o que fazíamos. Serviu também para agilizar a implementação, pois depois só será necessário fazer alguns ajustes para adaptarmos o programa”, acredita. O analista em desenvolvimento da Agência de Fomento da Bahia (Desenbahia), João Malta, avaliou o curso como de grande relevância para o que a agência deseja realizar esse ano, principalmente na área de concessão de crédito para atividades relacionadas à inovação. “É uma grande oportunidade para experimentarmos o fomento à inovação, pois até então a Desenbahia trabalhava com a questão indiretamente”, relata Malta. Na abertura do curso, realizado na sede da Finep no Rio de Janeiro, o superintendente-executivo da ABDE, Marco Antonio Lima, falou sobre o processo de mudanças pelo qual a associação vem passando, com a constituição do Sistema Nacional de Fomento (SNF): “ Durante esse processo, percebeu-se que o fortalecimento do SNF só se dará quando houver maior interação dos associados em âmbito federal e estadual e o Inovacred marca essa nova diretriz.”, afirmou.

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ENTREVISTA

Regina Madalozzo

Por Thais Sena Schettino

MERCADO DE TRABALHO

Exemplo a ser A presença feminina em ministérios e nas grandes empresas nacionais nunca foi tão grande quanto no governo de Dilma Rousseff. Esse novo quadro tem o potencial de apresentar à nova geração de mulheres que todas as carreiras e possibilidades de exercício profissional estão abertas a elas. A Ph.D. em Economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, e professora do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Regina Madalozzo, nesta entrevista, explica a importância do exemplo dessas mulheres para a superação da desigualdade no mercado de trabalho.

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m 2012, o Brasil pulou vinte posições no Índice de Desigualdade Global de Gênero (Global Gender Gap Index), divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF). Passou da 82ª posição para a 62ª, em um total de 135 nações. Segundo o relatório, a melhora no ranking pode ser explicada pelos investimentos em educação primária realizados pela presidenta Dilma Rousseff e também pelo aumento na presença de mulheres em ministérios (de 7 para 27%). Para além das pesquisas e dos indicadores que denunciam a condição desigual entre homens e mulheres no mercado de trabalho, é preciso considerar o impacto que a presença feminina em cargos de liderança pode ter sobre as futuras gerações. A economista e professora do Instituto de Ensino e Pesquisas (Insper), Regina Madalozzo, explica que muito já se avançou nesse tema, mas que um fator importante para superação da diferença é ver que as mulheres podem ocupar posições de comando. O exemplo seria o melhor espelho para o futuro. Estudiosa do tema, Regina tem realizado pesquisas que relacionam rendimento e carreiras. Ela percebeu mudanças ao longo dos últimos 30 anos, mas muito ainda precisa ser feito. Confira a entrevista: Rumos – Em um artigo de 2010, a senhora se pergunta se no mercado de trabalho brasileiro existem diferenças de gênero. Qual a natureza dessas diferenças? Elas se manifestam nos rendimentos, mas também nas variadas carreiras?

Regina – As diferenças que percebemos entre os gêneros são tanto com relação à remuneração como também com relação às taxas de promoção dentro das empresas. As mulheres recebem salários menores, na média, do que os homens e têm mais dificuldade para serem promovidas ao alto escalão das empresas no Brasil (algo comum a outros países também). Rumos – Na pesquisa que realizou, nos últimos 30 anos, a senhora identificou um crescimento na participação feminina em setores tradicionalmente masculinos, entretanto, áreas consideradas femininas continuaram sendo setores com predominância de mulheres. Podemos dizer que houve mudança ou continuamos reproduzindo padrões? Regina – A escolha de carreira é algo bastante individual e que se fundamenta não somente no que as pessoas acreditam que será interessante trabalhar durante seu ciclo produtivo da vida, mas também com relação às expectativas que essa pessoa tem com relação ao seu sucesso profissional. Em um ambiente onde as mulheres ainda enfrentam dificuldade para serem tratadas de forma igualitária com relação aos homens, é natural que alguns padrões continuem a se reproduzir e que seja uma escolha difícil optar por uma carreira na qual a presença de mulheres bem-sucedidas é pequena. Podemos dizer que muitas mudanças e um considerável progresso ocorreu com relação ao mercado de trabalho feminino no Brasil nos últimos 30 anos, mas ainda é necessário que tenhamos

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seguido atenção à baixa participação de mulheres tanto nos cargos de liderança das empresas como na representatividade política das mulheres.

