&
D E S E N VO LV I M E N T O
PA R A
OS
NOVOS
TEMPOS
ANO 36 – Nº 261 – Janeiro - Fevereiro de 2012
ECONOMIA
ABDE
EDITORIAL
Perspectivas
Entrevistas
Clélio Campolina
Desenvolvimento regional
Jurandir Santiago Banco do Nordeste
Marcos Cavalcanti Inteligência Competitiva
SUMÁRIO Entrevista Jurandir Santiago Pela redução das desigualdades
Acervo pessoal
4
CAPA Retrospectiva 2012 Cautela
Noel Joaquim Faiad
30
Amazônia Comércio Crescimento exponencial
Divulgação
42
AO LEITOR om a notícia de que a soma de todos os bens e serviços produzidos no país em 2011 totalizou R$ 4,143 trilhões e cresceu 2,7% no ano passado, na comparação com 2010, aumentam as expectativas com relação ao desempenho da economia brasileira em 2012. Com a crise internacional rondando os mercados e provocando grande suspense sobre seus possíveis e indesejáveis impactos, Rumos foi ouvir o que pensam economistas, acadêmicos e líderes empresariais a respeito de como deverá ser 2012 para o Brasil. A síntese de seus comentários recomenda cautela. Um dos entrevistados desta edição é Clélio Campolina, reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que nos fala sobre um assunto no qual se especializou e se transformou em referência nacional: desenvolvimento regional. Na esteira do mesmo tema está outro entrevistado deste número: Jurandir Santiago, presidente do Banco do Nordeste, um ícone do desenvolvimento da região. Fechando o rol de entrevistados, o professor Marcos Cavalcanti, da Coppe-UFRJ, nos dá uma aula sobre conhecimento, destrinchando as nuances e a importância da inteligência competitiva no universo corporativo. Entre os articulistas deste número está Helena Lastres, coordenadora do Comitê de Arranjos Produtivos e Desenvolvimento Regional da Presidência do BNDES. Ela defende a atuação das instituiçõe financeiras de fomento como instrumentos de planejamento estadual. Boa leitura!
C
7 10 12 14 18 20 38 40 46 48 Seções
RUMOS - 3 – Janeiro/Fevereiro 2012
EM DIA Adilson de Oliveira Rio+20 Desafio energético
PANORAMA Ignacy Sachs O antropoceno Às portas de uma nova era
OPINIÃO Antonio Delfim Netto Economia Investimento e credibilidade
EXPERTISE Conhecimento A alma do negócio
Extremo Sul Gestão Rio Grande do Sul lança política industrial
ENTREVISTA Clélio Campolina Desenvolvimento regional Pela desconcentração territorial
NORDESTE EMPREENDEDOR Algodão Produtividade na Bahia supera média mundial
INOVAÇÃO EMBRAPII Reforço para a área industrial
REFLEXÃO Helena Lastres Instituições financeiras de fomento Instrumentos de planejamento estadual MICRO E PEQUENAS Microfinanças Oscip, papel estratégico
44 52
FOMENTO LIVROS
Jurandir Santiago
ENTREVISTA Por Luiz Cláudio Dias Reis
BNB
Pela redução das Jurandir Santiago preside o BNB desde junho de 2011. Este ano, sob o seu comando, o banco – um ícone do desenvolvimento do Nordeste – completará 60 anos, e suas bem-sucedidas ações de fomento continuam servindo de inspiração a outras instituições do país.
R
umos – Qual o balanço que o senhor faz dos seus primeiros meses à frente do BNB? Santiago – Um balanço bastante positivo, em função da satisfação e do enorme aprendizado que é estar à frente de uma instituição tão importante como o BNB. Tratase de uma oportunidade especial, sobretudo pelo fato de que é missão do banco contribuir para reduzir as desigualdades regionais do Nordeste brasileiro em relação ao restante do país. Poder conhecer uma equipe de funcionários tão determinada e consciente do objetivo de representar a principal agência de desenvolvimento do governo federal na região Nordeste do Brasil também é motivo de muita satisfação para mim.
Rumos – Como o senhor avalia a interação do BNB com as agências de fomento do Nordeste? Santiago – Avalio essa interação como uma relação extremamente positiva. O BNB já tem, por exemplo, alguns convênios celebrados com os estados de Sergipe, Bahia e Rio Grande do Norte, e entendemos que essas iniciativas podem e devem ser replicadas nos demais estados da região, tendo em vista que por meio desses convênios é possível ampliar os braços de atuação do banco, contando sempre com o especial apoio das agências de fomento locais. Com todos juntos, remando na mesma direção, reduziremos as desigualdades e promoveremos o desenvolvimento do Nordeste. Rumos – O senhor entende que essa interação pode ser ainda mais ampliada? Santiago – O Banco do Nordeste sempre estará à disposição das agências de fomento dos diversos estados da região para ampliar ou estabelecer novas parcerias. Acredito que sempre
há uma possibilidade de ampliação, de melhoria e de busca de novas alternativas, sobretudo quando se usa a capacidade ilimitada da criatividade. Rumos – Como o banco atua em função da questão da inclusão social? Santiago – De diversas formas. O BNB estabeleceu convênios com vários ministérios visando participar, ativamente, dos programas de combate à miséria, o principal objetivo do governo federal. Um deles, por exemplo, é o Programa Água para Todos, que prevê a construção de cisternas para captação de água da chuva em locais onde não há água encanada. O BNB está participando ativamente da construção de 25 mil dessas cisternas em toda a região Nordeste. Nesse sentido, temos parcerias com o Ministério de Desenvolvimento Agrário, com o Ministério da Ação Social, mas destaco como principal ação de inclusão do BNB – para garantir dignidade às pessoas de menor renda no Nordeste brasileiro –, o programa de Microcrédito Produtivo Orientado. Por meio da concessão do crédito a pessoas que, em geral, não teriam acesso a crédito em outra instituição, possibilitamos a inclusão bancária e, principalmente, a inclusão produtiva. Ou seja, a pessoa, por meio da sua própria força de trabalho, consegue gerar recursos capazes de garantir a sua alimentação, a educação do seu filho, enfim, o seu sustento. O BNB também atua fortemente na área da inclusão cultural. Afinal, por meio da cultura é possível recuperar crianças e jovens expostos às drogas e a outras mazelas das ruas e dar-lhes a esperança de um futuro melhor. Rumos – Quais as perspectivas do BNB com relação ao Crediamigo, que já ultrapassou a marca de um milhão
RUMOS - 4 – Janeiro/Fevereiro 2012
Marcos Studart
desigualdades
Jurandir Vieira Santiago é graduado em Direito pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Com pós-graduação em Consultoria Empresarial pelo Curso de Extensão Universitária da Universidade de Brasília (UnB) e em Direito Empresarial pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), é diplomado pela Escola de Formação de Governantes (EFG). Com vasta formação curricular nas áreas financeira, de gestão de negócios e de recursos humanos, é instrutor gerencial da Caixa Econômica Federal (Caixa), onde exerceu cargos comissionados em praticamente todos os níveis da hierarquia no estado do Ceará, tendo sido superintendente Regional de Fortaleza, de 2003 a 2006. Exerceu o cargo de secretário de Estado Adjunto da Secretaria das Cidades do Estado do Ceará, de
2007 a janeiro de 2011, onde coordenou, entre outros projetos, o desenvolvimento e início da implementação do Projeto Rio Maranguapinho, a maior intervenção urbana da história do Ceará. Nesse mesmo período, representou a Secretaria das Cidades em diversos Órgãos e Conselhos, tais como: Conselho Consultivo de Políticas de Inclusão Social (CCPIS), Conselho Municipal de Habitação Popular de Fortaleza, Conselho de Administração do Instituto Agropolos do Ceará, Conselho de Administração da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e Conselho de Administração Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece). De janeiro a maio de 2011, Santiago foi diretorpresidente da Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará (Cagece).
RUMOS - 5 – Janeiro/Fevereiro 2012
Jurandir Santiago
ENTREVISTA
acreditar que este é o segmento que mais contribuirá para de clientes? O senhor acredita que essa o desenvolvimento do Nordeste brasileiro. experiência exitosa pode ser reeditada em outra região do país? Rumos – Que vantagens podem ser observadas com Santiago – Não só pode ser reeditada, como a recente reclassificação dos portes das empresas norisso já começou a acontecer. O governo federal destinas? utilizou o modelo aplicado pelo BNB no Microcrédito ProSantiago – São várias as vantagens observadas com a dutivo Orientado visando ampliá-lo para as demais instituireclassificação. A mais importante delas é a igualdade de ções públicas de crédito, como a Caixa Econômica, o Banco condições, uma vez que, anteriormente, para a obtenção do Brasil e o Banco da Amazônia. No microcrédito urbano, de crédito, as empresas do Nordeste brasileiro eram claso BNB já tem mais de um milhão de clientes na carteira ativa sificadas de uma forma diferente das empresas de outras e, no microcrédito rural, mais de 700 mil clientes. Ou seja, o regiões do país, o que, no meu banco está atingindo, assim, quase entendimento, não fazia nenhum dois milhões de famílias, pois é presentido. Portanto, empresas braciso entender que cada uma dessas sileiras que faturem, por exemplo, operações tem uma família por trás R$ 10 milhões têm direito aos que está tendo acesso a esse tipo de mesmos benefícios, independenoperação de crédito exclusiva. E as te da região onde estão localizaperspectivas são extremamente posio microcrédito das. E isso foi bem entendido tivas. Crescemos, em 2011, 40% do urbano, o BNB já pelo Conselho Deliberativo da valor contratado nas operações de Superintendência do Desenvolvimicrocrédito, e a expectativa para tem mais de um mento do Nordeste (Sudene), este ano é que o banco supere a marmilhão de clientes que aprovou essa alteração, uma ca de R$ 4 bilhões aplicados no demanda antiga, apresentada Microcrédito Produtivo Orientado. na carteira ativa e, pelo BNB, em novembro de Portanto, esse programa é uma das no microcrédito 2011, e que possibilita ao banco principais e mais concretas ferraoferecer, a um número muito maimentas que possibilitam ações de rural, mais de 700 or de empresas, condições operainclusão produtiva, cuja consequênmil clientes. Ou cionais diferenciadas nas linhas cia é a geração de dignidade e a redude crédito do FNE para empresas ção da miséria extrema que ainda seja, o banco está que antes se sujeitavam a condiatinge grande parte dos nossos atingindo, assim, ções menos favoráveis, sobretuirmãos nordestinos. E esse objetivo do no que se refere a prazo e a está em absoluta harmonia com quase dois milhões taxa de juros. Isso é muito imporuma das grandes ações que a preside famílias. tante, porque se a empresa tem denta Dilma Rousseff definiu para acesso a linhas de crédito em cono seu governo. dições diferenciadas e mais favoráveis, ela consegue gerar um Rumos – Que importância o resultado bem maior. senhor confere às micro e pequenas empresas, sobretudo no que tange ao processo de Rumos – Qual é a importância do Escritório Técnico desenvolvimento do país? de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) para o Santiago – Uma importância fundamental. As micro e desenvolvimento da economia nordestina? pequenas empresas, não só no Brasil, como em várias outras Santiago – O Etene é uma referência, não só no contexto partes do mundo – e isso já ficou amplamente comprovado de atuação do BNB, mas também para além das fronteiras –, são as principais geradoras de emprego e renda. No Nordo banco, inclusive, para fora da própria região Nordeste. deste brasileiro não é diferente. A maior parte dos empregos Ao longo da sua bem-sucedida história, o Etene contribugerados na região provém de micro e pequenas empresas, taniu com inúmeros estudos que possibilitaram, a diversos to na área urbana como na área rural. E o BNB não só acredigovernos, um planejamento substancial das suas ações de ta muito fortemente nesse segmento como, desde 2011, vem desenvolvimento. O BNB apoia o trabalho do Etene, por redefinindo o foco de atuação para priorizá-lo. Por exemplo, entender que se trata de um instrumento que deve se fazer do total de recursos do Fundo Constitucional de Financiacada vez mais presente na busca de soluções para grande mento do Nordeste (FNE) previstos para 2012 – R$ 11,5 parte dos problemas do Nordeste, além de ser inspirador bilhões –, 51% serão destinados a empresas de micro e de políticas governamentais nos três âmbitos: federal, estapequeno porte, exatamente atendendo a uma direção origidual ou municipal. n nada da Presidência da República, mas, principalmente, por
N
RUMOS - 6 – Janeiro/Fevereiro 2012
EM DIA RIO+20
Desafio energético Noel Joaquim Faiad
Adilson de Oliveira Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ).
P
assados pouco mais de dois séculos de desenvolvimento econômico assentado no consumo intensivo de combustíveis fósseis, a trajetória de desenvolvimento econômico baseada na exploração desses recursos mostra diversos sinais de disfunção. A evidência mais forte desse problema, porém não a única, é o risco de mudanças climáticas vinculadas às emissões de gases que provocam o efeito estufa. Apesar de o consenso científico sugerir a urgência de medidas efetivas para reverter a trajetória atual de emissões de gases, o protocolo de Kyoto perderá vigência em 2012, sem sinais de progresso na reunião de cúpula programada para junho deste ano, no Rio de Janeiro. A transição das economias industriais para sociedades com baixo consumo de carbono vem sendo negociada há pouco mais de duas décadas. Porém o otimismo gerado em Kyoto desvaneceu após a recusa americana em ratificar o tratado. Os países industrializados não querem correr o risco de perda da competitividade de diversos segmentos produtivos de sua economia. Economia em expansão, a principal fonte atual de emissões de gases que provocam o efeito estufa no Brasil é o desmatamento. Porém, com a redução do desmatamento dos últimos anos, a parcela das emissões de CO2 do sistema energético nas emissões totais passou de 15% para 25% entre 2005 e 2010. Mantida essa trajetória, os “ganhos climáticos” obtidos com a redução do desmatamento serão anulados pelas “perdas climáticas” do sistema energético. Para evitar esse problema, é necessário minimizar as emissões de CO2 do sistema energético. O grande desafio da política energética brasileira é alcançar esse objetivo sem comprometer a expansão do consumo de energia, indispensável para atender à melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. O Brasil adotou precocemente políticas indutoras do uso de fontes renováveis na década de 1970. A matriz energética atual, com intensa participação de fontes renováveis de energia, é fruto de políticas adotadas no passado, quando o país era fortemente dependente de importações de petróleo. Atualmente a participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira é muito superior (mais de 50%) à dos países industrializados (menos de 10%). Estruturado em torno de hidrelétricas, o consumo marginal de combus-
tíveis na geração elétrica é marginal e nossa logística de transportes, apesar de fundamentalmente alimentada com derivados de petróleo, utiliza parcela significativa de etanol e, crescentemente, de biodiesel. O princípio da precaução indica a necessidade de acelerar a transição verde da economia global. Processo complexo, essa transição contém riscos elevados, cuja dificuldade de gestão vem inibindo decisões urgentes. Credenciado por sua matriz energética, a Rio+20 oferece ao Brasil a oportunidade de ocupar posição relevante no núcleo coordenador da transição da economia global para sociedades de baixo carbono. Sua posição geográfica e a dimensão de sua economia brasileira criam condições para o Brasil assumir a liderança da transição verde da América do Sul. A identificação de vastos reservatórios de petróleo no pré-sal indica que o país passará à situação de significativo exportador de petróleo no final da presente década. Nessa condição, o Brasil pode oferecer a segurança energética para seus parceiros da transição verde, que é indispensável para a condução da transição sem graves conflitos sociais. Em contrapartida, o Brasil deve obter condições mais favoráveis para sua inserção (e a da América do Sul) na economia global. Ao trocar o desmatamento de matas nativas por florestas plantadas, o Brasil deu o passo mais importante para sua inserção no núcleo coordenador da transição verde global. A mitigação de emissões de CO2 do sistema energético é tarefa menos complexa. No entanto, o foco da política energética verde não deve ser no setor elétrico, onde as oportunidades de redução de emissões de CO2 são pouco relevantes. Nossas maiores oportunidades residem na promoção da eficiência energética, na aceleração da difusão do uso do gás natural e, principalmente, na reorganização da logística de transportes, com a expansão da substituição dos derivados de petróleo por fontes alternativas. Há muito ceticismo quanto aos resultados efetivos que podem ser alcançados da Rio+20. Como país sede do evento, o Brasil tem a responsabilidade de superar esse ceticismo. Uma agenda clara e objetiva de suas políticas para explorar essas oportunidades contribuirá muito para que esse ceticismo desapareça. n
RUMOS - 7 – Janeiro/Fevereiro 2012
PANORAMA O ANTROPOCENO
Às portas de uma nova era Ignacy Sachs Luiz Reis
Professor Emérito da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais em Paris.
C
omo já tive a ocasião de escrever em Rumos (n° 259, de setembro/outubro de 2011), tudo indica que a Cúpula da Terra do Rio de Janeiro de 2012 passará à história como a primeira grande reunião das Nações Unidas marcando a entrada da humanidade numa nova era – o antropoceno finalmente assumido com um atraso de mais de dois séculos com relação à Revolução Industrial. Essencialmente, o antropoceno implica no reconhecimento, por parte dos humanos, da sua responsabilidade pelos estragos provocados por uma economia predatória (a raubwirtschaft) e da necessidade que daí decorre de buscar novos rumos para estratégias de desenvolvimento. Estas devem aliar a prudência ecológica ao imperativo social – a prioridade a ser dada à redução drástica das desigualdades abissais que hoje separam as minorias abastadas da maioria ainda condenada a lutar em condições difíceis pela sobrevivência. Lembrando que somos hoje mais de 7 bilhões e que seremos 9 bilhões em meados deste século! Os próximos decênios dirão se fomos capazes de enfrentar este desafio como verdadeiros geonautas – neologismo feliz proposto pelo escritor francês Erik Orsenna. A alternativa é de nos comportarmos mais uma vez como aprendizes de feiticeiro. Lembram-se ainda da Fantasia, o belíssimo desenho animado de Walt Disney e do pobre Mickey Mouse lutando contra a inundação? Aos que dizem que o futuro pertence a uma economia verde, direi que a sua bandeira deve ser ao mesmo tempo verde e vermelha (os portugueses que me perdoem essa apropriação). Não temos o direito de sacrificar os objetivos sociais sob o pretexto de evitar impactos ambientais negativos. Da mesma maneira, não podemos alegar urgências sociais para justificar a irresponsabilidade ambiental sob o risco de provocar catástrofes naturais acarretando, por sua vez, graves consequências sociais. Mais do que nunca, devemos basear a nossa conduta num tripé, juntando à responsabilidade social a prudência ambiental e a viabilidade econômica. Sem esta última, nada acontece, por isso, devemos nos esforçar para assegurá-la em todas as nossas ações. Como proceder para avançar a partir da próxima Cúpula do Rio de Janeiro, considerada para fins práticos o ano zero do
antropoceno? Não devemos ceder à ilusão que os mercados, deixados a si mesmos, sabem melhor. Bem ao contrário, eles são míopes e socialmente insensíveis. Embora o planejamento não esteja atualmente na moda, convém reabilitá-lo. Não deixa de ser um paradoxo que o planejamento prosperou na era do ábaco e está sendo posto de lado na era dos computadores. No entanto, estes últimos por si sós não garantem um planejamento eficiente na ausência de um diálogo democrático quadripartite entre o Estado desenvolvimentista, os empresários, os trabalhadores e a sociedade civil organizada. É nesta direção que devemos avançar com a maior urgência. Os países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) deveriam ser convidados a elaborar planos nacionais de desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável, usando conceitos e metodologias comparáveis, tais como a pegada ecológica e a biocapacidade, por um lado; e oportunidades de trabalho decente, por outro. Os planos deveriam abranger um horizonte temporal de quinze a vinte anos, com detalhamento maior para o primeiro quinquênio (20162020). A etapa seguinte consistiria na harmonização destes planos nacionais, começando por consultas no âmbito das comissões regionais da ONU e culminando na elaboração de um eventual plano mundial com a coordenação assumida pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Para tanto, a ONU poderia ser posta à contribuição de duas maneiras brevemente mencionadas no meu artigo anterior. Por um lado, as Nações Unidas deveriam criar um importante Fundo de Desenvolvimento Includente e Sustentável, constituído por 1% do PIB dos países ricos, a taxa Tobin sobre especulações financeiras, um imposto sobre o carbono emitido (com a dupla finalidade de incentivar a redução das emissões e o financiamento do desenvolvimento) e pedágios sobre ares e oceanos, cobrados pelo uso destes bens comuns da humanidade, a começar por uma pequena sobretaxa sobre passagens de avião e fretes da qual os aviões e os navios dos países menos desenvolvidos poderiam ser isentos. Por outro, devemos envidar esforços para tornar operacionais redes de cooperação científica e técnica organizadas a partir da geografia dos grandes biomas, privilegiando, portanto, mais os paralelos do que os meridianos e a indispensável cooperação Sul-Sul, com o Brasil e a Índia como os dois abre-alas. n
RUMOS - 10 – Janeiro/Fevereiro 2012
OPINIÃO ECONOMIA
Investimento e credibilidade Marcelo Correa
Antonio Delfim Netto Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.