Divulgação

Rumos – Entre as 100 maiores empresas brasileiras, só cinco têm mulheres na presidência. O que poderia explicar essa situação? O ambiente corporativo não é favorável para as mulheres? Regina – Diversos fatores podem explicar essa situação. Entre eles, merecem destaque: a forma como as avaliações por “mérito” ainda escondem muitos vieses de gênero que prejudicam a avaliação das mulheres; a importância da disponibilidade 24 horas por dia, nos sete dias da semana para as empresas (o que é bastante difícil para mulheres que tenham família e um companheiro que também está envolvido no mercado de trabalho ou sem um companheiro para compartilhar a responsabilidade familiar); a dificuldade que a maior parte das pessoas (homens e mulheres) tem para lidar com uma líder mulher e a falta de modelos realistas para que as jovens executivas possam se espelhar e usar como mentoras para suas próprias carreiras. Rumos – A pouca presença das mulheres na presidência ou nos conselhos é uma característica das empresas no Brasil ou ela ainda é pequena em todo o mundo? Regina – Esse é um dado bastante comum no mundo todo. Alguns países (por exemplo, Noruega, Espanha, entre outros) partiram para um modelo de imposição de cotas para mulheres em conselhos para aumentar a participação das mulheres nesses espaços. Outros optaram por definir metas de inclusão de mulheres na liderança. O que conseguimos perceber é que existe uma preocupação real com a inclusão e com a sustentabilidade dos negócios via participação mais eficiente das mulheres no mercado de trabalho. O investimento em qualificação dessas mulheres merece mais bem aproveitado do que atualmente é, quando muitas desistem de suas carreiras pelos mais variados motivos, entre eles, por não vislumbrarem a chance real de atingirem altos cargos nas hierarquias empresariais. Rumos – Outros países já criaram melhores condi-

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ENTREVISTA

Regina Madalozzo

res teve um papel muito importante de ções para apoiar a presença das mostrar para as jovens de que essas são mulheres no mercado de trabalho, carreiras possíveis para elas. Esse é um como horário flexível, ampliação da A ascensão dessas passo muito importante para a diminuição licença maternidade e implantação de mulheres teve do preconceito contra mulheres e da creches. É possível pensar nessa flexium papel muito maior inclusão – com igualdade – das bilização no empresariado brasileiro? importante mulheres no mercado. Regina – Apesar do Brasil ter uma legislação bastante favorável às mulheres com de mostrar para as Rumos – É fato que há um aumento na relação à licença maternidade, a flexibilijovens de que essas escolaridade das brasileiras, mas isso zação do mercado de trabalho depende são carreiras não se traduz necessariamente em não somente do empresariado, mas muito possíveis para elas elevação nos salários. O descompasso fortemente, da legislação trabalhista. entre qualificação e remuneração, no Nossa legislação, com a finalidade de caso das mulheres, tem como explicaproteger os trabalhadores, impede que ção única o preconceito? diversos acordos de flexibilidade (de horáRegina – Não necessariamente. O descompasso de qualirio e local de trabalho) possam ser realizados entre empreficação e remuneração também passa pela escolha da sas e trabalhadores. A mudança da legislação facilitaria a profissão, opção de condução da vida dos trabalhadores, independente carreiras e intervalos no trabalho. Só do gênero. podemos falar de preconceito e disÍndice Global de criminação quando duas pessoas com Rumos – Como já citado, alguns Desigualdade de Gênero a mesma qualificação e fazendo o países criaram leis para aumentar PAÍSES 2012 2011 2010 mesmo trabalho recebem remuneraa presença feminina em cargos ção diferente. de chefia, a exemplo do que Islândia 1 1 1 Finlândia 3 3 2 temos no Brasil no campo polítiNoruega 2 2 3 Rumos – Especialistas em gesco, no qual os partidos têm uma Suécia 4 4 4 tão apontam que o modelo verticota de participação feminina. Irlanda 5 6 5 Nova Zelândia 6 5 6 calizado e muito hierarquizado Esse tipo de medida, institucioDinamarca 7 7 7 das empresas atuais está em nal, traz efeitos efetivos para os Filipinas 8 9 8 transformação. O que se verá no comportamentos e contratações? Nicarágua 27 30 9 futuro é uma organização horiSuíça 10 10 10 Regina – Ainda é cedo para fazer Holanda 15 17 11 zontal, no qual as competências uma avaliação sobre o sucesso desse Bélgica 13 14 12 femininas estariam mais adaptipo de medida no comportamento Alemanha 11 13 13 tadas (o que já acontece hoje nas das pessoas, empresas e contratações. . Tanzânia 59 66 46 empresas de tecnologia e inforAs cotas foram bem-sucedidas no Portugal 35 32 47 mática). É possível identificar sentido de forçar uma presença femiVenezuela 63 64 48 características ditas femininas nina em maior número nos conselhos Croácia 50 53 49 – – Sérvia 50 na gestão de mulheres ou isso das empresas, mas ainda não é possí47 44 Jamaica 51 seria uma forma de preconceito? vel verificar o resultado final para o 51 50 Bulgária 52 Regina – Homens e mulheres são mercado de trabalho. O que se prevê é 42 43 Polônia 53 diferentes, mas isso não implica que sim, no médio e longo prazos, uma 44 51 Quirguistão 54 57 56 Singapura 55 um tenha características melhores do maior inclusão das mulheres e a preo55 52 Israel 56 que o outro, nem que as característicupação das empresas em manter as 48 46 França 57 cas femininas estejam completamenmulheres em suas carreiras e em con71 80 Madagascar 58 43 45 Rússia 59 te ausentes nos homens (ou caractedições de serem promovidas para os 52 47 Estônia 60 rísticas masculinas ausentes nas cargos mais altos das corporações. 53 49 Macedônia 61 mulheres). O que é importante nas 82 85 62 Brasil empresas é a diversidade na forma de 80 55 63 Colômbia Rumos – A ascensão de uma 64 63 64 Ucrânia pensar e de ver cada situação. mulher à presidência do país e à 60 57 65 Tailândia Homens e mulheres precisam estar frente de grandes grupos empre79 72 66 Vietnã adaptados à nova forma de gestão e, sariais são indicativos de que o 68 67 67 Romênia – – 68 Timor-Leste mais ainda, prontos para trabalhar machismo diminuiu no mercado conjuntamente para o sucesso de Fonte: Global Gender Gap Index, Fórum Econômico de trabalho brasileiro? Mundial, 2012. seus negócios.  Regina – A ascensão dessas mulheRUMOS - 46 – Janeiro/Fevereiro 2013



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MICRO CAPA E PEQUENAS Por Odail Figueiredo

Sociedades de Garantia de Crédito

Os desafios do crescimento Dez anos depois da criação da primeira sociedade de garantia de crédito no Brasil, entidades voltadas a avalizar empréstimos e financiamentos para micro e pequenas empresas enfrentam desafios para poder continuar crescendo. A regulamentação de um sistema nacional de garantias, na visão dos dirigentes do setor, seria fundamental para ampliar o relacionamento das SGC com bancos e outros agentes financeiros e expandir o crédito aos negócios de menor porte.

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e 2004 a 2012, o volume total de crédito concedido pelo sistema financeiro mais do que dobrou no Brasil, passando de 25% para 53,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa evolução foi importante para alavancar o processo de aumento dos investimentos e do consumo no país, mas não ocorreu na mesma intensidade para todos os segmentos. Para micro e pequenas empresas (MPE), por exemplo, o acesso a empréstimos e financiamentos permanece como um desafio a ser vencido. Embora sejam responsáveis por mais da metade dos empregos e por aproximadamente 25% do Produto Interno Bruto, as MPE ainda têm uma participação muito

SGC em funcionamento Garantiserra – Caxias do Sul (RS) - 2003 Garantioeste – Toledo (PR) - 2011 Garantisudoeste – Francisco Beltrão (PR) - 2011 Noroestegarantias – Maringá (PR) - 2011 Garantia dos Vales – Governador Valadares (MG) - 2012 Fonte: Sebrae

pequena no volume de operações do sistema bancário. Em novembro do ano passado, segundo o Banco Central, os contratos de até R$ 100 mil – faixa em que está incluído o crédito direcionado aos negócios de menor porte – somavam R$ 177,3 bilhões, o equivalente a apenas 3,64% do PIB. Nos últimos anos, diversas iniciativas foram tomadas para minorar esse problema. Uma das mais inovadoras foi a criação de sociedades de garantia de crédito (SGC), entidades formadas pelos próprios empreendedores para fornecer aval aos associados que buscam recursos nos bancos para financiar investimentos ou levantar capital de giro. Em países como Itália e Espanha, esse tipo de instituição já conta com uma razoável tradição no apoio aos pequenos negócios. A experiência desses países serviu de base para a criação dessas entidades também no Brasil. A Garantiserra, criada em 2003 em Caxias do Sul (RS), foi a pioneira. Hoje, dez anos depois, já existem nove sociedades formadas no país, das quais cinco já entraram em operação, tendo viabilizado, até dezembro de 2012, R$ 34,8 milhões em operações de crédito. A constituição das SGC tem suporte dos poderes públicos locais, de entidades de classe e de instituições de fomento, além do apoio técnico e financeiro do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Se-