O
objetivo de fazer a economia crescer acima de 4% em 2012, defendido pela área econômica do governo Dilma Rousseff, tem condições bastante razoáveis de ser atingido. Há razões para acreditar que ele é factível, olhando-se o retrospecto mais recente da forma como foram conduzidas as políticas econômica e social neste primeiro ano da atual administração das equipes do Ministério da Fazenda e do Banco Central. Os resultados foram bastante bons, na medida em que tiveram de enfrentar o agravamento do quadro internacional de desintegração das economias desenvolvidas e a perspectiva de forte perturbação no sistema bancário europeu. Hoje ficou evidente que a mudança que deu ênfase à política fiscal proporcionou maior grau de liberdade à política monetária para usar outros instrumentos como, por exemplo, o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro (IOF) sobre transações que envolvem a taxa de câmbio. A escolha demonstrou, com grande competência, que a ação do governo estava mais antenada com a realidade do mundo e com o desenvolvimento recente da economia do que uma boa parte dos seus críticos. Isso é objetivamente revelado na enorme aprovação popular do primeiro ano da presidenta Dilma Rousseff. É justo comemorar como o fato mais significativo de 2011 a credibilidade crescente da política fiscal – em meio a dúvidas iniciais – pelo cumprimento do objetivo de fazer o superávit primário em torno de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso deu conforto ao Banco Central para que exercesse a sua musculatura iniciando uma queda da taxa real de juros. O compromisso de fazê-lo em 3,1% do PIB em 2012, como prometido pelo governo, é importante para a continuação da redução cuidadosa da taxa de juros real para um nível parecido aos do mercado internacional. Esta é uma das condições necessárias para que funcione adequadamente o sistema de câmbio flutuante. É preciso lembrar que, em primeiro lugar, a taxa de câmbio – juntamente com adequada matriz de tarifas efetivas – determina o equilíbrio entre o valor do fluxo de bens e serviços exportados e dos importados e é um dos preços mais importantes para manter a economia num alto nível de utili-
zação dos fatores de produção internos, inclusive o emprego da mão de obra e, em segundo lugar, que ela é sensível à política fiscal. Uma sólida política fiscal que controle o ritmo de crescimento das despesas de custeio e transferências abrirá espaços para o investimento público, permitindo à política monetária continuar a reduzir a taxa de juros real e, simultaneamente, ampliar o crédito ao setor privado. Ela é condição fundamental para um crescimento mais robusto em 2012 com uma taxa de inflação convergindo para a meta de 4,5% e a sustentação de um câmbio real mais amigável com o setor industrial brasileiro. Com relação à situação fiscal (dívida/PIB), não há nada que no momento nos atrapalhe. Não podemos esquecer, entretanto, que a relação dívida líquida/PIB não satisfaz à condição de transparência. Melhor seria usar – como a grande maioria dos países – a relação dívida pública bruta/PIB, que hoje anda em torno de 64%, ou seja, 2/3 maior que a dos emergentes, excluído o Brasil. Quanto aos objetivos para 2012, não há nenhuma razão para supor que não possamos crescer entre 4 e 4,5% (como defende o ministro Guido Mantega) se o governo cumprir seu programa fiscal e ativar os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), atento à flutuação estacional das despesas num ano eleitoral; transferir com rapidez o máximo possível dos investimentos em infraestrutura para o setor privado através de concessões e parcerias; prosseguir na pressão para aprovar o sistema previdenciário público; e eliminar absurdos tributários que continuam a destruir nossas exportações industriais. Nada disso é impossível com a credibilidade da presidenta e sua cômoda maioria no Congresso. Para crescer 4 ou 4,5% em 2012, com a inflação sob controle, o governo tem que fazer a sua parte. Cumprir transparentemente sua meta fiscal e cooptar o setor privado – trabalhadores, empresários e banqueiros – para acreditar no desenvolvimento e realizar os investimentos nos setores de energia, transportes, comunicações, habitação e em praticamente toda a infraestrutura física do país, que dispõe de projetos de altíssimas taxas de retorno. n
RUMOS - 12 – Janeiro/Fevereiro 2012
CONHECIMENTO
A alma do
Noel Joaquim Faiad
EEXPERTISE
Marcos Cavalcanti
RUMOS - 14 – Janeiro/Fevereiro 2012
negócio Doutor em informática pela Université de Paris XI, o professor Marcos Cavalcanti, que afirma ter grande capacidade de entender o todo, as relações entre os diversos componentes desse todo e definir por onde as coisas devem caminhar, numa visão de longo prazo, e a partir daí sugerir estratégias de ação, nos dá uma entrevista (aula) exclusiva sobre o assunto que domina: a inteligência competitiva. Por Yolanda Stein
conteceu no fim da década de 90, no Rio de Janeiro, em plena febre dos videocassetes: uma pessoa, após constatar que em seu bairro não havia locadora de filmes, resolveu usar o dinheiro da aposentadoria para abrir uma. Sua limitada “análise” do mercado local não previu nem pesquisou o interesse dos moradores. Três meses depois, a empresa quebrou. Seu “plano de negócios” foi à falência por uma razão muito simples: no bairro, a maioria não tinha aparelho de videocassete em casa. O exemplo singelo dá uma pista da importância da informação no mundo dos negócios, qualquer que seja o porte do empreendimento. O caso é contado pelo professor Marcos Cavalcanti, coordenador do Centro de Referência em Inteligência Empresarial (Crie), do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), UFRJ, para mostrar que o sucesso ou o fracasso de um negócio estão intimamente ligados ao fator conhecimento das diversas variáveis que o envolvem. “Na falta de informação, toda a sociedade perde. Ele perdeu dinheiro, o empregado que contratou ficou sem o emprego, o aluguel não foi pago. Ninguém ganhou”, diz Cavalcanti, professor do curso de Engenharia da Informação, da Coppe, que este ano forma sua primeira turma. Ele explica que a competitividade das empresas brasileiras sempre esteve baseada em vantagens comparativas oriundas dos fatores clássicos de produção – terra, capital e trabalho. Na nova economia, estas vantagens deixam de ser relevantes diante do novo fator de produção, o conhecimento. “No mundo globalizado, onde a informação se transformou num insumo absolutamente crítico de qualquer negócio, o conhecimento tornou-se imprescindível”, constata. Neste cenário, ganha mais importância o sistema de Inteligência Competitiva, que surgiu na década de 1980, ganhou impulso nos últimos 20 anos, e é adotado por metade das empresas nos Estados Unidos e em países da Europa, embora no Brasil apenas 10% o apliquem.
A
Trata-se de um processo sistemático de coleta, processamento e análise de informações, por meios legais e éticos, que impactam o negócio de uma organização. Ao adotar o sistema, a empresa ganha um instrumental para monitorar e analisar o movimento dos concorrentes, as tendências de mercado, e poder consolidar sua estratégia de ação. Para obter sucesso e ser mais lucrativa, é fundamental para a empresa enxergar além dos próprios limites, avaliando itens como lançamento de novos produtos, mudança na estratégia de preços, público alvo, inovação tecnológica, fusões, aquisições, tendências políticas, econômicas e sociais, legislação e perspectivas futuras. Ou seja, identificar oportunidades e ameaças, antecipar o desenvolvimento do mercado em vez de simplesmente reagir a ele. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), metade da riqueza gerada no mundo atualmente vem do conhecimento. Mas ainda é muito grande o índice de concentração em empresas e países. Embora as multinacionais descentralizem sua produção, com fábricas em vários continentes, a inteligência das operações, a pesquisa e o desenvolvimento, ficam nas matrizes. “Em qualquer setor, a inteligência é fundamental, o conhecimento faz a diferença. Hoje quem acumula riqueza é quem gerencia melhor o conhecimento. Quem planta e fabrica está ficando para trás, como é o caso do Brasil, que voltou a ser um país agroexportador”, analisa Cavalcanti. “O mundo nos aplaude, porque o Brasil está inserido nele como um país exportador de matéria-prima e produtos industriais e importador de conhecimento, acrescenta. O exemplo clássico, segundo ele, é o da indústria automobilística que, teoricamente, é muito competitiva no país, com mais de 15 montadoras de automóveis. Apesar disso, o preço do carro é duas vezes e meia maior que nos Estados Unidos e o dobro da Europa. O motivo, em seu entender, não é o imposto, porque mesmo descontando as taxas, o carro é muito mais caro aqui. Isso considerando que os fatores de produção, como mão de
RUMOS - 15 – Janeiro/Fevereiro 2012
EEXPERTISE
Marcos Cavalcanti obra e energia, são mais baratos no Brasil. estratégia empresarial. O país passa por um momento de visíA explicação estaria “nas estatísticas de remessa vel mudança na política de juros, com seguidas baixas na taxa de lucros das montadoras para as matrizes, com valobásica (Selic) e gestão junto aos bancos para que reduzam seus res gigantescos, além do fator tecnológico”. spreads (diferença entre a taxa de captação e empréstimo de O exemplo citado é o do carro flex (movido a dinheiro), com o propósito de propiciar o crescimento da ecogasolina e álcool num mesmo tanque), único no munnomia. do, cuja produção resultou do desenvolvimento de As equipes de Inteligência Competitiva das empresas, pri170 patentes. Nenhuma brasileira. A inteligência, porvadas ou públicas, grandes ou pequenas, certamente irão tratanto, está no exterior. balhar em cima dessa variável para estabelecer ou manter uma Cavalcanti afirma que a indústria brasileira, lonestratégia de negócios, prospectar mercados e antecipar cenágamente protegida por uma economia fechada, tem rios e tendências. Principalmente levando-se em conta o pouca tradição de investimento momento de crise internacional. Numa em pesquisa e desenvolvimento economia em recessão, dispor de um siste(P&D), embora existam sinais de ma de Inteligência Competitiva pode fazer EXISTEM DIVERSAS aumento de interesse nessas atividuplamente a diferença. dades por parte do setor privado. FORMAS DE SE No campo do financiamento, Cavalcanti cita o exemplo das linhas existentes ANTECIPAR AO Cinco dimensões – Para consipara inovação tecnológica, que não são usaMERCADO E À derar a viabilidade de uma estradas, por total desconhecimento de sua existégia empresarial, seguindo as CONCORRÊNCIA PARA tência. “Isso é problema de inteligência, de normas da Inteligência Competitiva, é falta de informação”, constata. LEVAR AVANTE, COM necessário avaliar cinco variáveis: política, O Banco Nacional de DesenvolvimenSUCESSO, UMA jurídica, tecnológica, econômica e social. to Econômico (BNDES) e a Financiadora Na área política, se houver mudança de ESTRATÉGIA de Estudos e Projetos (Finep) oferecem governos ou da presidência de instituições empréstimos a fundo perdido para projeEMPRESARIAL. públicas, como Banco Central, Banco do tos a serem desenvolvidos em parceria Brasil, instituições de desenvolvimento e com centros de pesquisas de universidafomento, as diretrizes podem ser alteradas, des. São linhas de financiamento público as prioridades mudadas, impactando as empresas. Por isso, essa destinadas a negócios de pequeno porte, microempresas. Mas área precisa ser monitorada regularmente. os potenciais clientes são completamente desinformados, diz Assim também acontece na esfera jurídica. Se a lei muda, o professor. pode prejudicar ou favorecer algum ramo empresarial, como Pelo lado dos bancos, incluindo os de desenvolvimento, aconteceu com a Vésper, que entrou no Rio de Janeiro para ser também falta um trabalho de inteligência capaz de levar a seus espelho da Telemar em telefonia fixa. Sua estratégia de implantapotenciais clientes todo o espectro de financiamento disponíção para poder competir era baseada em uma nova tecnologia, vel. Assim como as instituições bancárias, os gerentes descode telefone por onda de rádio, de longo alcance. nhecem as necessidades dos clientes. Daí a importância de um “Os concorrentes da Vésper entraram com recurso na Agênsistema informatizado que ajude esses gerentes em suas análicia Nacional de Telecomunicações (Anatel), alegando que se trases e decisões. tava de telefonia móvel e não fixa. A Anatel, que regula o mercaNa microempresa, o empresário é igualmente desinformado, interpretou a lei dessa forma e acabou com a Vésper. A do, com o agravante que dispõe de menos tempo para correr empresa faliu porque não avaliou adequadamente essa variável atrás da informação, pois a empresa é ele. No caso citado, da jurídica, que é também política”, conta o professor. pessoa que decidiu montar uma locadora de vídeo e fracassou, A terceira variável é tecnológica. Um negócio pode acabar ou ela poderia ter obtido informações através da Pesquisa Naciooutro abrir em função de uma nova tecnologia, capaz de reverter nal de Amostragem de Domicílios (Pnad), elaborada pelo todo o cenário de um determinado ramo empresarial. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que Cavalcanti cita o exemplo da Renault, fábrica francesa de detalha o que cada domicílio possui em cada bairro das cidades automóveis, que decidiu se antecipar ao mercado de carros movie é de domínio público. dos a hidrogênio e montou um laboratório de pesquisas na CopCavalcanti diz que uma saída seria o Serviço Brasileiro de pe. O Cri foi contratado porque a indústria queria conhecer o Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) contar com um mercado automobilístico brasileiro, saber o que estavam fazensistema de inteligência que se valesse de informações como as do os concorrentes na área de hidrogênio. do Pnad e de outros bancos de dados, para orientar os pequeNuma análise usando as técnicas de Inteligência Competitinos empresários na tomada de decisões. va, soube-se que a Ford e a General Motors estavam também reaExistem algumas iniciativas no sentido de dotar de inforlizando pesquisas na área. “Há cinco anos, a Renault resolveu mação as pequenas empresas, mas tudo ainda é incipiente. fechar o laboratório, embora a Coppe tenha um excelente grupo Uma delas se deu através de uma parceria da Coppe com o Banestudando o assunto. A empresa continua pesquisando o tema, co do Brasil para a execução do Programa de Geração de mas lá fora”, lamenta. Emprego e Renda (Proger), no final da década de 1990. O A quarta variável é econômica. Alterações na política podem microempresário apresentava ao banco um plano de negócios, influir decisivamente para a execução ou continuidade de uma que era analisado por uma equipe da Coppe. RUMOS - 16 – Janeiro/Fevereiro 2012
Caso Embraer – Ele expõe o caso de sucesso da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), que formulou sua estratégia, correu atrás da informação e transformou-se numa grande empresa de aviação, competindo em pé de igualdade no mercado internacional. Há 25 anos, a Embraer detectou, através de um trabalho de inteligência, a tendência de crescimento do mercado de aviação no mundo, tanto de pequeno como de grande porte, mas principalmente a aviação regional, atendida por aeronaves com pouco mais de cem lugares. A empresa tomou então a decisão de ser líder nesse mercado, e partiu para uma análise de Inteligência Competitiva. Não só formulou como concretizou essa estratégia. A estratégia é, portanto, o primeiro capital do conhecimento. O segundo é o capital financeiro; o terceiro, o humano, ou seja, a capacidade de atrair as competências necessárias para ser um player importante no mercado. Em último lugar vem o capital de relacionamento, uma avaliação se a empresa tem a estrutura necessária para o negócio dar certo. Entre 2008 e 2010, o Crie desenvolveu, a pedido do BNDES, uma metodologia de avaliação de empresas, a partir de elementos chamados intangíveis, ou seja, que vão além dos aspectos financeiros: capacidade de inovação, governança, grau de credibilidade do gestor, aptidão para atrair talentos, capacidade de relacionamento no mercado, relação com os fornecedores, acesso a clientes. A metodologia envolve 53 indicadores. E o objetivo foi analisar a capacidade das empresas de formular e estabelecer uma estratégia e identificar mercados, um trabalho diretamente relacionado à Inteligência Competitiva. De posse dessa metodologia, o banco pôde auferir o rating das empresas, seu nível de risco. Nem detetive, nem espião – Não é preciso ser Sherlock Holmes nem seguir os passos de James Bond, o agente 007, para desenvolver um sistema de Inteligência Competitiva. Mas são necessários certos atributos que envolvem algumas qualidades desses personagens, como perspicácia, ousadia, intuição, capacidade de discernimento, de farejar informações, persistência, criatividade, curiosidade.
Também é importante ser dotado de habilidade de expressão, ser influente socialmente, ter bom relacionamento e capacidade de liderança, ter conhecimento setorial, entre outras qualidades que ajudam no exercício do trabalho. Segundo Marcos Cavalcanti, existem diversas formas de se antecipar ao mercado e à concorrência para levar avante com sucesso uma estratégia empresarial. Há muitas informações que são de domínio público e estão ao alcance de qualquer pessoa. Saber onde obtê-las, como processá-las e analisá-las é o xis da questão. A maneira mais usada é participar de eventos, conferências, simpósios, debates, em que são apresentados projetos de uma determinada área. Entrevistar pessoas também é uma prática comum. Outra fonte de informações é o banco de patentes, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Sem falar na pesquisa e coleta de informações em bancos de dados comerciais, estatísticas, relatórios de empresas privadas e públicas do mundo todo. Além da mídia e da internet, inclusive redes sociais. É o trabalho de inteligência que indica como chegar a essas informações e existe muita gente oriunda dessa área, que conhece o caminho para extraí-las. O profissional de inteligência parte para estudar tudo sobre a(s) empresa(s) concorrente(s) e suas linhas de pesquisa, assim como sobre os professores e equipes que desenvolvem os estudos, no intuito de descobrir qual é e como, por exemplo, vem sendo desenvolvida uma determinada tecnologia. “Uma das técnicas é explorar a vaidade das pessoas, instigar e provocar para que revelem detalhes de projetos. Em vista disso, aconselho meus alunos que vão trabalhar nessa área a não se precipitarem em colocar nas redes sociais aquilo que não querem ver divulgado”, conta o professor. Informações, portanto, podem ser obtidas sem que uma lei ou a ética pessoal sejam infringidas. É possível extrair informação sem partir para a escuta, a espionagem. A estimativa é que, dessa forma, se consegue obter 70% das informações desejadas e necessárias para realizar um trabalho de inteligência, tomar decisões e agir estrategicamente. Profissionais que se dedicam à Inteligência Competitiva provêm de diversas áreas, como negócios, finanças, comunicação, recursos humanos, informática, marketing, análise de mercado, gestão de projetos. E já começa a existir o que reúne mais de uma dessas competências, tornando-se um especialista no assunto. Além das especializações e pós-graduações, existem cursos de graduação para formar esse tipo de profissional, como o de Engenharia da Informação, da Coppe, que ensina como gerenciar a informação, produzir conhecimento, analisar e difundir. A formação dos profissionais é fundamental, uma vez que a matéria-prima desse sistema são as pessoas. Embora não seja uma panaceia, Marcos Cavalcanti garante que 90% das empresas bem-sucedidas dispõem de um processo de gestão do conhecimento e de Inteligência Competitiva. n
$
?
RUMOS - 17 – Janeiro/Fevereiro 2012
Noel Joaquim Faiad
A quinta variável é social e envolve conhecimentos de perfil demográfico, faixa etária, perfil de consumo, fatores indispensáveis para que a empresa possa oferecer um produto adequado aos seus clientes. São estas as dimensões levadas em conta para que uma empresa possa estabelecer um sistema de Inteligência Competitiva. É fundamental, no entanto, segundo o professor, estabelecer a estratégia antes de buscar as informações. “O que mais se vê no mercado é a prática ser feita ao contrário: coletar informação para depois montar a estratégia. A regra é: penso primeiro e depois saio em campo em busca de informações. Numa última etapa, determina-se como disseminar isso na empresa, ou seja, que informação vai para quem”, ensina.
SUL
Por Juliana Cariello
Rio Grande do Sul la n O Modelo de Desenvolvimento Industrial do RS ficará completo com a instalação do seu terceiro e último pilar: a política industrial. Os outros dois são: políticas para economia de cooperação e para firma.