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Morgue File Divulgação

Pequenos mercados e padarias integram as micro e pequenas empresas que, embora sejam responsáveis por mais da metade dos empregos no país e por aproximadamente 25% do Produto Interno Bruto (PIB), têm pequena participação no volume de operações do sistema bancário, o equivalente a apenas 3,64% do PIB.

Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae.

brae). Em 2008, a instituição fez uma chamada pública para selecionar projetos de novas sociedades, oferecendo, como incent ivo, a t é R $ 2 milhões para a formação dos fundos de risco de cada uma delas. Dos 19 projetos apresentados, envolvendo 193 parceiros diferentes, alguns já se tornaram realidade.

Lacunas – Pequenos negócios têm dificuldade de acesso ao crédito principalmente pelos obstáculos na hora de fornecer garantias aos bancos. Nos últimos anos, diversos mecanismos foram desenvolvidos para superar esse entra-

ve, como o Fundo de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), gerido pelo próprio Sebrae desde 1995, e, mais recentemente, o Fundo de Garantia de Operações (FGO), do Banco do Brasil, e o Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Esses instrumentos ajudaram milhares de empreendimentos de pequeno porte a obter capital para seus negócios no sistema bancário, inclusive em volumes bem superiores ao viabilizado pelas SGC. O Fampe, por exemplo, já beneficiou mais de 200 mil empresas, tornando possível um montante superior a R$ 7 bilhões em financiamentos, e ainda tem hoje R$ 2,8 bilhões em garantias ativas. Para o Sebrae, no entanto, devido à sua forma de atuação, as SGC constituem um mecanismo de segunda geração, que consegue preencher lacunas que os demais modelos não são inteiramente capazes de superar. Na condição de corresponsáveis pela utilização do crédito, antes de fornecer o aval solicitado, as SGC orientam os empreendedores associados na elaboração do projeto a ser apresentado ao banco e, posteriormente, monitoram a aplicação dos recursos. Com isso, favorecem a viabilidade das operações. “O modelo das SGC é importante não só para garantir o retorno das instituições financeiras,

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MICRO CAPA E PEQUENAS

Sociedades de Garantia de Crédito

nizações da sociedade civil de interesse público (Oscip), ente jurídico que não está na órbita regulatória da autoridade monetária. Uma alternativa seria transformá-las em entidades cooperaIdentidade – O caráter mutualista das SGC, que tivas dedicadas especificamente à atuam em regiões determinadas, confere a elas uma prestação de serviços de garantia, forte identidade com a realidade socioeconômica amparadas pela Lei de Cooperadas comunidades. Essa proximidade com os tivas (Lei nº 5.764/1971). Com empreendedores e o conhecimento da realidade isso, elas passariam a obedecer a local é importante para que elas consigam superar normas e a responder à fiscalizaoutro dos grandes obstáculos à expansão do crédito ção do BC, o que poderia alavanentre as MPE: a assimetria de informações entre car as operações e reduziria evenbanco e clientes. tuais temores dos bancos em “Os comitês de crédito responsáveis, dentro de relação à inadimplência dos cada sociedade, por aprovar os avais, têm acesso a Ricardo Cavinato, diretor executivo contratos. Embora nas SGC, os informações de qualidade superior às que normal- da Garantiserra. índices sejam normalmente mais mente ficam disponíveis ao agente financeiro”, diz baixos do que na média do sistema bancário. Na GarantiCarlos Alberto. Outro aspecto é que uma eventual inadimserra, por exemplo, não passam de 2,5%. plência do empreendedor não tem apenas a dimensão de Na avaliação de Marco Rothe, além de dar mais seguranuma falha de relacionamento entre cliente e banco, mas ça às instituições financeiras, a regulamentação ajudaria as afeta sua própria reputação na comunidade empresarial. próprias SGC a trabalhar com mais eficiência. Elas poderi“É uma forma de controle moral que favorece a seleção de am, por exemplo, ter acesso aos cadastros do BC sobre bons pagadores”, completa o diretor. tomadores de crédito e depurar ainda mais as informações sobre a clientela. Com área de atuação em 30 municípios da Desafios – A expansão e a inserção mais completa no região, e escritórios nas cidades de Cascavel, Foz do Iguaçu mercado brasileiro desse modelo organizacional inovador, e Marechal Cândido Rondon, a Garantioeste é responsável no entanto, requer a superação de novos desafios. O principor garantias concedidas no valor de R$ 7,98 milhões e tem pal é a maior integração entre as sociedades de garantia e as como parceiros, na concessão de crédito, a cooperativa instituições financeiras. A maioria dos bancos ainda não Sicoob e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extreopera com as SGC, mesmo as mais antigas, por ainda sentir mo Sul (BRDE). falta de um arcabouço institucional mais completo que confira maior segurança jurídica às operações. Por isso, os Segundo piso – Na avaliação dos dirigentes das entidades, dirigentes das entidades e o próprio Sebrae defendem há seria importante também a criação de um fundo garantidor tempos a necessidade de regulamentação de um sistema de de segundo piso, para amparar as SGC e evitar eventuais garantias no Brasil, que englobe as SGC. riscos sistêmicos. Não existe um modelo único válido para “As cartas de aval das SGC ainda não são vistas como todos os países em que organizações voltadas a apoiar a um documento seguro pela maioria dos bancos”, afirma Marco Rothe, supervisor administrativo da Garantioeste, sediada em Toledo (PR). Para Ricardo Cavinato, Sociedades de Garantia de Crédito diretor executivo da Garantiserra, seria importante que acumulado até dez/2012 as SGC, de alguma forma, fizessem parte do sistema financeiro nacional. Com uma carteira de risco ativo Indicadores atualmente na casa dos R$ 2,5 milhões, a entidade, que Número de Sócios 1.102 opera na rica região da serra gaúcha, tem cooperativas Quantidade de Operações 1.005 de crédito e o Banco do Brasil entre os agentes financeiros com que trabalha, mas não possui convênio com Operações (em reais/milhares) nenhum dos grandes bancos privados nacionais. “Muitos até desconhecem como as sociedades funcionam”, Valor das Operações R$ 34.813 diz Cavinato. Valor de Garantias R$ 21.949 Segurança – A regulamentação já foi proposta ao Ticket Médio das Operações R$ 34 Banco Central, que vem estudando o assunto, mas não Ticket Médio das Garantias R$ 21 há prazo para que uma decisão seja tomada. Uma das dificuldades é que as SGC funcionam hoje como orgaFonte: Sebrae Divulgação

mas também para possibilitar o uso mais eficiente do crédito pelas micro e pequenas empresas”, afirma o direto-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos.

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Morgue File

Na Espanha, as sociedades de garantia recíproca, que funcionam desde 1988, dão aval para mais de 40 bancos e possuem volume de crédito de mais de 7 bilhões de euros.

concessão de crédito para pequenos negócios têm um papel importante. No entanto, naqueles em que sistemas de garantias são mais desenvolvidos, a regulamentação é um dos aspectos mais importantes. Na Espanha, sociedades de garantia recíproca (SGR) começaram a operar a partir de 1988. Elas fazem parte do sistema financeiro, são regulamentadas pelo Banco de Espanha, e, embora não sejam instituições fornecedoras de crédito, obedecem às regras de Basileia. As SGR espanholas dão aval para mais de 40 bancos e possuem um volume de

risco vivo de mais de 7 bilhões de euros, refletindo a importância que as micro e pequenas empresas têm para a economia do país. Mais de 80% do PIB espanhol depende das MPE, que são responsáveis por 90% dos empregos na economia. As SGR também contam com o suporte de uma instituição de segundo piso, a Companhia Espanhola de Reafiançamento (Cersa), sociedade estatal que reavaliza as operações de garantia de crédito ou faz a cobertura parcial do risco assumido pelas entidades. Em Portugal, sociedades de garantia mútua (SGM) começaram a operar em 1994. Além de viabilizarem empréstimos bancários, elas forneSituação das Sociedades de Garantia de Crédito no Brasil cem garantias em outras operações, como licitações Em fase Novas públicas, em que muitas vezes Constituídas Operando pré-operacional Iniciativas são exigidas garantias bancárias a fim de assegurar capaciParaná 5 2 3 0 tação técnica e financeira das empresas participantes. A Minas Gerais 1 0 1 3 atuação das SGM é regulaRio de Janeiro 1 1 0 1 mentada pelo banco central português. O país também 1 1 0 0 Paraíba possui um fundo nacional de 1 Goiás resseguro ou de contragarantia, que cobre parte do risco 1 0 1 0 Rio Grande do Sul das SGM – o Fundo de Contragarantia Mútuo, que recebe 9 4 5 6 Total contribuição de recursos públicos.  Fonte: Sebrae RUMOS - 51 – Janeiro/Fevereiro 2013