E
EXTREMO
GESTÃO
Modelo de Desenvolvimento Industrial
RUMOS - 18 – Janeiro/Fevereiro 2012
Divulgação/SDPI
O
Rio Grande do Sul lançará sua política industrial – o terceiro e último pilar do Modelo de Desenvolvimento Industrial – em março próximo. Este pilar envolve a consolidação e a atração de investimentos da economia tradicional do estado, como agroindústria, e de sua nova economia, como O porto do Rio Grande ficará, basicamente, com produtos de maior valor agregado. A produção de indústria oceânica. Os barcos de apoio e módulos será deslocada para outros municípios gaúchos, como Charqueadas. setores estratégicos contemplados são, ao todo, Política industrial 22, definidos com base em 12 critérios, como geração de Formulada para atrair e consolidar empregos, posicionamento competitivo do estado e poteninvestimentos para a economia cial de desconcentração e alocação em regiões deprimidas. tradicional e para a nova economia. Os outros dois fundamentos do Modelo de Desenvolvimento Industrial do estado do Rio Grande do Sul – políticas O objetivo é fazer para economia de cooperação e para firma – já estão em Política para economia de cooperação com que o PIB andamento. A meta global é fazer com que o Produto Interdo RS cresça Formulada para apoiar as cooperativas, acima da média no Bruto (PIB) do estado cresça acima da média do PIB nacias redes de cooperação e os APLs. do PIB nacional. onal. “O modelo, alinhado com o Programa de Inovação do Brasil e o Programa Brasil Maior do governo federal, se difePolítica para firma rencia dos anteriores pela retomada do planejamento de lonFormulada para tratar cada projeto go prazo e pelo desenvolvimento de um sistema econômide maneira sistêmica. co”, diz Junico Antunes, secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (SDPI).
a nça política industrial A política para firma tem dois objetivos: tratar cada projeto de forma sistêmica, com um gestor profissional do governo como responsável pelo acompanhamento; e articular todos os atores envolvidos em cada empreendimento: as secretarias estaduais, os órgãos do governo federal, os municípios, as universidades, entre outros. Criada em 2011, a Sala do Investidor trata cada negócio de maneira global. Já a política para a economia da cooperação objetiva contribuir com o desenvolvimento das cooperativas, formadas por pessoas físicas e pelos arranjos produtivos locais (APLs) e pelas redes de cooperação, integradas por pessoas jurídicas. “Só as redes de cooperação do Rio Grande do Sul faturam, somadas, R$ 5 bilhões por ano”, contabiliza Antunes. Ele também lembra o quanto foi investido nos APLs no ano passado: R$ 2,3 milhões em 13 projetos de cinco APLs e três núcleos de extensão produtiva, o que beneficiou um conjunto de 2,1 mil empresas pelo menos. As ações foram coordenadas pela Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI). A AGDI é o braço operacional do sistema de desenvolvimento do Rio Grande do Sul. A agência cuida de questões como infraestrutura e energia, desenvolvimento produtivo e inovação, promoção comercial e atração de investimentos e políticas e programas. Já o financiamento do projeto é responsabilidade da agência de fomento gaúcha (Badesul), do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Este último também está diretamente envolvido na formulação de estudos setoriais cujo objetivo é auxiliar no desenvolvimento de políticas para os segmentos selecionados. Entre eles: cadeia do leite e da maçã, gera-
ção de energia a partir de resíduos, suinocultura e indústria oceânica.
Indústria Oceânica – A indústria oceânica, principal segmento da nova economia do Rio Grande do Sul, é responsável por 18,7% dos investimentos anunciados no estado em 2010-2011. Os sete projetos do setor, somados, chegam a R$ 2,7 bilhões contra R$ 4,2 bilhões do segmento celulose, líder em investimentos no período, com 28,2% de participação. O principal motor da indústria oceânica no estado, como no restante do Brasil, é a construção de plataformas e componentes para a Petrobras. A estatal projeta gastos de US$ 224 bilhões de 2010 a 2014 com conteúdo nacional de cerca de 70%. Para aproveitar esta e outras oportunidades, a política industrial do setor engloba a capacitação de mão de obra, a criação de infraestrutura para as empresas e a descentralização das atividades do porto do Rio Grande. Municípios como o de Charqueadas é um dos beneficiados por esta iniciativa. “Vamos deixar os produtos de maior valor agregado no porto do Rio Grande devido ao seu calado maior e, ao mesmo tempo, deslocar a produção de barcos de apoio e módulos para regiões da bacia hidrográfica de menor profundidade. Essas áreas antes eram subaproveitadas ou não utilizadas para essa finalidade”, adianta Junico Antunes. Com a coordenação da Secretaria de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, o BRDE prospecta empresasâncora para a indústria naval, auxilia na discussão do projeto e, ainda, busca as fontes de recursos mais adequadas para o empreendimento. “O banco ajuda a companhia a redimensionar o tamanho do projeto de acordo com a oportunidade de mercado e indica a melhor localização para o seu desenvolvimento, com o intuito de torná-lo o mais viável possível”, explica Carlos José Ponzoni, gerente de Planejamento do RS tem R$ 14,8 bi de investimentos produtivos anunciados em 2010-2011 BRDE, instituição financeira pública de fomento que opera desde 1961. Percentual dos Empregos Empregos O banco dispõe de recursos para financiaInvestimentos Segmento investimentos diretos indiretos mento de longo prazo para investimentos em anunciados totais no estado estimados estimados obras civis e instalações novas, ou reformas, em projetos de implantação, ampliação, reloAgroindústria (economia tradicional) calização ou modernização. O crédito também R$ 5,3 milhões 3,6% 658 0 contempla a aquisição de equipamentos nacioCelulose nais novos para a cadeia produtiva da indústria (setor líder em investimentos oceânica, englobando desde o fornecimento anunciados no período) R$ 4,2 bilhões 28,2% 10.500 16.500 de matérias-primas, componentes e sistemas à integração final dos módulos, até cascos e granIndústria Oceânica (nova economia) R$ 2,7 bilhões 18,7% des equipamentos, o que origina plataformas, 19.200 26.000 sondas, etc. O percentual financiado pelo BRDE depende do porte da empresa, e as Fonte: Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento do Rio Grande do Sul (SDPI) taxas de juros, da finalidade do crédito. n RUMOS - 19 – Janeiro/Fevereiro 2012
Clélio Campolina
ENTREVISTA Por Luiz Cláudio Dias Reis
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Pela desconcen t Referência nacional no tema do desenvolvimento regional, Clélio Campolina faz uma análise, nesta entrevista esclusiva à Rumos, de como o Brasil tem tratado dessa questão.
R
umos – Quais são, no seu entendimento, os principais entraves que dificultam o desenvolvimento mais harmônico das regiões brasileiras?
Rumos – Quais são as linhas mestras da política de desenvolvimento regional mais adequada para o Brasil? Campolina – A dinâmica territorial do desenvolvimento é determinada por dois grandes elementos estruturais: a rede urbana, a rede cidades; e o sistema de infraestrutura, em especial, os transportes, que determinam o sentido dos fluxos. Não se pode pensar uma política regional desvinculada da política urbana. O casamento dessas duas dimensões é decisivo. Para pensar uma política coerente de desenvolvimento regional no médio e no longo prazos no Brasil, é necessário ter clareza das
Foca Lisboa
Campolina – A situação atual do desenvolvimento regional brasileiro decorre de um processo histórico. O Brasil vinculou as regiões produtoras no período colonial aos portos. Portanto, nunca houve na história brasileira, até Juscelino Kubitschek, uma política de integração territorial que pudesse contribuir para formar um mercado interno e, ao mesmo tempo, uma infraestrutra de suporte a essa integração. Como a economia mercantil pressupõe trocas, e no período colonial as trocas eram, fundamentalmente, orientadas para o exterior, não havia uma relação mercantil forte entre as regiões brasileiras, o que foi determinante para a desigualdade no processo de desenvolvimento do país. O desafio, hoje, é corrigir os efeitos desse processo histórico à luz de muitas dificuldades, porque à medida que se concentra a população – e o desenvolvimento econômico, por consequência –, enfrentase uma resistência à mudança, em função do que chamamos de espaço construído. É preciso haver muita vontade política na perspectiva de médio e longo prazos, uma vez que as questões estruturais não têm solução de curto prazo. É necessário pensar uma política nacional orientada para uma maior harmonia territorial do desenvolvimento brasileiro, o que passa, também, por maior igualdade social.
RUMOS - 20 – Janeiro/Fevereiro 2012
n tração territorial O reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Clélio Campolina Diniz, é professor titular da Faculdade de Ciências Econômicas (FaceUFMG), pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar) e representante do Brasil junto ao Comitê Científico da Rede Iberoamericana de Globalização e Território. Engenheiro, mestre e doutor em Economia, especializado em desenvolvimento e planificação, Campolina foi bolsista, pesquisador e professor das universidades de Oxford, Rutgers, Roma, Sevilla e Jean Monet. Exerceu diversas funções de administração acadêmica, entre elas a de diretor da Face, chefe do Departamento de Economia, diretor do Cedeplar, presidente do Conselho de Curadores da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), presidente da Câmara de Ciências Sociais e Humanas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), membro do Conselho Técnico Científico da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e vicepresidente da Comissão de Desenvolvimento Local da União Geográfica Internacional. Campolina foi diretor-presidente do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTEC). Orientou dissertações e teses, é autor de dois e organizador de quatro livros e possui dezenas de trabalhos publicados. Recebeu cinco prêmios por reconhecimento técnico ou acadêmico e duas condecorações.
ações sob a estrutura da rede urbana brasileira e das vinculações entre esses polos urbanos com hierarquias diferenciadas. Não faz mais sentido se pensar em política de desenvolvimento regional para regiões isoladas, como ocorreu em vários países da Europa, nos EUA e em especial no Brasil, que teve políticas exclusivas para o Nordeste, para a Amazônia e para o Centro-Oeste. As especificidades regionais precisam ser tratadas com o devido cuidado, e numa perspectiva de projeto nacional. A recriação da Sudene e da Sudam, por exemplo, se deu num contexto já ultrapassado. Elas fizeram sentido no momento histórico em que foram criadas. Hoje, podem ser elementos, digamos, coordenadores da ação regional, mas não formuladores das grandes políticas. Rumos – As correções de desequilíbrios regionais exigem medidas que vão além de programas de abrangência nacional, como os programas assistencialistas? Campolina – As políticas de natureza assistencial, humanitárias, são vinculadas à justiça social como o princípio maior de qualquer projeto de desenvolvimento. Sou a favor das políticas sociais, distributivas, mas elas precisam ser casadas com a política de desenvolvimento, que implica orientações estruturais de investimento de médio e longo prazos. A política assistencial, puramente, é capaz de minorar as desigualdades, mas não é capaz de induzir estruturalmente um processo de desenvolvimento. Além do benefício social, ela pode criar mercados, mas não tem capacidade de induzir mudanças estruturais do ponto de vista da economia e do território. Rumos – O senhor defende que o governo deve apostar num país policêntrico, com vários centros de crescimento. Como seria isso? Campolina – Em 2009, o Ministério do Planejamento, através do CGE, encomendou um trabalho intitulado Dimensão Territorial do Desenvolvimento Brasileiro. Foram constituídos cinco grupos para desenvolver o projeto, e eu fui o coordenador de um deles – composto por nove professores –, cuja propos-
RUMOS - 21 – Janeiro/Fevereiro 2012
Clélio Campolina
ENTREVISTA
plicou por quase quatro em 60 anos, com forte migração ta era a de organizar uma nova regionalização do do meio rural para o urbano. Em 1950, o país tinha 35% de país para efeito de políticas públicas. Com esse população urbana e 65% de rural, sendo que da parcela desafio, dividimos o país em 11 macrorregiões e urbana uma boa parte era formada por pequenas cidades, em 88 sub-regiões, com a ideia de que a política ou vilas, que tinham uma característica muito mais rural do regional deveria ser pensada em função das que urbana. Hoje, cerca de 85% da população urbana vive características de cada região. Por exemplo, o em megacidades. Foram essas características estruturais do Vale do Ribeira de São Paulo poderia estar junto com alguma desenvolvimento brasileiro que constituímos nas últimas região nordestina; e Recife, ou Fortaleza, não necessariamente décadas. O atenuante foi a expansão do Centro-Oeste, estarem juntos, embora sejam duas cidades vizinhas do Norsobretudo com Brasília e Goiânia. Do ponto de vista estrudeste. A estrutura dessa nova regionalização estava baseada na tural predominou a faixa de cidades que já vinham crescenrede urbana policêntrica, em macropolos e em subpolos, do anteriormente, o que é uma questão estando o sistema de transportes articuestrutural grave. lado a tudo isso. A ideia pode parecer um A proposta que defendo é que o tanto utópica, mas cabe a quem tem a país eleja novas centralidades para conobrigação de pensar refletir sobre as utocentrar investimento, e que estas sejam pias, porque muitas delas se transforproposta que mam em realidades do presente. Eu já articuladas por um sistema de infraesfui um planejador que pensava que trutura, em especial de transporte, que, defendo é podia, na minha mesa, mudar o mundo. como já disse, determina o sentido dos Isso não é possível. O mundo tem que fluxos materiais. A literatura menciona que o país eleja ser mudado politicamente, socialmente. isso há 200 anos. Uma política de novas novas centralidades centralidades urbanas, articulada a um Rumos – O desenvolvimento brasileigrande projeto de infraestrutura intepara concentrar ro se deu com fortes concentrações terrigrador, resultaria em melhor distribuiinvestimento, toriais? ção da população e das atividades ecoCampolina – Com certeza! Frei Vicennômicas do território, sem, necessariae que estas mente, homogeneizar, afinal, o proceste Salvador, que viveu no século XVI, sejam articuladas so de desenvolvimento é, por natureza, dizia que os portugueses estavam “arradesequilibrado. nhando a costa do Brasil”. Já o teólogo por um sistema Brasília, Goiânia, Palmas e Belo francês Jacques Lambert, dizia que Horizonte, que foram construídas para havia “dois brasis: um da costa e outro de infraestrutura, serem capitais, geraram grande capacido interior”. A observação do mapa do em especial de dade de atração e receberam prioridade Brasil mostra que a maior densidade de investimento público e privado. Hoje demográfica está na região litorânea, tansporte. não é mais possível reproduzir expecom algumas pequenas infiltrações para riências nesse formato, mas pode-se, ao o interior, destacando-se, ainda, um se decidir fortalecer certas centralidades grande vazio populacional nas regiões urbanas, orientar, por exemplo, a respeiCentro-Oeste e Norte. Esse fato foi ateto da estruturação dos sistemas educacinuado com a decisão de incorporar à onal e de saúde e de como concentrar o centro de apoio à fronteira agrícola, a tecnologia para a utilização produtiva dos comercialização e armazenagem. Tudo isso articulado com cerrados. A mudança da capital para Brasília também teve um o sistema de transporte, é possível reorientar o processo de efeito estruturante muito significativo, inclusive com a decidesenvolvimento. são de formar os grandes eixos de integração nacional, sobreA megaconcentração urbana no Brasil se transformou tudo os rodoviários. num grave problema a ser enfrentado, visando à sustentaComo resultado desse processo histórico foram formação do processo de desenvolvimento. Além de transporte das megaconcentrações urbanas no país. Hoje, são 22 aglopúblico caro e deficiente, as facilidades oferecidas para a merações urbanas e mais de um milhão de habitantes. A compra de automóvel “engarrafou” as cidades e criou graregião metropolitana oficial de São Paulo, por exemplo, tem, ves problemas de trânsito. A solução, a meu ver, seriam sishoje, cerca de 20 milhões de habitantes, e só é comparável ao temas de transporte sobre trilhos mais modernos, ou mesvale central do México. Com essa região ampliada, levando-se mo sobre rodas, com fluxo predeterminado, fundamentalem consideração as pessoas que se deslocam de Campinas, mente, o metrô e suas variantes. Mas construir uma estruSorocaba, Santos e São José dos Campos, diariamente, para o tura desse porte depois da cidade construída custaria muitrabalho, o número de habitantes ultrapassa a casa de 30 to caro. A concentração populacional implica concentrar milhões. Trata-se, portanto, de uma megaconcentração. Em recursos para resolver questões estruturais, a exemplo de 1950, a população brasileira era de 50 milhões de habitantes. transporte público, saneamento, habitação e segurança Em 2010, chegou a 190 milhões de habitantes. Ou seja, multi-
A
RUMOS - 22 – Janeiro/Fevereiro 2012
zo no país. Já os bancos privados emprestam para o governo. pública, hoje um desafio nacional que afeta todas as classes Eles captam dinheiro da sociedade para bancar a dívida sociais. pública. Essa é a situação mais desconfortável possível, porO mundo está correndo para ser competitivo e produtique o sistema bancário privado não faz o esforço do risco, vo. Todos querem se modernizar para competir no mundo que fica todo por conta do governo. Esse é um problema globalizado. O mercado tomou uma força tal que a sociedade complexo. O sistema bancário privado deveria ser condicioestá a serviço do sistema produtivo, quando deveria ser o connado a emprestar para projetos de investimento de longo pratrário. O sistema produtivo deveria estar a serviço da sociedazo, com taxas de juros adequadas, de padrão mundial: 4, 5, de para gerar o seu bem-estar. Estamos vivendo um fenôme6% ao ano, e não 10, 12 15%. Acaba que o setor privado não no mundial dramático com a quebra do paradigma do sociaresolve problemas estruturantes, porque estes não dão receilismo. Não há projeto novo de sociedade com essa volúpia do ta de curto prazo. Sabemos que estamos vivendo a era do capimercado integrado à escala mundial. O objetivo, hoje, é comtalismo da empresa privada. Ninguém petir, ter eficiência, agora, se isso vai gerar está propondo acabar com isso, e nem é bem-estar social, ou não, é secundário. possível no atual cenário político. Mas só acumular riqueza material não gera bem-estar para a sociedade. O cidaRumos – Qual a sua avaliação da atuadão precisa do básico para viver dignam todo o mundo ção dos bancos regionais? mente. Ele quer se vestir, comer, estudar, Campolina – Esses bancos têm um ter assistência médica. desenvolvido o papel muito importante a cumprir, Hoje, se alguém for morar nos EUA e sobretudo porque operam os fundos não quiser comprar nada, basta recolher sistema bancário constitucionais – FNO e FNE – e têm a produtos descartados nas ruas, que é privado faz especificidade e a capilaridade regional. capaz de montar uma casa absolutamente Brasília pode ser a matriz das grandes funcional. É uma pena, mas a sociedade financiamento de diretrizes do desenvolvimento nacional, vai destruindo tudo. E reverter essa situalongo prazo, com mas não é possível ter uma política ção é um grande desafio para o mundo exclusivamente comandada a partir da moderno. A verdade é que estamos escrataxa de juros capital. Capilaridade é fundamental, e vos disso. Todos os governos e toda a sociadequada. No Brasil para ter capilaridade é preciso formar edade estão querendo criar condições redes. O BNDES, por exemplo, não tem para produzir eficiência e capacidade de o sistema bancário capilaridade. Ele depende dos demais competir para gerar riqueza. Mas qual é o privado está agentes de crédito para alcançar todo o benefício social que isso gera? Nós não território nacional. Por isso, a aliança temos paradigma de sociedade. A expeorientado para o entre o sistema central e os bancos regioriência do socialismo não é mais reprodunais é muito importante. E nesse contexzível. Não adianta querer implantar a ditacurto prazo. to, o Banco do Nordeste e o Banco da dura do proletariado, ou a propriedade Amazônia cumprem muito bem esse coletiva dos meios de produção. Essas papel. experiências não deram certo por um problema central: falta de liberdade. É preciRumos – Caberia a criação de um banso combinar igualdade com liberdade, afico regional no Centro-Oeste? nal, uma não existe sem a outra. É difícil propor elementos Campolina – Tenho uma visão muito diferenciada sobre o estruturais para o desenvolvimento econômico que só deem Centro-Oeste. O Brasil trata política regional pensando, funresultado no médio e no longo prazos, pois os governos eleidamentalmente, em três regiões: a Nordeste, que é de ocupatos têm que mostrar realização imediata. ção antiga, ainda com muita pobreza e com deficiência de investimento estrutural; a Amazônica, que é um bioma muito Rumos – Mas o crédito de longo prazo é fundamental para específico e que merece um projeto de desenvolvimento parsustentar uma política de desenvolvimento regional adeticular, calcado num padrão produtivo que aproveite a biodiquada ao Brasil? versidade e a potencialidade da região; e o Centro-Oeste, uma Campolina – Claro! O crédito de longo prazo é decisivo. O fronteira rica e dinâmica do Brasil que caminha praticamente financiamento tem duas dimensões: o público e o privado. sozinha. Mato Grosso, por exemplo, é, hoje, o maior celeiro Mas no Brasil os bancos têm uma grave anomalia: enquanto do país em termos de produção de algodão. Temos que aproem todo o mundo desenvolvido o sistema bancário privado veitar o potencial do desenvolvimento do Centro-Oeste, sem faz financiamento de longo prazo com taxa de juros adequadescuidar do controle das questões ambientais. Diferente do da, aqui o sistema bancário privado está fundamentalmente Nordeste e da Amazônia, o mercado, por si só, já leva o Cenorientado para o curto prazo. Só o sistema financeiro público tro-Oeste para a frente. A região não precisa de um indutor brasileiro, por intermédio dos bancos de desenvolvimento e específico. Ou seja, ter um banco regional não é uma necessidas agências de fomento fazem financiamento de longo pra-
E
RUMOS - 23 – Janeiro/Fevereiro 2012
Clélio Campolina
ENTREVISTA
dade econômica. O Banco do Brasil e a Caixa já cumprem a contento esse papel porque têm a capilaridade necessária no Centro-Oeste. Rumos – Que características o crédito de fomento precisa ter, no âmbito regional, para ser eficiente no apoio a investimentos produtivos e na obtenção de contrapartidas sociais adequadas? Campolina – Insisti muito com o Ciro Gomes, quando coordenei a consultoria para ele, em 2004, de que haviam muitas localidades em que o problema da infraestrutura precisava ser resolvido de forma prioritária, e que os agentes adequados para financiar os respectivos projetos deveriam ser os bancos de desenvolvimento regionais. Não adiantava dar o incentivo para o investidor privado. Há certas regiões em que para se induzir o desenvolvimento e se resolver determinados problemas de infraestrutura, só mesmo o governo pode ser a solução, porque o setor privado não investe. Acho também que as prefeituras devem ter algum sistema de crédito específico, pois há infraestruturas que são de responsabilidade do governo federal, outras são de responsabilidade dos governos estaduais, mas há certas infraestruturas que poderiam ser de responsabilidade dos governos municipais. E, para isso, o sistema de crédito de longo prazo é fundamental. Paralelamente, o crédito via setor privado também pode ser bemvindo, isto é, se houver estímulo para o investimento, se houver possibilidade de retorno. O desenvolvimento regional tem que estar acoplado ao planejamento nacional. Já houve várias tentativas de regionalizar o orçamento nacional, mas isso não é simples de ser feito. Não se pode dividir os recursos utilizando-se o critério do tamanho da população, porque muitos investimentos de infraestrutura são indivisíveis, embora já existam alguns investimentos indutores disso. Nos projetos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por exemplo, a contrapartida dos estados das regiões mais pobres é bem menor do que a contrapartida dos estados das regiões mais ricas. É preciso pensar o planejamento nacional de acordo com a dimensão territorial. Rumos – O senhor apoia a interiorização das universidades e das escolas técnicas? Campolina – Apoio. Essa, aliás, é uma boa política. A educação é um elemento central no Brasil, que tem que ser encarado de forma integral: da creche à pós-graduação. O grande problema da educação brasileira hoje - e eu sou reitor de universidade, doutor, pesquisador, professor titular, então estou à vontade para dizer - é o enfrentamento da questão da educação fundamental e média. Não se constrói a casa a partir do segundo andar. Nós temos uma pós-graduação pujante, várias fronteiras de pesquisa, e temos que continuar investindo nelas. Eu estou o tempo todo correndo atrás da excelência dos meus cursos: são 70 programas de pós-graduação, sendo que 25 já têm classificação 6 e 7 de excelência da Capes. O Brasil tem que enfrentar o desafio da educação fundamental e média, que tem que ser interiorizada com diretrizes
gerais. A escola fundamental tem que estar onde a população está, e a escola média pode ser um pouco mais concentrada. As escolas técnicas têm que estar adaptadas aos desafios e às potencialidades regionais. Eu disse aos reitores dos Institutos Federais de Educação Tecnológica, numa recente palestra que fiz em Poços de Caldas (MG), que vincular a orientação educacional técnica às necessidades da região é uma questão fundamental. Por exemplo, 85% da formação do Instituto Tecnológico de Macau é destinada à preparação de mão de obra para trabalhar em cassino. Não estou dizendo que isso seja bom ou ruim, mas que o fato é que lá o emprego está no cassino, seja como croupier, técnico das máquinas de jogo, garçom, etc. Cada região tem as suas especificidades a serem exploradas. A sociedade e a estrutura produtiva estão mudando. Antigamente, pensávamos no agrário, depois no industrial. Hoje, cerca de 70% da população está empregada no setor de serviço. Por isso, temos que adaptar a formação tecnológica à nova demanda do mercado de trabalho, o que não é nada simples. Não estou contra o torneiro mecânico, nem contra o eletricista, mas a demanda da sociedade hoje é outra. É preciso ter gente qualificada que saiba língua estrangeira, informática, que saiba escrever na sua língua nacional e que tenha alguma base de matemática. Essa é a formação básica da escola média. Depois, dá-se a orientação tecnológica, de acordo com as especificidades da região. No Centro-Oeste, por exemplo, é preciso formar gente que entenda de agronegócio. No Nordeste, por sua vez, a energia solar é a matéria, do futuro. Eu sei que isso não é simples, mas esse esforço precisa ser feito. Rumos – Como o novo mercado de consumo, baseado na ampliação da Classe C, pode estar associada ao desenvolvimento regional, especialmente do Norte e Nordeste? Campolina – O interior não tinha renda monetária e era muito comum, até pouco tempo, sobretudo no interior do Nordeste, a prática do escambo. O trabalhador rural brasileiro, com o passar do tempo, se tornava um miserável, em geral dependente do filho, ou um pedinte. As políticas sociais colocaram renda nessas sociedades. Hoje, as pequenas cidades do interior têm comércio, têm supermercado. O salário mínimo para a pessoa que mora no interior tem um significado especial: é renda monetária e representa capacidade de compra. Isso culminado com o crescimento das oportunidades de trabalho está ampliando o mercado de massas, mas a renda no Brasil continua muito mal distribuída. Embora o mercado de consumo esteja sendo ampliado, ainda existe uma elite de consumo no Brasil. A sociedade está tendo acesso a todo o tipo de bem de consumo: eletrodoméstico, automóvel, etc., mas o desejável mesmo é que tivesse primeiro, por exemplo, transporte público. Essa coisa de dizer que a prioridade tem que ser a exportação é um equívoco que, felizmente, está sendo superado. A prioridade tem que ser o mercado interno também. As duas coisas precisam crescer em conjunto. Para um país com o tamanho do Brasil, o que dá sustentação é o mercado interno. Nós não somos uma Coreia, uma Holanda. Nós somos um
RUMOS - 24 – Janeiro/Fevereiro 2012
país de quase 200 milhões de habitantes, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados. A nossa dicotomia – mercado interno versus mercado externo – já foi superada. Ao se produzir para exportação, está-se gerando emprego e renda e, portanto, está-se crescendo o mercado interno, que é extremamente positivo. O Brasil continua crescendo com um problema gra-
muito próxima. Aqui no Brasil você repara esses detalhes na pessoa e já faz uma certa distinção a que grupo social ela pertence. Na Austrália, todos frequentam os mesmos restaurantes, enfim, os mesmos lugares, embora ocupem, profissionalmente, funções diferentes. Do ponto de vista do bem-estar, das condições sociais de vida eles são semelhantes e têm uma renda muito mais bem distribuída.
TIPOLOGIA DOS POLOS
Rumos – Quais são os grandes desafios para o Brasil no futuro próximo? Campolina – O Brasil tem muitos desafios a enfrentar. É preciso levar em consideração que o mundo está passando por um processo acelerado, e imprevisto há poucas décadas, de reorganização da sua geografia econômica e política. As crises americana e europeia, a ascensão chinesa e indiana e de outro conjunto de países, como o próprio Brasil, estão mostrando que estamos diante de um processo de profunda reorganização nos padrões do desenvolvimento da economia mundial. A oportunidade, agora, é dos países emergentes, e eles têm características singulares. A China está em franco processo de desenvolvimento, mas é um país muito difícil de entender, pois apresenta um nível de desigualdade altíssimo. A Índia, por sua vez, é um país com liderança cultural pesada, com castas religiosas poderosas. E o Brasil é um país muito desigual também, mas com várias potencialidades, como o seu tamanho geográfico e o significativo desenvolvimento da sua fronteira tecnológica. O Brasil tem analfabeto, mas tem fronteira tecnológica. Temos professores com condições de trabalhar em Harvard, que é considerada a melhor universidade do mundo. Nós somos uma sociedade multirracial, como dizia Darcy Ribeiro, mas falamos a mesma lingua, de norte a sul. O Brasil é integrado, não é como na Índia, por exemplo, em que cada lugar fala um dialeto. Além disso, temos muita criatividade, e não vejo nenhum risco de ruptura institucional. Nós temos, sim, uma democracia burguesa, o estado de direito funcionando com deficiência, critica-se a justiça, a polícia, mas não está na cabeça de ninguém que vai haver um golpe de Estado no Brasil. Essas são vantagens que o país possui. Quanto aos desafios, o primeiro deles diz respeito à redução das desigualdades. Quando o governo reajusta o salário mínimo, o resto todo corrige também. Além disso, temos o grande desafio educacional. A população brasileira como um todo precisa de escolaridade. Não estou querendo dizer que todo mundo deve virar doutor, mas precisamos dar mais ênfase à educação. Outro grande desafio é a nossa integração internacional, principalmente com a América do Sul. O Brasil é um global trade, mas a nossa posição geográfica na América
Macropolos consolidados (11) Macropolos induzidos (7) Subpolos induzidos (22)
ve: tem o maior leque salarial oficial do mundo. Tínhamos um salário mínimo de R$ 545,00 e um teto salarial oficial de cerca de R$ 26 mil. O salário mínimo passou para R$ 622,00, mas ainda temos um leque salarial de 41 vezes. Não há país desenvolvido no mundo que tenha esse leque salarial. É óbvio que fora dessas faixas oficiais há quem ganhe muito mais e há quem não ganhe nada. Esse é um problema estrutural grave. Rumos – Qual seria a faixa ideal deste leque salarial? Campolina – A faixa ideal deste leque não poderia de nenhuma maneira passar de 10 vezes. Por exemplo: o salário mínimo em R$ 2 mil, e o teto salarial em R$ 20 mil. Isso é muito mais compatível. O ideal mesmo é que fosse ainda menor: cinco vezes. Na Austrália, que é um país capitalista, não se percebe a diferença de faixas salarias das pessoas pelas suas aparências físicas, pelas roupas que usam, pelos automóveis que possuem, nem pelas casas em que moram, porque a renda delas é
RUMOS - 25 – Janeiro/Fevereiro 2012
Clélio Campolina
ENTREVISTA
produzir sem destruir a biodiversidade. do Sul é imperativa. Portanto, temos que arruO Brasil precisa voltar a colocar no bojo do planejamar uma consertação com os nossos vizinhos, mento nacional as grandes questões estruturais. E uma das caso contrário será impossível se pensar um prograndes questões estruturais é justamente a dimensão terjeto vigoroso de nação. Corre o risco, inclusive, ritorial do desenvolvimento brasileiro, inclusive, no que de o Brasil ser visto como um inimigo, um país tange à nossa articulação com o mundo. Isso não pode ser imperialista, hegemônico etc. Mas essa não é uma tarefa simtratado como uma questão isolada. O Ministério da Inteples, haja vista a nossa relação com a Argentina. Sem um gração Nacional é fraco, sem poder. E por isso esse assunentendimento entre o Brasil e a Argentina não dá para pensar to fica sendo tratado de forma minorada. Eu não sou ingêa América do Sul. A exemplo da Europa, em que a Alemanha nuo, nem estou almejando o planejamento compreensivo. vai pagar a conta da Grécia e de Portugal, alguém terá que Isso está superado, não dá certo, mas pagar a conta do Paraguai e da Bolívia, temos que pensar alguma forma de idenpor exemplo, na América do Sul, e esse tificação de grandes temas nacionais e alguém principal é o Brasil, que é o que pensar a articulação entre eles. tem mais. O Ministério do Planejamento, por Outro grande desafio, no meu sua vez, tem cuidado muito de orçam problema entendimento, é como nos prepararmento. O orçamento é a última etapa do mos, do ponto de vista científico e tecestrutural grave, planejamento. A primeira etapa é a de nológico, para termos condições de decisão sobre o que é prioridade para igualdade na competição do mercado que precisa ser investimento. Me preocupa a falta de mundial. Esse é um desafio paradoxal, combatido, em uma articulação mínima entre as polítiporque o mercado busca eficiência sem cas de governo. Por exemplo, a política preocupação com a questão do social. todas as esferas e urbana, a política de transportes e o plaMas não existe solução isolada nesse instâncias, é a nejamento nacional precisam convercaso. Portanto, não podemos ser autôsar, mas de uma maneira mais intensa, nomos, como uma ilha. O Brasil precisa corrupção. A falta mais permanente. Nós destruímos muiser global, pode ser diferente, inspirade ética pública to o aparelho de Estado. Na era Collor, dor, mas nunca autônomo. tivemos aposentadorias de forma aceleA questão urbana brasileira também corrói os valores rada, e a própria administração anterior, é um grande desafio. O que fazer com as sociais e é o pior e com ideias neoliberais, interveio na ecomegaconcentrações urbanas, sem um nomia reduzindo a presença do Estado. sistema de transporte público eficiente? mais danoso dos Isso fez muito mal ao Brasil. É preciso muito dinheiro para resolver Os concursos públicos, hoje, por isso, e muita consertação com o mercamaus exemplos. sua vez, estão trazendo uma geração do, que quer ganhar dinheiro. Há ainda mais nova e qualificada que pode dar o problema da exploração e da especuuma certa estabilidade à marca pública. lação imobiliária, que me preocupa muiOs grandes dirigentes continuam sendo to. Acho que estamos vivendo uma eleitos politicamente, mas a marca tem bolha imobiliária, com os elevadíssimos que ser a sua lógica, a sua racionalidade, o seu funcionapreços dos imóveis. mento. A lógica não pode ficar sendo desmontada, ou Temos também o grande desafio ambiental. A sociedade recriada a cada governo eleito. A Universidade Federal de ainda não aprendeu a tratar a questão do meio ambiente. A Minas Gerais (UFMG) tem muitos defeitos, mas tem uma primeira conferência mundial sobre meio ambiente foi realiqualidade especial. Nenhum novo reitor, ao assumir o carzada em 1971, em Estocolmo. A preocupação anterior ainda go, muda o rumo da universidade. A UFMG é muito instiera com a questão de recursos para a guerra. Depois, o Clube tucionalizada. O reitor não passa por cima do Conselho de Roma deu o alerta sobre o esgotamento dos recursos natuUniversitário, e sequer integra esse Conselho. Isso traz cerrais. E hoje, esta questão está na ordem do dia. O desenvolvita morosidade às decisões, mas dá muita estabilidade à insmento produtivo nos dá a satisfação tecnológica, mas a intertituição. Portanto, da mesma forma o Estado precisa ser ferência na natureza é crescente. Essa relação precisa ser mais fortalecido. Nós precisamos de mais Estado, e não de bem monitorada. Nesse aspecto, ainda temos um desafio menos Estado. especial e específico, que é a Amazônia brasileira, que desperUm outro problema estrutural grave, contemporâta a cobiça internacional. Em conjunto com os países vizineo, que precisa ser combatido no Brasil, em todas as esfenhos, parceiros na região, temos que cuidar da segurança da ras e instâncias, é a corrupção. A falta de ética pública corAmazônia. Precisamos também de uma grande concentrarói os valores sociais e é o pior e mais danoso dos maus ção de investimento para pesquisa nessa área, visando identiexemplos. n ficar novos padrões produtivos para a Amazônia, de forma a
U
RUMOS - 26 – Janeiro/Fevereiro 2012
( ) O cenário perfeito para um grande resort. ( ) A localização é ideal para uma loja de moda praia. ( ) Um lugar perfeito para abrir um posto com loja de conveniência.
Banco do Nordeste Financiamentos.
Para quem quer investir no Nordeste, não faltam oportunidades nem o apoio do Banco do Nordeste.
SAC Banco do Nordeste • Ouvidoria: 0800 728 3030
CAPA
Cautela Por Carmen Nery
A possibilidade de um agravamento da crise internacional é o principal fator a reduzir as expectativas para o desempenho da economia brasileira em 2012. Cautela é a palavra de ordem de todos os especialistas consultados, que lembram que no ano passado, ao não considerar os efeitos do cenário externo, o país acabou desacelerando mais do que previa o governo no início do ano, quando precisou colocar o pé no freio após a forte expansão de 2010. Assim, 2012 começa num cenário completamente diferente com o país tendo que voltar a aquecer a economia ao mesmo tempo que tem no radar a crise na Europa.
“E
m 1011, o contexto era de desaceleração programada. Foi um ano que ficou aquém do desejado, mas que não se pode dizer que foi negativo, pois geramos 2 milhões de empregos, reduzimos os juros e a economia cresceu. Iniciamos 2012 de forma diferente e vamos crescer mais que 2011. Mas teremos que inovar nas decisões e na gestão. Será um ano eleitoral, e isso é sempre tenso pelo embate político, o que pode criar dificuldades de aprovação de programas no Congresso”, avalia Márcio Pochman, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele o governo terá que ser mais eficiente na execução dos gastos, e o ideal é uma coordenação das políticas fiscal, monetária e cambial, o que, na sua avaliação, o governo Dilma vem conseguindo executar por meio de articulação e convergência de ações entre a Fazenda e o Banco Central. Ele também recomenda a adoção de medidas mais ousadas para aproveitar a crise internacional a favor do país: “Uma forma é usar o Fundo Soberano para a compra de ativos e por meio de uma ação mais integrada com os ministros de economia dos países da América Latina para conter o avanço chinês, como estratégia de defesa”. Pochman, que considera adequadas as políticas sociais do governo Dilma, também observa que 2011 foi o ano da pactuação para transformar a questão da miséria num tema político. O Plano Brasil Sem Misérias acrescenta outras formas menos dependentes de recursos diretos, como levar o Estado mais próximo dessas populações com inclusão produtiva por meio de capacitação profissional. Mas ressalva também que não há mal em medidas assistencialistas como o Bolsa Família, que garante renda mínima para 16 milhões de brasileiros que têm renda per capta de R$ 2 por dia. “A principal preocupação des-
sas pessoas é com a sobrevivência do dia. Na medida em que se assegura uma renda mínima, elas deixam de ser prisioneiras do curto prazo e têm oportunidade de poder se dedicar a capacitação”, resume. Questões estruturantes – Cezar Manoel de Medeiros, economista mineiro, observa que o atual modelo de desenvolvimento brasileiro está baseado na estruturação de um mercado de massas através de mecanis-
RUMOS - 30 – Janeiro/Fevereiro 2012
Noel Joaquim Faiad
mos de inclusão social: programas de transferência de renda, valorização do salário mínimo e crédito abundante de modo a expandir o mercado interno. A sustentação a longo prazo deste modelo exige aumentos das produtividades do capital e do trabalho para evitar pressões inflacionárias. Elevações das produtividades do trabalho podem ser obtidas com educação de longo prazo e qualificação profissional, enquanto a produtividade do capital exige investimentos em expansão e modernização de máquinas e equipamentos e na construção civil. “A formação bruta de capital fixo, que hoje está em 20% do PIB, deveria estar em 23% para garantir um crescimento do PIB de 5% ao ano”, alerta Medeiros. Ele também defende reformas argumentando que é necessário minimizar obstáculos resultantes de um sistema tributário complexo e injusto, reduzir os déficits previden-
ciários, modernizar o código trabalhista e eliminar custos administrativos institucionais e, o mais importante, diminuir o custo Brasil e elevar a produtividade sistêmica que envolve a modernização, diversificação e a melhor exploração da matriz energética, promoção da infraestrutura e da logística. “É imprescindível acelerar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida”, recomenda. Mas, em geral, tirando a conjuntura externa, as expectativas são relativamente positivas e apontam para um crescimento médio do PIB entre 3 e 3,5%, uma inflação sob controle na faixa de 5 a 5,5% e a taxa de juros entre 9 e 9,5%. O câmbio ainda divide opiniões entre os que apostam que o excesso de liquidez na Europa e nos EUA deve contribuir para uma nova desvalorização com o dólar fechando o ano entre R$ 1,60 e R$ 1,70; e os mais otimistas que apostam que o patamar atual acima de R$ 1,70 se mantenha até o final do ano. A preocupar mesmo está a perda de competitividade da indústria e a escalada das importações, e a necessidade de se avançar nos investimentos em infraestrutura e na formação bruta de capital. “O risco que enfrentamos hoje seria o de um evento desruptivo na Europa com a saída de um país do porte da Espanha ou Itália da zona do euro, ou a falência de um grande banco europeu. A Grécia o mercado já assimilou”, diz José Luiz Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) e diretor da Associação Keynesiana Brasileira. Neste cenário, poderia haver um congelamento do mercado de crédito como ocorreu em 2008 após a quebra do Lehman Brothers. “Mas se a Itália e a Espanha saírem do Euro, o efeito no mercado de crédito internacional será muito pior que em 2008, e teremos, inevitavelmente, uma recessão como em 2009. A minha aposta é que a Grécia sai, mas o Banco Central Europeu, por intermédio da sua linha de crédito aos bancos, sustentará o preço dos títulos da Itália e da Espanha, impedindo um alastramento da crise”, avalia. O economista observa que o Brasil poderá adotar os mesmos instrumentos de 2008 para dar conta da crise, mas ressalta que a capacidade do BC de reduzir juros é menor em função das regras de remuneração da poupança. No cenário atual a taxa de juros, hoje em 10,5%, poderia chegar a 8,75% sem comprometer a rolagem da dívida pública. Mas se for necessário reduzir abaixo disso, poderá haver uma migração de recursos dos fundos de investimento para a poupança. “E são os fundos os grandes responsáveis pela rolagem da dívida. Então, em algum momento, se houver realmente um agravamento da crise, o governo terá que mexer nas regras da poupança. Para preservar o pequeno poupador, seria recomendável fazer a indexação pelo IPCA, garantindo, a não perda de valor, mais 2% de juro real ao ano”, propõe. Antonio Correa de Lacerda, professor do Departamento de Economia e dos Programas de Estudos de PósGraduação em Economia Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), observa que o cenário mostra que os bancos centrais jogaram para baixo suas taxas de juros para tentar recuperar suas economias. E uma economia global cada vez mais dependente dos emergentes como a Chi-
RUMOS - 31 – Janeiro/Fevereiro 2012
CAPA na, que também está desacelerando para uma taxa de crescimento em torno de 8%. Com a crise e a recessão na Europa, as empresas desses países estão mais agressivas. Lacerda lembra que o Brasil continua atrativo, mas em 2012 terá que ir na contramão do que ocorreu em 2011, quando a economia desacelerou muito. “O desafio de 2012 é reaquecer a economia mantendo uma política fiscal austera com incremento dos investimentos. Os juros têm que cair, o câmbio tem que estar compatível para barrar as importações e evitar a perda de competitividade sistêmica. Hoje é caro produzir no país e barato importar, o que pode ser uma solução de curto prazo, mas a médio e longo prazos é ruim. Temos que encontrar mecanismos para viabilizar a produção, o investimento e a inovação”, defende. Na avaliação do economista, o câmbio é o principal problema a reduzir a competitividade da indústria, mas não é o único. O Brasil ainda tributa muito a produção e o investimento, ao contrário de outros países em que o investimento industrial gera um efeito multiplicador. Além disso, a infraestrutura é ineficiente, e o custo de capital, elevado. “Há toda uma agenda de competitividade que precisa ser atacada. Daí a importância de políticas industriais para o enfrentamento de um cenário bem mais complexo. O Brasil não pode se dar o luxo de abrir mão de sua indústria”, resume Lacerda.