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LIVROS

O mundo do trabalho nas MPEs Com o objetivo de auxiliar no desenho de políticas públicas para as micro e pequenas empresas, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas lançam um estudo sobre as condições de trabalho nesse segmento, que emprega 40 milhões de pessoas.

Um olhar detalhado sobre as relações trabalhistas no universo das micro e pequenas empresas no Brasil. É o que o leitor encontra na obra Micro e Pequenas Empresas - Mercado de Trabalho e Implicação para o Desenvolvimento, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que reúne estudos sobre as relações de trabalho e as especificidades sociais das MPEs. A legislação brasileira define como micro e pequenas empresas os empreendimentos que faturam até três milhões de reais por ano, estando eles divididos em três categorias: microempreendedor individual, micro e pequena empresa. Segundo dados do Sebrae, hoje esse segmento responde por sete milhões de negócios formalmente registrados no país e por 2/3 das pessoas ocupadas no setor privado. São 15 milhões de empregados com carteira assinada – praticamente metade dos postos de trabalho formais do Brasil –, mas, se forem considerados os empregadores e as ocupações informais, o segmento chega a empregar 40 milhões de pessoas. A publicação traz elementos para uma reflexão mais profunda sobre a recente evolução e a situação do mundo do trabalho e da proteção social no segmento de micro e pequenas empresas – especialmente no atual contexto de expansão do emprego formal e melhora nos rendimentos do trabalho. Seja em função da importância econômica das MPEs, seja por seu enorme peso no total das ocupações ou por suas relações com o contingente da população sem cobertura previdenciária, tornou-se cada vez mais importante a realização de estudos que abordam as especificidades das ocupações, da estrutura social, da informalidade, da relação com a previdência social, das condições e

Micro e Pequenas Empresas Mercado de Trabalho e Implicações para o Desenvolvimento Anselmo dos Santos, José Krein e André Calixtre (orgs.) Ipea, 232 p., 2012.

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relações de trabalho, da rotatividade no emprego, e de questões ligadas à produtividade. Diferentemente das grandes corporações, que dinamizam cadeias produtivas devido ao seu poder econômico, os inúmeros empreendimentos menores que atuam em torno de organizações mais bem estruturadas – produzindo também riqueza, renda e emprego – são dotados de dinâmicas específicas, cuja compreensão é fundamental para a criação e aprimoramento de políticas públicas para o setor. É como ressalta o economista e presidente do Ipea, Marcelo Côrtes Neri, no prefácio do livro: “O mundo das micro e pequenas empresas (MPEs) possui grande diversidade de padrões de reprodução econômica em meio ao desenvolvimento capitalista brasileiro. Responsáveis por parte considerável do emprego da força de trabalho na economia, essas empresas estão marcadas pelas profundas desigualdades de produtividade, de acesso ao financiamento e recursos próprios para investimento e de capacidades inovativas que levam a distintas estruturas de contratação e proteção do emprego no interior delas. A alta rotatividade do trabalho e o emprego informal de baixa qualidade convivem com formas dinâmicas de contratação, muitas vezes superiores às das grandes empresas, o que mostra mais uma vez o traço heterogêneo deste segmento, que demanda políticas públicas específicas à realidade exposta pelas MPEs”. O livro é composto por seis artigos, organizados pelos pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp) Anselmo Luís dos Santos e José Dari Krein e pelo chefe da Assessoria Técnica do Ipea, André Bojikian Calixtre.


Pequenos negócios

Retorno ao passado

A presente coletânea visa promover o debate sobre desenvolvimento na perspectiva dos pequenos negócios, a partir de abordagens que privilegiam a reflexão teórica da prática, conectando a discussão acadêmica com o cotidiano da assistência técnicas e dos serviços empresariais. Com duas edições temáticas anuais, a coletânea é uma publicação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), sob a coordenação do diretor-técnico Carlos Alberto dos Santos. O volume 3 é dedicado à inovação e reúne 22 artigos. Trata-se de obra coletiva, com a participação de vários especialistas e autoridades que se debruçaram sobre esse tema, que é fundamental para o desenvolvimento.

Os economistas Pedro Fonseca e Pedro Bastos recuperam a história do governo Getúlio Vargas para trazer luz sobre o atual processo de retomada do desenvolvimento. O presidente, que deixou o poder de forma trágica, ao suicidar-se, em 1954, é retratado nesta obra por meio de diferentes pontos de vista. Ao longo de seus vários capítulos, o livro reaviva nuances esmaecidas da época do governante, de suas realizações e das personalidades que ajudaram a construir sua imagem das narrativas que buscaram detratálo. Esse é um importante relato de um governo que deixou um legado fundamental para o país, com a criação do BNDES, Eletrobras e Petrobras.

Pequenos Negócios – Desafios e Perspectivas, vol. 3/Inovação, Carlos Alberto dos Santos (coord.) Sebrae, 223p., 2012.

A Era Vargas Pedro Paulo Bastos e Pedro Cezar Fonseca Unesp, 478 p., 2012.

Avanço consciente

Um mundo em crise

O livro apresenta uma análise do sistema energético brasileiro. Ao longo dos capítulos, o economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Antonio Dias Leite, debruça-se sobre a posição singular ocupada pelo país no cenário mundial por três décadas. A obra aborda as relações entre energia, economia, meio ambiente e clima, na atualidade e num futuro previsível, que parte das revisões do cenário mundial feitas no âmbito das sucessivas conferências internacionais. Por fim, o autor abre um parênteses para tratar do preço, da tributação da energia, da sua evolução e promoção no Brasil, temas que estão em debate na agenda nacional.

A obra traz um retrato contemporâneo do grande projeto que foi e é a criação da União Europeia, que reúne meio bilhão de pessoas, 27 Estadosmembros e uma economia avaliada em mais de US$ 15 trilhões. Hoje, esse empreendimento enfrenta uma crise, na qual as taxas de desemprego disparam, as moedas despencam e as alianças políticas se esgarçam. Esses temas são discutidos por expoentes de vários segmentos: Peter Mandelson, ex-Comissário Europeu de Comércio; Daniel Cohn-Bendit, líder no parlamento europeu do partido Greens; Josef Joffe, editor da revista semanal alemã Die Zeit; e Niall Ferguson, historiador econômico .

Eficiência e Desperdício da Energia no Brasil Antonio Dias Leite Campus/Elsevier, 139 p., 2013.

Para entender de estratégia

Bíblia capitalista

Quando o assunto é estratégia, Michael Porter é um dos principais nomes na área. Para consolidar e esclarecer algumas das ideias do autor, Joan Magretta, que o acompanha há duas décadas, usa sua experiência para traduzir as ideias desse especialista, oferecendo ao leitor possibilidades reais de colocá-las em prática, por meio de exemplos ilustrativos atuais. O texto aborda os principais conceitos trabalhados por Porter sobre gerenciamento estratégico, como vantagem competitiva, cadeia de valor, custo relativo e diferenciação. Há ainda um capítulo com perguntas respondidas por ele, baseado nas dúvidas mais frequentes dos gestores.

Unir ensinamentos da Bíblia com gestão empresarial, dessa proposta inusitada os autores William Douglas e Rubens Teixeira constroem um manual com 25 orientações para consolidar uma boa carreira. São lições sobre a importância do esforço e da dedicação ao trabalho, da incansável busca de conhecimento e evolução pessoal, do respeito aos outros e, acima de tudo, de um forte senso de honestidade. Os autores ainda relacionam os “ensinamentos” que extraem da Bíblia com exemplos de sucesso de grandes empresários e pensadores da administração, como Warren Buffett, Napoleon Hill e Jim Collins. O prefácio é de Eike Batista.

Entendendo Michael Porter O guia essencial da competição e estratégia Joan Magretta HSM, 248 p., 2012.

RUMOS - 53 – Janeiro/Fevereiro 2013

A Experiência Europeia Fracassou? Peter Mandelson e outros Campus, 256 p., 2012.

As 25 Leis Bíblicas do Sucesso William Douglas e Rubens Teixeira Sextante, 192 p., 2012.