em que as moedas do G7 estão perdendo sua importância entre os grandes investidores institucionais mundiais. “Portanto, nos próximos anos, temos que conviver com uma taxa de câmbio próxima de R$ 1,60 em relação ao dólar e buscar a redução do chamado custo Brasil, sobretudo no setor industrial”, recomenda. Barros observa que a simples manutenção da vitoriosa política macroeconômica – fiscal, monetária e cambial - dos últimos dez anos não garante a continuidade do crescimento na próxima década. “Apenas a continuidade dos superávits primários capazes de estabilizar nossa dívida pública em relação ao PIB, ponto central da política fiscal há muitos anos, não é mais suficiente. Da mesma forma, a política monetária precisa ser operada com o objetivo de trazer os juros no Brasil para níveis mais próximos de outros emergentes, inclusive promovendo uma revisão dos mecanismos de indexação e tributação da poupança financeira interna”, acrescenta. Ele também recomenda uma agenda de ações microeconômicas para enfrentar os elevados custos de produção das empresas brasileiras em um ambiente em que o real se fortalece. “Este é um desafio enorme, pois ainda não faz parte das prioridades da presidenta Dilma e exigirá uma redução gradativa do nível de gastos do governo federal”, observa. Para Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), na constelação de problemas que sufocam a competitividade da indústria brasileira, a taxa de câmbio sobrevalorizada é um dos principais fatores, mas é apenas um entre diversos entraves já bem conhecidos, como o elevado custo da energia e do capital, infraestrutura precária e escassez de mão de obra qualificada. Skaf observa que a
Indústria estagnada – Para salvar a indústria, Oreiro propõe uma desvalorização cambial de 30 a 40%. Mas admite um custo político, porque haveria aumento de inflação e, consequentemente, queda do salário real no curto prazo. Mas se nada for feito, a indústria brasileira estará condenada a desaparecer. “Não há país que tenha se Pequena tornado desenvolvido sem uma indústria forte e atuempresa ante. Se perdermos a indústria voltaremos a ser um Volume de produção país primário exportador, com empregos ruins e baixos salários”, alerta. Queda acentuada 4% Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Queda 27% Barros, o maior perigo que a indústria brasileira corIgual 33% re, hoje, é se fixar apenas no câmbio, pois reduzir Aumento 33% um problema estrutural, de natureza microeconôAumento acentuado 3% mica, a uma questão de um preço desalinhado é uma simplificação perigosa. Para ele, as lideranças Vendas no mercado interno industriais serão cobradas no futuro por este erro, se não passarem a defender mudanças sensíveis no Queda acentuada 4% sistema tributário, inclusive o aplicado aos serviços Queda 27% públicos e mercado de energia e petróleo, e que torIgual 32% nam os custos em reais destes produtos incompatíAumento 33% veis com os de outros mercados. “A Petrobras Aumento acentuado 4% cobra pelo gás natural que distribui a um preço quatro vezes superior ao que vigora nos EUA”, obserExportações va. Na sua análise, o real é uma moeda forte em funQueda acentuada 12% ção da relação de troca que há entre os produtos priQueda 18% mários – dos quais o Brasil é um dos mais importanIgual 42% tes produtores e exportadores – e os produtos Aumento 24% industriais. Além do fato de o Brasil estar entre os Aumento acentuado 4% emergentes de maior crescimento em um momento RUMOS - 32 – Janeiro/Fevereiro 2012
Média empresa
Grande empresa
Total das empresas
1% 26% 41% 29% 3%
0% 36% 21% 41% 3%
3% 28% 34% 32% 3%
2% 26% 41% 30% 2%
0% 33% 21% 44% 3%
3% 27% 34% 33% 3%
1% 18% 59% 20% 1%
3% 31% 52% 14% 0%
5% 20% 52% 20% 2%
Divulgação
indústria de transformação ficou praticamente estagnada em 2011, crescendo apenas 0,2%, enquanto o comércio varejista registrou crescimento de 6,6%. Esta dissociação entre a velocidade de crescimento da demanda doméstica e a produção industrial, num ambiente de forte aumento da penetração de Márcio Pochman, do Ipea produtos importados, sugere um claro vazamento do crescimento da indústria para o exterior. “O saldo comercial do segmento saltou de um déficit de US$ 36,5 bilhões, em 2009, para um déficit de US$ 71,2 bilhões, em 2010, e US$ 92,4 bilhões, em 2011. Acreditamos que 2012 não reserva um quadro mais promissor para a indústria de transformação. A nossa previsão é que a indústria cresça apenas 1,5% em 2012. Para reverter esse quadro são necessárias medidas que reduzam o custo Brasil, tais como o aperfeiçoamento da infraestrutura e a redução do custo de energia e do capital”, reivindica.
Divulgação
Infraestrutura precisa avançar – Nesta conjuntura, a participação do BNDES, que em 2008 teve papel crucial no enfrentamento da crise, é fundamental para destravar os gargalos e impulsionar os investimentos na economia brasileira. Segundo Claudio Leal, superintendente da Área de Planejamento, o cenário externo é desafiador para o comércio internacional brasileiro que mantém exportaCláudio Leal, do BNDES ções muito concentradas ainda em produtos comoditizados e dependente do crescimento da China e exportações industriais mais diversificadas, mas também dependentes de mercados que hoje estão fracos. Por outro lado, a crise tem produzido movimentos protecionistas. Leal diz que a atual conjuntura acaba direcionando muito as prioridades do banco. Para 2012, os técnicos da instituição vêm monitorando os fluxos de curto prazo, o financiamento ao comércio e já há sinais de fechamento ou o encurtamento de linhas de crédito ao comércio exterior, os chamados trade finances. “Temos monitorado e identificado um encarecimento e encurtamento de prazo, mas não há sinais de crise de liquidez”, sinaliza. A área de infraestrutura está entre os principais focos do banco e respondeu por 40% dos R$ 139,7 bilhões desembolsados em 2011. Embora o volume represente uma queda de 17% em relação aos desembolsos de 2010 (R$ 168,4 bilhões),
as liberações ficaram em patamar semelhante às realizadas naquele ano se subtrairmos os R$ 24,7 bilhões aplicados pelo BNDES na capitalização da Petrobras. Fernando Cardim, economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observa que os gargalos na área de infraestrutura são muitos e bem conhecidos, especialmente na área de transportes e energia. Para ele, numa concepção mais ampla seria necessário incluir também obras de melhora de vida da população como o saneamento. Em sua análise há dois desafios importantes: fundos e gestão. Os fundos são poucos, especialmente na esfera pública, uma vez que investimentos públicos são, em geral, as vítimas de qualquer política de rigor fiscal. E a gestão, muito ineficaz. “É tudo lento demais, burocratizado demais, descoordenado na prática. O Brasil é um país muito grande e suas demandas são extremamente altas. Um aparato de gestão e controle muito mais eficaz que o existente é uma demanda para ontem. Certamente, os recursos do PAC não são suficientes para dar o impulso necessário à construção da infraestrutura que este país demanda, mas, se a utilização dos recursos disponíveis fosse mais eficaz, já deveríamos estar vendo resultados muito mais impressionantes em termos de investimento público, crescimento da economia e aumento de competitividade”, analisa. Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (ABDIB), observa que nos últimos dez anos o investimento anual total em infraestrutura no Brasil cresceu de 2,5% para 4,0% em relação ao PIB, somando esforços e recursos públicos e privados, nacionais e estrangeiros. No entanto, a necessidade anual de investimento mínima também aumentou, de 3,5% para 5% ao ano em relação ao PIB. O corte de R$ 55 bilhões no orçamento preocupa, mas ele entende que é possível conciliar um persistente ajuste fiscal com crescimento dos investimentos em infraestrutura no longo prazo. Um dos caminhos é aprofundar a eficiência na gestão pública, de forma que o Estado brasileiro possa entregar mais serviços com menos recursos, ou com os mesmos recursos. Outra é transferir a responsabilidade de investimento em infraestrutura para o setor privado, uma das bandeiras da ABDIB. Em relatório divulgado em janeiro, a entidade informa que as próximas concessões podem atrair R$ 90 bilhões, mas o potencial é bem maior. “Quando há decisão política e eficiência administrativa, os leilões de concessão de projetos de infraestrutura são concretizados em um tempo bastante ágil. Um exemplo foi o leilão de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília, que foram bem estruturados e bem-sucedidos. Isso mostra que o setor apresenta boas e sólidas perspectivas de crescimento e há interesse forte dos investidores privados em apostar na infraestrutura brasileira no longo prazo”, diz Godoy. Outro dado surpreendente no desempenho do BNDES foi o volume de financiamento às micro pequenas e médias empresas, que saltou de uma média histórica de 24% para 36%, atingindo o recorde de R$ 49,8 bilhões. Carlos Alberto dos Santos, diretor Técnico do Sebrae observa que como as micro e pequenas empresas (MPE) são fortemente voltadas
RUMOS - 33 – Janeiro/Fevereiro 2012
CAPA investimento foi de 17,2%, 16,8% e 17,3% do PIB, respectivamente. “Vale dizer, registramos, sistematicamente, um hiato de investimentos de 5% do PIB, ou mais, que precisa ser coberto para permitir a almejada aceleração não inflacionária do crescimento. A questão é se o mercado de capitais desempenhará um papel relevante como fonte de financiamento de longo prazo. A nossa expectativa é que sim, especialmente considerando as naturais limitações da participação do crédito bancário”, diz. Contribuem para esta percepção a coexistência do NMRF, a pleno vapor, com o avanço na regulamentação da Lei nº 12.431/11, que isentou do imposto de renda pessoas físicas na aplicação em debêntures de SPE voltada para o financiamento de infraestrutura, e investidores estrangeiros na aplicação em títulos destinados ao financiamento de investimentos, observadas as condições específicas definidas na lei. O BNDES, porém, continua apostando no engajamento do setor bancário. “O banco tem consciência que sustentar um investimento a essas taxas de que o país precisa não é uma tarefa que tem que ficar com uma única instituição, e vamos fazer todo o esforço necessário para desenvolver este mercado. Estamos reduzindo os níveis de participação e ao mesmo tempo convocando o setor privado. É uma agenda endereçada, e este convite continua de pé. O BNDES tem o maior interesse em ver a participação dos bancos no financiamento de longo prazo”, assegura Leal. O superintendente do BNDES também visualiza oportunidades na crise para o desenvolvimento de políticas industriais de tecnologia e inovação nacionais. Para Leal, inovação é um item em que o país como um todo precisa avançar muito. O Brasil vem se destacando em diversos indicadores, junto aos BRICs, mas sobretudo no que se refere ao esforço privado de inovação ainda está bastante abaixo. “Boa parte das pesquisas e desenvolvimento no país é de caráter público, por isso o BNDES apoiou fortemente a iniciativa da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) como um compromisso de diversas indústrias. E os recursos são crescentes. Em 2011, o banco investiu R$ 2,63 bilhões em inovação, quase o dobro dos R$ 1,37 bilhão de 2010”, observa. Divulgação
para o mercado interno, foram beneficiadas em 2011. “Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os setores de comércio e serviços têm apresentado bom desempenho, e 85% das MPE se encontram nesses setores. Por sua vez, a agropecuária também tem apresentado bons resultados, e toda vez que o agronegócios vai bem, as MPE do interior também se beneficiam. Apenas o setor da indústria destoa entre os demais, pois a produção física cresceu 0,3% no ano passado, se comparado com 2010”, observa Santos. O diretor do Sebrae destaca, ainda, que mais negócios se formalizaram no país: hoje são 1,9 milhão de empreendedores individuais, que saíram da informalidade e conseguiram inscrição no CNPJ, direitos previdenciários, entre outros benefícios. O total de MPE e empreendedores individuais que aderiram ao Simples Nacional – sistema tributário diferencial – alcançou mais de 5,7 milhões ou 28% de crescimento frente a 2010. No ano passado, também foram gerados 1,9 milhão de empregos com carteira assinada no país, um volume em que MPE respondem por 52%. “O desafio para os pequenos negócios crescerem está no aumento da produtividade, o que requer inovação e práticas sustentáveis para ganhar competitividade”, diz. Em 2012, os números ainda não estão fechados, mas o BNDES deverá repetir o volume de desembolsos de 2011, algo entre R$ 140 e R$ 145 bilhões. O foco permanente continua em infraestrutura, inovação, qualificação profissional e gestão pública. Leal diz que a meta é continuar sustentando o investimento no Brasil a taxas superiores ao crescimento do PIB. Sua expectativa é que em 2012 o PIB cresça em torno de 2,8%, e a taxa de investimento 6,7%. “Não sei se vamos conseguir alcanPaulo Mol, da CNI çar a meta de elevar a taxa de investimento para 24% do PIB, mas temos que caminhar nesta direção e com o foco na melhoria da competitividade do país”, observa. Mas há também o consenso que é preciso desenvolver fontes alternativas de financiamento de longo prazo, e o banco não só tem interesse como se engaja nisso. No ano passado, o presidente Luciano Coutinho esteve pessoalmente envolvido em diversas iniciativas conjuntas com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) para concepção e desenvolvimento de instrumentos financeiros de longo prazo. Desse esforço surgiu o Novo Mercado de Renda Fixa (NMRF), que criou condições vantajosas para emissão de títulos de empresas destinadas a projetos específicos com características que no fundo são de títulos de longo prazo. Enilce Melo, gerente da assessoria econômica da Anbima, observa que se estima que para crescer 5% ao ano de forma sustentada, o Brasil precisa investir algo entre 22 e 25% do PIB. Na média dos últimos cinco, dez e vinte anos, a de
Inovação acelera – Se já é consenso que a inovação é item vital para a competitividade do país, pode-se dizer que o ano começa com perspectivas surpreendentes. Na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) os planos são ambiciosos. No ano passado a agência executou 100% dos recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que somou R$ 1,8 bilhão e comprometeu R$ 3,9 bilhões de crédito de fontes que incluem os R$ 3,7 bilhões do
RUMOS - 34 – Janeiro/Fevereiro 2012
Ivo Gonzalez
Programa de Sustentação do Investimento (PSI). A subvenpúblicos federais, as entidades regionais e estaduais e as cooção econômica ficou na linha tradicional de cerca de R$ 500 perativas de crédito trabalhando como parceiros estratégicos. milhões. Mas o mais animador, segundo Glauco Arbix, presiA ABDE está concluindo o seu planejamento estratégico dente da Finep, é que a agência encerrou 2011 com uma carpara consolidar o Sistema Nacional de Fomento e definir as teira de projetos de R$ 9,7 bilhões, dos quais R$ 3,9 bilhões linhas de ação que, neste ano, devem focar em políticas regioforam executados. nais de desenvolvimento. A ideia é desenhar políticas de “Isso significa que entramos em 2012 com uma carteira desenvolvimento integradas que possam ser trabalhadas em de solicitações de R$ 5,9 bilhões para analisarmos e contraconjunto pelas instituições associadas da região, fortalecendo tarmos. O volume é absolutamente surpreendente, porém, a cadeia produtiva, agregando mais valor, levando a infraesmais do que o volume é a qualidade dessa carteira”, destaca. trutura e focando na formação de mão de obra. Cerca de 70% são projetos incluídos dentro das prioridades “2011 foi muito positivo e a demanda foi bastante forte, o do Plano Brasil Maior: energia, pré-sal, etaque deve se repetir em 2012. Mas é precinol ou energias renováveis; aeroespacial; so reduzir a burocracia como um todo. O TICs; saúde e defesa, áreas críticas de tecprazo médio para obtenção de financianologia em que o Brasil é mais frágil. “Há mento é muito longo, muitas vezes supecinco anos a informação é de que havia rior a um ano, o que pode inviabilizar um recursos disponíveis, mas não havia bons projeto. Outra questão importante diz projetos. Isso se inverteu e é sinal de respeito à carga tributária que é muito mudança chave no Brasil”, comemora. alta. Hoje, por exemplo, para investir R$ A Finep também conseguiu reduzir em 100 milhões, a empresa tem que pagar 50% o tempo médio de análise de projetos, antecipadamente cerca de R$ 20 milhões passando de 248 dias para 102 dias. Essas em impostos, sem ter ainda qualquer fatuduas dimensões – interna e externa – qualiramento proveniente deste investimento. ficaram a agência a solicitar R$ 6 bilhões do Por isso, repito, é preciso desonerar o PSI para 2012, mais que os R$ 3,7 bilhões investimento e reduzir a burocracia. de 2011. O FNDCT deve girar em torno Caberia, ainda, avaliar até que ponto a efide R$ 3,5 bilhões se não houver contingencácia dos financiadores é comprometida ciamento. “A expectativa é que o orçamen- Maurício Chacur, da ABDE pelo papel que lhes é atribuído de fazer to da Finep seja em torno de R$ 10 bilhões, seus clientes cumprirem as legislações fissomando FNDCT, PSI, FAT e recursos internos”, sinaliza cais, ambientais, trabalhistas dentre outras. Se o processo de Arbix. concessão de financiamento for destravado, a concessão de Mas a maior novidade é que a Finep avançou muito na crédito vai explodir, porque a demanda existe”, prevê Chaproposta de se tornar uma instituição financeira. O estudo cur. encomendado à empresa Ernest Young já foi aprovado pelo novo ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Desafios no setor privado – Guilherme Lima, viceAntonio Raupp, pelo Banco Central e pela Fazenda. E está presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolem vias de ser apresentado para a presidenta Dilma Rousseff. vimento das Empresas Inovadoras, observa que 2011 foi um Além de se tornar uma instituição financeira, a ideia é criar ano de contrastes. Houve pontos positivos como o Plano Brauma gestora de ativos de fundos de investimento, o que persil Maior, o fortalecimento da Finep, a estruturação da mitirá à Finep captar recursos no mercado e passar a atuar na Embrapii e o lançamento do programa Ciência sem Fronteimodalidade de investimento, participando dos projetos das ras. Por outro lado, foi o ano do maior déficit da balança empresas que poderão contar com uma participação acionácomercial, em que apenas 36% das exportações são de proria da agência. dutos manufaturados, o mesmo patamar de 1977. “A meta para 2012 é aprovar este plano no Conselho “Inovação é fundamental para a competitividade. TiveMonetário Nacional, que nos concederá um prazo para adapmos avanços nos instrumentos de apoio, mas a balança tar todas as regras de prudência e montar o sistema de fiscalicomercial nunca esteve tão desfavorável. O déficit de US$ 90 zação da agência para os próximos três anos. Depois vamos bilhões foi 30% superior ao de 2010. Isso mostra que o país montar um plano de voo detalhado para construir a gestora não está se tornando mais competitivo na agregação de valor de fundos e ativos e a nossa qualificação. É evidente que não às commodities agrícolas. Um ponto chave para reverter este queremos dar este passo sem termos uma estabilidade de funquadro é colocar a inovação como foco de estado de longo ding que hoje ainda é instável. A segurança do funding viria da prazo, e não ficar dependente do cenário conjuntural”, discussão com a presidenta da República para saber quais são defende Lima. os fundos alternativos para a Finep”, anuncia Arbix. Uma das críticas é que, embora positivo, o Plano Brasil O ano de 2012 também deverá ser marcado pelo fortaleMaior ainda não definiu o orçamento e nem os instrumentos cimento do Sistema Nacional de Fomento, no âmbito da que serão usados no fomento à inovação, o que preocupa a ABDE, segundo afirma Maurício Chacur, presidente da entiindústria. A expectativa é que em 2012 o Plano passe por um dade. Ele observa que o sistema está sendo consolidado, tendetalhamento, pois hoje ainda é macro e genérico. do o BNDES como âncora, e contando ainda com os bancos “O ponto positivo é que o Plano trouxe a inovação para o RUMOS - 35 – Janeiro/Fevereiro 2012
CAPA BNDES – Evolução dos desembolsos e aprovações acumulado 12 meses
Educação patina – Na área de educação, o ano começa com expectativas positivas em relação aos programas lançados em 2011, como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), que visa expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a população brasileira. O programa deverá contar com uma grande operação do BNDES junto ao Sistema S, segundo adianta Claudio Leal: “O objetivo é dar escala ao programa, além de atender a nossa agenda de inovação, uma vez que uma das metas é dotar o Senai de centros de alta performance, e os recursos servirão para aparelhar estes centros e treinar em larga escala para dar conta da necessidade de mão de obra que o país tem hoje”. Outro programa de peso que deverá deslanchar em 2012 é o Ciência Sem Fronteiras, do governo federal, que visa ampliar o número de bolsas de estudos concedidas a estudantes do país. Até 2014 serão 75 mil, contra as 5,3 mil oferecidas em 2010. Mas o ano começou com o anúncio do corte de R$ 1,94 bilhão no orçamento para a educação, como uma das medidas do ajuste fiscal de R$ 55 bilhões anunciados pelo governo. Ainda não se sabe onde serão feitos os cortes, mas, de qualquer forma, para o senador Cristóvam Buarque esta
300.000 275.000 250.000 225.000 200.000 300.000 150.000 125.000 100.000 75.000 50.000
R$ milhões
Desembolso Aprovação Enquadramento Consulta
jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 jul/10 ago/10 set/10 out/10 nov/10 dez/10 jan/11 fev/11 mar/11 abr/11 mai/11 jun/11 jul/11 ago/11 set/11 out/11 nov/11 dez/11
centro do debate e da política industrial quando antes era apenas um capítulo. Das dez macrometas do Plano quatro são claramente de inovação como base do aumento da competitividade. O discurso está bem montado, mas é preciso criar instrumentos que ainda não foram explicitados”, diz Paulo Mol, gerente-executivo de Políticas Industriais e Inovação da CNI e um dos integrantes da MEI. Ele admite, porém, que por parte da indústria há dificuldades para cumprir as metas que são ambiciosas: dobrar os investimentos privados que hoje representam 0,56% do PIB para 0,9% até 2015. “O investimento em inovação é portador de futuro. É menos conjuntural e mais estrutural. O impacto não é imediato. Passamos de 0,44% do PIB, em 2003, para 0,56%, em 2010, que ficou estacionado em relação a 2009, quando tivemos 0,57%. Andamos de lado”, lamenta Mol. A trajetória é ascendente, mas de expansão moderada, tanto que, embora os números de 2011 ainda não estejam fechados, a expectativa é que fiquem estáveis. “Se continuar neste ritmo, não vamos cumprir a meta. Teríamos que crescer num ritmo muito mais forte que a expansão do PIB, algo em torno de 0,08% ao ano, mas estamos crescendo 0,03%. Para superar isso precisamos de investimentos mais fortes e incentivos mais ousados”, observa. Para Mol, a participação dos investimentos públicos em inovação já é equivalente à de países como o Reino Unido. Mas a agenda de inovação do Brasil está centrada em ciência e academia e não nas empresas. “Essa conexão é que precisa ser desenvolvida. Lá fora, quando se encontra um pesquisador pergunta-se em qual empresa trabalha; no Brasil tem que perguntar em qual universidade ele dá aula. A pesquisa na empresa tem que gerar resultado; na universidade tem que gerar paper. O desafio é fazer com que o conhecimento gerado se traduza em economia e riqueza”, defende.