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CARTAS DO LEITOR Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 429 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall - Brasília - DF – CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 Fax: (21) 2109.6004 E-mail: abderj@abde.org.br

CONSULTOR Somos uma consultoria com grande atuação no mercado financeiro, inclusive participamos da montagem das Agências de Fomento de São Paulo e de Alagoas. Temos muito interesse em receber a conceituada Revista Rumos, pois entendemos que ela é um veículo muito importante no mercado de fomento e de desenvolvimento. Alexandre Gomide Pimenta, consultor sênior de TI e processos. São Paulo (SP). UNILAVRAS Venho agradecer o envio da Revista Rumos, ano 37, n. 266, nov./dez.12, pois trata-se de um material rico em pesquisas para nosso corpo discente e docente. Mila Lamounier Palhares, bibliotecária responsável, Fundação Educacional de Lavras. Lavras (MG). PROFESSOR Achei interessante o conteúdo da matéria com a professora Helena Bomeny na seção Expertise, edição nº 264 dessa revista. É de suma importância que educação e desenvolvimento sejam vistos como temas afins. Muito se avançou nos últimos anos e a pesquisadora aponta essas melhorias. Porém, há ainda muito o que fazer. João Gilberto Carvalho, professor. Rio de Janeiro (RJ). HOTEL Recebi a edição nº. 265, referente a set./out. de 2012, que está ótima. Parabéns. Abraços. Samir Curi Hallal, diretor do Curi Palace - Hotel. Pelotas (RS). FAUUSP Sou pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e desenvolvo uma pesquisa na área de políticas de transportes. Estou em busca de um artigo veiculado na sua Revista em 1995, cuja referência é: ROCHA, J.G.C. Financiamento de Serviços Públicos: o nó da questão. Revista Rumos, Rio de Janeiro: ABDE, ano 19, n. 111, jan./fev. 1995. Não tenho obtido sucesso na minha busca aqui em São Paulo por esse exemplar. Vocês possuem uma versão digitalizada dela?. Rodrigo Faria, pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, USP. São Paulo (SP).

CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Luciano Coutinho DIRETORIA Presidente: Carlos Henrique Horn 1º Vice-Presidente: Aristóteles Alves de Menezes Júnior Vice-Presidentes: Abidias José de Sousa Júnior, Adilson do Nascimento Anísio, Carlos Alberto dos Santos, João Guerino Balestrassi, José Domingos Vargas, Luiz Antônio Faustino Maronezi, Marcelo de Carvalho Lopes, Marco Aurélio Borges de Almada Abreu. Superintendente-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima

Instituições Associadas à ABDE AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A. AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A. AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. AGERIO – Agência Estadual de Fomento BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Caixa Estadual S.A. Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A BANRISUL – Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste do Brasil S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BRB – Banco de Brasília CAIXA – Caixa Econômica Federal DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos FOMENTO – Agência de Fomento do Estado do Tocantins S.A. FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. PIAUÍ FOMENTO – Ag. de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

ECONOMIA

&

D E S E N VO LV I M E N TO

PARA

OS

TEMPOS

Publicação bimestral

ISSN 1415-4722 Ano 37 – Nº 267 Janeiro/Fevereiro 2013

Redação e Administração

INSTITUTO PRESENTE No ano passado, criamos o Instituto Presente, em Teresina, Piauí. Um dos objetivos do Instituto é participar e estimular o debate democrático e qualificado sobre a vida econômica, social, política, cultural e educacional do estado, no contexto do Brasil e do mundo. Promovemos palestras, mesas-redondas, seminários, cursos e editaremos publicações. Temos uma biblioteca com cerca de 5.000 volumes e manteremos uma sala de leitura aberta ao público em geral, onde terão papel de destaque os periódicos. Nessa perspectiva, vimos, pela presente, solicitar que seja considerada a possibilidade de uma assinatura, nesse primeiro ano de existência do Instituto. Acácio Salvador Veras e Silva, presidente. Teresina (PI).

NOVOS

Avenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20020-906

Telefone (21) 2109.6041 Fax (21) 2109.6004 E-mails rumos@abde.org.br Assessora de Comunicação Cristiane Viturino Editora Thais Sena Schettino Equipe Lívia Marques Pimentel Noel Joaquim Faiad Revisão Renato R. Carvalho

RUMOS - 54 – Janeiro/Fevereiro 2013

Capa Noel Joaquim Faiad. Fotos: Portal da Copa/ME e JMJ2013 Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta Conselho Editorial Carlos Alberto dos Santos, Carlos Henrique Horn, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.




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