redução é muito grave. Para ele a educação no país não está caminhando como deveria e continua no mesmo ritmo lento, sem cumprir o seu papel na busca do conhecimento e na ascensão social. “Fala-se na ascensão das classes C e D, mas isso acaba no momento em que houver uma crise econômica. Ascensão social que não muda se dá por meio da educação”, defende o senador. Ele observa que o mais grave é que o país está longe do caminho para uma economia do conhecimento. “Temos dois terços dos jovens sem ensino médio. Uma universidade que não garante qualidade nem está situada na linha de inovação com muita concentração em ciências humanas e não nas ciências, que são as que efetivamente permitem o desenvolvimento. A nossa inovação vem toda de fora. Vamos fabricar tablet, sem nem saber o que é tablet que é inovação de países asiáticos”, dispara. Ele também é cético em relação aos dois principais programas do governo federal. Embora apoie o Pronatec e o Ciência Sem Fronteiras, ele acredita que eles não vão gerar os resultados esperados: “A maior parte desses bolsistas nem domina outros idiomas, e o Brasil não tem 75 mil pesquisadores para mandar para fora do país. Além disso, a maior parte são cursos de curta duração, quando o correto seria passar de três a quatro anos estudando. Vamos ter de dois a três mil bem formados”. Buarque defende a federalização da educação de base e observa que o país só tem 300 escolas federais de ensino fundamental. Sua proposta é um amplo plano nacional de carreira do magistério e um programa federal de qualidade escolar em horário integral, construção de novas escolas e equipamentos modernos. “Não é possível um aluno ainda aprender com quadro-negro. Este programa poderia ser feito por cidades formando 100 professores por ano. Em 20 anos cobriríamos todo o país”, defende. Outra proposta é que se crie um ministério exclusivo para a educação básica, pois do jeito que está hoje constituído, o MEC fica prisioneiro do ensino superior. Ele propõe o fortalecimento do ensino superior, sugerindo a sua transferência para o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. O MEC ficaria focado no ensino básico. “Todas estas propostas foram apresentadas à ministra da Casa Civil para serem entregues à presidenta e estão expressas no meu livro A Revolução Republicana da Educação”, conclui Buarque. n
RUMOS - 36 – Janeiro/Fevereiro 2012
NORDESTE EMPREENDEDOR Por Ribamar Mesquita
Banco do Nordeste
ALGODÃO
Produtividade na Bahia s Os produtores de algodão das áreas de cerrado do Piauí e da Bahia deverão obter os maiores incrementos na produção, garantindo também os melhores níveis de produtividade na safra 2011/12, acima da média nacional e do Centro-Oeste. No caso do oeste da Bahia, o rendimento obtido é recorde mundial para algodão em sequeiro.
D
e acordo com o penúltimo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país deverá colher cerca de 5,2 milhões de toneladas de algodão em caroço na safra 2011/2012, com pequeno decréscimo de 1,7% sobre a anterior. No Nordeste, a expectativa segue o panorama nacional, com incremento de 3,3% na área cultivada e de 0,9% na produção, que pode alcançar 1,8 milhão, com destaque para os estados do Piauí e Bahia, onde o cultivo é concentrado nas áreas de cerrado. Em âmbito nacional, a estimativa de área plantada é de 1.405,3 mil hectares (+0,4%) para uma produção em torno de 5,3 milhões de toneladas de algodão em caroço, aumento de 1,7% com relação à última safra. Tanto a pesquisa de dezembro de 2011 quanto a de janeiro último da Conab mostram também que a produtividade do algodão em caroço no Nordeste deverá se situar acima da média nacional e do Centro-Oeste na safra 2011/12, assinalando 3.808 quilos por hectare, com destaque para a Bahia, onde é estimada em 3.900 quilos. Liderança mundial – O rendimento em território baiano, que é um pouco maior nos cerrados a oeste de Salvador, coloca essa região do estado como campeã mundial de produtividade. Na safra 2010/11, o cerrado local cravou produtividade de 270 arrobas de algodão (em caroço) por hectare, em regime de sequeiro, a mesma da Austrália em cultivo 100% irrigado, e acima da obtida na China (226,1@/ ha). Segundo informa a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), em 2012, mesmo com uma ligeira queda nesse patamar (265@/ha), a Bahia continuaria na liderança mundial. O Conselho Técnico da AIBA não esconde o entusiasmo, informando que em algumas áreas do cerrado, a exemplo do município de São Desidério, maior produtor nacional de algodão e segundo maior PIB
agropecuário do Brasil, a média geral de produtividade chegou a 285@/ha. A previsão é que, isoladamente, o cerrado colha cerca de 1.542 mil toneladas de algodão em caroço na safra 2012, 3% superior à anterior. Trata-se de expansão modesta diante da registrada em 2011 (cerca de 50%), provocada pela elevação dos preços. O valor bruto de produção do algodão (VBP) estimado para a atual safra, da ordem de R$ 2.450 milhões, é o segundo maior entre as culturas do oeste da Bahia, perdendo apenas para a soja (R$ 2.742 bilhões), que possui o dobro de área plantada. Para os técnicos da entidade, contribui para isso uma série de fatores relevantes nos cerrados baianos: clima e solo em condições favoráveis, adoção de modernas tecnologias, informação técnica e mercadológica, recursos hídricos e profissionalismo entre os produtores. Meio Norte – Entre maranhenses e piauienses, o entusiasmo com a cotonicultura é até maior que na Bahia. No intervalo entre os dois últimos censos agrícolas do IBGE (1996 e 2006), o Maranhão elevou de 0,6% para 13,5% sua participação na área cultivada com algodão no Nordeste, enquanto na Bahia saltou de 62,4% para 79,3%. Considerado um avanço de apenas 50% na área cultivada, o Nordeste apresentou um desempenho extraordinário na produção algodoeira: 916,5% entre 1996 e 2006, evidenciando um grande acréscimo de produtividade em função do cultivo nos cerrados, para onde migraram produtores do Sul e Sudeste do país que praticam uma agricultura em bases empresariais. No Piauí, o incremento foi de 241,1%, alcançando 18.530 toneladas, em 2006. No Maranhão, a produção disparou de 1,8 mil toneladas para 98 mil toneladas, e na Bahia, evoluiu de 43,7 mil para 649,2 mil toneladas. Mais recentemente, esse desem-
RUMOS - 38 – Janeiro/Fevereiro 2012
a supera média mundial penho avançou bastante no chamado Meio Norte em função da troca da soja pelo algodão em alguns centros produtores. No cerrado maranhense a área plantada cresceu para 18,1 mil hectares na safra 2010/11, com produção de 71,1 mil toneladas, devendo cair um pouco na safra atual para cerca de 70 mil toneladas. No Piauí, por outro lado, nas últimas três safras a área de plantio dobrou, de 11,2 mil hectares (2008/09) para 22,1 mil hectares (2011/12). No mesmo intervalo, a produção saltou de 34,3 mil toneladas para 76,2 mil toneladas. Uma revolução em dez anos – O Nordeste, onde a atividade algodoeira sempre foi muito relevante sob o aspecto socioeconômico, apresentou uma recuperação extraordinária no cultivo de algodão no espaço de dez anos. Depois de praticamente dizimada pela praga do bicudo a partir da década de 1980 e pela abertura do mercado no decênio seguinte, a cultura migrou do semiárido para os cerrados, atraindo produtores do Sul e do Sudeste, que praticam agricultura em bases empresariais. O resultado foi um aumento de 50% na área cultivada e de quase 1.000% na produção entre 1996 e 2006, anos que assinalam a realização dos dois últimos censos agropecuários realizados no Brasil. Um projeto executado pela Embrapa Algodão, de Campina Grande (PB), com o apoio do BNB-Etene-Fundeci, teve muito a ver com essa recuperação da cotonicultura regional. Agregando valor – O norte da pesquisa foi buscar a agregação de valor à fibra do algodão e com isso revitalizar a atividade. Desse esforço do Banco do Nordeste (BNB) e dos cientistas da Embrapa surgiram as novas opções para o produtor. Hoje, o algodão de fibra colorida (marrom, vermelho, verde e bege) faz sucesso em todo o mundo. Com os resultados das pesquisas foram alcançados dois pontos importantes: agregação de valor ao algodão da fibra natural e benefícios ao meio ambiente, desde que o novo produto eliminou o processo de coloração química do fio que tem impacto ambiental. Controle de pragas – Além do algodão colorido, no momento a Embrapa de Campina Grande, com apoio do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundeci), faz estudos visando ao isolamento e à introdução de um gene inseticida
em planta de algodão para controle de insetos. A obtenção de um cultivar modificado tem impacto socioeconômico imediato em todos os segmentos da cadeia produtiva, sem contar os benefícios para o meio ambiente, dada a possibilidade de redução do uso de agrotóxicos, e para a balança comercial, pela menor importação de defensivos agrícolas. Transformação rápida – Com a recuperação da cultura no Nordeste e sua adoção no Centro-Oeste, na atual década, o Brasil voltou ao pódio dos maiores produtores mundiais de algodão. Levantamento realizado pelo BNB-Etene entre os censos agropecuários de 1995/96 e 2006 mostra que a cotonicultura brasileira, e principalmente a nordestina, experimentou profundas transformações no período. Além de quase triplicar sua produção no intervalo entre os censos, de 814 mil toneladas para 2.350 mil toneladas, o segmento viu surgir uma nova fronteira agrícola para exploração do produto – o cerrado – e tecnologias inovadoras como o cultivo de algodão colorido e orgânico destinadas a viabilizar economicamente o cultivo em áreas como o semiárido, com a consequente geração de mais emprego e renda. De acordo com o trabalho do Etene, após enfrentar os percalços provocados pela praga do bicudo (inseto), o Nordeste voltou ao mapa da grande produção algodoeira na safra 2000/01. Contribuiu, decisivamente, para tanto, a disponibilidade de terras aptas nos cerrados da Bahia, Piauí e Maranhão, onde a atividade é praticada em bases empresariais, coexistindo com o modelo que voltou a ser praticado no semiárido, em que prevalece o minifúndio e a produção familiar. Em 2006, a produção regional atingiu 777,8 mil toneladas, volume correspondente a mais de dez vezes as 76,2 mil toneladas produzidas em 1996. Relevância social – A cadeia produtiva do algodão tem grande importância social e econômica no Nordeste, especialmente pelo número de empregos que gera direta e indiretamente. A área cultivada com o produto passou de 162,4 mil hectares, em 1996, para 237,7 mil hectares, em 2006, o que contribuiu para elevar de 26,2% para 30,2% a participação no total nacional. O acréscimo de área ficou restrito aos estados da Bahia e Maranhão, que respondem por 76% do total. n
RUMOS - 39 – Janeiro/Fevereiro 2012
INOVAÇÃO Por Edilene Silva
EMBRAPII
Reforço para a Com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Brasil amplia as ações de desenvolvimento num segmento de elevada competitividade: a indústria.
A
licerçado na experiência adquirida na gestão de entidades da envergadura do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), e do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), de Petrópolis (RJ), o físico Marco Antônio Raupp frisou em seu discurso de posse no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em janeiro último, que “a inovação tecnológica não é mais uma opção para o Brasil, passou a ser um imperativo para o desenvolvimento pleno do país”. Se inovação é o norte a ser perseguido, o ministro assinala a necessidade de se pensar numa cadeia de produção industrial, liderada por empresas nacionais, em associação com instituições de pesquisa, que garanta ao país inserção soberana em nível mundial. Esse amálgama é uma das vertentes da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), criada no final de 2011, para dar ao segmento industrial a mesma pujança que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) deu à agricultura nacional nos últimos trinta anos, e em cujos moldes a Embrapii se baseia. O outro modelo observado para sua constituição é a Fundação Fraunhofer da Alemanha, classificada como referência de sucesso no incentivo à inovação, na Europa. As isenções fiscais se destacaram no cenário econômico em 2011, mas os maiores avanços do Plano Brasil Maior, do governo federal, ainda são na área da inovação. Este ano, uma outra grande aposta do governo Dilma Rousseff é fortalecer a indústria diante da concorrência com produtos importados de alto nível tecnológico. A Embrapii tem o consenso do governo, do empresariado e dos institutos de pesquisa, que consideram a iniciativa um marco histórico no segmento industrial do país. “Esta iniciativa, faz a associação da nossa rede de institutos tecnológicos com empresas. Ela prestará serviço de consultoria, ajudará no desenvolvimento de novas ideias e tocará projetos”, diz o ministro Raupp. ”Agora, com a introdução da Embrapii, temos que chamar o setor privado para contribuir”, convida. Para ele o desenvolvimento não é responsabilidade só do governo, mas da sociedade também.
Ano passado, o governo firmou o Termo de Referência (TR) da empresa, que funcionará como “projeto piloto” nos primeiros 18 meses, período em que o agente operador será a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nesta fase, os técnicos do MCTI atuarão em parceria com os especialistas da CNI para definir os institutos que receberão os recursos. Até lá, a Embrapii não imobilizará capital e não terá sede até o inicio de 2013. Para o então, secretário de Desenvolvimento Tecnológico e da Inovação (Setec) do MCTI, Ronaldo Mota, o projeto
RUMOS - 40 – Janeiro/Fevereiro 2012
Divulgação
área industrial
piloto vai servir para se ajustar o modelo e ampliar o projeto sem prejuízo da qualidade. “O Brasil vive hoje uma explosão da demanda por inovação”, diz Mota. Para embasar sua afirmação ele aponta que em 2006 foram 130 empresas beneficiadas pela Lei do Bem e, no ano passado, o número saltou para 875. “A ideia da Embrapii é que o contrato seja feito com o instituto de pesquisa que terá autonomia para gerir os recursos, num modelo descentralizado e capilarizado, típico do mundo da inovação” destaca o ex-secretário.
Com uma gestão enxuta, a Embrapii, não terá um quadro funcional de pesquisadores e entra com o equivalente a um terço dos recursos necessários a cada projeto, e o restante será dividido entre o instituto conveniado e a própria instituição interessada em inovar. A empresa funcionará também como um “selo certificador” dos institutos habilitados a operar junto à indústria. De partida, a Embrapii já incorpora três institutos conveniados que foram selecionados por áreas de atuação e serão avaliados por indicadores de competência. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, vai focar na área de bionanotecnologia e investe recursos de R$ 50 milhões no Centro de Bionanomanufatura. Segundo o presidente do IPT, João Fernando Gomes de Oliveira, o instituto tem cerca de 20 projetos de inovação prontos para inclusão na pauta da Embrapii. Para ele, o financiamento vai atrair mais empresas. Já o alvo da parceria Senai-Cimatec é a área de processos e automação. O instituto tem grande expertise no atendimento à indústria de processo do polo industrial da Bahia, mas a intenção é operar em todo o país. Ele agrega 25 doutores e diversos laboratórios especializados. “Temos conhecimento nesta área e no gerenciamento do ciclo de vida dos produtos. A indústria nacional já avançou no quesito qualidade e agora entende que a inovação é essencial”, diz Leone Peter, diretor do Senai Bahia. O Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do Rio de Janeiro, vai atuar na área do complexo de petróleo e gás. Segundo o presidente do INT, Domingos Manfredi Naveiro, existem muitas deficiências tecnológicas na exploração do pré-sal. Para ele, as empresas interessadas em desenvolver novos produtos e materiais agora terão apoio. “Algumas empresas têm no momento carência de construção de plantas piloto e a Embrapii vai permitir aportar investimentos nestes projetos”, prevê. A intenção do governo é chegar a 30 institutos até o fim de 2014. Com olhos empresariais, a meta da CNI, em escala nacional, conforme assinala o seu presidente, Robson Braga de Andrade, é duplicar o número de empresas inovadoras até 2013. “Inovar é uma exigência e um imperativo dentro de um cenário cada vez mais competitivo”, afirma ele. n
RUMOS - 41 – Janeiro/Fevereiro 2012
A
AMAZÔNIA
Comércio
Por Reporter
Crescimento exponencial Expansão de centro de comércio em Palmas (TO), que teve financiamento do Banco da Amazônia, revela o potencial de crescimento das cidades médias.
P
ara as grandes cidades, a abertura de um shopping pode até parecer algo comum, mas, para as pequenas e médias, o aparecimento de um centro comercial de grande porte tem forte impacto sobre o consumo e o lazer. Foi assim com a inauguração, em 2010, do Capim Dourado Shopping, em Palmas, Tocantins. Com 90 lojas, seis salas de cinema, restaurantes e estacionamento com mais de 1.300 vagas, o empreendimento contou com financiamento do Banco da Amazônia, que o considera um importante fator de desenvolvimento. “No caso dos shoppings centers, há um benefício direto às populações locais, em face da oferta de produtos e serviços concentrados em um só local e da possibilidade de se associarem compras ao lazer. Os shoppings, além de se tornarem polos de encontro e de entretenimento, aliam praticidade e segurança e desempenham um importante papel na economia local”, acredita Marilene Ribeiro, gerente de Grandes Clientes do Banco da Amazônia. Ela explicou que, para financiar negócios desse tipo, o banco utiliza recursos oriundos do Fundo Constitucional do Desenvolvimento no Norte (FNO), que contempla os sete estados que integram a região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). “Esse recurso provém da arrecadação do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza e do imposto sobre produtos industrializados.”, acrescenta. O crédito para construção do shopping foi de R$ 76.625.013, com prazo total de 12 anos, sendo dois de carência, concedido ao Grupo Skipton, que atua há 13 anos nas áreas de tecnologia, educação e shoppings. Segundo o diretor-presidente do grupo, Carlos Franco Amastha, antes da construção do centro comercial foi feito um estudo de viabilidade. “Um projeto desse porte só pode ser feito com pesquisa, com planejamento, senão seria impossível. Quando conhecemos Palmas, obviamente surgiu o desejo do shopping, ainda em 1999. Na época, não havia viabilidade. A cidade ainda era pequena”, relembra o presidente. Segundo Amastha, o município teve um crescimento exponencial e, em 2007, o grupo decidiu que era hora de fazer
o estudo. “Foi um levantamento com números oficiais e in loco. Veio da pesquisa o tamanho que o shopping deveria ter em 2008 e 2011. Nós executamos o projeto de 2008. Com o financiamento pudemos fazer um projeto maior do que o orçado inicialmente, já contemplando uma possível expansão. Todos acharam que seria loucura. O maior problema era encontrar empresário para abrir uma loja no coração do Brasil”, relata. Com um ano de funcionamento, o Capim Dourado Shopping registrou 146 milhões em vendas, R$ 37,5 milhões em impostos para a União, estado e município e foram gerados 1.500 empregos diretos, injetando mensalmente na economia local uma receita de R$ 2,1 milhões. “Nosso Natal foi para lá de extraordinário, muito acima da média nacional”, exaltou Amastha. O shopping registrou R$ 37 milhões em vendas no mês de dezembro. Desenvolvimento local – Segundo o diretor da Skipton, são quatro mil empregos indiretos gerados pelo centro comercial e um impacto inovador na dinâmica de consumo da cidade. “O shopping trouxe algo novo, com o qual a população não estava acostumada. Mudou a matriz econômica. Ele é o maior empregador da cidade. Antes, o comércio em Palmas era muito informal. E um shopping funciona totalmente na formalidade, não se faz nada sem tirar uma nota fiscal”, ressaltou Amastha. Segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que congrega mais de 243 empreendimentos, existem 430 centros de compras espalhados pelo país. A maioria das unidades está localizada na região Sudeste (55,8%), e apenas 3,5% na região Norte (ver quadro e boxe). O presidente da Federação de Comércio do Tocantins (Fecomércio-TO), Hugo de Carvalho, acreditava que havia uma demanda reprimida por esse tipo de comércio. “Palmas precisava de um grande shopping. Com estacionamento, restaurantes, cinema. Temos um público flutuante forte, que vão aos bares, ao cinema e compra nas lojas daqui. A capital agora atingiu a maioridade. Acredito que em pouco tempo seremos uma metrópole”, afirmou. Amastha destaca que uma das inovações do Capim Dou-
RUMOS - 42 – Janeiro/Fevereiro 2012
Manoel Junior
Divulgação Divulgação
Com dois andares e área de lazer, o Capim Dourado Shopping abriga seis salas de cinema e mudou a dinâmica econômica de Palmas, Tocantins.
rado Shopping foi o desenvolvimento de um projeto de impacto socioambiental. Durante a construção estava prevista a compensação de CO2 emitido pela obra e a capacitação dos trabalhadores. Para Marilene, do Banco da Amazônia, empreendimentos assim se coadunam com a filosofia de financiamento da instituição. “O projeto contemplava a construção de um parque de preservação ambiental nas imediações do shopping, vindo ao encontro da política socioambien-
tal do banco, que prevê ações de preservação e mitigadores de risco de impacto socioambiental. Além disso, a empresa apoia o projeto de qualificação ‘Tocantins + Futuro’, que visa oferecer oportunidades de qualificação e formação profissional”, lembrou a gerente-executiva. Neste ano, as obras no centro comercial recomeçam, agora para a expansão do Capim Dourado Shopping, que pode chegar a ter o triplo do tamanho do projeto original. n
Um ano de expansão e boas vendas A propalada ascensão da classe C GRANDES NÚMEROS PARTICIPAÇÃO POR REGIÃO ainda não foi suficiente para torná-la o Brasil - Janeiro 2012 principal grupo consumidor nos shopRegiões Nº de % do 430 Número total de shoppings pings do país. Segundo estudo divulgaShoppings total 44 A inaugurar em 2012 (*) do em janeiro pela Associação Brasi474 Número previsto para dez 2012 3,5 Norte 15 10,34 Área bruta locável (em milhões de m ) leira de Shopping Centers (Abrasce), Nordeste 59 13,7 24,88 Área construída (em milhões de m ) que representa o setor, as classes A e Centro-Oeste 37 8,6 673.582 Vagas para carros B respondem por 56% do total de 80.192 Total de lojas Sudeste 240 55,8 3.208 Lojas-âncora visitantes nesses centros de comércio, Sul 79 18,4 2.406 Megalojas acompanhada de perto pelas classes 65.757 Lojas satélites 100,0 Total 430 C e D, que somaram 44% do total. 2.406 Lazer 6.415 Lojas de serviços Para Adriana Colloca, superintendenFonte: Abrasce, 2012. 2.745 Salas de cinema te de Operações da Abrasce, os núme775.383 Empregos gerados em 2011 gos. Adriana não vê nesse moviros refletem o perfil da população 100 Faturamento estimado 2011 (em R$ bilhões) 376 mento um fenômeno de interiobrasileira.“Quando muda esse perfil, Tráfego de pessoas (milhões por mês) 18% Vendas em relação ao varejo nacional (**) rização, mas um processo natuisso tem impacto no shopping. Um ral de crescimento.“Na verdade, empreendedor não constrói para uma (*) Número previsto de inaugurações. (**) Exclui vendas de combustíveis e GLP. Critério: Consideram-se aqui shoppings com lojas locadas, lojas âncoras e vagas da mesma forma que os shoppings classe, o que se vê é um viés, um mix de estacionamento, com área igual ou superior a 5.000m2 e todos os shoppings associados da Abrasce. A informação sobre faturamento é estimada e pode crescem na capital, isso acontece voltadopara um lado ou outro”. ser alterada. nas médias e pequenas cidades, é Em 2011, o mercado de shopping Fonte: Abrasce, 2012. um crescimento generalizado, as centers brasileiro registrou crescimento populações aumentam, o investide 18,6% nas vendas em relação ao mento também”, explica a executiva. ano anterior, atingindo R$108 bilhões. Foram 22 empreenAo término de 2011, o mercado de shopping contava com dimentos inaugurados com média de 376 milhões de visi430 empreendimentos em operação, empregando 775 mil tantes mensais. Somente sete destes negócios foram erguipessoas. Para este ano, o censo da Abrasce indica que 80% dos nas capitais brasileiras. Para este ano, serão inaugurados dos shoppings do país estão ou entrarão em processo de mais 43 empreendimentos, sendo 29 em cidades do interiexpansão. Neste grupo está o Capim Dourado Shopping. or, com a expectativa de geração de 115 mil novos empre2
2
RUMOS - 43 – Janeiro/Fevereiro 2012
FOMENTO Agência de Fomento Paulista terá linha com juros de 2% ao ano para projetos da Copa de 2014
João Luiz Ribeiro/Finep
A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) promoveu, em fevereiro, o primeiro encontro com o objetivo de elaborar um programa de governo para o setor de engenharia de projetos no país. Representantes do setor público e do privado discutiram os gargalos atuais e fizeram proposições para o fortalecimento e a ampliação de oferta qualificada desses serviços no Brasil. A ideia é tornar a engenharia de projetos brasileira mais competitiva, capacitar as empresas, incrementar a demanda por serviços, assegurar a adequação dos projetos às condições brasileiras e, ainda, garantir a demanda por bens de conteúdo tecnológico da indústria nacional. O relatório Engenharia Consultiva no Brasil (2011), publicado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), apontou a falta de pessoal qualificado, a desnacionalização crescente, as incertezas legais e a burocracia dos processos de licitação como geradoras de fragilidades competitivas para Guilherme Sales Melo, diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do CNPq, participa do evento as empresas.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e a ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira, lançaram as linhas de crédito do Fundo Clima, destinadas a apoiar projetos relacionados às ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. O objetivo das linhas lançadas em fevereiro é que o Brasil atinja suas metas de redução de emissões de gases do efeito estufa, reduza suas vulnerabilidades aos efeitos adversos da mudança climática e se prepare para competir em uma economia de baixo teor de carbono. O Fundo Clima, que possui dotação inicial de R$ 200 milhões, contemplará seis subprogramas. Eles são: modais de transporte eficientes, máquinas e equipamentos eficientes, energias renováveis, resíduos com aproveitamento energético, carvão vegetal e combate à desertificação. As taxas de juros e os prazos de financiamento variam em função do subprograma. A participação do BNDES poderá ser de até 90% do valor dos itens financiáveis para todas as seis categorias.
Projeto capacita produtores para aumento da renda Um projeto pretende aumentar em 10% a renda de cerca de 500 pequenos produtores de leite da agricultura familiar do Mato Grosso do Sul neste ano. A iniciativa, que será desenvolvida em oito municípios, vai levar conhecimento sobre gestão da propriedade rural e incentivar boas práticas na produção leiteira. “A importância do projeto é profissionalizar o pequeno produtor rural e fazê-lo perceber que pode agregar valor ao seu produto, caso cuide da qualidade e da higiene na produção”, aposta Eder Rodrigues Camargo, técnico do Sebrae local. O projeto pretende aumentar a renda dos participantes em 15% em 2013; 20%, em 2014; e 25%, em 2015. A primeira atividade será uma Oficina de Planejamento Participativo, na qual será apresentada a proposta de trabalho aos produtores e será realizado um levantamento de dados para o plano de ação.
RUMOS - 44 – Janeiro/Fevereiro 2012
Noel Joaquim Faiad
Finep promove 1º debate sobre estímulo à engenharia
Divulgação
Noel Joaquim Faiad
A Agência de Fomento Paulista disponibilizará crédito para projetos relacionados à Copa do Mundo de 2014. A linha especial atenderá todas as cidades paulistas candidatas a Centro de Treinamento de Seleções (CTS), com juros subsidiados de 2% ao ano (+IPC/Fipe) e prazo de até dez anos, com carência de até 24 meses. O objetivo é apoiar empresas e municípios na realização de investimentos que melhorem a infraestrutura turística das cidades para a recepção do público e eventuais seleções que se instalem no estado. “Além de receberem milhares de turistas em decorrência da Copa, muitas cidades paulistas ainda têm a possibilidade de abrigar seleções, o que vai demandar muito investimento em infraestrutura. A iniciativa do governo estadual de subsidiar o juro da linha é um grande impulso para essas ações”, diz Milton Luiz de Melo Santos, presidente da agência.
BNDES lança linhas de crédito do Fundo Clima
Divulgação
Nossocrédito fecha 2011 com o melhor desempenho da história
Os dirigentes Ricardo Figueiró e Luiz Henrique Beviláqua, da Investe Rio, assinam contrato.
Investe Rio concede R$ 8 mi para metalúrgica A Agência de Fomento do Rio de Janeiro (Investe Rio) concedeu, em fevereiro, R$ 8 milhões à Axis S.A., para implantação de metalúrgica no município de Valença, no Médio Paraíba. O investimento total na unidade, com início do funcionamento previsto para o primeiro semestre de 2013, pode chegar a R$ 37 milhões. O empreendimento deverá gerar, pelo menos, 150 empregos diretos e 450 indiretos. O aporte financeiro contou com recursos provenientes do Fundo de Recuperação Econômica dos Municípios Fluminense (FREMF) – administrado pela Investe Rio –, com taxas de juros de 2% ao ano para o segmento industrial. As linhas de financiamento do FREMF são oferecidas em 34 municípios para gerar mais emprego e renda no interior fluminense.
Instituições de fomento participam de plano para exportação
Noel Joaquim Faiad
Catorze entidades nacionais relacionadas ao comércio exterior, dentre elas instituições financeiras de fomento, se reunirão em março para dar continuidade ao Plano Nacional da Cultura Exportadora 20122015. O plano visa melhorar a distribuição dos estados na pauta exportadora brasileira. Atualmente, metade deles tem uma participação inferior a 1% no volume total exportado pelo país. A ideia do primeiro encontro realizado em janeiro deste ano foi trabalhar na consolidação de mapas estratégicos e planos de ação para 22 estados. No ano passado, foram definidos objetivos, eixos de atuação, estratégia e metodologia do plano. Entre as instituições participantes estão o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Banco da Amazônia, o Banco do Brasil, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, a Caixa Econômica Federal, o BNDES e o Sebrae.
O número é mais um recorde: cerca de R$ 71,4 milhões em financiamentos, partindo de micro e pequenas empresas, formais e informais, movimentaram todo o Espírito Santo em 2011, pelo programa de microcrédito do estado, o Nossocrédito. O valor é consequência das 15.016 operações realizadas nas 104 agências presentes nos 78 municípios do estado. Em relação a 2010, houve um incremento de 36,5% no valor aplicado e de 24% no número de contratos efetivados. De acordo com o presidente do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), Guerino Balestrassi, o total acumulado desde a criação do programa, em 2003, é de mais de 63 mil contratos, equivalentes a quase R$ 244 milhões investidos no estado: “O valor médio aprovado em 2011 foi de quase R$ 1 milhão por município, representando um acréscimo de 36,5% em relação ao valor médio aprovado em 2010 (R$ 670 mil)”. Segundo o diretor de Crédito e Fomento do Bandes, Everaldo Colodetti, a cada R$ 2 mil investidos foi gerado ou mantido um emprego: “2011 foi o melhor ano da história do Nossocrédito. Alcançamos recordes em todos os meses do ano”. O valor médio do crédito concedido por cliente também aumentou, de R$ 4.316,00, em 2010, para R$ 4.755,00 em 2011. “As pessoas estão mais confiantes e solicitando mais crédito. A maioria quita o valor e volta para pegar mais financiamentos. Nosso total de clientes captados agora é de mais de 34 mil”, ressalta Guerino. Para o diretor Comercial do Banestes, outro parceiro do Programa, José Antonio Bof Buffon, por meio do Nossocrédito, o banco também incentiva e apoia o pequeno empreendedor. “O produto é uma modalidade especial de crédito, estruturada para alcançar um público de empreendedores de pequenos negócios que não têm acesso ao mercado de crédito convencional. Dentre os ramos financiados pelo Nossocrédito estão a indústria, o comércio e a área de serviços”, afirma. O crédito é destinado a empreendedores com renda bruta anual inferior a R$ 240 mil, que exerçam atividades formais ou informais; trabalhadores que concluíram cursos promovidos pelos Programas de Qualificação Profissional municipais e/ou estaduais, já inseridos no mercado de produção de bens ou serviços; ou que atuem na economia sob forma de cooperativas ou associações. Os valores variam de R$ 200,00 a R$ 7,5 mil, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. A taxa de juros é de 0,9% ao mês e o pagamento pode ser feito em até 24 meses, com carência de até três meses. O Nossocrédito conta com recursos do Fundapsocial e é operado por meio de uma parceria entre Bandes, Banestes, Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes), prefeituras e Sebrae-ES.
RUMOS - 45 – Janeiro/Fevereiro 2012
REFLEXÃO INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE FOMENTO
Instrumentos de planejamento estadual Divulgação
Helena Lastres Assessora-chefe da Secretaria de Arranjos Produtivos Locais e Inovativos e Desenvolvimento Local e coordenadora do Comitê de Arranjos Produtivos e Desenvolvimento Regional, da Presidência do BNDES.
U
m dos principais objetivos da atuação do BNDES é contribuir para o desenvolvimento sustentável integrado e de longo prazo do país. E isso requer a mobilização de processos de planejamento, aprendizado, criação e uso de conhecimentos, adensamento e enraizamento de capacitações produtivas e inovativas e irradiação de sinergias positivas para os ambientes local e regional. Atenção especial deve ser dada à redução de desequilíbrios de renda, inter e intrarregionais, o que depende de uma visão sistêmica, associando o desenvolvimento econômico com o ambiental, o urbano e o social, e articulando atores e pactuando ações. Para orientar essa política, o BNDES vem introduzindo, desde 2007, dois vetores de ação: o desenvolvimento no entorno dos projetos e nas regiões menos atendidas. O apoio ao entorno de empreendimentos estruturantes, além de diminuir os impactos negativos comumente gerados por vultosos investimentos, visa ampliar e enraizar o impulso dado ao desenvolvimento, agregar valor aos bens e serviços produzidos localmente e comprometer as empresas com o desenvolvimento local. A proposta é que os interessados planejem as ações necessárias às fases de implantação e operação e preparem o território para a nova dinâmica socioeconômica. O envolvimento do poder público – nas três esferas –, da sociedade civil e das empresas responsáveis pelo projeto, ou que possam ser agregadas, tem papel vital para o sucesso da iniciativa. É importante, ainda, a participação de outros atores econômicos, políticos e sociais presentes no território, como instituições financeiras, de ensino e pesquisa, de apoio e promoção, trabalhadores, entidades de classe e outras organizações da sociedade civil. Tal interlocução ampla e participativa tem como objetivo formular uma agenda pactuada de desenvolvimento para o território com reflexos no planejamento territorial e ambiental; na infraestrutura urbana, social, ambiental e cultural; na modernização da gestão pública; na adequação da educação e capacitação, com o envolvimento dos sistemas de conhecimentos locais e regionais; e no desenvolvimento econômico, com a mobilização de potenciais arranjos produtivos e inovativos. Três elementos-chave resumem essa forma de atuação: o estímulo à criação de uma institucionalidade representativa,
responsável pela definição e monitoramento de uma agenda de desenvolvimento territorial, executando atividades financiadas por um mecanismo financeiro participativo, idealmente representado por um fundo. O segundo vetor de atuação visa à atenuação dos desequilíbrios inter e intrarregionais e à desconcentração do desenvolvimento no território, enfocando as macro, meso e microrregiões menos desenvolvidas. Como parte dessa estratégia, o BNDES está reforçando parcerias com o governo federal, mediante incremento de suas relações com ministérios e agências, e com estados e municípios, apoiando o fortalecimento de seus sistemas de planejamento e braços executores. A parceria com estados foi consubstanciada em uma linha de financiamento criada no fim de 2009, para estimular a formulação de modelos alternativos de política capazes de aproveitar potencialidades e incluir interessados, atividades e regiões em projetos de desenvolvimento coesos e sustentáveis. A linha prevê desde o financiamento ao planejamento territorial e socioambiental, infraestrutura urbana, saneamento, logística, saúde, educação, cultura e fortalecimento institucional, até a capacitação produtiva e inovativa para empreendedores e arranjos produtivos locais (APLs). Menciona-se, ainda, a parceria com os estados para o apoio a APLs de baixa renda, que utiliza recursos não reembolsáveis do Fundo Social, por meio de editais para apresentação de propostas, cuja seleção é realizada por comitês formados pelo estado e envolvendo representantes de outras esferas – federal, municipal, acadêmica, organização não governamental etc. – para conferir maior amplitude de interesses e sustentabilidade. O apoio do BNDES com os dois vetores citados tem que estar baseado em planejamento de longo prazo, capaz de identificar possibilidades de adensamento e expansão dos arranjos existentes e de prospecção de potenciais que apontem para a liderança em um novo paradigma social, produtivo, inovativo e ambiental. Para isso, reconhece a importância de os estados contarem com suas instituições financeiras de fomento, como instrumentos vitais da execução do planejamento, trazendo informações sobre as necessidades dos diferentes atores e levando meios de viabilizar os investimentos almejados. n
RUMOS - 46 – Janeiro/Fevereiro 2012
MICRO E PEQUENAS Por Clara Favilla
MICROFINANÇAS
Oscip, papel estratégico Operadoras de microfinanças, que funcionam como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), continuam sendo importante instrumento de desenvolvimento local e de redução da pobreza, mesmo levando-se em conta o grande crescimento da oferta de produtos e serviços das instituições financeiras públicas e privadas para a população de menor renda.
O
segmento, não sujeito à regulamentação do banco Central, é responsável por cerca de 200 mil operações de crédito/ano dirigidas, na maioria, a mulheres e informais. Do total da clientela atendida, 25% são empreendedores individuais (EI) e micro e pequenas empresas (MPE); e 75% são informais. Do público total, 55% estão no comércio, 28% no setor de serviços, 12% na indústria, e 5% na agricultura. Os dados são da pesquisa Perfil das Instituições de Microfinanças no Brasil, realizada pelo Sebrae e a Associação Brasileira de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (Abcred) e que abrangeu 75 das 103 em funcionamento. Seis de cada dez das entrevistadas já são parceiras do Sebrae em ações de apoio às microempresas e empreendedores individuais, a maioria voltada para capacitação e consultorias. A pesquisa aponta caminhos: o segmento deve continuar apostando na eficiência e na pró-atividade por meio dos agentes de crédito locais para garantir atendimento diferenciado a seu público, levando-se em conta, inclusive, os impactos no mercado de juros para o segmento, no âmbito do Crescer, o Programa Nacional de Microcrédito (ver boxe). Maior eficiência na concessão do crédito também pressupõe maior capacitação empresarial dos demandantes. Para isso, informa o diretor Técnico ao Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, as operadoras filiadas a Abcred poderão “continuar contando com o apoio do Sebrae, interessado na disseminação de boas práticas produtivas e comerciais, como também na formalização dos empreendedores”.
O diretor destacou que “a radiografia do segmento, a partir da pesquisa, permitirá ao Sebrae e à Abcred desenhar propostas de políticas públicas que facilitem e garantam o atendimento das necessidades de um público fundamental para mudanças socioeconômicas locais. Para isso, é importante que empreendedores individuais e proprietários de micro e pequenas empresas tenham acesso a crédito e a outros produtos e serviços financeiros sem burocracia e em boas condições quanto a custo”. O presidente da Abcred, Almir Costa Pereira, enfatiza a necessidade das Oscips participarem da equalização de juros, no âmbito do Crescer, que introduziu, em setembro de 2011, mudanças significativas no Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que vinha vigorando até então. A entidade já manifestou oficialmente ao governo a intenção de atuar de acordo com as novas regras explicitadas pelo programa. O MTE, encarregado da gestão do Crescer, informou que o assunto pode ser estudado conjuntamente de forma que se encontre uma situação satisfatória para o segmento e sua clientela. “Praticamos a chamada finanças de proximidade. Temos forte presença direta nas comunidades. Apostamos na fidelização da clientela, por meio de um atendimento personalizado e desburocratizado que implica custos operacionais maiores. Há mais de dez anos praticamos taxas entre 2,5% e 3,9% ao mês. Em 2011, o programa Crescer iniciou oferecendo 8% ao ano. Operar com taxas que não cobrem custos compromete nossa atuação”, explicou Pereira.
RUMOS - 48 – Janeiro/Fevereiro 2012
Os
Divulgação.
A pesquisa, segundo Lúcio Pires, da Unidade de Acesso a Mercados e Serviços Financeiros, do Sebrae Nacional, permitiu: a atualização do cadastro das instituições, a identificação do perfil de seus clientes, a origem dos recursos utilizados e os produtos e serviços oferecidos. Permitiu, ainda, a qualificação das relações que têm com o Sebrae, além de maior conhecimento do perfil administrativo e financeiro dessas entidades como agentes de financiamento de micro e pequenos negócios. Será, portanto, afirmou Pires, uma importante ferramenta para a construção de estratégias de desenvolvimento do segmento, mediante a estruturação de ações conjuntas do Sebrae e da Abcred, que potencializem o desempenho das Oscips em prol dos micro e pequenos negócios. A pesquisa caracterizou-se como sendo um censo, ao coletar as informações de todas as instituições, 103 no total, das quais 75, equivalente a 72,81%, participaram de forma total ou parcial, mediante respostas a questionários e contatos telefônicos.
Oscips de microfinanças têm nichos de mercado em grandes centros do país.
Atendimento diferenciado às MPEs e aos EI
% 14,0 14,0 12,3 12,3 8,8 5,3 5,3 3,5 3,5 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 100
Motivo da procura de crédito por MPEs e EI 90,7
Visão socioeconômica a fim de gerar emprego, trabalho e inclusão Sem burocracia Agilidade no atendimento Pessoalidade e acompanhamento por meio do agente de crédito Taxas de juros Rapidez na liberação de crédito Crédito produtivo e orientado Atendimento in loco Prazo A flexibilidade com os problemas apresentados A metodologia de prospecção da clientela Acompanhamento do empreendimento, a oferta de cursos, palestras e oficinas Acompanhamento pós-venda Formação e capacitação para a área de gestão dos microempreendedores Operar nos empreendimentos sociais cooperados Capacitação através de parcerias com as faculdades Formação empreendedora aos clientes Isenção da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) Foco no público jovem Curso de gestão de pequenos negócios Atendimento a informais que não têm acesso ao sistema financeiro nacional Total
50,0
Capital de giro/ compra de estoque
38,9
Investimento
Construção ou reforma da empresa
5,6
5,6
Compra de automóvel /utilitário
Pagamento de dívidas e tributos
Garantias exigidas em operações de crédito por MPEs e EI 74,1 51,9 31,5
Aval
Garantia solidária
Garantia real
11,1
13,0
Finança
Não exigimos
Fontes: Unidade de Acesso a Mercado e Serviços Financeiros do Sebrae/NA
RUMOS - 49 – Janeiro/Fevereiro 2012
MICRO E PEQUENAS
Dados da pesquisa Perfil da Instituições de Microfinanças no Brasil
68,5% 11,1% Recursos próprios 7,4%
46,3% Banco de desenvolvimento ou agência de fomento 5,6%
14,8%
Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Origem dos recursos das instituições para atendimento a MPE e EI
Presidenta Dilma Rousseff, durante o lançamento do Crescer.
BNDES
31,5%
Quantidade de diretores, gerentes e agentes de crédito por Oscip 15
Crescer beneficiará 3,4 milhões até 2013
L 2,3
2,6
Diretores
Gerentes
Agentes de Crédito
Fonte: Unidade de Acesso a Mercado e Serviços Financeiros do Sebrae/NA
ançado em setembro de 2011 pelo governo federal, o Crescer (Programa Nacional de Microcrédito) ampliou os benefícios previstos no Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado (PNMPO), em vigor até então. A previsão é que atingirá, até o final de 2013, em torno de 3,4 milhões de clientes (microempresas com faturamento até R$ 120 mil/ano e empreededores individuais) do Banco do Brasil, Banco do Nordeste (BNB), Caixa Econômica Federal e Banco da Amazônia. As operações de crédito (giro e investimento) individuais podem alcançar até R$ 15 mil. Os recursos disponíveis para essas operações estão estipulados em R$ 3 bilhões e a concessão significará subsídios de até R$ 150 milhões/ano. A subvenção será arcada pelo Tesouro Nacional e as operações cobertas pelo programa terão juros de 8% ao ano, bem abaixo das taxas atualmente praticadas no microcrédito, que chegam até a 60% ao ano. Além dos juros mais baixos, a Taxa de Abertura de Crédito (TAC) foi reduzida de 3% sobre o valor financiado para 1%.
RUMOS - 50 – Janeiro/Fevereiro 2012
Arquivo/ASN
Pesquisa informa que 28% da clientela do segmento são prestadores de serviço e 55% comerciantes.
Alguns resultados e conclusões da pesquisa l O crédito médio por empreendimento é de R$ 2,8 mil, apresentando menor valor nas regiões Nordeste (R$ 1,8 mil), Centro-Oeste (R$ 1,9 mil) e Norte (R$ 2,6 mil), e maior nas regiões Sul e Sudeste – a média é de R$ 4,6 mil e R$ 3,4 mil por crédito, respectivamente. l O crédito médio aferido para os clientes MPE e EI foi 40% superior ao crédito para os empreendedores informais (R$ 2,0 mil). Embora o crédito na região Norte seja um dos menores, o tempo médio das operações de crédito nessa região é de 14,6 meses, frente a uma média nacional de 11,5 meses. l Dos clientes MPE e EI, apenas 6,3% atrasam pagamentos. As regiões Sul e Sudeste apresentam os maiores índices, enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste possuem taxas sete vezes menores. l Dentre a parcela de clientes pessoas físicas (75% do total), portanto informais, pode-se inferir que 97,1% delas são potenciais clientes do Sebrae, uma vez que apenas 2,9% foram identificadas como empregados de empresas. l As instituições têm um sistema de análise de crédito peculiar por realizarem, geralmente, um levantamento sócioeconômico e estudar as condições do cliente MPE ou EI. Exigem, preferencialmente, Aval ou Garantia Solidária. l O valor médio da carteira de operações de crédito de cada instituição é de R$ 5,8 milhões. Os recursos são provenientes de bancos de desenvolvimento regionais, agências de fomento e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). l As operadoras são relativamente novas, 60% foram cria-
das entre 2000 e 2011. Em média, cada uma possui dois gerentes e dois diretores, além de 15 agentes de crédito e 1.953 clientes. l Quanto à distribuição geográfica, 56% concentram-se nas regiões Sul e Sudeste (28% cada). Outras 27% ficam no Nordeste, 9% no Centro-Oeste e 8% no Norte. A distribuição não tem relação direta com dados demográficos. A região Sudeste (com 42,1% da população), por exemplo, detém o menor número proporcional de Oscip. A região Sul (com 14,4% da população) apresenta o maior número proporcional. As demais regiões mantêm relativo equilíbrio entre população e números de Oscip. l Mais de dois terços das Oscips usam recursos próprios nas operações de crédito que em média não ultrapassam R$ 2.839,91. A taxa de juros é de 3,4% ao mês e o valor concedido é dividido, em média, por 11,5 parcelas mensais. l Os créditos tomados são aplicados em capital de giro (90% do total concedido), compra de estoques, construção e reformas de estabelecimentos. l O crédito concedido aos formais (R$ 2.839,91) tem, em média, valor 40% superior ao negociado com empreendedores informais (pessoas físicas) (R$ 2.023,43). l Das instituições pesquisadas, 59,3% são parcerias com o Sebrae. Das sugestões apresentadas para parcerias destacamse capacitações, cooperação na divulgação do trabalho das Instituições de Microfinanças e apoio ao acesso a recursos. l Em geral as Instituições de Microfinanças possuem visão social e econômica sobre seus clientes e praticam metodologias de concessão que lhes facilitam o acesso ao crédito.
RUMOS - 51 – Janeiro/Fevereiro 2012
LIVROS A ONU e a participação da diplomacia brasileira O historiador Eugênio Vargas Garcia “narra, interpreta e constrói um livro notável”, na opinião do embaixador Gelson Fonseca Júnior, sobre a participação do Brasil na criação da Organização das Nações Unidas (ONU).
Na aurora da modernidade, a formação dos Estados nacionais foi a solução que a Europa encontrou para pôr fim a guerras religiosas que já duravam mais de cem anos. O maior teórico dessa transição foi Hobbes: para terminar com a guerra de todos contra todos era necessário instituir um poder de novo tipo, o Leviatã. Em vez de tentar impor algum princípio religioso ou moral, ele deveria situar-se acima das partes em litígio e legitimar-se apenas pela capacidade de garantir a paz, estabelecendo regras mínimas de convivência. O advento da modernidade foi marcado pela separação de dois eixos – bem/mal e paz/guerra – que até então se misturavam. Isso correspondeu à separação entre moral, remetida à esfera privada, e política, doravante submetida à razão de Estado. Invocações de mitologias históricas, teologias, regras de comportamento ou argumentos afins já não podiam legitimar ações de natureza política, dado o risco de elas reiniciarem, em qualquer tempo, a guerra de todos contra todos. Nasceu o Estado moderno, um ente soberano, detentor do monopólio do uso legítimo da força. O problema da paz nos territórios sob jurisdição estatal foi, pelo menos em tese, resolvido, mas não o problema da paz entre diferentes Estados. A história da modernidade é, também, uma história de guerras sangrentas. No século XX, duas guerras mundiais, entremeadas pelo fracasso da Liga das Nações, deram origem à Organização das Nações Unidas, encarregada de constituir legalmente uma comunidade de Estados em escala planetária e criar um novo sistema de segurança coletiva, atuando como uma espécie de Leviatã interestatal. O centro desse sistema é ocupado pelo Conselho de Segurança, onde apenas cinco países – Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, França e China – têm assento permanente e poder de veto. Ele não presta contas a ninguém,
O Sexto Membro Permanente: O Brasil e a Criação da ONU Eugênio Vargas Garcia Contraponto, 458 p., 2012.
nem mesmo à Assembleia Geral, e suas decisões têm de ser acatadas por todos. A composição do Conselho, definida em 1945, reflete uma conjuntura internacional que, em larga medida, deixou de existir: os grandes impérios coloniais acabaram, inúmeros países foram criados, parte da periferia se industrializou, Alemanha e Japão voltaram a ser gigantes econômicos, o mundo muçulmano e a África negra ganharam nova personalidade, outras potências nucleares surgiram, a União Soviética desapareceu. A agenda mundial também foi alterada: além da tradicional questão da guerra entre Estados, prevista na Carta da ONU, questões como a proteção dos direitos humanos e do meio ambiente adquiriram relevância. A reforma da ONU é decisiva para a construção de uma nova ordem mundial. É um desafio tão necessário quanto difícil, pois a instituição de outras regras exigiria 2/3 dos votos da Assembleia Geral, incluídos aí os votos de todos os atuais membros permanentes do Conselho de Segurança. Nos últimos anos, a diplomacia brasileira engajou-se explicitamente na defesa dessa bandeira. Vem daí a extrema atualidade deste livro. Eugênio Vargas Garcia mostra que a questão tem história: a estrutura autocrática da ONU foi aprovada sob protestos e com a condição de que fosse posteriormente revista. O Brasil, sob a liderança de Getúlio Vargas, foi o único país cogitado para ocupar o sexto assento permanente no Conselho, opção que naquele momento não prevaleceu. O livro reconstitui minuciosamente, pela primeira vez, a participação brasileira na criação do mais importante organismo internacional da atualidade, tornandose assim fonte indispensável para conhecer a nossa trajetória e avaliar os rumos da nossa diplomacia hoje. César Benjamin
RUMOS - 52 – Janeiro/Fevereiro 2012
O novo espírito do capitalismo
Tema que não sai de pauta
O objetivo desta obra é aprofundar a reflexão sobre as implicações da mídia na promoção do capital humano. Lançando mão de variados objetos empíricos e quadros de referência teóricos (com destaque para as obras de André Gorz, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Richard Sennett, Alain Ehrenberg, Luc Boltanski e Ève Chiapello), os participantes da coletânea exploraram, de maneira engenhosa, diferentes facetas do fenômeno proposto para reflexão, permitindo um entendimento mais denso dos processos de subjetivação configurados pelo novo espírito do capitalismo (cada vez mais fluido e cada vez mais baseado no modelo de rede).
Esta segunda edição revisada aborda temas fundamentais para a educação contemporânea, por vezes ignorados ou deixados à margem dos debates sobre política. Em 2010, em Fortaleza, ocorreu a Conferência Internacional sobre os Sete Saberes Necessários à Educação do Presente, presidida por Edgar Morin. O documento que resultou do encontro, a Carta de Fortaleza, que reitera a necessidade premente da reforma da educação, está incluída nesta reedição. O livro mantém atualidade incontestável e deixa claro que ainda serão necessárias muitas ações e posturas que garantam um futuro sustentável e uma educação verdadeiramente democrática.
A Promoção do Capital Humano João Freire Filho e Maria das Graças Pinto Coelho (Orgs.) Sulina, 237 p., 2011.
Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro Edgar Morin Cortez/Unesco, 102 p., 2011.
Diálogo entre prática e teoria
Agenda em construção
Importante reflexão sobre o binômio região-desenvolvimento, o estudo interdisciplinar do professor Marcos Costa Lima, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e atualmente presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), traça paralelos entre as relações internacionais, a ciência política, a economia e os estudos de cultura para a compreensão da dinâmica capitalista e de seus resultados na América Latina e, em particular, no Brasil. O livro tem prefácio de Rosa Freire Furtado, viúva do economista Celso Furtado, e posfácio do economista Leonardo Guimarães.
O Brasil tem uma agenda de competitividade? Essa pergunta pode ter várias respostas. Todos os países têm, em alguma medida, ações que apoiam a atividade econômica dentro de suas fronteiras. A experiência brasileira no passado tem alguns exemplos bemsucedidos visando aumentar a competitividade, como as conhecidas políticas industrial e de comércio exterior seguidas, quase que sem interrupção no Brasil, desde a Segunda Guerra Mundial até os anos 1980. E várias dessas políticas foram abandonadas ao longo do tempo. Além disso, para diversos analistas, o Brasil tem uma agenda de competitividade em construção. E é dela que se ocupa esta obra.
Região & Desenvolvimento no Capitalismo Contemporâneo Marcos Costa Lima Unesp/Cultura Acadêmica, 331p., 2011.
A Agenda de Competitividade do Brasil Regis Bonelli (Org.) FGV, 448 p., 2011.
Reflexões sobre a crise na UE
Por um mundo mais sustentável
A crise econômica mundial tem colocado desafios importantes à integração europeia. Após mais de uma década de governos liberais, a Europa se vê confrontada com a necessidade de uma regulação reforçada dos sistemas fiscal e financeiro. O que está em questão é a ideia de regionalismo. Esta obra contribui para a compreensão desse movimento e dos instrumentos disponíveis à Europa para lidar com a crise, seguindo a já tradicional combinação dos métodos comunitário e intergovernamental. O futuro da Europa e da zona do euro é um forte determinante da política internacional da próxima década, na qual a América Latina, unida, pode ter um lugar de destaque.
Estudo sobre a importância da economia solidária, em especial no Brasil, pela sua proposta de desenvolvimento sustentável, solidário, coletivo e global, com ênfase nas práticas educacionais do educador Paulo Freire. Visando assentar as novas bases de um sistema social e econômico capaz de integrar, solidariamente, toda a sociedade de forma digna e ética, a obra se insere na área das ciências sociais: sociologia, economia e educação, em interface com as ciências naturais: ecologia, preservação e conservação ambientais. Seu público-alvo abrange: pesquisadores, professores, estudantes e todos aqueles que atuam no movimento de economia solidária.
Sistema Decisório da União Europeia Oliver Costa e Nathalie Brack Sulina, 270 p., 2011.
3 – Janeiro/Fevereiro 2012 RUMOS - 57
Economia Solidária: Educação & Autonomia Grace Irene Imbiriba Pastana Tecnoarte, 79 p., 2011.
@
CARTAS DO LEITOR Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 429 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall - Brasília - DF – CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: abde@abde.org.br Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 Fax: (21) 2109.6004 E-mail: abderj@abde.org.br
CASTRO I Caro editor, há muito tempo que as matérias da revista Rumos, sob a sua competente direção, vêm ganhando extraordinária dimensão de qualidade e conteúdo. Entretanto, na última edição, registrei uma superação, me permita. Refiro-me ao especial intitulado Ao mestre, com saudade, que tem como tema central o economista Antonio Barros de Castro, tragicamente desaparecido. O material editado se constitui na mais densa homenagem prestada pela imprensa àquela ilustre figura e, sem dúvida, o coloca no adequado altar onde se devem situar todos aqueles que desempenharam papel relevante na história política e econômica do Brasil, com foco na causa do desenvolvimento, da qual a ABDE e a revista Rumos são valorosos e tradicionais guardiões. Parabéns. Nelson dos Santos. Curitiba (PR). CASTRO II Luiz Claudio, você não tem ideia do prazer que estou sentindo ao ler a edição de novembro-dezembro da revista Rumos, com o Antonio Barros de Castro na capa. Homenagem linda, texto fácil, material de excelente qualidade, pauta irretocável. Parabéns. Lívia Ferrari, assessora de Imprensa do BNDES. Rio de Janeiro (RJ). CASTRO III Depois de alguns dias de folga, retornei ao trabalho e, ao me atualizar sobre as novidades referentes aos nossos parceiros, me deparo com a belíssima homenagem prestada pela revista Rumos a Antonio Barros de Castro. Depoimentos muito interessantes e enriquecedores daqueles que conviveram com o ex-presidente do BNDES. Parabéns pela edição da revista. Grande abraço, Joice Rodrigues, assessora de Imprensa da Nossa Caixa Desenvolvimento. São Paulo (SP). INTERESSE I Quero, inicialmente, formular votos de um excelente ano de 2012, que ainda se acha no início, e agradecer o recebimento da revista Rumos, que traz excelentes e norteadores artigos, muito úteis para a vida prática, permitindo-me ser multiplicador de informações valiosas, notadamente na área de minha atuação: o Terceiro Setor. Espero merecer o prestígio de continuar recebendo a publicação. Cordialmente, Agnor Gurgel, por email. INTERESSE II Prezados senhores, recebemos e agradecemos o envio da edição novembro-dezembro da revista Rumos. Solicitamos manter o nome da PUC-Minas em seu cadastro de doações regulares, uma vez que, avaliada a publicação, a mesma foi considerada muito importante pelo nosso corpo docente. Gleicimara de A. Braga. PUC-Minas Biblioteca Padre Alberto Antoniazzi. Setor de Periódicos. Belo Horizonte (MG). INTERESSE III Prezado senhor editor, trabalho para a Procter&Gamble, onde sou responsável por Open Innovation na América Latina, e busco por parcerias com empresas, universidades e institutos de pesquisa na área de inovação. Recentemente, em visita ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ), recebi um exemplar da revista Rumos. Eu achei a revista de excelente qualidade e gostaria de passar a recebê-la regularmente. Andre Chieffi. Rio de Janeiro (RJ).
CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Luciano Coutinho DIRETORIA Presidente: Maurício Elias Chacur 1º Vice-Presidente: Luiz Alberto Petitinga Vice-Presidentes: Abidias José de Sousa Júnior, Carlos Alberto dos Santos, Carlos Henrique Horn, Clenio Severio Teribele, João Guerino Balestrassi, Luiz Antônio Faustino Maronezi, Marcelo de Carvalho Lopes e Marco Aurélio Borges de Almada Abreu. Superintendente-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima
Instituições Associadas à ABDE AFAP – Agência de Fomento do Amapá S.A. AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A. AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A. AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A. AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A. BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. BADESUL – Caixa Estadual S.A. Agência de Fomento BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A. BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A. BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A. BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A BANRISUL – Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A. BB – Banco do Brasil S.A. BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BNB – Banco do Nordeste do Brasil S.A. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul CAIXA – Caixa Econômica Federal DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A. FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos FOMENTO – Agência de Fomento do Estado do Tocantins S.A. GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A. INVESTE RIO – Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A. NOSSA CAIXA DESENVOLVIMENTO – Ag. de Fomento do Estado de SP PIAUÍ FOMENTO – Ag. de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
ECONOMIA
&
D E S E N VO LV I M E N TO
PARA
OS
NOVOS
TEMPOS
Publicação bimestral
ISSN 1415-4722 Ano XXXV – Nº 261 Janeiro/Fevereiro 2012
Redação e Administração
Avenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906
Telefone (21) 2109.6041 Fax (21) 2109.6004 E-mails rumos@abde.org.br luizreis@abde.org.br Diretor/Editor Luiz Cláudio Dias Reis Equipe Juliana Cariello Machado Noel Joaquim Faiad Thais Sena Schettino Revisão Renato R. Carvalho
RUMOS - 54 – Janeiro/Fevereiro 2012
Capa Noel Joaquim Faiad Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta Conselho Editorial Carlos Alberto dos Santos, João Paulo dos Reis Velloso, Luiz Alberto Petitinga, Luiz Cláudio Dias Reis, Maurício Borges Lemos, Maurício Elias Chacur e Roberto Smith As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.